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O QUE É SER UM BOM PROFESSOR?

SOBRE COMPETÊNCIAS E HABILIDADES

Professor Doutor José Luís Landeira

DO LIVRO

A PRÁTICA DE SER PROFESSOR: AS TEORIAS EM SALA DE


AULA

JOSÉ LUÍS LANDEIRA (ORG.)

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
 Analisar o papel do professor no processo de aprendizagem.

 Aplicar os conceitos de competência e habilidade às rotinas das


atividades do professor.

 Relacionar avaliação, competências e habilidades.


O QUE É SER UM BOM PROFESSOR?

SOBRE COMPETÊNCIAS E HABILIDADES

CONTEÚDOS QUE ESTUDAREMOS


 O conceito de competências e habilidades.

 A importância do trabalho com competências e habilidades.

 A importância de relacionar o desenvolvimento dos estudantes


com os processos e procedimentos de avaliação.

 A competência de organizar situações de aprendizagem e


desenvolvimento de habilidades.

1. Questionamentos iniciais

Para pensar: O que é ser um bom professor?


Paulo e João são dois amigos que saem da escola juntos após uma manhã de aulas. No
caminho, conversam sobre o que lhes aconteceu na escola.

Enquanto verifica uma mensagem no celular, Paulo diz:

– Cara, o profe de matemática, com aqueles joguinhos e joguinhos, não vai pra lugar
nenhum. Eu tava vendo que estou sabendo menos matemática que a minha prima que
está um ano atrás de mim... só porque ela estuda em outra escola. Mas lá o ensino é
forte; não é como aqui, só com joguinhos e brincadeiras. Esse professor é que não tem a
menor didática.

João ri alto e responde:

– Pode até ser, Paulo, mas que aula chata essa de português...! A professora fica falando
e falando superbaixinho e fazendo exercícios. Ela parece louca, não sabe passar o
conteúdo! Um bom professor tem de saber passar o conteúdo!

Cenas assim são muito comuns no universo escolar. Os alunos têm opiniões sobre o que
é um bom professor e nem sempre essas opiniões são as mesmas entre si. Elas também
não necessariamente refletem um uso adequado de termos próprios dos estudos da
pedagogia, como a palavra "didática", por exemplo.

Contudo, essas falas dos estudantes refletem uma vivência de educação que não pode
ser desconsiderada ao se pensar nos processos pelos quais se constrói a aprendizagem.
Por exemplo, ao dizer que o professor de matemática não tem a menor didática, Paulo
se dá conta de que é preciso ter conhecimentos não apenas do que se ensina, mas de
como ensinar.

Esses conhecimentos do docente são saberes adquiridos por diferentes meios que
resultam em um modo de o professor ser em sala de aula, de se comportar nos
momentos em que ensina, para que os alunos aprendam. É a esse conhecimento
praticado que Paulo chama, do seu ponto de vista, de didática.

! PARA LEMBRAR
O professor deve ter conhecimentos não apenas do que ensina, mas de como
deve ensinar para que os alunos, efetivamente, aprendam.

Quando se diz que alguém tem boa didática, reconhece-se que esse professor tem
conhecimentos que se traduzem em um modo de ser professor, em uma metodologia de
como ensinar bem, para que os estudantes possam não apenas conhecer informações,
mas, antes de tudo, aprender conhecimentos. Assim, o professor possibilita que tais
conhecimentos façam parte da identidade desses alunos. Como conseguir essa boa
didática? Pergunta essencial!

Paulo não está conseguindo ver essa didática em seu professor de matemática. Ele
brinca e joga, mas Paulo não está enxergando nesse método de trabalho um caminho
para a sua aprendizagem. Ele sente que não está aprendendo. Ele se sente frustrado
porque, na outra escola (sempre as comparações!), parece que o ensino de matemática é
muito melhor.

Deixando de lado que "o pasto do campo do vizinho sempre parece mais verde", como
diz o ditado, de quem é a culpa? De Paulo ou do professor? Falaremos sobre isso daqui
a pouco. Para já, fiquemos com alguns questionamentos importantes:

 Uma aula divertida é sempre uma boa aula?

 Basta brincar com o estudante para que ele aprenda?

 Como fazer o aluno perceber os esforços do professor em ter uma boa didática e
realmente desenvolver aprendizagem?

Mas há também o estudante João! Esse reclama de a professora não saber passar os
conteúdos. Para João, estudar é receber conteúdos que são transmitidos por um
educador. Se o professor os souber passar direito, o estudante os receberá de um modo
eficiente e os poderá devolver oportunamente, por exemplo, numa prova. Observe que
João não deseja, de fato, entender o que recebe. Ele quer receber bem, de um modo que
ele possa guardar esses conteúdos. Provavelmente, para depois transmiti-los, tais quais
os recebeu, em uma prova.
Isso é ser um bom professor: saber passar bem os conteúdos?

2. Por que pensar em como ensinar?

Para pensar: O que é ser um bom professor?


Isaura e Marcela são professoras. Elas são amigas já há algum tempo, mas têm pontos
de vista bem diferentes sobre o que é ser um bom educador. Elas conversam na sala dos
professores.

– Eu gosto de inovar, você sabe disso... Esse lance de só lousa e giz, para mim, já está
superado – afirma Isaura, olhando fixamente para a sua amiga. – Saiu uma novidade, eu
já levo para a aula. Nada de tradicional. Eu invento toda hora... Toda hora tem algo
novo que eu crio. Às vezes, me dá uma inspiração no momento e pronto, já mudo tudo!
Qualquer coisa, peço para os alunos lerem no livro didático. Lá tem tudo! Minhas aulas
têm que ser é divertidas... muita brincadeira, música, diversão mesmo! Os alunos
amam!

– Eu acho isso uma loucura. Eu acho que ser diferente não significa ser um bom
professor! – responde Marcela. – Isaura, você sabe como eu ensino: eu explico tudo e
depois dou um questionário. Foi assim que eu aprendi e é assim que vou continuar
fazendo. Eu uso o livro didático, mas tem de ser daqueles que têm bastante conteúdo e
exercícios.

As duas posições opostas, de Isaura e Marcela, traduzem posicionamentos do que se


chama de escola inovadora em contraste com a escola tradicionalista. Mas essas
posições são adequadas? Elas ajudariam alunos como João e Paulo, de fato, a
aprenderem?

As opiniões sobre o que é ser um bom professor são divergentes também na esfera
docente: Isaura defende as novidades. Marcela agarra-se ao que considera os bons
métodos de antigamente.

Isaura quer sempre levar algo novo para os seus alunos. Isso demonstra uma
preocupação e uma vontade de melhorar, sem dúvidas. No entanto, falta à professora
Isaura pensar essas novidades com um filtro.

Que filtro seria esse?

O filtro da didática, compreendida como os conhecimentos que permitem fazer com


que os alunos aprendam e a relação desses estudantes com os conhecimentos
aprendidos. Não se trata, portanto, de inovar apenas por ser diferente, mas com base em
conhecimentos e pesquisas que possibilitem articular os conhecimentos que o professor
tem com os diferentes processos de escolarização e de aprendizagem. Didática não é um
conhecimento intuitivo ou um dom com o qual se nasceu ou não.

! PARA LEMBRAR
A didática é o campo do saber humano que se preocupa com os conhecimentos
que permitem fazer com que os alunos aprendam e a relação desses estudantes
com tais conhecimentos aprendidos.

Nesse sentido, Marcela tem toda razão ao afirmar que ser diferente não significa ser um
bom professor. Não basta ter conhecimentos sobre o que se ensina – português,
matemática ou que for –; é necessário ter conhecimentos de princípios, procedimentos e
atitudes sobre como ensinar e como possibilitar a aprendizagem.

Seria essa a reclamação de Paulo em relação ao seu professor de matemática que leva
jogos e brincadeiras para a sala de aula, mas sem um conhecimento claro acerca do
modo como tais jogos e brincadeiras podem desenvolver a aprendizagem? Talvez! Sem
um objetivo claro, bem sistematizado, sobre por que se está usando determinado
procedimento de aprendizagem, todo o processo fica comprometido. Não basta a aula
ser divertida, ela deve conduzir a aprendizagem a algum lugar que o estudante, de fato,
possa sistematizar e produzir, assim, a sua própria aprendizagem, com a consciência de
que aprendeu.

O fato de uma aula ser divertida e os alunos gostarem, portanto, não garante, por si só,
que foi uma boa aula, que se construiu aprendizagem. Uma comédia na televisão
também é divertida e nem por isso consideramos que estivemos estudando enquanto a
assistimos. Apenas passamos o tempo. Educação não pode ser apenas passatempo.

Então, a melhor solução é ser como Marcela?

Certamente não! O procedimento de Marcela parte do mesmo erro de Isaura. Marcela


não valoriza os estudos sobre a formação dos professores – os conhecimentos que
evoluem e podem auxiliar os educadores a desempenharem cada vez melhor suas
funções em sala de aula.

Imagine consultar-se com um médico que lhe garante que, nos últimos anos, não
estudou nada e segue praticando a mesma medicina que se utilizava trinta anos atrás: os
mesmos procedimentos, medicamentos e terapias. Que segurança pode ter você, leitor?
Como confiar que esse médico, por mais bem-intencionado que seja, irá lhe oferecer o
melhor tratamento?

O mesmo ocorre no processo educativo. A atualização é essencial para que haja melhora
da atividade docente. Entretanto, essa atualização não pode ser simplesmente ao acaso,
ao gosto das modas; deve ter uma sólida base de conhecimento.

Seria esse o motivo por trás da queixa do João sobre a sua professora de português?
Observe que ele não se queixa de que a professora não tem conhecimentos do que
ensina. O seu incômodo está em como ela faz isso. É claro que não adianta seguir
excelentes metodologias se não se conhece o que se ensina, mas o contrário também é
verdade. Saber algo mas não conhecer princípios, procedimentos e atitudes sobre como
ensinar também complica o processo educativo.
3. Ensinar e aprender não são dois lados de uma mesma moeda

Para pensar: O que significa aprender?


Paulo e João encontram, no caminho para casa, sua amiga Rita. Depois dos
cumprimentos, a conversa volta a ser sobre a escola.

– Vocês fizeram o trabalho de história? – pergunta Rita. – É para sexta-feira – completa,


categórica.

– Eu não! – responde Paulo. – O professor sempre deixa entregar depois se você


inventar uma boa desculpa. Então eu vou me concentrar é na prova de geografia e
depois faço o trabalho no fim de semana e entrego na segunda, de boa.

– A prova de geografia, nem fala! – intervém João. – Vai ser dramático! Ele ensinou um
monte de coisas que eu não entendi e diz que vai cair tudo na prova... – complementa,
preocupado.

– Ah, mas ele é bonzinho – interrompe Rita. – Ele depois dá um trabalhinho para subir a
nota.

Algo em que raramente pensamos é que ensinar e aprender não são sinônimos, ou seja,
não significam a mesma coisa. Sequer são dois lados de uma mesma moeda. Ensinar e
aprender são verbos. Na escola, o sujeito do verbo ensinar é "o professor", ou seja, o
professor ensina. Já o sujeito do verbo aprender é "o aluno", isto é, o aluno aprende.

Acontece que nem tudo que o professor ensina será aquilo que o aluno aprenderá. Esse é
o problema vivido por João no que concerne à prova de geografia. O professor ensinou
"um monte de coisas" que ele sabe não ter aprendido.

Além disso, o aluno pode aprender coisas que o professor não ensinou ou não quis,
conscientemente, ensinar. Por exemplo, Paulo sabe, ou seja, aprendeu que o professor
de história deixa entregar os trabalhos fora do prazo sem quaisquer problemas e Rita,
que o professor de geografia "dá um trabalhinho para subir a nota". Esse conhecimento
desenvolvido pelo estudante, mas não previsto no currículo escolar, é chamado de
currículo oculto.

Mas isso são aprendizagens? Certamente são, embora não tenham sido ensinadas de
modo consciente e não apareçam de maneira clara nos planos pedagógicos.

Quando dizemos que os alunos não estão aprendendo na escola, pensamos naqueles
conhecimentos da cultura que são indispensáveis.

PENSEMOS JUNTOS
Há certas dimensões do currículo oculto que podem ser assumidas e trazidas à
luz do currículo oficialmente preparado pelo educador.

Aqui chegamos a outro aspecto importante ao pensarmos em ensino e aprendizagem.


Pela fala de João, Paulo e Rita, podemos pensar que eles estão aprendendo
principalmente para tirar boas notas. Contudo, a sociedade contemporânea impõe um
olhar inovador a questões centrais do processo educativo: o que aprender, como ensinar
e como avaliar o aprendizado. As notas das avaliações, embora cumpram um papel
social, não traduzem o todo das necessidades de se estar na escola aprendendo.

Fica cada vez mais claro que viver, ser criativo e participativo, produtivo e responsável,
no novo cenário globalizado e tecnológico, exige muito mais que a acumulação de
conhecimentos ou até, simplesmente, notas boas conseguidas com "trabalhinhos para
ajudar", em uma linguagem, lamentavelmente, que ainda faz parte do cotidiano de
alguns professores.

O que Paulo, João, Rita e os alunos, de modo geral, que estão vivendo o período escolar
precisam é aprender a aprender, ou seja, saber lidar com as informações cada vez mais
disponíveis, até de modo excessivo (quantas vezes não ouvimos falar de um mesmo
assunto na internet, televisão, rádio etc.?), aplicar diferentes conhecimentos para
resolver os mais variados problemas, ter autonomia para tomar decisões, mapear com
clareza uma situação e buscar as soluções mais adequadas e éticas, saber trabalhar de
modo eficiente com outras pessoas, ser persistente e não desistir diante do primeiro
(nem do segundo!) problema que aparecer, saber analisar conhecimentos e relacioná-los
entre si... Esses são objetivos que polemizam o conhecimento desinteressado, neutro e
erudito da escola do passado.

PENSEMOS JUNTOS
Os estudantes não precisam apenas saber coisas, mas devem saber o que fazer
com aquilo que aprendem. Eles precisam também não apenas ter
conhecimento, mas saber como praticá-lo fora dos muros da escola.

Isso, certamente, não é fácil, mas é necessário. Um antigo ditado diz que "o que tem de
ser feito tem muita força", e é verdade: tem de ser feito. Caso contrário, alunos como
Paulo, João e Rita terão uma formação educativa deficiente.

Essa perspectiva também traz equilíbrio à discussão entre as professoras Isaura e


Marcela, pois orienta os seus esforços no que estudar e como desenvolver aquilo que
poderíamos acertadamente chamar de "uma boa didática".

Os resultados das aprendizagens dos estudantes precisam se expressar e se apresentar


como a possibilidade de operar o conhecimento aprendido em situações que requerem
aplicá-lo para tomar decisões adequadas. Não basta saber algo; é preciso ser competente
para aplicar esse conhecimento em situações pertinentes. A esse conhecimento
mobilizado, operado e aplicado em uma situação específica, deu-se o nome de
competência.

! PARA LEMBRAR
Competência é o conhecimento mobilizado, operado e aplicado em uma determinada
situação pertinente.

4. A escola como espaço para desenvolver competências e habilidades


para que haja ensino e aprendizado

Para pensar: O que significa aprender?


Isaura e Marcela continuam conversando.

– Numa coisa eu concordo com você – retoma Isaura. – Tem muita coisa acontecendo
de mudança ao mesmo tempo e que não dá resultado nenhum. Agora a moda é preparar
para o ENEM. E fica essa lista de competências e habilidades que a gente tem que
trabalhar já desde cedo. E para quê? Para nada!

– Então, menina, não é? Antigamente, não tinha nada dessas coisas e as crianças saíam
da escola melhor que muito formado hoje na Universidade. Está um caos com essa coisa
de não precisa aprender nada, não pode ensinar conteúdos, só desenvolver habilidades –
conclui, categórica, a professora Marcela.

Nisso entram a professora Jéssica e o professor Adriano.

– Colegas, desculpem, mas não pude deixar de ouvir e não concordo – contesta Jéssica.
– As habilidades, quando bem-definidas, são indicadores de que as necessidades básicas
de aprendizagem foram atendidas ou não. Eu estou estudando sobre isso. O que
acontece é que as competências e habilidades não têm sido adequadamente
compreendidas...

– Falando difícil, né, Jéssica? – brinca Adriano. – Mas ela tem razão, Marcela. Sou seu
amigo e colega há muitos anos e nós sabemos que os conteúdos disciplinares não
podem ser a finalidade da aprendizagem em si mesma. É aí que boas competências e
habilidades dão, sei lá, um rumo para os conteúdos aprendidos.

– Quer dizer que não é para escolher entre habilidade e contéudo? – espanta-se Marcela.

As professoras Marcela e Isaura repetem algumas ideias muito divulgadas: que os


conteúdos foram substituídos, na escola, pelas competências e habilidades, como se uns
e outros fossem coisas diferentes. Aliás, para alguns não são apenas diferentes; são
opostos!
Na verdade, não é bem assim. As competências e habilidades são, cada vez mais, no
cenário internacional, uma importante referência na organização pedagógica e
curricular. Ao avaliar essas competências e habilidades, encontramos indicadores de que
as necessidades básicas de aprendizagem estão sendo atendidas para todos – o que
constitui seu procedimento de gestão mais importante, como comentou a professora
Jéssica.

Os conteúdos disciplinares, contudo, não desaparecem da escola. Ao contrário! Se antes


(ou numa perspectiva que apenas valorizava os conteúdos) eles eram, normalmente,
tratados como fins em si mesmos, ou seja, o estudante precisava saber uma série de
conteúdos de português, matemática, geografia etc. para passar de ano; agora eles se
aliam às competências e habilidades. Em outras palavras, estão ao serviço do
desenvolvimento das competências e habilidades.

Os conteúdos passam a ser vistos como meios para aprender a se desenvolver como
indivíduo, cidadão, profissional. Tomar os conteúdos como meios para aprender implica
uma mudança de cultura muito mais profunda do que os relatórios e documentos sobre
esse tema permitem prever, porque coloca o foco da avaliação nos resultados da
aprendizagem. Não se trata de perguntar "para que esse conteúdo vai servir para o
aluno?", como muitas vezes se fazia como desculpa para não ensinar algo. A pergunta,
antes, é "como esse conteúdo pode ser trabalhado em sala de aula para o
desenvolvimento de uma determinada habilidade e competência?".

Então a questão não é que devemos desconsiderar os conteúdos, imaginando que eles
não servem para nada, mas que devemos pensá-los em parceria coesa com as
habilidades e competências que, efetivamente, esperamos que os estudantes
desenvolvam nos seus percursos de aprendizagem.

PENSEMOS JUNTOS
Os conteúdos não são a finalidade do processo educativo, mas os meios para
aprender a se desenvolver como indivíduo, cidadão, profissional.

Evidentemente, primeiro é necessário selecionar com clareza e conhecimento as


competências e habilidades que desejamos desenvolver. Nesse sentido, vale a pena nos
aprofundarmos nos estudos de didática.

Consideremos, antes de tudo, que muitas aprendizagens importantes, no âmbito da


cultura em geral, não requerem a intervenção de um professor nem a complexidade dos
procedimentos de ensino. Nesses casos, aprende-se com a própria atividade, com os
colegas, com o objeto que se manipula ou com textos ou imagens que orientam seu uso.
Mesmo na escola, esse fenômeno é comum. Aprendemos que um professor deixa ir ao
banheiro no começo da aula e outro é mais rígido, ou que uma professora permite
entregar o trabalho fora do prazo e outro não.
Aprendemos também a pegar um ônibus, a compartilhar uma opinião, a gostar de um
novo cantor. Aprendemos, principalmente, com o exemplo dos nossos pais, a respeitar
os mais velhos, a usar palavras de cortesia como "por favor" e "obrigado", a pedir
desculpas quando erramos.

Na escola, porém, aprender e ensinar caminham juntos. O professor revela-se um guia


que, com seus diversos recursos e conhecimentos, orienta a jornada de aprendizagem de
seus alunos.

O professor representa o “conhecido” a ser ensinado e o aluno, o "desconhecido" que


necessita aprender para, depois, aplicar. Observe a parte final: "para depois aplicar".
Aqui reside o cuidado do trabalho com competências e habilidades: como se fará esse
aplicar da aprendizagem construída.Isto é, o fato de que o aluno saiba de algo, não
significa, necessariamente, que ele o saiba aplicar em uma determinada situação.

Ensinar e aprender compõem, assim, o primeiro par que organiza o dia a dia das aulas e
justifica a função maior da escola para estudantes como Rita, João e Paulo.

Entretanto, aprender e ensinar são ações que precisam ser complementadas por outra
dupla igualmente valiosa: avaliar e desenvolver-se. Avaliar não apenas para ter uma
nota que diz se o aluno irá ou não passar de ano, de trimestre ou de bimestre, conceito
que está muito fortemente arraigado em nossa cultura escolar; mas como conjunto de
recusos e processos que aquele que ensina faz da observação e da gestão da
aprendizagem dos educados, isto é, como um instrumento utilizado para verificar do
que os alunos precisam para se desenvolverem bem e saudavelmente, por assim dizer.

! PARA LEMBRAR
Avaliação é o conjunto de recursos e processos pelos quais o educador observa
a aprendizagem dos educandos e faz a gestão do que ensina.

Falando em saúde, podemos comparar os processos de avaliação aos exames que


fazemos antes de nos submetermos a uma intervenção cirúrgica. Esses exames ou testes
(o mesmo nome usado para a escola) são meios para orientar o trabalho do médico, não
a finalidade em si mesmos. Nenhum médico pede uma bateria de exames para seus
pacientes apenas para saber os resultados! A partir desses resultados dos exames, os
médicos podem tomar decisões sobre o que é melhor para os seus pacientes.

Do mesmo modo, o professor, a partir dos resultados das avaliações, pode (deve?)
tomar decisões pedagógicas e fundamentadas não para "melhorar a nota", mas para que
o aluno se desenvolva melhor.

Nesse sentido, desenvolver-se é tanto um direito como uma necessidade de quem


aprende. Se o conhecimento não permite o desenvolvimento, podemos questionar, de
fato, a sua validade. Por isso, é importante dedicar tempo à planejar que habilidades e
competências se desejam desenvolver.
5. Mas qual a diferença entre habilidades e competências?

Para pensar: O que são habilidades e competências?


Isaura e Marcela ficaram muito animadas com as explicações dos colegas Jéssica e
Adriano.

– Gente, isso tudo faz muito sentido para mim – afirma Isaura – mas deve dar um
trabalhão danado.

– No começo, um pouco – responde Jéssica – mas depois é como andar de bicicleta...


fácil e básico – completa, rindo.

Marcela intervêm:

– Mas vocês estão falando de competências e habilidades toda hora como coisas
diferentes. Não é, no fundo, dois nomes para falar do mesmo?

A pergunta da professora Marcela faz muito sentido. Muitos confundem competências


com habilidades e as usam como se fossem a mesma coisa. Quase um nome composto:
"competências-e-habilidades", em expressões feitas como "Ah! Mas eu já trabalho com
competências-e-habilidades".

As competências referem-se às operações mais gerais de pensamento e, quando


aplicadas ou associadas a um contexto específico, precisam ser especificadas por meio
de habilidades ou de esquemas de ação simbólicos ou operatórios, como observados e
coordenados que possibilitaram a expressão de certa competência.

Competência é, portanto, a denominação dada aos dados estruturais da inteligência


humana, com os quais se estabelecem as relações com os objetos, pessoas, fatos e
fenômenos que se deseja conhecer. Por exemplo, interpretar um texto científico é uma
competência. Identificar as ideias principais, relacionar essas ideias entre si e sintetizá-
las são três habilidades que traduzem, no seu conjunto, essa competência.

Observe que interpretar um texto científico pede um contexto, uma situação que torne
importante essa interpretação. Sem isso, interpretar um texto científico terá poucas
diferenças de interpretar qualquer outro gênero de texto. Assim, ao pensar nas
habilidades e competências que se desejam desenvolver, é importante planejar contextos
significativos de aprendizagem que permitam que elas se desenvolvam. Falaremos mais
sobre isso no próximo capítulo.

Além disso, no Anexo I, você encontrará diversos verbos que podem ajudar a construir
as habilidades – sempre lembrando que o sujeito das ações é o educando, não o
educador!

! PARA LEMBRAR
Competências são os dados estruturais da inteligência humana, com os quais se
estabelecem as relações com objetos, pessoas, fatos e fenômenos que se deseja
conhecer. As competências são especificadas em esquemas simbólicos ou
operatórios chamados de habilidades.
Não deixe de consultar o Anexo I para identificar o significado de diversos
verbos que constroem habilidades.

Modalidades de inteligência expressam, pois, o que é necessário para se compreender


ou resolver um problema, ou seja, valem por aquilo que possibilitam em um
determinado contexto. As modalidades de inteligência integram, articulam ou
configuram como resposta a uma pergunta e uma necessidade. Eu preciso interpretar um
determinado texto científico por um motivo; esse motivo cria o contexto situacional e
organiza as habilidades que eu preciso operar.

Ao mesmo tempo, as competências também são modalidades porque representam


diferentes formas ou meios de se conhecer algo. Um mesmo problema pode ser
resolvido de diversos modos. Não há um único modo de interpretar um texto científico;
contudo, isso não significa (claro!) que vale fazê-lo de qualquer jeito.

Na definição de competências, a necessidade de os indivíduos pensarem e agirem


reflexivamente é central. O aluno precisa ter conhecimento, mas refletir sobre a
aprendizagem que fez e como pode articulá-la com outras aprendizagem que já possui.
Ele precisa ter uma ideia clara do seu próprio desenvolvimento.

A capacidade de refletir a que nos referimos aqui não é "ficar no cantinho", pensando na
vida, viajando na imaginação. Ao contrário, refletir, nesta perspectiva, é um complicado
processo de abstração, isto é, do poder ou saber retirar intelectual ou simbolicamente
algo de um plano e organizá-lo em outro, o que implica deparar-se com algo novo. É
uma capacidade que pode ser desenvolvida gradativamente e de modo bem organizado
na escola.

PENSEMOS JUNTOS
Refletir é fundamental para a construção de um currículo centrado em
competências e habilidades. Professores e alunos devem ter, de modos diferentes,
atitudes reflexivas ao longo do processo ensino-aprendizagem. O aluno precisa ter
conhecimento, mas refletir sobre a aprendizagem que fez e como pode articulá-la
com outras aprendizagem que já possui. Ele precisa ter uma ideia clara do seu
próprio desenvolvimento.

Demonstrar uma atitude de reflexão não se reduz, pois, a aplicar rotineiramente uma
fórmula ou um método, mas supõe a capacidade de se adaptar às mudanças, de aprender
com a experiência, bem como de pensar e agir a fim de avaliar os próprios êxitos e
erros.

São competências que preparam os alunos, como o João, o Paulo e a Rita, não apenas
para as etapas seguintes de educação formal, mas para a vida que segue, ou seja, para
sua próxima condição de adultos que um dia serão – adultos que convivem, trabalham e
interagem no mundo atual.

A concepção de competência compreende a inteligência humana na sua capacidade de


construir conhecimentos em conjunto. São vários os aspectos cognitivos em jogo, por
exemplo: saber inferir, atribuir sentido, articular partes e todo, excluir, comparar,
observar, identificar, tomar decisões, reconhecer, fazer correspondências.

Do ponto de vista afetivo ocorre o mesmo: saber prestar atenção, sustentar um foco, ter
calma, não ser impulsivo, ser determinado, confiante, otimizar recursos internos.
Igualmente, do ponto de vista social, seguir regras, cooperar, competir, respeitar etc.

Além de estruturais, as modalidades da inteligência admitem níveis de


desenvolvimento. Cada nível expressa um modo desse processo. O nível seguinte
incorpora o anterior, isto é, conserva seus conteúdos, mas os transforma em uma forma
mais complexa de realização, compreensão ou observação.

Usualmente, temos trabalhado, no Brasil, com três níveis (ou grupos) de


desenvolvimento de competências. Essa tradição é devedora, principalmente, dos
estudos do professor Lino de Macedo que serviram de base para muitas das decisões
tomadas pelos órgãos educativos oficiais.

Os conteúdos e as competências (formas de raciocinar e tomar decisões) relacionam-se


com as habilidades a serem consideradas nas respostas às diferentes questões ou tarefas.

As habilidades devem ser construídas a fim de poderem ser caracterizadas de modo


objetivo, mensurável e observável. Elas possibilitam saber o que é necessário para que o
aluno dê conta, e bem, do que foi previsto no plano de ensino. Permitem, também,
inferir o nível em que os alunos dominam as competências e conteúdos cognitivos em
processo constante de avaliação. Temos, assim, um quarteto: ensinar e avaliar;
aprender e desenvolver-se.

ENSINAR APRENDER

AVALIAR DESENVOLVER-SE
Ensinar e avaliar configuram-se como procedimentos e estratégias do professor.
Aprender e desenvolver-se mostram-se como procedimentos e mudanças que ocorrem
no estudante.

Qual a diferença entre avaliar aprendizagem e avaliar desenvolvimento? Em geral,


avaliar a aprendizagem se refere aos conteúdos disciplinares que foram objeto de
ensino.

Por sua vez, avaliar o desenvolvimento se refere a avaliar competências válidas para
qualquer disciplina escolar e específicas relacionadas às disciplinas ou áreas de
conhecimento, bem como avaliar habilidades que se relacionam mais facilmente a
determinados componentes curriculares.

Os elementos do quarteto aprender e ensinar, avaliar e desenvolver-se interagem de


modo interdependente e complementam-se tais quais partes de um mesmo todo ou
sistema. Além disso, formam um todo maior do que a soma de suas partes e se
constituem em um único e grande sistema de transformações.

6. Por que se preocupar com isso?

Para pensar: E para onde vamos?


A professora Isaura olha para a sua amiga Marcela, atônita:

– Amiga, vivendo e aprendendo. Essa conversa valeu demais! E eu achando que era só
fazer uma aula divertida para ser uma boa professora! Jéssica, você vai ter que me
ajudar a mudar alguns procedimentos... Eu, realmente, estou interessada.

– Pois é, Isaura, fico muito feliz em poder colaborar – responde a professora Jéssica,
rindo. – Os estudos que eu estou fazendo estão valendo muito a pena, ainda mais
quando eles podem não só me ajudar, como ajudar aos colegas! Pensar no que
ensinamos, como educadores, e como a instituição escolar avalia é o que irá permitir
que os alunos aprendam e se desenvolvam. Parece simples, mas não é. Contudo,
também não é um bicho de sete cabeças. Eu terei prazer em ajudar no que for possível!

– Sim – completa Adriano –, por exemplo, é importante definir uma matriz de


competências e habilidades que oriente o ensino. Essa matriz fornece o destino para
onde os estudantes devem se dirigir. Ela se constitui, desse modo, em um currículo
sobre o que ensinar.

– Mas dentro desta visão mais ampla que temos discutido – finaliza Jéssica. – Com base
dessa matriz, podemos avaliar, mesmo que de modo indireto e inferencial, a
aprendizagem. Pode-se avaliar também se houve desenvolvimento dos estudantes.

Na escola, aprender, ensinar, desenvolver e avaliar são igualmente importantes e devem


ser pensados de modo organizado e sistemático. Um currículo fornece um caminho pelo
qual as atividades dos educadores irão se orientar visando ao desenvolvimento dos
estudantes.

João, Paulo e Rita desenvolveram-se. Se isso aconteceu, é porque lhes ensinaram, é


porque aprenderam. Aprenderam porque foram definidas competências e habilidades de
modo claro, junto com conteúdos específicos. Essas competências e habilidades, bem
como os conteúdos que com elas se associam, foram devidamente trabalhadas pelos
seus professores.

E como seus professores (Isaura, Marcela, Jéssica, Adriano etc.) podem afirmar que o
trabalho foi bem feito? Por um lado, porque estudaram e se aprofundaram nesses
conhecimentos didáticos; por outro, porque a avaliação esteve sempre presente,
atravessando e orientando todo o processo, ou seja, do modo como um problema ou
desafio pôde ser compreendido ou resolvido, na complexidade de sua trama social,
afetiva e cognitiva.

PENSEMOS JUNTOS
Na escola, aprender, ensinar, desenvolver e avaliar são igualmente importantes e
devem ser pensados de modo organizado e sistemático. Esse pensar sistemático se
dá nos diferentes processos de planejamento.

7. Para saber mais


FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2011.

MACEDO, L. Ensaios pedagógicos: como construir uma escola para todos? Porto Alegre:
Artmed, 2004.

MACHADO, N. J. Epistemologia e didática: as concepções de conhecimento e inteligência e a


prática docente. São Paulo: Cortez, 2002.

PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
ANEXO I – GLOSSÁRIO DE VERBOS DE COMANDO PARA A ELABORAÇÃO DE
EXERCÍCIOS

Verbos-comando Procedimentos
Analisar Identificar os componentes ou elementos internos e externos (texto e contexto), de
alguma ideia, teoria, processo ou fato que está sendo examinado, em suas partes
fundamentais, classificá-los e relacioná-los entre si e com a sua estrutura global.
Apontar Listar ou reconhecer fatos, ideias, ocorrências ou características de algum fato, ideia,
Identificar teoria, processo ou ocorrência. Também pode se referir a mencionar o pensamento de
Indicar outra pessoa.
Citar Transcrever ou identificar fatos, ideias, ocorrências ou características de algum
elemento, teoria, fato ou acontecimento.
Comparar Identificar as particularidades de duas ou mais ideias, fatos, ocorrências, teorias ou
processos, encontrando as semelhanças ou diferenças. (É importante especificar se o
que se desejam são as semelhanças ou as diferenças.)
Definir Apresentar com rigor, de acordo com a área de estudo, as características ou
particularidades específicas de algum fato, ideia, teoria, processo ou ocorrência. Trata-
se de distinguir, pela identificação das características, o fato, a ideia, a teoria, o
processo ou a ocorrência de todos os demais.
Destacar Separar, dentro de um texto, uma ou mais informações, ideias ou conceitos
considerados relevantes a partir de um determinado referencial.
Justificar (ou) Legitimar uma ideia, teoria, fato, identificando as causas, classificando-as e
Explicar estabelecendo relações.
Fazer entender a veracidade (ou não) de alguma ideia, teoria, processo ou fato por
meio de elementos ou argumentos nos quais se possa acreditar.
Relacionar Estabelecer semelhanças entre coisas diferentes.
Representar Mostrar, por meio de representação gráfica, uma determinada situação.
(graficamente)
Transcrever Identificar (copiar) um trecho de algum texto sem qualquer tipo de modificação. A
resposta é recortada, utilizando-se sinais adequados com as aspas.

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