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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

DEPARTAMENTO DE DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO


DIREITO TRIBUTÁRIO I

SEMINÁRIO: #3 - ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS

NOME DO ALUNO: ANDERSON CORREIA CSISZAR


NÚMERO USP: 5663660

1. FGV - OAB 2017 - XXII Exame. O Município Alfa realizou obras nas praças públicas
de determinado bairro, incluindo iluminação e arborização. Tais obras acarretaram a
valorização imobiliária de dezenas de residências daquela região. Em decorrência
disso, o município instituiu contribuição de melhoria. Sobre a contribuição em
questão, segundo o CTN, assinale a afirmativa correta.

a. É inválida, pois deveria ter sido instituída pelo Estado Beta, onde está
localizado o Município Alfa.
b. É válida, porque foi instituída para fazer face ao custo de obra pública da qual
decorre a valorização imobiliária.

Justificativa: Quando há valorização imobiliária decorrente da obra pública, a


contribuição de melhoria instituída é válida, nos termos do acordo com o
disposto no Artigo 81 do CTN1:

“Artigo 81 - A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos


Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, no âmbito de suas
respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras
públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a
despesa realizado e limite individual o acréscimo de valor que da obra
resultar para cada imóvel beneficiado.”

1
BRASIL. Lei nº 5172, de 25 de out. 1966. Código Tributário Nacional (1966). Diário Oficial. Brasília,
25 de outubro de 1966. 145º da Independência e 78º da República.

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A jurisprudência do STJ segue a mesma linha conforme o seguinte excerto de


decisão exarada no âmbito do AgRg no AREsp 538.554/PR2:

“É entendimento do STJ no sentido de que o valor a ser pago a título de


contribuição de melhoria deve corresponder à valorização do imóvel,
decorrente da obra realizada, observados os limites estabelecidos no art.
81 do CTN. O custo da obra será considerado, segundo a doutrina e
jurisprudência majoritárias, para limitar o valor global a ser pago pelos
beneficiários. Não havendo prova da efetiva valorização imobiliária
decorrente de obra pública, e levando-se em conta que a valorização não
pode ser presumida, não cabe a cobrança da contribuição de melhoria.”

c. É válida, mas poderia ter sido instituída independentemente da valorização


dos imóveis dos contribuintes.
d. É inválida, porque deveria ter, como limite individual, o valor global da
despesa realizada pelo Poder Público na obra e não a valorização de cada
imóvel.

2. FGV - OAB 2015 - XVII Exame. Em 17/07/2014, o Tribunal de Justiça do Estado X


da Federação instituiu, por meio de Provimento da Corregedoria Geral da Justiça, as
custas judiciais e os emolumentos cartorários vigentes a partir da data da publicação.
Sobre a hipótese, assinale a afirmativa correta.

a. As custas judiciais e os emolumentos cartorários têm natureza jurídica de


preço público e, portanto, não estão sujeitos às limitações constitucionais ao
poder de tributar.
b. As custas judiciais e os emolumentos cartorários têm natureza jurídica de taxa
de serviço. Sendo assim, o provimento da Corregedoria Geral viola os
princípios da legalidade, da anterioridade de exercício e nonagesimal.

Justificativa: As custas judiciais e emolumentos das serventias têm natureza


jurídica de taxa de serviço, nos termos do Artigo 77 do CTN dispõe que:

“Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito
Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições,
têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a
2
AgRg no AREsp 538.554/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 16/09/2014, DJe 23/09/2014.

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utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível,


prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.”

O conceito de serviço público elencado na questão está disposto no inciso III


do Artigo 79 do CTN:

Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se:


(...)
III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de
cada um dos seus usuários.

Já a Constituição Federal, no Artigo 145, Inciso II, dispõe que:

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão


instituir os seguintes tributos:
(...)
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização,
efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis,
prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;

As custas judiciais e os emolumentos decorrem da utilização efetiva do


serviço público, o qual é prestado de forma específica e divisível ao
contribuinte (demandas resolvidas judicialmente). Sendo assim, o provimento
da Corregedoria Geral viola os princípios da legalidade, anterioridade
(exercício) e nonagesimal.

É esse também o entendimento da jurisprudência do STF:

Ementa3: “Ação direta de inconstitucionalidade: L. 959, do Estado do Amapá,


publicada no DOE de 30.12.2006, que dispõe sobre custas judiciais e
emolumentos de serviços notariais e de registros públicos, cujo art. 47 -
impugnado - determina que a "lei entrará em vigor no dia 1º de janeiro de
2006": procedência, em parte, para dar interpretação conforme à Constituição
ao dispositivos questionado e declarar que, apesar de estar em vigor a partir
de 1º de janeiro de 2006, a eficácia dessa norma, em relação aos
dispositivos que aumentam ou instituem novas custas e emolumentos, se
3
ADI 3694, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 20/09/2006, DJ
06-11-2006 PP-00030 EMENT VOL-02254-01 PP-00182 RTJ VOL-00201-03 PP-00942 RDDT n. 136,
2007, p. 221.

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iniciará somente após 90 dias da sua publicação. II. Custas e emolumentos:


serventias judiciais e extrajudiciais: natureza jurídica. É da jurisprudência
do Tribunal que as custas e os emolumentos judiciais ou extrajudiciais
têm caráter tributário de taxa. III. Lei tributária: prazo nonagesimal. Uma
vez que o caso trata de taxas, devem observar-se as limitações constitucionais
ao poder de tributar, dentre essas, a prevista no art. 150, III, c, com a redação
dada pela EC 42/03 - prazo nonagesimal para que a lei tributária se torne
eficaz.”

Ementa 4 : “Constitucional. Tributário. Custas e Emolumentos: Natureza


Jurídica: Taxa. Destinação de Parte do Produto de Sua Arrecadação a Entidade
de Classe: Caixa de Assistência dos Advogados: Inconstitucionalidade. Lei
5.672, de 1992, do Estado da Paraíba. I. - As custas, a taxa judiciária e os
emolumentos constituem espécie tributária, são taxas, segundo a
jurisprudência iterativa do Supremo Tribunal Federal. Precedentes do
STF. II. - A Constituição, art. 167, IV, não se refere a tributos, mas a impostos.
Sua inaplicabilidade às taxas. III. - Impossibilidade da destinação do produto
da arrecadação, ou de parte deste, a instituições privadas, entidades de classe
e Caixa de Assistência dos Advogados. Permiti-lo, importaria ofensa ao
princípio da igualdade. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. IV. - Ação
direta de inconstitucionalidade julgada procedente.”

c. As custas judiciais e os emolumentos cartorários têm natureza jurídica de


contribuição social. Sendo assim, o provimento da Corregedoria Geral viola
os princípios da legalidade, da anterioridade de exercício e nonagesimal.
d. As custas judiciais e os emolumentos cartorários têm natureza jurídica de taxa
de poder de polícia. Sendo assim, o provimento da Corregedoria Geral viola
os princípios da legalidade e da anterioridade de exercício.

3. CONSULPLAN - TRE-RJ 2017 - Analista judiciário. A Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988 previu, em seu Artigo 148, o empréstimo compulsório
como uma das espécies tributárias. Esse tributo tem como particularidade a previsão
de resgate do valor arrecadado pelo contribuinte, nos termos do parágrafo único,
Artigo 15 do CTN - Código Tributário Nacional. Assinale a alternativa correta em
termos constitucionais acerca do instituto.

4
ADI 1145, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/10/2002, DJ 08-11-
2002 PP-00020 EMENT VOL-02090-01 PP-00214 RTJ VOL-00191-02 PP-00421.

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a. Somente a União poderá institui-lo.

Justificativa: A alternativa A é a correta, pois nos termos do Artigo 15 do


CTN:

“Art. 15. Somente a União, nos seguintes casos excepcionais, pode


instituir empréstimos compulsórios:
I - guerra externa, ou sua iminência;
II - calamidade pública que exija auxílio federal impossível de atender
com os recursos orçamentários disponíveis;
III - conjuntura que exija a absorção temporária de poder aquisitivo.
Parágrafo único. A lei fixará obrigatoriamente o prazo do empréstimo e as
condições de seu resgate, observando, no que for aplicável, o disposto
nesta Lei.”

Mesmo entendimento expresso no Artigo 148 da Constituição Federal:

“Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir


empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante
interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo
compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.”

b. Além de lei complementar, principal veículo normativo da espécie, poderá ser


instituído através de medida provisória.
c. O valor arrecadado com o tributo poderá ser utilizado para o pagamento de
qualquer despesa da entidade tributante instituidora.
d. Possui como fatos geradores de sua incidência despesas extraordinárias
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; e,
ainda, investimento público de caráter urgente e de relevante interesse
nacional.

4. Há critérios no ordenamento jurídico que fazem imprescindíveis para classificar os


tributos em espécies? Se sim, quais são eles? Como tomar posição entre as várias

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propostas classificatórias da doutrina (tripartida, quinquipartida etc)? Explique para


você quais são as espécies tributárias, explicitando a corrente a que você se filia e
apontando os critérios classificatórios você utiliza para obtê-las.

Resposta: Segundo o Professor Paulo de Barros Carvalho “muitos critérios podem


orientar uma classificação dos tributos em espécies. As clássicas, mais difundias, vêm
carregadas de fortes conotações extrajurídicas, principalmente econômicas. Esse o
motivo pelo qual nos inclinamos por aquela que tem como fonte inspiradora a
circunstância de existir, na hipótese normativa, um vínculo entre o fato descrito e uma
atuação do Estado (no sentido amplo)5”. A doutrina brasileira submete o tributo a
diversas classificações, tendo entre as principais as seguintes:

• Quanto a espécie - classificados em impostos, taxas, contribuição de


melhoria, empréstimo compulsório e contribuições especiais;
• Quanto à vinculação do fato gerador a uma atividade estatal – os tributos
podem ser vinculados quando o fato gerador se refere à uma atividade estatal
específica e relativa ao contribuinte, como por exemplo, as taxas e a
contribuição de melhoria; ou não vinculados, quando o fato gerador for uma
atividade do contribuinte, como no caso dos impostos e contribuições
especiais;
• Quanto à competência - a competência é a aptidão outorgada pela CF/88 para
instituir tributos. Assim, os tributos podem ser federais, se a competência for
da União, estaduais, se foi outorgada aos Estados e municipais se pertencem
aos Municípios;
• Quanto à vinculação do produto da arrecadação - tributos com arrecadação
vinculada aqueles em que o produto da arrecadação deve ser aplicado à
finalidade que deu origem ao tributo, ex: contribuições especiais e tributos
com arrecadação não vinculada são aqueles em que o valor arrecadado não
precisa ser aplicado a nenhuma finalidade estabelecida, ex: taxas e impostos.
• Quanto à função - Fiscal, quando seu principal objetivo é a arrecadação de
recursos financeiros para o Estado. Extrafiscal, quando seu objetivo principal
é a interferência no domínio econômico, buscando um efeito diverso da
simples arrecadação de recursos financeiros. Parafiscal, quando o seu
objetivo é a arrecadação de recursos para o custeio de atividades que, em

5
Capítulo II, 6 – O imposto como tributo não-vinculado à atuação do Estado, página 34 e 35, in
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 12 ed. São Paulo: Editora Saraiva: 1999.

6
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princípio, não integram funções próprias do Estado, mas este as desenvolve


através de entidades específicas6.
• Quanto à possibilidade de repercussão do encargo econômico - os tributos
podem ser diretos ou indiretos; e
• Quanto aos aspectos objetivos ou subjetivos da hipótese de incidência - serão
reais os tributos que estão relacionados com uma coisa, objeto, tais como o
ICMS, IPTU, IPVA, sem levar em consideração características pessoais do
contribuinte. Já os tributos pessoais levam em consideração aspectos
pessoais, subjetivos do contribuinte, tal como o IR, que considera
características pessoais do contribuinte na sua incidência.

No meu ponto de vista, que diverge do adotado pela CTN e pela corrente
majoritária (teoria quinquipartida), defendo que a teoria sextapartida é a mais
abrangente e a que melhor explica o conceito de tributo ao classifica-los em seis
espécies: (i) impostos, (ii) taxas, (iii) contribuições de melhoria, (iv) empréstimos
compulsórios, (v) contribuições especiais e (vi) contribuição de iluminação pública.
Os critérios que utilizo para aderir a essa corrente são: (i) vinculabilidade ou não
vinculabilidade da hipótese de incidência; (ii) existência de destinação específica ou
ausência de destinação específica do produto da arrecadação e (iii) restituibilidade ou
não restituibilidade dos valores arrecadados.
Com base nesses três critérios, elenco as seguintes espécies tributárias: i)
impostos, que são tributos não vinculados, não destinados e não restituíveis; ii) taxas,
que são tributos vinculados, destinados e não restituíveis; iii) contribuições de
melhoria, que são tributos vinculados, destinados e não restituíveis; iv) empréstimos
compulsórios, que podem ser vinculados ou não vinculados, são destinados e são
restituíveis; v) contribuições especiais, que são tributos não vinculados, destinados e
não restituíveis; vi) contribuições de iluminação pública, que são tributos vinculados,
destinados e não restituíveis.

5. A destinação legal do produto arrecadado ou a devolução do montante cobrado são


critérios relevantes para a definição das espécies tributárias? E se o montante não for
aplicado na destinação legalmente prevista, tem o contribuinte a restituição? Explicar
levando em consideração os enunciados do artigo 167, IV, da Constituição Federal de
1988; o artigo 4º, II, do Código Tributário Nacional; e o art. 9º da Lei 4.320/64.

6
MACHADO, Hugo de Brito, Curso de Direito Tributário, São Paulo: Malheiros, 2005, p. 82.

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Resposta: Não. Para o CTN a denominação e as demais características formais


adotadas pela lei bem como a destinação legal do produto da arrecadação são
irrelevantes para definir a sua natureza jurídica. Contudo, vale ressaltar que essa regra
não se aplica aos empréstimos compulsórios e às contribuições especiais, sendo a
destinação da arrecadação critério de validação constitucional dessas duas espécies
tributárias.
Quanto a possibilidade de devolução ao contribuinte do montante não aplicado na
destinação legalmente prevista, o STF já se manifestou, no Recurso Extraordinário
566.007/Rio Grande Do Sul, sobre a impossibilidade, ao afirmar que a desvinculação
de receitas não contraria a Carta Magna. E, mesmo se o fizesse, a consequência seria
a revinculação dessas verbas, e não a restituição delas ao contribuinte.

Ementa7: “DIREITOS CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL. DESVINCULAÇÃO DE RECEITAS DA UNIÃO – DRU. ART. 76 DO
ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS.
AUSÊNCIA DE CORRELAÇÃO ENTRE A ALEGADA
INCONSTITUCIONALIDADE DA DRU E O DIREITO À DESONERAÇÃO
TRIBUTÁRIA PROPORCIONAL À DESVINCULAÇÃO. ILEGITIMIDADE
PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.”

6. Com apoio no seguinte texto, responda as questões:

LEI Nº 8.024, DE 12 DE ABRIL DE 1990 (excertos)


Institui o cruzeiro, dispõe sobre a liquidez dos ativos financeiros e dá outras
providências.

[…]

Art. 5º Os saldos dos depósitos à vista serão convertidos em cruzeiros, segundo a paridade
estabelecida no § 2º do art. 1º, obedecido o limite de NCz$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzados
novos).

§ 1º As quantias que excederem o limite fixado no caput deste artigo serão convertidas, a partir
de 16 de setembro de 1991, em doze parcelas mensais iguais e sucessivas.

7
STF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO: RE 566.007 RS. Relatora: Ministra Carmem Lúcia. DJ:
13/11/2014

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§ 2º As quantias mencionadas no parágrafo anterior serão atualizadas monetariamente pela


variação do BTN Fiscal, verificada entre o dia 19 de março de 1990 e a data da conversão,
acrescida de juros equivalentes a 6% (seis por cento) ao ano ou fração pro rata.

3º As reservas compulsórias em espécie sobre depósitos à vista, mantidas pelo sistema bancário
junto ao Banco Central do Brasil, serão convertidas e ajustadas conforme regulamentação a ser
baixada pelo Banco Central do Brasil.

Art. 6º Os saldos das cadernetas de poupança serão convertidos em cruzeiros na data do próximo
crédito de rendimento, segundo a paridade estabelecida no § 2º do art. 1º, observado o limite de
NCz$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzados novos).

§ 1º As quantias que excederem o limite fixado no caput deste artigo, serão convertidas, a partir
de 16 de setembro de 1991, em doze parcelas mensais iguais e sucessivas.

§ 2º As quantias mencionadas no parágrafo anterior serão atualizadas monetariamente pela


variação do BTN Fiscal, verificada entre a data do próximo crédito de rendimentos e a data da
conversão, acrescidas de juros equivalentes a 6% (seis por cento) ao ano ou fração pro rata.

3º Os depósitos compulsórios e voluntários mantidos junto ao Banco Central do Brasil, com


recursos originários da captação de cadernetas de poupança, serão convertidos e ajustados
conforme regulamentação a ser baixada pelo Banco Central do Brasil.

Art. 7º Os depósitos a prazo fixo, com ou sem emissão de certificado, as letras de câmbio, os
depósitos interfinanceiros, as debêntures e os demais ativos financeiros, bem como os recursos
captados pelas instituições financeiras por meio de operações compromissadas, serão
convertidos em cruzeiros, segundo a paridade estabelecida no § 2º do art. 1º, observado o
seguinte:

I - para as operações compromissadas, na data de vencimento do prazo original da aplicação,


serão convertidos NCz$ 25.000,00 (vinte cinco mil cruzados novos) ou 20% (vinte por cento)
do valor de resgate da operação, prevalecendo o que for maior;

II - para os demais ativos e aplicações, excluídos os depósitos interfinanceiros, serão convertidos,


na data de vencimento do prazo original dos títulos, 20% (vinte por cento) do valor de resgate.

§ 1º As quantias que excederem os limites fixados nos itens I e II deste artigo serão convertidas,
a partir de 16 de setembro de 1991, em doze parcelas mensais iguais e sucessivas.

§ 2º As quantias mencionadas no parágrafo anterior serão atualizadas monetariamente pela


variação do BTN Fiscal, verificada entre a data de vencimento do prazo original do título e a
data da conversão, acrescida de juros equivalentes a 6% (seis por cento) ao ano ou fração pro
rata.

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3º Os títulos mencionados no caput deste artigo, cujas datas de vencimento sejam posteriores ao
dia 16 de setembro de 1991, serão convertidos em cruzeiros, integralmente na data de seus
vencimentos.

[…]

Art. 9º Serão transferidos ao Banco Central do Brasil os saldos em cruzados novos não
convertidos na forma dos arts. 5º, 6º e 7º, que serão mantidos em contas individualizadas em
nome da instituição financeira depositante.

§ 1º As instituições financeiras deverão manter cadastro dos ativos financeiros denominados em


cruzados novos, individualizados em nome do titular de cada operação, o qual deverá ser exibido
à fiscalização do Banco Central do Brasil, sempre que exigido.

[…]

Art. 13. O pagamento de taxas, impostos, contribuições e obrigações previdenciárias resulta na


autorização imediata e automática para se promover a conversão de cruzados novos em cruzeiros
de valor equivalente ao crédito do ente governamental, na respectiva data de vencimento da
obrigação, nos próximos 60 dias.

[…]

Art. 17. O Banco Central do Brasil utilizará os recursos em cruzados novos nele depositados
para fornecer empréstimos para financiamento das operações ativas das instituições financeiras
contratadas em cruzados novos, registradas no balanço patrimonial referido no artigo anterior.

Parágrafo único. As taxas de juros e os prazos dos empréstimos por parte do Banco Central do
Brasil serão compatíveis com aqueles constantes das operações ativas mencionadas neste artigo.

Art. 18. O Ministro da Economia, Fazenda e Planejamento poderá alterar os prazos e limites
estabelecidos nos arts. 5º, 6º e 7º ou autorizar leilões de conversão antecipada de direitos em
cruzados novos detidos por parte do público, em função dos objetivos da política monetária e da
necessidade de liquidez da economia.

[…]

Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 25. Revogam-se as disposições em contrário.

a) A presente lei instituiu tributo? Justificar, apontando a norma jurídica


responsável pela criação do tributo.

Resposta: Sim, a Lei 8.024/90 instituiu tributo, baseando-se, ainda que


equivocadamente no Artigo 15 do CTN - Código Tributário Nacional e no
Artigo 148 da Constituição Federal.

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b) Qual a espécie tributária? Realizar o exercício por exclusão.

Resposta: Apesar de ser um tema controverso e que ainda suscita discussão


até os dias atuais, o teor jurídico das medidas baixadas pela Lei 8.024/90, na
parte que determina a retenção dos saldos de depósitos a vista, cadernetas de
poupança e outros ativos financeiros, acima dos limites estipulados no mesmo
diploma não pode ser considerado um “confisco”, uma vez que a titularidade
dos valores bloqueados foi mantida, inexistindo transferência para o erário,
portanto o único tipo constitucional capaz de abrigar essa medida seria a
espécie tributária do empréstimo compulsório, mais precisamente o previsto
no inciso I do Artigo 148, haja vista que foi efetuado para atender a despesas
extraordinárias, decorrentes de suposta calamidade pública,

Segundo o Professor Paulo de Barros Carvalho8 não há como se reconhecer a


constitucionalidade da Lei 8.024/90, pois para atender ao propósito do
empréstimo compulsório deveria ser instituída através de lei complementar e
não ordinária, além disso não há possibilidade de uma lei complementar ser
iniciada mediante uma medida provisória e por fim a medida não foi baixada
para fazer frente a uma despesa extraordinária, mas sim para baixar a liquidez
do mercado.

7. A cobrança pela manutenção da rede de água e esgoto, bem como pelo transporte
público urbano pode ser considerada tributo? E se a atividade for prestada por pessoas
jurídicas de direito privado, mediante contrato de concessão de serviços públicos?
Qual a diferença entre tributo e tarifa (preços públicos)? Justificar. E o pedágio? É
taxa, preço público ou espécie tributária diversa? Explicar.

Resposta: A cobrança pela manutenção da rede de água e esgoto, bem como pelo
transporte público urbano não pode ser considerado como um tributo, uma vez que o
serviço é prestado por empresas privadas ou sociedades de economia mista. Ainda
que fossem prestados diretamente pelo Estado sem concessão à terceiros não seria
considerada tributo pois não tem as características inerentes a essa classificação, tais
como a compulsoriedade, pois o cidadão pode captar água de um poço artesanal,
descartar seu esgoto em uma fossa e utilizar diversos meios de transporte para sua
locomoção, portanto não há de se falar em tributo nesses casos.
Podemos apresentar a diferença entre taxa (tributo) e tarifa (preço público) com uma
tabela que aponta suas similaridades e sobretudo suas diferenças:

8
Capítulo I, 5 – Empréstimo Compulsório, página 33 e 34, in CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de
Direito Tributário. 12 ed. São Paulo: Editora Saraiva: 1999.

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SIMILARIDADES
Taxa / Tributo Tarifa / Preço Público
Prestação pecuniária Prestação pecuniária
Fato lícito Fato lícito
DIVERGÊNCIAS
Taxa / Tributo Tarifa / Preço Público
Compulsória Não- Compulsória
É tributo Não é tributo
Obrigação assumida por imposição da lei Obrigação assumida voluntariamente
Instituída em lei (Art. 5º II e 150, I da CF/88) Instituída por contrato (Art. 175, I)
Só se desfaz com a revogação da lei Pode ser objeto de desfazimento do contrato
Administração direita e indireta Parestatais e, em alguns casos, administração
(O Estado atua investido de sua soberania) indireta (O Estado age como se fosse o
particular)
O Ente Público visa cumprir com as funções
públicas, cobrindo os custos do serviço prestado. É O Ente privado visa lucro
atividade sem fins lucrativos
Regime jurídico administrativo e Regime
jurídico de direito privado
Regime jurídico tributário
(Regime jurídico tarifário decorrente de uma
concessão de serviço público; política tarifária)

Serviços públicos compulsórios (Art. 145 da Serviços públicos genéricos (Art. 175, §3º)
CF/88)
Remuneração: Política Orçamentária Remuneração : Política tarifária (Art. 175, III)
Sujeito prestador é sujeito competente para institui Sujeito prestador é sujeito concessionário
o tributo (delegação) ou empresa pública em regime de
direito privado
Competência surge desde já do Texto da Competência surge só após o Processo
Constituição de Licitação (Art. 175, caput)
Comporta atuação extrafiscal pelo Estado Não admite extrafiscalidade.
Condicionado à necessária e prévia autorização
orçamentária em relação à lei que o instituiu (Sum Não condicionada à Lei orçamentária
545 STF)
Fiscalização pelo Judiciário Fiscalização pelo Executivo
Responsabilidade objetiva do Estado (Art. 37, § 6º Prestam em nome próprio e por conta e risco
da CF/88) (Art. 173, §1º da CF/88)
Por prazo indeterminado Por prazo determinado entre as partes

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Já o pedágio gera divergia jurisprudencial e doutrinária, para alguns autores o pedágio


é uma taxa e para outros é preço público ou até espécie tributária diversa. O STF já
se debruçou sobre o tema e exarou o entendimento que a depender das condições das
ocorrências, pode ser taxa ou preço público. O STF tomou como ponto de partida o
critério da compulsoriedade, assumindo-o num só tempo em diferentes acepções.
Asseverou que: havendo uma única via, sem outra alternativa, é hipótese de taxa. Em
sendo duas vias, mais ou menos de igual situação, é preço público.

O pedágio foi criado pela Lei 7.712, de 1988 e Revogada pela Lei nº 8.075, de 1990,
que, em julgamento de 04.05.99, foi declarado pelo Min. Carlos Velloso nos autos do
RREE 181.475-RS e 194.862-RS modalidade de taxa. Também conhecido por “selo-
pedágio”, cobrado pelo Departamento Nacional de Estradas e Rodagem DNER nas
rodovias federais, o referido tributo foi julgado como taxa tendo em vista (i) sua
previsão legal (Lei 7.712/88); (ii) sua compulsoriedade de uso e de cobrança (Lei de
Execução Fiscal); e, por isso mesmo, pertence ao âmbito do (iii) regime de direito
público. Vejamos ementa:

“EMENTA: - CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. PEDÁGIO. Lei 7.712, de


22.12.88. I.- Pedágio: natureza jurídica: taxa: C.F., art. 145, II, art. 150, V. II.-
Legitimidade constitucional do pedágio instituído pela Lei 7.712, de 1988. III.-
R.E. não conhecido9.”

Com a referida decisão, a doutrina entendeu o selo-pedágio como verdadeira exceção


ao princípio da não-limitação ao tráfego (Art. 150, V). Contudo, tomando por base o
voto do Min. Carlos Velloso, a taxa é exigida pelo uso ou conservação das rodovias
e não pela mera transposição de Município ou Estado. Sua hipótese de incidência
difere do IPVA, cumprindo com isso a exigência do §2º, do art. 145 da CF/88. Di-lo
o aludido Ministro:

“A hipótese de incidência do pedágio é a conservação da estrada da rodovia e


ocorre quando da utilização de rodovias federais, pontes e obras de arte especiais
que as integram (Lei 7.712/88, art. 1º).
Contribuinte do pedágio é o usuário da rodovia. (Lei 7.712/88, art. 2º).
Também a base de cálculo do pedágio não é a mesma do IPVA10.”

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STF, 2ª Turma, RE 181475/RS, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Julg.: 04/05/1999, DJ 25-06-
1999 p. 28.
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STF, 2ª Turma, RE 181475/RS, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Julg.: 04/05/1999, DJ 25-06-
1999 p. 28.

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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO
DIREITO TRIBUTÁRIO I

Há que se firmar, em conclusão, que a despeito de neste caso ser o pedágio uma taxa,
nada impede situações em que a cobrança seja a título de preço público, apresentando-
se todos os fatores compositivos do regime de direito próprios desses tipos
exonerativos.

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