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2019/I
Desenhista Instrucional
Katia Paulino
Revisores
Carolina Bontorin Ceccon
Cláudia Mara Ribas dos Santos
Natasha Suelen Ramos de Saboredo
Diagramadores
Ana Maria Oleniki (projeto gráfico)
Débora Cristina Gipiela Kochani
Evelyn Souza Alves
Thais Suzue Ikuta
Ticiane de Farias Pietro
OS AUTORES
Camila de Oliveira Casara
Mestre em Filosofia – Ética e Política, pela Universidade Federal do Paraná (2012). Graduada em
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (2008).
CRÍTICA DO CONHECIMENTO I 43
CRÍTICA DO CONHECIMENTO II 53
ÍCONES
BIBLIOTECA
Indica que o material está disponível na Biblioteca Digital.
DIGITAL
CALCULADORA
Indica a utilização da calculadora HP 12C para resoluções mais precisas.
FINANCEIRA
Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo impresso ou
HIPERLINK
endereço de Internet.
LEITURA
Indica os livros e textos de leitura obrigatória.
OBRIGATÓRIA
Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a um
PENSE
questionamento.
PESQUISE Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais informação.
SUGESTÃO DE Indica textos de referência utilizados no curso e também faz sugestões para
LEITURA leitura complementar.
EMENTA
O ser humano e a formação cultural do ocidente: modernidade, pós-modernidade e globalização.
Expressões e processos do conhecimento. O humano como ser multifacetário e relacional.
Dimensões políticas, ambientais, sociais e religiosas da contemporaneidade.
OBJETIVOS
Por meio do diálogo com as questões centrais que caracterizam o humano e a sociedade
contemporâneos, desenvolver uma reflexão que articule um discernimento criterioso das temáticas
abordadas, contribuindo com uma formação integral, ética e humanizadora.
CARGA HORÁRIA
72 horas
10
Unidade 7: O SER HUMANO RELACIONAL, SOCIAL E POLÍTICO
Nesta Unidade daremos continuidade as múltiplas dimensões do ser humano, com o estudo
do ser humano e o trabalho, como acontece a interação com outros seres humanos ao longo de
sua história, a liberdade de escolha, a alienação e a busca do transcendente. Também abordaremos
dois dos maiores desafios para o indivíduo humano: o autoconhecimento e a elaboração de um
projeto de vida.
INTRODUÇÃO
Nesta Unidade de Estudo, veremos que o surgimento e desenvolvimento de um período
histórico específico e importantíssimo, chamado modernidade, atinge a todos nós de maneiras
diversas, desde a organização de nossas instituições sociais mais básicas como família, religião
etc. às nossas concepções políticas. A todos aqueles e aquelas que desejam formar consciência
crítica e reflexiva sobre suas vidas e os contextos sociais, econômicos, culturais e políticos em
que estamos submersos, recomendamos a leitura atenta desta Unidade de Estudo. Estudaremos
a modernidade, com suas características marcantes, acontecimentos principais e, como sempre,
suas idiossincrasias fundamentais.
Assim, apresentaremos logo no início algumas das transformações históricas cabais para definir
este período, como o Renascimento e a Revolução Industrial. Longe de serem apenas fatos históricos,
esses dois eventos marcam o surgimento de uma nova mentalidade social: surge um novo modo
de vida, de produção, de se relacionar e conhecer o mundo. A relevância do renascimento e da
revolução industrial é inegável para entendermos as transformações pelas quais passou o mundo.
De maneira definitiva, nada mais será como antes após estes acontecimentos.
Em seguida, para nos aprofundarmos e entendermos ainda mais sobre os efeitos da
modernidade, essa interessante época histórica, apresentaremos algumas ideias de um importante
sociólogo inglês chamado Anthony Giddens. Este pensador é responsável por um dos mais
relevantes estudos sobre o tema; suas ideias são apresentadas em seu livro As Consequências
da modernidade, de 1991. Conhecer um pouco das ideias trabalhadas neste livro contribuirá, e
muito, para ampliar as possibilidades de entendimento do período denominado modernidade.
O objetivo desta Unidade de Estudo é modesto: esperamos que você possa aguçar seu
olhar para as transformações sociais que o envolve e circunda muitas vezes de maneira invisível e
natural, mas, mesmo assim, irreversível. Esperamos, ainda, que a leitura aqui proposta aguce suas
indagações e desperte seu olhar para as principais consequências da modernidade. Bons estudos!
FONTE: Banco de Imagens 123rf
O período que será agora tratado representou uma transformação importantíssima para a
humanidade. O Renascimento irá inaugurar uma nova fase de conhecimento e descoberta que
influenciará decisivamente o ocidente. Vamos entender por quê.
O Renascimento, mais do que a maioria dos diversos momentos históricos suscita grandes
controvérsias. Há quem veja nesse movimento filosófico e artístico o momento de ruptura entre
o mundo medieval – com suas características de sociedade agrária, estamental, teocrática e
fundiária – e o mundo moderno urbano, burguês e comercial. (COSTA, 2005, p. 28)
Isso pode ser afirmado porque muitas mudanças importantes ocorreram na Europa a partir
do século XV; e estas mudanças serão as bases para a estrutura das sociedades contemporâneas.
Anthony Giddens, um importante pensador inglês sobre o tema da modernidade, pode nos
ajudar a entender melhor esta fase histórica por meio da seguinte afirmação:
Como podemos perceber, Giddens nos esclarece sobre a radicalidade da mudança trazida
pela nova forma de viver e se organizar da Europa. Esta nova fase trouxe também consequências
importantes para os séculos seguintes. Será com base nas principais ideias deste autor sobre as
caracterizações e perigos trazidos pela modernidade, que iniciaremos o segundo tópico desta Unidade.
O ritmo de mudança
A rapidez com que as mudanças acontecem na modernidade é extrema;
isso pode ser entendido como resultado do desenvolvimento da tecnologia,
porém esta movimentação também é observada em outras esferas.
Escopo da mudança
Isto é, o alvo das mudanças trazidas pela modernidade. Por meio do
uso da tecnologia mais incisivamente, partes do globo são colocadas em
conexão e as transformações sociais acontecem em todo o planeta.
Ainda no que diz respeito ao ineditismo do poderio e desenvolvimento das forças militares
na modernidade, Anthony Giddens afirma que a junção entre inovação industrial e poder militar
remete à própria origem da industrialização moderna. Isto é, tendo a indústria e as inovações
tecnológicas neste período se desenvolvido de maneira tão eficiente e complementar, tais inovações
não deixariam de se estender às forças militares da modernidade.
Neste sentido, este autor sugere que as análises que se empreendam sobre a modernidade
se esforcem para abarcar não somente as mudanças e avanços da modernidade, como também os
perigos e riscos que este período carrega no seio de suas características mais essenciais.
CONCLUSÃO
Nesta Unidade de Estudo, vimos que o período que chamamos de modernidade se refere
a transformações importantes em todas as instituições sociais: desde as relações de trabalho, até
a política e economia. O Renascimento, como fato importante e cabal traz uma nova maneira
de o homem enxergar a si e o mundo em que vive, enquanto que a Revolução Industrial muda
radicalmente a ordem produtiva da vida econômica e altera para sempre os modos de produção.
Vimos ainda que autores importantes da sociologia, como Anthony Giddens e Cristina
Costa, elaboram reflexões sobre este período histórico e o caracterizam a partir da rapidez das
mudanças e o alvo destas.
Também foi tópico importante abordado a natureza característica das instituições modernas.
Para o inglês Anthony Giddens, é preciso estar atento para as consequências que a modernidade
acarreta para vida do planeta como um todo, como o impacto das transformações no meio
ambiente, o totalitarismo e a associação entre poder militar e industrial.
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005.
INTRODUÇÃO
Nesta Unidade, abordaremos um dos temas mais fascinantes e envolventes da
contemporaneidade: a pós-modernidade. Compreender o que a constitui e quais as suas
consequências para o mundo de hoje é uma das tarefas que aqui nos propomos.
Esta Unidade de Estudo requer de você capacidade reflexiva e leitura atenta, não só dos textos
obrigatórios, mas do mundo que o cerca.
No início dos nossos estudos, iremos caracterizar a pós-modernidade. De onde surgiu e
qual o seu campo de estudos originário serão alguns dos dados importantes para entendê-la. Em
seguida, apresentaremos as principais transformações que possibilitaram a pós-modernidade: o
desenvolvimento das tecnologias da informação e a consequente sociedade em rede.
Você poderá enxergar claramente que a realidade que o cerca está permeada pelos efeitos
da pós-modernidade, pois as consequências da sociedade em rede nas relações de produção e
nos movimentos sociais fazem parte, mesmo que de maneira indireta, da vida de qualquer cidadão
do século XXI.
Não poderíamos deixar de apontar para a questão da desterritorialização como um dos
grandes temas da pós-modernidade. Uma das suas principais transformações, a redefinição de
fronteiras e territórios, será nesta Unidade esclarecida e debatida como manifestação das novas
relações sociais, políticas e econômicas que a pós-modernidade trouxe para o mundo. Esperamos
que ao finalizar esta Unidade de Estudo, você esteja ainda mais instigado a pensar e refletir sobre
as transformações do mundo ao seu redor. Bons estudos!
FONTE: Banco de Imagens 123rf
“A pós-modernidade passou a designar uma nova proposta de produção artística que, por
sua ideologia contestadora, associou-se à quebra de valores e de normas de comportamento
que caracterizou o homem contemporâneo, especialmente nos grandes centros urbanos.”
(COSTA, 2005, p. 232).
2 A SOCIEDADE EM REDE
“A introdução da nova tecnologia permitiu que muitas empresas ‘reprojetassem’ sua estrutura
organizacional, tornando-se mais descentralizadas, e reforçando a tendência para tipos
menores e mais flexíveis de empresas, inclusive o trabalho em casa” (GIDDENS, 2012, p. 579).
David Harvey (2007), geógrafo britânico e um dos grandes estudiosos do impacto da tecnologia
da informação nos processos produtivos, afirma que as transformações no processo produtivo sob
a influência dos avanços tecnológicos caracteriza o período denominado de acumulação flexível.
Esse novo modo de organizar a produção se caracteriza pela flexibilização dos processos de
trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos produzidos e dos padrões de consumo.
Surgem nesse contexto muitos outros setores de produção, bem como novas maneiras de
fornecimento dos serviços financeiros, novos tipos de mercados, e, principalmente, muita inovação
comercial, tecnológica e organizacional, nos explica Harvey (2007, p. 140).
A acumulação flexível traz como resultados imediatos o aumento dos empregos e oportunidades
de empreendimentos no chamado “setor de serviços”, assim como parques industriais em países
de industrialização tardia ou capitalismo periférico, como Brasil, Índia e África do Sul. Como
consequência do aumento da produção pelas novas tecnologias, a maneira de explorar o mercado
e oferecer mercadorias também se modifica.
A acumulação flexível confere “uma atenção muito maior às modas fugazes” e mobiliza “todos
os artifícios de indução de necessidades e de transformação cultural” para induzir o consumo a uma
forma efêmera e descartável. Atrelado a esse processo, o relacionamento com os produtos (com
significativa vida útil menor) produzidos passa a ser mais fugaz e caracteriza, portanto, uma “estética
pós-moderna que celebra a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercadificação de
formas culturais” (HARVEY, 2007, p. 148).
Outra face da influência das redes no mundo contemporâneo pode ser sentida na maneira
de organização das mais recentes movimentações sociais. Manuel Castells, em seu livro Redes
de indignação e esperança – movimentos sociais na era da internet (2013) analisou o impacto
das novas tecnologias da comunicação em protestos recentes da primeira década do século XXI,
especialmente aqueles acontecidos no mundo árabe e alguns países da Europa. Para este autor,
as redes sociais na contemporaneidade se constituíram como espaços de autonomia, capazes de
levar os sujeitos além do controle de governos e empresas. Com a intensificação da comunicação
em redes trazida pelas novas tecnologias da informação, há a consequente produção de novos
entendimentos sobre fatos, eventos, políticas, relações sociais etc.
Nesse sentido, Castells afirma que as redes de comunicação (as famosas redes sociais) são,
em certa medida, temidas por governos e instituições de poder, pois são capazes de construir
novas formas de pensamento, direcionar atitudes, construir significados e mobilizar agentes sociais,
sejam eles individuais ou coletivos. Portanto, nos esclarece este autor, as modificações nas formas
de comunicação afetaram definitivamente as relações de poder.
“As rede de poder o exercem sobretudo influenciando a mente humana (mas não apenas)
mediante as redes multimídia de comunicação de massa. Assim, as redes de comunicação
são fontes decisivas de construção do poder” (CASTELLS, 2013, p. 12).
Não se faz mais necessário que as novas movimentações sociais sejam alocadas em uma sede
física, com uma escala hierárquica definida entre indivíduos e encontros periodizados entre seus
membros. Basta que os manifestantes estejam organizados em rede e se identifiquem em suas
dificuldades e reivindicações.
Ainda nas considerações de Manuel Castells sobre a influência das redes nas novas
movimentações sociais, o pensador espanhol afirma que o poder pode estar se deslocando
dos Estados-Nações para novas alianças e coalizões não governamentais. Estas relações não
pertencentes a nenhum território, mais fluidas e inconstantes, podem ser lidas como resultantes
da sociabilidade típica da pós-modernidade.
A influência da tecnologia nas relações sociais, econômicas e políticas dá origem a uma sociedade
muito mais integrada e diversificada. Este fenômeno, aqui chamado de desterritorialização, será
fundamental para entender o que é e quais as consequências da pós-modernidade nas relações
sociais do século XXI, que abordaremos a seguir.
3 A DESTERRITORIALIZAÇÃO
Se uma das características marcantes da pós-modernidade se faz sentir nos novos movimentos
sociais, os quais passam a não necessitar mais de encontro físico entre todos os seus participantes,
então entendemos que a desterritorialização é uma das faces da pós-modernidade.
Segundo Cristina Costa (2005, p. 237), a desterritorialização seria “a perda da importância do
território nacional e a transnacionalização da economia”, bem como “as novas alianças que unem
blocos regionais mais amplos, enfraquecendo as fronteiras nacionais e a circunscrição do Estado”
(COSTA, 2005, p. 237).
Nesta perspectiva, os territórios, as fronteiras e as vizinhanças necessitam de constante
redefinição. São típicas desse processo, as constantes migrações humanas ao redor do globo
terrestre, motivadas pelas mais diferentes causas: guerras, desastres naturais, alianças políticas,
atividades econômicas etc.
Anthony Giddens (2012, p. 467) rotula o século XXI como “a era da migração”, isto porque
a intensificação da migração global após a Segunda Guerra Mundial, e especificamente em anos
mais recentes, trouxe questões políticas e de governança muito sérias para todo o mundo. Inegável,
portanto, é a multiplicidade de dados culturais e influências étnicas que permeiam as sociedades
atingidas por este processo.
CONCLUSÃO
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005.
INTRODUÇÃO
Esta Unidade trata de uma das questões mais comentadas e polêmicas da contemporaneidade:
a globalização. Tema profícuo entre filósofos, sociólogos, economistas entre outros profissionais
interessados em entender os meandros que regem a vida social, política e cultural do século XXI,
este assunto sempre traz posições contrárias e favoráveis capazes de despertar as discussões mais
acaloradas.
O intuito desta Unidade é apontar as principais características da globalização: como surge, por
que se intensifica, os elementos mais importantes responsáveis pela sua intensificação a partir dos
anos 1980, e as consequências desse processo na definição de novas identidades serão algumas
das abordagens do primeiro tópico da Unidade.
Em seguida, ainda no intuito de lhe fornecer maior subsídio para as discussões e
problematizações acerca do tema, propomos uma investigação sobre a questão da ampliação das
fronteiras, processo inevitável da globalização. Abordaremos a formação dos blocos econômicos
e a consequente e dramática questão da imigração no século XXI.
Finalizamos nosso debate apresentando a proposta de uma governança global como saída
pensada por alguns estudiosos para os problemas gerados em função de uma internacionalização
das fronteiras. Esperamos, com esta Unidade, contribuir para o despertar de uma consciência
crítica e reflexiva acerca do tema e levantar ainda mais possibilidades de discussões que busquem
a construção de um mundo mais justo e humano para todos.
Bons estudos!
FONTE: Banco de Imagens 123rf
“A globalização refere-se ao fato de que estamos cada vez mais vivendo em um mesmo
mundo, de modo que os indivíduos, grupos e nações, se tornaram cada vez mais
interdependentes”. (GIDDENS, 2012, p. 102).
Muitos estudiosos do assunto tratam da globalização como uma significativa perda de poder do
Estado Nacional e do mercado interno, o que acarreta trocas comerciais e financeiras internacionais
intensas e confere muito poder às instituições supranacionais, isto é, corporações, bancos e empresas
multinacionais. No entanto, podemos afirmar que, relacionada às profundas transformações
econômicas, acompanhamos uma reviravolta nas relações culturais, sociais e tecnológicas entre os
países a partir dessa época. Giddens (2012) corrobora essa ideia ao afirmar que:
“Embora as forças econômicas sejam uma parte integral da globalização, seria errado sugerir
que elas a produzem sozinhas. A união de fatores políticos, sociais, culturais e econômicos
cria a globalização contemporânea” (GIDDENS, 2012, p. 102).
Assim, a globalização não se restringe às novas dinâmicas econômicas e políticas, ela envolve
outros tantos aspectos sociais capazes de alterar profundamente sociedades inteiras. Somos
levados a crer, portanto, que a globalização é processo multidimensional, ou seja, seus impactos
e consequências podem ser sentidos em diversos âmbitos da vida dos indivíduos no século XXI.
Para isso, explicaremos a seguir alguns dos fatores que contribuíram para a globalização.
Um indivíduo em Tóquio recebe documentos, envia imagens e vídeos em tempo real a outro em
São Paulo, graças ao desenvolvimento da tecnologia dos satélites.
Um exemplo claro das possibilidades trazidas pela tecnologia da comunicação está na mo-
bilização de milhares de pessoas em manifestações políticas e culturais. Movimentos como a
chamada Primavera Árabe (grandes insurreições nos países árabes, a partir de 2009, quando
milhares de pessoas saíram às ruas contra governos ditatoriais, inicia-se na Líbia e se expande
para vários países vizinhos); ou o Greenpeace (importante Organização Não Governamental
que luta pelas questões ambientais), entre outros, podem ser classificados como ações que
buscam agir para além de seus territórios nacionais e são possíveis graças à internet.
Explicaremos o fato das trocas de informações facilitadas pela tecnologia a partir de duas dimensões.
A segunda diz que indivíduos no mundo todo buscam, cada vez mais, forjar
sua identidade em fontes além de seu Estado-Nação. As identidades culturais locais
passam por transformações profundas, e um habitante da Irlanda do Norte, por
exemplo, pode se identificar culturalmente com um da França. A ideia da identificação
patriótica dos indivíduos com seu Estados-Nação está em xeque à medida que as
políticas em níveis globais e regionais se orientam para além das fronteiras geográficas.
Anthony Giddens (2012) afirma que, embora a globalização seja fomentada por grandes trocas
econômicas e desenvolvimento tecnológico, ela pode ser sentida nas relações mais cotidianas. As
transformações são vistas nas formas como as instituições sociais mais elementares, como família, papéis
sociais, identidades pessoais, relações de trabalho, sexualidade etc., são afetadas e reconfiguradas.
Neste sentido, para o autor, a globalização inaugura um período de ascensão do individualismo.
À medida que nos deparamos com transformações profundas nos mais elementares pilares
de sustentação da vida em sociedade, e tradições e costumes antigos já não fazem mais sentido, é
preciso que sejamos capazes de alterar a maneira como pensamos a nós mesmos e surjam novos
padrões identitários.
2.2 A IMIGRAÇÃO
No contexto dos blocos econômicos, as fronteiras são bastante livres e sem impedimentos
quando o que circula são as mercadorias. No entanto, quando se trata de pessoas, especialmente
aquelas vindas dos países de economias periféricas, como África, América Latina e Ásia, as fronteiras
já não são tão desimpedidas.
Atrelada à face positiva e transformadora das relações sociais que a globalização promete,
está sua face perversa e excludente. Para que o ideal de integração da globalização se realize, é
necessário abandonar antigas tradições e posições nacionalistas.
Neste sentido, podemos afirmar que um dos grandes desafios que se impõem às novas
relações entre os países é a questão da imigração e circulação de pessoas em busca das promessas
e benefícios do capitalismo globalizado.
Para a resolução destes entraves gerados pela internacionalização das relações, cada vez
mais se propõe que as soluções para estes se dê num nível global. Segundo Giddens (2012, p.
117), o estabelecimento de uma governança global pode ajudar “a promover uma ordem mundial
cosmopolita, na qual regras e padrões transparentes para o comportamento internacional, como
a defesa dos direitos humanos, sejam estabelecidos e observados”.
CRÍTICA DO CONHECIMENTO I
INTRODUÇÃO
Na época em que vivemos, diferentemente das anteriores, abundam informações. Chegam
até nós turbilhões diários de informações. Nem todas são exatas, verdadeiras e relevantes. Muitas
vezes temos a sensação de que recebemos informações em excesso, que mais nos confundem
que esclarecem. Muitas delas truncadas, grosseiramente simplificadas, cuja fonte não é conhecida,
que podem ter sido divulgadas com a intenção de iludir as pessoas, não com a intenção de lhes
auxiliar a conhecer e compreender a realidade em que vivem. Outras tantas vezes as informações
nos chegam apenas como entretenimento, modeladas (e distorcidas) para provocar emoções e
divertimento, não para ajudar elaborar conhecimentos.
Você já deve ter experimentado isso e provavelmente percebeu que a dificuldade é separar
informações verdadeiras e não verdadeiras, informações relevantes e meros truísmos que nos ocupam
a mente e o tempo. Cada vez mais, é necessário podermos discernir entre as informações que
podem nos ser úteis e as que podem nos iludir. Nesta Unidade, queremos trabalhar alguns conceitos
e distinções que podem nos ajudar na tarefa de filtrar informações e construir conhecimentos.
Todos os dias somos bombardeados por uma enorme quantidade de informações. Jornais,
revistas, TV, Internet, rádio, redes sociais... Não nos faltam informações. Na verdade, as temos em
excesso. Isso cria um dos grandes desafios de nosso tempo: filtrar essas informações, separando
relevantes e irrelevantes, verdadeiras e falsas, úteis e inúteis.
A análise das formas de conhecimento, que empreenderemos nesta Unidade, apresenta algumas
ferramentas para ajudá-lo a enfrentar o desafio de fazer o exame crítico das informações que recebemos.
2 AS FORMAS DO CONHECIMENTO
Ao longo da História, os seres humanos criaram variadas formas de conhecer. São modos diferentes
de usar sua capacidade intelectual, de articular ideias, imagens, raciocínios, sentimentos. Todas as
formas de conhecimento – senso comum, mito, ideologia, ciência, tecnologia, filosofia, religião, arte,
entre outras – atendem de maneiras diferentes à necessidade humana de conhecer e compreender o
mundo e o próprio ser humano. Analisaremos nesta Unidade apenas algumas dessas formas.
01 Como Fenômeno Social: Em todos os grupos sociais percebemos a existência de informações que
circulam continuamente entre seus membros, formando um cabedal comum, isto é, conhecido por todos.
Esse cabedal contém normas de comportamento social, fatos históricos, lendas, superstições, informações
científicas popularizadas, valores morais, crenças religiosas, modos de fazer coisas e organizar a vida,
mitos, ideologias políticas, representações do que seja o mundo e a sociedade etc. Tudo isso misturado,
num conjunto pouco organizado e muitas vezes contraditório. Esse cabedal, entretanto, é da máxima
importância, pois permite a comunicação entre os membros do grupo social e, consequentemente,
facilita a interação e a cooperação entre eles. O senso comum forma uma visão de mundo, isto é, uma
representação, uma imagem de como é o mundo, que é a primeira referência que temos do mundo
que nos cerca e é a referência que as pessoas usam como orientação para a vida cotidiana.
O que vou comer na lanchonete, se levarei ou não agasalho ao sair de casa, se é moralmente
certo ou errado o gesto que pretendo realizar para uma pessoa, em que candidato pretendo
votar, tudo isso é geralmente avaliado por meio de critérios extraídos do senso comum.
Vale atentar para esta característica do senso comum: toda informação que se torna senso
comum, isto é, que se dissemina na sociedade e é repetida em toda parte, começa a ser tomada
como verdadeira. É como um boato maldoso: depois que se difunde, ninguém mais se lembra de
onde veio, quem o proferiu e com que interesse. Tornou-se senso comum, todos o repetem como
se fosse verdadeiro.
IMPORTANTE
Podemos resumir afirmando que o senso comum não examina seus conhecimentos:
não pergunta pela origem das informações, não pergunta por sua veracidade, ou pelos
interesses que eventualmente podem promover a divulgação de fatos distorcidos.
O exame do conhecimento é tarefa constante para todos aqueles que não se satisfazem com
aparências e buscam a verdade. Por isso, apesar de sua enorme importância na vida cotidiana de
indivíduos e coletividades, não podemos nos limitar a aceitar e reproduzir os conteúdos superficiais
do senso comum.
2.2 MITO
Mitos são também uma maneira de conhecer, que a humanidade vem utilizando desde a mais
remota antiguidade até hoje. Trata-se de uma forma de conhecimento baseada fundamentalmente
na compreensão intuitiva dos fatos, que é apresentada, em geral, sob o formato de uma história.
Essa narrativa apresenta, muitas vezes a saga de um herói, a origem do cosmos ou dos deuses, a
origem do ser humano, das raças e dos povos, entre outros temas.
Os mitos são criados, anônima e coletivamente, para explicar o mundo em que vivemos,
especialmente os acontecimentos que nos amedrontam. Essa explicação não segue critérios racionais,
muito menos científicos, mas ensinam, por meio do comportamento dos personagens da narrativa,
a solução dos enigmas da vida, a identidade do grupo social e o modo correto de se conduzir.
É importante observarmos que os mitos estão presentes em nossa vida, mesmo que
não os percebamos. Nós os tomamos como explicações válidas, até o momento
em que novas informações nos fazem adotar outras explicações, mais afeitas às
ciências ou à racionalidade pragmática. Apenas quando as primeiras explicações
são recusadas como inválidas, percebemos que são explicações míticas. O exemplo
a seguir apresenta um caso assim.
UM MITO CONTEMPORÂNEO
Alguém já lhe contou a história seguinte? Ela já foi muito difundida no Brasil há algumas décadas.
Apesar de ser uma explicação mítica, foi aceita como válida por amplos setores da sociedade brasileira:
“O Japão é um país muito pequeno, que fica do outro lado do mundo. Durante a Segunda Guerra
Mundial, foi inteiramente destruído. Mas os japoneses foram tão esforçados, disciplinados e trabalhadores,
que rapidamente reconstruíram tudo e ainda se tornaram um dos países mais ricos do mundo”.
Essa narrativa surgiu nos anos 1960, quando o Japão experimentou um crescimento econômico muito
forte e impressionou o mundo todo com seus trens-bala, automóveis baratos e aparelhos eletrônicos.
Visto a partir do Brasil, o “milagre econômico japonês” parecia incompreensível e, sobretudo,
assustador. O Japão não tinha sido inteiramente destruído, inclusive por duas bombas atômicas? Como
os japoneses conseguiram essa façanha? O que eles faziam de especial para chegar tão longe?
Desconhecendo os fatores econômicos e geopolíticos que favoreceram a reconstrução do Japão,
inclusive a enorme cooperação norte-americana, os brasileiros recorreram à consciência mítica, que
forneceu uma explicação – intuitiva, mas fundamentada na realidade: a tradição japonesa de valorização
do esforço, do trabalho e da disciplina.
E o que os brasileiros têm a ver com esse mito?
Como essa narrativa, criada por brasileiros, pode se referir à identidade dos brasileiros?
A resposta parece estar em uma espécie de contraposição muda:
▪▪ o Japão é um país muito pequeno, o Brasil é um país com imenso território;
▪▪ o Japão foi inteiramente destruído durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil sempre se ufanou
por não ter guerras em seu interior;
▪▪ o Japão foi reconstruído e se tornou rico por meio do trabalho e do esforço de seus cidadãos, o
Brasil ainda não chegou lá.
A ideologia é concebida, então, como uma visão de mundo sistematizada (ao contrário do
senso comum, que é uma visão de mundo desorganizada), modelada pelos interesses do grupo
que a elaborou, que atua afirmando a identidade do grupo, controlando as divergências de seus
membros e difundindo por toda a sociedade a visão de mundo desse grupo.
A ideologia pode atuar como instrumento crítico de desvelamento da realidade, num contexto
em que o grupo que a formula se encontra em situação de subordinação ou de oposição ao grupo
dominante. Contudo, a ideologia se torna falsa consciência e obstáculo à compreensão da realidade
sempre que está a serviço da dominação e, por conseguinte, dos interesses de ocultação do real.
Os mecanismos utilizados pela ideologia para ocultar a realidade foram estudados por Marilena
Chauí (2008. p. 113.). Os principais são:
CONCLUSÃO
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed.
São Paulo: Moderna, 1993.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008. p. 113.
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1983.
CRÍTICA DO CONHECIMENTO II
INTRODUÇÃO
Nesta Unidade daremos continuidade ao estudo da Crítica do Conhecimento, com ênfase
para uma das formas de conhecimento mais prestigiosa dos últimos séculos: a ciência. Dela se
esperam conhecimentos verdadeiros e uma explicação científica tende a ser aceita como verdadeira
e incontestável.
Veremos como surgiu a tecnologia, seu papel na sociedade e como ela atua com a ciência
para desenvolver o conhecimento.
Estudaremos também o papel da Filosofia na construção do conhecimento e como se dá o
diálogo entre ela e outras formas de saber.
Bons estudos!
1 CIÊNCIA
A ciência foi buscada, desde a antiguidade
O campo dos valores éticos e estéticos: pois a ciência não discute valores (o cientista
é quem deve ter valores éticos);
Dessa forma, o formidável poder explicativo da ciência nunca será capaz de esclarecer toda a
realidade, nem de afirmar a existência ou inexistência de Deus, a justiça, a beleza e muitos outros
temas. Não poderá substituir outras formas de conhecimento, como a filosofia, ou a experiência
religiosa, mas poderá conviver com elas e mesmo cooperar, pesquisando em seu campo próprio
e com seus métodos específicos os aspectos básicos dos fenômenos que interessam também a
essas formas de saber.
2 TÉCNICAS E TECNOLOGIA
Técnicas são as formas que a humanidade foi criando, ao longo da história, para transformar
materiais naturais nos bens de que tinha necessidade.
Por sua vez, a tecnologia surgiu com a ascensão da ciência moderna, no final do século
XVIII. Os cientistas da época procuravam explicar com ajuda da ciência o funcionamento das
Dessa maneira, é fácil entender que o principal papel da tecnologia tem sido o de estimular
a economia com novos e melhores produtos, cujo surgimento leva à substituição de produtos
anteriores e força a realização de novos investimentos. A tecnologia se tornou um dos principais
motores da economia capitalista. Contudo, seu uso deve ser dirigido e, quando necessário, limitado,
pela atuação responsável de cientistas e de toda a sociedade.
3 FILOSOFIA
Também a filosofia é um modo especial de elaborar conhecimentos. A própria palavra filosofia
o denuncia: no grego antigo, filo + sofia equivale a amor pela sabedoria, isto é, uma busca contínua,
amorosa e empenhada do conhecimento em direção à sabedoria. Mas esta explicação não nos
basta atualmente.
Como modo de conhecer, a filosofia pode ser compreendida como reflexão radical, rigorosa
e de conjunto sobre problemas que a realidade em que vivemos nos apresenta (SAVIANI, 1983).
Afirmar que a Filosofia é reflexão significa afirmar que a razão (nossa capacidade de raciocinar)
é o instrumento mais importante para a compreensão da realidade. Mas não é qualquer tipo de
reflexão que pode ser chamada de filosófica.
▪▪ deve ser radical, na medida em que desce às raízes dos problemas enfrentados;
▪▪ deve ser rigorosa, quando utiliza de procedimentos com lógica e metodologia, indispensáveis
para o desenvolvimento reto e seguro da razão, bem como da percepção das racionalidades
no real;
▪▪ deve, finalmente, ser abrangente, na medida em que procura focar seus objetos nos contextos
que lhes dão sentidos e nas circunstâncias que interagem com os seres humanos.
Filosofia
a) um conjunto de conhecimentos que visa fornecer explicação
fundamental de todas as coisas;
b) a tentativa de encontrar sentidos que expliquem radicalmente a
realidade humana, sua inserção no mundo e suas possibilidades
existenciais;
c) a busca pelos fundamentos concretos da realidade, bem como a
busca pelas possibilidades de conhecê-la;
d) a busca do direcionamento racional das ações humanas, na ação
e na ética, e da construção racional do mundo humano.
Vale uma palavra sobre a necessidade e a importância da filosofia. O senso comum a considera
inútil. Entretanto, apoiada na reflexão rigorosamente racional, a filosofia permite ao homem se distanciar
do mundo cotidiano, do agir imediato, dos sentidos preconcebidos e impostos pelas ideologias.
Este distanciamento permite:
▪▪ a retomada crítica dos fundamentos da ação individual e coletiva;
▪▪ a crítica do pensamento relativista ou mesmo dogmático, tão frequentes no senso comum;
▪▪ a crítica da especialização fragmentadora das ciências, da estreiteza da razão instrumental
sacralizada pela tecnologia.
Na filosofia reside a possibilidade de o homem transcender a situação dada e não escolhida,
reside nela a possibilidade de o homem se tornar capaz de projetar o efetivamente novo e direcionar
livremente seu destino.
Pelo exercício do pensamento radicalmente crítico, a filosofia permite elaborar a reflexão sobre os
fundamentos e limites da ciência, das tecnologias e das profissões e de todas as formas do conhecer.
Observe o QUADRO 1 a seguir:
A filosofia permite diálogo construtivo com todas as modalidades do conhecimento. Mas também
se opõe, criticamente, à ciência que pretende explicar o real pela negação de tudo o que não recai sob
seus instrumentos; contrapõe-se às ideologias que mascaram a realidade, às tecnologias que pretendem
prescindir da finalidade humana, às abordagens ingênuas e redutoras, que entorpecem o senso comum.
A filosofia pode cooperar construtivamente com todas as modalidades do conhecimento que
exerçam suas funções sem ultrapassar o grau próprio de seu saber.
CONCLUSÃO
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed.
São Paulo: Moderna, 1993.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008. p. 113.
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1983.
INTRODUÇÃO
Quem é o ser humano?
Esta pergunta é constantemente repetida, em todos os tempos e lugares, mas as respostas
nunca permitem compreender inteiramente o ser humano. A complexidade biológica, psíquica,
sociocultural e espiritual do ser humano, associada à sua capacidade de se modificar e de se
reinventar, faz dele um grande mistério para si mesmo.
No entanto, não é possível vivermos como humanos sem nos colocarmos questões fundamentais:
Nesta Unidade, veremos algumas características que fazem do humano um ser tão especial.
Essas características indicam dimensões que, profundamente integradas, constituem o ser humano.
É fundamental entendê-las, pois, se as desconsiderarmos, correremos o risco de construir uma visão
distorcida do que é o ser humano.
IMPORTANTE
O ser humano pode ser pensado como sendo constituído por múltiplas
dimensões profundamente integradas.
É para essa reflexão que nos convida a imagem utilizada pela Bíblia para descrever o surgimento
do ser humano: um boneco modelado em barro, no qual Deus introduziu um espírito: “Então
Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida
e o homem se tornou um ser vivente” (BÍBLIA, Gn 2, 7).
A reflexão de Leonardo Boff (2013) nos ajuda a compreender melhor essa realidade:
Somos Terra que pensa, sente e ama. O ser humano, nas várias culturas e fases históricas,
revelou essa intuição segura: pertencemos à Terra; somos filhos e filhas da Terra; somos
Terra. Daí que [a palavra] “homem” vem de “húmus”. Viemos da Terra e voltaremos
à Terra. A Terra não está à nossa frente como algo distinto de nós mesmos. Temos a
Terra dentro de nós. Somos a própria Terra que na sua evolução chegou ao estágio de
sentimento, de compreensão, de vontade, de responsabilidade e de veneração. Numa
palavra: somos a Terra no seu momento de autorrealização e de autoconsciência.
IMPORTANTE
Essas características os tornam menos dependentes das mães (às vezes inteiramente
independentes), facilitando a sobrevivência em seu habitat natural e permitindo se desenvolver
rapidamente, alcançando em pouco tempo a plenitude física e a capacidade reprodutiva.
IMPORTANTE
Algumas outras diferenças entre o ser humano e o animal serão a seguir destacadas.
Animais situados nos níveis mais elevados da escala zoológica possuem, além dos instintos, uma
certa inteligência concreta, que lhes permite responder de forma nova e diferente a uma situação
imprevista. Chamamos de concreta porque sua inteligência está limitada ao aqui e agora, isto é, a
resposta do animal depende dos elementos presentes e não faz uso de elementos anteriores nem
de possibilidades futuras.
Como sua comunicação se limita a sinais indicativos (índices), não podemos dizer que os
animais possuem linguagem propriamente dita.
Já o ser humano é capaz de elaborar linguagens.
Uma linguagem é um sistema organizado de signos, isto é, sinais que se referem a objetos. O
principal tipo de signo que compõe a linguagem humana é o símbolo. Símbolos são sinais que se
referem ao objeto significado não por meio de um vínculo natural de causa e efeito, mas por meio
de uma relação arbitrária e convencional, isto é, criada pelos homens.
Exemplos de trabalho:
▪▪ a agricultura, pela qual o ser humano modifica o solo e a disseminação das
sementes para obter alimento em quantidade e em local conveniente;
▪▪ a construção de moradias, pela qual o ser humano abandona a busca por abrigos
naturais e produz abrigos destinados a satisfazer todas as suas necessidades,
materiais e culturais.
Trabalho é uma ação transformadora, dirigida por finalidades conscientes, pela qual o ser
humano modifica o ambiente para obter meios de subsistência e proteção. O trabalho
transforma também o próprio ser humano, desenvolvendo suas habilidades físicas e mentais.
CONCLUSÃO
ÁVILA, Fernando Bastos de. Pequena enciclopédia de moral e civismo. 3. ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1982.
BOFF, Leonardo. Ecoespiritualidade: que significa ser e sentir-se terra? Disponível em:
<http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/eco-espiritualidade.htm>. Acesso em: 29 jun. 2013.
INTRODUÇÃO
O ser humano não vive isolado. Ele se torna humano convivendo e se relacionando com outros
seres humanos. Adquire os conteúdos de uma cultura determinada e se torna capaz de produzir
cultura quando vive em sociedade. Atende a suas necessidades produzindo bens por meio do
trabalho organizado em sociedade. Confere sentido à sua existência por meio de significados
coletivamente elaborados. Cria laços políticos como forma de pertencimento a grupos e promoção
de seus interesses.
O ser humano necessita de interação com outros seres humanos para se humanizar e se
desenvolver. Veremos nesta Unidade como acontece este processo.
Bons estudos!
O principal fundamento da
liberdade é o livre-arbítrio.
Semelhante a nosso prisioneiro fictício, quase nunca temos, para escolher, as alternativas que
desejaríamos. Mesmo assim, temos escolhas e podemos fazê-las com base em nosso livre-arbítrio.
Somos finitos e limitados, com certeza, e não dispomos de todas as alternativas de escolha
que desejaríamos possuir. Porém, reconhecer e aceitar nossa finitude e as limitações colocadas
pelas circunstâncias externas nos permite traçar com realismo os nossos projetos e utilizar toda
nossa capacidade de trabalho, de pensamento e criatividade para concretizar nossos projetos.
Por isso, dizemos que o ser humano não apenas vive, mas existe. Não está no mundo como
os demais seres, mas projeta e modifica seu ser e o modo como está no mundo. Vive, mas também
“pilota” sua existência.
Um projeto de vida é um plano de desenvolvimento pessoal, uma rota que você escolhe para
alcançar os objetivos mais importantes, isto é, aqueles que vão dar sentido à sua vida, porque
respondem aos anseios mais profundos de seu ser. Elaborar seu projeto de vida supõe, além de
estratégias e metas racionalmente elaboradas, responder, do fundo do coração, a perguntas vitais
e muito pessoais, como:
▪▪ Que tipo de pessoa eu quero ser?
▪▪ Que propósito e que uso quero dar aos 25 mil dias que tenho pela frente?
▪▪ Que tipo de vida vai me fazer sentir feliz e realizado?
▪▪ O que estou disposto a fazer para alcançar os objetivos que me realizam?
▪▪ Qual é, para mim, a importância do amor, do sexo, da família, da fé religiosa, do dinheiro,
do reconhecimento e da fama?
Não confunda projeto de vida com projeto de carreira. Um plano para o desenvolvimento da
formação e da carreira profissional, fixando estratégias, metas e prazos é muito importante para
você se tornar um profissional bem-sucedido. No entanto, a carreira profissional é apenas parte
de sua vida e não toda a vida.
IMPORTANTE
Um projeto de vida nunca é definitivo, pois a vida muda incessantemente e mudamos com
ela. Escolher seus objetivos de vida e planejar a rota a percorrer para alcançá-los é um passo
indispensável para chegar lá.
ÁVILA, Fernando Bastos de. Pequena enciclopédia de moral e civismo. 3. ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1982.
BOFF, Leonardo. Ecoespiritualidade: que significa ser e sentir-se terra? Disponível em:
<http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/eco-espiritualidade.htm>. Acesso em: 29 jun. 2013.
INTRODUÇÃO
No início do século XX pouco se conhecia sobre a ecologia e as questões ambientais; na
época, um cidadão brasileiro poderia passar a vida toda sem se preocupar com o meio ambiente.
Atualmente, você já deve ter percebido que o ambiente é um assunto incontornável. Assim como
você, todos somos convocados a repensar nossas práticas cotidianas, nossas formas de produzir e
consumir, visando formas mais ecológicas de viver e se desenvolver.
Nesta Unidade de Estudo, você deverá desenvolver maior consciência sobre o ambiente e
seus vários problemas. Apresentaremos conhecimentos básicos sobre o meio ambiente buscando
desenvolver sua capacidade de perceber os problemas ambientais como processos complexos
que envolvem de forma interdependentes elementos sociais, políticos, econômicos e ecológicos.
Você perceberá que as questões ambientais são muito interessantes, profissionais do mundo todo
trabalham intensamente sobre elas desenvolvendo ideias e soluções. Esta Unidade de Estudo é
apenas um princípio ou incentivo para você estudar e conhecer, ela não aborda todos os temas e
problemas ambientais.
Esperamos que você desenvolva maior sentimento de responsabilidade em relação à sociedade
e ao meio ambiente e que siga em sua educação ambiental indo além deste breve estudo.
FONTE: Banco de Imagens 123rf
No Brasil, o mais recente desastre industrial ocorreu em 2015, no município de Mariana (MG),
quando se rompeu a barragem de Fundão, da mineradora Samarco, controlada pelas empresas
Vale S/A e BHP Billiton. O rompimento da barragem causou uma grande enxurrada de lama e
rejeitos industriais que matou 19 pessoas e devastou o distrito de Bento Rodrigues. Além das
perdas humanas e materiais, a lama provocou graves impactos ambientais.
Estar atento à ecologia ambiental se tornou fundamental. Todos nós precisamos enfrentar
as questões ambientais reconhecendo nossas responsabilidades, isso quer dizer que precisamos
não apenas controlar os danos ambientais, mas também repensar o modo de vida das sociedades
modernas industrializadas.
A preocupação com o impacto nocivo dos humanos sobre o mundo natural levou à formação
de movimentos sociais e políticos “verdes”, como o Greenpeace e o Partido Verde. Embora existam
visões de mundo e estratégias muito diferentes entre os ambientalistas, é comum a preocupação e a
ação em favor de preservar as espécies remanescentes e conservar os recursos do planeta no lugar de
exauri-los. Porém, estes esforços não têm sido suficientes para evitar a poluição ambiental e um possível
aquecimento global excessivo. Reconhecendo o problema, cientistas e líderes, como o Papa Francisco,
afirmam que precisamos proteger nosso planeta unindo esforços para enfrentar simultaneamente os
problemas ambientais e sociais. Neste sentido, o Papa Francisco, faz um apelo fundamental:
Hoje a ecologia ambiental é tema fundamental nos debates políticos, planejamentos econômicos
e na reflexão religiosa; não há como esquivar das questões ambientais e do reconhecimento de que
todos são responsáveis pela preservação ambiental: governos, organizações e cada cidadão.
A EA ganhou importância a nível global após a Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano,
organizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em
1972. Logo após esta Conferência, a Unesco lançou o Programa Internacional de Educação Ambiental
(BRASIL, 2014). Cada país está direcionando esforços para integrar as preocupações ambientais com
a educação. Porém, a EA não deve apenas fazer parte do sistema educativo, mas também do sistema
político onde as ações políticas e planos podem ser formulados e executados a nível nacional.
No Brasil, a educação ambiental emerge em meados da década de 1980, com a ampliação de
forças sociais envolvidas com a temática ambiental. Sua importância se explicita na obrigatoriedade
constitucional, em 1988, no primeiro Programa Nacional de Educação Ambiental, nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, lançados oficialmente em 1997 (BRASIL, 2014), e na Lei Federal n. 9.795,
que define a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999).
IMPORTANTE
CONCLUSÃO
BECK, Ulrich; GIDDENS Anthony; LASH Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na
ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamenta a Lei
n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras
providências. Portal da Legislação, Brasília, jun. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/2002/D4281.htm>. Acesso em: 07 nov. 2016.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação. Educação Ambiental: Por um Brasil
sustentável – ProNEA Marcos Legais & Normativos. Brasília, 2014. Disponível em: <http://www.mma.gov.
br/images/arquivo/80221/pronea_4edicao_web-1.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2016.
FRANCISCO. Carta encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Vaticano, 2015. Disponível em:
<http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-
laudato-si.html>. Acesso em: 16 dez. 2016.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. [CD-ROM].
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
MEADOWS, D. L. et al. Limites do crescimento: um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o
dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.
MIETH, Andreas; BORK, Hans-Rudolf. History, origin and extent of soil erosion on Easter Island
(Rapa Nui). Catena, v. 63, n. 2-3, p. 244-260, oct. 2005. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.
catena.2005.06.011>. Acesso em: 13 dez. 2016.
NAÇÕES UNIDAS. Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common
Future. Oxford; New York: Oxford University Press, 1987. Disponível em: <http://www.un-documents.net/
our-common-future.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2016.
PEREIRA, Adriana Camargo. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo:
Saraiva, 2008.
SACHS, W. Dicionário do desenvolvimento: guia para o conhecimento como poder. Petrópolis: Vozes, 2000.
TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, L. Fundamentos em Ecologia. 3. ed. São Paulo:
ArtMed, 2011.
UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. Waste Crime – Waste Risks: Gaps in Meeting
the Global Waste Challenge. Oslo: Birkeland Trykkeri AS, 2015.
UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME – WWAP. The United Nations World
Water Development Report 2015: Water for a sustainable world. Paris: Unesco, 2015.
INTRODUÇÃO
Há uma ameaça significativa na degradação ambiental devido ao avanço da tecnologia e de outras
atividades humanas. Esta destruição é evitável por meio de metas ambientalmente amigáveis, como
a manutenção de excelente qualidade da água, ar saudável e preservação da biodiversidade. Cada
indivíduo tem um papel na realização desses objetivos e, portanto, a proteção do meio ambiente.
Veremos nesta Unidade os estudos e as ações em andamento para preservar o meio ambiente
e as gerações futuras.
1 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Grupo que se formou na capital
Em meados da década de 1970, um relatório científico
italiana e reunia industrialistas,
encomendado pelo Clube de Roma, intitulado Os Limites
consultores empresariais e
do Crescimento (MEADOWS, 1972), despertou o interesse
servidores públicos.
público em relação aos problemas ambientais.
Os pesquisadores reunidos para este estudo apontaram que se os índices de crescimento
econômico e populacional continuassem a crescer como no período entre 1900 e 1970, em 2100
teríamos certamente uma crise ambiental muito grave.
A conclusão do relatório encomendado pelo Clube de Roma, é que os índices de crescimento
industrial não são compatíveis com a natureza finita dos recursos da Terra e que o planeta não é
capaz de suportar o crescimento populacional e se recuperar da poluição ambiental. A ideia que
se lançou para o mundo na década de 1970 é de que os níveis de crescimento na população,
industrialização, poluição, produção de alimentos e esgotamento dos recursos é insustentável.
Embora amplamente criticados, os resultados do relatório do Clube de Roma foram utilizados
por muitos grupos para impulsionar a ideia de que o desenvolvimento econômico deveria ser não
apenas limitado, mas drasticamente reduzido a fim de conservar o meio ambiente.
1. Sustentabilidade Social
Compreende o respeito à diversidade, empoderamento de grupos excluídos socialmente,
incentivo à resolução pacífica de conflitos e convivência saudável.
2. Sustentabilidade Econômica
Diz respeito à inserção dos limites ecológicos na produção de bens e serviços, visando
a sustentabilidade econômica, a justiça no acesso ao sustento familiar e pessoal e
economia solidária e responsável.
3. Sustentabilidade Ecológica
Analisa a relação do homem com a natureza, buscando formas de reduzir ou acabar com
o impacto das ações humanas sobre a natureza e vice-versa e de repensar as estruturas
e iniciativas que reforçam e representam a mútua dependência.
FONTE: Pereira (2008)
O sociólogo ambientalista Enrique Leff (2006) aponta que tem ocorrido uma adoção oportunista,
por parte dos estados e das empresas, de novos valores trazidos pelo ambientalismo. Para esse
tipo de soluções falsamente sustentáveis, bastaria agregar como valor a esses “produtos” o que,
até então, era ignorado ou não contabilizado como custos de produção, ou seja, a noção de
desenvolvimento sustentável algumas vezes tem sido utilizada para dar aparência ecológica a
produtos e sistemas de produção que são poluidores ou geradores de resíduos.
Consideradas as críticas à noção de sustentabilidade, cabe considerarmos que uma empresa ou
governo está agindo com responsabilidade socioambiental quando de fato incorpora os princípios
e práticas relacionados às três dimensões de sustentabilidade. Para saber se o modelo de negócio
de uma organização não é sustentável, basta notar se ele contribui direta ou indiretamente para:
▪▪ o aumento sistemático nas concentrações de desperdícios de recursos naturais;
▪▪ o aumento sistemático nas concentrações de substâncias perigosas produzidas pela sociedade;
▪▪ a exploração sistemática e indiscriminada dos recursos naturais;
▪▪ o abuso de poder político e/ou econômico na sociedade, prejudicando a qualidade de vida
dos seres humanos (PEREIRA, 2008).
Segundo dados das Nações Unidas (UNEP, 2015) até 90% do lixo
eletrônico do mundo é despejado sem obedecer a nenhum critério ou
respeito pelos humanos ou pela natureza. Para Gana, por exemplo, são
enviados contêineres cheios de equipamentos eletrônicos obsoletos
ou quebrados com a desculpa de que os países ricos estão doando
equipamentos para diminuir o abismo digital entre ricos e pobres.
Por outro lado, a pobreza também intensifica as ameaças ambientais. A degradação do solo,
o desmatamento, a falta de água, as emissões de chumbo e a poluição do ar são problemas que
estão concentrados nos países e regiões mais pobres. As pessoas que possuem poucos recursos
têm poucas escolhas senão maximizar os recursos disponíveis a elas.
Podemos perceber, no exposto acima,
que, ao falarmos de meio ambiente,
estamos também falando da relação entre Os países industrializados e a ONU exigem
a natureza e a sociedade que a habita. Não que a Indonésia preserve suas florestas
tropicais, porém a Indonésia precisa muito
podemos considerar a natureza como algo
mais da receita proveniente das florestas do
separado de nós, estamos incluídos nela,
que os países industrializados.
somos parte dela. Quando analisamos as
razões pelas quais um ambiente se degrada
ou se contamina, precisamos considerar o funcionamento da sociedade, da sua economia, das
políticas públicas e das suas maneiras de entender a realidade. Tendo em vista a amplitude das
mudanças, já não é possível encontrar uma resposta independente para cada parte do problema.
IMPORTANTE
É preciso buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais
entre si e com os sistemas sociais. Não podemos considerar as crises ambiental e
social separadamente, mas uma única e complexa crise socioambiental. A solução
para tal crise requer uma abordagem integral que acabe com a pobreza, devolvendo
dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuide da natureza (FRANCISCO, 2015).
BECK, Ulrich; GIDDENS Anthony; LASH Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na
ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamenta a Lei
n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras
providências. Portal da Legislação, Brasília, jun. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/2002/D4281.htm>. Acesso em: 07 nov. 2016.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação. Educação Ambiental: Por um Brasil
sustentável – ProNEA Marcos Legais & Normativos. Brasília, 2014. Disponível em: <http://www.mma.gov.
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FRANCISCO. Carta encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Vaticano, 2015. Disponível
em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_
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HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. [CD-ROM].
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
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dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.
MIETH, Andreas; BORK, Hans-Rudolf. History, origin and extent of soil erosion on Easter Island
(Rapa Nui). Catena, v. 63, n. 2-3, p. 244-260, oct. 2005. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.
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NAÇÕES UNIDAS. Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common
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our-common-future.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2016.
PEREIRA, Adriana Camargo. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo:
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SACHS, W. Dicionário do desenvolvimento: guia para o conhecimento como poder. Petrópolis: Vozes, 2000.
TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, L. Fundamentos em Ecologia. 3. ed. São Paulo:
ArtMed, 2011.
UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. Waste Crime – Waste Risks: Gaps in Meeting
the Global Waste Challenge. Oslo: Birkeland Trykkeri AS, 2015.
UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME – WWAP. The United Nations World
Water Development Report 2015: Water for a sustainable world. Paris: Unesco, 2015.
INTRODUÇÃO
Atualmente, o mundo enfrenta diversas ameaças e riscos ambientais. O aquecimento global
e o consumo de alimentos transgênicos são considerados os mais sérios.
As ameaças podem ser divididas, grosso modo, em dois tipos: a poluição e os resíduos lançados
no meio ambiente; e o esgotamento dos recursos renováveis.
Estes são os assuntos que estudaremos nesta Unidade. Bons estudos!
1 A POLUIÇÃO DO AR
É causada pela emissão de substâncias tóxicas na
atmosfera e pode ser a causa da morte de mais de 2,7
milhões de pessoas por ano. A poluição do ar não afeta
apenas a saúde humana, seu impacto é também prejudicial
para outros elementos do ecossistema, como no caso das
chuvas ácidas.
A chuva ácida é um fenômeno que ocorre quando as
emissões de enxofre e óxido de nitrogênio são precipitadas
com a chuva. O impacto da chuva ácida é grave, pois
prejudica florestas, plantações e a vida animal, além de acidificar lagos. Ela é de difícil controle porque
as emissões podem ocorrer em um país e se precipitar em outro.
No Canadá, por exemplo, grande parte da chuva ácida que ocorre no leste do país está
relacionada com a produção industrial do estado de Nova York, do outro lado da fronteira entre
os Estados Unidos da América e o Canadá.
2 A POLUIÇÃO DA ÁGUA
Pode ser entendida com a contaminação do
fornecimento de água por substâncias tóxicas,
minerais, pesticidas e esgoto sem tratamento. Águas
contaminadas são a maior ameaça aos habitantes de
países pobres ou em desenvolvimento onde quase um
terço da população não tem acesso à água que possa
ser consumida com segurança.
Nos países industrializados, os casos de poluição da água ocorrem geralmente em função
do uso excessivo de produtos agrícolas, tais como fertilizantes e pesticidas químicos. No Brasil, a
principal causa de poluição da água é a falta de tratamento de esgoto; em segundo lugar, temos
os lançamentos da indústria e da agricultura.
Se as calotas polares continuarem a derreter, como muitos estudos têm apontado, o nível do
mar aumentará ao ponto de ameaçar as populações litorâneas e terras que estão abaixo do
nível do mar, como as do Reino dos Países Baixos. Nestas condições, somos forçados a refletir
sobre os riscos ambientais.
Outro tipo de risco produzido pelos seres humanos pode ser observado na produção e consumo
de alimentos transgênicos ou Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Os alimentos
transgênicos têm sua composição genética manipulada para que sejam resistentes a agrotóxicos
ou pragas e para que tenham maior produtividade. Eles são diferentes de todos os organismos
que já existiram, pois envolvem o transplante de genes de um organismo para outro diferente.
CONCLUSÃO
A fim de permitir que as pessoas gozem de boa saúde e de uma elevada qualidade de
vida, é vital evitar efeitos nocivos para a saúde humana ou danos ao ambiente, causados pela
poluição do ar, da água e do solo. Nesse processo, meu caro aluno, sua responsabilidade é
mergulhar mais fundo na educação ambiental e aplicar seus conhecimentos nos espaços que
você convive. Repense suas práticas em casa, na rua e no trabalho. Pense global e aja local
contribuindo para as dimensões social, econômica e ambiental do desenvolvimento sustentável.
BECK, Ulrich; GIDDENS Anthony; LASH Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na
ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamenta a Lei
n. 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras
providências. Portal da Legislação, Brasília, jun. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/2002/D4281.htm>. Acesso em: 07 nov. 2016.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação. Educação Ambiental: Por um Brasil
sustentável – ProNEA Marcos Legais & Normativos. Brasília, 2014. Disponível em: <http://www.mma.gov.
br/images/arquivo/80221/pronea_4edicao_web-1.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2016.
FRANCISCO. Carta encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Vaticano, 2015. Disponível
em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_
enciclica-laudato-si.html>. Acesso em: 16 dez. 2016.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. [CD-ROM].
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
MEADOWS, D. L. et al. Limites do crescimento: um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o
dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.
MIETH, Andreas; BORK, Hans-Rudolf. History, origin and extent of soil erosion on Easter Island
(Rapa Nui). Catena, v. 63, n. 2-3, p. 244-260, oct. 2005. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/j.
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NAÇÕES UNIDAS. Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common
Future. Oxford; New York: Oxford University Press, 1987. Disponível em: <http://www.un-documents.net/
our-common-future.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2016.
PEREIRA, Adriana Camargo. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo:
Saraiva, 2008.
SACHS, W. Dicionário do desenvolvimento: guia para o conhecimento como poder. Petrópolis: Vozes, 2000.
TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, L. Fundamentos em Ecologia. 3. ed. São Paulo:
ArtMed, 2011.
UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. Waste Crime – Waste Risks: Gaps in Meeting
the Global Waste Challenge. Oslo: Birkeland Trykkeri AS, 2015.
UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME – WWAP. The United Nations World
Water Development Report 2015: Water for a sustainable world. Paris: Unesco, 2015.
INTRODUÇÃO
A presente Unidade de Estudo focará o tema da política, da cidadania e da justiça social. A
política surgirá sempre que uma pluralidade de indivíduos estiver presente, pois as deliberações e
ações que daí surgirem caracterizarão o exercício mais nobre e complexo das atividades humanas.
Para esta Unidade de Estudo, a leitura atenta deste material, bem como a atenção especial
a todos os acontecimentos políticos a sua volta, é de extrema importância para uma base teórica
e prática de nossas ações na sociedade. Toda e qualquer atividade que nasça da pluralidade, será
atividade política.
Max Weber (1824-1920): o poder político era fruto das relações sociais:
sociólogo alemão, consi- “Todo poder é exercício e, quando exercitado,
derado um dos grandes é política, pois poder é uma ação social”
nomes do início do pen-
(ARAÚJO, 2013, p. 144). Para este autor, a
samento sociológico.
questão da legitimidade do poder político
também foi um tema bastante debatido.
Se nos aprofundarmos no pensamento de Weber, veremos que o pensador alemão nos
esclarece que o poder político se apoia na crença de uma ordem legítima por parte daqueles
que estão envolvidos numa relação de poder. Para uma melhor abordagem da realidade, Weber
classifica a atribuição da legitimidade do poder por parte dos agentes em virtude da tradição, da
crença afetiva e da crença na legalidade de um estatuto:
Tradição
A legitimidade atribuída ao poder da
rainha ou rei, por exemplo.
“O poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas para agir em concerto. O
poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em existência
apenas na medida em que o grupo conserva-se unido” (ARENDT, 1994, p. 36).
“Nas sociedades modernas, a maioria das pessoas que vivem dentro das fronteiras do sistema
político é de cidadãos, tendo direitos e deveres comuns e se considerando parte de uma nação”
(GIDDENS, 2012, p. 699).
No decorrer dos séculos, percebemos o reconhecimento e a expansão dos direitos por parte da
população mais pobre. Esta ampliação veio como resultado de diversas lutas e reivindicações para
que os direitos de cidadania fossem reconhecidos a todos os indivíduos de determinado Estado.
Segundo Thomas Marshall (1893-1981), sociólogo britânico, em sua obra Cidadania e Classe
Social (1949), existiram três ciclos de geração de direitos de cidadania:
Direitos
Direitos políticos:
conquista
sociais:
dos direitos
conquista
de eleger e
dos
ser eleito
direitos de
e participar
bem-estar ativamente
social, como no processo
saúde, educação político.
etc.
O conceito inicial de cidadania surge juntamente com a pólis na Grécia Antiga, mas se amplia e
sofre transformações ao longo dos séculos e das transformações que as instituições políticas passaram.
Neste sentido, a justiça social se mostra como a ampla possibilidade de que indivíduos possam usufruir de
seus direitos e deveres enquanto cidadãos de maneira igualitária e solidária em qualquer Estado-nação.
Com a Revolução Francesa, a concepção de cidadania se expande para abranger os direitos
fundamentais do homem, entendidos como direito da liberdade suscetível de concretização na
cidade e no Estado, e os direitos vinculados à ideia de igualdade e justiça.
“A justiça apresenta-se como um conjunto de critérios ideais que devem presidir a boa conduta e o
desenvolvimento ordenado da coisa pública” (LUMIA 2003, p. 493).
FORMAL MATERIAL
Procedimental Substancial
CONCLUSÃO
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.
ARAÚJO, Sílvia Maria (Org.). Sociologia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto, 2013.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002. v. 1.
HUME, David. Uma investigação sobre os princípios da moral. Campinas: Editora Unicamp, 1995.
LUMIA, Giuseppe. Elementos de teoria e ideologia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 32. ed. rev. e atual. Emenda constitucional
n. 56, de 20.12.2007. São Paulo: Malheiros, 2008.
VECCA, Salvatore. La bellezza e gli oppressi: dieci lezioni sull’idea di giustizia. Feltrinelli, 2002.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos de sociologia compreensiva. Brasília: Editora UnB, 1999.
O FENÔMENO RELIGIOSO
INTRODUÇÃO
O fenômeno religioso é uma das manifestações mais profundas e significativas do ser humano.
Sob variadas formas, está presente em toda a história humana e em todas as sociedades. Sua
influência se estende sobre todo o campo da cultura, das instituições e das ações humanas.
Por isso, não se pode compreender o ser humano – nem ontem, nem hoje, nem nas sociedades
mais simples, nem nas mais complexas – sem refletir sobre o fenômeno religioso. Nem se pode
viver plenamente a condição humana sem fazer, em algum grau, a experiência religiosa.
Esta Unidade pretende apresentar os traços mais determinantes desse fenômeno e os conceitos
que permitem melhor compreendê-lo. As considerações aqui contidas são válidas para quaisquer
crenças religiosas.
FONTE: Banco de Imagens 123rf
A história [...] parece que se deleita em zombar de nossas previsões científicas. Quando tudo parecia
anunciar os funerais de Deus e o fim da religião, o mundo foi invadido por uma infinidade de novos deuses
e demônios, e um novo fervor religioso, que totalmente desconhecíamos, tanto pela sua intensidade
quanto pela variedade de suas formas, encheu os espaços profanos do mundo que se proclamava
secularizado. [...] O fascínio pelo misticismo oriental, a ioga, o zembudismo, a meditação transcendental...
todos estes elementos fizeram cair por terra as previsões científicas acerca do fim da religião. Mudaram-se
as vestes. Frequentemente deixam-se de lado os símbolos ostensivamente religiosos. Mas sempre, de
uma forma ou de outra, é possível constatar no mundo humano e nos recônditos da personalidade a
presença obsessiva e incômoda das questões religiosas. (ALVES, 2006, p. 36-37)
A religião se mantém ainda na atualidade, e não só como fenômeno, mas também como força social,
só que agora sob uma forma fortemente subjetivada e, por conseguinte, muito diversificada. Trata-se
de uma religião mais sutil, mais livre e mais emocional. E nem falemos das formas degradadas de
religião (que vão desde o charlatanismo até o satanismo), nem das formas camufladas (sob o disfarce
do culto do corpo, do esporte, dos ídolos da música e por aí vai). Sob todas essas formas, a religião
se mostra presente e viva na sociedade por certo jogo de esconde-esconde muito mais esperto que
a pretensa esperteza intelectual de seus especialistas. (BOFF, 2015, p. 428)
Enfim, dizer que a religião é uma ilusão ou que vai desaparecer significa não compreender a
importância da experiência religiosa para o ser humano, preferencialmente para os mais vulneráveis
e desprovidos de cuidados da sociedade.
E é quando a dor bate à porta e se esgotam os recursos da técnica que nas pessoas acordam os viventes,
[...] surgem então as perguntas sobre o sentido da vida e o sentido da morte, perguntas das horas de
insônia e diante do espelho... O que ocorre com frequência é que as mesmas perguntas religiosas
do passado se articulam agora, travestidas, por meio de símbolos secularizados. Metamorfoseiam-se
os nomes. Persiste a mesma função religiosa. Promessas terapêuticas de paz individual, de harmonia
íntima, de liberação da angústia, esperanças de ordens sociais fraternas e justas, de resolução das lutas
entre os homens e de harmonia com a natureza... serão sempre expressões dos problemas individuais
e sociais em torno dos quais foram tecidas as teias religiosas. (ALVES, 1981, p. 11-12)
Há que se compreender que a essência da religião não se reduz a uma ideia, mas tem a ver com
força. O crente que entra em comunhão com Deus se torna mais forte, para suportar o sofrimento
e as lutas do cotidiano. Por isso, o sagrado não tem a ver com um saber, e sim com o poder.
O que se constata é que a religião não terá fim, pelo menos enquanto na Terra existir o ser
humano. Ou melhor, enquanto existir sociedade, a religião não desaparecerá. A religião é resposta
diante do não sentido, ou alento para o “suspiro do oprimido”.
Por isto a religião permanecerá até o fim. Como esperança e como protesto, como símbolo que
informa o homem da incompletude e definitiva de sua própria condição, como consciência de que tal
sociedade ainda não chegou e nunca chegará. (ALVES, 1987, p. 100)
Enfim, quanto mais uma pessoa vive e age à luz da experiência espiritual, mais poderá
cultivar opções profundas, grandes sonhos, valores éticos, responsabilidade com a humanidade.
A espiritualidade, por ser o mais profundamente humano, seria o que mais a pessoa tem para ser
à semelhança de Deus. E mais,
“Não é a religiosidade quem faz a verdade ou a mentira de uma vida humana, mas a autenticidade
dessa mesma vida. ‘Em espírito e verdade quer ser adorado o Pai’, recordava Jesus à Samaritana,
junto ao poço de Jacó (Jo 4, 23)” (CASALDÁLIGA, 1998, p. 10).
Para a pessoa humana mística, espiritual, o ordinário (o doméstico, o cotidiano, o dia a dia) é
o lugar por excelência para um verdadeiro encontro com Deus. É numa experiência de abertura à
presença do outro, sobretudo do outro necessitado (Mt 25), e com uma comunhão, uma solidariedade
e uma sensibilidade profunda com toda a realidade, que se pode viver o Encontro com o Amor
e a Vida humanizada. O Sagrado, o Transcendente, o Deus da Vida é revelação, manifestação na
experiência da generosidade, da misericórdia, da justiça, da comensalidade.
“Diante de Deus, se não há a caridade, a religião é inútil”. A religião não é necessariamente prática de
amor, e pode estar totalmente alheia ao amor, como Jesus bem explicou no capítulo 23 de Mateus. Aí
fica muito claro que a religião pode ser obstáculo ao amor, fechamento da pessoa e das instituições ao
amor. A religião precisa de conversão ao evangelho. Pessoas muito religiosas podem ser egoístas,
cruéis, arrogantes, dominadoras, orgulhosas; e as próprias instituições religiosas podem ser de poder,
de cobiça, de egoísmo e de autoritarismo. A religião torna-se um perigo quando esconde o vazio de
amor, a carência de esperança e de fé verdadeira. (COMBLIN, 2004, p. 222-223)
De acordo com a compreensão de Deus que se tem é que se vive; ou seja, se tenho uma
representação de um Deus autoritário, juiz, castigador, patriarcal... Com certeza que minha vivência
com o outro terá o reflexo dessa representação de Deus. Uma vida assumida a partir do Deus
humanizado e vivida de acordo com esse Deus é a única vida que hoje pode ser sinal e compromisso
de humanização para o mundo.
O que importa é a experiência do amor. A experiência religiosa tem que estar a serviço do
compromisso de amor; vale dizer, vivenciar o Evangelho.
A religião é boa se serve para manter a memória de Jesus, para preparar a acolhida do evangelho ou
para estimular a fidelidade. Mas a religião pode também ocultar o evangelho, tornando-o a si própria
a sua finalidade. Então ela transforma a sua doutrina numa mitologia, os ritos num formalismo e a
instituição num instrumento de poder. A religião vale se está a serviço do evangelho, mas é nociva se
ela se torna a si própria como o seu fim. [...] Só Deus salva e salva pela prática do evangelho. Toda
religião deve estar subordinada a essa fé e não substituí-la por outra fé. Nenhuma religião salva porque
somente Deus salva, e salva gratuitamente. (COMBLIN, 2012, p. 97)
Viver o Seguimento de Jesus é praticá-Lo na história. É adentrar no caminho Dele, atitude que
significa viver o amor-misericórdia, a solidariedade-afetiva e efetiva, não como sentimento, mas
como agir concreto. O que importa é praticar a verdadeira religião:
“Se alguém pensa ser piedoso, mas não refreia a língua e engana o seu coração, então é vã a sua
religião. A religião pura e sem mácula aos olhos de deus e nosso Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas
nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste mundo” (BÍBLIA, Tg 1, 26-27).
Trabalhar por uma civilização mais humanizada, onde todos os seres humanos e natureza
serão respeitados, implica superar a realidade fundamentalista que é encontrada por toda a Terra.
A atual globalização capitalista é força e “imperativo” imposto pelo primeiro-mundo a partir de
um fundamentalismo que se assenta na política de um Mercado totalitário. O Mercado proclama:
“fora de mim não há salvação” – se considera legítimo e todo-poderoso. A política imperialista,
neo-colonialista que se impõe sobre os povos e os países mais pobres da Terra, tem a ver com um
fundamentalismo guerreiro, conquistador que pratica uma geopolítica desumanizadora, desapiedada
e cruel.
5 A EXPERIÊNCIA DE FÉ E AS IDOLATRIAS
A atual situação de insensibilidade e de exclusão em relação a dois terços da humanidade
tem a ver com a experiência de fé.
A sociedade contemporânea tem uma causa responsável pelo sofrimento dos seres humanos
e pela destruição da natureza. Ou seja, a policrise (crise de múltiplas dimensões: ecológica, social,
política, financeira, ética etc.) que atravessa a humanidade e que tem levado a situações assustadoras
(terrorismo; migrações dos povos pobres; refugiados; fome; miséria; exaustão dos recursos naturais;
guerras etc.) tem como um fator importante para o seu desencadeamento a crise antropológica.
Na América Latina de hoje, o problema central não é a questão do ateísmo, o problema ontológico da
existência ou não existência de Deus. [...] O problema central está na idolatria como culto aos falsos
deuses do sistema de opressão. Mais trágico que o ateísmo é o problema da fé e da esperança nos
falsos deuses do sistema. Todo sistema de opressão caracteriza-se precisamente por criar deuses e
gerar ídolos sacralizadores da opressão e da antivida. [...] A busca do Deus verdadeiro nessa luta dos
deuses leva-nos ao discernimento anti-idolátrico dos falsos deuses, dos fetiches que matam e de suas
mortais armas religiosas. A fé no Deus libertador, no Deus que revela seu rosto e seu mistério na luta
dos pobres contra a opressão, passa necessariamente pela negação e a apostasia dos falsos deuses.
A fé torna-se anti-idolátrica. (DEI, 1982, p. 7)
O problema é que os ídolos são deuses que sobrevivem às custas de sacrifícios de vidas
humanas e da natureza.
IMPORTANTE
A grande questão é esta: como vivenciar uma Fé no Deus da vida diante de tantos
deuses? Uma fé anti-idolátrica que se opõe a uma experiência que legitima o
sofrimento, a exclusão e a morte dos pobres e vulneráveis. Estar na defesa e promoção
dos “últimos” deve ser o critério para o discernimento de uma fé que não comunga
da idolatria reinante, e nem legitima o genocídio e o ecocídio.
o grito fundo que me acorda do torpor egoísta e me faz perguntar pelo outro, por meu vizinho, por minha
filha, pela criança caída na estrada... Outras vezes está na pura beleza da aurora de um novo dia, ou no
entardecer luminoso de certos dias de outono ou num sorriso ou num olhar que desmancha nosso coração
de prazer. Por isso espero... Que o coração não seja soberbo e ganancioso. Que nos eduquemos para
desequilibrar a instável balança de nossa vida, para não destruir a beleza que nos rodeia, para não ficar
indiferente à dor alheia, para não sermos os únicos a participar do banquete de maravilhas que a Terra azul
nos oferece. Minha fé e minha esperança se encontram, se dão as mãos, se assemelham, se misturam, se
atraem, se conflitam, vivem uma da outra. [...] Sim eu creio, tenho fé e espero... No pão partilhado de cada
dia, na acolhida ao estrangeiro, no cuidado ao órfão e ao velho, ao drogado e ao alcoólatra, às vítimas de
tantas guerras... Eu creio, apesar do real escurecido que meus olhos vêem hoje... [...] O provisório da vida
é o chão que pisamos e, é nele, que a fé e a esperança crescem. Por isso, a fé e a esperança nas coisas
pequenas e aparentemente insignificantes nutrem a... vida, fazem... vida, sustentam... vida. (GEBARA, 2015)
A experiência religiosa tem que ser vivenciada à luz de uma fé que ilumina, ampara, motiva,
encoraja a seguir vivendo na esperança e no compromisso por um mundo onde todos serão
acolhidos no banquete do amor, da justiça, da liberdade e da paz.
CONCLUSÃO
______. O suspiro dos oprimidos. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987. p. 100.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: Ave Maria. 173. ed. São Paulo: Ave Maria, 2007. p. 1539.
BOFF, Clodovis. O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje (parte crítico-analítica). São Paulo:
Paulus, 2015. p. 418. v. 1.
BOFF, Leonardo. Ecologia, mundialização e espiritualidade. São Paulo: Ática, 1993. p. 64.
______. Fundamentalismo: A globalização e o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. p. 25.
______. São Francisco de Assis: ternura e vigor. Petrópolis: Vozes, 1981. p. 32.
CANTALAMESSA, Raniero. Apaixonado por Cristo. O segredo de Francisco de Assis. São Paulo:
Fons Sapientiae, 2015. p. 9-10.
COMBLIN, José. O caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus. São Paulo: Paulus, 2004. p. 222-223.
EQUIPE DO DEI. Introdução. In: VV.AA., A luta dos deuses. Os ídolos da opressão e a busca do Deus
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FRANCISCO. Evangelii Gaudium. Sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, n. 55. Vaticano,
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MESTERS, Carlos; OROFINO, Francisco. O caminho que temos pela frente. Revista Concilium, Petrópolis,
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