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setembro/outubro 2004 nº 149 64

> Revista Brasileira


de Contabilidade

[ A importância da auditoria
interna no processo decisório
das empresas

Yumara Lúcia Vasconcelos*


Professor Dr.Anísio Cândido Pereira**
]
PALAVRAS-CHAVE: auditoria interna – responsabilidade
social – demonstrações contábeis – atitude auditorial –
credibilidade – riscos.

Em decorrência da elevada velocidade de transformação


dos espaços, tem-se observado, na atualidade, o despertar
para uma acepção mais ampla e estratégica para as
funções da auditoria interna nas organizações. O presente
artigo aborda conceito, características, aplicações,
importância da auditoria interna, bem como a expectativa
dos utentes da informação contábil gerada com sua
prática. Traz ainda como recorte temático o papel e
responsabilidade social do auditor interno no contexto
organizacional contemporâneo. Oferece resposta às
seguintes indagações: quais os riscos e potenciais fontes
de erros inerentes à atividade de auditoria interna? Que
variáveis determinam sua eficácia? Quais as reais
atribuições de um auditor interno?
Em ambientes de acentuada competitividade, torna-se
imperativo de excelência o eficiente emprego das
tecnologias contábeis no exercício gerencial para alcance
da almejada eficácia empresarial.

*Professora e pesquisadora da Fundação Visconde de Cairu, Universidade Católica de Salvador e Universidade Federal da Bahia. E-mail: yumara@terra.com.br. Home page:
www.yumara.cjb.net.
**Professor do programa de mestrado em Controladoria e Contabilidade estratégica da FECAP e do programa de mestrado da Fundação Visconde de Cairu. E-mail: profanisio@fecap.br.

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no processo decisório das empresas

> Considerações Preliminares. A importância nos alertam para a necessidade de mudança, entretanto, a
da auditoria interna reside na articulação de movimentos análise das mesmas falhas e o encaminhamento de solu-
que sua implementação redunda, ou seja, em seus efeitos ções são os fatores que, realmente, dão utilidade à ação
e impactos. Não é sua função exclusiva apontar falhas e de buscar a informação.
informar ao alto escalão. Esta visão simplista dos serviços Pretensos em não esgotar o tema, este artigo delimita o
de auditoria é o maior óbice impeditivo à conquista da seguinte âmbito: a instrumentalidade gerencial do output
eficácia. Sinalizar falhas é importante na medida em que ou produto da auditoria interna.

O auditor é um importante apoio no


processo de gestão e não os olhos desta
mesma gestão.

> Auditoria Interna. Antes do século XIX, a audi- atuais, a auditoria interna evoluiu em sua aplicação, con-
toria interna era direcionada para a descoberta de erros e sistindo em um importante apoio para o controle e a efici-
fraudes, possuindo, assim, uma ênfase punitiva. Nos dias ência organizacional.

QUADRO HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DA AUDITORIA INTERNA

Antes do século XIX


Foco na descoberta de erros e Ênfase punitiva e policialesca
processos fraudulentos
consubstanciados ou em
andamento

Século XIX

Foco na investigação acerca da Ênfase elucidativa e não


descontinuidade dos negócios gerencial
Auditoria anual de balanços

Década de noventa até os dias atuais

Busca de opinião confiável Foco voltado mais para o


Alcance mais amplo abrangendo controle aziendal e para o
o complexo organizacional apoio gerencial
como um todo

Auditoria de qualidade

Auditoria de recursos humanos

Auditoria operacional

de sistemas informatizados

Auditoria Ambiental

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Conceito e aplicação cas futuras, posto que surge, ineludivelmente, o ques-


Conceito: conjunto de procedimentos de natureza téc- tionamento: os benefícios auferidos pelo exercício da
nica (pesquisa e revisão), que visa uma avaliação de amplo auditoria interna compensam os custos? Tal indagação
alcance por meio do acompanhamento e verificação da: ganha complexidade quando levamos em considera-
- fidedignidade, integridade da auditoria interna e ção que o pequeno empresário, desobrigado de man-
tempestividade das informações contábeis geradas na or- ter escrituração contábil, em geral, não entende as
ganização1; reais funções de uma auditoria, o que gera uma não
- observância, por parte dos membros da organização, receptividade à adoção de uma estrutura organizacional
aos regulamentos, procedimentos e políticas; com auditoria interna. Essa não receptividade, até cer-
- economicidade no acompanhamento e emprego de to ponto compreensível, às aplicações contábeis por
recursos; parte dos gestores de pequenos negócios, entretanto,
- adequação dos controles internos existentes às neces- não anula a importância relativa da tecnologia em ní-
sidades da empresa,2 além do assessoramento à gestão vel de apoio à gestão.
aziendal em plano diversificado. É importante salientar que, apesar de estarmos nos fi-
A definição de que: “A auditoria contábil é uma xando na auditoria interna contábil, em plano geral, a au-
tecnologia que se utiliza da revisão, da pesquisa, para fins ditoria interna tem ampla aplicação, não se restringindo à
de opinião e orientação sobre situações patrimoniais de área contábil. Temos no rol da auditoria interna ainda:
empresas e Instituições” 3, segundo Antônio Lopes de Sá, Auditoria na Área Operacional, Auditoria de Gestão4, Au-
serve de esteio a qualquer modalidade de auditoria, seja ditoria de Sistemas Informatizados, Auditoria de qualida-
ela interna ou externa. de e Auditoria Ambiental. Na verdade, o fim maior de
Aplicação: a auditoria interna pode ser implementada
Aplicação todas elas é salvaguardar o patrimônio da empresa, inde-
tanto em empresas públicas como privadas, não sendo pendente do tamanho e porte desta.
de caráter obrigatório. A questão do porte, todavia, é A necessidade da proteção patrimonial alcança todas as
discutível e merece ser objeto de elaborações científi- empresas indistintamente.

1
Verifica ainda a completabilidade dos diversos registros.
2
A auditoria interna tem ainda a responsabilidade, em nosso entendimento, de qualificar os controles internos por meio de suas recomendações.
3
SÁ, Antônio Lopes de. Curso de Auditoria. São Paulo: Atlas, 1998.p. 21.
4
Sobre esta modalidade de auditoria interna, cumpre ressaltar a importância da informação contábil para o desempenho de suas funções, especialmente a de participar da feitura do
planejamento estratégico de uma empresa.

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> Que produtos pode a Auditoria Interna to, já o dissemos, cuja duração e extensão varia segundo
oferecer à organização? Uma gestão empresarial as seguintes variáveis:
eficaz, em nosso entendimento, é função da combinação - risco;
de 07 variáveis, a saber: - nível de resistência;
- grau de organização; - grau de criticidade e especialidade e
- liderança interna; - extensão da medida corretiva/preventiva a ser
- eficácia na manutenção e criação de mecanismos de con- implementada.
trole interno ( contábeis, financeiros e operacionais); A auditoria interna evoluiu ao longo dos anos catalisada,
- alocação eficiente de recursos materiais e humanos; na acepção química que investe a expressão, pelas trans-
- empreendedorismo e; formações do entorno ambiental6.
- eficiência da assessoria de linha. Trata-se então, da especialidade
Maior parte dos desempenhos re- contábil que, a nosso ver, mais so-
lativos das variáveis supracitadas são freu ajustes de papéis para criação
facilitadas pelo exercício da auditoria de valor em contexto gerencial. A
interna, na acepção que apresenta- imagem policialesca e punitiva da au-
mos neste trabalho, posto que, con- ditoria interna existente anteriormen-
forme já acenado, fornece elemen- te, entretanto, em nosso entendimen-
tos para configuração de quadros de to tem raízes históricas. Concepção
ação em plano teórico (fundamenta- que conserva traços de existência ain-
ção da estratégia em nível interno e/ da nos dias atuais. A atividade de
ou externo). Não entendemos que a auditoria interna encontra-se muito
prática de auditoria interna esteja fun- vinculada ao seu caráter elucidativo,
damentada na dúvida meramente, embora seja crescente sua utilização
mas sim à necessidade de otimizar para fins preventivos. É ainda muito
processos e adequar posturas aos fins comum associar-se o trabalho da
organizacionais determinados. A au- auditoria interna à identificação de
ditoria interna, no ambiente moder- processos fraudulentos.7
no, não mais carrega a tônica ARAÚJO8 coloca-nos, ilustrando a
policialesca e meramente atestatória visão conservadora da auditoria, que:
que, historicamente, tornava oclusa sua funcionalidade (...)Eduardo I, em 1285, mencionou o termo audi-
gerencial. tor, dizendo que, se as contas por ele examinadas
A auditoria interna tem caráter opinativo, mas as opini- não refletissem a realidade dos fatos, seu testemu-
ões oriundas do exercício auditorial influenciam e trazem nho seria motivo de punição.”
conseqüências ao processo de gestão. Trata-se de uma A descoberta de fraude depende da oportunidade, ex-
tecnologia de efeito. O real sentido de existir de uma tensão e profundidade dos exames efetuados pelo auditor
tecnologia é sua utilidade contextual, fazendo alusão às em seu trabalho, portanto poderá ocorrer mesmo não sen-
relações ambientais que influenciam a geração do fenô- do este seu foco principal. As tarefas do auditor não vi-
meno patrimonial5, bem como a funcionalidade social de sam, particularmente, evidenciar fraudes, mas, sim, um
nossas aziendas (células sociais). estado de coisas num bojo muito maior e mais complexo,
A auditoria interna é uma tecnologia contábil de impac- fato que possibilita a detecção destes desvios compor-

5
Teoria das Funções Sistemáticas.
6
Mais uma vez a Teoria das Funções Sistemáticas instrumentalizando-nos ao entendimento da prática.
7
A detecção de fraudes não é o objetivo da prática auditorial interna, mas sim conseqüência da aplicação de seus procedimentos.
8
ARAÚJO, Francisco José de. Auditoria interna: o que e para quê? Revista Brasileira de Contabilidade, V.27, no. 114, Novembro/Dezembro, 1998.

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tamentais sem, contudo, tornar a fraude como a razão de do9. A solução consiste em inibi-las, tecnicamente, por
existir da auditoria contábil interna. meio, por exemplo, de uma sistemática de controle inter-
Entendemos ainda não ser função do auditor integrar no eficaz .
comissões de inquérito, fato que tende a reduzir, substan- Não estamos a superdimensionar as funções da audito-
cialmente, a eficácia de seu trabalho, visto ser gerador de ria contábil interna, mas, sim, desejamos torná-las visí-
resistências. O auditor não deve ser visto como um veis ao olhar do usuário potencial, por meio da explicitação
opositor, mas, sim, como um parceiro que visa o cresci- de suas vantagens aplicativas. A auditoria contábil, num
mento da empresa. plano geral, não se presta, unicamente, à verificação das
Oportuno torna-se fazer duas considerações: Demonstrações Contábeis ou da integridade da informa-
- o recurso mais efetivo de prevenção de fraudes é a ção contábil, especialmente quando tratamos de Audito-
qualificação dos controles internos. Consumir-se tempo ria Interna.
meramente para descobrir fraudes não resolve o proble- Nosso objetivo, neste artigo, é mostrar a utilidade do
ma, posto que a demissão ou punição do fraudador não trabalho de Auditoria Interna, no qual, entre as suas atri-
melhora a qualidade do controle. A falha no controle per- buições, destacamos duas: a prevenção em relação à ocor-
manece; rência de fraudes e a avaliação da qualidade dos contro-
- o auditor contábil interno não pode ser o “apagador les internos, ênfase esta que não impede que a realiza-
de incêndios”. A descoberta da fraude não é a solução, ção de outras atividades pertinentes ao assessoramento
mas, sim, a evidência de um problema ainda não-resolvi- de gestão.

Figura 1: fluxo da informação auditoria.

Observação Orienta as ações Gestão eficaz :


Informações de gestão melhoria dos
Análise Recomendações padrões de
desempenho

O cenário econômico moderno tem exigido respostas adquire o produto organizacional, ou seja, existe o que
rápidas das organizações às mudanças mercadológicas, denominamos de “valor”. Isto posto, é incontestável o
bem como estratégia na criação de valor para seus produ- valor acrescido pelo trabalho de uma equipe direcionada
tos. Entre as variáveis “custo” e “preço” existe um abis- ao atendimento das necessidades informativas e
mo, decorrente da capacidade apreciativa da clientela que implementativas.

O alcance do binômio eficiência – eficácia é


função da visão que os titulares da organização
têm do trabalho de auditoria interna.

9
E mais: que, na maioria das vezes, precisa ser urgentemente resolvido.

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Os negócios e o mercado ganharam nos últimos tem- satisfação absoluta do cliente (empresa), ou seja, àque-
pos uma notável complexidade, o que deveria exigir le que remunera seus serviços. Embora esteja configu-
dos auditores internos um perfil profissional com visão rada a relação empresa – empregado, a organização é,
além das Demonstrações Contábeis e dos controles in- inegavelmente, cliente do auditor interno. Ressalta-
ternos existentes. Passaria a ser inequívoca, então, a mos de forma categórica: o exercício da auditoria inter-
necessidade de uma visão operacional e de mercado na não é um commodity. Não é um serviço consumível
apurada para melhor assessorar, especialmente em de- muito menos um mero dente de engranagem. Trata-se
corrência da acirrada concorrência. É esta a realidade de um potencial agregador de valor.
do auditor interno no ambiente organizacional no Bra- Pode o auditor interno, por exemplo, avaliar as rela-
sil? Cabe-nos uma reflexão. ções organizacionais que venham a afetar o
Um exemplo que evidencia a importância do assessor “operacional”, a compatibilidade cargo – qualificação,
de linha: atualmente cresce a importância da manuten- apontar resultados, sugerir programas de treinamentos
ção das marcas no mercado, evento que afeta sobre- (criteriosamente definidos), sinalizar ineficiências e in-
maneira a resultabilidade das organizações posto que, dicar padrões e medidas de desempenhos. A auditoria
à medida que o prestígio destas decrescem (saturação interna, em nosso entendimento, é a tecnologia mais
da imagem no mercado), diminuem os resultados apta à receber tais atribuições porque sua aplicação fa-
operacionais. Fato que exige a construção imediata de culta uma cobertura sistêmica do objeto sobre o qual
uma estratégia para reversão de quadro. desenvolve trabalho, a organização como um todo.
O auditor interno, em nosso entendimento, deve Entretanto, o alcance da potencialidade do trabalho de
acompanhar e buscar meios para compreender esta di- auditoria interna encontra limites, dentre os quais a vi-
nâmica e seus efeitos sobre o status econômico-finan- são que os titulares da empresa auditada têm do produ-
ceiro. Assim sendo, defendemos ser este profissional o to da auditoria e de sua equipe. Cabe ao auditor
mais apto a sinalizar os riscos potenciais à sedimentar as bases que facultarão uma dimensão ade-
descontinuidade organizacional (anomalias quada destes, para que não sejam criadas expectativas
operacionais), ou seja, caberia a ele, com base em nos- surreais por parte da administração em relação ao output
so ângulo de análise, este assessoramento diretor. Nos- auditorial.
so argumento maior, repousa na seguinte premissa: o
auditor interno pode acenar com informações diretivas Produtos da Auditoria Interna contábil
e valiosas com base em seus dados históricos e Entendendo-se como produtos da Auditoria Interna
entrosamento com a empresa. Contábil os serviços que ela oferece às organizações,
Julgamos válido e emergente redimensionar-se as atri- assumimos como pressupostos do alcance destes pro-
buições do auditor interno, fazendo-as convergir para a dutos, ações como:

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FOCO ALCANCE
Vulnerabilidade mostrar o impacto decorrente dos desvios do comportamento patrimonial
através do emprego da tecnologia analítica.
Causa - efeito tornar visíveis as fraquezas da organização apontando-lhe a relação
causuística: causa-efeito.
Regulador promover ações reguladoras eficientes.
Caráter elucidativo subsidiar o gestor, em linha de assessoria, ao processo de tomada de
decisão.
Caráter educativo sinalizar posturas favoráveis e desfavoráveis de forma comparativa, desta
forma, catalisando atitudes facilitadoras do processo organizacional na
busca pelo sucesso.
Liderança fortalecer o estado de liderança dos gestores.
Foco construtivo otimizar a qualidade com que as operações são realizadas.
Foco alocativo Informar o efeito acerca do uso e alocação eficiente de recursos materiais
e humanos para atingir-se a eficácia aziendal.
Desempenho facilitar a construção e aferição de padrões de desempenho.
Aderência verificar a compatibilidade das atitudes organizacionais para com as
práticas estruturadas e formalizadas no regulamento interno da entidade,
definidas para assegurar desempenho satisfatório e condizentes com as
necessidades e filosofia da organização.
Aconselhamento promover um assessoramento de linha que possa fundamentar
sobremaneira o processo decisorial, acenando oportunidades para
investimentos, ações preventivas e corretivas assim como a necessidade
de criação de políticas no seio organizacional.
Estratégia e planejamento auxiliar a confecção do planejamento e estratégias para ações em nível
mercadológico e interno à organização
Criação de valor catalisar o processo de surgimento das melhores práticas, facilitando o
processo de criação de valor e manutenção dos padrões de qualidade.
Conformidade Analisar o nível de conformidade existente entre as práticas organizacionais
e a política implementada., e entre a primeira e o planejamento
desenvolvido.
Revisão sistemática de Verificar a adequação, extensão e utilidade dos mecanismos de
controle operativo interno controle interno existentes na organização.

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A Auditoria Interna consiste en- relacionamento entre ambos. Sen-
tão, conforme exposto, em uma do, inclusive, forçoso lembrar a
importante tecnologia contábil de condição do auditor independente
assessoramento e apoio, uma vez de “responsável solidário” em re-
que os produtos de seu trabalho lação ao trabalho do auditor inter-
influenciam a formação dos planos no à medida que avalia os riscos
organizacionais. Quanto maior o gerais da auditoria, dentre os quais
porte, diversificação de produtos e o próprio âmbito e eficácia da au-
complexidade da organização mai- ditoria interna.
or a necessidade e relevo da práti- O auditor externo deve atentar
ca da Auditoria Interna em função para riscos de auditoria desde o
de seu grande raio de ação no uni- planejamento até a emissão do
verso organizacional. parecer, onde sua autonomia e res-
Urge, todavia, destacar que, a ponsabilidade é máxima. Neste pro-
adoção de uma estrutura de or- cesso, poderá recorrer ao auditor
ganização com auditoria interna interno, especialmente nas fases
no seu complexo orgânico não iniciais do trabalho no qual se faz
exclui ou anula a necessidade da mister conhecer o mapa e fluxo de
auditoria externa ou independen- controle interno da organização,
te posto que, as delimitações de bem como sua rotina operacional.
âmbitos para elas são nítidas e É notório que a empresa moder-
inequívocas. na sobrevive de sua habilidade em
É oportuno enfatizar que a exis- produzir sinergias. Em verdade, a
tência da auditoria interna à orga- intersecção dos produtos da Audi-
nização tende a contribui para a toria Interna e externa produz um
eficácia da auditoria externa10, o efeito sinérgico, extremamente,
que ressalta mais ainda a sua con- positivo, visto:
dição de “facilitadora” dos proces- - proporcionar segurança ao
sos organizacionais. Não coadu- trabalho desempenhado pelo au-
namos do pensamento de que ditor externo;
cabe ao auditor independente ava- - acelerar a obtenção dos pro-
liar a competência dos auditores dutos da auditoria externa porque
internos por uma questão mera- torna mais simples o trabalho (o
mente ética: que gera uma maior acurácia para o processo de toma-
“É óbvio que o auditor independente deve da de decisão);
proceder a avaliação da competência dos au- - evitar a repetição desnecessária de tarefas por parte da
ditores internos...”11. Auditoria Externa;
Não devemos confundir avaliação de trabalho com ava- - produzir uma maior nitidez para a informação
liação de competência. Entendemos ser esta prática uma comunicada;
ação antinatural à interação benéfica que se espera do - tornar visível os problemas e entraves organizacionais.

10
Embora, saibamos que a ênfase da Auditoria interna é no fator controle e da Auditoria Externa,os saldos e Demonstrações Contábeis.
11
ARAÚJO, Francisco José de. Panorâmica do relacionamento entre a auditoria externa (ou independente) e a interna. Revista Brasileira de Contabilidade, ano XXVII, no. 110, Março/Abril,
1998.

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A auditoria assume, neste contexto, um


enfoque construtivo e convergente às
necessidades, não aos fins
organizacionais

> Do papel do auditor interno e sua res- dever da obediência às normas que regulam o exercício
ponsabilidade social: o auditor interno tem, como da profissão13; tem ainda um dever moral para consigo
qualquer outro profissional, direitos e obrigações de- mesmo, com a classe e a coletividade (responsabilida-
correntes do exercício de sua atividade. Tem ele a obri- des éticas e sociais). Por fim, não menos importante,
gação de desenvolver suas tarefas com zelo e qualidade tem a obrigação de manter independência em seus
técnica (responsabilidade funcional), atualizando-se, juízos, buscando uma visão verdadeira dos fatos anali-
constantemente, para cada vez mais oferecer respostas sados, isenta e, portanto, desprovida de interesses par-
compatíveis às necessidades organizacionais12; tem o ticulares.

Figura 2: amplitude e alcance da auditoria interna. oferecer.

RECOMENDAÇÕES
ESTRATÉGICAS

INDICAÇÃO DOS ANÁLISES DIVERSAS,


AUDITOR
RISCOS NA TOMADA INCLUSIVE A
INTERNO
DE DECISÕES ECONOMICOFINANCEIRA

TESTES E AVALIAÇÃO DE
COTROLES INTERNOS

12
A auditoria interna é uma atividade extremamente dinâmica e variável posto que assume conformações que transformam-se segundo a estrutura organizacional operante.
13
As normas de auditoria têm a função disciplinar de controlar a qualidade das tarefas desenvolvidas pelo auditor em relação aos exames e o produto da auditoria, logo são requisitos
imprescindíveis ao exercício da profissão. Diferem dos procedimentos posto que, estes têm relação direta com as ações serem praticadas. As normas em seu conteúdo trazem um
tríplice aspecto: técnico – profissional e ético

> Urge, todavia, destacar que, a adoção de uma estrutura de


organização com auditoria interna no seu complexo orgânico não
exclui ou anula a necessidade da auditoria externa ou independente
posto que, as delimitações de âmbitos para elas são nítidas e
inequívocas.

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> A importância da auditoria interna
no processo decisório das empresas

Isolamento operacional : fator de credibilidade? 1. o auditor deve ter autonomia no planejamento dos tra-
O auditor interno, ao contrário do que muitos acreditam, é balhos, independência técnica e científica;
dotado de independência sim, todavia relativa. Independência 2. não deve assumir responsabilidades de natureza operacional
em relação aos departamentos, mas não em relação à política e não envolver-se com elas, ainda que indiretamente;
e ao sistema de crenças da organização devido a sua caracte- 3. não manter vínculos ou associação qualquer com a área
rística “facilitadora”. Já a independência da opinião do auditor auditada;
externo garante a almejada neutralidade ideal que, inadvertida- 4. promover rotatividade no universo da equipe de audito-
mente configuramos como necessária para o exercício da au- res em relação aos departamentos para evitar-se o risco do
ditoria interna, visto não existir vínculos entre o auditor externo desgaste de imagem e coibir vínculos;
e a administração. O próprio escopo de atuação de cada mo- 5. deve criar um ambiente onde haja sinergia do trabalho
dalidade de auditoria dita estes estados de independência. em equipe. O trabalho de auditoria é por natureza construtivo;
Entendemos, todavia, que não existe neutralidade pura, 6. deve o auditor manter-se alheios a conflitos de interesses
porque a subjetividade decorrente do ângulo de exame do intersetoriais;
auditor em determinadas circunstâncias se faz presente. A ne- 7. colocar à revisão, pela equipe de auditoria, o produto do
cessidade de neutralidade nos serviços de auditoria, ideal ou trabalho desta; isto com o fito de olhar o próprio output com
não, encontra bases na seguinte assertiva: toda informação criticidade e critério. Todo o grupo deve necessariamente co-
apresenta um risco ligado à credibilidade e neutralidade de nhecer o impacto e riscos do trabalho realizado, o que é im-
quem a presta. Portanto, o auditor interno também pode e portante para identificação de eventuais incorreções, deficiên-
deve fazer uso da “independência na formação de sua opi- cias e /ou imperfeições naturais de procedimento;
nião” para proteger-se destes riscos. 8. deve o auditor apresentar entrosamento com a massa
Ainda assim, alguns defendem a não-existência da tão abor- organizacional como um todo;
dada independência14 na formação de juízo pelo auditor, em 9. desenvolver habilidade em negociar para não conflitar,
se tratando de Auditoria Interna, devido a relação EMPREGA- especialmente no tocante ao entendimento da relevância dos
DOR – EMPREGADO consubstanciada. Entretanto, se olhar- serviços de auditoria para o setor auditado. Os titulares da
mos pelo prisma da “funcionalidade”, observaremos que o empresa precisam saber da dimensão dos serviços prestados
assessoramento de linha perde eficácia se é tendencioso ou pelo auditor para que atribuam a ele o devido valor e possam
não-verdadeiro, posto que seu output deixa de ser elucidativo entender e apreender sua responsabilidade;
e, por conseqüência, constituir diretriz à construção de planos 10. manter relação de confiança e respeito entre o alto es-
de ação pela administração. calão administrativo, titulares da empresa e a equipe de audi-
toria. A filosofia da auditoria interna preconiza que a empresa
> Eficácia no exercício da Auditoria Interna. deve ser vista como usuária do serviço de Auditoria Interna.
Para atingir-se o estado de eficácia da Auditoria Contábil Inter- Para tanto, abrangência, imparcialidade e independência são
na, as condições possíveis passam pela análise das seguintes elementos cruciais para que os objetivos da auditoria sejam
considerações: atingidos;

14
Segundo muitos, independência utópica.

> A auditoria interna tem caráter opinativo, mas as opiniões oriundas


do exercício auditorial influenciam e trazem conseqüências ao
processo de gestão. Trata-se de uma tecnologia de efeito.

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11. a equipe deve ser constituída por pessoas com qualifi- tência de intermediários funcionais tende a retardar o encami-
cação adequada e experiência no exercício da função, onde, nhamento da informação e, por conseqüência, a tomada de
vale ressaltar, de competência exclusiva do profissional con- decisão correspondente. Reporte não significa subordinação
tador registrado no órgão de classe respectivo - Conselho porque a filosofia da relação Auditoria Interna – Conselho Admi-
Regional de Contabilidade da respectiva jurisdição (Resolu- nistrativo é de assessoramento, ou seja, é de utilidade. Havendo
ção CFC no. 560/83);15 subordinação teríamos perda de eficácia relativa quanto ao al-
12. não deve o auditor estribar-se em aparências ou forma, cance do output auditorial em função dos prejuízos decorrentes
e sim na substância dos fatos; da inexistência de independência operacional. “Hoje é inconce-
13. deve o auditor interno compatibilizar as expectativas bível que a auditoria interna se subordine ao controller (ou outro
“realizáveis” e as necessidades do usuário. É recomendável executivo de linha da empresa) ...”16 De fato, a existência de
ainda que, traga por meio do diálogo as expectativas da admi- uma relação auditor interno – controller tem como risco amor-
nistração para um plano de fato realizável e factível. Em geral, tecer o impacto das ações oriundas do exercício auditorial, po-
espera-se mais de uma auditoria interna do que está ela apare- dendo inclusive, diminuir seu raio de ação. Subordinar-se a uma
lhada para fornecer. Ocorre que, as dimensões do trabalho de chefia que lidera os objetos auditados padece de lógica;
Auditoria Interna precisam ser bem entendidas pela admi- 19. não deve ser antecipado o resultado da Auditoria Inter-
nistração; na a quem quer que seja. Do contrário, as medidas corretivas
14. ter acesso livre a todos os ambientes da organização, perderão o timing ideal e com isso perde-se credibilidade;
contando se necessário, com assessoramento de profissionais 20. existência de um programa de educação continuada ou
qualificados em outras áreas para melhor entendimento de em sentido mais amplo, a gestão dos valores intelectuais do
processo e procedimento. A sistemática de controle de uma auditor interno para assegurar vantagem competitiva. Para tanto
organização não está confinada à área contábil; recomendamos o mapeamento de perfil para a função de
15. mensurar o número de auditores necessários ao univer- auditor para que, sua plena satisfação e ascensão ocorra den-
so aditado para que não haja massificação do serviço prestado tro dos padrões de empregabilidade.17 Cumpre destacar, a
internamente, fator que é redutor de qualidade; empregabilidade e empresabilidade são duas peças de um
16. deve o auditor ter e manter bom relacionamento quebra-cabeças que se encaixam e cuja união traz efeitos
interpessoal, agindo sempre com diplomacia, paciência e an- sinérgicos.
tes de tudo, respeito. Este é o comportamento chave para Quanto mais distantes, vale ressaltar, destas condições
eliminar-se focos potenciais de resistências; ideais, conjugadas ou não, maiores os riscos do auditor
17. construção de um novo paradigma: a função de audi- no exercício de sua atividade. Atenção maior deve ser dada
toria não consiste em atividade de fiscalização. É preciso mu- a um dos mais perigosos riscos: a vaidade profissional. Ao
dar o foco da auditoria bem como a visão que as pessoas têm tornar-se auditor, o profissional não encerra sua escala
da figura do auditor ( enfoque repressivo); evolutiva no tocante a aprendizagem. Na verdade, tende
18. deve o auditor interno reportar-se ao Conselho Adminis- ele a aguçar mais intensamente seus sentidos com as ex-
trativo ou a Presidência, sem intermediários funcionais. A exis- periências no exercício de suas tarefas. A educação con-

15
Havendo necessidade da cooperação de profissionais de outras especialidades, o auditor contábil interno não deve se furtar a fazê-lo.
16
ARAÚJO, Francisco José de. Auditoria interna: o que e para quê? Revista Brasileira de Contabilidade,
17
É interessante para a organização a implementação de uma política de treinamento intensiva para estes profissionais todavia, com outros auditores externos à empresa, para que o
auditor interno não se isole de seu mercado profissional e possa, de forma efetiva e dinâmica, responder aos ditamos econômicos.

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> A importância da auditoria interna
no processo decisório das empresas

tinuada é fator de excelência profissional porque aproxima É dependente ainda, conforme visto, do encaminhamento
o auditor de seu próprio mercado. Considerar-se sabedor pós-auditoria. É emergente a necessidade de repensar-se as
de todas as coisas é tomar uma postura isolacionista e des- funções da auditoria interna no entorno ambiental moder-
provida de bom senso. no para que seja exposto à sociedade produtos compatíveis
A eficácia do trabalho de Auditoria Interna depende, subs- e voltados para as necessidades dos usuários e especial-
tancialmente, da forma como é praticada na organização, mente para as exigências de mercado, para que função tão
não estando, pois, estritamente ligada ao fator tecnológico. importante não sature por ineficiência.

Figura 3: caráter sinérgico do trabalho de auditoria.

FATOR CULTURA
ORGANIZACIONAL

EFICIÊNCIA NA REFINAMENTO E
ANDAMENTO PÓS EFICÁCIA
PRÁTICA DA + PREPARO DA EQUIPE + AUDITORIA AZIENDAL
TECNOLOGIA DE AUDITORES

SINERGIA DO
TRABALHO EM
EQUIPE

A maior e mais eficaz estratégia na imposição de respei- Consiste em uma diretriz à busca da almejada eficá-
to é a utilização do conhecimento. O auditor interno pre- cia, nos planos financeiro, econômico e operacional,
cisa do “estado de cooperação” das pessoas e neste con- sendo de vital importância no contexto atual para fins
texto, a adequação da postura é de fundamental relevân- de sustentação dos níveis de competitividade. A capa-
cia. O grande desafio do profissional auditor não é lidar cidade de resposta da empresa às intempéries
com as fraquezas das pessoas, como alguns pensam, mas mercadológicas é função da visão que seus gestores
sim sustentar a credibilidade, qualidade e a utilidade de têm da organização. Visão esta, cujo valor é acrescido
seu trabalho, no que implica minimizar riscos atentando sobremaneira pelas sugestões do assessor técnico de
para cada variável acima elencada. linha.
Preliminar à tomada de decisão, faz-se mister perce-
> Considerações Finais. É inequívoca a funcio- ber e entender as ineficiências da estrutura organiza-
nalidade gerencial do produto oriundo do trabalho do cional. Fluxos de informações extensos, emaranhados e
auditor interno. Trata-se de uma tecnologia que opera so- complexos não mais atendem aos anseios do gestor,
bre as causas das quais decorrem as anomalias pelo contrário, enfraquecem a sistemática de controle
organizacionais, com foco orientado para a implementação operacional interno. Necessário torna-se, então, para
de soluções corretivas e preventivas, criando desta forma, estas empresas, o apoio tecnológico da auditoria inter-
um ambiente favorável à evolução funcional da organiza- na, posto que responde a esta lacuna da gestão que
ção e das pessoas que com ela colaboram. ainda impregna muitas organizações nos dias atuais.

setembro/outubro 2004 nº 149 76


> Revista Brasileira
de Contabilidade

Bibliografia
ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria: um curso moderno e completo.5ª edição. São Paulo: Atlas, 1998.

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__________________________.Influência dos controles internos no trabalho do auditor independente. Revista Brasi-


leira de Contabilidade nº 121, Brasília, janeiro/fevereiro de 2.000.

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1998

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CAMARGO, Ynel Alves de - Da responsabilidade civil do Contador na função de auditor independente, Revista Brasileira
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Contabilidade n. 115, edição Conselho Federal de Contabilidade, Brasília, janeiro/fevereiro de 1999

SÁ, Antônio Lopes de. Curso de Auditoria. São Paulo: Atlas, 1998.

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_________________. Ética Profissional, São Paulo: ATLAS, 1996.

_________________. Coauditoria, Um Aspecto Profissional A Refletir. Avaible: www.lopesdesa.com.br

_________________. A verdade sobre as Auditorias. Avaible: www.lopesdesa.com.br.

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