Está en la página 1de 617

A HISTÓRIA EM BANCAS DE JORNAL

Raquel Glezer1

Introdução

As experiências dos professores das disciplinas teórico-metodológicas em curso de


História, bacharelato ou licenciatura, podem ser generalizadas, pois usualmente
enfrentam incompreensões por parte do alunado e de colegas. Não importam as
denominações: Introdução aos Estudos Históricos ou Metodologia da História; Filosofia
da História; Teoria da História; História da Historiografia... Afinal, para que elas
servem? O que fazem em um currículo sobrecarregado?
As outras disciplinas obrigatórias de um curso de História possuem conteúdo definido
por espaços geográficos (América, Brasil, África, Ásia), ou recorte cronológico
(História Antiga, História Medieval, História Moderna, História Contemporânea). O
recorte cronológico ainda se impõe ao recorte geográfico, apesar dos questionamentos
apresentados nos últimos trinta anos, a partir da obra de Chesneaux2 sobre o uso
ideológico da periodização. As disciplinas optativas se organizam por temas, processos
explicativos, fontes ou campos historiográficos.
Diversamente, as disciplinas teórico-metodológicas deslocam-se em espaços e tempos
variados, pois podem se articular por conceitos, teorias explicativas, formulações
teóricas de processos históricos, análises historiográficas de autores, temas relevantes,
questões significativas ou momentos marcantes.... quase sempre fugindo ao recorte
espacial e/ou ao cronológico.
Para os alunos, as disciplinas teórico-metodológicas se apresentam como um conjunto
complexo. Têm dificuldade de reconhecer nelas o que conhecem como História, isto é,
o campo de conhecimento que aprenderam a reconhecer como tal nos livros didáticos,
manuais acadêmicos e livros dos historiadores. As discussões sobre o que são
documentos, fatos históricos, fontes, memórias, monumentos, os questionamentos sobre
os conceitos nos livros escritos pelos historiadores, ou os debates sobre os usos de
cultura material, cultura imaterial, história oral, memória social, micro-história e macro-
história, genealogia, memória local se apresentam como complicações do que aparenta
ser simples e conhecido.
Qual a finalidade de uma disciplina como Teoria da História no processo de formação
de um profissional da história? As reflexões que são propostas aos alunos têm qual
finalidade? As respostas podem ser tão múltiplas como o campo: conhecer a História da
História; perceber como o campo dos estudos históricos foi formado e quais as
transformações que sofreu; aprender a reconhecer os conceitos e as teorias que
embasam os trabalhos dos historiadores, identificar os pressupostos da seleção de temas,
fatos e dos arranjos dos conteúdos. De forma sintética, reconhecer que o conteúdo da
história que encontram nos livros é um produto cultural datado (linguagem, conceitos,
preconceitos), da mesma maneira que os textos que produzem em seus trabalhos.
Para nós, professores nestas disciplinas, as questões teóricas devem fundamentar os
trabalhos dos historiadores, quer os de pesquisa em campo, não importando o tipo de
fonte explorada - arquivística, bibliográfica ou de história oral, quer os de análise
historiográfica sobre as obras de historiadores, nas variadas formas que podem assumir.

1
Profa. Titular Teoria da História e Metodologia da História/Departamento de História/FFLCH/USP; e-
mail: raglezer@usp.br .
2
Cf. Jean Chesneaux. Du passé faisons table rase?: a propos de l'histoire et des historiens. Paris: F.
Maspero, 1976; trad. brasileira Devemos fazer tabula rasa do passado? Sobre a história e os
historiadores. São Paulo: Ática, 1995.
Tais questões estavam em nosso horizonte de preocupação quando propusemos aos
alunos matriculados na disciplina Teoria da História I – 0401 - Noturno, no primeiro
semestre de 2005, cujo programa havia sido formulado com o objetivo de possibilitar
uma visão panorâmica de algumas formas de reflexão sobre a história até o início do
século XX, com aulas teóricas e leituras de textos de alguns autores clássicos, algo a
mais: um trabalho empírico, levando em consideração as restrições e limitações aos
alunos dos cursos noturnos: biblioteca em horário restrito; arquivos, centros de
documentação e museus fechados, nos horários que os alunos poderiam dispor para
alguma atividade extra classe.
Que material poderia ser utilizado, que estivesse acessível e cujas informações
complementares pudessem ser localizadas por quem cumpre oito horas de trabalho
diárias em cinco dias por semana? A nossa proposta foi a de explorar um material
recente, visível e de fácil aquisição, que existe e se oferece nas bancas de jornal – as
revistas de divulgação de história, em suas múltiplas apresentações e em seus variados
níveis de formulação.
Temos a certeza que nem todas as publicações existentes foram exploradas, pois tal não
era a intenção da proposta, que tinha como objetivo proporcionar aos alunos quase todas
as etapas de um projeto de pesquisa, a partir da seleção de fonte e temas de interesse dos
autores dos trabalhos, que foi respeitada, quer pela possibilidade de acesso3. Apesar da
vasta rede de bancas de jornal existentes na área metropolitana, nem todas contém
exatamente o mesmo conjunto de publicações, dependendo do local em que estão e da
clientela a que atendem.

Em complementação

Depois dos trabalhos de pesquisa e redação realizados e entregues, na fase de


preparação e edição digital para inserção no sitio (www.raquelglezer.pro.br),
encontramos na rede algumas referências sobre o mesmo assunto, como a indicação do
trabalho de Iniciação Científica na Faculdade Cásper Libero de Marcela Rosa
Mastrocola, denominado “Aventuras na História: intermediários culturais, mercado
editorial e cultura de consumo”4, em nota, sem data, acesso ao texto ou resumo. E o
texto de Thathiana Murillo, datado de 05.12.2004, com o título de “Páginas do passado:
o boom das revistas de História”, no qual a autora traça um histórico das revistas de
história de divulgação em vários países e o início de tais periódicos do Brasil, a partir de
20035.
Não consideramos a nossa pesquisa exaustiva e é possível que existam outros estudos
sobre o mesmo tipo de material.

3
Os trabalhos, de modo previsível, concentraram-se nas revistas com maior facilidade de acesso: Nossa
História, História Viva, Aventuras da História. Outras publicações foram também localizadas e
selecionadas pelo interesse dos alunos. Ao menos uma publicação não foi explorada - a Brasilis, da
editora Atlântica, do Rio de Janeiro, coordenada por Luis Felipe Baeta Neves. Ela era inicialmente
vendida por assinatura, e só conhecemos os dois números iniciais. O sumário deles pode ser encontrado
no sítio: http://atlanticaeditora.com.br/ .
4
No sítio www.facasper.com.br/cip/inicientifica: “tema: Estudo sobre o fenômeno das revistas de
história no contexto da hipermodernidade, com base na análise da publicação Aventuras na História ...”;
e-mail: marcelamastrocola@gmail.com.
5
Thathiana Murillo. Páginas do Passado: o boom das revistas de História, datado de 12.05.2004, no
sítio O cisco, http://www.ocisco.net/thati10.htm ; e-mail thatianamurillo@uol.com.br .
1. Enfrentar os preconceitos

A seleção do material para ser pesquisado decorreu de sua facilidade de acesso, por um
lado. Em nossos dias, a história está nas bancas de jornal, em formas variadas. Está nos
jornais diários - que são uma das fontes para a história do tempo presente e para a
história contemporânea; nas revistas semanais e/ou mensais de viés informativo ou
analítico de variadas tendências políticas; nas coleções de obras clássicas para
divulgação – como a coleção ‘Os Pensadores’ ou a coleção ‘Pensadores Brasileiros’.
Selecionamos uma materialidade específica - as revistas de temas históricos, voltadas
para o público consumidor não-especializado.
A multiplicidade de periódicos e publicações de assuntos variados nas bancas de jornal
é indicativo de alguns processos característicos da sociedade contemporânea pós-
industrial: a ampliação do público leitor, decorrente dos processos de urbanização e
alfabetização; a ampliação do acesso ao conhecimento; o atendimento pelas empresas
editoras de todas as áreas de interesse do público leitor, em suas múltiplas identidades
sociais6. Este foi o outro elemento fundamental para a escolha do objeto – a
possibilidade de captar um fenômeno social ‘quente’, em sua concretização, na vivência
do processo, que precisa ser analisado e compreendido. Em nossos dias, a diversificação
da mídia impressa, em miríades de pequenas empresas gráficas – algumas das quais de
vida curta, ao lado dos conglomerados de empresas gráficas e das de mídias, soma-se ao
complexo jogo dos cruzamentos de todas as mídias – imprensa, cinema, televisão,
eletrônicas, digitais...
Lembremos também que em nossos dias há associações entre empresas, para atingir
determinados segmentos do público, com a criação de marcas novas, ocultando a
empresa principal e dificultando o acompanhamento das questões mercadológicas.

Alunos de graduação estão acostumados com a leitura de textos selecionados por


professores – capítulos de livros e/ou artigos publicados em periódicos acadêmicos,
cujos padrões correspondem aos parâmetros da comunidade científica. Não há a
preocupação com o perfil da publicação, pois a responsabilidade de seleção é do
professor. A valoração realizada é pela especialidade do autor, respeitabilidade da
revista, reconhecimento da instituição que a publica - todos elementos de identificação
de comunidade científica e de reconhecimento entre pares.
As próprias revistas acadêmicas se transformaram, no decorrer do século XX, de
recurso informativo e quase que exclusivamente erudito, em fontes reconhecidas para
os trabalhos historiográficos, e hoje são objetos de pesquisa para análises de conteúdo,
que variam conforme as orientações dos campos historiográficos.
Por outro lado, raramente o material de vanguarda do conhecimento, o da ‘literatura
cinza’7 é utilizado, mantendo-se como exclusividade do circuito especializado e restrito
dos pesquisadores.
No país, há crescente desenvolvimento do campo de pesquisa sobre a história do livro e
da leitura8. As revistas de literatura, de educação e as semanais gerais têm recebido

6
Sobre as identidades sociais contemporâneas, ver Serge Moscovici. Representações sociais.
Investigações em psicologia social. 3ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
7
Literatura não convencional, conhecida por ‘literatura cinza’ (teses, folhetos, anais, proceedings,
relatórios de pesquisas, notas técnicas, indicadores de ciência e tecnologia, preprints, publicações seriadas
e trabalhos não publicados). Cf. http://www.ige.unicamp.br/site.
8
Ver: a) sitio: www.livroehistoriaeditorial.pro.br/, do I Seminário Brasileiro sobre Livro e História
Editorial, realizado entre 8 e 11 de novembro de 2004, na Casa de Rui Barbosa, na cidade do Rio de
atenção sistemática desde a década de setenta do século XX, vasto material que pode ser
encontrado nas bibliotecas. Contudo, são escassos os estudos analíticos sobre as revistas
de história no país, com exceção dos estudos sobre o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, que utilizam o seu periódico, o mais antigo do país, datado de 1838, mais
como fonte sobre a instituição do que como objeto de análise 9.

A proposta de analisar as publicações encontradas em bancas de jornal foi, por alguns


alunos, questionada pelo fato de não ser este um material ‘respeitável’. A
desqualificação é devida ao fato de revistas comerciais não terem a mesma estrutura
formal dos periódicos acadêmicos, principalmente a revisão por pares. E que os artigos
não poderiam ter conteúdo acadêmico e ser resultado de trabalho de pesquisa de
historiadores. A maior crítica foi que a revistas comerciais tinham como alvo um
público genérico e não-especializado. Afinal, trabalhar com ‘material de divulgação ou
vulgarização’ não era um trabalho adequado aos historiadores em formação10.
No decorrer da pesquisa, mesmo os alunos mais renitentes acabaram mudando de
opinião, pois conseguiram verificar que entre as revistas para o grande público existem
níveis diferenciados de informação, apresentação de resultados de pesquisa, debates
sobre questões de momento e um trabalho de apresentação ao público de textos escritos
por historiadores. O conteúdo apresentado depende do público visado pela revista.

2. A popularização da cultura

O fenômeno do público consumidor de produto cultural oferecido em bancas de jornal


no Brasil data dos anos sessenta do século XX, quando a Editora Abril11 lançou edições
de obras em fascículos, mas continuou mantendo-se basicamente como uma editora de
histórias em quadrinhos infantis e juvenis, e, de publicações românticas destinadas a
adolescentes e mulheres jovens, vendidas em bancas. Na área específica da História, a
primeira foi a coleção ‘Grandes Personagens da Nossa História’ - biografias de
personagens da História do Brasil, em fascículos, com textos escritos por professores de
história. E depois, nos anos da ditadura militar, lançou a coleção ‘Os pensadores’-
volumes encadernados de obras de autores clássicos da cultura ocidental, que muitas

Janeiro; b) sitio da Intercom: www.intercom.org.br/, especificamente para os textos resultantes de


pesquisa apresentados nos eventos da área: http://reposcom.portcom.intercom.org.br.
9
Ver, entre outros: Isa Adonias. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - 150 anos. Rio de Janeiro:
Studio HMF, 1990; Virgílio Correia Filho. Como se fundou o Instituto Histórico. Revista do IHGB, Rio de
Janeiro, 255, 1962; Max Fleiüss. O Instituto Histórico através de sua Revista. Rio de Janeiro: IHGB,
1938; Lúcia Maria Paschoal Guimarães. "Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial": o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, Rio de Janeiro, 156, 388, 1995; Manoel Luís Salgado Guimarães. Nação e civilização nos
trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, CPDOC/Vértice, no. 1, 1988, pp. 5-27;--------.De Paris ao Rio de Janeiro: a
institucionalização da escrita da História. Acervo - Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, volume 4,
no. 1, 1989, pp. 135-144; Lilia Moritz Schwarcz. "Os guardiões da nossa história oficial". Os institutos
históricos e geográficos brasileiros. São Paulo: IDESP, 1989; ---------. O espetáculo das raças: cientistas,
instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993; Arno
Wehling. As origens do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 338, 1983, pp. 7-16;----------- .Historicisimo e concepção de História
nas origens do IHGB. In: ------------- (org.) Origens do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: idéias
filosóficas, sociais e estruturas de poder no Segundo Reinado. Rio de Janeiro: IHGB, 1989, pp. 43-58.
10
Apesar dos questionamentos, uma grande parte dos alunos possuía alguns exemplares das revistas de
divulgação nacionais e recorreram ao seu próprio material; outros, de forma surpreendente, possuíam
exemplares de revistas editadas em outros países, o que aparece em seus trabalhos.
11
No sítio da Editora Abril está a história da empresa, ver http://www.abril.com.br/br/conhecendo/.
vezes estavam recebendo a primeira edição no país, com tradução por professores
especialistas no autor ou no assunto, quebrando o preconceito existente contra a compra
de livros em bancas de jornal. A série de sucessos editoriais foi interrompida com uma
coleção de história do Brasil, a ‘Saga’, que não foi completada. Embora a Editora Abril
se apresente como a pioneira na edição de obras de divulgação para o grande público
consumidor, apenas atualizou uma forma de divulgação que já existia, a da edição de
obras clássicas ou informativas em tiragens maiores que as usuais. Antes dela, existiram
outras iniciativas de divulgação e popularização da cultura no país, que ainda não foram
devidamente estudadas.
A coleção ‘Tesouro da Juventude’12, marco na vida de milhares de jovens leitores, foi
difundida por vendedores em muitas das cidades do país, independente de seu tamanho
e da existência de livrarias. O mesmo ocorreu com as coleções de obras de história
como Cesare Cantú13, H. G.Wells14 e Will Durant15.
A Editora Ediouro16 tinha e ainda tem forte atuação na área da divulgação de autores
clássicos, mas seus livros, em pequeno formato e em papel jornal, só podiam ser
encontrados em livrarias. Além das citadas, existiram outras coleções de obras literárias
destinadas a um público consumidor maior que o tradicional consumidor em livraria: a
coleção ‘capa amarela’ de grande formato da Editora Globo de Porto Alegre – hoje
Globo Livros17, com traduções de obras clássicas e contemporâneas, por intelectuais de
renome, e, a coleção Saraiva, da editora do mesmo nome18, com volumes de pequeno
formato, em papel jornal, que era vendida porta a porta para as famílias interessadas. A
Editora Agir19 também teve uma coleção de clássicos em pequeno formato e em
antologia, ‘Nossos Clássicos’.
A estrutura de venda porta a porta que foi desenvolvida na primeira metade do século
XX continua ainda em nossos dias, com enciclopédias escolares e coleções de obras
informativas em geral.

12
Esta obra teve diversas edições, pela W. M. Jackson Editores, dos anos vinte até os anos cinqüenta.
13
Cesare Cantú. História universal. Obra de tanto sucesso que recebeu várias edições, entre outras: a)
Rio de Janeiro: Fluminense, 1883; b) Rio de Janeiro: Livraria João do Rio, 1931; c) São Paulo: Américas,
1946. 32 v.; d) São Paulo: Edameris, 1970, ed. resumida.
14
H. G. Wells. História universal: da ascensão e queda do império romano até o renascimento da
civilização ocidental. São Paulo: Nacional, 1939. 3 v.
15
Will Durant. História da civilização. São Paulo: Ed. Nacional, 1943. 18 v. A obra teve edições em
1956 e 1967, e em outras editoras O autor continua sendo editado no país, podendo suas obras ainda
serem encontradas em livrarias. Dados sobre sua vasta produção podem ser encontrados no sítio da Will
Durant Foundation, http://www.willdurant.com/home.html
16
Ver em Wikipédia, a enciclopédia livre, sítio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ediouro.
17
Cf. http://globolivros.globo.com/; a Rio Gráfica Editora adquiriu em 1986 a Editora Globo. A história
sintética da Editora Globo pode ser lida na Wikipédia, a enciclopédia livre. Sítio:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Editora_Globo. Sobre a editora há a indicação do livro de Elisabeth
Wenhausem Rochadel Torresini,. Editora Globo: uma aventura editorial nos anos 30 e 40 . São Paulo:
EDUSP, s.d., na Coleção Memória Editorial.
18
Ver sítio: http://sf.editorasaraiva.com.br/port/perfil/historico; cf. dados da empresa, em 1946 foi
lançada a Coleção Saraiva, dirigida por Mário da Silva Brito e Cassiano Nunes, que incluía autores
nacionais e internacionais como Machado de Assis, José de Alencar, Menotti del Picchia, Orígenes Lessa,
Henry James, Edgar Allan Poe, Herman Melville, ilustrada por artistas de renome, como Aldemir
Martins, Darcy Penteado, Nico Rosso, com traduções de Otávio Mendes Cajado, Décio Pignatari, Nair
Lacerda e José Geraldo Vieira. A forma de comercialização era por assinatura, feita por vendedores, com
entrega do exemplar publicado mensalmente; vendeu milhares de volumes, pois editou 287 títulos, alguns
dos quais com tiragem de até 50.000 exemplares.
19
Ver histórico da empresa no sítio: http://www.editoraagir.com.br/historico; cf. dados, foi adquirida
pela Ediouro, em 2002.
Da metade para o final do século XX, as bancas de jornal se tornaram o lugar de
exposição da mais ampla variedade de publicações, de todos os assuntos possíveis e
imagináveis, para todos os tipos de leitores.

3. O contexto

Há uma explicação corrente para o alto preço dos livros editados no Brasil: a falta de
público leitor, pois existem poucas livrarias pelo país e, portanto, poucos leitores.
Contudo, as vendas de ‘best-sellers’ desmentem tais afirmações: milhares de livros são
vendidos em curto espaço de tempo. Se existissem tão poucos leitores no país, como
afirmam as editoras de livros para venda em livrarias, as editoras que lançam seus
produtos culturais em bancas de jornal não teriam crescido e multiplicado.
O crescimento das editoras especializadas em publicações para bancas de jornal deve
ser relacionado com outros dados: aumento da população, predominância da
urbanização, crescimento da escolaridade, aumento da renda familiar, capilaridade dos
meios de divulgação de massa pelo país e interligação entre as diversas ‘mídias’.
Dos fenômenos citados, o aumento populacional se destaca: em 1950, a população do
país era de 51.949.397, e, em 2000, de 169.799.170 de habitantes20. No mesmo período,
a população urbana passou de crescente a dominante, decorrência de fatos distanciados
no tempo, mas que explicam alguns aspectos do fenômeno: em 1938, todas as sedes de
município passaram a ter o titulo de cidade, não importando a população; nos anos
cinqüenta a industrialização por substituição de importações e de bens de capital
deslocou uma grande parcela da população de áreas rurais para algumas áreas urbanas;
e, em 1988, a Constituição passou a permitir maior facilidade para a divisão de
municípios e ampliou os repasses do governo federal para os entes municipais, o que
possibilitou a expansão numérica deles. Em cada município, mesmo que não exista
biblioteca pública ou livraria, obrigatoriamente deve existir escola fundamental básica,
e, pode existir uma banca de jornal, mesmo que seja a única na estação rodoviária.
O processo de modernização econômica do país a partir de meados do século XX
possibilitou a melhoria da infra-estrutura em transportes e comunicação; a ampliação do
processo de escolarização com o objetivo da universalização do ensino fundamental e
posteriormente do ensino médio; o emprego em setores que previamente não existiam;
o crescimento da massa salarial; o crescimento do mercado educacional para atender a
demanda de mão-de-obra mais especializada; o desenvolvimento de redes de
comunicação via mídia eletrônica pelo país, que criaram um mercado nacional para
determinados produtos, inclusive para os da indústria cultural.
A existência de milhares de aparelhos de televisão pelo país substituiu em grande parte
a imprensa escrita como fonte de informação, por um lado, e, por outro, criou um outro
mercado produtor e consumidor com a possibilidade de intercruzamento de mídias. Os
produtos culturais da televisão promovem a venda de publicações escritas – sobre ela
mesma, os programas, os participantes de suas produções (autores, diretores, atores e
outros especialistas). Também algumas produções televisivas, como telenovelas e
minisséries promovem publicações escritas – os livros originais, as adaptações, e depois
os vídeos, os cds e os dvds. O lançamento de filmes, nacionais ou estrangeiros, com
chamadas em televisão, e com eventual apresentação posterior em horários especiais,
também alavanca publicações destinadas ao grande público, informando sobre a obra,
roteiro, diretor, atores e outros especialistas. Os temas épicos ou históricos, quando
explorados pelas mídias cinematográficas e televisivas, envolvem altos custos de

20
Conforme dados do IBGE, no sítio: www.ibge.gov.br/ , em Síntese dos censos demográficos.
produção, que são parcialmente recuperados ou ampliados pelos produtos em paralelo:
publicações impressas, vídeos, cds e dvds, além de outros produtos destinados ao
público infantil e/ou juvenil, da mesma forma que os filmes de entretenimento.

Se há momentos em que a sociedade ocidental parece esquecer da existência da história,


apesar de estar imersa nela, em outros há preocupação com ela. Geralmente, em datas
comemorativas de fatos históricos relevantes há a ressurgência do interesse pela
história, quer como processo, quer como narrativa. Em determinados momentos, a
sociedade como um todo se sente atraída por fatos históricos – em livros com temas
históricos, biográficos ou pseudo-históricos; em filmes biográficos, épicos, históricos ou
míticos; em docu-dramas históricos ou documentários sobre fatos históricos,
reconstituídos com material de época. Não é possível identificar claramente se tal
interesse é uma válvula de escape – fuga/refugio para um tempo mítico de paz e
segurança, ou, genuíno, para compreender a sociedade e o momento em que vive.
Em nossos dias, no início do século XXI, há retomada da curiosidade por fatos
históricos, que aparece tanto nas produções impressas, como nas cinematográficas e nas
televisivas. Os motivos que provocam tal interesse podem ser variados: insegurança
diante das transformações em curso; dificuldades de compreender a fase histórica em
que vive; medo diante do desconhecido; necessidade de reafirmar o conhecido diante
de outras propostas de organização social e tantas outras questões possíveis de serem
arroladas.

Quanto as motivações que levaram ao lançamento das revistas de divulgação de história


no país, Thatiana Murillo utiliza a referência das comemorações dos quinhentos anos do
descobrimento como o motivo para o lançamento de tais publicações21. A nosso ver, tal
explicação não se aplica totalmente – teria pleno sentido se estas tivessem começado a
ocorrer no mesmo ano ou no seqüente, o que não ocorreu, pois datam de 2003 em
diante. As explicações podem ser procuradas tanto no contexto nacional – a
consolidação do processo de urbanização, universalização da educação básica e suas
conseqüentes transformações, como no maior acesso a informações internacionais, na
divulgação em tempo real pela televisão dos fatos de setembro de 2001, na retomada do
ciclo de guerras simultâneas, na sensação de ameaça diante do desconhecido que pode
estar se aproximando – elementos que podem ter contribuído para que se concretizasse
no país algo de novo, as revistas de divulgação de história. Devemos lembrar que tal
tipo de publicação existe em outros países há muitos anos, desde o começo do século
XX, mantendo continuidade e possibilitando a divulgação do conhecimento
historiográfico a um grande número de pessoas, o que pode ter permitido o crescimento
do mercado editorial dos livros especializados em história e das grandes coleções do
final do século XX22.

21
Ver nota 3.
22
Além da venda de milhares de exemplares de algumas obras de história como Le Dimanche de
Bouvines: 27 juillet 1214, de Georges Duby. Paris: Gallimard, 1986, e, Montaillo, village occitan de 1294
a 1324, de Emmanuel Le Roy Ladurie. Paris : Gallimard, 1975, pensamos nas coleções como História das
Mulheres e História da Vida Privada, que foram sucesso editorial destacado, foram traduzidas no Brasil e
inspiraram coleções similares nacionais.
4. Cultura de massa

È muito interessante para o historiador verificar como a conceituação de ‘cultura de


massa’ tem sido vista pela sociedade, principalmente em uma proposta como a que
fizemos, de explorar uma fonte da cultura de massa impressa, destinada a um público
leitor não especializado.
A conceituação da existência de uma ´cultura de massa’ ou ‘cultura popular’ se opõe a
de uma ‘cultura erudita’, mais valorizada porque de ‘melhor qualidade’, mais restrita e
limitada aos que a ela têm acesso, por poder aquisitivo e domínio cultural.
A ‘cultura erudita’ é resultante da decantação da produção cultural da sociedade
ocidental cristã e é o cânone dos valores culturais - a ‘alta cultura’ é o conhecimento e
apreciação dos clássicos na literatura, música, balé, teatro, pintura e escultura, em
oposição a uma outra cultura, considerada inferior por não ter o mesmo conteúdo e
relevância, produzida e vivenciada no cotidiano pelas pessoas comuns, ‘a cultura
popular’, que é muitas vezes confundida com ‘folclore’, em uma concepção
conservadora e nacionalista estreita.
Tomada em senso estrito, a concepção canônica de cultura faz com que toda a produção
cultural do mundo moderno industrial do século XIX e do pós-industrial do século XX,
todos os questionamentos, críticas, leituras e releituras da sociedade contemporânea
fiquem fora dos parâmetros estabelecidos.
Mas a produção cultural possui a sua própria dinâmica, riqueza e complexidade, e é
indicativa da reflexão e crítica do mundo no qual o individuo produtor/consumidor está
inserido e vive. Para os artistas contemporâneos, o cânone não é um obstáculo. Na
realidade diária da sociedade pós-industrial, todas as artes se libertaram do cânone. A
multiplicidade das formas de expressão literária e artística é quase impossível de ser
totalmente conhecida em nossos dias. O rádio, o cinema e a televisão se inscreveram no
campo da produção e da reprodução cultural, da mesma forma que a imprensa. E o
mundo da produção digital está seguindo a mesma trajetória, de modo mais acelerado.
Contudo, a resistência às novas formas de arte e conhecimento ainda é grande. No
campo dos estudos humanísticos, o domínio do cânone se manteve por mais tempo. E
só no último quartel do século XX ele passou a ser questionado por grupos feministas,
étnicos, de culturas minoritárias e pelos pesquisadores pós-modernos, que exigem que a
noção de cultura seja mais inclusiva e menos restritiva.

A valorização da oposição entre a ‘cultura erudita’ e a ‘cultura popular’ pode ser


entendida como uma atitude socialmente conservadora, a partir da Revolução Francesa,
em que o conceito de ‘povo’ para os conservadores e contra-revolucionários era o de
uma ‘ameaça’ a seu modo de vida. A preservação dos valores da sociedade estamental
encontrou na valorização do cânone apoio e a justificativa de uma concepção de
sociedade, a partir de meados do século XIX, quando ‘povo’ e ‘massa’ se tornaram
quase que sinônimos de ameaça social.
Nos movimentos revolucionários políticos e sociais dos séculos XIX e XX, uma das
propostas mais atraente é a da democratização de acesso de todas as pessoas a todos os
bens, políticos e econômicos, a partir da alfabetização universal, e, principalmente aos
bens culturais.
A idéia de separação rígida entre a chamada ‘alta cultura’ e a ‘cultura popular’ foi
questionada por Bahktin23 ainda na primeira metade do século XX, e, o tema da
circularidade das idéias entre grupos sociais, no final do século XX, encontrou apoio em
historiadores da história cultural, como Roger Chartier e C. Guinzburg, entre outros, e,
principalmente nos autores pós-modernos.

Os resultados

Os resultados obtidos foram surpreendentes, para nós e para os alunos.


Para nós, pela localização de inúmeras publicações destinadas a suprir a curiosidade do
público sobre temas históricos – em níveis de informação diferenciados, desde as mais
elementares até as que apresentam resultados de pesquisas acadêmicas, em linguagem
acessível ao não-especialista. Nosso ponto de partida para a proposta do trabalho havia
sido o conhecimento das revistas Nossa História e História Viva. Os alunos conheciam
algumas outras e localizaram outras tantas, que não eram tão conhecidas, e que
aparecem nos textos que seguem. E também pela capacidade demonstrada pelos alunos
de pesquisar informações, mesmo as que exigiram contato direto com as editoras e com
os editores; analisar conteúdos sob aspectos variados, demonstrando que o processo de
formação fragmentada, proposto pelo Departamento de História, apesar da dificuldade
de explicitação, está proporcionando ao corpo discente uma formação adequada ao
mundo contemporâneo.

Para os alunos, podemos comentar de um lado que com a aprendizagem da prática de


pesquisa - seleção de tema, seleção de fontes, coleta de dados, análise de conteúdo,
contextualização e redação de um texto sobre a pesquisa e os resultados obtidos, houve
a possibilidade de aprender como usar material diferenciado do tradicional (textos de
livros e excertos de documentos), experiência que pode ser transmitida a práticas de
ensino de história em outros níveis. Por outro lado, esperamos que os mais renitentes
tenham aprendido a aceitar a produção cultural da sociedade em que vivem.
Consideramos que se há experiência e vivência da postura crítica em relação à formação
socioeconômica e cultural em que estão inseridos, a manutenção de preconceitos sobre a
‘cultura de massa’ e a exigência do cânone cultural são elementos contraditórios que
precisam ser enfrentados. E o que a nosso ver foi o mais importante: tiveram eles a
experiência da apreensão ‘a quente’ de dois conceitos teóricos que marcam a sociedade
atual – a da circularidade das idéias na cultura, e, a da fragmentação das identidades
sociais. Lembramos ainda que nas análises de conteúdo foram localizadas algumas das
teorias de história, que haviam sido apresentadas e discutidas no transcurso das aulas
teóricas e das leituras, demonstrando na prática a longa vigência de idéias na cultura e
na sociedade.

Os textos que seguem a esta apresentação são todos os trabalhos de curso da disciplina,
resultantes das pesquisas e análises dos alunos. Alguns são trabalhos individuais, outros
coletivos. Cada um deles representa a trajetória de pesquisa que foi percorrida, os
interesses, curiosidades e idiossincrasias dos autores. Não foi realizada a normalização

23
BAHKTIN, M.. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo: HUCITEC;
Brasília:UnB, 1987.
dos textos e nem estão apresentados os comentários da avaliação. A finalidade da
publicação é reconhecer os esforços empregados na pesquisa, o empenho e interesse
demonstrado, além de colaborar com outras pessoas que tenham alguma curiosidade
sobre o material de divulgação de história impresso disponível em bancas de jornal.

Agradeço a Silene Ferreira Claro, doutoranda no Programa de História


Social/FFLCH/USP, linha de pesquisa História da Cultura, monitora da classe no
PAE/FFLCH/USP primeira fase, o apoio, as sugestões e a relação estabelecida com a
classe, que muito contribuíram para o bom desenvolvimento do curso e das atividades.
E a todos os alunos que cursaram a disciplina e que no decorrer do semestre
selecionaram o material com que pretendiam trabalhar, defenderam suas escolhas,
descreveram as dificuldades encontradas, apresentaram as soluções e os resultados
obtidos. Eles se encontraram com o que os pesquisadores em história costumam
enfrentar: problemas de acesso a fontes e as informações, impossibilidade de usar o
material inicialmente previsto, desconforto com os resultados obtidos, questões que não
puderam ser respondidas, e tudo o mais que acontece depois do trabalho escrito e
entregue.

Espero que a experiência tenha sido tão proveitosa para eles como foi para nós e que a
noção de que estamos imersos na história – mesmo explorando um tema restrito e
aparentemente limitado, tenha se tornado mais clara e compreensível. E que a função da
disciplina Teoria da História no processo de formação tenha adquirido sentido.
São Paulo, segundo semestre de 2005.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS

PÚBLICOS

GRUPO DE TRABALHO: Julio Célio; José Ailton; Flavio Salgueiro.


PROFESSORA: Dra. Raquel Glezer.
CURSO: Teoria da História I.
PERÍODO: Noturno.
SEMESTRE: Primeiro Semestre de 2005.
PROPOSTA: Trabalho sobre documentos apresentados na revista Nossa História.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

SUMÁRIO

- INTRODUÇÃO ............................................................. III

- AMOSTRAGEM ............................................................ V

- FICHAMENTO DO CONTEÚDO DAS SUBSEÇÕES “DOCUMENTO” E


“DECIFRE SE FOR CAPAZ” ......................................... VII E XXIX

- ESTATÍSTICAS POR SUBSEÇÃO ............................... LIII E LV

- ESTATÍSTICAS GLOBAIS ....................................... LVII

- ENTREVISTA FEITA À REVISTA ............................... LIX

- CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES .......................... LXI

- BIBLIOGRAFIA ............................................................... LXVII

- ANEXOS ................................................................ LXVII

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS II


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

TRABALHO SOBRE DOCUMENTOS APRESENTADOS NA REVISTA NOSSA HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS

INTRODUÇÃO
Para a realização deste trabalho, foi escolhida a Revista Nossa História, editada pelo
Conselho de Pesquisa da Biblioteca Nacional, em parceria com a editora Vera Cruz. Esta Revista faz
parte de um conjunto de publicações relacionadas à História que apresentaram um crescimento
repentino e muitas delas surgiram por volta dos últimos três anos no mercado nacional. Algumas
tratam apenas de temas relacionados à História, nesse sentido são especializadas, outras
esporadicamente utilizam esses temas no conjunto de suas matérias científicas.
Este fato demonstra que há um público leigo com grande interesse por História. A demanda
foi certamente observada pelo mercado editorial, principalmente no que se refere aos assuntos
relacionados à História. Esta percepção do mercado editorial está inserida no recente aumento de
publicações de assuntos científicos, direcionados a leitores não especializados, mas que possuem
grande interesse pelas ciências num sentido genérico, como demonstram os exemplos de outras
revistas similares, História Viva, American Scientífic, Grandes Líderes, Super Interessante, entre
outras de grande tiragem.
Este processo desencadeou uma competição nesse mercado, existindo atualmente muitas
publicações, com abordagens diferenciadas da História, algumas de qualidade facilmente
perceptível, outras de qualidade duvidosa segundo a crítica especializada, mas que tentam atender de
formas diversas as necessidades dos leitores, voltadas para consumidores de variadas condições
sociais, considerando os diferentes perfis existentes. Um dos objetivos gerais desta análise é
averiguar como a utilização de documentos pela revista em estudo pode conferir qualidade ao
conjunto, bem como as possíveis impressões que pode ter o leitor desse material.
Tendo em vista que um dos objetivos gerais do conjunto dos trabalhos desenvolvidos pelos
alunos neste curso será busca da compreensão desse fenômeno na sociedade brasileira, é importante
observar se a demanda é a única responsável ou se em alguma medida, essas publicações despertam
ou estimulam o interesse do grande público, ou mesmo como se dá a interação desses dois fatores.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS III


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Nesse sentido, será analisado como os documentos se inserem nesse contexto, e quais os
objetivos da Revista Nossa História na utilização desse material. (seja o princípio de democratizar o
acesso ao material; divulgá-lo; o posicionamento metodológico dos editores; intenção de conferir um
aspecto de idoneidade para a Revista e quais as implicações teóricas, entre outros).
Foram escolhidas entre as várias seções da Revista “Nossa História”, duas subseções que
trabalham invariavelmente com documentos em todos os números até então publicados: a subseção
“Documento” da seção “Por Dentro da Biblioteca” e a subseção “Decifre se for capaz” da seção
“Almanaque”.
A primeira seção apresenta informações gerais sobre a Biblioteca Nacional, sejam assuntos
relacionados à história da instituição, os serviços que presta à sociedade, estrutura administrativa,
eventos, etc. Além disso, a subseção Documento tem a função de divulgar aos leitores o acervo
documental alocado em seus arquivos, mas utiliza os documentos de maneira predominantemente
ilustrativa, de modo que a leitura, quando possível, é muito limitada.
A segunda localiza-se nas páginas finais da revista, a qual traz informações curtas sobre fatos
pitorescos, curiosidades, frases emblemáticas, charges, etc, relacionados a diversos temas e
acontecimentos da história brasileira. Especificamente na subseção Decifre se for Capaz, os editores
apresentam na íntegra um documento manuscrito, com uma grafia que apresenta certa dificuldade de
leitura e sugerem ao leitor, através de um sucinto enunciado, que tente lê-lo. Ao lado do documento
está a transcrição, numa estreita coluna na borda lateral da página, com letra pequena, em posição
invertida para que o leitor possa averiguar suas dúvidas, erros ou acertos.
As duas subseções escolhidas estão relacionadas pela utilização invariável de documentos de
época relacionados à história do Brasil, sendo preferencialmente parte do arquivo da Biblioteca
Nacional ou do Arquivo Nacional.
Partindo do princípio de que estas seções fazem um uso diferenciado dos documentos como
recurso, serão analisadas as subseções quanto à forma que os apresenta, se são comentados ou
acompanhados de um texto explicativo (no caso afirmativo, qual a abordagem desse texto), sua
procedência, a instituição em que estão guardados, disponibilidade ao público, estado de
conservação, temas, se os editores seguem uma tendência mais tradicional na seleção do material ou
seguem tendências mais progressistas da historiografia, em qual medida representa uma função ou

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS IV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

objetivo didático para o grande público nesse contato com o acervo da biblioteca nacional, e num
sentido amplo, como esses documentos se adequam aos objetivos gerais da revista.
A revista Nossa História tem vinte números publicados entre Novembro de 2003 e Junho de
2005, dentre os quais foram escolhidos como uma amostragem para análise doze números, os quais
correspondem a 60% das publicações. Com referência à abordagem proposta, não foi necessário
adotar uma seqüência regular nesta escolha, mas pautou-se apenas pela seleção de alguns dos
primeiros números, outros intermediários e os mais recentes, para que fosse possível uma análise
abrangente, com um panorama mais completo para averiguar os objetivos dos editores e as
conseqüências do uso de tal recurso.
Assim, são os seguintes os números:

NÚMERO ANO PUBLICALÇÃO MÊS / ANO


01 01 NOVEMBRO 2003
03 01 JANEIRO 2004
09 01 JULHO 2004
10 01 AGOSTO2004
11 01 SETEMBRO 2004
12 01 OUTUBRO 2004
13 02 NOVEMBRO 2004
14 02 DEZEMBRO 2004
15 02 JANEIRO 2005
17 02 MARÇO 2005
18 02 ABRIL 2005
19 02 MAIO 2005

Serão analisadas as duas subseções mencionadas, sendo duas por cada revista. Desse modo,
teremos vinte e quatro subseções compondo o material desse trabalho.
Partindo do princípio de que é necessária uma padronização analítica para obtenção de
conclusões ou considerações plausíveis, uma vez que há grande variedade nesse material quanto à
realidade em que foram produzidos e os fins a que se destinavam, mas mesmo assim são utilizados

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS V


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

pela revista de modo invariável ao longo dos vinte meses de publicação da revista, foram elaboradas
questões, as quais vão compor um fichamento comum às duas subseções, para que através delas
possa ser extraído o maior número de informações, com certa segurança por evidenciarem as
tendências e aproximações que se deseja obter.
A finalidade prática do questionário aplicado às subseções e em alguns casos especificamente
aos documentos, é a obtenção de uma expressão estatística da amostragem que pudesse nos conduzir
a uma análise final. O critério utilizado para as respostas foi definido quando da formulação das
questões, para que não houvesse erros de interpretação. Algumas perguntas requerem respostas que
vão além do óbvio, mas a padronização das respostas tem por objetivo captar não os termos
absolutos, mas sim o caráter predominante.
Desse modo, foram empregados nas estatísticas simplesmente os termos “sim” e “não” ou
outros enquadramentos específicos, com objetividade. Estará anexada na seqüência de cada
questionário, uma cópia da subseção analisada, para que possa ser visualizada e comparada com as
respostas fornecidas, com rapidez e facilidade. Mas a importância dos fichamentos é que neles estão
demonstradas, além das respostas objetivas a determinadas questões, conteúdos analíticos que
justificam esta determinação justamente por existirem algumas questões que indicam certa
relatividade.
Além disso, não há prejuízo para o resultado estatístico, pois não serão consideradas
precisamente as porcentagens, mas sim o que elas indicam como tendência, tendo sempre em vista
uma margem considerável de erro. A obtenção dessas tendências gerais é outro objetivo pretendido
com os fichamentos, porém sem descuidar das especificidades de cada uma das vinte e quatro
subseções averiguadas.
As questões vão da maneira como a revista apresenta os documentos, da qualidade de leitura
do documento, até sua contextualização. Nos preocupamos em saber, por exemplo, se os
documentos vinham acompanhados de explicações didáticas úteis ao leitor leigo. Por fim, é a nossa
proposta colher os dados das análises destes documentos caso a caso numa análise geral, que revele
como a revista Nossa História escolhe e publica os documentos que aparecem em suas páginas.
A seguir, reproduzimos o fichamento dos documentos:

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS VI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

SUSEÇÃO “DOCUMENTO”

Nome: Nossa História


Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 1 / 01
Data: Novembro / 2003
Número de Página: 8 e 9.
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


A subseção apresenta um texto em três colunas, com dois documentos sobre o mesmo assunto, um
impresso e predominantemente ilustrativo na página oito e outro, manuscrito, em toda a página
nove. O primeiro foi elaborado para divulgação ao publico em virtude da importância do
acontecimento a que se refere. O segundo foi apenas uma minuta de despachos habituais do poder
executivo. Com o título “Uma lei contra a infâmia”, esta subseção inicia o texto de apoio com a
contextualização destes documentos referentes ao decreto da lei Áurea.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Há os dois tipos, mas o impresso tem função predominantemente ilustrativa, o manuscrito preenche
uma página da revista.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim. A princesa Isabel.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, o manuscrito está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, o impresso no Arquivo
Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Abolição da escravidão, regime de trabalho, racismo, entre muitos outros que podem ser
relacionados.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS VII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
9º) O tema é recorrente na história nacional?
Sim.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Não.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Predomina o caráter publico, oficial no sentido de ser comunicado pelo Estado.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, a edição em separado de um documento para divulgação ao público.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. O aproveitamento da seção em seu conjunto pode servir de ensejo para outras questões sobre o
Brasil, principalmente os temas relacionados ao regime de trabalho, economia, composição étnica e
racial da sociedade brasileira, entre outros.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Análise e descrição são superficiais, predominando a contextualização.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim, mas o impresso é mais ilustrativo.

17º) Há iconografia no documento?


Não no manuscrito, no impresso há.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Economia e política.

19º) Em qual época se insere o documento?


Final do período monárquico.

Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância como fonte para o estudo de História, pois
representa um marco para a sociedade brasileira. A revista valoriza o documento manuscrito ao
publicá-lo ampliado em uma página, democratizando assim o acesso do material ao grande público.
O texto de apoio tem um caráter didático destacado, com contextualização, informação sobre o
conteúdo do documento e análises.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS VIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS IX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Nome: Nossa História


Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 1 / 03
Data: Janeiro / 2004
Número de Página: 8 e 9.
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


A subseção apresenta um texto em praticamente duas colunas, em duas páginas, cada qual contendo
uma página do documento, o qual também totaliza duas páginas. O título da subseção é “Medida
provisória ... até hoje”, e a matéria contextualiza a carta de abertura dos portos, a qual refere-se a
uma medida tomada por Dom João VI em caráter provisório, logo que a corte se transferiu para a
colônia, em 1808. Ao final, a revista informa que o documento pertence ao acervo da Biblioteca
Nacional e naquele momento estava em exposição. O documento è conhecido como carta ao Conde
da Ponte, escrita por Dom João VI.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não, há apenas a coincidência do mês de janeiro, no qual circulou a revista e foi produzido o
documento.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim. O príncipe Dom João VI.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Comércio exterior e emancipação nacional.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, o caráter provisório de tal iniciativa, mas que não resultou em revogação.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Predomina o caráter oficial.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Não.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não. Apenas a informação sobre o caráter provisório, mas que não altera a concepção geral sobre
o fato.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. O aproveitamento da seção em seu conjunto pode servir de ensejo para outras questões sobre o
Brasil, principalmente os relacionados à emancipação política.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Analise e descrição são superficiais, predominando a contextualização.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim, em duas páginas.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Economia e política.

19º) Em qual época se insere o documento?


Final do período colonial.

Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância como fonte para o estudo de História, pois
representa um marco fundamental segundo a historiografia atual, no processo de emancipação
política do Brasil. O texto de apoio tem um caráter didático destacado, com contextualização,
informação sobre o conteúdo do documento e análises.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XIV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Nome: Nossa História


Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 1 / 9
Data: Julho / 2004
Número de Página: 12 e 13
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


Com o título “Zumbidos ilustrados” a Revista apresenta três páginas do periódico humorístico “A
Lanterna Mágica”, de Manuel de Araújo Porto Alegre, e um texto de apoio que preenche duas
páginas da revista, juntamente com os documentos ilustrados e iconografias. O texto informa,
contextualiza e superficialmente analisa a importância desse material.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Não, impresso.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não atualmente, mas foi produzido por um jornalista durante o primeiro reinado.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma grande coleção de periódicos do Século XIX está na Divisão de Obras Raras da Biblioteca
Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Políticos e sociais.

9º) O tema é recorrente na história nacional?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Sim, considerando a variedade de assuntos tratados.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, de certa maneira. Alguns ficcionais, outros ironizam a realidade.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?

É um jornal periódico de acesso público.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, uma vez que a imprensa trata com humor e sátiras temas do cotidiano urbano.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. A matéria apresenta um jornal periódico que apresenta com humor e sátiras temas da política
e cotidiano do Rio de Janeiro, com charges e caricaturas.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Analisado, com indicação do conteúdo e contexto histórico, alem dos produtores e sua atuação
social. São analisados quanto aos recursos gráficos, a valorização da fotografia na imprensa e os
temas.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim, mas com destaque para a função ilustrativa, ainda que seja possível a leitura. Mas trata-se de
um periódico, contendo a matéria três imagens de documentos.

17º) Há iconografia no documento?


Sim. Charges e caricaturas de personagens que dialogam entre si ou passam mensagem ao leitor.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Política e cultura.

19º) Em qual época se insere o documento?


Monarquia, especificamente no período regencial.

Conclusão
Revista divulga acervo da Biblioteca Nacional, retomando a partir da história da imprensa uma boa
fonte de pesquisa para a história brasileira.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Nome: Nossa História


Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 1 / 10
Data: Agosto / 2004
Número de Página: 12
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


A seção apresenta um texto de três colunas, apresentando na parte superior à esquerda uma
imagem do documento, como representativo de um conjunto de cartas, com letra manuscrita e
legível, mas com destaque para a função ilustrativa. O título da seção é “Cartas de um amador” e
refere-se à produção de cartas escritas por Luis dos Santos Vilhena informando o príncipe
português sobre diversos temas da história da colônia e retratando a situação colonial. O texto de
apoio contextualiza os documentos, comenta seu conteúdo e analisa alguns aspectos.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


O texto é manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma cópia está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Produção de História colonial, política, administração e economia do período.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim. Genericamente os documentos tratam de temas variados, os quais se inserem em diversos
aspectos da produção histórica do período colonial.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Não é possível saber, mas trata essencialmente da história da colônia.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Predomina o caráter privado, mas de interesse do Estado.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Segundo o texto de apoio, os documentos possuem diversas informações históricas, mas nada de
específico pode ser destacado porque o documento tem na matéria uma função basicamente
ilustrativa.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não. Apenas acrescenta novas informações sobre a história a partir de diversos temas sobre a
colônia.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. O aproveitamento da seção em seu conjunto pode servir de ensejo para outras questões do
Brasil colonial, mas o documento em si é apenas ilustrativo.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Analisado e contextualizado e descrito o seu conteúdo.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, apenas uma página ilustrativa.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Destaca política e economia, pois presta informações para estadistas portugueses sobre a história
da colônia.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância como fonte para o estudo de História, e o texto de
apoio tem um caráter didático destacado, com contextualização, informação sobre o conteúdo do
documento e análises superficiais.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Nome: Nossa História


Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 1 / 11
Data: Setembro / 2004
Número de Página: 12
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


A matéria está na página doze da revista, tendo como título “Suspiros de um Imperador
apaixonado”. Refere-se às correspondências entre Dom Pedro I e Domitila C. C. Melo, as quais
foram produzidas entre 1822 e 1829, tempo que durou o romance. O texto tem início com um trecho
de uma das cartas, escrita pelo imperador em Maio de 1824. Segue indicando características da
personalidade do imperador e apontando detalhes do romance que teve com Domitila, bem como a
repercussão.A matéria faz referência a existência de muitas dessas correspondências em diversas
instituições, sendo que o Arquivo Nacional e a Biblioteca nacional possuem um conjunto de nove
cartas, uma de 1924 e as demais de 1928. Informa sobre a publicação desse material pela Nova
Fronteira com o título “Cartas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos”.O trecho final do texto faz
referência ao tema do adultério, uma prática comum entre reis e rainhas das cortes européias,
informando ainda que Dom Pedro I teve outras amantes.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Sim. Os documentos especificamente não estão diretamente relacionados com o conteúdo de outras
matérias, mas estão inseridos no contexto de que trata o assunto da capa, a independência do
Brasil. Sendo Dom Pedro I o principal protagonista desse episódio, estes documentos apresentam
alguns indícios a respeito da vida privada e social do primeiro governante do Brasil.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Sim. Estão relacionam-se à independência do Brasil, data comemorada mês desta edição.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim. O nome mais destacado é o de Dom Pedro I, bem conhecido por nós todos. A pessoa com a
qual se corresponde é uma figura tanto secundária, a qual adquiriu maior destaque na história
nacional exatamente por ser amante de Dom Pedro.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma cópia está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Não é possível saber, pois não estão apresentados na íntegra. Somente as informações do texto da
matéria destacam que eram cartas amorosas próprias de um casal de amantes, além do
compartilhamento de preocupações cotidianas.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Não. Somente se considerados os estudos de História da vida privada relacionados com figuras de
destaque da política nacional, os temas teriam abordagens similares.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, o relacionamento entre um casal, fora das regras formais da sociedade. Não é possível
considerar outros dados porque os documentos não são apresentados na íntegra.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


A comunicação é estritamente privada, mas Dom Pedro I assina como Imperador, dirigindo-se a
uma personalidade com títulos, eram figuras de destaque ou influência na política nacional.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, segundo se depreende do texto da matéria.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não, apenas informações sobre as preocupações com problemas cotidianos do casal para além das
frases afetivas, bem como a trajetória do relacionamento.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, para ilustrar as relações cotidianas, despertar o interesse relacionado a uma figura de
destaque na história política do Brasil ao observar outros aspectos de sua vida. Também é possível
demonstrar a mentalidade da época, recursos materiais e humanos, e outros temas que podem
surgir segundo a criatividade do professor. Mas o uso apenas das ilustrações e dos comentários da
revista, ainda que muito mais limitados, podem dar ensejo à argumentação do professor e despertar
o interesse dos alunos.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Predomina a análise a partir de descrições breves.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, são apenas ilustrativos.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Social e político.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

19º) Em qual época se insere o documento?


Monarquia, especificamente o primeiro reinado.

Conclusão
Estes documentos não podem ser lidos, são meramente ilustrativos. Tudo que é afirmado deve ser
compreendido como contextualização, e análise contida no texto de apoio.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 1 / 12
Data: Outubro/2004
Número de Página: 14
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


Trata-se de um documento em que a metrópole proíbe a instalação de indústrias manufatureiras no
Brasil. Assim, o documento demonstra a idéia de que Portugal tinha ciência de ser totalmente
dependente economicamente do Brasil. E de que o desenvolvimento do Brasil em termos industriais
não era interessante ao Estado Nacional Português.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, do ministro português Luís da Cunha

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma cópia está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


O tema é a dependência de Portugal em relação à colônia Brasil. Trata-se de um Alvará de janeiro de
1785, que proibia a instalação de manufaturas no Brasil.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, é um dos mais estudados na historiografia.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Não.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Oficial, é uma ordem do governo.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Não, é um documento amplamente conhecido por historiadores especializados.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, demonstra de maneira clara as relações entre metrópole e colônia.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Analisado, o texto de apoio tenta explicar o que significava a dependência de Portugal em relação
ao Brasil e quais eram as relações políticas e econômicas entre os dois lados do Império.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, apenas uma página que não finaliza o documento.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Temas econômicos e políticos.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da questão, e o texto de apoio
tem um caráter didático bem preservado.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 02 / 13
Data: Novembro / 2004
Número de Página: 14 e 15
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


O documento é um relato que o Mestre de Campo Regente Inácio Correia Pamplona mandou fazer
de sua expedição contra o quilombo de São Gonçalo, na região de Araxá, Minas Gerais. No relato,
o autor se preocupa em destrinchar os aspectos técnicos da organização do quilombo. Por exemplo,
o documento conta com plantas para definir o quilombo.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim, com aspectos iconográficos, como as plantas do quilombo.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Sim, o artigo que encerra a revista é uma comparação entre Zumbi e Ganga Zumba. Uma das
reportagens é sobre como a Guerra do Paraguai contribuiu para o fim da escravidão. O documento
detalha uma expedição contra um quilombo.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Sim, o dia da Consciência Negra.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, do caçador de quilombolas Inácio Correia Pamplona. Ele não é o autor do documento, mas o
encomendou.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma cópia está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional. Está na Internet, nos Anais
disponibilizados pela Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


As diversas expedições contra os quilombos.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Não, trata-se de um documento mais técnico.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


É o registro de uma expedição feito pelo autor da expedição. É um documento público.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, o documento certamente traz informações curiosas – o relato dia a dia de uma expedição
contra um quilombo, acrescida de detalhes técnicos e de mapas.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não. O documento demonstra uma crença válida hoje, a extensa organização interna dos
quilombos.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, ele é um relato bastante vívido das condições de organização dos quilombos. As imagens, como
plantas e mapas, dão ao professor um recurso eficaz para mostrar como o quilombo se organizada.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Analisado, o texto de apoio contrapõe as opiniões de historiadores importantes e descreve opiniões
que não constam do documento.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, apenas uma parte.

17º) Há iconografia no documento?


Sim, uma planta do quilombo.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas políticos (a luta contra os quilombos) e sociais (a organização interna dos
quilombos).

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da questão, e o texto de apoio
tem um caráter didático bem preservado.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXIV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 2 / 14
Data: Dezembro / 2004
Número de Página: 13
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


O documento é um tratado ilustrado sobre como pentear os cabelos. Ele estava originalmente na
biblioteca de D.João VI em Lisboa. Com a vinda da família real ao Brasil, o documento veio junto.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


É iconográfico.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não, trata-se de um documento de pessoa não conhecida, mas do acervo de D. João VI.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma cópia está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Etiqueta e comportamento social. Mais especificamente, um tratado sobre as maneiras de se pentear
nas cortes reais européias.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Não.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, modos e maneiras de se pentear.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


É um documento público.

12º) Há informações novas ou curiosas?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Não.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Não muitos. Serve para estudar alguma coisa do comportamento da corte.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Os dois. A explicação descreve o tratado e finaliza com a consideração acima.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, apenas a parte iconográfica.

17º) Há iconografia no documento?


Sim.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele fala de comportamento.

19º) Em qual época se insere o documento?


Colônia.
Conclusão
A revista apresenta um documento que, à primeira vista, serve apenas à curiosidade do leitor.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XXXIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 2 / 15
Data: Janeiro / 2005
Número de Página: 12
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


Com o título “Armazém de histórias”, esta subseção apresenta como documento o primeiro
periódico brasileiro, o Correio Brasiliense ou Armazém Literário, criado e escrito por Hipólito da
Costa e Impresso em Londres, circulou clandestinamente entre os anos de 1808 e 1822, atendia a
um reduzido público leitor. A imagem do documento se resume a uma ilustração da capa frontal e
de fundo do periódico, em forma de livro, situada na parte inferior centro- direita da página.
Contém a matéria diversas informações sobre a trajetória de Hipólito após seu exilo (1798) e prisão
em Portugal (1800) e fuga para Londres (1805), relacionando seu envolvimento na maçonaria e
atuação na imprensa, além do contato com idéias liberais e conhecimento de países que as
empregaram com co contexto que precedeu a Independência do Brasil. Destaca ainda a matéria, o
caráter pioneiro do Correio Brasiliense e a raridade da obra.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Impresso.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim. O nome destacado é o de Hipólito da Costa, precursor da imprensa de periódicos no Brasil.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma grande coleção de periódicos do Século XIX está na Divisão de Obras Raras da Biblioteca
Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Não é possível saber, pois não estão apresentados na íntegra. Somente as informações da matéria
destacam que relacionava-se à política, comércio, artes, literatura, ciência, correspondência, e
“miscelânia”, mas as idéias liberais predominavam, no sentido da emancipação do Brasil, sendo
contra o regime de trabalho escravo, os monopólios e a favor da participação popular na política.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XL


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, considerando que era um periódico de assuntos variados, é uma fonte que comporta diversos
debates da época, destacando-se o tema da escravidão e participação política segundo a matéria.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Não é possível considerar outros dados porque os documentos não são apresentados na íntegra.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


A comunicação é pública, exceto pelo fato da circulação ser clandestina e destinada a um reduzido
público leitor.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, segundo se depreende do texto da matéria, destacando-se o tema da escravidão e participação
política do povo como idéias liberais avançadas para a época.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não. Estas informações podem preencher lacunas no pensamento do leitor, mas não há uma crença
geral errônea disseminada atualmente que o documento esclareça.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. Os documentos podem ser utilizados como recurso didático para ilustrar a política e o debate
de idéias entre 1808 e 1822, entre muitos outros temas relacionados.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Predomina a análise a partir de descrições breves.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, são apenas ilustrativos, porém legíveis.

17º) Há iconografia no documento?


Sim.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Predomina o tema da política, sendo possível observar em sentido mais restrito os outros aspectos,
segundo informa o texto da matéria.

19º) Em qual época se insere o documento?


Final do período colonial.

Conclusão
Revista divulga acervo da Biblioteca Nacional, retomando a partir da história da imprensa uma boa
fonte de pesquisa para a história brasileira. Está à mostra apenas a capa na matéria, com função
meramente ilustrativa. A revista usa o espaço para divulgação do acervo da Biblioteca Nacional,

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Isto pode ser afirmado a partir das referências no texto da matéria à existência de apenas duas
obras completas, sendo uma de um colecionador de São Paulo e outra da Divisão de Obras Raras
da Biblioteca Nacional. Nesse sentido a Revista divulga o seu acervo e destaca a raridade.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 02 / 17
Data: Março/2005
Número de Página: 13
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


O documento é um trecho de O Ateneu, de Raul Pompéia, que o autor decidiu não usar por motivos
desconhecidos.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, é trecho suprimido da obra O Ateneu, de Raul Pompéia.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma cópia está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


É um documento de conteúdo artístico e ficcional. Que se encerra em si. O documento não é uma
peça de conhecimento histórico, embora conhecimento histórico posse ser extraído dele.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Não.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, de certa maneira. Mas ficcionais.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


É um documento de acesso privado.

12º) Há informações novas ou curiosas?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLIV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Para leitores não especializados, sim.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Não muitos. O texto serve para os estudiosos de literatura.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não é analisado. O que há é uma descrição do Ateneu e de partes do documento.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, apenas seu início.

17º) Há iconografia no documento?


Sim, um dos desenhos feitos por Pompéia para ilustrar o livro.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas artísticos e sociais (na medida em que descreve a vida social de uma época)

19º) Em qual época se insere o documento?


Transição do Império para a República.

Conclusão
Documento de interesse literário, não muito bem explorado pela revista.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 2 / 18
Data: Abril / 2005
Número de Página: 13
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


A seção apresenta um texto de três colunas, apresentando na parte superior e central à direita uma
imagem do documento, em forma de livro aberto, uma imagem ilustrativa. O título do texto é “Na
rota dos corsários”. Segundo a matéria da revista, o documento é um caderno de duzentos e oito
páginas, produzido anonimamente e sem indicação de autor, relatando sobre o ataque feito ao Rio
de Janeiro em 1710 pelo pirata francês Jean François Duclerc, e o seguinte feito pelo corsário
também francês René Duguay-Touin, que com três mil e trezentos homens e uma esquadra de
dezoito navios, tomaram o Rio de Janeiro, colocaram em fuga o governador e exigiram um resgate
para deixar a cidade.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


O texto é manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não. Há apenas o artigo “Gangues do Rio” que trata sobre a capital do Império e outros dois que
tratam de temas do Brasil colonial, além do conteúdo do documento da subseção decifre se for
capaz, sobre a possibilidade de ataque dos franceses aos portugueses, mas em outro contexto.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não. Segundo a revista, é um documento elaborado por escrivão anônimo, embora fale de pessoas
com destaque social na época.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma cópia está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Pirataria, conflitos entre nacionalidades pela exploração colonial.

9º) O tema é recorrente na história nacional?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Não. É um tema específico do período, só encontrando paralelo na atualidade com outros conflitos
internacionais, mas com expedientes diferenciados.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, informa o leitor sobre minúcias do acontecimento.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Predomina o caráter publico.

12º) Há informações novas ou curiosas?


O documento certamente traz informações curiosas sobre como funcionava a pirataria, o pedido de
resgate para deixarem a cidade, entre outras.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não. Apenas acrescenta novas informações sobre a prática da pirataria.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. O aproveitamento da seção em seu conjunto pode servir de ensejo para outras questões do
Brasil colonial, mas o documento em si é apenas ilustrativo.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Analisado e contextualizado e descrito o seu conteúdo.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, apenas duas páginas ilustrativas.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Destaca política e economia e o combate armado como conflito subjacente.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da questão, e o texto de apoio
tem um caráter didático destacado, com contextualização, informação sobre o conteúdo do
documento e análises superficiais.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XLIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 2 / 19
Data: Maio / 2005
Número de Página: 13
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


Com o título “Entre um Bordado e outro”, a revista apresenta “O jornal das senhoras”, que
começou a circular em 1852, editado por mulheres. Há contextualização do documento e breve
análise de alguns temas históricos e sociais que suscita, como a “emancipação feminina”.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Impresso.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, o periódico está na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Sociais, como relações de gênero, além de economia, neste caso ligado ao mercado de trabalho e a
atividade produtiva e cultural feminina.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, a emancipação feminina, assumindo outros papéis sociais além dos tradicionais.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Não é possível considerar outros dados porque os documentos não são apresentados na íntegra.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Não, é um jornal periódico de acesso público.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS L


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
12º) Há informações novas ou curiosas?
Sim, informa ao leitor temas de interesse feminino e sobre o cotidiano.
13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo
do(s) documento(s)?
Sim, demonstram que as mulheres tinham uma atuação social além dos limites tradicionais que é
comum imaginar.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, é possível utilização para tratar do período, concentrando-se nos temas da atuação feminina
na sociedade e outros relativos à história do cotidiano.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Analisado, com indicação do conteúdo e contexto histórico.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, apenas uma página de um jornal periódico.

17º) Há iconografia no documento?


Sim.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Culturais, religiosos e sociais.

19º) Em qual época se insere o documento?


Monarquia, especificamente o segundo reinado.

Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da história do Brasil, com as
inúmeras possibilidades de investigação histórica a partir do documento, e o texto de apoio tem um
caráter didático destacado.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

SUSEÇÃO “DECIFRE SE FOR CAPAZ”

Nome: Nossa História


Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Data: Novembro / 2003
Ano / Nº: 1 / 01
Número de Página: 89
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


A subseção traz um enunciado sugerindo ao leitor que experimente ser paleógrafo e tente decifrar o
conteúdo do documento, informando que foi escrito pelo rei de Portugal em 1703, ao Governador
da Capitania do Rio de Janeiro, para que não permitisse que escravas usassem seda e ouro.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, o Rei de Portugal e o governador do Rio de Janeiro em 1703.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim, mas com certa dificuldade para o leitor.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Predomina o tema social, especificamente com referência ao regime de trabalho escravo e
condições de mobilidade social e propriedade material.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, uma informação específica que pode ser inserida na consideração dos temas sociais.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, a determinação contrária indica a ocorrência do fato, ou seja, de que escravas usavam estes
objetos.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


É um documento oficial.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, o uso de vestimentas e adornos de alto valor por escravas.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Sim, contraria a imagem recorrente no imaginário dos brasileiros de que os escravos não tinham
bens materiais. Ainda que essa possa ser a tendência predominante, o tema remete à complexidade
das formas tomadas na escravidão, variando conforme o tempo e a região, e que alguns escravos
tinham bens materiais.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento pode-se analisar temas como o racismo e intolerância étnica na
sociedade brasileira e suas raízes históricas, além das variações e negociações empreendidas para
o funcionamento do regime de trabalho escravo, entre outros temas relacionados.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não há análise nem descrição, apenas a transcrição do conteúdo e uma informação no enunciado
sobre o assunto, datas e autores.
16º) O documento é apresentado na íntegra?
Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas sociais e econômicos.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista indica quem escreveu o documento e em qual data foi produzido, a quem foi endereçado e
o assunto, no enunciado. Demais conclusões e considerações sobre o assunto tratado ficam a cargo
do leitor do documento.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LIV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Data: Janeiro / 2004
Ano / Nº: 1 / 03
Número de Página: 91
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


A subseção traz um enunciado sugerindo ao leitor que tente decifrar o conteúdo do documento,
informando que foi escrito pelo rei de Portugal D. João V em 1718, ao Governador do Rio de
Janeiro, para que não permitisse o desembarque de ciganos expulsos do Reino. O documento ocupa
a maior parte da página, com a transcrição legível ao lado da imagem.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, o Rei de Portugal e o governador do Rio de Janeiro em 1718.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim, mas com certa dificuldade para o leitor.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Predomina o tema social, especificamente com referência à intolerância étnica e cultural.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, uma informação específica que pode ser inserida na consideração dos temas sociais.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, a determinação contrária indica a ocorrência do fato, ou seja, de que ciganos eram expulsos
de Portugal e não eram bem vindos no Rio de Janeiro.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


É um documento oficial.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, para a maioria das pessoas, já que no Brasil há uma concepção generalizada de tolerância à
imigração de estrangeiros.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Sim, contraria a imagem recorrente no imaginário dos brasileiros de que pessoas marginalizadas
eram mandadas para as colônias sem nenhum critério, mas nesse caso a determinação é
direcionada especificamente para o Rio de Janeiro.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento é possível analisar temas como o racismo e intolerância étnica na
sociedade brasileira e suas raízes históricas, além de outros temas relacionados.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não há análise nem descrição, apenas a transcrição do conteúdo e uma informação no enunciado
sobre o assunto, datas e autores.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas sociais relacionados à administração colonial e intolerância étnica.

Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista indica quem escreveu o documento e em qual data foi produzido, a quem foi endereçado e
o assunto, no enunciado. Demais conclusões e considerações sobre o assunto tratado ficam a cargo
do leitor do documento.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Ano / Nº: 1 / 9
Data: Julho / 2004
Número de Página: 91
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


O enunciado apresenta apenas o assunto, sobre os prejuízos causados por bebida alcoólica já na
época da colonização, e que “faz parte de nossa cultura”. Em seguida apresenta o documento
manuscrito na íntegra a solução.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, segundo a Revista Nossa História.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Saúde publica, drogas, escravismo, economia e comércio.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, o comércio de bebidas para fornecimento aos escravos. Podem ser estudados temas desde a
produção e comércio desta mercadoria, até os mecanismos de funcionamento de regime de trabalho
escravo.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, os conflitos subjacentes ao comércio e consumo desta bebida.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Predomina o caráter oficial.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, Num sentido de que havia uma demanda dos escravos por este produto.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Sim, revela o consumo de bebida alcoólica inclusive por escravos.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, principalmente com referencia a temas relacionados com o cotidiano e economia.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não é analisado nem descrito, há apenas um enunciado que refere aos possíveis prejuízos causados
por um tipo de bebida que faz parte de nossa cultura.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Política, administração, sociedade.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
O documento revela uma situação interessante, a demanda dos escravos por bebida alcoólica, e um
padre que protesta contra isso devido aos problemas que pode acarretar.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Data: Agosto / 2004
Ano / Nº: 1 / 10
Número de Página: 91
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


A subseção traz um enunciado sugerindo ao leitor que tente decifrar o conteúdo do documento,
informando que foi escrito por D. Pedro II, rei de Portugal, destinado ao governador do Brasil, na
data de 1698, o qual está na Divisão de manuscritos da Biblioteca Nacional. Não he menção no
enunciado sobre o conteúdo da carta, mas trata da realização de uma obra, a casa da alfândega.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, o Rei de Portugal D. Pedro II e o governador do Brasil em 1698, Conde de Alvor.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim, mas com certa dificuldade para o leitor.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Predomina a economia, administração e política do Império português, concentrada na construção
de um órgão com função tributária e de intercambio mercantil.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, uma informação específica que pode ser inserida na consideração destes temas.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Não, apenas informações sobre os expedientes de construção de uma infra-estrutura de
administração colonial

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
É um documento oficial.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, a realidade da infra-estrutura necessária para a prática da política colonial do Império
português.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não, apenas informações que confirmam o controle dos portugueses sobre o comércio externo em
sua colônia.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento se pode analisar o funcionamento do aparato estatal português.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não há análise nem descrição, apenas a transcrição do conteúdo e uma informação no enunciado
sobre a contextualização.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas políticos (o aparato burocrático português), administrativos e econômicos.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista apenas indica quem escreveu o documento e em qual contexto foi produzido, no
enunciado. Demais conclusões e considerações sobre o assunto tratado ficam a cargo do leitor do
documento.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXIV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Data: Setembro / 2004
Ano / Nº: 1 / 11
Número de Página: 91
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


A subseção sugere ao leitor que tente “decifrar”, ler um documento manuscrito apresentado na
íntegra. O documento atende a solicitação de um leitor do Estado de São Paulo, informando que
“tinha grande valia, para muitos, no Brasil escravista”. Datado de 1855, assinado por José de
Alencar, trata-se de uma carta de alforria para uma escrava de nome Ângela, a qual herdou de seus
pais e que lhe prestou serviços desde o tempo que era estudante em Pernambuco e ao longo de sua
vida, estando ambos então com mais de sessenta anos. Por motivo do aniversário de Alencar, a
torna forra gratuitamente e por espontânea vontade passa a ela essa Carta de Alforria, a qual deve
ter pleno vigor ainda que falte outra formalidade, podendo ser registrada em qualquer tabelião.
Acrescenta local, data, e assinatura. A subseção contém o título (“Decifre se for Capaz”), um
enunciado, o documento e uma coluna invertida com a transcrição digitada.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


O texto do documento é manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não há uma relação direta, mas insere-se no contexto dos temas abordados em outros artigos e
seções: o regime de trabalho escravo, que surgem nos artigos “O Haiti não foi aqui” de Marcos
Morel, entre as paginas 58 e 63 (sobre a revolução dos escravos no Haiti e sua repercussão no
Brasil) e “Uma família de luta” de Keila Grimberg, entre as páginas 76 e 79, (sobre a família
Rebouças que, embora negros, tornaram-se figuras de renome nas ultimas décadas do Império).

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Sim, atende a solicitação de um leitor de São Paulo.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, quem escreve é José Martiniano de Alencar, famoso escritor brasileiro.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
O regime de trabalho escravo; a liberdade como conceito; a legislação e vida social no segundo
reinado.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim. O regime de trabalho escravo foi praticado por quase quatro séculos no território nacional.
10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?
O escravo, para ser considerado livre, precisava possuir uma carta de alforria assinada por seu
ultimo proprietário. Os escravos eram bens transmitidos por herança.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Oficial, uma vez que foi fornecido pelo proprietário à sua escrava, o que a partir de então passa a
comprovar a liberdade da mesma.

12º) Há informações novas ou curiosas?


As novidades são variáveis segundo as informações que o leitor já possui, mas o formato e termos
empregados nesse tipo de documento, além do fato de José de Alencar - uma pessoa muito
conhecida atualmente devido a seus livros - possuir uma escrava, são elementos curiosos para os
leitores em geral. A idade da escrava é outro dado que pode ser observado.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Um escritor como José de Alencar era proprietário de escravos. As informações apenas quanto à
produção literária de Alencar podem provocar no leitor uma ilusão sobre sua vida social. O
documento trás uma informação que pode preencher esta lacuna. Outro dado poderia ser a idade
avançava da escrava, o que leva o leitor a se indagar em qual medida essa liberdade era válida e se
outros escravos conseguiam alforria com menos anos de idade.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
O documento como é exposto na subseção presta-se à utilização pelo professor. O texto pode ser
lido e analisado segundo os temas nele contidos.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não há análise nem descrição, apenas a transcrição do conteúdo e uma informação no enunciado
sobre a contextualização.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Predomina os temas sociais e econômicos, mas com outros subjacentes.

19º) Em qual época se insere o documento?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Império, especificamente o reinado de Dom Pedro II, em Outubro de 1855.

Conclusão
O leitor do documento entra em contato com uma fonte primária, nesse sentido, muitas informações
precisas são apreciadas, como a data, localidade, os sujeitos envolvidos, a formalidade legal para a
validade de Carta de Alforria, a disposição de Alencar em conceder a liberdade gratuitamente, a
justificativa desta ação, entre outros dados que permitem ao leitor considerar algumas hipóteses de
análise histórica e descartar outras. Uma das conclusões possíveis é que José Martiniano de
Alencar concede gratuitamente alforria à sua escrava de nome Ângela em 1855, a qual tem mais de
sessenta anos de idade.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Por Dentro da Biblioteca
Subseção: Documento
Ano / Nº: 1 / 12
Data: Outubro/2004
Número de Página: 14
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


Trata-se de um documento em que a metrópole proíbe a instalação de indústrias manufatureiras no
Brasil. Assim, o documento demonstra a idéia de que Portugal tinha ciência de ser totalmente
dependente economicamente do Brasil. E de que o desenvolvimento do Brasil em termos industriais
não era interessante ao Estado Nacional Português.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, do ministro português Luís da Cunha

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, uma cópia está na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


O tema é a dependência de Portugal em relação à colônia Brasil. Trata-se de um Alvará de janeiro
de 1785, que proibia a instalação de manufaturas no Brasil.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, é um dos mais estudados na historiografia.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Não.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Oficial, é uma ordem do governo.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

12º) Há informações novas ou curiosas?


Não, é um documento amplamente conhecido por historiadores especializados.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, demonstra de maneira clara as relações entre metrópole e colônia.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Analisado, o texto de apoio tenta explicar o que significava a dependência de Portugal em relação ao
Brasil e quais eram as relações políticas e econômicas entre os dois lados do Império.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Não, apenas uma página que não finaliza o documento.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Temas econômicos e políticos.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da questão, e o texto de apoio
tem um caráter didático bem preservado.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Ano / Nº: 02 / 13
Data: Novembro / 2004
Número de Página: 91
Preço: R$ 6,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


Trata-se de uma carta que demonstra como a ação da pirataria na costa brasileira poderia
atrapalhar o funcionamento burocrático do Império marítimo português. No caso, um seqüestro
executado por piratas na costa da Bahia atravanca o trabalho da inquisição em Goa.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Inquisição, pirataria e o Funcionamento do Estado Português.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


A combinação entre os temas (pirataria, inquisição) não é recorrente. Mas se formos olhar o
documento à luz do funcionamento do império português (o que é dar um passo além do que a
revista indica), a resposta deverá ser positiva.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, como a preocupação com a saúde de outrem. Como os percalços da viagem marítima.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
É um documento privado, uma carta.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Não.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento se pode analisar o funcionamento do aparato estatal português.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não há nem um nem o outro.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas políticos (o aparato burocrático português).

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista não explica o contexto em que o documento foi produzido. Há apenas uma menção a
piratas baianos e inquisidores em Goa. Ainda assim, é um documento útil para trabalhar a
interconexão do império português.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXIV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Ano / Nº: 2 / 14
Data: Dezembro / 2004
Número de Página: 97
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


Trata-se de um cartão de natal do século XVIII, na cidade de Santos.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

Trata-se de data comemorativa?


Sim, é um cartão de Natal.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Não se sabe.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Nenhum, além da curiosidade do leitor.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Não.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, um desejo de boas festas.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Privado.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
12º) Há informações novas ou curiosas?
Não.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Não.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não há nem um nem o outro.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Tema social.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.
Conclusão
O documento serve, como está apresentado, como mera curiosidade.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Ano / Nº: 2 / 15
Data: Janeiro / 2005
Número de Página: 91
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


A subseção sugere ao leitor que tente “decifrar”, ou seja, ler um documento manuscrito
apresentado na íntegra. O documento é da autoria de José Bonifácio de Andrada e Silva, mas não é
datado nem assinado. Trata-se de um texto com o título no qual o autor tenta definir características
do Brasileiro, com muitos valores positivos indicados, usa ao final a metáfora “athenienses da
América”, o que podem vir a se revelar caso não sejam oprimidos pelo despotismo. A subseção
contém o título (“Decifre se for Capaz”), um enunciado, o documento e uma coluna invertida com a
transcrição digitada.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


O texto do documento é manuscrito, de leitura difícil, mas possível.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não. Não há uma relação direta, mas insere-se no contexto somente do artigo da seguinte e ultima
seção “Nosso Historiador”, da professora Lilia Moritz Schwarcz, “Somos Cordiais?”, que fala a
respeito da sociedade brasileira sobre os temas miscigenação e racismo.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não. Os documentos não atendem especificamente à solicitação de leitores. Não há evidências de
elementos como datas comemorativas ou eventos circunstanciais do presente como ensejo para a
retomada dos temas relacionados. O documento propriamente é elemento para a retomada dessa
memória.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, quem escreve é José Bonifácio de Andrada e Silva, ficou conhecido como o “patriarca da
independência” devido à sua influencia política nesse processo.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim. O material possui bom estado de conservação, apresentado em apenas uma folha, permite uma
leitura com certa dificuldade para o público.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, segundo a Revista Nossa História.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Identidade dos Brasileiros; Regime político; Educação e cultura.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, os temas estão relacionados e são recorrentes principalmente como objeto de estudo da
História Social e Antropologia.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Não, contém apenas uma análise subjetiva sobre o caráter dos brasileiros.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Aparentemente o documento não foi destinado diretamente à comunicação, mas sim uma anotação
do pensamento do autor.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, As novidades são variáveis segundo as informações que o leitor já possui, mas termos
empregados nesse tipo de documento permitem ao leitor um contato direto com o pensamento de
José Bonifácio, figura muitas vezes só conhecida por fontes secundárias.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Não, apenas revela a visão de um político experiente sobre o caráter dos brasileiros.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, o documento como é exposto na subseção presta-se à utilização pelo professor. O texto pode
ser lido e analisado segundo os temas nele contidos.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não é analisado nem descrito, há apenas uma transcrição de seu conteúdo e um breve enunciado
que informa sobre o conteúdo: “conheça um pouco da opinião do patriarca da independência sobre
os brasileiros”.histórica e descartar outras. Não é citada na subseção a localização do documento,
mas provavelmente faz parte do acervo da Biblioteca.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Predominam os temas de caráter social e cultural, mas com outros subjacentes.

19º) Em qual época se insere o documento?


Não é possível precisar porque o documento não é datado, mas José Bonifácio viveu entre 1763 e
1838, sendo provavelmente de um período de transição entre Colônia e Império.

Conclusão

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
O leitor do documento entra em contato com uma fonte primária, nesse sentido, muitas informações
são apreciadas e permitem ao leitor considerar algumas hipóteses de análise

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXXI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Ano / Nº: 02 / 17
Data: Março/2005
Número de Página: 91
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da seção (assunto e conteúdo):


Trata-se de um pedido de um pai de família a Dom João VI. A filha do autor do documento, uma
menina de 12 anos, foi “desonrada”. E o autor do documento agora espera que ela se case com o
autor da “desonra”.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não. Mas o destinatário é D. João VI.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Não se sabe.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


A organização da família no século XIX, o papel da mulher e da autoridade paterna.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, os costumes morais no século XIX.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, a sedução de uma jovem por um rapaz.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Correspondência privada.

12º) Há informações novas ou curiosas?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXXII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Não.
13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo
do(s) documento(s)?
Não.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, por meio dessa história se entende as condições familiares da época.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não há nem um nem o outro.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas sociais.

19º) Em qual época se insere o documento?


Em qual época se insere o documento?
Brasil colonial.

Conclusão
O documento revela um caráter curioso da época. Um caso de foro íntimo chega ao conhecimento
do governante. A sua intervenção é pedida. Trata-se de documento interessante para entendermos a
estruturação familiar da época.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXXIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXXV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Data: Abril / 2005
Ano / Nº: 2 / 18
Número de Página: 91
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


A subseção traz um enunciado informando a data do documento e quem o escreve, o Ministro de
Dom João VI, Dom Rodrigo de Souza Coutinho, indicando que o documento revela o agravamento
da crise que resultou na transferência da corte portuguesa para o Brasil, assim sugere ao leitor que
tente decifrar o manuscrito. Em seguida, o documento ocupa a maior parte da página, estando
assinado e datado. O conteúdo do texto informa sobre a possibilidade de ataque francês às ilhas
portuguesas do Atlântico Norte.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Sim.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Sim, O Ministro Português no Governo de Dom João VI, Dom Rodrigo de Souza Coutinho, além do
Bispo de Funchal.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim, mas com certa dificuldade para o leitor.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Conflitos políticos entre nações da Europa. A posição de Portugal nessa geopolítica, além do
poderio econômico e militar limitado dos portugueses. Assim, política e guerra estão em destaque.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, a política de alianças de Portugal, a fragilidade econômica e militar do reino, além do conflito
entre nações européias que culminaram na transferência da corte portuguesa para o Brasil.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXXVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Não, apenas informações sobre os expedientes de defesa preventiva.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


É um documento oficial.

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, a iminência de um ataque dos franceses já ocorria no ano de 1799, uma realidade que
antecedeu em anos o resultado drástico do conflito, em 1808.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Sim, o acirramento do conflito entre franceses e portugueses num prazo relativamente longo,
demonstrando que a transferência da corte portuguesa para o Brasil não ocorreu às pressas, mas
era uma possibilidade bem considerada há muito pelos estadistas portugueses.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento se pode analisar o funcionamento do aparato estatal português.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não há análise nem descrição, apenas a transcrição do conteúdo e uma informação no enunciado
sobre a contextualização.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas políticos (o aparato burocrático português) e de defesa militar estratégica.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
A revista apenas indica quem escreveu o documento e em qual contexto foi produzido, no
enunciado. Demais conclusões e considerações sobre o assunto tratado ficam a cargo do leitor do
documento.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXXVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXXVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nome: Nossa História
Editora: Vera Cruz
Seção: Almanaque
Subseção: Decifre se for capaz
Ano / Nº: 2 / 19
Data: Maio / 2005
Número de Página: 91
Preço: R$ 7,80

1º) Resumo da subseção (assunto e conteúdo):


Inicia-se pelo enunciado, o qual indica quem se comunicava pela carta e o assunto tratado, que era
a reclamação de que um padre negligenciava o cuidado espiritual dos indígenas. Em seguida são
apresentados o documento manuscrito e a transcrição.

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Manuscrito.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Não.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Não muito. Carta do Capitão-Mor da Vila de Jacareí ao governador Morgado de Mateus, em 1776.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, segundo a Revista Nossa História.

8º) Quais os temas a que se refere o documento?


Aculturação, catequese dos índios, administração colonial, Igreja como instituição, etc.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, a catequese e aculturação dos indígenas no Brasil colonial.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, a reclamação do capitão-mor, o que indica a necessidade de cooperação entre a administração
e a Igreja.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Sim, correspondência entre um capitão-mor e o governador.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS LXXXIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, a reivindicação de um administrador de que a Igreja cumprisse sua tarefa de cristianizar os
índios.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Sim. Demonstra que os conflitos entre Igreja e administração, apesar de serem graves, operavam
com certa reciprocidade segundo a forma de colonização adotada pelos portugueses.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. Os documentos podem ser utilizados como recurso didático para ilustrar o funcionamento da
administração portuguesa e a aculturação e controle dos índios. Também é possível demonstrar a
mentalidade da época e muitos outros temas que podem surgir segundo a criatividade do professor.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Não é analisado nem descrito, há apenas uma transcrição de seu conteúdo e um breve enunciado
que informa sobre o conteúdo, quem escreve, a quem se destina e qual o assunto tratado.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim.

17º) Há iconografia no documento?


Não.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, pois lida com a formação da nação brasileira.

19º) Em qual época se insere o documento?


Brasil colonial.

Conclusão
O leitor do documento entra em contato com uma fonte primária, nesse sentido, muitas informações
precisas são apreciadas, como a data, localidade, os sujeitos envolvidos, entre outros dados que
permitem ao leitor considerar algumas hipóteses de análise histórica e descartar outras.
Mas toda análise e conclusão fica a cargo do leitor.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XC


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

RESULTADOS ESTATÍSTICOS

Seção - “Por Dentro da Biblioteca”


Subseção - “Documento”

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


São oito documentos manuscritos (66,6%) e quatro impressos (33,3%).

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Em apenas dois casos dos doze analisados (16,6%).

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Em apenas dois casos dos doze analisados (16,6%).

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Em sete dos doze casos analisados (58,3%)

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim, em 100% dos casos. Mas com variação de dificuldade, sendo maior no caso dos
documentos manuscritos, mas também devido à antiguidade do material.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, em 100% dos casos, segundo informou a representante da revista Nossa História.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, em dois (50%) dos casos.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, em 50% dos casos.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Há sete documentos públicos (58,3%), dois de comunicado oficial (16,6%) e três
documentos privados (25%).

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, em apenas quatro casos. Ou seja, em 33,3% dos casos.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Sim, em apenas um caso, ou seja, em 8,3% dos casos.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, em onze caso, ou seja, em 91,6% dos casos.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Dos doze documentos, onze são analisados e seis são descritos. Cinco deles são
analisados e descritos. Assim, temos: 91,6% de analisados e 50% de descritos. Nesse
campo, há uma intercessão de 41,6% de analisados e descritos.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim, em apenas quatro casos, ou seja, 33,3%.

17º) Há iconografia no documento?


Sim, em sete documentos (58,3%). Nos outros seis não há.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Esta especulação demonstrou uma grande faixa de intersecção entre os temas sócio-culturais,
políticos e econômicos, não sendo possível destacar uma característica predominante nos
documentos.

19º) Em qual época se insere o documento?Em sete dos casos, os documentos se inserem no período
do Brasil colonial, ou seja, 58,3%. Os outros seis correspondem à época do Império, 41,6%.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

RESULTADOS ESTATÍSTICOS

Seção - “Almanaque”
Subseção - “Decifre se for Capaz”

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


Todos os documentos apresentados nesta subseção são manuscritos, 100%.

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Em nenhum deles há uma relação direta com outros conteúdos ou assuntos da revista.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Em apenas dois casos dos doze analisados (16,6%).

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Em seis dos doze casos analisados (50,0%).

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim, em 100% dos casos. Mas com variação de dificuldade para possibilitar a
interação pretendida com o leitor.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, em 100% dos casos, segundo informou a representante da revista Nossa História.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, em dez casos analisados (83,3%) dos casos.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, em nove dos casos analisados, correspondendo a 75%.

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCIV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Nenhum documento estritamente público (0,0%), sete de comunicado oficial (58,3%)
e cinco documentos privados (41,6%).

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, em oito casos. Ou seja, em 66,6% dos casos.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Sim, em seis casos analisados, ou seja, 50% dos casos.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, em onze caso, ou seja, em 91,6% dos casos.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Dos doze documentos, três são analisados e dez são descritos. Um deles é analisado e
descrito. Assim, temos: 16,6% de analisados e 83,3% de descritos. Nesse campo, há
uma intercessão de 8,3% de analisados e descritos.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim, em 100% dos casos.

17º) Há iconografia no documento?


Sim, em apenas três documentos (25,%). Nos outros nove não há.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Esta especulação demonstrou uma grande faixa de intersecção entre os temas sócio-culturais,
políticos e econômicos, não sendo possível destacar uma característica predominante nos
documentos.

19º) Em qual época se insere o documento?

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Em dez casos, os documentos se inserem no Brasil colonial, ou seja, 83,3%. Os outros
dois correspondem à época do Império, 16,6%.

RESULTADOS ESTATÍSTICOS

Seção - “Por Dentro da Biblioteca” em conjunto com “Almanaque”


Subseção - “Documento” em conjunto com “Decifre se for capaz”

2º) O texto é manuscrito ou impresso?


São vinte documentos manuscritos (83,3%) e quatro impressos (16,6%).

3º) Há relação entre o documento e demais assuntos da revista?


Em apenas dois casos dos vinte e quatro analisados (8,3%). Em 91,7% não há.

4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Em apenas quatro casos dos vinte e quatro analisados (16,6%). Em 83,3% não há.

5º) As pessoas mencionadas no documento possuem alguma fama ou destaque social ?


Em treze dos vinte e quatro casos analisados (58,3%). Em 45,8% não possuem.

6º) Trata-se de documento em boas condições de leitura?


Sim, em 100% dos casos. Mas com variação de dificuldade, sendo maior no caso dos
documentos manuscritos, mas também devido à antiguidade do material.

7º) Trata-se de documento de acesso público?


Sim, em 100% dos casos, segundo informou a representante da revista Nossa História.

9º) O tema é recorrente na história nacional?


Sim, em dezoito (75,0%) dos casos. Em 25% não.

10º) Há fatos, acontecimentos, situações corriqueiras ou cotidianas que o documento relata?


Sim, em 62,5% dos casos, o que equivale a 15 dos 24 analisados.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

11º) Predomina uma comunicação de caráter oficial, privado ou público?


Há sete documentos públicos (29,2%), nove de comunicado oficial (37,5%) e sete
documentos privados (29,2%).

12º) Há informações novas ou curiosas?


Sim, em doze casos, ou seja, em 50% dos casos.

13º) Há desmistificações, crenças equivocadas vigentes na atualidade, contrariadas pelo conteúdo


do(s) documento(s)?
Sim, em sete casos, ou seja, em 29,2% dos casos. Em 70,8% não há.

14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, em vinte e dois casos dos vinte e quatro analisados, ou seja, em 91,6% dos casos.

15º) O documento é analisado ou descrito?


Dos vinte e quatro documentos, treze são analisados e dezesseis são descritos. Seis
deles são analisados e descritos. Assim, temos: 54,1% de analisados e 66,6% de
descritos. Nesse campo, há uma intercessão de 25% de analisados e descritos.

16º) O documento é apresentado na íntegra?


Sim, em dezesseis casos, ou seja, 66,7%. Em 33,3% não é apresentado integralmente.

17º) Há iconografia no documento?


Sim, em dez documentos (41,7%). Nos outros quinze (58,3%) não há.

18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Esta especulação demonstrou uma grande faixa de intersecção entre os temas sócio-culturais,
políticos e econômicos, não sendo possível destacar uma característica predominante nos
documentos.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
19º) Em qual época se insere o documento?
Em dezessete dos casos, os documentos se inserem no período do Brasil colonial, ou
seja, 70,8%. Os outros sete correspondem à época do Império, 29,2%.

ENTREVISTA

COMO A REVISTA NOSSA HISTÓRIA DEFINE A SI MESMA

Interessado em saber como a revista Nossa História define as mesmas questões que fariam
parte do trabalho, o grupo fez um sumário destas questões e enviou à revista. Isso foi feito da
maneira mais simples possível. Um e-mail foi enviado através do site da revista na Internet
(http://www.nossahistoria.net/).
Cerca de uma semana depois, uma pesquisadora da revista, Nívia Pombo Cirne dos Santos,
retornou o e-mail. Na resposta percebemos que a revista se preocupa em não definir regras que
norteiem a escolha dos documentos. Eles podem ser manuscritos ou não, ter iconografias ou não, ter
sido escritos por personalidades importantes ou não...
Noto que no campo “critério de seleção de documentos”, a primeira coisa a ser citada
pela pesquisadora é a “raridade” do documento. Em seguida ela faz uma defesa da diversidade do
documento e, por fim, do interesse que este possa despertar no leitor. A pesquisadora não considera
a relevância histórica do documento. Como já se disse, não é um objetivo da revista produzir
documentos que estejam conectados à edição da revista em si. A seguir, o questionário respondido
pela pesquisadora.

1) Os documentos são apresentados na íntegra?


[Nivia] Na maioria das vezes sim. Apenas em caso de obras raras ou periódicos raros, são
apresentados os frontispícios ou a capa do primeiro número do periódico. Na Seção
Almanaque, eles aparecem na íntegra.
2)Vocês só usam documentos manuscritos ou podem usar também os impressos?
[Nivia] Usamos manuscritos e impressos. No caso do Almanaque, apenas manuscritos e

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
originais.
3) Os documentos preservam as iconografias originais?
[Nivia] Sim.
4) Os documentos são de acesso público?
[Nivia] Sim. Este é um critério de escolha.
5) Como é feita a seleção dos documentos?
[Nivia]O primeiro critério é a raridade, ou seja, documentos que não podem ser
encontrados em outros acervos, apenas na Biblioteca Nacional. Priorizamos documentos
produzidos em diferentes momentos da História do Brasil, temáticas que atendam as
diferentes áreas de produção do conhecimentos histórico: a História Cultural
[recentemente, o Jornal das Senhoras], do Cotidiano [as cartas de d. Pedro I a Domitila],
Econômica [Carta de Abertura dos Portos], Política [Manifesto de Manuel de Carvalho Paes de
Andrade...], e outras. Observamos também se os documentos podem despertar a
curiosidade do leitor, como o Tratado de pentear os cabelos. A Seção percorreu ao longo
destes meses todas as Divisões da BN (Manuscritos, Obras Raras, Periódicos,
Iconografia), na tentativa de mostrar também a riqueza e variedade do acervo da
instituição.
6) Os documentos se relacionam com o conteúdo geral da revista?
[Nivia] Não.
7) Os documentos são escritos necessariamente por personalidades conhecidas?
[Nivia] Não.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS XCIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES

A julgar pelas estatísticas que obtivemos, não é possível denominar critérios absolutos para
a seleção dos documentos. Entretanto, existe uma linha editorial clara. A entrevista feita com a
pesquisadora reforça essa conclusão anterior, revelando um aspecto fundamental: o documento tem
que ser interessante para o público. O critério interesse é mais relevante do que o critério
importância histórica, critério este que, aliás, não está na resposta da pesquisadora.
Para construir um painel representativo dos documentos usados nas edições de Nossa
História, é preciso considerar especificidades das duas subseções trabalhadas - os documentos são
utilizados de dois modos.
A primeira subseção, “documento”, valoriza o documento ilustrativo, que dá ensejo à
matéria, sendo a análise predominante (91,6%), mas também a descrição (50%). A apresentação na
íntegra destes documentos aparece em apenas 33% dos casos.
Ao contrário, a subseção “Decifre se for Capaz” coloca todos os documentos manuscritos
(100%), sempre relacionados a situações corriqueiras (75%), com informações curiosas (66%) e,
principalmente, com o predomínio da descrição (83%), deixando qualquer análise possível por conta
do leitor. Ou seja, é a idéia de que o documento fala por si mesmo. Diferentemente do que ocorre na
outra subseção, o documento aqui é sempre apresentado na íntegra.
O critério de seleção dos documentos e os objetivos que se deseja atingir editorialmente, os
quais não são necessariamente os mesmos quando o documento é estudado por um historiador,
coloca em prática uma outra modalidade de uso do documento histórico. Analisemos por exemplo a
relação entre o documento e o conteúdo global da revista. O fato de 91,7% dos documentos não
estarem relacionados ao conteúdo da revista corrobora o critério de a importância histórica estar em
segundo plano, como se depreende da entrevista da pesquisadora. O fato de os documentos não
estarem vinculados a datas comemorativas (83,3%) é outro dado que indica isso.

A conclusão questão a questão:

Segue uma conclusão a partir dos dados apurados na amostragem, dividindo-se os termos
analisados pelo grupo de trabalho.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS C


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Documentos manuscritos ou impressos?

Manuscritos, em 83% dos casos. Esta maioria deve-se ao uso contínuo na subseção “decifre”, em
que é importante o documento ter um certo mistério, ser de difícil leitura. Voltamos ao critério do
documento “interessante”. A subseção “documento” apresenta uma queda no uso do documento
manuscrito, embora este ainda seja maioria – 66%. O que corrobora o caráter ilustrativo, citando
apenas parte de um material mais volumoso.

Relação com assuntos da revista?

Não, só em 16,6% dos casos. Isto indica uso contínuo do documento como prática da revista,
divulgação do material da biblioteca, etc. Os documentos em si não são o motivo das matérias. Os
documentos devem se conformar ao padrão imposto pela subseção, o que faz questionar o critério
“raridade”. Subseções são independentes das demais e tem uma forma invariável nas publicações.

O documento retoma a memória por meio de data comemorativa ou efeméride?

Não, apenas em 16,6% dos casos. A conclusão confere com o mesmo sentido da questão anterior. O
documento em si atende a forma requerida pela subseção. Isso vale para uma subseção ou para a
outra. O presente não determina a escolha do documento, mas ele é escolhido para fundamentar a
retomada do passado. Uma revista mensal deve ter certamente um padrão de trabalho. Fazer uma
espécie de trabalho jornalístico adequando os temas atuais à investigação do passado seria o caminho
ideal para um sucesso editorial, mas o caminho mais fácil e constante foi adotado, ou seja, a partir da
variedade de documentos que compõem o acervo da Biblioteca nacional, simplesmente o material é
selecionado e utilizado segundo a forma da subseção.

O documento é escrito por pessoa notável?

Proporcional: 58% sim, 45% não. Isto indica que o destaque da figura envolvida não é um critério
fundamental, mas sim secundário na escolha dos documentos.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

O documento está em boas condições de leitura?

Em 100% dos casos sim. Isto indica outro critério de escolha que contraria a “raridade” mencionada
pela pesquisadora. E reforça o papel de divulgação do acervo da Biblioteca Nacional. Da mesma
maneira, 100% dos documentos estão disponíveis à consulta pública, o que quer dizer mais ou
menos a mesma coisa.

O tema tratado pelo documento é recorrente?

Em 75% dos casos, sim. Mais na “decifre” (83,3%) do que na “documento”. (66,6%). Mas isto é
mais uma conseqüência natural do documento do que um critério de escolha editorial da publicação.
A exceção demonstra isso, mas pode ser considerada a tentativa positiva de resgatar novos temas e
variar os assuntos.

O documento é oficial, público ou privado?

Há equilíbrio, o que é um valor positivo de retomada da história, e não apenas um sensacionalismo


bisbilhoteiro, caso predominassem os documentos privados, por exemplo. Também aponta o
compromisso dos editores com o seu ofício, uma vez que são pesquisadores de história ou áreas
afins, pois compreendem que um documento sempre tem algo a dizer sobre o passado,
independentemente do gênero.

O documento é relevante para informar o público alvo?

Precisaríamos primeiro delimitar qual é o público alvo da revista. Certamente, é um público-alvo


heterogêneo, mas com predomínio dos leigos (no sentido de pessoas não especializadas) em assuntos
de História, mas interessados o suficiente para comprarem uma revista com maior aprofundamento
científico do que algumas de suas concorrentes. Para o historiador, poderíamos dizer que cinqüenta
por cento dos documentos não trazem informações novas. Ou que apenas 30% desmistifica crenças
atuais. A questão é descobrir se há interação adequada com o presente, ou seja, se é possível retomar

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

questões do presente a partir dos documentos e como isto pode estimular o interesse do público leigo
que é o público alvo da revista. A revista cumpre esse objetivo em cerca de metade dos documentos
que apresenta (50%).

Existe alguma preferência no período histórico estudado?

Existe, a maioria dos documentos (70,8%) se refere ao período colonial. O restante são sobre o
período monárquico.

Posto isso, retomamos aos objetivos expostos na introdução deste trabalho. Como a seleção
editorial dos documentos publicados se relaciona com o público-alvo, a que interesses
metodológicos ela serve? Primeiramente, devemos dizer que os documentos têm o objetivo de
divulgar o acervo da Biblioteca Nacional. Daí o fato de eles estarem todos em disponibilidade, e de
estarem todos em condições razoáveis de leitura. A democratização do acesso público também é um
objetivo louvável por parte dos editores.
Em segundo, temos que os documentos são usados para retomar a memória do passado, não
para discutir questões da sociedade contemporânea. Há uma certa busca do “exotismo” do
documento. Ele é um manuscrito perdido no tempo, muitas vezes referente ao longínquo Brasil
Colonial.
Não há explicitamente nenhum enquadramento político ou ideológico destacado no uso que
os editores fazem dos documentos. Eles são escolhidos com base em critérios de mercado (são
interessantes?), o que por sua vez reforça os aspectos de “exotismo” do qual falamos no parágrafo
anterior.
Os documentos algumas vezes aparecem descontextualizados, em outras eles não têm seques
explicação nenhuma. Com relação a isto, poderia-se argumentar a apresentação do documento sem
contexto é mais freqüente na subseção “Decifre”. Os editores poderiam argumentar que a subseção
presta-se apenas ao que está escrito no seu título. Ou seja, o leitor deve tentar ler o documento,
independentemente do que estiver escrito nele. Entretanto, isso gera alguma frustração. O leitor
interessado não saberá interpretar o documento, mesmo que chegue a decifrá-lo.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

A revista reproduz um certo fetichismo pelo documento, muito em voga na historiografia do


século XIX. Isto pode ser uma conclusão adicional aos fatores observados no fichamento e à
entrevista feita com a pesquisadora.
Reforçando essa conclusão está o fato de que os editores não se preocupam com história
material, história oral, arqueologia etc. Os documentos apresentados são aqueles mesmos que a
nossa mente forma quando pensamos na palavra documento. documentos raros, antigos, da época
colonial, em papel amarelado, manuscritos... São esses os papeis que a revista busca reproduzir. Ou
seja, a seleção dos documentos adota uma linha tradicionalista.
A grande questão para prosseguirmos o trabalho numa segunda etapa seria decifrar como o
público-alvo da revista, uma publicação mais especializada e com amparo em produtores
acadêmicos, mas não totalmente acadêmica e ainda muito presa a critérios editoriais de mercado,
interage com esse tipo de documentação. Para isso seria preciso ir a campo e entrevistar os
compradores da revista, o que não foi o caso neste trabalho. Pudemos, como foi explicado na
introdução, apenas supor quais foram as principais impressões que o leitor-padrão desta revista teve
ao travar contato com os documentos.
Desse modo, foi possível chegar a algumas conclusões sobre as condições de utilização
destes documentos, com vários aspectos positivos e outros nem tanto, mas sem a preocupação de
encontrar culpados ou heróis, mas apenas constatar uma nova circunstância de inserção social da
história e de uma de suas fontes básicas, que é o documento escrito. Tendo que se adequar aos
objetivos editoriais, os documentos ganham uma nova dimensão, caráter de ilustração legitimadora,
objeto pelo qual se retoma o passado sem conexão com o presente, brincadeira de decifrar similar a
uma palavra cruzada no final de um jornal, entre outras que contrariam em método os estudos
acadêmicos, pois será interessante o contato entre o documento e uma pessoa que não tem o
instrumental adequado para compreende-lo? Assim como os próprios editores que são
pesquisadores, tiveram que se adequar a estas inovações que algumas vezes contrariam seus métodos
tradicionais de abordagem, cabe uma consideração otimista, pois apesar do tom de crítica que possa
parecer pelo que foi dito, talvez não tenham sido tão radicais em sua mudança, pois com o recente
surgimento deste tipo de publicação, é o grande publico que vai dizer qual tipo de história quer para
si.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CIV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
BIBLIOGRAFIA

- Foram utilizadas as doze revistas como material do trabalho, com valorosa contribuição das
respectivas aulas, seminários dos demais grupos e textos do curso de Teoria da História I.

ANEXOS

- Tabelas do conteúdo das revistas, para localização das subseções, comparação com o
conteúdo geral, averiguação da metodologia de divulgação histórica para o público, seja pela
constância nas formas ou casualidades dos assuntos, entre muitas outras especulações
possíveis. Foram elaboradas três tabelas, com os seguintes números:

NÚMERO ANO PUBLICAÇÃO MÊS / ANO


11 01 SETEMBRO 2004
15 02 JANEIRO 2005
19 02 MAIO 2005

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CV


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

NOME DA REVISTA: Nossa História


EDITORA: Vera Cruz
DATA: Setembro de 2004
ANO E NÚMERO: 01 / 11
NÚMERO DE PÁGINAS: 98
VALOR EM R$: 6,80

ORGANIZAÇÃO INTERNA:
SEÇÃO PÁG. SUBSEÇÃO PÁG.
Setembro 2004 6a9 (Artigos diversos) -----
Por dentro da Biblioteca 10 a 12 Documento 12
Capa 14 a 23 “Independência ou morte” e Artigos -----
Olhares 24 a 27 (Artigos) -----
Quem 30 a 33 ---------- -----
Entrevista 34 a 37 ---------- -----
Ensino 80 a 83 “Criatividade para a cidadania” 82
Letras e Escritas 84 a 87 ---------- -----
Almanaque 88 a 91 A frase do mês / Nossa charge / Histórias da nossa 88 / 89
história / Outros Janeiros / Decifre se for capaz 90 / 91
Acontece 92 a 95 Exposições e eventos / Turismo Histórico / 92/ 93
Portal de história / Livros 93/ 94
Cartas 96 a 97 Classificados / Pergunta do Leitor / Cartas / 95 / 96 /
Correções / Agradecimentos 97
Nosso Historiador 98 ---------- -----

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CVI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
ORGANIZAÇÃO INTERNA:
RELAÇÃO DE ARTIGOS (Títulos) AUTOR(A) TEMA / ASSUNTO SEÇÃO / SUB. PÁG DOC BIBl
(palavra-chave)
1) Na Arena, a história do teatro brasileiro Sem assinatura Teatro / palco em círculo / 1953 Setembro 2004 6 não não
2) O abolicionismo de Nabuco .. era digital Sem assinatura Acervo hist. / abolicionismo / PE Setembro 2004(Box) 7 não* não
3) Restauração em movimento Sem assinatura Restauração patrim. Cultur. / MG Setembro 2004(Box) 7 não não
4) Catálogo c. todas as obras de Portinari.. Sem assinatura Portinari / acervo/ centenário Setembro 2004 8 não* não
5) Ender revisto, Brasil revisado Sem assinatura Pintura / 1817 – 18 / exposição Setembro 2004 9 não* não
6) Zweig em livros e filmes Sem assinatura Escritor áustria. / bibliot. Nac. Por dentro da biblioteca 10-11 sim não
7) Da biografia à ficção (entrevista) Sem assinatura Sylvio Back / filme Por dentro da biblioteca 11 não não
(Box)
8) Suspiros de um imperador apaixonado Sem assinatura Cartas manuscritas / D. P. I / Por dentro da biblioteca 12 sim não
Marq. de Santos / Documentos / Documento
9) As muitas independências Sem assinatura Senso comum / Questões frequent Capa 14 não não
10) A fuga da família real Sem assinatura Desmitificação / esclarecimento Capa (Box) 14 não* não
11) D. João VI e o reconhecimento Sem assinatura Articulação política / Capa (Box) 15 sim não
da independência independência pensada
12) Dia do Fico Sem assinatura Desmitificação / esclarecimento Capa 15 não* não
13) José Bonifácio Sem assinatura Desmitificação / esclarecimento Capa (Box) 16 não* não
14) Quadro independência ou morte Sem assinatura Desmitificação / esclarecimento Capa 16 não* não
15) O sete de Setembro Sem assinatura Curiosidade / esclarecimento Capa (Box) 17 não* não
16) D. Pedro I Sem assinatura Heroísmo / traição / política Capa 17 não* não
17) A independência foi pacífica Sem assinatura Desmitificação / esclarecimento Capa (Box) 18 não* não
18) Monarquia ou República? Sem assinatura Regime de governo/esclarec/tº Capa 18 não* não
19) Um dia que entrou para a história HendriK Kraay Data nacional/ 07/09 / política Capa 20 não* sim
20) Pano de boca para a Coroação de Elaine Dias Pintura / nacionalimo / teatro Olhares 24-27 não* sim
D. Pedro I, de J.- Baptiste Debret / Brasil indep. / ideais
21) A imagem de Napoleão Sem assinatura Arte/ Fra / Napoleão / política Olhares (Box) 27 não* não
22) A austríaca que amou o Brasil Clóvis Bulcão Esposa de D. P. I / costumes Capa 30-33 não* sim
23) “O Brasil teve que pagar caro Emília Vioti da Independe^ncia / Brasil Entrevista 34-37 não sim
pela independência” Costa contemporâneo / formação
24) O medo veio do mar Aug. C. M. Moutinho 2º G. M. / nazistas / naufrágios Artigo 38-43 sim sim
25) O Brasil na guerra Sem assinatura Fato / acontecimento / política Artigo (Box) 41 não* sim
26) Morreram mais brasileiros no mar Sem assinatura Dados / Fatos / esclarecimentos / Artigo (Box) 42 não não
que nos campos da Itália naufrágios / submarinos
27) Gregório, Gregórios João Adolfo Hansen Eclarecimento / poesia subvers. Artigo 44-50 sim sim
28) “Gaita de foles não quis tanger, Sem assinatura Formação / biografia / Artigo (Box) 47 não* sim
vejam diabos o que foi fazer” atividades
29) Nossa companheira, a morte Claudia Rodrigues H. Social / cotidiano / costumes Artigo 52-57 sim sim
30) O show dos funerais no Brasil antigo Sem assinatura Festa / ritual / literatura Artigo (Box) 56 não* sim
31) No sécV, os mortos conquistaram Roma Sem assinatura Crenças / mundo rom. / sepulta/tº Artigo (Box) 57 sim sim
32) O Haiti não foi aqui Marco Morel Esclar./ Revol. / política nacional Artigo 58-63 sim sim
33)”A pele de um branco por pergaminho, ... Sem assinatura Insurreição / fatos e dados Artigo (Box) 62 não* sim
34) “Geral êxito, explendido triunfo” Rodrigo Elias e Engenharia Hidráulica / Artigo 64-68 sim sim
Marcelo Scarrone abasteci/tº RJ séc. XIX
35) A imprensa do contra e a Sem assinatura Embate político / cenário de Artigo (Box) 68 não* sim
imprensa do a favor época / imprensa
36) Viagem ao tempo do cinema silencioso Carlos Rob. de Souza Produção 1898 – 30 / cotidiano / Artigo 70-74 não* sim
sociedade / documento visual
37) O Brasil e seu povo nas telas Sem assinatura Divulgação / filme / imagens Artigo (Box) 73 não* sim
antigas
38) Em cartaz, o centenário da Sem assinatura Cinema / independência nacional Artigo (Box) 74 sim não
independência do Brasil / centenário / memória do evento

39) Uma família de luta Keila Grinberg Advog. Negro / engenh. Negro / Artigo 76-79 sim sim
política / abolicionismo
40) O filho de Antonio Sem assinatura Formação / biografia / atividades Artigo (Box) 78 sim sim
41) A independência na Bahia Sem assinatura Desmitificação / esclarecimento Artigo (Box) 79 não sim
42) Os novos caminhos do ensino Marcus Vinicius T. Revisionismo / metodologia / Ensino 80-82 não sim
da História Ribeiro cidadania / ensino-pesquisa

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CVII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

43) Memórias de açúcar e crise Iranilson B. Oliveira Literatura / regional. / Letras e Escritas 84-87 sim sim
Transição
44) Parceiros regionalistas Sem assinatura Gilberto Freyre e Lins do Rego Letras e Escritas 86 não* sim
/ parceria ideológica (Box)
45) A frase do mês Sem assinatura Independência / nacionalidade Almanaque / a f do mês 88 não não
46) Nossa Charge Sem assinatura Centenário indep. / gastos Almanaque 88 não sim
públicos / má gestão
47) Fiéis Soldados da princesa Sem assinatura Abolicionismo / Almanaque 88 não* sim
Republicanismo
48) Jovita, uma heroína esquecida Sem assinatura G. Paraguai / curiosidade / Almanaque 88 não* sim
voluntários / romance
49) O homem que não quis ser rei Sem assinatura Curiosidade política / Almanaque /H. N H. 89 não sim
Restauração
50) “Comida, trabalho e cacete” Sem assinatura Viajantes / escravidão Almanaque 89 não* não
51) E a “Passarola”? Voou? Sem assinatura Curiosidade / tecnologia Almanaque 89 não* não
52) Outros Setembros Sem assinatura Memória (mensal) Almanaque 90 não* não
53) Documento manuscrito José Martiniano de Memória / Curiosidade / Almanaque / Decifre se 91 sim não
Alencar for capaz
Fonte escrita / Diversão
54) Exposições e eventos Juliana Barreto Faria PA / RJ / SC / DF Acontece 92-95 não* não
55) Mossoró: uma cidade em Juliana Barreto RN / Abolição antecipada Acontece / Turismo 93 não não
festa com sua história Faria (1883) / festas / rituais Histórico
56) Acontece / Livros Juliana Barreto Faria Divulgação publicações Acontece / Livros 94-95 não não
recentes
57) “Irmandades” Mariza de C. Soares Interação com o leitor Pergunta do Leitor 96 não* não
58) História: por que e para quê? Caio Boschi Metodologia / teoria / cotidiano Nosso Historiador 98 não* não

* Refere-se apenas à inexistência de documentos impressos ou manuscritos que são objeto deste trabalho, mas contem diversas
outras fontes, como fotografias, iconografias, gravuras, charges, representações, imagens de objetos ou paisagens, desenhos,
entre outras imagens que podem servir ou não como fonte histórica, com função basicamente ilustrativa.

A anotação “Sem assinatura” no campo AUTOR(A) informa que os textos redigidos foram aprovados pelos editores da revista, podendo ser entendido
como assinado pela revista Nossa História (NH).

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CVIII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

NOME DA REVISTA: Nossa História


EDITORA: Vera Cruz
DATA: Janeiro de 2005
ANO E NÚMERO: 02 / 15
NÚMERO DE PÁGINAS: 98
VALOR EM R$: 7,80

ORGANIZAÇÃO INTERNA:
SEÇÃO PÁG. SUBSEÇÃO PÁG.
Janeiro 2005 6 a 11 (Artigos diversos) -----
Por dentro da Biblioteca 12 a 13 Documento 13
Capa 14 a 15 “O Brasil foi à Guerra” e Artigos -----
Olhares 40 a 45 (Artigos) -----
Entrevista 46 a 49 ---------- -----
Letras e escritas 72 a 75 ---------- -----
Quem 76 a 79 ---------- -----
Ensino 80 a 83 Castigos corporais 82
Viagens à memória brasileira 84 a 87 Acervo / Documento 86 / 87
Almanaque 88 a 91 A frase do mês / Histórias da nossa história / 88 / 89
Outros Janeiros / Decifre se for capaz 90 / 91
Acontece 92 a 95 Exposições e eventos / Turismo Histórico / 92/ 93
Portal de história / Livros 93/ 94
Cartas 96 a 97 Classificados / Pergunta do Leitor / Cartas / 96 /
Correções / Agradecimentos 97
Nosso Historiador 98 ---------- -----

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CIX


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
ORGANIZAÇÃO INTERNA:
RELAÇÃO DE ARTIGOS AUTOR(A) TEMA / ASSUNTO SEÇÃO / SUB. PÁG DOC BIBl
(Títulos) (palavra-chave)
1) A história nos trilhos Sem assinatura Tecnol. / memória / novela Janeiro 2005 6 não não
2) Obras raras e acessíveis Sem assinatura Acervo bibliot. em MG Janeiro 2005 (Box) 7 Sim não
3) Do tempo da colônia Sem assinatura Festa / tradição / memória Janeiro 2005 7 não* não
4) Choro com sotaque Sem assinatura H. da músia / arte / resgate Janeiro 2005 8 não* não
5) Enquanto isso no Japão Sem assinatura Interação / música universal Janeiro 2005 (Box) 8 não não
6) Uma história iluminada Sem assinatura Filme / religião / sociedade Janeiro 2005 9 não não
7) Línguas vivas (Mitos Indígenas) Sem assinatura índios / língua / extinção Janeiro 2005 (Box) 10 não não
8) A casa predestinada Sem assinatura Personalidades / patrimônio / Janeiro 2005 (Box) 10 não* não
museu / ONG arqueologia
9) O fim do segredo Sem assinatura Arq. Público / Dops / RJ Janeiro 2005 11 sim não
10) Uma jóia também por fora Sem assinatura Arquitetura / patrimônio Por dentro da biblioteca 12 não* não
11) Armazém de Histórias Sem assinatura Imprensa / independência Por dentro da biblioteca 13 sim não
/ Documento
12) O Brasil em guerra Sem assinatura 2º G. Mundial / Pracinhas Capa 14-15 não* sim
13) A luta antes da guerra Aureliano Moura Treinamento / preparação Capa 16-20 não* sim
14) Franzinos ... Mas sabiam lutar Sem assinatura Miséria / improviso / luta Capa (Box) 18 não* sim
15) Por que o Brasil entrou na Guerra Sem assinatura Política externa / polêmica Capa (Box) 19 não* sim
16) E a cobra fumou Luis Felipe Silva Neves Combate / dificuldade / vitória Capa 22-25 não* sim
17) Verd. e mentir. sob. a part. Bras. na G. Sem assinatura Desmitificação Capa (Box) 24 não* sim
18) A tarefa rotineira de matar César C. Maximiano Terror / morte / dor Capa 25-29 sim Sim
19) O teatro das operações Sem assinatura Mapa / Itália / Campanha Capa 30 não* Não
19) A guerra em tempo de paz Francº C. Alves Ferraz Desmobilização / retorno / paz Capa 31-35 sim sim
21) Das trincheiras ao pavilh. de d. mentais Maria L. C. de Resende Ingratidão / justiça tardia Capa (Box) 33 não* não
22) A vida longe do front Regina da Luz Moreira Efeitos locais / sacrifícios Capa 36-39 não* sim
23) A recuperação da Bahia todos os Jorge Victor A. Souza e Guerra / Holanda / colônia/ Olhares 40-45 não* sim
Santos por Juan Batista Mayno Silvia B. G. Borges. pintura / (1634 - 35)
24) O museu do Prado Sem assinatura Divulgação / grandes artistas Olhares (Box) 42 não não
24) Boris Fausto Sem assinatura Livro / BRA e ARG / hist. Entrevista 46-49 não não
25) Espetáculos a céu aberto André Carreira Teatro / evangelização / jesuitas Artigo 50-53 não* sim
26) À força das armas Sandra Jatahy Revl. Farrapos / RS / Artigo 54-58 sim sim
Pesavento Identidade reg. / Constituição
27) O nasc/tº do Sul: bandos armados Sem assinatura Origem / colonização / Artigo (Box) 58 não* não
disputando rebanhos disputas / evolução
28) O Imperador na terra do faraó Margaret Marchiori Divulgação / viagem imperador / Artigo 60-65 sim sim
Bakos diário / documentos
29) No Egito, uma Igreja para D. Alberto da Costa e Curiosidade / ritual Artigo (Box) 64 não* não
Pedro II. Silva cristão/ D. P. II / Egito
30) Escravos das águas Luis Geraldo da Silva Escravidão / pesca / marinha Artigo 66-71 sim sim
31) Na forca, marujos fujões Sem assinatura Revoltas/ desertores / escravos Artigo (Box) 71 não não
31) O panfletário Lima Barreto Beatriz Resende Literatura / imprensa / séc. XIX - Letras e Escritas 72-75 sim sim
XX / política / xenofobia / mulher
32) Um Príncipe em busca da Coroa Teresa Malatian Monarquia / restauração Quem 76-79 sim sim
33) Entre a palmatória e a moral Daniel C. de A. Lemos Castigos físicos / pedagogia Ensino / Cast. Corp. 80-82 não sim
34) Às margens do Ipiranga Sem assinatura Museu do Ipiranga / exposições / Viagens à memória 84-85 sim não
Turismo Histórico brasileira
35) Museu Paulista Sem assinatura Divulgação Viagens à memória 86 não* sim
brasileira / Acervo
36) Um brasileiro no Scala de Milão Sem assinatura Carlos Gomes / ópera / música / Viagens à memória 87 sim não
Itália / documentos no M. Pt ª. brasileira / Documento
37) A frase do mês Sem assinatura Getulio Vargas / Sucessão Almanaque / A f do mês 88 não não
38) Nossa Charge Sem assinatura Ironia / abismo / metáfora sobre Almanaque 88 não sim
Brasil contemporâneo
39) Ioiô, o bode cidadão Sem assinatura Bode boêmio e literato/ ironia Almanaque 88 não* não
40) Feliz Natal Sem assinatura Cidade / origem / povoamento Almanaque 88 não não
41) Crônica do pão com manteiga / Sem assinatura Culinária / costumes / hábitos Almanaque 89 não* não
Movidos a vinho alimentares
42) Em busca de Cabral Sem assinatura Memória / restos mortais / dúvida Almanaque / H. da 89 não* não
REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS
nossa História CX
43) Outros janeiros Sem assinatura Memória (mensal) Almanaque 90 não* não
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

44) Documento manuscrito: José Bonifácio de Memória / Curiosidade / Almanaque / Decifre 91 sim não
“Caráter geral do brasileiro” Andrada e Silva Documento / Fonte / Diversão se for capaz
45) Exposições e eventos Juliana Barreto Farias SP / IEB / Folclore (Mário de Acontece/ Exposições 91-92 não* não
Andrade) / RJ / música e eventos
46) “Salvador é uma festa” Juliana Barreto Farias Festas e rituais religiosos / Acontece / Turismo 93 não* não
sincretismo / abolição Histórico
47) Portal de História Juliana Barreto Farias Internet e sites de História Acontece / Port. Hist. 93 não não
48) Acontece / Livros Juliana Barreto Farias Divulgação publicações recentes Acontece / Livros 94-95 não* não
49) “Bilhetinhos” Marly Motta Interação com o leitor Pergunta do Leitor 96 não* não
50) Das ambigüidades de ser cordial Lilia Moritz Schwarcz Arte Brasileira / democracia Nosso Historiador 98 não* não
racial / mestiçlagem / antropolog.

* Refere-se apenas à inexistência de documentos impressos ou manuscritos que são objeto deste trabalho, mas contem diversas
outras fontes, como fotografias, iconografias, gravuras, charges, representações, imagens de objetos ou paisagens, desenhos,
entre outras imagens que podem servir ou não como fonte histórica, com função basicamente ilustrativa.

A anotação “Sem assinatura” no campo AUTOR(A) informa que os textos redigidos foram aprovados pelos editores da revista, podendo ser entendido
como assinado pela revista Nossa História (NH).

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CXI


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

NOME DA REVISTA: Nossa História


EDITORA: Vera Cruz
DATA: Maio de 2005
ANO E NÚMERO: 02 / 19
NÚMERO DE PÁGINAS: 98
VALOR EM R$: 7,80

ORGANIZAÇÃO INTERNA:
SEÇÃO PÁG. SUBSEÇÃO PÁG.
Maio 2005 6 a 11 (Artigos diversos) -----
Por dentro da Biblioteca 12 a 13 Documento 13
Capa 14 a 15 “Antes da Lei Àurea” -----
Olhares 28 a 47 (Artigos) -----
Entrevista 48 a 51 ---------- -----
Quem 72 a 75 ---------- -----
Letras escritas 76 a 79 ---------- -----
Ensino 80 a 83 Livro pioneiro 82
Viagens à memória brasileira 84 a 87 Acervo / Documento 86 / 87
Almanaque 88 a 91 A frase do mês / Histórias da nossa história / 88 / 89
Outros Maios / Decifre se for capaz 90 / 91
Acontece 92 a 95 Exposições e eventos / Turismo Histórico / 92/ 93
Portal de história / Livros 93/ 94
Cartas 96 a 97 Pergunta do Leitor / Cartas / Correções / 96 /
Agradecimentos / Classificados / No próximo mês 97
Nosso Historiador 98 ---------- -----

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CXII


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
ORGANIZAÇÃO INTERNA:
RELAÇÃO DE ARTIGOS AUTOR(A) TEMA / ASSUNTO SEÇÃO / SUB. PÁG DOC BIBl
(Títulos) (palavra-chave)
1) Memória do Café digitalizada Helena Aragão Tecnologia / memória Maio 2005 6 não não
2) Nossa História nas Gerais Sem assinatura Seminário na UFMG Maio 2005 (Box) 7 não não
3) Teatro a serviço da História Sem assinatura Arte e memória Maio 2005 7 não não
4) O Império português em questão Sem assinatura Império Português Maio 2005 8 não não
5) Lutz em nova dimensão Sem assinatura Ciência no Brasil Maio 2005 9 sim não
6) Pílulas de comportamento Sem assinatura Museu / tecnol. / costumes Maio 2005 10 não não
7) Cultura e prêmio na Bahia Rachel Zaroni Iniciativa privada Maio 2005 11 não não
8) Ilustres Visitantes Sem assinatura Personalidades e Por dentro da 12 sim não
Biblioteca Nacional Biblioteca
9) Entre um bordado e outro Sem assinatura Emancipação feminina Por dentro da 13 sim não
Biblioteca / Doc.
10) Antes da Lei Áurea Sem assinatura Escravidão / Abolição Capa 14-15 não* não
11) A Face Negra da Abolição Hebe M. Mattos Escravidão / Abolição Capa 16-20 sim sim
12 Homens de Luta Sem assinatura Biograf. / formação / atividades Capa (Box) 20 não* não
13) Um Príncipe Negro Contra o Eduardo Silva Movimento Negro emancip. Capa 22-24 sim sim
Racismo
14) “los camba” e a conquista da Abolição Sem assinatura Escravismo / guerra Paraguai /” Capa (Box) 24 não não
macaquitos”
15) A invenção de Anastácia Mônica D. de Souza Mitos fatos escravistas Capa 26-27 não* sim
16)Uma mártir da escravidão Sem assinatura Origem de Anastácia / fim Capa (Box) 27 não não
17) A morte de Herzog na arte Jardel D. Cavalcanti Ditadura, cidadania e arte Olhares 28-31 não sim
18) Síntese de resistência Sem assinatura Trajetória profissional Olhares (Box) 31 não não
19) Terras para todos Regia B. G. Neto Colonização, Amazônia Olhares 34-38 não* sim
20) Um crime no meio da mata Sem assinatura Violência / Q. agrária Olhares (Box) 38 não* não
21) Assim na Terra como no céu Paulo de Assunção Colonização, jesuítas Olhares 40-43 sim sim
22) Aliança “Café com Política” Claudia M. R.Viscardi República, eleições Olhares 44-47 não* sim
23) A Primeira República e seus Sem assinatura Seqüência cronológica dos Olhares (Box) 46 não não
presidentes presidentes do Brasil
24) Eduardo Giannetti da Fonseca Cris. Costa e L. P. Renda, educação e cidadania Entrevista 48-51 não não
25) Ondas grevistas no mar da Fernando T. da Silva Mov. Operário, anos 30 artigo 52-55 não* sim
República
26) Portas Fechadas Fabiane Popinigis Mov. Operário - comerciários artigo 56-58 sim sim
27) Estado da Discórdia Marieta de M. Ferreira Reescrita da História artigo 60-63 não* sim
28) Paixão e Morte na virada do século Magali Gouveia Engel Costumes, Cotidiano artigo 64-67 sim sim
29) Tragédia rodrigueana Sem assinatura Costumes / cotidiano / imprensa artigo (Box) 66 sim sim
30) Letras entre a cruz e a espada Regina Zilberman Censura em Portugal artigo 68-71 sim sim
31) De demolidor a construtor Marly Motta Jornalismo, política Quem 72-75 sim sim
32) A metralhadora giratória Sem assinatura Citações / imprensa / política Quem (Box) 75 não* sim
33) A vida real nos palcos João Roberto Faria Teatro e literatura Letras e escritas76-79 sim sim
34) História recém nascida Arlette M. Gasparello Educação e 1º reinado Ensino 81-82 sim sim
35) A Inconfidência na visão de Bellegarde Sem assinatura Livro didático do império Ensino (Box) 82 não não
36) Memória da Floresta Sem assinatura Museu de hist. Natural Viagens à mem. bras. 84-85 não não
37) Museu Paraense Emílio Goeldi Sem assinatura Divulgação Viagens à mem. Brás 86 não não
/ Acervo
38) Folheando histórias Sem assinatura Botânica / Documentos Viagens à mem. Brás 87 sim não
/ Documento
39) A frase do Mês Sem assinatura Ditadura / protestos Almanaque /A f. do mês 88 não não
40) Nossa Charge Sem assinatura Anos 80 / década perdida Almanaque 88 não não
41) O Marechal Carente Sem assinatura Imprensa / ditadura Almanaque 88 não* não
42) As ondas de Lisboa Sem assinatura Origem de desenho de calçada Almanaque 88 não não
43) O papagaio monarquista Sem assinatura Curiosidades Almanaque / Histórias 89 não não
da nossa História
44) Angu à carióca Sem assinatura Culinária Almanaque 89 não não
45) Vereador Cacareco Sem assinatura Curiosidade eleitoral Almanaque 89 não* não
REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CXIII
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

46) Outros Maios Sem assinatura Memória ( mensal) Almanaque 90 não* não
47) Documento tipo carta Sem assinatura Memória / curiosidade / Almanaque / Decifre 91 sim Sim
oficial(1766) documento se for capaz fonte
48) Exposições e eventos Juliana Barreto Farias RS / RJ Acontece / Exposições e 92 sim não
eventos
49) Turismo Histórico Juliana Barreto Farias Jesuíta Pe. Anchieta Acontece / Turismo 93 não não
Histórico
50) Portal de História Juliana Barreto Farias Internet e sites de história Acontece / Port. de Hist. 93 não não
51) Acontece / Livros Juliana Barreto Farias Divulgação de public. recentes Acontece / livros 94-95 não não
52) “Abolição” Antonio E. M. Fernand. Interação com o leitor Pergunta do Leitor 96 não* não
53) Documentos explorados e ainda por Laura de Mello e Fontes de história – arquivos da Nosso Historiador 98 não* não
explorar Souza Torre doTombo

* Refere-se apenas à inexistência de documentos impressos ou manuscritos que são objeto deste trabalho, mas contem diversas outras fontes, como
fotografias, iconografias ou desenhos, com função basicamente ilustrativa.

REVISTA “NOSSA HISTÓRIA” E OS DOCUMENTOS PÚBLICOS CXIV


2

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS


HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Disciplina: Teoria da História I


(Período: noturno)

Discente:

Rodrigo Medina Zagni


N° USP: 5205988

Apresentação de análise de material de divulgação histórica,


selecionado para trabalho de curso.
3

A DISCIPLINA HISTÓRICA COMO PRODUÇÃO


CULTURAL NAS PÁGINAS DA HISTÓRIA VIVA
Análise historiográfica e cultural do primeiro ano de
publicação da revista∗

Rodrigo Medina Zagni

Aluno de graduação do curso de História da Faculdade de Filosofia, Letras e


Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

“A única generalização cem por cento segura sobre a história é aquela que diz que
enquanto houver raça humana haverá história”.
Eric Hobsbawn∗∗

Resumo:

Este ensaio tem como objetivo analisar, sob o ponto de


vista da produção cultural, a decodificação da produção historiográfica, da
disciplina histórica e do conhecimento histórico-científico para o consumo de
massa. Para isso tomamos como objeto o primeiro ano de publicação da revista
“História Viva” (de novembro de 2003 a outubro de 2004), no período em que se
viu um verdadeiro revival das publicações que trazem a História como tema
central, fenômeno assistido fundamentalmente após o segundo semestre de 2003.
Nesta análise não nos interessa estabelecer critérios hierarquizados entre alta e
baixa cultura, teremos como principal hipótese de resultado o fato de o
estabelecimento de uma produção cultural de massa ter instituído uma confluência
entre as hierarquias culturais, erudita e popular, para uma linguagem que vem
tentando a síntese entre ambas. Como metodologia utilizaremos os preceitos
historiográficos da História Social1, História do pensamento político2, História da
Cultura3, das Idéias4, História vista de baixo5, História oral6, Micro-História7,


Trabalho de aproveitamento do curso de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, da disciplina de Teoria da História I, sob orientação da
Profª. Dra. Raquel Gleizer, apresentado durante o primeiro semestre de 2005.
∗∗
Era dos Extremos: O breve século XX,1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,1995, p. 16.
1
Cf. CASTRO, Hebe. História Social, in: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da
História, ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, pp. 45 a 60.
2
Cf. TUCK, Richard. História do pensamento político, in: BURKE, Peter (org.). A escrita da História,
novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992, pp. 273 a 290.
3
Cf. VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e História da cultura, in: CARDOSO, Ciro
Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Op. cit. pp. 127 a 164.
4
Cf. FALCON, Francisco. História das idéias, in: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Op.
cit. pp. 91 a 126.
5
Cf. SHARPE, Jim. História vista de baixo, in: BURKE, Peter. Op. cit. pp. 39 a 62.
4

História das imagens8 e História do cotidiano e da vida privada9. Esperamos com


este breve estudo não restabelecer o óbvio: que veículos destinados ao público em
geral no campo historiográfico não se tratam de publicações científicas,
metodologicamente alinhadas e cuidadosamente colocados sobre trilhos teóricos;
mas sim evidenciar através de quais mecanismos o conhecimento produzido pela
ciência histórica pôde ser socializado a um público muito maior que o acadêmico
especializado ou a uma elite intelectual restrita.

Palavras-chave: Ciência Histórica; Historiografia; revista “História Viva”;


produção cultural; publicações periódicas.

Introdução:

Para o Professor Luiz Tatit10

Você não precisa analisar para gostar de algo. Você entende uma poesia porque você
leu, entendeu e ela entrou dentro de você. Acabou. Análise é outra coisa: é entender
como foi construído. Aliás, a análise até incomoda um pouco porque tira toda a
empatia. É fria, é uma dissecação. É como pegar um sapo, abrir e mostrar os órgãos.
Você mata o sapo, e de fato a análise mata o texto porque o que você extraiu dele
não corresponde àquilo que você sentiu. Mostra uma análise e vê se alguém se
emociona com ela! Isso que fazia com que Drummond tivesse um ódio ao
pensamento acadêmico. Quando você começa a analisar, entra no nível do
conhecimento, do saber. É o preço da análise: destruir o objeto.11

Fatalmente é o que faremos!


Nosso objetivo é a análise de um veículo voltado à
produção cultural de massa, que utiliza preceitos da ciência histórica e literalmente
digere-os para públicos “não iniciados”. O preço da análise certamente é o de
aniquilar o objeto, conforme demonstra a metáfora de Luiz Tatit, e nesse caso
trata-se de um objeto que vem conquistando uma relevante fatia do mercado
editorial para revistas especializadas porém não acadêmicas, abrindo aos
profissionais de História novos campos para análise, não só em uma nova área de
atividade profissional, mas com a real possibilidade de socializar o conhecimento
histórico cujo dialeto propriamente característico restringe os resultados da
pesquisa científica à uma espécie de “confraria” há séculos.

6
Cf. PRINS, Gwyn. História oral, in: BURKE, Peter. Op. cit. pp. 163 a 198.
7
Cf. LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história, in: BURKE, Peter. Op. cit. pp. 133 a 162.
8
GASKELL, Ivan. História das imagens, in: BURKE, Peter. Op. cit. pp. 237 a 272; e Cf. CARDOSO,
Ciro Flamarion; MAUAD, Ana Maria. História e imagem: os exemplos da fotografia e do cinema, in:
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Op. cit. pp. 401 a 418.
9
Cf. PRIORI, Mary de. História do cotidiano e da vida privada, in: CARDOSO, Ciro Flamarion;
VAINFAS, Ronaldo. Op. cit. pp. 259 a 274.
10
Do curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo.
11
Quanto mais você sabe analisar, menos você critica. Jornal do Campus. Escola de Comunicação e
Artes – Universidade de São Paulo, 28/02/2005, p. 5, 4 col.
5

Ao invés de “matar nosso sapo”, tentaremos analisar


sua função social para além da mercantilização do conhecimento científico,
buscando explicações no âmbito da sociedade para o fenômeno poucas vezes
assistido no Brasil, de gigantesco interesse do público comum, excluído do ensino
de qualidade e de instituições de ensino superior de nível, em assuntos que antes
pareciam (e ainda parecem) pertencer a um número restrito de estudiosos.
Em países desenvolvidos como os europeus,
publicações desse gênero já têm um público consolidado há cerca de um século,
constituindo um grande sucesso editorial.
A história parece exercer um misterioso domínio sobre
uma parcela significativa de leitores ao redor do mundo. O cotidiano da civilização
egípcia abstraído através da análise de hieróglifos escapou à mesa dos paleógrafos
e ganhou as capas das revistas, a Europa medieval ganhou cores e gráficos nas
páginas de revistas para explicar desde a demografia das pestes até as lógicas
estratégico-militares. Esse fenômeno é significativo, apesar de não ter sido objeto
da pesquisa histórica, que se o referiu o fez tangencialmente.
Não nos propomos a preencher esta lacuna, que salta
aos olhos sem nos dar o principal fator necessário ao Historiador como artífice da
busca de dados para sua análise: o recuo histórico. O fato, no Brasil, é recente e
se no passado teve precedentes, não representaram o vulto comercial que hoje as
publicações no campo das revistas especializadas em uma História não acadêmica
o fazem, com acesso popularizado.
Não é a indústria de produção cultural que determina a
demanda, a procura do público: ela o testa. A produção cultural atende a demanda
do público consumidor, à procura por este tipo específico de publicação, e é no
seio da sociedade, no recalcamento das restrições sociais, na lacuna representada
pela perda da conexão entre o indivíduo e seu eu histórico, na perda da conexão
individual e coletiva com o próprio passado, na desagregação do tecido social ou o
que Eric Hobsbawn chamou de dissolidarização de classes determinada por um
individualismo associal absoluto12, que atomiza as relações sociais, transformando
o Homem do zõom politikón aristotélico13 em indivíduo egocentrado, que deitamos
nossa hipótese de resultado a fim de responder às questões relacionadas a este
fenômeno.

Desenvolvimento:

Estrutura e propostas da publicação

A Revista História Viva, cuja primeira publicação data


de novembro de 2003, foi desenvolvida com a finalidade de dar conta de uma
relevante parcela de público para revistas especializadas em história, obedecendo

12
Op. cit. passim.
13
Citado por DURANT, Will. História da Filosofia, Vida e idéia dos grandes Filósofos, São Paulo:
Editora Nacional, 1956, passim.
6

à demanda demonstrada por um crescente mercado consumidor acentuadamente


após o segundo semestre de 2003.
A publicação foi desenvolvida pela “Duetto Editorial
Ltda.”, fundada em abril de 2001 a partir da associação de duas das mais
importantes editoras brasileiras, a “Segmento”, com sede em São Paulo, e a
“Ediouro Publicações”, com sede no Rio de Janeiro. Por sua vez, a revista “História
Viva” foi desenvolvida em parceria com a editora francesa “Tallandier”,
responsável pela publicação “Historia”, fundada em 1909 e com expressivo público
consumidor na França. Segundo o Departamento de Assinaturas da Duetto
Editorial, “Historia” é “. . . considerada a mais tradicional publicação européia
sobre o tema . . .”14.
A publicação brasileira é a “ponta de lança” na
estratégia de vendas da “Duetto Editorial” e está inserida em um grupo de
conhecimento, junto de outros títulos como: “História Viva – Grandes Termas”
(derivado da publicação aqui estudada), “Scientific American Brasil”, “Especiais
temáticos de Scientific American”, “Viver Mente&Cérebro” e “Viver mente&Cérebro
– Memória da Psicanálise”.15
Outro grupo de publicações da Duetto Editorial é o de
“Beleza e Bem-estar”, com quatro títulos periódicos sobre estética16.
A editora mantém escritórios no Rio de Janeiro e São
17
Paulo , com um corpo de 46 funcionários, sendo seu Diretor Geral Alfredo Nastari.
A equipe que realiza a revista “História Viva” é
composta hoje por cinco funcionários, sendo uma Editora, Mirian Ibañez; um
Editor Assistente, Frank de Oliveira; uma Editora de Arte, Simone Vieira; uma
Assistente de Arte, Monique Elias; uma Coordenadora de Iconografia, Pietra
Diwan; e uma Assistente de Iconografia, Silvia Nastari.
Quando da publicação de seu primeiro número, em
novembro de 2003, a revista contava com outro corpo redatorial. O Jornalista
Luthero Maynard era o Editor, o Editor Assistente era Nicolas Tarfel, Repórter Eliza
Muto e Consultoria de Ricardo Maranhão. Trazia ainda a Coordenadora de
Iconografia, Pietra Diwan, e sua assistente, Silvia Nastari.
A edição n° 6, de abril de 2004, já não trouxe mais
Luthero Maynard como Editor, porém, não constou outro nome para o cargo,
permanecendo ainda Nicolas Farfel como Editor Assistente. Somente na edição de
n° 8, de junho de 2004, o cargo foi ocupado por Luciano Ramos, que não
promoveu nenhuma substituição imediata no time de redação, reforçando-o com
duas contratações: de Paula de Freitas Lopes como Assistente e de Marta Almeida
Sá, como Revisora. Em agosto de 2004, o n° 10 trouxe mais uma Assistente para o
14
Correspondência postada pelo Departamento de Assinaturas da “Duetto Editorial” à Rodrigo
Medina Zagni, em 21 de março de 2005.
15
http://www2.uol.com.br/historiaviva/. Acesso em: 13 jun. 2005.
16
“Cabelos & Cia”, “Guias de Beleza”, “Coleção 1000 Cortes & Cia” e “Coleção Colors: Louras,
Morenas, Ruivas e Negras”.
17
O endereço oficial de sua redação consta à Rua Cunha Gago, 412, 3o andar, conjunto 33, bairro
de Pinheiros, São Paulo.
7

corpo de redação: Monique Bruno Elias. No número seguinte, em setembro de


2004, Fabiana Guedes Viana, Gerson Martins e Paula de Freitas Lopes deixaram a
assistência de redação, permanecendo apenas Monique Bruno Elias. No mesmo
número, outra a deixar a equipe foi a Repórter Eliza Muto, que trabalhava na
publicação desde seu primeiro número, substituída por Renata Rondino.
Hoje a Editora conta com uma Diretora Adjunta, Ana
Luisa Astis, e em relação à equipe de redação do último número por nós analisado,
ou seja, o n° 12, foram substituídos o Editor Luciano Ramos, por Mirian Ibañez; e
Nicolas Farfel, Editor-Assistente que compunha a redação desde novembro de
2003, por Frank de Oliveira. Marta Almeida de Sá deixou a equipe de revisores e
Sara Alencar passou a compor a assistência de iconografia.
Da equipe original permaneceram apenas Pietra
Stefania Diwan e Silvia Nastari; e a equipe de arte e produção, com exceção da
Editora de Arte, Simone Oliveira, também foi substituída.
Já a equipe da publicação francesa permanece
inalterada desde novembro de 2003 até maio de 2005 (conforme demonstram os
números analisados e a edição de n° 19). Conta com Pierre Baron (Diretor de
Redação), Patrícia Créete (Redatora-chefe), Patrick Morvant (Primeiro Secretário
de Redação) e Catherine Decorian (Secretária de Redação).
Com relação aos Historiadores, estão presentes ao
longo dos 12 números analisados como colaboradores, com nomes já consagrados
de nossa historiografia nacional e internacional.
“História Viva” tem sua circulação auditada pelo IVC
(Instituto Verificador de Circulação)18, e anuncia em seu web-site19 uma tiragem
mensal de 70 mil exemplares20, com distribuição para todo o território nacional e
com exclusividade para Portugal, através da editora “Midesa”.
A proposta da revista é trazer em suas 100 páginas
uma parte destinada à História universal, desenvolvida a partir dos artigos e
ensaios selecionados da publicação francesa, e parte dirigida à História do Brasil,
África e Portugal, desenvolvida por brasileiros, não necessariamente Historiadores.
A soma entre estudos internacionais e brasileiros, que em sua proposta original
menciona a equidade de 50% para cada parte21, pretende compor “. . . um dos
mais completos conteúdos editoriais . . . ”22 em História.
Sua proposta metodológica é trabalhar a produção
historiográfica e assuntos relacionados à ciência histórica através de uma
linguagem que possa ser facilmente compreendida por um público não
especializado.
Alfredo Nastari afirma que sua tarefa
18
Ibid.
19
www.historiaviva.com.br.
20
http://www2.uol.com.br/historiaviva/estatica/publicidade.html. Acesso em: 13 jun. 2005.
21
Cf. NASTARI, Alfredo. História com prazer. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003,
p. 5.
22
Correspondência postada pelo Departamento de Assinaturas da “Duetto Editorial” à Rodrigo
Medina Zagni, em 21 de março de 2005.
8

É um desafio. Nosso compromisso [da equipe de “História Viva”] é oferecer


mensalmente ao leitor uma visão estimulante, dinâmica e esclarecedora da História,
dotada de rigor científico e vazada em uma linguagem clara e acessível.23

Segundo ainda seu Departamento de Assinaturas,


“História Viva abordará a História e seus episódios de maneira diferente,
procurando revelar as conexões entre passado e presente” (o grifo é nosso).24
Essa intencionalidade em trazer os resultados da
pesquisa histórica para o grande público através de um veículo que utilize
linguagem clara e acessível, contou com o respaldo da própria parceira francesa, a
“Historia”.
Segundo material de divulgação que antecedeu a
publicação do primeiro número de “História Viva”, “Historia se consagrou junto a
intelectualidade e aos leitores europeus como veículo referencial na divulgação da
História em linguagem acessível” (o grifo é nosso).
Desta forma “História Viva” tem uma função crítica e
ativa na formação de novos públicos ao círculo da História. Propõe debater
questões históricas que constituam raízes de problemas atuais, iluminando o
passado com vistas a melhor esclarecer o presente. Há portanto uma finalidade
pedagógica para a “conexão” proposta pela publicação, o que inclui
propositadamente em seu público consumidor os professores de ensino
fundamental e médio, que têm na revista um potencial recurso pedagógico a ser
explorado, certamente mais acessível ao universo dos alunos pela disposição
dinâmica de imagens e gráficos, e também pela facilidade de comercialização em
“bancas de jornal”, se comparada aos livros didáticos.
A revista tem um preço relativamente acessível, se
levarmos em consideração o valor de uma publicação acadêmica especializada em
História, e outras revistas que disputam o mesmo mercado de publicações, com
um discurso não acadêmico-formal.
No período por nós objetivado, de novembro de 2003 a
outubro de 2004, a publicação manteve o preço de R$ 8,90. A partir da edição de
n° 13, portanto fora do recorte temporal de nossa proposta, passou a R$ 9,90.
Outras publicações como as revistas: “Aventuras na
História” (Editora Abril), a R$ 8,95, com 22 números e em seu segundo ano de
publicação; “Conhecer Fantástico” (On Line Editora), a R$ 4,90, com 26 números e
em seu terceiro ano; “Grandes Guerras” (Editora Abril), a R$ 12,95, ainda em seu
primeiro ano, no volume 2; e “Nossa História” (Editora Vera Cruz), a R$ 7,80, em
seu segundo ano, no número 20; mantém preço compatível, concorrendo grosso
modo pelo mesmo perfil de leitores.

23
Op. cit. p. 5.
24
Correspondência postada pelo Departamento de Assinaturas da “Duetto Editorial” à Rodrigo
Medina Zagni, em 21 de março de 2005.
9

Por outro lado, aludidas publicações não rivalizam com


revistas acadêmicas especializadas. A forma de abordagem e os temas tratados
determinam públicos consumidores em sua grande maioria diametralmente
opostos.
Por outro lado isso não determinado que o público
especializado não consuma este tipo de publicação, pelo contrário, o conteúdo
trabalhado e mesmo a forma de transmissão de informações, constituem um
universo novo para ambos os perfis de leitores.
Para o Prof. Arno Alvarez Kern25

A revista História Viva será um meio de divulgação excepcional do que se realiza


pelos historiadores, tanto do ponto de vista das práticas metodológicas como das
teóricas. Esta iniciativa preenche uma importante lacuna no campo da História.26

Para a Profª. Maria do Socorro Ferraz Barbosa27 a iniciativa da publicação é


louvável

. . . principalmente porque será uma publicação menos acadêmica e de grande


circulação. O grande leitor poderá ler e compreender melhor a nossa História e a dos
outros povos28 (o grifo é nosso).

Estratégias editoriais

A revista segue uma clara estratégia mercadológica


para a seleção do tema principal da edição, e desta forma das imagens de capa,
bem como das chamadas para suas principais matérias, obedecendo a alguns
determinantes que tentaremos aqui identificar.
Via de regra o tema já é determinado pelo interesse
despertado, no público em geral, por outras mídias, como filmes em cartaz com
cifras relevantes de bilheteria ou livros com sucesso de venda. O apelo a este
segmento faz da publicação um complemento para as demais mídias, para aqueles
que desejam saber mais sobre o filme que acabaram de assistir, por exemplo,
garantindo de certa forma público consumidor para a edição.
É o caso do n° 3, que traz na capa a chamada para sua
matéria principal: “Piratas e Corsários: pilhagem e crueldade sem limites. Por conta
própria, ou em nome de Sua Majestade” (ver figura 1), que tem paralelo com o
período de exibição do filme “Piratas do Caribe” do diretor Gore Verbinski29. Por

25
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da Pontífice Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, Pós-doutor pela Ecole des hautes Etudes en Scienses Sociales de Paris.
26
Cartas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 6.
27
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de
Pernambuco – Recife.
28
Cartas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 6.
29
Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl. Dir. Gore Verbinski. Walt Disney Pictures /
Touchstone Pictures / Jerry Bruckheimer Films. EUA. Buena Vista Pictures, EUA, 2003. 1 DVD (143
min.), son., col.
10

sua vez o n° 6 traz como tema de capa a matéria “Tróia: paixão, infâmia e
tragédia, em maio nas telas, a superprodução estrelada por Brad Pitt” (ver figura
2), que conforme o próprio nome denuncia, precede o lançamento do filme de
Wolfgang Petersen30. O n° 12 traz na capa a chamada para a matéria “Alexandre
O Grande: um jovem conquista o mundo” (ver figura 3), cuja referência direta é o
filme de Oliver Stone: “Alexandre”31.
Mais uma vez o exemplo vem da própria parceira
francesa, que já vinha se utilizando com sucesso desse tipo de estratégia editorial
(ver figura 4).
Outros fatores determinantes para escolha de temas e
imagens para a composição de capa são arquétipos sempre recorrentes em
história, constantemente retomados tanto em matérias de revistas como em
reportagens televisivas, em maior escala a partir da difusão de canais de televisão
já especializados em História32. Referimo-nos às imagens arquetípicas de Napoleão
Bonaparte, representado no n° 1 de “História Viva” com a matéria “Napoleão: um
herói sem sepultura. Ele dominou a Europa e mudou a face do mundo. Morreu no
exílio e seu túmulo pode ser uma fraude” (ver figura 5); Winston Churchill, no n° 8
com a matéria “Churchill: entre a paz e a guerra. Extravagante, contraditório e
intuitivo, ele venceu duas guerras mundiais” (ver figura 6); e o próprio Alexandre
Magno, como já vimos, no n° 12 (ver figura 3).
Nas chamadas de capa para outras matérias há o uso
de outros personagens históricos arquetípicos, como os estadistas: Herodes (n°
10), Confúcio (n° 10), Máo Tse-Tung (n° 10), Adolf Hitler (n°s 1 e 5) e Osama Bin
Laden (n° 7); líderes militares: general Junot (n° 2) e Joana D’Arc (n° 4); figuras
ligadas à religião: Judas (n° 1), Gandhi (n° 1), Santo Agostinho (n° 3) e Maomé
(n° 8); artistas como Pablo Picasso (n° 6); e finalmente figuras políticas da História
do Brasil: Getúlio Vargas (n°s 2 e 10), Frei Caneca (n° 3) e Duque de Caxias (n°
6).
As civilizações antigas, por exercerem fascínio nos
consumidores de produção cultural sob várias mídias, também são exploradas e
recorrentes nas capas da revista, como os romanos, no n° 2, que traz a matéria
“Roma: uma era de poder e glória” (ver figura 7); os troianos, como vimos no n° 6
(ver figura 2); os egípcios, no n° 11, com a matéria “Novas descobertas
desvendam enigmas do Egito” (ver figura 8); e os macedônios no n° 12 (ver figura
3).

30
Tróia. Dir. Wolfgang Petersen. Warner Bros. Pictures. EUA. Warner Home Vídeo Inc, São Paulo,
2004. 2 DVD’s (163 min.), son., col.
31
Alexandre. Dir. Oliver Stone. Intermédia Films. EUA. São Paulo, 2005, 2 DVD’s (164 min.), son.,
col.
32
“The History Channel”, “Discovery Channel” e “National Geographyc”.
11

Figura 1 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.1, nov. 2003)
12

Figura 2 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.6, abr. 2004)
13

Figura 3 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.12, nov. 2004)
14

Figura 4 – Historia. Paris: Tallandier, n° 643, jul. 2003.


15

Figura 5 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.1, nov. 2003)
16

Figura 6 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.8, jun. 2004)
17

Figura 7 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.2, dez. 2003)
18

Figura 8 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.11, out. 2004)
19

As chamadas para matérias secundárias na capa fazem


referência a outras civilizações antigas, inclusive ameríndias, como no n° 2 (já
dedicado à Roma como tema central) com uma matéria sobre os rituais fúnebres
incas. No mesmo número a revista anuncia que demonstrará as origens do
monoteísmo no Egito através da biografia de Nefertiti e do faraó Akhenaton. Os
conceitos de democracia e exército moderno são retomados através da Grécia
Antiga no n° 3, a origem dos etruscos no n° 4, a “. . . redescoberta do Egito
Antigo pelos sábios de Napoleão” no n° 5, a queda de Roma e as invasões
bárbaras no n° 9, e o flagelo de Pompéia no n° 12.
As capas ainda representam outro tema em História
que em maior ou menor grau exerce atração sobre o público consumidor de
produção cultural: a Europa medieval. Três exemplares denunciam o fascínio pelo
assunto: o n° 5 com a matéria “Tolerante, progressista, social. Nos séculos XIV e
XV uma Idade Média desconhecida” (ver figura 9); o n° 7, com a o dossiê
“Bárbaros por definição, eles foram o flagelo da Europa, mas se transformaram em
uma refinada civilização, são eles, os Celtas” (ver figura 10); e o n° 10,
“Inquisição: terror, tortura e morte em nome da fé” (ver figura 11).
Dentro do que parece ser uma escala de prioridades da
editora em relação à escolha do tema principal para a imagem de capa,
aparentemente em menor número, com temática inserida no recorte temporal de
História Moderna, temos novamente o n° 3, com a matéria sobre piratas e
corsários (ver figura 1 – nesse caso parece-nos que o determinante foi de fato o
período de exibição do filme “Piratas do Caribe”) e o n° 9, com a matéria “A
sereníssima república de Veneza: mil anos de prosperidade e esplendor” (ver
figura 12). Em relação à História Contemporânea o n° 4 traz o dossiê “Os segredos
da KGB: o serviço secreto do regime comunista soviético. Espionagem, repressão e
poder” (ver figura 13), e mais uma vez o n° 8, com a biografia de Winston
Churchill (ver figura 6). Portanto ambos os recortes temporais aparecem em
menor número em relação às características determinantes da escolha da matéria
principal de capa.
Desta forma, no primeiro ano de publicação da revista
“História Viva”, não há nenhuma edição que privilegie a área de História do Brasil,
Portugal ou África com imagem de capa. Desta forma, os temas centrais foram
inteiramente importados da publicação francesa ao longo de seu primeiro ano33.

33
Esse perfil foi sutilmente alterado com a publicação do n° 14, de dezembro de 2004, que trouxe
como matéria principal a “Madeira Mamoré: a ferrovia da morte. A epopéia da construção da
estrada que ceifou a vida de milhares de trabalhadores em plena selva amazônica é tema de
minissérie para a televisão”. Como o próprio nome sugere, a matéria de capa obedece ao
determinante da estréia da minissérie televisiva “Mad Maria”, levada ao ar na TV Globo, em 38
capítulos, de 25 de janeiro a 25 de março de 2005. Por outro lado, a publicação mencionada não é
objeto do presente estudo, pois foge ao nosso recorte temporal, fazendo parte do segundo ano de
publicação da revista.
20

Figura 9 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004)


21

Figura 10 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004)


22

Figura 11 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.10, ago. 2004) voltar >>
23

Figura 12 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.9, jul. 2004)
24

Figura 13 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.4, fev. 2004)
25

Tabela demonstrativa dos determinantes para a escolha da imagem de


capa

n°1 n°2 N°3 n°4 n°5 n°6 n°7 n°8 n°9 n°10 n°11 n°12 %
Civilizações antigas 33,3%

Filmes em cartaz 25%

Europa Medieval 25%

Biografias 25%

Idade Moderna 16,6%

Idade 16,6%
Contemporânea
Brasil, Portugal ou 0%
África

Escolha da Matéria de Capa

12% 0%
23% Civilizações antigas
Filmes em cartaz
12%
Biografias
Europa Medieval
Idade Moderna
Idade Contemporânea
18% 17% História do Brasil

18%

Figura 14 - Gráfico de Germano d'Castro


26

Probabilidade de escolha dos temas para capa

0%
13% 11%

Filmes
Biografias
13% 15%
Civ.Antigas
Europa Medieval
Id. Moderna
Id. Contemporânea
Hist. Do Brasil

24% 24%

Figura 15 - Gráfico de Germano d'Castro

Outra estratégia adotada pela editora no intuito de


chamar a atenção do público leitor, é polemizar não só no título e tema da matéria
principal, mas na chamada para outras matérias, ainda na capa. A lógica é
jornalística e não acadêmica. O n° 1 traz a denúncia de que o cadáver de
Napoleão Bonaparte poderia não ser aquele encerrado no Museu dos Inválidos, na
França; ensaia desnudar as “razões ocultas” da traição de Judas; e afirma que “. .
. a cozinha mineira, quem diria, é paulista”. O n° 2 polemiza as relações
“obscuras” entre as empresas americanas e o III Reich; o n° 5 promete
demonstrar uma Idade Média contrária aos manuais tradicionais, polemizando
ainda os fatos pertinentes à morte de Adolf Hitler e ao paradeiro de seu cadáver; o
n° 6 promete elucidar como Pablo Picasso teria sido salvo por uma “baforada de
charuto” e o n° 11 denominar quem teria financiado “as revoltas do século XX”.
Não é incomum encontrarmos nas chamadas para as
matérias de capa adjetivações que remontam a uma significação misteriosa e
ambiciosa por elucidar os fatos passados. Remontamos ao conceito medieval de
“mirabilis” para designar um passado desconhecido, idealizado e mitificado que
maravilha o leitor e promete a revista “desvendar”. Conforme dissemos o n° 2
anuncia que desvendará as razões “ocultas” da traição de Judas; o n° 4 traz a
“intrigante” origem dos etruscos e os “segredos” da KGB; o n° 5, além de uma
Idade Média “desconhecida”, os “mistérios” da morte de Hitler; o n° 6 o “fascínio”
que Marte exerceu através dos séculos; o n° 7 a “surpreendente” descoberta do
Rio Amazonas; e finalmente o n° 11 promete “desvendar” os “enigmas” do Egito.
Oculto, intrigante, desconhecido, misterioso, fascinante,
secreto, surpreendente, enigmático: estes adjetivos servem a uma eficiente
estratégia propagandística que tem por finalidade cooptar o público leitor e
influenciá-lo diretamente no consumo da revista como produto cultural. A
27

eficiência da estratégia está na recorrente utilização do verbo “desvendar”: a ação


chave a qual se propõe a revista.
A morte também exerce um importante fascínio no
público leitor, e sua apropriação pela publicação e vinculação em chamadas para
matérias em capa, têm a finalidade de servir à mesma estratégia de vendas,
ensaiando uma espécie de sensacionalismo mais uma vez jornalístico. “Um milhão
de mortos na Guerra Civil Espanhola”, anuncia o n° 1; “Sacrifícios humanos, rituais
macabros, mumificação: a morte comanda a cultura Inca” no n° 2; “Mediterrâneo:
um mar de sangue cristão e muçulmano” no n° 3; “O julgamento de Klaus Barbie,
o carniceiro nazista de Lyon” no n° 4; “O massacre protestante na Noite de São
Bartolomeu” e “. . . Infâmia e tragédia” de Tróia no n° 6; a Peste Negra, que “. . .
dizimou um terço dos europeus” na Idade Média no n° 8; a Revolta da Armada
que lavou Santa Catarina com “. . . um banho de sangue” no n° 9; o “. . . terror,
tortura e morte . . .” promovidas pela Santa Inquisição na Europa Medieval, no n°
10; o povo “. . . massacrado” na Comuna de Paris e, finalmente, “. . . A morte cai
na indiferente e pacata cidade de Pompéia”, no n° 12 (todos os grifos são nossos).
Há algo de tétrico e mórbido no imaginário popular
sendo explorado por uma psicologia servil à lógica do mercado editorial, com
excelentes resultados demonstrados pelo número crescente de vendas.

As seções

O projeto inicial da revista trouxe, além do editorial e


uma seção de cartas, onde o leitor podia expor suas opiniões sobre a revista, mais
8 sessões.
A sessão “História em cartaz”, disposta logo após o
sumário de seções e artigos, do editorial e da seção de cartas, tem a finalidade de
informar os principais eventos relacionados à História como exposições,
lançamento de livros, filmes, peças de teatro, sugestões para viagens, museus, e
divulgação das mais recentes descobertas e estudos sobre a ciência histórica. Isso
é feito através das subseções: “Exposições”, “DVD”, “Internet”, “Televisão”,
“Livros”, “Passeio”, “Teatro” e “Panorama”; e se propõe “o mais completo roteiro
de cultura e lazer ligado à História”34.
“História em cartaz” possui uma interessantíssima
subseção denominada “Frases”, que traz máximas de grandes personagens de
nossa História e também de célebres Historiadores, Filósofos e literatos.
Na subseção “Para saber mais” são elencadas três teses
acadêmicas inéditas por edição, de caráter monográfico em programas de
mestrado ou doutorado em renomadas instituições de ensino superior em História,
como a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas da Universidade de São
Paulo, a Universidade Estadual de Campinas, Pontífice Universidade Católica de
São Paulo, Pontífice Universidade Católica do Rio de Janeiro, Universidade Federal

34
S.n.t. Texto extraído de material promocional que antecedeu a publicação do primeiro número na
revista “História Viva”.
28

Fluminense, Universidade Estadual Paulista, Universidade Estadual Paulista de


Franca, Universidade Federal do Pernambuco, Universidade Federal do Pará,
Universidade de Brasília, Universidade do Sudoeste da Bahia, Universidade Federal
do Ceará, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal de Santa
Catarina.
Dispõe até mesmo de uma subseção dedicada à
gastronomia, com receitas relacionadas às mais variadas épocas e fatos históricos,
como, por exemplo, a receita inaugural do “Vol-au-vent, o pastelzinho socialista”35,
criado para as mesas de uma sociedade sem classes; a torta polonesa36, cuja
origem no Brasil remonta à história da imigração dos poloneses; “A maniçoba
amazônica”37 que remete diretamente à cultura indígena amazonense; as alheiras
portuguesas que, por serem feitas a partir de carne de porco eram penduradas por
judeus defronte às suas casas em Portugal, durante a perseguição do Tribunal do
Santo Ofício, para ocultar sua crença e origem (evidentemente porque judeus não
comem carne de porco)38; e ainda numa brilhante demonstração sobre a origem
do chocolate, com a bebida preferida por Montezuma II: o “Xocotlatl”39. O n° 4 foi
o único analisado que não trouxe a esta subseção.
O n° 3 trouxe na seção “História em Cartaz” uma nova
subseção denominada “Evento”, que expunha uma espécie de agenda divulgando
eventos culturais; além de uma coluna assinada por Eduardo Martins, denominada
“Palavras vivas”, onde esclarece as origens históricas de frases feitas e termos
recorrentes no ideário popular, cuja raiz via de regra é ignorada por ter-se perdido
no tempo, como por exemplo: “debaixo de sete chaves” (n° 3), “Freguesia do Ó”
(n° 4), “para inglês ver” (n° 5), e “Inês é morta” (n° 6). A coluna de Eduardo
Martins trouxe no n° 10 um interessantíssimo artigo sobre nomes de pessoas que
deram origem a palavras, como: “brigadeiro”, originário da figura do brigadeiro
Eduardo Gomes, candidato à Presidência da República em 1945; “gari”, termo
originário de Aleixo Gary, antigo proprietário de uma empresa que fazia a limpeza
das ruas do Rio de Janeiro, então capital federal; “brechó”, cuja origem se refere a
Belchior, que segundo o autor teria sido o primeiro comerciante de artigos de
segunda mão; e “pinel”, sinônimo de louco por fazer referência ao médico Philippe
Pinel (1745-1826), pioneiro no tratamento de doenças mentais40.
A partir do n° 4 outras duas subseções foram
adicionadas: “Cinema” e “Filmes”. O n° 6 experimentou uma nova subseção
denominada “CD”, explorando a produção musical relacionada à História; logo
descartada nas edições seguintes. O n° 11 inovou com a subseção “Personagem”,
que trazia uma brevíssima reportagem sobre o lançamento da biografia de Stefan

35
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 20.
36
A saga da torta polonesa. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 11.
37
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, p. 11.
38
Alheiras, contra a Inquisição. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, p. 11.
39
CHAVES, Guta. Xoclotlati, a paixão de Montezuma II. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11,
set. 2004, p. 17.
40
Pessoas também viram palavras. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p. 17.
29

Zweig, escritor europeu da década de 1940, mas a subseção não foi repetida no n°
12.
Logo em seguida à “História em cartaz”, a revista traz a
seção que mais nos chamou a atenção, não por seu conteúdo, mas pelo título e a
relação que mantém com seu objeto. Trata-se da seção “Historiográfico”.
Segundo o “Novo Dicionário básico da Língua
41
Portuguesa” , “historiográfico” trata-se do adjetivo da palavra “historiografia”: a
“arte de escrever a história” ou o “estudo histórico e crítico acerca da história ou
dos historiadores”42. Outra flexão comum do mesmo radical é o termo
“historiógrafo”, que significa, no mesmo dicionário, “aquele que é designado para
escrever a história duma nação, duma época, duma dinastia, etc.”, um “cronista”,
ou o sinônimo de “Historiador”43, que por sua vez é o “especialista em história”44.
Historiográfico, portanto, é relativo à historiografia, é o
adjetivo que tipifica um estudo, caracterizando seu objeto como os fatos passados.
Por outro lado, a sessão referida, ao que nos parece, significa o termo como o
estudo histórico de um gráfico. Grosso modo é uma seção da revista que pretende
narrar fatos históricos através de breve texto e, portanto, da exposição de um
gráfico. Mas tecnicamente não é isso que ocorre. Não só o significado do termo
“historiográfico” foi interpretado erroneamente neste caso, como não há nenhum
gráfico na seção “Historiográfico”, nas 12 edições analisadas, se levarmos em
consideração sua significação técnica como a disposição de “coordenadas e curvas
que ligam pontos das ordenadas e abscissas para representação de um fenômeno
qualquer”45. O que há, em 10 das edições estudadas, são croquis que utilizam
mapas, sem referência à escala ou critérios de proporção, sendo que as duas
restantes também não exibem gráficos.
A relação entre o termo e seu objeto faz sentido apenas
se levarmos em consideração que “historiográfico” designa um estudo cujo objeto
são os fatos passados, e interpretarmos “gráfico” como qualquer “representação
por desenho ou figuras geométricas”46. Ainda assim, para profissionais da área de
História habituados com o termo e sua significação técnica, tem que se fazer um
gigantesco esforço nesse sentido. Para o público leigo fica a distorção de
significação de “historiográfico”.
Via de regra os fatos sob análise na seção são
estratégico-militares, como o deslocamento de tropas de um exército sob o campo
de batalha ou algo similar. O número inaugural trouxe a ilustração da vitória do

41
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da Língua Portuguesa. São
Paulo: Folha de São Paulo / Editora Nova Fronteira, 1995.
42
Verbete “historiografia” in: Ibid., p. 344.
43
Verbete “historiógrafo” in: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Op. cit. p. 344.
44
Verbete “historiador” in: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Op. cit. p. 344.
45
Verbete “gráfico” in: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Pequeno dicionário brasileiro da
Língua Portuguesa. S/l: Gamma, s/d.
46
Ibid.
30

exército cartaginês sobre o império romano47; o n° 2 demonstrou a evolução das


cruzadas do séc. XI ao XIII48; o n° 3 comparou a evolução da Coluna Prestes com
a “Grande Marcha” liderada por Máo Tse-Tung49; o n° 6 analisou as evoluções dos
exércitos envolvidos na Guerra do Paraguai50; o n° 7 ilustrou o desembarque dos
aliados na costa normanda da França durante a Segunda Guerra Mundial51 (ver
figura 15); o n° 8 a evolução das tropas constitucionalistas durante a Revolução de
1932 em São Paulo52; o n° 9 expôs as rotas seguidas pelos bárbaros nos
movimentos de invasão ao império romano53 e o n° 10 “A tragédia dos
Cherokees”, na expansão dos colonizadores yankees para o oeste dos EUA54.
Curiosamente o n° 4 da mesma forma não trouxe um gráfico na seção, mas uma
tabela demonstrativa dos dados referentes aos programas espaciais no período da
Guerra Fria55; e ainda o n° 12 dispôs um desenho de uma maquete em “3D”,
reproduzindo um atentado a bomba do grupo separatista basco “ETA”56 (ver figura
16).

47
DIWAN, Pietra. Aníbal: O brilhante estrategista que ousou derrotar o império romano. In: História
Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, pp. 20 e 21.
48
FARFEL, Nicolas. Cruzadas: em nome de Deus. Conquista de Jerusalém: heróica aventura cristã
ou invasão dos inimigos de Maomé? In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, pp. 20 e
21.
49
FARCEL, Nicolas. Coluna Prestes, Grande Marcha. O Cavaleiro da Esperança e o Grande
Timoneiro percorrem milhares de km em nome da revolução. In: História Viva, São Paulo: Duetto,
n. 3, jan. 2004, pp. 22 e 23.
50
DIWAN, Pietra. Guerra do Paraguai: o grande confronto na América do Sul. In: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 20 e 21.
51
DIWAN, Pietra. 6 de junho de 1944: o dia mais longo do século. In: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 20 e 21.
52
DIWAN, Pietra; FARFEL, Nicolas. Um Estado em luta: São Paulo, o campo de batalha durante a
revolução de 1932. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 20 e 21.
53
FARFEL, Nicolas. Invasões bárbaras: em ondas sucessivas, os bárbaros destroçam um império.
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, pp. 20 e 21.
54
VINCENT, Bernard. A tragédia dos Cherokees. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago.
2004, pp. 20 e 21.
55
DIWAN, Pietra; FARFEL, Nicolas. Odisséia no Espaço: os programas espaciais não são meras
aventuras, mas pesquisas para melhorar a vida na Terra. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4,
fev. 2004, pp. 20 e 21.
56
FARFEL, Nicolas. O vôo de Carrero Blanco: numa operação cinematográfica, ativistas do ETA
realizaram com êxito a Operação Ogro, um atentado fatal contra o mais importante colaborador de
Francisco Franco. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out. 2004, pp. 19 e 20.
31

Figura 16 - Sessão "Historiográfico" – FONTE: DIWAN, Pietra. 6 de junho de 1944: o dia


mais longo do século. In: História Viva. São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 20 e 21.

Figura 17 - Sessão "Historiógrafo" – FONTE: FARFEL, Nicolas. O vôo de Carrero Blanco:


numa operação cinematográfica, ativistas do ETA realizaram com êxito a Operação
32

Ogro, um atentado fatal contra o mais importante colaborador de Francisco Franco. In:
História Viva. São Paulo: Duetto, n° 12, out. 2004, pp. 20 e 21.

A sessão seguinte, “Biografia”, trata de personagens


proeminentes da História, como líderes religiosos, estadistas, comandantes
militares etc. Não só a escolha dos personagens como o tratamento que lhes é
dado seguem via de regra os termos ainda tradicionais “rankeanos” de História
Política profissional, privilegiando seus “grandes atos” e “feitos”. Raras vezes essa
postura teórico-metodológica foi quebrada nas biografias trabalhadas, por um
ensaio de olhar timidamente visto de baixo, atento à vida privada de seu objeto,
denunciando certa resistência às tendências da Nova História, mesmo por parte de
historiadores contemporâneos.
Há por outro lado ensaios revisionistas, como o de
Pascal Marchetti-Leca, da Universidade da Córsega, que escreveu uma biografia de
Mahatma Gandhi57 ressaltando aspectos de sua vida privada que contrapõem a
visão mitificada do líder religioso, enfatizando seu mau rendimento escolar, a
violência com que tratava sua esposa e seus relacionamentos extraconjugais,
relativizando-os com seu clamor pela desobediência civil, que incitou a população a
resistir à dominação inglesa e inspirou a “Marcha do Sal”. Apesar da crítica o autor
não deprecia o caráter filosófico de Gandhi, mas inova estabelecendo uma
biografia que foge à sua História Filosófica tão somente, e comumente dissociada
desse caráter privado, ignorado por muitos.
Essa postura já não é encontrada no caso de Gonzague
58
Saint Bris , que escreve uma biografia narrativa e cronológica de Leonardo da
Vinci, privilegiando mais aspectos políticos e a produção do gênio do que aspectos
de sua vida privada. O que se pretende privado confunde-se com o político.
Destaca-se a utilização ilustrativa de partes de manuscritos de Leonardo, com
interessantes esboços de muitas de suas invenções.
O pensamento filosófico é aliado ao pensamento
político na análise reflexiva de Lucién Jerphagnon59 sobre a biografia de Santo
Agostinho60, que traz relevantes descobertas sobre certos aspectos
comportamentais e da vida privada do santo, trabalhados através de um discurso
que não perde de vista a narrativa tradicional, trazendo à tona características da
vida do filósofo que até então poderia muito bem ser desconhecida de grande
parte do público especializado em História.
A figura arquetípica da líder militar francesa, Joana
D’Arc, foi trabalhada por Maurice Garçon61, da Academia Francesa, nos moldes da
História Política tradicional, com uma narrativa, no caso dos relatos das guerras
57
Gandhi: no caminho da paz. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, pp. 22-27.
58
É autor de Vingt Ans de l’Aiglon. Paris: Tallandier, 2000.
59
Professor emérito da Academie d’Athènes, é o maior especialista em Sto. Agostinho na França;
publicou Saint Augustin, le Pédagogue de Dieu. Paris: Gallimard Découvertes, 2002.
60
Agostinho, santo e subversivo. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan. 2004, pp. 24-29.
61
Joana D’Arc, uma santa em armas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 22-
27.
33

contra os exércitos anglo-borgonheses no século XV, recorrente direta à História


Militar, com descrição detalhada de estratégias e movimentos. Apesar de estar
edificada nos moldes de história profissional, há recursos estilísticos e alegorias
utilizadas pelo autor, talvez com a intenção de fazer com que o texto se tornasse
mais atraente a um público não erudito, tentando um caráter mais pedagógico-
enciclopedista.
O perfil da sessão “Biografia” é alterado
fundamentalmente por outro artigo de Pascal Marchetti-Leca, desta vez
escrevendo sobre Nelson Mandela, no artigo “Mandela, a vitória de um justo”62,
que tratando de uma biografia com recorte contemporâneo acaba sendo
direcionado à análise de graves problemas atuais. A ausência de um relevante
recuo histórico obriga o autor a ensaiar uma análise parcial, através da biografia
de um dos mais importantes líderes políticos da História, de nossa sociedade
contemporânea, seus ranços e intolerâncias.
O mesmo autor, na edição seguinte (n° 6), analisa a
biografia de outro personagem de nossa história recente: Pablo Picasso63.
Novamente Pascal Marchetti-Leca trabalha a vida privada de seu objeto, dando
ênfase ao comportamento do artista, determinando-o como mesquinho, egoísta e
perverso, seus muitos amores e a relação que mantinha com Braque, sem prejuízo
para a tradicional História Social da Arte, pois não deixa de recorrer à ousadia
genial que inovou o conceito estético e alterou fundamentalmente os princípios da
arte.
Outras biografias de destaque foram a de Isaac
Newton, pela Historiadora e Jornalista Reneé-Paule Guillot64; de Maomé, pelo
Psicanalista e Antropólogo Malek Chebel65; e de Theodore Roosevelt, pelo
Jornalista e Escritor Reine Silbert66.
Foi somente a última edição analisada que trouxe
finalmente um brasileiro como objeto da seção “Biografia”: “José Bonifácio, o sábio
por trás do príncipe”, num ensaio do Jornalista Bias Arrudão. O autor, que é
mestre em estudos latino-americanos pela Universidade do Texas, empreendeu na
análise uma dinâmica jornalística, presa aos acontecimentos políticos do período,
obviamente com ênfase maior ao seu papel no processo de independência do
Brasil, mas com olhos voltados também para a História das Idéias e da Cultura. O
texto resgata importantes valores de época em uma parcela considerável do
ideário de um Brasil que carecia e muito de estabelecer sua própria identidade, por
parte da elite intelectual burguesa de origem lusitana.

62
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp. 22-27.
63
Picasso, o criador absoluto. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 22-27.
64
Newton, o homem que sabia duvidar. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp.
22-27.
65
As três vidas de Maomé. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 22-27.
66
Teddy, um urso na Casa Branca. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 28-
33.
34

A próxima seção é a principal da revista, denominada


“Dossiê”, e em alguns casos está associada ao tema central da publicação e sua
imagem principal de capa; porém, não necessariamente.
A proposta desta seção é trazer análises sobre o
mesmo assunto ou o mesmo personagem, através de um número maior de
Historiadores ou de outros estudiosos de ciências afins que tenham se debruçado
sobre o mesmo tema, possibilitando a retomada do objeto sob vários vieses.

Dossiê é o espaço dedicado aos grandes momentos da história da humanidade, de


primordial relevância para os leitores que se querem contemporâneos de seu tempo.
Esses momentos, que foram capazes de configurar a ordem mundial que se seguiu,
são vistos de forma panorâmica, e explorando todos os seus aspectos factuais e
teóricos por especialistas de renomada autoridade no assunto.67

A edição inaugural trouxe a figura de Napoleão sob o


olhar de renomados estudiosos, como Jean Tulard, Professor da Universidade de
Paris IV - Sorbonne68; Jacques-Oliver Boudon, Professor da Universidade de
Rouen69; Trajan Sadu, também Professor na Universidade de Paris IV70; e Bruno
Roy-Henry, jurista71.
A edição seguinte trouxe o dossiê “Roma”, tema
principal de capa. Apresentou um texto extenso e denso (para este tipo específico
de publicação) da Historiadora Anne Bernet72, especialista em História do mundo
romano73, digno dos manuais de História Antiga e que trouxe uma elucidativa
iconografia, fazendo ainda incursões profundas na História Econômica romana e
caracterizando o mercado ocidental antigo com minuciosa precisão. O dossiê
trouxe ainda um breve artigo de Catherine Decouan74, sobre a política e o conceito
de democracia na República romana.

67
S.n.t. Texto extraído de material promocional que antecedeu a publicação do primeiro número na
revista “História Viva”.
68
É ainda membro da Academia de Ciências Morais e Políticas, e publicou entre outros títulos Les
Vingt Jours. Paris: Fayard, 2001; Napoleón et la noblesse d’Empire. Paris: Tallandier, 2001; e
Dictionnaire Napoleón. Paris: Fayard, 2001, do qual foi organizador. Cf. Napoleão: Construtor de
uma nova ordem na Europa. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 45.
69
Onde leciona História Contemporânea. Preside ainda o Instituto Napoleão e é autor de Brumário,
a tomada de poder por Bonaparte. s.n.t. Cf. O jovem corso é o senhor da guerra. In: História Viva,
São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 49.
70
Estudioso de História Contemporânea e especialista em Europa Central. É ainda autor de
Système de Sécurité Français em Europe Centre-Orientale, 1919-1933. s/l: L’Harmattan, 1999. Cf.
50 anos de Bonança para as monarquias. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p.
53.
71
Para a revista escreveu A segunda morte do imperador. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n.
1, nov. 2003, p. 55; que de fato polemiza a questão do paradeiro do corpo do imperador.
72
Roma: capital do mundo e cidade eterna; Cem anos urb et orbi; Uma superpotência em ação. In:
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, pp. 52-69.
73
É autora de Brutus. S/l: Librarie Académique Perrin, s/d; e Gladiateurs. S/l: Librarie Académique
Perrin, s/d.
74
A democracia romana sob a lupa. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 70.
35

O dossiê do n° 3 tratou novamente do tema principal


de capa da publicação, desta vez sobre Piratas e Corsários. O primeiro texto foi
extraído da obra “Sous le pavillion noir, Pirates e flibustiers”75 de Philippe
Jacquin76, e escrito em conjunto com Sergio Eltéca, colaborador da publicação
francesa “Historia”77. Em seguida o dossiê traz os ensaios de Michel Vergé-
Francheschi78, “Bandidos nada simpáticos”; e a interessantíssima biografia de Ann
Bonny e Mary Read, as duas maiores “piratas” (ou as únicas) de que se tem
notícia, escrita pela Jornalista Véronique Dumas79, colaboradora de “Historia”. O
dossiê é fechado por 4 biografias dos mais célebres piratas e corsários que já
permearam o imaginário europeu e inspiraram os mais mirabolantes relatos e
romances: Francis Drake, Barba-Negra, Jean Bart e Surcouf, escritas por Bertrand
Galimard Flavigny80.
O dossiê KGB, no n° 4, traz um número maior de
textos, ensaiando uma estrutura de apresentação dividida entre sumário e mais
duas subseções, abrangendo respectivamente os personagens e as façanhas do
antigo serviço secreto soviético. É tentador imaginar quanto uma publicação desta
natureza, com a riqueza de informações trazidas, teria valido para o Governo dos
EUA no período da Guerra Fria (resta-nos esperar pela invenção e desenvolvimento
de uma máquina do tempo).
No sumário “O ABC da KGB”81, o especialista em
informação e contra-informação Remi Kauffer82 traz uma visão geral do que foi a
máquina de espionagem soviética através de uma cronologia rica em detalhes,
com informações sobre os principais líderes do serviço secreto e seus objetivos,
além de sua estrutura e hierarquia de comando.
O mesmo autor traz no artigo seguinte o vitae de
Markus Wolf, um mestre da espionagem na Alemanha Oriental83. Já a Historiadora
Françoise Thom84 trata da biografia de Lavrenti Béria85, outro mestre da

75
JACQUIN, Philippe. Sous le pavillion noir, Pirates e flibustiers. S/l. Editions Gallimard, s/d.
76
Professor de Antropologia da Universidade de Paris II - Lyon.
77
Piratas e Corsários: a epopéia dos saqueadores dos mares. In: História Viva, São Paulo: Duetto,
n. 3, jan. 2004, pp. 30-35.
78
Professor de História Moderna da Universidade de Savóia, autor de Histoire de Toulon. S.n.t. e
diretor do Dictionnaire d’Histoire Maritime. S.n.t.
79
Ann Bonny e Mary Read, as rainhas da costa. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan.
2004, pp. 44 e 45.
80
Francis Drake: a serviço de sua gloriosa majestade; Barba-Negra: o corsário da rainha Ann; Jean
Bart: o lado sombrio do rei-sol; Sourcouf: um corsário de sangue azul. In: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 3, jan. 2004, pp. 46-49.
81
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 30-32.
82
É ainda Professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
83
KAUFFER, Remi. Markus Wolf: um mestre espião. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev.
2004, pp. 33-35.
84
Professora da Universidade de Paris IV – Sorbonne. Escreveu Lês fins du communisme. S/l:
Creitérion, 1994.
85
Béria tenta dinamitar o regime comunista. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004,
pp. 36-39.
36

inteligência soviética. O Historiador Alexandre Adler86 trabalha Saint-John Philby e


seu filho Kim Philby87, acusados pelo Império Britânico por espionagem em favor
da URSS. Kauffer retoma em seguida uma das mais polêmicas histórias de
espionagem da Segunda Guerra Mundial: a rede de informações “Rote Kapelle”88,
que teria anunciado as pretensões de Adolf Hitler em trair o pacto germano-
soviético e invadir a URSS89. Stalin não acreditou e o preço pago foi caro demais
em perdas humanas. A série de artigos é encerrada pelo Escritor e Jornalista Roger
Faillot90 que trata da rede de espionagem da KGB infiltrada na usina de Los
Alamos91, onde estavam escondidos os segredos militares sobre as pesquisas com
armas atômicas dos EUA.
No n° 5, de março de 2004, foram os Historiadores
medievalistas franceses os encarregados de desenhar os traços de uma “nova
Idade Média”, sob o ponto de vista da historiografia tradicional medieval. Os
estudos de Françoise Autrand92, Ivan Gobry93, Jean Verdon94 e Colette Beaune95
rompem com a visão renascentista inaugurada por Francesco Petrarca na primeira
geração humanista do Renascimento, quando ao se referir ao “Medium Tempus”
ou à “Media Aetas” o fez designando-o como “Tenebrae”, ou seja, a Idade das
Trevas, pressupondo um declínio cultural se comparada a civilização européia
medieval com a aurora das civilizações clássicas na antigüidade. O título de
chamada para o dossiê anuncia que “. . . novas luzes revelam outra Idade Média”
e que “a Idade Média como ‘Era das Trevas’ não convence mais os historiadores,
que descobriram uma época mais justa e feliz”96. O estudo tem como balizas
temporais os séculos XIV e XV, e de fato se estabelece como proposta de revisitar
as discussões historiográficas teórico-metodológicas que já consolidaram bases e
conceitos cujos dogmas são agora questionados. A questão dos estamentos que
pressupõem a ausência de mobilidade social, o papel das mulheres na vida
econômica e social e a exclusão de prostitutas e homossexuais estão sob o alvo

86
Membro do conselho editorial de “Historia”.
87
Philby, ou a traição de pai para filho. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 40-
43.
88
“Orquestra vermelha” em alemão.
89
No coração da Alemanha nazista. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 44-47.
90
Autor de FAILLOT, Roger; KROP, Pascal. DST, Police Secrète. S/l: Flammarion, s/d; e FAILLOT,
Roger; KAUFFER, Remi. Histoire Mondiale du Renseignement. S/l: Robert Laffont, 1993.
91
Nas entranhas do poder americano. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 48-
50.
92
Uma sociedade em plena mutação. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp. 32-
37.
93
Mulheres responsáveis e liberadas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp. 38-
41.
94
Os bordéis, casas das mais toleradas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp.
42-47.
95
Escola, a escada para a ascensão social. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004,
pp. 48-51.
96
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 28.
37

desses estudiosos e importantes conclusões são divulgadas nesses sentido pelo


dossiê.
Os medievalistas se juntam a estudiosos do período
moderno e retornam em agosto de 2004, no n° 10 que traz o dossiê “Inquisição”.
A discussão se estabelece em torno da pior face do Tribunal do Santo Ofício, ou
seja, as práticas de tortura e morte do aparelho inquisitorial, que vitimou hereges
pela divergência religiosa, homossexuais e prostitutas. A proposta é analisar os
“mil anos de intolerância” religiosa a partir do ano mil, com enfoque específico a
partir de 1231, com a criação da Inquisição e da nomeação dos primeiros
inquisidores na Alemanha, França e Itália; 1478, com a criação da Inquisição
espanhola; 1531, com a instalação do Santo Ofício em Portugal; 1542, com a
reorganização da Inquisição romana sob Paulo III; 1549, com o Concílio de Trento
que desencadeou, acentuadamente após 1562 a Contra-Reforma que perseguiu e
massacrou os protestantes; até o declínio dos tribunais inquisitoriais, durante o
séc. XVIII na Península Itálica; em 1820 na Espanha; e em 1821 em Portugal.
Desta forma o fenômeno é tratado, de forma geral, sob uma perspectiva de longa
duração, estendendo uma cronologia que vai do ano 1000 até 200497.
A Historiadora Colette Beaune, mais uma vez nas
páginas da revista98, traça um perfil da Corte da Inquisição em relação aos grupos
que perseguia no artigo “Em nome de Deus”99, tratando o fenômeno não de forma
localizada mas evidenciando sua dinâmica de intransigência religiosa por todo o
continente europeu, do final do séc. X ao final do séc. XV. Pierre Chaunu,
especialista em História Moderna100, chama a atenção para o fato de estudos sobre
o tema incorrerem em grave anacronismo, uma vez que o inquisidor moderno
trabalhava no escopo de salvar almas, desta forma identifica um sentimento
sincero que estabelece uma História das Idéias para o período Moderno em relação
à Inquisição, como um fator essencial para se compreender o fenômeno101. Martin
Monestier é autor de um breve relato102 a respeito da prática das fogueiras onde
os hereges condenados eram queimados vivos; trata da metáfora representada
pelo fogo que tinha a intenção de reduzir a nada as lembranças do crime praticado
pelo herético, da mesma forma tomando o fenômeno em seus aspectos gerais, e
não como ocorrência localizada. O caminho inverso é feito pelo Historiador
Dominique Paladilhe103, que trata especificamente da perseguição à heresia cátara

97
Mil anos de intolerância. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p. 31.
98
No n° 5 havia escrito o artigo Escola, a escada para a ascensão social, no dossiê Idade Média.
99
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 28-30.
100
Foi Professor desta cadeira na Universidade de Paris IV – Sorbonne. Atualmente é membro do
Instituto França.
101
Destruir a vida para salvar a alma. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp.
32-34.
102
A agonia da morte no fogo purificador. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p.
35.
103
Especialista em heresia cátara, têm várias publicações sobre o assunto, entre elas La Grande
Aventure des Croisés. S/l: Perrin, s/d; Les Grandes Heures Cathares. S/l: Perrin, s/d; e Les Routes
Cathares. S/l: Perrin, s/d.
38

no sul da França, durante o séc. XIII. Demonstra como nem sempre a heresia
estava relacionada à práticas não cristãs, como no caso dos judeus, mas a
vertentes cristãs não reconhecidas pelo Papa, desta forma heréticas; nesse sentido
o exemplo do sincretismo entre reminiscências do maniqueísmo persa e o
cristianismo resultou na prática herege dos cátaros, apoiados por boa parte da
população e da nobreza, a ponto de resultar em conflitos com os dominicanos, os
“cães de Deus” encarregados de sua perseguição. O medievalista Joseph Perez104
trata do caso específico da Inquisição espanhola105, autora dos sangrentos autos-
de-fé, ou seja, do procedimento judicial inquisitorial que incluía em suas fases a
tortura física e o cárcere, podendo culminar no desterro, desapropriação de todos
os bens e riquezas do condenado, e finalmente na purificação dos pecados através
da morte nas fogueiras. Traça em breves linhas um importante painel sobre a
recusa e aceitação dos convertidos, judeus e cristãos novos, por parte das elites e
da população em geral. Mais breve ainda foi a medievalista Béatrice Leroy106 que
trata da expulsão dos judeus, mesmo convertidos, da Espanha, e o processo de
isolamento social sofrido pelo “falso cristão”107. A Inquisição italiana foi estudada
pelo Historiador Adriano Prosperi108 no artigo “Itália cai nas mãos do Santo
Ofício”109, que aborda a questão da amplitude do poder do tribunal sobre todos os
italianos, que demandava a existência de uma “polícia secreta” por parte dos
inquisidores e que impôs o terror por toda a península itálica. A inquisição em
Portugal foi analisada pela Historiadora brasileira Anita Waingort Novinsky110, que
traz a questão para o âmbito da nossa História quando trata da prisão de mais de
mil pessoas no Brasil, das quais 29 foram condenadas e morreram nas
fogueiras111. Para Novinsky

a Inquisição bloqueou o desenvolvimento econômico de Portugal e fez o Brasil


arrastar-se até a independência sem livros, sem imprensa, sem universidades e sem
acesso às informações112.

A vez dos egiptólogos chega com a edição n° 11, de


setembro de 2004, com o dossiê “Egito”. O conjunto de 8 artigos traz as mais
recentes descobertas arqueológicas que vêm preenchendo antigas lacunas na
História conhecida desta que é, sem dúvida, a civilização antiga que mais exerceu
fascínio sobre as civilizações posteriores, incluindo a nossa. Seguindo o exemplo

104
Professor emérito da Universidade de Bordeaux.
105
A fúria espanhola. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 40-42.
106
Professora da Universidade de Pau. Dentre suas publicações sobre História Medieval estão:
L’Aventure Sefarad; De la Péninsule Ibérique à la Diaspora. S/l: Albin Michel, 1986; e Les Juifs dans
l’Espagne Chrétienne Avant 1492. S/l: Albin Michel, 1993.
107
A expulsão dos judeus. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p. 31.
108
Professor de História Moderna na Faculdade de Letras de Pisa.
109
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 44-46.
110
Professora do Departamento de História da Universidade de São Paulo.
111
Em Portugal, delações e resistência. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p.
48-51.
112
Ibid. p. 48.
39

dos dossiês anteriores, a edição trouxe de início uma cronologia referente ao tema
tratado, que nesse caso foi desenvolvida pelo egiptólogo Jean Leclant, que narra
sumariamente a saga egípcia desde o Antigo Império (de 3200 a 2000 a.C.) até a
“era dos Ptolomeus” (de 330 a 30 a.C.)113. As primeiras descobertas arqueológicas
trazidas pelo dossiê são de Jean-Yves Empereur, diretor do Centro de Pesquisas do
CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique)114, que se debruçou sobre os
escombros da “cidade dos mortos”, a Necrópole de Alexandria, soterrada pelas
areias do tempo em mais de 10 metros, e que vem sendo cuidadosamente
desenterrada, constituindo um vastíssimo sítio arqueológico que além da cultura
egípcia, traz informações sobre o período de dominação macedônio e romano115.
Jean-Pierre Corteggiani116 trata da presença helenística na fusão de elementos
egípcios (predominantes) e gregos na composição da estatuária egípcia117,
referindo-se à estátua de Ptolomeu II, descoberta em 1961 e que trazia uma
mecha sobre sua têmpora que intrigava os pesquisadores, revelando tratar-se
exatamente de uma mensagem aos viajantes que pela estátua passavam, de que
Alexandria fazia parte da civilização egípcia, mas que porém o Egito era uma
civilização helenística. O Diretor da CNRS, Alain Zivie, que coordena escavações
arqueológicas em Bubasteion, traz como resultados a descoberta de tumbas que
restabelecem a discussão sobre a verdadeira extensão que a reforma religiosa
perpetrada por Amenófis IV (que mudaria seu nome para Aquenaton) teria tido118,
uma vez que os artefatos encontrados em Bubasteion comprovam que as
instituições tradicionais egípcias resistiram à suposta ruptura política e cultural
desencadeada pelo faraó fiel ao deus Athon. Outro egiptólogo, Zahi Hawass119, em
pesquisa no oásis de Bahriya, o “Vale das múmias douradas”, relaciona o auge das
técnicas de mumificação dos mortos com o período de maior influência helenística,
o que explica o estado de conservação das múmias do período120. Edda
Bresciani121, que dirige expedições arqueológicas em Faiyum, traz em brevíssimas
linhas alguns resultados encontrados no último templo descoberto na cidade122,
dedicado a “Sobek”, a divindade cujo totem originário era o crocodilo, o que
explica a existência próxima da “Crocodilópolis”, a cidade de “Sobek”, o “espírito
protetor dos egípcios”. Os templos de Karnak são analisados pelo próprio Diretor
do Centro Franco-Egípcio dos templos, François Larché, que ainda dirige os

113
As dinastias ao longo do Nilo. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 36-37.
114
É autor de Alexandrie redécouvert. S/l: Fayard, 1998; Le Phare d’Alexandrie. S/l: Decouvertes
Gallimard, s/d; e L’ABCédaire d’Alexandrie. S/l: Flammarion, 1998.
115
A necrópole revela seus segredos. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 38-
40.
116
Autor de Toutankhamon. S/l: Gallimard, 2000; e de L’Art de l’Egypte. S/l: Citadelle, 1994.
117
A mecha de Ptolomeu. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, p. 41.
118
As reveladoras tumbas de Bubasteion. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp.
42-45.
119
Secretário-geral do conselho de Antigüidades do Egito.
120
O vale das múmias douradas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 46-48.
121
Professora da Universidade de Pisa.
122
A oferenda de crocodilos ao deus Sobek. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004,
p. 49.
40

trabalhos no sítio que tiveram apenas um terço de seus 25 mil metros quadrados
explorado. Dedica sua análise123 a um dos principais traços culturais da civilização
egípcia em suas realizações faraônicas: a arquitetura, determinando um caráter
“pré-fabricado” para os templos em arquitetura de pedra, caso único na história
egípcia. O dossiê é finalizado com um curtíssimo texto de Béatrix Midant-Reynes,
do CNRS, e do Arqueólogo Eric Crubezy124, que anuncia seu estudo sobre a
sociedade egípcia durante o período pré-dinástico125, através dos achados
arqueológicos do séc. IV a III a.C., encontrados no sítio de Adaima, localizado a 8
quilômetros ao sul do rio Esna.
O último dossiê analisado, na edição n° 12, de outubro
de 2004, tem como tema central a “Comuna de Paris”, o movimento de 1871,
inspirado nas idéias de Proudhon e Blanc, que levou os communards a se
insurgirem contra a III República de Adolphe Thiers, proclamando Paris
independente, e que foi violentamente massacrado pelas tropas federais de
Versalhes. De início o dossiê impressiona pela quantidade e qualidade das
fotografias que traz. São registros históricos raríssimos que através da revista
chegam às casas de pessoas que pela primeira vez têm contato com um dos
maiores eventos políticos e sociais do final do século XIX. Jacques Chastenet126
trata da reapropriação do movimento pelo marxismo como expressão da real
possibilidade de estabelecimento da ditadura do proletariado127; explicitando ainda
que os insurgentes evocavam diretamente a lembrança das jornadas
revolucionárias de 1793. François Furet128 estabelece o fenômeno, numa
perspectiva de longa duração, como “o último suspiro da Revolução Francesa”129;
o Historiador William Serman discorre sobre a implacável reação dos versalheses
sob as ordens de Thiers, que levou a morte a quase totalidade dos
communards130; o mesmo faz o Historiador André Guerin, em “A derrota na
semana sangrenta”131; havendo finalmente a curtíssima análise da Historiadora
Agnes Falabrégues, sobre o processo de mitificação que permeou o imaginário
popular plasmando a imagem heróica posterior de seus participantes132,
influenciando vários movimentos revolucionários do séc. XX.
A única edição a trazer na seção um tema relacionado à
História do Brasil é a de abril de 2004 (n° 6), que traz o dossiê sobre Duque de
Caxias e propõe contrapor a imagem pública do personagem militar e político com

123
O primeiro monumento faraônico pré-fabricado. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set.
2004, pp. 50-53.
124
Professor da Universidade de Tolouse.
125
A vida antes dos faraós. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 54-55.
126
Historiador e Escritor.
127
O povo no poder. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out. 2004, pp. 30-33.
128
Doutor honoris causa pela Universidade de Tel Aviv e Havard.
129
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 34-38.
130
Implacável, a reação veio de Versalhes. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004,
pp. 40-43.
131
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 44-45.
132
O mito irresistível. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, p. 46.
41

“o homem por trás do monumento”133. Nessa seção a revista revela tratar-se de


um importante veículo de divulgação de pesquisas em desenvolvimento em
programas de pós-graduação, trazendo dois textos da pós-graduanda Adriana
Barreto de Souza, doutoranda em História Social pela UFRJ, que inaugura o
primeiro dossiê sobre História do Brasil com os artigos: “Duque de Caxias; o
homem por trás do monumento”134 e “Um exército do Antigo Regime”135. O dossiê
conta ainda com a participação do ex-ministro da Justiça, da Educação, da
Previdência e do Trabalho e Coronel da Reserva do Exército Brasileiro, Jarbas
Passarinho136, que enaltece o “gênio militar” e discorre sobre as controvérsias
sobre seu “alinhamento conservador”. A historiografia brasileira representada
ainda por Ricardo Maranhão137, com “Em campo, o estrategista”138; e Celso
Castro139, com “Culto ao mito”140; traz importantes conclusões a respeito do
patrono do Exército brasileiro, projetando análises, a partir de sua biografia, dos
pilares do império, da manutenção da ordem escravista, das questões do Prata e
das origens do Exército brasileiro, através de nossa História Política e Militar.
Outros importantes dossiês trouxeram temas como os
Celtas (n° 7), com textos do Historiador Yann Brekilien141; do Historiador Venceslas
Kruta142; do Produtor de revistas televisadas Michel Treguer143; do Escritor Jean
Markale144; e de Alice Rolland145. Winstom Churchill, o “velho leão”, foi alvo do
dossiê de junho de 2004 (n° 8), sob o olhar de François Kersaudy146, Professor da
Universidade de Paris I – Panthéon-Sorbonne, com 4 artigos; novamente de Rémi
Kauffer147; e finalmente de Alexandre Adler148. A “sereníssima”, Veneza, teve seu

133
A afirmação trata-se de parte do título do ensaio de SOUZA, Adriana Barreto de. Duque de
Caxias: o homem por trás do monumento. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, p.
28.
134
SOUZA, Adriana Barreto de. Duque de Caxias: o homem por trás do monumento. In: História
Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 28-35.
135
OP. cit. pp. 42e43.
136
O militar versus o político: as controvérsias sobre seu alinhamento conservador. In: História
Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 44 e 45.
137
Doutor em História pela USP, ex-Professor da PUC e Unicamp. Autor de Brasil História – Texto e
Consulta. S/l: Ed. Hucitec, s/d.
138
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 36-41.
139
Pesquisador do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas. É autor de A invenção do Exército
Brasileiro. S/l: Jorge Zahar Editor, 2002.
140
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 46 e 47.
141
2.500 anos de celtitude. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 32-33.
142
Os invasores que vieram da Boêmia. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp.
33-339.
143
Revolucionário olhar sobre a expansão; A conversão dos druídas. In: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 40-47.
144
A Bretanha reata com seus ancestrais. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp.
46-49.
145
Instrumentos do folclore. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, p. 50.
146
Churchill: o triunfo do velho leão; Metade americano, cem por cento inglês; Um visionário
iluminado; O senhor da guerra. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 28 e 29;
32-35; 36-37; 38-45.
147
Um mestre da espionagem. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 46 e 47.
42

período de esplendor nas artes, ciências e comportamento resgatado no n° 9, por


Jean-Claude Hoquet149; Elisabeth Crouzet-Pavan150, Professora da Universidade de
Paris I; pelo Historiador Alain Frerejan151; e Yves Bruley152, Professor da Academia
de Ciências Morais e Políticas francesa.
Nenhuma outra publicação em História, destinada a um
público não especialista, no Brasil, trouxe um número tão relevante de estudiosos
de peso no círculo da ciência histórica mundial.
Através da análise da seção dossiê, nos 12 números
lidos, observamos que em 10 casos coincidiam o tema trazido com a imagem
principal de capa, que por sua vez estava relacionada também à chamada para a
matéria principal. Somente em 2 casos isso não ocorreu: no n° 6, que trouxe
dossiê sobre Duque de Caxias e uma capa que utilizava estrategicamente uma
cena do filme “Tróia”, em exibição nos cinemas no mesmo período; e no n° 12,
cujo dossiê tratava da “Comuna de Paris” e sua capa, à exemplo do n° 6, trazia a
cena de um filme em cartaz no mesmo período, desta vez “Alexandre”. A
estratégia que visava aproveitar o público dos cinemas, desejosos de se
aprofundar no mesmo assunto, determinou a substituição da imagem principal na
capa das edições 6 e 12, que segundo a orientação dos demais números deveriam
trazer, respectivamente, as imagens de Duque de Caxias e dos insurgentes da
Comuna de Paris.
A proposta original da revista trazia ainda um encarte
especial, composto por apenas 8 páginas, denominado “Patrimônio Histórico”, cujo
objetivo era tratar de temas relacionados ao patrimônio histórico, artístico e
cultural brasileiro. Seu primeiro número tratou da restauração e reciclagem da
Estação da Luz, em São Paulo: um símbolo da pujança dos barões do café. O
destaque do caderno é a possibilidade vislumbrar imagens maiores em 4 páginas
que se desdobram, tendo sido desta forma possível trazer o desenho da fachada
da estação com todos os seus detalhes.
O número seguinte trouxe como tema da seção a
Fazenda Pau D’Alho, no município de São João do Barreiro, em São Paulo.
Recentemente restaurada para abrigar o Museu do Café, a fazenda é um dos
ícones do poder, pujança e prosperidade estabelecido pelo ciclo do café. Traz dois
desenhos, sendo o primeiro determinando a estrutura da fazenda, e desta forma
da maioria das fazendas de café do período, e outro da Casa-grande, em corte,
com a distribuição dos cômodos.
Aproveitando as comemorações dos 450 anos da cidade
de São Paulo, o n° 3 de “História Viva” trouxe no caderno “Patrimônio Histórico” o
“Planalto de Piratininga”, onde primeiro se estabeleceu a missão jesuíta de 1554,
148
Um legado para o futuro. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, p. 48.
149
A república onde os mercadores eram heróis. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul.
2004, pp. 32-35.
150
Os pólo: elite de empreendedores. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, pp. 36-
39.
151
Tintoretto, o pequeno tintureiro. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, pp. 40-43.
152
Depois de Lepanto o apogeu. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, pp. 44-48.
43

embrião do povoamento da vila que se tornaria cidade, constituindo o centro da


atual megalópole. A evolução urbanística pode ser vislumbrada em 5 desenhos,
tomados do mesmo local e que representam 5 períodos distintos do
desenvolvimento urbano de São Paulo: 1554, 1699, 1818, 1877 e 1950.
Os dois números seguintes (4 e 5), de fevereiro e
março de 2004, não trouxeram o encarte, que voltaria a ser publicado somente no
n° 6, de abril de 2004, que trazia os caminhos desenvolvidos para vencer a Serra
do Mar e ligar o litoral de Santos à região paulista produtora de café. Foi o último
caderno “Patrimônio Histórico” publicado na revista, que desta forma perece ter
desistido de seu objetivo inicial em relação a esta seção:

Com esta seção, História Viva pretende divulgar, valorizar e contribuir para a
preservação do patrimônio histórico nacional. Esse nosso passado está fisicamente
presente em mais de 16 mil edifícios e 50 centros e conjuntos urbanos históricos
tombados, 5 mil sítios arqueológicos cadastrados e 12 bens considerados Patrimônio
Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura, UNESCO.153

Desta forma, nas palavras extraídas do próprio material de divulgação que


antecedeu ao lançamento da revista, não foi a falta de temas que determinou a
desistência da publicação do encarte.
Outra seção de interessante estratégia aproveita o
trocadilho com a palavra “cruzada”, que remonta aos movimentos cruzadísticos
entre os séculos XI e XIII, com as “palavras cruzadas”, jogo temático que trabalha
informações da própria edição com a finalidade de medir o conhecimento adquirido
pelo leitor ao término da revista. A sessão “Cruzada Histórica” traz palavras
cruzadas temáticas para “aficionados pela história”. A proposta de formar público
para o número seguinte é evidente com a disponibilização dos resultados do jogo
somente no número seguinte. A “brincadeira” não requer profundo conhecimento
em história, e tem ainda o facilitador de as respostas requeridas poderem ser
encontradas ao longo dos textos da mesma publicação, o que também acaba
funcionando como estímulo ao leitor para consumir desta forma os textos.
A próxima seção leva o nome “Destinos”, e serve de
indicação para roteiros de viagens a locais e cidades históricas, como Juazeiro do
Norte (n° 1), Ouro Preto (n° 2), o Teatro Amazonas em Manaus (n° 3), a Igreja do
Senhor do Bonfim em Salvador (n° 4), São Francisco do Sul (n° 5), Paranapiacaba
(n° 7), Jangadeiros (n° 8), São Luís (n° 9), Rio de Contas (n° 10), Belém (n° 11) e
Cachoeira (n° 12).
Ao final temos a seção denominada “Última página”, via
de regra com um breve debate com historiadores brasileiros sobre temas
relacionados à História e cultura. O n° 1 trouxe o Jornalista e Historiador Heródoto
Barreiro154, escrevendo sobre Marat155; o n° 2 o editor de “O Estado de São Paulo”,

153
S.n.t. Texto extraído de material promocional que antecedeu a publicação do primeiro número
na revista “História Viva”.
154
É ainda apresentador dos jornais da Rádio CBN e TV Cultura.
44

Eduardo Martins, que discute os distanciamentos e proximidades entre a História e


o Jornalismo156; o n° 3 o Historiador e Jornalista Jorge Caldeira, que traça um
breve panorama dos contrastes lingüísticos da São Paulo colonial, que falava
tupi157; o n° 4 o Professor da ECA/ USP158 Ivan Teixeira, que estabelece um debate
teórico entre Literatura e História159; o n° 5 o Historiador István Jancsó160, que
restabelece a discussão sobre a identidade brasileira insurgindo novos
questionamentos em tempos de globalização161; o n°6 o Historiador Elias Thomé
Saliba162, que traça um rápido perfil sobre a história da leitura163; o n° 7 o
Historiador José Geraldo Vinci de Moraes164, que estuda “o papel da música
popular na história”165; o n° 8 o Professor Mamede Mustafa Jarouche166, que
problematiza questões historiográficas acerca do Oriente Médio167; o n° 9 o
Historiador Paulo Bertran168, que relaciona História e ecologia169; o n° 10 traz o
Professor José Álvaro Moisés170, que exercita algumas interpretações para o
suicídio de Getúlio Vargas171, em referência ao aniversário de 50 anos de sua
morte; o n° 11 traz o Historiador Mário Jorge Pires172, que trabalha as relações
entre símbolos e História173; e finalmente o n° 12 traz o Escritor e Cineasta Sylvio
Back174, que analisa criticamente a historiografia do primeiro conflito armado pela
posse de terras no Brasil do séc. XX: o Contestado175.

155
Marat: o amigo do povo. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 98.
156
História ou Jornalismo? In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 98.
157
A esquecida vila da língua tupi. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan. 2004, p. 98.
158
Leciona Cultura e Literatura Brasileira na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo.
159
Literatura e história. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, p. 98.
160
Diretor do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.
161
O Brasil como enigma. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 98.
162
Professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo, é autor do célebre Raízes
do riso e Utopias românticas (s.n.t.).
163
A sedutora história da leitura. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, p. 98.
164
Professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo. É autor de Sonoridades
Paulistanas. São Paulo: Funarte, 1997; Metrópole em sinfonia. São Paulo: Estação Liberdade, 2000;
e Conversas com Historiadores brasileiros. São Paulo: Ed. 34, 2002; entre outros títulos.
165
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, p. 98.
166
Professor de Língua e Literatura árabe no Departamento de Línguas Orientais da Universidade
de São Paulo.
167
Os limites históricos do orientalismo. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, p. 98.
168
É ainda Conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
169
História e ecologia humana. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 98.
170
Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo.
171
O significado do sacrifício de Vargas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p.
98.
172
Professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
173
Não se faz história sem símbolos. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, p. 98.
174
Autor dos filmes Lost Zweig, Aleluia Gretchen e Guerra dos Pelados (s.n.t.).
175
O Contestado na historiografia. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out. 2004, p. 98.
45

Os textos

Além das seções regulares que compõem seu material


editorial, a revista traz ainda textos que intercalam as seções, nacionais e
internacionais, onde de fato percebemos que há maior espaço para matérias de
estudiosos brasileiros em relação às seções principais: “Biografia” e “Dossiê”.
Se levarmos em consideração apenas os textos
desconectados das seções, ou seja, um total de 94 textos, temos 36 de autoria de
pesquisadores brasileiros para 58 textos de autores estrangeiros, cuja
avassaladora maioria é de franceses. Desta forma, constituem 38,29% os autores
brasileiros para 61,7% de atores estrangeiros nos 12 números analisados.
Se levarmos em consideração somente a seção
principal da revista, “Dossiê”, conforme constatamos anteriormente, nas 12
edições analisadas somente 1 trazia um tema dedicado à História do Brasil, nesse
caso trata-se do n° 6, com o dossiê “Duque de Caxias”, para os 11 restantes
dedicados à História universal. Ainda assim, nesses há somente uma matéria de
autoria de uma Historiadora brasileira: trata-se da Profª. Anita Novinsky, no n° 10
com o dossiê “Inquisição”. Desta forma 8,3% dos dossiês trataram de História do
Brasil enquanto 91,6% dedicaram-se à História Universal. Fazendo justiça à
participação de uma Historiadora brasileira em um dossiê sobre História Medieval e
Moderna, contabilizamos num total de 64 textos dispostos em 12 dossiês, 5
desenvolvidos por autores brasileiros para 59 desenvolvidos por estrangeiros,
numa percentagem portanto de 7,81% para 92,18%.
Tomando agora todos os textos das seções trazidas
176
pela publicação , num total de 116, temos 46 escritos por autores brasileiros e 70
escritos por estrangeiros, estes dispostos exclusivamente em duas seções:
“Biografia” e “Dossiê”, as mais importantes da revista. Desta forma a percentagem
é de 39,65% para autores brasileiros para 60,34% de autores estrangeiros.
No total de textos analisados, conectados ou
desconectados das seções, nas 1200 páginas lidas, temos o total de 210, dos quais
82 foram escritos por brasileiros e 128 por estrangeiros (a maioria por autores
franceses), denunciando a percentagem final de 39,04% de autores nacionais para
60,95% de autores internacionais, com matérias já publicadas na revista francesa
“Historia”.
Demonstramos portanto a disparidade existente em
relação à proposta inicial da revista “História Viva”, em trazer mensalmente 50%
de matérias escritas por estudiosos brasileiros e 50% de matérias internacionais da
publicação francesa.

176
Levamos em consideração as seções “Dossiê”, “Biografia”, “Historiográfico”, “Patrimônio
Histórico”, “Destinos” e “Última Página”; desta forma descartamos a seção “História em cartaz” por
trazer uma estrutura fragmentada em subseções não assinadas (em sua maioria) e com diversos
textos menores, e a seção “Cruzada Histórica”, por não trazer textos.
46

No geral e com raras exceções, a bibliografia utilizada


pelos autores não é disposta após os textos, conforme a prática comum acadêmica
e a ABN determinam, o que prejudica o leitor desejoso de aprofundar sua pesquisa
em determinado tema, ou de confirmar as afirmações feitas ao longo do artigo
sabendo a que tipo de autores específicos o estudioso recorreu. Em um número
pequeno de artigos a revista trouxe uma pequena caixa de texto com o título “para
saber mais”, onde eram elencadas obras com tema similar, porém não se sabe se
trata-se da bibliografia trabalhada pelo autor da matéria. Noutros casos, na mesma
caixa de texto acompanhava um glossário para termos utilizados pelo autor.

Iconografia

Um dos muitos méritos da publicação, se comparada às


suas concorrentes no mercado de publicações de temática histórica, é a qualidade
e diversidade de suas imagens.
“Queremos trazer a público uma surpreendente
iconografia, hoje dispersa e ainda desconhecida”177, escreve em tom de
entusiasmo o Diretor Chefe da “Duetto Editorial”.
A menção direta à fonte e os créditos devidos, exposta
ao lado das figuras, facilita ao leitor interessado situar no tempo e espaço as
imagens com as quais dialoga o texto, não havendo tão somente uma função
ilustrativa-expositiva.
Os próprios textos comumente recorrem às imagens
para explica-los, justificando assim a existência ainda de mapas que vão
complementando a parte escrita.
A edição inaugural da revista trouxe em sua capa
“Napoleão saindo do seu mausoléu”, uma gravura em cores sobre papel de Jean-
Pierre Jazet, a partir da tela de Horace Vernet, de 1840, parte do acervo do Museu
Nacional do Castelo de Malmaison, Reuil-Malmaison (ver figura 5). Outro destaque
em relação às imagens de capa é a pintura de Pieter Bruegel, em óleo sobre
madeira, “Casamento Camponês”, de 1568, do acervo do Kunsthistoriches Museum
de Viena, no n ° 5 (ver figura 9).
Ainda em relação às capas, no n° 10 a edição trouxe
um óleo sobre tela de Eugênio Lucas y Padilla (1824-70), “Condenado pela
Inquisição”, do acervo do Museu do Prado, em Madri (ver figura11).
Mas as pinturas e gravuras não são os únicos suportes
sobre os quais são compostas as capas das edições aqui estudadas. Há o uso de
fotomontagens que utilizam esculturas e estatuários como no n° 2, onde
elementos de diferentes épocas compõem a imagem em pedra de Júlio César (ver
figura 7); e no n° 11, onde o busto da rainha Nefertiti se sobrepõe aos hieróglifos
de uma tumba do templo de Luxor, no Vale dos Reis (ver figura 8).

177
NASTARI, Alfredo. História com prazer. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p.
5.
47

Outra fotomontagem foi feita a partir de uma cena do


filme “Alexandre”, tendo no espaço negativo uma gravura do séc. XIX que retrata
a Batalha de Granico, no n° 12 (ver figura 3). Já no n° 6 somente uma cena do
filme “Tróia” foi suficiente para a imagem de capa (ver figura 2).
Em todos os casos (inclusive naqueles omitidos nos
parágrafos acima), as imagens de capa dialogavam diretamente com o tema
principal da edição, tornando-se parte do corpo de texto que anuncia a matéria
respectiva, sempre em destaque em relação às demais, com a clara intenção de
ser lida primeiro pelo olhar do leitor, que rapidamente relaciona-a à imagem.
Com relação às imagens dispostas ao longo das
edições, resolvemos agrupá-las a partir de 3 suportes principais: pinturas,
desenhos e gravuras; fotografias e fotomontagens (incluindo reprodução de
documentos escritos); e mapas. É óbvio que não utilizaremos todas as imagens
dispostas ao longo das 12 edições, mas imagens selecionadas a partir de critérios
que relacionassem-nas diretamente com os textos.
As pinturas dispostas privilegiam ainda claramente uma
escola romântica mimetista de gênero “Pintura Histórica”, “Retratística” e “Pintura
de Paisagem” recorrente ao “Desenho de Observação”.
Dentro da “Pintura Histórica” temos a leitura da
“Batalha de Wagram”, na Áustria, em 1809, onde o exército napoleônico vence
definitivamente o austríaco, liderados por Napoleão Bonaparte, figura central do
quadro (ver figura 18). A imagem foi utilizada acertadamente no dossiê “Napoleão”
e dialoga diretamente com o texto de Jean Tulard: “Napoleão: o construtor de
uma nova Europa”. No mesmo dossiê o glossário da Revolução Francesa é
ilustrado com o clássico de Eugène Delacroix, “A liberdade guiando o povo”, de
1830 (ver figura 19). Ainda sobre a Revolução Francesa, mas na seção “Última
página”, a pintura de Jacques-Louis David, “A morte de Marat”, de 1793, ilustra o
artigo de Heródoto Barbeiro sobre o médico jacobino (ver figura 20). O óleo sobre
tela “César, senhor do mundo”, de Adolphe Yvon, pintor do séc. XIX, demonstra
toda a monumentalidade dos registros históricos romanos em relação à extensão
do poder político dos imperadores, com a imagem central de César detendo e
sustentando o mundo em sua mão (ver figura 21). A pintura é crítica, pois
evidencia a marcha imponente do estadista cujo cavalo pisoteia pessoas indefesas,
à mercê ainda de arautos da morte com suas foices dirigidas ao chão, onde estão
deitados os plebeus a espera do fim. O cotidiano medieval é denunciado em
ilustração anônima do séc. XV, proposta como frontispício para a edição francesa
de “Cidade de Deus”, de Santo Agostinho (ver figura 22). Na ilustração está
evidente o cotidiano medieval do profano ao sacro na representação da cidade
terrena, e do imaginário cristão medieval na parte superior da tela dedicada à
representação da cidade divina. Na mesma biografia de Santo Agostinho, escrita
por Lucien Jerphagnon no n° 3, está disposta uma representação do inferno, em
iluminura do mesmo século, constante da parte ilustrativa da mesma obra “Cidade
de Deus” (ver figura 23). O cotidiano medieval é mostrado novamente nas páginas
do dossiê “Idade Média”, no n° 5, com o óleo sobre tela de Pieter Brueghel,
48

“Provérbios holandeses”, de 1559, que demonstra o cotidiano das vilas e burgos


com as mais variadas atividades profissionais, a denúncia de uma clara divisão do
trabalho e do papel social e afazeres que cada figura desempenha na pintura (ver
figura 24). Mas o pior aspecto medieval: o Tribunal do Santo Ofício, é trazido à
discussão pelo dossiê “Inquisição”, no n° 10, de agosto de 2004, que é ilustrado
entre outras imagens por uma gravura anônima de 1880, que retrata Tomás de
Torquemada, portador do crucifixo, o líder inquisitorial que respondia somente aos
reis católicos, comandando a expulsão dos judeus da Espanha (ver figura 25). O
maior representante brasileiro de nossa pintura crítica do séc. XX, Portinari, ganha
a sessão “História em Cartaz” em razão de seu centenário, que lhe rendeu ainda a
homenagem de Alfons Hug na 26a Bienal de São Paulo. Talvez sua mais célebre e
certamente a mais tocante e crítica obra, “Retirantes”, aparece na subseção
“Exposições” do n° 12, denunciando com cores fortes a realidade da seca, da
miséria, doença e morte da vida nordestina (ver figura 26).

Figura 18 - A Batalha de Wagram © Galeria das Batalhas, Palácion de Versalhes –


FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 43.
49

Figura 19 – A liberdade guiando o povo. Eugène Delacroix, 1830 © Museu do Louvre,


Paris – FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 59.
50

Figura 20 – A morte de Marat. Jacques-Louis David. 1793 © Museu Real de Belas Artes,
Bélgica - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 98.
51

Figura 21 – César, senhor do mundo. Adolphe Yvon, séc. XIX © Museu de Artes, França
- FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 63.
52

Figura 22 – Ilustração do séc. XV para a edição francesa da Cidade de Deus © Museu


Hermano Westrenianum, Haia - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan.
2004, p. 24.
53

Figura 23 – Representação do inferno, de Cidade de Deus,


iluminura do séc. XV © Bibliotecfa Real da Bélgica, Bruxelas -
FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan. 2004, p. 27.
54

Figura 24 – Provérbios holandeses. Pieter Brueghel, óleo sobre tela, 1559 © Staatlich
Museen, Berlim - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 32.
55

Figura 25 – Gravura de 1880 © Bettmann / Cobris – Stock Photos. FONTE: História


Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p. 43.
56

Figura 26 – Retirantes. Portinari, painel a óleo/tela, 1944 © Divulgação / MASP São


Paulo - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out. 2004, p. 8.

Dentro da “Retratística” a primeira obra analisada trata-


se de um dos maiores ícones da pintura de todos os tempos: “La Gioconda” ou
“Monalisa” de Leonardo Da Vinci, relida em praticamente todos os tempos que se
sucederam à concepção da tela, entre 1503 a 1506, ainda muito em voga na
produção em várias mídias de nossa sociedade contemporânea (ver figura 27). O
quadro faz parte da análise biográfica do artista, conforme vimos, escrita por
Gonzague Saint Bris que dedica parte do ensaio ao aprendizado de Leonardo no
ateliê de Verrochio e ao seu relacionamento com o mecenato e com a casa real de
Lourenço, o Magnífico, e de Francisco I. Outro destaque é o auto-retrato de
57

Jacopo Robusti, o Tintoretto, em óleo sobre tela pintado em 1585, e que segue a
chamada para a matéria do Historiador Alain Frerejean, “Tintoretto, o pequeno
tintureiro”178 (ver figura 28). O recurso à imagem do pintor veneziano é de
objetivo óbvio uma vez que dialoga diretamente com sua biografia. O pintor era
especialista em retratística e também em pintura religiosa, uma vez que o
mecenato veneziano estava relacionado às confrarias, e sua obra máxima,
“Crucificação” em óleo sobre tela, de 1565, denuncia perfeitamente essa relação
(ver figura 29).

Figura 27 – La Gioconda ou Monalisa. Da Vinci (1503-


1506) © Museu do Louvre, Paris - FONTE: História Viva,
São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 24.

178
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, pp. 40-43.
58

Figura 28 – Auto retrato. Tintoretto, óleo sobre tela (1585) © Arte & Immagigni /
Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 40.
59

Figura 29 – Crucificação. Tintoretto, óleo sobre tela (1565) © Escola de São Roque,
Veneza - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 43.

A opulência dos templos egípcios ganha forma no


desenho de Jean-Baptiste Lepère (1761-1844), em gravura de Allais que traz a
vista interna do templo de Lúxor, em Tebas (ver figura 30). A figura humana em
estado de repouso no canto inferior direito da tela, tem a clara finalidade de
denunciar o gigantismo das proporções arquitetônicas do templo, e o quanto o
homem reduz-se a um figura insignificante diante da magnanimidade da
representação dos deuses.
As fotografias estão presentes em todo o conjunto da
obra analisada, representadas desde seus primórdios na década de 1830 com a
invenção do “daguerreótipo” na França, passando pela chegada da fotografia no
Brasil, com Militão Augusto de Azevedo na São Paulo de 1862, até a fotografia
digital de 2004.
60

Figura 30 – Vista interna do templo de Lúxor. Jean-Baptiste Lepère, gravura de


Allais © Mauseu Nacional do Castelo de Malmason - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 69.
61

O n° 9, de julho de 2004, traz um importante registro


histórico da morte do líder insurgente Antonio Conselheiro, assassinado junto de
seus seguidores em Canudos, no dia 7 de outubro de 1897 (ver figura 31). A
fotografia mostra o cadáver do “arauto do sebastianismo no Brasil” cravado pelas
balas dos soldados federalistas179. A fotografia paulista do início do séc. XX é
representada pela plataforma externa da “São Paulo Railway”, na Estação da Luz,
em tomada feita na década de 1930, que ilustrou o encarte dedicado à
revitalização e restauro da Estação, no número inaugural de “História Viva” (ver
figura 32). Augusto Malta, em duas fotografias do início do séc. XX, mostradas no
ensaio da Historiadora Elisabeth Von Der Weid sobre as medidas transformadoras
do Governo de Pereira Passos180, retrata dois períodos da cidade do Rio de Janeiro
durante o processo de reurbanização inspirado no cosmopolitismo parisiense:
1904, com a demolição das casas e prédios que dariam lugar à avenida Central; e
em novembro de 1905, com a festa de inauguração da avenida (ver figura 33).

Figura 31 - © Museu da República, Rio de Janeiro / Flávio de Barros - FONTE: História


Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 93.

179
Sebastianismo no Brasil. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 93.
180
Bota abaixo! In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 78-83.
62

Figura 32 – Plataforma externa da São Paulo Railway na década de 1930 (s.n.t.) -


FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, encarte “Patrimônio
Histórico”.

Figura 33 - © Iconographia - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, p.
82.
63

A fotografia contemporânea brasileira tem como


representante a tomada aérea de Penedo, um dos principais patrimônios históricos
de Alagoas, descrito em “História em cartaz” da edição n° 2, onde as águas do rio
São Francisco dão o matiz ciano que tomam a paisagem e colorem os prédios
coloniais fortemente iluminados (ver figura 34).

Figura 34 - © Acervo Sebrae / Andrey Kemp - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto,
n. 2, dez. 2003, p. 16.

A História universal é ilustrada da mesma forma por


fotografias que tratam de períodos-chaves da História Política. Fotografias raras do
desfecho sangrento da “Comuna de Paris” são exibidas no dossiê de mesmo nome,
apresentado no n° 12, tanto das execuções sumárias perpetradas pelas tropas de
Thiers como das retaliações dos communards, e por fim, dos cadáveres dos
vencidos, cravados de balas dos fuzis versalheses (ver figuras 35 e 36). A edição
n° 3 traz a imagem da prisão de Gravilo Princip, logo após assassinar o arquiduque
da Áustria, Francisco Ferdinando e sua esposa Sonia, em 28 de junho de 1914 em
Saravejo, no episódio que levaria em pouco tempo o mundo à sua primeira grande
guerra (ver figura 37). As eleições presidenciais de novembro de 1932 na
64

Alemanha são ilustradas pela fotografia de um cartaz de propaganda nazista


disposto em uma rua de Berlim, que dialoga diretamente com o artigo do
Historiador Philippe Masson: “Hindenburg cede lugar a Hitler”181, no n°8 (ver figura
38). O n° 5 traz na matéria de Paul-Eric Blaunrue, “O fantasma de Hitler”182, uma
fotografia que através da imagem do Reichstag183 em ruínas, em 1945, determina
o fim do III Reich e da era nazista na Europa, sendo um dos marcos do fim da
Segunda Guerra Mundial (ver figura 39). O dossiê “KGB”, no n° 4, traz uma foto do
enterro de Stalin, ilustrando o fato que marcou o fim de uma era na URSS (ver
figura 40). Os confrontos em Pequim, em 1989, foram ilustrados no n° 10, pela
fotografia do jovem que parou um tanque de guerra, na Praça da Paz Celestial, e
que pagou pelo crime com a vida, condenado a morte posteriormente pelo regime
ditatorial (ver figura 41). A imagem dialoga diretamente com o texto do Historiador
Alain Peyrefitte, sobre o “gigante do oriente”: “De Confúcio a Máo a tradição
autocrática da China”184. Até mesmo acontecimentos recentes, como a crise
internacional instaurada após os atentados terroristas em 11 de setembro de 2001,
ganharam as páginas da revista com o ensaio da Historiadora Marie-Héléne
Parinaud: “Bin Sabbah, o homem que inspirou Bin Laden”185 e de Christophe
Courau: “Afeganistão, a imensa encruzilhada”186, ilustradas por fotografias que já
se tornaram importantes documentos históricos, pois denunciam o sentimento
médio-oriental contra o imperialismo estadunidense em manifestações públicas de
ódio à política imperialista, intervencionista e belicista dos EUA (ver figuras 42 e
43).
O recurso da fotografia foi utilizado para ilustrar ensaios
sobre a antigüidade mediterrânea e também ameríndia, exibindo e levando ao
público comum artefatos arqueológicos recém descobertos como a múmia de uma
menina de 10 anos de idade, encontrada em uma montanha a cerca de 5300
metros de altitude, quase intacta, nos Andes. A imagem dialoga com a matéria de
Anne-Lise Polack187, sobre mumificações, sacrifícios e rituais mórbidos da cultura
Inca, no segundo número da revista (ver figura 44).
Outras fotografias serviram para ilustrar biografias,
como a de Pablo Picasso, que confirma o tom de sua biografia em uma foto que o
mostra divertindo-se com uma garota seminua em seu colo, na platéia de uma
tourada, no n° 6 (ver figura 45).
Outras serviram à polêmica, como a do rosto esculpido
em pedra, fotografado em 1976 pela sonda “Vinking” na superfície de Marte,
trazida na matéria de Christophe Courau, “Marte das mil crenças”188, no n° 6 (ver
figura 46).

181
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 67-69.
182
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp. 58-60.
183
O Parlamento alemão, sede do Governo de Adolf Hitler.
184
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 58-63.
185
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 52-56.
186
Ibid. pp. 57-59.
187
Aos mortos com carinho. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, pp. 46-48.
188
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 72-77.
65

Figura 35 – © Keystone Photo - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out.
2004, p. 38.

Figura 36 - © AKG Berlim / Intercontinental Press - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 12, out. 2004, p. 39.
66

Figura 37 - © Bettmann/Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São Paulo:


Duetto, n. 3, jan. 2004, p. 86.

Figura 38 – © Austrian Archives / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, p. 67.
67

Figura 39 - © Yevgeny Khaldei / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 59.
68

Figura 40 - © Hulton Archives / Getty Imagens - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 4, fev. 2004, p. 37.
69

Figura 41 – © Bettmann / Corbis Photos - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n.
10, ago. 2004, p. 61.
70

Figura 42 - © Getty Imagens - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio
2004, p. 53.

Figura 43 – © Gyori Antoini / Corbis Sygma – Stock Photos - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, p. 56.
71

Figura 44 – © Charles & Josette Lenars / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva,
São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 47.
72

Figura 45 - © Hulton Archive / Getty Images - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto,
n. 6, abr. 2004, p. 23.
73

Figura 46 - © Roger Ressmeyer / Nasa / Corbis-Stock Photos - FONTE: História Viva,


São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, p. 77.

Na parte de reprodução de documentos escritos,


percebemos sua recorrente utilização como uma espécie de fator não só
ilustrativo, mas legitimador da veracidade da análise proposta pelos autores que
dele fazem uso. A imagem do documento disposta junto do texto proporciona não
só o diálogo do autor com a imagem, mas a constatação por parte do leitor de
que, de fato, há um documento histórico que corrobora com as informações
prestadas no texto. É o que constatamos, por exemplo, com a utilização de
imagens dos cartazes de apelo à intentona comunista de 1935 e ao movimento
74

integralista que culminou na intentona de 1938, na matéria “O 18 Brumário de


Getúlio Vargas”189 de Ricardo Maranhão, no n° 2 (ver figuras 47 e 48); da imagem
do cartaz criado por James Montgomery Flagg, conclamando os cidadãos norte-
americanos à Primeira Guerra Mundial, no ensaio de Jayme Brener: “Das cinzas da
guerra, um novo Brasil”190, no n° 3 (ver figura 49); da imagem do “Raio X” do
crânio de Adolf Hitler, utilizado para identificar o cadáver do ditador através de
comparações feitas com fotografias, na matéria já citada de Paul-Eric Blaunrue no
n° 5 (ver figura 50); da imagem da pedra de Roseta, a chave para a decifração do
hieróglifo egípcio encontrada pelas tropas de Napoleão, na matéria de Alain
Pigeard, “Os franceses no país dos faraós”, ainda no n° 5 (ver figura 51); a
imagem da primeira página de um jornal alemão, onde judeus recolhem o sangue
vertido por jovens alemães, que denuncia a propaganda anti-semita oficial na
Alemanha hitlerista, na já mencionada matéria de Philippe Masson, no n° 8 (ver
figura 52); as imagens de uma ordem de prisão e de um Termo de Segredo,
ambos documentos do Santo Ofício que demonstram a perseguição da Inquisição
aos cristãos-novos e judeus em Portugal, que são relacionados diretamente com
texto pela Profª. Anita Novinsky, única representante da historiografia brasileira no
dossiê “Inquisição”, no n° 10 (ver figura 53); e finalmente, pela imagem do
documento de convocação de participação popular nas eleições organizadas pela
“Comuna de Paris”, pouco antes do massacre liderado por Adolphe Thiers, no
dossiê do último número analisado (ver figura 54).
Finalmente, com relação aos mapas utilizados
largamente nas publicações estudadas, escolhemos para análise um número
pequeno que servem-nos de exemplo para as características gerais que
identificamos.
Em linhas gerais os mapas não estão confeccionados ou
dispostos para atender a necessidades técnicas, ou seja, têm caráter mais
ilustrativo e estético do que científico, motivo pelo qual não trazem coordenadas
geográficas, medidas topográficas, relevo, hidrografia ou divisão política detalhada.
Não há informações quanto à escala utilizada nos desenhos, ou se de fato foram
utilizadas, havendo visíveis desproporcionalidades em alguns casos.
Mas não se espera que a publicação seja lida por um
público exclusivo de cartógrafos ou cientistas afins, e desta forma, os mapas
acabam sendo ricos em detalhes e a arte gráfica de sua composição esteticamente
agradável aos leitores, que têm nas informações trazidas um importante recurso
para localizar espacialmente o assunto tratado no texto.

189
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, pp. 84-89.
190
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan. 2004, pp. 84-89.
75

Figura 47 - © Acervo História Viva - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez.
2003, p. 86.
76

Figura 48 - © Acervo História Viva - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez.
2003, p. 86.
77

Figura 49 - © Acervo História Viva - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan.
2004, p. 87.
78

Figura 50 – © Bettmann / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 60.
79

Figura 51 – © Bettmann / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 66.
80

Figura 52 - © Hulton-Deutsch Collection / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva,


São Paulo: Duetto, n. 8, jul. 2004, p. 69.
81

Figura 53 - © Acervo da autora – Arquivos


Nacionais / Torre do Tombo – Lisboa - FONTE:
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago.
2004, p. 50.
82

Figura 54 - © AKG Berlim / Intercontinental Press - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 12, out. 2004, p. 35.
83

É o caso de um dos mapas no n° 3; intitulado “Os


caminhos de Tenochtitlán”, que mostra a atual cidade do México comparada ao
traçado original asteca, no texto de Rosario Acosta191, no n° 6 (ver figura 55); do
mapa “No deserto da Arábia”, que mostra o local e possível rota da peregrinação
de Meca para Medina, liderada por Maomé, no texto de Malek Chebel, no n° 8192
(ver figura 56); e finalmente no mapa intitulado “E Egito das dinastias faraônicas”,
que ilustra a cronologia do dossiê Egito, no n° 11, com a região do Crescente
Fértil, ou o “Vale do Nilo” (ver figura 57).
A publicação, além de desenvolver os mapas que
ilustram as páginas da revista, recorre a mapas históricos já consagrados, como na
edição n° 1 que trouxe o célebre mapa das capitanias hereditárias no Brasil, que
ilustra o ensaio de Ligia Osório Silva: “Na terra, as raízes do atraso”193.
O conjunto da iconografia analisada confirma os
objetivos iniciais de Luthero Maynard em trazer para as páginas da revista um
vasto conjunto de imagens raras e elucidativas, que complementam os textos
dialogando diretamente com os autores nas várias seções e artigos da revista.

191
A vida em Tenochtitlám: a capital do império asteca. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6,
abr. 2004, pp. 78-82.
192
As três vidas de Maomé. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 22-27.
193
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, pp. 72-77.
84

Figura 55 - © Marco Vergotti - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004,
p. 81.
85

Figura 56 - © Érika Onodera / Hugues Piolet – Tallandier - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, p. 24.
86

Figura 57 - © Érika Onodera / Hugues Piolet –


Tallandier - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 11, set. 2004, p. 37.
87

Conclusões:

A leitura das 1.200 páginas que constituíram o primeiro


ano de publicação da revista “História Viva”, relativizada com suas principais
concorrentes no mercado editorial de revistas especializadas em História, com
discurso não acadêmico, fez-nos concluir que se trata do veículo que mais prima
pela qualidade, profundidade e clareza dos textos exibidos e do renome dos
estudiosos que colaboram com as edições.
No caso de “História Viva”, essa clareza com que o
conteúdo é vazado, possibilitando a compreensão mais aproximada de um público
não especialista, não acarreta na perda de sua qualidade na avassaladora maioria
dos textos analisados, e isso se dá por um único fator determinante: o Historiador.
Este artífice da ciência histórica, construtor da disciplina
e instrumento pelo qual conduz-se seu potencial transformador, é a chave do nível
mantido pela publicação e por seu sucesso editorial.
Há casos, como o da publicação “Aventuras na História”
(Editora Abril), em que a própria editora se nega a ter em seus quadros um
Historiador, ou ainda no caso dessa mesma revista, a sequer publicar artigos de
Historiadores. A profundidade de suas argumentações, as questões levantadas e
os resultados alcançados pelos representantes desta nobilíssima ciência não
interessam a uma equipe de redação que tem como única finalidade jornalística
polemizar e trabalhar estrategicamente arquétipos e símbolos de forma mitificada
e não científica. De fato, para uma revista dessas não deve haver mesmo
Historiador: sua postura crítica, científica e estrutural não factual-linear deve
mesmo atrapalhar.
As demais revistas que concorrem com o mesmo perfil
de leitor ou possuem Historiadores em sua equipe redatorial, ou publicam matérias
de Historiadores ou ainda de profissionais não-Historiadores, mas acadêmicos
ligados a áreas afins que dominam o assunto sob enfoque.
Sem apologias, tentando manter o nível crítico e não
adjetivado que é o escopo desta pesquisa, a revista “História Viva” é a mais densa
publicação na área, pela certa utilização de profissionais da ciência histórica e pela
recorrência inclusive a renomados Historiadores internacionais, em sua grande
maioria franceses da “Historia”, de um país onde o “. . . culto à História é uma das
exigências da cidadania”194, e isso reflete diretamente no fato de “História Viva”
ser a revista de maior tiragem nesta área de publicação.
Com esse perfil de atuação, na área de nossa História
nacional a revista em linhas gerais cumpriu sua meta inicial:

194
S.n.t. Texto extraído de material promocional que antecedeu a publicação do primeiro número
na revista “História Viva”.
88

História Viva contará com a colaboração de uma equipe constituída de notáveis


historiadores e especialistas em áreas afins, preocupados em fornecer ao leitor uma
visão abrangente do país.195

Nesse caso o papel do Historiador foi da mesma forma fundamental.


Constatamos que apesar de a linguagem, conforme
dissemos e demonstramos, ser vazada com clareza, não havendo perda na
qualidade do conteúdo, não chega a qualquer qualidade de leitores. Há pré-
requisitos para sua leitura, conforme demonstram os densos textos da mais
profunda de suas seções: o dossiê, composto conforme demonstramos por
franceses em 11 dos 12 números lidos.
O público leitor francês não possui o mesmo perfil do
brasileiro.
No Brasil a decodificação da ciência e da disciplina
histórica como produção cultural atinge no mínimo a um público escolarizado ou
ainda escolar, não somente alfabetizado mas já introduzido às humanidades.
Apesar de não exigir leituras prévias nem conhecimento demasiado sobre o tema
abordado, por demonstrar um caráter pedagógico-enciclopedista, tem de haver no
mínimo interesse pela área de estudo, capacidade de reflexão crítica das questões
problematizadas a partir do tema, e capacidade de abstrair e articular as
conclusões alcançadas nos textos.
A História como produção cultural aqui estudada não
atinge o público completamente leigo, mas denuncia a existência de uma parcela
intermediária de público que pelo menos iniciou sua escolarização, mas está
excluído em grande parte do ensino superior de qualidade, como reflexo de
décadas de políticas de sucateamento das universidades públicas, as poucas ainda
a demonstrar nível de ensino superior no mínimo satisfatório em relação às
exigências e demandas de nossa sociedade.
Desta forma conseguimos entender porque “Aventuras
da História” não deseja Historiadores em seus quadros, com a finalidade de
continuar mantendo uma linguagem que se assemelha a infantilóide e que
literalmente subestima os leitores nivelando seus artigos “por baixo”; e porque
“História Viva”, que demonstra ter conquistado essa parcela intermediária de
leitores que se estabeleceu entre a cultura erudita e popular, faz uso desse
profissional, sob uso as vezes não tão fluente, mas ainda assim com sucesso, de
um discurso também intermediário.
A existência dessa fatia de leitores “apaixonados por
história” no público consumidor do mercado editorial no mundo deita raízes
longínquas, pelo menos até a renascença, onde, segundo François Dosse

Um público apaixonado por história pretende alimentar suas convicções políticas e


nacionais e satisfazer sua curiosidade em relação à Antigüidade e às origens da
França.196

195
Ibid.
196
DOSSE, François. A História, Bauru: EDUSC, 2003, p. 27.
89

Seriam essas as nossas “novas-velhas” motivações?


Isso explicaria o fenômeno assistido nas bancas do Brasil em 2003 e durante todo
o século XX na Europa?
Não! Apesar de estarmos carentes ainda do
estabelecimento de nossa identidade de “povo brasileiro”, como se estivéssemos
perdidos em uma sala de espelhos por não termos sido convencidos nem por
aquela identidade construída pelo IHGB no final do século XIX, nem pelos
românticos modernistas de 1920, o fenômeno não ocorreu somente no Brasil: foi
relido e aqui.
O fenômeno da “paixão” pela História, ou pelo
conhecimento de seu passado, se estabelece exatamente pela lacuna gerada na
ausência deste. Ou seja, o indivíduo carece por conhecer-se na sua totalidade pois
o atual ciclo sistêmico do capital, alienante no escopo de desarticular a tomada de
consciência de classe que ameaça o modo de produção vigente, dilacerou o tecido
social formando, conforme dissemos na parte introdutória deste ensaio, indivíduos
egocentrados, desconexos de sua condição social e de classe, e assim
desconectados tanto de seu próprio passado como da memória coletiva deste.
A procura desse passado nas bancas de jornal e
livrarias é a tentativa de restabelecimento desta conexão, buscada até mesmo nas
telas de cinema e em documentários de televisão.
O indivíduo torna-se assim um simples espectador da
História, desconhecendo fazer parte desse teatro de roteiro dialético,
desconhecendo que pode interagir e interferir no enredo que é escrito a cada
instante. Ao pensar que o roteiro de sua vida, de sua sociedade, de seu mundo
não está em suas mãos, conforma-se com o roteiro já escrito ou pelos deuses ou
pelos homens intocáveis do poder.

A globalização, que seria a utopia possível, transformou-se em


pesadelo. Erraram os profetas da mundialização e os que apostaram na morte da
História. Ela caminha por rupturas e passa ao largo das continuidades – sua trajetória
é pontuada por fogueiras queimando inteligências e dissenções, e também pela
beleza imperecível da cultura clássica.
História Viva tem a missão de repensar o passado, esquadrinhar a
nossa memória coletiva, encontrar os pontos de ruptura, identificar os episódios que
anunciaram uma mudança radical no curso da História.197

Nada de novo fizemos então a não ser reforçarmos


nossa hipótese de resultado proposta na introdução. Por que então discorremos
tantas linhas? Nada mais do que anunciar essa nova esfinge que se agiganta com
um novo enigma para o homem contemporâneo: em que lugar chegará o Homem
que persegue seu passado por não mais conhecê-lo?

197
S.n.t. Trata-se de um texto de Luthero Maynard, então editor da publicação, vinculado em
material de divulgação que antecedeu ao lançamento do primeiro número de “História Viva” em
novembro de 2003.
90

Entre o hoje e o passado histórico existe o abismo do


desconhecimento, da não-História – o espaço negativo onde tudo se anula -, sobre
o qual esse mesmo homem caminha se equilibrando em um frágil fio, que não se
sabe se o levará até o seu destino final.

Bibliografia:

BURKE, Peter (org.). A escrita da História, novas perspectivas. São Paulo: UNESP,
1992.

CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História, ensaios de


teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

DOSSE, François. A História, Bauru: EDUSC, 2003.

DURANT, Will. História da Filosofia, Vida e idéia dos grandes Filósofos, São Paulo:
Editora Nacional, 1956.

HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos. O breve século XX, 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.

Revistas e periódicos:

História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003.


____________, _________: ______, n. 2, dez. 2003.
____________, _________: ______, n. 3, jan. 2004.
____________, _________: ______, n. 4, fev. 2004.
____________, _________: ______, n. 5, mar. 2004.
____________, _________: ______, n. 6, abr. 2004.
____________, _________: ______, n. 7, maio 2004.
____________, _________: ______, n. 8, jun. 2004.
____________, _________: ______, n. 9, jul. 2004.
____________, _________: ______, n. 10, ago. 2004.
____________, _________: ______, n. 11, set. 2004.
____________, _________: ______, n. 12, out. 2004.
____________, _________: ______, n. 14, dez. 2004.
____________, _________: ______, n. 19, maio 2005.

Dicionários:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da Língua


Portuguesa. São Paulo: Folha de São Paulo / Editora Nova Fronteira, 1995.
__________. Pequeno dicionário brasileiro da Língua Portuguesa. S/l: Gamma, s/d.
91

Manuais de Metodologia:

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo:


Cortez, 2002.

Material em DVD:

Alexandre. Dir. Oliver Stone. Intermédia Films. EUA. São Paulo, 2005, 2 DVD’s
(164 min.), son., col.

Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl. Dir. Gore Verbinski. Walt
Disney Pictures / Touchstone Pictures / Jerry Bruckheimer Films. EUA. Buena Vista
Pictures, EUA, 2003. 1 DVD (143 min.), son., col.

Tróia. Dir. Wolfgang Petersen. Warner Bros. Pictures. EUA. Warner Home Vídeo
Inc., São Paulo, 2004. 2 DVD’s (163 min.), son., col.

Documentos e dados da rede Internet:

www.historiaviva.com.br
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS
HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

DISCIPLINA: FLH 401 – TEORIA DA HISTÓRIA I


RESPONSÁVEL: PROF.ª DR.ª RAQUEL GLEZER

PERÍODO: NOTURNO

TRABALHO

DESVENDANDO A “DESVENDANDO”.
Análise do mercado de revistas com temática histórica e da
revista “Desvendando a História”.

ALUNOS:

BEATRIZ RODRIGUES DE SOUZA


N.º USP 3771455

GILSON BRANDÃO DE OLIVEIRA JÚNIOR


N.º USP 3718361

IRACI OLIVEIRA RODRIGUES


N.º USP 4930700

PAULO HENRIQUE SELBMANN SAMPAIO


N.º USP: 1394670

VANESSA PAOLA ROJAS FERNANDEZ


N.º USP: 4877614

24/06/2005
ÍNDICE

1. PROPOSTA DA PESQUISA............................................................... 3

2. INTRODUÇÃO .................................................................................... 3

3. ANÁLISE DA REVISTA “DESVENDANDO A HISTÓRIA” ............... 10

4. FICHAMENTO DOS EXEMPLARES ................................................. 11

4.1. SEÇÃO “POR DENTRO”...................................................... 11


4.2. SEÇÃO “ACONTECEU EM” ................................................ 13
4.3. SEÇÃO “DESVENDE” ......................................................... 14
4.4. SEÇÃO “ESTUDO DO MEIO” ............................................. 16
4.5. SEÇÃO “PASSADO E PRESENTE” ................................... 17
4.6. SEÇÃO “HISTÓRIA & ARTE” ............................................. 18
4.7. SEÇÃO “IMPRENSA & HISTÓRIA” .................................... 19
4.8. SEÇÃO “HISTÓRIA ILUSTRADA” ...................................... 20
4.9. SEÇÃO “CLÁSSICOS DA HISTÓRIA” ................................ 22
4.10. SEÇÃO “OUTRAS PERSONAGENS” ............................... 23
4.11. SEÇÃO “EU ME LEMBRO” ............................................... 25
4.12. SEÇÃO “OFÍCIO DO HISTORIADOR” .............................. 27
4.13. SEÇÃO “NOVIDADES” ...................................................... 28
4.14. SEÇÃO “HISTÓRIA NA SALA DE AULA” ........................ 29
4.15. ARTIGOS DA EDIÇÃO Nº 1 ............................................... 30
4.16. ARTIGOS DA EDIÇÃO Nº 2 ............................................... 32
4.17. ARTIGOS DA EDIÇÃO Nº 3 ............................................... 37
4.18. ARTIGOS DA EDIÇÃO Nº 4 ............................................... 38

5. CONCLUSÃO ..................................................................................... 40

6. REFERÊNCIAS .................................................................................. 40

2
1. PROPOSTA DA PESQUISA

Movidos pela proposta de pesquisa sobre a divulgação do conhecimento


histórico por meio de publicações de grande circulação, tais como revistas e
coleções, desenvolvemos o presente trabalho que parte de uma análise global
do mercado de revistas com temática histórica para a análise particular de uma
destas publicações, a revista “Desvendando a História”, da editora Escala
Educacional, cuja seleção foi fomentada por tratar-se de um dos títulos mais
recentes neste nicho em franco desenvolvimento e seu ainda curto período de
circulação, garantiu uma análise de todos os quatro exemplares existentes,
editados entre agosto de 2004 e abril de 2005.

2. INTRODUÇÃO

A partir do segundo semestre do ano de 2003, verificou-se no Brasil a


publicação de um número crescente de revistas sobre História voltadas para o
grande público. Embora seja um fenômeno novo entre nós, publicações desta
natureza circulam já há várias décadas em outros países.

A mais tradicional revista deste segmento intitula-se “Historia” e é publicada


mensalmente na França pela Le Point Communication, sediada em Paris. A
revista francesa nasceu em dezembro de 1909 e chega aos nossos dias com
uma tiragem de 140.000 exemplares, uma difusão de 100.023 exemplares e
um público estimado em 1.180.000 leitores, segundo dados fornecidos pela
editora em sua página na Internet.

Na Espanha, a revista “Historia y Vida” foi lançada em 1968 e é publicada


mensalmente pela Mundo Revistas, empresa do grupo Godó, sediada em
Barcelona e declara uma difusão de 52.373 exemplares.

No Brasil, a publicação de revistas sobre História é um fenômeno muito


recente, embora possua um antecedente importante: as grandes coleções da
editora Abril vendidas nas bancas de jornal em fascículos semanais.

Em 1973, a editora lançou os fascículos da coleção “Grandes Personagens da


Nossa História”, cuja coordenação geral foi confiada a Sérgio Buarque de
Holanda. A coleção reuniu em seus quatro volumes biografias de uma série de
personalidades, pinçadas desde o período colonial e cujo exemplo, nas
palavras do editor Victor Civita, desejava-se “projetar no futuro das gerações,
como lição e incentivo”. Além dos quatro volumes contendo as biografias dos
heróis da nação, a coleção incluía um volume contendo uma série de mapas
históricos.

Ricamente ilustrada e elaborada com rigor, esta coleção possuía um caráter


enciclopédico e destinava-se às solenes estantes de livros e aos trabalhos
escolares.

Sete anos depois, a mesma editora lançou uma nova coleção em fascículos.
Seu alvo era “a história viva” e destinava-se a “todos que sabem que o passado
é uma importante lição, que a história é a mestra da vida e que a síntese torna

3
menos árdua a tarefa de aprendê-la”. “Nosso Século”, como o próprio nome já
dizia, recortava brevemente o final do século XIX e avançava pelo século XX,
até os estertores do regime militar. Sob a supervisão geral de Alexandre Eulálio
Pimenta da Cunha e consultoria de Paulo Sérgio Pinheiro e Sérgio Buarque de
Holanda, a coleção apresentava ao grande público uma perspectiva diferente
do que se havia visto até então, contando “de forma inédita e fascinante a
história de todo um povo: política, economia, cultura, vida cotidiana, evolução
social, hábitos e costumes”. Era “o Brasil no século XX, de corpo inteiro”.

Enquanto comprava os fascículos semanais, para completar os quatro volumes


de “Nosso Século”, o colecionador ia recebendo edições fac-similares de
jornais de época, das diferentes datas comemorativas do Brasil, a partir do final
do século XIX, enquanto que a terceira e quarta capas comporiam ao final uma
coletânea de anúncios publicitários do período.

Fazia também parte da coleção um disco contendo documentos sonoros, que


incluíam desde a primeira gravação de Patápio Silva, passando pela
propaganda radiofônica das “pílulas de vida do Dr. Voronoff” e até fragmentos
de discursos de políticos, como Getúlio Vargas.

Mas novamente, predominava o formato enciclopédico: “Nosso Século” era


ainda uma obra de referência.

Foram necessários mais 23 anos para o surgimento da primeira revista


brasileira voltada para o grande público e dedicada exclusivamente à História.

Ela surgiu como um desdobramento da principal revista do segmento que a


Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER) denomina “área de
conhecimento”, englobando todas as ciências biológicas, exatas e humanas.

Lançada em 1987, “Superinteressante” é fruto de uma parceria estabelecida


pela Abril com a editora alemã Gruhner und Jahr e contém matérias sobre
diferentes áreas do conhecimento humano.

Considerado o período de janeiro e dezembro de 2003, segundo dados do


Instituto Verificador de Circulação (IVC), divulgados pela ANER,
“Superinteressante” detém a terceira maior circulação mensal do Brasil, com
401.347 exemplares. Acima dela estão “Nova Escola”, da própria Abril, em
segundo lugar com 403.482 exemplares e a líder, “Seleções do Reader’s
Digest”, com uma circulação média de 502.638 exemplares.

Segundo Adriano Silva, diretor de redação da “Superintessante”, em entrevista


concedida a “Em Revista”, periódico da ANER, foi a partir de pedidos
constantes dos seus leitores, que solicitavam um maior número de páginas
destinadas à História, que a empresa constatou a existência de uma demanda
por uma publicação específica, lançando a revista “Aventuras na História”, em
setembro de 2003.

E logo, já em novembro de 2003, outras editoras lançaram-se na empreitada


histórica: a editora Duetto, associada aos franceses da Le Point

4
Communication, introduziu seu título, “História Viva”, enquanto que numa
parceria com a Biblioteca Nacional, a editora Vera Cruz lançou “Nossa
História”.

Após quase dois anos de circulação das três primeiras revistas dedicadas
exclusivamente à História, tivemos em abril de 2005, segundo dados fornecidos
pela ANER, uma média de circulação de 41.884 exemplares para a revista
“História Viva”, 40.442 exemplares para “Aventuras na História” e 37.493
exemplares para a revista “Nossa História”. A média informada para
“Superinteressante” foi de 375.745 exemplares.

Mas quem são esses leitores?

Numa edição especial intitulada “Revistas em Números”, com base no Censo


2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estimativas, a
ANER estabeleceu que o número de leitores de revistas representa 14% da
população brasileira. Considerando o número de 179.113.540 habitantes em
2004, o universo brasileiro de leitores de revistas é de aproximadamente
25.075.896 pessoas.

Esta edição especial da ANER apresenta dados dos “XLV Estudos


Consolidados” da empresa Marplan, identificando o perfil dos consumidores de
revistas por classe econômica. Segundo este estudo, feito em 2003, a classe A
engloba 14% deste público consumidor, enquanto 36% pertencem à classe B,
33% à classe C, 15% à classe D e apenas 2% são enquadrados na classe E.

Segundo a Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (ANEP), esta


classificação baseia-se num sistema de pontos, calculado pela posse de bens
e pela instrução do chefe da família. O sistema foi batizado de Critério de
Classificação Econômica Brasil (CCEB), e atribui a seguinte pontuação aos
bens e à instrução:

SISTEMA DE PONTOS
Posse de itens

NÃO TEM
TEM 1 2 3 4 OU +
Televisão em cores 0 2 3 4 5
Rádio 0 1 2 3 4
Banheiro 0 2 3 4 4
Automóvel 0 2 4 5 5
Empregada mensalista 0 2 4 4 4
Aspirador de pó 0 1 1 1 1
Máquina de lavar 0 1 1 1 1
Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2 2
Geladeira 0 2 2 2 2
Freezer (aparelho 0 1 1 1 1
independente ou parte
da geladeira duplex)

5
SISTEMA DE PONTOS
Grau de Instrução do chefe de família

Analfabeto / Primário incompleto 0


Primário completo / Ginasial 1
incompleto
Ginasial completo / Colegial 2
incompleto
Colegial completo / Superior 3
incompleto
Superior completo 5

A partir da somatória, são definidos os seguintes cortes:

CORTES DO CRITÉRIO BRASIL

CLASSE PONTOS TOTAL BRASIL (%)


A1 30 - 34 1
A2 25 - 29 5
B1 21 - 24 9
B2 17 - 20 14
C 11 - 16 36
D 6 - 10 31
E 0-5 4

Isto corresponde, segundo dados da ANEP, às seguintes rendas familiares por


classes:

CLASSE PONTOS RENDA MÉDIA


FAMILIAR (R$)
A1 30 – 34 7.793
A2 25 – 29 4.648
B1 21 – 24 2.804
B2 17 – 20 1.669
C 11 – 16 927
D 6 – 10 424
E 0–5 207

Com base nestes dados, vemos que 50% das pessoas do universo total
estimado de consumidores de revistas possuem uma renda familiar média igual
ou superior a R$1.669,00.

Das três editoras de revistas exclusivamente históricas consideradas até o


momento, apenas a Abril divulga o perfil de seus leitores e a circulação de suas
revistas na página da Internet voltada para seus anunciantes.

Porém, considerada a similaridade dos números médios das três publicações


históricas em pauta e a participação de mercado da Abril, que foi de 48% em

6
exemplares de revistas no ano de 2003, segundo dados da ANER,
aparentemente temos números significativos.

Para “Superinteressante”, a Abril apresenta os seguintes dados:

Perfil do Leitor
Idade Sexo Classe Social
59% têm entre 18 e 39 homens: 57% Classe A: 30%
anos mulheres: 43% Classe B: 50%
Classe C: 17%
Fonte: XLVI Estudos Marplan – 2004 - Consolidado 2004 - 9 mercados

Circulação
Tiragem: 458.000 exemplares
Circulação líquida: 382.000 exemplares
Assinaturas Avulsas Exterior
261.000 121.000 23
Circulação por regiões: Centro-oeste 8%, Nordeste 17%, Norte 5%, Sudeste
49% e Sul 21%
Fonte: IVC - fev/05

Comparativamente, para “Aventuras na História” temos:

Perfil do Leitor
Idade Sexo Classe Social
47% têm entre 15 e 34 homens: 42% Classe A: 18%
anos mulheres: 58% Classe B: 50%
Classe C: 21%
Fonte: XLVI Estudos Marplan – 2004 - Consolidado 2004 - 9 mercados

Circulação
Tiragem: 82.000 exemplares
Circulação líquida: 51.000 exemplares
Assinaturas Avulsas Exterior
31.000 20.000 -
Circulação por regiões: Centro-oeste 8%, Nordeste 20%, Norte 6%, Sudeste
47% e Sul 19%
Fonte: IVC - fev/05

É bastante interessante verificar as diferenças que existem nos perfis dos


leitores destas duas revistas inter-relacionadas:

• A faixa etária da maioria dos leitores de “Aventuras na História” é menor.


• Há um maior número de leitoras do sexo feminino no público de
“Aventuras na História”.
• Há um desvio no número de leitores de “Aventuras na História” para as
classes de menor poder aquisitivo.

7
• Embora a maior concentração de leitores esteja nas regiões Sudeste e
Sul, há um incremento do número de leitores de “Aventuras na História”
na região Nordeste.

A editora Vera Cruz forneceu dados sobre o perfil do público de “Nossa


História”, resultado de pesquisa encomendada ao Instituto Qualibest e
referente ao período de maio a junho de 2004.

Os leitores do sexo masculino representam 64% do público.

A escolaridade está distribuída da seguinte maneira: ensino médio 19%, ensino


superior 47%, mestrado e doutorado 35%.

Com relação à renda, 18% dos leitores possuem renda até R$1.000,00; 41%
entre R$1.001,00 e R$3.000,00; 20% tem rendimentos entre R$3.001,00 e
R$5.000,00 e outros 20% aparecem com renda superior a R$5.000,00.

A maior parte dos leitores, num percentual de 66%, está na faixa etária dos 21
aos 40 anos.

Segundo a editora Duetto, 73% dos leitores de “História Viva” são do sexo
masculino. Na distribuição dos leitores por classe, temos que 26% pertencem à
classe A, 48% são da classe B e 19% enquadram-se na classe C.

Quanto à faixa etária, os leitores de “História Viva” distribuem-se de acordo


com a seguinte tabela:

FAIXA ETÁRIA PERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO


até 19 anos 8%
entre 20 e 24 anos 12%
entre 25 e 29 anos 15%
entre 30 e 34 anos 12%
entre 35 e 39 anos 13%
entre 40 e 44 anos 10%
entre 45 e 49 anos 8%
entre 50 e 54 anos 8%
entre 50 e 59 anos 5%
60 anos ou mais 9%

De maneira similar ao público da “Nossa História”, a maior parte dos leitores,


num percentual de 62%, está na faixa etária dos 20 aos 44 anos.

Vemos então que a maior parte do público das revistas “Nossa História” e
“História Viva” está numa faixa de maior idade, que se inicia entre os 19 e 20
anos, enquanto que o público da “Aventuras na História” é mais jovem,
incluindo em suas fileiras leitores de 15 anos. Como apresentamos
anteriormente, esta diferença manifesta-se também em relação à
“Superinteressante”.

8
Apenas a editora Vera Cruz levantou dados sobre a escolaridade de seu
público, que concentra-se pesadamente nas instituições de ensino superior. O
conteúdo editorial, calcado na produção acadêmica, poderia explicar isto e
explicaria também o público de “História Viva”, já que por sua associação com
a “Historia” francesa, beneficia-se da produção de expoentes da historiografia
francesa, como George Duby, autor presente na edição de abril de 2005.
“Aventuras na História”, por outro lado, segue a linha editorial de
“Superinteressante”, que “sempre teve um jeitão bem brasileiro, com
informações leves, fáceis de digerir e com o humor sempre presente, marca
registrada do nosso país”. Deste maneira, estes títulos tornam-se mais
acessíveis aos alunos do ensino médio.

Porém, a hipótese do ensino superior, aventada inclusive pela própria editora


Duetto, quando do contato para coleta das presentes informações, vai de
encontro à questão da distribuição dos leitores por sexo.

O Ministério da Educação (MEC) informou para o ano de 2003, um total de


3.887.022 matrículas em cursos de graduação presenciais no Brasil, sendo
1.693.776 matrículas masculinas contra 2.193.246 matrículas femininas. O
número de concluintes em cursos de graduação presenciais foi em 2003 da
ordem de 528.223, com 198.912 concluintes do sexo masculino contra 329.311
concluintes do sexo feminino.

Resultados do Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de História da


Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo, que busca estabelecer “um conhecimento mais aprofundado do perfil do
aluno de História” poderiam ajudar-nos a esclarecer este ponto. Existiria um
desvio considerável na distribuição por sexo dos alunos de graduação e pós-
graduação em História? Entretanto, o MEC não aponta História como um curso
no qual ocorra um desvio considerável, quer em favor do sexo feminino, quer
em favor do sexo masculino.

Além disso, o estudante de História não é a chave para esta questão. A Le


Point Communication, editora da quase centenária “Historia”, aponta em sua
página na Internet o resultado de uma pesquisa na qual a História surge em
nono lugar entre 56 áreas de interesse do público francês. Há ao que tudo
indica um grande público interessado no tema, grande suficiente para produzir
o desdobramento de um título da maior editora brasileira e para fomentar o
lançamento de um número considerável de publicações similares em um curto
período.

Os dados disponíveis e as metodologias aplicadas até o momento são


insuficientes para o real conhecimento do público destas revistas. A
metodologia para estabelecimento das classes A, B, C, D e E é por demais
voltada à sua possibilidade de consumo para permitir uma caracterização
adequada do público.

9
Mesmo a iniciativa da editora Vera Cruz, a única que ofereceu dados sobre a
escolaridade de seu público, não identifica qual curso de graduação seus
alunos freqüentaram.

Uma conclusão não é possível à luz destes elementos e constata-se portanto,


a necessidade de uma investigação mais profunda, pelo próprio interesse
profissional que este possível campo de trabalho representa para o historiador.

3. ANÁLISE DA REVISTA “DESVENDANDO A HISTÓRIA”

Em meio ao cenário descrito acima, ainda não muito claro, surge um título
bimestral da editora Escala Educacional, que avança no bimestre corrente para
o seu quinto número.

É importante observarmos que esta empresa foi fundada com base num projeto
específico para a área educacional, editando um amplo catálogo de
publicações didáticas e paradidáticas. Desta maneira, “Desvendando a
História” é lançada como parte de um projeto maior, juntamente com a revista
“Discutindo a Geografia”, voltada para o ensino médio e hoje, estas duas
edições somam-se aos títulos “Discutindo Literatura”, “Discutindo Ciência”,
“Discutindo Arte” e “Discutindo Educação Física”, que “pretendem se tornar um
fórum para a discussão de temas essenciais à formação intelectual do
estudante”.

De maneira distinta em comparação às suas concorrentes nas bancas de


jornal, a Escala Educacional trabalha num nicho mais específico, composto
majoritariamente pelos professores e alunos do ensino médio. A empresa
aposta na sua percepção de que a “revista só chega ao aluno se o professor
indicar”. Assim, os representantes de vendas da Escala Educacional levam as
revistas aos professores, para que estes a adotem como material de aula. A
própria escolha da periodicidade bimestral foi feita em razão deste público e do
calendário escolar. Adicionalmente, sua presença na banca possibilita o
contato com um público maior. A revista chega ao seu quinto bimestre com
uma tiragem média de aproximadamente 40.000 exemplares e uma circulação
média de aproximadamente 15.000 exemplares, segundo dados fornecidos
pela própria empresa.

Sob a coordenação do historiador Marquilandes Borges de Sousa,


“Desvendando a História” diferencia-se de “Aventuras na História” pelo seu
conteúdo sério: nela não temos matérias jornalísticas e sim textos elaborados
por historiadores. Ao mesmo tempo, opõe-se a “Nossa História” pela adoção de
textos mais acessíveis e inova ao abrir seu espaço para a manifestação de
todos os profissionais da História e não apenas aos acadêmicos. Entretanto, há
seções de caráter interdisciplinar, abertas a especialistas de outras áreas.

Este perfil profissional garante textos de qualidade, com linguagem elaborada,


porém acessível. Observa-se apenas que os textos redigidos por professores
que militam nos cursos pré-vestibulares são propensos a maiores
generalizações. Há que ressaltar neste ponto, o caráter didático, visto que o

10
grande público da revista está no ensino médio, daí a abordagem voltada para
o conteúdo programático, com menor grau de problematização histórica.

Brasil e América Latina predominam na pauta da revista, abrindo uma nova


temática em relação às concorrentes “Aventuras na História” e “História Viva”,
quer apresentam uma temática eurocêntrica. Esta proposta de abordagem
latino-americana abre um novo campo de comunicação e troca de
conhecimento, ampliando a possibilidade de envolvimento do público alvo com
este tema.

Nas páginas de “Desvendando a História” predominam temas políticos,


seguindo uma linha paralela ao conteúdo programático do ensino médio, o que
de certa forma restringe o campo de abordagem histórica, mas ainda assim a
revista busca diversificar a relação da História com outras áreas. Exemplo
disso são as seções “Fique por dentro”, “Imprensa e História”, “História e Arte”
e “Estudo do Meio”.

Visitação a museus, as fotografias, os filmes, as músicas, os arquivos e a


pesquisa em páginas da Internet aparecem na revista como outros meios de
apresentar a História ao leitor. Nesse sentido, a revista contribui muito, pois no
ensino tradicional, a História fica confinada aos manuais didáticos.

Com relação ao uso da imagem, em algumas situações, verifica-se um caráter


predominantemente ilustrativo, que está sendo superado com a evolução dos
números da revista. A carência de legendas em algumas imagens dos
exemplares analisados dificulta seu vínculo direto com o texto, mas embora
desperte a curiosidade do leitor, deixa-a insatisfeita.

Há uma certa carência de fontes primárias e de mapas, que poderiam ampliar a


compreensão do texto, mas há que observar-se o nível de especialização do
público pretendido e a própria limitação do acervo de imagens da editora,
conforme informado pelo coordenador da revista.

As capas, ao contrário das concorrentes nas bancas, não se apoiam nos


grandes lançamentos cinematográficos para impulsionar suas vendas, mas há
uma sintonia da temática com os temas históricos do período.

4. FICHAMENTO DOS EXEMPLARES

Os exemplares da revista “Desvendando a História” foram fichados


obedecendo-se a organização das seções e os artigos publicados são
discutidos ao final. Esse fichamento permite uma visão geral da publicação.

4.1. SEÇÃO “POR DENTRO”

Esta seção apresenta aos leitores alguns museus, suas características físicas,
como arquitetura, localização; suas características históricas e, claro, suas
exposições. Talvez tenha como objetivo incentivar a visitação aos museus
brasileiros, já que nos três primeiros números, são apresentados: o Museu da
Casa Brasileira, em São Paulo, SP; Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, PE

11
e o Museu Paranaense, em Curitiba, PR. Já na edição de nº 4, foi apresentado
aos leitores o Museu do Prado, em Madri, quebrando a série de museus
brasileiros. A seção “Por Dentro” está sempre localizada entre as páginas 6 e
7, primeira seção da revista.

Ano I, edição de nº 1, Agosto/ Setembro de 2004


Autora: Erika Sallum
Características: O nome da seção ganha destaque, em vermelho, ocupa a
extremidade das duas páginas da seção. O título se encontra na primeira
página, a esquerda. Há sete imagens que se dividem entre as páginas, uma
delas sendo uma foto do museu, e as restantes sobre as obras e objetos
expostos. A autora descreve o museu fisicamente, sua história, suas peças e
obras em exposição. Na estrutura do artigo, o título ganha destaque em
vermelho localizando-se nas bordas das duas páginas. As bordas são de cor
bege e contém uma moldura que remetem a um quadro antigo, o fundo do
texto é branco. O artigo contém sete imagens, uma fotografia de sua fachada e
seis imagens de objetos e obras de seu acervo.

Ano I, edição de nº 2, Outubro/ Novembro de 2004


Autor: Não vem expresso, segundo informação obtida junto à revista, todas as
vezes que não for informado o nome do autor, o texto será de autoria de
Marquilandes Borges.
Características: O autor faz uma brevíssima biografia sobre Joaquim Nabuco,
sendo a Fundação em sua homenagem, após isso descreve a história de sua
fundação, características físicas e seus acervos. O artigo contém quatro
imagens distribuídas nas duas páginas, sendo elas duas fotografias da
fachada, uma de seu interior e uma pintura de Joaquim Nabuco. Na estrutura
do artigo, o nome da seção ganha destaque, sendo escrito em vermelho e
localizado nas bordas, somente primeira página do artigo. As bordas são de cor
bege e contém uma moldura que remetem a um quadro antigo. O plano de
fundo do texto é uma imagem texturizada na cor bege.

Ano I, edição de nº 3, Fevereiro/ Março de 2005


Autora: Erika Sallum
Características: A autora faz uma breve descrição de sua história, passando
para as áreas de estudo, exposições, descrição física e arquitetura. O artigo
contém seis imagens distribuídas nas duas páginas, três são fotografias de
espaços e exposições e três são imagens de objetos e obras de seu acervo. A
estrutura do artigo segue as características do número anterior.

Ano I, edição de nº 4, Abril/Maio de 2005


Autora: Índigo
Título: Museu do Prado
Características: A autora descreve a importância das obras expostas no museu
para a arte espanhola e também italiana, já que contém "obras primas" de
pintores consagrados. A partir daí, faz um balanço sobre as obras do museu,
passando pela sua arquitetura e estruturas internas. No final, disserta sobre a
história do museu, segundo ela, o mais importante da Espanha.

12
Nesta quarta edição, esta seção se diferencia das demais por tratar-se de um
museu fora do país, já que as três primeiras seções tratam de museus
brasileiros. Traz também uma diferenciação nas bordas que, nas três primeiras
seções eram de cor bege, e nesta edição, as bordas são de cor amarela, mas
conservando a moldura em torno das mesmas, remetendo a um quadro antigo.

O artigo contém quatro imagens distribuídas nas duas páginas, três são de
famosas obras expostas no museu e uma da fachada do museu, o fundo é
bege, como as seções anteriores, o caráter do texto é dissertativa.

4.2. SEÇÃO “ACONTECEU EM”

Essa seção traz datas históricas com um excerto sobre o assunto, as datas
correspondem a acontecimentos específicos ao longo do tempo, dentro do
bimestre correspondente a cada edição. A apresentação é em forma de
quadros amarelos com o texto, sobre um fundo branco com bordas beges, a
data de destaque para o dia que aparece em vermelho, esse modelo se
mantém em todos os números da revistas.

Em outras publicações do mesmo segmento esse tipo de seção sempre


aparece, variando as datas escolhidas.

No entanto essa abordagem por datas remete a um conhecer de história por


datas e marcos históricos deixando de lado todo o processo que levou a tais
acontecimentos. A objetividade pretendida das datas históricas pode
transparecer ao público uma visão reduzida e superficial de acontecimentos
muito importantes.

Os excertos que acompanham as datas são muito curtos, e só tratam da data


em si, muitas vezes caindo em chavões históricos, quando não em equívocos,
desconsiderando as novas pesquisas históricas.

Se pensarmos no público pretendido pela revista, essa seção até trás


informações, porém sem a contextualização necessária para a compreensão
histórica dos fatos.

Ano I, edição nº 1, Agosto/Setembro de 2004.


Localização:Ocupa 2 páginas, a 8 e a 9.
Autor: Não vem expresso, segundo informação obtida junto à revista todas as
vezes que não aparecer o nome do autor, o texto será de Marquilandes
Borges.
Características: o nome da seção ganha destaque com caracteres
diferenciados das demais seções, e ocupa a extremidade superior das duas
páginas. São 12 quadros com datas e excertos, com distribuição aleatória
pelas páginas. Conta com seis imagens pequenas, relacionas com algumas
datas expostas, a maioria fotografias.
Comentários: A maioria das datas escolhidas são do século XX, e da segunda
metade do mesmo.

13
Ano I, edição n º 2, Outubro/Novembro de 2004
Localização: Ocupa 2 páginas, a 8 e a 9.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: O nome da seção vem em formato itálico. São 10 os quadros
com as datas e excertos. Além de mais quatro imagens – 1 fotografia e 3
gravuras – distribuídas 2 cada página.
Comentário: No quadro sobre a Revolução Praieira foi dito que esta seria a
última Revolução do Império (do Brasil), no entanto a historiografia já não mais
afirma isso, devido a estudos mostrarem que outras revoltas aconteceram. Vale
lembrar que a historiografia usa indiscriminadamente os termos revolução e
revolta para os levante após a independência.

Ano I, edição nº 3, Dezembro/Janeiro de 2004/2005


Localizacao: Ocupa duas páginas, a 8 e a9.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: O nome da secão aparece em itálico./ É composta por 12
quadros com excertos, e mais 4 pequenas fotografias.
Comentários: Três das fotografias são de personalidades,Fidel Castro, George
W.Bush e Chico Mendes, isso mostra o quanto a revista da preferencia a
assuntos políticos. Também chama a atencão com uma data recente em meio
a tantas outras centenárias, a posse do presidente Bush em 20 de janeiro
de2001.

Ano I, edição nº 4, Março/Abril de 2005.


Localização: Ocupa as páginas 8 e 9.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: São 10 quadros de datas com excertos, com 3 imagens que
localizadas só na página 9. A distribuição dos quadros é sobreposta.
Comentários:As datas na maioria são de acontecimentos da história do Brasil.
As imagem são de personagens conhecidos e em forma de retrato, dando a
impressão de que aquelas pessoas que fizeram a história.

4.3. SEÇÃO “DESVENDE”

A seção “Desvende” traz a fotografia de momento (instante captado pela


fotografia) que está dentro de um acontecimento histórico maior, e juntamente
com um pequeno texto propõe, ao leitor que “adivinhe” ou “desvende” qual o
acontecimento histórico em questão. A resposta é dada na penúltima página da
revista, apenas com o nome atribuído ao acontecimento.

A idéia de interagir com o leitor, testando o seu conhecimento de alguma forma


é bem interessante, e a utilização da fotografia facilita a aproximação do leitor
com uma forma de documento histórico. Mas não é bem como documento
histórico que a fotografia é trata nessa seção, pois o texto não indica nenhuma
forma de análise para o leitor seguir, deixando tudo a cargo da adivinhação.
Mesmo que o público pretendido pela revista seja o não especializado,
pequenos indicativos de análise poderiam ser fornecidos.

Quanto à resposta sobre de qual acontecimento histórico é aquela imagem, a


resposta que vem em poucas palavras, nada diz sobre o acontecimento além

14
da denominação do mesmo. Poderia ser feito ao menos um breve resumo
sobre o assunto, pois senão fica novamente a impressão de que a História é
feita de datas e denominação de acontecimentos, deixando de lado o longo
processo por traz dessa abordagem quase que factual.

Ano I, edição nº 1, Agosto/Setembro de 2004


Localização: Após o primeiro artigo, seção de página dupla,16 e 17.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges).
Características: O tema é a Revolução Cubana, a fotografia tem tonalidade
sépia, as bordas são largas e brancas. O texto é curto e fica na parte superior
da página 16. Os maiores indícios são dados pela fotografia, onde aparece a
bandeira cubana e soldados armados com expressão de felicidade.
Comentários: O texto não oferece muita informação para o leitor, sendo nesse
caso um auxiliar pouco proveitoso.

Ano I, edição nº 2, Outubro/Novembro


Localização: Após o primeiro artigo, seção de página dupla, 14 e 15.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: O tema é o enterro de John Lenon. São duas fotografias da
multidão, aparece uma pessoa com um cartaz, e a inscrição em inglês é
traduzida em uma pequena legenda ao lado da fotografia. O texto aparece na
parte superior da página 15 e também não é grande.
Comentários: Por se tratar de uma imagem de multidão o texto é mais
indicativo para facilitar o leitor a descobrir de qual evento se trata, o elemento
da fotografia que mais indica qual é o evento em questão e o cartaz (que foi
traduzido). Por não oferecer formas de análise de fotografia, as imagens
sempre trazem elemento explícitos sobre o acontecimento.

Ano I, edição nº 3, Dezembro/Janeiro de 2004/2005


Localizacao: Após o primeiro artigo, secão de página dupla,16 e 17.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: Umaúnica fotografia de página dupla, em preto e branco, que
destaca soldados em um invasão por mar. O tema é o Dia D. O texto é pouco
esclarecedor mas carregado de julgamentos favoravéis a respeito da guerra.
Comentários: Este é um dos poucos casos em que o autor se posiciona,
mesmo que expressamente, sobre um determinado assunto, que no caso é de
grande importância histórica.

Ano I, edição nº 4, Março/Abril de 2005


Localização: Após o primeiro artigo, seção de página dupla, 14 e 15.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: O tema é a Conquista da Copa do Mundo de 1970. Uma
fotografia de página dupla mostra a multidão nas ruas com muitas bandeira do
Brasil, outras duas pequenas fotografias aparecem na lateral esquerda da
página 14.
Comentários: O texto faz referência a outros assuntos que envolviam a
conquista da Copa do Mundo, como a manipulação da população pelo governo
militar. Esse texto foi feliz nas suas indicações, no entanto demais textos dessa
seção não tinham a mesma qualidade.

15
4.4. SEÇÃO “ESTUDO DO MEIO”

Esta seção, que se inicia apenas na segunda edição da revista, tem como
objetivo a troca de experiências entre professores do ensino médio e
fundamental, sobre como uma aula fora dos muros da escola pode ser
produtiva para o melhor entendimento dos alunos, onde possam ver a história
com seus próprios olhos. A partir daí, os professores narram suas experiências.

Esta seção, junto com a seção preenche uma das características da editora:
um caráter didático, onde outras revistas, como “Discutindo a Geografia” e
“Discutindo a Literatura” também trazem este caráter didático, como sugere
uma das propagandas da revista “Geografia e história se aprende na escola... e
também nas bancas” e também como o próprio nome da editora: Escala
Educacional.

Ano I, edição de nº 2, Outubro/Novembro de 2004


Título: História sem paredes: uma visita à fazenda.
Autor: Jackson Farias, historiador e professor de ensino médio e cursos pré-
vestibular.

Localização: A seção encontra-se na página 22, ocupando somente uma


página do lado esquerdo da revista.
Características: O autor descreve sua experiência de aula fora das paredes da
escola, numa visita à fazenda Ibiacaba, antiga propriedade do Senador Nicolau
de Campos Vergueiro, onde a atual família preserva as estruturas das
plantações de café do século XIX e as marcas da transição do trabalho escrevo
para o trabalho livre doa imigrantes europeus, Senador Nicolau de Campos
Vergueiro. O autor também indica um livro de Thomas Davatz, Memórias de
um colono no Brasil, relatando a memória de imigrantes europeus,
protagonistas desta transição.
O nome da seção ganha destaque, em vermelho, na extremidade superior da
página, estando abaixo, o título do artigo. O plano de fundo é composto por
uma fotografia da mesma fazenda. O artigo tem apenas uma imagem, além do
plano de fundo, o livro de Thomas Davatz.

Ano I, edição de nº 3, Fevereiro/ Março de 2005.


Título: Vale do Paraíba: memória e esquecimento.
Autor: Sidnei Gomes Leal, professor de história do colégio Giordano Bruno, em
São Paulo.
Localização: A seção encontra-se nas páginas 24 e 25
Características: O autor relata sua experiência com uma aula sobre o Vale do
Paraíba, no Vale do Paraíba, onde narra uma metodologia, onde os alunos
fazem um reconhecimento do dos “indícios de riqueza e opulência, em
contraste com os de pobreza e decadência que marcam a região” após isso
elaborando e sistematizando conclusões, se apropriando do ofício do
historiador, os alunos podem sentir a história.
O nome da seção ganha destaque, em vermelho, na extremidade superior da
página, estando abaixo, o título do artigo, o plano de fundo é branco. O artigo
possui cinco imagens, fotos da visita dos alunos ao Vale do Paraíba.

16
Ano I, edição de nº 4, Abril/Maio de 2005
Título: Usina de Corumbataí
Autor: Venerando Santiago de Oliveira, é físico e professor do ensino médio e
pré-vestibular.
Características: Há duas diferenças marcantes entre este artigo e os dois
artigos anteriores desta seção. O primeiro, é que Venerando não é professor
de história, mas propões um passeio pela usina de Corumbataí, sugerindo uma
aula multidisciplinar; o segundo ponto é que, o autor não descreve sua
experiência, mas como dito anteriormente sugere uma visita à Usina como uma
forma de metodologia de ensino que, além de atraente, é multidisciplinar.
Deixando a sugestão, não para professores e alunos, mas para quaisquer
interessados.
O nome da seção ganha destaque, em vermelho, na extremidade superior da
página, estando abaixo, o título do artigo, o plano de fundo é branco.

4.5. SEÇÃO “PASSADO E PRESENTE”

Esta seção tem por objetivo mostrar historicamente a origem de famigeradas


instituições contemporâneas, contextualizando a época e os “porquês” de sua
criação.

A freqüência desta seção na revista não é contínua, já que surge na segunda


edição e desaparece na quarta. Ocupa poucas páginas: na segunda edição
uma, e na terceira duas.

Ano I. Primeira edição: inexistente.

Ano I, edição de nº 2, Outubro/Novembro de 2004


Título: “Como surgiu o FMI?”.
Autor: oculto. Segundo informação obtida junto à revista, todas as vezes que
não aparecer o nome do autor, o texto é de Marquilandes Borges.
Localização: Primeira metade da revista. Ocupa uma página – ímpar.
Características: O título está escrito em fundo branco, assim como o texto,
ambos sem nenhuma cor ou qualquer outro recurso para destaque. Na borda
em azul, uma charge com a figura de uma ave gorda “montada” no globo
terrestre sugere uma alusão à instituição tratada no artigo: o FMI.
Comentário: O texto inicia com uma breve descrição da seção, justificando
seus objetivos. Com um texto bastante curto e simples, o autor descreve
cronologicamente a origem desta instituição, justificando o tratamento do tema
pela grande presença que esta sigla tem nos meios de comunicação de massa
(internet, televisão, rádio, jornais, revistas etc.).

Ano I, edição de nº 3, Fevereiro/ Março de 2005.


Título: “Como surgiu a Onu?”.
Autor: Conrado Ferrante Bichara. Historiador formado pela Universidade
Estadual de São Paulo (UNESP).
Localização: Primeira metade da revista. Ocupa duas páginas, com o título na
página par.
Características: O plano de fundo é uma fotografia em preto e branco,
retratando uma conferência da instituição tratada. Outras duas fotos estão

17
presentes: uma de uma sucessão de bandeiras de países membros –
remetendo a algum prédio desta instituição – e outra retratando um encontro
entre representantes e membros desta instituição. Estas, ambas coloridas.
Nenhuma com crédito ou nota explicativa.
O título está em amarelo e a sigla “ONU” em negrito.
Comentário: O texto inicia já tratando do período de criação da instituição, sem
antes fazer (como na edição anterior) uma “regressão” da contemporaneidade
para a época apresentada. Trata do seu estabelecimento no pós-segunda-
guerra, como perpassou pela “Guerra Fria” e como se encontra hoje – assim
como na edição anterior: cronologicamente.

Ano I. Quarta edição: inexistente.

4.6. SEÇÃO “HISTÓRIA & ARTE”

Filmes e músicas, temas dos meios de comunicação em massa e de alcance


popular são analisados historiograficamente nesta seção. O estudo de obras
com alguma abordagem histórica serve de introdução do leitor em um campo
mais amplo que o da obra propriamente dita. Por exemplo, ao analisar as letras
das músicas de Chico Buarque, dentro do contexto-histórico em que foram
produzidas e com um olhar mais crítico, o autor busca estender a visão do
leitor para além da beleza da música do cantor.

Ano I, edição nº1


Título: As Invasões Bárbaras
Autor: Marquilandes Borges de Sousa
Localização: ocupa 2 páginas, ambas com imagens do filme.
Comentários: o autor inicialmente faz uma sinopse do filme de Denys Arcand,
para depois aprofundar-se mais na relação entre pai e filho, que seria uma
metáfora da dualidade presente durante a Guerra Fria, contexto-tema do filme,
o socialismo de um lado (pai), e o capitalismo do outro (filho). Outra visão
histórica que Marquilandes aborda é a do próprio contexto em que foi
produzido o filme, 2001, no qual, segundo uma visão crítica do autor, os
bárbaros, que nos remetem aos invasores do antigo Império Romano, seriam
os traficantes e o terrorismo do império norte-americano.

Ano I, edição nº2


Título: As Músicas Políticas de Chico Buarque
Autor: Marquilandes Borges de Sousa
Localização: ocupa 2 páginas, com fotos de Chico Buarque.
Comentários: com a reprodução parcial de 5 canções de Chico Buarque, o
autor traça um paralelo entre a letra da música e o ano em que foram escritas,
todas elas dentro do contexto da ditadura militar no Brasil. Dessa forma,
embora Marquilandes atente ao leitor a diversidade da obra de Chico, só foram
analisadas músicas que denunciavam a repressão.

Ano I, edição nº3


Título: O Velho
Autor: Marquilandes Borges de Sousa

18
Localização: 2 páginas, sendo uma inteira ocupada pelo retrato de Luís Carlos
Prestes.
Comentários: ao contrário das 2 seções anteriores, nesta o autor se mostra
mais crítico. Diante da repercussão do filme Olga, baseado no livro de um
jornalista, Marquilandes reproduz críticas negativas de especialistas da área do
cinema, para então sugerir um documentário que, por conter imagens de
época, entrevistas com os próprios sujeitos tratados, e depoimentos de
historiadores, permite uma recuperação cronológica dos fatos mais importantes
do período. Ou seja, sugere uma outra obra, que trata do mesmo assunto de
Olga, com mais “consistência” histórica.

Ano I, edição nº4


Título: Filme Traz à Luz Revolução Inglesa
Autor: Rafael Augustus Sêga
Localização: 2 páginas inteiras.
Comentários: trata-se do filme Morte ao Rei de 2003, que procura, como trama
principal, retratar a trajetória política de Oliver Cromwell. Após breve sinopse do
filme, o autor passa o resto do artigo a tratar da Revolução Inglesa e da vida de
Oliver Cromwell, além de citar duas importantes obras da historiografia sobre o
assunto tratado.

4.7. SEÇÃO “IMPRENSA & HISTÓRIA”

A relação feita no título da seção entre imprensa e história não foi bem trabalha
no corpo da seção.

Essa seção fala sempre de uma publicação periódica da imprensa escrita


brasileira, às vezes a abordagem é sobre a publicação em si, outras vezes e de
como uma publicação abordou um determinado tema. Nas duas forma de tratar
dessas publicações de época não definem no texto qual é o tipo de relação
pretendida entre a imprensa e a história.

Informações sobre as temáticas tratadas pelas publicações de época poderiam


ser mais atrativas para o leitor. A matéria poderia traz mais informações sobre
a disponibilidade das publicações para consulta do leitor, pois dessa forma
incentivaria uma visita ao arquivo para poder entrar em contado direto com o
material.

Em relação a outras publicações do mesmo segmento essa relação com


material de imprensa de época é inovador.

Ano I, edição nº 1, Agosto/Setembro de 2004


Localização: Sempre depois do artigo de chamada de capa. Páginas 42 e 43.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: A publicação em questão neste número, foi a revista “Fon-
Fon”, um número de 1922, com o tema do recebimento do presidente eleito da
Argentina pelo presidente do Brasil, Epitácio Pessoa.A seção tem meia página
de texto, com um fundo que reproduz a fotografia da publicação, em imagens
sobrepostas em tonalidade amarelada (aspecto envelhecido)

19
Comentários: O tema escolhido foi bem trabalhado no texto, fazendo uma
relação o a realidade vivida por Brasil e Argentina nas relações do Mercosul,
que a publicação em si tenha sido pouco explora, mesmo havendo a
transcrição de parte da matéria da época.

Ano I, edição nº 2, Outubro/Novembro de 2004


Localização: Após o artigo de chamada de capa. Páginas 42 e 43.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges).
Características: A publicação tratada nesse número foi a revista Realidade, do
acervo do Arquivo do Estado de São Paulo. O texto traz informações sobre a
publicação em forma geral e trata pontualmente do primeiro número de
fevereiro de1967. As imagens da publicação são de varias revistas sobrepostas
dando visibilidade para as imagens da revista Realidade.
Comentários: O texto está em total harmonia com as imagens da revista
Realidade, pois as fotografia são da edição de fevereiro de 1967. As cores da
seção são em tons esverdiado, ordenando com os tons da publicação de
época.

Ano I, edição nº 3, Dezembro/Janeiro de 2004/2005


Localizacão: Após o artigo da chama de capa, nas páginas 44 e 45.
Autor: Não vem expresso (Marquilande Borges)
Características: A publicacão trata é a Revista Feminina (1914-1936), a
abordagem é feita pelo espaco que as mulheres vinham conseguindo naqueles
anos com o movimento feminista. O texto ocupa apenas meia página (46),
ficando a outra com a fotografia de um dos numeros da publicacao tratada. O
texto tem dar conta da importancia da publicacao nos seus 22 anos de edicão.
Comentários: A publicacão escolhida foi muito bem apresentada, pois
problematizou seu surgimento com as questões da época.

Ano I, edição nº 4, Março/Abril de 2005


Localização: Após o artigo de chamada de capa. Páginas 44 e 45.
Autor: Não vem expresso (Marqilandes Borges).
Características: A publicação escolhida foi a revista Manchete, com enfoque na
matéria que tratava do Maio Francês ou Maio de 68. O texto tratou mais do
movimento estudantil no Brasil e na falou da matéria da revista Manchete, que
ficou resumida a fotos dessa publicação. Os tons predominantes foram o
vermelho e o amarelo.
Comentários: Esse texto foi infeliz pois quase nada falou da revista Manchete,
até a chamada da capa enfocava a questão do maio de 68. Outra fato
relevante é que não consta no texto qual o arquivo que conserva essa
publicação.

4.8. SEÇÃO “HISTÓRIA ILUSTRADA”

Essa seção faz uma pequena narração de um acontecimento histórico com


texto e fotografias, o texto não é uma descrição da fotografia e nem esta está
diretamente ligada ao assunto pontual do quadro que está sobreposto a esta,
porém texto e fotografias não são conflitantes.

20
Em todos os números publicados até o momento, essa seção só tratou de
temas políticos, segundo a revista isso não foi proposital, tendo como causa a
limitação do arquivo.

Quando se propõe trabalhar com fotografia devemos estar cientes das


limitações desse material, em se tratando de uma publicação de história, a
seqüência de temas políticos retoma uma forma de se estudar história apenas
pelos acontecimentos políticos. Esse tipo de abordagem parece estar
ganhando espaço novamente, mas deve ser passado para o grande público
com um tipo de abordagem da histórica, mas não como o principal.

Ano I, edição nº 1, Agosto/Setembro de 2004


Localização: Páginas 44, 45, 46 e 47.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: O tema é o Golpe de 64. São 6 os quadros com textos, esses
traçam um panorama político que antecedeu o golpe, nada diz da situação
política após o Golpe Militar. A fotografias são 6, e focalizam políticos, as
mobilizações populares e o momento da eleição do primeiro presidente militar
Castelo Branco.
Comentário: Tratar do Golpe Militar de 64 e deixar de lado todos os
acontecimentos internos posteriores de fora dessa narração compromete
abordagem do tema. Pois as conseqüências do golpe são até mais importantes
que o próprio Golpe.

Ano I, edição nº 2, Outubro/Setembro de 2004


Localização: Páginas 44, 45, 46 e 47.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges).
Características: O tema foi a Revolução dos Cravos. São 5 quadros de texto
que ressalta o caráter pacífico do movimento, trazendo trechos de músicas de
Portugal e do Brasil. As 5 fotografias que compõem essa seção também mostra
a mobilização popular e apresença dos soldados nas ruas, as pessoa
aparecem sempre segurando cravos e nas fotografias não aparecem políticos.
Comentários: Uma fotografia mostra a participação das mulheres nessa
revolução, no entanto esse tema não e tratado no texto, o que seria
interessante para mostrar com as mulheres foram ganhando seu espaço
sobretudo naquela época.

Ano I, edição nº 3, Dezembro/Janeiro de 2004/2005-06-22


Localizacão: Da página 46 até a página 49.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: O tema é as Diretas Já. Composta de 10 fotografias e 10
quadros com pequenos textos, tanto fotografia quanto texto enfocam as
personalidades que fizeram parte desse movimento, e as manifestacões
populares também aparecem como destaque.
Comentários: O tema foi bem trabalhado, com o jogo de imagens. A
importancia das Diretas Já podem ser percebida pelos leitores se comparada
com essas mesma secão no primeiro número, que trata do Golpe de 64,
mesmo o texto não fazendo essa relacao direta entre as publicacões.

21
Ano I, edição nº 4, Março/Abril de 2005
Localização: Páginas 46, 47, 48 e 49.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges).
Características: O tema é o Golpe Militar no Chile, porém não aparece o título
da seção nesse número. São 9 os quadros de texto, que tratam do suicídio do
presidente Salvador Allende e da tomada do poder por Pinochet, ainda trata
rapidamente do anos do governo de Pinochet até seu afastamento. As 10
fotografias mostram a sede do governo no Chile, os presos por se oporem ao
governo de Pinochet, mostram as mães da Praça de Maio e fotos de Pinochet
sem em uniformes militares.
Comentários: As fotografia não foram bem selecionadas, focalizando quase
sempre o governante Pinochet, e a população que sofreu com as
conseqüências daquele governo ficaram resumidas em apenas 3 fotografias
sem grande destaque.

4.9. SEÇÃO “CLÁSSICOS DA HISTÓRIA”

Em cada edição, o autor seleciona obras consideradas clássicas na


historiografia, por serem de autores consagrados e pelo impacto que teve a
obra quando de seu lançamento, bem como pela sua capacidade de
permanecer importante entre os historiadores. O objetivo da seção é incentivar
a leitura de livros históricos e gerar um conhecimento sobre o campo de
pesquisa dos historiadores profissionais.

Ano I, edição nº1


Título: Afinal, para que serve a história? Pergunte a Marc Bloch
Autor: Marquilandes Borges de Sousa (não assinado)
Localização: 2 páginas, com uma ilustração da capa do livro.
Comentário: Marquilandes faz uma síntese do livro de Marc Bloch e de sua
vida.

Ano I, edição nº2


Título: Tucídides e a Arte da Guerra
Autor: Jorge Sallum
Localização: duas páginas com 2 figuras que remontam à Grécia Antiga, e uma
ilustração da capa do livro.
Comentário: após pequena apresentação de Tucídides e resumo do livro, o
autor explica a abordagem metodológica de Tucídides sobre a Guerra do
Peloponeso.

Ano I, edição nº3


Título: A História por Edward Gibbon
Autor: Jorge Sallum
Localização: 2 páginas com imagens do Império Romano
Comentário: o autor salienta os métodos historiográficos utilizados por Edward
Gibbon, historiador do século XVIII. Em seguida, tece pequeno comentário
sobre a obra, declínio e queda do Império Romano.

Ano I, edição nº4


Título: Jules Michelet e a Revolução Francesa

22
Autor: Jorge Sallum
Localização: 2 páginas, com uma figura que nos remete à Revolução Francesa.
Neste caso, é necessário um conhecimento prévio da história da Revolução, ou
o bom senso de associá-la ao título do artigo, visto que a figura não apresenta
legenda.
Comentário: antes de comentar sobre a obra e seu autor, Sallum passa grande
parte do artigo discorrendo acerca da Revolução Francesa, o que é bem vindo,
já que Jules Michelet “talvez seja o maior historiador dessa geração”. Sallum dá
enfoque especial à idéia de povo, e termina com a indicação bibliográfica do
livro de Michelet da Companhia das Letras.

4.10. SEÇÃO “OUTRAS PERSONAGENS”

Esta seção tem por objetivo o “desvendar” de personagens “esquecidos” pela


História oficial, tentando incorporar às informações e conhecimentos dos
leitores alguns nomes que não estão estampados nos panteões da História,
criticando essa mazela e atribuindo a responsabilidade aos livros didáticos.
Preocupa-se com o aspecto personalista e admite não ser a “melhor forma” de
escrever e difundir os conhecimentos históricos, mas tenta justificar como
sendo impossível de se fazer História sem tender a valorização de
“personagens” atuantes nos fatos históricos. É possível perceber contínuas
mudanças de um número para outro, no que tange ao conteúdo e diagramação
da página da seção.

Ano I. Primeira edição:


Título: “Gente que ajudou a fazer a História do Brasil e do mundo, mas volta e
meia é esquecida pelos livros didáticos”.
Autor: oculto. Segundo informação obtida junto à revista, todas as vezes que
não aparecer o nome do autor, o texto é de Marquilandes Borges.
Localização: Segunda metade da revista, em página par.
Características: O título, a letra capitular e o nome da seção estão em cor de
destaque (laranja). O fundo é um desenho de papel com as bordas “roídas” e
cor envelhecida, sobre o qual se assenta o texto. Em baixo desta
representação de papel envelhecido, o nome da seção está escrito em letra
cursiva. Uma gravura sem nenhum tipo de identificação (nome, legenda, nota
explicativa ou crédito) se encontra no lado direito do texto – supõe-se que seja
a personagem de quem se traga notícia nesta seção.
Comentário: O título é mais uma explicação do objetivo da seção do que um
título em si; trata-se do primeiro exemplar. A impressão que dá, é que a sua
crítica ao esquecimento não é plena, pois em lugar algum o nome da
personagem está escrito em destaque: preocupou-se mais em apresentar a
seção que a “outra personagem”. Um aspecto interessante é a tentativa do
autor em “desmentir” a História oficial e apontar a possibilidade de outras
interpretações e eventos dentro de uma mesma temática abordada.
Na apresentação da “outra personagem”, faz um trato estritamente biográfico e
cronológico, apoiando-se em datas, fatos e feitos exclusivamente. No final do
texto, traz uma descrição da personagem entre aspas, que pelo vocabulário
supõe-se que seja “de época”, porém nenhuma citação acerca de sua autoria é
feita.

23
Ano I. Segunda edição:
Título: “Talleyrand”.
Autor: oculto. Segundo informação obtida junto à revista, todas as vezes que
não aparecer o nome do autor, o texto é de Marquilades Borges.
Localização: Segunda metade da revista, em página par.
Características: O título é o nome da personagem, em letras vermelhas, mas o
nome da seção continua escrito em laranja. Uma foto colorida está alocada no
final da página, assim como muitas outras, sem nota explicativa e créditos. A
inscrição “Outras personagens” em letra cursiva ao fundo, se localiza neste
número na parte superior da página, atrás da inscrição do título.
Comentário: Neste segundo número, a seção é iniciada com uma nova
justificativa diante do papel da seção: “Ainda que os estudo históricos
contemporâneos não utilizem uma abordagem puramente personalista, é
quase impossível não se fazer referência a certas figuras dependendo do
momento estudado (...)”. Os aspectos deste número continuam sendo
estritamente biográficos e cronológicos, porém com uma diferença: atribui a
esta personagem exclusivamente (Talleyrand) a manutenção dos direitos civis
do povo francês no pós-Revolução Francesa – “Graças a ele os franceses
garantiram a manutenção de seus principais interesses”.

Ano I. Terceira edição.


Título: “Ranieri Mazzilli”.
Autor: oculto. Segundo informação obtida junto à revista, todas as vezes que
não aparecer o nome do autor, o texto é de Marquilades Borges.
Localização: Segunda metade da revista, em página par.
Características: O formato e cor do título, a inscrição do nome da seção ao
fundo e o posicionamento e atributos (ou sua ausência) permanecem como no
número anterior, excetuando a cor do nome da seção, que passou do laranja
para amarelo.
Comentário: Inicia o artigo explicando o papel do presidente da Câmara dos
deputados como suplente do vice-presidente (para enquadrar a personagem
descrita). Como este número trata de um “episódio” recente da história
nacional, a estrutura biográfica e cronológica de apresentação e descrição da
personagem parece não ser a principal característica nesta seção. A
apresentação da personagem está mais centrada na narração das atuações
políticas de Mazzilli e na exaltação de sua “importância na História nacional”. O
período trabalhado é da posse de Jânio Quadros em 1961 (passando por sua
renúncia, os problemas da sucessão de João Goulart) até a posse do primeiro
presidente do regime militar em 1964.

Ano I. Quarta edição.


Título: “Nísia Floresta”.
Subtítulo: “Feminista” e peregrina brasileira”.
Autor: Stella Maris Scatena Franco. Mestre e doutoranda pela universidade de
São Paulo (USP).
Localização: Segunda metade da revista, em página par.
Características: A diagramação da página continua a mesma, exceto pelo
acréscimo do subtítulo (em itálico e cor azul escuro) e do nome da autora (em
destaque – na cor do título em itálico). Um quadro com obras de referência foi
colocado no canto inferior direito da pagina. A ilustração foi feita através de

24
uma gravura (assim como as outras imagens, sem atributos de identificação e
explicação).
Comentário: Este texto visivelmente encomendado traz no seu conteúdo a
mescla do tipo de abordagem praticada até então nesta seção: conteúdo
biográfico/cronológico e o enquadramento das atuações “importantes” da
personagem no contexto apresentado. O aspecto interessante e inédito (além
da exposição da autoria do texto) é a informação de obras de referência
bibliográfica para o aprofundamento no tema.

4.11. SEÇÃO “EU ME LEMBRO”

Ano I. Primeira edição.


Título: inexistente.
Autor: entrevista de Murilo de Andrade Carqueja, colhido pela jornalista Cláudia
Croitor.
Localização: Segunda parte da revista, em página ímpar.
Características: O nome da seção está inscrito num quadro lilás, na parte
superior da página; o nome está escrito na mesma região da página, também
no plano de fundo em letra cursiva. O texto está escrito sobre uma
representação de folha de papel envelhecida, com as bordas “roídas” em tom
amarelado. A ilustração é uma foto do depoente em preto e branco, alocada na
parte inferior da página – foto com crédito. O texto está todo entre aspas. No
final, uma descrição do depoente contendo nome, idade, profissão e cidade
onde mora.
Comentário: O texto resultado de uma entrevista, escrito entre aspas e colhido
por uma jornalista, da forma que se afigura, parece ter sofrido alterações e
interferências (digo isso pensando no seu aspecto sintético e coeso, muito
difícil de ser a reprodução literal expressa pelo depoente). A tentativa de
colocar “pessoas comuns” como atores e personagens da História é um
aspecto bastante interessante desta seção. Contudo, para tal, os editores
utilizaram recursos para fazer com que a relevância do entrevistado tomasse
um aspecto “histórico”, sobretudo no que diz respeito à diagramação da página
e os elementos utilizados nela: o aspecto envelhecido do plano de fundo e da
foto (preto e branco).

Ano I. Segunda edição.


Título: “No tempo dos caras-pintadas”.
Subtítulo: “Muitas quedas em poucas horas”.
Autor: Erika Sallum. Jornalista e editora-chefe da revista Desvendando a
História.
Localização: Segunda metade da revista, em página par.
Características: O nome da seção continua num quadro lilás, porém a sua
inscrição em letra cursiva no plano de fundo está, a partir deste número, na
parte inferior da página. O texto continua sendo escrito sobre um plano de
fundo com a representação de uma folha de papel envelhecida, porém, com
tons menos amarelados que a da primeira edição (o que talvez possa sugerir
um “menor envelhecimento”). Duas fotos fazem a ilustração desta página,
diferindo do número anterior por serem coloridas e não terem créditos. O texto
não está escrito entre aspas.

25
Comentário: O texto, escrito em primeira pessoa e sem aspas, passa a
impressão de maior propriedade do autor sobre o conteúdo expresso (sem
intervenções, como pode ser nitidamente percebido no número anterior). A
partir deste número, o “personagem” é quem escreve, não mais um
entrevistado, e todos eles, com formação no ensino superior.
As regressões e lembranças da autora, colocando-se como “participante da
História” (quando faz a comparação com os militantes do movimento estudantil
da década de 60) deixa claro o objetivo da seção – já que se trata do
discurso/depoimento da editora chefe da revista.

Ano I. Terceira Edição.


Título: “O espelho”.
Subtítulo: “As lembranças de uma ex-guerrilheira do Araguaia”.
Autor: Rioco Kayano. Ex-militante do movimento estudantil, que foi presa
política durante o regime militar.
Localização: Segunda metade da revista, em página par.
Características: A diagramação é bastante similar à anterior, exceto a ausência
de ilustrações ou fotografia num primeiro plano. Estas se encontram em plano
de fundo, sem nenhum atributo de identificação ou explicação. São duas: uma
representando o movimento estudantil e outra, aparentemente representando
um acampamento de guerrilha. O texto é escrito de forma peculiar, em versos e
estrofes, que é um aspecto inédito desta seção em relação a todos os outros
números.
Comentário: A forma pela qual a autora escolheu escrever o texto é bastante
interessante, pois despende uma emotividade que os textos dissertativos e/ou
narrativos não fazem. Dessa forma, descreve de forma nostálgica os seus
primeiros anos de vida, a sua vinda a São Paulo e quando do golpe,
teleologicamente retrata a amargura daquele evento ( o golpe militar de 1964)
que no então, provavelmente não saberia as experiências que estava por
passar. No final, demonstra e exalta os ideais porque lutava naquela época,
deixando clara a intenção de tentar se reconhecer como parte atuante de um
período bastante conturbado (e significativo) da História do Brasil.

Ano I. Quarta edição


Título: “11 de setembro”.
Subtítulo: “Muitas quedas em poucas horas”.
Autor: Ricardo Lísias. Doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São
Paulo (USP) e escritor.
Localização: Segunda metade da revista, em página par.
Características: A diagramação é bastante similar ao número 3, exceto pelo
destaque do nome do autor. Repete-se o esquema de duas fotos coloridas,
sem créditos nem notas explicativas.
Comentário: O texto escrito por um literato acadêmico deixa clara a intenção da
revista que, a partir do número 2, passou a adotar autores com formação
universitária com texto próprio em detrimento à entrevista (como é no primeiro
número desta seção). O texto em primeira pessoa, sem aspas e, por
conseguinte, sem intervenções formais e de conteúdo, pode ser uma tentativa
de sanar as imprecisões causadas tais ações. A temática do evento é
associada ao cotidiano do autor, que introduz no narrar dos acontecimentos,
uma história particular da notícia do falecimento de sua avó. A contraposição

26
destes eventos parece transparecer a tentativa de colocar um referencial de
História e cotidiano, mostrando que a História oficial não anula o cotidiano e
tentando quebrar os estereótipos de mobilidade deste tipo de História (já
criticado em outras seções, a História dos livros didáticos, a História oficial) em
relação aos eventos relacionados à cotidianidade. Revela também a relação e
transmite a noção de “patrimônio”: os noticiários sobre o ataque aos EUA
relevado pela notícia da morte da avó do autor, que em sua perspectiva é mais
relevante e arrebatadora naquele instante.

4.12. SEÇÃO “OFÍCIO DO HISTORIADOR”

Com narrações em 1ª pessoa, feita pelo autor de cada artigo, o objetivo da


seção é apresentar, passo a passo, o objeto de estudo do historiador, ou seja,
seu tema de pesquisa, e como este foi desenvolvido e concebido. Numa
linguagem mais informal, essa seção dá espaço a historiadores para que falem
um pouquinho de seu trabalho, no âmbito da pesquisa.

Ano I, edição nº1


Título: O nascimento de Vila Rica
Autora: Maria Aparecida de Menezes Borrego, mestre em História Social e
doutoranda pela Universidade de São Paulo.
Localização: 4 páginas, com fotografias da atual Ouro Preto, tema de seu
trabalho.
Comentário: o livro Códigos e Práticas: O Processo da Constituição Urbana em
Vila Rica Colonial (1702-1748) é o livro de Maria de Menezes, que conta com
rica descrição de documentos de época, e tem por tema as origens de Vila
Rica, atual Ouro Preto. Após contar porque escolheu este tema, a autora
recorre aos seus métodos de pesquisas e documentos utilizados, bem como
dificuldades encontradas em seu ofício.

Ano I, edição nº2


Título: A Construção da Nação Argentina
Autora: Stella Franco, mestre em História Social e doutoranda pela
Universidade de São Paulo.
Comentário: o nome de seu livro é Luzes e Sombras na Construção da Nação
Argentina: os Manuais de História Nacional (1868-1912), o estudo da autora é
baseado em manuais escolares da história argentina, entre a 2ª metade do
século XIX e a 1ª do XX.a autora centra seu estudo na constituição do Estado
Nacional e da idéia de nação argentina. A autora então passa a narrar suas
principais fontes de pesquisa, desde suas bibliotecas em São Paulo, até sua
viagem para Buenos Aires, citando os manuais por ela utilizados.

Ano I, edição nº3


Título: Tropicalismo, Cuba e os Anos 60.
Autor: Mariana Villaça, doutoranda em História Social pela Universidade de
São Paulo.
Comentário: compreende 4 páginas, com fotos dos tropicalistas brasileiros
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Maria Bethânia e Gal Costa, e fotos dos
músicos cubanos Pablo Milanés e Silvio Rodrigues, personagens do tema
tratado pela pesquisa Polifonia Tropical, na qual Mariana constata a influência

27
dos tropicalistas no final dos anos 60 em jovens compositores cubanos,
particularmente O Grupo de Experimentacions Sonora. A autora explica os
contextos políticos culturais de ambos os países, e o que a motivou nesta
pesquisa. Em um quadro destacado alerta sobre pesquisa de histórias
musicais, definida “desvendando a canção”. Cita ainda nomes dos tropicalistas
e dos integrantes do grupo cubano.

Ano I, edição nº 4
Título: EUA e América Latina. Entre a Resistência e o Diálogo.
Autor: Marquilandes Borges de Sousa
Comentário: o autor observa que a dicotomia espelhar-se na experiência norte-
americana ou resistência ao imperialismo norte-americano, presente no ideário
populacional, também o está entre os historiadores, de forma a influenciar a
historiografia nacional. Seu livro Rádio e Propaganda Política – Brasil e México
sob a Mira Norte-Americana durante a Segunda Guerra se encaixa numa
perspectiva historiográfica mais renovada, que rompe com visões
maniqueístas. Faz um resumo de sua obra, a partir da posse do presidente
estadounidense F.Roosevelt, “enfocando a política de boa vizinhança”e a
utilização do rádio como meio de comunicação em massa para tanto. Getúlio
Vargas, Franklin Roosevelt e Hitler aparecem em fotografias com legendas.

4.13. SEÇÃO “NOVIDADES”

Esta seção, sempre no final da revista, varia entre uma e duas páginas, e,
como o próprio nome diz, traz novidades do mercado editorial. Sempre há uma
reprodução da capa dos livros, localizados na margem direita, enquanto na
esquerda está uma apresentação da obra e de seu autor. Uma legenda indica
a editora, autor, preço e número de páginas (este último somente na 1ªedição).
Na primeira edição há a indicação de 2 sites relacionados à história, que
também contam com uma reprodução de sua “capa”, no caso, a página inicial
do site.

Ano I, edição nº1


Dicionário de Civilização Grega, Ouvir Contar, Parla! O imigrante Italiano do
Pós-Segunda Guerra, e os sites www.resgate.unb.br (sobre a documentação
de história do Brasil em arquivos de outros países), www.hispanismo.com
(sobres pesquisas do mundo hispânico) são as indicações desta edição.

Ano I, edição nº2


O Brasil Entre a América e a Europa: O Império e o Interamericanismo,
Palestina – Na faixa de Gaza, Notas Sobre o Anarquismo.

Ano I, edição nº3


A Solidariedade Antifascista – Brasileiros Na Guerra Civil Espanhola, Feitores
do Corpo Missionários da Mente, Banquete – Uma História Ilustrada da
Culinária, dos Costumes e da Fartura à Mesa, Aventuras e Descobertas de
Darwin a Bordo do Beagle, Q – O Caçador de Hereges, Gen – Pés Descalços:
Uma História de Hiroshima.

28
Ano I, edição nº4
Biografias, Diários, Memórias & Correspondências – vol.1 e 2, Gulag Uma
História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos, Para uma Nova História,
Civilização e Cultura, Tempos Belicosos – A Revolução Federalista no Paraná
e a Rearticulação da Vida Político Administrativa do Estado (1889-1907),
Manual de Artigos Científicos, Noam Chomsky – A Vida de um Dissidente.

4.14. SEÇÃO “HISTÓRIA NA SALA DE AULA”

Esta seção tem como objetivo a troca de experiências entre os professores de


de ensino médio e fundamental, neste ponto, vem complementando a seção
estudo do meio que incentiva uma aula participativa fora dos muros da escola,
isto é, também um novo método. Por outro lado, esta seção tem como objetivo,
os métodos utilizados pelos professores dentro da sala de aula, como sugere o
nome da seção, mas além disso, a construção de um novo método, isto é,
formas de excitar nos alunos a crítica e o interesse pela sociedade e suas
possíveis mudanças. A partir da edição 4, esta seção parece ter se tornado um
espaço de discussão de idéias, o que também é muito bem vindo.

As características da seção são imutáveis, desde a primeira até a quarta


seção. Localizada sempre na ultima página da revista, página de número 66 e
contendo apenas uma página. Os artigos publicados não têm título, apenas o
nome da seção, em destaque em marrom e preto, na extremidade superior da
página, seguindo ao lado pelo nome do autor, em cor alaranjada.

Possuem uma borda bege, o plano de fundo é branco e, ao centro do texto,


uma imagem do deus grego Dionísio.

Apesar da seção propor uma mudança nos métodos de ensino, a estrutura da


seção remete a algo sóbrio, pelas cores, e clássico, pela imagem grega, o que
sugere uma contradição à idéia da seção.

Ano I, edição de nº 1, Agosto/Setembro de 2005


Título: Não contém título, apenas o nome da seção
Autor: José Modesto Leite Junior, historiador e professor do ensino médio.
Características: O autor faz um belíssimo artigo sobre as mudanças nos
métodos de ensino e organização institucional das escolas, contrapondo um
modelo antigo e hierárquico onde o papel dos diretores, coordenadores e
professores assumindo o comando das atividades e os alunos com a função
memorizar de informação, com o “objetivo quase exclusivo de terem seus
certificados ao final da etapa escolar” ou “onde o mercado [de trabalho] atua
como único elemento motivador para o progresso escolar”. Enfim, esta prática
onde o aluno se torna um acumulador passivo de conhecimentos em
contraposição a idéia de um aluno ativo, atuando em sua própria educação,
nos problemas da própria escola e atuando também nas comunidades. Assim,
a escola ganha um caráter social, onde o aluno é convidado a refletir,
ampliando sua consciência e exercitando a coragem de “ construir um mundo
menos injusto e mais humano”.

29
Ano I, edição de nº 2, Outubro/Novembro de 2004
Autor: Cecília Ester Romo Jorquera, professora de história de ensino médio.
Características: a partir da idéia colocado na primeira edição da revista, a
autora relata sua experiência, que ao preparar uma aula sobre as ditaduras
militares da América Latina, utilizou o longa de Lúcia Murat, Que bom te ver
viva, que segundo ela, provocou comoção e reflexão, não somente sobre o
período estudado, mas também sobre a falta de ideologias e lutas desta
geração, os seus alunos.

Ano I, edição de nº 3, Fevereiro/março de 2005


Autor: Cassiana Buso Ferreira, historiadora e professora de ensino
fundamental II
Características: Prosseguindo a idéia da seção, a autora descreve sua
experiência ao incorporar em uma aula de pré-história , uma metodologia onde
os alunos são ativos, participando do aprendizado, através de uma construção
de um jogo com um barbante representando uma “ linha do tempo”.

Ano I, edição de nº 4, Abril/Maio de 2005


Autor: Alessandro Franco Batista, historiador e professor do ensino médio.
Características: O autor faz numa crítica, um tanto contraditaria, ao primeiro
artigo desta seção, ressalta as dificuldades de se colocar em prática, as
sugestões de Modesto Leite Junior. Dentre elas a mais preocupante, segundo
o autor, seria a competitividade “incutida pela sociedade nos corações e
mentes dos nossos jovens educandos” causando o individualismo que está em
oposição à vida coletiva. No final, relata uma experiência que ressalta sua
posição, mas acredita na construção de uma nova sociedade através de erros
e acertos, através da troca de experiências, isto é, analisa de forma positiva o
local de debate entre os professores nesta seção.

4.15. ARTIGOS DA EDIÇÃO Nº 1

“Ford: O homem, o carro e a mão na roda”


Autor: Antônio Luigi Negro, professor do Depto. de História da Universidade
Federal da Bahia. Artigo originalmente publicado no site do Arquivo Edgard
Leuenroth da Unicamp.
Localização: 1ºartigo, páginas 10–15, todas com fotos que ocupam
aproximadamente metade da página.
Características: o título da capa Ford: eficiência ou exploração da mão-de-
obra?, não é o mesmo do índice Henry-Ford o Homem que criou a linha de
montagem, tão pouco o do próprio artigo Ford: o homem, o carro e a mão na
roda.
Neste artigo, a vida de Henry Ford é narrada a partir de 1913, ano de
instalação de uma linha de montagem em sua fábrica nos EUA. A linguagem é
simples e pouco rebuscada, inclusive com a utilização de termos populares
(como “os candidatos sonhavam em pagar as contas, ganhar moral nas ruas e
dentro de casa, beber com os amigos e, ainda mais, livrar algum no fim do
mês”). O autor, apesar de citar a importância da revolução de Ford na
produção em série, e o progresso industrial que esta trouxe, exagera nos
pontos negativos do fordismo: esgotamento de preciosos recursos naturais,
exploração da mão-de-obra com aviltamento da força de trabalho, hostilidade

30
aos sindicatos, regras ditatoriais, maus-tratos aos trabalhadores, o capanga de
Ford que perseguia e espancava e, com enfoque por meio de 2 grandes fotos
de Hitler, o anti-semitismo de Ford e seu envolvimento com os nazistas. Cita
ainda outras obras que fundamentam sua visão negativa de Ford: New York
Times, Admirável mundo Novo de George Orwell e Tempos Modernos de
Charles Chaplin.

“Grécia Antiga: Guerras e Rivalidades na Mãe do Ocidente”


Autor: Marcos Linares Correa, historiador e professor de cursos pré-vestibular.
Localização: 2º artigo, páginas 18-23, com imagens da Grécia atual e típicas da
Grécia Antiga: a acrópole sobreposta pelo deus Baco da mitologia grega. Não
há legenda.
Características: o título da capa Grécia Antiga: Conheça a Origem da Mãe do
Ocidente é um sinônimo do índice Grécia Antiga a Criação da Mãe da
Civilização Ocidental. O autor foi feliz em seu artigo, pois atinge em cheio o
objetivo principal da revista, descrito pelo coordenador-geral em Carta ao
Leitor, que é apresentar de forma simples e acessível, sem ser destinada a
especialistas. Marcos consegue resumir a história da Grécia Antiga, desde a
origem do povo grego e dos genos, passando pela caracterização de Esparta e
Atenas, as duas polis mais importantes do período, finalizando com as Guerras
Médicas e suas conseqüências, que foram o enfraquecimento e decadência
das cidades-estado gregas, tudo isto em 4 páginas (duas páginas foram
desconsideradas por conter imagens).

“Uma Breve História Olímpica”


Autor: Benedito Carlos dos Santos, historiador e professor de cursos pré-
vestibular.
Localização: 3ºartigo, páginas 24-29.
Características: Olimpíadas, Conquistas e Trapalhadas, e simplesmente
Olimpíadas no índice, o artigo chama a atenção pelo colorido que lhe é
dedicado e pelo subtítulo da 1ª página “Como as primeiras edições dos jogos,
desorganizadas e cheias de improviso, tornaram-se um evento milionário.” O
autor narra a evolução dos jogos desde seu ressurgimento em 1896, na Grécia,
com uma linguagem simples e que não utiliza termos históricos. No final, o
artigo mostra-se um pouco desatualizado quando Benedito diz esperar algo
das Olimpíadas que estão por ocorrer na Grécia, quando estas já passaram
bem antes da data de publicação da revista.

“50 Anos Sem Getúlio Vargas: o Suicídio que Marcou a História do Brasil”
Autor: Marquilandes Borges de Sousa, coordenador-geral da revista e
professor de História, doutorando em História Social pela Universidade de São
Paulo.
Localização: 4ºartigo, páginas 32-41.
Características: trata-se do artigo principal da revista, seu título na capa ocupa
espaço maior que os outros, aliás, na capa predominam imagens de seu tema.
É também o maior artigo da revista (10 páginas), com várias fotos de Getúlio
Vargas na ativa, bem como de seu funeral. As fotos não têm legendas, não se
sabe quem são as pessoas que choram junto ao leito do ex-presidente, fica-se
curioso com a 2ª fotografia, na qual um homem aparentemente importante
observa Getúlio morto. O texto narra a trajetória da vida política de Vargas e o

31
autor tem de explicar diversos conceitos pouco difundidos entre um público
leigo, o que torna este artigo mais difícil de ser lido do que os outros, como a
Revolução de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932, a diferença entre
integralistas e comunistas, o Plano Cohen, além de datas e siglas de partidos
políticos da época (UDN, PTB, PSd, PCB). Permeado de citações de Vargas,
estas aparecem em destaque com letras vermelhas. O artigo é finalizado com a
reprodução da carta-testamento de Vargas, deixando ao leitor sua
interpretação.

“Estados Unidos: O Bom Vizinho”


Autor: Tânia da Costa Garcia, professora de História Contemporânea da Unesp
de Franca.
Localização: último artigo, páginas 50-55.
Características: fundo branco ocupado com 3 imagens de Carmem Miranda,
todas na página da direita, iguais, ocupam a mesma posição. Há também uma
foto dela em um show, além de 2 desenhos de Zé Carioca.
O texto é predominantemente dissertativo, com termos que levam o leitor a
refletir e talvez até rejeitar o estilo de vida norte-americano (imperialismo,
agressivo expansionismo, domínio da região, política de boa vizinhança etc.).

4.16. ARTIGOS DA EDIÇÃO Nº 2

“Cadê o dinheiro do tráfico de escravos?”


Subtítulo: “Com o fim do comércio de africanos para o Brasil, os poderosos
traficantes tiveram de investir seu dinheiro em outros “negócios””.
Número de páginas: 4.
Autor: Arthur José Renda Vitorino. Doutor em História pela UNICAMP,
professor do curso de História do Centro de Ciências Humanas da PUC-
Campinas e da FESB – Bragança Paulista.
Localização dentro da revista: Primeira matéria. Na chamada da capa em cima.
Título em Página par.

Diagramação:
Cores: predominância de tons marrons. A única imagem que foge deste padrão
é o “selo comemorativo” de 30 anos do Arquivo Edgard Leuenroth, exposto na
página de apresentação do artigo, que está pintado em cinza e magenta.
Letra tipo capital foi utilizada no título, que está em letras maiúsculas para
realçar destaque. As outras seguem o padrão utilizado pela revista.
As fotos utilizadas não são as mesmas do artigo quando publicado do site do
Arquivo Edgard Leuenroth. Estas estão arranjadas aparentando “como se
estivessem jogadas”; umas sobrepondo as outras nas bordas.

Análise:
Texto extraído do web site do Arquivo Edgard Leuenroth – IFCH / UNICAMP.
Transcrição quase literal, exceto dois itens:
-No original utiliza-se o termo “grana”, pois trata-se, de uma proposta de
veiculação das produções acadêmicas para alunos do Ensino Médio. Na
revista este termo foi substituído por “dinheiro”.
-A iconografia utilizada no artigo do site não foi incorporada ao artigo publicado
na revista, mas outra.

32
Como se trata de um texto originalmente produzido para outros fins, a análise
de sua estruturação não é a mais importante, mas a de perceber como este se
enquadra na proposta do veículo analisado (inserido nos comentários).

Comentários:
- Os tons marrons podem sugerir “envelhecimento”, acentuado pelas “fotos
jogadas”.
- A iconografia utilizada na revista está mais de acordo com aquela utilizada em
livros didáticos, dentro do referencial entendido pelo público (não acadêmico)
como “fotos da época da escravidão”; enquanto isso a iconografia utilizada no
artigo original está relacionada com aquela trabalhada por pesquisadores
acadêmicos (o intuito desta publicação via Internet é justamente a divulgação
do acervo do Arquivo Edgard Leuenroth).
- A mudança do termo “grana” para “dinheiro”, parece tratar-se de uma questão
editorial, pois os espaços para este termo são dois: um dentro do texto e o
outro no título (que está em destaque, como já foi salientado na descrição dos
tipos de caracteres utilizados) Este último, em destaque, por estar em
evidência pode ter sido a motivação da alteração dos termos, dado que “grana”
é um termo coloquial e ainda de utilização bastante restrita nas publicações e
na mídia.
- A exposição do “selo comemorativo” de 30 anos do Arquivo Edgard
Leuenroth, exposto na página de apresentação do artigo parece deslocado e
“fora do lugar” num primeiro momento, até que se leia no final do artigo, que se
trata de uma publicação originalmente difundida através desta instituição.
- Há citação da fonte, porém esta é vaga: não dá a indicação do endereço do
site (como em outras matérias da revista) e só do nome do Arquivo e os
créditos.
- Enquadramento do texto à proposta: escrito por um acadêmico, endereçado a
alunos do Ensino Médio.

“Viva a sociedade livre.”


Subtítulo: “Contra o Estado, a Igreja e qualquer tipo de autoridade, os
anarquistas sonham com a liberdade dos homens.”
Número de páginas: 6.
Autor: Eduardo Montequi Valadares. Mestre e doutor em História Social pela
Universidade de São Paulo.
Localização dentro da revista: segunda matéria. Na capa em destaque (escrito
em amarelo) e letras maiúsculas.
Título em Página: par.

Diagramação:
Cores: Predominância do vermelho; alguns detalhes em amarelo. Texto em
fundo branco.
Fotos colocadas nas extremidades das páginas, dotadas de legendas
explicativas mas sem créditos, assim como gravuras.
“Frases de efeito” colocadas nas páginas, com autoria.

Análise:
- Inicia a problematização do tema baseado em dados etimológicos acerca do
termo principal: “anarquia”.

33
- Elabora traços conceituais antes do desenvolvimento do tema.
- Utiliza juízos de valor, como por exemplo: “sociedade justa”.
- Traça um diferencial sucinto entre marxismo (e suas vertentes) e o
anarquismo.
- Utiliza-se de excertos documentais (sem citação bibliográfica) para
arregimentar sua fala.
- Define os principais pontos “cardinais” da doutrina anarquista.
- Detalha os conceitos abordados na doutrina: liberdade, responsabilidade e
autodisciplina.
- Define e diferencia tendências.
- Faz uso colocações que tendem a encarar o “homem” e suas criações como
ser dotado de características inatas: na página 20 “(...) Não faz parte da
natureza humana.” E na página 21 “(...) qualquer governo é, por natureza (...)”.
- Se utiliza o termo “humanidade”.

Comentários:
- A falta de créditos nas fotos dificulta a compreensão e os objetivos no uso da
iconografia.
- Apesar das distinções feitas entre anarquistas e socialistas, a utilização de
vermelho e amarelo no título do artigo confunde essa relação, já que são cores
usualmente utilizadas em representações socialistas.
- Didaticamente, o recurso da conceituação etimológica é válido.

“Crime sem castigo?”


Subtítulo: “O assassinato de LÍBERO BADARÓ – Como e porquê morreu o
influente jornalista italiano, crítico mordaz do Império”.
Número de páginas: 6.
Autor: Carlos Eduardo Marcondes César. Professor do ensino médio e cursos
pré- vestibular.
Localização na revista: terceira matéria, presente na capa em destaque menor.

Diagramação:
Cores: Predominantemente tons verdes (letras do título, subtítulo e cor de
fundo).
Fotos: Nenhuma tem crédito, algumas tem legendas explicativas.
Gravuras: sem autoria e período específico de produção.
Ausência de frases em destaque.

Análise:
- No título, o nome da personagem em questão é destacado todo em letras
maiúsculas.
- “Não raro o historiador é estimulado a investigar o passado instigado pelo
presente”.
- Uso do conceito “desvendar” em História.
- Uso de questões iniciais para a abordagem.
- Expõem a existência de várias “versões” (ou interpretações) sobre o tema.
- Os excertos utilizados de “falas” ou depoimentos de época não têm nota ou
crédito da citação.
- Uso da expressão “revelar a figura”.

34
- Não há glossário especificando termos “de época” ou palavras do vocabulário
específico do historiador.
- Faz descrição do contexto histórico.
- Problemas na redação de algumas passagens. Exemplo: “Os problemas de
saúde eram tratados por farmacêuticos e curandeiros, que atuavam como
médicos. Em casos mais graves, buscava-se a Santa Casa de Misericórdia, no
bairro da Liberdade, onde havia uma “roda de enjeitados”, na qual eram
deixados recém-nascidos abandonados” – ambigüidade, pois não se tem claro
que o fato de haver uma “roda dos enjeitados” na Santa Casa de Misericórdia
seja motivo que solucione os casos mais graves.

Comentários:
- O destaque do nome do personagem em questão no título e o intuito em
“revelar a figura” deste homem do passado, inserem o texto numa concepção
personalista de História.
- Não tem uma boa utilização dos recursos visuais. Funcionam como mera
ilustração.
- A ausência das citações dos excertos de depoimentos de época, tiram o
aspecto investigativo do texto (contradizendo a proposição do autor na
introdução do seu texto).
- As ausências de glossário para os termos e expressões específicas podem
comprometer a compreensão dos leitores (que segundo o editorial da revista,
está endereçada a alunos do Ensino Médio e Fundamental).

“Assim nasceu a propaganda política.”


Subtítulo: Não foi idéia de algum marqueteiro. Surgiu, isso sim, na Roma
antiga, onde já se suava poderosa propaganda para enaltecer os líderes.
Número de páginas: 8.
Autor: Paulo Martins. Doutor em Letras Clássicas, professor na graduação de
Língua e Literatura Latina e na pós-graduação em Letras Clássicas da
Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo.
Localização na revista: quinta matéria – pp. 48 -55. Sem destaque na capa.

Diagramação:
Cores: Predominantes tons marrons, ocre e amarelo.
Texto escrito sobre amarelo escuro. Todo o fundo, na parte inferior da página,
tem gravuras de ruínas de templos da antiguidade.
As fotos são colocadas no meio do texto; sem crédito ou legenda explicativa.
“Política” em destaque: letras maiúsculas e fonte capital.
Presença de frases em destaque.

Análise:
- Começa traçando um referencial para sua análise, evidenciando os diferentes
sentidos empregados para “propaganda” e esta sendo vista hoje como muito
associada a mercado /capitalismo – livre iniciativa: justificativa do tema, quebra
deste estereótipo.
- Inicia com trato etimológico sobre o termo “propaganda”.
- Antiguidade como “base da cultura ocidental”.
- Traz termos em latim, com significado entre parênteses.

35
- Propagação da imagem e valorização do retrato, associado à propaganda.
- Trabalha com as esferas do “público” e “privado”.
- Trata como se Antiguidade e modernidade fossem herdeiras diretas, numa
linha contínua – do berço à fase adulta.

Comentários:
- As cores sugerem o velho.
- As figuras não identificadas da parte inferior das páginas sugerem e
amplificam no imaginário do público a noção de “ruinização” das construções e
da arquitetura da antiguidade.
- Didaticamente, o recurso da conceituação etimológica é válido.

“A História dos partidos políticos no Brasil.”


Subtítulo: Como se formaram as principais legendas do país? De onde vieram
siglas como o PT, o PSBD e o PFL?
Autor: Marquilandes Borges de Sousa. Professor de história, mestre em
integração da América Latina (USP) e doutorando em História Social pela
mesma Universidade.
Localização da revista: quarto artigo. “Matéria de capa”, no meio da revista –
pp. 32 – 41.

Diagramação:
Cores: Variadas. A sua utilização vai do mais claro ao mais escuro com o
passar das páginas: do amarelo, ocre, verde, azul Royal até o azul marinho.
Sua utilização se restringe aos quadros explicativos e contornos de imagens,
exceto a “introdução” – primeira parte – que é escrita sobre um fundo amarelo.
O restante do texto é escrito sobre fundo branco.
Fotos: Todas estão sem créditos e notas explicativas. “Desfiguradas” nas
extremidades (efeito visual). Nas páginas ímpares as fotos ocupam metade do
espaço disponível (exceto a primeira que ocupa toda o espaço – não há texto).
Nas páginas pares, as fotos variam de posição com os quadros explicativos
alternadamente (exceto uma das páginas que não tem foto e outra com foto e
quadro do mesmo lado na página).
Ausência de frases em destaque.

Análise:
- No título, “BRASIL” está em destaque, escrito com letras maiúsculas e
coloridas. (essas cores em cada letras dessa palavra seguem a ordem inversa
da qual elas aparecem no artigo).
- Texto subdivido em partes – baseado na cronologia.
- Introdução (justificando o tema) / Do fim do Estado Novo à ditadura militar / O
bipartidarismo do regime militar / Os partidos políticos atuais.
- Recorte temporal bastante específico: segunda metade do século XX.
- Quadros explicativos com indicações ao longo do texto.
- Trabalha com conceito de “opinião geral”.
- Posicionado antes do artigo que trata de propaganda política, inicia o artigo
tratando desse tema.

36
Comentários:
- O recorte temporal específico, a justificativa explícita do tema e da
periodização trabalhada pode afigurar-se como manifestação da formação
acadêmica do autor.
- Os quadros explicativos cumprem a função de nota de rodapé.
- A primeira página ímpar (que tem uma foto ocupando todo o espaço) afigura-
se como “capa” para o texto que vem em seguida.
- Na descrição do autor, excluiu-se o fato dele ser Coordenador Geral da
revista em questão (o que no número anterior foi salientado).

4.17. ARTIGOS DA EDIÇÃO Nº 3

“A Revolta da Chibata – Quando os marinheiros disseram não às


chibatas.”
Autor: Álvaro Pereira do Nascimento, doutorando em história pela Unicamp
(Universidade de Campinas), em São Paulo.
Localização: Primeiro artigo, páginas 10 a 13.
Características: A primeira página do Artigo, localizada no lado esquerdo, é
composta pela imagem “Chega de açoites”, de 1910. As três próximas páginas,
sempre em fundo branco, são compostas por texto e mais algumas imagens
distribuídas entre elas.
O artigo foi originalmente publicado no “site” de Edgard Leuenroth, da
Unicamp. O autor faz primeiramente, um breve balanço histórico sobre os anos
anteriores a Revolta, para depois esclarecer os reais motivos que
desencadearam a revolta e, por fim, relata a revolta da chibata. O caráter do
texto é dissertativo, a linguagem é elaborada e compreensível, usando termos
históricos sem tornar a leitura inacessível ao leitor não especializado.

“O Esplendor da Arte Gótica”


Autor: Elias Feitosa de Amorim Jr., mestrando em história medieval pela USP-
SP.
Localização: segundo artigo, páginas 18 a 23.
Características: O autor faz primeiramente uma distinção entre a “arte gótica
medieval” e o “gótico pós-moderno”, ressaltando a origem do segundo. A partir
daí, retoma a história da “arte gótica” sua evolução arquitetônica e as principais
construções.
As duas primeiras páginas do artigo têm como plano de fundo a Catedral de
Notre Dame, nas páginas seguintes, o plano de fundo é branco, o artigo
contém mais três imagens: a Catedral de Chartres, na França, imagem que
ocupa toda a página 21; Vitral Notre Dame de La Belle Verrière, da Catedral
de Chartes, que ocupa a lateral esquerda da página 22 e por fim, a Catedral da
Sé, em Liboa, que recebe menos crédito, estando localizada na parte inferior
da ultima página.
O caráter do texto é dissertativo, a linguagem é elaborada e compreensível.

“O Nascimento do Islã”
Autor: José Arbex Jr., graduado em jornalismo, e doutor em História Social,
pela mesma Universidade de São Paulo, USP.
Localização: páginas 26 a 33.

37
Características: Este artigo está localizado no centro da revista, um dos mais
extensos, mas o que deve ser ressaltado, ele é o tema da capa, isto é, este
artigo estaria sendo o responsável pela maioria dos interessados pela sua
compra. O atentado de 11 de setembro e a guerra do Iraque, despertaram a
curiosidade sobre estas culturas tão pouco conhecidas. Esta seria uma das
razões pelas quais o editor escolheu este artigo para a capa, já que não possui
relação com os outros artigos ou matérias publicadas neste edição.
O autor faz uma retomada sobre as religiões e a economia que precederam o
nascimento do Islamismo, junto a uma biografia de Maomé até a consolidação
da religião islâmica. No final do artigo, contém um pequeno glossário, com o
significado das palavras árabes utilizadas no artigo.
Nas duas primeiras páginas, o plano de fundo é uma imagem do interior de
Caaba, as próximas páginas, tem o plano de fundo branco, contendo sete
imagens, distribuídas entre as páginas.

“A História da Revolução Mexicana.”


Autor: Carlos Alberto Sampaio Barbosa
Localização: o artigo está localizado nas páginas 36 a 43.
Características: Na Carta ao leitor desta edição, Marquilandes fala sobre a
importância da abordagem dos temas latino-americanos, visto que pouco se
sabe sobre a história latina e muito sobre a história européia. Este artigo está
localizado no centro da revista, bem próximo ao tema da capa, o Islã, e tem
praticamente o mesmo número de páginas, isto é, o editor, pretendeu dar
bastante ênfase a este artigo.
O autor faz uma retomada sobre os fatores que impulsionaram a Revolução
Mexicana, passando pelas vitórias e personagens deste complexo período até
a consolidação da revolução. Fazendo no final uma breve biografia sobre seus
dois mais importantes líderes: Pancho Villa e Zapata em destaque com fundo
azul para Zapata e verde para Villa, e trazendo também ao final, um pequeno
glossário. O artigo é iniciado pelo afresco Hidalgo, a primeira Batalha da
Revolução, de José Clemente Orosco, que ocupa toda a página, o título está
em destaque ocupando a extremidade superior da próxima página.
O plano de fundo é branco e o artigo contém seis imagens, distribuídas entre
as páginas. A primeira, Villa e Zapata entrando na cidade do México e, 1914,
duas imagens sobre o atual exército zapatista, uma mais leve, outra mostra
homens armados com metralhadoras modernas. O que sugere uma possível
distorção da idéia da Revolução, visto que em uma das fotos diz a legenda
“Integrantes do Exército Zapatista de Libertação Nacional, que se dizem
herdeiros políticos da Revolução Mexicana”. As outras imagens são: um
monumento a Zapata, na cidade do México, foto de Villa que acompanha sua
biografia e o mesmo de Zapata.

4.18. ARTIGOS DA EDIÇÃO Nº 4

“Galileu Galilei – Razão, ciência e transformação”


Autor: Claudefranklin Monteiro Santos, historiador e coordenador do curso de
história da Faculdade José Augusto Vieira (Lagarto/SE).
Localização: Primeiro artigo, páginas 10,11, 12 e 13.
Características:Com uma página e meia de texto, e o restante de reprodução
de desenhos.Uma página só com o título e a reprodução de um retrato de

38
Galileu. O texto está sobre fundo branco, a linguagem é simples e
compreensível, cita acontecimentos históricos que circundam o tema principal
sem dar maiores explicações. O caráter do texto é dissertativo, com algumas
passagens narrativas sobre a vida de Galileu. No quadro Para Saber Mais ao
final do artigo,tem 6 indicações bibliográficas.

“Simon Bolívar – e as lutas de independência na América Latina”


Autora: Gabriela Pellegrino Soares, professora de América Independente na
USP.
Localização: Segundo artigo, páginas 16, 17, 18 e 19.
Características: O texto ocupa quatro páginas e meia, sendo o restante
ocupada por reprodução de quatros e outras imagens de Bolívar e San Martí. O
texto intercala narrativa, dissertação, transcrição e análise de documento, além
de colocar o debates da historiografia sobre os assuntos que envolve a
independência da América Latina. A linguagem é elaborada e compreensível,
usando termos históricos sem tornar a leitura inacessível ao leitor não
especializado.

“As Grandes Navegaçãoes – Portugal se lança ao mar”


Autor: Eduardo Montechi Valladares, doutor em História Social pela USP, autor
do livro Anarquismo e Anticlericalismo, e co-autor do livro Revoluções do
séculoXX.
Localização: Terceiro artigo, páginas 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30 e 31.
Características: O fundo do texto varia ente branco, sépia , amarelo e as
vezes o fundo é a reprodução de um quadro. O texto é ora narrativo ora
dissertativo. O tema é abordado pelos aspectos políticos que antecederam as
navegações, e qual a importância das navegações para a África, Índia e
América, narrando até o Descobrimento do Brasil. Ainda fala sobre o debate
que questiona o caráter do Descobrimento do Brasil, não se posicionado
claramente sobre o assunto. A linguagem é simples e não usa conceitos
históricos.

“A História do dinheiro – Do pau-brasil as compras eletrônicas“


Autor: Jucenir Rocha é professor de curso pré-vestibular. Uma versão resumida
deste artigo foi publicada na revista Deloitte Consulting nº 5, ano 2, edição de
Março/Abril de 2000.
Localização: Artigo da chamada de capa, páginas da 34 à 43.
Características: Quatro páginas de texto, o resto fotografia de Londres, da
Casa Branca e reprodução de cédulas de notas brasileiras. O texto não se
definiu em estilo, e nem no tema que trataria, oscilando entre a história do
dinheiro, a história do dinheiro no Brasil e as mudanças de planos econômicos.
O texto ficou extremamente confuso, nem a linguagem simples diminuiu os
problemas de coesão de texto. E ainda usa chavões históricos e algumas
informações apenas a título de curiosidade.

“Plano Marshall – A reconstrução da Europa”


Autor: Giovanni Lorenzon é jornalista e analista econômico.
Localização: Último artigo, da página 50 à 55.
Características: Tem três páginas de texto e o restante do espaço é ocupado
por fotografias e reprodução de cartazes. O texto é dissertativo, e trata dos

39
interesses da implantação desse plano para a economia norte-americana,
fazendo também uma abordagem política do tema mostrando a polarização do
mundo no pós-guerra. A linguagem é simples e compreensível. Mesmo sendo
um tema econômico o autor trabalhou bem outras abordagens possíveis.

5. CONCLUSÃO

A presente análise permite concluir que “Desvendando a História” cumpre os


objetivos propostos já no seu primeiro número. A evolução ao longo das quatro
edições é patente e gera uma expectativa considerável. Embora não
compreenda o corpo de pesquisa, uma breve leitura do exemplar n.º 5, que
chega agora às bancas, confirma esta observação. A proposta inovadora de
“Desvendando a História” contribui significativamente para divulgação do
conhecimento histórico.

6. REFERÊNCIAS:

Revista “Historia”
www.historia.presse.fr

Revista “Historia y Vida”


www.grupogodo.net

Editora Abril
www.abril.com.br

Associação Nacional dos Editores de Revistas


www.aner.org.br

Instituto Verificador de Circulação


www.ivc.org.br

Revista “História Viva”


www2.uol.com.br/historiaviva/home.html

Revista “Nossa História”


www.nossahistoria.net

Associação Nacional de Empresas de Pesquisa


www.anep.org.br

Ministério da Educação
www.mec.gov.br

Editora Escala Educacional


www.escalaeducacional.com.br

40
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História

TEORIA DA HISTÓRIA I
Primeiro Semestre, 2005
Profa. Dra. RAQUEL GLEZER

ANÁLISE DA PRODUÇÃO CULTURAL DE DIVULGAÇÃO HISTÓRICA

COLEÇÃO GRANDES GUERRAS – VOLS. IV E V

Título da divisão AVENTURAS NA HISTÓRIA – EDITORA ABRIL SA.

Aluno: nº USP
Odair de Lima Martins 3288928
COLEÇÃO GRANDES GUERRAS

Neste material as revistas estão organizados como volumes da coleção. Cada


volume trata de um conflito específico. Era no início bimensal, mas a periodicidade
da revista tornou-se irregular para aproveitar o filme Cruzadas, e os 60 anos do final
da Segunda Guerra Mundial que foram temas de volumes na coleção (final de abril e
início de junho). Considero que seja uma revista digna de análise pois ela
desenvolveu características próprias que estão presentes em todos os volumes, como
se pretende para uma coleção.
Pretendo avaliar aqui como os temas históricos escolhidos são tratados e
apresentados. Analisarei não só os textos e a forma como são estruturados, como
também o suporte visual empregado pela revista, que é uma de suas características
distintas. Analisar a seriedade do seu conteúdo histórico é um dos propósitos.
Escolhi trabalhar com os volumes IV (Invasões Bárbaras) e V (As cruzadas),
primeiramente de forma separada, para melhor as partes e matérias das revistas, e na
conclusão estabelecer um painel do que foi observado nos dois volumes, e quais os
principais diferenciais desta coleção. Tal é possível na medida que as revistas desta
coleção apresentam um padrão.
Aponto desde já que a análise terá um pequeno prejuízo, pois a equipe
editorial da revista não respondeu meus contatos. Na única vez que conseguir falar,
alegaram que estavam em pleno trabalho preparando material para o próximo
volume, e que não podiam atender-me prontamente; não pude aguardar mais.
Mesmo diante de tal dificuldade, veremos que é possível estabelecer algumas
características do leitor que compra a Grande Guerras, a partir da análise realizada
por este trabalho.

Estrutura geral da Revista

As revistas da coleção apresentam um esquema regular de divisão, reforçada


pelo seu projeto estético, pois não há investimento em iconografia. A revista é
sempre iniciada com um mapa, acompanhado de uma linha do tempo. Com
contornos pouco precisos, muito mais preocupado com um projeto gráfico uniforme
(os mapas são da mesma cor em todos os volumes), do que informativo, e uma linha
do tempo, recurso que destaca mais os eventos (na linha de uma história factual) e
menos o processo.
A seguir temos um texto que apresenta o tema da revista de uma forma
abrangente. Este é o texto principal da revista, que aborda o tema de forma
satisfatória. Não possui caráter teórico, mas também não é superficial. Veremos na
seção “Carta do Front” que os textos se pretendem atraentes e informativos.
Outra coisa que marca esta parte da revista é o texto sem cores (diferente da
maior parte da revista), reforçando a sobriedade e seriedade que esta parte da revista
se pretende.
Na seqüência há uma seção de curiosidades, com vários textos curtos,
tratando de assuntos distintos e variados dentro do tema.
Chegamos ao corpo da revista, que ocupa a maior parte desta: que chamei de
“os capítulos coloridos”. O tema é repartido em capítulos, e cada um destes capítulos
tem uma cor e uma elaboração visual distinta. Muitas vezes as cores utilizadas são
vibrantes, fortes (vermelhos, laranja, amarelos, etc.).
Uma característica singular desta coleção: uma seção quadrinhos, logo após
os “capítulos coloridos” da revista.
Depois há uma espécie de inventário bélico onde são apresentados os
armamentos utilizados nas guerras estudadas. No volume VI temos listados 16 tipos
de guerreiros bárbaros e seus armamentos.
A revista finaliza com a seção “Tomos e telas” com livros, DVDs e endereços
da internet para aqueles que desejarem se aprofundar. E na última página temos a
seção “Argumento” onde um historiador escreve um pequeno texto sobre o tema da
revista.
COLEÇÃO GRANDES GUERRAS nº IV
“INVASÕES BÁRBARAS”

A seção carta do editor, intitulada como “Carta do Front”

Ao apresentar o volume IV o editor Dante Grecco destaca que a revista


propõe impressionar mesmo aqueles que já dominam o assunto (estariam inclusos
neste grupo os historiadores?).
Uma das formas de impressionar é através de uma estratégia estética.
Ilustrações e um colorido bem cuidado que são um característica comum na coleção.
Eles querem “fazer um texto atraente e informativo, aliado a um bom gosto
visual”1.
Mas a principal preocupação deste volume é realçar a violência das invasões
bárbaras, através das ilustrações e da linguagem: “Emboscadas espetaculares,
batalhas sangrentas, saques, violência, pilhagens.. Nossa estratégia é caprichar nas
ilustrações ... para passar a exata noção da violência que imperava na época.”2 A
violência como apelo de venda. Bem em moda nos dias atuais, haja visto a
programação televisiva.
Por fim deixa claro que a equipe é formada por jornalistas.

Mapas

A revista, como dissemos, abre com mapas (4 páginas) com cor predominante
ocre e manchas que simulam antiguidade. Numa das bordas do mapa vêem-se
ilustradas manchas de sangue, não por acaso como veremos. Os contornos do mapa
são imprecisos querendo reforçar o paralelo com um mapa antigo.
Diferente da periodicidade que a própria revista sugere (como veremos a
seguir) para as invasões bárbaras, a linha de tempo que acompanha o mapa vai dos
anos 165 d.C. a 955 d.C.
O mapa é preenchido por pequenos drops de textos que enumeram
rapidamente os povos bárbaros e suas principais características. Linhas coloridas
ilustram o deslocamento destes povos sobre o mapa.

1
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 3.
O texto principal da revista

Os textos dos diferentes volumes da coleção são sempre escritos por


jornalistas, mas demonstram que uma pesquisa (satisfatória) foi feita. Não se trata de
uma tradução. O fluxo do texto é coerente, em linguagem jornalística e remetendo
algumas vezes a considerações de historiadores, alguns deles nacionais.
Chega ao requinte de buscar a origem etimológica da palavra bárbaro.3 Outro
traço positivo quando trata das invasões bárbaras, é relativizar o conceito, mostrando
demoradamente como por exemplo os germânicos possuíam convenções políticas e
religiosas, além de costumes que impediriam que os qualificar como selvagens.
Só que uma ousadia é feita. O autor propõe uma periodização das invasões
bárbaras que como menciona o próprio editor admite “subverte o período clássico
das invasões”.4 O autor traça um período que inicia com as invasões dos Dórios
contra os micênicos em 12 a.C. e fecha com os mongóis comandados por Gengis
Khan, que venceram os tártaros e invadiram a China em 1207. Estabelecem assim
uma espécie de Longa Duração das invasões bárbaras. A proposta além de totalmente
discutível é justificada de forma absurda quando o autor diz:
“Embora o auge das invasões tenha ocorrido entre os séculos 5 e 6, não
significa que, ante ou depois, não houvesse guerra entre povos nômades em expansão
que se lançaram contra os romanos. Houve, e não foram poucas.”5 !!!! (grifo nosso)
O Dórios invadiram os micênicos e os romanos???
Curioso é que o subtítulo da matéria não está de acordo com o argumento
anterior pois afirma: “A partir do século 4 tudo mudou.”6
A metade superior da matéria é acompanhada por ilustrações de chefes e
líderes políticos de alguns povos bárbaros tratados. Este líderes são mostrados como
se compusessem uma continuidade numa história política longa duração. Pequenos
textos sintetizam seus respectivos lugares históricos, dispensando a compreensão de
cada momento histórico.

2
Idem.
3
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 10.
4
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 3.
5
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 12.
6
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 10.
Seção curiosidades

Trata-se apenas de pequenos textos, versando sobre assuntos aleatórios


relativos aos povos bárbaros. Uma miscelânea de curiosidades. Vale lembrar que já a
partir desta seção o visual é assinada por um ilustrador diferente. Dentro da mesma
seção existe uma cor ou tema predominante (neste caso específico, temos um fundo
azulado que sugere madeira de um barco).

Corpo da revista (capítulos coloridos)

Como dissemos esta seção como que subdivide-se em capítulos. Cada um


trata de um povo bárbaro ou uma batalha memorável. A primeira coisa que cabe
destacar são os títulos de cada texto, que apresentam algum tipo de linguagem
apelativa, ou inclinam-se para clichês conhecidos:

- a agonia de um gigante;
- a fúria que veio a galope;
- a batalha que valeu por uma guerra;
- no coração do Império;
- a maldição de Alarico;
- preguiçosos e incivilizados;
- os lobos que vieram do mar;
- a vingança à romana;
- terror sobre rodas;
- sede de sangue;
- o fim da fúria.

O tom comedido e sério do texto principal que abre a revista é substituído


por uma linguagem apelativa. Todo o cuidado de caracterizar adequadamente os
povos “bárbaros”, desaparece completamente.
As cores são vibrantes e as ilustrações são de cenas de combate, ameaça e violência,
em coerência com o proposto no início da revista, de destacar principalmente a
brutalidade daquelas guerras.
Com relação a aspectos conceituais, nota-se que os autores não definem
claramente o que seria tribos e povos quando fazem esta menção. Um trabalho mais
elaborado encontraria a tese de Le Goff que diz:
“No caminho, as tribos e os povos tinham-se combatido, tinham-se subjugado
uns aos outros, tinham-se misturado. Alguns deles formaram confederações
efêmeras, como os Hunos,”7
Ou ainda:
“Átila unificou, por volta de 434, as tribos mongóis”8
Vê-se que muitas vezes, não estamos lidando com formações homogêneas
(povos e tribos). Devemos antes considerá-los como uma referência para análise,
pois nem sempre o que chamamos de povos, ou nações, neste caso não correspondem
a realidade. Da mesma forma o conceitos reino e Estado são usados como se fossem
sinônimos e de forma indiscriminada.

Seção Quadrinhos

Nesta curiosa seção temos uma história em quadrinhos que ocupa 6 ou 5


páginas da revista. A história aqui é de um guerreiro nórdico que transforma-se num
herói. A história mistura elementos de história e mitologia nórdica. Recheado de
cenas de batalha e fúria, com predomínio da cor vermelha e de movimento, os
quadrinhos chamam a atenção. A história é bem construída na medida que ilustra
elementos da história das invasões bárbaras:
- os guerreiros berserkr;
- os barcos a remo viking;
- o deus nórdico Odin;
- o “valhalla”;
- a cerimônia de funeral, cujo corpo do guerreiro é incinerado num barco;
- a conversão de bárbaros ao cristianismo.

7
Le Goff - – A civilização do Ocidente Medieval, vol. I – 2ª ed., Lisboa: Editorial Estampa Ltda.,
1983,pág. 39.
8
Op. cit., pág. 43.
Esta história é contada por um ancião que ao final é interpelado por sua nora católica,
a qual amaldiçoa por trair os antigos deuses. Uma perfeita menção à incorporação do
cristianismo pelos povos bárbaros.

Seção Armas

Esta seção se configura como um verdadeiro inventário de armas, têm oito


páginas. Os guerreiros são muito bem ilustrados, mostrados se preparando para um
combate, ou em pleno ataque. Eles são comparados entre si a partir de três
categorias:
- época em que viveram;
- arma principal utilizada;
- arma secundária;
- escudo;
- e proteção.
Complementa-se ainda com pequenos textos informativos que explicam “Por
que entrou para a história?”
Tais comparações não atingem nenhum objetivo, com caráter explícito de
almanaque.

Seção Tomos e Telas

Para quem quer se aprofundar no tema esta seção oferece algumas opções. O
que é interessante é observar que entre os seis livros indicados temos:
- dois clássicos, The Agrícola and the Germânia, de Tácito e Declínio e
Queda do Império Romano de Edward Gibbon;
- dois trabalhos de historiadores contemporâneos;
- um manual didático do professor da Unicamp Pedro Funari;
- e uma espécie de livro-almanaque sobre Gêngis Khan, da livraria
Ediouro.
Como se vê, os livros tem qualidade diferenciada, o que aponta para leitores
com graus diferentes de interesse e de erudição.
Tudo leva a crer que estes foram os livros que foram utilizados pelos
jornalistas para escrever os textos das matérias. Por exemplo, o livro Saracens de
John Tolan é citado numa delas.

Seção argumento

Finalizando, temos a seção “Argumento”, que é o texto de uma página,


escrito sempre por um historiador, mas está espremido entre propagandas dos
produtos da coleção Aventuras na História, passa quase despercebido. O texto neste
volume de Renan Frighietto, professor de história antiga da Universidade Federal do
Paraná, que discorre sobre o papel positivo introduzido pelo “bárbaro” germânico
(entre aspas). Fala do seu papel integrador das tradições do mundo romano e
germânico, além de promoverem “a manutenção das características políticas, sociais
e culturais do mundo greco-latino.”9 O texto destoa da tônica da revista, que explora
a violência, caracterizando principalmente o aspecto guerreiro dos povos bárbaros.

9
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 82.
COLEÇÃO GRANDES GUERRAS nº V
“CRUZADAS”

Seção Carta do Front

Após alguma demora, pouco mais de dois meses, é lançado o volume V da


coleção. Na seção Carta do Front o editor justifica que outro tema estava sendo
preparado: “As guerras Napoleônicas”, mas o advento do filme Cruzadas de Ridley
Scott, programado para lançamento em maio, justificava uma mudança de rumo. O
lançamento da revista na mesma época, caracteriza-se claramente como uma
estratégia mercadológica que não havia sido utilizada anteriormente na coleção. O
filme é o suporte principal da revista. O editor-chefe justifica da seguinte forma a
opção de trabalhar com o filme:
“Tema atual. Teólogos, líderes religiosos e intelectuais, católicos e islâmicos,
souberam do roteiro e passaram a discutir a fita.”10
Alguns pontos de coincidência e divergência da estrutura deste volume, em
relação ao número IV, serão apontados ao longo da análise.

Mapas

Como no volume anterior temos mapas (um pouco mais desta vez – seis
páginas) oferecendo o cenário geográfico do tema cruzadas. Há também a linha do
tempo marcando eventos de das cruzadas.
Aqui temos um diferencial. Como a coleção não trata de processos históricos
ligados e concatenados cumulativamente, e como a revista é para ser lida mesmo por
um leigo, os mapas estão saturados de informações, que se pretendem serem
suficientes para o entendimento rápido do tema. Em vários pequenos boxes temos
informações geográficas, batalhas e as próprias cruzadas, todos explicados muito
brevemente. Há também três quadros maiores (um para cada mapa), que explicam
superficialmente o quadro político durante as cruzadas. A cor ocre (que predomina
nos mapas da coleção) variam em três tonalidades neste volume.

10
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 3.
O texto principal

A matéria demonstra alguma erudição e mostra-se bastante equilibrada.


Adota a linha explicativa das cruzadas com sendo produto basicamente de uma
efervescência religiosa. Para tal apóia-se na explicação do medievalista Marcelo
Cândido da Silva, professor da Universidade de São Paulo.11 O texto também deixa
claro que não se tratava de uma simples oposição Ocidente – Oriente, que havia
divisões e conflitos de ambos os lados. A revista não deixa de lado elementos de
história econômica e política. Faltou esclarecer melhor que as cruzadas estão
inseridas num movimento de expansão da Europa Ocidental, devido a um forte
aumento demográfico, como lembra Jacques Heers e Jacques Le Goff. 12
Urbano II ao exortar os cavaleiros para deixarem de se lançar em guerras
privadas, nos revela o problema dos impulsos militares da nobreza cavaleira,
enfrentado pelo Ocidente.
Le Goff afirma que “quando Urbano II acendeu o fogo da cruzada em
Clermont (1095) e quando S. Bernardo o espevitou em Vézelay (1146), ambos
julgavam com isso transformar a guerra, endêmica no Ocidente, numa causa justa – a
luta contra os infiéis”13
A revista chega a citar a que igreja proibiu o combate em alguns dias da
semana e datas religiosas. No final da revista, na seção “Argumento” que o
historiador Peter Demant retomará este ponto.

Seção de Curiosidades

Intitulada: “Notícias do Jornal das Cruzadas” novamente temos uma listagem


de curiosidades. Neste volume, têm-se o esforço de agrupar o que seriam meras
curiosidades, onde mostra-se que as cruzadas promoveram um intercâmbio cultural;
subtítulo: “Não só batalhas sangrentas aconteceram durante as Cruzadas. As Guerras

11
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 15.
12
“que esta expansão se insira num vasto movimento religioso, ou seja, marcada por um espírito
bastante particular, apoiada por um ímpeto coletivo espontâneo, não muda em nada o aspecto humano
do problema” – in Heer, Jacques – História Medieval. Rio de Janeiro-São Paulo: Difel/Difusão
Editora S/A., pág.161. e Le Goff, Jacques – A civilização do Ocidente Medieval, vol. I – 2ª ed.,
Lisboa: Editorial Estampa Ltda., 1983, pág.96.
13
Le Goff, pág. 100 e Pedrero-Sánchez, Maria Guadalupe – História da Idade Média: Textos e
testemunhos. São Paulo: Edit. Unesp, 2000, pág.83
Santas empreendidas pelos cavaleiros europeus contra os árabes no Oriente Médio
ajudaram, e muito, a disseminar costumes, objetos e hábitos dos mouros em toda a
Europa.”14

O corpo principal da revista (os capítulos coloridos)

Nesta parte da revista os capítulos também são independentes e com padrão


estético diferenciado. Só que existem duas partes dedicadas para o filme, que como
dissemos é o suporte da revista.
A primeira parte que trata do filme, busca mostrar o caráter diferenciado do
projeto do diretor Ridley Scott e seus produtores: “Cruzada será uma fascinante aula
de história”.15
Embarcando na afirmação anterior, a revista aproveita o enredo do filme é
aproveitado como uma narrativa factual, sendo acompanhado por quadros que
complementam informações que não são tratadas no filme.
O texto poderia funcionar apenas como uma mera propaganda do filme (como
aliás é a intenção explícita da segunda parte que trata do filme – Making off) se
ficasse por aqui, mas o autor aproveita a atualidade do tema (como proposto em
“Carta do Front”):
“Numa época em que a paz mundial depende do frágil equilíbrio do Oriente
Médio, é preciso muita coragem para produzir um filme que trata, precisamente, do
conflito entre o cristianismo e o Islã”16
“O conceito de um ‘duelo entre o bem e o mal’, porém, já estava presente e
sobrevive, de forma velada, até os dias de hoje. É bom lembrar que, logo após os
atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush usou o termo
“cruzada” para definir sua guerra contra o terrorismo”.17
Quando nos lembramos dos assuntos ou textos tratados em aula, vemos que o
tratamento profissional da história parte sempre de um questionamento levantado
pelo presente. Neste sentido o esforço da revista, apesar de não ser rigoroso, e de ter
antes de tudo um caráter mercadológico, merece ser elogiado.
O capítulo “Legado” também relaciona o tema Cruzadas, com os dias atuais.

14
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 18.
15
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 22.
16
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 21.
Continuando na análise do corpo principal da revista há dois capítulos
interessantes. O primeiro é o capítulo “As invasões vistas pelos árabes” que é o
contra-ponto do ponto de vista ocidental, que é mais notoriamente tratado. Entre as
referências apresentadas pelo texto está a importante obra do jornalista Amim
Maalouf “As Cruzadas vistas pelos árabes”, que possui uma coletânea de fontes
documentais, recomendada na seção Tomos e Telas, semelhante ao discutido em
relação ao volume IV.
A ação violenta dos cruzados pode ser vista num dos documentos presentes
neste livro: o relato do historiador Ibn al-Athir, referindo-se à tomada de
Constantinopla pelos Cruzados e venezianos entre 1203 e 1204:

“Todos os rum (bizantinos) foram mortos ou despojados. ... Alguns de seus


notáveis tentaram refugiar-se na grande igreja que chamavam de Sofia, perseguidos
pelos franj (cruzados). Um grupo de padres e de monges saiu então, carregando
cruzes e evangelhos, para suplicar aos atacantes que lhes preservassem a vida, mas os
franj não deram nenhuma atenção às suas preces. Massacraram-nos todos, depois
saquearam a igreja.”18
Retornando à matéria, há referências de:
- David Waines, professor de estudos religiosos do islamismo – Univ.
Lancaster – EUA;
- John Esposito, professor de religião – Univ. de Georgetown – EUA;
- os historiadores Carla Obermeyer – Harvard e Marshall Hodgson;
Claro que estamos diante de uma produção jornalística, mas inegavelmente
bem articulada.
Diferentemente do volume IV, outro ponto positivo é a relativização o tema
Cruzadas com as matérias “As invasões vistas pelos árabes” e “Herói” que apresenta
o perfil de Saladino.
No capítulo intitulado “HERÓI – As mil e uma noites de Saladino”, este
personagem pouco explorado no tema cruzadas é retratado como um líder
carismático, inteligente, digno e tolerante. Tal retrato é reforçado por dois boxes em
destaque nas páginas da matéria com os seguintes textos:

17
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 22.
18
Maalouf,Amim “As Cruzadas vistas pelos árabes”,pág.207.
- Saladino foi adorado até por seus inimigos;
- Ele fazia questão de correr riscos com seus soldados.
-
Sua inteligência e coragem enquanto líder militar é confirmado pelo
historiador como Mohamed Habib, da Unicamp:
“Ele não gostava de delegar tarefas e fazia questão de correr riscos junto com
seus soldados. Queria lhes dar segurança e manter o moral da tropa.”19
O autor ainda faz um paralelo entre Saddam Hussein, que malogrou tentar
reunir carisma para liderar os muçulmanos como conseguiu Saladino.
Os outros dois capítulos “Monges da Pesada” e “O Lado B das Cruzadas”
estão mais próximos na linha da coleção. Ilustrações enfatizando violência e
combates, mas as cores não são tão vivas, como de praxe.

História em quadrinhos

Novamente temos uma pequena história em quadrinhos, esta extraída da


internet. Conta a história de um guerreiro muçulmano que desfere sua ira contra os
cristãos. Novamente enfatizando movimento e violência, mas neste caso, a partir de
outro artifício. Em vez do uso de um vermelho ígneo usado nos quadrinhos do
volume IV, aqui em alguns lugares dos quadrinhos estão ilustrados respingos de
sangue que acompanham socos, golpes de espada ou adaga.

Seção Armas

O inventário feito por esta seção é um paradoxo. Por um lado coloca


personagens, máquinas de sítio e fortalezas lado a lado, como que dentro das mesmas
classificações:
- O que era?
- Por que entrou para a História?

19
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 37.
Causa estranheza estar analisar uma besta, um cavaleiro hospitalário e o Krak
de Chevaliers da mesma forma. Por outro lado temos abordada a era da cavalaria,
tema significativo nas Cruzadas, mas pouco explorada.
O estilo inventário é bem claro na descrição dos acessórios do cavaleiro
franco. Estão perfilados espadas, adagas, capacetes, arreios, escudos, etc. Novamente
não atendem qualquer propósito.

Seção Tomos e Telas

São indicados dois trabalhos de qualidade. E a principal indicação é a


coleção escrita pelo historiador inglês Steven Runciman, de três volumes, e o já
citado trabalho de Amim Maalouf.
Duas outras indicações tratam de ordens militares. Um deles “Guardiães da
Fé” é um romance histórico.
As indicações e referências utilizadas nas matérias foram em grande parte
retiradas destes livros. O principal pecado é que as referências bibliográficas não são
indicadas quando isto ocorre.

Duas indicações de endereços da internet são muito interessantes: a primeira


é o site da Biblioteca Nacional da França e a outra é o site da Internet Medieval
Sourcebook que possui vários links sobre o tema.

Seção Argumento

A última seção, novamente tem apenas uma página e está ofuscada por três
páginas de propaganda dos produtos de Aventuras na História.
O professor Peter Demant amplia o significado das Cruzadas para além da
idéia convencional de choque entre oriente e ocidente. Mostra que foi uma “página
negra nas relações entre os mundos europeu e muçulmano”20, pois entre eles havia
um relacionamento de tolerância, ao mostrar que “cristãos viviam bastante bem sob o

20
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 82.
domínio muçulmano”21 Existem outros elementos em questão como o fato de que
cristãos lançaram-se contra cristãos, como no saque de Constantinopla, e que
muçulmanos além de estarem divididos nos séculos XI e XII, enfrentavam também a
ameaça dos mongóis.
Finalmente Peter Demant lembra que as Cruzadas possuem um significado
para o presente, na medida que elas nos desafiam a aceitar a diversidade e estabelecer
o discurso “da boa vizinhança”.

CONCLUSÃO

A despeito de ser um trabalho elaborado por jornalistas, observa-se que eles


se preocuparam em consultar boas fontes e historiadores. Em uma das “cartas do
front” é dito que eles pretendem impressionar mesmo aqueles que já conhecem o
tema, conseguem ao fim se não impressionar, pelo menos um bom trabalho. Houve
matérias interessantes, como a de Saladino por exemplo. Matérias escritas
principalmente para um público em busca de qualidade.
O projeto estético da revista, como já disse, foi uma forma muito criativa de
superar o custo que representaria utilizar imagens pagas. As ilustrações estavam
sempre em sintonia com os textos das matérias nas quais estavam inseridas. O visual
diferenciado ajuda a estruturar as diferentes partes da revista. Um ponto negativo a
considerar é que as ilustrações serviram também para realçar a violências,
principalmente no volume das “Invasões Bárbaras”, o que ajuda mais a validar
preconceitos e estereótipos pertinentes ao tema.
Em termos mercadológicos, afinal a revista é um produto, o colorido e a
distinção estética tornam as revistas altamente atrativas. A capa não é tão colorida
como o interior da revista. Possuem uma cor cinza padrão e são encimados com a
expressão em grandes letras: Grandes Guerras.
Pensando nisto (Grandes Guerras como principal apelo de capa) e sabendo
que há toda uma literatura e inclusive algumas revistas que têm por tema guerras, e
material bélico (aviões, tanques e armas), considerando ainda que a revista não é
barata: R$14,95, podemos deduzir que foi neste público que a revista se insere.

21
Idem
É neste ponto da análise que faz sentido entender a presença da seção
“Armas” presente em cada volume.
Pecados foram cometidos. Um deles foi não fazer as referências
bibliográficas. Destaco novamente a insistência em se destacar a violência, fosse na
linguagem ou na estética, do volume das “Invasões Bárbaras”, além da falta de
cuidado com os aspas em bárbaros.
Com diferentes jornalistas escrevendo as matérias, houve muitas vezes
contradições, por exemplo ao tentar se relativizar o termo bárbaro e na maioria das
vezes exagerar uma selvageria que não corresponde, como lembra Le Goff.22 Mesmo
os Hunos descritos de forma tão terrível pelo volume IV “não eram de maneira
alguma, os selvagens descritos por Amiano Marcelino”23
O ponto alto foi o modo como foi bem explorado o tema das Cruzadas com
relação à atualidade, fosse através do oportuno gancho que o volume fez com o filme
“Cruzadas”, fosse através das matérias.

...

As análises da produção cultural de divulgação histórica a meu ver se


revelaram mais do que uma discussão em torno de se os materiais possuíam
qualidade ou não, se eram sérios ou não. Tais revistas, além de mercadorias que são,
representam um movimento interessante que se processa em nossa sociedade.
Não podemos afirmar categoricamente que a sociedade está ficando mais
culta, mais interessada em problemas políticos, sociais e culturais que as revistas de
História podem suscitar. Mas acredito que algo nesta direção deve estar ocorrendo.
Tal movimento não pode ser injustamente taxado como resultado de uma
moda em virtude de uma ou outra produção hollywoodiana, ou de alguma mini-série.
Como discutido em aula, antigamente sequer tínhamos material fora da
academia que pudéssemos criticar, se este for o caso.
Devemos sempre que possível, enquanto historiadores, apontar as
deficiências ou distorções que tais materiais incorporam, mas considero que estas
revistas além de representarem um novo consumo, ou serem um novo produto, são
antes de tudo um avanço, uma oportunidade.

22
Le Goff, Jacques – A civilização do Ocidente Medieval, vol. I – 2ª ed., Lisboa: Editorial Estampa
Ltda., 1983, págs. 34 e 35.
23
Op. Cit., pág. 38.
BIBLIOGRAFIA

HEER, Jacques – História Medieval. Rio de Janeiro-São Paulo:


Difel/Difusão Editora S/A. 1977.
LE GOFF, Jacques – A civilização do Ocidente Medieval, vol. I – 2ª ed.,
Lisboa: Editorial Estampa Ltda., 1983.
PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe – História da Idade Média:
Textos e testemunhos. São Paulo: Edit. Unesp, 2000.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

CURSO DE TEORIA DA HISTÓRIA I

“HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS: MATERIAL


LEIGO OU DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA?”

Gilson Gomes Araújo Nº USP: 4931591


Leandro S. Theodor Puskas Nº USP: 4931490
Leonardo de Sousa Klein Nº USP: 4956463
Lílian Miranda Bezerra Nº USP: 4930818
Luciana Santoni Nº USP: 4930930

Profª Drª Raquel Glezer

São Paulo, junho de 2005.


2
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...............................................................................................4
Objetivo/Hipótese Orientadora............................................................................. 4
Objeto da Pesquisa/Justificativa .......................................................................... 4
Metodologia Utilizada........................................................................................... 6
ANÁLISES......................................................................................................7
“Jesus e seu tempo” ............................................................................................ 7
“Verdadeiro ou Falso” .......................................................................................... 8
“As Novas Datas na vida de Jesus”..................................................................... 9
“A Ordem na Palestina Romana”....................................................................... 10
“Um filho que não tem Espírito de Família”........................................................ 11
“Na Sinagoga, ele se inicia na Arte da Polêmica”.............................................. 15
“Dezoito anos sem deixar vestígios”.................................................................. 17
“Nas Províncias do Ocidente” ............................................................................ 19
“Nas Províncias do Oriente”............................................................................... 22
“As correntes do judaísmo”................................................................................ 24
“O Templo: uma casa de Tráfico?” .................................................................... 27
“As seguidoras do profeta”................................................................................. 30
“Jerusalém festeja a Páscoa judaica” ................................................................ 31
“Diante de seus juizes, o acusado se cala”........................................................ 33
“As primeiras decorrências de sua morte” ......................................................... 35
CONCLUSÃO...............................................................................................37
REFERÊNCIAS ............................................................................................41
Bibliográficas ..................................................................................................... 41
Documento eletrônico e Sites consultados ........................................................ 41

3
INTRODUÇÃO

Objetivo/Hipótese Orientadora

O trabalho tem a finalidade de discutir criticamente a abordagem da revista


História Viva – Grandes Temas, no que concerne à figura de Jesus, e sua tentativa
de separá-lo de uma visão bíblica e enquadrá-lo numa visão histórica.
O surgimento de diversas revistas com objetivos exploratórios de temas da
História nos faz questionar o quão sério e válidos são os trabalhos apresentados ao
público brasileiro.
A proposta do grupo, como já dito, é de focalizar o tema de Jesus Cristo
como abordado pela revista História Viva - Grandes Temas, e como esta apresenta
uma figura tão mítica a um público não só acadêmico, mas também leigo.
A revista se propõe a fazer um trabalho de “divulgação científica”1; portanto nos
dispomos no decorrer da pesquisa a questionar até que ponto vai essa
cientificidade, ou seja, se métodos e conceitos históricos são ou não adotados.

Objeto da Pesquisa/Justificativa

A revista em questão (História Viva - Grandes Temas) foi escolhida tanto por
enquadrar-se no assunto por nós elencado, quanto por já gozar de certa
consideração entre o público leitor brasileiro. Há que se levar também em
consideração a importância e tradição da revista similar entre os leitores franceses.
Comecemos pelos dados básicos da revista: tal publicação vincula-se a
Duetto Editorial que fora fundada no primeiro semestre de 2001, sendo resultado da
associação das Editoras Ediouro Publicações e Segmento que visavam “entrar
vigorosamente no mercado de revistas destinadas ao leitor final”2.
Incluem-se neste grupo de revistas além da História Viva e História Viva –
Grandes Temas, as seguintes publicações: Scientific American Brasil; Especiais
Temáticos de Scientific American; Viver Mente & Cérebro e Viver Mente & Cérebro
– Memória da Psicanálise, que fazem parte do “Grupo Conhecimento”, compondo o
outro grupo, “Grupo Beleza e Bem-estar”, as revistas: Cabelos & Cia.; Guias de

1
IBAÑEZ, Miriam. Resposta ao e-mail [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<leandro_usp@hotmail.com> em 12 maio de 2005.
2
HISTÓRIA VIVA. Disponível em: <http://www.historiaviva.com.br>. Acesso em: 25 maio de 2005.

4
Beleza; Coleção 1000 Cortes & Cia. e Coleção Colors: Louras, Morenas, Ruivas e
Negras.
A Duetto conta com a participação de 46 profissionais, dos quais
destacaremos, Miriam Ibañez, com quem conversamos via e-mail, e o idealizador da
revista trabalhada Alfredo Nastari. Este último resolvera integrar-se em tal nicho de
mercado após tomar contato com a publicação francesa “Historia”, que conta com
quase 90 anos de tradição naquele país. Quanto a Miriam, editora-chefe da História
Viva, soubemos ser sua formação não só em jornalismo, mas também em História,
curso este realizado na mesma Universidade de São Paulo (USP). Fora através
dela que obtivemos as informações a seguir, concernentes a História Viva.
Sua tiragem gira em torno dos 65.000 exemplares, tendo por público alvo
“adultos (...) interessados na matéria, não necessariamente com formação acadêmica”3,
estendendo-se também a um público de jovens estudantes. Esta publicação
desenvolve-se em parceria com a “Historia” francesa, a qual é formada por
renomados especialistas atuantes nas mais diversas áreas.
Os dados por nós enunciados referem-se à publicação mensal da História
Viva, mais especificamente a edição 16, do mês de fevereiro do corrente ano, que
teve por capa os Vikings. A História Viva – Grandes Temas é de “periodicidade
trimestral, dedicada aos mais expressivos, polêmicos e decisivos acontecimentos e
personagens da História, da antiguidade aos dias atuais 4”. Este seguimento da História
Viva encontra-se hoje na 8ª edição, que aborda a temática Romana; as demais
trouxeram por capa e tema a Vitória (edição nº 7); a Mesopotâmia (edição nº 6); o
Renascimento (edição nº 5); o Brasil que Getúlio sonhou (edição nº4); os Gregos
(edição nº 3); a Revolução Francesa (edição nº 2) e por fim a aqui analisada: Jesus
– o Homem e seu Tempo, que fora a precursora destas no Brasil, publicada em
dezembro de 2003, propositalmente lançada às vésperas da festa Natalina, uma
das mais significativas datas cristãs.

3
IBAÑEZ, Miriam. Resposta ao e-mail [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<leandro_usp@hotmail.com> em 12 maio de 2005.
4
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.5

5
Metodologia Utilizada

Após termos selecionado o material a ser trabalhado, procuramos


estabelecer contato com a editora, o que foi feito via e-mail. E é desta fonte, aliada
às informações dos demais grupos apresentados em sala de aula, bem como à
consulta operada no site da mesma revista, que obtivemos as informações
necessárias quanto a número de tiragem, assinantes, etc.
Realizada esta primeira etapa, partimos a uma análise individualizada de
cada artigo presente, tendo em vista que nos restringiremos a uma única edição da
publicação, a qual procuraremos explorar na sua totalidade.
Na tentativa de elucidar os métodos e conceitos utilizados pelos autores,
empreendemos uma busca virtual (pouco frutífera) a respeito de cada um deles,
estudando as possíveis influências de seus outros trabalhos e suas biografias.
Os artigos serão analisados não só em âmbito escrito, mas também no visual
(pictórico-iconográfico) na tentativa de extrairmos os conceitos passados pelo autor
bem como seus métodos e abordagens.
Não deixaremos de salientar aspectos referentes à diagramação e editoração
da revista.

6
ANÁLISES

“Jesus e seu tempo”


Por Jacques–Nöel Pérès, traduzido por Alexandre Massella5 (p. 6-7).

Professor de patrística na Faculdade de Teologia Protestante de Paris,


Jacques Nöel Pérès é também pastor da Igreja Luterana e grande divulgador
cientifico de estudos históricos sobre o cristianismo dos primeiros séculos e
patrística. Trabalha também como professor na Escola de línguas e civilizações do
Oriente Antigo em Paris.6
O autor procura deixar clara a questão que se coloca sobre tradição e
História. Não só uma análise histórica dos fatos é exigida pelo assunto, como
também uma análise com base nas tradições dos mitos e lugares.
Um grande problema enfrentado é o da intencionalidade marcante dos
historiadores contemporâneos de Cristo (se é que podemos chamá-los de
historiadores como citado, pela falta de métodos constantes entre eles, o que
demonstraria um certo anacronismo de parte da revista), principalmente por fazerem
parte da fé cristã.7 Dentre os que não professavam a nova fé, três eram romanos e
viam com extremo preconceito os habitantes da antiga Palestina, e um quarto era
judeu – Flávio Josefo – que acabou sendo acolhido como fonte mais válida sobre o
período; devido a sua posição um tanto imparcial dos fatos.
Jacques Nöel Pérès no decorrer de seu texto, mostra que mesmo saindo da
figura de Jesus e partindo para um estudo da região, acabamos tendo acesso a
documentos, principalmente por parte dos gregos, que descrevem o local
misturando a realidade dos fatos com lendas e ilusões fictícias que acabam por
deteriorar uma construção exata da época.
É importante a crítica que esse teólogo e pastor apresenta à tentativa de
abordar historicamente uma figura tão mítica quanto Jesus; para ele não podemos
esquecer que toda tradição pertence a uma memória coletiva, que representa o
núcleo essencial daquilo que se quis preservar e que acaba criando uma verdade

5
Tradutor free lancer de diversas editoras como a Abril e Duetto.
6
Disponível em: <www.iptheologie.asso.fr>. Acesso em: 03 de junho de2005.
7
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.6

7
que valeria a pena legar porque seria boa e capaz de tornar o passado útil ao
presente.8
Isso acaba entrando em conflito com a proposta da História Viva de divulgar
material científico de História, já que sabemos que o historiador não pode levar em
conta materiais duvidosos como a Bíblia somente, para construir o passado, mas de
certa forma a matéria deixa claro, que o assunto talvez não possa ser abordado
somente pelo lado histórico, devido, quem sabe, à influência das religiões cristãs
entre os leitores da revista, o que nos leva a questionar se o fator puramente
histórico foi misturado a trabalhos de teólogos e lingüistas para arraigar dessa
maneira maior quantidade de leitores, mesmo que contrarie a proposta da revista
em si. Isso posto, qual a noção de cientificidade da revista História Viva em seu
objetivo de divulgação apresentado na introdução?

“Verdadeiro ou Falso”
Sem identificação de autor (p. 8-9).

O artigo “VERDADEIRO OU FALSO?” é definido pela editora como parte que


tenta elucidar lendas e boatos que se misturam aos relatos históricos sobre a
Palestina9.
Nenhum tipo de fonte é indicado em todo o decorrer da matéria e nenhuma
identificação é feita sobre quem possivelmente o escreveu. Sabemos que a edição
da Revista Historia francesa apresenta o mesmo artigo, sendo assim concluímos
que não foi por nenhum jornalista ou integrante do grupo editorial brasileiro.
Talvez um dos pontos fortes a destacar seja o material pictográfico. Esses
sim apresentam fontes e legendas explicativas e, pela primeira vez na revista (ao
que parece mais para frente ela também irá acertar esse detalhe), as fotos
apresentadas possuem algum nexo com o texto.
Encontrando-se tal texto entre o primeiro e segundo artigo assinado por
autores, este mais parece ter uma função explicativa ao leitor, em uma espécie de
apoio de leitura aos demais textos que se encontram na revista.
São blocos de textos com assuntos os mais diversos (desde a páscoa judaica
até os presentes que os reis magos teriam oferecido ao menino Jesus), que não
apresentam nenhum tipo de metodologia de história, mais se aproximando de um
8
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.6.
9
Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/>. Acesso em: 10 de junho de 2005

8
artigo jornalístico conforme analisado os conceitos de verdade colocados sem
nenhum tipo de fonte ou guia de leitura.

“As Novas Datas na vida de Jesus”


Por Liliane Crèté, traduzido por Alexandre Massella (p. 10-13).

Liliane Creté é historiadora das religiões, especialista em historia da Reforma


e atual pesquisadora sobre o evangelista João.10
A autora procura através da análise dos evangelhos, balizar datas referentes
ao nascimento e principais fatos da vida de Jesus.
Trabalhando de modo, até certo ponto, claro na revista, Liliane procura
comparar as descrições dos fatos entre os diversos Evangelhos para aproximar
datas “reais” dos ocorridos. Para contestar as descrições bíblicas, a historiadora faz
uso de comparação e confrontamento entre os evangelistas e o historiador Flávio
Josefo, dando ênfase a este último.
Os problemas são as conclusões descritivas que Liliane Creté vai discorrendo
sem apresentar nenhum tipo de nota com fontes etc; como na parte em que
escreve: “Sabemos que, durante três anos, Tibério é co-regente com Augusto na parte
leste do Império; Pilatos governa a Judéia de 26 a 36 de nossa era; Herodes Antipas, filho
11
de Herodes O Grande e tetrarca da Galiléia e de Pereia de 4 a.C. a 39...” Sabemos
como? Nenhum tipo de nota indica as fontes de suas conclusões que refutam a
Bíblia.
Outro grande problema é a inserção no meio da matéria de figuras e
pictografias que em nada se relacionam com o texto em si. Fotos com a construção
de uma estrela da Natividade que guiou os três reis magos, um mapa da Palestina e
a entrada de uma sinagoga na cidade de Carfanaum12, apesar de terem suas fontes
e créditos, acabam desviando a atenção do leitor de um texto recheado de datas e
nomes dos governantes da época, talvez numa tentativa de entreter o leigo, de um
texto pouco atraente num conceito da mídia jornalística.
Mais uma vez se coloca a questão da seriedade do trabalho proposto no
início da Revista Grandes Temas, quando um texto mais rebuscado, feito por um

10
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.13.
11
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.12.
12
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.11 a 13.

9
historiador, sofre variada interferência na sua edição, voltando-o para um leitor leigo
e não acadêmico.
É perceptível a falta de audácia na contestação dos fatos bíblicos, mesmo
chegando a mostrar incoerência nas datas dos evangelhos, a matéria em si não
conclui nada que afronte dados religiosos, uma clara demonstração da “política de
não polemizar” assuntos que poderiam ofender um consumidor religioso.
Novamente a intenção da revista fica clara, que como foi constatado na análise, é a
de apresentar um trabalho científico para um leitor leigo. Perguntamo-nos qual a
finalidade desse ato, já que em nenhum momento sua editora-chefe declara ser
esse o objetivo?

“A Ordem na Palestina Romana”


Por Anne Logeay, traduzido por Ana Monteiro13 (p. 14-21).

Anne Logeay é professora de línguas e civilização latina da Universidade de


Roüen e costuma cooperar com certa constância com artigos na revista francesa
Historia.
A autora em seu artigo procura nos mostrar como eram, na época, as
relações dos povos da Palestina com seus dominadores – os romanos. Aqui
percebemos, apesar da autora não ser conceituada como historiadora, a utilização
de métodos comparativos e questionamento de fontes como a Bíblia e escritos
contemporâneos à época de Jesus. Com um linguajar mais rebuscado, percebemos
nas construções de suas idéias, uma aproximação com livros acadêmicos.
Supondo que o leitor não seja um leigo por completo no assunto, Anne passa direto
e sem explicações sobre termos como “macabeus”, “diáspora judaica”, “Tora´” entre
outros. Um outro momento em que a autora não identifica sua conclusão e, por
conseguinte não cita fontes, é quando afirma sobre o possível nascimento de Cristo
no ano de 4 a.C. “segundo uma certa tradição”14. Que tradição é esta?
Fotos sem nenhuma ligação com o texto corrente à página são colocadas no
decorrer da matéria, obviamente numa tentativa de atrair um possível consumidor
que talvez folheie a revista na banca, ou que se canse da massividade do texto.
Pequenos quadros nos cantos das páginas procuram balizar o período que Anne
Logeay cita em sua matéria.
13
Tradutora de diversas revistas do grupo editorial Duetto.
14
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.16.

10
Do meio do artigo para o seu fim a qualidade da metodologia cai
consideravelmente. Contestações de textos de historiadores são feitas sem
utilização de argumentação que se sustente nem citação de fontes 15; percebe-se a
utilização repetitiva de palavras e de nomes consagrados no conhecimento geral,
como Júlio César e Otávio Augusto citados nada menos que onze vezes o primeiro
e nove o segundo, num artigo de cinco páginas.
A pergunta que fica aqui é até onde o processo de edição transforma o
trabalho dos acadêmicos ou até onde esses mesmos acadêmicos não escrevem
intencionalmente para uma revista de público leigo?

“Um filho que não tem Espírito de Família”


Por Jacques Duquesne, traduzido por Ana Montoia (p. 22-29).

Jacques Duquesne é jornalista e escritor; foi co-fundador e redator chefe do


semanário Le Point. Escreveu diversos livros de ensaios e biografias,
freqüentemente sobre temática religiosa (La Gauche du Christ – 1972, Jésus –
1994, Le Dieu de Jésus – 1997, Dieu expliqué à mês petitis-enfants – 1999, as
novelas Catherine Courage – 1191, Maria Vandamme – 1993, etc.).16
Atualmente é presidente do conselho da revista L’ Express.
Após situar a posição geográfica de Nazaré e descrever, sucintamente, suas
características gerais, Jacques Duquesne, passa a analisar a família de Jesus e as
relações deste com ela.
O primeiro a vir à tona é José. Aqui é colocado não só sua genealogia
(questionada pelo autor), mas também sua profissão e a significação desta naquela
sociedade.
Duquesne apercebe-se do desaparecimento de tal personagem nos relatos
bíblicos da vida adulta de Cristo, e supõe ser este fato decorrente da possível morte
daquele. Salienta a importância, muitas vezes esquecida, da figura paterna na
formação educacional e religiosa dos filhos. Fora José quem levara Jesus à
Sinagoga e o ensinara a dizer “Amém”, no entanto sua figura é muitas vezes
ofuscada pela importância de Maria.

15
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.19.
16
Disponível em: <http://www.seix-barral.es/fichaautor.asp?autor=130>. Acesso em: 02 de junho de
2005.

11
Ao voltar-se à Mãe, Duquesne relata a posição social feminina no mundo
antigo; faz uma descrição da típica casa nazarena e surpreende-se com o pouco
conhecimento e citações bíblicas que possuímos da mãe de Cristo. Sua genealogia
é controversa e muitas vezes baseada em textos apócrifos, já que os Evangelhos
pouco dizem sobre ela.
O autor destacará Maria nas quatro vezes em que aparece no Novo
Testamento (após os grandes episódios da Natividade e do desaparecimento de
Jesus no Templo), centrando-se nos relatos ofertados concernentes à tensão vivida
por Jesus em relação a sua família; tensão esta oriunda do início de sua pregação.
É sobre tal “rixa” familiar que este autor se debruça, buscando suas razões. A
partir dela colocará questões a respeito da relação de “verdadeira intimidade de alma e
espírito”17 entre Maria e Jesus, que sairia arranhada com a confirmação de tal fato,
também a existência ou não de irmãos de Cristo, contestada pela Igreja católica,
mas presente no texto bíblico, de onde o autor conclui ser a família de Cristo
idêntica a família judia da época, ou seja, numerosa e zelosa da educação religiosa
de seus filhos.
Por fim Jacques Duquesne tenta explicar, com base na Bíblia, o porquê de tal
indisposição entre Cristo e seus pais - já que estes conheciam desde o início sua
santidade – acaba por concluir que fora um erro de tradução que nos proporcionara
a incompreensão da atitude dúbia de Maria (que no início da pregação do filho
estivera distante dele, mas se aproximara no fim de sua vida). Esta procura
compreender as atitudes do filho e quando consegue, reúne-se, enfim, a ele, então,
para Duquesne, Maria poderia ser vista como a “primeira teóloga do mundo cristão”18.
Como fica claro, o autor, antes de aprofundar-se sobre o tema que se propôs
e que se anuncia no próprio título do artigo, procura contextualizar o mesmo tema,
buscando para isso o auxílio não só da Bíblia, mas também, de outros escritos e
autores, colocando por fim, as suas próprias conclusões.
Quando trata da cidade de Nazaré, ou mais propriamente da localidade da
Galiléia na qual aquela se situa, o escritor usa tanto do historiador, de certa forma
contemporâneo, Flávio Josefo, quanto de Ernest Renan, que mantém em relação
aos fatos uma distância de mais de dezoito séculos. Ambos autores descrevem a
região com o “mesmo lirismo”19, Duquesne usa de citações para confirmar tal

17
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.27.
18
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.29.
19
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, n º 1, dezembro 2003. p.23.

12
conclusão – no entanto, estas carecem de maior rigor já que não possuímos notas
(de rodapé, por exemplo) que nos elucidem de onde foram retiradas.
Em seguida o autor desmistifica tal região, assinalando as desigualdades
presentes na mesma que teoricamente não teriam sido notadas pelos autores antes
citados; ressalta também as omissões bíblicas quanto a cidades importantes (como
Séforis) certamente conhecidas por Jesus.
A mesma Bíblia, a despeito de servir de base as suas conclusões, é, no
decorrer do texto, muitas vezes colocada em cheque. O autor, sem desprezá-la,
mantém com ela um posicionamento crítico; a cita para firmar seus argumentos,
aliando a mesma textos apócrifos e escritos de religiosos.
Na composição de sua argumentação os textos judaicos também não são
esquecidos; utiliza-se do Talmude e descreve os costumes judeus importantes para
a compreensão do contexto social de Cristo. Ao mesmo tempo a etimologia lhe
serve de explicação e legitimação dos fatos que levanta, é com base em tal recurso
que afirma a existência de irmãos e não primos de Jesus, também é por meio de um
erro de tradução que justifica as atitudes de Maria em relação a seu filho, ela teria
demorado a compreender aquele, daí o seu distanciamento e tensão.
É ao tratar da figura de Maria que Jacques Duquesne nos deixa transparecer
mais facilmente os alicerces nos quais se apóia e os debates que sustenta. São
aqui citados, para além dos Evangelhos “legítimos”, os apócrifos; mais
especificamente, o Protoevangelho de Tiago e também os escritos de Padres da
Igreja, no caso de Irineu, bispo de Lyon. O autor ainda indica a existência de
debates de exegetas em torno de tão importante personagem, acaba por nos
mostrar (por meio de citação) a conclusão a que chegara um deles, qual seja, o
padre jesuíta Xavier Leon-Dufour, a que tudo indica20, em seu livro “Leitura do
Evangelho segundo João”.
Outra obra textualmente citada é Antiguidades Judaicas de autoria de Flávio
Josefo, utilizado no âmbito da discussão sobre a existência ou não de irmãos de
Jesus. Duquesne afirma estar a emergência de tal tema associada à descoberta
recente de um ossuário de pedra (fraudulento) onde se gravara: “Tiago, filho de José,
irmão de Jesus”21, tal fato só vem atestar a relevância das referências arqueológicas
na feitura da História, e no que tange a História do Cristianismo, nosso autor não

20
Porque mais uma vez a citação não é situada.
21
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.28.

13
deixa de postular os recursos existentes para tal construção, isto é, a “análise
rigorosa dos textos e das traduções”22.
Uma outra fonte discernível ao longo do artigo é a condizente aos escritos do
“pai da história da Igreja”23, Eusébio de Cesaréia, utilizada também para afirmar a
presença de Tiago, irmão de Cristo.
É interessante notar que Jacques Duquesne tira seu problema – o conflito
familiar de Jesus – da Bíblia, e com a mesma o resolve (ao supor que tal tensão,
sobretudo com Maria, oriunda da pregação de Cristo, se findara quando aquela
finalmente compreendera quem era o filho, trecho este, da mesma forma que o
conflito, presente no texto, mas sujeito a um erro de tradução que dificultara a
melhor apreensão dos atos). Não há nele, a despeito das questões e senões que
coloca, um distanciamento marcado em relação a esta fonte; não contesta a
veracidade de seus fatos, pelo contrário, constrói toda a sua argumentação em
torno dela, o que nos permite supor que o mesmo partilhe de uma interpretação da
história pautada em religiosidade.
Se nos atermos a números perceberemos que a Bíblia é sem dúvida sua
principal fonte, ela, ou partes dela, são mencionadas cerca de 23 vezes, sem contar
as citações de trechos da mesma que totalizam 12 ocorrências contra 3 de outros
materiais não diretamente relacionados à Igreja (2 de Flávio Josefo e 1 de Ernest
Renan). Quanto a tais citações bíblicas notamos o mesmo problema assinalado com
as demais obras; 6 das 12 citações não contêm sua localização precisa, o que
denota a falta de preocupação metodológica do escritor. Também não nos é
exposta, em separado, a completa bibliografia por ele utilizada, percebemos esta
diluída no texto, mas somente quando o autor se propõe a oferecê-la, o que nos faz
supor que exista lacunas na mesma.
Quanto à escrita do texto, Duquesne, alia à mera descrição dos fatos e
costumes (o que em si já é uma forma de explicação histórica) as suas próprias
interpretações e conclusões; opera a uma análise do texto bíblico pautada em
conhecimentos exteriores a ele, ou seja, contexto histórico, costumes judaicos,
romanos, etc. Também se propõe a verificar os possíveis erros de traduções e faz
uso da origem das palavras ou da língua grega para embasar suas argumentações.
Há nele certa preocupação em afirmar somente aquilo presente em mais de um
documento, seja confrontando os vários Evangelhos ou aliando a um deles

22
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.28.
23
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.29.

14
episódios semelhantes relatados por personagens contemporâneos. Ao menos,
neste sentido, podemos afirmar que ele se adequa ao método de trabalho do
historiador, mas, no entanto, não vai muito além disso.
Não nos foi possível retirar de sua escrita nenhum conceito que se restrinja
ao campo das Teorias de História; ele não parece estar enquadrado em qualquer
corrente historiográfica, nem tampouco usa, indiscriminadamente, conceitos
inerentes a elas.
No que concerne ao aspecto visual do artigo, deparamo-nos com 7
iconografias; 6 pinturas e uma esquematização da genealogia de Cristo.
Aparentemente estas servem para ilustrar o texto (e não o contrário) já que as
mesmas vinculam-se aos aspectos levantados; sem dúvida a genealogia era a única
imprescindível, mas as demais não chegam a compor material inútil, haja vista que
trazem temas relacionados à família de Jesus; episódios bíblicos, e a mais extensa
delas, a uma carpintaria contemporânea (Jacques Duquesne salienta o papel social
de carpinteiros, como José, naquela sociedade).
Com exceção da primeira imagem, todas as demais trazem consigo os
créditos (título, autoria, data e local de origem). A maioria delas são pinturas
conhecidas, de autores consagrados (como Rafael e Giotto). Alocam-se em alguma
extremidade da folha, ou tomam uma metade dela, não chegando a ocupar a página
inteira.
Por fim encontra-se o usual glossário que nos esclarece a respeito dos 4
Evangelistas a Atos dos Apóstolos, dando-nos a data de sua escritura e uma breve
descrição de seu conteúdo.

“Na Sinagoga, ele se inicia na Arte da Polêmica”


Por Jeanne Chaillet, traduzido por Celso Paciornik24 (p. 30-35).

Jeanne Chaillet é especialista em Bíblia, diplomada em línguas semíticas


antigas. Estuda o pensamento judaico presente nos Evangelhos.
O presente artigo tem por tema primeiro a formação educacional de Jesus
Cristo; suas idas ao Templo e os estudos que praticou a partir dos 6 anos de idade,

24
Celso Parcionik trabalha profissionalmente como tradutor desde o final dos anos 80. Trabalhou muitos
anos no jornal Gazeta Mercantil e trabalha atualmente no jornal Valor Econômico.
Disponível em: <http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/celso.htm>. Acesso em: 10 de junho de
2005.

15
que abarcavam não só as Escrituras mas, da mesma forma, a leitura, geografia,
história, cálculo e a arte da polêmica. Todos aprendidos na Sinagoga, que abrigava
a escola e constituía-se como centro da vida social daquele período.
Após esta primeira parte, Jeanne Chaillet passará a centrar-se nas mais
importantes comemorações judaicas. A primeira a ser enfocada é o Sabat, que
merece longa descrição seguida da avaliação de qual seria o seu propósito, ou seja,
“remeter o homem ao momento da Criação”25. O Sabat é uma espécie de ritual familiar,
distinto das três festas de peregrinação abordadas em seguida – o Sucot, a
Pessach e o Shavuot – que são extensamente descritas mas, muito pouco
interpretadas, à semelhança do acontecido com a solenidade do Yom Kippur, a
última trazida à baila.
Por fim, Chaillet aponta a justificação – nos textos sagrados – das festas
judaicas, assim como sua diferença em relação às cristãs.
No geral tal artigo carece de maior caráter analítico, há excesso de descrição
e escassez de interpretações e conclusões.
A autora centra-se exageradamente em escritos sagrados (mencionados
cerca de 18 vezes), muitas vezes não devidamente situados. Encontramos 11
citações textuais de tais escritos, das quais 5 não são localizáveis. Não há em seu
texto menção a qualquer outra fonte por ela utilizada, a despeito de encontramos no
decorrer da leitura fatos não bíblicos.
Também a maior parte do conteúdo do artigo destoa do título a ele imposto, o
que faz parecer que o mesmo fora enxertado juntamente com os poucos 3
parágrafos a ele correspondentes. Há uma visível quebra de enredo na passagem
da descrição da educação de Cristo para as festas judaicas, que apenas em um
momento inserem a figura daquele.
Há em Chaillet uma certa preocupação em buscar na própria Bíblia a
origem/criação dos temas por ela tratados, é assim que opera, por exemplo, quando
se refere à parábola ou a Sinagoga26. Também as festas são justificadas por
intermédio dela, no entanto, não nos é exposto de onde a autora retira as
descrições pormenorizadas das mesmas; como nos demais artigos, nos é suprimida
a bibliografia correspondente e, no caso do artigo em questão, a situação piora,
afinal como já dito, a escritora não a cita no decorrer do texto.

25
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.32.
26
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.32.

16
O artigo trabalhado só muito forçosamente poderia ser considerado um
trabalho historiográfico, haja vista que a preocupação metodológica é quase nula;
toda a argumentação gira em torno de um único documento (o qual em nenhum
momento é posto em dúvida); os assuntos tratados carecem de uma séria
contextualização (as festas são descritas, na maior parte das vezes, desvinculadas,
seja de seu contexto histórico, ou mesmo da personagem central da revista –
Cristo); não há debates em voga; nem aparente utilização de qualquer Teoria da
História.
Não desconhecemos que a descrição possa ser considerada um modo de
explicação histórica, no entanto, a mesma precisa vir acompanhada de alguma
forma de interpretação/compreensão, afinal erudição não é quesito único para a
composição de um bom trabalho de História.
São apresentadas no artigo 7 iconografias, distribuídas entre pintura, gravura,
iluminura e um quadro esquemático do calendário judeu. Duas de tais imagens
abordam o mesmo tema: “A circuncisão de Cristo”27, é interessante observar que tal
assunto não é diretamente abordado no artigo, que se vincula mais as festas
judaicas. Talvez tal repetição venha mesmo legitimar o tema trabalhado, ao associar
e fixar a figura de Cristo a um ritual conhecidamente semita.
Somente estas duas figuras retratam Jesus, as outras 4 relacionam-se a
motes estritamente judaicos e só em uma, além, é claro, do calendário, percebemos
clara alusão às festas descritas.
Tais ilustrações ocupam parte considerável do artigo; a segunda delas (uma
das circuncisões de Cristo, a de L. Cândido) preenche mesmo uma página inteira,
duas outras meia página e as demais se alocam em alguma extremidade da
mesma. Quatro, das sete, não possuem créditos precisos, faltando, normalmente, a
datação a elas correspondentes.
O glossário traz esclarecimentos sobre três termos: levitas, gentios e Dias
Terríveis, sendo que este último em nenhum momento aparece no texto.

“Dezoito anos sem deixar vestígios”


Entrevista com Jacques-Noël Pérès, realizada por Alice Rolland e traduzida por
Celso Paciornik (p.36-39).

27
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.31 e 32.

17
Jacques-Noël Pérès é pastor da Igreja Luterana, professor de Patrística na
Faculdade de Teologia Protestante de Paris, na qual também exerce o cargo de
Reitor. Publicou uma tradução comentada da Epistola dos Apóstolos.
A revista interroga o entrevistado a respeito do “sumiço” de Jesus das
Escrituras por um período de 18 anos. O teólogo responde que somente existe
interesse na vida de Jesus, porque a “ fé cristã é a fé de um Deus encarnado”28; de
existência terrena e inserido numa história apresentada sobretudo na Bíblia. No que
diz respeito a esta, Noël Pérès, elencará uma série de questões referentes a sua
veracidade.
Afirmará que tal fonte de fato não contém todos os atos e falas de Jesus; as
lacunas foram preenchidas ou geradas por seus seguidores, que “conservaram o que
lhes parecia necessário e omitiram o que não tinha interesse imediato...”29. Mas tais textos
não constituem, para Noël (baseado em Oscar Cullmann), apesar disto, inverdades.
São “autênticos testemunhos de fé”30 assim como o próprio Evangelho.
As lacunas de sua vida são preenchidas por hipóteses, mas tal período de
ausência não é de importância vital para o teólogo, e se as hipóteses são buscadas
é por mera curiosidade, para se justificar os a priori que são formados a respeito de
Jesus, para “orientar a imagem que se vai dar dele”31. “Jesus é um personagem histórico”32
e para que não duvidem é preciso encontrar argumentos que atestem a sua
existência/vida, daí a busca das hipóteses.
Por se tratar de uma entrevista a análise por nós empreendida torna-se um
tanto quanto limitada, Noël Pérès responde a questões circunscritas e, portanto, não
lhe é concedido espaço para maiores explanações das quais mais facilmente
retiraríamos seus pressupostos científicos.
Apesar disto, a partir das respostas dadas, apreendemos uma certa
aproximação do entrevistado a um método historiográfico, mesmo que pouco
rigoroso. Mais de uma vez ele cita a importância das fontes na confirmação da
história, no caso, da de Jesus; da qual possuímos não só datas compatíveis com a
história conhecida, mas também personagens (como imperadores) que nos
deixaram rastros documentais, o que atestaria a existência daquele.

28
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.36.
29
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.38.
30
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.38.
31
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.39.
32
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.39.

18
Noël Pérès mantém uma posição crítica a respeito da fonte em que se baseia
(Bíblia), questiona a veracidade dos fatos que ela narra (muitas vezes impregnados
de caráter “maravilhoso”33) no entanto, não consegue se desvincular dela e acaba por
firmar sua autenticidade (levando em conta que a mesma é sobretudo um
testemunho de fé) dentro de padrões relativos.
Sua fala não se alicerça somente em tal texto sagrado, busca também os
apócrifos, cita Voltaire e Oscar Cullmann, a despeito de não nos fornecer maiores
informações sobre os mesmos. Desconhecemos a qual apócrifo ou a quais obras
destes autores ele se refere, afinal não há notas de rodapé, nem mesmo a
exposição da bibliografia utilizada.
Ilustrando o texto, existem duas pinturas que abrangem quase 50% do
espaço. Ambas relacionam-se a fatos mencionados pelo teólogo e apresentam-se
devidamente referenciadas. A primeira delas: “São João Batista no deserto”, de
Philippe de Champaigne, ocupa uma página inteira, enquanto a segunda (“Cristo do
Deserto” de Ivan Kramskoy) utiliza dois terços (2/3) da outra.
À diferença do comumente estabelecido, este artigo não possui glossário.
Nos é dado o nome de quem entrevistara o teólogo, mas nada além disto.

“Nas Províncias do Ocidente”


Por Catherine Salles, traduzido por Celso Paciornik (p. 40-45).

Catherine Salles é mestre de conferências em Paris X- Nanterre, Doutora e


Professora suplente de Letras Clássicas. Entre suas principais publicações
encontram-se: Les Bas- fonds de I´Antiquité - 1982; L´Antiquité Romaine – 2000;
L´art de Vivre au temps de Julie, fille d´Auguste – 2000 e Quand les dieux aux
hommes- Introduction aux mythologies grecque et romaine – 2003.
O artigo faz uma contextualização das Províncias do Ocidente na época de
Jesus.
A autora foca seu texto no Império Romano sob o governo do Imperador
Tibério. Este como sumo pontífice deveria preservar a religião tradicional e vigiar as
atividades de cultos estrangeiros. Um grupo que estaria provocando problemas: os
judeus. Estes estariam causando escândalos e atraindo além dos populares, a
nobreza. Com isso, Tibério teria tomado medidas contra eles.

33
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.36.

19
No artigo, a autora destaca o Imperador Tibério. Este aparece dezenove
vezes em apenas seis páginas de artigo. Ainda ressalta o fato de este ser
maltratado pela tradição histórica, que o apresenta como “...cruel, dissimulado e
corrupto.”34
Com relação às regiões romanizadas, também haveria problemas, como a
insurreição gaulesa, que levou estes ao conflito com os romanos que estariam tendo
problemas com os povos livres.
O artigo prossegue descrevendo a relação dos romanos com a África. Os
romanos teriam procurado consolidar as suas fronteiras africanas, teriam estendido
a sua dominação sobre o Saara ocidental, mas não teriam chegado a descobrir a
África negra. Assim como a África, o Oriente Médio era uma área problemática do
Império Romano, pois a fronteira com a Arábia precisava ser protegida contra os
povos vizinhos. Na região da Judéia no ano de 26 teria chegado Pôncio Pilatos, na
condição de procurador. Este teria causado muitos problemas com as populações
locais, principalmente ao criticar o judaísmo. Esta contextualização da região da
Judéia é importante para o entendimento do contexto da vida de Jesus, visto que
Pôncio Pilatos será o responsável pelo seu julgamento.
A autora não demonstra as fontes utilizadas, com exceção da citação do
geógrafo do século I Pompônio Mela.
Essa ausência de fontes prejudica o objetivo da revista de fazer um trabalho
com um caráter científico. Mesmo que, saibamos que não se trata de um trabalho
acadêmico, mas sim de uma revista voltada para o público leigo, a autora deixa a
desejar. Principalmente quando se utiliza claramente de juízo de valor. Mesmo
sabendo que em um trabalho é inatingível a imparcialidade total, pois o historiador é
influenciado tanto pela sua formação (pessoal e acadêmica), como pelo próprio
momento da história em que vive, deve-se procurar ao máximo a imparcialidade na
construção de trabalhos históricos.
Um exemplo desse uso de juízo de valor pode ser percebido com a descrição
de um episódio, no qual a autora vai retratar um conflito entre os frisões e os
romanos. Estes teriam obrigado os frisões a fazerem tarefas impossíveis de serem
cumpridas, e mesmo sabendo disso, os romanos teriam se apossado de suas terras
e vendido suas mulheres e crianças como escravos. A autora qualifica, então, os

34
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.43.

20
romanos como arrogantes. “A arrogância dos romanos provoca problemas ocasionais
com esses povos livres”35.
Outro fator que mostra a ausência de uma metodologia é o excesso de
adjetivação, como nos seguintes exemplos: “homem inteligente e ambicioso”,
“escândalos rumorosos”, “temíveis partos”36, dentre outros.
A autora utiliza-se de vocábulos que talvez possam ser questionados, como
por exemplo, na seguinte frase: “Os gauleses sabem tirar proveito dessa romanização”37.
O termo “tirar proveito” nesta frase adquire um sentido negativo, pois desconsidera
o processo dialético, que é comum a um acontecimento histórico, nesse caso tanto
os romanos acrescentariam aos gauleses, como vice-versa.
No artigo também há o uso pela autora de anacronismo em duas passagens.
Sendo a primeira a seguinte: “...essa insurreição gaulesa que não se confunde com um
movimento de sublevação nacional, resumindo-se a uma simples revolta local.”38. A autora
torna possível a utilização da palavra “nação” para o período tratado, porém, este é
um termo de uso complexo e que contêm uma conceituação talvez não adequada à
época. A outra passagem é “A Inglaterra fornecia ouro e estanho a Roma”39. Pode ser
que ao utilizar o termo “Inglaterra” a autora estivesse buscando facilitar o
entendimento do público leigo, mas o termo mais adequado seria, por exemplo, “a
região correspondente à atual Inglaterra”, visto que não existia a Inglaterra.
No artigo, a autora utiliza-se de uma Teoria de História de caráter marxista.
Pois, usa termos pertencentes a tal corrente historiográfica, como a palavra “classe”,
perceptível nas seguintes frases: “as classes superiores e a plebe...” e “... depois de ter
seduzido as classes populares de Roma...”40.
De modo geral a contextualização é bem feita, apesar do uso de termos
inadequados como os citados. A autora faz uma descrição simples, sem a utilização
de termos difíceis, o que facilita o acesso de todos à compreensão do artigo. Para
facilitar essa compreensão há no artigo um quadro de destaque sobre o Imperador
Tibério, que faz uma pequena biografia de sua vida pessoal e como homem público.
No quadro também há a inserção de Jesus, o que facilita a ligação do artigo com o
tema central da revista.

35
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.43.
36
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.41 e 44.
37
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.42.
38
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.43.
39
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.44.
40
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.41 e 42.

21
Ainda com relação a esse esforço didático há no final do texto um glossário.
Este apresenta três palavras, que apesar de relacionadas com o assunto do texto,
não estão inseridas nele.
Quanto à iconografia, encontramos cinco imagens. Todas apresentam os
créditos corretamente. Três são meramente ilustrativas, sendo que uma nada tem a
ver com o tema ou a época do artigo, pois é uma pintura de dois mil e quatrocentos
anos antes de Cristo, em que escravos egípcios colhem papiro às margens do rio
Nilo. Há outra imagem que apresenta um caráter argumentativo no texto, pois data
do período e comprova o assunto que está sendo tratado, isto é, a relação dos
romanos com a África, trata-se de um mosaico do século I, que mostra um barco de
caçadores romanos durante o período de cheia do rio Nilo.
A iconografia principal apresentada é a referente a uma escultura do busto do
Imperador Tibério, que data de cerca de 14-37. Esta ocupa uma página inteira e
encontra-se no início do artigo. O que demonstra a importância de Tibério nele,
tendo um sentido de ilustração quanto ao assunto tratado; também tem uma função
argumentativa, pois é uma cultura material que, pela data, confirma a existência
desse Imperador.

“Nas Províncias do Oriente”


Por Richard Lebeau, traduzido por Sérgio Blum (p. 46-51).

Richard Lebeau é historiador especialista em Antigüidade no Oriente


Próximo. Publicou: Une histoire dês Hébreux, de Moise à Jesús - 2002 e, mais
recentemente, um Atlas historique des Hébreux (Autrement)41.
O artigo contextualiza a época tratada pela revista no que se refere às
províncias do Oriente. Destacando Petra, Palmira e Alexandria, considerados
centros de irradiação do comércio mundial. Além de retratar a relação dos romanos
com estes centros, mostra também a inserção de produtos exóticos provenientes da
Arábia, da Índia e da China nos mercados deles.
Até a tomada de Petra no ano de 106, as caravanas na parte da Arábia eram
controladas pelos nabaetanos. Petra era considerada a “rainha do comércio
mundial”42.

41
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.51.
42
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.49.

22
Palmira tinha um papel importante entre o comércio do Oriente e Ocidente.
Destacava-se por suas águas sulfurosas e benéficas. Era uma parada obrigatória
entre o Oceano Índico e o Mediterrâneo.
Alexandria destacava-se como o farol da cultura clássica, em que se
desenvolvia a retórica, a filosofia, a medicina, a geografia, a geometria e a
astronomia.
Quanto aos produtos exóticos: da Arábia o maior interesse era pelo incenso e
pelas especiarias; da China a maior procura era pela seda.
Outro ponto de destaque no artigo é a guerra de três séculos que Roma
enfrentou com os partos pelo controle das rotas comerciais.
De modo geral, este artigo foge da problemática central da revista. Apesar de
ser feita uma contextualização, é difícil a percepção da relação desse contexto com
Jesus. Isto se dá apenas indiretamente ao se relacionar essas províncias com o
Império Romano. Mas, diretamente Jesus é citado em apenas duas passagens.
Uma na qual o autor mostra a possibilidade que algumas pessoas levantam de que
Jesus teria chegado ao Himalaia, devido a essas rotas comerciais. E a outra
passagem é ao falar do comércio do incenso e da mirra. Estes produtos encontrar-
se-iam relacionados a Jesus, segundo os Evangelhos “... produtos também citados nos
Evangelhos e levados pelos Reis Magos quando de sua visita a Belém. O ouro simboliza a
realeza de Jesus; o incenso, sua divindade; a mirra, sua morte”43.
Richard Lebeau apresenta algumas fontes que utilizou para a escrita de seu
artigo, por exemplo, ao citar Plínio, o historiador romano; o historiador grego Apião;
e o geógrafo grego Estrabão. Também cita os Evangelhos, e ainda levanta uma
hipótese pensada por alguns historiadores. Esta maior citação de fontes, apesar de
ainda ser pequena em comparação com o desejável, pode ser realizada devido à
própria formação do autor, que é historiador, fato que o levaria talvez a uma maior
preocupação com a utilização de fontes diversas, e de demonstrar o uso destas.
Apesar da contextualização ser explicitada de uma forma clara e explicativa,
aparecem termos no artigo que provavelmente são incompreensíveis para um
público mais amplo. Como, por exemplo, o termo “Pax Romana”44, dentre outros. No
caso do exemplo citado, deveria estar inserida no artigo uma explicação sobre o seu
significado. O glossário poderia conter mais de uma palavra e não apenas o termo
“Arábia”.

43
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.48.
44
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.48.

23
No sentido de tornar mais fácil a compreensão do artigo, aparece um quadro
de destaque, que disserta sobre a capital parta. Este quadro ajuda no entendimento
de um dos assuntos tratados, que são as guerras entre os romanos e os partas.
Quanto à utilização de conceitos relacionados à História, percebe-se um
conceito de inspiração da Filosofia da História de caráter laico na seguinte frase: “
No início de nossa era Alexandria não está mais em seu apogeu, e já não possui seus
palácios, teatros e templos”45. O termo apogeu sugere a idéia da composição de um
tempo cíclico, no qual todas as civilizações estariam fadadas a um ciclo que seria
composto por seu surgimento – apogeu – decadência, até resultar em seu
desaparecimento. No exemplo citado, Alexandria estaria em uma fase de
decadência, seguindo para o seu desaparecimento.
No que diz respeito às imagens do artigo, todos os créditos foram
apresentados corretamente. Ao todo são cinco imagens. Uma é um mapa do
Oriente, que apresenta um caráter didático, sendo importante para a construção do
texto, pois facilita o entendimento do assunto tratado, afinal ilustra as localidades
das regiões citadas. Há uma pintura, que retrata a relação entre os mercadores
árabes e o Ocidente; e duas fotos, uma ilustrando os mercados romanos, e outra
expondo um mercado romano do século III em Palmira, na Síria. A imagem mais
importante ocupa uma página inteira, e mostra o assunto a ser tratado, tendo
também uma função argumentativa. Esta é uma foto tirada em 2002 de um edifício
com influência greco-romana construído pelos nabaetanos, que se localiza em
Petra, na Jordânia.

“As correntes do judaísmo”


Por Simon C. Mimouni, traduzido por Celso Paciornik (p. 52-61).

Simon- Claude Mimouni, é diretor de estudos da seção de ciências religiosas


da EPHE ( Ecole Pratique des Hantes Etirdes), escola em que é titular da cadeira
“Origens do Cristianismo”. Simon estuda a história da formação do movimento dos
discípulos de Jesus dentro e fora do judaísmo nos séculos I e II. Após vários anos,
tornou-se diretor da “Revue des études juives”, fundada em 1880, assim como da
“Collection de la Revue des études juives”, publicada nas Edições Peteers. Dentre

45
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.50.

24
suas principais publicações destaca-se La Formation des communautés religieuses
dans lê monde gréco-romain - 200346.
Este artigo vai tratar da disseminação de vários grupos religiosos na
Palestina durante a época de Jesus. Há a disputa de poder entre as diversas
correntes religiosas, inclusive em Jerusalém. Situação que seria causada pela falta
de uma autoridade religiosa no século I, que fosse reconhecida além do sacerdócio
do Templo de Jerusalém, juntamente com uma relativa liberdade de expressão de
convicções religiosas.
Segundo o autor, o surgimento de grupos religiosos é possível, pois se vivia
na época uma atmosfera agitada de crises sociais endêmicas que favorecem o
surgimento de crenças esperançosas de um futuro melhor. Estas crenças são
marcadas por aspectos apocalípticos e por características proféticas ou
messiânicas. A origem dessas correntes seria explicada por uma explosão de
criatividade reformadora e purificadora em um momento de crise.
Segundo Flávio Josefo, destacariam-se quatro grupos religiosos: os
saduceus e os fariseus (judaísmo majoritário), e os essênios e os zelotas (que
seriam grupos marginais).
Também há o surgimento de grupos com tendências mais proféticas e
messiânicas. Dentre estes, destaca-se o dos discípulos de Jesus de Nazaré, que
formarão uma corrente no seio do judaísmo. A partir desta surgirá ramificações
como os nazoreus, ebionitas e elcasaitas.
A partir da contextualização do surgimento desses grupos, o autor vai
descrevê-los, destacando as idéias que defendem, fatos importantes ligados a eles
e suas peculiaridades. Inicia com a descrição dos saduceus, seguindo com a dos
grupos messiânicos de maneira geral. Depois vai expor os fariseus, seguido dos
essênios. Posteriormente descreve os zelotas e os sicários, e logo após os
nazoreus. Depois faz um apanhado geral sobre os grupos proféticos e sobre os
grupos batistas. Encerra o artigo inserindo Jesus Cristo nesse contexto religioso.
Esse artigo é importante para o tema central da revista, pois vai
contextualizar o aparecimento de Jesus e seus discípulos na Palestina. É um artigo
bem escrito, que além de descrever os grupos religiosos, insere-os em um contexto

46
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.61.
Disponível em: <http://www.editionsducerf.fr/html/fiche/ficheauteur.asp?n_aut=1472>. Acesso em: 10 de
junho de 2005.

25
mais amplo que é analisado, o que garante uma maior consistência ao texto, e não
apenas a exposição de idéias esparsas.
O autor apresenta suas idéias de forma clara e compreensível para um
público mais amplo.
No artigo tem-se a presença de problemáticas contemporâneas, como os
conflitos religiosos que ainda permanecem dois mil anos depois, assim como a
pergunta que inicia o seu artigo “E qual o lugar de Deus em tudo isso?”47.
Quanto às fontes utilizadas, o autor destaca Flávio Josefo em dois livros “A
guerra dos judeus” e em “Antiguidades judaicas”. Este autor é usado em vários
momentos, inclusive para descrever alguns grupos religiosos. Também fala em
fontes cristãs. Faz referência ao Novo Testamento, e expõe as dificuldades em se
encontrar fontes para determinados grupos: “...a documentação disponível é precária e
de difícil avaliação”48. Cita as fontes judaicas e também alguns escritores cristãos,
como Hegesipo (século II) e Epifânio (século IV). Este artigo é, de maneira geral,
bem embasado por fontes, principalmente se comparado com os outros artigos da
revista.
No que tange aos conceitos de História, o autor utiliza o termo “decadente”,
na seguinte passagem: “...em meio de uma sociedade em decomposição e de uma
realidade política e nacional decadentes”49. Este termo pode indicar uma referência à
idéia de tempo cíclico presente na Filosofia da História com caráter laico, pois ao
falar em decadência, indica que já houve um apogeu e que o próximo passo seria o
desaparecimento. Esta idéia é a que nos pareceu mais certa, porém como o autor
descreve o tempo todo no artigo um contexto de crise, este termo pode ser apenas
uma indicação a essa crise e não necessariamente essa sociedade estaria fadada
ao desaparecimento, pois o autor tem uma visão contemporânea e sabe por esta
que não houve o desaparecimento dessa sociedade, pelo contrário, o que houve foi
a expansão das idéias nela desenvolvidas.
Quanto à construção do texto o autor se contradiz, no que se refere ao
judaísmo. Primeiramente inicia expondo a idéia de que o termo judaísmo é
anacrônico para a época. Existiriam diversas correntes judaicas, com peculiaridades
próprias e bem diferentes umas das outras. “Antes do século II de nossa era, o que
chamamos, de modo anacrônico, de judaísmo é uma religião de contornos bem

47
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.52.
48
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.60
49
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.53.

26
diversificados, tanto no plano das crenças como no plano das práticas”50. Porém,
posteriormente no decorrer do texto o autor utiliza-se da expressão “nação
judaica”51. Este termo, além de possivelmente ser anacrônico, pois é discutível a
existência de uma no período; é contraditório, pois possibilita uma unidade com
características complexas ao que o autor expôs como grupos com contornos bem
diversificados.
Existem onze imagens no artigo. Sendo uma, a foto de um documento dos
Manuscritos do Mar Morto, que foram encontrados em 1947 nas cavernas de
Qûmram, Israel. Esta imagem encontra-se acompanhada por uma foto da caverna
mencionada. Há uma foto da Fortaleza de Masada, que foi o último lugar de
resistência dos judeus zelotas ao exército romano e que se localiza na região do
Mar Morto em Israel. Esta foto é um argumento do assunto que está sendo tratado,
e está alocada justamente na parte de descrição desses judeus. Há três pinturas
que são apenas ilustrativas, e não são importantes para a construção do texto. Há
também a imagem de dois mosaicos e do historiador Flavio Josefo. Há uma
iluminura do Manuscrito de Rabanus Maurus, e uma outra do Pentateuco de
Aegensburg, esta última tem ligação com o assunto do texto, porém não é
fundamental a este. De maneira geral os créditos estão corretamente colocados,
com exceção de duas imagens em que há a indicação de que são apenas
reproduções.

“O Templo: uma casa de Tráfico?”


Por Jeanne Chaillet, traduzido por Alexandre Massella (p. 62-69).

A biblista Jeanne Chaillet, diplomada em línguas semíticas antigas e


estudiosa do pensamento judaico presente nos Evangelhos, utiliza-se de narração
durante grande parte de seu artigo. Inicia pela descrição do Templo apresentando
sua importância econômica, social e política.
Descreve o mercado que se encontra ao redor do Templo dizendo que tal é o
local de comercialização de todos os artefatos utilizados durante os sacrifícios;
52
relata o “prazer” (sem se referir de onde retira essa caracterização) com que os

50
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.53.
51
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.55.
52
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.63.

27
habitantes de Jerusalém, judeus ou não, sobem ao átrio dos gentios e a busca de
esmolas por parte dos mendigos e doentes.
Passa a realizar uma descrição física/material e ao mesmo tempo
hierárquico-religiosa do Templo ao descrever os diferentes compartimentos do
edifício associando-os às práticas efetuadas e às pessoas autorizadas a entrarem
em cada um. Novamente, neste ponto, a autora deixa de lado a referência à fonte
utilizada; encontra-se apenas uma menção a Flávio Josefo em uma caixa de texto
inserida em uma figura que representa o Templo53.
54
Termina sua “visita” ao Templo e inicia sua apreciação descritiva da figura
que considera mais importante de Israel (religiosa e politicamente falando): o sumo-
sacerdote. Caracteriza Israel como uma teocracia, tendo o sumo-sacerdote como
dirigente e diz que este se eleva sobre as outras pessoas pelo fato de possuir
55
“santidade eterna” ; tal personagem possui tanto poder que, às vezes, ultrapassa
seus direitos ao permitir o comércio no Templo, retirando deste consideráveis
rendimentos.
Esta informação é central na articulação efetuada pela autora, pois é aí que
apresenta sua tese central: Jesus sela sua sentença de morte ao expulsar os
comerciantes do Templo; no entanto, não faz referência nenhuma de onde retira tal
informação. Deste modo podemos dizer que, mesmo havendo citações
referenciadas da Bíblia no decorrer do artigo, não se percebe a utilização de método
historiográfico na elaboração da argumentação.
Ao utilizar relatos bíblicos, embasando-se na linguagem e estrutura destes e
tratando as passagens como verdade, a autora imerge no conceitual religioso
judaico-cristão que possui como cerne o providencialismo. No entanto, ao expor sua
tese, emerge deste conceitual de caráter sagrado/sobrenatural e imerge em outro
de caráter terreno/material, pois a justificativa dada à sentença de morte de Jesus
configura-se por seu caráter político e econômico.
Das figuras utilizadas pode-se depreender que algumas delas possuem
apenas caráter acessório; este é o caso da foto de uma maquete da cidade de
Jerusalém56 e da primeira imagem apresentada no artigo juntamente com seu
título57. Contudo existem figuras que elucidam a “fala” da autora, como é o caso dos

53
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.64 e 65.
54
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.66.
55
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.66.
56
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.68.
57
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.62 e 63.

28
desenhos que simulam o Templo58, da pintura que representa um sumo sacerdote59
(que elucida, através de sua vestimenta, sua pompa e poder) e da figura que
representa a cena da expulsão dos mercadores por Jesus60.
À exceção de um desenho, todas as imagens encontram-se com seus
créditos, mesmo sendo estes, às vezes, vagos. Isto mostra a preocupação da
publicação em se mostrar ao público como instrumento de divulgação científica.
É interessante ressaltar também a disposição das figuras nas páginas
destinadas ao artigo. A primeira pintura, que ocupa um grande espaço e acima
considerada acessória, possui uma posição de destaque, já a pintura representando
a cena da expulsão, que ocupa um quarto de página, encontra-se no final do artigo
ao passo que a autora apresenta a idéia que se relaciona com tal figura numa parte
mais intermediária do texto. Essa aparente inversão da importância dada às figuras
pode ser esclarecida ao se ver tais figuras: a primeira prende mais a atenção do
leitor por suas cores e detalhes.
A presença de cronologia e glossário no artigo imprime um caráter didático à
revista, ou pelo menos deveria imprimir, pois a eficácia destes pode ser
questionada. Quanto à cronologia, pode-se dizer que é eficaz no que concerne às
informações passadas, mas deixa a desejar quanto à sua localização no artigo; já
em relação ao glossário o que se depreende é que deixa de citar e explicar palavras
que não são de grande conhecimento como, por exemplo: siclos, abluções,
dracmas.
Podemos então concluir que tal artigo não corresponde às expectativas de
um leitor que, ao se basear nas palavras da editora-chefe da publicação, busca um
trabalho científico. A inexistência de uma bibliografia, a falta de referência a uma
figura e falta de precisão em outras, a desconexão entre os componentes do artigo
(texto, figuras, glossário, cronologia) são fatores que dão base a tal idéia.

58
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.64, 65 e
67.
59
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.66.
60
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.69.

29
“As seguidoras do profeta”
Por Hélène Cillières, traduzido por Alexandre Massella (p. 70-75).

A autora deste artigo, Hèléne Cillières, é historiadora das religiões e


atualmente doutora pela Escola Prática de Altos Estudos (Sorbonne)61. A proposta
do artigo, que gira em torno de um novo olhar a respeito da condição da mulher na
época contemporânea a Jesus, encontra-se intrincada com o tema de suas
pesquisas: o estatuto da mulher na sociedade judaico-cristã dos dois primeiros
séculos. O fato de a autora ser uma historiadora já nos faz supor de antemão que
método e conceitos da História são utilizados na elaboração do artigo. Vejamos.
Inicia afirmando que tal tema é controverso desde o final do século XIX,
principalmente quando os objetos de análise são a literatura rabínica e a Bíblia.
Notamos aqui a falta da apresentação do debate historiográfico o que nos remete à
questão: a omissão partiu de sua parte ou de incentivo por parte dos responsáveis
pela publicação?
O texto do artigo estrutura-se da seguinte forma: apresentação da
problemática, seguida de sua tese e de sua argumentação. A problemática, como já
mencionado, recai sobre a discussão e respeito da condição da mulher na época de
Jesus; a tese passa a idéia de que a mulher possuía uma posição de certa
autonomia e de participação na vida pública; e a argumentação utilizada encontra-
se embasada em exemplos retirados da Bíblia, exemplos estes que ocupam a maior
parte da dissertação.
Algo notório na exposição de sua argumentação é o modo intuitivo do qual se
utiliza para atingir certos dados. Parte de uma afirmação que se encontra presente
na Bíblia e sobre esta afirmação passa a elaborar conjecturas sem comprovação
alguma (há de se fazer ressalva de que, se há comprovação, esta não é
explicitada), o que não caracteriza este artigo como um trabalho científico.
Quanto à referência a fontes ou bibliografia, a autora faz menção a escritos
de diferentes grupos judeus contemporâneos de Jesus e às fontes legisladoras
62
judaicas rabínicas (como a Mishná e a Tosefta) , mas durante o transcorrer do
texto os exemplos e citações utilizados são extraídos de uma única fonte: a Bíblia; o

61 Doutorado concedido em 2003, cf. disponível no site da EPHE: <http://www.ephe.sorbonne.fr/>.


Acesso em 02 de junho de 2005.
62
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.72.

30
que nos cria a dúvida quanto ao real conhecimento dessas primeiras por parte da
autora.
No que tange às imagens utilizadas, a análise que foi realizada nos levou à
seguinte reflexão: qual a possibilidade do uso de algumas imagens apenas como
recurso de diagramação (no sentido de se utilizar as figuras, pelo menos algumas
delas, como instrumento para ocupação de espaços)? Podemos chegar a esta
questão observando algumas características pertinentes às figuras: a localização e
a ordem na qual tais encontram-se no artigo não coincide com o trecho do texto ao
qual se associa; existe também a repetição de uma imagem através da
representação de um detalhe desta em outra página63; além do tamanho da maioria
das imagens as quais ocupam meia, uma e até uma e meia página.
Uma última questão que pode ser levantada a respeito deste artigo gira em
torno do tema deste. O tema refere-se à condição feminina e ao iniciar seu texto a
autora nos relata a controvérsia que este tema causa entre os especialistas desde o
final do século XIX. Isto nos serve como exemplo a duas afirmativas habituais entre
os historiadores: a primeira refere-se à influência que o presente do historiador
exerce sobre seu foco/objeto no passado, já que é no começo do século XX que o
movimento feminista toma força na sociedade ocidental e que atualmente a questão
da condição feminina está novamente em voga; e a segunda concerne ao raciocínio
da História, já que a existência da controvérsia sobre o tema nos mostra que na
História não existem verdades, mas sim procedimentos/formas de se trabalhar o
passado resultando na presença de diferentes visões sobre o mesmo tema.

“Jerusalém festeja a Páscoa judaica”


Por Richard Lebeau, traduzido por Alexandre Massela (p. 76-83).

O historiador Richard Lebeau, especialista em Egito e religiões do Oriente


Médio Antigo, é o autor de uma História dos Hebreus (edições Taillander) e do guia
cultural intitulado Síria-Jordânia (edições Arthaud) e colabora regularmente em
diferentes revistas dentre as quais se apresenta a Historia (França) de onde foram
traduzidos este artigo e um outro64, desta mesma edição de Grandes Temas.

63
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.72 e 74.
Na pág. 72 encontra-se um detalhe de A subida ao Calvário, óleo sobre tela de Jacopo Bassano e na pág.
74 existe um detalhe maior da mesma pintura.
64
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.46-51

31
A proposta do artigo é descrever a cidade de Jerusalém durante as
festividades da Páscoa judaica: o Pessach. Inicia relatando a importância de tal
festa na vida dos judeus, o significante papel que a cidade de Jerusalém possui
durante tal festa pelo fato de ser o local de concentração de dezenas de milhares de
peregrinos65 e as condições enfrentadas por estes peregrinos durante os sete dias
de festa.
66
Relata as condições “urbanísticas” da cidade. Então passa a descrever as
67
habitações da “cidade popular” e as da “classe média” , o local dedicado ao
comércio em volta da fortaleza Antônio, além do local onde vive a “alta sociedade
civil e religiosa". Passa então a uma descrição dos rituais realizados durante as
festividades, fornecendo a significação de alguns deles; diz que a preparação de
tais rituais é feita com antecedência de semanas. Termina o artigo expondo a
significação de tal festa ao povo judeu.
A minuciosa descrição, em diferentes aspectos, da cidade de Jerusalém
elaborada por Richard Lebeau, remete-nos a um ramo da História característico da
corrente historiográfica dos Annalles, o que busca realizar uma história do cotidiano;
contudo através do tempo verbal utilizado pelo autor em seu relato, podemos dizer
que parece realizar uma prática comum entre os historiadores da escola metódica
do século XIX. Portanto, sua posição no respeitante à corrente historiográfica não
nos fica clara.
O autor não se utiliza de citações ou referências. Isso se configura em grave
falta, do ponto de vista metodológico, ao se tratar de um texto descritivo, ou seja,
um texto recheado de informações. Um especialista pode até reconhecer as fontes
ou bibliografia utilizada por Lebeau, mas e quanto ao leigo? E se esse duvidar da
veracidade das minúcias apresentadas?
A presença de uma ilustração representando a cidade de Jerusalém no
século I68 imprime um caráter didático importante. Ao menos deveria, pois se
observa alguns desencontros entre o descrito pelo autor e o representado na figura.
Eis dois exemplos: no texto temos: “... cidade popular, construída sem grandes
cuidados urbanísticos. (...) As casas se encavalam...” 69 e “As ruas tortuosas da cidade

65
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.76.
66
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.79.
67
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.79.
68
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.80 e 81.
69
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.79.

32
descem para o Templo...” 70 enquanto que o desenho concebe uma organização entre
as casas e ruas retas em direção ao Templo.
Outro desencontro entre texto e desenho (que, por sinal, é o mesmo acima
71
mencionado) refere-se à grafia do nome de um local da cidade de Jerusalém: a
fortaleza Antônio. Tal desenho apresenta o local como fortaleza Antonia mesmo que
o texto ofereça o nome desta da forma como grafada antes (acima). Não se pode
excluir a possibilidade de que tal fortaleza possa ser chamada dos dois modos
apresentados, contudo essa possibilidade deveria encontrar-se registrada, no intuito
de não promover dúvidas ou conflitos.
Em relação às demais figuras pode-se dizer que estas apresentam uma
característica em comum: seu caráter anódino. A representação de A páscoa na
72
Sagrada Família de Dante Gabriel Rossetti possui uma relação com o tema da
revista, porém ao artigo específico não, já que não há referência a Jesus, nem à sua
família, durante o transcorrer da descrição.
Enfim, a análise de tal artigo nos leva à conclusão de que seu autor, o
historiador Richard Lebeau, mostra-se um grande exemplo da idéia transmitida por
Langlois e Seignobos ao escreverem que “Devemos ler os trabalhos dos historiadores
73
com as mesmas precauções críticas de que nos cercamos quando lemos documentos ”.

“Diante de seus juizes, o acusado se cala”


Por Yann Le Bohec, traduzido por Celso Parcionik (p. 84-91).

Yann Le Bohec é professor de história romana da Universidade de Paris IV –


Sorbonne e autor de César, chef de guerre (éd. Du Rocher, 2001), L’Armée romaine
du Haut-Empire (Picard, 2002) e de Histore militaire des guerres puniques (ed. du
Rocher, 2003).
Neste artigo, o autor procura analisar o processo de acusação de Jesus –
levando em consideração o direito romano da época – e se ele teve um julgamento
justo.

70
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.80.
71
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.80 e 81.
A Jerusalém do século I, ilustração de Krika.
72
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.83.
73
Ch. V. Langlois, Ch. Seignobos, Introdução aos estudos históricos. São Paulo: Ed. Renascença, 1946,
p. 161.

33
Começa argumentando o fato que o processo romano constituía-se de três
pessoas envolvidas: o acusador, o acusado e o juiz (os anciões representando a
mora, Jesus e Pôncio Pilatos). O agravante no caso de Jesus era o fato de ele
pertencer a uma categoria que não detinha o privilégio da cidadania romana, a
categoria de peregrino, o que não o permite apelar da sentença.
De acordo com as leis romanas, é necessária a presença do acusado perante
o juiz para que ele possa tomar conhecimento do julgamento e, em caso de
necessidade, é requisitada o envio de soldados ou de uma milícia para forçá-lo a
estar no tribunal ou, em caso de ausência do acusado, reconhecer a culpa e ser
condenado. Conforme descrito na Bíblia, Jesus foi capturado pelos homens dos
sumos sacerdotes para então ser levado ao oficial romano.
Como Pilatos era a principal autoridade romana na cidade, o processo judicial
de Jesus foi classificado como “extraordinário” porque Pilatos era a pessoa que
tanto julgava quanto sentenciava, diferentemente de Roma, no qual o processo era
classificado como “formular” justamente por existir a presença de um magistrado
que redigiria o processo (a fórmula) ouvindo as duas partes para depois encaminhar
essas anotações a um corpo de juizes que fariam o julgamento.
Para que o processo de acusação de Jesus chegasse ao governador e,
portanto, o único com o poder para sentenciar à morte, era necessário uma
acusação grave de afronta ao império, no caso, o argumento que ele teria se
declarado rei dos judeus. Como o acusado manteve-se em silêncio restou ao juiz
condená-lo à morte. Como enfatiza o autor, Jesus, não dispondo de recursos para
pagar um advogado que o defendesse, pertencendo à categoria de peregrino e
mantendo-se mudo durante o processo, teve um processo justo conforme o direito
romano.
Infelizmente o autor menciona apenas trechos da Bíblia e não menciona a
fonte que utilizou para argumentar o seu texto e a matéria também não proporciona
uma bibliografia sobre o direito romano.
A matéria é apresentada com material iconográfico de acordo com o tema
abordado (a acusação de Jesus), tendo os nomes das obras descritos assim como
os devidos créditos. Um pequeno glossário ao final é apresentado assim como um
box, no meio do artigo, mencionando os tipos de castigos que poderiam ser
impostos conforme a categoria social do acusado.

34
Para o público geral a matéria traz informações adicionais quanto à advocacia
e o processo de julgamento e suas variantes, se caracterizando por dar uma
conotação mais jurídica do que parcial ao julgamento de Jesus como a que é
apresentada pela Bíblia mas, para um público que desejasse se informar mais a
respeito, carece de informações básicas anteriormente mencionadas.

“As primeiras decorrências de sua morte”


Por Jacques-Noël Pérès, traduzido por Celso Paciornik (p. 93-97).

Jacques-Noel-Peres, como já mencionado, é pastor da Igreja Luterana,


professor de patrística (estudo dos pais da Igreja) na faculdade de Teologia
Protestante de Paris.
Iniciando a matéria com a narração que os evangelhos fazem a respeito dos
primeiros dias após a morte de Jesus, o autor procura mostrar as diferentes versões
sobre a ressurreição de Cristo deixando bem claro que tal fato não fora presenciado
por ninguém.
Ao morrer numa tarde de Sexta-feira, horas antes do sabat, o corpo de Jesus
foi reclamado, segundo os evangelhos, por alguém chamado José de Arimatéia
para que o morto não ficasse exposto durante esse período religioso. Mencionando
o fato de o defunto receber os seguintes adornos fúnebres após o sabat e que,
nessa época, era costume enterrar os mortos em grutas escavadas com essa
finalidade, o teólogo Jacques-Noel-Pérès procura mostrar como os evangelhos
trabalham de uma forma incoerente entre si, com a figura de José de Arimatéia,
chegando à conclusão que não se pode fundamentar nada no que se refere a esse
personagem pela falta de fontes a seu respeito.
Sobre os fatos que se seguiram na madrugada da ressurreição, o autor faz
uma análise tanto dos cânones católicos quanto dos apócrifos levando o leitor a
aceitar a sua argumentação que os textos a respeito desse episódio procuram dar
uma visão particular e que divergem entre si.
Seguindo uma linha apoteótica, o texto começa com a tristeza que se seguiu à
morte de Jesus, a falta de orientação por parte dos seus seguidores, a dúvida
quanto à esperança e, por fim, o triunfo sobre a morte e o retorno da esperança e
alegria. Como o próprio autor enfatiza, a ressurreição é uma questão de fé e que
nenhuma prisão é definitiva: Jesus foi ao encontro dos seus seguidores, que se

35
encontravam trancados e com medo numa sala, assim como retornara do reino dos
mortos.
Texto curto fechando a revista e a saga de Jesus, com iconografia referente ao
assunto tratado devidamente creditada e de acordo com o tema. Glossário ao final
abordando apenas duas localizações.
A matéria procura apresentar as diferentes versões sobre a ressurreição
apenas baseada nos evangelhos, cabendo à pessoa que se interesse pelo assunto
procurar por fontes que relacione algum fato estranho que tenha ocorrido no
domingo de páscoa e, justamente por carecer de um relato mais fidedigno, ficando
mais no campo da crença do que do empírico. Única matéria na revista cuja
explicação fica embasada em conceitos abstratos (fé) explicados pelo teólogo sem
nenhum embasamento arqueológico ou até mesmo documental a respeito de tal
acontecimento, cabendo ao leitor simplesmente aceitar ou não o que está escrito na
Bíblia. Além disso, fica faltando uma análise sobre Jesus do ponto de vista dos
judeus, de acordo com fontes da época ou, seguindo o enfoque que a revista
preferiu dar ao assunto, uma matéria escrita por um judeu sobre esse tema.

36
CONCLUSÃO

A partir da análise individual dos artigos, percebemos que a revista não


alcança o objetivo a que se propõe, qual seja o de promover a divulgação de
material científico. De modo geral não há emprego de metodologia adequada à
História (bibliografia, referências, busca por máxima imparcialidade, análise
documental, etc.) e também existe um abuso de práticas das quais os historiadores
buscam se distanciar (anacronismo, argumentação pautada sobretudo em descrição
e/ou sobre um único documento). Se o patamar da cientificidade não é alcançado, a
revista também não abarca o público leigo já que o linguajar utilizado, em muitos
momentos, é inacessível a este público – muitas vezes empregam-se termos com o
pressuposto de que estes sejam previamente conhecidos.
O problema metodológico relacionado à bibliografia utilizada em cada artigo é
a sua não-exposição em separado; sua apreensão está sujeita, no limite, ao
decorrer do texto, quando o autor se dispõe a oferecê-la. A mesma questão se
coloca no concernente às referências, não há rigor na apresentação destas, pois
faltam informações que caberiam, por exemplo, a uma nota de rodapé.
Nota-se estas faltas na seguinte passagem: “ ‘Fecunda e pródiga,’ escreve o
historiador judeu do século I Flávio José (sic), ‘coberta de todo tipo de árvores, incita à
cultura mesmo os menos laboriosos: assim ela é toda explorada; nenhum campo está
abandonado. São muitos os burgos e as cidades, pois o alimento é abundante nessa
região”74; a despeito de conhecermos quem é o autor, falta-nos a informação
referente à obra na qual esta citação se aloca; situação ainda mais agravada pela
inexistência da bibliografia utilizada.
Em alguns artigos ocorre o uso indiscriminado de juízos de valor. Mesmo que
estes sejam, de certa forma, inerentes ao trabalho historiográfico, o historiador
procura sempre minimizá-los, prática esta que não percebemos em alguns
momentos na revista, sendo um exemplo disso o seguinte trecho: “A arrogância dos
romanos provoca problemas ocasionais com estes povos livres”75.
No que tange ao aspecto documental não há, aparentemente, uma exaustiva
e/ou devida exploração. Dá-se, por vezes, a utilização de uma única fonte sobre a
qual embasa-se toda a argumentação, fugindo à premissa metodológica de
confronto dos documentos. Voltando-nos à argumentação, mais precisamente à sua

74
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.23.
75
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.43.

37
composição, verificamos a excessiva utilização de método descritivo que nem
sempre apresenta-se proporcionalmente aliado à análise.
Problemas quanto a anacronismo, mesmo que em menor medida, são
também encontrados na utilização dos seguintes termos: identidade nacional76,
Inglaterra77, entre outros.
A falta de rigor metodológico pode ser depreendida da presença, entre os
autores, de muitos especialistas de áreas diversas que não a História. De quatorze
artigos, apenas cinco são redigidos por historiadores (dos quais dois possuem o
mesmo autor); os nove restantes são de autoria de biblistas, teólogos, jornalistas,
mestres de conferências, etc. A partir desta constatação torna-se mais
compreensível a não-utilização de conceitos estritamente historiográficos e o fato de
Teorias de História serem praticamente inexistentes ou quase imperceptíveis.
Deslocando-nos dos aspectos textuais em direção a esferas mais amplas,
deparamo-nos com a temática que, de certa forma, aborda assuntos em voga
atualmente, tais quais os relativos à história da família ou mesmo da condição
feminina na sociedade. Num certo sentido, este fato nos remete a avaliação de
quanto o presente influencia o historiador em sua análise do passado, direcionando-
o a determinados objetos/temas que se encontram patentes em sua vida
contemporânea.
A publicação esforça-se em alocar os artigos segundo uma ordem
cronológica da vida de Jesus, sem deixar de vislumbrar o contexto histórico a ele
correspondente. Há, inclusive, a existência de um artigo78 que talvez tenha por fim
encadear todos os demais; apresenta-se estruturado em forma de perguntas e
respostas (verdadeiro ou falso) vinculadas aos temas posteriormente tratados. Isto
talvez se insira no bojo de um esforço didático da revista da qual também faz parte
os Glossários (mesmo que estes não elucidem todas as questões), cronologias,
quadros de destaque e a indicação de livros, apresentada ao final. Quanto a esta,
não nos é possível perceber o quanto se vincula a bibliografia utilizada ao longo da
revista, na medida em que é elaborada por Luthero Maynard (editor) e Nicolas Farfel
(editor-assistente), ambos pertencentes à redação da publicação brasileira. Tal
seção possui mais um caráter de “saiba mais” do que de referências stricto senso.

76
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.69.
77
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.44.
78
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.8 e 9.

38
Centrando-nos nos aspectos visuais do trabalho, concluímos que boa parte
da iconografia visa menos elucidar aspectos do texto79 que chamar a atenção do
público leitor ou mesmo ocupar espaço. Seguindo o padrão já determinado pela
revista e mencionado por Miriam Ibañez, grande parte das iconografias é de autoria
de pintores famosos que retrataram a época em questão. As fotografias utilizadas
provêm de uma empresa especializada na venda de fotos para publicidade em
geral80; quanto à aclimatação dos artigos, num sentido cromático, é interessante
notar a intencionalidade pejorativa no que tange aos romanos: são as únicas duas
vezes em que a cor preta é utilizada.
Também nos foi afirmado por Miriam que o trabalho iconográfico da edição
brasileira independe da francesa; quanto a isto nos foi possível averiguar, por meio
e consulta ao site desta publicação81 que a edição brasileira utiliza-se de algumas
poucas imagens as quais simplifica.
Segundo Ibañez no contrato firmado com a revista francesa estabelece-se a
reprodução de um número mínimo de matérias daquela revista, o que não justifica a
reprodução total presente na revista analisada sendo isso constatado por meio da
dita consulta ao site francês.
A reprodução de artigos franceses requer um trabalho de tradução, o qual
segundo Ibañez é realizado não por historiadores, mas por profissionais com
formação em Letras “conhecedores” da história. A mesma afirmara ser o conteúdo
da matéria, por vezes sujeito a cortes e, a despeito da mesma garantir que a idéia
geral não seja prejudicada, isto nos faz questionar a qualidade de tal material.
Também nos foi possível averiguar um certo esforço da edição de não tratar
o assunto de forma polêmica, certamente no intuito de abarcar um público amplo, já
que não ofenderia a crença dos religiosos e da mesma forma não deixaria de
contemplar as expectativas dos demais, depreendendo-se então, a importância da
questão de mercado na confecção de tais publicações. Não devemos esquecer que
este tipo de material visa mais retorno financeiro do que propriamente um
comprometimento educacional-científico.
Neste âmbito, cabe a análise da proposta da edição pela busca do Jesus
histórico. Ou seja, inserido numa história documentada, atestada também por

79
Que seria, segundo Miriam, um dos critérios para a seleção das imagens.
80
Após uma busca virtual foi encontrado o site de tal empresa. Trata-se de uma empresa brasileira
especializada nesse tipo de trabalho. Disponível em: <www.stockphotos.com.br>. Acessado em: 09 de
maio de 2005.
81
Disponível em: <www.historia.presse.fr> . Acessado em: 02 de junho de 2005.

39
escritos não-bíblicos, o que resulta em uma certa desmistificação de sua figura
através da comprovação de sua existência. A temática da revista apresenta-se
como “uma faca de dois gumes” visto que, ao mesmo tempo em que poderia negar
a figura religiosa de Cristo ao retirá-lo de sua aura divina, fortalece o mesmo pois
comprova a sua realidade e ao humanizá-lo torna-o mais próximo e crível.
Este tema religioso pode ser explicado pelo contexto em que se encontra
inserido. Contexto este de reflexão e questionamento da fé católica. O catolicismo
vem sendo abalado pelo fortalecimento de outras religiões e o aumento do ateísmo.
O fortalecimento de tal temática religiosa pode ser averiguado pela enorme
afluência de publicações em torno deste tema.
Os últimos elementos analisados são a capa e as propagandas da revista.
Estas últimas restringem-se à própria Duetto Editorial; divulgam as demais revistas
por ela então publicadas, mais precisamente a primeira linha dessas publicações
(“História Viva”, “Scientific American”, “Ensino Superior” e “Bravo”). Quanto à capa
percebemos a preocupação de apresentar, em poucos tópicos, todo o assunto
presente na revista; um desses tópicos chamou, especialmente, a nossa atenção
por possuir caráter apelativo ao sugerir a solução de “pontos obscuros”,
despertando desta forma a curiosidade do leitor. A foto apresentada destoa, de
certa forma, da proposta da revista ao passo que nos fornece uma imagem de
Cristo mais ligada ao mito (uma das passagens mais marcantes de sua trajetória: o
Calvário) do que ao homem. Quanto ao aspecto físico deste homem, existe uma
maior aproximação do europeu (visão idealizada e mais tradicional) do que do
asiático.
É importante ressaltar que as críticas tecidas foram, sobretudo, motivadas
pela afirmação da editora-chefe de que tal material era de viés científico; afinal não
podemos considerar, em vista das demais presentes no mercado, tal publicação
ruim. A despeito de não alcançar um método historiográfico, há certa preocupação
estrutural na revista, perceptível pela inclusão dos créditos das imagens (mesmo
que não em todas), dos autores e também pelo esforço didático (mesmo que não
eficaz).
Portanto concluímos que o material analisado pode ser situado em um nível
intermediário: não atinge em sua plenitude um público acadêmico/científico, da
mesma forma que não contempla um público mais leigo.

40
REFERÊNCIAS

Bibliográficas

BLOCH, Marc. Apologia da historia ou o oficio do historiador. Rio de Janeiro: Jorge


Zahar, 2001.
CARDOSO, Ciro F.;VAINFAS, Ronaldo (Org.). Domínios da História: Ensaios de
teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Tradução de Maria de Lourdes
Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
GARDINER, Patrick (Org.). Teorias da História. Lisboa: Gulbenkian, 1974.
LANGLOIS, Ch. V. ; SEIGNOBOS, Ch.. Introdução aos estudos históricos. Trad.
Laerte de Almeida. São Paulo: Renascença, 1946.
LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre (Dir.). História - Novos Problemas, Novos
Objetos, Novas Abordagens. Tradução de Theo Santiago et al. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1976, 3 vols.
VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. A
Pesquisa em Historia. São Paulo: Atica, 1989.

Documento eletrônico e Sites consultados

EPHE. Disponível em: <http://www.ephe.sorbonne.fr/>. Acessado em 02 de


junho de 2005.
HISTORIA. Disponível em: <http://www.historia.presse.fr/>. Acessado em: 02 de
junho de 2005.
HISTÓRIA VIVA. Disponível em: <http://www.historiaviva.com.br/>. Acesso em:
25 maio de 2005.
IBAÑEZ, Miriam. Resposta ao e-mail [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<leandro_usp@hotmail.com> em 12 maio de 2005.
STOCK PHOTOS. Disponível em: <http://www.stockphotos.com.br/>. Acessado
em: 09 de maio de 2005.
<http://www.seix-barral.es/fichaautor.asp?autor=130>. Acesso em: 02 de junho de
2005.
<www.iptheologie.asso.fr>. Acesso em: 03 de junho de2005.

41
<http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/celso.htm>. Acesso em: 10 de junho
de 2005.
<http://www.editionsducerf.fr/html/fiche/ficheauteur.asp?n_aut=1472>. Acesso
em: 10 de junho de 2005.

42
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

5233016 – Ricardo Silva Nascimento da Solidade

BBC HISTORY MAGAZINE


Uma análise da publicação editorial, mercado e
abordagem historiográfica

TEORIA DA HISTÓRIA I (Noturno)


1º Semestre / 2005
Profa. Dra. Raquel Glezer

24 de Junho de 2005
ÍNDICE

ÍNDICE ...............................................................................Erro! Indicador não definido.


INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3
A BBC E O MODELO DE MÍDIA PÚBLICA .................................................................. 4
HISTÓRIA..................................................................................................................... 4
O MODELO DE MÍDIA PÚBLICA .............................................................................. 5
BBC : ESTRUTURA ORGANIZACIONAL.................................................................. 7
O MERCADO EDITORIAL E A PRODUÇÃO EDITORIAL DA BBC ............................ 9
UMA INDÚSTRIA GLOBALIZADA ........................................................................... 9
MERCADO DE PERIÓDICOS.................................................................................... 10
BBC: PRODUÇÃO EDITORIAL ................................................................................ 11
A ANÁLISE DA PUBLICAÇÃO BBC HISTORY MAGAZINE .................................... 13
PARTE 1: ANÁLISE ESTRUTURAL DA PUBLICAÇÃO............................................. 14
A MISSÃO DA PUBLICAÇÃO .................................................................................. 14
O PROJETO EDITORIAL........................................................................................... 16
AS MATÉRIAS DE DESTAQUE................................................................................ 18
O CONTEÚDO COMPLEMENTAR........................................................................... 20
PARTE 2 : ANÁLISE DA ABORDAGEM HISTORIOGRÁFICA.................................. 21
A HISTORIOGRAFIA BRITÂNICA E A SUA PERIODIZAÇÃO PADRÃO............. 21
EXEMPLO: ANÁLISE DE HISTÓRIA EM PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS 25
O CONSELHO EDITORIAL ACADÊMICO E SUAS LINHAS DE PESQUISA........ 26
CONCLUSÃO................................................................................................................. 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .................................................................................. 34

TEORIA DA HISTÓRIA I 2
INTRODUÇÃO

A difusão de conteúdo e conhecimento histórico, através de publicações


voltadas tanto para o segmento acadêmico quanto para uma divulgação geral
sempre foi uma forma de atuação dos diversos grupos acadêmicos e do
pensamento historiográfico como comunidade. Aliada também as necessidades de
demanda tanto para a pesquisa quanto para o consumo do leitor comum como
bem ao debate historiográfico, numa forma acessível ao público, suscita questões
que busquem entender os fenômenos editoriais e de como esse conhecimento
altamente especializado é distribuído por esse mesmo mecanismo de
popularização. Esse movimento, de um conteúdo altamente qualificado e de
objetivo científico para uma de divulgação geral e homogeneizada – pela própria
natureza editorial, de massas –, é um dos objetivos da presente análise.

O segmento editorial das publicações historiográficas e, mais


especificamente, das revistas especializadas em história voltadas ao grande
público, levam a questões de como estas têm se guiado na condução de suas
estratégias editoriais e como se relacionam com o público leitor. A proposta desta
análise é explicar os aspectos quantitativos, qualitativos e estéticos de uma
publicação que será objeto de uma observação metodológica e empírica, e
também fatores que influenciam ou são influenciados quando todos os
mecanismos associados no empreendimento de uma publicação, de um projeto
editorial, em outras palavras, o mercado editorial. A visualização sobre este
mercado, sobre o público-alvo na qual este é destinado e a relação – muitas
vezes bi-direcional – entre editor e leitor, tão comuns às ferramentas que
permitam a percepção da audiência por estas publicações, são objetivos comuns
desta proposta.

Este documento está dividido em duas partes principais, baseando-se


análise uma publicação específica, de um mercado específico. A publicação
editorial a ser analisada é a BBC History Magazine, editada pela BBC
Worldwide Limited, no Reino Unido. O primeiro aspecto a ser abordado é o
mercado em que essa publicação está inserida, procurando dados que expliquem
quais os propósitos desse empreendimento editorial, seus objetivos, suas
segmentações e que público ela destina. Através de uma perspectiva
independente e procurando os dados mais imparciais possíveis, será possível
identificar as causas e as conseqüências mercadológicas dessa publicação.

TEORIA DA HISTÓRIA I 3
O segundo aspecto aborda a publicação de uma perspectiva mais interna à
seu projeto editorial, ou seja, as várias características no que se refere a essa
revista, tais como a estrutura editorial, a forma de como são abordados os
assuntos, em que se baseia a pauta, informações técnicas e a sua visão
historiográfica -- e como esta se relacionam com o seu público-alvo. A missão da
publicação e o seu resultado, tanto pelo conteúdo quanto através da estética,
serão também tema de análise deste trabalho. A análise dos autores e dos vários
membros que compõem a operação da publicação – editor, conselho editorial e
colaboradores – tem o objetivo de trazer à luz esses conceitos no
desenvolvimento editorial da revista e de seus preceitos.

A escolha dessa revista deu-se numa motivação em estabelecer um paralelo


entre o mercado editorial brasileiro e como estas se inter-relacionam com este
mercado editorial britânico. Serão tratadas as especificidades editoriais
principalmente analisando sua estrutura organizacional e de como esta está
dentro de um modelo particularmente distinto de mídia, que é o modelo público
de mídia, representada pelo grupo gestor desta publicação, a British
Broadcasting Corporation, estabelecida também no Reino Unido.

A BBC E O MODELO DE MÍDIA PÚBLICA

HISTÓRIA

A British Broadcasting Corporation (BBC) foi


estabelecida em 1927 através de um processo de concessão
(mais especificamente existente no Reino Unido e no Canadá) O logotipo da
BBC.
chamado Cartas de Patentes Reais (Royal Charter). Essa forma
de concessão é uma prerrogativa da realeza britânica que dá um status especial
ao um grupo ou comunidade de negócios, escolas ou instituições de caridades. Na
história, órgãos como a Companhia das Índias Britânicas (existente entre 1600 e
1858) tiveram a concessão dessa mesma carta de patente real e até hoje são
concedidas em nome do monarca, através do Departamento do Patrimônio
Nacional (Department of National Heritage). Esse documento define a
constituição da organização, qual suas prerrogativas e funções, bem como o
objetivo último que é servir às necessidades da sociedade britânica.

TEORIA DA HISTÓRIA I 4
No caso da BBC, a carta de patente real tem uma validade de 10 anos,
podendo ser renovada indefinidamente. A atual carta data vale de 1996 a 2006.
O estatuto incluso no texto desta carta dá à BBC o seu caráter de rede pública de
mídia e afirma a sua independência editorial, aspecto este que será abordado
mais adiante.

Nos anos subseqüentes, as atividades que originalmente seriam centradas


na transmissão de noticiários via rádio se tornam mais abrangentes às novas
tecnologias, tais como as primeiras transmissões televisivas em 1936. A
transmissões de rádio e TV vieram a ter grande importância e definiram
momentos nacionais, como por exemplo durante a II Guerra Mundial, com os
correspondentes de guerra (war correspondents). “Joseph Goebbels, o chefe de
propaganda de Hitler, dizia que a rádio BBC ganhou a ‘invasão intelectual’ na
Europa.”1

Com a consolidação e a evolução técnica nas décadas seguintes, a BBC se


torna referência em jornalismo e expande sua produção de programas, séries e
documentários. Mais recentemente aproxima-se e implementa novas tecnologias
como a Internet e a diversifica suas operações, como os empreendimentos no
mercado editorial e na venda e distribuição de direitos autorais. Sempre, em
todas as operações, mantendo o preceito elemento fundamental da
independência, seja de governo, ou forças de mercado.

O MODELO DE MÍDIA PÚBLICA

Esse tipo de conglomerado de mídia associada ao modelo da BBC é


denominado mercadologicamente de mídia de fundo publico, e é até hoje, a
forma dominante de transmissão (broadcasting) no mundo. Existente em
diversos países no mundo atualmente e tendo a BBC o exemplo mais
representativo desse modelo. Essa forma coexiste hoje com os conglomerados
comerciais, estes voltados para uma diversificação de fontes de receitas, como
comerciais e TVs por assinatura, esta atualmente a forma dominante de
transmissão nos Estados Unidos e na América Latina. Um terceiro tipo de
transmissão são as redes estatais, estabelecidas pelo Estado e objetivadas a
informar sobre as atividades de governo. Essa tríade delimita os modelos

1
http://www.bbc.co.uk/heritage/story/1940s2.shtml

TEORIA DA HISTÓRIA I 5
atualmente existentes, cada um com suas regulamentações, formas de operação
e responsabilidades distintas.

O modelo de transmissão pública, como forma geral, conta com uma fonte
de receitas fixa através de doações ou taxas de indivíduos, ou através de
subsídios estatais. No caso da rede britânica, a forma de obtenção de receitas é
através de uma taxa de licenciamento de TV, no valor de 9,67 libras esterlinas2
para cada proprietário de um televisor no Reino Unido, totalizando 126,50 libras
anuais3. A decisão desse valor da licença fica a cargo da Secretaria de Estado
para a Cultura britânico e realizado operacionalmente por uma organização local
no Reino Unido chamada TV Licensing ®, que além de fazer a coleta dessa taxa,
promove a orientação pública sobre a importância da compra de uma licença de
TV e de sua importância pela natureza pública desta rede através de campanhas4.
Tudo isso permite que a BBC mantenha sua independência política, de acionistas
e influências comerciais.

A tabela a seguir lista algumas importantes redes públicas existentes hoje


no mundo:

TABELA 1: ORGANIZAÇÕES DE MÍDIA DE CARÁTER PÚBLICO NO MUNDO

SIGLA NOME PAÍS ANO

CBC Canadá Broadcasting Corporation Canadá 1936

PBS Public Broadcasting Service EUA 1969

NHK Japan Broadcasting Corporation Japão 1926

ABC Australian Broadcasting Corporation Austrália 1932

- Radio France França 1975

RAI Radiotelevizione Italiana Itália 1954

2
http://www.bbc.co.uk/info/licencefee/. Dados de 2003/2004.
3
Para as televisões em preto-e-branco o valor é de £42. Não há licenciamento para rádio.
4
Para maiores informações em como funciona esse licenciamento e suas campanhas de conscientização
popular da TV pública, consultar http://www.tvlicensing.co.uk/aboutus/index.jsp

TEORIA DA HISTÓRIA I 6
BBC : ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

Manter a forma independente da BBC é responsabilidade de um conselho de


governadores (board of governors), apontados pelo monarca e ratificados pelo
parlamento britânico; além de um contato direto com diversos conselhos locais,
representes dos interesses dos espectadores (advisory bodies). As operações
ficam a cargo de um conselho executivo (executive board). Dentre as
prerrogativas do conselho de governadores estão5:

• Aprovar metas e estratégias gerais


• Definir objetivos
• Monitorar performance
• Monitorar confiabilidade através de instrumentos legais
• Assegurar a transparência pública
• Apontar o secretário geral executivo
• Definir remuneração do comitê executivo

Sob seu modelo organizacional, as atividades principais da BBC são:


fornecer serviços de Broadcasting, que é a transmissão por meio dos seus
diversos canais de rádio e TV, bem como manter um núcleo jornalístico e de
produção em torno desses canais de transmissão. Esses dois serviços,
broadcasting e produção, são o núcleo de operações hoje dentro da organização.
Toda essa programação é aliada a um conteúdo voltado aos meios digitais,
complementares, para a Internet e meios digitais interativos (TV e rádios
digitais).

Nove grandes unidades de negócios compõem a produção da rede:

• Televisão
• Rádio e Música
• Notícias
• Nações e Regiões (programação local)
• Esportes
• Educação e Aprendizado

5
BBC Annual Report 2003/2004.

TEORIA DA HISTÓRIA I 7
• Drama, Entretenimento e Conteúdo Infantil
• Tecnologia e novas mídias
• Serviço Mundial BBC (BBC World Service).

Incluem-se aí as divisões de suporte (finanças, marketing e comunicações,


por exemplo).

Além desse núcleo central de operações, outras estruturas adjuntas definem


suas formas de atuação em outros segmentos. Os serviços comerciais realizados
pela subsidiária BBC Worldwide Limited6, tem como objetivo o licenciamento de
formatos de programas, venda de direitos autorais, bem como o braço editorial
do conglomerado – este, objeto deste trabalho e que será detalhado em seguida.
A forma de operação desta subsidiária é diferenciada de negócios do restante do
grupo, na qual há um viés comercial nas operações. Mas ainda assim com o
objetivo público, através da conversão dos lucros para os fundos da estrutura
central de mídia pública, que de acordo com os objetivos do grupo, “ajudam a
manter o valor taxa mensal menor do que ela possivelmente seria”.

Toda essa estrutura mantém a BBC e levou a rede a se tornar modelo de


referência e de qualidade de produção e de jornalismo em todo o mundo.

6
O sítio Internet da subsidiária está no endereço http://www.bbcworldwide.com

TEORIA DA HISTÓRIA I 8
O MERCADO EDITORIAL E A PRODUÇÃO EDITORIAL DA BBC

UMA INDÚSTRIA GLOBALIZADA

O mercado editorial, conceitualmente definido como a atividade de se levar


informação ao público, sofre uma transformação em torno de suas definições
básicas. Hoje, o mercado de publicação está mais abrangente com relação às
formas de sua produção, envolvendo atualmente uma série de atividades
complementares ao processo de publicação (ou também publishing). Mercados
adjuntos, como direitos autorais e fontes de informações independentes (ex.
Reuters, Associated Press), juntamente com atividades agregadas como
publicidade, seleção, edição, gerenciamento e marketing, formam um conjunto
de atividades relacionadas7, e em se tratando de mídias de massas, indissociáveis
do ponto de vista de promover a sua viabilidade operacional. Há um consenso,
pelo menos entre as mídias comerciais, que somente uma articulação entre todas
essas atividades, visando um objetivo editorial comum, pode definir ou não o
sucesso de um empreendimento de mídia.

Em adicional a isso, o papel desses mesmos mecanismos de mercado


editorial tem suscitado um intenso e contínuo debate, principalmente relacionado
ao advento e a popularização de tecnologias eletrônicas utilizadas como veículos
de comunicação, tal como é o caso da Internet – e a sua suposta premissa de
substituição da mídia impressa –, bem como as discussões em torno de uma
maior e crescente internacionalização e padronização, a nível mundial, dessas
mesmas forma de atuação editorial. Práticas de se levar informação ao público e
medir a sua eficiência tem se tornado uniforme nos principais conglomerados de
mídia no mundo e a importância da Internet – para o bem ou para o mal – têm
se tornado um elemento dessas discussões. “Alguns argumentam que a Internet
e as novas comunicações de tecnologia estão quebrando a camisa-de-força no
jornalismo e abrindo uma era e mídia democrática interativa. (...) Isso tem
permitido a pessoas escaparem das restrições da mídia comercial consolidada em
muitos e diversos casos.”8

7
Publishing in The Knowledge Economy. Competitiveness analysis of the UK publishing media sector.
Publicado pela Periodical Publishers Association no Reino Unido. Pg. 2
8
HERMAN, Edward S. CHOMSKY, Noam. Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass
Media. New York. Pantheon Books, 1998 Pg. XV (Introduction).

TEORIA DA HISTÓRIA I 9
Outro debate, esse de caráter mais sociológico-político, na relação deste
mercado editorial com a concentração de mídia e seus impactos na sociedade. O
que tem gerado diversas opiniões, prós e contras a este processo. “Esta
tendência a uma grande concentração de mídia nos mercados tem se acelerado
pelo afrouxamento de regras limitando a concentração de mídia, propriedade-
cruzada, e controle por companhias não associadas a este mercado. Há também
um abandono de restrições comerciais, programação e acordos de ‘conduta
justa’”9.

Estas questões refletem em parte os esforços governamentais na condução


de regulamentações para o setor, estes tentando balançar entre evitar uma
danosa concentração de mídia, mas ao mesmo tempo permitir que este mesmo
mercado flua e consiga ter atratividade de investimentos.

No Reino Unido, a agencia reguladora responsável por implementar a


regulamentação e assim manter a competitividade nesse mercado é o
Departamento para Cultura, Mídia e Esportes10.

MERCADO DE PERIÓDICOS

O mercado de periódicos no Reino Unido se divide em alguns segmentos


que representam, basicamente, o público destinado e a forma de publicação.
Essas formas são: títulos de consumo, títulos de negócios e profissionais (para
mercados especializados como profissionais de marketing, etc.) e periódicos
políticos e literários (geralmente com artigos acadêmicos e com uma
periodicidade maior). Somando-se todas essas formas de produção, são cerca de
8.500 os títulos existentes no mercado britânico11.

O consumo quantitativo de revistas, comparado com as outras mídias


(televisão, jornal, revistas, rádios e sítios Internet), é mostrado através do
seguinte gráfico:

9
HERMAN, Edward S. CHOMSKY, Noam. Ibid. Pg. 8
10
O sítio Internet do departamento é www.culture.gov.br
11
Office Of National Statistics. The Official Yearbook of The United Kingdom of Great Britain and Northern
Ireland. Published by the Office for National Statistics. Disponível no sítio Internet www.statistics.gov.uk.

TEORIA DA HISTÓRIA I 10
GRÁFICO 1: CONSUMO DE MÍDIA ENTRE OS DIFERENTES TIPOS, EM SUA
ABRANGÊNCIA NO CONJUNTO DA POPULAÇÃO.

Consumo de Mídia

TELEVISAO 97%

JORNAIS 83%

REVISTAS 83%

RADIOS COMERCIAIS 61%

SÍTIOS INTERNET 45%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

FONTE: PPA - Association of UK magazine and periodical publishers.

O gráfico mostra a mídia impressa – jornal e revista – tem o alcance


semelhante na população. Em parte isso pode ser explicado também pela própria
natureza de produção de periódicos – que particularmente se apresentam com
uma maior segmentação do que, por exemplo, os jornais, buscando associar-se a
um estilo de consumo tais como revistas culturais, femininas, masculinas, etc.

BBC: PRODUÇÃO EDITORIAL

A BBC Worldwide Ltd. é a subsidiária responsável


pelo conteúdo editorial da BBC. A produção editorial de
revistas é o principal segmento na qual atentamos a
esse trabalho e é através dessa unidade em que são O logotipo da Publicação

publicadas revistas como a BBC History Magazine,


entre outras.

De acordo com a BBC12, cerca de 40 títulos são publicados por esta


unidade, totalizando cerca de 4 milhões de exemplares vendidos mensalmente no
todo desse conjunto. Títulos dos mais diversos segmentos e público-alvo: revistas
que tratam de diversas atividades, tais como jardinagem, música e TV, por

12
Dados obtidos a partir do sítio Internet http://www.bbcworldwide.com/bus/mags/default.htm

TEORIA DA HISTÓRIA I 11
exemplo; revistas para faixas etárias específicas e também complementares à
programação da TV.

A BBC History Magazine é uma publicação mensal e que tem, na tabela a


seguir, os dados de sua circulação. Todos providos pela Audit Bureau de
Circulations (ABC)13, um órgão independente no Reino Unido que faz a auditoria
da circulação de publicações:

TABELA 2: BBC History Magazine – Tiragem e Venda

TIRAGEM E CIRCULAÇÃO TOTAL %

Media de Circulação (entre Jul-2004 e Dez-2004) 54.067 100,00

Circulação em Banca 26.065 48,20

Circulação por Assinaturas 28.002 51,80


FONTE: Audit Bureau of Circulations – Summary Report for BBC History Magazine.

Comparando a outras publicações do mesmo segmento temos:

TABELA 3: BBC History Magazine e outras publicacões semelhantes

TÍTULO DA REVISTA TOTAL

BBC History Magazine 54.067

History Today (http://www.historytoday.com/) 27.919

National Geographic (http://www.nationalgeographic.com/) 343.797


FONTE: Audit Bureau of Circulations

13
O sítio Internet da organização é http://www.abc.org.uk/. Fundada em 14/03/1931, provém informação
independente sobre circulação e é governada por um conselho de representantes eleitos e representativos de
agencias de publicidade, proprietários de mídia e organizações de comércio do setor.

TEORIA DA HISTÓRIA I 12
A ANÁLISE DA PUBLICAÇÃO BBC HISTORY MAGAZINE

Com o foco agora no título para o presente trabalho, a abordagem será feita
em duas partes: na primeira, serão analisadas as formas de como a revista se
apresenta para o leitor, o seu projeto editorial e gráfico, a forma como ela está
estruturada nos seus aspectos editoriais (manchetes, artigos, colunas, etc.) e
também identificar os colaboradores, editores e o conselho editorial da
publicação. Em uma segunda parte, o conteúdo será analisado do ponto de vista
historiográfico e acadêmico, procurando identificar as formas de abordagem dos
assuntos históricos, as linhas de pesquisa e de abordagem dos colaboradores e
do conselho editorial da revista.

Para este presente trabalho, duas edições são objetos de análise14:

• Edição de Julho de 2004, onde a matéria


principal de capa refere-se à cultura jovem
norte-americana, principalmente em torno
da comemoração dos 50 anos do Rock’n
Roll. Nomeada The Face of The Fifties:
The Birth of Youth Culture (A face dos
anos 50: O nascimento da cultura
jovem).

Capa da Edi;áo de
Julho de 2004

• Edição de Janeiro de 2005, onde a


matéria principal refere-se aos 60 anos da
exibição ao mundo do campo de
concentração de Auschwitz, pelos aliados,
durante a II Guerra Mundial. Nomeada
Auschwitz: Inside the Mind of the
Killers (Auschwitz: Dentro da mente
dos assassinos).

Capa da Edição de
Janeiro de 2005
14
Todas as imagens de capas foram obtidas em http://www.bbchistorymagazine.com/

TEORIA DA HISTÓRIA I 13
PARTE 1: ANÁLISE ESTRUTURAL DA PUBLICAÇÃO

A MISSÃO DA PUBLICAÇÃO

O princípio editorial da revista explicita através da seguinte assertiva,


incluída em casa edição: “A BBC History Magazine foi estabelecida para publicar
uma história de referência, escrito por profissionais de relevância, em um formato
acessível e atrativo. Nós procuramos manter os altos padrões jornalísticos
tradicionalmente associados à BBC”. Portanto, trata-se de uma publicação que
preza pela qualidade editorial, tanto com relação ao conteúdo apresentado na
publicação como também pela sua forma de apresentação, sendo ao mesmo
tempo atrativa esteticamente, informativa e diversa em suas abordagens
editoriais.

O diálogo com a comunidade é feito através de contribuições de acadêmicos


(pesquisadores e docentes) principalmente quando da apresentação de assuntos
específicos torna importante apresentar a abordagem da interpretação por
acadêmicos bem como também de profissionais que busquem mostrar, explicar
História através de formatos voltados para a TV e Rádio, tais como
documentários e filmes. Essa dupla contribuição: acadêmica e produção histórica
em mídia, é a forma enriquecedora de conteúdo na forma de como as visões
historiográficas são contrastadas, conciliadas e apresentadas. É comum em
determinados artigos a contribuição conjunta dentre essas duas formas de
colaboração, cada um trazendo a sua experiência nas suas respectivas áreas.

Além de manter uma diversidade de colaboradores, a BBC History Magazine


também conta com um conselho editorial fixo de professores, pesquisadores e
pessoal relacionado com a produção de mídia em História. Dentre as duas edições
analisadas, o conselho se manteve constante, com um painel de 25 profissionais
e acadêmicos.

O seguinte quadro relaciona o nome de cada um dos integrantes deste


conselho, suas especialidades no campo da história, e, no caso dos acadêmicos,
as suas respectivas instituições de ensino:

TEORIA DA HISTÓRIA I 14
Dra. PADMA ANAGOL
Professora de História Moderna da Universidade do País de Gales

Prof. MICK ASTON


Professor de Arqueologia na Universidade de Bristol

Prof. JOANNA BOURKE


Professora de História da cultura moderna em Birkbeck

Prof. RICHARD CARWARDINE


Professor de História Americana da Universidade de Oxford

Prof. BARRY COWARD


Professor de história política e social britânica da Birkbeck College

Prof. CLIVE EMSLEY


Professor de história na Open University no Reino Unido

Prof. RICHARD EVANS


Professor de História Moderna da Universidade de Cambridge

Prof. SARAH FOOT


Pesquisadora da Universidade de Sheffield

Prof. RAB HOUSTON


Professor de História Moderna da Universidade de St. Andrews

Prof. JOHN HUDSON


Professor de História Medieval da Universidade de St. Andrews

Prof. LISA JARDINE


Professora e pesquisadora de estudos renascentistas da Universidade de Queen Mary

Prof. PETER JONES


Professor de Filosofia Política da Universidade de Newscastle

Prof. DENIS JUDD


Professor de História Britânica Imperial e Contemporânea da London Metropolitan University

Prof. IAN KERSHAW


Professor de história alemã da Universidade de Sheffield

Prof. CHRISTOPHER LEE


Professor de História Britânica Contemporânea da Universidade de Cambridge

Prof. JOHN MORRILL


Professor de História Britânica e Irlandesa da Universidade de Cambridge

TEORIA DA HISTÓRIA I 15
Prof. KENNETH O MORGAN
Professor de História Moderna Britânica da Universidade de Oxford

Dr. LISA NEVETT


Pesquisadora de Arte Clássica e Arqueologia da Open University

Prof. CORMAC Ó GRÁDA


Professor de História Econômica da University College Dublin, na Irlanda

Prof. MARTIN PUGH


Professor e pesquisador de História da Liverpool John Moores University

LAURENCE REES
Diretor artístico, BBC History

JULIAN RICHARDS
Arqueologista de produtora de documentários

PROF SIMON SCHAMA


Professor de História Britânica e História da Arte da Universidade de Columbia, nos EUA

DR SIMON THURLEY
Executivo chefe da English Heritage (órgão de preservação do patrimônio inglês)

MICHAEL WOOD
Historiador e produtor

NOTA: Informações adicionais sobre os membros acadêmicos do


conselho editorial estão na seção O CONSELHO EDITORIAL ACADÊMICO E
SUAS LINHAS DE PESQUISA, neste documento.

Com isso, o conselho editorial divide-se em vinte pessoas vindas das áreas
acadêmicas, três da área editorial e uma pessoa vinda da área pública de cultura.
Em adição a este quadro de conselheiros editoriais há também os editores
executivos, responsáveis por selecionar e assinar a publicação.

O PROJETO EDITORIAL

A publicação mescla conteúdo com estética gráfica na apresentação de seus


assuntos históricos. Há também uma série de colunas fixas e quadros
informativos presentes nas pautas.

Uma característica editorial é juntar tanto a abordagem textual das matérias


como também indicar informações complementares, como os livros de referencia

TEORIA DA HISTÓRIA I 16
sobre determinado assunto, os lugares (museus, cenários históricos) onde e
podem encontrar referências ao assunto abordado e a publicação de notas fixas,
como a agenda de exposições.

Amplamente, a publicação se divide em 6 áreas:

• NOTÍCIAS (NEWS): Onde são apresentadas informações


relacionadas à comunidade interessada em saber mais sobre história,
tais como notícias de campanhas de preservação, reportagens de
expedições, exibições reais ou na Internet, e uma tira cômica
regular. Serve para introduzir o leitor às novas ações no campo
historiográfico;

• DESTAQUES (FEATURES): É a seção das matérias textuais,


incluindo a de destaque em capa e algumas matérias mais longas
relacionadas à um tema específico, sempre assinadas por um ou
mais colaboradores – jornalista ou acadêmico;

• REGULARES (REGULARS): São as colunas fixas, não


necessariamente referenciadas às matérias, mas que se utiilzam – ao
contrário destas – uma maior diversidade de utilização de recursos
gráficos de apresentação;

• LIVROS (REVIEWS): É a seção de sugestão bibliográfica, alguns


com comentários adicionais de colaboradores e uma lista dos mais
vendidos. Não necessariamente são apresentados livros novos, sendo
que muitas referências de livros clássicos ou de importância
relevante são também apresentadas;

• TV e RADIO (TV AND RADIO): Referencia de programas de TV e


rádio, tanto na rede BBC quanto em outras redes de televisão no
Reino Unido. Apresenta também uma programação de destaque e
um guia de programação;

• “VIVENDO A HISTÓRIA” (LIVING HISTORY): É a agenda de


eventos com referencias de lugares para visitas e exposições.
Sempre com uma sugestão principal e um roteiro de turismo
histórico.

Excetuando-se as 3 últimas áreas (“REVIEWS”, “TV AND RADIO” e “LIVING


HISTORY”), a forma em como estão dispostas as matérias, no decorrer das

TEORIA DA HISTÓRIA I 17
páginas mostra não uma seqüência, mas sim uma alternância entre as seções.
Como exemplo disso, é comum, por exemplo, uma coluna regular ser
apresentada entre uma matéria de destaque e outra.

AS MATÉRIAS DE DESTAQUE

As matérias são as principais contribuições da publicação, uma vez que é


uma forma de mostrar o pensamento da comunidade historiográfica a respeito de
assuntos e linhas de pesquisa. Uma das características dessas matérias principais
é a utilização de tanto abordagens de relevância no momento, como também de
linhas historiográficas. Evita-se assim confundir pauta com oportunismo de
mercado, procurando neutralidade no conjunto das matérias.

Nas duas edições que estamos analisando, as matérias principais foram:

Edição de JULHO de 2004:

“TUDO ABALADO” (ALL SHOOK UP): PATRICK HUMPHRIES15 examina o


impacto de Elvis Presley e a revolução adolescente. É a matéria principal da
edição (capa).

“RUAS DE PEDRA, CIDADES DE OURO” (STREETS OF STONE, CITIES OF


GOLD): Numa abordagem mais local, da realidade britânica, TRISTAM HUNT16
exibe um panorama histórico de algumas realidades urbanas vitorianas
britânicas, condenadas como poluídas e sem salvação.

“HISTÓRIA DO ÓDIO” (HISTORY OF HATE): MIKE MARQUSEE17 analisa a


escola historiográfica indiana atualmente, indicando os principais problemas como
as tensões políticas e a busca, pela comunidade historiográfica, pelas fontes de
identidade e as perseguições.

“UM IMPÉRIO LIBERALISANTE” (A LIBERALISING EMPIRE): Os aspectos


benéficos do império colonial inglês são o argumento de NIALL FERGUSON18 em
que os excessos coloniais não devem desviar certas virtudes desse processo.

15
Autor de Elvis: the Numer Ones. The Secret History of the Classics (Vintage, 2002).
16
Professor de História na Universidade de Londres.
17
Escreve sobre política e cultura em diversas publicações indianas e britânicas.
18
Professor de História Financeira na Escola de Negócios Stern.

TEORIA DA HISTÓRIA I 18
“UMA CARIDADE CAVALHEIRA” (A GENTLEMAN’S CHARITY): GILLIAN
WAGNER19 biografa a vida de Thomas Coram, um filantropo inglês do século XIX,
em vista de uma exposição com seus pertences.

“E O VENCEDOR É...” (AND THE WINNER IS...): NIALL PALMER20 analisa o


cenário político norte-americano, em seguida à definição das Convenções
democráticas e republicanas nos EUA em 2004. O cenário de 170 anos de história
política norte-americana é mostrado e analisado.

“DIVISÃO RELIGIOSA NO IRAQUE” (IRAQ’S HOLY DIVISION): CORINNE


ATKINS21 mostra que tanto no passado como no presente, aquele país foi sempre
dividido entre os Sunitas e Xiitas muçulmanos.

Edição de JANEIRO de 2005:

“AUSCHWITZ” (Idem): Na matéria principal desta edição, LAURENCE REES22


analisa a mentalidade daqueles que administravam os campos de concentração
nazista. Com contribuição de DANIEL SNOWMAN23, sobre os desafios de se
manter Auschwitz como memória histórica.

“NEGÓCIO ARRISCADO” (RISKY BUSINESS): Saúde e segurança no trabalho


são uma preocupação atual, mas será que isso foi sempre assim? LYNDA
JACKSON24 analisa dois séculos de políticas de segurança no trabalho.

“LEI COMO ENTRETENIMENTO” (LAW AS ENTERTAINMENT): Advogados


romanos tinham que dar o exemplo, através de um bom “espetáculo jurídico”.
TOM HOLLAND25 visualiza então um exemplo primo: Cícero.

“CHURCHILL” (Idem): Depois de 40 anos da morte de Winston Churchill, GREG


NEALE26 examina o legado deixado pelo primeiro-ministro do período de guerra
total.

19
Autor de Tomas Coram, Gentleman (Boydell, 2004).
20
Ensina sobre Política e Governo norte-americano na Universidade Brunel.
21
Advogada constitucional, escreve sobre o oriente médio para publicações de governo.
22
Produtor da série de TV Auschwitz: The Nazis and the “Final Solution” e autor do livro de mesmo nome.
23
Autor de The Hitler Emigres: The Cultural Impact on Britain of Refugees from Nazism.
24
Curadora da exposição “Hazard! Health in Workplace over 200 years”, realizado entre Janeiro e Julho de
2005 em Manchester, Reino Unido (People’s History Museum).
25
Autor de Rubicon: The Triumph and Tragedy of the Roman Republic.
26
Editor da BBC History Magazine.

TEORIA DA HISTÓRIA I 19
“HISTÓRIA EM FILME” (HISTORY ON FILM): HUGO DAVENPORT27 apresenta
os argumentos e os desafios de vários diretores e historiadores na produção de
filmes historiográficos.

“O FILME ESCOCÊS” (THE SCOTTISH FILM): MICHAEL K. JONES28 resenha o


filme Culloden (1964), do cineasta Peter Watkin.

“NÃO É UM ROUBO COMUM” (NO COMMON THIEF): DAVID HANRAHAN29


mostra uma análise das motivações da tentativa de roubo das jóias da coroa,
pelo coronel Blood, em 1671.

“A HISTORIA DA GALINHA E DO BOI” (COCK AND BULL STORY): EMMA


GRIFFIN30 revê a história dos esportes e mostra que questões de classe social
estiveram presentes e foram fatores decisivos.

Na maioria das matérias há uma seção intitulada Journeys ou “jornadas”,


onde são apresentados materiais referentes à matéria em questão. Nas matérias
principais acima, a edição da cultura jovem apresenta: 5 livros relacionados ao
assunto, dentre eles From the Bomb to the Beatles, por Juliet Gardiner (Collins &
Brown, 1999). Já a matéria de Aschwitz apresenta um conjunto maior de opções:
Um evento (Holocaust Memorial Day, realizado em Janeiro de 2005); Dois livros
(Commandant of Auschwitz, de Rudolfo Höss e Auschwitz: The Nazis and the
“Final Solution”, do autor da matéria Lawrence Rees); Um evento de TV e 3
exibições (incluindo o Memorial e Museu Auschwitz-Birkenau, na cidade de
Oswiecim, Polônia).

O CONTEÚDO COMPLEMENTAR

Uma questão central no projeto editorial da revista – além da riqueza


editorial e gráfica – é promover uma mentalidade, uma missão em mostrar
História na qual a levar o conhecimento histórico à população é o melhor meio de
proteger o patrimônio histórico e de se conhecer a nacionalidade do Reino Unido.
A seção Living History (“Vivendo a História”) como mostrada anteriormente, tem
a idéia de aproximar os assuntos históricos à população.

27
Crítico de cinema britânico e autor de Days That Shook the World (BBC Books, 2003).
28
Autor de Bosworth 1485, Psychology of a Battle (Tempus, 2002).
29
Historiador, escreveu uma bibliografia do coronel Thomas Blood.
30
Autora de livros que relatam os esportes e recreações, como England’s Revelry: A History of Popular
Sports and Pastimes, 1660-1830.

TEORIA DA HISTÓRIA I 20
Três formas importantes são objetivas a essa missão:

a. A divulgação de exibições;

b. Os eventos – filmes, palestras, congressos e encenações históricas;

c. Os roteiros históricos.

Dentre esses incentivos, a revista periodicamente oferece cupons de


desconto para os museus históricos e de arte no Reino Unido, promovendo ainda
mais essa integração.

Outra seção, intitulada Education (Educação) também tem um conteúdo


mais voltado para as questões de História como meio de divulgação e consumo
na sociedade. Neste, o aspecto pedagógico dessa transmissão de conhecimento é
feito através dos debates entre sociedade e governo sobre as formas de educação
em todos os níveis (do primário ao superior).

As seções que visam interconectar as matérias com a programação de rádio


e TV estão tanto em uma seção própria, com a programação, como também
inseridas em cada uma das matérias.

PARTE 2 : ANÁLISE DA ABORDAGEM HISTORIOGRÁFICA

A segunda parte dessa análise editorial da BBC History Magazine foca nas
formas em como a revista explica história e quais são as referências
historiográficas dentro do conteúdo textual e gráfico da revista. Também são
explicados as formas de inclusão do seu leitor com os lugares, documentos, e
outras formas de se interagir com material Histórico.

Nota-se que, por ser uma publicação inglesa, ela sempre balanceará o
conteúdo entre temas locais – história do Reino Unido ou de seus estados
(Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte) – e temas de História
Geral.

A HISTORIOGRAFIA BRITÂNICA E A SUA PERIODIZAÇÃO PADRÃO

Na tradição da historiografia britânica, o período desta mesma História


Britânica é dividido tanto no tempo, como no espaço. É comum a diferenciação

TEORIA DA HISTÓRIA I 21
entre a especificidade de cada historiografia existente nos países que compõem o
Reino Unido, bem como uma história que retrata o Reino Unido como um
conjunto unificado, com uma razão nacional britânica. Isso representa, num
primeiro plano, a divisão espacial da historiografia. Já na divisão temporal, a
periodização leva em consideração dois aspectos: um primeiro, que remete às
ocupações que estiveram presentes nas ilhas britânicas, até o período medieval e
esta divisão serve como uma distinção entre esse primeiro período, na qual a
formação nacional ainda é difusa e de certo modo não existe uma identidade
britânica de fato, e um posterior momento, na qual a sucessão dinástica dos
reinantes determinou as fases de estudo historiográficas. Há de se observar que
não há, nessa periodização, qualquer indicação necessariamente de unificação
britânica, sendo que em determinados momentos há uma divisão clara entre, por
exemplo, a História Escocesa e a História Inglesa, e em outros momentos há uma
história do Reino Unido como unidade.

Por consenso, costuma-se periodizar a historiografia britânica nos seguintes


períodos:

• Pré-Histórico (antes de 43 ad.)

• Romano (43-410)

• Anglo-Saxão (440-850)

• Presença Viking (850-1066)

• Normandos (1066-1216)

• Medieval (1216-1485)

• Dinastia Tudor (1485-1603)

• Dinastia Stuart (1603-1714)

• Época Georgiana (1714-1837)

• Época Vitoriana (1837-1901)

• Moderno (1901-Presente)

Na publicação esta é uma periodização clara, por exemplo, na seção


“VIVENDO A HISTÓRIA” (LIVING HISTORY), na qual há um conjunto de 9 a 10
sugestões de pontos históricos no Reino Unido em que há um relacionamento
destes pontos históricos com essa periodização. As tabelas a seguir mostram,

TEORIA DA HISTÓRIA I 22
para cada edição, as sugestões apresentadas e as suas respectivas referências
nessa periodização:

EDIÇÃO de JANEIRO DE 2005:

Referências historiográficas na sessão “LIVING BRITAIN”, onde são mostradas as


sugestões de lugares históricos:

Sugestão / Local / Região Período Mais Informação (Sítio Internet)

Maiden Castle, Pré- www.bl.uk/collectbritain/maiden


Histórico
Dorset
SO da Inglaterra
Wells Cathedral, Medieval www.bl.uk/collectbritain/pauldeacon
Wells
SO da Inglaterra
Royal Engineers Museum, Vitoriano www.bl.uk/collectbritain/engineer
Kent
SE da Inglaterra
Gladstone Potter Museum, Vitoriano www.bl.uk/collectbritain/stoke
Stoke-on-Trent
Inglaterra Central
Montgomery Castle, Medieval www.bl.uk/collectbritain/montgomery
Powys
País de Gales
Enniskillen Castle, Stuart www.bl.uk/collectbritain/fermanagh
County Fermanagh
Irlanda do Norte
Chesire Military Museum, Georgiana www.bl.uk/collectbritain/chestercastle
Chester
NO da Inglaterra
Fountains Abbey, Medieval www.bl.uk/collectbritain/fountains
Yorkshire
NE da Inglaterra
Kelso Abbey, Normando www.bl.uk/collectbritain/kelso
Stottish Borders
Escócia

TEORIA DA HISTÓRIA I 23
EDIÇÃO de JULHO DE 2004:

Referências historiográficas na sessão “LIVING BRITAIN”, onde são mostradas as


sugestões de lugares históricos:

Sugestão / Local / Região Período Mais Informação (Sítio Internet)

Steep Holm Island, Vitoriano users.argonet.co.uk/edication


Bristol Channel /dmoore/fortlog/steep.htm
SO da Inglaterra
Chartwell, Moderno www.churchill.nls.ac.uk
Kent
SE da Inglatterra
Long Shop Museum, Vitoriano www.woodbridgesuffolk.info
Suffolk
Leste da Inglaterra
Severn Valley Railway, Vitoriano ukhrail.uel.ac.uk
Bridgnorth, Shropshire
Inglaterra Central
Castell Henllys, Pré-Histórico www.nationaltrust.ork.uk
Pembrokeshire
País de Gales
Rufford Old Hall, Tudor www.englandsnorthwest.com
Lancashire
NO da Inglaterra
Roughting Linn, Pré-Histórico www.visitnorthumbria.com
Milfield, Northumbria
NE da Inglaterra
Ardoch Roman Fort, Romano www.perthshire.co.uk
Perthshire
Escócia
Carrickfergus Castle, Medieval www.eshsni.gov.uk
Co. Antrim
Irlanda do Norte

TEORIA DA HISTÓRIA I 24
EXEMPLO: ANÁLISE DE HISTÓRIA EM PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS

Na edição de Janeiro de 2005, há um artigo intitulado “Imaginando o


Passado” (Imagining The Past) que tem a proposta de fomentar um debate sobre
como se mostrar História através de filmes. São analisados várias obras
cinematográficas que tentaram recriar e representar o passado na tela. Para a
crítica desses filmes, foram convidados diversos profissionais de várias áreas,
dentre professores de mídia, críticos de arte e acadêmicos.

Para começar a análise, os filmes relacionados são:

• “O Nascimento de Uma Nação” - The Birth of a Nation (1915)

• “Encouraçado Potemkin” - Battleship Potemkin (1925)

• “Os Amores de Henrique VIII” - The Private Life of Henry VIII (1933)

• “Punhado de Bravos” - Objective Burma (1945)

• “JFK” - Idem (1991)

• “Cristóvão Colombo - A aventura do descobrimento” - Christopher


Columbus: The Discovery (1992)

• “Coração Valente” - Braveheart (1995)

• “Michael Collins - O Preço da Liberdade” - Michael Collins (1996)

• “O Patriota” - The Patriot (2000)

• “Pearl Harbour” - Idem (2001)

Dentre as críticas apresentadas, estão desde a realidade do massacre de


Odessa, no filme Battleship Potemkin, até as críticas que o filme Pearl Harbour
recebe quanto à sua fidelidade: “A partir do momento em que o paraplégico
Franklin Delano Roosevelt levanta-se de sua cadeira sem ajuda, o filme é um
sem-sentido histórico”.

Os colaboradores desta matéria, e suas assertivas em torno das produções


de História em filme, são:

• Ian Christie, professor de história do cinema e mídia, London


University – “Os filmes por si só formam parte do registro hitórico”.

TEORIA DA HISTÓRIA I 25
• Richard Holmes, professor de estudos militares e de segurança,
Cranfield University – “As pessoas tendem a acreditar no que elas
vêem na tela”.

• Natalie Zemon Davis, professora emérita de História, Princeton


University – “Eu sou receptiva no que se pode alcançar por
produtores de filmes responsáveis”.

• David Puttnam, produtor de Chariots of Fire, The Killing Fields, The


Mission, presidente do UNICEF – Um bom roteiro pode ser injusto
com a História e ter como resultado o desprezo do público”.

• Sarah Gristwood – jornalista de entretenimento – “Cada era tem as


suas próprias distorções, tal como não há uma única versão de uma
verdade histórica”.

• Simon Schama – professor de história da arte e história, Columbia


University, EUA – “Os Estados Unidos... tendem a realizar um pouco
de auto-promoção – um envenenamento sutil do senso crítico”.

Em suma, argumentos contra e a favor das abordagens historiográficas no


cinema são contrastadas na matéria e promovem assim, um debate de i´dieas
em torno desse tipo de produção.

O CONSELHO EDITORIAL ACADÊMICO E SUAS LINHAS DE PESQUISA

Uma forma também de se compreender a forma de como a publicação é


guiada, nas suas abordagens historiográficas, é identificar as linhas de pesquisa
de cada um dos integrantes acadêmicos dessa publicação.

Mais uma vez predomina as linhas de pesquisa da Historiografia inglesa, nos


mais diversos campos. Mas há professores que também tratam de temas
abrangentes, dentro da historiografia européia, bem como outras historiografias,
como as histórias culturais, econômicas, entre outras abordagens.

A seguir, são mostradas as linhas de pesquisa de cada um dos integrantes


acadêmicos do conselho editorial. As informações foram obtidas através de suas
informações de produção acadêmica, disponibilizadas por suas instituições de
ensino superior.

TEORIA DA HISTÓRIA I 26
Dr. Padma Anagol
Professora de História Moderna da Universidade do País de Gales

Especialista em história moderna da Índia, especialmente relações entre homens


e mulheres. Seu próximo livro é sobre feminismo, reforma social e política na
índia britânica.

Sítio Internet: www.cf.ac.uk/hisar/people/pa/

Prof. Mick Aston


Professor de Arqueologia na Universidade de Bristol

Trabalhou com produções de TV e sua especialização são em paisagens pós-


romanas, especialmente cidades e arqueologia monásticas.

Sítio Internet: http://www.bris.ac.uk/archanth/staff/aston.html

Prof. Joanna Bourke


Professora de História da cultura moderna em Birkbeck

Seus trabalhos são sobre Reino Unido, Irlanda, América e Austrália; Histórias
militares, sociais; História do corpo, história das emoções.

Outras áreas são as de história econômica e social da Irlanda no final do século


XIX e começo do século XX; história social das classes trabalhadoras britânicas ,
entre 1860 e 1960; história cultural dos conflitos entre a guerra dos Bôeres e a
guerra do Vietnã. Recentemente finalizou a história do medo nos séculos XIX e
XX.

Sítio Internet: http://www.bbk.ac.uk/hca/staff/bourke.shtml

Prof. Richard Carwardine


Professor de História Americana da Universidade de Oxford

Trabalha com a história dos Estados Unidos na era do início republicano e guerra
civil. Tem particular interesse no lugar do evangelho protestante na construção
da nação durante o século XIX. Completou recentemente uma biografia política
de Abraham Lincoln.

Sítio Internet: http://www.history.ox.ac.uk/staff/postholder/carwardine_r.htm

TEORIA DA HISTÓRIA I 27
Prof. Barry Coward
Professor de história política e social britânica da Birkbeck College

Tem o foco em particular na história política e social do Reino Unido do século


XIX, com particular referencia a Oliver Cromwell e o protetorado Croweliano.

Sítio Internet: http://www.bbk.ac.uk/hca/staff/coward.shtml

Prof. Clive Emsley


Professor de história na Open University no Reino Unido

Tem o seu interesse voltado para a história do crime e do policiamento, sendo


diretor do centro europeu para os estudos de policiamento
(http://www.open.ac.uk/Arts/history/policing/index.htm) e co-diretor do Centro
Internacional para a pesquisa criminológica comparativa
(http://www.open.ac.uk/icccr/index.html).

Sítio Internet: http://www.open.ac.uk/Arts/history/emsley.htm

Professor Richard J. Evans


Professor de História Moderna da Universidade de Cambridge

A sua área de pesquisa é história alemã, principalmente história cultural e social


desde meados do século XIX. Trabalhou com movimentos de emancipação e
liberação, incluindo o movimento feminista e trabalhista, a desigualdade social do
ambiente urbano e a história social da morte e da doença. Mais recentemente
tem trabalhado com crime e punição, especialmente a pena de morte na história
alemã desde o século XVII, onde ele usou evidencia arquivística, fazendo a ponte
com as teorias de Norbert Elias e Michel Foucault.

Sítio Internet: http://www.hist.cam.ac.uk/academic_staff/further_details/evans-


r.html

Dr. Sarah Foot


Pesquisadora da Universidade de Sheffield

A pesquisa de Sarah foca-se na Idade Média européia, particularmente Alta Idade


Média; seus interesses vãos de ordens monásticas aos Vikings, de representação
e narração do passado para a evolução da identidade britânica.

Sítio Internet: http://www.shef.ac.uk/history/staff/medieval/sarah_foot.html

TEORIA DA HISTÓRIA I 28
Prof Rab Houston
Professor de História Moderna da Universidade de St. Andrews

Os interesses de Houston são a história social britânica e européia nos primeiros


séculos do período moderno. Publicou sobre a literatura britânica e européia,
história demográfica, urbanização e mudanças culturais. Ele é conhecido pelo seu
trabalho sobre a Escócia dos século XVII e XVIII.

Sítio Internet: http://www.st-


andrews.ac.uk/academic/history/modhist/staff/hous/homepage.html

Prof John Hudson


Professor de História Legal da Universidade de St. Andrews

Ensino e pesquisa voltados para a Inglaterra e França, dos séculos IX até o século
XIII, em particular nos campos de direito, senhorio e literatura. Também ensina
sobre a história cultural e intelectual deste período e outras áreas de
especialização são a história escrita e os estudos do final do século XIX sobre a
Inglaterra Medieval.

Sítio Internet: http://www.st-


andrews.ac.uk/academic/history/medhist/staff/huds.shtml

Prof. Lisa Jardine


Professora e pesquisadora de estudos renascentistas da Universidade de Queen Mary

Seus interesses acadêmicos são a história intelectual do renascimento, a história


dos primeiros períodos da cultura moderna e a história da revolução científica.
Publicou vários livros no campo da crítica literária sobre autores renascentistas
ingleses (Shakespeare, Erasmus, Sir Francis Bacon, entre outros.) E é membro
de várias organizações de estudo de humanidades no Reino Unido, como por
exemplo, o centro de estudos renascentista da Univesidade de Cambridge.

Sítio Internet: http://www.english.qmul.ac.uk/staff/jardine.html

TEORIA DA HISTÓRIA I 29
Dr Peter Jones
Professor de Filosofia Política da Universidade de Newscastle

Seus interesses de pesquisa são a filosofia política contemporânea, incluindo a


natureza do liberalismo, as fundações da democracia, direitos do bem estar,
liberdade de credo e expressão, direitos humanos, direitos coletivos,
multiculturalismo e justiça internacional. Seus trabalhos correntes relatam com as
diversidades de credito, valor cultura e as formas como esses direitos são vistos
locais e globalmente.

Sítio Web: http://www.ncl.ac.uk/geps/staff/profile/p.n.jones

Prof. Denis Judd


Professor de História Britânica Imperial e Contemporânea da London Metropolitan
University

Leciona sobre o império britânico e a contemporânea Commonwealth; Guerra dos


Bôeres; Gandhi e nacionalismo indiano; britânica edwardiana; esportes e
sociedade. Seus interesses em pesquisa são sobre o império britânico e
commonwealth, de 1765 até 1970.

Sítio Internet: http://www.londonmet.ac.uk/depts/hal/staff/denis-judd.cfm

Prof. Ian Kershaw


Professor de história alemã da Universidade de Sheffield

Seus interesses de ensino incluem a história alemã do século XX e está


trabalhando atualmente em pesquisa sobre o III Reich.

Sítio Internet: http://www.shef.ac.uk/history/staff/modern/ian_kershaw.html

Prof. Christopher Lee


Professor de História Britânica Contemporânea da Universidade de Cambridge

Autor de This Sceptred Isle, que ganhou vários prêmios e que cobria a história
britânica dos romanos ao período vitoriano, tem em suas linhas de pesquisa a
história militar e britânica, principalmente do período contemporâneo.

TEORIA DA HISTÓRIA I 30
Prof. John Morrill
Professor de História Britânica e Irlandesa da Universidade de Cambridge

Especialista em história moderna britânica, principalmente dos períodos Stuart e


Tudor. Seus principais períodos de interesse em pesquisa são: a história cultural,
política, religiosa e social da Inglaterra, Irlanda e Escócia do século XV até a
metade do século XVIII. Editou a obra The Oxford Illustrated History of Tudor and
Stuart Britain.

Sítio Internet:
http://www.hist.cam.ac.uk/academic_staff/further_details/morrill.html

Prof. Kenneth O Morgan


Professor de História Moderna Britânica da Universidade de Oxford

Suas obras versam principalmente sobre a história do País de Gales. Editou Wales
1880-1980, Rebirth of a Nation (Oxford University Press, 1981), entre outros.

Sítio Internet:
http://users.comlab.ox.ac.uk/geraint.jones/about.welsh/books.html

Dr Lisa Nevett
Pesquisadora de Arte Clássica e Arqueologia da Open University

Seus interesses são sobre a arte e a arqueologia das residências da Grécia antiga
e de Roma; arquitetura antiga e espaço social; cultura material como fonte de
história social. Dentre as publicações, inclui: House and Society in the Ancient
Greek World (CUP, 1999).

Sítio Internet: http://www.umich.edu/~hartspc/histart/faculty/nevett.html

Prof. Cormac Ó Gráda


Professor de História Econômica da University College Dublin, na Irlanda

Dentre suas áreas de especialização, incluem-se trabalhos e artigos em torno da


história econômica da Europa, dentre elas, dedica-se às áreas de crescimento
econômico, fome, imigração, principalmente sobre a História da Irlanda.

Sítio Internet: http://ideas.repec.org/e/pog2.html

TEORIA DA HISTÓRIA I 31
Prof. Martin Pugh
Professor e pesquisador de História da Liverpool John Moores University

Prof. Simon Schama


Professor de História Britânica e História da Arte da Universidade de Columbia, nos
EUA

Atualmente ensina sobre a cultura visual britânica (de 1945 até hoje), Mas tem
pesquisas realizadas na área de arte holandesa do século XVII, política francesa
do século XVIII, arte francesa do século XVIII. Cultura visual do Reino Unido
entre os séculos XVI e XX. Publicou uma famosa obra sobre a história britânica
intitulada A History of Britain (triologia).

Sítio Internet:
http://www.columbia.edu/cu/arthistory/html/dept_faculty_schama.html

TEORIA DA HISTÓRIA I 32
CONCLUSÃO

Os desafios de se empreender uma publicação de história levam em conta


tanto particularidades mercadológicas, que definem a viabilidade econômica, bem
como as preocupações referentes ao conteúdo e ao projeto gráfico desta
publicação. A contribuição e fontes de informação, para informar o leitor, também
devem ser uma preocupação no processo editorial de publicação.

A publicação analisada no presente trabalho procura mesclar tanto uma


necessidade de expor cultura, através da história e também promover um padrão
jornalístico distinto que leve em conta as particularidade do mercado britânico de
publicações.

TEORIA DA HISTÓRIA I 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Periodical Publishers Association. "Publishing in The Knowledge Economy.


Competitiveness analysis of the UK publishing media sector". PPA United Kingdom.

HERMAN, Edward S. CHOMSKY, Noam. Manufacturing Consent: The Political


Economy of the Mass Media. New York. Pantheon Books, 1998 Pg. XV
(Introduction).

Office for National Statistics. The Official Yearbook of The United Kingdom of Great
Britain and Northern Ireland.

DAVENPORT, Hugo. "Imagining the Past". Artigo de BBC History Magazine. Origin
Publishing/BBC, Reino Unido, ed. Janeiro/2005.

TEORIA DA HISTÓRIA I 34
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS
HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

ANÁLISE:
REVISTA

H ISTÓRIA
AVENTURAS NA

Disciplina
: Teoria da História I
Profa : Raquel Glezer
Alunas : Andréa Santos da Silva
No USP : 4931660 (História)
: Marta Rocha Santos
No USP : 3174261 (Ciências Sociais)
PERIODO : Noturno
DATA : 01/07/2005
A partir da proposta deste trabalho, analisamos a revista Aventuras na História, da
Editora Abril, e duas reportagens sobre lideres políticos polêmicos que foram objeto de
matéria de capa da revista – Getulio Vargas e Hitler, tendo como objetivo definir a relevância
da publicação.

A seguir apresentaremos um breve histórico da publicação.

A Aventuras na História surgiu como uma publicação especial de uma outra revista da
Editora Abril, a Superinteressante, para depois, devido sua boa aceitação, tornar-se uma
publicação independente.

A Superinteressente foi lançada em 1987, como uma versão brasileira da revista


espanhola “Muy Interessante”. A proposta era publicar basicamente reportagens traduzidas
da versão espanhola, mas logo passou a produzir suas próprias reportagens. No inicio a linha
editorial ainda não estava totalmente definida, e oscilava entre o inusitado e o cientificismo,
com destaque para as ciências exatas. Com a troca de editor, em 1994, a revista aboliu os
termos técnicos e adotou uma linguagem mais coloquial. Para tornar a revista mais didática,
adotou-se o conceito de transformar a imagem em informação, utilizando um recurso que deu
a publicação vários prêmios internacionais – a infografia, que se tornou uma espécie de
marca registrada da revista. Um novo editor (André Singer) assumiria em 1998, mantendo a
linha estabelecida e estabelecendo uma mudança nas pautas: sendo contra a exploração do
misticismo e das pseudociências, estabeleceu para a revista seu conceito de ciência que girava
em torno das descobertas acadêmicas e tecnológicas. Singer administrou a publicação até
2000, quando assumiu Adriano Silva. Sua administração foi marcada pelo predomínio da
religião, das pseudociências e da cultura pop - temas que provaram sua eficácia
mercadológica, mas que levantam suspeitas quanto à cientificidade e imparcialidade com que
foram abordados. Pertencem a sua gestão as capas mais vendidas, as premiações mais
significativas e a expansão da marca, dando inicio a “Família Super” – Mundo Estranho,
Revista das Religiões, Sapiens, Mundo Animal, Flasback, Vida Simples e Aventuras na
História. Hoje é a quarta revista mais lida no país, com uma tiragem mensal que ultrapassa os
400.000 exemplares.

2
A Aventuras na História foi lançada em julho de 2003 como publicação especial da
Superinteressante. Nasceu da constatação de que as matérias com abordagem histórica
publicadas na Super faziam sucesso – três delas estão entre as dez capas mais vendidas em
dezesseis anos da revista. Devido à boa aceitação, tornou-se mensal em novembro do mesmo
ano – até ali não havia periodicidade determinada, nem a certeza da continuidade da revista, o
que só ocorreu em abril de 2004, quando deixou de ser considerada “edição especial”. Hoje a
Aventuras na História é a revista mais vendida sobre o assunto, dentre várias lançadas no
mesmo período – Nossa História, História Viva, etc.

Corpo Editorial: A revista mantém praticamente o mesmo corpo editorial desde o seu
lançamento, a maior parte saído da Superinteressante e de outras revistas da “familia”. Não
há historiadores na equipe, e a maioria das matérias é redigida por jornalistas. Eventualmente
historiadores, antropólogos, sociólogos, médicos, etc, são convidados a escreverem para a
revista.

Projeto Gráfico: Assim como a Superinteressante, ou ainda mais, o forte da revista são as
imagens e os infográficos, algumas vezes mais importante que os textos. Utiliza poucas
fotografias, pautando-se principalmente em desenhos, ilustrações, montagens e nos já citados
infográficos. Todas as imagens publicadas na revista têm crédito.

Textos: Os textos das matérias são claros e ágeis; utilizam uma linguagem coloquial,
algumas vezes exagerando no uso de gírias. A revista não tem por regra aprofundar-se no
assunto, tendo por prioridade apenas manter-se interessante e instigante, muitas vezes
mostrando o lado “divertido” da história. Quem espera encontrar reportagens profundas e
informações relevantes vai se decepcionar, mas para a maioria dos leitores a abordagem
superficial dos assuntos parece ser suficiente.

Reportagens: A revista mescla reportagens históricas com matérias meramente


especulativas; as matérias históricas abordam fatos da vida de personagens famosos e muitas
vezes polêmicos ou misteriosos, como Gêngis Khan, capa da primeira edição, Nostradamus,
Alexandre o Grande, Julio César, Atila, Nefertiti, Stálin, Jesus Cristo ou Hitler; ou sobre
grandes acontecimentos históricos, como O último dia de Pompéia ou A vitória do
cristianismo. Além disso, aborda assuntos que para a maioria dos historiadores seriam
3
bobagens, mas atraem o publico em geral, mais interessado em se entreter e divertir do que
em pensar: As cartas eróticas de D. Pedro I, Um dia (e uma noite) em um harém, Um dia com
Maria Antonieta, A morte da última gueixa, enfim, assuntos que despertam a curiosidade dos
leitores em geral, mas que não tem nenhuma relevância histórica. Há também as matérias
meramente especulativas, como a coluna “e se...”, publicada nos primeiros números
(“herdada” da Superinteressante) e que analisa uma hipótese histórica que não ocorreu (e se o
Brasil tivesse se aliado a Alemanha na primeira guerra, por exemplo) e as páginas
amareladas, inspirada nas paginas amarelas da Veja, em que um repórter “entrevista” um
personagem histórico nos dias de hoje (já foram “entrevistados” Lampião e Nelson
Rodrigues, por exemplo). Os únicos brasileiros que foram capas da Aventuras na História
foram Airton Senna e Getúlio Vargas, sendo que a edição de Senna foi a menos vendida do
ano. Personagem de existência altamente duvidosa também tem vez na revista, como o Rei
Artur, que já foi até capa.

Fontes: No final de cada matéria há uma seção intitulada “saiba mais”, com indicação de
livros e sites, porém não fica claro se essas indicações foram usadas como fontes para as
matérias. Tentamos obter informações sobre isso através de e-mail, mas não tivemos
resposta. De qualquer forma pudemos observar que nem sempre as fontes citadas durante as
matérias aparecem no “saiba mais”, enquanto outras que ali estão não recebem nenhuma
citação; assim, supomos que a revista não dá muita importância ao crédito das fontes
utilizadas. A dúvida que persiste é sobre a qualidade dessas fontes.

Seções: Desde seu lançamento a revista passa por mudanças constantes em suas seções,
sempre mantendo as mesmas 66 páginas. Todo mês traz alguma alteração seja a exclusão de
alguma seção ou a inclusão de outra, o que demonstra que o projeto ainda não esta totalmente
acabado. O índice divide a revista em duas partes; reportagens (chamada de pergaminhos) e
seções (alfarrábios). Entre as reportagens, do primeiro número só restam as seções “Terra
Brasilis”, sobre historia do Brasil, e “Grandes Momentos”, com grandes acontecimentos
históricos, apesar das outras seções não terem mudado muito – saíram “Enigmas”,
“Civilizações”, “Personagens” e “História da Ciência” e entraram “Foto-História”, “Anais da
Ciência” e “Obra-Prima”. Algumas seções como “Galeria”, sobre historia da arte, são
publicadas esporadicamente. As seções propriamente ditas, ou alfarrábios, como a revista as
chama, são divididas em várias colunas. A seção “Máquina do Tempo” trás colunas como
4
“Notas Arqueológicas”, “O mês na historia”, Museus no Mundo”, “Dito e Feito”, “História
Maluca”, “Como fazíamos sem...” e “Dúvida cruel”. A seção “Tomos e Telas” trás colunas
com dicas de livros, filmes, jogos, sites, exposições, etc. A seção “Sátira” (quadrinhos do
cartunista Laerte) substituiu a “Papiro”, única escrita quase que exclusivamente por
historiadores convidados desde a primeira edição e que deixou de ser publicada em abril de
2005. Escreveram para essa seção Décio Freitas, Mary Del Priore, Alberto da Costa e Silva,
Paulo de Medeiros, Orivaldo Leme Biagi, Rafael Sêga, Pedro Paulo Funari, Renato Pinto
Venâncio (todos historiadores), entre outros.

A revista: é inegável a qualidade gráfica da Aventuras na História. A revista é impressa em


papel couché 118 g e 81 g, superior a maioria das revistas da própria editora Abril, inclusive
a Superinteressente; As capas chamam a atenção pelas cores e projeto bem trabalhado, e as
imagens no interior da revista são disposta de maneira a explicar e complementar as
reportagens. Em 2004 a revista ganhou um dos mais importantes prêmios de jornalismo do
país, o Prêmio Esso, na categoria criação gráfica.

Site: A revista mantém um site com a edição do mês, o “hoje na história” com os
acontecimentos históricos de cada dia, a “biblioteca”, com dicas e sorteios de livros,
“equívocos históricos”, com a correção de erros publicados na revista, enquetes e links para
assinar a revista e adquirir outros produtos da Editora Abril; uma apresentação dos maiores
museus do mundo, além de várias outras seções. Traz também uma ferramenta de busca do
conteúdo de todas as edições, exclusivo para os assinantes. O site é ágil e de fácil navegação.

5
POR QUE GETULIO SE MATOU?
Publicada na edição 12 de agosto de 2004

Texto LIRA NETO - Escritor e jornalista, estudou Filosofia, Letras e Comunicação Social. É
autor de Castello: a marcha para a ditadura; O Poder e a Peste e A Herança de Sísifo. Ex-
professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e das Faculdades do Nordeste (Fanor), foi
chefe de redação e ombudsman do jornal O Povo, em Fortaleza, e secretário de imprensa do
Governo do Ceará

Design: DÉBORA BIANCHI

Essa reportagem foi publicada por ocasião do 50 anos do suicídio de Getulio Vargas.
Na ocasião a maioria das revistas de história teve Getulio como matéria de capa, com
reportagens sobre seu governo, e a Aventuras na História optou por abordar o final da vida do
presidente, a situação do país naqueles dias e a polêmica em torno de seu suicídio. A capa
trás os dizeres: “As últimas horas de Getulio – Isolamento político, conspiração, ameaças. O
que levou o homem mais amado do país ao suicídio há exatos 50 anos?”. A primeira vista, a
reportagem parece trazer a resposta para essa pergunta; porém não faz muito mais do que
narrar fatos conhecidos dos 20 dias que antecederam o suicídio, com uma boa dose de
hipóteses e especulação. Para escrever a matéria o jornalista Lira Neto ouviu o historiador
Marco Antonio Villa, autor de Jango, um Perfil, e que atualmente trabalha na biografia de
Vargas, e com o também historiados Jaime Pinsk, professor da Unicamp; porém a reportagem
não acrescenta nada de novo ao que todo mundo já sabe. Além do texto, há um gráfico que
acompanha dia a dia os acontecimentos, intitulado “Agosto de 1954 – Os 20 dias que
mudaram o Brasil” e recheado de fotos da época, cedidas principalmente pelo arquivo da
revista Manchete, O Globo, Ag. Estado e CPDOC/PGV, além de material do banco de dados
da Editora Abril; um infográfico com as últimas horas do presidente; e uma coluna intitulado
“As muitas faces de Getúlio”, sobre a construção da imagem de Vargas, ilustrada com uma
montagem de fotos, folhetos e panfletos de época de seu governo.
O projeto gráfico dessa matéria ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo de 2004, na
categoria Criação Gráfica. Esse prêmio existe desde 1955 e é um dos mais importantes do
jornalismo brasileiro.

6
OS AMORES DE HITLER
Publicada na edição 21 de maio de 2005

Por CELSO MIRANDA – Jornalista e editor da revista

Reportagem REINALDO JOSÉ LOPES - Jornalista de ciência da Folha de São Paulo e


colaborador das revistas Superinteressante, Aventuras na História, Ciência Hoje e Pesquisa
Fapesp. Foi editor assistente da revista Scientific American Brasil.

Desingn DÉBORA BIANCHI

Em meio a inúmeras reportagens e publicações especiais sobre a Segunda Guerra


mundial, por ocasião dos 60 anos de seu final, a Aventuras na História publicou uma
reportagem sobre Adolf Hitler, se propondo, pelo menos na capa, a responder a pergunta: se
hoje ele é o símbolo do mal absoluto, por que foi tão amado? A matéria se propõe a mostrar
que, para chegar aonde chegou, Hitler precisou do apoio de todo o povo alemão, e não só o
teve, como também foi amado, respeitado e admirado não só pelos alemães, mas também por
muitos estrangeiros. A revista parte do argumento de um filme alemão sobre as últimas horas
da vida de Hitler, em cartaz na ocasião do lançamento da revista: “A Queda”. Ao invés do
monstro assassino, da representação absoluta de todo o mal existente, como Hitler geralmente
é mostrado, o filme mostra um homem doente, frágil e envelhecido, com delírios e acessos
de fúria ocasionais, mas também capaz de gestos de delicadeza para com as pessoas mais
próximas e com seu cachorro – enfim, uma pessoa humana e comum – e por isso mesmo foi
duramente criticado, especialmente pela imprensa alemã. Além da polemica sobre o filme, a
matéria trás uma pequena biografia de Hitler, desde sua infância na Áustria, passando pela
frustração de ser recusado pela Academia de Artes de Viena na adolescência, o alistamento
no exército alemão, sua passagem pela primeira guerra, sua entrada para a política e sua
rápida ascensão ao poder. O texto mostra que a admiração da Alemanha a Hitler crescia na
medida em que crescia também a crise iniciada após o final da primeira guerra; Ele falava o
que o povo queria ouvir, e suas promessas iam de encontro aos anseios da elite alemã, que
não tardou a apóia-lo. A matéria também afirma que Hitler tinha muitos admiradores fora da
Alemanha – na Itália, Espanha, Portugal, América Latina, África e Oriente Médio – porém
cita nominalmente somente Getulio Vargas. Lembra também que em vários paises do mundo
surgiram movimentos antifascistas, em resposta a seu avanço. Uma das afirmações mais
polemicas que a revista aborda é a de que a maioria do povo apoio Hitler, já que hoje em dia
7
é comum a Alemanha negar esse apoio em massa. A matéria termina do mesmo modo que o
filme: narrando ou últimos acontecimentos da vida do führer, até sua morte.
Essa reportagem nada mais é do que uma breve e superficial biografia de Hitler,
porém com uma abordagem mais polêmica e corajosa do que comumente vemos na maioria
dos jornais e revistas – a de que ele não agiu sozinho, e não teria chegado aonde chegou se
não fosse o apoio da maioria dos Alemães, em maior ou menor grau, e até mesmo de muitos
lideres estrangeiros, que se não o apoiaram diretamente, também não o detiveram. A matéria
contém três boxes com abordagens sobre o tema. O primeiro, “A pátria que o pariu”, escrito
por Rodrigo Cavalcante, dá um painel geral da crise que tomou conta da Alemanha entre
1919 e 1933 e teria aberto as portas para o ideário nazista; O segundo, “Show em
Nuremberg”, não creditado, conta como foi o julgamento dos criminosos nazistas naquela
cidade. Segundo o texto, o julgamento foi armado pelos vencedores da guerra para mostrar ao
mundo a punição aos culpados pelos crimes bárbaros cometidos pela Alemanha e seus
aliados, sem, no entanto acabar com a Alemanha. O julgamento teria ajudado a construir a
imagem de que a nação alemã, inocente, tinha sido arrastada para a guerra pelos demônios
nazistas. Por isso a escolha dos acusados em Nuremberg teria levado em conta dois quesitos:
a fama e os altos cargos ocupados. As fortes imagens da guerra, principalmente de judeus nos
campos de concentração, foram usadas para realçar a indignação internacional contra os réus.
Assim, os vencedores absolviam a nação alemã e a si mesmos. Não deixa de ser uma visão
interessante, principalmente se tratando daquele que é considerado por muitos como “o
julgamento mais importante da história”; o último Box da reportagem, intitulado “post-
scriptum” – “Nazistas são os outros”, foi escrito por Harald Welser, professor de psicologia
social do Instituto de Ciências Culturais da Universidade de Essen, Alemanha, e aborda o
problema da negação do nazismo por parte das atuais gerações alemãs – a maioria nega que
seus avós colaboraram com o nazismo; pelo contrario, segundo eles a grande maioria não só
lutou contra sua ascensão como também ajudou os judeus perseguidos. Segundo o autor, para
esses alemães, nazistas eram sempre os outros, e isso não só prejudica como Poe em risco a
memória cultural alemã.
Esse texto foi escrito por um jornalista especializado em ciência, conforme denuncia
seu currículo; foi montado a partir de textos de vários jornais e livros, citados na matéria: cita
o Bild e o Die Zeit, periódicos alemães, um artigo do historiador alemão Wilfried Nippel, da
Universidade Humbold, para o jornal Der Tagesspiegel e o jornal anericano The New York
Times para falar do filme A Queda; o historiador britânico Ian Kershaw, da Universidade de
8
Sheffiels e autor do livro “Hitler – Um perfil do poder” e “Hitler 1936-1945: Nêmesis” e o
historiador americano John Lukacs e seu livro “O Hitler da História” ao falar da infância e
da juventude de Hitler; e durante boa parte do texto cita “A era dos Extremos”, de Eric
Hobsbaw, livro em que parece ter se apoiado. Ou seja, a reportagem não é muito mais do que
uma montagem sobre vários textos que abordam o assunto, feita de maneira a “acomodar” a
opinião do autor.
Diferentemente da maioria das matérias da revista Aventuras na História, esta sobre
Hitler não traz infográficos, mas é totalmente ilustrada com fotos que contam a historia do
personagem e dão a dimensão de quanto ele era cultuado na Alemanha e fora dela; há uma
foto de Hitler bebê, como soldado do exército alemão em 1913, na prisão em 1924, um
multidão o saldando em Berlim em 1933, fotos de suas aparições publicas e no parlamento,
das enormes tropas alemãs lhe prestando reverência e sendo comandadas por ele, no final da
guerra e da vida, já com o Mal de Parkinson e de uma de suas últimas refeições ao lado de
Eva Braun. Além disso há uma ilustração de seu livro, “Mein Kampf” e uma reprodução da
revista americana Time, da qual foi capa seis vezes e por que foi eleito o “homem do ano” em
1939. Essas fotos, da maneira que estão distribuídas, reproduzem exatamente tudo o que diz o
texto.
Apesar de todas as referências feitas durante o texto, a coluna “saiba mais”, no final
da matéria, cita apenas três livros: O Hitler na História, de Jonh Lukacs, Hitler – Um perfil do
poder, de Ian Kershaw e Para entender Hitler, de Ron Rosenbaum. Apenas os dois primeiros
são citados durante a matéria. Isso leva ao entendimento de que essa coluna não representa a
bibliografia utilizada na reportagem, ou seja, a revista e os autores não dão muita importância
a citação das fontes utilizadas.

9
Conclusão:

Enquanto publicação sobre história, a revista Aventuras na História deixa muito a


desejar: a maioria dos temas abordados é irrelevante, a abordagem á superficial, a linguagem
utilizada é por demais informal, as matérias são escritas, em sua grande maioria, por leigos no
assunto, a revista não demonstra a menor preocupação com as fontes utilizadas. Porém a
revista não se propõe a ser uma revista de divulgação cientifica, nem é dirigida a
historiadores. A Aventuras na História é dirigida a um publico que gosta de história, tem
curiosidade sobre temas ligados a história, mas nunca ambicionou ser um historiador; pelo
contrário, a impressão que temos ao analisar a revista e o publico que a lê é a de que parte dos
leitores buscam apenar um passatempo, uma distração que lhe dê assunto para conversas em
rodas de amigos. Mesmo assim a revista não deixa de ter seus méritos: por seu visual atraente
e por sua abordagem muitas vezes criativa e divertida da história, apesar de superficial, acaba
sendo lida por pessoas que sequer se interessavam pelo assunto. Também é bastante
procurada por país que esperam que os filhos cultuem uma leitura saudável ao mesmo tempo
em que aprendem algo.
Quanto às matérias analisadas, elas dão a idéia do tipo de trabalho realizado pela
revista. Escolhemos duas matérias sobre lideres polêmicos, contemporâneos, que foram
publicadas com nove meses de diferença. Getulio Vargas chega a ser citado na matéria sobre
Hitler, porém a abordagem desta não dá espaço ao desenvolvimento da polêmica questão de
simpatia que Vargas supostamente nutria pelo nazismo. A matéria de capa geralmente está,
na medida do possível, relacionada a algum acontecimento – os cinqüenta anos da morte de
Getulio Vargas, os sessenta anos do final da segunda guerra e da morte de Hitler, por
exemplo – o que ajuda a atrair os leitores. As chamadas da capa trazem questões que nem
sempre são respondidas pelas reportagens – “o que levou o homem mais amado do país ao
suicídio”, “por que Hitler era tão amado?”. As matérias são escritas por jornalistas,
geralmente sem nenhuma bagagem na área de história.
A revista mantém uma comunidade no popular site de relacionamento Orkut, com
cerca de 680 participantes (em maio). Através das mensagens lá postadas podemos ter uma
idéia do tipo de pessoa que lê a revista e da opinião geral sobre ela: muitos reconhecem que a
abordagem dos temas é superficial; a maioria dos participantes que opinou desaprova a seção
“páginas amareladas”, devido a seu caráter fictício; muitos professores de história de ensino
de primeiro e segundo grau afirmam utilizar a revista como complemento ao material
10
didático, para despertar o interesse em seus alunos; vários leitores de Aventuras na História
referem-se a outras publicações, como “História Viva”, como “chata” e “um pé no saco”
(palavras de um suposto professor de história), e alguns sugerem que deveria haver um meio
termo entre as duas publicações; vários pedem mais capas com personagens brasileiros; há
divergências sobre o excesso de desenhos nas matérias e colunas; a capa favorita da maioria é
a da edição de maio (Hitler). A equipe que faz a revista participa da comunidade,
respondendo a dúvidas, criticas e sugestões. No Orkut há também uma comunidade da revista
História Viva, com 115 membros, e outra da Nossa História, com 382 membros.
Ao lado de suas principais concorrentes, a História Viva, da Duetto Editorial e a
Nossa História, da Biblioteca Nacional, ambas de qualidade reconhecida e consideradas mais
“sérias”, a Aventuras na História se destaca, principalmente por seu visual e sua linguagem
extremamente informal. A maioria das pessoas que compram a revista sabe exatamente o que
estão levando. Sem grandes pretensões e de qualidade gráfica inegável, a revista cumpre
exatamente o que promete: entretenimento e diversão.

11
DADOS GERAIS SOBRE AS REVISTAS*

Superinteressante Aventuras na Historia

Perfil do leitor
Idade: 30% entre 10 e 19 anos 23% entre 10 e 19 anos
20% entre 20 e 24 anos 13% entre 20 e 24 anos
32% entre 25 e 39 anos 32% entre 25 e 39 anos
Sexo: 57% homens 42% homens
43% mulheres 58% mulheres
Classe Social A: 30% A: 18%
B: 50% B: 50%
C: 17% C: 21%

Circulação:
Tiragem 462.460 exemplares 87.110 exemplares
Assinatura 254.160 35.870
Banca 98.210 18.720
Exterior 24 -

Por região:
Sudeste 47% 47%
Sul 22% 19%
Nordeste 18% 20%
Centro-Oeste 08% 08%
Norte 05% 06%

Fonte: www.publiabril.com.br

12
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

A construção histórica da imagem de Hitler presente


nas revistas de grande circulação
(centrada na análise da edição número 11 da revista
"Grandes Líderes da História")

Nomes dos integrantes do grupo:

Marcos Alexandre Schwerz


No. USP 2259295

Paulo Eduardo Amâncio


No. USP 3503094

Pedro Henrique Maloso Ramos


No. USP 3516306

Professor: Dra. Raquel Glezer


Disciplina: Teoria da História I
Turma: sexta/noite
1o. semestre/2005

São Paulo, 1o. de julho de 2005

1
Índice Página

1. Objetivos 02

2. Escolha do tema 03

3. Estrutura da revista “Grandes Líderes da História” 04


a. Ficha de descrição 04
b. Apresentação dos artigos 05
c. Estruturação dos artigos 07

4. Como é retratada a figura de Adolf Hitler 17

5. Análise da construção da imagem de Hitler nas revistas “Grandes


Líderes da História” e “Almanaque Abril – Volume 1 - 2a. Guerra Mundial”.
Comparação entre as revistas 21

6. Análise da entrevista com a professora Doutora Maria Luiza Tucci


Carneiro 25

7. Conclusão 27

8. Bibliografia 30

2
1. Objetivos
O presente trabalho tem como primeiro objetivo estabelecer uma análise da
revista “Grandes Líderes da História”. Para tanto, nos utilizamos de dois números da
revista: a revista de número quatro – ano 1 -, que traz como líder o Buda, e a revista de
número 11 – ano 1 –, trazendo a figura de Adolf Hitler como o líder em questão.
Quanto a esta análise não iremos faze-la somente de maneira comparativa, e sim
procurar levantar as principais características da publicação “Grandes Líderes da
História”. E, para tanto, consideramos essencial ter mais de um exemplar para fazer uma
boa análise do material.
O nosso segundo objetivo é o de analisar como está estruturada a figura do líder
Adolf Hitler na “Grandes Líderes da História”, como ele é retratado, quais as questões e
afirmações feitas e quais são as abordagens trazidas pela revista. Existe uma associação
entre a Alemanha da 1a. Guerra Mundial e a ascensão do Nazismo no pós-Guerra?
Quem é Adolf Hitler? Como está “encaixada” a figura de Hitler e a ascensão do
Nazismo na Alemanha? Essas serão as principais questões a serem trabalhadas nesta
análise. Obviamente, falaremos de como está estruturada (suporte) a revista, quais e
onde estão as imagens, e como estão apresentados os textos (quais os títulos e
abordagens).
Um último objetivo levantado pelo o grupo é o de comparar essa publicação com
outra publicação que tenha uma grande circulação, se destine ao grande público. Para
tal, escolhemos analisar a revista “Almanaque Abril”, que fez em quatro volumes –
portanto, aparece como uma coleção - uma publicação a respeito da 2a. Guerra Mundial
– o título da presente coleção é “II Guerra Mundial – 60 anos”. Iremos analisar, no
entanto, apenas um volume – o que confirma que nosso trabalho não se destina a análise
dessas publicações; nós a utilizamos para “enriquecer” o trabalho e julgamos necessário
para tornar nossa abordagem mais crítica e concisa. O volume a ser analisado é o
primeiro – “A Ascensão do Nazismo”. A que se afirmar que a contraposição entre
ambas as revistas levara em conta as especificidades das mesmas – uma se trata de
apenas um número tratando de toda a 2a. Guerra Mundial, e outra é uma coleção com
quatro volumes. Por isso, nosso objetivo, em ambas, é analisar como está estruturada a
figura de Hitler e a ascensão do Nazismo.
.

3
2. Escolha do tema
Podemos afirmar que a escolha do tema ligado à 2a. Guerra Mundial foi, antes de
tudo, vinculada ao “boom” de publicações ligados ao tema devido a comemoração dos
60 anos que marcam o final desse conflito. Portanto, antes de tomarmos conhecimento
com as revistas e temas que estavam expostos nas bancas, optamos por analisar dois
líderes políticos, retratados na revista “Grandes Líderes da História”, sendo um deles o
número referente a Ernesto Che Guevara. Iniciamos a procura pelo o material e,
imediatamente, nos surpreendemos com a enorme quantidade de publicações
relacionadas a 2a. Guerra Mundial. Em uma banca contabilizamos sete revistas em que a
matéria principal era ou o Nazismo, Hitler e a 2a. Guerra Mundial. E, em três delas, a
imagem da capa trazia Hitler - a saber, “Aventuras na História” e as duas publicações já
citadas aqui. Na revista “Grandes Líderes da História” a imagem de Hitler é a única
presente na capa.
Ao percebermos isso, julgamos mais interessante fazer um trabalho relacionado
a esse assunto, e comprovamos, com o tempo, que a escolha foi muito pertinente.
Pudemos, em menos de duas semanas, levantar um material suficiente para realizar um
trabalho enriquecedor e revelador a respeito dessas publicações destinadas ao grande
público.
Para que o trabalho não ficasse destoante quanto a análise das publicações que
escolhemos, decidiu-se pela análise da ascensão do Nazismo e a figura de Hitler.
Portanto, devido a necessidade, nosso tema tornou-se menos abrangente que o assunto
exposto nas revistas, procurando levantar as questões principais de ambas.

4
3. Estrutura da revista “Grandes Líderes da História”
a. Ficha de Descrição
Nome: “Grandes Líderes da História”
Editora: Arte Antiga Editora
Data: em nenhum dos exemplares consta-se data, sendo apenas apresentadas
pelo número e ano de publicação do material. “Grandes Líderes da História – Buda” –
Número 4/Ano 1; “Grandes Líderes da História – Adolf Hitler”– Número 11/Ano 1”
Número de páginas: “Grandes Líderes da História – Buda”: 50 páginas;
“Grandes Líderes da História – Adolf Hitler”: 50 páginas
Organização Interna: os dois exemplares diferem muito quanto à organização
interna. Podemos analisar que o número referente ao Buda possui uma divisão entre os
artigos que privilegia o Budismo – mesmo dando enorme destaque à figura do Buda -,
enquanto que na revista referente ao Hitler está é, senão, quase que um exemplar
voltado a biografia do líder em questão. Os temas referentes a 2a Guerra Mundial estão
ligados, intrinsecamente, a figura de Adolf Hitler.
Relação de Artigos: como nosso trabalho está relacionado a edição de número
11 – ano 1 da revista, os artigos expostos nessa edição são:
“Infância, Família e Adolescência” – pp. 05-09
“Primeira Guerra Mundial” – pp. 10-15
“Ascensão do Partido Nazista” – pp. 16-21
“Preparativos para a Guerra” – pp. 22-27
“A Segunda Guerra Mundial” – pp. 28-33
“A Polêmica Morte” – pp. 34-37
“Herança de Auschwitz” – pp. 38-41
“Vida Amorosa” – pp. 42-43
“Entrevista: O Nazismo e o Brasil” – pp. 44-45
“Demônio Encarnado?”- pp. 46-47
“Guia” – pp. 48-50.

5
b. Apresentação dos artigos
Os dois exemplares dessa publicação apresentam na capa de suas edições a
mesma estrutura: a imagem central do líder a ser apresentado na revista. Os nomes dos
líderes aparecem logo abaixo das respectivas imagens, com a apresentação dos títulos e
dos tópicos que serão trabalhados na revista. Na contra-capa de ambas as revistas
aparecem alguns números já publicados, sejam dessa revista, sejam de outras da mesma
editora. Fato relevante é que todas as publicações aparecem muito mais como um
material em que não se segue uma periodicidade, e que, portanto, também se
apresentam como coleções – assim é definida a publicação “Grandes Líderes da
História” -, com a mensagem na contra-capa: “Colecione! Peça ao seu jornaleiro”.
A primeira página de ambas as revistas aparece um texto curto da editora Thaise
Rodrigues, fazendo uma abordagem do porque foi escolhido e publicado uma revista
com aquele líder. Chega a ser surpreendente o texto da revista que trabalha com Hitler,
primeiro pelo resumo absurdo que a editora faz do período histórico e as afirmações
ilógicas – a presença do “se” na História. Segue o trecho: “Numa das conversas aqui na
redação, o repórter Luiz Alberto Moura disse o seguinte: ‘Já imaginou se, durante a
Primeira Guerra Mundial, alguém tivesse acertado o então mero soldado Adolf Hitler?
Com certeza, o mundo hoje seria outro’. E seria mesmo”.
O anacronismo da frase acima já pode ser motivo de inúmeras e contundentes
críticas. Primeiro se levarmos em conta que as idéias hitleristas se formam e se
“popularizam” no pós-crise de 1929, ou seja, mais de uma década após o término do
primeiro conflito mundial. Conforme a própria revista irá mostrar, Hitler, durante a
década de 10, está muito mais interessado em seguir a carreira “artística” – sonhava em
ser pintor, tentando ingressar na Academia de Belas Artes de Berlim - do que,
efetivamente, consolidar-se como um ditador. Parece que a editora, assim como o
repórter, tem a certeza de que Hitler nasceu nazista, e que, portanto, todas as suas ações
levaram a consolidação do Nazismo. E depois porque existe uma centralização
excessiva do nazismo na figura de Adolf Hitler. Brilhante é a própria definição que a
editora atribui a Hitler: “Gênio do Mal”. Existe uma visão muito restrita desta a respeito
da 2a. Guerra Mundial – será que existe uma compreensão do significado das bombas
atômicas que explodiram no Japão?
O que se apresenta a seguir não é a influência de Hitler somente para a 2a.
Guerra Mundial, e sim para toda a humanidade. Rodrigues disserta que o trabalho
realizado por Lucas Pires é, claramente, um esforço para que possamos entender quão

6
mal e sanguinário foi Adolf Hitler. A primeira afirmação que podemos fazer é que se no
número referente a Hitler aparece o autor dos artigos, Lucas Pires, no número referente
ao Buda, em nenhum momento é citado o nome de quem os produziu – inclusive não
sabemos de onde foram extraídas as informações.
Em ambas as revistas existe uma enorme variedade de imagens, sendo estas a
porta de entrada para os artigos publicados. A primeira preocupação – nota-se isso nas
duas revistas – é mostrar quem foi o líder desde de sua infância, quais foram as suas
influências, e quais os resultados destas em sua vida. No entanto, nos primeiros artigos
de ambas revista percebe-se uma notória diferença entre essas. Enquanto que na revista
que trabalha com Buda, este está inserido em um contexto histórico, na revista que
trabalha com Hitler, existe a sobreposição da figura desse líder, como se este houvesse
iniciado um período marcado por inúmeros conflitos imperialistas e políticas nacionais,
sendo a coroação, para a revista, o nazismo. Segundo as palavras de Lucas Pires “Falar
sobre Adolf Hitler é falar sobre o nazismo, e falar sobre ambos é mexer no que talvez
seja a maior prova da crueldade da qual o ser humano foi capaz”. Não entraremos,
agora, na análise dos artigos, mas já é sugestivo afirmar que, até a página 21 conta-se
tão somente a história da vida Hitler.

7
c. Estruturação dos artigos
Devido ao fato de, já no início, saltar-nos aos olhos a incrível centralização da
figura de Hitler na “Grandes Líderes da História”, resolvemos iniciar a análise do
primeiro texto por uma quantificação. O primeiro artigo, que busca mostrar a figura de
Hitler desde a infância até a construção das primeiras teorias nazistas, possui um
excesso de palavras em que se repete o nome de Hitler - seja Adolf, Adolf Hitler ou
apenas Hitler -, em relação às palavras Alemanha e nazismo. O que de fato impressiona
é a inexistência de uma abordagem histórica a respeito da Alemanha e da Europa –
palavra que não aparece nenhuma vez – no texto. Os resultados foram os seguintes:
Palavras Números de vezes que se repetem/
porcentagem
Alemanha, alemães, alemão, alemã 5/ 10,4%
Hitler; Adolf Hitler; Adolf 40/ 83,3%
Nazismo, nazistas, nazista 3/ 6,2%
A partir da página 21 os textos procuram abranger algo mais do que a vida de
Hitler; no entanto, continuam a consolidar a idéia de que foi o líder nazista o
responsável, senão único responsável, pela ascensão do Nazismo e pela 2a. Guerra
Mundial. Iremos fazer aqui uma exposição dos artigos mais relevantes e as
interpretações que mais nos chamaram a atenção na revista sobre o Hitler. Vez ou outra,
iremos retomar a edição sobre o Buda.
Tanto o segundo quanto o terceiro textos estão vinculados a vida particular de
Hitler e, posteriormente, sua incrível carreira política. O que é interessante de se notar é
que aqui se afirma algo que, até a pouco tempo, era apresentado de outra maneira.
Anteriormente, Pires associou o racismo e autoritarismo de Hitler à educação imposta
por seu pai – dando inclusive o dado de que esta ocasionou um distúrbio psicológico -;
aqui aparece a idéia de que, entre 1912 a 1914, Hitler teve contato com as idéias anti-
semitas – portanto, elas seriam anteriores a sua existência e não simples resultado da
conturbada relação com seu pai.
É retratado, de maneira bem específica, a participação de Hitler na 1a. Guerra
Mundial, mostrando, primeiramente, sua adesão as forças de combate como um ato
nacionalista. É utilizado um trecho da obra de Hitler, “Minha Luta”, em que este relata o
imenso orgulho e satisfação em servir à Alemanha nesse conflito. Desde da entrada de
Hitler no conflito até o abandono deste pelo fato de ter sido baleado, Hitler parece ter
adquirido toda uma cultura anti-semita (sem, no entanto, aparecer de onde se deu essa

8
influência). Um dos sub-títulos do terceiro texto é “O começo do ódio”, nota-se,
claramente, a idéia de que Hitler foi apresentado as teorias nazistas e anti-semitas
quando morava em Munique. As ações dos trabalhadores judeus, ao entrarem em greve
para pedir o fim do conflito, criaram entre os alemães a idéia de que os judeus seriam
traidores da pátria.
O tratado de Versalhes imposto à Alemanha ao final do conflito, é descrito como
extremamente prejudicial a política e a economia alemãs, criando um sentimento de
“rebeliões e tentativas de revolta” entre o povo alemão. A consolidação da Liga das
Nações, e a impossibilidade de construção de forças militar alemãs criou nesse país a
idéia de que somente a Alemanha havia sofrido as conseqüências do conflito mundial. É
através desse viés, segundo Pires, que serão constituídas as idéias de Hitler quando este
é apresentado ao Partido dos Trabalhadores Alemães, em 1919. Sua adesão ao partido e
a enorme capacidade retórica que possuía fizeram com que Hitler, desde do início, fosse
uma figura de destaque, recebendo, em pouco tempo, o convite para ingressar no
partido. O segundo texto termina com uma interpretação, esta sendo realizada a partir da
leitura da obra do historiador Eric Hobsbawm, a “Era dos Extremos: O breve século
XX”, em que se descreve como estavam postas as ações militares na 1a. Guerra Mundial
– guerra de trincheiras -, também traçando um paralelo com o passado europeu e alemão
anteriores a esse conflito – no caso da Alemanha aparece de maneira muito resumida a
figura de Bismarck e o II Reich.
O terceiro texto vai tratar simplesmente do poder político do partido por Hitler,
com a apresentação da idéia de um homem obstinado pela necessidade em se controlar
esse partido e de faze-lo representante direto dos interesses hitleristas dentro da
Alemanha. Aparece a adoção do nome que Hitler propõe ao partido – Partido Nacional-
Socialista dos Trabalhadores Alemães” – como uma prova da capacidade deste em
consolidar suas decisões em um curto espaço de tempo.
De todos os textos esse é o que consolida mais a idéia em se “individualizar” o
nazismo à figura de Adolf Hitler, colocando as SA, através de suas ações “pouco usuais”
contra o Estado Alemão, como prova do poder e prestígio que Hitler havia adquirido.
Ao retratar a ação contra o governo – putsch de novembro – e o fracasso da mesma,
aparece a idéia de que Hitler o fizera seja por motivos internos, seja pelo exemplo da
bem-sucedida marcha de Mussolini para tomar o poder em Roma, em 1922. É o
primeiro momento em que a figura do ditador italiano é apresentada em correlação
direta ou indireta as ações hitleristas.

9
A prisão – segundo Pires, Hitler entendeu a sua prisão como um ótimo
mecanismo para aparecer na mídia, consolidar a sua imagem perante a população - de
Hitler é resumida a um relato que retrata um bom tratamento recebido por esse e seu
esforço em escrever a sua obra, a “Minha Luta”. Existe uma ponderação interessante
quanto as idéias de Hitler a respeito do caminho que levaria a uma mudança social,
frente a consolidação da República de Weimar: “Essa nova realidade no país serviu para
duas coisas: dar a Hitler a certeza de que o povo não toleraria uma revolução e,
portanto, só lhe seria possível chegar ao poder através dos trâmites legais, e também
manter o Partido Nazista em gestação, sem muitos sucessos políticos nas eleições
durante os próximos anos”. Sem contestar a validade da afirmação, parece estranho não
constar nenhuma referência bibliográfica e sequer algo ou alguém que indique de onde
partiu essa conclusão. Pela estrutura dos textos passados o primeiro nome que nos veio
foi – novamente – o de Hobsbawm.
De todos os textos apresentados esse, até o momento, é o que faz uma melhor
abordagem histórica a respeito da Alemanha e Europa – confirma-se isso pela segunda
tabela, logo abaixo -, mas volta a afirmar que Hitler foi responsável direto da ascensão
das ideologias anti-semitas e do nazismo.
Ao final desse terceiro texto aparece um artigo, intitulado “As Origens do Mal
em Hitler”. Procurando entrar na discussão de porque Hitler fez o quê fez, existe uma
excessiva abordagem da vida pessoal do ditador e nenhum viés histórico. Levanta-se,
em menos de três parágrafos duas possibilidades, do distúrbio psicológico causado pela
educação dada pelo pai – teria gerado em Hitler uma “forma de força destrutiva”, a uma
provável sífilis adquirida por Hitler durante a juventude, levando-o a odiar os judeus
porque, segundo Pires, ele teria adquirido a doença com uma prostituta judia. Iremos
retomar essa abordagem sobre Hitler, pois, acreditamos, é essencial para se entender
como a figura do ditador está retratada nessa revista. Vale a pena afirmar que, ao final, o
próprio autor considera tais autorias absurdas. “Buscar explicações é típico dos homens,
ainda mais para algo tão abominável quanto o que Adolf Hitler fez na Alemanha –
novamente se centraliza única e exclusivamente na figura de Hitler. Mas explicar e
entender não pode significar compreender e perdoar1”.
Nesse terceiro texto o uso de imagens se dá em maior número que os anteriores
e, pela primeira vez, o plano de fundo é diferente: tons de vermelho. Anteriormente
preponderavam cores mais claras. Existe uma alternância entre fotos e desenhos, sendo

10
que em três das quatro fotos Hitler aparece e está em primeiro plano. Nesse terceiro
texto também fizemos uma tabela acerca de quantas vezes aparecem as palavras em
referência ao nome do ditador, em comparação com as palavras referentes à Alemanha,
comunistas, judeus e ao Nazismo. Veja a tabela:
Palavras Número de vezes em que se
repetem/Porcentagem
Hitler, Adolf Hitler e Adolf 45/ 52,3%
Judaica, judaísmo, judeus, judeu, judia 11/ 12,7%
Comunista, comunistas 3/ 3,4%
Alemanha, alemão, alemãs, alemães 14/ 16,2%
Nazismo, nazistas, Nazista 13/ 15,1%
O quarto artigo da revista trabalha com o contexto histórico do período anterior a
2a. Guerra Mundial, aparecendo, novamente um trecho de livro (não se informa o qual,
mas se deduz ser o já citado) de um historiador, Eric Hobsbawm. As principais
afirmações feitas por Pires nesse texto são a ascensão dos EUA como “maior potência
mundial” no pós-1a. Guerra, e a quebra da Bolsa de Nova York. No entanto, a
abordagem histórica mundial aparece em pequenos três parágrafos, e logo o assunto se
centraliza, novamente, em Hitler e na Alemanha.
Esse texto é visivelmente marcado por um esforço em se fazer um retrato de uma
Alemanha marcada pelo desemprego e pela consolidação de duas forças políticas,
nazistas e comunistas que, em 1930, aparecem de maneira contundente no Parlamento
alemão, ocupando muitas cadeiras. Também aparece a formação das SA e SS nazistas –
a primeira apresentada de maneira muito resumida no texto anterior - e o papel delas
como alicerces da expansão política de Hitler que, aqui, anacronicamente, já aparece – o
texto está trabalhando com o período de 1930-1932 – sendo chamado de Führer, e o
esforço das forças legais – bem como do então presidente Hindenburg – de controlar a
ação desses grupos. Graças a incapacidade destas em controlar as SA e SS, e devido ao
enorme populismo de Hitler, segundo o texto, este é nomeado chanceler em 30 de
janeiro de 1930.
Logo após o relato dessa fulminante subida de Hitler ao poder, Pires opta pelo
relato das ações belicistas – como o incêndio ao Parlamento, em 27 de fevereiro de 1933
– de Hitler, do que suas ações políticas. Novamente se associa – de maneira muito

1
Retomaremos essa idéia de compreender e perdoar – ou julgar – na conclusão.

11
simples – a consolidação de Mussolini no poder italiano e a ascensão de Hitler. O único
viés político de Hitler nesse período está registrado pela perseguição aos partidos
políticos na Alemanha e promulgação do “Ato de Autorização” – falta, no artigo, o ano
da promulgação do ato, tornando, para o leigo, o texto um pouco confuso -, dando
poderes ilimitados ao líder nazista.
É somente quando vai tratar da preparação da Alemanha para a guerra que Pires
se preocupa em explicar a política econômica de Hitler, bem como as suas relações
externas. Existe uma excessiva preocupação em se consolidar a idéia de uma Alemanha
belicista desde da ascensão hitlerista, e, mesmo sendo essa idéia aceita, a sua constante
afirmação oculta outras importantes informações. Segue-se um pequeno artigo na parte
inferior das páginas 26 e 27, abordando a Olimpíada de Berlim, em 1936, e as claras
demonstrações de racismo e arianismo de Hitler durante a ocorrência desse evento.
As imagens desse texto, sem sombra de dúvida, são as que guardam o maior
anacronismo, pois tratam de um período posterior ao que está sendo apresentado ao
leitor, o que, concluímos, prejudica o entendimento, tanto das imagens, quanto dos
artigos. As imagens tratam, em sua maioria, dos anos posteriores a 1937. Outro fato que
nos chamou a atenção foi a utilização de desenhos para retratar Hitler, e não fotos –
assinados por Fábio Matos -, o que já havia ocorrido nas páginas anteriores. Voltaremos
a trabalhar essa questão que nos pareceu pertinente quando comparamos com o material
exposto pela Almanaque Abril.
Esse excesso de desenhos não se repete na edição que trata sobre o Buda. No
número referente ao Buda existe em algumas páginas, inclusive, um excesso de
imagens, “picotando” os textos e tornando os confusos. É notório, um cuidado muito
maior com a estética da revista que trabalha com Hitler do que com a que trabalha com
o Buda, inclusive com a existência de “molduras” nas páginas dos textos de Lucas Pires
– como a que aparece imagem da cruz de ferro circulando todo o artigo. Faz-se, aqui,
uma constatação importante, que será melhor trabalhada a posteriore: não existe uma
apresentação isolada do símbolo nazista, em nenhum momento aparece a cruz suástica
em destaque. E quando ela é retratada, aparece como que “quebrada” ou, o que
confirmara nossa interpretação, vinculada às imagens de Hitler. Existe, inclusive em
uma das imagens, a sobreposição da cruz suástica a um desenho de Hitler. Isolada, no
entanto, a imagem do símbolo do Nazismo nunca aparece.

12
Outro dado que consideramos interessante apresentar agora é o número de
desenhos em relação ao número total de imagens até esse quarto texto. Os dados são os
seguintes:
Especificação Números Porcentagens
Desenhos 14 53,8%
Fotos 12 46,2%
Iremos tratar agora de um artigo que consideramos muito importante para dar
um contexto completo à respeito da abordagem da revista. A seção da revista intitulada
“Herança de Auschwitz” a qual retrata o anti-semitismo levado até as últimas
conseqüências, o Holocausto, comporta uma estrutura na qual a matéria se caracteriza
de modo bastante patente, fundamentalmente, pelo denso apelo ao recurso de imagens.
Assim, constata-se que cerca de 50% das páginas destinadas ao assunto são preenchidos
com fotografias – todas elas registrando os devidos créditos - de prisioneiros situados
em diferentes campos de concentração, o que difere sensivelmente do resto da revista,
composta em grande parte por desenhos, em uma porcentagem maior da que a
apresentada acima.
Concebemos que as imagens fotográficas alocadas tanto na página de
apresentação do artigo quanto nas laudas subseqüentes, são preenchidas com imagens
que buscam transmitir ao leitor, parte do cotidiano dos cativos nos campos de
concentração nazista. A fotografia que abre a matéria (Divulgação/Discovery Networks)
ocupa toda a primeira página, visando enfatizar o pesar e o sofrimento das vitimas da
reclusão: mostra três prisioneiros de modo a destacar em primeiro plano a feição abatida
de uma prisioneira de expressão facial tensa e pensativa, a qual tem à sua frente uma
cerca de arame farpado.
É também interessante perceber que o ângulo pelo qual o fotógrafo capta a
imagem é bastante oportuno uma vez que nos permite visualizar interessantes detalhes
em profundidade, como a torre de vigilância, a elevada cerca de isolamento de arame
farpado que envolve prisioneiros, focalizadas de modo que auxilia a percepção do leitor
em relação a intransponibilidade, a impossibilidade de fuga por parte do preso.
Nos pareceu que a seleção das fotografias versou no sentido de descrever o dia-
a-dia de um campo de concentração, enfatizando seu perfil de depósito de homens ou de
seus restos mortais. Assim, a revista exibe a imagem de alojamentos onde são flagrantes
as situações de penúria vivenciada pelos presos em virtude da fome e da precariedade
das instalações; porém nenhuma nos pareceu mais chocante do que uma fotografia que

13
mostra um caminhão com corpos amontoados, a mais sugestiva imagem em termos da
atomização pela qual o significado da vida humana aparece submetido.
Partindo da observação de aspectos como os acima levantados, chegamos ao
entendimento de que as fotografias mais do que concorrer acabam por adquirir posição
de preponderância em relação ao texto, a qual é aguçada pela falta de satisfatória
articulação entre a parte escrita e visual, uma vez que embora seja claro que ambos
materiais remetam ao mesmo assunto, efetivamente, as fotos estão integradas de
maneira justaposta.
O texto em termos estéticos segue padrão semelhante ao das demais seções da
revista, logo que prioriza trabalhar fragmentos organizados a partir de subtítulos, bem
como repete a estratégia empregada em alguns outros artigos em relação ao uso de
imagens sombreadas ao fundo das páginas que nessa seção em específico tem seu corpo
do texto impresso sobre tonalidade azul-clara.
Em seguida, constatamos que propriamente no tocante a análise do texto, a
persistência em se atribuir a Adolf Hitler papel sine qua non ao desenrolar dos
acontecimentos e, por conseguinte, do genocídio. Logo, se por um lado é verdadeiro o
fato de que o autor admite – mesmo se contradizendo - que não foi Hitler o criador do
anti-semitismo, visto que se trata de um fenômeno ideológico muito anterior ao
nazismo, por outro atribui exclusivamente ao ditador a construção das bases da política
de extermínio dos judeus evitando a todo custo a nomeação de outros personagens.
A figura de um líder depende fundamentalmente de seu carisma junto às massas
e da cooptação dos setores que sustentam as estruturas do poder e em relação a isso,
Hitler conseguiu provar que possuía de sobra junto aos alemães naquele contexto
histórico. Uma análise bem feita acerca destas circunstâncias, de suas condicionantes
históricas proporcionaria tranqüilamente, excelentes argumentos que justificariam a
posição de Hitler como “Grande Líder da História”. Por outro lado, constitui enorme
risco apresentar a um público leigo argumentos, convenhamos, um tanto forçosos, os
quais visam delegar as estratégias do partido e do governo nazista unicamente às
decisões do füher, , supostamente provenientes de sua “diabólica genialidade” .
Assim, a forma pela qual o texto é construído não fornece nenhum subsídio, ou
quem sabe, na melhor das hipóteses, apresenta reduzidíssimas indicações afim de que o
leitor seja informado acerca de outros agentes envolvidos na construção da ideologia. A
propósito, é curioso como que, ao referir-se a outros articuladores da ideologia nazista,
o autor opta por remeter-se ao nome “nazistas” num sentido genérico. Nesse sentido, ao

14
se referir à política governamental de propaganda anti-semita, avalia que, “os nazistas
foram especialistas em criar e espalhar cartazes, filmes, livros e panfletos denegrindo a
imagem dos judeus” – aqui reside uma das maiores e principais diferenças quanto a
“Almanaque Abril”, muito mais bem elaborada nesse sentido, trazendo o nome o papel
de outros líderes nazistas, como Goebbels -; caso análogo verifica-se num trecho mais
adiante da matéria a partir de uma breve alusão que faz em relação ao Tribunal de
Nuremberg, onde lembra que a coleta de provas documentais por parte dos aliados nos
campos de concentração “foram essenciais para a condenação de nazistas no
julgamento”. Ora, mas quem são esses nazistas?! O público fica sem saber!
Outro aspecto que nos chamou a atenção foi que a noção do desenrolar de
estágios no curso da história, idéia cara aos estudos no campo da Filosofia da História,
aparece expressa nessa seção da revista no âmbito da abordagem do progressivo arrocho
da perseguição nazista aos judeus entre os anos de 1933 e 1941. Lucas Pires emprega a
terminologia “estágio” numa perspectiva tripartite.
O primeiro estabelecido, entre o ano de 1933 e 1938 é definido como a “primeira
tentativa de banir os judeus de todos os campos sociais”, tecida num contexto pelo qual
as “leis de Nuremberg” figurariam dentre os marcos factuais mais notáveis, assinalando
que a referida legislação “impunha a proibição do casamento entre judeus e arianos,
boicotes econômicos, prisões e espancamentos”. Todavia, entendemos que exista uma
certa ambigüidade na construção da frase acima citada, podendo vir a confundir o leitor,
pois o contexto pelo qual a frase é colocada, se analisado com um cuidado maior,
permite que nos certifiquemos, no máximo, de que pelas “Leis de Nuremberg” ficavam
proibidos casamentos entre arianos e judeus, ficando em suspenso se as demais ações
(isto é, os boicotes econômicos, prisões espancamentos) de fato tornaram-se práticas
“legais”, ou melhor, institucionalizadas pelo estado nazista, ou então se tornaram
corriqueiras nesse “primeiro estagio”, enquanto produto do discurso propagandista
estatal anti-semita, o qual assimilado por grande proporção da população alemã
redundou no acolhimento de tais práticas.
Voltando propriamente à questão dos “estágios”, observa-se que o segundo
estágio proposto se situa entre 1938 e 1941 e sua existência atribuída a um período
qualificado como de acirramento da perseguição anti-semita, o qual tem seu
desencadeamento ligado a um marco factual atribuído à chamada “Noite dos Cristais”,
evento que, traduzindo as palavras do autor, poderíamos afirmar que consistiu num
sanguinolento “arrastão” contra os judeus.

15
O terceiro e último estágio tem seu início vinculado ao ano de 1941, o qual tem
sua duração até 1945, culminando com o sucessivo desmantelamento dos campos de
concentração e o encerramento do conflito. O argumento explicativo para a ocorrência
desse terceiro estágio de perseguição anti-semita é justificado pelo notório emprego da
política de extermínio a qual é definida pela expressão “solução final”. Evidentemente,
nosso parecer a esse respeito é que de fato, a conjuntura 1941-45 corresponde a um
“estágio” demasiadamente sanguinolento tanto pela questão do holocausto, quanto pelos
desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, e nesse sentido, não pairam
questionamentos em relação a afirmação do autor.
Entretanto, talvez o ponto não propriamente errôneo, porém discutível da
formulação que propõe, resida no critério definidor da passagem do segundo ao terceiro
estágio, já que se o extermínio constitui eixo marcante do início do terceiro estágio da
perseguição anti-semita na Alemanha nazista; lembremos que tal característica já era
presente no estágio anterior, pois como o próprio texto informa, “no final de 1941, cerca
de um milhão de judeus haviam morrido por diversos motivos sob domínio nazista”.
É também interessante estarmos atentos ao fato de que o autor, ao remeter-se a
essa fase com a implementação da execução em massa como a “solução final” nazista
em relação à questão judaica, denota-se, enfim, a perspectiva da análise de um
movimento da história pautado em estágios sucessivos por intermédio dos quais seria
viável acompanhar a evolução de determinado fenômeno que inexoravelmente
desemboca num determinado telos.
A parte final da matéria é editada com um “box” que discute o anti-semitismo
enquanto ideologia. Lucas Pires oferece ao leitor uma definição peremptória em relação
ao fenômeno, concebendo-o como uma “hostilidade ideologicamente motivada contra o
povo judeu e sua cultura”. Percebe-se que, assim como no tratamento dado a questão
relativa a perseguição nazista aos judeus, o autor opta por relatar historicamente as
características da ideologia anti-semita no Ocidente, demarcando sua análise em torno
de “três diferentes momentos”, aplicados possivelmente, visando finalidade didática.
Aliás, o fato de que a redação dos textos é construída a partir de linguagem
bastante simplificada, às vezes próxima ao coloquial (como já comentamos
anteriormente), bem como outros detalhes, por exemplo, no emprego dos algarismos
indo-arábicos “15” e “19” para a denominação dos séculos, constituem elementos que,
de certo, corroboram com a nossa tese em torno da preocupação de uma linha editorial
da revista “Grandes Líderes da História”, versada no intuito de facilitar a decodificação

16
da mensagem por parte do leitor, com vistas à pragmática intenção de mantê-lo e,
obviamente, alcançar a adesão de seu público potencial.
Voltando à questão inerente à análise do anti-semitismo, retratado na perspectiva
de três momentos particulares, vemos que, embora não estabeleça uma rígida
delimitação em termos de recortes cronológicos como aplicou na situação anterior,
propõe três marcos históricos relativamente datáveis no decorrer da mutação da
ideologia que são, o pensamento teológico ou tradicional, transcorrido da Idade Média
ao século XIX; o moderno ou científico caracterizado pelas teorias cientificistas em
voga já no final do XIX - sendo curioso o fato de que não é fixado de maneira explícita,
um marco que encerre esse segundo momento. A seguir, o autor faz alusão a um
terceiro momento, no qual a ideologia anti-semita tem por sustentáculo o neonazismo,
que como observou, “ressurgiu a partir dos anos de 1980, após uma hibernação de
praticamente trinta anos”. Daí, deduzir que o autor situe o tal “segundo momento” entre
o final do século XIX e meados do XX.
Uma análise do discurso do conteúdo da matéria nos leva a crer que o autor
atribui, digamos, implicitamente, determinada simetria em termos de expressividade
entre Adolf Hitler e Auschwitz. Nosso argumento é o de que a imagem de Auschwitz
está para os campos de concentração, em proporção semelhante à que Hitler estaria para
o nazismo. Portanto, se como já observamos na parte inicial do trabalho, o autor
argumenta que “falar sobre Adolf Hitler é falar sobre o nazismo” semelhantemente, o
discurso produzido se inclina a tratar Auschwitz e campos de concentração quase como
sinônimos.
Ademais, o título sugerido para a discussão dos campos de concentração nazista
(“Herança de Auschwitz”) nos parece um tanto complicado pelo simples fato de que a
matéria em momento algum explica, problematiza ou fornece subsídios que justifiquem
o sentido da utilização da palavra “Herança”. Corresponderia a seus desdobramentos
mais imediatos, como por exemplo, a morte de aproximadamente seis milhões de seres
humanos e a criação de um estado Nacional (Israel)? Ou a lição de uma história
magistra vitae a qual visa dentre suas principais atribuições mostrar os acertos ou
equívocos de “grandes” personagens diretamente responsabilizados pelos conseqüentes
avanços ou percalços no curso da humanidade? São hipóteses por nós até aqui
aventadas e que revista parece não marcar posição.

17
4. Como é retratada a figura de Adolf Hitler
Semelhantemente, à questão em torno da vida particular, mais precisamente, no
aspecto da intimidade amorosa-sexual, esta é abordada no campo da especulação, não
havendo ao que, à primeira vista parece, a pretensão de se fechar à questão em relação
ao assunto. O que nos parece claro por outro lado, é o fato de que há um grande
investimento na abordagem de questões ligadas à sexualidade em detrimento da questão
propriamente afetiva.
Observa a matéria que o personagem manteve digamos, “oficialmente”, três
relacionamentos amorosos. O primeiro, aos seus 38 anos quando vive um curto romance
com Mimi Reiter, uma adolescente de 16 anos que de acordo com a matéria teria
tentado suicídio após o término do relacionamento. A seguir, percebe-se o nítido
destaque dado ao relacionamento mantido com sua sobrinha, Geli Raubal. Destaque
esse, que indubitavelmente, não se dá pela durabilidade da união, até mesmo porque o
autor não informa o tempo de convivência do casal o qual, diga-se de passagem, não
poderia ter sido tão longo, visto que ela teria se suicidado aos 23 anos.
Assim, como explicar uma matéria em que, por exemplo, ao relatar os três
relacionamentos amorosos dos últimos 18 anos da vida de Hitler – entre os seus 38 e 56
anos de idade – onde a revista dedica mais de dois terços da exposição ao ligeiro
convívio com Geli, enquanto que em relação à Eva Braun, sua última companheira a
qual esteve ao seu lado por 16 anos, seja dedicado apenas um parágrafo?
Nossa interpretação a esse respeito é a de que embora o autor admita existir
muita especulação a respeito da vida amorosa do ditador e que pouca coisa se saiba de
fato, nos parece patente que o seu texto investe na hipótese da “perversão sexual” como
característica marcante do personagem. Afirma que o suicídio de Geli Raubal tenha
íntima relação com os atos bizarros que a moça era obrigada a praticar de modo forçado
pelo seu parceiro.
Finalmente, concebemos que o autor opta por enfatizar a tese de que Adolf
Hitler teria uma patologia sexual, isso porque a revista “Grandes Líderes da História”,
enquanto uma publicação de caráter comercial, demanda assuntos que tenham forte
apelo junto ao público leitor.
Outro ponto retratado por Pires é o da morte de Hitler. A revista discute a
“polêmica da morte” do líder nazista, optando por apresentar duas possibilidades acerca
do desfecho da vida do personagem. A primeira é gerada a partir da versão segundo a
qual se afirma que ele teria se suicidado em seu bunker em 30 de Abril de 1945

18
mediante o convencimento acerca da sua iminente derrota final. Uma segunda versão
gira em torno da hipótese de uma possível manobra feita pelos nazistas de maneira que
“um falso Hitler morreu no bunker de Berlim”, enquanto que o verdadeiro teria fugido
para a América Latina e, assim, ao contrário do que pensava os aliados, viveu por
muitos mais anos. Isso porque, graças uma variedade de drogas preparadas por Josef
Menguele, médico de Auschwitz - que se refugiou na Argentina e posteriormente no
Brasil - Hitler gozou de plena saúde até pelo menos aos 100 anos e pasmem, viveria até
seus 150 anos de idade!
Explorando essa segunda hipótese, a revista se empenha em empregar todas as
ilustrações relativas a esse fato, visando ao que nos parece, não outra finalidade que não
seja a de despertar a curiosidade do leitor acerca de uma versão pitoresca em relação ao
destino do ditador. A própria cor das páginas, todas em azul celeste, e a imagem
paradisíaca que inaugura a seção, acentua nossa percepção a esse respeito.
Percebe-se por outro lado que há no conteúdo desse artigo, uma franca
disparidade entre o que a parte ilustrativa (reproduzida com desenhos) e o texto
assinalam. O texto é bastante incisivo no sentido de afirmar que a hipótese de que o
líder nazista teria conseguido escapar do cerco dos aliados não passasse de uma ilusória
especulação e que indubitavelmente, “tem-se certeza da morte dele, mais precisamente
de seu suicídio, no dia 30 de Abril de 1945”. Assim, o argumento contradiz
completamente as ilustrações, não havendo, entretanto, sequer uma imagem, seja ela
desenho ou fotografia, que estabeleça algum tipo de alusão em relação ao suicídio.
Isso é visto por nós como algo problemático, principalmente porque as
ilustrações não figuram num plano secundário na matéria, antes pelo contrário, podemos
dizer que ocupa pelo menos 50% das páginas destinadas a esse assunto, além do que a
abertura do artigo, o qual apresenta o título “Hitler não morreu?”, é composta por um
desenho o qual ocupa praticamente as duas primeiras páginas, com uma caricatura de
Hitler tomando água-de-coco à beira da praia. O texto aparece, não, porém, como
elemento de destaque.
Não bastassem os apelos das imagens, a matéria é encerrada com um “box”
extremamente chamativo, todo decorado, de fundo vermelho e letras em cor branca, o
qual disposto numa coluna vertical que ocupa a metade da última página da matéria,
elabora relatos acerca do escape, bem como deixa em aberto a “folclórica” versão
segundo a Hitler não morreu.

19
Refletindo acerca dessa estruturação da revista nos parece não haver sombra de
dúvida, de que se entregássemos o material para duas pessoas e solicitássemos que uma
lesse de fato a matéria, enquanto que a segunda apenas a folheasse, porém prestando
atenção nas imagens, e ao final perguntássemos a cada uma delas sobre o que então se
poderia dizer sobre a morte de Hitler, a primeira por ter lido o texto, afirmaria
categoricamente que o Fuhrer se suicidou dias antes do estouro de seu bunker pelos
russos, ao passo que, a segunda pessoa (que apenas observou as ilustrações e leu no
máximo, o título da matéria e o “Box”) acharia absurda a afirmação do primeiro, de
modo a garantir que, de acordo com a revista, Hitler teria oportunamente fugido de
Berlim “salvando a sua própria pele”.
A parte textual da matéria procura, além de desmistificar a hipótese da fuga do
ditador - como já nos referimos –, narrar como teriam sido os seus últimos dias de vida
no comando da cúpula nazista, bem como explicar o por que de sua opção pelo suicídio.
Aliás, é interessante percebemos que diferentemente ao que constatamos ao longo de
toda a edição da revista onde não é citado praticamente nenhum outro nome que não
seja o de Hitler, pelo menos no artigo dessa seção da revista, aparece à menção aos
nomes de alguns de seus principais homens – M. Boorman, Goebbels, Himmler,
Göring, Speer e Ribbentrop –, na ocasião em que se reúnem “para deliberar sobre os
andamentos da Guerra”.
São descritos alguns acontecimentos relativos aos momentos que antecedem a
morte de Adolf Hitler e sua companheira Eva Braun, coisas do tipo, “notícias de
bastidores”, informações cercada de detalhes as quais desconhecemos de que modo
poderiam ser comprovadas em termos documentais – mais uma vez não sendo clara
quais foram as fontes. Aliás, convenhamos, não nos cabe aqui discutir, até por sua
inócua relevância em termos históricos, questões como por exemplo, se o casal, embora
já decididos por cometer suicídio, celebrou ou não o casamento, comemorando com
champagne; são pormenores que não nos cabe discutir aqui detidamente, mas que,
indubitavelmente, tratam-se de um atrativo ao leitor que gosta de “curiosidades”. A
propósito, a única curiosidade a que o artigo nos instigou foi no tocante às fontes
bibliográficas pesquisadas, as quais não são citadas, embora haja uma pista na
observação feita por Lucas Pires, assinalando que a investigação do caso por H. R.
Trevor-Roper gerou o livro “Os Últimos Dias de Hitler”, o qual, embora muito criticado
na época de sua publicação, tornou-se um best-seller e hoje seria a versão mais próxima

20
de um consenso. Daí, a probabilidade de que a parte escrita da matéria tenha como base
o historiador inglês.

21
5. Análise da construção da imagem de Hitler nas revistas “Grandes
Líderes da História” e “Almanaque Abril – Volume 1 - 2a. Guerra Mundial”.
Comparação entre as revistas.
Pudemos analisar que os materiais trabalhados – sejam eles fruto de uma
pesquisa historiográfica ou não -, ao desenvolverem suas narrativas, traçam perfis
psicológicos. Pelo fato de estarem lidando com fatos humanos não conseguem se
desvencilhar de aspectos psicológicos -desejos, instintos, necessidades, sentimentos
individuais (a história individual, paixões) e coletivos (sentimentos diversos que estão
atrelados a determinados grupos, classes, povos em determinadas épocas, idéias de
pertencimento e alteridade). Como bem nos lembra Peter Gay:
“O historiador profissional tem sido sempre um psicólogo - um psicólogo
amador. Saiba isso ou não, ele opera com uma teoria sobre a natureza humana; atribui
motivos, estuda paixões, analisa irracionalidades e constrói o seu trabalho a partir da
convicção tácita de que os seres humanos exibem algumas características estáveis e
discerníveis, alguns modos predizíveis, ou pelo menos decifráveis, de lidar com as suas
experiências. Descobre causas, e a sua descoberta geralmente inclui os atos mentais.
Mesmo construtores de sistemas materialistas, como Karl Marx, que sujeitavam
indivíduos às pressões inevitáveis das condições históricas, admitem e declaram que
entendem o papel desempenhado pela mente. Entre todas as ciências auxiliares do
historiados, a psicologia é a sua ajudante principal, embora não reconhecida.”2
A partir da integração do estudo profundo da biografia com a visão de mundo da
personagem histórica, a análise psicológica pode auxiliar em muitos casos o
entendimento da história das idéias. É assim que Quentin Skinner percebe a relação
entre a visão profundamente decaída do homem para Lutero e o nascimento do
protestantismo: “A base da nova teologia de Lutero, e da crise espiritual que a
precipitou, residia em sua concepção da natureza humana. Lutero vivia obcecado pela
idéia da completa indignidade do homem”.3.
Quando se estuda o período em questão é comum se questionar no plano
individual (no que se refere a Hitler) as razões pelas quais a Europa foi levada a um dos
períodos mais sombrios da história da humanidade. A questão que fica latente é de que
Hitler conseguira mobilizar toda uma nação para consolidar as práticas nazistas. E isso
decorre do fato de que está implícita a idéia de que nem todos alemães poderiam ser

2
GAY, Peter. 1989. p. 25.
3
SKINNER, Quentin. 1978. p. 285.

22
nazistas, ou, resumidamente, “pessoas ruins”, quer pelo fato de nós os identificarmos
como pessoas comuns. É exatamente por este caminho - o da culpabilidade do
indivíduo/gênio - e em resposta à questão levantada pelo editorial Quem foi Hitler
“Como conseguiu incitar às massas a acreditarem numa idéia tão radical, a crerem na
superioridade absoluta de uma raça e na necessidade de exterminação de outra?” - que
parece seguir o autor de todos os textos da revista “Grandes Líderes da História”, Lucas
Pires.
Assim, Lucas procura depositar em Hitler todo o peso da História e mais
especificamente em traumas de infância o nascimento de uma psique maligna (há um
adendo de uma página ao capítulo “O partido sou eu” intitulado “As origens do Mal em
Hitler” - ressalte-se o m maiúsculo- no qual são enumeradas uma série de razões, as
mais estapafúrdias: sífilis; a perda da sua sobrinha-amante; a mordida do bode:
“Historiadores reforçam a relação conflituosa de Hitler com seu pai, tido como
um tirano, que impunha a lei e a ordem sob castigos físicos. Relatos de surras que Adolf
teria levado do pai na infância são freqüentes e muitos usam esse trauma para explicar a
psique maligna que Hitler viria a desenvolver.” Há um adendo de uma página (pág. 21)
ao capítulo “O partido sou eu” intitulado “As origens do Mal em Hitler” - ressalte-se o
m maiúsculo - no qual são enumeradas uma série de razões, as mais estapafúrdias:
sífilis; a perda da sua sobrinha-amante; a mordida do bode; etc. No entanto, o que
prevalece em sua argumentação e para a qual infere linearmente é em relação a
“educação destrutiva” de Hitler que seria a gênese de tudo aquilo desembocou no
Holocausto. Não há psicologismo pior elaborado. Lucas parece crer que as idéias da
sociedade pairam acima e por sobre ela - mais especificamente dentro da cabeça de
Hitler e que este, como o ratinho “Cérebro”, versão anazistada do desenho animado,
pretendia dominar o mundo. Parece não perceber que naquele período por toda Europa
(e não somente) habitavam idéias não somente de cunho anti-semitas, mas também
antimarxistas, antiliberais e nacionalistas.
Sem limitar ou exagerar o alcance destas publicações, a análise que intentamos
fazer se guia nesse ponto a partir do sentimento de horror que o período desperta
enquanto construção da memória - nesse sentido nos parece, a revista só presta
desserviços. Lucas Pires, como o senso comum, e com seu olhar ulterior estereotipado e
ingenuamente distanciado dos fatos, assombrado, parece não entender, como a esquerda
alemã não conseguira entender na época, aquela realidade que se desenhava. Vejamos
este trecho da crítica elaborada por Horkheimer: “As forças mais progressistas tomaram

23
para si a tarefa de destruir o capitalismo; e um dos resultados do seu fracasso foi que o
fascismo tomou o poder”4. De modo semelhante parece pensar a editora da revista,
Thaíse Rodrigues, cuja opinião expressada no editorial a respeito daquele período e da
figura histórica de Hitler varia do assombro e incompreensão (“É fato que Adolf Hitler
foi uma pessoa decisiva para o século em que vivemos. Sua figura pessoal, sua vida
pública, seus atos, tudo é absurdo e intrigante.”) à culpabilidade do indivíduo, “gênio do
Mal” (“Ele promoveu uma das maiores atrocidades de que se tem notícia na história da
humanidade...”).
Continuando nossa análise, a revista Almanaque Abril - II Guerra Mundial traça
um perfil histórico completamente diferente da figura de Hitler. Não se pode comparar
estritamente as duas publicações na medida em que uma delas se propõe a analisar um
personagem histórico e a outra, um período histórico (do fim da Ia Guerra Mundial até
1940). De certo modo, no entanto, isso já se pode mostrar como uma posição editorial.
Assim a imagem de Hitler é construída de maneira muito mais clean no capítulo
específico sobre sua biografia (págs. 33 a 37). Não se faz especulações. Excetuando-se a
referência no título do capítulo biográfico Adolf Hitler, o monstro da Baviera, não há
indicações/adjetivos como aqueles usados pela revista “Grandes Líderes” - mal,
demônio, etc. O máximo que o texto traz sobre seu pai é que Hitler adotara, como ele, o
sobrenome de um tio chamado Hiedler. O texto (Ana Lúcia Correa/Susana Camargo) se
atém muito mais aos seus passos em direção ao poder. O almanaque traça de maneira
razoavelmente ampla o contexto histórico e político no qual emerge a figura de Hitler.
O índice pode nos dar uma idéia:
Quando tudo começou
A Europa após a I Guerra
14 anos que mudaram a história
Adolf Hitler, o monstro da Baviera.
A primeira vítima
A bota fascista
Setembro Negro
Embate entre a esquerda e a direita
Jornalista de hotel
Benito Mussolini, a metamorfose do Duce.
Uma nova conquista

4
SLATER, P. 1978. p. 25.,

24
Aliança improvável
A mão de ferro do poder
Cruzada anti-semita
Terra invadida
A guerra no gelo
A expansão nazista e o início da guerra
Armas alemãs
Armas italianas
A queda dos neutros
À espera do inimigo
A guerra estranha
Os aliados na frente francesa
O primeiro dos capítulos nos indica a idéia de continuidade entre as duas guerras
por parte da redação, completamente diferente da revista “Grandes Líderes”, que
percebe o Holocausto a partir do nascimento do führer. Finalizando, o autor dos textos
da revista publicada pela editora Arte Antiga, ao contrário do que nos dissera, pode ser
qualquer coisa menos historiador. Curiosamente, a revista da editora Arte Antiga traz
todas as imagens com créditos (a maior parte, no entanto, são péssimos desenhos) ao
contrário da revista Almanaque Abril que quase não traz os direitos de imagem, o que,
como discutido com a professora Raquel, decorre do fato das imagens utilizadas nesta
segunda publicação serem.parte de seu arquivo – o que confirma a inexistência de algo
parecido na editora Arte Antiga, e nos faz pensar que o uso notório de desenhos se deu
pela impossibilidade de utilizar mais imagens, seja pelo motivo exposto, seja porque ter
acesso a elas só seja possível por uma grande quantidade de capital, devendo, portanto,
compra-las.

25
6. Análise da entrevista com a professora Doutora Maria Luiza Tucci
Carneiro
A preocupação de Pires quando entrevista a professora da USP, Maria Luiza
Tucci Carneiro, é, preponderantemente, analisar qual a participação e as relações que o
Brasil teve na 2a. Guerra Mundial, sob um viés que, daqui a pouco, será exposto. Existe,
seja na análise dos textos da revista, seja agora nesta entrevista, um notório exercício em
se “condensar” o assunto em um pequeno número de páginas. Mas o que talvez
destaque mais essa entrevista em relação aos outros textos é o fato de que Tucci
possibilita aos leitores o conhecimento de outras personalidades do período
compreendido – de 1930 a 1945. Portanto, aquela análise que Pires estava fazendo –
resumida e extremamente centrada na figura de Adolf Hitler -, agora ganha uma
abordagem muito mais contextualizada – se insere em um contexto histórico -, resultado
claro de um trabalho que contou com a colaboração de um pesquisador – no caso,
pesquisadora. Algumas entidades políticas, por exemplo, não tratadas antes nos textos,
agora aparecem na entrevista, e, em decorrência disso, a análise que Tucci faz tem que
dar conta de explicar o que são estas e quais suas principais personalidades.
Outro elemento de destaque é a constante preocupação de Pires em relação a
posição do Brasil no conflito mundial – eis o viés. O título da entrevista já denuncia
essa preocupação: “Há responsabilidade do Brasil perante o Holocausto?” Existe,
inclusive, no centro da entrevista uma imagem de rosto de Hitler encaixada no mapa do
Brasil! Todas as perguntas de Pires vêm de uma associação Vargas – Hitler – Nazismo.
Somente em alguns momentos o foco muda – pela abordagem de Tucci – para as
relações com os EUA. Tucci procura inserir outras questões para a discussão da posição
no Brasil frente a esse conflito, que, em nenhum momento, a revista deu conta. O
interesse de Pires é tão somente responder a pergunta: de que lado o Brasil estava?
Vargas apoiava a ideologia nazista? E a análise que Tucci faz, nos parece, “assustou”
Pires. Voltaremos a esse ponto.
Em dez questões Pires procurou fazer com que Tucci respondesse as suas “duas”
principais dúvidas, sendo que, reitera-se, a historiadora procurou mostrar que as
questões não deveriam ser só essas. As respostas bem elaboradas de Tucci destoam com
a simplicidade das perguntas que Pires fazia – algumas, há que se afirmar, muito
tendenciosas. O papel, portanto, da historiadora seria o de dar o veredicto final a
respeito da posição do Brasil no conflito.

26
O fato é que Tucci elabora toda uma argumentação apresentando as relações do
Brasil com a Alemanha nazista e a política anti-semita instalada pelo governo em 1937.
A oitava resposta de Tucci aparece assim ao leitor: “Justamente a partir de 1937 o
Brasil, nos bastidores, assumiu uma política anti-semita, fechou as portas aos judeus e
manteve relações confidencias com a Alemanha”. Estranhamente, a próxima pergunta,
está exatamente negando as afirmações da historiadora: “Voltando aos judeus, como o
Brasil recebia a imigração judaica? ”. Novamente, Tucci reitera a dificuldade desses
imigrantes em chegarem ao Brasil, ao contrário dos alemães no pós-45. “Houve casos
horríveis acontecidos entre 1944 e 1945. Num deles, o Brasil levou meses para
responder positivamente à aceitação de 500 crianças órfãs judias que estavam em perigo
na França ocupada. Quando houve a resposta, Hitler já havia se suicidado e a guerra,
acabado”, Inconsolado, Pires volta a querer dar uma idéia de um Brasil longe de
qualquer ideologia nazista. E termina a entrevista com uma pergunta – extremamente
tendenciosa – a respeito do voto a favor dado pelo Brasil para a formação de um estado
judeu, sendo está a prova de um país marcado por uma política sem nenhum resquício
anti-semita, no entanto, não obtendo o resultado desejado – “A presença do Brasil na
assembléia da ONU que ia resolver a partilha da Palestina não ocorreu porque o Brasil
era favorável aos judeus”.
As indagações postas por Pires tentariam coroar a ausentabilidade de culpa por
parte do Brasil nos episódios relacionados ao Holocausto? Qual, de fato, era a intenção
de Pires? Fazer um retrato do Brasil – objetivo que Tucci tentou traçar em poucas linhas
– ou, simplesmente ter a resposta de uma especialista sobre o período quando tratamos
da política brasileira? Concluímos tratar-se, sem sombra de dúvida, da segunda
hipótese, que, no entanto, mostrou resultados reveladores para o próprio autor de todos
os textos que compõem a revista – talvez reside aí a prova da limitação da pesquisa de
Pires.

27
7. Conclusão
Optamos por trabalhar na conclusão com o último artigo da revista – que aparece
intitulado no índice como “Um demônio encarnado?” – porque, primeiramente,
observamos que é neste artigo que muitas das posições do autor dos textos, Lucas Pires,
aparecem de maneira mais clara, em uma espécie de síntese de tudo o que foi abordado,
tendo uma sobreposição da idéia de um Hitler psicologizado.
A pergunta que, talvez, os textos tentaram responder – discutiremos daqui a
pouco se conseguiram – foi: por que Hitler fez o que fez? O que motivou Hitler? Houve,
desde o início, ao contrário da abordagem da Almanaque Abril, uma centralização
excessiva e, na nossa interpretação, prejudicial sobre a figura de Hitler como o único
líder nazista – as vezes dando a idéia também de que este estivesse isolado – e o único
responsável pelo segundo conflito mundial no século XX. Que a revista faz a
abordagem de um líder é inegável; a questão é: por que na edição sobre o Buda houve
uma preocupação em retratar o Budismo e seus seguidores em todo o mundo? As
escolhas de Pires foram, sem dúvida alguma, no intuito de ressaltar exclusivamente a
figura de Hitler, coroada com esse último artigo, em que temos – mais – um desenho de
Hitler e a frase “Compreender e julgar”. Logo acima se encontra outra frase: “O que
fica”. Há que se reiterar que na edição sobre o Buda não existe essa sessão e, de maneira
clara, busca-se ao final fazer uma abordagem contemporânea do Budismo.
O que talvez tenha nos surpreendido mais foi a capacidade, presente nessa
edição sobre o Hitler, de se “enxugar” o assunto sobre a 2a. Guerra Mundial a ponto de
torna-lo, em alguns trechos, um pouco confuso. Dados que estão inseridos sem muito
nexo, nomes de outros importantes líderes que deveriam constar e, simplesmente, não
constam – e quando constam, aparecem totalmente “perdidos” de um contexto histórico
-, ausência de referências bibliográficas a respeito de algumas informações...Talvez
tenhamos lido os textos de maneira muito crítica?! Não, se levarmos em consideração a
exposição do tema na revista Almanaque Abril, muito melhor trabalhada sobre esses
aspectos, deixando a clara impressão da preocupação em se fazer um texto coeso,
interessante e, acima de tudo, informativo. A cada novo episódio sobre a ascensão do
nazismo, são retratados não só a figura de Hitler, mas apresentadas e retratadas outras
personalidades, sejam elas nazistas, comunistas etc, desde que tenham uma importância
significativa para o período.
O foco das duas revistas muda de posição se levarmos em consideração que na
“Grandes Líderes da História” existe a intenção dos editores em “matar a sede” sobre a

28
pergunta “quem foi Adolf Hitler?”, e na Almanaque Abril em retratar a 2a. Guerra
Mundial desde do Tratado de Versalhes até a inserção do Brasil no conflito – se
levarmos em conta os quatro volumes da edição; no volume que analisamos, as
informações, procurando “abstrair” ao máximo as diferenças “físicas” (números de
páginas, tamanho dos artigos), possuem um fundamento bibliográfico um pouco mais
interessante. Falta, sem sombra de dúvida, as duas algo que as coloquem no patamar de
edições que fizeram uma pesquisa compromissada com a construção da informação
sobre temas históricos para o público leigo, na medida em que não conseguem se
desvencilhar de determinados estereótipos – já tão arraigados na sociedade -, nem se
esforçam nesse sentido, interpretando a inserção da ex-URSS – no caso da “Grandes
Líderes da História” nem há uma significativa interpretação, por mais errônea que seja -
de uma maneira correta, sempre buscando ligar a salvação do mundo da ameaça nazista
ao Ocidente e, principalmente aos EUA. Quanto a esse aspecto guarda-se, mais uma
vez, uma contradição interessante, presente na “Grandes Líderes da História”. No guia,
a respeito dos filmes que retratam sobre a 2a. Guerra Mundial, Pires acentua que filmes
como o “O resgate do soldado Ryan” trazem uma visão muito “norte-americanizada” do
conflito e que, portanto, se faz necessário enxergar com olhos críticos. Vem, daí, a
seguinte pergunta: por que essa visão “norte-americanizada” foi tão aceita durante a
exposição dos artigos – vide o caso criado a respeito da polêmica morte de Hitler, com a
afirmação, as vezes do governo dos EUA, de que Hitler não estava morto, quando seus
restos mortais estavam sob o poder do exército vermelho -?
Não houve na “Grandes Líderes da História” uma preocupação em se retratar a
ascensão das políticas socialistas e comunistas e a perseguição de Hitler a essas pessoas
– o que, em nossa concepção, foi um dos maiores erros da revista -, o que é confirmado
pelas perguntas de Pires a Tucci, nenhuma associando a chegada de judeus comunistas
ao Brasil – vale lembrar que é nesse contexto que se formam a maioria das associações
judaicas em São Paulo. Portanto, mais uma vez, a abordagem histórica ficou,
grotescamente, a desejar.
Voltando ao artigo “Compreender e julgar”, Pires procura endossar a idéia de
que a revista buscou fazer com que as pessoas compreendessem quem foi Hitler para
que, assim, pudessem julgar. De fato – e aí foi um erro nosso e também seria resultado
de um trabalho muito extenso -, não perguntamos as pessoas se elas sabiam quem era e
o que fez Hitler depois de terem lido essa publicação, e se houve alguma mudança a
respeito da interpretação que tinham do líder nazista. O que, certamente, podemos

29
afirmar é que Pires não esconde, desde o início, a abordagem psicologizante e a
consolidação da imagem de um vilão histórico que será feita a respeito da figura de
Hitler. Nos pareceu, em alguns momentos que estamos lidando com uma pessoa que
não possuía relações sociais, amorosas e afetivas, o que, por mais cruel e desumano que
tenha sido o nazismo, é um erro afirmar, seja porque nos impede de estabelecer um
olhar crítico e construtivo a respeito do passado, seja porque nos coloca – a nós todos,
jornalistas, advogados, biólogos... - na função de juízes de um passado que se faz tão
presente nos dias de hoje, respaldado pela violência, intolerância e preconceitos, e não
construtores de uma cidadania. Entender Hitler sobre a “ótica da moral e da ética
cristãs” irá, de fato, nos auxiliar a aprender algo construtivo sobre a 2a. Guerra Mundial,
ou apenas criaremos – reafirmaremos!!! – valores totalitários? Em que reside o conflito
que durou cerca de oito anos e custou a vida de mais de 50 milhões de pessoas? Não foi
em teorias arbitrárias e totalitárias?! Quem carrega a “verdade histórica” para que
possamos nos colocar no papel de tão somente julgadores?
Devemos nós, como alerta Hobsbawn e como historiadores que somos,
compreender de que maneira houve e se deu a ascensão nazista para que outras políticas
de extermínio em massa – como as que ocorrem até os dias de hoje na África – cessem,
façam parte de um passado compreendido¸ antes de ser julgado. Até porque de nada
adiante intitular Hitler de “Gênio do Mal”. Já se foram milhões de pessoas, houve, após
1945, a explosão de teorias xenofóbicas, nascimento de políticas cada vez mais
excludentes; portanto, devemos não tão somente “adjetivar” e, sim, encampar uma luta
– aquela que Chaplin iniciou em seu filme “O Grande Ditador” – contra o renascimento
dessas teorias e conflitos no século XXI.
A análise desse tipo de material – revistas de grande circulação –, que o curso de
Teoria da História I, sob a docência da professora doutora Raquel Glezer, nos propiciou
a entender quais e porque as abordagens feitas por essas revistas, uma pesquisa
reveladora e gratificante. Aqui estão alguns poucos resultados, aqueles que nos
couberam que foram possíveis de se realizar. Esperamos ter contribuído para a
construção de um trabalho coletivo, com outros grupos da sala, e que só tem, agora, que
ser acrescido de outras conclusões, estas que não foram feitas, seja por falta de tempo,
seja por serem mais bem elaboradas quando associarmos a nossa pesquisa a outras.

30
8. Bibliografia
GAY Peter. Freud para Historiadores. Tradução: Osmyr Gabbi Junior. 2a.
edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1989.
MARCUSE, Herbert. Razão e Revolução. Tradução: Marília Barroso. 3a. edição.
Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1984.
SLATER, Phil. Origem e significado da escola de Frankfurt. Tradução: Alberto
Oliva. Editora Zahar. 1978.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. Tradução:
Renato Janine Ribeiro, Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras. 1996

Nome dos integrantes do grupo:


Marcos Alexandre Schwerz
No. USP: 2259295
Paulo Eduardo Amâncio
No. USP: 3503094
Pedro Henrique Maloso Ramos
No. USP: 3516306

31
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Disciplina: Teoria da História I
Período: Noturno
Data: 16/06/2005

TRABALHO FINAL

Alunos: Cláudio Henrique Ribeiro


Lucimar Fátima dos Santos
I. Título: Cruzadas

II. Objetivo
O objetivo do trabalho é analisar as abordagens dos artigos e reportagens
publicados nas revistas sobre o tema das Cruzadas.

III. Introdução
Entre abril e maio deste ano, dois acontecimentos chamaram a atenção do mundo
para a cristandade. O primeiro foi a morte e sucessão de um papa que governou a Igreja
Católica por um quarto de século. O papa em questão é João Paulo II, que ficará para a
história como o papa peregrino, conservador nas questões internas da Igreja, porém,
inovador nas relações internacionais e nas questões de política externa (principalmente
entre Ocidente e Oriente); o segundo fato, que se refere ao tema de nossa discussão, foi o
lançamento de uma superprodução cinematográfica que trata do assunto das Cruzadas. O
filme soma-se ao interminável debate acerca das relações entre Ocidente e Oriente,
entremeadas por conflitos que se sucedem há séculos.
Nas bancas de jornal, muitas publicações deram destaque aos assuntos supra
citados. Algumas revistas especializadas em História e outras em divulgação de ciência e
conhecimentos gerais não perderam a oportunidade e trouxeram em suas edições daquele
período, reportagens e artigos. Destacaremos três publicações: História Viva, nº. 15,
janeiro de 2005; Superinteressante, edição 213, maio de 2005; Terra, nº. 157, maio de
2005. Abordaremos, para concluir, as reportagens publicadas na revista Veja, edição 1903,
ano 38, nº 18, de 4 de maio de 2005, sobre o assunto.
A revista História Viva destacou em sua capa de janeiro, portanto, antes do período
acima descrito, o tema das Cruzadas. As matérias sobre o assunto, publicadas a partir da
página 28, constituíam um conjunto intitulado “Dossiê Fundamentalismo Cristão”. O
editorial resume o teor dos textos: a gradativa miscigenação que culminou com a
influência oriental na cultura do Ocidente e a expansão definitiva do Islã. Cabe aqui,
ressaltar as frases do editorial que encerram o assunto: “Hoje, o Oriente, mais uma vez,
está em chamas, por iniciativa do Ocidente”. A revista Superinteressante, analisando o
encontro entre as culturas do Ocidente e Oriente, produz de forma criativa, dois painéis
comparativos, que se seguem através das páginas, retratando as visões cristã e
2
muçulmana das cruzadas. Já Terra reflete sobre a perspectiva atual das Cruzadas,
enfatizando as opiniões e alegações que afirmam o caráter atual das Cruzadas, com
novos personagens, armas e interesses, recrudescendo brutalmente com as vicissitudes
entre Ocidente e Oriente.

IV. Apresentação

História Viva

A revista publicou um conjunto intitulado “Dossiê Fundamentalismo Cristão”


constituído de quatro artigos e três depoimentos: “Um Oriente dividido frente à união dos
invasores”, de autoria de Ivan Gorby, professor universitário medievalista; “A sangrenta
tomada de Jerusalém”, de Jacques Herrs, professor universitário, diretor do Depto. de
Estudos Medievais de Paris-Sorbonne; “Rituais de Cavalaria, uma inspiração oriental”, de
Malek Chebel, antropólogo, especialista em mundo árabe e islamismo; “Como a história
chega aos alunos árabes”, por Laure Noualhat, jornalista; e os depoimentos denominados
“Olhares Cruzados”, cujos entrevistados foram Dalil Boubakeur, imã da mesquita de Paris
autor de ensaios sobre a história da medicina e das ciências árabe-muçulmanas; Jacques
Duquesne, jornalista e escritor, especialista em catolicismo; e Abd Al Haqq Guiderdoni,
cristão convertido ao islamismo, astrofísico e diretor do Instituto de Altos Estudos Islâmicos.
Os artigos escritos por acadêmicos e especialistas no assunto e repletos de
informação sobre o contexto político, religioso e econômico, destacando os principais
personagens e a cronologia dos episódios, situam o leitor com precisa eficácia no
panorama das cruzadas. O texto de Gorby discorre sobre a situação anterior às Cruzadas
propriamente ditas (as expedições militares), fazendo um retrospecto da decadência do
Império Bizantino e relacionando a questão à história dos árabes - a partir de Omar,
segundo sucessor de Maomé (634-644) que tomou a Palestina em 638 – e de suas lutas
internas pelo poder e disputa de territórios. Jacques Herrs, em seu artigo sobre a tomada
de Jerusalém pelos cruzados em 1099 destaca a ausência de relatos autênticos de
testemunhos fidedignos da parte oriental e menciona que do lado cristão apenas três textos
são de autoria de participantes, ressaltando a infinidade de escritos surgidos
posteriormente. A importância da convivência entre os cruzados e os muçulmanos para o

3
enriquecimento cultural e científico do Ocidente é retratada no artigo de Malek Chebel. O
autor ressalta o requinte e a sofisticação dos costumes árabes e como os ocidentais se
inspiraram em tais práticas ao associá-las aos rituais medievais de cavalaria. O artigo de
Laure Noualhat apresenta o “retrato” feito pelas escolas de alguns países do Oriente Médio
aos seus alunos sobre as Cruzadas. Nos livros escolares, a aventura das Cruzadas
representa uma rivalidade alimentada no seio da História, entre Ocidente e Oriente,
embora, não constitua passagem essencial no ensino de história do mundo árabe. A
história refletida à luz do passado recente fica por conta dos comentários dos professores.
A colonização e as guerras de independência também se situam no contexto de julgo do
Ocidente, somando-se ao episódio das Cruzadas. Nas palavras do filósofo iraquiano Isa-
Youssif, “a religião sempre teve mais importância no Islã do que no Ocidente. O Estado e a
religião são indissociáveis entre nós. Ao passo que na Europa faz já muito tempo que o
papado não influência a esfera política. Nos livros escolares, as crianças aprendem que
seu povo, tolerante e aberto, viu-se invadido por europeus fanáticos, extremamente
interessados nas riquezas de seus territórios. A história se repete reiteradamente, e talvez
seja essa a lição que elas aprendem”.
Os depoimentos identificados em seções do dossiê denominadas “Olhares
Cruzados” têm em comum a mesma opinião defendida ao longo de todo o conjunto das
matérias, ou seja, a reunião da comunidade muçulmana durante os “acontecimentos
cruzados” e o benefício que o choque entre as duas civilizações trouxe, principalmente, ao
Ocidente, através de novas idéias, vestuário, arquitetura, ciências, práticas higiênicas e
alimentares.

Superinteressante

A edição nº. 213 trouxe estampada em sua capa, a chamada para a matéria das
Cruzadas. Os dois textos escritos para uma leitura fácil e agradável, como é de praxe na
revista, pelo jornalista Rodrigo Cavalcante, alternavam-se de modo criativo entre as
páginas da publicação, com os títulos, “O Exército de Cristo” (visão cristã) e “A Invasão
Bárbara” (visão muçulmana). Ricamente ilustrado, o conjunto dá um rápido panorama
histórico dos acontecimentos, valendo-se dos recursos gráficos disponíveis (infográficos),
focando principalmente a invasão de Jerusalém em 1099. O jornalista destaca em seus
4
textos, opiniões e argumentos de historiadores medievalistas e de História da Ásia como
Maria Fátima Fernandes (UFPR), Leila Rodrigues da Silva (UFRJ), Peter Demant (USP),
para pontuar as informações apresentadas na matéria. Ao final, como acontece em todos
os artigos da revista, há um quadro intitulado “Para saber mais” que relaciona uma
bibliografia curta sobre o assunto.

Terra

A revista Terra apresenta texto mais enxuto, entretanto, estabelece panorama


histórico adequado e suficiente para destacar os principais momentos e elementos que
explicam a partir de um plano geral o fenômeno das Cruzadas. Traz comentários da
professora de História Medieval da USP, Ana Paula Tavares Magalhães, ressaltando que
“além da guerra, houve intensas trocas culturais e intelectuais” entre Oriente e Ocidente. O
texto procura enfatizar as decorrências dos acontecimentos das Cruzadas e as mudanças
que passaram a transformar o mundo a partir daqueles fatos. Reflete-se, portanto sobre o
conceito de Cruzadas para além do período medieval, deflagrando o jogo de interesses que
contrapõe as ambições comerciais e políticas de um lado e a soberania de estados
profundamente marcados pela religião de outro. A matéria também dá indicações
bibliográficas ao final.

Veja

A revista Veja não é propriamente uma revista especializada. Trata-se de uma


publicação de atualidades, cujo intuito é informar seu público sobre acontecimentos
recentes de interesse geral, inseridos nos mais variados campos da cultura, política e
sociedade. Chamou-nos a atenção à edição do dia 4 de maio de 2.005 por tratar de
assunto de nosso interesse, a história; e mais exatamente, o tema das Cruzadas.
Obviamente, fatos do presente, lançando uma luz para o passado, trouxeram o tema para a
revista de atualidades. A revista, aproveitando-se do lançamento mundial do filme Cruzada
do cineasta inglês Ridley Scott, publicou três artigos: “Choque de Civilizações” por Isabela
Boscov; “Encruzilhada da Fé” por Jerônimo Teixeira e “Um novo velho mundo”, também
escrito por Isabela Boscov. Os textos contextualizam o período das Cruzadas e buscam
5
polemizar a questão trazendo à tona acontecimentos históricos envolvendo Ocidente e
Oriente principalmente no século XX e nas últimas décadas recentes. O intuito é relacionar
o passado ao presente, mesclando informações históricas aos ranços culturais produzidos
ao longo dos séculos. Para tanto, consultam-se estudiosos e especialistas e apresentam-se
os fatos recentes, como a utilização do termo “cruzada” pelo presidente George W. Bush
em discurso contra o terrorismo, para ilustrar a tensão entre Ocidente e Oriente.

Conclusões

Acreditamos que, mesmo as revistas especializadas em conteúdos sobre História e


Historiografia, escolham seus temas e assuntos considerando tendências do mercado. As
publicações consultadas apresentam matérias com ilustrações que denotam um cuidadoso
trabalho de arte, cujo principal objetivo é atrair e prender o olhar do leitor. Gráficos facilitam
o entendimento da cronologia. Comentários de historiadores e especialistas são acrescidos
ao texto informativo. Bibliografias para aprofundamento dos assuntos são sugeridas. Ainda
que, existam necessidades em aprofundar pesquisas, busca-se, sobretudo, satisfazer a
curiosidade do leitor. Algumas publicações, como é o caso da revista História Viva, ainda
que, caracterizando-se como produto do mercado editorial e usando suas técnicas e
padrões, ampliam-se para a oportunidade da reflexão aberta ao debate e à produção de
conhecimento, pois existem como veículo de divulgação de idéias de historiadores.

Revistas Utilizadas

História Viva, ano II, nº. 15, p. 28-49, janeiro, 2005, Duetto Editorial, São Paulo
Superinteressante, edição 213, p. 52-61, maio, 2005, Editora Abril, São Paulo
Terra, ano 13, nº. 157, p. 40-53, maio, 2005, Editora Peixes, São Paulo
Veja, ano 38, edição 1903, nº. 18, 4 de maio de 2005, p. 197-207

6
CAPAS

7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Disciplina: Teoria da História I
Profa. Dra. Raquel Glezer
Período Noturno

TRABALHO SEMESTRAL:
Nossa História e a História dos Vencidos

Junho de 2005

Alunos:
Alexandre Bastos N. USP 4932098
Felipe Dias Carrilho N. USP 4931566
Renata Silene da Silva N. USP 4956491
Renato Machado de Sobral N. USP 4932230
Sérgio Ribeiro de Almeida Marcondes N. USP 4931361
INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é analisar a relação entre a História e sua divulgação na


sociedade não acadêmica, observando publicações disponíveis em bancas de jornal. Tendo
participação ou não de historiadores, estas revistas têm como público alvo o leitor
interessado em história, porém que não precise ser necessariamente especialista no assunto.
A publicação escolhida por nós foi a revista Nossa História, editada pela Editora
Vera Cruz, de São Paulo, e administrada pela Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de
Janeiro, ligada ao Ministério da Cultura. Sua proposta é contar mais para o povo brasileiro
sobre sua própria História, especializando-se portanto em História do Brasil. Este foi um
dos fatores que despertou nosso interesse por esta revista, pela sua proposta inovadora
frente às outras publicações do mesmo segmento, pois estas focalizam principalmente a
História Geral. Não somente entre as revistas de História, mas esta iniciativa da revista
também inova em relação ao conceito de História que aprendemos no Brasil desde o ensino
fundamental, pois ao contrário dos demais países, no Brasil é dada maior ênfase à História
Mundial, pondo em segundo plano a História Brasileira.
Quanto ao conteúdo da revista, foi decido avaliar como ela encara as questões
populares e a História dos vencidos, já que poucas são as publicações não-acadêmicas que
falam sobre os movimentos ou classes sociais que foram derrotados de alguma maneira ao
longo da História. Consideramos importante preservar os pensamentos e a memória das
pessoas pobres ao longo de suas histórias. Pouca é também a iniciativa de se criar uma
identificação entre a sociedade de hoje com o que foi no passado, o que é muito prejudicial,
pois o conhecimento histórico que não propõe nenhuma reflexão para o presente é estéril.
Para tanto, centramos nossa análise em quatro matérias, escolhidas em diferentes
edições da revista. O critério para escolha foi, inicialmente, ser a matéria destacada como
principal na capa da revista, pois consideramos que isso indica uma importância e uma
valorização dadas pela própria revista a este conteúdo. A seguir, buscamos textos que
trabalhassem com a temática de história de movimentos coletivos, classes vencidas, temas
menos destacados na história de "personalidades". Trabalhando com as edições já
publicadas da revista (20 até o encerramento deste trabalho), selecionamos quatro matérias
que obedeciam aos critérios definidos, e a seguir analisaremos cada uma delas com mais
detalhe.
Procuramos analisar principalmente os seguintes aspectos de cada matéria
escolhida: o autor, a classe ou segmento social retratado, o ponto de vista da revista (se vê
favoravelmente ou não o movimento tratado), as fontes utilizadas, o trabalho iconográfico,
e o quanto a matéria faz ligações com o presente do assunto tratado. Todas estas são formas
de verificar a maneira pela qual a revista aborda a questão da História dos "vencidos".

Análise da matéria de capa "Pisando no 'sexo frágil'", na Revista Nossa História, nº


03, janeiro/2004.

Esta matéria trata da questão da luta feminina pela emancipação. Escolhemos esta
matéria porque ela aborda um tema que ainda é atual e não está encerrado: As mulheres e
os homens ainda não se igualaram em todos os aspectos e muitas são as tentativas da mídia
em apagar a memória dos movimentos das mulheres.
A matéria selecionada diz respeito a como a imprensa, composta por homens,
enxergava o movimento pela emancipação feminina no início do século XX. A autora da
reportagem é Rachel Soihet, professora do Departamento de História da Universidade
Federal Fluminense e autora de "Condição Feminina e outras formas de violência.
Mulheres pobres e origem urbana". Portanto, especialista com trabalhos já publicados sobre
o assunto.
Neste caso, não há como se considerar as mulheres como uma classe, mas sim como
uma parcela reprimida pela sociedade. E essa repressão não dependia da condição social,
ela era feita apenas devido ao gênero. Este movimento social repercutiu em todas as
classes, mas, talvez pela origem das fontes primárias, são retratadas somente as mulheres da
elite.
A reportagem aborda o modo como a imprensa ridicularizava a luta feminista.
Apesar de fazer certa apologia à luta feminista, a reportagem também coloca os pontos que
ainda precisavam ser melhorados. A autora cita de forma destacada movimentos
organizados das mulheres por sua emancipação e aponta a principal conquista do
movimento até então, o voto feminino conquistado em 1932. Este destaque é importante,
pois tira do movimento a carga de excentricidade e legitima suas reivindicações.
Para tal análise, autora utiliza mais fontes primárias e não há nenhuma fonte
historiográfica. As fontes primárias são em geral trechos de jornais e revistas da época, para
ilustrar o pensamento da época quanto à emancipação das mulheres. As fontes usadas pela
autora são as seguintes:

"Com as damas", da Revista Ilustrada, de 1886, RJ;


"Emancipada" (Revista Careta, 20/2/1909), RJ;
Desenhos do caricaturista Raul Pederneiras;
"Mais uma reivindicação feminina" (Revista Fon Fon, 04/01/1908);
"Feminismo e suas desvantagens" (Revista Única) ,outubro de 1925.

A emancipação feminina era vista pelos mais diversos setores sociais e tendências
políticas como grave ameaça à ordem estabelecida e a ordem estabelecida encontrava
legitimidade até no pensamento científico da época:
A Filosofia da época considerava a inferioridade da razão das mulheres como fato
incontestável, cabendo a elas apenas cultivar o necessário para o cumprimento de suas
tarefas domésticas;
A Medicina afirmava que a fragilidade, o recato e predomínio das faculdades
afetivas sobre as intelectuais eram características biologicamente femininas, assim como a
subordinação da sexualidade pelo instinto maternal;
Pela Medicina Criminalista, as mulheres intelectualizadas representavam um risco.
Uma das alegações era a de que ela poderia cometer o infanticídio. Mulheres dotadas de
grande inteligência se revelariam criminosas natas. Uma vez que a mulher instruída
repudiava o marido vulgar, dificilmente ela encontraria um marido, tendo como últimos
recursos o suicídio, o delito e a prostituição.
Apesar do caráter das adversidades enfrentadas pelas mulheres, a reportagem mostra
que o movimento não era algo isolado e sim algo que progressivamente tomava corpo,
tanto que a imprensa se preocupou em ridicularizá-la. De modo geral o movimento é
abordado de forma coletiva, sem eleger um líder, embora haja um quadro que destaca o
nome de Bertha Lutz, uma das pioneiras do movimento.
Trilhando os caminhos da História Social e da História do pensamento, a
reportagem ilustra através das fontes disponíveis as idéias da intelectualidade da época, que
de certa forma, era passada como conceito para os outros segmentos da população, fazendo
destas “pesquisas científicas” verdades absolutas para repressão.
A reportagem não se prende apenas ao passado e tem preocupação de mostrar o
reflexo disso no presente, em destaque num quadro da matéria. Além disso, a reportagem
mantém uma postura crítica colocando que as mulheres ainda não conseguiram igualdade,
mesmo hoje em dia. Por outro lado, faltou uma crítica e uma análise sobre o movimento
feminista no Brasil hoje. Quais suas reivindicações, por quem ele é composto e seus
últimos resultados.

Análise da matéria de capa "O poder da capoeira", na Revista Nossa História, nº 05,
março/2004.

A capa da edição de março de 2004 retrata capoeiristas negros exibindo golpes e


movimentos no Brasil do século XIX. Fica evidente que a proposta da revista é mostrar que
a história também é feita por indivíduos de "baixa extração".
A partir do quadro de Augustus Earle, c.1822, a revista estabelece conexões entre
uma das mais significativas tradições da cultura africana (a capoeira) e o submundo urbano
do Rio de Janeiro escravista do século XIX. A capoeira é mostrada como símbolo de
rebeldia da população que ocupava o espaço urbano, especialmente negros, mulatos e
brancos pobres, durante o Governo Imperial.
Além do quadro de Augustus Earle "Negroes fighting", pertencente à Biblioteca
Nacional da Austrália, em meio a matéria são utilizados outros documentos iconográficos:
fotos, desenhos, quadros e caricaturas.
Ao contrário do que observamos em outras revistas, a presença do historiador é
fundamental. O autor da matéria é Carlos Eugênio Líbano, professor-adjunto do
Departamento de História da Universidade Federal da Bahia.
A proposta da matéria é, justamente, permitir ao leitor uma compreensão mais
aprofundada das questões que envolvem as relações entre as populações pobres,
desprovidas de direitos, e as elites dominantes. Os capoeiras não são apresentados apenas
como grupos subalternos, eles representam uma força cultural, simbólica e, principalmente,
um obstáculo ao interesses dessas elites cariocas.
A matéria é bem sucedida e se encaixa perfeitamente na idéia de uma história
coletiva, "dos vencidos", na medida que demonstra como e porquê se desenvolvem os
elementos de tensão social no Rio de Janeiro do XIX e, é claro, seus sentidos históricos.
Nenhuma personalidade específica é retratada, e a matéria claramente enfatiza a
importância de manifestações culturais e sociais como a capoeira, mesmo que estas sejam
de populações excluídas às quais a historiografia não costuma dar muita atenção. É
interessante imaginar que a revista deve ter considerado tal matéria atraente, a ponto de
colocá-la como o principal destaque da capa, em detrimento de matérias sobre o golpe de
1964 e a vida de Carlota Joaquina, temas aparentemente mais atraentes para os que não
estudam ou lidam profissionalmente com História.

Análise da matéria de capa "São Jorge, guerreiro de fé", na Revista Nossa História, nº
07, maio/2004.

A matéria escolhida para análise encontra-se publicada na edição nº 07 da revista


Nossa História, matéria de capa: “São Jorge, guerreiro de fé”, assinada por Georgina dos
Santos.
Seguindo a linha editorial proposta pela revista, Georgina dos Santos é historiadora,
professora da Universidade Federal Fluminense, autora de uma tese defendida em 2002
pela Universidade de São Paulo que se relaciona com o tema abordado.
Partindo da vitalidade do culto prestado a São Jorge, visa traçar um panorama
histórico da veneração ao santo, começando por Portugal e sua transposição para o Brasil já
no início da colonização. O foco principal está na popularização desse culto e como sua
figura será um elemento de sincretismo religioso entre a majoritária tradição católica e os
marginalizados orixás africanos. Portanto podemos afirmar que não há um grupo social
específico em abordagem na matéria, mas sim uma predileção pelo viés da cultura popular.
No entanto não podemos afirmar que a autora trabalha apenas com a dimensão do popular,
pois procura discutir o assunto à luz da história eclesiástica, colocando inclusive em
destaque as hagiografias (biografias das vidas de santos) oficiais ou não, e como a Igreja
tratou a canonização de São Jorge. Isso desmistifica o mal entendido acerca do seu
banimento do rol dos santos reconhecidos pelo clero.
A matéria faz uma abordagem bem balanceada entre o coletivo e o individual:
alguns determinados personagens, como os reis das dinastias de Borgonha e Avis, são
usados para ilustrar a ascensão do “santo guerreiro” como patrono da realeza, intercessor
em defesa da luta pela fé católica e da conquista militar. Essa colocação é intercalada logo
em seguida com a transformação do mártir em uma figura popular das procissões religiosas
do Corpo de Deus. No que concerne ao culto em terras brasileiras, a matéria destaca as
procissões, companhias religiosas e principalmente o sincretismo religioso que fez com que
definitivamente São Jorge caísse nas graças da população.
Isto posto, levando em consideração nossa proposta de análise, podemos afirmar
que a revista, na pessoa da doutora Georgina dos Santos, não procura deixar a matéria
condicionada a determinada pessoa, o individual não se sobressai em detrimento do
coletivo, ao contrário ambos se equilibram, mostrando uma coerência com a proposta de
estudo pela ótica da cultura popular.
A utilização de fontes para elaboração da matéria não é explicitada pela autora,
porém a parte gráfica da revista traz diversas imagens que não servem apenas como
complemento estético, mas ilustram com competência o tema e servem para uma melhor
assimilação por parte do leitor. Vale destacar que todas as imagens são devidamente
creditadas.
Como as demais matérias escolhidas para o bojo desse trabalho, a revista não
pretende esgotar o assunto nem tão pouco transmitir informação usando uma linguagem
estritamente acadêmica. O uso de uma especialista para a apresentação do tema dá um
maior credibilidade ao assunto e a indicação de bibliografia complementar, inclusive no
tocante a hagiografia, torna-se um ótimo fomento para o aprofundamento do tema,
diversificando as possibilidades interpretativas que podem ser geradas a partir de uma
primeira leitura.
Tendo como base um tema religioso, a matéria poderia ter enveredado por uma
análise em que fosse utilizada a Filosofia de História como aparato teórico, ou seja, a
história fundamentada em teologia e numa concepção divina dos acontecimentos, mas,
mesmo levando em consideração o estudo hagiográfico já destacado anteriormente, o
grande enfoque da matéria está no seu estudo de “São Jorge, guerreiro de fé” enquanto
elemento disseminado na cultura popular, com destaque para as religiões africanas.
Portanto, podemos localizar a abordagem empregada pela revista em vertentes mais
contemporâneas da historiografia, mais precisamente na chamada Nova História.
Assimilando a veneração ao santo como um produto cultural, diferenciando o estudo
eclesiástico, que podemos qualificar como cultura erudita, e a cultura popular (baixa
cultura), a autora também lida com a perspectiva dos vencidos. encerrando seu trabalho
justamente com a devoção prestada pelos cultos afro-brasileiros, onde identifica-se um
processo de resistência ideológica por parte de uma população socialmente discriminada.

Análise da matéria de capa "A face negra da abolição", na Revista Nossa História, nº
19, maio/2005.

O exemplar número 19 da revista “Nossa História” traz, em sua capa, uma


reportagem que trata da questão da luta dos negros no Brasil, antes da efetiva proibição da
escravidão. A matéria é assinada por Hebe Maria Mattos, professora de História na
Universidade Federal Fluminense e autora de “Das cores do silêncio: significados do
silêncio no Sudeste escravista”, portanto uma especialista no assunto.
O título “Abolição” é seguido por “a ascensão dos negros antes da Lei Áurea”, e a
capa traz ainda uma gravura mostrando uma negra ornamentada com jóias. Esta
apresentação da revista já evidencia um traço diferenciador desta em relação a outras
publicações que tratam do tema da História, já que não é apresentado como assunto de capa
nenhum fato histórico imediatamente delimitado, nem é mostrada figura carismática, como
grandes líderes, por exemplo.
O projeto gráfico do exemplar mostra-se também bastante peculiar. Utilizam-se
charges, fotografias, jornais e documentação oficial da época, como elementos
fundamentais para ilustração da matéria.
Logo na primeira página da reportagem, através da observação do título da matéria
("A face negra da abolição") percebe-se o caráter do tratamento dado pela revista ao tema:
aborda-se a questão do ponto de vista dos marginalizados, sendo estes mostrados como
agentes das transformações sociais. A revista toma posição desde a sua capa, em que o
subtítulo afirma "A ascensão dos negros antes da Lei Áurea", como no texto geral que
introduz as matérias, onde afirma que "os negros brasileiros não esperaram passivamente
pela sua libertação. Em vez disso, lutaram em diversas frentes contra a escravidão, a ponto
de conseguir que, à época em que a Lei Áurea foi assinada, apenas uma pequena minoria
continuasse formalmente a ser propriedade". Portanto, a posição da revista é clara no
sentido de que a Lei Áurea foi apenas uma formalização política de algo que foi
conquistado paulatinamente pelos próprios escravos, e não concedido a uma massa de
homens passivos.
Na época da assinatura da Lei Áurea, 95% dos descendentes de africanos já eram
livres. Segundo a revista, alguns faziam parte da elite intelectual e das lutas abolicionistas,
e muitos fugiam. “Na última década da escravidão, eles apelaram para fugas em massa por
quase toda a Região Sudeste, no maior movimento de desobediência civil de nossa
história”(p. 16).
O artigo cita alguns documentos de época, como jornais. Toda a iconografia do
artigo é constituída por imagens (principalmente charges) da época, reproduzindo bastante
do imaginário contemporâneo. A bibliografia citada, para aprofundamento, é composta por
quatro livros sobre as últimas décadas da escravidão brasileira., obras de historiografia, não
de divulgação histórica. o que liga o artigo com as pesquisas mais recentes no campo.
Para abordar a problemática em questão, a autora enfatiza as questões políticas,
econômicas e institucionais em detrimento da construção da imagem de grandes
personagens como agentes fundamentais da transformação histórica.
A questão jurídica é analisada quando a autora afirma que “desde a independência,
os ideais do liberalismo político, inscritos na Constituição de 1824, passaram a afirmar a
igualdade de todos os cidadãos brasileiros perante a lei. Apesar disso, a escravidão já
instituída foi mantida legalmente no país, em nome do direito de propriedade” (p. 16).
Neste ponto citam-se personalidades ligadas à defesa jurídica dos escravos, mas são negros
e pardos, como o advogado Antonio Rebouças. Esta característica da matéria é muito
significativa, levando-se em consideração que a princesa Isabel, que é quem assina a Lei
Áurea, não tem seu nome mencionado em nenhum momento no corpo do texto.
As influência das questões políticas e econômicas e da ação coletiva dos escravos
são evidenciadas no seguinte trecho: “As fazendas repletas de escravos, o endividamento de
alguns fazendeiros com o comércio negreiro, o isolamento político brasileiro no panorama
internacional, diante da pressão inglesa, e o temor gerado por repetidas rebeliões de
escravos africanos na Bahia, como a famosa revolta de Malês, em 1835, tornaram iminente
a decisão política de por um fim ao comércio ilegal de escravos, finalmente tomada em
1850” (p. 18).
Por fim, tem-se o reconhecimento do importante papel das massas no processo de
luta dos negros pela igualdade jurídica: “... os últimos senhores foram simplesmente
atropelados pela fuga em massa de seus escravos” (p. 20).
A autora faz, ainda, uma ponte com o presente, ao afirmar que, com a Abolição,
pela primeira vez se reconheceu a igualdade civil de todos os brasileiros. “Porém, até o
surgimento dos movimentos negros do século XX, a hierarquização racial pouco se
modificou” (p. 20).
Portanto, em relação ao tratamento dado por esta edição da revista “Nossa História”
ao tema da luta dos negros, vêem-se características presentes na maioria dos exemplares
que tratam das questões dos marginalizados sociais. A atenção está nos problemas
conjunturais, sejam de cunho político, econômico, institucional, ou jurídico, e não nas
figuras dos governantes de cada época. Além disso, o assunto é tratado do ponto de vista da
classe em questão, e não da elite dirigente, enfatizando-se a participação popular como
protagonista das transformações históricas, e chegando-se ao ponto de colocar que a
Abolição da escravatura foi, em parte, devida ao movimento dos próprios negros, e não
algo concedido espontaneamente pelas elites da época.
Além de ligações implícitas que podem ser feitas entre a questão do liberalismo, do
direito de propriedade, dos preconceitos de cor, em relação a hoje, o último parágrafo do
artigo de Hebe Mattos coloca claramente essa questão: "A discussão atual de políticas de
reparação e a reivindicação de uma identidade negra recolocam na ordem do dia a memória
da escravidão inscrita na pele de milhões de brasileiros".
Podemos identificar uma valorização da história dos vencidos, o destaque dado a
movimentos coletivos como tendo influenciado os acontecimentos históricos, e uma
niciativa no sentido de deixar clara a ligação entre a história da Abolição com questões
discutidas hoje em dia, como o preconceito racial, as cotas raciais para universidades, e a
igualdade de oportunidades econômicas entre brancos e negros.
CONCLUSÃO

Tendo escolhido matérias de capa que tratam de movimentos coletivos sociais,


utilizados por populações mais pobres e em geral desprovida de meios de expressão e de
recursos econômicos (os chamados "vencidos"), vimos como esses movimentos são
tratados como relevantes e centrais para o conhecimento do momento histórico.
Deste ponto de vista, é digno de nota o fato de que nenhuma das revistas trabalhadas
tem como destaque de capa alguma personalidade, mas sempre movimentos e conceitos
vistos como centrais: a própria Abolição é tratada sem referência direta à princesa Isabel, e
os principais líderes abolicionistas são tratados apenas em um "box" dentro da matéria, que
destaca a participação coletiva dos escravos, através de fugas e revoltas, principalmente. As
outras matérias, como a da capoeira, das mulheres e de São Jorge, trabalham muito pouco
com personalidades. O mesmo pode ser dito inclusive de outros temas escolhidos pela
revista para capa ao longo de sua trajetória, como o futebol, o samba, o Carnaval... Aqui
portanto podemos identificar claramente a influência dos novos conceitos de história
cultural, história do cotidiano, a partir de um ponto de vista próximo da Nova História
francesa. E o fato da revista escolher para capa tais temas mostra que ela acredita que eles
têm apelo também de vendas, e que ela não acredita necessário ficar restrito aos "grandes
nomes da nossa história" ou da história mundial, como fazem outras revistas
contemporâneas.
A revista "Nossa História" tem, claramente, um caráter de uma publicação mais
voltada para pessoas como conhecimentos mais aprofundados de História, embora seja
vendida livremente em bancas. A maioria das matérias é escrita por historiadores ou
pesquisadores do campo, as recomendações de bibliografia complementar são em geral
bem específicas, visando um aprofundamento maior do tema tratado, e os temas buscados
são bastante específicos e pouco ligados com uma visão apenas de divulgação da História
do Brasil.
A revista procura tornar mais acessível novas pesquisas e novos trabalhos sobre o
conhecimento histórico brasileiro. Há uma exigência de atualidade, conhecimento
aprofundado sobre o campo e referências a obras de historiografia acadêmica,
contrariamente a outras revistas de história brasileiras. Ao fazer isso, torna-se uma espécie
de ponte entre o conhecimento acadêmico especializado e o acesso dos interessados no
campo, embora não consiga superar muito a barreira de ser vista como "muito profunda" ou
"muito densa". Mas, tendo o financiamento da Biblioteca Nacional e um conselho editorial
formado por nomes de peso da historiografia brasileira, parece ter condições de superar
bem estas dificuldades e se firmar como uma opção, não puramente acadêmica, mas num
nicho mais específico e menos popular, dentro do campo das revistas de banca que tratam
de História.
Neste trabalho, procuramos mostrar um aspecto mais específico da "Nossa
História", que é sua vinculação a correntes contemporâneas da história cultural e social, que
enfatizam o retrato de temas de nossa historiografia a partir do ponto de vista de setores
sociais menos valorizados e em geral menos retratados pela história, como capoeiristas,
crentes de São Jorge, escravos negros e mulheres no século XIX. Assim, se insere numa
corrente cuja denominação vem de alguns trabalhos sobre história latino-americana, como o
de Natan Wachtel (A visão dos vencidos), que procuraram mostrar a dominação da América
a partir do ponto de vista das populações vencidas (incas, astecas), e não dos colonizadores.
Esta mudança de ênfase gerou a expressão "história dos vencidos", e acreditamos que ela se
encaixa bem também no que analisamos neste trabalho.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Disciplina: Teoria da História I
Professora: Raquel Glezer
Período: Noturno
Diego Amorim Grola
Nº USP: 5165528
Victor Gabriel Sciola
Nº USP: 5165852
24 de junho de 2005

Trabalho de pesquisa sobre a revista Nossa História


Índice
I. Sobre os objetivos e os métodos do trabalho. 3

II. Informações gerais sobre a Revista. 4

Sobre a Revista. 4

Sobre a coluna mês e ano. 6

III. Análise de uma seção. 7

Tema e objetivo. 7

Sobre os assuntos abordados nas matérias. 8

Sobre o caráter histórico dos assuntos das matérias. 9

Uma tentativa de definição do campo de trabalho da


História segundo o material analisado. 12

Anexo 15

2
I. Sobre os objetivos e os métodos do trabalho

O trabalho desenvolvido se propôs a analisar a Revista Nossa História sob


dois pontos de vista, um objetivo e outro interpretativo. No primeiro foram
pesquisadas informações a respeito do público alvo, tiragem da revista,
recorrência de temas em seus artigos, linguagem trabalhada e o caráter social da
revista (sua relação com a sociedade). Para o levantamento de tais dados, foram
utilizadas pesquisas biográficas do corpo editorial e entrevistas – pessoalmente
com a Professora Laura de Mello e Souza (membro do conselho) e por e-mail com
a redação da revista. Outra fonte de pesquisa foi a internet. Utilizada como
instrumento de busca, onde foi possível encontrar entrevistas concedidas por
membros do conselho editorial e pelo presidente da Biblioteca Nacional ao longo
do desenvolvimento do projeto.
O segundo aspecto do trabalho com a Revista consistiu na análise da
seção destinada à divulgação de eventos, projetos e publicações. Trata-se da
primeira seção da Revista, que tem como título apenas a indicação do mês e do
ano daquele volume da Nossa História (daqui para frente essa seção será
indicada pela nomenclatura “seção Mês e Ano”).
Selecionamos cinco números da Revista Nossa História, a saber: número
11, de setembro de 2004; 13, de novembro de 2004; 14, dezembro de 2004; 17,
março de 2005; 18, abril de 2005. A escolha desses volumes específicos esteve
condicionada pela dificuldade de aquisição de outros volumes. No entanto, a
utilização desses exemplares acabou se mostrando bastante interessante, pois
eles são capazes de, até certo ponto, dar uma idéia geral do que é a Revista
(tendo em vista as modificações por que passou o periódico desde a data de sua
criação). Nos volumes 11 e 14 a seção mês e ano é anônima. No volume 13 é
assinada por Rodrigo Pinto. Já nos volumes 17 e 18 a responsável pela seção é
Helena Aragão. Os quatro primeiros volumes analisados tinham como editor
Luciano Figueiredo. O volume 18 já apresenta Cristiane Costa como editora.
A análise buscou, através da leitura crítica das matérias, observar quais os
assuntos abordados pela seção, e quais são os critérios para a escolha dos
mesmos.

3
II. Informações gerais sobre a Revista

Sobre a Revista:

A revista é editada pela Editora Vera Cruz em parceria com a Biblioteca


Nacional. Seu primeiro exemplar foi lançado no dia 17 de Novembro de 2003. A
publicação é mensal e dirigida ao grande público. Os temas abordados em geral
dizem respeito à formação do Brasil nos últimos quinhentos anos. A Revista reúne
artigos e matérias que abordam fatos relevantes da história nacional de forma
mais simples e compacta que nos livros, ou seja, ainda que simplificada, é uma
revista de divulgação científica. Com noventa e seis paginas coloridas, tiragem de
cinqüenta mil exemplares mensais e circulação nacional, a revista pode ser
adquirida em mais de dez mil bancas de jornal espalhadas pelas principais
cidades do país. Cada exemplar da revista custa sete reais e oitenta centavos, o
que revela uma particularidade do projeto, seu caráter social, uma vez que ainda
que exclua uma parte da população, o preço não restringe o consumo à camada
mais privilegiada da sociedade.
O público alvo é o público “leigo”, aqueles que não estudam História,
portanto não conhecem termos do jargão historiográfico e tampouco se valem da
visão crítica de um historiador ao analisar um fato. Objetivamente esse público se
concentra entre as classes A, B e C da sociedade, onde 47% dos seus leitores
possuem curso superior completo. Esse público acredita, segundo informações
editoriais, adquirir certa erudição ao ler a revista, de modo a poder argumentar
com seus dados nas discussões em seu circulo social. A revista foi criada para
desempenhar um papel na difusão da História nacional, segundo o presidente da
Biblioteca Nacional, Pedro Corrêa do Lago, a revista vem preencher uma
importante lacuna no mercado, uma vez que até então não havia uma revista
especializada que abordasse a história de uma maneira aprofundada como faz a
Nossa História. O desafio do projeto é criar uma publicação que contrarie uma
voga do mercado editorial brasileiro, a de que o público em geral não gosta de ler.
A revista quer provar o contrario, e demonstrar que o público procura sempre por
leituras agradáveis e de fácil compreensão quando se trata de conhecer a História.
Luciano Figueiredo, editor da revista até Março de 2005 afirma que muitos
trabalhos acabam por afastar o leitor devido à falta de “prática” dos historiadores
em escrever ao grande público, por isso a proposta da revista é exatamente
aproximar cientificidade e cultura de massa.
Ainda segundo Luciano, toda essa idéia sobre o caráter científico
“simplificado” da revista tem a intenção de levar ao conhecimento dos leitores os

4
fatos mais significativos que vem sendo desenvolvidos nas universidades e
instituições de pesquisa do país no campo historiográfico. Essa informação pode
ser relativizada, na medida em que é preciso se perceber até que ponto o leitor
“leigo” da revista se vale das informações adquiridas como um pseudo-
conhecimento científico e também até que ponto esse conhecimento dito científico
abordado pela revista se aproxima dos estudos universitários de fato.
A supervisão do conteúdo da revista é feita por um conselho editorial
vinculado à Biblioteca Nacional e composto por nomes importantes da
historiografia brasileira. Esse conselho é responsável pela avaliação do projeto
gráfico, pela discussão da linguagem a ser utilizada, pela avaliação das seções e
escolha dos autores a serem publicados em cada edição. Todas as decisões são
tomadas nas reuniões de pauta que acontecem uma vez por mês no Rio de
Janeiro.
A linguagem da Revista é como foi discutido acima, bastante acessível ao
grande público e suas matérias são distribuídas em um formato jornalístico. Os
textos apresentam uma leitura critica sobre as raízes e atualidades do Brasil, da
América e de Portugal, além de trazer biografias de personagens marcantes da
história latino-americana ligada ao Brasil e demonstrar um pouco sobre o oficio do
pesquisador. Em princípio publicava-se uma coluna em cada edição a respeito da
história da Espanha, no entanto essa idéia logo foi descartada por aparentemente
não ter sido bem aceita pelo público.
O projeto editorial prima pela apresentação gráfica, que procura equilibrar
os textos e a iconografia. A edição se vale do uso de boxes explicativos ou de
glossários no canto da página, quando necessário, para acrescentar à matéria.
Imagens do acervo da Biblioteca Nacional ilustram artigos e matérias, ampliando o
acesso à memória gráfica que a instituição preserva, outra fonte importante de
ilustrações é o acervo do Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas.
Segundo informações da edição, a idéia de contar a História do Brasil em
formato revista surgiu quando executivos da Vera Cruz, analisando o mercado
nacional constataram a inexistência de veículos dedicados ao assunto e voltados
para o grande público. Para conseguir colocar o projeto em prática, a editora
propôs uma parceria à Biblioteca Nacional, que aderiu prontamente à iniciativa. A
Biblioteca Nacional entrou de fato no projeto uma vez que tem a responsabilidade
de ser a detentora do maior acervo de livros, documentos e jornais sobre História
do Brasil e, portanto, em sua concepção, ter o papel de difundir, preservar e
manter viva a história do país.

5
Nos últimos meses, a revista tem passado por uma reformulação editorial.
Essa mudança teve inicio com a saída do historiador Luciano Figueiredo da edição
da revista, substituído por uma jornalista, o que refletiu em mudanças no formato e
conteúdo das matérias, tornando-as gradativamente mais comerciais, isto é as
abordagens históricas passaram a ser cada vez mais superficiais. Essa mudança,
segundo informações do conselho editorial, se deveu ao fato da revista não pagar
sua publicação, ou seja, dar prejuízo à editora Vera Cruz. A nova linha adotada
vem causando desconforto entre os membros do conselho editorial que se
demonstram descontentes com a pressão exercida por parte da editora na escolha
daqueles que assinarão matérias, e também por verem o trabalho proposto
inicialmente, que era o de estimular o pensamento critico sobre a história do nosso
país através da reflexão, se distanciar ideologicamente do caráter científico,
aproximando-se do jornalístico. A mudança da linha editorial da revista representa
uma tentativa de expansão no mercado, isso significa englobar uma maior parcela
da população como público alvo. Essa mudança representa um grande corte no
trabalho inicial proposto e envolverá um grande trabalho de reconstrução
ideológico e mercadológico entre aqueles que constroem a revista, o que é no
mínimo interessante de ser observado, uma vez que com essas mudanças a
tendência é que a revista se aproxime da linha dispersa e sumária de se abordar
história que foi tão criticada por ela própria quando se referia às publicações
existentes até então no mercado brasileiro.

Sobre a coluna mês e ano:

A construção da coluna mês e ano se deu com o intuito de apresentar na


revista uma seção com matérias curtas, intercalando então artigos de leitura
rápida com matérias longas. O caráter dessa seção é absolutamente jornalístico e
seu objetivo é a divulgação de atividades culturais ligadas a elementos históricos,
atualidades, denuncias e até mesmo prestação de homenagens.
A responsável pela coluna é a jornalista Helena Aragão, formada pela UFRJ
e que tem nessa revista o seu primeiro contato profissional ligado à história.
Desde Novembro de 2004 a coluna é assinada pela jornalista, que por se tratar de
uma profissional dessa área, reconhece que seu conhecimento sobre história é
um tanto vago e superficial.
A jornalista explicou em entrevista por e-mail que a seção mês e ano é a
última a ser fechada na revista, pois assim é possível uma maior aproximação
com o “tempo real”, ou seja, é onde é possível explorar fatos que ganharam

6
grande repercussão pública ao longo do mês, de uma maneira atualizada. Assim,
entende-se que são essas características que fazem dessa seção a que possui o
maior caráter jornalístico de toda a revista.

III. Análise de uma seção

Tema e objetivo:

Se a escolha da Revista Nossa História como objeto de análise foi


inicialmente feita sem critérios muito sistemáticos (foi uma questão de
comodidade: era o material que já conhecíamos e sobre o qual já tínhamos boas
impressões), os critérios que orientaram nossas opções acerca da forma de
análise do material foram mais cuidadosos.
A escolha da seção mês e ano deveu-se ao fato de ela poder dar respostas
interessantes a uma questão igualmente interessante. Qual o campo de trabalho
da História no que se refere aos seus objetos de estudo? Que gêneros de
fenômenos são estudados pela História?
Buscaremos respostas para essas perguntas nos textos da seção
mês e ano. Mas porque nessa seção e não em qualquer outra da Revista?
Primeiramente porque foi essa a seção que mais nos chamou atenção, por conter
um material muitas vezes estranho a uma revista de divulgação histórica.
Enquanto a maior parte da Revista é constituída de artigos que apresentam
estudos históricos (tal como numa revista acadêmica de História, só que de uma
maneira mais simplificada), esta seção trata da divulgação de eventos,
publicações e projetos culturais. Mas, afinal, que relação com História têm esses
eventos, publicações e projetos? Afinal, tratando-se de uma revista de divulgação
de História, pressupõe-se que tudo nela tenha ligação com esse eixo principal.
Partimos então da hipótese de que descobrindo a relação desses temas com a
História poderíamos ter elementos novos (em relação aos que nos são
possibilitados pela historiografia acadêmica) para compreender a delimitação do
campo de trabalho dessa disciplina.
Em segundo lugar, poderíamos, através dessa seção, compreender como a
História e seu campo de trabalho são vistos por alguém que não está totalmente
inserido no círculo profissional da História. Como já foi dito, até onde conseguimos
investigar, essa seção não é produzida por historiadores. Observar quais objetos
de estudo são atribuídos aos domínios da História, segundo indivíduos que não

7
são historiadores profissionais, pode ser de grande valia para que se localize as
fronteiras do conhecimento histórico.

Sobre os assuntos abordados nas matérias

Partindo do pressuposto de que as matérias da seção Mês e Ano devem de


alguma forma se relacionar a temas históricos, podemos descobrir o que a seção
entende por temas pertinentes à História. Basta identificarmos os assuntos
abordados por essas matérias. Para isso realizamos um trabalho de indexação
das matérias. A partir da leitura foi identificado o tema principal de que trata cada
texto.
Observou-se que grande parte das matérias aborda temas relacionados à
preservação de matérias culturais relativas ao passado. Trata-se do que
comumente se chama de preservação de patrimônio histórico. Isso inclui desde
projetos que possibilitem a recuperação, manutenção e valorização de
determinados monumentos arquitetônicos, até a organização de acervos
documentais com o fim de preserva-los. Vejamos como isso aparece nas
matérias. Na edição número 11 da revista aparece uma matéria divulgando o
processo de digitalização pelo qual vem passando o acervo da Fundação Joaquim
Nabuco [2]1. No número 14 há uma matéria informando acerca do tratamento que
está recebendo o acervo pessoal do urbanista Lúcio Costa [13]. No volume 17
somos informados a respeito do CEDEM (Centro de Documentação e Memória da
UNESP) e do processo de organização do material que lá existe a respeito dos
movimentos político-sociais de esquerda no Brasil [22]. A questão da preservação
também aparece nas matérias na forma de divulgação de iniciativas do poder
público que interessem à preservação de patrimônio histórico. Na edição 18 há
uma pequena matéria que diz respeito uma nova lei que prevê que as editoras
brasileiras doem exemplares de suas publicações para a Biblioteca Nacional [27].
Nesse mesmo volume somos informados acerca de uma lei pernambucana que
visa estimular a preservação da cultura popular imaterial [29].
Quanto à preservação do patrimônio arquitetônico, temos um exemplo no
número 13, com uma matéria que aborda o processo de restauração da Santa
Casa de Misericórdia de Salvador [9]. No número 14 há uma reportagem tratando
da degradação de um monumento arquitônico (o engenho Monjope) e da
necessidade de que seja feita a restauração dessa construção [12]. No número 18
1
Os números entre colchetes correspondem às matérias das revistas analisadas. A relação entre
números e matérias encontra-se no documento anexo no final do trabalho.

8
obtemos informações acerca de um projeto que envolve a preservação de uma
fazenda construída pelos jesuítas.
Essa questão da preservação também aparece tendo em vista a cultura
popular. Seja através da divulgação de publicações que vem sendo editadas com
vistas a registrar (e assim preservar) esse tipo de cultura, seja como referências a
iniciativas que visem estimular a continuidade da execução dessas tradições (de
modo a preserva-las). Temos como exemplo as matérias “As muitas faces do
Cazumbá” [15] e “Viagem pela música nordestina” [17], ambas publicadas no
número 14. A primeira trata da publicação de um livro que aborda os processos de
elaboração de um adereço típico do “bumba-meu-boi” – um tipo de máscara
conhecido como Careta do Cazumbá. Já a segunda se refere ao registro em CD
da música popular nordestina. Ainda no mesmo número da Revista temos uma
meteria sobre um projeto que tem por objetivo a preservação do Fandango
(manifestação popular típica dos litorais de São Paulo e Paraná) [14].
Outro tema bastante explorado pela seção se refere à publicação de
produtos culturais. Isso engloba por um lado o lançamento de livros, filmes, discos,
programas de tv e afins, por outro, a divulgação de iniciativas artísticas (um artista
que vem produzindo trabalhos relacionados a um tema que tem relação com
história). No número 13 da revista existem duas matérias divulgando o lançamento
de filmes: a primeira se refere ao documentário Memórias de Chumbo [7], e a
segunda ao filme Peões de Eduardo Coutinho [11]. Há ainda a divulgação de um
livro que reúne textos de uma jornalista a respeito dos músicos brasileiros dos
anos setenta [10]. Na edição 17 temos a matéria “Brasil animado” [19], que traz
informações sobre a produção de um desenho animado que tem como tema
assuntos relacionados à história do Brasil. O número 18 faz referência a um
músico que criou um concerto tendo como inspiração a Carta de Pero Vaz de
Caminha [26].

Sobre o caráter histórico dos assuntos das matérias

Percebemos assim a recorrência de certos temas nas matérias da seção


Mês e Ano. A divulgação de projetos, eventos e produtos relacionados com a
preservação de certos aspectos culturais do passado (cultura material e imaterial)
aparece várias vezes. A divulgação de determinados produtos culturais ou
artísticos também. Estamos então supondo que esses produtos culturais
divulgados e esses aspectos culturais que estão sendo preservados possuem
(segundo os critérios que devem reger a mentalidade dos autores da seção Mês e

9
Ano) alguma relação com a História, ou seja, eles pertencem, de alguma forma, ao
campo de trabalho da História, possuem íntima relação com o objeto da História.
Mas a pergunta inicial, relativa a qual seja o campo de trabalho da história, ainda
persiste. Não basta indicarmos os temas que são objetos da História. Precisamos
saber porque eles são considerados objetos da História. Que características
intrínsecas a esses temas fazem com que eles sejam históricos?
Tendo em vista essa questão nos propusemos a analisar as matérias da
seção em busca de elementos que possam nos sugerir uma resposta. Num
trabalho de sondagem inicial foi possível notar que muitas das matérias
apresentavam em seu próprio texto argumentos com vistas a justificar sua
inserção dentro do eixo temático da seção (eixo temático que, como já foi
indicado, é constituído por elementos culturais da atualidade – projetos,
publicações, eventos – relacionados com história). Então partimos em busca
desses elementos que pudessem nos indicar que características tinham aqueles
assuntos que os fazia estarem relacionados ao campo de trabalho da História.
Observou-se que em muitas das matérias existem passagens destinadas a
demonstrar qual a relevância do tema tratado. Poderia-se dizer que se trata de
uma espécie de nota explicativa, visando deixar claro porque aquele tema foi
escolhido para ser ali trabalhado. Essas justificativas dos temas são de quatro
gêneros: Importância em termos historiográficos; importância do objeto em si;
preocupação social; e importância ligada à preservação da memória. O primeiro
desses gêneros justificativos (importância em termos historiográficos) se refere à
relevância do tema histórico ao qual se refere o objeto tratado na matéria.
Notamos algo desse tipo na matéria “Os peões do ABC aos olhos de Eduardo
Coutinho” [11]. A matéria faz questão de destacar que o fenômeno histórico ao
qual se refere o filme (as mobilizações operárias de 1979 e 1980) é dos mais
importantes. Algo idêntico ocorre na reportagem ”Esquerda e memória” [22].
Afirma-se que o assunto da matéria (organização de um acervo documental) se
refere a um tema importante: “Elas (as esquerdas) são protagonistas de capítulos
importantes da nossa história”. Ou seja, há um bom motivo para se dar destaque
ao processo de organização pelo qual vem passando este acervo: trata-se de uma
documentação que se refere a um tema importante. Da mesma forma na matéria
“As imagens da alma do Bixiga” [30]. A preservação e divulgação de determinados
documentos (tema da matéria) são importantes porque o tema ao qual se refere
essa documentação é importante. Trata-se de uma documentação digna de ser
preservada porque Adoniran Barbosa foi o “... compositor que melhor soube
traduzir o espírito paulista”. Em outra matéria se apresenta como relevante a

10
recuperação da história do Teatro de Arena de São Paulo porque tal Teatro foi o
responsável por “...nacionalizar o palco brasileiro...” [1].
O segundo gênero de justificativa de importância apresentado pelas
matérias diz respeito à importância que o objeto abordado pela reportagem possui
em si mesmo, independentemente da relevância do tema histórico a que se refira.
Na matéria a respeito do livro Nada será como antes observamos que o objeto da
matéria (o livro) é simplesmente reputado como importante: “bibliografia básica...”;
“’é um livro de referência’” [10].
Isso acontece na matéria sobre a restauração da Santa casa de Salvador.
“O valor artístico (do acervo da Santa Casa), destaca a museóloga do projeto, é
inestimável” [9]. A importância dos assuntos que se possa estudar a partir daquela
documentação (acervo da Santa Casa) não foi colocada em causa. Ou se está
considerando de antemão que tais assuntos são importantes (então, numa escala
de documentos interessantes sobre tais assuntos importantes a documentação da
Santa Casa se encontra no alto do podium), ou simplesmente não se está
trabalhando com a idéia de que existem temas mais relevantes que outros (então
todos os temas são importantes, e a única variável existente é a documentação:
existem os documentos que nos conferem informações mais esclarecedoras e
outros nem tanto).
Algo da mesma espécie ocorre na matéria de divulgação da nova
edição do livro do Padre Serafim Leite [24]. O objeto da matéria é algo relevante:
“Tudo na obra A História da Companhia de Jesus no Brasil é monumental”.
Independentemente do tema histórico ao qual se refere o livro ser ou não
importante (a matéria se ausenta de fazer esse julgamento; ou então pensa que a
importância deste tema é óbvia, dispensando esclarecimentos) as informações
que aquele objeto traz sobre o tema são relevantes: “’O que se sabe sobre os
jesuítas no nosso processo civilizatório se deve ao padre Serafim’”.
O terceiro tipo de elemento que é apresentado como capaz de conferir
importância ao tema da matéria diz respeito à relevância social desse tema. Várias
matérias da seção apresentam como um aspecto extremamente positivo (capaz
de conferir importância) a preocupação social dos projetos e eventos que estão
sendo abordados. Essa preocupação social pode ser dividida em duas categorias.
A primeira diz respeito à ampliação do público alvo que terá acesso ao
conhecimento histórico possibilitado pelo objeto abordado pela matéria. Isso fica
bem claro em duas matérias: naquela que diz respeito à publicação do Catálogo
Raisonné de Portinari [4], e na que se refere à reedição do livro do padre Serafim
Leite [24]. Tanto em uma quanto em outra se dá destaque ao fato de grande parte
dos exemplares das obras terem como destino, através de doação gratuita,

11
diversas instituições públicas do país. Dessa forma o acesso ao conhecimento
possibilitado por aqueles livros será bastante ampliado, já que seus preços
tornariam seu público bastante limitado. Algumas matérias que tratam da
organização e preservação de acervos também trabalham com essa questão da
ampliação do público. Em “As imagens da alma do Bixiga” [30] é ressaltada a
capacidade daquele empreendimento de tornar o acervo mais acessível. O
mesmo acontece em “Esquerda e memória” [22], onde se destaca que “qualquer
um pode consultar o acervo”.
A segunda categoria de preocupação social diz respeito à capacidade
daquele objeto de se inserir no mercado de circulação monetária. São projetos de
preservação histórica que prevêem a geração de renda, geralmente através do
turismo histórico. É o caso do projeto vinculado à restauração da Santa Casa, o
qual prevê a instalação de um complexo turístico em torno do prédio histórico,
incluindo um restaurante e um hotel-escola. Já a matéria “Em cada casa uma
história” [23] que trata de um projeto de valorização do patrimônio histórico de
Ouro Preto coloca a preocupação de melhorar as condições da cidade para atrair
turistas interessados em seu patrimônio histórico. Há ainda os casos não
diretamente relacionados com turismo. Por exemplo, a matéria a respeito do
engenho Monjope [12], a qual aponta para a possibilidade de que após o término
dos trabalhos de restauração o engenho se torne um centro de distribuição de
cachaça artesanal.
Quanto ao último gênero de aspecto justificativo temos os elementos que
chamam atenção para a importância da preservação da memória coletiva. Esse
tipo de preservação é apontado como um aspecto positivo dos objetos divulgados.
Na matéria “Na trilha do Fandango” [14] é ressaltada a capacidade do projeto
abordado de conscientizar e educar as instituições locais no sentido da
preservação do patrimônio cultural. A matéria que trata do livro do Padre Serafim
Leite [24] também dá destaque para o fato de essa obra poder colaborar para
sensibilizar a sociedade no que se refere a importância da preservação do
patrimônio histórico.

Uma tentativa de definição do campo de trabalho da História segundo o material


analisado

Partimos da hipótese de que a escolha dos objetos que serão assuntos das
matérias é feita tendo em vista determinados critérios. Critérios esses que se
baseiam na relação desses assuntos (eventos, publicações, etc.) com História.

12
Mas o que entendem os autores da sessão por História? Ou seja, que temas são
próprios da História? E que temas não o são (devendo por isso ser deixados para
que outros campos do conhecimento trabalhem com eles)? Até agora vimos quais
são os temas abordados pela seção, e investigamos as características desses
temas que os fazem ter alguma relação com o campo de trabalho da História
(observamos os elementos contidos nesses temas que os tornam aptos a serem
objeto da seção Mês e Ano). O que nos resta investigar é de onde vem os critérios
utilizados pelos autores da seção para definir que características são essas que
conferem historicidade a um tema. Ou seja, se existem determinadas
características (importância do assunto histórico ao qual se refere o tema;
importância do tema em si; preocupação social contida no tema; importância do
tema para a preservação da memória) dos temas, que lhes tornam dignos de ser
objetos do campo de trabalho da História, é preciso entender porque essas
características possuem essa capacidade. Em suma: quais são os critérios do
autor para definir o que é histórico?
Para dar conta desse problema será útil trabalharmos com o primeiro
daqueles aspectos que afirmamos que atuam de modo a conferir importância aos
assuntos que são objetos de trabalho da seção Mês e Ano. Trata-se da
importância dos temas históricos a que se referem os assuntos abordados pela
seção. Trabalharemos com duas hipóteses. Primeira: os autores da seção
possuem critérios sistemáticos e bem esclarecidos no que se refere a quais sejam
os temas históricos importantes (ou seja: possuem uma visão bem delimitada
acerca de qual seja o objeto de trabalho da História). Segunda: não existe essa
sistematicidade criteriosa e bem definida por parte dos autores da seção. Eles
simplesmente atuam como caixas de ressonância, refletindo (e simplificando)
idéias fragmentadas e de origens diversas acerca do que sejam temas
importantes para a História.
Para verificar se a primeira hipótese corresponde ao que de fato
encontramos na Revista é preciso observar quais são os temas reputados como
importantes pelas matérias, tentando apurar se há ou não algum critério
sistemático por detrás disso. Tais temas são os seguintes: movimentos artísticos
considerados relevantes por terem rompido com os padrões de sua época [1; 9;
13; 30]; assuntos relacionados a determinadas pessoas que são consideradas
importantes por terem se destacado em determinadas áreas de atuação [9; 12; 13;
30]; o papel das esquerdas [11; 22]; lacunas do conhecimento histórico [16];
cultura popular [15]; concepção historiográfica “sem maniqueísmos” [19].
Observando o quadro apresentado acima, vemos que existem algumas
posições aparentemente contraditórias. Por um lado é reputada importância a uma

13
história da cultura popular e a uma história das esquerdas, algo que poderia se
filiar a uma perspectiva historiográfica que se volta para as camadas que durante
muito tempo foram esquecidas pela historiografia (uma história dos vencidos). Por
outro lado existem algumas matérias que atribuem como temas históricos
importantes aqueles que se referem as grandes personalidades – por exemplo a
matéria a respeito do engenho Monjope, que faz questão de destacar que D.
Pedro II se hospedou em um dos cômodos da construção; o objeto da matéria (o
engenho) cresce em importância somente porque abrigou uma personalidade [12].
Algo desse tipo pertence a um tipo de visão historiográfica bem diferente – se não
oposta – a anterior. Faz referência a uma história das grandes personalidades. De
algum modo, vão ao mesmo sentido as matérias que fazem referência à
importância das grandes rupturas artísticas. Dá-se destaque aos vencedores (a
arte que é valorizada pelo público ou pelos críticos), e não aos inúmeros artistas
que não são considerados os mais importantes.
Essa pequena amostragem feita acima nos leva a supor dois tipos de
respostas para a primeira hipótese. Primeiro, tendo em vista as contradições
demonstradas acima, não existiria uma concepção bem delimitada acerca do que
seja objeto da história. Segundo, os autores da seção possuem sim uma
concepção bem delimitada, mas esta engloba visões historiográficas opostas.
Caso considere-se válida a primeira resposta, se abrirá o caminho para
pensarmos na segunda hipótese que foi anteriormente levantada (a da concepção
não sistemática provida de fragmentos de visões historiográficas captados em
diversos lugares). Trata-se de uma hipótese que serve perfeitamente para explicar
as contradições no que se refere aos temas históricos que se atribui importância
nas matérias. E ela se reafirma quando ouvimos Helena Aragão (responsável pela
seção em algumas das edições por nós analisadas) que ela própria não tinha
grandes experiências com História, tendo suas concepções acerca do tema
bastante limitadas por conta disso.

14
Anexo

Fichas das matérias analisadas

Nº Título Assunto Categoria Aspectos interessantes


Volume 11. Setembro de 2004
1 Na arena, a história do teatro Projeto “Arena conta Projeto de a) A importância do Teatro de Arena: “...
brasileiro: o palco que mudou arena” que está sendo recuperação nacionalizar o palco brasileiro...”.
a dramaturgia do país. desenvolvido como histórica que b) “Mas nem só nomes conhecidos da
comemoração dos envolve edição de dramaturgia estão sendo ouvidos...”. Foi
cinqüenta anos do material (CD-ROM entrevistado o comerciante que deu o
Teatro de Arena de com documentos e empréstimo para o início do
São Paulo. depoimentos). empreendimento.
c) É mencionado o endereço do teatro.

2 O abolicionismo de Nabuco Digitalização do acervo Preservação de Não Encontrado


na era digital. da Fundação Joaquim documentação
Nabuco. histórica
(digitalização de
acervo).
3 Restauração em movimento: Projeto “Restauradores Preservação de a) “... os restauradores identificam o
Minas Gerais inova com em Movimento” que patrimônio histórico patrimônio a ser atendido...”. [Como definem
“emergência patrimonial”. visa prestar serviços (cultura material) o que é patrimônio, o que é digno de ser
de preservação de preservado?].
patrimônio histórico em
regiões de Minas
Gerais nas quais não
há atendimento por
parte dos órgãos
convencionais de
preservação.
4 Catálogo com todas as obras Lançamento de um Publicação de a) [Preocupação social]. “... será distribuído
de Portinari será lançado na catálogo com todas as catálogo de material para quinhentas instituições públicas de todo
Bienal de São Paulo. obras de Portinari. de importância o Brasil”.
Resultado do trabalho histórica. b) Na mostra multimídia serão reproduzidas
de Projeto Portinari. entrevistas gravadas com intelectuais ligados
a Portinari. [Por que intelectuais?].
15
c) Importância do Projeto: “... um dos mais
importantes arquivos multimídia existentes
sobre a história e a cultura brasileiras do
século XX...”. [Como se define o que é e que
não é importante na história e cultura
brasileiras?].
d) Preocupação de extensão: “’Vamos
publicar nosso método, para que a
experiência seja multiplicadora’”.
5 Ender revisto, Brasil Execução de um Projeto artístico que a) “Ender retratou igrejas, prédios públicos e
revisitado. projeto que consistiu envolve a retomada praças do Rio de Janeiro...”. {produção de
em refazer a do trabalho de um documentos históricos?].
expedição trilhada pelo pintor do passado (e
pintor Thomas Ender que pintou
no Brasil. paisagens do
passado)

Volume 13. Novembro de 2004


6 Relatos da pátria armada: Lançamento de livro Publicação de livro a) O livro chama “A Revolução de 64”;
Série de quatorze volumes da (coleção com quatorze que contêm material enquanto o autor da matéria diz: “o golpe”.
Bibliex traça amplo panorama volumes) contendo de relevância b) [Por trás de uma aparente intenção de
do movimento militar de 1964. depoimentos de histórica. Livro imparcialidade – “O tema é polêmico” é a
pessoas envolvidas ligado à temática frase inicial do artigo; e o autor mostra duas
com o movimento histórica. versões sobre o tema – o autor deixa ver a
militar de 1964” sua posição sobre o tema: um “golpe”,
enquanto a posição de Delfim Netto seria
extremada”].
c) O Exército foi questionado sobre a
pertinência de ele próprio fazer esse estudo
7 Memórias de Chumbo: Filme documentário a Lançamento de filme a) [O documentário conta com os dois lados
Documentário busca o elo respeito da Operação documentário com da história]: depoimentos de vítimas e
perdido entre vítimas e Condor. temática histórica. algozes diretamente envolvidos”.
algozes da operação conjunta b) Currículo do Diretor: fez programas para a
de ditaduras sul-americanas. BBC financiados pela Fundação Ford.

8 Os pequenos altares de Criação de um curso Projeto envolvendo a)[Importância social do projeto]: {envolver a
Minas que ensina técnicas de restauração de comunidade local no projeto}: formar
16
restauro de oratórios patrimônio históricoestudantes vindos das escolas públicas;
para a comunidade da “’Eles poderão fazer oratórios para vender’”.
cidade de Caraça b) [A História virando capital]: “’Eles poderão
(MG). fazer oratórios para vender’”.
9 Santa Casa de portas Restauro da Santa Projeto de a) [Transformação do patrimônio histórico em
abertas: com parte da obra de Casa de Misericórdia Restauração de algo que gere capital]: turismo histórico: trata-
restauração concluída, a mais de Salvador (parte do patrimônio artístico- se de um projeto que tornará o complexo
antiga ordem religiosa do Projeto Portal da arquitetônico/ “’auto-sustentável após as obras’”; serão
Brasil exibe suas belezas. Misericórdia). Transformação abertos um restaurante, uma grande
desse patrimônio em operadora de turismo e um hotel-escola.
pólo turístico. b) [Justificação da relevância do Projeto]: “O
valor artístico (do acervo da Santa casa),
destaca a museóloga do projeto, é
inestimável!”.
c) [Um exemplo da relevância do acervo]:
{Importância dos painéis que compõem o
acervo}: uma arte revolucionária para sua
época.
d) [Currículo dos restauradores]: restaurou
obras de Miró e Picasso.
e) Coisas interessantes [históricas]
descobertas através do projeto: Recuperação
do retrato (pintado em Paris) do engenheiro
Antonio Lacerda, autor do projeto do famoso
elevador de Salvador, O retrato foi
encomendado por Rui Barbosa (Presidente
da Ordem em 1875). [Grifos meus]
10 Uma viagem de palavras e Reedição de um livro Lançamento de livro a)[Importância da obra]: “Bibliografia báica...”;
sons a década de 70: Livro- que reúne textos sobre com temática que “...até hoje muito requisitada pelos
referência sobre o período, os músicos brasileiros diz respeito a estudiosos da MPB.”; “’É um livro de
Nada será como antes, da dos anos setenta. fenômenos do referência’”.
jornalista Ana Maria Bahiana, passado (histórica). b)[Como a autora trabalha com a questão do
volta às livrarias. passado. Preocupação da texto em registra
que a autora não é saudosista]
11 Os peões do ABC aos olhos Lançamento do filme Lançamento de filme a) A importância do fenômeno histórico ao
de Eduardo Coutinho peões. que trata de um qual o filme se refere: as mobilizações
tema histórico. operárias de 1979/80.
17
b) Importância conferida pela matéria ao
caso relatado por Dona Zélia – porque ele
considera este um dos mais emocionantes
casos relatados por Coutinho; porque ele faz
questão de reproduzir este caso e não
qualquer outro?Por que ele cita esta frase no
fim da matéria: “Era a história que nós
tínhamos’”?, se referindo ao documentário
sobre o movimento operário que Dona Zélia
salvou da polícia. Estaria o autor querendo
chamar a atenção para a preservação da
memória?].
Volume 14. Dezembro de 2004
12 Triste Aniversário: exposto à AQ luta pela Conservação e a)Importância do engenho: “... é um dos
ação do tempo, o histórico restauração de uma restauração de poucos engenhos do Brasil que mantêm as
engenho do Monjope aguarda construção histórica patrimônio histórico quatro características fundamentais: casa-
a um ano a aprovação do arquitetônico. grande; senzala; moenda-moita e capela”.
projeto de restauração. b)”Acomodou reuniões políticas decisivas:
consta que até o imperador D. Pedro
Segundo se hospedou em um de seus
cômodos...”.
c)O engenho poderá, após a restauração,
virar um centro de distribuição de cachaça
artesanal
13 Memória de um Gênio do Tratamento que o Preservação de a) Divulgação do material histórico para o
Urbanismo acervo do urbanista acervo documental grande público: “’ ...o acervo estará
Lúcio Costa está histórico disponível a qualquer um que passear no
recebendo: parque, não se limitará aos estudantes e
organização e pesquisadores’”.
catalogação, além de b) [o que é digno de ser considerado
ser armazenado no documento histórico: documentos de uma
Centro de Preservação pessoa ou de um fenômeno que se considera
e memória Antonio importante]: importância do acervo =
Carlos Jobim importância de Lúcio Costa = “’... levaram a
arte brasileira a influenciar movimentos
renovadores internacionais’”. [O que ou quem
é importante?].
18
14 Na trilha do Fandango Criação de um projeto Preservação de a) Necessidade de “manter viva a chama das
para preservação e antigas tradições tradições”.
divulgação do populares b) [Inserção social do projeto]: ele irá
Fandango conscientizar e educar as instituições locais
(comemoração popular
com danças típicas do
litoral de São Paulo e
Paraná).
15 As muitas faces do Cazumbá Pesquisa que está Pesquisa e a) {Importância dessa manifestação cultura}:
sendo feita para lançamento de livro O bumba-meu-boi é uma manifestação típica
compor um livro que sobre manifestação b) {Tentativa de mostrar a grandeza dessa
tratará dos processos popular típica. manifestação}: a riqueza {e complexibilidade}
de elaboração de uma do bumba-meu-boi.
máscara típica do
bumba-meu-boi (careta
do Cazumbá).
16 Arqueologia pública Projeto (Programa Projeto de a) [Justificativa da importância do Projeto]: a
Fronteira Ocidental) de escavação história de regiões como essa são em geral
escavações arqueológica pouco conhecidas.
arqueológicas na b) [Caráter comercial que envolve o trabalho]:
cidade de Vila Bela da ele é feito por uma empresa; “’A área pode
Santíssima trindade, (...) gerar dinheiro e trabalho’”.
no Mato Grosso. c) [Inserção social do Projeto]: “’A área pode
virar ponto turístico, além de gerar dinheiro e
trabalho’”; o projeto tem como um de seus
objetivos sensibilizar e motivar a população a
procurar vestígios do passado.
17 Viagem pela música Projeto que registrou a Registro e a) [O conhecimento histórico como forma de
nordestina. música nordestina preservação de prever o futuro]: “Passado, presente e, por
contemporânea, tradições populares que não dizer, futuro estão reunidos no
produzindo um material disco...”. [Será que ele quer dizer que
(CD) com o resultado. conhecendo as modificações sofridas entre
1938 e 2003 podemos presumir qual será o
futuro dessas manifestações culturais?].
b) [Função social do projeto, e do
conhecimento]: “’Essas pessoas têm direito
de ouvir as fitas que em geral ficam só
19
disponíveis a acadêmicos’”
Volume 17. Março de 2005
18 Tesouro na USP: José Mindlin Doação da brasiliana Preservação e a) Importância do projeto: estimular a
doa para a Universidade seu de Mindlin para a USP divulgação de produção de conhecimento.
notável acervo de livros e de patrimônio histórico
documentos sobre o Brasil (documental-
bibliográfico)
19 Brasil animado Está sendo produzido Lançamento de a) [Crítica à produção cultural voltada para o
um desenho animado produto cultural público infantil que é veiculada pela grande
que terá como tema a ligado à temática mídia]: Desprezo pelos desenhos animados
História do Brasil. histórica. do estilo “Bob esponja”.
b) [Crítica a uma historiografia existente. Mas
será que é possível uma historiografia não
maniqueísta (imparcial)?]:Nesse desenho a
História do Brasil será contada “sem
maniqueísmos”.
20 Enxurrada de lembranças: Narra a experiência de Recuperação de a) Imagem do pesquisador idealista.
Rede Memória da Maré um projeto que tem por memória (história) b) Imagem do trabalho do historiador como
recupera, por meio de finalidade recuperar a algo difícil por ser desprezado pela
documentos e fotos, a história
história de algumas sociedade.
do bairro que agrega comunidades do Rio
dezesseis comunidades. de Janeiro.
21 Hobby religioso, patrimônio Atividades culturais Projeto de a) [Inserção social daquela instituição]: o
nacional realizadas a partir de recuperação de papel social daquele espaço junto à
um seminário: memória (história). comunidade: crianças o visitam; famílias o
existência de um aproveitam para área de lazer.
museu e de um
trabalho de
recuperação da
história local.
22 Esquerda e memória O processo de Preservação de a) [Ampliação dos espaços de conhecimento
organização pelo qual documentação histórico para além do restrito círculo das
está passando o histórica universidades]: “qualquer um pode consultar
material sobre a (organização de o acervo”.
esquerda brasileira acervo). b) Ëlas (as esquerdas) são protagonistas de
existente no CEDEM. capítulos importantes da nossa história”.
23 Em cada casa uma história: O Informa sobre o Projeto de a) {A população está sendo chamada a se
20
Projeto Museu Aberto-Cidade desenvolvimento de valorização do envolver na pesquisa}: “’uma comoção
Viva vai mostrar Ouro Preto a um projeto que busca patrimônio histórico. preservacionista’”.
partir das residências e seus sinalizar as residências b) Crítica às reformas sem controle das
moradores. históricas de ouro construção [históricas]: “perda de memória”.
Preto, com objetivo de c) {Utilizar o [patrimônio histórico] como
otimizar o potencial atrativo turístico}: preocupação em melhorar
turístico dessa cidade as condições da cidade para atrair turistas
histórica. interessados em seu patrimônio histórico.
d) [Trabalha com a idéia de patrimônio
histórico: mas o que é digno de ser
histórico?].
Volume 18. Abril de 2005
24 A Bíblia dos jesuítas: A Reedição do livro do Publicação de livro a) [Elogio exagerado ao livro]: “Tudo na obra
História da Companhia de padre Serafim Leite de História A História da Companhia de Jesus no Brasil
Jesus no Brasil, mais é monumental”; “’O que sabe sobre os
completa obra sobre o tema, jesuítas no nosso processo civilizatório se
ganha segunda edição deve ao padre Serafim’”.
ampliada depois de 54 anos. b) {O caráter social do empreendimento
(reedição da obra): Metade dos exemplares
serão doados} [em segundo plano é que se
diz que as restantes serão vendidas a R$
1400!].
c) [A capacidade desse empreendimento de
intervir na realidade], colaborando com
algumas causas: a canonização de Anchieta;
a conscientização a respeito da preservação
do patrimônio histórico.
25 A voz do interior: Projeto em vias de Projeto de pesquisa a) Esse trabalho seria capaz de destruir
pesquisadores criam banco desenvolvimento que acadêmico. estigmas e preconceitos existentes em
de dados para mapear e visa estudar os modos relação a algumas variáveis lingüísticas (o
analisar a fala da região de d se expressar da caipirês, por exemplo).
São José do Rio Preto. população de uma b) (Boxe) Comparação de realidades
determinada região históricas diferentes: Brasil e Itália: seria
curiosa a não existência de dialetos no Brasil
– um país tão grande – enquanto na Itália –
que é um país bem menor – existem vários.
Isso é curioso “por mais que haja
21
justificativas históricas”.
26 A melodia da carta: Músico cria um Iniciativa artística a) [Ausência de preocupação social deste
Documento de Pero Vaz de concerto inspirado na que se baseia em projeto]: o autor não quer popularizar ou
Caminha vira concerto pelas carta de Caminha. documento ou fato tornar didático o conteúdo da carta.
mãos do pianista Leonardo histórico.
Braga.
27 Para engordar o acervo: Nova Nova lei que prevê a Nova lei que diz a) “A proteção da memória nacional depende
lei de depósito legal estimula doação de um respeito à proteção de atitudes tomadas no presente”.
produtores de livros, discos e exemplar de toda obra do patrimônio
imagens a doar obras para a publicada no país para intelecto-cultural
Biblioteca Nacional. a Biblioteca Nacional. nacional.

28 Reaproveitar espaços: Projeto de um grupo Preservação de a) {A batalha que se tem de travar quando se
Transformar fazenda que visa transformar patrimônio histórico- quer conservar o patrimônio histórico-
construída por jesuítas em uma fazenda de valor arquitetônico/ cultural}.
núcleo cultural é um dos histórico, hoje programa de turismo b) {O potencial histórico-turístico desse
objetivos da associação cabo- esquecida e histórico/ empreendimento}.
friense A TEIA. degradada, em um Desenvolvimento de
núcleo cultural e de projetos culturais.
pesquisas.
29 Cultura Vitalícia: Lei do Criação de uma lei que Lei de preservação a) {A força das manifestações populares
patrimônio vivo de dará bolsas a artistas de patrimônio tradicionais}
Pernambuco vai dar bolsas a populares de histórico cultural b) [Defesa da imobilidade da cultura
artistas populares para Pernambuco. tradicional]: “As manifestações tradicionais
estimular a troca de correm o risco de perder suas características
experiências. originais com o decorrer do tempo”.
c) [A caráter contestador como um valor dos
pernambucanos]: “Tão tradicional quanto a
cultura local é o caráter contestador do
pernambucano”.
d) {Interesse de que essas manifestações se
fortaleçam e não morram}.
30 As imagens da alma do Bixiga Doação de objetos Espaço de a) [Adoniran seria uma pessoa importante,
pessoais do preservação e histórica]: “...Compositor que melhor soube
compositor Adoniran divulgação de traduzir o espírito paulista”.
Barbosa para o Estado história e memória b) “... Iniciativa de abrir espaços de
de São Paulo. Esses (museu). memória”.
22
objetos deverão c) [Divulgar História]: Tornar o acervo
compor um acervo acessível.
museológica que será
exposto para o público.

23
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

A HISTÓRIA PARA O GRANDE PÚBLICO

Teoria de História I
Período noturno
Profa.: Dra. Raquel Gleizer
Aluno: Ailton de Oliveira
No. USP: 5166338
ÍNDICE:
Introdução .....................................................p.03
O objeto do estudo ........................................p.03
A revista .........................................................p.04
As matérias ....................................................p.04
As imagens ....................................................p.05
Por dentro ......................................................p.05
Conclusão ......................................................p.07
Bibliografia .....................................................p.08

2
INTRODUÇÃO
Neste trabalho apresento uma análise exterior e outra interior da revista.
Para tanto analiso de forma mais específica as capas durante todo o período, e uma
matéria de capa como modelo de análise interna.
Procurando compreender a proposta da editora, e questionando se essa
proposta é alcançada. Para tanto recorrerei principalmente as discussões realizadas
em aula, fazendo a devida localização do material selecionado por mim, dentro do
conjunto de revistas de história de publicação similar1.

O OBJETO DO ESTUDO
O meu foco de análise será a revista “Aventuras na História – para viajar no
tempo”, pertencente a “Família Super”1, da Editora Abril, durante um ano de
publicação; as edições selecionadas são a partir do número 5 (Janeiro) até a de
número 16 (Dezembro) do ano de 2004.
As edições possuem 66 páginas cada, incluindo as edições extras. As
exceções serão a edição de aniversário, com 16 páginas extras anunciadas na
capa, e a edição arquivo especial, ambas com 82 páginas.
As organizações internas e externas não seguem um padrão imutável, mas
apresentam traços que são encontrados em todas as edições, e alguns são
utilizados conforme a edição, um exemplo é a seção “CIVILIZAÇÕES” que aparece
esporadicamente, conforme as matérias publicadas.
Na capa sempre consta de uma única matéria principal em destaque e com
foto, e com três matérias em destaque menor ao lado esquerdo, e se completa com
o rodapé anunciando mais matérias.
Na organização interna temos duas colunas, uma mais larga de título (ou
chamada) “PERGAMINHOS” que contém as principais matérias, incluindo a de capa, e
seus respectivos subtítulos (ou chamadas menores), que podem variar ou não.
“TERRA BRAZILIS” e “OBRA-PRIMA” são exemplos de chamadas que estão presentes
em todas as edições. A outra coluna à esquerda de título “ALFARRABIOS” é
semelhante à outra, e contém as matérias menores, tendo como chamadas mais
freqüentes: “MÁQUINA DO TEMPO”, “TOMOS E TELAS” e “PAPIRO”.
Há ainda duas páginas dedicadas à própria revista: a primeira página da
revista com o título “MANUSCRITO”, com uma matéria dedicada aos editores, e na
terceira página as “MISSIVAS” dedicado às mensagens dos leitores.

___________________

1. Também fazem parte desta família as revistas: “Mundo Estranho”; “Revista das Religiões” e “Vida
Simples”, todas surgidas a partir de desdobramentos da revista-mãe “Super Interessante”.

3
A tiragem e circulação da revista se mantiveram de forma equilibrada durante
o período, sem grandes sucessos e insucessos de venda. O valor da revista sofreu
somente uma alteração no período, sendo de R$7,95 (sete reais e noventa e cinco
centavos) até a edição número 8, e passando para R$8,95 (oito reais e noventa e
cinco centavos) a partir da edição seguinte. É um valor competitivo se comparado
com outras edições similares2, e pouco inferior a principal publicação em tiragem e
circulação: a revista “Historia Viva”.

A REVISTA
De linguagem simples e objetiva, com diversas matérias curtas, e uma
matéria principal um pouco maior, tudo isso recheado com muitas imagens, a
revista “Aventuras na História”, se apresenta fiel a sua revista-mãe, conquistando,
entretanto, uma fatia do mercado editorial em expansão, o mercado das revistas de
História.
Com um formato mais informativo e menos crítico que outras publicações
similares, a revista “Aventuras na História” se insere como uma publicação de baixa
cultura (ou de massa), e desta forma adquiri um mercado mais amplo, tanto etário
quanto socialmente.
Sem realizar críticas históricas ou historiográficas, se torna um agente
divulgador de conhecimento histórico a um público amplo, demonstrando sua
característica principal: revista para entretenimento e compreensão superficial dos
fatos históricos.

AS MATÉRIAS
A diferença quando se lê a revista “Aventuras na História” e outras revistas
de história, é bem perceptível quanto a pouca ou nenhuma crítica e discussão
histórica nas matérias, apresentando-as como fatos, principalmente.
Os conteúdos são retirados de livros e sites, que são relacionados no final da
matéria para quem deseja se aprofundar no tema, mas geralmente a escolha de
temas está relacionada à mídia de massa3, evidenciando desde as chamadas de
capa para a elucidação e esclarecimento que a matéria pretende sobre esse tema.
Assim, grande parte dos temas abordados se apresentam a historiadores (de
formação acadêmica) como temas de importância secundária para os estudos
históricos, ou que somente poderiam ser abordados por uma História mais
específica, sendo alguns temas abordados muito próximos de outras publicações de
revistas de outras áreas do conhecimento.
Os textos raramente apresentam autoria, e é também rara a presença de historiadores
mencionados nesses textos. A editora, por escolha própria, não tem historiadores em sua
edição. Um grande recurso utilizado no início dos textos da matéria é esta se iniciar em
forma de conto.
____________________

2. Considero similares a Revista “História Viva” da Dueto Editorial, e preço R$9,90; e “Nossa
História” da Editora Vera Cruz, e preço R$7,80, por terem preços próximos, serem publicações
mensais e se apresentarem como publicação não-acadêmica ou direcionada ao ensino, como a
“Desvendando a História”, da editora Manole.
3. Rádio e televisão aberta, grandes jornais impressos, e outras mídias de longo alcance de
divulgação.

4
AS IMAGENS
Em todas as edições analisadas o papel das imagens (desenhos e fotos
entre outras) é muito importante, ocupando sempre um espaço igual ou superior ao
texto da matéria. Em quase todas as edições tem conjuntos de imagens
relacionadas a um acontecimento que ocupam páginas inteiras, remontando uma
cena ou exemplificando uma explicação. Há até a utilização em algumas edições de
história em quadrinhos4.
Essas imagens são na maioria de criação da própria edição, o que viabiliza
uma edição de menor valor, somado a imagens específicas que são adquiridas e
devidamente identificadas nas páginas.Todo esse conjunto de imagens tenta
“desenhar” o fato que se pretende esclarecer na matéria para o leitor, sendo
possível assimilar grande parte da matéria somente analisando as imagens.
Seguindo de forma sincrônica com a edição das matérias, as imagens são muito
bem trabalhadas, possuindo uma ótima diagramação e coloração unidos a um papel
de alta qualidade, que torna nesse aspecto superior a outras publicações similares.
Assim, as matérias se apresentam muito mais ilustrativas, reduzindo seu
enfoque teórico.

POR DENTRO
A escolha da matéria de capa a ser analisada segui os seguintes princípios:
matéria mais longa, em texto e número de páginas, e a de maior crítica histórica
possível por ser um tema muito trabalhado academicamente.
A capa se apresenta com o nome Getúlio em grande destaque sobre a foto
do mesmo, em close de perfil em sua última aparição pública5, na chamada sobre a
morte de Getúlio Vargas6.
As três chamadas em destaque ao lado são sobre Michelangelo, Elvis e
Olimpíada. Completados pelo rodapé com as chamadas: Olga; China versus Japão;
Waterloo ao vivo; Legiões Romanas, Naufrágios no Brasil e Louvre.
Não fugindo ao formato geral da revista, a matéria principal é editada em dez
páginas, sendo três sem a presença do texto da matéria, e apenas uma ocupada
totalmente pelo mesmo texto. Todas as fotos são de origem identificada e a matéria
é de autoria do escritor Lira Neto.
Há duas matérias complementares dividindo espaço com a principal, são:
“Agosto de 1954 – os vinte dias que mudaram o Brasil”, que traz trechos de jornais
publicados nos vinte dias anteriores a morte de Getúlio; e “As muitas faces de
Getúlio”, curiosidades sobre a personalidade de Getúlio.

_________________

4. Edição no.7- março, na matéria “Touro Sentado”,da chamada “PERSONAGENS”, Edição no.9 -
maio, na matéria “Corrida ao Pólo Sul”,da chamada “PERSONAGENS”, e Edição no.12 - agosto, na
matéria “Milo de Crotona, o maior herói olímpico”,da chamada “GRANDES MOMENTOS”.
5. A foto da revista “O Cruzeiro”, surpreendeu a própria edição que já tinha montado uma capa
anterior, conforme “MANUSCRITO” da mesma edição.
6. “As últimas horas de Getúlio – Isolamento político, conspiração, ameaças. O que levou o homem
mais amado do país ao suicídio há exatos 50 anos?”

5
O texto da matéria principal se inicia em forma de conto, e durante todo o seu
desenrolar faz idas e vindas sobre os dias imediatamente anteriores, posteriores e o
dia da morte de Getúlio, com um enfoque de um político populista e adorado pelo
povo.
Utiliza conceitos de fácil compreensão e ampla divulgação pela mídia de
massa como direita, esquerda, conservador, populismo e comoção nacional; e
ainda utiliza largamente jargões da época como “República de Galeão” (referente
ao IPM – Inquérito Policial Militar da Base Aérea do Galeão), “Banda de Música”
(grupo de deputados da UDN) e “Pai dos pobres.
O texto se encerra com seis citações dispersas nos últimos parágrafos, duas
de jornalistas e quatro de historiadores7, dando um caráter de texto com crítica
histórica, utilização não muito recorrente em outras matérias e edições.
O texto da matéria principal se inicia em forma de conto, e durante todo o seu
desenrolar faz idas e vindas sobre os dias imediatamente anteriores, posteriores e o
dia da morte de Getúlio, com um enfoque de um político populista e adorado pelo
povo.
A matéria de capa é a única que com maior conteúdo, ocupando algumas
páginas. As matérias menores são mais curtas e ocupam poucas páginas, ou
menos de uma única página. A quantidade de matérias é grande o torna inviável
anunciar todas na capa de alguma forma.
A revista procura trazer na matéria de capa assuntos, personagens ou fatos
que provocaram e provocam a curiosidade ou comoção de um grande público8.
Assim é abordado temas de comoção mundial como a morte de Lady Di e de
comoção nacional como a morte de Getúlio Vargas e grandes personagens como
Bob Marley Senna ,Fidel e Stalin e ainda chamadas interagindo com grandes
lançamentos cinematográficos, é o caso de Os Piratas e Rei Arthur. As chamadas
de capa sobre antiguidade: Musashi, Ramses, e Júlio César e religião: Jesus e
Cristianismo se sobressaem por exercerem atração em um público amplo, mesmo
estando desvinculado de um fato em evidência nas principais mídias de massa.
Demonstrando o fascínio pela religião e pelo mundo antigo, no público amplo e
leigo.
Por ser parte integrante da “Família Super”, buscou se preservar as
chamadas de frases de efeito mais pesadas como: mar de sangue, carniceiro,
massacre violento; ou ainda tenta-se ocultar e subtender jargões chamativos como:
misterioso, fascinante etc, explorados de forma mais intensa por outras revistas
similares.

____________________

7. Jornalistas Jose Louzeiro e Glauco Carneiro. E historiadores Marco Antonio Villa e Jaime Pinski,
também professor da Unicamp.
8. “Bob Marley” -edição no.5 – janeiro – 2004; “Musashi” -edição no.6 – fevereiro – 2004; “Os
Piratas” -edição no.7 – março – 2004; “Jesus” -edição no.8 – abril – 2004; “Senna” -edição no.9 –
maio – 2004; “Fidel” -edição no.10 – junho – 2004; “Ramses” -edição no.11 – julho – 2004; “Getúlio” -
edição no.12 – agosto – 2004; “Rei Arthur” -edição no.13 – setembro – 2004; “Júlio César” -edição
no.14 – outubro – 2004; “Stalin” -edição no.15 – novembro – 2004; “Cristianismo” -edição no.16 –
dezembro – 2004.

6
Por ser parte integrante da “Família Super”, buscou se preservar as chamadas de
frases de efeito mais pesadas como: mar de sangue, carniceiro, massacre violento;
ou ainda tenta-se ocultar e subtender jargões chamativos como: misterioso,
fascinante etc, explorados de forma mais intensa por outras revistas similares.

CONCLUSÃO
A revista “Aventuras na História” possui textos que nunca são longos, o que
causaria “cansaço” ao leitor menos habituado a leituras, ou seja, são produzidos por
jornalistas em geral de forma a atingir um público amplo, fugindo de uma única
classe social ou etária. As matérias contendo ou não citações de historiadores, são
de produção mais livre, produzidas a partir de livros e sites que são indicados no
final das matérias.
A revista se propõe e procura esclarecer fatos e acontecimentos, para tanto
se utiliza enormemente de imagens, matérias que começam em forma de “conto” e
até “História em quadrinhos”.
A revista “Aventuras na História”, a partir de uma idealização da editora,
cumpre seu papel de publicação mensal independente, pois a partir da revista-mãe
conseguiu criar um público leitor estável e sem se chocar com o público de sua
revista-mãe, e desta forma mantém publicações mensais e extras, no mercado de
revistas de História, sem necessariamente publicar matérias de historiadores,
utilizando a criatividade de seus editores.
Informativa, esclarecedora, divertida e descomplicada são alguns dos
adjetivos utilizados pela própria revista em um de seus anúncios9.
É uma revista leve e bem ilustrada de entretenimento e divulgação não-
científica de conhecimento histórico que se mantém no recente e competitivo
mercado brasileiro de revistas de História.

___________________

9. Contracapa da edição no.3 – Arquivo Especial – dezembro – 2004

7
BIBLIOGRAFIA:
Aventuras na História, São Paulo, Editora Abril, no.5, janeiro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.6, fevereiro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.7, março, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.8, abril, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.9, maio, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.10, junho, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.11, julho, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.12, agosto, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.13, setembro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.14, outubro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.15, novembro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.16, dezembro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, edição extra, março, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, edição extra, junho, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, edição extra, dezembro, 2004

8
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

TEORIA DA HISTÓRIA

Profª. Raquel Glezer

As Versões de Getúlio
Análise das matérias sobre Getúlio Vargas nas revistas Desvendando A
História, Aventuras na História e História Viva.

Guilherme Pedroso Nascimento Nº USP: 3496566


Flávia Gomes da Silva Nozue Nº USP: 5099730
“VERSÕES” DE GETÚLIO

Objetivo

Para nosso trabalho selecionamos um mesmo tema presente em três


revistas. Pretendemos, deste modo, analisar o material pormenorizadamente,
além de comparar as publicações.

Objeto da Pesquisa

Selecionamos três revistas vendidas periodicamente nas bancas que


abordaram temas iguais num período determinado, quais sejam (em ordem
alfabética):
1) Aventuras na História, da Editora Abril, edição n.º12. Revista tem como
público alvo leitores na faixa etária entre 15 a 37 anos (47% dos leitores)
.Tem por objetivo informar um público leigo.
2) Desvendando a História, da Editora Escala, edição n.º 1. revista cujo
público alvo se encontra na faixa etária dos 21 aos 40 anos, sendo 47 %
do Ensino Superior.
3) Nossa História, da Editora Vera Cruz, edição n.º 10. Revista voltada para
alunos e professores, objetivando ser um material auxiliar para o
aprendizado e ensino de História.
Todas foram publicadas no mês de agosto de 2004, data que marcou os
50 anos da morte de Getúlio Vargas. Por isso também, o tema foi reportagem de
capa de todas as publicações.
Metodologia

A partir da leitura das reportagens, elaboramos um quadro comparativo,


contendo informações que julgamos importantes para a posterior análise do
material.
Abaixo segue o quadro.

Revista Aventuras Desvendando Nossa História


Dados/informações
recorrentes
n.º de páginas 09 10 25
Indicação de
bibliografia x x x
complementar
Site disponível www.abril.com.br www.escala.com.br www.nossahistoria.net

Imagens
legendadas x x x
Reconstituição
cronológica dos x x x
fatos
Idéias de herança,
legado político x x x
Carlos Lacerda –
inimigo de Getúlio x x x
Vagas
Getúlio Vargas –
herói, mito x x x
Suicídio adiou o
golpe por 10 anos
– continuidade da x x x
democracia
Análise

A revista Aventuras na História trazia em sua capa a chamada para uma


reportagem sobre a morte de Getúlio Vargas, fato que aniversariava cinqüenta
anos. Apesar do alarde, a edição apresenta apenas nove páginas da matéria,
sendo que cinco delas trazem a página dividida pela metade, com texto em
apenas uma das partes, cabendo à outra, fotos ou informações “gráficas”. Duas
páginas são dedicadas a um resumo, que mistura texto e fotomontagens, do dia
em que Vargas “se matou”. Apenas uma é escrita por inteiro, trazendo ao seu
final uma espécie de referencia bibliográfica, intitulada Saiba Mais. Da paina 33
à 36, há uma cronologia referente aos últimos vinte dias de Getúlio Vargas, até
culminar nas páginas 37 e 38 no dia do suicídio, 24 de agosto de 54,
representado pela fotomontagem acima citada.
O título é bastante chamativo, Por que Getúlio se matou, mas a resposta
para a pergunta não é respondida no corpo da matéria, apenas são feitas
suposições. Há uma clara referencia à História Oficial, pois em momento algum
há o questionamento de se ele realmente se matou ou se foi morto.
O texto é escrito de forma bastante romanciada, como se estivéssemos
vivendo o momento do fato, inclusive apresentando frases que teriam sido ditas
pelos atores em determinados momentos. Apesar disso mantém-se distante
quando fala das questões que até hoje estão presentes. Durante quase toda a
reportagem o leitor transita junto às personalidades da época e de suas
armações. No texto há o “herói”, Vargas, e seu “arquiinimigo”, Carlos Lacerda. A
partir de fatos ocorridos com os dois principais atores, se desenrolaria toda uma
história de tramas, envolvendo os ministros, amigos, parentes e o exército que,
cada um a sua maneira, tentavam proteger seus interesses e dar um norte ao
Brasil.
Apesar de falar de uma determinada época, de citar diversos nomes e de
ligar o ocorrido ao regime militar de dez anos depois, a revista consegue desligar
o leitor do que acontecia, de um modo geral, no país, assim como quem são os
atores ou sobre suas histórias. Todos são apresentados com nome e
sobrenome, mas para aquele determinado momento, sem termos como
entender de onde surgiram ou o porquê de estarem ali (exceto os familiares).
Fatos como o tiro no pé de Lacerda são apresentados como tal, mas em outros
momentos são questionados, sem que se referencie o porquê da afirmação no
primeiro momento ou o porquê do questionamento no segundo. Desta forma o
leitor caminha por conjecturas cronológicas, sem ter muita certeza de onde está.
Para amparar-se em algo próximo de uma verdade, ou para parecer um
pouco mais crível, a matéria, em quatro momentos, cita referências, sendo dois
jornalistas responsáveis por livros biográficos de Getúlio, José Louzeiro e
Glauco Carneiro; um professor da Unicamp, sem departamento especificado,
Jaime Pinski; e um historiador, Marco Antonio Villa. Além das citações, no
quadro Saiba Mais, são apresentados quatro livros, sendo que só um citado
anteriormente, no corpo do texto, e duas fontes na Internet.
Na metade da página em que não há o texto, existe um calendário dos
“20 dias que mudaram o Brasil” com um resumo dos fatos que aconteceram em
determinados dias e com algumas fotos (com crédito). É interessante notar que
a revista em determinados dias grifa os acontecimentos, geralmente os feitos
mais heróicos do presidente da República.
No quadro de fotomontagem com o resumo do dia de sua morte a revista
trás, além da montagem com o Getúlio de pijama listrado com sua epígrafe no
bolso esquerdo e um revolver em outro bolso do mesmo lado, em uma camisa
de pijama de três bolsos, horários precisos como, por exemplo, “8h05: contra
seu costume, sai do quarto...”, “8h15(...) diz [ao barbeiro] que quer ficar sozinho
para tentar dormir...”. O que não fica claro é se esse horários são obtidos em
documentos policiais, se em relatos ou se são aproximações feitas pela revista
para deixar a matéria mais “interessante”. O texto termina elevando seu herói a
mito e concluindo que os inimigos da nação só conseguiram tomar o país dez
anos mais tarde, ao derrubarem João Goulart e implantarem o regime militar, em
1964.
O artigo lança uma questão, problematizando se a carta – testamento
teria ou não sido escrita por Getúlio Vargas. Porém, a questão fica sem
resposta, é mostrada como fato anexo a grandiosidade dos feitos do herói,
justificada na própria reportagem pela frase:

“...a autoria da carta é que menos importa” (p.41)

A revista Desvendando a História, trás um artigo que trabalha com a


reconstituição cronológica da vida política de Getúlio Vargas a fim de construir a
imagem do mito nacional, o qual deixou um “legado” e uma “herança política”
que “continua presente nos principais debates político do Brasil” (p.33).
O artigo foi escrito por Marquilandes Borges de Sousa, mestrando da
Universidade de São Paulo, que trabalha com tema da II Guerra Mundial.
O autor inicia trazendo a revolução de 30 como fato marcante na carreira
política de Vargas. Em seguida, trata brevemente da Revolução de 32, da
promulgação da Constituição de 34, o golpe de 37 e do Plano Cohen até chegar
ao Estado Novo. Neste momento, trás um breve panorama dos governos
ditatoriais de direita que pipocavam na Europa.
Mais adiante, o autor trata do fim do Estado Novo e do retorno de Vargas
ao poder nas eleições de 50. Em seguida, Borges apresenta Carlos Lacerda
como o grande inimigo de Vargas, tratando também do episódio da rua
Toneleiros. Por fim, o autor fala do suicídio de Getúlio e do conteúdo da carta –
testamento, sem questionar a autoria.
É interessante notar, que o artigo trabalha com bastante simplicidade o
tema, porém apresenta quadros elucidativos a respeito dos principais fatos
descritos ao longo do texto. Segue, a seguir, lista dos quadros presentes no
artigo:
• Revolução de 30 – p. 34
• Revolução de 32 – p. 35
• Integralistas – p.36
• ANL – p. 37
• Plano Cohen – p.38
• A carta – testamento – p.41

A revista Nossa História faz uma abordagem diferente. Reúne em um


dossiê, cinco artigos de pesquisadores, a cronologia da vida de Getúlio,
entitulada Getúlio e seu legado, e uma entrevista com um jornalista que cobriu a
morte de Getúlio.
O primeiro artigo é de Ângela de Castro Gomes, pesquisadora do
CPDOC/FGV e professora titular da Universidade Federal Fluminense.
Nele a pesquisadora se posiciona claramente como varguista, espalhando
pelo texto elogios ao Vargas. No lid ele é apresentado como o “grande mito
político”. O texto apresenta um lado Humano de Getúlio, como quase um herói.
Em diversas passagens do texto ela frisa como ele era ponderado, correto,
astuto, entre outros, adornando as páginas com fotos de Vargas com crianças,
em caricaturas, sendo homenageado e a multidão que foi ao seu velório. Em
determinado trecho, Gomes diz que “Importa assim, ressaltar o ‘sucesso’
imediato do suicídio para a manutenção da democracia no Brasil”, em outro
defende as eleições que o levaram ao poder, mostrando, com uma marchinha,
como Vargas era adorado pelo povo. Lacerda, no texto um jornalista que ajudou
a crise que levou Vargas ao suicídio, é citado apenas uma vez, sem ênfase no
atentado ocorrido no fatal agosto.
Em meio às memórias presentes no texto, Gomes faz uma análise do
momento, ressaltando a frustração de ter Luís Inácio Lula da Silva como atual
governante, mas que este também conseguiu mobilizar crenças e esperanças
do povo brasileiro, assim como Vargas. Ela termina o texto defendendo o
governo Vargas e suas reformas políticas e econômicas, tanto como ditador
quanto como presidente, e que não podemos criticá-lo de forma simples e
maniqueísta.
É interessante notar, ao longo do artigo, a maneira como a autora
trabalha fortemente com a idéia da construção do mito Getúlio Vargas. Por isso,
faz uma reconstituição cronológica dos feitos políticos de Vargas para que seja
possível um melhor entendimento. A autora ressalta também a importância da
propaganda para a construção e reforço da figura de Getúlio. Entretanto, a
recepção, por parte da população também se faz importante, já que não se trata
apenas de simples manipulação de dados e informações. Segundo a idéia de
sistema, de Antonio Candido, para se entender a penetrabilidade de um ideário,
é preciso compreender o também o contexto e a recepção das informações.
Neste caso, existia uma correspondência, de certo modo, entre o que a
população via e vivia no cotidiano e aquilo que era dito pela propaganda, com
exceção da população do campo.
Entre o primeiro e segundo artigos, há uma página dedicada ao legado de
Getúlio. Em suma, se trata de uma cronologia desde a Revolução de 30 até
1979, passando pelo Estado Novo, o suicido e o golpe de 64. Interessante notar
o nome da seção: “Getúlio e seu legado”, quer dizer, o que Getúlio fez (de 1930
até 1954) e seu legado (de 1954 até 1979).
O segundo artigo é de Cícero Antônio F de Almeida, museólogo,
coordenador técnico do Museu Nacional de Belas-Artes e professor de
museologia da UFRJ. Nele Almeida se atém à carta-testamento encontrada por
ocasião do suicídio de Getúlio e suas contradições. O autor trabalha com a idéia
de construção do documento. Na página 23, há uma expressão que nos fornece
indícios sobre a idéia de Almeida:

“para entendermos a ‘invenção da carta’- testamento e as bases que


sustentam sua autenticidade (...)”

Ele diz que há diversas histórias sobre a carta. Alguns dizem que ela era
uma carta, escrita a próprio punho, outros que eram várias, datilografadas. Esta
segunda hipótese leva Almeida a duvidar que a carta tenha sido escrita por
Getúlio, já que ele não sabia datilografar. Ainda nas controversas aparece a
figura de sua filha, Alzira Vargas, que o ajudava como conselheira política, que
saberia quem escreveu a carta e como foi encontrada. Seu filho, Manuel Vargas,
“em entrevista concedida um ano aos a morte do pai, dizia: ‘Sei quem
datilografou(...) e não revelo o nome...’”, numa clara demonstração que o legado
de Vargas era importante dessa forma pouco esclarecedora.
Almeida finaliza seu texto dizendo que a controversa sobre a
autenticidade da carta-testamento serve para assegurar a vitalidade do
documento e dos herdeiros de Vargas.
O terceiro artigo é escrito por Alice Beatriz da Silva Gordo Lang,
pesquisadora do Centro de estudos Rurais e Urbanos (SP).
Neste artigo, a pesquisadora – especialista em História Oral – recolheu o
depoimento de trinta mulheres da elite paulistana, que vivenciaram o período
entre 1910 a 1950, buscando resgatar a maneira a partir da qual Getúlio Vargas
era visto pelas classes dominantes da cidade. Isso porque, segundo a autora,
nas camadas populares a imagem de “pai dos pobres” foi fortemente preservada
e disseminada às gerações posteriores.
Ela tenta relativizar a idéia de adoração por Getúlio. Nele, a socióloga e
pesquisadora no Centro de Estudos Rurais e Urbanos, conta como foi vista a
tomada de poder por Getúlio por mulheres das classes mais abastadas de São
Paulo. A idéia unânime defendida na matéria é que ele era visto como um
“homem mau”, que queria tomar o Estado para si, com a idéia “demagógica” de
dar direitos aos pobres. É interessante notar também que, nesta matéria, o
contexto político da época é muito mais evidenciado do que a imagem de
Vargas.
A matéria é curta, com três páginas, repleta de fotos de paulistas
protestando e de cartazes e charges satirizando o “chuchu”, como era referido
Vargas. A matéria é bem superficial, não se atendo em nenhum ponto muito
profundamente, mas passando a idéia de discordância com o ideal varguista,
vista pela elite paulista.
O quarto texto é assinado por Alexandre Fortes, coordenador no Centro
Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo. Em três páginas com
poucas fotos, o autor conta como foram os conflitos que ocorreram no Rio
Grande do Sul, após o suicídio de Getúlio Vargas. Citando pouco o então
presidente, Fortes contextualiza as lutas e os acordos políticos surgidos de
última hora, tentando traçar uma perspectiva política macro, inclusive apontando
a relação entre a crise estabelecida, o nacionalismo e medo estadunidense de
um sentimento anti-americano. O texto traz, em seu corpo, apenas uma
referência, o militante do PCB Eloy Martins. Como referências bibliográficas
apresenta três livros além do de Martins.
O quinto artigo, assinado por José Trajano Sento – Sé, cientista político,
professor de Ciências Político na UERJ, trata do legado deixado por Getúlio
Vargas à João Goulart e posteriormente a Brizola.
Neste texto, o autor traça um breve perfil político de ambos e apresenta
de que maneira Getúlio se constitui o mestre político de Jango e como, depois
da morte do segundo, Brizola ocupou este espaço no cenário político brasileiro.
Basicamente, Trajano traça em seu artigo a formação do PTB, a partir do
momento em que Jango se torna seu presidente e posteriormente, com a
redemocratização e o declínio da ditadura militar, a fundação do PDT de Brizola.
Ao final, Trajano conclui que a morte de Brizola em 2004 deixou uma
questão a respeito do fim ou da continuidade do projeto político varguista, já
que, segundo o autor, Brizola não deixou herdeiros políticos. A idéia de legado
político aparece fortemente no artigo.
Neste sentido, a entrevista com o jornalista Luiz Antonio Villas-Boas,
contribui, para dar continuidade à idéia de Trajano. Porém, o jornalista discorda
da idéia de que Brizola teria sido um herdeiro de Getúlio, já que, segundo ele, o
primeiro era um homem de esquerda.
Ao longo da entrevista, Villas-Boas traça uma perspectiva a respeito do
contexto da crise de 54, o modo com que a imprensa contribui para a divulgação
das idéias anti-Vargas, principalmente o jornal Última Hora, a Tv Tupi e a Rádio
Globo. O jornalista fala ainda de sua carreira como jornalista político e comenta
a cobertura da imprensa política nos dias atuais.
Conclusão

Todas as revistas trazem referências bibliográficas e citações de


pesquisadores no corpo dos textos (exceto a Desvendando), bem como dá os
créditos às fotos e ilustrações que compõe os artigos.
As revistas Aventuras na História e Desvendando a História apresentam a
matéria como sua. Já a Nossa História prefere passar a outros pesquisadores a
autoria dos textos.
Apesar de abordarem o tema de maneiras diferentes, quer dizer, com
maior ou menor profundidade, e também no que concerne o tipo de linguagem,
mais ou menos acessível, as revistas trabalham no sentido de construir a figura
de Getúlio como o grande mito, contrariando uma primeira impressão que
tivemos ao tomar contato pela primeira vez com o material. Quer dizer, a Nossa
História trabalha realmente com a idéia de construção no corpo de seus artigos,
já as demais, tratam a questão do mito Getúlio Vargas como algo dado, pouco
ou nada questionável.
Um exemplo bastante representativo no tocante às construções, é a
questão da carta – testamento. Vale notar a maneira com que as revistas tratam
o assunto, com “profundidades” diferentes. A Aventuras lança a questão da
dúvida, mas não resolve a problemática. Já a Nossa História chega a
desconstruir a autoria única da carta. E a Desvendando nem sequer chega a
propor a hipótese.
Certamente essa diferença de abordagens está relacionada com os
dados já citados referente a público alvo e objetivos das revistas. Tentando
ensinar um pouco mais a um público leigo ou recém iniciado no estudo de
história, as revistas apresentam o tema sem grandes questionamentos ou
ambigüidades, para a assimilação direta da idéia como diagnóstica e não com
hipótese, diferente do que faria uma revista indexada, que proporia a tese a
partir de uma hipótese.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS
HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
TEORIA DA HISTÓRIA I

Análise de Artigos das Revistas:


História Viva e Aventuras na História

Alunos:
Cristian Sebok – 4948359
Josiane de Melo Silva - 3533595
Marcelo Eduardo Lopes – 3540627
Ricardo Ferreira da Silva – 3319950
Profa. Dra. Raquel Glezer

São Paulo - 2005


Introdução

Nesse trabalho pretendemos analisar as principais matérias das seguintes Revistas:

História Viva (Março de 2005, n. 17) e Aventuras na História (Dezembro de 2004, n. 16) que

tratam acerca da temática do cristianismo.

À primeira vista, a diagramação da capa da História Viva parece como a de grandes

revistas colocadas no mercado: uma manchete, que podemos considerar como a “Matéria de

Capa” e algumas menções menores a outras matérias, entretanto, ao ler a revista percebemos que

a proposta não é fazer um relato jornalístico dos fatos históricos, mas sim dar um caráter histórico

aos fatos.

História Viva pode ser considerada a edição brasileira da revista francesa História

principalmente pelo fato de reproduzir na Edição Brasileira, artigos publicados na Revista

francesa. Segundo o site da edição francesa o objetivo é tratar a História como sendo um

instrumento para entender os desafios do presente

Segundo o site da edição brasileira (http://www2.uol.com.br/historiaviva/) a tiragem da

Revista é de 70.000 (setenta mil exemplares) e é editada pela Duetto Editorial que, segundo o site

“é resultado da associação de duas importantes editoras brasileiras, a Ediouro Publicações, com

sede no Rio de Janeiro e a Editora Segmento, com sede em São Paulo. Ela é a materialização de

uma estratégia comum a ambas editoras: entrar vigorosamente no mercado de revistas destinadas

ao leitor final. Para isso, ela conta com o suporte, experiência e estrutura das suas acionistas, que

conhecem em profundidade o mercado editorial brasileiro.”


Menor que “Nossa História” no que se refere ao número de páginas e ao tamanho das

matérias, “Aventuras na História” é um conteúdo a parte da Revista “Super Interessante”, ou seja

é um ramo da revista, dedicado exclusivamente a trazer questões sobre História

Pela publicidade, percebemos que há poucos anúncios, sendo que os existentes, resumem-

se apenas a divulgar outros produtos do Editorial da Revista: “Os 10 maiores Ditadores”,

“Grandes Guerras” e também os produtos do Grupo Abril, que é a Editora da “Super

Interessante”. Ao contrário da “História Viva”, não possui publicidade que explicita a que

público pretende se destinar. Parece estar ancorada no público da “Super Interessante” que tem

interesse por História.

Segundo o site (http://www.abril.com.br) A Editora Abril “é um dos maiores e mais

influentes grupos de comunicação da América Latina, com uma receita líquida de R$ 2,1 bilhões

em 2004. Publica mais de 344 títulos (90 regulares e 254 edições one shots e especiais) e é líder

nos segmentos em que opera. Suas publicações têm uma circulação de 178 milhões de

exemplares, em um universo de 26 milhões de leitores. Sete das dez revistas mais lidas do país

são da Abril, sendo que Veja é a quarta maior revista semanal de informação do mundo e a maior

fora dos Estados Unidos. A Abril também detém a liderança do mercado brasileiro de livros

escolares com as editoras Ática e Scipione, que, em conjunto, publicam 3.736 títulos e produzem

56 milhões de livros por ano.” Ou seja mediante essa popularidade percebemos que “Aventuras

na História” é destinada ao público em geral, não necessariamente educadores em história, é um

produto com uma linguagem simples, fácil de entender e voltada ao grande público.

A matéria “O Triunfo da Cruz”, matéria de capa da Revista Aventuras da História n.16

(Dezembro de 2004) ao contrário da análoga em “Nossa História” é composta somente por um

texto com uma cronologia da trajetória do Cristianismo até o ano de 2004. A matéria é escrita por

Yuri Vasconcelos, jornalista, portanto, num primeiro momento, podemos esperar uma matéria
com um enfoque muito mais jornalístico do que histórico, ou seja, o fato histórico descrito sem

uma produção historiográfica e sem embasamento em documentação.

Análise historiográfica do artigo “O triunfo da cruz”


Revista Aventuras na História

O jornalista Yuri Vasconcelos, autor da matéria “O triunfo da cruz” começa a tratar do


tema da expansão do cristianismo a partir do segundo parágrafo da matéria. Em determinado
momento de sua introdução ele deixa evidente seu objetivo na análise do tema: quer mostrar
como se processou o crescimento da religião cristã, bem como seus seguidores, não pela
explicação da perspectiva mística, divinizadora, mas por fatos históricos. Resta saber quais serão
os métodos por ele aplicados.
Para explicar o fenômeno da expansão do cristianismo, o autor recorre a um breve relato
dos primeiros passos dos apóstolos rumo à difusão da nova religião. Utilizou-se do argumento de
um professor de ciências da religião da faculdade Metodista de São Paulo, para falar do
sincretismo religioso e da criação de um mito na imaginação das pessoas sobre os fatos ocorridos
com Jesus.
Para afirmar que a mensagem cristã sobreviveu em Jerusalém entre os judeus requereria,
no mínimo, talvez, algumas perguntas chaves para o entendimento daquele momento histórico,
portanto, dotado de uma espacialidade e temporalidade específica. Talvez se perguntar como isso
pôde ter sido possível, dado o fato que embora fosse uma dissidência surgida no seio do
judaísmo, foi rejeitada pelas elites religiosas e sua aceitação entre os poucos demandaria um
esforço enorme e ao mesmo tempo corajoso destes primeiros cristãos. Principalmente no
convencimento da figura divina de Jesus, coisa que o autor da matéria não menciona. Entretanto,
nota-se que não foi preocupação do jornalista Yuri Vasconcelos dispor-se de tais reflexões, sua
explicação a tal fenômeno, é descrita em pouquíssimas linhas:
“A mensagem sobreviveu em Jerusalém entre judeus e não há indícios sobre atos de
perseguição aos cristãos por parte dos romanos ou das autoridades judaicas”.
Saltos gigantescos no tempo histórico são uma constância no desenvolvimento do tema.
Simplismos aplicados a questões extremamente complexas constituem outras falhas cometidas
durante sua argumentação. O jornalista cita a destruição de Jerusalém entre os anos de 1966 e
1970 da era cristã e conecta a este fato à sorte do cristianismo como se fosse a única e miraculosa
razão da sobrevivência desta religião. Descreveu assim:
“(...) para sorte do cristianismo, quando isso aconteceu a maioria dos cristãos não
estava mais lá”.
A própria forma de linguagem empregada por vezes parece dar um tom meio infanto-
juvenil. Expressões do tipo nadinha, a pergunta: Não parece muito, não é verdade? referindo-se a
quantidade de cristãos seguidores no final do primeiro século. Analisando como Yuri
Vasconcelos faz a abordagem deste tema, é possível perceber sua visão ocidentalizada do mundo
ao afirmar que:
“Mas os cristãos haviam sobrevivido e, o mais importante para a nossa história, chegado
ao centro do mundo. Roma”.
Talvez se possa compreender quais são suas concepções do processo histórico a que se
propôs trabalhar no tema escolhido. Usa a linha cronológica e explica a ocidentalização do
mundo através do cristianismo. Percebe-se claramente que a única base de apoio no discorrer do
tema que o jornalista Yuri Vasconcelos lançou mão restringiu-se a declarações de pastores e
padres teólogos e professores de universidades. Não há citação de nenhuma obra e nem
documento de época, dando um caráter duvidoso ao texto que nos faz suspeitar ter sido
construído somente de entrevistas e uma cronologia informativa muito básica.
Ao destacar a organização da igreja cristã como um dos fatores mais importantes para
explicar a sobrevivência do cristianismo no século V, o autor parece conduzir o leitor a uma linha
lógica de pensamento de um certo “heroísmo” da continuidade cristã, ressaltando o aspecto
desbravador desta igreja como a responsável por tal façanha.
Nas várias situações de risco, citadas no texto, que se colocaram como perigos à
sobrevivência da religião cristã, o autor privilegia a ação dessa igreja atribuindo-lhe qualidades
que a fizeram triunfar. Pode estar implícito neste raciocínio a idéia de que quando a igreja está
preste a sucumbir, algo fantástico sempre acontece e a “religião” (a igreja) resiste às barreiras e
prossegue. Exemplo disto é o trecho: “Mais uma vez, o cristianismo soube se adaptar aos novos
tempos”.
No decorrer do texto, o autor acaba cometendo um erro ao cair num determinado vício,
próprio de quem desconsidera conceitos básicos de análise de um determinado tempo: o
anacronismo. Evidente que o apontamento das falhas no texto da revista em questão, é aqui
tratada pela perspectiva do historiador em seu trabalho investigativo que leva em consideração o
respeito pela temporalidade das palavras e seus sentidos.
Em decorrência deste sistema teórico metodológico peculiar ao historiador, é inevitável
não perceber as palavras fora de lugar e tempo contidas no texto. Ao afirmar que o cristianismo
está intimamente ligado à formação dos Estados nacionais, o autor não respeita períodos e
contextos, onde não é possível falar em nação e muito menos em nacionalidade. Como por
exemplo, no período em que predominou o sistema feudal em determinadas áreas da Europa,
onde a possível identidade comum fosse ser cristã, além de citar classe média se referindo à
nascente burguesia. “A maioria das religiões daquela época era ligada à etnia, à
nacionalidade”, se referindo do século IV ao XVI.
O autor deixa transparecer sua visão de determinados fatos ao declarar o seguinte termo:
“Mas neste novo mundo que nascia haveria espaço para católicos e protestantes. Os europeus
haviam chegado à América e, com isso, mais um contingente enorme de almas pagãs estava
pronto para ser conquistado”, comprando a idéia eurocêntrica de que a história nas Américas só
passou a ter sentido com a chegada dos europeus.
Parece querer passar uma espécie de idéia harmonizadora do processo histórico. Referir-
se às populações indígenas como almas pagãs seria como concordar que elas precisassem ser
evangelizadas. Nota-se uma certa parcialidade na compreensão do jornalista, ao passo que é
sabido, ser a neutralidade componente que faz parte do exercício de sua atividade.
Ao mencionar o iluminismo como corrente filosófica que priorizava o ser humano e o uso
da razão, o autor cita o filósofo Voltaire e uma única frase sua onde chama o cristianismo de
“coisa infame”. Depois resume toda a complexa relação dos iluministas com a igreja Católica (e
não com o cristianismo em si como transmite o autor) afirmando que “a preocupação básica do
homem não era a vida futura, como pregava a religião, mas a satisfação neste mundo”. Fica um
tanto implícito a vontade de reduzir e quem sabe descaracterizar, o que foi na profundidade o
iluminismo e seus desdobramentos, posto que não foi um processo homogêneo e muito menos
monolítico.
Por vezes, já no final do texto, o autor coloca o protestantismo como pertencente a esta
igreja que cresce e se espalha. Contudo, ele não deixa claro quais são as igrejas envolvidas em
determinados processos, no que as distinções perdem-se à medida que ele vai generalizando o
tema cristianismo. Já no último parágrafo, uma brevíssima citação ao fenômeno do
pentecostalismo surgido nos Estados Unidos e a conclusão do autor Yuri Vasconcelos sobre o
tema “o triunfo da cruz”.
Ele finalizará seu artigo retomando a idéia do esforço da igreja Católica em modernizar-se
em 1960 no Concílio Vaticano II, e os desafios da igreja frente a temas polêmicos na sociedade
como aborto, homossexualismo, crescimento da fé islâmica, etc. Concluiu-se que o autor fechou
seu tema falando exclusivamente da trajetória e da atual situação da igreja Católica.
Algumas considerações finais fazem-se necessárias quanto ao propósito metodológico da
produção da matéria de capa da revista Aventuras na História, edição16, com o título “O triunfo
da Cruz”, feita pelo jornalista Yuri Vasconcelos. Por se tratar de um tema bastante amplo como a
expansão do cristianismo, não foi mencionada na matéria esta expansão ao Oriente. Deveria ter
sido abrangido na pesquisa do jornalista o cristianismo no Oriente, sobre a igreja cristã Ortodoxa,
que somente foi citada no final do texto como alvo do papa João Paulo II em suas missões de
reaproximação. Pois a proposta da capa da revista e do tema foi explicar a expansão do
cristianismo como um todo e não somente do cristianismo Católico e Evangélico.
Segundo pesquisa feita sobre o autor Yuri Vasconcelos, responsável pela matéria,
descobriu-se que o mesmo é jornalista, mas não é especialista em História das religiões. Ele
produz matérias de outras naturezas não sendo especialista em cristianismo.
Descobriu-se que ele trabalha com vários temas, cobrindo desde reportagens sobre
turismo até pesquisas sobre clonagem. Talvez isso explique a ausência de uma bibliografia básica
que desse conta do recorte histórico feito, da falta de documentos escritos ou iconográficos que
pudessem sustentar suas afirmações.
Notou-se também que, curiosamente a indicação de leitura deixada no campo “saiba
mais”, são exclusivamente de editoras cristãs que publicam somente textos cristãos.
Contraditoriamente ao que nos foi apresentado na introdução da matéria, o autor quis
mostrar-se imparcial na análise do tema, contudo, acabou descartando uma quantidade muito
grande de obras seculares sobre o assunto, deixando certas dúvidas quanto sua opção e
neutralidade no tema desenvolvido.
Enfim, considerando todas as limitações do autor na apresentação de seu texto, constata-
se que o texto não foi escrito para uma comunidade acadêmica muito menos para eclesiásticos,
buscou-se um outro tipo de público, não apenas católico ou evangélico propriamente, quem sabe
um outro segmento descoberto para este tipo leitura simples e superficial, mas que se demonstra
ser promissor num novo mercado editorial.

Análise historiográfica do artigo “Arautos da nova fé”


Revista História Viva

“Arautos da nova fé”, na verdade é uma seleção de seis textos escritos por autores
diferentes que tratam do período inicial do cristianismo (da morte de Cristo até o século IV),
focando em especial o extraordinário papel missionário dos primeiros apóstolos.
O artigo se inicia com “Pedro, o primeiro líder missionário” de Aimé Savard, que procura
descrever a participação de Pedro no cristianismo nascente em Jerusalém nas primeiras décadas
após a morte de Jesus e o processo de emancipação da nova religião do judaísmo.
O segundo, “Marcos, os passos do nazareno” de Elian Cuvillier, trata da identificação do
autor do primeiro evangelho abordando também as controvérsias existentes sobre a vida de
Marcos, provável escritor desta primeira crônica sobre a vida de Jesus.
“Paulo, a humanização de Deus” também de Cuvillier, versa sobre a trajetória do judeu
Saulo de Tarso (posteriormente conhecido como Paulo) e sua missão desempenhada para a
expansão, a unidade e a fundamentação teórica do cristianismo.
O texto de Étienne Tocmé, “A vida em branca nuvem”, desenvolve as principais
características das discretas, mais fervorosas comunidades cristãs a partir do ano 100 quando já
estão emancipadas do judaísmo, evidenciando inclusive os sérios debates sobre as opiniões
dissidentes.
“Andarilhos do mediterrâneo” de Jacques-Noël Pérès, aborda a expansão e a
consolidação do cristianismo durante os primeiros séculos na região do mediterrâneo,
sublinhando as questões sobre os primeiros indícios da nova religião em Roma, na Espanha, no
Norte da África e na Grécia. Mais uma vez Paulo é colocado em extrema relevância.
Por fim, Jean-Marc Prieur no “O orgulho do martírio” defende que se criou neste período
inicial uma teologia e espiritualidade do martírio que foi de fundamental importância para
expandir e fortalecer a fé cristã.
Os cinco autores são acadêmicos (com exceção de Savard que apesar de ser um estudioso
de história das religiões é jornalista, antigo editor chefe da revista La Vie), franceses, protestantes
e especializados, ou pelo menos com grande interesse, pelo período inicial do cristianismo. Isto
justifica uma certa convergência na metodologia, na linguagem e no estilo dos autores.
Cuvillier é escritor, teólogo e professor titular da cadeira de Novo Testamento no Instituto
Protestante de Teologia da Faculdade de Montpellier, sua obra sobre a teologia da cruz no
evangelho de Marcos é inovadora e de grande influência.
Trocmé é professor emérito da Universidade de Estrasburgo e contribuiu muito para a
teologia protestante e católica com artigos (publicados inclusive pela editora católica CERF),
comentários da bíblia, e seus livros, dos quais destaca-se “O início da historiografia Cristã e a
História do Cristianismo nascente”.
O pastor luterano Pérès é professor de teologia especializado em patrística e sua pesquisa
é voltada principalmente para a literatura apócrifa, de fato ele é o que mais usa este tipo de fonte
em seu artigo, como por exemplo, quando ele cita alusões de Clemente Romano (95) e de
Jerônimo (séc IV).
Prieur é professor de História da Antiguidade Cristã no Instituto de Teologia Protestante
da Universidade Marc-Bloch, e suas áreas de pesquisa são: apócrifos cristãos, práticas eclesiais,
doutrinas, historiografia da antiguidade cristã.
Além destes cinco autores há a contribuição de Jean-François Zorn com um box sobre “A
presença (tardia) na África” do cristianismo. É pastor da Igreja reformada da França e
diferentemente dos demais, ele é professor de História do cristianismo na época contemporânea.
Da mesma forma que noventa por cento das capas da História Viva relaciona-se com o
que está sendo divulgado na mídia, este artigo de capa sobre o cristianismo saiu na época do
lançamento do filme Lutero. Além disto, é um tema extremamente explorado no Brasil,
justamente por ser o país com maior população cristã do mundo.
O tema das origens do cristianismo vem ao encontro daquilo que um leitor comum espera
de uma revista sobre História, por estar introjetado na mentalidade da sociedade que História
limita-se à história retrospectiva. Ou seja, nesta perspectiva, a função do historiador é definir
quando determinado fenômeno, pessoa, período, religião teve início e como, de que e de quem
surgiu.
Os artigos surpreendem não trazendo somente uma história narrativa retrospectiva, mas,
fazendo história documental como no artigo sobre o evangelho de Marcos e com a enumeração
dos documentos que marcaram o início do cristianismo por Pérès, história da expansão
missionária principalmente com Pérès novamente e com o artigo sobre Paulo, história social e
confessional no artigo de Trocmé, em especial quando ele cita a queda da transponibilidade das
barreiras sociais nas comunidades cristãs, e até uma pequena história de períodos com Savard que
partindo do conflito com o judaísmo definiu os primeiros anos do cristianismo como o período
idílico, seguido pelo do comando de Pedro, passando para o comando de Tiago que mantiveram
as práticas obrigatórias judaicas até 62 quando a Igreja viria a ser cada vez mais paulina. Tudo
isto, segundo o autor, enquadra-se no período de associação do cristianismo com o judaísmo, que
termina em 70 quando aquele passa a vigorar definitivamente emancipado deste.
A revista “História Viva” é que seleciona, diagrama, ilustra, divulga e publica o artigo,
apesar dos textos inicialmente serem escritos para a revista francesa “Historia” editada pelas
Publicações Tallander (segundo o site da edição francesa o objetivo dela é tratar a História como
sendo um instrumento para entender o presente).
A editora da versão brasileira, Ibañez, define claramente no editorial seu objetivo com
este artigo, que é o de inovar este tema tão explorado, principalmente no que se refere aos
martírios dos crentes, mudando o foco para o da propagação dos ensinamentos de Jesus levados a
cabo primeiramente somente com a palavra dos missionários.
É verdade, todavia, que ela decidiu não deixar de fora o tema do martírio com o texto de
Prieur que constata uma mitização e adoração destas mortes decorrentes de perseguições apenas
esporádicas e localizadas quase como se fosse uma estratégia para fortalecer e expandir a nova fé.
Desta forma, este autor toma a posição contrária dos defensores da intervenção divina por meio
da fé na história, já que, poder-se-ia creditar às milhares conversões o poder da graça divina e não
somente a exaltação e a espiritualização do martírio.
De modo geral o artigo é escrito mais para um leitor não possuidor de grandes
conhecimentos da bíblia, porém, com um mínimo de informação sobre História Antiga Ocidental
e que se interesse por história, especificamente, história do cristianismo, do que uma pessoa
interessada em religião, teologia e espiritualidade. Isto porque a ênfase nos artigos é muito mais
sócio-político-missionária do que confessional-dogmática.
Podemos incluir no rol dos interessados por essa Revista, os profissionais de educação na
área de História. Uma boa maneira de perceber isso é verificando os anúncios publicitários.
Os anúncios que constam na página posterior à capa e na contracapa são, respectivamente,
do 34º Concurso Internacional de Redação de Cartas para Jovens – financiado pelos Correios e
Ministério da Comunicação – e da Fundação Banco do Brasil. No primeiro, percebe-se o apelo
que é feito aos educadores para que incentivem seus alunos a participar do concurso. No segundo,
há uma propaganda dos projetos sociais da Fundação do Banco do Brasil voltados para educação.
O que torna estes trabalhos de muito valor para qualquer leitor é a fidelidade aos
documentos históricos da época e a forma pedagógica e simples com que são expostos. Isto se
demonstra na constante referência aos documentos, inclusive com longas citações (como a
primeira pregação de Pedro) e com anexos de alguns trechos (como as passagens cinco e seis da
carta a Diogneto); e nas definições de termos, relativamente conhecidos por leitores da bíblia
(como fariseu e saduceu).
Cada autor trabalha com um tema diferente e possui posicionamentos e estilos diversos,
porém todos os textos tendem claramente a ser mais analítico que descritivo. A preocupação
destes autores evidentemente não é transmitir ao leitor o que de fato ocorreu nos primeiros anos
do cristianismo, mas levantar e discutir os principais debates sobre a época enfatizando a
mentalidade de então e os efeitos do cristianismo naquela cultura.
São de forma geral temas subjetivos, e por isso naturalmente não descritivos, exigindo
análises que fazem transparecer a opinião e a seletividade interpretativa (no que se refere aos
documentos, ao tema, e ao enfoque) dos autores.
O artigo está inserido numa revista não científica e, por isso, inscritos dentro de uma
lógica jornalística, com títulos chamativos, que despertam curiosidade e subtítulos conclusivos,
simplistas e tendenciosos, muitas vezes discordantes com a posição e o estilo do autor; com uma
clara preocupação factual ignorando a possibilidade de aprofundar e expandir o tema; com
quadros explicativos visando fazer a ligação do tema com o presente (de forma também a
justificar a utilização daquele espaço da revista pelo tema e não por outro) e ilustrando o artigo
com informações extras que não necessariamente enriquece a discussão trazida pelo autor,
inclusive porque são em grande parte pouco relacionadas com o tópico desenvolvido; e com
figuras inseridas de forma bastante aleatórias, possuindo um valor ilustrativo apenas, apesar da
legenda com a fonte e a autoria contrariarem a praxe jornalística.
Por outro lado, o conteúdo dos textos em si é mais acadêmico do que jornalístico, pois,
busca construir teses, “Documentos antigos de origem cristã mostram que houve uma teologia e
uma espiritualidade do martírio”.(Prieur), “Pouco se sabe desse discípulo. Tudo indica que era
judeu” (Cuvillier), “se os discípulos de Jesus se distinguiam, não era por rejeitar o judaísmo, e
sim por retomar suas origens” (Savard). Durante todo este texto, Savard procura convencer o
leitor da profunda ligação entre estas duas religiões. Os particularismos dos cristãos causavam
tensões com a elite conservadora judaica, o que explicaria a permanência da cultura do povo
judeu nas primeiras comunidades cristãs que, obviamente, não se resumia apenas a esta elite.
Além disso, os autores tomam partidos que indicam a sua orientação teórica, “Tantos indícios e
testemunhos fazem com que seja aceita a tradição que diz ter sido em Roma que Paulo teve a
cabeça cortada e que Pedro foi crucificado”(Pérès). “Recusavam a tentação do rigorismo, que
fecharia as portas e obrigaria cada um a se voltar para si mesmo, impedindo-o assim de ver os
outros, de viver com os outros” (Pérès), “O aspecto positivo é que eles eram de uma lealdade
absoluta com relação às autoridades políticas e honestos nos negócios” (Trocmé, deixando
explícito que o forte moralismo relatado anteriormente seria o aspecto negativo). “a lenda
contamina a história” (Cuvillier). Cuvillier, de fato, demonstra um grande zelo ao Novo
Testamento considerando-o como a única fonte plenamente confiável, que dá à lenda uma
“fundamentação histórica sólida”, e, portanto, para ele, as demais fontes devem ser avaliadas
“com cuidado”.
Apesar destas opiniões serem compartilhadas e até mesmo apoiadas por muitos outros
historiadores, o aspecto mais evidente presente nos cinco autores é a análise de documentos
históricos, como livros apócrifos (atos dos Mártires, carta a Diogneto), documentos da época
(Manuscritos do mar morto, textos de Clemente de Alexandria, de Tertuliano, sepultura do bispo
Frutuoso de Tarragona, Vida de Cláudio escrito por Suetônio) e primordialmente o Novo
Testamento, sem utilizar, em nenhum momento, comentários ou interpretações de outros
historiadores (com exceção feita à menção por Cuvillier de um exegeta do início do século XX
para reforçar a sua interpretação da natureza do evangelho de Marcos).
Considerações finais

Embora Yuri Vasconcelos, na revista “Aventuras na História”, pretenda expor o processo


de crescimento do cristianismo, ao longo do artigo, percebemos que seu objetivo não foi
alcançado já que os métodos por ele aplicados e o conteúdo raso e tendencioso levou a matéria a
uma outra direção.
Yuri Vasconcelos baseou seu artigo numa cronologia básica e em argumentos de padres,
pastores e professores, demonstrativo de que possivelmente não houve uma reflexão e pesquisa
própria, ou seja, não houve qualquer fundamentação a partir de documentos ou obras
historiográficas.
Perpassou a história do cristianismo com enormes saltos e tratou sobre questões difíceis
de forma acabada - apresentando respostas ao leitor interessado pelo assunto - e também de modo
supérfluo já que, por exemplo, fez comparações anacrônicas conforme foi exposto durante a
análise da revista.
Não obstante, os escritores do artigo da Revista História Viva, tratam da origem do
cristianismo com um foco mais sério e centrado. Por serem acadêmicos (com exceção de um
deles), discorrem sobre seus temas de modo mais profundo e consistente que Yuri Vasconcelos, e
o método que utilizam corresponde ao objetivo por eles lançado em seus textos, o que configura
outro contraponto a “Aventuras na História”.
Enquanto na primeira revista, há ausência de documentos que pudessem justificar as
afirmações de Yuri Vasconcelos, na segunda revista eles são parte integrante do artigo e
dialogam com as idéias expostas pelos especialistas.
Enfim, enquanto o artigo analisado de “Aventuras na história” se pauta em
generalizações, superficialidade, clichês, parcialidade e repostas acerca do cristianismo, o da
“História Viva” é constituído por especificidades, ou seja, utiliza-se do recurso do corte temporal
e espacial para o desenvolvimento da matéria, traz à tona novas questões devido à profundidade
do tema, não se ocupam do “lugar comum”, ou seja, suas opiniões são fortemente
fundamentadas, imparciais e ao invés de soluções ao assunto tratado, indicam possibilidades de
problematização sobre o cristianismo.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Teoria da História I – Prof.ª Dr.ª Raquel Glezer

TRABALHO
PRODUÇÃO CULTURAL – DIVULGAÇÃO HISTÓRICA
“Aventuras na História:
de filhote da Super Interessante à independência”

Roberta Julien Miranda nº 5165977


Sandra Stiegele Mosti nº 4931830

SÃO PAULO/SP
Junho/2005
1

SUMÁRIO

Introdução: Um mercado até então pouco explorado 02


Ficha descritiva 03
Ficha temática 09
Conclusão 18
Agradecimentos 19
Bibliografia 20
2

Introdução: Um mercado até então pouco explorado

O boom de lançamentos editoriais de publicações culturais de divulgação histórica


iniciado no segundo semestre de 2003, foi uma grata surpresa para o público interessado em
História. Num país onde se investe tão pouco em educação e cultura, acreditamos que toda e
qualquer tentativa de resgate de memória e divulgação de conhecimento é válida, ainda mais
neste momento tão dinâmico, onde as inovações tecnológicas ficam obsoletas em poucos
meses.

Dentre as revistas lançadas neste período, escolhemos a Aventuras na História por


uma série de motivos destacando o seu pioneirismo, a tradição da revista à qual era vinculada
(Super Interessante), alcance mercadológico, poder de atração sobre o público jovem e sua
capacidade de levar a História até para quem não gosta de estudá-la na escola.

Para efetuar nossa análise, escolhemos a comparação entre os três primeiros números
e um atual. A importância das três primeiras edições (julho, agosto e novembro/2003) é
justificada por acreditarmos ser este um “prazo de experiência” aceitável para consolidar-se
no mercado ou ser tirada dele, já que a produção e circulação de 44.000 exemplares por mês
de um periódico sem consumidores é algo inviável financeiramente. O relativo sucesso da
revista é comprovado por sua continuidade no mercado editorial e ampliação de sua tiragem
mensal para 80.000 exemplares. Daí nosso interesse por avaliá-la através de uma edição
recente (nº 20 – abril/2005) para verificar sua adaptação ao público leitor.

As edições selecionadas foram analisadas quanto a sua estrutura e conteúdo, bem


como informações complementares e dúvidas sobre a publicação foram esclarecidas
juntamente com o editor chefe da Aventuras na História.
3

Ficha descritiva

Apresentação da revista

Quadro 1: quadro técnico da revista


Nome da publicação: Aventuras na História

Editora: Editora Abril S/A.

Número de páginas: 66 (sessenta e seis)

Tiragem mensal atual: 80.000 (oitenta mil) exemplares

Organização interna Escrituras (reportagens): Alfarrábios (seções):

(adotada atualmente, Capa Info-história


conforme edição nº 20): Foto-história Máquina do tempo:

Personagens Notas Arqueológicas

Grandes momentos Abril na história (segue o mês da


data da publicação)
Terra brasilis
Linha do Tempo
Obra-prima
Museus do Mundo

Como fazíamos sem

Dito e feito

História maluca

Dúvida cruel

Tomos e telas:

Clássico

Biblioteca básica

Em cartaz

História online

Aventuras virtuais

Exposições

Páginas Amareladas

Sátira
4

A revista Aventuras na História é uma publicação jovem em dois sentidos: primeiro


devido ao seu ainda curto tempo de existência no mercado editorial (a primeira edição data de
julho de 2003) segundo, por seu público alvo ser constituído principalmente por estudantes de
ensino médio e universitário.

Como o seu próprio nome já diz, a revista trata de temas históricos de interesse geral,
cuja abordagem jornalística encontra grande aceitação. A idéia surgiu após um levantamento
entre as dez edições mais vendidas da revista Super Interessante, das quais quatro números
tinham matérias históricas nas capas. A partir desta informação, percebeu-se uma carência do
mercado por uma publicação do gênero. A primeira edição foi lançada com um perfil de
especial da Super Interessante, sem nenhum investimento publicitário, contando apenas com
a divulgação na própria revista “mãe” e sua exposição nas bancas. Mesmo assim, havia um
forte indicativo de que o projeto viraria revista. Atualmente, a publicação não está mais
vinculada à Super Interessante por questões de ordem administrativa (desde janeiro/2005).
Curiosidade: apesar da revista Super Interessante ter reduzido seu conteúdo com o
lançamento dos “filhotes” Aventuras na História e Mundo Estranho, sua tiragem aumentou,
permanecendo como a segunda maior publicação do Grupo Abril (sua tiragem mensal é de
477.000 exemplares, sendo 385.000 assinantes e 92.000 em bancas).

Logo após o seu lançamento, surgiram outras publicações como a História Viva e a
Nossa História, o que, segundo a revista, surpreendeu a equipe da Aventuras na História, que
desconhecia tais intenções de lançamento para aquele mesmo semestre. Apesar da nascente
concorrência, a revista firmou-se no mercado editorial: sua tiragem mensal inicial de 50.000
exemplares dos quatro primeiros números subiu para os 80.000 exemplares atuais, dos quais
cerca de 36.000 possuem sua venda antecipada através de assinaturas. Suas vendas em bancas
concentram-se nas grandes capitais e regiões com maiores graus de instrução, urbanização e
poder aquisitivo, fato que reflete a segregação cultural e educacional presente em nosso país.

Atualmente, a revista é composta pela capa e contracapa em papel especial


envernizado e miolo de 66 páginas coloridas. O papel mais fino utilizado nas matérias até o
final do ano passado, foi substituído por um de melhor qualidade, agregando valor
documental através da redução do risco de perecibilidade, bem como estimulando e/ou
convidando antigos e novos colecionadores.
5

Viabilidade comercial da Aventuras na História

Quanto à estratégia de marketing, a revista continua limitando a sua divulgação à


exposição do produto nas bancas e ao anúncio nas publicações dirigidas ao mesmo perfil de
público do grupo Abril. A Aventuras na História tem seu espaço publicitário comercializado
pela Editora Abril no valor de R$ 12.800,00 a página simples (preço de tabela). Sua
circulação, auditada pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação – órgão de auditoria
independente do controle das editoras) é de 44.000 exemplares (55% da tiragem, que é de
80.000 exemplares). Isso dá a revista um custo por mil anúncios (CPM unidade avaliada pelo
mercado para compra de espaço publicitário) de R$ 343,75. Em comparação à Super
Interessante, sua “revista mãe”, Aventuras na História está bastante desfavorecida. A Super
Interessante comercializa a página simples a R$ 65.300,00 e tem circulação de 385.000
exemplares (tiragem de 477.000), com CPM de R$ 169,61. Não surpreende, portanto, que a
Super Interessante seja um sucesso comercial enquanto Aventuras na História não consegue
comercializar suas páginas. De público restrito, impressão de qualidade e pouco sucesso
comercial (em comparação com outras publicações do Grupo Abril), fica claro que Aventuras
na História é um projeto caro para sua editora, na medida em que, não só seus anúncios têm
que ser mais caros como, na ausência quase completa deles, a publicação tem que se sustentar
com seu valor de venda - tanto a Super Interessante quanto a Aventuras na História têm valor
de venda de R$ 8,95, o exemplar avulso; no caso de assinatura de um ano, a editora oferece
10% de desconto para Aventuras na História e 5% para a Super Interessante.

Conteúdo

Em seus quase dois anos de existência, a revista ajustou seu conteúdo às exigências
do seu público, ocorrendo o processo de criação, extinção e ampliação das partes que
compõem a sua organização interna. A publicação divide-se basicamente em dois perfis de
conteúdos: as Escrituras que são as reportagens especiais do mês, de conteúdos mais densos e
geralmente destacadas na capa do exemplar, localizadas no centro de cada edição; e os
Alfarrábios compostos pelas seções que abrem e encerram cada número, trazendo conteúdos
de leitura rápida, leve e curiosa. O perfil de cada seção será traçado mais adiante por ocasião
da análise temática.

Quadro 2: Mudanças das Seções e Reportagens


6

Edição nº 20 Edição nº 1 Edição nº 2 Edição nº 3

Data da publicação Abril/2005 Julho/2003 Agosto/2003 Novembro/2005

Capa O grande Gêngis Khan Che Guevara Nostradamus


Xogum

Foto-história P. 20 P. 17 (dentro da seção P. 18 (dentro da seção P. 18 (dentro da seção


Máquina do tempo) Máquina do tempo) Máquina do tempo)

Personagens P. 34 P. 36 (ausente) (ausente)

Grandes momentos P. 40 P. 30 P. 48 P. 32

Terra brasilis P. 46 P. 54 P. 54 P. 54

Obra-prima P. 54 P. 60 P. 60 P. 60

Info-história P. 8 (não existia) (não existia) (não existia)

Máquina do tempo P. 10 – 20 P. 6-17 P. 6-19 P. 6-19

Notas P. 10 (não existia) (não existia) (não existia)


Arqueológicas

(mês) na história P. 14 P. 8 P. 9 P. 13

Linha do Tempo P. 14 P. 10 P. 13 P. 10

Museus do Mundo P. 16 P. 14 P. 14 P. 14

Como fazíamos sem P. 18 (não existia) (não existia) (não existia)

Dito e feito P. 19 P. 13 P. 17 P. 17

História maluca P. 19 (não existia) (não existia) (não existia)

Dúvida cruel P. 20 (não existia) (não existia) (não existia)

Tomos e telas P. 62-63 P. 64-65 P. 64-65 P. 64-65

Clássico P. 62 P. 64 P. 64 P. 64

Biblioteca básica P. 62 P. 64 (sob o título P. 65 (sob o título P. 65 (sob o título


Nossas sugestões) Lançamentos) Lançamentos)

Em cartaz P. 62 (não existia) (não existia) P. 65 (sob o título


Filmes)

História online P. 63 P. 64 P. 64 P. 64

Aventuras virtuais P. 63 (não existia) (não existia) (não existia)

Exposições P. 63 (não existia) (não existia) (não existia)


7

Páginas P. 64 (não existia) (não existia) (não existia)


Amareladas

Sátira P. 66 (não existia) (não existia) (não existia)

Reportagens e Enigmas, p. 18 Enigmas, p. 20 Enigmas, p. 26


Seções extintas (em
Civilizações, p. 24 Civilizações, p. 26 Civilizações, p. 44
relação à edição nº
20) Galeria, p. 42 Galeria, p. 42 Galeria, p. 44

História da ciência, p. Anais da ciência, p. 40 Anais da ciência, p. 38


48
Um dia na história, p. Um dia na história, p.
Um dia na história, p. 6 6
6
E se..., p. 8 E se..., p. 16
E se..., p. 8
Teste, p. 17 Teste, p. 17
Teste, p. 13
Você sabia?, p. 16 Você sabia?, p. 12
Você sabia?, p. 16
Papiro, p. 66 Papiro, p. 66
Papiro, p. 66

Mais Aventuras na História

Um forte recurso utilizado pela revista é o seu site na Internet. No endereço


www.aventurasnahistoria.com.br é possível, entre muitas coisas, entrar em contato com a
redação, enviar críticas e sugestões, acessar conteúdos da edição atual e de números
anteriores, ler trechos de livros resenhados, além de participar de promoções.

Mesmo com as dificuldades de comercialização do espaço publicitário na revista e


contrariando as expectativas de qualquer investimento a mais por parte da Editora Abril, a
Aventuras na História, independente do núcleo e da marca Super Interessante, deu origem a
uma série de novos produtos sob o caráter de publicações especiais:

⋅ A série Os 10 Maiores aborda a vida dos personagens mais importantes de cada tema.
Encontrava-se (até a conclusão do levantamento de informações para este trabalho -
abril/2005) na quinta edição cujo tema são Piratas (volumes anteriores: Ditadores,
Mulheres, Generais e Terroristas). Possui uma tiragem pequena e um alcance menor de
público, por envolver um maior grau de especificidade e detalhamento dos temas.
8

⋅ A Grandes Guerras é uma revista de 82 páginas, cujo enfoque são batalhas e guerras
históricas. Em breve a publicação será desvinculada da Aventuras na História, tornando-
se uma publicação sobre História militar.

⋅ Os DVDs temáticos são um produto de destaque, mas ainda atingem um público de maior
poder aquisitivo ou grau de interesse sobre os temas. Geralmente trazem documentários
produzidos por redes estrangeiras de televisão sobre grandes personagens e fatos
históricos.

⋅ A Série Dossiê Brasil é a mais nova publicação. Seu primeiro número trabalha a Ditadura
no Brasil no período 1964-1985, abordando temas correntes do regime militar, numa
tentativa de informar e conscientizar sobre um passado recente.

⋅ Está previsto o lançamento de uma coleção de fascículos nomeada Os 100 dias que
abalaram o mundo em 8 volumes, que posteriormente será editada em um único livro.
9

Ficha temática

A escolha dos temas

Por ser um veículo de comunicação voltado para um público não especializado, a


Aventuras na História trabalha a seleção do seu conteúdo em função do seu perfil consumidor
composto da seguinte maneira:

⋅ O perfil dos assinantes é formado por jovens e professores, mas a maior parte é de adultos
que disponibilizam a revista para suas famílias, na tentativa de motivar o interesse pela
História.

⋅ Nas bancas o perfil fica menos detalhado, mas atinge, geralmente, estudantes dos ensinos
médio e superior e demais pessoas interessadas em assuntos históricos.

⋅ Na Internet, cerca de 20% dos freqüentadores do site são professores de todos os níveis de
ensino.

Para a escolha da capa de cada exemplar, são considerados os seguintes critérios:


ineditismo do tema, desinteresse da concorrência especializada por um tema menos
consagrado mas nem por isso menos interessante, oportunidades de publicação
proporcionadas por efemérides, novas descobertas/teses sobre assuntos conhecidos, temas que
ganham exposição ao grande público através de filmes, documentários, livros, produções da
televisão entre outros. Também são considerados temas consagrados cujo interesse se
perpetua em meio aos eleitores, elaborando o que a redação chama de “mais do mesmo”.
Critérios idênticos são adotados para as demais matérias internas, porém em uma escala
menor de importância. A distribuição desses assuntos varia de acordo com a escolha da capa,
para evitar a repetição de informações e temas, mas isso não impede que um número seja
mais “contemporâneo”, “moderno”, “medieval” ou “antigo”.

As reportagens especiais do mês são tratadas no grupo entitulado Escrituras, que é


composto e trabalhado respeitando a seguinte divisão:

⋅ Capa: é a principal reportagem do mês e, conseqüentemente, a de maior conteúdo. Seu


tema pode variar conforme os critérios mencionados anteriormente.

⋅ Foto-história: a partir de uma imagem marcante é trabalhado, de maneira sintética, um


fato importante, respeitando a relevância da imagem sobre o texto.
10

⋅ Personagens: podem ser retratados personagens do passado, assim como entrevistadas


pessoas que vivenciaram/participaram de um fato ou momento histórico.

⋅ Grandes momentos: resgata eventos importantes que contribuíram para feitos históricos
ainda maiores, trazendo para o leitor fatos que muitas vezes apenas são citados nos livros
didáticos.

⋅ Terra brasilis: especialmente dedicada à História do Brasil, abordando tanto fatos


contemporâneos quanto dos séculos passados.

⋅ Obra-prima: espaço reservado para a História da Arte, independente de sua época de


produção ou forma de expressão, trabalhando democraticamente com grandes pintores,
escultores, escritores ou, até mesmo, o personagem dos quadrinhos Asterix.

Quadro 3: Principais reportagens dos número 1, 2, 3 e 20


Edição nº 20 Edição nº 1 Edição nº 2 Edição nº 3

Capa “O grande Xogum”, “Gêngis Khan, a “Camarada Ernesto”, “Nostradamus o


por Leandro Narloch fúria mongol”, por por José Alberto homen que enxegava
Isabelle Somma Gonçalves o futuro” por Sérgio
Gwercman

Foto-história “Carga humana”, (era seção integrante (era seção integrante (era seção integrante
por Isabelle Somma da Máquina do da Máquina do da Máquina do
Tempo) Tempo) Tempo)

Personagens “O ‘Schindler’ de (idem capa) (substituída pela (substituída pela


Saigon”, por Beto capa) capa)
Gomes

Grandes momentos “Revolução contra “A grande peste”, “Os três grandes”, “Japão o dia em que
revolução”, por José por Voltaire por Voltaire a ilha se abriu ao
Francisco Botelho Schilling Schilling mundo” por Isabelle
Somma

Terra brasilis “Tancredo, martírio “Brasil ancestral”, “Guerreiros de Alá “Onde nasceu o
e morte”, por Lira por Rui Dantas na Bahia”, por Brasil?”, por
Neto Reinaldo José Lopes Eduardo Bueno

Obra-prima “Asterix e os (era seção) “Sangue de irmãos”, “Cemitério de


gauleses”, por Cíntia por Beto Guimarães navios”, por Carla
Cristina da Silva Aranha
11

Reportagens Enigmas: “O Enigmas: “Marco Enigmas: “Jack, o


extintas: verdadeiro rei Polo foi à China”, estripador”, por
Artur”, por Giba por Isabelle Somma Leandro Narloch
Stam
Civilizações: “A jóia Civilizações: “O
Civilizações: dos Fenícios”, por Mahabharata”, por
“América profunda”, Pablo Villarrubia Shane L. Amaya
por Pablo Villarrubia Mauso
Galeria: “Mona
Mauso
Galeria: “Picasso X Lisa”, por Sérgio
Galeria: “Arte Matisse”, por Sérgio Miranda
abstrata, política Miranda
Anais da ciência:
concreta”, por
Anais da ciência: “Doutor Sinistro”,
Veronica Stigger
“Quem é o pai”, por por Moacyr Scliar
História da ciência: Giba Stam
“Invenções
perdidas”, por
Tatiana Bonumá

Os Alfarrábios, seções complementares que abrem e fecham os exemplares com


artigos menores e mais dinâmicos, atualmente dividem-se da seguinte maneira:

1. Info-história: traz informações descritivas sobre o cenário e as condições do desenrolar de


um fato histórico como, por exemplo, uma estratégia de resitência durante um confronto
numa batalha urbana.

2. Máquina do tempo – localizada no ínicio do exemplar e subdividida em:

⋅ Notas Arqueológicas: retrata um cenário ou uma construção de época e sua história.

⋅ Abril na história (segue o mês da data da publicação): é como um calendário mensal


que traz os principais fatos históricos do mês corrente da revista.

⋅ Linha do Tempo: traça a trajetória de fatos que contribuíram para um desfecho


histórico.

⋅ Museus do Mundo: propicia uma “visitinha” sem sair do lugar aos principais museus
do mundo, traçando o seu breve perfil.

⋅ Como fazíamos sem...: trata das pequenas invenções que mudaram hábitos,
apresentando um “antes e depois” de uma maneira curiosa.
12

⋅ Dito e feito: expõe as origens daquelas expressões cotidianas passadas de uma geração
para outra.

⋅ História maluca: traz curiosidades divertidas sobre a história.

⋅ Dúvida cruel: seção nova que propõe a investigação e o debate sobre dúvidas
históricas.

3. Tomos e telas – assim como os demais títulos a seguir, localiza-se mais ao final da revista
e está subdividida em:

⋅ Clássico: apresenta a resenha de um livro ou estudo de um tema clássico da


historiografia. Inclui a seção Acervo que resenha publicações mais recentes da
historiografia e de temas a ela relacionados.

⋅ Biblioteca básica: apresenta o perfil de uma especialista num tema sugerido e a sua
indicação de bibliografia para melhor compreendê-lo.

⋅ Em cartaz: divulga produções culturais ligadas a temas históricos.

⋅ História online: indica sites dedicados a pequenos e curiosos recortes históricos.

⋅ Aventuras virtuais: dá dicas de jogos para vídeo-games ambientados historicamente.

⋅ Exposições: agenda das principais mostras previstas para o mês nas principais cidades
do Brasil.

4. Páginas Amareladas: também entitulada como Entrevista com gente morta, é talvez a
seção mais polêmica da revista, já que tenta reconstituir a trajetória de uma personalidade
através de uma entrevista fictícia, formulada a partir de informações disponíveis nas
fontes.

5. Sátira: seção estreante que tenta fazer “piada com fundo histórico”.

Outras seções já passaram pela revista, como pôde ser percebido no Quadro 2, no
entanto vale a pena destacar a Papiro, extinta na edição de abril/2005, pois passava uma
imagem de “estar fazendo um favor aos historiadores”, já que era uma única página no final
da revista, cujo discurso distoava da abordagem empregada nas demais matérias. Ao invés
disso, o historiador a partir do número de maio/2005 estaria integrado aos conteúdos de
destaque da publicação como, por exemplo, um artigo complementando a matéria da capa
(vide exemplar de maio/2005 – capa sobre Adolf Hitler). Desta forma, busca-se dar maior
evidência ao profissional de História e ao seu trabalho, utilizando recursos para atrair ao
13

leitor. No entanto, verificamos, a título de curiosidade, o refeirdo exemplar e descobrimos que


o tal historiador é na verdade um professor de Psicologia Social da Universidade de Essen
(Alemanha), o que nos deixou desapontadas.

Curiosidade: perguntamos se a redação da Aventuras na História já havia pensado na


possibilidade de abrir uma seção para que os leitores pudessem enviar artigos com fotos e
documentos contando sobre sua participação ou de um parente em algum momento histórico e
a resposta recebida foi a de que há um grande projeto para, num futuro próximo, incentivar a
participação na memória do cidadão e coletiva. Por enquanto, a revista promove a divulgação
da recuperação de patrimônios históricos e coletivos feita pela iniciativa privada.

De uma maneira geral, percebemos que o perfil de reportagem do tipo dossiê (muito
utilizado pela História Viva, por exemplo) quase não é mais utilizado nas matérias. Foram
criadas novas seções com enfoques mais atraentes e os temas históricos sobre a vida privada e
o cotidiano ganharam maior freqüência e destaque.

Cada edição é “aberta” com um editorial sob o nome Manuscrito trazendo o convite
do editor (Celso Miranda) e sua equipe para a leitura do exemplar, estabelecendo o vínculo
entre a redação e o leitor, fato comprovado na seção Missivas, onde é registrada a ativa
participação do público através do envio de cartas e e-mails. O perfil da correspondência
recebida pela redação da revista ainda é o mesmo da ocasião do lançamento: manifestações de
satisfação de uma demanda por informações históricas, sugestões de matérias e crescente
interesse pela revista. É justamente esta participação dos leitores uma das melhores fontes de
pesquisa para traçar as estratégias jornalísticas adotadas, segundo o editor.

Como já dito anteriormente, a Aventuras na História possui um site na Internet, que


é mais um canal de interação com o público. Além dos atrativos dos conteúdos disponíveis,
também são feitas promoções para estimular o acesso, como o sorteio dos livros resenhados
com capítulos disponíveis para leitura online e camisetas. Os livros resenhados são escolhidos
pelos critérios de novidade (lançamentos editoriais), qualidade e reconhecimento das obras,
variedade dos assuntos e divulgação de obras clássicas. Livros considerados “ruins” não são
criticados por dois motivos: para não “desperdiçar” um espaço que poderia ter sido dedicado a
uma obra interessante, bem como a possibilidade do mesmo livro agradar leitores menos
preocupados com a qualidade da informação fornecida.
14

Ilustrações

Um dos maiores atrativos da Aventuras na História é o seu forte apelo visual, cheio
de cores, formas e imagens. Seja através de desenhos, mapas, fotos, reproduções de materiais
e documentos de época, ou mesmo um simples fundo de texto ilustrado em tom pastel, todas
as páginas ficam bem marcadas.

As ilustrações são escolhidas de acordo com os temas tratados e o discurso


jornalísitico empregado. Uma matéria sobre um assunto sério nem sempre comporta charges,
assim como desenhos podem ser utilizados para os temas anteriores à invenção da máquina
fotográfica. Ocorre um equilíbrio entre o bom senso/gosto e o poder de atração exercido sobre
o leitor. É importante lembrar que este tipo de abordagem gráfica agrada ao perfil do público
da revista, diferenciando-a das suas concorrentes.

Todas as ilustrações, fotos e imagens tem sua autoria e propriedade devidamente


creditadas. As fotos e imagens estão sempre acompanhadas pelo símbolo © de copyright com
a legenda correspondente ao lado da figura ou no rodapé da página, indicando a autorização
legal para a sua divulgação e publicação.

Bibliografia

Há uma preocupação, segundo o editor, em trabalhar com as melhores fontes, sejam


elas livros, historiadores e estudiosos sobre o tema discutido, ou sites da Internet, ferramenta
cada vez mais utilizada mundialmente, embora ainda encontre certa resistência quanto a sua
confiabilidade em meio aos pesquisadores brasileiros.

As matérias apresentam, quase sempre, uma sugestão de fontes selecionadas para os


leitores interessados em aprofundar suas informações sobre o tema abordado, mas estas
limitam-se a indicação de uns poucos livros e/ou sites, geralmente os mesmos utilizados no
processo de pesquisa e redação pelo jornalista responsável. Apesar de o editor defender que a
revista só utiliza as “melhores fontes” tendemos a desconfiar desta afirmação pois, enquanto
estudantes e historiadores, conhecemos uma quantidade muito maior de especialistas e obras
sobre determinados assuntos do que a pequena lista divulgada pela revista.
15

Aventuras na História X Filosofias e Teorias de História e Historiografia

A Aventuras na História é uma revista jovem feita para um público jovem. Não há
nenhuma pretensão educacional ou em tornar a revista um material didático complementar,
apesar de muitos professores escreverem para sua redação afirmando fazê-lo. O objetivo
principal da publicação é entreter e informar, atendendo uma demanda por informações
históricas de maneira a despertar o interesse pelos assuntos e motivar/orientar na busca pela
complementação desses conhecimentos.

Nesse sentido, não existem historiadores ou estagiários da área atuando na revista e


nem se cogita a possibilidade futura de contratação deste perfil profissional. Apesar de ser
comum encontrarmos estudantes e profissionais de jornalismo e direito nas classes do
Departamento de História da FFLCH-USP, não há nenhum caso com esse perfil na redação da
revista. O que ocorre eventualmente é de algum colaborador da revista possuir esta formação
ou especialização.

Ainda que não participe da redação dos artigos, há uma colaboração da comunidade
acadêmica de História. Ela é consultada através de suas obras e entrevistas concedidas como
fontes de pesquisa. A redação da revista lamentou que os historiadores brasileiros ignorem
muitas vezes os e-mails e telefonemas da imprensa, isolando-se em suas “ilhas de
conhecimento”, deixando de prestar um serviço à cultura do país. Mencionaram um
comportamento diferente dos profissionais do exterior, cuja resposta é recebida no dia
seguinte com grande interesse compartilhar informações. Interrogamos alguns professores do
nosso departamento de História sobre estas tentativas de contato, uns disseram jamais terem
sido procurados, outros que colaboraram com a Super Interessante, mas não se recordam
especificamente da Aventuras na História.

Os critérios jornalísticos de ética, responsabilidade e credibilidade da informação


são, segundo o editor, as diretrizes do trabalho na revista. Recentemente, a Aventuras na
História foi a vencedora do Prêmio Esso 2004 na categoria Jornalismo – Criação gráfica.

Por ser uma revista elaborada por jornalistas e “amantes não profissionais” da
História, a identificação do emprego de conceitos históricos na linguagem utilizada é menos
evidente. Mesmo assim é possível encontrar alguns conceitos, ainda que trabalhados de uma
maneira muito superficial, em matérias que valorizam certos acontecimentos (geralmente
confrontos) e personagens históricos. Outra maneira de perceber algum conceito histórico é
quando o jornalista usa como fonte de pesquisa a obra de algum historiador, permeando o seu
16

texto com a teoria utilizada pelo autor original. Alguns exemplos de matérias nas quais
podemos identificar conceitos históricos são:

⋅ “Camarada Ernesto” (Aventuras na História, edição 2, p. 32-39): como não poderia


ser diferente, a matéria deixa claro que o guerrilheiro é o “mocinho” da história,
caçado pelo capitalismo americano por lutar pelo socialismo. Nesta matéria mistura-se
o mito do herói nacional, no caso, do continente latino-americano, com a luta de
classes teorizada por Karl Marx.

⋅ “Quem é o pai?” (Aventuras na História, edição 2, p. 40-43): debatendo sobre quem


teria sido realmente o inventor do avião, se Santos Dumont ou os irmãos Wright, a
reportagem “puxa o peixe para o prato” brasileiro, assim como os americanos o fazem
com os irmãos Wright, no melhor estilo da história nacionalista que enaltece os heróis
e as conquistas do país, como nos livros didáticos.

⋅ “Guerreiros de Alá” (Aventuras na História, edição 2, p. 54-59): utilizando como


fonte de pesquisa o livro “Rebelião Escrava no Brasil – A História do levante dos
Malês, 1835” do historiador João José Reis, o texto deixa transparecer a construção do
argumento de Reis àqueles que já tiveram contato com a sua obra, adicionando à
matéria datas históricas oficiais sobre o tráfico e a escravidão no Brasil, assim como o
confronto de duas classes distintas: a dos senhores e a dos escravos oprimidos.

⋅ “Japão - o dia em que a ilha se abriu ao mundo” (Aventuras na História, edição 3, p.


32-37): o enfoque da matéria é o da versão ocidental para a história oriental,
consagrando a influência européia na elaboração da História.

⋅ “O Mahabharata” (Aventuras na História, edição 3, p. 44-49): uma das matérias mais


curiosas já publicadas, apresenta o mito da criação do Império Indiano em forma de
quadrinhos, tentando preservar o caráter filosófico histórico religioso do conteúdo,
como a expectativa messiânica pelo Krishna. Apesar do caráter divino, também
registra algo de laico ao mensionar a passagem do povo indiano para a “Idade de
Ouro” dos homens.

⋅ “Ieyasu Tokugawa, o destemido senhor da guerra” (Aventuras na História, edição 20,


p. 26-33): através do grande Xogum, é apresentado um importante episódio da história
nacional japonesa que inaugurou uma dinastia que governaria por 265 anos, cujas
influências fundadoras persistem até os dias de hoje, apesar de toda a ideologia de
progresso (refletida em sua tecnologia de ponta) adotada pelo país no último século.
17

⋅ “O ‘Schindler’ de Saigon” (Aventuras na História, edição 20, p. 34-39): a abordagem


é a da história dos vencidos, inaugurada no século XX.

⋅ “Asterix e os gauleses” (Aventuras na História, edição 20, p. 54-59): apresentando os


famosos quadrinhos de Asterix, identificamos o mito da descendência gaulesa dos
franceses. As disputas das tribos com o Império Romano são registradas com bom
humor, mas transparece a ideologia da história nacionalista francesa.

Embora a maioria dos textos seja elaborada sob o enfoque jornalístico e sem uma
preocupação investigativa de fontes ou uso metodológico, é possível identificar alguns
conceitos históricos, ainda que sejam empregados “inconscientemente” pelos autores, seja
pelo condicionamento do modelo histórico perpetuado nas escolas e nos manuais didáticos,
seja por um certo grau de “osmose” durante o contato com o trabalho dos especialistas em
História.
18

Conclusão

Procuramos respeitar durante a execução deste trabalho a orientação básica de que


“não existe lixo cultural, existem sim níveis diferentes de interesse”. Aventuras na História
não é uma publicação acadêmica destinada a historiadores profissionais, nem tem qualquer
pretensão de seguir uma linha científica de divulgação de conhecimento. Sua validade
encontra-se na sua capacidade de divulgar o conhecimento histórico de uma maneira acessível
e atraente.

É uma publicação dinâmica que mantém uma estreita relação com seu público
consumidor, despertando sua ativa participação, trabalhando e mudando para atender suas
expectativas conquistando, conseqüentemente, o seu espaço no mercado editorial. A demanda
consumidora estava lá esperando, eles e outras revistas resolveram atendê-la. Além dos
lançamentos previstos já mencionados, a Aventuras na História está desenvolvendo um
projeto para a divulgação do conhecimento histórico em escolas do ensino médio e
universidades, juntamente com as publicações Guia do Estudante, Bravo e Religiões. No
ensino médio, o objetivo é estimular o interesse pela História, aproximando alunos e
professores. Já no nível universitário, o foco é em estimular o debate e a troca de informações
entre os alunos das áreas de História, bem como demais ciências humanas e interessados pelo
tema. Ainda não há uma data prevista para o início destas atividades.

Muitos historiadores e estudantes da área criticam a revista por seu cunho


jornalístico. Estariam os jornalistas ocupando um espaço que os historiadores estão deixando
vago? A questão talvez não tenha uma resposta simples, pois precisamos considerar se não há
o interesse dos historiadores brasileiros em uma participação mais efetiva neste tipo de
publicação, se eles têm receio de um julgamento por parte dos seus colegas, se as revistas não
estão dispostas a remunerá-los de acordo… Enquanto isso, a Aventuras na História segue
com seus artigos “digestos” defendendo a não necessidade de historiadores em sua equipe
fixa.

E os historiadores? Bom, talvez pudessem aparecer mais…


19

Agradecimentos

Gostaríamos de registrar nossos sinceros agradecimentos à equipe da revista


Aventuras na História, representada por seu editor Celso Miranda, pela atenção dispensada ao
nosso grupo durante a realização deste trabalho, bem como doação de parte do material
analisado.
20

Fontes

AVENTURAS NA HISTÓRIA. São Paulo: Editora Abril, edições 1-3, 2003 e 20-21, 2005.
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Teoria da História I
Profº Dra. Raquel Glezer

TRABALHO SOBRE AS REVISTAS DE DIVULGAÇÃO HISTÓRICA:

“A utilização de fontes visuais na


revista História Viva”

Alek Sander de Carvalho


Daniela Maria Ribeiro
Rafael Cesar Scabin
Luciana Ne Freire
Marina Gonzaga da Silva

PERÍODO NOTURNO – 1º SEMESTRE DE 2005


INTRODUÇÃO

1. O abismo entre a academia e o público leitor de História

As bancas de jornal foram invadidas nos últimos 3 ou 4 anos por uma série de publicações
voltadas à História; um grande número de revistas que acabou revelando uma demanda do
mercado pelo assunto. Isso sem contar as milionárias produções cinematográficas, seriados de
televisão e documentários. A História invadiu a mídia. Tencionamos entender em parte, através
de um recorte bem específico, como se desenha essa “história das bancas”: de que tipo é, quem
está envolvido em sua produção, qual sua relação com a História Acadêmica, etc.
Em primeiro lugar, fica patente que a História que se desenvolve nessas publicações de
banca, não é uma versão “piorada” da História acadêmica. Tampouco é a produção científica
adaptada a uma linguagem palatável ao grande público. Ela possui temas próprios, interesses
específicos, recortes e abordagens que não se relacionam com a produção acadêmica - a demanda
do público não é por este tipo de História, mas pelo tipo que essas revistas vêm desenvolvendo,
vendo os altos índices de vendagem que atingem. Em uma discussão sobre a Nova História¹,
alguns historiadores desta tendência marcam alguns pontos sobre a História da “mass media”.
Michel de Certeau afirma que essa demanda (não dos últimos 3 ou 4 anos, mas de uma invasão
da mídia que na França ocorreu há muito mais tempo) provém de uma necessidade de
“escapismo” que a sociedade moderna imputa com seu ritmo de vida. E é essa necessidade que
vai desenhar os traços da história a ser produzida no “mass media”.
Jacques Le Goff afirma que “pelo que toca à televisão, o discurso histórico é (...) mais um
discurso próprio da televisão do que um discurso de História para a televisão e pela televisão” ¹.
Podemos dizer analogamente o mesmo para o discurso jornalístico, que é o discurso existente
nessas revistas de divulgação histórica. Em suma, é uma História que nasce por uma demanda
externa à academia, desenvolve-se em meios igualmente externos e com uma linguagem própria
(jornalística ou televisiva). Há, porém, uma tentativa de aproximação com a História acadêmica,
no sentido de buscar uma autoridade comprobatória. É o próprio Le Goff que assinala essa
tendência: “O progresso permitido pelos media, especialmente pela televisão, impõe ou propõe
menos a História que o historiador”. O historiador é requisitado para com a autoridade de seu
nome dizer como as coisas foram e comprovar assim o discurso que está se produzindo.
Os meios universitários não dão conta da demanda, pois a História que produzem é
ininteligível ao grande público e desinteressante: “... falamos com os mortos, porém temos
dificuldade em nos fazer ouvir entre os vivos”. “O monografismo tomou conta da história
acadêmica e relegou-a para um canto de nossa cultura, onde os professores escrevem livros para
outros professores, e fazem resenhas sobre eles em revistas restritas a membros da profissão.
Escrevemos de uma maneira que nos legitima aos olhos dos profissionais e torna nosso trabalho
inacessível a qualquer outra pessoa”. ²

________________________________________________________

1. ARIÈS, Philippe et al. “A História – uma paixão nova”. In: LE GOFF, Jacques et al. A
nova história. Lisboa: Edições 70, 1984. (p. 17-18)

2. DARNTON, Robert. “Introdução”.“Jornalismo: toda a notícia que couber a gente


publica”. In:___. O beijo de Lamourette. São Paulo: Cia. Das Letras, 1990. (p.14-15)

Jean Chesnaux questionou retoricamente se o saber histórico não “está enraizado numa
necessidade coletiva, numa relação-com-o-passado agindo em todo o corpo social e do qual as
pesquisas especializadas seriam apenas um aspecto dentre outros” ³. Visto então que essa
explosão de revistas históricas não é uma deturpação da história acadêmica, mas uma
necessidade surgida externamente a ela e com outras características, tentaremos a partir de agora,
com nossa análise, traçar quais são essas características, analisando o aspecto das fontes visuais.
Iremos começar por procurar a dinâmica dessa produção, em que bases se sustenta e como se
desenvolve e em seguida procuraremos desvendar concepções de História ou de trabalho com
imagens dentro da História que possam existir na revista História Viva.

2. O tema

O tema do presente trabalho é: As fontes visuais na revista História Viva, inserido na


problemática esboçada acima. Tentaremos desvendar como a revista concebe o tratamento das
imagens dentro da História, revelando um traço importante da própria concepção de História
presente nessa publicação. Poderemos perceber qual o peso que as imagens possuem, que carga
sensível ou cognitiva imputam ao texto. Este tema é de suma importância, visto que o “mass
media” é o lugar de linguagem predominantemente visual, e mesmo que não possamos qualificar
as revistas de divulgação histórica com esse rótulo, poderemos ver o quanto se aproximam dele e
se afastam ou não da produção acadêmica.
A escolha da revista História Viva entre as outras esteve ligada a sua excelente qualidade
visual - que chamou nossa atenção à primeira folheada - e nos pareceu das publicações, uma das
mais voltadas ao aspecto gráfico, talvez a mais voltada de todas.

3. O recorte

Para nossa análise recorremos ao método da amostragem. A partir do primeiro número,


selecionamos outros quatro, com o intervalo de 3 números entre eles. Ficamos com as edições de
número 1, 5, 9, 13 e 17. Com essas edições conseguimos abarcar todos os três editores-gerais que
passaram pela revista e obter uma visão geral de todo o período em que foi publicada.
Dentro de cada edição, procuramos nos focar em 3 seções, além da capa: o
Historiográfico, o Dossiê e uma matéria sobre História do Brasil. O restante apresenta apenas
material de divulgação (História em cartaz) ou segue a mesma estrutura do dossiê. A princípio
iríamos nos focar somente nas matérias de capa, mas após a entrevista (ver próximo tópico),
pudemos perceber que talvez houvesse uma diferença nas matérias de Brasil que valeria a pena
ser investigada. O historiográfico impôs-se por ser a seção da revista que tem seu centro na parte
gráfica, mesmo não apresentando um tratamento diferente das outras.

_____________________________________________________

3. CHESNAUX, Jean. “Apresentação”. In:___. Devemos fazer tabula rasa do passado:


Sobre a história e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995. ( p.9 )
4. A entrevista

A revista concedeu-nos uma entrevista na própria editora, que foi muito útil não apenas
para termos algumas das dúvidas respondidas, mas também para termos contato com a maneira
de trabalhar dos profissionais que a fazem. Entrevistamos a editora-geral da revista, Mirian
Ibañez, e a coordenadora de iconografia, Pietra Diwan. Depois, circulamos pela Duetto e vimos o
processo de produção da História Viva. Os resultados dessa visita foram muito positivos para
nosso trabalho e por isso, ao invés de apresentar a entrevista na íntegra, resolvemos diluí-la no
trabalho, para podermos, nos diversos itens de análise, tirar proveito das informações
conseguidas e contrapô-las às nossas conclusões. Durante o trabalho, sempre que nos referirmos
a informações fornecidas pela revista, pela editora ou pela coordenadora de iconografia, elas
provêm dessa entrevista.

5. Desenvolvimento do trabalho

Na primeira parte do trabalho vamos tratar da maneira pela qual a revista trabalha as
imagens, ou seja, como atuam os profissionais, que fontes utilizam, quais os condicionamentos
de sua atividade, etc. Em seguida, trataremos das capas; como são produzidas e qual seu papel na
revista, relacionando à chamada de capa e analisando detalhadamente a imagem. Por fim,
trataremos nas três últimas partes dos tipos de imagens que são utilizadas, o rigor das citações e a
relação da imagem com o texto.
PADRÃO EDITORIAL DA REVISTA

1. Informações Gerais

A revista História Viva é uma publicação mensal da Duetto Editorial, que foi fundada em abril
de 2001 como resultado da associação da Ediouro Publicações (sediada no Rio de Janeiro) com a
Editora Segmento (sediada em São Paulo). Possui atualmente um quadro de 46 profissionais,
escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro; é filiada à ANER - Associação Nacional dos Editores de
Revistas e à MPA - Magazine Publishers of America e todas as suas revistas têm circulação auditada
pelo IVC - Instituto Verificador de Circulação.
A editora divide-se em dois grupos, de acordo com a área das publicações:

- Grupo Conhecimento, que edita:


Scientific American Brasil
Especiais Temáticos de Scientific American
Viver Mente&Cérebro
Viver Mente&Cérebro - Memória da Psicanálise
História Viva
História Viva - Grandes Temas

- Grupo Beleza e Bem-estar, que edita:


Cabelos & Cia.
Guias de Beleza
Coleção 1000 Cortes & Cia
Coleção Colors: Louras, Morenas, Ruivas e Negras

A revista História Viva possui atualmente uma tiragem de 70.000 exemplares. Os


profissionais que a editam são:
- Mirian Ibañez, editora-geral,
- Frank de Oliveira, editor-assistente
- Simone Vieira, editora de arte
- Monique Elias, assistente de arte
- Pietra Diwan, coordenadora de iconografia
- Silvia Nastari, assistente de iconografia

2. Estrutura da Revista

A História Viva compõe-se de 100 páginas (incluindo capa e contra-capa), divididas em 7


seções, que são:
- CARTAS
- HISTÓRIA EM CARTAZ (principais exposições, filmes, livros, etc.)
- HISTORIOGRÁFICO (mapas ou outros tipos de imagem)
- BIOGRAFIA
- DOSSIÊ (destaque da revista)
- CRUZADA HISTÓRICA (passatempo)
- ÚLTIMA PÁGINA (artigo assinado)

A revista possui uma estrutura fixa de páginas para cada edição, assim como um padrão
gráfico, como veremos mais detalhadamente a diante. Possui inclusive um “mapa” que serve de
base para a montagem de cada número.

3. O contrato com a Historia

A História Viva é a versão brasileira de uma publicação francesa, a revista Historia, da


editora Tallandier. Quando Alfredo Nastari se propôs a produzir uma revista sobre História,
procurou uma congênere estrangeira que funcionaria como suporte, principalmente de conteúdo.
Isso porque, segundo Mirian Ibañez, seria difícil sem esse suporte manter a qualidade e
quantidade das matérias, visto que não há uma tradição desse tipo de publicação no Brasil. A
escolha da Historia, afirmou Ibañez, foi por sua tradição de 95 anos de existência.
O contrato com a Tallandier estabeleceu um número mínimo de páginas da Historia na
História Viva. Ao mesmo tempo em que isso limita um pouco a liberdade editorial, por outro
lado coloca à disposição da Duetto uma grande quantidade de matérias à espera de serem
traduzidas e publicadas.

4. Núcleo gráfico da Duetto Editorial

A Duetto Editorial concede um espaço de destaque à qualidade visual das publicações,


sendo o trabalho gráfico um dos principais diferenciais que pretende utilizar para conquistar seu
espaço. Para isso, possui um núcleo de profissionais dedicados à produção visual das revistas.
Esses profissionais são responsáveis pela produção gráfica de todo o grupo de revistas da área
chamada de “conhecimento”. Isso tem principalmente duas implicações, além da óbvia qualidade
gráfica de suas revistas, que pode ser percebida pelo grande número de imagens utilizadas e pela
qualidade da diagramação.
A primeira delas, é que os profissionais que cuidam da parte visual da História Viva não
estão voltados exclusivamente para o trabalho na área de História. Produzem também revistas na
área de psicologia ou literatura, por exemplo. Não existe, portanto, um grupo de pessoas
especializado na relação entre imagem e História. A coordenadora de iconografia, Pietra Diwan,
tem mestrado em História, mas não é esse o fundamento de sua posição, visto que também
trabalha com a iconografia de outras áreas não relacionadas a essa formação. Suas assistentes não
possuem qualquer relação com a História acadêmica, pelo menos em nível direto ou institucional.
Esse núcleo gráfico é importante para entender o processo de seleção de imagens da revista e sua
relação com a produção científica de História. Nossa análise recai sobre as fontes visuais, mas é
interessante ressaltar que também os outros profissionais da revista não estão ligados à História
acadêmica. Apenas Mirian Ibañez cursou quatro anos de graduação no departamento de História
da USP, mas a sua formação incompleta na área parece ter pesado pouco na sua escolha para o
cargo frente à sua grande experiência jornalística. Em algumas edições, chegou-se a utilizar um
consultor para as imagens, mas isso não é regra geral, e no momento a revista está sem um
consultor fixo, afirmando que está selecionando alguém gabaritado.
A segunda implicação se relaciona também com o tipo de contrato estabelecido com a
Tallandier francesa. O contrato estabelece normas para o uso do conteúdo escrito, porém a
produção gráfica é feita de acordo com o padrão da Duetto, isso inclui não apenas a diagramação
do texto, mas também a seleção e distribuição de imagens. Ou seja, o trabalho das imagens é
independente em relação à produção do texto. Nada impede que sejam utilizadas as imagens da
francesa Historia, desde que se acerte a questão dos direitos autorais com as fontes. Mas de fato
isso não acontece, já que além de a Duetto possuir um modelo próprio de trabalhar imagens, a
qualidade visual da congênere francesa fica devendo muito à História Viva. Pudemos perceber na
Historia um número menor de imagens e uma utilização graficamente mais simplista das
mesmas. Segundo Mirian Ibañez, a versão brasileira da revista inclusive acabou indiretamente
provocando mudanças na versão francesa.
O fato de que a seleção de imagens ocorre separadamente da produção do texto é
significativo, mas não podemos inferir a partir disso que na História Viva as imagens têm uma
menor relação com o texto que a Historia. É possível que também nesta a seleção ocorra
separadamente, mesmo que no mesmo país. Para solucionarmos essa questão vamos examinar
como ocorre essa relação nas matérias nacionais da História Viva.

5. O modelo gráfico

É bastante óbvio dizer que o núcleo gráfico possui um padrão e um modelo de trabalho.
Mas é preciso ponderar até onde o modelo prévio estabelece um limite a um trabalho mais
profundo de relação entre a imagem e a matéria tratada.
Vimos que a revista tem o padrão de utilizar muitas imagens e prezar pela qualidade visual
como um todo. Podemos chegar a dizer que o valor estético/ilustrativo das imagens é no mínimo
cogitado. E tentaremos mais à frente analisar esse caráter através das revistas selecionadas.
Mas o modelo gráfico vai muito além de uma tendência no uso de imagens. Existe um
“mapa” da revista, no qual estão estipuladas as páginas dedicadas a cada seção e um “esqueleto”
da montagem. Tivemos a oportunidade de ver esse mapa em nossa visita à Duetto Editorial. Não
é preciso grande esforço para notar que tanto o conteúdo escrito como as imagens precisam se
enquadrar nessa estrutura. Esse processo não exerce influência apenas na quantidade de imagens
que cabem na revista, mas é também fundamental na seleção do tamanho, ou do destaque que se
dá à imagem.

6. As fontes

Também é importante, para entender o processo de seleção de imagens, analisar de que


maneira a revista retira das fontes o que precisa, e quais são essas fontes. A esse respeito, a
coordenadora de iconografia, Pietra Diwan, não só respondeu nossas perguntas, como também
mostrou na prática como é feito todo o processo de seleção.
As imagens podem ser retiradas de livros ou enciclopédias – nesse caso são quase que
invariavelmente de domínio público-, podem ser buscadas em acervos particulares ou em acervos
de museus, arquivos e outros tipos de instituição, comprando-se o direito de reprodução das
mesmas. Os mapas e gráficos são encomendados a especialistas ou comprados prontos (a editora-
geral também afirmou que quando de boa qualidade, utilizam-se mapas da Historia). Há ainda a
possibilidade, bastante utilizada, da busca em bancos de imagens internacionais pela Internet.
Esse recurso apresenta uma dificuldade a mais, pois os direitos de reprodução são pagos em dólar
ou euro, sendo suscetíveis às variações de mercado. É óbvio que a iconografia trabalha com um
recurso financeiro pré-estabelecido, que visa manter viável o preço de banca da revista. A
produção editorial, sujeita às regras do mercado, precisa manter uma relação positiva quanto aos
custos e ainda assim apresentar um preço acessível. Desta forma, a iconografia vê-se muitas
vezes impelida a buscar imagens de domínio público ou optar por tamanhos reduzidos (já que os
preços dos bancos de imagens variam de acordo com o tamanho ou destaque da reprodução) por
uma questão financeira, sem que isso represente uma tomada de posição teórica ou ideológica.
A editora Duetto não é do porte das grandes editoras do mercado, como a Globo ou Abril, e
por isso não tem o costume de trabalhar com um acervo próprio. Os recursos mais recorrentes
são, portanto, as imagens de domínio público ou a compra do direito de reprodução.

7. Os condicionantes culturais
Vimos até aqui, diversos fatores que influenciam no processo de produção da revista no
aspecto visual. Poderíamos ter feito uma análise do trabalho iconográfico da História Viva e tirar
conclusões sobre a concepção de História nela presente e a concepção de como se deve trabalhar
as imagens. Porém, consideramos que partir daí seria olhar para a revista sob um ponto de vista
acadêmico e tentar enquadra-la nesse tipo de História, o que apenas ressaltaria uma série de
“deficiências” nesse tipo de publicação. Ao contrário, decidimos considerar as diferenças entre
os dois tipos de História, e analisar os condicionantes do trabalho jornalístico, as dificuldades e
caminhos traçados que esse trabalho precisa percorrer. Alguns dos elementos que influenciam no
trabalho de cunho jornalístico pesam mais no cotidiano de seu trabalho e no produto final do que
uma pretensa Teoria de História ou de Historiografia, por mais que parece estranho a ouvidos
acadêmicos.
Já consideramos diversos condicionantes que atuam e delimitam o trabalho jornalístico de
História, como contratos, estrutura organizativa dos profissionais, modelo editorial prévio, regras
de mercado, recursos financeiros, entre outros. Resta ver o que poderíamos chamar de
condicionantes culturais, para depois sim, considerados os elementos que influenciam a
produção da História Viva no aspecto pragmático e cotidiano, podermos considerar de maneira
mais coerente a concepção que a revista utiliza para o trabalho com as imagens.
Na consideração desses condicionantes culturais foi muito útil o interessante trabalho do
historiador da Revolução Francesa (e ex-jornalista), Robert Darnton, Jornalismo: Toda a notícia
que couber a gente publica, presente em seu livro O Beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e
Revolução. Nessa obra, Darnton aponta como as relações profissionais e sociais dentro da
redação do New York Times – no qual trabalhou - influenciam no conteúdo final do jornal. E o
autor ressalta a importância dessas relações para se contrapor a uma explicação sociológica que
se baseia na relação escritor – público alvo de maneira mecânica; ou seja, tenta demonstrar como
muitas vezes há pouco contato com o público leitor, e a relação com os colegas, bem como a
relação redator-editor, e até mesmo a convivência com os parentes influenciam mais no
julgamento de seu texto. Isso sem falar no arrivismo interno, na tradição jornalística, etc.
Portanto, há todo um conjunto cultural que é profundamente influenciador do trabalho
jornalístico.
É claro que não podemos comparar a estrutura da Duetto Editorial com a do New York
Times. Porém, podemos igualmente perceber algumas relações que influenciam profundamente
no resultado do trabalho com as imagens. A relação com o público alvo é, na História Viva e nas
outras revistas do gênero, talvez, bem mais estreita que em um diário ou revista semanal. Se
considerarmos o público leitor da Folha de São Paulo ou da Veja, por exemplo, podemos
imaginar o quanto o público da História Viva é relativamente homogêneo. Também por ser
menor, é mais facilmente identificado em seus caracteres gerais. A revista possui um website que
permite através de questionários ou e-mail, um contato com a redação. Na publicação, há uma
seção de cartas que também abre a possibilidade de comunicação. Em alguns números, a História
Viva anexou um cartão-resposta, para que o leitor pudesse opinar sobre a revista. Mesmo assim,
seria absurdo supor que os editores têm uma idéia bem delineada do público alvo. Segundo
Mirian Ibañez, o público alvo seria o “adulto, interessado em História, mas não especialista”.
Obviamente, os editores devem traçar outros dados, como escolaridade, sexo, etc, mas seria
exagero esperar que possuíssem um perfil bem demarcado e podemos supor que o método de
“tentativa e erro” tem um peso importante.
Não poderíamos encontrar uma acirrada disputa por status dentro da editora, que com sua
estrutura reduzida, normalmente possui um ou dois profissionais para cada função (pelo menos
do caso da produção visual). Não implica que não haja a tentativa de “mostrar serviço” ou cair
nas graças do superior. A relação hierárquica entre o editor-geral e os demais profissionais
demarca profundamente o tipo de material produzido, mesmo que o editor não tenha uma idéia
claro de seu público leitor. Na História Viva, pudemos perceber uma diferença nas fontes visuais
da revista entre os três editores-gerais que por ela passaram. Durante a editoria de Mirian Ibañez,
podemos perceber uma maior tendência às imagens de época, e um maior rigor na citação das
fontes (mais à frente, analisaremos esses aspectos da produção visual). Segundo a coordenadora
de Iconografia, Pietra Diwan, a atual editora-geral é mais rigorosa, e é mais difícil passar
imagens com citação deficiente pelo seu crivo. Na primeira edição da revista, sob a editoria de
Luthero Mainard, percebemos a maior utilização de legendas explicativas nas matérias de
História do Brasil (havia a citação da fonte e em separado uma segunda legenda explicativa da
imagem). Mesmo não sabendo se podemos atribuir essa diferença a um critério diferente do
primeiro editor, é de se supor que ocorram muitas diferenças de critério editorial.
AS CAPAS

1. Função da capa na publicação

Existe uma grande diferença entre uma revista especializada - em História ou em qualquer outra
área do conhecimento -, que possui um nicho dentro da universidade, nas instituições de pesquisa; ou
seja, num circuito um tanto quanto hermético, e uma revista que esteja competindo num mercado mais
amplo, do grande público, do comércio em assinaturas e bancas de jornal. Uma revista que esteja
submetida às regras do grande mercado editorial brasileiro, como a História Viva, tem na capa um
componente fundamental para a conquista de leitores-consumidores. É talvez a peça principal para
atrair a atenção em bancas de jornal e para despertar a curiosidade naquele que não conhece a
publicação, visto que no grande mercado editorial a propaganda “boca-a-boca” não seria suficiente
para garantir a publicidade da revista, como poderia acontecer numa publicação acadêmica.
Nesse sentido, separamos um tópico de nosso trabalho para a análise das capas da revista, visto
que são um dos componentes que melhor representa a distinção existente entre esse tipo de História
feita pelas publicações de banca da História acadêmica, já que nelas está mais explicitamente presente
o aspecto mercadológico. Além disso, é extremamente útil para delinearmos os principais traços dessa
“outra” história. E como nosso trabalho se focaliza nos aspectos visuais da revista, também na capa
esta será nossa preocupação, e é na imagem de capa (mas em sua relação com o título) que tentaremos
identificar os componentes de análise.

2. Produção e estrutura das capas

Segundo a atual editora-geral da revista, Mirian Ibañez, a escolha da capa é feita por toda a
equipe da revista, passando porém por uma avaliação final do diretor-geral da Duetto Editorial,
Alfredo Nastari.
A capa da História Viva é composta por uma única imagem de fundo, e por cima, a chamada da
matéria à qual a imagem se refere; além das chamadas- com destaque menor - de algumas outras
matérias. Essa estrutura tem uma única exceção na capa da primeira edição (Napoleão), que possui
uma pequena imagem de outra matéria.
Geralmente, a imagem de capa está dedicada à seção dossiê, a mais extensa da revista, que na
maioria das vezes é proveniente da análoga seção da revista francesa Historia (exceto nos dossiês
sobre História do Brasil). Esse critério para as capas tem duas exceções muito representativas, como
veremos a seguir.

3. Apelo mercadológico das capas

Em nossa análise pudemos perceber que os apelos que a revista faz ao leitor através das capas
não seguem um único padrão. A associação mais direta seria procurar a relação das capas com algum
tema de destaque na mídia, como um filme, ou um livro de grande vendagem. Porém, esse critério
aplica-se somente a 3 edições da História Viva, de um total de 20. São as edições sobre Alexandre o
Grande, Tróia e a ferrovia Madeira-Maimoré.
Todas essas edições se relacionam com grandes lançamentos do entretenimento, sejam filmes (as
duas primeiras) ou seriado televisivo (a terceira). No caso de Tróia e Alexandre, o critério foi
explicitamente ligar a revista aos filmes, segundo a própria editora-geral, Mirian Ibañez. Isso é
comprovado pelo fato de serem as únicas edições em que a capa não corresponde à seção dossiê. Mas
também segundo a editora-geral, esse critério de capa não altera o conteúdo da revista, que segue os
mesmos critérios de sempre.
Na edição sobre a ferrovia Madeira-Maimoré, a capa corresponde ao dossiê, porém, nesse caso, a
própria escolha do tema do dossiê está relacionado ao tema de destaque na mídia (o seriado de
televisão sobre a ferrovia, produzido pela TV Globo). A ligação do dossiê com algum tema em
destaque na mídia não é possível de ser feita sempre (só pudemos encontrar essa ligação nessa edição),
visto que no contrato da revista com sua correspondente francesa, é estipulado um mínimo de material
da Historia a ser reproduzido na História Viva.
Podemos perceber portanto que esse tipo de apelo é menos recorrente na revista História Viva.
Como a publicação se dirige a um público interessado em História, existem outros recursos para tornar
a revista atraente, mesmo sem relação com grandes temas do entretenimento. Na análise das edições
que selecionamos para o trabalho, percebemos principalmente os seguintes recursos:
-trabalho com estereótipos. Procura-se atrair a atenção do consumidor, através de estereótipos ou
mitos presentes na História e grandemente difundidos no senso-comum. Ou seja, o leitor irá se deparar
com uma imagem muito familiar, e esperará encontrar na revista informações mais detalhadas sobre
aquela imagem interessante e, algumas vezes excêntrica, que ele já conhecia superficialmente sobre
determinado assunto.
Podemos perceber esse tipo de construção claramente no primeiro número da revista, que dedica
a capa a Napoleão. Nessa capa, Napoleão aparece “renascendo”, iluminado. É uma imagem tão
grandiloqüente quanto o mito dessa personagem. É interessante perceber que além de mostrar a
“grandeza” de Napoleão, a capa o destaca individualmente, dentro do arquétipo de grande líder. Essa
imagem complementa a chamada, que apresenta a França personalizada em Napoleão (“Ele mudou a
Europa...”).
O mesmo trabalho com estereótipo pode ser percebido na edição que tem na capa a cidade de
Veneza. A capa apresenta uma pintura do século XIX, destacando justamente o canal com gôndolas e
em primeiro plano uma foto de uma máscara do carnaval de 2002. A única relação entre essas duas
imagens é o caráter simbólico de ambas. Os famosos canais venezianos e o famoso carnaval
mascarado; as primeiras referências que surgem quando se pensa na cidade de Veneza. A pintura, de
cores claras e serenas liga-se diretamente à chamada da matéria (“Sereníssima república...”). A capa
faz um apelo a uma tradição veneziana que se mantém há mil anos (“mil anos de prosperidade e
esplendor”).
Há, porém, uma reserva importante a ser feita em relação ao uso de estereótipos. No caso de um
trabalho jornalístico, nem sempre isso se passa de forma premeditada. Algumas vezes, o jornalista
também enxerga a História através dos estereótipos, também está submetido a esse tipo de visão. É
importante considerar o pragmatismo e rapidez que acompanha o trabalho jornalístico em comparação
ao acadêmico. Existem, como vimos, limites variados que muitas vezes impelem a uma escolha menos
criteriosa. No caso da capa do Napoleão, parece ter pesado bastante na escolha o fato de a imagem
mostrá-lo saindo do túmulo, e a evidente relação disso com a matéria sobre sua sepultura
(literalmente). Por mais que possamos analisar as conseqüências de uma determinada escolha, temos
que ter em mente que não necessariamente essa escolha esteve baseada num tal nível de abstração.
- a “verdade” por trás do mito. Outro recurso facilmente perceptível, e não menos apelativo, é a
pretensão de mostrar uma “verdade ocultada” por uma visão estereotipada (dessa vez com caráter
negativo). Isso desperta o interesse de maneira talvez mais direta, pois a impressão que passa é de que
as coisas não são como se pensa. A curiosidade que esse apelo desperta, não apenas ao leigo, é
evidente.
Esse recurso pode ser percebido em outras duas capas analisadas, a dedicada à Idade Média e a
referente aos Primeiros cristãos. A capa Idade Média é explicitamente e premeditadamente uma
inversão do estereótipo de “Idades das Trevas”. De maneira um tanto grosseira e simplista, a revista
mostra uma Idade Média “tolerante, progressista, social” (palavras da chamada da matéria), e o caráter
de “verdade oculta” fica evidente no termo “Idade Média desconhecida”. A imagem corrobora e
fortifica essa inversão ao mostrar uma pintura (do século XVI) com cores vivas e muito movimento. A
imagem é por si só o oposto de trevas e estagnação.
A capa dos Primeiros Cristãos também procura apresentar uma “verdade” por trás do
estereótipo, no caso, a humanidade dos apóstolos que numa visão muito em voga hoje em dia,
pretende mostrar que a “Igreja Católica” distorceu a vida de Cristo e dos apóstolos, no sentido de
endeusar uma existência que teria sido essencialmente humana, com tudo que isso acarreta. Não se faz
necessário exemplificar essa tendência tão facilmente perceptível em qualquer programa de TV ou
banca de jornal.
Podemos notar que por trás dessas capas está uma visão de História que se concede um caráter
comprobatório. A História aparece como reveladora da verdade, e o historiador como a autoridade
que concede autenticidade a uma afirmação.
- o valor estético. Já vimos como o papel ilustrativo e estético tem um peso bastante relevante
nesse tipo de publicação e nessa visão de História. A qualidade gráfica está presente em todas as
capas, mas em algumas delas o aspecto estético parece ter sido a principal variável na escolha da
imagem. Percebemos esse critério na capa “Como a Espanha fez a América”. A imagem escolhida foi
uma pintura de época (século XVI), que apresenta dóceis índios, explicitamente de aspecto físico
europeu, em pacíficas relações com os colonizadores espanhóis. A pintura é grandemente
representativa de uma determinada visão em voga na época da colonização, porém bem distinta da
interpretação que a chamada da matéria propõe (“saque de ouro e prata...”), e que podemos perceber
no decorrer do dossiê. Ponderamos a hipótese de que a capa estivesse relativizando a visão proposta
pela imagem, mas não encontramos nenhum elemento que apontasse para essa direção. O que parece
ter pesado realmente na escolha é a beleza da pintura, e o fato de se tratar de uma representação
contemporânea dos acontecimentos tratados.
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DAS IMAGENS

1. Tipos de imagem e a relação com o texto

Este tópico decorre da necessidade que julgamos imperativa de analisar a relação


que as imagens, que participam do conteúdo iconográfico da revista, têm com o conteúdo
escrito. Uma série de questões foram sendo colocadas no decorrer da análise da revista e os
obstáculos decorrentes disso, tentamos superar ou a partir do próprio trabalho analítico
empregado no material, ou buscando informações a respeito do trabalho realizado na
revista com os profissionais encarregados da sua produção. Porém, não tivemos a mesma
sorte com todas as questões que surgiram da análise, o que, de certa forma, já era
previsível.
Enfim, buscando uma relação imagem/texto dentro dos Dossiês e das matérias
nacionais da revista, pudemos chegar a uma série de conclusões à cerca do caráter da
imagem, em outras palavras, da função que ela exerce dentro de uma matéria. Fizemos isso,
analisando o paralelismo da imagem com o recorte histórico colocado pela revista, em
outras, intentamos concluir se as representações eram contemporâneas, posteriores ou
anteriores as datas limites estipuladas pela revista; ainda, buscou-se determinar qual o
caráter de sintonia da imagem com a matéria, o que, fizemos tendo, como orientação, a
perspectiva colocada pela editora-geral da revista. Logo, procuramos verificar se a imagem
era ou não complementar a idéia do texto; outros aspectos mais técnicos foram também
analisados, como, a verificação da indicação de procedência das iconografias, visando
concluir se esse estava ou não sendo feito adequadamente mesmo rigor que submetemos a
análise das legendas das iconografias.
Como já vimos na parte Padrão Editorial da Revista, o trabalho de seleção das
imagens é feito internamente, na própria Duetto. Também dissemos que eventualmente a
revista trabalha com um consultor da área de História. Isso ocorre principalmente em dois
casos: matérias estrangeiras que integrem edições especiais de temas específicos, por
exemplo, a revista que tinha o Renascimento como tema, trabalhou com um professor
colaborador da UNICAMP; e em matérias nacionais, prática, que comparativamente ao
primeiro caso colocado, é mais corriqueira. Também no caso das matérias nacionais, é
comum que o escritor da matéria coloque à disposição algumas imagens a serem usadas, o
que não implica uma necessidade.
A qualidade do trabalho iconográfico da revista, presumimos, deve compreender as
seguintes condições: o paralelismo imagem/recorte da matéria; a especificação da
procedência das fotos (banco de dados); legenda claras e completas(com nome do
autor,nome da obra e data); sintonia com o conteúdo escrito.

A primeira conclusão a que chegamos, a partir da análise do material, foi acerca da


função que as imagens exercem dentro da revista, ou seja, a relação que elas estabelecem
com o texto. Concluímos, que elas são meramente ilustrativas, ou seja, são tipos de
iconografias (fotos, mapas, quadros, xilogravuras, elementos materiais de uma cultura) que
tem o intuito de fornecer ao leitor elementos de visualização de fatos e personagens de uma
época determinada. Isso explica muito, a predominância de determinado tipo de iconografia
nas matérias, em geral, imagens de lugares, ou fotografias dos personagens históricos que
são parte da matéria. O dado interessante, é que com essa conclusão, vimos confirmada, em
certo sentido, a concepção de Mirian Ibañez sobre as imagens da revista, a qual, qualificou
como complementar à idéia do texto, pois, se ao texto é dado o valor de informação escrita,
à ilustração no caráter de informação visual só pode ser complementar ao texto. Em outras
palavras, é como se a ilustração se transformasse em uma nova fonte narrativa, que
desenvolve a mesma história escrita do texto e de forma complementar, por configurar
outro tipo de informação.
Pela grande quantidade e variedade de imagens, notamos uma preocupação por
parte da equipe de iconografia em retratar grande parte da matéria dando ao leitor uma
“visão” quase total da história narrada.Entretanto, a revista não se preocupa em passar ao
leitor as condições de produção destas obras, nem traz maiores informações acerca de seu
autor, o que oculta as intenções implícitas nessas representações, ao mesmo tempo em que
sua escolha valida, aos olhos do leitor leigo, aquela obra como representação da “verdade”.
Já, no que condiz, ao paralelismo imagem/recorte cronológico da matéria,
percebemos que tal exigência é cumprida na medida do possível. Tal sub-tópico gerou uma
interessante discussão no grupo sobre a possibilidade da imagem ser paralela ao recorte
cronológico, a qual colocaremos na forma como evoluiu. Ao colocar como critério o
paralelismo da imagem com o recorte cronológico, observa-se, que não pode ser
considerada paralela uma imagem, apenas por estar dentro do recorte cronológico, que é,
ademais, dilatado, enquanto o fato, apesar de estar inserido dentro da cronologia da revista,
é apenas uma pequena parte dela. Isso coloca uma questão: O paralelismo da imagem com
o fato que descreve, deve ser dado quando a imagem é feita imediatamente ao ocorrido, ou
submeter a análise à tal rigor é exagero? É possível que uma representação seja construída
imediatamente ao fato ou elemento que visa retratar? A conclusão a que chegamos é que
não, ainda mais, quando a arte, em questão, é uma pintura. Provavelmente, o artista
encarregado da sua elaboração, se foi a testemunha de algum acontecimento ou processo,
ao elaborar a sua obra ou faz um esboço dos elementos que do fato a ser retratado
participaram, ou no ateliê idealiza aquilo que presenciou. De uma forma ou de outra, a idéia
de paralelismo exato da confecção da obra com o fato ocorrido é algo impraticável se o
tomarmos estritamente e nesse sentido, parecendo mais interessante investigar se um pintor
fora ou não testemunha ocular de algum fato, ao invés, de ter idealizado uma obra sob
encomenda. Enfim, a conclusão a que chegamos, a partir disso, é que a utilização do
critério de análise iconográfico, que pretende ver se a produção da imagem é paralela ao
recorte cronológico indicado por uma matéria, é possível de ser empregado, pois, a
conveniência de uma pintura ter sido produzida exatamente ao ocorrido é impraticável e
não causa prejuízo à análise.
Enfim, daquilo que se analisou, buscando determinar se o paralelismo
imagem/recorte cronológico estava sendo compreendido, podemos citar os exemplos, do
dossiê sobre “Napoleão”, edição número 1 da revista, onde os quadros são contemporâneos
aos fatos descritos e pintados por artistas que foram testemunhas destes eventos como
Jacques-Louis David (deputado da Convenção e um dos organizadores da propaganda
revolucionária e, posteriormente, pintor de Napoleão, tanto no Consulado quanto no
Império) e Louis-François Lejeune (soldado e pintor que representou muitas batalhas das
quais, inclusive, participou, entre elas, a de Marengo, citada e ilustrada na revista). Embora,
este configure um caso onde as imagens estão em sintonia com o recorte cronológico e
alinhado aos critérios de seleção de imagens colocados pela Mirian Ibañez -onde, o
primeiro é compreendido pela utilização de imagens inseridas dentro do recorte
cronológico estabelecido pela matéria e o segundo pela utilização de representações
posteriores de pintores famosos-. Um exemplo, neste sentido, nos é dado, pela edição de
número 17, cujo, dossiê é sobre “Os Primeiros Cristãos”, que apesar de abordar os
primeiros séculos da era cristã, traz uma grande variedade de imagens que vão do séc. III ao
XIX. Já um exemplo, curioso da falta de paralelismo entre imagem/recorte cronológico nos
é dado pela matéria “Uruguai”, que fala sobre a guerra de independência do país, que em
geral não apresenta problemas relativos ao paralelismo imagem/recorte, mas, existe nela
um dado curioso e que rompe com o primeiro critério de escolha de imagens, colocado pela
Mirian Ibañez, e, de certa forma, com o segundo. Curiosamente, nessa matéria, utiliza-se
um mapa do XVI, quando o recorte é XVIII e XIX. Sem dúvida um furo, mas, também
exceção dentro da revista.

2. A citação das fontes

Por fim, o sub-tópico que compreende verificar qual a qualidade da especificação da


procedência da fonte e da legenda, observamos que as primeiras edições da História Viva
com as quais trabalhamos apresentam um trabalho que deixa muito a desejar. Para se ter
uma idéia, as imagens que participam da edição número 1 e que têm Napoleão como
dossiê, tem como exceção as fotos com especificação de fonte. Já as legendas deixam a
desejar, pois sonegam, senão inteiramente, pelo menos parcialmente, as informações,
como: nome do autor da obra, nome do quadro e data em que foi produzido. Na edição
número 5, cujo, dossiê é sobre a Idade Média, percebe-se que houve uma relativa evolução
no trabalho praticado na revista. Para se ter uma idéia, nas matérias nacionais, por exemplo,
das 20 imagens que a compõem apenas 5 estão sem a informação da procedência da fonte.
Já a partir da edição número 13 onde o trabalho de editora-geral é desempenhado pela
Mirian e, cujo, dossiê fala sobre a Espanha é possível perceber que a revista compreende
com maior proximidade aquilo que definimos como qualidade. Nessa edição, não há
problemas relativos ao paralelismo imagem/recorte cronológico, nem de especificação da
procedência das iconografias, porém, o trabalho na legenda ainda continua incompleto,
embora, traga no mínimo o nome do autor.
Para encerrar o tópico, colocaremos uma questão que também surgiu no calor da
discussão pelos integrantes do grupo, ou seja, a possibilidade de se encontrar imagens que
expressem com exatidão as idéias colocadas pelas matérias, o que, por sua vez, torna
inevitável a utilização de imagens ilustrativas. A conclusão parcial a que chegamos foi que,
embora, exista tal tipo de imagem, a sua seleção e organização dentro da revista depende
muito do conhecimento prévio do iconógrafo; isso, porque existe todo um universo de
imagens à disposição deste tipo de profissional e, mesmo, existindo tal recurso, encontrar
uma imagem que represente com exatidão a idéia de uma matéria é extremamente difícil,
senão impossível. Logo, a utilização de imagens de caráter ilustrativo nas matérias é a que
parece mais conveniente ao cotidiano do profissional encarregado das iconografias da
revista, pois, sendo esse profissional apenas um dentro da revista, é de se duvidar que tenha
conhecimento considerável sobre qualquer tema histórico, quando o que se pode esperar é
que seja, no máximo, especialista em um ou outro tema. Sintetizando, em outras palavras, a
utilização de imagens de caráter ilustrativo é mais conveniente, pois, é o tipo de imagem
mais comum de ser achada, a mais adequada ao conhecimento do iconógrafo e ao seu
conturbado cotidiano.
CONCLUSÃO

Pudemos perceber através de nossa análise que as imagens exercem na Revista História
Viva um papel ilustrativo no sentido já explicitado neste trabalho. Seu papel fundamental
consiste na visualização das personagens e na construção do cenário no qual se desenvolve
a narrativa histórica.
Também percebemos que a revista utiliza um grande número de imagens,
principalmente se compararmos com a produção acadêmica – que ainda se utiliza pouco
deste recurso -, mas que não difere muita de outras publicações do gênero. Ou seja,
podemos inferir, mesmo com um conhecimento superficial de outras revistas, que essa
“história”, direcionada ao público não-especializado, e que gerou este grande número de
publicações, tem nas imagens um de seus aspectos fundamentais e mais atrativos.
Outra importante função das imagens neste tipo de publicação é tornar a revista
visualmente mais leve e dinâmica, facilitando a leitura para um público que, em grande
parte, vê na história narrada apenas um momento de lazer.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ARIÈS, Philippe et al. “A História – uma paixão nova”. In: LE GOFF, Jacques et al. A
nova história. Lisboa: Edições 70, 1984.

CHESNAUX, Jean. “Apresentação”. In:___. Devemos fazer tabula rasa do passado: Sobre
a história e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995.
DARNTON, Robert. “Introdução”.“Jornalismo: toda a notícia que couber a gente publica”.
In:___. O beijo de Lamourette. São Paulo: Cia. Das Letras, 1990.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Alunos: Larissa K. Rebello da Silva


Rubens Bonato
Tania Claro
Curso: Teoria da História I
Profª. Dra. Raquel Glezer
Período: Noturno

TRABALHO DE FIM DE CURSO: ANÁLISE DE ARTIGOS DE CAPA DA


REVISTA SUPER INTERESSANTE

INTRODUÇÃO

A revista escolhida para análise, foi a Super Interessante da Editora Abril, entre os
anos de 1997 a 2004. Percebemos que à partir de 2001, mais precisamente depois do ataque
de 11 de setembro, o tema selecionado, da religiosidade, vem sendo muito recorrente.
Foram selecionadas 7 revistas, das quais três sobre a vida de Cristo, uma sobre o apóstolo
Paulo, uma sobre o Alcorão, uma sobre a Bíblia, e uma sobre Buda.
Identificamos que a vertente teórica dos artigos é a Positivista. Pretendemos analisar
características desta vertente e buscar pontos comuns e divergentes entre os artigos.

Positivismo - Busca da verdade e importância do fato histórico

Usa-se o conceito teleológico da história, de que as descobertas mais recentes são


mais certas e verdadeiras. Aqui também se anulam as décadas de pesquisas arqueológicas,
dizendo-se que apenas agora esta ciência está descobrindo “a verdade”: “(...) a
interpretação correta dos textos históricos e a arqueologia estão trazendo surpreendentes
revelações sobre o Jesus histórico.” (“A verdadeira história de Jesus”, p. 42)

1
O embasamento cientificista do autor se explica pela legitimidade que a Ciência
ganhou sobre a religião no século XVI. Continua-se com uma observação historicista:
“Quando Darwin lançou (...) o fosso entre ciência e religião já era intransponível.”
(“Bíblia”). O autor usa termos como: “livros que pretendem (...) desde o suposto
chamamento (...) que teria ocorrido (...)” (Idem). Estes termos indicam que a Bíblia foi
escrita para representar a verdade, mas que agora se descobriu que isso é falso.
Em “O homem que inventou Cristo”, faz-se um juízo de valor positivista: é mais
válido o que é mais novo, que sempre suplanta o velho. O autor faz uma narração dos fatos
históricos, sem submetê-los a uma análise. Ele interpreta os documentos e as falas dos
especialistas como uma verdade absoluta, sem ser possível acrescentar algumas ressalvas.
A respeito da conservação de alguns textos apócrifos, mais especificamente os
Evangelhos de Tomé, Filipe e Maria Madalena o texto “Um outro Jesus” afirma que foram
guardados por um egípcio anônimo por volta do século IV e que foram resgatados por um
grupo de beduínos em 1945, próximo a cidade egípcia de Nag Hammadi. O texto não diz de
onde foi retirada essa versão, tratando a informação como verdade absoluta uma vez que
não procura discuti-la.
Citação: “em algum momento do século IV, esse egípcio teve a boa idéia de esconder num
jarro de barro cópias manuscritas na língua cópias desses textos e de muitos outros
ameaçados pela perseguição da Igreja. O jarro ficou 1600 anos sob a areia do deserto.
Acabou resgatado por um grupo de beduínos em 1945;”
Em “O Iluminado”, depois de situar o momento do surgimento do budismo como
uma época de ebulição espiritual, a revista passa a narrar a história de vida de Sidarta
Gautama, o Buda. Em determinados momentos cita fatos que são mencionados nas antigas
escrituras budistas e que pelas suas características não podem ter comprovação histórica,
tais como “cumpriu-se uma profecia segundo a qual ele se tornaria um homem santo” sem
fazer nem uma ressalva.

Autoridade intelectual

Os autores dos artigos se eximem de opiniões, as quais atribuem a intelectuais da


área. É interessante notar que neste momento, durante a citação de especialistas, a revista

2
sempre tenta trabalhar com opiniões nacionais e internacionais sobre o assunto, o que nos
remete a duas interpretações: Ou o autor faz isso para mostrar que tal fato é de importância
nacional e internacional, ou então que uma opinião internacional teria mais força e
aceitação para o tema, desclassificando os especialistas brasileiros. A maioria dos autores
é ligada ao estudo da teologia, o que pretende provar que realmente o intelectual pensa
neste tema com seriedade.
Os especialistas citados em “Quem matou Jesus¿” foram: John Dominic Crossan,
da Universidade DePaul, de Boston, “um dos mais respeitados estudiosos do assunto”, que
afirma que os Evangelhos não podem ser tratados como documentos históricos; os
historiadores “não cristãos” Flávio Josefo e Cornélio Tácito, que comprovam a existência
de fatos sobre a vida de Cristo, e o próprio Mel Gibson, cujo filme é parte da iconografia do
artigo, e que fez uma obra monumental que deveria chegar o mais próximo possível da
realidade1 (“Quem matou Jesus”, ed. 199, p. 44).
Sobre a vida de Jesus, o cientista da religião Richard Horsley, da Universidade de
Massachusetts que diz que aquele era um momento politicamente ideal para um levante;
André Lemaire, paleógrafo do período bíblico da Sorbonne; André Chevitarese, professor
de História Antiga na UFRJ; Pedro Lima Vasconcellos, professor de Ciências da Religião
da PUC; Gebriele Cornelli, professor de Teologia e Filosofia da Universidade Metodista de
São Paulo; Paulo Nogueira, professor de Literatura do Cristianismo Primitivo da mesma
universidade, (“A verdadeira história de Jesus”, ed. 183)
No entanto, há constatações críticas interessantes: Chevitarese chama a atenção para
que o conceito de líder surge com Maquiavel, no Renascimento, portanto, as manifestações
de Jesus não podiam estar destacadas do plano espiritual. O historiador também coloca que
é um erro tentar explicar racionalmente fenômenos espirituais, e que se deve atentar para
como as comunidades da época viam esses acontecimentos. Paulo Nogueira, afirma que:
“Não se deve subestimar o poder dessas experiências em nome do racionalismo” (A
verdadeira história...”). Aqui portanto, há contrapontos à ideologia racionalista que se vinha
usando.
O arqueólogo israelense Israel Finkelstein, autor de “A bíblia desenterrada” que
causou choque nos estudiosos “porque reduz os relatos do Antigo Testamento a uma

1
Ver anexo.

3
coleção de lendas inventadas a partir do século VII a.C” Diz ele: “Das três ciências que
estudam a Bíblia, a arqueologia tem se mostrado a mais promissora. Ela é a única que
fornece dados novos”. (“Bíblia”).
No texto “O homem que inventou Cristo”, o autor afirma que alguns teólogos
relegam a figura de Paulo grande importância, como sendo fundamental nos primeiros anos
do Cristianismo (alicerce da jurisprudência, moral e filosofia moderna do Ocidente). Os
autores que afirmam a importância de Paulo, segundo o autor, são o professor Jerome
Murphy-O’Connor (Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém); o historiador André
Chevitarese e o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, já citados.
Uma outra corrente de estudiosos afirma que Paulo deturpou a imagem de Cristo.
Os ensinamentos que permaneceram foram os seus, e não os de Jesus. Para tal afirmação, o
autor utiliza depoimentos de Mahatma Ghandi em 1928, Albert Schweitzer em 1952,
prêmio Nobel da paz e Fernando Travi, fundador e líder da Igreja Essênia Brasileira.
Entre os especialistas citados no artigo “A palavra de Deus” estão o libanês Samir
El Hayek, tradutor da primeira edição, no Brasil, do Corão em português; Safa Jubran,
professora de árabe da Universidade de São Paulo; o xeque Ali Abdune, do Centro Islâmico
de São Bernardo do Campo; o xeque Jihad Hassan Hammadeh, um dos líderes da religião
islâmica no Brasil; o historiador holandês Peter Demant, especialista em relações
internacionais e Oriente Médio, que dá aulas na USP; a teóloga inglesa Karen Armstrong,
ex-freira católica e profunda conhecedora das três religiões abraâmicas; Eliane Moura da
Silva, professora de história das religiões da Unicamp; o historiador libanês Amin Maalouf
e o historiador Alberto Ventura, do Instituto Universitário Oriental, de Nápoles, Itália.
Através da opinião de alguns especialistas sobre o assunto, o autor de “Um outro
Jesus” procura levantar dúvidas a respeito da autenticidade da figura de Jesus que é passada
pela Bíblia nos evangelhos de Lucas, Marcos, Matheus e João, que são os únicos relatos da
vida de Cristo considerados autênticos pela Igreja.
O autor destaca a opinião de “especialistas”, pessoas que publicaram alguma coisa
sobre o Cristianismo, como o jornalista espanhol Juan Arias, ou relacionadas de alguma
forma com a história do Cristianismo, como o frei franciscano Jacir de Freitas Farias,
professor do Instituto São Tomás de Aquino, Karen King, historiadora eclesiástica da

4
Universidade Harvard e os teólogos Pedro Vasconcellos, da PUC de São Paulo, e Paulo
Nogueira, da Universidade Metodista
No final do texto é dada uma resposta à questão levantada que parece ser a opinião da
autora, ela afirma que o “os evangelhos apócrifos, assim como os canônicos, foram escritos
por pessoas inquietas, numa época conturbada e difícil, em que as antigas respostas já não
davam conta de acalmar os espíritos” e que, apesar dos tempos serem outros, boa parte da
sociedade atual “está inquieta e insatisfeita com as respostas que existem. Tem muita gente
em busca de alguma coisa que torne nossa existência mais transcendente, mais valiosa. E
esses textos escritos por outro homens, numa busca parecida, podem nos dar uma dica de
onde começar a procurar.” No entanto, mediante as características do texto, que utiliza
citações de terceiros muitas vezes sem fazer menção, não conseguimos afirmar se essa foi a
opinião da autora após a pesquisa realizada para a elaboração do texto ou se essa é a
opinião de algum especialista que foi apropriada pela autora.

Desmistificação e busca da verdade científica:

É interessante que a pretensa ciência use como personagem histórico-político, um


personagem que tem importância mitológica.
“Cristo é um dos maiores mistérios da humanidade. Mas a arqueologia, baseada
em novas descobertas, está finalmente desvendando como ele nasceu, viveu e morreu.” (“A
Verdadeira História de Jesus”)
O argumento baseia-se na capacidade científica da ciência que estuda a cultura
material, de desvendar características da vida prática de uma pessoa. Não se põe em
discussão o poder mítico do personagem. Colocam-se as descobertas como uma resposta à
milenar pergunta, sobre o mistério. A religiosidade poderia terminar, com as respostas
dadas pela arqueologia.
O pequeno texto “Escritores fantasmas” (“Quem matou Jesus?”, p. 45) pretende
mostrar que os Evangelhos não são verdade histórica, e que não foram os evangelistas que
escreveram.
O termo “verdadeira história”, o título, é usado para contrapor a sua imagem mítica,
religiosa, de abrangência universal.

5
“(...) deviam estar comentando o tumulto do dia anterior, que resultou na morte de
um judeu. Nada que não estivessem acostumados a ouvir.” Aqui tira-se a importância
singular de Jesus como líder, ele era mais um entre agitadores. “(...) pouca gente deve ter
se comovido com a prisão e morte de um judeu agitador.” (“A verdadeira história...”)
Colocam-se duas imagens de Jesus: a bíblica “que dispensa apresentações” (Idem)
– e faz uma breve apresentação de seus símbolos, mas não explica que Jesus passou a
representar o cordeiro de Deus só para os cristãos, e não para os judeus. O outro Jesus, já
citado no início da matéria, é Joshua, o homem que morreu sem chamar muita atenção dos
cidadãos do Império Romano.
Os evangelhos são apresentados como fontes parciais, pois foram escritas por
seguidores de Cristo, que teriam escrito com base em interesses próprios.
Enfatiza-se que a reconstrução dos historiadores e arqueólogos é fascinante e bem
diferente daquela visão mitológica renascentista.
Sobre a profissão de Jesus, o professor de Ciências da Religião da PUC, Pedro Lima
Vasconcellos, define “tekton”, usada no Novo Testamento como carpinteiro, significava
também “biscateiro”, ou “pau-pra-toda-obra”. Estas palavras colocam-no no plano mais
prático possível de descrição.
A chamada do artigo “Bíblia” anuncia que a Arqueologia descobriu que Abraão e
Moisés não existiram, o Êxodo não ocorreu e os reis Davi e Salomão eram pequenos chefes
tribais, e que “a maior parte das escrituras sagradas não passa de lenda”. Estas afirmações
são inclusive politicamente delicadas, pois passam pela história dos judeus, e em última
instância colocam em jogo a discussão da legitimidade do Estado de Israel.
“Buda morreu por volta de 483a.c, depois de um acesso de disenteria que teria sido
causado pela ingestão de carne de porco. Há algo menos divino – ou tão demasiadamente
humano – do que morrer de dor de barriga¿” (“O Iluminado”)

Conexão com a atualidade e anacronismos

O conflito entre árabes e israelenses pelo território em comum tornou-se muito


popular depois do ataque de 11 de Setembro de 2001. Portanto, esta temática é de interesse
geral. Os artigos pretendem ser fáceis de ler e levantar um interesse da atualidade.

6
A chamada da capa de “Quem matou Jesus?” é “A história diz que foram os
romanos. A teologia diz que fomos todos nós (ou ele sozinho). Mas só os judeus foram
condenados. Por quê?” Também se refuta a idéia de que Mel Gibson teria tido uma visão
anti-semita da História, pois se diz que sua pesquisa para o roteiro vem do Evangelho. É
muito nítida, portanto, a defesa dos judeus, que se sobrepõe na opinião sobre a situação
mundial atual.
Em determinados momentos, utilizam-se anacronismos em linguagem informal:
“Não foi um simples rapa nos camelôs” (“Quem matou Jesus?”, p. 44) e “Na prática ele (o
Templo) era o Banco Central da Judéia” (Idem) . Este traço é usado estrategicamente para
chamar o leitor ao vínculo com o presente, assim, ele pode identificar características
comuns com a sua vida, e imaginar como seria a vida naquela época. Não se discutirá
obviamente que os conceitos de banco e camelô surgirão séculos depois.
Outro exemplo de uso da linguagem coloquial é: “Dessa vez, o fuzuê foi causado
por um judeu camponês chamado Yeshua (...)” (“A verdadeira história de Jesus”).
Defende-se que Jesus fez um levante premeditado, em época de festa judaica, para
chamar atenção. Sua execução só deveria servir de exemplo, contra agitadores; haveria aqui
mais um vínculo com o presente?
A coincidência com a situação atual da guerra no Oriente Médio é candente: a
cidade (Jerusalém), já era palco de conflitos político-religiosos sangrentos e quase sempre
algum agitador morria por incitar rebeliões contra os romanos, que governavam a região
com o apoio da elite judaica do templo de Jerusalém.
A política brasileira também é abordada: “Eram uma ala do judaísmo assim como o
PT tem alas que não representam as idéias predominantes do partido” (segundo Monica
Selvatici, doutoranda em História pela Unicamp “A verdadeira história de Jesus”, p. 49)
À respeito da aparência de Jesus, faz-se mais um paralelo com a situação política
atual, para trazer a história à realidade próxima do leitor: “Em tempos turbulentos como o
de hoje, ele provavelmente teria dificuldades de passar pela alfândega de um aeroporto
europeu ou americano”, segundo Chevitarese (“ A verdadeira história...”).
“Paulo teve uma formação acadêmica de primeira – nos parâmetros atuais, algo
equivalente a um doutorado em Harvard.”. “... para autenticar o documento. A maioria
delas foi escrita em grego, mesma língua usada por Paulo em suas pregações. Esse era o

7
idioma universal, comparável ao que hoje é o inglês.” (“O homem que inventou Cristo”).
Nestas duas citações ficam evidentes os anacronismos cometidos pelo autor. Fazem-se
comparações do passado com referências no presente.
“Para aquele povo disperso no deserto, o livro caiu como uma luva.” “A vida valia
pouco. Com regras desse naipe, logo não sobraria árabe para contar a história.” (“A
palavra de Deus”). Estes são alguns exemplos encontrados no texto que mostram que ao
utilizar este tipo de linguagem, o autor tenta desmistificar o papel do livro sagrado dos
muçulmanos.
Em “Um outro Jesus”, após fazer o resumo à cerca da origem dos textos apócrifos e
do tratamento que a Igreja Católica lhes dispensou, passa-se a identificar o motivo pelo
qual o tema foi abordado pela revista. O autor destaca o sucesso que os textos apócrifos
estão fazendo na sociedade atual inspirando filmes milionários, como Matrix, best seller,
como o Código da Vinci, gerando novas seitas e religiões. No restante do texto o autor tenta
“explicar essa súbita popularidade para textos que estiveram sumidos por um milênio e
meio.”
Citação: “E agora, 2 mil anos depois da morte de Cristo, eles estão fazendo um
tremendo sucesso. Inspirando filmes milionários (como Matrix) e best sellers (como o
Código da Vinci).” Trata-se do fenômeno “pop”.
A justificativa para a abordagem do tema do artigo “O Iluminado”, sobre Buda, é
interesse que desperta em um número cada vez maior de pessoas no Ocidente. Há uso de
anacronismo, como a opinião da autora do livro Maomé e Buda, Karen Armstrong: “nessa
época, as pessoas discutiam sobre espiritualidade com o mesmo entusiasmo com que se
discute futebol hoje.” No final do texto, o autor, compara a expansão do Budismo a um
fenômeno pop e procura esclarecer os motivos pelos quais o tema abordado desperta tanto
interesse na sociedade atual.
Citação: “Quem quiser entender por que o Budismo exerce tanta atração no
Ocidente precisa ver como elas conquistam sua audiência, geralmente de jovens, em torno
da idéia de compaixão.” Inicia-se o texto utilizando termo que buscam prender a atenção
do leitor, tais como “fascinante história”.

8
Resgate factual/narrativo

Esta é uma característica muito presente nos textos da Super Interessante. O autor
inicia o artigo através de uma narrativa histórica tentando aproximar o leitor do fato
descrito. Interessante notar que tal mecanismo denota ao artigo um caráter simplista e acaba
por desmistificar o papel do personagem histórico, levando o leitor a um panorama
histórico.
Faz-se um breve relato factual do acontecido, ou estrutura dos livros: Bíblia e
Corão; o autor trabalha o contexto histórico deste artigo desde o surgimento do Corão até
os dias atuais, mostrando suas diferentes interpretações durante a história e suas
mudanças.). Discute-se veracidade, mas não citam fontes.
Estrutura-se o texto com um panorama do que é o senso comum para os cristãos.
Faz-se uma breve narração do julgamento segundo o evangelho. Conclui-se, por
exemplo, que a morte não foi acidental, que alguém matou Jesus. Os autores tomam partido
dos historiadores e atentam para a necessidade de descobrir através de fatos o motivo da
morte. Faz se uma narrativa do cotidiano da Palestina, e descrição da Páscoa judaica.
(“Quem matou Jesus?”)
Em “A palavra de Deus”, o autor trabalha o início do artigo através de uma narrativa
histórica, mostrando como se deu a conversão de Maomé e o surgimento do islamismo.
Vale dizer que este artigo foi publicado dois meses após os atentados do 11 de setembro de
2001, denotando a matéria um caráter oportunista, já que o assunto estava em voga no
período. A narrativa histórica torna de fácil compreensão o assunto abordado,
demonstrando mais uma vez que a revista tem no público leigo seus maiores leitores.
O texto “Um outro Jesus” é a respeito dos evangelhos apócrifos, texto que foram
proibidos pela Igreja, e que, portanto, não fazem parte da Bíblia, e somente recentemente
foram descobertos. O autor faz uma breve contextualização histórica do período em que a
Igreja definiu quais seriam os evangelhos oficiais.
“O Iluminado”, através da opinião de outros autores, procura fazer uma
contextualização histórica do período em que surgiu o budismo, comparando com o
surgimento de outras religiões, porém não cita a fontes utilizadas.

9
Ausência de fontes:

Pretende-se narrar o que de fato ocorreu, mas não se coloca o essencial da pesquisa
histórica: as fontes. Os autores mostram o contexto da época de uma forma breve, porém
não mostram ao leitor onde encontrou tais informações. Em momento algum os autores
utilizam fontes históricas para justificar sua argumentação, sendo que no final do artigo não
existe nenhuma referência bibliográfica para consulta do leitor. Em alguns casos há um box
intitulado: “Para saber mais”. . Na maioria das vezes, as obras sugeridas são de autoria dos
especialistas mencionados na revista.
O primeiro texto apócrifo citado no artigo “Um outro Jesus”, é o Evangelho de
Tomé, o autor afirma que, segundo opinião de pesquisadores, é tão antigo quanto os que
estão na Bíblia. Ao fazer essa afirmação não esclarece, no entanto, quem são os
pesquisadores citados e nem de onde foi retirada tal informação.
O autor de “O Iluminado”, descreve costumes da Índia do período em que Buda
viveu, descrições que necessitariam de um pesquisa anterior porém, não as fontes de onde
foram retiradas tais informações. O autor menciona trechos das antigas escrituras budistas,
porem não deixa claro se ele consultou diretamente esse material ou se se utilizou da obra
de outro autor e portanto de um interpretação alheia. Após fazer uma contextualização a
respeito da época em que o Budismo surgiu, dos costumes da sociedade que presenciou o
seu surgimento e discorrer a respeito da vida do seu fundador, o autor passa a fazer uma
análise das novidades trazidas por Buda, fazendo afirmações, tais como “a grande novidade
trazida por Buda em sua época foi a idéia de que a vida espiritual , com capacidade de
conhecer a si mesmo, não tem nada a ver com restrições de casta impostas pelos
brâmanes”, que parecem ser a opinião do autor pois não cita outra fonte nem afirma se a
opinião de algum especialista. No entanto, para fazer tais afirmações seria necessário ter
um conhecimento aprofundado do assunto, por isso provavelmente o autor tenha utilizado a
opinião de algum especialista sem fazer menção.

10
Formato didático e iconografia:

No artigo “A verdadeira história de Jesus”, de 2002, a ilustração é feita à lápis; já no


artigo “Quem matou Jesus”, de 2004, editado em seguida à realização do filme “A Paixão
de Cristo”, tem por imagens todos frames do filme de Mel Gibson. A fotografia dá caráter
de verdade, enquanto o desenho, de aproximação.
No artigo sobre a Bíblia, as páginas são decoradas como se fossem a própria
Bíblia. Pretende-se fazer uma ilustração bonita, mas o sentido se perde, pois o objetivo do
texto é justamente mostrar que o que está escrito na Bíblia não ocorreu de fato.
O artigo “O homem que inventou Cristo” possui diversos quadros explicativos do
assunto. Um deles mostra um mapa da região do Mediterrâneo com rotas que Paulo
percorreu durante suas pregações. Outro quadro mostra os personagens da igreja primitiva
cristã. Um outro trabalha os pontos controversos de Paulo a respeito de certos temas, tais
como escravidão, obediência ao Estado, submissão feminina e doutrina da salvação. Estes
quadros ajudam o leitor a compreender alguns temas abordados pela revista, mostrando que
a matéria é destinada a um público leigo.
O texto “Um outro Jesus” apresenta quadros didáticos, com mapas e figuras para
ajudar a compreensão do leitor.

CONCLUSÃO

Os artigos apresentados não estão de acordo nem com a visão teórica de


Giambattista Vico: “Vico sustentava que o cartesianismo , adequado para o estudo dos
fenômenos naturais, não era apropriado para o tratamento dos temas históricos, e
inaugurou a crítica da razão histórica, que seria desenvolvida por Windelband, Rickert e
Dilthey, no fim do século XIX”.2 ; nem com a de Jaguaribe: “no entanto, a História não tem
objetivos pré-escolhidos, nem é orientada por leis, semelhantes às leis naturais.”3,nem
menos com a de Langlois e Seignobos: “ Os fatos imaginados pelo historiador são,
forçosamente, subjetivos; isto constitui uma das razões para que se negue à história o

2
JAGUARIBE, Hélio. Um Estudo Crítico da História.São Paulo: Paz e Terra, 2002, Pg. 32

11
caráter de ciência.”4. Para estes, a narrativa não pode seguir as leis naturais.
Todos os artigos pretendem contar a realidade pura de fenômenos míticos e
místicos; são usados temas polêmicos, que chamem a atenção do público leigo. Os
materialistas históricos não se preocuparam diretamente com os fatos dentro dos fenômenos
místicos, pois o que interessa na História são os grandes movimentos econômicos que
teriam mudado sua estrutura.
Os autores apresentam visões diferentes, sobretudo no que diz respeito à busca da
verdade tal como existiu, ou o oposto, sobre a clareza de que aqueles personagem existiram
em determinado tempo histórico, e não podem ser analisados com critérios do presente. Há
cuidados com o anacronismo; no entanto, em um mesmo artigo, os autores se contradizem
quanto a esta e outras questões, ou até mesmo desmentem as afirmações dos especialistas
citados, utilizando a forma positivista de análise.

Fontes:
*As fontes foram colocadas em ordem de data, para se visualizar melhor a ordem em que as
temáticas se apresentaram.
*Quanto aos autores, não obtivemos resposta da editora sobre sua formação e vertentes
teóricas. Sabemos, por exemplo, que KENSKI é repórter, membro do corpo editorial da
revista. Rodrigo Cavalcante, provavelmente é redator, pois é autor de dois dos artigos
escolhidos.

BURGIERMAN,D. R., CAVALCANTE, R. e VERGARA, R. “A Palavra de Deus”. Super


Interessante. Edição 170. Novembro de 2001.
De PAULA, Caco. “O Iluminado”. Super Interessante. Edição 174. março de 2002
ROMANINI, Vinícius. “Bíblia – o que é verdade e o que é lenda”, Super Interessante.
Edição 178. julho 2002.
CAVALCANTE, Rodrigo. “A Verdadeira História de Jesus”, Super Interessante, Edição
183. dezembro 2002.
VASCONCELLOS, Yuri. “O homem que inventou Cristo”. Super Interessante. Edição

3
Idem, Pg. 29
4
LANGLOIS, ch. V. e SEIGNOBOS, ch. Operações sintéticas. In: Introdução aos estudos históricos. Trad.
Laerte de Almeida. Sâo Paulo, Ed. Renascença, 1946, pg. 154.

12
195. dezembro 2003.
VERSIGNASSI, A. e KENSKI, R. “Quem Matou Jesus”. Super Interessante. Edição 199,
abril de 2004.
MONTENEGRO, Érica. “Um outro Jesus”. Super Interessante. Edição 207. dezembro de
2004.

Bibliografia:

JAGUARIBE, Hélio. Um Estudo Crítico da História. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

LANGLOIS, ch. V. e SEIGNOBOS, ch. Operações sintéticas. In: Introdução aos estudos
históricos. Trad. Laerte de Almeida. São Paulo, Ed. Renascença, 1946.

MARX, K. E ENGELS F.A Ideologia Alemã (I- Feuerbach). Trad. José Carlos Bruni e
Marco Aurélio Nogueira. 11ª. ed. São Paulo: Ed. HUCITEC, 1999.

13
14
15
16
17
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Teoria da História I
Profa. Dra. Raquel Glezer

Trabalho Final

JORNALISMO CIENTÍFICO E REVISTAS DE DIVULGAÇÃO

Alexandre Meloni Vicente


Fábio Cutolo Silveira
Osvaldo André Garcia
Rafael Costa Oliveira

2005
Jornalismo Científico

Jornalista, educador e cientista com mais de 50 anos de dedicação à divulgação científica


no Brasil, José Reis referiu-se muitas vezes à articulação necessária entre informação e
educação pública:

Há muito chegamos à convicção de que a ciência, em nosso país custeada quase exclusivamente pelos cofres
públicos, requer, para o apoio que merece, a compreensão da comunidade. Mas esse entendimento não se
consegue, ao contrário do que parecem imaginar muitos cientistas, pela mera exaltação dos méritos da
ciência; atinge-se pela paciente educação do povo a respeito do que ela faz e das implicações de suas
conquistas (Reis, 1974).

Reis adverte que o jornalismo – principal responsável, em nosso meio, pela educação
permanente – não deve se limitar à exposição dos fatos da ciência quando ela alcança
resultados extraordinários, “... como a bomba atômica, viagem espacial ou tentativas de
obter fecundação in vitro ...” (idem). Para que os leigos possam avaliar o significado da
produção científica e tecnológica é preciso que sejam informados regularmente sobre as
pesquisas nos diversos campos da ciência. “Procuramos, antes, transmitir, na medida de
nossas forças, o sentido mesmo do esforço científico”(idem).

Tomando como base os conceitos de ciência e de disciplina de Singer, segundo o qual a


primeira é um processo de aquisição de novos conhecimentos e a segunda, o conjunto de
conhecimentos acumulados em determinada área, o jornalista Abram Jagle salienta a
importância da divulgação tanto das ciências quanto das disciplinas (Jagle, 1979). Ele
argumenta que as grandes descobertas somente serão compreensíveis se o público estiver
informado sobre as invenções que as desencadearam. Com a divulgação sistemática de
pesquisas acadêmicas, os jornalistas têm oportunidade de difundir os conhecimentos
disciplinares, aqueles que algum dia serão ensinados na escola. Cada reportagem ou matéria
científica é uma nova chance de resgatar os conceitos básicos das disciplinas e esse tipo de
trabalho é fundamental para a formação de uma cultura propícia à divulgação de ciência e
tecnologia.

Grande parte dos brasileiros é receptiva a este tipo de trabalho. “O que o brasileiro pensa da
ciência e da tecnologia?”, a pesquisa que o Museu de Astronomia e Ciências Afins realizou
em parceria com o Instituto Gallup de Opinião Pública, concluiu que 71% dos adultos têm
muito ou algum interesse por descobertas científicas. A pesquisa também revelou que 66%
deles gostariam de receber mais informações dessa categoria. Somente esses dados já
seriam suficientes para valorizar a prática do jornalismo científico no país e incentivar os
esforços profissionais e acadêmicos para aperfeiçoá-la. Se, além da crescente demanda por
informação científica e tecnológica, benefícios como o desenvolvimento científico e o
crescimento econômico forem considerados, a importância dessa divulgação se torna ainda
mais visível.

Dos entrevistados pelo Instituto Gallup, 20% gostariam de estudar algum ramo da ciência.
Não surpreende que o interesse tanto pelas descobertas científicas quanto pelo estudo das
ciências seja maior entre as pessoas com maior nível de escolaridade, o que remete
novamente ao compromisso, fundamental no caso do Estado e complementar no que se
refere à imprensa, de educar. Os brasileiros com curso superior também se mostraram mais
críticos em relação à ciência e à tecnologia, na medida em que citaram exemplos de
descobertas úteis e de outras prejudiciais à vida humana (idem). O vínculo entre a alta
escolaridade e as condições financeiras favoráveis foi comprovado pela pesquisa: “A
variável que mais influi para que as pessoas se interessem pela ciência é a escolaridade, (...)
que decorre do nível socioeconômico das pessoas, fazendo com que ambas as variáveis
sejam altamente correlacionadas ...”.

Na opinião do jornalista Abram Jagle, “... a educação científica é o mais nobre papel do
redator ou editor científico”. Esse caráter formador dos meios de comunicação não é
reconhecido apenas por um e outro profissionais da área; já é admitido como legítimo pela
Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicação, que em seu Informe
Provisional emitido em setembro de 1978, em Paria, apontou: “A função principal da
comunicação em ciência e tecnologia é a gestão do saber humano – da memória coletiva –
de toda a informação que a sociedade necessita para progredir no mundo moderno”.

Conceitos, Objetivos, Funções e Disfunções do Jornalismo Científico

Embora a divulgação de ciência tenha propósitos parecidos com os do jornalismo


científico, e ainda que muitas vezes os seus esforços se acrescentem, estas atividades são
distintas e precisam ser definidas. Com base nos conceitos de difusão, disseminação e
divulgação científicas de Antonio Pasquali, o jornalista Wilson da Costa Bueno procurou
situar o trabalho do jornalismo científico neste conjunto de atividades. Segundo Bueno, o
jornalismo científico é um tipo de divulgação científica, e esta, por sua vez, uma das muitas
formas de difusão (Bueno, 1985).

Na interpretação do jornalista, o significado da palavra difusão é bem mais abrangente que


o inferido por Pasquali. Segundo Bueno, difusão seria “todo e qualquer processo ou recurso
utilizado para a veiculação de informações científicas e tecnológicas”(Idem). Ele cita como
exemplos de difusão desde bancos de dados, sistemas de informação de institutos de
pesquisas, serviços de biblioteca e reuniões científicas até periódicos especializados,
páginas de ciência e tecnologia dos jornais e revistas, programas de rádio e televisão
dedicados à ciência e à tecnologia e filmes sobre temas científicos. Sob esse enfoque, “a
difusão incorpora a divulgação científica, a disseminação científica e o próprio jornalismo
científico, considerando-os como suas espécies”(idem).

De acordo com o público-alvo e, consequentemente, com a linguagem a ser usada. Bueno


distingue a difusão para especialistas da difusão para o público em geral (Idem). A partir
dessa distinção, na qual considera as mesmas variáveis apontadas por Pasquali, interpreta
os conceitos de disseminação e divulgação formulados pelo venezuelano (Idem):

- Disseminação de ciência e tecnologia pressupõe a transferência de informações


científicas e tecnológicas, transcritas em códigos especializados, a um público seleto,
formado por especialistas.
- Divulgação científica compreende a utilização de recursos, técnicas e processos para a
veiculação de informações científicas e tecnológicas em linguagem acessível so público
em geral.
No que se refere à disseminação científica, os autores identificam duas modalidades: as
intrapares e as extrapares. Na primeira, as informações circulam entre especialistas da
mesma área ou de áreas correlatas; seminários de engenharia e revistas de oncologia se
enquadram nesta categoria. “A disseminação intrapares caracteriza-se pelo público
especializado, o conteúdo específico e o código fechado” (Idem), resume Bueno. Já na
disseminação extrapares o público é formado por especialistas de diversas áreas
interessados em informações sobre a especialidade de que trata a publicação. Nesse caso, a
linguagem é menos técnica do que na disseminação intrapares.

Bueno salienta que a divulgação científica, também conhecida como popularização ou


vulgarização científica, é feita não somente pela imprensa, mas também por meio de livros
didáticos, feiras de ciência, documentários, quadrinhos, suplementos infantis, folhetos
informativos sobre higiene e saúde, etc. (Idem). Tanto a divulgação científica quando o
jornalismo científico intentam atingir o grande público e, para isso, procuram usar
linguagem coloquial. “Na prática, o que distingue as duas atividades não é o objetivo do
comunicador ou mesmo o tipo de veículo utilizado, mas, sobretudo, as características
particulares do código utilizado e do profissional que o manipula”.

Os esforços de Bueno foram no sentido de demarcar o jornalismo científico dentro do vasto


universo da difusão científica. Não elaborou um conceito formal para a especialidade, mas
adotou a definição de José Marques de Melo:

Um processo social que se articula a partir da relação (periódica/oportuna) entre organizações formais
(editoras, emissoras) e coletividade (públicos/receptores) através de canais de difusão
(jornal/revista/rádio/televisão/cinema) que asseguram a transmissão de informações (atuais) de natureza
científica e tecnológica em função de interesses e expectativas (universos culturais ou ideológicos) (Apud
Bueno, 1985).

Na avaliação de Bueno, o conceito de jornalismo científico deve obrigatoriamente


incorporar o conceito de jornalismo, com as características apontadas por Otto Groth:
atualidade, universalidade, periodicidade e difusão. Assim fica evidente o motivo que o
levou a aderir ao conceito formulado por Melo. Ter como ponto de partida a atividade
jornalística é, com certeza, fundamental, pois o jornalista científico é, acima de tudo,
jornalista. Embora a literatura não traga uma definição de jornalismo científico aceita
universalmente, os profissionais ou pesquisadores que se dedicam à análise da
especialidade têm feito tentativas no sentido de sintetizar da maneira mais completa
possível as características que garantem a especificidade do jornalismo científico.

Manuel Calvo Hernando admite que o nome “jornalismo científico” pode confundir, num
primeiro momento, os que não são do meio jornalístico (1997). A expressão pode ser
entendida, exemplifica, como o estudo do jornalismo como ciência, o que não é o caso. No
entanto, lamenta, este é um equívoco que não há como mudar – afinal, o termo já é
reconhecido por órgãos como a Organização das Nações Unidas (ONU) e pelas associações
profissionais, como a União Européia de Associações de Jornalistas Científicos e a
Associação Ibero-americana de Jornalismo Científico. Calvo Hernando define jornalismo
científico como “... especialização informativa que consiste em divulgar a ciência e a
tecnologia através dos meios de comunicação de massa”(Idem).

No esforço de caracterizar devidamente o jornalismo científico, alguns profissionais e


estudiosos da área estabeleceram seus objetivos e funções, os quais ultrapassam o nível
técnico e expressam os ideais mesmo da atividade. Melo entende que essa atividade deve
ser:

Principalmente educativa; dirigida à grande massa; promover a popularização do conhecimento das


universidades e centros de pesquisa; usar uma linguagem acessível aos cidadãos comuns; despertar interesse
pelos processos científicos, e não apenas pelos fatos isolados; discutir a política científica; incentivar os
jovens a buscar conhecimento e promover a educação continuada dos adultos (Melo, 1982).

Calvo Hernando também tentou reforçar o conceito de jornalismo científico pela


determinação de seus objetivos e funções. Do ponto de vista dele, cabe aos jornalistas da
área de ciência e tecnologia:

- Criar uma consciência nacional e continental de apoio e estímulo à investigação


científica e tecnológica;
- Divulgar os novos conhecimentos e técnicas, possibilitando o seu desfrute pela
população;
- Dar atenção ao sistema educacional que fornece os recursos humanos qualificados para
desempenhar a tarefa de investigação;
- Estabelecer uma infra-estrutura de comunicação e considerar as novas tecnologias e
conhecimentos como bens culturais, medidas que objetivam democratizar o acesso à
posse da ciência e da tecnologia;
- Incrementar a comunicação entre os investigadores.

Em trabalho mais recente, Calvo Hernando diferenciou as funções informativa,


interpretativa e de controle que caberiam a essa área do jornalismo:

- Função informativa do divulgador que transmite e torna compreensível o conteúdo


difícil da ciência, ao mesmo tempo em que estimula a curiosidade do público, sua
sensibilidade e sua responsabilidade moral;
- Função de intérprete que precisa o significado e o sentido dos descobrimentos básicos e
de suas aplicações, especialmente aquelas que estão incidindo mais radical e
profundamente em nossa vida cotidiana: eletrônica, telecomunicações, medicina,
biologia, novos materiais, etc.;
- Função de controle em nome do público, para tratar de conseguir que as decisões
políticas se tomem tendo em conta os avanços científicos e tecnológicos que melhorem
a qualidade de vida do ser humano e promovam o seu enriquecimento cultural.

Além da função informativa, Bueno também considera básicas do jornalismo científico as


funções educativa, social, cultural, econômica e político-ideológica, implícitas nos
objetivos e funções definidos por Calvo Hernando. De todas essas, a função político-
ideológica é enfatizada por Bueno, que publicou vários trabalhos a respeito. Ele critica a
visão “ingênua” de muitos jornalistas, que “... ainda se apegam à noção de ciência como
saber preciso, universal e puro” (Bueno, 1985).

Comparando os objetivos ideais do jornalismo científico com o seu exercício no país,


outros pesquisadores também identificaram falhas no modo como a ciência e a tecnologia
são divulgadas. Para efeitos de estudos, eles a denominaram disfunções do jornalismo
científico. Estas resultam, em grande parte, dos empecilhos encontrados pelos profissionais
para colocar em prática o que foi atribuído à sua profissão.

As disfunções apontadas por Calvo Hernando referem-se, especialmente, à almejada função


educativa do jornalismo científico. Segundo explica, elas são identificadas pelo
“almanaquismo”, que, define, é a tendência de reduzir as informações científicas e
tecnológicas a meras curiosidades sobre a ciência, tais como registros de recordes e até
piadas; ausência de uma mensagem didática em muitas matérias; pelo pouco respeito à
exatidão científica, tanto na elaboração de um conceito quanto na apresentação de uma cifra
ou medida; pela atenção desproporcional aos elementos secundários de uma informação
científica, com o objetivo de aumentar a possibilidade de impacto junto aos leitores, e pela
superficialidade, falta de documentação, improvisação e atropelo no aproveitamento das
fontes.

A jornalista Alessandra Pinto de Carvalho confessou que se surpreendeu ao constatar, em


sua pesquisa de mestrado, que a revista de jornalismo científico mais vendida no Brasil, a
Superinteressante, contraria alguns dos pressupostos teóricos da atividade. Conforme
conclui, a revista preferida do público adolescente é “um produto bem trabalhado de
marketing” (Carvalho, 1996). Na Superinteressante, mais da metade das notícias
publicadas são de origem internacional, o que vai contra o preconizado pelos acadêmicos,
que propõem a valorização da ciência e dos cientistas nacionais. A publicação, observa,
“consolida uma prática dependente, combatida pelo movimento teórico do jornalismo
científico”(Idem).

A despeito da função educativa prevista pela teoria, a filosofia editorial da revista valoriza
especialmente os detalhes curiosos e inusitados das notícias, em detrimento de informações
mais relevantes. O caráter educativo que Superinteressante deveria assumir, principalmente
em função de seu público predominantemente jovem, escreve a autora, também é abalado
pela seleção e tratamento das matérias. Ao invés de aproveitarem o “gancho” das novidades
científicas e tecnológicas para explicar conteúdos disciplinares aos estudantes, os
jornalistas – fiéis ao projeto editorial – mantêm a superficialidade que perpassa toda a
publicação. A decisão dos editores responsáveis de priorizar o conteúdo atual, avalia
Carvalho, “afasta a característica de uma publicação auxiliar para trabalhos escolares”
(Idem). Mais uma vez, demonstra, a finalidade proposta para o jornalismo científico não é
alcançada.

Na referida concepção de José Reis sobre o assunto,

Se quiséssemos definir o objetivo da divulgação científica, poderíamos dizer que ela procura familiarizar o
leitor com o espírito da ciência (...) Mas o fato já assentado, isto é, a ciência como disciplina, também deve
ser apresentada pelo jornal, para compreensão dos próprios fatos novos ou mesmo para suprir lacunas de
formação intelectual do público (Apud Bueno, 1985).

No entanto, “com as características de almanaque (...) Superinteressante vem se mantendo


como a publicação do segmento mais vendida no Brasil há oito anos”, constata Alessandra
Carvalho. Uma das contribuições do trabalho dela foi evidenciar que a teoria sobre o
jornalismo científico não reflete a realidade da cobertura jornalística nas mais populares
revistas brasileiras do gênero: Superinteressante e Globo Ciência (hoje Galileu). Ela
constata que os estudos acadêmicos falham por não considerar o contexto em que a
atividade jornalística se desenvolve, seus aspectos econômicos e caráter empresarial (Idem,
p. 167). E conclui que:

A imagem da ciência que os jornalistas tentam passar aos leitores engloba diversos aspectos, que passam por
esferas empresariais, filosóficas e ideológicas. Esta questão é muito mais importante do que o conceito que o
profissional guarda, pois, a idéia que se transmite ao leitor nem sempre é compartilhada pelo jornalista
(enquanto indivíduo), mas pode ser uma determinação do projeto editorial da revista.

O editor sênior de Superintentessante, Flávio Dieguez, diz que a revista procura passar a
idéia de que “a ciência é do bem (...) a gente não pode achar que a ciência é ruim, se
fizermos isto não vendemos”. Muitos profissionais assumem essa postura mesmo tendo
consciência das funções sociais da profissão, por força de exigências de mercado. Em
quando se tenta espelhar a prática na teoria, as imagens obtidas não coincidem. A pergunta
do Cimpec – “Os conhecimentos científicos e tecnológicos estão realmente beneficiando a
maioria da população mundial?” – chega aos ouvidos como uma reza em que as palavras
perderam o sentido.

Apesar de a revista, na época Globo Ciência, cumprir um dos grandes objetivos estipulados
para o jornalismo científico, concedendo quase 80% do seu espaço editorial às notícias
nacionais (Carvalho, 1996), no final das contas as duas revistas não correspondem ao
quadro teórico. “A tentativa dos acadêmicos em sugerir alguns passos a serem seguidos
pelo jornalismo científico de nada tem servido aos jornalistas”, escreve Carvalho (Idem). E
a autora conclui: “os profissionais da imprensa geralmente não consideram e não percebem
a importância que é dada à tarefa de divulgação da ciência”(Idem).

Origens do Jornalismo Científico no Brasil

As origens do jornalismo científico, não apenas em nosso país, estão ligadas ao surgimento
das sociedades científicas, de onde partiram as primeiras iniciativas de divulgação
científica. Não é à-toa que, ainda hoje, grande parte dos jornalistas que se dedicam à área
de ciência e tecnologia, aqui e em outros países, entrou na profissão pela porta da ciência.
Foi pela vontade de compartilhar os conhecimentos de sua área que muitos cientistas se
tornaram divulgadores e assim chamaram atenção para os assuntos de interesse público.

Muitos dos que procuraram identificar um marco na história do jornalismo que definisse
quando começou a difusão de informações científicas pelos meios de comunicação
brasileiros preferiram aderir à tese de Solla Price, segundo o qual o jornalismo científico
começa com o próprio jornalismo. Um desses estudiosos é José Reis, divulgador científico
pioneiro no país. Os adeptos dessa corrente partem do princípio de que, desde a sua origem,
a imprensa sempre divulgou assuntos relacionados à ciência, embora em pouca quantidade,
sem regularidade e de forma superficial. Mais recentemente, porém, na medida em que o
jornalismo científico passou a ser objeto de estudo de um número crescente de
pesquisadores, foi ficando claro que o seu surgimento também está ligado a história da
própria ciência – o que só confirma o caráter da atividade jornalística, que se desenvolve
conforme demandas determinadas.

Trabalhos isolados publicados nos últimos vinte anos permitem formar uma cronologia a
partir de meados do século passado, centrada principalmente nos estados do Rio de Janeiro
e São Paulo. É de Luísa Massarani o trabalho A divulgação científica no Rio de Janeiro –
Algumas reflexões sobre a década de 20, defendido como dissertação de mestrado em
1998, no Rio. Nele, a autora reúne uma série de fatos significativos do ponto de vista da
divulgação científica ocorridos ainda no século XIX e relata a atividade de cientistas e
instituições que procuraram popularizar conhecimentos científicos.

Os primeiros jornais brasileiros já divulgavam matérias relacionadas à ciência: O Patriota,


em 1813; O Nictheroy, em 1836; e O Guanabara, em 1850, publicaram artigos do gênero,
conta Luísa Massarani. Segundo historiadores, o Correio Braziliense, primeiro jornal a
circular no país (de 1808 a 1822) já tinha uma seção de ciências. Mas foi na segunda
metade do século passado que, em consequência da segunda revolução industrial na
Europa, a divulgação científica tornou-se expressiva em todo o mundo. Mesmo tendo
reflexos menores no Brasil, a “onda” provocada pelas novas descobertas científicas fez
crescer o interesse pela divulgação. A mudança no perfil de O Guanabara, em 1857, é uma
das comprovações disso.

Naquele ano, a publicação, antes dirigida por uma associação de literatos e centrada em
assuntos de artes, ciências e literatura, passou às mãos de Candido Baptista de Oliveira e
deu maior espaço para os assuntos científicos. Levantamento feito por Massarani mostrou
que 20% das matérias publicadas pela Revista Brazileira – Jornal de Sciencias, Letras e
Artes – como foi renomeada a publicação – eram de divulgação científica. Em relação aos
outros assuntos, os de popularização científica ficavam em terceiro lugar, atrás dos artigos
científicos e técnicos, que somavam 30% e dos relatórios ou documentos, os quais
representavam 22% do conteúdo.

A Revista do Observatório foi importante no que se refere à divulgação científica. Fundada


em 1886 pelo Observatório do Rio de Janeiro (hoje Observatório Nacional), com o objetivo
de divulgar descobertas no campo de astronomia, meteorologia e física, a publicação tinha
periodicidade mensal. Cientistas reconhecidos da época faziam parte da comissão de
redação, entre os quais: Luís Cruls, Luiz da Rocha Miranda, Henrique Morize e J.E. de
Lima. Diferente das primeiras revistas, que publicavam também artigos de artes e letras,
esta era de conteúdo restrito às ciências.

A linguagem adequada para divulgar a ciência já era uma preocupação naquele tempo. Os
editores da Revista do Observatório adiantaram, ao apresentá-la ao público (segundo Luísa
Massarani):
Pretendemos pois dar a essa revista o cunho de uma publicação de vulgarização, porém de vulgarização de
conhecimentos exatos, apresentados debaixo de uma forma que os torne acessíveis para todos. Acreditamos
que, redigida nesse pensamento, contribuirá a nova revista para promover entre nós o gosto pelo estudo e da
observação. Na Europa e nos Estados Unidos, não são poucas as publicações criadas para o mesmo fim e é
inegável a influência benéfica que tiveram para o desenvolvimento e vulgarização da mais atrativa das
ciências ... (Massarani, 1998).

A década de 20 foi importante do ponto de vista da divulgação científica no Brasil. Fatos


determinantes para isso foram a criação da Sociedade Brasileira de Ciências (1916) e, mais
especificamente, a atuação de um grupo de acadêmicos que se dedicaram à divulgação
científica. Em sua dissertação, Massarani salienta a influência de Manoel Amoroso Costa,
matemático; Miguel Ozório de Almeida, das ciências biológicas; Henrique Morize,
astrônomo e físico; e do antropólogo Edgard Roquette-Pinto. Os relatos reunidos por
Massarani mostram que cada um destes cientistas contribuiu para popularizar a ciência na
sua área, divulgando grande quantidade de artigos. Segundo Caffarelli, citado pela autora,
Amoroso Costa foi o primeiro divulgador da teoria da relatividade de Einstein, com a
publicação de uma notícia curta em O Jornal em 12 de novembro de 1919, seguida de uma
série de artigos.

Morize ajudou a criar a Revista do Observatório, do Observatório do Rio de Janeiro, onde


chegou a astrônomo em 1891 e o qual passou a dirigir em 1908. Escrevia principalmente
sobre cometas e geociências. Pelo menos 15 anos mais velho que os outros cientistas,
Henriqeu Morize influenciou Ozório e Roquette-Pinto, como outras centenas de estudantes,
com a difusão do ensino experimental de física.

Vera Lúcia de Oliveira Santos reviu o levantamento feito por Afonso de Freitas a respeito
da imprensa paulistana, com o objetivo de relacionar as publicações que incluíam
divulgação científica em seu conteúdo. Também em São Paulo as primeiras iniciativas de
divulgação científica partiram de associações acadêmicas, se considerarmos a revisão da
autora, que abrange o período de 1833 a 1915. Segundo informa, a Revista Filomática, da
sociedade do mesmo nome, foi a primeira publicação do gênero no estado, lançada em
1833 (Santos, 1978).

Grande parte das publicações identificadas por Vera Lúcia de Oliveira era editada por
associações estudantis. A revista mais antiga do gênero é a Revista Paulistana (1856), que,
redigida por estudantes da Faculdade de Direito, começava a circular a partir de março,
início do período letivo. A autora mostra que o número de jornais e revistas de instituições
científicas também era elevado. A Revista do Instituto Científico (1862) é uma das dezenas
de publicações dessa categoria.

Datam do começo deste século a Revista Científica Enciclopédica (1904) e as revistas


Moderna e Íris, as últimas duas lançadas em 1905. Como na maioria das outras
publicações, nestas também os assuntos de ciência dividiam espaço com conteúdos
diversos. O primeiro jornal que manifestou em editorial o propósito de vulgarizar a ciência
foi A Notícia. Mesmo a veiculação deste jornal. porém, não assinala o início do jornalismo
científico pelo fato de ter tido vida curta, conclui a autora. Lançado em janeiro de 1906, o
jornal A Notícia foi suspenso em dezembro do mesmo ano.
Na interpretação de Vera Lúcia de Oliveira Santos, nenhuma das publicações citadas pode
ser considerada um marco da especialidade, devido à falta de regularidade. A pesquisadora
adere à opinião do divulgador científico José Reis, segundo o qual o jornalismo científico
surgiu com o periódico geral. No entanto, ressalva, a atuação do jornalista João Ribeiro no
jornal O Comércio de São Paulo, a partir de 1895, é um trabalho pioneiro de divulgação
científica no país. “Apesar de não ser versado em ciências físicas e naturais sabia traduzir
esses conhecimentos em linguagem acessível ao público de sua época”, conta (idem). Vera
Lúcia de Oliveira Santos é a autora da dissertação João Ribeiro como jornalista científico
no Brasil.

As Revistas atuais

Dentre as revistas de informação científica atuais, podemos destacar três de grande


importância, Ciência Hoje, Superinteressante e Galileu.

A revista Ciência Hoje, lançada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC) em 1982 não cumpre seu objetivo de informar o público em geral, conforme
concluiu Myriam Regina Del Vecchio de Lima (1992). Segundo a jornalista, o uso da
linguagem especializada e a abordagem de assuntos que interessam apenas a especialistas
tornam a leitura difícil para o público leigo. O público de Ciência Hoje é
predominantemente universitário. Ela argumenta que, para conseguir maior abrangência, os
editores da revista teriam que passar aos jornalistas a função de intermediar a transferência
de conhecimento dos pesquisadores aos leitores. Segundo conclui:

Ao manter o jornalista como um coadjuvante secundário do projeto e transpor para uma revista de divulgação
científica critérios de revista científica, Ciência Hoje se transforma em uma proposta de poder da comunidade
científica (Idem).

Lançada em setembro de 1987, a revista Superinteressante teve tiragem de 150 mil


exemplares. Devido ao grande volume de vendas, mas 90 mil tiveram que ser impressos
para corresponder à expectativa de público. Em 1995, a revista conseguiu vender 422 mil
exemplares, tornando-se a publicação de ciência mais vendida do país. A revista de ciência
da Editora Abril é a versão brasileira do projeto Muy Interessante, que tem revistas
idênticas do ponto de vista editorial na Argentina, Alemanha, França e México. \

No rastro de Superinteressante, a Editora Globo lançou, em 1991, a revista Globo Ciência,


hoje Galileu. Alessandra Pinto de Carvalho, os fundadores dessa revista apostaram na
atualidade das matérias como um diferencial em relação às publicações concorrentes, que já
tinham seus públicos cativos. Ciência Hoje contava com a receptividade dos leitores
universitários e Superinteressante mantinha-se como publicação voltada a estudantes de
primeiro e segundo graus. Globo Ciência tornou-se a segunda revista de ciência mais
vendida do país, divulgando principalmente matérias nacionais.

Temas históricos na Superinteressante

Julho de 1996 – Os brasileiros de 11.200 anos.


Agosto de 1997 – Canibais.
Junho de 1997 – O bandido.
Abril de 1997 – O veneno do bem.
Junho de 1998 – O sudário é mesmo santo?
Fevereiro de 1998 – A história secreta do descobrimento.
Setembro de 1999 – Vida e morte no campo de batalha.
Abril de 2000 – Bandeirantes.
Março de 2000 – Sacrifício humano.
Março de 2002 – Buda.
Julho de 2002 – Bíblia, o que é verdade e o que é lenda.
Dezembro de 2002 – A verdadeira história de Jesus.
Julho de 2003 – Abraão existiu?
Agosto de 2003 – Herança dos faraós.
Novembro de 2003 – Hitler.
Dezembro de 2003 – São Paulo traiu Jesus?
Abril de 2004 – Quem matou Jesus?
Maio de 2004 – Tróia.
Outubro de 2004 – O código da Vinci.
Dezembro de 2004 – Jesus proibido.
Dezembro de 2004 – edição extra – Confúcio.
Janeiro de 2005 – O verdadeiro Alexandre.
Fevereiro de 2005 – O santo Graal.
Maio de 2005 – Toda a verdade sobre as Cruzadas.

A revista de divulgação científica Superinteressante, uma das mais vendidas, possui um


amplo repertório de temas históricos em suas publicações. Foram 24 edições dedicadas a
esses temas em 9 anos, de 1996 a 2005.

Trata-se de uma revista de divulgação, é verdade, mas também é uma revista voltada para o
público em geral, não somente para os especialistas; e uma revista com fins comerciais,
voltada para a venda. Percebemos isso através das matérias de capa.

A maioria delas é escolhida com base em algum interesse momentâneo do público;


interesse gerado pelos filmes hollywwodianos, como no caso de Tróia, Alexandre, o
Grande e das Cruzadas, por exemplo.

Outro tema recorrente da revista é a religião, que sempre teve boa aceitação pelo público,
por ser um tema polêmico, e a revista se aproveita dessa polêmica. As edições de julho de
2002, “Bíblica, o que é verdade e o que é lenda”, e de dezembro de 2002, “A verdadeira
história de Jesus”, são essenciais para o entendimento de como a Superinteressante aborda
o tema da religião. E não só a Super, mas também outras revistas científicas deram grande
importância ao tema.

A questão religiosa nas revistas de divulgação científica

Caracterizadas por abordarem matérias de divulgação científica, as revistas


Superinteressante e Galileu sempre dão um jeitinho de abordar a temática “religião”. Os
diretores das revistas argumentam que o escopo do termo “ciência” vai além do campo das
ciências exatas. “A aventura humana contraditória e espetacular, nos encanta tanto quanto
os átomos e as moléculas”, expressa Adriano Silva, diretor de redação da Super, em
editorial (7/02). Inclui-se nas pautas das mensais as áreas mais subjetivas do saber humano,
como história, filosofia, semiótica e psicologia.

Só em 2001 e 2002 a Super trouxe cinco capas de tema religioso (ver foto). A revista se
escondeu sob um manto de imparcialidade, variando entre diversas segmentações, como o
islamismo, cristianismo e espiritismo. Caminhou, no entanto, por uma trilha não
aconselhável, pelo menos no tocante ao jornalismo.

Entre todas as edições, destaca-se a de julho de 2002, com o título “Bíblia – o que é
verdade e o que é lenda”. A matéria despeja uma enxurrada de afirmações categóricas sobre
o relato bíblico, desmentindo-o. “O que se sabe com certeza é que Jesus foi um judeu
sectário e um agitador político que ameaçava levantar dois milhões de judeus da Palestina
contra o exército de ocupação romana. Tudo o mais necessita da fé para ser considerado
verdade”, diz uma das legendas.

Para compor a matéria, a Super se baseia apenas em um viés do problema, extinguindo o


outro. Beirando o sensacionalismo, a revista coloca os “fatos” como única opção legítima
de verdade absoluta. Rejeita completamente a fé, postando-se ao lado de uma ciência vesga
e unilateral. Ao fazer as afirmações, a Super não se preocupa em comprová-las, baseando-
se apenas em declarações de arqueólogos e afins.

Numa espécie de link à discutida matéria sobre a Bíblia, no mês seguinte (8/02) a Super
montou uma reportagem não menos tendenciosa sobre a necessidade do homem de
confiança. Intitulada “Programado para a fé”, a matéria afirma existir uma base biológica
para a crença humana: o cérebro estaria configurado para a fidelização do homem. De
acordo com a reportagem, símbolos sagrados serviriam de ativação do sistema límbico,
“facilitando a transição para os estados alterados de consciência”. O final da reportagem
não estaria mais de acordo com o conteúdo: “Até que se alcance um consenso, só a fé, ou
seja numa teoria científica ou num dogma [por que não substituit “dogma” por uma “crença
infantil”?], será capaz de responder se Deus é uma criação de nosso cérebro ou se nosso
cérebro foi criado por Deus”.

Quando trata de Islamismo (11/01), a Super destaca trechos do Alcorão que tratam de
violência. Vale ressaltar que praticamente todas as mídias ocidentais visualizam os
muçulmanos de forma negativa. Moldam no receptor um pensamento preconceituoso em
relação a eles. Super só fez repetir o embate entre o bem e o mal, reafirmando que a
agressividade islâmica provêm de Alá. “Matai os idólatras, onde quer que os acheis”,
distingue em legenda.

Allan Kardec, Dalai Lama e Buda também tiveram seu espaço na Superinteressante. O
curioso é que agora as chamadas favoreciam as ditas religiosas. A do espiritismo (9/02), por
exemplo, ressaltava que o Brasil é o país com maior número de adeptos do mundo. A do
budismo, definia a religião como fascinante, pois seu seguidor não precisa de um deus. Para
completar a trindade – sugestivo, não? – a figura de Dalai Lama é evocada com adjetivos
típicos: sabedoria, simpatia, simplicidade e felicidade. Perfeito. Principalmente para atender
os interesses comerciais do capitalismo.

E Galileu? Entre as capas da concorrente da Editora Abril, destaca-se a de julho de 2002,


que trouxe estampado o título “Deus: precisamos dele?”, indicando uma possível
indiferença ou, quem sabe, uma aproximação. Entretanto, a verdadeira temática da
reportagem falava sobre a fé, tentando explicar por que a crença em “uma força superior” –
assim mesmo, entre aspas – aumentava em meio à tecnologia e à ciência.

A reportagem define fé como algo indispensável à humanidade, “uma espécie de


ferramenta usada para encontrar o sentido de sua existência e ajudar a enfrentar as
adversidades”. Assim, Galileu acomoda a fraca fé do leitor com comentários do tipo: “O
fato de um indivíduo não freqüentar uma igreja não significa que ele não tenha algum tipo
de fé” e “A idéia de que o homem é criado à imagem e semelhança de Deus é uma boa
alavanca para a auto-estima”.

Galileu encerra a reportagem com a opinião do teólogo Fernando Altemeyer: “O mais


completo ateu vai ter fé em algo que o transcenda, pode ser o amor, a música, uma obra de
arte ou o trabalho”. Em outras palavras: você não precisa de Deus.

Menos escancarada – mas não menos tendenciosa – uma das matérias da edição de
fevereiro do mesmo ano da Galileu trouxe o título “O dilúvio – o que a Bíblia não conta”.
Aparentemente imparcial, a revista tenta passar a idéia de que a enchente universal não
passou de lenda. O repórter conta que diversas culturas contêm lendas parecidas como os
babilônicos por exemplo.

Além disso, completamente fora do contexto, a matéria usa declarações de teólogos cristãos
(?) que duvidam da narrativa diluviana: “Õ dilúvio é uma representação simbólica, sem
vínculo especial com qualquer evento que possa ter ocorrido há milhares de anos”, afirma o
teólogo Fernando Altemeyer, já citado. Para ele, e para a revista, a narrativa bíblica
representa uma renovação simbólica, uma espécie de divisor de águas (bem sugestivo).

Falando no embate entre criacionismo x evolucionismo, é notável que ambas as revistas


denigrem o primeiro e exaltam o segundo. Em 6/02, por exemplo, a Super abordou a teoria
do planejamento inteligente, subestimando-o: “Apesar do status de ciência pretendido por
seus defensores, o neocriacionismo não deixa de dar seqüência, nos dias atuais, ao embate
centenário entre religiosos e evolucionistas”. A reportagem tenta relacionar a teoria citada
com o criacionismo bíblico, apresentando-a como retrógrada, improvável e anti-científica.

Cerca de um ano antes (8/01), era a Galileu quem discutia o tema. Com o título “A religião
contra-ataca”, a revista da Editora Globo relata o esforço que criacionistas empreendem
para tirar do currículo escolar disciplinas relacionadas à teoria do Big-Bang ou a idade da
Terra. Os primeiros parágrafos da matéria já mostram qual a linha a ser adotada pelo
repórter – um atenuado manifesto de indignação contra a anti-intelectualidade do
protestantismo estadunidense.
Por todo o texto, percebe-se a tentativa em relacionar a interferência religiosa no ensino
com os fundamentalistas religiosos. Frases tendenciosas como “calcula-se que um terço dos
professores [nos Estados Unidos], mal pagos e mal formados, são criacionistas”; ou a
inserção clara da opinião pessoal do repórter, como “os novos criacionistas também
aperfeiçoaram as táticas desde os tempos em que brandiam a Bíblia e chamavam os
defensores da evolução de pecadores. (...) Chamam-se ‘criacionistas científicos’”, atestam
uma insistente tentativa de inferiorizar a teoria criacionista e seus adeptos mediante a ironia
e o sarcasmo.

Ambas as revistas revelam um caráter exageradamente racionalista ao tratar de religião.


Tanto a Super quanto a Galileu esquecem-se de verificar a cartilha do jornalismo e da
ciência. Desprezam a observação metódica, seguida de fiel descrição dos fatos e
verificação, elementos fundamentais para o processo científico. Demonstram carência na
abordagem de outros pontos de vista, manifestam tendência preconceituosa e
preestabelecida, abomináveis no antro das redações.

Galileu e Super diferenciaram-se apenas na forma de se comunicar com o leitor – a


primeira dissecou os fatos, trazendo uma linguagem mais acessível ao público não
instruído, enquanto a segunda utilizou um vocabulário mais rebuscado, técnico e
direcionado a um público especializado. Fora isso, pode-se dizer que, se tratando de
religião, predominam idéias aversivas, intolerantes, ateístas e agnósticas, seja lá qual for o
tipo de roupagem.

Em dezembro de 2002, duas revistas trouxeram como matéria de cada a história de Jesus. A
Superinteressante, como geralmente faz quando se aventura em temas de fé (um verdadeiro
desvio de sua proposta editorial original, de ser uma revista científica, como bem o sabem
aqueles que a acompanharam quando de seu lançamento há uma década e meia), estampou
um título nem um pouco modesto em sua capa recordista: “A verdadeira história de Jesus.
“A outra revista foi a Veja, com a chamada “O que Ele tem a dizer a você hoje”, cuja
matéria se mostra bem mais ponderada.

Mas falemos antes do texto da Super. Logo de início, o artigo afirma que “além dos
evangelhos – que não podem ser considerados fontes imparciais de sua [de Jesus] vida, já
que foram escritos por seus seguidores – há apenas uma menção direta a Ele, citada pelo
historiador judeu Flávio Josefo, que escreve sobre sua morte no livro Antigüidades
judaicas, feiro provavelmente no fim do século I”.

No entanto, adiante, o texto menciona a história de Paulo, relatada no Livro de Atos, cujo
autor é Lucas, e a aceita como verídica. Fica no ar a pergunta: quando se deve aceitar ou
descartar um texto bíblico?

Ainda na mesma matéria questiona-se o nascimento de Jesus em Belém, afirmando-se que


Ele teria nascido, na verdade, em Nazaré. Diz-se, também, que a execução dos recém-
nascidos por Herodes, a fuga de Maria e José para o Egito e a existência dos sábios do
oriente não passam de invenções acrescentadas pelos evangelistas, ou uma “licença
poética”, como traz o texto. É a moda contestatória aí, de novo.
Citando Gabriele Cornelli, professor de Teologia e Filosofia da Universidade Metodista de
São Paulo, a Super informa que, tendo como base as parábolas de Jesus, Ele muito
provavelmente teria sido um camponês, e não um carpinteiro. Isso significa que o médico
Drauzio Varella, por exemplo, teria sido um detento, pelo fato de ter escrito um livro tão
detalhado sobre o dia-a-dia da antiga Casa de Detenção do Carandiru? Jesus falava para
(entre outras pessoas e grupos sociais) os camponeses, e como bom mestre que era usava
informações do cotidiano deles.

A matéria da Super ignora ainda o contexto espiritual da pregação de Cristo (o que não se
deve fazer, considerando-se quem Ele é) ao sugerir que Ele teria iniciado sua pregação
motivado por um sentimento de injustiça social em relação à opressão romana. E diz,
também, que muitos curandeiros realizavam curas como um ato subversivo em ralação ao
poderio do templo judaico. Qualquer leitor da Bíblia sabe que Jesus enfatizou a paz (dê a
César o que ;e de César; dê a outra face ao que lhe bater; e por aí vai) e sempre se referiu ao
seu reino como não sendo deste mundo.

A bem da verdade, é preciso que se diga que a Superinteressante, nessa matéria em análise,
faz uma boa descrição sobre o tempo e os hábitos de vida na época de Cristo. Mas, ao
apresentar diferentes opiniões sobre Jesus – como no caso em que um estudioso afirma ter
sido ele analfabeto, e outro diz o contrário -, evidencia ter escolhido o título para a capa
levando em conta mais a publicidade do que o jornalismo. Afinal, qual a verdadeira história
de Jesus? Nem eles respondem.

No caso da Veja de dezembro de 2002, é feita verdadeira retrospectiva da história do


cristianismo, afirmando-se, inclusive, que “trouxe nova moral e um mundo saturado de
crueldade casual e de paixão pela morte alheia... Uma moral que conferiu aos homens sua
humanidade e na qual a virtude é a sua própria recompensa – sob cuja égide ainda vivemos,
independentemente de crença”.

No texto “A ciência à procura de Cristo”, da mesma edição, é dito que se descobriu “mais
sobre Jesus Cristo nos últimos trinta anos do que nos dois mil anteriores. O que se tem de
novo é uma impressionante coleção de objetos e documentos que coincidem com os relatos
bíblicos e que ajudam a dar contornos mais nítidos à figura histórica de Jesus”. Constatação
simples, sem preconceitos e bem-vinda.

Infelizmente, a despeito da relativa imparcialidade da Veja de dezembro, o ponto comum


em todas as matérias citadas (e em quase tudo o que a mídia secular publica sobre Jesus) é
o peso maior dado às declarações dos especialistas (quase sempre de orientação humanista)
e aos livros escritos sobre Jesus, em detrimento das próprias palavras de Jesus, registradas
nos evangelhos – estes sim, geralmente questionados quanto à veracidade histórica.
Conclusão

O grande objetivo da revista Superinteressante, e das outras estudadas, é a venda, apesar do


suposto interesse na divulgação científica. Os temas são escolhidos com base na aceitação
do público, e toda a revista é montada no sentido de chamar a atenção.

A Super, em suas matérias com temas históricos, segue uma certa linha padrão: buscar
temas comuns e tentar desmistificá-los. É o caso dos Bandeirantes, do Descobrimento, dos
Faraós, etc. Tudo baseando-se em análises ditas científicas.

No entanto, como já foi dito antes, a escolha do tema da capa também leva em conta o
interesse momentâneo do público (como nos temas referentes aos filmes de Hollywood) e
certos assuntos que sempre tiveram grande repercussão, como a religião.

O aspecto gráfico da revista impressiona, e é exatamente essa a intenção; a qualidade da


impressão é excelente, a escolha das fotos e das gravuras é cuidadosa e realmente
impressionante. Até os fundos das páginas completamente abarrotadas de letras é atraente.
Tudo para atrair a atenção do leitor.

E o modo como as matérias são escritas também é interessante: firme e extremamente


seguro. O leitor leigo tem a impressão de que o autor realmente sabe do que está falando, o
que não é o caso em algumas vezes. Embora isso não se aplique aos especialistas, a revista
ajuda o público leigo a formar suas opiniões sobre diversos assuntos.

Do ponto de vista acadêmico, no entanto, o conteúdo dos textos é duvidoso, pois são, em
sua maioria, escritos por jornalistas, e não por historiadores. Visando a venda, claro, o texto
jornalístico é mais fácil de ser assimilado e muito mais atraente.

Existe, lógico, pesquisa em cima dos temas, mas são apresentadas visões tendenciosas
sobre os assuntos, e as fontes utilizadas nem sempre (aliás, quase nunca), são as mais
indicadas.

Apesar de tudo isso, a Super desempenha um papel importante na disseminação da cultura


relacionada à História, mesmo com seus textos jornalísticos e tendenciosos. Pois seu campo
de ação é muito maior do que qualquer revista que trata de temas históricos. É a revista de
divulgação científica mais vendida, e é totalmente montada e planejada para continuar no
topo das vendas.
Bibliografia

BUENO, Wilson. Os novos desafios do jornalismo científico. In: VII Congresso Ibero-
americano de Jornalismo Científico, Buenos Aires, 2000.

BURKETT, W. Jornalismo científico: como escrever sobre ciência, medicina e alta


tecnologia para os meios de comunicação. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990.

CALVO HERNANDO, M. Teoria e técnica do jornalismo científico. São Paulo, EDCA,


1970.

CARVALHO, Alessandra P. A ciência em revista: um estudo dos casos de Globo


Ciência e Superinteressante. (Dissertação de mestrado). São Bernardo do Campo: IMS,
1996.

JAGLE, A. Imprensa e educação científica. Ciência e Cultura. jun.1979.

LIMA, M.R.D.V. Ciência Hoje nas Bancas. São Bernardo do Campo. Instituto Metodista
de Ensino Superior, 1992.

MELO, J.M. Quando a ciência é notícia: estudo comparativo da cobertura científica na


imprensa diária do Rio de Janeiro e de São Paulo. São Paulo, ECA, 1986.

REIS, J. Ciência e jornalismo. Ciência e Cultura, 1972.

SANTOS, V.L.O. Jornalismo científico: definições, origem e história. Ciência e Cultura,


1978.

Revistas:
Revista Veja, edição de dezembro de 2002.
Revista Galileu, edição de julho de 2002.
Revista Superinteressante, várias edições.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

ANÁLISE DE MATERIAL DE DIVULGAÇÃO HISTÓRICA


COLEÇÃO GRANDES GUERRAS – VOLUME I

Disciplina FLH – 401 – Teoria da História I


Profa.Dra.Raquel Glezer

Aluno: Marcos Ahlers Nascimento - No. 4870986


Noturno

1o semestre de 2005
Índice

Introdução

A Editora

Composição da Revista
Capas
Primeira página
Sumário
Introdução
Abordagem principal da revista
Outros temas

Conclusões

Bibliografia
Introdução

O material de divulgação histórico escolhido para análise foi o volume I da Coleção


Grandes Guerras: I Guerra Mundial (1914-1918). A Coleção Grandes Guerras é uma
publicação especial da Editora Abril S.A. vinculada a outras publicações da editora –
SUPER Interessante e Aventuras na História – dedicadas, parcialmente ou integralmente, a
artigos de cunhos históricos. No editorial da revista, intitulado Carta do Front, encontramos
a justificativa para a publicação do material analisado. A editora Karla Monteiro atribui o
projeto e a realização da Coleção Grandes Guerras ao sucesso editorial da edição especial
de aventuras da História, em junho de 2004, dedicada a II Guerra Mundial. O restante da
Carta do Front é dedicado a agradecer e enaltecer a equipe que desenvolveu a revista, além
de citar o morticínio do conflito. Pretendo, nessa breve análise, abordar a disposição
iconográfica na revista.

A editora1

Antes de iniciarmos a análise do primeiro volume da Coleção Grandes Guerras iremos


conhecer a forma como a editora da revista apresenta-se. Segundo o site oficial da Editora
Abril S/A. a empresa teve início em 1950 com Victor Civita e a publicação de O Pato
Donald. A editora começou num pequeno escritório no centro de São Paulo, ao todo, com
meia dúzia de funcionários.

Em 1960 Victor Civita resolveu publicar obras de referência em fascículos. Foi um


fenômeno editorial. O conhecimento antes restrito às bibliotecas e livrarias chegava às
bancas e ao grande público. Ao mesmo tempo, o crescimento da família Disney e o
lançamento de Zé Carioca, em 1961, estimularam os quadrinhos nacionais. Recreio,
lançada em 1969, levou mais adiante a proposta de educar divertindo com suas histórias e
atividades.

Segundo o “site” a Abril esteve presente nas principais transformações da sociedade


brasileira. O crescimento do turismo e da indústria automobilística, por exemplo, fez nascer
Quatro Rodas. Futebol e sexo ganharam revistas sobre o assunto com Placar e Playboy. E
Veja, hoje a maior revista do país, foi responsável por algumas das melhores reportagens
publicadas na imprensa nacional. A Abril também acompanhou de perto a mulher brasileira
nas últimas cinco décadas com o lançamento de revistas femininas. Capricho começou com
fotonovelas e em 1981 foi reformulada para falar com as adolescentes. Manequim, a
primeira revista de moda da Abril, hoje é uma das mais vendidas no Brasil. Cláudia, que
nasceu em 1961, focalizava inicialmente a dona-de-casa. Ao longo dos anos, para manter a
liderança no setor, recebeu sucessivas adaptações e tratou de temas polêmicos, como o
feminismo. Nas décadas seguintes, surgiriam inúmeros títulos, entre eles Nova e Elle, e,
recentemente, Estilo.

O logotipo da empresa representa a fertilidade, a vida, e o verde é a cor da esperança e do


otimismo. Hoje a Editora publica mais de 250 títulos, que chegam a 26 milhões de leitores.
A Gráfica utiliza processos digitais e imprime cerca de 350 milhões de revistas por ano.

1
As informações sobre a Editora Abril foram obtidas no site www.abril.com.br
Com todos os seus sites, atinge cerca de 200 milhões de pageviews ao mês, e os jovens
expectadores da MTV (também do Grupo Abril) chegam a 7,7 milhões ao mês. As revistas
representam 76% das atividades do Grupo. São 150 títulos publicados anualmente, com
circulação de aproximadamente 200 milhões de exemplares vendidos ao ano e 3,7 milhões
de assinaturas. As principais revistas são:

Ana Maria
Arquitetura & Construção
Atividades
Aventuras na História
Boa Forma
Bons Fluidos
Bravo!
Capricho
Caras
Cartoon Network
Casa Cláudia
Cláudia
Cláudia Bebê
Cláudia Cozinha
Contigo
Decoração para o Bebê
Elle
Escola
Estilo
Exame
Faça e Venda
Disney
Info Exame
Info Corporate
Manequim
Manequim Noiva
Minha Novela
Mundo Estranho
National Geographic
Nova
Placar
Playboy
Quatro Rodas
Recreio
Revista das Religiões
Saúde
Simpsons
Spawn
Superinteressante
Tititi
Veja
Veja São Paulo
Veja Rio
Veja Suplementos Regionais
Viagem e Turismo
Vida Simples
Vip
Viva Mais
Voce S/A
Witch

O Grupo Abril é um dos maiores e mais influentes grupos de comunicação da América


Latina, com uma receita líquida de R$ 2,1 bilhões em 2004. Suas publicações têm uma
circulação de 178 milhões de exemplares, em um universo de 26 milhões de leitores. Sete
das dez revistas mais lidas no país são da Abril, sendo que Veja é a quarta maior revista
semanal de informação do mundo e a maior fora dos Estados. A empresa emprega hoje
cerca de seis mil pessoas e atua nas áreas de revistas, educação, conteúdo e serviços online,
internet em banda larga, TV segmentada e por assinatura e database marketing.

A Fundação Victor Civita, criada em 1985 e desde então dedicada à melhoria do ensino
fundamental no país, deu início aos projetos de responsabilidade social da Abril. Com a
revista Escola a Fundação atinge mensalmente 1,5 milhão de professores em praticamente
cada escola do país. Além do trabalho voluntário e do talento de seus profissionais, a Abril
disponibiliza recursos para várias iniciativas que reforçam os laços da empresa com a
comunidade, promovendo educação, cultura, preservação do meio ambiente, saúde e
voluntariado em diversos projetos de cidadania e participação social.

Composição da revista

Capas
No alto da capa o título da revista, Coleção Grandes Guerras, logo abaixo à direita a
indicação Aventura na História – edição 1 – setembro de 2004. A imagem de destaque da
capa é o desenho de uma máscara de gás em cores sombrias que, em conjunto, com o
subtítulo “O marco sangrento entre o velho e o novo mundo” indica o tom da revista e as
estratégias usadas para atrair o público – voltarei a esse tema posteriormente. Parte inferior
estão em destaque os temas abordados na revista: O dia-a-dia nas trincheiras, horror no
front ocidental, o fiasco de Churchill, 120 mil crianças mortas em combate, os mapas do
conflito, o jovem Hitler, gases letais, as armas decisivas, barão vermelho e batalhas navais.
Também na parte inferior da página, a esquerda o logo da Editora Abril S/A e a direita o
logo da revista SUPER Interessante.

Na contracapa confirmamos que o estímulo à curiosidade é o “gancho” para atrair o leitor.


O fundo é preto – assim como a parte posterior da capa e da contracapa – e quatro frases
iniciadas com reticências completam a frase em destaque na metade superior da contracapa:

No primeiro volume você vai descobrir que...


... pelo menos 9 milhões de soldados morreram e outros 40 milhões foram feridos e
mutilados nas frentes de batalha.
... em 1914 o Ocidente já vivia de olho no petróleo da região onde hoje está o
Iraque. Bagdá foi um dos principais alvos dos ingleses.
... aviões, submarinos, tanques e metralhadoras são inovações da I Guerra. Mas
técnicas rudimentares, como pombos-correio, também marcaram presença nos fronts.
... o conflito colocou um fim nas monarquias absolutistas, proporcionou a ascensão
do socialismo e alçou os Estados Unidos ao posto de potência mundial.

Primeira página

Na primeira página temos o editorial intitulado Carta do Front – abordado na introdução


deste trabalho – em destaque, no canto esquerdo informações sobre a editora Abril, abaixo
do editorial a primeira foto da revista e no canto direito ocupando pouco espaço – mas em
destaque devido a cor – uma chamada publicitária. Vamos nos ater a imagem reproduzida
nessa primeira página. É uma foto preta e branca com a legenda: o embarque de soldados
ingleses rumo a guerra em 1914. Notamos que a fonte não é indicada e um C no interior de
um círculo é acompanhado pela palavra reprodução.2 O que a imagem ilustra
é`significativo: um soldado, talvez um marinheiro, despede-se beijando uma garota. A foto
adaptou-se bem na introdução, após o clima pesado transmitido pela capa e contracapa, a
sensação que temos é de uma ruptura dos laços humanos de afetividade rumo a insanidade
da Primeira Guerra Mundial.

Sumário

Em duas páginas com fundo totalmente ocupado pela foto de um combatente nas
trincheiras apresenta-se o sumário da revista. Na página 4 destaque para as principais
matérias e na página 5 os artigos menores. O combatente olhando para a direita (direção da
próxima página) veste roupas pesadas e a legenda declara Inverno nas trincheiras: neve e
ventos cortantes. No canto superior esquerdo em uma caixa de texto colorida está escrito
Sumário com letras grandes. Esta caixa de texto aparece na mesma posição em todas as
páginas pares e em seu interior, de uma a três, palavras indicam o tema abordado.

Introdução

Escrito por Fabiano Onça e ilustrações de Artur Lopes da página 6 a 11 temos mapas e
desenhos de personagens históricos e nas páginas 12 e 13 um artigo de Tamis Parron
intitulado Barril de Pólvora. As seis páginas preenchidas por mapas pretendem indicar ao
leitor datas importantes (apenas mês e ano) e personagens centrais do conflito. Como
exemplo, temos a seta que indica Sarajevo acompanhada da seguinte legenda: Atentado em
Sarajevo, jul 1914, O assassino do arquiduque Ferdinando, príncipe-herdeiro do Império
Austro-Húngaro, é o estopim para a guerra. O crime foi cometido pelo nacionalista sérvio
Gavrilo Princip, em Sarajevo, atual Bósnia. A primeira parte em letras maiores está em
negrito, em vermelho a data e o texto em letra tamanho padrão da revista. O modelo é
utilizado nas páginas seguintes, sempre em negrito o nome da batalha e em vermelho a data
ou o nome da pessoa desenhada.

2
Na página 8 abordo com maior profundidade o tema.
Nas páginas 10 e 11 o mapa e os textos dão um panorama do pós-guerra. Com um
destaque discreto – canto inferior direito da página 11 – temos informações sobre o Iraque,
Transjordânia, Palestina, Síria, Líbano e Arábia. Também temos uma prova, segundo
Fabiano Onça, de que a história se repete, pois os franceses e ingleses dividiram as regiões
citadas e passaram a controla-las até que as populações estivessem maduras para
governarem a si mesmas. Este trecho é interessante por citar uma situação semelhante em
dois períodos diferentes da história e propagar a idéia, difundida e anacrônica, da repetição
histórica. Faço uma pausa na descrição da revista para lembrar que o mito da repetição da
história entra em conflito com a história entendida como busca no passado de situações que
refletem no presente.

Nas páginas 12 e 13 o artigo de Tramis Parron explora os antecedentes da guerra. Uma


charge de Artur Lopes tem grande destaque e pela primeira vez aparece a seção Saiba Mais.
Esta seção indicará ao longo da revista livros para quem quiser conhecer mais sobre o tema
abordado. As páginas 14 e 15 tratam do atentado contra o arquiduque Francisco
Ferdinando. Temos a foto de Gavrilo Princip, de uma arma (impossível saber se é a arma
do crime, pois não contém legenda) e ocupandoa página 15 inteira o “passo a passo” do
assassinato. Nesta página temos uma repetição de um padrão escolhido durante toda a
revista, isto é, muitas imagens com curtos trechos de texto. Já observamos esse padrão nos
mapas de Artur Lopes, e novamente o encontraremos na seção sobre armamento, sobre o
Barão Vermelho, entre outras.

Abordagem principal da revista

A revista analisada concede grande destaque a temas relacionados à tecnologia bélica.


Tratando-se de uma revista temática voltada para a Primeira Guerra Mundial é
compreensível que vinte e seis de suas oitenta e duas páginas abordem exclusivamente o
tema. Nos artigos dedicados à tecnologia bélica temos3: Tecnologia, Gases Químicos,
Trincheiras, Ases e Armamentos. O outro grande tema da revista pode ser descrito como
combates por região, temos: Russia, Oriente, Gallipoli, Estados Unidos, Japão, Europa,
Briga no Mar e Alpes.

Outros temas

Nas páginas 24 e 25 o tema abordado são as crianças que combateram na I Guerra. O artigo
de Cynthia de Miranda possui a foto de um garoto portando um fuzil ocupando
inteiramente a página 24. Na página seguinte o artigo sobre as crianças ocupa dois terços da
página e divide espaço com um artigo de Fábio Marton sobre a espiã Marta Hari. A quebra
de página bem delineada indica a falta de relação entre os temas.

Um artigo interessante foi escrito por Adriana Küchler e trata sobre as toneladas de
correspondências enviadas dos campos de batalha. Da página 44 a 49 encontramos quatro
fotos em destaque e trecho de cartas impressas com uma fonte que lembra a letra de um
soldado. Encerrando os artigos temáticos, Cynthia de Miranda e Cristiano Dias, tratam do

3
Essas denominações referem-se a caixa de texto no canto superior esquerdo, já citada na página 4.
final da guerra e dos prós e contras dos tratados de Trianon, Saint-Germain-em-Laye,
Neuilly, Sèvres e Versalhes.

Encerramento

O encerramento da revista é composto por três tópicos distintos: Tomos e Telas,


Publicidade e Argumento. Tomos e Telas sugere a leitura de livros relacionados ao conflito
e o filme de Stanley Kubrick de 1957, Glória Feita de Sangue. Todos os livros citados
merecem uma foto da capa. A página 81 é inteiramente dedicada a propaganda da revista
Aventuras na História. No campo superior direito a capa da edição que tem como a capa As
últimas horas de Getúlio têm destaque. Na metade inferior outras oito capas são
apresentadas, seis delas remetendo-se a uma personagem específica (Jesus, Che Guevara,
Fidel, Bob Marley, Alexandre o Grande e Ramsés II. A última página da revista é a única
que não possui grandes fotos e é preenchida por um artigo do professor Gilberto Agostinho,
um dos autores do livro. O Século Sombrio, da Editora Campus.

CONCLUSÕES

Não há dúvida de que a Primeira Guerra Mundial recebeu esse nome devido as proporções
do conflito. O assombroso número de vítimas, entre mortos e feridos, e os novos aspectos
da guerra impressionavam observadores de época e nós contemporaneamente. A revista
investiu nos dois aspectos dando relevo as vítimas do conflito, as batalhas e armas
utilizadas.

Pudemos observar que a apresentação externa da revista visa atrair o público com o aspecto
sombrio e o estímulo a curiosidade. Os gases tóxicos refletem o horror das novas
tecnologias utilizadas (até respirar podia ser mortal!), os gases são invocados na capa
(máscara de gás), em um artigo escrito por Tamis Parron intitulado Proibido Respirar, no
vale tudo dos campos de batalha, gases tóxicos viraram armas. Mais de 90 mil soldados
foram vítimas dos sopros venenosos. Está inaugurada a guerra química – e na seção de
armamentos, As Inovações da Morte, escrito por Roberto Navarro e ilustrada por Kako. Na
contracapa a segunda e a quarta frase fazem referências a temas atuais: invasão do Iraque e
poderio dos Estados Unidos. A primeira frase apela para as baixas e a quarta para as armas
utilizadas para perpetuar o morticínio.

Durante toda a revista os títulos e os subtítulos dos artigos nos remetem ao clima de
combate, apreensão geradas pelo conflito e suas relações com o presente. Como exemplo os
títulos: Barril de Pólvora; Proibido respirar; Bagdá sempre Bagdá; Brincadeira
Sangrenta; Inferno no Gelo; Fiasco; Covas Rasas. Subtítulos: Estava inaugurada a guerra
química (p.18); Desse total 120 mil morreram em combate (p.24); No cenário armado para
as batalhas, mais de 4 milhões de soldados morreram e tiveram seus corpos devorados por
ratos (p.50); E o maior banho de sangue de toda a guerra (p.31). Esses títulos e subtítulos,
acredito, são resultados da estupefação causada pela irracionalidade da guerra e os efeitos
negativos para a humanidade.

As caixas de texto merecem atenção especial. Nelas estão contidas informações referentes
ao tema abordado, maioria dos casos, ou temas que por alguma razão não puderam ser
deixados fora da publicação. Exemplificam o primeiro caso as caixas de texto Agosto
Sangrento (p. 35); Vítimas do vento (p.19); O Brasil, Patrulha no Atlântico (p.57). No
segundo caso: Mata Hari, Da cama para a história (p.25); Santos Dumont, Por que ele se
matou? (p.17).

A iconografia está presente de Coleção Grandes Guerras, volume I, de forma maciça.


Podemos classificar as ilustrações em três tipos: fotos, desenhos e mapas/infográficos.
Distribuídos da seguinte forma:

Tipo das Ilustrações Sem indicação do Com indicação do Identificado como


acervo/autor autor reprodução
Fotos 48 0 4
Desenhos* 0 16 1
Mapas/infográficos 0 6 0

Não entrou na contagem, mas têm grande destaque a História em Quadrinhos do Barão
Vermelho ocupando 6 páginas.

As imagens ilustrativas têm um grande poder na comunicação, durante o curso lemos o


texto de Vico onde durante um capítulo ele desenvolve a idéia geral de sua obra sintetizada
em apenas uma imagem. Dessa forma a foto de uma coluna de soldados avançando sobre
um mar de gelo ocupando inteiramente as páginas 28 e 29 conjugada com o título, Inferno
de Gelo, supera em muito o espaço dedicado ao texto (1/4 de página). 48 páginas das 82 da
revista, são totalmente tomadas por imagens com os textos, quando existem, sobrepostos.
Das mesmas 82 páginas apenas duas (34 e 35) não contém nenhuma imagem ilustrartiva.

Sobre as imagens ilustrativas não podemos deixar de observar que nenhuma das fotos
indica de onde foi reproduzida. Quatro fotos têm um C inscrito num círculo indicando que
foram reproduzidas. O acervo nunca é citado, seja uma foto de Hitler ou de um soldado
anônimo – não podemos supor outra coisa devido a falta de informações – escondido nas
trincheiras.

Bibliografia

MARITAN, Jacques. Obserrvações finais. In: Sobre a Filosofia de História. trad. Edgar de
Godoi da Mata Machado. São Paulo: Ed.Herder, 1962, p.161-171.

JAGUARIBE`, Hélio. Introdução Geral. In: Um estudo crítico da História. Trad. Sérgio
Bath. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 29-62.

VICO, Giambatista. Idéia (geral) da obra. In: Princípios de (uma) Ciência Nova (acerca da
natureza comum das nações). trad. Antonio Lázaro de Almeida Prado. 1a ed. São Paulo,
1974. p.9-30.

LANGLOIS, Ch. V. e SEIGNOBOS, Ch. Operações sintéticas. In: Introdução aos estudos
históricos. trad. Laerte de Almeida. São Paulo: Ed.Renascença, 1946, p.148.161.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Teoria da História I
Profa. Dra. Raquel Glezer

HERÓIS E GRANDES PERSONAGENS NA REVISTA HISTÓRIA VIVA

Componentes do Grupo:
José Antonio Contri
José Carlos Accica
Maria Helena Felipe Oliveira
Rosana Bonjardim
Heróis, Líderes e Grandes Personagens

O enfoque que escolhemos para desenvolver nossa análise sobre a revista História Viva,
consiste de um problema teórico que podemos resumir simplificadamente na seguinte
questão: São os heróis que fazem a história? Qual o papel do herói na história?

Essas perguntas, aparentemente banais, nos permitem, no entanto, realizar uma reflexão
sobre a produção historiográfica, bem como sobre diferentes linhas interpretativas do
processo histórico, suas condicionantes e suas causalidades.

A questão do herói, ou do grande personagem, conforme Hook (1962) “é não somente um


problema prático, mas uma das mais fascinantes questões teóricas de análise histórica”.

Os que respondem que os heróis criam a história, ou melhor dizendo, são os seus atores
principais, concebem o processo histórico como resultado da obra, da vontade e do
protagonismo de alguns poucos indivíduos: Reis, Generais, Líderes, Chefes de Estado que
guiaram os rumos dos acontecimentos.

Dentro dessa linha de interpretação, pode-se dizer que haveria uma outra história se não
fosse a ação desses grandes personagens. Esses indivíduos determinaram a história, sem
eles os acontecimentos teriam sido completamente diferentes.

A produção historiográfica que segue por esse caminho, acaba construindo uma espécie de
mitologia desses personagens. Esbarra também em um problema epistemológico pois, a
própria cientificidade da interpretação histórica fica comprometida, já que estaria sempre a
mercê das ações de indivíduos isolados.

A morte prematura de alguns desses indivíduos, ou a mudança repentina de seu estado de


ânimo, fariam com que o processo histórico fosse conduzido para caminhos completamente
diferentes.

Por outro lado, se partirmos para uma concepção radicalmente oposta e definimos que o
papel dos heróis ou personagens individuais é desprezível na construção do processo
histórico, cairemos em um determinismo que transforma as condições históricas e sociais
em algo metafísico, muito próximas da idéia de destino, que desse modo transformariam a
história e seus caminhos em processos inevitáveis. Os homens serão simplesmente
fantoches dessas estruturas sociais e contextos históricos e suas ações não alterariam os
resultados finais do processo. Desse modo, teríamos uma história como fatalidade, e o
papel do historiador seria o de entender a dinâmica dessa força que guia a história para seu
destino.

Nenhuma dessas duas proposições nos parece satisfatória para a compreensão do papel que
os indivíduos podem exercer na história. Na primeira, a história torna-se psicologia ou
biografia de “grandes personagens”. Na segunda, uma metafísica onde uma razão histórica
parece atuar acima de tudo, determinando o rumo dos acontecimentos.
Um dos principais defensores da história como realização dos grandes personagens é
Thomas Carlyle.

Carlyle nasceu na Escócia em 1795, mas consagrou-se como historiador e publicista na


Inglaterra, onde publicou suas principais obras como: Revolução Francesa, O Cartismo, O
Passado e o Presente, Cartas e Discursos de Oliver Cromwell, entre outras.

A obra na qual expõe sua teoria da história de forma mais enfática é “o herói e o culto dos
heróis”, um conjunto de seis conferências realizadas em 1840, e publicadas como livro em
1841, nelas Carlyle compara heróis divinos, profetas, poetas, guerreiros e reis para chegar
ao ponto central de sua tese: “A história universal, A história do que o homem completou
no mundo é, na realidade, A história dos grandes que trabalharam na terra. Eles foram os
condutores, os modeladores, os padrões e, num largo sentido, os criadores de tudo o que a
massa geral dos homens procurou fazer ou atingir. E a alma da história da humanidade
pode ser considerada como sendo a história desses grandes homens”.

A história, portanto, se resumiria na biografia dos grandes heróis. O culto aos heróis teria
uma função estabilizadora. Os heróis de Carlyle são na verdade conservadores como ele;
defensores da ordem estabelecida e de sua hierarquia, ou talvez “Heroarquia” (governo de
heróis).

Carlyle defende a necessidade de transformar o personagem em mito, um herói. Evêmero,


no século III a.C., concebeu uma explicação para o aparecimento dos mitos e dos heróis,
que ficou conhecida como evemerismo. Talvez possamos entender que temos em Carlyle
uma espécie de “Evemerismo Aplicado”, já que sua preocupação parece ser claramente
ideológica, onde seus heróis são símbolos da ordem e modelos a serem seguidos. A
democracia não parece muito bem vista por Carlyle, pois nesta aconteceria um nivelamento
por baixo da civilização.

Em uma contraposição a esse culto exagerado dos heróis ou dos grandes personagens,
temos uma visão que Sidney Hook denomina de Determinismo Social. Essa concepção não
nega a existência ou a necessidade dos heróis ou da ação heróica na história, mas sustenta
que os acontecimentos decorrentes dessas ações são determinados por leis históricas ou
pelas exigências do período onde apareceria o herói ou grande personagem.

Um conjunto de forças sociais construíram, quando necessário, um personagem cuja missão


seria realizar a tarefa histórica do momento.

Hook situa dentro dessa concepção pensadores como Hegel, Spengler, Spencer, e o que ele
denomina de marxismo ortodoxo, incluindo nessa classificação Engels, Plekhanov,
Kautsky, Lenin, Trotsky e Bukharin.

Conforme define Hook, tanto para Hegel quanto para Spengler, “O grande homem não é o
produto de condições materiais, sociais e biológicas, mas essencialmente uma expressão do
espírito de seu tempo ou da “alma” de sua cultura. No desenvolvimento de uma cultura
surgem certas necessidades objetivas que estão preenchidas por meio de decisões subjetivas
dos homens”.
Hegel defende a tese de que cada período tem o “Grande Homem” que merece, mas esse
merecer não depende uma escolha, mas sim de uma configuração pré-determinada que ele
chama de “Espírito Universal”.

Nessa concepção o herói, o grandes personagem, aparece como expressão ou instrumento


de forças históricas e sociais, sendo suas ações conduzidas por essas forças e não o inverso.

O chamado Marxismo ortodoxo também caminha dentro dessa concepção, segundo Hook,
pois o indivíduo nessa corrente teórica, estaria completamente subordinado às exigências
das forças sociais, ficando praticamente anuladas as possibilidades de grandes mudanças
ditadas pela ação individual. Se, no entanto, essa ação individual, ocorre, ela foi o resultado
de um conjunto de forças sociais que combinadas obrigaram o indivíduo a agir. Desse
modo, as forças subjetivas seriam praticamente inexistentes na história e seu papel
irrelevante. Se não fosse Napoleão, um outro general qualquer teria realizado as mesmas
ações.

Entretanto, mesmo entre esses autores que Hook chama de marxistas ortodoxos, podemos
encontrar uma visão mais abrangente e criteriosa sobre o papel do herói ou do indivíduo na
consolidação dos rumos da história. Plekhanov, por exemplo, nos parece um autor que
possui uma visão de síntese entre a posição idealista e a concepção determinista que
analisamos. Em sua obra intitulada “O papel do indivíduo na história”, Plekhanov dialoga
com essas concepções, e conclui que as ações individuais podem conduzir a história por
caminhos diferentes, e que, desse modo o indivíduo tem um papel relativamente importante
no desenrolar dos processos históricos. No entanto, esse espaço é limitado pela conjuntura
histórica do momento.

Um exemplo utilizado por Plekhanov é o de Luís XV na condução da guerra dos sete anos.
Segundo o autor, a influência de Madame de Ponpadour sobre o monarca fez com que esse
mantivesse generais incompetentes no comando das tropas, por estes serem protegidos da
marquesa, como o general Soubise. Desse modo, este pode ser considerado um fator que
contribuiu para a derrota da França na guerra.

No entanto, para que isso fosse possível, todo um quadro de relações de forças e de
decadência da nobreza francesa tem que ser considerado, para que se possa entender como
foi possível que um rei pudesse colocar em risco as colônias de seu país para atender as
vontades de uma se suas amantes.

A conclusão de Plekhanov é de que os indivíduos podem influir nos destinos de uma


sociedade, e essa influência pode ser considerável, mas tanto a própria possibilidade dessa
influência quanto suas proporções, são determinadas pela organização da sociedade, pela
correlação das forças que nela atuam.

Essa concepção não nos parece tão determinista quanto Hook parece definir, diríamos que
nossa visão sobre o papel dos indivíduos está muito próxima desta.
Em nossa visão, muitos eventos ou episódios na história acabaram sendo decididos pela
ação de indivíduos ou grupos de indivíduos. Isso não implica, entretanto, que a história seja
determinada pela vontade de alguns personagens que conduzem a humanidade como
entende Carlyle. Essa concepção nos parece muito mais digna de ser chamada de mitologia
do que de história. Mitologia essa que nos parece concebida com finalidades claramente
conservadoras e elitistas e que rotulamos como “História dos grandes personagens”
fundamentada mais na retórica do que na pesquisa e no estudo crítico das fontes e
documentações.

A visão oposta, por sua vez que define como nula a participação e a importância do
indivíduo, nos parece também equivocada. Nesta a história parece um gigantesco
mecanismo, onde as engrenagens vão cumprindo o seu papel, elaborado.

Por uma razão universal como um roteiro de um filme, lembrando até o filme Matrix. Em
uma versão mais materialista, essa razão universal seria substituída pelas forças sociais que
determinam a ação dos indivíduos.

Nosso grupo, embora entendendo que ainda muita leitura e reflexão serão necessárias,
chegou a concepção de que os indivíduos influenciam a história e podem alterar o rumo de
acontecimentos. No entanto, essa influência é limite por conjuntura e estrutura históricas.
Desse modo, há esforço para a ação dos indivíduos e mesmo para o aparecimento dos
heróis. Mas, definitivamente, não acreditamos na história como biografia de grandes
personagens, que em nossa opinião transforma sujeitos concretos em seres mitológicos.

Na análise que fazemos de alguns exemplares da revista História Viva, procuramos


verificar como a revista trabalha com essa problemática.

Os Grandes Personagens na Revista História Viva

Após essa introdução sobre a importância dos indivíduos na história e as diferentes


abordagens que a historiografia pode desenvolver sobre o tema, passamos a análise de
algumas edições da revista História Viva para verificar como a revista trabalha com essa
questão.

A revista História Viva é uma publicação da Ediouro e segmento da Duetto Editorial, sendo
uma edição brasileira da revista francesa Historia, editada pela Tallandier (França).

O que tentamos averiguar é se a revista reproduz, ao tratar os chamados grandes


personagens é que fazem a história.

Em uma análise geral dos números já publicados da revista no Brasil (vinte até o momento,
não considerando edições especiais), não constatamos que seja uma característica da revista
fazer da história um conjunto de biografias de figuras proeminentes. Nesse vinte números
publicados, em apenas três deles a capa foi dedicada a um grande personagem. O número
um, que inaugurou a publicação no Brasil, e teve Napoleão como matéria de capa. O
número oito, que destacou a figura de Winston Churchill e o número doze, que trouxe o
ator Colin Farrel caracterizado como Alexandre, o Grande em sua capa. Nas outras
dezessete edições a capa foi dedicada a acontecimentos ou a civilizações.

Nossa idéia inicial era analisar apenas o número um, dedicado à Napoleão Bonaparte. No
entanto, acabamos decidindo trabalhar também com o número doze que trouxe Alexandre
como contraponto a revista vinte realizou um dossiê sobre a Revolução Russa.

Seguem então as análises desses três números da publicação História Viva.


História Viva: número um (novembro de 2003)

Nesse número inicial a revista optou por trazer como capa exatamente a figura de Napoleão
Bonaparte, um dos nomes sobre o qual podemos afirmar, recai a idéia de grande
personagem. Napoleão é um dos primeiros nomes que lembramos se alguém nos pede para
citar um personagem marcante da história.

A capa da edição reproduz uma gravura em cores sobre papel de Jean Pierre Marie Jazet a
partir da tela de Horace Vernet, de 1840, intitulada “Napoleão saindo de seu Mausoléu”.
Nela Napoleão, em trajes de general, com a coroa de louros de imperador, aparece
deixando o túmulo, podendo se interpretar que trata-se de sua vitória sobre a morte. O título
da capa é: “Ele dominou a Europa e mudou a face do mundo”. Em letras menores: morreu
no exílio e seu túmulo pode ser uma fraude – Napoleão – Um herói sem sepultura.

A capa, tanto através da iconografia, quanto dos dizeres trata inquestionavelmente a figura
de Napoleão como mito, o herói que mudou a face do mundo.

O dossiê está divido da seguinte maneira: um primeiro artigo, escrito por Jean Tulard, do
Instituto Napoleão e intitulado Napoleão – O construtor de uma nova Europa. O quadro de
Jacques Louis David, de 1800, “Napoleão sobre cavalo na passagem de São Bernardo”,
ocupa a página de abertura do dossiê. Nele a figura de Napoleão aparece com uma capa
vermelha, imponente sobre o cavalo, como a guiar a França para um destino triunfal. A
sinfonia heróica de Beethoven combinaria com a tela.

Esse primeiro artigo narra o momento do apogeu de Napoleão. O texto é bem elaborado e
traz muitas informações sobre a hegemonia francesa, incluindo um mapa da Europa com a
evolução territorial do Império de Bonaparte. O artigo é totalmente centrado na figura de
Napoleão. Pouco se fala sobre a situação econômica, social ou política da França e da
Europa no período tratado. Napoleão, está presente em quase todos os parágrafos e seu
nome aparece trinta e quatro vezes no artigo, enquanto França aparece só três vezes e
Europa cinco. Bonaparte é retratado como o grande protagonista dos acontecimentos.

O segundo artigo do dossiê narra a ascensão de Napoleão ao poder e foi escrito por Jacques
Oliver Boudon, também do Instituto Napoleão. A intenção é ser uma biografia do
personagem mostrando a carreira, as batalhas e as vitórias que conduziram Napoleão ao
poder na França. Ainda que de forma sutil, o autor também trata Napoleão como uma
espécie de mito. Em passagens como “Bonaparte fascina e subjuga seus opositores”, ou “É
ao mesmo tempo general vitorioso e administrador incomparável” e principalmente, em
“Depois de conquistar a Ilha de Malta, Napoleão chega à Alexandria”, o general se torna
não somente o dirigente que liderou a vitória, mas o próprio conquistador. As tropas, os
armamentos e as circunstâncias ficam em segundo plano.

O terceiro artigo, assinado por Trajan Sandu já trata da queda de Napoleão Bonaparte na
iconografia que ilustra o artigo, Napoleão já aparece como um simples mortal. Abatido e
solitário, como no quadro de Marmaisson, onde aparece deixando a França, cabisbaixo e
derrotado. O autor do texto mostra a situação do Congresso de Viena e a reorganização da
Europa após Napoleão.
O último artigo cuida da polêmica sobre se o corpo que está no Museu dos Inválidos é
realmente de Napoleão bem como de seu envenenamento, não sendo relevante para nosso
objetivo, a não ser pelo aspecto de que, mesmo depois de morto Napoleão continuava
polêmico.

Como conclusão, podemos dizer que esse número da revista centralizou exageradamente a
abordagem e a interpretação dos acontecimentos da Europa no início do século XIX, na
figura de Napoleão Bonaparte. Embora seja inegável que Napoleão seja um personagem
que influiu decisivamente no rumo dos acontecimentos, a revista praticamente não trata das
condições históricas que o tornaram possível.

Dessa forma, concluímos que nesse número a revista reforçou a figura do personagem
como mito, e fez uma história como biografia do grande personagem.
História Viva: número doze (outubro de 2004)

A revista número doze, completando um ano da publicação de História Viva no Brasil, traz
novamente um dos chamados grandes personagens como tema central da edição.
Aproveitando o lançamento do filme de Oliver Stone: Alexandre – a revista trouxe esse
personagem como matéria de capa. A capa, aliás, é uma fotomontagem onde o ator Colin
Farrel, que interpreta Alexandre no citado filme, aparece sobre um cavalo, com uma
gravura do século XIX retratando a Batalha de Granico ao fundo. O texto da capa diz: “O
Grande Alexandre – um jovem conquista o mundo”.

A matéria traz dois artigos, ocupando doze páginas da edição. o primeiro assinado por
Noelle e Régis Gombert, traz uma biografia resumida de Alexandre. A fonte citada pelos
autores é Plutarco com seu livro “As vidas dos homens ilustres”. Desse modo, o artigo
acaba trazendo uma série de passagens e mesmo frases que constroem a imagem de um
Alexandre mítico e predestinado, voltando mais uma vez a Evêmero, é justamente a figura
de Alexandre que este pensador utiliza para explicar como os indivíduos reais são
transformados em mitos ou heróis mitológicos.

Algumas passagens do artigo, como episódio do cavalo Bucéfalo ou do Nó Górdio, são


como elementos de uma narrativa que vai construindo a imagem do herói predestinado.

No episódio de Bucéfalo, após testemunhar a inteligência de seu filho, Filipe II teria dito:
“Ó, meu filho! temos que encontrar um reino que seja digno de ti, pois a Macedônia não
conseguirá te segurar”.

O episódio do Nó Górdio também ressalta esse aspecto da predestinação, pois, um oráculo


havia previsto que quem desatasse o tal nó dominaria a Ásia. Alexandre não conseguiu
desatá-lo, porém o teria cortado com um golpe de espada. Nesse artigo, portanto, a figura
de Alexandre acaba mesmo sendo retratada como a de um herói mitológico.

No segundo texto, assinado pelo historiador Philippe Mason e que tem como título: “Um
jovem guerreiro conquista o mundo”, o autor relata as campanhas militares sob o comando
de Alexandre e suas qualidades de estrategista militar e chefe político. O autor tem, no
entanto, o cuidado de apontar que o sucesso militar de Alexandre deveu-se as qualidades do
exército que herdou do seu pai, Filipe II. A forma de organização das tropas, as estratégias
de combate e o armamento, destacando-se um tipo de lança denominada Sarisse, são
apontadas como fundamentais para entendermos a extraordinária série de vitórias que
Alexandre liderou.

Mesmo assim, em várias passagens é a figura do personagem que sobressai. Quando fala
das batalhas entre persas e macedônios o autor as coloca como duelos onde Alexandre
enfrenta Dario.

Outro aspecto importante, é que com exceção de Plutarco, a revista não cita outras fontes
para indicar de onde faz deduções como por exemplo a de que Alexandre nunca recorria a
uma estratégia esteriotipada ou previsível ou quando coloca frases e discursos que
Alexandre supostamente proferia aos seus soldados antes das batalhas.
Dos números analisados, este é o que mais abertamente faz uma apologia do personagem,
contribuindo para sua afirmação como mito.
História Viva: número vinte (Maio de 2005)

Chegamos ao terceiro número analisado, até o momento o mais recente da edição brasileira
da revista, e que traz como destaque a Revolução Russa de outubro de 1917.

A capa reproduz oquadro “Guardas Vermelhas”, óleo sobre tela de Kurt Robbel de 1968. O
texto da capa diz: “Um tempo de vitória, sonho e esperança”. Revolução Russa – Os ideais
da igualdade e justiça da sociedade sem classes chegam ao poder, varrem o mundo e se
tornam uma das mais cruéis tiranias do século XX.

Além do dossiê sobre a Revolução, há uma biografia sobre Lenin, assinada por Arthur
Conte, intitulada “Lenin – o Revolucionário Discreto”.

Lenin é retratado como filósofo e intelectual muito mais do que como líder revolucionário.
A metáfora utilizada no início do artigo é reveladora da visão do autor. “Sócrates
proclamado rei”. Assim, Lenin é descrito como um homem tímido, estudioso voraz,
pragmático e metódico, avesso a discursos e a aparições em público. Um “rato de
biblioteca” ou um revolucionário de gabinete. Na foto utilizada no artigo, Lenin aparece em
uma entrevista justamente em uma biblioteca. A famosa foto na qual o líder dos
Bolcheviques aparece discursando para a multidão em Petrogrado, traz uma legenda
contestando sua veracidade e acertando que pode se tratar de uma montagem. Lenin
também é tratado como aranha, que tece metódica e pacientemente a teia e a formiga,
diligente e disciplinada em seu trabalho.

No dossiê da revolução, dividido em quatro artigos, dois deles assinados por Marc Ferro,
temos a narrativa da queda do czarismo e da ascensão dos bolcheviques ao poder.

Essa edição da revista contrasta com as outras duas analisadas. Aqui, ao contrário do que
acontece nos outros dois números, o que temos é um trabalho de desconstrução da imagem
de Lenin como grande líder da Revolução ou como candidato s figura na galeria dos
grandes personagens da história.

A Revolução Russa é tratada como resultado da situação de atraso técnico e econômico da


Rússia, da eclosão da Primeira Guerra Mundial e da falta de habilidade política de Nicolau
II para amenizar a crise e encontrar saídas para conter a revolução de fevereiro.

A imagem de Lenin, ou mesmo do Partido Bolchevique como um dos elementos centrais da


revolução é desmontada pelos autores. Aqui, ao contrário das revistas analisadas, o
contexto histórico é que viabilizou a ação desses personagens.

Lenin, o intelectual de gabinete, chegou ao poder com seu pequeno partido bolchevique,
por conta de uma situação histórica que favoreceu sua ação pragmática. Desse modo, nessa
edição se processa a desconstrução do mito da liderança de Lenin. A situação teria levado
outro revolucionário ao poder, Lenin foi o líder pois teve a perspicácia de perceber que
havia um vazio de poder e bastava ocupá-lo.
Lenin, Trotsky e os outros bolcheviques são produzidos por uma dada conjuntura histórica
que os levou ao poder.

Curiosamente, em um dos livros que adotamos como referência teórica para nosso trabalho:
“O herói na História” de Sidney Hook, o autor trata exatamente da Revolução Russa para
demonstrar sua tese de que o indivíduo pode ter um papel decisivo na história e modificar
profundamente os destinos da humanidade. Para Hook, Lenin é o grande personagem da
Revolução Russa. Um “Homem Época”, que mudou completamente os rumos da história
no século XX. Para esse autor, sem Lenin a Revolução Russa jamais teria acontecido, e a
história do século XX teria sido completamente diferente. Um contraste interessante com os
artigos da História Viva, onde Lenin aparece como produto da situação histórica.
Conclusão

Após analisarmos estes três números da revista, podemos concluir que não é uma das
características marcantes da revista fazer da história uma biografia de grandes personagens,
mas que em alguns números e artigos isso aconteceu.

Os números um e doze, analisando Napoleão Bonaparte e Alexandre seguiram de certo


modo essa perspectiva, mas são dois casos entre vinte.

No número vinte a perspectiva se inverteu, destacando-se muito mais a conjuntura histórica


na qual a Revolução Russa aconteceu do que o papel de Lenin ou de outras lideranças
bolcheviques.
Bibliografia

Carlyle, Thomas Os heróis e o culto dos heróis. Cultura Moderna, São Paulo, 1965
Feijó, Martin Cezar O que é herói. Brasiliense – São Paulo, 1984.
Hook, Sidney – O herói na história – Zahar – Rio de Janeiro 1962.
Plekhanov, G.V. O papel do indivíduo na história – Expressão Popular, São Paulo, 2003.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

ESTUDO SOBRE A REVISTA HISTÓRIA VIVA NÚMERO 20, SOBRE A


“REVOLUÇÃO RUSSA”

Estudo da revista História Viva número 20


abordando a temática da Revolução Russa
apresentado à Professora Raquel Glezer
pela disciplina de Teoria da História da FFLCH – USP

Wiliam Ferreira
No USP: 5207138

São Paulo
2005
1. Introdução

Revoluções das épocas moderna e contemporânea despertam interesse quando olhamos


para as insurreições da América Latina que não culminam com a tomada do poder por parte
dos explorados. Nestes últimos séculos o Homem descobre que ele escreve sua história,
impõe sua vontade e não apenas contempla a natureza e adora aquilo que não compreende
a ponto de elevá-lo à categoria de deus, passando a ser aprisionado por suas idéias. A esta
nova raça humana não basta compreender o que se passa em seu meio, mas transformá-lo,
sobretudo.

As revoluções russas de 1905 e 1917 resultam principalmente da ferrenha autocracia


czarista sobre a massa dos explorados, mas também do acúmulo de experiência destes com
o restante da Europa e do marxismo que ia-se desenvolvendo naquelas terras que
dispunham ainda de um proletariado jovem e ainda concentrado em poucos centros urbanos
como o de Petrogrado e Moscou. No caso da segunda, a de 1917, contam com sua própria
experiência dada 12 anos antes no que Trotsky chamou de “prólogo” da revolução liderada
pelos bolcheviques, por apresentar ali os métodos que levariam à Revolução de Outubro,
como a greve geral e a construção dos soviets ou conselhos que reuniam o conjunto dos
explorados, como operários, camponeses pobres e os soldados de baixa patente que
voltaram as armas contra seus generais de outrora.

Por isso esta revolução ganha um sabor especial. Pela primeira vez na história da
humanidade o proletariado, e com o campesinato como seu aliado, chega ao poder de fato,
e só poderia assim ser pela via revolucionária, pondo em prática toda a teoria
revolucionária desenvolvida por Marx e Engels e aperfeiçoada no calor de sua prática por
Lênin principalmente e Trotsky. São estas revoluções que aqui serão analisadas, partindo da
temática apresentada pela revista História Viva que, em seu número 20, o traz de forma
bastante controversa.

1.1. Impressões gerais sobre a revista

Em sua capa a revista já dá nítida idéia da abordagem que dará ao mais importante
acontecimento do século XX. Em letras garrafais chama a atenção para a temática. Logo
acima, em letras ainda reforçadas embora menores, qualifica com três adjetivos o momento
vivido pelo povo russo. Abaixo, em letras menores, uma explicação para a idéia acima
sintetiza a chegada ao poder e seu curso através do século segundo a ótica da revista a ser
discutida aqui.

É marcada por uma imagem que toma toda a capa, o óleo de Kurt Robbel, “Guardas
Vermelhas”, sendo dado mínimo destaque para os demais assuntos abordados na revista, ou
seja, o peso é jogado para o fundo e o tema “Revolução Russa” e seu subtítulo.

A revista é conhecida por sua abordagem ao alcance de um público que está fora da
Academia ou não pertença a uma área afim à História, ou seja, a uma área do saber dentro
das ciências sociais. Apesar disso, conta com historiadores franceses consagrados em sua
escrita, que deve-se principalmente pelo intercâmbio desta revista com outra similar e
inspiradora da História Viva.
A escrita é, em geral, de fácil compreensão. No entanto, o tratamento dado à História neste
material não é científico, ou seja, suas publicações não possuem os atributos necessários de
uma matéria científica, dotado de uma explicação histórica, citação de fonte e metodologia,
não possui uma argumentação lógica, não discute problemas, não apresenta de forma
trabalhada um fim (esta “lição” dada pela revista aparece de forma muito sutil mas não ;e
este explicitamente o seu propósito) e uma relação com o mundo concreto, principalmente
em se tratando de um assunto tão recorrente quando o capitalismo em sua fase superior – o
imperialismo – aprofunda sua ofensiva contra os povos do planeta, imputando condições de
barbárie jamais vistas antes.

É, no entanto, bastante informativa, dispondo de uma sessão que antecede as matérias


principais com a cronologia dos fatos e uma razoável explicação sobre cada data.

2. Análise de capa e editorial

2.1. Capa

Conforme fora dito anteriormente, o “tempo” (ou época) da Revolução Russa recebe em
uma pequena frase situada acima do título do tema principal três adjetivos, a saber, de
“utopia, sonho e esperança”.1

Longe de querer mergulhar nas definições destas palavras dentro da Psicanálise ou algo que
o valha, é importante tentar entender que idéia passa a ser transmitida pela revista ao
trabalhar com a história de uma revolução socialista. Quando Marx – o iniciador do
socialismo científico – escreve suas primeiras obras, estas entram em choque direto com o
que antes se chamava de “socialismo utópico”. Ao contrário de uma “utopia”, a Revolução
de Outubro tratou se da mais real prática de tudo que havia sido apresentado até então por
Marx e durante o transcorrer dos fatos foi-se forjando e aperfeiçoando por Lênin.

Assim, esta idéia corriqueiramente veiculada pela mídia e até por vários setores da esquerda
de que as revoluções não mais são possíveis são reforçadas pela suposta “utopia” da
revolução russa. No entanto, ela foi real. Por três quartos de século boa parte da população
mundial possuiu conquistas sociais nunca sido antes vistas na mais pretensa justa
sociedade. As conquistas sociais de Outubro foram mantidas até a queda dos Estados
operários do Leste após a restauração capitalista nestes Estados, apesar de ter havido o
desenvolvimento da praga da burocracia stalinista que, após várias traições ao proletariado
mundial, como a convivência “pacífica” com Hitler, abriu as vias para esta restauração e
enterro das conquistas sociais de 1917.

O sonho de Lênin, da mesma forma, com sua realização iniciada no Outubro de 1917 nada
tem a ver com o sonho vulgarmente conhecido ou a “utopia”. O sonho que este líder
revolucionário nos chama a acreditar é a realização da dialética marxista, ou seja, da teoria-

1
Na capa aparece o título como sendo “um tempo de utopia, sonho e esperança”.
prática-teoria-prática no tratamento dos problemas estruturais [reais]2. Assim, qualquer
referência à revolução ou a igualdade ou justiça como um sonho é no mínimo um equívoco,
se não equívoco, se não quisermos caracterizar como um crime contra a humanidade.

Mas no subtítulo, para alguém que acredite que ser uma injustiça para com a revista, é
ainda mais criminoso por apresentar uma visão inteiramente distorcida do que resultou da
Revolução Russa.3 Longe de fazer a defesa de um traidor da revolução como foram Stalin,
antes que cheguemos neste ponto, a mentira que frisamos aqui é o fato de dizer que os
ideais de “igualdade e justiça” “chegam ao poder” e “varrem o mundo”. O Outubro
simbolizava estes ideais, mas atingiu em sua fase já degenerada sob a liderança de Stalin,
após a II Guerra Mundial, 1/3 do mundo! Ou seja, nem eram os ideais de “igualdade e
justiça” conforme possibilitará o comunismo (que não existiu com e após a revolução) e
nem sequer “varreu o mundo”, mas atingiu uma menor parte, até porque foi abandonada
por Stalin a premissa principal do socialismo de que só seria devidamente conquistado de
forma conseqüente com a revolução mundial. Diferentemente disso, não seria sustentável
ou simplesmente não seria “socialismo”, tampouco “comunismo”, se tratando de uma fase
superior do socialismo (socialismo a rigor é o povo exercendo sua ditadura e para isso
utilizando o Estado como máquina repressora de uma classe).

Agora, como a chegada ao poder dos “ideais de igualdade e justiça” tentar-se-á se discutir
aqui, bem como a forma como são abordadas as matérias e o caráter de sua abordagem.

2.2. Editorial

A capa diz tanto com tão poucas palavras que o editorial (“Sonho desfeito”) parece-nos não
guardar grandes surpresas. No entanto, estes “ideais de igualdade e justiça”, após chegarem
ao poder, são “desfeitos: segundo a editora Mirian Ibañez. Mas teriam eles de fato existido
ou a revolução havia sido apenas um passo? Em um dos discursos de Lênin cuja referência
foge agora logo após a tomada do Palácio de Inverno diz mais ou menos o seguinte: “Uma
etapa pequena mas não de menor importância foi cumprida. Temos de tratar agora de
combater a ofensiva do inimigo, resolver os problemas econômicos como fazer os
alimentos chegarem aos famintos dos diversos pontos do país e iniciarmos nosso
desenvolvimento.”

Apesar da imprecisão da referência à preocupação expressa por Lênin, é possível observar


que nem mesmo os revolucionários tinham a ilusão de que o problema estava resolvido.
Tampouco fomentavam ilusões nas massas. Ao contrário, chamavam-na a seguir adiante
com o processo revolucionário de reconstrução da grã-Rússia, para que o “sonho” da
“igualdade” e da “justiça” viessem a existir. Assim, conforme é dito no editorial, que “O

2
“Não basta ter belos sonhos para realizá-los. Mas ninguém realiza grandes obras se não for capaz de sonhar
grande. Podemos mudar nosso destino se nos dedicarmos à luta pela realização de nossos ideais. É preciso
sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho; de examinar com atenção a vida real; de confrontar
nossa observação com nosso sonho; de realizar escrupulosamente nossa fantasia. Sonhos, acredite neles.”
V.I.Lênin.
3
“Os ideais de igualdade e justiça da sociedade sem classes chegam ao poder, varrem o mundo e se tornam
uma das mais cruéis tiranias do século XX.”
que aconteceu depois não correspondeu ao sonho”, é preciso ser estudado ao longo das
matérias da revista.

Para finalizar, a editora chega a almejar que esta ‘utopia” um dia seja realizada, mas desde
que se aprenda com os erros cometidos, muito embora não seja clara ainda em relação ao
que considera os erros da revolução russa instigando o leitor a descobri-los por conta
própria ao longo do dossiê apresentado na História Viva.

3. A chegada ao poder dos “ideais de igualdade e justiça”

O título da sessão da revista denominada Dossiê logo de cara parece contradizer a idéia da
capa muito embora as duas sejam controvérsias. Se na capa a idéia transmitida é de que os
“ideais de igualdade e justiça” chegam ao poder mas frustram as esperanças, no título da
sessão, em uma frase de duplo sentido, dá margem a entendimento diferente.

O título da sessão “dossiê” diz o seguinte: “Revolução Russa: a utopia do povo no poder”.
Seguindo a linha de raciocínio da capa de que os “ideais” haviam alcançado o poder,
podemos entender pelo título que a matéria procurará apresentar o momento em que a
“utopia” do povo está “no poder”. No entanto, as duas idéias passam a ser conflitantes se o
título do dossiê for entendido do ponto de vista de que o povo no poder significa uma
“utopia”. Em suma: a utopia, segundo a revista, chegou ao poder ou o poder do povo não é
possível conforme fora demonstrado pela História, tratando-se apenas de uma “utopia”?

A introdução de Stéphane Courtois4 apresenta uma série de problemas para o real


entendimento do processo do ponto de vista do tratamento da realidade proposta até pela
editora (“A história é feita de fatos”).

Numa simples frase no início de seu texto mostra para quê veio: “o comunismo no poder
revelou-se o protótipo de regime autoritário”. Para que isso fosse minimamente verdadeiro,
o comunismo precisaria ter existido, idéia esta que já atingiu até a mente dos anti-
comunistas (consciência de que o comunismo não existiu). O comunismo não poderia ser
autoritário visto que esta é uma característica de chefes de Estado, e o comunismo não
pressupõe a existência de Estado, mas sim o socialismo, que conforme já foi dito aqui,
pressupõe que sua existência se dê em todo o planeta, coisa que também foi abandonada
por Stalin. Ou seja, nem comunismo nem socialismo existiram, e o primeiro não poderia ser
entendido como autoritário se nele a democracia é exercida sem uma representação estatal.

O artigo de Arcadi Vaksberg5, termina com uma passagem expressa que talvez reflita a
idéia da revista do “sonho desfeito”. Diz o seguinte: “(...) qualquer que fosse o resultado
das eleições, ele (Lênin) não tinha nenhuma intenção de entregar o poder conquistado, nem
dividi-lo com quem quer que fosse. As eleições aconteceram duas semanas e meia depois
do golpe de Estado. [grifo nosso] (...) Esses resultados [maioria absoluta dos mandatos
parlamentares para os socialistas revolucionários] coloca em evidência que o país era a
favor de um regime socialista e dos direitos civis de que Lênin fazia tão pouco caso (!), e

4
Segundo a revista, é historiador e polêmico especialista em história do comunismo.
5
Segundo a revista, é escritor, jornalista e advogado.
não do extremismo leninista ou dos métodos policialescos (!!) e ditatoriais de governo
(!!!).”

Ou seja, talvez este seja o “sonho desfeito” para a revista ou o momento em que o
pensamento pequeno-burguês da “democracia” – mesmo sem o provimento das
necessidades humanas básicas às mais variadas – sejam atendidas. Vale lembrar que a
ditadura do proletariado, ou seja, ditadura dos produtores expropriados de seus meios de
produção que só têm a negociar sua força de trabalho, era apresentada já na teoria
desenvolvida por Marx (ou no socialismo científico) como necessária para a realização da
transição para o comunismo. Por desvios pequeno-burgueses invoca-se freqüentemente a
“democracia” burguesa, principalmente dos que agem de má-fé para sufocarem a ditadura
do proletariado. A Comuna de Paris serviu de lição a Marx e seus sucessores: sem a tomada
do poder e exercício da ditadura do proletariado, o inimigo se recompõe e volta a explorar
os históricos explorados.

Assim, não se tratou de nenhuma invenção leninista este método tirado pelo autor como
“golpe de Estado”. Ainda que Stalin tenha traído a democracia operária instaurada no poder
pela Revolução de Outubro sob apoio dos conselhos operários, o método ainda não
contestado historicamente como manutenção do poder do proletariado.

4. Considerações finais

Muitos outros aspectos da revista poderiam ser analisados na revista, pois esta suscita. No
entanto, foi optado pelo tema que ainda se trata de mais polêmico no atual momento
histórico, até e talvez principalmente para a dita esquerda revolucionária.

5. Referências bibliográficas

ROSENBERG, Arthur. História do bolchevismo. Belo Horizonte: Oficina de Livros,


1989.

TROTSKY, Léon. A história da revolução russa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 2v.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Teoria da História I
Profa. Dra. Raquel Glezer

ANÁLISE DA REVISTA HISTÓRIA VIVA

Componentes do grupo:
Fabio Luis Pereira Queiroz de Azevedo
Marcia Dias da Silva
Marcus Vinicius Souza Alves Monteiro
Raquel Foresti
Rodrigo de La Torre Oliveira
Introdução:

Na elaboração deste trabalho, foi escolhida como foco de nossos exames a Revista História
Viva, por conta da maior proximidade desta com os membros do grupo, tendo em vista que
um deles é assinante da mesma. Numa auto-avaliação sobre o que motivara tal pessoa a
querer receber a publicação em casa mensalmente, percebeu-se que a seção História em
Cartaz tinha uma grande parcela. Inclusive as pessoas que, por acaso, tenham visto a
Revista partilhavam dessa opinião. Sua diversidade, linguagem fácil, e seu trabalho de
valorizar o passado enquanto explicação para o presente, como uma seção que trata de
etimologia, por exemplo, faz com que leitores, ainda que leigos em História, vejam a
Revista com certa estima.

Isso tudo despertou a dúvida: é a seção História em Cartaz uma auto-propaganda da


Revista, na medida em que atrai e mantém fixo o seu público? Seria esta seção capaz de
levar alguém a comprar próximos números?

Desenvolvimento:

Para responder às nossas dúvidas, escolhemos duas vias: a primeira, a própria Edição da
Revista, a segunda, o público. Assim, foram mantidos contatos com a Edição, através da
editora Mirian Ibañez e foi elaborado um questionário para distribuição entre leitores.

Quem seriam os tais leitores? Sobre essa pergunta muito nos debruçamos e chegamos à
conclusão de que os questionários deveriam ser distrubuídos nos locais próximos às
residências e nos locais de trabalho dos integrantes, haja vista a diferença geográfica e
sócio-econômica apresentadas por esses locais: Chácara Inglesa, Vila Zatt, Raposo Tavares,
Butantã, Mooca, Parque São Lucas, Jardim Sapopemba (Diadema), Vila Carrão, Vila
Formosa, Aeroporto, Jabaquara, Santana, Centro de Diadema e Centro de São Paulo.

As conversas com a Edição estão deluídas ao longo do trabalho e as observações feitas a


partir das entrevistas num capítulo específico.

Um olhar crítico

A Revista História Viva é uma publicação da Duetto Editorial, nas bancas mensalmente
desde novembro de 2003, por conta do “(...) grande apreço pela matéria e a certeza de que
haveria leitores interessados.” – de acordo com a posição da Revista. Dirigida a “(...)
adultos interessados no tema. Não necessariamente formados na matéria , embora também
haja pós-graduados, bacharéis e acadêmicos. Boa parte, com formação universitária. Há,
também, jovens pré-vestibulandos, porque temos notícia de que várias escolas
diferenciadas.”- segundo nos diz a própria Editora.

Indicam a revista para leitura obrigatória ou complementar. Este trabalho prioriza sua
análise nas edições de 13 a 16, sem deixar de averiguar outros números. A escolha de tais
edições foi feita de modo a abarcar o período de férias (de novembro de 2004 a fevereiro de
2005), em que as pessoas teriam, possivelmente, maior tempo de ir às bancas e olhar as
revistas, de um modo geral, podendo interessar-se pela Revista História Viva.

As expectativas foram, em parte, atendidas, pois a Revista teve uma venda expressiva, no
entanto, isso deve ser visto dentro de um declínio desde julho de 2004, conforme gráfico
anexo.

A Revista se apresenta ao público, com 98 páginas, por uma capa de grande impacto, com
uma imagem que a ocupa quase que por completo. Margeando a imagem, sempre
referenciada à reportagem principal do mês. Ao lado, sem interferir na imagem, vemos
chamadas pequenas sobre os demais artigos. No canto superior esquerdo da página, há o
site da revista (www.historiaviva.com.br), forma de propaganda da mesma , segundo a Edição,
uma das mais eficientes: pessoas que acessam a página da web têm um contato maior com a
Revista e isso as potencializaria a comprá-la. A internet funciona como um importante meio
de marketing, pois as “chamadas” feitas em sites como o do UOL (www.uol.com.br) ,
levam os usuários desses portais a terem contato com a publicação. As bancas de jornal,
com seus cartazes, também são meios de divulgação. As bancas de jornal, com seus
cartazes, também são meios de divulgação considerados importantes pela Edição.

A Revista traz sempre algumas seções e artigos que serão brevemente detalhados abaixo.

História em Cartaz

Exposições

Tem como finalidade apresentar ao público algumas exposições que retratavam o passado
histórico nacional.

DVD

Esta seção apresenta ao leitor alguns vídeos sobre história, não se limita a somente filmes,
indicando ao leitor documentários e curtas, são indicados dvds tanto da história nacional
quanto da história mundial.

Gastronomia

Seção de responsabilidade de Guta Chaves, que tenta conciliar história e gastronomia,


apresenta um prato e explica o contexto histórico em que a receita foi gerada ou que tipo de
comunidade a saboreava, e em seguida fornece a receita.

Frases que Fizeram História

Grandes nomes são invocados onde frases a eles atribuídos são transcritas, normalmente
filósofos gregos, reis absolutistas, pensadores iluministas, generais em tempos de batalha e
intelectuais contemporâneos são escolhidos entre as frases que são apresentadas.
Livros

Livros que tenham história como tema-base de suas publicações são indicados, não
necessariamente escritos por historiadores ou que sejam somente de história, romances com
a corte de Luis XV como fundo são indicados também, assim como livros que são escritos
após anos de investigação sobre um tema específico.

Passeio

Indica ao leitor mais aventureiro algumas cidades que tenham o seu passado ainda muito
presente no seu cotidiano contemporâneo, focando assim em aventuras históricas indica um
roteiro de passeio pela cidade indicando os pontos turísticos principais. A escolha do local é
definida a partir do critério da proximidade com grandes centros.

Palavras Vivas

Seção, sob a tutela de Eduardo Martins, que visa explicar ao leitor as origens ou os
significados das expressões idiomáticas mais corriqueiras do nosso dia-a-dia, explicando
que as vezes uma palavra muda de sentido no decorrer do tempo ou quando um hábito
desapareceu mas a expressão idiomática não, sendo adaptadas ao nosso tempo. Puro estudo
etimológico aplicado.

Teses Acadêmicas

Voltado para um público mais específico, são apresentadas duas teses e o conteúdo delas é
rapidamente exposto, a seção finaliza dizendo onde pode localizar a tese caso haja interesse
do leitor.

Museus

Apresenta museus existentes nas cidades mas que às vezes não são lembrados e que
retratam parte do passado local, explicando na maioria das reportagens a origem do museu
e de onde vieram ou o que eram as peças expostas no museu. Segue o padrão da parte de
Passeios, no que se refere à proximidade com grandes centros.

Panorama

Expõe ao leitor um patrimônio histórico, seja ele um arquivo com documentos, ou um


monumento ou uma casa de 1580, e tenta mostrar ao leitor a importância daquele
patrimônio para a humanidade.

Historiográfico

Um gráfico relacionado a algum fato da História cujo movimento geográfico pode-se ser
descrito com maiores detalhes. Muito comum para marcar posições militares, como os
movimentos das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai (Edição 06) e dos paulistas na
Revolução de 1932 (Edição 08), por exemplo.
Biografia

Uma personalidade é retratada nessa seção. A maioria é de políticos, como Yasser Arafat
(Edição 17) e Joaquim Nabuco (Edição 15), mas também encontramos artistas, como
Picasso (Edição 06), cientistas como Einstein (Edição 14).

Dossiê

Um assunto pouco conhecido é abordado de forma a se aprofundar o conhecimento sobre


ele. Entre as reportagens, podemos ver Duque de Caxias e sua trajetória no Exército
(Edição 06), a história da construção da ferrovia Madeira-Mamoré (Edição 14), das
Cruzadas (Edição 15). Sempre abordado por diversos autores que analisam diferentes
aspectos do assunto.

Cruzada Histórica

Palavras cruzadas com perguntas relacionadas à História. Na maioria das perguntas, os


assuntos são relacionados à própria edição.

Destinos

Locais de cunho histórico, como o Muro das Lamentações (Edição 06) em Jerusalém, ou o
Museu Anita Garibaldi, em Laguna – SC. Diferencia-se da subseção Passeios, presente em
História em Cartaz, por conta da maior distância dos grandes centros urbanos do país.

Última Página

Artigos de historiadores das Universidades de maior renome do país, sobre os mais


diversos temas.

Reportagens Diversas (inclusive a de capa)

Artigos sobre temas variados, escritos por historiadores ou jornalistas afinados no trato com
a História. “Os articulistas são historiadores de renome: a maioria com livros publicados e
uma sólida carreira acadêmica. Eventualmente, convidamos jornalistas a colaborar, desde
que tenham um trabalho muito minucioso sobre determinado assunto, como é o caso de
William Waack, que assina uma matéria sobre Prestes e Olga Benário, na presente edição
em bancas (capa Israel) [Edição 20]. Ele passou muito tempo analisando arquivos em
Moscou.” – nos diz a editora, que segue: “Normalmente, fazemos poucas reportagens. As
matérias são artigos assinados, com linguagem muito fluente e bem explicados, já que
partimos do pressuposto de que nossos leitores não são experts. Os temas são definidos a
partir de centenas disponíveis em nossa parceira para História Geral, a revista francesa
História, há quase cem anos nas bancas. Entre seus colaboradores há best sellers como
Marc Ferro. Procuramos equilibrar bem os assuntos a cada edição, levando em conta
também o que já demos. Nossas prioridades são os grandes momentos ou personagens da
História, como Roma, Napoleão, Inquisição, Egito, Vikings, China.”
Análise de Pesquisas

Na análise da entrevista, foram detectados os dados abaixo. Foram entrevistadas 52


pessoas, as quais tiveram toda a liberdade para ler o material que lhe fora entregue (uma
cópia da seção História em Cartaz) e ler o questionário e responder, sem qualquer
intervenção do grupo. A algumas respostas foi possível a elaboração de gráficos, para
melhor visualização. Já nas especificidades das subseções, tivemos de colocar no próprio
questionário a quantidade de respostas assinaladas, conforme segue-se abaixo.
Com base nas respostas obtidas pela pesquisa, pode-se chegar às seguintes conclusões:

Exposições

Nesta seção houve uma boa receptividade visto que muitos responderam que visitariam a
exposição após a leitura do artigo. Acreditamos que esse interesse pode ser devido a uma
“pré-disposição”, ou seja, os habitantes da cidade de São Paulo, a partir de uma
determinada faixa social, possuem o hábito de visitar exposições, as escolas também
incentivam esta cultura e além de ser comum a ampla divulgação na mídia quando estas
ocorrem.

DVD

Percebeu-se um interesse superficial o que, num primeiro momento, surpreendeu-nos.


Entretanto, a seguinte hipótese foi levantada: o interesse pelo filme divulgado é
intrinsecamente ligado tanto ao tema quanto à divulgação comercial, sendo assim, como
nenhuma dessas expectativas foi “preenchida” o interesse manteve-se, em geral, inalterado
para a maior parte do grupo.

Gastronomia

Seção que não seria esperada pelo leitor, foi relativamente bem recebida enquanto
curiosidade. Apesar de muitos declararem que não gostam de cozinhar ou que não fariam a
receita a maioria respondeu que houve de boa divisão entre o conteúdo histórico e a receita
em si além do texto ser de boa compreensão.

Frases

Consideramos esta como uma seção em que a temática já seria, digamos, esperada pelo
leitor não especializado. Vale ressaltar que revistas de grande circulação, e que não tratam
necessariamente de história, costumam dedicar longas seções a frases ditas por pessoas
influentes em momentos importantes sem se preocupar, necessariamente, com uma maior
contextualização. Houve boa aceitação desta seção enquanto curiosidade e, dentre os que
não leram todo o conteúdo apresentado, está foi uma seção que não ficou de fora.

Livros
Embora a maior parte dos entrevistados tenham o costume de ler e não possua um
conhecimento prévio a respeito dos temas explorados nos livros, o que poderia indicar uma
predisposição ao aprofundamento de tais assuntos, podemos observar através da pesquisa
que o conteúdo do artigo não alterou-lhes a percepção acerca dos temas. De maneira geral
não houve um aumento do interesse, nem mesmo uma redução, mantendo-se este
inalterado. Em conseqüência disso a influência do artigo na decisão dos entrevistados em
comprar alguns dos livros é muito reduzida.

Passeio

As respostas dadas às questões desta subseção demonstraram uma predisposição dos


entrevistados em relação a passeios históricos, apesar de grande parte desconhecer o local
da reportagem. Demonstraram também que a leitura do artigo influenciou-os de maneira
positiva na possível realização de tais passeios, embora essa influência não tenha sido
constatada de maneira majoritária.

Palavras Vivas

A análise das respostas nos leva a idéia de que apesar da grande parte dos entrevistados não
apresentarem um interesse prévio a respeito da palavra explicada no artigo, eles vêem aí a
possibilidade de aprenderem algo diferente, algo que se apresente apenas como uma
curiosidade, um conhecimento que não buscariam, mas que uma vez diante deles é
absorvido com satisfação.

Teses Acadêmicas

As respostas dadas à esse questionário evidenciam que o interesse por teses acadêmicas é
muito reduzido. Os entrevistados em sua maioria não se interessam, apesar de boa parte
possuir curso superior e, de certa forma, estarem mais próximos a esse tipo de material. E
observando a maciça resposta na alternativa “tema” observa-se que, numa possível escolha,
não possuindo um bom conhecimento prévio a respeito dessa área do saber os entrevistados
direcionariam sua decisão apenas por meio de um assunto que os agradasse.

Museus

Assim como nas respostas dadas ao questionário da subseção Passeio aqui também existe
uma predisposição por parte dos entrevistados em realizar a atividade proposta na
reportagem, no caso a visita a museus. Nota-se a boa recepção do artigo entre a maior parte
dos entrevistados no que diz respeito ao fornecimento de informações acerca do museu e
também, talvez por conta desse bom papel informativo exercido pelo artigo, observa-se a
influência de seu conteúdo no sentido de estimular uma possível visita ao local em questão.

Panorama

Observa-se nas respostas que a maior parte dos entrevistados se preocupa com a
preservação da memória nacional, colocando-se como principal agente da manutenção do
patrimônio histórico, a frente até mesmo do Estado, por meio da idade de sociedade civil,
fato este bem contemporâneo e evidenciado na proliferação das ONGs. E apontam o bom
conteúdo do artigo no sentido de ressaltar a importância dessa preservação.

Conclusão

Analisando o público pesquisado e o próprio caráter da seção, não houve a preocupação do


leitor se as informações passadas são meramente curiosidades, formativas ou informativas.

Na verdade, o mérito nem está neste aspecto. Numa seção em que o espaço físico é
altamente limitado e a necessidade de ser chamariz para um público que não é exatamente
aquele que dá sustentação à publicação o tema e a linguagem acabam sendo prioridade
frente a qualquer outra discussão.

Ao ler-se a resenha feita pelo Professor Marcos Silva em relação ao livro A ditadura
envergonhada de Hélio Gaspari, por exemplo, entendemos o porquê da discussão, o que
este livro levantou de contradições e apelos em meios acadêmicos e não acadêmicos
justificariam a própria argumentação do professor. Mas em nosso caso, talvez tal
julgamento não fosse cabível.

A saída para atrair um público maior e tornar leitor aquele que, previamente, não se
interessaria pelo assunto. Uma temática envolvente, linguagem direta e fuga de discussões
muito aprofundadas ou acaloradas talvez fosse a saída viável nesta apresentação da revista.

Num aspecto geral, a seção História em Cartaz pode ser vista como algo de extremo valor,
uma vez que mais de 63% dos entrevistados comprariam a Revista, tendo em vista apenas a
leitura desta seção.

Fica aqui o lamento por não haver tempo hábil para uma melhor manipulação dos dados da
pesquisa, para um aprofundamento social, nas respostas dadas.
FORMULÁRIO DA USP DA PESQUISA
MATÉRIA DA REVISTA ADUSP – PROF.MARCOS
ECLÉTICA - 2005
Publicação eventual do Departamento de História/FFLCH/USP.

A HISTÓRIA EM BANCAS DE JORNAL


Créditos:

Universidade de São Paulo


Reitor: Prof. Dr. Adolpho José Melfi
Vice-Reitor: Prof. Dr. Hélio Nogueira da Cruz

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas


Diretor: Prof. Dr. Sedi Hirano
Vice-Diretor: Profa. Dra. Sandra Margarida Nitrini

Departamento de História
Chefe: Prof. Dr. Modesto Florenzano
Suplente: Profa. Dra. Maria Lígia Prado

Responsável: Profa Dra. Raquel Glezer


Monitora PAE – Estágio de Preparação Pedagógica: Silene Ferreira Claro

Trabalho de curso da disciplina Teoria da História I – 0401 - Noturno - 1º. Sem. 2005.

También podría gustarte