Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
Raquel Glezer1
Introdução
1
Profa. Titular Teoria da História e Metodologia da História/Departamento de História/FFLCH/USP; e-
mail: raglezer@usp.br .
2
Cf. Jean Chesneaux. Du passé faisons table rase?: a propos de l'histoire et des historiens. Paris: F.
Maspero, 1976; trad. brasileira Devemos fazer tabula rasa do passado? Sobre a história e os
historiadores. São Paulo: Ática, 1995.
Tais questões estavam em nosso horizonte de preocupação quando propusemos aos
alunos matriculados na disciplina Teoria da História I – 0401 - Noturno, no primeiro
semestre de 2005, cujo programa havia sido formulado com o objetivo de possibilitar
uma visão panorâmica de algumas formas de reflexão sobre a história até o início do
século XX, com aulas teóricas e leituras de textos de alguns autores clássicos, algo a
mais: um trabalho empírico, levando em consideração as restrições e limitações aos
alunos dos cursos noturnos: biblioteca em horário restrito; arquivos, centros de
documentação e museus fechados, nos horários que os alunos poderiam dispor para
alguma atividade extra classe.
Que material poderia ser utilizado, que estivesse acessível e cujas informações
complementares pudessem ser localizadas por quem cumpre oito horas de trabalho
diárias em cinco dias por semana? A nossa proposta foi a de explorar um material
recente, visível e de fácil aquisição, que existe e se oferece nas bancas de jornal – as
revistas de divulgação de história, em suas múltiplas apresentações e em seus variados
níveis de formulação.
Temos a certeza que nem todas as publicações existentes foram exploradas, pois tal não
era a intenção da proposta, que tinha como objetivo proporcionar aos alunos quase todas
as etapas de um projeto de pesquisa, a partir da seleção de fonte e temas de interesse dos
autores dos trabalhos, que foi respeitada, quer pela possibilidade de acesso3. Apesar da
vasta rede de bancas de jornal existentes na área metropolitana, nem todas contém
exatamente o mesmo conjunto de publicações, dependendo do local em que estão e da
clientela a que atendem.
Em complementação
3
Os trabalhos, de modo previsível, concentraram-se nas revistas com maior facilidade de acesso: Nossa
História, História Viva, Aventuras da História. Outras publicações foram também localizadas e
selecionadas pelo interesse dos alunos. Ao menos uma publicação não foi explorada - a Brasilis, da
editora Atlântica, do Rio de Janeiro, coordenada por Luis Felipe Baeta Neves. Ela era inicialmente
vendida por assinatura, e só conhecemos os dois números iniciais. O sumário deles pode ser encontrado
no sítio: http://atlanticaeditora.com.br/ .
4
No sítio www.facasper.com.br/cip/inicientifica: “tema: Estudo sobre o fenômeno das revistas de
história no contexto da hipermodernidade, com base na análise da publicação Aventuras na História ...”;
e-mail: marcelamastrocola@gmail.com.
5
Thathiana Murillo. Páginas do Passado: o boom das revistas de História, datado de 12.05.2004, no
sítio O cisco, http://www.ocisco.net/thati10.htm ; e-mail thatianamurillo@uol.com.br .
1. Enfrentar os preconceitos
A seleção do material para ser pesquisado decorreu de sua facilidade de acesso, por um
lado. Em nossos dias, a história está nas bancas de jornal, em formas variadas. Está nos
jornais diários - que são uma das fontes para a história do tempo presente e para a
história contemporânea; nas revistas semanais e/ou mensais de viés informativo ou
analítico de variadas tendências políticas; nas coleções de obras clássicas para
divulgação – como a coleção ‘Os Pensadores’ ou a coleção ‘Pensadores Brasileiros’.
Selecionamos uma materialidade específica - as revistas de temas históricos, voltadas
para o público consumidor não-especializado.
A multiplicidade de periódicos e publicações de assuntos variados nas bancas de jornal
é indicativo de alguns processos característicos da sociedade contemporânea pós-
industrial: a ampliação do público leitor, decorrente dos processos de urbanização e
alfabetização; a ampliação do acesso ao conhecimento; o atendimento pelas empresas
editoras de todas as áreas de interesse do público leitor, em suas múltiplas identidades
sociais6. Este foi o outro elemento fundamental para a escolha do objeto – a
possibilidade de captar um fenômeno social ‘quente’, em sua concretização, na vivência
do processo, que precisa ser analisado e compreendido. Em nossos dias, a diversificação
da mídia impressa, em miríades de pequenas empresas gráficas – algumas das quais de
vida curta, ao lado dos conglomerados de empresas gráficas e das de mídias, soma-se ao
complexo jogo dos cruzamentos de todas as mídias – imprensa, cinema, televisão,
eletrônicas, digitais...
Lembremos também que em nossos dias há associações entre empresas, para atingir
determinados segmentos do público, com a criação de marcas novas, ocultando a
empresa principal e dificultando o acompanhamento das questões mercadológicas.
6
Sobre as identidades sociais contemporâneas, ver Serge Moscovici. Representações sociais.
Investigações em psicologia social. 3ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
7
Literatura não convencional, conhecida por ‘literatura cinza’ (teses, folhetos, anais, proceedings,
relatórios de pesquisas, notas técnicas, indicadores de ciência e tecnologia, preprints, publicações seriadas
e trabalhos não publicados). Cf. http://www.ige.unicamp.br/site.
8
Ver: a) sitio: www.livroehistoriaeditorial.pro.br/, do I Seminário Brasileiro sobre Livro e História
Editorial, realizado entre 8 e 11 de novembro de 2004, na Casa de Rui Barbosa, na cidade do Rio de
atenção sistemática desde a década de setenta do século XX, vasto material que pode ser
encontrado nas bibliotecas. Contudo, são escassos os estudos analíticos sobre as revistas
de história no país, com exceção dos estudos sobre o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, que utilizam o seu periódico, o mais antigo do país, datado de 1838, mais
como fonte sobre a instituição do que como objeto de análise 9.
2. A popularização da cultura
12
Esta obra teve diversas edições, pela W. M. Jackson Editores, dos anos vinte até os anos cinqüenta.
13
Cesare Cantú. História universal. Obra de tanto sucesso que recebeu várias edições, entre outras: a)
Rio de Janeiro: Fluminense, 1883; b) Rio de Janeiro: Livraria João do Rio, 1931; c) São Paulo: Américas,
1946. 32 v.; d) São Paulo: Edameris, 1970, ed. resumida.
14
H. G. Wells. História universal: da ascensão e queda do império romano até o renascimento da
civilização ocidental. São Paulo: Nacional, 1939. 3 v.
15
Will Durant. História da civilização. São Paulo: Ed. Nacional, 1943. 18 v. A obra teve edições em
1956 e 1967, e em outras editoras O autor continua sendo editado no país, podendo suas obras ainda
serem encontradas em livrarias. Dados sobre sua vasta produção podem ser encontrados no sítio da Will
Durant Foundation, http://www.willdurant.com/home.html
16
Ver em Wikipédia, a enciclopédia livre, sítio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ediouro.
17
Cf. http://globolivros.globo.com/; a Rio Gráfica Editora adquiriu em 1986 a Editora Globo. A história
sintética da Editora Globo pode ser lida na Wikipédia, a enciclopédia livre. Sítio:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Editora_Globo. Sobre a editora há a indicação do livro de Elisabeth
Wenhausem Rochadel Torresini,. Editora Globo: uma aventura editorial nos anos 30 e 40 . São Paulo:
EDUSP, s.d., na Coleção Memória Editorial.
18
Ver sítio: http://sf.editorasaraiva.com.br/port/perfil/historico; cf. dados da empresa, em 1946 foi
lançada a Coleção Saraiva, dirigida por Mário da Silva Brito e Cassiano Nunes, que incluía autores
nacionais e internacionais como Machado de Assis, José de Alencar, Menotti del Picchia, Orígenes Lessa,
Henry James, Edgar Allan Poe, Herman Melville, ilustrada por artistas de renome, como Aldemir
Martins, Darcy Penteado, Nico Rosso, com traduções de Otávio Mendes Cajado, Décio Pignatari, Nair
Lacerda e José Geraldo Vieira. A forma de comercialização era por assinatura, feita por vendedores, com
entrega do exemplar publicado mensalmente; vendeu milhares de volumes, pois editou 287 títulos, alguns
dos quais com tiragem de até 50.000 exemplares.
19
Ver histórico da empresa no sítio: http://www.editoraagir.com.br/historico; cf. dados, foi adquirida
pela Ediouro, em 2002.
Da metade para o final do século XX, as bancas de jornal se tornaram o lugar de
exposição da mais ampla variedade de publicações, de todos os assuntos possíveis e
imagináveis, para todos os tipos de leitores.
3. O contexto
Há uma explicação corrente para o alto preço dos livros editados no Brasil: a falta de
público leitor, pois existem poucas livrarias pelo país e, portanto, poucos leitores.
Contudo, as vendas de ‘best-sellers’ desmentem tais afirmações: milhares de livros são
vendidos em curto espaço de tempo. Se existissem tão poucos leitores no país, como
afirmam as editoras de livros para venda em livrarias, as editoras que lançam seus
produtos culturais em bancas de jornal não teriam crescido e multiplicado.
O crescimento das editoras especializadas em publicações para bancas de jornal deve
ser relacionado com outros dados: aumento da população, predominância da
urbanização, crescimento da escolaridade, aumento da renda familiar, capilaridade dos
meios de divulgação de massa pelo país e interligação entre as diversas ‘mídias’.
Dos fenômenos citados, o aumento populacional se destaca: em 1950, a população do
país era de 51.949.397, e, em 2000, de 169.799.170 de habitantes20. No mesmo período,
a população urbana passou de crescente a dominante, decorrência de fatos distanciados
no tempo, mas que explicam alguns aspectos do fenômeno: em 1938, todas as sedes de
município passaram a ter o titulo de cidade, não importando a população; nos anos
cinqüenta a industrialização por substituição de importações e de bens de capital
deslocou uma grande parcela da população de áreas rurais para algumas áreas urbanas;
e, em 1988, a Constituição passou a permitir maior facilidade para a divisão de
municípios e ampliou os repasses do governo federal para os entes municipais, o que
possibilitou a expansão numérica deles. Em cada município, mesmo que não exista
biblioteca pública ou livraria, obrigatoriamente deve existir escola fundamental básica,
e, pode existir uma banca de jornal, mesmo que seja a única na estação rodoviária.
O processo de modernização econômica do país a partir de meados do século XX
possibilitou a melhoria da infra-estrutura em transportes e comunicação; a ampliação do
processo de escolarização com o objetivo da universalização do ensino fundamental e
posteriormente do ensino médio; o emprego em setores que previamente não existiam;
o crescimento da massa salarial; o crescimento do mercado educacional para atender a
demanda de mão-de-obra mais especializada; o desenvolvimento de redes de
comunicação via mídia eletrônica pelo país, que criaram um mercado nacional para
determinados produtos, inclusive para os da indústria cultural.
A existência de milhares de aparelhos de televisão pelo país substituiu em grande parte
a imprensa escrita como fonte de informação, por um lado, e, por outro, criou um outro
mercado produtor e consumidor com a possibilidade de intercruzamento de mídias. Os
produtos culturais da televisão promovem a venda de publicações escritas – sobre ela
mesma, os programas, os participantes de suas produções (autores, diretores, atores e
outros especialistas). Também algumas produções televisivas, como telenovelas e
minisséries promovem publicações escritas – os livros originais, as adaptações, e depois
os vídeos, os cds e os dvds. O lançamento de filmes, nacionais ou estrangeiros, com
chamadas em televisão, e com eventual apresentação posterior em horários especiais,
também alavanca publicações destinadas ao grande público, informando sobre a obra,
roteiro, diretor, atores e outros especialistas. Os temas épicos ou históricos, quando
explorados pelas mídias cinematográficas e televisivas, envolvem altos custos de
20
Conforme dados do IBGE, no sítio: www.ibge.gov.br/ , em Síntese dos censos demográficos.
produção, que são parcialmente recuperados ou ampliados pelos produtos em paralelo:
publicações impressas, vídeos, cds e dvds, além de outros produtos destinados ao
público infantil e/ou juvenil, da mesma forma que os filmes de entretenimento.
21
Ver nota 3.
22
Além da venda de milhares de exemplares de algumas obras de história como Le Dimanche de
Bouvines: 27 juillet 1214, de Georges Duby. Paris: Gallimard, 1986, e, Montaillo, village occitan de 1294
a 1324, de Emmanuel Le Roy Ladurie. Paris : Gallimard, 1975, pensamos nas coleções como História das
Mulheres e História da Vida Privada, que foram sucesso editorial destacado, foram traduzidas no Brasil e
inspiraram coleções similares nacionais.
4. Cultura de massa
Os resultados
Os textos que seguem a esta apresentação são todos os trabalhos de curso da disciplina,
resultantes das pesquisas e análises dos alunos. Alguns são trabalhos individuais, outros
coletivos. Cada um deles representa a trajetória de pesquisa que foi percorrida, os
interesses, curiosidades e idiossincrasias dos autores. Não foi realizada a normalização
23
BAHKTIN, M.. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo: HUCITEC;
Brasília:UnB, 1987.
dos textos e nem estão apresentados os comentários da avaliação. A finalidade da
publicação é reconhecer os esforços empregados na pesquisa, o empenho e interesse
demonstrado, além de colaborar com outras pessoas que tenham alguma curiosidade
sobre o material de divulgação de história impresso disponível em bancas de jornal.
Espero que a experiência tenha sido tão proveitosa para eles como foi para nós e que a
noção de que estamos imersos na história – mesmo explorando um tema restrito e
aparentemente limitado, tenha se tornado mais clara e compreensível. E que a função da
disciplina Teoria da História no processo de formação tenha adquirido sentido.
São Paulo, segundo semestre de 2005.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA,LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
PÚBLICOS
SUMÁRIO
- AMOSTRAGEM ............................................................ V
INTRODUÇÃO
Para a realização deste trabalho, foi escolhida a Revista Nossa História, editada pelo
Conselho de Pesquisa da Biblioteca Nacional, em parceria com a editora Vera Cruz. Esta Revista faz
parte de um conjunto de publicações relacionadas à História que apresentaram um crescimento
repentino e muitas delas surgiram por volta dos últimos três anos no mercado nacional. Algumas
tratam apenas de temas relacionados à História, nesse sentido são especializadas, outras
esporadicamente utilizam esses temas no conjunto de suas matérias científicas.
Este fato demonstra que há um público leigo com grande interesse por História. A demanda
foi certamente observada pelo mercado editorial, principalmente no que se refere aos assuntos
relacionados à História. Esta percepção do mercado editorial está inserida no recente aumento de
publicações de assuntos científicos, direcionados a leitores não especializados, mas que possuem
grande interesse pelas ciências num sentido genérico, como demonstram os exemplos de outras
revistas similares, História Viva, American Scientífic, Grandes Líderes, Super Interessante, entre
outras de grande tiragem.
Este processo desencadeou uma competição nesse mercado, existindo atualmente muitas
publicações, com abordagens diferenciadas da História, algumas de qualidade facilmente
perceptível, outras de qualidade duvidosa segundo a crítica especializada, mas que tentam atender de
formas diversas as necessidades dos leitores, voltadas para consumidores de variadas condições
sociais, considerando os diferentes perfis existentes. Um dos objetivos gerais desta análise é
averiguar como a utilização de documentos pela revista em estudo pode conferir qualidade ao
conjunto, bem como as possíveis impressões que pode ter o leitor desse material.
Tendo em vista que um dos objetivos gerais do conjunto dos trabalhos desenvolvidos pelos
alunos neste curso será busca da compreensão desse fenômeno na sociedade brasileira, é importante
observar se a demanda é a única responsável ou se em alguma medida, essas publicações despertam
ou estimulam o interesse do grande público, ou mesmo como se dá a interação desses dois fatores.
Nesse sentido, será analisado como os documentos se inserem nesse contexto, e quais os
objetivos da Revista Nossa História na utilização desse material. (seja o princípio de democratizar o
acesso ao material; divulgá-lo; o posicionamento metodológico dos editores; intenção de conferir um
aspecto de idoneidade para a Revista e quais as implicações teóricas, entre outros).
Foram escolhidas entre as várias seções da Revista “Nossa História”, duas subseções que
trabalham invariavelmente com documentos em todos os números até então publicados: a subseção
“Documento” da seção “Por Dentro da Biblioteca” e a subseção “Decifre se for capaz” da seção
“Almanaque”.
A primeira seção apresenta informações gerais sobre a Biblioteca Nacional, sejam assuntos
relacionados à história da instituição, os serviços que presta à sociedade, estrutura administrativa,
eventos, etc. Além disso, a subseção Documento tem a função de divulgar aos leitores o acervo
documental alocado em seus arquivos, mas utiliza os documentos de maneira predominantemente
ilustrativa, de modo que a leitura, quando possível, é muito limitada.
A segunda localiza-se nas páginas finais da revista, a qual traz informações curtas sobre fatos
pitorescos, curiosidades, frases emblemáticas, charges, etc, relacionados a diversos temas e
acontecimentos da história brasileira. Especificamente na subseção Decifre se for Capaz, os editores
apresentam na íntegra um documento manuscrito, com uma grafia que apresenta certa dificuldade de
leitura e sugerem ao leitor, através de um sucinto enunciado, que tente lê-lo. Ao lado do documento
está a transcrição, numa estreita coluna na borda lateral da página, com letra pequena, em posição
invertida para que o leitor possa averiguar suas dúvidas, erros ou acertos.
As duas subseções escolhidas estão relacionadas pela utilização invariável de documentos de
época relacionados à história do Brasil, sendo preferencialmente parte do arquivo da Biblioteca
Nacional ou do Arquivo Nacional.
Partindo do princípio de que estas seções fazem um uso diferenciado dos documentos como
recurso, serão analisadas as subseções quanto à forma que os apresenta, se são comentados ou
acompanhados de um texto explicativo (no caso afirmativo, qual a abordagem desse texto), sua
procedência, a instituição em que estão guardados, disponibilidade ao público, estado de
conservação, temas, se os editores seguem uma tendência mais tradicional na seleção do material ou
seguem tendências mais progressistas da historiografia, em qual medida representa uma função ou
objetivo didático para o grande público nesse contato com o acervo da biblioteca nacional, e num
sentido amplo, como esses documentos se adequam aos objetivos gerais da revista.
A revista Nossa História tem vinte números publicados entre Novembro de 2003 e Junho de
2005, dentre os quais foram escolhidos como uma amostragem para análise doze números, os quais
correspondem a 60% das publicações. Com referência à abordagem proposta, não foi necessário
adotar uma seqüência regular nesta escolha, mas pautou-se apenas pela seleção de alguns dos
primeiros números, outros intermediários e os mais recentes, para que fosse possível uma análise
abrangente, com um panorama mais completo para averiguar os objetivos dos editores e as
conseqüências do uso de tal recurso.
Assim, são os seguintes os números:
Serão analisadas as duas subseções mencionadas, sendo duas por cada revista. Desse modo,
teremos vinte e quatro subseções compondo o material desse trabalho.
Partindo do princípio de que é necessária uma padronização analítica para obtenção de
conclusões ou considerações plausíveis, uma vez que há grande variedade nesse material quanto à
realidade em que foram produzidos e os fins a que se destinavam, mas mesmo assim são utilizados
pela revista de modo invariável ao longo dos vinte meses de publicação da revista, foram elaboradas
questões, as quais vão compor um fichamento comum às duas subseções, para que através delas
possa ser extraído o maior número de informações, com certa segurança por evidenciarem as
tendências e aproximações que se deseja obter.
A finalidade prática do questionário aplicado às subseções e em alguns casos especificamente
aos documentos, é a obtenção de uma expressão estatística da amostragem que pudesse nos conduzir
a uma análise final. O critério utilizado para as respostas foi definido quando da formulação das
questões, para que não houvesse erros de interpretação. Algumas perguntas requerem respostas que
vão além do óbvio, mas a padronização das respostas tem por objetivo captar não os termos
absolutos, mas sim o caráter predominante.
Desse modo, foram empregados nas estatísticas simplesmente os termos “sim” e “não” ou
outros enquadramentos específicos, com objetividade. Estará anexada na seqüência de cada
questionário, uma cópia da subseção analisada, para que possa ser visualizada e comparada com as
respostas fornecidas, com rapidez e facilidade. Mas a importância dos fichamentos é que neles estão
demonstradas, além das respostas objetivas a determinadas questões, conteúdos analíticos que
justificam esta determinação justamente por existirem algumas questões que indicam certa
relatividade.
Além disso, não há prejuízo para o resultado estatístico, pois não serão consideradas
precisamente as porcentagens, mas sim o que elas indicam como tendência, tendo sempre em vista
uma margem considerável de erro. A obtenção dessas tendências gerais é outro objetivo pretendido
com os fichamentos, porém sem descuidar das especificidades de cada uma das vinte e quatro
subseções averiguadas.
As questões vão da maneira como a revista apresenta os documentos, da qualidade de leitura
do documento, até sua contextualização. Nos preocupamos em saber, por exemplo, se os
documentos vinham acompanhados de explicações didáticas úteis ao leitor leigo. Por fim, é a nossa
proposta colher os dados das análises destes documentos caso a caso numa análise geral, que revele
como a revista Nossa História escolhe e publica os documentos que aparecem em suas páginas.
A seguir, reproduzimos o fichamento dos documentos:
SUSEÇÃO “DOCUMENTO”
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. O aproveitamento da seção em seu conjunto pode servir de ensejo para outras questões sobre o
Brasil, principalmente os temas relacionados ao regime de trabalho, economia, composição étnica e
racial da sociedade brasileira, entre outros.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Economia e política.
Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância como fonte para o estudo de História, pois
representa um marco para a sociedade brasileira. A revista valoriza o documento manuscrito ao
publicá-lo ampliado em uma página, democratizando assim o acesso do material ao grande público.
O texto de apoio tem um caráter didático destacado, com contextualização, informação sobre o
conteúdo do documento e análises.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não, há apenas a coincidência do mês de janeiro, no qual circulou a revista e foi produzido o
documento.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. O aproveitamento da seção em seu conjunto pode servir de ensejo para outras questões sobre o
Brasil, principalmente os relacionados à emancipação política.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Economia e política.
Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância como fonte para o estudo de História, pois
representa um marco fundamental segundo a historiografia atual, no processo de emancipação
política do Brasil. O texto de apoio tem um caráter didático destacado, com contextualização,
informação sobre o conteúdo do documento e análises.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. A matéria apresenta um jornal periódico que apresenta com humor e sátiras temas da política
e cotidiano do Rio de Janeiro, com charges e caricaturas.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Política e cultura.
Conclusão
Revista divulga acervo da Biblioteca Nacional, retomando a partir da história da imprensa uma boa
fonte de pesquisa para a história brasileira.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. O aproveitamento da seção em seu conjunto pode servir de ensejo para outras questões do
Brasil colonial, mas o documento em si é apenas ilustrativo.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Destaca política e economia, pois presta informações para estadistas portugueses sobre a história
da colônia.
Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância como fonte para o estudo de História, e o texto de
apoio tem um caráter didático destacado, com contextualização, informação sobre o conteúdo do
documento e análises superficiais.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Sim. Estão relacionam-se à independência do Brasil, data comemorada mês desta edição.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, para ilustrar as relações cotidianas, despertar o interesse relacionado a uma figura de
destaque na história política do Brasil ao observar outros aspectos de sua vida. Também é possível
demonstrar a mentalidade da época, recursos materiais e humanos, e outros temas que podem
surgir segundo a criatividade do professor. Mas o uso apenas das ilustrações e dos comentários da
revista, ainda que muito mais limitados, podem dar ensejo à argumentação do professor e despertar
o interesse dos alunos.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Social e político.
Conclusão
Estes documentos não podem ser lidos, são meramente ilustrativos. Tudo que é afirmado deve ser
compreendido como contextualização, e análise contida no texto de apoio.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, demonstra de maneira clara as relações entre metrópole e colônia.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Temas econômicos e políticos.
Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da questão, e o texto de apoio
tem um caráter didático bem preservado.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Sim, o dia da Consciência Negra.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, ele é um relato bastante vívido das condições de organização dos quilombos. As imagens, como
plantas e mapas, dão ao professor um recurso eficaz para mostrar como o quilombo se organizada.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas políticos (a luta contra os quilombos) e sociais (a organização interna dos
quilombos).
Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da questão, e o texto de apoio
tem um caráter didático bem preservado.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Não muitos. Serve para estudar alguma coisa do comportamento da corte.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele fala de comportamento.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. Os documentos podem ser utilizados como recurso didático para ilustrar a política e o debate
de idéias entre 1808 e 1822, entre muitos outros temas relacionados.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Predomina o tema da política, sendo possível observar em sentido mais restrito os outros aspectos,
segundo informa o texto da matéria.
Conclusão
Revista divulga acervo da Biblioteca Nacional, retomando a partir da história da imprensa uma boa
fonte de pesquisa para a história brasileira. Está à mostra apenas a capa na matéria, com função
meramente ilustrativa. A revista usa o espaço para divulgação do acervo da Biblioteca Nacional,
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Não muitos. O texto serve para os estudiosos de literatura.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas artísticos e sociais (na medida em que descreve a vida social de uma época)
Conclusão
Documento de interesse literário, não muito bem explorado pela revista.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. O aproveitamento da seção em seu conjunto pode servir de ensejo para outras questões do
Brasil colonial, mas o documento em si é apenas ilustrativo.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Destaca política e economia e o combate armado como conflito subjacente.
Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da questão, e o texto de apoio
tem um caráter didático destacado, com contextualização, informação sobre o conteúdo do
documento e análises superficiais.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, é possível utilização para tratar do período, concentrando-se nos temas da atuação feminina
na sociedade e outros relativos à história do cotidiano.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Culturais, religiosos e sociais.
Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da história do Brasil, com as
inúmeras possibilidades de investigação histórica a partir do documento, e o texto de apoio tem um
caráter didático destacado.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento pode-se analisar temas como o racismo e intolerância étnica na
sociedade brasileira e suas raízes históricas, além das variações e negociações empreendidas para
o funcionamento do regime de trabalho escravo, entre outros temas relacionados.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas sociais e econômicos.
Conclusão
A revista indica quem escreveu o documento e em qual data foi produzido, a quem foi endereçado e
o assunto, no enunciado. Demais conclusões e considerações sobre o assunto tratado ficam a cargo
do leitor do documento.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento é possível analisar temas como o racismo e intolerância étnica na
sociedade brasileira e suas raízes históricas, além de outros temas relacionados.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas sociais relacionados à administração colonial e intolerância étnica.
Conclusão
A revista indica quem escreveu o documento e em qual data foi produzido, a quem foi endereçado e
o assunto, no enunciado. Demais conclusões e considerações sobre o assunto tratado ficam a cargo
do leitor do documento.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, principalmente com referencia a temas relacionados com o cotidiano e economia.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Política, administração, sociedade.
Conclusão
O documento revela uma situação interessante, a demanda dos escravos por bebida alcoólica, e um
padre que protesta contra isso devido aos problemas que pode acarretar.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento se pode analisar o funcionamento do aparato estatal português.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas políticos (o aparato burocrático português), administrativos e econômicos.
Conclusão
A revista apenas indica quem escreveu o documento e em qual contexto foi produzido, no
enunciado. Demais conclusões e considerações sobre o assunto tratado ficam a cargo do leitor do
documento.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Sim, atende a solicitação de um leitor de São Paulo.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
O documento como é exposto na subseção presta-se à utilização pelo professor. O texto pode ser
lido e analisado segundo os temas nele contidos.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Predomina os temas sociais e econômicos, mas com outros subjacentes.
Conclusão
O leitor do documento entra em contato com uma fonte primária, nesse sentido, muitas informações
precisas são apreciadas, como a data, localidade, os sujeitos envolvidos, a formalidade legal para a
validade de Carta de Alforria, a disposição de Alencar em conceder a liberdade gratuitamente, a
justificativa desta ação, entre outros dados que permitem ao leitor considerar algumas hipóteses de
análise histórica e descartar outras. Uma das conclusões possíveis é que José Martiniano de
Alencar concede gratuitamente alforria à sua escrava de nome Ângela em 1855, a qual tem mais de
sessenta anos de idade.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, demonstra de maneira clara as relações entre metrópole e colônia.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Temas econômicos e políticos.
Conclusão
A revista apresenta um documento de relevância para o entendimento da questão, e o texto de apoio
tem um caráter didático bem preservado.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento se pode analisar o funcionamento do aparato estatal português.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas políticos (o aparato burocrático português).
Conclusão
A revista não explica o contexto em que o documento foi produzido. Há apenas uma menção a
piratas baianos e inquisidores em Goa. Ainda assim, é um documento útil para trabalhar a
interconexão do império português.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Não.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Tema social.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não. Os documentos não atendem especificamente à solicitação de leitores. Não há evidências de
elementos como datas comemorativas ou eventos circunstanciais do presente como ensejo para a
retomada dos temas relacionados. O documento propriamente é elemento para a retomada dessa
memória.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, o documento como é exposto na subseção presta-se à utilização pelo professor. O texto pode
ser lido e analisado segundo os temas nele contidos.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Predominam os temas de caráter social e cultural, mas com outros subjacentes.
Conclusão
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, por meio dessa história se entende as condições familiares da época.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas sociais.
Conclusão
O documento revela um caráter curioso da época. Um caso de foro íntimo chega ao conhecimento
do governante. A sua intervenção é pedida. Trata-se de documento interessante para entendermos a
estruturação familiar da época.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, a partir do documento se pode analisar o funcionamento do aparato estatal português.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Ele destaca temas políticos (o aparato burocrático português) e de defesa militar estratégica.
Conclusão
A revista apenas indica quem escreveu o documento e em qual contexto foi produzido, no
enunciado. Demais conclusões e considerações sobre o assunto tratado ficam a cargo do leitor do
documento.
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Não.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim. Os documentos podem ser utilizados como recurso didático para ilustrar o funcionamento da
administração portuguesa e a aculturação e controle dos índios. Também é possível demonstrar a
mentalidade da época e muitos outros temas que podem surgir segundo a criatividade do professor.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, pois lida com a formação da nação brasileira.
Conclusão
O leitor do documento entra em contato com uma fonte primária, nesse sentido, muitas informações
precisas são apreciadas, como a data, localidade, os sujeitos envolvidos, entre outros dados que
permitem ao leitor considerar algumas hipóteses de análise histórica e descartar outras.
Mas toda análise e conclusão fica a cargo do leitor.
RESULTADOS ESTATÍSTICOS
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Em apenas dois casos dos doze analisados (16,6%).
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Esta especulação demonstrou uma grande faixa de intersecção entre os temas sócio-culturais,
políticos e econômicos, não sendo possível destacar uma característica predominante nos
documentos.
19º) Em qual época se insere o documento?Em sete dos casos, os documentos se inserem no período
do Brasil colonial, ou seja, 58,3%. Os outros seis correspondem à época do Império, 41,6%.
RESULTADOS ESTATÍSTICOS
Seção - “Almanaque”
Subseção - “Decifre se for Capaz”
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Em apenas dois casos dos doze analisados (16,6%).
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, em onze caso, ou seja, em 91,6% dos casos.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Esta especulação demonstrou uma grande faixa de intersecção entre os temas sócio-culturais,
políticos e econômicos, não sendo possível destacar uma característica predominante nos
documentos.
RESULTADOS ESTATÍSTICOS
4º) O documento atende a solicitação de algum leitor, retoma a memória a partir de alguma data
comemorativa, ou há outros possíveis motivos pelo qual é utilizado?
Em apenas quatro casos dos vinte e quatro analisados (16,6%). Em 83,3% não há.
14º) Há possibilidade de utilização do documento como recurso didático por parte de professores?
Sim, em vinte e dois casos dos vinte e quatro analisados, ou seja, em 91,6% dos casos.
18º) Relatar qual a tendência predominante e outras destacáveis dos documentos, se relacionados a
temas: religiosos, culturais, políticos, sociais, econômicos, ou ainda outros.
Esta especulação demonstrou uma grande faixa de intersecção entre os temas sócio-culturais,
políticos e econômicos, não sendo possível destacar uma característica predominante nos
documentos.
ENTREVISTA
Interessado em saber como a revista Nossa História define as mesmas questões que fariam
parte do trabalho, o grupo fez um sumário destas questões e enviou à revista. Isso foi feito da
maneira mais simples possível. Um e-mail foi enviado através do site da revista na Internet
(http://www.nossahistoria.net/).
Cerca de uma semana depois, uma pesquisadora da revista, Nívia Pombo Cirne dos Santos,
retornou o e-mail. Na resposta percebemos que a revista se preocupa em não definir regras que
norteiem a escolha dos documentos. Eles podem ser manuscritos ou não, ter iconografias ou não, ter
sido escritos por personalidades importantes ou não...
Noto que no campo “critério de seleção de documentos”, a primeira coisa a ser citada
pela pesquisadora é a “raridade” do documento. Em seguida ela faz uma defesa da diversidade do
documento e, por fim, do interesse que este possa despertar no leitor. A pesquisadora não considera
a relevância histórica do documento. Como já se disse, não é um objetivo da revista produzir
documentos que estejam conectados à edição da revista em si. A seguir, o questionário respondido
pela pesquisadora.
CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES
A julgar pelas estatísticas que obtivemos, não é possível denominar critérios absolutos para
a seleção dos documentos. Entretanto, existe uma linha editorial clara. A entrevista feita com a
pesquisadora reforça essa conclusão anterior, revelando um aspecto fundamental: o documento tem
que ser interessante para o público. O critério interesse é mais relevante do que o critério
importância histórica, critério este que, aliás, não está na resposta da pesquisadora.
Para construir um painel representativo dos documentos usados nas edições de Nossa
História, é preciso considerar especificidades das duas subseções trabalhadas - os documentos são
utilizados de dois modos.
A primeira subseção, “documento”, valoriza o documento ilustrativo, que dá ensejo à
matéria, sendo a análise predominante (91,6%), mas também a descrição (50%). A apresentação na
íntegra destes documentos aparece em apenas 33% dos casos.
Ao contrário, a subseção “Decifre se for Capaz” coloca todos os documentos manuscritos
(100%), sempre relacionados a situações corriqueiras (75%), com informações curiosas (66%) e,
principalmente, com o predomínio da descrição (83%), deixando qualquer análise possível por conta
do leitor. Ou seja, é a idéia de que o documento fala por si mesmo. Diferentemente do que ocorre na
outra subseção, o documento aqui é sempre apresentado na íntegra.
O critério de seleção dos documentos e os objetivos que se deseja atingir editorialmente, os
quais não são necessariamente os mesmos quando o documento é estudado por um historiador,
coloca em prática uma outra modalidade de uso do documento histórico. Analisemos por exemplo a
relação entre o documento e o conteúdo global da revista. O fato de 91,7% dos documentos não
estarem relacionados ao conteúdo da revista corrobora o critério de a importância histórica estar em
segundo plano, como se depreende da entrevista da pesquisadora. O fato de os documentos não
estarem vinculados a datas comemorativas (83,3%) é outro dado que indica isso.
Segue uma conclusão a partir dos dados apurados na amostragem, dividindo-se os termos
analisados pelo grupo de trabalho.
Manuscritos, em 83% dos casos. Esta maioria deve-se ao uso contínuo na subseção “decifre”, em
que é importante o documento ter um certo mistério, ser de difícil leitura. Voltamos ao critério do
documento “interessante”. A subseção “documento” apresenta uma queda no uso do documento
manuscrito, embora este ainda seja maioria – 66%. O que corrobora o caráter ilustrativo, citando
apenas parte de um material mais volumoso.
Não, só em 16,6% dos casos. Isto indica uso contínuo do documento como prática da revista,
divulgação do material da biblioteca, etc. Os documentos em si não são o motivo das matérias. Os
documentos devem se conformar ao padrão imposto pela subseção, o que faz questionar o critério
“raridade”. Subseções são independentes das demais e tem uma forma invariável nas publicações.
Não, apenas em 16,6% dos casos. A conclusão confere com o mesmo sentido da questão anterior. O
documento em si atende a forma requerida pela subseção. Isso vale para uma subseção ou para a
outra. O presente não determina a escolha do documento, mas ele é escolhido para fundamentar a
retomada do passado. Uma revista mensal deve ter certamente um padrão de trabalho. Fazer uma
espécie de trabalho jornalístico adequando os temas atuais à investigação do passado seria o caminho
ideal para um sucesso editorial, mas o caminho mais fácil e constante foi adotado, ou seja, a partir da
variedade de documentos que compõem o acervo da Biblioteca nacional, simplesmente o material é
selecionado e utilizado segundo a forma da subseção.
Proporcional: 58% sim, 45% não. Isto indica que o destaque da figura envolvida não é um critério
fundamental, mas sim secundário na escolha dos documentos.
Em 100% dos casos sim. Isto indica outro critério de escolha que contraria a “raridade” mencionada
pela pesquisadora. E reforça o papel de divulgação do acervo da Biblioteca Nacional. Da mesma
maneira, 100% dos documentos estão disponíveis à consulta pública, o que quer dizer mais ou
menos a mesma coisa.
Em 75% dos casos, sim. Mais na “decifre” (83,3%) do que na “documento”. (66,6%). Mas isto é
mais uma conseqüência natural do documento do que um critério de escolha editorial da publicação.
A exceção demonstra isso, mas pode ser considerada a tentativa positiva de resgatar novos temas e
variar os assuntos.
questões do presente a partir dos documentos e como isto pode estimular o interesse do público leigo
que é o público alvo da revista. A revista cumpre esse objetivo em cerca de metade dos documentos
que apresenta (50%).
Existe, a maioria dos documentos (70,8%) se refere ao período colonial. O restante são sobre o
período monárquico.
Posto isso, retomamos aos objetivos expostos na introdução deste trabalho. Como a seleção
editorial dos documentos publicados se relaciona com o público-alvo, a que interesses
metodológicos ela serve? Primeiramente, devemos dizer que os documentos têm o objetivo de
divulgar o acervo da Biblioteca Nacional. Daí o fato de eles estarem todos em disponibilidade, e de
estarem todos em condições razoáveis de leitura. A democratização do acesso público também é um
objetivo louvável por parte dos editores.
Em segundo, temos que os documentos são usados para retomar a memória do passado, não
para discutir questões da sociedade contemporânea. Há uma certa busca do “exotismo” do
documento. Ele é um manuscrito perdido no tempo, muitas vezes referente ao longínquo Brasil
Colonial.
Não há explicitamente nenhum enquadramento político ou ideológico destacado no uso que
os editores fazem dos documentos. Eles são escolhidos com base em critérios de mercado (são
interessantes?), o que por sua vez reforça os aspectos de “exotismo” do qual falamos no parágrafo
anterior.
Os documentos algumas vezes aparecem descontextualizados, em outras eles não têm seques
explicação nenhuma. Com relação a isto, poderia-se argumentar a apresentação do documento sem
contexto é mais freqüente na subseção “Decifre”. Os editores poderiam argumentar que a subseção
presta-se apenas ao que está escrito no seu título. Ou seja, o leitor deve tentar ler o documento,
independentemente do que estiver escrito nele. Entretanto, isso gera alguma frustração. O leitor
interessado não saberá interpretar o documento, mesmo que chegue a decifrá-lo.
- Foram utilizadas as doze revistas como material do trabalho, com valorosa contribuição das
respectivas aulas, seminários dos demais grupos e textos do curso de Teoria da História I.
ANEXOS
- Tabelas do conteúdo das revistas, para localização das subseções, comparação com o
conteúdo geral, averiguação da metodologia de divulgação histórica para o público, seja pela
constância nas formas ou casualidades dos assuntos, entre muitas outras especulações
possíveis. Foram elaboradas três tabelas, com os seguintes números:
ORGANIZAÇÃO INTERNA:
SEÇÃO PÁG. SUBSEÇÃO PÁG.
Setembro 2004 6a9 (Artigos diversos) -----
Por dentro da Biblioteca 10 a 12 Documento 12
Capa 14 a 23 “Independência ou morte” e Artigos -----
Olhares 24 a 27 (Artigos) -----
Quem 30 a 33 ---------- -----
Entrevista 34 a 37 ---------- -----
Ensino 80 a 83 “Criatividade para a cidadania” 82
Letras e Escritas 84 a 87 ---------- -----
Almanaque 88 a 91 A frase do mês / Nossa charge / Histórias da nossa 88 / 89
história / Outros Janeiros / Decifre se for capaz 90 / 91
Acontece 92 a 95 Exposições e eventos / Turismo Histórico / 92/ 93
Portal de história / Livros 93/ 94
Cartas 96 a 97 Classificados / Pergunta do Leitor / Cartas / 95 / 96 /
Correções / Agradecimentos 97
Nosso Historiador 98 ---------- -----
39) Uma família de luta Keila Grinberg Advog. Negro / engenh. Negro / Artigo 76-79 sim sim
política / abolicionismo
40) O filho de Antonio Sem assinatura Formação / biografia / atividades Artigo (Box) 78 sim sim
41) A independência na Bahia Sem assinatura Desmitificação / esclarecimento Artigo (Box) 79 não sim
42) Os novos caminhos do ensino Marcus Vinicius T. Revisionismo / metodologia / Ensino 80-82 não sim
da História Ribeiro cidadania / ensino-pesquisa
43) Memórias de açúcar e crise Iranilson B. Oliveira Literatura / regional. / Letras e Escritas 84-87 sim sim
Transição
44) Parceiros regionalistas Sem assinatura Gilberto Freyre e Lins do Rego Letras e Escritas 86 não* sim
/ parceria ideológica (Box)
45) A frase do mês Sem assinatura Independência / nacionalidade Almanaque / a f do mês 88 não não
46) Nossa Charge Sem assinatura Centenário indep. / gastos Almanaque 88 não sim
públicos / má gestão
47) Fiéis Soldados da princesa Sem assinatura Abolicionismo / Almanaque 88 não* sim
Republicanismo
48) Jovita, uma heroína esquecida Sem assinatura G. Paraguai / curiosidade / Almanaque 88 não* sim
voluntários / romance
49) O homem que não quis ser rei Sem assinatura Curiosidade política / Almanaque /H. N H. 89 não sim
Restauração
50) “Comida, trabalho e cacete” Sem assinatura Viajantes / escravidão Almanaque 89 não* não
51) E a “Passarola”? Voou? Sem assinatura Curiosidade / tecnologia Almanaque 89 não* não
52) Outros Setembros Sem assinatura Memória (mensal) Almanaque 90 não* não
53) Documento manuscrito José Martiniano de Memória / Curiosidade / Almanaque / Decifre se 91 sim não
Alencar for capaz
Fonte escrita / Diversão
54) Exposições e eventos Juliana Barreto Faria PA / RJ / SC / DF Acontece 92-95 não* não
55) Mossoró: uma cidade em Juliana Barreto RN / Abolição antecipada Acontece / Turismo 93 não não
festa com sua história Faria (1883) / festas / rituais Histórico
56) Acontece / Livros Juliana Barreto Faria Divulgação publicações Acontece / Livros 94-95 não não
recentes
57) “Irmandades” Mariza de C. Soares Interação com o leitor Pergunta do Leitor 96 não* não
58) História: por que e para quê? Caio Boschi Metodologia / teoria / cotidiano Nosso Historiador 98 não* não
* Refere-se apenas à inexistência de documentos impressos ou manuscritos que são objeto deste trabalho, mas contem diversas
outras fontes, como fotografias, iconografias, gravuras, charges, representações, imagens de objetos ou paisagens, desenhos,
entre outras imagens que podem servir ou não como fonte histórica, com função basicamente ilustrativa.
A anotação “Sem assinatura” no campo AUTOR(A) informa que os textos redigidos foram aprovados pelos editores da revista, podendo ser entendido
como assinado pela revista Nossa História (NH).
ORGANIZAÇÃO INTERNA:
SEÇÃO PÁG. SUBSEÇÃO PÁG.
Janeiro 2005 6 a 11 (Artigos diversos) -----
Por dentro da Biblioteca 12 a 13 Documento 13
Capa 14 a 15 “O Brasil foi à Guerra” e Artigos -----
Olhares 40 a 45 (Artigos) -----
Entrevista 46 a 49 ---------- -----
Letras e escritas 72 a 75 ---------- -----
Quem 76 a 79 ---------- -----
Ensino 80 a 83 Castigos corporais 82
Viagens à memória brasileira 84 a 87 Acervo / Documento 86 / 87
Almanaque 88 a 91 A frase do mês / Histórias da nossa história / 88 / 89
Outros Janeiros / Decifre se for capaz 90 / 91
Acontece 92 a 95 Exposições e eventos / Turismo Histórico / 92/ 93
Portal de história / Livros 93/ 94
Cartas 96 a 97 Classificados / Pergunta do Leitor / Cartas / 96 /
Correções / Agradecimentos 97
Nosso Historiador 98 ---------- -----
44) Documento manuscrito: José Bonifácio de Memória / Curiosidade / Almanaque / Decifre 91 sim não
“Caráter geral do brasileiro” Andrada e Silva Documento / Fonte / Diversão se for capaz
45) Exposições e eventos Juliana Barreto Farias SP / IEB / Folclore (Mário de Acontece/ Exposições 91-92 não* não
Andrade) / RJ / música e eventos
46) “Salvador é uma festa” Juliana Barreto Farias Festas e rituais religiosos / Acontece / Turismo 93 não* não
sincretismo / abolição Histórico
47) Portal de História Juliana Barreto Farias Internet e sites de História Acontece / Port. Hist. 93 não não
48) Acontece / Livros Juliana Barreto Farias Divulgação publicações recentes Acontece / Livros 94-95 não* não
49) “Bilhetinhos” Marly Motta Interação com o leitor Pergunta do Leitor 96 não* não
50) Das ambigüidades de ser cordial Lilia Moritz Schwarcz Arte Brasileira / democracia Nosso Historiador 98 não* não
racial / mestiçlagem / antropolog.
* Refere-se apenas à inexistência de documentos impressos ou manuscritos que são objeto deste trabalho, mas contem diversas
outras fontes, como fotografias, iconografias, gravuras, charges, representações, imagens de objetos ou paisagens, desenhos,
entre outras imagens que podem servir ou não como fonte histórica, com função basicamente ilustrativa.
A anotação “Sem assinatura” no campo AUTOR(A) informa que os textos redigidos foram aprovados pelos editores da revista, podendo ser entendido
como assinado pela revista Nossa História (NH).
ORGANIZAÇÃO INTERNA:
SEÇÃO PÁG. SUBSEÇÃO PÁG.
Maio 2005 6 a 11 (Artigos diversos) -----
Por dentro da Biblioteca 12 a 13 Documento 13
Capa 14 a 15 “Antes da Lei Àurea” -----
Olhares 28 a 47 (Artigos) -----
Entrevista 48 a 51 ---------- -----
Quem 72 a 75 ---------- -----
Letras escritas 76 a 79 ---------- -----
Ensino 80 a 83 Livro pioneiro 82
Viagens à memória brasileira 84 a 87 Acervo / Documento 86 / 87
Almanaque 88 a 91 A frase do mês / Histórias da nossa história / 88 / 89
Outros Maios / Decifre se for capaz 90 / 91
Acontece 92 a 95 Exposições e eventos / Turismo Histórico / 92/ 93
Portal de história / Livros 93/ 94
Cartas 96 a 97 Pergunta do Leitor / Cartas / Correções / 96 /
Agradecimentos / Classificados / No próximo mês 97
Nosso Historiador 98 ---------- -----
46) Outros Maios Sem assinatura Memória ( mensal) Almanaque 90 não* não
47) Documento tipo carta Sem assinatura Memória / curiosidade / Almanaque / Decifre 91 sim Sim
oficial(1766) documento se for capaz fonte
48) Exposições e eventos Juliana Barreto Farias RS / RJ Acontece / Exposições e 92 sim não
eventos
49) Turismo Histórico Juliana Barreto Farias Jesuíta Pe. Anchieta Acontece / Turismo 93 não não
Histórico
50) Portal de História Juliana Barreto Farias Internet e sites de história Acontece / Port. de Hist. 93 não não
51) Acontece / Livros Juliana Barreto Farias Divulgação de public. recentes Acontece / livros 94-95 não não
52) “Abolição” Antonio E. M. Fernand. Interação com o leitor Pergunta do Leitor 96 não* não
53) Documentos explorados e ainda por Laura de Mello e Fontes de história – arquivos da Nosso Historiador 98 não* não
explorar Souza Torre doTombo
* Refere-se apenas à inexistência de documentos impressos ou manuscritos que são objeto deste trabalho, mas contem diversas outras fontes, como
fotografias, iconografias ou desenhos, com função basicamente ilustrativa.
Discente:
“A única generalização cem por cento segura sobre a história é aquela que diz que
enquanto houver raça humana haverá história”.
Eric Hobsbawn∗∗
Resumo:
∗
Trabalho de aproveitamento do curso de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, da disciplina de Teoria da História I, sob orientação da
Profª. Dra. Raquel Gleizer, apresentado durante o primeiro semestre de 2005.
∗∗
Era dos Extremos: O breve século XX,1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,1995, p. 16.
1
Cf. CASTRO, Hebe. História Social, in: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da
História, ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, pp. 45 a 60.
2
Cf. TUCK, Richard. História do pensamento político, in: BURKE, Peter (org.). A escrita da História,
novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992, pp. 273 a 290.
3
Cf. VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e História da cultura, in: CARDOSO, Ciro
Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Op. cit. pp. 127 a 164.
4
Cf. FALCON, Francisco. História das idéias, in: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Op.
cit. pp. 91 a 126.
5
Cf. SHARPE, Jim. História vista de baixo, in: BURKE, Peter. Op. cit. pp. 39 a 62.
4
Introdução:
Você não precisa analisar para gostar de algo. Você entende uma poesia porque você
leu, entendeu e ela entrou dentro de você. Acabou. Análise é outra coisa: é entender
como foi construído. Aliás, a análise até incomoda um pouco porque tira toda a
empatia. É fria, é uma dissecação. É como pegar um sapo, abrir e mostrar os órgãos.
Você mata o sapo, e de fato a análise mata o texto porque o que você extraiu dele
não corresponde àquilo que você sentiu. Mostra uma análise e vê se alguém se
emociona com ela! Isso que fazia com que Drummond tivesse um ódio ao
pensamento acadêmico. Quando você começa a analisar, entra no nível do
conhecimento, do saber. É o preço da análise: destruir o objeto.11
6
Cf. PRINS, Gwyn. História oral, in: BURKE, Peter. Op. cit. pp. 163 a 198.
7
Cf. LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história, in: BURKE, Peter. Op. cit. pp. 133 a 162.
8
GASKELL, Ivan. História das imagens, in: BURKE, Peter. Op. cit. pp. 237 a 272; e Cf. CARDOSO,
Ciro Flamarion; MAUAD, Ana Maria. História e imagem: os exemplos da fotografia e do cinema, in:
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Op. cit. pp. 401 a 418.
9
Cf. PRIORI, Mary de. História do cotidiano e da vida privada, in: CARDOSO, Ciro Flamarion;
VAINFAS, Ronaldo. Op. cit. pp. 259 a 274.
10
Do curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo.
11
Quanto mais você sabe analisar, menos você critica. Jornal do Campus. Escola de Comunicação e
Artes – Universidade de São Paulo, 28/02/2005, p. 5, 4 col.
5
Desenvolvimento:
12
Op. cit. passim.
13
Citado por DURANT, Will. História da Filosofia, Vida e idéia dos grandes Filósofos, São Paulo:
Editora Nacional, 1956, passim.
6
23
Op. cit. p. 5.
24
Correspondência postada pelo Departamento de Assinaturas da “Duetto Editorial” à Rodrigo
Medina Zagni, em 21 de março de 2005.
9
Estratégias editoriais
25
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da Pontífice Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, Pós-doutor pela Ecole des hautes Etudes en Scienses Sociales de Paris.
26
Cartas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 6.
27
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de
Pernambuco – Recife.
28
Cartas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 6.
29
Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl. Dir. Gore Verbinski. Walt Disney Pictures /
Touchstone Pictures / Jerry Bruckheimer Films. EUA. Buena Vista Pictures, EUA, 2003. 1 DVD (143
min.), son., col.
10
sua vez o n° 6 traz como tema de capa a matéria “Tróia: paixão, infâmia e
tragédia, em maio nas telas, a superprodução estrelada por Brad Pitt” (ver figura
2), que conforme o próprio nome denuncia, precede o lançamento do filme de
Wolfgang Petersen30. O n° 12 traz na capa a chamada para a matéria “Alexandre
O Grande: um jovem conquista o mundo” (ver figura 3), cuja referência direta é o
filme de Oliver Stone: “Alexandre”31.
Mais uma vez o exemplo vem da própria parceira
francesa, que já vinha se utilizando com sucesso desse tipo de estratégia editorial
(ver figura 4).
Outros fatores determinantes para escolha de temas e
imagens para a composição de capa são arquétipos sempre recorrentes em
história, constantemente retomados tanto em matérias de revistas como em
reportagens televisivas, em maior escala a partir da difusão de canais de televisão
já especializados em História32. Referimo-nos às imagens arquetípicas de Napoleão
Bonaparte, representado no n° 1 de “História Viva” com a matéria “Napoleão: um
herói sem sepultura. Ele dominou a Europa e mudou a face do mundo. Morreu no
exílio e seu túmulo pode ser uma fraude” (ver figura 5); Winston Churchill, no n° 8
com a matéria “Churchill: entre a paz e a guerra. Extravagante, contraditório e
intuitivo, ele venceu duas guerras mundiais” (ver figura 6); e o próprio Alexandre
Magno, como já vimos, no n° 12 (ver figura 3).
Nas chamadas de capa para outras matérias há o uso
de outros personagens históricos arquetípicos, como os estadistas: Herodes (n°
10), Confúcio (n° 10), Máo Tse-Tung (n° 10), Adolf Hitler (n°s 1 e 5) e Osama Bin
Laden (n° 7); líderes militares: general Junot (n° 2) e Joana D’Arc (n° 4); figuras
ligadas à religião: Judas (n° 1), Gandhi (n° 1), Santo Agostinho (n° 3) e Maomé
(n° 8); artistas como Pablo Picasso (n° 6); e finalmente figuras políticas da História
do Brasil: Getúlio Vargas (n°s 2 e 10), Frei Caneca (n° 3) e Duque de Caxias (n°
6).
As civilizações antigas, por exercerem fascínio nos
consumidores de produção cultural sob várias mídias, também são exploradas e
recorrentes nas capas da revista, como os romanos, no n° 2, que traz a matéria
“Roma: uma era de poder e glória” (ver figura 7); os troianos, como vimos no n° 6
(ver figura 2); os egípcios, no n° 11, com a matéria “Novas descobertas
desvendam enigmas do Egito” (ver figura 8); e os macedônios no n° 12 (ver figura
3).
30
Tróia. Dir. Wolfgang Petersen. Warner Bros. Pictures. EUA. Warner Home Vídeo Inc, São Paulo,
2004. 2 DVD’s (163 min.), son., col.
31
Alexandre. Dir. Oliver Stone. Intermédia Films. EUA. São Paulo, 2005, 2 DVD’s (164 min.), son.,
col.
32
“The History Channel”, “Discovery Channel” e “National Geographyc”.
11
Figura 1 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.1, nov. 2003)
12
Figura 2 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.6, abr. 2004)
13
Figura 3 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.12, nov. 2004)
14
Figura 5 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.1, nov. 2003)
16
Figura 6 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.8, jun. 2004)
17
Figura 7 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.2, dez. 2003)
18
Figura 8 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.11, out. 2004)
19
33
Esse perfil foi sutilmente alterado com a publicação do n° 14, de dezembro de 2004, que trouxe
como matéria principal a “Madeira Mamoré: a ferrovia da morte. A epopéia da construção da
estrada que ceifou a vida de milhares de trabalhadores em plena selva amazônica é tema de
minissérie para a televisão”. Como o próprio nome sugere, a matéria de capa obedece ao
determinante da estréia da minissérie televisiva “Mad Maria”, levada ao ar na TV Globo, em 38
capítulos, de 25 de janeiro a 25 de março de 2005. Por outro lado, a publicação mencionada não é
objeto do presente estudo, pois foge ao nosso recorte temporal, fazendo parte do segundo ano de
publicação da revista.
20
Figura 11 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.10, ago. 2004) voltar >>
23
Figura 12 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.9, jul. 2004)
24
Figura 13 - Capa (História Viva, São Paulo: Duetto, n.4, fev. 2004)
25
n°1 n°2 N°3 n°4 n°5 n°6 n°7 n°8 n°9 n°10 n°11 n°12 %
Civilizações antigas 33,3%
Biografias 25%
Idade 16,6%
Contemporânea
Brasil, Portugal ou 0%
África
12% 0%
23% Civilizações antigas
Filmes em cartaz
12%
Biografias
Europa Medieval
Idade Moderna
Idade Contemporânea
18% 17% História do Brasil
18%
0%
13% 11%
Filmes
Biografias
13% 15%
Civ.Antigas
Europa Medieval
Id. Moderna
Id. Contemporânea
Hist. Do Brasil
24% 24%
As seções
34
S.n.t. Texto extraído de material promocional que antecedeu a publicação do primeiro número na
revista “História Viva”.
28
35
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 20.
36
A saga da torta polonesa. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 11.
37
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, p. 11.
38
Alheiras, contra a Inquisição. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, p. 11.
39
CHAVES, Guta. Xoclotlati, a paixão de Montezuma II. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11,
set. 2004, p. 17.
40
Pessoas também viram palavras. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p. 17.
29
Zweig, escritor europeu da década de 1940, mas a subseção não foi repetida no n°
12.
Logo em seguida à “História em cartaz”, a revista traz a
seção que mais nos chamou a atenção, não por seu conteúdo, mas pelo título e a
relação que mantém com seu objeto. Trata-se da seção “Historiográfico”.
Segundo o “Novo Dicionário básico da Língua
41
Portuguesa” , “historiográfico” trata-se do adjetivo da palavra “historiografia”: a
“arte de escrever a história” ou o “estudo histórico e crítico acerca da história ou
dos historiadores”42. Outra flexão comum do mesmo radical é o termo
“historiógrafo”, que significa, no mesmo dicionário, “aquele que é designado para
escrever a história duma nação, duma época, duma dinastia, etc.”, um “cronista”,
ou o sinônimo de “Historiador”43, que por sua vez é o “especialista em história”44.
Historiográfico, portanto, é relativo à historiografia, é o
adjetivo que tipifica um estudo, caracterizando seu objeto como os fatos passados.
Por outro lado, a sessão referida, ao que nos parece, significa o termo como o
estudo histórico de um gráfico. Grosso modo é uma seção da revista que pretende
narrar fatos históricos através de breve texto e, portanto, da exposição de um
gráfico. Mas tecnicamente não é isso que ocorre. Não só o significado do termo
“historiográfico” foi interpretado erroneamente neste caso, como não há nenhum
gráfico na seção “Historiográfico”, nas 12 edições analisadas, se levarmos em
consideração sua significação técnica como a disposição de “coordenadas e curvas
que ligam pontos das ordenadas e abscissas para representação de um fenômeno
qualquer”45. O que há, em 10 das edições estudadas, são croquis que utilizam
mapas, sem referência à escala ou critérios de proporção, sendo que as duas
restantes também não exibem gráficos.
A relação entre o termo e seu objeto faz sentido apenas
se levarmos em consideração que “historiográfico” designa um estudo cujo objeto
são os fatos passados, e interpretarmos “gráfico” como qualquer “representação
por desenho ou figuras geométricas”46. Ainda assim, para profissionais da área de
História habituados com o termo e sua significação técnica, tem que se fazer um
gigantesco esforço nesse sentido. Para o público leigo fica a distorção de
significação de “historiográfico”.
Via de regra os fatos sob análise na seção são
estratégico-militares, como o deslocamento de tropas de um exército sob o campo
de batalha ou algo similar. O número inaugural trouxe a ilustração da vitória do
41
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da Língua Portuguesa. São
Paulo: Folha de São Paulo / Editora Nova Fronteira, 1995.
42
Verbete “historiografia” in: Ibid., p. 344.
43
Verbete “historiógrafo” in: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Op. cit. p. 344.
44
Verbete “historiador” in: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Op. cit. p. 344.
45
Verbete “gráfico” in: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Pequeno dicionário brasileiro da
Língua Portuguesa. S/l: Gamma, s/d.
46
Ibid.
30
47
DIWAN, Pietra. Aníbal: O brilhante estrategista que ousou derrotar o império romano. In: História
Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, pp. 20 e 21.
48
FARFEL, Nicolas. Cruzadas: em nome de Deus. Conquista de Jerusalém: heróica aventura cristã
ou invasão dos inimigos de Maomé? In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, pp. 20 e
21.
49
FARCEL, Nicolas. Coluna Prestes, Grande Marcha. O Cavaleiro da Esperança e o Grande
Timoneiro percorrem milhares de km em nome da revolução. In: História Viva, São Paulo: Duetto,
n. 3, jan. 2004, pp. 22 e 23.
50
DIWAN, Pietra. Guerra do Paraguai: o grande confronto na América do Sul. In: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 20 e 21.
51
DIWAN, Pietra. 6 de junho de 1944: o dia mais longo do século. In: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 20 e 21.
52
DIWAN, Pietra; FARFEL, Nicolas. Um Estado em luta: São Paulo, o campo de batalha durante a
revolução de 1932. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 20 e 21.
53
FARFEL, Nicolas. Invasões bárbaras: em ondas sucessivas, os bárbaros destroçam um império.
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, pp. 20 e 21.
54
VINCENT, Bernard. A tragédia dos Cherokees. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago.
2004, pp. 20 e 21.
55
DIWAN, Pietra; FARFEL, Nicolas. Odisséia no Espaço: os programas espaciais não são meras
aventuras, mas pesquisas para melhorar a vida na Terra. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4,
fev. 2004, pp. 20 e 21.
56
FARFEL, Nicolas. O vôo de Carrero Blanco: numa operação cinematográfica, ativistas do ETA
realizaram com êxito a Operação Ogro, um atentado fatal contra o mais importante colaborador de
Francisco Franco. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out. 2004, pp. 19 e 20.
31
Ogro, um atentado fatal contra o mais importante colaborador de Francisco Franco. In:
História Viva. São Paulo: Duetto, n° 12, out. 2004, pp. 20 e 21.
62
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp. 22-27.
63
Picasso, o criador absoluto. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 22-27.
64
Newton, o homem que sabia duvidar. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp.
22-27.
65
As três vidas de Maomé. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 22-27.
66
Teddy, um urso na Casa Branca. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 28-
33.
34
67
S.n.t. Texto extraído de material promocional que antecedeu a publicação do primeiro número na
revista “História Viva”.
68
É ainda membro da Academia de Ciências Morais e Políticas, e publicou entre outros títulos Les
Vingt Jours. Paris: Fayard, 2001; Napoleón et la noblesse d’Empire. Paris: Tallandier, 2001; e
Dictionnaire Napoleón. Paris: Fayard, 2001, do qual foi organizador. Cf. Napoleão: Construtor de
uma nova ordem na Europa. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 45.
69
Onde leciona História Contemporânea. Preside ainda o Instituto Napoleão e é autor de Brumário,
a tomada de poder por Bonaparte. s.n.t. Cf. O jovem corso é o senhor da guerra. In: História Viva,
São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 49.
70
Estudioso de História Contemporânea e especialista em Europa Central. É ainda autor de
Système de Sécurité Français em Europe Centre-Orientale, 1919-1933. s/l: L’Harmattan, 1999. Cf.
50 anos de Bonança para as monarquias. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p.
53.
71
Para a revista escreveu A segunda morte do imperador. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n.
1, nov. 2003, p. 55; que de fato polemiza a questão do paradeiro do corpo do imperador.
72
Roma: capital do mundo e cidade eterna; Cem anos urb et orbi; Uma superpotência em ação. In:
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, pp. 52-69.
73
É autora de Brutus. S/l: Librarie Académique Perrin, s/d; e Gladiateurs. S/l: Librarie Académique
Perrin, s/d.
74
A democracia romana sob a lupa. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 70.
35
75
JACQUIN, Philippe. Sous le pavillion noir, Pirates e flibustiers. S/l. Editions Gallimard, s/d.
76
Professor de Antropologia da Universidade de Paris II - Lyon.
77
Piratas e Corsários: a epopéia dos saqueadores dos mares. In: História Viva, São Paulo: Duetto,
n. 3, jan. 2004, pp. 30-35.
78
Professor de História Moderna da Universidade de Savóia, autor de Histoire de Toulon. S.n.t. e
diretor do Dictionnaire d’Histoire Maritime. S.n.t.
79
Ann Bonny e Mary Read, as rainhas da costa. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan.
2004, pp. 44 e 45.
80
Francis Drake: a serviço de sua gloriosa majestade; Barba-Negra: o corsário da rainha Ann; Jean
Bart: o lado sombrio do rei-sol; Sourcouf: um corsário de sangue azul. In: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 3, jan. 2004, pp. 46-49.
81
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 30-32.
82
É ainda Professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
83
KAUFFER, Remi. Markus Wolf: um mestre espião. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev.
2004, pp. 33-35.
84
Professora da Universidade de Paris IV – Sorbonne. Escreveu Lês fins du communisme. S/l:
Creitérion, 1994.
85
Béria tenta dinamitar o regime comunista. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004,
pp. 36-39.
36
86
Membro do conselho editorial de “Historia”.
87
Philby, ou a traição de pai para filho. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 40-
43.
88
“Orquestra vermelha” em alemão.
89
No coração da Alemanha nazista. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 44-47.
90
Autor de FAILLOT, Roger; KROP, Pascal. DST, Police Secrète. S/l: Flammarion, s/d; e FAILLOT,
Roger; KAUFFER, Remi. Histoire Mondiale du Renseignement. S/l: Robert Laffont, 1993.
91
Nas entranhas do poder americano. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 48-
50.
92
Uma sociedade em plena mutação. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp. 32-
37.
93
Mulheres responsáveis e liberadas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp. 38-
41.
94
Os bordéis, casas das mais toleradas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp.
42-47.
95
Escola, a escada para a ascensão social. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004,
pp. 48-51.
96
História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 28.
37
97
Mil anos de intolerância. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p. 31.
98
No n° 5 havia escrito o artigo Escola, a escada para a ascensão social, no dossiê Idade Média.
99
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 28-30.
100
Foi Professor desta cadeira na Universidade de Paris IV – Sorbonne. Atualmente é membro do
Instituto França.
101
Destruir a vida para salvar a alma. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp.
32-34.
102
A agonia da morte no fogo purificador. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p.
35.
103
Especialista em heresia cátara, têm várias publicações sobre o assunto, entre elas La Grande
Aventure des Croisés. S/l: Perrin, s/d; Les Grandes Heures Cathares. S/l: Perrin, s/d; e Les Routes
Cathares. S/l: Perrin, s/d.
38
no sul da França, durante o séc. XIII. Demonstra como nem sempre a heresia
estava relacionada à práticas não cristãs, como no caso dos judeus, mas a
vertentes cristãs não reconhecidas pelo Papa, desta forma heréticas; nesse sentido
o exemplo do sincretismo entre reminiscências do maniqueísmo persa e o
cristianismo resultou na prática herege dos cátaros, apoiados por boa parte da
população e da nobreza, a ponto de resultar em conflitos com os dominicanos, os
“cães de Deus” encarregados de sua perseguição. O medievalista Joseph Perez104
trata do caso específico da Inquisição espanhola105, autora dos sangrentos autos-
de-fé, ou seja, do procedimento judicial inquisitorial que incluía em suas fases a
tortura física e o cárcere, podendo culminar no desterro, desapropriação de todos
os bens e riquezas do condenado, e finalmente na purificação dos pecados através
da morte nas fogueiras. Traça em breves linhas um importante painel sobre a
recusa e aceitação dos convertidos, judeus e cristãos novos, por parte das elites e
da população em geral. Mais breve ainda foi a medievalista Béatrice Leroy106 que
trata da expulsão dos judeus, mesmo convertidos, da Espanha, e o processo de
isolamento social sofrido pelo “falso cristão”107. A Inquisição italiana foi estudada
pelo Historiador Adriano Prosperi108 no artigo “Itália cai nas mãos do Santo
Ofício”109, que aborda a questão da amplitude do poder do tribunal sobre todos os
italianos, que demandava a existência de uma “polícia secreta” por parte dos
inquisidores e que impôs o terror por toda a península itálica. A inquisição em
Portugal foi analisada pela Historiadora brasileira Anita Waingort Novinsky110, que
traz a questão para o âmbito da nossa História quando trata da prisão de mais de
mil pessoas no Brasil, das quais 29 foram condenadas e morreram nas
fogueiras111. Para Novinsky
104
Professor emérito da Universidade de Bordeaux.
105
A fúria espanhola. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 40-42.
106
Professora da Universidade de Pau. Dentre suas publicações sobre História Medieval estão:
L’Aventure Sefarad; De la Péninsule Ibérique à la Diaspora. S/l: Albin Michel, 1986; e Les Juifs dans
l’Espagne Chrétienne Avant 1492. S/l: Albin Michel, 1993.
107
A expulsão dos judeus. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p. 31.
108
Professor de História Moderna na Faculdade de Letras de Pisa.
109
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 44-46.
110
Professora do Departamento de História da Universidade de São Paulo.
111
Em Portugal, delações e resistência. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p.
48-51.
112
Ibid. p. 48.
39
dos dossiês anteriores, a edição trouxe de início uma cronologia referente ao tema
tratado, que nesse caso foi desenvolvida pelo egiptólogo Jean Leclant, que narra
sumariamente a saga egípcia desde o Antigo Império (de 3200 a 2000 a.C.) até a
“era dos Ptolomeus” (de 330 a 30 a.C.)113. As primeiras descobertas arqueológicas
trazidas pelo dossiê são de Jean-Yves Empereur, diretor do Centro de Pesquisas do
CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique)114, que se debruçou sobre os
escombros da “cidade dos mortos”, a Necrópole de Alexandria, soterrada pelas
areias do tempo em mais de 10 metros, e que vem sendo cuidadosamente
desenterrada, constituindo um vastíssimo sítio arqueológico que além da cultura
egípcia, traz informações sobre o período de dominação macedônio e romano115.
Jean-Pierre Corteggiani116 trata da presença helenística na fusão de elementos
egípcios (predominantes) e gregos na composição da estatuária egípcia117,
referindo-se à estátua de Ptolomeu II, descoberta em 1961 e que trazia uma
mecha sobre sua têmpora que intrigava os pesquisadores, revelando tratar-se
exatamente de uma mensagem aos viajantes que pela estátua passavam, de que
Alexandria fazia parte da civilização egípcia, mas que porém o Egito era uma
civilização helenística. O Diretor da CNRS, Alain Zivie, que coordena escavações
arqueológicas em Bubasteion, traz como resultados a descoberta de tumbas que
restabelecem a discussão sobre a verdadeira extensão que a reforma religiosa
perpetrada por Amenófis IV (que mudaria seu nome para Aquenaton) teria tido118,
uma vez que os artefatos encontrados em Bubasteion comprovam que as
instituições tradicionais egípcias resistiram à suposta ruptura política e cultural
desencadeada pelo faraó fiel ao deus Athon. Outro egiptólogo, Zahi Hawass119, em
pesquisa no oásis de Bahriya, o “Vale das múmias douradas”, relaciona o auge das
técnicas de mumificação dos mortos com o período de maior influência helenística,
o que explica o estado de conservação das múmias do período120. Edda
Bresciani121, que dirige expedições arqueológicas em Faiyum, traz em brevíssimas
linhas alguns resultados encontrados no último templo descoberto na cidade122,
dedicado a “Sobek”, a divindade cujo totem originário era o crocodilo, o que
explica a existência próxima da “Crocodilópolis”, a cidade de “Sobek”, o “espírito
protetor dos egípcios”. Os templos de Karnak são analisados pelo próprio Diretor
do Centro Franco-Egípcio dos templos, François Larché, que ainda dirige os
113
As dinastias ao longo do Nilo. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 36-37.
114
É autor de Alexandrie redécouvert. S/l: Fayard, 1998; Le Phare d’Alexandrie. S/l: Decouvertes
Gallimard, s/d; e L’ABCédaire d’Alexandrie. S/l: Flammarion, 1998.
115
A necrópole revela seus segredos. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 38-
40.
116
Autor de Toutankhamon. S/l: Gallimard, 2000; e de L’Art de l’Egypte. S/l: Citadelle, 1994.
117
A mecha de Ptolomeu. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, p. 41.
118
As reveladoras tumbas de Bubasteion. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp.
42-45.
119
Secretário-geral do conselho de Antigüidades do Egito.
120
O vale das múmias douradas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 46-48.
121
Professora da Universidade de Pisa.
122
A oferenda de crocodilos ao deus Sobek. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004,
p. 49.
40
trabalhos no sítio que tiveram apenas um terço de seus 25 mil metros quadrados
explorado. Dedica sua análise123 a um dos principais traços culturais da civilização
egípcia em suas realizações faraônicas: a arquitetura, determinando um caráter
“pré-fabricado” para os templos em arquitetura de pedra, caso único na história
egípcia. O dossiê é finalizado com um curtíssimo texto de Béatrix Midant-Reynes,
do CNRS, e do Arqueólogo Eric Crubezy124, que anuncia seu estudo sobre a
sociedade egípcia durante o período pré-dinástico125, através dos achados
arqueológicos do séc. IV a III a.C., encontrados no sítio de Adaima, localizado a 8
quilômetros ao sul do rio Esna.
O último dossiê analisado, na edição n° 12, de outubro
de 2004, tem como tema central a “Comuna de Paris”, o movimento de 1871,
inspirado nas idéias de Proudhon e Blanc, que levou os communards a se
insurgirem contra a III República de Adolphe Thiers, proclamando Paris
independente, e que foi violentamente massacrado pelas tropas federais de
Versalhes. De início o dossiê impressiona pela quantidade e qualidade das
fotografias que traz. São registros históricos raríssimos que através da revista
chegam às casas de pessoas que pela primeira vez têm contato com um dos
maiores eventos políticos e sociais do final do século XIX. Jacques Chastenet126
trata da reapropriação do movimento pelo marxismo como expressão da real
possibilidade de estabelecimento da ditadura do proletariado127; explicitando ainda
que os insurgentes evocavam diretamente a lembrança das jornadas
revolucionárias de 1793. François Furet128 estabelece o fenômeno, numa
perspectiva de longa duração, como “o último suspiro da Revolução Francesa”129;
o Historiador William Serman discorre sobre a implacável reação dos versalheses
sob as ordens de Thiers, que levou a morte a quase totalidade dos
communards130; o mesmo faz o Historiador André Guerin, em “A derrota na
semana sangrenta”131; havendo finalmente a curtíssima análise da Historiadora
Agnes Falabrégues, sobre o processo de mitificação que permeou o imaginário
popular plasmando a imagem heróica posterior de seus participantes132,
influenciando vários movimentos revolucionários do séc. XX.
A única edição a trazer na seção um tema relacionado à
História do Brasil é a de abril de 2004 (n° 6), que traz o dossiê sobre Duque de
Caxias e propõe contrapor a imagem pública do personagem militar e político com
123
O primeiro monumento faraônico pré-fabricado. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set.
2004, pp. 50-53.
124
Professor da Universidade de Tolouse.
125
A vida antes dos faraós. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 54-55.
126
Historiador e Escritor.
127
O povo no poder. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out. 2004, pp. 30-33.
128
Doutor honoris causa pela Universidade de Tel Aviv e Havard.
129
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 34-38.
130
Implacável, a reação veio de Versalhes. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004,
pp. 40-43.
131
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, pp. 44-45.
132
O mito irresistível. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, p. 46.
41
133
A afirmação trata-se de parte do título do ensaio de SOUZA, Adriana Barreto de. Duque de
Caxias: o homem por trás do monumento. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, p.
28.
134
SOUZA, Adriana Barreto de. Duque de Caxias: o homem por trás do monumento. In: História
Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 28-35.
135
OP. cit. pp. 42e43.
136
O militar versus o político: as controvérsias sobre seu alinhamento conservador. In: História
Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 44 e 45.
137
Doutor em História pela USP, ex-Professor da PUC e Unicamp. Autor de Brasil História – Texto e
Consulta. S/l: Ed. Hucitec, s/d.
138
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 36-41.
139
Pesquisador do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas. É autor de A invenção do Exército
Brasileiro. S/l: Jorge Zahar Editor, 2002.
140
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 46 e 47.
141
2.500 anos de celtitude. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 32-33.
142
Os invasores que vieram da Boêmia. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp.
33-339.
143
Revolucionário olhar sobre a expansão; A conversão dos druídas. In: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 40-47.
144
A Bretanha reata com seus ancestrais. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp.
46-49.
145
Instrumentos do folclore. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, p. 50.
146
Churchill: o triunfo do velho leão; Metade americano, cem por cento inglês; Um visionário
iluminado; O senhor da guerra. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 28 e 29;
32-35; 36-37; 38-45.
147
Um mestre da espionagem. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 46 e 47.
42
Com esta seção, História Viva pretende divulgar, valorizar e contribuir para a
preservação do patrimônio histórico nacional. Esse nosso passado está fisicamente
presente em mais de 16 mil edifícios e 50 centros e conjuntos urbanos históricos
tombados, 5 mil sítios arqueológicos cadastrados e 12 bens considerados Patrimônio
Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura, UNESCO.153
153
S.n.t. Texto extraído de material promocional que antecedeu a publicação do primeiro número
na revista “História Viva”.
154
É ainda apresentador dos jornais da Rádio CBN e TV Cultura.
44
155
Marat: o amigo do povo. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 98.
156
História ou Jornalismo? In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 98.
157
A esquecida vila da língua tupi. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan. 2004, p. 98.
158
Leciona Cultura e Literatura Brasileira na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo.
159
Literatura e história. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, p. 98.
160
Diretor do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.
161
O Brasil como enigma. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 98.
162
Professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo, é autor do célebre Raízes
do riso e Utopias românticas (s.n.t.).
163
A sedutora história da leitura. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, p. 98.
164
Professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo. É autor de Sonoridades
Paulistanas. São Paulo: Funarte, 1997; Metrópole em sinfonia. São Paulo: Estação Liberdade, 2000;
e Conversas com Historiadores brasileiros. São Paulo: Ed. 34, 2002; entre outros títulos.
165
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, p. 98.
166
Professor de Língua e Literatura árabe no Departamento de Línguas Orientais da Universidade
de São Paulo.
167
Os limites históricos do orientalismo. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, p. 98.
168
É ainda Conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
169
História e ecologia humana. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 98.
170
Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo.
171
O significado do sacrifício de Vargas. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, p.
98.
172
Professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
173
Não se faz história sem símbolos. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 11, set. 2004, p. 98.
174
Autor dos filmes Lost Zweig, Aleluia Gretchen e Guerra dos Pelados (s.n.t.).
175
O Contestado na historiografia. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out. 2004, p. 98.
45
Os textos
176
Levamos em consideração as seções “Dossiê”, “Biografia”, “Historiográfico”, “Patrimônio
Histórico”, “Destinos” e “Última Página”; desta forma descartamos a seção “História em cartaz” por
trazer uma estrutura fragmentada em subseções não assinadas (em sua maioria) e com diversos
textos menores, e a seção “Cruzada Histórica”, por não trazer textos.
46
Iconografia
177
NASTARI, Alfredo. História com prazer. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p.
5.
47
Figura 20 – A morte de Marat. Jacques-Louis David. 1793 © Museu Real de Belas Artes,
Bélgica - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, p. 98.
51
Figura 21 – César, senhor do mundo. Adolphe Yvon, séc. XIX © Museu de Artes, França
- FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 63.
52
Figura 24 – Provérbios holandeses. Pieter Brueghel, óleo sobre tela, 1559 © Staatlich
Museen, Berlim - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 32.
55
Jacopo Robusti, o Tintoretto, em óleo sobre tela pintado em 1585, e que segue a
chamada para a matéria do Historiador Alain Frerejean, “Tintoretto, o pequeno
tintureiro”178 (ver figura 28). O recurso à imagem do pintor veneziano é de
objetivo óbvio uma vez que dialoga diretamente com sua biografia. O pintor era
especialista em retratística e também em pintura religiosa, uma vez que o
mecenato veneziano estava relacionado às confrarias, e sua obra máxima,
“Crucificação” em óleo sobre tela, de 1565, denuncia perfeitamente essa relação
(ver figura 29).
178
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, pp. 40-43.
58
Figura 28 – Auto retrato. Tintoretto, óleo sobre tela (1585) © Arte & Immagigni /
Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 40.
59
Figura 29 – Crucificação. Tintoretto, óleo sobre tela (1565) © Escola de São Roque,
Veneza - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 43.
179
Sebastianismo no Brasil. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 9, jul. 2004, p. 93.
180
Bota abaixo! In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, pp. 78-83.
62
Figura 33 - © Iconographia - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 4, fev. 2004, p.
82.
63
Figura 34 - © Acervo Sebrae / Andrey Kemp - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto,
n. 2, dez. 2003, p. 16.
181
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 67-69.
182
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, pp. 58-60.
183
O Parlamento alemão, sede do Governo de Adolf Hitler.
184
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 10, ago. 2004, pp. 58-63.
185
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, pp. 52-56.
186
Ibid. pp. 57-59.
187
Aos mortos com carinho. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, pp. 46-48.
188
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004, pp. 72-77.
65
Figura 35 – © Keystone Photo - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 12, out.
2004, p. 38.
Figura 36 - © AKG Berlim / Intercontinental Press - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 12, out. 2004, p. 39.
66
Figura 38 – © Austrian Archives / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, p. 67.
67
Figura 39 - © Yevgeny Khaldei / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 59.
68
Figura 40 - © Hulton Archives / Getty Imagens - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 4, fev. 2004, p. 37.
69
Figura 41 – © Bettmann / Corbis Photos - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n.
10, ago. 2004, p. 61.
70
Figura 42 - © Getty Imagens - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 7, maio
2004, p. 53.
Figura 43 – © Gyori Antoini / Corbis Sygma – Stock Photos - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 7, maio 2004, p. 56.
71
Figura 44 – © Charles & Josette Lenars / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva,
São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, p. 47.
72
Figura 45 - © Hulton Archive / Getty Images - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto,
n. 6, abr. 2004, p. 23.
73
189
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez. 2003, pp. 84-89.
190
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan. 2004, pp. 84-89.
75
Figura 47 - © Acervo História Viva - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez.
2003, p. 86.
76
Figura 48 - © Acervo História Viva - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 2, dez.
2003, p. 86.
77
Figura 49 - © Acervo História Viva - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 3, jan.
2004, p. 87.
78
Figura 50 – © Bettmann / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 60.
79
Figura 51 – © Bettmann / Corbis – Stock Photos - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 5, mar. 2004, p. 66.
80
Figura 54 - © AKG Berlim / Intercontinental Press - FONTE: História Viva, São Paulo:
Duetto, n. 12, out. 2004, p. 35.
83
191
A vida em Tenochtitlám: a capital do império asteca. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6,
abr. 2004, pp. 78-82.
192
As três vidas de Maomé. In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, pp. 22-27.
193
In: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 1, nov. 2003, pp. 72-77.
84
Figura 55 - © Marco Vergotti - FONTE: História Viva, São Paulo: Duetto, n. 6, abr. 2004,
p. 81.
85
Figura 56 - © Érika Onodera / Hugues Piolet – Tallandier - FONTE: História Viva, São
Paulo: Duetto, n. 8, jun. 2004, p. 24.
86
Conclusões:
194
S.n.t. Texto extraído de material promocional que antecedeu a publicação do primeiro número
na revista “História Viva”.
88
195
Ibid.
196
DOSSE, François. A História, Bauru: EDUSC, 2003, p. 27.
89
197
S.n.t. Trata-se de um texto de Luthero Maynard, então editor da publicação, vinculado em
material de divulgação que antecedeu ao lançamento do primeiro número de “História Viva” em
novembro de 2003.
90
Bibliografia:
BURKE, Peter (org.). A escrita da História, novas perspectivas. São Paulo: UNESP,
1992.
DURANT, Will. História da Filosofia, Vida e idéia dos grandes Filósofos, São Paulo:
Editora Nacional, 1956.
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos. O breve século XX, 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
Revistas e periódicos:
Dicionários:
Manuais de Metodologia:
Material em DVD:
Alexandre. Dir. Oliver Stone. Intermédia Films. EUA. São Paulo, 2005, 2 DVD’s
(164 min.), son., col.
Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl. Dir. Gore Verbinski. Walt
Disney Pictures / Touchstone Pictures / Jerry Bruckheimer Films. EUA. Buena Vista
Pictures, EUA, 2003. 1 DVD (143 min.), son., col.
Tróia. Dir. Wolfgang Petersen. Warner Bros. Pictures. EUA. Warner Home Vídeo
Inc., São Paulo, 2004. 2 DVD’s (163 min.), son., col.
www.historiaviva.com.br
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS
HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
PERÍODO: NOTURNO
TRABALHO
DESVENDANDO A “DESVENDANDO”.
Análise do mercado de revistas com temática histórica e da
revista “Desvendando a História”.
ALUNOS:
24/06/2005
ÍNDICE
1. PROPOSTA DA PESQUISA............................................................... 3
2. INTRODUÇÃO .................................................................................... 3
5. CONCLUSÃO ..................................................................................... 40
6. REFERÊNCIAS .................................................................................. 40
2
1. PROPOSTA DA PESQUISA
2. INTRODUÇÃO
Sete anos depois, a mesma editora lançou uma nova coleção em fascículos.
Seu alvo era “a história viva” e destinava-se a “todos que sabem que o passado
é uma importante lição, que a história é a mestra da vida e que a síntese torna
3
menos árdua a tarefa de aprendê-la”. “Nosso Século”, como o próprio nome já
dizia, recortava brevemente o final do século XIX e avançava pelo século XX,
até os estertores do regime militar. Sob a supervisão geral de Alexandre Eulálio
Pimenta da Cunha e consultoria de Paulo Sérgio Pinheiro e Sérgio Buarque de
Holanda, a coleção apresentava ao grande público uma perspectiva diferente
do que se havia visto até então, contando “de forma inédita e fascinante a
história de todo um povo: política, economia, cultura, vida cotidiana, evolução
social, hábitos e costumes”. Era “o Brasil no século XX, de corpo inteiro”.
4
Communication, introduziu seu título, “História Viva”, enquanto que numa
parceria com a Biblioteca Nacional, a editora Vera Cruz lançou “Nossa
História”.
Após quase dois anos de circulação das três primeiras revistas dedicadas
exclusivamente à História, tivemos em abril de 2005, segundo dados fornecidos
pela ANER, uma média de circulação de 41.884 exemplares para a revista
“História Viva”, 40.442 exemplares para “Aventuras na História” e 37.493
exemplares para a revista “Nossa História”. A média informada para
“Superinteressante” foi de 375.745 exemplares.
SISTEMA DE PONTOS
Posse de itens
NÃO TEM
TEM 1 2 3 4 OU +
Televisão em cores 0 2 3 4 5
Rádio 0 1 2 3 4
Banheiro 0 2 3 4 4
Automóvel 0 2 4 5 5
Empregada mensalista 0 2 4 4 4
Aspirador de pó 0 1 1 1 1
Máquina de lavar 0 1 1 1 1
Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2 2
Geladeira 0 2 2 2 2
Freezer (aparelho 0 1 1 1 1
independente ou parte
da geladeira duplex)
5
SISTEMA DE PONTOS
Grau de Instrução do chefe de família
Com base nestes dados, vemos que 50% das pessoas do universo total
estimado de consumidores de revistas possuem uma renda familiar média igual
ou superior a R$1.669,00.
6
exemplares de revistas no ano de 2003, segundo dados da ANER,
aparentemente temos números significativos.
Perfil do Leitor
Idade Sexo Classe Social
59% têm entre 18 e 39 homens: 57% Classe A: 30%
anos mulheres: 43% Classe B: 50%
Classe C: 17%
Fonte: XLVI Estudos Marplan – 2004 - Consolidado 2004 - 9 mercados
Circulação
Tiragem: 458.000 exemplares
Circulação líquida: 382.000 exemplares
Assinaturas Avulsas Exterior
261.000 121.000 23
Circulação por regiões: Centro-oeste 8%, Nordeste 17%, Norte 5%, Sudeste
49% e Sul 21%
Fonte: IVC - fev/05
Perfil do Leitor
Idade Sexo Classe Social
47% têm entre 15 e 34 homens: 42% Classe A: 18%
anos mulheres: 58% Classe B: 50%
Classe C: 21%
Fonte: XLVI Estudos Marplan – 2004 - Consolidado 2004 - 9 mercados
Circulação
Tiragem: 82.000 exemplares
Circulação líquida: 51.000 exemplares
Assinaturas Avulsas Exterior
31.000 20.000 -
Circulação por regiões: Centro-oeste 8%, Nordeste 20%, Norte 6%, Sudeste
47% e Sul 19%
Fonte: IVC - fev/05
7
• Embora a maior concentração de leitores esteja nas regiões Sudeste e
Sul, há um incremento do número de leitores de “Aventuras na História”
na região Nordeste.
Com relação à renda, 18% dos leitores possuem renda até R$1.000,00; 41%
entre R$1.001,00 e R$3.000,00; 20% tem rendimentos entre R$3.001,00 e
R$5.000,00 e outros 20% aparecem com renda superior a R$5.000,00.
A maior parte dos leitores, num percentual de 66%, está na faixa etária dos 21
aos 40 anos.
Segundo a editora Duetto, 73% dos leitores de “História Viva” são do sexo
masculino. Na distribuição dos leitores por classe, temos que 26% pertencem à
classe A, 48% são da classe B e 19% enquadram-se na classe C.
Vemos então que a maior parte do público das revistas “Nossa História” e
“História Viva” está numa faixa de maior idade, que se inicia entre os 19 e 20
anos, enquanto que o público da “Aventuras na História” é mais jovem,
incluindo em suas fileiras leitores de 15 anos. Como apresentamos
anteriormente, esta diferença manifesta-se também em relação à
“Superinteressante”.
8
Apenas a editora Vera Cruz levantou dados sobre a escolaridade de seu
público, que concentra-se pesadamente nas instituições de ensino superior. O
conteúdo editorial, calcado na produção acadêmica, poderia explicar isto e
explicaria também o público de “História Viva”, já que por sua associação com
a “Historia” francesa, beneficia-se da produção de expoentes da historiografia
francesa, como George Duby, autor presente na edição de abril de 2005.
“Aventuras na História”, por outro lado, segue a linha editorial de
“Superinteressante”, que “sempre teve um jeitão bem brasileiro, com
informações leves, fáceis de digerir e com o humor sempre presente, marca
registrada do nosso país”. Deste maneira, estes títulos tornam-se mais
acessíveis aos alunos do ensino médio.
9
Mesmo a iniciativa da editora Vera Cruz, a única que ofereceu dados sobre a
escolaridade de seu público, não identifica qual curso de graduação seus
alunos freqüentaram.
Em meio ao cenário descrito acima, ainda não muito claro, surge um título
bimestral da editora Escala Educacional, que avança no bimestre corrente para
o seu quinto número.
É importante observarmos que esta empresa foi fundada com base num projeto
específico para a área educacional, editando um amplo catálogo de
publicações didáticas e paradidáticas. Desta maneira, “Desvendando a
História” é lançada como parte de um projeto maior, juntamente com a revista
“Discutindo a Geografia”, voltada para o ensino médio e hoje, estas duas
edições somam-se aos títulos “Discutindo Literatura”, “Discutindo Ciência”,
“Discutindo Arte” e “Discutindo Educação Física”, que “pretendem se tornar um
fórum para a discussão de temas essenciais à formação intelectual do
estudante”.
10
grande público da revista está no ensino médio, daí a abordagem voltada para
o conteúdo programático, com menor grau de problematização histórica.
Esta seção apresenta aos leitores alguns museus, suas características físicas,
como arquitetura, localização; suas características históricas e, claro, suas
exposições. Talvez tenha como objetivo incentivar a visitação aos museus
brasileiros, já que nos três primeiros números, são apresentados: o Museu da
Casa Brasileira, em São Paulo, SP; Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, PE
11
e o Museu Paranaense, em Curitiba, PR. Já na edição de nº 4, foi apresentado
aos leitores o Museu do Prado, em Madri, quebrando a série de museus
brasileiros. A seção “Por Dentro” está sempre localizada entre as páginas 6 e
7, primeira seção da revista.
12
Nesta quarta edição, esta seção se diferencia das demais por tratar-se de um
museu fora do país, já que as três primeiras seções tratam de museus
brasileiros. Traz também uma diferenciação nas bordas que, nas três primeiras
seções eram de cor bege, e nesta edição, as bordas são de cor amarela, mas
conservando a moldura em torno das mesmas, remetendo a um quadro antigo.
O artigo contém quatro imagens distribuídas nas duas páginas, três são de
famosas obras expostas no museu e uma da fachada do museu, o fundo é
bege, como as seções anteriores, o caráter do texto é dissertativa.
Essa seção traz datas históricas com um excerto sobre o assunto, as datas
correspondem a acontecimentos específicos ao longo do tempo, dentro do
bimestre correspondente a cada edição. A apresentação é em forma de
quadros amarelos com o texto, sobre um fundo branco com bordas beges, a
data de destaque para o dia que aparece em vermelho, esse modelo se
mantém em todos os números da revistas.
13
Ano I, edição n º 2, Outubro/Novembro de 2004
Localização: Ocupa 2 páginas, a 8 e a 9.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges)
Características: O nome da seção vem em formato itálico. São 10 os quadros
com as datas e excertos. Além de mais quatro imagens – 1 fotografia e 3
gravuras – distribuídas 2 cada página.
Comentário: No quadro sobre a Revolução Praieira foi dito que esta seria a
última Revolução do Império (do Brasil), no entanto a historiografia já não mais
afirma isso, devido a estudos mostrarem que outras revoltas aconteceram. Vale
lembrar que a historiografia usa indiscriminadamente os termos revolução e
revolta para os levante após a independência.
14
da denominação do mesmo. Poderia ser feito ao menos um breve resumo
sobre o assunto, pois senão fica novamente a impressão de que a História é
feita de datas e denominação de acontecimentos, deixando de lado o longo
processo por traz dessa abordagem quase que factual.
15
4.4. SEÇÃO “ESTUDO DO MEIO”
Esta seção, que se inicia apenas na segunda edição da revista, tem como
objetivo a troca de experiências entre professores do ensino médio e
fundamental, sobre como uma aula fora dos muros da escola pode ser
produtiva para o melhor entendimento dos alunos, onde possam ver a história
com seus próprios olhos. A partir daí, os professores narram suas experiências.
Esta seção, junto com a seção preenche uma das características da editora:
um caráter didático, onde outras revistas, como “Discutindo a Geografia” e
“Discutindo a Literatura” também trazem este caráter didático, como sugere
uma das propagandas da revista “Geografia e história se aprende na escola... e
também nas bancas” e também como o próprio nome da editora: Escala
Educacional.
16
Ano I, edição de nº 4, Abril/Maio de 2005
Título: Usina de Corumbataí
Autor: Venerando Santiago de Oliveira, é físico e professor do ensino médio e
pré-vestibular.
Características: Há duas diferenças marcantes entre este artigo e os dois
artigos anteriores desta seção. O primeiro, é que Venerando não é professor
de história, mas propões um passeio pela usina de Corumbataí, sugerindo uma
aula multidisciplinar; o segundo ponto é que, o autor não descreve sua
experiência, mas como dito anteriormente sugere uma visita à Usina como uma
forma de metodologia de ensino que, além de atraente, é multidisciplinar.
Deixando a sugestão, não para professores e alunos, mas para quaisquer
interessados.
O nome da seção ganha destaque, em vermelho, na extremidade superior da
página, estando abaixo, o título do artigo, o plano de fundo é branco.
17
presentes: uma de uma sucessão de bandeiras de países membros –
remetendo a algum prédio desta instituição – e outra retratando um encontro
entre representantes e membros desta instituição. Estas, ambas coloridas.
Nenhuma com crédito ou nota explicativa.
O título está em amarelo e a sigla “ONU” em negrito.
Comentário: O texto inicia já tratando do período de criação da instituição, sem
antes fazer (como na edição anterior) uma “regressão” da contemporaneidade
para a época apresentada. Trata do seu estabelecimento no pós-segunda-
guerra, como perpassou pela “Guerra Fria” e como se encontra hoje – assim
como na edição anterior: cronologicamente.
18
Localização: 2 páginas, sendo uma inteira ocupada pelo retrato de Luís Carlos
Prestes.
Comentários: ao contrário das 2 seções anteriores, nesta o autor se mostra
mais crítico. Diante da repercussão do filme Olga, baseado no livro de um
jornalista, Marquilandes reproduz críticas negativas de especialistas da área do
cinema, para então sugerir um documentário que, por conter imagens de
época, entrevistas com os próprios sujeitos tratados, e depoimentos de
historiadores, permite uma recuperação cronológica dos fatos mais importantes
do período. Ou seja, sugere uma outra obra, que trata do mesmo assunto de
Olga, com mais “consistência” histórica.
A relação feita no título da seção entre imprensa e história não foi bem trabalha
no corpo da seção.
19
Comentários: O tema escolhido foi bem trabalhado no texto, fazendo uma
relação o a realidade vivida por Brasil e Argentina nas relações do Mercosul,
que a publicação em si tenha sido pouco explora, mesmo havendo a
transcrição de parte da matéria da época.
20
Em todos os números publicados até o momento, essa seção só tratou de
temas políticos, segundo a revista isso não foi proposital, tendo como causa a
limitação do arquivo.
21
Ano I, edição nº 4, Março/Abril de 2005
Localização: Páginas 46, 47, 48 e 49.
Autor: Não vem expresso (Marquilandes Borges).
Características: O tema é o Golpe Militar no Chile, porém não aparece o título
da seção nesse número. São 9 os quadros de texto, que tratam do suicídio do
presidente Salvador Allende e da tomada do poder por Pinochet, ainda trata
rapidamente do anos do governo de Pinochet até seu afastamento. As 10
fotografias mostram a sede do governo no Chile, os presos por se oporem ao
governo de Pinochet, mostram as mães da Praça de Maio e fotos de Pinochet
sem em uniformes militares.
Comentários: As fotografia não foram bem selecionadas, focalizando quase
sempre o governante Pinochet, e a população que sofreu com as
conseqüências daquele governo ficaram resumidas em apenas 3 fotografias
sem grande destaque.
22
Autor: Jorge Sallum
Localização: 2 páginas, com uma figura que nos remete à Revolução Francesa.
Neste caso, é necessário um conhecimento prévio da história da Revolução, ou
o bom senso de associá-la ao título do artigo, visto que a figura não apresenta
legenda.
Comentário: antes de comentar sobre a obra e seu autor, Sallum passa grande
parte do artigo discorrendo acerca da Revolução Francesa, o que é bem vindo,
já que Jules Michelet “talvez seja o maior historiador dessa geração”. Sallum dá
enfoque especial à idéia de povo, e termina com a indicação bibliográfica do
livro de Michelet da Companhia das Letras.
23
Ano I. Segunda edição:
Título: “Talleyrand”.
Autor: oculto. Segundo informação obtida junto à revista, todas as vezes que
não aparecer o nome do autor, o texto é de Marquilades Borges.
Localização: Segunda metade da revista, em página par.
Características: O título é o nome da personagem, em letras vermelhas, mas o
nome da seção continua escrito em laranja. Uma foto colorida está alocada no
final da página, assim como muitas outras, sem nota explicativa e créditos. A
inscrição “Outras personagens” em letra cursiva ao fundo, se localiza neste
número na parte superior da página, atrás da inscrição do título.
Comentário: Neste segundo número, a seção é iniciada com uma nova
justificativa diante do papel da seção: “Ainda que os estudo históricos
contemporâneos não utilizem uma abordagem puramente personalista, é
quase impossível não se fazer referência a certas figuras dependendo do
momento estudado (...)”. Os aspectos deste número continuam sendo
estritamente biográficos e cronológicos, porém com uma diferença: atribui a
esta personagem exclusivamente (Talleyrand) a manutenção dos direitos civis
do povo francês no pós-Revolução Francesa – “Graças a ele os franceses
garantiram a manutenção de seus principais interesses”.
24
uma gravura (assim como as outras imagens, sem atributos de identificação e
explicação).
Comentário: Este texto visivelmente encomendado traz no seu conteúdo a
mescla do tipo de abordagem praticada até então nesta seção: conteúdo
biográfico/cronológico e o enquadramento das atuações “importantes” da
personagem no contexto apresentado. O aspecto interessante e inédito (além
da exposição da autoria do texto) é a informação de obras de referência
bibliográfica para o aprofundamento no tema.
25
Comentário: O texto, escrito em primeira pessoa e sem aspas, passa a
impressão de maior propriedade do autor sobre o conteúdo expresso (sem
intervenções, como pode ser nitidamente percebido no número anterior). A
partir deste número, o “personagem” é quem escreve, não mais um
entrevistado, e todos eles, com formação no ensino superior.
As regressões e lembranças da autora, colocando-se como “participante da
História” (quando faz a comparação com os militantes do movimento estudantil
da década de 60) deixa claro o objetivo da seção – já que se trata do
discurso/depoimento da editora chefe da revista.
26
destes eventos parece transparecer a tentativa de colocar um referencial de
História e cotidiano, mostrando que a História oficial não anula o cotidiano e
tentando quebrar os estereótipos de mobilidade deste tipo de História (já
criticado em outras seções, a História dos livros didáticos, a História oficial) em
relação aos eventos relacionados à cotidianidade. Revela também a relação e
transmite a noção de “patrimônio”: os noticiários sobre o ataque aos EUA
relevado pela notícia da morte da avó do autor, que em sua perspectiva é mais
relevante e arrebatadora naquele instante.
27
dos tropicalistas no final dos anos 60 em jovens compositores cubanos,
particularmente O Grupo de Experimentacions Sonora. A autora explica os
contextos políticos culturais de ambos os países, e o que a motivou nesta
pesquisa. Em um quadro destacado alerta sobre pesquisa de histórias
musicais, definida “desvendando a canção”. Cita ainda nomes dos tropicalistas
e dos integrantes do grupo cubano.
Ano I, edição nº 4
Título: EUA e América Latina. Entre a Resistência e o Diálogo.
Autor: Marquilandes Borges de Sousa
Comentário: o autor observa que a dicotomia espelhar-se na experiência norte-
americana ou resistência ao imperialismo norte-americano, presente no ideário
populacional, também o está entre os historiadores, de forma a influenciar a
historiografia nacional. Seu livro Rádio e Propaganda Política – Brasil e México
sob a Mira Norte-Americana durante a Segunda Guerra se encaixa numa
perspectiva historiográfica mais renovada, que rompe com visões
maniqueístas. Faz um resumo de sua obra, a partir da posse do presidente
estadounidense F.Roosevelt, “enfocando a política de boa vizinhança”e a
utilização do rádio como meio de comunicação em massa para tanto. Getúlio
Vargas, Franklin Roosevelt e Hitler aparecem em fotografias com legendas.
Esta seção, sempre no final da revista, varia entre uma e duas páginas, e,
como o próprio nome diz, traz novidades do mercado editorial. Sempre há uma
reprodução da capa dos livros, localizados na margem direita, enquanto na
esquerda está uma apresentação da obra e de seu autor. Uma legenda indica
a editora, autor, preço e número de páginas (este último somente na 1ªedição).
Na primeira edição há a indicação de 2 sites relacionados à história, que
também contam com uma reprodução de sua “capa”, no caso, a página inicial
do site.
28
Ano I, edição nº4
Biografias, Diários, Memórias & Correspondências – vol.1 e 2, Gulag Uma
História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos, Para uma Nova História,
Civilização e Cultura, Tempos Belicosos – A Revolução Federalista no Paraná
e a Rearticulação da Vida Político Administrativa do Estado (1889-1907),
Manual de Artigos Científicos, Noam Chomsky – A Vida de um Dissidente.
29
Ano I, edição de nº 2, Outubro/Novembro de 2004
Autor: Cecília Ester Romo Jorquera, professora de história de ensino médio.
Características: a partir da idéia colocado na primeira edição da revista, a
autora relata sua experiência, que ao preparar uma aula sobre as ditaduras
militares da América Latina, utilizou o longa de Lúcia Murat, Que bom te ver
viva, que segundo ela, provocou comoção e reflexão, não somente sobre o
período estudado, mas também sobre a falta de ideologias e lutas desta
geração, os seus alunos.
30
aos sindicatos, regras ditatoriais, maus-tratos aos trabalhadores, o capanga de
Ford que perseguia e espancava e, com enfoque por meio de 2 grandes fotos
de Hitler, o anti-semitismo de Ford e seu envolvimento com os nazistas. Cita
ainda outras obras que fundamentam sua visão negativa de Ford: New York
Times, Admirável mundo Novo de George Orwell e Tempos Modernos de
Charles Chaplin.
“50 Anos Sem Getúlio Vargas: o Suicídio que Marcou a História do Brasil”
Autor: Marquilandes Borges de Sousa, coordenador-geral da revista e
professor de História, doutorando em História Social pela Universidade de São
Paulo.
Localização: 4ºartigo, páginas 32-41.
Características: trata-se do artigo principal da revista, seu título na capa ocupa
espaço maior que os outros, aliás, na capa predominam imagens de seu tema.
É também o maior artigo da revista (10 páginas), com várias fotos de Getúlio
Vargas na ativa, bem como de seu funeral. As fotos não têm legendas, não se
sabe quem são as pessoas que choram junto ao leito do ex-presidente, fica-se
curioso com a 2ª fotografia, na qual um homem aparentemente importante
observa Getúlio morto. O texto narra a trajetória da vida política de Vargas e o
31
autor tem de explicar diversos conceitos pouco difundidos entre um público
leigo, o que torna este artigo mais difícil de ser lido do que os outros, como a
Revolução de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932, a diferença entre
integralistas e comunistas, o Plano Cohen, além de datas e siglas de partidos
políticos da época (UDN, PTB, PSd, PCB). Permeado de citações de Vargas,
estas aparecem em destaque com letras vermelhas. O artigo é finalizado com a
reprodução da carta-testamento de Vargas, deixando ao leitor sua
interpretação.
Diagramação:
Cores: predominância de tons marrons. A única imagem que foge deste padrão
é o “selo comemorativo” de 30 anos do Arquivo Edgard Leuenroth, exposto na
página de apresentação do artigo, que está pintado em cinza e magenta.
Letra tipo capital foi utilizada no título, que está em letras maiúsculas para
realçar destaque. As outras seguem o padrão utilizado pela revista.
As fotos utilizadas não são as mesmas do artigo quando publicado do site do
Arquivo Edgard Leuenroth. Estas estão arranjadas aparentando “como se
estivessem jogadas”; umas sobrepondo as outras nas bordas.
Análise:
Texto extraído do web site do Arquivo Edgard Leuenroth – IFCH / UNICAMP.
Transcrição quase literal, exceto dois itens:
-No original utiliza-se o termo “grana”, pois trata-se, de uma proposta de
veiculação das produções acadêmicas para alunos do Ensino Médio. Na
revista este termo foi substituído por “dinheiro”.
-A iconografia utilizada no artigo do site não foi incorporada ao artigo publicado
na revista, mas outra.
32
Como se trata de um texto originalmente produzido para outros fins, a análise
de sua estruturação não é a mais importante, mas a de perceber como este se
enquadra na proposta do veículo analisado (inserido nos comentários).
Comentários:
- Os tons marrons podem sugerir “envelhecimento”, acentuado pelas “fotos
jogadas”.
- A iconografia utilizada na revista está mais de acordo com aquela utilizada em
livros didáticos, dentro do referencial entendido pelo público (não acadêmico)
como “fotos da época da escravidão”; enquanto isso a iconografia utilizada no
artigo original está relacionada com aquela trabalhada por pesquisadores
acadêmicos (o intuito desta publicação via Internet é justamente a divulgação
do acervo do Arquivo Edgard Leuenroth).
- A mudança do termo “grana” para “dinheiro”, parece tratar-se de uma questão
editorial, pois os espaços para este termo são dois: um dentro do texto e o
outro no título (que está em destaque, como já foi salientado na descrição dos
tipos de caracteres utilizados) Este último, em destaque, por estar em
evidência pode ter sido a motivação da alteração dos termos, dado que “grana”
é um termo coloquial e ainda de utilização bastante restrita nas publicações e
na mídia.
- A exposição do “selo comemorativo” de 30 anos do Arquivo Edgard
Leuenroth, exposto na página de apresentação do artigo parece deslocado e
“fora do lugar” num primeiro momento, até que se leia no final do artigo, que se
trata de uma publicação originalmente difundida através desta instituição.
- Há citação da fonte, porém esta é vaga: não dá a indicação do endereço do
site (como em outras matérias da revista) e só do nome do Arquivo e os
créditos.
- Enquadramento do texto à proposta: escrito por um acadêmico, endereçado a
alunos do Ensino Médio.
Diagramação:
Cores: Predominância do vermelho; alguns detalhes em amarelo. Texto em
fundo branco.
Fotos colocadas nas extremidades das páginas, dotadas de legendas
explicativas mas sem créditos, assim como gravuras.
“Frases de efeito” colocadas nas páginas, com autoria.
Análise:
- Inicia a problematização do tema baseado em dados etimológicos acerca do
termo principal: “anarquia”.
33
- Elabora traços conceituais antes do desenvolvimento do tema.
- Utiliza juízos de valor, como por exemplo: “sociedade justa”.
- Traça um diferencial sucinto entre marxismo (e suas vertentes) e o
anarquismo.
- Utiliza-se de excertos documentais (sem citação bibliográfica) para
arregimentar sua fala.
- Define os principais pontos “cardinais” da doutrina anarquista.
- Detalha os conceitos abordados na doutrina: liberdade, responsabilidade e
autodisciplina.
- Define e diferencia tendências.
- Faz uso colocações que tendem a encarar o “homem” e suas criações como
ser dotado de características inatas: na página 20 “(...) Não faz parte da
natureza humana.” E na página 21 “(...) qualquer governo é, por natureza (...)”.
- Se utiliza o termo “humanidade”.
Comentários:
- A falta de créditos nas fotos dificulta a compreensão e os objetivos no uso da
iconografia.
- Apesar das distinções feitas entre anarquistas e socialistas, a utilização de
vermelho e amarelo no título do artigo confunde essa relação, já que são cores
usualmente utilizadas em representações socialistas.
- Didaticamente, o recurso da conceituação etimológica é válido.
Diagramação:
Cores: Predominantemente tons verdes (letras do título, subtítulo e cor de
fundo).
Fotos: Nenhuma tem crédito, algumas tem legendas explicativas.
Gravuras: sem autoria e período específico de produção.
Ausência de frases em destaque.
Análise:
- No título, o nome da personagem em questão é destacado todo em letras
maiúsculas.
- “Não raro o historiador é estimulado a investigar o passado instigado pelo
presente”.
- Uso do conceito “desvendar” em História.
- Uso de questões iniciais para a abordagem.
- Expõem a existência de várias “versões” (ou interpretações) sobre o tema.
- Os excertos utilizados de “falas” ou depoimentos de época não têm nota ou
crédito da citação.
- Uso da expressão “revelar a figura”.
34
- Não há glossário especificando termos “de época” ou palavras do vocabulário
específico do historiador.
- Faz descrição do contexto histórico.
- Problemas na redação de algumas passagens. Exemplo: “Os problemas de
saúde eram tratados por farmacêuticos e curandeiros, que atuavam como
médicos. Em casos mais graves, buscava-se a Santa Casa de Misericórdia, no
bairro da Liberdade, onde havia uma “roda de enjeitados”, na qual eram
deixados recém-nascidos abandonados” – ambigüidade, pois não se tem claro
que o fato de haver uma “roda dos enjeitados” na Santa Casa de Misericórdia
seja motivo que solucione os casos mais graves.
Comentários:
- O destaque do nome do personagem em questão no título e o intuito em
“revelar a figura” deste homem do passado, inserem o texto numa concepção
personalista de História.
- Não tem uma boa utilização dos recursos visuais. Funcionam como mera
ilustração.
- A ausência das citações dos excertos de depoimentos de época, tiram o
aspecto investigativo do texto (contradizendo a proposição do autor na
introdução do seu texto).
- As ausências de glossário para os termos e expressões específicas podem
comprometer a compreensão dos leitores (que segundo o editorial da revista,
está endereçada a alunos do Ensino Médio e Fundamental).
Diagramação:
Cores: Predominantes tons marrons, ocre e amarelo.
Texto escrito sobre amarelo escuro. Todo o fundo, na parte inferior da página,
tem gravuras de ruínas de templos da antiguidade.
As fotos são colocadas no meio do texto; sem crédito ou legenda explicativa.
“Política” em destaque: letras maiúsculas e fonte capital.
Presença de frases em destaque.
Análise:
- Começa traçando um referencial para sua análise, evidenciando os diferentes
sentidos empregados para “propaganda” e esta sendo vista hoje como muito
associada a mercado /capitalismo – livre iniciativa: justificativa do tema, quebra
deste estereótipo.
- Inicia com trato etimológico sobre o termo “propaganda”.
- Antiguidade como “base da cultura ocidental”.
- Traz termos em latim, com significado entre parênteses.
35
- Propagação da imagem e valorização do retrato, associado à propaganda.
- Trabalha com as esferas do “público” e “privado”.
- Trata como se Antiguidade e modernidade fossem herdeiras diretas, numa
linha contínua – do berço à fase adulta.
Comentários:
- As cores sugerem o velho.
- As figuras não identificadas da parte inferior das páginas sugerem e
amplificam no imaginário do público a noção de “ruinização” das construções e
da arquitetura da antiguidade.
- Didaticamente, o recurso da conceituação etimológica é válido.
Diagramação:
Cores: Variadas. A sua utilização vai do mais claro ao mais escuro com o
passar das páginas: do amarelo, ocre, verde, azul Royal até o azul marinho.
Sua utilização se restringe aos quadros explicativos e contornos de imagens,
exceto a “introdução” – primeira parte – que é escrita sobre um fundo amarelo.
O restante do texto é escrito sobre fundo branco.
Fotos: Todas estão sem créditos e notas explicativas. “Desfiguradas” nas
extremidades (efeito visual). Nas páginas ímpares as fotos ocupam metade do
espaço disponível (exceto a primeira que ocupa toda o espaço – não há texto).
Nas páginas pares, as fotos variam de posição com os quadros explicativos
alternadamente (exceto uma das páginas que não tem foto e outra com foto e
quadro do mesmo lado na página).
Ausência de frases em destaque.
Análise:
- No título, “BRASIL” está em destaque, escrito com letras maiúsculas e
coloridas. (essas cores em cada letras dessa palavra seguem a ordem inversa
da qual elas aparecem no artigo).
- Texto subdivido em partes – baseado na cronologia.
- Introdução (justificando o tema) / Do fim do Estado Novo à ditadura militar / O
bipartidarismo do regime militar / Os partidos políticos atuais.
- Recorte temporal bastante específico: segunda metade do século XX.
- Quadros explicativos com indicações ao longo do texto.
- Trabalha com conceito de “opinião geral”.
- Posicionado antes do artigo que trata de propaganda política, inicia o artigo
tratando desse tema.
36
Comentários:
- O recorte temporal específico, a justificativa explícita do tema e da
periodização trabalhada pode afigurar-se como manifestação da formação
acadêmica do autor.
- Os quadros explicativos cumprem a função de nota de rodapé.
- A primeira página ímpar (que tem uma foto ocupando todo o espaço) afigura-
se como “capa” para o texto que vem em seguida.
- Na descrição do autor, excluiu-se o fato dele ser Coordenador Geral da
revista em questão (o que no número anterior foi salientado).
“O Nascimento do Islã”
Autor: José Arbex Jr., graduado em jornalismo, e doutor em História Social,
pela mesma Universidade de São Paulo, USP.
Localização: páginas 26 a 33.
37
Características: Este artigo está localizado no centro da revista, um dos mais
extensos, mas o que deve ser ressaltado, ele é o tema da capa, isto é, este
artigo estaria sendo o responsável pela maioria dos interessados pela sua
compra. O atentado de 11 de setembro e a guerra do Iraque, despertaram a
curiosidade sobre estas culturas tão pouco conhecidas. Esta seria uma das
razões pelas quais o editor escolheu este artigo para a capa, já que não possui
relação com os outros artigos ou matérias publicadas neste edição.
O autor faz uma retomada sobre as religiões e a economia que precederam o
nascimento do Islamismo, junto a uma biografia de Maomé até a consolidação
da religião islâmica. No final do artigo, contém um pequeno glossário, com o
significado das palavras árabes utilizadas no artigo.
Nas duas primeiras páginas, o plano de fundo é uma imagem do interior de
Caaba, as próximas páginas, tem o plano de fundo branco, contendo sete
imagens, distribuídas entre as páginas.
38
Galileu. O texto está sobre fundo branco, a linguagem é simples e
compreensível, cita acontecimentos históricos que circundam o tema principal
sem dar maiores explicações. O caráter do texto é dissertativo, com algumas
passagens narrativas sobre a vida de Galileu. No quadro Para Saber Mais ao
final do artigo,tem 6 indicações bibliográficas.
39
interesses da implantação desse plano para a economia norte-americana,
fazendo também uma abordagem política do tema mostrando a polarização do
mundo no pós-guerra. A linguagem é simples e compreensível. Mesmo sendo
um tema econômico o autor trabalhou bem outras abordagens possíveis.
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS:
Revista “Historia”
www.historia.presse.fr
Editora Abril
www.abril.com.br
Ministério da Educação
www.mec.gov.br
40
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
TEORIA DA HISTÓRIA I
Primeiro Semestre, 2005
Profa. Dra. RAQUEL GLEZER
Aluno: nº USP
Odair de Lima Martins 3288928
COLEÇÃO GRANDES GUERRAS
Mapas
A revista, como dissemos, abre com mapas (4 páginas) com cor predominante
ocre e manchas que simulam antiguidade. Numa das bordas do mapa vêem-se
ilustradas manchas de sangue, não por acaso como veremos. Os contornos do mapa
são imprecisos querendo reforçar o paralelo com um mapa antigo.
Diferente da periodicidade que a própria revista sugere (como veremos a
seguir) para as invasões bárbaras, a linha de tempo que acompanha o mapa vai dos
anos 165 d.C. a 955 d.C.
O mapa é preenchido por pequenos drops de textos que enumeram
rapidamente os povos bárbaros e suas principais características. Linhas coloridas
ilustram o deslocamento destes povos sobre o mapa.
1
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 3.
O texto principal da revista
2
Idem.
3
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 10.
4
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 3.
5
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 12.
6
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 10.
Seção curiosidades
- a agonia de um gigante;
- a fúria que veio a galope;
- a batalha que valeu por uma guerra;
- no coração do Império;
- a maldição de Alarico;
- preguiçosos e incivilizados;
- os lobos que vieram do mar;
- a vingança à romana;
- terror sobre rodas;
- sede de sangue;
- o fim da fúria.
Seção Quadrinhos
7
Le Goff - – A civilização do Ocidente Medieval, vol. I – 2ª ed., Lisboa: Editorial Estampa Ltda.,
1983,pág. 39.
8
Op. cit., pág. 43.
Esta história é contada por um ancião que ao final é interpelado por sua nora católica,
a qual amaldiçoa por trair os antigos deuses. Uma perfeita menção à incorporação do
cristianismo pelos povos bárbaros.
Seção Armas
Para quem quer se aprofundar no tema esta seção oferece algumas opções. O
que é interessante é observar que entre os seis livros indicados temos:
- dois clássicos, The Agrícola and the Germânia, de Tácito e Declínio e
Queda do Império Romano de Edward Gibbon;
- dois trabalhos de historiadores contemporâneos;
- um manual didático do professor da Unicamp Pedro Funari;
- e uma espécie de livro-almanaque sobre Gêngis Khan, da livraria
Ediouro.
Como se vê, os livros tem qualidade diferenciada, o que aponta para leitores
com graus diferentes de interesse e de erudição.
Tudo leva a crer que estes foram os livros que foram utilizados pelos
jornalistas para escrever os textos das matérias. Por exemplo, o livro Saracens de
John Tolan é citado numa delas.
Seção argumento
9
Coleção Grandes Guerras, volume IV, pág. 82.
COLEÇÃO GRANDES GUERRAS nº V
“CRUZADAS”
Mapas
Como no volume anterior temos mapas (um pouco mais desta vez – seis
páginas) oferecendo o cenário geográfico do tema cruzadas. Há também a linha do
tempo marcando eventos de das cruzadas.
Aqui temos um diferencial. Como a coleção não trata de processos históricos
ligados e concatenados cumulativamente, e como a revista é para ser lida mesmo por
um leigo, os mapas estão saturados de informações, que se pretendem serem
suficientes para o entendimento rápido do tema. Em vários pequenos boxes temos
informações geográficas, batalhas e as próprias cruzadas, todos explicados muito
brevemente. Há também três quadros maiores (um para cada mapa), que explicam
superficialmente o quadro político durante as cruzadas. A cor ocre (que predomina
nos mapas da coleção) variam em três tonalidades neste volume.
10
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 3.
O texto principal
Seção de Curiosidades
11
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 15.
12
“que esta expansão se insira num vasto movimento religioso, ou seja, marcada por um espírito
bastante particular, apoiada por um ímpeto coletivo espontâneo, não muda em nada o aspecto humano
do problema” – in Heer, Jacques – História Medieval. Rio de Janeiro-São Paulo: Difel/Difusão
Editora S/A., pág.161. e Le Goff, Jacques – A civilização do Ocidente Medieval, vol. I – 2ª ed.,
Lisboa: Editorial Estampa Ltda., 1983, pág.96.
13
Le Goff, pág. 100 e Pedrero-Sánchez, Maria Guadalupe – História da Idade Média: Textos e
testemunhos. São Paulo: Edit. Unesp, 2000, pág.83
Santas empreendidas pelos cavaleiros europeus contra os árabes no Oriente Médio
ajudaram, e muito, a disseminar costumes, objetos e hábitos dos mouros em toda a
Europa.”14
14
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 18.
15
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 22.
16
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 21.
Continuando na análise do corpo principal da revista há dois capítulos
interessantes. O primeiro é o capítulo “As invasões vistas pelos árabes” que é o
contra-ponto do ponto de vista ocidental, que é mais notoriamente tratado. Entre as
referências apresentadas pelo texto está a importante obra do jornalista Amim
Maalouf “As Cruzadas vistas pelos árabes”, que possui uma coletânea de fontes
documentais, recomendada na seção Tomos e Telas, semelhante ao discutido em
relação ao volume IV.
A ação violenta dos cruzados pode ser vista num dos documentos presentes
neste livro: o relato do historiador Ibn al-Athir, referindo-se à tomada de
Constantinopla pelos Cruzados e venezianos entre 1203 e 1204:
17
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 22.
18
Maalouf,Amim “As Cruzadas vistas pelos árabes”,pág.207.
- Saladino foi adorado até por seus inimigos;
- Ele fazia questão de correr riscos com seus soldados.
-
Sua inteligência e coragem enquanto líder militar é confirmado pelo
historiador como Mohamed Habib, da Unicamp:
“Ele não gostava de delegar tarefas e fazia questão de correr riscos junto com
seus soldados. Queria lhes dar segurança e manter o moral da tropa.”19
O autor ainda faz um paralelo entre Saddam Hussein, que malogrou tentar
reunir carisma para liderar os muçulmanos como conseguiu Saladino.
Os outros dois capítulos “Monges da Pesada” e “O Lado B das Cruzadas”
estão mais próximos na linha da coleção. Ilustrações enfatizando violência e
combates, mas as cores não são tão vivas, como de praxe.
História em quadrinhos
Seção Armas
19
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 37.
Causa estranheza estar analisar uma besta, um cavaleiro hospitalário e o Krak
de Chevaliers da mesma forma. Por outro lado temos abordada a era da cavalaria,
tema significativo nas Cruzadas, mas pouco explorada.
O estilo inventário é bem claro na descrição dos acessórios do cavaleiro
franco. Estão perfilados espadas, adagas, capacetes, arreios, escudos, etc. Novamente
não atendem qualquer propósito.
Seção Argumento
A última seção, novamente tem apenas uma página e está ofuscada por três
páginas de propaganda dos produtos de Aventuras na História.
O professor Peter Demant amplia o significado das Cruzadas para além da
idéia convencional de choque entre oriente e ocidente. Mostra que foi uma “página
negra nas relações entre os mundos europeu e muçulmano”20, pois entre eles havia
um relacionamento de tolerância, ao mostrar que “cristãos viviam bastante bem sob o
20
Coleção Grandes Guerras, volume V, pág. 82.
domínio muçulmano”21 Existem outros elementos em questão como o fato de que
cristãos lançaram-se contra cristãos, como no saque de Constantinopla, e que
muçulmanos além de estarem divididos nos séculos XI e XII, enfrentavam também a
ameaça dos mongóis.
Finalmente Peter Demant lembra que as Cruzadas possuem um significado
para o presente, na medida que elas nos desafiam a aceitar a diversidade e estabelecer
o discurso “da boa vizinhança”.
CONCLUSÃO
21
Idem
É neste ponto da análise que faz sentido entender a presença da seção
“Armas” presente em cada volume.
Pecados foram cometidos. Um deles foi não fazer as referências
bibliográficas. Destaco novamente a insistência em se destacar a violência, fosse na
linguagem ou na estética, do volume das “Invasões Bárbaras”, além da falta de
cuidado com os aspas em bárbaros.
Com diferentes jornalistas escrevendo as matérias, houve muitas vezes
contradições, por exemplo ao tentar se relativizar o termo bárbaro e na maioria das
vezes exagerar uma selvageria que não corresponde, como lembra Le Goff.22 Mesmo
os Hunos descritos de forma tão terrível pelo volume IV “não eram de maneira
alguma, os selvagens descritos por Amiano Marcelino”23
O ponto alto foi o modo como foi bem explorado o tema das Cruzadas com
relação à atualidade, fosse através do oportuno gancho que o volume fez com o filme
“Cruzadas”, fosse através das matérias.
...
22
Le Goff, Jacques – A civilização do Ocidente Medieval, vol. I – 2ª ed., Lisboa: Editorial Estampa
Ltda., 1983, págs. 34 e 35.
23
Op. Cit., pág. 38.
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO ...............................................................................................4
Objetivo/Hipótese Orientadora............................................................................. 4
Objeto da Pesquisa/Justificativa .......................................................................... 4
Metodologia Utilizada........................................................................................... 6
ANÁLISES......................................................................................................7
“Jesus e seu tempo” ............................................................................................ 7
“Verdadeiro ou Falso” .......................................................................................... 8
“As Novas Datas na vida de Jesus”..................................................................... 9
“A Ordem na Palestina Romana”....................................................................... 10
“Um filho que não tem Espírito de Família”........................................................ 11
“Na Sinagoga, ele se inicia na Arte da Polêmica”.............................................. 15
“Dezoito anos sem deixar vestígios”.................................................................. 17
“Nas Províncias do Ocidente” ............................................................................ 19
“Nas Províncias do Oriente”............................................................................... 22
“As correntes do judaísmo”................................................................................ 24
“O Templo: uma casa de Tráfico?” .................................................................... 27
“As seguidoras do profeta”................................................................................. 30
“Jerusalém festeja a Páscoa judaica” ................................................................ 31
“Diante de seus juizes, o acusado se cala”........................................................ 33
“As primeiras decorrências de sua morte” ......................................................... 35
CONCLUSÃO...............................................................................................37
REFERÊNCIAS ............................................................................................41
Bibliográficas ..................................................................................................... 41
Documento eletrônico e Sites consultados ........................................................ 41
3
INTRODUÇÃO
Objetivo/Hipótese Orientadora
Objeto da Pesquisa/Justificativa
A revista em questão (História Viva - Grandes Temas) foi escolhida tanto por
enquadrar-se no assunto por nós elencado, quanto por já gozar de certa
consideração entre o público leitor brasileiro. Há que se levar também em
consideração a importância e tradição da revista similar entre os leitores franceses.
Comecemos pelos dados básicos da revista: tal publicação vincula-se a
Duetto Editorial que fora fundada no primeiro semestre de 2001, sendo resultado da
associação das Editoras Ediouro Publicações e Segmento que visavam “entrar
vigorosamente no mercado de revistas destinadas ao leitor final”2.
Incluem-se neste grupo de revistas além da História Viva e História Viva –
Grandes Temas, as seguintes publicações: Scientific American Brasil; Especiais
Temáticos de Scientific American; Viver Mente & Cérebro e Viver Mente & Cérebro
– Memória da Psicanálise, que fazem parte do “Grupo Conhecimento”, compondo o
outro grupo, “Grupo Beleza e Bem-estar”, as revistas: Cabelos & Cia.; Guias de
1
IBAÑEZ, Miriam. Resposta ao e-mail [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<leandro_usp@hotmail.com> em 12 maio de 2005.
2
HISTÓRIA VIVA. Disponível em: <http://www.historiaviva.com.br>. Acesso em: 25 maio de 2005.
4
Beleza; Coleção 1000 Cortes & Cia. e Coleção Colors: Louras, Morenas, Ruivas e
Negras.
A Duetto conta com a participação de 46 profissionais, dos quais
destacaremos, Miriam Ibañez, com quem conversamos via e-mail, e o idealizador da
revista trabalhada Alfredo Nastari. Este último resolvera integrar-se em tal nicho de
mercado após tomar contato com a publicação francesa “Historia”, que conta com
quase 90 anos de tradição naquele país. Quanto a Miriam, editora-chefe da História
Viva, soubemos ser sua formação não só em jornalismo, mas também em História,
curso este realizado na mesma Universidade de São Paulo (USP). Fora através
dela que obtivemos as informações a seguir, concernentes a História Viva.
Sua tiragem gira em torno dos 65.000 exemplares, tendo por público alvo
“adultos (...) interessados na matéria, não necessariamente com formação acadêmica”3,
estendendo-se também a um público de jovens estudantes. Esta publicação
desenvolve-se em parceria com a “Historia” francesa, a qual é formada por
renomados especialistas atuantes nas mais diversas áreas.
Os dados por nós enunciados referem-se à publicação mensal da História
Viva, mais especificamente a edição 16, do mês de fevereiro do corrente ano, que
teve por capa os Vikings. A História Viva – Grandes Temas é de “periodicidade
trimestral, dedicada aos mais expressivos, polêmicos e decisivos acontecimentos e
personagens da História, da antiguidade aos dias atuais 4”. Este seguimento da História
Viva encontra-se hoje na 8ª edição, que aborda a temática Romana; as demais
trouxeram por capa e tema a Vitória (edição nº 7); a Mesopotâmia (edição nº 6); o
Renascimento (edição nº 5); o Brasil que Getúlio sonhou (edição nº4); os Gregos
(edição nº 3); a Revolução Francesa (edição nº 2) e por fim a aqui analisada: Jesus
– o Homem e seu Tempo, que fora a precursora destas no Brasil, publicada em
dezembro de 2003, propositalmente lançada às vésperas da festa Natalina, uma
das mais significativas datas cristãs.
3
IBAÑEZ, Miriam. Resposta ao e-mail [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<leandro_usp@hotmail.com> em 12 maio de 2005.
4
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.5
5
Metodologia Utilizada
6
ANÁLISES
5
Tradutor free lancer de diversas editoras como a Abril e Duetto.
6
Disponível em: <www.iptheologie.asso.fr>. Acesso em: 03 de junho de2005.
7
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.6
7
que valeria a pena legar porque seria boa e capaz de tornar o passado útil ao
presente.8
Isso acaba entrando em conflito com a proposta da História Viva de divulgar
material científico de História, já que sabemos que o historiador não pode levar em
conta materiais duvidosos como a Bíblia somente, para construir o passado, mas de
certa forma a matéria deixa claro, que o assunto talvez não possa ser abordado
somente pelo lado histórico, devido, quem sabe, à influência das religiões cristãs
entre os leitores da revista, o que nos leva a questionar se o fator puramente
histórico foi misturado a trabalhos de teólogos e lingüistas para arraigar dessa
maneira maior quantidade de leitores, mesmo que contrarie a proposta da revista
em si. Isso posto, qual a noção de cientificidade da revista História Viva em seu
objetivo de divulgação apresentado na introdução?
“Verdadeiro ou Falso”
Sem identificação de autor (p. 8-9).
8
artigo jornalístico conforme analisado os conceitos de verdade colocados sem
nenhum tipo de fonte ou guia de leitura.
10
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.13.
11
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.12.
12
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.11 a 13.
9
historiador, sofre variada interferência na sua edição, voltando-o para um leitor leigo
e não acadêmico.
É perceptível a falta de audácia na contestação dos fatos bíblicos, mesmo
chegando a mostrar incoerência nas datas dos evangelhos, a matéria em si não
conclui nada que afronte dados religiosos, uma clara demonstração da “política de
não polemizar” assuntos que poderiam ofender um consumidor religioso.
Novamente a intenção da revista fica clara, que como foi constatado na análise, é a
de apresentar um trabalho científico para um leitor leigo. Perguntamo-nos qual a
finalidade desse ato, já que em nenhum momento sua editora-chefe declara ser
esse o objetivo?
10
Do meio do artigo para o seu fim a qualidade da metodologia cai
consideravelmente. Contestações de textos de historiadores são feitas sem
utilização de argumentação que se sustente nem citação de fontes 15; percebe-se a
utilização repetitiva de palavras e de nomes consagrados no conhecimento geral,
como Júlio César e Otávio Augusto citados nada menos que onze vezes o primeiro
e nove o segundo, num artigo de cinco páginas.
A pergunta que fica aqui é até onde o processo de edição transforma o
trabalho dos acadêmicos ou até onde esses mesmos acadêmicos não escrevem
intencionalmente para uma revista de público leigo?
15
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.19.
16
Disponível em: <http://www.seix-barral.es/fichaautor.asp?autor=130>. Acesso em: 02 de junho de
2005.
11
Ao voltar-se à Mãe, Duquesne relata a posição social feminina no mundo
antigo; faz uma descrição da típica casa nazarena e surpreende-se com o pouco
conhecimento e citações bíblicas que possuímos da mãe de Cristo. Sua genealogia
é controversa e muitas vezes baseada em textos apócrifos, já que os Evangelhos
pouco dizem sobre ela.
O autor destacará Maria nas quatro vezes em que aparece no Novo
Testamento (após os grandes episódios da Natividade e do desaparecimento de
Jesus no Templo), centrando-se nos relatos ofertados concernentes à tensão vivida
por Jesus em relação a sua família; tensão esta oriunda do início de sua pregação.
É sobre tal “rixa” familiar que este autor se debruça, buscando suas razões. A
partir dela colocará questões a respeito da relação de “verdadeira intimidade de alma e
espírito”17 entre Maria e Jesus, que sairia arranhada com a confirmação de tal fato,
também a existência ou não de irmãos de Cristo, contestada pela Igreja católica,
mas presente no texto bíblico, de onde o autor conclui ser a família de Cristo
idêntica a família judia da época, ou seja, numerosa e zelosa da educação religiosa
de seus filhos.
Por fim Jacques Duquesne tenta explicar, com base na Bíblia, o porquê de tal
indisposição entre Cristo e seus pais - já que estes conheciam desde o início sua
santidade – acaba por concluir que fora um erro de tradução que nos proporcionara
a incompreensão da atitude dúbia de Maria (que no início da pregação do filho
estivera distante dele, mas se aproximara no fim de sua vida). Esta procura
compreender as atitudes do filho e quando consegue, reúne-se, enfim, a ele, então,
para Duquesne, Maria poderia ser vista como a “primeira teóloga do mundo cristão”18.
Como fica claro, o autor, antes de aprofundar-se sobre o tema que se propôs
e que se anuncia no próprio título do artigo, procura contextualizar o mesmo tema,
buscando para isso o auxílio não só da Bíblia, mas também, de outros escritos e
autores, colocando por fim, as suas próprias conclusões.
Quando trata da cidade de Nazaré, ou mais propriamente da localidade da
Galiléia na qual aquela se situa, o escritor usa tanto do historiador, de certa forma
contemporâneo, Flávio Josefo, quanto de Ernest Renan, que mantém em relação
aos fatos uma distância de mais de dezoito séculos. Ambos autores descrevem a
região com o “mesmo lirismo”19, Duquesne usa de citações para confirmar tal
17
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.27.
18
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.29.
19
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, n º 1, dezembro 2003. p.23.
12
conclusão – no entanto, estas carecem de maior rigor já que não possuímos notas
(de rodapé, por exemplo) que nos elucidem de onde foram retiradas.
Em seguida o autor desmistifica tal região, assinalando as desigualdades
presentes na mesma que teoricamente não teriam sido notadas pelos autores antes
citados; ressalta também as omissões bíblicas quanto a cidades importantes (como
Séforis) certamente conhecidas por Jesus.
A mesma Bíblia, a despeito de servir de base as suas conclusões, é, no
decorrer do texto, muitas vezes colocada em cheque. O autor, sem desprezá-la,
mantém com ela um posicionamento crítico; a cita para firmar seus argumentos,
aliando a mesma textos apócrifos e escritos de religiosos.
Na composição de sua argumentação os textos judaicos também não são
esquecidos; utiliza-se do Talmude e descreve os costumes judeus importantes para
a compreensão do contexto social de Cristo. Ao mesmo tempo a etimologia lhe
serve de explicação e legitimação dos fatos que levanta, é com base em tal recurso
que afirma a existência de irmãos e não primos de Jesus, também é por meio de um
erro de tradução que justifica as atitudes de Maria em relação a seu filho, ela teria
demorado a compreender aquele, daí o seu distanciamento e tensão.
É ao tratar da figura de Maria que Jacques Duquesne nos deixa transparecer
mais facilmente os alicerces nos quais se apóia e os debates que sustenta. São
aqui citados, para além dos Evangelhos “legítimos”, os apócrifos; mais
especificamente, o Protoevangelho de Tiago e também os escritos de Padres da
Igreja, no caso de Irineu, bispo de Lyon. O autor ainda indica a existência de
debates de exegetas em torno de tão importante personagem, acaba por nos
mostrar (por meio de citação) a conclusão a que chegara um deles, qual seja, o
padre jesuíta Xavier Leon-Dufour, a que tudo indica20, em seu livro “Leitura do
Evangelho segundo João”.
Outra obra textualmente citada é Antiguidades Judaicas de autoria de Flávio
Josefo, utilizado no âmbito da discussão sobre a existência ou não de irmãos de
Jesus. Duquesne afirma estar a emergência de tal tema associada à descoberta
recente de um ossuário de pedra (fraudulento) onde se gravara: “Tiago, filho de José,
irmão de Jesus”21, tal fato só vem atestar a relevância das referências arqueológicas
na feitura da História, e no que tange a História do Cristianismo, nosso autor não
20
Porque mais uma vez a citação não é situada.
21
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.28.
13
deixa de postular os recursos existentes para tal construção, isto é, a “análise
rigorosa dos textos e das traduções”22.
Uma outra fonte discernível ao longo do artigo é a condizente aos escritos do
“pai da história da Igreja”23, Eusébio de Cesaréia, utilizada também para afirmar a
presença de Tiago, irmão de Cristo.
É interessante notar que Jacques Duquesne tira seu problema – o conflito
familiar de Jesus – da Bíblia, e com a mesma o resolve (ao supor que tal tensão,
sobretudo com Maria, oriunda da pregação de Cristo, se findara quando aquela
finalmente compreendera quem era o filho, trecho este, da mesma forma que o
conflito, presente no texto, mas sujeito a um erro de tradução que dificultara a
melhor apreensão dos atos). Não há nele, a despeito das questões e senões que
coloca, um distanciamento marcado em relação a esta fonte; não contesta a
veracidade de seus fatos, pelo contrário, constrói toda a sua argumentação em
torno dela, o que nos permite supor que o mesmo partilhe de uma interpretação da
história pautada em religiosidade.
Se nos atermos a números perceberemos que a Bíblia é sem dúvida sua
principal fonte, ela, ou partes dela, são mencionadas cerca de 23 vezes, sem contar
as citações de trechos da mesma que totalizam 12 ocorrências contra 3 de outros
materiais não diretamente relacionados à Igreja (2 de Flávio Josefo e 1 de Ernest
Renan). Quanto a tais citações bíblicas notamos o mesmo problema assinalado com
as demais obras; 6 das 12 citações não contêm sua localização precisa, o que
denota a falta de preocupação metodológica do escritor. Também não nos é
exposta, em separado, a completa bibliografia por ele utilizada, percebemos esta
diluída no texto, mas somente quando o autor se propõe a oferecê-la, o que nos faz
supor que exista lacunas na mesma.
Quanto à escrita do texto, Duquesne, alia à mera descrição dos fatos e
costumes (o que em si já é uma forma de explicação histórica) as suas próprias
interpretações e conclusões; opera a uma análise do texto bíblico pautada em
conhecimentos exteriores a ele, ou seja, contexto histórico, costumes judaicos,
romanos, etc. Também se propõe a verificar os possíveis erros de traduções e faz
uso da origem das palavras ou da língua grega para embasar suas argumentações.
Há nele certa preocupação em afirmar somente aquilo presente em mais de um
documento, seja confrontando os vários Evangelhos ou aliando a um deles
22
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.28.
23
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.29.
14
episódios semelhantes relatados por personagens contemporâneos. Ao menos,
neste sentido, podemos afirmar que ele se adequa ao método de trabalho do
historiador, mas, no entanto, não vai muito além disso.
Não nos foi possível retirar de sua escrita nenhum conceito que se restrinja
ao campo das Teorias de História; ele não parece estar enquadrado em qualquer
corrente historiográfica, nem tampouco usa, indiscriminadamente, conceitos
inerentes a elas.
No que concerne ao aspecto visual do artigo, deparamo-nos com 7
iconografias; 6 pinturas e uma esquematização da genealogia de Cristo.
Aparentemente estas servem para ilustrar o texto (e não o contrário) já que as
mesmas vinculam-se aos aspectos levantados; sem dúvida a genealogia era a única
imprescindível, mas as demais não chegam a compor material inútil, haja vista que
trazem temas relacionados à família de Jesus; episódios bíblicos, e a mais extensa
delas, a uma carpintaria contemporânea (Jacques Duquesne salienta o papel social
de carpinteiros, como José, naquela sociedade).
Com exceção da primeira imagem, todas as demais trazem consigo os
créditos (título, autoria, data e local de origem). A maioria delas são pinturas
conhecidas, de autores consagrados (como Rafael e Giotto). Alocam-se em alguma
extremidade da folha, ou tomam uma metade dela, não chegando a ocupar a página
inteira.
Por fim encontra-se o usual glossário que nos esclarece a respeito dos 4
Evangelistas a Atos dos Apóstolos, dando-nos a data de sua escritura e uma breve
descrição de seu conteúdo.
24
Celso Parcionik trabalha profissionalmente como tradutor desde o final dos anos 80. Trabalhou muitos
anos no jornal Gazeta Mercantil e trabalha atualmente no jornal Valor Econômico.
Disponível em: <http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/celso.htm>. Acesso em: 10 de junho de
2005.
15
que abarcavam não só as Escrituras mas, da mesma forma, a leitura, geografia,
história, cálculo e a arte da polêmica. Todos aprendidos na Sinagoga, que abrigava
a escola e constituía-se como centro da vida social daquele período.
Após esta primeira parte, Jeanne Chaillet passará a centrar-se nas mais
importantes comemorações judaicas. A primeira a ser enfocada é o Sabat, que
merece longa descrição seguida da avaliação de qual seria o seu propósito, ou seja,
“remeter o homem ao momento da Criação”25. O Sabat é uma espécie de ritual familiar,
distinto das três festas de peregrinação abordadas em seguida – o Sucot, a
Pessach e o Shavuot – que são extensamente descritas mas, muito pouco
interpretadas, à semelhança do acontecido com a solenidade do Yom Kippur, a
última trazida à baila.
Por fim, Chaillet aponta a justificação – nos textos sagrados – das festas
judaicas, assim como sua diferença em relação às cristãs.
No geral tal artigo carece de maior caráter analítico, há excesso de descrição
e escassez de interpretações e conclusões.
A autora centra-se exageradamente em escritos sagrados (mencionados
cerca de 18 vezes), muitas vezes não devidamente situados. Encontramos 11
citações textuais de tais escritos, das quais 5 não são localizáveis. Não há em seu
texto menção a qualquer outra fonte por ela utilizada, a despeito de encontramos no
decorrer da leitura fatos não bíblicos.
Também a maior parte do conteúdo do artigo destoa do título a ele imposto, o
que faz parecer que o mesmo fora enxertado juntamente com os poucos 3
parágrafos a ele correspondentes. Há uma visível quebra de enredo na passagem
da descrição da educação de Cristo para as festas judaicas, que apenas em um
momento inserem a figura daquele.
Há em Chaillet uma certa preocupação em buscar na própria Bíblia a
origem/criação dos temas por ela tratados, é assim que opera, por exemplo, quando
se refere à parábola ou a Sinagoga26. Também as festas são justificadas por
intermédio dela, no entanto, não nos é exposto de onde a autora retira as
descrições pormenorizadas das mesmas; como nos demais artigos, nos é suprimida
a bibliografia correspondente e, no caso do artigo em questão, a situação piora,
afinal como já dito, a escritora não a cita no decorrer do texto.
25
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.32.
26
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.32.
16
O artigo trabalhado só muito forçosamente poderia ser considerado um
trabalho historiográfico, haja vista que a preocupação metodológica é quase nula;
toda a argumentação gira em torno de um único documento (o qual em nenhum
momento é posto em dúvida); os assuntos tratados carecem de uma séria
contextualização (as festas são descritas, na maior parte das vezes, desvinculadas,
seja de seu contexto histórico, ou mesmo da personagem central da revista –
Cristo); não há debates em voga; nem aparente utilização de qualquer Teoria da
História.
Não desconhecemos que a descrição possa ser considerada um modo de
explicação histórica, no entanto, a mesma precisa vir acompanhada de alguma
forma de interpretação/compreensão, afinal erudição não é quesito único para a
composição de um bom trabalho de História.
São apresentadas no artigo 7 iconografias, distribuídas entre pintura, gravura,
iluminura e um quadro esquemático do calendário judeu. Duas de tais imagens
abordam o mesmo tema: “A circuncisão de Cristo”27, é interessante observar que tal
assunto não é diretamente abordado no artigo, que se vincula mais as festas
judaicas. Talvez tal repetição venha mesmo legitimar o tema trabalhado, ao associar
e fixar a figura de Cristo a um ritual conhecidamente semita.
Somente estas duas figuras retratam Jesus, as outras 4 relacionam-se a
motes estritamente judaicos e só em uma, além, é claro, do calendário, percebemos
clara alusão às festas descritas.
Tais ilustrações ocupam parte considerável do artigo; a segunda delas (uma
das circuncisões de Cristo, a de L. Cândido) preenche mesmo uma página inteira,
duas outras meia página e as demais se alocam em alguma extremidade da
mesma. Quatro, das sete, não possuem créditos precisos, faltando, normalmente, a
datação a elas correspondentes.
O glossário traz esclarecimentos sobre três termos: levitas, gentios e Dias
Terríveis, sendo que este último em nenhum momento aparece no texto.
27
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.31 e 32.
17
Jacques-Noël Pérès é pastor da Igreja Luterana, professor de Patrística na
Faculdade de Teologia Protestante de Paris, na qual também exerce o cargo de
Reitor. Publicou uma tradução comentada da Epistola dos Apóstolos.
A revista interroga o entrevistado a respeito do “sumiço” de Jesus das
Escrituras por um período de 18 anos. O teólogo responde que somente existe
interesse na vida de Jesus, porque a “ fé cristã é a fé de um Deus encarnado”28; de
existência terrena e inserido numa história apresentada sobretudo na Bíblia. No que
diz respeito a esta, Noël Pérès, elencará uma série de questões referentes a sua
veracidade.
Afirmará que tal fonte de fato não contém todos os atos e falas de Jesus; as
lacunas foram preenchidas ou geradas por seus seguidores, que “conservaram o que
lhes parecia necessário e omitiram o que não tinha interesse imediato...”29. Mas tais textos
não constituem, para Noël (baseado em Oscar Cullmann), apesar disto, inverdades.
São “autênticos testemunhos de fé”30 assim como o próprio Evangelho.
As lacunas de sua vida são preenchidas por hipóteses, mas tal período de
ausência não é de importância vital para o teólogo, e se as hipóteses são buscadas
é por mera curiosidade, para se justificar os a priori que são formados a respeito de
Jesus, para “orientar a imagem que se vai dar dele”31. “Jesus é um personagem histórico”32
e para que não duvidem é preciso encontrar argumentos que atestem a sua
existência/vida, daí a busca das hipóteses.
Por se tratar de uma entrevista a análise por nós empreendida torna-se um
tanto quanto limitada, Noël Pérès responde a questões circunscritas e, portanto, não
lhe é concedido espaço para maiores explanações das quais mais facilmente
retiraríamos seus pressupostos científicos.
Apesar disto, a partir das respostas dadas, apreendemos uma certa
aproximação do entrevistado a um método historiográfico, mesmo que pouco
rigoroso. Mais de uma vez ele cita a importância das fontes na confirmação da
história, no caso, da de Jesus; da qual possuímos não só datas compatíveis com a
história conhecida, mas também personagens (como imperadores) que nos
deixaram rastros documentais, o que atestaria a existência daquele.
28
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.36.
29
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.38.
30
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.38.
31
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.39.
32
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.39.
18
Noël Pérès mantém uma posição crítica a respeito da fonte em que se baseia
(Bíblia), questiona a veracidade dos fatos que ela narra (muitas vezes impregnados
de caráter “maravilhoso”33) no entanto, não consegue se desvincular dela e acaba por
firmar sua autenticidade (levando em conta que a mesma é sobretudo um
testemunho de fé) dentro de padrões relativos.
Sua fala não se alicerça somente em tal texto sagrado, busca também os
apócrifos, cita Voltaire e Oscar Cullmann, a despeito de não nos fornecer maiores
informações sobre os mesmos. Desconhecemos a qual apócrifo ou a quais obras
destes autores ele se refere, afinal não há notas de rodapé, nem mesmo a
exposição da bibliografia utilizada.
Ilustrando o texto, existem duas pinturas que abrangem quase 50% do
espaço. Ambas relacionam-se a fatos mencionados pelo teólogo e apresentam-se
devidamente referenciadas. A primeira delas: “São João Batista no deserto”, de
Philippe de Champaigne, ocupa uma página inteira, enquanto a segunda (“Cristo do
Deserto” de Ivan Kramskoy) utiliza dois terços (2/3) da outra.
À diferença do comumente estabelecido, este artigo não possui glossário.
Nos é dado o nome de quem entrevistara o teólogo, mas nada além disto.
33
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.36.
19
No artigo, a autora destaca o Imperador Tibério. Este aparece dezenove
vezes em apenas seis páginas de artigo. Ainda ressalta o fato de este ser
maltratado pela tradição histórica, que o apresenta como “...cruel, dissimulado e
corrupto.”34
Com relação às regiões romanizadas, também haveria problemas, como a
insurreição gaulesa, que levou estes ao conflito com os romanos que estariam tendo
problemas com os povos livres.
O artigo prossegue descrevendo a relação dos romanos com a África. Os
romanos teriam procurado consolidar as suas fronteiras africanas, teriam estendido
a sua dominação sobre o Saara ocidental, mas não teriam chegado a descobrir a
África negra. Assim como a África, o Oriente Médio era uma área problemática do
Império Romano, pois a fronteira com a Arábia precisava ser protegida contra os
povos vizinhos. Na região da Judéia no ano de 26 teria chegado Pôncio Pilatos, na
condição de procurador. Este teria causado muitos problemas com as populações
locais, principalmente ao criticar o judaísmo. Esta contextualização da região da
Judéia é importante para o entendimento do contexto da vida de Jesus, visto que
Pôncio Pilatos será o responsável pelo seu julgamento.
A autora não demonstra as fontes utilizadas, com exceção da citação do
geógrafo do século I Pompônio Mela.
Essa ausência de fontes prejudica o objetivo da revista de fazer um trabalho
com um caráter científico. Mesmo que, saibamos que não se trata de um trabalho
acadêmico, mas sim de uma revista voltada para o público leigo, a autora deixa a
desejar. Principalmente quando se utiliza claramente de juízo de valor. Mesmo
sabendo que em um trabalho é inatingível a imparcialidade total, pois o historiador é
influenciado tanto pela sua formação (pessoal e acadêmica), como pelo próprio
momento da história em que vive, deve-se procurar ao máximo a imparcialidade na
construção de trabalhos históricos.
Um exemplo desse uso de juízo de valor pode ser percebido com a descrição
de um episódio, no qual a autora vai retratar um conflito entre os frisões e os
romanos. Estes teriam obrigado os frisões a fazerem tarefas impossíveis de serem
cumpridas, e mesmo sabendo disso, os romanos teriam se apossado de suas terras
e vendido suas mulheres e crianças como escravos. A autora qualifica, então, os
34
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.43.
20
romanos como arrogantes. “A arrogância dos romanos provoca problemas ocasionais
com esses povos livres”35.
Outro fator que mostra a ausência de uma metodologia é o excesso de
adjetivação, como nos seguintes exemplos: “homem inteligente e ambicioso”,
“escândalos rumorosos”, “temíveis partos”36, dentre outros.
A autora utiliza-se de vocábulos que talvez possam ser questionados, como
por exemplo, na seguinte frase: “Os gauleses sabem tirar proveito dessa romanização”37.
O termo “tirar proveito” nesta frase adquire um sentido negativo, pois desconsidera
o processo dialético, que é comum a um acontecimento histórico, nesse caso tanto
os romanos acrescentariam aos gauleses, como vice-versa.
No artigo também há o uso pela autora de anacronismo em duas passagens.
Sendo a primeira a seguinte: “...essa insurreição gaulesa que não se confunde com um
movimento de sublevação nacional, resumindo-se a uma simples revolta local.”38. A autora
torna possível a utilização da palavra “nação” para o período tratado, porém, este é
um termo de uso complexo e que contêm uma conceituação talvez não adequada à
época. A outra passagem é “A Inglaterra fornecia ouro e estanho a Roma”39. Pode ser
que ao utilizar o termo “Inglaterra” a autora estivesse buscando facilitar o
entendimento do público leigo, mas o termo mais adequado seria, por exemplo, “a
região correspondente à atual Inglaterra”, visto que não existia a Inglaterra.
No artigo, a autora utiliza-se de uma Teoria de História de caráter marxista.
Pois, usa termos pertencentes a tal corrente historiográfica, como a palavra “classe”,
perceptível nas seguintes frases: “as classes superiores e a plebe...” e “... depois de ter
seduzido as classes populares de Roma...”40.
De modo geral a contextualização é bem feita, apesar do uso de termos
inadequados como os citados. A autora faz uma descrição simples, sem a utilização
de termos difíceis, o que facilita o acesso de todos à compreensão do artigo. Para
facilitar essa compreensão há no artigo um quadro de destaque sobre o Imperador
Tibério, que faz uma pequena biografia de sua vida pessoal e como homem público.
No quadro também há a inserção de Jesus, o que facilita a ligação do artigo com o
tema central da revista.
35
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.43.
36
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.41 e 44.
37
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.42.
38
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.43.
39
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.44.
40
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.41 e 42.
21
Ainda com relação a esse esforço didático há no final do texto um glossário.
Este apresenta três palavras, que apesar de relacionadas com o assunto do texto,
não estão inseridas nele.
Quanto à iconografia, encontramos cinco imagens. Todas apresentam os
créditos corretamente. Três são meramente ilustrativas, sendo que uma nada tem a
ver com o tema ou a época do artigo, pois é uma pintura de dois mil e quatrocentos
anos antes de Cristo, em que escravos egípcios colhem papiro às margens do rio
Nilo. Há outra imagem que apresenta um caráter argumentativo no texto, pois data
do período e comprova o assunto que está sendo tratado, isto é, a relação dos
romanos com a África, trata-se de um mosaico do século I, que mostra um barco de
caçadores romanos durante o período de cheia do rio Nilo.
A iconografia principal apresentada é a referente a uma escultura do busto do
Imperador Tibério, que data de cerca de 14-37. Esta ocupa uma página inteira e
encontra-se no início do artigo. O que demonstra a importância de Tibério nele,
tendo um sentido de ilustração quanto ao assunto tratado; também tem uma função
argumentativa, pois é uma cultura material que, pela data, confirma a existência
desse Imperador.
41
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.51.
42
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.49.
22
Palmira tinha um papel importante entre o comércio do Oriente e Ocidente.
Destacava-se por suas águas sulfurosas e benéficas. Era uma parada obrigatória
entre o Oceano Índico e o Mediterrâneo.
Alexandria destacava-se como o farol da cultura clássica, em que se
desenvolvia a retórica, a filosofia, a medicina, a geografia, a geometria e a
astronomia.
Quanto aos produtos exóticos: da Arábia o maior interesse era pelo incenso e
pelas especiarias; da China a maior procura era pela seda.
Outro ponto de destaque no artigo é a guerra de três séculos que Roma
enfrentou com os partos pelo controle das rotas comerciais.
De modo geral, este artigo foge da problemática central da revista. Apesar de
ser feita uma contextualização, é difícil a percepção da relação desse contexto com
Jesus. Isto se dá apenas indiretamente ao se relacionar essas províncias com o
Império Romano. Mas, diretamente Jesus é citado em apenas duas passagens.
Uma na qual o autor mostra a possibilidade que algumas pessoas levantam de que
Jesus teria chegado ao Himalaia, devido a essas rotas comerciais. E a outra
passagem é ao falar do comércio do incenso e da mirra. Estes produtos encontrar-
se-iam relacionados a Jesus, segundo os Evangelhos “... produtos também citados nos
Evangelhos e levados pelos Reis Magos quando de sua visita a Belém. O ouro simboliza a
realeza de Jesus; o incenso, sua divindade; a mirra, sua morte”43.
Richard Lebeau apresenta algumas fontes que utilizou para a escrita de seu
artigo, por exemplo, ao citar Plínio, o historiador romano; o historiador grego Apião;
e o geógrafo grego Estrabão. Também cita os Evangelhos, e ainda levanta uma
hipótese pensada por alguns historiadores. Esta maior citação de fontes, apesar de
ainda ser pequena em comparação com o desejável, pode ser realizada devido à
própria formação do autor, que é historiador, fato que o levaria talvez a uma maior
preocupação com a utilização de fontes diversas, e de demonstrar o uso destas.
Apesar da contextualização ser explicitada de uma forma clara e explicativa,
aparecem termos no artigo que provavelmente são incompreensíveis para um
público mais amplo. Como, por exemplo, o termo “Pax Romana”44, dentre outros. No
caso do exemplo citado, deveria estar inserida no artigo uma explicação sobre o seu
significado. O glossário poderia conter mais de uma palavra e não apenas o termo
“Arábia”.
43
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.48.
44
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.48.
23
No sentido de tornar mais fácil a compreensão do artigo, aparece um quadro
de destaque, que disserta sobre a capital parta. Este quadro ajuda no entendimento
de um dos assuntos tratados, que são as guerras entre os romanos e os partas.
Quanto à utilização de conceitos relacionados à História, percebe-se um
conceito de inspiração da Filosofia da História de caráter laico na seguinte frase: “
No início de nossa era Alexandria não está mais em seu apogeu, e já não possui seus
palácios, teatros e templos”45. O termo apogeu sugere a idéia da composição de um
tempo cíclico, no qual todas as civilizações estariam fadadas a um ciclo que seria
composto por seu surgimento – apogeu – decadência, até resultar em seu
desaparecimento. No exemplo citado, Alexandria estaria em uma fase de
decadência, seguindo para o seu desaparecimento.
No que diz respeito às imagens do artigo, todos os créditos foram
apresentados corretamente. Ao todo são cinco imagens. Uma é um mapa do
Oriente, que apresenta um caráter didático, sendo importante para a construção do
texto, pois facilita o entendimento do assunto tratado, afinal ilustra as localidades
das regiões citadas. Há uma pintura, que retrata a relação entre os mercadores
árabes e o Ocidente; e duas fotos, uma ilustrando os mercados romanos, e outra
expondo um mercado romano do século III em Palmira, na Síria. A imagem mais
importante ocupa uma página inteira, e mostra o assunto a ser tratado, tendo
também uma função argumentativa. Esta é uma foto tirada em 2002 de um edifício
com influência greco-romana construído pelos nabaetanos, que se localiza em
Petra, na Jordânia.
45
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.50.
24
suas principais publicações destaca-se La Formation des communautés religieuses
dans lê monde gréco-romain - 200346.
Este artigo vai tratar da disseminação de vários grupos religiosos na
Palestina durante a época de Jesus. Há a disputa de poder entre as diversas
correntes religiosas, inclusive em Jerusalém. Situação que seria causada pela falta
de uma autoridade religiosa no século I, que fosse reconhecida além do sacerdócio
do Templo de Jerusalém, juntamente com uma relativa liberdade de expressão de
convicções religiosas.
Segundo o autor, o surgimento de grupos religiosos é possível, pois se vivia
na época uma atmosfera agitada de crises sociais endêmicas que favorecem o
surgimento de crenças esperançosas de um futuro melhor. Estas crenças são
marcadas por aspectos apocalípticos e por características proféticas ou
messiânicas. A origem dessas correntes seria explicada por uma explosão de
criatividade reformadora e purificadora em um momento de crise.
Segundo Flávio Josefo, destacariam-se quatro grupos religiosos: os
saduceus e os fariseus (judaísmo majoritário), e os essênios e os zelotas (que
seriam grupos marginais).
Também há o surgimento de grupos com tendências mais proféticas e
messiânicas. Dentre estes, destaca-se o dos discípulos de Jesus de Nazaré, que
formarão uma corrente no seio do judaísmo. A partir desta surgirá ramificações
como os nazoreus, ebionitas e elcasaitas.
A partir da contextualização do surgimento desses grupos, o autor vai
descrevê-los, destacando as idéias que defendem, fatos importantes ligados a eles
e suas peculiaridades. Inicia com a descrição dos saduceus, seguindo com a dos
grupos messiânicos de maneira geral. Depois vai expor os fariseus, seguido dos
essênios. Posteriormente descreve os zelotas e os sicários, e logo após os
nazoreus. Depois faz um apanhado geral sobre os grupos proféticos e sobre os
grupos batistas. Encerra o artigo inserindo Jesus Cristo nesse contexto religioso.
Esse artigo é importante para o tema central da revista, pois vai
contextualizar o aparecimento de Jesus e seus discípulos na Palestina. É um artigo
bem escrito, que além de descrever os grupos religiosos, insere-os em um contexto
46
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.61.
Disponível em: <http://www.editionsducerf.fr/html/fiche/ficheauteur.asp?n_aut=1472>. Acesso em: 10 de
junho de 2005.
25
mais amplo que é analisado, o que garante uma maior consistência ao texto, e não
apenas a exposição de idéias esparsas.
O autor apresenta suas idéias de forma clara e compreensível para um
público mais amplo.
No artigo tem-se a presença de problemáticas contemporâneas, como os
conflitos religiosos que ainda permanecem dois mil anos depois, assim como a
pergunta que inicia o seu artigo “E qual o lugar de Deus em tudo isso?”47.
Quanto às fontes utilizadas, o autor destaca Flávio Josefo em dois livros “A
guerra dos judeus” e em “Antiguidades judaicas”. Este autor é usado em vários
momentos, inclusive para descrever alguns grupos religiosos. Também fala em
fontes cristãs. Faz referência ao Novo Testamento, e expõe as dificuldades em se
encontrar fontes para determinados grupos: “...a documentação disponível é precária e
de difícil avaliação”48. Cita as fontes judaicas e também alguns escritores cristãos,
como Hegesipo (século II) e Epifânio (século IV). Este artigo é, de maneira geral,
bem embasado por fontes, principalmente se comparado com os outros artigos da
revista.
No que tange aos conceitos de História, o autor utiliza o termo “decadente”,
na seguinte passagem: “...em meio de uma sociedade em decomposição e de uma
realidade política e nacional decadentes”49. Este termo pode indicar uma referência à
idéia de tempo cíclico presente na Filosofia da História com caráter laico, pois ao
falar em decadência, indica que já houve um apogeu e que o próximo passo seria o
desaparecimento. Esta idéia é a que nos pareceu mais certa, porém como o autor
descreve o tempo todo no artigo um contexto de crise, este termo pode ser apenas
uma indicação a essa crise e não necessariamente essa sociedade estaria fadada
ao desaparecimento, pois o autor tem uma visão contemporânea e sabe por esta
que não houve o desaparecimento dessa sociedade, pelo contrário, o que houve foi
a expansão das idéias nela desenvolvidas.
Quanto à construção do texto o autor se contradiz, no que se refere ao
judaísmo. Primeiramente inicia expondo a idéia de que o termo judaísmo é
anacrônico para a época. Existiriam diversas correntes judaicas, com peculiaridades
próprias e bem diferentes umas das outras. “Antes do século II de nossa era, o que
chamamos, de modo anacrônico, de judaísmo é uma religião de contornos bem
47
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.52.
48
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.60
49
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.53.
26
diversificados, tanto no plano das crenças como no plano das práticas”50. Porém,
posteriormente no decorrer do texto o autor utiliza-se da expressão “nação
judaica”51. Este termo, além de possivelmente ser anacrônico, pois é discutível a
existência de uma no período; é contraditório, pois possibilita uma unidade com
características complexas ao que o autor expôs como grupos com contornos bem
diversificados.
Existem onze imagens no artigo. Sendo uma, a foto de um documento dos
Manuscritos do Mar Morto, que foram encontrados em 1947 nas cavernas de
Qûmram, Israel. Esta imagem encontra-se acompanhada por uma foto da caverna
mencionada. Há uma foto da Fortaleza de Masada, que foi o último lugar de
resistência dos judeus zelotas ao exército romano e que se localiza na região do
Mar Morto em Israel. Esta foto é um argumento do assunto que está sendo tratado,
e está alocada justamente na parte de descrição desses judeus. Há três pinturas
que são apenas ilustrativas, e não são importantes para a construção do texto. Há
também a imagem de dois mosaicos e do historiador Flavio Josefo. Há uma
iluminura do Manuscrito de Rabanus Maurus, e uma outra do Pentateuco de
Aegensburg, esta última tem ligação com o assunto do texto, porém não é
fundamental a este. De maneira geral os créditos estão corretamente colocados,
com exceção de duas imagens em que há a indicação de que são apenas
reproduções.
50
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.53.
51
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.55.
52
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.63.
27
habitantes de Jerusalém, judeus ou não, sobem ao átrio dos gentios e a busca de
esmolas por parte dos mendigos e doentes.
Passa a realizar uma descrição física/material e ao mesmo tempo
hierárquico-religiosa do Templo ao descrever os diferentes compartimentos do
edifício associando-os às práticas efetuadas e às pessoas autorizadas a entrarem
em cada um. Novamente, neste ponto, a autora deixa de lado a referência à fonte
utilizada; encontra-se apenas uma menção a Flávio Josefo em uma caixa de texto
inserida em uma figura que representa o Templo53.
54
Termina sua “visita” ao Templo e inicia sua apreciação descritiva da figura
que considera mais importante de Israel (religiosa e politicamente falando): o sumo-
sacerdote. Caracteriza Israel como uma teocracia, tendo o sumo-sacerdote como
dirigente e diz que este se eleva sobre as outras pessoas pelo fato de possuir
55
“santidade eterna” ; tal personagem possui tanto poder que, às vezes, ultrapassa
seus direitos ao permitir o comércio no Templo, retirando deste consideráveis
rendimentos.
Esta informação é central na articulação efetuada pela autora, pois é aí que
apresenta sua tese central: Jesus sela sua sentença de morte ao expulsar os
comerciantes do Templo; no entanto, não faz referência nenhuma de onde retira tal
informação. Deste modo podemos dizer que, mesmo havendo citações
referenciadas da Bíblia no decorrer do artigo, não se percebe a utilização de método
historiográfico na elaboração da argumentação.
Ao utilizar relatos bíblicos, embasando-se na linguagem e estrutura destes e
tratando as passagens como verdade, a autora imerge no conceitual religioso
judaico-cristão que possui como cerne o providencialismo. No entanto, ao expor sua
tese, emerge deste conceitual de caráter sagrado/sobrenatural e imerge em outro
de caráter terreno/material, pois a justificativa dada à sentença de morte de Jesus
configura-se por seu caráter político e econômico.
Das figuras utilizadas pode-se depreender que algumas delas possuem
apenas caráter acessório; este é o caso da foto de uma maquete da cidade de
Jerusalém56 e da primeira imagem apresentada no artigo juntamente com seu
título57. Contudo existem figuras que elucidam a “fala” da autora, como é o caso dos
53
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.64 e 65.
54
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.66.
55
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.66.
56
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.68.
57
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.62 e 63.
28
desenhos que simulam o Templo58, da pintura que representa um sumo sacerdote59
(que elucida, através de sua vestimenta, sua pompa e poder) e da figura que
representa a cena da expulsão dos mercadores por Jesus60.
À exceção de um desenho, todas as imagens encontram-se com seus
créditos, mesmo sendo estes, às vezes, vagos. Isto mostra a preocupação da
publicação em se mostrar ao público como instrumento de divulgação científica.
É interessante ressaltar também a disposição das figuras nas páginas
destinadas ao artigo. A primeira pintura, que ocupa um grande espaço e acima
considerada acessória, possui uma posição de destaque, já a pintura representando
a cena da expulsão, que ocupa um quarto de página, encontra-se no final do artigo
ao passo que a autora apresenta a idéia que se relaciona com tal figura numa parte
mais intermediária do texto. Essa aparente inversão da importância dada às figuras
pode ser esclarecida ao se ver tais figuras: a primeira prende mais a atenção do
leitor por suas cores e detalhes.
A presença de cronologia e glossário no artigo imprime um caráter didático à
revista, ou pelo menos deveria imprimir, pois a eficácia destes pode ser
questionada. Quanto à cronologia, pode-se dizer que é eficaz no que concerne às
informações passadas, mas deixa a desejar quanto à sua localização no artigo; já
em relação ao glossário o que se depreende é que deixa de citar e explicar palavras
que não são de grande conhecimento como, por exemplo: siclos, abluções,
dracmas.
Podemos então concluir que tal artigo não corresponde às expectativas de
um leitor que, ao se basear nas palavras da editora-chefe da publicação, busca um
trabalho científico. A inexistência de uma bibliografia, a falta de referência a uma
figura e falta de precisão em outras, a desconexão entre os componentes do artigo
(texto, figuras, glossário, cronologia) são fatores que dão base a tal idéia.
58
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.64, 65 e
67.
59
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.66.
60
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.69.
29
“As seguidoras do profeta”
Por Hélène Cillières, traduzido por Alexandre Massella (p. 70-75).
30
que nos cria a dúvida quanto ao real conhecimento dessas primeiras por parte da
autora.
No que tange às imagens utilizadas, a análise que foi realizada nos levou à
seguinte reflexão: qual a possibilidade do uso de algumas imagens apenas como
recurso de diagramação (no sentido de se utilizar as figuras, pelo menos algumas
delas, como instrumento para ocupação de espaços)? Podemos chegar a esta
questão observando algumas características pertinentes às figuras: a localização e
a ordem na qual tais encontram-se no artigo não coincide com o trecho do texto ao
qual se associa; existe também a repetição de uma imagem através da
representação de um detalhe desta em outra página63; além do tamanho da maioria
das imagens as quais ocupam meia, uma e até uma e meia página.
Uma última questão que pode ser levantada a respeito deste artigo gira em
torno do tema deste. O tema refere-se à condição feminina e ao iniciar seu texto a
autora nos relata a controvérsia que este tema causa entre os especialistas desde o
final do século XIX. Isto nos serve como exemplo a duas afirmativas habituais entre
os historiadores: a primeira refere-se à influência que o presente do historiador
exerce sobre seu foco/objeto no passado, já que é no começo do século XX que o
movimento feminista toma força na sociedade ocidental e que atualmente a questão
da condição feminina está novamente em voga; e a segunda concerne ao raciocínio
da História, já que a existência da controvérsia sobre o tema nos mostra que na
História não existem verdades, mas sim procedimentos/formas de se trabalhar o
passado resultando na presença de diferentes visões sobre o mesmo tema.
63
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.72 e 74.
Na pág. 72 encontra-se um detalhe de A subida ao Calvário, óleo sobre tela de Jacopo Bassano e na pág.
74 existe um detalhe maior da mesma pintura.
64
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.46-51
31
A proposta do artigo é descrever a cidade de Jerusalém durante as
festividades da Páscoa judaica: o Pessach. Inicia relatando a importância de tal
festa na vida dos judeus, o significante papel que a cidade de Jerusalém possui
durante tal festa pelo fato de ser o local de concentração de dezenas de milhares de
peregrinos65 e as condições enfrentadas por estes peregrinos durante os sete dias
de festa.
66
Relata as condições “urbanísticas” da cidade. Então passa a descrever as
67
habitações da “cidade popular” e as da “classe média” , o local dedicado ao
comércio em volta da fortaleza Antônio, além do local onde vive a “alta sociedade
civil e religiosa". Passa então a uma descrição dos rituais realizados durante as
festividades, fornecendo a significação de alguns deles; diz que a preparação de
tais rituais é feita com antecedência de semanas. Termina o artigo expondo a
significação de tal festa ao povo judeu.
A minuciosa descrição, em diferentes aspectos, da cidade de Jerusalém
elaborada por Richard Lebeau, remete-nos a um ramo da História característico da
corrente historiográfica dos Annalles, o que busca realizar uma história do cotidiano;
contudo através do tempo verbal utilizado pelo autor em seu relato, podemos dizer
que parece realizar uma prática comum entre os historiadores da escola metódica
do século XIX. Portanto, sua posição no respeitante à corrente historiográfica não
nos fica clara.
O autor não se utiliza de citações ou referências. Isso se configura em grave
falta, do ponto de vista metodológico, ao se tratar de um texto descritivo, ou seja,
um texto recheado de informações. Um especialista pode até reconhecer as fontes
ou bibliografia utilizada por Lebeau, mas e quanto ao leigo? E se esse duvidar da
veracidade das minúcias apresentadas?
A presença de uma ilustração representando a cidade de Jerusalém no
século I68 imprime um caráter didático importante. Ao menos deveria, pois se
observa alguns desencontros entre o descrito pelo autor e o representado na figura.
Eis dois exemplos: no texto temos: “... cidade popular, construída sem grandes
cuidados urbanísticos. (...) As casas se encavalam...” 69 e “As ruas tortuosas da cidade
65
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.76.
66
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.79.
67
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.79.
68
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.80 e 81.
69
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.79.
32
descem para o Templo...” 70 enquanto que o desenho concebe uma organização entre
as casas e ruas retas em direção ao Templo.
Outro desencontro entre texto e desenho (que, por sinal, é o mesmo acima
71
mencionado) refere-se à grafia do nome de um local da cidade de Jerusalém: a
fortaleza Antônio. Tal desenho apresenta o local como fortaleza Antonia mesmo que
o texto ofereça o nome desta da forma como grafada antes (acima). Não se pode
excluir a possibilidade de que tal fortaleza possa ser chamada dos dois modos
apresentados, contudo essa possibilidade deveria encontrar-se registrada, no intuito
de não promover dúvidas ou conflitos.
Em relação às demais figuras pode-se dizer que estas apresentam uma
característica em comum: seu caráter anódino. A representação de A páscoa na
72
Sagrada Família de Dante Gabriel Rossetti possui uma relação com o tema da
revista, porém ao artigo específico não, já que não há referência a Jesus, nem à sua
família, durante o transcorrer da descrição.
Enfim, a análise de tal artigo nos leva à conclusão de que seu autor, o
historiador Richard Lebeau, mostra-se um grande exemplo da idéia transmitida por
Langlois e Seignobos ao escreverem que “Devemos ler os trabalhos dos historiadores
73
com as mesmas precauções críticas de que nos cercamos quando lemos documentos ”.
70
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.80.
71
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.80 e 81.
A Jerusalém do século I, ilustração de Krika.
72
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.83.
73
Ch. V. Langlois, Ch. Seignobos, Introdução aos estudos históricos. São Paulo: Ed. Renascença, 1946,
p. 161.
33
Começa argumentando o fato que o processo romano constituía-se de três
pessoas envolvidas: o acusador, o acusado e o juiz (os anciões representando a
mora, Jesus e Pôncio Pilatos). O agravante no caso de Jesus era o fato de ele
pertencer a uma categoria que não detinha o privilégio da cidadania romana, a
categoria de peregrino, o que não o permite apelar da sentença.
De acordo com as leis romanas, é necessária a presença do acusado perante
o juiz para que ele possa tomar conhecimento do julgamento e, em caso de
necessidade, é requisitada o envio de soldados ou de uma milícia para forçá-lo a
estar no tribunal ou, em caso de ausência do acusado, reconhecer a culpa e ser
condenado. Conforme descrito na Bíblia, Jesus foi capturado pelos homens dos
sumos sacerdotes para então ser levado ao oficial romano.
Como Pilatos era a principal autoridade romana na cidade, o processo judicial
de Jesus foi classificado como “extraordinário” porque Pilatos era a pessoa que
tanto julgava quanto sentenciava, diferentemente de Roma, no qual o processo era
classificado como “formular” justamente por existir a presença de um magistrado
que redigiria o processo (a fórmula) ouvindo as duas partes para depois encaminhar
essas anotações a um corpo de juizes que fariam o julgamento.
Para que o processo de acusação de Jesus chegasse ao governador e,
portanto, o único com o poder para sentenciar à morte, era necessário uma
acusação grave de afronta ao império, no caso, o argumento que ele teria se
declarado rei dos judeus. Como o acusado manteve-se em silêncio restou ao juiz
condená-lo à morte. Como enfatiza o autor, Jesus, não dispondo de recursos para
pagar um advogado que o defendesse, pertencendo à categoria de peregrino e
mantendo-se mudo durante o processo, teve um processo justo conforme o direito
romano.
Infelizmente o autor menciona apenas trechos da Bíblia e não menciona a
fonte que utilizou para argumentar o seu texto e a matéria também não proporciona
uma bibliografia sobre o direito romano.
A matéria é apresentada com material iconográfico de acordo com o tema
abordado (a acusação de Jesus), tendo os nomes das obras descritos assim como
os devidos créditos. Um pequeno glossário ao final é apresentado assim como um
box, no meio do artigo, mencionando os tipos de castigos que poderiam ser
impostos conforme a categoria social do acusado.
34
Para o público geral a matéria traz informações adicionais quanto à advocacia
e o processo de julgamento e suas variantes, se caracterizando por dar uma
conotação mais jurídica do que parcial ao julgamento de Jesus como a que é
apresentada pela Bíblia mas, para um público que desejasse se informar mais a
respeito, carece de informações básicas anteriormente mencionadas.
35
encontravam trancados e com medo numa sala, assim como retornara do reino dos
mortos.
Texto curto fechando a revista e a saga de Jesus, com iconografia referente ao
assunto tratado devidamente creditada e de acordo com o tema. Glossário ao final
abordando apenas duas localizações.
A matéria procura apresentar as diferentes versões sobre a ressurreição
apenas baseada nos evangelhos, cabendo à pessoa que se interesse pelo assunto
procurar por fontes que relacione algum fato estranho que tenha ocorrido no
domingo de páscoa e, justamente por carecer de um relato mais fidedigno, ficando
mais no campo da crença do que do empírico. Única matéria na revista cuja
explicação fica embasada em conceitos abstratos (fé) explicados pelo teólogo sem
nenhum embasamento arqueológico ou até mesmo documental a respeito de tal
acontecimento, cabendo ao leitor simplesmente aceitar ou não o que está escrito na
Bíblia. Além disso, fica faltando uma análise sobre Jesus do ponto de vista dos
judeus, de acordo com fontes da época ou, seguindo o enfoque que a revista
preferiu dar ao assunto, uma matéria escrita por um judeu sobre esse tema.
36
CONCLUSÃO
74
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.23.
75
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.43.
37
composição, verificamos a excessiva utilização de método descritivo que nem
sempre apresenta-se proporcionalmente aliado à análise.
Problemas quanto a anacronismo, mesmo que em menor medida, são
também encontrados na utilização dos seguintes termos: identidade nacional76,
Inglaterra77, entre outros.
A falta de rigor metodológico pode ser depreendida da presença, entre os
autores, de muitos especialistas de áreas diversas que não a História. De quatorze
artigos, apenas cinco são redigidos por historiadores (dos quais dois possuem o
mesmo autor); os nove restantes são de autoria de biblistas, teólogos, jornalistas,
mestres de conferências, etc. A partir desta constatação torna-se mais
compreensível a não-utilização de conceitos estritamente historiográficos e o fato de
Teorias de História serem praticamente inexistentes ou quase imperceptíveis.
Deslocando-nos dos aspectos textuais em direção a esferas mais amplas,
deparamo-nos com a temática que, de certa forma, aborda assuntos em voga
atualmente, tais quais os relativos à história da família ou mesmo da condição
feminina na sociedade. Num certo sentido, este fato nos remete a avaliação de
quanto o presente influencia o historiador em sua análise do passado, direcionando-
o a determinados objetos/temas que se encontram patentes em sua vida
contemporânea.
A publicação esforça-se em alocar os artigos segundo uma ordem
cronológica da vida de Jesus, sem deixar de vislumbrar o contexto histórico a ele
correspondente. Há, inclusive, a existência de um artigo78 que talvez tenha por fim
encadear todos os demais; apresenta-se estruturado em forma de perguntas e
respostas (verdadeiro ou falso) vinculadas aos temas posteriormente tratados. Isto
talvez se insira no bojo de um esforço didático da revista da qual também faz parte
os Glossários (mesmo que estes não elucidem todas as questões), cronologias,
quadros de destaque e a indicação de livros, apresentada ao final. Quanto a esta,
não nos é possível perceber o quanto se vincula a bibliografia utilizada ao longo da
revista, na medida em que é elaborada por Luthero Maynard (editor) e Nicolas Farfel
(editor-assistente), ambos pertencentes à redação da publicação brasileira. Tal
seção possui mais um caráter de “saiba mais” do que de referências stricto senso.
76
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.69.
77
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.44.
78
HISTÓRIA VIVA – GRANDES TEMAS. São Paulo: Duetto Editorial, nº 1, dezembro 2003. p.8 e 9.
38
Centrando-nos nos aspectos visuais do trabalho, concluímos que boa parte
da iconografia visa menos elucidar aspectos do texto79 que chamar a atenção do
público leitor ou mesmo ocupar espaço. Seguindo o padrão já determinado pela
revista e mencionado por Miriam Ibañez, grande parte das iconografias é de autoria
de pintores famosos que retrataram a época em questão. As fotografias utilizadas
provêm de uma empresa especializada na venda de fotos para publicidade em
geral80; quanto à aclimatação dos artigos, num sentido cromático, é interessante
notar a intencionalidade pejorativa no que tange aos romanos: são as únicas duas
vezes em que a cor preta é utilizada.
Também nos foi afirmado por Miriam que o trabalho iconográfico da edição
brasileira independe da francesa; quanto a isto nos foi possível averiguar, por meio
e consulta ao site desta publicação81 que a edição brasileira utiliza-se de algumas
poucas imagens as quais simplifica.
Segundo Ibañez no contrato firmado com a revista francesa estabelece-se a
reprodução de um número mínimo de matérias daquela revista, o que não justifica a
reprodução total presente na revista analisada sendo isso constatado por meio da
dita consulta ao site francês.
A reprodução de artigos franceses requer um trabalho de tradução, o qual
segundo Ibañez é realizado não por historiadores, mas por profissionais com
formação em Letras “conhecedores” da história. A mesma afirmara ser o conteúdo
da matéria, por vezes sujeito a cortes e, a despeito da mesma garantir que a idéia
geral não seja prejudicada, isto nos faz questionar a qualidade de tal material.
Também nos foi possível averiguar um certo esforço da edição de não tratar
o assunto de forma polêmica, certamente no intuito de abarcar um público amplo, já
que não ofenderia a crença dos religiosos e da mesma forma não deixaria de
contemplar as expectativas dos demais, depreendendo-se então, a importância da
questão de mercado na confecção de tais publicações. Não devemos esquecer que
este tipo de material visa mais retorno financeiro do que propriamente um
comprometimento educacional-científico.
Neste âmbito, cabe a análise da proposta da edição pela busca do Jesus
histórico. Ou seja, inserido numa história documentada, atestada também por
79
Que seria, segundo Miriam, um dos critérios para a seleção das imagens.
80
Após uma busca virtual foi encontrado o site de tal empresa. Trata-se de uma empresa brasileira
especializada nesse tipo de trabalho. Disponível em: <www.stockphotos.com.br>. Acessado em: 09 de
maio de 2005.
81
Disponível em: <www.historia.presse.fr> . Acessado em: 02 de junho de 2005.
39
escritos não-bíblicos, o que resulta em uma certa desmistificação de sua figura
através da comprovação de sua existência. A temática da revista apresenta-se
como “uma faca de dois gumes” visto que, ao mesmo tempo em que poderia negar
a figura religiosa de Cristo ao retirá-lo de sua aura divina, fortalece o mesmo pois
comprova a sua realidade e ao humanizá-lo torna-o mais próximo e crível.
Este tema religioso pode ser explicado pelo contexto em que se encontra
inserido. Contexto este de reflexão e questionamento da fé católica. O catolicismo
vem sendo abalado pelo fortalecimento de outras religiões e o aumento do ateísmo.
O fortalecimento de tal temática religiosa pode ser averiguado pela enorme
afluência de publicações em torno deste tema.
Os últimos elementos analisados são a capa e as propagandas da revista.
Estas últimas restringem-se à própria Duetto Editorial; divulgam as demais revistas
por ela então publicadas, mais precisamente a primeira linha dessas publicações
(“História Viva”, “Scientific American”, “Ensino Superior” e “Bravo”). Quanto à capa
percebemos a preocupação de apresentar, em poucos tópicos, todo o assunto
presente na revista; um desses tópicos chamou, especialmente, a nossa atenção
por possuir caráter apelativo ao sugerir a solução de “pontos obscuros”,
despertando desta forma a curiosidade do leitor. A foto apresentada destoa, de
certa forma, da proposta da revista ao passo que nos fornece uma imagem de
Cristo mais ligada ao mito (uma das passagens mais marcantes de sua trajetória: o
Calvário) do que ao homem. Quanto ao aspecto físico deste homem, existe uma
maior aproximação do europeu (visão idealizada e mais tradicional) do que do
asiático.
É importante ressaltar que as críticas tecidas foram, sobretudo, motivadas
pela afirmação da editora-chefe de que tal material era de viés científico; afinal não
podemos considerar, em vista das demais presentes no mercado, tal publicação
ruim. A despeito de não alcançar um método historiográfico, há certa preocupação
estrutural na revista, perceptível pela inclusão dos créditos das imagens (mesmo
que não em todas), dos autores e também pelo esforço didático (mesmo que não
eficaz).
Portanto concluímos que o material analisado pode ser situado em um nível
intermediário: não atinge em sua plenitude um público acadêmico/científico, da
mesma forma que não contempla um público mais leigo.
40
REFERÊNCIAS
Bibliográficas
41
<http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/celso.htm>. Acesso em: 10 de junho
de 2005.
<http://www.editionsducerf.fr/html/fiche/ficheauteur.asp?n_aut=1472>. Acesso
em: 10 de junho de 2005.
42
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
24 de Junho de 2005
ÍNDICE
TEORIA DA HISTÓRIA I 2
INTRODUÇÃO
TEORIA DA HISTÓRIA I 3
O segundo aspecto aborda a publicação de uma perspectiva mais interna à
seu projeto editorial, ou seja, as várias características no que se refere a essa
revista, tais como a estrutura editorial, a forma de como são abordados os
assuntos, em que se baseia a pauta, informações técnicas e a sua visão
historiográfica -- e como esta se relacionam com o seu público-alvo. A missão da
publicação e o seu resultado, tanto pelo conteúdo quanto através da estética,
serão também tema de análise deste trabalho. A análise dos autores e dos vários
membros que compõem a operação da publicação – editor, conselho editorial e
colaboradores – tem o objetivo de trazer à luz esses conceitos no
desenvolvimento editorial da revista e de seus preceitos.
HISTÓRIA
TEORIA DA HISTÓRIA I 4
No caso da BBC, a carta de patente real tem uma validade de 10 anos,
podendo ser renovada indefinidamente. A atual carta data vale de 1996 a 2006.
O estatuto incluso no texto desta carta dá à BBC o seu caráter de rede pública de
mídia e afirma a sua independência editorial, aspecto este que será abordado
mais adiante.
1
http://www.bbc.co.uk/heritage/story/1940s2.shtml
TEORIA DA HISTÓRIA I 5
atualmente existentes, cada um com suas regulamentações, formas de operação
e responsabilidades distintas.
O modelo de transmissão pública, como forma geral, conta com uma fonte
de receitas fixa através de doações ou taxas de indivíduos, ou através de
subsídios estatais. No caso da rede britânica, a forma de obtenção de receitas é
através de uma taxa de licenciamento de TV, no valor de 9,67 libras esterlinas2
para cada proprietário de um televisor no Reino Unido, totalizando 126,50 libras
anuais3. A decisão desse valor da licença fica a cargo da Secretaria de Estado
para a Cultura britânico e realizado operacionalmente por uma organização local
no Reino Unido chamada TV Licensing ®, que além de fazer a coleta dessa taxa,
promove a orientação pública sobre a importância da compra de uma licença de
TV e de sua importância pela natureza pública desta rede através de campanhas4.
Tudo isso permite que a BBC mantenha sua independência política, de acionistas
e influências comerciais.
2
http://www.bbc.co.uk/info/licencefee/. Dados de 2003/2004.
3
Para as televisões em preto-e-branco o valor é de £42. Não há licenciamento para rádio.
4
Para maiores informações em como funciona esse licenciamento e suas campanhas de conscientização
popular da TV pública, consultar http://www.tvlicensing.co.uk/aboutus/index.jsp
TEORIA DA HISTÓRIA I 6
BBC : ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
• Televisão
• Rádio e Música
• Notícias
• Nações e Regiões (programação local)
• Esportes
• Educação e Aprendizado
5
BBC Annual Report 2003/2004.
TEORIA DA HISTÓRIA I 7
• Drama, Entretenimento e Conteúdo Infantil
• Tecnologia e novas mídias
• Serviço Mundial BBC (BBC World Service).
6
O sítio Internet da subsidiária está no endereço http://www.bbcworldwide.com
TEORIA DA HISTÓRIA I 8
O MERCADO EDITORIAL E A PRODUÇÃO EDITORIAL DA BBC
7
Publishing in The Knowledge Economy. Competitiveness analysis of the UK publishing media sector.
Publicado pela Periodical Publishers Association no Reino Unido. Pg. 2
8
HERMAN, Edward S. CHOMSKY, Noam. Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass
Media. New York. Pantheon Books, 1998 Pg. XV (Introduction).
TEORIA DA HISTÓRIA I 9
Outro debate, esse de caráter mais sociológico-político, na relação deste
mercado editorial com a concentração de mídia e seus impactos na sociedade. O
que tem gerado diversas opiniões, prós e contras a este processo. “Esta
tendência a uma grande concentração de mídia nos mercados tem se acelerado
pelo afrouxamento de regras limitando a concentração de mídia, propriedade-
cruzada, e controle por companhias não associadas a este mercado. Há também
um abandono de restrições comerciais, programação e acordos de ‘conduta
justa’”9.
MERCADO DE PERIÓDICOS
9
HERMAN, Edward S. CHOMSKY, Noam. Ibid. Pg. 8
10
O sítio Internet do departamento é www.culture.gov.br
11
Office Of National Statistics. The Official Yearbook of The United Kingdom of Great Britain and Northern
Ireland. Published by the Office for National Statistics. Disponível no sítio Internet www.statistics.gov.uk.
TEORIA DA HISTÓRIA I 10
GRÁFICO 1: CONSUMO DE MÍDIA ENTRE OS DIFERENTES TIPOS, EM SUA
ABRANGÊNCIA NO CONJUNTO DA POPULAÇÃO.
Consumo de Mídia
TELEVISAO 97%
JORNAIS 83%
REVISTAS 83%
12
Dados obtidos a partir do sítio Internet http://www.bbcworldwide.com/bus/mags/default.htm
TEORIA DA HISTÓRIA I 11
exemplo; revistas para faixas etárias específicas e também complementares à
programação da TV.
13
O sítio Internet da organização é http://www.abc.org.uk/. Fundada em 14/03/1931, provém informação
independente sobre circulação e é governada por um conselho de representantes eleitos e representativos de
agencias de publicidade, proprietários de mídia e organizações de comércio do setor.
TEORIA DA HISTÓRIA I 12
A ANÁLISE DA PUBLICAÇÃO BBC HISTORY MAGAZINE
Com o foco agora no título para o presente trabalho, a abordagem será feita
em duas partes: na primeira, serão analisadas as formas de como a revista se
apresenta para o leitor, o seu projeto editorial e gráfico, a forma como ela está
estruturada nos seus aspectos editoriais (manchetes, artigos, colunas, etc.) e
também identificar os colaboradores, editores e o conselho editorial da
publicação. Em uma segunda parte, o conteúdo será analisado do ponto de vista
historiográfico e acadêmico, procurando identificar as formas de abordagem dos
assuntos históricos, as linhas de pesquisa e de abordagem dos colaboradores e
do conselho editorial da revista.
Capa da Edi;áo de
Julho de 2004
Capa da Edição de
Janeiro de 2005
14
Todas as imagens de capas foram obtidas em http://www.bbchistorymagazine.com/
TEORIA DA HISTÓRIA I 13
PARTE 1: ANÁLISE ESTRUTURAL DA PUBLICAÇÃO
A MISSÃO DA PUBLICAÇÃO
TEORIA DA HISTÓRIA I 14
Dra. PADMA ANAGOL
Professora de História Moderna da Universidade do País de Gales
TEORIA DA HISTÓRIA I 15
Prof. KENNETH O MORGAN
Professor de História Moderna Britânica da Universidade de Oxford
LAURENCE REES
Diretor artístico, BBC History
JULIAN RICHARDS
Arqueologista de produtora de documentários
DR SIMON THURLEY
Executivo chefe da English Heritage (órgão de preservação do patrimônio inglês)
MICHAEL WOOD
Historiador e produtor
Com isso, o conselho editorial divide-se em vinte pessoas vindas das áreas
acadêmicas, três da área editorial e uma pessoa vinda da área pública de cultura.
Em adição a este quadro de conselheiros editoriais há também os editores
executivos, responsáveis por selecionar e assinar a publicação.
O PROJETO EDITORIAL
TEORIA DA HISTÓRIA I 16
sobre determinado assunto, os lugares (museus, cenários históricos) onde e
podem encontrar referências ao assunto abordado e a publicação de notas fixas,
como a agenda de exposições.
TEORIA DA HISTÓRIA I 17
páginas mostra não uma seqüência, mas sim uma alternância entre as seções.
Como exemplo disso, é comum, por exemplo, uma coluna regular ser
apresentada entre uma matéria de destaque e outra.
AS MATÉRIAS DE DESTAQUE
15
Autor de Elvis: the Numer Ones. The Secret History of the Classics (Vintage, 2002).
16
Professor de História na Universidade de Londres.
17
Escreve sobre política e cultura em diversas publicações indianas e britânicas.
18
Professor de História Financeira na Escola de Negócios Stern.
TEORIA DA HISTÓRIA I 18
“UMA CARIDADE CAVALHEIRA” (A GENTLEMAN’S CHARITY): GILLIAN
WAGNER19 biografa a vida de Thomas Coram, um filantropo inglês do século XIX,
em vista de uma exposição com seus pertences.
19
Autor de Tomas Coram, Gentleman (Boydell, 2004).
20
Ensina sobre Política e Governo norte-americano na Universidade Brunel.
21
Advogada constitucional, escreve sobre o oriente médio para publicações de governo.
22
Produtor da série de TV Auschwitz: The Nazis and the “Final Solution” e autor do livro de mesmo nome.
23
Autor de The Hitler Emigres: The Cultural Impact on Britain of Refugees from Nazism.
24
Curadora da exposição “Hazard! Health in Workplace over 200 years”, realizado entre Janeiro e Julho de
2005 em Manchester, Reino Unido (People’s History Museum).
25
Autor de Rubicon: The Triumph and Tragedy of the Roman Republic.
26
Editor da BBC History Magazine.
TEORIA DA HISTÓRIA I 19
“HISTÓRIA EM FILME” (HISTORY ON FILM): HUGO DAVENPORT27 apresenta
os argumentos e os desafios de vários diretores e historiadores na produção de
filmes historiográficos.
O CONTEÚDO COMPLEMENTAR
27
Crítico de cinema britânico e autor de Days That Shook the World (BBC Books, 2003).
28
Autor de Bosworth 1485, Psychology of a Battle (Tempus, 2002).
29
Historiador, escreveu uma bibliografia do coronel Thomas Blood.
30
Autora de livros que relatam os esportes e recreações, como England’s Revelry: A History of Popular
Sports and Pastimes, 1660-1830.
TEORIA DA HISTÓRIA I 20
Três formas importantes são objetivas a essa missão:
a. A divulgação de exibições;
c. Os roteiros históricos.
A segunda parte dessa análise editorial da BBC History Magazine foca nas
formas em como a revista explica história e quais são as referências
historiográficas dentro do conteúdo textual e gráfico da revista. Também são
explicados as formas de inclusão do seu leitor com os lugares, documentos, e
outras formas de se interagir com material Histórico.
Nota-se que, por ser uma publicação inglesa, ela sempre balanceará o
conteúdo entre temas locais – história do Reino Unido ou de seus estados
(Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte) – e temas de História
Geral.
TEORIA DA HISTÓRIA I 21
entre a especificidade de cada historiografia existente nos países que compõem o
Reino Unido, bem como uma história que retrata o Reino Unido como um
conjunto unificado, com uma razão nacional britânica. Isso representa, num
primeiro plano, a divisão espacial da historiografia. Já na divisão temporal, a
periodização leva em consideração dois aspectos: um primeiro, que remete às
ocupações que estiveram presentes nas ilhas britânicas, até o período medieval e
esta divisão serve como uma distinção entre esse primeiro período, na qual a
formação nacional ainda é difusa e de certo modo não existe uma identidade
britânica de fato, e um posterior momento, na qual a sucessão dinástica dos
reinantes determinou as fases de estudo historiográficas. Há de se observar que
não há, nessa periodização, qualquer indicação necessariamente de unificação
britânica, sendo que em determinados momentos há uma divisão clara entre, por
exemplo, a História Escocesa e a História Inglesa, e em outros momentos há uma
história do Reino Unido como unidade.
• Romano (43-410)
• Anglo-Saxão (440-850)
• Normandos (1066-1216)
• Medieval (1216-1485)
• Moderno (1901-Presente)
TEORIA DA HISTÓRIA I 22
para cada edição, as sugestões apresentadas e as suas respectivas referências
nessa periodização:
TEORIA DA HISTÓRIA I 23
EDIÇÃO de JULHO DE 2004:
TEORIA DA HISTÓRIA I 24
EXEMPLO: ANÁLISE DE HISTÓRIA EM PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS
• “Os Amores de Henrique VIII” - The Private Life of Henry VIII (1933)
TEORIA DA HISTÓRIA I 25
• Richard Holmes, professor de estudos militares e de segurança,
Cranfield University – “As pessoas tendem a acreditar no que elas
vêem na tela”.
TEORIA DA HISTÓRIA I 26
Dr. Padma Anagol
Professora de História Moderna da Universidade do País de Gales
Seus trabalhos são sobre Reino Unido, Irlanda, América e Austrália; Histórias
militares, sociais; História do corpo, história das emoções.
Trabalha com a história dos Estados Unidos na era do início republicano e guerra
civil. Tem particular interesse no lugar do evangelho protestante na construção
da nação durante o século XIX. Completou recentemente uma biografia política
de Abraham Lincoln.
TEORIA DA HISTÓRIA I 27
Prof. Barry Coward
Professor de história política e social britânica da Birkbeck College
TEORIA DA HISTÓRIA I 28
Prof Rab Houston
Professor de História Moderna da Universidade de St. Andrews
Ensino e pesquisa voltados para a Inglaterra e França, dos séculos IX até o século
XIII, em particular nos campos de direito, senhorio e literatura. Também ensina
sobre a história cultural e intelectual deste período e outras áreas de
especialização são a história escrita e os estudos do final do século XIX sobre a
Inglaterra Medieval.
TEORIA DA HISTÓRIA I 29
Dr Peter Jones
Professor de Filosofia Política da Universidade de Newscastle
Autor de This Sceptred Isle, que ganhou vários prêmios e que cobria a história
britânica dos romanos ao período vitoriano, tem em suas linhas de pesquisa a
história militar e britânica, principalmente do período contemporâneo.
TEORIA DA HISTÓRIA I 30
Prof. John Morrill
Professor de História Britânica e Irlandesa da Universidade de Cambridge
Sítio Internet:
http://www.hist.cam.ac.uk/academic_staff/further_details/morrill.html
Suas obras versam principalmente sobre a história do País de Gales. Editou Wales
1880-1980, Rebirth of a Nation (Oxford University Press, 1981), entre outros.
Sítio Internet:
http://users.comlab.ox.ac.uk/geraint.jones/about.welsh/books.html
Dr Lisa Nevett
Pesquisadora de Arte Clássica e Arqueologia da Open University
Seus interesses são sobre a arte e a arqueologia das residências da Grécia antiga
e de Roma; arquitetura antiga e espaço social; cultura material como fonte de
história social. Dentre as publicações, inclui: House and Society in the Ancient
Greek World (CUP, 1999).
TEORIA DA HISTÓRIA I 31
Prof. Martin Pugh
Professor e pesquisador de História da Liverpool John Moores University
Atualmente ensina sobre a cultura visual britânica (de 1945 até hoje), Mas tem
pesquisas realizadas na área de arte holandesa do século XVII, política francesa
do século XVIII, arte francesa do século XVIII. Cultura visual do Reino Unido
entre os séculos XVI e XX. Publicou uma famosa obra sobre a história britânica
intitulada A History of Britain (triologia).
Sítio Internet:
http://www.columbia.edu/cu/arthistory/html/dept_faculty_schama.html
TEORIA DA HISTÓRIA I 32
CONCLUSÃO
TEORIA DA HISTÓRIA I 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Office for National Statistics. The Official Yearbook of The United Kingdom of Great
Britain and Northern Ireland.
DAVENPORT, Hugo. "Imagining the Past". Artigo de BBC History Magazine. Origin
Publishing/BBC, Reino Unido, ed. Janeiro/2005.
TEORIA DA HISTÓRIA I 34
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS
HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
ANÁLISE:
REVISTA
H ISTÓRIA
AVENTURAS NA
Disciplina
: Teoria da História I
Profa : Raquel Glezer
Alunas : Andréa Santos da Silva
No USP : 4931660 (História)
: Marta Rocha Santos
No USP : 3174261 (Ciências Sociais)
PERIODO : Noturno
DATA : 01/07/2005
A partir da proposta deste trabalho, analisamos a revista Aventuras na História, da
Editora Abril, e duas reportagens sobre lideres políticos polêmicos que foram objeto de
matéria de capa da revista – Getulio Vargas e Hitler, tendo como objetivo definir a relevância
da publicação.
A Aventuras na História surgiu como uma publicação especial de uma outra revista da
Editora Abril, a Superinteressante, para depois, devido sua boa aceitação, tornar-se uma
publicação independente.
2
A Aventuras na História foi lançada em julho de 2003 como publicação especial da
Superinteressante. Nasceu da constatação de que as matérias com abordagem histórica
publicadas na Super faziam sucesso – três delas estão entre as dez capas mais vendidas em
dezesseis anos da revista. Devido à boa aceitação, tornou-se mensal em novembro do mesmo
ano – até ali não havia periodicidade determinada, nem a certeza da continuidade da revista, o
que só ocorreu em abril de 2004, quando deixou de ser considerada “edição especial”. Hoje a
Aventuras na História é a revista mais vendida sobre o assunto, dentre várias lançadas no
mesmo período – Nossa História, História Viva, etc.
Corpo Editorial: A revista mantém praticamente o mesmo corpo editorial desde o seu
lançamento, a maior parte saído da Superinteressante e de outras revistas da “familia”. Não
há historiadores na equipe, e a maioria das matérias é redigida por jornalistas. Eventualmente
historiadores, antropólogos, sociólogos, médicos, etc, são convidados a escreverem para a
revista.
Projeto Gráfico: Assim como a Superinteressante, ou ainda mais, o forte da revista são as
imagens e os infográficos, algumas vezes mais importante que os textos. Utiliza poucas
fotografias, pautando-se principalmente em desenhos, ilustrações, montagens e nos já citados
infográficos. Todas as imagens publicadas na revista têm crédito.
Textos: Os textos das matérias são claros e ágeis; utilizam uma linguagem coloquial,
algumas vezes exagerando no uso de gírias. A revista não tem por regra aprofundar-se no
assunto, tendo por prioridade apenas manter-se interessante e instigante, muitas vezes
mostrando o lado “divertido” da história. Quem espera encontrar reportagens profundas e
informações relevantes vai se decepcionar, mas para a maioria dos leitores a abordagem
superficial dos assuntos parece ser suficiente.
Fontes: No final de cada matéria há uma seção intitulada “saiba mais”, com indicação de
livros e sites, porém não fica claro se essas indicações foram usadas como fontes para as
matérias. Tentamos obter informações sobre isso através de e-mail, mas não tivemos
resposta. De qualquer forma pudemos observar que nem sempre as fontes citadas durante as
matérias aparecem no “saiba mais”, enquanto outras que ali estão não recebem nenhuma
citação; assim, supomos que a revista não dá muita importância ao crédito das fontes
utilizadas. A dúvida que persiste é sobre a qualidade dessas fontes.
Seções: Desde seu lançamento a revista passa por mudanças constantes em suas seções,
sempre mantendo as mesmas 66 páginas. Todo mês traz alguma alteração seja a exclusão de
alguma seção ou a inclusão de outra, o que demonstra que o projeto ainda não esta totalmente
acabado. O índice divide a revista em duas partes; reportagens (chamada de pergaminhos) e
seções (alfarrábios). Entre as reportagens, do primeiro número só restam as seções “Terra
Brasilis”, sobre historia do Brasil, e “Grandes Momentos”, com grandes acontecimentos
históricos, apesar das outras seções não terem mudado muito – saíram “Enigmas”,
“Civilizações”, “Personagens” e “História da Ciência” e entraram “Foto-História”, “Anais da
Ciência” e “Obra-Prima”. Algumas seções como “Galeria”, sobre historia da arte, são
publicadas esporadicamente. As seções propriamente ditas, ou alfarrábios, como a revista as
chama, são divididas em várias colunas. A seção “Máquina do Tempo” trás colunas como
4
“Notas Arqueológicas”, “O mês na historia”, Museus no Mundo”, “Dito e Feito”, “História
Maluca”, “Como fazíamos sem...” e “Dúvida cruel”. A seção “Tomos e Telas” trás colunas
com dicas de livros, filmes, jogos, sites, exposições, etc. A seção “Sátira” (quadrinhos do
cartunista Laerte) substituiu a “Papiro”, única escrita quase que exclusivamente por
historiadores convidados desde a primeira edição e que deixou de ser publicada em abril de
2005. Escreveram para essa seção Décio Freitas, Mary Del Priore, Alberto da Costa e Silva,
Paulo de Medeiros, Orivaldo Leme Biagi, Rafael Sêga, Pedro Paulo Funari, Renato Pinto
Venâncio (todos historiadores), entre outros.
Site: A revista mantém um site com a edição do mês, o “hoje na história” com os
acontecimentos históricos de cada dia, a “biblioteca”, com dicas e sorteios de livros,
“equívocos históricos”, com a correção de erros publicados na revista, enquetes e links para
assinar a revista e adquirir outros produtos da Editora Abril; uma apresentação dos maiores
museus do mundo, além de várias outras seções. Traz também uma ferramenta de busca do
conteúdo de todas as edições, exclusivo para os assinantes. O site é ágil e de fácil navegação.
5
POR QUE GETULIO SE MATOU?
Publicada na edição 12 de agosto de 2004
Texto LIRA NETO - Escritor e jornalista, estudou Filosofia, Letras e Comunicação Social. É
autor de Castello: a marcha para a ditadura; O Poder e a Peste e A Herança de Sísifo. Ex-
professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e das Faculdades do Nordeste (Fanor), foi
chefe de redação e ombudsman do jornal O Povo, em Fortaleza, e secretário de imprensa do
Governo do Ceará
Essa reportagem foi publicada por ocasião do 50 anos do suicídio de Getulio Vargas.
Na ocasião a maioria das revistas de história teve Getulio como matéria de capa, com
reportagens sobre seu governo, e a Aventuras na História optou por abordar o final da vida do
presidente, a situação do país naqueles dias e a polêmica em torno de seu suicídio. A capa
trás os dizeres: “As últimas horas de Getulio – Isolamento político, conspiração, ameaças. O
que levou o homem mais amado do país ao suicídio há exatos 50 anos?”. A primeira vista, a
reportagem parece trazer a resposta para essa pergunta; porém não faz muito mais do que
narrar fatos conhecidos dos 20 dias que antecederam o suicídio, com uma boa dose de
hipóteses e especulação. Para escrever a matéria o jornalista Lira Neto ouviu o historiador
Marco Antonio Villa, autor de Jango, um Perfil, e que atualmente trabalha na biografia de
Vargas, e com o também historiados Jaime Pinsk, professor da Unicamp; porém a reportagem
não acrescenta nada de novo ao que todo mundo já sabe. Além do texto, há um gráfico que
acompanha dia a dia os acontecimentos, intitulado “Agosto de 1954 – Os 20 dias que
mudaram o Brasil” e recheado de fotos da época, cedidas principalmente pelo arquivo da
revista Manchete, O Globo, Ag. Estado e CPDOC/PGV, além de material do banco de dados
da Editora Abril; um infográfico com as últimas horas do presidente; e uma coluna intitulado
“As muitas faces de Getúlio”, sobre a construção da imagem de Vargas, ilustrada com uma
montagem de fotos, folhetos e panfletos de época de seu governo.
O projeto gráfico dessa matéria ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo de 2004, na
categoria Criação Gráfica. Esse prêmio existe desde 1955 e é um dos mais importantes do
jornalismo brasileiro.
6
OS AMORES DE HITLER
Publicada na edição 21 de maio de 2005
9
Conclusão:
11
DADOS GERAIS SOBRE AS REVISTAS*
Perfil do leitor
Idade: 30% entre 10 e 19 anos 23% entre 10 e 19 anos
20% entre 20 e 24 anos 13% entre 20 e 24 anos
32% entre 25 e 39 anos 32% entre 25 e 39 anos
Sexo: 57% homens 42% homens
43% mulheres 58% mulheres
Classe Social A: 30% A: 18%
B: 50% B: 50%
C: 17% C: 21%
Circulação:
Tiragem 462.460 exemplares 87.110 exemplares
Assinatura 254.160 35.870
Banca 98.210 18.720
Exterior 24 -
Por região:
Sudeste 47% 47%
Sul 22% 19%
Nordeste 18% 20%
Centro-Oeste 08% 08%
Norte 05% 06%
Fonte: www.publiabril.com.br
12
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
1
Índice Página
1. Objetivos 02
2. Escolha do tema 03
7. Conclusão 27
8. Bibliografia 30
2
1. Objetivos
O presente trabalho tem como primeiro objetivo estabelecer uma análise da
revista “Grandes Líderes da História”. Para tanto, nos utilizamos de dois números da
revista: a revista de número quatro – ano 1 -, que traz como líder o Buda, e a revista de
número 11 – ano 1 –, trazendo a figura de Adolf Hitler como o líder em questão.
Quanto a esta análise não iremos faze-la somente de maneira comparativa, e sim
procurar levantar as principais características da publicação “Grandes Líderes da
História”. E, para tanto, consideramos essencial ter mais de um exemplar para fazer uma
boa análise do material.
O nosso segundo objetivo é o de analisar como está estruturada a figura do líder
Adolf Hitler na “Grandes Líderes da História”, como ele é retratado, quais as questões e
afirmações feitas e quais são as abordagens trazidas pela revista. Existe uma associação
entre a Alemanha da 1a. Guerra Mundial e a ascensão do Nazismo no pós-Guerra?
Quem é Adolf Hitler? Como está “encaixada” a figura de Hitler e a ascensão do
Nazismo na Alemanha? Essas serão as principais questões a serem trabalhadas nesta
análise. Obviamente, falaremos de como está estruturada (suporte) a revista, quais e
onde estão as imagens, e como estão apresentados os textos (quais os títulos e
abordagens).
Um último objetivo levantado pelo o grupo é o de comparar essa publicação com
outra publicação que tenha uma grande circulação, se destine ao grande público. Para
tal, escolhemos analisar a revista “Almanaque Abril”, que fez em quatro volumes –
portanto, aparece como uma coleção - uma publicação a respeito da 2a. Guerra Mundial
– o título da presente coleção é “II Guerra Mundial – 60 anos”. Iremos analisar, no
entanto, apenas um volume – o que confirma que nosso trabalho não se destina a análise
dessas publicações; nós a utilizamos para “enriquecer” o trabalho e julgamos necessário
para tornar nossa abordagem mais crítica e concisa. O volume a ser analisado é o
primeiro – “A Ascensão do Nazismo”. A que se afirmar que a contraposição entre
ambas as revistas levara em conta as especificidades das mesmas – uma se trata de
apenas um número tratando de toda a 2a. Guerra Mundial, e outra é uma coleção com
quatro volumes. Por isso, nosso objetivo, em ambas, é analisar como está estruturada a
figura de Hitler e a ascensão do Nazismo.
.
3
2. Escolha do tema
Podemos afirmar que a escolha do tema ligado à 2a. Guerra Mundial foi, antes de
tudo, vinculada ao “boom” de publicações ligados ao tema devido a comemoração dos
60 anos que marcam o final desse conflito. Portanto, antes de tomarmos conhecimento
com as revistas e temas que estavam expostos nas bancas, optamos por analisar dois
líderes políticos, retratados na revista “Grandes Líderes da História”, sendo um deles o
número referente a Ernesto Che Guevara. Iniciamos a procura pelo o material e,
imediatamente, nos surpreendemos com a enorme quantidade de publicações
relacionadas a 2a. Guerra Mundial. Em uma banca contabilizamos sete revistas em que a
matéria principal era ou o Nazismo, Hitler e a 2a. Guerra Mundial. E, em três delas, a
imagem da capa trazia Hitler - a saber, “Aventuras na História” e as duas publicações já
citadas aqui. Na revista “Grandes Líderes da História” a imagem de Hitler é a única
presente na capa.
Ao percebermos isso, julgamos mais interessante fazer um trabalho relacionado
a esse assunto, e comprovamos, com o tempo, que a escolha foi muito pertinente.
Pudemos, em menos de duas semanas, levantar um material suficiente para realizar um
trabalho enriquecedor e revelador a respeito dessas publicações destinadas ao grande
público.
Para que o trabalho não ficasse destoante quanto a análise das publicações que
escolhemos, decidiu-se pela análise da ascensão do Nazismo e a figura de Hitler.
Portanto, devido a necessidade, nosso tema tornou-se menos abrangente que o assunto
exposto nas revistas, procurando levantar as questões principais de ambas.
4
3. Estrutura da revista “Grandes Líderes da História”
a. Ficha de Descrição
Nome: “Grandes Líderes da História”
Editora: Arte Antiga Editora
Data: em nenhum dos exemplares consta-se data, sendo apenas apresentadas
pelo número e ano de publicação do material. “Grandes Líderes da História – Buda” –
Número 4/Ano 1; “Grandes Líderes da História – Adolf Hitler”– Número 11/Ano 1”
Número de páginas: “Grandes Líderes da História – Buda”: 50 páginas;
“Grandes Líderes da História – Adolf Hitler”: 50 páginas
Organização Interna: os dois exemplares diferem muito quanto à organização
interna. Podemos analisar que o número referente ao Buda possui uma divisão entre os
artigos que privilegia o Budismo – mesmo dando enorme destaque à figura do Buda -,
enquanto que na revista referente ao Hitler está é, senão, quase que um exemplar
voltado a biografia do líder em questão. Os temas referentes a 2a Guerra Mundial estão
ligados, intrinsecamente, a figura de Adolf Hitler.
Relação de Artigos: como nosso trabalho está relacionado a edição de número
11 – ano 1 da revista, os artigos expostos nessa edição são:
“Infância, Família e Adolescência” – pp. 05-09
“Primeira Guerra Mundial” – pp. 10-15
“Ascensão do Partido Nazista” – pp. 16-21
“Preparativos para a Guerra” – pp. 22-27
“A Segunda Guerra Mundial” – pp. 28-33
“A Polêmica Morte” – pp. 34-37
“Herança de Auschwitz” – pp. 38-41
“Vida Amorosa” – pp. 42-43
“Entrevista: O Nazismo e o Brasil” – pp. 44-45
“Demônio Encarnado?”- pp. 46-47
“Guia” – pp. 48-50.
5
b. Apresentação dos artigos
Os dois exemplares dessa publicação apresentam na capa de suas edições a
mesma estrutura: a imagem central do líder a ser apresentado na revista. Os nomes dos
líderes aparecem logo abaixo das respectivas imagens, com a apresentação dos títulos e
dos tópicos que serão trabalhados na revista. Na contra-capa de ambas as revistas
aparecem alguns números já publicados, sejam dessa revista, sejam de outras da mesma
editora. Fato relevante é que todas as publicações aparecem muito mais como um
material em que não se segue uma periodicidade, e que, portanto, também se
apresentam como coleções – assim é definida a publicação “Grandes Líderes da
História” -, com a mensagem na contra-capa: “Colecione! Peça ao seu jornaleiro”.
A primeira página de ambas as revistas aparece um texto curto da editora Thaise
Rodrigues, fazendo uma abordagem do porque foi escolhido e publicado uma revista
com aquele líder. Chega a ser surpreendente o texto da revista que trabalha com Hitler,
primeiro pelo resumo absurdo que a editora faz do período histórico e as afirmações
ilógicas – a presença do “se” na História. Segue o trecho: “Numa das conversas aqui na
redação, o repórter Luiz Alberto Moura disse o seguinte: ‘Já imaginou se, durante a
Primeira Guerra Mundial, alguém tivesse acertado o então mero soldado Adolf Hitler?
Com certeza, o mundo hoje seria outro’. E seria mesmo”.
O anacronismo da frase acima já pode ser motivo de inúmeras e contundentes
críticas. Primeiro se levarmos em conta que as idéias hitleristas se formam e se
“popularizam” no pós-crise de 1929, ou seja, mais de uma década após o término do
primeiro conflito mundial. Conforme a própria revista irá mostrar, Hitler, durante a
década de 10, está muito mais interessado em seguir a carreira “artística” – sonhava em
ser pintor, tentando ingressar na Academia de Belas Artes de Berlim - do que,
efetivamente, consolidar-se como um ditador. Parece que a editora, assim como o
repórter, tem a certeza de que Hitler nasceu nazista, e que, portanto, todas as suas ações
levaram a consolidação do Nazismo. E depois porque existe uma centralização
excessiva do nazismo na figura de Adolf Hitler. Brilhante é a própria definição que a
editora atribui a Hitler: “Gênio do Mal”. Existe uma visão muito restrita desta a respeito
da 2a. Guerra Mundial – será que existe uma compreensão do significado das bombas
atômicas que explodiram no Japão?
O que se apresenta a seguir não é a influência de Hitler somente para a 2a.
Guerra Mundial, e sim para toda a humanidade. Rodrigues disserta que o trabalho
realizado por Lucas Pires é, claramente, um esforço para que possamos entender quão
6
mal e sanguinário foi Adolf Hitler. A primeira afirmação que podemos fazer é que se no
número referente a Hitler aparece o autor dos artigos, Lucas Pires, no número referente
ao Buda, em nenhum momento é citado o nome de quem os produziu – inclusive não
sabemos de onde foram extraídas as informações.
Em ambas as revistas existe uma enorme variedade de imagens, sendo estas a
porta de entrada para os artigos publicados. A primeira preocupação – nota-se isso nas
duas revistas – é mostrar quem foi o líder desde de sua infância, quais foram as suas
influências, e quais os resultados destas em sua vida. No entanto, nos primeiros artigos
de ambas revista percebe-se uma notória diferença entre essas. Enquanto que na revista
que trabalha com Buda, este está inserido em um contexto histórico, na revista que
trabalha com Hitler, existe a sobreposição da figura desse líder, como se este houvesse
iniciado um período marcado por inúmeros conflitos imperialistas e políticas nacionais,
sendo a coroação, para a revista, o nazismo. Segundo as palavras de Lucas Pires “Falar
sobre Adolf Hitler é falar sobre o nazismo, e falar sobre ambos é mexer no que talvez
seja a maior prova da crueldade da qual o ser humano foi capaz”. Não entraremos,
agora, na análise dos artigos, mas já é sugestivo afirmar que, até a página 21 conta-se
tão somente a história da vida Hitler.
7
c. Estruturação dos artigos
Devido ao fato de, já no início, saltar-nos aos olhos a incrível centralização da
figura de Hitler na “Grandes Líderes da História”, resolvemos iniciar a análise do
primeiro texto por uma quantificação. O primeiro artigo, que busca mostrar a figura de
Hitler desde a infância até a construção das primeiras teorias nazistas, possui um
excesso de palavras em que se repete o nome de Hitler - seja Adolf, Adolf Hitler ou
apenas Hitler -, em relação às palavras Alemanha e nazismo. O que de fato impressiona
é a inexistência de uma abordagem histórica a respeito da Alemanha e da Europa –
palavra que não aparece nenhuma vez – no texto. Os resultados foram os seguintes:
Palavras Números de vezes que se repetem/
porcentagem
Alemanha, alemães, alemão, alemã 5/ 10,4%
Hitler; Adolf Hitler; Adolf 40/ 83,3%
Nazismo, nazistas, nazista 3/ 6,2%
A partir da página 21 os textos procuram abranger algo mais do que a vida de
Hitler; no entanto, continuam a consolidar a idéia de que foi o líder nazista o
responsável, senão único responsável, pela ascensão do Nazismo e pela 2a. Guerra
Mundial. Iremos fazer aqui uma exposição dos artigos mais relevantes e as
interpretações que mais nos chamaram a atenção na revista sobre o Hitler. Vez ou outra,
iremos retomar a edição sobre o Buda.
Tanto o segundo quanto o terceiro textos estão vinculados a vida particular de
Hitler e, posteriormente, sua incrível carreira política. O que é interessante de se notar é
que aqui se afirma algo que, até a pouco tempo, era apresentado de outra maneira.
Anteriormente, Pires associou o racismo e autoritarismo de Hitler à educação imposta
por seu pai – dando inclusive o dado de que esta ocasionou um distúrbio psicológico -;
aqui aparece a idéia de que, entre 1912 a 1914, Hitler teve contato com as idéias anti-
semitas – portanto, elas seriam anteriores a sua existência e não simples resultado da
conturbada relação com seu pai.
É retratado, de maneira bem específica, a participação de Hitler na 1a. Guerra
Mundial, mostrando, primeiramente, sua adesão as forças de combate como um ato
nacionalista. É utilizado um trecho da obra de Hitler, “Minha Luta”, em que este relata o
imenso orgulho e satisfação em servir à Alemanha nesse conflito. Desde da entrada de
Hitler no conflito até o abandono deste pelo fato de ter sido baleado, Hitler parece ter
adquirido toda uma cultura anti-semita (sem, no entanto, aparecer de onde se deu essa
8
influência). Um dos sub-títulos do terceiro texto é “O começo do ódio”, nota-se,
claramente, a idéia de que Hitler foi apresentado as teorias nazistas e anti-semitas
quando morava em Munique. As ações dos trabalhadores judeus, ao entrarem em greve
para pedir o fim do conflito, criaram entre os alemães a idéia de que os judeus seriam
traidores da pátria.
O tratado de Versalhes imposto à Alemanha ao final do conflito, é descrito como
extremamente prejudicial a política e a economia alemãs, criando um sentimento de
“rebeliões e tentativas de revolta” entre o povo alemão. A consolidação da Liga das
Nações, e a impossibilidade de construção de forças militar alemãs criou nesse país a
idéia de que somente a Alemanha havia sofrido as conseqüências do conflito mundial. É
através desse viés, segundo Pires, que serão constituídas as idéias de Hitler quando este
é apresentado ao Partido dos Trabalhadores Alemães, em 1919. Sua adesão ao partido e
a enorme capacidade retórica que possuía fizeram com que Hitler, desde do início, fosse
uma figura de destaque, recebendo, em pouco tempo, o convite para ingressar no
partido. O segundo texto termina com uma interpretação, esta sendo realizada a partir da
leitura da obra do historiador Eric Hobsbawm, a “Era dos Extremos: O breve século
XX”, em que se descreve como estavam postas as ações militares na 1a. Guerra Mundial
– guerra de trincheiras -, também traçando um paralelo com o passado europeu e alemão
anteriores a esse conflito – no caso da Alemanha aparece de maneira muito resumida a
figura de Bismarck e o II Reich.
O terceiro texto vai tratar simplesmente do poder político do partido por Hitler,
com a apresentação da idéia de um homem obstinado pela necessidade em se controlar
esse partido e de faze-lo representante direto dos interesses hitleristas dentro da
Alemanha. Aparece a adoção do nome que Hitler propõe ao partido – Partido Nacional-
Socialista dos Trabalhadores Alemães” – como uma prova da capacidade deste em
consolidar suas decisões em um curto espaço de tempo.
De todos os textos esse é o que consolida mais a idéia em se “individualizar” o
nazismo à figura de Adolf Hitler, colocando as SA, através de suas ações “pouco usuais”
contra o Estado Alemão, como prova do poder e prestígio que Hitler havia adquirido.
Ao retratar a ação contra o governo – putsch de novembro – e o fracasso da mesma,
aparece a idéia de que Hitler o fizera seja por motivos internos, seja pelo exemplo da
bem-sucedida marcha de Mussolini para tomar o poder em Roma, em 1922. É o
primeiro momento em que a figura do ditador italiano é apresentada em correlação
direta ou indireta as ações hitleristas.
9
A prisão – segundo Pires, Hitler entendeu a sua prisão como um ótimo
mecanismo para aparecer na mídia, consolidar a sua imagem perante a população - de
Hitler é resumida a um relato que retrata um bom tratamento recebido por esse e seu
esforço em escrever a sua obra, a “Minha Luta”. Existe uma ponderação interessante
quanto as idéias de Hitler a respeito do caminho que levaria a uma mudança social,
frente a consolidação da República de Weimar: “Essa nova realidade no país serviu para
duas coisas: dar a Hitler a certeza de que o povo não toleraria uma revolução e,
portanto, só lhe seria possível chegar ao poder através dos trâmites legais, e também
manter o Partido Nazista em gestação, sem muitos sucessos políticos nas eleições
durante os próximos anos”. Sem contestar a validade da afirmação, parece estranho não
constar nenhuma referência bibliográfica e sequer algo ou alguém que indique de onde
partiu essa conclusão. Pela estrutura dos textos passados o primeiro nome que nos veio
foi – novamente – o de Hobsbawm.
De todos os textos apresentados esse, até o momento, é o que faz uma melhor
abordagem histórica a respeito da Alemanha e Europa – confirma-se isso pela segunda
tabela, logo abaixo -, mas volta a afirmar que Hitler foi responsável direto da ascensão
das ideologias anti-semitas e do nazismo.
Ao final desse terceiro texto aparece um artigo, intitulado “As Origens do Mal
em Hitler”. Procurando entrar na discussão de porque Hitler fez o quê fez, existe uma
excessiva abordagem da vida pessoal do ditador e nenhum viés histórico. Levanta-se,
em menos de três parágrafos duas possibilidades, do distúrbio psicológico causado pela
educação dada pelo pai – teria gerado em Hitler uma “forma de força destrutiva”, a uma
provável sífilis adquirida por Hitler durante a juventude, levando-o a odiar os judeus
porque, segundo Pires, ele teria adquirido a doença com uma prostituta judia. Iremos
retomar essa abordagem sobre Hitler, pois, acreditamos, é essencial para se entender
como a figura do ditador está retratada nessa revista. Vale a pena afirmar que, ao final, o
próprio autor considera tais autorias absurdas. “Buscar explicações é típico dos homens,
ainda mais para algo tão abominável quanto o que Adolf Hitler fez na Alemanha –
novamente se centraliza única e exclusivamente na figura de Hitler. Mas explicar e
entender não pode significar compreender e perdoar1”.
Nesse terceiro texto o uso de imagens se dá em maior número que os anteriores
e, pela primeira vez, o plano de fundo é diferente: tons de vermelho. Anteriormente
preponderavam cores mais claras. Existe uma alternância entre fotos e desenhos, sendo
10
que em três das quatro fotos Hitler aparece e está em primeiro plano. Nesse terceiro
texto também fizemos uma tabela acerca de quantas vezes aparecem as palavras em
referência ao nome do ditador, em comparação com as palavras referentes à Alemanha,
comunistas, judeus e ao Nazismo. Veja a tabela:
Palavras Número de vezes em que se
repetem/Porcentagem
Hitler, Adolf Hitler e Adolf 45/ 52,3%
Judaica, judaísmo, judeus, judeu, judia 11/ 12,7%
Comunista, comunistas 3/ 3,4%
Alemanha, alemão, alemãs, alemães 14/ 16,2%
Nazismo, nazistas, Nazista 13/ 15,1%
O quarto artigo da revista trabalha com o contexto histórico do período anterior a
2a. Guerra Mundial, aparecendo, novamente um trecho de livro (não se informa o qual,
mas se deduz ser o já citado) de um historiador, Eric Hobsbawm. As principais
afirmações feitas por Pires nesse texto são a ascensão dos EUA como “maior potência
mundial” no pós-1a. Guerra, e a quebra da Bolsa de Nova York. No entanto, a
abordagem histórica mundial aparece em pequenos três parágrafos, e logo o assunto se
centraliza, novamente, em Hitler e na Alemanha.
Esse texto é visivelmente marcado por um esforço em se fazer um retrato de uma
Alemanha marcada pelo desemprego e pela consolidação de duas forças políticas,
nazistas e comunistas que, em 1930, aparecem de maneira contundente no Parlamento
alemão, ocupando muitas cadeiras. Também aparece a formação das SA e SS nazistas –
a primeira apresentada de maneira muito resumida no texto anterior - e o papel delas
como alicerces da expansão política de Hitler que, aqui, anacronicamente, já aparece – o
texto está trabalhando com o período de 1930-1932 – sendo chamado de Führer, e o
esforço das forças legais – bem como do então presidente Hindenburg – de controlar a
ação desses grupos. Graças a incapacidade destas em controlar as SA e SS, e devido ao
enorme populismo de Hitler, segundo o texto, este é nomeado chanceler em 30 de
janeiro de 1930.
Logo após o relato dessa fulminante subida de Hitler ao poder, Pires opta pelo
relato das ações belicistas – como o incêndio ao Parlamento, em 27 de fevereiro de 1933
– de Hitler, do que suas ações políticas. Novamente se associa – de maneira muito
1
Retomaremos essa idéia de compreender e perdoar – ou julgar – na conclusão.
11
simples – a consolidação de Mussolini no poder italiano e a ascensão de Hitler. O único
viés político de Hitler nesse período está registrado pela perseguição aos partidos
políticos na Alemanha e promulgação do “Ato de Autorização” – falta, no artigo, o ano
da promulgação do ato, tornando, para o leigo, o texto um pouco confuso -, dando
poderes ilimitados ao líder nazista.
É somente quando vai tratar da preparação da Alemanha para a guerra que Pires
se preocupa em explicar a política econômica de Hitler, bem como as suas relações
externas. Existe uma excessiva preocupação em se consolidar a idéia de uma Alemanha
belicista desde da ascensão hitlerista, e, mesmo sendo essa idéia aceita, a sua constante
afirmação oculta outras importantes informações. Segue-se um pequeno artigo na parte
inferior das páginas 26 e 27, abordando a Olimpíada de Berlim, em 1936, e as claras
demonstrações de racismo e arianismo de Hitler durante a ocorrência desse evento.
As imagens desse texto, sem sombra de dúvida, são as que guardam o maior
anacronismo, pois tratam de um período posterior ao que está sendo apresentado ao
leitor, o que, concluímos, prejudica o entendimento, tanto das imagens, quanto dos
artigos. As imagens tratam, em sua maioria, dos anos posteriores a 1937. Outro fato que
nos chamou a atenção foi a utilização de desenhos para retratar Hitler, e não fotos –
assinados por Fábio Matos -, o que já havia ocorrido nas páginas anteriores. Voltaremos
a trabalhar essa questão que nos pareceu pertinente quando comparamos com o material
exposto pela Almanaque Abril.
Esse excesso de desenhos não se repete na edição que trata sobre o Buda. No
número referente ao Buda existe em algumas páginas, inclusive, um excesso de
imagens, “picotando” os textos e tornando os confusos. É notório, um cuidado muito
maior com a estética da revista que trabalha com Hitler do que com a que trabalha com
o Buda, inclusive com a existência de “molduras” nas páginas dos textos de Lucas Pires
– como a que aparece imagem da cruz de ferro circulando todo o artigo. Faz-se, aqui,
uma constatação importante, que será melhor trabalhada a posteriore: não existe uma
apresentação isolada do símbolo nazista, em nenhum momento aparece a cruz suástica
em destaque. E quando ela é retratada, aparece como que “quebrada” ou, o que
confirmara nossa interpretação, vinculada às imagens de Hitler. Existe, inclusive em
uma das imagens, a sobreposição da cruz suástica a um desenho de Hitler. Isolada, no
entanto, a imagem do símbolo do Nazismo nunca aparece.
12
Outro dado que consideramos interessante apresentar agora é o número de
desenhos em relação ao número total de imagens até esse quarto texto. Os dados são os
seguintes:
Especificação Números Porcentagens
Desenhos 14 53,8%
Fotos 12 46,2%
Iremos tratar agora de um artigo que consideramos muito importante para dar
um contexto completo à respeito da abordagem da revista. A seção da revista intitulada
“Herança de Auschwitz” a qual retrata o anti-semitismo levado até as últimas
conseqüências, o Holocausto, comporta uma estrutura na qual a matéria se caracteriza
de modo bastante patente, fundamentalmente, pelo denso apelo ao recurso de imagens.
Assim, constata-se que cerca de 50% das páginas destinadas ao assunto são preenchidos
com fotografias – todas elas registrando os devidos créditos - de prisioneiros situados
em diferentes campos de concentração, o que difere sensivelmente do resto da revista,
composta em grande parte por desenhos, em uma porcentagem maior da que a
apresentada acima.
Concebemos que as imagens fotográficas alocadas tanto na página de
apresentação do artigo quanto nas laudas subseqüentes, são preenchidas com imagens
que buscam transmitir ao leitor, parte do cotidiano dos cativos nos campos de
concentração nazista. A fotografia que abre a matéria (Divulgação/Discovery Networks)
ocupa toda a primeira página, visando enfatizar o pesar e o sofrimento das vitimas da
reclusão: mostra três prisioneiros de modo a destacar em primeiro plano a feição abatida
de uma prisioneira de expressão facial tensa e pensativa, a qual tem à sua frente uma
cerca de arame farpado.
É também interessante perceber que o ângulo pelo qual o fotógrafo capta a
imagem é bastante oportuno uma vez que nos permite visualizar interessantes detalhes
em profundidade, como a torre de vigilância, a elevada cerca de isolamento de arame
farpado que envolve prisioneiros, focalizadas de modo que auxilia a percepção do leitor
em relação a intransponibilidade, a impossibilidade de fuga por parte do preso.
Nos pareceu que a seleção das fotografias versou no sentido de descrever o dia-
a-dia de um campo de concentração, enfatizando seu perfil de depósito de homens ou de
seus restos mortais. Assim, a revista exibe a imagem de alojamentos onde são flagrantes
as situações de penúria vivenciada pelos presos em virtude da fome e da precariedade
das instalações; porém nenhuma nos pareceu mais chocante do que uma fotografia que
13
mostra um caminhão com corpos amontoados, a mais sugestiva imagem em termos da
atomização pela qual o significado da vida humana aparece submetido.
Partindo da observação de aspectos como os acima levantados, chegamos ao
entendimento de que as fotografias mais do que concorrer acabam por adquirir posição
de preponderância em relação ao texto, a qual é aguçada pela falta de satisfatória
articulação entre a parte escrita e visual, uma vez que embora seja claro que ambos
materiais remetam ao mesmo assunto, efetivamente, as fotos estão integradas de
maneira justaposta.
O texto em termos estéticos segue padrão semelhante ao das demais seções da
revista, logo que prioriza trabalhar fragmentos organizados a partir de subtítulos, bem
como repete a estratégia empregada em alguns outros artigos em relação ao uso de
imagens sombreadas ao fundo das páginas que nessa seção em específico tem seu corpo
do texto impresso sobre tonalidade azul-clara.
Em seguida, constatamos que propriamente no tocante a análise do texto, a
persistência em se atribuir a Adolf Hitler papel sine qua non ao desenrolar dos
acontecimentos e, por conseguinte, do genocídio. Logo, se por um lado é verdadeiro o
fato de que o autor admite – mesmo se contradizendo - que não foi Hitler o criador do
anti-semitismo, visto que se trata de um fenômeno ideológico muito anterior ao
nazismo, por outro atribui exclusivamente ao ditador a construção das bases da política
de extermínio dos judeus evitando a todo custo a nomeação de outros personagens.
A figura de um líder depende fundamentalmente de seu carisma junto às massas
e da cooptação dos setores que sustentam as estruturas do poder e em relação a isso,
Hitler conseguiu provar que possuía de sobra junto aos alemães naquele contexto
histórico. Uma análise bem feita acerca destas circunstâncias, de suas condicionantes
históricas proporcionaria tranqüilamente, excelentes argumentos que justificariam a
posição de Hitler como “Grande Líder da História”. Por outro lado, constitui enorme
risco apresentar a um público leigo argumentos, convenhamos, um tanto forçosos, os
quais visam delegar as estratégias do partido e do governo nazista unicamente às
decisões do füher, , supostamente provenientes de sua “diabólica genialidade” .
Assim, a forma pela qual o texto é construído não fornece nenhum subsídio, ou
quem sabe, na melhor das hipóteses, apresenta reduzidíssimas indicações afim de que o
leitor seja informado acerca de outros agentes envolvidos na construção da ideologia. A
propósito, é curioso como que, ao referir-se a outros articuladores da ideologia nazista,
o autor opta por remeter-se ao nome “nazistas” num sentido genérico. Nesse sentido, ao
14
se referir à política governamental de propaganda anti-semita, avalia que, “os nazistas
foram especialistas em criar e espalhar cartazes, filmes, livros e panfletos denegrindo a
imagem dos judeus” – aqui reside uma das maiores e principais diferenças quanto a
“Almanaque Abril”, muito mais bem elaborada nesse sentido, trazendo o nome o papel
de outros líderes nazistas, como Goebbels -; caso análogo verifica-se num trecho mais
adiante da matéria a partir de uma breve alusão que faz em relação ao Tribunal de
Nuremberg, onde lembra que a coleta de provas documentais por parte dos aliados nos
campos de concentração “foram essenciais para a condenação de nazistas no
julgamento”. Ora, mas quem são esses nazistas?! O público fica sem saber!
Outro aspecto que nos chamou a atenção foi que a noção do desenrolar de
estágios no curso da história, idéia cara aos estudos no campo da Filosofia da História,
aparece expressa nessa seção da revista no âmbito da abordagem do progressivo arrocho
da perseguição nazista aos judeus entre os anos de 1933 e 1941. Lucas Pires emprega a
terminologia “estágio” numa perspectiva tripartite.
O primeiro estabelecido, entre o ano de 1933 e 1938 é definido como a “primeira
tentativa de banir os judeus de todos os campos sociais”, tecida num contexto pelo qual
as “leis de Nuremberg” figurariam dentre os marcos factuais mais notáveis, assinalando
que a referida legislação “impunha a proibição do casamento entre judeus e arianos,
boicotes econômicos, prisões e espancamentos”. Todavia, entendemos que exista uma
certa ambigüidade na construção da frase acima citada, podendo vir a confundir o leitor,
pois o contexto pelo qual a frase é colocada, se analisado com um cuidado maior,
permite que nos certifiquemos, no máximo, de que pelas “Leis de Nuremberg” ficavam
proibidos casamentos entre arianos e judeus, ficando em suspenso se as demais ações
(isto é, os boicotes econômicos, prisões espancamentos) de fato tornaram-se práticas
“legais”, ou melhor, institucionalizadas pelo estado nazista, ou então se tornaram
corriqueiras nesse “primeiro estagio”, enquanto produto do discurso propagandista
estatal anti-semita, o qual assimilado por grande proporção da população alemã
redundou no acolhimento de tais práticas.
Voltando propriamente à questão dos “estágios”, observa-se que o segundo
estágio proposto se situa entre 1938 e 1941 e sua existência atribuída a um período
qualificado como de acirramento da perseguição anti-semita, o qual tem seu
desencadeamento ligado a um marco factual atribuído à chamada “Noite dos Cristais”,
evento que, traduzindo as palavras do autor, poderíamos afirmar que consistiu num
sanguinolento “arrastão” contra os judeus.
15
O terceiro e último estágio tem seu início vinculado ao ano de 1941, o qual tem
sua duração até 1945, culminando com o sucessivo desmantelamento dos campos de
concentração e o encerramento do conflito. O argumento explicativo para a ocorrência
desse terceiro estágio de perseguição anti-semita é justificado pelo notório emprego da
política de extermínio a qual é definida pela expressão “solução final”. Evidentemente,
nosso parecer a esse respeito é que de fato, a conjuntura 1941-45 corresponde a um
“estágio” demasiadamente sanguinolento tanto pela questão do holocausto, quanto pelos
desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, e nesse sentido, não pairam
questionamentos em relação a afirmação do autor.
Entretanto, talvez o ponto não propriamente errôneo, porém discutível da
formulação que propõe, resida no critério definidor da passagem do segundo ao terceiro
estágio, já que se o extermínio constitui eixo marcante do início do terceiro estágio da
perseguição anti-semita na Alemanha nazista; lembremos que tal característica já era
presente no estágio anterior, pois como o próprio texto informa, “no final de 1941, cerca
de um milhão de judeus haviam morrido por diversos motivos sob domínio nazista”.
É também interessante estarmos atentos ao fato de que o autor, ao remeter-se a
essa fase com a implementação da execução em massa como a “solução final” nazista
em relação à questão judaica, denota-se, enfim, a perspectiva da análise de um
movimento da história pautado em estágios sucessivos por intermédio dos quais seria
viável acompanhar a evolução de determinado fenômeno que inexoravelmente
desemboca num determinado telos.
A parte final da matéria é editada com um “box” que discute o anti-semitismo
enquanto ideologia. Lucas Pires oferece ao leitor uma definição peremptória em relação
ao fenômeno, concebendo-o como uma “hostilidade ideologicamente motivada contra o
povo judeu e sua cultura”. Percebe-se que, assim como no tratamento dado a questão
relativa a perseguição nazista aos judeus, o autor opta por relatar historicamente as
características da ideologia anti-semita no Ocidente, demarcando sua análise em torno
de “três diferentes momentos”, aplicados possivelmente, visando finalidade didática.
Aliás, o fato de que a redação dos textos é construída a partir de linguagem
bastante simplificada, às vezes próxima ao coloquial (como já comentamos
anteriormente), bem como outros detalhes, por exemplo, no emprego dos algarismos
indo-arábicos “15” e “19” para a denominação dos séculos, constituem elementos que,
de certo, corroboram com a nossa tese em torno da preocupação de uma linha editorial
da revista “Grandes Líderes da História”, versada no intuito de facilitar a decodificação
16
da mensagem por parte do leitor, com vistas à pragmática intenção de mantê-lo e,
obviamente, alcançar a adesão de seu público potencial.
Voltando à questão inerente à análise do anti-semitismo, retratado na perspectiva
de três momentos particulares, vemos que, embora não estabeleça uma rígida
delimitação em termos de recortes cronológicos como aplicou na situação anterior,
propõe três marcos históricos relativamente datáveis no decorrer da mutação da
ideologia que são, o pensamento teológico ou tradicional, transcorrido da Idade Média
ao século XIX; o moderno ou científico caracterizado pelas teorias cientificistas em
voga já no final do XIX - sendo curioso o fato de que não é fixado de maneira explícita,
um marco que encerre esse segundo momento. A seguir, o autor faz alusão a um
terceiro momento, no qual a ideologia anti-semita tem por sustentáculo o neonazismo,
que como observou, “ressurgiu a partir dos anos de 1980, após uma hibernação de
praticamente trinta anos”. Daí, deduzir que o autor situe o tal “segundo momento” entre
o final do século XIX e meados do XX.
Uma análise do discurso do conteúdo da matéria nos leva a crer que o autor
atribui, digamos, implicitamente, determinada simetria em termos de expressividade
entre Adolf Hitler e Auschwitz. Nosso argumento é o de que a imagem de Auschwitz
está para os campos de concentração, em proporção semelhante à que Hitler estaria para
o nazismo. Portanto, se como já observamos na parte inicial do trabalho, o autor
argumenta que “falar sobre Adolf Hitler é falar sobre o nazismo” semelhantemente, o
discurso produzido se inclina a tratar Auschwitz e campos de concentração quase como
sinônimos.
Ademais, o título sugerido para a discussão dos campos de concentração nazista
(“Herança de Auschwitz”) nos parece um tanto complicado pelo simples fato de que a
matéria em momento algum explica, problematiza ou fornece subsídios que justifiquem
o sentido da utilização da palavra “Herança”. Corresponderia a seus desdobramentos
mais imediatos, como por exemplo, a morte de aproximadamente seis milhões de seres
humanos e a criação de um estado Nacional (Israel)? Ou a lição de uma história
magistra vitae a qual visa dentre suas principais atribuições mostrar os acertos ou
equívocos de “grandes” personagens diretamente responsabilizados pelos conseqüentes
avanços ou percalços no curso da humanidade? São hipóteses por nós até aqui
aventadas e que revista parece não marcar posição.
17
4. Como é retratada a figura de Adolf Hitler
Semelhantemente, à questão em torno da vida particular, mais precisamente, no
aspecto da intimidade amorosa-sexual, esta é abordada no campo da especulação, não
havendo ao que, à primeira vista parece, a pretensão de se fechar à questão em relação
ao assunto. O que nos parece claro por outro lado, é o fato de que há um grande
investimento na abordagem de questões ligadas à sexualidade em detrimento da questão
propriamente afetiva.
Observa a matéria que o personagem manteve digamos, “oficialmente”, três
relacionamentos amorosos. O primeiro, aos seus 38 anos quando vive um curto romance
com Mimi Reiter, uma adolescente de 16 anos que de acordo com a matéria teria
tentado suicídio após o término do relacionamento. A seguir, percebe-se o nítido
destaque dado ao relacionamento mantido com sua sobrinha, Geli Raubal. Destaque
esse, que indubitavelmente, não se dá pela durabilidade da união, até mesmo porque o
autor não informa o tempo de convivência do casal o qual, diga-se de passagem, não
poderia ter sido tão longo, visto que ela teria se suicidado aos 23 anos.
Assim, como explicar uma matéria em que, por exemplo, ao relatar os três
relacionamentos amorosos dos últimos 18 anos da vida de Hitler – entre os seus 38 e 56
anos de idade – onde a revista dedica mais de dois terços da exposição ao ligeiro
convívio com Geli, enquanto que em relação à Eva Braun, sua última companheira a
qual esteve ao seu lado por 16 anos, seja dedicado apenas um parágrafo?
Nossa interpretação a esse respeito é a de que embora o autor admita existir
muita especulação a respeito da vida amorosa do ditador e que pouca coisa se saiba de
fato, nos parece patente que o seu texto investe na hipótese da “perversão sexual” como
característica marcante do personagem. Afirma que o suicídio de Geli Raubal tenha
íntima relação com os atos bizarros que a moça era obrigada a praticar de modo forçado
pelo seu parceiro.
Finalmente, concebemos que o autor opta por enfatizar a tese de que Adolf
Hitler teria uma patologia sexual, isso porque a revista “Grandes Líderes da História”,
enquanto uma publicação de caráter comercial, demanda assuntos que tenham forte
apelo junto ao público leitor.
Outro ponto retratado por Pires é o da morte de Hitler. A revista discute a
“polêmica da morte” do líder nazista, optando por apresentar duas possibilidades acerca
do desfecho da vida do personagem. A primeira é gerada a partir da versão segundo a
qual se afirma que ele teria se suicidado em seu bunker em 30 de Abril de 1945
18
mediante o convencimento acerca da sua iminente derrota final. Uma segunda versão
gira em torno da hipótese de uma possível manobra feita pelos nazistas de maneira que
“um falso Hitler morreu no bunker de Berlim”, enquanto que o verdadeiro teria fugido
para a América Latina e, assim, ao contrário do que pensava os aliados, viveu por
muitos mais anos. Isso porque, graças uma variedade de drogas preparadas por Josef
Menguele, médico de Auschwitz - que se refugiou na Argentina e posteriormente no
Brasil - Hitler gozou de plena saúde até pelo menos aos 100 anos e pasmem, viveria até
seus 150 anos de idade!
Explorando essa segunda hipótese, a revista se empenha em empregar todas as
ilustrações relativas a esse fato, visando ao que nos parece, não outra finalidade que não
seja a de despertar a curiosidade do leitor acerca de uma versão pitoresca em relação ao
destino do ditador. A própria cor das páginas, todas em azul celeste, e a imagem
paradisíaca que inaugura a seção, acentua nossa percepção a esse respeito.
Percebe-se por outro lado que há no conteúdo desse artigo, uma franca
disparidade entre o que a parte ilustrativa (reproduzida com desenhos) e o texto
assinalam. O texto é bastante incisivo no sentido de afirmar que a hipótese de que o
líder nazista teria conseguido escapar do cerco dos aliados não passasse de uma ilusória
especulação e que indubitavelmente, “tem-se certeza da morte dele, mais precisamente
de seu suicídio, no dia 30 de Abril de 1945”. Assim, o argumento contradiz
completamente as ilustrações, não havendo, entretanto, sequer uma imagem, seja ela
desenho ou fotografia, que estabeleça algum tipo de alusão em relação ao suicídio.
Isso é visto por nós como algo problemático, principalmente porque as
ilustrações não figuram num plano secundário na matéria, antes pelo contrário, podemos
dizer que ocupa pelo menos 50% das páginas destinadas a esse assunto, além do que a
abertura do artigo, o qual apresenta o título “Hitler não morreu?”, é composta por um
desenho o qual ocupa praticamente as duas primeiras páginas, com uma caricatura de
Hitler tomando água-de-coco à beira da praia. O texto aparece, não, porém, como
elemento de destaque.
Não bastassem os apelos das imagens, a matéria é encerrada com um “box”
extremamente chamativo, todo decorado, de fundo vermelho e letras em cor branca, o
qual disposto numa coluna vertical que ocupa a metade da última página da matéria,
elabora relatos acerca do escape, bem como deixa em aberto a “folclórica” versão
segundo a Hitler não morreu.
19
Refletindo acerca dessa estruturação da revista nos parece não haver sombra de
dúvida, de que se entregássemos o material para duas pessoas e solicitássemos que uma
lesse de fato a matéria, enquanto que a segunda apenas a folheasse, porém prestando
atenção nas imagens, e ao final perguntássemos a cada uma delas sobre o que então se
poderia dizer sobre a morte de Hitler, a primeira por ter lido o texto, afirmaria
categoricamente que o Fuhrer se suicidou dias antes do estouro de seu bunker pelos
russos, ao passo que, a segunda pessoa (que apenas observou as ilustrações e leu no
máximo, o título da matéria e o “Box”) acharia absurda a afirmação do primeiro, de
modo a garantir que, de acordo com a revista, Hitler teria oportunamente fugido de
Berlim “salvando a sua própria pele”.
A parte textual da matéria procura, além de desmistificar a hipótese da fuga do
ditador - como já nos referimos –, narrar como teriam sido os seus últimos dias de vida
no comando da cúpula nazista, bem como explicar o por que de sua opção pelo suicídio.
Aliás, é interessante percebemos que diferentemente ao que constatamos ao longo de
toda a edição da revista onde não é citado praticamente nenhum outro nome que não
seja o de Hitler, pelo menos no artigo dessa seção da revista, aparece à menção aos
nomes de alguns de seus principais homens – M. Boorman, Goebbels, Himmler,
Göring, Speer e Ribbentrop –, na ocasião em que se reúnem “para deliberar sobre os
andamentos da Guerra”.
São descritos alguns acontecimentos relativos aos momentos que antecedem a
morte de Adolf Hitler e sua companheira Eva Braun, coisas do tipo, “notícias de
bastidores”, informações cercada de detalhes as quais desconhecemos de que modo
poderiam ser comprovadas em termos documentais – mais uma vez não sendo clara
quais foram as fontes. Aliás, convenhamos, não nos cabe aqui discutir, até por sua
inócua relevância em termos históricos, questões como por exemplo, se o casal, embora
já decididos por cometer suicídio, celebrou ou não o casamento, comemorando com
champagne; são pormenores que não nos cabe discutir aqui detidamente, mas que,
indubitavelmente, tratam-se de um atrativo ao leitor que gosta de “curiosidades”. A
propósito, a única curiosidade a que o artigo nos instigou foi no tocante às fontes
bibliográficas pesquisadas, as quais não são citadas, embora haja uma pista na
observação feita por Lucas Pires, assinalando que a investigação do caso por H. R.
Trevor-Roper gerou o livro “Os Últimos Dias de Hitler”, o qual, embora muito criticado
na época de sua publicação, tornou-se um best-seller e hoje seria a versão mais próxima
20
de um consenso. Daí, a probabilidade de que a parte escrita da matéria tenha como base
o historiador inglês.
21
5. Análise da construção da imagem de Hitler nas revistas “Grandes
Líderes da História” e “Almanaque Abril – Volume 1 - 2a. Guerra Mundial”.
Comparação entre as revistas.
Pudemos analisar que os materiais trabalhados – sejam eles fruto de uma
pesquisa historiográfica ou não -, ao desenvolverem suas narrativas, traçam perfis
psicológicos. Pelo fato de estarem lidando com fatos humanos não conseguem se
desvencilhar de aspectos psicológicos -desejos, instintos, necessidades, sentimentos
individuais (a história individual, paixões) e coletivos (sentimentos diversos que estão
atrelados a determinados grupos, classes, povos em determinadas épocas, idéias de
pertencimento e alteridade). Como bem nos lembra Peter Gay:
“O historiador profissional tem sido sempre um psicólogo - um psicólogo
amador. Saiba isso ou não, ele opera com uma teoria sobre a natureza humana; atribui
motivos, estuda paixões, analisa irracionalidades e constrói o seu trabalho a partir da
convicção tácita de que os seres humanos exibem algumas características estáveis e
discerníveis, alguns modos predizíveis, ou pelo menos decifráveis, de lidar com as suas
experiências. Descobre causas, e a sua descoberta geralmente inclui os atos mentais.
Mesmo construtores de sistemas materialistas, como Karl Marx, que sujeitavam
indivíduos às pressões inevitáveis das condições históricas, admitem e declaram que
entendem o papel desempenhado pela mente. Entre todas as ciências auxiliares do
historiados, a psicologia é a sua ajudante principal, embora não reconhecida.”2
A partir da integração do estudo profundo da biografia com a visão de mundo da
personagem histórica, a análise psicológica pode auxiliar em muitos casos o
entendimento da história das idéias. É assim que Quentin Skinner percebe a relação
entre a visão profundamente decaída do homem para Lutero e o nascimento do
protestantismo: “A base da nova teologia de Lutero, e da crise espiritual que a
precipitou, residia em sua concepção da natureza humana. Lutero vivia obcecado pela
idéia da completa indignidade do homem”.3.
Quando se estuda o período em questão é comum se questionar no plano
individual (no que se refere a Hitler) as razões pelas quais a Europa foi levada a um dos
períodos mais sombrios da história da humanidade. A questão que fica latente é de que
Hitler conseguira mobilizar toda uma nação para consolidar as práticas nazistas. E isso
decorre do fato de que está implícita a idéia de que nem todos alemães poderiam ser
2
GAY, Peter. 1989. p. 25.
3
SKINNER, Quentin. 1978. p. 285.
22
nazistas, ou, resumidamente, “pessoas ruins”, quer pelo fato de nós os identificarmos
como pessoas comuns. É exatamente por este caminho - o da culpabilidade do
indivíduo/gênio - e em resposta à questão levantada pelo editorial Quem foi Hitler
“Como conseguiu incitar às massas a acreditarem numa idéia tão radical, a crerem na
superioridade absoluta de uma raça e na necessidade de exterminação de outra?” - que
parece seguir o autor de todos os textos da revista “Grandes Líderes da História”, Lucas
Pires.
Assim, Lucas procura depositar em Hitler todo o peso da História e mais
especificamente em traumas de infância o nascimento de uma psique maligna (há um
adendo de uma página ao capítulo “O partido sou eu” intitulado “As origens do Mal em
Hitler” - ressalte-se o m maiúsculo- no qual são enumeradas uma série de razões, as
mais estapafúrdias: sífilis; a perda da sua sobrinha-amante; a mordida do bode:
“Historiadores reforçam a relação conflituosa de Hitler com seu pai, tido como
um tirano, que impunha a lei e a ordem sob castigos físicos. Relatos de surras que Adolf
teria levado do pai na infância são freqüentes e muitos usam esse trauma para explicar a
psique maligna que Hitler viria a desenvolver.” Há um adendo de uma página (pág. 21)
ao capítulo “O partido sou eu” intitulado “As origens do Mal em Hitler” - ressalte-se o
m maiúsculo - no qual são enumeradas uma série de razões, as mais estapafúrdias:
sífilis; a perda da sua sobrinha-amante; a mordida do bode; etc. No entanto, o que
prevalece em sua argumentação e para a qual infere linearmente é em relação a
“educação destrutiva” de Hitler que seria a gênese de tudo aquilo desembocou no
Holocausto. Não há psicologismo pior elaborado. Lucas parece crer que as idéias da
sociedade pairam acima e por sobre ela - mais especificamente dentro da cabeça de
Hitler e que este, como o ratinho “Cérebro”, versão anazistada do desenho animado,
pretendia dominar o mundo. Parece não perceber que naquele período por toda Europa
(e não somente) habitavam idéias não somente de cunho anti-semitas, mas também
antimarxistas, antiliberais e nacionalistas.
Sem limitar ou exagerar o alcance destas publicações, a análise que intentamos
fazer se guia nesse ponto a partir do sentimento de horror que o período desperta
enquanto construção da memória - nesse sentido nos parece, a revista só presta
desserviços. Lucas Pires, como o senso comum, e com seu olhar ulterior estereotipado e
ingenuamente distanciado dos fatos, assombrado, parece não entender, como a esquerda
alemã não conseguira entender na época, aquela realidade que se desenhava. Vejamos
este trecho da crítica elaborada por Horkheimer: “As forças mais progressistas tomaram
23
para si a tarefa de destruir o capitalismo; e um dos resultados do seu fracasso foi que o
fascismo tomou o poder”4. De modo semelhante parece pensar a editora da revista,
Thaíse Rodrigues, cuja opinião expressada no editorial a respeito daquele período e da
figura histórica de Hitler varia do assombro e incompreensão (“É fato que Adolf Hitler
foi uma pessoa decisiva para o século em que vivemos. Sua figura pessoal, sua vida
pública, seus atos, tudo é absurdo e intrigante.”) à culpabilidade do indivíduo, “gênio do
Mal” (“Ele promoveu uma das maiores atrocidades de que se tem notícia na história da
humanidade...”).
Continuando nossa análise, a revista Almanaque Abril - II Guerra Mundial traça
um perfil histórico completamente diferente da figura de Hitler. Não se pode comparar
estritamente as duas publicações na medida em que uma delas se propõe a analisar um
personagem histórico e a outra, um período histórico (do fim da Ia Guerra Mundial até
1940). De certo modo, no entanto, isso já se pode mostrar como uma posição editorial.
Assim a imagem de Hitler é construída de maneira muito mais clean no capítulo
específico sobre sua biografia (págs. 33 a 37). Não se faz especulações. Excetuando-se a
referência no título do capítulo biográfico Adolf Hitler, o monstro da Baviera, não há
indicações/adjetivos como aqueles usados pela revista “Grandes Líderes” - mal,
demônio, etc. O máximo que o texto traz sobre seu pai é que Hitler adotara, como ele, o
sobrenome de um tio chamado Hiedler. O texto (Ana Lúcia Correa/Susana Camargo) se
atém muito mais aos seus passos em direção ao poder. O almanaque traça de maneira
razoavelmente ampla o contexto histórico e político no qual emerge a figura de Hitler.
O índice pode nos dar uma idéia:
Quando tudo começou
A Europa após a I Guerra
14 anos que mudaram a história
Adolf Hitler, o monstro da Baviera.
A primeira vítima
A bota fascista
Setembro Negro
Embate entre a esquerda e a direita
Jornalista de hotel
Benito Mussolini, a metamorfose do Duce.
Uma nova conquista
4
SLATER, P. 1978. p. 25.,
24
Aliança improvável
A mão de ferro do poder
Cruzada anti-semita
Terra invadida
A guerra no gelo
A expansão nazista e o início da guerra
Armas alemãs
Armas italianas
A queda dos neutros
À espera do inimigo
A guerra estranha
Os aliados na frente francesa
O primeiro dos capítulos nos indica a idéia de continuidade entre as duas guerras
por parte da redação, completamente diferente da revista “Grandes Líderes”, que
percebe o Holocausto a partir do nascimento do führer. Finalizando, o autor dos textos
da revista publicada pela editora Arte Antiga, ao contrário do que nos dissera, pode ser
qualquer coisa menos historiador. Curiosamente, a revista da editora Arte Antiga traz
todas as imagens com créditos (a maior parte, no entanto, são péssimos desenhos) ao
contrário da revista Almanaque Abril que quase não traz os direitos de imagem, o que,
como discutido com a professora Raquel, decorre do fato das imagens utilizadas nesta
segunda publicação serem.parte de seu arquivo – o que confirma a inexistência de algo
parecido na editora Arte Antiga, e nos faz pensar que o uso notório de desenhos se deu
pela impossibilidade de utilizar mais imagens, seja pelo motivo exposto, seja porque ter
acesso a elas só seja possível por uma grande quantidade de capital, devendo, portanto,
compra-las.
25
6. Análise da entrevista com a professora Doutora Maria Luiza Tucci
Carneiro
A preocupação de Pires quando entrevista a professora da USP, Maria Luiza
Tucci Carneiro, é, preponderantemente, analisar qual a participação e as relações que o
Brasil teve na 2a. Guerra Mundial, sob um viés que, daqui a pouco, será exposto. Existe,
seja na análise dos textos da revista, seja agora nesta entrevista, um notório exercício em
se “condensar” o assunto em um pequeno número de páginas. Mas o que talvez
destaque mais essa entrevista em relação aos outros textos é o fato de que Tucci
possibilita aos leitores o conhecimento de outras personalidades do período
compreendido – de 1930 a 1945. Portanto, aquela análise que Pires estava fazendo –
resumida e extremamente centrada na figura de Adolf Hitler -, agora ganha uma
abordagem muito mais contextualizada – se insere em um contexto histórico -, resultado
claro de um trabalho que contou com a colaboração de um pesquisador – no caso,
pesquisadora. Algumas entidades políticas, por exemplo, não tratadas antes nos textos,
agora aparecem na entrevista, e, em decorrência disso, a análise que Tucci faz tem que
dar conta de explicar o que são estas e quais suas principais personalidades.
Outro elemento de destaque é a constante preocupação de Pires em relação a
posição do Brasil no conflito mundial – eis o viés. O título da entrevista já denuncia
essa preocupação: “Há responsabilidade do Brasil perante o Holocausto?” Existe,
inclusive, no centro da entrevista uma imagem de rosto de Hitler encaixada no mapa do
Brasil! Todas as perguntas de Pires vêm de uma associação Vargas – Hitler – Nazismo.
Somente em alguns momentos o foco muda – pela abordagem de Tucci – para as
relações com os EUA. Tucci procura inserir outras questões para a discussão da posição
no Brasil frente a esse conflito, que, em nenhum momento, a revista deu conta. O
interesse de Pires é tão somente responder a pergunta: de que lado o Brasil estava?
Vargas apoiava a ideologia nazista? E a análise que Tucci faz, nos parece, “assustou”
Pires. Voltaremos a esse ponto.
Em dez questões Pires procurou fazer com que Tucci respondesse as suas “duas”
principais dúvidas, sendo que, reitera-se, a historiadora procurou mostrar que as
questões não deveriam ser só essas. As respostas bem elaboradas de Tucci destoam com
a simplicidade das perguntas que Pires fazia – algumas, há que se afirmar, muito
tendenciosas. O papel, portanto, da historiadora seria o de dar o veredicto final a
respeito da posição do Brasil no conflito.
26
O fato é que Tucci elabora toda uma argumentação apresentando as relações do
Brasil com a Alemanha nazista e a política anti-semita instalada pelo governo em 1937.
A oitava resposta de Tucci aparece assim ao leitor: “Justamente a partir de 1937 o
Brasil, nos bastidores, assumiu uma política anti-semita, fechou as portas aos judeus e
manteve relações confidencias com a Alemanha”. Estranhamente, a próxima pergunta,
está exatamente negando as afirmações da historiadora: “Voltando aos judeus, como o
Brasil recebia a imigração judaica? ”. Novamente, Tucci reitera a dificuldade desses
imigrantes em chegarem ao Brasil, ao contrário dos alemães no pós-45. “Houve casos
horríveis acontecidos entre 1944 e 1945. Num deles, o Brasil levou meses para
responder positivamente à aceitação de 500 crianças órfãs judias que estavam em perigo
na França ocupada. Quando houve a resposta, Hitler já havia se suicidado e a guerra,
acabado”, Inconsolado, Pires volta a querer dar uma idéia de um Brasil longe de
qualquer ideologia nazista. E termina a entrevista com uma pergunta – extremamente
tendenciosa – a respeito do voto a favor dado pelo Brasil para a formação de um estado
judeu, sendo está a prova de um país marcado por uma política sem nenhum resquício
anti-semita, no entanto, não obtendo o resultado desejado – “A presença do Brasil na
assembléia da ONU que ia resolver a partilha da Palestina não ocorreu porque o Brasil
era favorável aos judeus”.
As indagações postas por Pires tentariam coroar a ausentabilidade de culpa por
parte do Brasil nos episódios relacionados ao Holocausto? Qual, de fato, era a intenção
de Pires? Fazer um retrato do Brasil – objetivo que Tucci tentou traçar em poucas linhas
– ou, simplesmente ter a resposta de uma especialista sobre o período quando tratamos
da política brasileira? Concluímos tratar-se, sem sombra de dúvida, da segunda
hipótese, que, no entanto, mostrou resultados reveladores para o próprio autor de todos
os textos que compõem a revista – talvez reside aí a prova da limitação da pesquisa de
Pires.
27
7. Conclusão
Optamos por trabalhar na conclusão com o último artigo da revista – que aparece
intitulado no índice como “Um demônio encarnado?” – porque, primeiramente,
observamos que é neste artigo que muitas das posições do autor dos textos, Lucas Pires,
aparecem de maneira mais clara, em uma espécie de síntese de tudo o que foi abordado,
tendo uma sobreposição da idéia de um Hitler psicologizado.
A pergunta que, talvez, os textos tentaram responder – discutiremos daqui a
pouco se conseguiram – foi: por que Hitler fez o que fez? O que motivou Hitler? Houve,
desde o início, ao contrário da abordagem da Almanaque Abril, uma centralização
excessiva e, na nossa interpretação, prejudicial sobre a figura de Hitler como o único
líder nazista – as vezes dando a idéia também de que este estivesse isolado – e o único
responsável pelo segundo conflito mundial no século XX. Que a revista faz a
abordagem de um líder é inegável; a questão é: por que na edição sobre o Buda houve
uma preocupação em retratar o Budismo e seus seguidores em todo o mundo? As
escolhas de Pires foram, sem dúvida alguma, no intuito de ressaltar exclusivamente a
figura de Hitler, coroada com esse último artigo, em que temos – mais – um desenho de
Hitler e a frase “Compreender e julgar”. Logo acima se encontra outra frase: “O que
fica”. Há que se reiterar que na edição sobre o Buda não existe essa sessão e, de maneira
clara, busca-se ao final fazer uma abordagem contemporânea do Budismo.
O que talvez tenha nos surpreendido mais foi a capacidade, presente nessa
edição sobre o Hitler, de se “enxugar” o assunto sobre a 2a. Guerra Mundial a ponto de
torna-lo, em alguns trechos, um pouco confuso. Dados que estão inseridos sem muito
nexo, nomes de outros importantes líderes que deveriam constar e, simplesmente, não
constam – e quando constam, aparecem totalmente “perdidos” de um contexto histórico
-, ausência de referências bibliográficas a respeito de algumas informações...Talvez
tenhamos lido os textos de maneira muito crítica?! Não, se levarmos em consideração a
exposição do tema na revista Almanaque Abril, muito melhor trabalhada sobre esses
aspectos, deixando a clara impressão da preocupação em se fazer um texto coeso,
interessante e, acima de tudo, informativo. A cada novo episódio sobre a ascensão do
nazismo, são retratados não só a figura de Hitler, mas apresentadas e retratadas outras
personalidades, sejam elas nazistas, comunistas etc, desde que tenham uma importância
significativa para o período.
O foco das duas revistas muda de posição se levarmos em consideração que na
“Grandes Líderes da História” existe a intenção dos editores em “matar a sede” sobre a
28
pergunta “quem foi Adolf Hitler?”, e na Almanaque Abril em retratar a 2a. Guerra
Mundial desde do Tratado de Versalhes até a inserção do Brasil no conflito – se
levarmos em conta os quatro volumes da edição; no volume que analisamos, as
informações, procurando “abstrair” ao máximo as diferenças “físicas” (números de
páginas, tamanho dos artigos), possuem um fundamento bibliográfico um pouco mais
interessante. Falta, sem sombra de dúvida, as duas algo que as coloquem no patamar de
edições que fizeram uma pesquisa compromissada com a construção da informação
sobre temas históricos para o público leigo, na medida em que não conseguem se
desvencilhar de determinados estereótipos – já tão arraigados na sociedade -, nem se
esforçam nesse sentido, interpretando a inserção da ex-URSS – no caso da “Grandes
Líderes da História” nem há uma significativa interpretação, por mais errônea que seja -
de uma maneira correta, sempre buscando ligar a salvação do mundo da ameaça nazista
ao Ocidente e, principalmente aos EUA. Quanto a esse aspecto guarda-se, mais uma
vez, uma contradição interessante, presente na “Grandes Líderes da História”. No guia,
a respeito dos filmes que retratam sobre a 2a. Guerra Mundial, Pires acentua que filmes
como o “O resgate do soldado Ryan” trazem uma visão muito “norte-americanizada” do
conflito e que, portanto, se faz necessário enxergar com olhos críticos. Vem, daí, a
seguinte pergunta: por que essa visão “norte-americanizada” foi tão aceita durante a
exposição dos artigos – vide o caso criado a respeito da polêmica morte de Hitler, com a
afirmação, as vezes do governo dos EUA, de que Hitler não estava morto, quando seus
restos mortais estavam sob o poder do exército vermelho -?
Não houve na “Grandes Líderes da História” uma preocupação em se retratar a
ascensão das políticas socialistas e comunistas e a perseguição de Hitler a essas pessoas
– o que, em nossa concepção, foi um dos maiores erros da revista -, o que é confirmado
pelas perguntas de Pires a Tucci, nenhuma associando a chegada de judeus comunistas
ao Brasil – vale lembrar que é nesse contexto que se formam a maioria das associações
judaicas em São Paulo. Portanto, mais uma vez, a abordagem histórica ficou,
grotescamente, a desejar.
Voltando ao artigo “Compreender e julgar”, Pires procura endossar a idéia de
que a revista buscou fazer com que as pessoas compreendessem quem foi Hitler para
que, assim, pudessem julgar. De fato – e aí foi um erro nosso e também seria resultado
de um trabalho muito extenso -, não perguntamos as pessoas se elas sabiam quem era e
o que fez Hitler depois de terem lido essa publicação, e se houve alguma mudança a
respeito da interpretação que tinham do líder nazista. O que, certamente, podemos
29
afirmar é que Pires não esconde, desde o início, a abordagem psicologizante e a
consolidação da imagem de um vilão histórico que será feita a respeito da figura de
Hitler. Nos pareceu, em alguns momentos que estamos lidando com uma pessoa que
não possuía relações sociais, amorosas e afetivas, o que, por mais cruel e desumano que
tenha sido o nazismo, é um erro afirmar, seja porque nos impede de estabelecer um
olhar crítico e construtivo a respeito do passado, seja porque nos coloca – a nós todos,
jornalistas, advogados, biólogos... - na função de juízes de um passado que se faz tão
presente nos dias de hoje, respaldado pela violência, intolerância e preconceitos, e não
construtores de uma cidadania. Entender Hitler sobre a “ótica da moral e da ética
cristãs” irá, de fato, nos auxiliar a aprender algo construtivo sobre a 2a. Guerra Mundial,
ou apenas criaremos – reafirmaremos!!! – valores totalitários? Em que reside o conflito
que durou cerca de oito anos e custou a vida de mais de 50 milhões de pessoas? Não foi
em teorias arbitrárias e totalitárias?! Quem carrega a “verdade histórica” para que
possamos nos colocar no papel de tão somente julgadores?
Devemos nós, como alerta Hobsbawn e como historiadores que somos,
compreender de que maneira houve e se deu a ascensão nazista para que outras políticas
de extermínio em massa – como as que ocorrem até os dias de hoje na África – cessem,
façam parte de um passado compreendido¸ antes de ser julgado. Até porque de nada
adiante intitular Hitler de “Gênio do Mal”. Já se foram milhões de pessoas, houve, após
1945, a explosão de teorias xenofóbicas, nascimento de políticas cada vez mais
excludentes; portanto, devemos não tão somente “adjetivar” e, sim, encampar uma luta
– aquela que Chaplin iniciou em seu filme “O Grande Ditador” – contra o renascimento
dessas teorias e conflitos no século XXI.
A análise desse tipo de material – revistas de grande circulação –, que o curso de
Teoria da História I, sob a docência da professora doutora Raquel Glezer, nos propiciou
a entender quais e porque as abordagens feitas por essas revistas, uma pesquisa
reveladora e gratificante. Aqui estão alguns poucos resultados, aqueles que nos
couberam que foram possíveis de se realizar. Esperamos ter contribuído para a
construção de um trabalho coletivo, com outros grupos da sala, e que só tem, agora, que
ser acrescido de outras conclusões, estas que não foram feitas, seja por falta de tempo,
seja por serem mais bem elaboradas quando associarmos a nossa pesquisa a outras.
30
8. Bibliografia
GAY Peter. Freud para Historiadores. Tradução: Osmyr Gabbi Junior. 2a.
edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1989.
MARCUSE, Herbert. Razão e Revolução. Tradução: Marília Barroso. 3a. edição.
Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1984.
SLATER, Phil. Origem e significado da escola de Frankfurt. Tradução: Alberto
Oliva. Editora Zahar. 1978.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. Tradução:
Renato Janine Ribeiro, Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras. 1996
31
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Disciplina: Teoria da História I
Período: Noturno
Data: 16/06/2005
TRABALHO FINAL
II. Objetivo
O objetivo do trabalho é analisar as abordagens dos artigos e reportagens
publicados nas revistas sobre o tema das Cruzadas.
III. Introdução
Entre abril e maio deste ano, dois acontecimentos chamaram a atenção do mundo
para a cristandade. O primeiro foi a morte e sucessão de um papa que governou a Igreja
Católica por um quarto de século. O papa em questão é João Paulo II, que ficará para a
história como o papa peregrino, conservador nas questões internas da Igreja, porém,
inovador nas relações internacionais e nas questões de política externa (principalmente
entre Ocidente e Oriente); o segundo fato, que se refere ao tema de nossa discussão, foi o
lançamento de uma superprodução cinematográfica que trata do assunto das Cruzadas. O
filme soma-se ao interminável debate acerca das relações entre Ocidente e Oriente,
entremeadas por conflitos que se sucedem há séculos.
Nas bancas de jornal, muitas publicações deram destaque aos assuntos supra
citados. Algumas revistas especializadas em História e outras em divulgação de ciência e
conhecimentos gerais não perderam a oportunidade e trouxeram em suas edições daquele
período, reportagens e artigos. Destacaremos três publicações: História Viva, nº. 15,
janeiro de 2005; Superinteressante, edição 213, maio de 2005; Terra, nº. 157, maio de
2005. Abordaremos, para concluir, as reportagens publicadas na revista Veja, edição 1903,
ano 38, nº 18, de 4 de maio de 2005, sobre o assunto.
A revista História Viva destacou em sua capa de janeiro, portanto, antes do período
acima descrito, o tema das Cruzadas. As matérias sobre o assunto, publicadas a partir da
página 28, constituíam um conjunto intitulado “Dossiê Fundamentalismo Cristão”. O
editorial resume o teor dos textos: a gradativa miscigenação que culminou com a
influência oriental na cultura do Ocidente e a expansão definitiva do Islã. Cabe aqui,
ressaltar as frases do editorial que encerram o assunto: “Hoje, o Oriente, mais uma vez,
está em chamas, por iniciativa do Ocidente”. A revista Superinteressante, analisando o
encontro entre as culturas do Ocidente e Oriente, produz de forma criativa, dois painéis
comparativos, que se seguem através das páginas, retratando as visões cristã e
2
muçulmana das cruzadas. Já Terra reflete sobre a perspectiva atual das Cruzadas,
enfatizando as opiniões e alegações que afirmam o caráter atual das Cruzadas, com
novos personagens, armas e interesses, recrudescendo brutalmente com as vicissitudes
entre Ocidente e Oriente.
IV. Apresentação
História Viva
3
enriquecimento cultural e científico do Ocidente é retratada no artigo de Malek Chebel. O
autor ressalta o requinte e a sofisticação dos costumes árabes e como os ocidentais se
inspiraram em tais práticas ao associá-las aos rituais medievais de cavalaria. O artigo de
Laure Noualhat apresenta o “retrato” feito pelas escolas de alguns países do Oriente Médio
aos seus alunos sobre as Cruzadas. Nos livros escolares, a aventura das Cruzadas
representa uma rivalidade alimentada no seio da História, entre Ocidente e Oriente,
embora, não constitua passagem essencial no ensino de história do mundo árabe. A
história refletida à luz do passado recente fica por conta dos comentários dos professores.
A colonização e as guerras de independência também se situam no contexto de julgo do
Ocidente, somando-se ao episódio das Cruzadas. Nas palavras do filósofo iraquiano Isa-
Youssif, “a religião sempre teve mais importância no Islã do que no Ocidente. O Estado e a
religião são indissociáveis entre nós. Ao passo que na Europa faz já muito tempo que o
papado não influência a esfera política. Nos livros escolares, as crianças aprendem que
seu povo, tolerante e aberto, viu-se invadido por europeus fanáticos, extremamente
interessados nas riquezas de seus territórios. A história se repete reiteradamente, e talvez
seja essa a lição que elas aprendem”.
Os depoimentos identificados em seções do dossiê denominadas “Olhares
Cruzados” têm em comum a mesma opinião defendida ao longo de todo o conjunto das
matérias, ou seja, a reunião da comunidade muçulmana durante os “acontecimentos
cruzados” e o benefício que o choque entre as duas civilizações trouxe, principalmente, ao
Ocidente, através de novas idéias, vestuário, arquitetura, ciências, práticas higiênicas e
alimentares.
Superinteressante
A edição nº. 213 trouxe estampada em sua capa, a chamada para a matéria das
Cruzadas. Os dois textos escritos para uma leitura fácil e agradável, como é de praxe na
revista, pelo jornalista Rodrigo Cavalcante, alternavam-se de modo criativo entre as
páginas da publicação, com os títulos, “O Exército de Cristo” (visão cristã) e “A Invasão
Bárbara” (visão muçulmana). Ricamente ilustrado, o conjunto dá um rápido panorama
histórico dos acontecimentos, valendo-se dos recursos gráficos disponíveis (infográficos),
focando principalmente a invasão de Jerusalém em 1099. O jornalista destaca em seus
4
textos, opiniões e argumentos de historiadores medievalistas e de História da Ásia como
Maria Fátima Fernandes (UFPR), Leila Rodrigues da Silva (UFRJ), Peter Demant (USP),
para pontuar as informações apresentadas na matéria. Ao final, como acontece em todos
os artigos da revista, há um quadro intitulado “Para saber mais” que relaciona uma
bibliografia curta sobre o assunto.
Terra
Veja
Conclusões
Revistas Utilizadas
História Viva, ano II, nº. 15, p. 28-49, janeiro, 2005, Duetto Editorial, São Paulo
Superinteressante, edição 213, p. 52-61, maio, 2005, Editora Abril, São Paulo
Terra, ano 13, nº. 157, p. 40-53, maio, 2005, Editora Peixes, São Paulo
Veja, ano 38, edição 1903, nº. 18, 4 de maio de 2005, p. 197-207
6
CAPAS
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Disciplina: Teoria da História I
Profa. Dra. Raquel Glezer
Período Noturno
TRABALHO SEMESTRAL:
Nossa História e a História dos Vencidos
Junho de 2005
Alunos:
Alexandre Bastos N. USP 4932098
Felipe Dias Carrilho N. USP 4931566
Renata Silene da Silva N. USP 4956491
Renato Machado de Sobral N. USP 4932230
Sérgio Ribeiro de Almeida Marcondes N. USP 4931361
INTRODUÇÃO
Esta matéria trata da questão da luta feminina pela emancipação. Escolhemos esta
matéria porque ela aborda um tema que ainda é atual e não está encerrado: As mulheres e
os homens ainda não se igualaram em todos os aspectos e muitas são as tentativas da mídia
em apagar a memória dos movimentos das mulheres.
A matéria selecionada diz respeito a como a imprensa, composta por homens,
enxergava o movimento pela emancipação feminina no início do século XX. A autora da
reportagem é Rachel Soihet, professora do Departamento de História da Universidade
Federal Fluminense e autora de "Condição Feminina e outras formas de violência.
Mulheres pobres e origem urbana". Portanto, especialista com trabalhos já publicados sobre
o assunto.
Neste caso, não há como se considerar as mulheres como uma classe, mas sim como
uma parcela reprimida pela sociedade. E essa repressão não dependia da condição social,
ela era feita apenas devido ao gênero. Este movimento social repercutiu em todas as
classes, mas, talvez pela origem das fontes primárias, são retratadas somente as mulheres da
elite.
A reportagem aborda o modo como a imprensa ridicularizava a luta feminista.
Apesar de fazer certa apologia à luta feminista, a reportagem também coloca os pontos que
ainda precisavam ser melhorados. A autora cita de forma destacada movimentos
organizados das mulheres por sua emancipação e aponta a principal conquista do
movimento até então, o voto feminino conquistado em 1932. Este destaque é importante,
pois tira do movimento a carga de excentricidade e legitima suas reivindicações.
Para tal análise, autora utiliza mais fontes primárias e não há nenhuma fonte
historiográfica. As fontes primárias são em geral trechos de jornais e revistas da época, para
ilustrar o pensamento da época quanto à emancipação das mulheres. As fontes usadas pela
autora são as seguintes:
A emancipação feminina era vista pelos mais diversos setores sociais e tendências
políticas como grave ameaça à ordem estabelecida e a ordem estabelecida encontrava
legitimidade até no pensamento científico da época:
A Filosofia da época considerava a inferioridade da razão das mulheres como fato
incontestável, cabendo a elas apenas cultivar o necessário para o cumprimento de suas
tarefas domésticas;
A Medicina afirmava que a fragilidade, o recato e predomínio das faculdades
afetivas sobre as intelectuais eram características biologicamente femininas, assim como a
subordinação da sexualidade pelo instinto maternal;
Pela Medicina Criminalista, as mulheres intelectualizadas representavam um risco.
Uma das alegações era a de que ela poderia cometer o infanticídio. Mulheres dotadas de
grande inteligência se revelariam criminosas natas. Uma vez que a mulher instruída
repudiava o marido vulgar, dificilmente ela encontraria um marido, tendo como últimos
recursos o suicídio, o delito e a prostituição.
Apesar do caráter das adversidades enfrentadas pelas mulheres, a reportagem mostra
que o movimento não era algo isolado e sim algo que progressivamente tomava corpo,
tanto que a imprensa se preocupou em ridicularizá-la. De modo geral o movimento é
abordado de forma coletiva, sem eleger um líder, embora haja um quadro que destaca o
nome de Bertha Lutz, uma das pioneiras do movimento.
Trilhando os caminhos da História Social e da História do pensamento, a
reportagem ilustra através das fontes disponíveis as idéias da intelectualidade da época, que
de certa forma, era passada como conceito para os outros segmentos da população, fazendo
destas “pesquisas científicas” verdades absolutas para repressão.
A reportagem não se prende apenas ao passado e tem preocupação de mostrar o
reflexo disso no presente, em destaque num quadro da matéria. Além disso, a reportagem
mantém uma postura crítica colocando que as mulheres ainda não conseguiram igualdade,
mesmo hoje em dia. Por outro lado, faltou uma crítica e uma análise sobre o movimento
feminista no Brasil hoje. Quais suas reivindicações, por quem ele é composto e seus
últimos resultados.
Análise da matéria de capa "O poder da capoeira", na Revista Nossa História, nº 05,
março/2004.
Análise da matéria de capa "São Jorge, guerreiro de fé", na Revista Nossa História, nº
07, maio/2004.
Análise da matéria de capa "A face negra da abolição", na Revista Nossa História, nº
19, maio/2005.
Sobre a Revista. 4
Tema e objetivo. 7
Anexo 15
2
I. Sobre os objetivos e os métodos do trabalho
3
II. Informações gerais sobre a Revista
Sobre a Revista:
4
fatos mais significativos que vem sendo desenvolvidos nas universidades e
instituições de pesquisa do país no campo historiográfico. Essa informação pode
ser relativizada, na medida em que é preciso se perceber até que ponto o leitor
“leigo” da revista se vale das informações adquiridas como um pseudo-
conhecimento científico e também até que ponto esse conhecimento dito científico
abordado pela revista se aproxima dos estudos universitários de fato.
A supervisão do conteúdo da revista é feita por um conselho editorial
vinculado à Biblioteca Nacional e composto por nomes importantes da
historiografia brasileira. Esse conselho é responsável pela avaliação do projeto
gráfico, pela discussão da linguagem a ser utilizada, pela avaliação das seções e
escolha dos autores a serem publicados em cada edição. Todas as decisões são
tomadas nas reuniões de pauta que acontecem uma vez por mês no Rio de
Janeiro.
A linguagem da Revista é como foi discutido acima, bastante acessível ao
grande público e suas matérias são distribuídas em um formato jornalístico. Os
textos apresentam uma leitura critica sobre as raízes e atualidades do Brasil, da
América e de Portugal, além de trazer biografias de personagens marcantes da
história latino-americana ligada ao Brasil e demonstrar um pouco sobre o oficio do
pesquisador. Em princípio publicava-se uma coluna em cada edição a respeito da
história da Espanha, no entanto essa idéia logo foi descartada por aparentemente
não ter sido bem aceita pelo público.
O projeto editorial prima pela apresentação gráfica, que procura equilibrar
os textos e a iconografia. A edição se vale do uso de boxes explicativos ou de
glossários no canto da página, quando necessário, para acrescentar à matéria.
Imagens do acervo da Biblioteca Nacional ilustram artigos e matérias, ampliando o
acesso à memória gráfica que a instituição preserva, outra fonte importante de
ilustrações é o acervo do Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas.
Segundo informações da edição, a idéia de contar a História do Brasil em
formato revista surgiu quando executivos da Vera Cruz, analisando o mercado
nacional constataram a inexistência de veículos dedicados ao assunto e voltados
para o grande público. Para conseguir colocar o projeto em prática, a editora
propôs uma parceria à Biblioteca Nacional, que aderiu prontamente à iniciativa. A
Biblioteca Nacional entrou de fato no projeto uma vez que tem a responsabilidade
de ser a detentora do maior acervo de livros, documentos e jornais sobre História
do Brasil e, portanto, em sua concepção, ter o papel de difundir, preservar e
manter viva a história do país.
5
Nos últimos meses, a revista tem passado por uma reformulação editorial.
Essa mudança teve inicio com a saída do historiador Luciano Figueiredo da edição
da revista, substituído por uma jornalista, o que refletiu em mudanças no formato e
conteúdo das matérias, tornando-as gradativamente mais comerciais, isto é as
abordagens históricas passaram a ser cada vez mais superficiais. Essa mudança,
segundo informações do conselho editorial, se deveu ao fato da revista não pagar
sua publicação, ou seja, dar prejuízo à editora Vera Cruz. A nova linha adotada
vem causando desconforto entre os membros do conselho editorial que se
demonstram descontentes com a pressão exercida por parte da editora na escolha
daqueles que assinarão matérias, e também por verem o trabalho proposto
inicialmente, que era o de estimular o pensamento critico sobre a história do nosso
país através da reflexão, se distanciar ideologicamente do caráter científico,
aproximando-se do jornalístico. A mudança da linha editorial da revista representa
uma tentativa de expansão no mercado, isso significa englobar uma maior parcela
da população como público alvo. Essa mudança representa um grande corte no
trabalho inicial proposto e envolverá um grande trabalho de reconstrução
ideológico e mercadológico entre aqueles que constroem a revista, o que é no
mínimo interessante de ser observado, uma vez que com essas mudanças a
tendência é que a revista se aproxime da linha dispersa e sumária de se abordar
história que foi tão criticada por ela própria quando se referia às publicações
existentes até então no mercado brasileiro.
6
grande repercussão pública ao longo do mês, de uma maneira atualizada. Assim,
entende-se que são essas características que fazem dessa seção a que possui o
maior caráter jornalístico de toda a revista.
Tema e objetivo:
7
são historiadores profissionais, pode ser de grande valia para que se localize as
fronteiras do conhecimento histórico.
8
obtemos informações acerca de um projeto que envolve a preservação de uma
fazenda construída pelos jesuítas.
Essa questão da preservação também aparece tendo em vista a cultura
popular. Seja através da divulgação de publicações que vem sendo editadas com
vistas a registrar (e assim preservar) esse tipo de cultura, seja como referências a
iniciativas que visem estimular a continuidade da execução dessas tradições (de
modo a preserva-las). Temos como exemplo as matérias “As muitas faces do
Cazumbá” [15] e “Viagem pela música nordestina” [17], ambas publicadas no
número 14. A primeira trata da publicação de um livro que aborda os processos de
elaboração de um adereço típico do “bumba-meu-boi” – um tipo de máscara
conhecido como Careta do Cazumbá. Já a segunda se refere ao registro em CD
da música popular nordestina. Ainda no mesmo número da Revista temos uma
meteria sobre um projeto que tem por objetivo a preservação do Fandango
(manifestação popular típica dos litorais de São Paulo e Paraná) [14].
Outro tema bastante explorado pela seção se refere à publicação de
produtos culturais. Isso engloba por um lado o lançamento de livros, filmes, discos,
programas de tv e afins, por outro, a divulgação de iniciativas artísticas (um artista
que vem produzindo trabalhos relacionados a um tema que tem relação com
história). No número 13 da revista existem duas matérias divulgando o lançamento
de filmes: a primeira se refere ao documentário Memórias de Chumbo [7], e a
segunda ao filme Peões de Eduardo Coutinho [11]. Há ainda a divulgação de um
livro que reúne textos de uma jornalista a respeito dos músicos brasileiros dos
anos setenta [10]. Na edição 17 temos a matéria “Brasil animado” [19], que traz
informações sobre a produção de um desenho animado que tem como tema
assuntos relacionados à história do Brasil. O número 18 faz referência a um
músico que criou um concerto tendo como inspiração a Carta de Pero Vaz de
Caminha [26].
9
Ano) alguma relação com a História, ou seja, eles pertencem, de alguma forma, ao
campo de trabalho da História, possuem íntima relação com o objeto da História.
Mas a pergunta inicial, relativa a qual seja o campo de trabalho da história, ainda
persiste. Não basta indicarmos os temas que são objetos da História. Precisamos
saber porque eles são considerados objetos da História. Que características
intrínsecas a esses temas fazem com que eles sejam históricos?
Tendo em vista essa questão nos propusemos a analisar as matérias da
seção em busca de elementos que possam nos sugerir uma resposta. Num
trabalho de sondagem inicial foi possível notar que muitas das matérias
apresentavam em seu próprio texto argumentos com vistas a justificar sua
inserção dentro do eixo temático da seção (eixo temático que, como já foi
indicado, é constituído por elementos culturais da atualidade – projetos,
publicações, eventos – relacionados com história). Então partimos em busca
desses elementos que pudessem nos indicar que características tinham aqueles
assuntos que os fazia estarem relacionados ao campo de trabalho da História.
Observou-se que em muitas das matérias existem passagens destinadas a
demonstrar qual a relevância do tema tratado. Poderia-se dizer que se trata de
uma espécie de nota explicativa, visando deixar claro porque aquele tema foi
escolhido para ser ali trabalhado. Essas justificativas dos temas são de quatro
gêneros: Importância em termos historiográficos; importância do objeto em si;
preocupação social; e importância ligada à preservação da memória. O primeiro
desses gêneros justificativos (importância em termos historiográficos) se refere à
relevância do tema histórico ao qual se refere o objeto tratado na matéria.
Notamos algo desse tipo na matéria “Os peões do ABC aos olhos de Eduardo
Coutinho” [11]. A matéria faz questão de destacar que o fenômeno histórico ao
qual se refere o filme (as mobilizações operárias de 1979 e 1980) é dos mais
importantes. Algo idêntico ocorre na reportagem ”Esquerda e memória” [22].
Afirma-se que o assunto da matéria (organização de um acervo documental) se
refere a um tema importante: “Elas (as esquerdas) são protagonistas de capítulos
importantes da nossa história”. Ou seja, há um bom motivo para se dar destaque
ao processo de organização pelo qual vem passando este acervo: trata-se de uma
documentação que se refere a um tema importante. Da mesma forma na matéria
“As imagens da alma do Bixiga” [30]. A preservação e divulgação de determinados
documentos (tema da matéria) são importantes porque o tema ao qual se refere
essa documentação é importante. Trata-se de uma documentação digna de ser
preservada porque Adoniran Barbosa foi o “... compositor que melhor soube
traduzir o espírito paulista”. Em outra matéria se apresenta como relevante a
10
recuperação da história do Teatro de Arena de São Paulo porque tal Teatro foi o
responsável por “...nacionalizar o palco brasileiro...” [1].
O segundo gênero de justificativa de importância apresentado pelas
matérias diz respeito à importância que o objeto abordado pela reportagem possui
em si mesmo, independentemente da relevância do tema histórico a que se refira.
Na matéria a respeito do livro Nada será como antes observamos que o objeto da
matéria (o livro) é simplesmente reputado como importante: “bibliografia básica...”;
“’é um livro de referência’” [10].
Isso acontece na matéria sobre a restauração da Santa casa de Salvador.
“O valor artístico (do acervo da Santa Casa), destaca a museóloga do projeto, é
inestimável” [9]. A importância dos assuntos que se possa estudar a partir daquela
documentação (acervo da Santa Casa) não foi colocada em causa. Ou se está
considerando de antemão que tais assuntos são importantes (então, numa escala
de documentos interessantes sobre tais assuntos importantes a documentação da
Santa Casa se encontra no alto do podium), ou simplesmente não se está
trabalhando com a idéia de que existem temas mais relevantes que outros (então
todos os temas são importantes, e a única variável existente é a documentação:
existem os documentos que nos conferem informações mais esclarecedoras e
outros nem tanto).
Algo da mesma espécie ocorre na matéria de divulgação da nova
edição do livro do Padre Serafim Leite [24]. O objeto da matéria é algo relevante:
“Tudo na obra A História da Companhia de Jesus no Brasil é monumental”.
Independentemente do tema histórico ao qual se refere o livro ser ou não
importante (a matéria se ausenta de fazer esse julgamento; ou então pensa que a
importância deste tema é óbvia, dispensando esclarecimentos) as informações
que aquele objeto traz sobre o tema são relevantes: “’O que se sabe sobre os
jesuítas no nosso processo civilizatório se deve ao padre Serafim’”.
O terceiro tipo de elemento que é apresentado como capaz de conferir
importância ao tema da matéria diz respeito à relevância social desse tema. Várias
matérias da seção apresentam como um aspecto extremamente positivo (capaz
de conferir importância) a preocupação social dos projetos e eventos que estão
sendo abordados. Essa preocupação social pode ser dividida em duas categorias.
A primeira diz respeito à ampliação do público alvo que terá acesso ao
conhecimento histórico possibilitado pelo objeto abordado pela matéria. Isso fica
bem claro em duas matérias: naquela que diz respeito à publicação do Catálogo
Raisonné de Portinari [4], e na que se refere à reedição do livro do padre Serafim
Leite [24]. Tanto em uma quanto em outra se dá destaque ao fato de grande parte
dos exemplares das obras terem como destino, através de doação gratuita,
11
diversas instituições públicas do país. Dessa forma o acesso ao conhecimento
possibilitado por aqueles livros será bastante ampliado, já que seus preços
tornariam seu público bastante limitado. Algumas matérias que tratam da
organização e preservação de acervos também trabalham com essa questão da
ampliação do público. Em “As imagens da alma do Bixiga” [30] é ressaltada a
capacidade daquele empreendimento de tornar o acervo mais acessível. O
mesmo acontece em “Esquerda e memória” [22], onde se destaca que “qualquer
um pode consultar o acervo”.
A segunda categoria de preocupação social diz respeito à capacidade
daquele objeto de se inserir no mercado de circulação monetária. São projetos de
preservação histórica que prevêem a geração de renda, geralmente através do
turismo histórico. É o caso do projeto vinculado à restauração da Santa Casa, o
qual prevê a instalação de um complexo turístico em torno do prédio histórico,
incluindo um restaurante e um hotel-escola. Já a matéria “Em cada casa uma
história” [23] que trata de um projeto de valorização do patrimônio histórico de
Ouro Preto coloca a preocupação de melhorar as condições da cidade para atrair
turistas interessados em seu patrimônio histórico. Há ainda os casos não
diretamente relacionados com turismo. Por exemplo, a matéria a respeito do
engenho Monjope [12], a qual aponta para a possibilidade de que após o término
dos trabalhos de restauração o engenho se torne um centro de distribuição de
cachaça artesanal.
Quanto ao último gênero de aspecto justificativo temos os elementos que
chamam atenção para a importância da preservação da memória coletiva. Esse
tipo de preservação é apontado como um aspecto positivo dos objetos divulgados.
Na matéria “Na trilha do Fandango” [14] é ressaltada a capacidade do projeto
abordado de conscientizar e educar as instituições locais no sentido da
preservação do patrimônio cultural. A matéria que trata do livro do Padre Serafim
Leite [24] também dá destaque para o fato de essa obra poder colaborar para
sensibilizar a sociedade no que se refere a importância da preservação do
patrimônio histórico.
Partimos da hipótese de que a escolha dos objetos que serão assuntos das
matérias é feita tendo em vista determinados critérios. Critérios esses que se
baseiam na relação desses assuntos (eventos, publicações, etc.) com História.
12
Mas o que entendem os autores da sessão por História? Ou seja, que temas são
próprios da História? E que temas não o são (devendo por isso ser deixados para
que outros campos do conhecimento trabalhem com eles)? Até agora vimos quais
são os temas abordados pela seção, e investigamos as características desses
temas que os fazem ter alguma relação com o campo de trabalho da História
(observamos os elementos contidos nesses temas que os tornam aptos a serem
objeto da seção Mês e Ano). O que nos resta investigar é de onde vem os critérios
utilizados pelos autores da seção para definir que características são essas que
conferem historicidade a um tema. Ou seja, se existem determinadas
características (importância do assunto histórico ao qual se refere o tema;
importância do tema em si; preocupação social contida no tema; importância do
tema para a preservação da memória) dos temas, que lhes tornam dignos de ser
objetos do campo de trabalho da História, é preciso entender porque essas
características possuem essa capacidade. Em suma: quais são os critérios do
autor para definir o que é histórico?
Para dar conta desse problema será útil trabalharmos com o primeiro
daqueles aspectos que afirmamos que atuam de modo a conferir importância aos
assuntos que são objetos de trabalho da seção Mês e Ano. Trata-se da
importância dos temas históricos a que se referem os assuntos abordados pela
seção. Trabalharemos com duas hipóteses. Primeira: os autores da seção
possuem critérios sistemáticos e bem esclarecidos no que se refere a quais sejam
os temas históricos importantes (ou seja: possuem uma visão bem delimitada
acerca de qual seja o objeto de trabalho da História). Segunda: não existe essa
sistematicidade criteriosa e bem definida por parte dos autores da seção. Eles
simplesmente atuam como caixas de ressonância, refletindo (e simplificando)
idéias fragmentadas e de origens diversas acerca do que sejam temas
importantes para a História.
Para verificar se a primeira hipótese corresponde ao que de fato
encontramos na Revista é preciso observar quais são os temas reputados como
importantes pelas matérias, tentando apurar se há ou não algum critério
sistemático por detrás disso. Tais temas são os seguintes: movimentos artísticos
considerados relevantes por terem rompido com os padrões de sua época [1; 9;
13; 30]; assuntos relacionados a determinadas pessoas que são consideradas
importantes por terem se destacado em determinadas áreas de atuação [9; 12; 13;
30]; o papel das esquerdas [11; 22]; lacunas do conhecimento histórico [16];
cultura popular [15]; concepção historiográfica “sem maniqueísmos” [19].
Observando o quadro apresentado acima, vemos que existem algumas
posições aparentemente contraditórias. Por um lado é reputada importância a uma
13
história da cultura popular e a uma história das esquerdas, algo que poderia se
filiar a uma perspectiva historiográfica que se volta para as camadas que durante
muito tempo foram esquecidas pela historiografia (uma história dos vencidos). Por
outro lado existem algumas matérias que atribuem como temas históricos
importantes aqueles que se referem as grandes personalidades – por exemplo a
matéria a respeito do engenho Monjope, que faz questão de destacar que D.
Pedro II se hospedou em um dos cômodos da construção; o objeto da matéria (o
engenho) cresce em importância somente porque abrigou uma personalidade [12].
Algo desse tipo pertence a um tipo de visão historiográfica bem diferente – se não
oposta – a anterior. Faz referência a uma história das grandes personalidades. De
algum modo, vão ao mesmo sentido as matérias que fazem referência à
importância das grandes rupturas artísticas. Dá-se destaque aos vencedores (a
arte que é valorizada pelo público ou pelos críticos), e não aos inúmeros artistas
que não são considerados os mais importantes.
Essa pequena amostragem feita acima nos leva a supor dois tipos de
respostas para a primeira hipótese. Primeiro, tendo em vista as contradições
demonstradas acima, não existiria uma concepção bem delimitada acerca do que
seja objeto da história. Segundo, os autores da seção possuem sim uma
concepção bem delimitada, mas esta engloba visões historiográficas opostas.
Caso considere-se válida a primeira resposta, se abrirá o caminho para
pensarmos na segunda hipótese que foi anteriormente levantada (a da concepção
não sistemática provida de fragmentos de visões historiográficas captados em
diversos lugares). Trata-se de uma hipótese que serve perfeitamente para explicar
as contradições no que se refere aos temas históricos que se atribui importância
nas matérias. E ela se reafirma quando ouvimos Helena Aragão (responsável pela
seção em algumas das edições por nós analisadas) que ela própria não tinha
grandes experiências com História, tendo suas concepções acerca do tema
bastante limitadas por conta disso.
14
Anexo
8 Os pequenos altares de Criação de um curso Projeto envolvendo a)[Importância social do projeto]: {envolver a
Minas que ensina técnicas de restauração de comunidade local no projeto}: formar
16
restauro de oratórios patrimônio históricoestudantes vindos das escolas públicas;
para a comunidade da “’Eles poderão fazer oratórios para vender’”.
cidade de Caraça b) [A História virando capital]: “’Eles poderão
(MG). fazer oratórios para vender’”.
9 Santa Casa de portas Restauro da Santa Projeto de a) [Transformação do patrimônio histórico em
abertas: com parte da obra de Casa de Misericórdia Restauração de algo que gere capital]: turismo histórico: trata-
restauração concluída, a mais de Salvador (parte do patrimônio artístico- se de um projeto que tornará o complexo
antiga ordem religiosa do Projeto Portal da arquitetônico/ “’auto-sustentável após as obras’”; serão
Brasil exibe suas belezas. Misericórdia). Transformação abertos um restaurante, uma grande
desse patrimônio em operadora de turismo e um hotel-escola.
pólo turístico. b) [Justificação da relevância do Projeto]: “O
valor artístico (do acervo da Santa casa),
destaca a museóloga do projeto, é
inestimável!”.
c) [Um exemplo da relevância do acervo]:
{Importância dos painéis que compõem o
acervo}: uma arte revolucionária para sua
época.
d) [Currículo dos restauradores]: restaurou
obras de Miró e Picasso.
e) Coisas interessantes [históricas]
descobertas através do projeto: Recuperação
do retrato (pintado em Paris) do engenheiro
Antonio Lacerda, autor do projeto do famoso
elevador de Salvador, O retrato foi
encomendado por Rui Barbosa (Presidente
da Ordem em 1875). [Grifos meus]
10 Uma viagem de palavras e Reedição de um livro Lançamento de livro a)[Importância da obra]: “Bibliografia báica...”;
sons a década de 70: Livro- que reúne textos sobre com temática que “...até hoje muito requisitada pelos
referência sobre o período, os músicos brasileiros diz respeito a estudiosos da MPB.”; “’É um livro de
Nada será como antes, da dos anos setenta. fenômenos do referência’”.
jornalista Ana Maria Bahiana, passado (histórica). b)[Como a autora trabalha com a questão do
volta às livrarias. passado. Preocupação da texto em registra
que a autora não é saudosista]
11 Os peões do ABC aos olhos Lançamento do filme Lançamento de filme a) A importância do fenômeno histórico ao
de Eduardo Coutinho peões. que trata de um qual o filme se refere: as mobilizações
tema histórico. operárias de 1979/80.
17
b) Importância conferida pela matéria ao
caso relatado por Dona Zélia – porque ele
considera este um dos mais emocionantes
casos relatados por Coutinho; porque ele faz
questão de reproduzir este caso e não
qualquer outro?Por que ele cita esta frase no
fim da matéria: “Era a história que nós
tínhamos’”?, se referindo ao documentário
sobre o movimento operário que Dona Zélia
salvou da polícia. Estaria o autor querendo
chamar a atenção para a preservação da
memória?].
Volume 14. Dezembro de 2004
12 Triste Aniversário: exposto à AQ luta pela Conservação e a)Importância do engenho: “... é um dos
ação do tempo, o histórico restauração de uma restauração de poucos engenhos do Brasil que mantêm as
engenho do Monjope aguarda construção histórica patrimônio histórico quatro características fundamentais: casa-
a um ano a aprovação do arquitetônico. grande; senzala; moenda-moita e capela”.
projeto de restauração. b)”Acomodou reuniões políticas decisivas:
consta que até o imperador D. Pedro
Segundo se hospedou em um de seus
cômodos...”.
c)O engenho poderá, após a restauração,
virar um centro de distribuição de cachaça
artesanal
13 Memória de um Gênio do Tratamento que o Preservação de a) Divulgação do material histórico para o
Urbanismo acervo do urbanista acervo documental grande público: “’ ...o acervo estará
Lúcio Costa está histórico disponível a qualquer um que passear no
recebendo: parque, não se limitará aos estudantes e
organização e pesquisadores’”.
catalogação, além de b) [o que é digno de ser considerado
ser armazenado no documento histórico: documentos de uma
Centro de Preservação pessoa ou de um fenômeno que se considera
e memória Antonio importante]: importância do acervo =
Carlos Jobim importância de Lúcio Costa = “’... levaram a
arte brasileira a influenciar movimentos
renovadores internacionais’”. [O que ou quem
é importante?].
18
14 Na trilha do Fandango Criação de um projeto Preservação de a) Necessidade de “manter viva a chama das
para preservação e antigas tradições tradições”.
divulgação do populares b) [Inserção social do projeto]: ele irá
Fandango conscientizar e educar as instituições locais
(comemoração popular
com danças típicas do
litoral de São Paulo e
Paraná).
15 As muitas faces do Cazumbá Pesquisa que está Pesquisa e a) {Importância dessa manifestação cultura}:
sendo feita para lançamento de livro O bumba-meu-boi é uma manifestação típica
compor um livro que sobre manifestação b) {Tentativa de mostrar a grandeza dessa
tratará dos processos popular típica. manifestação}: a riqueza {e complexibilidade}
de elaboração de uma do bumba-meu-boi.
máscara típica do
bumba-meu-boi (careta
do Cazumbá).
16 Arqueologia pública Projeto (Programa Projeto de a) [Justificativa da importância do Projeto]: a
Fronteira Ocidental) de escavação história de regiões como essa são em geral
escavações arqueológica pouco conhecidas.
arqueológicas na b) [Caráter comercial que envolve o trabalho]:
cidade de Vila Bela da ele é feito por uma empresa; “’A área pode
Santíssima trindade, (...) gerar dinheiro e trabalho’”.
no Mato Grosso. c) [Inserção social do Projeto]: “’A área pode
virar ponto turístico, além de gerar dinheiro e
trabalho’”; o projeto tem como um de seus
objetivos sensibilizar e motivar a população a
procurar vestígios do passado.
17 Viagem pela música Projeto que registrou a Registro e a) [O conhecimento histórico como forma de
nordestina. música nordestina preservação de prever o futuro]: “Passado, presente e, por
contemporânea, tradições populares que não dizer, futuro estão reunidos no
produzindo um material disco...”. [Será que ele quer dizer que
(CD) com o resultado. conhecendo as modificações sofridas entre
1938 e 2003 podemos presumir qual será o
futuro dessas manifestações culturais?].
b) [Função social do projeto, e do
conhecimento]: “’Essas pessoas têm direito
de ouvir as fitas que em geral ficam só
19
disponíveis a acadêmicos’”
Volume 17. Março de 2005
18 Tesouro na USP: José Mindlin Doação da brasiliana Preservação e a) Importância do projeto: estimular a
doa para a Universidade seu de Mindlin para a USP divulgação de produção de conhecimento.
notável acervo de livros e de patrimônio histórico
documentos sobre o Brasil (documental-
bibliográfico)
19 Brasil animado Está sendo produzido Lançamento de a) [Crítica à produção cultural voltada para o
um desenho animado produto cultural público infantil que é veiculada pela grande
que terá como tema a ligado à temática mídia]: Desprezo pelos desenhos animados
História do Brasil. histórica. do estilo “Bob esponja”.
b) [Crítica a uma historiografia existente. Mas
será que é possível uma historiografia não
maniqueísta (imparcial)?]:Nesse desenho a
História do Brasil será contada “sem
maniqueísmos”.
20 Enxurrada de lembranças: Narra a experiência de Recuperação de a) Imagem do pesquisador idealista.
Rede Memória da Maré um projeto que tem por memória (história) b) Imagem do trabalho do historiador como
recupera, por meio de finalidade recuperar a algo difícil por ser desprezado pela
documentos e fotos, a história
história de algumas sociedade.
do bairro que agrega comunidades do Rio
dezesseis comunidades. de Janeiro.
21 Hobby religioso, patrimônio Atividades culturais Projeto de a) [Inserção social daquela instituição]: o
nacional realizadas a partir de recuperação de papel social daquele espaço junto à
um seminário: memória (história). comunidade: crianças o visitam; famílias o
existência de um aproveitam para área de lazer.
museu e de um
trabalho de
recuperação da
história local.
22 Esquerda e memória O processo de Preservação de a) [Ampliação dos espaços de conhecimento
organização pelo qual documentação histórico para além do restrito círculo das
está passando o histórica universidades]: “qualquer um pode consultar
material sobre a (organização de o acervo”.
esquerda brasileira acervo). b) Ëlas (as esquerdas) são protagonistas de
existente no CEDEM. capítulos importantes da nossa história”.
23 Em cada casa uma história: O Informa sobre o Projeto de a) {A população está sendo chamada a se
20
Projeto Museu Aberto-Cidade desenvolvimento de valorização do envolver na pesquisa}: “’uma comoção
Viva vai mostrar Ouro Preto a um projeto que busca patrimônio histórico. preservacionista’”.
partir das residências e seus sinalizar as residências b) Crítica às reformas sem controle das
moradores. históricas de ouro construção [históricas]: “perda de memória”.
Preto, com objetivo de c) {Utilizar o [patrimônio histórico] como
otimizar o potencial atrativo turístico}: preocupação em melhorar
turístico dessa cidade as condições da cidade para atrair turistas
histórica. interessados em seu patrimônio histórico.
d) [Trabalha com a idéia de patrimônio
histórico: mas o que é digno de ser
histórico?].
Volume 18. Abril de 2005
24 A Bíblia dos jesuítas: A Reedição do livro do Publicação de livro a) [Elogio exagerado ao livro]: “Tudo na obra
História da Companhia de padre Serafim Leite de História A História da Companhia de Jesus no Brasil
Jesus no Brasil, mais é monumental”; “’O que sabe sobre os
completa obra sobre o tema, jesuítas no nosso processo civilizatório se
ganha segunda edição deve ao padre Serafim’”.
ampliada depois de 54 anos. b) {O caráter social do empreendimento
(reedição da obra): Metade dos exemplares
serão doados} [em segundo plano é que se
diz que as restantes serão vendidas a R$
1400!].
c) [A capacidade desse empreendimento de
intervir na realidade], colaborando com
algumas causas: a canonização de Anchieta;
a conscientização a respeito da preservação
do patrimônio histórico.
25 A voz do interior: Projeto em vias de Projeto de pesquisa a) Esse trabalho seria capaz de destruir
pesquisadores criam banco desenvolvimento que acadêmico. estigmas e preconceitos existentes em
de dados para mapear e visa estudar os modos relação a algumas variáveis lingüísticas (o
analisar a fala da região de d se expressar da caipirês, por exemplo).
São José do Rio Preto. população de uma b) (Boxe) Comparação de realidades
determinada região históricas diferentes: Brasil e Itália: seria
curiosa a não existência de dialetos no Brasil
– um país tão grande – enquanto na Itália –
que é um país bem menor – existem vários.
Isso é curioso “por mais que haja
21
justificativas históricas”.
26 A melodia da carta: Músico cria um Iniciativa artística a) [Ausência de preocupação social deste
Documento de Pero Vaz de concerto inspirado na que se baseia em projeto]: o autor não quer popularizar ou
Caminha vira concerto pelas carta de Caminha. documento ou fato tornar didático o conteúdo da carta.
mãos do pianista Leonardo histórico.
Braga.
27 Para engordar o acervo: Nova Nova lei que prevê a Nova lei que diz a) “A proteção da memória nacional depende
lei de depósito legal estimula doação de um respeito à proteção de atitudes tomadas no presente”.
produtores de livros, discos e exemplar de toda obra do patrimônio
imagens a doar obras para a publicada no país para intelecto-cultural
Biblioteca Nacional. a Biblioteca Nacional. nacional.
28 Reaproveitar espaços: Projeto de um grupo Preservação de a) {A batalha que se tem de travar quando se
Transformar fazenda que visa transformar patrimônio histórico- quer conservar o patrimônio histórico-
construída por jesuítas em uma fazenda de valor arquitetônico/ cultural}.
núcleo cultural é um dos histórico, hoje programa de turismo b) {O potencial histórico-turístico desse
objetivos da associação cabo- esquecida e histórico/ empreendimento}.
friense A TEIA. degradada, em um Desenvolvimento de
núcleo cultural e de projetos culturais.
pesquisas.
29 Cultura Vitalícia: Lei do Criação de uma lei que Lei de preservação a) {A força das manifestações populares
patrimônio vivo de dará bolsas a artistas de patrimônio tradicionais}
Pernambuco vai dar bolsas a populares de histórico cultural b) [Defesa da imobilidade da cultura
artistas populares para Pernambuco. tradicional]: “As manifestações tradicionais
estimular a troca de correm o risco de perder suas características
experiências. originais com o decorrer do tempo”.
c) [A caráter contestador como um valor dos
pernambucanos]: “Tão tradicional quanto a
cultura local é o caráter contestador do
pernambucano”.
d) {Interesse de que essas manifestações se
fortaleçam e não morram}.
30 As imagens da alma do Bixiga Doação de objetos Espaço de a) [Adoniran seria uma pessoa importante,
pessoais do preservação e histórica]: “...Compositor que melhor soube
compositor Adoniran divulgação de traduzir o espírito paulista”.
Barbosa para o Estado história e memória b) “... Iniciativa de abrir espaços de
de São Paulo. Esses (museu). memória”.
22
objetos deverão c) [Divulgar História]: Tornar o acervo
compor um acervo acessível.
museológica que será
exposto para o público.
23
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Teoria de História I
Período noturno
Profa.: Dra. Raquel Gleizer
Aluno: Ailton de Oliveira
No. USP: 5166338
ÍNDICE:
Introdução .....................................................p.03
O objeto do estudo ........................................p.03
A revista .........................................................p.04
As matérias ....................................................p.04
As imagens ....................................................p.05
Por dentro ......................................................p.05
Conclusão ......................................................p.07
Bibliografia .....................................................p.08
2
INTRODUÇÃO
Neste trabalho apresento uma análise exterior e outra interior da revista.
Para tanto analiso de forma mais específica as capas durante todo o período, e uma
matéria de capa como modelo de análise interna.
Procurando compreender a proposta da editora, e questionando se essa
proposta é alcançada. Para tanto recorrerei principalmente as discussões realizadas
em aula, fazendo a devida localização do material selecionado por mim, dentro do
conjunto de revistas de história de publicação similar1.
O OBJETO DO ESTUDO
O meu foco de análise será a revista “Aventuras na História – para viajar no
tempo”, pertencente a “Família Super”1, da Editora Abril, durante um ano de
publicação; as edições selecionadas são a partir do número 5 (Janeiro) até a de
número 16 (Dezembro) do ano de 2004.
As edições possuem 66 páginas cada, incluindo as edições extras. As
exceções serão a edição de aniversário, com 16 páginas extras anunciadas na
capa, e a edição arquivo especial, ambas com 82 páginas.
As organizações internas e externas não seguem um padrão imutável, mas
apresentam traços que são encontrados em todas as edições, e alguns são
utilizados conforme a edição, um exemplo é a seção “CIVILIZAÇÕES” que aparece
esporadicamente, conforme as matérias publicadas.
Na capa sempre consta de uma única matéria principal em destaque e com
foto, e com três matérias em destaque menor ao lado esquerdo, e se completa com
o rodapé anunciando mais matérias.
Na organização interna temos duas colunas, uma mais larga de título (ou
chamada) “PERGAMINHOS” que contém as principais matérias, incluindo a de capa, e
seus respectivos subtítulos (ou chamadas menores), que podem variar ou não.
“TERRA BRAZILIS” e “OBRA-PRIMA” são exemplos de chamadas que estão presentes
em todas as edições. A outra coluna à esquerda de título “ALFARRABIOS” é
semelhante à outra, e contém as matérias menores, tendo como chamadas mais
freqüentes: “MÁQUINA DO TEMPO”, “TOMOS E TELAS” e “PAPIRO”.
Há ainda duas páginas dedicadas à própria revista: a primeira página da
revista com o título “MANUSCRITO”, com uma matéria dedicada aos editores, e na
terceira página as “MISSIVAS” dedicado às mensagens dos leitores.
___________________
1. Também fazem parte desta família as revistas: “Mundo Estranho”; “Revista das Religiões” e “Vida
Simples”, todas surgidas a partir de desdobramentos da revista-mãe “Super Interessante”.
3
A tiragem e circulação da revista se mantiveram de forma equilibrada durante
o período, sem grandes sucessos e insucessos de venda. O valor da revista sofreu
somente uma alteração no período, sendo de R$7,95 (sete reais e noventa e cinco
centavos) até a edição número 8, e passando para R$8,95 (oito reais e noventa e
cinco centavos) a partir da edição seguinte. É um valor competitivo se comparado
com outras edições similares2, e pouco inferior a principal publicação em tiragem e
circulação: a revista “Historia Viva”.
A REVISTA
De linguagem simples e objetiva, com diversas matérias curtas, e uma
matéria principal um pouco maior, tudo isso recheado com muitas imagens, a
revista “Aventuras na História”, se apresenta fiel a sua revista-mãe, conquistando,
entretanto, uma fatia do mercado editorial em expansão, o mercado das revistas de
História.
Com um formato mais informativo e menos crítico que outras publicações
similares, a revista “Aventuras na História” se insere como uma publicação de baixa
cultura (ou de massa), e desta forma adquiri um mercado mais amplo, tanto etário
quanto socialmente.
Sem realizar críticas históricas ou historiográficas, se torna um agente
divulgador de conhecimento histórico a um público amplo, demonstrando sua
característica principal: revista para entretenimento e compreensão superficial dos
fatos históricos.
AS MATÉRIAS
A diferença quando se lê a revista “Aventuras na História” e outras revistas
de história, é bem perceptível quanto a pouca ou nenhuma crítica e discussão
histórica nas matérias, apresentando-as como fatos, principalmente.
Os conteúdos são retirados de livros e sites, que são relacionados no final da
matéria para quem deseja se aprofundar no tema, mas geralmente a escolha de
temas está relacionada à mídia de massa3, evidenciando desde as chamadas de
capa para a elucidação e esclarecimento que a matéria pretende sobre esse tema.
Assim, grande parte dos temas abordados se apresentam a historiadores (de
formação acadêmica) como temas de importância secundária para os estudos
históricos, ou que somente poderiam ser abordados por uma História mais
específica, sendo alguns temas abordados muito próximos de outras publicações de
revistas de outras áreas do conhecimento.
Os textos raramente apresentam autoria, e é também rara a presença de historiadores
mencionados nesses textos. A editora, por escolha própria, não tem historiadores em sua
edição. Um grande recurso utilizado no início dos textos da matéria é esta se iniciar em
forma de conto.
____________________
2. Considero similares a Revista “História Viva” da Dueto Editorial, e preço R$9,90; e “Nossa
História” da Editora Vera Cruz, e preço R$7,80, por terem preços próximos, serem publicações
mensais e se apresentarem como publicação não-acadêmica ou direcionada ao ensino, como a
“Desvendando a História”, da editora Manole.
3. Rádio e televisão aberta, grandes jornais impressos, e outras mídias de longo alcance de
divulgação.
4
AS IMAGENS
Em todas as edições analisadas o papel das imagens (desenhos e fotos
entre outras) é muito importante, ocupando sempre um espaço igual ou superior ao
texto da matéria. Em quase todas as edições tem conjuntos de imagens
relacionadas a um acontecimento que ocupam páginas inteiras, remontando uma
cena ou exemplificando uma explicação. Há até a utilização em algumas edições de
história em quadrinhos4.
Essas imagens são na maioria de criação da própria edição, o que viabiliza
uma edição de menor valor, somado a imagens específicas que são adquiridas e
devidamente identificadas nas páginas.Todo esse conjunto de imagens tenta
“desenhar” o fato que se pretende esclarecer na matéria para o leitor, sendo
possível assimilar grande parte da matéria somente analisando as imagens.
Seguindo de forma sincrônica com a edição das matérias, as imagens são muito
bem trabalhadas, possuindo uma ótima diagramação e coloração unidos a um papel
de alta qualidade, que torna nesse aspecto superior a outras publicações similares.
Assim, as matérias se apresentam muito mais ilustrativas, reduzindo seu
enfoque teórico.
POR DENTRO
A escolha da matéria de capa a ser analisada segui os seguintes princípios:
matéria mais longa, em texto e número de páginas, e a de maior crítica histórica
possível por ser um tema muito trabalhado academicamente.
A capa se apresenta com o nome Getúlio em grande destaque sobre a foto
do mesmo, em close de perfil em sua última aparição pública5, na chamada sobre a
morte de Getúlio Vargas6.
As três chamadas em destaque ao lado são sobre Michelangelo, Elvis e
Olimpíada. Completados pelo rodapé com as chamadas: Olga; China versus Japão;
Waterloo ao vivo; Legiões Romanas, Naufrágios no Brasil e Louvre.
Não fugindo ao formato geral da revista, a matéria principal é editada em dez
páginas, sendo três sem a presença do texto da matéria, e apenas uma ocupada
totalmente pelo mesmo texto. Todas as fotos são de origem identificada e a matéria
é de autoria do escritor Lira Neto.
Há duas matérias complementares dividindo espaço com a principal, são:
“Agosto de 1954 – os vinte dias que mudaram o Brasil”, que traz trechos de jornais
publicados nos vinte dias anteriores a morte de Getúlio; e “As muitas faces de
Getúlio”, curiosidades sobre a personalidade de Getúlio.
_________________
4. Edição no.7- março, na matéria “Touro Sentado”,da chamada “PERSONAGENS”, Edição no.9 -
maio, na matéria “Corrida ao Pólo Sul”,da chamada “PERSONAGENS”, e Edição no.12 - agosto, na
matéria “Milo de Crotona, o maior herói olímpico”,da chamada “GRANDES MOMENTOS”.
5. A foto da revista “O Cruzeiro”, surpreendeu a própria edição que já tinha montado uma capa
anterior, conforme “MANUSCRITO” da mesma edição.
6. “As últimas horas de Getúlio – Isolamento político, conspiração, ameaças. O que levou o homem
mais amado do país ao suicídio há exatos 50 anos?”
5
O texto da matéria principal se inicia em forma de conto, e durante todo o seu
desenrolar faz idas e vindas sobre os dias imediatamente anteriores, posteriores e o
dia da morte de Getúlio, com um enfoque de um político populista e adorado pelo
povo.
Utiliza conceitos de fácil compreensão e ampla divulgação pela mídia de
massa como direita, esquerda, conservador, populismo e comoção nacional; e
ainda utiliza largamente jargões da época como “República de Galeão” (referente
ao IPM – Inquérito Policial Militar da Base Aérea do Galeão), “Banda de Música”
(grupo de deputados da UDN) e “Pai dos pobres.
O texto se encerra com seis citações dispersas nos últimos parágrafos, duas
de jornalistas e quatro de historiadores7, dando um caráter de texto com crítica
histórica, utilização não muito recorrente em outras matérias e edições.
O texto da matéria principal se inicia em forma de conto, e durante todo o seu
desenrolar faz idas e vindas sobre os dias imediatamente anteriores, posteriores e o
dia da morte de Getúlio, com um enfoque de um político populista e adorado pelo
povo.
A matéria de capa é a única que com maior conteúdo, ocupando algumas
páginas. As matérias menores são mais curtas e ocupam poucas páginas, ou
menos de uma única página. A quantidade de matérias é grande o torna inviável
anunciar todas na capa de alguma forma.
A revista procura trazer na matéria de capa assuntos, personagens ou fatos
que provocaram e provocam a curiosidade ou comoção de um grande público8.
Assim é abordado temas de comoção mundial como a morte de Lady Di e de
comoção nacional como a morte de Getúlio Vargas e grandes personagens como
Bob Marley Senna ,Fidel e Stalin e ainda chamadas interagindo com grandes
lançamentos cinematográficos, é o caso de Os Piratas e Rei Arthur. As chamadas
de capa sobre antiguidade: Musashi, Ramses, e Júlio César e religião: Jesus e
Cristianismo se sobressaem por exercerem atração em um público amplo, mesmo
estando desvinculado de um fato em evidência nas principais mídias de massa.
Demonstrando o fascínio pela religião e pelo mundo antigo, no público amplo e
leigo.
Por ser parte integrante da “Família Super”, buscou se preservar as
chamadas de frases de efeito mais pesadas como: mar de sangue, carniceiro,
massacre violento; ou ainda tenta-se ocultar e subtender jargões chamativos como:
misterioso, fascinante etc, explorados de forma mais intensa por outras revistas
similares.
____________________
7. Jornalistas Jose Louzeiro e Glauco Carneiro. E historiadores Marco Antonio Villa e Jaime Pinski,
também professor da Unicamp.
8. “Bob Marley” -edição no.5 – janeiro – 2004; “Musashi” -edição no.6 – fevereiro – 2004; “Os
Piratas” -edição no.7 – março – 2004; “Jesus” -edição no.8 – abril – 2004; “Senna” -edição no.9 –
maio – 2004; “Fidel” -edição no.10 – junho – 2004; “Ramses” -edição no.11 – julho – 2004; “Getúlio” -
edição no.12 – agosto – 2004; “Rei Arthur” -edição no.13 – setembro – 2004; “Júlio César” -edição
no.14 – outubro – 2004; “Stalin” -edição no.15 – novembro – 2004; “Cristianismo” -edição no.16 –
dezembro – 2004.
6
Por ser parte integrante da “Família Super”, buscou se preservar as chamadas de
frases de efeito mais pesadas como: mar de sangue, carniceiro, massacre violento;
ou ainda tenta-se ocultar e subtender jargões chamativos como: misterioso,
fascinante etc, explorados de forma mais intensa por outras revistas similares.
CONCLUSÃO
A revista “Aventuras na História” possui textos que nunca são longos, o que
causaria “cansaço” ao leitor menos habituado a leituras, ou seja, são produzidos por
jornalistas em geral de forma a atingir um público amplo, fugindo de uma única
classe social ou etária. As matérias contendo ou não citações de historiadores, são
de produção mais livre, produzidas a partir de livros e sites que são indicados no
final das matérias.
A revista se propõe e procura esclarecer fatos e acontecimentos, para tanto
se utiliza enormemente de imagens, matérias que começam em forma de “conto” e
até “História em quadrinhos”.
A revista “Aventuras na História”, a partir de uma idealização da editora,
cumpre seu papel de publicação mensal independente, pois a partir da revista-mãe
conseguiu criar um público leitor estável e sem se chocar com o público de sua
revista-mãe, e desta forma mantém publicações mensais e extras, no mercado de
revistas de História, sem necessariamente publicar matérias de historiadores,
utilizando a criatividade de seus editores.
Informativa, esclarecedora, divertida e descomplicada são alguns dos
adjetivos utilizados pela própria revista em um de seus anúncios9.
É uma revista leve e bem ilustrada de entretenimento e divulgação não-
científica de conhecimento histórico que se mantém no recente e competitivo
mercado brasileiro de revistas de História.
___________________
7
BIBLIOGRAFIA:
Aventuras na História, São Paulo, Editora Abril, no.5, janeiro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.6, fevereiro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.7, março, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.8, abril, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.9, maio, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.10, junho, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.11, julho, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.12, agosto, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.13, setembro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.14, outubro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.15, novembro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, no.16, dezembro, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, edição extra, março, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, edição extra, junho, 2004
-----------------------------,--------------,------------------, edição extra, dezembro, 2004
8
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
TEORIA DA HISTÓRIA
As Versões de Getúlio
Análise das matérias sobre Getúlio Vargas nas revistas Desvendando A
História, Aventuras na História e História Viva.
Objetivo
Objeto da Pesquisa
Imagens
legendadas x x x
Reconstituição
cronológica dos x x x
fatos
Idéias de herança,
legado político x x x
Carlos Lacerda –
inimigo de Getúlio x x x
Vagas
Getúlio Vargas –
herói, mito x x x
Suicídio adiou o
golpe por 10 anos
– continuidade da x x x
democracia
Análise
Ele diz que há diversas histórias sobre a carta. Alguns dizem que ela era
uma carta, escrita a próprio punho, outros que eram várias, datilografadas. Esta
segunda hipótese leva Almeida a duvidar que a carta tenha sido escrita por
Getúlio, já que ele não sabia datilografar. Ainda nas controversas aparece a
figura de sua filha, Alzira Vargas, que o ajudava como conselheira política, que
saberia quem escreveu a carta e como foi encontrada. Seu filho, Manuel Vargas,
“em entrevista concedida um ano aos a morte do pai, dizia: ‘Sei quem
datilografou(...) e não revelo o nome...’”, numa clara demonstração que o legado
de Vargas era importante dessa forma pouco esclarecedora.
Almeida finaliza seu texto dizendo que a controversa sobre a
autenticidade da carta-testamento serve para assegurar a vitalidade do
documento e dos herdeiros de Vargas.
O terceiro artigo é escrito por Alice Beatriz da Silva Gordo Lang,
pesquisadora do Centro de estudos Rurais e Urbanos (SP).
Neste artigo, a pesquisadora – especialista em História Oral – recolheu o
depoimento de trinta mulheres da elite paulistana, que vivenciaram o período
entre 1910 a 1950, buscando resgatar a maneira a partir da qual Getúlio Vargas
era visto pelas classes dominantes da cidade. Isso porque, segundo a autora,
nas camadas populares a imagem de “pai dos pobres” foi fortemente preservada
e disseminada às gerações posteriores.
Ela tenta relativizar a idéia de adoração por Getúlio. Nele, a socióloga e
pesquisadora no Centro de Estudos Rurais e Urbanos, conta como foi vista a
tomada de poder por Getúlio por mulheres das classes mais abastadas de São
Paulo. A idéia unânime defendida na matéria é que ele era visto como um
“homem mau”, que queria tomar o Estado para si, com a idéia “demagógica” de
dar direitos aos pobres. É interessante notar também que, nesta matéria, o
contexto político da época é muito mais evidenciado do que a imagem de
Vargas.
A matéria é curta, com três páginas, repleta de fotos de paulistas
protestando e de cartazes e charges satirizando o “chuchu”, como era referido
Vargas. A matéria é bem superficial, não se atendo em nenhum ponto muito
profundamente, mas passando a idéia de discordância com o ideal varguista,
vista pela elite paulista.
O quarto texto é assinado por Alexandre Fortes, coordenador no Centro
Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo. Em três páginas com
poucas fotos, o autor conta como foram os conflitos que ocorreram no Rio
Grande do Sul, após o suicídio de Getúlio Vargas. Citando pouco o então
presidente, Fortes contextualiza as lutas e os acordos políticos surgidos de
última hora, tentando traçar uma perspectiva política macro, inclusive apontando
a relação entre a crise estabelecida, o nacionalismo e medo estadunidense de
um sentimento anti-americano. O texto traz, em seu corpo, apenas uma
referência, o militante do PCB Eloy Martins. Como referências bibliográficas
apresenta três livros além do de Martins.
O quinto artigo, assinado por José Trajano Sento – Sé, cientista político,
professor de Ciências Político na UERJ, trata do legado deixado por Getúlio
Vargas à João Goulart e posteriormente a Brizola.
Neste texto, o autor traça um breve perfil político de ambos e apresenta
de que maneira Getúlio se constitui o mestre político de Jango e como, depois
da morte do segundo, Brizola ocupou este espaço no cenário político brasileiro.
Basicamente, Trajano traça em seu artigo a formação do PTB, a partir do
momento em que Jango se torna seu presidente e posteriormente, com a
redemocratização e o declínio da ditadura militar, a fundação do PDT de Brizola.
Ao final, Trajano conclui que a morte de Brizola em 2004 deixou uma
questão a respeito do fim ou da continuidade do projeto político varguista, já
que, segundo o autor, Brizola não deixou herdeiros políticos. A idéia de legado
político aparece fortemente no artigo.
Neste sentido, a entrevista com o jornalista Luiz Antonio Villas-Boas,
contribui, para dar continuidade à idéia de Trajano. Porém, o jornalista discorda
da idéia de que Brizola teria sido um herdeiro de Getúlio, já que, segundo ele, o
primeiro era um homem de esquerda.
Ao longo da entrevista, Villas-Boas traça uma perspectiva a respeito do
contexto da crise de 54, o modo com que a imprensa contribui para a divulgação
das idéias anti-Vargas, principalmente o jornal Última Hora, a Tv Tupi e a Rádio
Globo. O jornalista fala ainda de sua carreira como jornalista político e comenta
a cobertura da imprensa política nos dias atuais.
Conclusão
Alunos:
Cristian Sebok – 4948359
Josiane de Melo Silva - 3533595
Marcelo Eduardo Lopes – 3540627
Ricardo Ferreira da Silva – 3319950
Profa. Dra. Raquel Glezer
História Viva (Março de 2005, n. 17) e Aventuras na História (Dezembro de 2004, n. 16) que
revistas colocadas no mercado: uma manchete, que podemos considerar como a “Matéria de
Capa” e algumas menções menores a outras matérias, entretanto, ao ler a revista percebemos que
a proposta não é fazer um relato jornalístico dos fatos históricos, mas sim dar um caráter histórico
aos fatos.
História Viva pode ser considerada a edição brasileira da revista francesa História
francesa. Segundo o site da edição francesa o objetivo é tratar a História como sendo um
Revista é de 70.000 (setenta mil exemplares) e é editada pela Duetto Editorial que, segundo o site
sede no Rio de Janeiro e a Editora Segmento, com sede em São Paulo. Ela é a materialização de
uma estratégia comum a ambas editoras: entrar vigorosamente no mercado de revistas destinadas
ao leitor final. Para isso, ela conta com o suporte, experiência e estrutura das suas acionistas, que
Pela publicidade, percebemos que há poucos anúncios, sendo que os existentes, resumem-
Interessante”. Ao contrário da “História Viva”, não possui publicidade que explicita a que
público pretende se destinar. Parece estar ancorada no público da “Super Interessante” que tem
influentes grupos de comunicação da América Latina, com uma receita líquida de R$ 2,1 bilhões
em 2004. Publica mais de 344 títulos (90 regulares e 254 edições one shots e especiais) e é líder
nos segmentos em que opera. Suas publicações têm uma circulação de 178 milhões de
exemplares, em um universo de 26 milhões de leitores. Sete das dez revistas mais lidas do país
são da Abril, sendo que Veja é a quarta maior revista semanal de informação do mundo e a maior
fora dos Estados Unidos. A Abril também detém a liderança do mercado brasileiro de livros
escolares com as editoras Ática e Scipione, que, em conjunto, publicam 3.736 títulos e produzem
56 milhões de livros por ano.” Ou seja mediante essa popularidade percebemos que “Aventuras
produto com uma linguagem simples, fácil de entender e voltada ao grande público.
texto com uma cronologia da trajetória do Cristianismo até o ano de 2004. A matéria é escrita por
Yuri Vasconcelos, jornalista, portanto, num primeiro momento, podemos esperar uma matéria
com um enfoque muito mais jornalístico do que histórico, ou seja, o fato histórico descrito sem
“Arautos da nova fé”, na verdade é uma seleção de seis textos escritos por autores
diferentes que tratam do período inicial do cristianismo (da morte de Cristo até o século IV),
focando em especial o extraordinário papel missionário dos primeiros apóstolos.
O artigo se inicia com “Pedro, o primeiro líder missionário” de Aimé Savard, que procura
descrever a participação de Pedro no cristianismo nascente em Jerusalém nas primeiras décadas
após a morte de Jesus e o processo de emancipação da nova religião do judaísmo.
O segundo, “Marcos, os passos do nazareno” de Elian Cuvillier, trata da identificação do
autor do primeiro evangelho abordando também as controvérsias existentes sobre a vida de
Marcos, provável escritor desta primeira crônica sobre a vida de Jesus.
“Paulo, a humanização de Deus” também de Cuvillier, versa sobre a trajetória do judeu
Saulo de Tarso (posteriormente conhecido como Paulo) e sua missão desempenhada para a
expansão, a unidade e a fundamentação teórica do cristianismo.
O texto de Étienne Tocmé, “A vida em branca nuvem”, desenvolve as principais
características das discretas, mais fervorosas comunidades cristãs a partir do ano 100 quando já
estão emancipadas do judaísmo, evidenciando inclusive os sérios debates sobre as opiniões
dissidentes.
“Andarilhos do mediterrâneo” de Jacques-Noël Pérès, aborda a expansão e a
consolidação do cristianismo durante os primeiros séculos na região do mediterrâneo,
sublinhando as questões sobre os primeiros indícios da nova religião em Roma, na Espanha, no
Norte da África e na Grécia. Mais uma vez Paulo é colocado em extrema relevância.
Por fim, Jean-Marc Prieur no “O orgulho do martírio” defende que se criou neste período
inicial uma teologia e espiritualidade do martírio que foi de fundamental importância para
expandir e fortalecer a fé cristã.
Os cinco autores são acadêmicos (com exceção de Savard que apesar de ser um estudioso
de história das religiões é jornalista, antigo editor chefe da revista La Vie), franceses, protestantes
e especializados, ou pelo menos com grande interesse, pelo período inicial do cristianismo. Isto
justifica uma certa convergência na metodologia, na linguagem e no estilo dos autores.
Cuvillier é escritor, teólogo e professor titular da cadeira de Novo Testamento no Instituto
Protestante de Teologia da Faculdade de Montpellier, sua obra sobre a teologia da cruz no
evangelho de Marcos é inovadora e de grande influência.
Trocmé é professor emérito da Universidade de Estrasburgo e contribuiu muito para a
teologia protestante e católica com artigos (publicados inclusive pela editora católica CERF),
comentários da bíblia, e seus livros, dos quais destaca-se “O início da historiografia Cristã e a
História do Cristianismo nascente”.
O pastor luterano Pérès é professor de teologia especializado em patrística e sua pesquisa
é voltada principalmente para a literatura apócrifa, de fato ele é o que mais usa este tipo de fonte
em seu artigo, como por exemplo, quando ele cita alusões de Clemente Romano (95) e de
Jerônimo (séc IV).
Prieur é professor de História da Antiguidade Cristã no Instituto de Teologia Protestante
da Universidade Marc-Bloch, e suas áreas de pesquisa são: apócrifos cristãos, práticas eclesiais,
doutrinas, historiografia da antiguidade cristã.
Além destes cinco autores há a contribuição de Jean-François Zorn com um box sobre “A
presença (tardia) na África” do cristianismo. É pastor da Igreja reformada da França e
diferentemente dos demais, ele é professor de História do cristianismo na época contemporânea.
Da mesma forma que noventa por cento das capas da História Viva relaciona-se com o
que está sendo divulgado na mídia, este artigo de capa sobre o cristianismo saiu na época do
lançamento do filme Lutero. Além disto, é um tema extremamente explorado no Brasil,
justamente por ser o país com maior população cristã do mundo.
O tema das origens do cristianismo vem ao encontro daquilo que um leitor comum espera
de uma revista sobre História, por estar introjetado na mentalidade da sociedade que História
limita-se à história retrospectiva. Ou seja, nesta perspectiva, a função do historiador é definir
quando determinado fenômeno, pessoa, período, religião teve início e como, de que e de quem
surgiu.
Os artigos surpreendem não trazendo somente uma história narrativa retrospectiva, mas,
fazendo história documental como no artigo sobre o evangelho de Marcos e com a enumeração
dos documentos que marcaram o início do cristianismo por Pérès, história da expansão
missionária principalmente com Pérès novamente e com o artigo sobre Paulo, história social e
confessional no artigo de Trocmé, em especial quando ele cita a queda da transponibilidade das
barreiras sociais nas comunidades cristãs, e até uma pequena história de períodos com Savard que
partindo do conflito com o judaísmo definiu os primeiros anos do cristianismo como o período
idílico, seguido pelo do comando de Pedro, passando para o comando de Tiago que mantiveram
as práticas obrigatórias judaicas até 62 quando a Igreja viria a ser cada vez mais paulina. Tudo
isto, segundo o autor, enquadra-se no período de associação do cristianismo com o judaísmo, que
termina em 70 quando aquele passa a vigorar definitivamente emancipado deste.
A revista “História Viva” é que seleciona, diagrama, ilustra, divulga e publica o artigo,
apesar dos textos inicialmente serem escritos para a revista francesa “Historia” editada pelas
Publicações Tallander (segundo o site da edição francesa o objetivo dela é tratar a História como
sendo um instrumento para entender o presente).
A editora da versão brasileira, Ibañez, define claramente no editorial seu objetivo com
este artigo, que é o de inovar este tema tão explorado, principalmente no que se refere aos
martírios dos crentes, mudando o foco para o da propagação dos ensinamentos de Jesus levados a
cabo primeiramente somente com a palavra dos missionários.
É verdade, todavia, que ela decidiu não deixar de fora o tema do martírio com o texto de
Prieur que constata uma mitização e adoração destas mortes decorrentes de perseguições apenas
esporádicas e localizadas quase como se fosse uma estratégia para fortalecer e expandir a nova fé.
Desta forma, este autor toma a posição contrária dos defensores da intervenção divina por meio
da fé na história, já que, poder-se-ia creditar às milhares conversões o poder da graça divina e não
somente a exaltação e a espiritualização do martírio.
De modo geral o artigo é escrito mais para um leitor não possuidor de grandes
conhecimentos da bíblia, porém, com um mínimo de informação sobre História Antiga Ocidental
e que se interesse por história, especificamente, história do cristianismo, do que uma pessoa
interessada em religião, teologia e espiritualidade. Isto porque a ênfase nos artigos é muito mais
sócio-político-missionária do que confessional-dogmática.
Podemos incluir no rol dos interessados por essa Revista, os profissionais de educação na
área de História. Uma boa maneira de perceber isso é verificando os anúncios publicitários.
Os anúncios que constam na página posterior à capa e na contracapa são, respectivamente,
do 34º Concurso Internacional de Redação de Cartas para Jovens – financiado pelos Correios e
Ministério da Comunicação – e da Fundação Banco do Brasil. No primeiro, percebe-se o apelo
que é feito aos educadores para que incentivem seus alunos a participar do concurso. No segundo,
há uma propaganda dos projetos sociais da Fundação do Banco do Brasil voltados para educação.
O que torna estes trabalhos de muito valor para qualquer leitor é a fidelidade aos
documentos históricos da época e a forma pedagógica e simples com que são expostos. Isto se
demonstra na constante referência aos documentos, inclusive com longas citações (como a
primeira pregação de Pedro) e com anexos de alguns trechos (como as passagens cinco e seis da
carta a Diogneto); e nas definições de termos, relativamente conhecidos por leitores da bíblia
(como fariseu e saduceu).
Cada autor trabalha com um tema diferente e possui posicionamentos e estilos diversos,
porém todos os textos tendem claramente a ser mais analítico que descritivo. A preocupação
destes autores evidentemente não é transmitir ao leitor o que de fato ocorreu nos primeiros anos
do cristianismo, mas levantar e discutir os principais debates sobre a época enfatizando a
mentalidade de então e os efeitos do cristianismo naquela cultura.
São de forma geral temas subjetivos, e por isso naturalmente não descritivos, exigindo
análises que fazem transparecer a opinião e a seletividade interpretativa (no que se refere aos
documentos, ao tema, e ao enfoque) dos autores.
O artigo está inserido numa revista não científica e, por isso, inscritos dentro de uma
lógica jornalística, com títulos chamativos, que despertam curiosidade e subtítulos conclusivos,
simplistas e tendenciosos, muitas vezes discordantes com a posição e o estilo do autor; com uma
clara preocupação factual ignorando a possibilidade de aprofundar e expandir o tema; com
quadros explicativos visando fazer a ligação do tema com o presente (de forma também a
justificar a utilização daquele espaço da revista pelo tema e não por outro) e ilustrando o artigo
com informações extras que não necessariamente enriquece a discussão trazida pelo autor,
inclusive porque são em grande parte pouco relacionadas com o tópico desenvolvido; e com
figuras inseridas de forma bastante aleatórias, possuindo um valor ilustrativo apenas, apesar da
legenda com a fonte e a autoria contrariarem a praxe jornalística.
Por outro lado, o conteúdo dos textos em si é mais acadêmico do que jornalístico, pois,
busca construir teses, “Documentos antigos de origem cristã mostram que houve uma teologia e
uma espiritualidade do martírio”.(Prieur), “Pouco se sabe desse discípulo. Tudo indica que era
judeu” (Cuvillier), “se os discípulos de Jesus se distinguiam, não era por rejeitar o judaísmo, e
sim por retomar suas origens” (Savard). Durante todo este texto, Savard procura convencer o
leitor da profunda ligação entre estas duas religiões. Os particularismos dos cristãos causavam
tensões com a elite conservadora judaica, o que explicaria a permanência da cultura do povo
judeu nas primeiras comunidades cristãs que, obviamente, não se resumia apenas a esta elite.
Além disso, os autores tomam partidos que indicam a sua orientação teórica, “Tantos indícios e
testemunhos fazem com que seja aceita a tradição que diz ter sido em Roma que Paulo teve a
cabeça cortada e que Pedro foi crucificado”(Pérès). “Recusavam a tentação do rigorismo, que
fecharia as portas e obrigaria cada um a se voltar para si mesmo, impedindo-o assim de ver os
outros, de viver com os outros” (Pérès), “O aspecto positivo é que eles eram de uma lealdade
absoluta com relação às autoridades políticas e honestos nos negócios” (Trocmé, deixando
explícito que o forte moralismo relatado anteriormente seria o aspecto negativo). “a lenda
contamina a história” (Cuvillier). Cuvillier, de fato, demonstra um grande zelo ao Novo
Testamento considerando-o como a única fonte plenamente confiável, que dá à lenda uma
“fundamentação histórica sólida”, e, portanto, para ele, as demais fontes devem ser avaliadas
“com cuidado”.
Apesar destas opiniões serem compartilhadas e até mesmo apoiadas por muitos outros
historiadores, o aspecto mais evidente presente nos cinco autores é a análise de documentos
históricos, como livros apócrifos (atos dos Mártires, carta a Diogneto), documentos da época
(Manuscritos do mar morto, textos de Clemente de Alexandria, de Tertuliano, sepultura do bispo
Frutuoso de Tarragona, Vida de Cláudio escrito por Suetônio) e primordialmente o Novo
Testamento, sem utilizar, em nenhum momento, comentários ou interpretações de outros
historiadores (com exceção feita à menção por Cuvillier de um exegeta do início do século XX
para reforçar a sua interpretação da natureza do evangelho de Marcos).
Considerações finais
TRABALHO
PRODUÇÃO CULTURAL – DIVULGAÇÃO HISTÓRICA
“Aventuras na História:
de filhote da Super Interessante à independência”
SÃO PAULO/SP
Junho/2005
1
SUMÁRIO
Para efetuar nossa análise, escolhemos a comparação entre os três primeiros números
e um atual. A importância das três primeiras edições (julho, agosto e novembro/2003) é
justificada por acreditarmos ser este um “prazo de experiência” aceitável para consolidar-se
no mercado ou ser tirada dele, já que a produção e circulação de 44.000 exemplares por mês
de um periódico sem consumidores é algo inviável financeiramente. O relativo sucesso da
revista é comprovado por sua continuidade no mercado editorial e ampliação de sua tiragem
mensal para 80.000 exemplares. Daí nosso interesse por avaliá-la através de uma edição
recente (nº 20 – abril/2005) para verificar sua adaptação ao público leitor.
Ficha descritiva
Apresentação da revista
Dito e feito
História maluca
Dúvida cruel
Tomos e telas:
Clássico
Biblioteca básica
Em cartaz
História online
Aventuras virtuais
Exposições
Páginas Amareladas
Sátira
4
Como o seu próprio nome já diz, a revista trata de temas históricos de interesse geral,
cuja abordagem jornalística encontra grande aceitação. A idéia surgiu após um levantamento
entre as dez edições mais vendidas da revista Super Interessante, das quais quatro números
tinham matérias históricas nas capas. A partir desta informação, percebeu-se uma carência do
mercado por uma publicação do gênero. A primeira edição foi lançada com um perfil de
especial da Super Interessante, sem nenhum investimento publicitário, contando apenas com
a divulgação na própria revista “mãe” e sua exposição nas bancas. Mesmo assim, havia um
forte indicativo de que o projeto viraria revista. Atualmente, a publicação não está mais
vinculada à Super Interessante por questões de ordem administrativa (desde janeiro/2005).
Curiosidade: apesar da revista Super Interessante ter reduzido seu conteúdo com o
lançamento dos “filhotes” Aventuras na História e Mundo Estranho, sua tiragem aumentou,
permanecendo como a segunda maior publicação do Grupo Abril (sua tiragem mensal é de
477.000 exemplares, sendo 385.000 assinantes e 92.000 em bancas).
Logo após o seu lançamento, surgiram outras publicações como a História Viva e a
Nossa História, o que, segundo a revista, surpreendeu a equipe da Aventuras na História, que
desconhecia tais intenções de lançamento para aquele mesmo semestre. Apesar da nascente
concorrência, a revista firmou-se no mercado editorial: sua tiragem mensal inicial de 50.000
exemplares dos quatro primeiros números subiu para os 80.000 exemplares atuais, dos quais
cerca de 36.000 possuem sua venda antecipada através de assinaturas. Suas vendas em bancas
concentram-se nas grandes capitais e regiões com maiores graus de instrução, urbanização e
poder aquisitivo, fato que reflete a segregação cultural e educacional presente em nosso país.
Conteúdo
Em seus quase dois anos de existência, a revista ajustou seu conteúdo às exigências
do seu público, ocorrendo o processo de criação, extinção e ampliação das partes que
compõem a sua organização interna. A publicação divide-se basicamente em dois perfis de
conteúdos: as Escrituras que são as reportagens especiais do mês, de conteúdos mais densos e
geralmente destacadas na capa do exemplar, localizadas no centro de cada edição; e os
Alfarrábios compostos pelas seções que abrem e encerram cada número, trazendo conteúdos
de leitura rápida, leve e curiosa. O perfil de cada seção será traçado mais adiante por ocasião
da análise temática.
Grandes momentos P. 40 P. 30 P. 48 P. 32
Terra brasilis P. 46 P. 54 P. 54 P. 54
Obra-prima P. 54 P. 60 P. 60 P. 60
(mês) na história P. 14 P. 8 P. 9 P. 13
Linha do Tempo P. 14 P. 10 P. 13 P. 10
Museus do Mundo P. 16 P. 14 P. 14 P. 14
Dito e feito P. 19 P. 13 P. 17 P. 17
Clássico P. 62 P. 64 P. 64 P. 64
História online P. 63 P. 64 P. 64 P. 64
⋅ A série Os 10 Maiores aborda a vida dos personagens mais importantes de cada tema.
Encontrava-se (até a conclusão do levantamento de informações para este trabalho -
abril/2005) na quinta edição cujo tema são Piratas (volumes anteriores: Ditadores,
Mulheres, Generais e Terroristas). Possui uma tiragem pequena e um alcance menor de
público, por envolver um maior grau de especificidade e detalhamento dos temas.
8
⋅ A Grandes Guerras é uma revista de 82 páginas, cujo enfoque são batalhas e guerras
históricas. Em breve a publicação será desvinculada da Aventuras na História, tornando-
se uma publicação sobre História militar.
⋅ Os DVDs temáticos são um produto de destaque, mas ainda atingem um público de maior
poder aquisitivo ou grau de interesse sobre os temas. Geralmente trazem documentários
produzidos por redes estrangeiras de televisão sobre grandes personagens e fatos
históricos.
⋅ A Série Dossiê Brasil é a mais nova publicação. Seu primeiro número trabalha a Ditadura
no Brasil no período 1964-1985, abordando temas correntes do regime militar, numa
tentativa de informar e conscientizar sobre um passado recente.
⋅ Está previsto o lançamento de uma coleção de fascículos nomeada Os 100 dias que
abalaram o mundo em 8 volumes, que posteriormente será editada em um único livro.
9
Ficha temática
⋅ O perfil dos assinantes é formado por jovens e professores, mas a maior parte é de adultos
que disponibilizam a revista para suas famílias, na tentativa de motivar o interesse pela
História.
⋅ Nas bancas o perfil fica menos detalhado, mas atinge, geralmente, estudantes dos ensinos
médio e superior e demais pessoas interessadas em assuntos históricos.
⋅ Na Internet, cerca de 20% dos freqüentadores do site são professores de todos os níveis de
ensino.
⋅ Grandes momentos: resgata eventos importantes que contribuíram para feitos históricos
ainda maiores, trazendo para o leitor fatos que muitas vezes apenas são citados nos livros
didáticos.
Foto-história “Carga humana”, (era seção integrante (era seção integrante (era seção integrante
por Isabelle Somma da Máquina do da Máquina do da Máquina do
Tempo) Tempo) Tempo)
Grandes momentos “Revolução contra “A grande peste”, “Os três grandes”, “Japão o dia em que
revolução”, por José por Voltaire por Voltaire a ilha se abriu ao
Francisco Botelho Schilling Schilling mundo” por Isabelle
Somma
Terra brasilis “Tancredo, martírio “Brasil ancestral”, “Guerreiros de Alá “Onde nasceu o
e morte”, por Lira por Rui Dantas na Bahia”, por Brasil?”, por
Neto Reinaldo José Lopes Eduardo Bueno
⋅ Museus do Mundo: propicia uma “visitinha” sem sair do lugar aos principais museus
do mundo, traçando o seu breve perfil.
⋅ Como fazíamos sem...: trata das pequenas invenções que mudaram hábitos,
apresentando um “antes e depois” de uma maneira curiosa.
12
⋅ Dito e feito: expõe as origens daquelas expressões cotidianas passadas de uma geração
para outra.
⋅ Dúvida cruel: seção nova que propõe a investigação e o debate sobre dúvidas
históricas.
3. Tomos e telas – assim como os demais títulos a seguir, localiza-se mais ao final da revista
e está subdividida em:
⋅ Biblioteca básica: apresenta o perfil de uma especialista num tema sugerido e a sua
indicação de bibliografia para melhor compreendê-lo.
⋅ Exposições: agenda das principais mostras previstas para o mês nas principais cidades
do Brasil.
4. Páginas Amareladas: também entitulada como Entrevista com gente morta, é talvez a
seção mais polêmica da revista, já que tenta reconstituir a trajetória de uma personalidade
através de uma entrevista fictícia, formulada a partir de informações disponíveis nas
fontes.
5. Sátira: seção estreante que tenta fazer “piada com fundo histórico”.
Outras seções já passaram pela revista, como pôde ser percebido no Quadro 2, no
entanto vale a pena destacar a Papiro, extinta na edição de abril/2005, pois passava uma
imagem de “estar fazendo um favor aos historiadores”, já que era uma única página no final
da revista, cujo discurso distoava da abordagem empregada nas demais matérias. Ao invés
disso, o historiador a partir do número de maio/2005 estaria integrado aos conteúdos de
destaque da publicação como, por exemplo, um artigo complementando a matéria da capa
(vide exemplar de maio/2005 – capa sobre Adolf Hitler). Desta forma, busca-se dar maior
evidência ao profissional de História e ao seu trabalho, utilizando recursos para atrair ao
13
De uma maneira geral, percebemos que o perfil de reportagem do tipo dossiê (muito
utilizado pela História Viva, por exemplo) quase não é mais utilizado nas matérias. Foram
criadas novas seções com enfoques mais atraentes e os temas históricos sobre a vida privada e
o cotidiano ganharam maior freqüência e destaque.
Cada edição é “aberta” com um editorial sob o nome Manuscrito trazendo o convite
do editor (Celso Miranda) e sua equipe para a leitura do exemplar, estabelecendo o vínculo
entre a redação e o leitor, fato comprovado na seção Missivas, onde é registrada a ativa
participação do público através do envio de cartas e e-mails. O perfil da correspondência
recebida pela redação da revista ainda é o mesmo da ocasião do lançamento: manifestações de
satisfação de uma demanda por informações históricas, sugestões de matérias e crescente
interesse pela revista. É justamente esta participação dos leitores uma das melhores fontes de
pesquisa para traçar as estratégias jornalísticas adotadas, segundo o editor.
Ilustrações
Um dos maiores atrativos da Aventuras na História é o seu forte apelo visual, cheio
de cores, formas e imagens. Seja através de desenhos, mapas, fotos, reproduções de materiais
e documentos de época, ou mesmo um simples fundo de texto ilustrado em tom pastel, todas
as páginas ficam bem marcadas.
Bibliografia
A Aventuras na História é uma revista jovem feita para um público jovem. Não há
nenhuma pretensão educacional ou em tornar a revista um material didático complementar,
apesar de muitos professores escreverem para sua redação afirmando fazê-lo. O objetivo
principal da publicação é entreter e informar, atendendo uma demanda por informações
históricas de maneira a despertar o interesse pelos assuntos e motivar/orientar na busca pela
complementação desses conhecimentos.
Ainda que não participe da redação dos artigos, há uma colaboração da comunidade
acadêmica de História. Ela é consultada através de suas obras e entrevistas concedidas como
fontes de pesquisa. A redação da revista lamentou que os historiadores brasileiros ignorem
muitas vezes os e-mails e telefonemas da imprensa, isolando-se em suas “ilhas de
conhecimento”, deixando de prestar um serviço à cultura do país. Mencionaram um
comportamento diferente dos profissionais do exterior, cuja resposta é recebida no dia
seguinte com grande interesse compartilhar informações. Interrogamos alguns professores do
nosso departamento de História sobre estas tentativas de contato, uns disseram jamais terem
sido procurados, outros que colaboraram com a Super Interessante, mas não se recordam
especificamente da Aventuras na História.
Por ser uma revista elaborada por jornalistas e “amantes não profissionais” da
História, a identificação do emprego de conceitos históricos na linguagem utilizada é menos
evidente. Mesmo assim é possível encontrar alguns conceitos, ainda que trabalhados de uma
maneira muito superficial, em matérias que valorizam certos acontecimentos (geralmente
confrontos) e personagens históricos. Outra maneira de perceber algum conceito histórico é
quando o jornalista usa como fonte de pesquisa a obra de algum historiador, permeando o seu
16
texto com a teoria utilizada pelo autor original. Alguns exemplos de matérias nas quais
podemos identificar conceitos históricos são:
Embora a maioria dos textos seja elaborada sob o enfoque jornalístico e sem uma
preocupação investigativa de fontes ou uso metodológico, é possível identificar alguns
conceitos históricos, ainda que sejam empregados “inconscientemente” pelos autores, seja
pelo condicionamento do modelo histórico perpetuado nas escolas e nos manuais didáticos,
seja por um certo grau de “osmose” durante o contato com o trabalho dos especialistas em
História.
18
Conclusão
É uma publicação dinâmica que mantém uma estreita relação com seu público
consumidor, despertando sua ativa participação, trabalhando e mudando para atender suas
expectativas conquistando, conseqüentemente, o seu espaço no mercado editorial. A demanda
consumidora estava lá esperando, eles e outras revistas resolveram atendê-la. Além dos
lançamentos previstos já mencionados, a Aventuras na História está desenvolvendo um
projeto para a divulgação do conhecimento histórico em escolas do ensino médio e
universidades, juntamente com as publicações Guia do Estudante, Bravo e Religiões. No
ensino médio, o objetivo é estimular o interesse pela História, aproximando alunos e
professores. Já no nível universitário, o foco é em estimular o debate e a troca de informações
entre os alunos das áreas de História, bem como demais ciências humanas e interessados pelo
tema. Ainda não há uma data prevista para o início destas atividades.
Agradecimentos
Fontes
AVENTURAS NA HISTÓRIA. São Paulo: Editora Abril, edições 1-3, 2003 e 20-21, 2005.
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Teoria da História I
Profº Dra. Raquel Glezer
As bancas de jornal foram invadidas nos últimos 3 ou 4 anos por uma série de publicações
voltadas à História; um grande número de revistas que acabou revelando uma demanda do
mercado pelo assunto. Isso sem contar as milionárias produções cinematográficas, seriados de
televisão e documentários. A História invadiu a mídia. Tencionamos entender em parte, através
de um recorte bem específico, como se desenha essa “história das bancas”: de que tipo é, quem
está envolvido em sua produção, qual sua relação com a História Acadêmica, etc.
Em primeiro lugar, fica patente que a História que se desenvolve nessas publicações de
banca, não é uma versão “piorada” da História acadêmica. Tampouco é a produção científica
adaptada a uma linguagem palatável ao grande público. Ela possui temas próprios, interesses
específicos, recortes e abordagens que não se relacionam com a produção acadêmica - a demanda
do público não é por este tipo de História, mas pelo tipo que essas revistas vêm desenvolvendo,
vendo os altos índices de vendagem que atingem. Em uma discussão sobre a Nova História¹,
alguns historiadores desta tendência marcam alguns pontos sobre a História da “mass media”.
Michel de Certeau afirma que essa demanda (não dos últimos 3 ou 4 anos, mas de uma invasão
da mídia que na França ocorreu há muito mais tempo) provém de uma necessidade de
“escapismo” que a sociedade moderna imputa com seu ritmo de vida. E é essa necessidade que
vai desenhar os traços da história a ser produzida no “mass media”.
Jacques Le Goff afirma que “pelo que toca à televisão, o discurso histórico é (...) mais um
discurso próprio da televisão do que um discurso de História para a televisão e pela televisão” ¹.
Podemos dizer analogamente o mesmo para o discurso jornalístico, que é o discurso existente
nessas revistas de divulgação histórica. Em suma, é uma História que nasce por uma demanda
externa à academia, desenvolve-se em meios igualmente externos e com uma linguagem própria
(jornalística ou televisiva). Há, porém, uma tentativa de aproximação com a História acadêmica,
no sentido de buscar uma autoridade comprobatória. É o próprio Le Goff que assinala essa
tendência: “O progresso permitido pelos media, especialmente pela televisão, impõe ou propõe
menos a História que o historiador”. O historiador é requisitado para com a autoridade de seu
nome dizer como as coisas foram e comprovar assim o discurso que está se produzindo.
Os meios universitários não dão conta da demanda, pois a História que produzem é
ininteligível ao grande público e desinteressante: “... falamos com os mortos, porém temos
dificuldade em nos fazer ouvir entre os vivos”. “O monografismo tomou conta da história
acadêmica e relegou-a para um canto de nossa cultura, onde os professores escrevem livros para
outros professores, e fazem resenhas sobre eles em revistas restritas a membros da profissão.
Escrevemos de uma maneira que nos legitima aos olhos dos profissionais e torna nosso trabalho
inacessível a qualquer outra pessoa”. ²
________________________________________________________
1. ARIÈS, Philippe et al. “A História – uma paixão nova”. In: LE GOFF, Jacques et al. A
nova história. Lisboa: Edições 70, 1984. (p. 17-18)
Jean Chesnaux questionou retoricamente se o saber histórico não “está enraizado numa
necessidade coletiva, numa relação-com-o-passado agindo em todo o corpo social e do qual as
pesquisas especializadas seriam apenas um aspecto dentre outros” ³. Visto então que essa
explosão de revistas históricas não é uma deturpação da história acadêmica, mas uma
necessidade surgida externamente a ela e com outras características, tentaremos a partir de agora,
com nossa análise, traçar quais são essas características, analisando o aspecto das fontes visuais.
Iremos começar por procurar a dinâmica dessa produção, em que bases se sustenta e como se
desenvolve e em seguida procuraremos desvendar concepções de História ou de trabalho com
imagens dentro da História que possam existir na revista História Viva.
2. O tema
3. O recorte
_____________________________________________________
A revista concedeu-nos uma entrevista na própria editora, que foi muito útil não apenas
para termos algumas das dúvidas respondidas, mas também para termos contato com a maneira
de trabalhar dos profissionais que a fazem. Entrevistamos a editora-geral da revista, Mirian
Ibañez, e a coordenadora de iconografia, Pietra Diwan. Depois, circulamos pela Duetto e vimos o
processo de produção da História Viva. Os resultados dessa visita foram muito positivos para
nosso trabalho e por isso, ao invés de apresentar a entrevista na íntegra, resolvemos diluí-la no
trabalho, para podermos, nos diversos itens de análise, tirar proveito das informações
conseguidas e contrapô-las às nossas conclusões. Durante o trabalho, sempre que nos referirmos
a informações fornecidas pela revista, pela editora ou pela coordenadora de iconografia, elas
provêm dessa entrevista.
5. Desenvolvimento do trabalho
Na primeira parte do trabalho vamos tratar da maneira pela qual a revista trabalha as
imagens, ou seja, como atuam os profissionais, que fontes utilizam, quais os condicionamentos
de sua atividade, etc. Em seguida, trataremos das capas; como são produzidas e qual seu papel na
revista, relacionando à chamada de capa e analisando detalhadamente a imagem. Por fim,
trataremos nas três últimas partes dos tipos de imagens que são utilizadas, o rigor das citações e a
relação da imagem com o texto.
PADRÃO EDITORIAL DA REVISTA
1. Informações Gerais
A revista História Viva é uma publicação mensal da Duetto Editorial, que foi fundada em abril
de 2001 como resultado da associação da Ediouro Publicações (sediada no Rio de Janeiro) com a
Editora Segmento (sediada em São Paulo). Possui atualmente um quadro de 46 profissionais,
escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro; é filiada à ANER - Associação Nacional dos Editores de
Revistas e à MPA - Magazine Publishers of America e todas as suas revistas têm circulação auditada
pelo IVC - Instituto Verificador de Circulação.
A editora divide-se em dois grupos, de acordo com a área das publicações:
2. Estrutura da Revista
A revista possui uma estrutura fixa de páginas para cada edição, assim como um padrão
gráfico, como veremos mais detalhadamente a diante. Possui inclusive um “mapa” que serve de
base para a montagem de cada número.
5. O modelo gráfico
É bastante óbvio dizer que o núcleo gráfico possui um padrão e um modelo de trabalho.
Mas é preciso ponderar até onde o modelo prévio estabelece um limite a um trabalho mais
profundo de relação entre a imagem e a matéria tratada.
Vimos que a revista tem o padrão de utilizar muitas imagens e prezar pela qualidade visual
como um todo. Podemos chegar a dizer que o valor estético/ilustrativo das imagens é no mínimo
cogitado. E tentaremos mais à frente analisar esse caráter através das revistas selecionadas.
Mas o modelo gráfico vai muito além de uma tendência no uso de imagens. Existe um
“mapa” da revista, no qual estão estipuladas as páginas dedicadas a cada seção e um “esqueleto”
da montagem. Tivemos a oportunidade de ver esse mapa em nossa visita à Duetto Editorial. Não
é preciso grande esforço para notar que tanto o conteúdo escrito como as imagens precisam se
enquadrar nessa estrutura. Esse processo não exerce influência apenas na quantidade de imagens
que cabem na revista, mas é também fundamental na seleção do tamanho, ou do destaque que se
dá à imagem.
6. As fontes
7. Os condicionantes culturais
Vimos até aqui, diversos fatores que influenciam no processo de produção da revista no
aspecto visual. Poderíamos ter feito uma análise do trabalho iconográfico da História Viva e tirar
conclusões sobre a concepção de História nela presente e a concepção de como se deve trabalhar
as imagens. Porém, consideramos que partir daí seria olhar para a revista sob um ponto de vista
acadêmico e tentar enquadra-la nesse tipo de História, o que apenas ressaltaria uma série de
“deficiências” nesse tipo de publicação. Ao contrário, decidimos considerar as diferenças entre
os dois tipos de História, e analisar os condicionantes do trabalho jornalístico, as dificuldades e
caminhos traçados que esse trabalho precisa percorrer. Alguns dos elementos que influenciam no
trabalho de cunho jornalístico pesam mais no cotidiano de seu trabalho e no produto final do que
uma pretensa Teoria de História ou de Historiografia, por mais que parece estranho a ouvidos
acadêmicos.
Já consideramos diversos condicionantes que atuam e delimitam o trabalho jornalístico de
História, como contratos, estrutura organizativa dos profissionais, modelo editorial prévio, regras
de mercado, recursos financeiros, entre outros. Resta ver o que poderíamos chamar de
condicionantes culturais, para depois sim, considerados os elementos que influenciam a
produção da História Viva no aspecto pragmático e cotidiano, podermos considerar de maneira
mais coerente a concepção que a revista utiliza para o trabalho com as imagens.
Na consideração desses condicionantes culturais foi muito útil o interessante trabalho do
historiador da Revolução Francesa (e ex-jornalista), Robert Darnton, Jornalismo: Toda a notícia
que couber a gente publica, presente em seu livro O Beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e
Revolução. Nessa obra, Darnton aponta como as relações profissionais e sociais dentro da
redação do New York Times – no qual trabalhou - influenciam no conteúdo final do jornal. E o
autor ressalta a importância dessas relações para se contrapor a uma explicação sociológica que
se baseia na relação escritor – público alvo de maneira mecânica; ou seja, tenta demonstrar como
muitas vezes há pouco contato com o público leitor, e a relação com os colegas, bem como a
relação redator-editor, e até mesmo a convivência com os parentes influenciam mais no
julgamento de seu texto. Isso sem falar no arrivismo interno, na tradição jornalística, etc.
Portanto, há todo um conjunto cultural que é profundamente influenciador do trabalho
jornalístico.
É claro que não podemos comparar a estrutura da Duetto Editorial com a do New York
Times. Porém, podemos igualmente perceber algumas relações que influenciam profundamente
no resultado do trabalho com as imagens. A relação com o público alvo é, na História Viva e nas
outras revistas do gênero, talvez, bem mais estreita que em um diário ou revista semanal. Se
considerarmos o público leitor da Folha de São Paulo ou da Veja, por exemplo, podemos
imaginar o quanto o público da História Viva é relativamente homogêneo. Também por ser
menor, é mais facilmente identificado em seus caracteres gerais. A revista possui um website que
permite através de questionários ou e-mail, um contato com a redação. Na publicação, há uma
seção de cartas que também abre a possibilidade de comunicação. Em alguns números, a História
Viva anexou um cartão-resposta, para que o leitor pudesse opinar sobre a revista. Mesmo assim,
seria absurdo supor que os editores têm uma idéia bem delineada do público alvo. Segundo
Mirian Ibañez, o público alvo seria o “adulto, interessado em História, mas não especialista”.
Obviamente, os editores devem traçar outros dados, como escolaridade, sexo, etc, mas seria
exagero esperar que possuíssem um perfil bem demarcado e podemos supor que o método de
“tentativa e erro” tem um peso importante.
Não poderíamos encontrar uma acirrada disputa por status dentro da editora, que com sua
estrutura reduzida, normalmente possui um ou dois profissionais para cada função (pelo menos
do caso da produção visual). Não implica que não haja a tentativa de “mostrar serviço” ou cair
nas graças do superior. A relação hierárquica entre o editor-geral e os demais profissionais
demarca profundamente o tipo de material produzido, mesmo que o editor não tenha uma idéia
claro de seu público leitor. Na História Viva, pudemos perceber uma diferença nas fontes visuais
da revista entre os três editores-gerais que por ela passaram. Durante a editoria de Mirian Ibañez,
podemos perceber uma maior tendência às imagens de época, e um maior rigor na citação das
fontes (mais à frente, analisaremos esses aspectos da produção visual). Segundo a coordenadora
de Iconografia, Pietra Diwan, a atual editora-geral é mais rigorosa, e é mais difícil passar
imagens com citação deficiente pelo seu crivo. Na primeira edição da revista, sob a editoria de
Luthero Mainard, percebemos a maior utilização de legendas explicativas nas matérias de
História do Brasil (havia a citação da fonte e em separado uma segunda legenda explicativa da
imagem). Mesmo não sabendo se podemos atribuir essa diferença a um critério diferente do
primeiro editor, é de se supor que ocorram muitas diferenças de critério editorial.
AS CAPAS
Existe uma grande diferença entre uma revista especializada - em História ou em qualquer outra
área do conhecimento -, que possui um nicho dentro da universidade, nas instituições de pesquisa; ou
seja, num circuito um tanto quanto hermético, e uma revista que esteja competindo num mercado mais
amplo, do grande público, do comércio em assinaturas e bancas de jornal. Uma revista que esteja
submetida às regras do grande mercado editorial brasileiro, como a História Viva, tem na capa um
componente fundamental para a conquista de leitores-consumidores. É talvez a peça principal para
atrair a atenção em bancas de jornal e para despertar a curiosidade naquele que não conhece a
publicação, visto que no grande mercado editorial a propaganda “boca-a-boca” não seria suficiente
para garantir a publicidade da revista, como poderia acontecer numa publicação acadêmica.
Nesse sentido, separamos um tópico de nosso trabalho para a análise das capas da revista, visto
que são um dos componentes que melhor representa a distinção existente entre esse tipo de História
feita pelas publicações de banca da História acadêmica, já que nelas está mais explicitamente presente
o aspecto mercadológico. Além disso, é extremamente útil para delinearmos os principais traços dessa
“outra” história. E como nosso trabalho se focaliza nos aspectos visuais da revista, também na capa
esta será nossa preocupação, e é na imagem de capa (mas em sua relação com o título) que tentaremos
identificar os componentes de análise.
Segundo a atual editora-geral da revista, Mirian Ibañez, a escolha da capa é feita por toda a
equipe da revista, passando porém por uma avaliação final do diretor-geral da Duetto Editorial,
Alfredo Nastari.
A capa da História Viva é composta por uma única imagem de fundo, e por cima, a chamada da
matéria à qual a imagem se refere; além das chamadas- com destaque menor - de algumas outras
matérias. Essa estrutura tem uma única exceção na capa da primeira edição (Napoleão), que possui
uma pequena imagem de outra matéria.
Geralmente, a imagem de capa está dedicada à seção dossiê, a mais extensa da revista, que na
maioria das vezes é proveniente da análoga seção da revista francesa Historia (exceto nos dossiês
sobre História do Brasil). Esse critério para as capas tem duas exceções muito representativas, como
veremos a seguir.
Em nossa análise pudemos perceber que os apelos que a revista faz ao leitor através das capas
não seguem um único padrão. A associação mais direta seria procurar a relação das capas com algum
tema de destaque na mídia, como um filme, ou um livro de grande vendagem. Porém, esse critério
aplica-se somente a 3 edições da História Viva, de um total de 20. São as edições sobre Alexandre o
Grande, Tróia e a ferrovia Madeira-Maimoré.
Todas essas edições se relacionam com grandes lançamentos do entretenimento, sejam filmes (as
duas primeiras) ou seriado televisivo (a terceira). No caso de Tróia e Alexandre, o critério foi
explicitamente ligar a revista aos filmes, segundo a própria editora-geral, Mirian Ibañez. Isso é
comprovado pelo fato de serem as únicas edições em que a capa não corresponde à seção dossiê. Mas
também segundo a editora-geral, esse critério de capa não altera o conteúdo da revista, que segue os
mesmos critérios de sempre.
Na edição sobre a ferrovia Madeira-Maimoré, a capa corresponde ao dossiê, porém, nesse caso, a
própria escolha do tema do dossiê está relacionado ao tema de destaque na mídia (o seriado de
televisão sobre a ferrovia, produzido pela TV Globo). A ligação do dossiê com algum tema em
destaque na mídia não é possível de ser feita sempre (só pudemos encontrar essa ligação nessa edição),
visto que no contrato da revista com sua correspondente francesa, é estipulado um mínimo de material
da Historia a ser reproduzido na História Viva.
Podemos perceber portanto que esse tipo de apelo é menos recorrente na revista História Viva.
Como a publicação se dirige a um público interessado em História, existem outros recursos para tornar
a revista atraente, mesmo sem relação com grandes temas do entretenimento. Na análise das edições
que selecionamos para o trabalho, percebemos principalmente os seguintes recursos:
-trabalho com estereótipos. Procura-se atrair a atenção do consumidor, através de estereótipos ou
mitos presentes na História e grandemente difundidos no senso-comum. Ou seja, o leitor irá se deparar
com uma imagem muito familiar, e esperará encontrar na revista informações mais detalhadas sobre
aquela imagem interessante e, algumas vezes excêntrica, que ele já conhecia superficialmente sobre
determinado assunto.
Podemos perceber esse tipo de construção claramente no primeiro número da revista, que dedica
a capa a Napoleão. Nessa capa, Napoleão aparece “renascendo”, iluminado. É uma imagem tão
grandiloqüente quanto o mito dessa personagem. É interessante perceber que além de mostrar a
“grandeza” de Napoleão, a capa o destaca individualmente, dentro do arquétipo de grande líder. Essa
imagem complementa a chamada, que apresenta a França personalizada em Napoleão (“Ele mudou a
Europa...”).
O mesmo trabalho com estereótipo pode ser percebido na edição que tem na capa a cidade de
Veneza. A capa apresenta uma pintura do século XIX, destacando justamente o canal com gôndolas e
em primeiro plano uma foto de uma máscara do carnaval de 2002. A única relação entre essas duas
imagens é o caráter simbólico de ambas. Os famosos canais venezianos e o famoso carnaval
mascarado; as primeiras referências que surgem quando se pensa na cidade de Veneza. A pintura, de
cores claras e serenas liga-se diretamente à chamada da matéria (“Sereníssima república...”). A capa
faz um apelo a uma tradição veneziana que se mantém há mil anos (“mil anos de prosperidade e
esplendor”).
Há, porém, uma reserva importante a ser feita em relação ao uso de estereótipos. No caso de um
trabalho jornalístico, nem sempre isso se passa de forma premeditada. Algumas vezes, o jornalista
também enxerga a História através dos estereótipos, também está submetido a esse tipo de visão. É
importante considerar o pragmatismo e rapidez que acompanha o trabalho jornalístico em comparação
ao acadêmico. Existem, como vimos, limites variados que muitas vezes impelem a uma escolha menos
criteriosa. No caso da capa do Napoleão, parece ter pesado bastante na escolha o fato de a imagem
mostrá-lo saindo do túmulo, e a evidente relação disso com a matéria sobre sua sepultura
(literalmente). Por mais que possamos analisar as conseqüências de uma determinada escolha, temos
que ter em mente que não necessariamente essa escolha esteve baseada num tal nível de abstração.
- a “verdade” por trás do mito. Outro recurso facilmente perceptível, e não menos apelativo, é a
pretensão de mostrar uma “verdade ocultada” por uma visão estereotipada (dessa vez com caráter
negativo). Isso desperta o interesse de maneira talvez mais direta, pois a impressão que passa é de que
as coisas não são como se pensa. A curiosidade que esse apelo desperta, não apenas ao leigo, é
evidente.
Esse recurso pode ser percebido em outras duas capas analisadas, a dedicada à Idade Média e a
referente aos Primeiros cristãos. A capa Idade Média é explicitamente e premeditadamente uma
inversão do estereótipo de “Idades das Trevas”. De maneira um tanto grosseira e simplista, a revista
mostra uma Idade Média “tolerante, progressista, social” (palavras da chamada da matéria), e o caráter
de “verdade oculta” fica evidente no termo “Idade Média desconhecida”. A imagem corrobora e
fortifica essa inversão ao mostrar uma pintura (do século XVI) com cores vivas e muito movimento. A
imagem é por si só o oposto de trevas e estagnação.
A capa dos Primeiros Cristãos também procura apresentar uma “verdade” por trás do
estereótipo, no caso, a humanidade dos apóstolos que numa visão muito em voga hoje em dia,
pretende mostrar que a “Igreja Católica” distorceu a vida de Cristo e dos apóstolos, no sentido de
endeusar uma existência que teria sido essencialmente humana, com tudo que isso acarreta. Não se faz
necessário exemplificar essa tendência tão facilmente perceptível em qualquer programa de TV ou
banca de jornal.
Podemos notar que por trás dessas capas está uma visão de História que se concede um caráter
comprobatório. A História aparece como reveladora da verdade, e o historiador como a autoridade
que concede autenticidade a uma afirmação.
- o valor estético. Já vimos como o papel ilustrativo e estético tem um peso bastante relevante
nesse tipo de publicação e nessa visão de História. A qualidade gráfica está presente em todas as
capas, mas em algumas delas o aspecto estético parece ter sido a principal variável na escolha da
imagem. Percebemos esse critério na capa “Como a Espanha fez a América”. A imagem escolhida foi
uma pintura de época (século XVI), que apresenta dóceis índios, explicitamente de aspecto físico
europeu, em pacíficas relações com os colonizadores espanhóis. A pintura é grandemente
representativa de uma determinada visão em voga na época da colonização, porém bem distinta da
interpretação que a chamada da matéria propõe (“saque de ouro e prata...”), e que podemos perceber
no decorrer do dossiê. Ponderamos a hipótese de que a capa estivesse relativizando a visão proposta
pela imagem, mas não encontramos nenhum elemento que apontasse para essa direção. O que parece
ter pesado realmente na escolha é a beleza da pintura, e o fato de se tratar de uma representação
contemporânea dos acontecimentos tratados.
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DAS IMAGENS
Pudemos perceber através de nossa análise que as imagens exercem na Revista História
Viva um papel ilustrativo no sentido já explicitado neste trabalho. Seu papel fundamental
consiste na visualização das personagens e na construção do cenário no qual se desenvolve
a narrativa histórica.
Também percebemos que a revista utiliza um grande número de imagens,
principalmente se compararmos com a produção acadêmica – que ainda se utiliza pouco
deste recurso -, mas que não difere muita de outras publicações do gênero. Ou seja,
podemos inferir, mesmo com um conhecimento superficial de outras revistas, que essa
“história”, direcionada ao público não-especializado, e que gerou este grande número de
publicações, tem nas imagens um de seus aspectos fundamentais e mais atrativos.
Outra importante função das imagens neste tipo de publicação é tornar a revista
visualmente mais leve e dinâmica, facilitando a leitura para um público que, em grande
parte, vê na história narrada apenas um momento de lazer.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ARIÈS, Philippe et al. “A História – uma paixão nova”. In: LE GOFF, Jacques et al. A
nova história. Lisboa: Edições 70, 1984.
CHESNAUX, Jean. “Apresentação”. In:___. Devemos fazer tabula rasa do passado: Sobre
a história e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995.
DARNTON, Robert. “Introdução”.“Jornalismo: toda a notícia que couber a gente publica”.
In:___. O beijo de Lamourette. São Paulo: Cia. Das Letras, 1990.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
INTRODUÇÃO
A revista escolhida para análise, foi a Super Interessante da Editora Abril, entre os
anos de 1997 a 2004. Percebemos que à partir de 2001, mais precisamente depois do ataque
de 11 de setembro, o tema selecionado, da religiosidade, vem sendo muito recorrente.
Foram selecionadas 7 revistas, das quais três sobre a vida de Cristo, uma sobre o apóstolo
Paulo, uma sobre o Alcorão, uma sobre a Bíblia, e uma sobre Buda.
Identificamos que a vertente teórica dos artigos é a Positivista. Pretendemos analisar
características desta vertente e buscar pontos comuns e divergentes entre os artigos.
1
O embasamento cientificista do autor se explica pela legitimidade que a Ciência
ganhou sobre a religião no século XVI. Continua-se com uma observação historicista:
“Quando Darwin lançou (...) o fosso entre ciência e religião já era intransponível.”
(“Bíblia”). O autor usa termos como: “livros que pretendem (...) desde o suposto
chamamento (...) que teria ocorrido (...)” (Idem). Estes termos indicam que a Bíblia foi
escrita para representar a verdade, mas que agora se descobriu que isso é falso.
Em “O homem que inventou Cristo”, faz-se um juízo de valor positivista: é mais
válido o que é mais novo, que sempre suplanta o velho. O autor faz uma narração dos fatos
históricos, sem submetê-los a uma análise. Ele interpreta os documentos e as falas dos
especialistas como uma verdade absoluta, sem ser possível acrescentar algumas ressalvas.
A respeito da conservação de alguns textos apócrifos, mais especificamente os
Evangelhos de Tomé, Filipe e Maria Madalena o texto “Um outro Jesus” afirma que foram
guardados por um egípcio anônimo por volta do século IV e que foram resgatados por um
grupo de beduínos em 1945, próximo a cidade egípcia de Nag Hammadi. O texto não diz de
onde foi retirada essa versão, tratando a informação como verdade absoluta uma vez que
não procura discuti-la.
Citação: “em algum momento do século IV, esse egípcio teve a boa idéia de esconder num
jarro de barro cópias manuscritas na língua cópias desses textos e de muitos outros
ameaçados pela perseguição da Igreja. O jarro ficou 1600 anos sob a areia do deserto.
Acabou resgatado por um grupo de beduínos em 1945;”
Em “O Iluminado”, depois de situar o momento do surgimento do budismo como
uma época de ebulição espiritual, a revista passa a narrar a história de vida de Sidarta
Gautama, o Buda. Em determinados momentos cita fatos que são mencionados nas antigas
escrituras budistas e que pelas suas características não podem ter comprovação histórica,
tais como “cumpriu-se uma profecia segundo a qual ele se tornaria um homem santo” sem
fazer nem uma ressalva.
Autoridade intelectual
2
sempre tenta trabalhar com opiniões nacionais e internacionais sobre o assunto, o que nos
remete a duas interpretações: Ou o autor faz isso para mostrar que tal fato é de importância
nacional e internacional, ou então que uma opinião internacional teria mais força e
aceitação para o tema, desclassificando os especialistas brasileiros. A maioria dos autores
é ligada ao estudo da teologia, o que pretende provar que realmente o intelectual pensa
neste tema com seriedade.
Os especialistas citados em “Quem matou Jesus¿” foram: John Dominic Crossan,
da Universidade DePaul, de Boston, “um dos mais respeitados estudiosos do assunto”, que
afirma que os Evangelhos não podem ser tratados como documentos históricos; os
historiadores “não cristãos” Flávio Josefo e Cornélio Tácito, que comprovam a existência
de fatos sobre a vida de Cristo, e o próprio Mel Gibson, cujo filme é parte da iconografia do
artigo, e que fez uma obra monumental que deveria chegar o mais próximo possível da
realidade1 (“Quem matou Jesus”, ed. 199, p. 44).
Sobre a vida de Jesus, o cientista da religião Richard Horsley, da Universidade de
Massachusetts que diz que aquele era um momento politicamente ideal para um levante;
André Lemaire, paleógrafo do período bíblico da Sorbonne; André Chevitarese, professor
de História Antiga na UFRJ; Pedro Lima Vasconcellos, professor de Ciências da Religião
da PUC; Gebriele Cornelli, professor de Teologia e Filosofia da Universidade Metodista de
São Paulo; Paulo Nogueira, professor de Literatura do Cristianismo Primitivo da mesma
universidade, (“A verdadeira história de Jesus”, ed. 183)
No entanto, há constatações críticas interessantes: Chevitarese chama a atenção para
que o conceito de líder surge com Maquiavel, no Renascimento, portanto, as manifestações
de Jesus não podiam estar destacadas do plano espiritual. O historiador também coloca que
é um erro tentar explicar racionalmente fenômenos espirituais, e que se deve atentar para
como as comunidades da época viam esses acontecimentos. Paulo Nogueira, afirma que:
“Não se deve subestimar o poder dessas experiências em nome do racionalismo” (A
verdadeira história...”). Aqui portanto, há contrapontos à ideologia racionalista que se vinha
usando.
O arqueólogo israelense Israel Finkelstein, autor de “A bíblia desenterrada” que
causou choque nos estudiosos “porque reduz os relatos do Antigo Testamento a uma
1
Ver anexo.
3
coleção de lendas inventadas a partir do século VII a.C” Diz ele: “Das três ciências que
estudam a Bíblia, a arqueologia tem se mostrado a mais promissora. Ela é a única que
fornece dados novos”. (“Bíblia”).
No texto “O homem que inventou Cristo”, o autor afirma que alguns teólogos
relegam a figura de Paulo grande importância, como sendo fundamental nos primeiros anos
do Cristianismo (alicerce da jurisprudência, moral e filosofia moderna do Ocidente). Os
autores que afirmam a importância de Paulo, segundo o autor, são o professor Jerome
Murphy-O’Connor (Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém); o historiador André
Chevitarese e o teólogo Pedro Lima Vasconcellos, já citados.
Uma outra corrente de estudiosos afirma que Paulo deturpou a imagem de Cristo.
Os ensinamentos que permaneceram foram os seus, e não os de Jesus. Para tal afirmação, o
autor utiliza depoimentos de Mahatma Ghandi em 1928, Albert Schweitzer em 1952,
prêmio Nobel da paz e Fernando Travi, fundador e líder da Igreja Essênia Brasileira.
Entre os especialistas citados no artigo “A palavra de Deus” estão o libanês Samir
El Hayek, tradutor da primeira edição, no Brasil, do Corão em português; Safa Jubran,
professora de árabe da Universidade de São Paulo; o xeque Ali Abdune, do Centro Islâmico
de São Bernardo do Campo; o xeque Jihad Hassan Hammadeh, um dos líderes da religião
islâmica no Brasil; o historiador holandês Peter Demant, especialista em relações
internacionais e Oriente Médio, que dá aulas na USP; a teóloga inglesa Karen Armstrong,
ex-freira católica e profunda conhecedora das três religiões abraâmicas; Eliane Moura da
Silva, professora de história das religiões da Unicamp; o historiador libanês Amin Maalouf
e o historiador Alberto Ventura, do Instituto Universitário Oriental, de Nápoles, Itália.
Através da opinião de alguns especialistas sobre o assunto, o autor de “Um outro
Jesus” procura levantar dúvidas a respeito da autenticidade da figura de Jesus que é passada
pela Bíblia nos evangelhos de Lucas, Marcos, Matheus e João, que são os únicos relatos da
vida de Cristo considerados autênticos pela Igreja.
O autor destaca a opinião de “especialistas”, pessoas que publicaram alguma coisa
sobre o Cristianismo, como o jornalista espanhol Juan Arias, ou relacionadas de alguma
forma com a história do Cristianismo, como o frei franciscano Jacir de Freitas Farias,
professor do Instituto São Tomás de Aquino, Karen King, historiadora eclesiástica da
4
Universidade Harvard e os teólogos Pedro Vasconcellos, da PUC de São Paulo, e Paulo
Nogueira, da Universidade Metodista
No final do texto é dada uma resposta à questão levantada que parece ser a opinião da
autora, ela afirma que o “os evangelhos apócrifos, assim como os canônicos, foram escritos
por pessoas inquietas, numa época conturbada e difícil, em que as antigas respostas já não
davam conta de acalmar os espíritos” e que, apesar dos tempos serem outros, boa parte da
sociedade atual “está inquieta e insatisfeita com as respostas que existem. Tem muita gente
em busca de alguma coisa que torne nossa existência mais transcendente, mais valiosa. E
esses textos escritos por outro homens, numa busca parecida, podem nos dar uma dica de
onde começar a procurar.” No entanto, mediante as características do texto, que utiliza
citações de terceiros muitas vezes sem fazer menção, não conseguimos afirmar se essa foi a
opinião da autora após a pesquisa realizada para a elaboração do texto ou se essa é a
opinião de algum especialista que foi apropriada pela autora.
5
“(...) deviam estar comentando o tumulto do dia anterior, que resultou na morte de
um judeu. Nada que não estivessem acostumados a ouvir.” Aqui tira-se a importância
singular de Jesus como líder, ele era mais um entre agitadores. “(...) pouca gente deve ter
se comovido com a prisão e morte de um judeu agitador.” (“A verdadeira história...”)
Colocam-se duas imagens de Jesus: a bíblica “que dispensa apresentações” (Idem)
– e faz uma breve apresentação de seus símbolos, mas não explica que Jesus passou a
representar o cordeiro de Deus só para os cristãos, e não para os judeus. O outro Jesus, já
citado no início da matéria, é Joshua, o homem que morreu sem chamar muita atenção dos
cidadãos do Império Romano.
Os evangelhos são apresentados como fontes parciais, pois foram escritas por
seguidores de Cristo, que teriam escrito com base em interesses próprios.
Enfatiza-se que a reconstrução dos historiadores e arqueólogos é fascinante e bem
diferente daquela visão mitológica renascentista.
Sobre a profissão de Jesus, o professor de Ciências da Religião da PUC, Pedro Lima
Vasconcellos, define “tekton”, usada no Novo Testamento como carpinteiro, significava
também “biscateiro”, ou “pau-pra-toda-obra”. Estas palavras colocam-no no plano mais
prático possível de descrição.
A chamada do artigo “Bíblia” anuncia que a Arqueologia descobriu que Abraão e
Moisés não existiram, o Êxodo não ocorreu e os reis Davi e Salomão eram pequenos chefes
tribais, e que “a maior parte das escrituras sagradas não passa de lenda”. Estas afirmações
são inclusive politicamente delicadas, pois passam pela história dos judeus, e em última
instância colocam em jogo a discussão da legitimidade do Estado de Israel.
“Buda morreu por volta de 483a.c, depois de um acesso de disenteria que teria sido
causado pela ingestão de carne de porco. Há algo menos divino – ou tão demasiadamente
humano – do que morrer de dor de barriga¿” (“O Iluminado”)
6
A chamada da capa de “Quem matou Jesus?” é “A história diz que foram os
romanos. A teologia diz que fomos todos nós (ou ele sozinho). Mas só os judeus foram
condenados. Por quê?” Também se refuta a idéia de que Mel Gibson teria tido uma visão
anti-semita da História, pois se diz que sua pesquisa para o roteiro vem do Evangelho. É
muito nítida, portanto, a defesa dos judeus, que se sobrepõe na opinião sobre a situação
mundial atual.
Em determinados momentos, utilizam-se anacronismos em linguagem informal:
“Não foi um simples rapa nos camelôs” (“Quem matou Jesus?”, p. 44) e “Na prática ele (o
Templo) era o Banco Central da Judéia” (Idem) . Este traço é usado estrategicamente para
chamar o leitor ao vínculo com o presente, assim, ele pode identificar características
comuns com a sua vida, e imaginar como seria a vida naquela época. Não se discutirá
obviamente que os conceitos de banco e camelô surgirão séculos depois.
Outro exemplo de uso da linguagem coloquial é: “Dessa vez, o fuzuê foi causado
por um judeu camponês chamado Yeshua (...)” (“A verdadeira história de Jesus”).
Defende-se que Jesus fez um levante premeditado, em época de festa judaica, para
chamar atenção. Sua execução só deveria servir de exemplo, contra agitadores; haveria aqui
mais um vínculo com o presente?
A coincidência com a situação atual da guerra no Oriente Médio é candente: a
cidade (Jerusalém), já era palco de conflitos político-religiosos sangrentos e quase sempre
algum agitador morria por incitar rebeliões contra os romanos, que governavam a região
com o apoio da elite judaica do templo de Jerusalém.
A política brasileira também é abordada: “Eram uma ala do judaísmo assim como o
PT tem alas que não representam as idéias predominantes do partido” (segundo Monica
Selvatici, doutoranda em História pela Unicamp “A verdadeira história de Jesus”, p. 49)
À respeito da aparência de Jesus, faz-se mais um paralelo com a situação política
atual, para trazer a história à realidade próxima do leitor: “Em tempos turbulentos como o
de hoje, ele provavelmente teria dificuldades de passar pela alfândega de um aeroporto
europeu ou americano”, segundo Chevitarese (“ A verdadeira história...”).
“Paulo teve uma formação acadêmica de primeira – nos parâmetros atuais, algo
equivalente a um doutorado em Harvard.”. “... para autenticar o documento. A maioria
delas foi escrita em grego, mesma língua usada por Paulo em suas pregações. Esse era o
7
idioma universal, comparável ao que hoje é o inglês.” (“O homem que inventou Cristo”).
Nestas duas citações ficam evidentes os anacronismos cometidos pelo autor. Fazem-se
comparações do passado com referências no presente.
“Para aquele povo disperso no deserto, o livro caiu como uma luva.” “A vida valia
pouco. Com regras desse naipe, logo não sobraria árabe para contar a história.” (“A
palavra de Deus”). Estes são alguns exemplos encontrados no texto que mostram que ao
utilizar este tipo de linguagem, o autor tenta desmistificar o papel do livro sagrado dos
muçulmanos.
Em “Um outro Jesus”, após fazer o resumo à cerca da origem dos textos apócrifos e
do tratamento que a Igreja Católica lhes dispensou, passa-se a identificar o motivo pelo
qual o tema foi abordado pela revista. O autor destaca o sucesso que os textos apócrifos
estão fazendo na sociedade atual inspirando filmes milionários, como Matrix, best seller,
como o Código da Vinci, gerando novas seitas e religiões. No restante do texto o autor tenta
“explicar essa súbita popularidade para textos que estiveram sumidos por um milênio e
meio.”
Citação: “E agora, 2 mil anos depois da morte de Cristo, eles estão fazendo um
tremendo sucesso. Inspirando filmes milionários (como Matrix) e best sellers (como o
Código da Vinci).” Trata-se do fenômeno “pop”.
A justificativa para a abordagem do tema do artigo “O Iluminado”, sobre Buda, é
interesse que desperta em um número cada vez maior de pessoas no Ocidente. Há uso de
anacronismo, como a opinião da autora do livro Maomé e Buda, Karen Armstrong: “nessa
época, as pessoas discutiam sobre espiritualidade com o mesmo entusiasmo com que se
discute futebol hoje.” No final do texto, o autor, compara a expansão do Budismo a um
fenômeno pop e procura esclarecer os motivos pelos quais o tema abordado desperta tanto
interesse na sociedade atual.
Citação: “Quem quiser entender por que o Budismo exerce tanta atração no
Ocidente precisa ver como elas conquistam sua audiência, geralmente de jovens, em torno
da idéia de compaixão.” Inicia-se o texto utilizando termo que buscam prender a atenção
do leitor, tais como “fascinante história”.
8
Resgate factual/narrativo
Esta é uma característica muito presente nos textos da Super Interessante. O autor
inicia o artigo através de uma narrativa histórica tentando aproximar o leitor do fato
descrito. Interessante notar que tal mecanismo denota ao artigo um caráter simplista e acaba
por desmistificar o papel do personagem histórico, levando o leitor a um panorama
histórico.
Faz-se um breve relato factual do acontecido, ou estrutura dos livros: Bíblia e
Corão; o autor trabalha o contexto histórico deste artigo desde o surgimento do Corão até
os dias atuais, mostrando suas diferentes interpretações durante a história e suas
mudanças.). Discute-se veracidade, mas não citam fontes.
Estrutura-se o texto com um panorama do que é o senso comum para os cristãos.
Faz-se uma breve narração do julgamento segundo o evangelho. Conclui-se, por
exemplo, que a morte não foi acidental, que alguém matou Jesus. Os autores tomam partido
dos historiadores e atentam para a necessidade de descobrir através de fatos o motivo da
morte. Faz se uma narrativa do cotidiano da Palestina, e descrição da Páscoa judaica.
(“Quem matou Jesus?”)
Em “A palavra de Deus”, o autor trabalha o início do artigo através de uma narrativa
histórica, mostrando como se deu a conversão de Maomé e o surgimento do islamismo.
Vale dizer que este artigo foi publicado dois meses após os atentados do 11 de setembro de
2001, denotando a matéria um caráter oportunista, já que o assunto estava em voga no
período. A narrativa histórica torna de fácil compreensão o assunto abordado,
demonstrando mais uma vez que a revista tem no público leigo seus maiores leitores.
O texto “Um outro Jesus” é a respeito dos evangelhos apócrifos, texto que foram
proibidos pela Igreja, e que, portanto, não fazem parte da Bíblia, e somente recentemente
foram descobertos. O autor faz uma breve contextualização histórica do período em que a
Igreja definiu quais seriam os evangelhos oficiais.
“O Iluminado”, através da opinião de outros autores, procura fazer uma
contextualização histórica do período em que surgiu o budismo, comparando com o
surgimento de outras religiões, porém não cita a fontes utilizadas.
9
Ausência de fontes:
Pretende-se narrar o que de fato ocorreu, mas não se coloca o essencial da pesquisa
histórica: as fontes. Os autores mostram o contexto da época de uma forma breve, porém
não mostram ao leitor onde encontrou tais informações. Em momento algum os autores
utilizam fontes históricas para justificar sua argumentação, sendo que no final do artigo não
existe nenhuma referência bibliográfica para consulta do leitor. Em alguns casos há um box
intitulado: “Para saber mais”. . Na maioria das vezes, as obras sugeridas são de autoria dos
especialistas mencionados na revista.
O primeiro texto apócrifo citado no artigo “Um outro Jesus”, é o Evangelho de
Tomé, o autor afirma que, segundo opinião de pesquisadores, é tão antigo quanto os que
estão na Bíblia. Ao fazer essa afirmação não esclarece, no entanto, quem são os
pesquisadores citados e nem de onde foi retirada tal informação.
O autor de “O Iluminado”, descreve costumes da Índia do período em que Buda
viveu, descrições que necessitariam de um pesquisa anterior porém, não as fontes de onde
foram retiradas tais informações. O autor menciona trechos das antigas escrituras budistas,
porem não deixa claro se ele consultou diretamente esse material ou se se utilizou da obra
de outro autor e portanto de um interpretação alheia. Após fazer uma contextualização a
respeito da época em que o Budismo surgiu, dos costumes da sociedade que presenciou o
seu surgimento e discorrer a respeito da vida do seu fundador, o autor passa a fazer uma
análise das novidades trazidas por Buda, fazendo afirmações, tais como “a grande novidade
trazida por Buda em sua época foi a idéia de que a vida espiritual , com capacidade de
conhecer a si mesmo, não tem nada a ver com restrições de casta impostas pelos
brâmanes”, que parecem ser a opinião do autor pois não cita outra fonte nem afirma se a
opinião de algum especialista. No entanto, para fazer tais afirmações seria necessário ter
um conhecimento aprofundado do assunto, por isso provavelmente o autor tenha utilizado a
opinião de algum especialista sem fazer menção.
10
Formato didático e iconografia:
CONCLUSÃO
2
JAGUARIBE, Hélio. Um Estudo Crítico da História.São Paulo: Paz e Terra, 2002, Pg. 32
11
caráter de ciência.”4. Para estes, a narrativa não pode seguir as leis naturais.
Todos os artigos pretendem contar a realidade pura de fenômenos míticos e
místicos; são usados temas polêmicos, que chamem a atenção do público leigo. Os
materialistas históricos não se preocuparam diretamente com os fatos dentro dos fenômenos
místicos, pois o que interessa na História são os grandes movimentos econômicos que
teriam mudado sua estrutura.
Os autores apresentam visões diferentes, sobretudo no que diz respeito à busca da
verdade tal como existiu, ou o oposto, sobre a clareza de que aqueles personagem existiram
em determinado tempo histórico, e não podem ser analisados com critérios do presente. Há
cuidados com o anacronismo; no entanto, em um mesmo artigo, os autores se contradizem
quanto a esta e outras questões, ou até mesmo desmentem as afirmações dos especialistas
citados, utilizando a forma positivista de análise.
Fontes:
*As fontes foram colocadas em ordem de data, para se visualizar melhor a ordem em que as
temáticas se apresentaram.
*Quanto aos autores, não obtivemos resposta da editora sobre sua formação e vertentes
teóricas. Sabemos, por exemplo, que KENSKI é repórter, membro do corpo editorial da
revista. Rodrigo Cavalcante, provavelmente é redator, pois é autor de dois dos artigos
escolhidos.
3
Idem, Pg. 29
4
LANGLOIS, ch. V. e SEIGNOBOS, ch. Operações sintéticas. In: Introdução aos estudos históricos. Trad.
Laerte de Almeida. Sâo Paulo, Ed. Renascença, 1946, pg. 154.
12
195. dezembro 2003.
VERSIGNASSI, A. e KENSKI, R. “Quem Matou Jesus”. Super Interessante. Edição 199,
abril de 2004.
MONTENEGRO, Érica. “Um outro Jesus”. Super Interessante. Edição 207. dezembro de
2004.
Bibliografia:
JAGUARIBE, Hélio. Um Estudo Crítico da História. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
LANGLOIS, ch. V. e SEIGNOBOS, ch. Operações sintéticas. In: Introdução aos estudos
históricos. Trad. Laerte de Almeida. São Paulo, Ed. Renascença, 1946.
MARX, K. E ENGELS F.A Ideologia Alemã (I- Feuerbach). Trad. José Carlos Bruni e
Marco Aurélio Nogueira. 11ª. ed. São Paulo: Ed. HUCITEC, 1999.
13
14
15
16
17
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Teoria da História I
Profa. Dra. Raquel Glezer
Trabalho Final
2005
Jornalismo Científico
Há muito chegamos à convicção de que a ciência, em nosso país custeada quase exclusivamente pelos cofres
públicos, requer, para o apoio que merece, a compreensão da comunidade. Mas esse entendimento não se
consegue, ao contrário do que parecem imaginar muitos cientistas, pela mera exaltação dos méritos da
ciência; atinge-se pela paciente educação do povo a respeito do que ela faz e das implicações de suas
conquistas (Reis, 1974).
Reis adverte que o jornalismo – principal responsável, em nosso meio, pela educação
permanente – não deve se limitar à exposição dos fatos da ciência quando ela alcança
resultados extraordinários, “... como a bomba atômica, viagem espacial ou tentativas de
obter fecundação in vitro ...” (idem). Para que os leigos possam avaliar o significado da
produção científica e tecnológica é preciso que sejam informados regularmente sobre as
pesquisas nos diversos campos da ciência. “Procuramos, antes, transmitir, na medida de
nossas forças, o sentido mesmo do esforço científico”(idem).
Grande parte dos brasileiros é receptiva a este tipo de trabalho. “O que o brasileiro pensa da
ciência e da tecnologia?”, a pesquisa que o Museu de Astronomia e Ciências Afins realizou
em parceria com o Instituto Gallup de Opinião Pública, concluiu que 71% dos adultos têm
muito ou algum interesse por descobertas científicas. A pesquisa também revelou que 66%
deles gostariam de receber mais informações dessa categoria. Somente esses dados já
seriam suficientes para valorizar a prática do jornalismo científico no país e incentivar os
esforços profissionais e acadêmicos para aperfeiçoá-la. Se, além da crescente demanda por
informação científica e tecnológica, benefícios como o desenvolvimento científico e o
crescimento econômico forem considerados, a importância dessa divulgação se torna ainda
mais visível.
Dos entrevistados pelo Instituto Gallup, 20% gostariam de estudar algum ramo da ciência.
Não surpreende que o interesse tanto pelas descobertas científicas quanto pelo estudo das
ciências seja maior entre as pessoas com maior nível de escolaridade, o que remete
novamente ao compromisso, fundamental no caso do Estado e complementar no que se
refere à imprensa, de educar. Os brasileiros com curso superior também se mostraram mais
críticos em relação à ciência e à tecnologia, na medida em que citaram exemplos de
descobertas úteis e de outras prejudiciais à vida humana (idem). O vínculo entre a alta
escolaridade e as condições financeiras favoráveis foi comprovado pela pesquisa: “A
variável que mais influi para que as pessoas se interessem pela ciência é a escolaridade, (...)
que decorre do nível socioeconômico das pessoas, fazendo com que ambas as variáveis
sejam altamente correlacionadas ...”.
Na opinião do jornalista Abram Jagle, “... a educação científica é o mais nobre papel do
redator ou editor científico”. Esse caráter formador dos meios de comunicação não é
reconhecido apenas por um e outro profissionais da área; já é admitido como legítimo pela
Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicação, que em seu Informe
Provisional emitido em setembro de 1978, em Paria, apontou: “A função principal da
comunicação em ciência e tecnologia é a gestão do saber humano – da memória coletiva –
de toda a informação que a sociedade necessita para progredir no mundo moderno”.
Um processo social que se articula a partir da relação (periódica/oportuna) entre organizações formais
(editoras, emissoras) e coletividade (públicos/receptores) através de canais de difusão
(jornal/revista/rádio/televisão/cinema) que asseguram a transmissão de informações (atuais) de natureza
científica e tecnológica em função de interesses e expectativas (universos culturais ou ideológicos) (Apud
Bueno, 1985).
Manuel Calvo Hernando admite que o nome “jornalismo científico” pode confundir, num
primeiro momento, os que não são do meio jornalístico (1997). A expressão pode ser
entendida, exemplifica, como o estudo do jornalismo como ciência, o que não é o caso. No
entanto, lamenta, este é um equívoco que não há como mudar – afinal, o termo já é
reconhecido por órgãos como a Organização das Nações Unidas (ONU) e pelas associações
profissionais, como a União Européia de Associações de Jornalistas Científicos e a
Associação Ibero-americana de Jornalismo Científico. Calvo Hernando define jornalismo
científico como “... especialização informativa que consiste em divulgar a ciência e a
tecnologia através dos meios de comunicação de massa”(Idem).
A despeito da função educativa prevista pela teoria, a filosofia editorial da revista valoriza
especialmente os detalhes curiosos e inusitados das notícias, em detrimento de informações
mais relevantes. O caráter educativo que Superinteressante deveria assumir, principalmente
em função de seu público predominantemente jovem, escreve a autora, também é abalado
pela seleção e tratamento das matérias. Ao invés de aproveitarem o “gancho” das novidades
científicas e tecnológicas para explicar conteúdos disciplinares aos estudantes, os
jornalistas – fiéis ao projeto editorial – mantêm a superficialidade que perpassa toda a
publicação. A decisão dos editores responsáveis de priorizar o conteúdo atual, avalia
Carvalho, “afasta a característica de uma publicação auxiliar para trabalhos escolares”
(Idem). Mais uma vez, demonstra, a finalidade proposta para o jornalismo científico não é
alcançada.
Se quiséssemos definir o objetivo da divulgação científica, poderíamos dizer que ela procura familiarizar o
leitor com o espírito da ciência (...) Mas o fato já assentado, isto é, a ciência como disciplina, também deve
ser apresentada pelo jornal, para compreensão dos próprios fatos novos ou mesmo para suprir lacunas de
formação intelectual do público (Apud Bueno, 1985).
A imagem da ciência que os jornalistas tentam passar aos leitores engloba diversos aspectos, que passam por
esferas empresariais, filosóficas e ideológicas. Esta questão é muito mais importante do que o conceito que o
profissional guarda, pois, a idéia que se transmite ao leitor nem sempre é compartilhada pelo jornalista
(enquanto indivíduo), mas pode ser uma determinação do projeto editorial da revista.
O editor sênior de Superintentessante, Flávio Dieguez, diz que a revista procura passar a
idéia de que “a ciência é do bem (...) a gente não pode achar que a ciência é ruim, se
fizermos isto não vendemos”. Muitos profissionais assumem essa postura mesmo tendo
consciência das funções sociais da profissão, por força de exigências de mercado. Em
quando se tenta espelhar a prática na teoria, as imagens obtidas não coincidem. A pergunta
do Cimpec – “Os conhecimentos científicos e tecnológicos estão realmente beneficiando a
maioria da população mundial?” – chega aos ouvidos como uma reza em que as palavras
perderam o sentido.
Apesar de a revista, na época Globo Ciência, cumprir um dos grandes objetivos estipulados
para o jornalismo científico, concedendo quase 80% do seu espaço editorial às notícias
nacionais (Carvalho, 1996), no final das contas as duas revistas não correspondem ao
quadro teórico. “A tentativa dos acadêmicos em sugerir alguns passos a serem seguidos
pelo jornalismo científico de nada tem servido aos jornalistas”, escreve Carvalho (Idem). E
a autora conclui: “os profissionais da imprensa geralmente não consideram e não percebem
a importância que é dada à tarefa de divulgação da ciência”(Idem).
As origens do jornalismo científico, não apenas em nosso país, estão ligadas ao surgimento
das sociedades científicas, de onde partiram as primeiras iniciativas de divulgação
científica. Não é à-toa que, ainda hoje, grande parte dos jornalistas que se dedicam à área
de ciência e tecnologia, aqui e em outros países, entrou na profissão pela porta da ciência.
Foi pela vontade de compartilhar os conhecimentos de sua área que muitos cientistas se
tornaram divulgadores e assim chamaram atenção para os assuntos de interesse público.
Muitos dos que procuraram identificar um marco na história do jornalismo que definisse
quando começou a difusão de informações científicas pelos meios de comunicação
brasileiros preferiram aderir à tese de Solla Price, segundo o qual o jornalismo científico
começa com o próprio jornalismo. Um desses estudiosos é José Reis, divulgador científico
pioneiro no país. Os adeptos dessa corrente partem do princípio de que, desde a sua origem,
a imprensa sempre divulgou assuntos relacionados à ciência, embora em pouca quantidade,
sem regularidade e de forma superficial. Mais recentemente, porém, na medida em que o
jornalismo científico passou a ser objeto de estudo de um número crescente de
pesquisadores, foi ficando claro que o seu surgimento também está ligado a história da
própria ciência – o que só confirma o caráter da atividade jornalística, que se desenvolve
conforme demandas determinadas.
Trabalhos isolados publicados nos últimos vinte anos permitem formar uma cronologia a
partir de meados do século passado, centrada principalmente nos estados do Rio de Janeiro
e São Paulo. É de Luísa Massarani o trabalho A divulgação científica no Rio de Janeiro –
Algumas reflexões sobre a década de 20, defendido como dissertação de mestrado em
1998, no Rio. Nele, a autora reúne uma série de fatos significativos do ponto de vista da
divulgação científica ocorridos ainda no século XIX e relata a atividade de cientistas e
instituições que procuraram popularizar conhecimentos científicos.
Naquele ano, a publicação, antes dirigida por uma associação de literatos e centrada em
assuntos de artes, ciências e literatura, passou às mãos de Candido Baptista de Oliveira e
deu maior espaço para os assuntos científicos. Levantamento feito por Massarani mostrou
que 20% das matérias publicadas pela Revista Brazileira – Jornal de Sciencias, Letras e
Artes – como foi renomeada a publicação – eram de divulgação científica. Em relação aos
outros assuntos, os de popularização científica ficavam em terceiro lugar, atrás dos artigos
científicos e técnicos, que somavam 30% e dos relatórios ou documentos, os quais
representavam 22% do conteúdo.
A linguagem adequada para divulgar a ciência já era uma preocupação naquele tempo. Os
editores da Revista do Observatório adiantaram, ao apresentá-la ao público (segundo Luísa
Massarani):
Pretendemos pois dar a essa revista o cunho de uma publicação de vulgarização, porém de vulgarização de
conhecimentos exatos, apresentados debaixo de uma forma que os torne acessíveis para todos. Acreditamos
que, redigida nesse pensamento, contribuirá a nova revista para promover entre nós o gosto pelo estudo e da
observação. Na Europa e nos Estados Unidos, não são poucas as publicações criadas para o mesmo fim e é
inegável a influência benéfica que tiveram para o desenvolvimento e vulgarização da mais atrativa das
ciências ... (Massarani, 1998).
Vera Lúcia de Oliveira Santos reviu o levantamento feito por Afonso de Freitas a respeito
da imprensa paulistana, com o objetivo de relacionar as publicações que incluíam
divulgação científica em seu conteúdo. Também em São Paulo as primeiras iniciativas de
divulgação científica partiram de associações acadêmicas, se considerarmos a revisão da
autora, que abrange o período de 1833 a 1915. Segundo informa, a Revista Filomática, da
sociedade do mesmo nome, foi a primeira publicação do gênero no estado, lançada em
1833 (Santos, 1978).
Grande parte das publicações identificadas por Vera Lúcia de Oliveira era editada por
associações estudantis. A revista mais antiga do gênero é a Revista Paulistana (1856), que,
redigida por estudantes da Faculdade de Direito, começava a circular a partir de março,
início do período letivo. A autora mostra que o número de jornais e revistas de instituições
científicas também era elevado. A Revista do Instituto Científico (1862) é uma das dezenas
de publicações dessa categoria.
As Revistas atuais
A revista Ciência Hoje, lançada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC) em 1982 não cumpre seu objetivo de informar o público em geral, conforme
concluiu Myriam Regina Del Vecchio de Lima (1992). Segundo a jornalista, o uso da
linguagem especializada e a abordagem de assuntos que interessam apenas a especialistas
tornam a leitura difícil para o público leigo. O público de Ciência Hoje é
predominantemente universitário. Ela argumenta que, para conseguir maior abrangência, os
editores da revista teriam que passar aos jornalistas a função de intermediar a transferência
de conhecimento dos pesquisadores aos leitores. Segundo conclui:
Ao manter o jornalista como um coadjuvante secundário do projeto e transpor para uma revista de divulgação
científica critérios de revista científica, Ciência Hoje se transforma em uma proposta de poder da comunidade
científica (Idem).
Trata-se de uma revista de divulgação, é verdade, mas também é uma revista voltada para o
público em geral, não somente para os especialistas; e uma revista com fins comerciais,
voltada para a venda. Percebemos isso através das matérias de capa.
Outro tema recorrente da revista é a religião, que sempre teve boa aceitação pelo público,
por ser um tema polêmico, e a revista se aproveita dessa polêmica. As edições de julho de
2002, “Bíblica, o que é verdade e o que é lenda”, e de dezembro de 2002, “A verdadeira
história de Jesus”, são essenciais para o entendimento de como a Superinteressante aborda
o tema da religião. E não só a Super, mas também outras revistas científicas deram grande
importância ao tema.
Só em 2001 e 2002 a Super trouxe cinco capas de tema religioso (ver foto). A revista se
escondeu sob um manto de imparcialidade, variando entre diversas segmentações, como o
islamismo, cristianismo e espiritismo. Caminhou, no entanto, por uma trilha não
aconselhável, pelo menos no tocante ao jornalismo.
Entre todas as edições, destaca-se a de julho de 2002, com o título “Bíblia – o que é
verdade e o que é lenda”. A matéria despeja uma enxurrada de afirmações categóricas sobre
o relato bíblico, desmentindo-o. “O que se sabe com certeza é que Jesus foi um judeu
sectário e um agitador político que ameaçava levantar dois milhões de judeus da Palestina
contra o exército de ocupação romana. Tudo o mais necessita da fé para ser considerado
verdade”, diz uma das legendas.
Numa espécie de link à discutida matéria sobre a Bíblia, no mês seguinte (8/02) a Super
montou uma reportagem não menos tendenciosa sobre a necessidade do homem de
confiança. Intitulada “Programado para a fé”, a matéria afirma existir uma base biológica
para a crença humana: o cérebro estaria configurado para a fidelização do homem. De
acordo com a reportagem, símbolos sagrados serviriam de ativação do sistema límbico,
“facilitando a transição para os estados alterados de consciência”. O final da reportagem
não estaria mais de acordo com o conteúdo: “Até que se alcance um consenso, só a fé, ou
seja numa teoria científica ou num dogma [por que não substituit “dogma” por uma “crença
infantil”?], será capaz de responder se Deus é uma criação de nosso cérebro ou se nosso
cérebro foi criado por Deus”.
Quando trata de Islamismo (11/01), a Super destaca trechos do Alcorão que tratam de
violência. Vale ressaltar que praticamente todas as mídias ocidentais visualizam os
muçulmanos de forma negativa. Moldam no receptor um pensamento preconceituoso em
relação a eles. Super só fez repetir o embate entre o bem e o mal, reafirmando que a
agressividade islâmica provêm de Alá. “Matai os idólatras, onde quer que os acheis”,
distingue em legenda.
Allan Kardec, Dalai Lama e Buda também tiveram seu espaço na Superinteressante. O
curioso é que agora as chamadas favoreciam as ditas religiosas. A do espiritismo (9/02), por
exemplo, ressaltava que o Brasil é o país com maior número de adeptos do mundo. A do
budismo, definia a religião como fascinante, pois seu seguidor não precisa de um deus. Para
completar a trindade – sugestivo, não? – a figura de Dalai Lama é evocada com adjetivos
típicos: sabedoria, simpatia, simplicidade e felicidade. Perfeito. Principalmente para atender
os interesses comerciais do capitalismo.
Menos escancarada – mas não menos tendenciosa – uma das matérias da edição de
fevereiro do mesmo ano da Galileu trouxe o título “O dilúvio – o que a Bíblia não conta”.
Aparentemente imparcial, a revista tenta passar a idéia de que a enchente universal não
passou de lenda. O repórter conta que diversas culturas contêm lendas parecidas como os
babilônicos por exemplo.
Além disso, completamente fora do contexto, a matéria usa declarações de teólogos cristãos
(?) que duvidam da narrativa diluviana: “Õ dilúvio é uma representação simbólica, sem
vínculo especial com qualquer evento que possa ter ocorrido há milhares de anos”, afirma o
teólogo Fernando Altemeyer, já citado. Para ele, e para a revista, a narrativa bíblica
representa uma renovação simbólica, uma espécie de divisor de águas (bem sugestivo).
Cerca de um ano antes (8/01), era a Galileu quem discutia o tema. Com o título “A religião
contra-ataca”, a revista da Editora Globo relata o esforço que criacionistas empreendem
para tirar do currículo escolar disciplinas relacionadas à teoria do Big-Bang ou a idade da
Terra. Os primeiros parágrafos da matéria já mostram qual a linha a ser adotada pelo
repórter – um atenuado manifesto de indignação contra a anti-intelectualidade do
protestantismo estadunidense.
Por todo o texto, percebe-se a tentativa em relacionar a interferência religiosa no ensino
com os fundamentalistas religiosos. Frases tendenciosas como “calcula-se que um terço dos
professores [nos Estados Unidos], mal pagos e mal formados, são criacionistas”; ou a
inserção clara da opinião pessoal do repórter, como “os novos criacionistas também
aperfeiçoaram as táticas desde os tempos em que brandiam a Bíblia e chamavam os
defensores da evolução de pecadores. (...) Chamam-se ‘criacionistas científicos’”, atestam
uma insistente tentativa de inferiorizar a teoria criacionista e seus adeptos mediante a ironia
e o sarcasmo.
Em dezembro de 2002, duas revistas trouxeram como matéria de cada a história de Jesus. A
Superinteressante, como geralmente faz quando se aventura em temas de fé (um verdadeiro
desvio de sua proposta editorial original, de ser uma revista científica, como bem o sabem
aqueles que a acompanharam quando de seu lançamento há uma década e meia), estampou
um título nem um pouco modesto em sua capa recordista: “A verdadeira história de Jesus.
“A outra revista foi a Veja, com a chamada “O que Ele tem a dizer a você hoje”, cuja
matéria se mostra bem mais ponderada.
Mas falemos antes do texto da Super. Logo de início, o artigo afirma que “além dos
evangelhos – que não podem ser considerados fontes imparciais de sua [de Jesus] vida, já
que foram escritos por seus seguidores – há apenas uma menção direta a Ele, citada pelo
historiador judeu Flávio Josefo, que escreve sobre sua morte no livro Antigüidades
judaicas, feiro provavelmente no fim do século I”.
No entanto, adiante, o texto menciona a história de Paulo, relatada no Livro de Atos, cujo
autor é Lucas, e a aceita como verídica. Fica no ar a pergunta: quando se deve aceitar ou
descartar um texto bíblico?
A matéria da Super ignora ainda o contexto espiritual da pregação de Cristo (o que não se
deve fazer, considerando-se quem Ele é) ao sugerir que Ele teria iniciado sua pregação
motivado por um sentimento de injustiça social em relação à opressão romana. E diz,
também, que muitos curandeiros realizavam curas como um ato subversivo em ralação ao
poderio do templo judaico. Qualquer leitor da Bíblia sabe que Jesus enfatizou a paz (dê a
César o que ;e de César; dê a outra face ao que lhe bater; e por aí vai) e sempre se referiu ao
seu reino como não sendo deste mundo.
A bem da verdade, é preciso que se diga que a Superinteressante, nessa matéria em análise,
faz uma boa descrição sobre o tempo e os hábitos de vida na época de Cristo. Mas, ao
apresentar diferentes opiniões sobre Jesus – como no caso em que um estudioso afirma ter
sido ele analfabeto, e outro diz o contrário -, evidencia ter escolhido o título para a capa
levando em conta mais a publicidade do que o jornalismo. Afinal, qual a verdadeira história
de Jesus? Nem eles respondem.
No texto “A ciência à procura de Cristo”, da mesma edição, é dito que se descobriu “mais
sobre Jesus Cristo nos últimos trinta anos do que nos dois mil anteriores. O que se tem de
novo é uma impressionante coleção de objetos e documentos que coincidem com os relatos
bíblicos e que ajudam a dar contornos mais nítidos à figura histórica de Jesus”. Constatação
simples, sem preconceitos e bem-vinda.
A Super, em suas matérias com temas históricos, segue uma certa linha padrão: buscar
temas comuns e tentar desmistificá-los. É o caso dos Bandeirantes, do Descobrimento, dos
Faraós, etc. Tudo baseando-se em análises ditas científicas.
No entanto, como já foi dito antes, a escolha do tema da capa também leva em conta o
interesse momentâneo do público (como nos temas referentes aos filmes de Hollywood) e
certos assuntos que sempre tiveram grande repercussão, como a religião.
Do ponto de vista acadêmico, no entanto, o conteúdo dos textos é duvidoso, pois são, em
sua maioria, escritos por jornalistas, e não por historiadores. Visando a venda, claro, o texto
jornalístico é mais fácil de ser assimilado e muito mais atraente.
Existe, lógico, pesquisa em cima dos temas, mas são apresentadas visões tendenciosas
sobre os assuntos, e as fontes utilizadas nem sempre (aliás, quase nunca), são as mais
indicadas.
BUENO, Wilson. Os novos desafios do jornalismo científico. In: VII Congresso Ibero-
americano de Jornalismo Científico, Buenos Aires, 2000.
LIMA, M.R.D.V. Ciência Hoje nas Bancas. São Bernardo do Campo. Instituto Metodista
de Ensino Superior, 1992.
Revistas:
Revista Veja, edição de dezembro de 2002.
Revista Galileu, edição de julho de 2002.
Revista Superinteressante, várias edições.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
1o semestre de 2005
Índice
Introdução
A Editora
Composição da Revista
Capas
Primeira página
Sumário
Introdução
Abordagem principal da revista
Outros temas
Conclusões
Bibliografia
Introdução
A editora1
1
As informações sobre a Editora Abril foram obtidas no site www.abril.com.br
Com todos os seus sites, atinge cerca de 200 milhões de pageviews ao mês, e os jovens
expectadores da MTV (também do Grupo Abril) chegam a 7,7 milhões ao mês. As revistas
representam 76% das atividades do Grupo. São 150 títulos publicados anualmente, com
circulação de aproximadamente 200 milhões de exemplares vendidos ao ano e 3,7 milhões
de assinaturas. As principais revistas são:
Ana Maria
Arquitetura & Construção
Atividades
Aventuras na História
Boa Forma
Bons Fluidos
Bravo!
Capricho
Caras
Cartoon Network
Casa Cláudia
Cláudia
Cláudia Bebê
Cláudia Cozinha
Contigo
Decoração para o Bebê
Elle
Escola
Estilo
Exame
Faça e Venda
Disney
Info Exame
Info Corporate
Manequim
Manequim Noiva
Minha Novela
Mundo Estranho
National Geographic
Nova
Placar
Playboy
Quatro Rodas
Recreio
Revista das Religiões
Saúde
Simpsons
Spawn
Superinteressante
Tititi
Veja
Veja São Paulo
Veja Rio
Veja Suplementos Regionais
Viagem e Turismo
Vida Simples
Vip
Viva Mais
Voce S/A
Witch
A Fundação Victor Civita, criada em 1985 e desde então dedicada à melhoria do ensino
fundamental no país, deu início aos projetos de responsabilidade social da Abril. Com a
revista Escola a Fundação atinge mensalmente 1,5 milhão de professores em praticamente
cada escola do país. Além do trabalho voluntário e do talento de seus profissionais, a Abril
disponibiliza recursos para várias iniciativas que reforçam os laços da empresa com a
comunidade, promovendo educação, cultura, preservação do meio ambiente, saúde e
voluntariado em diversos projetos de cidadania e participação social.
Composição da revista
Capas
No alto da capa o título da revista, Coleção Grandes Guerras, logo abaixo à direita a
indicação Aventura na História – edição 1 – setembro de 2004. A imagem de destaque da
capa é o desenho de uma máscara de gás em cores sombrias que, em conjunto, com o
subtítulo “O marco sangrento entre o velho e o novo mundo” indica o tom da revista e as
estratégias usadas para atrair o público – voltarei a esse tema posteriormente. Parte inferior
estão em destaque os temas abordados na revista: O dia-a-dia nas trincheiras, horror no
front ocidental, o fiasco de Churchill, 120 mil crianças mortas em combate, os mapas do
conflito, o jovem Hitler, gases letais, as armas decisivas, barão vermelho e batalhas navais.
Também na parte inferior da página, a esquerda o logo da Editora Abril S/A e a direita o
logo da revista SUPER Interessante.
Primeira página
Sumário
Em duas páginas com fundo totalmente ocupado pela foto de um combatente nas
trincheiras apresenta-se o sumário da revista. Na página 4 destaque para as principais
matérias e na página 5 os artigos menores. O combatente olhando para a direita (direção da
próxima página) veste roupas pesadas e a legenda declara Inverno nas trincheiras: neve e
ventos cortantes. No canto superior esquerdo em uma caixa de texto colorida está escrito
Sumário com letras grandes. Esta caixa de texto aparece na mesma posição em todas as
páginas pares e em seu interior, de uma a três, palavras indicam o tema abordado.
Introdução
Escrito por Fabiano Onça e ilustrações de Artur Lopes da página 6 a 11 temos mapas e
desenhos de personagens históricos e nas páginas 12 e 13 um artigo de Tamis Parron
intitulado Barril de Pólvora. As seis páginas preenchidas por mapas pretendem indicar ao
leitor datas importantes (apenas mês e ano) e personagens centrais do conflito. Como
exemplo, temos a seta que indica Sarajevo acompanhada da seguinte legenda: Atentado em
Sarajevo, jul 1914, O assassino do arquiduque Ferdinando, príncipe-herdeiro do Império
Austro-Húngaro, é o estopim para a guerra. O crime foi cometido pelo nacionalista sérvio
Gavrilo Princip, em Sarajevo, atual Bósnia. A primeira parte em letras maiores está em
negrito, em vermelho a data e o texto em letra tamanho padrão da revista. O modelo é
utilizado nas páginas seguintes, sempre em negrito o nome da batalha e em vermelho a data
ou o nome da pessoa desenhada.
2
Na página 8 abordo com maior profundidade o tema.
Nas páginas 10 e 11 o mapa e os textos dão um panorama do pós-guerra. Com um
destaque discreto – canto inferior direito da página 11 – temos informações sobre o Iraque,
Transjordânia, Palestina, Síria, Líbano e Arábia. Também temos uma prova, segundo
Fabiano Onça, de que a história se repete, pois os franceses e ingleses dividiram as regiões
citadas e passaram a controla-las até que as populações estivessem maduras para
governarem a si mesmas. Este trecho é interessante por citar uma situação semelhante em
dois períodos diferentes da história e propagar a idéia, difundida e anacrônica, da repetição
histórica. Faço uma pausa na descrição da revista para lembrar que o mito da repetição da
história entra em conflito com a história entendida como busca no passado de situações que
refletem no presente.
Outros temas
Nas páginas 24 e 25 o tema abordado são as crianças que combateram na I Guerra. O artigo
de Cynthia de Miranda possui a foto de um garoto portando um fuzil ocupando
inteiramente a página 24. Na página seguinte o artigo sobre as crianças ocupa dois terços da
página e divide espaço com um artigo de Fábio Marton sobre a espiã Marta Hari. A quebra
de página bem delineada indica a falta de relação entre os temas.
Um artigo interessante foi escrito por Adriana Küchler e trata sobre as toneladas de
correspondências enviadas dos campos de batalha. Da página 44 a 49 encontramos quatro
fotos em destaque e trecho de cartas impressas com uma fonte que lembra a letra de um
soldado. Encerrando os artigos temáticos, Cynthia de Miranda e Cristiano Dias, tratam do
3
Essas denominações referem-se a caixa de texto no canto superior esquerdo, já citada na página 4.
final da guerra e dos prós e contras dos tratados de Trianon, Saint-Germain-em-Laye,
Neuilly, Sèvres e Versalhes.
Encerramento
CONCLUSÕES
Não há dúvida de que a Primeira Guerra Mundial recebeu esse nome devido as proporções
do conflito. O assombroso número de vítimas, entre mortos e feridos, e os novos aspectos
da guerra impressionavam observadores de época e nós contemporaneamente. A revista
investiu nos dois aspectos dando relevo as vítimas do conflito, as batalhas e armas
utilizadas.
Pudemos observar que a apresentação externa da revista visa atrair o público com o aspecto
sombrio e o estímulo a curiosidade. Os gases tóxicos refletem o horror das novas
tecnologias utilizadas (até respirar podia ser mortal!), os gases são invocados na capa
(máscara de gás), em um artigo escrito por Tamis Parron intitulado Proibido Respirar, no
vale tudo dos campos de batalha, gases tóxicos viraram armas. Mais de 90 mil soldados
foram vítimas dos sopros venenosos. Está inaugurada a guerra química – e na seção de
armamentos, As Inovações da Morte, escrito por Roberto Navarro e ilustrada por Kako. Na
contracapa a segunda e a quarta frase fazem referências a temas atuais: invasão do Iraque e
poderio dos Estados Unidos. A primeira frase apela para as baixas e a quarta para as armas
utilizadas para perpetuar o morticínio.
Durante toda a revista os títulos e os subtítulos dos artigos nos remetem ao clima de
combate, apreensão geradas pelo conflito e suas relações com o presente. Como exemplo os
títulos: Barril de Pólvora; Proibido respirar; Bagdá sempre Bagdá; Brincadeira
Sangrenta; Inferno no Gelo; Fiasco; Covas Rasas. Subtítulos: Estava inaugurada a guerra
química (p.18); Desse total 120 mil morreram em combate (p.24); No cenário armado para
as batalhas, mais de 4 milhões de soldados morreram e tiveram seus corpos devorados por
ratos (p.50); E o maior banho de sangue de toda a guerra (p.31). Esses títulos e subtítulos,
acredito, são resultados da estupefação causada pela irracionalidade da guerra e os efeitos
negativos para a humanidade.
As caixas de texto merecem atenção especial. Nelas estão contidas informações referentes
ao tema abordado, maioria dos casos, ou temas que por alguma razão não puderam ser
deixados fora da publicação. Exemplificam o primeiro caso as caixas de texto Agosto
Sangrento (p. 35); Vítimas do vento (p.19); O Brasil, Patrulha no Atlântico (p.57). No
segundo caso: Mata Hari, Da cama para a história (p.25); Santos Dumont, Por que ele se
matou? (p.17).
Não entrou na contagem, mas têm grande destaque a História em Quadrinhos do Barão
Vermelho ocupando 6 páginas.
Sobre as imagens ilustrativas não podemos deixar de observar que nenhuma das fotos
indica de onde foi reproduzida. Quatro fotos têm um C inscrito num círculo indicando que
foram reproduzidas. O acervo nunca é citado, seja uma foto de Hitler ou de um soldado
anônimo – não podemos supor outra coisa devido a falta de informações – escondido nas
trincheiras.
Bibliografia
MARITAN, Jacques. Obserrvações finais. In: Sobre a Filosofia de História. trad. Edgar de
Godoi da Mata Machado. São Paulo: Ed.Herder, 1962, p.161-171.
JAGUARIBE`, Hélio. Introdução Geral. In: Um estudo crítico da História. Trad. Sérgio
Bath. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 29-62.
VICO, Giambatista. Idéia (geral) da obra. In: Princípios de (uma) Ciência Nova (acerca da
natureza comum das nações). trad. Antonio Lázaro de Almeida Prado. 1a ed. São Paulo,
1974. p.9-30.
LANGLOIS, Ch. V. e SEIGNOBOS, Ch. Operações sintéticas. In: Introdução aos estudos
históricos. trad. Laerte de Almeida. São Paulo: Ed.Renascença, 1946, p.148.161.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Teoria da História I
Profa. Dra. Raquel Glezer
Componentes do Grupo:
José Antonio Contri
José Carlos Accica
Maria Helena Felipe Oliveira
Rosana Bonjardim
Heróis, Líderes e Grandes Personagens
O enfoque que escolhemos para desenvolver nossa análise sobre a revista História Viva,
consiste de um problema teórico que podemos resumir simplificadamente na seguinte
questão: São os heróis que fazem a história? Qual o papel do herói na história?
Essas perguntas, aparentemente banais, nos permitem, no entanto, realizar uma reflexão
sobre a produção historiográfica, bem como sobre diferentes linhas interpretativas do
processo histórico, suas condicionantes e suas causalidades.
Os que respondem que os heróis criam a história, ou melhor dizendo, são os seus atores
principais, concebem o processo histórico como resultado da obra, da vontade e do
protagonismo de alguns poucos indivíduos: Reis, Generais, Líderes, Chefes de Estado que
guiaram os rumos dos acontecimentos.
Dentro dessa linha de interpretação, pode-se dizer que haveria uma outra história se não
fosse a ação desses grandes personagens. Esses indivíduos determinaram a história, sem
eles os acontecimentos teriam sido completamente diferentes.
A produção historiográfica que segue por esse caminho, acaba construindo uma espécie de
mitologia desses personagens. Esbarra também em um problema epistemológico pois, a
própria cientificidade da interpretação histórica fica comprometida, já que estaria sempre a
mercê das ações de indivíduos isolados.
Por outro lado, se partirmos para uma concepção radicalmente oposta e definimos que o
papel dos heróis ou personagens individuais é desprezível na construção do processo
histórico, cairemos em um determinismo que transforma as condições históricas e sociais
em algo metafísico, muito próximas da idéia de destino, que desse modo transformariam a
história e seus caminhos em processos inevitáveis. Os homens serão simplesmente
fantoches dessas estruturas sociais e contextos históricos e suas ações não alterariam os
resultados finais do processo. Desse modo, teríamos uma história como fatalidade, e o
papel do historiador seria o de entender a dinâmica dessa força que guia a história para seu
destino.
Nenhuma dessas duas proposições nos parece satisfatória para a compreensão do papel que
os indivíduos podem exercer na história. Na primeira, a história torna-se psicologia ou
biografia de “grandes personagens”. Na segunda, uma metafísica onde uma razão histórica
parece atuar acima de tudo, determinando o rumo dos acontecimentos.
Um dos principais defensores da história como realização dos grandes personagens é
Thomas Carlyle.
A obra na qual expõe sua teoria da história de forma mais enfática é “o herói e o culto dos
heróis”, um conjunto de seis conferências realizadas em 1840, e publicadas como livro em
1841, nelas Carlyle compara heróis divinos, profetas, poetas, guerreiros e reis para chegar
ao ponto central de sua tese: “A história universal, A história do que o homem completou
no mundo é, na realidade, A história dos grandes que trabalharam na terra. Eles foram os
condutores, os modeladores, os padrões e, num largo sentido, os criadores de tudo o que a
massa geral dos homens procurou fazer ou atingir. E a alma da história da humanidade
pode ser considerada como sendo a história desses grandes homens”.
A história, portanto, se resumiria na biografia dos grandes heróis. O culto aos heróis teria
uma função estabilizadora. Os heróis de Carlyle são na verdade conservadores como ele;
defensores da ordem estabelecida e de sua hierarquia, ou talvez “Heroarquia” (governo de
heróis).
Em uma contraposição a esse culto exagerado dos heróis ou dos grandes personagens,
temos uma visão que Sidney Hook denomina de Determinismo Social. Essa concepção não
nega a existência ou a necessidade dos heróis ou da ação heróica na história, mas sustenta
que os acontecimentos decorrentes dessas ações são determinados por leis históricas ou
pelas exigências do período onde apareceria o herói ou grande personagem.
Hook situa dentro dessa concepção pensadores como Hegel, Spengler, Spencer, e o que ele
denomina de marxismo ortodoxo, incluindo nessa classificação Engels, Plekhanov,
Kautsky, Lenin, Trotsky e Bukharin.
Conforme define Hook, tanto para Hegel quanto para Spengler, “O grande homem não é o
produto de condições materiais, sociais e biológicas, mas essencialmente uma expressão do
espírito de seu tempo ou da “alma” de sua cultura. No desenvolvimento de uma cultura
surgem certas necessidades objetivas que estão preenchidas por meio de decisões subjetivas
dos homens”.
Hegel defende a tese de que cada período tem o “Grande Homem” que merece, mas esse
merecer não depende uma escolha, mas sim de uma configuração pré-determinada que ele
chama de “Espírito Universal”.
O chamado Marxismo ortodoxo também caminha dentro dessa concepção, segundo Hook,
pois o indivíduo nessa corrente teórica, estaria completamente subordinado às exigências
das forças sociais, ficando praticamente anuladas as possibilidades de grandes mudanças
ditadas pela ação individual. Se, no entanto, essa ação individual, ocorre, ela foi o resultado
de um conjunto de forças sociais que combinadas obrigaram o indivíduo a agir. Desse
modo, as forças subjetivas seriam praticamente inexistentes na história e seu papel
irrelevante. Se não fosse Napoleão, um outro general qualquer teria realizado as mesmas
ações.
Entretanto, mesmo entre esses autores que Hook chama de marxistas ortodoxos, podemos
encontrar uma visão mais abrangente e criteriosa sobre o papel do herói ou do indivíduo na
consolidação dos rumos da história. Plekhanov, por exemplo, nos parece um autor que
possui uma visão de síntese entre a posição idealista e a concepção determinista que
analisamos. Em sua obra intitulada “O papel do indivíduo na história”, Plekhanov dialoga
com essas concepções, e conclui que as ações individuais podem conduzir a história por
caminhos diferentes, e que, desse modo o indivíduo tem um papel relativamente importante
no desenrolar dos processos históricos. No entanto, esse espaço é limitado pela conjuntura
histórica do momento.
Um exemplo utilizado por Plekhanov é o de Luís XV na condução da guerra dos sete anos.
Segundo o autor, a influência de Madame de Ponpadour sobre o monarca fez com que esse
mantivesse generais incompetentes no comando das tropas, por estes serem protegidos da
marquesa, como o general Soubise. Desse modo, este pode ser considerado um fator que
contribuiu para a derrota da França na guerra.
No entanto, para que isso fosse possível, todo um quadro de relações de forças e de
decadência da nobreza francesa tem que ser considerado, para que se possa entender como
foi possível que um rei pudesse colocar em risco as colônias de seu país para atender as
vontades de uma se suas amantes.
Essa concepção não nos parece tão determinista quanto Hook parece definir, diríamos que
nossa visão sobre o papel dos indivíduos está muito próxima desta.
Em nossa visão, muitos eventos ou episódios na história acabaram sendo decididos pela
ação de indivíduos ou grupos de indivíduos. Isso não implica, entretanto, que a história seja
determinada pela vontade de alguns personagens que conduzem a humanidade como
entende Carlyle. Essa concepção nos parece muito mais digna de ser chamada de mitologia
do que de história. Mitologia essa que nos parece concebida com finalidades claramente
conservadoras e elitistas e que rotulamos como “História dos grandes personagens”
fundamentada mais na retórica do que na pesquisa e no estudo crítico das fontes e
documentações.
A visão oposta, por sua vez que define como nula a participação e a importância do
indivíduo, nos parece também equivocada. Nesta a história parece um gigantesco
mecanismo, onde as engrenagens vão cumprindo o seu papel, elaborado.
Por uma razão universal como um roteiro de um filme, lembrando até o filme Matrix. Em
uma versão mais materialista, essa razão universal seria substituída pelas forças sociais que
determinam a ação dos indivíduos.
Nosso grupo, embora entendendo que ainda muita leitura e reflexão serão necessárias,
chegou a concepção de que os indivíduos influenciam a história e podem alterar o rumo de
acontecimentos. No entanto, essa influência é limite por conjuntura e estrutura históricas.
Desse modo, há esforço para a ação dos indivíduos e mesmo para o aparecimento dos
heróis. Mas, definitivamente, não acreditamos na história como biografia de grandes
personagens, que em nossa opinião transforma sujeitos concretos em seres mitológicos.
A revista História Viva é uma publicação da Ediouro e segmento da Duetto Editorial, sendo
uma edição brasileira da revista francesa Historia, editada pela Tallandier (França).
Em uma análise geral dos números já publicados da revista no Brasil (vinte até o momento,
não considerando edições especiais), não constatamos que seja uma característica da revista
fazer da história um conjunto de biografias de figuras proeminentes. Nesse vinte números
publicados, em apenas três deles a capa foi dedicada a um grande personagem. O número
um, que inaugurou a publicação no Brasil, e teve Napoleão como matéria de capa. O
número oito, que destacou a figura de Winston Churchill e o número doze, que trouxe o
ator Colin Farrel caracterizado como Alexandre, o Grande em sua capa. Nas outras
dezessete edições a capa foi dedicada a acontecimentos ou a civilizações.
Nossa idéia inicial era analisar apenas o número um, dedicado à Napoleão Bonaparte. No
entanto, acabamos decidindo trabalhar também com o número doze que trouxe Alexandre
como contraponto a revista vinte realizou um dossiê sobre a Revolução Russa.
Nesse número inicial a revista optou por trazer como capa exatamente a figura de Napoleão
Bonaparte, um dos nomes sobre o qual podemos afirmar, recai a idéia de grande
personagem. Napoleão é um dos primeiros nomes que lembramos se alguém nos pede para
citar um personagem marcante da história.
A capa da edição reproduz uma gravura em cores sobre papel de Jean Pierre Marie Jazet a
partir da tela de Horace Vernet, de 1840, intitulada “Napoleão saindo de seu Mausoléu”.
Nela Napoleão, em trajes de general, com a coroa de louros de imperador, aparece
deixando o túmulo, podendo se interpretar que trata-se de sua vitória sobre a morte. O título
da capa é: “Ele dominou a Europa e mudou a face do mundo”. Em letras menores: morreu
no exílio e seu túmulo pode ser uma fraude – Napoleão – Um herói sem sepultura.
A capa, tanto através da iconografia, quanto dos dizeres trata inquestionavelmente a figura
de Napoleão como mito, o herói que mudou a face do mundo.
O dossiê está divido da seguinte maneira: um primeiro artigo, escrito por Jean Tulard, do
Instituto Napoleão e intitulado Napoleão – O construtor de uma nova Europa. O quadro de
Jacques Louis David, de 1800, “Napoleão sobre cavalo na passagem de São Bernardo”,
ocupa a página de abertura do dossiê. Nele a figura de Napoleão aparece com uma capa
vermelha, imponente sobre o cavalo, como a guiar a França para um destino triunfal. A
sinfonia heróica de Beethoven combinaria com a tela.
Esse primeiro artigo narra o momento do apogeu de Napoleão. O texto é bem elaborado e
traz muitas informações sobre a hegemonia francesa, incluindo um mapa da Europa com a
evolução territorial do Império de Bonaparte. O artigo é totalmente centrado na figura de
Napoleão. Pouco se fala sobre a situação econômica, social ou política da França e da
Europa no período tratado. Napoleão, está presente em quase todos os parágrafos e seu
nome aparece trinta e quatro vezes no artigo, enquanto França aparece só três vezes e
Europa cinco. Bonaparte é retratado como o grande protagonista dos acontecimentos.
O segundo artigo do dossiê narra a ascensão de Napoleão ao poder e foi escrito por Jacques
Oliver Boudon, também do Instituto Napoleão. A intenção é ser uma biografia do
personagem mostrando a carreira, as batalhas e as vitórias que conduziram Napoleão ao
poder na França. Ainda que de forma sutil, o autor também trata Napoleão como uma
espécie de mito. Em passagens como “Bonaparte fascina e subjuga seus opositores”, ou “É
ao mesmo tempo general vitorioso e administrador incomparável” e principalmente, em
“Depois de conquistar a Ilha de Malta, Napoleão chega à Alexandria”, o general se torna
não somente o dirigente que liderou a vitória, mas o próprio conquistador. As tropas, os
armamentos e as circunstâncias ficam em segundo plano.
O terceiro artigo, assinado por Trajan Sandu já trata da queda de Napoleão Bonaparte na
iconografia que ilustra o artigo, Napoleão já aparece como um simples mortal. Abatido e
solitário, como no quadro de Marmaisson, onde aparece deixando a França, cabisbaixo e
derrotado. O autor do texto mostra a situação do Congresso de Viena e a reorganização da
Europa após Napoleão.
O último artigo cuida da polêmica sobre se o corpo que está no Museu dos Inválidos é
realmente de Napoleão bem como de seu envenenamento, não sendo relevante para nosso
objetivo, a não ser pelo aspecto de que, mesmo depois de morto Napoleão continuava
polêmico.
Como conclusão, podemos dizer que esse número da revista centralizou exageradamente a
abordagem e a interpretação dos acontecimentos da Europa no início do século XIX, na
figura de Napoleão Bonaparte. Embora seja inegável que Napoleão seja um personagem
que influiu decisivamente no rumo dos acontecimentos, a revista praticamente não trata das
condições históricas que o tornaram possível.
Dessa forma, concluímos que nesse número a revista reforçou a figura do personagem
como mito, e fez uma história como biografia do grande personagem.
História Viva: número doze (outubro de 2004)
A revista número doze, completando um ano da publicação de História Viva no Brasil, traz
novamente um dos chamados grandes personagens como tema central da edição.
Aproveitando o lançamento do filme de Oliver Stone: Alexandre – a revista trouxe esse
personagem como matéria de capa. A capa, aliás, é uma fotomontagem onde o ator Colin
Farrel, que interpreta Alexandre no citado filme, aparece sobre um cavalo, com uma
gravura do século XIX retratando a Batalha de Granico ao fundo. O texto da capa diz: “O
Grande Alexandre – um jovem conquista o mundo”.
A matéria traz dois artigos, ocupando doze páginas da edição. o primeiro assinado por
Noelle e Régis Gombert, traz uma biografia resumida de Alexandre. A fonte citada pelos
autores é Plutarco com seu livro “As vidas dos homens ilustres”. Desse modo, o artigo
acaba trazendo uma série de passagens e mesmo frases que constroem a imagem de um
Alexandre mítico e predestinado, voltando mais uma vez a Evêmero, é justamente a figura
de Alexandre que este pensador utiliza para explicar como os indivíduos reais são
transformados em mitos ou heróis mitológicos.
No episódio de Bucéfalo, após testemunhar a inteligência de seu filho, Filipe II teria dito:
“Ó, meu filho! temos que encontrar um reino que seja digno de ti, pois a Macedônia não
conseguirá te segurar”.
No segundo texto, assinado pelo historiador Philippe Mason e que tem como título: “Um
jovem guerreiro conquista o mundo”, o autor relata as campanhas militares sob o comando
de Alexandre e suas qualidades de estrategista militar e chefe político. O autor tem, no
entanto, o cuidado de apontar que o sucesso militar de Alexandre deveu-se as qualidades do
exército que herdou do seu pai, Filipe II. A forma de organização das tropas, as estratégias
de combate e o armamento, destacando-se um tipo de lança denominada Sarisse, são
apontadas como fundamentais para entendermos a extraordinária série de vitórias que
Alexandre liderou.
Mesmo assim, em várias passagens é a figura do personagem que sobressai. Quando fala
das batalhas entre persas e macedônios o autor as coloca como duelos onde Alexandre
enfrenta Dario.
Outro aspecto importante, é que com exceção de Plutarco, a revista não cita outras fontes
para indicar de onde faz deduções como por exemplo a de que Alexandre nunca recorria a
uma estratégia esteriotipada ou previsível ou quando coloca frases e discursos que
Alexandre supostamente proferia aos seus soldados antes das batalhas.
Dos números analisados, este é o que mais abertamente faz uma apologia do personagem,
contribuindo para sua afirmação como mito.
História Viva: número vinte (Maio de 2005)
Chegamos ao terceiro número analisado, até o momento o mais recente da edição brasileira
da revista, e que traz como destaque a Revolução Russa de outubro de 1917.
A capa reproduz oquadro “Guardas Vermelhas”, óleo sobre tela de Kurt Robbel de 1968. O
texto da capa diz: “Um tempo de vitória, sonho e esperança”. Revolução Russa – Os ideais
da igualdade e justiça da sociedade sem classes chegam ao poder, varrem o mundo e se
tornam uma das mais cruéis tiranias do século XX.
Além do dossiê sobre a Revolução, há uma biografia sobre Lenin, assinada por Arthur
Conte, intitulada “Lenin – o Revolucionário Discreto”.
Lenin é retratado como filósofo e intelectual muito mais do que como líder revolucionário.
A metáfora utilizada no início do artigo é reveladora da visão do autor. “Sócrates
proclamado rei”. Assim, Lenin é descrito como um homem tímido, estudioso voraz,
pragmático e metódico, avesso a discursos e a aparições em público. Um “rato de
biblioteca” ou um revolucionário de gabinete. Na foto utilizada no artigo, Lenin aparece em
uma entrevista justamente em uma biblioteca. A famosa foto na qual o líder dos
Bolcheviques aparece discursando para a multidão em Petrogrado, traz uma legenda
contestando sua veracidade e acertando que pode se tratar de uma montagem. Lenin
também é tratado como aranha, que tece metódica e pacientemente a teia e a formiga,
diligente e disciplinada em seu trabalho.
No dossiê da revolução, dividido em quatro artigos, dois deles assinados por Marc Ferro,
temos a narrativa da queda do czarismo e da ascensão dos bolcheviques ao poder.
Essa edição da revista contrasta com as outras duas analisadas. Aqui, ao contrário do que
acontece nos outros dois números, o que temos é um trabalho de desconstrução da imagem
de Lenin como grande líder da Revolução ou como candidato s figura na galeria dos
grandes personagens da história.
Lenin, o intelectual de gabinete, chegou ao poder com seu pequeno partido bolchevique,
por conta de uma situação histórica que favoreceu sua ação pragmática. Desse modo, nessa
edição se processa a desconstrução do mito da liderança de Lenin. A situação teria levado
outro revolucionário ao poder, Lenin foi o líder pois teve a perspicácia de perceber que
havia um vazio de poder e bastava ocupá-lo.
Lenin, Trotsky e os outros bolcheviques são produzidos por uma dada conjuntura histórica
que os levou ao poder.
Curiosamente, em um dos livros que adotamos como referência teórica para nosso trabalho:
“O herói na História” de Sidney Hook, o autor trata exatamente da Revolução Russa para
demonstrar sua tese de que o indivíduo pode ter um papel decisivo na história e modificar
profundamente os destinos da humanidade. Para Hook, Lenin é o grande personagem da
Revolução Russa. Um “Homem Época”, que mudou completamente os rumos da história
no século XX. Para esse autor, sem Lenin a Revolução Russa jamais teria acontecido, e a
história do século XX teria sido completamente diferente. Um contraste interessante com os
artigos da História Viva, onde Lenin aparece como produto da situação histórica.
Conclusão
Após analisarmos estes três números da revista, podemos concluir que não é uma das
características marcantes da revista fazer da história uma biografia de grandes personagens,
mas que em alguns números e artigos isso aconteceu.
Carlyle, Thomas Os heróis e o culto dos heróis. Cultura Moderna, São Paulo, 1965
Feijó, Martin Cezar O que é herói. Brasiliense – São Paulo, 1984.
Hook, Sidney – O herói na história – Zahar – Rio de Janeiro 1962.
Plekhanov, G.V. O papel do indivíduo na história – Expressão Popular, São Paulo, 2003.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Wiliam Ferreira
No USP: 5207138
São Paulo
2005
1. Introdução
Por isso esta revolução ganha um sabor especial. Pela primeira vez na história da
humanidade o proletariado, e com o campesinato como seu aliado, chega ao poder de fato,
e só poderia assim ser pela via revolucionária, pondo em prática toda a teoria
revolucionária desenvolvida por Marx e Engels e aperfeiçoada no calor de sua prática por
Lênin principalmente e Trotsky. São estas revoluções que aqui serão analisadas, partindo da
temática apresentada pela revista História Viva que, em seu número 20, o traz de forma
bastante controversa.
Em sua capa a revista já dá nítida idéia da abordagem que dará ao mais importante
acontecimento do século XX. Em letras garrafais chama a atenção para a temática. Logo
acima, em letras ainda reforçadas embora menores, qualifica com três adjetivos o momento
vivido pelo povo russo. Abaixo, em letras menores, uma explicação para a idéia acima
sintetiza a chegada ao poder e seu curso através do século segundo a ótica da revista a ser
discutida aqui.
É marcada por uma imagem que toma toda a capa, o óleo de Kurt Robbel, “Guardas
Vermelhas”, sendo dado mínimo destaque para os demais assuntos abordados na revista, ou
seja, o peso é jogado para o fundo e o tema “Revolução Russa” e seu subtítulo.
A revista é conhecida por sua abordagem ao alcance de um público que está fora da
Academia ou não pertença a uma área afim à História, ou seja, a uma área do saber dentro
das ciências sociais. Apesar disso, conta com historiadores franceses consagrados em sua
escrita, que deve-se principalmente pelo intercâmbio desta revista com outra similar e
inspiradora da História Viva.
A escrita é, em geral, de fácil compreensão. No entanto, o tratamento dado à História neste
material não é científico, ou seja, suas publicações não possuem os atributos necessários de
uma matéria científica, dotado de uma explicação histórica, citação de fonte e metodologia,
não possui uma argumentação lógica, não discute problemas, não apresenta de forma
trabalhada um fim (esta “lição” dada pela revista aparece de forma muito sutil mas não ;e
este explicitamente o seu propósito) e uma relação com o mundo concreto, principalmente
em se tratando de um assunto tão recorrente quando o capitalismo em sua fase superior – o
imperialismo – aprofunda sua ofensiva contra os povos do planeta, imputando condições de
barbárie jamais vistas antes.
2.1. Capa
Conforme fora dito anteriormente, o “tempo” (ou época) da Revolução Russa recebe em
uma pequena frase situada acima do título do tema principal três adjetivos, a saber, de
“utopia, sonho e esperança”.1
Longe de querer mergulhar nas definições destas palavras dentro da Psicanálise ou algo que
o valha, é importante tentar entender que idéia passa a ser transmitida pela revista ao
trabalhar com a história de uma revolução socialista. Quando Marx – o iniciador do
socialismo científico – escreve suas primeiras obras, estas entram em choque direto com o
que antes se chamava de “socialismo utópico”. Ao contrário de uma “utopia”, a Revolução
de Outubro tratou se da mais real prática de tudo que havia sido apresentado até então por
Marx e durante o transcorrer dos fatos foi-se forjando e aperfeiçoando por Lênin.
Assim, esta idéia corriqueiramente veiculada pela mídia e até por vários setores da esquerda
de que as revoluções não mais são possíveis são reforçadas pela suposta “utopia” da
revolução russa. No entanto, ela foi real. Por três quartos de século boa parte da população
mundial possuiu conquistas sociais nunca sido antes vistas na mais pretensa justa
sociedade. As conquistas sociais de Outubro foram mantidas até a queda dos Estados
operários do Leste após a restauração capitalista nestes Estados, apesar de ter havido o
desenvolvimento da praga da burocracia stalinista que, após várias traições ao proletariado
mundial, como a convivência “pacífica” com Hitler, abriu as vias para esta restauração e
enterro das conquistas sociais de 1917.
O sonho de Lênin, da mesma forma, com sua realização iniciada no Outubro de 1917 nada
tem a ver com o sonho vulgarmente conhecido ou a “utopia”. O sonho que este líder
revolucionário nos chama a acreditar é a realização da dialética marxista, ou seja, da teoria-
1
Na capa aparece o título como sendo “um tempo de utopia, sonho e esperança”.
prática-teoria-prática no tratamento dos problemas estruturais [reais]2. Assim, qualquer
referência à revolução ou a igualdade ou justiça como um sonho é no mínimo um equívoco,
se não equívoco, se não quisermos caracterizar como um crime contra a humanidade.
Mas no subtítulo, para alguém que acredite que ser uma injustiça para com a revista, é
ainda mais criminoso por apresentar uma visão inteiramente distorcida do que resultou da
Revolução Russa.3 Longe de fazer a defesa de um traidor da revolução como foram Stalin,
antes que cheguemos neste ponto, a mentira que frisamos aqui é o fato de dizer que os
ideais de “igualdade e justiça” “chegam ao poder” e “varrem o mundo”. O Outubro
simbolizava estes ideais, mas atingiu em sua fase já degenerada sob a liderança de Stalin,
após a II Guerra Mundial, 1/3 do mundo! Ou seja, nem eram os ideais de “igualdade e
justiça” conforme possibilitará o comunismo (que não existiu com e após a revolução) e
nem sequer “varreu o mundo”, mas atingiu uma menor parte, até porque foi abandonada
por Stalin a premissa principal do socialismo de que só seria devidamente conquistado de
forma conseqüente com a revolução mundial. Diferentemente disso, não seria sustentável
ou simplesmente não seria “socialismo”, tampouco “comunismo”, se tratando de uma fase
superior do socialismo (socialismo a rigor é o povo exercendo sua ditadura e para isso
utilizando o Estado como máquina repressora de uma classe).
Agora, como a chegada ao poder dos “ideais de igualdade e justiça” tentar-se-á se discutir
aqui, bem como a forma como são abordadas as matérias e o caráter de sua abordagem.
2.2. Editorial
A capa diz tanto com tão poucas palavras que o editorial (“Sonho desfeito”) parece-nos não
guardar grandes surpresas. No entanto, estes “ideais de igualdade e justiça”, após chegarem
ao poder, são “desfeitos: segundo a editora Mirian Ibañez. Mas teriam eles de fato existido
ou a revolução havia sido apenas um passo? Em um dos discursos de Lênin cuja referência
foge agora logo após a tomada do Palácio de Inverno diz mais ou menos o seguinte: “Uma
etapa pequena mas não de menor importância foi cumprida. Temos de tratar agora de
combater a ofensiva do inimigo, resolver os problemas econômicos como fazer os
alimentos chegarem aos famintos dos diversos pontos do país e iniciarmos nosso
desenvolvimento.”
2
“Não basta ter belos sonhos para realizá-los. Mas ninguém realiza grandes obras se não for capaz de sonhar
grande. Podemos mudar nosso destino se nos dedicarmos à luta pela realização de nossos ideais. É preciso
sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho; de examinar com atenção a vida real; de confrontar
nossa observação com nosso sonho; de realizar escrupulosamente nossa fantasia. Sonhos, acredite neles.”
V.I.Lênin.
3
“Os ideais de igualdade e justiça da sociedade sem classes chegam ao poder, varrem o mundo e se tornam
uma das mais cruéis tiranias do século XX.”
que aconteceu depois não correspondeu ao sonho”, é preciso ser estudado ao longo das
matérias da revista.
Para finalizar, a editora chega a almejar que esta ‘utopia” um dia seja realizada, mas desde
que se aprenda com os erros cometidos, muito embora não seja clara ainda em relação ao
que considera os erros da revolução russa instigando o leitor a descobri-los por conta
própria ao longo do dossiê apresentado na História Viva.
O título da sessão da revista denominada Dossiê logo de cara parece contradizer a idéia da
capa muito embora as duas sejam controvérsias. Se na capa a idéia transmitida é de que os
“ideais de igualdade e justiça” chegam ao poder mas frustram as esperanças, no título da
sessão, em uma frase de duplo sentido, dá margem a entendimento diferente.
O título da sessão “dossiê” diz o seguinte: “Revolução Russa: a utopia do povo no poder”.
Seguindo a linha de raciocínio da capa de que os “ideais” haviam alcançado o poder,
podemos entender pelo título que a matéria procurará apresentar o momento em que a
“utopia” do povo está “no poder”. No entanto, as duas idéias passam a ser conflitantes se o
título do dossiê for entendido do ponto de vista de que o povo no poder significa uma
“utopia”. Em suma: a utopia, segundo a revista, chegou ao poder ou o poder do povo não é
possível conforme fora demonstrado pela História, tratando-se apenas de uma “utopia”?
Numa simples frase no início de seu texto mostra para quê veio: “o comunismo no poder
revelou-se o protótipo de regime autoritário”. Para que isso fosse minimamente verdadeiro,
o comunismo precisaria ter existido, idéia esta que já atingiu até a mente dos anti-
comunistas (consciência de que o comunismo não existiu). O comunismo não poderia ser
autoritário visto que esta é uma característica de chefes de Estado, e o comunismo não
pressupõe a existência de Estado, mas sim o socialismo, que conforme já foi dito aqui,
pressupõe que sua existência se dê em todo o planeta, coisa que também foi abandonada
por Stalin. Ou seja, nem comunismo nem socialismo existiram, e o primeiro não poderia ser
entendido como autoritário se nele a democracia é exercida sem uma representação estatal.
O artigo de Arcadi Vaksberg5, termina com uma passagem expressa que talvez reflita a
idéia da revista do “sonho desfeito”. Diz o seguinte: “(...) qualquer que fosse o resultado
das eleições, ele (Lênin) não tinha nenhuma intenção de entregar o poder conquistado, nem
dividi-lo com quem quer que fosse. As eleições aconteceram duas semanas e meia depois
do golpe de Estado. [grifo nosso] (...) Esses resultados [maioria absoluta dos mandatos
parlamentares para os socialistas revolucionários] coloca em evidência que o país era a
favor de um regime socialista e dos direitos civis de que Lênin fazia tão pouco caso (!), e
4
Segundo a revista, é historiador e polêmico especialista em história do comunismo.
5
Segundo a revista, é escritor, jornalista e advogado.
não do extremismo leninista ou dos métodos policialescos (!!) e ditatoriais de governo
(!!!).”
Ou seja, talvez este seja o “sonho desfeito” para a revista ou o momento em que o
pensamento pequeno-burguês da “democracia” – mesmo sem o provimento das
necessidades humanas básicas às mais variadas – sejam atendidas. Vale lembrar que a
ditadura do proletariado, ou seja, ditadura dos produtores expropriados de seus meios de
produção que só têm a negociar sua força de trabalho, era apresentada já na teoria
desenvolvida por Marx (ou no socialismo científico) como necessária para a realização da
transição para o comunismo. Por desvios pequeno-burgueses invoca-se freqüentemente a
“democracia” burguesa, principalmente dos que agem de má-fé para sufocarem a ditadura
do proletariado. A Comuna de Paris serviu de lição a Marx e seus sucessores: sem a tomada
do poder e exercício da ditadura do proletariado, o inimigo se recompõe e volta a explorar
os históricos explorados.
Assim, não se tratou de nenhuma invenção leninista este método tirado pelo autor como
“golpe de Estado”. Ainda que Stalin tenha traído a democracia operária instaurada no poder
pela Revolução de Outubro sob apoio dos conselhos operários, o método ainda não
contestado historicamente como manutenção do poder do proletariado.
4. Considerações finais
Muitos outros aspectos da revista poderiam ser analisados na revista, pois esta suscita. No
entanto, foi optado pelo tema que ainda se trata de mais polêmico no atual momento
histórico, até e talvez principalmente para a dita esquerda revolucionária.
5. Referências bibliográficas
TROTSKY, Léon. A história da revolução russa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 2v.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Teoria da História I
Profa. Dra. Raquel Glezer
Componentes do grupo:
Fabio Luis Pereira Queiroz de Azevedo
Marcia Dias da Silva
Marcus Vinicius Souza Alves Monteiro
Raquel Foresti
Rodrigo de La Torre Oliveira
Introdução:
Na elaboração deste trabalho, foi escolhida como foco de nossos exames a Revista História
Viva, por conta da maior proximidade desta com os membros do grupo, tendo em vista que
um deles é assinante da mesma. Numa auto-avaliação sobre o que motivara tal pessoa a
querer receber a publicação em casa mensalmente, percebeu-se que a seção História em
Cartaz tinha uma grande parcela. Inclusive as pessoas que, por acaso, tenham visto a
Revista partilhavam dessa opinião. Sua diversidade, linguagem fácil, e seu trabalho de
valorizar o passado enquanto explicação para o presente, como uma seção que trata de
etimologia, por exemplo, faz com que leitores, ainda que leigos em História, vejam a
Revista com certa estima.
Desenvolvimento:
Para responder às nossas dúvidas, escolhemos duas vias: a primeira, a própria Edição da
Revista, a segunda, o público. Assim, foram mantidos contatos com a Edição, através da
editora Mirian Ibañez e foi elaborado um questionário para distribuição entre leitores.
Quem seriam os tais leitores? Sobre essa pergunta muito nos debruçamos e chegamos à
conclusão de que os questionários deveriam ser distrubuídos nos locais próximos às
residências e nos locais de trabalho dos integrantes, haja vista a diferença geográfica e
sócio-econômica apresentadas por esses locais: Chácara Inglesa, Vila Zatt, Raposo Tavares,
Butantã, Mooca, Parque São Lucas, Jardim Sapopemba (Diadema), Vila Carrão, Vila
Formosa, Aeroporto, Jabaquara, Santana, Centro de Diadema e Centro de São Paulo.
Um olhar crítico
A Revista História Viva é uma publicação da Duetto Editorial, nas bancas mensalmente
desde novembro de 2003, por conta do “(...) grande apreço pela matéria e a certeza de que
haveria leitores interessados.” – de acordo com a posição da Revista. Dirigida a “(...)
adultos interessados no tema. Não necessariamente formados na matéria , embora também
haja pós-graduados, bacharéis e acadêmicos. Boa parte, com formação universitária. Há,
também, jovens pré-vestibulandos, porque temos notícia de que várias escolas
diferenciadas.”- segundo nos diz a própria Editora.
Indicam a revista para leitura obrigatória ou complementar. Este trabalho prioriza sua
análise nas edições de 13 a 16, sem deixar de averiguar outros números. A escolha de tais
edições foi feita de modo a abarcar o período de férias (de novembro de 2004 a fevereiro de
2005), em que as pessoas teriam, possivelmente, maior tempo de ir às bancas e olhar as
revistas, de um modo geral, podendo interessar-se pela Revista História Viva.
As expectativas foram, em parte, atendidas, pois a Revista teve uma venda expressiva, no
entanto, isso deve ser visto dentro de um declínio desde julho de 2004, conforme gráfico
anexo.
A Revista se apresenta ao público, com 98 páginas, por uma capa de grande impacto, com
uma imagem que a ocupa quase que por completo. Margeando a imagem, sempre
referenciada à reportagem principal do mês. Ao lado, sem interferir na imagem, vemos
chamadas pequenas sobre os demais artigos. No canto superior esquerdo da página, há o
site da revista (www.historiaviva.com.br), forma de propaganda da mesma , segundo a Edição,
uma das mais eficientes: pessoas que acessam a página da web têm um contato maior com a
Revista e isso as potencializaria a comprá-la. A internet funciona como um importante meio
de marketing, pois as “chamadas” feitas em sites como o do UOL (www.uol.com.br) ,
levam os usuários desses portais a terem contato com a publicação. As bancas de jornal,
com seus cartazes, também são meios de divulgação. As bancas de jornal, com seus
cartazes, também são meios de divulgação considerados importantes pela Edição.
A Revista traz sempre algumas seções e artigos que serão brevemente detalhados abaixo.
História em Cartaz
Exposições
Tem como finalidade apresentar ao público algumas exposições que retratavam o passado
histórico nacional.
DVD
Esta seção apresenta ao leitor alguns vídeos sobre história, não se limita a somente filmes,
indicando ao leitor documentários e curtas, são indicados dvds tanto da história nacional
quanto da história mundial.
Gastronomia
Grandes nomes são invocados onde frases a eles atribuídos são transcritas, normalmente
filósofos gregos, reis absolutistas, pensadores iluministas, generais em tempos de batalha e
intelectuais contemporâneos são escolhidos entre as frases que são apresentadas.
Livros
Livros que tenham história como tema-base de suas publicações são indicados, não
necessariamente escritos por historiadores ou que sejam somente de história, romances com
a corte de Luis XV como fundo são indicados também, assim como livros que são escritos
após anos de investigação sobre um tema específico.
Passeio
Indica ao leitor mais aventureiro algumas cidades que tenham o seu passado ainda muito
presente no seu cotidiano contemporâneo, focando assim em aventuras históricas indica um
roteiro de passeio pela cidade indicando os pontos turísticos principais. A escolha do local é
definida a partir do critério da proximidade com grandes centros.
Palavras Vivas
Seção, sob a tutela de Eduardo Martins, que visa explicar ao leitor as origens ou os
significados das expressões idiomáticas mais corriqueiras do nosso dia-a-dia, explicando
que as vezes uma palavra muda de sentido no decorrer do tempo ou quando um hábito
desapareceu mas a expressão idiomática não, sendo adaptadas ao nosso tempo. Puro estudo
etimológico aplicado.
Teses Acadêmicas
Voltado para um público mais específico, são apresentadas duas teses e o conteúdo delas é
rapidamente exposto, a seção finaliza dizendo onde pode localizar a tese caso haja interesse
do leitor.
Museus
Apresenta museus existentes nas cidades mas que às vezes não são lembrados e que
retratam parte do passado local, explicando na maioria das reportagens a origem do museu
e de onde vieram ou o que eram as peças expostas no museu. Segue o padrão da parte de
Passeios, no que se refere à proximidade com grandes centros.
Panorama
Historiográfico
Um gráfico relacionado a algum fato da História cujo movimento geográfico pode-se ser
descrito com maiores detalhes. Muito comum para marcar posições militares, como os
movimentos das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai (Edição 06) e dos paulistas na
Revolução de 1932 (Edição 08), por exemplo.
Biografia
Uma personalidade é retratada nessa seção. A maioria é de políticos, como Yasser Arafat
(Edição 17) e Joaquim Nabuco (Edição 15), mas também encontramos artistas, como
Picasso (Edição 06), cientistas como Einstein (Edição 14).
Dossiê
Cruzada Histórica
Destinos
Locais de cunho histórico, como o Muro das Lamentações (Edição 06) em Jerusalém, ou o
Museu Anita Garibaldi, em Laguna – SC. Diferencia-se da subseção Passeios, presente em
História em Cartaz, por conta da maior distância dos grandes centros urbanos do país.
Última Página
Artigos sobre temas variados, escritos por historiadores ou jornalistas afinados no trato com
a História. “Os articulistas são historiadores de renome: a maioria com livros publicados e
uma sólida carreira acadêmica. Eventualmente, convidamos jornalistas a colaborar, desde
que tenham um trabalho muito minucioso sobre determinado assunto, como é o caso de
William Waack, que assina uma matéria sobre Prestes e Olga Benário, na presente edição
em bancas (capa Israel) [Edição 20]. Ele passou muito tempo analisando arquivos em
Moscou.” – nos diz a editora, que segue: “Normalmente, fazemos poucas reportagens. As
matérias são artigos assinados, com linguagem muito fluente e bem explicados, já que
partimos do pressuposto de que nossos leitores não são experts. Os temas são definidos a
partir de centenas disponíveis em nossa parceira para História Geral, a revista francesa
História, há quase cem anos nas bancas. Entre seus colaboradores há best sellers como
Marc Ferro. Procuramos equilibrar bem os assuntos a cada edição, levando em conta
também o que já demos. Nossas prioridades são os grandes momentos ou personagens da
História, como Roma, Napoleão, Inquisição, Egito, Vikings, China.”
Análise de Pesquisas
Exposições
Nesta seção houve uma boa receptividade visto que muitos responderam que visitariam a
exposição após a leitura do artigo. Acreditamos que esse interesse pode ser devido a uma
“pré-disposição”, ou seja, os habitantes da cidade de São Paulo, a partir de uma
determinada faixa social, possuem o hábito de visitar exposições, as escolas também
incentivam esta cultura e além de ser comum a ampla divulgação na mídia quando estas
ocorrem.
DVD
Gastronomia
Seção que não seria esperada pelo leitor, foi relativamente bem recebida enquanto
curiosidade. Apesar de muitos declararem que não gostam de cozinhar ou que não fariam a
receita a maioria respondeu que houve de boa divisão entre o conteúdo histórico e a receita
em si além do texto ser de boa compreensão.
Frases
Consideramos esta como uma seção em que a temática já seria, digamos, esperada pelo
leitor não especializado. Vale ressaltar que revistas de grande circulação, e que não tratam
necessariamente de história, costumam dedicar longas seções a frases ditas por pessoas
influentes em momentos importantes sem se preocupar, necessariamente, com uma maior
contextualização. Houve boa aceitação desta seção enquanto curiosidade e, dentre os que
não leram todo o conteúdo apresentado, está foi uma seção que não ficou de fora.
Livros
Embora a maior parte dos entrevistados tenham o costume de ler e não possua um
conhecimento prévio a respeito dos temas explorados nos livros, o que poderia indicar uma
predisposição ao aprofundamento de tais assuntos, podemos observar através da pesquisa
que o conteúdo do artigo não alterou-lhes a percepção acerca dos temas. De maneira geral
não houve um aumento do interesse, nem mesmo uma redução, mantendo-se este
inalterado. Em conseqüência disso a influência do artigo na decisão dos entrevistados em
comprar alguns dos livros é muito reduzida.
Passeio
Palavras Vivas
A análise das respostas nos leva a idéia de que apesar da grande parte dos entrevistados não
apresentarem um interesse prévio a respeito da palavra explicada no artigo, eles vêem aí a
possibilidade de aprenderem algo diferente, algo que se apresente apenas como uma
curiosidade, um conhecimento que não buscariam, mas que uma vez diante deles é
absorvido com satisfação.
Teses Acadêmicas
As respostas dadas à esse questionário evidenciam que o interesse por teses acadêmicas é
muito reduzido. Os entrevistados em sua maioria não se interessam, apesar de boa parte
possuir curso superior e, de certa forma, estarem mais próximos a esse tipo de material. E
observando a maciça resposta na alternativa “tema” observa-se que, numa possível escolha,
não possuindo um bom conhecimento prévio a respeito dessa área do saber os entrevistados
direcionariam sua decisão apenas por meio de um assunto que os agradasse.
Museus
Assim como nas respostas dadas ao questionário da subseção Passeio aqui também existe
uma predisposição por parte dos entrevistados em realizar a atividade proposta na
reportagem, no caso a visita a museus. Nota-se a boa recepção do artigo entre a maior parte
dos entrevistados no que diz respeito ao fornecimento de informações acerca do museu e
também, talvez por conta desse bom papel informativo exercido pelo artigo, observa-se a
influência de seu conteúdo no sentido de estimular uma possível visita ao local em questão.
Panorama
Observa-se nas respostas que a maior parte dos entrevistados se preocupa com a
preservação da memória nacional, colocando-se como principal agente da manutenção do
patrimônio histórico, a frente até mesmo do Estado, por meio da idade de sociedade civil,
fato este bem contemporâneo e evidenciado na proliferação das ONGs. E apontam o bom
conteúdo do artigo no sentido de ressaltar a importância dessa preservação.
Conclusão
Na verdade, o mérito nem está neste aspecto. Numa seção em que o espaço físico é
altamente limitado e a necessidade de ser chamariz para um público que não é exatamente
aquele que dá sustentação à publicação o tema e a linguagem acabam sendo prioridade
frente a qualquer outra discussão.
Ao ler-se a resenha feita pelo Professor Marcos Silva em relação ao livro A ditadura
envergonhada de Hélio Gaspari, por exemplo, entendemos o porquê da discussão, o que
este livro levantou de contradições e apelos em meios acadêmicos e não acadêmicos
justificariam a própria argumentação do professor. Mas em nosso caso, talvez tal
julgamento não fosse cabível.
A saída para atrair um público maior e tornar leitor aquele que, previamente, não se
interessaria pelo assunto. Uma temática envolvente, linguagem direta e fuga de discussões
muito aprofundadas ou acaloradas talvez fosse a saída viável nesta apresentação da revista.
Num aspecto geral, a seção História em Cartaz pode ser vista como algo de extremo valor,
uma vez que mais de 63% dos entrevistados comprariam a Revista, tendo em vista apenas a
leitura desta seção.
Fica aqui o lamento por não haver tempo hábil para uma melhor manipulação dos dados da
pesquisa, para um aprofundamento social, nas respostas dadas.
FORMULÁRIO DA USP DA PESQUISA
MATÉRIA DA REVISTA ADUSP – PROF.MARCOS
ECLÉTICA - 2005
Publicação eventual do Departamento de História/FFLCH/USP.
Departamento de História
Chefe: Prof. Dr. Modesto Florenzano
Suplente: Profa. Dra. Maria Lígia Prado
Trabalho de curso da disciplina Teoria da História I – 0401 - Noturno - 1º. Sem. 2005.