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O ESPECTRO DA VIOLÊNCIA COMO MODELO DE GESTÃO PÚBLICA

por Runildo Pinto

O ciclo de crimes contra as mulheres, negros, LGBTs, índios aumentaram


assustadoramente desde 2018 e não somente se restringiram a estas pessoas, aumentou a
intolerância e a truculência em todos os cantos desse país, é impressionante a motivação
pela qual essa escalada de violência contagia a população brasileira em geral. Cabe uma
estudo psicológico de massas desde movimento de junho de 2013, partindo da avaliação
da histórica trajetória antidemocrática no Brasil que recalcou na família brasileira a
tradição autoritária e o fato de que aliado a isto, o modelo de gestão implantado a partir
das instituições, limitaram o espaço público e ampliaram irracionalidade no interior da
sociedade, uma espécie de atrito de aproximação entre os privilégios de poucos e as
vicissitudes de muitos. Exemplo claro desse modelo foi o conluio entre as instituições
como parlamento, os militares e o STF no golpe contra presidenta Dilma. Ato contínuo
o STF rasgando a constituição deu carta branca ao juiz sérgio moro para impedir a
candidatura do ex-presidente Lula. a saber é perfeitamente declarada a conivência do
TSE com quebra das regras estabelecidas na campanha eleitoral de 2018, a qual
perpetuou como epígrafe o sermão laudatório ao ódio, a intolerância de todo o tipo,
arraigando nas massas a inspiração do sentimento de impunidade.

O candidato bolsonaro eleito presidente levou a sua campanha além dos limites do bom
senso e da democracia, fez apologia a tortura e a torturadores, ao uso de indiscriminado
de armas, defendeu as milícias (incontestável a ligação do clã bolsonaro com as
milícias), elogiou grupos de extermínio e todo ao tipo de agressão, discriminação e
preconceitos. Fez isto diuturnamente em toda a campanha inclusive exacerbando essa
pratica de incentivar e banalizar a truculência e a violência indiscriminada, influenciado
crianças, jovens e adultos. É simbólica e marca de sua campanha ao fazer referencia a
repressão armada utilizando os dedos para representar um revolver, chegou o desplante
de apresentar em plena campanha de rua, ao ensinar uma criança de dois ou três anos a
dar forma com os dedos a uma arma.

Esse tipo de atitude, de ação exacerbada, delirante e objetiva encontrou às condições


subjetivas envolvendo setores das elites, da classe média baixa, enfim das massas
revoltadas que sofrem de uma esquizofrenia social assentada no analfabetismo funcional
e político amalgamadas pelo conservadorismo e pela ideologia reacionária que impera
através das relações neoliberais e seu seguimento pós-moderno — definido por Frederic
Jameson como “lógica cultural do capitalismo tardio”. Marilena Chaui esclarece essa
dinâmica:

Em sua forma contemporânea, a sociedade capitalista se caracteriza pela fragmentação


de todas as esferas da vida social, partindo da fragmentação da produção, da dispersão
espacial e temporal do trabalho, do desemprego estrutural e da destruição dos
referenciais que balizavam a identidade de classe e as formas da luta de classes. A
sociedade aparece como uma rede móvel, instável, efêmera de organizações
particulares definidas por estratégias particulares e programas particulares, competindo
entre si.
No plano das relações intersubjetivas, sociais e familiares, constata-se o surgimento de
um período de marcante indiferença pelo outro indivíduo, no qual as pessoas não
conseguem orientar claramente suas vidas e seguir valores. A verdade passa a ser
relativizada, assim como a convivência familiar perde espaço para os instrumentos
tecnológicos (ex.: televisão e internet). A imagem feminina é vulgarizada para satisfazer
a libido masculina. As pessoas passam a assimilar conceitos e pensamentos
preestabelecidos e massificados, sem a adequada mediação e reflexão. Artistas e
indivíduos ligados à mídia são mitificados e idolatrados. As relações humanas são
marcadas pela intolerância às diferenças e a sociedade se torna imediatista, pois as
pessoas dão mais valor para os bens perecíveis ou de pouca duração (ex.: drogas, álcool,
culto ao corpo etc.).

No plano das relações econômicas, a relativização da ética, oriunda principalmente dos


efeitos causados pelo capitalismo, estabeleceu a mercantilização dos prazeres (ex.:
sexual, diversão e outros), assim como também as coisas e as pessoas passaram a ser
mensuradas pelo que elas valem materialmente. O fetiche capitalista se intensifica, pois
o consumo cresce cada vez mais e faz com que as pessoas tenham “necessidades
imaginárias”, além de criar uma sensação de “vazio” (…).

O resultado pratico social, na vida cotidiana do ser social explicita a fragmentação de


toda a compreensão corrompendo o conhecimento pelo poder e dominação. A vida se
transforma em um simulacro e o gosto pelo efêmero em uma dinâmica pragmática
intolerante e competitiva onde tudo é descartável. A violência está embutida nesse
modelo delirante, as frustrações e a depressão se instalam com maior intensidade,
quando de imediato não é possível satisfazer as sua necessidades implícitas dos desejos
imaginados, exacerbam-se as sensibilidades pelo imediatismo, as pessoas se ofendem
com mais facilidade diante de situações que já não se dispõe a compreender as
circunstancias, se desfaz a mediação o conflito é direto, frontal e contundente.

Os desdobramentos de fatos que se intensificam na sociedade como a campanha


eleitoral apelativa do candidato a presidência do Brasil Jair Bolsonaro, a intensificação
de demonstrações explicitas de todo o tipo de preconceito, violência e intolerância
encontraram sustentação e legitimidade em uma massa transtornada pela situação do
país e sedenta por explicitar sua desesperança através do conservadorismo implícito na
histórica trajetória antidemocratica no Brasil. A escalada de agressões e assassinatos
generalizados, contra mulheres, LGBTs e negros nunca foram tão intensificadas como
agora.

Essa escalada de violência tomou outros rumos e apresentou uma diversidade quando
em dezembro de 2018 um atirador matou cinco pessoas durante uma missa na Catedral
Metropolitana de Campinas (SP) foi Euler Fernando Grandolpho, de 49 anos, que
morava com o pai em um condomínio de Valinhos (SP). Ele cometeu suicídio após o
crime e outras quatro pessoas ficaram feridas após serem atingidas por disparos. Tipo de
crime quase inexistente no Brasil. O perfil do atirador, também impressiona, não tinha
antecedentes criminais, registrou boletins de ocorrência por perseguição e injúria, era
Analista de Sistemas, sofria de depressão e estava desempregado desde 2015.

Agora na cidade de Suzano mais um crime de característica inédita no Brasil e se


diferem das chacinas realizadas pelo crime organizado e/ou relacionado ao tráfico de
drogas. Dois jovens, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos e Henrique de Castro, de
25 anos, ambos ex-alunos da escola Raul Brasil entraram encapuzados, demonstrando
certo planejamento para a ação, e cometem vários assassinatos e deixam inúmeros
feridos gravemente. Este tipo de crime impressiona, porque sabemos, não é comum no
Brasil, nos EUA onde são recorrentes os casos de massacres e assassinatos em série
deflagram uma situação de violência sistêmica, no qual, as atrocidades se banalizam em
uma letargia moral.

O termo violência sistêmica é muito adequado à analise do contexto em que foi


submetida a sociedade com o aprofundamento das política neoliberais no país
intensificadas a partir do final dos anos 90 e início do século XXI. As privatizações,
desregulamentações das profissões, a flexibilização da legislação trabalhistas e
finalmente a retirada de direitos dos trabalhadores; também a imposição ideológica do
fim das classes sociais e da história, o desemprego estrutural provocadas pela crises
cíclicas também estruturais do sistema capitalista.

As consequências obviamente recaem sobre a sociedade e a precarização da vida


principalmente sobre a classe trabalhadora, gerando mais exclusão. A "mão invisível do
mercado" de Adam Smith agora totalmente globalizada, acabou transformando as
pessoas em autômatos, como diria Chauí:

sociedade e natureza são reabsorvidas uma na outra e uma pela outra, porque ambas
deixaram de ser um princípio interno de estruturação e diferenciação das ações naturais
e humanas para se tornarem, abstratamente, “meio ambiente” instável, fluido, permeado
por um espaço e um tempo virtuais que nos afastam de qualquer densidade material;
“meio ambiente” perigoso, ameaçador e ameaçado, que deve ser gerido, programado,
planejado e controlado por estratégias de intervenção tecnológica e jogos de poder.

O limiar da violência é o medo. Impõe às relações entre indivíduos a insegurança, a


desconfiança do mundo é introjetada na individualidade ao mesmo tempo o sujeito se
torna agressivo e exacerba seu egoísmo. O filósofo esloveno Zizek, principalmente, no
que se refere a violência sistêmica, de caráter objetiva se manifesta como violência que
não pode ser atribuída a indivíduos concretos e às suas „más‟ intenções, mas é
puramente „objetiva‟, sistêmica, anônima”. Esta violência está no cerne da política
desenvolvida pelos neoliberais nos governos e principalmente impulsionada pelos EUA;
esta violência, por não ser tão facilmente decifrável, causa a angústia e a angústia se
traduz em medo. A ubiquidade da violência suscitada por um sistema capitalista
globalizado que aprofunda as desigualdades e a sensação de insegurança vai moldando
as relações humanas, interferindo nas ações e nos pensamentos. O medo instalado
assume-se como parâmetro de nossa cultura:

a naturalização e a valorização positiva da fragmentação e dispersão socioeconômica


estimulam o individualismo agressivo e a busca do sucesso a qualquer preço (nem todos
alcançam), ao mesmo tempo em que dão lugar a uma forma de vida determinada pela
insegurança e pela violência, institucionalizadas pela volatilidade do mercado.
Insegurança e medo levam ao gosto pela intimidade, ao reforço de antigas instituições,
sobretudo a família e o clã como refúgios contra um mundo hostil, ao retorno das
formas místicas e autoritárias ou fundamentalistas de religião e à adesão à imagem da
autoridade política forte ou despótica. (Chauí, Marilena in Intelectual engajado: uma
figura em extinção?)

Esta reflexão exposta até aqui nos deixa evidente que o modelo de sociedade vigente no
Brasil é fruto dessa adequação política e econômica neoliberal implementada pelas
grandes nações imperialistas através do banco mundial e FMI e assimiladas pelas elites
como estilo de vida e de governar dos norte-americanos. O outro lado desse modelo está
ligada a nossa história e principalmente a recente se explicita nesse momento de crise, a
burguesia brasileira submissa ao capital internacional impõe aos brasileiros sua mão de
ferro e impõe contrarreformas que colocam a classe trabalhadora na informalidade, em
níveis de exploração dos trabalhadores que devolvem a pauperização do inicio da
revolução industrial no século XIX. Um retrocesso em nome dos lucros dos grandes
capitalistas. O resultado dessa reflexão tem demonstrado as consequências dessas
políticas de modelo neoliberal tem motivado à sociedade se manifestar, a agir
inconscientemente de diversas formas de violência e medo.

Os questionamentos em torno das tragédias de Campinas e a de Suzano são urgentes: o


que leva a sociedade ter significantes tão próximos das motivações dos massacres e
assassinatos em série semelhantes ao dos EUA? Qual a origem dos sintomas de que as
massas estão submetidas para viverem a roda-viva do sofrimento sob violência
consentida? Que tipo de governantes há no Brasil que permitem tragédias provocadas
por grandes corporações empresariais e negligenciam a regras de segurança? Que tipo
de governos entrega as riquezas do país de forma submissa ao capital internacional em
detrimento da qualidade de vida da maioria da população? Que tipo de governantes
negligencia, o saneamento básico e as regras de segurança de estradas, viadutos e
pontes? Que tipo de governantes tem o Brasil que se aliam a milicianos e ao tráfico de
drogas? Há um governo paralelo do crime organizado no Brasil ou há um conluio entre
o poder e o crime organizado? Que tipo de instituições há no Brasil que permite tal
degradação ética que leva a sociedade sucumbir em infindáveis tragédias? Que tipo de
superestrutura político jurídico permite todo o tipo de privilégio e impunidade aos ricos
e seus asseclas? Que tipo de governantes há no Brasil que propõe contrarreformas para
colocar o povo na penúria da fome da miséria e da degradação humana?
Todas estas perguntas são pertinentes ao caso dos assassinados e da violência em geral,
porque as respostas a elas vai permitir desvelar a realidade que levou a este estado
psicológico de precariedade humana da sociedade brasileira e, é fundamental concluir
observando mais uma vez o contexto em que o Brasil percorreu a sua trajetória histórica
e permitiu que o tema de uma campanha eleitoral para presidente fosse a exploração a
apologética e a incitação ao ódio e a violência como mote de um candidato. Obviamente
que a adesão das massas a imagem de uma autoridade despótica é responsável por esta
conduta social vigente, mas a irresponsabilidade maior é da superestrutura politico
jurídica instalada no Estado burguês que legítima todo o tipo de atrocidades social vinda
do circulo político em torno do poder da burguesia. O inepto presidente jair bolsonaro é
responsável por estimular o estado psicológico das massas motivando-as com ódio e
prática da violência. Exemplos nada pontuais marcaram a campanha eleitoral com o
assassinato do Mestre Moa na Bahia, do professor que atirou a namorada da sacada, o
médico assassino e agora estes dois jovens na cidade de Suzano-SP todos admiradores
de bolsonaro. E, é fundamental não esquecer que, hoje, dia 14 de março de 2019
completa 1 ano da morte da Vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes. Um
assassinato frio de incontestável motivação política, executado covarde e
calculadamente pelas milícias de assassinos profissionais (paramilitares) as quais tem
vínculo com o clã bolsonaro de longa data. Pergunto: quanta impunidade ainda cabe
nesse Brasil?

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