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_ 5) CRIiTICA GENETICA Adalberto de Oliveira Souza Toda op¢io metodolégica para a realizacio de uma andlise literdria pressupde certa concepgio do réprio texto literério e uma concepcio especifica do que possa ser o homer. Este trabalho de abordagem critica nfo pretende entrar em concorréncia com outros métodos de anilise de textos, mas sim abrir novas perspectivas num campo inexplorado ¢ procurar confirmar ou anular, com objetividade, hipéteses interpretativas sobre a obra literdria Neste capitulo, o que se pretende é esbogar um quadro panorimico através do qual se possa vislumbrara situagio e a fungio da Critica Genética nos dias de hoje ‘Muitas so as maneiras de conceber a Critica Literiria, sua utilidade € o lugar que ocupa dentro (0 © relacionamento entre o autor, 0 da literatura, sempre tendo como fundamento de sua realiza texto ¢ 0 leitor, pois para cada concepcio critica uma dessas trés categorias fica evidenciada, de acordo com o enfoque daquele que executa essa operagio. A Critica Genética, assim como a Critica Biografica, dos autores € ‘uma critica erudita, pois preocupa-se com os textos inéditos, com as correspondéncias ‘om a hist6ria da obra em si mesma, Mas, de qualquer forma, a esséncia de toda critica € sempre a explicacio das obras ¢ um convite 3 sua leitura, Muitos métodos criticos foram se desenvolvendo na tentativa de desvendar 0 mistéio ou a razio de ser da obra literaria, Dentre esses métodos, podem-se citar alguns que acabaram por ser mais utilizados, tais como: o da critica psicanalitica, o da critica temética, o da critica formal e 0 da critica genética, Os métodos utilizados se entrecruzam, mas tém sua especificidade propria. A pretensa sistematizacio dos métodos da Critica Genética, no final do século XX, veio corresponder, nio somente a um aspecto da nossa modernidade, a estética do inconcluso, a teoria que presume que toda obra literdria & inacabada, ¢ a estética da expansio de significados, a obra aberta to Eco, mas também a uma insuficiéncia dos estudos de genética textual apre tradicionais. pre dizer que essa critica interessa ao estudioso preocupade, isto é, que se interroga sobre 0 trabalho da criagio do texto, analisando a aventura intelectual exercida, ou para a escolha de wm texto eno de outros possiveis, ou para detectar as possibilidades de existéncia virtual de outro (ou outros; fexios) nao redigido. Sempre se trata, portanto, do estudo de manuscritas AFILOLOGIA CLASSICA Uma vez que 0 objeto de estudo € o manuscrito, € conveniente discorrer sobre 0 tratamento dado a ele pela filologia clissica, a chamada Critica Textual, disciplina que Azevedo Filho (1987, p. 15) considera ser inclusa na Eedética, pois esta voltada “apenas para o estabelecimento eritico de um texto ¢ nio para a totalidade dos problemas que envolvem a técnica ¢ a arte editorial”. Segundo seu ponto de vista, portanto, pode-se deduzit que a Eedética tem cariter mais abrangente, que envolve todos os aspectos de uma edigio, mesmo aqueles nio-lingtifsticos, tais, como: a disposigio da parte escrita de uma pagina em oposigio & margem, os titulos, 0 uso diferenciado dos caracteres grificos, o conjunto das ilustracées, as filigranas etc. Assim sendo, na Ecdética poderia caber virtualmente também a Critica Genética, se esta nio tivesse outros objetivos, embora atuando sobre a mesma matéria, ‘A Eedética tem longa data, como bem observa Spina (1977), que nfo faz a mesma diferenca que seu colega, mencionado anteriormente. O seu nascimento ocorrew apés 0 apogeu da cultura grega, quando se iniciou a fase helenistica dominada por Alexandre Magno ¢ sentiu-se a necessidade nao s6 de repensar 0 pasado, mas de exporti-lo. Entio, na Biblioteca de Alexandria, entre 322 ¢ 146 a.C., obras foram ordenadas, catalogadas ¢ restauradas, procurando-se sua autenticidade, Os eruditos da época reviam as obras, comentavam-nas, proviam-nas de sumério, glossério, indicagées marginais sobre as variantes das palavras, de tébuas explicativas, tudo isso complementado ‘com digress6es biogrificas, questdes gramaticais ¢ até jufzos de valor de natureza estética. Como surgiu uma cultura de tipo livresco, de tendéncia literdria, houve a necessidade de preparar textos legiveis, de apuri-los € publici-los. Foi af que comecaram a ser aplicados os procedimentos elementares da apuragio de texto. ‘A atividade ecdética manteve-se atravessando 05 séculos, embora sem o brilho da fase helenfstica. Somente no Renascimento esse brilho ressurgiu, comecou-se a trabalhar com © mesmo, empenho existente no momento em que apareceu essa disciplina, sobretudo devido ao nascimento da imprensa, ‘Apenas no século XIX, a Critica Textual, parte da Ecdética, foi realmente sistematizada, isto 6 Karl Lachmann (1793-1851) estabeleceu para essa disciplina posigées te6ricas ¢ metodolégicas. ‘Até 0s nossos dias, fazem-se edighes eriticas, as vezes com mais rigor, As vezes com menos, ¢ 0 objetivo é sempre oferecer a0 estudioso de literatura um texto impresso que corresponda o mais posstvel ao original do autor. Existe uma série de operacdes, procedimentos ¢ pressupostos que sic seguidos pelo crtico textual recensios eliminatio codicum desripranum; clasificagio estemitica que € a interpretagio classificagio. ma tradigio manuseritica e na tradigio impressa das variantes de um texto para a determinagio das relagies cexstentes entre varios testemunhos; emendatio; constiutio lexus, aps, a seltio; apresentagio do texto reconsttuido; aparato das variantes (AZEVEDO FILHO, 1987, p. 15). Mas, na verdade, trés dessas operagSes sio as fundamentais: recensio, que consiste no levantamento de toda a tradigio manuscrita ¢ impressa existente da obra, na eliminagio de cépias coincidentes ¢ cheias de interpolagées, insergGes deliberadas de clementos que constavam do original, para constatar os erros comuns, re-agrupar 0 material remanescente em familias ¢ formar uma drvore geneal6gica para descobrir o texto arquétipo; emendatio, que consiste na corregio do text arquétipo para remontar o original, e originem deter, que remata 0 processo, reconstruindo a histori do texto, através de exame paleogrifico do material subsistente € demais informagSes fornecid pelos cédices. E verdade que, quanto mais antigo 0 texto for, mais apuradas devem ser as técnicas de Ecdética serem utifizadas; num texto moderno as técnicas em geral sio mais simplificadas, 9) crirtca cemerscn Eesltica (Critica Textual Thicio: Antigtdade Clissica Inicio: séeulo XIX Aspectos gens Aspectos paticulares| Sistematizagio fexivel Sistematizagio rigida Manuseritos ¢ elementos préximos Somente manuscritos| ‘Quadro 1, Edigio critics (Filologiaclissica), GENESE DA CRITICA GENETICA © objeto da Critica Genética é outro, Nao chegar a0 texto Gnico, © mais original, 0 mais perfeito, 0 mais préximo do dnimo auforal, a dltima vontade do autor, mas sim avaliar a ctiagéo do autor, os diversos momentos da criagio, 0 como € 0 porqué da criagio. Por isso os criticos genéticos no falam em variantes e erros, e sim em rasuras € consisténcias, pois as opgGes do autor revelam momentos diferentes da criagio ¢ iluminam a compreensio da obra como um todo, o passado € 0 presente dela Os procedimentos da Critica Textual podem ajudar 0 critico genético, pois a matéria sobre a ‘qual se trabalha é a mesma, © que vai mudar é a maneira como esses dados serio observados. O inferno da Critica Textual, aquilo que deve ser jogado fora, colocado para tris, € 0 paratso da Critica Genética, pois é 0 material que 0 critico vai estudar ¢ de onde vai tirar suas conclusées. A critica literéria do século XX caracterizou-se por uma investigacZo constante em conjunto com outras disciplinas. A critica literiria aliou-se & hist6ria, & sociologia, & psicandlise, 3 lingiiistica, para explicar o fendmeno literstio, Embora a critica genética tenha tomado uma forma mais nitida no final do século XX, podemos constatar que ela teve sua origem no século XIX. Aos poucos, foi-se conhecendo a importincia dos rascunhos, dos manuscritos, das edigSes sucessivas para a explicagio do trabalho literdrio. A preocupacio em investigar o processo de criacio do escritor vem de hi muito tempo. Como nio lembrar A ilexfia da composigéo, de Edgar Allan Poe, texto no qual o autor explica como ele comps seu poema O cove, Nao podemos tampouco nos esquecer dos tedricos como Gustave Lanson, Daniel Mornet ¢ Gustave Rudler, que estabeleceram principios nos quais a Critica Genética nao pode deixar de se apoiar. Lanson, nos seus Bssais de méthode de critique et histoire litéraire, de 1910, expde todo o trabalho {que deve ter 0 eritico para buscar todas as informagbes necessirias sobre o autor a obra em livrarias, bibliotecas, catilogos, inventirios, relatérios, correspondéncias particulates, didrios intimos, processos etc., devendo, em seguida, usar 0 mesmo procedimento com outras obras do autor ¢ de outros autores, comparar os elementos afins ¢ agrupar as obras que tenham semelhangas, ligando-as 4s correntes intelectuais € morais. Ele sustenta, também, que é fundamental observar as obras de qualidade inferior. Para ele, essas sio “les opérations principales doi se tire la connaissance exacte € compléte ~ jamais compléte en réalité, mais la moins incomplete possible - d'une oeuvre littéraire” (ANSON, 1965, p. 45). Lanson realizou edigdes criticas, ¢ em toda a sua obra cle demonstra a preocupacéo com o manuscrito. Jean-Yves Tadié observa que, num artigo de Lanson, Un manuscrit de Paul et Virginie (1908 — Revue du mois), suas andlises nio sfo finalistas, isto é, nao admite que o éltimo texto seria 0 melhor e definitivo (TADIE, 1992). Ele verifica isso, também, em outras ocasides nna obra de Lanson. Rudler (1923 apud TADIE, 1992) também foi um precursor da Critica Genética. Era discfpulo de Lanson, foi professor em Oxford e, em 1923, publicou Techniques de la critique et de Phisoire litéair, onde vé a importincia de definir a evolugéo do “mecanismo mental dos escritores”. Bstabelece a distingio entre critica externa ¢ interna. A primeira diz. respeito aos testemunhos dos eseritos € aos que conviveram com ele, suas carta, datas, intengées, influéncias, fontes. A segunda parte refere-se 243,

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