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DECISÃO
Trata-se, na origem, de ação de improbidade administrativa, proposta pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE em desfavor de JOSÉ VALMIR
MONTEIRO. À causa foi arbitrado o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais).
Sustenta-se, em síntese, que após a constatação de irregularidades na estrutura
física e sanitária do Mercado Municipal de Lagarto/SE, o Município foi condenado à
obrigação de fazer melhorias no prédio. Porém, o réu José Valmir Monteiro, no exercício de
Prefeito, descumpriu tal decisão.
Em sentença, julgaram-se procedentes os pedidos formulados na inicial para
condenar o requerido José Valmir Monteiro pela prática de ato de improbidade administrativa
previsto na Lei n. 8.429/92 (fls. 246-263): a) suspensão dos direitos políticos por 5 (cinco)
anos; b) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos.
A decisão foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, nos
termos assim ementados (fl. 339-372):
José Valmir Monteiro interpôs recurso extraordinário, com fulcro no artigo 102,
inciso III, alínea a, da Constituição Federal (fls. 479-508) e o presente recurso especial, com
fundamento no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal (fls. 405-447).
Sustenta a violação aos preceitos normativos contidos nos artigos 11, caput, inciso II, 12,
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caput e parágrafo único, da Lei n. 8.429/92, artigos 3º, 467, 468 e 535, incisos I e II do
Código de Processo Civil de 1973 (arts. 17, 502, 503 e 1.022 do Código de Processo Civil
de 2015).
No especial, em resumo, alega o recorrente que o Tribunal a quo não se
pronunciou sobre os pontos necessários ao deslinde da questão. Afirma ainda que: a)
ilegitimidade passiva; b) desproporcionalidade da sanção aplicada; c) aplicação incorreta da
analogia; d) ausência de dolo na conduta.
Ademais, aponta a existência de dissídio jurisprudencial, apresentando como
paradigma as decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça (AgRg no recurso especial
n. 1.352.541, recurso especial n. 1.036.229), aduz que em tais acórdãos entendeu-se que o
descumprimento de ordem judicial não caracteriza improbidade administrativa. Já quanto ao
acordão proferido pelo STJ no recurso especial n. 1.111.425, compreendeu-se que o
descumprimento gera improbidade administrativa, mas apenas a aplicação de multa como
sanção.
Foram apresentadas contrarrazões aos recursos pelo Ministério Público do
Estado de Sergipe (fls. 522/542 e fls. 543/563).
Em juízo de admissibilidade, o Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe
inadmitiu os recursos extraordinários e especiais (fls. 565-576).
Adveio a interposição de agravos (fls. 586-613 e fls. 616-626), a fim de
possibilitar a subida dos recursos interpostos.
Contrarrazões foram apresentadas pelo Ministério Público do Estado de
Sergipe (fls. 636-645 e 646-652)
O Ministério Público Federal opinou pelo conhecimento e não provimento do
agravo (fls. 666-668), em parecer assim ementado:
José Valmir Monteiro interpôs recurso extraordinário, com base no art. 102,
inciso III, alínea a da Constituição Federal (fls. 799/833) e o presente recurso especial, com
fundamento no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal (fls. 716/767).
Sustenta violação aos artigos 3o , 467, 468 e 535, incisos I e II do Código de Processo Civil
de 1973 (arts. 17, 502, 503 e 1.022 do Código de Processo Civil de 2015), artigos 11,
caput, inciso II, 12, inciso III e parágrafo único, da Lei 8.429/92.
No especial, defende, em síntese, que: a) obscuridade e contradição do
julgado; b) ilegitimidade passiva e coisa julgada; c) desproporcionalidade da sanção aplicada;
d) aplicação incorreta da analogia; e) ausência de demonstração do dolo.
Além disso, aponta a existência de dissídio jurisprudencial, apresentando como
paradigma as decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça (AgRg no recurso especial
n. 1.352.541, recurso especial n. 1.036.229), aduz que em tais acórdãos entendeu-se que o
descumprimento de ordem judicial não caracteriza improbidade administrativa. Já quanto ao
acordão proferido pelo STJ no recurso especial n. 1.111.425, compreendeu-se que o
descumprimento gera improbidade administrativa, mas apenas a aplicação de multa como
sanção.
Foram apresentadas contrarrazões aos recursos pelo Ministério Público do
Estado de Sergipe (fls. 844-852 e fls. 853-865).
Em juízo de admissibilidade, o Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe
inadmitiu os recursos extraordinários e especiais (fls. 867-873).
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Sobreveio a interposição de agravos (fls. 876-919 e fls. 920-955), a fim de
possibilitar a subida dos recursos interpostos.
O Ministério Público Federal opinou pelo conhecimento do agravo para que
seja parcialmente conhecido o recurso especial, e, nessa extensão, não provido (fls.
1.011-1.019), em parecer assim ementado:
É o relatório. Decido.
No tocante à alegada violação aos artigos 17, 502 e 503 do CPC/15, não
assiste razão ao recorrente, porquanto clara e suficiente a fundamentação adotada pelo
Tribunal de origem para o deslinde da controvérsia.
Neste sentido, o Tribunal de origem assentou que (fls. 363/364):
Inicialmente, analiso o fato segundo o qual a primeira ação civil pública por
ato de improbidade teria sido movida em face do antigo prefeito municipal, e que esta
Corte de Justiça teria reconhecido a ilegitimidade do recorrente, porquanto não fez
parte da demanda, no julgamento do processo tombado sob n. 201154100400.
Nesse contexto, impende demonstrar que nos autos do cumprimento de
sentença, processo tombado sob n. 201154100400, que em 06/05/2011, conforme
decisão de fl. 63, o juízo a quo determinou fosse intimado o novo gestor do
Município de Lagarto, ora requerido, cujo mandado de intimação cumprido restou
juntado aos autos em 18/05/2011, de modo que descabe falar em ilegitimidade ou
desconhecimento da condenação do ente municipal a promover as obras
determinadas na ação civil por atos de improbidade [...]
De forma contrária à tese defendida pelo recorrente em suas razões
recursais, notificado pessoalmente para cumprir a decisão judicial transitada em
julgado (fls. 47/58) desde maio de 2011, consoante consulta ao SCP, que
determinara a adoção de providências no Mercado Municipal de Lagarto/SE, no
prazo máximo de 07 (sete) meses, apenas promoveu o requerido a contratação de
empresa para realiza-las em 25 de julho de 2012, cerca de quatorze meses depois,
consoante atesta o contrato n. 112/2012 (fls. 96/100), no dobro do prazo previsto
para a sua realização, e somente quarenta dias após o ajuizamento dessa nova ação de
improbidade, que ocorrera em 15 de junho de 2012, consoante se constata às fls. 02
do presente feito.
Ao se conduzir dessa maneira, o Prefeito do Município de Lagarto incorreu
na conduta prevista no art. 11, inciso II da Lei n. 8.429/92, por retardar ato que
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deveria praticar de ofício, numa postura de completo desrespeito ao Poder Judiciário
e suas decisões, posto que na qualidade de gestor [...]
Ante o exposto, com fundamento nos art. 253, parágrafo único, inciso II, a, do
Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça conheço do recurso de agravo para
conhecer parcialmente e, na parte conhecida, negar provimento ao recurso especial.
Publique-se. Intime-se.