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JBFG03
Capítulo 3

O REALIS^YTO ARISTOTÉLICO

Maria do Carmo Bettencourt de Faria'

(L
1. Definição

O realismo aristotélico representa, na Grécia antiga, ao lado das filo-


sofias de Sócrates e Platão, u m a reação ao discurso dos sofistas e u m a
tentativa de superação da oposição dos pensamentos de Parménides e
Heráclito. O primeiro negava a realidade do movimento e da mudança,
enquanto o segundo via o Ser sobretudo como vir-a-ser, afirmando
que toda permanência e estabilidade resultam de precário equilíbrio
entre forças opostas. Defendendo a possibilidade de uma ciência sobre
o real concreto, Aristóteles afirma que é possível conhecer o que é o
real concreto e mutável por meio de definições e conceitos que perma-
necem inalterados. Basta que para isso seja estabelecido previamente
o que importa ser conhecido acerca do ser, distinguindo-o daquilo que
pode ser deixado de lado por ser meramente ocasional, fatual ou
acidental. Considera o Universo como u m todo ordenado segundo leis
constantes e imutáveis. Essa ordem imutável e eterna rege não só os
fenômenos da natureza como também os de ordem política, moral ou
estética. Antecedendo, como fundamento, as diversas ciências que se
interessam por determinados aspectos do ser, existe uma ciência "pri-
meira", a Sabedoria (depois designada como Metafísica), que estuda o
Ser e procura enunciar essa ordem subjacente que torna inteUgíveis
todos os fenômenos.

Professora de filosofia da UFR).


2. Aristóteles e sua época
são nem ao menos imanentes às coisas que delas participam; se fossem
imanentes, talvez pudessem assemelhar-se a causas dos seres, como o
Aristóteles nasceu em Estagira, em 384, filho de Nícòmaco, médico do branco é a causa da brancura no ser branco, entrando em sua composição
... . Por outro lado, os outros objetos não podem tampouco provir das
rei da Macedónia. Aos 18 anos vai para Atenas e se torna discípulo de idéias, em qualquer dos sentidos em que se entende ordinariamente essa
Platão. Em 343 é chamado à Macedónia para ser preceptor de Alexan- expressão de. — Quanto a dizer que as idéias são os paradigmas e que
dre, o Grande. Em 335 volta a Atenas e funda o Liceu. Depois da morte as outras coisas participam deias, isso não passa do uso de palavras
de Alexandre, o partido antimacedónico obriga-o a se retirar de Atenas destituídas de sentido, e de metáforas poéticas. Onde então se trabalha
para a Calcídia, onde morre em 322. Aristóteles é contemporâneo do com os olhos fixos nas idéias? Pode acontecer, com efeito, que algum
período de decadência da democracia ateniense e da invasão macedó- ser exista e se torne semelhante a um outro, sem que por isso tenha sido
nica que unifica a Grécia sob seu domínio. Atenas, já despida de seu modelado a partir desse outro. ... Além disso, teríamos diversos para-
brilho e de sua força, via seu destino entregue aos demagogos que, digmas do mesmo ser e, por conseguinte, diversas idéias desse ser; por
aproveitando a indiferença do povo em relação à coisa pública, mano- exemplo, para.o homem teríamos o animal, o bípede, e ao mesmo tempo
também o homem em si. Além do mais, as idéias não serão paradigmas
bravam os negócios do Estado de acordo com seus interesses mais apenas dos seres sensíveis, mas também das próprias idéias, e, por
imediatos. O pensamento aristotélico representa, em muitos aspectos, exemplo, o gênero, enquanto gênero, será o paradigma das espécies
uma reação a esse estado de coisas. contidas nele: a mesma coisa 5erá portanto paradigma e imagein. E
Dono de um saber enciclopédico, Aristóteles escreveu sobre quase depois pareceria impossível que a substância fosse separada daquilo de
todos os assuntos, examinando as teorias das diversas escolas filosóficas que ela é substância. Como então as idéias, que são a substância das
que o precederam na Grécia. Infelizmente, a quase totalidade de suas coisas, seriam separadas das coisas?
obras destinadas à difusão de suas idéias fora dos limites do Liceu foi (Metafísica)
perdida. Restam aquelas destinadas ao uso restrito dos cursos do Liceu; De um modo geral, enquanto o objeto da sabedoria é a procura da causa
anotações de cursos, indicações de questões etc. Apesar disso, sua obra dos fenômenos, é precisamente isso que é deixado de lado (pois não se
conhecida é bastante volumosa: versa sobre as questões de filosofia diz, nada a respeito da causa de onde vem o princípio da mudança) e,
primeira ou metafísica, sobre lógica (chamada organoji), sobre ciências ao pensar explicar a substância dos entes sensíveis, se postulava a
naturais, moral e política; sobre as artes da retórica e da poética. existência de outras espécies de substância. Mas, quando se trata de
explicar como essas últimas são a substância das primeiras, são utilizadas
palavras vazias: pois participar, como dissemos acima, nada significa.
3. Crítica a Platão (Metafísica)
Embora permaneça fiel a seu mestre em muitos e importantes aspectos
de sua filosofia, Aristóteles, desde sua mocidade, rejeita a Teoria das 4. A origem da filosofia
Idéias, alegando que ela não explica o movimento dos entes materiais,
ordenado e harmonioso, e cria mais dificuldades do que resolve. Para Aristóteles, a filosofia implica o abandono do senso comum e o
despertar da consciência crítica que tem uma função libertadora para
A mais importante questão que devemos colocar seria a de perguntar o homem. O abandono do senso comum se dá em virtude do espanto
enfim que socorro as idéias trazem para os entes sensíveis, quer se trate (pathos), e este é a origem do filosofar.
de entes eternos (asJ:ros) ou dos entes que sofrem geração e corrupção.
Com efeito, elas não são para esses seres a causa de nenhum movimento
e de nenhuma mudança. Também não trazem nenhum concurso para Foi, com efeito, o espanto que levou, como hoje, os primeiros pensadores
a ciência dos outros seres ... nem para explicar a sua existência, pois não à especulação filosófica. No início seu espanto dizia respeito às dificul-
dades que se apresentavam em primeiro lugar ao espírito; depois, avan- filósofo; e o princípio mais firme de todos será aquele a respeito do qual
çando pouco a pouco, estenderam sua exploração aos fenômenos mais seja impossível enganar-se: é necessário com efeito que um tal princípio
importantes, tais como os fenômenos da Lua, os do Sol e das estrelas, seja ao mesmo tempo o mais bem conhecido de todos os princípios
e enfim à gênese do Universo. Ora, perceber uma dificuldade e espantar-se (pois o erro diz respeito sempre àquilo que não se conhece bem), e
é reconhecer a própria ignorância (e por isso mesmo o amor dos mitos incondicionado, pois um princípio que é necessário conhecer para
e, de alguma maneira, amor pela Sabedoria, pois o mito é uma reunião compreender todo ser, qualquer que seja, não depende de outro princípio,
do maravilhoso). Portanto, se foi para escapar da ignorância que os e aquilo que é preciso conhecer necessariamente para conhecer todo e
primeiros filósofos se dedicaram à filosofia, é evidente que eles perse- qualquer ser, é preciso já possuí-lo necessariamente antes de todo outro
guiam o saber em vista apenas do conhecimento, e não para um. fim conhecimento. Evidentemente, então, um tal princípio é o mais firme
utilitário. E o que se passou na realidade fornece a prova disto: quase de todos. Mas qual é este princípio? Iremos enunciá-lo agora. É o seguinte:
todas as necessidades da vida e as coisas que interessam ao seu bem-estar é impossível que o fnesmo atributo pertença e não pertença ao mesmo tempo
e à sua manutenção já tinham sido satisfeitas quando começou a busca ao mesmo sujeito, e na mesma relação. ... Eis portanto o mais firme de
por uma disciplina deste gênero. Concluo que não temos em vista, em todos os princípios, pois ele corresponde à definição dada, acima. Não
nossa pesquisa, nenhum interesse estrangeiro. Mas, da mesma forma é possível, com efeito, conceber alguma vez que a mesma coisa seja e
que chamamos livre aquele que é para si mesmo o seu próprio fim, e não seja, como alguns acreditam que Heráclito disse: pois nem tudo o
não existe para outro, assim esta ciência é também a única entre as que se diz se está obrigado a pensar, ... É por essa razão que toda
demais que seja uma disciplina liberal, uma vez que só ela é para si demonstração se remete a esta como a uma última verdade, pois ela é,
mesma o seu próprio fim. por natureza, um ponto de partida, mesmo para os demais axiomas.
{Metafísica) (Metafísica)

5. O principio de identidade 6. As causas do ser

Como ciência (episteme), isto é, como conhecimento necessário e uni- A Filosofia, enquanto ciência do Ser, deve ser capaz de enunciar as
versal, a filosofia distingue-se da opinião (cíoxa), que varia de acordo causas do mesmo, u m a vez que só conhecemos verdadeiramente algu-
com as situações, os sujeitos e as mutações da realidade. A garantia de ma coisa quando conhecemos seu porquê. Aristóteles enuncia, não
um saber verdadeiro está na possibilidade de sua demonstração a partir uma, mas quatro causas ou razões em vista das quais se pode dizer que
de um outro conhecimento já demonstrado como verdadeiro. Esse um ser é. São elas: a) a causa material: a matéria de que alguma coisa
processo seria levado ao infinito, impossibilitando a ciência, se o ho- é feita e que, por si mesma, não possui nenhuma determinação, sendo
mem não pudesse perceber como imediatamente evidentes algumas pura disponibilidade; b) a forma ou qüididade: isto que o ser é, ou
ainda o conjunto de determinações que permitem identificá-lo ou
verdades que, por isso mesmo, dispensam demonstração e são consi- defmi-lo; c) o motor: o princípio do movimento ou causa eficiente,
deradas axiomas. A filosofia encontra no princípio da não-contradição aquele que dá origem ao processo de constituição do ser; d) o fim a
sua verdade axiomática fundamental. que se destina, e que coincide sempre com a própria perfeição do ser.
Que, assim, pertença ao filósofo, quer dizer, àquele que estuda a natureza É manifesto que a ciência que buscamos adquirir é a das causas primeiras
de toda substância, examinar também os princípios do raciocínio süo- (pois que dizemos que conhecemos cada coisa somente quando acredi-
gístico, isto é evidente. O homem que tenha o conhecimento mais tamos conhecer sua causa primeira). Ora, as causas se dizem em quatro
perfeito, eni qualquer gênero que seja, deve ser aquele que está mais sentidos. Num sentido, por causa entendemos a substância formal ou
apto a enunciar os princípios mais firmes do objeto em questão. Por qüididade (com efeito, a razão de ser de uma coisa se reduz em última
conseguinte, aquele que conhece os seres enquanto seres deve ser capaz análise à noção desta coisa, e a razão de ser primeira é causa e princípio);
de estabelecer os princípios mais firmes de todos os seres. Ora, este é o num outro sentido, ainda, a causa é a matéria ou substrato; num terceiro
sentido, o princípio de onde parte o movimento; em um quarto, enfim, de perto àquilo que o Ser é em si mesmo, é a substância (ousia). A
que é oposto ao terceiro, é a causa final ou bem (pois o bem é o fim de substância pode, por sua vez, ser simples (Deus) ou composta (os
toda geração e de todo movimento). demais seres). A ciência do Ser é, portanto, a ciência do Ser imóvel e
{Metafísica) perfeito, substância absolutamente simples — Deus — e, ao mesmo
tempo, ciência dos entes compostos, os entes da natureza, que estão
Aparenterçente, este é portanto o número das acepções nas quais se em permanente movimento. Enquanto ciência do Ser, a Filosofia é uma
pode tomar a palavra causa. Mas, em decorrência desta pluralidade de ciência da substância. A substância é o.indivíduo uno em si mesmo e
sentidos, acontece que a mesma coisa tenha várias causas, e isto não
acidentalmente: assim, para a estátua, a arte estatuária e o bronze ...; há separado dos demais.
somente uma diferença: uma destas coisas é causa enquanto matéria, a
outra como aquilo de onde parte o movimento. Acontece mesmo de se O Ser se toma em múltiplos sentidos, segundo as distinções que fizemos
encontrarem coisas que são mutuamente causa uma da outra; assim, os anteriormente, no Livro das Múltiplas Acepções [livro v da Metafísica]:
exercícios penosos são causa de um bom estado do corpo, ao passo que num sentido, significa isto que a coisa é, a substância, e, em outro sentido,
este é causa de tais exercícios; somente, isto não se dá no mesmo sentido: significa uma qualidade, uma quantidade ou um dos outros predicados
uma destas coisas é causa como fim, outra como princípio do movimento. deste tipo. Mas, entre todas estas acepções do Ser, é claro que o Ser em
Enfim, a mesma coisa é causa dos contrários; e, com efeito, o que por sentido primeiro é o "isto que é a coisa", noção que não exprime nada
sua presença é causa de tal efeito faz com que encaremos a sua ausência além da própria substância. Com efeito, quando dizemos de que quali-
como causa do efeito contrário: assim, a ausência do piloto é causa do dade é tal coisa determinada, dizemos que é boa ou má, mas não que
naufrágio, na medida em que sua presença seria a causa da salvação do tem três côvados, ou que é um homem: quando, ao contrário, exprimimos
barco.
Quaisquer que sejam, além disso, as diversas nuanças que cada classe isto que ela é, não dizemos que é branca ou quente, nem que tem três
comporta, todas as causas que acabamos de indicar pertencem manifes- côvados, mas que é um homem ou um deus. As outras coisas só são
tamente a quatro classes. As letras em relação à sílaba, os materiais em chamadas seres porque são ou quantidades do Ser propriamente dito,
relação aos objetos fabricados, o fogo e os demais elementos em relação ou qualidades, ou outra afecção deste ser, ou alguma outra determinação
aos corpos compostos, as partes em relação ao todo, as premissas em deste gênero. Também se poderia perguntar se o passear, o sentir-se bem,
relação à conclusão são causas enquanto aquilo de que as coisas são o estar sentado são ou não são seres; e da mesma forma em qualquer
feitas. Das coisas que acabamos de contrapor, umas são causas a título outro caso análogo: pois nenhum destes estados tem por si mesmo
de subjacente, tal como as partes; as outras são causas enquanto qüidi- naturalmente uma existência própria, nem pode ser separado da subs-
dade: o todo, o composto, a forma. Por seu lado, a semente, o médico, tância, mas se há aí algum ser, será antes isto que passeia que é um ser,
o autor de uma decisão e, de maneira geral, o eficiente, tudo isto é causas isto que está sentado, isto que se sente bem. E estas últimas coisas nos
enquanto aquilo de onde vem o início da mudança, do repouso ou do parecem muito mais seres, porque há sob cada uma delas um sujeito
movimento. Do outro lado ainda, uma coisa é causa a título de fim e real e determinado: este sujeito é a Substância, é o indivíduo, que é
bem das outras coisas, pois aquilo que se tem em vista deve ser mais certamente o que se manifesta em tal categoria, pois o bem ou o sentado
excelente que os demais, e seu fim; e aqui é indiferente que se diga que nunca é dito sem ele. É, portanto, evidente que é por meio desta categoria
a causa é o próprio bem ou um bem aparente. que cada uma das outras categorias existe. Por conseguinte, o Ser em
(Física) sentido fundamental, não tal modo do Ser, mas o Ser falando em sentido
absoluto, não poderia ser senão a Substância. ... Em verdade, o objeto
eterno de todas as pesquisas, presentes e passadas, o problema sempre
7. O ser como substância em suspenso: o que é isto, o Ser?, consiste no mesmo que perguntar: o
que é isto, a substância? ... É por isso que, para nós também, o objeto
Por diversas vezes em sua Metafísica, Aristóteles afirma que o Ser pode principal, primeiro, e por assim dizer único, de nosso estudo deve ser a
ser dito em diferentes sentidos: é, portanto, um conceito análogo. O natureza do Ser tomado neste sentido.
primeiro desses sentidos, o mais fundamental, o que corresponde mais (Metafísica)
8. O acidente como o principal axioma da Metafísica, que afirma que dois contrários
não podem coexistir no mesmo sujeito? Com esse problema já se
Como foi visto acima, a substância não esgota o sentido do termo Ser. tinham defrontado os eleatas, os jônios e o próprio Platão. Nenhuma
Também os chamados acidentes (literalmente, o que acontece com) das soluções apresentadas parece satisfatória a Aristóteles, pois todas,
são. Estes, na maioria das vezes, decorrem da matéria de que os entes para resolver o problema, eliminam u m de seus termos: Heráclito, com
são compostos. Não são determinados pela natureza destes, nem de- os jônios, tende a negar a permanência de uma identidade nos seres.
correm de uma razão ou causa determinada. Por isso, não será possível Esse é também o partido adotado pelos sofistas. Parmênides e Platão
uma ciência do acidente, negam realidade ao movimento, reduzindo-o a aparência ilusória. Para
Há ainda um segundo sentido atribuído por Aristóteles ao termo resolver a questão, Aristóteles distingue em primeiro lugar dois tipos
acidente: aquilo que, embora pertença necessariamente a um ser, não de movimento: aquele que atinge apenas os acidentes (lugar, quanti-
permite identificá-lo como sendo este e não outro. dade e qualidade) e aquele que atinge a própria substância dos seres, a
gênese. O primeiro (^kinesis) não altera a identidade do Ser, que conti-
Acidente se diz daquilo que pertence a um ser e pode ser afirmado dele nua sendo o mesmo que era. O segundo, ao contrário, dá origem a u m
com verdade, mas não é nele nem necessário nem constante. novo ser. Ainda visando u m a solução que permita conciliar o movi-
(Metafísica) mento com a identidade, Aristóteles cria as noções de potência e ato,
que, de certa forma, traduzem para o plano do movimento os concei-
... é visível desde agora que não há ciência do acidente. Toda ciência se tos, já enunciados, de matéria e forma. Na geração acontece de fato
propõe com efeito [conhecer] o que é sempre ou o mais das vezes. Como, u m a trans-formação da matéria: uma mudança de forma; uma atuah-
sem isso, se instruir a si mesmo, ou ensinar aos outros? é preciso que a zação de uma forma para a qual a matéria estava previamente dispo-
coisa seja determinada como acontecendo sempre, ou o mais das vezes, nível, em potência. A forma, enquanto realizada, é chamada ato; a
(Metafísica) matéria, enquanto disponibilidade para receber tais determinações
formais, é chamada potência.
Como falamos das diferentes acepções do Ser, devemos assinalar em
primeiro lugar que o Ser por acidente não é nunca objeto de especulação. ... Logo, existem tantas espécies de movimento quantas espécies de Ser.
Isto é demonstrado pelo fato de que nenhuma ciência, seja ela prática, Tendo em conta a distinção, relativamente a cada gênero, daquilo que
produtora ou teórica, se preocupa com ele. O construtor de uma casa, existe em ato e daquilo que existe em potência, o movimento é o ato
com efeito, não produz os diversos acidentes dos quais a construção da daquilo que existe em potência enquanto tal; por exemplo, do alterável
casa sempre é acompanhada, pois são em número infinito: nada impede, enquanto tal, o ato é a alteração; daquilo que é suscetível de crescimento
com efeito, que a casa, uma vez construída, pareça agradável a uns e a e diminuição [o ato] é o próprio crescimento ou diminuição; do gerável
outros incômoda, a outros ainda, útil, ou que ela pareça diferente de e corruptível, é geração e corrupção; daquilo que é móvel quanto ao
todos os outros seres: nada disto decorre da arte de construir. lugar, é movimento local.
(^Metafísica) (Física)
O ato é, portanto, o fato de uma coisa existir em realidade, e não do
9. O movimento modo como dizemos que existe em potência, quando dizemos, por
exemplo, que Hermes [estátua] está em potência na madeira, ou a
O problema do movimento é sem dúvida u m dos principais desafios semi-reta na reta inteira porque poderia ser tirada dela; ou quando
com que se defronta o pensamento aristotélico. De fato, se o movimen- chamamos sábio em potência aquele que não especula, mesmo que tenha
to é sempre a passagem de um contrário a outro, como conciliá-lo a capacidade de especular, pois bem: esta outra maneira de existir é a
existência em ato. A noção de ato que propomos pode ser elucidada pela das; mas podemos dizer o que ele não pode ser. De Deus deve ser
indução, com a ajuda de exemplos particulares, sem que se deva tentar excluído tudo aquilo que implique imperfeição, limitação ou divisão.
defníir tudo, mas contentando-se com a analogia: o ato será então como Um Ser perfeito também não comporta nada de acidental ou de po-
o ser que constrói em relação ao que possui a faculdade de construir, o tencial. Assim, Aristóteles afirma que essa substância subsiste no per-
que está acordado em relação ao que dorme, o que vê em relação a feito gozo de si mesma, na felicidade absoluta de uma autocontempla-
quem tem os olhos fechados mas possui a vista, o que está elaborado ção eterna. Esse Ser absolutamente perfeito só pode ser Pensamento
em relação ao que não está elaborado. Damos o nome de ato ao primeiro que se pensa a si mesmo, eterna imobilidade da consciência que repou-
membro destas relações, o outro membro, é a potência. ... Com efeito, sa na plena posse de si mesma, ideal inakansável, mas sempre buscado
o ato é tomado ora como o movimento relativamente à potência, ora pelos demais seres submetidos à limitação da matéria e à divisão
como a substância relativamente a alguma matéria. interior.
(Metafísica)
Pois que é possível que seja como acabamos de dizer, e que se não se
Além do mais, a matéria não é em potência senão porque pode se adota nossa explicação será necessário admitir que o mundo brota da
encaminhar para a [realização] de sua forma: e quando ela está em ato, noite, da confusão universal e do Não-Ser, estas dificuldades podem ser
então ela está em sua forma. É ainda assim que acontece em todos os consideradas como resolvidas. Existe então alguma coisa, sempre movida
outros casos, mesmo para as coisas cujo fim é um movimento (atividade). em um movimento sem repouso, movimento este que é o movimento
Também a natureza é como os mestres que só consideram que atingiram circular, E isto é evidente não somente por demonstração racional, mas
seu fim quando tiverem mostrado seu aluno em ação. de fato. Por conseguinte, o primeiro Céu deve ser eterno. Há por
^ (Metafísica) conseguinte também alguma coisa que o move; e pois que aquilo que é
ao mesmo tempo movido e motor não é senão um termo intermediário,
deve-se supor um extremo que seja motor sem ser movido, ser eterno,
10. Deus e sua natureza substância e ato puro.
Ora, é deste modo que movem o desejável e o inteligível: movem sem
A atualização da forma é o fim de todo movimento. Aristóteles consi- serem movidos. Estas duas noções tomadas em seu mais alto grau não
dera que, se aquilo que é visado no movimento é a progressiva "atua- idênticas. Com efeito, o objeto do apetecer é o bem aparente e o objeto
lização" da forma, deve-se necessariamente admitir que o ato, como primeiro da vontade racional é o Bem real.
fim, antecede a potência e é mais perfeito que ela. De fato, diz ele, é ... Que a causa final possa residir entre ,os seres imóveis, é o que nos
preciso que a obra já tenha sido anteriormente concebida pelo artista mostra a análise de suas significações. A causa final, com efeito, é o ser
para que ele se ponha em movimento para realizá-la. Nas gerações para o qual ela é o fim, e é também o próprio objetivo; neste último
naturais, também é necessário admitir a existência prévia da forma já sentido, não no primeiro, o fim pode existir como ser imóvel. E a causa
realizada (em ato) em outro ser semelhante: só o h o m e m gera o final move como o objeto do amor, e todas as outras coisas movem
homem. Caminhando assim, chegaremos necessariamente a um pri- porque são movidas, Dito isto, se uma coisa é movida, é porque é
meiro Ato, que antecede e sustenta todos os outros, realização perfeita susceptível de ser outra em relação ao que é. Mas, pois que há um ser
que move permanecendo ele mesmo imóvel, este ser não pode de nenhum
de uma Forma perfeita que atuará como motor deste Universo harmo- modo ser diferente disto que ele é.... O primeiro motor é, portanto, um
nioso e ordenado. Esse primeiro Ato é Deus, que, embora não tenha ser necessário e, enquanto necessário, seu ser é o Bem, e é deste modo
criado o m u n d o (o conceito de criação do Universo só surge com a que ele é princípio ... . A um tal Princípio estão suspensos o Céu e a
filosofia cristã), sustenta a ordem universal por atrair todas as coisas à Natureza.
realização da própria perfeição. (Metafísica)
Qual a natureza desse Ato primeiro? Aristóteles nos diz que isso
só pode ser conhecido de forma negativa: não conseguiremos dizer o A natureza da Inteligência divina coloca alguns problemas. A inteligência
que Deus é em si mesmo — faltam-nos até mesmo palavras apropria- parece bem ser a mais divina das coisas que aparecem como divinas:
mas, para apresentar este caráter, qual deve ser o seu modo de existência? seus movimentos, assim como sua regularidade. O.Universo compõe-
Existem aí algumas dificuldades — ou bem ela não pensa em nada: mas se de 47 esferas concêntricas, sendo que a Terra ocupa o centro imóvel
onde está então a sua dignidade? estará num estado semelhante ao do do sistema. O movimento das diferentes esferas explica não só o mo-
sono. Ou bem ela pensa, mas, se o seu pensamento está na dependência vimento observado nos astros do céu como o suceder das estações e o
de um outro princípio, então ela não poderia ser a Substância suprema ciclo de gerações dos diferentes seres do m u n d o sublunar. O Universo
(pois aquilo que é sua substância não seria o ato de pensar, mas simples
potência), uma vez que a sua dignidade consiste no pensamento. Por é um Universo necessário, isto é: não pode não ser assim como é, e à
outro lado, que sua essência seja a inteligência ou o ato de pensar, em ciência cabe explicar essa necessidade.
que ela pensa? Ou pensa a si mesma, ou em alguma outra coisa; se pensa
alguma outra coisa, ou bem esta coisa é sempre a mesma, ou bem é ora Se portanto a geração de alguma coisa é absolutamente necessária, ela
uma, ora outra coisa. Dito isto, importa ou não que o objeto de seu é necessariamente circular e volta ao seu ponto de partida. Com efeito,
pensamento seja o Bem ou outra coisa qualquer? Ou melhor, não seria necessariamente, ou bem há um limite para a geração, ou bem não há,
absurdo supor que certas coisas pudessem ser objeto de seu pensamento? e, se não há, a geração é ou retíHnea ou circular. Nesta última alternativa,
É evidente, portanto, que a Inteligência divina pensa o que há de mais se se quer que a geração seja eterna, não é possível que seja retilínea,
divino e mais digno, e que não muda de objeto, pois seria sempre uma uma vez que não pode haver um ponto inicial (quer os termos sejam
mudança para pior, e tal coisa seria já um movimento, tomados em linha descendente, como acontecimentos futuros, ou as-
Em primeiro lugar, então, se a Inteligência divina não é ato de pensar, cendente, como passados). No entanto, a geração deve ter um princípio,
mas simples potência, é lógico supor que a continuidade do pensar é se se quer que ela seja necessária e, portanto, eterna, e, se é limitada,
para ela uma carga penosa. Em seguida, fica claro que haveria algo mais não pode ser eterna. Em conseqüência, a geração é necessariamente
nobre que a Inteligência, a saber, o objeto do seu pensamento. Com circular. Por conseguinte, haverá necessariamente conversão: por exem-
efeito, o ato de pensar pertencerá também àquele que pensa o pior; plo, se tal coisa é necessariamente seu antecedente, também é, necessa-
assim sendo, o ato de pensar não poderia ser o que há de melhor, se em riamente, e, inversamente, se o antecendente é necessário, o conseqüente
alguma ocasião se deve evitar de pensar (e de fato isto acontece, pois há também se produz necessariamente. E este encadeamento recíproco será
coisas que é melhor não ver do que ver). eternamente contínuo, pois não tem importância se raciocinamos a
A Inteligência suprema, portanto, se pensa a si mesma, pois é o que partir de dois ou de muitos termos.
há de mais excelente, e seu pensamento é pensamento de pensamento, É, portanto, no movimento e na geração circulares que se encontra
... Então, pois, se não há diferença entre o que é pensado e o pensamento a necessidade absoluta. Dito de outra forma, se a geração de certas coisas
no caso dos objetos imateriais, o Pensamento divino e seu objeto serão é circular, cada uma delas é gerada e foi gerada de forma necessária, e,
idênticos' e o pensamento será um com o objeto de pensamento. ... se há necessidade, sua geração é circular,
Acontece com o Pensamento divino o que acontece em alguns momentos Esses resultados concordam de forma lógica com a eternidade do
fugazes da inteligência humana (com o intelecto do ser composto): este movimento circular, quer dizer, do movimento do Céu (fato que é, além
intelecto não possui o seu próprio bem em tal momento ou em tal outro, disso, tornado evidente de outro modo), pois que estes movimentos,
mas é um todo indivisível que apreende este soberano Bem que para que pertencem a esta revolução eterna e dela dependem, são produzidos
ele é algo exterior; é deste modo que o pensamento se pensa, mas se necessariamente e existirão necessariamente. Se, com efeito, o corpo
pensa a si mesmo desde toda a eternidade. movido circularmente move sempre outra coisa, é necessário que o
{Metafísica) movimento das coisas por ele movidas seja também circular. Assim é
que, a partir da existência da translação superior, o Sol é movido
circularmente, de um modo determinado, e pois que o Sol cumpre
T l . Ordem e eternidade dos movimentos naturais assim a sua revolução, as estações, por essa razão, têm uma geração cir-
cular, e retornam sobre si mesmas; como elas têm uma geração circular,
Como já foi dito anteriormente, a ciência aristotélica supõe um Uni- acontece o mesmo, a seu tempo, com as coisas que delas dependem.
verso ordenado segundo leis imutáveis que garantem a eternidade de (Da geráção e corrupção)
12. O homem como animal político possuir o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto. Ora, a
comunicação destes sentimentos constitui a família e a cidade, ... É
Para Aristóteles, a constituição do Estado decorre da própria natureza evidente, pois, que a cidade é por natureza anterior ao indivíduo, porque,
do homem, incapaz de sobreviver isolado dos outros. Em sua Política, se o indivíduo separado não se basta a si mesmo, será semelhante às
demais partes com relação ao todo, e aquele que não pode viver em
além de passar em exame as constituições de diversas cidades-Estados sociedade, ou não necessita nada por sua própria suficiência, não é
gregas, tenta interpretar-ihes o sentido, dentro de uma ordem "natu- membro da cidade, mas sim uma besta ou um deus. É natural em todos
ral", isto é, uma ordem que emana da própria natureza do homem. a tendência a uma tal comunidade, porém o primeiro que a estabeleceu
Assim como a natureza do universo se rege por leis eternas e imutáveis, foi causa dos maiores bens; pois, assim como o homem perfeito é o
também o Estado, embora dependente das ações e decisões humanas, melhor dos animais, afastado da lei e da justiça, é o pior de todos: a
deve ser regido segundo uma constituição que traduza, tanto quanto pior injustiça é a que possui armas, e o homem está naturalmente dotado
possível, a própria natureza do Estado. Daí decorre a função política de armas para servir á prudência e à virtude, mas pode usá-las para as
da filosofia, ciência capaz de enunciar os fundamentos dessa ordem, coisas mais opostas. Por isso, sem virtude, é o mais ímpio, lascivo e
glutão. A justiça, em troca, é coisa da cidade, já que a justiça é a ordem
fornecendo aos governantes os subsídios teóricos necessários para que da comunidade civil, e consiste no discernimento do que é justo.
governem com justiça. (Política)
A associação composta por vários povoados forma uma cidade perfeita,
possuindo todos os meios de se bastar a si própria, para além de ter
atingido, por assim dizer, o fim de toda sociedade. Unicamente nascida 13. A virtude como justa medida
da necessidade de viver, ela existe para viver em bem-estar e abundância.
É por isso que podemos dizer que toda cidade é um fato da natureza, Seguindo a concepção de que todas as coisas se regem segundo uma
visto que foi a natureza que formou as primeiras associações; porque a ordem subjacente, que brota da própria natureza e visa o seu pleno
cidade, ou sociedade civil, é o fim dessas associações. Ora, a natureza desenvolvimento, a virtude aparece como a justa medida, ou seja, a
dos seres está em seu fim; porque o estado em que cada ser vem a medida determinada por essa ordem natural e pelos fins que a sobre-
encontrar-se, desde o momento de seu nascimento e até o seu perfeito determinam.
desenvolvimento, é aquilo a que chamamos a natureza deste ser, como
por exemplo, do homem, do cavalo, da família. Por outro lado, o fim Costuma-se dizer que nada há que acrescentar nem tirar nas coisas
para o qual foi criado é, para aquele ser, o que possui de mais vantajoso; bem-feitas, considerando-se que o excesso ou a falta destrói a perfeição
com efeito, a condição de se bastar a si mesmo é o fim de todo ser, e e a justa medida a conserva. ... E a virtude que é mais perfeita e melhor
aquilo que de melhor existe para ele. É, pois, evidente que, nesta base, que toda arte, do mesmo modo que a natureza, tenderá para o meio. ...
a cidade é um fato da natureza, sendo o homem um animal político por Chamo meio da coisa o igualmente distante dos extremos, que é um e
natureza. Aquele que, pela sua natureza e não por efeito de determinadas idêntico para todos; meio a respeito de nós, o que não é excesso nem
circunstâncias, assim não for, ou é uma criatura degredada, ou uma falta. E esté não é único nem idêntico para todos.
criatura superior ao homem. ... Tal como já o dissemos, a natureza não (Ética a Nicâmaco)
faz nada em vão. Ora, o homem é o único entre todos os animais a ser
dotado de razão. Por outro lado, as inflexões da voz são sinais de
sentimentos agradáveis ou desagradáveis, e é por isso que também as 14. Impacto do realismo aristotélico
encontramos em outros animais; porque a sua natureza torna-os, pelo
menos, capazes de sentir o prazer e a dor e de o manifestarem uns aos Ê difícil, senão impossível, exagerar na importância do impacto do
outros; mas a linguagem tem por fim dar a conhecer o que é útil ou pensamento aristotélico para a formação da civilização cristã ocidental.
nocivo e, conseqüentemente, também aquilo que é justo ou injusto. Com De certa forma esquecido na Grécia de seus contemporâneos, banido
efeito, aquilo que distingue o homem dos outros animais é o fato de ele de Atenas depois da morte de Alexandre, o Grande, Aristóteles ressurge
em toda a sua importância na Europa medieval do século XII. Os PALAVRAS-CHAVE
europeus travam contata com Aristóteles através dos árabes invasores.
Surge, em primeiro lugar, como terrível ameaça à concepção cristã do Substância
mundo, uma vez que, embora admita a existência de um Deus do qual Termo que recebeu diferentes significados, não só nos diversos perío-
depende a ordem universal, nega a criação e a possibilidade da religião, dos da história da filosofia, mas nos próprios textos aristotélicos. Tra-
uma vez que é impossível ao homem qualquer contato com a divinda- duz o termo grego ousia, que significava o bem que pertence a alguém,
de. Através do trabalho de "reinterpretação" empreendido por Santo a propriedade de alguém. No vocabulário aristotélico, significa em
Tomás de Aquino, o pensamento aristotélico acaba por fornecer à primeiro lugar, o indivíduo concreto, o ente ou coisa — aquilo que é
dogmática cristã a estrutura racional de que ela necessitava para se "um e separado". Em segundo lugar, por redução progressiva, a subs-
impor ao ambiente crescentemente laico que se desenvolve no interior tância passa a ser identificada à forma, (eidos ou mor fé) que permite
das universidades. enunciar "isto que a coisa é". A substância também significa o gênero
Do ponto de vista estritamente filosófico, é difícil encontrar qual- ou espécie a que pertence u m indivíduo concreto. Nesse caso, Aristó-
quer pensamento posterior que, de u m a forma ou de outra, não se teles a chama de substância segunda.
remeta ao pensamento .aristotélico, quer adotando-o como pressupos-
to e fundamento, quer discutindo-o. Pode-se dizer que até Hegel, no Categoria
século XIX, a filosofia se desenvolve dentro dos parâmetros e do modelo Na linguagem popular, é um termo que deriva de katá agorein — sobre
de pensamento traçado por Aristóteles em sm Metafísica. a ágora —, a declaração que se faz acerca de alguém no debate público.
A filosofia atual também não desconhece a importância funda- Em sentido filosófico, tudo aquilo que pode ser declarado ou atribuído
mental desse pensador, embora pretenda ser como que uma superação a um sujeito. Aristóteles, em diversas passagens, enuncia uma lista de
desse mesmo modelo. Vemos assim ressurgir na atualidade o interesse "categorias" sem ter tido aparentemente a intenção de esgotar o assun-
pelo estudo do aristotelismo como forma de acompanhar as discussões to. Aparecem mais freqüentemente como categorias o "onde", o "quan-
da própria filosofia que pretende a sua superação. do", a qualidade, a quantidade, a ação e a paixão, a relação e o modo.
Fora do ponto de vista filosófico, a ciência, durante séculos, foi
também tributária do pensamento aristotélico, que lhe forneceu o Sabedoria
modelo (exemplo: o sistema de classificação das espécies animais e Palavra utilizada por Aristóteles para se referir à ciência que depois
vegetais etc.) O nascimento da ciência moderna acontece exatamente receberia o nome de "metafísica". Indica a ciência suprema e anterior
pelo rompimento com a ciência aristotéhca efetuado por Galileu, nas a todas as demais por ter como objeto o fundamento último de todas
discussões sobre o geocentrismo e o heliocentrismo. A lógica de Aris- as coisas.
tóteles constitui também um poderoso sistema a serviço da construção
metafísica, e é o ponto de partida obrigatório em qualquer estudo de Essência
lógica. Palavra que traduz a expressão aristotélica que indica "isto que a coisa
Por sua gigantesca influência no domínio da ciência, da teologia, é". Aquilo que constitui um ser como sendo tal ser e não outro. Aquilo
da estética como da política, a filosofia de Aristóteles o coloca como, que, portanto, identifica u m ser e deve.ser o objeto visado pela defini-
senão o maior, u m entre os maiores pensadores da humanidade, de ção. A essência é determinada pela forma.
quem a cultura ^cidental é uma grande tributária.
Estudar Aristóteles é assim um debruçar-se sobre as próprias raízes Forma
culturais e filosóficas de nosso modo de pensar e do m u n d o ocidental Traduz os termos gregos morfé e eidos, este último indicando mais
e cristão. precisamente a face — aquilo que n u m ser se manifesta como lhe
pertencendo essencialmente. O elemento determinante que permite à Silogismo
matéria-prima ser "isto" ou aquilo. Junto com a matéria, constitui um Forma mais perfeita de raciocínio que, partindo de uma proposição já
dos princípios necessários à inteligibilidade do ser concreto, que é demonstrada como verdadeira (premissa), conclui pela veracidade de
sempre u m composto de forma e matéria. A forma do homem é a sua uma outra proposição — a conclusão.
alma.
Matéria
^QtTESTÕES
Traduz o termo grego 'hylé, que na linguagem popular indicava a
floresta ou bosque de onde o construtor naval retirava a madeira de / l.J^o mundo de hoje, dominado por uma cultura massificada e pela
seu barco. Daí o sentido de "material apropriado para" — o elemento V — / difusão cada vez maior dos meios de comunicação de massa, ainda
que permite à forma concretizar-se n u m composto. Pode ser entendida haveria lugar para esse "espanto" {pathos) de que nos fala Aristó-
como matéria "prima", que não tem em si nenhuma determinação e teles e que é considerado por ele como origem do filosofar?
aparece como material apropriado para não importa que forma, e 2. Tente estabelecer as relações entre a questão do espanto (pat/105) e
matéria segunda — matéria que já recebeu um determinado número a conhecida colocação da professoria Marilena Chauí sobre a so-
de características que a predispõem a receber determinações mais ciedade atual, que se preocupa em "dar a conhecer para evitar
específicas (exemplo: o mármore com relação à estátua). pensar".
3. Seria possível ou pertinente hoje manter a distinção entre a opinião
Analogia
(doxa) e a ciência {episteme)! Em que termos ela se colocaria?
Em mais de uma passagem, Aristóteles nos adverte que a palavra ser 4. Quais as alterações mais visíveis, para você, no sentido do termo
pode ser tomada em vários sentidos, sem que possa ser considerada substância desde o m o d o como é definido por Aristóteles até o
como um termo puramente equívoco, pois os diversos sentidos em que modo como é compreendido hoje pelo senso comum?
pode ser tomada sempre guardam referência a um sentido fundamen- 5. Você alguma vez já refletiu sobre a importância e/ou necessidade
tal e comum, o sentido em que ser significa substância. de separar, numa questão, os aspectos meramente acidentais da-
quilo que lhe pertence substancialmente? No plano do conheci-
Necessário
mento? No plano da vida prática? As ciências atuais continuam
Significa em Aristóteles aquilo que não pode não ser como é. OpÕe-se com essa distinção entre atributos acidentais e atributos essenciais?
a contingente — aquilo que é assim, mas poderia ser de outro modo. Em que sentido?
Ato Puro 6. Aristóteles pressupõe a existência de uma ordem "ontológica" fun-
Expressão que traduz o termo grego enérgeia. Usado para indicar o Ser dada sobre a divindade e que rege todos os seres. Essa ordem
perfeito, pura atividade de pensamento. Deus, Do ato puro deve neces- permanece imutável e eterna apesar de todas as mudanças e mo-
sariamente estar ausente tudo aquilo que indica imperfeição ou carên- vimentos que aparentemente alteram o real. Que conseqüências
cia. Por isso, não se pode conceber em Deus nem o acidente, nem a você vê derivarem desse m o d o de pensar? Podemos considerar que
matéria, nem a potência. essa perspectiva "metafísica" continua válida no m u n d o atual? Por
quê?
Natureza
Em grego physis, significa em Aristóteles o princípio imanente de um
agir constante. Pode ser identificado com a essência ou a forma, segun-
do diversos textos.

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