Está en la página 1de 106

CADERNO DE ATENÇÃO

INTEGRAL À SAÚDE DA
CRIANÇA NO ÂMBITO
DA FISIOTERAPIA
CADERNO DE ATENÇÃO
INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA
NO ÂMBITO DA FISIOTERAPIA
Organizadores:
Cinthia Rodrigues de Vasconcelos Danielly Lais Pereira Lima
Luana Padilha da Rocha Fabiana de Oliveira Silva Sousa
Ana Carla Gomes Botelho Jessica Brito Noronha
Anna Catarina Soares dos Santos Melo Juliana Baptista Teixeira
Antonietta Claudia Barbosa da Fonseca Carneiro Karen Maciel Sobreira Soares
Bruna Maria Limeira Rodrigues Ortiz Karla Monica Ferraz Lambertz
Carine Carolina Wiesiolek Lorena Albuquerque de Melo
Claudia Fonsêca de Lima Maria Perfecta Duran Porto Dantas
Cristiana Maria Macedo de Brito Renalli Manuella Rodrigues Alves
Cyda Maria Albuquerque Reinaux Washington José dos Santos

Apoio:

1ª Edição
Porto Alegre/RS 2018
Rede UNIDA
Coordenador Nacional da Rede UNIDA
Júlio César Schweickardt

Coordenação Editorial
Alcindo Antônio Ferla

Conselho Editorial
Adriane Pires Batiston - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil
Alcindo Antônio Ferla - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Àngel Martínez-Hernáez - Universitat Rovira i Virgili, Espanha
Angelo Steffani - Universidade de Bolonha, Itália
Ardigó Martino - Universidade de Bolonha, Itália
Berta Paz Lorido - Universitat de lesIlles Balears, Espanha
Celia Beatriz Iriart - Universidade do Novo México, Estados Unidos da América
Denise Bueno - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Dora Lucia Leidens Correa de Oliveira - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Emerson Elias Merhy - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Francisca Valda Silva de Oliveira - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
Izabella Barison Matos - Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Hêider Aurélio Pinto - Associação Brasileira daRede UNIDA, Brasil
João Henrique Lara do Amaral - Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Julio César Schweickardt - Fundação Oswaldo Cruz/Amazonas, Brasil
Laura Camargo Macruz Feuerwerker - Universidade de São Paulo, Brasil
Laura Serrant-Green - University of Wolverhampton, Inglaterra
Leonardo Federico - Universidade de Lanus, Argentina
Lisiane Böer Possa - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Liliana Santos - Universidade Federal da Bahia, Brasil
Luciano Gomes - Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Mara Lisiane dos Santos - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil
Márcia Regina Cardoso Torres - Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Brasil
Marco Akerman - Universidade de São Paulo, Brasil
Maria Luiza Jaeger - Associação Brasileira da Rede UNIDA, Brasil
Maria Rocineide Ferreira da Silva - Universidade Estadual do Ceará, Brasil
Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira - Universidade Federal do Pará, Brasil
Renan Albuquerque Rodrigues - Universidade Federal do Amazonas/Parintins, Brasil
Ricardo Burg Ceccim - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Rodrigo Tobias de Sousa Lima - Fundação Oswaldo Cruz/Amazonas, Brasil
Rossana Staevie Baduy - Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Simone Edi Chaves - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Sueli Goi Barrios - Ministério da Saúde - Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria/RS, Brasil
Túlio Batista Franco - Universidade Federal Fluminense, Brasil
Vanderléia Laodete Pulga - Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Vera Lucia Kodjaoglanian - Fundação Oswaldo Cruz/Pantanal, Brasil
Vera Rocha - Associação Brasileira daRede UNIDA, Brasil

Comissão Executiva Editorial Diagramação Revisão


Gabriel Calazans Baptista MID Comunicação - (81) 3423.0575 Cinthia Rodrigues de Vasconcelos
Letícia Stanczyk Arte da Capa Luana Padilha da Rocha
Projeto gráfica Capa e Miolo MID Comunicação - (81) 3423.0575 Carlos Alberto Lopes
Editora Rede UNIDA Marcelo Dourado Costa

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO-CIP

C122 Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da fisioterapia


[recurso eletrônico] / Organizadores: Cinthia Rodrigues de Vasconcelos ... [et al.] ; apoio
ABENFISIO. - 1.ed. - Porto Alegre: Rede UNIDA, 2018. 99 p. : il.

ISBN: 978-85-66659-95-5
DOI: 10.18310/66659955

1. Saúde da criança. 2. Fisioterapia. 3. Atenção integral à saúde. 4.


Fisioterapia pediátrica. 5. Assistência fisioterapêutica - Criança. I.
Vasconcelos, Cinthia Rodrigues de.
CDU: 615.8
NLM: WB460
Bibliotecária Responsável: Jacira Gil Bernardes - CRB 10/463

Copyright © 2017 Daniel Canavese, Elaine Oliveira Soares, Fernanda Bairros, Maurício Polidoro, Rosa Maris Rosado
Todos os direitos desta edição reservados à Associação Brasileira Rede UNIDA
Rua São Manoel, nº 498 - CEP 90620-110, Porto Alegre – RS Fone: (51) 3391-1252

www.redeunida.org.br
Expediente
COORDENAÇÃO TÉCNICA GERAL COLABORADORES
Cinthia Rodrigues de Vasconcelos Ana Karolina Pontes de Lima
Luana Padilha da Rocha Ana Maria Correia dos Santos
Ana Paula Guimarães de Araújo
ORGANIZADORES Ariádne Dias Maux Gonçalves
Ana Carla Gomes Botelho Cláudia Thais Pereira Pinto
Anna Catarina Soares dos Santos Melo Débora Steckert
Antonietta Claudia Barbosa da Fonseca Etiene Oliveira da Silva Fittipaldi
Carneiro Flávia Lopes Duran
Bruna Maria Limeira Rodrigues Ortiz Kássia Debonny Rodrigues
Carine Carolina Wiesiolek Labibe Mara Pinel
Cinthia Rodrigues de Vasconcelos Laíla Pereira Gomes da Silva
Claudia Fonsêca de Lima Lívia Barboza de Andrade
Cristiana Maria Macedo de Brito Milena Guimarães Monteiro
Cyda Maria Albuquerque Reinaux Mirella Casimiro Chaves Brito
Danielly Lais Pereira Lima Plínio Luna de Albuquerque
Fabiana de Oliveira Silva Sousa Raysa Mayara Araújo da Cunha
Jessica Brito Noronha Samara de Souza Barros
Juliana Baptista Teixeira Saulo Albuquerque Gonçalves Pinheiro
Karen Maciel Sobreira Soares
Karla Monica Ferraz Lambertz REVISÃO JURÍDICA
Lorena Albuquerque de Melo Carlos Alberto Lopes
Luana Padilha da Rocha Marcelo Dourado Costa
Maria Perfecta Duran Porto Dantas
Renalli Manuella Rodrigues Alves DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL
Washington José dos Santos MID Comunicação - (81) 3423.0575

FIGURA 1 - FISIOTERAPEUTAS COLABORADORES NA CONSTRUÇÃO DO CADERNO DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA, NO ÂMBITO DA FISIOTERAPIA
Dedicatória
Nesses 18 meses de existência do GT, uma motivação principal reuniu fisioterapeutas de
diferentes áreas: buscar formas de vencer os desafios postos à atenção à saúde da criança,
tendo como mote o evento da SCZV. Muitas foram as iniciativas de construções coletivas para
fortalecer o cuidado a esse segmento populacional e este caderno foi uma delas.
O que está posto aqui nesse material é fruto de um trabalho conjunto de integrantes do GT
e da colaboração de diversos profissionais que dedicaram seu tempo para trazer o acumulo de
conhecimento teórico-práticos que pudessem auxiliar na qualificação do trabalho desenvolvido
junto às crianças que necessitam de cuidado integral, continuo e resolutivo.
Esse Caderno deve ser visto não como uma receita a ser seguida ou um padrão a ser adotado,
mas como uma oferta que pode apoiar trabalhadores e gestores na construção partilhada
e cotidiana dos modos de fazer saúde na assistência e no processo de trabalho. Nós que
compomos o GT entendemos que o trabalho não termina aqui. Esperamos inclusive, que esse
Caderno provoque você leitor, a refletir sobre o que está descrito, a analisar suas experiências
concretas, levando à problematização do trabalho real e a disparar diferentes estratégias que
possam contribuir para o fortalecimento do acompanhamento infantil, a fim de melhorar a
produção e a gestão do cuidado integral de qualidade à saúde da criança.

INTEGRANTES DO GRUPO DE TRABALHO DO CREFITO-1 DA SÍNDROME


CONGÊNITA DO ZIKA VÍRUS DA FISIOTERAPIA

Ana Carla Gomes Botelho (CREFITO nº 101854-F) Fabiana de Oliveira Silva Sousa (CREFITO nº104701-F)
Anna Catarina S. dos Santos Melo (CREFITO nº 19716-F) Karen Maciel Sobreira Soares (CREFITO nº 64239-F)
Antonietta Claudia Barbosa da Fonseca Carneiro Karla Monica Ferraz Lambertz (CREFITO nº 4103-F)
(CREFITO nº 27064-F) Juliana Baptista Teixeira (CREFITO nº 110622-F)
Carine Carolina Wiesiolek (CREFITO nº 75780-F) Lorena Albuquerque de Melo (CREFITO nº 108755-F)
Cinthia Rodrigues de Vasconcelos (CREFITO nº 18263-F) Luana Padilha da Rocha (CREFITO nº 142918-F)
Claudia Fonsêca de Lima (CREFITO nº 9324-F) Maria Eduarda Guerra da S. Cabral (CREFITO nº 243432-F)
Cristiana Maria Macedo de Brito (CREFITO nº 23168-F) Maria Perfecta Duran Porto Dantas (CREFITO nº 11545-F)
Danielly Lais Pereira Lima (CREFITO nº 222094-F) Washington José dos Santos (CREFITO nº 114809-F)
Palavra do Presidente

A principal função de um Conselho Regional dentro da sua atuação profissional é garantir


à população uma saúde de qualidade. Foi com esta missão e tendo em vista a epidemia da
Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV) que atingiu os quatro estados da nossa circunscrição
(Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas), com o maior número de casos registrados
em Pernambuco, que criamos os Grupos de Trabalho para Crianças com a Síndrome Congênita
do Zika Vírus. Nossa intervenção era fundamental diante desse cenário e a nossa preocupação
inicial era capacitar os diversos profissionais da nossa circunscrição para que o atendimento aos
pacientes com SCZV e suas famílias fosse realizado de forma integral e mais plena possível.

Nossa proposta é promover a inclusão social e trabalhar a funcionalidade humana para


minimizar as perdas desses indivíduos. Nesse contexto, este caderno tinha como primeiro objetivo
a formação dos profissionais sob os pontos de vista técnico e científico, visando sua atuação
desde o diagnóstico até a fase final do tratamento.

A medida que este caderno foi sendo construído, começamos a perceber outros pontos
que também precisavam ser atendidos. Dentre eles, dois se destacavam: na questão da
interdisciplinaridade, observamos situações em que precisamos e recomendamos o envolvimento
de outros profissionais de saúde, a fim de que essa funcionalidade possa ser trabalhada de forma
mais completa; no segundo ponto, observamos que, dentro da própria fisioterapia, tínhamos que
atuar com uma abordagem integral, não só quanto à questão neurofuncional, mas também quanto
à questão cardiorrespiratória e à questão traumato-ortopédica. Ou seja, abordar a fisioterapia de
forma global.

Sendo assim, o CREFITO-1 almeja, através deste caderno, deixar a sua contribuição junto aos
fisioterapeutas e demais profissionais de saúde para que a atenção a essas crianças seja a melhor
possível. Para que se cumpra o que dita a Constituição Brasileira: a saúde é um direito de todos e
um dever do Estado. Nós do CREFITO-1 estamos fazendo a nossa parte para garantir à sociedade
uma fisioterapia com excelência.

Silano Barros
Presidente do CREFITO-1
Sumário
Prefácio 11
1. Apresentação 13
2. Introdução 23
3. Trabalhando com domínios e competências 29
4. Organização por eixos 31
4.1 Domínio Assistência à Saúde da Criança 31
4.1.1 Eixos de Ação para Competência Organização da Assistência
à Saúde da Criança 31
4.1.1.1 Eixo Avaliação 31
4.1.1.2 Eixo Intervenção 36
4.1.1.3 Eixo Acompanhamento 42
4.1.1.4 Eixo Intervenção no Contexto Domiciliar 45
4.1.1.5 Eixo Intervenção no Contexto Educacional e Desportos 48
4.2 Domínio Processo de Trabalho 52
4.2.1 Eixos de Ação para Competência Organização do Processo de
Trabalho 52
4.2.1.1 Eixo Trabalho Uniprofissional 52
4.2.1.2 Eixo Trabalho Interprofissional 54
4.2.2 Eixos de Ação para Competência Articulação em Rede 58
4.2.2.1 Eixos Conhecimento da Rede e Comunicação em Rede 58
4.2.3 Eixos de Ação para a Competência Intersetorial 60
4.2.3.1 Eixo Articulação com outros setores 60
4.2.4 Eixos de Ação para a Competência Infraestrutura e Equipamentos 61
4.2.4.1 Eixo Instalação Física 61
4.2.4.2 Eixo Materiais, Equipamentos e Insumos 63
4.2.4.3 Eixo Recursos Humanos 64
5. Gestores: como oferecer às crianças uma assistência fisioterapêutica de
qualidade? 67
6. Glossário 69
7. Referências 81
8. Referencial Teórico: leitura recomendada 86
1. Anexo I - ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA COM DISFUNÇÕES
NEUROLÓGICAS: principais complicações respiratórias 89
Prefácio
“O projeto que envolveu a construção “Informação. Este é um dos maiores
do Caderno de Atenção Integral à Saúde da benefícios que este Caderno trará para os
Criança, por meio das ações do CREFITO-1 profissionais e os familiares atendidos por
e demais parceiros, coloca as claras um dos fisioterapeutas, tirando dúvidas, direcionando
principais entraves vivenciado no âmbito e padronizando o cuidado com nossas crianças.
do SUS, como seja a garantia de oferta de Atuando e vivenciando causa de pessoas com
serviços de saúde em quantidade, qualidade e deficiência, acredito que este manual vai
localização adequadas, em particular quando se converter em uma verdadeira mudança
tratamos dos serviços de reabilitação. Esta de paradigmas na atenção dispensada às
situação ganhou novos tons de gravidade famílias atendidas por fisioterapeutas, estes
com o advento da tríplice epidemia causada profissionais tão importantes, que facilitam a
pelas arboviroses: Dengue, Zika e Chikugunya, jornada de vida dos pacientes e suas famílias.
que vem deixando sequelas indeléveis em Um grande e importante passo está sendo
mulheres e crianças, principalmente quando dado neste momento, pois esta ferramenta
a situação vincula-se especialmente ao nasce da escuta das necessidades das famílias
Zika Vírus, pelo grau de comprometimento, e do encaminhamento destas demandas. A
e cujas repercussões podem trazer graves AMAR – Aliança de Mães e Famílias Raras tem
alterações no desenvolvimento infantil e orgulho de apoiar e participar deste tipo de
consequentemente na qualidade de vida da iniciativa, que contribui significativamente
criança e de seus familiares. com a promoção da cidadania para um recorte
Sendo assim, a iniciativa adotada traz social tão estigmatizado: as pessoas com
um conjunto de estratégias que ampliam a patologias raras”.
forma de atuar da fisioterapia e da terapia
ocupacional, tendo em vista a busca da Lilian Pollyana Dias Ferreira
Fundadora e Presidente da AMAR- Aliança de Mães e Famílias
ação multi e interprofissional; o exercício Raras
de práticas intersetoriais; a mobilização de
inúmeros atores para a construção de um
conjunto de intervenções; o investimento na "O Caderno de Atenção Integral à Saúde
educação permanente de docentes, discentes da Criança é um importante instrumento
e profissionais; e acima de tudo o exercício do que extrapola a assistência em saúde e deve
estímulo da prática profissional em prol de ser referência na formação em fisioterapia
ações que garantam os direitos da cidadania já pediátrica, na perspectiva do Sistema Único
estabelecidos na Constituição Federal a quem de Saúde, de forma intersetorial. Reforçamos
mais precisa. a construção coletiva que reflete uma visão
Por tudo isso, esse projeto é acima de tudo ampliada de intervenção, que desejamos ser
um ato político em Defesa da Vida”. replicado nas instituições de ensino superior
do Brasil".
André Bonifácio
Fisioterapeuta Tarcisio Fulgêncio Alves da Silva
Professor Adjunto da Universidade Federal da Paraíba do (Coordenador Nacional da Associação Brasileira de Ensino
Departamento de Promoção da Saúde em Fisioterapia - ABENFISIO)
1. Apresentação
Um dos principais entraves do SUS, ao cuidado das pessoas com deficiência, os
atualmente, é garantir a oferta de serviços de serviços de reabilitação foram delineados no
saúde em quantidade, qualidade e localização país com forte foco em centros de excelência e
adequadas para garantir a assistência integral à concentração em capitais.
população que mais precisa. Na atual situação A conformação de uma pequena e
de saúde que acomete o Brasil, e de maneira concentrada disponibilidade de serviços, aliada
peculiar, o estado de Pernambuco, chama a a uma frágil articulação entre a Atenção Básica
atenção o drama das pessoas que têm adoecido e os serviços de referência em reabilitação, tem
como vítimas de uma tríplice epidemia causada produzido problemas com relação à demanda
pelas arboviroses: Dengue, Zika e Chikugunya, reprimida e gerado extensas filas de espera,
que além de todo sofrimento que causam que, em se tratando de reabilitação, pode
na fase aguda, tem deixado sequelas que representar prejuízos irreparáveis no tocante à
podem cronificar e, a médio e longo prazos, recuperação da função perdida.
comprometer a funcionalidade de boa parte Ante esse cenário antigo de tantas
de suas vítimas. necessidades, que hoje se torna mais visível
Dentre os grupos mais vulneráveis dessas e cruel com o drama das famílias das crianças
epidemias, estão as mulheres em período atingidas pela Síndrome Congênita do Zika
gestacional, que têm sido assombradas com Vírus, que apresentam microcefalia além de
o medo de pegar essas viroses (em especial a outras alterações neurológicas e ortopédicas,
causada pelo Zika vírus) e verem seus filhos é que o Conselho Federal de Fisioterapia e
acometidos de maneira definitiva, por uma Terapia Ocupacional (COFFITO), em parceria
síndrome congênita, cujas repercussões podem com a Associação Brasileira de Fisioterapia
trazer graves alterações no desenvolvimento Neurofuncional (ABRAFIN) e com a Associação
infantil, comprometendo a qualidade de vida Brasileira para o Desenvolvimento e Divulgação
desses novos cidadãos e seus familiares. do Conceito Neuroevolutivo Bobath
Esse drama, ora vivido por tantas famílias (ABRADIMENE), confeccionam a Cartilha -
pernambucanas, requer uma urgente Diagnóstico: Microcefalia. E agora? com o
mobilização e um conjunto de intervenções, objetivo de abordar as consequências dessa
tanto a nível governamental quanto da enfermidade para os pais e para as crianças
sociedade civil, que garantam os direitos de (COFFITO, 2016).
cidadania já estabelecidos na Constituição O Conselho Regional de Fisioterapia e
Federal. Dentre esses, o acesso à saúde e Terapia Ocupacional da 1ª Região (CREFITO-1),
educação, talvez sejam os mais preciosos e, por sua vez, instituiu um Grupo de Trabalho
ao mesmo tempo, os mais negligenciados ao (GT) em Fisioterapia e em Terapia Ocupacional,
longo da nossa história de luta pelos direitos na Síndrome Congênita por Zika Vírus. No mês
humanos. de Março de 2016, deu-se início às atividades,
No caso das pessoas com deficiência, por ambas as profissões e, em 10 de maio
é notório o consenso de que o acesso à de 2016, através da PORTARIA Nº 075/2016,
reabilitação é uma das maiores dificuldades foram criados formalmente os Grupos de
na garantia da integralidade do cuidado. Trabalho (GT), nomeando seus integrantes,
Considerada uma dívida histórica, pela formado por profissionais com notório saber
ausência de políticas públicas relacionadas e experiência na saúde pública e, em especial,

13
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

em saúde da criança, para implementar ações perspectiva de alcance de tamanho objetivo,


que contribuam na melhoria da qualidade propôs-se a elaboração de um “Caderno de
da assistência fisioterapêutica e terapêutica Atenção Integral à Saúde da Criança, no âmbito
ocupacional ofertada na rede estadual de da Fisioterapia e Terapia Ocupacional”, nas
saúde, em parceria com seus municípios. especificidades de cada profissão.
Ressalta-se que esses GT, de ambas as Nesse sentido, os membros do GT
profissões, foram criados com o objetivo de pensaram em discutir com outros profissionais
garantir à Sociedade Pernambucana, em Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais
especial às famílias das crianças diagnosticadas do Estado de Pernambuco, sobre as suas
com essa síndrome, avaliação e atendimento experiências na atenção à saúde da criança,
de excelência, promovendo ações políticas, a partir do entendimento de que a formação
regulamentadoras, educativas e fiscalizadoras profissional continuada e a prática vivenciada
pautadas na Ética, Dignidade, Compromisso, por eles, em seus diversos ambientes de
Respeito, Responsabilidade e Inovação. Dentre trabalho, poderiam contribuir na construção
as responsabilidades assumidas pelos GT, na do referido material.

FIGURA 2 - I ENCONTRO DE PROFISSIONAIS QUE ASSISTEM CRIANÇAS E ADOLESCENTES, DO ESTADO DE PERNAMBUCO: oficina com profissionais
inseridos nas diversas esferas da assistência à saúde da criança para construção do Caderno de Atenção Integral à Saúde da criança, no âmbito
da Fisioterapia.

14
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

FIGURA 3 - Imagem da web

Com o objetivo de conhecer melhor sendo a maioria do sexo feminino (80%). Com
esses profissionais, suas potencialidades na relação ao tempo de formação profissional,
produção do cuidado e suas necessidades a maior parte dos fisioterapeutas tinha de 6
de aprimoramento, visando à melhoria da a 15 anos de formado (45,92%), seguido dos
qualidade da assistência integral à saúde que tinham de 1 a 5 anos (40%). A maioria
dessa população, bem como mapear os foi graduada no Estado de Pernambuco, seja
possíveis participantes desses encontros de em universidades ou faculdades públicas e
especialistas, os membros do GT elaboraram privadas (65,89%), seguido dos Estados da
um questionário intitulado ‘Conhecendo Paraíba (13,32%), Alagoas (10,36%), Rio Grande
o perfil do Fisioterapeuta e do Terapeuta do Norte (6,66%), Bahia (2,22%), Ceará (1,48%)
Ocupacional que atuam na saúde da criança e e Rio Negro/Argentina (0,74%).
do adolescente nos diferentes níveis da Rede Ainda nos Dados 1, observa-se que 8,88% dos
de Atenção à Saúde do Estado de Pernambuco’, Fisioterapeutas tem uma segunda graduação,
o qual foi enviado para o e-mail desses como Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e
profissionais. Responderam ao questionário Educação Física. Outro aspecto relevante é que,
178 profissionais, sendo 135 fisioterapeutas e como 68% dos participantes afirmaram utilizar
43 terapeutas ocupacionais. muito frequentemente a internet, o GT optou
Em relação aos Fisioterapeutas em adotar essa ferramenta como a forma de
participantes, observa-se nos Dados 1, que a comunicação com esses profissionais.
faixa etária, variou de 23 a 59 anos de idade,

15
DADOS 01
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Com relação à Educação Continuada e de Pediatria e Saúde Coletiva foram as mais


Permanente desses profissionais, observa-se citadas (14,07% cada); 23,70% dos profissionais
no Dados 2 o seguinte: 79% dos profissionais concluíram o mestrado, sendo a maioria nas
afirmaram ter feito curso de aperfeiçoamento, áreas de Saúde da Criança e Adolescente
sendo 22,96% na área de Fisioterapia (18,75%) e Saúde Materno Infantil (12,5%); e
Pediátrica/Neurologia Infantil; 60,74% tem 5,18% concluíram o doutorado, destes apenas
curso de especialização, sendo que as áreas 01 foi na área Materno infantil.

DADOS 02

17
DADOS 03

18
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

No que diz respeito ao vínculo empregatício,


a maior parte dos fisioterapeutas (66,66%)
trabalha em instituições privadas, enquanto
os demais trabalham em instituições públicas
(45,18%) ou não trabalham (5,18%), seja na
assistência (rede pública e privada, incluindo a
atenção básica) como na docência, em cursos
de Fisioterapia no Estado de Pernambuco.
A maioria dos profissionais que está
trabalhando informou que “muito
frequentemente” (34,07%) e “frequentemente”
(24,44%) presta assistência a crianças e/
ou adolescentes em diversas áreas, sendo a
Fisioterapia Pediátrica (49,62%) e a Neurologia
Infantil (48,14%) as mais citadas. Quando
perguntados se sentiam capacitados para atuar
com crianças e adolescentes, 12,59% referiram
se sentir “muito capacitado” e 46,66% sentem-
FIGURA 4 - Imagem da web se “capacitado” (Dados 04 e Dados 05).

DADOS 04

DADOS 04

19
DADOS 05

Nesta enquete, ressalta-se que 38,51% (RAS) (56,52%) e a dificuldade da família em


dos fisioterapeutas participantes afirmaram levar a criança ao atendimento (52,17%),
atender ou já ter atendido crianças conforme observado nos Dados 6.
diagnosticadas com a SCZV, e quando Para esses profissionais, foi questionado
perguntados se tiveram dificuldade no também se eles gostariam de participar de
manejo a essas crianças, 48% relataram capacitações para esse fim e que sugerissem
que sim, apesar de terem relatado se o que gostariam que fosse abordado na
sentir capacitados ou muito capacitados capacitação. Foi observado que quase
no atendimento à crianças/adolescentes. todos os profissionais (93,33%) manifestou
Como principais dificuldades enfrentadas, desejo de participar das capacitações,
os fisioterapeutas relataram a falta de incluindo os profissionais que se sentiam
organização da rede de atenção à saúde capacitados ou muito capacitados para a

20
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

assistência. Ressalta-se que abordagens mais apontados como de interesse dessa


terapêuticas, métodos de avaliação e população para uma Educação Permanente
abordagem interdisciplinar foram os temas (Dados 06).

DADOS 06

21
DADOS 07

A partir desta enquete, foi possível conhecer a participar de dois eventos intitulados
o perfil de parte dos fisioterapeutas que, no “I e II Encontro de profissionais que assistem
primeiro semestre de 2016, período de maior crianças e adolescentes, do Estado de
prevalência da SCZV, estavam prestando Pernambuco”, objetivando construir
assistência na área pediátrica no Estado de coletivamente o “Caderno de Atenção Integral
Pernambuco. Logo, a partir desses resultados, à Saúde da Criança, no âmbito da Fisioterapia”,
os profissionais especializados na área infanto- com vistas a propor uma atenção de qualidade,
juvenil, atuantes tanto na docência como nos a partir da realidade dos serviços e dos
diversos níveis de assistência, foram convidados territórios por eles ocupados.

22
2. Introdução
A assistência fisioterapêutica envolve todo criança nos ambientes sociais (EFFGEN, 2007;
o processo de cuidado, desde a inserção LIMA, LIMA e BRITO, 2014).
no campo de atuação profissional até a Partindo do entendimento de que, avaliar e
intervenção propriamente dita. Vale ressaltar, estimular o desenvolvimento infantil faz parte
que a inserção no campo de atuação, engloba das atribuições do fisioterapeuta pediátrico,
reconhecimento do local, levantamento de este profissional precisa ter o entendimento
informações, análise e estudo de indicadores, que o desenvolvimento de uma criança reflete
condições de saúde, educação, saneamento suas condições de saúde e sofre influências
básico, interação entre os pares e relações das relações familiares, da qualidade da
políticas, sociais, culturais e espirituais assistência à saúde e da qualidade da
estabelecidas. A intervenção, por sua vez, educação que lhe são ofertadas e assim,
aborda a consulta fisioterapêutica, com uma vez que este se depara diante de uma
destaque para a anamnese, o exame físico criança que sofre agravos que comprometem
e o diagnóstico cinético funcional, além do sua saúde, a assistência fisioterapêutica de
prognóstico, e da elaboração e execução do qualidade deve ser instituída precocemente
plano de tratamento fisioterapêutico. Para e permear os diversos aspectos que atuam
tanto, o trabalho a ser desenvolvido pelo no favorecimento de um desenvolvimento
profissional fisioterapeuta exige um olhar infantil adequado (SILVA et al., 2015; DIRKS et
ampliado, incorporando ações em educação, al., 2016).
prevenção e assistência, de maneira Ao fisioterapeuta pediátrico compete
individual e coletiva, com abordagens multi e funções e atribuições constituídas por
interdisciplinares (BERTONCELLO e PIVETTA, um conjunto de ações de saúde que vão
2015). desde o planejamento, a programação e a
Nesse contexto, a Fisioterapia Pediátrica, coordenação das atividades terapêuticas
é o ramo da fisioterapia que atua tanto propostas, até a execução e a supervisão
na prevenção como no tratamento e na da aplicação de métodos e técnicas que
reabilitação dos transtornos que afetam visem à promoção, prevenção, tratamento,
o desenvolvimento infantil, incluindo as reabilitação e manutenção da saúde, seja
disfunções congênitas ou adquiridas dos no nível de atenção básica, secundária ou
vários sistemas orgânicos, que acarretam terciária e englobando o indivíduo em todos
comprometimento de estruturas e funções do os seus aspectos: físicos, emocionais, sociais
corpo, limitações na realização de atividades e culturais (DAVID et al., 2013).
cotidianas e restrições na participação da

FIGURA 5 - Imagem da web

23
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Para ofertar uma atenção de qualidade e sob o estigma da deficiência (VAN SCHAIK,
formular práticas de cuidado, que facilite o SOUZA e ROCHA, 2014).
desenvolvimento integral da criança, tornam-se A partir da integração desses conceitos, das
indispensáveis princípios como integralidade, responsabilidades do fisioterapeuta pediátrico
longitudinalidade, intersetorialidade, e das demandas que cercam o trabalho voltado
equidade, resolutividade, atuação em equipe à atenção à saúde da criança, este caderno traz
e ações coletivas para a promoção da saúde. uma proposta de atuação desse profissional,
Entretanto ainda faz-se necessário uma junto aos diversos aspectos que possivelmente
atenção especial aos pais, para que se sintam envolvem a saúde infantil e interferem no
seguros e acolhidos em suas competências desempenho e na capacidade funcional das
e limitações, de maneira que os conceitos crianças. Nesse sentido, foram elaboradas
de brincar, deficiência, independência, recomendações para uma assistência
autonomia e cuidado, sejam ressignificados, fisioterapêutica de qualidade, em crianças com
para a construção de novos projetos de vida, disfunções neuromotoras, conforme Modelo
superando aqueles estereotipados e pautados Lógico (ML) proposto neste Caderno.

FIGURA 3 – Atendimento fisioterapêutico de criança com Síndrome Congênita do Zika Vírus em Clínica Particular do Recife

O Modelo Lógico (ML) é uma ferramenta de planejadas), recursos necessários e efeitos esperados
planejamento, implantação e avaliação de um (produtos, resultados e impactos) que se pretende
projeto que possibilita a documentação, descrição alcançar com o projeto (OLIVEIRA et al., 2005;
e análise de fatores contextuais que envolvem um CAVALCANTI et al., 2013; ROMEIRO et al., 2013).
problema a ser enfrentado. Pelo ML é possível, Vide ML para Atenção integral à saúde da criança,
através de uma representação visual, sistemática no âmbito da Fisioterapia, na página seguinte, cujo
e simplificada de ações, apresentar as relações detalhamento será apresentado no capítulo 3 -
estabelecidas entre intervenções (atividades Trabalhando com domínios e competências.”

24
MODELO LÓGICO DE FISIOTERAPIA
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Neste Caderno são propostas uma série de de uma atenção integral à saúde da criança,
ações para cada eixo citado no Modelo Lógico no âmbito da fisioterapia. Essas ações serão
proposto, considerando os aspectos a serem apresentadas nos diversos quadros que serão
observados e os recursos a serem utilizados dispostos no conteúdo do Caderno, conforme
necessários para que essas ações sejam exemplo abaixo.
alcançadas, contribuindo assim para o alcance

26
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Concomitante à cada ação, o material apresenta que é uma Autarquia Federal criada pela Lei Federal
ainda as legislações que regulamentam e garantem a nº 6316, de 17 de dezembro de 1975; com objetivos
exequibilidade desuaconcretização,empoderandoos constitucionais de normatizar e exercer o controle
profissionais da Fisioterapia para discussão sobre um ético,científicoesocialdasprofissõesdeFisioterapeuta
processo de trabalho compatível com a dignificação e de Terapeuta Ocupacional. O COFFITO busca
e valorização profissional. Essas informações sempre defender os interesses corporativos das profissões,
estarãosinalizadasnointeriordosquadroscomo“VOCÊ dedicando-se em defender a inserção profissional
SABIA?” e, após os mesmos, serão fundamentadas nos diversos ambientes no mundo do trabalho, bem
a partir da ilustração vista abaixo. A principal fonte como, fomentar a boa formação técnica e humanista
das legislações apresentadas é o Conselho Federal dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais, para
de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional - COFFITO, que a sociedade possa receber serviços resolutivos e
de excelência (www.coffito.org.br).
Ao final da apresentação de todas as ações
previstas no ML para a execução de uma intervenção
VOCÊ fisioterapêutica integral à saúde da criança, este
SABIA? Caderno apresenta ainda um capítulo que fora
construído especificamente para Gestão. Nele, é
chamada a atenção para algumas ações do Domínio
Processo de Trabalho que interferem diretamente no
Domínio Assistência à Saúde da Criança. O objetivo
é embasar os Fisioterapeutas quanto às estratégias
legais para a aquisição de serviços de saúde que
atendam às necessidades para uma assistência de
qualidade às crianças. Os itens de fragilidade que serão
discutidos são os de maior prevalência segundo as
análises estatísticas do Departamento de Fiscalização
(DEFIS) do Conselho Regional de Fisioterapia e de
Terapia Ocupacional da 1ª Região, cuja área de
circunscrição engloba Alagoas, Paraíba, Pernambuco
e Rio Grande do Norte.
Por fim, com o intuito de favorecer a educação
permanente dos fisioterapeutas e, principalmente,
a uniformização dos termos a serem utilizados no
exercício profissional, este Caderno apresenta um
glossário com os principais termos e siglas que foram
identificados nas discussões dos “Encontros de
Profissionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Infanto-Juvenil, do Estado de Pernambuco”, termos
e siglas essas que, em sua maioria, divergiam em
consequência do desconhecimento dos profissionais
sobre o significado dos mesmos.

27
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA
3. Trabalhando com domínios
e competências
Observando o Modelo Lógico aqui apresentado, entre outros), incluindo ações preventivas, educativas,
constata-se que a prática fisioterapêutica foi organizada de recuperação e manutenção da saúde (GIACOMOZZI,
a partir da identificação de Dimensão, Domínios e LACERDA, 2006). Já “Processo de Trabalho” refere-se ao
Competências. Segundo a Associação Brasileira de Ensino modocomoaconteceapráticadostrabalhadoresinseridos
em Fisioterapia/ABENFISIO (2016), o termo Dimensão nocotidianodeproduçãoeconsumodosserviçosdesaúde.
corresponde a grandes eixos referentes a áreas de atuação/ Corresponde ao conjunto de metodologias e instrumentos
conhecimento, relativo aos domínios profissionais. Por sua pelos quais o profissional atua, a fim de resolver os
vez, “Domínio” apresenta-se como subaéreas de atuação/ problemas e as necessidades de saúde que norteiam seu
conhecimento que gerarão as competências profissionais. trabalho(PEDUZZI,SCHRAIBER,2008).
Já o termo “Competência” representa a capacidade Uma vez estabelecidos, para cada domínio foram
profissional de mobilizar cognitivamente diversos recursos formuladas as competências profissionais. Para o primeiro
disponíveis, de modo articulado, baseado em esquemas e foi definida a competência “Organização da Assistência”. Já
processos intuitivos para organização dos conhecimentos para o segundo, foram determinadas como competências
e elaboração de estratégias a fim de identificar, prevenir e profissionais: “organização do processo de trabalho”;
resolver problemas em situações específicas do exercício “articulação em rede”; “articulação intersetorial”; e
profissional(ABENFISIO,2016). “infraestruturaeequipamentos”.
Dentro dessas definições, o ML proposto tem como A fim de contemplar as competências propostas
Dimensãoa“AtençãoIntegralàSaúdedaCriança”.Quando para cada domínio, as ações esperadas para a
sefalaem“Atençãoàsaúde”,éimportantedestacarqueelase prática fisioterapêutica foram organizadas em eixos,
constituiapartirdeumaperspectivainterdisciplinar,coletiva compreendidos como as linhas condutoras que servirão
e participativa, na qual a intervenção sobre o processo de base para mobilização e orientação de elementos
saúde-doença resulta da interação e do protagonismo de e atividades a serem desenvolvidos pelo profissional
todos os envolvidos no processo de cuidar: trabalhadores, (ABENFISIO,2016).
gestores e usuários. Consiste, portanto, numa modalidade Nessecontexto,foramdeterminadososseguinteseixos:
ampla de compreensão que engloba tanto atividades • No Domínio “Avaliação, Intervenção,
assistenciais, quanto ações políticas, sociais e de saúde Acompanhamento, Intervenção no Contexto Domiciliar e
no campo da promoção (GIACOMOZZI, LACERDA, 2006; IntervençãonoContextoEducacionaleDesportos;
MATTA, MOROSINI, 2008). A partir desse entendimento, •NoDomínio“ProcessodeTrabalho”
essa grande dimensão no ML delimita-se em dois grandes I) Em sua competência “Organização do
domínios de atuação fisioterapêutica: “Assistência à Saúde processo de trabalho” - Trabalho Uniprofissional e Trabalho
daCriança”e“ProcessodeTrabalho”. Interprofissional;
Taisdomíniosforamdivididosparafinsdidáticos,masas II) Em sua competência “Articulação em Rede” -
ações propostas para cada um deles são interdependentes ConhecimentodaRedeeComunicaçãoemRede;
no cotidiano de atuação dos profissionais. Para fins de III)Emsuacompetência“ArticulaçãoIntersetorial”
compreensãodoML,éimportantedestacarosignificadode -Articulaçãocomoutrossetores;
cada um desses domínios, segundo a concepção adotada IV) Em sua competência “Infraestrutura e
pelos atores envolvidos na sua elaboração. Entende-se equipamentos”-InstalaçãoFísica;Materiais,equipamentos
“Assistência” como uma categoria da atenção à saúde, einsumos;eRecursosHumanos.
baseadanocontatodiretoenainteraçãodoprofissionalcom Nas seções seguintes, estão dispostas as ações para
o usuário, sua família e/ou cuidador, com vistas à resolução cada eixo, de acordo com o que o grupo que compôs os
das demandas de saúde, pelo desenvolvimento de encontros de profissionais considerou como fundamental
atividades de caráter assistencial (ambulatorial, domiciliar, paraumaatençãodequalidade,integraleresolutiva.

29
4. Organização por eixos

4.1 DOMÍNIO ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA corpo humano: neuromusculoesquelético,


4.1.1 EIXOS DE AÇÃO PARA A COMPETÊNCIA cardiorrespiratório, visual, tegumentar,
gastrointestinal, uroginecológico e proctológico.
ORGANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA Os aspectos cognitivos, comportamentais,
CRIANÇA psicossociais e demográficos são imprescindíveis,
4.1.1.1 EIXO AVALIAÇÃO devendo ser valorizados no primeiro contato
terapeuta/paciente.
Os primeiros anos de vida da criança são Como recursos a serem observados, as equipes
marcados pela grande plasticidade do tecido de saúde devem buscar instrumentos que norteiem
nervoso, de modo que seu crescimento e a vigilância do desenvolvimento da criança nos
amadurecimento encontram-se sujeitos a primeiros anos de vida, seja nas informações
diferentes agravos, o que justifica a importância do oriundas da percepção dos pais e/ou cuidadores,
acompanhamento durante este período (BRASIL, ou de instrumentos já instituídos a exemplo do
2013). Essa grande plasticidade também estende- Diário de Rotina, Caderneta da Criança, Prontuários
se ao tecido muscular e ósseo. Alguns fatores pré- e Exames Complementares. Como instrumentos
natais, perinatais e pós-natais atuam sobre os multiprofissionais, com olhar integral para o
diversos sistemas e podem ser identificados como desenvolvimento da criança nos primeiros anos de
prejudiciais para um desenvolvimento infantil vida, disponibiliza-se ainda a Atenção Integrada às
adequado, bem como a influência de fatores Doenças Prevalentes da Infância-AIDPI, DENVER II,
sociais e ambientais, que geram a necessidade de Ages & Stages Questionnaires (ASQ-3), Classificação
uma investigação e acompanhamento da criança a Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
curto, médio e longo prazo. Saúde (CIF) (CIF, 2015) entre outros.
A detecção precoce de alterações no Para acompanhamento e intervenção nas
desenvolvimento infantil é um desafio constante crianças com Síndrome Congênita do Zika vírus
para os profissionais de saúde envolvidos o Ministério da Saúde lançou em 2016 o Plano
na reabilitação pediátrica, entre os quais os Nacional de Enfrentamento a Microcefalia -
fisioterapeutas, sendo ainda considerada Diretrizes de Estimulação Precoce, Crianças de
uma habilidade de difícil entendimento pelos zero a 3 anos com Atraso no Desenvolvimento
profissionais da atenção primária (SANTOS, Neuropsicomotor Decorrente de Microcefalia,
2004; GIACHETTA, 2010). Por isso, a importância posteriormente também foi ofertado através da
da identificação e elaboração de instrumentos plataforma AVASUS o curso “ Estimulação Precoce”.
de avaliação integral, multiprofissional e (BRASIL, 2016) Também com apoio do Ministério
autoexplicativo, que englobem aspectos básicos da Saúde, a Associação Brasileira de Fisioterapia
como dados pessoais, histórico clínico da gravidez Neurofuncional (ABRAFIN), a Associação Brasileira
e familiar, breve revisão dos sistemas fisiológicos, para o Desenvolvimento e Divulgação do Conceito
uso de medicamentos, condição clínica da criança, Neurofuncional (ABRADIMENE) e os conselhos
itinerário terapêutico, contexto socioeconômico, regionais de profissionais fisioterapeutas e
familiar e educacional, além da relação/vínculo terapeutas ocupacionais elaboraram a cartilha
entre cuidador/família e criança. “Diagnóstico: Microcefalia. E agora?” que consta
Na busca de sinais clínicos a serem investigados, sobre características clínicas das crianças bem
os profissionais devem ter um olhar integral como condutas terapêuticas e atenção sobre as
no âmbito de todos os sistemas existentes no crianças e suas famílias (COFFITO, 2016).

31
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

No âmbito da Fisioterapia, recomenda-se que nos A vigilância do desenvolvimento da


primeiros anos de vida de uma criança, o Fisioterapeuta criança pelo profissional de saúde, em
realize uma avaliação mais específica, no âmbito parceria com a família e a comunidade na
cinético-funcional, seja nas atividades de vida diária, qual está inserida, nos três primeiros anos
nas atividades de lazer e/ou nas desportivas. O objetivo de vida, favorece uma maior possibilidade
principaldessaavaliaçãoéidentificardisfunções,déficits de adaptação aos estímulos que recebe do
estruturais, limitações de atividades e/ou restrições à ambiente e das terapias (BRASIL, 2013). Por
participação dos sistemas neuromusculoesquelético, essa razão, algumas escalas de avaliação do
cardiorrespiratório, visual, tegumentar, gastrointestinal, desenvolvimento infantil são utilizadas no
uroginecológico e/ou proctológico. Na especificidade mundo, a fim de possibilitar precocemente
doolhardaFisioterapia,oprofissionaldeveinvestigar a detecção de alterações, o fornecimento
o controle postural e do movimento (mobilidade, de informações a respeito do nível de
estabilidade, mobilidade sobre estabilidade) capacidade da criança ou dos marcos por ela
para aquisição e aperfeiçoamento de habilidades alcançados, quantificando e qualificando o
funcionais das crianças, correlacionando-as aos seu desempenho em diferentes domínios.
sistemas citados acima e que foram identificados Isso permite a elaboração de metas mais
como deficitários. Os relatos da família e/ou reais de tratamento, com o norteamento de
cuidadores devem ser valorizados. ações terapêuticas eficientes e eficazes, além
de possibilitar a demonstração dos ganhos
obtidos pela criança aos seus familiares
(BRASIL, 2016). Muitas dessas ferramentas
também permitem a reavaliação da conduta
pelo profissional e direcionamento de novas
metas de tratamento.
Desde 2009, o COFFITO reconhece a
relevância da Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF),
recomendando sua utilização para atenção
e cuidado na prática fisioterapêutica, desde
o momento da emissão do Diagnóstico
Fisioterapêutico. Isto porque o modelo
multidirecional proposto favorece ao
mapeamento das necessidades funcionais
das crianças, incluindo os fatores
ambientais e pessoais como determinantes
da funcionalidade, da incapacidade e da
saúde. A CIF foi criada pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) em 2001, e através
da resolução da OMS 54.21, seu uso foi
recomendado pelos países membros
FIGURA 4 - Avaliação fisioterapêutica de paciente pediátri- (COFFITO, RESOLUÇÃO nº 370/2009).
co em Clínica Escola do Recife No Brasil, a aplicação de escalas

32
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

para avaliação do desenvolvimento crianças e sua família, além de possuir boa


infantil alcançou maior espaço com o sensibilidade e especificidade (SOUZA et
reconhecimento de que estas podem al., 2008).
auxiliar pesquisadores e profissionais As recomendações listadas neste Caderno
de saúde através de uma ferramenta pretendem auxiliar o fisioterapeuta nas
complementar de avaliação (SANTOS, 2004; ferramentas disponíveis e possíveis
SILVA 2011; SACANNI e VALENTINI 2012; de serem aplicadas na avaliação do
SILVA 2013;). As escalas avaliam diversos desenvolvimento infantil em seu contexto
aspectos, tais como: sinais neurológicos de trabalho. Portanto, é fundamental
precoces atípicos durante o período considerar o nível de atenção à saúde
neonatal; aquisições motoras em diferentes no qual o profissional desempenha suas
faixas etárias; qualidade do movimento, atividades (Atenção Primária, atendimento
controle e alinhamento postural, equilíbrio ambulatorial, atendimento hospitalar ou
e coordenação, e desempenho funcional de Unidade de Terapia Intensiva) para a eleição
crianças na execução de atividades de vida do instrumento de avaliação a ser utilizado.
diária (BRASIL, 2016). Vale salientar que o uso de um instrumento
O exame criterioso das desordens de avaliação, além de considerar os aspectos
motoras infantis bem como a escolha da já citados anteriormente, também passa
escala mais apropriada é, geralmente, pela necessidade de acompanhamento do
atribuição do fisioterapeuta. Este seleciona desenvolvimento da criança por qualquer
a escala de acordo com a praticidade do profissional da saúde, em qualquer nível
exame físico e a propriedade psicométrica de atenção e por alteração decorrente
efetiva do teste. No entanto, a aplicação de em qualquer sistema, de modo que tal
escalas de desenvolvimento motor pode instrumento precisa ser universal e de fácil
ser realizada por diversos profissionais de aplicação para, minimamente, instituir a
saúde desde que exista bom entendimento vigilância sistemática ao desenvolvimento
do desenvolvimento infantil e familiaridade infantil, a fim de nortear a intervenção a ser
com o teste escolhido (JENG et al. 2000; adotada, bem como servir de triagem para
MANACERO e NUNES, 2008; SILVA, 2013). uma avaliação mais especializada e/ou em
Há, entretanto, uma escassez de outro nível de complexidade de atenção,
instrumentos validados para aplicação em que necessite de um aprofundamento
crianças brasileiras e vale destacar ainda teórico/formação na área.
que toda ferramenta utilizada para triagem A avaliação das complicações pulmonares,
do desenvolvimento infantil apresenta tão comuns em crianças com disfunções
vantagens e desvantagens a depender neurológicas será abordada no Anexo I, para
da familiaridade dos profissionais que a que os profissionais possam reconhecer os
utilizam, do serviço prestado, do tipo de distúrbios e possíveis causas de desconforto
escala, das características da amostra respiratório, principal motivo de internação
estudada, entre outros. Vale salientar desses pacientes.
também que a escolha deve considerar: a Por fim, ressalta-se que o processo
rapidez e facilidade de aplicação, o baixo avaliativo é imprescindível para a construção
custo do instrumento e a aceitação pelas do plano terapêutico a ser adotado para uma

33
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

intervenção fisioterapêutica de excelência, e recursos terapêuticos da fisioterapia a


mas para o alcance desse objetivo, alguns serem utilizados; as expectativas, desejos
aspectos necessitam ser observados, e opinião da criança e familiares; a
tais como: os achados provenientes da competência da família para seguimento da
avaliação e/ou dos instrumentos utilizados; intervenção no domicílio; e as evidências
a experiência ou habilidade profissional científicas vigentes.
quanto à aplicação de métodos, técnicas

Quadro 1. Ações esperadas referentes ao eixo “Avaliação”

34
35
Você sabia que antes do Fisioterapeuta iniciar um
atendimento é preciso que seja feita uma consulta para
construir o diagnóstico fisioterapêutico (Resolução
COFFITO nº 08/1978)? Mas lembre-se, não é competência do
Fisioterapeuta emitir diagnóstico clínico!
Outra coisa, de acordo com os Parâmetros Assistenciais da
Fisioterapia, numa jornada de trabalho de seis horas diárias,
o Fisioterapeuta pediátrico só pode fazer 02 consultas para
avaliações (Resoluções COFFITO nº 387/2011 e nº 444/2014)

4.1.1.2 EIXO INTERVENÇÃO ter o foco no desenvolvimento de movimentos


funcionais significativos e na promoção de
A contribuição da Fisioterapia no contexto saúde e condicionamento físico a longo prazo
do desenvolvimento infantil abrange os (EFFGEN, 2007). Realizar acolhimento e escuta
aspectos relacionados à evolução da da família, individual ou em grupo, é necessário
motricidade e intervenção sobre os diversos para garantir a especificidade do tratamento
sistemas (SANTOS, 2004), buscando a que está sendo proposto, além de promover
maior funcionalidade possível do indivíduo, o vínculo e comunicação com a família. Em
garantindo ao mesmo sua independência contrapartida, nesse momento de acolhimento,
funcional. Nessa perspectiva, possibilita- já podem ser fornecidas orientações à família
se o oferecimento à criança com disfunção, e cuidadores, favorecendo encaminhamentos
condições de conhecer o mundo e dele e articulação, interprofissional ou mesmo,
participar de forma ativa (SHEPERD, 1981). intersetorial.
A avaliação e o tratamento fisioterapêutico A intervenção fisioterapêutica deve ser
precisam ser individualizados e específicos às baseada nos achados provenientes do
necessidades da criança, no entanto, é preciso Eixo Avaliação e envolver os aspectos da
repercussão da patologia sobre os diversos

36
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

sistemas corporais com garantia de um olhar Ao potencializar o desenvolvimento


integral sobre a saúde da criança. Para o sucesso global de lactentes, as intervenções devem
da intervenção, faz-se necessário considerar as ser implementadas através de tarefas
informações oriundas da escuta terapêutica diversificadas com intervalos de aprendizagem
contínua do cuidador/família, de um processo apropriados, os quais consideram a capacidade
de avaliação continuada, da integralidade no da criança de manter a informação e integrar
cuidado, da interação entre os achados dos essa informação em novos desafios (ALMEIDA
diversos sistemas que foram identificados no e VALENTINI, 2010). As atividades do cotidiano
Eixo Avaliação, da disponibilidade de recursos podem ser treinadas no lactente e na criança
materiais nos ambientes de intervenção deficiente do mesmo modo que são treinados
(serviços de saúde e domicílio), não deixando em crianças saudáveis. Todo treinamento deve
de considerar as evidências científicas que ser específico em relação à tarefa e ao contexto,
fundamentam a frequência e a duração dos e é importante destacar que a criança executa
atendimentos para assistência fisioterapêutica determinada tarefa em diversas condições
de qualidade. ambientais (SHEPERD, 1981).

FIGURA 5 - Abordagem inicial na intervenção fisioterapêutica na Síndrome Congênita do Zika Vírus, em ação social
ocorrida em clínica particular do Recife

37
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

A criança com deficiência precisa aprender a os déficits estruturais e disfunções do corpo


organizar as partes do seu corpo para ser capaz para o uso de recursos e serviços da tecnologia
de atingir determinado objetivo e assegurar a assistiva; as limitações de atividades e restrições
captação das informações importantes advindas à participação. É preciso também que esse
do ambiente. Além disso, o aprendizado das profissional tenha conhecimento da natureza do
habilidades motoras depende da prática diagnóstico e do prognóstico da deficiência da
supervisionada, da motivação e do conhecimento criança.
da meta e dos resultados. É importante que a No que concerne à tecnologia assistiva, apenas
atividade que se pratica seja desejável e faça o conhecimento sobre conceitos da biomecânica
sentido para a criança (SHEPERD, 1981). corporal para interpretar a postura e movimentos
O fisioterapeuta deve compreender os apresentados pela criança é insuficiente. É
diversos componentes envolvidos no controle preciso que o fisioterapeuta tenha conhecimento
e aprendizado motor, como também na sobre recursos e equipamentos que possam
biomecânica corporal para ser capaz de facilitar ser utilizados pela criança para adequação de
a recuperação funcional dos diversos sistemas aspectos biomecânicos (postura e movimento),
do corpo humano (EFGEN, 2007), visto que esses como também sobre serviços da tecnologia
conhecimentos fornecem bases neurofisiológicas assistiva disponíveis na Rede de Atenção à Saúde
para melhor estruturação do programa - RAS, para que encaminhamentos necessários
terapêutico e aprimoramento das técnicas de possam ser realizados de forma eficaz.
reabilitação (LANZA et al., 2012). Por exemplo, a O terapeuta deve lembrar que a intervenção
insistência precoce de posições eretas do corpo fisioterapêutica é apenas um dos diversos
assume importância fundamental na criança aspectos que envolvem o desenvolvimento
com deficiência, pois estas permitem a aquisição infantil de forma que os objetivos terapêuticos
do comportamento necessário à orientação e a (goal setting) devem ser específicos (specific),
capacidade de exploração e resposta ao ambiente mensuráveis (measurable), factíveis (attainable),
em que a criança está inserida (SHEPERD, 1981). realistas (realistic) e devem ter um prazo limite
Através de movimentos básicos, a criança para alcance (timely), permitindo que a criança
adquire habilidade no dese mpenho dos atos e sua família alcancem sucesso e sintam-se
necessários ao seu dia a dia, assim como dos valorizadas (EFFGEN, 2007).
atos que podem fazer parte das atividades de A participação da família é fundamental para a
lazer, esporte e do trabalho (SHEPERD, 1981). melhora do desempenho da criança e esta deve
Vale considerar, que algumas destas atividades ocorrer de forma ativa junto à intervenção, para
podem ser melhor desempenhadas com auxílio que se obtenha repetição das tarefas orientadas
de alguma adaptação ou recurso de assistência e sucesso no programa terapêutico (SHEPERD,
por parte da criança. 1981). Logo, o processo de acolhimento da
Neste contexto, o fisioterapeuta exerce um família deve ser contínuo, fornecendo sempre
papel fundamental junto à seleção, aquisição, que necessário orientações, inclusive sobre os
modificação/adaptação e implementação de direitos das crianças, seja no âmbito da saúde
dispositivos de tecnologia assistiva. E, nessa quanto no da seguridade social, isso a depender
ação terapêutica, mais uma vez, constata-se que dos contextos socioeconômicos e psicossociais
o fisioterapeuta necessita avaliar: as capacidades nos quais a família esteja inserida. Para isso, o
físicas, sensoriais e cognitivas das crianças; fisioterapeuta deve se apropriar das cartilhas,

38
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

manuais, legislações e Políticas Públicas (serviços Como o conteúdo apresentado desse Caderno
da RAS e programas de inclusão para crianças e propõe direcionar profissionais a prestarem uma
suas famílias) que tratem dessa temática. assistência fisioterapêutica integral à criança de
Em suma, a intervenção fisioterapêutica deve 0-3 anos, a discussão sobre o Eixo Intervenção foi
considerar a biomecânica dos movimentos, as desenvolvida a partir das limitações e restrições
características musculares, o contexto ambiental funcionais das crianças, na maioria das vezes
e os diversos aspectos que envolvem a disfunção relacionadas aos aspectos motores provenientes
infantil (SHEPERD, 1981). As técnicas utilizadas de alterações tônicas e de movimento.
na reabilitação devem envolver a identificação Ressaltamos aqui que, à medida que a criança
do objetivo, orientação verbal, feedback cresce, e seu desenvolvimento não é compatível
auditivo e visual, condução manual e prática com o padrão típico esperado, disfunções
(SHEPERD, 1981). Entretanto, tudo isso depende funcionais são observadas em outros sistemas
da complexidade da assistência prestada e do corpo, como no cardiorrespiratório, visual,
das ferramentas tecnológicas (apoio matricial, tegumentar, gastrointestinal, uroginecológico e
clínica ampliada, projeto terapêutico singular, proctológico.
entre outras disponíveis).

FIGURA 6 - atendimento individual realizado em atendimento domiciliar por fisioterapeuta do Núcleo de Apoio à Saude
da Familia (NASF), da cidade do Recife.

39
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

No contexto infantil, as avaliações e Em serviços nos quais as demandas sejam


intervenções clínicas e fisioterapêuticas demasiadas frente a determinado serviço
específicas devem ser realizadas o mais ou clínica, vale destacar a possibilidade de
precocemente possível, utilizando-se da qualificação das filas de espera para otimização
referência/contrarreferência à rede especializada. da assistência à criança.

Quadro 2. Ações esperadas referentes ao eixo “Intervenção”

40
Você sabia que após cada intervenção, é preciso que o Fisioterapeuta
responsável faça o registro da conduta realizada no prontuário do paciente
(Resolução COFFITO nº 414/2012)? Os atendimentos fisioterapêuticos devem
buscar a recuperação funcional do paciente, por meio de diversos recursos
terapêuticosparaaobtençãodeganhosposturaisoudemovimentos(Resolução
COFFITO nº 80/1987).
Ainda tem mais... na jornada de trabalho de seis horas diárias, o
Fisioterapeuta só pode fazer 08 atendimentos em pacientes pediátricos
(Resolução COFFITO nº387/2011 e nº 444/2014). Em unidades de terapia
intensiva, neonatal ou pediátrica, o profissional deve estar atento as
normatizações da RDC7 e da Portaria nº 930/2012 do Ministério da Saúde).
Os atendimentos em grupo também são permitidos (de até 06 pacientes/
hora/Fisioterapeuta), desde que os responsáveis pelas crianças concordem.
Entretanto é preciso que o profissional selecione os pacientes de forma a garantir
um equilíbrio entre os diversos tipos de perfil e estados de saúde da criança,
buscando a manutenção do quadro e/ou de prevenção e recondicionamento
funcional. Normalmente são incluídas nos grupos, as crianças com quadros
crônicos e estabilizados (Resolução COFFITO nº 387/2011 e nº 444/2014).

41
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

4.1.1.3 EIXO ACOMPANHAMENTO funcional ao longo do processo terapêutico. Crianças


com uso de recurso de tecnologia assistiva devem ser
Ao fisioterapeuta cabe acompanhar o seguimento reavaliadas constantemente pelo profissional, sendo
da criança, observando suas singularidades e tendo necessário apoio constante da família no entendimento
como base a avaliação e o planejamento das atividades da sua importância e continuidade de uso e reposições
para a execução do programa terapêutico adequado necessárias.
individualmente. Faz-se necessário o estabelecimento Deve-seconsiderarque,paraumagarantiadeatenção
de formas de monitoramento da criança, seja de integral à criança, é preciso a ampliação do olhar para
maneira direta, pela qual o profissional programa além da Assistência com inter-relação da organização
retornos periódicos nos quais realiza a avaliação do da Assistência com o Processo de Trabalho. Sendo
desenvolvimento, do crescimento e dos aspectos assim, no Eixo Acompanhamento é necessário existir a
sensoriais, motores e respiratórios, por exemplo, seja discussão dos casos com outros profissionais, além do
de maneira indireta, através da verificação regular de fisioterapeuta, que acompanham a criança e sua família.
registros em instrumentos como a caderneta de saúde Como princípios a serem seguidos, orienta-se a leitura
da criança, com o objetivo de promover a vigilância à dos Eixos Trabalho Interprofissional (da Competência
saúde infantil (DAVID et al., 2013). Organização do Processo de Trabalho) e Comunicação
Considerando a reabilitação, o estabelecimento de em Rede (da Competência Articulação em Rede),
objetivos essenciais a esse processo tem na avaliação apresentados neste Caderno no Domínio Processo de
cinético-funcional sua maior fonte de dados, tornando-a Trabalho.
fundamental na identificação de características Os resultados das atividades terapêuticas realizadas
da criança que orientem a elaboração de estratégias também precisam de reavaliação antes da liberação
de trabalho melhor adaptadas e específicas às suas do usuário. Isto é fundamental quando se pensa nos
necessidades. Além disso, é imprescindível a reavaliação esclarecimentos e encaminhamentos imprescindíveis
periódica, a fim de possibilitar uma nova tomada à garantia de continuidade do cuidado pela equipe
de decisão sobre o sujeito avaliado, uma vez que a de saúde que vai receber o usuário após a alta. Nesse
reabilitação se caracteriza não por ser estática, mas por sentido, na prática assistencial, a alta terapêutica consiste
ser um processo contínuo de transformação (POLIDORI numa decisão consensual interprofissional, a fim de que
et al., 2011). cada categoria possa, em tempo, realizar procedimentos
Os aspectos relacionados à reavaliação incluem itens e preparar a contrarreferência para outro ponto de
aseremabordadosjuntoaousuárioefamília,mapeando atenção da RAS ou até mesmo para o domicílio (SUZUKI,
suas necessidades práticas, as quais estão voltadas às CARMONA e LIMA, 2011). Mais uma vez, ressalta-se aqui
questões funcionais e suas necessidades, vinculadas às a importância do Domínio Processo de Trabalho no
questões de apoio social, emocional e psicológico. Tais embasamento dessa discussão.
aspectos, quando considerados no planejamento para O momento de alta do acompanhamento de
a alta, produzem resultados mais efetivos quando as fisioterapiadeveserplanejadocomcautelajuntoàfamília
crianças retornam ao seu ambiente natural, facilitando o e ser baseado em aspectos como alcance de objetivos a
enfrentamentodosdesafiosdesuanovasituaçãodevida curtoemédioprazo(deacordocomoplanoterapêutico),
(SCHIER, 2004). estabelecimento de critérios específicos junto aos
É importante o acompanhamento das aquisições serviçosespecializadoseprincipalmentenapossibilidade
no desenvolvimento neuropsicomotor, bem como os de estabelecimento de encaminhamento para outros
ganhos/adaptações comportamentais e o desempenho serviços/ou profissionais, bem como, o estabelecimento
de rede de apoio à família e suporte social. Nesse sentido,

42
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

vale ressaltar a importância do conhecimento por parte de informações), ferramenta de pesquisa (para medir
do profissional quanto às potencialidades da família e resultados, qualidade de vida ou fatores ambientais),
quanto à rede de apoio de assistência disponível. ferramenta clínica (na avaliação de necessidades,
Após toda essa explanação, vale ressaltar a compatibilidade dos tratamentos com as condições
importância da utilização da Classificação Internacional específicas, reabilitação e avaliação dos resultados),
ferramenta de política social (no planejamento dos
da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) como sistemasdeprevidênciasocial,sistemasdecompensação
ferramenta eficaz e norteadora para o processo de e projetos e implantação de políticas públicas) ou
acompanhamento e determinação de tratamentos mesmo como ferramenta pedagógica (na elaboração
fisioterapêuticos, conforme previsto pela Resolução de programas de educação em saúde, ou mesmo nas
nº 370/2009 do COFFITO. Lembrando que a CIF pode estratégias de educação permanente dos profissionais, a
ser utilizada como ferramenta estatística (na coleta fim de aumentar a conscientização e realização de ações
e registro de dados, nos sistemas de gerenciamento sociais) (CIF, 2015).

Quadro 3. Ações esperadas referentes ao eixo “Acompanhamento”

43
44
Você sabia que o Fisioterapeuta, para conseguir
acompanhar a evolução de seu paciente, deve fazer
sistematicamente uma nova consulta para reavaliação da
criança, inclusive para analisar a possibilidade de alta?
Para essa consulta, é permitida a cobrança de honorários,
que devem respeitar os valores mínimos estipulados pelo
Referencial Nacional de Procedimentos Fisioterapêuticos
(Resolução COFFITO nº 482/2017).
Desde 2009, a CIF é recomendada como sendo a
ferramenta ideal para o acompanhamento da evolução
funcional do paciente (Resolução COFFITO nº 370/2009).
A partir da consulta para avaliação e elaboração do
diagnóstico fisioterapêutico, o Fisioterapeuta estará apto a
emitir atestados, relatórios técnicos e pareceres (Resolução
COFFITO nº 464/2016), sendo importante que as informações
contidas nestes documentos sejam baseadas na CIF.

4.1.1.4 EIXO INTERVENÇÃO NO CONTEXTO que indiquem a necessidade de avaliação por


DOMICILIAR um profissional de saúde; devem realizar ações
multiprofissionais assistenciais e educativas;
Uma das necessidades para ampliar o escopo além de indicar, prescrever e analisar os
de possibilidades de atuação do profissional resultados das ações realizadas no domicílio,
na atenção à saúde, na perspectiva de alcance incluindo a tecnologia assistiva.
da integralidade, é a continuidade do cuidado Independente da ação a ser desenvolvida,
em diferentes pontos da RAS, entendendo o o profissional deve mergulhar no contexto
próprio domicílio como mais um ponto de familiar, o que exige compreensão e
atenção dessa rede (BRITO et al., 2013). Ao se conhecimento do ambiente no qual a criança
entender o domicílio como fonte de estímulo está inserida e um olhar diferenciado sobre
às habilidades psicomotoras, intelectivas e a dinâmica de relações e a singularidade de
proximais ao complexo ambiente relacional cada família. É preciso desenvolver a escuta, o
humano familiar, o estabelecimento de vínculo diálogo e o vínculo de confiança, o que permite
nesse ambiente, proporcionando relações ultrapassar os limites dos problemas clínicos
mais próximas com usuários e familiares do paciente, deparando-se com importantes
assistidos, facilita a adesão ao tratamento fatores que influenciam o processo saúde-
e a mudança comportamental do indivíduo doença – questões sociais, econômicas,
e da coletividade. Nesse sentido, cabe ao culturais e relacionais. Essa aproximação
fisioterapeuta cuidar, orientar e capacitar do contexto domiciliar pode promover uma
usuários e familiares no contexto domiciliar, melhor intervenção para a recuperação e
a fim de compartilhar saberes que possam promoção da saúde, de maneira abrangente,
otimizar e satisfazer as necessidades do ente diferenciada, personalizada e humanizada,
familiar dependente de cuidados (SOUZA et centrada nas necessidades do usuário e
al., 2013). associada ao uso de diferentes saberes além
Como ações específicas pertencentes a do científico, o que favorece a integralidade
esse Eixo, os Fisioterapeutas devem orientar a do cuidado (BRITO et al., 2013; SANTANA et al.,
família e cuidadores quanto a sinais de alerta 2013; DIAS et al., 2015).

45
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

É importante ressaltar que, quando se delega família nas intervenções e a encorajá-la a colaborar
à família a corresponsabilização de todos os seus sistematicamente (GENNARO e BARHAM, 2014).
membros no processo de cuidar afim de alcançar Portanto, é fundamental ao profissional
resolutividade, faz-se necessário o entendimento conhecer as concepções dos pais, suas atitudes
dessa estrutura familiar e seus afazeres, bem como e valores, as dificuldades e barreiras que os
o tempo despendido para o cuidar e as alterações cuidadores podem enfrentar na realização das
sofridas no cotidiano, sobretudo no aspecto da atividades solicitadas, bem como os pontos fortes
renda e do estresse físico e emocional decorrentes da família que podem potencializar o cuidado no
da sobrecarga imposta por esse cuidado, o que domicílio (GENNARO e BARHAM, 2014). Mais ainda,
demanda uma negociação com a família pensando a abordagem familiar para o seguimento das
na atenção de forma integral. Tal entendimento pactuações a serem desenvolvidas no ambiente
requer do profissional sensibilidade para criar e doméstico não deve ser restrita ao indivíduo
aproveitar oportunidades de desenvolvimento do acometido por alguma patologia, mas deve
respeito e da confiança mútuos, a fim de incluir a procurar envolver comunidade, trabalhadores,
associações e todos os que de alguma forma
podem contribuir na produção do cuidado em
rede (DIAS et al., 2015).
Conforme pode ser observado no quadro
4, a intervenção fisioterapêutica no contexto
domiciliar deve ter coerência com as ações
desenvolvidas nos outros eixos aqui apresentados,
o de avaliação, intervenção e acompanhamento,
pois só assim haverá a continuidade da assistência
prestada. Para que o sucesso esteja garantido,
o fisioterapeuta deve repensar o processo
de trabalho valorizando os eixos “trabalho
uniprofissional”, “trabalho interprofissional”,
“conhecimento da rede” e “comunicação da rede”.
Por exemplo, no “trabalho uniprofissional”,
todos os fisioterapeutas que prestam a assistência
à criança devem ser identificados, independente
dos níveis de complexidade que atuem ou dos
locais e serviços de atuação. Os fisioterapeutas que
atuam na atenção básica podem e devem assumir
essa responsabilidade sobre o contexto domiciliar.
Todas as fragilidades que possam existir na
integração desses eixos, e mais especificamente,
em relação à RAS serão amenizadas a partir do
FIGURA 7 - Criança posicionada em cadeira confeccionada
na I Oficina de Adequadores de baixo custo, organizada momento que a família, cuidadores e comunidade
pelo Grupo de Trabalho do CREFITO 1 para Síndrome sejam escutados e inseridos na assistência a partir
Congênita do Zika Virus em parceria com fisioterapeuta da da facilitação e valorização proporcionada pelo
USP fisioterapeuta.

46
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Quadro 4. Ações esperadas referentes ao eixo “Intervenção no Contexto Domiciliar”

47
No domicílio, as ações a serem desenvolvidas pelo
Fisioterapeuta devem visar a promoção da saúde da criança,
a prevenção de agravos e a recuperação funcional, além de
cuidados paliativos. Essa atenção pode compreender a consulta,
o atendimento e a internação domiciliar, conforme a Resolução
COFFFITO nº 474/2016. Para atenção domiciliar/Home Care,
devem ser seguidos os parâmetros de assistência fisioterapêutica
domiciliar (Resoluções nº 387/2011 e nº 444/2014).
Você sabia que, mesmo na assistência domiciliar, o
Fisioterapeuta deverá fazer o registro em prontuário da conduta
realizada? O prontuário deve ser mantido no domicilio do
paciente, sob os seus cuidados ou da família (Resolução COFFFITO
nº 474/2016).

4.1.1.5 EIXO INTERVENÇÃO NO CONTEXTO e comunitária, além de colocá-los a salvo de


EDUCACIONAL E DESPORTOS toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (…)
Os avanços obtidos na ordem internacional
em favor da infância e da juventude, Esse artigo demonstra claramente a
preconizados pela Organização das Nações responsabilidade da família, da sociedade e
Unidas, foram inseridos na legislação brasileira do Estado, em relação à garantia de diversos
pelo artigo 227 da Constituição Federal de direitos, incluindo a educação e o lazer.
1988 (BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA A referência inicial à família explicita sua
FEDERATIVA DO BRASIL, 2016). Esse artigo condição de esfera primeira, natural e básica de
constitucional discorre sobre o conjunto de atenção, cabendo ao Estado garantir condições
responsabilidades das gerações adultas para mínimas para que a família exerça sua função
com a infância e a adolescência: e ao mesmo tempo, para que não recaia sobre
ela toda a responsabilidade e ônus.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e Em julho de 2015, é instituída a Lei Brasileira
do Estado assegurar à criança e ao adolescente, de Inclusão da Pessoa com Deficiência
com absoluta prioridade, o direito à vida, à (Estatuto da Pessoa com Deficiência), também
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à conhecida como LBI, sendo destinada a
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao assegurar e a promover, em condições de
respeito, à liberdade e à convivência familiar igualdade, o exercício dos direitos e das

48
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

liberdades fundamentais por pessoa com com suas capacidades e intervindo também
deficiência, visando à sua inclusão social e no campo social. Nesse sentido, a atuação do
cidadania. No Art. 43, inciso III, trata: fisioterapeuta vai desde às questões posturais,
de locomoção, adequação do mobiliário escolar
III - assegurar a participação da pessoa com e recursos pedagógicos, visando à eliminação
deficiência em jogos e atividades recreativas, de barreiras arquitetônicas e à melhora da
esportivas, de lazer, culturais e artísticas, acessibilidade para incentivo à funcionalidade
inclusive no sistema escolar, em igualdade de e participação ativa no meio, até a realização
condições com as demais pessoas. de ações educativas de interação mútua junto
aos funcionários da escola, pais e alunos,
Entendendo esses direitos, a visão do auxiliando o processo de inclusão por meio
fisioterapeuta na atenção integral à criança, de mudanças, atitudes e posicionamentos da
deve englobar o contexto educacional e comunidade escolar (MELO e PEREIRA, 2013).
do desporto, que inclusive também estão No contexto do desporto, que inclui a
assegurados na Constituição Federal, em prática esportiva, seja ela a nível recreacional
seu capítulo III, que trata especificamente da ou competitiva, a inserção da criança, inclusive
Educação, da Cultura e do Desporto. Na Seção as com necessidades especiais, é considerada
I são apresentadas as questões da educação, como um paradigma, segundo Doré et al.,
dos Art. 205 ao 214; quanto ao desporto, há 1997: “[...] a noção de “full inclusion” prescreve
apenas o Art. 217 que declara o fomento à a educação de todos os alunos nas escolas
prática desportiva como um dever do estado, e classes de bairro [...] reflete mais clara e
além de declará-la um direito individual. precisamente o que é adequado: todas as
No contexto educacional, o fisioterapeuta, crianças devem ser incluídas na vida social
em ação conjunta com uma equipe e educacional da escola e classe de seu
interdisciplinar, tem o papel de acompanhar o bairro, e não somente colocadas no curso
crescimento e o desenvolvimento da criança, geral (“mainstream”) da escola e da vida
contribuindo, particularmente, para o melhor comunitária, depois de ele já ter sido excluído”.
aproveitamento do aluno com deficiência, Ainda no século XXI, esse paradigma ainda
visto que são amplas as suas possibilidades existe, apesar da história do desporto para
de auxílio neste ambiente (NETO e BLASCOVI- as pessoas com necessidades especiais ter
ASSIS, 2009). A atuação do fisioterapeuta começado na Inglaterra, na segunda guerra
na perspectiva da inclusão escolar busca as mundial, com duas correntes de pensamento.
adaptações necessárias ao desenvolvimento Uma delas, com enfoque médico, utilizando o
de uma maior independência e autonomia esporte como auxílio na reabilitação, buscando
funcional do aluno com deficiência, não só o valor terapêutico, mas o poder de
oportunizando um melhor aprendizado e uma suscitar novas possibilidades, o que resultou
melhor socialização no contexto escolar (MELO em maior interação dessas pessoas. Outra
e PEREIRA, 2013). corrente, vinda dos Estados Unidos, utilizava
Cabe ao fisioterapeuta observar os alunos o enfoque esportivo como forma de inserção
no contexto educacional e buscar soluções social, dando a conotação competitiva utilizada
que os auxiliem na realização das tarefas pelo desporto. Essas correntes, no decorrer
escolares, adequando o ambiente de acordo da história, cruzam-se formando objetivos

49
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

comuns. Saindo do componente médico- se à fadiga, insistindo para que o esforço,


terapêutico, estendem-se à incorporação da o entusiasmo, a perseverança do atleta se
prática esportiva e do desporto de rendimento, prolonguem até o final da partida (FERRIGOLO
procurando a integração do atleta e sua e FERRIGOLO, 2002).
reabilitação social (COSTA e SOUSA, 2004). Além da integração, Rosadas (1994) destaca
O fisioterapeuta é um dos profissionais, outros princípios que podem ser valorizados na
na perspectiva do trabalho interprofissional, prática esportiva da criança deficiente, que são
que facilitará a adaptação da criança ao a normalização e a individualização, princípios
grupo, numa atividade esportiva. O esporte esses relevantes para o sucesso da aquisição
é essencial para que o indivíduo aprenda a de habilidades funcionais, que poderão ser
viver em comunidade, uma vez que o outro (o extrapolados para o mundo além do esporte.
atleta-competidor) é mais do que nunca causa Para esse autor, o princípio da normalização
de realização e aperfeiçoamento do indivíduo preconiza a proposição de atividades que se
que vê no seu opositor, ao mesmo tempo, aproximem o máximo possível das condições
parâmetro comparativo para medir seus de normalidade, enquanto o princípio da
valores e desafio para seus limites. Disputar, individualização se refere ao incremento das
concorrer, sem perder a capacidade de valorar, potencialidades dos sujeitos em questão,
fazer a escolha constitutiva de bens, de dar sem perder de vista suas limitações e
sentido aos atos, às coisas e aos fenômenos dificuldades. O princípio da individualização
são fatos que ocorrem por meio do intercâmbio pode ser confrontado com os princípios do
da comunicação humana onde o desporto treinamento desportivo, que em linhas gerais
assume papel relevante. Destarte ser digno, potencializa as possibilidades e minimiza as
ter uma vida com dignidade, é respeitar-se a si dificuldades, ou seja, a partir de suas próprias
mesmo, respeitar o outro e se fazer respeitar, características o sujeito é levado a desenvolver
asseverando que o fim da sociedade é o bem suas habilidades.
comum dela mesma, do corpo social, isto é, No quadro 5, das ações referentes ao
das pessoas que são partes do todo, pois o Eixo Contexto Educacional e Desportos, o
bem comum consagra a ordem de bem viver fisioterapeuta tem a responsabilidade de
(TEIXEIRA, 1999). atender as demandas, dúvidas e dificuldades
Outro grande benefício da prática do relacionadas às posturas e movimentos das
desporto é a vontade, podendo também ser crianças, bem como às suas habilidades
entendida como motivação. Ela proporciona funcionais, no realizar atividades junto aos
o controle tanto sobre a inteligência como professores, aos agentes de desenvolvimento
sobre os sentidos, as emoções e os músculos. infantil (ADI) e aos demais profissionais que
A vontade leva a ter disciplina e forma o atuam junto a educação e desportos. A partir
caráter, manifestado externamente como do momento que essa aproximação com a
personalidade. A disciplina educa o próprio uso equipe interprofissional da creche/escola e
da liberdade, ensinando ser possível chegar à dos locais para práticas esportivas acontece,
vitória com honestidade. Aí percebe-se o valor o fisioterapeuta deverá desenvolver atividades
do esporte, pelas possibilidades que oferece educativas (seja a partir de confeccção de
na sua prática de auto-educar a vontade. Na cartilhas, manuais, informativos; de reuniões
superação dos obstáculos, a vontade impõe- interprofissionais; ou mesmo realização de

50
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

oficinas de matriciamento/ capacitação) para que podem ser feitas na própria criança ou
orientações quanto ao cuidado às crianças. mesmo no ambiente, por isso que o contexto
Toda a atuação fisioterapêutica deve ter ambiental em que a criança está inserida para
coerência com os objetivos buscados nos Eixos a realização de suas atividades, como rotina de
aqui discutidos, desde o Eixo Avaliação, Eixo atividades, estrutura física e mobiliário devem
Intervenção, Eixo Acompanhamento e Eixo ser valorizados. Todas as intervenções devem
Contexto Domiciliar. Assim, as intervenções objetivar a maximização das potencialidades
a serem realizadas no Eixo Contexto funcionais das crianças, valorizando as
Educacional e Desportos, em sua maioria, performances das mesmas na escola e no
estarão relacionadas à tecnologia assistiva, esporte.

Quadro 5. Ações esperadas referentes ao eixo “Intervenção No Contexto Educacional E Desportos”

51
Como recomendado pela OMS e COFFITO, o
Fisioterapeuta deve atuar segundo o modelo
biopsicosocial, ampliando seu olhar para a identificação
das alterações funcionais e estruturais das partes do
corpo, das limitações de atividades, das restrições
da participação social e envolvimento dos fatores
ambientais (Resolução COFFITO nº 370/2009). Assim,
as atividades educacionais e desportivas passam a ser
uma preocupação para uma assistência integral da
Fisioterapia, nessa perspectiva interprofissional.
Mas lembre-se, é permitido ao Fisioterapeuta
atuar em qualquer cenário, desde que o objeto de seu
trabalho esteja caracterizado, desde a emissão do
diagnóstico, planejamento terapêutico, intervenção e
acompanhamento. Todas as intervenções realizadas
pelo profissional deverão ser registradas em prontuários
ou relatórios, para que assim essa prática seja de
conhecimento de toda a equipe envolvida.
Você sabia que existe a Especialidade Profissional da
Fisioterapia Esportiva (Resolução COFFITO n° 395/2011)?

4.2 DOMÍNIO PROCESSO DE TRABALHO em acompanhar a criança para o tratamento


de possíveis alterações no crescimento
4.2.1 EIXOS DE AÇÃO PARA A COMPETÊNCIA
e desenvolvimento. Existe a necessidade
ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE TRABALHO de adaptação do tratamento ao ambiente
4.2.1.1 EIXO TRABALHO UNIPROFISSIONAL infantil, utilizando técnicas fisioterapêuticas
neurofuncional e respiratória na melhoria
A atuação do fisioterapeuta encontra- da qualidade de vida da criança e da família,
se respaldada na conjunção entre a prática buscando a integração da criança ao convívio
baseada em evidências científicas e os com a família e com a sociedade. O contexto
princípios da ética profissional. Para uma deste fisioterapeuta e o nível assistencial onde
atenção de qualidade, a caracterização de seu este atua é que vão determinar os objetivos
trabalho fundamenta-se na saúde funcional e do plano terapêutico e de que maneira este
tem sua operacionalização posta através de: será traçado, a fim de orientar a intervenção
consultas fisioterapêuticas, realizadas antes do profissional na assistência às crianças. Na
do planejamento do atendimento, para a Atenção Básica, o fisioterapeuta, pode ajudar
construção do diagnóstico fisioterapêutico; e a prevenir alguns problemas de saúde e
atendimentos fisioterapêuticos nas disfunções intervir precocemente em alguns agravos mais
dos diversos sistemas, nas esferas ambulatorial comuns, ajudando assim a reduzir a demanda
e domiciliar, em caráter preventivo ou de para os serviços especializados que disporão de
tratamento (COFFITO, 2013). mais vagas para viabilizar o acesso oportuno
Na área da pediatria, o trabalho da criança com a SCZV à fisioterapia (DAVID et
uniprofissional do fisioterapeuta consiste al., 2013).

52
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Quadro 6. Ações esperadas referentes ao eixo “Trabalho uniprofissional”

53
A partir do momento em que o Fisioterapeuta adquire o registro profissional
(Lei Federal nº 6.316/75), ele passa a ter o dever de manter-se atualizado sobre as
normas vigentes que envolvem a sua profissão (Resolução COFFITO nº 424/2013).
Em caso de descumprimento das normativas, o profissional pode responder
processos éticos disciplinares com sanções que podem resultar numa advertência
até o cancelamento do registro profissional (Lei Federal nº 6.316/75).
Recomenda-se que o Fisioterapeuta que atua em Pediatria obtenha título de
especialista profissional reconhecido pelo COFFITO. É super simples: basta fazer
uma prova e comprovar a experiência na área. Algumas das especialidades que
abrangem a abordagem pediátrica é a Fisioterapia Neurofuncional (Resolução
COFFITO nº 396/2011) e a Fisioterapia Respiratória (Resolução COFFITO nº
400/2011)
Você sabia que Profissionais que têm título de Especialista pode acrescer
em seus honorários, 20% do valor determinado pelo Referencial Nacional de
Procedimentos Fisioterapêuticos (Resolução COFFITO nº 482/2017)?

4.2.1.2 EIXO TRABALHO INTERPROFISSIONAL enfrentados por uma dada população, visto que
pressupõe o intercâmbio significativo de conceitos,
As diferentes categorias profissionais em saúde teorias, métodos e práticas, promovendo a integração
possuem como atribuição comum o cuidado eaarticulaçãodosprofissionaisenvolvidosnoprocesso
ao indivíduo em toda sua complexidade e de cuidar (BACKES et al., 2014). Nesse contexto, a
multidimensionalidade (SCHERER, PIRES e JEAN, interdisciplinaridade permite a comunicação entre as
2013).Talobjetodetrabalhorequerumaabordagemem categorias profissionais, ultrapassando as fronteiras
equipe interprofissional e com enfoque interdisciplinar, territoriais demarcadas pelos excessos disciplinares,
a fim de buscar a garantia da integralidade e da distinguindo as competências específicas e comuns
resolutividade do cuidado em saúde. Particularmente dessas categorias, ampliando o objeto de trabalho sem
ao fisioterapeuta, no artigo 5º da resolução nº 4/2002 indefinição de seus respectivos papéis, concretizando
do Conselho Nacional de Educação, que trata das a íntima relação entre conhecimento e ação, servindo
Diretrizes Curriculares Nacionais da Graduação em como instrumento complexo de entendimento e
Fisioterapia, já é prevista para sua formação a adoção enfrentamento de dificuldades do cotidiano, a partir de
de competências e habilidades específicas, dentre finalidades compartilhadas por coletivos de trabalho
elas a atuação multidisciplinar, interdisciplinar e (SCHERER, PIRES e JEAN, 2013; BACKES et al., 2014).
transdisciplinar com “extrema produtividade na A partir do entendimento de que o processo
promoção da saúde baseado na convicção científica, saúde-doença é gerado socialmente, no conjunto das
de cidadania e ética” (BRASIL. CNES/CES, 2002). relações existentes estabelecidas entre as pessoas, o
Nareformulaçãodaspráticasemsaúde,afinalidade meio ambiente e o estilo de vida e no uso que se faz
do processo de trabalho é promover o cuidado a dos recursos disponíveis, o trabalho em saúde torna-
partir de um conjunto de ações e serviços articulados se sustentável na medida em que se compreende a
em rede, tendo como base a atuação em equipe dinâmica do contexto da clínica e os atravessamentos
interprofissional e interdisciplinar na construção que agem no estado de saúde das pessoas. Nesse
de projetos terapêuticos, nos quais profissionais de sentido, faz-se necessário um trabalho transdisciplinar:
diferentes categorias atuam juntos, contribuindo de os profissionais precisam agir mediante suas
acordo com o seu conhecimento específico em busca competências, porém sob o entendimento do
da definição de prioridades e ações individuais e sujeito e seu repertório expressivo diante do contexto
coletivas (SOUZA et al., 2013). sociocultural, considerando a realidade da vida, do
O trabalho em equipe a partir de uma atuação território e da clínica. Nesse processo, as demandas
interdisciplinar valoriza a diferença de saberes como que surgem da reflexão diante do sujeito, da clínica, das
possibilidade de ampliação e potencialização da práticas e dos saberes na saúde podem gerar aspectos
resolutividade da atenção aos problemas de saúde que até então fogem da racionalidade científica,

54
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

extrapolando aquilo que é de conhecimento específico práticas e novos saberes, num processo contínuo de
profissional, mas transversalizam o trabalho, a partir criação em busca da resolutividade dos problemas
do momento em que o diálogo é estabelecido entre os apresentados (TEIXEIRA, BARBOSA e SILVA, 2014).
profissionais, promovendo uma discussão crítica ante
as demandas reais e possibilitando a geração de novas

Quadro 7. Ações esperadas referentes ao eixo “Trabalho Interprofissional”

Você sabia que Referencial Nacional de Procedimentos Fisioterapêuticos


vigente contém 19 capítulos em seu anexo, compreendendo todos os níveis de
atenção, designando procedimentos - de consulta, exames e testes funcionais,
e atendimentos específicos nas diversas áreas de atuação da Fisioterapia, nos
ambientes ambulatorial, hospitalar e domiciliar (Resolução COFFITO nº 482/2017)?
Entretanto, a maioria dos exames e testes funcionais apresentados, além dos
recursos terapêuticos utilizados nos atendimentos, são comuns à várias categorias
profissionais.
Atualmente, na perspectiva da atenção integral do cuidado, dentro do trabalho
interprofissional, discute-se muito o fato de que esses recursos não são privativos
de uma determinada profissão, a não ser que esteja prevista em Lei Federal, após
ter sido sancionada pelo Poder Executivo... Então, sendo assim, nas discussões
do trabalho em equipe, é muito importante a definição prévia dos objetivos
terapêuticos de cada profissão, para que não haja a invasão na especificidade do
fazer de outra categoria profissional

55
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Mediante conscientização da importância foi definida a competência “Organização da


do trabalho interprofissional, esse Grupo de Assistência”, que tem como linhas condutoras
Trabalho fomentou oficinas para discussão os seguintes eixos: Avaliação; Intervenção
dessa temática na perspectiva da Atenção e Acompanhamento; Contexto Domiciliar;
integral à saúde da criança, com profissionais Contexto Educacional e Desportos; e Contexto
de diversas categorias, com experiência clínica social e comunitário.
e de gestão. Assim, em maio de 2017, no III Para o domínio “Processo de Trabalho”
Congresso Brasileiro de Política, Planejamento foram determinadas como competências
e Gestão em Saúde (2017), organizado pela profissionais a “organização do processo de
Associação Brasileira de Saúde Coletiva trabalho” e “Infraestrutura e Equipamentos”.
(ABRASCO) foi construído o Modelo Lógico A primeira competência fora construída com o
Multiprofissional (MLM), entendendo que este eixo de “Trabalho em Rede” (e seus sub-eixos
instrumento é um facilitador organizacional a de “Trabalho Uniprofissional” e “Trabalho
ser utilizado na rotina do exercício profissional. Interprofissional”) e com o eixo de “Articulação
Este Modelo foi validado, meses depois, em rede intra e intersetorial, governamental e
agosto 2017, em Salvador/BA, na primeira não governamental” (com seus sub-eixos de
edição da Feira de Soluções para a Saúde, “Conhecimento da Rede” e “Comunicação em
que é uma das ações que visam atender ao Rede”).
Eixo 3 (Fortalecer propostas de colaboração- A existência de sub-eixos na competência
cooperação na rede do complexo produtivo “organização do processo de trabalho” deve-
da saúde) do Projeto Plataforma de Vigilância se ao entendimento do grupo envolvido no
de Longo Prazo para Zika Vírus e Microcefalia processo de (re)elaboração do MLM como
no âmbito do SUS, da Fundação Oswaldo Cruz ações consideradas prioritárias para uma boa
(FIOCRUZ). Em novembro de 2017, na cidade condução do processo de trabalho, com vistas
de Maceió/AL, no I Congresso Internacional à operacionalização da prática cotidiana uni e
de Microcefalia e Audição, mais uma vez o multiprofissional.
material foi apresentado e discutido, para A outra competência do “Processo de
uma segunda validação. Trabalho” teve como eixos norteadores
Observando o MLM aqui apresentado, “Instalação Física”; “Materiais, equipamentos,
constata-se que a prática multiprofissional insumos e transporte” e “Recursos Humanos”.
foi organizada a partir da identificação Por fim, para cada eixo/sub-eixo estão
de Dimensão, Domínios e Competências. dispostas as ações consideradas como
Considerou-se como Dimensão a “Atenção fundamentais para uma atenção de
Integral à Saúde da Criança”, que fora qualidade, integral e resolutiva. Mas ressalta-
delimitada em dois domínios de atuação se aqui, que a leitura das ações deve ocorrer
multiprofissional: “Assistência à Saúde da de forma horizontal, não devendo obedecer
Criança” e “Processo de Trabalho”. Todas as uma hierarquização para sua concretização
definições para entendimento deste MLM já durante a prática profissional. Seguindo o
fora explicado no Capítulo 3 deste Caderno – mesmo raciocínio apresentado pelo ML da
Trabalhando com Domínios e Competências. Fisioterapia, cada ação do MLM deverá ser
Uma vez estabelecidos os domínios, pensada cocomitante com os aspectos a
foram formuladas as suas respectivas serem observados e com os recursos a serem
competências profissionais. Para o primeiro utilizados no processo da assistência.
56
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

MODELO LÓGICO MULTIPROFISSIONAL


Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

4.2.2 EIXOS DE AÇÃO PARA A COMPETÊNCIA saúde e sua constituição se dá a partir de organizações
ARTICULAÇÃO EM REDE poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde em que
4.2.2.1 EIXOS CONHECIMENTO DA REDE E todos os pontos de atenção à saúde são igualmente
importantes e se relacionam horizontalmente. Os
COMUNICAÇÃO EM REDE
pontos de atenção à saúde implicam uma continuidade
da atenção nos níveis primário, secundário e terciário,
A partir da compreensão de que nenhum serviço
possuem missão e objetivos comuns e devem operar de
isoladamente dispõe da totalidade de recursos e
maneiracooperativaeinterdependente,intercambiando
competências necessários à resolução dos problemas
constantemente seus recursos. Devem ainda funcionar
de saúde da população em seus diferentes ciclos de
sob coordenação da Atenção Primária em Saúde (APS)
vida, a RAS foi delineada com o objetivo de integrar os
e prestar atenção oportuna, em tempos e lugares
serviços de saúde, promovendo a complementaridade e
certos, de forma eficiente. A falta de articulação entre os
a interdependência dos atores e organizações (BRITO et
diferentespontosdaRAS,ainsuficiênciadefluxosformais
al., 2013). A RAS estrutura-se a partir de diferentes pontos
entre os diferentes níveis de atenção e a desarticulação
de atenção com densidades tecnológicas distintas e
das políticas que os normatizam são entraves à garantia
propõe a organização de sistemas de serviços de saúde
do cuidado integral, tornando incompleto esse processo
mais integrados e coordenados entre si, objetivando
na rede (MENDES, 2010).
proporcionar atenção contínua, integral, menos onerosa
O trabalho em rede, por sua vez, depende do
e de melhor qualidade (GIOVANELLA, 2011).
modo como cada serviço atua diante do que é de sua
A descentralização da oferta é fundamental à garantia
responsabilidade, o que causa impactos sobre o agir do
do acesso da população aos serviços de saúde, o que só
outro e pode gerar ou não a continuidade na produção
é possível com a ênfase na municipalização, propondo
do cuidado. Para a continuidade desse cuidado, faz-se
ações e serviços organizados de forma regionalizada
necessário a integração entre os profissionais envolvidos
e hierarquizada, a fim de cobrir os ‘vazios regionais de
no cuidado, entre esses e os usuários e entre os níveis
infraestrutura’. Uma vez que não seria viável alocar todos
assistenciais e os serviços que compõem a rede de
os serviços em todos os lugares, independentemente
atenção (BRITO et al., 2013). O mapeamento da rede de
de seu tamanho, território e disponibilidade de
serviços de saúde por gestores e profissionais significa
equipamentos e recursos humanos, os serviços de
o primeiro passo para o estabelecimento de referência
saúde devem organizar-se de modo associativo, numa
para população adscrita. Posto isso, são fundamentais
complementação permanente entre serviços mais
a boa relação entre os diferentes pontos de atenção, o
simples e mais complexos, com estabelecimento
estabelecimento de instrumentos comuns de referência
de mecanismos de referência e contrarreferência
e contrarreferência, a criação e o fortalecimento de
(CARVALHO, 2013). Isso vale, inclusive, para os serviços de
estruturas regulatórias, a organização dos fluxos e
tecnologia assistiva e exames complementares.
contrafluxos de atendimento e a implantação de sistema
AimplantaçãodaRASpermiterestabeleceracoerência
de informação com prontuário eletrônico, auxiliando na
entre a situação de saúde e o sistema de atenção à
resolutividade da atenção (ERDMANN et al., 2013).

FIGURA 8 - Membro do Grupo de Trabalho do CREFITO 1 para crianças com Síndrome Congênita do Zika Vírus, na apresentação do modelo lógico
em capacitação de fisioterapeutas do Recife
Quadro 8. Ação esperada referente ao eixo “Conhecimento da rede”

Quadro 9. Ações esperadas referente ao eixo “Comunicação em rede”

59
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

4.2.3 EIXOS DE AÇÃO PARA A COMPETÊNCIA intersetorial torna-se imprescindível, de modo que os
diferentes equipamentos devem estabelecer estratégias
ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL
de comunicação, dentro e fora do seu setor, estruturadas
4.2.3.1 EIXO ARTICULAÇÃO COM OUTROS SETORES por meio de conexão próxima entre seus diferentes
profissionais, criando uma interdependência e
O conceito ampliado de saúde exige muito mais do corresponsabilização entre os equipamentos na direção
que garantir a disponibilidade e o acesso aos serviços da garantia do atendimento integral e constituindo uma
de saúde, mas demanda dos profissionais e equipes rede de proteção aos usuários (FERRO et al., 2014).
o trabalho articulado com serviços que compõem Atuar intersetorialmente significa ultrapassar a

outros setores. Enquanto fenômeno complexo, a saúde fragmentação do conhecimento e da prática em
depende da articulação que é produzida entre os seus busca da unidade e da diversidade para melhor
diversos determinantes e condicionantes sociais, tais entendimento da realidade, integrando sujeitos de
como condições de vida, de trabalho, do meio ambiente setores sociais diversos e articulando diferentes saberes,
e da cultura, sendo fundamental considerar a promoção poderes e vontades, a fim de abordar um tema ou
da saúde enquanto processo resultante de um conjunto situação em conjunto (GARCIA et al., 2015). Trabalhar,
de ações intersetoriais. Educação, saúde, trabalho, governar e construir políticas públicas na premissa da
transporte, assistência social, dentre outros devem ser intersetorialidade contribui nas decisões de processos
setores envolvidos na formulação de ações estratégicas, administrativos para o enfrentamento de problemas
planejadasemconjuntoparaofortalecimentodasações complexos, com ações voltadas aos interesses coletivos,
em saúde (BRASIL, 2010a; GARCIA et al., 2015). o que pode produzir efeitos mais significativos na saúde
Para enfrentar os determinantes do processo saúde- dapopulação,melhorandoaeficiênciadagestãopolítica
doença e alcançar resultados em saúde, a articulação e dos serviços prestados (BRASIL, 2010a).

Quadro 10. Ações esperadas referentes ao eixo “Articulação com outros setores”
Você sabia que para a instalação de qualquer serviço de fisioterapia,
independente do número de profissionais envolvidos, é preciso que seja
designado e informado ao CREFITO um Fisioterapeuta que assuma a
responsabilidade técnica do mesmo (Resolução COFFITO nº 139/1992)? Cabe
ao responsável técnico garantir a qualidade dos serviços prestados, tanto no
âmbito da infraestrutura, de materiais/equipamentos/insumos e das técnicas
utilizadas durante o atendimento aos pacientes.
Todo responsável técnico deve ter conhecimento do Referencial Nacional de
Procedimentos Fisioterapêuticos - RNPF (Resolução COFFITO nº 482/2017), que
é fundamentado em recomendações científicas e demandas epidemiológicas
atuais, estabelecendo os respectivos índices mínimos de preços por
procedimentos, baseados em estudo científico-financeiro. A precificação do
RNPF tem exclusivo propósito ético-deontológico, demonstrando valores
mínimos de sustentabilidade econômica dos serviços de Fisioterapia,
necessários para subsidiar a qualidade e a segurança na assistência.

4.2.4 EIXOS AÇÃO PARA A COMPETÊNCIA não pode ser desvinculada do espaço físico no
INFRAESTRUTURA E EQUIPAMENTOS qual ela é promovida, uma vez que o ambiente
influencia o trabalho e produz formas de cuidar,
Os eixos dispostos para essa competência são revelando-se também como uma importante
entendidos como responsabilidade da gestão estratégia de promoção da saúde. Nesse
dos serviços de saúde, sendo componentes sentido, a instalação física de uma unidade
diretamente ligados à qualidade dos serviços e de saúde deve oferecer condições dignas aos
importantes para a garantia da integralidade da trabalhadores e usuários para concretizarem
atenção. Nesse sentido, é fundamental salientar processos de grande complexidade (GARCIA et
que o estabelecimento de medidas que reforcem al., 2015). Para tanto, a Unidade de Saúde deve
a responsabilização dos gestores no sentido de possuir boa condição de ambiência, acústica,
aperfeiçoar os processos de planejamento das ventilação, iluminação, fluxo de usuários,
ações e de alocação de recursos tecnológicos, pisos, paredes e tetos apropriados, além de
considerando a importância da redução das instalações hidráulicas e elétricas adequadas
desigualdades geográficas e sociais e do (BRASIL, 2012).
desperdício de recursos públicos, é condição
necessária para a obtenção da equidade e da
integralidade do cuidado no setor saúde, com
vistas a melhoria da qualidade dos serviços
prestados (AMORIM, PINTO JUNIOR, SHIMIZU,
2015).

4.2.4.1 EIXO INSTALAÇÃO FÍSICA

No campo das políticas públicas de saúde,


propõe-se a transformação dos modelos de
atenção e gestão nos serviços e sistemas
de saúde na perspectiva da humanização,
sinalizando a necessidade de construção de
novas relações entre usuários e trabalhadores,
tornando-os protagonistas e corresponsáveis no
processo de cuidar (BESTETTI, 2014). No âmbito FIGURA 9 - Ambiente projetado para assistência
dos serviços de saúde, a atenção prestada ambulatorial em fisioterapia na saúde da criança

61
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

A Política Nacional de Humanização interação e o vínculo sociais estabelecidos


representa um marco por considerar o entre usuários, familiares e trabalhadores,
ambiente enquanto lugar promotor de saúde, passando a considerar as situações que são
trazendo à tona a necessidade de reorganização construídas e que interferem no tratamento
dos serviços a partir das diretrizes centrais dos indivíduos e no processo de trabalho
da acessibilidade e integralidade, buscando (BRASIL, 2010b; GARCIA et al., 2015).
melhorias de sua ambiência (RONCHI e ​Nesse sentido, o ambiente físico dos serviços
AVELLAR, 2013). A Ambiência na Saúde de saúde precisa ser visto como ferramenta
relaciona-se ao tratamento dado ao ambiente facilitadora do processo de trabalho,
físico, compreendido enquanto espaço social, devendo assegurar conforto físico e subjetivo
profissional e de relações interpessoais que para intervenções mais efetivas, como a
deve possibilitar atenção humana, acolhedora disponibilidade de mobílias apropriadas,
e resolutiva. A aplicação do conceito de comunicação visual agradável, lugares
ambiência no campo da saúde representa um adequados para momentos de conversas
avanço qualitativo no debate da humanização com os usuários, garantindo o direito à
dos territórios de encontros do SUS, pois privacidade e o respeito à individualidade,
reconhece o serviço não só pelo seu aspecto valorizando uma atenção integral à saúde e
concreto estrutural, vai além da composição estimulando atendimentos comprometidos
técnica, simples e formal dos ambientes, com a produção de saúde (RONCHI e AVELLAR,
incorporando os recursos humanos, a 2013; GARCIA et al., 2015).

Quadro 11. Ações esperadas referentes ao eixo “Instalação física”

62
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Você sabia que nos casos dos serviços em que a infraestrutura existente não atenda
às normas do COFFITO, do Ministério da Saúde e da ANVISA, ou mesmo às normas
de acessibilidade/iluminação/segurança da ABNT, será de total responsabilidade
do profissional e do Responsável Técnico, qualquer dano causado ao paciente pela
inobservância dessas normas (Resoluções COFFITO nº 139/1992 e nº 424/2013)?

4.2.4.2 EIXO MATERIAIS, EQUIPAMENTOS E funcionamento das instalações físicas, equipamentos


INSUMOS e instrumentais das unidades de saúde (BRASIL,
2012). Fazendo um recorte para a APS, segundo o
Uma maior resolutividade das ações de saúde Caderno de Atenção Básica número 39 (CAB-39),
tambémdependedadisponibilizaçãodeinfraestrutura é de responsabilidade dos gestores garantir ainda
e equipamentos/materiais mínimos necessários ao condições para o deslocamento dos profissionais do
cuidado prestado nos serviços de saúde. Desse modo, NASF entre as Unidade Básica de Saúde (UBS) cobertas
o planejamento das compras de equipamentos, e para a realização de visitas domiciliares por meio de
insumos e material permanente deve ser realizado transporte oficial, ajuda de custo ou vale-transporte,
de modo a garantir a regularidade do abastecimento, sempre que necessário (BRASIL, 2014).
o controle dos estoques e a manutenção dos Paralelo a isso, os Equipamentos de Proteção
equipamentos, visando a sua adequação e suficiência Individual(EPI),comoóculosdeacrílico,luvas,máscaras,
em tempo oportuno, a fim de assegurar a qualidade capotes, gorros, entre outros, são de uso obrigatório
das ações ofertadas. Mais ainda, o planejamento e garantido por lei e devem ser disponibilizados pelos
a execução dos serviços de manutenção devem ser serviços, a fim de promover proteção contra riscos
realizados de maneira preventiva e corretiva, contínua capazes de ameaçar a segurança e a saúde tanto dos
e sistemática, uma vez que são essenciais para o bom profissionais quanto dos usuários (BRASIL, 2012).

Quadro 12. Ações esperadas referentes ao eixo “Materiais, Equipamentos e Insumos”

63
A depender do atendimento fisioterapêutico a ser realizado,
alguns materiais, equipamentos e insumos são obrigatórios para
a garantia da eficácia da técnica empregada, como também para
a segurança do profissional ou do próprio paciente, segundo as
normas de Biosegurança da ANVISA .
Você sabia que a continuidade da conduta terapêutica em
condições inadequadas pode acarretar em infração ético-
disciplinas e suas respectivas sanções legais (Resolução COFFITO
nº 424/2013 e Lei Federal nº 6.316/75)? Por isso, o Fisioterapeuta,
a fim de se resguardar, deverá sempre notificar o CREFITO sobre
essas irregularidades, para que atos fiscalizatórios possam ser
realizados (Resoluções COFFITO nº 139/1992 e nº 424/2013).

4.2.4.3 EIXO RECURSOS HUMANOS da saúde pública, a precariedade do vínculo


empregatício, com a dificuldade de adesão e fixação
Os recursos humanos constituem-se como de trabalhadores nos diferentes territórios, apresenta-
elemento crucial na organização e no desempenho se como um dos principais empecilhos à implantação
de qualquer estrutura social. No campo da saúde, as e ao pleno desenvolvimento das RAS. A rotatividade
mudanças das práticas e a lógica do trabalho em rede de trabalhadores dificulta a longitudinalidade e a
exigem uma reordenação no campo da formação, continuidade do cuidado, além de exigir maior gasto de
além do vínculo e da qualificação permanente dos recursos públicos para capacitação e preparação dos
trabalhadores no sistema de saúde. No contexto novos profissionais que chegam aos serviços (ASSIS,
ALVES e SANTOS, 2008; GONÇALVES et al., 2014).

64
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Paralelo a isso, a insuficiência de profissionais deles próprios como trabalhadores e dos usuários e a
preparados e/ou capacitados para o desempenho das resolubilidade do sistema de saúde (SILVA et al., 2015;
atividades no sistema de saúde é considerada uma FALKENBERG et al., 2014)
situação angustiante, que dificulta o desenvolvimento O enfrentamento desses problemas requer
das ações necessárias à saúde da população e estratégias que supram necessidades que vão desde a
a resolução de demandas diagnosticadas na formação,ainserçãoeadisponibilidadedeprofissionais
comunidade, gerando insatisfação no trabalho (ASSIS, no mundo do trabalho até o vínculo dos trabalhadores
ALVES e SANTOS, 2008; SILVA et al., 2015). Os cenários com o sistema de saúde, o que exige avanços das
de atuação dos profissionais de saúde são os mais políticas de recursos humanos. Para tanto, tornam-se
diversos e exigem diariamente atitudes que envolvem cruciais: a desprecarização do processo de trabalho;
inteligência emocional, relações interpessoais, o desenvolvimento de iniciativas de valorização dos
conhecimento e desenvolvimento de competências e trabalhadores; a adequação do perfil profissional e a
habilidades para tomada de decisões a partir de uma implantação de estratégias de educação continuada/
postura crítico-reflexiva, o que denota a necessidade permanente que permitam ascensão profissional e
de formação para além da graduação. Nesse processo, maior motivação, respeitando-se as necessidades
as instituições de serviço têm papel fundamental no dos serviços e a satisfação dos trabalhadores; a
desenvolvimento das capacidades dos profissionais, regulamentação de plano de carreira, cargos e salários;
de maneira a contribuir para essa formação, a fim de e mecanismos de compensação salarial (ASSIS, ALVES e
tornar os profissionais aptos a atuarem na perspectiva SANTOS, 2008).
da integralidade do cuidado, buscando a segurança

Quadro 13. Ações esperadas referentes ao eixo “Recursos Humanos”

65
É de total responsabilidade do Fisioterapeuta, proporcionar condições
plenas para manter a assistência fisioterapêutica de qualidade, conforme
as necessidades das crianças e de suas famílias (Resoluções COFFITO nº
424/ 2013 e nº 444/2014). Então, a educação permanente e continuada
são imprescindíveis para que o profissional mantenha-se atualizado
cientificamente e legalmente.
Por exemplo, você sabia que há legislação que assegura que o número
de profissionais de um serviço de Fisioterapia deve ser compatível com
a demanda de usuários vinculados ao mesmo (Resoluções COFFITO
nº 387/2011 e nº 444/2014)? E que, em hipótese alguma, a escassez de
recursos humanos deve ser compensada com a presença de estagiários
ou leigos (Resoluções COFFITO nº 431/2013 e nº 432/2013)?

FIGURA 10 – Profissionais e Acadêmicos da Fisioterapia e de outras categorias profissionais participando do Simpósio


Multiprofissional sobre a Síndrome Congênita do Zika Virus, em Faculdade particular do Recife.

66
5. Gestores
Como oferecer à criança uma assistência fisioterapêutica de qualidade?

Esse capítulo direciona-se à gestão dos e recomendações emanadas pelo


serviços de saúde e tem como objetivo embasar Conselho Federal de Fisioterapia e de
os fisioterapeutas quanto às estratégias legais Terapia Ocupacional, mantendo-se
para o estímulo ao oferecimento de serviços sempre atualizado.
de saúde que atendam às necessidades para
uma assistência de qualidade às crianças. b) O fisioterapeuta somente deve aceitar
Além das ações propostas direcionadas aos atribuição ou assumir encargo, após
gestores nos eixos dispostos na Competência avaliar sua própria capacidade técnica, a
Infraestrutura e equipamentos do Domínio fim de garantir um desempenho seguro
Processo de Trabalho, faz-se necessário, para a para a criança, em respeito aos direitos
execução de uma intervenção fisioterapêutica humanos, sempre tendo em vista a
integral à saúde da criança, ressaltar os itens qualidade de vida da mesma e de sua
mais prevalentes de fragilidade na assistência família, sem discriminação de qualquer
prestada à sociedade, segundo mapeamento forma ou pretexto, segundo os princípios
do Departamento de Fiscalização (DEFIS) do do sistema de saúde vigente no Brasil.
Conselho Regional de Fisioterapia e de Terapia
Ocupacional da 1ª Região. c) O profissional deve se atualizar
As infrações mais comuns aos atos e aperfeiçoar seus conhecimentos
normativos que regem o exercício profissional técnicos, científicos e culturais,
da fisioterapia foram apresentados ao longo amparando-se nos princípios da
desse Caderno no item VOCÊ SABIA?, em beneficência e da não maleficência,
ambos os Domínios: assistência e processo de no desenvolvimento de sua profissão,
trabalho. Evidenciamos que algumas ações inserindo-se em programas de educação
do Domínio Processo de Trabalho interferem continuada e de educação permanente.
diretamente no Domínio Assistência à Saúde
da Criança. d) Todo fato em que o fisioterapeuta
No que tange, especificamente à tenha conhecimento, e que seja
competência do Conselho Profissional tipificado como crime, contravenção
da Fisioterapia, o Código de Ética vigente ou infração ética, deve ser comunicado
(RESOLUÇÃO COFFITO nº 424/2013) à chefia imediata da instituição em que
fundamenta o profissional, resumidamente, trabalha ou à autoridade competente,
sobre os principais aspectos a serem a fim de que a criança/família sob sua
atendidos e que, numa relação de trabalho responsabilidade esteja protegida
deve ser respeitada pelos Gestores de serviço: contra danos decorrentes de imperícia,
a) Para o exercício profissional da negligência ou imprudência por parte
fisioterapia é obrigatória a inscrição no de qualquer membro da equipe de
Conselho Regional da circunscrição em saúde. Se necessário, essa comunicação
que atuar na forma da legislação em deve ser formalizada à chefia imediata,
vigor, devendo o fisioterapeuta portar à instituição, ao Conselho Regional de
sua identificação profissional sempre Fisioterapia e de Terapia Ocupacional
que em exercício. Esse profissional e/ou outros órgãos competentes, a
deve observar as normatizações fim de que sejam tomadas as medidas

67
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

cabíveis para salvaguardar a saúde, mesmo a outro profissional. É proibido


a participação social, o conforto e a ao profissional prescrever tratamento
intimidade da criança e das famílias, fisioterapêutico sem realização de
ou mesmo a reputação profissional dos consulta, exceto em caso de indubitável
membros da equipe. urgência. Toda a assistência prestada
deve ser registrada em prontuário e ser
e) O cumprimento dos Parâmetros mantida fora do alcance de estranhos
Assistenciais e do Referencial Nacional à equipe de saúde da instituição,
de Procedimentos Fisioterapêuticos salvo quando outra conduta seja
normatizados pelo COFFITO devem expressamente recomendada pela
ser valorizados, para que assim a direção da instituição e que tenha
qualidade da assistência prestada seja amparo legal.
garantida. A título de exemplificação
sobre os parâmetros assistenciais g) É proibido ao fisioterapeuta atender
preconizados para a fisioterapia, no caso crianças que saiba estar em tratamento
da assistência ambulatorial de crianças com colega, ressalvadas as seguintes
com desenvolvimento neuropsicomotor hipóteses: a pedido do colega; em
atípico, numa jornada de trabalho caso de indubitável urgência; e
diária de 06 horas, só é permitida a quando procurado espontaneamente
realização de duas (02) consultas (1ª pelo cliente/paciente/usuário. É
consulta e consultas posteriores para terminantemente proibido o desvio de
realização de anamnese, exame físico e forma antiética para si ou para outrem,
complementares) e oito (08) pacientes e, nos casos em que receber alguma
para atendimento propriamente. criança para assistência confiado por
Qualquer excedente nessa relação do colega, em razão de impedimento
número de atendimentos e horas de eventual deste, deve reencaminhar o
trabalho, será considerada como uma cliente ao colega uma vez.
infração.

f) O fisioterapeuta deve zelar


pela provisão e manutenção de
adequada assistência ao seu cliente/
paciente/usuário, amparados em
métodos e técnicas reconhecidos
ou regulamentados pelo Conselho
Federal de Fisioterapia e de
Terapia Ocupacional, devendo se
responsabilizar pela elaboração do
diagnóstico fisioterapêutico, instituir e
aplicar o plano de tratamento e conceder
alta para o cliente/paciente/usuário, ou,
quando julgar necessário, encaminhar o

68
6. Glossário
Abordagem de intervenção: estratégias a detecção precoce e tratamento efetivo das
específicas selecionadas para direcionar o principais doenças que afetam a saúde das
processo de intervenção que são baseadas no crianças menores de 5 anos de idade, contribui
resultado desejado pelo cliente, nos dados da para melhorar os conhecimentos e as práticas
avaliação e na evidência. das famílias, para a prevenção de doenças e
para a promoção de saúde. A sua aplicação
Acessibilidade: tem amplo significado. Pode nos serviços de saúde e na comunidade pode
consistir na possibilidade de acesso a um lugar produzir um importante impacto na redução do
ou conjunto de lugares. Significa não apenas número de mortes na infância, na diminuição
permitir que pessoas com deficiência ou do número e gravidade das doenças que
mobilidade reduzida participem de atividades acometem esse grupo etário, assim como nas
que incluem o uso de produtos, serviços e condições nutricionais e de desenvolvimento
informação, mas a inclusão e extensão do dos menores de cinco anos de idade.
uso destes por todas as parcelas presentes
em uma determinada população, visando AIMS (Alberta Infant Motor Scale): a Escala
sua adaptação e locomoção, eliminando as Motora Infantil de Alberta incorpora o conceito
barreiras. Na arquitetura e no urbanismo, a neuromaturacional e a teoria dos sistemas
acessibilidade visa eliminar os obstáculos dinâmicos, além de ser usada para medir a
existentes ao acesso, modernizando e maturação do motor amplo de recém-nascido
incorporando essas pessoas ao convívio social, desde o nascimento até a idade do andar
possibilitando a inclusão de toda população. independente.
Em informática, programas que provêm
acessibilidade são ferramentas ou conjuntos Ambiente físico: ambiente não-humano
de ferramentas que permitem que pessoas natural ou construído, incluindo os objetos
com deficiência (as mais variadas) se utilizem pertencentes a eles. O ambiente natural inclui
dos recursos que o computador oferece. o terreno geográfico, as plantas e os animais,
bem como as qualidades sensoriais do entorno
ADI (Agente de Desenvolvimento Infantil): natural. O ambiente construído inclui edifícios,
é o profissional que auxilia no atendimento mobiliário, ferramentas e dispositivos.
de crianças em creches e escolas, auxilia
o professor na atuação junto ao processo Ambiente social: a presença, os
educativo das crianças, e também na execução relacionamentos e as expectativas de pessoas,
de atividades pedagógicas e recreativas diárias grupos e populações com os quais os indivíduos
dos alunos. têm contato (por exemplo, a disponibilidade
e as expectativas das pessoas significativas,
AIDIP (Atenção Integrada às Doenças como cônjuge, amigos e cuidadores, a
Prevalentes na Infância): é considerada comunidade).
atenção Integrada às Doenças Prevalentes na
Infância. É considerada a principal intervenção Aplicabilidade prática (exequibilidade e
disponível para melhorar as condições de saúde viabilidade): trata-se da pesquisa ligada à
na infância nos países em desenvolvimento. prática de conhecimento científico para fins
Também representa um instrumento útil para explícitos de intervenção na realidade, mas sem

69
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

perder o rigor metodológico. A exequibilidade Articulação em Rede: em essência,


refere-se ao fato de que algo pode ser exequível, corresponde à articulação entre serviços
possível, realizável ou executável. Viabilidade, e sistemas de saúde, e às relações entre
por sua vez, é o ato ou efeito de algo ser viável, atores que aí atuam, mediante relações de
ou seja, ter possíbilidades de ser realizado, interdependência entre os pontos da Rede.
levando-se em consideração vários fatores,
como se vai ter vantagens ou desvantagens, Articulação intersetorial: relação
quais as consequências, qual a perspectiva. reconhecida entre uma ou várias partes do
setor saúde com uma ou várias partes de outro
Áreas de conhecimento: as áreas setor – educação, assistência social, justiça,
fundamentais do conhecimento humano entre outros - que se tenha formado para atuar
compreendem as ciências naturais, sociais, em um tema visando alcançar resultados de
humanas e da saúde. saúde de uma maneira mais efetiva, eficiente
ou sustentável do que poderia alcançar o setor
ASQ-3 (Ages and Stages Questionnaires): saúde agindo por si só (TEIXEIRA, 2002; GARCIA
é um instrumento para avaliação da et al., 2014).
criança, abrangendo cinco domínios do
desenvolvimento infantil: (1) comunicação, (2) Atitude: responsável pelo modo como o
coordenação motora ampla, (3) coordenação sujeito se comporta frente a uma situação.
motora fina, (4) resolução de problemas e Esta envolve a postura ética, crítica e reflexiva,
(5) pessoal/social. Cobre todas as idades da investigativa, humana, comunicacional. Como
primeira infância, desde um mês de vida até por exemplo: forma como o sujeito age e
os cinco anos e meio de idade e, portanto, comporta em situações de cuidado (relação
pode ser aplicado nas crianças em creche e em terapeuta-paciente), de trabalho em equipe,
pré-escola. Caracteriza-se pela facilidade na de solução de problemas de saúde. As atitudes
aplicação, exigindo apenas que o informante são um dos aspectos que junto com outros
conheça muito bem a criança avaliada. elementos compõem as competências.

Assistência Integral: constitui-se num Atividade: é a execução de uma tarefa ou ação


conjunto articulado e contínuo das ações e por um indivíduo. Ela representa a perspectiva
serviços preventivos e curativos, individuais e individual da funcionalidade.
coletivos,exigidos para cada caso, em todos os
níveis de complexidade do sistema. Avaliação: processo de obtenção e
interpretação dos dados necessários para a
Aspectos Psicossociais: a capacidade de intervenção. Isso inclui planejar e documentar
interagir na sociedade e processar as emoções o processo de avaliação e seus resultados.
(envolve valores, interesses, habilidades
interpessoais, autocontrole).
Barreiras: são fatores ambientais que,
Aspectos Sensoriomotores: a capacidade de através da sua ausência ou presença, limitam
receber estímulo, processar as informações e a funcionalidade e provocam a incapacidade.
produzir uma reação. Estes fatores incluem aspectos como um

70
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

ambiente físico inacessível, falta de tecnologia funcionalidade que uma pessoa pode atingir,
de assistência apropriada, atitudes negativas num dado momento, em algum dos domínios
das pessoas em relação à incapacidade, bem incluídos em Atividades e Participação. A
como serviços, sistemas e políticas inexistentes capacidade é medida num ambiente uniforme
ou que dificultam o envolvimento de todas as ou padrão refletindo assim a capacidade
pessoas com uma condição de saúde em todas do indivíduo ajustada para o ambiente. O
as áreas da vida. componente dos Fatores Ambientais pode
ser utilizado para descrever as características
Bases de dados científicas: são bases de deste ambiente uniforme ou padrão.
dados bibliográficas, que têm como conteúdo
referências de artigos e documentos científicos, CIF: classificação Internacional de
com ou sem resumo. As principais bases de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. É hoje
dados em saúde são: LILACS (Base de dados o modelo da Organização Mundial da Saúde
da Literatura Latino-Americana e do Caribe em (OMS) para saúde e incapacidade, constituindo
Ciências da Saúde), SciELO, MEDLINE (Base de a base conceitual para definição, mensuração e
dados especializada em ciências biomédicas e formulação de políticas nesta área (CIF, 2015).
ciências da vida), COCHRANE, entre outras.
Crescimento: é o aumento do tamanho
Bem estar: é um termo geral que engloba o corporal e, portanto, ele cessa com o término
universo total dos domínios da vida humana, do aumento em altura (crescimento linear).
incluindo os aspectos físicos, mentais e sociais, De um modo mais amplo, pode-se dizer que
que compõem o que pode ser chamado de o crescimento do ser humano é um processo
uma “vida boa”. dinâmico e contínuo que ocorre desde a
concepção até o final da vida, considerando-se
Brincar: qualquer atividade espontânea ou os fenômenos de substituição e regeneração
organizada que proporciona prazer, diversão, de tecidos e órgãos (BRASIL-CAB11, 2002).
distração, divertimento ou entretenimento.
Competência: substantivo que representa
Caderneta da Criança: também chamada a capacidade profissional de mobilizar os
de caderneta de saúde da criança. Foi recursos disponíveis, de modo articulado,
desenvolvida pelo Ministério da Saúde com o para a resolução de determinada situação
objetivo de reunir aspectos importantes da vida (PERRENOUD, 2002).
da criança, favorecendo o acompanhamento
da mesma por parte dos profissionais e pais, Conceito: dá o significado exato das expressões
como informações sobre vacinação, sobre da linguagem e pode ser compreendido de
crescimento entre outras. Também contém modo universal por todas as pessoas.
orientações gerais, como amamentação, quais
vacinas devem ser aplicadas e o que fazer em Concepção: modo como a pessoa percebe/
caso de acidente doméstico. concebe determinada questão, tema ou
conceito ao relacionar seu próprio eu com o
Capacidade: é um constructo que indica, seu fazer profissional e o meio no qual está
como qualificador, o nível máximo possível de inserido (como: instituição, cenário, alunos,

71
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

professores). Pode ser entendido como a Consistência do material: é quando os


representação daquilo que a pessoa construiu, resultados de observações feitas por diferentes
como ser gerativo (que gera/produz) a partir de autores ou pelo mesmo autor são iguais todo o
suas experiências e vivências, como seu modo tempo.
de ver/conceber determinado tema.
Contexto: variedade de condições inter-
Condição de saúde: são as circunstâncias relacionadas dentro e em torno do indivíduo
na saúde das pessoas que se apresentam de que influenciam o desempenho, incluindo
formas mais ou menos persistentes e que os contextos culturais, pessoais, temporais e
exigem respostas sociais reativas ou proativas, virtuais.
eventuais ou contínuas e fragmentadas ou
integradas. Saúde é um estado de completo Cuidado centrado no cliente (prática
bem-estar físico, mental e social, e não apenas centrada no cliente): abordagem de serviços
a ausência de doenças. A Organização Mundial que incorpora o respeito e a parceria com os
de Saúde (OMS) também define saúde com um clientes, vistos como participantes ativos no
olhar mais funcional: “A medida em que um processo de terapia. Esta abordagem enfatiza
indivíduo ou grupo é capaz, por um lado, de o conhecimento e a experiência, a força, a
realizar aspirações e satisfazer necessidades capacidade de escolha e a autonomia geral do
e, por outro, de lidar com o meio ambiente. A cliente.
saúde é, portanto, vista como um recurso para
a vida diária, não o objetivo dela; abranger Deficiência: perda ou anormalidade de
os recursos sociais e pessoais, bem como as estrutura ou função psicológica, fisiológica ou
capacidades físicas). anatômica, temporária ou permanente.

Confiabilidade: é o grau com que o resultado DENVER II: teste de Triagem de


de um teste reflete o quanto os valores Desenvolvimento de Denver II (TTDD-R), para
observados estão correlacionados aos crianças de 0-6 anos de idade. Avalia quatro
verdadeiros valores (CARMINES & ZELLER, áreas do desenvolvimento neuropsicomotor:
1979; CROCKER & ALGINA, 2006) motor-grosseiro, motor fino-adaptativo,
linguagem e pessoal-social.
Conhecimento: pode ser compreendido pelas
áreas do saber (conhecimentos teóricos e Desempenho: é um constructo que descreve,
conceituais), áreas do saber fazer (da prática) como qualificador, o que os indivíduos fazem
bem como do saber o por quê (justificação no seu ambiente habitual, incluindo assim o
do saber fazer) que se fazem necessários a aspecto do envolvimento de uma pessoa nas
formação profissional (GARCIA, 1999). São situações da vida.
oriundos de diferentes áreas como, por
exemplo, saúde, sociais, humanas, exatas, Desempenho Ocupacional: ato de realizar e
naturais, dentre outras e que coadunam para completar uma ação selecionada (componente
a formação científica. Os conhecimentos são de desempenho), atividade ou ocupação, que
um dos aspectos que, em conjunto com outros é resultado da transação dinâmica entre o
elementos, compõem as competências. cliente, o contexto e a atividade. Fornecendo

72
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

ou capacitando as habilidades e padrões competências profissionais.


em desempenho ocupacional que levam ao
envolvimento em ocupações ou atividades. DNPM: desenvolvimento Neuropsicomotor.

Desenvolvimento: é um conceito amplo que Domínio: subdivisão da Dimensão,


se refere a uma transformação complexa, apresentando-se como áreas ou subaéreas de
contínua, dinâmica e progressiva, que conhecimento que gerarão as competências.
inclui, além do crescimento, a maturação, a
aprendizagem e os aspectos psíquicos e sociais Ecomapa: é um diagrama das relações entre
(BRASIL-CAB11, 2002). a família e a comunidade e ajuda a avaliar os
apoios e suportes disponíveis e sua utilização
Desenvolvimento Afetivo: é o estudo pela família.
do desenvolvimento que está relacionado
principalmente com os aspectos sociais e Educação Continuada: processo de aquisição
emocionais do desenvolvimento humano sequencial e acumulativa de informações
(domínio social-emocional). Exemplo: motivação. técnico-científicas pelo trabalhador, por
meio de escolarização formal, de vivências,
Desenvolvimento Cognitivo: é o estudo do de experiências laborais e de participação no
desenvolvimento intelectual humano. âmbito institucional ou fora dele.

Desenvolvimento Físico: inclui todos os Educação Permanente: ações educativas


tipos de mudanças corporais aos quais as embasadas na problematização do processo de
pessoas estão expostas, do tipo crescimento e trabalho em saúde e que tenham como objetivo
desenvolvimento, como peso, altura, amplitude a transformação das práticas profissionais e
de movimento, força muscular, flexibilidade, da própria organização do trabalho, tomando
endurance, entre outras variáveis. como referência as necessidades de saúde das
pessoas e das populações, a reorganização
Desenvolvimento Motor: é o estudo das da gestão setorial e a ampliação dos laços da
mudanças que ocorrem no comportamento formação com o exercício do controle social
motor humano durante as varias fases da vida, em saúde.
os processos que servem de base para essas
mudanças e os fatores que os afetam. Eixo: pode ser compreendido, neste contexto,
como linha condutora do processo formativo
Diário de Rotina: instrumento utilizado por e em torno do qual os demais elementos
profissionais de saúde a partir de registro da deverão ser mobilizados e orientados. Consiste
rotina do indivíduo atendido (atividades, local, no centro do acontecimento que servirá como
horário, grau de envolvimento) para subsidiar apoio para o desenvolvimento dos demais
a avaliação, intervenção e acompanhamento elementos.
terapêutico.
ESF (Estratégia Saúde da Família): é
Dimensão: grandes eixos concernentes composta por equipe multiprofissional
às áreas de conhecimento, relativo às que possui, no mínimo, médico generalista

73
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

ou especialista em saúde da família ou conhecimentos e habilidades para atuar em


médico de família e comunidade, enfermeiro determinadas situações específicas.
generalista ou especialista em saúde da
família, auxiliar ou técnico de enfermagem e Especificidade: é um dos parâmetro
agentes comunitários de saúde (ACS). Pode-se fundamentais para a definição de um teste
acrescentar a esta composição, como parte da diagnóstico. Quanto maior a especificidade
equipe multiprofissional, os profissionais de de um teste, maior a capacidade de o teste
saúde bucal (ou equipe de Saúde Bucal-eSB): positivo indicar a doença, pois diminui a
cirurgião-dentista generalista ou especialista probabilidade de falso positivo, Um aumento
em saúde da família, auxiliar e/ou técnico em da especificidade do teste decorre de uma
Saúde Bucal. diminuição da sensibilidade do mesmo e vice-
versa (GREINER e GARDNER, 2000).
Equipamentos sociais: constituem a base
físico-espacial a partir da qual são prestados Estratégia Saúde da Família (ESF): modelo
os serviços públicos relativos a diferentes que visa à reorganização da atenção básica no
setores das políticas sociais tais como saúde, País, de acordo com os preceitos do Sistema
educação, assistência social, esportes, cultura Único de Saúde, e é tida pelo Ministério da
e lazer. Como exemplo de equipamentos de Saúde e gestores estaduais e municipais
saúde pode-se citar as Unidades de Pronto como estratégia de expansão, qualificação e
Atendimento (UPA) e de Unidades Básicas de consolidação da atenção básica por favorecer
Saúde (UBS). uma reorientação do processo de trabalho com
maior potencial de aprofundar os princípios,
Equipe de Saúde da Família (eSF): uma equipe diretrizes e fundamentos da atenção básica, de
multiprofissional composta por, no mínimo: (I) ampliar a resolutividade e impacto na situação
médico generalista, ou especialista em Saúde de saúde das pessoas e coletividades, além
da Família, ou médico de Família e Comunidade; de propiciar uma importante relação custo-
(II) enfermeiro generalista ou especialista efetividade.
em Saúde da Família; (III) auxiliar ou técnico
de enfermagem; e (IV) agentes comunitários Estruturas do corpo: são as partes estruturais
de saúde. Podem ser acrescentados a essa ou anatômicas do corpo, tais como órgãos,
composição os profissionais de Saúde Bucal: membros e seus componentes classificados de
cirurgião-dentista generalista ou especialista acordo com os sistemas orgânicos. O padrão
em Saúde da Família, auxiliar e/ou técnico em para essas estruturas é a norma estatística
Saúde Bucal. para a população humana.

Equipe Interprofissional: composta por Facilitadores: são fatores ambientais que,


agentes de diferentes áreas de conhecimento através da sua ausência ou presença, melhoram
que atuam na condução de um caso. a funcionalidade e reduzem a incapacidade de
uma pessoa. Estes fatores incluem aspectos
Especialista: o profissional que apresenta como um ambiente físico que seja acessível,
domínio aprofundado em determinado disponibilidade de tecnologia de assistência
campo/subárea de conhecimento. Detém apropriada, atitudes positivas das pessoas em

74
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

relação à incapacidade, bem como serviços, Funcionalidade: é um termo genérico para


sistemas e políticas que visam aumentar o as funções do corpo, estruturas do corpo,
envolvimento de todas as pessoas com uma atividades e participação. Ele indica os aspectos
condição de saúde em todas as áreas da vida. positivos da interação entre um indivíduo
A ausência de um fator também pode ser um (com uma condição de saúde) e os seus fatores
facilitador, por exemplo, a ausência de estigma contextuais (ambientais e pessoais).
ou de atitudes negativas. Os facilitadores podem
impedir que uma deficiência ou limitação de Funções do corpo: são as funções fisiológicas
atividade se transforme numa restrição de dos sistemas orgânicos (incluindo as funções
participação, já que o desempenho real de psicológicas). “Corpo” refere-se ao organismo
uma ação é potenciado, apesar do problema humano como um todo e, portanto, inclui
da pessoa relacionado com a capacidade. o cérebro. Assim, as funções mentais (ou
psicológicas) são consideradas parte das
Fatores contextuais: são os fatores que, em funções do corpo. O padrão para essas funções
conjunto, constituem o contexto completo é a norma estatística para a população humana.
da vida de um indivíduo e, em particular, a
base sobre a qual os estados de saúde são GMFCS (Gross Motor Function Classification
classificados na CIF. Há dois componentes System): esse sistema tem por objetivo
dos fatores contextuais: Fatores Ambientais e classificar a função motora grossa da criança
Fatores Pessoais. com ênfase no movimento de sentar e
caminhar por meio de cinco níveis motores
Fatores ambientais: constituem o ambiente presentes em cada uma das quatro faixas
físico, social e atitudinal em que as pessoas etárias (0 a 2 anos, 2 a 4 anos, 4 a 6 anos e 6 a
vivem e conduzem sua vida. Constituem um 12 anos), caracterizando o desempenho motor
componente da CIF e referem-se a todos os da criança ao levar em consideração diferentes
aspectos do mundo externo ou extrínseco contextos como casa, escola e espaços
que formam o contexto da vida de um comunitários. É capaz de prever o prognóstico
indivíduo e, como tal, têm um impacto sobre da função motora grossa da criança com
a funcionalidade dessa pessoa. Os fatores paralisia cerebral. A classificação da criança em
ambientais incluem o mundo físico e as suas relação ao nível motor do GMFCS permanece
características, o mundo físico criado pelo estável ao longo do tempo, o que certifica que,
homem, as outras pessoas em diferentes além de garantir uma maior uniformidade na
relacionamentos e papéis, as atitudes e os classificação da função motora grossa, esse
valores, os serviços e os sistemas sociais, as instrumento também colabora com a previsão
políticas, as regras e as leis. de um prognóstico para a criança (HIRATUKA,
2010).
Fatores pessoais: são fatores contextuais
relacionados com o indivíduo, tais como, GMFM (Gross Motor Function Measure): é
idade, sexo, nível social, experiências de vida, um instrumento de avaliação das mudanças
etc., que não são classificados na CIF, mas que longitudinais na função motora grossa em
os utilizadores podem incorporar nas suas crianças com PC. Descreve o nível da função
aplicações da classificação. motora de uma criança, documentando a

75
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

quantidade de atividades motoras que essas para a construção do modelo integral do


crianças são capazes de executar (e não a cuidado. Pode ser operacionalizada por meio
qualidade dessa movimentação). de discussão de casos, construção de planos
terapêuticos ou Projeto Terapêutico Singular
Generalista: diz-se generalista àquele (PTS) e consultas compartilhadas.
profissional que apresenta conhecimentos
gerais e conceitos básicos em múltiplas Intervenção em grupo: conhecimentos
dimensões das sub-áreas de conhecimento especializados e utilização de técnicas de
e dos campos de atuação da profissão sendo liderança em diferentes ambientes para facilitar
capaz de articular esses conhecimentos a aprendizagem e aquisição de competências
e mobilizar recursos para a resolução de pelos indivíduos em todo o ciclo de vida,
problemas, de acordo com as necessidades visando a participação e incluindo habilidades
das pessoas, comunidades e populações. básicas de interação social, ferramentas de
autorregularão, o estabelecimento de metas
Genograma: é a elaboração da árvore da família e tomada de decisão positiva, através da
que fornece informações demográficas, de dinâmica de grupo e interação social. Os
posição funcional, recursos e acontecimentos grupos podem ser usados como um método de
críticos na dinâmica familiar. intervenção e prestação de serviço.

Habilidades: relaciona-se ao saber fazer. Itinerário terapêutico: recurso que possibilita


Consiste na aptidão da pessoa em realizar a construção de projetos terapêuticos
determinada ação, oriundas da destreza cuidadores, que levem em consideração as
manual e habilidade psicomotora envolvida experiências, significados, trajetórias, desejos
nas ações. Como por exemplo: a capacidade e necessidades da pessoa na elaboração de
de raciocínio, de comunicação, de aplicação de seu próprio processo de tratamento (MÂNGIA e
determinada técnica avaliativa ou terapêutica, MURAMOTO, 2008).
aptidão para o cumprimento de tarefas com
destreza. As habilidades são um dos aspectos Limitações de atividade: são dificuldades
que junto com outros elementos compõem as que um indivíduo pode ter na execução de
competências. atividades. Uma limitação de atividade pode
variar de um desvio ligeiro a grave em termos
Incapacidade: é um termo genérico para da quantidade ou da qualidade na execução
deficiências, limitações de atividade e da atividade comparada com a maneira ou
restrições na participação. Ele indica os a extensão esperada em pessoas sem essa
aspectos negativos da interação entre um condição de saúde.
indivíduo (com uma condição de saúde) e seus
fatores contextuais (ambientais e pessoais). Manejo: é a ação de conjugar as atividades manuais
com a tecnologia disponível, com o objetivo de
Interconsulta: principal instrumento do apoio definir ou traçar decisões a serem tomadas.
matricial, pode ser definida como uma ação
colaborativa entre profissionais de diferentes Matriciamento ou apoio matricial: suporte
áreas, constituindo uma prática interdisciplinar realizado por profissionais e diversas áreas

76
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

especializadas dado a uma equipe interdisciplinar ONG: organização não governamental. São todas
com o intuito de ampliar o campo de atuação e as organizações, sem fins lucrativos, criadas por
qualificar suas ações (CHIAVERINI, 2011). pessoas que trabalham voluntariamente em defesa
de uma causa, seja ela, proteção do meio ambiente,
Maturação: é a organização progressiva defesa dos direitos humanos, erradicação do
das estruturas morfológicas, já que, como o trabalho infantil etc.
crescimento, seu potencial está geneticamente
determinado. A maturação neurológica engloba Participação: é o envolvimento de um indivíduo
os processos de crescimento, diferenciação celular, numa situação da vida real. Ela representa a
mielinização e o aperfeiçoamento dos sistemas perspectiva social da funcionalidade.
que conduzem a coordenações mais complexas
(BRASIL-CAB11, 2002). PEDI: o Pediatric Evaluation of Disability é um
instrumento de avaliação do desenvolvimento
Método de Conduta Visual de Lactentes: é de habilidades e o nível de independência no
um roteiro para avaliação de funções visuais em desempenho de atividades funcionais para crianças
lactentes no primeiro trimestre de vida. de 6 meses a 7 anos e meio.

MFM: Motor Function Measure (Mensuração da Perfil: agrega o conjunto de características da


Função Motora) é uma escala quantitativa que faz pessoa-profissional que envolve não apenas
com que seja possível medir as habilidades motoras conhecimentos e habilidades técnicas, mas
funcionais de uma pessoa afetada por uma doença também afetos, experiências, valores e atitudes
neuromuscular. que representam a proposta formativa definida
em determinado projeto que tem como fruto
Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF): o graduado com certo alinhamento frente a
são equipes multiprofissionais, compostas categoria profissional respeitando, entretanto, as
por profissionais de diferentes profissões ou peculiaridades de cada proposta.
especialidades, que devem atuar de maneira
integrada e apoiando os profissionais das Perfil Sensorial de Winnie Dunn: questionário
equipes de Saúde da Família e das equipes de dirigido para pais e cuidadores, que busca identificar
Atenção Básica para populações específicas problemas de Modulação, Processamento Sensorial
(Consultórios na Rua, equipes ribeirinhas e fluviais), e respostas Emocionais e Sociais.
compartilhando práticas e saberes em saúde com
as equipes de referência apoiadas, buscando Plano terapêutico: conjunto de objetivos
auxiliá-las no manejo ou resolução de problemas terapêuticos de acordo com o nível de atenção e
clínicos e sanitários, bem como agregando práticas, processo de trabalho e, no caso da criança, a partir
na atenção básica, que ampliem o seu escopo de do conhecimento do DNPM típico.
ofertas.
Portal Saúde Baseada em Evidências: é uma
Observações Clínicas de Ayres: identificação de iniciativa da Secretaria de Gestão do Trabalho e
disfunções sensoriais (disfunção da modulação da Educação na Saúde (SGTES/MS) em parceria
sensorial, disfunção da discriminação sensorial e com a Coordenação de Aperfeiçoamento de
disfunção do planejamento motor). Pessoal de Nível Superior (CAPES/MEC) para o

77
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

desenvolvimento de uma biblioteca eletrônica interdisciplinar, com apoio matricial se necessário.


com o objetivo de aprimorar o exercício dos
trabalhadores da saúde por meio do acesso a Qualidade de vida: apreciação dinâmica em
conteúdos cientificamente fundamentados, na relação à satisfação com a vida (percepção do
perspectiva de melhor atender à população. progresso em direção aos objetivos identificados),
Trata-se de uma parceria junto à Organização a auto percepção (crenças e sentimentos sobre si
Pan-Americana da Saúde (OPAS), Organização mesmo), saúde e funcionamento (por exemplo,
Mundial da Saúde (OMS) no Brasil e Centro Latino- condições de saúde, capacidade de autocuidado),
Americano e do Caribe de Informação em Ciências e fatores sócioeconômicos (por exemplo, vocação,
da Saúde da OPAS/OMS (BIREME/OPAS/OMS) para educação, renda).
incorporação da Prática Baseada em Evidências no
processo de trabalho dos profissionais de saúde e Raciocínio clínico: processo usado por
de acadêmicos das áreas da saúde. profissionais para planejar, dirigir, executar e refletir
sobre o cuidado do cliente. O termo raciocínio
Prática Baseada em Evidências: é uma profissional, considerado mais amplo, as vezes
metodologia para a prática clínica difundida entre também é empregado.
os profissionais de saúde. Consiste na utilização
de evidências científicas, produzidas por estudos RAS (Redes de Atenção à Saúde): são arranjos
desenvolvidos com rigor metodológico, para organizativos de ações e serviços de saúde, de
tomada de decisões sobre as melhores condutas diferentes densidades tecnológicas que, integradas
frente a cada caso. É um importante movimento de por meio de sistemas de apoio técnico, logístico
mudança nas práticas assistenciais. e de gestão, buscam garantir a integralidade do
cuidado.
Prechtl: ferramenta diagnóstica para avaliação de
lactentes, que leva o mesmo nome do seu autor Razão de Verossimilhança (likelihood ratio): é
(Heinz Prechtl), onde os movimentos generalizados aplicada para estimar a probabilidade de resultado
espontâneos, presentes desde a oitava semana positivo de um teste ser correto, ou a probabilidade
intra-útero até 20 semanas de vida pós natal, são de um resultado negativo ser incorreto. É o
observados quanto a sua presença, intensidade e quociente entre duas probabilidades, sendo
variabilidade. consideradas as proporções de pacientes que o
teste identifica, correta e incorretamente, como
Princípios: são as disposições fundamentais, as tendo o diagnóstico e não os números absolutos de
proposições básicas que delineiam determinado pacientes. A probabilidade de um resultado positivo
tema/assunto. Consistem ainda nas bases que ser correto é dada pela razão entre a proporção
assentam os encaminhamentos necessários as de pacientes corretamente identificados pelo
condições subsequentes. São os alicerces dos teste e a proporção de pacientes incorretamente
conceitos, domínios, dimensões estudadas. identificados pelo mesmo teste (JULL, 2002).

Projeto Terapêutico Singular (PTS): é um Reabilitação: é um processo de consolidação


conjunto de propostas e condutas terapêuticas de objetivos terapêuticos, com uma proposta de
articuladas para um sujeito individual ou coletivo, atuação multiprofissional voltada para a recuperação
resultado da discussão coletiva, de uma equipe e o bem-estar biopsicossocial do indivíduo.

78
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Recursos: consistem no conjunto de percepções que compõem a aptidão do sujeito para


conhecimentos, saberes, habilidades, esquemas a atividade profissional, construídos ao longo de
mentais, afetos, crenças, princípios, funções uma trajetória. A acumulação de repostas sobre um
psicológicas, posturas que, ao serem mobilizados determinado fenômeno, informações diferentes
adequadamente nas relações e em ações conduzem sobre algo, constitui o mundo dos saberes (GAMBOA,
ao desenvolvimento de competências. 2009). São plurais e heterogêneos, constituídos
processualmente na existência das pessoas.
Referência e Contrarreferência: referenciar
um paciente implica transferi-lo a um serviço Sensibilidade: é um dos parâmetros fundamentais
de saúde especializado a partir de uma unidade para a definição de um teste diagnóstico. Assim,
básica de saúde. O processo deve ocorrer quanto maior a sensibilidade do teste, maior a
também no sentido oposto, ou seja, por meio da capacidade de o teste negativo afastar a doença,
contrarreferência. Devem existir normas claras pois ocorre uma diminuição da probabilidade
para o estabelecimento de mecanismos e fluxos de falso negativo. Um aumento da sensibilidade
de referência e contrarreferência, objetivando decorre de uma diminuição da especificidade e
garantir a integralidade da assistência e o acesso vice-versa (GREINER; GARDNER, 2000).
da população aos serviços e às ações de saúde de
acordo com as suas necessidades. Tecnologia assistiva - Recursos: todo e qualquer
item, equipamento ou parte dele, produto ou
Resolubilidade: é a exigência de que, quando sistema fabricado em série ou sob medida utilizado
um indivíduo busca o atendimento ou quando para aumentar, manter ou melhorar as capacidades
surge um problema de impacto coletivo sobre a funcionais das pessoas com deficiência. Podem
saúde, o serviço correspondente esteja capacitado variar de uma simples bengala a um complexo
para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua sistema computadorizado. Estão incluídos
competência (ABC do SUS, 1990). brinquedos e roupas adaptadas, computadores,
softwares e hardwares especiais, que contemplam
Resolutividade: a resolutividade proposta pelo questões de acessibilidade, dispositivos para
SUS faz inferência às possibilidades de resolução adequação da postura sentada, recursos para
dos problemas de saúde dentro dos níveis de mobilidade manual e elétrica, equipamentos de
complexidade as quais foram detectadas (ABC do comunicação alternativa, chaves e acionadores
SUS, 1990). especiais, aparelhos de escuta assistida, auxílios
visuais, materiais protéticos e milhares de
Restrições de participação: são problemas que outros itens confeccionados ou disponíveis
um indivíduo pode enfrentar quando está envolvido comercialmente.
em situações da vida real. A presença da restrição de
participação é determinada pela comparação entre Tecnologia assistiva - Serviços: definidos como
a participação individual com aquela esperada de aqueles que auxiliam diretamente uma pessoa
um indivíduo sem deficiência naquela cultura ou com deficiência a selecionar, comprar ou usar os
sociedade. recursos acima definidos. São aqueles prestados
profissionalmente à pessoa com deficiência
Saberes: abrange, em sentido amplo, os visando selecionar, obter ou usar um instrumento
conhecimentos, habilidades, experiências e de tecnologia assistiva. Como exemplo, podemos

79
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

citar avaliações, experimentação e treinamento de Validade (de conteúdo e de população): o


novos equipamentos. Os serviços de Tecnologia conceito de “validade” trás subjetividade em si,
assistiva são normalmente transdisciplinares pois ao afirmar que um instrumento de medição é
envolvendo profissionais de diversas áreas. válido, surge a pergunta: válido para qual propósito?
A validade é o grau em que um determinado
Tecnologia dura: relacionada a equipamentos instrumento mede o que ele deveria medir (para um
tecnológicos, normas, rotinas e estruturas determinado conteúdo ou para uma determinada
organizacionais (MERHY, 1997). população) (CARMINES e ZELLER, 1979). Validade é,
em fim, o grau de acurácia ou exatidão do resultado
Tecnologia leve-dura: que compreende todos os de uma medição, por exemplo, é o quanto o
saberes bem estruturados no processo de saúde resultado se aproxima do que se pretende medir
(MERHY, 1997). (ALEEN e YEN, 2003).

Tecnologia leve: que se refere às tecnologias


de relações, de produção de comunicação, de
acolhimento, de vínculos, de autonomização
(MERHY, 1997).

TIMP: o Teste de Desempenho Motor Infantil (TIMP)


é uma avaliação de postura e do movimento infantil
que pode ser utilizada com RN de 32 semanas de IG
até quatro meses de idade corrigida. Além disso,
o TIMP é sensível às mudanças na coordenação
motora conforme a idade e descrimina crianças
com muitas complicações médicas, que tem
significativamente scores mais baixos que as
crianças sadias.

Trabalho interdisciplinar: é medido pelo grau de


integração entre as disciplinas e a intensidade de
trocas entre os especialistas na condução da linha
de cuidado de um caso.

Trabalho transdisciplinar: é a forma de


trabalhar envolvendo a integração, diálogo, e
o entrelaçamento entre as diferentes áreas de
conhecimento dentro de um trabalho de equipe.

UBS: Unidade Básica de Saúde.

USF: Unidade de Saúde da Família.

80
7. Referências
ABENFISIO. Termo de referência da Oficina BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas
“Construção da proposta das Diretrizes Curriculares de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde
Nacionais de Fisioterapia”. 2016 da criança: acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento infantil. Brasília: Ministério da
ALLEN,M.J.,YEN,W.M.Introductiontomeasurement Saúde, 2002. 100 p.: il. (Série Cadernos de Atenção
theory. WaveLand Press, 2003. Básica; n. 11) (Série A. Normas e Manuais Técnicos).

AMORIM, A. S.; PINTO JUNIOR, V. L.; SHIMIZU, H. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
E.O desafio da gestão de equipamentos médico- Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes
hospitalares no Sistema Único de Saúde. Saúde em do NASF: Núcleo de Apoio a Saúde da Família.
Debate, v.39, n.105, p.350-62, abr-jun, 2015. Brasília: Ministério da Saúde, 2010a.

BERTONCELLO, D; PIVETTA, H. M. F. Diretrizes BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção


curriculares nacionais para a graduação em à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de
fisioterapia: reflexões necessárias. Cadernos de Humanização. Ambiência. 2. ed. Brasília, DF, 2006.
Educação, Saúde e Fisioterapia, v.2, n.4, 2016. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção
à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
BESTETTI, M. L. T. Ambiência, espaço físico e Autoavaliação para a Melhoria do Acesso e da
comportamento. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., v.17, Qualidade da Atenção Básica: AMAQ. Brasília, DF,
n.3, p. 601-610, 2014. 2012. 134 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. ABC do SUS: doutrinas BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção
e princípios. Brasília; 1990. à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e
Estratégicas. Manual AIDPI neonatal 4. ed. – Brasília,
BRASIL. Caderneta de Saúde da Criança: menina. 8. DF, 2013. 228 p.
ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção
BRASIL. Caderneta de Saúde da Criança: menino. 8. à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Núcleo
ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. de Apoio à Saúde da Família. Brasília, DF, 2014. 116
p.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação Superior.
Resolução CNE/CES n. 4, de 4 de março de 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do
Institui diretrizes curriculares nacionais do curso de Brasil : texto constitucional promulgado em 5 de
graduação em Fisioterapia. Diário Oficial da União, outubro de 1988, com as alterações determinadas
Brasília, DF, Seção 1, p.11, 2002. pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1
a 6/94, pelas Emendas Constitucionais nos 1/92 a
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção 91/2016 e pelo Decreto Legislativo no 186/2008. –
à Saúde. Diretrizes de estimulação precoce: crianças Brasília : Senado Federal, Coordenação de Edições
de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento Técnicas, 2016. 496 p.
neuropsicomotor decorrente de microcefalia.
Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 123p BRITO,M.J.M.etal.Atençãofamiliarnaestruturaçãodarede
desaúde.EscAnnaNery(impr.)v.17,n.4,p.603–610,2013.

81
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

CARMINES, E. G., ZELLER, R. A., Reliability and COFFITO. Resolução n° 428 de 08 de julho de
validity assessment. Sage University paper, 1979. 2013. Fixa e estabelece o Referencial Nacional
de Procedimentos Fisioterapêuticos e dá outras
CARVALHO, G. A saúde pública no Brasil. Estudos providências. Diário Oficial da União nº 146, Brasília,
avançados, v.27, n.78, p.7-26, 2013. Disponível DF, 31 de Julho de 2013. Seção I.
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-40142013000200002&lng=en&n COFFITO. Resolução n° 444, de 26 de abril de
rm=iso>. Acesso 03 Nov. 2016. 2014. Altera a Resolução COFFITO n° 387/2011,
que fixa e estabelece os Parâmetros Assistenciais
CAVALCANTI, P. C.S. et al . Um modelo lógico da Fisioterapêuticos nas diversas modalidades
Rede Cegonha. Physis, v 23, n.4, p. 1297-1316, 2013 . prestadas pelo fisioterapeuta. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 20 out. 2014. Seção 1, p. 104-105.
CHIAVERINI, D.H. Guia prático de matriciamento em
Saúde Mental. Brasília: Ministério da saúde: Centro COSTA, A. M.; SOUSA, . SB. Educação física e esporte
de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011. adaptado: história, avanços e retrocessos em
relação aos princípios da integração/inclusão e
CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, perspectivas para o século XXI. Rev. Bras. Cienc.
Incapacidade e Saúde (Centro Colaborador da Esporte, Campinas, v.25, n.3, p.27-42, 2004.
Organização Mundial da Saúde para a Família de
Classificações Internacionais em Português, org.; CROCKER, L.; ALGINA, J. Introduction to classical &
coordenação da tradução Cassia Maria Buchalla modern test theory. Flórida: Thonson, 2006. 571p.
- 1ª ed, 2. reimp. atual. - São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2015. DAVID, M. L. O. et al. Proposta de atuação da
fisioterapia na saúde da criança e do adolescente:
COFFITO. Cartilha - Diagnóstico: Microcefalia. uma necessidade na atenção básica. Saúde em
E agora? Material desenvolvido pelo Conselho Debate, v.37, n.96, p.120-129, 2013.
Federal de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional.
(COFFITO, com apoio das associações ABRAFIN DIAS, M. B. et al. A Política Nacional de Atenção
e ABRADIMENE, e colaboração dos profissionais Domiciliar no Brasil: potencialidades, desafios e
entrevistados). 2016. a valorização necessária da atenção primária à
saúde. J Manag Prim Heal Care, v.6, n.1, p.1-7, 2015.
COFFITO. Resolução nº 08, de 20 de fevereiro
de 1978. Aprova as Normas para habilitação DIRKS, T. et al.Infant positioning in daily life may
ao exercício das profissões de fisioterapeuta e mediate associations between physiotherapy
terapeuta ocupacional e dá outras providências. and child development -video-analysis of an early
1978. intervention RCT. Research in Developmental
Disabilities, v. 53, p.147–157,2016.
COFFITO. Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013.
Estabelece o Código de Ética e Deontologia da EFFGEN, S.K. Atendendo às necessidades das
Fisioterapia. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1 crianças e de suas famílias. In: ---; Fisioterapia
out. 2013. Seção 1. Pediátrica: atendendo às necessidades das crianças.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007, p. 3-35.

82
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

ERDMANN, A. L, et al. A atenção secundária em da assistência domiciliar dos profissionais da


saúde: melhores práticas na rede de serviços. Rev. estratégia de saúde da família. Texto contexto -
Latino-Am. Enfermagem. v.21, p. 131-139, 2013. enferm [online], v.15, n.4, p.645-653, 2006.

FALKENBERG, M. B. et al. Educação em saúde e GIOVANELLA, L. Redes integradas, programas de


educação na saúde: conceitos e implicações para a gestão clínica e generalista coordenador: análise
saúde coletiva. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 3, das reformas recentes do setor ambulatorial na
p.847-852, 2014. Alemanha. Ciência & Saúde Coletiva, v.16, s.1,
p.1081-1096, 2011.
FERRIGOLO, N. M. S.; FERRIGOLO, L. V. O direito e
o desporto na sociedade contemporânea; breve GONÇALVES, C. R. et al. Recursos humanos: fator
enfoque sobre evolução histórica, contexto social crítico para as redes de atenção à saúde. Saúde
e desafios para o terceiro milênio. Revista Jurídica Debate, v.38, n.100, p.26-34, 2014.
UNIGRAN, v.4, n.7, 2002.
GREINER, M.; GARDNER, I. A. Epidemiologic issues
FERRO, L. F. et al. Interdisciplinaridade e in the validation of veterinary diagnostic tests.
intersetorialidade na Estratégia Saúde da Preventive veterinary medicine., n.45, p.3-22, 2000.
Família e no Núcleo de Apoio à Saúde da Família:
potencialidades e desafios. O Mundo da Saúde,v.38, HIRATUKA, E.; MATSUKURA, T.S.; PFEIFER, L.I..
n.2, p.129-138, 2014. Adaptação transcultural para o Brasil do sistema
de classificação da função motora grossa (GMFCS).
GARCIA, A. C. P. et al. Ambiência na Estratégia Revista Brasileira de Fisioterapia, v.14, n.6, p.537-44,
Saúde da Família. Vigilância Sanitária em Debate: 2010.
Sociedade, Ciência & Tecnologia, v.3, n.2, p. 36-41,
2015. JENG, S.F. et al., Alberta infant motor scale:
realiability and validity when used on preterm infant
GARCIA, et al. Intersetorialidade na saúde no Brasil in Taiwan. Physical therapy. v.80, n.2, p.168, 2000.
no início do século XXI: um retrato das experiências.
Saúde Debate, v.38, n.103, p. 966-980, 2014. JULL, A. Evaluation of studies of assessment and
screening tools, and diagnostic tests. Evidence
GENNARO, L. R. M.; BARHAM, E. J. Estratégias Based Nursing, v.5, n.3, p.68-72, 2002.
para envolvimento parental em fisioterapia
neuropediátrica: uma proposta interdisciplinar. LANZA, F.C.; GAZZOTTI, M. R.; PALAZZIN, A.
Estudos e Pesquisas em Psicologia, v.14, n.1, p.10- Fisioterapia em pediatria e neonatologia - da UTI ao
28, 2014. ambulatório. Roca, 2012.

GIACHETTA, L et al. Influence of length of Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
Hospitalization on neuromotor development in (LBI). Presidência da República. Casa Civil Subchefia
premature newborn infants. Fisioterapia e Pesquisa, para Assuntos Jurídicos LEI Nº 13.146, DE 6 DE
v.17, n.1, p.24-29, 2010. JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
GIACOMOZZI, C. M.; LACERDA, M. R. A prática Deficiência).

83
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

LIMA, A. K. P.; LIMA, C. F.; BRITO, C. M. M. Fisioterapia Estado do Rio de Janeiro, Brasil: uma política de
Pediátrica. In: Carvalho, V. C. P. et al; Fundamentos saúde pública baseada em evidência. Cadernos de
da Fisioterapia. Rio de Janeiro: MedBook, 2014, p. Saúde Pública, v.21, n.6, p.1901-1910, 2005.
67-80.
PEDUZZI, M.; SCHRAIBER, L. B. Processo de Trabalho
MANACERO, S; NUNES, M. L. Evaluation of motor em Saúde. In: Dicionário da educação profissional
performance of preterm newborns during the first em saúde. PEREIRA, I.B.; LIMA, J. C. F. (Orgs). 2.ed.
months of life using the Alberta Infant Motor Scale Rio de Janeiro: EPSJV, 2008.
(AIMS). Jornal de Pediatria, v.84, n.1, p.53-59, 2008.
PERRENOUD, P. Construir competências é virar
MÂNGIA, E. F.; MURAMOTO, M. T. Itinerários as costas aos saberes? Disponível em: <http://
terapêuticos e construção de projetos terapêuticos abenfisio.com.br/wp-content/uploads/2016/05/
cuidadores. Revista de Terapia Ocupacional da Construir-competencias-Perrenoud.pdf>. Acesso
Universidade de São Paulo, v.19, n.3, p.176-182, 20 jul. 2016.
2008.
POLIDORI, M. M. et al. O Impacto da Avaliação
MATTA, G. C.; MOROSINI, M. V. G. Atenção à Saúde. (Diagnóstica) nos Familiares de Crianças com
In: Dicionário da educação profissional em saúde. Deficiência. Competência, v.4, n.2, p.11-29, 2011.
PEREIRA, I.B.; LIMA, J. C. F. (Orgs). 2.ed. Rio de
Janeiro: EPSJV, 2008. ROMEIRO, C. et al. O modelo lógico como ferramenta
de planejamento, implantação e avaliação do
MELO, F. R. L. V.; PEREIRA, A. P. M. Inclusão escolar do programa de Promoção da saúde na estratégia
aluno com deficiência física: visão dos professores de saúde da família do Distrito Federal. Revista
acerca da colaboração do fisioterapeuta. Cadernos Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 18, n. 1, p.
de Terapia Ocupacional da UFSCar, p. 53-69, 2011. 132-142, 2013.

MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. RONCHI, J. P.; AVELLAR, L. Z. Ambiência na Atenção


Organização Pan-Americana da Saúde, v. 549, 2011. Psicossocial InfantoJuvenil: um estudo no CAPSi.
Saúde e Sociedade, v.22, n.4, p.1045-1058, 2013.
MERHY, E. E. Em busca do tempo perdido: a
micropolítica do trabalho vivo em saúde. In: MERHY, ROSADAS, S. C. Atividade Física Adaptada e Jogos
E. E.; ONOCKO, R. Práxis em salud um desafío para Esportivos para o Deficiente. Eu posso. Vocês
lo público. São Paulo: Hucitec; 1997. duvidam? Atheneu:Rio de Janeiro/São Paulo, 1989.

NETO, A. C. J.; BLASCOVI-ASSIS, S. M. Contribuições SACCANI, R.; VALENTINI, N. C. Reference curves for
do fisioterapeuta na inclusão escolar de alunos the Brazilian Alberta Infant Motor Scale: percentiles
com deficiência sob a perspectiva do brincar. for clinical description and follow-up over time.
Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Jornal de Pediatria, v.88, n.1, p. 40-47, 2012.
Desenvolvimento, v.9, n.1, p.76-91, 2009.
DA SILVA, L. W. S. et al. Contexto do cuidado
OLIVEIRA, M. I. C. et al. Promoção, proteção e apoio fisioterapêutico: reveses e vieses na inserção
à amamentação na atenção primária à saúde no comunitária à atenção domiciliar. Kairós

84
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

Gerontologia. Revista da Faculdade de Ciências Cadernos de Saúde Pública, v. 24, n.8,p.1917-1926,


Humanas e Saúde, v.16, n.2, p.79-101, 2014. 2008.

SCHERER, M. D. A.; PIRES, D. E. P.; JEAN, R. A SUZUKI, V. F; CARMONA, E. V; LIMA, M. H. M.


construção da interdisciplinaridade no trabalho Planejamento da alta hospitalar do usuário
da Equipe de Saúde da Família. Ciência & Saúde diabético: construção de uma proposta. Revista da
Coletiva, v. 18, n. 11, p. 3203-3212, 2013. Escola de Enfermagem da USP, v. 45, n.2, p. 527-532,
2011.
SCHIER, J. Tecnologia em Educação em SaúdeT: o
grupo aqui e agora. Porto Alegre: Sulina, 2004. TEIXEIRA, C. F.; PAIM, J. S. Planejamento e
Programação de Ações Intersetoriais para a
SHEPERD, R. B. Fisioterapia em pediatria. São Paulo: Promoção da Saúde e da Qualidade de Vida. In:
Santos, 2006. TEIXEIRA, C. F; PAIM, J. S.; VILLASBOA, A. L. Promoção
e Vigilância da Saúde. Salvador: Instituto de Saúde
SILVA, A. C. D. et al. Fatores associados ao Coletiva; 2002. p. 59-78.
desenvolvimento neuropsicomotor em crianças de
6-18 meses de vida inseridas em creches públicas do TEIXEIRA, E. R.; BARBOSA, M. S.; SILVA, C. M. C.
Município de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Cadernos Trabalhando a transdisciplinaridade na clínica
de Saúde Pública, v.31, n.9, p.1881-1893, 2015. do cuidado em saúde. REVISTA ENFERMAGEM
PROFISSIONAL, v.1, n.2, p.315-330, 2014.
SILVA, A. N. et al. Limites e possibilidades do ensino
à distância (EaD) na educação permanente em TEIXEIRA, H. V. Educação Física e Desportos. São
saúde: revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, Paulo: Saraiva, 4 ed., 1999.
v. 20, n. 4, p.1099-1107, 2015.
VAN SCHAIK, E. E.; SOUZA, C. C.B. X., ROCHA, E.
SILVA, L.P. et al. Intraclass reliability of the alberta F. Reflexões sobre a atenção às crianças com
infant motor scale in the brazilian version. Revista deficiência na atenção primária à saúde. Revista de
da Escola de Enfermagem da USP, v.47, n.5, p.1046- Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo,
1051, 2013. v.25, n.3, p.233-241, 2014.

SILVA, N.D.S.H et al. Instrumentos de avaliação


do desenvolvimento infantil de recém-nascidos
prematuros. Journal of Human Growth and
Development, v. 21, n. 1, p. 85-98, 2011.

SOUZA, M. C. et al. Fisioterapia e Núcleo de Apoio


à Saúde da Família: conhecimento, ferramentas e
desafios. O Mundo da Saúde, v. 37, n.2, p.176-184,
2013.

SOUZA, S.C. et al. Desenvolvimento de pré-escolares


na educação infantil em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil.

85
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA
8. Referencial teórico
Leitura recomendada

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA Visual-Based Training Program for Motor Functions


NEUROFUNCIONAL. Métodos e técnicas da in Cerebral Palsied Children with Cortical Visual
especialidade em fisioterapia neurofuncional. Impairment. International Journal of Therapies
Disponível em: <http://abrafin.org.br/wp-content/ and Rehabilitation Research, v. 5, n. 4, p. 265-277,
uploads/2015/01/metodos-e-tecnicas.pdf>. 2016.
Acesso 18 jul 2016.
FLORINDO, M.; PEDRO, R. O processo de
BARBOSA, D. C. et al. Sobrecarga do cuidado aprendizagem motora e a neuroplasticidade.
materno à criança com condição crônica. Cogitare Revista de Ciências da Saúde da ESSCVP, v. 6, p. 19-
Enfermagem, v. 17, n. 3, p. 492-497, 2012. 26, 2014.

BASU, A. P. Early intervention after perinatal stroke: HADDERS-ALGRA, M. Early diagnosis and early
Opportunities and challenges. Developmental intervention in cerebral palsy. Front. Neurol., V. 5,
Medicine & Child Neurology, v.56, n.6, p. 516-521, 2014.
2014
INTERNATIONAL FETAL AND NEWBORN
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de GROWTH CONSORTIUM FOR THE 21ST CENTURY.
Atenção à Saúde. Protocolo de atenção à saúde e Valores de referência para perímetro cefálico
resposta à ocorrência de microcefalia relacionada em recém-nascidos pré- termo, de acordo
à infecção pelo vírus zika.. Brasília: Ministério da com o INTERGROWTH. University of Oxford:
Saúde, 2016. INTERGROWTH-21st, 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretarias Estaduais JOHNSTON, M. V. Plasticity in the developing brain:
e Municipais de Saúde. Protocolo de atendimento: implications for rehabilitation. Developmental
mulheres em idade fértil, gestantes, puérperas disabilities research reviews, v. 15, n. 2, p. 94-101,
e bebês com microcefalia. Brasília: Ministério da 2009.
Saúde, 2015.
KITAGO, T.; KRAKAUER, J. W. Motor learning
DORÉ, R.; WAGNER, S.; BRUNET, J. A integração principles for neurorehabilitation. Handbook of
escolar: os principais conceitos, os desafios e os Clinical Neurology, v. 110, p. 93-103, 2013.
fatores de sucesso no secundário. In: MANTOAN, M.
T. E. et al. A integração de pessoas com deficiência: KNOX, V.; EVANS, A. L. Evaluation of the functional
contribuições para uma reflexão sobre o tema. effects of a course of Bobath therapy in children
São Paulo: Memnon, 1997. p. 174-183. with cerebral palsy: a preliminary study.
Developmental Medicine & Child Neurology, v. 44,
CAMPOS, G. W. S.; DOMITTI, A. C. Apoio matricial n. 7, p. 447-460, 2002.
e equipe de referência: uma metodologia para
gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. LAKHANI, B. et al. Motor Skill Acquisition Promotes
Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n. 2, p. 399-407, Human Brain Myelin Plasticity. Neural Plasticity, v.
2007. 2016, 2016.

EL-MAKSOUD, G. M. A.; GHARIB, N. M.; HUSSEIN, R. LEONARD, H. C.; HILL, E. L. Review: the impact of

87
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

motor development on typical and atypical social Internacional de Funcionalidade, Incapacidade


cognition and language: a systematic review. Child e Saúde (CIF). Versão preliminar para discussão.
and Adolescent Mental Health, v. 19, n. 3, p. 163- Genebra: OMS, 2013.
170, 2014.
MA, L. et al. Effect of early intervention on OTHERO, M. B.; DALMASO, A. S. W. Pessoas com
premature infants’ general movements. Brain & deficiência na atenção primária. Interface -
Development, v. 37, p. 387-393, 2015. Comunicação, Saúde, Educação, v.13, n.28, p.177-
188, 2009.
MANCINI, M. C. et al. Efeito moderador do
risco social na relação entre risco biológico e PAZIN, A. C.; MARTINS, M. R. I. Desempenho
desempenho funcional infantil. Revista Brasileira funcional de crianças com Síndrome de Down e a
de Saúde Materno Infantil, v.4, n.1, p.25-34, 2004. qualidade de vida de seus cuidadores. Revista de
Neurociências, v.15, n.4, p.297-303, 2007.
MORGAN, K. et al. Optimising motor learning in
infants at high riskof cerebral palsy: a pilot study. PAPE, K. E. Developmental and maladaptive
BMC Pediatrics, v. 15, n. 30, 2015. plasticity in neonatal SCI. Clinical Neurology and
Neurosurgery, v.114, p.475-485, 2012.
MUSTARD, J. F. Desenvolvimento cerebral inicial
e desenvolvimento humano. Enciclopédia sobre REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE. Módulo de
o Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. Estimulação Precoce. [S.l.: s.n.], 2016.
Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early
Childhood Development, 2010. REYNOLDS, L. C. et al. Parental presence and
holding in the neonatal intensive care unit and
NOVAK, I. Evidence-based diagnosis, health care, associations with early neurobehavior. Journal of
and rehabilitation for children with cerebral palsy. Perinatology, v. 33, n. 8, p. 636-641, 2013.
Journal of child neurology, v.29, n.8, p. 1141-1156,
2014. SAMPAIO-BAPTISTA, C. et al. Motor Skill Learning
Induces Changes in White Matter Microstructure
OBERG, G. K. et al. Study protocol: an early and Myelination. The Journal of Neuroscience, v.
intervention program to improve motor outcome 33, n. 50, p. 19499 –19503, dec. 2013.
in preterm infants: a randomized controlled
trial and a qualitative study of physiotherapy SANT’ANNA, M. M. M.; BLASCOVI-ASSIS, S. M.;
performance and parental experiences. BMC MAGALHÃES, L. M. Lúdico: Favorecendo o Brincar
Pediatrics, v.12, n.15, 2012. da Criança com Deficiência Física. Revista da
Associação Brasileira de Atividade Motora
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação Adaptada, v. 16, n. 1, p. 15-18, 2015.
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde. Lisboa: OMS, 2004. Tradução de: Amélia SANTOS, D. C. C. et al. Influência do baixo peso ao
Leitão. nascer sobre o desempenho motor de lactentes
a termo no primeiro semestre de vida. Revista
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Como usar a Brasileira de Fisioterapia. v. 8, n. 3, p.261-266, 2004.
CIF: Um manual prático para o uso da Classificação

88
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

TSAI, Li-Ting et al. A New Visual Stimulation


Program for Improving Visual Acuity in Children
with Visual Impairment: A Pilot Study. Frontiers in
human neuroscience, v. 10, apr. 2016.

UMPHRED, D. Aprendizagem motora, controle


motor e neuroplasticidade. In: UMPHRED, D.;
CARLSON, C. Reabilitação Neurológica Prática, Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007, cap. 3, p. 26-
38.

UNGERLEIDER, L. G.; DOYON, J.; KARNI, A. Imaging


Brain Plasticity during Motor Skill Learning.
Neurobiology of Learning and Memory, v.78, p.
553–564, 2002.

VIEIRA, M. E. B; RIBEIRO, F. V.; FORMIGA, C. K.


M. R. Principais instrumentos de avaliação de
desenvolvimento da criança de zero a dois anos
de idade. Revista Movimenta, v. 2, n. 1, 2009.

ZIMMER, M. et al. Sensory integration therapies


for children with developmental and behavioral
disorders. Pediatrics, v. 129, n. 6, p. 1186-1189,
2012.

WIART, L.; ROSYCHUK, R. J.; WRIGHT, V. F. Evaluation


of the effectiveness of robotic gait training and gait-
focused physical therapy programs for children
and youth with cerebral palsy: a mixed methods
RCT. BMC Neurology, v. 16, n. 86, jun. 2016.

89
9. Anexo I
ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA COM DISFUNÇÕES NEUROLÓGICAS:
principais complicações respiratórias

Renalli Manuella Rodrigues Alves 1 e


Cyda Maria Albuquerque Reinaux 2
1. Fisioterapeuta e Professora da Faculdade Pernambucana em Saúde
2. Fisioterapeuta e Professora do Departamento de Fisioterapia da UFPE

O presente anexo tem como objetivo informar deve então realizar os encaminhamentos
sobre principais complicações respiratórias necessários para que a família seja orientada
associadas à doenças neurológicas da infância. corretamente e para que o paciente seja
Assim, pretendemos conscientizar sobre a acompanhado de forma integral.
importância da visualização dos fatores de No texto abordaremos as particularidades
risco e da verificação da ocorrência de danos da anatomofisiologia do sistema respiratório
ao sistema respiratório. das crianças, os principais fatores relacionados
Pensando em uma proposta de atenção com a ocorrência de complicações respiratórias
integral à saúde da criança, é imprescindível e os possíveis sinais de desconforto respiratório.
que o fisioterapeuta pediátrico, mesmo
aquele que atue apenas no âmbito da CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA
fisioterapia neurofuncional, saiba reconhecer RESPIRATÓRIO DA CRIANÇA
a vulnerabilidade dos pacientes com atraso
do desenvolvimento motor às complicações As doenças respiratórias estão entre as
pulmonares. principais causas de hospitalização e morte em
Existe uma íntima relação da gravidade do pediatria (OLIVEIRA et al., 2010; BRANT et al.,
acometimento motor com o surgimento de 2017; PEDRAZA et al., 2017) . Diversos fatores
doenças respiratórias. A condição ventilatória podem influenciar para o acometimento das
é um dos principais fatores determinantes da via aéreas superiores e inferiores das crianças,
condição clínica e prognóstico de crianças com desde características anatômicas próprias do
atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, recém-nascido até condições imunológicas,
liderando as causas de internação e familiares e ambientais (RICE et al., 2016;
morbimortalidade. MACEDO et al., 2007).
O aumento do trabalho respiratório pode Sabe-se que o sistema respiratório do
dificultar a evolução das crianças nas terapias. neonato ainda está em período de transição
Assim, é de fundamental importância que e maturação e que o aumento da superfície
os profissionais possam observar e registrar alveolar e do volume do pulmão ocorre de
sinais de desconforto como o acometimento forma crescente até cerca dos 08 anos. Além
do padrão ventilatório, acúmulo de secreção disso, nesse período, diversas diferenças
e distúrbios de trocas gasosas, buscando uma anatômicas encontradas nas vias aéreas levam
conexão com as possíveis causas relacionadas a uma respiração predominantemente nasal
ao déficit motor. Ao visualizar a predisposição até os seis meses, pois nos bebês a epiglote
ao prejuízo da função pulmonar, o terapeuta é mais estreita, curta e rígida, a língua ocupa

90
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

uma maior proporção da boca que no adulto (BENGUIGUI, 2002; MACEDO et al., 2007).
(COSTA, ROBERTA, RAMOS, 2004; KAJEKAR,
2007). COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS EM
Na árvore brônquica do lactente podemos PACIENTES NEUROLÓGICOS PEDIÁTRICOS
observar também uma ramificação incompleta,
com vias menores e mais finas, ausência de Além do risco aumentado de
ventilação colateral e maior inclinação do desenvolvimento de complicações
brônquio fonte direito. Há ainda um aumento respiratórias apresentado pela população
na quantidade de glândulas produtoras de pediátrica em geral, as crianças com doenças
muco. Essas alterações estruturais podem neurológicas e atraso do desenvolvimento
facilitar a coordenação respiratória durante sofrem um maior impacto do acometimento
a amamentação, mas impõem importante do sistema respiratório. Diversas condições
resistência ao fluxo aéreo, diminuem o associadas à fraqueza muscular, distúrbios
volume alveolar e a complacência pulmonar, de movimento, déficit de controle postural
aumentam o risco de broncoaspiração e levam e problemas alimentares podem propiciar o
ao acúmulo de secreção (COSTA, ROBERTO, surgimento de doenças pulmonares (CRISTINA
RAMOS, 2004; ANDRADE, 2011) . et al., 2011; BLACKMORE et al., 2016).
Externamente, podemos verificar um O quadro clínico de crianças com distúrbios
hipodesenvolvimento da caixa torácica, neurológicos é primariamente marcado por
disposta em posição mais elevada com costelas sinais de desordem motora, como distúrbios
horizontalizadas e planas. Há uma menor de tônus, dificuldade de coordenação e
área de aposição do músculo diafragma, presença de movimentos involuntários, com
diminuindo sua força durante a contração. Os diferentes padrões de evolução e gravidade.
músculos respiratórios apresentam uma menor Mas o prognóstico desses pacientes não é
resistência à fadiga, pois apresentam maior determinado apenas pela sua limitação de
número de fibras rápidas, não oxidativas. Pela movimentos mas também por desordens
pobre fixação e estabilidade, a caixa torácica secundárias à imobilidade e ao atraso do
apresenta maior complacência (POSTIAUX, desenvolvimento. Distúrbios respiratórios
2000). associados podem comprometer ainda mais o
Em conjunto, as citadas condições estado dos pacientes e sua qualidade de vida,
anatômicas e fisiológicas diminuem a levando a infecções e internações recorrentes
reserva ventilatória frente à infecções (LIPTAK et al., 2001; SEDDON, KHAN, 2003;
virais ou bacterianas. Assim, em algumas PROESMANS, 2016).
situações patológicas, o aumento do trabalho
respiratório, que ocorre na tentativa de DEFORMIDADE TORÁCICA E PADRÃO
garantir as trocas gasosas, pode não ser eficaz VENTILATÓRIO RESTRITIVO
para atender a demanda imposta pelo agente
agressor, sendo então instalada a insuficiência O acometimento do sistema nervoso ainda
respiratória. Doenças como bronquiolite em fase de maturação pode interferir na
obliterante, pneumonia, asma e bronquite função neuromuscular e musculoesquelética,
são as mais comuns na infância e exigem causando distúrbios como espasticidade,
maior atenção para prevenção e tratamento contraturas musculares, alterações na

91
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

coordenação motora, perda do controle FRAQUEZA DE TOSSE E INABILIDADE PARA


muscular seletivo e fraqueza muscular, além REMOÇÃO DE SECREÇÃO
de dificuldades no planejamento motor e na
elaboração de estratégias mais adequadas A tosse é um mecanismo reflexo ou voluntário
para a realização de determinadas atividades de proteção das vias aéreas inferiores que
(FERDJALLAH et al., 2002; CARLBERG, HADDERS- ocorre em 4 fases: irritatória , inspiratória,
AGRA, 2005; VAN DER HEIDE, HADDERS-AGRA, compressiva, expulsiva. O acometimento de
2005). qualquer uma dessas fases pode comprometer
Essas alterações somadas à presença de a eficácia da tosse e contribuir para a infecção
movimentos involuntários, reflexos e reações das vias aéreas inferiores. Pacientes com
primitivas podem levar a uma alteração na distúrbios neurológicos podem apresentar
biomecânica torácica, com comprometimento alterações em uma ou mais fases (POLVERINO
do padrão respiratório e surgimento de et al., 2012).
rigidez e deformidade do tórax (ERSOZ et al. , O reconhecimento das partículas, agentes
2006). É comum que crianças com importante agressores ou inalatórios irritantes na
atraso motor apresentem distúrbios posturais via respiratória depende da atuação de
como fixação dos membros superiores, receptores que levam a informação ao sistema
elevação escapular e caixa torácica e fraqueza nervoso para que ele comandar as fases
abdominal, provocando ineficiência funcional subsequentes. Doenças neurológicas podem
dos músculos respiratórios tanto na inspiração, levar a alterações na percepção do estímulo,
como na expiração e tosse (CLAUDINO, DA condução e propagação do arco reflexo. A
SILVA, 2012; HEALY, PANITCH, 2010). Quanto fase inspiratória está também comprometida
maior o comprometimento motor, maior a nessas situações de dano ao sistema nervoso
chance de apresentar alteração na função pelo padrão restritivo e inabilidade de gerar
pulmonar (Wang HY et al., 2012; Kwon &amp; altos volumes pulmonares, bem como a fase
Lee, 2014). compressiva, pela incoordenação entre os
A principal deformidade relatada é a músculos da glote, intercostais e abdominais.
cifoescoliose que pode provocar desvantagem Há também um importante decréscimo da
mecânica dos músculos respiratórios e força abdominal necessária para gerar um bom
diminuição da complacência da parede volume explusivo, capaz de eliminar partículas
torácica levando ao aumento do trabalho da via aérea pneumonia (SEDDON, KHAN, 2003;
respiratório, redução da capacidade vital, HEALY, PANITCH, 2010; CLAUDINO, DA SILVA,
do fluxo expiratório, da capacidade residual 2012; BLACKMORE et al., 2016).
funcional e do volume corrente, levando à Nos pacientes com Paralisia Cerebal (PC),
ventilação pulmonar assimétrica e aumento a respiração frequentemente é assimétrica,
do risco de falência respiratória. A ocorrência superficial e taquipneica, com dificuldade de
de um padrão ventilatório restritivo associada realizar a inspiração máxima e produção de
a inabilidade para tosse está relacionada com tosse eficaz (FROWNFELTER, DEAN, 2004).
a incidência de atelectasia e pneumonia ( Assim, a ineficácia da tosse está associada
SEDDON, KHAN, 2003; HEALY, PANITCH, 2010; com pobre clearance e ausência de proteção
CLAUDINO, DA SILVA, 2012; BLACKMORE et al., das vias aéreas, resultando na hipersecreção
2016). pulmonar, aumento do risco de infecção

92
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

pulmonar e atelectasia por obstrução (CURADO tosse ineficaz, resultando em consequências


et al, 2003; ARAÚJO, 2014; DE FREITAS, PARREIRA, alimentares graves como desnutrição e
IBIAPINA, 2010). A repetição destas doenças desidratação (SAMSON-FANG, STEVENSON,
respiratórias levam a patologias pulmonares 2000).
crônicas parenquimatosas (microatelectasias Além da dificuldade de deglutição, o refluxo
generalizadas e diminuição da distensibilidade gastro-esofágico parece ser mais comum,
pulmonar), que influenciam negativamente no persistente e grave em crianças com sequelas
desenvolvimento motor e no desempenho de doenças neurológicas, como na paralisia
atividades funcionais (KWON e LEE, 2013). cerebral. Fato preocupante, pois qualquer
material liberado pelo refluxo pode não ser
BRONCOASPIRAÇÃO corretamente eliminado das vias áreas e resultar
em uma aspiração. Acredita-se que o aumento
A deglutição é um processo complexo que na pressão abdominal e incoordenação dos
envolve uma sequência de ativação de eventos músculos do esfíncter esofágico estejam
intimamente relacionados envolvendo relacionados com os episódios de refluxo e que
estruturas presentes na orofaringe. Por ser eles podem predispor a infecções pulmonares,
uma função integrada ao sistema nervoso apnéia e laringoespasmo (EL-SERAG et al.,
central que comanda o mecanismo das ações 2001).
dos músculos da faringe, laringe, esôfago Aspirações recorrentes por qualquer um
e diafragma pode estar comprometida em dos dois mecanismos, disfagia ou refluxo,
situações de patologias neurológicas. Em isoladamente ou em conjunto, resultam em
crianças com distúrbios do desenvolvimento é infecções das vias respiratórias inferiores
comum o prejuízo à coordenação da sequência agudas e no dano tecidual crônico com agressão
da sucção, deglutição e respiração e ocorrência ao parênquima pulmonar e surgimento de
de broncoaspiração (PRUITT, TSAI, 2009). bronquiectasia, tornando o processo um ciclo
Falhas na formação do bolo alimentar, vicioso de infecção pulmonar (PRUITT, TSAI,
no peristaltismo esofágico e no fechamento 2009; CLAUDINO, DA SILVA, 2012).
da glote podem levar a aspiração recorrente
de partículas líquidas ou sólidas durante a DISTÚRBIOS DE SONO
alimentação. É comum também, mesmo na
ausência de alimentação via oral, a aspiração Pacientes pediátrico com distúrbios
de partículas não estéreis da cavidade oral neurológicos podem apresentar inadequação
junto com a saliva ou de secreção das vias dos períodos de sono e vigília. Acredita-se
aéreas superiores devido a ineficiência dos que cerca de 50% das crianças com paralisia
mecanismos de proteção das vias aéreas cerebral sejam acometidas por algum
inferiores já descritos (BENFER et al., 2015; distúrbio do sono. As causas podem estar
HEALY, PANITCH, 2010; WATERMAN et al., 1992). relacionadas à obstrução de vias aéreas altas,
Desta maneira, a disfagia, processo como hipotonia e posicionamento posterior
relacionado com a ineficácia da mastigação, da língua, hipertrofia de adenoides ou ainda
deglutição e controle de saliva, pode ser ainda à desregulação hormonal ou alterações
complicada pela dificuldade de manutenção sensoriais. O uso de medicações para
postural, instabilidade do controle cervical e da tratamento de crises convulsivas pode também

93
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

influenciar no padrão de sono (CARNEY, 2000; utilizado para a alimentação, verificando assim
DUTT, RODUTA-ROBERTS, BROWN, 2015; indícios de broncoaspiração.
KOHRMAN, LÉLIS, CARDOSO, HALL, 2016). A família deve ser interrogada sobre a
Mal formações do sistema nervoso, condição de saúde da criança, história de
que levam a síndrome de Arnauld Chiari e infecção respiratória e internamentos. Ao
hidrocefalia podem estar relacionadas com constatar qualquer indicação de possível
dano a estruturas do controle ventilatório ao comprometimento respiratório, o profissional
nível do tronco cerebral, provocando apneia deve encaminhar a criança para avaliação
central e paralisia bulbar, com impacto e tratamento específico, com equipe
sobre a patência das vias aéreas. Em casos mulidispiclinar, para que seja também
de apnéia, hipoventilação e hipoxemia acompanhada pela fisioterapia respiratória,
noturna ocorrerá um importante impacto fonoaudiologia, pneumologia, gastropediatria
ao sistema cardiorrespiratório, com grande e ortopedia pediátrica. Assim, será conduzida
prejuízo à qualidade de vida do paciente e através dos recursos distintos de cada
até complicações graves como hipertensão especialidade, mas com o objetivo geral de
pulmonar (SEDDON, KHAN, 2003; LÉLIS, melhora da funcionalidade e qualidade de
CARDOSO, HALL, 2016). vida.

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

Ao avaliar uma criança com sequela ANDRADE, L.B. Implicações práticas da fisiologia
neurológica é necessária a observação e biomecânica do recém-nascido, lactente e
dos fatores de risco para a ocorrência das da criança. In: Fisioterapia Respiratória em
complicações pulmonares. A identificação Neonatologia e Pediatria. Rio de Janeiro:
de atraso do desenvolvimento motor pode MedBook, 2011. Cap 1 , p. 1 -16.
apontar para alterações na biomecânica do
tórax, visto que a menor mobilidade corporal ARAÚJO CB.  Prevalência e os fatores de risco
e a debilidade do controle cervical e torácico, da pneumonia em crianças com paralisia
podem influenciar o posicionamento e cerebral nível v de grau de comprometimento
crescimento do gradil costal, contribuído motor.  Rev eletronica saúde e ciência,  v. 4,  n.
para o surgimento de deformidades. Através 02, p. 69-84, 2014.
da inspeção e palpação o fisioterapeuta deve
ainda analisar a amplitude e mobilidade BENFER, Katherine a et al. Longitudinal Study
torácica durante o ciclo respiratório. of Oropharyngeal Dysphagia in Preschool
É importante também observar o acúmulo Children with Cerebral Palsy. Archives of
de secreção nas vias aéreas, sialorréia, tosse physical medicine and rehabilitation v. 97, n. 4,
ineficaz e possíveis sinais de desconforto ou p. 552–560.e9 , 2015.
aumento do trabalho respiratório. Deve ser
também registrada a situação nutricional BENGUIGUI, Yehuda. As Infecções Respiratórias
da criança e questionado à família sobre a Agudas Na Infância Como Problema De Saúde
presença de engasgos e refluxo, variedade das Pública. Boletim de Pneumologia Sanitária v.
consistências oferecidas e posicionamento 10, n. 1, p. 13–22 , 2002.

94
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

EL-SERAG, Hashem B. et al. Extraesophageal


BLACKMORE, Amanda Marie et al. Factors associations of gastroesophageal reflux
Associated with Respiratory Illness in Children disease in children without neurologic defects.
and Young Adults with Cerebral Palsy. The Gastroenterology v. 121, n. 6, p. 1294–1299 ,
Journal of pediatrics v. 168, p. 151–7.e1 , 2016. 2001.

BRANT, Luisa Campos Caldeira et al. Variações HEALY, Fiona; PANITCH, Howard B. Pulmonary
e diferenciais da mortalidade por doença complications of pediatric neurological
cardiovascular no Brasil e em seus estados, em diseases. Pediatric annals v. 39, n. 4, p. 216–224.
1990 e 2015: estimativas do Estudo Carga Global
de Doença. Revista Brasileira de Epidemiologia KAJEKAR, Radhika. Environmental factors
v. 20, n. suppl 1, p. 116–128 , 2017. and developmental outcomes in the lung.
Pharmacology and Therapeutics. v.114, n. 2 , p
CLAUDINO, Karolyny Alves; DA SILVA, Lícia 129-145 , 2007.
Vasconcelos Carvalho. Complicações
respiratórias em pacientes com encefalopatia KOHRMAN, Michael H.; CARNEY, Paul R. Sleep-
crônica não progressiva. Revista Neurociencias related disorders in neurologic disease during
v. 20, n. 1, p. 94–100, 2012. childhood. Pediatric Neurology v. 23, n. 2, p.
107–113 , 2000.
COSTA, Aniele Medeiros; ROBERTO, José;
RAMOS, De Moraes. A função pulmonar no KWON YU, LEE HY. Differences of the truncal
período neonatal. , 2004.8575410547. expansion and respiratory function between
children with spastic diplegic and hemiplegic
CURADO ADF, GARCIA RSP, FRANCESCO cerebral palsy. J Phys Ther Sci, v. 25, n. 12, p.
RC. Investigação da aspiração silenciosa 1633-1635, 2013.
em portadores de paralisia cerebral
tetraparética espástica por meio de exame KWON Y H, LEE H Y. Differences of Respiratory
videofluoroscópico. Rev CEFAC v. 7, n.2 p188- Function According to Level of the Gross Motor
97, 2005. Function Classification System in Children
with Cerebral Palsy. J Phys Ther Sci. v. 26, n. 3,
DE FREITAS, Fabia suelane; PARREIRA, VerOnica p.389–391, 2014.
franco; IBIAPINA, Cassio da cunha. Aplicação
clínica do pico de fl uxo da tosse : uma revisão LÉLIS, Ana Luíza P.A.; CARDOSO, Maria Vera
de literatura. fisioter. mov v. 23, n. 3, p. 495–502 L.M.; HALL, Wendy A. Sleep disorders in children
, 2010. with cerebral palsy: An integrative review. Sleep
Medicine Reviews v. 30, p. 63–71 , 2016.
DUTT, Risha; RODUTA-ROBERTS, Mary; BROWN,
Cary. Sleep and Children with Cerebral Palsy: A LIPTAK, G S et al. Health status of children
Review of Current Evidence and Environmental with moderate to severe cerebral palsy.
Non-Pharmacological Interventions. Children Developmental medicine and child neurology
v. 2, n. 1, p. 78–88 , 2015. v. 43, n. 6, p. 364–370, 2001.

95
Caderno de atenção integral à saúde da criança no âmbito da FISIOTERAPIA

MACEDO, Silvia Elaine Cardozo et al. Fatores WANG HY, CHEN CC, HSIAO SF: Relationships
de risco para interna????o por doen??a between respiratory muscle strength and daily
respirat??ria aguda em crian??as at?? um ano living function in children with cerebral palsy.
de idade. Revista de Saude Publica v.41, n. 3, p. Res Dev Disabil, v. 33, p. 1176-1182, 2012.
351–358, 2007.
WATERMAN, E T et al. Swallowing disorders
OLIVEIRA, Beatriz Rosana Gonçalves De et al. in a population of children with cerebral
Causas de hospitalização no SUS de crianças de palsy. International journal of pediatric
zero a quatro anos no Brasil. Revista Brasileira otorhinolaryngology v. 24, n. 1, p. 63–71, 1992.
de Epidemiologia v. 13, n.2, p. 268–277, 2010.
CURADO ADF, GARCIA RSP, FRANCESCO
PEDRAZA, Dixis Figueroa et al. Internações das RC. Investigação da aspiração silenciosa
crianças brasileiras menores de cinco anos: em portadores de paralisia cerebral
revisão sistemática da literatura. Epidemiologia tetraparética espástica por meio de exame
e Serviços de Saúde v. 26, n. 1, p. 169–182, 2017. videofluoroscópico. Rev CEFAC v. 7, n.2 p188-
97, 2005.
POLVERINO, Mario et al. Anatomy and neuro-
pathophysiology of the cough reflex arc
Multidisciplinary respiratory medicine v. 7, n.
1, p.5, 2012.

PRUITT, David W.; TSAI, Tobias. Common Medical


Comorbidities Associated with Cerebral Palsy.
Physical Medicine and Rehabilitation Clinics of
North America v. 20, n.3, p. 453–467, 2009.

RICE, Mary B. et al. Lifetime exposure to


ambient pollution and lung function in
children. American Journal of Respiratory and
Critical Care Medicine v. 193, n. 8, p. 881–888,
2016.

SAMSON-FANG, Lisa J.; STEVENSON, Richard D.


Identification of malnutrition in children with
cerebral palsy: Poor performance of weight-for-
height centiles. Developmental Medicine and
Child Neurology v. 42, n. 3, p. 162–168, 2000.

SEDDON, P; KHAN, Y. Respiratory problems


in children with neurological impairment.
Archives of Disease in Childhood v. 88, n. 1, p.
75–78 , 2003.

96
Organizadores

CINTHIA RODRIGUES DE VASCONCELOS CARINE CAROLINA WIESIOLEK


Fisioterapeuta Fisioterapeuta
Mestre em Saúde Materno Infantil - IMIP Mestre em Fisiologia - UFPE
Doutora em Nutrição - UFPE Doutora em Neurociências - UFPE
Professora Associada do Departamento de Professora Adjunta do Departamento de
Fisioterapia da UFPE Fisioterapia da UFPE
cinthia.vasconcelos@abenfisio.com.br carinecwi@gmail.com

LUANA PADILHA DA ROCHA CLAUDIA FONSECA DE LIMA


Fisioterapeuta Fisioterapeuta
Mestre em Enfermagem e Educação em Saúde - UFPE Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente
Fisioterapeuta NASF - Recife Doutoranda em Psicologia Clínica pela UNICAP
luanapadilha1895@gmail.com Professora do curso de Fisioterapia da
Universidade Católica de Pernambuco
ANA CARLA BOTELHO (UNICAP)
Fisioterapeuta claudinhaflima@hotmail.com
Mestre em Saúde Materno-infantil
TutoradeFisioterapianaFaculdadePernambucana CRISTIANA MARIA MACEDO DE BRITO
de Saúde - FPS Fisioterapeuta
Profissional do Instituto Materno Infantil de Especialização em Recursos Terapêuticos Manuais
Pernambuco Mestre em Saude da Criança e Adolescente - UFPE
anacbotelho@hotmail.com Doutora em Psicologia Clínica pela UNICAP-PE
ProfessoradocursodeFisioterapiadaUniversidade
ANNA CATARINA SOARES DOS SANTOS MELO Católica de Pernambuco (UNICAP)
Fisioterapeuta da AACD - PE brito.cristiana@gmail.com
annacssmelo@yahoo.com.br
CYDA MARIA ALBUQUERQUE REINAUX
ANTONIETTA CLAUDIA BARBOSA DA FONSECA Fisioterapeuta
CARNEIRO Doutora em Saude Materno-infantil - IMIP
Fisioterapeuta Professora Adjunta do Departamento de
Mestre em Biofísica pela UFPE Fisioterapia da UFPE
Professora do curso de Fisioterapia do Centro cydareinaux@hotmail.com
Universitário Estácio do Recife
antoniettaclaudia@gmail.com DANIELLY LAIS PERREIRA GOMES
Fisioterapeuta na Pepita Duran Clinica
BRUNA MARIA LIMEIRA RODRIGUES ORTIZ Multiserviços e Home Care
Fisioterapeuta Mestre em Fisioterapia - UFPE
Mestrado em Modelos de Decisão e Saúde pela UFPB Professora do Instituto Pernambucano de
bruna.ortiz83@gmail.com Ensino Superior (IPESU)
Fisioterapeuta da Pepita Duran Clínica
Multiserviços e Home Care
danilais.lima@gmail.com

97
FABIANA DE OLIVEIRA SILVA SOUSA MARIA PERFECTA DURAN PORTO DANTAS
Fisioterapeuta Fisioterapeuta e Diretora Administrativa da
Doutora em Saúde Publica pelo Instituto Aggeu Pepita Duran Clinica Multiserviços e Home Care
Magalhães - FIOCRUZ Especialização em Fisioterapia Neurofuncional
Professora Adjunta do curso de bacharelado UGF-RJ
em Saúde Coletiva do Centro Acadêmico de Diretora da FENAFISIO
Vitória - CAV/UFPE diretoria@pepitaduran.com.br
oliveirasilva.fabi@gmail.com
RENALLI MANUELLA RODRIGUES ALVES
JÉSSICA BRITO NORONHA Fisioterapeuta
Fisioterapeuta Mestre em Patologia - UFPE
Mestranda em Saúde da Criança e do Doutoranda em Saúde Integral - IMIP
Adolescente - UFPE renalli@hotmail.com
Pós-graduanda em Fisioterapia Neonatal e
Pediátrica no Centro Universitário de João WASHINGTON JOSÉ DOS SANTOS
Pessoa (UNIPE) Fisioterapeuta
jessicabritofisioterapia@gmail.com Mestre em Saúde Coletiva- UFPE
Profissional do Hospital das Clinicas - PE
JULIANA BAPTISTA TEIXEIRA Fisioterapeuta do NASF Recife - PE
Fisioterapeuta graduada pela FIR washingtonfisio@gmail.com
Especialização em fisioterapia pediátrica- IMIP
Mestranda em fisioterapia - UFPE
Professora do Curso de Fisioterapia da
Faculdade de Comunicação, Tecnologia e
Turismo (FACOTTUR)
julianabt1@hotmail.com

KAREN MACIEL SOBREIRA SOARES


Fisioterapeuta e Diretora técnica da Pepita Duran
Clínica Multiserviços e Home Care
Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente - UFPE
Servidora da Secretaria Estadual de Saúde - PE
cursos@pepitaduran.com.br

KARLA MONICA FERRAZ


Fisioterapeuta
Mestre e Doutora em Nutrição - UFPE
Doutora em engenharia Biomédica pela
Université de Technologie de Compiégne - França
Professora Associada do Departamento de
Fisioterapia da UFPE
karla.tbarros@ufpe.br

LORENA ALBUQUERQUE DE MELO


Fisioterapeuta
Mestre em Saúde Coletiva - UFPE
Fisioterapeuta do NASF Recife - PE
lorenalbuquerque@gmail.com

98
COORDENAÇÃO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE ENSINO EM FISIOTERAPIA
(ABENFISIO)
Coordenador:
Prof Tarcísio Fulgêncio Alves da Silva
Instituição: Universidade de Pernambuco
CREFITO 1
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0689848558441644

Vice-Coordenadora:
Profª Luciana Carrupt Machado Sogame
Instituição: Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória
CREFITO 15
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0690734942606200

1ª Secretária:
Prof Tarcísio Fulgêncio Alves da Silva
Instituição: Universidade de Pernambuco
CREFITO 1
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0689848558441644

2ª Secretária:
Profª. Laís Alves de Souza Bonilha
Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
CREFITO 13
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9812118082161080

1º Tesoureira: 
Fisioterapeuta: Marcelly da Silva Barbieri
Instituição: NASF CF Raimundo Alves / Rio de Janeiro
CREFITO 2
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9898675062459280

2ª Tesoureira:
Profª Cinthia Rodrigues de Vasconcelos
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco
CREFITO 1
Currículo Lattes:  http://lattes.cnpq.br/9932187655941209

Suplentes:
Prof. Dernival Bertoncello
Instituição: Universidade Federal do Triângulo Mineiro
CREFITO 4
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7142226105648914

Prof. Angelo Augusto Paula do Nascimento


Instituição: Centro Universitário do Rio Grande do Norte
CREFITO 1
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4798508766823643

Profª. Vanda Cristina Galvão Pereira


Instituição: Centro Universitário Autônomo do Brasil
CREFITO 8
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1065855228515003

99
Para obter mais informações sobre este caderno ou a versão online do mesmo, acesse nosso site
www.crefito1.org.br ou envie um e-mail pra gabinete@crefito1.org.br.

PRESIDENTE: Silano Souto Mendes Barros

DIRETORIA: Leiliane Gomes | Flávio Maciel | Amanda Cavalcanti Belo

CONSELHEIROS EFETIVOS: ​​Eliete Moreira Colaço | Francisca Rego Oliveira de Araújo | Iara Lucena
Barbosa de Lima | Talita Santos Camêllo | Valderlene Guimarâes Santos

CONSELHEIROS SUPLENTES: ​ Charlles Petterson Andrade de Omena | Cinthia Rodrigues de


Vasconcelos | Dimitri Taurino Guedes | Francimar Ferrari Ramos | Joana Valeriano de Almeida Aguiar
e Silva | Tarcísio Fulgêncio Alves da Silva | Tereza Cristina Rocha Pedroza

También podría gustarte