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Resenha: R. HARRÉ & L. VAN LANGENHOVE (editors) (1999).

Positioning theory: moral contexts


of intentional actions. Oxford: Blackwell Publishers.
Texto não publicado, circulação restrita. Não divulgar sem autorização prévia dos autores. Uso exclusivo para
fins didáticos.
A TEORIA DO POSICIONAMENTO NA COMPREENSÃO DOS
PROCESSOS DISCURSIVOS DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE

CARLA G UANAES-LORENZI

Segundo HARRÉ & VAN LANGENHOVE (1999), a Teoria do Posicionamento pode


servir como um importante recurso para o estudo de muitos aspectos da vida social, uma
vez que oferece uma estrutura poderosa para a análise do discurso social a partir da
associação da psicologia ao estudo das práticas discursivas. Esta teoria busca compreender
como o mundo social e as realidades psicológicas são produzidos nas práticas discursivas,
entendendo que o modo como as pessoas participam nas trocas dialógicas relaciona-se com
as normas que sustentam e regulam os episódios sociais. Para estes autores,

“... não apenas o que fazemos, mas também o que podemos fazer é restringido
pelos direitos, deveres e obrigações, que adquirimos, assumimos ou que nos são
impostos nos contextos sociais concretos da vida cotidiana” (HARRÉ & VAN
LANGENHOVE, 1999a, p.04).

Entende-se, nesta perspectiva, que o processo discursivo só é possível porque as


pessoas têm certas normas e regras que permitem a explicação de ações conjuntas. Tais
regras discursivas são criadas conjuntamente pelas pessoas na produção de episódios1 da
vida cotidiana. Estes episódios, embora definidos na relação atual entre os participantes,
também determinam o que eles fazem ou dizem. Por exemplo, uma simples expressão
como “eu estou bem” envolve não apenas as regras necessárias para falar e fazer um
julgamento sobre uma condição ou estado pessoal, mas também regras que definem
quando e em que situação (onde) tal comunicação pode ou não ser apropriada. Assim, o
que vai ser dito em um episódio é determinado, entre outras coisas, por regras que definem
sua forma e conteúdo, por experiências biográficas anteriores2 e pela própria história do
que já foi dito no episódio em questão (HARRÉ & VAN LANGENHOVE, 1999a, p.04).

1
Segundo estes autores, episódios são definidos como seqüências de comportamentos, pensamentos,
intenções, planos, etc, nos quais as pessoas se engajam, sendo caracterizados por ter algum princípio de
unidade.
2
Entende-se, aqui, a influência de “experiências biográficas” anteriores não em uma perspectiva linear ou
causal, onde experiências passadas determinam ações presentes, mas como uma descrição / interpretação
No campo das ciências sociais, muitos estudos foram realizados visando uma maior
compreensão dos episódios sociais. Contudo, estes privilegiaram uma compreensão dos
mesmos em relação ao contexto social, visando apreender a relação existente entre papéis e
regras sociais gerais (como por exemplo, os trabalhos de Harold Garfinkel e Erving
Goffman). Diferentemente, a análise proposta pela Teoria do Posicionamento pretende
avançar na compreensão dos episódios sociais atentando para os seguintes aspectos: 1) as
posições morais dos interlocutores e seus direitos de falar determinadas coisas; 2) a história
conversacional e a seqüência de coisas que já foram ditas; e 3) o poder presente em
determinadas falas, na estruturação de certos aspectos do mundo real. Tais aspectos dos
episódios são considerados fundamentais no entendimento de como fenômenos sociais e
psicológicos são construídos nas práticas discursivas (HARRÉ & VAN LANGENHOVE,
1999a).
Considerando estes aspectos, buscaremos uma maior compreensão da Teoria do
Posicionamento a partir destas três dimensões fundamentais, definida pela tríade posição /
força social da ação3 / linha de história, que sustenta a dinâmica dos jogos de
posicionamento envolvidos na produção discursiva de selves. Em seguida, apresentamos
uma tipologia dos posicionamentos, conforme sugerida por VAN LANGENHOVE &
HARRÉ (1999a), que favorece uma análise minuciosa das práticas discursivas.

1. A TEORIA DO POSICIONAMENTO: POSIÇÃO / FORÇA SOCIAL DA AÇÃO / LINHA DE HISTÓRIA

Segundo HARRÉ & VAN LANGENHOVE (1999a), os processos discursivos de


construção de identidade guardam relação com as ordens morais locais – isto é, o conjunto
de direitos, deveres e obrigações de falar e agir, que pautam as relações possíveis entre os
interlocutores, em um determinado contexto. Nas práticas discursivas cotidianas, as

presente (atual) sobre histórias passadas. Voltaremos nesse ponto adiante, ao abordarmos mais
profundamente a questão da produção de significado e da produção discursiva de selves.
3
O termo força social da ação tem sido também referido por estes autores como „ato-ação‟, que caracteriza o
ato de posicionar alguém em uma conversa. Como este conceito remete às implicações deste “ato de
posicionar”, referentes à força social dos enunciados, optamos por utilizar o termo „força social da ação‟,
também utilizado por estes autores em outras partes do texto.
2
pessoas assumem para si mesmas e atribuem aos outros determinadas posições, de acordo
com as ordens morais que definem diferentes lugares sociais e possibilidades de interação.
No contexto das ciências sociais, as noções de posição e posicionamento foram
inicialmente introduzidas por Hollway (1984, apud VAN LANGENHOVE & HARRÉ,
1999a), em seu estudo dos processos de construção de subjetividade nas relações
heterossexuais. Segundo esta autora, determinados discursos tornavam possíveis
determinadas posições aos falantes e aos ouvintes, servindo a determinadas funções
sociais. Desde então, este conceito tem se desenvolvido particularmente direcionado ao
entendimento do modo como as pessoas constroem suas identidades discursivamente, na
relação com os outros, e às funções sociais de assumir para si mesmo ou atribuir a outros
determinadas posições.
A especificidade do conceito de posicionamento reside em seu caráter constitutivo:
o self é construído nas práticas discursivas, através das posições que as pessoas assumem e
negociam ativamente, em seus relacionamentos. Segundo VAN LANGENHOVE & HARRÉ
(1999a),

“... o posicionamento pode ser entendido como a construção discursiva de


histórias pessoais que torna as ações pessoais inteligíveis e relativamente
determinadas como atos sociais, e dentro das quais os membros de uma conversa
têm localizações específicas” (p.16).

Ao associar a noção de self à construção discursiva de histórias pessoais, esta


definição coloca o self na dependência das posições assumidas pelos interlocutores nas
práticas discursivas que desenvolvem. Além disso, acentua o caráter relacional da
construção de histórias pessoais, com uma ênfase especial na força social implicada nos
atos de posicionamento.
Assim, a Teoria do Posicionamento busca compreender a especificidade das
conversações de modo amplo e complexo. Sua estrutura conceitual-metodológica baseia-se
na tríade posição / força social da ação / linha de história, buscando, assim, descrever
como a vida social, em seus fenômenos sociais e psicológicos, é construída na
conversação.
3
Os três elementos desta tríade que sustentam o conceito de posicionamento
encontram-se estritamente relacionados. A posição refere-se aos atributos morais e
pessoais apresentados em uma conversação, e que são marcados por uma determinada
força social. Por sua vez, as posições que as pessoas assumem guardam relação com as
linhas de história das conversações em desenvolvimento, isto é, estão ligadas às histórias
conversacionais que orientam a construção presente da narrativa no momento de uma
interação (VAN LANGENHOVE & HARRÉ, 1999a).
Dada a importância destes conceitos para a compreensão da noção de self proposta
pelos teóricos do posicionamento, apresentaremos separadamente suas definições e
principais implicações.

O conceito de posição

De acordo com HARRÉ & VAN LANGENHOVE (1999a), entende-se por posição,

“...um grupo complexo de atributos pessoais genéricos, estruturado de vários


modos, que influenciam nas possibilidades de ação pessoal, intergrupal ou
mesmo intrapessoal, através de algumas designações de direitos, deveres e
obrigações a um indivíduo, conforme sustentando pelo grupo” (p.01).

Segundo estes autores, a palavra posição tem sido muito usada nos escritos sociais
e psicológicos, mas ultimamente tem assumido um sentido mais específico, ao ser aplicada
em estudos que buscam uma análise minuciosa das interações interpessoais mediadas
simbolicamente. A posição refere-se aos lugares sociais assumidos e negociados pelas
pessoas em suas conversações, definidos por um conjunto de atributos pessoais genéricos,
negociados pelos falantes em suas interações.
Estes atributos podem remeter tanto a posições morais e sociais amplamente
reconhecidas – tais como mãe, filho, enfermeira, médico, paciente, professor, aluno, etc – ,
como a infinitas variações destas posições, referidas a um universo mais pessoal e singular
– filho atencioso, mãe autoritária, aluno irritante, aluno estudioso, professora brava, criança
barulhenta, etc.

4
Assim, o conceito de posição tem se firmado, no contexto das produções sócio-
construcionistas, como uma alternativa dinâmica ao conceito mais estático de “papel”,
usualmente referido a funções sociais mais amplas. O conceito de posição busca
contemplar o dinamismo implicado nos processos de construção de identidade, entendendo
que uma posição não carrega em si mesma um significado, mas tem seu sentido construído
na interação, no relacionamento com os outros. Ainda que remetida a papéis sociais mais
amplos, o sentido de uma posição depende de outros fatores, tais como o próprio contexto
discursivo e as particularidades do relacionamento onde as posições são negociadas.
Além disso, entende-se que as pessoas estão sempre engajadas em atividades
discursivas onde posicionam a si mesmas e aos outros, mas as formas que estes
posicionamentos assumem vão diferir de acordo com as situações específicas em que eles
ocorrem. Segundo VAN LANGENHOVE & HARRÉ (1999a), os posicionamentos podem
variar em função de três aspectos principais:
1) Quanto ao domínio das técnicas de fala (como por exemplo, diferenças de
habilidade e domínio conversacional, carisma, capacidade de criação narrativa etc);
2) Quanto ao seu desejo ou intenção de se posicionarem ou serem posicionadas; e
3) Quanto ao seu poder de realizar atos de posicionamento.

Enquanto os dois primeiros aspectos referem-se essencialmente a atributos


individuais4, o último remete essencialmente à dimensão social, já que o “ter poder” deriva
de localizações específicas em redes sociais.
A partir disso, entende-se que nem todas as pessoas podem assumir qualquer
posição. Embora exista potencialmente a possibilidade de múltiplos posicionamentos, uma
posição define-se em relação aos direitos e obrigações de fala e ação, associados ao que
pode ou não ser dito (e por quem) em uma interação.
Ao iniciar uma conversa um falante adota uma posição, mas isto não
necessariamente define o desenvolvimento ou a estrutura futura desse diálogo. As posições
que os interlocutores adotam não são fixas – elas podem mudar constantemente de acordo
com o modo como a conversa se desenvolve. Neste sentido, tanto a linha de história como
4
O termo “atributos individuais” refere-se às possibilidades de aprendizagem social, a partir da participação
em determinadas práticas discursivas.
5
a força social dos atos discursivos influenciam a dinâmica dos posicionamentos
negociados entre os interlocutores, o que define o caráter dinâmico e imprevisível da
conversação.

O conceito de linha de história


Entende-se como linha de história o conjunto de significados que são associados,
pelos falantes, à posição negociada, e que nos permite definir o sentido de uma posição em
um determinado contexto interativo.
A linha de história é desenvolvida a partir da história conversacional – ou seja, do
desenvolvimento da conversa entre os interlocutores em um momento interativo específico
– e da seqüência de coisas já ditas em outros relacionamentos e conversas anteriores. São
estes significados que orientam a construção presente de uma narrativa.
Portanto, investigar a linha de história é investigar quais significados encontram-se
associados às posições negociadas, sejam estes relativos a experiências anteriores ou a
discursos culturalmente estabelecidos, sejam relativos àqueles construídos na própria
situação interativa (VAN LANGENHOVE & HARRÉ, 1999a).

A força social da ação

O posicionamento também está relacionado à força social implicada no ato de


assumir para si mesmo ou atribuir ao outro determinada posição.
A força social da ação refere-se ao “... poder presente nos enunciados na
construção das práticas sociais e de realidades conversacionais”. Ou seja, os
posicionamentos atribuídos em uma dada narrativa envolvem ações e, neste sentido,
estamos sempre envolvidos em ações, posicionando a nós mesmos e aos outros em
determinas categorias sociais, e assim atribuindo funções e papéis sociais de acordo com as
posições negociadas através das práticas discursivas – estejamos ou não conscientes de
quais são estas posições em curso e suas conseqüências (VAN LANGENHOVE & HARRÉ,
1999a).

6
O conceito de posicionamento favorece que nossa atenção seja focalizada nos
aspectos dinâmicos dos encontros, sobretudo por partir da noção de linguagem em uso. Por
esta noção entende-se que as regras sociais são descrições derivadas das produções
discursivas entre as pessoas, desenvolvidas em contextos definidos e servindo, portanto, a
determinados propósitos sociais. Do mesmo modo, uma conversa é vista como uma forma
de interação social, uma forma de ação conjunta entre os participantes, onde um conjunto
estruturado de atos de fala se desenvolve, marcados por uma determinada força social (ou
força ilocucionária). Nesta perspectiva, a linguagem é considerada, em si mesma, uma
prática social. Ao falar, as pessoas realizam ações de posicionamento, onde posições são
negociadas de acordo com determinados propósitos sociais, levando a conseqüências
relativas às posições e significados produzidos nessa interação (HARRÉ & GILLET, 1994;
DAVIES & HARRÉ, 1999).
Um mesmo enunciado pode ser utilizado para realizar diferentes atos de fala,
servindo, portanto, a diferentes propósitos sociais em uma conversação em curso,
dependendo dos interesses particulares dos falantes e das condições definidas nas linhas de
história em que estão inseridos.
Segundo DAVIES & HARRÉ (1999), quando alguém posiciona a si mesmo e aos
outros em uma conversação, as seguintes dimensões devem ser consideradas:
1) As palavras escolhidas pelos falantes para serem usadas nos diálogos contêm
imagens e metáforas que se relacionam aos seus modos de ser e aos dos outros;
2) Os participantes não necessariamente estarão conscientes das concepções ou dos
poderes das imagens e metáforas que utilizam, podendo entendê-las apenas como
um “modo de falar” em uma situação específica. Contudo, é a particularidade desse
contexto interativo que define o tipo de relacionamento entre os interlocutores e os
modos possíveis de fala.
3) A percepção sobre a situação discursiva varia de uma pessoa para outra. Assim, o
modo como um falante será ouvido pode variar, entre outras coisas, com
compromissos morais e políticos; com o tipo de pessoa que se julga que o outro
seja; com as atitudes de um falante em relação a outro; com a disponibilidade de
discursos alternativos ao apresentado pelo falante inicial, etc;
7
4) As posições criadas para si mesmo e para os outros não são parte de uma
autobiografia linear e não contraditória, mas constituem fragmentos acumulados de
uma história vivida; e
5) As posições podem ser vistas pelos interlocutores em termos de papéis conhecidos
(reais ou metafóricos), ou de personagens conhecidos em linhas de história
compartilhadas, ou podem, ainda, ser vistas como muito mais efêmeras, retratando
mudanças de poder, ou possibilidades de acesso a certas características pessoais
desejadas, e assim por diante.

Em uma conversação, uma rede entrelaçada de várias linhas de história é


desenvolvida. Estas são organizadas através das conversas e em torno de vários pólos, tais
como eventos, personagens e dilemas morais. Algumas vezes, estereótipos culturais
(referentes a papéis sociais, por exemplo – enfermeira / paciente; marido / mulher etc) são
utilizados como recurso na organização das conversações. Contudo, não existe um sentido
único, inerente a um enunciado ou a tais estereótipos culturais, de modo que estes podem
ser entendidos de modo diferente, por diferentes pessoas, de acordo com as
particularidades de uma situação discursiva.
Pelo menos duas implicações derivam desta afirmação. A primeira é que as versões
de um falante sobre uma situação estarão sempre sujeitas a descrições posteriores. O fato
de que um enunciado é sempre considerado a partir de duas posições diferentes evidencia a
impossibilidade de uma conversa unívoca e atenta para a dificuldade de se alcançar
significados compartilhados. Ao mesmo tempo, isto argumenta a favor de uma concepção
relacional sobre a produção de sentidos.
A segunda implicação é a de que um mesmo enunciado pode ser utilizado para
realizar diferentes atos de fala, servindo, portanto, a diferentes propósitos sociais em uma
conversação em curso, dependendo dos interesses particulares dos falantes e das condições
definidas nas linhas de história em que estão inseridos. Os posicionamentos assumidos em
uma dada narrativa envolvem ações e, neste sentido, estamos sempre envolvidos em ações,
posicionando a nós mesmos e aos outros em determinadas categorias sociais, e assim

8
atribuindo funções e papéis de acordo com as posições negociadas através de tais práticas
discursivas.
Frente a tais considerações, DAVIES & HARRÉ (1999) afirmam que a maior
contribuição do conceito de posicionamento no contexto da psicologia social é que este
direciona nossa atenção para “... os processos pelos quais certas tramas de conseqüências,
intencionais ou não, são postas em movimento” (p. 40). Isto significa que uma maior
compreensão sobre a força social dos enunciados e posições negociadas em um discurso
pode ser alcançada utilizando-se a teoria do posicionamento como recurso.
Por exemplo, para dizer que uma pessoa foi posicionada como “sem poder ou
autoridade”, faz-se necessária uma descrição de como essa posição foi assumida por esta
pessoa, isto é, quais os sentidos que esta pessoa associa em sua compreensão sobre a “falta
de poder”. Para tanto, deve-ser recorrer à investigação da linha de história em que tais
significados são produzidos. Isto pode envolver tanto uma extensão por classificação
(indexical extension) – referente a alguns significados gerais associados a experiências
pessoais5 anteriores (por exemplo, o que se sentiu em situações passadas quando foi
considerada como sem poder), como também uma extensão por tipificação (typification
extension) – relativa à compreensão deste significado como associado a conjuntos de
atributos culturalmente estabelecidos ou articulados a papéis sociais mais amplos (DAVIES
& HARRÉ, 1999).
Assim, a compreensão da linha de história em que a pessoa está envolvida é
elemento central no processo de estabelecimento de significado e de posições de self.
Segundo DAVIES & HARRÉ (1999) para identificar os atos de fala que ocorrem em uma
determinada prática discursiva, é fundamental identificar as linhas de história associadas
aos enunciados de cada um dos falantes em momentos específicos.
Além disso, o significado social de uma conversa envolve tanto um aspecto
constitutivo quanto um aspecto dinâmico – o que pode ser melhor compreendido através
dos conceitos de discurso e de prática discursiva.

5
Ver nota de rodapé 2 (página 19).
9
O conceito de discurso, segundo estes autores, refere-se ao “uso institucionalizado
da linguagem e dos sistemas e sinais de linguagem”, o que inclui aqueles conjuntos de
sentidos e representações relativamente estáveis. Por sua vez, o conceito de prática
discursiva remete às “... maneiras pelas quais as pessoas ativamente produzem realidades
psicológicas e sociais” (DAVIES & HARRÉ, 1999, p.34), assim marcando o dinamismo
dos processos de produção de si mesmo e do mundo.
A partir destes conceitos centrais, a Teoria do Posicionamento permite pensar tanto
o caráter contínuo e relativamente estável dos discursos, como o caráter dinâmico e fluído
das práticas discursivas. Esse dinamismo reside, sobretudo, na possibilidade de assumir ou
atribuir múltiplas posições-sujeito6 ao longo de uma conversação, ou seja, reside na
natureza múltipla do processo de construção de identidade a partir das trocas dialógicas.
Ao assumir uma posição como sua, a pessoa vê o mundo e a si mesma a partir
daquela posição assumida, baseada em imagens, metáforas, linhas de história e conceitos
particulares que estão envolvidos na construção dessa posição. Mas, além dessa dimensão
constitutiva presente no “assumir uma posição discursiva” (e assim, no definir-se como
sendo de determinada forma e pertencendo a determinadas categorias sociais), este
processo comporta também o dinamismo e a diversidade, inerentes às próprias práticas
discursivas.
Ainda que recorrendo a discursos sociais mais amplos, é no momento presente de
uma interação que as diversas posições de self adquirem significado, através da
participação ativa da pessoa na escolha e negociação destas posições. Isto implica em
conceber a pessoa como tendo uma participação ativa no processo de dar sentido ao mundo
e a si mesma, sendo, assim, responsável por sua própria autoria a partir dos processos de
produção de sentidos.

6
O termo posição-sujeito (subject-position) torna explícita a associação da noção de posição e de identidade,
entendida como a produção discursiva de selves na conversação. Entendemos que, ao falar de „posição‟
estamos sempre nos referindo à „posição-sujeito‟. Contudo, para efeitos de redação, e para manter a mesma
nomeação utilizada correntemente pelos teóricos do posicionamento em que nos baseamos, nos referiremos
ao longo desse texto apenas à „posição‟, sem outros qualificativos.
10
2. A DINÂMICA DO POSICIONAMENTO E A PRODUÇÃO DISCURSIVA DE SELVES

De modo coerente, com uma perspectiva sócio-construcionista, também para a


Teoria do Posicionamento a noção de identidade como unidade é substituída pela
possibilidade de múltiplas descrições de selves. O self passa a ser definido como um
produto das práticas discursivas, tendo uma natureza lingüística (conversacional) e
relacional. Conforme descrevem HARRÉ & GILLET (1994):

“A visão discursiva da individualidade e da personalidade não precisa encontrar


uma constelação distinta de processos interiores para explicar a unicidade de
cada ser humano, porque todo ser humano é tido como único em modos
diretamente relevantes para a explicação psicológica. Cada indivíduo humano
fica em um ponto de intersecção único de discursos humanos e relacionamentos.
Se estas coisas são a base sobre a qual a mente é construída e o meio em que
operam, então uma explicação discursiva não precisa olhar para as bases da
unicidade da mente individual” (p.133).

Como já referimos anteriormente, a especificidade da Teoria do Posicionamento


reside na articulação da noção de self narrativo ao conceito de posição. A pessoa se
constitui nas trocas dialógicas, através das posições que assume e que os outros atribuem a
ela nos relacionamentos de que participa. Na definição de DAVIES & HARRÉ, (1999),

“... o indivíduo emerge através dos processos de interação social não como um
produto final fixo, mas como sendo constituído e reconstituído através das várias
práticas discursivas de que participa. Assim, a questão da identidade (do quem
sou eu?) é sempre uma questão aberta, cujas respostas dependem das posições
assumidas por um ou por outro nestas práticas discursivas, e das histórias
através das quais damos sentidos a nossas vidas e a dos outros” (p.35).

Ao falar ou agir a partir de uma determinada posição, uma pessoa traz para a
situação presente sua história particular, que é a história de alguém envolvido em múltiplos
posicionamentos e engajado em diferentes formas de discurso. Assim, o posicionamento

11
refere-se a um “... processo discursivo a partir do qual selves são situados em uma
conversação” (idem, p.39).
O posicionamento envolve tanto uma dimensão relacional como uma dimensão
reflexiva. Relacional porque diz respeito a um processo discursivo interativo, onde as
posições de self são construídas e negociadas na relação conjunta, e reflexiva porque, ao
agir ou falar, as pessoas estão invariavelmente se posicionando ou sendo posicionadas no
diálogo, tácita ou intencionalmente.
Se a Teoria do Posicionamento assume a noção de que podemos ter múltiplas
formas de descrição de self, a partir das posições negociadas nos processos interativos,
como ela explica nossa aquisição de um senso de si mesmo?
Também nessa perspectiva, o senso de identidade e unicidade pessoal é fruto de um
processo de construção social. Segundo DAVIES & HARRÉ (1999), a aquisição ou
desenvolvimento de um senso de si mesmo e de formas de interpretar o mundo de acordo
com determinados pontos de vista, envolve os seguintes processos:
1) Aprendizagem de algumas categorias gerais que incluem algumas pessoas e
excluem outras, assim dividindo-as em subgrupos distintos, tais como homem/
mulher; pai/ filho; jogador / árbitro / expectador;
2) Participação em práticas discursivas através das quais os sentidos são referidos a
estas categorias, incluindo as histórias de vida em que estas diferentes posições são
elaboradas;
3) Posicionamento das pessoas como fazendo parte de determinadas categorias, e não
de outras;
4) Reconhecimento de si mesmo como uma pessoa com características que o
permitem se perceber como parte de categorias distintas e também ser percebido
pelos outros como parte destes diferentes subgrupos. Isto envolve o
desenvolvimento de um senso de si mesmo como pertencendo ao mundo de alguns
modos e se percebendo a partir de determinados posicionamentos.

Estes quatro processos resultam em uma percepção de si mesmo que se reflete no


uso de uma gramática pronominal, que permite às pessoas se descreverem como únicas e

12
historicamente contínuas (DAVIES & HARRÉ, 1999). Nós aprendemos a nos descrever a
partir destas categorias, fazendo referência ao que somos e ao que não somos, ao que
sentimos, ao que gostamos, etc, com referência a atributos e características pessoais
valorizadas nas práticas sociais de que participamos.
Assim, um modo de identificar os posicionamentos pessoais que ocorrem nas
práticas discursivas é através da análise dos aspectos autobiográficos presentes no diálogo,
ou seja, da verificação de como cada interlocutor conceitua a si mesmo e aos outros
participantes; das posições que lhe são atribuídas; ou dos lugares que ocupa em
determinadas linhas de história7.
Conforme aponta HARRÉ & GILLET (1994),

“a identidade pessoal é o senso de alguém de ser localizado no espaço e ter uma


posição na ordem moral do pequeno grupo com o qual está conversando. Nossa
teoria, assim, é de que a pessoalidade é produzida discursivamente para outros
pelo uso do pronome de primeira pessoa, e é ao mesmo tempo discursivamente
produzida para nós mesmos” (p.108)

Segundo HARRÉ & VAN LANGENHOVE (1999a), a pessoalidade8, ou um senso de


eu, manifesta-se publicamente nas práticas discursivas através das histórias autobiográficas
contadas pelas pessoas no cotidiano de suas interações, ou nas situações em que elas
assumem responsabilidade por determinadas ações, expressam dúvidas, declaram
interesses, desejos, e assim por diante.
Estes autores distinguem entre duas formas de expressão de “identidade”. A
primeira delas, encontra-se associada a noção de que se tem um self, uma identidade
pessoal única, relativamente contínua em tempo e espaço, a que chamam de self 1. A
segunda refere-se aos selves que são apresentados publicamente nas interações da pessoa

7
Este constitui um importante aspecto a ser considerado por aqueles interessados no estudo dos processos de
descrição de self e de produção de sentido, e também justifica nosso interesse em estudar estes processos, no
contexto específico de um grupo ambulatorial para pacientes psiquiátricos, tomando a Teoria do
Posicionamento como recurso teórico-metodológico.
8
Traduzimos o termo selfhood por pessoalidade, e persoonhood por personalidade. Ambos os termos são
usados indistintamente pelos autores, embora não apresentem uma definição exata de cada um destes. Assim,
usaremos um ou outro termo respeitando o uso feito por seus autores o texto original.
13
em situações sociais definidas, ou seja, às personas ou conjunto coerente de traços que as
pessoas adotam de acordo com contextos interativos específicos9.
A partir desta distinção, HARRÉ & VAN LANGENHOVE (1999a) propõem que as
personas são manifestadas no discurso de acordo com os tipos de pessoa que são
usualmente reconhecidos e aceitáveis socialmente – dado que a sociedade valoriza mais
alguns tipos de identidade comparativamente a outros. Por sua vez, o senso de si mesmo,
expresso através de um self 1, surge a partir da tentativa de organização destas personas
em um todo coerente, o que dá ao indivíduo o senso de singularidade e identidade pessoal.
Esta tentativa de expressão de identidade pessoal se concretiza no discurso através do uso
de pronomes de primeira pessoa, que marcam a singularidade e a ação pessoal. Partindo
disto, estes autores concluem que:

“O mesmo self 1 pode manifestar qualquer um de seus repertórios de personas,


em conjuntos de comportamentos revelados em contextos sociais apropriados.
Depois de um período de tempo fica claro que uma pessoa tem muitas personas,
cada uma das quais pode ser dominante no modo de apresentação pessoal em um
contexto particular. (...) No entanto, a existência de personas depende da
cooperação social ou consenso de outros. A revelação de alguém das
características de uma certa persona entra no espaço social apenas na medida
que é reconhecida, respondendo e confirmando ações dos outros. De fato, sem a
cooperação de outros na esfera pessoal, personas não podem ser construídas”
(p.07/08).

A importância da cooperação de outros na construção das personas tem sido


referida por muitos estudos, que indicam que vários preconceitos podem derivar da falta do
reconhecimento social. A impossibilidade de se expressar de maneiras que sejam
socialmente reconhecidas e que legitimem determinadas personas e versões de self, podem
ter sérias implicações sobre os modos como as pessoas são vistas e tratadas por outros,
levando, muitas vezes, a práticas de exclusão social.

9
Este tipo de manifestação de identidade tem sido descrito por outros teóricos da psicologia social, entre
eles, por GOFFMAN (1995), em seu estudo sobre A representação do eu na vida cotidiana.
14
Este aspecto é claramente demonstrado por SABAT & HARRÉ (1999), em um
estudo realizado com doentes de Alzheimer. Com o objetivo de investigar como se dá a
manifestação da identidade nestes pacientes e em que aspecto tem sido considerado que
ocorrem perdas em seu senso de identidade pessoal, em função de prejuízos derivados da
evolução da doença, estes autores chegaram a interessantes conclusões. Segundo eles
existe um senso de self ou de singularidade que permanece intacto, a despeito dos efeitos
debilitantes da doença, o que pode ser percebido a partir da análise das práticas discursivas.
Nestas, estes pacientes continuam a fazer uso dos pronomes pessoais de primeira pessoa,
com referência a ações pessoais e responsabilidade por determinados comportamentos ou
intenções. Contudo, perdas significativas são evidenciadas quanto aos selves que são social
e publicamente manifestados, ou seja, as personas. Isto porque, nas trocas dialógicas das
quais participam, suas personas não são sustentadas pelos outros com quem interagem, não
encontrando reforço social. Este prejuízo advém, assim, do modo como as pessoas tratam
estes doentes e de como constroem versões de self que limitam o modo como estes
pacientes podem participar nas práticas sociais em que estão envolvidos.
Portanto, é na interação entre as pessoas que uma persona é construída, ou seja, “...
é no constante interjogo de reconhecimento mútuo da própria posição e da posição do
outro que uma versão de self público, apropriado à ocasião é construído” (HARRÉ &
VAN LANGENHOVE, 1999a).
Considerando estas questões, estes autores defendem a idéia de que o senso de
identidade individual ou pessoalidade é manifestado nas práticas discursivas nos modos
pelos quais as pessoas contam ou descrevem suas vidas. A partir dos dois tipos de
manifestação de identidade apresentados anteriormente (self 1 e personas), um senso de
self é socialmente construído.
O desenvolvimento de um senso de identidade pessoal encontra-se também
relacionado à noção de ciclo de vida que, na cultura ocidental, remete às dimensões de
espaço e tempo e a idéia de desenvolvimento (COUPLAND et al., 1993). A identidade
pessoal tem sido considerada como relativamente estável, ainda que as identidades sociais
mudem ao longo da vida e a pessoa exerça diferentes papéis e funções de acordo com seu
desenvolvimento e relações sociais. Contudo, essa idéia de continuidade e de singularidade
15
individual é construída socialmente, sendo um produto das práticas discursivas (HARRÉ &
VAN LANGENHOVE, 1999b).
A partir do conceito de posicionamento, estes autores demonstram a
descontinuidade do self, desconstruindo a idéia de uma personalidade ou pessoalidade
única e estável. Uma pessoa posiciona-se a si mesma e a outros de diferentes modos,
através de descrições discursivas biográficas. De acordo com HARRÉ & VAN
LANGENHOVE (1999a; 1999b). existem três modos pelos quais uma pessoa pode
expressar intencionalmente sua identidade pessoal, a partir das práticas discursivas: 1) ao
expressar sua autoria ou responsabilidade pessoal por alguma ação; 2) ao classificar
determinadas declarações como manifestações de seu ponto de vista pessoal; e 3) ao
avaliar uma descrição como sendo parte constitutiva de sua biografia. Como referimos
anteriormente, um dos modos de se investigar tais manifestações de identidade pessoal, é
através da análise da gramática pronominal utilizada pelas pessoas em suas descrições.
Assumir que a noção de que o senso de continuidade pessoal é uma construção
social e que o self é ativamente construído a partir das trocas dialógicas entre as pessoas,
rompe com qualquer noção essencialista, que pressupõem um self localizado interiormente
ou que se revela parcialmente através de “verdadeiras” histórias autobiográficas, contadas
por um historiador com uma memória seletiva de experiências vividas. Não existe uma
única biografia real, construída sobre experiências vividas, pois isto pressupõe um self
essencial, único, que é contado em histórias construídas com base em seleções, recortes e
memórias parciais de experiências anteriores.
Como descreve HARRÉ & GILLET (1994),

“O estudo discursivo da personalidade objetiva entender as auto-localizações do


indivíduo e relacioná-las aos contextos discursivos em que elas são formadas e
expressas. Dessa perspectiva, nós damos crédito e importância aos compromissos
pessoais do sujeito e os significados e posições que ele assume. O fato de que
estas características que explicam o comportamento de uma pessoa são
determinados por aquela pessoa implica que existe uma ligação entre
personalidade e liberdade. As pessoas operam com significados disponíveis a elas

16
no discurso e modelam uma vida psicológica organizando estes comportamentos
à luz destes significados e integrando-os ao longo do tempo. O resultado deste
projeto integrativo é uma personalidade ou caráter que é, na extensão permitida
pelas habilidades discursivas do sujeito / agente, coerente e criativa...” (p.17).

Segundo HARRÉ & VAN LANGENHOVE (1999b), muitas vezes a proposta de self
narrativo, ou seja, de um self construído discursivamente, é confundida com a idéia de que
as pessoas contam histórias sobre si mesmas, de um modo que persiste afirmando o caráter
essencialista de alguém que pode ser descrito em histórias autobiográficas verdadeiras.
Como bem apontam estes autores:

“... é certamente verdade que as pessoas podem e vão contar histórias sobre si
mesmas (...), mas o self não pode ser igualado com uma história tendo um enredo.
(...) O self não tem um enredo, apenas as pessoas (isto é, os selves como
expressos na vida social) podem ter enredos” (p.70).

Assim, a noção de self narrativo aqui implicada remete ao processo de construção


de posições no discurso, ou seja, aos jogos de posicionamento pelos quais as pessoas
ativamente constroem versões de si mesmas, nos limites definidos pela tríade posição /
força social da ação/ linha de história, sobre a qual se sustenta todo esse processo.

3. SOBRE O POSICIONAMENTO REFLEXIVO E A NOÇÃO DE SELF DIALÓGICO

Segundo MOGHADDAM (1999) o conceito de posicionamento pode, ainda, ser


ampliado de modo a abranger um maior entendimento do modo como as pessoas
posicionam a si mesmas no discurso interior privado. Este tipo especial de posicionamento,
denominado posicionamento reflexivo, pode ser entendido como “... um processo através
do qual alguém, intencionalmente ou não, posiciona-se em histórias pessoais
desenvolvidas contadas a si mesmas” (p.75). Exemplos deste tipo de posicionamento são
os diários ou autobiografias, ou mesmo histórias contadas sobre si mesmo e para si mesmo
em circunstâncias específicas.

17
Nestas situações em que se fala a si mesmo sobre si mesmo, jogos de
posicionamento também estão ocorrendo, em que as pessoas posicionam-se a si mesmas e
aos outros envolvidos em suas narrativas de modos específicos. Assim, as posições
discursivas estão em constante fluxo, mudando segundo as linhas de história
desenvolvidas, o que possibilita que os sentidos de self associados a tais posições possam
mudar de acordo com a evolução destas narrativas e com as transformações nas posições
discursivas de self. Nas palavras de MOGHADDAM (1999):

“... do mesmo modo como a força ilocucionária dos atos de fala e os


comportamentos no posicionamento interpessoal são determinados por uma
história mutuamente criada, os pensamentos e comportamentos pessoais de uma
pessoa também são interpretados dentro da estrutura da linha de história
autobiográfica particular que é desenvolvida naquele momento” (p.78).

Segundo este autor, uma característica imanente do self é sua reflexividade – que
define sua capacidade de posicionar-se e ser posicionado ao mesmo tempo. Este caráter
reflexivo do self articula-se à noção de self dialógico, que propõe que o self pode assumir
uma série de posições de eu, caracterizadas não apenas por diferentes pontos de vista, mas
pelas „vozes‟que emanam destas diferentes posições. A noção de vozes, originalmente
proposta por BAKHTIN (1997), remete à idéia de que, invariavelmente, a produção de
sentido ocorre no contexto discursivo e interativo, ou seja, envolve diálogo com outros,
sejam estes presentes ou imaginários.
Assim, a narrativa privada de uma pessoa inclui uma „polifonia de vozes‟, derivada
dos diálogos internos estabelecidos com os demais interlocutores presentificados no
desenvolvimento de um enunciado. Conforme MOGHADDAM (1999) “... cada voz „fala‟
de uma posição diferente, a partir da qual cada uma pode concordar ou opor-se à outra,
em uma relação dialógica para mutuamente negociarem uma linha de história (p.49)”.
Este autor oferece um exemplo que facilita o entendimento desse processo: quando
uma pessoa é promovida a um cargo desejável ela pode entreouvir um conjunto de vozes,
antecipando o modo como gostaria de contar a novidade para seus colegas, imaginando
como seriam suas respostas, relembrando o que um tio dizia quando depreciava suas
18
realizações, refletindo sobre a conversa em que foi escolhida para o novo emprego, etc. Em
cada situação imaginada, a pessoa assume posições, atribui posições a outros e constrói
versões de self pautadas em cada uma destas linhas de história desenvolvidas.
A noção de self dialógico também é adotada por HERMANS et al. (1992), que
argumentam, também pautados em Bakhtin, que “a noção de diálogo não apenas
representa um gênero literário e uma possível conceitualização da personalidade, mas
também a essência mesma da personalidade” (p.28).
Para este autor, o conceito de dialogismo permite entender o self enquanto
dinamismo e diversidade de posições. Admite-se, assim, que o self tem a possibilidade de
assumir uma diversidade de posições, movendo-se de uma posição a outra, de acordo com
mudanças de situação e de tempo. Estas posições podem ser diferentes e mesmo opostas.
Além disso, o self tem a capacidade de imaginariamente dotar cada posição com uma voz,
de modo que relações dialógicas entre as posições podem ser estabelecidas. Estas vozes
funcionam como personagens interagindo em uma história, onde cada voz tem uma
história para contar, baseada em suas diferentes experiências, derivadas de contextos
diversos. Neste processo dinâmico, o self dialógico emerge como um self complexo e
narrativamente estruturado.
Ainda segundo HERMANS et al. (1992), o self dialógico é ao mesmo tempo
corpóreo (em oposição a um self racionalista), isto é, constituído a partir das posições que
assume, em espaço e tempo definidos; e social, no sentido de que muitas outras pessoas ou
vozes ocupam posições neste mesmo self multi-vocal. Assim, “o self dialógico tem o
caráter de uma narrativa descentralizada, polifônica, com uma multiplicidade de posições
de eu” (p.30).
Segundo Caughey (1984, apud MOGHADDAM, 1999), um aspecto fundamental do
desenvolvimento do senso de si mesmo dá-se a partir do envolvimento das pessoas em
relacionamentos imaginários com seres também imaginários. Segundo este autor, pode-se
identificar três classes destes „seres‟ imaginários com os quais as pessoas interagem: 1) as
figuras criadas pela mídia (estrelas de cinema, líderes carismáticos, etc); 2) figuras
produzidas pela própria imaginação da pessoa (fantasmas, figuras de sonho, anjos

19
guardiões, etc); e 3) réplicas imaginárias de pessoas com que interagimos ou já interagimos
em nossas vidas diárias (amigos, familiares, mentores, etc).
Conforme Watkins (1986, apud MOGHADDAM, 1999) estes outros imaginários
influenciam os encontros presentes com outros reais, do mesmo modo como estes
influenciam os encontros com estes seres imaginários. Assim, tais encontros imaginários
assumem um papel central nas interações das pessoas no cotidiano, notavelmente nas
culturas ocidentais.
MOGHADDAM (1999) refere ainda que, do mesmo modo como os posicionamentos
interpessoais, o posicionamento reflexivo não pode ser considerado isolado do contexto
cultural e de suas regras morais específicas. Segundo sugere, fatores culturais podem afetar
e afetam as práticas de posicionamento, com relação:
a) Aos ideais particulares que as pessoas desejam defender através dos posicionamentos –
o posicionamento reflexivo está intimamente associado com o sistema normativo onde
ideais culturais orientam as ações pessoais em contextos determinados, influenciando,
assim, o modo com estas se posicionam.
b) Às dimensões particulares que as pessoas acham relevantes para posicionarem a si
mesmas e aos outros nos discursos – ainda que se considere que os atributos pessoais e
morais de uma pessoa são as dimensões mais salientes nos jogos de posicionamento,
não se pode esquecer que tais dimensões também variam amplamente com a cultura e
com os ideais culturais, uma vez que são socialmente construídas. Ao posicionar-se, a
pessoa tem como base atributos pessoais e posições que são mais ou menos valorizados
pela cultura em que ela está inserida. Por exemplo, em uma cultura individualista,
visões de self associadas à independência individual são valorizadas, contrariamente ao
que ocorre em culturas baseadas em princípios mais coletivistas.
c) Às formas preferidas de dizer autobiográfico, que pode influenciar os tipos de história
que as pessoas contam de si mesmas e para si mesmas no processo de posicionamento –
o que se considera como uma forma coerente de uma narrativa autobiográfica e os eixos
a partir dos quais tais narrativas se estruturam, também variam em função dos ideais
culturais.

20
Assim, a análise dos jogos de posicionamento deve considerar “... os diferentes
eixos que as pessoas devem estar usando para localizar a si mesmas e aos outros na grade
de posicionamentos” (MOGHADDAM, 1999, p.85), considerando os níveis de interação
interpessoal, institucional e cultural que organizam as trocas dialógicas entre as pessoas.
Como bem aponta CARBAUGH (1999), discutir personalidade envolve a idéia de que:

“... através da interação lingüística primária, os participantes publicamente


constituem lugares sociais (não necessariamente categorias) como agentes
morais na sociedade, no sentido de que várias formas e significados de
personalidade são discursivamente „posicionados‟, e que estas construções
discursivas são historicamente situadas, culturalmente distintas, socialmente
negociadas e individualmente aplicadas. O argumento geral é que a
personalidade é uma transitória, às vezes durável, realização interacional, que
criativamente envolve sistemas de significado cultural” (p.160).

Esta proposta é coerente com a noção defendida por HARRÉ & VAN
LANGENHOVE (1999a), de que a Teoria do Posicionamento funciona como um importante
ponto de partida na reflexão sobre vários aspectos da vida social. Mais especificamente, ela
contribui substancialmente com as propostas sócio-construcionistas, que se sustentam
sobre a concepção de que as pessoas se constroem discursivamente, na interação umas com
as outras. Isto porque ela possibilita, através do conceito de posicionamento e da tríade
posição/ linha de história/ ato-ação, uma maior compreensão do modo como se dá o
processo dinâmico de construção de identidade nas trocas dialógicas entre os
interlocutores.
Tendo considerado algumas dimensões relevantes para o entendimento da Teoria
do Posicionamento, passaremos agora a apresentação da tipologia de posicionamentos
proposta por VAN LANGENHOVE & HARRÉ (1999a), que julgamos instrumental para
análises das práticas discursivas.

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4. UMA TIPOLOGIA DOS POSICIONAMENTOS: ANÁLISE DAS PRÁTICAS DISCURSIVAS

VAN LANGENHOVE & HARRÉ (1999a) apontam que a Teoria do Posicionamento


pode servir como um recurso útil na compreensão do modo como se constituem as trocas e
negociações de posições nas práticas discursivas. Entendendo que as histórias que as
pessoas contam acerca de si mesmas e as posições que assumem variam de acordo com o
modo como desejam se mostrar ao mundo, estes autores sugerem uma tipologia, onde
identificam diversos tipos de posicionamento que podem ocorrer nas trocas dialógicas
entre as pessoas. Estes diferentes tipos de posicionamento podem ocorrer de modo
simultâneo nos diálogos, evidenciando, assim, a natureza múltipla e dinâmica da
construção do self. Segundo eles, estudar os diferentes tipos de posicionamento envolvidos
em uma conversação pode ampliar o entendimento do modo como as histórias diferem em
função das diferentes posições e das negociações possíveis em contextos discursivos
particulares.
Considerando que os tipos de posicionamentos descritos por estes autores podem
favorecer uma compreensão da dinâmica envolvida nos processos de descrição do self e de
produção de sentido, assim podendo servir diretamente aos objetivos de nosso estudo,
apresentaremos uma breve síntese da tipologia apresentada por eles e de suas definições.

a) Posicionamento de primeira e segunda ordem (First and second order positioning)


O posicionamento de primeira ordem refere-se ao modo inicial como as pessoas
localizam a si mesmas ou a outras pessoas em um diálogo, atribuindo-lhes posições
específicas a partir de determinadas categorias e linhas de história. Por exemplo, em um
enunciado onde João pede a Maria: “Por favor, passe a minha camisa”, ambos os
interlocutores estão sendo posicionados. A natureza destas posições depende de um
conjunto de aspectos, já referidos anteriormente e, especialmente, da linha de história e do
contexto discursivo. Se Maria é a empregada de João, isto pode colocá-la na posição de
quem tem a obrigação de servir a João que, por sua vez, assume a posição de que tem um
poder sobre ela como patrão. Outras variações nas linhas de história e situações discursivas
seriam possíveis, construindo novos significados e definindo outras posições.

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Por sua vez, o posicionamento de segunda ordem ocorre quando o posicionamento
de primeira ordem é questionado, ou seja, quando a pessoa que é inicialmente posicionada
de algum modo rejeita ou questiona a posição que lhe foi atribuída. Isto também ocorre de
acordo com uma determinada linha de história. No exemplo acima, se Maria fosse a esposa
de João, ela poderia recusar tal posicionamento alegando não ser esta sua função como
esposa, baseando-se para isso, em uma linha de história pautada, por exemplo, em um
discurso feminista. Ao responder a este posicionamento, um novo posicionamento de
primeira ordem está ocorrendo, onde Maria posiciona a si mesma e também a João. A
resposta seguinte, por sua vez, pode tanto engendrar um posicionamento de primeira ordem
como de segunda, dependendo das linhas de história nos jogos de posicionamento
desencadeados, a partir da ação suplementar na qual seu significado é construído no
contexto discursivo.

b) Posicionamento performativo e explicativo (Performative and accountive positioning)


O posicionamento performativo remete ao efeito perlocucionário imediato da
conversação em curso, assim aproximando-se do conceito de posicionamento de primeira
ordem. No exemplo anterior, ao solicitar a Maria que passe a roupa, um efeito
perlocucionário imediato se apresenta, ou seja, há a necessidade de uma resposta associada
a uma ação – Maria pode passar a roupa ou não. Se ela passa a roupa, conforme pedido de
João, ela assume a posição que este lhe atribuiu, assim também posicionando-o de uma
determinada maneira. Contudo, se ela rejeita essa posição, um posicionamento de segunda
ordem vai acontecer, que poderá estar associado a um posicionamento explicativo. O
posicionamento explicativo pode ser entendido como “uma conversa sobre uma
conversa”, e pode acontecer em dois tipos de situação: quando alguém questiona o
posicionamento que lhe foi atribuído em uma mesma conversa – ou seja, junto com um
posicionamento de segunda ordem; ou quando isto acontece fora da conversa original, o
que então estará associado a um posicionamento de terceira ordem. Este último
aconteceria, por exemplo, em uma situação onde Maria discutisse com outra pessoa sobre
o modo como João a posicionou naquela conversa, ou mesmo com o próprio João, num
outro momento.

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c) Posicionamento moral e pessoal (Moral and personal positioning)
O posicionamento moral refere-se à atribuição de posições relativas a determinados
papéis morais, geralmente relacionados a aspectos institucionais da vida social. Estes são
facilmente compreendidos quando pensamos em algumas categorias ou funções sociais
amplas, tais como paciente / médico, aluno / professor, etc, onde determinadas ações,
funções ou papéis são socialmente tidos como próprios destes grupos. Ao contrário, o
posicionamento pessoal refere-se a atributos e particularidades individuais, incluindo uma
dimensão para além das funções sociais definidas por estas referências mais amplas a
papéis gerais. Na situação anterior, um posicionamento moral seria, por exemplo, o de
Maria enquanto empregada de João. Um posicionamento pessoal poderia ocorrer quando,
ao tentar justificar o fato de não ter passado a camisa de João, Maria afirmasse algo como:
“Perdão, mas eu estava muito cansada hoje, porque meu filho pequeno chorou a noite toda
e não consegui dormir”.
Duas considerações são fundamentais. A primeira é que sempre que um
posicionamento ocorrer, haverá tanto um posicionamento moral como um pessoal. A
segunda é que quanto mais uma ação pessoal precisar ser justificada para tornar-se
inteligível para o outro, mais se recorrerá a posicionamentos pessoais, comparativamente a
posicionamentos morais.

d) Posicionamento de si mesmo e de outro (Self and other positioning)


Entender posicionamento enquanto prática discursiva, implica em considerar que
sempre que um falante se posiciona em uma conversa, este simultaneamente posiciona ao
outro de uma determinada forma. Isto refere-se a dimensão relacional e reflexiva do
posicionamento, já referida anteriormente. Em qualquer prática discursiva, o
posicionamento constitui os interlocutores de determinados modos, ao mesmo tempo em
que torna possível a eles negociarem novas posições.

e) Posicionamento tácito e intencional (Tacit and intencional positioning)


O posicionamento tácito refere-se ao fato de que os posicionamentos podem ocorrer
sem que as pessoas tenham intenção ou consciência das posições que estão tomando para si

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ou atribuindo aos outros – como é o caso da maioria dos posicionamentos de primeira
ordem. Ao contrário, o posicionamento intencional ocorre quando a pessoa tem a intenção
de posicionar a si mesma ou a outros de determinados modos. Posicionamentos de segunda
e terceira ordem são sempre intencionais, uma vez que implicam em um questionamento
de uma posição anteriormente atribuída.
VAN LANGENHOVE & HARRÉ (1999a) distinguem, ainda, entre quatro situações
particulares em que posicionamentos intencionais podem ocorrer. Segundo eles, estas
situações diferem porque:

“...os posicionamentos sempre assumem lugar dentro de um contexto de ordens


morais específicas de fala” onde “...os direitos para o auto-posicionamento e
para o posicionamento de outros são desigualmente distribuídos, e nem todas as
situações permitem ou chamam por um posicionamento dos participantes” (p.23).

As quatro formas de posicionamento intencional apresentadas por estes autores são:


Auto-posicionamento deliberado (Deliberate self-positioning). Este tipo de
posicionamento pode acontecer quando a pessoa quer ou deseja expressar sua
„identidade‟ pessoal, o que pode acontecer de três modos distintos: por assumir
responsabilidade pessoal por alguma ação; por referir-se a algo como sendo seu ponto
de vista; ou por referir-se a eventos que considera como parte de sua biografia. Nas
sociedades ocidentais, uma forma comum de expressar a noção de „identidade pessoal‟
e de gerar a aparência de singularidade do self dá-se pelo uso de pronomes de primeira
pessoa do singular. Estes autores apontam que ao referir-se a si mesmo como uma
pessoa singular através do uso destes pronomes gramaticais, a pessoa coloca-se na
posição de poder explicar seu comportamento pessoal, o que pode ser feito também de
três formas: referindo-se aos poderes ou direitos de alguém de realizar tal ação;
referindo-se a própria biografia; ou, ainda, referindo-se a experiências pessoais
anteriores, de participação em determinadas práticas sociais, que legitimariam a adoção
de certas posições, como por ex., a de um título de profissional ou especialista. Além
disso, estes autores enfatizam que ao se engajar em um processo de auto-

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posicionamento deliberado, geralmente a pessoa visa alcançar algum objetivo com seu
ato de posicionamento.
Auto-posicionamento forçado (Forced self positioning). Neste caso, o posicionamento
de si mesmo ocorre não por uma iniciativa da própria pessoa, mas por uma demanda
seja de outra pessoa, seja de uma instituição. Nestes casos, a pessoa pode ser convidada
a participar de uma conversa, com uma pergunta do tipo „tudo bem com você?‟, ou
pode ser solicitada a explicar seu comportamento, colocando-se como agente e
assumindo uma posição moral ou pessoal.
Posicionamento deliberado de outros (Deliberate positioning of others). Isto ocorre
quando alguém deliberadamente atribui uma posição a alguém, presente ou não na
conversação. Nota-se que, também aqui, ao posicionar o outro a pessoa também se
posiciona de alguma forma, intencionalmente ou não.
Posicionamento forçado de outros (Forced positioning of others). Este tipo de
posicionamento ocorre quando alguém é solicitado a posicionar outras pessoas,
presentes ou não na conversa em curso – como por exemplo, quando alguém pede a
opinião de alguém sobre seu comportamento ou de outros em determinadas situações.
Também esta situação ocorre em um nível institucional, sendo um exemplo clássico as
situações de julgamento, em que uma pessoa é ativamente posicionada como vítima ou
culpada, sendo seu comportamento avaliado por um júri de direito.

A tipologia dos posicionamentos proposta por estes autores favorece um maior


entendimento do processo discursivo de construção de identidade, atentando para a
multiplicidade dos posicionamentos possíveis e para as possibilidades de negociação destes
nos relacionamentos, evidenciando, assim, o modo como as pessoas se constituem a partir
das posições que assumem nas práticas discursivas em desenvolvimento.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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