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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

A CONTRIBUIÇÃO DO DESIGN PARA A INOVAÇÃO SOCIAL


SUSTENTÁVEL

Mariana Hugo
Uniritter Laureate International Universities
mariana.hugo@gmail.com

Heloisa Moura
Uniritter Laureate International Universities
moura@id.iit.edu

Resumo: O trabalho trata da necessidade de uma descontinuidade sistêmica e de um


processo de aprendizagem social na busca por uma sociedade sustentável, apresentando a
inovação social como uma ferramenta para o desenvolvimento deste processo. O artigo
aborda exemplos de metodologias desenvolvidas pelo design para a criação de soluções
inovadoras que solucionem problemas sociais. Adicionalmente, apresenta diferentes
metodologias desenvolvidas para a solução de problemas complexos e alguns casos onde
metodologias similares foram aplicadas. Problemas sociais envolvem muitas pessoas e
interesses diferenciados, e, muitas vezes, até mesmo divergentes. Chegar a uma idéia que
solucione a questão por diversos pontos de vista é bastante complexo. O trabalho conclui que
o design pode contribuir para esse processo de mudança através do desenvolvimento de
sistemas facilitadores para a inovação social que possam ser utilizados e aplicados por
profissionais da área com a participação da população em geral ou até mesmo diretamente
pela população. O envolvimento da população no processo é fundamental, não somente para
uma melhor efetividade na identificação e interpretação do problema, mas também pela
facilidade para a implantação dos novos sistemas

1 Introdução

Há algum tempo a questão da sustentabilidade vem sendo discutida, porém muitas


ações práticas ainda precisam ser concretizadas. Diversos comportamentos e maneiras de
pensar da sociedade vêm sendo comprovados insustentáveis em seus valores básicos.
Torna-se necessário, portanto, um processo de aprendizagem social, onde os conceitos de
bem estar e qualidade de vida sejam revisitados e alterados, deixando de estar diretamente
ligados ao consumo.
A inovação social pode ser vista como uma ferramenta nesse processo. Através da
participação de forma horizontal de diferentes setores da sociedade em projetos com
objetivos próprios. Assim, aos poucos, novos valores podem ser implementados ao

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SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015
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pensamento social.
Para um processo de inovação social é necessário diagnosticar um problema social
relevante e suas causas, além de gerar ideias de como solucioná-lo de maneira viável
economicamente, promovendo, simultaneamente, uma mudança sistêmica. Normalmente,
os problemas sociais são complexos e sua solução envolve diversos setores que devem
trabalhar juntos, e é isso que torna este processo complicado.
O design vem contribuindo há algum tempo na elaboração de projetos de sistemas
que resultam em soluções inovadoras para problemas usuais. Muitos desses projetos visam
solucionar problemas sociais complexos. Ainda dentro desse contexto, vem utilizando
diversas metodologias específicas.
O objetivo deste trabalho, por conseguinte, é discutir o papel do design na inovação
social sustentável, buscando compreender como sua abordagem projetual pode facilitar as
inovações sociais e quais metodologias, métodos e técnicas podem ser empregadas.
Nesse intuito, o artigo se desenvolve através de revisão bibliográfica, levantando
diferentes conceitos de inovação social e metodologias para inovação social, com base no
processo projetual do design. Também são observados casos de inovação social e como
esses apóiam uma mudança sistêmica.

2 Desenvolvimento

Para compreender a questão como um todo, é necessário fazer uma reflexão sobre o
que é sustentabilidade e inovação social, além de como o design pode contribuir para que
iniciativas deste tipo se concretizem..

2.1 Sustentabilidade e inovação social

Em 1987, o Relatório Brundtland, apresentou o conceito de desenvolvimento


sustentável, definindo-o como aquele que “satisfaz as necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”
(UNITED NATIONS, 1987, p.16, tradução própria). O relatório evidencia a incompatibilidade
entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes. A
sugestão levantada pelo documento não é a de estagnação do crescimento econômico,
mas sim de como mantê-lo, ao mesmo tempo que contemplando as questões ambientais e
sociais.
Conforme apontado no referido Relatório, as mudanças tecnológicas e o crescimento
econômico que ocorreu desde a revolução industrial veio acompanhado de miséria e
degradação ambiental, gerando um enorme desequilíbrio ambiental. Assim, definiu diversas
medidas a serem tomadas por diferentes países, abrangendo questões ambientais e
sociais, além das econômicas, em busca de retomar o equilíbrio em torno dos três pilares
da sustentabilidade. Entre elas:
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 Limitação do crescimento populacional;


 Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) no longo prazo;
 Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
 Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de
fontes energéticas renováveis;
 Aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em
tecnologias ecologicamente adaptadas;
 Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores;
e
 Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
Infelizmente, apesar das reflexões trazidas pelo Relatório, o sistema continuou, e
segue até o momento, funcionando, de forma predominante, com o mesmo modelo. Em
conseqüência, a sociedade se dirige cada vez mais à insustentabilidade. Tal mudança nos
padrões comportamentais é de extrema necessidade; porém, não como vem acontecendo
atualmente, mas como uma mudança profunda de rumo.
O “desenvolvimento”, tal como conhecido até então, tem-se demonstrado
insustentável por diversos fatores: o consumo dos recursos não renováveis, a emissão de
substancias nocivas no meio ambiente além dos problemas sociais como pobreza, a falta
de saúde e educação para todos, para citar alguns dos inúmeros itens.
Conforme Manzini (2008, p. 26), “Para ser sustentável, um sistema de produção, uso
e consumo tem que ir ao encontro das demandas da sociedade por produtos e serviços sem
perturbar os ciclos naturais e sem empobrecer o capital natural.”
Ainda segundo o autor, existe a necessidade da criação de novos conceitos de estilo
de vida, produção e consumo. Desde a industrialização, a idéia de bem estar coletiva é
associada ao acesso a produtos e serviços, em parâmetros exacerbados. Hoje, sabe-se que
esse conceito de bem estar, caso estendido em escala mundial, torna-se insustentável,
tanto em termos ecológicos, por meio do consumo de capital natural, quanto em termos
sociais, pela falta de acesso da maior parte da população aos produtos que caracterizam a
“felicidade”.
O autor propõe que os esforços em busca de uma maior sustentabilidade do sistema,
estiveram, no passado, concentrados na preservação do meio ambiente e na busca por
produtos mais leves. Porém, não basta que os produtos sejam menos agressivos
ambientalmente; o que precisa ser revisto é o modelo de consumo. O que precisa ser
quebrado é o modelo onde “mais produtos” equivalem a “mais bem estar”. Em suas
palavras: “O que tem que acontecer, e, na prática, já está acontecendo, é uma
descontinuidade sistêmica: uma forma de mudança em cujo final o sistema em questão será
diferente, estruturalmente diferente, daquilo que tivemos conhecimento até hoje” (MANZINI,
2008, p.27).
Para alcançar essa descontinuidade sistêmica, entretanto, é necessário um processo
de aprendizagem social, lento e profundo, onde serão revistos os valores e o conceito de
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bem estar. Para Manzini, a sociedade precisa passar por esse processo de aprendizagem,
utilizando-se de criatividade, conhecimento e capacidades organizacionais. Tal processo
terá muitas “idas e vindas; será um jogo de erros e acertos. Para que essa fluidez ocorra, o
modelo deve ser aberto e flexível. Nele, todos os hábitos relacionados com os modos de ser
e de fazer podem e devem ser questionados.
Uma forma de proporcionar e experimentar o processo de aprendizagem social rumo
à sustentabilidade é através das inovações sociais. Manzini define inovação social como
mudanças no modo como indivíduos ou comunidades agem para resolver seus problemas
ou criar novas oportunidades.

Inovações sociais são novas idéias (produtos, serviços e modelos) que atendem
simultaneamente às necessidades sociais e criam novas relações sociais ou
colaborações. Em outras palavras, elas são inovações que são boas para a sociedade e
aumentam a capacidade da sociedade de agir.” (MURRAY; GRICE; MULGAN, 2010, p.3,
tradução própria)

Segundo Phills, Deiglmeier e Miller (2008), as pessoas envolvidas com o


empreendedorismo social têm como objetivo final criar novos valores sociais. Essas
inovações podem surgir de lugares e pessoas não ligadas a empreendimentos sociais, de
grandes organizações sem fins lucrativos e até mesmo de governos, desde que, mesmo
que paralelamente a outros objetivos, estejam agregando algum valor social.

"Podemos definir valor social como a criação de benefícios ou a redução de custos para a
sociedade através de esforços que encaminhem necessidades e problemas sociais,
independentemente de ganhos privados e outros benefícios de mercado." (PHILLS,
DEIGLMEIER e MILLER, 2008, p.39, tradução própria)

Segundo os autores, a inovação social é criada, adotada e difundida em determinados


períodos históricos. Entretanto, é importante entender que ela acontece e se difunde em
contextos de crise. Foi discutido que os problemas sociais e ambientais que enfrentados
atualmente são extremamente complexos, e a busca por soluções tem se mostrado uma
constante e difícil atividade. A proposta do conceito de inovação social parte da união de
forças de diversos setores – governamentais, instituições sem fins lucrativos e negócios
lucrativos. "As ações conjuntas dos três setores embasa três importantes mecanismos de
inovação social: trocas de idéias e valores; mudanças em cargos e relacionamentos; a
integração de capital privado e público; e apoio filantrópico." (PHILLS, DEIGLMEIER e
MILLER, 2008, p.40). Essas trocas de papéis e relações são essenciais para a efetividade
de inúmeras inovações sociais.
De acordo com Murray, Grice e Mulgan (2010), muito dessa inovação está apontando
em direção a um novo tipo de economia, que combine alguns elementos antigos e muitos
novos. Na visão de Phills, Deiglmeier e Miller (2008), muitas inovações sociais envolvem a
criação de novos modelos de negócio, que podem servir às necessidades de populações
carentes com mais eficácia, podendo ser lucrativos ou pelo menos economicamente
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sustentáveis. Isso é viável por terem estruturas de baixo custo e canais de entrega
eficientes – freqüentemente juntando visões de mercado e não de mercado.
Para a viabilização e o florescimento das organizações colaborativas, é necessária a
transição dos atuais instrumentos de governança (rígidos e hierárquicos), rumo a outros
(flexíveis, abertos e horizontais). Para Manzini (2008), os modelos das redes sociais podem
ser a tecnologia habilitante capaz de promover esse processo.Na visão de Murray (2010),
alianças e redes cada vez mais transformam-se como chave para a mudança bem
sucedida. No campo social, a aliança deverá ser uma rede ampla, ligando o setor público,
fornecedores e empreendedores. Por essa razão é que a inovação social se torna diferente
da inovação nos demais campos. Somente agora, as implicações de colaborações desse
tipo começaram a ser exploradas, e será necessário saber se, e como, tais sistemas de
inovação altamente distribuídos e de apoio mútuo podem ser encorajados.
Sendo assim, a mudança de comportamento e o modo de pensar são muito
necessários para o desenvolvimento sustentável da sociedade. Uma maneira de atingir
essa mudança é através de inovações sociais. Contudo, as inovações sociais são
processos lentos e complexos, que envolvem muitos atores de diversas áreas, com um
interesse em comum. A organização de um grupo de pessoas dessa natureza não é uma
tarefa fácil e é ai que entra o papel do design, como uma ferramenta para auxiliar e
favorecer o desenvolvimento de processos desse tipo.

2.2 O papel do design na inovação social sustentável

É possível afirmar que as organizações colaborativas podem tornar-se mais


acessíveis e eficazes através da aplicação de um processo de design. Projetar sistemas é
um campo que está crescendo dentro das atividades dos designers. Esses profissionais
também podem trabalhar como conectores de diferentes pessoas com interesses e
habilidades específicas, a fim de colaborarem nos diversos setores necessários em uma
atividade de inovação social.
Segundo Manzini (2008) mesmo que as comunidades criativas não sejam totalmente
planejáveis, por serem estruturas orgânicas e horizontais, através do design, é possível
ajudá-las a nascer, bem como facilitar sua existência. Isso significa que intervenções de
suporte podem ser concebidas em diferentes escalas e envolvendo diversos grupos de
atores. Sistemas de produtos, serviços, comunicação e o que mais for necessário para
implementar a acessibilidade, a eficácia e a replicabilidade de uma organização
colaborativa, devem ser encarados pelos designers como oportunidades de trabalho.
Para o autor os designers são chamados a colaborar com uma variedade de
interlocutores, procedendo como especialistas e interagindo com os mais diversos atores
que já planejam sem, todavia, possuir esta mesma especialização.

designers têm a missão de facilitar a convergência dos diferentes parceiros em


torno de idéias compartilhadas e potencias soluções. Esse tipo de atividade
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requer uma série de novas habilidades de design: promover a colaboração entre


diferentes atores sociais (comunidades locais e firmas, instituições e centros de
pesquisa); participar na construção de visões e cenários compartilhados; e
combinar produtos e serviços já existentes para suportar a específica
comunidade criativa com a qual colaboram. (MANZINI, 2008, p.28).

Em muitas áreas, os métodos e ferramentas de apoio à inovação são amplamente


conhecidos e aceitos. No entanto, na área de inovação social, os processos não foram
amplamente estudados e desenvolvidos, conforme apontam Cipolla e Moura (2013). Nessa
área muitas pessoas estão trabalhando com seus conhecimentos em áreas diversas, sem
contar com o apoio de uma metodologia específica para atingir os seus objetivos.
Buscando facilitar e difundir iniciativas de inovação social, os autores Murray, Grice e
Mulgan (2010) desenvolveram um método específico para a área, aqui denominado de
métodos para a inovação social. O mesmo visa alcançar não só a organização para a
concepção das idéias, mas facilitar todo o processo de desenvolvimento de uma idéia de
inovação social, chegando a uma mudança sistêmica. Os autores dividem o processo em
seis etapas:
1) Inspirações – Levantamento e avaliação de questões que necessitam de inovações,
que estão em crise. Essa etapa consiste não somente em detectar os problemas e
seus sintomas, mas também as suas causas, para que estas possam ser
combatidas.
2) Propostas – Essa é a fase de geração de idéias, onde são sugeridos métodos de
criatividade que podem ser aplicados para gerar diversas percepções e
possibilidades.
3) Prototipagem – Essa etapa é onde as idéias são testadas, devendo ser implantadas
em pequena escala, avaliadas e reconfiguradas constantemente.
4) Sustentando – Nesse estágio a idéia já esta em prática, e precisa ser mantida; então,
é avaliado o fluxo de renda que deverá garantir a existência da empresa social.
5) Difundindo – Nessa fase há uma série de estratégias para crescer e espalhar a idéia
inovadora; tal crescimento em escala deve ser feito de maneira organizada e
planejada.
6) Mudança Sistêmica – Esse é o objetivo final da inovação social e, para atingir o
mesmo, diversos fatores estão envolvidos, além de todas as questões sustentáveis
da empresa social em si, que deve estar funcionando perfeitamente; também é
necessária a adaptação de todo o seu entorno.
Sendo assim, o processo para o surgimento de uma inovação social é lento e longo,
envolvendo muitas esferas, e, normalmente, com o descobrimento de novos fatores ao
longo do caminho, os quais forçam a equipe a retomar algumas questões de fases
supostamente já definidas.
Na Figura 1 fica claro que o foco principal dessa metodologia é atingir, em grande
escala, a mudança sistêmica nas inovações sociais, reforçando um ponto de vista em que
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não é relevante criar uma inovação que não seja sustentável no longo prazo e que não
tenha grande abrangência.

Figura 1 – O Processo da Inovação Social. Tradução própria


Fonte: Adaptado de MURRAY; GRICE e MULGAN (2010).

Com referência às metodologias, métodos e técnicas, quatro organizações


associadas – IDEO, IDE, Heifer International, e ICRW – criaram um kit de ferramentas,
baseado no processo de inovação denominado design centrado no humano (human
centered design, HCD). O manual (IDEO, 2009) foi criado para ajudar as pessoas a
desenvolverem suas iniciativas de inovação social, descrevendo o processo de HCD e suas
etapas, além de apresentar ferramentas, demonstradas através de exemplos, para alcançar
os objetivos em cada etapa do processo de criação.
O HCD organiza o processo de inovação em três grandes fases: Ouvir, Criar e
Implementar. O nome do processo deriva justamente do fato de ser centrado no ser
humano, utilizando este ponto de partida para tudo. Compreender e interpretar as pessoas
ocorrem na fase inicial, chamada de Ouvir. Nela, são feitas pesquisas de campo, a fim de
coletar histórias e inspirações. Na segunda fase do processo, Criar, a partir de tudo que foi
ouvido dos usuários, são identificadas oportunidades e soluções. Na terceira e última etapa,
Implementar, concentra-se na viabilidade econômica do protótipo criado na etapa anterior.
Segundo os autores, o design centrado no humano pode ajudar qualquer
organização a se relacionar melhor com as pessoas, por facilitar a interpretação e
compreensão dos desejos mais profundos das mesmas. Desse modo, facilita a identificação
de novas oportunidades e, através de seus métodos e ferramentas, colabora na
implementação de ideias, como novas soluções viáveis.
O processo citado alterna momentos concretos e abstratos. Na primeira etapa,
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fundada na realidade, ouve-se, observa-se e busca-se identificar problemas e


oportunidades, sendo, assim, concreta. Já na segunda etapa, onde ocorre a criação, surge
a abstração, onde deve-se abrir o máximo possível para novas possibilidades ainda não
pensadas anteriormente. Aí, portanto, a imaginação livre e abstrata é fundamental. Já a
terceira fase retorna ao mundo concreto, avaliando a viabilidade e implantação das ideias
inovadoras que surgiram na etapa anterior.
Os dois métodos apresentados – os métodos para a inovação social (MURRAY,
GRICE e MULGAN, 2010) e HCD Toolkit (IDEO, 2009) – foram concebidos com a finalidade
de auxiliar na criação, desenvolvimento e aplicação de iniciativas de inovação social. Ambos
contemplam fases de identificação de problemas e de necessidades, assim como de criação
de propostas inovadoras e de aplicação e viabilização das soluções propostas. O primeiro
processo apresentado é mais concentrado na aplicação e viabilização e difusão da
inovação, pois somente tornando-se a mudança sistêmica, é possível concretizar a
diferença na prática, para a solução do problema social em questão. Já o segundo processo
apresentado, enfatiza a importância de se ouvir, interpretar e definir o problema a ser
solucionado, a partir da necessidade, segundo o ponto de vista dos usuários.
Os dois processos apresentados podem ser considerados processos de design. Os
documentos que os apresentam foram montados e distribuídos gratuitamente, com o intuito
de informar e ajudar as pessoas a desenvolverem suas ideias de inovação social de forma
otimizada e eficiente. Nesses casos, é possível observar o papel do designer, não somente
como criador dos processos e estratégias, mas também como comunicador destes
métodos. Através da criação de documentos como esses, os designers e outros
profissionais que atuam como designers, comunicam e disponibilizam seu conhecimento,
que se torna um facilitador para a viabilização de processos de inovação social.

2.3 Cases com abordagem projetual

Em diversas partes do mundo, são encontrados casos de inovação social


sustentável. O conhecimento específico em design pode auxiliar muito na concepção,
aplicação e sistematização desses sistemas inovadores.
Alguns desses casos são divulgados por rede de portais eletrônicos do design for
social innovation towards sustainability, ou design para a inovação social em direção à
sustentabilidade, conhecidos como DESIS Network, vinculados a grupos de pesquisa
localizados em diversos países. Um projeto de destaque, divulgado em um desses portais
da Rede, foi desenvolvido no COPPE, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com foco
em design de serviços e direcionado para pessoas na terceira idade, situadas na cidade do
Rio de Janeiro. Inicialmente, a equipe do projeto detectou um problema de mudança de
paradigma no Brasil. A população de idosos no país vem crescendo e, por isso, muitos
modelos de serviço público e privado precisam ser revistos. O objetivo do projeto é criar
melhores maneiras de servir as pessoas de idade avançada, garantindo uma melhor
qualidade de vida. Para o desenvolvimento desse projeto, foi aplicado um survey dirigido
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para o público alvo e serviços voltados para este público, existentes na cidade. A partir dos
dados gerados pela pesquisa de campo e através de processos criativos e demais
ferramentas do design, foram concebidos e desenvolvidos serviços que permitem a maior
autonomia das pessoas idosas, possibilitando que permaneçam em suas residências e
comunidades locais.
Outro exemplo divulgado pela DESIS Network foi desenvolvido no Japão: o projeto
Nishiwaki. Esse projeto surgiu para regenerar uma área da cidade antiga. A indústria têxtil
que ocupava a localidade, já não existia mais. Com o declínio da indústria local, as casas e
galpões estavam ficando vazios. A revitalização de uma área central da cidade abandonada
foi vista como uma necessidade. O projeto constituiu na renovação de dois edifícios. Assim,
uma casa antiga foi transformada em uma loja, e um antigo pavilhão industrial, em um local
para exibição de artesanatos locais. O papel do design foi o de promover novas atividades e
revitalizar a indústria local através da interação entre produtores, investidores e a vizinhança
local. Essas atividades foram promovidas através do resgate da cultura local.
Em outro caso de inovação social divulgado, o problema a ser solucionado estava
relacionado à crise na segurança da qualidade dos alimentos, devido à industrialização e
urbanização muito desenvolvidas, em cidades dos Estados Unidos. Poucos alimentos
produzidos por pequenos produtores chegavam às cidades grandes, que eram somente
abastecidas por produtos industrializados. Essa situação prejudicava não somente os
consumidores, que não tinham acesso a produtos de qualidade, como os produtores, que
tinham dificuldades em distribuir seus produtos a custos competitivos. Em resposta, criou-
se, em Nova Iorque, a Just Food, uma organização sem fins lucrativos, ONG, que conecta
as comunidades aos produtores locais. A instituiçâo criou mais de um programa para
organizar a distribuição dos alimentos em rede. Um desses programas é nomeado
comunidade de apoio à agricultura (Community Support Agriculture, CSA). Nesse sistema, é
criado uma espécie de clube, onde os sócios contribuem mensalmente. O dinheiro é, então,
usado pelos produtores, e, mais tarde, os investidores recebem os produtos orgânicos
frescos.
Os três casos apresentados resolvem problemas sociais específicos. Os processos
utilizados para apoiar a inovação social iniciam-se com a detecção e compreensão das
causas dos problemas em questão. A partir disso, buscam-se e desenvolvem-se soluções,
considerando a viabilidade financeira para sua execução. Todos os casos resultm em
situações de mudança sistêmica, onde a solução proposta tem viabilidade de longo termo,
podendo, inclusive, ser replicada em outros contextos, uma vez adaptadas.
Os referidos processos de inovação, com visto, são extremamente complexos e
envolvem muitas pessoas. Portanto, uma metodologia organizada é necessária para que se
consiga diagnosticar corretamente o problema e desenvolver a solução de maneira
sustentável. É ai que o design pode contribuir, organizando o processo projetual e
desenvolvendo sistemas que contemplem as três polaridades da sustentabilidade.

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3 Conclusão

É urgente que a sociedade passe por um processo de aprendizagem, resultando em


uma nova forma de pensar, em novos conceitos de bem estar e de qualidade de vida, não
mais baseados no consumo exacerbado. Apesar dos esforços realizados, há décadas, por
várias organizações, em âmbito global, nacional e local, todavia é necessária uma maior
conscientização quanto à importância da redução das desigualdades sociais a vida
sustentável no planeta.
A inovação social é um dos caminhos que contempla esse processo transformador.
No entanto, os problemas sociais são complexos por envolverem diferentes setores e
pessoas. Para se chegar em inovações sociais, é preciso de muita criatividade e da
capacidade de imaginar futuros alternativos, de vislumbrar mudanças em atividades
cotidianas.
Organizar e viabilizar tais sistemas complexos de formas inovadoras é um caminho
rumo à sustentabilidade. Atualmente, a atividade profissional dos designers vêm sendo
muito discutida e repensada, abandonando o limite antigo em projetos de produtos,
interfaces gráficas ou moda. Dada a sua formação, as habilidades e competências dos
designers permitem-lhes enquadrar e reenquadrar problemas de forma particular, e
solucioná-los através de processo específico, dentro de uma visão sistêmica. Através de
metodologias de pesquisa e apoio ao processo criativo, com a integração de pessoas com
diferentes conhecimentos complementares, é possível chegar a ideias não imaginadas
anteriormente. Além disso, os designers estão preparados para lidar com a comunicação de
estratégias e sistemas de maneira gráfica, facilitando a compreensão do público em geral.
A fim de facilitar inovações sociais, o design pode atuar em diferentes áreas, tanto
com foco no projeto, metodologias, métodos e técnicas, como demonstrando os mesmos
para que possam ser aplicados pelo público em geral. Os designers também podem facilitar
a comunicação sobre esses sistemas, utilizando-se de recursos gráficos. Também podem
atuar como conectores, tendo a noção do sistema como um todo e conectando as pessoas
de acordo com seus interesses e vocações ao longo do processo.
É fundamental o avanço nas pesquisas em inovação social, juntamente com as
pesquisas em design, evoluindo como a articulação entre os dois conceitos pode ser
realizada, de modo que, juntos, possam promover a mudança social em direção à
sustentabilidade ampla – social, ambiental e econômica.

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