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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE BACABAL


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E FILOSOFIA
CURSO DE DIREITO BACHARELADO

ELEVAÇÃO DA VAQUEJADA E RODEIO A BEM IMATERIAL: ASPECTOS


PERTINENTES E POSIÇÕES FAVORÁVEIS E CONTRÁRIAS

BACABAL-MA
2018
ELEVAÇÃO DA VAQUEJADA E RODEIO A BEM IMATERIAL: ASPECTOS
PERTINENTES E POSIÇÕES FAVORÁVEIS E CONTRÁRIAS

Trabalho apresentado ao docente


ministrante da disciplina de Direito
Ambiental, vinculada ao curso de
Direito da Universidade Estadual do
Maranhão – CESB, para obtenção de
nota referente à terceira atividade
avaliativa da disciplina.

Docente:
Prof. Adailton de Morais Pessoa Filho.
Sumário

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3
2. O EFEITO BACKLASH : JUDICIÁRIO X LEGISLATIVO ..................................................... 4
3. POSIÇÕES CONTRÁRIAS ........................................................................................................ 4
3.1 OS DIREITOS DOS ANIMAIS EM DETRIMENTO DE PRÁTICAS CULTURAIS
CRUÉIS .............................................................................................................................................. 4
3.2 AS CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS ................................................................................ 5
3.3 A CARÊNCIA DE REQUISITOS FORMAIS EXIGIDOS NO PROCESSO DE
ELEVAÇÃO DA VAQUEJADA E RODEIO À PATRIMONIO IMATERIAL ............................ 6
3.4 CARATER DINÂMICO DA CULTURA .................................................................................. 6
4. POSIÇÕES FAVORÁVEIS ......................................................................................................... 6
4.1 PRÁTICA CULTURAL.............................................................................................................. 6
4.2 ATRAÇÃO TURÍSTICA QUE GERA EMPREGO E RENDA ............................................. 7
5. CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 8
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 9
1. INTRODUÇÃO
A vaquejada é uma prática que surgiu no nordeste brasileiro e se popularizou
em meados do século XIX. Conta-se que, antigamente, no manejo com os animais,
alguns eram mais difíceis de ser ordenhados, sendo preciso que o vaqueiro os
puxasse pelo rabo e os derrubasse. Com o passar do tempo, aqueles que se
destacavam na tarefa ganharam notoriedade e a prática foi elevada, culturalmente, à
categoria de esporte. Na vaquejada, ganha pontos quem deixar o animal caído com
as quatro patas para cima. Já no rodeio, o montador vence ao se segurar por mais
tempo em cima de um boi ou cavalo, que salta para o derrubar. A festa de ambas as
modalidades movimenta muito dinheiro e gera empregos, com importância
econômica para vários estados do nordeste.

Ocorre que, na última década, várias organizações e entidades que defendem


a proteção dos direitos dos animais suscitaram a discussão e passaram a repudiar a
atividade que, segundo essas organizações, é em muito prejudicial e cruel com os
animais a ela submetidos.

A controvérsia foi então submetida ao Poder Judiciário, que se manifestou


pela inconstitucionalidade da conduta, tendo como fundamento a crueldade com que
os animais eram tratados, corroborando a tese defendida pelas organizações em
prol dos direitos dos animais. Por sua vez, o Poder Legislativo, maiormente sua
classe conservadora, decidiu pela legalização da prática, elevando rodeio, a
vaquejada e as respectivas expressões artístico-culturais à condição de
manifestações da cultura nacional e de patrimônio cultural imaterial, mediante a
edição da Lei 13.364, de 29 de novembro de 2017 e, posteriormente, pela EC nº 96,
de 6 de junho de 2017 . Segundo artigo 3º da Lei 13.364:

“Consideram-se patrimônio cultural imaterial do Brasil o Rodeio, a


Vaquejada e expressões decorrentes, como:
I - montarias;
II - provas de laço;
III - apartação;
IV - bulldog;
V - provas de rédeas;
VI - provas dos Três Tambores, Team Penning e Work Penning;
VII - paleteadas; e
VIII - outras provas típicas, tais como Queima do Alho e concurso do
berrante, bem como apresentações folclóricas e de músicas de raiz.”
2. O EFEITO BACKLASH : JUDICIÁRIO X LEGISLATIVO
A elevação da vaquejada e do rodeio à categoria de patrimônio imaterial, bem
como suas expressões decorrentes, gera posições contrárias dado o embate entre a
proteção do direito dos animais e a manifestação de uma prática cultural. Esse
embate evidenciou-se nas posições empreendidas pelo Poder Judiciário e
Legislativo.

Efeito backlash do ativismo judicial é uma espécie de efeito colateral das


decisões judiciais em questões polêmicas, decorrente de uma reação do poder
político do que entende ser uma invasão à sua esfera de atuação. Foi o que ocorreu
com a vaquejada. Em outubro de 2016, o Supremo Tribunal Federal, por meio do
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.983, considerou
inconstitucional a Lei 15.299/2013, do Ceará, que regulamentava a vaquejada como
prática desportiva e cultural no Estado. Os ministros entenderam que há “crueldade
intrínseca” aplicada aos animais, afirmando que o dever de proteção ao meio
ambiente, previsto no artigo 225 da Constituição Federal, se sobrepõe aos valores
culturais da atividade desportiva. O ministro relator, Marco Aurélio Mello, afirmou que
laudos constantes no processo demonstram “consequências nocivas à saúde dos
animais, bois e cavalos, como fraturas, ruptura de ligamentos, comprometimento da
medula óssea e outros danos”.

A reação do Poder Legislativo que foi de encontro ao posicionamento


manifestado pela Suprema Corte se deu por meio da edição da Lei 13.364, na qual
prevaleceu os anseios dos grupos defensores do caráter cultural da vaquejada e do
rodeio. A discussão, então, se debruça sobre análise de tais modalidades como
detentoras de características que permitam sua elevação a tal patamar, esmiuçando
os argumentos apresentados pelas partes acerca da polêmica.

3. POSIÇÕES CONTRÁRIAS

3.1 OS DIREITOS DOS ANIMAIS EM DETRIMENTO DE PRÁTICAS


CULTURAIS CRUÉIS
A Constituição Federal, em capítulo destinada à proteção do meio ambiente,
dispõe que é dever do poder público e da coletividade “proteger a fauna e a flora,
vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade (artigo 225,
§ 1º, inciso VII, CRFB/88). Da leitura da parte final do inciso, fica claro a intenção do
legislador de incumbir a tais sujeitos a tarefa de zelar pelo bem-estar dos animais,
evitando que fossem submetidos a práticas entendidas como prejudiciais a sua
integridade física.

Para os defensores dos direitos dos animais o direito à vida e á integridade


física seria extensível aos animais. Assim sendo, tais seres deveriam ser tratados de
tal modo que o seu manejo não pusesse em risco sua condição física.

A própria natureza da vaquejada e do rodeio, por si só, já seria capaz de


expor os animais utilizados nas ditas práticas culturais a riscos. Os maus tratos são
comprovados por meio de laudos técnicos, que mostram fraturas nas patas e rabo,
ruptura de ligamentos e vasos sanguíneos, eventual arrancamento do rabo e
comprometimento da medula óssea. Além disso, a forma de contenção dos animais
antes das provas já os coloca em estresse e não há garantias de que os eventos,
mesmo com os regulamentos estabelecidos, serão fiscalizados.

Com a intenção de findar qualquer discussão a respeito disso, o texto da EC


nº 97 afirma “não se consideram cruéis as manifestações culturais previstas no
parágrafo 1º do artigo 215 e registradas como bem de natureza imaterial integrante
do patrimônio cultural brasileiro, desde que regulamentadas em lei específica que
assegure o bem-estar dos animais”.

3.2 AS CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS


Outro ponto seria a ser discutido seria se o objetivo da lei teria resultados
mais efetivos no âmbito das manifestações culturais, ou se seria um mero
instrumento para incluir a modalidade dentro do âmbito de isenção do Imposto de
Renda.

A Lei Rouanet (Lei 8.313/91) reconhece as iniciativas de patrimônio cultural


como enquadráveis para efeitos de benefícios fiscais, com uma ressalva: as ações
de “preservação do patrimônio cultural material e imaterial” se enquadram no artigo
18 da referida lei, que permite às empresas a dedução de 100% do valor aplicado do
Imposto de Renda em projetos desse tipo. Assim sendo, a realização de vaquejada
e rodeio estaria isenta do pagamento de Imposto de Renda, em que pese a alta
rentabilidade obtida como resultado da promoção desses eventos
3.3 A CARÊNCIA DE REQUISITOS FORMAIS EXIGIDOS NO PROCESSO
DE ELEVAÇÃO DA VAQUEJADA E RODEIO À PATRIMONIO IMATERIAL
O Decreto 3.551/2000, que instituiu o Registro de Bens de Natureza Imaterial
e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, prevê quais são as etapas e os
passos necessários para que uma determinada atividade seja elevada à condição de
patrimônio imaterial.

A elevação da vaquejada e rodeio a tal categoria se deu mediante edição lei,


que não atendeu aos requisitos que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional - IPHAN estabelece de procedimentos, etapas, oitivas e audiências
necessárias para essa declaração. Por isso, sob o ponto de vista formal, o modo
como se deu a declaração não foi o usual ou aquele estabelecido pela legislação em
vigor, abrindo precedente para um meio fugaz que, de certa forma, não cumpre as
devidas etapas exigidas pelo órgão responsável.

3.4 CARATER DINÂMICO DA CULTURA


A tradição de um país, mesmo com importante valor econômico, não pode ter
como pano de fundo a crueldade com animais. Ao longo dos tempos, muitas
tradições brasileiras envolviam o manejo com animais, no entanto, algumas dessas
atividades com a dinâmica social e mudança de pensamento da sociedade,
tornaram-se insustentáveis. Cite-se a rinha de galo e a farra do boi, como também a
prática comum de matar passarinhos, que hoje são tidas como inaceitáveis.

Ademais, países com práticas culturais que utilizam animais, como as


famosas touradas na Espanha, estão aos poucos perdendo adeptos e deixando de
ser realizadas. Isso se deve a mudança de valores da sociedade. Institucionalizar e
conferir proteção constitucional a uma prática comprovadamente cruel pode ser uma
medida que vai na contramão da tendência mundial da não mais utilização de
animais em eventos culturais.

4. POSIÇÕES FAVORÁVEIS
4.1 PRÁTICA CULTURAL
As atividades de vaquejada e rodeio são tradicionais em vários estados do
Brasil, predominantemente na região nordeste. Para os defensores da prática, a
resistência em aceitá-la como patrimônio imaterial deve-se ao fato do “desprezo da
população urbana pelas práticas culturais da população rural”. A título de
comparação, o Senador Roberto Muniz, um dos defensores da normatização das
atividades, argumentou:

“É patrimônio imaterial do nosso Brasil, por exemplo, o modo artesanal de


se fazer queijo de Minas Gerais. Quantos queijos são produzidos sem o
SIF, sem o SIE [certificações sanitárias oficiais], sem a fiscalização? E esta
Casa não teve que barrar o projeto do queijo artesanal de Minas Gerais
porque há algumas pessoas que estão burlando a boa prática de produzir o
bom alimento”

Além disso, a Constituição estabelece em que:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais
e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização
e a difusão das manifestações culturais.
1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas
e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional.

Essas atividades fazem parte da tradição de determinados grupos, criando


figuras conhecidas como a do vaqueiro e gerando o fortalecimento da cultura
nacional. Assim sendo, possuem proteção constitucional expressa, como demonstra
o artigo acima citado, visto que tal prática constitui-se modo de criar, fazer e viver da
população sertaneja.

4.2 ATRAÇÃO TURÍSTICA QUE GERA EMPREGO E RENDA


Os defensores da lei que regulamentou a vaquejada e os rodeios alegam que
além do caráter cultural, a vaquejada movimenta R$ 600 milhões por ano, gerando
ainda 120 mil empregos diretos, além de impulsionar o turismo. É uma tradição da
qual milhares de pessoas dependem, pois movimenta a economia local dos lugares
onde ocorre.

Por isso, excluí-la do rol de manifestações culturais nacional afetaria uma


parcela da população que vive diretamente da renda obtida com esses eventos.
Mais que uma questão cultural, é necessário analisar o lado econômico que decisão
favorável ou contrária à elevação de rodeios e vaquejada à condição de patrimônio
imaterial acarretaria às populações diretamente interessadas.
5. CONCLUSÃO
A elevação da vaquejada e do rodeio à patrimônio imaterial gerou e gera
muitas controvérsias no âmbito social e jurídico. O desacordou deflagrou em
posições extremas entre aqueles que defendem tal medida e os que a criticam, com
base nos argumentos acima apresentados.

A discussão está longe de terminar, tendo em vista que, em que pese edição
de Lei 13.364 e da EC nº 96, o assunto continua polêmico. Partindo-se da análise
dos argumentos apresentados pelos dois polos da controvérsia, percebe-se que a
elevação de tais manifestações à condição de patrimônio imaterial evidencia a
preferência de uma parcela da bancada do Congresso Nacional, maiormente os
ruralistas, pela defesa do caráter cultural da prática.

As divergências suscitadas pela outra parte possuem bases sólidas, uma vez
que a crueldade fica evidente por meio dos laudos apresentados perante o judiciário.
Embora existam requisitos a serem observados no manuseio com os animais, a
fiscalização não é efetiva a fim de garantir que os devidos cuidados sejam tomados
e bois e cavalos utilizados não sejam machucados. Além disso, as festas de
vaquejada e rodeio possuem uma alta carga de rentabilidade e como a decisão
tomada pelo legislador, essa rentabilidade passa a não ser tributada, o que
demostra ser contraditório.

Diante da ponderação entre preservar as manifestações culturais tradicionais


e zelar pela proteção ao meio ambiente, ambos dispositivos mandamentais previstos
na Carta Magna, o legislador optou por fazer prevalecer a primeira opção.

Resta, então, ao Estado, garantir que as atividades de vaquejada e rodeio,


enquanto formas de manifestação, sejam regulamentadas, visando conferir a elas
uma maior preocupação com os direitos dos animais, impedindo que haja violação a
sua integridade. À população, da mesma forma, cabe auxiliar o Estado nessa tarefa.
Só assim será possível obter o equilíbrio entre a proteção do meio ambiente e a livre
manifestação de práticas culturais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
1988. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaoco
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BRASIL. LEI No 13.364, DE 29 DE NOVEMBRO DE 2016. 2016. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/L13364.htm>. Acesso
em: 19 nov. 2018.

BAZILIO, Érika. Vaquejada: manifestação cultural ou violação dos direitos dos


animais? 2017. Disponível em: <https://www.politize.com.br/vaquejada-
manifestacao-cultural-ou-violacao-dos-direitos-dos-animais/>. Acesso em: 19 nov.
2018.
BRASIL. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 96, DE 6 DE JUNHO DE 2017. 2017.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Em
c/emc96.htm>. Acesso em: 20 nov. 2018.

FREITAS, Aline; CESNIK, Fabio; BECHER, Gregory. Vaquejada e rodeio,


patrimônio cultural. 2017. Disponível em: <
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,vaquejada-e-rodeio-patrimonio-cultural
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MADEIRO, Carlos. Por que a vaquejada foi proibida se o rodeio é permitido?


2016. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticia
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em: 20 nov. 2018.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.983, 12 de agosto de 2015, Ministro


Relator Marco Aurélio.

SENADO FEDERAL. Vaquejada se tornou patrimônio por lei. 2017. Disponível


em: <https://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/vaquejada/vaquejada/va
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BUBLITZ, Bárbara Grigorieff. Vaquejadas: tortura ou patrimônio cultural? 2016.


Disponível em: <https://barbaragbublitz.jusbrasil.com.br/artigos/435540986/v
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