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“A ORIGEM DO SENTIMENTO MORAL (MORALISCHE GEFÜHL) COMO FUNDAMENTO SUBJETIVO DA

*
MORALIDADE EM KANT: UMA INTERPRETAÇÃO A PARTIR DE HEIDEGGER E WINNICOTT”

César Romero Fagundes de Souza**


e-mail: caesarsouza@gmail.com

Podemos afirmar, com alguma segurança, que o problema que ocupou Kant ao longo de seu trabalho
foi o da possibilidade de moralização do ser humano, e que seus esforços nesse sentido se
concentraram em fundamentar a moral em bases puramente racionais. No entanto, a maior dificuldade
de seu sistema reside em determinar o que levaria o ser humano a ser moral, uma vez que, para esse
fim, é necessário agir contra desejos e inclinações naturais.
Para Kant, o motivo para fazer da lei moral uma máxima do agir é o sentimento moral (moralische
Gefühl), que não é patológico, mas racional, possibilitado pela determinação objetiva da vontade, como
uma causalidade da razão. O sentimento moral, como condição subjetiva de nossa suscetibilidade à lei
moral, tem caráter inteligível, apenas, e não empírico. Esse sentimento (cuja origem, para Kant, é
inescrutável) é uma capacidade natural do ser humano, uma predisposição (praedispositio) de ser
afetado pela lei moral, que não necessita ser adquirida, uma vez que “toda consciência de obrigação
supõe esse sentimento (...), mas todo ser humano (enquanto um ser moral), em si mesmo, o tem,
originalmente”. O sentimento moral não é a origem da moral, mas já sua manifestação. Nos termos de
Kant, podemos apenas constatar seus efeitos em nós (o respeito pela lei moral) sem, no entanto, acessar
suas causas.
Caberia, assim, perguntar: “O que origina esse sentimento que pode nos levar à moralidade?” Estamos,
aqui, diante de uma consideração de caráter ontológico (na perspectiva de Heidegger) acerca da origem
da moralidade. Isso significa reconhecer, implicitamente, que o fundamento da moralidade talvez não
deva ser buscado nem na razão pura (como pretendia Kant) nem na experiência, mas na própria
estrutura da existência do ser humano. Essa constatação sugere uma investigação sobre a origem da
moralidade, que inclua perspectivas antropológicas e existenciais, as quais Kant, a partir de seu
paradigma, não poderia acessar. Suas constatações acerca da origem do sentimento moral (vistas sob
uma perspectiva pós-metafísica) abrem a possibilidade de buscarmos a origem ôntico-ontológica da
moralidade em uma conexão entre as concepções de Heidegger e Winnicott sobre a capacidade de
concernimento, enquanto capacidade de um ser humano, em sua relação com o outro, importar-se-com
ele.
Heidegger descreve o concernimento (Fürsorge) como um fenômeno ontológico estrutural,
característico do modo de ser-com (Mitsein) do ser humano. Winnicott, por sua vez, descreve o
concernimento (concern) como uma tendência constitutiva do processo humano de amadurecimento.
Este trabalho tenta mostrar que o sentimento moral, enquanto fundamento subjetivo possibilitador da
moralidade em Kant, apesar de, em sua concepção, ser um produto da razão humana e acessível
somente a esta, não tem sua origem na razão, mas na própria estrutura do existir humano, o que Kant
parecia indicar, sem, no entanto, explorar. Para fundamentar essa hipótese, discutiremos referências
textuais de Kant, em especial, dos trabalhos que Robert B. Louden chama “ética impura” (“impure
ethics”), com o auxílio das aproximações propostas por Zeljko Loparic, em seus trabalhos, entre as
concepções existenciais do ser humano desenvolvidas por Heidegger e Winnicott.

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Resumo do trabalho, aceito para ser apresentado no XIII Encontro Nacional de Filosofia da ANPOF, em Canela, RS, em
2008.
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Doutorando em Filosofia, PUCRS.

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