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SEHI
ANÁLISE
STÓRI
IANÁLI
POLÍ
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SEHI
STÓRICAE
CADO POVO NEGRO
HISTÓRICA,
CA,FI
I
IPOVO NEGRO NO BRASIL
LOSÓFI
ASPECTOSFI
LOSÓFI
COSE
FILOSÓFICA,
CA,POLÍ
I
IIPOLÍTICOSDANEGRITUDE
POLÍTI
CAE
TI
POLÍ
TICASPÚBLI
CAS
CAEECONÔMI
I
V DEIGUALDADERACIAL
MÓDULO I
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Brasília, junho de 2018
MÓDULO I
ANÁLISE HISTÓRICA, FILOSÓFICA, POLÍTICA E ECONÔMICA DO POVO NEGRO
Catalogação na publicação: Letícia Gomes T. da Silva — CRB 1/3098 Fundação João Magabeira
Sede Própria - SHIS QI 5, Conjunto 2 casa 2
Negritude Socialista Brasileira do PSB (NSB) CEP 71615-020 - Lago Sul - Brasília, DF
SCLN 304, Bloco A, Sobreloja 01, Entrada 63 Fone: 61 3365-4099 / 3365-5277 / 3365-5279
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Operação de TP
Rômulo Maia
Coordenação Geral Apresentadores Thiago Ponce
Valneide Nascimento dos Santos Ana Luiza Bellacosta
Camila Paula Assistente de Estúdio
Organização Dominic Maha Daniel Kazeil
Alberto Farias Gavini Filho Jean Bottentuit Duarte
Som Direto
Elaboração e Adaptação Cenografia JR Piau
de Textos Fernanda Cavicchiolli Victoria Cristina Costa
Ivanilda Matias Gentle Juliet Jones
Izete Santos do Nascimento Pedro Daldegan Tradução de Libras
Joel Almeida Filho Tatiana Elizabeth Maximiniano
José Maria da Silva Cabelo e Maquiagem
Mariana Elisa Trilha Sonora
Revisão Editorial Flávio Rubens
Raysten Balbino Noleto Ilustrações Pedro Romão
Juliano Batalha
Roteiro Juliet Jones Edição de Vídeo
Victoria Cristina Costa Juliana Araújo
Wandeilson Sousa Direção de Arte Rodrigo Blergh
Juliet Jones
Direção Publicação
Chico Gorman Direção de Animação Negritude Socialista Brasileira
Jorge Machado (NSB)
Assistente de Direção
Wandeilson Sousa Animação Realização
Jorge Machado NSB
Produção Juliet Jones Pró Empresa
Juliet Jones Paulo Lepletier
Victoria Cristina Costa Rodrigo Blergh Apoio
PSB
Colorização Escola Miguel Arraes
Rômulo Maia INAO
SOCIALISMO
E NEGRITUDE
Curso de Formação - Módulo I.indd 26 14/11/2018 15:24:55
“Cabe mais uma vez insistir: não nos interessa a
proposta de uma adaptação aos moldes da sociedade
capitalista e de classes. Esta não é a solução que
devemos aceitar como se fora mandamento
inelutável. Confiamos na idoneidade e acreditamos
na reinvenção de nós mesmos e de nossa história.
Reinvenção de um caminho afro-brasileiro de vida,
fundado em sua experiência histórica, na utilização do 27
conhecimento crítico e inventivo de suas instituições
golpeadas pelo colonialismo e pelo racismo. Enfim,
reconstruir no presente uma sociedade dirigida ao
futuro, mas levando em conta o que ainda for útil e
positivo no acervo do passado.”
Abdias do Nascimento.
Sinopse
Unidade I
Análise Histórica e Política do Povo Negro
Unidade II
Povo Negro no Brasil
Unidade III
O Curso de Formação Política da Negritude So- Aspectos Filosóficos e Políticos da Negritude
cialista Brasileira está estruturado no formato
de três módulos. Cada módulo é composto por Unidade IV
cinco unidades didáticas, que se abrem em di- Políticas Públicas de Igualdade Racial
versos subtemas conectados ao tema central.
Cada unidade foi moldada e transformada em Unidade V
videoaula, totalizando quinze. A seguir a estru- Normativas Fundamentais
tura dos Módulos Instrucionais:
Unidade I Unidade I
Superação da Guetização Protagonismo Negro
Unidade II Unidade II
Engajamento nos Movimentos Sociais e Políticos Educação Libertadora
SU
46 3. A Ideologia Racista
47 4. Reis, Rainhas e Princesas na África
52 5. As Construções Sociais
53 6. África antiga: lugar das primeiras
descobertas e invenções
MÁ
58 7. Diáspora e escravização
59 8. Pan-africanismo
61 9. União Africana
61 10. Negritude
63 11. Grandes líderes
RIO
70 12. Reflexão
73 Bibliografia
MÓDULO I
136 1. Introdução
138 2. SINAPIR - Sistema nacional de promoção
da igualdade racial
140 3. PNPIR - Política nacional de promoção
da igualdade racial
152 4. A Fábula da Galinha D’angola
154 5. Reflexão
156 Bibliografia
Na África, de raios solares intensos e prolon- mas essenciais para a formação da vitamina D,
gados, o corpo humano desenvolveu alguns necessária para manter o sistema imunológico
recursos: muita melanina e o cabelo com uma e desenvolver os ossos.
estrutura espiralada para produzir um colchão
de ar para proteção. Por isso, as populações que migraram para re-
giões menos ensolaradas desenvolveram uma
Na Europa, homens e mulheres, chegando na- pele mais clara para aumentar a absorção de
quele período coberto de geleiras, com raios so- raios ultravioletas. Portanto, a diferença de co-
lares curtos e fracos, ao longo de 40 mil anos, loração da pele, da mais clara até a mais escura,
houve processo de despigmentação da pele, indicaria simplesmente que a evolução do ho-
perda de melanina, e a pele escura vai perden- mem procurou encontrar uma forma de regu-
do melanina para que houvesse possibilida- lar nutrientes. Corpo e a cabeça tendem a ser
de de síntese da vitamina D, tão necessária à arredondados para guardar calor, o nariz, pe-
vida humana. A pele negra bloqueava demais queno para não congelar, com narinas estreitas
os raios ultravioletas, sabidamente nocivos, para aquecer o ar que chega aos pulmões.
4
Significado de racismo – https://www.significados.com.br/racismo/ Figura 3: apartheid na Africa do Sul
Mussa 49
50
Njinga
51
56
O conhecimento dos Dogon, no Mali, em rela- Diversos foram os povos africanos que lida-
ção à astronomia, é antigo. Há dados que infor- ram com a metalurgia há milhares de anos.
mam que eles conheciam, desde 5 ou 7 séculos Citamos,como exemplo, o desenvolvido pelos
antes da Era Cristã, o sistema solar, a Via Láctea, Hayas18, cerca de 2.000 anos atrás, em que “pro-
com sua estrutura espiral, as luas de Júpiter e os duziam aço em fornos que atingiam temperatu-
anéis de Saturno. Já compreendiam que o uni- ras mais altas em duzentos a quatrocentos graus
verso é habitado por milhões de estrelas e que a centígrados do que eram capazes os fornos euro-
lua era deserta e inabitada, sendo refletida pelo peus até o séc. XIX19”.
sol, à noite17.
17
Dogon: Um grande mistério cerca a vida dos Dogons, povo, ao que
se acredita, de ascendência egípcia. Depois de saírem da Líbia, há mi-
lênios, fixaram-se na falésia de Bandiagara, no Mali, África Ocidental,
18
Haya: povo de fala banta habitante de uma região da Tanzânia.
levando consigo as informações sobre o Cosmo, que remontam ao Egito 19
SOUZA, Irene Sales de e MOTTA, Fernanda P. de Carvalho. Ob. ci-
pré-dinástico, anterior a 3200 a.C. tada, p 40/1.
60
Bico-de-chumbo-africano
Euodice cantans
Bico-de-chumbo-africano
Euodice cantans
63
5. KWAME NKRUMAH – 1960. O líder polí- 6. MALCOLM X (1925 - 1965). Foi um dos
tico (1909-1972) é um dos maiores responsá- maiores defensores dos direitos dos negros nos
veis pela independência de Gana, alcançada em Estados Unidos. Fundou a Organização para a
1957. Depois, torna-se premiê e presidente do Unidade Afro-Americana. Foi assassinado por
país. Em 2000, é eleito pelos ouvintes da rádio radicais contrários às suas ideias.
BBC o homem africano do milênio.
9. OHN RICHARD ARCHER – 1913. O ativista 10. SHAKA ZULU – 1818. Ao assumir a chefia
(1863-1932) é o primeiro prefeito negro eleito sobre a tribo zulu, transforma a etnia em um
na Inglaterra. Após seu mandato na cidade de império. Para isso, conquista diversas tribos, em
Battersea, marcado por acusações racistas di- uma campanha que inspira comparações com
vulgadas pelo partido de oposição, passaria a Alexandre, o Grande. No momento em que é
vida militando contra o preconceito. assassinado, Shaka (1778-1828) governava cer-
ca de 250 mil pessoas.
MILTON
SANTOS
77
Para entender e discutir os problemas sociais Sobre isso, o professor Marcelo Paixão2, coorde-
enfrentados pelo povo negro nos dias atuais, nador do Laboratório de Análises Econômicas,
no Brasil, é necessário conhecer a trajetória da Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações
presença negra em nosso território, desde sua Raciais da Universidade do Rio de Janeiro (La-
chegada, passando pela formação do país. Nes- eser/UERJ), corroborando com este pensamen-
ta segunda unidade, trataremos de apresentar a to, nos chama a atenção para a importância de
realidade histórica do povo negro, sua constru- potencializarmos as leis 10.639/03 e 11.645/08,
ção política e social após sua chegada ao Bra- promulgadas com o intuito de valorizar a cultura
sil, onde tiveram que lutar para alcançar espaço das classes sociais afro-brasileira e indígena, por
78 em ambiente agressivo, por meio de conquistas terem características revolucionárias, o que nos
permite trabalhar com a ideologia. Nos permi-
como cotas raciais e o empenho na aprovação
te trabalhar não apenas com o aluno negro, mas
de marcos legais a fim de garantir a perenidade
também com os alunos brancos, amarelos e de
das conquistas.
todos os grupos de cor.
O professor doutor Gustavo Henrique Araújo Para ele foi construído, no Brasil, “uma pedagogia
Forde1 destaca que “a sociedade brasileira conti- do olhar que classifica as pessoas de acordo com
nua fazendo uma leitura da população negra de a cor da pele”. Isso é uma pedagogia criada ide-
uma maneira muito negativa…”. Ainda, segundo ologicamente. Por isso essas leis são tão impor-
ele, “nós aprendemos a fazer uma leitura da cul- tantes. Elas têm um papel fundamental na cons-
tura francesa de uma maneira positivada, mas da trução de uma nova mentalidade, de uma nova
cultura negra, indígena e africana de uma ma- forma de ler o povo negro no Brasil. Nós temos
neira negativada. Por conta disso, o Brasil ainda que mudar para uma nova pedagogia do olhar.
teima em querer contar a sua história deixando
2
PAIXÃO, Marcelo Jorge de Paula. Análises econômicas, históricas, so-
1
FORDE, Gustavo Henrique Araújo. Curso de Formação Política da Ne- ciais e estatísticas das relações raciais, Seminário De Zumbi dos Palma-
gritude Socialista Brasileira – Módulo I, Brasília, 2018. res a Dragão Do Mar – III – Ed. Fortaleza, 2014.
Dandara
tória brasileira, mesmo vivendo em situações de
extrema adversidade.
5 SANTOS, Ângela Maria dos & SILVA, João Bosco da (orgs.).
6
SANTOS, Ângela Maria dos & SILVA, João Bosco da (orgs.). 9
Forro: que obteve alforria; livre da escravidão; alforriado.
7
SANTOS, Ângela Maria dos & SILVA, João Bosco da (orgs.). 10
Local na mata onde escravos foragidos buscavam abrigo.
8
Forro: que obteve alforria; livre da escravidão; alforriado. 11
SANTOS, Ângela Maria dos & SILVA, João Bosco da (orgs.).
Nasceu em 1655, no estado de Alagoas. Ícone Quanto à pressão externa, destaca-se o proces-
da resistência negra à escravidão, liderou o qui- so de industrialização (a Revolução Industrial),
lombo dos Palmares. Embora tenha nascido li- pela qual passava a Inglaterra, demandando a
vre, Zumbi foi capturado aos sete anos de idade ampliação dos seus mercados consumidores e
e entregue a um padre católico, do qual recebeu as elites das colônias inglesas nas Antilhas que,
o batismo e foi nomeado Francisco. Aprendeu a perdendo espaço para a produção brasileira,
86 língua portuguesa e a religião católica, chegan- cobravam do parlamento inglês medidas para
do a ajudar o padre nas celebrações de missas. pôr fim à escravidão. Foi dentro deste contex-
Porém, aos 15 anos, voltou a viver no quilombo to que, em 1845, o parlamento inglês aprovou
a “Lei Bill Aberdeen”, autorizando a apreensão
pelo qual lutou até a morte, em 1695.
de navios envolvidos no tráfico escravagista e,
assim, como consequência, o governo brasilei-
Zumbi é considerado um dos grandes líderes de
ro, sob pressão, desejando dar satisfação à In-
nossa história. Símbolo da luta contra a escravi-
glaterra, aprovou, em 1850, a Lei Eusébio de
dão, lutou também pela liberdade de culto reli-
Queirós, proibindo o tráfico transatlântico de
gioso e pela prática da cultura africana no país.
escravizados para o Brasil, a Lei do Ventre Livre,
O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembra-
em 1871, e a Lei dos Sexagenários, em 1885, que
do e comemorado em todo o território nacional
ficaram conhecidas como leis para inglês ver.
como o Dia da Consciência Negra18.
16
Cada uma das expedições, na época colonial, a fim de desbravar o ter- No que tange as pressões internas, destacam-se
ritório brasileiro, capturar indígenas, escravos foragidos e buscar ouro e
pedras preciosas.
novembro. Foi criado em 2003 como efeméride incluída no calendário
17
Fundação Cultural Palmares escolar — até ser oficialmente instituído em âmbito nacional mediante
18
O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado, no Brasil, em 20 de a lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011.
Marcelo Paixão31 fez a seguinte observação: “a de um país. Ainda, essa obra foi precursora da
partir da década de 1930, o Brasil parece não noção de democracia racial no Brasil.
adotar mais a ideologia racista comum ao tem-
po de Nina Rodrigues. Passa a viver o tempo de As elites brasileiras abraçaram o novo modelo
92 Gilberto Freyre, de Sérgio Buarque, o tempo do de modernização do país, e junto com este mo-
homem cordial”. vimento surgiu uma nova ideologia, a ideologia
da Democracia Racial. Assim, o discurso passa
A propósito, Gilberto de Mello Freyre foi o a ser que “o povo brasileiro pode sim conquistar
intelectual mais premiado da história do país. o progresso, porque é um povo mestiço. O Brasil
Foi laureado com o prêmio Aspen, honraria é um país mestiço governado pelo princípio da
que consagra indivíduos notáveis por contri- Democracia Racial”.
buições excepcionalmente valiosas para a cul-
tura humana. Seu primeiro e mais conhecido O fato é que houve uma construção ideológica
livro é Casa-Grande & Senzala, publicado no que acompanhou o processo de modernização
do Brasil, que foi a Democracia Racial, com a
ano de 1933, escrito em Portugal. Nele, Freyre
ideia de que o Brasil é um país mestiço gover-
rechaça as doutrinas racistas de branquea-
nado pelo princípio da Democracia Racial. Mas
mento do Brasil. Baseado em Franz Boas, de-
essa ideologia que poderia fortalecer o processo
monstrou que o determinismo racial ou cli-
de igualação nas condições de vida, processos de
mático não influencia no desenvolvimento
integração plena da população afrodescendente
31
Trabalho citado- Nota de Rodapé nº 2. na vida nacional, se transforma no seu contrário.
O golpe militar de 1964 representou uma der- Dessa forma, com o Golpe de Estado de 1964
rota, ainda que temporária, para a luta política houve uma paralisação das atividades dos mo-
dos negros. Ele desarticulou uma coalizão de vimentos sociais. Nos Anos 1970, a grande 93
forças que palmilhava no enfrentamento do questão para o movimento negro foi a reorga-
preconceito de cor no país. Como consequên- nização da militância no processo de reabertura
cia, o Movimento Negro32 organizado entrou política pós-ditadura.
em refluxo, seus militantes eram estigmatiza-
dos e acusados pelos militares de criar um pro- Nas décadas de 1970 e 1980, vários grupos são
blema que supostamente não existia, o racismo formados com o intuito de unir os jovens ne-
no Brasil. De acordo com Gonzalez33, a repres- gros e denunciar o preconceito. Protestos e atos
são “desmobilizou as lideranças negras, lançan- públicos das mais diversas formas passam a ser
do-as numa espécie de semiclandestinidade”. A realizados, chamando a atenção da população e
discussão pública da questão racial foi pratica- governo para o problema social – como a mani-
mente banida. festação no Teatro Municipal de São Paulo, que
32
O Movimento Negro no Brasil corresponde a uma série de movimen-
resultaria na formação do Movimento Negro
tos realizados por pessoas que lutam contra o racismo e por direitos. Unificado.
33
O Movimento Negro na última década. In: GONZALEZ, Lélia e HA-
SENBALG, Carlos. Lugar de negro. Rio de Janeiro, Marco Zero, 1982. 34
Henrique Cunha Jr. Textos para o movimento negro. São Paulo: EDI-
115p. p.9-66. CON, 1992. (Ensaios).
A Negritude Socialista Brasileira (NSB), órgão de A militância da NSB atua em prol de desafios
representação do segmento no PSB, tem como di- específicos da questão negra brasileira, sobre-
retrizes básicas de sua atuação e de programa de tudo na luta por uma sociedade igualitária, na
ação as reivindicações históricas do movimento qual todos tenham acesso à distribuição e à pro-
negro no mundo e no Brasil. dução de riquezas.
A pauta da NSB é o trabalho em busca da tolerân- A Negritude Socialista Brasileira (NSB) teve
cia, do respeito pela diversidade e a necessidade de uma participação ativa no ato realizado no dia
buscar bases comuns entre as civilizações a fim de 22 de novembro de 1995, a Marcha Zumbi dos
enfrentar os desafios comuns à humanidade que Palmares – contra o racismo, pela igualdade e
96 ameaçam os valores partilhados, os direitos hu- a vida. O professor Dumas relata que no ano
manos universais e a luta contra o racismo, discri-
de 2005, para comemorar os dez anos daquele
minação racial, xenofobia e intolerância correlata,
evento, foram realizadas mais duas marchas em
por meio da cooperação, da parceria e da inclusão.
Brasília, com participação da NSB, uma no dia
16, e outra no dia 22 de novembro, cujo objeti-
A NSB atua nacionalmente, partilhando a pau-
ta histórica da população e do movimento negro vo foi fazer um balanço das conquistas e avan-
brasileiro, contribuindo para o fortalecimento da ços obtidos entre os anos 1995 e 2005, além de
autoestima do povo negro no combate ao racismo, exigir do Estado brasileiro o reconhecimento
desmistificando a ideia da democracia racial reve- do conceito de reparação como eixo principal
lando negros e negras como sujeitos históricos da para a implementação de políticas de combate
construção da nação brasileira. ao racismo e de promoção da igualdade racial,
acompanhando as orientações da Declaração e
O desafio da NSB vai além das questões partidá- do Programa de Ação da III Conferência Mun-
rias. Trata-se de superação de uma trajetória his- dial Contra o Racismo, Discriminação Racial,
tórica de exclusão de grande parte da população Xenofobia e Intolerância Correlatas.
brasileira.
REFLEXÃO
1
Zila Bernd. O que é negritude, 1988. 3
Zila Bernd. O que é negritude, 1988.
2
Lígia Fonseca Pereira. “Negritude, Negridade, Negrícia”, 2006. 4
Lígia Fonseca Pereira. “Negritude, Negridade, Negrícia”, 2006.
6
Lígia Fonseca Pereira. “Negritude, Negridade, Negrícia”, 2006.
11
Frantz Omar Fanon. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Alexandre
Pomar. Porto: Paisagem, s/d. p. 131. 12
Jean-Paul Sartre. Reflexões sobre o racismo, 1968.
estrutura psicológica do africano. A “alma ne- dessa acepção é que reforça o preconceito, se-
gra” teria uma natureza emotiva em detrimento gundo o qual a raça negra é incapaz de atingir
à racionalidade do branco. certos níveis de inteligência e de promover,
autonomamente, o desenvolvimento de uma
Enquanto a civilização europeia seria funda- nação, ou seja, a raça negra seria incapaz de
mentalmente materialista, os valores negro-a- alcançar determinado estágio do conheci-
fricanos estariam fundados na vida, na emo- mento científico e tecnológico, posto que sua
ção e no amor. Para Senghor, estes atributos natureza fosse, essencialmente, munida de
constituíam um privilégio do negro. O perigo valores espirituais.
16
“Negritude”, “Negridade”, “Negrícia”, p. 14
A presença do negro na literatura brasileira não dimentos que, com poucas exceções, indiciam
escapa ao tratamento marginalizador que, des- ideologias, atitudes e estereótipos da estética
de as instâncias fundadoras, marca a etnia no branca dominante.
processo de construção da nossa sociedade. Evi- 121
denciam-se, na sua trajetória no discurso literá- A literatura do negro (o negro como sujeito: a
rio nacional, dois posicionamentos: “a condição atitude compromissada) surge com as obras de
negra como objeto numa visão distanciada, e o alguns pioneiros, como o irônico Luís Gama
negro como sujeito numa atitude compromissa- (1850-1882), filho de africana com fidalgo baia-
da. Tem-se, desse modo, literatura sobre o negro, no e o primeiro a falar em versos de amor por
de um lado, e literatura do negro de outro”19. uma negra. Outro exemplo é o mulato Lima
Barreto (1881-1922), o excepcional ficcionista
A visão distanciada configura-se em textos nos
em obra vinculada à realidade social urbana e
quais o negro ou o descendente de negro re-
suburbana do Rio de Janeiro.
conhecido como tal é personagem, ou em que
aspectos ligados às vivências do negro na rea-
lidade histórico-cultural do Brasil se tornam Entretanto, o posicionamento engajado só co-
assunto ou tema. Envolve, entretanto, proce- meça a corporificar-se efetivamente a partir de
vozes precursoras, nos anos de 1930 e 1940, ga-
Domício Proença Filho. A trajetória do negro na literatura brasi-
nhando força por meio dos anos de 1960 e pre-
19
leira. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103
-40142004000100017 sença destacada através de grupos de escritores
REFLEXÃO
POLÍTICAS PÚBLICAS
DE IGUALDADE RACIAL
Curso de Formação - Módulo I.indd 135 14/11/2018 15:26:39
1. Introdução
Nesta unidade trataremos de apresentar a es- e discriminação são históricas e permanentes, fa-
trutura do sistema brasileiro de promoção da zendo parte da atual realidade brasileira.
igualdade racial e os principais programas, po-
líticas e ações voltadas à promoção da igualdade A intervenção do Estado brasileiro na área da
racial, descrita com uma visão crítica da reali- promoção da igualdade racial é relativamente
dade brasileira. recente. A partir dos anos 1980, como fruto da
atuação dos movimentos sociais negros, cresceu
Apesar do princípio constitucional brasileiro de a compreensão de que a proibição legal da dis-
igualdade perante a lei, o que se observa na prá- criminação racial era insuficiente para o efetivo
tica é uma ideologia dominante que favorece e enfrentamento das desigualdades baseadas em
136 privilegia homens e mulheres de cor branca, e raça e etnia.
o consequente desfavorecimento de homens e
mulheres negros(as) e índios(as). Na prática, o Naquele momento, a partir do reconhecimento
pertencimento racial define posições sociais e é do caráter pluricultural e multiétnico da socieda-
um determinante significativo da estruturação de brasileira, o racismo passou a ser considerado
das desigualdades socioeconômicas no Brasil1. crime inafiançável e imprescritível, assim como
as Comunidades Remanescentes de Quilombos
A Constituição Federal de 1988, que é considera- tiveram reconhecido o seu direito à terra.
da por muitos como um avanço no processo de
redemocratização pelo qual passa o país, estabele- Em 1995, como resultado da Marcha Zumbi
ce como um de seus objetivos “promover o bem de Contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida,
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, realizada pelo Movimento Negro, o Governo
idade e quaisquer outras formas de discriminação” brasileiro assumiu um conjunto de ações pon-
(CF/1988, art. 3º, inciso IV). Mas a desigualdade tuais em diversas áreas. Mais tarde, tais ações
ganham novo ímpeto durante o processo pre-
Priscila Martins Medeiros. Raça e Estado democrático: o debate sócio
paratório da III Conferência Mundial contra o
1
Figura 1: Instantâneo da Conferência de Durban - 2001 Figura 2: Noite de Abertura da III CONAPIR - 2013
O racismo, o preconceito e a discriminação ra- Portanto, as cotas nasceram no bojo das ações
cial são os fenômenos que estruturam as desi- afirmativas, mas com essas não se confundem.
guais relações entre diferentes grupos raciais, Para facilitar o desenvolvimento e compreensão
sendo responsáveis pela permanente reprodu- do tema, vamos iniciar explicando o que são
ção social das desigualdades. Além das políticas ações afirmativas, até porque as cotas são uma 141
de repressão, mais antigas no repertório jurídi- segunda etapa delas.
co nacional, ainda que com aplicação limitada,
os últimos anos foram decisivos na conforma- “Quem disser que eu sou contra as cotas, e me
ção de um conjunto de políticas e ações voltadas usa de exemplo para dizer que não é necessário,
à promoção da igualdade racial. A seguir, serão está redondamente enganado. Eu sou uma exce-
brevemente comentadas algumas delas. ção, pois se não precisássemos de cotas, eu não
seria até hoje desde que existe o STF o ÚNICO
ministro negro, o ÚNICO ministro que veio de
extrema pobreza, e o ÚNICO que assumiu a pre-
3.1. Ações Afirmativas e Cotas
sidência deste Tribunal. Teriamos 50% de negros
nesse quadro, pois o país tem
Inicialmente, cabem algumas indagações como, MAIORIA NEGRA. Discurso
por exemplo, o que é ação afirmativa? Cotas hipócrita e racista esse de me
e ação afirmativas significam a mesma coisa? usar como exemplo anti-cotas,
Qual o seu fundamento legal? sou a favor SIM. E para termi-
A adoção das medidas de ação afirmativa e cotas nar essa história, é LEI, e LEI
é o reconhecimento de que o princípio da igual- não se discute, se CUMPRE!”
dade formal é insuficiente para garantir a plena
Figura 3: Dr. Joaquim Benedito Barbosa Gomes (2012),
então Presidente do Supremo Tribunal Federal
O PNSIPN prevê ações de cuidado, atenção e Uma das mais importantes conquistas da políti-
prevenção à saúde, além de orientações sobre a ca de enfrentamento ao racismo foi a alteração
gestão de política, formação de pessoal em saú- da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
de e produção de conhecimento. Tem no Comi- nal, promovida pela Lei n° 10.639/2003.
tê Técnico de Saúde da População Negra uma
instância central para sua elaboração e acompa- Ao estabelecer a obrigatoriedade do ensino da
nhamento de sua implementação. “história e cultura afro-brasileira” no ensino
fundamental e médio, a proposta de uma edu-
No entanto, os progressos na política esbarram cação antirracista alcança maior envergadura
em problemas de toda ordem, desde os limi- com as orientações do Conselho Nacional de
tes em se compreender o racismo institucional Educação (Parecer CNE/CEN nº 3/2004 e Re-
146
como elemento importante nas desigualdades solução nº 1/2004), que regulamenta e estabe-
em saúde, como na restrita indução dos órgãos lece as diretrizes nacionais curriculares para a
para sua implementação, quer no próprio Mi- educação étnico-racial no país.
nistério da Saúde, quer na concertação federa-
tiva da política de saúde, o que tem limitado os De fato, o que se pretende é alcançar o espaço
avanços desta iniciativa. que, por séculos, se incumbiu de alimentar a
reprodução do racismo: o imaginário social. A
Por que a galinha d’Angola é educação formal sempre negligenciou a partici-
símbolo da Política Nacional pação do negro na formação histórica nacional.
da Saúde da População Negra É elemento de perplexidade internacional que
– PNSIPN? Ver a Fábula da apenas há uma década o país considerado mais
Galinha de Angola, no item 4. negro fora da África tenha inserido em seus cur-
rículos escolares a história daquele continente.
Figura 4: Galinha d’Angola – Símbolo
da Política Nacional da Saúde da O ideal de embranquecimento, a invisibilidade
População Negra - PNSIPN do negro e o propagado mito da democracia
151
Legislação
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Ilustrações
Figura 1: Instantâneo da Conferência de Durban -
2001
Fundamentais
Figura 1: Flagrante da Assembleia da ONU de 1948 - Declaração Universal dos Direitos Humanos 161
Contudo, é preciso compreender que, para ga- Antes da Declaração de Durban, outras duas
rantir e assegurar a igualdade, não basta apenas conferências mundiais foram realizadas pela
proibir a discriminação mediante legislação ONU. A primeira, em Genebra, na Suíça
repressiva. São essenciais as estratégias capa- (1978), tinha como tema o combate ao racis-
zes de incentivar a inserção e a inclusão social mo e à discriminação reafirmava que todas
Nesse contexto, a república não poderia voltar há maior preocupação com a igualdade racial.
no tempo, e em sua primeira constituição, em Ao contrário. Nos incisos 1º e 2º do § 2º do art.
1891, preconizou a igualdade, mas com efeitos 70, são excluídos dos direitos políticos mendi-
mais amplos: gos e analfabetos, condição da grande maioria
dos recém libertos.
“Art. 72... § 2º Todos são iguais perante a lei.
A República não admite privilégio de nasci- Em 1934, na constituição feita após a chamada
mento, desconhece foros de nobreza, extin- Revolução Constitucionalista de 1932, pela pri-
gue as ordens honoríficas existentes e todas meira vez aparece a palavra raça (Art. 113... 3 1.).
as suas prerrogativas e regalias, bem como
os títulos nobiliárquicos e de conselho”. Vê-se um avanço no texto ao mencionar expres-
samente a questão racial. Entretanto, o mais sig-
Vê-se, no texto, forte repulsa ao regime monár- nificativo é que, embora pregasse a igualdade,
quico que antecedeu a república, afastando-se incluída a de raça, a constituição guardava os
os privilégios dos títulos de nobreza, mas não ranços do preconceito:
No sentido não só de reconhecimento, mas de “Art. 5º... XLI - a lei punirá qualquer dis-
reparação histórica, as comunidades dos anti- criminação atentatória dos direitos e liber-
gos quilombos receberam o direito à proprie- dades fundamentais; XLII - a prática do
dade das terras: racismo constitui crime inafiançável e im-
prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
“Art. 216. §5º Ficam tombados todos os termos da lei”.
documentos e sítios detentores de reminis-
cências históricas dos antigos quilombos. Tendo em vista que a discriminação racial atin-
ge mais fortemente os afro-brasileiros, ainda
Atos das Disposições Constitucionais que o termo racismo não exclua qualquer raça,
Transitórias: Art. 68. Aos remanescentes inconteste a vontade do constituinte de preser-
das comunidades dos quilombos que este- var os negros, garantindo-lhes proteção especial 171
jam ocupando suas terras é reconhecida a dentro do corpo constitucional que já mencio-
propriedade definitiva, devendo o Estado nara, genericamente, a discriminação em mo-
emitir-lhes os títulos respectivos”. mento anterior. Mais que isso, previu para o cri-
me de racismo a ausência de fiança e prescrição,
Mas provavelmente o inciso XLII do art. 5º além de prescrever a pena de reclusão.
da Constituição é aquele que traz disposição
mais contundente. No inciso XLI, já se prote- Assim, cometido o crime racial, o autor do fato
ge o brasileiro contra qualquer tipo de discri- não estará amparado pelo decurso do tempo,
minação atentatória aos direitos e liberdades que contempla a grande maioria dos crimes
fundamentais. Tal preceito já seria suficiente quando não se consegue processar e condenar
para proteger os cidadãos dos preconceitos de réu, ou mesmo quando se consegue a condena-
raça e cor, contudo, preferiu o legislador ir mais ção, mas não se consegue impor o cumprimen-
longe na questão racial, conferindo-lhe um tó- to da pena. Assim, a imprescritibilidade atinge
pico específico, como forma de demonstrar a tanto a pretensão punitiva quanto a executória.
preocupação com a matéria, que não poderia
• o poder público promoverá ações que asse- • cria o Sistema Nacional de Promoção da
gurem igualdade de oportunidade no mer- Igualdade Racial – Sinapir (todo o título III
cado de trabalho e estimulará, por meio de do Estatuto);
incentivos, medidas iguais pelo setor privado
(art. 39 e parágrafo 3 do mesmo artigo); • obriga o governo a destinar recursos para a
prática da capoeira, que passa a ser conside-
• prevê acesso nos meios de comunicação rada desporto (art. 20 e art. 22);
para divulgar as religiões de matrizes africa-
nas (inciso VII do art. 24); • libera assistência religiosa nos hospitais aos
seguidores dos cultos de matriz africana (art.
• Prevê ampliação do acesso a financiamento 25);
para comunidades negras rurais (art. 28);
• Prevê o financiamento das iniciativas de pro-
• prevê em políticas agrícolas, tratamento es- moção da igualdade racial (art. 56 e art. 57).
A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que de- A inserção do § 3º ao art. 140 do Código Penal
fine os crimes resultantes de preconceito de raça não cria um novo crime, mas tão somente qua-
ou de cor, veio a regularizar a situação legal, pois, lifica um crime preexistente. Nessas condições,
desde que a Constituição, no inciso XLII do art. não se pode falar propriamente em um crime
5º, estipulou que o preconceito racial era crime, racial, mas sim, na qualificação de um crime
preexistente, ao qual não são impedidas a fiança
não houve recepção da Lei de Contravenções
e a prescrição. Todavia, trata-se da única forma
quanto a este aspecto. Ou seja, a matéria ficou
de injúria punida com reclusão, a forma mais
descoberta, pois, nos termos da mesma Consti- severa de cumprimento de pena.
tuição, não se pode fazer imposições, especial-
mente no campo penal, sem lei anterior ao fato Além das normas penais específicas quanto ao
que preveja a situação – princípio da reserva legal. tema, ou do Código Penal, que não é, específico
O Código Eleitoral – Lei nº 4.737, de 15 de julho A Lei nº 7.170, de 4 de dezembro de 1983, que
de 1965, proíbe a propaganda que traga precon- define crimes contra a segurança nacional, a or-
ceitos de raça: dem política e social, estabelece seu processo e
julgamento e dá outras providências, também
“Art. 243. Não será tolerada propaganda: I estabelece como crime a propaganda discrimi-
– de guerra, de processos violentos para sub- natória de raça:
verter o regime, a ordem política e social ou
de preconceitos de raça ou de classes”. “Art. 22. Fazer, em público, propaganda: II
– de discriminação racial, de luta pela vio-
A Lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967, que lência entre as classes sociais, de persegui-
regula a liberdade de manifestação do pensa- ção religiosa: Pena – detenção, de 1 (um) a
mento e de informação, previu crime ligado ao 4 (quatro) anos”.
preconceito racial, quando a regra geral vigente
era a de que o racismo era contravenção:
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sobre-o-congresso-nacional
STÓRI
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MÓDULO I