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A NATUREZA DO SETOR PÚBLICO

Flora Cunha Lobo 1


A Natureza do Setor Público

Bibliografia
Principal:
 Economia e Finanças Públicas”, Paulo Trigo Pereira, António
Afonso, Manuela Arcanjo, J.C. Gomes Santos, Escolar Editora,
2016 (5ª edição).

 “Economia e Finanças Públicas: Da Teoria à Prática”, Paulo Trigo


Pereira, Almedina, 2016 (3ª edição).

Complementar:
 Stiglitz, J. , Economics of the Public Sector, Norton., 2000
 Musgrave, R. and Musgrave, P., Public Finance in Theory and
Practice , McGraw-Hill., 1989
Flora Cunha Lobo 2
A Natureza do Setor Público

As Finanças Públicas e o Papel do Estado

Qual é o papel do estado numa economia mista?

Objetivo de aprendizagem: fundamentos


microeconómicos da intervenção do Estado na
economia

Flora Cunha Lobo 3


A Natureza do Setor Público

 Definição de Finanças Públicas

 Análise normativa versus análise positiva

 Critérios normativos:
 Eficiência
 Equidade
 Liberdade (negativa)
 Falhas de mercado

 Funções do setor público:

 Função afetação

 Função distribuição

 Função estabilização
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A Natureza do Setor Público

 Papel do Estado

 Tipo de Finanças Públicas

 Finanças clássicas e Estado mínimo

 Finanças Intervencionistas e Estado de Bem-estar

 Constitucionalismo Financeiro e Estado Imperfeito

 Características das finanças “modernas”

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Economia e Finanças Públicas

Definição
 Objeto de estudo comum ao da economia: considera, no
âmbito do setor púbico, as questões económicas
fundamentais (derivadas do problema da escassez):
 O que produzir?
 Como produzir?
 Para quem produzir?

 Que recursos devem ser utilizados na produção de bens privados e


que recursos devem ser utilizados na produção de bens públicos?

 Qual é a melhor forma de produzir e financiar os bens públicos?

 Quem deverá beneficiar da produção dos bens públicos?

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Economia e Finanças Públicas

Definição (Objeto de estudo)

A disciplina de Economia e Finanças Públicas desenvolve a

análise, normativa e positiva, das actividades financeiras das

entidades do sector público.

Análise positiva e análise normativa: dois tipos de análises

desenvolvidas nas finanças públicas

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Economia e Finanças Públicas

Definição (Objeto de estudo)

Principais questões:
 Quais os efeitos da manipulação de certas variáveis instrumentais
(política orçamental) na prossecução dos objetivos a atingir?

 Quais são os efeitos de alterações nas variáveis estruturais (regras e


instituições) na implementação das políticas públicas?

 Qual deve ser a intervenção do Estado na economia, nomeadamente


na vertente financeira (receitas e despesas públicas)?

 Quais devem ser as regras e instituições a operar no setor público de


modo a implementar as políticas públicas desejáveis?

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Análise Positiva versus Análise Normativa

(I) Análise Positiva


 Analisa e explica a realidade e prevê (pressupõe a existência
de um modelo baseado num conjunto de hipóteses) as
consequências em certas variáveis objecivo de alterações em
uma ou mais variáveis instrumentais ou estruturais
 Quais são os efeitos da manipulação de certas variáveis
instrumentais (política orçamental) na prossecução de
objetivos?
 Quais são os efeitos de alterações em variáveis
estruturais (regras e instituições do sistema político) na
implementação das políticas públicas?

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Análise Positiva versus Análise Normativa
(II) Análise Normativa
 Produz juízos de valor, quer sobre determinadas
características da sociedade (por exemplo, distribuição de
rendimento, características do mercado de trabalho), quer
sobre a adoção de uma política pública, na vertente dos
instrumentos utilizados e na vertente dos seus resultados
 Qual deve ser a intervenção do Estado na economia,
nomeadamente na vertente financeira (receitas e
despesas públicas)?
 Quais devem ser as regras e instituições a operar no
setor público de modo a implementar as políticas
públicas desejáveis?
 Questão: o juízo de valor é formulado com base em que
critérios ou normas?

Flora Cunha Lobo 10


Análise Positiva versus Análise Normativa

Síntese:
 A abordagem positiva refere-se ao que é enquanto que a
abordagem normativa refere-se ao que deve ser.

 Ambas as abordagens coexistem na análise económica

 As duas abordagens são complementares: a abordagem


positiva torna-se necessária ao fundamento da abordagem
normativa, já que quando se propõem políticas há que
conhecer os efeitos prováveis das alternativas que se colocam

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Critérios Normativos

 (I) Eficiência

 (II) Equidade

 (III) Liberdade (negativa)

Flora Cunha Lobo 12


Critérios Normativos

(I) Eficiência

Afectar os recursos económicos de forma óptima (no sentido de

que não é possível melhorar o bem-estar de um agente sem ser

à custa da diminuição do bem-estar de outro – óptimo de Pareto)

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Critérios Normativos

(II) Equidade (ou justiça)

 Preocupação centrada nos fatores determinantes do bem-estar


social:

 Na redução das desigualdades de distribuição de rendimentos

 Na criação de condições para a promoção da igualdade de


oportunidades entre os cidadãos

 Assegurar o acesso a bens primários

 Grandes disparidades entre ricos e pobres são normalmente


repudiadas pelas sociedades modernas.

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Critérios Normativos

(II) Equidade (ou justiça)


 O Estado deve intervir no sentido de aproximar a distribuição
feita pelo mercado à noção de justiça que a sociedade tem.

 Os impostos progressivos, os subsídios e transferências, a


segurança social, ou métodos mais drásticos, como a
expropriação, a reforma agrária, são instrumentos de que a
sociedade se serve para conseguir a equidade.

 Exemplo: Quais os efeitos da distribuição da carga fiscal e os


benefícios da despesa pública no bem-estar social?

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Critérios Normativos

(III) Liberdade (negativa)

O indivíduo deve reter uma esfera (privada) de autonomia imune à

intervenção coerciva do Estado, isto é, devem existir limites às

possibilidades de intervenção do Estado na vida (privada) dos

cidadãos

Exemplo: o caso do sigilo bancário_o acesso público (ainda

que em termos limitados) às contas privadas é uma violação

do critério de liberdade (negativa)


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Divergência entre economistas

Duas fontes de divergências:

 Análise positiva: divergências quanto aos modelos


mais realistas e quanto à análise empírica

 Análise normativa: estando em causa juízos de


valor, não é consensual entre os economistas:
 a hierarquização dos critérios normativos (a
prioridade de cada critério relativamente aos
restantes)

 o grau de conflito entre os critérios

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Divergência entre economistas

Tarefa: Dê um exemplo de três medidas de políticas


públicas em que existe um conflito entre dois critérios
normativos:

 Eficiência e equidade

 Equidade e liberdade

 Eficiência e liberdade

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Divergência entre economistas

Qual é a prioridade?

Eficiência Equidade Eficiência


Equidade Liberdade Liberdade

Taxas Sigilo Bancário Impostos que


Moderadoras nas incidem sobre a
urgências dos circulação e
hospitais aquisição de
veículos
Subsídio de Aumento dos
desemprego impostos sobre o
tabaco
Salário Mínimo Proibição de
Nacional fumar nos
espaços públicos
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Divergência entre economistas: eficiência versus equidade

Exemplo 1) Taxas Moderadoras nas Urgências dos


Hospitais
 Critério normativo da eficiência:
 O efeito esperado do aumento das taxas
moderadoras nas urgências será desincentivar
as idas de doentes às urgências cujo estado de
saúde não o justifique, com a consequente
melhoria da eficácia do serviço no atendimento
aos verdadeiros casos de urgência
 Portanto, os economistas/decisores que
valorizem o critério normativo da eficiência
tendem a concordar com esta prática
Flora Cunha Lobo 20
Divergência entre economistas: eficiência versus equidade

Exemplo 1) Taxas Moderadoras nas Urgências dos


Hospitais
 Critério normativo da equidade:
 Os economistas/decisores que valorizem o
critério normativo da equidade tendem a
ponderar o facto de os cidadãos de mais baixos
recursos económicos poderem estar a ser
excluídos do acesso a um serviço (o dos
cuidados de saúde) que é um direito social
básico
Flora Cunha Lobo 21
Divergência entre economistas: eficiência versus equidade

Exemplo 2) Subsídio de desemprego


 Critério normativo da equidade: ????

 Critério normativo da eficiência: ???

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Divergência entre economistas: eficiência versus equidade

Exemplo 3) Salário mínimo nacional

 Critério normativo da equidade: ????

 Critério normativo da eficiência: ????

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Divergência entre economistas: equidade versus liberdade

Exemplo 4) Sigilo bancário


 Critério normativo da equidade:
 Instrumento eficaz na promoção de uma maior
equidade fiscal (combate à evasão e fraude fiscal, à
corrupção e ao branqueamento de capitais) no
cumprimento das obrigações dos contribuintes
 Critério normativo da liberdade:
 A quebra do sigilo bancário representa uma violação da
esfera privada dos cidadãos, aspeto que as políticas
públicas têm que ponderar, pelo que injustificável (???)
como meio para promover a equidade
Flora Cunha Lobo 24
Divergência entre economistas: eficiência versus liberdade

Exemplo 5) Impostos que incidem sobre a circulação (sobre os


proprietários de veículos) e aquisição de veículos
 Critério normativo da eficiência:
 Há um conjunto de despesas públicas associadas ao uso do
automóvel (manutenção e construção de estradas, policiamento das
estradas, tratamento das vítimas de acidentes, qualidade ambiental),
que se traduzem nos custos sociais provocados pelo uso do
automóvel, superiores ao custo privado para o seu
proprietário/utilizador

 os proprietários devem pagar o imposto (que traduz o


custo social) de modo a incorporarem esse custo nas
decisões sobre o uso do automóvel (questão da
eficiência)
Flora Cunha Lobo 25
Divergência entre economistas: eficiência versus liberdade

Exemplo 5) Impostos que incidem sobre a circulação (sobre os


proprietários de veículos) e aquisição de veículos
 Critério normativo da liberdade (negativa):
 O imposto poderá interferir com a liberdade de
escolha dos indivíduos em relação à aquisição
de bens cuja tributação tem um grande peso nas
receitas do orçamento do estado
 O imposto sobre a aquisição de veículos é
relevante na formação da decisão de aquisição
de um novo veículo, podendo funcionar como
incentivo para a compra de outros bens em
detrimento do automóvel (habitação, por
exemplo)
Flora Cunha Lobo 26
Divergência entre economistas: eficiência versus liberdade

Exemplo 6) Impostos sobre o tabaco/proibição de fumar em


espaços públicos
 Critério normativo da eficiência
 O imposto é a resposta às externalidades
negativas para toda a sociedade associadas
ao consumo do tabaco

Critério normativo da liberdade (negativa)


 Este tipo de medidas é uma forma abusiva do
Estado interferir na capacidade de escolha
privada dos cidadãos

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Fundamentos para a intervenção pública

 Este capítulo apresenta os fundamentos


microeconómicos para a intervenção do setor
público na economia, ou, dito de outra forma, sobre
as funções do setor público.

 De acordo com Musgrave, as funções do setor


público são:
 (I) Afetação (ótica microeconómica)
 (II) Distribuição (ótica microeconómica)
 (III) Estabilização (ótica macroeconómica)

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Fundamentos para a intervenção pública

(II) Função Distribuição: promover uma sociedade mais justa,


corrigindo a distribuição de riqueza e rendimento que decorre do
mercado
 Contribuir para uma maior igualdade de oportunidades
 o Estado intervém na provisão em espécie de certos bens e
serviços (bens de mérito) para assegurar que todos os cidadãos
têm acesso a esse tipo de bens e serviços (cuidados básicos de
saúde, ensino básico)
 Contribuir para alterar as desigualdades de riqueza e
rendimentos
 correção da distribuição de riqueza e rendimento que decorre da
lógica do mercado
 redistribuição de rendimentos realizada através das
transferências, dos impostos e dos subsídios
governamentais

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Fundamentos para a intervenção pública

(III) Estabilização (ótica macroeconómica)

Aplicação de políticas públicas que visam promover:

i) o emprego,

ii) a estabilidade de preços,

iii) o equilíbrio das contas externas e

iv) o crescimento económico

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Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação

melhorar a eficiência na afetação dos


recursos, sendo que as ineficiências na
afetação dos recursos resultam das
falhas de mercado

Flora Cunha Lobo 31


Fundamentos para a intervenção pública

 (I) Função Afetação:

 As falhas de mercado são fenômenos que impedem que a


economia alcance a eficiente afetação dos recursos segundo
o ótimo de Pareto, ou seja, o estágio de welfare economics
(estado de bem-estar social) através do livre funcionamento
do mercado, sem interferência do governo.

 Uma afetação de recursos eficiente (critério de Pareto) é


aquela em que ninguém poderá melhorar a sua situação
sem ser à custa da diminuição do bem-estar de outrem

Flora Cunha Lobo 32


Fundamentos para a intervenção pública

 (I) Função Afetação

 Os mercados conduzem a uma eficiente afetação dos


recursos sse:
 Forem mercados perfeitamente competitivos
(cumprimento de pressupostos apertados)
 Os bens sejam privados
 Os custos das decisões dos agentes económicos
(consumidores e produtores) forem internalizados
 Simetria de informação entre os agentes
económicos

Flora Cunha Lobo 33


Fundamentos para a intervenção pública

 (I) Função Afetação


Falhas/Fracassos de mercado : definição
A transação de um bem ou serviço não se realiza de todo (fracasso
total, não há mercado para esse bem) ou são transacionadas
quantidades (de equilíbrio) que não são as quantidades ótimas
(fracasso parcial)
Falhas/Fracassos de mercado: razões/fontes
 Existência de bens públicos
 Existência de externalidades
 Ausência de mercados concorrenciais (imperfeições na
concorrência)
 Situações de informação assimétrica (assimetria de
informação entre os agentes económicos)
Flora Cunha Lobo 34
Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação


Fracassos de Mercado-Bens Públicos
 Um bem público puro caracteriza-se pela não rivalidade no
consumo e pela não exclusão (a exclusão ou não é possível
ou, caso seja possível, não é desejável)

 Exemplos de bens públicos puros: iluminação pública das


ruas, luz do farol, segurança pública, defesa nacional

 Duas questões:

 Questão da Rivalidade no Consumo

 Questão da Exclusão

Flora Cunha Lobo 35


Fundamentos para a intervenção pública

Bens Públicos: Não rivalidade no consumo


 O consumo é rival se o consumo de um bem (ou
serviço) por parte de um indivíduo limita a quantidade
do bem disponível para consumo por parte do outro
indivíduo
 Se dois indivíduos (1 e 2) desejam consumir um
bem rival X, o consumo conjunto será a soma do
que cada um consome:
X1+X2=X
 Nos bens privados o consumo é rival

Flora Cunha Lobo 36


Fundamentos para a intervenção pública

Bens Públicos: Não rivalidade no consumo


 O consumo não é rival se o consumo de um bem
(ou serviço) por parte de um indivíduo em nada
subtrai a quantidade disponível do bem para os
restantes indivíduos consumirem
 Se o consumo do bem Y é não rival, aquilo que é
fornecido é imediatamente disponibilizado para
todos os indivíduos na mesma quantidade:
Y1=Y2=Y
 Nos bens públicos o consumo não é rival

Flora Cunha Lobo 37


Fundamentos para a intervenção pública

Bens Públicos: Não exclusão no consumo


 Um bem é passível de exclusão se é possível excluir um indivíduo
do consumo do bem
 Nos bens privados há possibilidade de exclusão, nomeadamente
através do sistema de preços (mercado)
 Condições a observar para se praticar a exclusão:
 Possibilidade legal (direitos de propriedade): as praias
portuguesas são um exemplo de impossibilidade legal

 Viabilidade tecnológica: a iluminação pública é um exemplo de


impossibilidade tecnológica

 Razoabilidade económica: numa ponte não congestionada não


faz sentido a aplicação de portagens para limitar o transito

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Fundamentos para a intervenção pública

Bens Públicos: Não exclusão no consumo


 Nos bens públicos a exclusão ou não é possível ou
sendo possível, a baixo custo, não é desejável

 Não havendo rivalidade no consumo, o custo


adicional de se ter mais um indivíduo a consumir o
bem público é nulo, pelo que o racionamento de um
bem não congestionado é ineficiente (porque não
há benefícios com a exclusão, isto é, o consumo é
diminuído sem que daí resulte algum benefício)

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Racionamento de um bem não gongestionado

 Exemplo: parque natural em que a capacidade


máxima (nº visitantes/hora) é dada por Q Máx
P

P1

Q
Q1 Q0 Q MÁX

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Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação


Fracassos de Mercado-Bens Públicos
Dadas as suas características dos bens públicos puros (não
rivalidade e não exclusão), o setor privado não tem incentivo
para os produzir

Razão principal: não rivalidade e comportamento “borlista”( free-


rider) dos agentes que podem beneficiar de um bem sem para ele
contribuírem: cada indivíduo sabe que se não contribuir, mas os
outros contribuírem, também irão beneficiar do bem público.
Significa isto que havendo uma proporção significativa de
agentes económicos a atuar desta forma, a provisão do bem será
ineficiente; se todos agirem dentro dessa lógica, a provisão no
mercado será nula
Flora Cunha Lobo 41
Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação

Fracassos de Mercado-Ausência de Concorrência

Exemplo: Monopólios Naturais: a situação de monopólio (uma


única empresa a operar no mercado) não resulta de barreiras à
entrada artificiais, mas de barreiras naturais, isto é, da
circunstância de no setor de atividade em causa existiram
economias de escala ou rendimentos à escala crescentes: os
custos unitários de produção diminuem à medida que aumenta o
volume de produção
Ex: sistema de saneamento e distribuição de água, distribuição
de energia elétrica, transporte ferroviário

Flora Cunha Lobo 42


Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação

Fracassos de Mercado-Ausência de Concorrência

Duas formas possíveis de intervenção do governo –

produção do bem ou serviço ou exercendo apenas a

regulação a fim de impedir cobrança de preços

abusivos aos consumidores .

Flora Cunha Lobo 43


Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação

Fracassos de Mercado-Externalidades

Existe uma externalidade quando a ação de um agente afeta

significativamente o bem-estar de outro agente, e esse efeito não

é transmitido através do sistema de preços

Exemplo: poluição de uma fábrica que afeta a qualidade da água

e do ar

Flora Cunha Lobo 44


Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação

Fracassos de Mercado-Externalidades

Externalidade negativa versus externalidade positiva

Uma externalidade negativa (positiva) gera um custo (benefício)

marginal externo que é o custo (benefício) adicional, em todos os

agentes económicos afectados pela externalidade, de se produzir

uma unidade adicional do bem

Flora Cunha Lobo 45


Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação

Fracassos de Mercado-Externalidades

Custo/benefício marginal privado e social

Uma externalidade negativa introduz uma divergência entre


custo marginal privado (CMP) e custo marginal social (CMS)

Uma externalidade positiva introduz uma divergência entre


benefício marginal privado (BMP) e benefício marginal social
(BMS)

Flora Cunha Lobo 46


Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação


Fracassos de Mercado-Externalidades
Exemplo: externalidade negativa na produção:
poluição ambiental associada à produção de um dado
bem CMS=CMP+CME

Custo Marginal Privado (CMP): custo adicional privado resultante


da produção de uma unidade adicional do bem
Custo Marginal Social (CMS): soma do custo marginal privado
(CMP) com o custo marginal externo (CME)
Custo Marginal Externo (CME): custo adicional, para todos os
agentes económicos afetados pela exernalidade negativa, da
produção de uma unidade adicional do bem

Flora Cunha Lobo 47


Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação


Fracassos de Mercado-Externalidades
Exemplo: externalidade negativa na produção:
poluição ambiental associada à produção de um dado
bem

Custo Marginal Externo (CME): custo adicional, para todos os


agentes económicos afetados pela exernalidade negativa, da
produção de uma unidade adicional do bem

Externo porque não é incorporado pela empresa produtora do


bem no cálculo do preço do bem, donde resulta que a afetação
dos recursos é ineficiente

Flora Cunha Lobo 48


Externalidade negativa na produção
S: CMS=CMP+CME

Preço de PX CME
Equilíbrio de S (CMP)
Mercado (PE) P*
inferior ao
Preço ótimo PE E
(P*)

Quantidade de D
CME
Equilíbrio de
Mercado (QE)
superior à
Q* QE
Quantidade QX
Ótima (Q*)
Flora Cunha Lobo 49
Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação


Fracassos de Mercado-Externalidades
Exemplo: externalidade negativa na produção:
poluição ambiental associada à produção de um dado
bem

Solução:
Imposto pigouviano: imposto unitário ou imposto específico T (por
unidade produzida ) igual ao custo marginal externo para o nível de

output eficiente:
T= CME(Q*)

Flora Cunha Lobo 50


Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação


Externalidades:
Externalidade Negativa: os mercados tendem a
produzir em excesso e a um preço abaixo do ótimo
Solução: Tributação (imposto pigouvianos)
Regulamentação

Externalidade Positiva: os mercados tendem a


produzir de forma insuficiente e a um preço acima do
ótimo
Solução: Subsidiar (subsídios pigouvianos)
Regulamentação
Flora Cunha Lobo 51
Fundamentos para a intervenção pública

(I) Função Afetação


Fracassos de Mercado: Informação Assimétrica

 Justifica-se a intervenção do Estado PORQUE o


mercado por si só não fornece a informação
necessária para que os consumidores tomem suas
decisões racionalmente.

 Ex: exigência de que balanços das empresas com


cotação em bolsa sejam publicados pela imprensa;
regulação da informação que tem que ser prestada
aos agentes económicos

Flora Cunha Lobo 52


Tópicos de reflexão

1) Explique duas importantes razões pelas quais os mercados


fracassam e de que forma o Estado intervém para tentar
ultrapassar essas falhas nos mercados

2) Clarifique o conceito de não rivalidade no consumo, dando o


exemplo de um caso concreto. Explique porque é que é
ineficiente o pagamento de um preço para acesso e consumo
de um bem não rival.

3) A possibilidade de excluir indivíduos do consumo de um bem


tem uma dimensão tecnológica e jurídica. Por sua vez, a
racionalidade de excluir tem uma dimensão económica.

Flora Cunha Lobo 53


Teorias sobre o papel do Estado

 Diferentes conceções sobre as finanças públicas e


o papel do sector público baseiam-se em diferentes

conceções acerca:

 Do papel do Estado

 Do papel dos mercados

 Três questões fundamentais:


 Qual a justificação para a existência do Estado?
 Qual a dimensão ideal do sector público?
 Qual a composição desejável da despesa pública?

Flora Cunha Lobo 54


Teorias sobre o papel do Estado

 Três conceções do Estado:

 O Estado mínimo: a primazia do

mercado

 O Estado protetor ou de bem-estar

 O Estado imperfeito

Flora Cunha Lobo 55


Teorias sobre o papel do Estado

 Estado Mínimo
 Peso reduzido do sector público na economia mista (10-15%
do produto)

 Criar as condições para que os mercados possam funcionar


(defesa nacional, segurança, justiça)

 Fornecer alguns bens que, mesmo que os mercados


funcionem livremente, nunca serão produzidos

 A razão da intervenção do Estado tem a ver, essencialmente,


com a função afectação

Flora Cunha Lobo 56


Teorias sobre o papel do Estado

 Estado Protetor
A razão essencial do Estado de bem-estar é a função

distribuição, assegurada a dois níveis:

 Redistribuição de rendimento

 Fornecimento de bens e serviços básicos, ou

primários

Flora Cunha Lobo 57


Teorias sobre o papel do Estado

 Estado Protetor
 Parte de uma conceção diferente dos mercados
 É um estado que intervém num esforço de modificar o
funcionamento das forças de mercado em pelo menos três
direções:
1. Garantindo aos indivíduos e às famílias um rendimento
mínimo independente do valor de mercado da sua
propriedade
2. Diminuindo a extensão da insegurança, permitindo aos
indivíduos e famílias fazerem face a ‘contingências
sociais’
3. Assegurando que a todos os cidadãos, sem distinção
de status ou classe, seja oferecido um certo tipo de
serviços sociais
Flora Cunha Lobo 58
Teorias sobre o papel do Estado

 Estado Imperfeito
 Será que o Estado prossegue sempre o interesse público?

 Hipótese: os cidadãos, quer na esfera privada (dos mercados)

quer na esfera pública, defendem essencialmente os seus

interesses

 Visão crítica e algo negativa do Estado:

Flora Cunha Lobo 59


Teorias sobre o papel do Estado

 Estado Imperfeito
 Visão crítica e algo negativa do Estado:

 Burocracia: governos com menor informação que os


agentes da administração que supostamente controlam

 Ciclos político-económicos: decisões políticas sujeitas


aos ciclos eleitorais

 Inconsistência inter-temporal: tendência endémica para se


gerarem défices em regimes democráticos (sacrifício das

gerações futuras, que não podem votar)

Flora Cunha Lobo 60


Papel do Estado / tipo de finanças públicas
Finanças Clássicas (Estado mínimo)

 Despesa publica o mais reduzida possível

 A atuação financeira do Estado não deve perturbar a atividade


económica do mercado

 Aplicação estrita do princípio da legalidade

 A importância primordial do imposto (em detrimento do


património do Estado que deve ser diminuto, e do crédito que
só deve ser usado em caso de calamidade ou guerra)

 Principio do equilíbrio orçamental – a regra de ouro das


finanças clássicas

Flora Cunha Lobo 61


Papel do Estado / tipo de finanças públicas

 Finanças Clássicas (Estado mínimo)


 Despesas: (f. afectação) bens públicos:
diplomacia, defesa, segurança interna, justiça,
infraestruturas
 Receitas: Impostos (não recurso à dívida)
 Saldo orçamental: equilibrado
 Função das finanças públicas: cobrir as
despesas públicas com mínima interferência nos
agentes privados
Dimensão do sector público: 8-12% do PIB
Enquadramento histórico: séc. XVIII e XIX; escola clássica
inglesa
Flora Cunha Lobo 62
Papel do Estado / tipo de finanças públicas

 Finanças Intervencionistas ( Estado de Bem-estar)


 Despesas: (funções afectação, redistribuição e
estabilização)
 Receitas: Impostos e dívida pública
 Saldo orçamental: aceita-se défices
(particularmente em recessão)
 Função das finanças públicas: financiar despesas
em
bens públicos, redistribuição e incentivos à atividade
económica
Dimensão do sector público: 40%-60% do PIB
Enquadramento histórico: Keynesianismo
Flora Cunha Lobo 63
Papel do Estado / tipo de finanças públicas

Constitucionalismo financeiro (Estado imperfeito)


 Nas décadas de 70 a 90 certos economistas
questionaram se não seria excessivo que o sector
publico ultrapassasse os 60% do PIB
 dimensão do sector publico: relacionada com o
peso dos juros na estrutura da despesa pública.
 restrições às atividades dos governos
democráticos, quer de natureza constitucional, quer
de natureza procedimental das decisões politicas
(orçamentais ou não):
Regras para limitar o défice e a dívida pública

Flora Cunha Lobo 64


Papel do Estado / tipo de finanças públicas

Constitucionalismo financeiro (Estado imperfeito)

 Visão mais radical: orçamentos equilibrados


anualmente (ficou consagrada no Pacto Orçamental
de 2012)

 Visão mais moderada: definição de trajetórias de


défice e de divida publica em função de valores de
referencia e do ciclo económico.

Flora Cunha Lobo 65


Papel do Estado / tipo de finanças públicas

Constitucionalismo financeiro (Estado imperfeito)

 função de afetação e redistribuição

 A função de redistribuição deve ser generalista –


princípios gerais – e não dirigida a interesses
específicos, para evitar que benefícios e incentivos
fiscais deem origem a injustiças e atividades de
procura de rendas por parte de outros agentes que
pretendem idênticos benefícios.

Flora Cunha Lobo 66


Papel do Estado / tipo de finanças públicas
Finanças Públicas Modernas
 Finanças sustentáveis: défices públicos e dívida pública controlados:
estabilidade intertemporal)

 Prioridades do Orçamento do Estado:

 Afectação de recursos para o crescimento económico, promoção


da justiça social e diminuição das desigualdades (combate à
pobreza)

 Despesas correntes financiadas por impostos e as despesas de


capital pelo recurso à dívida (em parte)

 A atividade financeira do Estado estende-se à existência de um


sector empresarial do Estado

Flora Cunha Lobo 67

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