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ENSINO E

PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO

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ENSINO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO

O M-LEARNING COMO APOIO AO ENSINO


EM ADMINISTRAÇÃO
M-LEARNING AS SUPPORT FOR TEACHING IN ADMINISTRATION

Thais Vieira de Lima Fernando Filardi


UNIGRANRIO IBMEC

Angilberto Sabino de Freitas Data de submissão: 09 out. 2017. Data de aprovação:


UNIGRANRIO 10 fev. 2018. Sistema de avaliação: Double blind review.
Universidade FUMEC / FACE. Prof. Dr. Henrique Cordeiro
Martins. Prof. Dr. Cid Gonçalves Filho.
Jorge Brantes Ferreira
PUC-Rio

RESUMO

O objetivo deste estudo é apresentar um protocolo para o uso do mobile learning


(m-learning) como modalidade complementar ao ensino presencial de Administra-
ção. Por meio da metodologia da Design Research, utilizou-se o Modelo para Análi-
se Racional de Educação Móvel, com base na Teoria da Aprendizagem Experiencial,
para desenvolver o artefato (protocolo), composto por 7 elementos: a) Questio-
nário Diagnóstico; b) Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA); c) Comunidade de
prática online; d) Reuniões presenciais de grupo; d) Realização de evento; e) Avalia-
ção final; f) Grupo Focal. Os resultados indicam que o protocolo é adequado para
a elaboração de estratégias e atividades de mobile learning. Foram encontradas
evidências que reforçam o modelo teórico adotado neste estudo, principalmente
devido aos seus aspectos sociais: interação; promoção de contextos autênticos; e
formação de comunidades de aprendizagem. Os resultados também apontam bar-
reiras no uso do m-learning, como: a resistência à mudança; o baixo grau de critici-
dade dos estudantes; e a exigência de uma sólida formação didático-pedagógica do
professor universitário. O protocolo proposto pretende contribuir com uma nova
perspectiva sobre o uso da tecnologia móvel no processo de ensino-aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE

Mobile Learning. Inovação. Design Research. Ensino Superior. Professores

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O M-LEARNING COMO APOIO AO ENSINO EM ADMINISTRAÇÃO

ABSTRACT

This study aims to propose a protocol for the use of mobile learning as a complementary
learning method to traditional lectures for the teaching of Business Administration in High-
er Education. Through the employment of Design Research and the Framework for the
Rational Analysis of Mobile Education, based on the Experiential Learning Theory, a proto-
col was developed, composed of 7 elements: a) Diagnostic Questionnaire; b) Virtual Learn-
ing Environment (VLE); c) Online Practice Community; d) Group face-to-face meetings; d)
Event Accomplishment; e) Final evaluation; f) Focus Group. The results indicate that the
proposed protocol is adequate to develop teaching strategies and activities employing mo-
bile learning, with evidence corroborating the theoretical framework adopted in this study,
with particular significance to its social aspects: interaction, contextually and the fostering
of learning communities. The results also point to barriers that might hinder m-learning
usage, such as resistance to change, low levels of critical thinking among students and the
requirement of solid pedagogical knowledge by higher education instructors.The proposed
protocol aims to contribute with a fresh perspective on the use of mobile technology to
enhance learning, suggesting best practices that might help its usage as a teaching tool.

KEYWORDS

Mobile Learning. Innovation. Design Research. Higher Education. Teachers

INTRODUÇÃO de ensino-aprendizagem, caracterizando o


As tecnologias móveis tornaram-se que se pode ser chamado de mobile lear-
comuns em nossa sociedade. Atualmen- ning ou m-learning (FERREIRA et al., 2013).
te, são mais de 277 milhões de celulares O mobile learning ou m-learning pode ser
ativos no Brasil, de acordo com dados de entendido como um sistema de aprendiza-
2014 divulgados pela Agência Nacional de gem apoiado pelo uso de dispositivos mó-
Telecomunicações (ANATEL). Conforme veis, como telefones celulares, smartphones
a reguladora, a média nacional equivale a e tablets, caracterizado pelo acesso à in-
1,37 aparelho celular ativo por habitante formação e ao conhecimento em qualquer
(http://www.anatel.gov.br). Segundo o rela- lugar e a qualquer momento, sendo capaz
tório da consultoria IDC (2015), o Brasil de promover uma aprendizagem contex-
ocupa atualmente a quarta colocação en- tualizada, trazendo conveniência, contro-
tre os maiores mercados do mundo, atrás le e maior autonomia para o estudante
de China, Estados Unidos e Índia (http:// (TRAXLER, 2007; SHARPLE et al., 2007).
www.br.idclatin.com). Por ocuparem esse Essas potencialidades proporcionadas
papel quase indispensável na vida cotidia- pelo uso das tecnologias móveis como
na, os dispositivos móveis podem vir a de- recurso para a educação têm instigado as
sempenhar uma função crítica no processo Instituições de Ensino Superior (IESs) a

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buscarem novas linguagens e a descobri- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


rem alternativas ao processo de ensino O mobile learning ou m-learning é uma
-aprendizagem (SCHLEMMER et al., 2015). modalidade de ensino e aprendizagem que
Na possibilidade de adotarem o m-learning, abre um leque de novas oportunidades
algumas IESs precisam procurar, além de para a educação. Fatores como o acesso
criar um ambiente mais alinhado com a rápido e fácil à informação em um único
nova sociedade do conhecimento, desen- dispositivo ao qual as pessoas já estão fa-
volver outras possibilidades de ensino mais miliarizadas e afetivamente ligadas podem
adequadas ao perfil do discente atual, imer- facilitar o desenvolvimento dessa modali-
so nesta era digital (FREITAS, 2009; FREI- dade, assim como diversos outros aspectos
TAS; BANDEIRA-DE-MELLO, 2012). que impulsionam o m-learning (SHIH; MILLS,
Apesar do m-learning ser uma tecnologia 2007). Suas principais potencialidades são:
educacional disponível há algum tempo, ain- (1) possibilidades de contextualização; (2)
da demanda investigação mais rigorosa, em ubiquidade; (3) autonomia e controle; (4)
função da necessidade de preparar os indi- aproveitamento do tempo; e (5) a colabo-
víduos, não só para o uso das ferramentas ração (SHARPLES et al., 2007; TRAXLER,
tecnológicas no sentido instrumental, mas 2007; FERREIRA et al., 2013).
também de prepará-los no aspecto pedagó- Mesmo diante dessas potencialidades, a
gico, buscando maior imersão nas diferenças disseminação do uso do m-learning tem en-
entre os modelos presencial e virtual (FER- frentado barreiras e limitações que também
REIRA et al., 2013). Para Chu et al. (2010), precisam ser consideradas, tais como: (1)
um grande problema ocorre devido à falta barreiras técnicas (baixa qualidade de cone-
de estratégias ou ferramentas de aprendiza- xão das redes móveis, capacidade limitada
gem adequadas para ajudar os estudantes a de armazenamento de dados dos dispositi-
adquirirem conhecimento usando dispositi- vos móveis, etc.); (2) barreiras ergonômicas
vos móveis. (tela pequena e a dificuldade em digitar tex-
Assim, este estudo tem por objetivo tos longos); (3) barreiras culturais (neces-
propor a elaboração de um protocolo que sidade de “alfabetização digital”, resistência
possa usar o m-learning como suporte ao à mudança, etc.); (4) a necessidade de um
processo de ensino-aprendizagem em cur- planejamento elaborado, capaz de combinar
sos de graduação de administração. Apli- diferentes métodos de ensino; e (5) a au-
cando o Modelo para Análise Racional de sência de um modelo pedagógico específico
Educação Móvel (FRAME), proposto por para essa modalidade (SCHLEMMER et al.,
Koole (2009), e com base na Teoria da 2007; FERREIRA et al., 2013).
Aprendizagem Experiencial de Kolb (1976),
é proposto um protocolo para a elabora- Práticas de mobile learning
ção de estratégias e atividades de m-lear- Ao revisar a literatura, é possível iden-
ning com 62 estudantes de graduação em tificar uma série de diferentes práticas de
Administração. Diferentes potencialidades m-learning, desde aplicações simples como
do m-learning e dinâmicas de aprendizagem o uso de SMS, e-mail, redes sociais e inte-
experiencial foram exploradas durante a ração com ambientes virtuais de aprendi-
aplicação empírica do artefato. zagem (AVA) para apoiar o ensino tradi-

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cional, até o uso de sistemas sofisticados Modelo para Análise Racional de Educação
e especificamente desenvolvidos para essa Móvel (FRAME) de Marguerite Koole (2009),
modalidade de educação como: (1) a cria- que entende o m-learning como um processo
ção de aplicativos específicos; (2) o uso resultante da convergência das tecnologias
de tecnologia de radiofrequência (RFID); móveis com a capacidade de aprendizagem
e (3) mundos virtuais em terceira dimen- dos indivíduos e de interação social. Esse mo-
são (MV3D) entre outras práticas (ver, por delo (figura 1) trata de questões pedagógicas,
exemplo: CHU et al., 2010; FERREIRA et como a sobrecarga de informação, navegação,
al., 2013; MACHADO et al., 2013). conhecimento e aprendizagem colaborativa.
Percebe-se que existem muitas aplica- O modelo FRAME, com ênfase no cons-
ções possíveis para o uso das tecnologias trutivismo, destaca o papel da tecnologia,
móveis, que podem incluir o trabalho, o la- em que o dispositivo móvel é um compo-
zer e a aprendizagem formal ou informal. nente ativo e em pé de igualdade com a
Porém, é importante lembrar que ao se aprendizagem e com os processos sociais.
adotar o m-learning é necessário priorizar A palavra racional refere-se à crença de
o aspecto didático-pedagógico, para que que a razão é a fonte primária de conhe-
sejam consideradas as diferentes carac- cimento e que a realidade é construída ao
terísticas ligadas a cada prática, buscando invés de descoberta (KOOLE, 2009). O
sua adequação aos diversos contextos de modelo descreve um modo de aprendiza-
aprendizagem (FERREIRA et al., 2013). gem no qual o aprendiz pode mover-se por
diferentes locais físicos e virtuais, e assim
Modelo Teórico FRAME participar e interagir com outras pessoas,
Para a elaboração do artefato (protoco- informações ou sistemas, em qualquer lu-
lo) proposto nesta pesquisa, foi utilizado o gar e a qualquer hora.

FIGURA 1 – Modelo FRAME


Fonte: Adaptado de Koole (2009).

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Aspecto Dispositivo (D) Aspecto Social (S)


O Aspecto Dispositivo (D) refere-se às O Aspecto Social leva em conta os pro-
características físicas, técnicas e funcionais cessos de interação social e de cooperação
de um dispositivo móvel (quadro 1). Essas (quadro 3). Regras de cooperação são deter-
características possuem um impacto signi- minadas pela cultura do aluno ou pela cultura
ficativo sobre os níveis de conforto físico e em que a interação acontece. No m-learning,
psicológico dos usuários. essa cultura pode ser física ou virtual.

Aspecto Aluno (A) Interseção Usabilidade do Dispositi-


O Aspecto Aluno (A) leva em conta vo (DA)
as habilidades cognitivas do indivíduo, A Usabilidade do Dispositivo relaciona as
a memória, o conhecimento prévio, características dos dispositivos móveis para
as emoções e as motivações possíveis tarefas cognitivas com a manipulação e ar-
(quadro 2). mazenamento de informações (quadro 4).

QUADRO 1 – Aspecto Dispositivo


CATEGORIAS DE ANÁLISE - DISPOSITIVO (D)
Critério Exemplos e Conceitos Comentários
Tamanho, peso, localização de botões e teclas, re- Afeta o modo como o usuário pode manipular
Características físicas
quisito mão direita / esquerda. o dispositivo.
Capacidade de entrada Conectar teclado, mouse, touchscreen, reconheci- Muitas vezes não permitem que periféricos se-
(input) para periféricos mento de voz, etc. ao dispositivo móvel. jam conectados ao aparelho.
Capacidade de saída É a capacidade de conectar o dispositivo móvel a Muitas vezes possuem limitações nos meca-
(output) para periféricos monitores, alto-falantes, etc. nismos de saída para conectar periféricos.
A velocidade de resposta curta ou longa pode
Agilidade do processador Taxas de resposta; velocidade.
afetar as taxas de erro.

Fonte: Adaptado de Koole (2009).

QUADRO 2 – Aspecto Aluno


CATEGORIAS DE ANÁLISE - ALUNO (A)
Critério Exemplos e Conceitos Comentários
Estruturas cognitivas prontas na memória; ancora-
Conhecimento prévio Facilita a compreensão de novos conceitos.
gem de ideias.
As técnicas para a codificação, como o uso de pis-
Incluir recursos multimídia;fornece vários es�-
tas contextuais: categorização, mnemônicos, me-
Memorização tímulos que podem ajudar o aluno a entender
mória semântica e episódica, tátil, auditiva, olfativa,
conceitos.
imaginativa, visual, cinestésica.
O uso ativo da informação para ajudar o aluno
Contextualização e
Inerte x conhecimento ativo. a lembrar, entender e transferir conceitos para
transferência
contextos variados.
Pode estimular o aluno a desenvolver habilida-
Aprendizagem pela Aplicação de procedimentos e conceitos a uma
des para filtrar e reconhecer informações rele-
descoberta nova situação; soluções para problemas novos.
vantes.
Sentimentos do aluno em relação a uma tarefa; ra- A vontade do aluno pode influenciar seu estado
Emoções e motivações
zões para realizar uma tarefa. emocional ou desejo de realizar uma tarefa.
Fonte: Adaptado de Koole (2009).

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QUADRO 3 – Aspecto Social


CATEGORIAS DE ANÁLISE – SOCIAL (S)
Critério Exemplos e Conceitos Comentários
Constrangimentos sociais; 4 regras máximas: quantidade,
Afeta a qualidade e quantidade da comunica-
qualidade, relação e modo. A comunicação deve ocorrer em
Conversação e ção; falhas de comunicação podem ocorrer
quantidade adequada, com um bom nível de clareza e num
cooperação quando não é encontrada qualquer uma das
ambiente capaz de estimular a participação e acolher a di-
quatro máximas.
versidade de opiniões.
Acordo sobre o significado dos sinais e símbo-
Conversa como atividade de cooperação; partilha de signos
Interação social los pode afetar e reforçar o comportamento, as
e símbolos.
crenças sociais e culturais.
Fonte: Adaptado de Koole (2009).

QUADRO 4 – Interseção Usabilidade do Dispositivo (DA)


CATEGORIAS DE ANÁLISE – USABILIDADE DO DISPOSITIVO (DA)
Critério Exemplos e Conceitos Comentários
Afeta a capacidade do usuário de levar o disposi-
Portabilidade Portabilidade e durabilidade do dispositivo.
tivo para diferentes ambientes e climas.
Disponibilidade da A qualquer hora e em qualquer lugar, acessar infor- Permite uma aprendizagem em tempo real; as
informação mações armazenadas em um dispositivo. informações acompanham o usuário.
Learnability: facilidade do usuário de aprender e Afeta a carga cognitiva e a velocidade com a qual
conseguir usar o dispositivo o mais rápido possível; os usuários podem executar tarefas. Fragmentar
Conforto psicológico transparência e memorabilidade: quando o usuário a informação, simplificar telas e diminuir as ações
consegue lembrar como usa, mesmo após um perío- necessárias para realizar uma tarefa podem re-
do sem usar. duzir a carga cognitiva.
Como satisfação e prazer são altamente pes-
Design da interface e do dispositivo; funcionalidade;
Satisfação soais e culturalmente determinados. É muito di�
-
estilo cognitivo preferido.
fícil de prever.
Fonte: Adaptado de Koole (2009).

Interseção Tecnologia Social (DS) Interseção Processo de M-Learning


A Interseção Tecnologia Social descreve (DAS)
como os dispositivos móveis permitem a A Interseção principal do modelo FRA-
comunicação e a colaboração entre várias ME resulta da integração dos Aspectos do
pessoas e sistemas (quadro 5). Praticantes Dispositivo (D), do Aluno (A) e dos As-
do m-learning devem considerar o forneci- pectos Sociais (S). O m-learning promove
mento de repositórios digitais ou ambien- uma maior colaboração entre os alunos,
tes virtuais que auxiliem os alunos a se o acesso à informação e uma contextu-
comunicar, embora estejam fisicamente e alização mais profunda da aprendizagem
temporalmente separados. (quadro 7).

Interseção Aprendizagem Interativa (AS) Teoria da Aprendizagem Experiencial


A Interseção Aprendizagem Interati- A metodologia ativa diferencia-se do mé-
va representa uma síntese das teorias de todo clássico de ensino. Enquanto a segunda
ensino-aprendizagem, mas baseia-se forte- valoriza a transmissão de conhecimentos e
mente na filosofia do construtivismo social a memorização, a primeira entende a re-
(quadro 6). flexão experiencial como uma importante

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QUADRO 5 – Tecnologia Social (DS)


CATEGORIAS DE ANÁLISE – TECNOLOGIA SOCIAL (DS)
Critério Exemplos e Conceitos Comentários
Os vários padrões de conectividade permitem que
Networking do disposi- Redes Locais Sem Fio (WLAN), software de sin-
os usuários se conectem a outros usuários, sistemas
tivo (wi-fi, conectivida- cronização, wireless fidelity (Wi-Fi), conectividade
e informações, sendo importante o uso de conexões
de, etc.) celular.
em banda larga.
Conectividade do Os usuários devem ser capazes de trocar documen-
Acesso à internet e transferência de documentos
sistema tos e informações, dentro e entre os sistemas.
As ferramentas de colaboração permitem a coautoria
Ferramentas compartilhadas, como calendários,
Ferramentas de de documentos; a coordenação das tarefas; a realiza-
criação de documentos e ferramentas de geren-
colaboração ção de reuniões de forma síncrona ou assíncrona e a
ciamento de projetos.
tomada de decisões.
Fonte: Adaptado de Koole (2009).

QUADRO 6 – Aprendizagem Interativa (AS)


CATEGORIAS DE ANÁLISE – APRENDIZAGEM INTERATIVA (AS)
Critério Exemplos e Conceitos Comentários
Aluno-aluno; aluno-instrutor; aluno-conteú- Diferentes tipos de interação podem estimular a aprendi-
Interação do; Aprendizagem Baseada em Computador zagem em diferentes níveis de eficácia, dependendo da
(ABC); sistemas tutores inteligentes. situação, do aluno e da tarefa.
Uma proposição real e o público disponível para uma ta-
Cognição situada Autenticidade do contexto e audiência. refa de aprendizagem podem aumentar a motivação dos
alunos.
Comunidade de Aprendizagens cognitivas, diálogo, resolução Os alunos trabalham uns com os outros, num esforço para
aprendizagem de problemas, comunidades de prática. alcançar objetivos mútuos.
Fonte: Adaptado de Koole (2009)

QUADRO 7 – Interseção Processo de Mobile Learning (DAS)


CATEGORIAS DE ANÁLISE – INTERSEÇÃO PROCESSO DE MOBILE LEARNING (DAS)
Critério Exemplos e Conceitos Comentários

Ciclo Tarefa-Artefato (Task arte- A natureza da própria interação muda a forma como os alunos intera-
Mediação
fact cycle) mediação gem entre si, seus ambientes, ferramentas e informações.

Na produção do conhecimento, os professores determinam quais e


como as informações devem ser aprendidas. Na navegação no conheci-
Navegação no co- Produção de conhecimento vs.
mento, os alunos adquirem habilidades para selecionar adequadamen-
nhecimento navegação no conhecimento.
te, manipular e aplicar informações para as suas próprias situações e
necessidades.

Ruídos de comunicação, identi- Como a quantidade de informação disponível aumenta, os alunos de-
Acesso à informação
ficação de padrões e relaciona- vem redobrar os seus esforços, no sentido de reconhecer e avaliar a
e seleção
mentos, relevância e precisão. adequação e a precisão das informações.

Fonte: Adaptado de Koole (2009).

ferramenta de aprendizagem. O conceito de no é preciso apresentar situações para pro-


aprendizagem experiencial pode ser defini- mover experiências a partir das quais ele
do como “o processo pelo qual o conhe- possa aprender. O indivíduo é visto como
cimento é criado através da transformação agente no processo de aprendizagem, como
da experiência” (KOLB, 1984, p. 41). Ao alu- um sujeito que tem conhecimento prévio

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e um pensador que intervém na realidade, problema a ser solucionado e, juntamente


interagindo e estabelecendo relacionamen- com os participantes, elabora sugestões,
tos. Desse modo, o estudante passa a ocu- testa, avalia, refina e melhora as propostas
par o centro do processo de aprendizagem. iniciais, buscando encontrar a solução mais
O uso de aprendizagem experiencial implica adequada, que contribua tanto no aspecto
o desejo de examinar as forças emocionais, teórico quanto prático para a geração de
sociais e políticas que moldam a aprendiza- novos conhecimentos.
gem (KOLB, 1984). O artefato desenvolvido e aplicado em
Dentro desse contexto, o m-learning 62 estudantes da disciplina Gestão de Ser-
oferece muitas oportunidades de aplicação viço do curso de graduação em Adminis-
de metodologias ativas de aprendizagem. É tração de um centro universitário privado
o caso das aulas em laboratório, oficina, ta- do Rio de Janeiro foi um protocolo para o
refa em grupo, trabalho em equipe dentro desenvolvimento de estratégias e ativida-
e fora do ambiente escolar, visita técnica e des de m-learning. Para a escolha da IES par-
desenvolvimento de projeto. Essas ativida- ticipante, foram definidos alguns requisitos
des tendem a ser naturalmente participati- básicos como: (1) a existência de rede sem
vas e promovem o envolvimento do aluno fio de acesso à internet disponível para alu-
no processo de aprendizagem. nos e professores em todo o campus; (2) a
Assim como na Teoria da Aprendizagem qualidade e capacidade da rede; (3) política
Experiencial (TAE), o Modelo FRAME leva de uso; (4) perfil do aluno e dos professo-
em consideração tanto os processos de res; e (5) incentivo ao uso da tecnologia
aprendizagem sociais e pessoais quanto móvel.
as características técnicas dos dispositivos O artefato (protocolo) foi composto
móveis. Esse modelo privilegia a autonomia por 7 elementos:
do estudante, a interação, a colaboração, o 1. Questionário Diagnóstico - ins-
acesso rápido e fácil à informação e pro- trumento qualitativo e quantitativo,
move uma contextualização mais aprofun- autoadministrado, para avaliar as ex-
dada do processo de ensino e aprendiza- periências prévias dos alunos com os
gem (KOOLE, 2009 KEARNEY; BURDEN; dispositivos móveis. Aplicado antes
RAI, 2015). de iniciar o processo de m-learning.
2. Ambiente Virtual de Aprendi-
METODOLOGIA zagem (AVA) - uso do AVA da IES
A metodologia adotada nesta pesqui- para disponibilizar os materiais apre-
sa foi a Design Research (TAKEDA et al., sentados e produzidos pelos alunos,
1990). Um método de pesquisa que utili- professor da disciplina e pesquisado-
za a teoria para a construção de artefatos ra.
úteis. De acordo com Freitas Junior et al. 3. Comunidade de prática online –
(2015), na Design Research o pesquisador grupos de trabalho online para apro-
está inserido numa realidade, identifican- fundamento dos conteúdos tratados
do, compreendendo e propondo soluções em sala de aula e para acompanha-
para problemas ou necessidades reais. Ele mento da atividade prática propos-
gerencia o processo de pesquisa, propõe o ta na disciplina Gestão de Serviços.

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Os alunos foram divididos em sete res como: (1) necessidade do profes-


grupos para prestarem um serviço à sor adotar uma postura democrática
comunidade local em um evento pro- e dialógica; (2) dificuldade para acom-
movido pelo centro universitário. Fo- panhar o alto fluxo de mensagens; e
ram incentivadas a aprendizagem em (3) grupos de trabalho online inativos
contextos autênticos, a colaboração e desmotivados.
e a resolução de problemas de forma Com o intuito de promover o ambiente
cooperativa. necessário para o desenvolvimento do pro-
4. Reuniões presenciais de grupo tocolo, foi construído um cronograma de
– encontros de 15 minutos ao final atividades, alinhado com o plano de aula do
das aulas presenciais semanais para professor da IES, que estabeleceu para cada
acompanhamento das atividades pro- encontro presencial um objetivo apoiado
postas. pelas ações de m-learning (quadro 8).
5. Realização de evento – cada gru- As atividades previstas foram agrupadas
po escolheu um tema para prestar em 6 etapas: Observação, Sensibilização,
um serviço à comunidade. Desde a Escolha do tema, Fechamento dos mate-
escolha do tema até o registro por riais, Acertos finais e Realização do evento.
foto e vídeo no dia evento, todas as Inicialmente, todos os dados coletados
atividades foram feitas com o auxílio a partir dos questionários, grupo focal,
do dispositivo móvel e as informa- e-mails, mensagens de texto, áudio, vídeo e
ções e dúvidas foram imediatamente fotografias foram organizados e arquivados
compartilhadas com o grupo de tra- fisicamente e eletronicamente. Após essa
balho online. Os grupos elaboraram etapa, como se trata de um estudo multi-
materiais impressos, promoveram pa- método (qualitativo e quantitativo), foram
lestras e participaram da organização utilizadas técnicas de análise de conteúdo
do evento. Os serviços oferecidos (BARDIN, 1995) para tratar os dados qua-
por cada grupo foram estruturados litativos e técnicas estatísticas descritivas
de acordo com o conteúdo apresen- para os dados quantitativos. A opção por
tado em sala de aula sobre qualidade uma abordagem multimétodo permitiu
na gestão de serviços. uma análise mais aprofundada dos aspec-
6. Avaliação final - questionário qua- tos relacionados ao processo e a como a
litativo e quantitativo, autoadminis- pesquisa se integra ao fenômeno do uso
trado, respondido pelos alunos sobre das tecnologias móveis no ambiente de en-
suas impressões a respeito do uso do sino-aprendizagem em Administração.
m-learning como estratégia comple-
mentar à modalidade presencial de PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO
ensino. PROTOCOLO
7. Grupo Focal – coleta de dados reali- O processo de construção do artefato
zada com 5 alunos participantes e um (figura 2) partiu da revisão da literatura de
observador para aperfeiçoamento do teorias e modelos que contribuíssem para
artefato (protocolo). Nesse momen- o entendimento da adoção do m-learning e
to, surgiram questões complementa- suas práticas.A partir de então, adotou-se o

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O M-LEARNING COMO APOIO AO ENSINO EM ADMINISTRAÇÃO

QUADRO 8 – Atividades de mobile learning desenvolvidas durante o estudo e objetivos


dos encontros presenciais
ENCONTROS PRESENCIAIS
ATIVIDADES DE M-LEARNING
10 a 15 minutos aos finais nas aulas expositivas sobre
Gestão de Serviços

1º ENCONTRO – OBSERVAÇÃO

Participação da pesquisadora como observadora. -

2º ENCONTRO – SENSIBILIZAÇÃO

Envio do vídeo de sensibilização para a realização do evento de


encerramento da disciplina.
Aplicação do Questionário Diagnóstico.
Envio de link para acesso ao material complementar (brainstorm e
mapa mental) aos grupos de trabalho para auxiliar na organização
das ideias.
Envolvimento dos estudantes para a realização da atividade
supervisionada, oferta de um serviço à comunidade, por in-
Acompanhamento das sugestões e participação no debate para es-
termédio de um evento de encerramento. Criação de grupos
colha do tema a ser trabalhado.
de trabalho online, incluindo a pesquisadora como partici-
pante em todos os grupos.
Envio de material de apoio com os principais itens do conteúdo abor-
dados em sala de aula. Este material foi chamado de Drops.

3º ENCONTRO – ESCOLHA DO TEMA

Ampla troca de informações, pesquisa, colaboração e compartilha-


mento de dados (vídeos, links, textos e imagens) entre os membros
Após pesquisa e observação realizada por cada grupo so- dos grupos para a escolha do tema a ser desenvolvido.
bre as realidades que gostariam de abordar, foram esco-
lhidos os temas a serem trabalhados por cada equipe. A Envio de quiz a respeito do conteúdo visto em sala e sua relação
saber: Câncer de mama e próstata; Prevenção do alcoolis- com a qualidade do serviço a ser prestado pelos alunos no evento
mo; Economia de água; Lixo eletrônico; Ervas fitoterápicas; final.
Prevenção de doenças de 0 a 80 anos; e Campanha para
arrecadação de alimentos. Envio do Drops semanal.

4º ENCONTRO – FECHAMENTO DOS MATERIAIS

Envio de sugestões e modelos para auxiliar os alunos a organizarem as


informações e montarem um plano de ação (5W3H, PDCA).
Resolução em grupo sobre os textos a serem divulgados
nos panfletos, os equipamentos necessários, os convida-
Debate para resolução conjunta dos problemas.
dos externos e palestrantes, e a forma como o serviço seria
prestado nos estandes, seguindo as indicações presentes
Envio do Drops semanal.
na literatura estudada no curso sobre qualidade na gestão
de serviços.
Esclarecimento de dúvidas a respeito do conteúdo da disciplina, du-
rante a semana de prova.

5º ENCONTRO – ACERTOS FINAIS

Estudantes fazem prova da disciplina, respondem o Ques-


Definição do grupo sobre panfletos, brindes, decoração, equipamen-
tionário de Avaliação Final e combinam os últimos acertos
tos, palestrantes, convidados, etc.
para a oferta dos serviços nos estandes durante o evento.

6º ENCONTRO – REALIZAÇÃO DO EVENTO

Intensa troca de mensagens entre os grupos e a organização do


evento; registro e compartilhamento de fotos e vídeos entre os
Alunos realizam evento e aplicam pesquisa de satisfação grupos, durante o evento, para a elaboração de um relatório final;
dos serviços, de acordo com os critérios estabelecidos na fotografia das listas de presença ao evento para evitar perda das
literatura do curso. informações; lembrete e auxílio para elaboração dos relatórios de
cada grupo para envio ao AVA, como forma de entrega ao professor
da disciplina; elaboração conjunta e compartilhamento de vídeo co-
memorativo, com a participação de todos os grupos de trabalho no
evento de encerramento.
Fonte: Elaborado pelos autores.

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THAIS VIEIRA DE LIMA, ANGILBERTO SABINO DE FREITAS, JORGE BRANTES FERREIRA, FERNANDO FILARDI

Modelo para Análise Racional de Educação para que fossem indicadas atividades que
Móvel (FRAME) de Koole (2009), que tem se tornassem soluções viáveis.
como finalidade auxiliar no desenvolvimen- Já os principais atributos do m-learning
to de materiais e de estratégias de ensino considerados neste estudo foram: (1) a
-aprendizagem com uso de mobile learning. mobilidade; (2) a conectividade e; (3) a ex-
Como as potencialidades do m-learning periência personalizada de aprendizagem,
sugerem a adoção de metodologias ativas, que orientaram, juntamente com as ques-
escolheu-se a Teoria da Aprendizagem Ex- tões abordadas anteriormente, as suges-
periencial (KOLB, 1976) como abordagem tões de atividades do protocolo. A figura 2
pedagógica.Tanto o desenvolvimento quan- apresenta o processo de desenvolvimento
to a aplicação das atividades buscaram ade- do artefato.
quação à metodologia de ensino e ao curso
de Administração. A fim de propor o uso APRESENTAÇÃO DO PROTOCOLO
do m-learning em tarefas pedagogicamen- O artefato foi dividido em três etapas (fi-
te relevantes, isto é, que trouxessem con- gura 3). A primeira é dedicada à escolha do
texto, conveniência, controle e autonomia m-learning como método de ensino em re-
para o aluno, buscou-se conhecer as prin- lação à IES e ao estudante. A segunda etapa
cipais práticas de m-learning descritas na indica os principais desafios a serem enfren-
literatura da área, objetivando as escolhas tados e as potencialidades a serem aprovei-
mais ajustadas ao propósito desta pesquisa. tadas. Já a terceira, trata das sugestões de
Para que fossem garantidos os critérios de atividades adequadas às diversas situações
funcionalidade do artefato, partiu-se das li- apresentadas no protocolo.
mitações dessa modalidade de ensino (bar- De acordo com Ferreira et al. (2013), al-
reiras técnicas, culturais e ergonômicas) guns aspectos devem ser considerados ao

FIGURA 2 – Processo de construção do protocolo para uso do mobile learning


Fonte: Elaborado pelos autores

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O M-LEARNING COMO APOIO AO ENSINO EM ADMINISTRAÇÃO

adotar o mobile learning como modalidade no referencial teórico. Embora as potenciali-


de ensino: (1) a cultura institucional; (2) as dades tenham sido o ponto de partida desta
informações sobre a área de conhecimen- pesquisa, com as diversas possibilidades de
to em que será aplicado; (3) as experiências aprendizagem, foram os desafios que nor-
de mobile learning previamente desenvolvi- tearam a construção do artefato, em função
das, bem como os seus resultados; (4) as de uma busca efetiva para atendimento aos
características do público para quem a me- critérios de funcionalidade do protocolo. In-
todologia é projetada, incluindo a sua fami- cialmente, questões técnicas como rede mó-
liaridade com as tecnologias digitais; e (5) as vel sem fio, qualidade de conexão e acesso
tecnologias disponíveis e aplicações digitais. dos estudantes foram as principais preocupa-
Esses aspectos foram tratados a partir do ções. Porém, barreiras culturais como: baixo
questionário Diagnóstico na etapa Cons- grau de “alfabetização digital” e resistência
cientização do Problema da Desing Research. ao e-learning, que se estende ao m-learning
Entretanto, para a construção do arte- (SCHLEMMER et al., 2007), se apresentaram
fato, na primeira etapa, em relação à IES, como obstáculos mais importantes que as
elegeu-se a cultura institucional como item questões de tecnologia ou infraestrutura.
de destaque a ser avaliado. Propõe-se que A terceira etapa é dedicada a sugerir
esta avaliação deva acontecer por inter- abordagens e atividades de mobile learning
médio da observação e da verificação de que tratem os desafios e potencialidades
situações e ocorrências que possam dar de forma adequada ao ensino de Admi-
indícios da existência de uma cultura favo- nistração. As sugestões, assim como as
rável ao uso dos dispositivos móveis, tais demais etapas do artefato, tiveram como
como: a oferta de livre acesso à internet base as principais recomendações presen-
por meio de rede sem fio, com boa quali- tes na literatura sobre aprendizagem móvel
dade de conexão e em todos os espaços (SHARPLES et al., 2007; WINTERS, 2007).
da instituição; o incentivo ao uso da tec- Como na Design Research a construção
nologia móvel integrada à metodologia de do conhecimento ocorre simultaneamente
ensino; e a existência e divulgação de apli- ao desenvolvimento da pesquisa (FREITAS
cativos da IES para aparelho celular, disci- JUNIOR et al., 2015), no decorrer do pro-
plinas e atividades online. Já em relação ao cesso de aplicação dos modelos iniciais de
aluno, buscou-se avaliar seu perfil, procu- protocolo foram incluídas duas recomen-
rando compreender a dinâmica social no dações: (1) uma para que seja incentivada a
campus, os contextos trazidos para sala de solução cooperativa de problemas; e (2) ou-
aula, a aceitação da tecnologia móvel, além tra para que o professor tenha uma postura
de questões práticas, como saber se todos dialógica e democrática ao usar o m-learning.
os estudantes participantes do experimen- Ao observar a dinâmica dos grupos
to possuem aparelho celular ou tablet com de aprendizagem online por intermédio da
acesso à internet. análise das mensagens trocadas entre os
Após a análise do ambiente, na segunda participantes, percebeu-se que nas equipes
etapa de construção do protocolo, partiu-se em que os problemas foram rapidamente
para os lidar com os principais desafios e po- compartilhados e apresentados de forma
tencialidades do mobile learning apresentados objetiva como “me digam se devo imprimir

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THAIS VIEIRA DE LIMA, ANGILBERTO SABINO DE FREITAS, JORGE BRANTES FERREIRA, FERNANDO FILARDI

os folhetos em preto e branco ou pagamos (84%) por mais de 12 horas por dia e cos-
mais pelos coloridos” ou “estas (foto ane- tumam usar o dispositivo móvel (88,7%) em
xada) são as fitinhas que têm aqui para ven- atividades ligadas ao ensino e aprendizagem.
der. O que acham? (...)”, os trabalhos finais Porém, apesar desses números traduzirem
apresentados por esses grupos foram bem o comportamento da maioria dos alunos,
elaborados e a equipe se tornou mais co- ainda existem 4,8% que não possuem dis-
esa. Já nos grupos em que ocorreu pouca positivo móvel conectado à internet. Após
interação e quase nenhuma ideia foi com- uma análise mais aprofundada, nota-se que
partilhada, os problemas não foram postos 71,4% dos respondentes declaram preferir
em discussão e os próprios participantes aprender com apoio do mobile learning, e,
do grupo se mostraram insatisfeitos com o ao mesmo tempo, 27,4% dos estudantes en-
desempenho alcançado. contram-se apartados, de alguma forma, do
Em relação ao professor adotar uma processo de aprendizagem com uso de tec-
postura mais dialógica e democrática, essa nologia móvel, seja por não possuírem tele-
recomendação emergiu no grupo focal. Os fone celular com acesso à internet ou por
respondentes destacaram a importância dependerem das redes de conexão móvel
do professor se mostrar disposto a ensi- dos locais que frequentam.
nar, mas também a aprender. Essa questão das dificuldades de acesso
“O professor não pode ser arrogante. aos serviços de conexão à internet móvel
Não se achar estrelinha. Tem que usar de qualidade também emergiu dos dados
(o grupo do WhatsApp® ou email qualitativos como uma desvantagem de uso
para se comunicar com alunos) nor- da tecnologia móvel para apoio ao proces-
mal. Como uma pessoa qualquer. Não so de ensino-aprendizagem. Essa realidade,
como uma pessoa assim, superior. Se encontrada no ambiente pesquisado, refor-
for o bam bam bam, os alunos não vão ça os achados da literatura adotada, no que
interagir. Vai ficar ele e a arrogância diz respeito às limitações do m-learning,
dele lá, falando sozinho. ” mais precisamente em relação às conexões
e dispositivos caros e barreiras culturais,
ANÁLISE DOS RESULTADOS como a necessidade de “alfabetização digi-
Inicialmente será descrito o perfil dos tal” e fortalecimento do hábito de uso dos
respondentes, o qual consiste de estudan- dispositivos móveis (SACCOL et al., 2010).
tes do curso de Administração na disciplina Apesar dessas barreiras, os resultados
de Gestão de Serviços, regime presencial indicam que os estudantes são favoráveis
e de turno matutino em que cerca de 58% ao uso dos dispositivos móveis na educa-
são mulheres, 69,7% dos alunos têm entre ção e percebem a contribuição do m-le-
18 e 28 anos e 72% possuem renda fami- arning para o aprendizado (84,5%), espe-
liar abaixo de R$ 3.500,00 (três mil e qui- cialmente devido aos atributos facilidade
nhentos reais). Pode-se dizer que o grupo e rapidez de acesso à informação, ubiqui-
de respondentes deste estudo foi compos- dade, conveniência e interação. Por outro
to majoritariamente por jovens da classe C lado, a dispersão/desatenção se apresenta
e D (critério do IBGE) que frequentam o como a principal preocupação dos estu-
ensino superior, permanecem conectados dantes (SCHLEMMER et al., 2007).

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O M-LEARNING COMO APOIO AO ENSINO EM ADMINISTRAÇÃO

FIGURA 3 – Protocolo para Uso do Mobile Learning Como Apoio ao Ensino e Aprendizagem em
Administração
Fonte: Elaborado pelos autores

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THAIS VIEIRA DE LIMA, ANGILBERTO SABINO DE FREITAS, JORGE BRANTES FERREIRA, FERNANDO FILARDI

Para o desenvolvimento e análise do ar- possibilidade do uso dessa modalidade na


tefato (protocolo), desenvolvido com base educação superior, além de já adotarem
no modelo FRAME, o quadro 9 descreve a tecnologia móvel em sua maioria, para-
cada um dos aspectos e interseções do mo- doxalmente se declaram satisfeitos com
delo, indicando quais deles foram identifi- a metodologia atual e com a forma como
cados neste estudo. As principais questões os conteúdos são conduzidos pela maio-
referentes ao modelo FRAME identificadas ria dos professores da IES (81,28%), isto
foram: conforto e simplicidade de uso do é, aulas basicamente expositivas sem uso
aparelho celular pelo usuário (D e DA); ca- de novas tecnologias digitais para auxiliar
pacidade de contribuição do m-learning para o processo de ensino-aprendizagem. Além
o aprendizado (A e AS); experiência social disso, 53,57% dos respondentes afirmaram
promovida pelo uso do dispositivo móvel não querer que o uso da tecnologia mude
como ferramenta pedagógica (S e DS); e o sua forma de estudar, nem a maneira como
reconhecimento da contribuição do mobile os professores dão aula. Esse resultado
learning para o aprendizado (DAS). Sendo pode ser entendido como resistência
assim, para todos os aspectos e interseções à mudança na adoção de inovações.
do modelo foram encontradas evidências Existem diferentes definições desse con-
no contexto pesquisado, o que sugere a ceito identificadas na literatura. Contudo,
adequação do protocolo proposto para o a definição de resistência à mudança de
desenvolvimento de estratégias e atividades Zaltman e Duncan (1977), que considera
de m-learning adequadas ao ensino e apren- as diversas barreiras culturais, sociais, or-
dizagem em Administração. ganizacionais e psicológicas à mudança, se
Na sequência faz-se uma discussão so- mostra mais aderente ao contexto pesqui-
bre os principais desafios encontrados sado, pois entende qualquer conduta para
nesta pesquisa, cruzando com referências manter o status quo diante da pressão para
e estudos anteriores sobre m-learning e re- alterá-lo como resistência. O que, de fato,
sistência à adoção de inovação. sugere estar mais alinhado com o compor-
tamento encontrado.
Barreiras: Resistência à Mudança, Bai- Porém, a resistência à mudança não
xo Grau de Criticidade e Formação ocorre somente por parte do estudante.
do Professor Universitário Segundo Pina et al. (2016), é necessário mu-
Apesar do resultado positivo encontra- dar a política e a cultura das instituições e
do neste estudo, facilitado pelo uso gene- dos docentes, marcadas pelo ensino presen-
ralizado dos dispositivos móveis em todas cial e por práticas pedagógicas, que, em sua
as camadas da sociedade e de sua utilização maioria, atribuem ao aluno um papel passivo
como ferramenta de apoio a aprendizagem em relação a sua própria aprendizagem.Vale
por grande parte do alunado, os resultados lembrar que a proposta de uso do m-lear-
também apontam barreiras à adoção do ning deve ser baseada no construtivismo
m-learning, que devem ser consideradas para social. E nessa perspectiva o aluno é visto
que a IES venha a adotar políticas e práticas como agente autônomo capaz de escolher
com maiores possibilidades de êxito. sua trilha e navegar no conhecimento (KO-
Embora os estudantes reconheçam a OLE, 2009). Schlemmer et al. (2007) alertam

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O M-LEARNING COMO APOIO AO ENSINO EM ADMINISTRAÇÃO

QUADRO 9 – Apresentação dos Resultados a partir do Modelo FRAME


Critério Descrição Evidências encontradas

Sim. Dados quantitativos.


Refere-se às características físicas,
• 89,28% acharam confortável usar o celular para trocar mensagens
técnicas e funcionais do disposi-
com o grupo de trabalho online.
tivo móvel. Essas características
Dispositivo (D) • 86,57% acham simples usar o celular.
possuem um impacto significativo
• 83,28% consideraram a velocidade do seu celular adequada às
sobre os níveis de conforto físico e
tarefas que precisaram realizar para a disciplina (envio de mensa-
psicológico dos usuários.
gens, fotos, links, etc.)

Sim. Dados quantitativos.


Refere-se às habilidades cogni- • 87% acharam que os recursos usados na disciplina facilitaram a
tivas do aluno: a memória; o co- compreensão do conteúdo (grupo de trabalho online, envio de ví-
nhecimento prévio; as emoções; e deos, etc.)
as motivações possíveis. Pode-se • 84,28% acharam que as atividades de m-learning propostas ajuda-
fazer uso ativo da informação para ram a selecionar, escolher e reconhecer informações importantes
Aluno (A)
ajudar o aluno a lembrar, entender em diferentes situações (debates online, contato para esclareci-
e transferir conceitos para contex- mento de dúvidas, entre outras).
tos variados. • 80,57% acharam que as atividades de m-learning propostas deixa-
va-os mais motivados para estudar.

Sim. Dados quantitativos.


• 91,14% acharam adequada a maneira como as informações foram
trocadas.
Leva em conta os processos de
• 88,42% acharam a quantidade de mensagens trocadas adequada.
interação social e de cooperação.
Social (S) • 86,57% consideraram que a conversa entre os membros do grupo
Afeta a quantidade e a qualidade da
ocorreu de forma franca e se sentiram à vontade para participar.
comunicação.
• 85,71% consideraram que houve qualidade nas informações troca-
das no grupo de trabalho online, isto é, as mensagens eram claras
e de compreensão rápida.

Trata da facilidade do usuário de Sim. Dados quantitativos.


aprender e conseguir usar o dis- • 91,42% acham fácil aprender a usar um celular.
Usabilidade do
positivo o mais rápido possível; da • 86,57% acham simples usar um celular.
Dispositivo (DA)
portabilidade do dispositivo; e da • 94% acham que, atualmente, existe uma grande quantidade de in-
disponibilidade da informação. formação disponível de fácil acesso.

Sim. Dados quantitativos.


• 88,85% acharam que usar o celular para participar das atividades
Como os dispositivos móveis permi- propostas promoveu oportunidades de compartilhamento de co-
Tecnologia Social
tem a comunicação e a colaboração nhecimento.
(DS)
entre várias pessoas e sistemas. • 86,14% acharam que usar o celular para participar das atividades
propostas promoveu oportunidades de produção de conteúdo para
a disciplina.

Sim. Dados quantitativos.


● 87% acharam que o uso do m-learning promoveu oportunidade de
interação.
Refere-se à interação, a cognição
Aprendizagem ● 78,71% identificaram no seu dia a dia situações, que representaram
situada e à comunidade de apren-
Interativa (AS) o que foi discutido em sala de aula e nas atividades de m-learning
dizagem.
propostas.
Sim. Dados qualitativos
● Ótima experiência com o grupo de trabalho online (14 citações)

Sim. Dados quantitativos.


● 84,57% acreditam que o uso do m-learning contribuiu para o seu
Refere-se a natureza da própria in- aprendizado.
teração, muda a forma como os alu- ● 90,42% acham que a forma como os alunos interagem entre si,
Processo
nos interagem entre si, o acesso à mudou.
m-learning (DAS)
informação e seleção e navegação Sim. Dados qualitativos
no conhecimento ● Recomendariam uma disciplina com uso do m-learning, porque ele
ajuda a entender e a aprender a matéria, é fácil e prático e é inte-
rativo (50 citações).
Fonte: Elaborado pelos autores.

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THAIS VIEIRA DE LIMA, ANGILBERTO SABINO DE FREITAS, JORGE BRANTES FERREIRA, FERNANDO FILARDI

também para a urgência no desenvolvimen- ocorra redundância ou sobrecarga. Por


to de uma cultura de aprendizagem e de fim, a adoção do m-learning exige uma só-
autonomia por parte das instituições de en- lida formação didático-pedagógica do
sino e dos aprendizes para que consigam fa- professor para usar a tecnologia móvel de
zer a transição do papel passivo para o ativo forma a potencializar a aprendizagem (FER-
e para que sejam capazes de construir suas REIRA et al., 2013).
competências para atender seus próprios
objetivos educacionais. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entretanto, para se tornar sujeito de O objetivo deste estudo foi propor um
sua aprendizagem, é preciso que o estu- protocolo para elaboração de estratégias e
dante desenvolva um pensamento crítico atividades de m-learning para apoiar o proces-
e reflexivo, e que a IES, por intermédio de so de ensino e aprendizagem em Administra-
seu projeto pedagógico, promova práticas ção, a partir da percepção dos estudantes.
que estimulem o questionamento, o diálo- A principal contribuição deste trabalho foi
go e a argumentação, tendo como base o o desenvolvimento de um artefato que se
contexto do aluno. Conforme descrito no apresenta como uma ferramenta de apren-
referencial teórico, envolver o estudante dizagem capaz de contribuir para a busca de
e fazê-lo sentir o que está fazendo é tão soluções educacionais que envolvam o uso
importante quanto fazê-lo pensar no que de tecnologias móveis, principalmente devido
está fazendo. Contudo, ensinar um pensa- aos aspectos sociais como interação, promo-
mento mais complexo e aumentar o grau ção de contextos autênticos e formação de
de criticidade dos estudantes não comunidades de aprendizagem.
é algo simples. Durante a execução Os resultados da pesquisa apontam evi-
desta pesquisa, em diversos momentos dências que reforçam todos os aspectos e
e após a análise dos dados, notou-se que critérios analisados pelo modelo teórico
grande parte dos estudantes não consegue adotado FRAME (KOOLE, 2009). Assim, este
desenvolver sua percepção e compreensão estudo apresenta contribuições para a lite-
para além do senso comum, e acabam por ratura sobre o tema m-learning com dados
reproduzir o pensamento da maioria, dei- empíricos, além aprofundar a compreensão
xando de aprofundar suas questões. sobre o uso dos dispositivos móveis no ensi-
Os resultados aqui obtidos permitem no superior, no âmbito do contexto nacional.
também identificar situações em que o alu- Como contribuição de ordem meto-
no descreveu se sentir perdido por ter difi- dológica, destaca-se a utilização da Design
culdade no gerenciamento das informações Research como método de pesquisa. Os re-
em função do grande fluxo de mensagens e sultados encontrados indicam que essa me-
conteúdos recebidos. Portanto, o docente todologia possui uma abordagem adequada
precisa estar atento à importância de uma para desenvolvimento de pesquisas e sua
gestão da aprendizagem que leve em conta aplicação prática, auxiliando, por exemplo,
as habilidades cognitivas do aluno, além de em como o m-learning pode ser estudado e
um planejamento cuidadoso para o uso e desenvolvido na prática.
combinação entre modalidades de ensino, No tocante aos futuros pesquisadores,
presencial, online e m-learning, para que não professores e gestores de IES que tenham

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O M-LEARNING COMO APOIO AO ENSINO EM ADMINISTRAÇÃO

interesse em desenvolver estratégias ou ciente de que as relações de autoridade


atividades de m-learning, foi possível ob- não são necessariamente formais dentro
servar que é necessário considerar e res- de um grupo online.
peitar o contexto existente e as práticas Uma das limitações deste estudo foi ter
educacionais, assim como a cultura das ins- sido realizado em uma turma não exclusi-
tituições e dos envolvidos no processo de va do curso de Administração de Empre-
ensino e aprendizagem. É importante ainda sas. Apesar dos resultados refletirem ape-
compreender que as IESs, principalmente nas as percepções dos alunos do curso, a
as já estabelecidas, precisam de tempo para turma era também composta por alunos
inovar e promover mudanças. de marketing, ciência da computação e
Verifica-se por meio dos resultados da pedagogia. Outra limitação observada foi
pesquisa que as potencialidades do m-le- a aplicação do questionário final de avalia-
arning sugerem a adoção de uma metodo- ção ter ocorrido na mesma data da última
logia ativa de aprendizagem, além de uma prova do semestre. A possibilidade de es-
abordagem de ensino centrada no aluno. tarem presentes todos os participantes da
Outra constatação importante é a de pesquisa foi o motivador dessa estratégia.
que há a necessidade de se verificar o grau Entretanto, alguns alunos não responde-
de “alfabetização digital” dos participantes, ram ao questionário, declarando falta de
sendo interessante propor um treinamen- tempo hábil para preenchimento do mes-
to básico, podendo até ser conduzido por mo, em função da necessidade de terminar
outro aluno mais capacitado, objetivando a prova e ir para o trabalho, diminuindo o
nivelar os conhecimentos dos alunos em índice de respostas.
tecnologia móvel. Como sugestões para futuras pesquisas,
Observa-se também a necessidade de acredita-se que a reaplicação do protocolo
checar e garantir a qualidade e a abrangência para realizar um estudo comparativo entre
do serviço de conexão à internet móvel da instituições de perfis diferentes de forma a
instituição de ensino para que sejam desen- validar e ampliar os resultados aqui encon-
volvidas atividades de m-learning adequadas às trados. Outra sugestão seria o uso do pro-
condições técnicas disponíveis, assim como a tocolo para um estudo de controle. Utili-
obtenção de suporte da instituição para que zando-se duas turmas da mesma disciplina
as possíveis ocorrências sejam conduzidas da da graduação em Administração com carac-
forma mais favorável ao desenvolvimento da terísticas semelhantes, uma delas serviria
experiência de uso do m-learning. como grupo de controle, em que nenhuma
Finalmente, os resultados do estudo das condições habituais seriam alteradas
apontam para o fato de que, ao optar por e na outra turma se utilizaria o protocolo
participar de grupos online, é preciso ado- para verificar se existe alteração de percep-
tar uma postura democrática e dialógica, ção por parte dos estudantes no que se re-
estando atento à interação social e cons- fere ao aprendizado percebido.

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THAIS VIEIRA DE LIMA, ANGILBERTO SABINO DE FREITAS, JORGE BRANTES FERREIRA, FERNANDO FILARDI

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