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A LAGOA DE SOFIA

Escrito por: Fátima Carvalho


Outubro/2018

(Cenário com várias caixas, um grande espelho, tintas e pincéis)

Música: Felicidade/Sr. Jorge

(Sofia entra em cena, pelo meio da plateia, ela canta, dança com uma fita de GR, vestida
em um vestido de época medieval, contagiando o público, segue até o palco)

(No palco Sofia, continua liberando sua “alegria”, até começar a ouvir uma voz)

Música: Abaixa aos poucos a música de Seu Jorge.

Voz: Por que tanta felicidade Sofia? O que você afinal está comemorando mesmo?

Música: Triste instrumental

Sofia: Verdade... Era assim que eu realmente queria me senti... Mas... Mas... a realidade
infelizmente é bem diferente... Sofia... Sofia... Onde está você? Onde está você
Sofia?

Voz: Sofia... Sofia... Como você está? Como você está Sofia? Você está bem Sofia?

Sofia: Essas vozes... Não me deixam em paz! Onde eu me encontro é um lugar tão escuro,
que não consigo ver a saída, será que ela realmente existe? Sinto que minha alma,
já não pertence mais ao meu corpo... Só está aguardando minha coragem...
(cantarolando...) Felicidade é saber de verdade, que a gente sente saudade,
quando não consegue se ver... (corre para o espelho, se observa e começa a
conversar consigo mesma) Oi... Tá procurando Sofia? Ela está aqui sabia? Olha
Sofia aqui, linda, perfeita, sempre arrumadinha... Ela está aqui... A moça direita...
Isso, a moça direita está fudida... Ela tá FUDIDA... (Rir) Tá pensando em partir...

Voz: (Rir junto com Sofia) Você não tem coragem Sofia... Você é uma fraca... Por isso
que você é uma farsa... Não percebe que aqui neste mundo todos percebem a sua
imperfeição? Quero ver quando você Sofia vai tomar coragem e partir... Da um ponto
final nisso tudo... Já chega, não acha? Ou você não lembra que tudo acontece desde
muito tempo atrás... Sempre aconteceu... Sempre... Sempre Sofia...
Sofia: (fazendo voz como se fosse a mãe, lembrando de um passado que até então parecia
ser distante) Sofia levanta... Sai desta cama logo... Escova seus dentes, toma banho,
arruma a cama e vem aqui para eu ajeitar seu cabelo... Adianta Sofia! Não exagera
no perfume viu menina! Moça direita tem que ser discreta... Moça direita tem que
saber se comportar... Moça direita tem que ser educada desde de criança... Moça
direita tem que ouvir tudo caladinha... Moça direita tem que se calar... Enquanto ela
falava não percebia... Para ser sincera nem eu percebia, que naquele silêncio
gritante ele já me observava... O olhar dele me assombrava... Eu estava indo tomar
banho, mais uma vez, mais um dia... E ele já estava vindo... Psiuuu... Não conta para
mamãe... Esse é o nosso segredinho viu filha!... É só uma brincadeira nossa... Você
é uma moça direita... Lembra? A escuridão... Eu me retirava para esta escuridão...
Pois eu era moça direita... E ele o meu genitor... ISSO É PECADO... Mas eu devo
ficar calada... Minha mãe vai brigar comigo... Eu sou uma moça direita... Eu sou uma
moça direita... Eu sou uma moça direita... Eu sou uma moça...

Voz: (Faz som do coração) Moça Sofia? Vai contar o que você faz... Moça? Você não é
mais moça Sofia...

Sofia: E eu tinha que chamar ele de pai... (rir descontroladamente) Um dia isso vai
terminar... um dia eu vou terminar com tudo isso... Eu vou consegui... Eu podia mata-
lo?

Voz: Não Sofia... você não é uma assassina... Você seria odiada... Iria presa... Você é uma
moça direita, lembra? Sofia você deveria contar a alguém...

Sofia: Eu contar a alguém? Eu me lembro como se fosse hoje, a primeira vez que tive
coragem... A primeira vez que tive coragem de contar a alguém... Eu devia ter meus
15 anos, não perdia um baile... Dançava em todos que apareciam... Dancei nos mais
diversos bailes de debutantes... das amigas, das não muito amigas, das que eu
conhecia e das não conhecia... Sofia era a requisitada... Moça direita... Linda e
comportada... Todos os pais queriam a bela Sofia por perto... E eu só queria estar
longe da escuridão... longe da minha casa... Na realidade eu nem percebia... mas
cada vez menos eu parava em casa... Enfim... Mas teve um baile em especial, que
eu o conheci... com aquela roupa linda de cadete... Ele era um dos garotos alistados,
disse me que iria seguir carreira... Haa... Como dançamos... Eu nem me lembro o
nome dele... E a essa altura do campeonato nada interessava... a não ser dançar...
dançar e dançar... Ele me tratava e me olhava como um princesa... A sua princesa...
Disse-me que eu era a bela das mulheres... A mulher para casar!! Rsrsrs... Eu rir
muito... E tem mulher que não é para casar? Eu perguntei rindo? ... E
dançávamos...A noite foi mágica... Corri com ele por todos os prédios do
condomínio... Parecíamos duas crianças desgovernadas... Lee me trazia bebidas
geladas, alcoolizadas e gostosas... Rimos muito... Foi quando ele me fez o convite...
Vamos Sofia... Eu não aguento mais... Quero sentir você por inteira... Eu te quero
para mim Sofia... Àquela altura do campeonato nem relutei... Eu só perguntei, mas
onde? E ele saiu me puxando, para a frente daquele elevador, bem ao fundo do
prédio, ali mesmo nos entregamos, dois adolescentes, bêbados, loucos e felizes...
(simulação de um ato sexual de uma forma bem suave e romântica) E quando
a gente menos esperava... Ho desculpe-me! Não, não estávamos fazendo nada
(ajeitando os cabelos e a roupa) Sim, sabemos que isso não é certo Sr. Antônio...
Desculpe-nos! Sim, eu sei... Sou uma moça direita e moças direitas não fazem isso...
Saímos correndo dali, rimos, rimos muito, rimos alto... Meu príncipe, com todo amor
disse-me... Vamos, vou te levar em casa... Eu disse, não precisa, e ele falou... eu
faço questão... Após andarmos dois quarteirões, eu morava muito perto dali... Foi
tudo muito louco... Muito divertido... Muito romântico... E naquele dia... Olhei para ele
e pensei... Preciso ter coragem de contar a alguém... Depois de alguns beijos... Eu
agradeci ao meu príncipe, por ele ter salvo minha vida naquela noite... Pois estava
decidida a dar um fim na minha existência... Ele me olhou meio sem entender... E
entre lagrimas, contei aquele cadete que eu mal havia acabado de conhecer o quanto
minha vida era uma farsa... Contei o meu segredo, falei do meu refúgio, da minha
escuridão... Agradeci a ele por ter me dado a oportunidade que eu precisava... De
ser realmente feliz e experimentar essa tal felicidade por algumas horas... Pois eu
não aguentava mais viver sob o mesmo teto daquela pessoa que era meu genitor...
Pai? Eu não sabia o que era isso... Expliquei que não podia contar nada a ninguém,
pois ele era o herói da família, da vizinhança... Absolutamente todos gostavam dele...
Sempre prestativo... Amável... Eu não podia quebrar essa imagem dele... Não seria
justo... Eu sou forte! Eu aguento... E você me provou isso hoje... Me provou que
existe vida... E que a vida vale a pena! Acho que eu o assustei... Me deu um frio beijo
na fronte e partiu... Entrei em casa...Ali não parecia mais ter vozes, parecia que a
escuridão não necessitava mais existir... Por fim veio o dia seguinte... Um domingo
maravilhoso de sol... eu não ouvia mais a voz... Estava em paz... Por isso não queria
ver ninguém... Queria saborear mais o tempo... Ficar mais tempo deitada na cama...
Desligar o telefone... Sentir essa paz, o silêncio se tornou abençoado! E a segunda
feira chegou... Tinha que me arrumar correndo para contar tudo a Babi... Minha
amiga... Sair da festa e nem me despedi dela... Deve ter dormido o dia todo ontem
também... Nem apareceu aqui... Mas também desliguei o telefone... deve ter sido
isso... Ainda com a felicidade trazida pelo príncipe da festa, saltitante... Dei bom dia
aos meus pais, beijei minha mãe e já fui saindo encontrar a Babi... Bom dia Babi!!!
Bom dia Sofia... Vamos, quero falar contigo no seu quarto... Entramos...Mal
fechamos a porta e... Sofia você está louca? Como você pode inventar uma coisa
dessas de meu tio? Tava bêbada garota? Eu hein! Quem não sabe beber, não vai
para festa menina... Que maluquice foi aquela que você falou para o menino, ontem
todos que dançaram foram tomar banho de piscina, te liguei, seu celular só na
caixa... Lá ele acabou contando toda a aventura de vocês, a menina maluca que ele
pegou na festa... Sofia, você está usando drogas é? Riram de ti o dia todo...
Palhaçada... Sai na rua com uma melancia na cabeça... Mas não faz isso mais não...
O tio não merece... Para sua sorte, todos acharam melhor não falar com o tio, pois
a coisa é séria... O pessoal falou até que podiam te internar... Eu disse que você
devia estar querendo chamar a atenção... Enfim... Olha você tem sorte de me ter
como sua amiga garota... Vê se fica em casa uns três dias, para a poeira baixar... E
não inventa mais essas coisas criatura... (Sofia volta a si) Meu segredo... Meu
segredo... Meu príncipe acabara de virar um sapo...

Voz: Você ouviu Sofia... A louca... Sofia a louca... Vai se arriscar a contar a mais alguém?
Vai? Mas uma vez... Você nasceu condenada por sua beleza... És desejada como
carne ...

Sofia: Sim, desejada como carne... inventando histórias para chamar atenção... Logo com
seu pai Sofia? Ele é tão maravilhoso... Você deveria ter vergonha... Afinal és a moça
direira... (risos) Sim Babi, obrigada amiga, você está certa... Eu só estava bêbada e
queria chamar a atenção... Há que vergonha amiga... Vou falar para minha mãe que
não estou bem... E ficarei em casa... Obrigada Babi... Não sei o que seria de mim
sem a sua amizade... E assim a ampulheta foi derramando a areia do tempo... Hoje
estou aqui... Formada... Empregada... Casada... Mas a solidão interna me
acompanha... Ninguém sabe o que realmente passa dentro de mim... Mas eu sou
feliz! Não é assim que tem que ser? Sou uma moça direita! Bem sucedida...
Desejada por todos... Até os dias de hoje... Essa escuridão... Esse nada... Essas
caixas que me comandam... Que guardam meus segredos... Sempre arrumo e troco
todas de lugar... Sempre arrumo...

Voz: Sofia... já deu o que tinha que dá... Seu tempo já se esgotou Sofia!... Tome coragem
pelo menos uma vez na vida e dê um basta nisso tudo! Chega Sofia...

Sofia: Não sei mais o que devo fazer...

Voz: Sabe sim Sofia... Não se esconda atrás das caixas... Dê um ponto final... Afinal
ninguém nunca vai te entender mesmo... A moça direita... Acaba com isso Sofia...

Sofia: Ninguém nunca vai entender o que realmente acontece comigo... E eu não aguento
mais... (pegando o espelho) Nem eu me vejo mais... Hoje vou embora...

(Sofia vai se afastando se olhando no espelho, as luzes baixam)

Vos: Um dia, em algum lugar, em um momento exato, Sofia deu término na sua existência...
Sofia, Maria, Joana, Francisca, João, Pedro, Antônio, Marcelo, Fernando e tantas e
tantos outros, outras pessoas diferentes de Sofia, por motivos diferentes, de
sexualidade diferente, de classe social diferente, com patologias e sem patologias...
Pessoas cometem suicídio a cada 40s.... Mais mulheres tentam, mais homens
chegam as vias de fato... Não existem regras... Nossa Sofia de hoje trazia uma
mácula de um triste passado, mas outras pessoas não tiveram a mesma história,
nem muito menos passaram pelas mesmas situações... Mas deram também deram
um ponto final a sua dor... Algumas sinalizam o que vão fazer, outras são
silenciosas... Nenhuma delas queria morrer... Mas todas queriam interromper a sua
dor... A verdade é única... E a verdade de cada um, se vai com cada um... Olhem
para seu lado... Pode haver uma pessoa com o mesmo pensamento de Sofia bem
perto de você... se você desconfiar... Peça que procure ajuda em um profissional
capacitado... Oferte sempre um sorriso, uma atenção, um afago... E se você
percebeu que existe essa dor com você, procure ajuda! O suicídio mata... Mas para
tudo existe uma saída... Procure uma ajuda profissional! Imagine uma nova história
para sua vida e acredite nela... Você pode e vai vencer! Afinal nas caixas da sua
vida, somente você sabe o que há dentro delas.

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