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1, 1311 (2014)
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Neste trabalho desenvolvemos um modelo clássico para descrever o processo de resfriamento atômico devido
à interação de um átomo com uma configuração de feixes de luz laser. Derivamos uma expressão para a força
de radiação sobre o átomo com a descrição detalhada da origem de cada um dos termos envolvidos. Por fim
construı́mos um paralelo entre o aspecto clássico e as particularidades da natureza quântica da interação radiação
matéria.
Palavras-chave: átomos, laser, resfriamento, radiação, fı́sica clássica.
In this work we develop a classical model to describe the laser cooling process due to the interaction between
an atom and a configuration of laser beams. We derive an expression for the radiation force exerted on the
atom, detailing the origin of each term involved. Lastly, we built a parallel between the classical model and the
peculiarities of the quantum nature of the interaction radiation-matter.
Keywords: atoms, laser, cooling, radiation, classical physics.
o elétron a um feixe de laser (campo eletromagnético), Pelas equações de Maxwell temos a relação entre os
sua equação de movimento será da forma campos magnético e elétrico
e2 E 2 γ[ω(1 − vc )]2
< F >= v 2 . (16)
2mc[(ω − ω0 − ωv 2
c ) (ω+ ω0 − ωvc ) + (γω(1 − c )) ]
2
⌈
Modelo clássico para resfriamento atômico: Uma forma pedagógica de entender o problema 1311-3
Adotando a frequência do laser ressonante com o para o seu elétron de valência, o fundamental e o exci-
átomo, isto é, ω ∼ ω0 e considerando que vc ≪ 1, a tado. A frequência de transição entre o estado funda-
Eq. (16) se reduz a mental e o excitado será dada pelo espaçamento entre
os nı́veis de energia, segundo a relação ω0 = E2 −E
~
1
. O
e2 E 2 γω 2 tempo de vida do elétron no estado excitado será dado
< F >=
2mc[(∆ − ωv 2 2 2
c ) (2ω) + (γω) ] por Γ−1 , onde Γ é a taxa com que a população do estado
excitado do átomo decai para o estado fundamental.
e2 E 2 γ Aplicamos sobre o átomo um laser, que será descrito
= , (17)
2mc 4(∆ − ωv 2
c ) +γ
2
por um campo eletromagnético clássico, cuja frequência
onde ∆ = ω − ω0 . ω apresenta uma dessintonia ∆ (= ω − ω0 ) [2] em
relação à frequência de ressonância ω0 do átomo. Con-
sideraremos também um parâmetro de saturação s
2
(= 2Ω Γ2 ), termo relacionado ao número de fótons absor-
3. O melaço óptico vidos e emitidos pelo processo de emissão espontânea.
Considerando agora um átomo em uma configuração O parâmetro de saturação limita a taxa com que a ener-
com dois feixes de laser contrapropagantes (Fig. 1), gia do laser pode ser absorvida, evitando que haja sa-
a força média total agindo no átomo será dada por turação dos estados excitados.
F = F+ + F− , com Levando em conta o efeito Doppler, um átomo se
movendo na mesma direção de propagação da luz verá
e2 E 2 γ uma variação na frequência do laser dada por k.v, onde
F± = ± , (18) k e v são os valores absolutos do vetor de onda e da ve-
2mc 4(∆ ∓ c ) + γ 2
ωv 2
locidade do átomo, respectivamente. Assim, podemos
onde o sinal superior refere-se à força no sentido po- substituir ∆ por ∆ − k.v.
sitivo do eixo z, e o sinal inferior, à força no sentido A força exercida no átomo é devida à absorção de
negativo do eixo z. Teremos então fótons de momento p = ~k. Os fótons emitidos não
e2 E 2 γ e2 E 2 γ contribuem para a média desta força, uma vez que a
F = − . emissão espontânea tem uma distribuição isotrópica.
2mc 4(∆ − c ) + γ
ωv 2 2 2mc 4(∆ + ωv 2
c ) +γ
2
Não trataremos aqui da força induzida, pois ela ocorre
(19)
quando há saturação dos estados excitados do átomo.
Para velocidades atômicas pequenas, vc ≪ 1, podemos
Considerando uma onda plana para a radiação, a
expandir os denominadores na Eq. (19), o que resultará
força agindo sobre o átomo será [3, 4]
na expressão
8e2 E 2 ∆ω 1 ΓΩ2 ~k
F= v. (20) F= , (22)
2 3
mc γ (1 + 4∆ 2
2 4(∆ − k.v)2 + Γ2 + 2Ω2
γ2 )
Por esta equação, podemos notar que a força depende onde Ω = µE(r,t)~ é a frequência de Rabi, que caracte-
linearmente da velocidade e que, para ∆ < 0, ela é do riza o acoplamento do átomo com a radiação, isto é, a
tipo viscosa, ou seja, F = −αc v, onde possibilidade ou não da excitação do elétron do átomo
ou da absorção do fóton da radiação; k é o vetor de
8e2 E 2 ∆ω 1 onda e v é a velocidade do átomo. Se introduzirmos
αc = − 2 3 2 (21)
mc γ (1 + 4∆
γ2 )
2 agora mais um feixe de laser contrapropagante ao pri-
meiro e considerarmos o regime de baixas velocidades
é coeficiente de amortecimento para o átomo clássico. iniciais do átomo, em termos do parâmetro de saturação
s teremos a força resultante sobre o átomo
8~k 2 s∆
F= 2 v. (23)
Γ(1 + s + 4∆Γ2 )
2
Figura 1 - Melaço óptico em uma configuração com dois feixes de Podemos ver que, para ∆ < 0, a força é sempre
laser contrapropagantes de frequência ω menor que a frequência
de ressonância ω0 do átomo.
contrária ao movimento do átomo e cresce linearmente
com sua velocidade. Temos novamente uma força vis-
cosa da forma F = −αq v, onde
4. Breve descrição do modelo semiclás-
sico 8~k 2 s∆
αq = − 2 (24)
Γ(1 + s + 4∆Γ2 )
2
No tratamento semiclássico consideraremos um
átomo quântico com dois nı́veis de energia possı́veis é o coeficiente de amortecimento para o átomo quântico.
1311-4 Gomes et al.
R.N. Watts and C.I. Westbrook, J. Opt. Soc. Am. B 6, Rev. Mod. Phys. 71, 1 (1999).
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