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estava reformado, depois de ter sido
advogado nos quadros da EDP. Desse
período, as lembranças mais gratas que
guardava relacionavam-se com uma

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ligada àquela empresa, e como isso lhe
deu a oportunidade de entrevistar alguns
dos escritores e artistas que mais admi-

GHXPDH[WUHPD rava, figuras como Agustina Bessa-Luís,


José Saramago e Cruzeiro Seixas, entre
outros. Só tardiamente começou a publi-

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car, e, com todo o seu cuidado e vigi-
lância, nas últimas três décadas foi uma
das presenças mais singularmente con-
vincentes do meio literário português,
mas sempre num percurso que se dese-
nhou subterraneamente, fosse em pri-
morosas edições de autor, através de
cumplicidades bem medidas, ou em
pequenas editoras. À glória sempre pre-
feriu o “precipício concreto de um abra-
%FTBQBSFDFVVNBEBTNBJTRVFSJEBTQSFTFOËBTEPNFJPMJUFSÅSJPQPSUVHVÍT ço” e gabava-se de tratar por tu ou conhe-
1PFUB USBEVUPS FEJUPSF QBSBNVJUPT PWFSEBEFJSPNFTUSF$BFJSP cer relativamente bem qualquer dos
seus leitores.
A par da paixão pelos livros havia ain-
%*0(07";1*/50 que se lhe entaramelou há dias quan- “um homem de áridas certezas”, isso da a afinidade que tinha com bêbados
EJPHPQJOUP!JPOMJOFQU do, após um enfarte, lhe substituíram também lhe servia para que a coisa não e malucos, essas tribos dispersas cujos
o coração por uma triste coisa artifi- descambasse, e trazia sempre “uma membros nele reconheciam o mesmo
Talvez a morte fosse só o que lhe fal- cial, mas começava a faltar-lhe tam- esperança”, adiantando que “a essa sangue destilado pela doideira e o liris-
tava para que da vida soubesse a his- bém a paciência. Se era para morrer, arrasto--a pela mão pelos cabelos pelas mo, alguém com quem partilhavam a
tória inteira, e o mais fácil é imaginá- então a decisão dele estava tomada. Afi- orelhas/ paro escuto e olho antes de aristocracia desesperada de se ter a
lo sorrindo, já do outro lado – lado nal, como escreveu certa vez: “Adiar o atravessar// com ela. E não sei o nome. vida por um fio. (“Vida, e vida presa, e
nenhum, ou só fantasma nosso –, dei- acto é passar a viver a vida de um outro. E não me preocupo”. apenas por um fio, é coisa que toda a
tando-nos uma mão, tão levezinha que Adiar é, por isso, uma outra forma de Poeta e tradutor, antes de tudo foi um gente tem. Embora nem toda a gente
quase não se sente; que estará cá sem- morte – por suicídio também.” leitor desses que qualquer reino que saiba que tem, ou dê por isso. Nem toda
pre. Rui Caeiro morreu na manhã de Debatia-se (mas pouco) desde há uns lhe dessem o trocaria por uma senten- a gente está cá para o efeito. Dar por
ontem. Tinha 75 anos, mas ultimamen- anos com um cancro e não estava lou- ça justa, seca, final, como as que fazem isso não deixa de ser, não obstante, a
te já levava ofensa de uns maus-tratos co desse heroísmo de o levar de venci- os deuses desejarem ser moscas para melhor das razões para cá se estar. E
desnecessários a quem só queria estar da. Só tinha ganas que lhe trouxessem escutar os lampejos de alguns homens. não há assim tantas.”)
cá mais um bocado. E nem eram só as as novidades, afinal, da vida, e mesmo Nascido em Vila Viçosa a 27 de junho Além do importante papel que teve
forças que lhe faltavam, e nem a voz, dos dias, e, se se autorretratava como de 1943, Rui Caeiro vivia em Oeiras e ao longo de uma década na ajuda e com-

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