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(1)
Engª Civil, M.Sc., Doutoranda, Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações da Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, e-mail: carlac@usp.br
(2)
Professora Doutora, Departamento de Tecnologia da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo, e-mail: rosaria@usp.br,
(3)
Professor Doutor, Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, e-mail: valpigss@usp.br
Resumo
Para situação normal de uso, o projeto de estruturas de concreto tem sido amplamente discutido e pesquisado e,
as relações teóricas e empíricas e os critérios de desempenho são relativamente dominados pelos profissionais de
Engenharia Civil. Para a situação de incêndio, o projeto é mais complexo, uma vez que a temática envolve, além
das mesmas variáveis da Mecânica das Estruturas à temperatura ambiente, as variáveis da Termodinâmica.
No Brasil, pesquisas e normas relacionadas ao projeto de estruturas em situação de incêndio são recentes. As normas
NBR 14323:1999, NBR 14432:2000, NBR 15200:2004 e diversas Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros do
Estado de São Paulo apresentam conceitos e diretrizes de cálculo, com base em normas internacionais. Mas, a
coexistência das normas brasileiras e as Instruções Técnicas, nem sempre é harmônica, gerando dúvidas e variadas
interpretações sobre o mesmo assunto, devido a algumas diferenças conceituais e técnicas.
Neste trabalho, é apresentada a polêmica existente em torno da definição de “compartimentação”, sua
importância para efeito do dimensionamento das estruturas de concreto em situação de incêndio e para os
métodos de cálculo recomendados pela NBR 15200:2004. Pretende-se fornecer informações para o texto-
base de uma futura norma específica.
Palavras-Chave: estruturas de concreto, incêndio, compartimentação, normatização.
Abstract
The design of concrete structures is well known at room temperature; however, it is much more complex at
high temperatures, because it involves the variables of Thermodynamics besides those related to the
Mechanics of the Structures knowledge.
In Brazil, research and standards related to the design of structure in fires are very recent and some
concepts and guidance are proposed by Brazilian Standards and the regulation of Sao Paulo State Fire
Department. However, there is a lack of compatibility among the existent documents related to this matter.
One of the incompatible matters is the definition of compartimentation, which is presented and discussed in
this paper, due to its importance in the design of concrete structure under fire conditions.
Keywords: concrete structures, fire, compartimentation, standardization.
.
1 Introdução
A segurança contra incêndio é obtida pela integração dos sistemas de proteção ativa e passiva.
A proteção ativa contra incêndio é constituída por meios (equipamentos e sistemas) que
precisam ser acionados, quer manual ou automaticamente, para funcionar em situação de
incêndio. Ela visa a rápida detecção do incêndio, o alerta dos usuários do edifício para a
desocupação e às ações de combate com segurança. São exemplos de meios de
proteção ativa: sistema de alarme manual de incêndio (botoeiras); meios de detecção e
alarme automáticos de incêndio (detectores de fumaça, temperatura, raios infravermelhos,
etc., ligados a alarmes automáticos); extintores, hidrantes, chuveiros automáticos
(sprinklers), sistema de iluminação de emergência, sistemas de controle e exaustão da
fumaça, etc. (ONO (2004)).
Por sua vez, a proteção passiva contra incêndio é constituída por meios de proteção
incorporados à construção da edificação, os quais não requerem nenhum tipo de
acionamento para o seu funcionamento em situação de incêndio. São meios de proteção
passiva: a acessibilidade ao lote (afastamentos) e ao edifício (janelas e outras aberturas),
rotas de fuga (corredores, passagens e escadas), o adequado dimensionamento dos
elementos estruturais para a situação de incêndio, a compartimentação, a definição de
materiais de acabamento e revestimento adequados (ONO (2004)).
Dentre as medidas de proteção passiva, o papel da compartimentação pode ser definido
sob diversas óticas, por estar relacionado a vários fatores, tais como: medidas
urbanísticas (distância mínima de separação entre edificações), medidas arquitetônicas
(dimensões e formas de espaços fechados, terraços e sacadas), função dos espaços
compartimentados (áreas permanentes ou transitórias) e projeto estrutural em situação de
incêndio.
Sob a ótica do projeto estrutural, a compartimentação assegura a confiabilidade do
dimensionamento da estrutura de concreto em situação de incêndio, uma vez que os
métodos de cálculo empregados têm a premissa de que o incêndio é compartimentado,
isto é, ele não deve se propagar além do compartimento de origem, que possui uma
determinada área (COSTA (2002)). Dessa forma, o compartimento, na realidade, deve
apresentar uma característica denominada tecnicamente de “corta-fogo“. Além disso, há
métodos de determinação da ação térmica do incêndio, ou simplesmente, das exigências
de resistência ao fogo das estruturas de concreto, que dependem do valor da área
compartimentada em função das conseqüências do sinistro.
É amplamente sabido que tanto a elaboração como a revisão de normas técnicas requer
um tempo de dedicação e envolve uma discussão entre representantes da sociedade,
num processo que pode ser excessivamente longo. Desta forma, muitas vezes, as
necessidades da comunidade técnica não são rapidamente atendidas, gerando conflitos
que podem ter como conseqüência perdas econômicas.
Na segurança contra incêndio de edificações, as demandas por condições técnicas mais
adequadas levaram o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo a publicar as
chamadas Instruções Técnicas (IT´s), as quais são normas que devem ser atendidas para
o cumprimento das exigências da regulamentação estadual de segurança contra incêndio
(SÃO PAULO (2001)). Entretanto, as informações constantes da Instrução Técnica IT-09
do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, que trata de compartimentação
horizontal e vertical, não são completas e causam dúvidas em relação à aplicabilidade
dos métodos de dimensionamento de estruturas em situação de incêndio.
Este trabalho tem o objetivo de apresentar as várias definições de compartimentação
apresentadas nas principais normas, regulamentações e livros técnicos (“Handbooks”),
1
.
fornecendo um panorama desse conceito para a sua aplicabilidade no dimensionamento
de estruturas em situação de incêndio. Adicionalmente, este trabalho pode fornecer
subsídios para discussões sobre o projeto de uma norma específica.
alinhamento da fachada
parede corta-fogo
tubulação vertical
registro (damper) incombustível
corta-fogo
paredes do duto de
ar-condicionado
laje resistente
ao fogo
parede corta-fogo
5
.
Para edifícios contíguos, a separação entre eles (building separation) deve resistir à
severidade máxima do incêndio previsto para essas construções. As paredes que
separam um edifício do outro, em duas áreas compartimentadas, devem manter a
estabilidade estrutural mesmo após a queima completa do material combustível, evitando-
se que o colapso estrutural na fase de resfriamento coloque em risco o edifício adjacente.
A separação de edifícios ou a divisão horizontal de um edifício, por meio de uma parede,
limita a propagação do incêndio, desde que a parede tenha estabilidade estrutural
suficiente para assegurar a sua função de compartimentação durante todo o tempo de
exposição ao fogo.
A estabilidade é a capacidade do elemento estrutural manter-se estável, assegurando a
sua capacidade de suporte das ações durante o tempo de resistência requerido ao fogo.
A estabilidade é determinada por meio de métodos de dimensionamento, levando-se em
conta os efeitos da ação térmica na estrutura (VARGAS & SILVA (2003)).
A NFPA (1997) recomenda duas soluções para edifícios contíguos:
as paredes divisórias devem ser constituídas de alvenaria armada (freestanding fire
wall), empregando-se blocos de concreto e armadura. As barras de aço da armadura
devem estar alojadas nos furos dos blocos e ancoradas na fundação, em pontos
periódicos ao longo do perímetro; os furos com a armadura devem, posteriormente,
ser preenchidos por concreto;
os edifícios devem ser separados por paredes duplas, isto é, cada edifício tem a sua
parede (fire wall); dessa forma, o eventual colapso da parede do edifício em chamas
não compromete a propagação do sinistro, nem a integridade estrutural do edifício
adjacente.
Um outro tópico abordado é a proteção das aberturas inevitáveis – portas e janelas – que
são as partes mais vulneráveis da compartimentação. A proteção dessas aberturas
geralmente possui uma resistência ao fogo menor que os vedos (paredes e lajes), por
duas razões:
1ª os materiais combustíveis de fácil ignição geralmente não ficam próximos às portas e
outras aberturas protegidas e,
2ª a equipe de combate ao fogo pode controlar e extinguir focos localizados de incêndio
que se propagem pelas aberturas; contudo, para a compartimentação não perder sua
eficiência, a área ocupada pelas aberturas nas paredes deve ser limitada a 25% da
sua superfície.
As portas e janelas corta-fogo são largamente utilizadas e aceitas para proteção de
aberturas em paredes resistentes ao fogo e seu desempenho deve ser sempre
comprovado por testes realizados em laboratórios reconhecidos.
As aberturas também podem ser protegidas por vidros especiais combinados às portas,
janelas e paredes corta-fogo, em forma de painéis, se aprovados em testes específicos. A
preocupação adicional, neste caso, é com o efeito do calor radiante que pode ser
transmitido pelo painel de vidro, de forma muito mais intensa do que por uma parede ou
porta sólida.
compartimentação
horizontal compartimentação
compartimentação
vertical
vertical de shafts
uso residencial
shaft
uso comercial
estacionamento
uso comercial
uso comercial
As curvas ASTM E-119 e ISO 834 são idênticas. Ressalta-se que a curva-padrão não
representa uma curva real de um incêndio, uma vez que cada incêndio real possui
características próprias de desenvolvimento e transferência de calor, em função das
características do cenário de incêndio (distribuição e tipo de carga de incêndio, áreas de
ventilação e características físicas e térmicas dos materiais dos elementos de
compartimentação, etc.).
Existem modelos matemáticos – as chamadas curvas naturais – que caracterizam
realisticamente o incêndio, considerando a influência das aberturas, das características
térmicas dos materiais da compartimentação e da quantidade de carga de incêndio.
Contudo, há uma dificuldade operacional de realizar testes de resistência ao fogo
utilizando essas curvas, porque existem inúmeras combinações entre as características
do cenário de incêndio, e que geram inúmeros modelos de incêndio possíveis. Daí a
necessidade de padronização de uma curva de incêndio e de ensaios de resistência ao
fogo dos materiais. No Brasil, a NBR 5628:2001 indica a eq. 1 para ensaios de
resistência, quando o incêndio é alimentado por materiais celulósicos.
Figura 4.1: Distância de Figura 4.2: Distância de segurança Figura 4.3: Parede corta-fogo
segurança entre fachadas (IT 07 entre a cobertura e a fachada (IT 07 entre edifícios contíguos (IT 07
(2004)). (2004)). (2004)).
11
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4.2 Instrução Técnica N° 08 (2004) do Corpo de Bombeiros do Estado de
São Paulo
A IT 08 – “Segurança Estrutural nas Edificações Resistência ao fogo dos elementos de
construção” estabelece o tempo requerido de resistência ao fogo (TRRF) que os
elementos estruturais e de compartimentação devem atender para evitar o colapso
estrutural precoce. Os TRRF´s (Tabela 4.2) estabelecidos pela IT 08 (2004) baseiam-se
na NBR 14432:2000.
As escadas e elevadores de segurança, os elementos de compartimentação (sistema
estrutural de compartimentação e selagem de caixas, dutos e antecâmaras), devem
atender a Tabela 4.2, não podendo ser inferior a 120 min. Para o de isolamento de risco,
as vedações e os elementos estruturais essenciais à estabilidade delas também devem
ter TRRF ≥ 120 min.
Os elementos de compartimentação externos (fachadas) e internos (lajes, selagens dos
shafts e dutos de instalações) e os elementos estruturais essenciais à estabilidade dos
elementos de compartimentação devem ter o mesmo TRRF da edificação, não podendo
ser inferior a 60 min.
Para as ocupações dos Grupos A (A2 e A3), B, E e H (H2 ; H3 ; H5 e H6), as paredes
divisórias entre unidades autônomas (apartamentos residenciais; apartamentos de hotéis,
motéis e flats; salas de aula; enfermarias e quartos de hospitais; celas de presídios e
assemelhados) e entre unidades e as áreas comuns, também devem ter TRRF ≥ 60 min.,
independente do TRRF da edificação; mas, a presença de sistemas de chuveiros
automáticos isenta tal exigência. Para atender às exigências resistência ao fogo, as
paredes de alvenaria devem ter as características materiais da Tabela 4.3.
Tabela 4.2: Tempo requerido de resistência ao fogo – TRRF (min) em função da utilidade da edificação.
Altura da edificação (m)
Grupo Ocupação/Uso Divisão
h≤6 6 < h ≤ 12 12 < h ≤ 23 23 < h ≤ 30 30 < h ≤ 80 h > 80
A Residencial A-1 a A-3 30 30 60 90 120 CT*
Serviços de
B B-1 e B-2 30 60 60 90 120 CT*
hospedagem
Comercial C-1 60 60 60 90 120 CT*
C
varejista C-2 e C-3 60 60 60 90 120 CT*
Serviços
profissionais,
D D-1 a D-3 30 60 60 90 120 CT*
pessoais e
técnicos
Educacional e
E E-1 a E-6 30 30 60 90 120 CT*
cultura física
Fonte: Tabela “A” da IT 08 (2004) (simplificada pelos autores).
* CT = utilizar Comissão Técnica junto ao Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
< 2,0 m
≥ 0,9 m
alinhamento alinhamento
porta corta-fogo parapeito
da fachada da fachada
≥ 0,9 m
paredes resistentes ao fogo (TRR F
segundo IT 08) laje/piso ≥ 1,2 m laje/piso
parapeito
porta corta-fogo ≥ 0,9 m
laje/piso laje/piso
≥ 2,0m ≥ 1,2 m
Figura 4.4: Compartimentação horizontal de áreas Figura 4.5: Compartimentação vertical das
contíguas. fachadas.
1
EN 1363-1:1999 Fire resistance tests – Part 1: General requirements; EN 1363-2:1999 Fire resistance
tests – Part 2: Alternative and additional procedures; EN 1364-1:1999 Fire resistance tests for non-
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de segurança contra incêndio é de responsabilidade nacional; por isso, os níveis de
segurança absoluta variam de um para outro país dentro da comunidade européia.
Conseqüentemente, há uma multiplicidade de códigos e regulamentos usados nos países
da Europa para garantir a segurança contra incêndio das edificações. Cada país possui
regulamentos ou “instruções técnicas” mais específicas, tendo por base as tradições e
níveis de estimativa de segurança locais, aludindo a métodos de ensaio nacional ou
internacional.
Para edificações complexas e grandes, cujas dimensões e particularidades excedem os
limites das regulamentações tradicionais, alguns países da Comunidade Européia
(Finlândia, Noruega, Suécia e Reino Unido) preferem usar regulamentações prescritivas
de segurança contra-incêndio, com recomendações detalhadas para a aceitabilidade de
uma edificação e de elementos construtivos.
De acordo com os princípios básicos de segurança contra incêndio da Comunidade
Européia, a resistência ao fogo dos elementos construtivos é avaliada pelo seu
desempenho quando aquecidos, segundo a elevação de temperatura padronizada pela
norma ISO 834 (1975).
O aquecimento-padrão é a referência de quase todos os códigos nacionais da
Comunidade e permite especificar um tempo mínimo de aquecimento, durante o qual um
elemento construtivo deve manter a sua integridade relacionada à sua função. Assim, a
resistência ao fogo ganha o significado de integridade durante o sinistro; se esses
elementos forem estruturais, com mais de uma função (por exemplo, paredes estruturais
e lajes de piso), eles devem suportar as ações de carregamento durante o
desenvolvimento completo de um incêndio e manter sua integridade estrutural (a
estabilidade ou capacidade de suporte) e a sua integridade física (o isolamento e a
estanqueidade).
O desenvolvimento total de um incêndio significa o estado de total envolvimento dos
materiais combustíveis pelo fogo (EN ISO 13943:2000).
As exigências de tempo requerido de resistência ao fogo são caracterizadas pela
condição de segurança necessária à função elemento: isolamento – I (insulation),
estanqueidade – E (integrity) e resistência – R (resistance). Essas siglas são usadas junto
com um valor de tempo para caracterizar o desempenho de resistência ao fogo do
elemento; por exemplo, se um produto apresenta a designação REI 60, ele atende às
exigências de estabilidade estrutural, estanqueidade e isolamento, simultaneamente,
durante 60 min. de aquecimento-padrão, aferidas experimentalmente.
Os países latinos da Comunidade usam designação apropriada ao idioma do país, com
base nesse padrão. As normas e regulamentações nacionais desses países têm
apresentado prescrições e soluções específicas para a compartimentação de edifícios,
referente a divisões internas de compartimentos, adoção de proteção ativa para assegurar
a compartimentação, ou quando a presença de aberturas (portas & janelas) é inevitável.
loadbearing elements – Part 1: Walls; EN 1364-2:1999 Fire resistance tests for non-loadbearing
elements – Part 2: Ceilings; EN 1365-1:1999 Fire resistance tests for loadbearing elements – Part 1:
Walls; EN 1365-2:1999 Fire resistance tests for loadbearing elements – Part 2: Floors & roofs; EN
1365-3:1999 Fire resistance tests for loadbearing elements – Part 3: Beams; EN 1365-4:1999 Fire
resistance tests for loadbearing elements – Part 4: Columns; EN 1634-1:2000 Fire resistance tests for
door and shutter assemblies – Part 1: Fire doors and shutters; prEN 1187:2001 Test method for
external fire exposure to roof; prEN 13501-2:1999 Fire classification of construction products and
building elements – Part 2: Classification using data from fire resistance tests, excluding ventilation
services; prEN 13501-5:2001 Fire classification of construction products and building elements – Part
5: Classification using data from external fire exposure to roof tests.
16
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Algumas dessas particularidades são apresentadas a seguir.
Em face das exigências serem específicas devido à função dos elementos construtivos,
há possibilidade de elementos estruturais e elementos de compartimentação,
pertencentes a um mesmo compartimento, terem valores de resistência ao fogo diferentes
entre si. Para tais situações, a NBE–CPI-96 (p.36) recomenda que os elementos
construtivos separadores de compartimentos devem ter uma resistência ao fogo (RF) pelo
menos igual àquela requerida aos elementos estruturais (EF).
A norma espanhola UNE 23093 Parte 1 – “Ensayos de resistencia ante el fuego. Parte I.
Requisitos generales “e Parte 2 – “Ensayos de resistencia al fuego. Parte II.
Procedimientos alternativos y adicionales” incorpora as recomendações do Eurocode
(prEN 1363:1999 Parts 1 e 2), atendendo à unificação de ensaios da Comunidade
Européia (FIRERETARD.COM (2003)).
5.1.2 França
Para assegurar a compartimentação de um ambiente com aberturas externas, o artigo CO
21 – Résistance à la propagation verticale du feu par les façades comportant des baies
permite combinar as dimensões de parapeitos e marquises , por meio da eq. 5.1,
admitindo que a carga de incêndio da marquise/sacada seja superior 80 MJ/m².
C + D ≥ 1m → q fi ≤ 80 MJ / m² (5.1)
C + D ≥ 1,3 m → q fi > 80 MJ/m²
onde: C = altura do parapeito (m);
D = comprimento da fachada (m);
qfi = carga de incêndio por área de fachada
17
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Quando as paredes da fachada e a sacada são de alvenarias tradicionais, a carga de
incêndio qfi = 0.
A separação entre edifícios contíguos deve ser conseguida por meio de uma parede
corta-fogo sito entre as paredes divisórias de cada edifício (Figura 5.2). Durante o
incêndio, o colapso de algum elemento de vedação de um edifício não facilitará a
transmissão do incêndio para o edifício vizinho.
Figura 5.1: Dimensões mínimas do comprimento de Figura 5.2: Separação entre edifícios contíguos por
parapeitos e marquises para impedir a propagação de meio de uma parede corta-fogo entre as paredes
chamas por aberturas de fachadas (THOMAS & divisórias de cada edifício (THOMAS &
ARCHAMBAULT (2002)) ARCHAMBAULT (2002))
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5.1.4 Reino Unido
The Building Regulations 2000 Fire Safety prescreve formas convencionais de
compartimentação e formas especiais. Estas podem ser: paredes comuns a dois ou mais
edifícios; paredes dividindo edifícios em partes independentes as quais podem ser
avaliadas independentemente para o propósito de determinação da resistência ao fogo e
paredes separadoras de casas da área de garagem. Nesses casos especiais, é permitida
abertura desde que protegida adequadamente.
5.2 Singapura
O Handbook on fire precautions in buildings 2002 do Singapore Civil Defence Force Fire
Safety & Shelter Department (Departamento de Amparo e Segurança da Força de Defesa
Civil de Singapura) permite a abertura em paredes de separação entre edifícios para a
passagem de pequenas tubulações, para meios de escape e portas para a circulação do
público; nesse último caso, a porta deve ter a mesma resistência requerida à parede.
As paredes de separação é uma parede comum que separa uma unidade da outra e tem
a função de impedir a propagação do incêndio para outras unidades.
A existência de portas entre duas unidades residenciais é permitida, desde que ambas
pertençam ao mesmo proprietário e sejam unifamiliar (Figura 5.3). Essa abertura na
parede de separação deve ser usada somente para permitir a comunicação entre as duas
unidades e não deve ser tomada como meio de escape durante o sinistro. O proprietário
deve enviar um documento a FSSD – Fire Safety & Shelter Department, informando que
se uma dessas unidades for vendida, a abertura da porta será fechada com alvenaria
para ter a resistência ao fogo necessária como uma parede geminada.
Figura 5.3: Parede de separação entre unidades unifamiliares (HANDBOOK ON FIRE PRECAUTIONS IN
BUILDINGS 2002)
2
Denominação usada na normatização neozelandesa.
3
O método do Tempo Equivalente é recomendado na Instrução Técnica 08 (2004) do Corpo de Bombeiros
da Polícia Militar do Estado de São Paulo, com base no Eurocode 1 (prEN 1991-1-2:2002). COSTA & SILVA
(2005) detalham as origens e a aplicação desse método.
4
Está em processo de elaboração um texto-base de norma brasileira que irá detalhar o Método de
Gretener, com base na norma suíça SIA-81 (1985) apud COSTA & SILVA (2005).
5
O Eurocode 1 (prEN 1991-1-2:2002) apresenta uma maneira expedita de se reproduzir uma curva
temperatura-tempo similar à real.
20
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Para as chamadas “unidades autônomas6” entre si e, entre elas, as áreas comuns, é
solicitada a compartimentação com TRRF ≥ 60 min., sem que se determine sua área
máxima (item 5.7.4 da IT 08 (2004)); por outro lado, essa mesma Instrução Técnica define
que as portas de acesso às unidades autônomas tenham TRRF ≥ 30 min., apenas para
edifícios do Grupo E com altura superior a 12 metros e dos Grupos B-1, B-2 (hotéis e
flats), H-2, H-3 e H-5 (clínicas e hospitais), exceto as edificações térreas (item 5.7.4.2 da
IT 08 (2004) ). Dessa forma, isentam-se as aberturas de acesso aos apartamentos
residenciais desta exigência, contrariando os princípios de compartimentação discorridos
no item 2 deste trabalho.
Apesar de a IT 09 (2004), no seu item 5.1.5.3, corroborar com a IT 08 (2004) nos itens
supracitados, se contradiz no item 5.1.4.2: “Os elementos de proteção das aberturas
existentes nas paredes corta-fogo de compartimentação podem apresentar TRRF de 30
minutos menos que a resistência das paredes corta-fogo de compartimentação, porém
nunca inferior a 60 minutos”. Adicionalmente, a instalação de portas corta-fogo com TRRF
= 30 min., no acesso às unidades autônomas, permitida pela IT 08 (2004), também
contraria a medida definida no item 5.1.4.2 da IT 09 (2004) supra.
Na IT 08 (2004), em particular, os chuveiros automáticos são citados como instrumento de
isenção de paredes de compartimentação de “unidades autônomas6”, no item 5.7.4. e, as
portas corta-fogo de acesso correspondentes, no item 5.7.4.2. Possivelmente, essas
Instruções Técnicas consideraram que “unidades autônomas” tivessem limitação de área
para serem consideradas como tal, onde o incêndio teria um desenvolvimento restrito,
para então considerar as exceções apresentadas acima. Contudo, seria necessário
explicitar se essas medidas menos restritivas comprometem ou não a compartimentação,
para efeito de propagação do incêndio (chamas, calor e fumaça) e para o
dimensionamento da estrutura do edifício.
Há alguns anos, as exigências quanto à compartimentação eram apenas um limitante
superior de área, afetando o projeto arquitetônico ou, eventualmente o projeto hidráulico,
na alternativa de utilização de chuveiros automáticos. Assim, eram seguidas instruções
prescritas em normas ou regulamentos. Hoje, com a regulamentação da segurança
estrutural, a determinação da área compartimentada tornou-se essencial para o projeto de
estruturas.
Não bastam prescrições inalteráveis “a favor da segurança”, quando há programas de
computador cada vez mais avançados, que podem determinar com precisão matemática
a compartimentação ou não de um incêndio. Deve-se haver coerência entre todos os
documentos oficiais, clareza na interpretação das regras e, principalmente, racionalidade
na determinação da área compartimentada.
7 Conclusões
Os objetivos básicos da compartimentação apresentados pela literatura especializada e
na legislação em vigor são concordantes entre si: proteger as unidades adjacentes e
outras propriedades vizinhas do dano, permitir a desocupação dos usuários da edificação
em segurança durante um tempo suficiente e, que as ações de combate e salvamento se
procedam em segurança, inclusive para proteger a propriedade. Alguns códigos
internacionais incluem a proteção do meio ambiente dentre as funções de
compartimentação do incêndio, limitando a emissão de poluentes dos produtos e
6
Apartamentos residenciais; apartamentos em hotéis, motéis e flats; salas de aula; enfermarias e quarto de
hospitais; celas de presídios.
21
.
subprodutos da combustão para a atmosfera.
O conceito de compartimentação é importante para a determinação das exigências de
resistência a fogo das estruturas e aplicação dos métodos de verificação existentes.
Entretanto, diversas dúvidas podem ser levantadas, as quais indicam a necessidade do
desenvolvimento maior de pesquisa na área e a conseqüente modernização de nossa
legislação:
Nenhuma das bibliografias consultadas faz referência à compartimentação com
aberturas voltadas para ambientes internos, mesmo que estes possuam baixa carga de
incêndio e, portanto, baixa probabilidade de propagação de incêndio; há programas de
computador que podem verificar se o fluxo de calor poderá se propagar entre
ambientes, independente do tipo de abertura ou de sua proteção. A legislação deve
prever essa possibilidade.
Não foi encontrada a diferenciação entre compartimentação ao calor e à fumaça. A
fumaça tóxica, embora responsável pela maior parte dos óbitos em incêndios, não
causa prejuízo às estruturas. São possíveis compartimentos contendo aberturas que
permitem apenas a passagem de fumaça mas, na existência de baixa carga de
incêndio, é improvável a transferência de chamas ou calor significativo. A legislação
deve prever a diferença entre compartimentar o calor ou a fumaça.
Na legislação brasileira, não se prevê a combinação entre as dimensões de parapeitos
e marquises, na avaliação da compartimentação vertical; em outros países tal
composição é permitida, contribuindo com o projeto de arquitetura das edificações.
A legislação brasileira não permite usar as mesmas recomendações de separação
entre edifícios de mesmo lote, para edifícios de lotes diferentes. Adotar as mesmas
recomendações pode conduzir à insegurança?
Nas exigências para separação entre edifícios não são considerados os dispositivos de
segurança contra incêndio, instalados em cada um deles. Essa desconsideração
parece levar a resultados antieconômicos, inadmissíveis em países em
desenvolvimento, tal como o Brasil.
Da literatura internacional, entende-se que as paredes de isolamento de risco são
utilizadas entre edifícios de diferentes proprietários. Para compartimentar um incêndio
entre áreas de um edifício de proprietário único, bastaria uma parede
compartimentação, a qual, além de ser mais fácil e econômica de se construir, admite
aberturas protegidas. A legislação nacional não permite tal procedimento.
Ressalta-se que a presente pesquisa é superficial, em vista da complexidade de
conceituação e regulamentação apresentada em cada código consultado e entre os
códigos de cada país. Urge a necessidade de se ampliar essa pesquisa e de desenvolver
uma Norma Brasileira sobre compartimentação. No Estado de São Paulo, a nova IT 09
(2004), em conjunto com alguns itens da IT 08 (2004) sinalizam a possibilidade de se
conformarem num texto-base de uma futura norma brasileira sobre compartimentação,
incluindo-se o aprofundamento dos estudos de parâmetros que afetam o
dimensionamento de estruturas em situação de incêndio, com base na legislação
internacional.
8 Agradecimentos
Ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo apoio
dado a esta pesquisa; e à FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
22
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Paulo, pelo apoio dado à divulgação deste trabalho.
9 Bibliografia
[1]
Article CO 21: Résistance à la propagation verticale du feu par les façades
comportant des baies. Disponível em:
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