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Jornalismo como Cultura Popular

Peter Dahlgren

Traduzido por: Thiago Ferreira

Cultura popular surgiu como um dos principais locais de investigação no âmbito da pesquisa sobre comunicação de
massa contemporânea e estudos culturais. A maior parte do trabalho está preocupada com a ficção, em especial na
televisão, e com outras formas de expressão que vêm, geralmente, sob o título de "entretenimento". Raramente o foco é
sobre os modos pelos quais a não-ficção opera dentro da mídia – e opera como - cultura popular, apesar de tanto as notícias
de televisão quanto as de jornais serem, inegavelmente, características populares dos meios de comunicação de massa. Este
livro pretende explorar justamente estas questões. Por que suspende a tomada convencional para a concessão de definições
e os limites que prevalecem no jornalismo, e, em grande parte, graças a isto olhando pelas lentes do que tem vindo a ser
chamados de estudos culturais, esta coleção espera iluminar o jornalismo em novas formas produtivas.

O jornalismo auto-evidente

À primeira vista, parece haver um consenso bastante amplo sobre a maneira pela qual o jornalismo é percebido e
concebido, no seio da profissão e, em grande medida no âmbito da academia, em especial, nas escolas de jornalismo. Quer
seja tratado como um conjunto de práticas profissionais, uma forma de comunicação política ou um sub-campo de estudos
da comunicação de massa, há uma aura auto-evidente em relação ao que se diz sobre jornalismo. Mesmo na ficção popular,
nós encontramos de forma um pouco consistente, uma mítica imagem: a imagem heróica do jornalista defendendo a
verdade contra os muitos dragões de escuridão no mundo moderno.
Esta aparente unidade em relação ao jornalismo - o que é, como é feito, o que, idealmente, deveria ser, e os efeitos
que tem na sociedade - não significa que ele é visto como livre de problemas ou controvérsias internas; na verdade,
podemos ler e ouvir uma boa coisa sobre suas diversas crises, que expressa (entre outras coisas) dilemas, econômicos,
éticos e profissionais. Entre os profissionais, contradições com experiência às práticas diárias do jornalismo podem, em
casos individuais, minar a confiança profissional. Além disso, as reflexões coletivas sobre o desempenho profissional
concreto, por exemplo, sobre a cobertura das campanhas presidenciais recentes, das guerras estrangeiras, pode invocar
preocupação para onde o jornalismo se dirige. Mudanças sociais, tecnológicas e imperativos organizacionais, bem como as
transformações das estruturas da comunicação social, podem, igualmente, forçar uma reflexão sobre a situação do
jornalismo.
No entanto, a tendência compreensível é a de tornar estas dificuldades, um assunto interno do jornalismo e de suas
várias instituições auxiliares. Em outras palavras, jornalismo e professores de jornalismo, normalmente, se esforçam para
manter o controle sobre essas turbulências discursivas. Entre outras coisas, isto ajuda a consolidar e legitimar práticas
profissionais e a identidade jornalística. Em um texto como o de Dennis (1989), por exemplo, encontra-se uma visão
detalhada sobre os males do jornalismo contemporâneo. Paralelamente a este, no entanto, existe um duplo processo de
trabalho no livro: de um lado, uma reafirmação de fé nos fundamentos e, por outro lado, um processo de manutenção do
controle de definições de campo, os seus problemas e possíveis soluções, exercido pelos jornalistas, empresários e
professores de jornalismo. Estratégias semelhantes podem ser encontradas em publicações profissionais, tais como o
Columbia Journalism Review.
A pesquisa sobre o jornalismo, também, tem um papel a desempenhar tanto na manutenção do consenso e do
controle discursivo. Dentro da pesquisa universitária, um grande conjunto de resultados empíricos tradicionais (muitas
vezes relacionada com educação jornalística) tem mostrado e continua a mostrar as vicissitudes dos fatores econômicos, de
audiências, de circulação, padrões de carreira, percepções profissionais e outros fatores importantes (ver, por exemplo, o
jornal Journalism Quarterly). Este trabalho é normalmente expresso em termos retóricos e quer reproduzir os cânones da
objetividade científica e / ou manifestar expressamente a compatibilidade com a tradicional auto-compreensão do
jornalismo. Essa solidariedade significa que normalmente tende-se a evitar o confronto da crítica com os preceitos
fundamentais do jornalismo.
Porém, mesmo as conclusões problemáticas das pesquisas mais críticas podem ser feitas e usadas para apoiar, em
vez de subverter, o consenso e para conter a área de discussão. Em um excelente estudo sobre a evolução das pesquisas das
notícias, Davis (1990) examina primeiro, algumas das mais tradicionais abordagens e as suas ligações com a visão de
mundo inerente (minimalismo democrático) às teorias do pluralismo da elite, que surgiram após a Primeira Guerra
Mundial. Movendo-se para as mais recentes tendências em matéria de investigação de notícias, Davis constata que elas
fornecem uma "consistente e bastante negativa avaliação do papel da notícia na política americana" (1990: 177) e, tomada
em conjunto, elas oferecem "conclusões uniformemente pessimistas" (ibidem). Mas, em vez de desafiar os pressupostos
que prevalecem sobre o jornalismo, elas mudam a direção deles, e encerram-nos em uma otimista e recuperativa nota,
ressaltando o futuro promissor do estoque das pesquisas de notícias, que agora, podem tecer, em conjunto, estas novas
abordagens (1990: 179). Do mesmo modo, Bennett (1988) compila pesquisa, consideravelmente, prejudicial que,
aparentemente, mina a sabedoria convencional. Embora perto da borda da heresia, o seu tom reformista e sua fé liberal na
sabedoria de resgatar a cidadania pagam a sua posição.
As duas últimas décadas testemunharam uma série de 'ondas' de pesquisa, da qual tanto Davis quanto Bennett
trataram. Os horizontes teóricos originais e as conclusões analíticas foram, no entanto, as que mais apareceram nos
momentos mais críticos das interpretações de Davis e Bennett. Estas ondas, nem sempre claramente delimitadas, emanam,
principalmente, de outros setores da academia, fora das escolas de jornalismo. Esses esforços prosseguem hoje acoplados
às críticas, decorrentes de alguns domínios da política extra-parlamentar, que tentam interrogar e redefinir as concepções
prevalecentes sobre o jornalismo.
A primeira dessas ondas de investigação, podemos notar que foi o trabalho sobre as instituições dos meios de
comunicação, a maioria (mas não exc1usivamente) do ponto de vista econômico e político neo-marxista. Estes estudos
levantaram questões sobre a propriedade e suas implicações para o jornalismo, apesar de serem pouco claros na natureza
precisa da ligação entre a propriedade e as práticas jornalísticas diárias (ver Schudson, 1989, para uma visão geral da
literatura sobre a produção de notícias). Uma segunda e relevante onda foi a crítica em relação à ideologia, aplicada à
circulação de notícias (ver Knight, 1982, para um resumo das investigações a partir da década de 1970), que procurou
corrigir os pontos de vista estabelecidos sobre as implicações políticas das formas e conteúdos do jornalismo.
A terceira onda consistiu nos estudos substancialmente sociológicos sobre a produção de notícias. Estes estudos,
criticamente, ressaltaram temas, tais como dependência das rotinas jornalísticas em relação às fontes do poder político,
empresarial militar. Outros temas foram talvez explicitamente menos críticos, tais como a organização das contingências
para a tomada de notícias (newsmaking). Contudo, mesmo aqui a pesquisa foi desmistificando: mesmo quando lutando para
ser meramente esclarecedora, a sua perspectiva "construtivista" sobre o modo como a notícia se faz era muitas vezes vista
como incompatível com a própria percepção daqueles que fazem a notícia.
Concomitantes com essas ondas, mas ganhando impulso recentemente, nós encontramos os trabalhos no âmbito da,
vagamente concebida, área dos estudos culturais voltando as suas atenções para as notícias e outras formas de jornalismo.
Cultura popular pode ser estudada a partir de certo número de perspectivas, e ao longo dos anos tem havido poucos estudos
que tenham tratado jornalismo como uma forma de cultura popular ou puseram em evidência temas da cultura popular
dentro do jornalismo. Mas com os estudos culturais nós testemunhamos os mais ambiciosos e sistemáticos esforços
teóricos na análise da natureza do jornalismo, muitas vezes, colocando em questão as demarcações entre o que se chama a
si próprio de jornalismo e outras formas de mídia impressa. O termo "estudos culturais" é usado aqui para indicar o
crescimento intelectual amalgamado de vertentes cuja primeira grande unidade pode ser atribuída ao grupo de
Birmingham, no início dos anos 1970 (ver, por exemplo, Turner, 1991; Brantlinger, 1990; também a emissão, em
dezembro de 1989, de Critical Studies in Mass Communication que contém uma coleção de comentários sobre este
campo). Embora a sua coerência seja mais pronunciada na Grã-Bretanha, os estudos culturais não são de forma alguma um
campo totalmente integrado nem é um fenômeno, exc1usivamente, britânico, por exemplo, Carey, de 1989, apresenta uma
versão firmemente ancorada na tradição intelectual americana.
Os Estudos Culturais têm crescido rapidamente no âmbito de aplicação e legitimidade dentro da universidade, assim
como na análise mais generalista da cultura popular (ver Schudson, 1987). Os aglomerados de preocupações, sínteses
teóricas e instrumentos metodológicos que tipificam os estudos culturais em grande parte distinguem-nos de outras
perspectivas sobre a cultura popular, embora as fronteiras nem sempre fiquem claramente determinadas. Os capítulos nesta
coleção, introduzidos mais completamente adiante, na maior parte dos casos, exemplificam a tradição dos estudos culturais
em graus variados, embora outras abordagens estejam também representadas.
A justaposição do jornalismo com a cultura popular atualiza vários pontos de contraste - retomados abaixo - tanto no
âmbito profissional quanto na área acadêmica. Com efeito, mencionar jornalismo e cultura popular no mesmo fôlego pode
ser tomado como uma pesada afronta em alguns círculos. No entanto, a justaposição não é para gerar escândalo. Também
não existe uma intenção redutora - para argumentar que jornalismo "não é nada senão" cultura popular. Pelo contrário,
visto como mais um passo analítico, a aplicação das perspectivas da cultura oferecem novos prismas para ver e
compreender melhor o jornalismo. No entanto, não devemos pensar ingenuamente que tal exercício é meramente
edificante, e que todos serão felizes através de uma visão adicional sobre a natureza do jornalismo. Pois, como um número
de pensadores contemporâneos tem demonstrado o conhecimento não é totalmente separado do poder. Aliás, existem
diferentes tipos de conhecimento que têm diferentes finalidades potenciais. A centralidade do jornalismo na política e na
cultura, bem como nas razões econômicas e interesses profissionais, faz questões com referência às suas fronteiras, usos e
contingências de uma maneira pouco interessada. A tendência natural para uma contenção discursiva, acima mencionada, é
agora cada vez mais contestada, movimentando de forma violenta até as águas das percepções e práticas tradicionais.
Nestes processos, o que está em jogo, pelo menos com o decorrer do tempo, é o controle de definição e ideológico sobre o
que o jornalismo é, pode e deve ser.

Cultura popular difundida

Vamos agora mudar de perspectivas por um momento e ver a análise sobre a cultura popular feita a partir de fora.
Por razões de simplicidade, eu restrinjo as minhas observações aqui para a tradição dos estudos culturais. Várias coisas são
perceptíveis sobre este “chamamento” para uma auto-compreensão convencional do jornalismo. Em primeiro lugar, o
jornalismo em si, é mais uma área dentro de um vasto leque de preocupações empíricas, e longe de ser o mais proeminente.
Em segundo lugar, o pluralismo conceitual, teórico e metodológico que prevalece dentro dos estudos culturais significa que
o que deve ser dito sobre o jornalismo, dificilmente, se diz com uma voz unificada. Em vez de um ataque coerente, o
encontro dos estudos culturais com o jornalismo consiste em incomparáveis e inesperados ataques.
Como uma perspectiva que incorpora várias correntes intelectuais como o neo-marxismo, o feminismo, a semiótica,
a hermenêutica, a teoria literária, a psicanálise e a análise da cultura juvenil, os estudos culturais, como um todo,
apresentam-se como uma construção complicada, cujos objetos de preocupação estão longe de ser coerentes. Com uma
base eclética e com uma tendência para reivindicar como seu terreno esferas cada vez maiores de fenômenos sociais e
culturais, este crescimento rápido da movimentação da pesquisa dos Estudos Culturais poderia muito bem aparecer para as
pessoas de fora como fugas para outras direções, desconstruindo indiscriminadamente e devorando tudo em seu caminho.
Uma das evoluções que tem dinamizado os estudos culturais é a tendência para ver mais e mais domínios da
atividade humana precisamente como "cultura". Esta é sem dúvida uma parte da maior tendência em direção a uma
reflexibilidade radical em praticamente todos os domínios da ação humana, algo que é tão característico da modernidade
(cf. Lawson, 1985, e Giddens, 1991, para duas das muitas discussões sobre este tema). A "cultura", nos pontos
sociologicamente e antropologicamente envolvidos pelos estudos culturais, preocupa-se com as práticas e com os produtos
da atividade humana. Estes são vistos tanto como elementos expressivos quanto constitutivos da subjetividade. O
significado é visto como socialmente construído, e os estudos culturais estão muito voltados na direção de analisar como
ele está estruturado, articulado e distribuído em vários cenários. Questões de identidade - socialmente construídas, não
menos importante do que as questões de gênero - aparecem proeminentemente, e as inflexões psicanalíticas enfatizam o
papel do prazer e da posição do inconsciente nestes processos.
Qualquer peça dada de trabalho será caracterizada por uma determinada orientação teórica e metodológica, seja ela
uma análise textual semiótica ou entrevistas etnográficas. Contudo, o foco no significado, a elucidação da forma como as
pessoas fazem sentido e o esforço global para examinar a experiência social, indicam que, apesar de uma grande variedade
de estratégias de investigação, o tom geral dentro de estudos culturais deve ser, inevitavelmente, interpretativo, qualitativo
e, muitas vezes, crítico. Esta hermenêutica, ou linha “pós-empíricista” significa que os estudos culturais ordenam-se a si
mesmos, diferentemente da maioria das pesquisas de jornalismo, estas últimas tendem a refletir a herança das investigações
e tradições funcionalista e behaviorista.
Quer o real domínio da pesquisa dos estudos culturais poder ser simplesmente rotulado de "cultura popular" ou ele
consiste em algo além disto é uma questão de definição que ainda não está totalmente resolvida. Com mais certeza, nós
podemos afirmar que a cultura popular não é, necessariamente, contígua com a "cultura mediatizada" – i.e. nem toda
cultura popular precisa ser relacionada diretamente com os meios de comunicação. Jornalismo, no entanto, é claramente
um fenômeno midiático, e nossa perspectiva aqui sobre a cultura popular é que ela é um dos fenômenos que passa
extensamente pelos meios de comunicação de massa. Um dos acontecimentos importantes dentro dos estudos culturais foi
na área da recepção midiática - o estudo de como as pessoas dão sentido às suas experiências midiáticas como parte de suas
vidas cotidianas. Eu regresso a este tema brevemente.
Exatamente o que é o 'popular no âmbito da cultura popular? Etimologicamente o termo, é claro, tem a ver com “as
pessoas”. Mas precisa ser salientado, fortemente, que o termo “as pessoas” não precisa incluir todos: há distinções,
classificações sendo feitas. Burke (1978) traça a separação gradual das classes superiores e inferiores nos séculos XVII e
XVI, na Europa, com a cultura popular se tornando o domínio deste último grupo. Desde este tempo, aqueles que têm
escrito e teorizado sobre a cultura popular, geralmente, não têm sido uma parte do "povo" e, conseqüentemente, o popular
precocemente veio significar uma qualidade de alteridade, quer no sentido do vulgar ou do exótico: “eles”, não eu ou nós,
engajam-se nas coisas e diversões oferecidas pela cultura popular.
Do ponto de vista das classes superiores e da alta cultura refinada, o popular, cada vez mais, vem sendo entendido
como uma ameaça crescente para os padrões sociais e culturais, como argumenta Brantlinger (1983). Com a revolução
industrial e a ascensão do capitalismo, o popular tomou, claramente, conotações relacionadas à classe trabalhadora (ver
Schiach, 1989, para um levantamento do contexto histórico discursivo do conceito de cultura popular). Mais tarde,
especialmente na década de 1950, no contexto americano, o popular poderia ser apresentado como algo que foi,
explicitamente, antitético à cultura de classe: foi alegado que a cultura de massa comercial transcendeu essas diferenças, e
foi anunciada por alguns como uma manifestação da democracia cultural. Esses argumentos eram facilmente combatidos
pela esquerda (ver a coleção de Rosenberg e Branco, 1957, como exemplos destes debates).
Neste volume, John Fisk desenvolve a sua concepção de popular, expandindo a partir dos debates anteriores (Fiske,
19R911, 1989b) e relaciona-a ao jornalismo. Para ele, a cultura popular é um processo: apropriação interpretativa das
pessoas dos produtos da cultura de massa capitalista. As “pessoas” são vistas, em uma revisão da análise marxista de
classe, como a maioria da população, que ficam fora do que ele chama de "o poder-bloco". O
encontro com a cultura de massa tem lugar dentro dos múltiplos contextos da vida cotidiana, onde as práticas
interpretativas das pessoas, incluindo as suas diferentes táticas de resistência ideológica, geram e distribuem significado.
Também, neste volume, Colin Sparks (Capítulo 2) analisa a história do conceito de popular - ele acha que não é um
conceito sem ambigüidade que paira sobre a esquerda. Ele também retoma algumas teorias recentes do popular, incluindo
Fiske, e examina as suas dimensões políticas implícitas. Se Fiske é mais preocupado com a forma pela qual a cultura
popular é usada dentro das micropolíticas do cotidiano, a perspectiva de Spark enfatiza a função dela dentro da estrutura
social e no âmbito dos processos macro-sociais.
Enquanto uma concepção consensual do popular ainda está para ser alcançado, pode-se dizer que os estudos
culturais, geralmente, se recusam a aceitar a estética e, tradicionalmente, hierarquizada distinção entre popular e alta
cultura. Isto é, em parte, uma posição analítica: diferenças estéticas e suas fixações sociais são partes de fenômenos sob
investigação. No entanto, para além deste componente de relativismo cultural, há também um político, ou mesmo uma
dimensão populista no trabalho. Tem surgido uma crescente insatisfação com uma aparente elevação das críticas da cultura
popular feitas por perspectivas da elite, mesmo quando vêm da esquerda, como aconteceu com a Escola de Frankfurt.
Intelectuais progressistas, não desejando alinhar-se com condenações elitistas, cada vez mais, estão com o povo e com a
cultura popular. Se o povo está bem, então, a cultura popular deve estar bem. Além disso, especialmente para os
investigadores mais jovens, a cultura popular é, na realidade, muitas vezes um meio cultural com o qual eles se identificam
pessoalmente. Modleski (1987), entre outros, adverte para os perigos de uma falta distância crítica e de uma completa
celebração afirmativa da cultura popular.
Dentro dos estudos culturais, a cultura popular oscila entre duas posições finais que são complementares, mas, às
vezes, parecem competitivas: de um lado, uma ênfase antropológica na partilha de significados e comunidade, por outro
lado, uma crítica da ideologia e da dominação. Um escritor como Ricoeur (1981, esp. Ch. 2) pode formular graciosamente
a dialética sutil que é, teoricamente, um trabalho entre estes dois pólos, mas, muitas vezes, é difícil manter esse equilíbrio
quando se lida com a cultura popular em uma forma concreta.

Descompactando as premissas

Retornando agora ao jornalismo e ao consenso prevalecente sobre seus alicerces - ou seja, as formas predominantes
de falar e pensar sobre ele - o consenso encontra expressão em uma série de discursos, utilizada em diferentes contextos.
Estas áreas de estudo vão desde versões de encantamento dos livros didáticos cívicos até cânones formalizados e códigos e
modos mais específicos encontrados na educação jornalística, configurações profissionais e pesquisas. Eles, não
surpreendentemente, tendem a ignorar esses aspectos históricos e institucionais da intersecção entre o jornalismo, a
propaganda e o entretenimento e o papel desempenhado pelo jornalismo na transferência racional de informações
socialmente e politicamente úteis.
Mas há algo estranho sobre esses discursos, algo incongruente, quando são confrontados com a vasta gama de
práticas encontradas no jornalismo. Ou seja, a concepção de jornalismo que eles promovem - principalmente a de hard
news, mais especificamente a de caráter político - é uma forma muito restrita e representa apenas uma pequena parcela do
que, na prática, constitui o sentido empírico do jornalismo contemporâneo. Na verdade, o "sério" termo imprensa como um
todo parece estar em declínio acentuado no mundo contemporâneo, como Sparks (1991) e outros já haviam salientado. O
jornalismo popular e a imprensa tablóide vêm crescendo e, com isto, a questão do que deveria ser considerado como
jornalismo torna-se fundamental. Os discursos, em outras palavras, estão, cada vez mais, fracassados na tentativa de
considerar o jornalismo como um todo e ao fazer referência a uma legitimação de apenas uma forma particular.
Este caráter metonímico dos discursos dominantes define, em certa medida, conjuntamente com as sanções, uma
noção constrita de jornalismo deixando muitos gêneros, num certo sentido, soltos. O fosso crescente entre as realidades do
jornalismo e sua apresentação oficial de si mesmo significa que o estado dessas múltiplas e restantes grandes categorias é
deixado como algo indeterminado, enquanto que, na realidade, eles continuam a crescer junto com as expectativas da
forma popular do que a imprensa e o jornalismo transmitido são e deveriam ser. Com efeito, particularmente agora, numa
era em que a comercialização é muito proeminente no jornalismo, seria lamentável se aos profissionais responsáveis por
isto fosse somente dada a opção de escolher entre pontos de vista oficiais, cada vez mais inúteis, sobre aquilo que o
jornalismo deveria ser ou, em alternativa, simplesmente abandonar todas as idéias sérias da aspiração jornalística e
capitular perante as forças do mercado.
Esses outros gêneros de "status baixo” aparecem, implicitamente, dispostos em uma hierarquia de acordo com a sua
proximidade aos clássicos textos do jornalismo de hard news. Assim, por exemplo, à reportagem, a algumas peças
características, para algumas formas de cultura e de cobertura e a algumas peças de fundo são, normalmente, concedidas
alguma respeitabilidade. A cobertura do estilo de vida, a cobertura do crime de rotina, as colunas de aconselhamento, as
fofocas de celebridade, entre outras coisas, estão, geralmente, mais afastadas do modelo básico, e, portanto, têm uma
posição mais questionável. Elas podem ser toleradas, mas é pouco provável que sejam louvadas. No presente volume, a
contribuição de David Rowe (Capítulo 6) sobre jornalismo de esportes considera a hierarquia da respeitabilidade dentro
deste gênero. Outras categorias ou formas de jornalismo, como a dos tablóides, são explicitamente denegridas, e podem
muito bem servir, como Pauly (1988) sugere, como uma antítese retórica contra aquilo que é normal, que pode ser definido
por si mesmo como 'bom' jornalismo.
Do ponto de vista da profissão, não somente colocam esta estrutura numa situação dentro/fora do grupo, mas
também significam que grandes números de profissionais podem, confortavelmente, sentir que os cânones tradicionais não
se aplicam para eles e para o seu trabalho. Isto pode ser libertador, mas também pode ser confuso e frustrante, se visões
alternativas não estiverem disponíveis. Na Suécia, por exemplo, as rápidas mudanças nas estruturas mídiaticas, nos últimos
anos, tem começado a borrar as definições puras do jornalismo profissional e, abaixo da retórica oficial, verificou-se um
crescimento silencioso de incerteza no que diz respeito à identidade profissional. A categoria 'jornalismo' está sendo
contestada por uma mais ampla e mais flexível categoria das „mídias profissionais‟, que é, expressamente, isenta daquilo
que muitos vêem como bagagem pesada e normas desnecessárias.
Podemos sugerir que existe uma grande necessidade de redefinir o jornalismo a fim de considerar e avaliar os outros
gêneros e para ver como eles podem ser mais consciente e ativamente utilizados para fins jornalísticos positivos. Isto não
só levanta a questão do que constitui o bom jornalismo, mas também o mais fundamental problema empírico de definir o
que é e o que não é jornalismo. É neste ponto, onde a posição defensiva da manutenção das fronteiras torna-se visível, que
o edifício discursivo inteiro do jornalismo torna-se vulnerável para cuidadosas investigações de fora. Ora, este é também o
ponto onde a oportunidade para uma renovação construtiva da auto-definição do jornalismo apresenta-se.
Se nós nos desvinculássemos dos pressupostos centrais que estão por trás do conceito tradicional de jornalismo, o
que nós poderíamos encontrar, por razões de simplicidade, poderia ser classificado em duas categorias: pressupostos
políticos e sociais e premissas epistemológicas entendendo jornalismo como um processo comunicacional.
Um grupo de pressupostos políticos e sociais oriundo das tradições do pensamento liberal tem emoldurado o
jornalismo ocidental por quase dois séculos. Estes pressupostos têm sido chamados para as questões muitas vezes, e a
análise social por trás dessas críticas do jornalismo está sendo incortonável. Aqui os horizontes da análise neo-marxista do
capitalismo entram em vista, e estes debates não precisam repetir a discussão presente. Eles podem simplesmente serem
mencionados por grande parte dos entendimentos teóricos de esquerda na análise que dependem do conceito de Habermas
(1989) de esfera pública e sua evolução histórica. Os recentes debates sobre este tema em relação aos desenvolvimentos da
comunicação social contemporânea, enfatizam algumas das limitações do próprio modelo de esfera pública, pode ser
encontrado em Dahlgren e Sparks (1991).
A crítica neo-marxista da ideologia liberal presente no jornalismo é baseada em uma série de pressupostos
epistemológicos que o neo-marxismo, de fato, partilha amplamente com o liberalismo. Nos discursos dominantes do
jornalismo, como nos textos do neo-marxismo, a racionalidade do Iluminismo aparecem de forma proeminente. Nós
encontramos essas premissas, fortemente, familiares como uma noção da capacidade racional de prover conhecimento
seguro sobre o mundo, a possibilidade da representação desproblematizada de tais conhecimentos, a convicção no sujeito
integrado e autônomo e a tendência para os dualismos e polaridades entre pólos como racional / irracional, mente / matéria
e lógica / mítico.
Estes pressupostos estavam sendo, cada vez mais, problematizados ao longo do século passado, e hoje, encontram-se
ocupando as controvérsias de todo o terreno das humanidades e das ciências sociais. A atual trincheira dos debates pós-
modernos é a manifestação mais óbvia, mas não, necessariamente, a mais produtiva. O mais importante para os nossos
propósitos aqui, é que o questionamento destes pressupostos, também, fornece algumas portas de entrada para o encontro
dos estudos culturais com jornalismo. Nos termos de uma perspectiva sobre a comunicação, estes pressupostos
epistemológicos flutuam diretamente em direção a um modelo de transferência racional de informações e de seu corolário
de formação fundamentada de opinião. Parando a discussão por um momento, uma coisa pode ser dita: o jornalismo tem
feito o melhor para negar as evidências da montagem das dificuldades nas formulações clássicas do Iluminismo – uma
recusa de arejar a relevância de tais disputas para as suas próprias atividades. Os Estudos Culturais estão agora tentando
promover esta discussão, que coloca em relevo os pontos de discórdia entre as duas perspectivas.
É interessante notar, de passagem que, na história do jornalismo, os conceitos centrais como objetividade e
imparcialidade entraram nos textos canônicos em torno da virada do século, em parte como resposta à uma necessidade
comercial para um produto padronizado (Schudson, 1978; Schiller, 1981). A filosofia empiricista do tempo, também
presente na consciência popular, ofereceu um cenário perfeitamente legitimador. Mas tal como as noções de objetividade
estiveram, firmemente, dentro do jornalismo, a filosofia no século XX começou uma devagar, mas incessante
reconsideração do Iluminismo, até ao ponto de onde hoje alguns dentro do jornalismo poderem sentir que a filosofia está
começando a renegar a sua oferta inicial, abandonando seus apoiadores e suportes.
Vamos analisar uma compreensão do jornalismo sobre si mesmo como um processo comunicacional e ver que tipo
de questões surge a partir do seu encontro com os estudos culturais. Eu primeiro olho brevemente para a produção e
recepção de lados da comunicação jornalística e então examino algumas questões relativas à forma e aos conteúdos da
produção.

Fazer e receber notícias

Em termos sucintos, os cânones do jornalismo apresentam um panorama dos indivíduos, armados com os seus
conhecimentos profissionais, experiências e princípios éticos que trabalham no contexto das organizações dos media e
relatam os eventos que acontecem no mundo. Este entendimento é, sem dúvida, uma forma prática para os jornalistas
verem esta situação deles, mas ignora uma série de características. A onda das pesquisas das ciências sociais sobre
instituições das notícias e processos produtivos desde a década de 1970, acima referidas, tenta contribuir para a discussão
de uma maneira mais ampla. Hoje em dia, muitas dessas idéias são partes do conjunto comum do conhecimento inerente à
pesquisa dos media (ver a coleção de Manoff e Schudson, 1986), embora o seu estatuto dentro do jornalismo seja ambíguo.
Manifestando uma grande variedade de abordagens, que variou de estudos organizacionais para análises da
construção da realidade social e etnometodologia, estes estudos ressaltaram os fatores contextuais que moldam as práticas
profissionais dos jornalistas. A análise dos processos e contingências do „news-making’ tem salientado, entre outras coisas,
as limitações organizacionais, as rotinas de trabalho, as organizações da fonte e a burocratização da percepção social. Este
trabalho tem ajudado a deformar tanta ingenuidade sociológica bem como ilusões glamurosas sobre o trabalho do
jornalismo. A própria noção de profissionalismo tem mostrado ser uma conseqüência das forças sociais e institucionais, e
não exclusivamente uma expressão normativa (Soloski, 1989). Valores-notícia são, em parte, de fato justificações de
imperativos não-negociáveis, i.e. eles fazem força para fora da necessidade organizacional, como Golding e Elliott (1979)
demonstram.
Alguns destes resultados da pesquisa deram suporte a uma insatisfação familiar de como as formas dos contextos
organizacionais e largamente institucionais da produção de notícias servem aos interesses do poder. Estes créditos
poderiam ser (e foram) contrariados com as estratégias da norma legitimadora da apresentação do jornalismo sobre si
mesmo. Outras conclusões, a partir destes estudos oferecem idéias úteis para a prática do jornalismo, mas a inclusão das
premissas „construtivistas‟ de tais pesquisas enfatiza como as notícias são feitas e não somente relatadas pelos jornalistas,
criando ambigüidades compreensíveis de uma perspectiva profissional, como observado por Schudson (1989). Ele,
adequadamente, fala de algumas destas pesquisas „cultorológicas‟ e, ao mesmo tempo, tenta desenhar uma linha exata entre
a sociologia e os estudos culturais genuínos, dentro desta pesquisa não particularmente frutífera, é evidente que este
trabalho em jornalismo lançou uma luz sobre uma série de temas e preocupações que são centrais para a perspectiva dos
estudos culturais. Em suma, o resultado básico deste trabalho é compreender o jornalismo tanto quanto uma realidade
institucionalmente construída quanto uma contribuição para a construção das grandes realidades sociais – i.e. jornalismo
envolve a produção institucionalizada e circulação do significado.
As perspectivas e conclusões desta investigação estão em desacordo direto em relação à concepção iluminista de
como o conhecimento é gerado e como ele pode ser representado, que é fundamental para a auto-compreensão do
jornalismo. Chamando em causa a validade do conhecimento representativo sobre o mundo - argumentando que as notícias
são muito mais um produto burocrático do que reflexão da realidade externa e a „objetividade‟ é essencialmente um ritual
estratégico - é incompatível com a parte inferior dos discursos auto-legitimadores do jornalismo. Lembrando que as
percepções do sujeito (i.e. os jornalistas) não são somente o produto da autonomia individual, mostrando o que jornalistas
(como todos nós) são inexoravelmente enredados com e, em parte, constituídos pelos usos da linguagem, servem para
enfraquecer as bases da sabedoria convencional.
Essas teses são, compreensivelmente, impossíveis dentro da atual retórica da ideologia profissional. (Aqueles
pesquisadores e jornalistas tendem a utilizar diferentes quadros conceptuais que o antigo grupo, muitas vezes, negligencia
para atribuir a seu próprio trabalho o status de "discurso construído", como eles fazem com o jornalismo, obviamente,
agravando os problemas de compreensão mútua.) Visto a partir dos estudos culturais, a necessidade de haver algumas
formas alternativas de compreensão, o posterior enraizamento e a legitimação de práticas jornalísticas começa a tomar
forma.
Se o processo de produção jornalística tem sido estudado nos pormenores, algumas poucas pesquisas têm sido
realizadas dentro das perspectivas dos estudos culturais sobre o que acontece na recepção - sobre a audiência da recepção
de jornalismo. Os principais estudos em Inglês, até à data, incluem Morley (1980), Lewis (1985), Jensen (1986) e Corner et
al. (1990), todos os quais com o foco na televisão. Estes, porém, são complementados por - e devem ser vistos como parte
de - um conjunto maior das pesquisas de recepção ao longo da última década, que tem tratado da mídia impressa não-
jornalística. Ang (1990) e Radway (1988) oferecem recentes súmulas programáticas. Embora eu não possa resumir todas as
diversas conclusões e debates aqui, alguns pontos centrais precisam ser mencionados.
Para começar, é importante compreender que a experiência das notícias de TV, por exemplo, não pode ser
totalmente isolada da experiência da televisão em geral. Programas de notícias fazem parte do fluxo global de programas e,
portanto, estão embutidos na relação de nossa cultura com a mídia televisiva. Embora possa haver mudanças de atenção
quando as notícias chegam, dificilmente, é o caso das pessoas se sentarem atenciosamente e lealmente em frente à tela
como caçadores disciplinados de informações. Além disto, o próprio meio televisivo aparece mal adequado para a
comunicação de material conceitualmente avançado. Nós deveríamos também observar aqui o grande corpo internacional
de pesquisas empíricas que tem demonstrado que as notícias de TV alcançam uma taxa muito baixa de sucesso na
transmissão de informações factuais compreensíveis (ver, por exemplo, Robinson e Levy, 1986). O próprio termo 'mídia' -
combinando imprensa, rádio e TV – trabalha para desviar a atenção da grande importância das diferenças cognitivas e
existenciais existentes entre eles.
Porém, mesmo que os telespectadores só detenham uma parte do conteúdo informativo, eles continuam a fazer
sentido daquilo que eles vêem. Recepção envolve tomadas de sentido ativas. As pessoas não são, de modo algum,
receptores passivos; para fazer sentido é preciso interpretar ativamente o mundo e o lugar que eles ocupam. Isso tem lugar
dentro dos horizontes da vida cotidiana. Jornalismo, como comunicação política, constitui um elo entre as configurações da
esfera privada (casa, amigos, etc) e os atuais eventos da esfera pública e política. Tal como sugerem Jensen (1990) e
Morley (1990), a partir de suas respectivas pesquisas, as relações entre as esferas são complexas. As pessoas não olham
para o mundo através da simples reprodução dos termos e categorias que são oferecidos pelos meios de comunicação. Por
exemplo, os significados de informação e de entretenimento não são universais e a distinção entre eles pode ser negociável:
não do ponto de vista da identificação do Gênero (telespectadores são perfeitamente capazes de fazer isso), mas em termos
do que eles realmente fazem com os diferentes tipos de programas. As pessoas podem fazer muitas utilizações do
jornalismo, algumas dos quais é provável que não pretendidas por jornalistas sérios.
Ver televisão - até mesmo quando se trata de notícias – não significa ser uma experiência homogênea ou
consistente: o mesmo telespectador pode exibir uma variedade de modos diferentes de envolvimento, com diferentes graus
de atenção e participação subjetiva. Pesquisas de recepção têm tentado ser sensíveis com as reais experiências subjetivas de
assistir notícias de TV. Embora muitas pesquisas de jornalismo pareçam começar de uma concepção pré-freaudiana de
homem racional, os estudos culturais pressupõem que as pessoas, até mesmo nas suas funções de audiências do jornalismo,
podem manifestar múltiplas e mutáveis subjetividades, caracterizadas pelas necessidades, medos e desejos, que, muitas
vezes, trabalham em um nível inconsciente. O que se verifica é um retrato da recepção muito mais complicado do que o
implicado pela pesquisa de jornalismo convencional.
Se as pesquisas de recepção podem ser vistas como um retorno à ênfase do poder de definição do público em relação
aos meios de comunicação, um dos temas atuais é exatamente como avaliar esta liberdade interpretativa na relação com as
estruturas de poder. Existe um risco evidente que é acentuar a autonomia das audiências, fazendo com que os estudos
culturais regressassem à concepção liberal clássica, em que as pessoas, simplesmente, fazem das suas próprias mentes o
que bem querem. Visto através das lentes da teoria sociológica, esta questão pode ser vista como uma versão dos longos
debates entre perspectivas sistêmicas e perspectivas interacionais sobre a ordem social. Esta questão estará, sem dúvida,
sob a agenda das pesquisas por algum tempo.
É necessário recordar que, com sua ênfase no sentido e subjetividade no processo de recepção - tanto no pólo de
produção quanto no pólo de recepção da comunicação jornalística – os estudos culturais tendem a ignorar a dimensão
informacional do jornalismo. Tais questões como a compreensão e aprendizagem foram deixadas de lado por tradições
como a da psicologia cognitiva quanto o do processamento de informação. Esta divisão é lamentável, mas talvez inevitável
atualmente. Para o futuro, seria interessante se a orientação da recepção pudesse ser complementada com o tipo de
processamento de informação representada, por exemplo, por Graber (1988). Para o jornalismo, até mesmo a variedade das
políticas hard news pode ser usada para fins não-informativos, ele certamente também contém, o que é, obviamente,
fundamental para a sua importância social. Isso nos dá uma visão mais integrada do que acontece na extremidade receptora
do jornalismo.

Fronteiras Textuais

É no que diz respeito aos textos do jornalismo - as formas e conteúdos da comunicação jornalística e as práticas que
formam eles - que os contrastes entre as perspectivas tradicionais jornalísticas e as dos estudos culturais tornam-se
acentuados. Eu mencionei anteriormente que a onda de pesquisas se preocupou com as dimensões ideológicas da produção
jornalística. Esta mudança marcou um duplo turno das pesquisas tradicionais de jornalismo. Primeiro, houve a óbvia
preocupação política, uma „hermenêutica da suspeição‟ que era a mais avançada que existia sobre a cobertura noticiosa,
aos nossos olhos, pelo menos à primeira vista. Em segundo lugar, houve uma nova forma de tratamento de textos
jornalísticos e de linguagem em geral. Este teve as suas origens, em sua maioria, dentro do estruturalismo e da semiótica; o
sentido de um texto não podia ser encontrado, digamos, contando a freqüência de palavras ou de outras unidades
selecionadas como a análise de conteúdo tem feito, mas teve de ser localizado em grandes categorias conceptuais. Os
textos jornalísticos passaram a ser tratados como instâncias que organizam códigos e convenções, tendo relações
intertextuais com outros textos, que, por sua vez, compreendia todos os discursos (ver Hartley, 1982, para uma discussão
lúcida destes desenvolvimentos).
Estas dimensões mais globais do texto abordam o leitor/telespectador /ouvinte em um lugar diferente e colocam
ela/ele em uma relação particular com o próprio texto e com o mundo. Em suma, os textos fomentam formas específicas de
olhar o mundo, dificultam outras formas e níveis específicos de formas estruturais relativas ao próprio texto. O resultado
disto, em muitos casos, poderia ser julgado como ideológico; isto é, as formas de ver serviram a certos interesses sociais
em detrimento de outros e, ao mesmo tempo, pareciam ser neutras e naturais. Abordagens muito menos abstratas sobre a
ideologia surgiram, mas até aqui a ênfase foi sobre as sistemáticas e consistentes características da cobertura jornalística,
por exemplo, coberturas de greves poderão ser exibidas a favor das classes mais poderosas.
Esta linha de pesquisa era, obviamente, uma alternativa, na medida em que a preocupação já não era mais os desvios
individuais (viés), mas sim, o caráter sistemático do discurso jornalístico (ver Hackett, 1984, para uma apresentação destes
desenvolvimentos teóricos e suas implicações para o jornalismo). No entanto, no mesmo momento, a dinâmica da crítica
ideológica começou a abrandar. Isto foi devido, em parte, ao desenvolvimento de três coisas relacionadas. Em primeiro
lugar, o aumento da consciência teórica de que o processo de tomada de sentido é anterior ou a parte mais fundamental
para os processos de mistificação ideológica. O problema estava de uma forma deslocada: se a ideologia é um conjunto de
significados, como é que o significado, em geral, pode ser produzido a partir dos meios de comunicação? Em segundo
lugar, junto com este desenvolvimento, a pesquisa etnográfica sobre recepção, tal como descrito acima, começou a
acumular. Tornou-se evidente que a "inscrita" ou "implícita" platéia dentro do texto não é necessariamente idêntica a real,
às audiências vivas. Além disto, tornou-se aparente que as audiências reais têm uma margem considerável em fazer os seus
próprios significados a partir dos seus encontros com os meios. E, em terceiro lugar, a qualidade polissêmica de todos os
textos - o significado de um texto é múltiplo, protéico e contingente de acordo com a circunstância e o uso - se tornou
amplamente reconhecida.
Se o significado de um texto é, na verdade, indeterminável em certa medida, e se as pessoas têm graus consideráveis
de liberdade interpretativa, isto, sem dúvidas, levanta problemas profundos para o jornalismo. Esta linha de raciocínio, se
for levada a sério, significa uma crise das mais caras fundações do jornalismo. Não só as pessoas podem fazer sentido
diferente dos textos jornalísticos e usá-los para uma variedade de funções, mas o sentido dos próprios textos não pode ser
considerado como sendo "estável". Com efeito, as distinções centrais entre jornalismo e não-jornalismo ou bom jornalismo
e mau jornalismo - as fronteiras tão características dos discursos auto-legitimadores do jornalismo – tornaram-se fluidas.
O caso da imprensa popular, especialmente os tablóides (o „escândalo‟ do jornalismo), ilustra esta questão de uma
forma dramática. As demarcações entre a imprensa séria e os tablóides não são tão impermeáveis como parecem à primeira
vista. Bird (1990), convincentemente, demonstra que enquanto há óbvias e importantes diferenças entre a „imprensa
correta‟ e a imprensa tablóide, as suas semelhanças em áreas como a escolha dos temas, o uso de fontes anônimas, o papel
proeminente de especialistas e de conhecimentos especializados nas reportagens e a dependência em relação aos
dispositivos do entretenimento resultam em um comum „continuum de contar histórias‟. Roberta Pearson, neste volume,
mostra como a posição ambígua da forma do jornalismo esportivo - cobertura do World Series de beisebol - se torna
evidente quando acontecimentos imprevistos (terremoto em San Francisco, em 1989) se intrometem e justapõem-se com as
notícias mais sérias. Posições sobre o continuum são negociáveis.
Contar histórias, em outras palavras, é um elo fundamental que unifica o jornalismo e a cultura popular. Poderia ser
considerado que contar histórias tem um status epistemológico, isto é, que a narrativa é uma forma de conhecer o mundo.
Bruner (1986) e outros tornam este argumento uma distinção entre dois modos complementares de pensamento, duas
formas básicas de conhecimento e relaciona-as com o mundo através dos textos, chamando-as de formas analíticas e
formas históricas. A primeira é caracterizada por uma informação referencial e lógica, a última por configurações
narrativas, tornadas coerentes através de um processo que as organiza , dando a elas um sentido. O significado, desta
maneira, pode ser baseado no domínio das referências semânticas ou na organização narrativa. Os dois modos são, muitas
vezes, ligados (certamente no jornalismo) sim. Em última análise, irredutíveis um ao outro.
Jornalismo, oficialmente, tem como objetivo informar o público sobre os acontecimentos no mundo - modo analítico
- e faz isso com mais freqüência na modalidade histórica. Uma das principais características das notícias é que elas geram
os seus próprios „mundos‟. Poderia ser sugerido que na mais intensa coerência narrativa, a coisa menos imperativa é a
função referencial de uma realidade externa para um significado a ser transportado. Boas notícias podem se transformar,
em um sentido independente, numa outra realidade, e podem ser mais facilmente, roubadas dos seus contextos originais e
„transplantadas‟ para outros, i.e. colocá-las em outros usos psicológicos e dar a elas outros significados, tal como eu sugeri
no estudo sobre crime-reportagem (Dahlgren, 1988). Outra característica das notícias é que parece haver um número
limitado de padrões e variações básicas, que são infinitamente repetidas. A notícia é de certa forma, pelo menos em parte,
familiar. As narrativas têm ingredientes que audiências, culturalmente, competentes podem facilmente reconhecer e
classificar, o que estrutura previamente e delimita a provável gama de significados - e também ajuda a promover a
integração cultural.
Pode-se dizer que o „estudo de notícias‟ tanto melhora quanto delimita a provável gama de significados. As
audiências podem assumir as notícias e „correr‟ com elas, em muitas direções. Mas os padrões e as estruturas de notícias
também trabalham para a coesão cultural. Comunidade é, em parte, construída sobre os membros que partilham as mesmas
narrativas. Do ponto de vista das suposições, desafiadoramente, racionalistas do jornalismo sobre o processo comunicativo,
há também uma série de tradicionais, mas incontornáveis perspectivas, que têm destacado, sobretudo, as dimensões
narrativas do jornalismo. Estas perspectivas tendem a reiterar o ponto de que não há linguagem, puramente, instrumental,
que uma narrativa pode transmitir informações explícitas; linguagem sempre faz mais que realmente dizer e significado
nunca é, simplesmente, manifesto. Mas essas perspectivas também são úteis em pontuar as dimensões narrativas do
jornalismo e este parentesco próximo amplia a cultura popular.
Assim, pode-se examinar as dimensões retóricas das (mesmo sérias) notícias, uma abordagem familiar para a
tradição retórica americana. Variações disto têm sido utilizadas com efeito, fortemente, crítico, por exemplo, Edelman's
(1964) trabalha em símbolos de condensação nos discursos políticos e, mais recentemente, em uma versão „atualizada‟, na
análise retórica de Leith e Myerson (1989). Kennamer (1988), a partir de um ângulo pouco diferente, analisa a qualidade da
"nitidez" em textos jornalísticos. Versões de narratologia também podem ser vistas; por exemplo, Bennett e Edelman
(1985) mostram o quanto as “hard news” políticas são criadas a partir de alguns formatos tradicionais de narrativa e que
estes estruturam e mediam visões particulares do mundo. O mito é um elemento recorrente nas narrativas, e Silverstone
(1981, 1988) tem escrito sobre as dimensões, inexoravelmente, míticas da televisão. Na presente coleção, Robin Andersen
traça as qualidades míticas na cobertura do testemunho de Oliver North perante o Congresso dos Estados Unidos. Análises
genéricas dos estudos literários podem igualmente iluminar as narrativas jornalísticas; Jostein Gripsrud, neste volume,
examina o melodrama como uma característica da imprensa popular e esclarece as implicações do mundo simbólico que
criam.
Posicionar um continuum narrativo, entre notícias sérias e de tablóide, entre fato e ficção, entre jornalismo e cultura
popular, é uma subversiva desdiferenciação e contesta as reivindicações do jornalismo para ancorar em si, plenamente, o
domínio racional e ser algo completamente distinto do, digamos, entretenimento. A auto-concepção que estas alegações
expressam podem, por exemplo, contar para a posição ambígua que a fotografia tem tido dentro do jornalismo,
especialmente, na imprensa tablóide, como a contribuição de Karin Becker, para este volume, explica. Enquanto para o
documentário, a qualidade "realista" da fotografia deu-lhe uma posição privilegiada na representação da realidade na
cultura ocidental, os discursos dominantes do jornalismo têm manifestado uma antipatia latente para as imagens; elas
mudam de percurso em direção ao entretenimento e, especialmente, no contexto dos tablóides são consideradas para agir
sobre as tendências irracionais das pessoas.
Embora esta iconoclastia tenha sido largamente ultrapassada pelo mais visual dos meios jornalísticos,
nomeadamente, a televisão, John Langer, neste volume, recorda que aqui, mais uma vez, as distinções entre notícias sérias
e „não-sérias‟ não são tão firmes como os profissionais poderiam pensar. O que ele chama de "lamento" sobre as notícias
centrou-se apenas sobre aqueles tipos de narrativas noticiosas que parecem estar em um crescimento global; o trivial, o
sensacional, o interesse humano. A lamentação supõe que a diferença é de um tipo e não de um grau. As notícias de TV
podem ser agradáveis (Stam, 1983), mesmo quando elas estão sendo sérias são, facilmente, aceitas pelo público (embora,
às vezes, ele tenha inibições para dizer em entrevistas), bem como o espírito de gestão comercial. E para os jornalistas de
televisão também, isto sem dúvidas obviamente. O problema é somente que os discursos do jornalismo não podem admitir
isso. Mesmo se as informações forem expressas no modo narrativo, o prazer não é o objetivo oficial, nem pode mesmo ser
legitimamente reconhecido.
A televisão é também o meio que, nos últimos anos, tem mais profundamente experimentado a sagrada fronteira
entre fato e ficção. Gêneros recentes como docudramas e reconstruções 'baseadas na realidade (a maior parte das vezes de
crimes) têm, se poderia supor, contribuído para destacar que todos os retratos da realidade na televisão, e, por implicação,
em outros meios (ver Peters e Rothenbuhler, 1989) são construções sociais e não somente simples reflexões.

A esfera pública e a cultura popular

No encontro com os estudos culturais, muitas dos pilares do edifício dos discursos jornalísticos aparecem instáveis,
evocando a necessidade de formas alternativas de pensar o jornalismo. (Os maiores problemas de como transformar e
reformar o jornalismo eu deixo de lado para a presente discussão.) Novas, legitimadoras, estratégias discursivas não podem
ser o resultado de intervenções administrativas planejadas, devem ser "biológicas" e intuitivas. Elas também devem
emergir de dentro do quadro dos interesses instalados das instituições jornalísticas e, sem dúvida fazê-lo dentro do contexto
de contestação ideológica.
Muitos dos problemas com a atual formulação oficial do jornalismo podem ser delineados, como eu tenho sugerido,
por uma extensa rigidez, ou, pela qualidade dos seus discursos, uma perspectiva dualista que leva-o a uma postura
defensiva. Os Estudos Culturais sublinham nos lugares da recepção midiática e, de maneira mais geral, no contexto plural
da vida cotidiana, as linhas divisórias entre o pessoal e o político, ou o privado e o público, não seguem qualquer padrões
habituais. O psicológico, o cultural e a interpenetração política. Questões de geopolítica global, o Estado, o setor das
corporações, região, bairro, família, identidade, gênero, relações íntimas, raça, classe, o inconsciente, a linguagem e assim
por diante ativam uns aos outros e tornam-se atualizados em várias constelações nas percepções populares. Classificar tudo
isto requer um bom acordo do que Jameson (1991) chama mapeamento cognitivo. Nós, como cidadãos, necessitamos fazer
distinções analíticas, a fim de identificar as tensões, deslocamentos e grandes movimentos - ainda evitar categorias
desatualizadas e aprisionantes. O ideal seria o jornalismo ajudar as pessoas a fazê-lo. Talvez, de uma maneira mais realista,
o jornalismo, pelo menos, poderia assistir melhor a essa heterogeneidade, não privilegiando somente o reino concebido da
política, uma vez que agora participa desta heterogeneidade.
Quaisquer mudanças neste sentido envolvem, naturalmente, ver a política nos domínios do pessoal e do cultural,
como muitas vozes, não menos feminista, têm avançado. No entanto, isso implica também reconhecer a dimensão cultural -
no sentido antropológico - da política no sentido mais lato. Para os cidadãos se constituírem como "públicos", se pretendem
ser mais do que consumidores midiáticos anômicos, isolados em suas casas, eles exigirão quadros de experiência
partilhados e materiais simbólicos em estado natural para moldar as suas identidades coletivas, mesmo sendo de maneira
não permanente. Em outras palavras, um pré-requisito para o funcionamento dos públicos é algum sentido subjetivo de
comunidade. Nós deveríamos notar que, no que diz respeito a isto, os estudos culturais vão além da noção de esfera
pública, inspirada por Habermas, e podem ser vistos como a. modificação do regime, que continua a ser bastante apegada a
uma noção racionalista de como os públicos emergem e interagem.
Tal como muitos dos capítulos deste livro mostram, o jornalismo, na realidade, muitas vezes, incentivam estas
sensações de pertencimento coletivo - baseado em classe, gênero, preferência sexual, estilo de vida subcultural ou
quaisquer que sejam, isto ainda é raramente reconhecido e, mais raramente ainda, elogiado. O jornalismo tende a tratar os
destinatários dos seus produtos como audiências – agregações estáticas de indivíduos. Os estudos culturais, por outro lado,
têm enfatizado a recepção na configuração doméstica, as utilizações dos meios de comunicação na vida cotidiana, as
ligações entre o público e o privado, entre política e cultura. As implicações políticas das comunidades simbólicas que o
jornalismo pode promover, e a natureza das conexões estabelecidas entre o pessoal e o político são, obviamente, uma
questão ainda mais analítica; a questão do poder social está sempre na relevância menos potencial e deve ser confrontada
sempre que for considerado adequado. É aqui onde as questões clássicas e complexas de ideologia e de dominação nos
meios de comunicação devem ser confrontadas, ainda que estes conceitos sejam hoje mais problemáticos do que
anteriormente. Esperançosamente o nosso conjunto de ferramentas analíticas tem sido suficientemente remodelado e as
questões não serão relativizadas ao largo da agenda, mas sim, ligadas a visões de democracia viável.
A flexões política dos estudos reunidos neste volume variam. Meg Moritz argumenta que, embora a imprensa não
tenha sido mais progressista do que a sociedade em geral, nas suas atitudes com a população gay, a tendência para atribuir
tais „questões‟ às celebridades nas notícias - popularizando e personificando - tem, pelo menos, ajudado a colocar a
homossexualidade na agenda social e em uma forma que pode convidar as pessoas para participar de um diálogo cultural.
O artigo de David Rowe aqui sobre jornalismo esportivo e o de John Langer sobre as „desrespeitáveis‟ notícias de TV têm
um tom mais crítico. Cada um, na sua respectiva área, encontra elementos que contribuem para a subordinação da classe. A
análise de Robin Andersen sobre a cobertura de Oliver North é explícita: dimensões míticas serviram a flagrantes funções
ideológicas.
Talvez o teste decisivo no que diz respeito à avaliação política do jornalismo como cultura popular é encontrada na
forma como a imprensa tablóide é percebida. Os não-pesquisadores dizem que é „boa‟ em qualquer sentido tradicional do
termo, mas as interpretações não são uniformes. Existem muitos nuances aqui, e é preciso ter em mente que os tablóides no
Reino Unido e nos E.U. diferem em aspectos importantes. Neste volume, John Fiske vê a popularidade deles, em parte
como expressão de um ceticismo geral em relação às notícias do bloco-poder e enfatiza, entre outras coisas, o prazer de
seus excessos. Colin Sparks contrapõe-se com uma ideologia mais crítica de apreciação: as lealdades de classe são
manifestos. Ele questiona em que medida as interpretações populares da cultura midiática podem ser vistas como
resistência à ordem social dominante. Em outro artigo, Curran e Sparks (1991) vêem os aspectos ambivalentes que também
encontram motivos para a crítica, tal como Knight (1989). Ian Connell, neste livro encontra, em parte, um mundo
simbólico que dá expressão à crítica e à indignação do povo contra o privilégio social.
Os Estudos Culturais argumentam que o jornalismo é algo que faz parte, em vez de se separado, da cultura popular.
O produto, a produção e a recepção do jornalismo são caracterizados por processos que de modo nenhum seguem
rigorosamente o modelo de racionalidade iluminista. Isto poderia ser visto como um passo positivo, em vez de um atributo
problemático, se o jornalismo mudasse a pele limitadora dos discursos oficiais. Mas então ele deve também deixar de lado
o pensamento bipolar que coloca contra o racional/sério apenas as resistências irracional/frívola, e que estas últimas serão
comercialmente bem sucedidas em grande parte, na medida em que as metas do jornalismo tradicional sejam abandonadas.
É evidente que não existem fórmulas puras ou soluções fáceis, mas repensar o jornalismo como parte da cultura popular,
entendendo que isto não necessariamente significa o desaparecimento da esfera pública (e bem pode apontar para a sua
renovação), seria um passo construtivo.
É talvez irônico que o jornalismo, na prática, legitime muito mais do que aquilo que oficialmente pode, apesar dos
desvios das normas padrão das notícias sérias, atualmente, têm de ser avaliados os serviços diversos para um objetivo
jornalístico de uma sociedade democrática. O jornalismo deve tornar-se sensível e admitir tais aspectos como
subjetividades múltiplas do cotidiano, os efeitos protéicos e os prazeres diversos que as pessoas podem associar com o
jornalismo, os processos através dos quais as audiências se tornam comunidades de públicos, a polissemia dos textos, as
qualidades especiais da mídia televisiva e as maneiras particulares de conhecimento associado à narrativa.
Estas dimensões precisam ser, construtivamente, incorporadas a uma renovada auto-compreensão do jornalismo. Isto
envolve não tanto uma renúncia dos objetivos tradicionais do jornalismo, mas sim uma reconsideração profunda das
estratégias pelas quais os objetivos podem ser alcançados.
As contribuições para este volume são agrupadas em três seções. A primeira seção é intitulada „Jornalismo como
cultura popular‟, de que este é o primeiro capítulo. Colin Sparks, no capítulo 2, escreve a partir de uma posição crítica fora
do arcabouço teórico dos estudos culturais. Ele começa com uma análise da história do termo „popular‟ e constata que o
conceito tem sido utilizado tanto na esquerda quanto na direita. Ele então considera três grandes teorias contemporâneas
sobre a natureza do popular: (a) como uma crítica da noção de cultura de massa a partir da ocasião da „cultura folclórica‟,
(b) como as usadas na teoria do popular dentro do projeto socialista de Laclau e Mouffe e desenvolvida na teoria cultural,
especialmente, por Stuart HalI, e (c) como um elemento da teoria da produtividade popular derivada de Certeau e elaborada
mais notavelmente por John Fiske. Todas as três versões possuem as suas limitações. O capítulo termina com uma tentativa
de descrever a forma como o jornalismo popular é estruturado em contraste às reportagens sérias, usando exemplos a partir
da cobertura do motim da prisão de Strangeways. Ele conclui que o popular é uma categoria que oferece quadros
explicativos despolitizados.
No capítulo 3, John Fiske, a partir dos horizontes dos estudos culturais, aborda três questões centrais: (a) Como nós
devemos ver a relação entre cultura popular e cultura de massa? (b) Como podemos compreender melhor „o povo‟, em
sociedades capitalistas elaboradas? (c) Como devemos perceber as relações entre as macro-políticas do Estado-nação e as
micro-políticas da vida cotidiana? O autor se concentra nem sobre as fontes „oficiais‟ nem sobre as „alternativas‟, mas
sobre o popular, a imprensa tablóide e a televisão dos Estados Unidos. Este jornalismo não é constrangido por
considerações de verdade objetiva, mas, em vez disto, oferece prazeres paródicos e céticos. Isto é imediato e personalizado,
e cheio de contradições. O que Fiske verifica são as atitudes generalizadas em direção a relações sociais, que são
„preenchidas‟ e distribuídas pelas pessoas, nos contextos das conversas diárias. Assim, elas atribuem uma utilidade e
relevância, muitas vezes, ausentes de ambas as notícias, oficiais e alternativas.
A segunda seção é intitulada „Aspectos da mídia popular‟, e começa com o capítulo de Ian Connell sobre as
personalidades dos meios de comunicação na imprensa popular. Connell constata que muito material na imprensa popular
está preocupada com as atividades dos animadores bem conhecidos, especialmente os da TV e estrelas pop. Enquanto os
contrastes com a imprensa séria são evidentes, Connell argumenta que tais jornalismos cumprem funções importantes no
sentido de ajudar as audiências a compreenderem metaforicamente o mundo onde elas vivem. Via estas personalidades, as
desigualdades dos privilégios sociais podem ser representadas concretamente, ao invés de termos abstratos. Ao cobrir as
atividades destas estrelas, a imprensa popular está abordando temas semelhantes aos da imprensa séria, ainda que seja para
permitir uma articulação com um populismo imediato e divertido. A combinação entre, por um lado, a celebração positiva
do sucesso das „estrelas‟ e a posição social diferente e, por outro lado, a celebração da humanidade decadente e comum,
ajuda a explicar porque é que esta forma de jornalismo atrai essas grandes audiências.
No capítulo 5, Jostein Gripsrud visa esclarecer aquilo que é especificamente sobre a apelação da imprensa tablóide,
analisando a sua estética. Ele revela que características bem conhecidas desta imprensa, tais como o sensacionalismo, a
personalização e a ênfase nas preocupações privadas, são muito semelhantes aos dos componentes principais do
melodrama popular que se desenvolveu no século passado e já atingiu uma posição proeminente nos meios de
comunicação populares. Gripsrud argumenta que esses elementos da imprensa são populares justamente porque eles
oferecem uma maneira de compreender o mundo que é uma alternativa para os discursos abstratos e teóricos da imprensa
séria.
No capítulo 6, David Rowe detecta o vasto leque dos textos de esportes nos diferentes meios, como fundamental
para o „esporte participante‟ que permeia a cultura popular da classe trabalhadora masculina. Rowe argumenta que este
jornalismo manifesta uma separação entre a representação do esporte como uma atividade abstratamente heróica e como
uma competição concreta, assim reproduz algumas das contradições da ordem social dominante. No conjunto, ele sugere
que o jornalismo esportivo não foi capaz de se tornar totalmente popular. Isto é, ele nãogenuinamente relacionou as
atividades do esporte às vidas e preocupações das audiências. Isto contribui para o crescimento dos „fanzines‟, publicações
alternativas de esportes escritas e produzidas por fãs em vez de escritores profissionais. Estas articulam os significados
popular-sociais dos esportes mais significativamente do que uma grande parte do jornalismo esportivo oficial.
No Capítulo 7, John Langer considera as formas em que „notícias inconseqüentes‟ de incêndios, acidentes, de
histórias de interesse humano, e assim por diante são relatadas por notícias na TV australiana. As estruturas comuns destas
notícias são analisadas por sua forma de apresentar as vítimas, heróis e espectadores. As narrativas endereçam o
telespectador como habitante de um mundo perigoso em que catástrofes e tragédias inesperadas são sempre uma
possibilidade. Langer verifica que longe de representar „irrelevâncias‟, este tipo de notícias oferece verdadeiros prazeres
para a platéia: prazeres que estão, na realidade, também presentes nas notícias mais legítimas sobre acontecimentos graves,
mas menos reconhecidos.
Karin Becker, no seu capítulo, analisa como o conceito e as práticas do fotojornalismo evoluíram, especialmente, no
âmbito da imprensa tablóide. Ela descreve como, na imprensa séria, a fotografia se tornou um elemento marginalizado ou
estético e não é tratada como uma parte central do produto jornalístico. Na imprensa tablóide, por outro lado, existe uma
grande ênfase na fotografia. No entanto, as funções da fotografia na imprensa tablóide chamam uma série de tradições
representativas e a questão do „valor verdade‟ explica apenas uma parte do uso da fotografia no tablóide.
A contribuição de Meg Mortiz abre a seção final, „Jornalismo Popular na prática‟, e, usando uma abordagem
científica social mais qualitativamente geral, apresenta elementos de homofobia generalizada, tanto na imprensa popular
quanto na séria ao longo de muitos anos, nos Estados Unidos. Geralmente, ela defende, há uma pressão para marginalizar e
ignorar as preocupações dos homossexuais. Por outro lado, ela identifica uma série de casos em que os meios de
comunicação foram obrigados a enfrentar a orientação sexual de celebridades que foram já, por outras razões, bem
conhecida nas notícias. Nestes casos, a resposta comum foi „desculpar‟ a celebridade por seus „desvios‟ em virtude da sua
fama. Estas estrelas eram muitas vezes tratadas com simpatia, enquanto outros, figuras mais obscuras no segundo plano,
foram tratadas mais duramente pelos meios de comunicação. Apesar desta abordagem dupla e cobertura estereotipada,
Moritz conclui que estas reportagens têm ajudado a criar espaços dentro da cultura popular onde o debate de orientação
sexual pode ter raiz.
O capítulo de Robin Andersen sobre Oliver North e a cobertura do acontecimento „Irã/Contra‟ mostra como North
foi capaz de mobilizar os mitos populares generalizados sobre masculinidade, os interesses dos Estados Unidos e a
memória da Guerra do Vietnã. Ela argumenta que esses mitos podem ser traçados, em grande medida, pela mídia de ficção.
A sua eficácia foi bastante independente da sua relação com o pano de fundo, pessoalmente duvidoso e político, do seu
portador, no presente caso. Estes mitos apareceram em ambas as coberturas jornalísticas, popular e séria, dos
interrogatórios. A questão central é porque esta representação mítica foi mais bem sucedida em persuadir a opinião pública
dos Estados Unidos a apoiar a guerra contra a Nicarágua do que os esforços mais racionais da administração Reagan.
Andersen conclui que, neste caso, pelo menos, a imagem mítica era mais congruente com os modos prevalecentes do
pensamento popular.
O último capítulo, por Roberta Pearson, olha para a cobertura do jogo do World Series de baseball de 1989 no
Candlestick Park, que foi interrompido pelo terremoto de San Francisco. Esta invasão das hard news nas notícias
esportivas trouxe para a ribalta uma série de problemas associados com a posição do jornalismo popular. Jornalistas
especialistas em esportes foram obrigados a agir como repórteres de hard news, e as suas respostas ilustram algumas das
diferenças entre as respectivas culturas profissionais. A catástrofe e o futuro do World Series foram intensamente debatidos
nos meios de comunicação dos Estados Unidos, revelando como o baseball desempenha um papel importante na
construção da identidade cultural americana.

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