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Conselho Tutelar
1. Conceito e características
1.1 Permanência
O Conselho Tutelar tem natureza institucional, isto é, uma vez constituído e
implantado, torna-se integrante do Sistema de Garantias dos Direitos da Criança
e do Adolescente de forma definitiva. Não pode haver interrupção de sua
atividade, porém somente a modificação de seus membros, conforme previsão
legal.
É o Poder Público local o encarregado pela conservação do Conselho. Se
ele suspender as atividades deste, seus encargos voltarão a ser de
responsabilidade do Juiz daquela comarca (art. 262 do ECA). E, nesse caso, o
Ministério Público (ou outro autorizado pelo art. 210 do ECA) deve utilizar-se das
providências cabíveis, tanto administrativa quanto judicialmente, para que
continue suas atividades, além de investigar sobre a responsabilidade do
administrador que motivou a paralisação.
O Poder Judiciário é competente para ordenar a manutenção do Conselho
Tutelar, a fim de lhe assegurar um eficaz desempenho, assim como para
determinar a sua criação.
1.2 Autonomia
A autonomia mencionada no citado artigo tem o significado de
independência funcional, que é uma prerrogativa do Conselho fundamental para o
desempenho de suas funções. Assim, o Conselho não necessita de subjugar
suas decisões à análise de outros órgãos e tem, também, mecanismos para
efetivar suas decisões.
Porém cabe ressaltar que o Conselho está suscetível ao controle judicial
das suas decisões quanto à legalidade e adequação, através de pedido de quem
tenha legítimo interesse, conforme art. 137 do ECA. Além disso, sua autonomia
não o torna isento de supervisão pelos outros componentes do Sistema de
Garantias, trazido pelo ECA, devendo agir com harmonia, respeito e auxílio
recíproco.
O art. 98 c/c o art. 101, I a VII do ECA diz respeito à capacidade para
aplicar medidas de proteção sempre que os direitos das crianças e dos
adolescentes forem ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade
ou do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; e em razão
de sua própria conduta. Já o art. 105 c/c o art. 101, I a VII diz respeito à
capacidade para aplicar medidas de proteção para as crianças que cometerem
ato infracional.
É interessante frisar que no caso de ato infracional cometido por
adolescentes, a imposição de medida socioeducativa compete ao Juízo da
Infância e Juventude, conforme determina o art. 148, I do ECA. Enquanto, como
já foi dito anteriormente, no caso de crianças é cabível apenas medidas de
proteção e a sua determinação é de responsabilidade do Conselho Tutelar, sendo
que ele pode requerer a atuação do poder público para assegurar a execução da
medida.
Porém, anteriormente à aplicação da medida, o Conselho terá que escutar
e examinar a opinião da criança ou adolescente, contanto que ele possa
expressá-la, porque, afinal, eles são sujeitos de direitos.
É necessário mencionar, ainda, que apesar de o Conselho Tutelar ter
competência para determinar o acolhimento institucional de crianças ou
adolescentes nas situações do art. 98 do ECA, esta deve ser aplicada com muita
cautela porque, afinal, um dos direitos assegurado a eles é à convivência familiar.
Segundo a doutrina, o Conselho somente poderá determinar o acolhimento
institucional das crianças e adolescentes se elas não estiverem na companhia
dos pais ou responsáveis ou se estiverem evidentemente em situação de
vitimização.
Nas circunstâncias mais graves, em que o Conselho conclua pela
inevitabilidade de afastar a criança ou adolescente da convivência com a família,
ele deve encaminhar o caso à autoridade judiciária competente (art. 136, V do
ECA) ou ao Ministério Público (art. 136, IV, XI e parágrafo único do ECA), para
que ele proponha a ação competente.
Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Importante mencionar que a “requisição” do art. 136, III, “a” do ECA deve
ser feita pelo Conselho Tutelar na qualidade colegiado. E deve ser encaminhada
à chefia (Chefe de Repartição ou Secretário) do órgão capaz de satisfazer a
determinação, mencionando-se o tempo (suficiente) para sua execução. Após o
fim desse tempo sem o devido cumprimento da requisição, a princípio, estará
qualificada a infração administrativa e/ou o crime de desobediência.
Ainda quanto à requisição, é interessante pontuar que ela tem que ser
manipulada apenas em casos extremos, já que os serviços públicos devem
achar-se bem organizados e apropriados à assistência preferencial às crianças e
aos adolescentes. Então, os entes incumbidos de prestar os serviços devem
fornecê-lo voluntariamente, sem que precise da solicitação pelo Conselho. Mas,
se o serviço for solicitado, o órgão deve cumprir de imediato, por se tratar de uma
determinação advinda de uma autoridade pública.
Por fim, é interessante evidenciar a capacidade postulatória de natureza
sui generis que o Estatuto conferiu ao Conselho Tutelar, no art. 136, III, “b” c/c art.
194, caput do ECA. Ele, embora constituído por leigos e mesmo que não designe
advogado, tem legitimidade para dar início ao procedimento para imposição de
penalidade administrativa por descumprimento à determinação do Conselho.