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AULA 9
Introdução à lógica clássica
o ’
o Deu início à "simbolização", ou "matematização" da lógica, que consistiu em fazer, numa
linguagem simbólica, artificial, o que Aristóteles havia começado em grego. Boole, na
verdade, apresentou um cálculo lógico (hoje bastante conhecido também como álgebra
booleana).
o
o Frege mostrou, em fins do século XIX, que a análise de proposições em função e
argumento (categorias propriamente lógicas) oferecia vantagens em relação à análise
aristotélica de proposições em termos de sujeito e predicado (categorias marcadamente
gramaticais).
Cf. MARGUTTI. A Conceitografia de Frege - uma revolução na história da
lógica, p. 11.
Ex: x + 1 = y. O valor do argumento determina o valor da função. Assim, se x = 1,
logo, y = 2.
o
o Tentou demonstrar todas as verdades matemáticas baseando-se num rol extremamente bem
definido de axiomas e regras de dedução, usando uma linguagem lógico-simbólica própria.
o Paradoxo de Russell: Embora admirasse as idéias de Frege, Russell detectou uma falha
radical no sistema, que lhe comunicou quando o segundo volume dos Grundgesetze estava
no prelo.
As classes devem ser elas mesmas classificáveis; devem ter a possibilidade de ser
elementos de classes. Ora, pode uma classe ser elemento de si mesma? A maior parte
não pode (por exemplo, a classe dos cães não é um cão), mas algumas,
aparentemente, podem (por exemplo, a classe das classes é seguramente uma classe).
Parece assim que as classes se podem dividir em duas espécies: existe a classe das
classes que são elementos de si mesmas, e a classe das classes que não são elementos
de si mesmas. Considere-se agora esta segunda classe: é ela própria elemento de si
mesma ou não? Se é elemento de si mesma, então, uma vez que é precisamente a
classe das classes que não são elementos de si mesmas, não pode ser elemento de si
mesma. Mas, se não é elemento de si mesma, tem a propriedade que a qualifica
como elemento da classe das classes que não são elementos de si mesmas, e portanto
é elemento de si mesma. Aparentemente, ela deve ser ou não um elemento de si
mesma; mas, seja qual for a alternativa que escolhermos, somos obrigados a
contradizer-nos.
Com o fim de evitar o paradoxo que descobrira, Russell formulou uma teoria dos
tipos. Era um erro tratar as classes como objetos arbitrariamente classificáveis. As
classes e os indivíduos pertencem a tipos lógicos diferentes, e o que pode ser
verdadeiro ou falso a respeito de um não pode ser afirmado com sentido sobre o
outro. Frases como "A classe dos cães é um cão" devem ser consideradas absurdas e
não falsas. Da mesma forma, o que pode dizer-se com sentido sobre classes não pode
ser afirmado com sentido sobre classes de classes, e assim sucessivamente ao longo
da hierarquia dos tipos lógicos. Se se observar a diferença de tipo entre os diferentes
níveis da hierarquia, o paradoxo não surgirá.
o Sabemos hoje que o programa logicista não pode jamais ser levado a cabo com sucesso.
O caminho a partir dos axiomas da lógica, passando pelos axiomas da aritmética até aos
teoremas da aritmética, está obstruído em dois pontos. Primeiro, como o paradoxo de
Russell mostrou, a teoria ingênua dos conjuntos, que fazia parte da base lógica de Frege, era
em si inconsistente e as soluções que Frege propôs revelaram-se ineficazes. Assim, os
axiomas da aritmética não podem ser derivados de axiomas puramente lógicos da forma que
Frege esperava. Segundo, a própria noção de "axiomas da aritmética" foi mais tarde posta
em questão quando o matemático austríaco Kurt Gödel mostrou que era impossível dotar a
aritmética de uma axiomatização completa e consistente ao estilo dos Principia
Mathematica. Apesar de tudo, os conceitos e as perspectivas desenvolvidos por Frege e
Russell no decurso da exposição da tese logicista continuam a ter interesse em si; e o seu
interesse não diminuiu com o fracasso daquele programa.
o Em On Denoting e noutros artigos posteriores, Russell fala constantemente da atividade do
filósofo como uma atividade de análise. Por "análise" entende Russell uma técnica de
substituição de modos de expressão que de alguma forma são logicamente enganadores por
outros logicamente claros. A sua teoria das descrições foi por muito tempo um paradigma da
análise lógica assim entendida. Mas, no espírito de Russell, a análise lógica era muito mais
do que um dispositivo para a clarificação de frases. Acabou por pensar que, depois de
alcançada uma forma clara para a lógica, ela revelaria a estrutura do mundo.
A lógica continha variáveis individuais e funções proposicionais que no mundo
correspondiam aos particulares e universais. Em lógica, as proposições complexas
eram construídas a partir de proposições simples enquanto funções de verdade
destas. De forma semelhante, no mundo existiam fatos atômicos independentes
correspondendo às proposições simples. Chamou-se "atomismo lógico" a esta teoria
de Russell.
Seria Wittgenstein a apresentar, no seu Tractatus Logico-Philosophicus, a mais
peremptória formulação do sistema. Seria também Wittgenstein quem, depois de ter
repudiado o atomismo lógico, desenvolveu gradualmente a mais profícua filosofia
do século XX.
Bibliografia básica:
Bibliografia complementar:
BOCHENSKI, I.M. A history of formal logic. University of Notre Dame Press, 1961./ Historia de
la lógica formal. Madrid: Editorial Gredos, 1985.
FREGE, Gottlob. Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: EdUSP, 2009.
GABBAY, M.; WOODS, J.H. (ed.). Handbook of the history of logic – vol.3: The rise of modern
logic from Leibniz to Frege. Amsterdam: North-Holland Publishing Co., 2004.
GEORGE, Rolf; EVRA, James Van. “The rise of modern logic”. In: JACQUETTE, Dale. A
Companion to Philosophical Logic. Blackwell Publishing, 2002 (cap. 3, p. 35-48).
KNEALE, William; KNEALE, Marta. O Desenvolvimento da Lógica. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1962. (cap. VIII: A lógica geral de Frege, p. 483-518).
MACBETH, Danielle. Frege’s Logic. Harvard University Press, 2005.
MEYER, Michel. Lógica, linguagem e argumentação. Lisboa: Teorema, 1982. (cap. I: Frege e o
recurso à formalização, p. 7-23; cap. II: A síntese russelliana, p. 24-46).
SCHOLZ, Heinrich. Concise history of logic. New York: Philosophical Library, 1961.