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%*0(07";1*/50 Parece, assim, que a morte tinha com Paris a pais arménios, que se haviam to à inspiração, inspirava multidões, e
EJPHPQJOUP!JPOMJOFQU um ele pacto. Entretanto, mais difícil de refugiado em Paris depois do genocídio, outra das coisas que, segundo conta
explicar é como se tornou o último dos de 1,5 milhões de arménios, em 1915, Miquel Jurado, usava a seu favor era a
É sempre difícil extinguir o fogo, mes- gigantes da canção francesa, e isto com nos últimos dias do Império Otomano, idade. Nessa terna sem-vergonhice de
mo que a golpe de foice. Há muito que uma voz que já na sua juventude não isso ficou a dever-se à fenomenal per- um terrível sedutor, perguntava se mais
Charles Aznavour vinha repetindo, por era grande coisa e que, cá para o fim, sistência deste homem que, com uma alguém ali tinha 94 anos. Como ninguém
tantas outras palavras, o verso do poe- naturalmente, ficou bem pequenina. Se mão fraca, fez um jogo dos diabos – e levantou a mão, rematou: “Como veem,
ta: “Tenho mais recordações do que se andava pelo mundo esgotando salas de sem precisar de recorrer ao bluff. onde quer que vá não há ninguém mais
tivesse mil anos”. E ao desaparecer, na concerto, isto acontecia porque, como “Quais eram os meus defeitos? A minha velho que eu.”
madrugada desta segunda-feira, aos 94 explicou Miquel Jurado, jornalista do voz, a minha altura, os meus gestos, a Se Shanoun Varenagh Aznavourian
anos, tendo regressado de uma digres- “El País”, depois de um concerto em Bar- pouca cultura e educação, a minha hones- teve que fazer uns cortes no nome que
são pelo Japão, dá a sensação que a mor- celona, no passado mês de abril, para o tidade ou a minha falta de personalida- os pais lhe deram quando veio ao mun-
te não teve a coragem de o apanhar de seu público era-lhe igual se Aznavour de”, escreveu na sua autobiografia, “Azna- do, nunca se esqueceu das suas origens.
pé. Não que a altura fizesse dele uma acertava na afinação ou cantava algu- vour par Aznavour”. “Quanto à minha Numa entrevista ao “Expresso”, em
figura imponente – não tinha mais de mas oitavas a baixo do que era suposto voz, não posso fazer nada. Todos os pro- novembro de 2016, explicou que por não
um metro e sessenta –, mas era um des- ou se lhe faltava o fôlego para chegar às fessores de canto que consultei concor- ter mais família, nem avós, tios ou pri-
ses incansáveis operários da paixão, notas mais exigentes. Aquelas pessoas davam que eu não devia fazer vida de mos – “éramos apenas quatro: os meus
alguém que nunca se queixou da falta “não estavam a escutar mas a sentir cantar, mas isso não me impediu de o pais, eu e a minha irmã” –, e por esta-
de inspiração, pois dela não esperava (com tudo o que esta palavra implica) fazer até sentir a garganta em ferida.” rem desenraizados, isso os tornou mais
muito; não esperava nada. “Não tenho no seu interior o Aznavour das suas A voz pequena compensava-a com altas próximos. O gosto pela música veio-lhe
mais que ideias. O trabalho converte-se recordações, o seu próprio Aznavour”. doses de emoção, tornando-se um “puro do pai, que cantava, e que, filho de um
em talento, e não ao contrário. Também É da morte de um mito que se trata. motor de beijos e lágrimas, de alegrias dos chefs do czar russo Nicolau II, abriu
não tenho imaginação, disse numa entre- Um homem que vendeu mais de 100 e mágoas”, lembrando as suas plateias um restaurante em Paris. Já a mãe era
vista ao “El País”, em 2015. E acrescen- milhões de álbuns (180 milhões segun- que, na verdade, não lhe restava alter- atriz, e foi sob a sua asa que Aznavour
tou: Há gente que a tem e, mesmo assim, do a sua biografia oficial) em 80 países, nativa. “Só posso fazer uma de duas coi- desenvolveu a paixão pelo teatro, tendo
não é capaz de escrever uma canção”. escreveu mais de 1400 canções, e com sa: não cantar ou morrer em palco.” E, representado pela primeira vez numa
Com uma carreira que se estendeu por as muitas de amor arrebatou corações com o fatalismo próprio de todo o galã, peça de teatro com apenas nove anos.
oito décadas, Aznavour estava confian- em todo o mundo, e levava-os ao peito avisava: “Decidi, por isso, morrer esta O que é surpreendente é que, antes de
te de que iria viver até aos 100 anos, mas suspensos pelo fiozinho da voz. E se che- noite numa cidade que amo”. decidir devotar-se primeiramente à músi-
não pensou é que continuasse a cantar gou tão longe, tendo abandonado a esco- Foi por aí, prometendo a sua morte ca, Aznavour tinha já uma carreira esta-
à volta do mundo para lá dos 90 anos. la aos 10 anos, depois de ter nascido em por amor, alguém que, se não devia mui- belecida como ator, tendo participado

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