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CALLIE HART Between Here and the Horizon

Distribuição: Eva
Tradução e Revisão Inicial: Ane, Ingrid e Lívia
Revisão Final: Luciana M.
Formatação: Eva

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Você acha que me conhece. Você acha que quer me conhecer. Mas confie em mim,
senhorita. Lang. Perseguir-me será o pior erro que você já cometeu. Estou quebrado além do
reparo...
... e tenho grande prazer em quebrar todos os outros ao meu redor.”
Ophelia Lang precisa de dinheiro, e precisa muito. O restaurante de seus pais está
afundando, e desde que ela perdeu seu trabalho de professora na terceira série do ensino
elementar, tentar juntar dinheiro para pagar as contas provou ser quase impossível. Seus pais
estão à beira de perder a casa. Os abutres estão sobrevoando. Então, quando é oferecido a
Ophelia uma entrevista para um trabalho de tutoria privada bem paga em Nova York, como
ela poderá dizer não?
Ronan Fletcher está longe de ser o empresário careca e com excesso de peso que
Ophelia esperava que ele fosse. Ele é jovem, bonito e rico acima de tudo. Ele também é,
talvez, a pessoa mais fria, e rude que ela já conheceu, e ela tem uma ampla raia de maldade
de quase dois quilômetros e meio de largura. Cem mil é muito dinheiro, no entanto, e, se
tolerar o seu temperamento gelado, seu humor inconstante e qualquer outra coisa que ele
jogar sobre ela, significa que será paga, então é isso que Ophelia vai fazer.
Seu novo chefe está guardando segredos, no entanto. Terríveis, terríveis segredos.
Os fantasmas do passado de Ronan Fletcher estão prestes a virar o futuro de
Ophelia de cabeça para baixo, e ela não pode sequer ver isso chegando

CALLIE HART Between Here and the Horizon


CAPÍTULO 1
AFEGANISTÃO

2009

“Para trás, Fletcher! Volte! O tanque vai explodir!”

Eu estava correndo. Atrás de mim, sete milhas de deserto


estendendo-se em direção à cidade de Cabul, brilhando em lugares
onde caminhonetes militares queimadas estavam sendo devoradas
pelo fogo. Metal torcido chovia do céu, em chamas e mais afiado do
que um fio de navalha, colidindo no chão. Baque. Baque, baque.
Baque. Estilhaços assobiaram pelo ar, atingindo o solo a alguns
passos de mim enquanto eu andava em ziguezague pelos
destroços. A fumaça estava causando dor nos meus pulmões,
corroendo e queimando, fazendo com que fosse difícil respirar.

“Fletcher! Que porra é essa, cara!”

Atrás de mim, o Perito Crowe estava perdendo a cabeça.


Alternando entre gritar em seu rádio e gritar comigo, ele não
parecia conseguir decidir qual curso de ação tomar. Eu gostaria de
ter ordenado que ele me seguisse, mas eu podia entender por que
ele não seguiu. A situação era mais do que insegura; um ataque
precipitado num incêndio, em meio à destruição era uma missão
suicida, eu sabia disso. No entanto, eu também sabia que meus
homens estavam presos dentro do veículo capotado ainda há uns
cem passos de mim e eu sabia que a caminhonete ia explodir a

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qualquer segundo. Eles iriam queimar até a morte se eu não os
ajudasse. Eu não ia abandoná-los para esse destino.

“Capitão! Deus, cara, pare!”

Meu coração estava explodindo, minhas veias inundadas


com adrenalina. Minhas botas atingiam o chão, esquerda, direita,
esquerda, direita, esquerda, direita, meus pulsos bombeando para
frente e para trás enquanto eu corria com velocidade em direção à
caminhonete que estava apoiada em seu teto logo adiante. Através
do pára-brisa quebrado, eu conseguia ver Hellaman e Wicks ainda
presos nos assentos da frente do veículo, de cabeça para baixo e
imóveis. Eles estavam inconscientes ou mortos. Esperançosamente
eles estavam só num sono pesado, mas havia um monte de sangue
esparramado do lado de dentro do vidro. Um monte de sangue.

Fumaça preta já subia da parte de baixo da caminhonete e


eu já conseguia ouvir o som do silvo do combustível queimando e
crepitando em algum lugar. Gemidos. Eu conseguia ouvir gemidos
também.

Alcancei a caminhonete justamente quando algo dentro do


motor pegava fogo e Hellaman apareceu. Seus olhos estavam
arregalados com dor e medo enquanto eu me abaixava com a
barriga para baixo ao lado da janela do motorista, que foi
esmagada, com pequenos cubos de vidro temperado espalhados na
sujeira.

“Capitão? Capitão Fletcher. Merda, não consigo respirar.


Não consigo... respirar.” Seu rosto estava totalmente pálido e suas
mãos tremiam violentamente enquanto ele tentava agarrar o cinto
de segurança que estava apertando seu peito.

“Está tudo bem. Está tudo bem, soldado. Nós vamos tirar
você daí, ok? Apenas espere um momento.” Minha faca bowie
estava minha mão. Eu a peguei e trabalhei rápido cortando a tela
que segurava Hellaman no lugar. Não havia nada que eu pudesse

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fazer para amortecer sua queda. Batendo no teto da caminhonete,
Hellaman gemeu debilmente e depois desmaiou de novo, pela dor
ou pelo choque, eu não sabia. Guardei minha lâmina e o peguei
pelos ombros, em seguida lutei para libertá-lo pela janela. Seu
rosto estava cortado; seus braços estavam listrados com sangue e
rios de sangue corriam pelo chão. No entanto, não há tempo para
ser gentil. Há pouco tempo para ficar seguro. Enganchei minhas
mãos debaixo de seus braços e corri rapidamente para trás,
arrastando-o para longe dos destroços. Uns seis metros já seria o
suficiente.

Corri de volta para a caminhonete. As chamas estavam


visivelmente consumindo a parte debaixo do veículo agora,
serpenteando para cima em direção ao céu noturno. Wick ainda
estava apagado. Eu corri até a parte de trás da caminhonete e
tentei forçar a abertura das portas de carga, mas elas estavam
fechadas de forma apertada, envergadas e empenadas, recusavam-
se a se mover.

“Merda.”

Tum.

Tum.

Tum.

Havia alguém vivo dentro. Correndo contra o tempo. Quase


sem tempo sobrando. Posicionei-me na janela traseira direita da
caminhonete, agradecendo a Deus por que a coisa já estava
estilhaçada. As janelas à prova de balas das caminhonetes
militares não eram brincadeira. Você podia usar uma semi-
automática nelas e demoraria mais tempo do que eu tinha para
estraçalhá-la. No entanto, o impacto de capotar três vezes tinha
obviamente sido suficiente para comprometer o vidro.

“Protejam seus rostos,” eu berrei. “Vidro, vidro, vidro!”


Preparando-me, dei um giro e esmaguei a sola da minha bota

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contra o vidro o mais forte que eu possivelmente conseguia. O vidro
rangeu, quebrando um pouco mais, mas não estilhaçou. Chutei de
novo, e de novo, e de novo. Finalmente, a janela explodiu numa
pancada de cacos brilhantes, rendendo-se à força da minha bota.

“Capitão, há combustível aqui,” alguém de dentro gritou.


“Para trás!”

Joguei-me para baixo e deitei de bruços novamente,


rastejando através da moldura vazia da janela. Dentro da
caminhonete, a gasolina pairava em peso no ar, queimando minhas
narinas e meus olhos. Ao meu lado, Robert estava morto, sua
cabeça torcida num ângulo estranho, os olhos fixos, seus dentes
batendo um no outro.

“O que... o que aconteceu, capitão?” ele perguntou. “Nós


estávamos dirigindo mais à frente, e então... tudo estava...
girando.”

“IED1,” eu disse a ele. “O deserto está cheio deles. Vamos,


vamos tirar você daqui.”

“Não consigo... me mexer. Não consigo sentir... nada.”

Ele não estava paralisado. Se estivesse, não estaria


tremendo da forma que estava agora. Ele estava apenas em
choque. Um tapa brusco no rosto, provavelmente, ia funcionar
para fazê-lo se mexer, mas simplesmente não havia tempo para
esse tipo de motivação. Pegando-o pelo cinto costurado na alça de
sua mochila, que ainda estava em suas costas, eu o puxei até mim
e então saí pela janela da forma mais rápida que eu podia. O
incêndio estava atroz agora. Arrastei Sam de volta para onde eu
tinha deixado Hellaman e estava prestes a correr de volta para a
caminhonete quando um estrondo metálico alto rompeu o ar e
então uma bola de fogo balançou a caminhonete, uma parede de

1Improvised Explosive Device (Dispositivo de Explosão Improvisado), que é feito pelas


pessoas em casa.

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calor e pressão batendo com força no corpo, enviando-me
cambaleante de volta para o chão.

“Oscar!” Sam gritou. “O Oscar ainda está vivo lá dentro!”

“Porra.” Eu estava de pé e correndo. O calor era intenso – tão


intenso que tive que proteger meu rosto enquanto chegava mais
perto dos destroços. O incêndio tinha consumido a parte de baixo
da caminhonete, os pneus flamejantes, o acelerador rugindo
enquanto a linha de combustível era engolfada. E eu conseguia
ouvir gritos. O tipo de grito horrível que gela o sangue, de um
homem sendo queimado vivo.

Meu rádio fone de ouvido crepitava com a estática e então a


voz do Coronel Whitlock berrou através do alto-falante. “Fletcher,
não volte para dentro daquele veículo. Você me ouve? Não volte
para dentro daquele veículo.”

Desobedecer uma ordem direta de um coronel era uma


ofensa digna do Tribunal Marshall. Eu arranquei meu fone de
ouvido de minhas orelhas e atirei-o no chão, ignorando-o.
Ignorando as consequências. Outro grito de gelar o sangue me
alcançou e foi isso. Eu estava no meu estômago, rastejando para
dentro da boca do inferno.

Meu lado pressionado contra a moldura da janela e dor me


rasgando, afundando seus dentes em minha pele. Calor. O calor
era esmagador, tão feroz e violento que não havia oxigênio dentro
da caminhonete. Apenas fumaça e confusão. Apenas morte.

“Oscar!” Gritei, esticando as duas mãos, tentando encontrá-


lo. “Onde está você, cara?” A caminhonete transportava apenas
seis homens, mas a corrente ondulante de nuvens de fumaça negra
escondia tudo. Fui pelo toque até que eu o ouvi gritar de novo, mais
fraco desta vez, a voz repleta de agonia. Ele estava na extrema
traseira da caminhonete. Alguns segundos eram tudo que eu tinha.
Qualquer tempo a mais e eu iria me sufocar ou me queimar. Minha

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cabeça latejava, meus pulmões implorando por ar limpo e
conseguir sentir que começava a perder a consciência.

A jornada para a parte de trás da caminhonete levou uma


eternidade. Uma mão sobre a outra, me arrastei pela caixa de
transporte capotada e apertei meu corpo entre a abertura estreita
ao lado direito do veículo, estendendo a mão, tateando,
procurando, até que eu encontrei o que eu estava procurando. Uma
perna. Um pé, para ser mais preciso. Agarrei-o e o puxei. Um grito
agonizante encheu a caminhonete.

“Ahh, minha perna. Minha perna. Está fodida!”

"Eu sei. Sinto muito, cara. Eu não consigo te pegar de outra


maneira.” Eu cerrei meus dentes e puxei. Em qualquer outra
situação, teria sido um crime eu estar lidando com um homem
ferido dessa maneira. No entanto, o relógio estava correndo e se
causar mais dor significava a diferença entre que um dos meus
homens estivesse ferido ou morto, então eu ia fazer o que eu tinha
que fazer.

De alguma forma consegui me movimentar de modo que eu


estava em cima de Oscar - eu não conseguia nem mesmo ver seu
rosto, a fumaça era tão densa - e, em seguida, comecei a empurrar.
Seis empurrões fortes e eu consegui impulsioná-lo pela abertura
na moldura da janela para fora, no chão do deserto. Seu corpo foi
arrancado para longe, puxado por outra pessoa e então ele se foi.
Eu estava quase cansado demais para me levantar, mas procurei
meu último pedacinho de energia e me rastejei para frente,
determinado a sair antes que todo o veículo fosse envolvido. No
meio do caminho para fora, meus dedos estavam cavoucando no
solo, meu corpo banhado pela dor. Indescritível. Insuportável. Uma
dor tão aguda e de tirar o fôlego que eu não conseguia nem gritar.
Parecia que algo estava rasgando meu corpo em dois. Eu me virei
e olhei para cima para ver uma linha de queima de combustível

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escorrendo em mim, atingindo minha lateral, queimando em mim.
Eu estava em chamas.

Eu chutei e me puxei para fora da caminhonete, rasgando


minha jaqueta. Dilacerando o material, tentando tirá-lo. O tecido
parecia escapar de minhas mãos, e então eu estava sem camisa no
frio, frio do deserto, rolando no chão, tentando apagar as chamas.

O mundo ficou preto. Alguém jogou algo em cima de mim e,


em seguida, mãos estavam batendo no meu corpo, batendo e
tentando me fazer rolar. Um suspiro estrangulado conseguiu sair
da minha boca, mas isso é tudo o que conseguia. As chamas
estavam apagadas. O material grosso e pesado que tinha sido
jogado sobre mim foi puxado para trás e Crowe estava de pé sobre
mim, o rosto coberto de fuligem e graxa, os olhos do tamanho de
moedas de dólar. Eu mal podia vê-lo adequadamente. Mal ouvi as
palavras saindo de sua boca.

Coronel Whitlock apareceu ao lado dele, e então o céu foi


preenchido com o baque das batidas das hélices do helicóptero.
Eles falaram por um segundo e mesmo com o tamborilar trovejante
do helicóptero acima de nós, tive tempo suficiente para perceber o
que Crowe disse para Whitlock.

“Ele não parou, senhor. Ele não parou até que todos eles
estivessem fora.”

Whitlock fez uma careta. “Eu posso ver isso, Perito. Ele
também desobedeceu a uma ordem direta ao fazer isso.”

“Ele será repreendido?” Crowe perguntou. Ele estava falando


como se eu já não estivesse presente; ambos estavam.

“Não”, Whitlock disse severamente. “Ironicamente, acho que


é mais provável que o Capitão Fletcher seja honrado do que punido
neste caso em particular. Agora leve-o até o helicóptero antes que
eu mude de ideia. O bastardo louco está sangrando por toda parte.”

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CAPÍTULO 2
A LEI DAS PROBABILIDADES

Por toda a minha vida eu estive esperando o desastre me


atingir.

Parecia, por falta de uma explicação mais inteligente e


racional, inevitável. Desde que eu era velha o suficiente para ler o
jornal ou sintonizar o noticiário da noite, eu fui bombardeada com
pessoas perdendo seus entes queridos nos atentados terroristas,
carros colidindo e queimando, trens descarrilando, assaltos a
bancos que acabavam de forma trágica. Todos os dias, algum
desastre natural ou violência terrível estilhaçava o mundo em dois.
Para onde quer que você olhasse, a vida de alguém estava em
ruínas, irreparavelmente danificada e irreconhecível.

Eu passei os últimos cinco anos, desde que saí da casa dos


meus pais em Manhattan Beach, Califórnia, me perguntando
quando seria a minha vez. Quando a bomba iria explodir no meu
ônibus? Quando eu seria segurada com uma faca por causa do
iPhone quarta geração? Quando eu não ia olhar para onde estava
indo e acabaria na frente de um caminhão?

Era uma questão de jogar um jogo de probabilidades, afinal


de contas, e não importa o quanto eu tentasse evitar pensar dessa
maneira, parecia insensato supor que a tragédia não iria visitar
minha porta em algum momento da minha vida. Até aquele
momento eu estava simplesmente segurando a respiração,
esperando. Talvez isso acontecesse amanhã. Mais provavelmente,

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aconteceria hoje, quando o avião em que eu embarquei para viajar
de um lado do país para o outro, de Los Angeles para Nova York,
cairia no rio Hudson. Isso já tinha acontecido uma vez nos últimos
anos. Nenhuma razão para que não acontecesse novamente.

Meu estômago se encolheu enquanto o avião lançava-se para


um lado, balançando dramaticamente para a esquerda, circulando
amplamente sobre Nova York. Fora da janela ao meu lado, a cidade
estendia-se em todas as direções até tão longe quanto os olhos
podiam ver, apenas chegando numa parada abrupta na distância
onde a água colorida de aço devorara o horizonte.

Eu estava sendo estúpida. Eu sabia que o avião não ia cair,


mas eu não conseguia me convencer de que estava perfeitamente
segura enquanto estávamos voando pelo ar em direção à tanto
concreto, vidro e metal.

“Senhorita Lang?” A mulher sentada ao meu lado sorriu,


acariciando minha mão de forma tranquilizadora. “Eu só queria te
desejar sorte novamente. Tenho certeza que você irá muito bem,
sabe. Essas coisas, essas entrevistas de trabalho-” Ela acenou com
a mão com desdém. “Eles nunca são tão assustadores como você
supõe que eles serão. E você sendo uma garota tão adorável,
charmosa e tudo mais? Tenho certeza de que tudo vai dar certo.”
Ela não tinha parado de falar por todo o vôo de seis horas. Eu tive
o resumo completo, da maior parte de sua história de vida entre a
refeição ligeiramente desagradável servida em algum lugar no
Colorado e de uma taça de gin e tônica que bebi rapidamente em
algum lugar mais perto de Indiana: seu nome era Margie Fenech,
cinquenta e oito anos de idade, ela tinha três filhos adultos, todos
eles agora estavam casados, mas se não fossem, qualquer um deles
teria simplesmente adorado me namorar. Ela ficou acariciando a
minha mão e tocando meu braço como se fôssemos velhas amigas
por horas e para ser honesta eu não tinha me importado. Nem um
pouco. O contato, muito pelo contrário, tinha sido reconfortante.

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Havia pausas entre sua tagarelice constante, na qual ela me
fez perguntas e me senti obrigada a responder na mesma moeda.
Ela facilmente conseguiu arrancar de mim o meu propósito para
visitar Nova York no meio da semana. Ela sabia tudo sobre o
restaurante com dificuldades dos meus pais na Baía Sul. Eu contei
a ela sobre o ilusório Ronan Fletcher, de quem eu sabia alguns
fatos esporadicamente: ele era ex-militar, o ganhador do Purple
Heart, então obviamente um pouco fodão. Sua esposa morreu no
ano passado, deixando-o com dois filhos pequenos para cuidar. E
seu patrimônio pessoal era considerável, em algum lugar perto da
marca de bilhões de dólares. Margie também soube que eu odiava
voar e ela soube que eu não tinha estômago para a turbulência; de
seu próprio jeito, eu supus que ela estava tentando me distrair do
repentino ângulo que o chão tinha adotado agora que estava
chegando a hora de pousar.

"Sim. Sim, eu tenho certeza que vai ficar tudo bem. Tem que
ficar, não é?” Eu disse, dando um breve sorriso aguado em sua
direção.

“Ah, claro, querida. Se você cuidar dessas criancinhas por


seis meses inteiros, pense em todo o dinheiro que você pode
guardar para ajudar seus pais. Você mesma disse. Você não terá
quaisquer despesas. E você não conhecerá ninguém na cidade,
então você não irá sair desperdiçando o seu dinheiro a cada noite
da semana, como alguns jovens são propensos a fazer.”

Eu sou contra ser chamada de “jovem” em um nível muito


profundo. Eu tinha vinte e oito anos, passei o ponto em minha vida
no qual eu saía para festas e desperdiçava meu dinheiro todo fim
de semana. Eu fui professora de escola primária durante os
últimos cinco anos, pagando minhas contas, poupando quinze por
cento da minha renda religiosamente de todos os contracheques,
guardando meus fundos a fim de comprar uma casa. Eu achava
que todas aquelas eram coisas muito adultas que eu fazia há tanto
tempo. Eu ainda estaria fazendo-as se a escola pública para qual

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eu estive trabalhando não tivesse fechado devido ao financiamento
insuficiente do governo. Eu perdi meu emprego, juntamente com o
resto do corpo docente da escola há quatro meses, na mesma época
que minha mãe e meu pai me puxaram de lado e me contaram, de
forma envergonhada, que o restaurante estava afundando. Eles
não tinham pedido ajuda, mas eu tinha visto que eles precisavam
dela. Precisavam muito. Portanto, lá se foi minha poupança. Toda.
Agora eu não tinha mais dinheiro guardado para dar-lhes e
nenhum trabalho para me ocupar, o que me levou a me encontrar
neste avião ao lado de Margie, a caminho de uma entrevista para
um glorificado emprego de babá no outro lado do país.

Eu não sabia como isso tinha chegado nisso. Eu deveria ter


sido capaz de encontrar outra escola para lecionar, mas era o meio
do ano letivo e todas as posições já tinham sido preenchidas.
Professora substituta seria bom, mas também era esporádico e
pouco confiável e eu precisava de uma renda estável para me
certificar de que eu poderia manter minha mãe e meu pai nas
atividades. Quando a agência que me inscrevi ligou e me contou
sobre Ronan Fletcher e seus dois filhos pequenos, eu não tinha
muita escolha além de concordar em aceitar a viagem sobre o país
inteiro com todas as despesas pagas para me encontrar com este
estranho indivíduo rico e descobrir o que ele está procurando.

“Quanto anos as crianças têm mesmo?”, Perguntou Margie.


Meu braço ganhou um aperto desta vez.

"Não tenho certeza. Eu acho que o arquivo disse cinco e


sete.”

Margie fez uma expressão impressionada. "Tão jovens. E


você diz que você não tem filhos seus, ainda?” Eu tenho a
impressão de que ela pensou que eu estava mal preparada para o
desafio de lidar com uma criança de cinco e outra de sete anos de
idade.

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“Não, eu realmente não quero ter filhos,” eu disse. “Eu adoro
cuidar das crianças na escola, mas eu não planejo ter o meu
próprio.”

“Oh, Deus, querida, por que diabos não? Ser mãe... é a coisa
mais milagrosa. Minha vida não seria a mesma sem os meus
meninos.”

Com o tempo, eu aprendi que dizer às pessoas que eu não


podia ter filhos sempre os deixava desconfortáveis. Era sempre
melhor mentir. Inventar alguma coisa. Meu estilo de vida é muito
agitado para dependentes. Eu apenas não sou uma pessoa
maternal. Qualquer coisa era mais fácil do que explicar que fui
casada uma vez, por um grandioso total de dezoito meses, antes
que eu descobrisse que era improvável que eu fosse capaz de
engravidar algum dia. Meu ex filho da puta não aceitou bem as
notícias. Ele tinha pegado o dinheiro que ficava em nossa conta
conjunta de poupança – graças à Deus não foi tudo -, e tinha fugido
com a minha melhor amiga. Na última vez que ouvi, eles tinham
acabado de ter seu primeiro filho juntos, uma garotinha e estavam
morando em San Francisco.

Eu sorri inexpressivamente para Margie, encolhendo os


ombros. “Tenho certeza de que a maternidade é maravilhosa. Só
não é para mim.”

A testa de Margie enrugou, como se ela não conseguisse


compreender o que poderia haver mentalmente de errado comigo.
“Tudo bem, querida,” ela disse. “Você provavelmente vai mudar de
ideia, sabe. Um dia você vai simplesmente acordar e bem de
repente-” Ela se pressionou em mim enquanto as rodas do avião
tocavam o solo. Em algum lugar na parte de trás do avião, uma
pessoa solitária começou a bater palmas. Margie pareceu
momentaneamente distraída, enquanto eu dei o meu melhor para
colocar meu coração de volta em seu legítimo lugar no meu peito,

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fora do alto da minha garganta, que foi o lugar onde ele tinha se
alojado.

"Pronto. Isso não foi tão ruim, foi?” Margie perguntou. Logo
agora, ela parecia ter esquecido tudo sobre a frase na qual ela
estava no meio. Fiquei feliz por isso, também. Eu tinha ouvido todo
o: você vai acordar uma manhã e só precisará ter um bebê. O: isso
vai te atingir como uma bola de demolição e você não será capaz de
negar a sua natureza. O problema era que eu já tinha acordado e
sentido isso, esse chamado profundo em meus ossos, mas meu
corpo tinha me negado e eu estive tendo que lidar com essa triste
realidade desde então.

“Atenção todos os passageiros. Por favor, permaneçam


sentados com os cintos apertados até que o piloto tenha desligado o
sinal do cinto de segurança. Ao abrir compartimentos superiores, por
favor, prossiga com cautela já que os itens podem ter se movido
durante o voo e correm o risco de cair.” Ao longo dos alto-falantes
minúsculos, uma mensagem pré-gravada continuou a repetir,
alertando os passageiros no enorme Airbus A380 – com mal um
quarto dele cheio - que o aumento das medidas de segurança
dentro do aeroporto pode significar tempo de espera prolongado
para o desembarque e recolhimento de bagagem. Eu mal estava
escutando. Eu já me sentia num lugar lotado, minha garganta
inchando um pouco, gotas minúsculas de suor surgindo através
dos poros da minha pele, enviando calafrios que dançavam sobre
o meu estômago e pelos meus braços.

“Eles ainda têm um monumento?” Perguntei abruptamente.


“Sabe, onde o World Trade Center ficava.”

Margie parou de procurar algo em sua bolsa de couro preto


rachado e me olhou bruscamente. Ela estava em algum lugar entre
sentir-se intensamente com pena de mim e um pouco cautelosa
comigo de repente. “Por que, é claro que eles tem, querida. Por que
diabos eles não teriam?”

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Eu olhei para fora da janela, longe dela, não querendo trocar
expressões estranhas. "Eu não sei. Parece há tanto tempo agora.
As pessoas... se esquecem.”

"Oh, não. Não, isso é provável que nunca aconteça. Nova


York não esquece. Vamos nos lembrar daquelas pobres pessoas
por gerações. Até a cidade cair no mar. Provavelmente por muito
tempo.”

Uma hora e meia mais tarde, eu estava xingando baixinho,


suando, me xingando por não ter previsto mais tempo para chegar
do aeroporto ao edifício de Fletcher. Chegar à 23ª entre a 6ª avenida
à Oeste era um percurso longo saindo do JFK e eu só tinha doze
minutos de sobra enquanto pulava para fora do táxi e corria em
disparada para dentro da imponente estrutura de vidro alto, como
uma lança que parecia progredir para fora da calçada.

O saguão do edifício Fletcher era modesto e simples, mas


gritava dinheiro. Os pisos eram de mármore frio polido e a recepção
que estava ao fundo à direita era constituída por belas poltronas
de couro cinza que pareciam custar mais do que meu carro em Los
Angeles. Eu corri para o balcão da recepção, freneticamente
passando a mão no meu cabelo, esperando muito que eu não
parecesse completamente exausta, o que eu sem dúvida parecia. A
mulher atrás do balcão deu uma olhada para mim e sorriu.

“Como posso ajudá-la?” Ela perguntou. Sua voz era suave e


tranquila, mas não hostil. Seu cabelo loiro brilhante estava puxado
para trás num coque perfeito que me fez querer chorar de inveja.

“Meu nome é Ophelia Lang. Eu tenho um compromisso às


quatro horas com o Sr. Fletcher.”

“Ahh, sim. Senhorita Lang. Um momento, por favor.” Ela


rolou para trás em sua cadeira e abriu uma gaveta ao lado dela, a
partir da qual ela produziu um pequeno crachá laminado com

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minha fotografia nele. Ela deslizou o laminado por cima do balcão
para mim, sorrindo. “É uma boa foto,” ela me informou. “Na
maioria das vezes elas parecem horríveis.”

Olhei para a foto e fiz uma careta. Parecia mais uma foto
policial do que uma foto de identificação. Eu parecia surpresa.
Meus olhos, geralmente verdes, estavam tingidos, de alguma
forma, com vermelho, então eu parecia bastante demoníaca. O
contraste na imagem estava ruim, também, logo meu cabelo
castanho claro comprido parecia quase preto. Meu bronzeado era
inexistente e os meus lábios pareciam vermelho-sangue.
Basicamente, eu parecia uma vampira.

De qualquer maneira, dei à recepcionista um sorriso


estranho e educado. "Obrigada.”

Ela se inclinou para frente e colocou uma mão no meu


antebraço, falando muito suavemente. “Não pareça tão
preocupada. O Sr. Fletcher pode ser um pouco frio às vezes, mas
ele é um cara decente. Ele é justo e é um bom chefe. Tudo vai ficar
bem.”

Eu não tinha ideia de por que ela sentiu a necessidade de


me tranquilizar, mas suas palavras realmente diminuíram minha
pulsação de correr ainda mais rápido e isso foi algo.

“No entanto, é melhor você ir até o escritório na cobertura


agora, senhorita Lang.” Ela apontou para uma série de elevadores
do outro lado do saguão. “Mesmo que ele seja um bom chefe, ele
realmente odeia quando as pessoas estão atrasadas.”

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CAPÍTULO 3
A OFERTA

Um guarda de segurança com aparência severa me escoltou


do elevador até o escritório de Fletcher.

Eu não tinha viajado muito. Um fim de semana no Arizona,


aqui. Uma viagem para Vegas, lá. Eu só estive fora dos Estados
Unidos uma vez, quando papai desembolsou uma viagem de dez
dias para o Canadá para a família - um presente de formatura, na
época em que o restaurante estava indo muito melhor e o dinheiro
estava longe de ser tão curto. Enquanto entrava nos escritórios
particulares de Ronan Fletcher no trigésimo primeiro andar, que
também era simplesmente o andar mais alto do edifício Fletcher
Corporation, eu fui abordada pelas atrações turísticas mais
estranhas e maravilhosas, de países que duvidava que eu
conseguiria visitar um dia: máscaras tribais africanas feitas em
madeira entalhada de forma complexa. Leques de seda japonesa,
belamente pintados, acomodados nas paredes como borboletas
raras. Ovos Fabergé russos do tamanho do meu punho, assentados
num aparador de nogueira folhado a ouro. Uma caixa de vidro se
estendia ao longo de todo o comprimento da parede do lado direito,
onde uma coleção de colares de ouro e brincos de argola em cobre
foram arrumadas com precisão delicada no topo dos veludos
vermelho-rubi, brilhantes. Parecia mais uma exposição de museu
do que um escritório. Se não fosse pela mesa enorme e imponente,
completada com um iMac gigantesco que ficava diretamente na
frente da parede de janelas de vidro do chão ao teto, tendo vista

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para a cidade, então eu teria pensado que tinha entrado no Museu
de História Natural, e não no lugar de trabalho de alguém.

"O Sr. Fletcher estará com você em um momento,” o guarda


me disse. "Sente-se. E não toque em nada.”

Eu não teria tocado em nada de qualquer jeito - tudo parecia


que custava mais do que a minha vida valia. Eu me sentei do outro
lado da mesa e tentei não me inquietar. Chequei meu relógio: Três
e cinquenta e nove. Quatro horas. Quatro e um. Quatro e dois.
Ronan Fletcher estava oficialmente atrasado. Inacreditável,
realmente, dado ao que a recepcionista tinha acabado de me
contar. Mais dois minutos se passaram e eu comecei a pensar que
talvez Fletcher já havia ido embora para atender seus filhos, mas,
em seguida, uma porta à direita se abriu e entrou o homem em si,
puxando os punhos brancos de suas mangas enquanto entrava
com pressa na sala.

Observei-o, chocada, enquanto se sentava na minha frente.


Não era nem um pouco o que eu tinha esperado. Ronan Fletcher
não era um comerciante enfadonho acima do peso, com uma
barriga ampliada das muitas noites mal dormidas, refeições
carregadas de gordura e cervejas em sua mesa. Ele era alto, mais
do que 1,82m; ele teria feito com que parecesse pequena com meus
1,72m se ficássemos lado a lado. Cabelo escuro e olhos escuros;
ele podia facilmente ter sido de descendência italiana por sua cor,
mas sua pele era pálida. Seus ombros eram largos, os braços
musculosos, pressionando o material que parecia caro de sua
camisa de botão. Ele não olhou para mim até que tinha se
acomodado em sua cadeira.

Quando ele levantou a cabeça e, finalmente, me prendeu em


seu olhar, eu fiquei chocada pelos ângulos e pelas linhas duras de
seu rosto. Elas eram magníficas - um esboço rudimentar,
arrancado do caderno de Michelangelo, com traços audaciosos.
Mandíbula forte. Maçãs do rosto altas. Nariz perfeitamente reto.

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Seu lábio inferior era mais cheio do que o superior, formando um
arco perfeito do Cupido. Não havia como negar: o homem era uma
obra de arte, tão raro e requintado como qualquer um dos artefatos
presos em suas paredes.

“Olá, senhorita Lang,” ele disse friamente. “Obrigado por ter


tempo de vir para Nova York. Eu sei o quão inconveniente deve ter
sido.” Sua voz era melodiosa, uma melodia sutil provocando a
cadência de suas palavras. Um sotaque tão estranho. Um que eu
não conseguia situar.

“Nem um pouco.” Pelo meu tom entusiasmado, parecia que


eu realmente quis dizer isso, que a viagem realmente não foi uma
coisa enorme para mim e que eu não tinha me importado nem um
pouco. As sobrancelhas escuras de Fletcher baixaram ligeiramente
enquanto ele franzia a testa.

“Algumas pessoas não gostam de voar,” ele disse. “Embora,


eu esteja contente em ouvir que tudo correu sem percalços para
você, senhorita Lang. Peço desculpas que não pudemos nos
encontrar em Los Angeles, contudo minha agenda tem sido
bastante penosa recentemente. Houve um monte de pontas soltas
que precisavam ser amarradas.”

Eu aceno com a cabeça. "É claro. Isso não foi um problema.”

“Bem, obrigado de qualquer maneira. Sua pontualidade e


aparência profissional em face de uma viagem tão longa é muito
impressionante. Profissionalismo é fundamental para mim,
Ophelia. Posso chamá-la de Ophelia?”

"Sim, claro."

"Bom. Você vai me chamar de Ronan, também.


Especialmente se estivermos na frente das crianças.” Eu não
esperava que ele dissesse isso. Pensei que eu precisaria chamá-lo
de Sr. Fletcher ou senhor ou algo assim. Dirigir-me a ele pelo seu
primeiro nome parecia estranho. Pessoal demais. Ronan deve ter

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visto a centelha de surpresa em meu rosto. “As crianças não
precisam de outra babá rigorosa e formal, Ophelia. Eles não
precisam de outro dos meus funcionários puxa-sacos pairando em
torno deles por tempo integral. Eles precisam de uma amiga. Isso
é o que eu estou procurando no candidato escolhido para este
papel.”

"Entendo. Eu posso fazer isso,” eu disse.

"Bom. Agora. Por que não começamos com você me contando


sobre você e sua experiência como professora?”

Eu sempre odiei esta parte das entrevistas. Ronan já deve


ter lido meu currículo no detalhadamente - ele nunca teria pago
para eu voar até Nova York se ele não tivesse lido minhas
qualificações - por isso era frustrante que as empresas e indivíduos
sempre passassem da mesma forma pelo processo cansativo de
você ter que falar até a exaustão sobre seus conjuntos de
habilidades e capacidades. Parecia um grande desperdício de
tempo. No entanto, eu dificilmente podia dizer-lhe isso, então o
atendi.

Licenciatura em ciências sociais e fotografia. Mestre em


literatura e idioma Inglês. Um diploma em matemática estatística
que eu realmente só fiz por diversão um par de anos atrás.
Expliquei sobre o meu tempo em Saint Augustus, detalhando as
funções extras que aceitei no interior da escola, proporcionando
aulas depois do horário para os estudantes que queriam ou
precisavam disso.

“E as crianças em sua escola eram todas bem ajustadas?


Você teve que trabalhar com quaisquer... crianças problemáticas?”

Ah, garoto. Essa parecia ser uma questão principal. Seus


filhos seriam pequenos terrores, perturbadores e incapazes de se
comportar? Se fossem, isso não era um grande problema. Eu tive
que lidar com muitas merdas mimadas em casa, com muitos

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direitos e privilégios, que pensavam que você era uma serva deles,
à sua disposição sempre que o humor os pegava. “Eu lidei com um
número de crianças que tinham dificuldades, sim.”

“Fale claramente, Ophelia. Não há espaço para o


politicamente correto aqui. Quando você diz dificuldades, o que
você quer dizer?” Sua voz tinha pouca ou nenhuma inflexão
enquanto falava. Tudo nele era calmo e desprovido de emoção,
embora seus olhos escuros brilhassem com uma inteligência que
era mais do que um pouco intimidante.

“Problema” sempre foi uma palavra suja em St. Augustus.


Nós nunca fomos autorizados a fazer um estudante sentir-se
menos do que ninguém na classe, então teríamos que usar
palavras como desafiador, ou de alta energia. Parecia que Ronan
Fletcher queria encarar os fatos, no entanto. “Problemas com
autoridade. Problemas com a violência e com agressão. Algumas
das crianças se recusavam a cooperar em qualquer nível. Alguns
podiam ser indiferentes. Física e verbalmente abusivas, às vezes.”

“Você já foi instigada a responder na mesma moeda? Quando


você foi atacada física ou verbalmente?” Suas palavras foram ditas
com total e absoluto distanciamento, que estava em desacordo com
a reação que elas inspiraram dentro de mim. Raiva tremulou na
boca do meu estômago, queimando rapidamente para fora,
descarregando através do meu corpo.

"Não! Absolutamente não. Mesmo se os professores tivessem


permissão para maltratar as crianças, o que obviamente não
tínhamos, eu nunca disciplinaria fisicamente um aluno. Não é o
nosso papel. E as crianças podem ser ofensivas com as pessoas
que os cercam no melhor dos momentos. Se eles estão se sentindo
vulneráveis ou ameaçados de alguma forma pela situação em que
se encontram, eles atacam. É o meu trabalho fazê-los se sentir
seguros e confortáveis, para que não precisem xingar, falar
palavrões, ou dizer coisas horríveis. Seria contraproducente, para

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mim , responder de alguma forma a esse tipo de comportamento.”
Eu sabia que ele estava me testando; ele tinha que ter certeza que
eu era um modelo adequado para cuidar de seus filhos, mas fazer
uma pergunta tão descarada e terrível estava no limite do ofensivo.
Ronan permaneceu impassível, as mãos empilhadas no colo,
inclinando-se para trás na cadeira, observando-me.

"OK. Vamos discutir a sua disponibilidade. A agência que


contratei para preencher esta vaga disse que você não estava
trabalhando no momento. Por que isso?"

“A escola fechou. Eu não fui demitida, se é isso que você está


insinuando. Toda a equipe do St. Augustus foi despedida.” Eu
podia sentir-me ficando mais irritadiça a cada segundo, mas
parecia que eu não conseguia evitar. Havia algo enfurecedor sobre
a forma como ele estava fazendo suas perguntas que me fez sentir
inferior e não qualificada para, essencialmente, tomar conta dos
seus filhos. Eu não gostei disso. Eu não gostei disso nem um
pouco.

“Entendo.” Nessa pequena declaração, Ronan Fletcher me fez


sentir como se fosse minha culpa que St. Augustus tivesse ido para
o ralo. Minha culpa que os fundos não puderam ser arrecadados
para manter a escola funcionando; minha culpa que os outros
membros do corpo docente tivessem perdido seus empregos
também. Na minha cabeça, eu estava cambaleando entre todos os
tipos de desculpas e explicações que dançavam na ponta da minha
língua, implorando para serem liberadas. Eu não pronunciei uma
palavra, embora. Fiquei lá, vazia e miserável, enquanto Ronan
parecia considerar seu próximo movimento.

“Então você estaria disponível para iniciar imediatamente?”


Ele disse finalmente.

“Eu estaria.” Fiquei surpresa que ele ficou sequer


preocupando em verificar esta informação, dado quão claro ele
estava que não achava que eu era apta para o trabalho.

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“E você fica enjoada no mar?

"Como?"

“Enjoada no mar. Há uma quantidade considerável de


viagens de barco envolvidas neste trabalho.”

Eu só olhei para ele vagamente. “Eu teria que atravessar


muitas vezes o rio?”

“Não o Hudson, não. Eu preciso de alguém para cuidar dos


meus filhos na minha cidade natal, que fica em uma ilha remota
na costa do Maine. Há uma viagem de balsa de 9,6km entre o
continente e a The Causeway e às vezes as águas pode estar bem
agitadas. A posição é um contrato de seis meses, como eu tenho
certeza que a agência explicou para você. Você terá dois dias de
folga por semana e a tia das crianças também estará à disposição
para ajudar a cuidar deles. Idealmente, o candidato escolhido para
este papel vai cuidar das crianças durante o dia, fazendo café da
manhã, levando-os para a escola depois do ano novo, uma vez que
eles estão matriculados na escola primária local. Buscá-los e
ajudá-los com qualquer lição de casa, brincar com eles à noite etc.
Antes que eles sejam capazes de ir para a escola local, tanto
Connor e Amie precisariam ser educados em casa.

“Rose, a tia deles, vai cuidar deles dois dias da semana, bem
como algumas noites, que ela pode resolver com o candidato
escolhido, uma vez que eles chegaram na The Causeway.” Ele disse
“The Causeway” como se fosse difícil para ele formar as palavras
em sua boca.

“Uma ilha?” Ele queria que eu deixasse o continente? Ele


queria que eu viajasse para algum pontinho remoto de terra no
oceano com ele e seus filhos? Eu não conseguia assimilar muito
bem a informação. Eu tinha ficado devastada pela ideia de estar
num voo de seis horas de distância no outro lado do país, mas
minha mãe tinha me convencido. Ela me fez lembrar o quão fácil

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seria pular num avião em Nova York e voltar para Los Angeles
sempre que eu quisesse e barato o suficiente também, se eu
estivesse ganhando um dinheiro decente, mas uma ilha? Ao largo
da costa do Maine? Isso não era uma simples distância curta. Isso
era muito mais complicado, de fato.

Ronan parecia inquieto enquanto ele continuava, o que não


me tranquilizou nem um pouco. “Eu nasci na The Causeway,”
explicou. “Eu não estive em casa há algum tempo. Se você fosse
selecionada para o cargo, você precisaria se comprometer a viajar
para a ilha e ficar por um período total de seis meses.”

“Eu não seria capaz de voar de volta para Los Angeles nos
fins de semana?”

Ronan sacudiu a cabeça. “Infelizmente, isso não seria


prático. Levaria mais de um dia inteiro de viagem em cada sentido
e eu gostaria de alguém à mão em caso de emergência. Você é mais
que bem-vinda a passar o seu tempo livre como quiser na ilha, mas
eu preferiria que você tivesse o seu celular com você em todos os
momentos, assim Rose poderia contactá-la caso ela precisasse. Eu
estarei escrevendo um livro e por isso não estarei disponível a
maior parte do tempo. Uma vez que o contrato de seis meses estiver
no fim, espero que eu possa providenciar outro membro da família
para cuidar de Connor e Amie na minha ausência.”

"Entendo. Isso... não é realmente o que eu estava esperando.


Os seus filhos estão bem com essa enorme mudança de cenário?”

A expressão de Ronan ficou fria, transformando suas feições


perfeitas em mármore suave e impecável. “Desde que a mãe deles
morreu nesta época do ano passado, Connor e Amie ainda estão...”
Ele franziu a testa, lábios entreabertos enquanto ele parecia
procurar a palavra certa. “Ajustando-se à perda. Uma mudança de
cenário é exatamente o que eles precisam.”

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Merda. Passei dos limites. Eu não devia ter sugerido que ele
não sabia o que era melhor para seus filhos. E no segundo que ele
mencionou a morte de sua esposa, algo tinha mudado nele. Ronan
era uma tempestade agora. Uma tempestade perigosa. Eu podia
ver as nuvens formando sobre sua cabeça, torcendo e girando
enquanto uma escuridão parecia alcançá-lo. "Sim, claro. Sinto
muito.” Minhas palavras foram leves, inconsequentes, mas elas
eram tudo o que consegui. O que eu poderia dizer para retroceder
os últimos minutos e redefinir a entrevista. Nada apropriado veio à
mente.

“Isso não é muito importante,” ele disse apressadamente. “Se


o trabalho for oferecido para você, será dado um arquivo contendo
informações que você deve saber sobre Connor e Amie. Suas
personalidades, os seus problemas e as suas necessidades
específicas.”

“Eu ainda... Não acho que eu posso me mudar para uma ilha
remota por seis meses, Sr. Fletcher. Eu sinto muito. Eu só não
posso.”

“Eu te disse, me chame de Ronan. E eu estou ciente que um


contrato de seis meses como este é pedir muito, razão pela qual o
salário é tão generoso. Presumo que a agência disse qual era o
salário?”

Eu balancei minha cabeça. “Geralmente isso é discutido


uma vez que o trabalho foi concedido.”

“Eu estou oferecendo um pagamento de cem mil dólares uma


vez o prazo de seis meses for concluído. Durante os seis meses na
ilha, você receberia um salário para cobrir todos os custos que
possa incorrer através do seu trabalho com as crianças ou de suas
próprias necessidades pessoais. Esta quantia mensal é fora do
último pagamento de cem mil dólares. Talvez você goste de pensar
sobre qual será sua resposta caso o trabalho seja oferecido,
Ophelia.”

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Cem mil dólares? Meu salário em St. Augustus foi apenas
cinquenta e cinco mil e isso foi para um ano inteiro. Cem mil
podiam resolver um monte de problemas no restaurante. Podia,
literalmente, transformar tudo para a mamãe e o papai. No
entanto, eu simplesmente não conseguia imaginar isso. Outro
estado? Outro fuso-horário? Uma ilha minúscula ao largo da costa,
no meio do nada? Deus, era tudo demais para compreender.

“Eu suponho que você está certo,” eu disse. “Eu iria, pelo
menos, pensar sobre isso se o trabalho me fosse oferecido,” eu
disse. “É uma oferta muito tentadora.”

Ronan coçou o maxilar barbeado, dando-me um sorriso


tenso. "Excelente. Obrigado, Ophelia. Então suponho que
estaremos em contato em breve para lhe dar uma resposta, de uma
maneira ou de outra.”

“É isso?” Eu mal tinha ficado sentada na cadeira por vinte


minutos. Eles nos diziam repetidamente na agência que uma boa
entrevista bem sucedida geralmente durava, em qualquer lugar,
entre trinta minutos e uma hora. Uma conversa desprezível de
vinte minutos definitivamente não ia impressioná-los quando eu
lhes desse um telefone de feedback amanhã. Droga. Quem sabia
mais quantas pessoas ele vai entrevistar, ou quantas pessoas ele
já tinha visto? Não havia nenhuma maneira que minha explicação
atrapalhada das minhas capacidades, seguida pela minha reação
hostil à sua linha de questionamento tenha causado qualquer
coisa além de uma má impressão.

“Sim, Ophelia. Eu ouvi tudo o que eu precisava ouvir.


Obrigado por ter vindo de tão longe para se encontrar comigo.”
Ronan se levantou, sua compostura bem e verdadeiramente
recuperada agora. “Por favor, devolva seu passe de segurança para
Davey, o guarda de segurança que te trouxe até aqui, na sua
saída.”

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O que diabos ele achou que eu ia tentar fazer, invadir aqui
mais tarde e tentar roubar seus arquivos confidenciais ou algo
assim? Ridículo. Eu organizei meu rosto em que eu esperava que
transparecesse gratidão profissional, mas por dentro eu estava
queimando com a decepção, ao lado de um respingo de raiva.
Levantando-me, eu esperava que ele não percebesse as manchas
coradas e vermelhas colorindo minhas bochechas.

“Obrigada, Ronan. Eu vou me certificar de fazer isso.” Eu


não ofereci a mão para apertar a dele, mesmo sabendo que eu
devia. Seria imprudente sair da entrevista com uma nota estranha
ou discordante e ainda assim eu não conseguia me fazer entrar na
linha.

Eu me senti nua por um momento, então peguei minha bolsa


que eu tinha acomodado nos meus pés. Eu me senti tola enquanto
me afastei de Ronan Fletcher e caminhei rapidamente para o
mesmo elevador que saí há pouco tempo.

Eu quase esperei que o homem atrás de mim me chamasse,


me desejasse um voo seguro de volta para Los Angeles ou algo
igualmente tão educado e comedido, mas não o fez. Ele não falou
outra palavra. Enquanto as portas do elevador se fechavam, sua
figura foi moldada contra o sol brilhante da tarde flamejando
através das altas janelas atrás dele e eu não conseguia ver seu
rosto. No entanto, eu sempre me lembraria dele. Eu nunca seria
capaz de esquecer.

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CAPÍTULO 4
PACIÊNCIA

“A Causeway? Isso não soa, no mínimo, um pouco exótico,


afinal. Soa frio, se você me perguntar.” Ninguém tinha perguntado
para minha mãe, mas isso nunca pareceu importar para ela. Ela
sempre foi de expressar sua opinião, solicitada ou não e Deus
defenda o pobre coitado que já discordou com ela. À luz disto, eu
assenti de forma sábia do balcão na entrada para a cozinha
enquanto mamãe gritava para mim da chapa, onde ela estava
preparando um par de bifes. Papai estava longe de ser visto, como
de costume.

“É uma parte do Maine, mãe. Particularmente, eu não acho


que seja sempre quente lá.”

“E esse tal de Fletcher foi rude com você?” Eu tinha


mencionado que Ronan não tinha sido exatamente caloroso ao me
recepcionar ou ao me fazer me sentir à vontade e ela não tinha sido
capaz de deixar o assunto morrer. Durante três dias eu estava
contando-lhe a mesma história uma e outra vez, e sua indignação
não se dissipou um único milímetro. “E depois aquele vôo
ridiculamente longo, também. Eu lhe digo, esses caras de grandes
empresas em grandes cidades, eles são todos iguais. No entanto,
eles devem ser o pior absoluto em Nova York. O auge da arrogância.
Deixa para lá, baby. Você vai encontrar um trabalho mais perto de
casa. Você será capaz de voltar para a Baía Sul à noite. E eu e seu
pai vamos ficar bem, não se preocupe conosco.”

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Contudo, eu estava preocupada. Eu estive me preocupando
sem parar pelo ano que passou e nenhuma quantidade de
imaginação e planejamento parecia estar ajudando a situação. Eu
tinha visto a pilha de envelopes no balcão da cozinha nesta manhã,
todas marcadas com: “Aviso Final” ou “Vencido.” Mamãe tinha
levado-as habilmente para dentro da gaveta de talheres quando me
notou servindo um cereal para mim, mas ela não era uma mulher
tão furtiva. Havia, pelo menos, quatro envelopes lá.

“Eu sei, mãe. Não é grande coisa. Eu nunca iria conseguir


ficar em uma ilha minúscula, de qualquer maneira. Eu teria ficado
louca, especialmente se eu não pudesse nem mesmo ligar para
vocês sempre que eu quisesse. A diferença de fuso horário teria
sido terrível.” Eram apenas três horas, mas com a agenda lotada
deles e a minha própria, eu perderia a oportunidade de falar com
eles na maior parte do tempo.

“Ophelia?” Mamãe chamou. “Enquanto está tranquilo, você


se importaria de ir correndo lá para cima, no escritório e ver se há
alguma notícia do Waylan? Nós deveríamos ter uma entrega esta
manhã e nada apareceu ainda.”

“Claro que sim.” Além do casal sentado na mesa perto da


janela, o restaurante estava vazio e serviço de almoço tinha
acabado. Eu tinha alguns minutos para sair do andar, então fiz
como ela pediu, corri subindo as escadas para verificar as reservas
on-line e ouvir as mensagens na secretária eletrônica. Havia sete
novas mensagens em espera. Apertei o botão play, me sentei na
frente do computador pré-histórico que meu pai se recusava a se
livrar, e cliquei para a máquina reproduzir as mensagens (um call
center, perguntando se queremos renovar o seguro do dono da
nossa casa; tia Simone, querendo que mamãe ligasse quando ela
tivesse um segundo; o som muito rouco do velho Sr. Robson,
confirmando a mesa para amanhã à noite que ele e sua esposa
sempre reservavam no domingo) eu estava segurando a respiração,
esperando ouvir aquela voz calma e fria com uma estranha

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cadência, me contando, não em termos duvidosos, que eu não
tinha conseguido o trabalho e eu não precisava me incomodar mais
em procurar Ilha Causeway no Google.

Entretanto, a mensagem nunca chegou. Essa foi


provavelmente a parte mais frustrante. Eu sabia que não tinha
conseguido o trabalho, mas teria sido bom ser tirada da minha
miséria. Parecia altamente irregular que Ronan Fletcher não
tivesse nem mesmo dito para uma de suas recepcionistas ligar ou
até mesmo enviar um e-mail para me deixar saber que alguém
tinha preenchido a posição. Eu não me importava. Eu não me
importava. Pelo menos, é isso que eu mantinha dizendo para mim
mesma. Se eu não recitasse para mim, constantemente, que não
precisava daquele trabalho em particular, então a minha
frequência cardíaca mantinha-se acelerando com a perspectiva de
ganhar cem mil dólares em um período curto de seis meses e eu
estava à beira do choro pela oportunidade perdida. Não havia
mensagens de Waylan no e-mail sobre a falta da nossa entrega.
Enquanto eu estava lá, chequei minha conta pessoal de e-mail para
ver se eu tinha de fato recebido algo da Fletcher Corporation lá,
mas minha caixa de entrada estava notavelmente vazia.

Bem, merda.

Maldito Ronan Fletcher. Maldito seja ele por me tentar com


todo aquele dinheiro. De alguma forma, ele me fez querer um
trabalho que eu nunca tinha sequer verdadeiramente considerado
antes. Eu não tinha mentido mais cedo; eu realmente ficaria louca
em uma ilha minúscula e a distância entre o Maine e a Califórnia
teria sido brutal, mas só seriam por seis meses. Eu podia ter feito
isso. Eu podia ter feito, se eu realmente tivesse tentado.

******

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Meu carro estava na oficina e não estava pronta para ser
pego quando eu tinha voltado de Nova York, então papai levou
todos nós para casa no calhambeque 4Runner empoeirado que ele
tinha desde que eu estava no ensino médio. Reconhecidamente, a
coisa ainda estava funcionando perfeitamente, então não havia
nenhuma razão para ele substituí-lo. Ainda assim, papai tinha
uma coisa com a nova tecnologia, os carros novos, qualquer coisa
nova. Se isso significava que ele teria que aprender a navegar por
algum novo sistema ou software, ele não participaria daquilo. A
não ser que, absolutamente, ele precisasse. Sentei-me na parte de
trás com mamãe, viajando a rota memorizada de volta para a casa
- uma rota tão familiar e repetida para mim que as casas e jardins
pelas quais passamos pareciam que provavelmente estavam lá
desde o início dos tempos, nada nunca mudava, nada nunca
evoluía ou crescia e me senti repentinamente desorientada. Esta
foi a vida que eu tive há quinze anos atrás. Sim, os sons de mamãe
e papai brigando afetuosamente por toda a manhã no café da
manhã me fez sentir segura e entusiasmada, mas o ritual disso
tudo: trabalhar no restaurante, ir dormir no beliche que mamãe
tinha comprado para mim no meu aniversário de doze anos, fazer
compras na Save & Weigh e levar o jornal da Sra. Freeman até ela,
como eu tenho feito desde que ela fez sua cirurgia de colocação da
prótese no quadril em 2003, isso tudo parecia desnecessariamente
esmagador, ao ponto no qual eu sentia como se não conseguisse
respirar.

Fechei os olhos e tracei o resto da viagem para casa na


minha cabeça, sabendo exatamente quando o carro iria inclinar e
deslocar para a esquerda ou direita. Sabendo exatamente quando
iríamos virar para a nossa rua. Quando iríamos entrar na nossa
garagem.

“Olhe, George. Perdemos outra encomenda”, mamãe disse,


enquanto ela saía do carro. Com era de se esperar, uma etiqueta

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UPS2, “Desculpe, Nós Não Te Encontramos” estava fixada à porta da
frente, a metade inferior voejando na brisa.

“Será o meu novo equipamento de pesca,” meu pai disse,


olhando por cima do ombro para sacudir as sobrancelhas para
mim. Ele amava pescar quase tanto como amava minha mãe. No
entanto, sua obsessão por se levantar para ir ficar no cais no início
da madrugada, todas as manhãs deixava-a louca. Ela nunca
conseguia ver graça em passar horas lá, esperando, perdendo
tempo (como ela via isso) para capturar peixes que ele não podia
nem mesmo limpar e trazer para casa para comer, já que a água
não era limpa o suficiente. Irritá-la dava ao papai uma quantidade
enorme de prazer, dizendo que ele tinha comprado este novo
molinete ou aquele novo conjunto de bóias.

Eu consegui ouvi-la falando palavrões sob sua respiração


enquanto ela recuperava a etiqueta UPS da porta, olhando a nota
rapidamente, ao mesmo tempo ameaçando com violência física se
ele até mesmo tivesse se atrevido em desperdiçar dinheiro que eles
não tinham em parafernálias de pesca.

“Não é para você, George. É para Ophelia,” Mamãe disse,


segurando aquilo para cima. “Diz documentos legais na descrição.”

Eu tinha recebido um bom número daqueles pelo correio


durante o ano passado. Meu acordo de divórcio com Will tinha
levado um tempo para ser aprovado – o bastardo tinha tentado
conseguir mais dinheiro de mim do que ele tinha direito - e por isso
só recentemente a papelada passou por mim, para eu assinar e
arquivar. No entanto, eu pensei que tudo estava completamente
finalizado. Estranho que poderia haver qualquer coisa pendente
agora sobre a qual eu não sabia.

“Você quer que eu vá pegar?” Mamãe perguntou. O cara da


loja da UPS ao sul da estrada estava lá há anos e conhecia todos

2 *UPS é uma empresa americana que realiza fretes de mercadorias, cartas e etc. Essa
etiqueta é personalizada diretamente pelo cliente no site da própria empresa.

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nós pelo nome; era comum para nós pegar cartas e pacotes um
para o outro se estivéssemos na área.

"Não, está tudo bem. Vou andar até lá. Acho que preciso
esticar minhas pernas.” Eu tinha ficado de pé o dia todo, mas eu
não estava a fim de ir para dentro ainda. Além disso, caminhar
sempre me ajudou a limpar a minha cabeça.

Na loja da UPS, Jacob estava sentado atrás de sua mesa,


comendo o que parecia ser um sanduíche de pastrami. Ele olhou
para cima, a culpa estampada em todo seu rosto. “Não conte à
Bett,” ele disse, sorrindo timidamente. “Ela vai ficar aqui
monitorando a minha ingestão de calorias todas as tardes se
souber que não estou comendo salada no almoço. Meu colesterol
está disparado.”

Fingi passar um zíper nos meus lábios e jogar a chave fora.


“Ela nunca vai ouvir isso de mim,” eu disse a ele. “No entanto, você
provavelmente devia alternar entre o pastrami e a salada, Jacob.
Esse uniforme parece um pouco apertado em torno da sua barriga
nos dias de hoje.”

Acostumado com uma provocação gentil de vez em quando,


Jacob apenas revirou os olhos. “Assumo que você está aqui por
aquele envelope que não consegui entregar mais cedo?”

“Sim, senhor.”

“Tome conta do meu sanduíche por um momento enquanto


eu vou buscá-lo para você, então. E não dê uma mordida
escondida.” Jacob levantou-se de seu assento e desapareceu nos
fundos, voltando apenas alguns segundos mais tarde com o
envelope nas mãos. Era, pelo menos, de uma polegada de
espessura, um pouco mais pesado do que eu teria imaginado que
fosse qualquer documentação perdida do divórcio. “Poderia matar
um homem com isso se você soltasse-o na cabeça dele,” Jacob me
aconselhou. “Que diabos você tem aqui, menina?”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Eu não sei. Eu não tenho a menor ideia. Eu pensei que eram
umas coisas do advogado do Will, mas...” Peguei o envelope dele,
franzindo a testa. “Tenho a sensação de que é algo completamente
diferente.” Eu assinei o recebimento da correspondência e deixei
Jacob em paz, apesar do fato de que eu sabia quão ansioso ele
estava para descobrir o que estava dentro do envelope.

Quando cheguei a casa, tanto a mamãe quanto o papai


estavam no quintal, falando em voz baixa. Sentia receios sempre
que eles faziam isso – significava que algo ruim tinha acontecido.
Algo, provavelmente, que tinha a ver com dinheiro. Outra carta no
correio, talvez. Um telefonema de um cobrador de dívidas. Aqueles
eram os piores. Eles deixavam todos num turbilhão por dias,
enquanto reajustávamos os poucos ativos que tínhamos e
tentávamos encontrar o dinheiro para pagá-los. Deixei-os com isso.
Não há sentido em fazê-los se sentir ainda mais incomodados do
que já estão. Em vez disso, subi as escadas em silêncio e me fechei
no meu quarto. Eu não tinha ideia do que estava dentro do
envelope que eu segurava apertadamente em minhas mãos, mas
eu tinha a sensação de que não era nada bom. Rasgando o selo um
pouco de cada vez, eu tive que lutar para me forçar a abri-lo por
completo.

Dentro: duas fotografias, um menino e uma menina.

Dois arquivos em pastas de plástico: Connor Fletcher, sete


anos. Amie Fletcher, cinco anos.

Um envelope empresarial azul, branco e vermelho, American


Airlines. No interior, uma passagem, classe executiva para o
Aeroporto de Knox County, datado para daqui dois dias.

No fundo, debaixo de toda esta informação desconcertante,


uma nota escrita à mão.

Ophelia,

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Tenho certeza que você já teve tempo suficiente para
considerar a minha proposta até agora. Meus filhos não são como
eu. Eles são jovens e frágeis e sentem falta da mãe deles. Eles
precisam de orientação adequada, bem como alguém para chamar
de seu amigo. Nem Connor nem Amie já estiveram na The
Causeway. Eles não sabem nada do mundo fora de Nova York e da
casa que partilhavam aqui com a mãe deles e eu. Se você os
auxiliasse (e a mim) durante esta enorme fase de transição, eu seria
eternamente grato.

Seu,

Ronan Fletcher

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CAPÍTULO 5
A CAUSEWAY

Outro avião. Outra viagem. Dois dias quase não tinha sido o
suficiente para deixar minhas coisas em ordem. Eu nem mesmo
tinha tido tempo para repensar a minha decisão de aceitar o
trabalho. Talvez esse tenha sido o plano de Ronan tempo todo, me
deixar perdida por ter solicitado que eu saltasse num vôo quarenta
e oito horas depois de me oferecer a posição, então eu não teria
tempo de ponderar minhas opções ou desistir. Isso é o que teria
acontecido, tenho certeza. Dado o espaço suficiente para respirar,
eu teria saído dessa. A Causeway era muito longe. E se algo
acontecesse com a mamãe ou o papai ou com o restaurante?

Mamãe irrompeu em lágrimas quando eu contei a ela sobre


a passagem de avião e os arquivos sobre as crianças. Ela ficou tão
culpada, não queria que eu fosse embora, não queria que eu
sentisse como se precisasse ir. Papai me disse repetidamente que
nós íamos encontrar uma solução se eu não quisesse ir, mas eu
podia ver em seu rosto que ele ficou aliviado. Se eu fizesse isso,
ficar presa por seis meses em uma pequena ilha no meio do nada,
eu voltaria com dinheiro suficiente para resolver todos os
problemas financeiros do restaurante e provavelmente haveria
sobra suficiente para fazer algumas reformas aqui e ali, avivar um
pouco o lugar. Se eu não fosse, o lugar estava afundando e isso era
um fato. Em dois, talvez três meses - esse era quanto tempo nós
poderíamos ser capazes de avançar com dificuldades, raspando o
dinheiro para manter o lugar aberto mais um dia.

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No final, a decisão tinha sido óbvia, embora triste.

E então aqui eu estava, em outro avião. Rodas para cima. A


trinta mil pés. Outra gin e tônica e outra refeição ruim de avião.

Eu tive muito tempo durante a viagem de sete horas pelo


país para revisar os arquivos das crianças. Connor e Amie. Durante
os altos e baixos e a indecisão dos últimos dias, eu realmente não
tinha estudado as pequenas pessoas que eu estava sendo
encarregada de cuidar. Normalmente, as crianças eram tudo que
eu sempre cogitava. Ao ler os arquivos, tanto Connor quanto Amie
pareciam como a maioria delas aos cinco e sete anos de idade.
Connor amava futebol e aparentemente queria ser um tratador de
zoológico quando crescesse. A primeira parte de seu arquivo
possuía registros de sua comida favorita (massas), sua cor favorita
(laranja), seu animal favorito (Zebra), e muitos outros pequenos
fatos que, sem dúvida, fariam com que fosse mais fácil construir
uma ponte com o menino. No entanto, a parte final do seu arquivo,
era muito mais abrangente. Continha o que terminou por serem
anotações de sessões numerosas com um psicólogo infantil do
Brooklyn que se chamava Dr. Hans Fielding.

“Connor demonstra uma relutância de obedecer à autoridade.


Ao falar com seu pai, confirmei que Connor era uma criança feliz,
alegre e divertida antes da morte de sua mãe, há cinco meses, mas
desde então ele tem sido beligerante e frequentemente propenso a
ataques de raiva e depressão. Isso tudo é de se esperar, é claro.”

E-

“Oito meses após a morte de sua mãe e Connor está


mostrando poucos sinais de movimento, os quais podem ser
considerados uma direção positiva. Connor está, de forma
desastrosa, ainda reconhecendo a morte de sua mãe. Sua recusa a
acreditar que ela se foi denota um fluxo emocional oculto dentro da
criança, pelo qual ele ainda não é emocionalmente maduro o
suficiente para lidar com as realidades profundas e dolorosas de dor

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e perda. É crucial que Connor aceite a morte de sua mãe, e logo, caso
contrário, a fantasia na qual ele sustenta de que ela ainda está viva
pode tornar-se um aspecto profundamente impregnado e vital de sua
personalidade.”

Dez meses após a morte da Sra. Fletcher, parecia que


Connor teve um avanço, no entanto.

“O tempo que Sr. Fletcher tem passado com Connor


claramente afetou uma mudança na criança. Mais brilhante, mais
ágil e, em geral, mais positivo, Connor parece ter emergido a partir
da fuga de tristeza que tomou conta dele desde maio passado. Estou
aliviado ao ouvir Connor falar sobre sua mãe durante as nossas
sessões agora. Embora admitir que ela esteja morta, obviamente,
ainda lhe causa grande angústia, Connor frequentemente a
menciona no passado perfeito. Durante a sessão conjunta onde
tanto Connor como seu pai compareceram no meu consultório,
Connor tem manifestado o desejo de colocar flores no túmulo de sua
mãe. Eu incentivei isso de todo o coração. Embora fosse difícil para
Connor, só posso imaginar que visitar o túmulo da Sra. Fletcher
forneceria uma sensação de encerramento para a criança. Talvez até
mesmo para o Sr. Fletcher, também.”

Meu coração doía pelo pobre garoto. O último registro das


notas do consultório do Dr. Fielding foi datado em dezessete de
outubro, há um mês e em seu registro Fielding elogiou muito o
progresso notável que menino estava tendo. Isso me deixou menos
ansiosa para conhecê-lo, mas ainda assim. Perder um dos pais tão
jovem? Deus, nem sequer era suportável pensar nisso.

Eu estava menos preocupada com Amie. Ela tinha a mesma


quantidade de papelada em seu arquivo, a mesma quantidade de
detalhes. Ela queria ser a fada dos dentes quando ela crescesse.
Sua cor favorita era verde e seu animal favorito era um dinossauro.
Ela tinha claramente passado tanto tempo com o Dr. Fielding

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quanto Connor passou, também, embora os registros de seus
encontros fossem muito menos intimidantes.

“Amie, como muitas crianças de sua idade, se adaptou a essa


nova circunstância muito rapidamente. Sua tristeza pela morte de
sua mãe é algo que a domina ocasionalmente, no entanto, na maior
parte, ela continua a ser uma criança calma, feliz e brilhante. A
preocupação do Sr. Fletcher com ela é compreensível. Eu recomendei
que ele deve certificar-se de passar muito tempo de qualidade com
ela, para garantir que ela não se sinta abandonada por ambos os
pais. Tenho lhe encorajado a reconsiderar tirar uma licença do
trabalho, mesmo que apenas por um curto período de tempo. Ele me
informou que vai fazer o seu melhor para que isso aconteça. Nesse
meio tempo, estou feliz em recomendar apenas uma consulta
quinzenal para Amie, ao contrário de Connor, que eu ainda gostaria
de ver duas vezes por semana.”

As fotos das crianças que vieram com o arquivo eram


bastante estranhas. Eu teria pensado que Fletcher poderia ter
enviado uma deles dois, sorrindo e felizes, talvez de antes da
tragédia misteriosa que tinha reivindicado a mãe deles. Em vez
disso, as fotos de Connor e Amie foram tiradas separadamente,
cada um deles sozinho. Connor tinha nele um aspecto de seu pai –
uma auréola de cabelos escuros, todo espetado e enrolado e olhos
escuros comoventes que olhavam diretamente para mim a partir
da imagem. Ambas as bochechas tinham covinhas, e deviam ser
ainda mais expressivas quando o menino sorria. Tal como se
apresentava, Connor permaneceu com uma expressão inflexível
enquanto olhava para a lente da câmera, sem uma centelha de
emoção pega nas sombras e nos pontos mais luminosos de seu
rosto. Ele usava uma camisa de botão branca, abotoada no alto
sob o queixo e shorts cáqui simples que exibia suas pernas
desengonçadas e magricelas. Era claro que ele ia ser alto, assim
como Ronan.

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Na fotografia de Amie, ela estava sentada no estilo indiano
em uma cadeira de descanso, apoiada em uma almofada listrada
em azul e branco atrás dela, e ela estava olhando para algum lugar
à esquerda, longe da câmera. Assim como seu irmão, ela não estava
sorrindo, embora suas feições delicadas e incrivelmente bonitas
parecessem menos pesadas que as de Connor. Muito pelo
contrário, ela parecia impaciente, pronta para o momento acabar
para que ela pudesse seguir para o próximo.

“Outro gim e tônica, senhorita?” Eu nem tinha notado a


aeromoça ao meu lado no corredor.

"Não. No entanto, obrigada.” Eu queria aceitar a bebida e


dizer a ela para mantê-las vindo, mas a última coisa que eu
precisava era de uma ressaca zumbindo quando eu aterrissasse
em Knox County.

******

Pensei que eu ia ter um sentimento razoavelmente decente


pelo Maine enquanto eu viajava do aeroporto, ao norte, em direção
ao Porto Creef, onde eu pegaria uma balsa para a Causeway, no
entanto, o mundo estava envolto em escuridão quando o avião
aterrissou e o céu permaneceu tão preto como piche fora da janela
do meu táxi até que eu adormeci. Nenhum serviço de carro de luxo
para mim aqui. No entanto, havia um cara bastante gordo, careca
com um casaco verde enorme de lona encerada que descia até os
seus joelhos, esperando por mim na área de desembarque. Ele
segurava um pedaço de papel frouxamente em uma mão, em que
meu nome tinha sido rabiscado rapidamente com caneta preta. Ele
parecia que estava prestes a adormecer, inclinando-se contra o
gradil, com círculos escuros sob seus olhos. Acabou que esse era

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Carrick e ele era o meu motorista de táxi. Ele também era irlandês,
e era próximo ao impossível entendê-lo.

A primeira coisa que ele me disse foi: “Onde está o seu


casaco, senhorita? Está mais frio que as bolas do Satanás lá fora.
Você vai ver sua morte se pisar para fora vestindo essa coisa leve.”
Ele não parecia tão impressionado com o suéter lã enorme que
mamãe me fez levar no avião apenas caso eu ficasse com frio. Eu
estava muito cansada para discutir com ele, para lhe dizer que eu
era razoavelmente de sangue quente e que eu não ia precisar de
um casaco, especialmente se nós estávamos indo do aeroporto até
o carro, então eu apenas abri minha bagagem e tirei o casaco
grosso e pesado que trouxe comigo. Exagero, eu tinha pensado.
Muito forro de lã e o capuz era simplesmente ridículo.

Ridículo até que eu tinha seguido Carrick para fora e o vento


frígido tentou sugar o ar bem para fora dos meus pulmões, é isso.
Quão frio já tinha ficado em Manhattan Beach no inverno? Doze
graus? Talvez nos quatro graus, embora isso parecesse improvável.
O vento cortando pelo saguão no pequeno Aeroporto de Knox
County mal podia ter sido mais do que dez graus. Mais frio,
provavelmente. Ele apunhalava o tecido do meu casaco como uma
faca quente na manteiga, me esfriando instantaneamente até os
ossos. Eu tinha sido congelada na hora subi na traseira
estranhamente grande em forma de táxi, esperando por nós há uns
30m e Carrick tinha rido baixinho.

Não muito se passou entre nós por meio de conversa - um


fato pelo qual fiquei feliz desde que eu mal conseguia entender uma
palavra do que ele dizia. Dormir parecia o curso mais razoável de
ação.

Um período indeterminado de tempo depois, eu fui


balançada até acordar por mãos ásperas. Carrick me lançou um
sorriso alegre enorme e disse, “Estamos aqui, senhorita. Você não
quer perder este barco agora.” Fora da janela, a luz fraca estava

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cortando através de uma massa inchada de nuvens cinza-sujo que
pareciam pesadas – nuvens de tempestade, mamãe as chamava.
Um sinal claro de uma tempestade. Uma costa antiga desgastada
estendia-se à esquerda, grama brotando entre as rachaduras e
fissuras de enormes rochedos de pedras empilhadas. Mesmo na
aurora pálida e sem entusiasmo, as colinas ao longe pareciam
incrivelmente verdes e exuberantes, muito mais brilhantes, mais
volumosas e mais vibrantes do que qualquer coisa que eu já tinha
visto na praia. Bonito. Isso era realmente bonito.

Carrick tinha estacionado o táxi no que parecia ser o


estacionamento de um cais. O chão de concreto estava rachado e
deformado por toda parte. Pequenos barcos para dois homens
encontravam-se emborcados em uma doca seca provisória
próxima, enferrujando, com brotos de joio surgindo para fora de
seus conveses descascados e gastos pelo tempo.

Eu tinha morado na praia por toda a minha vida e ainda


assim eu nunca tinha sentido o cheiro de nada parecido antes. O
ar estava cheio de sal, cru e poderoso no fundo do meu nariz.

“Você está na travessia de 6.4km. Vou levar as suas malas


até o barco, senhorita. Você acha que vai ficar bem? É melhor eu
voltar para a cidade, entende.”

Graças à brisa fresca estalando que estava rasgando em


cima da água, eu estava bem acordada, mas meu cérebro
desacelerou tão rápido que parecia que estava quase em sentido
inverso sempre que eu tentava entender as palavras que saíam da
boca de Carrick. Eu assenti, jogando a alça da minha bolsa sobre
a minha cabeça. "Claro. Obrigada."

O serviço do barco para a Ilha Causeway estava mais para


um barco pesqueiro do que para uma balsa. Assentos de plástico
molhados. Convés liso, com painéis banhados por diamante
perfurados no chão para maior aderência. Corrimãos enferrujados,
pintado tantas vezes que um arco-íris de cores era visível nos

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pedaços de aço que tinham sido arranhados aqui e ali – amassos
festivos para a decoração navio que me faziam sorrir.

O homem velho comandando o navio era carrancudo,


desdentado e hostil. Ele não disse uma palavra enquanto eu
entrava no barco, e também não falou quando nos sentamos,
balançando para frente e para trás enquanto ele aparentemente
esperava por mais passageiros que nunca vieram. Estava perto das
sete horas no momento em que ele abandonou seu posto e ligou os
motores do barco, saindo do pequeno porto. O Porto Creef
desapareceu atrás de nós, para ser substituído por uma faixa de
água cor cinza metálico, congelada com picos brancos.

A viagem foi curta e agitada. Deus, me senti tão doente.


Virada do avesso, a tal ponto que considerei me inclinar sobre o
lado do barco e vomitar, em um ponto. No entanto, isso não teria
sido bom. O cara esguio atrás do volante na frente do barco
continuou lançando olhares evasivos em minha direção, como se
ele estivesse esperando muito menos de mim e estivesse preparado
e pronto para me atirar ao mar se precisasse.

A Causeway surgiu no horizonte, uma mancha de cor


escura. A ilha não era uma faixa encantadora de terra que se erguia
graciosamente para fora do oceano como a corcunda em arqueada
de uma baleia; era um aglomerado angular forte, tendão e ossos de
um punho fechado, perfurando o seu caminho em direção ao céu
com uma rebeldia que parecia em desacordo com a maneira
preguiçosa e sossegada com que as pessoas que ocupavam a
superfície geralmente lidavam com o seu dia (de acordo com o
Google). A cor do céu ainda era sombria e prometia chuva, mas,
apesar de mim mesma, eu não podia deixar de achar uma beleza
selvagem no lugar.

Na praia arredondada com pedras e areia áspera, um velho


chamado Hilary estava esperando por mim. Vestido em um terno
arrumado com uma gravata roxa escura, nunca houve um homem

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tão fora do lugar em todo o mundo. Ele não parecia como se
pertencesse aqui, neste lugar estranho, selvagem e místico, mas,
novamente tenho certeza que eu também não. “Eu vejo que você
chegou em segurança, então, senhorita Lang.” Ele pegou minha
mala dura enorme, cheia ao ponto de estourar com roupas e livros,
e a levou facilmente na direção de uma Land Rover coberta de lama
que estava estacionada há seis metros de distância.

“Parece que sim,” eu concordei. No entanto, eu não tinha


muita certeza se eu quis dizer isso. Parte de mim parecia perdida,
como se eu tivesse cortado um pedaço do meu coração e esquecido
de trazê-lo comigo no voo da Califórnia.

“Ronan e as crianças já estão na casa. Se você quiser,


podemos dirigir pela ilha e eu posso apontar onde são as
comodidades, antes de voltarmos para lá. Você não será esperada
para começar a trabalhar até amanhã, então o dia é todo seu. Você
pode dormir se estiver cansada da viagem, ou você poderia passear,
fazer uma exploração ou qualquer outra coisa.” Parecia que a ideia
de explorar a ilha o entediava demais.

Optei por um tour rápido e, em seguida, voltar para a casa.


Dormir não era provável após cochilar por todo o caminho do
aeroporto na parte de trás do táxi de Carrick, mas o esforço de
estar na estrada por tanto tempo tinha me deixado exausta. Deitar
na minha cama, ler e relaxar no silêncio, soava perfeito agora.

Hilary mostrou-me onde eram o supermercado local, os


correios e o banco. Ele me levou de carro de onde ele chamou de
Church Quarter, por toda a extensão do outro lado da ilha - um
grandioso total de vinte minutos no carro - para uma cidade
chamada Richmond, para me mostrar um belo e vasto lago que
havia lá. Depois disso, ele anunciou que estava na hora de voltar
para a casa grande.

"A casa grande?"

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“É assim que todo mundo a chama, a casa dos Fletcher. Ela
está na família há gerações. Um imóvel de herança irlandesa,
aparentemente. Um monte de pessoas da ilha costumava ser
empregado lá nos tempos vitorianos. Cozinheiras, pessoal de
serviço, jardineiros, esse tipo de coisa. Ninguém mora lá há muito
tempo agora. Eu acho que os moradores ainda ficam em estado de
choque quando vêem o chefe saindo em disparada em sua moto.”

Huh. Ronan recebeu uma herança. Isso explicava muito. Ele


exalava um ar de direito que ia além de sua posição como diretor
da Fletcher Corporation. Ele não era um empresário arrogante de
Nova York, como mamãe suspeitou. Ele era um rico latifundiário,
da terceira geração irlandesa, arrogante. E onde diabos ele
conseguiu uma moto aqui?

Eu estava nervosa sobre vê-lo. Nervosa de uma forma


estranha e feminina, que era absolutamente loucura. Ele tinha sido
um merda comigo na minha entrevista. Ele conseguiu me reduzir
e de alguma forma me faz sentir menor que uma polegada de altura
em um período de quinze minutos e, ainda assim, sua aparência e
confiança me perturbavam. Eu não devia deixar isso acontecer,
mas cada vez que me lembrava dele entrando em seu escritório e
se sentando em sua mesa na minha frente, eu ficava
impotentemente arruinada. Seis meses que eu teria que morar na
mesma casa que ele. Seis meses era muito tempo. Eu ficaria
apaixonada de forma desamparada pelo babaca no momento em
que meados de abril chegassem, ou eu ia odiá-lo mais do que a
qualquer um na face do planeta.

Quando Hilary virou a Land Rover em uma longa estrada


super-reta, de repente “A Casa Grande” apareceu na nossa frente,
eu entendi porque todo mundo a chamava assim. A construção não
era uma casa; era uma mansão. Uma monstruosidade enorme de
arenito, de três andares, com oito pilares, quatro de cada lado da
entrada imensa, sustentando uma grande viga que se estendia de
um lado do prédio para o outro. Eu contei um total de oito janelas

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em cada um dos andares. Há quantos quartos aquilo equivalia? O
lugar era obsceno. Fazia todo o sentido que a família Fletcher,
aproximadamente em 1890, precisasse contratar metade da ilha
para cuidar do lugar.

“Sério?” Não consegui segurar o comentário enquanto me


sentei lá, piscando para a casa, que só foi ficando maior e maior
enquanto a Land Rover disparava no caminho de acesso à
garagem. "Tudo isso? Para Ronan, eu, você e duas crianças
pequenas? Ficaremos perdidos na metade do tempo.”

Hilary riu baixinho. “Na verdade, para mim não. Estou


voltando para Nova York esta noite. Ronan pediu para eu ficar de
olho nas coisas lá na cidade para ele e voltar com a informação se
alguma coisa der errado.”

Então, Hilary era mais do que apenas um motorista. Isso não


me surpreendeu. Ele tinha um jeito de se portar e de falar que me
fez pensar que ele era extremamente educado. Estranho que ele
tinha sido o escolhido para vir e me buscar na praia, mas então,
de novo, Ronan Fletcher, obviamente, não se importava em fazer
as coisas de forma um pouco diferente. “No entanto, se você
precisar de alguma coisa, você sempre pode me ligar. Aqui.” Ele
enfiou a mão no bolso e tirou uma pequena carteira de couro preta.
“Eu tenho alguns cartões de visita no interior. Pegue um,” ele disse,
oferecendo a carteira para mim.

Eu peguei. Fechei a carteira e devolvi para ele uma vez que


eu já tinha o cartão, mas não antes de reparar na fotografia enfiada
no plástico transparente dentro dela: Hilary e Ronan, ambos
vestindo camisetas manchadas de suor, cobertos de lama, as
cabeças inclinadas para trás, ambos rindo de forma estridente de
alguma situação hilária desconhecida da qual eu nunca ia estar a
par. Era estranho ver Ronan rindo; ele parecia outro homem.

Ninguém nos cumprimentou dentro da casa. Eu não sabia o


que eu esperava do interior - talvez algo como uma casa senhorial

CALLIE HART Between Here and the Horizon


desbotada e que está envelhecendo, com poltronas, um divã
aninhado nas janelas da baia, cortinas pesadas e espessas com um
brocado rico, presas com laços dourados de borla. O que eu não
esperava era o auge do luxo moderno. Piso frio de mármore polido.
Televisões de tela plana que pareciam caras e sofás seccionais tão
grandes que você poderia encaixar, pelo menos, sete ou oito
pessoas neles de uma vez. Tudo cheirava a novo, e parecia que tudo
foi enviado pela Pottery Barn ou Macy’s, desde os vasos de vidro
com formas malucas até o tapete espesso no chão e uma manta de
pele que foi arrumada habilmente sobre o encosto de uma poltrona
de pelúcia creme.

"Não se preocupe. Não é de verdade.” A voz de Ronan


Fletcher ecoou pelo espaço da sala cavernosa, atingindo as
paredes, então levei um momento para descobrir sua localização
exata. Em pé numa entrada ao lado da janela, ele estava vestido
com uma camiseta lisa preta simples e jeans preto. Seus pés
estavam descobertos, o que, por algum motivo me fez corar. O que
diabos era aquilo?

Seu cabelo escuro estava engomado para trás quando nos


encontramos, cheio de gel, mas agora se estendia para trás de seu
rosto em ondas grossas, pelas quais qualquer garota mataria para
ter.

“Eu vou levar suas malas para o seu quarto, senhorita Lang.”
A mão de Hilary no meu ombro quase me fez pular; esqueci
completamente que ele estava lá.

“Oh, não se preocupe. Eu posso fazer isso.” Eu tentei


resgatar a alça da minha bagagem, mas ele foi mais rápido que eu.

"Isso não é um problema. Eu tenho que ir e arrumar minhas


malas de qualquer maneira. E tenho certeza de Ronan quer
conversar rapidinho com você também.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Isso é verdade. Obrigado, Hilary. Ophelia, venha e sente-se.
Vamos passar algumas regras da casa, podemos?” Frio como
sempre, Ronan perambulou pela sala e se sentou no sofá, jogando
um braço sobre o encosto do mesmo. Seu corpo não estava tão
rígido como esteve em Nova York, mas ainda havia uma qualidade
reservada nele que o fazia parecer distante e desinteressado em
tudo ao seu redor. Eu não podia meter meu dedo nisso, mas esse
caráter esquivo era ao mesmo tempo tão esmagador e tão
incrivelmente sutil que fazia minha cabeça girar.

Fui e me sentei no outro lado do sofá, acomodando-me na


borda, com os joelhos pressionados juntos, as mãos apoiadas nas
coxas, a costa reta como uma vareta.

“Você parece muito desconfortável”, ele disse. “Não fique.


Esta é a sua casa agora, Ophelia. Pelos próximos seis meses, de
qualquer forma. Relaxe. Senão, você ficará miserável aqui. E eu
não quero isso.”

Ele estava certo, mas levaria um pouco mais de tempo do


que cinco minutos para eu começar a colocar meus pés em cima
da mobília e ficar à toa com meu moletom. Ainda assim, eu me
inclinei para trás no meu assento, tentando não ficar tão rígida.
“Você disse que havia regras da casa?”

“Só uma ou duas. Coisas simples e óbvias que são


desnecessárias dizer, eu tenho certeza. Por uma questão de
clareza, no entanto, provavelmente seria melhor apenas riscá-las
do mapa e, em seguida, nós dois podemos seguir em frente. De
acordo?” Eu não notei antes a forma como suas bochechas criavam
covinhas. Provavelmente porque ele não tinha sorrido uma vez
durante a nossa reunião em Nova York. Agora, com a vaga sugestão
de diversão sendo provocada nos cantos de sua boca, elas eram
quase visíveis. Connor herdou as feições de seu pai. Era insano
quão parecidos eles eram.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


“Em primeiro lugar,” ele disse, levantando o dedo indicador.
“Eu queria te agradecer. Eu sei... sei que não sou uma pessoa fácil
de estar por perto, Ophelia e também sei que eu não fui muito...”
Ele parecia procurar o resto de sua frase. Isso levou um tempo, até
que ele continuou. “Eu não fui muito agradável na sua entrevista.”

“Não, você não foi. Você foi um idiota.” As palavras saíram


da minha boca antes que eu pudesse detê-las. Oh, merda. De onde
diabos veio isso? Tarde demais para colocar a mão em cima da
minha boca e me calar. Impossível recolocar as palavras em minha
boca, de onde elas pertenciam. O que havia de errado comigo? As
sobrancelhas de Ronan levantaram lentamente, seus olhos
queimando um buraco no lado do meu rosto. Eu não podia olhar
para ele. Não diretamente, de qualquer maneira. Eu só consegui
uma olhada dolorosa de soslaio. Ele parecia um pouco chocado.

"Uau. Ninguém foi sincero assim comigo desde que Magda


morreu,” ele disse.

"Eu sinto muito. Isso foi fora dos limites. Eu não devia ter-”

“Não, não, por favor. Eu fui um idiota. Comportei-me de uma


forma muito estúpida. Por isso, eu peço desculpas. Eu não tenho
mais o hábito de ser legal com as pessoas. Eu deveria,
provavelmente, ter colocado outra pessoa para te entrevistar.” Sua
voz era forte e calma, como café quente. O sotaque, o qual eu tive
um pouco de dificuldade de identificar quando nos conhecemos
fazia um pouco mais de sentido agora, aqui na ilha, onde parecia
que quase todos os ocupantes eram descendentes de irlandeses.
Quase não estava lá, mas algumas palavras que ele dizia eram
levemente tingidas com um pouco de sotaque irlandês. Escutar
Ronan falar foi um prazer inesperado que fez meus dedos dos pés
se enrolarem dentro dos meus sapatos.

“Eu duvido que você permitiria que outra pessoa tomasse


uma decisão importante como essa por você,” eu disse. “Você não

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me parece o tipo de pessoa que iria confiar o cuidado de seus filhos
a qualquer um.”

Ele olhou para mim por um longo tempo. E então: “Você está
certa. Eu não permitiria. Então aqui estou, me desculpando e você
está aqui, tão longe de casa. Uma estranha numa terra estranha.”
Ele se virou e olhou para fora da janela ao lado dele, os olhos fixos
em algo ao longe. “Suponho que isso me leva à regra mais
importante que eu gostaria que você seguisse. Você não conhece
ninguém aqui na ilha. Seria tentador, eu imagino, tentar fazer
amigos. Amigos homens. Talvez alguém especial para passar o
tempo. Romanticamente,” ele acrescentou no final, como se sua
intenção não estivesse sendo bastante clara. No entanto, eu estava
ouvindo-o em alto e bom som e já estava me envergonhando no
meu lugar.

“Ronan, acredite em mim. Eu não estou planejando rebolar


até o chão num cano para dar uns amassos com um morador.
Estou aqui para cuidar das crianças. É isso. Não tenho
absolutamente nenhum interesse em conhecer pessoas, seja do
sexo masculino ou não.”

Ele me deu um sorriso estranho com os lábios apertados.


“Tenho certeza que isso é verdade. Mas como eu disse. É melhor
apenas deixar essas coisas explícitas e então podemos seguir em
frente. Eu não quero que você traga qualquer cara para casa em
nenhum momento, ok? Eu definitivamente não quero que você
tenha convidados em seu quarto. Eu não quero que haja nenhuma
situação na qual Connor ou Amie possam encontrar um homem
que eles não conhecem andando por aí de cueca, ok?”

Minhas bochechas estavam carmesins; elas tinham que


estar. Uma mistura de indignação e constrangimento disparou
através de mim, sibilando bem sob a superfície da minha pele.
Sentia-me como se estivesse com febre alta em todo lugar. “Eu não
sou tão fácil,” eu disse rispidamente. “Eu simplesmente não

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convidaria um cara para ir ao meu quarto para transar, se é isso
que você está insinuando.”

Ronan balançou a cabeça, agora olhando para baixo em seu


próprio colo. “Eu não estou insinuando nada. Estou apenas
estabelecendo quais são as regras. Sinto muito se você acha isso
ofensivo, Ophelia, mas meus filhos são muito importantes para
mim.”

"Eu sei. É claro que eles são. Mas-"

“A única outra coisa que peço de você é que nunca os deixe


ir sozinhos até a praia. De alguma forma, as aulas de natação
pareciam desnecessárias em Nova York. Estúpido, eu sei. Eu
planejo lidar com o problema, conseguindo matriculá-los nas aulas
o mais rápido possível, mas por enquanto, se eles estiverem lá fora,
não deixe qualquer um deles fora de sua vista. De acordo?"

Eu queria me defender mais - era insano que ele pensou que


eu ia me atirar em homens aleatórios, a torto e à direita - mas eu
podia ver que recuar e discutir com ele sobre isso não ia servir a
qualquer bem maior. "Sim. Eu vou ser muito vigilante com eles,
você tem a minha palavra.”

"Bom. Agora, a biblioteca no andar superior está à sua


disposição. Há uma sala de cinema em casa, no porão, que você
pode usar para assistir filmes com as crianças. Você pode usá-la
para seu próprio uso pessoal à noite também, uma vez que as
crianças tenham ido para a cama, mas você deve sempre ficar
atenta neles. Amie é geralmente muito boa em ir para a cama e
ficar lá, mas Connor é uma coruja da noite. Ele ficará acordado e
vagando no meio da noite se conseguir safar-se disso.”

"Sim. Não é um problema. Eu posso lidar com isso.” Minha


mente ainda estava girando com a perspectiva de uma biblioteca
inteira no andar de cima juntamente com uma sala de cinema no
andar de baixo, para registrar a maior parte dos outros recursos

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da casa que Ronan, então, me explicou. Eu peguei algo sobre uma
casa de hóspedes. Uma piscina de uma raia, também no andar de
baixo, que as crianças estavam autorizadas a brincar enquanto
supervisionadas, uma vez que tinha apenas 1,20m de
profundidade.

“A única área da casa que está fora dos limites para você é o
meu escritório,” Ronan disse. “Eu tenho um monte de documentos
delicados lá dentro. Eu podia, literalmente, ir para a prisão se
pessoas não autorizadas os vislumbrassem. É realmente
importante que Connor e Amie nunca entrem no meu escritório,
Ophelia. Nunca. Em qualquer circunstância. Prometa-me agora que
você nunca vai deixá-los entrar.”

Uma intensidade acometeu Ronan, uma ferocidade


brilhando em seus olhos quando ele falou sobre seu escritório. Seu
tom foi severo, mais duro do que eu pensei que provavelmente
precisava ser. Tão triste que o cara estivesse tão desesperado para
se trancafiar em seu escritório, longe de seus filhos o tempo todo.
Contudo, eu conhecia muitos pais que eram assim lá na Califórnia.
Havia uma quantia formidável de banqueiros investidores e de
pessoas trabalhando na região financeira lá em Manhattan Beach
e muitos deles tinham muito pouco tempo para os seus filhos e
filhas. No caso de Ronan, a perda de sua esposa deve ter tido muito
a ver com a sua relutância em passar tempo de qualidade com seus
filhos. Eu não tinha visto uma foto de Magda, mas seria estranho
se seus filhos não carregassem algum pedaço dela na maneira
como eram fisicamente, na forma como as suas vozes soavam, ou
as coisas que eles diziam. Deve ter sido difícil, para ele, até mesmo
olhá-los às vezes, mesmo agora.

“Eu prometo que não vou deixá-los entrar no seu escritório.


Nunca,” eu disse. "Nem sobre o meu cadáver."

Ronan se contraiu - a vibração de uma emoção atípica que


fez com que eu me encolhesse. Eu realmente já devia ter aprendido

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a pensar antes de abrir minha boca. Eu não tinha ideia de como
sua esposa tinha morrido. Podia ter sido um acidente. Poderia ter
sido algum engano terrível e fatal que lhe custou sua vida, e aqui
estava eu, fazendo piadinhas de ‘sobre o meu cadáver’. Deus. Cedo
demais.

“Eles são muito bem-comportados na maior parte do tempo,”


Ronan disse. “Se você lhes disser para não fazer algo, eles
costumam obedecer. Você não vai precisar repreendê-los muito
frequentemente. Se você tiver que puni-los por agir mal, eu
descobri que a maneira mais eficaz de fazer isso é fazê-los sentar e
escrever uma carta para mim, explicando qual é o problema e por
que eles não estão se comportando bem.”

Não era nem um pouco o que eu estava esperando. A maioria


dos pais confiscaria a tecnologia de seus filhos para ensiná-los
uma lição nos dias de hoje. Essa era maneira mais sem imaginação
para controlar a forma como eles se comportavam, e ainda era o
caminho mais fácil também. As crianças não iam chutar e gritar
ou fazer uma cena em público, se você pegasse os iPads deles. Eles
iam ficar em silêncio como ratos de igreja até que você devolvesse
aquela merda. Se você ameaçasse pegar os celulares, você podia
praticamente fazer milagres com a postura de uma criança.

No entanto, Ronan não agia assim. Ele queria que seus filhos
sentassem e refletissem sobre suas ações, para processá-las, e
para comunicar seus sentimentos da melhor forma possível. Para
Amie, de apenas cinco anos, escrever seus pensamentos
provavelmente ainda estaria próximo do impossível, mas era uma
ideologia original, com certeza.

Ronan se levantou. “Estou feliz que resolvemos isso. Se você


não tiver nenhuma pergunta, então eu diria que é hora de conhecer
os pequenos encrenqueiros, não é?”

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CAPÍTULO 6
ANJOS E DEMÔNIOS

Connor e Amie Fletcher eram parte anjo, parte demônio. Eu


sabia que ia me divertir no momento em que coloquei meus olhos
sobre eles. Connor sentou em frente a mim, com os pés pendurados
para fora de sua cama e ele se recusou a encontrar meus olhos.
Amie, por outro lado, não conseguia parar de olhar para mim, como
se eu fosse algum tipo de fantasma.

“Você não se parece com a mamãe,” ela disse. Virando-se


para o seu pai, ela fez beicinho, olhando para ele de maneira
acusadora. “Hilary disse que ela parecia com a mamãe. Eu ouvi."

“Não, ele disse que ela o lembrava da mamãe. Isso pode


significar um monte de coisas diferentes, querida. Se alguém fala,
age ou conversa de uma maneira semelhante à outra pessoa, você
pode dizer que ela te faz lembrar ela. Entende?"

Amie assentiu; ela parecia como se o seu coração tivesse


acabado de ser partido por esta notícia. Dois segundos depois, ela
estava correndo, rindo em voz estridente, brincando com um
Stegosaurus de plástico, como se a decepção nem tivesse
acontecido. Connor ficou em silêncio, olhando para seus tênis,
mordendo o lábio inferior.

“Connor, por favor, levante-se e diga olá para Ophelia. Ela


estará cuidando de você ao longo dos próximos meses. Você vai
gostar dela, eu prometo.” Ótimo. Eu realmente desejava que ele não

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tivesse dito aquilo. Se as crianças queriam ser difíceis como o
inferno, eles iriam contra tudo o que você dissesse a eles,
independentemente se isso fizesse qualquer sentido para eles.
Connor pode ter pensado que eu seria a professora e babá mais
legal que já existiu uma vez que ele me conhecesse, mas no
momento que Ronan lhe disse que ele ia gostar de mim, para se
dar bem comigo, ele praticamente garantiu que Connor ia protestar
contra a mera ideia da minha presença.

“Eu nem entendo porque tivemos que vir para cá,” ele disse
em voz baixa. “Eu odeio esta casa. Nenhum dos meus amigos está
aqui.”

“Está tudo bem, cara. A escola vai começar em breve e você


vai fazer bastantes amigos.”

“O que ela vai fazer com a gente, então?” Ele perguntou em


voz baixa.

“Ophelia vai te acordar de manhã. Ela vai fazer o seu café da


manhã e levá-lo à escola. E quando você voltar da escola, ela vai te
levar para um mergulho no andar de baixo. Ela irá brincar com
você. Ela te ajudará com o seu dever de casa. Isso vai ser bom,
certo?”

Então, ele realmente disse a verdade quando disse que não


queria ser distraído. De acordo com a lista de deveres que ele
esperava que eu realizasse, Ronan não ia ter uma única interação
com seus filhos de um dia para o outro. Nem sequer soava como
se ele planejasse enfiar a cabeça pela porta e dar um beijo de boa
noite neles.

A coisa toda parecia incrivelmente estranha. Connor


deslizou para fora da beira de sua cama e se jogou no chão. Ele
pegou um avião de caça feito de Lego do Star Wars e começou a
desmontá-lo, peça por peça. “É muito frio aqui,” ele disse. “Não é
nada parecido como Nova York.”

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Ronan balançou a cabeça, abaixando-se na frente de seu
filho. Connor não olhou para cima, mas era bem claro que ele
estava esperando com uma respiração ansiosa para ver o que seu
pai diria. “É tão frio em Nova York quanto é aqui,” Ronan informou.
“Mas não, você está certo. A ilha é muito diferente da cidade. Você
tem ar fresco aqui. Lugares para correr e brincar do lado fora. Isso
não soa como uma coisa que seria divertida fazer? Você pode até
mesmo aprender a velejar no verão. Você me contou que queria
fazer isso.”

Connor olhou para cima, sobre o ombro de Ronan,


diretamente para mim. Só por um segundo, mas o contato visual
foi longo o suficiente para ver o medo em seus olhos. “Eu não gosto
de gente nova,” ele sussurrou para Ronan.

"Está tudo bem. Ophelia só vai parecer nova por um tempo,


e então será normal que ela esteja aqui. OK?"

Connor não parecia tão certo quanto a isso. Eu tinha que


conquistar as crianças toda vez que um novo ano escolar
começava, então eu não estava preocupada em enfrentar esse
desafio. Se eu pudesse encontrar um nível para me conectar com
ele, nós estaríamos bem. Pelo menos, era assim com crianças
normais de sete anos. No entanto, esta era uma situação única.
Connor perdeu sua mãe e isso virou tudo de cabeça para baixo.

Ronan parecia completamente apaixonado por seus filhos e


eles eram igualmente obcecados por ele. Isso foi surpreendente: eu
supus que ele seria estranho e irritado perto deles, considerando
seu desespero para passar os próximos seis meses trancado em
seu escritório enquanto eu cuidava deles, mas o oposto era a
verdade. Ele pegou Connor em seus braços e o colocou sentado em
seu colo no chão, tagarelando e lhe fazendo perguntas sobre a
coleção de animais de plástico que ele estava alinhando como se
estivessem prestes a entrar de dois em dois na Arca de Noé. Amie

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eventualmente foi sentar com eles também, usando seu
Stegosaurus para atacar os leões, as girafas e as zebras de Connor.

Frio, o Ronan frio riu e brincou. Parecia que ele tinha um


coração afetuoso afinal de contas, mesmo que fosse reservado para
algumas pessoas em detrimento de outras. Não consegui evitar
ficar mais mole com ele enquanto eu me encostei à parede ao lado
da porta, observando-os brincar tranquilamente. Então,
novamente, eu não tentei exatamente me parar. Eu estava,
estranhamente começando a gostar de Ronan, apesar do nosso
primeiro encontro difícil e seu jeito casual de insinuar que eu
queria dormir com todos os habitantes da ilha.

“Você provavelmente vai querer ir e se instalar agora,” ele


disse, me pegando de surpresa quando olhou para mim e falou. “O
seu quarto é o no fim do corredor à direita. Eu fiz uma das garotas
da limpeza comprar xampu e sabonetes. Um secador de cabelo.
Esse tipo de coisa. Pensei que você não teria tempo para fazer
compras de supermercado por alguns dias. A geladeira está
totalmente abastecida também. Vai levar, provavelmente, até a
próxima semana para você se ajustar aqui. Depois disso, eu tenho
certeza que você terá se acostumado.”

“Eles não precisavam fazer isso. Eu trouxe um monte de


coisas comigo de casa. E não se preocupe com as compras de
supermercado ou qualquer coisa assim. Eu consigo administrar.
Eu sou muito capaz.”

Ronan me deu um sorriso estranho e distraído, os olhos


dirigidos à direita do meu rosto, embora eu não conseguisse deixar
de sentir como se ele estivesse olhando através de mim. “Oh, eu sei
disso, Ophelia. É por isso que te contratei.”

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CAPÍTULO 7
O BILHETE

Meu quarto parecia algo tirado de um folheto de hotel, com


todos os lençóis brancos e cobertas macias e luxuosas. Uma
cadeira de leitura confortável foi angulada na janela para captar a
luz e uma pequena mesa contra a parede tinha uma pilha alta de
livros – A Vida Selvagem da Ilha Causeway, Um Guia Para as Ilhas
da Costa Leste, Patrick Kavanagh e Outros Poetas Irlandeses
Notáveis do Século XX. Parecia que Ronan queria que eu me
apaixonasse pela Causeway, e tinha me fornecido material de
leitura suficiente para fazer isso acontecer.

Eu não me juntei à família para o jantar. Ronan queria


passar um tempo sozinho com as crianças antes que eu começasse
a trabalhar amanhã, e para ser sincera, eu estava aliviada. Eu usei
a cozinha ampla no primeiro andar para preparar um filé de salmão
fresco, algumas verduras e cenouras e me alojei no meu quarto,
assistindo a programas de TV desconhecidos na enorme TV de tela
plana no meu quarto. Por volta das oito e meia, desci as escadas
na ponta dos pés para me certificar de que tudo estava bem – a
casa enorme que faz eco estava repleta de gritos e berros, altos o
suficiente para acordar os mortos. Quando eu enfiei a cabeça pela
porta da sala de estar, o que eu vi me fez rir.

Uma toca, de tamanho colossal, arrumada com os sofás e


estantes, com lençóis de listras azuis e brancas todos fixados
juntos para criar uma vasta tenda que cobria a construção

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desajeitada. Amie entrava e saía correndo das muitas aberturas
dos lençóis, gritando a plenos pulmões enquanto Connor corria
atrás dela, seguido por Ronan, que, surpreendentemente, usava
um tapa-olho preto sobre o seu olho esquerdo e rosnava algo vulgar
e cômico com uma fala arrastada de pirata sobre jogar ambos no
mar.

Ronan me viu, os nossos olhos fazendo contato, mas ele não


reconheceu a minha presença de fato. Seu foco estava nas
crianças. Deixei-os fazendo isto e voltei para a cama, e os gritos
continuaram por, pelo menos, mais uma hora antes do silêncio
invadir a casa.

Logo após as onze, houve uma batida na porta do meu


quarto. Eu já estava de pijama – simplesmente perfeito. Eu
precisava que Ronan me visse com meu pijama de flanela macia
branca e rosa como eu precisava de um buraco na cabeça. Eu abri
a porta, tentando esconder o máximo que possível de mim atrás da
chapa madeira. Graças a Deus, eu não tinha lavado o rosto e
escovado meus dentes ainda. Um pensamento ridículo de ter, mas
ainda assim... Ronan me ver sem maquiagem? Não, obrigada.

"Hey. Está tudo bem?"

Ele empacou no corredor, parecendo muito mais


desgrenhado do que estava mais cedo. O fogo que o possuía
quando ele estava com Connor e Amie parecia ter se apagado
agora, substituído por um cansaço geral, que fazia parecer que ele
estava meio adormecido em pé. “Hey, não, está tudo bem.” Ele
esfregou uma mão contra sua mandíbula, depois em sua testa. “Eu
só queria conversar e certificar que ainda estava tudo bem em
acordar as crianças de manhã. Eles precisam estar acordados às
sete.”

“Claro, não se preocupe. Entendi."

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“Ótimo”. E, pela primeira vez, Ronan Fletcher me ofereceu
um sorriso. Foi o suficiente para me fazer ficar com os joelhos
fracos. Suas covinhas afundando profundamente em suas
bochechas, seus lábios cheios se separando para exibir
rapidamente dentes brancos quase perfeitos para mim e as palmas
das minhas mãos começaram a suar. “Significa muito para mim
que você esteja aqui, Ophelia. Eu espero que você saiba disso.
Estou muito, muito grato porque você concordou em vir para a ilha.
Connor e Amie vão depender muito de você ao longo dos próximos
seis meses. Eu sei que você vai realizar um ótimo trabalho ao
cuidar deles.”

Sua forma repentina e sincera de falar comigo foi


desconcertante, mas foi uma mudança agradável, também. Isso
não ia ser tão ruim. Eu poderia lidar com toda e qualquer coisa que
fosse atirada em mim se ele fosse este Ronan, invés do Ronan
ranzinza, distante e meio grosseiro.

Ele abriu a boca, parecia que ele estava prestes a dizer algo,
mas então aparentemente pensou melhor. "De qualquer forma.
Obrigado mais uma vez, Ophelia. Eu vou deixar você dormir um
pouco. Boa noite.” Ele saiu andando pelo corredor e eu o observei
desaparecer na escuridão, tentando não olhar fixamente. Mamãe
me avisou antes de eu sair da Califórnia que eu não devia me
apaixonar pelo chefe. Não pensei por um segundo que eu iria, mas
aquele sorriso era algo com que eu podia me acostumar. Seria
muito bom se eu conseguisse vê-lo com mais frequência.

******

05h45min da manhã.

Eu estava acordada. Era uma hora antes que o meu alarme


estava programado para disparar e não havia nada a ser feito sobre

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isso. Cansaço de viagem estúpido. Meu relógio biológico estava
bagunçado e fiquei deitada na cama pelo que parecia uma
eternidade, me mexendo e virando, envolvendo-me em meus
lençóis, inquieta. Um bom começo com as crianças era o que eu
precisava. Eu mal tive a chance de falar com eles ontem e eles não
pareciam tão contentes assim em me ver, uma intrusa, arruinando
o tempo privado deles com Ronan.

Panquecas. A situação exigia panquecas. Eu podia


facilmente fazê-las e mantê-las aquecidas no forno até que fosse a
hora de acordar Connor e Amie. E Ronan... O físico de Ronan não
era exatamente de um cara que comia um monte de panquecas de
manhã, mas o pensamento dele sentado no balcão da cozinha, com
o cabelo ondulado despenteado e bagunçado, a calça do pijama
pendurada frouxa em seu quadril, atacando um café da manhã que
eu tivesse feito para ele, tinha praticamente me feito tropeçar para
sair da cama.

No andar de baixo: ovos, leite e farinha. Manteiga na panela.


Chaleira em ebulição.

Coloquei quatro pares de facas e garfos na mesa, porta-copos


e jogos americanos e depois entrei em pânico, removendo um dos
conjuntos. Você não é parte da família, O. Você é a ajuda
contratada. Não vá esquecer isso. Era o primeiro dia e eu quase
tinha esquecido, no entanto. Eu teria que ter muito cuidado para
manter uma distância profissional dos Fletchers. De cada um
deles.

Uma vez que a comida estava feita e envolta em papel


alumínio, guardada no forno aquecido, eu decidi ir tomar um
banho rápido antes de tirar Connor e Amie da cama. Eu estava no
meu caminho de volta para o andar de cima quando notei o pedaço
de papel branco colado à porta do escritório de Ronan. Isso estava
lá antes? Eu não conseguia lembrar se o tinha visto, mas então,

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novamente, eu estava concentrada procurando a cozinha, então eu
poderia facilmente não ter percebido.

Hesitei. Ronan foi tão específico quanto ao seu escritório que


eu quase não queria ir ver o que estava colado na porta. Era
provavelmente um post-it ou algo assim, lembrando-o de fazer algo
quando ele acordasse. Eu deixava bilhetes assim para mim o tempo
todo. No entanto, dizem que a curiosidade matou o gato, e ela já
chegou bem perto de me matar várias de vezes. Ela tinha, com
certeza, acabado com o meu casamento. Eu cheguei em casa mais
cedo da escola em uma tarde com enxaqueca e ouvi um barulho
estranho no andar de cima. Eu subi até o nosso quarto e encontrei
Will na cama com Melissa e foi isso. Tão clichê. Se eu não tivesse
ido até lá para investigar, haveria todas as chances de que eu ainda
estivesse casada com Will. Ele era um covarde; ele provavelmente
teria continuado a foder minha melhor amiga nas minhas costas,
mas ele nunca teria a coragem de ir embora.

Que se dane. Eu deslizei pelo corredor e parei na frente do


escritório de Ronan. Confusão me inundou quando vi que não era
um post-it; era um envelope branco pequeno e meu nome estava
escrito nele com caneta esferográfica preta de ponta grossa. Porque
raios Ronan deixaria bilhetes para mim colados na porta de seu
escritório? Ele teria o deslizado por debaixo da porta do meu quarto
se precisasse me deixar um bilhete? Ou no balcão da cozinha, onde
era mais provável que eu o encontrasse? O escritório ficava
afastado do resto da casa. Você não precisava passar por ele a
caminho para quaisquer dos outros cômodos. Foi um milagre que
eu mesma tivesse visto o bilhete quando comecei a subir as
escadas.

Eu puxei o envelope da porta e o abri.

Ophelia,

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Por favor, siga exatamente estas instruções. Ligue para 825
730 4414 e pergunte por Robert Linneman. Peça que ele venha para
a casa imediatamente.

Em seguida, ligue para a emergência e chame a polícia.


Explique que estou morto e que meu corpo está enforcado no
escritório.

Não entre no escritório.

Não permita que as crianças entrem no escritório.

Mantenha as crianças calmas.

Mantenha as crianças seguras.

Ronan.

Meu coração era uma granada de mão no meu peito e eu


senti como se tivesse manuseado desajeitadamente o pino.

O quê?

Eu reli a carta pelo menos três vezes antes de sentir a bile


subindo no fundo da minha garganta, queimando ali - eu ia ficar
doente. Deixei o bilhete cair no chão e bati na porta do escritório,
prendendo a respiração. Isso não era verdade. Não podia ser uma
fodida verdade. Se esta era a ideia de Ronan de algum tipo de piada
de mau gosto, em seguida, ele estava prestes a levar o choque de
sua vida quando eu arrumasse minhas merdas e fosse embora. De
jeito nenhum eu aguentaria esse tipo de brincadeira doente e
perversa.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


“Ronan?”

Nada.

Alto desta vez.

"Sr. Fletcher?”

Nada ainda.

Oh, Deus.

Sem pensar, o alarme crescente através de mim, vindo em


ondas paralisantes, eu estiquei a mão e tentei a maçaneta da porta.
A maçaneta redonda nem sequer virava; estava, claramente,
trancada. "Merda. Que saco.” Eu tentei chacoalhar, mas a coisa era
sólida, não se mexia uma polegada. Eu conseguiria entrar no
escritório por uma janela do lado de fora? Eu não fazia ideia. Valia
à pena tentar. Arrebatei a carta do chão e corri de volta pela casa
até a porta da frente, abrindo-a e disparei para fora. Eu não estava
usando sapatos. A dor perfurou as solas dos meus pés enquanto
eu saía em disparada por todo o caminho de cascalho. A lateral da
casa era com grama, felizmente. Sem mais pedras afiadas. Lama
respingou nas minhas pernas, água marrom fedida encharcando
minha calça do pijama. Ela respingava entre os meus dedos.

A primeira janela era a da sala de estar. A segunda janela


era a cozinha. Era a terceira janela em torno da lateral da casa que
pertencia ao escritório. Minhas mãos bateram contra o calcário em
cada lado da enorme vidraça e me virei de forma abrupta para
frente, tentando ver dentro.

Eu nem tinha notado que ainda estava escuro. O amanhecer


seria em momentos, mas agora o céu ainda era um manto de
estrelas e com nuvens diluídas e ralas. Não havia luzes acesas
dentro do escritório. Eu tive que pressionar minhas mãos contra o
vidro, ajustando minhas pupilas à escuridão antes que eu

CALLIE HART Between Here and the Horizon


conseguisse ver qualquer coisa além de formas obscuras e
sombras.

E então eu vi.

Descalço.

Os pés descalços que fizeram com que eu me sentisse boba


ontem. Eles estavam girando muito lentamente num movimento
anti-horário. Ronan ainda estava usando a mesma camiseta
simples lisa e o jeans preto desbotado que ele tinha usado durante
todo o dia de ontem. Seu corpo estava suspenso no ar, com as mãos
relaxadas em suas laterais. Lenta, muito lentamente, seu corpo
girou e então ele estava voltado para mim, com a cabeça inclinada
para um lado, os olhos abertos e olhando para o esquecimento. Ele
estava morto. Não havia nenhuma dúvida quanto a isso. Ele
estava, certamente, morto.

“Não!” Coloquei minhas mãos sobre a minha boca, tremendo


de forma incontrolável. O quê... que porra é essa? Como? Como
isso aconteceu? Lágrimas de choque brotaram nos meus olhos. Eu
não conseguia sentir meus pés. Minhas pernas. Eu não conseguia
sentir uma única parte do meu corpo. Tudo ficou dormente. Eu me
escorei contra a parede quando me inclinei para frente e vomitei. A
carta de Ronan ainda estava em minha mão. Eu esmaguei o papel
contra a construção de pedra áspera enquanto eu ficava cada vez
com mais náusea, vomitando na grama molhada em meus pés.

Eu não conseguia suportar ele olhando fixamente para mim.


Curvei-me para longe da janela e corri de volta para a casa, meu
coração martelando no meu peito. Eu estava ficando com lama por
toda parte, mas esse parecia o menor dos meus problemas. O
telefone da casa. Onde diabos estava o telefone da casa? Eu
finalmente o encontrei na cozinha, situado ao lado da tigela suja
eu que tinha misturado a massa da panqueca há apenas vinte
minutos.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Foda-se Robert Linneman. Eu liguei para a emergência
primeiro. Uma mulher atendeu quase imediatamente.

“9113*, qual é sua emergência?”

"Alô? Alô, Deus, por favor, eu preciso de uma ambulância.”

“Tudo bem, senhora. Qual o seu endereço?"

“Eu não... merda! Eu não sei."

“Você não está em casa, senhora?”

"Não não. Eu... eu acabei de começar em um trabalho. Eu


acabei comecei em um novo emprego aqui.”

"Não é um problema. Eu tenho um endereço ligado a esta


linha de telefone. O que aconteceu, senhora? Qual é a sua
emergência?”

“Meu chefe... ele se enforcou em seu escritório. A porta está


trancada. Eu não consigo... eu não consigo fazê-la abrir. Eu o vi
pela janela.”

“Você consegue quebrar a janela, senhorita?”

Eu nem tinha pensado nisso. “Uh, sim, eu posso. Eu acho...


no entanto, acho que ele está morto.”

“Você conseguia vê-lo movendo-se um pouco com


dificuldade, senhorita?”

"Não. Seu corpo estava parado. Seus olhos estavam abertos.”

Seguiu-se uma longa pausa. "OK. Alguém já está a caminho


de você agora. Não levará um minuto. Você pode ficar na linha
comigo até que a ajuda chegue?”

“Feelya?”

3 911 é o número da emergência nos Estados Unidos.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Eu quase deixei o telefone cair. Ao meu lado, Amie tinha
aparecido do nada e estava de pé com sua camisola minúscula cor
de rosa coberta de fadas, espiando o forno através da tela de vidro.
“Nós teremos ovos mexidos à Sunshine4 no café da manhã? Papai
sempre faz ovos mexidos para nós.” Seu rosto pequenino estava
cheio de esperança.

"Senhorita? Senhorita, você pode me ouvir?”

“Sinto muito, eu tenho que desligar,” eu sussurrei. O telefone


retiniu contra o balcão enquanto eu o soltava e corria até Amie e a
pegava em meus braços. "Olá docinho. Você está fora da cama
muito cedo,” eu disse a ela, enfiando o cabelo bagunçado atrás de
suas orelhas. Além do curto tempo que eu passei com eles quando
Ronan nos apresentou ontem, Amie não tinha tido qualquer
interação comigo. Ela pareceu surpresa e desconfortável com o fato
de que eu a carreguei e estava sendo maternal com ela.

“Por que você estava chorando?” Ela perguntou, franzindo a


testa.

“Oh, eu queimei meu dedo em uma panela quente, querida.


Está tudo melhor agora, porém, eu prometo.”

“Seus pés estão sujos.”

“Eu sei, eu sei, eu fiz uma bagunça, não fiz? Entretanto, vou
conseguir limpar isso tudo depois do café da manhã. Não vai tomar
muito do meu tempo. Por que você não se senta à mesa e pegarei
algumas dessas panquecas para você, hein?”

Não deixe que as crianças vejam.

Mantenha as crianças calmas.

Mantenha as crianças seguras.

4 *Ovos mexidos à Sunshine são feitos com abacate, tomate, molho e queijo mozzarella.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Amie pareceu tranquilizada pelo pensamento de comida. Eu
a acomodei na mesa e servi duas panquecas em um prato para ela,
cortando-as rapidamente em pedaços pequenos e pingando xarope
de bordo nelas. Seus olhos iluminaram quando ela viu a
quantidade de comida que amontoei em seu prato. “Fique aqui por
um segundo, ok, querida? Eu só tenho que fazer um telefonema
rápido.”

Amie assentiu, com as bochechas cheias.

Meus dedos estavam melecados com xarope quando disquei


o outro número na carta de Ronan. O telefone tocou oito vezes
antes de uma mulher que soava grogue atender. "Alô?”

"Oi. Eu estou procurando... Robert Linneman,” eu disse,


verificando a carta. “Ronan Fletcher pediu para eu ligar.”

“Receio que o horário de expediente do Sr. Linneman não é


até às nove.” A mulher, que tinha soado meio adormecida um
segundo atrás, agora no lugar parecia irritada. "Sr. Fletcher
realmente vai ter que aprender que as pessoas não estão à sua
disposição vinte quatro horas por dia e sete dias na semana.” Ao
fundo, ouvi uma voz baixa e profunda perguntando quem era.
“Alguém do escritório do Fletcher. Essas malditas pessoas
precisam aprender a verificar a hora antes de começar a fazer
ligações ao romper do dia. Isto aqui não é Nova York. Nós não
estamos todos acordados e trabalhando às cinco da manhã.”

“Eu... eu não estou em Nova York. Eu estou na Ilha


Causeway. Temo que houve algum tipo de acidente por aqui,” eu
disse baixinho, protegendo o fone para que Amie não conseguisse
me ouvir. “Ronan deixou um bilhete e pediu que eu consiga que o
Sr. Linneman venha o mais rápido possível.”

“Oh. Eu entendo.” Sussurros no outro lado do telefone e


depois o som do aparelho rangendo enquanto era entregue para
outra pessoa.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


“Olá, aqui é Robert. Você é Ophelia?”

Choque passou sobre mim em outra onda. Ele sabia quem


eu era? Bem, ele estava certamente em vantagem, porque eu não
tinha ideia de quem ele era. "Sim. Há uma ambulância a caminho.
Era para eu te ligar primeiro, mas...”

"Está bem. Estou a caminho. Não deixe que a polícia pegue


nada antes de eu chegar aí. Você está escutando, menina?”

"Sim. Sim.” Assenti, me agarrando com força ao telefone,


como se o telefone fosse a única coisa que me mantivesse de pé.
"Por favor. Apresse-se."

******

“E que horas eram quando você veio para o andar de baixo,


senhorita Lang? O bilhete já estava lá, então?”

Eu transferi Amie para o seu quarto quando a polícia


chegou. As luzes vermelhas e azuis de seus carros faziam longas
sombras brilhantes pelos gramados enquanto disparavam na
direção da casa, mas as sirenes felizmente foram silenciadas. Amie
foi lá para cima sem um pio, levando seu café da manhã com ela,
o prato segurado firmemente com as duas mãos, antes que os dois
policiais uniformizados tivessem sequer entrado na casa.

Agora eu estava no corredor do lado de fora do escritório de


Ronan com os policiais, me sentindo muito pequena e inútil
enquanto eu tentava responder às suas perguntas.

"Eu não sei. Eu não o notei. Eu não estava prestando


atenção.”

“Você tem uma chave desta porta?”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Eu balancei minha cabeça. "Não. Ele não queria que
ninguém entrasse aí.” Eu já tinha mostrado o bilhete para eles.

“Nós vamos ter que chutá-la para entrar. Está tudo bem para
você?”

Assenti, a garganta dolorida e muito inchada para falar a


menos que fosse absolutamente necessário.

“Afaste-se então.” O cara mais alto e musculoso fez o


trabalho em um movimento veloz, batendo a sola da sua bota na
porta logo abaixo da maçaneta. A porta se abriu, batendo na parede
com um estrondo. Eu não olhei para dentro da sala. Eu tinha visto
o suficiente através da janela do lado de fora; eu teria que lidar com
os pesadelos pelo resto da minha vida.

Eu ainda não conseguia entender o que estava acontecendo.


Menos de vinte e quatro horas dentro da casa e o cara que me
contratou, morreu? Como é que algo assim acontece? Isso,
categoricamente, não fazia sentido algum. Foi um erro sair da
Califórnia. Eu nunca devia ter vindo aqui.

Ambos os policiais entraram no escritório. Sentei-me no


degrau final da escada e roí as unhas até que eles voltaram,
novamente, dez minutos depois. “Ele está morto há algum tempo.
O corpo está muito frio. Eu não sou o cara da investigação forense,
mas eu diria que ele está lá por, pelo menos, seis horas,
provavelmente.”

Seis horas? Então ele foi até o meu quarto ontem à noite e
me agradeceu por ter vindo aqui, me agradeceu do fundo do seu
coração por eu ter concordado em vir do outro lado do país para
cuidar de seus filhos, e, em seguida, ele veio direto para cá,
amarrou uma corda em seu pescoço e deu um passo para fora de
uma cadeira maldita? Isso é o que como soou que tinha acontecido.
Deus, Ronan estava pendurado lá, frio e morto, enquanto eu estava
saltitando ao redor da cozinha de pijama, fazendo panquecas,

CALLIE HART Between Here and the Horizon


fantasiando sobre como ele podia parecer todo despenteado por ter
dormido, me elogiando pelas minhas excelentes habilidades na
cozinha. Que pesadelo.

A lama do gramado secou no meu pé e rachou, virando quase


branca. A unha do meu dedão sangrou em algum momento; devo
ter prendido em alguma coisa quando corri para fora.

“Você teve alguma suspeita de que o Sr. Fletcher estava


planejando algo assim?” Perguntou o segundo policial. Ele era
baixo e musculoso. Um ruivo com um punhado de sardas pelo
rosto que ele provavelmente odiava.

"Não. Absolutamente nenhuma ideia. Como eu disse, eu mal


o conhecia. Ele me contratou para cuidar de seus filhos. Eu só
cheguei à ilha ontem.”

Simpatia viajou no rosto do cara. “Um grande choque,


então,” ele disse, o que foi, possivelmente, o eufemismo do século.
“Onde as crianças estão agora?”

"Lá em cima. Eu não queria que elas soubessem que alguma


coisa está acontecendo.”

O policial assentiu. "OK. Nós vamos ter que chamar o Serviço


de Proteção à Criança. Eles não têm um escritório aqui na ilha.
Você pode cuidar deles até que alguém possa vir e levá-los? Agora,
pode não ser até amanhã. Há uma tempestade a caminho.”

“Uhhh, sim. Sim, com certeza.” Droga. Quanto tempo ia levar


para o Serviço de Proteção à Criança chegar aqui? Tempo
suficiente, eu assumi. Tempo suficiente para que eu tenha que
contar para Connor e Amie que algo aconteceu com o pai deles.

O Oficial Hinchliff (o seu nome estava costurado sobre o


bolso de seu casaco espesso e impermeável) estava certo sobre a
tempestade. Fora da janela, à distância, o mar parecia agitado e
bravo, o delineado fraco do continente há 9.5km, com uma mancha

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cinzenta sombria, pairando acima da água. Relâmpagos atingiam
o oceano, rasgando pelo céu de nuvens pesadas céu por um
segundo e sumindo no próximo, como a cauda de um chicote.

“Você terá que ir até a delegacia e prestar um depoimento


também, Srta. Nós não conseguiremos entregar os documentos no
escritório do Sr. Fletcher até que tenhamos confirmado que isto é
realmente um suicídio.”

“Eu não acho que tomarei posse de sua papelada,” eu disse,


balançando a cabeça. “E o que você quer dizer com confirmar que
isto é um suicídio? Você não pode... você não pode pensar que eu
fiz isso.”

De todas as coisas ridículas e idiotas que eu já ouvi, essa


tinha que ser a mais surpreendente. O Oficial Hinchliff foi rápido
ao balançar a cabeça. "Não, não. Quer dizer, parece bastante
descomplicado lá, mas o Sr. Fletcher era um homem muito rico. E
que com a carta dirigida a você lá dentro-”

"O quê? Que carta?"

O Oficial Hinchliff franziu a testa para mim, não muito


sutilmente. “Então você não sabe nada sobre ela, então? Você não
a viu antes?”

“Não tenho absolutamente nenhuma ideia do que diabos


você está falando!” Perder a cabeça não era uma tática útil, mas
meu cérebro não estava funcionando corretamente como deveria e
estas perguntas vagas estavam me levando à loucura. “Se há
alguma coisa lá para mim, então você deve dá-la para mim, alguma
dúvida?”

Ambos os oficiais balançaram a cabeça em uníssono.


“Infelizmente o quarto é a cena de um crime até que o corpo esteja
liberado de qualquer suspeita de crime. A carta é uma evidência.
Vamos precisar lê-la completamente antes que possamos entregá-
la.”

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"Tudo bem. Eu não me importo mesmo com isso agora.
Vocês podem entrar em contato com o Serviço de Proteção à
Criança? As crianças são muito novas para esse tipo de trauma e
eu não tenho ideia de como lidar com nada disso.”

“Senhores”. A voz fria e monótona escorregou sobre a minha


cabeça, vindo de trás de mim. O sotaque era ainda mais denso do
que os dos oficiais e aquele estava dizendo algo. Virei-me e de pé
na soleira da porta da casa estava um homem alto, de ombros
estreitos com um rosto esquelético e tufos de cabelos grisalhos em
ambos os lados da cabeça calva. O casaco que ele usava sobre os
ombros estava respingando com gotinhas de água.

"Sr. Linneman. Estou surpreso que tenha demorado tanto


tempo para chegar aqui,” Caruthers disse, mudando de posição,
abrindo um pouco mais suas pernas, bloqueando o máximo que
ele conseguia do corredor. “Ronan está morto. Não há muito
conselhos você pode fornecer para ele agora.”

“Eu estou ciente da condição de Ronan,” o homem, que


parecia um pardal na porta disse secamente. Ele disse a palavra
condição, como se estar morto fosse algo de que Ronan podia se
recuperar. “Eu não estou aqui para ajudá-lo. Estou aqui pela
menina.” Seus olhos tremeluziram para mim, descansando em
algum lugar acima da minha cabeça, como se não pudesse
realmente se obrigar a fazer contato visual comigo. “Ronan deixou
instruções muito específicas caso ele morresse enquanto Ophelia
estivesse na casa. Não achei que eu teria que vir aqui no raiar do
dia para executar sua vontade menos de vinte e quatro horas
depois que ela apareceu, mas aí está. Ronan sempre foi bastante...
imprevisível.”

O Oficial Hinchliff bufou sob sua respiração, aparentemente


tentando controlar o riso. Suas bochechas ficaram numa cor
rosada infeliz. “Essa é uma palavra para isso,” ele disse, com a voz

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hostil. “Lembra daquela vez quando ele ateou fogo na loja de rações
McInnes? Você podia ver a fumaça de Porto Creef."

Caruthers deu-lhe rapidamente uma cotovelada nas


costelas. “Sim, bem. Ele não vai atear fogo em qualquer coisa
agora, vai? Vamos. Ajude-me a tirar fotos. Eles estarão aqui para
pegar o corpo em breve.” Ambos os policiais desapareceram de
volta para dentro do escritório de Ronan, fechando a porta com
muita força atrás deles. Permaneci congelada no lugar, tentando
processar, tentando chegar a um acordo com o fato de que Ronan,
que estava muito vivo e feliz o suficiente ontem à noite, tinha se
enforcado e estava morto. E, além disso, ninguém parecia tão
chocado ou incomodado com a notícia.

“Venha, menina. Eu tenho uma série de papéis que preciso


que você assine. Ronan deixou um monte de trabalho para você
fazer, eu receio.” Sr. Linneman passou por mim no corredor e
entrou na cozinha, onde ele colocou uma pasta de couro marrom
velha e surrada sobre o mármore polido e abriu os fechos. Olhando
para mim, ele franziu a testa. “Eu suponho que você tem uma
caneta, não é? Eu acho que deixei a minha em casa.”

Eu não disse nada por um momento. Dentro do escritório de


Ronan, um grande estrondo quebrou o silêncio. Parecia que eles
tentaram cortar sua corda e deixaram o corpo cair ou algo assim.
Linneman se encolheu, mas não disse nada. Ele estava esperando
eu mostrar algo com que podia escrever.

“Uh, sim. Tenho certeza... deve haver uma aqui em algum


lugar.” Onde diabos Ronan teria guardado um estoque de canetas
nesta monstruosidade mal mobiliada e sem vida? Corri para a
cozinha e comecei a abrir as gavetas. Finalmente, me deparei com
uma caneta lustrosa, pesada e de metal que tinha Fletcher
Corporation impresso habilmente em dourado ao lado. "Aqui."

“Maravilha.” Linneman começou a fazer pequenos rabiscos


em uma pilha de papéis que ele tirou de sua pasta. “Se você puder,

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por favor, assine em todos os lugares que você vir uma cruz,
Ophelia, estará tudo pronto num piscar de olhos.”

No entanto, não estaria. As folhas de papel eram


intermináveis, como eram os pequenos Xs eficientes que Linneman
traçava em todos os lugares. “Para que é tudo isso?” Perguntei. “Já
assinei um contrato de trabalho antes de eu sair da Califórnia.”

“Isso é para que você possa assumir a tutela legal das


crianças. Aqui. Este você tem que assinar duas vezes, veja. Uma
aqui e outra aqui.” Ele apontou, mostrando-me algo, mas eu não
estava prestando atenção.

"Como? Tutela legal? Acho que não."

Como um pássaro, a cabeça de Linneman retorceu no seu


pescoço de modo que ele estava olhando para mim, seu corpo ainda
virado para frente. "Ah, sim. Ronan disse que passou uma grande
quantidade de tempo a selecionando para esta finalidade. Ele disse
que você concordou em cuidar das crianças por pelo menos que
seis meses. Não é esse o caso?”

“Eu concordei, sim, mas... mas eu pensei que ele ia estar


vivo, enquanto eu estivesse cuidando delas. Ele disse que estaria
escrevendo um livro! Eu não... você está dizendo que ele planejou
isso?”

Linneman deu de ombros, gotas de água agora pingando da


bainha de seu casaco, deixando pequenas poças sobre os azulejos
da cozinha. “Ronan era um cara pragmático. Ele sempre
considerou o futuro. Acho que é por isso que ele foi tão bem-
sucedido em Nova York. Nunca fez quaisquer decisões ousadas
com seu dinheiro lá, ou assim estou induzido a acreditar.”

“Ele acabou de fodidamente se matar! Aqueles policiais


disseram que ele ateou fogo em algum celeiro de ração apenas um
minuto atrás. Ele claramente não era sensato. Eu não posso cuidar
de seus filhos!”

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“Pssshhh. Ronan tinha onze anos quando ele fez esse
incêndio. E sempre houve especulações de que nem mesmo foi ele.
Muito tempo se passou desde então.” Ele não parecia estar ouvindo
a parte na qual eu disse que não podia cuidar de Connor e Amie.
Ele estendeu a caneta para mim como se fosse a Excalibur e eu
estava destinada a tentar tirá-la de sua mão ou algo assim.

“Eu acho que, dado a situação, eu provavelmente devia


voltar para a Califórnia,” eu disse, usando minha voz de maior nível
– a que reservava para crianças irracionais de cinco anos de idade
que não fariam o que lhes foi dito.

“Entendo.” Linneman fechou a mão ao redor da caneta,


deixando o braço cair ao seu lado. “Bem, isso é uma vergonha.
Ronan parecia tão certo de que você seria capaz de resolver tudo
por aqui se ele fosse embora.” Ele fez uma pausa e então disse, “Se
você não se importa, vou deixar os papéis aqui para você dar uma
olhada. Se você reconsiderar, você pode me ligar no meu celular e
eu venho e pego os documentos amanhã de manhã, antes que
assistente social chegue aqui.” Ele disse isso de forma tão
tranquila, como se não importasse de qualquer maneira o que eu
decidisse. Importava, é claro. Importava muito. A assistência social
do Estado era horrível - Connor e Amie iriam passar por um
momento difícil muito em breve. Mas eu só devia ser a professora
deles. A babá. Eu não deveria ser legalmente responsável pelo seu
bem-estar deles em todos os momentos. Era pedir demais. Demais
para sequer pensar sobre no momento.

“Você tem meu número, é claro,” Linneman disse. “Agora,


sinto muito pela visita rápida, mas eu tenho que ir. Há mais
papelada que precisa ser assinada e Sully não deve ouvir as
notícias daqueles dois palhaços lá. É melhor que eu fale.” Ele
rapidamente fechou sua maleta, deixando a pilha de papéis
anotados para trás, no balcão da cozinha, em seguida saiu
apressado pelo corredor de novo, as extremidades do casaco se
abrindo atrás dele, revelando um terno cinza escuro por baixo.

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“Espere, Sr. Linneman? Desculpa? Quem é Sully?”

Linneman fez uma pausa, lançando um breve olhar para


mim por cima do ombro. Uma de suas sobrancelhas despenteadas
cinza-aço se contraiu ligeiramente. “Você não sabe?” Ele suspirou.
“Não, bem, não era provável que Ronan o mencionasse para você,
eu acho. Ele não teria o trazido à tona até se sua vida dependesse
disso.” Ele sorriu, talvez um pouco ironicamente. “Sully é o
benfeitor do testamento de Ronan, Ophelia. Sully Fletcher. Ele é o
irmão de Ronan.”

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CAPÍTULO 8
FANTASMA

Sully maldito Fletcher.

Se Ronan tinha um irmão aqui na ilha, então por que diabos


ele pediu a seu advogado para fazer de mim a guardiã legal de seus
filhos? Não fazia sentido. Absolutamente nenhum. E ainda assim
eu podia ver a sua assinatura espessa, autenticando todos os
documentos que Linneman deixou para trás, gritando comigo como
uma voz do além-túmulo. Pegue-os! Pegue-os! Onde quer que esteja
agora, Ronan provavelmente estava rindo demais de tudo isso. Eu
quase não o conhecia, mas eu poderia imaginar isso muito bem.

“Os caras da investigação de homicídios não conseguem


chegar aqui até amanhã nem agora,” o oficial Hinchliff disse. Eu
não o ouvi saindo escritório e meu coração apertou-se até o
máximo do meu esôfago em que ele podia ir como resultado da
minha surpresa. “Nós vamos ter que deixá-lo aqui.”

“Você não vai deixá-lo. Você não pode.”

"Eu sei. Foi só uma brincadeira, Srta. Nós já o colocamos no


carro.”

Pisquei para ele. "Como? Eu não vi você trazê-lo para fora?”


Não era que eu estivesse desesperada para dar outra olhada em
Ronan, duro, frio e azul, mas parecia impossível que eles pudessem
transportá-lo para fora sem eu notar.

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“Tiramos pela janela,” Hinchliff disse. “Parecia a melhor
aposta. Não queríamos Connor ou Amie tendo um vislumbre dele
agora, não é?” Ele me deu um olhar, como se eu fosse desatenta.
Guinchar um homem morto para fora, pela janela parecia muito
mais insensível para mim, mas eu não ia discutir.

“Onde é que Sully Fletcher mora?” Eu falei sem pensar.

Caruthers apareceu pela porta da frente, tossindo na dobra


de seu cotovelo. “Descendo a Rua Kinkeel. O próprio eremita. Um
pouco idiota."

“Eu devia ir vê-lo com Connor e Amie. Ele deve ver sua
sobrinha e sobrinho. Talvez seja ele que deve falar com as crianças
sobre Ronan."

Ambos, Caruthers como Hinchliff, começaram a balançar


violentamente suas cabeças. “Não é uma boa ideia, senhorita Lang.
Sully não ficará contente por vê-los. Na verdade, ele provavelmente
irá cantar aos quatro ventos quando ele descobrir que Ronan se
foi.” Caruthers pegou seu caderno e começou a rabiscar no mesmo.
“Ele e Ronan não se falam há anos. Você pode apostar suas últimas
fichas que ele preferiria arrancar seus próprios olhos a ver aquelas
crianças.”

Uma coisa tão brutal de dizer. Como este Sully podia odiar
tanto uma criança de cinco e outra de sete anos de idade? Pelos
que parece, ele nunca sequer os encontrou. Tive a sensação que
Caruthers estava pintando a situação um pouco mais sombria do
que o necessário. Ele rasgou um pedaço de papel do seu caderno e
me entregou. “É o número de Sully. Ele é o melhor carpinteiro na
ilha. O único carpinteiro, na verdade. Todo mundo sabe o número
dele de cor. De qualquer forma. Ligue antes de ir zanzar por lá,
senhorita. Ele não é muito amigável no melhor dos tempos. Se ele
pensar que você está conectada de qualquer forma com Ronan, ele
provavelmente irá atirar em você.”

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“Ele tem uma arma?”

"Provavelmente. Quem sabe? Vamos sair daqui,” Caruthers


disse, chutando Hinchliff com sua botina bico de aço. E, para mim:
“Deixamos a carta para você, afinal de contas. Ninguém está
duvidando desta, afinal. No entanto, nós lemos, apenas para nos
certificarmos de que não havia nada incriminador dentro.”

Não parecia inteligente perguntar se eles realmente


encontraram alguma coisa. Eu só queria que eles fossem embora.
Quanto mais tempo eles ficavam aqui, tagarelando, menos tempo
eu tinha para me preparar para lidar com Connor e Amie. Os dois
já pareciam ter tido o suficiente de se intrometer nas coisas de
Ronan.

“Nós estamos indo, senhorita Lang. Se você precisar de


alguma coisa, apenas ligue para nós na delegacia, ok?” Hinchliff
inclinou o chapéu para mim de uma forma muito antiquada – ele
estava dando em cima de mim? Oh senhor. Isso era tudo que eu
precisava.

“Eu me lembrarei de fazer isso.”

Hinchliff sorriu de orelha a orelha. "Magnífico."

******

“Mas onde ele foi?”

Apesar de toda a comoção e o barulho lá embaixo, Connor


ainda estava dormindo quando entrei em passos de tartaruga em
seu quarto. Amie estava sentada no chão, de pernas cruzadas,
camisola enrolada ao seu redor enquanto ela, obstinadamente,
mastigava o seu café da manhã. A maioria das panquecas se foi e

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ela parecia um pouco verde. Connor não estava muito feliz por
Ronan ter “saído”. Eu não sabia mais o que dizer para ele.

“Eu queria que ele me mostrasse a ilha hoje. Ele disse que
eu gostaria daqui, mas eu odeio. Eu odeio. Eu quero ir para casa.”
Seu rosto em forma de coração estava ficando roxo com a
frustração. Quase à beira das lágrimas, ele lutou para não deixá-
las caírem. Eu estava no mesmo barco. Eu fiquei chocada, mais
cedo. Chocada. Agora que o choque estava passando e eu estava à
beira de desmoronar. Ronan se matou e ele me deixou para pegar
as peças. Como fui estúpida ontem à noite, deitada lá na cama,
ponderando sobre a possibilidade de que eu poderia permitir que
eu me aproximasse dele. Justamente ao mesmo tempo em que ele
amarrava o nó da forca, amarrando-a sobre o ventilador de teto no
escritório, de pé na mesa, dando uma olhada ao redor, dando seus
últimos suspiros. Seus filhos dormiam. Ele apenas fodidamente os
deixou.

“Vai ficar tudo bem, Connor,” eu disse ao garotinho,


colocando uma mão em seu ombro. “Eu posso te mostrar a ilha.
Nós vamos ter um dia divertido. Você, eu e Amie. O que você me
diz?” Eu queria sair da casa de qualquer maneira. Precisava. Eu
ainda não conseguia afastar a imagem de Ronan pendurado no
teto. Era uma tortura, estar presa dentro do mesmo edifício onde
ele cometeu um ato tão desesperado. Por que diabos ele tinha feito
isso, afinal? O bilhete que ele deixou na porta não me deu
quaisquer pistas. A carta que me dirigiu, em seu escritório,
provavelmente dava, mas eu estava muito angustiada para ir lá
pegá-la.

Connor mexeu os ombros para longe do meu toque. “Eu não


te conheço. Eu não gosto de você. Eu não quero ir a lugar nenhum
até que meu pai volte.”

“Eu não me sinto muito bem.” Amie ficou em silêncio


durante toda esta conversa. Agora ela estava de pé, abraçando a

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barriga, parecendo muito enjoada. O prato a seus pés, aquele que
eu coloquei tanta coisa no meu pânico para tirá-la do caminho,
estava vazio. “Eu vou passar mal,” ela sussurrou.

"OK, baby. Está tudo bem, venha comigo. Vamos lá.” Droga.
Eu já tinha deixado Connor irritado e Amie doente, e nós ainda
estávamos, tecnicamente, no meu primeiro dia de cuidar deles.
Excelente trabalho, Ophelia. Um sucesso. Sério. Corri para o
banheiro com Amie, quase chegando lá antes que ela vomitasse por
todo o chão de azulejos. Ela começou a chorar, tremendo, seu
pequeno corpo tremendo enquanto ela tinha ânsia de vômito,
vomitando uma enorme quantidade de comida. Sua barriga deve
ter sido esticada muito além da capacidade. Que terrível mãe eu
seria. Eu a levantei e a segurei contra mim enquanto ela
lentamente começou a se acalmar, o tremor cada vez menor, até
que ela estava deitada parada em meus braços, olhando para mim,
com fios de seu cabelo escuro grudados em sua testa. Seus olhos
eram claros, o mais claro dos azuis, tão diferentes dos de Ronan.
“Sinto-me muito melhor agora,” ela sussurrou.

“Tudo bem, querida. É minha culpa. Eu não devia ter lhe


dado tanto para comer, devia? O que você acha, você fica com seu
irmão em seu quarto novamente enquanto eu limpo isso e então
talvez possamos assistir a um filme ou algo assim, hein?” Amie, a
doce pequena Amie, assentiu, sorrindo. Eu já sabia que nunca ia
conseguir a mesma obediência fácil de seu irmão. Não fazia sentido
sequer tentar.

Enquanto eu limpava o banheiro, finalmente me permiti


desmoronar. Eu estava pior do que imaginei. Do outro lado do país,
em uma pequena ilha onde eu não conhecia uma alma e meu chefe
tinha acabado de me jogar no fundo do poço da forma mais
profunda e irreversível. Tão inacreditável da parte dele. Tão cruel.
Tão fodidamente cruel. Ele realmente esperava que eu
simplesmente ia ficar flutuando pela Causeway com seus dois
filhos pequenos a tiracolo, lhes dando aulas e brincando com eles

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e fingindo que nada aconteceu? Quão delirante uma pessoa podia
ser?

A carta lá embaixo. Ela irradiaria mais luz sobre o assunto.


No entanto, eu não conseguia enfrentá-la. Simplesmente não
conseguia. Em vez disso, limpei meus olhos, terminei de limpar o
vômito do chão e fui pegar as crianças.

“Eu não me importo com o que você quer agora, Connor.


Você pode não gostar de mim se é o que você quer, mas o seu pai
me deixou no comando e isso significa que você tem que fazer o
que eu digo, ok? E vamos nos vestir e sair de casa. O dia todo. Nós
vamos encontrar um lugar para almoçar e vamos explorar a praia.”

"Oba! A praia!” Amie começou a dançar de camisola e


calcinha, girando em círculo com as mãos no ar. "Eu amo a praia!"

“Está muito frio.” Connor cruzou os braços sobre o peito,


queixo inclinado para baixo, os olhos estreitos. Parecia que ele
podia ter interpretado Damien - de A Profecia - no filme de terror
dos anos oitenta de forma bastante convincente. "Eu. não. Quero.
Ir. À. Praia."

"Bem. Sinto muito por ouvir isso, amigo, mas você não tem
uma escolha. Agora, coloque seus sapatos.”

******

As chaves do carro de Ronan estavam na ignição do SUV na


garagem. Havia um post-it laranja no meio do volante que dizia,
USE OS ASSENTOS DE CARRO neles. É claro que eu vou usar os
malditos assentos de carro. Útil, Ronan. Realmente útil para caralho.
Você sabe o que teria sido realmente útil? Você não se matar, isso
sim.

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Eu amassei o post-it e rapidamente o joguei no porta-luvas.

Connor fez a expressão mais dramática e infeliz quando abri


a porta do banco de trás para ele. “Eu tenho que sentar na parte
de trás? O papai normalmente deixa eu sentar na frente com ele.”

“Desculpe, garoto. Há uma cadeirinha para você lá atrás.


Amie, olhe para a sua cadeirinha. Não é legal?” Era vermelha com
dinossauros verdes por toda parte. Amie bateu palmas quando a
viu; Connor parecia que queria atear fogo no carro inteiro. Nojo
irradiava dele em graus escaldantes.

“Isso é besteira”, ele murmurou baixinho. Seus olhos


tremeluziram para mim, os ombros endurecendo enquanto
esperava minha reação. Eu não reagi, o que, pelo jeito, o deixava
louco.

No entanto, lidei o suficiente com crianças como ele na


escola, se comportando mal para chamar a atenção. Se você não
lhes dava nada, eles geralmente aprendiam que isso era inútil e
paravam depois de um tempo. Contudo, a situação de Connor era
mais complicada. Ele ia fazer mais do que se comportar mal
quando soubesse sobre Ronan. Todo o seu mundo ia desabar.
Novamente. Como diabos eu era qualificada para lidar com isso?

Eu não sabia onde devia ir quando dirigi pela longa entrada


da garagem e saí para a estrada, mas tentei parecer confiante,
mesmo que somente por causa das crianças.

A manhã passou rapidamente. Nós dirigimos ao redor de


toda a ilha, pelo menos duas vezes antes de eu realmente ver algo
dela – colinas onduladas, tão verdes e exuberantes que quase
pareciam falsas; rochedos íngremes e rochosos que imergiam
selvagemente para baixo da água branca e do mar agitado; casas
minúsculas de cal com molduras de janelas verdes descascando e
cães maltrapilhos amarrados aos postes na frente; tantos barcos
de pesca com aparências decrépitas balançando para frente e para

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trás ao longo da costa, cordas desgastadas cobertas de cristais de
salinos ameaçando romper sob a tensão dos barcos tentando se
afastar. Parecia outra época, em outro mundo, completamente.

Por volta do horário do almoço, a tempestade finalmente


caiu. As nuvens carregadas que estavam à espreita sobre o oceano
finalmente chegaram e trovões e relâmpagos estalaram lá em cima.
As crianças não ficaram nem um pouco assustadas. Eu estacionei
o carro no acostamento de uma estrada sinuosa e estreita que
retornava para a casa e nós três ficamos assistindo a batalha nas
nuvens começar. Contamos os segundos entre os relâmpagos e os
trovões...

Um... dois... três...

Nós não conseguimos passar do três; a fúria estava bem em


cima de nós. Parecíamos seguros no carro, mesmo que
provavelmente não estivéssemos. Por um segundo, um breve
fragmento de tempo insuportavelmente pequeno, eu não pensei em
Ronan balançando do ventilador de teto. Eu não pensei sobre o
Serviço de Proteção à Criança chegando na parte da manhã para
levar as crianças embora. Eu apenas fiquei com eles no carro e nós
gritamos e berramos cada vez que o chão tremia embaixo de nós e
o céu ondulava com os relâmpagos, e todo o resto era apenas ruído.

******

Negociação a hora de dormir com Connor foi como negociar


a paz no Oriente Médio. Já tinha passado das nove horas quando
ele finalmente concordou em ir para a cama e isso apenas porque
sua cabeça estava pesando e ele mal conseguia manter os olhos
abertos por mais tempo. Jurassic Park começou a passar às sete e
Amie ficou tão animada nos primeiros vinte minutos que ela se
esgotou e dormiu imediatamente. Carreguei-a para cima e a

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coloquei em sua pequena cama de solteiro no quarto ao lado do
meu e ela nem sequer se mexeu. Connor conseguiu chegar até os
últimos quinze minutos do filme antes de ele se levantar do sofá e
cambalear de forma sonolenta na direção de seu quarto, em
silêncio, não querendo admitir a derrota.

Quinze minutos mais tarde, eu estava no telefone com a


mamãe, chorando incontrolavelmente e por um longo tempo.
Demorou três tentativas verdadeiras para explicar o que aconteceu
antes que ela entendesse o que eu dizia.

“Você não está falando sério?” Ela sibilou ao telefone.


“George? George? Onde você está? O chefe de Ophelia cometeu
suicídio!”

Papai atendeu a outra linha no escritório. "O que você disse?"

Eu deixei minha mãe lhe contar; eu não tinha a energia para


colocar tudo de novo para fora. Agora que as crianças estavam
dormindo, eu finalmente não tinha que me segurar mais. Foi um
alívio, mas também era assustador. Eu me senti fora de controle,
como se eu mal estivesse compreendendo minha realidade.

“Você tem que voltar para casa, querida. Eu sabia que havia
algo estranho com essa coisa toda. Juro por Deus, que coisa
terrível de se fazer. Que bastardo descuidado. Aquelas pobres
pequenas crianças.” Mamãe ficou com raiva por todos os
envolvidos, me incluindo, mas as crianças sofriam as
consequências de sua simpatia. Ter a minha mãe sentindo-se com
pena de você não era necessariamente uma coisa boa em uma
situação como esta. Isso tendia a deixá-la histérica. “Quero dizer,
sério! Sério!” Sua voz ficou cada vez mais alta. “Eu simplesmente
não consigo acreditar. Como alguém podia ser tão egoísta? Se você
quer se matar, você espera até que seus filhos tenham terminado
a faculdade. Isso não é apenas feito! Eu não posso acreditar. Que
babaca. Que babaca completo.”

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“Acalme-se, Jen. Acalme-se. Nós não sabemos a história
toda,” papai disse, sempre o mediador. “No entanto, sua mãe está
certa, querida. Venha para casa, assim que você entregar as
crianças amanhã. Esse não é um ambiente saudável para você
estar agora.”

Eu não lhes contei sobre o Sr. Linneman e sua papelada. Se


eles soubessem que Ronan tinha essencialmente deixado seus
filhos para mim em seu testamento, eles ficariam loucos e eu não
podia lidar com a voz de minha mãe subindo outro decibel agora.
"Eu sei. Eu vou. Vou reservar um voo assim que eu desligar o
telefone.”

O restaurante seria fechado. Eu não iria levantar o dinheiro


que Ronan me prometeu se eu não ficasse pelos seis meses, não
havia alternativa quanto à isso. Mas talvez, se eu fosse muito
sortuda, outro emprego apareceria assim que desembarcasse na
Califórnia. Poderia haver tempo suficiente para adquirir um pouco
de capital e salvar o negócio de afundar se eu começasse a servir
mesas num segundo emprego também.

“Olha, gente, eu sinto muito. Estou acabada. Eu vou ter que


ir dormir. Ligarei para vocês assim que eu souber que horas estarei
voltando, ok?”

Meus pais me desejaram boa noite e minha mãe disse para


eu me cuidar cerca de quinze vezes. Eu estava indo para a cama,
tentando não olhar na direção do escritório de Ronan, quando senti
um incômodo familiar de dúvida disparar por mim. Por que ele fez
isso? Por quê? Eu nunca ia saber se eu não lesse aquela maldita
carta. Eu queria ir para casa, sim, mas o quão frustrante seria
nunca realmente entender o que tinha acontecido e por quê? Se eu
não entrasse no escritório de Ronan e pegasse aquela carta, eu
ficaria no escuro para sempre. E ele me devia, maldição. Ele me
devia uma explicação. O que ele fez não foi justo comigo e ele
realmente não foi justo com seus filhos.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Parei na escada, o medo já alfinetando minha pele. Eu ia
fazer isso. Estar com medo era estúpido. Tweedle Dee e Tweedle
Dum5* levaram o corpo de Ronan horas atrás. Não havia nada lá
agora, mas a parte irracionalmente supersticiosa de mim estava
convencida de que o espírito de Ronan ainda estava lá à espreita,
se mexendo entre os livros e todos os seus papéis, à espera de
alguém para vir visitá-lo.

Estúpido. Muito estúpido.

Desci as escadas, marchando pelo corredor e para dentro do


escritório, prendendo minha respiração. Nada aconteceu. A sala
estava vazia. A cadeira que Ronan deve ter usado para subir na
mesa foi guardada cuidadosamente. Todas as folhas de papel em
sua mesa estavam arrumadas, com exceção de um pequeno
envelope branco – o qual eu vim encontrar. Ele estava em cima de
um livro grosso com capa de couro que parecia carregado por
alguém durante anos, todo coberto de marcas de arranhões, uma
marca de óleo marrom escura na lombada, provavelmente de
longos períodos de manuseio. Em cima do envelope e do livro, algo
cintilou e brilhou no escuro - dourado e roxo. Uma medalha. Um
coração roxo.

“Merda,” sussurrei para mim mesma.

A sala, apesar do fato de estar cheia de mobiliário novo e


ainda ter aquele cheiro universal da Ikea de estantes planas de
livros e tecido fresco, já tinha sido preenchida com uma sensação
de vazio que me gelou por dentro.

Ronan tinha reivindicado a sala para sempre agora. Não


importa o que, o espaço seria sempre levar a história de suas ações
dentro de suas quatro paredes. Eu peguei a medalha de primeira,
virando-a na minha mão. Parecia nova, marca nova, que nunca

5*Tweedle Dee e Tweedle Dum são os nomes dos irmãos gêmeos personagens de Alice no
País das Maravilhas.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


tinha sido tratado antes. George Washington me olhou
malignamente do metal, severo e frio. Deixei-a de volta na mesa,
peguei a carta, em seguida, saí da sala correndo, meu coração
batendo em meu peito.

Parecia muito mais seguro sentar no balcão da cozinha para


ler o bilhete. Meu nome foi talhado pelo envelope, como se Ronan
estivesse com muita pressa quando ele escreveu.

Dentro, a carta:

Ophelia,

Nós nos encontramos pela primeira vez hoje. Você não ficou
impressionada comigo em sua entrevista, eu podia dizer, mas fiquei
impressionado com você. Você não ficou perturbada. Você foi
respeitosa e educada, mesmo quando eu fui rude. Você ficou firme.
Você estava calma. Você foi exatamente o que eu preciso que você
seja agora, neste momento, quando você estiver lendo esta carta.

Você provavelmente acha que eu sou um monstro e eu


suponho que sou, de inúmeras formas. Eu não tomei esta decisão
de forma leviana. Saiba que lutei incessantemente com a minha
decisão de tirar minha própria vida. Não porque eu queria viver, mas
por causa do efeito que isso terá sobre as crianças. Eu não me
enganei. Desde que Magda morreu, eu quis ir atrás dela. Minha
família era razoavelmente religiosa, enquanto eu estava crescendo -
Católica Romana - mas eu não acreditei nessas coisas por muito
tempo. Eu não acho que o câncer de Magda era um teste entregue
para ela por um poder superior. Eu acho mais provável que isso
fosse uma distribuição de cartas de merda para ela num jogo de
poker que ela nem sequer percebeu que estava jogando. Mas se há
uma chance de que exista vida após a morte, algo além para onde

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vamos quando deixamos este plano de existência, então tenho a
esperança de que estarei me juntando a ela em breve.

Eu não espero que você entenda como posso arriscar a


felicidade dos meus filhos pela remota possibilidade de que eu
poderia ser capaz de ver minha esposa novamente. Mas veja você,
se eu vivesse meus filhos não seriam felizes. Eles ficariam
magoados comigo. Eles me odiariam. Enquanto os dias, as semanas
e os meses passaram por mim, eu tive um vislumbre do homem que
vou me tornar se eu continuar a viver e respirar nessa minha pele e
ele não é um bom homem. Antes de Magda, eu estava perdido. Eu
era fraco. Eu estava quebrado. Estou ainda pior sem ela agora.

Então você vê que é melhor assim. Eu já acumulei uma fortuna


nos últimos anos. Dinheiro suficiente para garantir que Connor e
Amie recebam a melhor educação que o dinheiro pode comprar. Eles
nunca terão que se preocupar em pagar suas hipotecas. Eles nunca
terão que se estressar para ter dinheiro suficiente para viver. O
futuro está diante deles, muito melhor e mais brilhante pelo fato de
que eu não estarei neles.

E você... é aí que você entra. Desculpe-me, eu menti para você.


Você é uma mulher forte, inteligente, enérgica e em outra vida eu
tenho certeza que teríamos sido grandes aliados. Você é como
Magda de tantas maneiras que sentar na sua frente naquela
entrevista me deixou muito desconfortável.

Peço que você, por favor, realize o trabalho para qual te


contratei. Eu abri uma conta bancária na ilha e deixei dinheiro
suficiente lá para você ficar mais do que bem a partir de agora até o
verão. Cuide dos meus filhos. Ensine-os. Alimente-os. Conforte-os.
Se você está brava demais para fazer isso por mim, então, por favor,
faça pela minha esposa. Connor e Amie eram seu sol e lua. Ela era
uma mulher doce, gentil e maravilhosa, e não importa o quanto eu
estou decepcionando ela, eu estive determinado em garantir que

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alguém igualmente tão maravilhosa como ela proteja as crianças até
que o tio deles concorde em adotá-los.

No caso de você ainda não saber, eu tenho um irmão, Sully.


Sully e eu não nos falamos há sete anos, mas a verdade é que ele
ainda é o meu amigo mais próximo. Ele vai acolher as crianças,
eventualmente, Ophelia. Ele pode só precisar ser empurrado na
direção certa. Tenho toda a confiança na sua capacidade de fazê-lo
ver a razão.

Na minha mesa, você vai encontrar um diário de couro junto


com esta carta. Leia-o. Ele irá explicar muito.

Ronan.

OBS: Quando ele estiver pronto, dê a medalha para Sully.

Ótimo. Então Ronan não queria apenas que eu assumisse o


papel de mãe, pai e, às vezes, professora dos seus filhos, ele queria
que eu convencesse seu irmão afastado a aceitar o papel depois de
mim? Ronan e eu mal passamos qualquer tempo juntos. Como ele
descobriu que eu era capaz de realizar esta tarefa monumental em
um período tão curto de tempo era um mistério. Droga. Fala sobre
uma batalha árdua. Ele devia saber que seria demais pedir isso de
uma pessoa. Ele tinha que saber.

Estava tarde. Eu devia estar exausta por levantar tão cedo e


dos eventos que ocorreram pouco depois, mas em vez disso o meu
cérebro estava ligado no duzentos e vinte. Adrenalina demais
bombeando ao redor do meu corpo, banhando minhas sinapses,
fazendo meus músculos saltarem e contraírem por vontade

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própria. Eu ia ler aquele diário maldito. Eu ia lê-lo de capa a capa
e se não houvesse algo monumentalmente terrível dentro, então eu
ia amaldiçoar o nome de Ronan Fletcher pelo que ele fez.

Levantando-me, corri de volta para o escritório dele,


movendo-me tão rapidamente quanto eu conseguia - eu não queria
passar mais um segundo do que o necessário naquela terrível sala
- mas meus olhos nunca aterrissaram no diário. No segundo que
passei pela porta, olhei para cima e o vi. Vi ele de pé lá, no outro
lado da janela. Nossos olhos se encontraram e eu vi o choque em
seu rosto. Apenas em questão de horas atrás eu estava lá fora, os
pés cobertos de lama, o coração martelando no meu peito,
observando-o balançar para frente e para trás. Agora os nossos
papéis foram invertidos, ele estava pálido, branco como uma folha,
cabelo caindo nos olhos, olhando para mim através do vidro, e eu,
cambaleando no escritório, mal conseguindo manter minhas
pernas paradas.

Não podia ser. Isso simplesmente não podia ser possível.


Ronan estava morto. Eu o vi com meus próprios olhos. Os policiais
tinham confirmado. Como diabos ele podia estar me observando do
lado de fora se eles levaram embora seu corpo sem vida para algum
lugar na ilha? A resposta era óbvia e ainda impossível, ao mesmo
tempo: Eu estava olhando para um fantasma. O espírito de Ronan
realmente tinha ficado para trás e ele estava me observando agora
com olhos rígidos como aço e uma mandíbula com postura firme
que me disse que ele não estava feliz com a forma como eu estava
lidando com esta situação.

Minha cabeça girava. Eu não conseguia respirar. Um peso


pesado pressionado no meu peito, comprimindo minha caixa
torácica, me impedindo de expandir meus pulmões
adequadamente. Minha mãe sempre tinha dito que fantasmas
eram reais. Ela dizia isso desde quando eu era criança. Eu nunca
acreditei nela. Nunca, nem uma vez considerei que ela podia não
estar completamente maluca. Até agora. A sala parecia estar

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balançando para um lado, inclinando de forma embriagada. Eu
estava prestes a desmaiar.

“Ronan?”

O rosto do outro lado da janela – o rosto de Ronan - franziu


a testa. Minha respiração encurtou ainda mais, saindo arfadas
agudas, ineficazes que pareciam indesejáveis no meu corpo, como
se meus pulmões tivessem endurecido, recusando a acomodar o
oxigênio que eu estava tentando forçar para dentro do meu corpo.
Dei um passo para trás, meu corpo reagindo de forma muito lenta.
A mensagem que meu cérebro estava enviando para as minhas
pernas era, “Corra! Corra como o vento do caralho!” Porém elas não
iriam cooperar. Em vez disso, arrastei meus pés para trás, para
longe da janela, com as mãos duras em meus lados, o coração
batendo como um tambor de sinalização em meus ouvidos, em
minhas têmporas, em todo o meu corpo.

A figura do outro lado da janela agiu como se ele fosse meu


reflexo no espelho, afastando-se da janela, desaparecendo no além
da escuridão. Eu não conseguia tirar meus olhos dele. Se eu
tirasse, era provável que ele se materializasse no ar bem atrás de
mim e me matasse de alguma forma.

Isso é o que fantasmas faziam, não era? Eles queriam causar


estragos? Eles, com o inferno da certeza, não apareciam para uma
xícara de chá e um bate-papo, pelo que eu sabia. Minha obsessão
com o seriado Supernatural entrou em ação, então, e eu comecei a
tentar lembrar freneticamente onde podiam estar a pá de ferro ou
um pedaço de vergalhão mais próximos. No entanto, essa não era
esse tipo de casa. Em alguma época pode ter sido, mas agora tudo
estava renovado e novo em folha. A enorme lareira na sala de estar
era movida à gás e com duas crianças pequenas por aqui, era
improvável que alguém tivesse deixado materiais de construção por
aí.

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Enquanto meu cérebro estava pensando esses pensamentos
ridículos, Ronan estava sumindo, desaparecendo pouco a pouco,
as sombras comendo-o, engolindo-o, até que ele finalmente se foi.

O feitiço foi quebrado.

Eu saí correndo do escritório como um tiro.

Meus pés batiam com força ao subir a escada; parecia que


eu estava fazendo barulho suficiente para acordar as crianças e
metade da ilha, mas enquanto eu corria ao longo do corredor e
disparei para o meu quarto, batendo a porta ao fechá-la, eu não
ouvi outra alma se mexendo na casa. Tudo o que eu conseguia
ouvir era minha própria respiração cansada e o som do trovão
retumbando ao longe.

“Jesus.” Inclinei minhas costas contra a porta, engolindo em


seco. Recomponha-se, Lang. Cristo, o que diabos há de errado com
você? Não podia ser ele. Não era.

Levou um longo tempo para me convencer disso. Andei como


barata tonta no meu quarto por quinze minutos, balançando a
cabeça, a mente acelerando. Tinha sido um longo dia. Um dia
terrível, de partir o coração. No entanto, não havia nenhuma
maneira que Ronan tivesse se matado, apenas para voltar como
um fantasma. De jeito nenhum. A mente era uma coisa poderosa
e depois do dia em que eu tive era compreensível que eu estivesse
excessivamente sensível. Imaginando coisas, vendo coisas que não
estavam lá.

Eu ainda estava muito apavorada para tomar banho. Em vez


disso, eu me troquei e subi na cama com meu laptop, saltando
cada vez que a casa rangia ou os galhos das árvores fora da janela
balançavam, lançando sombras extensas nas paredes dentro do
meu quarto. Voos. Eu precisava reservar o meu voo para casa.
Quanto mais cedo eu voltasse para a Califórnia e longe deste lugar
esquecido por Deus, melhor.

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Eu abri meu navegador e tive que me impedir de reservar o
voo para o mais cedo disponível. Seria muito desagradável da
minha parte, ir embora antes do funcionário do Serviço de Proteção
à Criança chegar para buscar Amie e Connor. Eu nem sequer tinha
algum lugar para deixá-los. Esperar até que tudo estivesse
organizado para eles era a coisa certa a fazer, mesmo se a
perspectiva de adiar meu voo, da ilha, por algumas horas extras
fosse suficiente para me deixar emocionalmente estressada.

Sete e meia da noite. O voo que reservei de Knox County era


tarde o suficiente, para que eu tivesse tempo suficiente para ver as
crianças acomodadas, levar minha bunda para o outro lado, no
continente e viajar de volta para a cidade. Eu poderia até ter tempo
suficiente para tomar uma ou duas taças de vinho no bar do
aeroporto - eu nunca precisei tanto de uma bebida na minha vida
como eu precisava agora. Nem mesmo quando eu encontrei Will na
cama com a minha melhor amiga.

Eu gostaria de dizer que caí no sono imediatamente,


tranquila porque eu estaria de volta num avião em menos de vinte
e quatro horas, voando até minha casa para a minha vida
relativamente normal na Califórnia, longe da costa exposta ao
vento da Ilha Causeway e da coisa louca e terrível que aconteceu
aqui. No entanto, não dormi. Deitei na cama com as cobertas
puxadas para cima, apertadas embaixo do meu queixo e eu olhava
para o teto, mordendo meu lábio, com medo e me sentindo como
uma merda de ser humano.

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CAPÍTULO 9
CIRCUNSTÂNCIAS INACEITÁVEIS

“Feelya. Feelya, acorde. Tem um homem lá fora.” A pequena


mão cutucou e cutucou meu rosto, batendo sobre minhas
bochechas e na testa. Acordei lenta e preguiçosamente, tentando
compreender meus arredores. Demorou um segundo para tudo me
atacar - a memória de ontem e de tudo o que ocorreu. Amie estava
de pé ao lado da minha cama, seu cabelo escuro embaraçado como
um ninho de pássaro. Ela tinha linhas de seu travesseiro no rosto,
mas tirando isso parecia que podia estar acordada há horas. Seus
olhos azuis pálidos estavam brilhantes e alertas, enrugados nos
cantos e sua boca derretia num sorriso travesso. “Você estava
roncando. Muito alto,” ela me informou em um sussurro.

“Você disse que havia um homem lá fora?” Esfreguei meu


rosto com a mão, tentando sacudir a neblina do meu cérebro.

Amie assentiu. “Ele é muito magro. Ele parece que está com
muita fome, provavelmente.”

Um homem muito magro lá fora? Só podia ser Linneman. Eu


supunha que ele tinha um tipo de aparência faminta. “Você o
deixou entrar?” Perguntei.

"Não. Papai disse para não deixar.”

"O papai?"

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Amie assentiu novamente. "Sim. Ele sempre diz para não
abrir a porta para ninguém.”

"Ah ok. Sim, isso é muito inteligente. Ele tem razão. Você não
devia mesmo.” Eu joguei as cobertas para trás, agora capaz de
ouvir a batida educada, mas insistente na porta da frente no andar
de baixo. O relógio na mesa de cabeceira marcava oito e quarenta
e cinco. Jesus, como eu dormi por tanto tempo? Crianças se
levantam tão cedo; eu devia estar fora da cama e fazendo café da
manhã para eles há duas horas. Típico, já que eu não consegui
dormir por toda a noite e então eu caí de cara na inconsciência por
volta do amanhecer, apenas a tempo de me deixar atrasada para
tudo.

Lá embaixo, Linneman estava em pé na porta da frente,


pequenas mechas de seus cabelos grisalhos soprando em seu rosto
enquanto o vento uivava através do enorme gramado da frente. Ele
me deu um sorriso de boca fechada pelo vidro enquanto eu corria
para até a porta, destrancando e abrindo-a.

“Bom dia, senhorita Lang. Eu estava começando a me


preocupar que você já tinha ido embora. Posso?” Ele fez um
gesticulou para o corredor depois de mim. “Está um pouco frio aqui
fora e eu fiquei de pé por algum tempo.”

“Oh, Deus, é claro. Claro. Sinto muito, eu-” Eu desisti de


tentar formular uma desculpa pelo período de tempo que levou
para eu vir até a porta. Meu pijama e meu cabelo despenteado eram
explicações suficientes. Linneman seguiu para o corredor,
balançando a mesma pasta de couro surrada ao seu lado que
estava com ele ontem. Sua roupa era tão oficial e adequada como
a de ontem, também – terno cinza escuro, desta vez, que parecia
que era na verdade feito de lã, listrado com uma linha azul fina, e
uma camisa de botões severamente passada, finalizando com uma
gravata azul que tinha sido amarrado tão alto e apertado que
parecia que estava estrangulando-o.

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“Devemos ir para a cozinha?” Ele perguntou, lançando um
olhar frio e metódico por cima do ombro.

"Sim. Por favor. Vou fazer um café.”

“Oh, chá, se você tiver,” ele disse em resposta.

Amie estava nos meus calcanhares, segurando na parte de


trás da minha camiseta, mais perto do que a minha própria
sombra. “Amie, querida, onde Connor está?” Eu sibilei, esperando
que Linneman não ouvisse.

“Ele está jogando Gand Theft Auto. Ele disse que eu não
tinha permissão para jogar uma rodada.” Ela disse isso
taciturnamente, como se fosse a coisa mais triste do mundo, e ela
tinha acabado de lembrar-se de ficar chateada com isso agora. O
lábio inferior se projetou para fora, como se estivesse considerando
chorar, mas não tinha certeza se isso ainda valia à pena ainda.

Connor era muito novo para estar jogando Grand Theft Auto.
Uma década mais novo. No entanto, Ronan deve ter comprado para
ele, e eu estaria indo embora muito em breve, então não fazia
qualquer sentido subir correndo até lá para confiscar o jogo.

“Está tudo bem, garota. Que tal você se sentar em frente à


lareira na sala de estar e assistir Peppa Pig em vez disso, e eu farei
café da manhã para você? O que acha disso?”

Amie se alegrou imediatamente ao som da expressão café da


manhã. A criança era um poço sem fundo. Virei-me para
Linneman, que estava se acomodando no balcão de café da manhã
novamente, organizando a papelada, canetas, um talão de cheques
e um par de óculos de arame enquadrado ordenadamente em
sequência. “Tudo bem, senhorita Lang. Vou esperar aqui até você
voltar.”

E assim ele esperou. Eu posicionei Amie na frente da


televisão, liguei a lareira à gás em fogo baixo para remover o frio do

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ar e me certifiquei de que a menininha soubesse que não devia
chegar muito perto. Havia uma porta de vidro na fogueira, assim
como uma enorme grade de metal resistente entre ela e as chamas,
que ela não seria capaz de mover mesmo se quisesse, mas ainda
assim... eu a fiz prometer não sair um milímetro do lugar.

De volta à cozinha, Linneman estava olhando para a


cafeteira com um olhar muito confuso em seu rosto. Tive a
sensação de que ele nunca tinha operado uma antes.

“Eu queria vir e discutir sobre a papelada de Ronan com você


mais uma vez antes do Serviço de Proteção à Criança vir atrás das
crianças,” Linneman disse, cutucandoum botão na máquina.
“Agora que você já teve um pouco de tempo para considerar suas
opções, eu esperava que você podia ter mudado de ideia?”

Ele estava sujeita a me perguntar isso. No entanto, ele não


soava como se fosse afetado de qualquer forma pela minha decisão.
Ele não parecia ser o tipo de homem que forma uma ligação
emocional de qualquer tipo; era quase surpreendente que ele tinha
uma esposa. Pelo que eu sabia (e fortemente suspeitava), ele
provavelmente se casou porque era a coisa pragmática para fazer.
Por um instante, tentei imaginá-lo absorto em algum caso de amor
sórdido e não consegui sujeitar minha mente em torno dessa ideia
nem um pouco.

“Sinto muito, Sr. Linneman. Eu não mudei de ideia. Eu


reservei um voo saindo de Knox County, esta noite às sete e meia.”
Eu me senti terrível ao admitir que a noite não promoveu alguma
mudança milagrosa em mim, mas era a verdade. Ela não tinha. Ela
me deu um susto de morte e eu mal conseguia esperar para ficar o
mais longe desta casa enorme e vazia o mais rápido possível.

"Que assim seja. Então eu tenho os formulários de liberação


aqui para você assinar. Isso significa que você pode ir, que você
não aceitou a tutela legal das crianças. Irei prepará-los para você
agora.” Linneman sentou no balcão da cozinha enquanto eu fervia

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água para o seu chá. Uma onda crescente de culpa avançou dentro
de mim em um minuto, recuando no próximo para ser substituída
por indignação hipócrita.

Ronan realmente ferrou isso. Sim, era triste que sua esposa
tivesse morrido, mas ele não devia ter feito algo tão terrível e
deixado uma quase estranha em seu lugar para reunir os cacos.
Isso era um problema só dele.

Eu depositei o chá de Linneman no balcão e ele colocou três


folhas de papel sobre o mármore, e nós dois, em seguida, nos
sentamos por um momento e ponderamos sobre os artigos na
nossa frente. Linneman parecia tão hesitante e arrependido em
pegar sua caneca como eu me sentia em pegar minha caneta.
Ainda assim, nós dois fizemos o que tínhamos que fazer.

Rabisquei meu nome nos pontos que Linneman indicou com


pequenas abas coloridas, enquanto ele cautelosamente tomava
goles barulhentos do líquido pálido dentro de sua xícara.

“Interessante,” disse ele em voz baixa, colocando a xícara


para baixo. “Muito... quente.” Eu nunca fiz uma xícara de chá
antes; eu claramente estraguei alguma parte do processo, mas
Linneman era educado demais para dizer isso.

“Se você quer sair da ilha hoje, eu me certificaria de ligar


para Jerry Bucksted e ver se ele planeja velejar tão tarde. A
tempestade que tivemos ontem foi nada comparada com o que está
vindo por volta do jantar. É melhor eu ir embora, senhorita Lang.
Foi muito bom conhecer você, com certeza.”

Outra tempestade? Ótimo. Fantástico. Apenas o que eu


precisava. No entanto, de jeito nenhum eu perderia aquele voo. Se
eu tivesse que subornar Jerry Buck-sei-lá-o-que para me levar de
volta para o continente, estava tudo certo. Quando vi Linneman na
porta, as nuvens de tempestade estavam de volta, carregando todo
o horizonte em direção a nós como o barulho do estouro de uma

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boiada de cavalos. Agourentas e pretas, as nuvens não pareciam
nem um pouco promissoras.

******

“Você seria a srta. Lang, então?” A representante do Serviço


de Proteção à Criança apareceu às onze horas, um pouco mais
tarde do que eu tinha previsto. Eu pensei que ela ia chegar na casa
por volta das nove, mas aparentemente a travessia a partir de Porto
Creef já estava turbulenta e o barco teve que adiar sua partida por
noventa minutos, até que o tempo se apresentou mais calmo. A
mulher, Sheryl Lourie, de acordo com o cartão laminado ela
mostrou-me à porta, parecia tão verde que eu estava esperando
que ela fosse vomitar a qualquer minuto. Sua camiseta era muito
apertada, o material esforçando-se para esticar sobre seu peito
considerável e sua saia lápis parecia muito apertada e
desconfortável para a manhã ela deve ter tido, sentada num barco
enquanto o oceano o inclinava e o mexia.

Eu passei a manhã brincando de dinossauro com Amie e


dando à Connor algum espaço para se aninhar no sofá com um
livro em suas mãos (algo a ver com casas de árvore). Eles estiveram
perguntando onde Ronan estava e ambos pareciam além de
esperançosos quando a campainha tocou, gritando imediatamente
pelo pai dele. Connor parecia que estava prestes a lançar seu livro
por uma janela quando viu que não era Ronan.

“Quem é ela?” Ele sibilou para mim, enquanto todos nós


fomos nos sentar na sala de estar. “Onde meu pai está?”

Nisso, Sheryl se virou, segurando a bolsa contra o peito, os


olhos arregalados. “Eles não sabem?” Ela articulou com os lábios.

Eu balancei minha cabeça.

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Vi quando o sangue drenou para fora de seu rosto. "Entendo.
Bem. Por que todos nós não nos sentamos e conversamos um
pouco, então, hein?” Ela não esperava entrar nesta situação.
Ninguém a deixou saber que eu não tinha explicado sobre morte
de Ronan para Amie ou Connor. Eu me senti mal pela pobre
mulher. Se ela soubesse, ela provavelmente teria tido tempo para
se habituar à ideia e descobrir a melhor maneira de lidar com o
assunto. Agora ela tinha que pensar com pressa e isso não era bom
para ela ou para as crianças.

A covarde em mim não queria ficar por perto para a próxima


etapa. Seria fácil o suficiente sair fora e deixar Sheryl fazer as
coisas difíceis. Eles estariam se apoiando nela muito mais do que
estariam se apoiando em mim, em breve de qualquer jeito. Mas isso
não era certo e eu sabia disso. Eu me sentei entre Connor e Amie,
pegando a mão da garotinha na minha. Eu tentei pegar a de
Connor, mas ele desviou para longe de mim, segurando seu livro,
os nós de seus dedos e as unhas ficaram brancos.

“Ok, então.” Sheryl colocou o cabelo atrás das orelhas e foi


direto ao ponto. Eu tive que elogiá-la - a mulher não gastava tempo
à toa. “O papai de vocês está ausente há alguns dias, não está?”

Amie assentiu. Connor apenas olhou fixamente. Ele tinha


uma aparência impressionada no rosto, suas bochechas pálidas,
seu cabelo escuro caindo em mechas sobre a testa e nos olhos.
Piscando, ele abriu seu livro e começou a ler, ignorando Sheryl.

“Connor, querido. Largue esse livro. Você tem que escutar o


que a Sra. Lourie está dizendo agora, ok?” Eu tentei tirá-lo de forma
gentil dele, mas ele o tirou rapidamente, fazendo cara feia para
mim.

“Está tudo bem.” Sheryl se mexeu em seu assento, limpando


a garganta. Ela estava desconfortável, isso estava claro. “Talvez
Connor possa escutar enquanto ele lê ao mesmo tempo.”

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Esta foi uma ideia terrível, Connor precisava prestar
atenção, para processar a informação que estava sendo explicada
para ele, mas eu não poderia contradizê-la. Sheryl estava no
comando. Ela deve ter feito isso antes, não é? Tentei não
reconhecer o olhar irritado que Connor atirou na minha direção e
voltei minha atenção para Amie. Ela estava sentada em silêncio,
chutando seus calcanhares levemente contra o sofá, olhando para
lá e para cá, entre Sheryl e eu, suas pequenas sobrancelhas
amontoadas com preocupação. Ela sabia que algo estava
acontecendo, assim como Connor sabia.

“Então, vocês se lembram como mamãe se foi no ano


passado?” Sheryl continuou hesitantemente. Amie fungou e
encostou a cabeça no meu braço.

“Ela foi para o céu,” a garotinha disse suavemente. “Ela foi


ficar com o Oscar.”

Sheryl olhou para mim bruscamente. Oscar? Eu balancei


minha cabeça. Eu não fazia ideia.

“Oscar foi o nosso cão,” Connor murmurou, a cabeça ainda


para baixo, os olhos sobre a página na frente dele. “Ele foi
atropelado por um carro.”

“Entendo,” Sheryl disse novamente. "Sim. Então, sua mãe foi


ficar com o Oscar. Bem, é para lá que o papai foi também. Ficar
com a mamãe e com o Oscar. Vocês sabem o que isso significa?"

Connor ficou absolutamente imóvel. Amie fez um som curto


de arfada, os olhos viajando de mim para Sheryl novamente. “Ele
não vai voltar?” Ela sussurrou. "Por quê?"

“Porque ele está morto,” Connor estalou. "Ele morreu. Ele


nos deixou, assim como ela nos deixou. Eu sabia que ele não ia
voltar!”

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“Seu pai sofreu um acidente.” Sheryl prosseguiu, as mãos
cruzadas no colo, virando seu anel de casamento ao redor de seu
dedo, as unhas pintadas de uma cor de laranja queimada muito
estranha. “E isso significa que ele não pode voltar.”

O lábio inferior de Amie estava oscilando. Seus olhos


estavam cheios de lágrimas de confusão, seu pequeno corpo
tremendo ao lado do meu. Ela apertou-se contra mim e meu
coração quase partiu em dois quando ela olhou para mim e um
soluço sufocado escapou de sua boca. “Eu não quero que papai vá
ficar com a mamãe,” ela lamentou.

Connor ainda não tinha se movido. “Que pena, Amie. Nós


não temos como mandar nisso. Nós não temos como mandar em
nada. Certo?” Seus olhos tremeluziram para cima, fixando em
Sheryl. Ela parecia chocada pelas palavras duras e francas que
saíam da boca de Connor. Elas me chocaram, também. Ninguém
com sete anos de idade devia ter uma visão tão cruel da vida.
“Receio que não,” Sheryl confirmou. “Às vezes essas coisas
acontecem com as pessoas e ninguém consegue dar a opinião sobre
a questão. Sei que é difícil. Eu sei que é triste, mas-”

“Não é triste,” Connor rosnou. “Ele queria ir e ficar com ela.


Eu sei que ele queria. Eu o ouvi dizer isso. Ele disse ao Dr. Fielding.
Ele não queria estar mais entre nós. Ele nos deixou de propósito.
Eu o odeio. Eu o odeio!"

Pulando do sofá, Connor disparou para fora da sala, seu livro


caindo no chão. Tentei me desvencilhar de Amie, para ir atrás dele,
mas Sheryl estendeu a mão e a colocou no meu joelho.

“É melhor darmos um tempo para ele, eu acho,” ela disse.

Pegando Amie em meus braços, eu a segurei contra mim,


balançando-a para frente e para trás enquanto ela chorava. Eu
queria discordar de Sheryl - ficar sozinho parecia ser a pior coisa
possível para uma criança de luto que acabou de saber que seu pai

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estava morto - mas, novamente, Sheryl sabia mais. E eu não podia
simplesmente deixar Amie.

“Sinto muito,” Sheryl disse. “Eu normalmente levaria muito


mais tempo com algo como isso, mas o tempo é essencial. Eu não
posso ficar presa na ilha e o homem no barco foi bastante rude. Ele
disse que ia esperar uma hora por mim e não mais. Você acha que
podemos juntar algumas coisas das crianças? Nós podemos
providenciar que o resto de seus pertences seja enviado para o
continente, se e quando encontrarmos casas para eles irem.”

"Desculpa? Casas? Você ainda não encontrou um lugar para


eles irem? Juntos?"

Sheryl avançou para frente em sua cadeira, puxando os


lábios em uma linha apertada.

"Sr. Fletcher só... seguiu em frente... ontem, senhorita Lang.


Realojar as crianças é um processo. É provável que vamos
encontrar um lugar para Amie ficar em alguns meses. Connor é
mais velho, por isso, pode ser um pouco mais difícil de alocá-lo.
Além disso, seus... problemas comportamentais podem tornar mais
difícil encontrar uma família preparada para fornecer a atenção e
cuidado de que ele precisa.”

Eles não seriam mantidos juntos? Eles não iam encontrar


lares por meses? Eu nem tinha considerado que algo assim podia
acontecer. Deus, como pude ser tão ingênua? Eu me senti doente,
de repente. Mais doente do que eu já me senti nas últimas vinte e
quatro horas. “Para onde você vai levá-los, então? Agora? Quando
você sair do barco?”

“Para um lar para crianças. É um lugar seguro. Um


maravilhoso estabelecimento, senhorita Lang. Eu te asseguro, as
crianças serão cuidadas lá. As pessoas que dirigem o lar são as
melhores no que fazem.”

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Um lar para crianças? Eu sabia o que isso era. Era,
basicamente, um orfanato. Eu podia imaginar as filas e filas de
camas, todas cheias de crianças chorando até dormir. Crianças
fazendo bullying entre si, sem ninguém por perto ou se importando
o suficiente para protegê-los. E eu ouvi as histórias. As confissões
cheias de vergonha das crianças danificadas que foram molestadas
por predadores em lugares como o lar que Sheryl estava
defendendo agora. Meus braços se apertaram ao redor de Amie.

“Sinto muito, eu-” Eu não sabia o que dizer em seguida. Eu


não tinha as palavras certas para expressar meu horror.

“Eu entendo a sua preocupação, senhorita Lang, eu


realmente entendo. Mas com certeza, eu vou visitar Amie e Connor
toda semana. Eu, pessoalmente, procurarei famílias para cuidar
deles.” Ela disse isso como se visitá-los uma vez por semana fosse
o suficiente, fosse mais do que satisfatório, quando, na verdade,
era vergonhoso e me fez querer chorar.

“Eles, definitivamente, não serão mantidos juntos?” Eu


disse, apertando Amie, que havia enrolado minha camiseta em
suas pequenas mãos e estava agarrada em mim como se sua vida
dependesse disso.

A boca de Sheryl puxou para baixo numa expressão muito


pesarosa. Contudo, ela fez o tipo de olhar desconsolado que alguém
podia usar se fosse informado que não havia leite fresco no
supermercado. Não parecia tão sincera assim. Provavelmente não
era culpa dela. Ela estava, sem dúvida, anestesiada a situações
como esta agora. Amie e Connor eram apenas mais duas almas
infelizes que entraram no sistema. Eles eram os números de
referência, arquivos em sua mesa que significavam mais papelada
e mais dores de cabeça do que ela tinha tempo para ter.

“Está tudo bem,” ela disse. “Eu encontrei, com sucesso,


casas para mais de sessenta e cinco por cento das minhas
crianças. Isso é doze por cento mais elevado do que outros

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assistentes sociais,” ela disse, inclinando-se para transmitir as
informações para mim, falando pelo canto da boca, como se ela não
quisesse soar que estava se gabando.

Sessenta e cinco por cento era para ser impressionante? Se


ela tivesse dito noventa e cinco por cento, ainda não seria bom o
suficiente. Como, em sã consciência, eu podia deixar Sheryl levar
as crianças, sabendo da miséria e solidão que elas iriam suportar
num lar comunitário? Como? Ronan sabia que este seria o caso, as
consequências por suas ações se eu me recusasse a ser
manipulada por ele? Eu tinha certeza que ele sabia. Eu tinha
certeza que ele ainda estava me manipulando agora.

Eu suspirei, temendo as próximas palavras que sairiam da


minha boca. No entanto, elas tinham que ser ditas. Ele venceu.
Ronan, depois de tudo, venceu. Eu ia ter que dar o que ele queria,
caso contrário, a minha culpa ia me consumir pelo resto dos meus
dias malditos. “Receio que eu não posso deixar você levá-los, Sra.
Lourie. Eu vou ter que manter as crianças aqui comigo.”

Ela franziu a testa, a cabeça inclinando para um lado.


"Desculpe-me? Pensei que fosse apenas a babá?”

"Não. Ronan deixou as crianças sob os meus cuidados. Ele


me pediu para cuidar deles pelos próximos seis meses. Eu pensei
que eles estariam melhor com outra família, alguém mais
qualificado para cuidar deles, mas à luz desta nova informação...”

Sheryl moveu-se rapidamente para trás de sua cadeira,


tirando alguns papéis fora de sua bolsa. “Bem, isso é altamente
irregular. Ninguém mencionou que o Sr. Fletcher fez de você a
guardiã das crianças no caso de acontecer algo com ele?”

“Seu testamento de bens só foi recentemente atualizado. Seu


advogado, Mr. Linneman, tem a papelada, eu acredito.” Eu
esperava seriamente que Linneman não tivesse destruído os
documentos de tutela de Ronan. Se tivesse, provavelmente não

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havia muito que podia ser feito; Sheryl estaria bem dentro de seus
direitos para levar as crianças e desaparecer no continente com
eles. Para onde ela iria mesmo levá-los? De volta para Nova York?
Improvável. Custaria dinheiro enviá-los de volta, e por que se
preocupar, quando eles não tinham família nem nada os
amarrando àquela área com Ronan morto. Eles iam acabar em um
estado totalmente diferente do que foram criados, simplesmente
porque o pai deles decidiu morrer em uma pequena ilha ao largo
da costa do Maine.

“Eu vou ter que verificar isso, senhorita Lang.” Sheryl


parecia seriamente incomodada. “Eu não acho que vou ter tempo
nesta viagem. Eu realmente preciso voltar para as docas. Eu
deveria, por direito, levar as crianças de volta comigo para o centro,
enquanto tudo isto é resolvido.”

“E se eu preferir que eles fiquem aqui? Comigo?"

“Seria negligência minha deixar as crianças em uma


situação que eu pensei que era instável.”

"Instável? Eu diria que o ambiente é muito mais estável aqui,


comigo, do que seria em um lar comunitário.”

“Senhorita Lang...” Sheryl fez uma pausa, dando aos seus


sapatos toda a sua atenção por um momento enquanto pensava
com a boca aberta. “Menos de cinco minutos atrás, você não queria
essas crianças. Você não mencionou nada sobre o fato de que o Sr.
Fletcher fez de você a guardiã deles. Você só falou quando
descobriu para onde eles estavam indo, agora eu não quero ser
rude, mas eles nos ensinam a procurar por comportamento
errático em pessoas deixadas para cuidar de crianças em risco, e
perdoe-me por dizer isso, mas o seu comportamento
definitivamente me deu motivo de preocupação. Eu não estou
inteiramente certa de que você compreende o que estaria
assumindo aqui, ou se você seria capaz de lidar com isso, aliás.”

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No andar de cima, a porta do quarto de Connor bateu com
força, o som alto da batida soando, ecoando pela casa. Perfeito.
"Veja. Sheryl. Eu sei que esta situação não é perfeita. Eu sei que
há, provavelmente, famílias e casas lá fora para Connor e Amie que
podiam ser perfeitas para eles, mas também sei que separá-los e
mantê-los em um lar comunitário por semanas a fio,
potencialmente meses, não vai beneficiá-los de qualquer forma. Eu
tenho uma vasta experiência com jovens problemáticos. Eu
trabalhei com crianças da mesma idade de Connor e Amie por
anos. Eu irei cuidar dessas crianças. Eu posso fazer isso. Eu vou
lutar com unhas e dentes para garantir que eles ficarão comigo, se
isso significa que eles podem ficar juntos. Agora, você pode sentar-
se para discutir comigo sobre o que fazer, ou você pode ir e garantir
que pegue o Jerry antes que ele volte para o continente. Eu ouvi
que é provável que a tempestade continue por vários dias. A menos
que você queira passar duas ou três noites trancada em um quarto
acima do único bar na ilha sem roupas limpas para vestir, então
eu estaria correndo se eu fosse você.”

Jogar com o seu desejo de ir embora de Causeway foi um


movimento barato, mas parecia que tinha funcionado. Sheryl
estremeceu quando eu mencionei o ficar trancada no bar. Depois
de um longo momento em que ela me estudou com olhos azuis
lacrimejantes, ela disse: “Tudo bem, senhorita Lang. Mas, por
favor, tenha em mente que... eu posso sempre voltar. É um
obstáculo, admito, mas eu gosto de cuidar dos meus casos. Se você
perceber que esta tarefa está além de você, não há nenhuma
vergonha em ligar para eu levá-los. Da mesma forma, se eu achar
que eles estão sob maus cuidados, Ophelia, me certificarei que
tanto Connor e Amie estejam no barco de volta para o Maine mais
rápido do que você pode piscar. Você entende?"

"Sim, senhora."

“Bem, tudo bem, então.” Sheryl ficou de pé, segurando sua


bolsa debaixo do braço enquanto ela pegava seu celular.

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Suspirando dramaticamente, ela guardou o telefone e pegou seu
blazer, puxando-o de forma meio arrufada. “Irei embora. Não, por
favor, não se levante. Tenho certeza que você vai querer ir se
certificar que Connor está bem agora, de qualquer forma.”

Isso foi uma insinuação não muito sutil, como se eu não


pudesse perceber que o menino precisaria de algum tipo de
conforto depois de descobrir que seu pai morreu. E depois que ela
me disse para lhe dar um momento também. Dei-lhe um sorriso
apertado - e que almejava mostrar civilidade, mas não muito mais
do que boas maneiras.

"Naturalmente. Eu tenho certeza que teremos motivos para


conversar em breve,” eu disse a ela, ficando de pé. Amie ainda
estava enrolada de forma apertada contra o meu corpo, mas ela
estava imóvel agora, rígida, como um animal assustado.

“Infelizmente, eu acho que será o caso,” Sheryl murmurou


baixinho. Mordi a língua e corri para o andar de cima antes que eu
pudesse dizer qualquer coisa da qual eu me arrependesse.

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CAPÍTULO 10
O HOMEM ESPELHADO

Linneman não soou tão surpreso quando eu lhe disse que


não tinha ido embora. Quando eu pedi para ele manter em segredo
a papelada que eu assinei, liberando as crianças dos meus
cuidados, ele disse: “Que papelada?” Da forma desajeitada de um
co-conspirador que era duro demais para conseguir a ignorância
de forma convincente.

Minha mãe, por outro lado, estava quase histérica.

"O que você quer dizer, você não vai voltar?”

“Quer dizer, eu não vou voltar. Ainda não, de qualquer


maneira. A mulher do Serviço de Proteção à Criança era
aterrorizante. E eles iam separar as crianças. Como eu podia deixá-
los quando-”

“Eu sei que você está preocupada com eles, Ophelia, mas me
escute por um momento. Você é uma boa menina de bom coração,
mas você sente empatia demais pelos outros para o seu próprio
bem. Pessoas tiram proveito disso. Esse cara, Ronan Fletcher,
sabia que você tem o coração aberto no momento em que pôs os
olhos em você, e então ele te colocou em uma posição na qual ele
sabia que não seria capaz de se afastar. Como isso é justo?”

Suspirei. "Não é justo. Eu sei disso. Mas eu não posso deixá-


los ir embora para algum lugar nojento, sujo e inseguro, onde
qualquer coisa podia acontecer com eles e seguir alegremente no

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meu caminho agora, posso? Eu nunca teria outra boa noite de sono
novamente.”

Houve uma longa pausa e então minha mãe disse algo que
me fez desligar o telefone. Ele foi algo como isto: “Ophelia, isso não
é porque... você sabe. Porque você não pode ter filhos? Amie e
Connor... eles estão em apuros e eles precisam de alguém para
cuidar e se importar com eles, mas não fique confusa, certo,
querida? Eles não são sua responsabilidade. Eles são um trabalho
e nada mais. Uma vez que estes seis meses acabarem, você vai ter
que se afastar deles e dizer adeus. Eu não quero ver você se
machucar com algo que pode ser facilmente ev-”

Ela teria continuado por só Deus sabe quanto tempo se eu


deixasse. Ela, provavelmente, não percebeu que eu não estava do
outro lado da linha por um minuto completo.

Eu tentei não pensar sobre o que ela disse. Eu mal conhecia


as crianças; eu não estava vivendo na terra do faz de conta, onde
eu tinha adotado eles como meus filhos e todos nós íamos viver
felizes para sempre. Eles só precisam ser mantidos em segurança
e parecia que eu era a única forma de que isso ia acontecer. Pelo
menos por um tempo, de qualquer maneira, até que outro
combinado pudesse ser formulado.

Connor se recusou a sair de seu quarto. Ele deitou na cama


e olhou para o teto, um chapéu com listras do arco-íris puxado
para baixo em sua cabeça e ele nem sequer piscava. Fiquei com ele
pela maior parte da manhã, enquanto Amie dormia em um ninho
de cobertores e almofadas no chão aos meus pés, fungando em
seus sonhos. Não importa quantas vezes eu tentei falar com ele,
Connor não iria nem mesmo reconhecer a minha presença.

Ao meio-dia, saí do quarto de Connor para ir fazer alguma


comida para eles, embora eu soubesse que nenhum deles iria
comer e eu quando cheguei no meio da escada, uma figura de pé,

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no corredor ao lado da porta da frente, me fez parar
repentinamente.

Ele de novo.

Ronan.

Encostado na parede, com o ombro encostado contra o


reboco creme recém-pintado, cabelos escuros caindo em seus
olhos, camisa xadrez amarrotada e para fora da calça, era
realmente ele. Era Ronan.

Eu gritei, bem alto, saindo correndo, tentando correr de volta


para o andar de cima. “Não! Não se aproxime!”

Ronan nem sequer recuou. Ele me estudou com uma


aparência fria e desinteressada no rosto, que o fez parecer mais
bonito do que nunca, de uma forma cruel e majestosa que enviou
um arrepio pelo meu corpo. Ele não devia ser mais transparente ou
algo assim? Eu tinha pouca ou nenhuma experiência com os
recentemente mortos, mas eu li um monte de livros de terror
quando era adolescente e fantasmas foram feitos para serem
pálidos e com o rosto muito menos corado.

Suas bochechas estavam quase rosadas e seus olhos


estavam brilhando claramente, tão profundos e escuros como
sempre. Eu não conseguia mover minhas pernas. Eu tinha que
mover as minhas pernas, a fim de fugir dele, mas elas não estavam
cooperando nem um pouco.

Eu gritei novamente, as mãos segurando o corrimão, mal


conseguindo me manter na posição de pé.

“Jesus, mulher. Cale a boca.” Ronan se afastou da parede e


então começou a vir na minha direção, a raiva juntando suas
sobrancelhas em uma carranca. “Você está gritando alto o
suficiente para acordar os mortos.”

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Ele caminhou até a base das escadas, enfiando as mãos nos
bolsos e eu quase desmaiei no local. “Não faça isso. Falei sério. Não
se aproxime. Eu juro que irei-” Eu não sabia o que eu ia fazer. Não
havia como apenas se defender contra uma força paranormal.

Ronan balançou a cabeça; ele precisamente parecia


frustrado. Seus olhos tremeluziam com impaciência. “Ophelia.
Esse é o seu nome, não é? Veja. Eu já sei o que você está pensando
e eu não sou Ronan. Se pudéssemos, por favor, pular esta parte e
passar para a parte menos ridícula da nossa conversa, seria
fantástico.”

“Você não é...?” Ele não fazia nenhum sentido. Ele


absolutamente era Ronan. O cabelo, os olhos, a curva selvagem de
seu lábio que me deixou insensatamente com os joelhos fracos.
Reconhecidamente, seu cabelo estava por todo o lugar,
desgrenhado em comparação ao corte engomado para trás que ele
normalmente usava, mas mesmo assim não havia dúvidas de que
era ele. Minha boca estava aberta. Eu sabia que estava, mas eu
simplesmente não conseguia fazer nada quanto a isso.

“Sully”, disse Ronan. “Eu sou o Sully, irmão do Ronan.”

"O quê?"

“Irmão gêmeo, obviamente. Nós compartilhamos uma ligeira


semelhança, ou assim me disseram.” Ele estava sendo um idiota,
sua voz era grossa com sarcasmo e eu podia ver o porquê. Ele tinha
mais do que uma ligeira semelhança com Ronan. Ele era idêntico
ao homem. Eu ainda não tinha certeza de que acreditava nas
palavras que saíam da sua boca. Gêmeos idênticos eram muito
reais, é claro - havia duas garotinhas na minha sala no Saint
Augustus que costumavam ter que usar crachás porque elas eram
muito difíceis de distinguir - mas isto era uma loucura. Não havia
nada para diferenciar o homem de pé na minha frente de Ronan
Fletcher. Eles tinham a mesma altura, o mesmo estilo. A maneira
como eles ficavam quando se inclinavam contra a parede era

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exatamente a mesma; eles eram cópias de carbono um do outro, e
não apenas duas pessoas que por acaso compartilharam o mesmo
saco embrionário.

“Linneman ligou e me contou o que aconteceu,” Ronan...


não, Sully disse. Eu tive que lutar para obter o nome certo na
minha mente. “Eu vim aqui ontem à noite, mas você parecia
assustada. Eu pensei que você estaria menos louca se eu voltasse
durante o dia. Parece que eu estava errado.”

Chocada, eu desci um degrau da escada, com os olhos fixos


nele, como se ele fosse desaparecer se eu desviasse o olhar. “Tenho
certeza que você pode entender o porquê...”

“Eu pareço com o meu irmão. Eu ouvi isso a minha vida


inteira. Quando eu olho no espelho, me lembro dele. Diariamente.
Então, sim. Eu entendo. Agora, como eu disse. Podemos seguir em
frente? Eu tive essa conversa mais vezes do que posso contar, e ela
está fodidamente velha.”

Lentamente, eu desci o resto da escada, tentando recuperar


um pouco da minha dignidade. Provavelmente não havia chances
de isso acontecer aos olhos de Sully, mas ainda assim, eu tinha
que tentar.

“Linneman não mencionou que você vinha aqui,” eu


murmurei, esfregando as minhas mãos oleosas contra o meu jeans.

“É porque eu não contei para ele. Não fazia sentido. Ele só


teria tentado me convencer do contrário, daquele jeito dele de lidar
com um problema e eu acabaria sendo rude.” Parecer rude era um
estado predeterminado ao estar com esses garotos Fletcher. Eu
nunca teria imaginado que fosse possível, mas Sully era ainda mais
pavio curto e hostil do que seu irmão. “Eu não planejo ficar aqui
por muito tempo, também”, ele disse, angulando seu queixo para
cima de forma desafiadora e que se foda. “Eu vim dizer para não se
dar ao trabalho.”

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"Com licença?"

“Linneman me contou o que meu irmão fez. Que ele quer que
você fique por aqui, na ilha, até eu ceder e decidir cuidar de seus
filhos. Eu vim até aqui te dizer para não se dar ao trabalho. Eu não
vou levá-los. Ele estava louco para pensar que eu seria capaz de
cuidar deles um dia. Então, você faz o que tem que fazer. Estou
fora disso.”

“Papai?” De cima, a voz alta e assustada de Amie ecoou pelo


corredor. Os olhos de Sully se arregalaram.

“Aquela é... aquela é a garotinha?” Ele parecia um coelho


pego nos faróis do carro.

Eu assenti. Olhando por cima do meu ombro, tentei pegar


um vislumbre dela, mas Amie ainda estava andando pelo corredor,
com passos incertos e tímidos. “Eu entendo que você está um
pouco assustada no momento. Mas... talvez você gostaria de
conhecer-”

Virei-me de volta para Sully, mas ele não estava lá. A porta
da frente estava escancarada e o homem estava longe de ser visto.
Em vez disso, uma pequena mulher em seus vinte e tantos anos,
talvez trinta e poucos anos, com cabelo ruivo brilhante e um gorro
preto de lã estava ali em seu lugar, com um olhar estranho em seu
rosto. Ela olhou por cima de seu ombro, fazendo cara feia.

“Eu vejo que você conheceu Sully, então,” ela disse.


Entrando na casa, ela estendeu a mão, sua carranca se
transformando em um pequeno sorriso. “Oi, eu sou a Rose. Ronan
me contratou para ajudá-la a cuidar das crianças? O Sr. Linneman
foi me ver ontem. Ele me contou o que aconteceu. Sinto muito por
não ter vindo direto para cá. Para ser honesta, eu estava em
choque. Conheço Ronan por toda a minha vida. Eu só... não
conseguia acreditar no que ele fez.”

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“Conte-me sobre isso.” Eu apertei a mão dela, piscando
furiosamente. Eu devia parecer muito estranha. “Sinto muito, eu
ainda estou balançada pelo...” Eu apontei a porta atrás de Sully,
tentando não parecer tão chocada.

"Sim. Ele tem esse efeito nas pessoas. Que tal se eu fizer um
café para você e nós podemos examinar uma agenda ou algo
assim? Posso te dar um pouco mais de informações sobre o último
irmão Fletcher restante enquanto eu faço isso.”

******

Rose era cheia de sardas. Ela também era cheia de fatos de


arrepiar os cabelos acerca de Ronan e Sully. Os dois foram
adolescentes problemáticos, ambos propensos a brigar e incitar o
caos. Em 2004, uma vez que concluíram suas formações, eles
ingressaram no exército juntos como oficiais e aquilo pareceu
acalmá-los um pouco.

Ela me contou que ninguém sabia realmente o que


aconteceu, mas todos ficaram chocados quando Sully voltou para
a ilha e Ronan casou do nada com Magda. Sully se afastou e se
recusou a interagir com qualquer pessoa na Causeway, a menos
que eles encomendassem móveis dele e Ronan não foi visto
novamente. Não até que ele apareceu há uma semana sem Magda
e dois filhos a reboque.

“Eu costumava invejar tanto Mags,” Rose disse, tomando um


gole de café. “Ela era minha melhor amiga no ensino médio, sabe?
Ela estava tão desesperada para sair daqui, tão desesperada para
ir embora. Ela se mudou para Nova York, quando Sully e Ronan
foram para lá estudar e nunca mais voltou. Eu a visitei uma ou
duas vezes antes de toda a confusão com Ronan.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Desculpe-me? Toda a confusão com Ronan?”

Rose empalideceu. “Oh, bem, sim. Quero dizer, Magda não


começou com Ronan. Ela estava namorando Sully quando eles se
mudaram para Nova York.”

Oh. Bom. Senhor. Eu entendi que isso explicava muita coisa.

Rose continuou, alheia ao fato de que a informação que ela


acabara de transmitir me deixou de queixo caído. “Mags tentou
fazer com que eu me mudasse para lá, com ela. No entanto, eu não
podia fazer isso. Eu sabia que queria ser professora aqui na ilha.
Estudei Língua e Literatura Inglesa na Beal College, em Bangor e
então voltei para cá e consegui um emprego na escola. Foi isso para
mim. Contudo, ainda penso sobre isso. Como minha vida teria sido
se eu tivesse concordado e ido embora para morar na cidade com
ela.

“O jornal local publicou uma reportagem sobre Ronan


quando ele foi premiado com aquela medalha do exército. Aquela
foi, provavelmente a última vez que falei com Mags no telefone. Eu
tinha ligado porque o artigo dizia que Ronan nem sequer participou
da cerimônia para pegar a maldita coisa. Que eles tiveram para
enviá-la para ele pelo correio.” Rose deu de ombros, terminando
seu café. “Eu queria parabenizá-lo, para lhe dizer quão orgulhoso
estávamos dele aqui na ilha, mas ele não iria nem mesmo atender
a minha ligação.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


CAPÍTULO 11
DIÁRIO

15 de Março de 2000

Este diário cheira a loja equestre de onde compramos as


rédeas de Topper. Eu amo isso. Papai disse que era muito de menino
para mim, mas que seja. É o meu dinheiro. Eu posso comprar o que
eu quiser com ele. Sully diz que vai esperar até que eu tenha
preenchido cada página, e, em seguida, ele vai roubá-lo e lê-lo. Que
idiota. Era melhor ele não ler. Sully James Fletcher, se você estiver
lendo isso, você vai direto para o inferno. Não invada a minha
privacidade ou eu vou serrar suas bolas com uma faca de manteiga
enferrujada!

Devia provavelmente fazer a mesma ameaça para Ronan,


mas por que me incomodar? Ele está muito ocupado tramando a sua
“Grande Viagem Americana” para pensar duas vezes sobre
qualquer coisa que eu escrevinhar aqui. E bom, também! Pelo menos
eu só tenho que me preocupar com um dos garotos Fletcher. Então...
eu não sei. Eu acho que eu só vou escrever aqui quando tiver algo
importante a dizer. O caderno é muito bonito para desperdiçar e eu
sou uma garota de dezesseis anos de idade. Parece uma vergonha
cobrir as páginas de merdas sobre meninos e drama do ensino
médio. Eu quero ser capaz de relembrar, através deste livro, em
quarenta anos e ter orgulho dos momentos que gravei aqui.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Espero que até lá eu possa dizer que eu vivi uma vida sobre a
qual vale à pena escrever. Espero que até lá, Sully e eu estejamos
casados e que tenhamos nossos filhos. Espero que já tenhamos
viajado o mundo. Visto tudo o que há para ver. Espero que nós
tenhamos voltado para a ilha e construído uma nova vida para nós
aqui, e eu posso montar todos os dias e Sully pode fazer coisas em
sua oficina. Isso me faria feliz. Isso me faria muito feliz mesmo.

M.

M de Magda. Eu fui enganada; pensei que o diário que Ronan


deixou para eu ler era dele, mas não era. Era de sua esposa e o
primeiro registro na primeira página confirmou muito claramente
o que Rose me contou: Magda começou apaixonada por Sully. Eu
podia ter adivinhado que o problema entre Ronan e seu irmão tinha
sido por alguma mulher, mas eu não tinha ideia que seria a esposa
falecida de Ronan. Que rixa isso ter deve ter causado. E como?
Magda tinha dezesseis anos quando escreveu na primeira página
de seu diário. Folheando pelo livro ocasionalmente frágil e com
cheiro de umidade, pulei para o último registro no diário e observei
a data.

Abril do ano passado. A caligrafia de mocinha, toda cursiva


mudou para um texto mais elegante e extenso ao longo dos anos,
mas as letras ainda eram inconfundivelmente da mesma mão.
Evitei as palavras escritas no papel, sem querer lê-las ainda. Por
alguma razão, isso parecia como pular para o final de um romance
e arruinar a história para mim, embora neste caso, eu já soubesse
o que aconteceu no final. Magda estava morta e agora Ronan
também. Sully foi o único que ficou.

Depois que Rose foi embora, eu entrei no escritório e peguei


o livro antes que eu tivesse uma chance de mudar de ideia. Eu

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precisava de mais um pouco da história e surpreendentemente
parecia que eu ia consegui-la aos poucos. Devia haver mais de cem
registros no diário de Magda. Algumas das páginas estavam rígidas
e estalaram enquanto foram viradas. Outros estavam cobertas com
fotos. Algumas traziam ingressos de eventos, passagens de avião...
o canhoto do cinema. Mais perto do final do livro, avistei um
ultrassom fixado a uma página e eu tive que parar de investigar
mais para ver se era Connor ou Amie que Magda comemorou em
seu livro.

Amie ficou comigo toda a tarde toda, caindo e acordando do


sono, chorando esporadicamente em silêncio com ataques de partir
o coração, que me deixavam com dor no interior por ela. Connor
permaneceu em seu quarto, o gorro do arco-íris enfiado em sua
cabeça, sem se mover, sem dizer uma palavra. Ele me atacou e
tentou me chutar quando eu tentei pegá-lo e levá-lo até os meus
braços, rosnando ferozmente, e então o deixei sozinho no silêncio
do seu quarto, esperando que eu estivesse fazendo a coisa certa.

A chuva chegou por volta das quatro, martelando nas


janelas, sacudindo suas estruturas, e o vento rompia pela casa,
uivando através da alvenaria na antiga despensa, a única parte da
casa que não parecia ter sido reformada, fazendo a porta da
cozinha bater atrás de mim toda vez que eu ia lá para pegar suco
ou cookies para Amie.

Eu não conseguia parar de pensar no diário da Magda. Eu


não conseguia parar de pensar sobre a aparição de Sully mais cedo
também, ou a maneira grosseira que ele falou. Ele foi inflexível e
importuno, mas ele ficou com medo, também - quando ouviu Amie
chamando o pai dela, ele parecia tão perdido que a transformação
me assustou. Eu precisava saber por que ele tinha tido tempo para
vir para a casa não uma, mas duas vezes, a fim de me dizer que eu
estaria perdendo meu tempo se eu tentasse cumprir os desejos de
Ronan. O mistério de tudo isso estava me matando.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Eu folheei o diário, deixando-o cair aberto no meio do
caminho - uma página cheia de fotos. Eu só sabia que as imagens
eram de Sully porque Magda escreveu embaixo de cada uma com
um título, mês e ano.

Sully, Fort Benning, Abril de 2003.

Sully, Times Square, Dezembro de 2003. Quatro dias antes


da mobilização.

Sully, Cabul, Maio de 2004.

Sully, com Daniels e Rogers, Cabul, Janeiro de 2005.

Debaixo deste registro, uma pequena fotografia desbotada foi


colada no papel: Sully, em uniforme militar completo, o sol
escaldante, uma bolha branca quente ao fundo, dois homens altos
negros também de uniforme com os braços jogados sobre seus
ombros. Todos os três homens estavam sorrindo, mostrando os
dentes, com suor em suas sobrancelhas, mas havia algo um pouco
estranho com a foto. Os sorrisos pareciam nervosos, como se
fossem pintados. Os homens estavam com as cabeças erguidas e
rígidos, como se estivessem prontos para abandonar a falsa
aparência de felicidade ao primeiro sinal de problemas, a fim de
pegar os rifles em seus pés e começarem a lutar.

Nenhum deles parecia, nem um pouco, que queria estar lá.

******

Eu não vi Sully novamente por um mês. Quatro semanas se


passaram e nem um pio. Talvez isso não tivesse sido tão estranho
se a ilha não fosse tão pequena, e se todos não continuassem
dizendo, oh que engraçado. Você acabou de desencontrar com o
Sully, para mim. Era como se ele tivesse me marcado, de alguma

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forma, com um rastreador GPS, sabia a minha localização exata
em todos os momentos e estava determinado a me evitar custe o
que custar.

O Serviço de Proteção à Criança entrou em contato comigo,


enviou Sheryl de volta à ilha para certificar de que eu não estava
negligenciando as crianças (o que eu não estava), e autorizaram
que eles ficassem comigo até a próxima primavera. A presença de
Rose era uma ajuda imensurável. Eu estava usando um pouco da
mesada que Ronan reservou para mim, para eu pagar o Dr.
Fielding por sessões via Skype com Connor e Amie. Seu tempo com
Amie parecia estar ajudando-a muito, mas Connor provou-se mais
difícil de alcançar. Ele geralmente sentava na frente da tela do
computador e se recusava a falar algo quando Fielding lhe fazia
perguntas. Se ele falasse, então ele gritava, berrava e praguejava
até Fielding declarar a sessão contra produtiva e desligar as coisas.
Ainda assim, eu esperava um avanço. Em breve. Muito, muito em
breve. Meus nervos estavam desgastados, mas eu sentia que estava
falhando com Connor e Ronan ao mesmo tempo e isso não me
agradou nem um pouco.

Novembro foi muito frio e terrível. O céu era da cor da guerra


– cinza, preto e sombrio – e a chuva raramente deu uma folga. Rose
estava em casa com as crianças quando eu finalmente vi Sully
Fletcher novamente.

“Lá vamos nós, querida. Caramba, essa é pesada. Deve ter


algumas coisas boas aí dentro.” Sam, a mulher que operava a
estação dos correios, deslizou o pacote que vim buscar na minha
direção, do outro lado do balcão, sorrindo. O pacote era da mamãe
- provavelmente mais roupas de inverno. Ela estava apavorada que
eu ia congelar até a morte. Sam olhou por cima do meu ombro,
levantando uma mão em saudação. “Oi, Sully. Você pode deixar
isso lá? Eu passo para te pagar a caminho de casa.”

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Virei-me tão rápido que quase perdi o equilíbrio. Com
certeza, Sully estava em pé na soleira da porta da estação de
correios e em suas mãos ele segurava uma enorme e bela cadeira
de balanço. Quando ele me viu, sua expressão mudou de
desinteresse monótono para horror evidente. “Claro que sim, Sam.”
Ele colocou a cadeira de balanço ao lado da porta, inclinando na
cintura e eu não pude deixar de notar o quão curto ele cortou seu
cabelo, ou as aparas em espiral de madeira que estavam presas ao
material xadrez grosso de sua camisa. Havia uma mancha preta
na parte de trás de seu pescoço, como se ele tivesse esfregado os
dedos oleosos lá e ninguém lhe disse sobre a mancha marcando de
sua pele. Ele não se virou novamente ou disse outra palavra para
Sam. Ele simplesmente atravessou a porta e foi embora.

“Eu não faria isso comigo se eu fosse você.”

“O que?” Vire-me para descobrir que Sam me dava um olhar


astuto e cauteloso.

“Sully Fletcher. Tão bonito como o diabo num domingo. Teve


cada uma das mulheres nesta ilha num ataque histérico em algum
momento, mas ele nunca nem olhou para uma delas. Confie em
mim. Aquele ali é mais problema do que ele vale. Se você precisa
fazer um armário, ou consertar uma cadeira, então Sully é o cara.
Se você está procurando alguém com um coração gentil e carinhoso
para se aninhar no sofá quando está chovendo, então é melhor você
ter um cachorro.”

“Eu não estou procurando por isso. E se estivesse, eu


definitivamente não estaria interessada em Sully.”

“Hmm.” Pelo olhar em seu rosto, Sam não acreditou nem um


pouco em mim. "Tudo bem então. Mas só para você saber, aquele
ali não voltou do deserto do mesmo jeito de quando ele foi embora,
se você me entende. Basta ter cuidado perto dele... E não deixe os
pequenos por muito tempo perto dele também.” Não havia nenhum
perigo de que isso acontecesse; Sully foi perfeitamente claro na lá

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na casa há quatro semanas e ele não tinha mudado de ideia. Não
ouvi nada a respeito de sua sobrinha e sobrinho. Eu não ouvi nada
dele, ponto final.

Lá fora, eu o peguei subindo numa caminhonete surrada tão


coberta de lama que eu não conseguia nem ver de que cor era. Ele
queria ligar o carro e desaparecer, mas eu não ia deixar. Eu dei um
passo para frente do veículo e coloquei minhas mãos contra o capô.

Sully se inclinou para fora de sua janela e rosnou, “Que


porra do diabo você acha que está fazendo?” Ele parecia tão
semelhante a Ronan, era estranho. Eu nunca ouvi Ronan dizer
porra, mas eu podia imaginar muito bem.

“Você está me evitando. E as crianças. Por quê?"

“Você é louca.” Sully olhou ao redor do interior de sua


caminhonete, como se estivesse procurando alguém para
concordar com ele. “Eu sou um cara ocupado, senhorita Ophelia
Lang da Califórnia. Tenho trabalho a fazer. Por que eu estaria
jogando jogos estúpidos e evitando você?”

“Isso é o que eu gostaria de saber. Você nem foi ao funeral


de Ronan.” O dia tinha sido um dos poucos dias bonitos que
experimentei em Causeway. O sol brilhou pelos quarenta minutos
que fiquei no túmulo de Ronan com as crianças, a temperatura
fria, mas fresca e o fato de que pouquíssimas pessoas apareceram
para dizer suas despedidas para Ronan foi devastador. Lá em Nova
York, teriam colegas de trabalho, amigos, vizinhos... Aqui na ilha,
a única pessoa que reconheci na pequena Igreja Católica era Rose
e foi isso.

“É claro que não fui.” Sully virou a chave na ignição; o motor


do carro rugiu para a vida, me assustando. “Não tenho orgulho de
atropelar uma garota, você sabe. Já fiz isso antes.”

"Onde? No Afeganistão?”

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Sully se recostou em seu assento como se tivesse levado um
tapa. “E o que você iria saber sobre o Afeganistão?”

Eu, obviamente, toquei um nervo muito, muito sensível.


"Nada."

"Isso é verdade. Você não sabe nada.”

“Talvez eu deva mudar isso. Talvez eu deva ler o diário de


Magda, e-”

“O que você acabou de dizer?” Sully parou de tentar


manobrar o carro para passar por mim e me olhou boquiaberto
para fora da janela. Sua raiva parecia ter dissipado em uma nuvem
de fumaça.

“O diário de Magda. Ronan disse para eu lê-lo. Para entender


melhor o que aconteceu entre vocês dois.”

“É mesmo?” Sully se inclinou para frente, os antebraços


contra o volante. Com as sobrancelhas tão levantadas em sua testa
que quase tocavam a linha limite de seu cabelo, ele inclinou a
cabeça para um lado. Ele estava bravo; eu podia sentir a tensão
estalando no ar. Dado ao olhar em seus olhos, eu não ficaria
surpreso se ele de fato me atropelasse. “E o que você descobriu até
agora, Lang?” Ele falou rispidamente. Ele parecia desconfiado.
Quase preocupado.

“Eu não descobri nada. Eu não o li,” retruquei. Era verdade.


Eu li um único registro desde que peguei o diário depois que Ronan
morreu. Oh, eu queria ler, com certeza. Ele ainda estava na minha
mesa de cabeceira, e noite após noite eu lutava comigo mesma,
tentando me convencer do fato de que a leitura do conteúdo do
diário não invadia a privacidade de Sully. Mas invadia. Eu sabia
que invadia.

“Como se eu fosse acreditar nisso,” Sully rosnou.

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“Você pode acreditar no que quiser. Eu só sei o que todo
mundo nesta ilha ridiculamente sabe. Ronan voltou das tropas, e
de repente...” Eu não me sentia corajosa o suficiente para dizer o
resto em voz alta. Não na frente dele.

“Repentinamente ele estava se casando com a minha


namorada e tendo um bebê?” Sully ficou pálido. Seus olhos
estavam cheios com uma pitada de loucura que finalmente,
finalmente o distinguia de Ronan. O que ele vai fazer a seguir?
Gritar mais um pouco comigo? Eu podia aguentar. Eu podia se isso
significava que ele e eu estávamos conversando. Um mês já tinha
se passado e Sheryl não encontrou qualquer lugar adequado para
Connor e Amie. Mais cinco meses iriam passar voando facilmente
em um piscar de olhos e então as duas crianças seriam enviados
para o lar comunitário no final das contas, independentemente do
que eu queria para eles.

Eu cheguei à conclusão de que eu precisava completar a


tarefa a qual Ronan me contratou para fazer e conseguir que Sully
os acolhesse, mas agora que eu estava de pé na frente dele e ele
estava agindo de forma tão desequilibrado, eu não tinha mais tanta
certeza de que era o melhor curso de ação.

“Sim,” respondi. “Isso não foi justo. Ronan não devia ter feito
isso. Mas afinal de contas, ele também não conseguiu evitar por
quem ele ia se apaixonar.”

Sentado perfeitamente imóvel, Sully parecia tentar digerir


estas palavras por um segundo, o que podia explicar por que ele
parecia que estava prestes a vomitar. E então, ele disse, “Ele e eu
compartilhamos o mesmo coração. Claro que estávamos
destinados a nos apaixonar pela mesma garota.” Ele não tentou
passar por mim novamente. Em vez disso, Sully deu marcha ré e
acelerou o motor, saindo correndo para trás na rua, uma borrifada
de sujeira e pedras pequenas subiu pelos pneus, chovendo sobre
mim enquanto ele fugia.

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CAPÍTULO 12
FELIZ ANIVERSÁRIO, ROSE

“Você conseguiu - Deus, o que você tem por todo o seu


rosto?” Rose me encontrou na porta, Amie no encalço, uma fatia
de bolo em sua pequena mão, a cobertura de chocolate ao redor de
sua boca e por toda a sua bochecha. Rose viu o olhar afiado no
meu rosto e teve a decência de parecer pesarosa. "Desculpa. Ela
não tocou no almoço. Era isso ou nada. Por que você parece como
se tivesse acabado de andar de moto?”

“Sully,” eu disse.

“Ah.” Claramente a resposta de uma palavra era explicação


suficiente. Rose tirou um pacote de lenços de seu bolso. “Eu estava
prestes a limpar a monstra do chocolate, mas parece que você
precisa deles mais do que ela.”

"Obrigada.”

“Eu podia falar com ele, sabe? Com Sully? Ele pode não ser
tão educado com você, mas ele não ousaria ser rude comigo. Ele
está virá à minha festa de aniversário na próxima semana. Você
vai estar lá, também. Ele vai ter que aprender a manter a língua
polida até lá, ou eu vou cortar a maldita coisa para fora de sua
cabeça.”

Ah. Rose mencionou a festa de aniversário algumas vezes,


mas eu não tive de coragem de dizer para ela que eu não
conseguiria ir. O que eu devia fazer com Connor e Amie? E, de

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qualquer forma, agora que descobri que Sully ia estar lá, o meu
desejo de me misturar e ser sociável com os habitantes da ilha
estranhamente se desintegrou. No entanto, o pensamento de Sully
em uma festa era tão incomum que eu não pude deixar de sorrir,
apesar de tudo. Eu podia apenas imaginar o bastardo irritado
perambulando com um prato de queijo na mão, parecendo mais do
que um pouco desconfortável enquanto uma torrente de pessoas
tentava falar com ele sobre o tempo e seu negócio de carpintaria.
Eu senti o riso maníaco borbulhando na parte de trás da minha
garganta.

A verdade da questão era que, se ele aparecesse, ele


provavelmente ia ficar por cerca de vinte minutos para cumprir as
suas obrigações sociais, e, em seguida, iria sair o mais rápido
possível, enquanto ninguém estivesse olhando.

“Não, está tudo bem, Rose. Se ele não quer ser legal, então
isso é culpa dele. Eu não gostaria de submeter as crianças à sua
atitude de merda, de qualquer maneira. E eu acho... que
provavelmente seria tão confuso para eles também. Quero dizer,
ele se parece com Ronan. Eu quase tive um ataque cardíaco
quando coloquei os olhos sobre ele. Se Amie o visse...” Nem sequer
aguentava pensar nisso.

"Hmm. Talvez você tenha razão.” No entanto, ela não disse


que não iria falar com Sully. Sua boca tinha uma peculiaridade
estranha com isso. Eu podia dizer só de olhá-la que ela já estava
planejando o que ia dizer a ele e como ela ia dizer isso,
independentemente se eu pedisse ou implorasse. Não perdi minha
respiração pedindo-lhe para manter a boca fechada. Se havia uma
coisa que eu aprendi sobre Rose no breve tempo que a conheçia,
era que ela era extraordinariamente teimosa e quando ela decidia
algo, não havia como fazê-la desistir de seguir em frente.

******

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Uma semana depois: uma festa.

O nome de Rose foi pintado em folhas de papel, uma letra


em cada folha, e fixado num pedaço de linha de pesca que se
estendia de uma ponta de sua sala de estar abarrotada para a
outra. Uma coisa boa é que ela tinha um nome curto. Happy Bday
– Feliz Aniversário - estava pregado por baixo, a segunda palavra
abreviada por uma questão de conveniência. Rose corria ao redor
da casa, voando da cozinha, para a sala de jantar, para a sala de
estar, disparando para o andar de cima para a sala que arrumou
em seu quarto reserva, onde um número de crianças, incluindo
Connor e Amie, estava assistindo Star Wars. Provavelmente não
era a melhor escolha para uma menininha da idade de Amie, mas
Amie não era como a maioria das menininhas. Seu amor por
dinossauros também se estendia a um amor por naves espaciais e
alienígenas, então Star Wars estava aparentemente estava
agradando.

Os convites de Rose, que foram enviados para todos na ilha


entre as idades de vinte e sessenta e cinco anos, declarou
claramente que a festa começava às sete e meia, no entanto, as
pessoas começaram a chegar às cinco, o que parecia
completamente normal para todo mundo além de mim. Eu estava
correndo quase tão loucamente quanto Rose, tirando petiscos do
forno, gelando o máximo de vinho branco e cerveja na geladeira
que eu podia possivelmente fazer caber, enquanto tentava prender
meu cabelo para trás ao mesmo tempo e colocar meu vestido.

Falando no vestido: apertado e preto, com uma alça fina em


xis que se estendia pela minha omoplata. Sem chances de um sutiã
aqui. Estava tão frio mesmo dentro da casa que os olhos de Rose
quase saltaram para fora de sua cabeça quando ela me viu usando-
o.

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“Jesus, O. Você percebe que o Sr. Sweetwater vem hoje à
noite, não é? O pobre bastardo colocou um marca-passo alguns
meses atrás. Se ele vir os seus mamilos marcando seu vestido
desse jeito, ele vai desmaiar e morrer.”

“Não tenho mais nada para vestir.” Ronan não tinha


exatamente feito a minha viagem para a ilha soar como um período
de férias. Eu nem ia trazer o vestido que eu estava usando, mas
algo me disse que eu podia precisar dele. Reconhecidamente, eu
ficaria melhor se vestisse algo mais conservador, mas agora eu só
tive que trabalhar com o que eu tinha.

“Venha cá, então,” Rose disse, me agarrando pelo pulso e me


arrastando para o quarto dela. Da primeira gaveta da cômoda ao
lado de sua cama, ela tirou uma caixa de Tapa Seios como se fosse
magia. “Tape esses filhotinhos, antes que as pessoas falem.”

Holly, uma menina de quinze anos de idade, vestindo uma


camiseta do Slipknot, apareceu às sete horas para tomar conta das
crianças. Ela sorriu, exibindo dois dentes da frente muito grandes
quando Rose nos apresentou.

“É um prazer conhecê-la,” ela falou com efusão. “Você é da


Califórnia, não é? Eu assisti a cada episódio de The O.C. Mal posso
esperar para visitar lá um dia. É sempre ensolarado lá?”

“Na verdade, eu acho que meio que é,” eu disse a ela. Eu


menosprezei o clima ameno da Costa Oeste até que eu pisei na
Causeway. Agora, os breves períodos de sol que raramente
achavam uma fenda através da cobertura de nuvens eram algo que
fazia as pessoas saírem, esticando os pescoços para o céu,
apertando os olhos para a luz como se fosse um maldito milagre.

Holly deu um sorriso enorme. “Você acha que você podia me


dizer tudo sobre a Califórnia? Somente quando você estiver livre, é
claro. Não me importo em cuidar das crianças para você em troca.”

"Claro. Você pode ir em casa a qualquer hora.”

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Às nove, a casa de Rose estava lotada e as janelas estavam
derretendo com a condensação. Um bolo de três camadas enorme
foi cortado, e todos cantaram parabéns em uma cacofonia de vozes
bêbadas, fora de sintonia. Foi quando notei Sully, apoiado contra
a parede ao lado da televisão, segurando uma cerveja em uma mão
e um cachorro-quente intocado na outra. Ele não estava prestando
atenção no alimento ou na bebida, ou nas pessoas cantando ao seu
redor. Ele estava olhando diretamente para mim com um olhar
obscuro e taciturno em seus olhos que fez meu coração parar no
meu peito.

Deus.

De onde ele saiu, me olhando assim? Sua expressão era


confusa; ou ele estava pensando em correr as mãos sobre minha
pele, pressionar os dentes na curva do meu decote, afundar as
pontas dos dedos na curvatura da minha bunda, ou ele estava
pensando em me matar onde eu estava. Eu não conseguia decidir
muito bem qual era o mais provável. Ele piscou quando viu que eu
o vi, mas ele não desviou o olhar.

Lentamente, ele levantou a garrafa de cerveja aos lábios e


bebeu, os músculos de sua garganta trabalhando enquanto ele
engolia, seus olhos presos em mim, como se ele fosse incapaz de
olhar para qualquer outro lugar.

Que sensação estranha e desconfortável, ser observada tão


intensamente. Com o canto do meu olho, Rose estava corando
furiosamente, agradecendo a todos por terem vindo celebrar seu
aniversário. Ela soprou as velas em seu bolo e a sala
repentinamente foi toda coberta por longas sombras e escuridão
nos cantos. O rosto de Sully transformou-se, severo, meio engolido
pelo escuro, meio acentuado pela luz feita por um pequeno abajur
em cima da TV. Ele queria me matar, no fim das contas. O aço duro
e selvagem em seus olhos me dizia que sim. Eu abaixei minha
cabeça, olhando para longe. Ele ganhou. O bastardo ganhou. Ele

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podia ter sido capaz de me encarar até o sol aparecer, mas eu não
conseguia.

Virei-me de costas para ele, e dei o meu melhor para tirá-lo


da minha cabeça. Eu bebi mais. Eu dancei com o velho Sr.
Sweetwater, que era incapaz de tirar os olhos do meu decote,
apesar do Tapa Seio que estava cobrindo meus mamilos tão bem.
Eu comi, ri e fiz amigos.

Todos queriam falar comigo, para descobrir quem era a nova


mulher californiana estranha que estava morando na Casa Grande
com as crianças órfãs de Ronan Fletcher.

Ninguém trouxe Sully à tona. Ninguém sequer pareceu notar


que ele estava lá.

“Então, você é professora? Você sabe, a escola de ensino


médio no outro lado da ilha está à procura de alguém para dar
aulas pelo resto do ano. Uma vez que Connor e Amie estejam
matriculados na escola primária no mês que vem, talvez você
pudesse ir trabalhar lá?” Michael, o cara loiro corpulento que eu
estava conversando, falou pelos últimos trinta minutos, se inclinou
para mais perto e sorriu. Ele não era um cara de aparência ruim.
Ele era bem construído e sua camisa de botão estirada sobre o seu
peito, insinuava uma parede de músculos debaixo do algodão. “É
um trabalho bem remunerado, sabe? É difícil a diretoria da escola
encontrar bons professores que querem ficar em Causeway, então
eles continuam aumentando o salário cada vez mais. Os
professores aqui são mais bem pagos do que qualquer outra
categoria, ao que parece.”

“Oh, eu não poderia. De jeito nenhum. Eu não poderia


trabalhar aqui em tempo integral.” Engolindo o restante do meu
vinho, eu não notei o olhar magoado de Michael até que coloquei
minha taça sobre a mesa e me virei para ele. Perfeito. Eu o ofendi.
Merda. “Sinto muito, eu não quis ser rude. Eu só quis dizer que eu
não podia ficar aqui porque eu tenho responsabilidades na

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Califórnia. Meus pais precisam que eu volte para ajudá-los com o
restaurante, e-” E eu não conseguia pensar em outra única razão
pela qual eu tinha que voltar para Los Angeles. Will não era mais
um fator. Eu não tinha exatamente uma carreira que eu precisava
cultivar lá. Quanto aos amigos, as poucas pessoas com quem eu
ainda mantinha contato estavam espalhadas por todo os lugares:
Wisconsin, Oklahoma, Austin, Washington D.C. Assim que a
faculdade terminou, todos seguiram caminhos diferentes, foram
embora trabalhar, ou se casaram, ou sei lá e eu fui a única que
voltou para casa.

Meio patético quando eu pensava sobre isso.

“Eu não acreditaria em uma palavra disso se eu fosse você,


Mikey,” uma voz suprimida e fria disse sobre o meu ombro. A pele
nua das minhas omoplatas instantaneamente eclodiu em arrepios.
Eu sabia sem dúvidas quem era e o pânico cantou em minhas
veias. Sully apareceu à vista, batendo a mão no ombro de Michael,
que parecia estranho e nervoso de repente. Sully estava vestindo
uma camisa lisa preta, mais elegante do que seu xadrez de
costume, embora seu jeans preto estivesse maltrapilho e
desgastado. Claramente 30cm menor do que ele, Michael parecia
encolher ainda mais enquanto Sully massageava seus dedos de
forma ríspida no ombro de Michael. “Este não é o tipo de mulher
que fica numa ilha como a nossa, Mikey,” Sully disse. Seu tom era
leve, embora houvesse um toque desagradável que me deixou
desconfortável.

“Ophelia Lang da Califórnia está apenas buscando um


cheque de pagamento. Uma vez que seu trabalho aqui acabar e os
filhos do meu irmão fizerem as malas de volta para Nova York, você
não irá vê-la mais. Confie em mim. E então, quando ela finalmente
for embora, eu talvez possa conseguir vender aquele antigo
armazém assombrado que ela está atualmente usurpando, e então
serei capaz de ir embora também.”

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"O quê? Vender a casa? Você não pode.” Não importava o
fato de que ele estava sendo um merda e rancoroso. Isso era de se
esperar. Mas o que diabos ele estava falando sobre vender a casa?

Sully tomou um gole profundo de sua cerveja, e, em seguida,


arqueou uma sobrancelha. "É claro. Ronan a deixou para mim, não
foi? Eu posso fazer o que quiser com ela uma vez que vocês forem
embora.”

“Você cresceu naquela casa, não é? Era a casa de seus pais.


Ela está na família Fletcher por gerações.”

“Por que diabos você se preocupa com a casa da família


Fletcher?” Sully perguntou, inclinando a cabeça para um lado. “O
que aquela pilha maldita de tijolos e argamassa significa para
você?”

“Não para mim,” Retruquei. “Para Connor e Amie. É a


herança deles. É um direito inato deles. É a história deles.”

“Então meu irmão devia ter deixado isso para eles invés de
mim, não devia? Ele sabia que era mais provável que eu queimasse
a casa toda do que morar lá, cuidando de seus filhos.” Finalizando
sua cerveja, Sully pegou uma garrafa nova da caixa que Jerry, o
capitão do barco, estava passando por nós.

Michael se retraiu. Parecia que ele queria se afastar


lentamente, um passo de cada vez para não ser notado. Deus sabe
que ele não poderia ser responsabilizado; eu não queria ser parte
da conversa também.

“Você é sem coração, sabia?” Eu não devia estar fazendo


isso. Que bem faria discutir com ele? Ou xingar? Sully era o tipo
de cara que vivia por brigas e lançamento de lama. Ele ficava
excitado com isso. Sem dúvida ele era muito mais talentoso nisso,
e eu só ia perder a paciência se me envolvesse da forma que ele
claramente queria que eu o fizesse.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Sem coração? Sim, eu acho que é uma descrição
razoavelmente precisa. Vil. Repugnante. Egoísta. Cruel. A lista
continua.” Ele soltou Michael e enfiou a mão nos bolsos, em
seguida. Michael limpou a garganta e fez a sua fuga.

“Com licença, Ophelia. Foi um prazer conhecê-la. Eu tenho


certeza de que vou encontrá-la novamente antes de Rose beber
demais e chutar todo mundo para fora mais tarde.” Ele me deu um
pequeno sorriso e saiu apressado sem mesmo lançar um olhar na
direção de Sully.

“Por que você tem que ser tão rude?” Eu sibilei.

“Com Michael? Psshhhh.” Sully tomou gole profundo de sua


cerveja, drenando quase metade da garrafa. “Eu não fui rude com
ele.”

"Você foi. E você é rude comigo. Você é rude com todos. Toda
vez que você abre a boca, você não consegue se segurar. Você tem
que ser cáustico ou indelicado com quem esteja de pé em sua linha
direta de fogo.”

“Na realidade, isso não é verdade,” Sully disse, fazendo cara


feia. “Eu sou legal com algumas pessoas.”

"Quem?"

Sully se levantou na ponta dos pés, examinando a sala e, em


seguida, ele apontou. "Lá. A ruiva de camiseta branca? Eu planejo
ser muito legal com ela mais tarde.”

A ruiva em questão virou bem enquanto Sully apontava para


ela, como se soubesse que alguém estava falando sobre ela. Ela viu
Sully examinando e suas bochechas ficaram vermelho brilhante.
Eu tenho a sensação de que ela e Sully passaram muito tempo de
qualidade juntos no passado. “Você é um porco. Um porco nota A,”
Eu informei a ele.

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"Por quê? Porque eu planejo proporcionar bons momentos
para a minha namorada?”

“Ela não é sua namorada, Sully Fletcher.”

“Oh? E como você tem tanta certeza?”

“Porque nenhuma mulher podia tolerar a sua atitude tempo


suficiente para entrar em um relacionamento com você.”

"Besteira. Você sabe que ela não é minha namorada, porque


você perguntou por aí.”

Agora foi a vez das minhas bochechas ficarem vermelhas. Eu


tinha perguntado, sutilmente ou assim eu pensava. Cara, filha de
Jerry; Oliver, o cara que entregava os jornais de manhã; Jillian,
amigo de Rose, que às vezes a deixava em casa: eu lhes fiz
perguntas delicadas e indiretas sobre a vida pessoal de Sully que
eu não pensei que fossem tão óbvias. Eu perguntei porque eu
estava interessada. Deus, não. Eu perguntei na época quando eu
pensei que o homem de pé na minha frente podia ser capaz de
cuidar de Amie e Connor. Eu queria ter certeza de que eles estavam
entrando em um ambiente seguro e estável, da mesma forma que
Sheryl tinha feito comigo.

Sully ainda estava olhando para mim, um sorriso torto


malandro se espalhando rapidamente em seu rosto e eu tive o
desejo irresistível de gritar.

“Você está iludido se acha que eu estou interessada em você,


Sully James Fletcher. Eu prefiro ser uma freira carmelita e nunca
falar com outra alma novamente enquanto eu viver do que me
embolar em qualquer uma de suas porcarias.”

O sorriso de Sully evaporou tão rapidamente que isso quase


interrompeu meus batimentos cardíacos. “Não faça isso. Não me
chame assim."

“Chamar do que?”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


“Pelo meu nome completo. Você pode ter lido o diário de
Magda, você pode saber todas as minhas coisas pessoais, mas você
não fale comigo como se me conhecesse. Como você estivesse
fodidamente me xingando.” Ele fez um som baixo, gutural e irritado
em sua garganta. Ele ia colocar sua garrafa de cerveja na mesa, em
seguida, mudou de ideia , agarrando-a com mais força. Ele ergueu
a mão livre e apontou o dedo indicador na minha cara. “Quanto
mais cedo você for embora de Causeway, Lang, melhor. Para você.
Para mim. Para aquelas crianças. E quando você for, certifique-se
de levar aquele maldito diário com você, também. Jogue-o ao mar
e deixar o mar tragá-lo. Eu nunca mais quero ver aquilo
novamente.”

A multidão de pessoas atrás de Sully se separou como se eles


estivessem acostumados com suas saídas tempestuosas de
conversas e eles tinham aprendido há muito tempo a sair do
caminho o mais rápido possível. Ele disparou em direção à porta,
com os ombros tensos e eu avistei Rose no outro lado da sala, com
uma expressão desanimada gravada em seu rosto. Sully não disse
adeus para ela, ou para qualquer outra pessoa, aliás. Ele
desapareceu pela porta da frente, deixando-a escancarada e sumiu
na noite.

Eu sentia que devia correr até a porta e gritar atrás dele,


dizendo-lhe que não tinha lido o diário de Magda, não tinha
interesse em lê-lo, mas até mesmo o pensamento de gastar tanta
energia com ele me deixou exausta.

"Uau. Ele é tão... atormentado,” uma voz ao meu lado


suspirou. Holly, em sua camiseta do Slipknot, parecia que tinha
acabado de se apaixonar, e se apaixonar com força. “Ele é como o
Heathcliffe. Tão romântico."

Eu dei uma olhada de soslaio, balançando a cabeça. “Você


já leu O Morro dos Ventos Uivantes, Holly? Heathcliffe era frio,

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controlador, um bastardo miserável. Não havia nada nem um
pouco romântico nele.”

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CAPÍTULO 13
Afeganistão

2009

Sully

"Oito dias. Perdemos oito dos nossos homens em oito dias.


Isso é um cara por dia. Um cara com uma família e entes queridos
em casa. Que porra é essa que estamos fazendo aqui, cara? Por
que diabos estamos lutando esta guerra? Isso não é da nossa
maldita conta, de qualquer maneira. Devemos voltar para casa,
cuidar dos nossos. Não estamos conquistando nada. Sujeira em
nossos olhos. Sujeira em nossas botas, sob as nossas unhas
malditas. Nada além de sujeira e desordem durante todo o maldito
dia. Diga-me... quando é que isso vai acabar? Quando isso será
suficiente? Quando fodidamente poderemos ir para a casa, é isso
que eu quero saber.” Rogers apunhalava a ponta de sua faca de
arremesso na sola da bota, apertando os olhos no ponto onde o aço
encontrava borracha. Ninguém disse nada.

Estava escuro. A noite aqui no deserto era muito parecida


com a da ilha – muito pouca poluição luminosa significava muitas
estrelas. Estrelas, reunidas, brancas e brilhando tão longe quanto
os olhos podiam ver. O manto negro do céu era diferente, também.
Mais rico. Mais profundo de alguma forma, como se você pudesse

CALLIE HART Between Here and the Horizon


colocar a mão nele, sentir a textura dele contra a ponta de seus
dedos, cercando você.

Três cliques à oeste, ou naquela direção, um flash laranja


estourou contra a sombra do horizonte, tornando brevemente a
linha do horizonte irregular e partida.

Candaar.

Lá, no coração arrancado da cidade, três das unidades da


nossa base ficaram trancados em um conflito com combatentes
locais do Talibã. Os insurgentes os prenderam dentro de um
edifício e estavam, persistentemente, tentando entrar, para matar
quem quer que eles pudessem encontrar com os visores das M4s
que roubaram de um dos nossos enviados a pouco mais de um mês
atrás.

O som se conduzia tão bem aqui. Um barulho de tiros ecoou


sobre a planície de vegetação rasteira entre a depressão na base da
colina onde estávamos acomodados, aguardando ordens e os
arredores da cidade, lembrando-me das bombinhas chinesas com
que Ronan e eu costumávamos brincar quando éramos crianças.
Ele estava em algum lugar, no outro lado da cidade, esperando com
seus homens assim como eu estava, olhando para as mesmas
estrelas, provavelmente muito entediado. Sem dúvida, um dos seus
rapazes estaria mijando e se queixando, também. Havia um em
cada unidade nestes dias, ao que parece. Alguém que, finalmente,
não tinha medo de dizer o que todo mundo estava pensando: por
que diabos nós estávamos aqui fora, brincando de gato e rato,
teoricamente protegendo um país de pessoas que nem sequer
fodidamente nos queriam aqui?

"Petróleo. É tudo por causa do petróleo,” Rogers sibilou


baixinho.

“Idiota, não é por causa do petróleo,” Daniels retrucou. “Eles


não têm nenhum petróleo no Afeganistão.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Então por quê? Por que diabos o governo dos Estados
Unidos da América desperdiçaria bilhões de dólares vindo até aqui?
Hã? Diga-me isso, porque me parece que isto não faz um pingo de
sentido.”

“Eles nos enviaram para cá porque estes filhos da puta nos


atacaram, seu rejeitado fodido. O que eles deviam fazer? Não é por
isso que você se alistou, em primeiro lugar?”

Rogers optou não responder essa. Todos nós devíamos estar


esperando em silêncio que nossas ordens viessem pelo rádio, mas
não havia nenhum sentido tentar matar esse tipo de conversa, uma
vez que ela começou. “É por isso que me alistei,” Daniels
continuou. “Collins e o capitão também. Não é verdade, Capitão?”

A última coisa que eu queria era ser atraído para mesma


discussão existencial de “por que estamos mesmo aqui?” que já foi
a real causa de tantas guerras e genocídios por todo o período da
história humana. Mudei o meu peso de uma perna para a outra,
inclinando-me o máximo que eu podia contra o meu rifle, o cabo
posicionado no chão, tentando não me retrair enquanto o sangue
fluía mais livremente através das minhas articulações rígidas.
Quando pareceu que os homens não iam continuar com seu bate-
papo sem mim, eu limpei a garganta e lhes dei o que eles
precisavam ouvir.

“Eles não têm que perguntar. Eles só têm que fazer e


morrer.” Ninguém disse uma palavra. “Vocês nunca ouviram falar
de Tennyson?” Perguntei.

"Não, senhor.”

"Não."

“Ele não era algum tipo de viado Vitoriano?”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


“Não, ele não era algum tipo de viado Vitoriano.” Esses caras
me protegiam toda vez. Eram meus irmãos, ferozes e leais até o
fim, mas às vezes eu só queria estrangulá-los. “Ele era um poeta.”

"Foi isso que eu quis dizer."

Eu ignorei o comentário. “Tennyson escreveu um poema


chamado 'The Charge of the Light Brigade'6. Tratava-se de homens
indo para a guerra e morrendo. E esses versos: ‘Eles não têm que
perguntar. Eles só têm que fazer e morrer’, basicamente resume
esta coisa toda. Não é nosso trabalho fazer perguntas. Não é nosso
trabalho se revoltar, ou duvidar da cadeia superior de comando. É
nosso trabalho fazer como nos foi dito e fazer isso bem feito. E se
isso significa que sairemos e morreremos, um cara todo dia, cinco
caras todos os dias, dez... então isso é o que faremos. E manteremos
nossas bocas fechadas.”

Eu acreditava nisso? Absoluta e fodidamente não. Mas


admitir isso para os caras seria fatal. Eles perderiam o pouco de fé
que ainda tinham na ideia de hierarquia e o caos poderia ocorrer.

Mais três meses. Mais três meses disto e eu estaria em um


avião de volta para os Estados Unidos. De volta para Magda. Eu
dei o suficiente. Perdi o suficiente. Assisti homens morrerem o
suficiente. Sem mais períodos de serviço para mim. Três foi o
bastante; era hora de ir para casa.

Mais tiros. Mais explosões na distância. O longo som agudo


de um míssil RPG – que lança a granada por foguete - buscando o
seu alvo. Todos os homens se encolheram instintivamente quando
o míssil pousou. O chão tremeu embaixo de nós. Uma bola de fogo
saltou para o céu, laranja e branco, raivoso e alguém respirou
através de seus dentes.

Nossas ordens finalmente chegaram: Atenham-se aos


arredores da cidade. Limpem os edifícios no lado sul perto dos

6 Carga da Brigada Ligeira

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mercados. Entrevistem todos. Prendam qualquer um que pareça
suspeito. Procurem armas.

A decepção foi forte.

“Por que não estamos nos aproximando desses bastardos?


Fodendo-os com força na bunda?”

“Nós somos a unidade mais próxima, Capitão. Não faz


qualquer sentido.”

Eu peguei minha arma e me levantei. “Como eu disse,


senhores. O nosso não é perguntar...”

Pelo menos quatro ou cinco deles finalizaram a citação para


mim, gemendo as palavras, “O nosso é só fazer e morrer.”

As horas passaram rápido o suficiente para o sol subir ao


longo da borda do horizonte. Os edifícios da cidade em ruínas eram
malditos refúgios de combatentes do Talibã e de famílias que
apoiavam os combatentes, se escondendo de nós, escondendo suas
armas e seus alimentos e quaisquer outros suprimentos que eles
pudessem armazenar. Nós martelamos nas portas e derrubamos
as pedras com um chute. Qualquer um que resistiu ou parecia
suspeito teve seus pulsos amarrados com as algemas plásticas e
foi escoltado de volta para a base de Humvee.

O tiroteio nunca cessou. O chão continuou a tremer.

Devia ter passado algumas horas depois das sete quando a


notícia foi dada pelo rádio: as três unidades presas dentro do
hospital velho bombardeado estavam seguras. Nenhum homem foi
perdido. Rogers parecia quase desapontado.

"Capitão! Capitão Fletcher!” Fora da fumaça e da poeira que


sufocava o ar de manhã cedo, um jovem soldado emergiu como um
fantasma, seu rifle, pendurado no ombro, saltando para cima e
para baixo enquanto ele corria através das pilhas de escombros e
pontas retorcidas de aço. “Capitão Fletcher, senhor, você é

CALLIE HART Between Here and the Horizon


requisitado.” Ele estava ofegante, precisando recuperar o fôlego.
“É... é o seu irmão, senhor. O outro Capitão Fletcher.”

Um peso de chumbo caiu através de mim, puxando minhas


entranhas, fazendo minha cabeça girar. Porra. Ronan. Ronan ficou
ferido. Ronan estava morto. Ronan foi capturado e estava prestes
a ser executado em rede nacional. Mil possibilidades de revirar o
intestino dispararam por mim ao mesmo tempo. "O que é? O que
aconteceu, Soldado? Fale, pelo amor de Deus.” Eu estava perto de
dar um tapa nele.

“Ele está doente, senhor. Ou, pelo menos, achamos que ele
está.”

"Como? Como ele está doente?”

“Ele está apenas sentado no chão. Ele não vai se levantar. É


como... como se ele não conseguisse nos ouvir ou algo assim.
Pegamos o prédio de volta. Nós matamos quase cada um daqueles
bastardos. Nós estávamos comemorando, animados e foi então que
Simmons viu o Capitão Fletcher cair. Ele pensou que ele tinha sido
baleado, mas... não há nada de errado com ele, tanto quanto nós
pudemos ver. Ele está apenas... sentado lá.”

“Já passou um rádio disso?”

O soldado sacudiu a cabeça. "Não, senhor. Nós sabíamos que


você estava em missão. Nós pensamos que seria melhor, você
sabe... vir encontrá-lo primeiro.”

"Certo. Obrigado.” Definitivamente não é o protocolo que a


unidade de Ronan devia ter seguido, mas eu estava feliz que eles
não tinham chamado os médicos. A razão pela qual eles se
seguraram era óbvia; Ronan estava em estado de choque. Choque
era uma daquelas coisas. Você podia sair dele num batimento
cardíaco, como se nada tivesse acontecido, ou ele podia prejudicá-
lo pelo resto de sua vida. De qualquer forma, não havia nada que
um médico conseguiria fazer que eu não conseguisse, no momento.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


“Leve-me até ele.” E então, aos meus próprios homens, eu disse,
“Voltem para a base. Vão comer. Eu estarei de volta em um
momento. Se alguém perguntar, eu voltei com vocês, ok?” Todos os
rapazes assentiram. Até mesmo Rogers.

Quinze minutos depois, com minha camisa puxada para


cima da minha boca para filtrar a poeira enquanto eu corria, o
soldado me levou até Ronan. Ele estava sentado, com as costas
encostadas na carcaça de um Jeep queimado e seu rosto estava
manchado de sangue. As mãos também. O uniforme encharcado.
Por toda parte. Parecia como um serial killer enlouquecido,
excitado pela matança.

Eu caí agachado na frente dele, colocando minhas mãos em


seus ombros. “Jesus, homem. Você está uma bagunça.” Eu tentei
sorrir, mas parecia errado, como se eu estivesse, provavelmente,
fazendo uma careta em vez daquilo.

Em algum lugar, alguém disse, “Puta merda. Ouvi dizer que


ele tinha um irmão gêmeo, mas essa merda é genuinamente louca.”

Ronan piscou; os cílios estavam grudados, o sangue seco


compactando-os. “Hey,” ele disse. Ele estava atordoado, suas
pupilas sem foco. “Ouvi dizer que você estava fora esta noite,
também.”

"Sim cara. Fazendo desobstrução. Nenhum drama no nosso


lado. No entanto, qual é o seu problema? Você está tomando um
momento para juntar suas merdas?” Eu ri, tentando tornar leve o
fato de que parecia que Ronan estava seriamente fodido.

"Sim. Sim, eu só preciso de um minuto, é tudo. Você acha...


você acha que poderia...?” Olhando ao redor, ele fez um gesto na
direção de seus homens.

"Claro. Claro. Você fica aqui, ok. Eu volto já."

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Eu reuni seus homens rapidamente, ordenando que eles
voltassem à base com os poucos prisioneiros que permaneceram
vivos. Nenhum deles parecia que queria deixar Ronan, mas eles
fizeram o que lhes foi dito, de qualquer maneira. Nós não
estávamos sozinhos. Havia ainda muitos militares andando por aí,
vasculhando os escombros, à procura de sobreviventes ou
combatentes que haviam escapado. Era seguro no momento, ou
tão seguro quanto o Afeganistão podia ser.

“Ronan? Ronan, o que aconteceu, cara?” Sentei-me ao lado


do meu irmão, falando em voz baixa. Suas pálpebras tremeram,
mas ele continuou olhando para frente, recusando-se a olhar para
mim.

“Havia um homem,” ele disse lentamente. "Um homem. Ele


estava tentando pegar uma arma de um dos corpos mortos por lá,”
ele disse, apontando. Era difícil ver os corpos sobre os quais ele
estava falando entre todos os destroços no chão, mas eu assenti.
“E eu estava aqui,” ele continuou. “Havia tanta fumaça no ar. Eu
não conseguia ver muito bem, mas peguei a minha arma, mirei e
disparei. Eu errei duas vezes. Ele teve tempo suficiente para liberar
a arma que estava tentando pegar e começou a atirar contra mim.
Gritando. Ele estava gritando tão alto. Eu podia ouvi-lo, acima dos
outros tiros e de todo mundo gritando e berrando. Este... este som
agudo de choro. Foi terrível. Eu atirei novamente. E de novo. E de
novo. Até que ele caiu. No entanto, o choro não parou. Ele estava
imóvel, não estava se mexendo. Eu tinha certeza que ele estava
morto, mas o choro simplesmente não iria parar. E então a poeira
baixou um pouco, e eu vi... eu vi. Ele não era um homem. Ele era
uma mulher. E o choro...”

Ele parou de falar, suas palavras soando grossas e


distorcidas em sua garganta. Uma lágrima brotou e caiu,
escorrendo pelo seu rosto, cortando um caminho através do
sangue, da sujeira e do suor que manchava sua pele. “O choro

CALLIE HART Between Here and the Horizon


finalmente parou. No entanto, um longo, longo tempo. Continuou
por um longo tempo, Sully.”

“Está tudo bem, cara. Está tudo bem.” Eu joguei um braço


em torno dele e o puxei para mim, me sentindo enjoado. Ronan
lutava para respirar, ofegando em sopros curtos, bruscos e
superficiais que faziam sua caixa torácica subir e descer de forma
irregular.

"Você tem que ir. Você tem que ver,” ele disse. “Você tem que
descobrir por mim.”

“Não, Ronan. Vamos apenas te levar de volta à base, ok? Para


você tomar um banho e colocar um pouco de cafeína para dentro
de você. Eu acho que Daniels tem algum um pouco de whisky
guardado-”

“Porra, cara, basta ir e ver!” Ronan pulou contra mim,


tentando ficar de pé. Havia um olhar selvagem e terrível em seus
olhos que dizia que ele iria até lá e olharia por si mesmo se ele
pudesse descobrir como ficar de pé.

"Tudo bem. Tudo bem.” Eu o empurrei para trás, forçando-o


a sentar. "Tudo bem. Eu vou, eu prometo.”

A caminhada até a mulher em que Ronan atirou foi a


caminhada mais longa da minha vida. Dizem que o tempo estica
em situações como esta e ele realmente esticou. Eu não queria ver.
Eu não queria confirmar o que Ronan suspeitava. Quando cheguei
ao pé da escada em frente ao outro lado da rua, um corpo estava
de bruços no chão e eu vi imediatamente a comprida trança
bagunçada de cabelo saindo do material enrolado ao redor da
cabeça. As mãos, ainda segurando o rifle, eram pequenas e
delicadas, embora incrivelmente sujas, esterco apoiado de forma
crescente sob as unhas.

Inclinando-me, eu rasguei o Band-Aid rapidamente e revirei


o corpo para cima.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Lá, assim como Ronan esperava, estava o bebê.

Talvez de um ano de idade. Ele tinha perdido uma de suas


meias, embora de alguma forma tivesse mantido a outra. Branco,
sujo, com Converse impresso ao longo da sola. Eu nem sabia que
a Converse fazia meias tão pequenas. Sua pele estava pálida, suas
mãos minúsculas apertadas em punhos. Seus olhos – azul pálido.
Marcante. Incomum - estavam abertos. Através de seu ombro
esquerdo, um buraco nítido do tamanho de uma moeda de dez
centavos rasgou pela sua pequena camiseta e um fluxo de sangue,
agora preto, vertia livremente, manchando o concreto debaixo dele.

“Ele está morto?” Ronan gritou. “O... o bebê está morto?”

Deus. Como contar para ele? Eu não podia. Eu


simplesmente não podia.

Fechei os olhos do bebê.

Rangendo os dentes, me levantei, me virei e fui embora. “Não


havia nenhum bebê, Ro. É só um cara. Apenas um cara com
cabelos compridos, isso é tudo.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


CAPÍTULO 14
ENIGMA

Uma ressaca para curar todas as ressacas.

Isso é o que eles teriam que anotar na seção de causa da


morte da minha certidão de óbito. Porque esta ressaca não era
apenas uma ressaca. Era brutal. Viciosa. Pessoalmente eu queria
sofrer. E menino, eu estava sofrendo.

"Aqui. Tome estes.” Rose estendeu duas pequenas pílulas


brancas e eu as engoli sem sequer perguntar o que eram. Ela não
era o tipo que mantinha comprimidos aleatórios e sem identificação
em sua bolsa, então eu sabia que eles não podiam ser tão ruins.
Dando goles enormes no copo de água que ela me entregou para
engoli-los, senti a vontade de vomitar esticando suas pernas
novamente. Eu já tinha vomitado uma vez. Eu não estava
realmente ansiosa para fazer isso novamente. Deitei-me de volta
na cama, a parte de trás da minha mão parada contra a minha
testa como uma donzela medieval em perigo, e Amie riu baixinho
entredentes. Eu abri uma pálpebra.

“Do que você está rindo, sua monstrinha?”

Ela sorriu, enterrando o rosto no colchão ao meu lado. Ela


estava esparramada de barriga para baixo ao meu lado, vestindo
uma camiseta de grandes dimensões de Ronan que raspava no
chão toda vez que ela se levantava. “Você,” ela me informou. “Você
está fazendo barulhos estranhos.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Ela estava se referindo aos meus gemidos; a cada poucos
segundos parecia muito necessário gemer tão alto e pelo máximo
de tempo que eu conseguisse. "Eu não estou me sentindo bem. Eu
estou autorizada a fazer barulhos estranhos.”

“Ela bebeu muito,” Connor acrescentou. Lentamente, em


pequenos acréscimos, Connor estava voltando à vida depois da
morte de Ronan. Ele ainda interpretava muito bem o papel
garotinho bravo, mas ele de fato respondia quando você falava com
ele agora e, esta manhã, ele voluntariamente seguiu Amie até o
meu quarto e se acomodou na cadeira perto da janela, com um
livro na mão. Rose passou para devolver algumas tigelas de saladas
que eu tinha emprestado da casa para a festa e encontrou-me
miseravelmente tentando fazer café da manhã para eles. Enviando-
me para a cama, ela alimentou as crianças e me trouxe uma
torrada seca, embora eu não a tivesse tocado. Apenas o cheiro me
fazia sentir náuseas.

“Papai bebia demais, às vezes,” Amie disse.

“Ele iria correr no parque,” Connor acrescentou. “Ele dizia


que o ajudava a se sentir melhor.”

A possibilidade de andar em qualquer lugar, muito menos


correr, me fazia querer vomitar. “Eu acho que só vou esperar aqui
até que o quarto pare de girar se está tudo bem com vocês.”

Amie acariciou meu cabelo com uma mão pegajosa. “Você


quer panquecas? Panquecas sempre fazem eu me sentir melhor.”

“Eu não acho que as panquecas vão funcionar desta vez,


monstra.” Amie parecia horrorizada, como se ela não pudesse
imaginar uma realidade onde isso pudesse ser verdade. Rose, por
outro lado, parecia que compreendia muito bem. Estendi a mão e
peguei a mão dela na minha. "Obrigada. Você bebeu duas vezes
mais do que eu, então não tenho ideia de como você está
funcionando agora, mas eu sou muito grata.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"De nada. Com o tempo ruim e os dias curtos, nós somos
todos bebedores profissionais aqui. Fique por muito tempo e sua
tolerância vai atravessar o telhado, confie em mim.” Rose deu um
aperto na minha mão e sorriu. “Tudo bem, vocês dois. Vamos dar
a Ophelia uma hora ou mais para dormir e vamos ver se podemos
encontrar jogos legais nos armários. Que tal isso?”

Amie gritou com entusiasmo. Connor manteve o silêncio,


mas se levantou da cadeira, abraçando seu livro ao peito e
obedientemente seguiu atrás de Rose enquanto ela saía do quarto.
Ele parou na porta, olhando para mim por cima do ombro.

“Papai costumava beber café com um ovo cru, também. Ele


sempre disse que ajudava.”

O conselho foi quase o suficiente para me mandar correndo


para o banheiro, a mão tapando minha boca, mas invés disso eu
sorri e o agradeci. Um tempo muito curto atrás, ele teria dito algo
mordaz e teria gostado do fato de que eu estava me sentindo mal.
Desviar a sua raiva de Ronan contra mim, e em qualquer outra
pessoa ao redor dele, era um mecanismo de enfrentamento para
ele há tanto tempo. Dr. Fielding disse para dar algum tempo, e
houve dias do mês passado que eu pensei que ele nunca iria
amolecer em relação a mim, mas gradual e lentamente, parecia que
Connor podia deixar as pessoas se aproximarem novamente.

O sono não viria. Eu tentei ficar confortável na cama, mas


foi inútil. Eu sentia-me como se meus ossos estivessem trancados
em suas articulações, minha pele espinhosa e desconfortável.
Depois de girar ao redor, ficar enroscada em meus lençóis pelo que
parecia ser ridiculamente muito tempo, eu desisti completamente
e estendi a mão para o meu criado-mudo – para o diário de Magda.

De novo, a necessidade de ler era tentadora. Se eu apenas


cedesse e lesse os registros no diário, eu teria uma linha direta
para o passado. Eu saberia exatamente o que aconteceu entre
Ronan, Sully e Magda, e eu finalmente saberia o porquê.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Mas ainda…

Apenas parecia errado.

Eu finalmente cochilei, segurando o diário em minhas mãos.


Uma hora depois, Amie gritou com alegria no andar de baixo, me
acordando de sonhos confusos e desagradáveis e a culpa começou
a ser absorvida. Eu era a guardiã mais merda de todas. Se Sheryl
soubesse que fiquei bêbada enquanto Connor e Amie estavam
sendo cuidados por uma babá, ela teria os levado naquele barco de
volta para o continente num piscar de olhos.

Nunca mais. Eles eram minha responsabilidade agora. Eu


posso não ser capaz de cuidar deles por mais de seis meses, e eu
posso não ser capaz de convencer seu tio a cuidar deles, mas devia
a eles cuidar deles corretamente enquanto ainda estavam sob
minha tutela. Sem beber mais. Sem ficar deitada na cama,
lambendo minhas feridas.

Eu joguei as cobertas de lado e comecei a me vestir, o tempo


todo tentando me livrar do enigma que era Sully Fletcher. Ele era
um enigma com que eu não podia ter o luxo de perder mais tempo
agora. Ou, pelo menos, por hoje. No entanto, como enquanto eu
descia as escadas correndo, sentindo-me levemente melhor do que
quando eu acordei, seu rosto ainda estava na frente e no centro da
minha mente.

Escapar dele parecia impossível.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


CAPÍTULO 15
REI DO MAR

Eles dizem que tragédias vêm em três. Eu nunca fui uma


crente no destino ou em atos de Deus, por si, mas quando eu
acordei mais tarde naquela noite com os gritos de terror da voz
rouca de Connor ecoando pela casa como um tiro, eu não estava
chocada. Era quase como se eu estivesse esperando que algo
terrível acontecesse, e agora que eu ia ser atingida com a força de
mais um desastre, eu já estava escorada e pronta para o impacto.
Saí correndo pelo corredor até o quarto dele, mentalmente
mapeando o que eu faria se ele estivesse doente ou ferido de
alguma forma. Eu já tinha uma “mala de emergência” preparada e
pronta lá embaixo. O tanque de gasolina da Land Rover estava
cheio. Eu conhecia a rota para o pequeno centro médico de
Causeway como a palma da minha mão.

Eu atravessei a porta de Connor, correndo para a sua cama,


mas ele não estava nela.

“Olhe!” Ele estava de pé na janela com apenas a calça do


pijama, o peito estreito nu, a caixa torácica à mostra. Seu gorro
listras do arco íris estava fora de sua cabeça – provavelmente a
primeira vez que eu o vi sem isto desde que Ronan morreu.

"O que há de errado? Você está machucado? Connor, diga-


me o que há de errado!” Corri minhas mãos sobre seu corpo, à
procura de algo fora do lugar. À procura de sangue.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Eu estou bem. Eu estou bem. Olhe, lá fora! Você consegue
ver?” Ele me entregou seu binóculo arranhado, encorajando-me a
me aproximar da janela, pressionando a palma de sua mão contra
o painel do vidro. "Lá fora. No escuro. Há uma luz. Há pessoas na
água.”

Do lado de fora, a noite estava negra como um assassinato.


Preta como tinta. Como ele conseguia ver algo lá fora era um
mistério. No entanto, peguei o binóculo e olhei através deles,
apertando os olhos no escuro. Nada. Eu não conseguia ver nada.

"Não, não lá. Aqui.” Connor agarrou minha mão me


inclinando para a esquerda, bufando de forma impaciente. "Nós
temos que fazer alguma coisa. Eles precisam de ajuda!"

Novamente, nada. E então... luz. Um brilho tênue de luz,


amarelo e fraco, em algum lugar no meio do mar. Há 6km? 4,5km?
Era impossível estimar a distância sem nenhum ponto de
referência e nenhuma luz do dia.

“É apenas um petroleiro, Connor. Talvez um navio cruzeiro?


Fala sério, vamos te levar de volta para a cama.”

"Não. Olhe novamente. Olhe com mais atenção. É um barco.


Um barco afundando.”

Suspirando, eu fiz o que ele pediu. De forma alguma ele


voltaria para a cama sem eu resolver isso de uma vez por todas.
Ele tinha tido um sonho ruim, talvez. Ele passava muito tempo
olhando para fora com este binóculo todos os dias que não era
surpreendente que ele estivesse tendo pesadelos, imaginando
todos os tipos de coisas acontecendo lá fora, na água. “Ok, Connor.
Eu não consigo ver nada. Eu realmente-"

Eu parei. A proa de um navio estava saltando para fora da


água, bem ali onde ele disse que estava. Meus olhos foram se
adaptando à escuridão e eu podia ver mais e mais a cada segundo.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


A luz era um incêndio.

O reflexo dele brilhava sobre a água, fazendo silhueta do


aumento enorme e do intumescer das ondas - ondas que tinham
que ser tão altas quanto a casa. Cada vez que a água subia, eu
podia ver...

Minha mente ficou vazia.

Não havia apenas nenhuma maneira real de compreender o


que eu via. Pessoas. Pessoas na água. O navio estava muito mais
perto do que eu pensava. Não há 6km. Nem mesmo há 4,5km. Não
poderia estar há muito mais do que 180m ou 200m da costa.

"Oh Deus. Temos que chamar alguém.” Sem pensar, eu


envolvi meu braço ao redor de Connor e o içei no meu quadril. Ele
era muito grande para ser carregado até longe, mas eu consegui
chegar até o quarto de Amie. Ela ainda estava dormindo, e mal
despertou quando a tirei de seu colchão. “Está tudo bem, querida.
Está tudo bem. Nós estamos indo para um pequeno passeio.
Shhh... volte a dormir.”

Eu levei os dois comigo para o meu quarto, onde deixei meu


celular em cima do diário de Magda. “Para quem você vai ligar?”
Connor perguntou, a ansiedade fazendo sua voz sair como um
gritinho.

“Para a emergência, amigo. Eu só vou ligar para a


emergência. Eles saberão exatamente o que fazer.”

Connor pegou o binóculo de mim e correu para o outro lado


do quarto, abrindo rapidamente as portas francesas para a
varanda. Assim que abriu, eu podia ouvir o vento uivando lá fora
como um animal ferido.

“911, qual é sua emergência?” A voz monótona chiando pelo


meu celular me assustou. Esta foi a segunda vez que eu tive que
fazer uma ligação como esta. Nunca na minha vida eu tinha

CALLIE HART Between Here and the Horizon


precisado ligar para o 911, e desde que eu pisei nesta ilha, tive que
fazer isso duas vezes.

“Um navio está afundando. Ao largo da costa de Causeway.


As pessoas estão na água. Parece que há algum tipo de incêndio.”

“Causeway, senhora? A Ilha Causeway?”

"Sim."

“Os serviços de resgate de emergência já foram


encaminhados para o navio avariado, senhora. Esteja ciente, a
guarda costeira já está a caminho.”

“Mas quanto tempo até eles chegarem aqui? Parece ruim a


situação. Eu não sei quanto tempo eles têm antes do barco
afundar.” Minhas palavras estavam se emendando uma na outra;
era um milagre que ela conseguisse entender o que eu estava
dizendo.

“A qualquer momento, senhora. Fique calma. Se você


precisar de mais assistência, por favor, ligue de volta
imediatamente.”

“Obrigada.” Eu desliguei, não tendo certeza do que fazer a


seguir. Coloquei Amie, ainda dormindo, na minha cama e fui
encontrar Connor na varanda.

“Eles vão se afogar,” ele disse, entregando-me o binóculo. “As


ondas são muito grandes.” Ele estava incomodado, tremendo tanto
que seu corpo inteiro estava vibrando. “Nós temos que fazer alguma
coisa.” O vento estava rasgando para o interior do outro lado das
águas, golpeando os rochedos abaixo da casa e correndo para cima,
chicoteando para longe as palavras de Connor com ele. Eu mal
podia ouvir o que ele dizia. Ele estava com medo, no entanto. Eu
podia ver o medo claramente em seus olhos.

"Está bem. Iremos fazer alguma coisa. Entre."

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Connor me seguiu, me ajudando, apoiando o peso do corpo
contra a porta francesa quando eu tentei fechá-la. “Vá até o
armário no corredor. Pegue todos os cobertores que você possa
encontrar e leve-os lá para baixo, na porta da frente. Você pode
fazer isso, Connor?”

Ele assentiu, esperou por um segundo, piscou e então saiu


correndo do quarto. Eu peguei Amie, juntamente com o edredom,
para fora da minha cama, e corri pelo corredor atrás dele. Um
segundo depois, peguei um suéter quente para Connor da cômoda
em seu quarto, e desci as escadas voando atrás dele. “Aqui, coloque
isso. Encontre os seus sapatos. Traga os de Amie também.”

"OK."

Ele saiu em disparada novamente para localizar seus


sapatos e eu corri para a cozinha, ainda segurando Amie
desesperadamente.

Lanterna.

Kit de primeiros socorros do armário acima do fogão.

Barras de cereais.

Uma garrafa de whisky.

Eu guardei todos esses itens numa sacola e a joguei por cima


do ombro, então fui encontrar Connor. Momentos depois,
estávamos acelerando para fora da garagem na Land Rover, Amie,
catatônica no banco de trás, Connor com seu binóculo pressionado
contra a janela na frente. O suéter que eu encontrei para ele era
muito grande, como se a pessoa que o comprou para ele tinha
acidentalmente o adquirido três tamanhos maiores. Os punhos das
mangas estavam caídos sobre suas mãos e a bainha estava por
volta dos seus joelhos.

“Você consegue ver a guarda costeira?” Perguntei para ele.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Não. A luz se foi agora.”

Isso não era um bom sinal. Se o navio estivesse de fato em


chamas, o incêndio não teria acabado por conta própria. Ele só
acabaria se o navio afundasse, o que era a pior coisa que podia
acontecer. Havia o arrasto a ser considerado. Dependendo do
tamanho do barco, e quão distante as pessoas conseguiram nadar
para longe dele antes dele descer, ele iria puxar o que estava
flutuando sobre a superfície para baixo com ele.

O relógio no painel da Land Rover marcava 02h48. Quase


três horas da manhã. A ilha devia estar dormindo, mas enquanto
saía em disparada pelas estradas estreitas e sinuosas e acelerava
em direção à doca, luzes tremeluziam pelas casas, uma por uma.
A notícia estava se espalhando. Na doca, uma pequena multidão
de pessoas já estava reunida, usando roupões e chinelos em alguns
casos, enquanto outros tomaram o tempo de se vestir com calças
jeans, camisas e casacos antes de correr pela porta para fora.

Uma ambulância que parecia que tinha visto dias melhores


estava estacionada no cais, sirenes sondando o vermelho e azul na
noite, e um cara que eu não tinha visto antes estava andando para
cima e para baixo ao lado dela, de cabeça baixa contra o vento,
falando no celular que estava pressionado contra sua orelha.
“Fique aqui por um segundo, por favor,” eu disse a Connor.

“Mas, Ophelia!” Ele parecia consternado.

"Eu quis dizer isso. Fique no carro e certifique-se que Amie


não acorde. Você pode fazer isso por mim, por favor? Você pode
cuidar de sua irmã?”

Ele ficou em silêncio por um momento, com a boca aberta,


mas depois assentiu lentamente. “Você vai voltar logo?”

Ele não estava chateado por perder a ação. Ele só não queria
que eu o deixasse sozinho. "Eu vou. Eu prometo. Eu não vou ficar
fora por mais de cinco minutos, ok? Você vê o relógio aqui? Ele diz

CALLIE HART Between Here and the Horizon


que são duas e cinquenta e oito? Estarei de volta antes que ele
marque três e três, eu juro.”

"Tudo bem então."

Eu saí do carro e bati a porta, apertei o alarme atrás de mim.


Examinando a multidão, eu vi Michael, o cara que eu conheci na
festa de Rose, falando com outro cara que parecia que podia ser
seu irmão. Quando Michael me viu, ele acenou, gesticulando para
eu ir até lá.

“É o Rei do Mar,” ele gritou. “Está tendo problemas durante


a última hora. A tempestade chegou do nada. Um monte de navios
foi esmagado contra a costa. Outro navio, mais acima da costa, um
navio-tanque, foi avariado. A Guarda está lá com eles agora,
tentando impedir um vazamento.”

“Mas e o que acontece com esses caras?”

“Eles vão chegar neles, eles disseram. Mas com certeza vai
ser tarde demais até lá.”

Eu balancei a cabeça, tentando entender o que ele dizia.


“Então, o petroleiro tem primazia? Quantas pessoas estão no outro
navio?”

Michael deu de ombros. O outro homem, cerca de 30 cm


mais alto que Michael, com uma barba salpicada de cinza, puxou
mais apertado o casaco em torno de seu corpo. “Normalmente
petroleiros não são tripuladas tão excessivamente no dias de hoje.
Tudo é automatizado. Computadores operam a coisa toda. Vinte.
Talvez trinta no máximo.”

“E o Rei do Mar?”

"Ainda menos. É apenas um navio de pesca. Quinze caras?”

“Então, a guarda costeira está lidando com o navio com mais


almas a bordo”. Fazia sentido. E o fato de que o porão do navio-

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tanque estava provavelmente cheio de petróleo, que vale uma
quantidade inimaginável de dinheiro e susceptível de provocar um
desastre natural se não fosse contido, era fácil de entender. Ainda
assim, era criminoso que os homens da costa de Causeway fossem
deixados para se afogar. "O que nós vamos fazer?"

“Nada podemos fazer daqui. O barco de Jerry não é


construído para um tempo assim. Os únicos outros barcos na ilha
são ainda menores do que o dele. Embarcações de pesca
minúsculas para três homens.”

Michael segurava um molho de chaves na mão direita;


parecia que os dentes do metal estavam cortando seus dedos.
“Porra.” Ele se virou ao redor, os olhos itinerantes sobre os rostos
das outras pessoas preocupadas na doca. "Isso é loucura. Nós
conhecemos aqueles caras lá. Tem que haver uma maneira que
possamos chegar lá, até eles.” No entanto, nenhuma solução
parecia surgir para ele, ou para seu o amigo.

“Eu estou com as crianças no carro. Ouça, você pode me


deixar saber se há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?”
Apontei para a Land Rover, onde eu podia ver o rosto pálido e
preocupado de Connor sobre o painel.

Michael suspirou, frustrado. "Sim, é claro. Eu acho que


todos nós vamos ficar presos aqui como idiotas, com as nossas
mãos amarradas atrás das costas, mas deixarei você saber.”

“Obrigada.”

De volta ao carro, Amie estava roncando e Connor estava


empoleirado na beirada de seu assento, joelhos para cima em torno
de seu queixo, o suéter puxado para baixo sobre suas pernas,
então elas tinham desaparecido completamente. "O que eles
disseram? Alguém está indo para salvá-los?” Perguntou.

“Sim, amigo. A guarda costeira está a caminho agora. Eles


não vão nem demorar muito.” A mentira era difícil de dizer, já que

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era tão grande. Ninguém estava vindo para os pobres rapazes lá na
água. Ninguém estaria vindo, até que fosse tarde demais. Naquele
ponto, eles estariam recuperando corpos, e não sobreviventes, e os
habitantes de Causeway teriam que assistir os seus amigos e entes
queridos morrerem.

******

Horas se passaram. Connor adormeceu contra a sua


vontade, binóculos ainda apertados de forma frouxa em sua mão,
e Amie continuou a roncar. Eu não podia dormir mesmo se eu
quisesse. Mais homens chegaram com lanternas. Ainda mais
homens chegaram depois disso, carregando caiaques e o que
pareciam canoas de madeira. Alguns deles tentaram lançá-los no
oceano agitado, mas cada vez que alguém tentava eles eram
lançados de volta contra a costa, pelas ondas que avançavam. Às
quatro, ou talvez um pouco mais tarde do que isso, o sol começou
a subir, lançando uma luz cinzenta misteriosa em toda a praia.
Mesmo do carro, eu conseguia ver quão cansados e sem
esperanças todos pareciam, os rostos comprimido, testas franzidas
em carrancas tão profundas que agora pareciam permanentes.

Connor estava coberto por um dos cobertores que ele trouxe


do armário no corredor; Amie estava enfiada confortavelmente
debaixo do meu edredom. Estranhamente, eu não estava com frio,
mesmo que embora nuvens de nevoeiro saíssem da minha boca
toda vez que eu exalava, e minhas mãos tinham ficado azuis.

Eu estava considerando minhas opções - ir para casa ou


ficar - quando uma batida na minha janela quase me assustou
como a morte; Olhando para fora da janela, para frente, para o
mar, eu não tinha notado Michael se aproximando do carro, nem
a grande garrafa térmica que carregava em suas mãos. Apertei o

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botão para abaixar o vidro da janela, fazendo o meu melhor para
encontrar um sorriso para ele.

“Café,” ele disse, como se fosse algum tipo de senha secreta.


“Eu percebi que você podia precisar de um pouco.”

"Obrigada."

Ele entregou a garrafa para mim pela janela, suspirando. “O


outro navio, o petroleiro? Afundou uma hora atrás. Eles só
conseguiram tirar dois caras da água.”

"Oh, Deus."

“Sim.” Nós dois permanecemos em silêncio por um


momento. E então ele disse, “É difícil, sabe. Isso te deixa com raiva.
Se eles não tivessem ido até o petroleiro, se tivessem vindo aqui,
em vez disso...”

“Não tem sentido pensar em e se, Michael.” Contudo, ele


estava certo. Talvez se o conteúdo do petroleiro não fosse tão
valioso, a guarda costeira teria vindo ao Rei do Mar primeiro.
Grandes empresas petroleiras tinham tanta influência com o
governo. Possuíam metade do governo. Uma palavra no ouvido da
pessoa certa e todos os recursos disponíveis podiam facilmente ser
desviados para uma causa perdida, em vez de uma viável.

“O mar está se acalmando um pouco. Nós estamos


esperando que possamos conseguir chegar lá em breve, com alguns
dos barcos menores. Até lá, nós apenas iremos sentar aqui e
esperar. Talvez seja melhor você voltar para casa. De qualquer
maneira, aconteça o que acontecer, as pessoas morreram lá. Com
a corrente tão forte como está, as ondas batendo na costa, os
corpos vão começar a serem trazidos em breve. As crianças...” ele
disse em voz baixa.

"Você está certo. Eu devia levá-los para casa. Eu me sinto


tão... inútil.”

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Michael não conseguia me olhar nos olhos. “Você, eu e todos
os outros em pé nesta doca, Ophelia. No entanto, significa muito
que você tenha vindo. Para o povo da ilha. Obrigado."

"Claro. Eu não fui capaz de fazer-”

Um rosnado alto de um motor me cortou, rasgando pelo ar.


Sobre a pequena elevação atrás da doca, uma caminhonete preta
apareceu, disparando em direção à costa. Eu pensei que
reconhecia o veículo, e o gemido de Michael confirmou a identidade
do motorista.

"Sully. Perfeito.” Ele bateu a mão contra a lateral da Land


Rover. “É melhor eu ir tentar impedi-lo de fazer qualquer coisa
estúpida,” Michael disse. No entanto, ele não parecia muito
convencido de que ele seria bem sucedido em sua tarefa. “Eu te
vejo mais tarde, Ophelia.”

Pelo que parecia, ele esperava que eu fosse embora e levasse


as crianças para casa, mas não o fiz. Eu observei enquanto a
caminhonete de Sully adernou ao descer a encosta e derrapou até
parar, jogando um spray de areia e pequenas pedras para o ar
enquanto os pneus freavam na praia. Ele saiu do veículo antes de
estar totalmente parado, o cabelo selvagem, os olhos selvagens,
tudo nele selvagem enquanto saia pisando duro em direção à
ambulância que ainda estava estacionada no cais. Ele começou a
correr.

“Oh, merda.” Michael foi atrás dele, correndo a todo vapor,


tentando interromper Sully, mas não parecia que ele ia fazer isso.
Eu saí do carro, fechando-o e trancando-o atrás de mim, grata que
ambas as crianças estavam sem frio, e eu segui o exemplo,
correndo em direção ao cais. Sully alcançou a ambulância em
claros oito segundos antes de Michael, e ele escancarou a porta do
motorista e puxou o cara que estava no seu telefone mais cedo para
o deck de madeiras empilhadas. Eu conseguia ouvir Sully gritando
muito antes de eu alcançá-los.

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“Idiota do caralho! Você devia ter me chamado. Você devia
fodidamente-” Ele parou de gritar para socar o punho no rosto do
cara. O cara, se contorcendo em uma pilha no chão, não tinha a
menor chance. Sully despejou mais três golpes catastróficos em
seu rosto com uma mão, agarrando a camiseta do cara da
ambulância com a outra. O cara ficou mole, bem quando Michael
voou para cima de Sully, levando-o ao chão.

“Saia de cima mim, Michael. Saia. De. Cima. De. Mim.” Sully
rolou debaixo dele, envolvendo um braço ao redor da garganta de
Michael, envolvendo suas pernas em volta de sua cintura e
prendendo-as com seus tornozelos. Ele apertou, e Michael, ainda
fazendo o seu melhor para tentar segurar Sully no chão, começou
a ficar roxo.

“Jesus, Sully. Deixe-o ir!” Eu não esperava que minha voz


fizesse um pingo de diferença para o ex-soldado tentando sufocar
Michael no cais, mas no momento que gritei seu nome, Sully
congelou, seu aperto ficando frouxo. De costas, ofegante, ele olhou
para mim como se minha presença fosse uma completa surpresa.
Choque estava escrito por todo o seu rosto. Michael se desvinculou
dos braços de Sully e cambaleou para ficar de pé, rosnando
baixinho.

“Você é um babaca do caralho, Fletcher,” ele disse, cuspindo


no deck. “Um verdadeiro babaca do caralho.”

“Sim,” Sully concordou, ainda sem fôlego e olhando


fixamente para mim. “Eu sei.” Ele se levantou rapidamente,
limpando-se. O cara da ambulância que ele acabou de nocautear
não estava nem se mexendo.

“Por que diabos você faria aquilo?” Eu falei rispidamente,


apontando para ele. “O que você quer dizer com ele devia ter te
chamado?”

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“Eu sou um guarda costeiro voluntário,” ele rosnou. “Eu
deveria estar lá, salvando-os.”

“Você não tem um barco, Sully. Como você pode ser a porra
de um guarda costeiro voluntário sem um maldito barco?” Michael
ainda estava com o rosto vermelho. Ele limpou a boca com as
costas da mão, fazendo cara feia.

Sully apenas balançou a cabeça, olhando irritado para o


outro homem. Ele começou a andar com passos largos de volta
para sua caminhonete.

Michael pareceu levar isso como um sinal ruim. “Você não


pode estar falando sério, Sully. Você é um homem louco do caralho.
Você não pode entrar nessa água com um maldito Zodiac7. Isso não
aguenta as ondas. Você irá se afogar junto com eles se tentar.”

“Então irei morrer na água com eles, não é mesmo? Pelo


menos eu posso dizer que eu tentei.”

“Você não está mais no exército, Fletcher. Você não tem uma
equipe de homens para ter êxito nisso. Você ir lá não é nobre ou
admirável. É imprudente.”

“Vá para casa, Michael.”

“Seja sensato, Sully.”

As pessoas reunidas na doca não foram atrás de Michael e


Sully como eu fui; eles permaneceram enraizados no local,
observando a cena se desenrolar com uma mistura de horror e
intriga em seus rostos. Agora, entre eles, vi Robert Linneman, uma
cabeça mais alto do que qualquer outra pessoa, com o braço em
torno de uma mulher muito menor, mais cheinha que estava de pé

7 *Zodiac é um bote inflável com motor.

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ao seu lado - sua esposa, provavelmente. Linneman se soltou e se
dirigiu até a caminhonete de Sully, encontrando-o lá.

“O que você pretende fazer, Sr. Fletcher?”

“Pretendo ir lá e tirar aqueles homens da água. Se você não


gosta disso, eu sugiro que você saia do caminho e deixe-me fazer o
que eu tenho que fazer.”

"Pelo contrário. Eu estava me perguntando o que eu podia


fazer para ajudar.”

Eu devo tê-lo ouvido errado. Linneman? O Sr. Robert


Linneman? O homem parecido com uma grua, estóico e austero
que lidou com os assuntos de Ronan, se oferecendo para ajudar
Sully com o que já soava como um plano horrível que era
improvável que desse certo. Eu não tinha ideia do que um Zodiac
era, mas com certeza, não tinha impressionado Michael.

Sully abriu a traseira de sua caminhonete, trabalhando


rapidamente, arrastando uma armação de metal para fora do
lugar. “A melhor coisa que você pode fazer para ajudar, Sr.
Linneman, é ajudar a manter todos calmos e manter-se seguro na
praia.”

“Com todo o respeito, Sully, você é um homem, e este não


parece ser um trabalho para um homem só. Meu cunhado, Ray,
estava no Rei do Mar, e eu pretendo fazer o meu melhor para ter
certeza que ele se encontra de volta em terra tão rápido quanto
fisicamente possível.”

Sully parou o que estava fazendo e olhou para Linneman


finalmente, avaliando-o. "Tudo bem. Mas se você for ao mar, isso é
com você. Está me ouvindo?”

“Estou, na verdade.”

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“Então me ajude a deixar essa coisa inflada e na água.” Ele
começou a desembrulhar um pacote enorme de plástico cinza,
desenrolando-o na areia.

Eu finalmente entendi o que ele estava fazendo, o tipo de


embarcação que ele estava preparando para levar ao oceano
agitado, e meu estômago revirou. "Sully? Sully, você não está
pensando direito.” Não era minha posição lhe dizer o que fazer. Eu
nem devia me importar, na verdade, mas eu não conseguia segurar
minha língua. Eu faria o mesmo com qualquer um. Se eu pensasse
que alguém estava prestes a arriscar sua vida em uma corrida
suicida, então eu tinha que dizer alguma coisa. Sully arrastou o
que parecia um pequeno gerador da parte traseira de sua
caminhonete e o colocou na areia.

“Sully, por favor, apenas pare por um segundo e pense-”

Ele pegou um cordão fino anexado ao gerador e o puxou, o


braço levantou acima da sua cabeça, e a coisa rugiu para a vida,
rosnando, afogando as minhas palavras. Sully olhou para mim,
desafio e loucura em seus olhos, me desafiando a fazer alguma
coisa. Não era como se eu pudesse derrubá-lo e pôr fim ao seu
plano louco; o cara era muito mais alto que eu e sua estrutura era
repleta de músculos. Michael foi esfolado, e até mesmo sua
tentativa de contê-lo foi bastante ridícula – parecia que Sully estava
golpeando uma mosca.

"Sr. Linneman, por favor...” Eu virei para o outro homem,


esperando que ele enxergasse o bom senso, mas Linneman deu de
ombros, de forma impotente.

“Esta é provavelmente a coisa mais imprudente de todas que


vou fazer na minha vida, Ophelia, eu sei disso, mas às vezes você
apenas tem que arriscar tudo, apesar das probabilidades incertas.
As vidas das pessoas dependem de nós.”

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Eu mal podia ouvi-lo sobre o rugido do vento, com o barulho
de tosse e engasgo do gerador, mas eu podia ver que ele tinha se
decidido, e não havia nenhum sentido em tentar dissuadi-lo. Com
o canto do meu olho, eu podia ver sua esposa fungando em um
lenço, inclinando-se contra o ombro de outra mulher de meia idade
com um roupão, que estava tentando confortá-la.

“Olhe pelo lado bom, Lang. Se essa coisa afundar e eu


morrer, os filhos de Ronan finalmente terão a casa. Você pode ficar
lá e viver nela com eles para sempre. Isso é algo para ficar alegre,
certo?” Sully disse, sorrindo.

"Você está certo. Por que você não faz um favor a todos e se
joga no mar, então,” Eu estalei. "Veja se me importo. Ou, aliás,
qualquer outra pessoa nesta ilha.”

Sully soltou uma risada. “Boa garota.” Ele conectou uma


mangueira de borracha cinza em uma pequena bomba preta aos
seus pés e a borracha começou a inflar rapidamente, expandindo
e crescendo mais rápido e mais rápido até que os itens na frente
dele não eram mais formas desconhecidas bizarras na escuridão,
mas o equivalente a um pequeno barco inflável que simplesmente
precisava de amarração.

“Isso não vai aguentar,” ouvi alguém dizer atrás de mim. “A


primeira onda que ele tentar atravessar vai engolir todos eles.”

“Bastardo arrogante. Por que ele não pode ouvir...?”

“Alguém devia chamar a polícia.”

“Estes Fletchers estão todos muito prontos para morrer. Isso


está em seus ossos.”

Não havia nenhuma maneira que Sully pudesse ter ouvido o


que eles disseram, de pé tão perto do gerador. Ele nem sequer
parecia saber que eles estavam lá. Ele trabalhou rapidamente, as
mãos fazendo a amarração e atando, pegando cordas extras em sua

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caminhonete. Ele puxou um grande suporte de metal do veículo e
o anexou à frente do barco que acabara de montar em menos de
cinco minutos, prendendo uma lâmpada de grande feixe no alto da
proa.

“Tudo bem, Linneman. Vamos levá-lo para a água.” Os dois


homens pegaram o bote por meio das alças de plástico nas laterais
do barco e, em seguida, correram para a água. “Levante!” Sully
gritou. “Caminhe com ela passando a quebra!”

Isso fazia sentido. As ondas ainda estavam altas, agressivas.


Se eles tentassem pilotar o bote, eles seriam mandados de volta
novamente de tempos em tempos. Com o barco içado acima da
água, repousando nos ombros de Sully e de Linneman, eles o
levantavam toda vez que uma onda batia contra a costa,
ameaçando empurrá-los de volta para a terra. Logo eles estavam
com a água nos ombros, já passada a quebra, e baixaram o barco
na água. Sully saltou para dentro do barco, estendendo a mão para
ajudar Linneman depois dele.

“Tenha cuidado!” A esposa de Linneman gritou. E então, em


voz baixa: “Senhor, por favor, tenha cuidado. Eu não acho que
consigo assistir.”

Sully alavancou o pequeno motor do barco para dentro da


água e deu partida; eu não conseguia decidir se o fato de que deu
partida imediatamente era reconfortante, ou se teria sido melhor a
coisa ter falhado e os deixado ali sentados em cima da água.

Sully era uma máquina. Eficiente. Destemido. Determinado.


Ele não olhou para trás, para a costa, uma vez. Eles dispararam
para longe da terra, o barco saltando ao longo da água como uma
pedra que pulava cada vez que bate em um pedacinho de águas
agitadas. A Sra. Linneman começou a chorar.

Corri de volta para o carro o mais rápido que pude - as


crianças estavam desmaiadas, graças a Deus. Peguei o velho

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binóculo de Connor e, em seguida, corri de volta para a costa,
olhando freneticamente através das lentes para encontrar Sully e
Linneman, mas tudo que eu podia ver era o mar cinza, turvo e
bravo, e o céu turvo, cinza e bravo e meu coração pararia de
martelar no meu peito.

Dez minutos passaram. Quinze. Vinte.

Nenhum sinal do bote. Nenhum sinal de alguém na água.


Michael e seu amigo estavam ajudando o cara da ambulância, que
finalmente tinha acordado e estava limpando com cotonete os
cortes no rosto com uma mala médica em seus pés. A náusea
torcendo através de mim como uma cobra, eu fui para o cais
novamente, contando os passos, tentando não entrar em pânico.

“Quão profunda é a água?” Eu exigi. “Eles não estão tão


longe. Por que nenhum dos homens conseguiu nadar de volta à
costa ainda?”

Michael abriu a boca e depois a fechou de novo,


aparentemente frustrado. “Não é tão simples assim, Ophelia.”

“A água é muito profunda” o cara que limpava os cortes


disse. “Toda a ilha era vulcânica. A terra some debaixo da água.
Penhascos, caídos há centenas de metros. E quão longe você pode
nadar, senhorita?”

"Eu não sei. Mais de 180m, com certeza.”

“Em águas abertas? Em uma tempestade? No frio


congelante? E no escuro? Acho que não."

Isso me calou muito rapidamente. Ele estava certo. Talvez


em uma piscina eu conseguisse nadar 180m. Até mais. Mas com
as condições do jeito que estavam lá fora...

“Se os homens entraram na água, eles provavelmente teriam


tentado nadar para a praia, mas nunca teriam conseguido. A água
está muito agitada, mas o mais importante é frio congelante. Você

CALLIE HART Between Here and the Horizon


só consegue sobreviver a uma questão de minutos em água como
aquela.” Quem quer que fosse esse cara, sua atitude seria péssima.
Ele mal olhava para mim enquanto falava, encostando um tufo de
algodão com raiva contra seu lábio. Ele era da minha idade, vinte
e tantos anos, e seu sotaque de Boston me disse que ele não era
um nativo.

Michael colocou a mão no meu braço, me avisando com os


seus olhos - provavelmente não é uma boa ideia que você esteja aqui
agora. Se as circunstâncias fossem diferentes, eu iria tratá-lo da
mesma forma que ele me tratou, mas eu estava exausta. E procurar
Sully e Linneman era uma tarefa muito mais urgente. Passei
rapidamente pelos homens e percorri todo o caminho até o final do
cais, segurando cada respiração por cinco passos, segurando cada
respiração pelo máximo que eu conseguia, como se isso pudesse
ajudar de alguma forma.

Eu olhei através do binóculo, olhando rapidamente o mar, e


esperei. O cinza, o branco e preto se esticavam para sempre.
Eventualmente, eu vi algo se movendo na água. Um barco? Não,
uma rocha. Não, definitivamente... era um barco. Saindo em
disparada para a costa, eu não conseguia acompanhá-lo bem o
suficiente no início para ver quantos homens estavam a bordo. E,
então, eu só conseguia distinguir a forma de um homem. Apenas
um. O barco estava muito longe para dizer quem era: Linneman,
Sully, ou alguém completamente diferente. Corri com velocidade,
chegando no cais, passando por Michael e os outros dois rapazes,
de volta para a praia.

O barco estava vindo rápido. Ele ficou mais lento quando se


aproximou da costa e da quebra, mas ainda estava viajando muito
rapidamente. Cortando as bolhas brancas e as ondas, ele quase
disparou para fora da água quando atingiu a terra. Linneman era
o primeiro ao lado do barco.

"Rapidamente. Tirem eles,” ele gritou.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Mãos por toda parte. Corpos, num empurra-empurra. A
água fria como gelo transbordando nos meus sapatos, os pés
instantaneamente formigando de dor. Água até os joelhos, e em
seguida, até a minha cintura.

“Ophelia, volte. Podemos lidar com isso. Pegamos eles. Por


favor!” Michael, me empurrando de volta para a costa. Tropecei, caí
na água. Mãos me ajudando, e depois corpos sendo levantados
sobre o lado do barco.

Frio.

Tão frio.

Encharcados.

Sem vida.

“Alguém sabe fazer massagem cardíaca?” Linneman estava


gritando. “Alguém, comece a verificar a pulsação.”

Então, Sully.

Ele estava ensopado, cabelo colado à cabeça, respirando com


dificuldade, sua camiseta branca fina presa a sua xadrez, dobrada
para cima na parte de trás, expondo dois longos arranhões
sangrentos e um pedaço de pele vermelha irritada. Ele pulou do
lado do barco, e, em seguida, de alguma forma conseguiu levantar
outro homem atrás dele, jogando-o por cima do ombro como um
saco de cimento molhado. No momento que ele me viu, ele começou
a correr pela água em minha direção.

“Não fique aí parada, Lang. Vamos. Ajude.” Agarrando-me


pelo braço com a mão livre, ele começou a me arrastar para fora da
água, atrás dele. Dei um passo em falso e tropecei, mal ficando de
pé, mas então eu estava de joelhos na areia, com os ouvidos cheios
de água, e Sully estava pegando minhas mãos e colocando-as sobre
o homem sem vida que ele colocou na minha frente.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


“Assim,” ele disse. “Conecte suas mãos e comprima. Para
cima e para baixo, para cima e para baixo. Não pare até que eu
volte.”

Eu bombeei minhas mãos interligadas para cima e para


baixo no peito do cara como ele me mostrou, atordoada, incapaz
de respirar uma palavra, e Sully correu de volta ao caminho de
onde viemos. Seus sapatos se foram, pés descalços. Ele os tirou no
barco? Ele os perdeu no oceano? Havia sangue no meu braço.
Sangue na areia ao meu lado, onde ele acabou de ficar.

Um, dois, três, quatro.

Um, dois, três, quatro.

Um, dois, três, quatro.

Um, dois, três, quatro.

Eu continuei com as compressões, não ousando parar. O


rugido do motor do barco gritou para a vida novamente, e quando
me virei, olhando por cima do ombro, Sully e Linneman já estavam
levantando o barco em seus ombros novamente, voltando a passar
a quebra.

“Eles estão indo de volta para lá?” Eu olhei ao redor, à


procura de alguém para me dizer o que diabos estava acontecendo,
mas as pessoas na praia estavam correndo freneticamente para os
carros, carregando cobertores, carregando corpos, administrando
a massagem cardíaca como eu estava fazendo e ninguém me ouvia.

Um, dois, três, quatro.

Um, dois, três, quatro.

Um, dois, três, quatro.

Um, dois, três, quatro.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Olhei para o rosto do homem deitado na minha frente. Seus
lábios estavam azuis, separados, mostrando os dentes brancos.
Sua pele estava desgastada como o couro. No final dos sessenta
anos? No começo dos setenta? Quantas tempestades ele resistiu
naquelas águas? Quantas vezes ele quase perdeu a vida e a ganhou
de volta?

Eu caí em um transe. Eu continuei a bombear minhas mãos


para cima e para baixo no peito do desconhecido até que meus
braços queimavam e doíam, e eu senti que parecia que eu não
conseguia prosseguir, e então eu continuei um pouco mais.

Outra ambulância chegou, e, em seguida, um som, como o


bater de um tambor, como a batida do meu coração, uma pá
batendo no ar, todo mundo olhou para cima, parecendo aliviado.
Uma ambulância no ar, vermelha brilhante e branca, descendo dos
céus como um arcanjo furioso. Paramédicos saíram aos montes
para fora do helicóptero, com malas sobre seus ombros, se
dispersando por toda a praia.

“Senhora? Senhora, obrigado. Se você puder se afastar por


um momento, eu posso dar uma olhada nele agora.” O rapaz de pé
na minha frente não parecia velho o bastante para salvar vidas
profissionalmente. No entanto, ele parecia saber exatamente o que
estava fazendo, enquanto se ajoelhava e começava a verificar os
sinais vitais.

“Sem pulso. Há quanto tempo você está administrando a


massagem cardíaca, senhora?”

O céu pareceu se abrir e uma luz brilhante e branca lançou-


se para baixo, através da manhã sombria, iluminando a praia
brevemente antes que as nuvens a comprimisse novamente.

“Senhora?”

“Hmm?”

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“Há quanto você está administrando a massagem cardíaca?”

“Não tenho certeza.”

“Ele estava acordado quando foi tirado da água?”

Balancei minha cabeça.

“Sinto muito, senhora. Este homem está morto. Posso dar


uma olhada em você? Você estava na água?”

“Não, não, eu estou bem. Eu-” Meu cérebro não estava


funcionando. Tudo era uma fotografia instantânea, desviando e
pulando, difícil de focar. O paramédico envolveu um cobertor feito
de um material prateado e enrugado em volta dos meus ombros e
me colocou sentada num banco junto ao cais.

“Fique aqui, senhora. Alguém virá aqui para verificar você


em apenas um momento, ok?” O jovem paramédico saiu correndo
e eu fiquei lá, tentando entender o que estava acontecendo.

Foi um longo, longo tempo antes que o barco voltasse de


novo.

Quando voltou, eu observei como Sully e Linneman


arrastaram mais cinco homens do barco, através da quebra, e na
praia.

“Eu fodidamente não consigo acreditar nisso,” um dos


paramédicos disse. “O cara de camisa branca nadou para pegar
todos eles. Ele foi atrás de cada um deles.”

“Aquele é o Sully Fletcher,” outro disse.

“O irmão de Ronan Fletcher?”

“Com certeza.”

"Huh. Eu acho que o heroísmo corre na família.”

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Eu não ouvi mais nada. Eu assisti enquanto Sully corria de
volta até a praia, tentando coordenar todos, tirando o cabelo
molhado de seus olhos, passando sua camiseta molhada pela
cabeça para segurar o material encharcado na testa de um dos
homens idosos, aplicando pressão. Eu o vi segurar o barco,
puxando-o para a praia, os músculos de suas costas estirando e
aparecendo enquanto ele trabalhava - ele estava terrivelmente
ferido, sua pele ralada, vermelha e sangrenta. Eu observei
enquanto ele ajudou a levantar um cara em uma maca, e então
observei quando ele dobrou seus os joelhos e caiu no chão, com os
olhos rolando para trás de sua cabeça.

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CAPITULO 16
O Bom Samaritano

“Não é nem de perto tão ruim quanto eles pensaram,


aparentemente. Apenas um caso simples de hipotermia. Estarão
trazendo-o de volta pro centro medico mais tarde à noite.”

“Deus, incrível como não há um hospital apropriado na


ilha. Incrível.” Tinha sido ainda mais louco assistir Sully sendo
tirado da ilha de helicóptero com as três equipes sobreviventes do
Sea King. No total, Sully tinha rebocado onze homens da água, mas
oito deles já estavam mortos ou morreram na praia.

Rose estava fazendo sopa de galinha e eu estava ensinando


às crianças aritmética e inglês na mesa do jantar. Amie estava
completamente absorta dos eventos da noite passada. Connor
dormiu quando Sully chegou e não havia acordado até que o
helicóptero chegou, então ele só viu uma parte do resgate. Ele não
tinha visto Sully de qualquer forma, graças a Deus. Um cara
destruindo a praia, uma imagem idêntica de Ronan? Isso
levantaria mais que algumas perguntas, e eu não tinha certeza se
estava pronta pra lidar com a tarefa monumental de explicar sobre
o irmão gêmeo de Ronan nesse momento. Connor continuou
perguntando se ele poderia ir e ver os destroços do Sea King que
ainda estava sendo levado aos pedaços na praia. Eu estava muito
assustada para deixá-lo ir. Seis homens ainda estavam
desaparecidos, talvez mortos, e a última coisa que eu precisava era

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levá-lo lá fora apenas para ter um cadáver mutilado enrolado na
areia.

“Ainda estou me chutando por não ter ido até a doca,” Rose
dizia. “Vi todas as luzes e carros fechando a rua, mas estava tão
frio. Eu não conseguia encarar isso. Todo mundo ainda tá falando
disso. A maior movimentação que tivemos por aqui em anos.” Rose
parou, me atirando um olhar de lado que senti queimar em mim.
“Eu também, talvez tenha ouvido que você estava meio triste sobre
você sabe quem,” ela disse maliciosamente. Estávamos tendo
cuidado para não mencionar o nome de Sully na frente das
crianças. “Alguma verdade nisso?”

“Sim, claro, eu estava definitivamente triste. Ele tinha


acabado de arriscar a vida naquele pequeno barco. Ele ficou dentro
e fora da água muitas vezes. Acho que todo mundo estava
preocupado com ele.”

“Hmm. Isso não é como o que Michael Gilford disse que viu.
Ele disse que você estava histérica. Começou a gritar para os
médicos da emergência pra fazer o trabalho deles. Correndo pela
praia como uma mulher endemoniada. Ele disse que parecia que
você estava à beira de pegar o nosso amigo beligerante e levá-lo pra
fora.”

“Psshh. Ridículo.”

Rose deu uma risada abafada, salpicando sal e despejando


no caldeirão borbulhante em frente a ela no fogão. “Pobre Michael.
Toda vez que uma mulher pisa na ilha, ele se interessa por ela. E
então ela acaba se apaixonando por você sabe quem, e é isso.”

“Eu não estou apaixonada por você sabe quem.”

Amie levantou a cabeça, olhos brilhando, distraída do


pedaço de papel em frente a ela, onde estava diligentemente
praticando as letras do alfabeto repetidamente. “Você está
apaixonado(a)?” ela perguntou, de boca aberta. “Isso é muito

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nojento, você sabe. Quer dizer que você vai ter que beijar um garoto
com sua boca aberta.”

“Você está certa, isso realmente parece nojento,’’ concordei.


“Mas não se preocupe. Rose está errada. Não estou apaixonada.”

“Bom. Porque eu não acho que meninos e meninas deveriam


beijar. Não acho que deviam até mesmo segurar as mãos. Não é
higênico.”

“Higiênico?”

Amie balancou a cabeça. “Higênicos. Grandes germes


crescem nos garotos. Quando você toca neles, eles passam todos
os germes deles pra você.”

“Eu concordo.”

Rose se esforçou pra não rir, enquanto revirava os olhos.


“Garotas tem tantos germes quanto os garotos, Amie.”

Ela abaixou a cabeça, voltou a desenhar a haste de um


grande T. “Eu não acho. Mamãe sempre cheirou bem, como flores.
Felia e Rose também. Você cheira a bunda de cachorro.”

“Você nunca cheirou a bunda de um cachorro.’’

“Já sim. Cheirei você.”

“Tudo bem, vocês dois. Por que não se concentram na lição


de casa, e então podem ir brincar com um jogo ou alguma coisa.”

“Lá fora?” Connor parecia esperançoso demais. Eu sabia que


assim que eu o deixasse fora da porta, ele correria para o penhasco
com os binóculos para examinar as pedras mais abaixo por restos
do Sea King.

“Está frio do lado de fora e ainda está chovendo. Sinto muito,


querido. Talvez amanhã, se o clima estiver melhor.’’ E tiverem

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limpado a macabra evidencia do acidente que aconteceu noite
passada.

Minha resposta não o deixou feliz. “Tanto faz. Mal posso


esperar até irmos pra escola corretamente. Pelo menos então
poderemos sair algumas vezes.”

“Só mais duas semanas,” concordei. Se ele quisesse me


ofender com o fato que ele preferia ir pra escola do que ficar em
casa comigo, então ele ficaria extremamente desapontado. Eu
amava ensiná-los com a lição, mas não era bom pra eles estar
cercado por adultos o tempo todo. Ambos precisavam estar
rodeados de crianças, como crianças normais. Esta grande casa
velha com seus quartos vazios e corredores sinuosos, embora
lindamente decorada e confortável além dos limites, não era um
lugar apropriado pra brincar para crianças.

“Você vai sair e vê-lo?” Rose perguntou repentinamente.

“Quem?”

Ela curvou uma sobrancelha pra mim, suspirando. “Você


sabe quem.”

“Oh, Deus. Não. Por que na terra eu faria isso?”

“Porque pode ser bom pra ele ver um rosto amigável, familiar.
Duvido que alguém na ilha vai impedi-la de vê-lo.”

“Eu duvido que ele me considere amigável ou familiar, Rose.


Nos falamos poucas vezes, e toda vez ele tem sido um idiota, e eu
irritada. Sou provavelmente a última pessoa que ele quer ver
enquanto se recupera.”

“Acho que você está errada,” ela disse, mexendo na sopa


cada vez mais rápido, como se não estivesse prestando atenção no
que estava fazendo. “Eu acho que as pessoas o subestimam. Acho
que ele pode ser capaz de gentileza. Então de novo, acho que ele se
alimenta de brigas com pessoas, então ele provavelmente aprecia

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uma boa sessão de provocação com você. O deixaria em pé num
instante.”

“Você vai visitá-lo?”

Rose parou o que estava fazendo e se virou totalmente pra


me encarar, horror em seu rosto. “Inferno não. Aquele homem é
tão teimoso quanto um urso com a cabeça presa em uma
armadilha, especialmente quando está doente. Você não poderia
me pagar para entrar naquele hospital.”

******

Chame-me de gulosa por punição, porém mais tarde, ainda


naquela noite eu me encontrei empurrando a porta do centro
médico, tentando descobrir se eu queria fugir e correr, ou se
realmente queria perguntar a enfermeira na recepção em que
quarto Sully estava e fazer-lhe uma visita.

Rose ficou com as crianças. Eu estava tão feliz que Ronan


não tinha realmente me fodido e me deixado fazer isso sozinha.
Ronan era um pai solteiro há pouco mais de um ano, mas ele tinha
duas babás em rotação o tempo todo, levando-os para qualquer
classe ou recital que precisassem estar, cuidando deles enquanto
ele estava no trabalho, fazendo a comida e geralmente cuidando
dos negócios. Sem a ajuda de Rose, eu estaria afundando. Havia
um monte de gente por aí cuidando de seus filhos sozinhos, e eu
tinha certeza que eles estavam fazendo um ótimo trabalho. Eu os
admirava, de fato, mas eu acreditava que contava com uma vila
inteira para criar crianças, e estava disposta a ter toda a ajuda que
pudesse ter.

O centro médico era um lugar quieto, estéril. História única,


o tamanho de uma típica clinica ambulatorial. Nas paredes da sala

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de espera foram colados os incríveis: “O Centro Médico de
Causeway não está equipado para fazer partos. Aos primeiros
sinais de trabalho de parto, por favor vá diretamente ao continente
para receber atenção médica em instalações adequadas,” e “Dores
no peito? Nossos plantões ocorrem das 18h as 21h, segunda até
quinta-feira. Por favor, sinta-se livre para ligar por uma consulta com
uma enfermeira registrada.”

Não havia menção de como você supostamente iria


diretamente para o continente se estivesse em trabalho de parto no
meio da noite e se Jerry não estivesse no barco de serviço. Também
não havia qualquer menção de qual ação devia ser tomada se você
estivesse com dores no peito em uma sexta, sábado ou domingo
qualquer hora depois das nove, e realmente quisesse ver um
médico.

“Senhorita? Com licença, Senhorita? Posso ajudá-la?”

Virei para longe da parede bizarra de anúncios de serviços


públicos, todos os quais estavam em capitais agressivos, eu
poderia adicionar, para encontrar a mulher ruiva da festa da Rose
sentada atrás do balcão da recepção. Ela estava vestindo um
uniforme de médico azul escuro, no qual fixou um obscenamente
grande crachá em que se lia “Gale”. Abaixo do nome, alguém, talvez
Gale, tinha escrito “Enfermeira estagiária” à caneta. Ela me deu
um sorriso brilhante, mostrando uma parede de dentes fofinhos
que de alguma forma a deixavam adorável.

“Ah, sim. Eu estava — estava procurando por Sully Fletcher.


Disseram-me que ele foi trazido de volta do continente esta noite.”

Gale concordou. “Sim, é verdade! O trouxeram pra cá.” Ela


parecia um tanto empolgada demais.

“Pode me dizer em que quarto ele está? Gostaria de visitá-


lo.”

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Seu grande sorriso desapareceu. “Oh. Não, eu não posso.”
Eu não conseguia dizer se ela estava genuinamente triste pelo fato
de não poder fazer o que perguntei, ou se ela estava planejando
fazer uma mistura de agressão passiva extrema, junto com uma
pitada de sarcasmo.

“O que quer dizer com não pode?”

“Sully não está aqui.”

“Mas eu pesei que você tinha dito que os socorristas tinham


trazido ele pra cá esta noite?”

“Eles trouxeram.” Ela concordou de novo, cachos vermelhos


saltando por todo lado.

“Então? Onde ele foi?”

“Oh, ele foi pra casa. Ele não queria dormir aqui. Disse que
cheirava à morte,” ela disse brilhantemente.

“Certo. Então… ele estava bem o bastante pra ir pra casa


sozinho?”

Gale colocou a tampa de uma caneta na boca e começou a


mastigá-la, olhos rolando para o teto; ela estava aparentemente
pensando muito. “Não,” disse lentamente. “Eu não diria isso. Diria
que ele ainda está bastante doente. Colin o levou.”

“Entendo. Gale, posso te perguntar uma coisa?”

“Mmmhmm.”

“Onde você está estudando?”

“Estudando?”

“É, você sabe. Pra ser enfermeira.” Apontei para o crachá.

Ela olhou para o ofensivo item como se fosse a primeira vez


que visse aquela coisa. “Oh, isso? Não, não. Você não precisa

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estudar pra ser enfermeira. Você só meio que aprende tudo com o
tempo. É como ser uma secretária. Ou um inventor.’’

“Não acho que…” Parei de falar. Gale estava me olhando,


analisando cada palavra que saia da minha boca, e eu podia ver
claramente o problema aqui: as luzes estavam ligadas, mas não
havia ninguém em casa. Como diabos ela tinha conseguido um
emprego no centro medico? Como? “Pode me fazer um favor, Gale?
Acha que poderia escrever o endereço do Sully para mim? Gostaria
de ter certeza que ele está bem.”

“Oh! Se você for até a casa dele, me faz um favor? Pode dar
isso a ele?” Ela alcançou abaixo do balcão e então despejou uma
grande sacola branca de papel no balcão, com um texto na frente.
“Ele esqueceu seus remédios pra dor quando saiu. Ele vai estar
miserável sem eles.”

“Sim, acho que posso dar a ele.”

“Ótimo.” Gale sorriu pra mim como se todos os problemas


dela tivessem resolvido. Ela rasgou um pedaço de papel de um
bloco ao lado do telefone e rabiscou nele por um segundo. Quando
entregou, eu estava perplexa com o que ele escreveu.

O Farol.

Era isso.

“Como assim? O farol?”

“Uhuh.”

“Onde é isso, afinal? Como vou saber onde chegar lá?”

“Essa parte é fácil. Você só segue os sinais. É o único farol


na ilha.”

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******

De todos os lugares do mundo em que Sully Fletcher poderia


ter vivido, um farol realmente fazia algum tipo de sentido perverso.
Os guardas de um farol eram tipicamente solitários, como
eremitas, não eram? Com grande necessidade de se fechar para o
mundo? E não era simplesmente que o Heathcliffe que morava nele
se segregava em algum canto varrido pelo vento da ilha, apenas se
arriscando a atormentar os moradores quando o humor perverso o
levava a isso? Talvez Holly estivesse certa quando o chamou à festa
na casa de Rose.

Eu dirigi até encontrar um sinal para "O Farol" e então dirigi


até encontrar outro e outro. Logo, não havia mais sinais e eu estava
sem saber o que fazer. Depois de uns bons trinta minutos,
navegando com o Land Rover por trilhas de terra, desisti e,
finalmente, perguntei à primeira pessoa que vi: um homem idoso
com um casaco impermeável velho, de pé ao lado da estrada,
olhando para o céu como se estivesse esperando que algo milagroso
caísse, e ele estivesse determinado a não ser pego de surpresa.

"O farol? Bem, você está bem longe. Volte para a estrada
principal e depois pegue a terceira à direita, além da casa pintada
de azul. Então, até o fim dessa estrada. É aí que você encontrará o
farol.

"Obrigada. Você precisa de uma carona para algum lugar?"

Ele pareceu assustado. "Não. Eu estou bem aqui, obrigado."


Não havia nada por milhas em qualquer direção, e eu não podia
ver nenhuma razão real para ele estar de pé aqui, olhando para o
céu, mas eu não queria ofendê-lo então fiquei com a boca fechada
e saí.

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Vinte minutos depois: um farol empoleirado na borda de um
penhasco rochoso, em suma: grandes traços de laranja queimado
e amarelado pelo sol poente, como algo fora de uma pintura de
Afremov. Enquanto estacionava lá fora, notei a pilha de placas
escritas "Farol" em um caminho pedregoso que conduzia para as
falésias.

A porta se abriu antes que eu tivesse tido a chance de sair


do carro e Sully estava de pé, com uma mão apoiada no estômago,
a outra apoiada no batente da porta, olhando para mim com os
olhos arregalados de alguém prestes a encontrar alienígenas pela
primeira vez.

"Que diabos?", Ele falou.

"Você me diz", lembrei. Eu não queria sair do carro agora que


eu tinha visto a expressão de merda no rosto dele. Ele estava todo
descabelado e sua mandíbula estava marcada com um sombreado
escuro que o fazia parecer desleixado e bem arrumado ao mesmo
tempo. Ele estava usando uma camisa apertada, cinza, de mangas
compridas, mangas enroladas até os cotovelos e um par de calças
jeans pretas. Ele estava pálido e havia sombras sob seus olhos, o
que o fazia parecer assombrado.

Lentamente, ainda pressionando uma mão em seu


estômago, ele afastou-se da porta e ficou de pé na frente da porta
lateral do motorista, olhando-me pela janela. Quando não abaixei
a janela, ele levantou a mão e bateu um nó contra o vidro.

Realmente não parecia que eu tinha muita escolha depois


disso. Abaixei o vidro da janela. Sully me observou por um
momento, considerado o carro em geral, e disse: "Eu não acho...
isso é uma coincidência?"

"Você deixou seus medicamentos no centro."

Ele se virou e foi embora. "Eu não estou tomando essa


merda".

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"É medicação para a dor, Sully. Eles não teriam prescrito
para você se eles não pensassem que você precisava disso."

"Eu não preciso disso. Como você sabe que eles são
medicações de dor de qualquer maneira?" Desacelerando, ele olhou
por cima do ombro, franzindo a testa. "Você esteve espiando as
minhas coisas?"

"Fiquei surpresa por não serem antipsicóticos, na verdade",


gritei. "E não, eu não estava espiando as suas coisas. Gale ofereceu
a informação antes de entregar a bolsa.

"Ha! Gale."

"Sim. Sua namorada não é a lâmpada mais brilhante da


caixa, hein?" Saí do carro e segui depois dele.

"Você sabe muito bem que ela não é minha namorada."

"Você insinuou isso".

"O que não significa nada, de verdade, não é?"

"Por que essas placas estão empilhadas ao lado da casa,


Sully?"

"Para impedir que os intrometidos curiosos apareçam na


minha casa, sem aviso prévio." Parando em sua porta da frente, ele
virou e barrou a entrada com um braço. "Uma pena. Não pareceu
funcionar neste caso particular, não é?"

"Eu só estou tentando bancar a Boa Samaritana, seu idiota."

"Eu não sou cristão."

"O quê?"

"O Bom Samaritano. Ele era da Bíblia, certo?"

"Você não precisa ser um cristão para ser uma boa pessoa,
Sully."

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"Tenho certeza de que isso ajuda. Olha, está gelando, e eu
tenho quatro costelas quebradas. Podemos fazer isso outra hora?"

Por cima do ombro, eu podia ver uma sala em desordem e


uma televisão em cima de uma pilha de livros, a tela ligada. O ruído
da estática apareceu e estalou, chiando baixo. Eu deveria ir
embora. Em primeiro lugar, eu não deveria ter vindo; Assim que
descobri que ele recusou o tratamento no centro médico e foi para
casa, eu deveria ter deixado ele por conta própria. Mas ele parecia
terrível. Um suor úmido surgiu em sua testa e suas mãos tremiam.
Ele não tinha tomado nenhuma das suas malditas medicações
para a dor, e agora ele estava me dizendo que tinha quatro costelas
quebradas. Deus, como diabos eu deveria me comportar agora?
Seria fácil o suficiente fazer. Seria ótimo bater a porta do carro e
acelerar, deixando-o para trás no pó. Mas eu não iria mais longe
do que uma milha antes de a culpa entrar e eu teria que voltar.

"Droga, Sully. Deixe-me entrar para que eu possa te ajudar


com algo para comer e algo quente para beber. Minha cabeça vai
ficar mais tranquila. Depois eu vou embora, prometo."

Sully inclinou a cabeça para um lado. Sua respiração era


superficial. Mais rápido do que deveria ser. "Você é uma pequena
benfeitora, não é? Qual era o nome da menina do The Sound of
Music8 mesmo? A freira que não abandonaria aquele canto
infernal? Você sabe, a que salvou as crianças dos nazistas? Você é
como ela. Tão... radiante." Ele usou a palavra como se fosse um
insulto.

Eu cruzei meus braços em meu peito. "Eu não sou nada


parecida com ela. Podemos entrar? Você está certo, está
congelando e eu não gostaria de uma hipotermia agora mesmo."

Suas sobrancelhas levantaram-se imediatamente. "Isso é


engraçado."

8 Filme “Noviça Rebelde”.

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Ok, tinha sido uma coisa bastante idiota para dizer da minha
parte, mas não havia necessidade de ele ser um idiota. "Sully.
Vamos. Por favor." Senhor, eu estava implorando-lhe para que me
deixasse entrar na sua casa para que eu pudesse cuidar dele?
Como isso aconteceu? Realmente, de forma categórica, isso não
fazia nenhum sentido.

Ele suspirou, deixando o braço cair. "Tudo bem. Você pode


entrar. Com duas condições."

"Quais?"

"Se você colocar o pé dentro da minha casa, nem pense em


tentar arrumar nada. Mova um livro, um prato, uma caneca e você
passa pela porta mais rápido do que você pode dizer
supercalifragilisticexpialidocious9."

Ele parecia tão satisfeito consigo mesmo que não pude evitar
fazer desaparecer o sorriso do rosto dele. "Essa música é da Mary
Poppins, não do The Sound of Music."

"Eu não me importo de onde é. Você bagunça com a minha


merda, você vai embora. Copiou?"

Eu coloquei minhas mãos para cima. "Está bem. Não vou


arrumar."

"E a segunda condição é que não haverá nenhuma besteira


de chá quente. Se você veio até aqui, você vai beber uísque."

"O que? Por que tenho que beber uísque?"

"Porque eu estou bebendo uísque. E é assim que é."

"Eu tenho que dirigir".

Ele encolheu os ombros. "É pegar ou largar, Lang".

9 Canção do filme Mary Poppins.

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Quanto isso o machucaria se eu batesse na caixa torácica
dele agora mesmo? Muito, provavelmente. O suficiente para fazê-
lo se comportar? Eu não iria segurar a respiração. "OK. Está bem.
Tanto faz. Apenas deixe-me entrar. Meus pés estão entorpecidos."

*******

O interior do farol era surreal, como algo que Escher10 teria


inventado, com todos aqueles ângulos estranhos e escadas
bizarras que não deveriam funcionavam como deveriam. Eu não
tinha ideia do porquê ele me avisou para não arrumar. Havia
montes de livros por toda parte, e roupas, sim, mas as roupas
estavam dobradas em pilhas, e os livros estavam todos alinhados
perfeitamente. Não havia pratos ou canecas espalhados. Nem na
pequena cozinha a qual ele me levou, resmungando. Ele pegou dois
copos de um dos armários e depois revirou em outro armário até
encontrar uma garrafa de Dalwhinnie meio cheia.

"Gelo?", Perguntou por cima do ombro.

"Eu não sei. Tem certeza? Nunca bebi uísque antes."

"Você nunca..." Ele não podia acreditar, isso era claro. "Você
nunca bebeu uísque? Isso pode ser a coisa mais ridícula que você
já disse. Suponho que as mulheres da SoCal11 bebam Sauvignon
Blanc ou Pimms ou alguma merda. Mojitos. Cosmopolitans."

"Às vezes. Eu realmente não bebo nada."

"Oh, senhor, salve-nos." Virando-se, ele me entregou um


copo, com três dedos de um fluido escuro dentro. "Eu seguraria
seu nariz e engoliria rápido se eu fosse você. Você não vai gostar."

10 Artista gráfico holandês.


11 Sul da Califórnia.

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Aceitei o copo. "Como você sabe?"

"Porque eu sou um ser bastante observador. Agora, beba."

Eu bebi. Algo horrível, medonho que queimou todo o


caminho pela minha garganta e se instalou no meu estômago, um
pequeno fogo cuspindo de lá que não iria sair. Eu só tinha bebido
um gole. Eu tinha, pelo menos, mais quatro ou cinco antes de
chegar ao fundo do copo. Eu queria tossir, balbuciar e fazer uma
careta, mas, novamente, não queria provar que ele estava certo.

Consegui esconder meu desgosto, embora só Deus soubesse


como. Sully me observou, admirado com os goles da bebida crua,
com a expressão vazia até que eu abaixei o copo e finalmente tinha
o esvaziado. Ele deu um pequeno aceno, levantando-me o próprio
copo. "Uau." Ele inclinou as costas, estremecendo um pouco
enquanto engolia.

"Uau?"

"Sim. Estou impressionado. Foram três tiros. E você não


vomitou."

"Três tiros? Sully, eu tenho que dirigir de volta pela ilha. Que
diabos?"

Ele fez um beicinho, derramando mais uísque nos copos. "Eu


pensei que você iria ficar por aí e 'cuidar de mim'", ele disse,
lançando aspas no ar em suas últimas palavras.

"Eu vou. Mas eu ainda tenho que ir para casa e cuidar de


Connor e Amie. Lembra? Sua sobrinha e sobrinho?"

"Eu não quero falar sobre eles. Ou Ronan,” - disse ele,


segurando o dedo indicador. "Se você precisar dar um passeio mais
tarde, eu posso fazer Jared descer a colina para levá-la. Enquanto
isso..." Ele me devolveu meu copo, que continha uma quantidade
muito menor de uísque nessa vez. "Beba."

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Dei um pequeno gole no whisky, franzindo o cenho.

"Boa garota". Ele sorriu, mas era um sorriso sombrio e


desconfortável que traía quanto dor ele estava sentindo. Sua mão
ainda estava pressionada contra o diafragma, como se fosse a
única coisa que segurava seu interior no lugar.

"Você não pode tomar medicamentos para dor se você estiver


bebendo", eu disse calmamente.

"Eu não planejo tomar. Eu te disse. Eu não estou tomando


essa merda."

"Por que não? Você está obviamente sofrendo."

"Porque, senhorita ‘sabe tudo’, eu vi caras suficientes se


machucarem no exército. Para eles foram prescritos morfina e
oxigênio, e eu assisti todos eles se transformarem em viciados bem
diante dos meus olhos. Não vale à pena. Prefiro tomar umas boas
doses de coisas boas e ranger meus dentes. Se for tudo igual para
você, muito obrigado."

"Ah".

"Sim. Ah."

Ele ficou parado, me encarando, não respirando, sem dizer


nada, e mais uma vez eu queria sair. Eu desviei o olhar; Eu não
era o tipo de pessoa a ser intimidada por ninguém. Nem mesmo
Ronan Fletcher conseguiu isso. Mas havia algo sobre o irmão que
Ronan não tinha. Algo intenso, profundo e penetrante que me fez
sentir desconfortável na minha própria pele.

"Eu vou sentar-me agora, antes de cair. Por favor, sinta-se


livre para bisbilhotar e fazer o que quiser na minha ausência.”
Sully saiu da cozinha e voltou para a sala de estar, as costas retas,
os ombros rígidos e eu pensei em pegar uma das facas afiadas do
bloco de açougueiro em seu balcão e ver o quão boa minha mira
era.

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Em vez disso, aproveitei ao máximo o convite e comecei a
vasculhar seus armários, procurando ingredientes para que eu
pudesse cozinhar-lhe algo para comer. Surpreendentemente, havia
muito para escolher. Eu esperava uma geladeira cheia de
condimentos e um sanduíche rançoso e meio comido; prateleiras
vazias e poeira em sua despensa. Mas, em vez disso, sua geladeira
estava cheia de vegetais e frutas, juntamente com pacotes de carne
e blocos de queijo, e seus armários estavam transbordando com
mantimentos, alimentos secos e latas de sopa. Nada extravagante,
mas melhor do que nada, com certeza.

Eu tenho que trabalhar.

Trinta minutos depois, eu tinha um ensopado de carne no


fogão, biscoitos no forno e uma xícara de café na minha mão para
Sully. Ele disse não ao chá, mas uma xícara quente e forte de café
era uma história diferente. Quando entrei na sala de estar -
estranho que não havia linhas retas em todo o piso térreo da casa
- Sully estava deitado no sofá, a cabeça inclinada para trás, ambas
as mãos cruzadas sobre o estômago e estava dormindo.

"Bem. Merda."

Sully abriu uma pálpebra, olhando para mim. "Sr. Von


Trapp12 não ficaria impressionado com o seu linguajar."

"Sr. Von Trapp pode ir à merda."

Isso o fez resmungar. Movendo cuidadosamente a cabeça,


ele suspirou pesadamente. "Vamos. Vamos em frente então." Ele
estendeu a mão, olhando o copo fumegante que eu ainda estava
segurando.

Eu entreguei a ele, grata por não estar tendo uma briga. "Eu
não sabia se você usava açúcar."

12 Nome da família que inspirou o filme “A noviça rebelde”.

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"Eu não uso."

"Deixe-me adivinhar. Você é doce o suficiente?” Minha voz


gotejou de sarcasmo.

"Não, Lang. Eu não sou doce. Nem um pouco. E o café


também não deve ser doce. É pra ser como ácido de bateria. Está
destinado a mantê-lo acordado, não colocá-lo em um coma
hiperglicêmico."

"Devidamente anotado. Você é bastante contundente, não é


mesmo? Isso o distrai, não é? Fazer as pessoas se sentirem
desconfortáveis o tempo todo?"

Sully tomou um gole de café e depois fez uma careta,


agarrando-se ao seu lado. Uma vez que a dor passou, ele colocou
a caneca na pequena mesa ao lado do seu sofá de couro batido e
dirigiu sua atenção para mim daquele modo terrível que ele
aperfeiçoou. "Isso me diverte, tornar as pessoas incomodadas?" Ele
pensou por um segundo. "Não, não me diverte. O desconforto de
outras pessoas é um desagradável subproduto da minha política
"sem besteiras". Não tem nada a ver comigo. Tem tudo a ver com
eles. Eles só se sentem desconfortáveis porque estão sendo
desonestos, ou estão escondendo algo. Eu não gosto de falsidade e
isso os faz sentir mal porque isso é tudo o que nunca são. Suas
vidas são caóticas."

"Caóticas?"

"Mmmmm".

"Isso parece um pouco duro, você não acha?"

"De modo nenhum. Eu acho que é uma avaliação bastante


justa."

"E eu? Você acha que minha vida é uma farsa?"

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Ele sorriu, afiado e perverso, e eu sabia que não ia gostar do
que sairia de sua boca. "Lang, de todas as pessoas que residem
aqui neste pequeno cuspe de terra, sua vida é a maior farsa de
todas. Você finge se preocupar com Connor e Amie, quando
realmente tudo o que lhe interessa é o cheque de pagamento. E
você finge que veio aqui para ser uma Boa Samaritana, quando a
verdade é que você está atraída por mim e estava preocupada
comigo."

A porta estava a apenas cinco metros de distância. Dois


segundos? Talvez menos ainda. Não me levaria tempo sair do farol
de Sully, entrar no Land Rover, dirigir de volta para as crianças e
nunca mais ver esse homem. Embora não fosse tão simples,
porque em uma ilha tão pequena como o Causeway, eu estaria
obrigada a correr para ele novamente em algum momento. Ele
estava esperando que eu fizesse isso; Ele estava esperando que eu
me chateasse e partisse, eu podia ver isso nas escuras profundezas
de seus olhos.

Seria melhor para mim ficar e desafiá-lo do que fazer


exatamente o que ele esperava de mim, se fosse assim, eu poderia
virar o jogo e provar que ele não me conhecia, assim como ele
pensou que conhecia, afinal.

"Eu não gosto de mentir", disse Sully lentamente. "Odeio


especialmente quando as pessoas mentem para si, Lang. Isso torna
a sociedade um lugar muito perigoso. Se todos estão andando por
aí, escolhendo acreditar que são pessoas boas, que são incapazes
de fazer o mal, não desejam coisas ruins e que seus problemas
simplesmente desaparecerão se eles os ignorarem por tempo
suficiente, então quem vai arrumar as coisas quando elas se
quebrarem? Quem vai assumir a responsabilidade quando as
coisas derem errado? E quem vai contar a maldita verdade?"

"Eu não dou a mínima para o que você acha, Sully. Eu


sempre falo a verdade."

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"É assim mesmo." Não era uma pergunta. Sua voz ficou mais
grave no final, dizendo-me que ele não acreditou em mim nem por
uma fração de segundo. "Então me diga. Por que você decidiu ficar
na ilha? Foi porque Linneman disse que não haveria pagamento no
final do seu contrato de seis meses se você fosse embora? Hmm?
Eu sei tudo sobre o restaurante de seus pais em Cali. Como você
salvaria o dia se você não voltasse para casa com esse cheque gordo
no seu bolso?”

"Você está certo. Ir para casa sem esse cheque teria sido um
desastre. Mas eu teria encontrado outro emprego. Eu teria
assumido três trabalhos extras se precisasse. Não tenho medo do
trabalho duro. Eu teria descoberto, porque é nisso que sou boa.
Resolver situações de merda."

"Como a situação de merda com seu ex-marido?"

O choque acendeu-me, amargo e desagradável. "Como você


sabe sobre Will?"

"Bem, você sabe tudo sobre mim, Lang. O diário de Mags


está lhe dando muitas informações, tenho certeza. Então pensei
que eu devia também jogar um pouco. Eu fiz um amigo passar um
par de horas revisando seus rastros on-line. Ele me enviou o básico
- os detalhes do seu divórcio. O negócio de seus pais. Sua escola
foi fechada. Você perdeu seu emprego. Os trabalhos."

"Você é inacreditável."

Sully suspirou. "Você realmente se importa que eu saiba que


seu ex-marido traiu você? Sério?"

"Sim!"

"Por quê?" Ele estava tão calmo. Tão sensato. Tão irritante.
Para ele, eu não teria nenhum argumento. Ele nunca iria acreditar
que eu não tinha lido aquele diário amaldiçoado. Nunca. Minha
indignação estava borbulhando, difícil de ser contida. O sorriso de

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Sully se alargou ainda mais. "Que tal parar de agir como se
estivesse chateada e admitir porque você está realmente aqui
agora?"

"Eu te disse-"

“E eu disse a você que eu odeio mentirosos. Vai negar que


está atraída por mim? Mesmo sabendo que não deveria? Mesmo
sabendo que é estranho porque eu sou um idiota e por causa dos
filhos do Ronan?” Ele parecia completamente inalterado com as
palavras que saíam de sua própria boca. Ele não parecia se
importar que elas também me afetassem. Ele ficou sentado lá,
observando-me, esperando.

Ele não ia ganhar. Não dessa vez. Mesmo que isso


significasse me envergonhar por possuir algo que eu estava
evitando reconhecer até mesmo a mim. Mas as coisas que ele havia
dito antes, sobre as pessoas ignorando seus problemas, ou
simplesmente ignorando seus sentimentos neste caso... não
ajudou e eu sabia disso.

"Bem. Você está certo. Estou atraída por você. Não é algo do
qual estou particularmente orgulhosa. Não por causa de Ronan,
nem por causa de Amie e Connor, mas porque você é um lixo de
pessoa rancorosa que só vê o mal em tudo e uma pessoa como você
provavelmente também me tornará uma pessoa tóxica e infeliz.
Pelo menos Ronan era...

Ele se afastou do sofá mais rápido do que eu teria pensado


que ele era capaz, parou acima de mim, ofegante. "Não faça isso",
ele criticou. "Antes mesmo de contemplar terminar essa frase, não
me compare ao meu irmão."

“Porquê não?”

"Quando você é um gêmeo, quando você se parece tanto com


outra pessoa enquanto cresce, aprende, se desenvolve, se torna um
homem, então o que todas as pessoas querem fazer é encontrar as

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diferenças entre você. Ele era mais gentil. Você era mais malvado.
Ele era acadêmico. Você era destrutivo. Ele era o homem da família.
Você era o belicista. É fodido. Eu não quero ouvir isso.
Especialmente de você - alguém que conheceu Ronan por malditos
cinco minutos, e que ainda não me conhece."

"Eu conheceria se você deixar!"

"EU NÃO QUERO..." A sala entrou em erupção com um som


agudo e surpreendente, cortando nosso argumento. Sully quase
saltou de sua pele, girando, olhos selvagens e arregalados, o peito
subindo e descendo rapidamente.

"O que diabos é isso?", Gritei.

Ele ainda parecia estar no limite, mas uma calma se


instalou sobre Sully de repente. "Detector de fumaça", ele disse,
baixo, então eu mal podia ouvi-lo sobre o barulho. "Você está
queimando minha cozinha, Lang."

"Oh, merda, o ensopado!" Eu corri para a cozinha. O


queimador de gás debaixo da panela de ferro fundido onde a
comida tinha cozinhado foi carbonizado e a fumaça estava subindo
por debaixo dele, fina e preta, mas o suficiente para disparar o
alarme. "Porra." Eu rapidamente desliguei o queimador e movi a
panela, verificando dentro para examinar o dano causado ao
ensopado. Felizmente, parecia bom. Nem estava queimado no
fundo. A base da panela, no entanto, estava arruinada. O alarme
tinha parado, deixando meus ouvidos tocando.

"Eu não pensei em perguntar se você era uma cozinheira


decente antes de deixar você livre por aqui", disse Sully atrás de
mim. "Aqui, deixe-me ver."

Saí do caminho e ele cutucou o fogão. "O elemento quase


desapareceu", ele disse, fazendo uma careta. "Eu já estava
pensando em substituí-lo há um tempo. Ele acende quando o
queimador fica quente demais às vezes."

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"Então não foi culpa minha?"

"Não, não foi culpa sua, Lang. relaxe. Sente-se. Vou trazer a
comida."

Comecei a discutir - ele não deveria estar pegando panelas


pesadas, nem distribuindo alimentos. O motivo que me fez vir aqui
para cozinhar foi para que ele não precisasse... mas depois eu vi o
olhar em seu rosto e saí da cozinha sem mais uma palavra. Ele
trouxe duas tigelas pouco depois, depois voltou e retirou os
biscoitos que tinha feito no forno. Nós comemos em silêncio, Sully
conseguiu terminar metade da tigela que ele havia servido antes de
dispensá-la, gemendo.

"Continue. Diga-me que minha comida parece nojenta.


Atreva-se."

"Estava ótimo, Lang. Mas você pode ter notado que estou um
pouco sem clima agora. Meu apetite não é normalmente assim."

"Você deveria ir para a cama. Descanse um pouco", eu disse


a ele.

"Muitos lance de escadas neste lugar. Eu estou dormindo


aqui até me curar um pouco. "De costas, braços enrolados em
torno de seu torso, ele se esticou no sofá de três lugares,
levantando as pernas nas almofadas e fechou os olhos, respirando
pesadamente. Comer parecia ter sugado tudo dele. Realmente
sugado tudo. Seu rosto estava ainda mais pálido do que antes e
aquele suor úmido havia retornado a sua testa.

"Você está muito cinza, Sully. Você acha que pode ser cordial
por alguns minutos enquanto eu checo sua temperatura?"

"Certo. Contanto que você não tente colar um termômetro na


minha bunda."

"Eu prometo, essa é a última coisa que eu planejo fazer." Eu


não tinha ideia de onde estava o seu kit de primeiros socorros, e

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eu não tinha trazido o da The Big House comigo, então eu pela
velha escola e usei as costas da minha mão, pressionando-a contra
sua testa.

"Tenho certeza de que é realmente muito preciso",


murmurou Sully.

"Preciso o suficiente para me dizer que você está queimando.


Jesus, Sully, você nunca deveria ter deixado o centro médico. O
que você estava pensando?"

"Eu estava pensando que eu tinha uma melhor chance de


sobrevivência em casa, onde Gale não podia me matar com
adrenalina em vez de morfina por acidente."

"Sim, bem. Suponho que seja um bom ponto." Voltando para


a cozinha, agarrei um pano de prato de cozinha limpo de uma das
gavetas e coloquei-o sob a torneira fria antes de levá-lo de volta
para a sala de estar comigo. O peito de Sully estava subindo e
descendo tão rápido, parecia que ele tinha acabado de correr uma
maratona completa. Eu segurei o material frio e molhado em sua
testa, mantendo-o no lugar quando ele tentou empurrá-lo para
longe. Seus braços pareciam feitos de borracha - fáceis de afastar.
Ele parecia não ter nenhuma força em seu corpo.

"Você pode chamar Ronan, por favor? Diga a ele que preciso
que ele venha me buscar? Desculpe-me, Mags, não devia ter bebido
tanto." Ele estava balbuciando como se estivesse bêbado. Mais que
dois copos de uísque. Como se ele tivesse bebido a garrafa toda.

“Sully? Ei,Sully, pode se sentar por mim?”

“Não mesmo” Ele tentou, porém, fazer uma valente tentativa.


Ele se esforçou, flexionou os abdominais, balançou para a frente,
e então uivou com dor, olhos abertos, a pouca cor que lhe restava
sendo drenada e deixando-o fantasticamente branco. "Oh, merda,"
ele sibilou. "Isso foi estúpido." Ele parecia ter voltado para si
mesmo, mas quando olhou para mim, pupilas engoliram suas íris

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em um quarto escuro, ele parecia que estava sumindo tão rápido
novamente.

Franzindo a testa para mim, ele estendeu a mão com os


dedos estendidos. "Você... você não é ela, é?"

"Eu sou a Lang." Eu balancei a cabeça, corrigindo-me. "Eu


sou Ophelia. Lembra?" Ele parecia confuso, como se não soubesse
o que eu estava dizendo exatamente.

Eu tirei meu celular da minha bolsa e disquei o número de


Rose o mais rápido que pude. Ela respondeu no quarto toque. "Ei,
O. As crianças estão alimentadas e já tomaram banho. Amie já
desmaiou e Connor está lendo seu livro na cama. Você está
voltando?”

"Não, na verdade, ainda estou aqui com Sully."

"Ele não está no centro médico?"

"Não, ele se recusou a ficar lá aparentemente. É uma longa


história. Ouça, não tenho certeza do que fazer.”

"O que você quer dizer?"

"Bem, ele estava lúcido quando cheguei aqui, mas agora está
queimando em febre e está bastante confuso. Ele me pediu para
chamar Ronan para vir buscá-lo e levá-lo para casa."

"Você deve ligar para o centro médico. Collin deve buscá-lo


na ambulância ou algo assim."

"Eu estava quase fazendo isso, mas estive lá mais cedo e


havia pôsteres em todo lugar dizendo que atendimentos fora de
hora estão apenas disponíveis de segunda á quinta até as nove. E
hoje é sexta-feira.”

"Merda, você está certa."

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"Não posso acreditar que vocês não tenham uma sala de
emergência adequada aqui, Rose. É tão perigoso!"

"Eu sei, eu sei, deixe-me pensar."

Eu estava observando Sully durante todo o tempo que eu


estive falando com Rose, mas eu tinha me afastado por um
momento, beliscando a ponte do nariz entre meu polegar e meu
dedo indicador, então ele não conseguiu ver o quanto eu estava
louca. Ele talvez não soubesse de que jeito estava, mas ele ainda
não precisava me ver em pânico. Eu estava prestes a perguntar a
Rose se haveria mesmo um médico na Causeway para o qual eu
pudesse levar Sully, mas então ouvi um som que parecia de alguém
com náuseas atrás de mim e não tive chance.

Sully estava deitado de lado, enrolado tão pequeno quanto


podia e ele vomitava em seu tapete de creme.

"Ahh, Jesus. Eu tenho que ir Rose. Ele está vomitando. Eu


vou te ligar de volta em um segundo." Eu desliguei e cai de joelhos,
evitando a bagunça que ele fazia.

"Não se preocupe, eu vou," Sully gemeu. "Maldita seja, ajude-


os. Nós temos que tirá-los de lá!"

"O que? Ei, você está bem. Tente chegar um pouco para trás.
Não se preocupe. Vou limpar isso. Apenas descanse por um
momento. Vamos, é isso." Eu não pensei no que estava fazendo.
Eu tinha acabado de fazer isso. Eu lentamente escovei meus dedos
através de seus cabelos, tentando fazê-lo sentir-se melhor. "Tudo
bem, apenas respire, Sully, apenas respire. Estou aqui com você."

"Está muito quente. Os tanques vão explodir. Nós temos que


tirá-los daqui, Crowe. Todos vão morrer.”

"Está tudo bem, Sully. Shhh, já acabou. Você chegou até


eles. Você puxou todos eles fora da água, você se lembra?"

"Água?"

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"Sim. Você pulou no oceano para puxá-los para fora. Era
estúpido e perigoso, mas conseguiu salvar a vida de três pessoas."

"Três? Somente três? Oh. Sim. Está certo."

"Esses três homens estão vivos por causa de você, Sully. Eu


juro que, se você não tivesse feito o que fez, eles se afogariam como
todos os outros."

Ele estava balançando a cabeça. Agitando com tanta


violência que seus dentes rangiam uns contra os outros. "Não. Não,
você está enganado. Eles estão presos dentro do caminhão. Eles
vão queimar se não conseguirmos chegar lá, Crowe."

"Sully! Acalme-se!" Ele estava se debatendo, braços por toda


parte, tentando me afastar dele. Perdi o equilíbrio, recuei-me e caí
de bunda no chão e Sully conseguiu sentar-se bem.

"Vá se foder, Crowe", ele cuspiu. "Se você não quer ir, isso é
com você. Não irei viver o resto da minha vida sabendo que eu
poderia ter ajudado e não fiz. Eu preferiria queimar até a morte
junto com aqueles pobres bastardos." Ele se ajoelhou, prestes a
fazer algo, a agir para ajudar quem ele imaginava que estava preso
dentro de um caminhão em algum lugar, mas ele não deu mais de
três passos em direção à porta da frente antes que seus joelhos se
dobrassem e era isso. Ele estava inconsciente.

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CAPITULO 17
Tomando Liberdades

Fiquei a noite toda. Eu não tinha outra opção disponível para


mim, a menos que eu estivesse bem em deixar Sully desmaiado no
chão da sala de estar em uma piscina de seu próprio vômito, o que
eu não estaria. Então eu fiquei. Felizmente, Rose estava tendo um
grande momento ‘velhos tempos’ cuidando das crianças, então não
seria um problema.

Era um problema Sully continuar a mergulhar e sair da


consciência a cada quinze ou vinte minutos e ele achar que eu era
Magda cada vez mais frequentemente. Curiosamente, ele não
parecia tão feliz que eu (ela) estivesse cuidando dele.

“Você fez sua escolha, Mags. Eu te disse. Não quero ver você.
Não quero ouvir de você. Eu… Só me deixe sozinho, droga!”

Sua febre cedeu às quatro da manhã. Ele estava todo suado,


sua camiseta encharcada, então eu corri para o andar de cima para
encontrar algo limpo para ele trocar e me encontrei tendo um
surreal, momento: “como fazer isso acontecer?” Parada em seu
quarto ao pé da cama. Ele não tinha muitos móveis em seu quarto:
uma cama de solteiro simples, cobertores amassados e
desarrumados (ele não tinha estado aqui desde que acordou para
ver a perturbação na praia, na noite da tempestade) uma cômoda,
uma estante que estava transbordando de livros e uma enorme
caixa preta de plástico com Captn. S. Fletcher escrito na lateral
dela com tinta cinza.

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O lugar tinha o cheiro dele. Ronan tinha cheiro de Armani
Code, desodorante Old Spice e sabão em pó. Sully cheirava a
aparas de madeira, uísque e algo que eu só poderia descrever como
sendo especificamente Sully. Havia um par de meias em cima da
cômoda e um livro, aberto e virado para baixo no chão ao lado de
sua cama. "Zen and the Art of Motorcycle Maintenance". Ele estava
na metade.

Encontrei suas t-shirts limpas dobradas e empilhadas


metodicamente por cores na segunda gaveta de sua cômoda.
Agarrando uma, eu fui à caçada de um par de calções para ele
também.

Lá embaixo, Sully estava tremendo silenciosamente no sofá,


coberto até o queixo. Ele olhou para mim, parada no pé de sua
escada em espiral, piscando com toda a solenidade de uma coruja
chateada. "Então você ainda está aqui, hein, Lang?" Sua voz estava
rouca, sem dúvida por ter gritado tão furiosamente para Crowe (eu)
por horas.

"Parece, não é?"

Sully olhou ao redor de sua sala de estar, chocando.


"Homem. Eu aceito que fui eu que destruí o lugar e não você?"

"Você estava delirando. Você se recusou a manter sua bunda


sentada e, muito menos, deitada. Eu acho que você ferrou com
suas costelas."

"Sim." Um tremor. Pressionando a ponta dos dedos


cautelosamente contra o peito sobre as coberturas. "Eu acho que
você está certa."

"Você está com sede? Você quer um pouco de água?"

Ele me olhou incerto. "Sim. Se você não se importasse, isso


seria ótimo." Seu tom era suave e quase... quase arrependido?

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Seria possível? Nunca pensei que chegaria o dia em que Sully
Fletcher pudesse mostrar um pequeno remorso. Ou gratidão, aliás.

"Sem problemas. Eu volto já."

Eu também fiz umas torradas para ele. Ele tinha vomitado


mais três vezes enquanto estava febril, e provavelmente não teria
nenhum alimento no estômago agora. Quando eu levei o prato, não
fiquei surpresa por ele recusar.

"Obrigado, no entanto. Quero dizer. Eu simplesmente não


posso agora."

"Você quer tomar alguma coisa para a dor agora?"

Uma sombra de raiva cintilou em seus olhos. "Eu disse não,


Lang. Eu poderia estar em pedaços, sangrando na calçada e ainda
preferiria morrer do que tomar qualquer dessas merdas. Não me
pergunte novamente." Parecia que ele estava se sentindo bem o
suficiente para me dizer. Isso foi uma melhora. "Que horas são,
afinal?", Perguntou, tentando se voltar para a janela atrás dele.
Coloquei uma mão em seu ombro, parando-o.

"São cinco e quarenta", eu disse." O amanhecer está logo ali


na esquina. Fazia muito tempo que não virava uma noite duas
vezes em uma mesma semana."

"Tão rebelde". Ele abriu um sorriso e duas covinhas


profundas e dolorosamente perfeitas formaram-se nas suas
bochechas.

"Sim. Se você diz isso." Eu sorri, abaixando minha cabeça.


"Eu tenho que ir, Sully. Não posso deixar as crianças por mais
tempo. Eu estava pensando se você me deixaria lhe perguntar uma
coisa antes de eu ir embora?"

Cautela apareceu nas linhas de seu rosto. "Certo. Não


significa que vou responder se não gostar da pergunta."

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Naturalmente." Não há mentiras com Sully. Apenas a
recusa pontual na entrega das informações que você havia
solicitado. Parecia justo. "Enquanto você estava queimando, você
continuou gritando com alguém. Alguém chamado Crowe. Eu só
queria saber quem ele era."

Sully ficou muito, muito quieto. Por um longo momento, ele


respirou fundo, olhou para mim, olhou para o teto, e então ele
suspirou, longo e pesado. "Crowe era um cara com quem eu servi
no exército. Ele era um idiota e um covarde. Ele e eu não éramos
amigos. É o suficiente para você, Lang?"

Não era. Eu queria saber por que Sully estava tão bravo com
ele mais cedo, quando gritava e esbravejava sobre os homens do
caminhão em perigo, mas eu sabia que estava caminhando em gelo
fino. Ele não me daria mais informações. Não hoje, de qualquer
maneira.

"Tudo bem. Bem. Eu voltarei mais tarde para checar se você


está bem, ok? Depois do trabalho, Rose poderá cuidar das crianças
novamente."

"Você não precisa fazer isso. Eu vou ficar bem agora. Eu acho
que o pior passou."

"Mesmo assim. Eu voltarei às seis."

Os lábios de Sully formaram uma linha plana e apertada. Ele


queria discutir comigo, para defender o seu ponto de vista, eu
sabia, mas ele era um cara esperto. Ele sabia que precisava de
ajuda, mesmo que não quisesse admitir isso.

Agarrei minha jaqueta e fui para a porta.

"Ei, Lang?"

Eu me virei.

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"Eles estão... você sabe. Eles estão bem? Os filhos de
Ronan?"

Eu pensei sobre a questão por um segundo e depois


respondi. "Não. Não, eles não estão bem. O pai deles acabou de
morrer.”

******

"Se você pudesse ver seu pai novamente, Connor, o que você
diria a ele?"

Connor olhou para as mãos, e depois para fora da janela,


onde uma pequena grua havia sido erguida na praia para
transportar os restos torcidos e maltratados do Sea King até a parte
de trás de um caminhão reboque.

"Connor?" A voz do Dr. Fielding era cristalina e perfeitamente


alta através dos alto-falantes do laptop, sentado na mesa em frente
ao menino, embora Connor estivesse diligentemente fingindo não
o ter ouvido.

"Connor, querido. Por que você não responde ao Dr.


Fielding?" Eu estava cansada. Mais do que cansada. Eu já havia
decidido que as crianças não sofreriam por causa do fato de eu ter
saído toda a noite, cuidando do doente deles, como o tio ainda
desconhecido, então eu estava na minha quarta xícara de café do
dia.

Connor tossiu, pegando suas unhas. "Eu não diria nada a


ele. Ele está morto", ele disse calmamente.

"Connor-"

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Tudo bem, Srta. Lang. Talvez Connor esteja certo. Às vezes,
nos primeiros estágios do sofrimento, pode ser útil imaginar esses
diálogos, últimas palavras, se houvesse possibilidade disso, para
fechar a questão e permitir que as crianças se despeçam. Em
outros casos, às vezes pode servir para confundir a situação.
Connor, como você se sente sobre sua vida na ilha? Você gosta de
lá? "Com Ophelia?"

Connor olhou para mim pelo canto do olho.

"Está tudo bem", eu disse a ele. "Você pode dizer o que


quiser. Eu não vou ficar brava, eu prometo."

"Eu odeio", ele falou. "Eu odeio a ilha. Odeio não ir à escola.
Odeio a Amie às vezes. Ela sempre está muito feliz.”

"E Ophelia? Você se importa que seu pai a tenha deixado


encarregada de cuidar de você?"

Ele ficou calado por muito tempo. Eu poderia dizer que ele
queria me olhar novamente, mas ele não se permitiria. E então,
depois de mais alguns momentos de indecisão, ele disse: "Eu não
odeio Ophelia. Eu odiei no início, mas agora... ela está indo bem.
Não me importo que ela esteja no comando. Estar aqui com ela é
melhor do que estar em um orfanato."

"Por que você acha que Amie está muito feliz, Connor?"

"Porque ela nunca parece triste. Ela sempre está brincando


e rindo o tempo todo. É como se ela nem se importasse.”

"Não se importa que seu pai tenha partido?"

Connor desviou o olhar e os olhos se estreitaram pela janela.

"Veja você, a diferença entre você e Amie, Connor, é que ela


é muito mais nova que você. Mesmo que ela esteja muito triste que
seu pai tenha partido, sua mente funciona de maneira diferente da
sua. Ela não sente a ausência de seu pai tanto quanto você. Isso

CALLIE HART Between Here and the Horizon


não significa que ela não se importa, ok? Significa apenas que ela
enfrenta um pouco melhor a tristeza que sente no interior. Isso faz
algum sentido?"

"Eu acho que sim."

"Então, na próxima vez em que você vir Amie rindo e


brincando, pense nisso. Você é seu irmão mais velho, ela te admira
e o ama muito. Ela definitivamente se sente um pouco assustada
às vezes, então talvez seja bom para vocês que você se sente e
brinque com ela. Deixe-a saber que ela pode contar com você, se
precisar. Você acha que é uma boa ideia ?"

Connor levantou a cabeça, olhando diretamente para o Dr.


Fielding na tela pela primeira vez desde que a sessão tinha
começado há quarenta minutos. Parecia que finalmente tinha
ouvido algo que fazia sentido para ele. "Eu acho", ele disse, seu tom
mudou completamente. "Quero dizer, talvez. Se ela não estiver
sendo muito irritante."

"Isso é muito amável de sua parte, Connor. Isso é


exatamente o que um bom irmão mais velho faria." Fielding às
vezes era um pouco suave demais em sua abordagem para o meu
gosto, mas, por outro lado, ele era o psicólogo infantil treinado e
elogiado, e eu era a professora sem emprego. Ele provavelmente
tinha vinte anos de experiência a mais do que eu e a maneira como
ele havia lidado com a situação com Amie realmente parecia
poderia fazer a diferença em toda a dinâmica da casa. Se Connor
começasse a interagir mais com sua irmã, em vez de brigar com ela
sempre que ela estava atordoada, ele poderia acabar se afastando
de sua dor também. Se houvesse essa esperança, então haveria
esperança de um modo geral.

"Connor, obrigado por passar algum tempo comigo hoje. Eu


realmente gostei de falar com você. Eu acho que fizemos grandes
progressos", disse Fielding.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Connor parecia menos certo do que poderia ou não ter sido
realizado durante a sessão. Ele arrumou a boca na sugestão mais
minúscula de um sorriso, embora não houvesse qualquer
indicação disso em nenhum outro lugar em seu rosto. Ele pegou
seu livro e seu gorro listrado de arco-íris, e levou ambos para fora
da sala, fechando a porta silenciosamente atrás dele. Eu odiava
essa parte. Agora era o momento em que Fielding e eu
concluiríamos nossas opiniões e discutiríamos a melhor maneira
de lidar com as crianças durante as próximas semanas, embora na
maioria das vezes sentia que Fielding estava aproveitando a
oportunidade para cutucar e dar um toque no interior da minha
cabeça , também.

"Bem, Ophelia. Eu tenho que confessar que realmente vejo


algum progresso", disse ele, quando me sentei na cadeira, Connor
tinha acabado de sair.

"Sim, eu concordo. Ele tem sido muito mais falante nos


últimos dias. E ele pediu para passar mais tempo lá fora. Embora
isso tenha sido relacionado a um acidente que aconteceu durante
uma tempestade."

"Uma tempestade?" Ele estava usando a sua “de jeito


nenhum!” voz de falso choque que usava com Connor, sempre que
o menino lhe contava algo arbitrário. Isso não foi arbitrário, por
isso, foi frustrante que ele estivesse usando esse tom comigo.

"Sim, uma tempestade. Um navio virou na água perto da


costa. Não o suficiente para a tripulação do navio nadar até a costa,
no entanto. Na última contagem, morreram treze homens.

Aquilo pareceu chamar a atenção dele. "Entendo. E Connor


mostrou maiores níveis de interesse no acidente que parece... fora
do comum?"

"Não. Acho que não. Eu acho que ele está apenas curioso.
Ele sabe que as pessoas morreram por aí. Foi terrível."

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Mmm. Sim, tenho certeza que sim. Uma coisa terrível, pelo
que parece."

Ahh, o tom suave e afetuoso de um terapeuta. Ele conseguiu


soar profundamente ferido pela tragédia, e completamente
mentiroso ao mesmo tempo. Eu queria fechar o laptop e
interrompê-lo, mas isso faria a sessão da próxima semana
realmente estranha. Por causa de Connor, eu consegui não
estourar com ele.

"E você, Ophelia? Como o evento a afetou? Mentalmente?"

Oh, absolutamente não. Eu não seria psicanalisada por


Fielding. De jeito nenhum, não. Uma coisa era estar aqui porque
era o certo a se fazer por uma criança aos meus cuidados, e outra
completamente era estar para ser examinada e avaliada, para que
ele fizesse anotações sobre mim em seu pequeno livro.

Eu dei-lhe o meu sorriso mais determinado e frio. "Estou


bem, doutor. Obrigada por sua preocupação."

"Você não conhecia nenhum dos homens falecidos que foram


trazidos dos destroços?"

"Não. Eu não conhecia. A única pessoa que conhecia foi Sully


e...

Fielding sentou-se em seu assento, como se eu tivesse


alcançado a tela do computador e atingido-o na cara. "Perdão, mas
você disse Sully?"

"Disse. Isso é um problema?" Definitivamente, parecia que


havia um problema.

"Sully Fletcher? O irmão de Ronan?”

"Sim."

"Ah. Certo. Entendo."

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"O que há, Dr. Fielding? Estou confusa."

"Ronan mencionou seu irmão muitas vezes em suas próprias


sessões de terapia pessoal." Ele parecia desconfortável, com a testa
franzida, como se estivesse procurando o que dizer em seguida e
fracassasse. No corredor, o relógio na parede começou a tocar o
meio dia. A quinta hora13 havia sido concluída enquanto ele
continuava. "É claro que a confidencialidade do paciente ainda é
um contrato juridicamente vinculativo, mesmo depois da morte de
tal paciente, Senhorita Lang, por isso não estou obrigado a entrar
em qualquer tipo de detalhes sobre o que se desenrolou entre mim
e Ronan em nossas sessões, porém vou dizer algumas coisas. Fui
levado a acreditar que Sully é um homem corajoso e muito valente
que sofreu várias experiências traumáticas na vida. E quando as
pessoas experimentam todas as coisas que Sully experimentou,
Ophelia, elas deixam uma marca. Indeléveis que não vão embora
facilmente. Não sem o desejo pela cura, de qualquer forma. Ronan
me contou muitas vezes sobre as perigosas proezas que seu irmão
fazia. Coisas realmente imprudentes e arrepiantes. O seu apetite
por se jogar na boca do inferno com tanta frequência, embora
louvável, ao mesmo tempo, também poderia significar que ele
estaria colocando aqueles que o rodeiam em perigo. Ele está
passando algum tempo próximo a vocês? Próximo das crianças?"
Ele ficou em silêncio.

"Ele salvou três homens. Ninguém se machucou porque ele


reagiu a uma situação difícil. E você fala como se Ronan não fosse
do mesmo jeito, Dr. Fielding. Ele foi premiado com a Purple Heart14,
lembra? Tenho certeza de que ele não conseguiu tal feito
distribuindo sorvete no aeroporto de Cabul.”

"Sim, bem. A situação é complicada, seja qual for a maneira


como você olha para ela. Pensei que seria prudente dar-lhe um
toque, caso você precise. Um aviso amigável." Eis um homem que

13 Contagem das horas pelo costume dos judeus.


14 Condecoração militar.

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nunca teve motivos para usar a expressão "um toque" antes. Ele
era muito correto, muito refinado para tais coisas.

"Bem, obrigada, doutor, por cuidar de mim, e das crianças,


mas você realmente não tem nada com que se preocupar, eu
prometo".

******

Rose chegou logo após o trabalho. Eu já tinha dado o jantar


às crianças e os dois estavam banhados, então tudo o que ela
precisava fazer era sentar com eles por algumas horas e assistir as
reprises da Marvel Action Hour (que Amie amava).

Cheguei tarde à casa de Sully. Quando eu entrei no farol,


fazendo malabarismos com recipientes Tupperware de molho a
bolonhesa caseiro e caçarola de frango que eu tinha feito naquela
tarde, tropecei na sala de estar de Sully ao encontrá-lo apoiado
contra uma parede com uma toalha enrolada em torno de sua
cintura, água escorrendo do torso dele e um olhar de agonia no
rosto.

"Jesus, Sully, o que diabos você está fazendo?"

"Primeiramente, eu estava tentando tomar banho", ele disse


com os dentes cerrados. "Agora estou apenas tentando não
desmaiar."

"O que aconteceu? Droga, por que há sangue por todo o


chão?" Uma enorme parte do tapete estava encharcada de
vermelho brilhante ao lado da escada, e porções menores estavam
espalhadas entre lá e o ponto em que Sully estava agora,
debruçado contra a parede.

"Alguns pontos abriram", disse ele, entre gemidos. "Não é tão


ruim quanto parece."

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Onde? E por que você precisava mesmo de pontos em
primeiro lugar?" Eu coloquei de lado as vasilhas de comida que
estava carregando, tirei minha jaqueta, então me apressei para
olhá-lo de perto. De início, não vi o corte longo e irregular em seu
lado direito, porque ele estava encaixando os braços ao redor de
seu corpo, no entanto, a fonte do sangramento tornou-se evidente
quando eu me aproximei.

"O navio", disse Sully. "As rochas da baía o destruíram.


Destruíram a parte inferior do casco. Todos os metais torcidos e
arestas afiadas. Eu vi um dos homens afundar na água, então
mergulhei para pegá-lo. As ondas estavam tão grandes. Linneman
fez o seu melhor para manter o Zodiac firme, mas uma onda grande
o atingiu. Quase o colocou para fora. O Zodíac bateu no Sea King.
Eu estava entre os dois no momento. Fiquei preso. Esmagou
minhas costelas. O aço entortado do casco me pegou em cheio.

"Eu posso ver isso. Deus, Sully. Deixe-me dar uma olhada."
Ele estava protegendo seu lado, o corpo curvado um pouco,
tornando difícil para mim verificar quão ruim o dano era.

"Está tudo bem. Lang, falo sério. Apenas sente-se e deixe-me


recuperar o fôlego por um segundo, maldição.

"Sully, não estou brincando. Mexa-se!"

Ele se endireitou, suspirando de frustração, com os braços


soltos nos lados. O corte era profundo, oito centímetros de
comprimento e parecia inflamado. Levantei completamente o braço
de Sully, tentando obter um melhor ângulo, para ver se estava
infectado, quando vi o início da cicatriz. Vermelha, manchada, de
aparência violenta: começava no quadril e corria para cima em seu
lado e depois em suas costas. Eu o girei, a boca aberta, os olhos
crescendo mais a cada segundo.

"Vire-se," eu disse a ele.

"Por quê?"

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"Apenas faça isso."

"As minhas costas estão bem. Não há nada com o que você
precise se preocupar", ele disse com um tom duro.

"Sully. Falo sério. Vire-se." O Senhor sabia que eu estava


pronta para lhe fazer algum dano com minhas próprias mãos.
Poderia ter sido a determinação na minha voz, ou poderia ter sido
o fato de que ele tinha perdido muito sangue e não tinha energia
para argumentar, mas Sully realmente fez o que eu disse a ele,
voltando o rosto lentamente para a parede em que ele estava
encostado, apoiando ambas as mãos contra o reboco para que eu
pudesse ver a magnitude da cicatriz que se espalhava por suas
costas, subindo até as proximidades de seu ombro. Pele torcida e
franzida. Brilhante vermelho e rosa escuro. Ele tinha uma lesão
muito antiga, curada, mas parecia que ela tinha causado uma
grande dor.

"Bonito, não é?", Perguntou Sully. Ele não parecia amargo


ou irritado. Ele pareceu resignado. Vazio.

"Maldição, Sully. Eu nem sei o que dizer."

"Bom. Então você não diz nada e nós seguimos em frente?"

"Como foi?"

Ele encolheu os ombros. "Um acidente."

"Que tipo de acidente?"

Sully inclinou-se para a frente ainda mais, até sua testa


pressionar contra a parede. Seus olhos fechados. Ele parecia tão
cansado. "Um que envolveu fogo, obviamente".

"Quantos anos você tinha?"

Um longo silêncio. E então, suavemente: "Velho o suficiente."

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Ele claramente não queria mais falar sobre isso, mas eu não
podia deixar o assunto de lado. Não sem uma explicação adequada.
As palavras de Fielding ainda estavam ecoando nos meus ouvidos,
e não pude deixar de entrar em pânico. Este era um excelente
exemplo de Sully tentando tirar sua vida, ou era algo diferente?
"Foi culpa sua?", Perguntei. "Você poderia ter evitado isso, se você
quisesse?"

Sully olhou-me bruscamente. Ele não respondeu


imediatamente. "Eu seria capaz. Mas o custo de prevenir essa lesão
teria sido muito maior do que alguns centímetros de pele
queimada."

"É mais do que alguns centímetros, Sully. É todo o seu lado.


Quase suas costas inteira. Teria sido-"

"Doloroso? Sim, seria um pouco. No momento, estou muito


mais preocupado com a dor na minha caixa torácica e com a ferida
aberta que estou segurando com minhas mãos nuas do que com o
que aconteceu há anos atrás. Você pode entrar na cozinha e me
encontrar um pouco de álcool?"

"Beber provavelmente não é a melhor opção no momento".

"Não para beber. Para esterilizar esse corte novamente."

"Ahh, certo. Desculpe." Eu corri para a cozinha e comecei a


abrir as portas dos armários, tentando lembrar de onde ele havia
retirado o uísque da noite passada. Demorou uma eternidade para
encontrar a prateleira onde Sully escondia suas bebidas.
Agarrando uma pequena garrafa de vodka lacrada, eu também
peguei um pano debaixo da pia, completamente novo, tirei-o da
embalagem e levei isso comigo também.

"Aqui. Isso servirá?" Eu mostrei o que tinha encontrado.

"Sim, é perfeito." Pegando os dois itens, ele cortou a tampa


da garrafa de vodka e derramou uma grande quantidade da bebida

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em todo o pano limpo. "Se eu gritar, não ligue para mim", ele
brincou.

"É impossível para mim não ligar para você", informei,


fazendo uma careta.

No segundo em que ele depositou o material embebido de


álcool contra o lado dele, seus olhos pareciam que iam saltar das
suas órbitas. "Ah, merda. Maldita seja, isso é de matar."

"Não seja tão malvado. Aqui, deixe-me fazê-lo." Peguei o pano


dele. Sully resmungou, mas não me impediu; Ele colocou as mãos
na parede novamente, arqueando para que suas costas estivessem
curvadas em direção ao teto e fez uma careta.

"Seja rápida."

"Se eu fosse o tipo de pessoa de coração frio que gostasse de


ver os outros sofrerem, eu poderia levar o máximo de tempo
possível nesta situação. Por sorte, eu sou mais Maria do que
sadomasoquista, né?" O sarcasmo estava evidente na minha voz
enquanto eu trabalhava eficientemente em seu lado
ensanguentado. Sully fechou os olhos e aguentou. Seu corpo
curvou-se um pouco, sua cabeça ficou pendurada entre seus
braços, mas, além disso, ele ficou perfeitamente imóvel enquanto
eu trabalhava. Quando terminei, ele soltou uma respiração instável
e desigual e se virou para me olhar.

"Um sadomasoquista extrai prazer sexual de infligir dor aos


outros, Lang".

Oh Deus. O fogo explodiu nas minhas bochechas,


indubitavelmente tornando-as vermelhas. Perfeito. Por que a
maneira como ele disse sexual foi, bem, sexual? Isso me fez sentir
como se estivesse me retorcendo dentro da minha própria pele.

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"Bom, esse momento não poderia ser menos sexual, então",
respondi. Eu estava atuando decentemente? Era altamente
improvável, dado os pontos quentes nas maçãs do meu rosto.

"Não poderia?" Sully falou devagar. Sua cabeça ainda estava


pendurada entre seus braços armados, as mãos plantadas sobre
sua cabeça. Ele estava me examinando, lançando um olhar para
mim pelo canto do olho, e os próximos segundos que passaram
foram tão intensos que quase sugram o ar para fora dos meus
pulmões. Por que ele estava me olhando assim? E o que diabos ele
estava tentando insinuar? Respirando profundamente, ele piscou
seus longos e escuros cílios, tão perfeitos, mas não desviou o seu
olhar. "Porque, se você me perguntasse, este momento poderia ser
menos sexual".

"Eu não tenho ideia do que você está falando." Eu balancei


a vodka e agora um pano encharcado de sangue na minha mão,
pronta para fugir com ela para a cozinha, mas Sully levantou-se
em linha reta, dominando-me com um olhar perplexo.

"Sim, você tem. Eu estou aqui enrolado em uma toalha,


coberto de água e você está brincando de babá, cuidando de meus
ferimentos, suas mãos na minha pele nua... Se isto fosse um
pornô, basicamente, estaríamos fodendo agora."

"Eu vou ter que acreditar na sua palavra. Eu não saberia.


Nunca assisti pornografia."

A diversão cintilava em suas feições, iluminando-as de uma


maneira esperada e calorosa. "Você nunca viu pornografia?
Nunca?"

"Isso é o que o nunca significa".

"Nem quando você está excitada?"

"Não. Nem quando estou excitada.”

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"O que você faz para tirar a pressão, então? Você apenas...
cuida sozinha de si mesma? Nenhuma entrada externa? Apenas
seus dedos e sua imaginação?"

Cacete. Não pude mais manter o contato visual. As palavras


que saíam de sua boca eram suficientes para me fazer passar os
olhos no chão. Minhas bochechas não eram as únicas coisas
vermelhas agora. Eu inteira era da cor de uma beterraba.

"Eu não acho que isso seja da sua conta", eu disse


calmamente.

"Eu não acho que seja. Mas você ainda pode me dizer."

"Apenas coloque suas roupas, Sully. Deus." Eu tentei


deslizar em volta dele para ir à cozinha, mas no momento em que
eu me movi, Sully também estava se movendo, deslizando ao longo
da parede para bloquear a entrada para o outro cômodo. Era
surpreendente que ele pudesse se mover tão rapidamente, tendo
em conta a quantidade de dor que ele estava sentindo.

"Lembra da minha política de besteiras, Lang? Bem, estou


chamando de besteira. Agora mesmo. Você."

"Você não pode." Eu tentei me abaixar para passar sob seu


braço, mas novamente ele viu para onde eu estava indo e bloqueou
minha rota.

"Por que não?", Ele perguntou.

"Porque não estou mentindo para você, estou?"

Ele olhou para o teto por um segundo. "Eu chamaria isso de


bela merda."

"Eu apenas chamaria de sorte. Agora saia do meu caminho


antes que eu te derrube.”

Ele sorriu - lindos dentes brancos, lindos lábios. "Pense que


você poderia."

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"No momento, eu posso, sim. Em algumas semanas talvez
não, mas no momento, você está mais frágil do que um homem de
noventa anos."

"Eu ainda poderia te pegar, Lang. Não me tente.”

A maneira como ele disse te pegar enviou arrepios pela


coluna vertebral. Eu estava fora do meu estado normal agora.
Ocorreu-me que de alguma forma, do nada, Sully e eu estávamos
flertando, e não estava preparada para uma empreitada tão
perigosa. Eu recuei, as mãos levantadas. "Não há necessidade. Que
tal eu simplesmente deixar você com seus próprios aparelhos e ir
para casa? Você sabe como trabalhar com um microondas, certo?"

"Eu sei como trabalhar um, claro. No entanto, não tenho


um."

"Quem diabos não possui um microondas?"

"Quem diabos não assiste pornô?" Ele estava gostando muito


disso. Nunca pensei em ver o dia em que Sully Fletcher sorriria e
ainda estaria aqui, testemunhando o milagre com os meus dois
olhos. Todo o rosto tinha mudado. A severidade tinha abandonado
suas feições e tudo parecia... leve. Era como olhar para outro
homem, um estranho que ainda não conhecia.

"Fico feliz em ver que você ainda é capaz de rir às minhas


custas, apesar da perda de sangue", comentei. Eu também estava
sorrindo. Só um pouco. Apenas o suficiente para alimentá-lo.

"Eu poderia ser colocado no meu leito de morte e eu ainda


não ficaria doente o suficiente para resistir a tomar uma panelada
vinda de você, Lang."

"Estou honrada. E por que servir de saco de pancadas para


mim lhe traria uma alegria tão imensa, eu me pergunto?" Eu estava
meio brincando quando perguntei isso; Sua constante necessidade
de me atrapalhar, me encantar, ou simplesmente ser francamente

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grosseiro comigo parecia ser seu único objetivo quando estávamos
lado a lado.

O sorriso de Sully diminuiu. Passou de um nível ardente dez,


até um nível quatro, mais sombrio. Ainda se demorava nos cantos
de sua boca e em seus olhos, como um fogo que não iria sair. "Isso
me traz uma alegria imensa. E você sabe muito bem por que eu
faço isso, Lang."

"Eu não."

"Agora isso é uma besteira".

Eu balancei minha cabeça, cruzando os braços em meu peito


e Sully suspirou. Ele parecia resignado. "Por que algum garoto
puxa as tranças de uma menina no pátio da escola? Por que
qualquer cara adolescente com hormônios finge ignorar a garota
mais bonita da escola?"

"Você não está apaixonado por mim."

"Claro que sim."

"Você está brincando comigo."

"Eu não estou."

"Do jeito que um gato brinca com um rato, seu idiota".

"Se é mais seguro para você acreditar nisso, então ok, Lang.
Estou brincando com você."

"Não é mais seguro. É a verdade."

Sully não abriu a boca novamente. Ele simplesmente olhou


para mim com aquele meio sorriso no rosto, provocando-me. Ou,
pelo menos, pensei que fosse. Droga! As coisas estavam claras
antes - Sully Fletcher me odiava - e agora estavam tão enlameadas,
eu não tinha ideia do que estava acontecendo.

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Sully sorriu, obviamente, curtindo o fato de estar me
provocando. "Então. Você vai me costurar ou o quê?", Ele
perguntou.

"Absolutamente não. Não vou fazer isso. Está maluco?"

"Bem, eu não posso fazer isso sozinho. Eu tentei da última


vez e olha como isso acabou."

Por que não era surpresa que ele tivesse pego uma agulha e
linha para si mesmo? Eu quase pude imaginar a conversa que ele
teve com os médicos no continente, quando ele disse para todos
irem para o inferno.

"Eu sempre carrego comigo uma super-cola para me


recompor se você for sensível", continuou ele. "Eu tenho um pouco
de Gorilla Glue15 aqui em algum lugar".

"Você não pode!"

"É assim que corrigimos as pessoas no campo. É o método


mais eficaz que existe para prevenir a perda de sangue."

Perguntei se ele percebia que já não estava no campo, e que


havia outras maneiras mais seguras de fazer as coisas. "Que acha
de comer alguma coisa?"

Ele suspirou, renunciou. "Claro."

Ele me permitiu passar quando tentei ir para a cozinha desta


vez. Ele não seguiu atrás de mim. Eu coloquei a caçarola de frango
na geladeira e aqueci o molho bolonhês, revirando seus armários
mais uma vez, buscando um pacote de macarrão. Quando não
consegui encontrar nenhum, coloquei minha cabeça de volta na
porta da sala para pedir a Sully onde encontraria e quase gritei
quando o encontrei nu, parado no meio da sala. Felizmente, suas

15 Cola multi-uso americana.

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costas estavam viradas para mim - eu olhei para a sua bunda e
nada mais... nada mais.

Sully não se virou, mas eu pude ver seus ombros tremendo.


Ele estava rindo. O bastardo estava rindo! "Você pode me ajudar a
me vestir se quiser?", Ele ofereceu. "Estou tendo problemas em
dobrar o corpo. Se você pudesse segurar meus boxers, seria muito
mais fácil entrar neles." Vi então que ele estava segurando uma
camiseta limpa em uma mão, uma cueca boxer enrolada na outra.

"Eu acho que vou passar. Uhh, onde você guarda seu
macarrão?"

Sully devia ter muita consciência de que eu ainda estava


olhando sua bunda, porque ele se flexionou, fazendo sua bochecha
esquerda pular não uma vez, mas duas vezes. Lentamente, ele
inclinou o corpo, quase virando-se, o momento em que olhei com
cuidado para o piso da cozinha aos meus pés.

"Eu não tenho espaguete", disse ele. "Ainda tem macarrão


conchinha em cima da geladeira." Ele estava tentando não rir, mas
não estava conseguindo muito pelos barulhos que fazia.

Eu desapareci de volta na cozinha, balançando a cabeça,


tentando tirar a imagem do traseiro de Sully que queimava em
minhas retinas. Não foi tão fácil. Tive a sensação de que eu poderia
passar alvejante em meus globos oculares e a visão ainda estaria
lá toda vez que eu piscasse.

Quando levei a comida quente fumegante de volta à sala de


estar, pisando firme e fazendo barulho suficiente para acordar os
mortos, apenas para ter certeza de que ele me ouviria chegar desta
vez, Sully estava esparramado no sofá, completamente vestido
(graças a Deus) e com o meu celular na mão.

Eu parei morta. "O que você pensa que está fazendo?"

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Ele tocou algo no telefone e então olhou para mim. "Não entre
em pânico, Lang. Eu não estava lendo suas mensagens."

"Então, o que você estava fazendo?"

"Liguei para mim mesmo, então agora eu tenho o seu


número. Da próxima vez que você trouxer comida, eu quero poder
fazer os pedidos."

"Quem diz que vou trazer mais alguma coisa?" Coloquei os


pratos de comida na pequena mesa de café em frente a ele,
franzindo o cenho. "Ninguém nunca lhe disse que é grosseiro mexer
no telefone de outras pessoas?"

"Eu pensei que já havia definido que eu sou grosseiro. Você


não está louca para esperar mais alguma coisa de mim? Se
incomodou você, olha aqui. Tome meu telefone. Faça o que quiser
com ele. Olhe minhas mensagens. Você pode passear pelas minhas
fotos. Leia meus e-mails. Eu não ligo a mínima." Ele jogou seu
telefone no ar, esperando que eu pegasse, mas eu deixei pousar no
tapete aos meus pés com um forte baque.

"Não, obrigada."

Sully olhou ao longo da borda da mesa, presumivelmente


para verificar se o telefone estava quebrado. Ele gemeu quando
esticou o estômago, depois se afundou no banco quando viu que o
iPhone estava bem. "Provavelmente foi melhor assim. Há uma
merda fodida lá dentro. Você é um enigma, Lang. Sabia disso?"

O que Sully Fletcher considerava uma merda fodida?


Certamente, a curiosidade não me faria querer vasculhar em seu
celular como uma namorada ciumenta louca. Mesmo quando eu
suspeitei que algo estava acontecendo com Will, quando ele
trabalhava o tempo todo e recebia mensagens estranhas às duas
horas da manhã, eu nunca me rebaixei. Eu não iria fazê-lo agora,
mesmo com a permissão de Sully. "Eu não sou um enigma", eu
disse a ele, plantando um recipiente de queijo parmesão na frente

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dele. "Eu simplesmente não gosto de pessoas que tomam
liberdades."

"Não tomei. Ainda," ele disse, sorrindo. "Mas sinta-se livre


para ultrapassar tantos limites quanto quiser quando estiver na
cama mais tarde, excitada, olhando meu número no seu telefone,
se perguntando se deveria me enviar uma mensagem."

"Você se acha muito, não é?"

Ele assentiu com sabedoria. "Eu tenho que me achar. Se não


fizer, ninguém mais vai."

Isso me pareceu um pensamento triste. Rose estava certa;


ela tinha pintado uma imagem bastante solitária da vida pessoal
de Sully para me fazer visitar o centro médico, mas tudo era
verdade. Ele realmente não tinha ninguém. Seus pais estavam
mortos. Agora, seu irmão. Ele tinha se recusado a deixar alguém
próximo o suficiente para se preocupar com ele.

"Não pareça muito piegas, Lang", ele disse, coçando a


garganta, ainda sorrindo. "Acredite em mim. Eu prefiro assim."

Eu acreditei nele. Ele projetou essa vida para si mesmo, onde


não precisaria trabalhar com ninguém, falar com ninguém, ver
qualquer pessoa se não quisesse. O homem solitário do farol. O
homem atormentado vivendo junto ao mar. Era estranho que ele
tivesse voltado para cá depois de deixar a Causeway por tanto
tempo, treinar no exército e ser implantado. Depois de todo o caos
e a loucura do Afeganistão, ele não teria querido viver em uma
grande cidade em algum lugar? Ou pelo menos um pouco mais
perto da civilização. Eu tinha ouvido o suficiente sobre ex-soldados
que voltaram da guerra, e acharam a vida "normal" no continente
com ritmo lento demais. A vida, tanto que pude perceber,
praticamente tinha sido interrompida na ilha.

"Vamos comer?" Disse Sully, quebrando a tensão entre nós.


Ou, pelo menos, colocando-a de lado por um momento. Batendo

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no sofá ao lado dele, ele fez um gesto para que eu tomasse assento.
Eu preferiria sentar na poltrona, bem longe de seus ombros largos
e de seu cheiro estranhamente intoxicante, mas eu sabia o que
aconteceria se eu fizesse questão de me sentar em outro lugar além
do lado dele. Ele zombaria de mim, eternamente e eu não sabia se
poderia tolerar muito mais provocações agora. Melhor apenas me
sentar e lidar com a proximidade.

Sully parecia confuso quando começamos a comer. Os


minutos passaram enquanto nós apreciávamos a comida sem
trocar uma palavra. Seu prato estava quase limpo quando ele
quebrou o silêncio. "Eu não os odeio, sabe. Eu sei que eles não são
culpados por qualquer coisa que aconteceu entre Ronan e eu. E
Magda", ele disse, em uma voz muito baixa. Eu sabia exatamente
de quem ele estava falando. Eu estava apenas atordoada com a
maneira como ele tinha trazido o assunto à tona. Ele me fez
prometer não discuti-los ontem e, no entanto, ele era o único a
quebrar essa regra. Aqui estava ele, quebrando novamente.

Quando eu não disse nada, ele continuou. "No entanto,


mesmo o pensamento de vê-los me deixa louco. Magda sempre me
disse que não queria ter filhos. E então, um punhado de anos e
três vidas arruinadas depois, ela teve dois, assim. Como se não
fosse nada. Como se esse tivesse sido o significado da vida inteira
dela."

Fazia sentido que ele se ressentisse das crianças. Quando


ele falou assim, eu pude entender. Porém, era inútil nutrir rancores
contra elas. Como ele disse apenas um momento antes, na verdade
não tinha sido culpa dele.

"Sinto muito, Sully. Você deve ter amado muito a Magda.


Deve doer muito saber que os filhos dela estão tão próximos agora."

Ele pousou o garfo, olhando a bagunça do molho e do


macarrão que ficou no prato - tive a suspeita de que ele de repente
perdeu o apetite. "Na verdade, não. Não dói nada. Fiquei

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entorpecido por muito tempo, Lang. Nada mais me toca. Uma
bomba nuclear teria que detonar dentro da minha cavidade
torácica para agitar até mesmo as mínimas reações do pedaço de
carne que bombeia sangue pelo meu corpo."

"Eu tenho certeza que é um intencional mec-"

"Não diga mecanismo de defesa. Estou cansado de me


defender das coisas. Eu decidi que o ataque era o único caminho a
seguir há muito tempo. Enfrentando as coisas de frente, abordando
as coisas que me assustam sem piscar. Foi assim que lidei com
meus problemas desde o Afeganistão."

"Eu posso ver isso."

"Você pode, agora?", Ele parecia divertido. "Bem, é um


pensamento interessante."

"Por quê?"

"Porque eu escondo para garantir que ninguém me veja, a


maioria dos dias, Miss Ophelia Lang da Califórnia. Foi-me dito no
passado que tentar obter uma leitura clara sobre mim é como
tentar ver uma imagem clara através de um caleidoscópio. Só que
é um caleidoscópio fodido e quebrado."

Eu ri, imaginando quem poderia ter lhe falado tal coisa.


Algum pobre coração partido local? Alguma turista jovem, de olhos
azuis, com a esperança de transformar um romance de férias em
algo um pouco mais concreto? Sully era o tipo de homem para
arruinar as férias e todas as férias pelo resto dos dias, desde o
momento em que você colocava os olhos nele.

"Eu acho que a questão é, você quer que alguém te veja


claramente, Sully?" Certifiquei-me de que meu tom era leve, a
questão claramente retórica. Mantendo a cabeça baixa, comi
enquanto Sully sentado ao meu lado, pensava. Eu podia senti-lo
lutando para descobrir o que ele queria dizer. Eu meio que

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esperava que ele se irritasse e me dissesse para eu me meter em
meus próprios negócios, mas ele não fez isso. Após um longo, longo
silêncio na conversa, Sully finalmente pegou seu garfo e considerou
o que eu havia dito. Silenciosamente, em voz baixa, falou. "Você
disse agora mesmo que devo ter amado muito a Magda. Demorou
muito tempo para perceber, mas nunca a amei. Você não pode
amar algo que não é real. Alguém que existe apenas na sua cabeça.
Ela era linda e gentil à sua maneira, mas era o que ela achava que
todos os outros precisavam que ela fosse. E no final, ela não tinha
uma personalidade própria. Ela era um espelho, refletindo de volta
o que você queria ver. É isso aí. Isso é tudo. Uma concha vazia e
triste esperando ser preenchida por outra pessoa. Então, não, eu
não a amava muito. Adorei o ideal que fiz dela. A realidade era
extremamente insatisfatória." Ele espetou suas conchas, puxando
o macarrão para os dentes, pegando a carne e mastigando. Ele não
disse outra coisa sobre o assunto.

Limpei os pratos e saí, dizendo-lhe que voltaria no dia


seguinte, na mesma hora. Horas mais tarde, na cama, muito
cansada para dormir e muito acordada para sonhar, meu celular
tocou na minha mesa de cabeceira, iluminando o cômodo.

Era de Sully. Ou, como ele mesmo se chamou no meu


telefone: “o cara mais gostoso do mundo”.

Tão idiota.

“Dá um descanso, Lang. Posso sentir você pensando em mim


daqui.”

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CAPITULO 18
Afeganistão

2009

Sully

Os italianos estavam atirando morteiros novamente. Eles


tinham sido designados para enviar um representante para a base,
pelo menos, três horas antes de qualquer ataque planejado nas
áreas suburbanas da cidade, uma cortesia comum para nos
informar como e quando deveríamos levar nossas tropas para longe
de zonas quentes, no entanto, ninguém tinha aparecido com
informações nas últimas vezes, e as tensões entre os campos
estavam correndo alto. Até mesmo um contato por rádio teria
funcionado, mas os europeus estavam cansados do duplo padrão
(nós também nunca avisamos quando estávamos planejando um
ataque), e então eles deixaram claro que tinham parado de ser
bonzinhos conosco. Maldito fato ridículo de que estávamos todos
aqui pelo mesmo motivo, e ainda não conseguíamos nos dar bem.

Adorei ter os italianos ao redor, no entanto. Eles eram os


únicos que podiam infiltrar bebidas fortes no país e estavam
sempre felizes em trocar por cigarros e qualquer revista pornô que

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tivesse sido guardada na unidade compartilhada da unidade na
época. Isso foi muita pornografia.

Eu corri pela base, revoltado a cada vez que o gemido agudo


de um morteiro assobiava por cima de mim, maldizendo seus
nomes hoje, no entanto. Eu corri atrás de um dos primeiros
tenentes da companhia C indo na direção oposta, um rapaz
inconfundível do Alabama que provavelmente estaria contando
toda essa situação algum dia. Ele desacelerou, me saudando. "Eles
estão movimentando as barreiras hoje, capitão. Whitlock vai sair,
tentar socar alguns jumentos esta noite!"

Eu ri, virando-me para correr para trás. "Você viu meu


irmão, tenente? Não consigo encontrá-lo em lugar nenhum."

O tenente balançou a cabeça para um lado, me estudando.


"Peço desculpas por perguntar, senhor, mas quem é você? Eu
posso até ser condenado, mas nunca sei quem é quem."

"Sully", respondi, sorrindo para mostrar que não houve


nenhum mal.

"Ahh. Você tem dicas para diferenciar vocês dois, Capitão?


Pode tornar a vida um pouco mais fácil para o resto de nós aqui
fora."

Dei de ombros. "Desculpe-me, cara. Só há uma maneira de


nos diferenciar e não acho que vai ser muito útil para você."

"Teste-me."

"Bem, meu pau é, obviamente, muito maior do que o dele",


eu disse, rindo. "Foi assim que as meninas do ensino médio sempre
nos distinguiram, de qualquer maneira". Na verdade, Magda era a
única garota que tinha visto meu pau. E Ronan provavelmente era
exatamente igual a mim, até nos milímetros. Não tínhamos
comparado, é claro. Isso teria sido estranho. Nossas mãos, nossos

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pés, nossos ombros, nossa cintura - todo o resto era exatamente o
mesmo. Por que nossos paus seriam diferentes?

O primeiro tenente riu. "Bem, de qualquer forma, o outro


Capitão Fletcher estava em reunião com o coronel. Eu ouvi o
engenheiro de Whitlock se queixando de quanto tempo levava a
reunião deles. Seu irmão provavelmente está se recuperando do
ouvido que foi alugado."

O coronel Whitlock usava sua águia com orgulho. Ele era um


líder conciso, pragmático e eficiente, de um jeito escroto, mas fazia
um bom trabalho. Não era fácil supervisionar uma operação como
essa, no meio do nada com recursos limitados e uma cidade inteira
cheia de moradores locais que queriam vê-lo morto. As únicas
vezes que ele manteve o relógio funcionando em seu escritório era
quando ele estava repreendendo alguém. Você estava fodido e sabia
disso quando passava a melhor parte de um dia dentro do
escritório de Whitlock com as calças em torno dos tornozelos,
recebendo a reprimenda da sua vida.

"Merda. OK. Obrigado, cara." Eu cortei caminho na base,


contornando a enfermaria e os contêineres de transporte que foram
configurados como lojas de produtos diversos, lojinhas com
prateleiras supridas com tubos de pasta de dente, papel higiênico
e Twizzlers16, até chegar ao outro extremo da base, onde as
barracas dos oficiais do Alasca tinham sido montadas. Peguei
Ronan quando ele estava prestes a entrar. Ele ficou aliviado
quando me viu, tinha círculos escuros e ameaçadores sob seus
olhos, e parecia que ele não estava se alimentando corretamente.
Se isso acontecesse por muito mais tempo, seria muito fácil para

16

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as pessoas nos distinguirem. Ele seria aquele que parecia estar
prestes a se deparar com a sepultura precocemente.

"E aí cara. Você deveria ter me encontrado depois do almoço.


Eles foderam tudo e me deram a sua mensagem novamente.
Whitlock atrasou você, hein?" Eu fiz uma careta, esperando para
ouvir o quão ruim tinha sido. Pelo olhar no rosto de Ronan, tinha
sido muito ruim.

Ele engoliu em seco, olhando ao redor, e me instou dentro


da tenda. Verificando primeiro para ter certeza de que estávamos
sozinhos, andou de um lado para o outro e depois de novo, suas
mãos se apertando em punhos repetidamente a cada poucos
segundos. Ele estava agindo estranho, por semanas agora, desde o
incidente com a mulher e o pequeno bebê.

Ele sentiu-se aliviado quando eu disse que ele estava


enganado, que não havia mulher ou bebê, e, conforme os dias
passaram, ele começou a fazer perguntas. Como era o cara? Ele
estava em alguma lista de procurados? O que ele estava vestindo?
Quantos anos ele parecia ter? A vontade de Ronan de acreditar que
ele tinha feito a coisa certa obviamente estava desgastando-o e isso
não terminaria bem.

Quando ele parou na minha frente, seus ombros caíram,


com a cabeça baixa. "Whitlock é um puto, cara. Ele me ligou para
falar sobre alguns pneus perdidos do suprimento, mas isso acabou
por ser uma desculpa. Ele realmente queria falar comigo sobre a
extensão."

"Extensão?" A palavra foi uma bala disparada de um rifle de


alta potência, a três milhas de distância. Você ao ouvir isso, sabia
o que estava por vir, mas você não sentiria o impacto ou a dor por
cinco ou seis segundos, até que o peso tivesse tempo de lhe
afundar. "De que diabos você está falando, extensão? Nosso
passeio é de nove semanas. Depois vamos voltar para os Estados
Unidos."

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Os músculos do maxilar de Ronan se apertaram. Ele desviou
o olhar, com as sobrancelhas franzidas. Eu não tinha visto meu
irmão chorar desde o funeral de nossos pais, e essa era uma
lembrança tão antiga que as mariposas tinham conseguido torná-
la pó.

"Não acho que qualquer um que está na base vá para casa",


ele me disse. "Whitlock diz que eles vão manter todos os oficiais,
bem como os alistados. Eu. Você. Todo mundo. O batalhão inteiro.
A informação projetou o aumento da atividade do Talibã na área a
partir de agora até o final do ano. Então é isso. Todas as
implantações estão sendo estendidas."

Fiquei gelado, apesar do calor. Ele estava certo? De jeito


nenhum, ele estava certo. Eles não podiam simplesmente gerar
esse tipo de merda contra nós sem aviso prévio, especialmente dois
meses antes do período em que deveríamos ir para casa. "Por
quanto tempo?", Perguntei. “Extensões de quanto tempo?"

A respiração de Ronan ficou trêmula. "Seis meses. Ele disse


que havia todas as possibilidades que possam ser encurtadas se a
Informação esteja errada, mas ele duvidava que fosse o caso. Ele
disse que apreciou minha dedicação ao Exército dos EUA e que
meu sacrifício foi para o bem maior da nossa nação e a proteção de
seu povo. Blá blá blá. Fim."

"O que você disse?"

Ronan me olhou bruscamente. "Eu disse muito obrigado,


senhor, pela oportunidade. É uma honra. O que mais eu poderia
dizer? Na verdade, senhor, eu tinha planos de voltar em abril para
o Maine e eu realmente não sinto vontade de cancelar. E a verdade
simples? Senhor, terminei com essa besteira e não acho que eu
possa aguentar outro dia. Não consigo dormir e a cada segundo que
gasto aqui é outro segundo mais perto da insanidade. Como você
acha que a conversa teria sido, Sully? Ele teria tido um tribunal
montado para mim no local."

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"Você não pode saber disso."

"Eu sei. Este é o Whitlock sobre o qual estamos falando.


Então, novamente, se ele montasse o tribunal para me ordenar,
pelo menos eles me enviariam de volta a uma prisão militar nos
Estados Unidos. Isso seria preferível a mais seis meses neste
inferno. Deus. O que diabos está acontecendo agora, Sully? Os
últimos anos, pareceram-se como um longo e ininterrupto
pesadelo que simplesmente não termina. Dia após dia de pé com
as mochilas prontas e tiroteio contra civis, desconfiança de todos e
de tudo, a loucura se aproximando tão gradualmente que ninguém
parece notar, até que um dia o cara que fica ao lado de você na fila
no salão da comida faz algo tão grandemente insano que de repente
você percebe isso, de repente, um clique, e é quando você percebe
que você está a apenas um batimento cardíaco de fazer a mesma
merda louca."

Ele era quase coerente, as mãos agarrando a sua camiseta


cáqui, suando em gotas nas têmporas. Nunca o vi parecer assim,
e nunca tinha estado tão preocupado com ele. As pessoas sempre
falavam muito sobre o vínculo entre os gêmeos. O vínculo
sobrenatural entre eles. Um deles se machuca, o outro sente a dor.
Um deles está infeliz, o outro fica para baixo, também. Um está em
perigo, o outro é agarrado por uma sensação tão esmagadora de
pressentimento que eles têm que telefonar e garantir que tudo
esteja bem.

Ronan e eu nunca experimentamos tal coisa, mas eu não


precisava criar um link psíquico para entender como ele estava se
sentindo. A tensão estava rolando sobre ele, grossa no ar, e seus
olhos estavam selvagens com pânico. Eu pisei e envolvi meus
braços em volta dele, abraçando-o forte. "Porra, cara. Vai ficar tudo
bem. Seis meses não é nada. Nós podemos fazer isso sem
problema. Espere e verá. Nós nem vamos suar.” Ronan enterrou o
rosto no meu ombro, respirando com dificuldade. Ele estava
prestes a se quebrar e se perder totalmente. Segurando nele tão

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apertado quanto eu pude, eu disse a ele uma e outra vez que ia
ficar bem, que outros seis meses não nos matariam, mas essa
terrível sensação de medo estava enrolada no meu estômago como
uma serpente mortal, e ameaçava atacar a qualquer momento. Eu
não sabia se ele poderia aguentar mais seis meses aqui. Eu não
sabia se tudo ia ficar bem. Tudo o que sabia era que eu tinha que
protegê-lo e eu ia fazer toda e qualquer coisa em meu poder para
fazê-lo passar por isso da melhor maneira possível.

Permanecemos por muito tempo em silêncio enquanto


Ronan recuperava o fôlego. Teríamos permanecido por muito mais
tempo se um dos especialistas de Ronan, Crowe, não tivesse
explodido na barraca, gritando meu nome.

"Capitão Fletcher? Ah, você está. Desculpe, Sully. O coronel


Whitlock está procurando por você. Ele perguntou se você poderia
se dirigir diretamente para o escritório dele. Ele tem alguma
documentação para você preencher."

Então era isso. Ronan estava certo; eles estavam estendendo


o tempo de todos. Parecia que eu era o próximo. Meu irmão recuou,
respirando profundamente, endireitando sua camiseta. "Obrigado,
Sully. Eu vou te ver mais tarde, cara. Deixe-me saber como vai,
hein?" Ele se virou e se afastou antes que eu tivesse a chance de
responder a ele. Ele, obviamente, não queria que seu homem
percebesse que ele estava assustado, e também não queria colocá-
lo nessa posição.

"Tudo bem, Crowe." Eu virei para o especialista, batendo-o


nas costas. "Você lidera o caminho. Estou bem atrás de você."

A caminhada inteira até o escritório de Whitlock, os


morteiros dos italianos continuavam a chover na cidade a quatro
milhas de distância, enviando rajadas de fogo e morte no céu.

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CAPITULO 19
Disputa pela luz do sol

"Você está pronto para isso? Tem certeza de que não quer
esperar até depois do Natal, como planejamos?"

Connor estava deslizando um novo caderno e um maço de


lápis em uma mochila azul escura que eu comprara para ele em
uma loja. As papelarias de Causeway não eram muito sortidas,
então eu tive que fazer o melhor que pude. Como resultado, Connor
tinha tudo o que precisava para o seu primeiro dia na escola, mas
ele dificilmente seria o a criança mais legal do ano. Se tivéssemos
voltado à Nova York, poderia ter levado-o por toda a cidade,
comprar os melhores sapatos, as melhores roupas, uma montanha
de papéis diferente, canetas, bastões de cola etc. Ele não parecia
se importar que não estava adornado com nomes de marca, no
entanto. Ele parecia feliz por sair da casa.

"Sim, está tudo bem. Eu quero ir. De verdade."

Rose apareceu em casa depois do trabalho no dia anterior,


dizendo que não seria uma ótima ideia se as crianças pudessem
fazer alguns amigos antes dos feriados, então eles teriam pessoas
para visitar. Ela já tinha falado com o diretor na escola primária,
que estava bem em admitir Connor antecipadamente. Eu não tinha
tido muita contribuição na decisão – ótimo para mim, porque
Connor realmente parecia estar animado dessa vez, e isso era uma
maravilha por si só.

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"Você quer que eu o leve, ou Rose?" Eu perguntei a ele.

Ele mordeu o lábio e olhou para o chão. Um segundo depois,


com olhos estreitados, ele olhou para cima e disse: "Você, por
favor."

Então eu o levei. Quando eu disse adeus para ele no portão,


onde outras crianças estavam passando boquiabertas para o
pequeno edifício de aparência quadrada, Connor se virou e me
abraçou, a cabeça pressionada no meu estômago, com os braços
capazes apenas de alcançar minha cintura e eu senti um punhado
de ansiedade disparar através de mim. Ele ia ficar bem? E se ele
tropeçasse e caísse? E se ele batesse a cabeça? E se algumas das
outras crianças começassem a intimidá-lo sem motivo? Havia
infinitas coisas que podiam dar errado no primeiro dia em uma
nova escola, e parecia errado que eu estivesse de pé ao lado do
terreno da escola, observando-o correr para dentro, mochila
saltando para cima e para baixo nas costas e eu não estivesse
entrando com ele para protegê-lo. Eu suponho que era assim que
se sentiam os pais que deixavam seus filhos em Saint Augustus
enquanto eu entrava, também, pronta para ensinar.

A sugestão feita por Michael na festa de Rose voltou à mente.


Havia um cargo vago para um professor de tempo integral na
escola. E eles pagavam bem. Uma vez que o prazo de seis meses
com as crianças se ampliou, chovesse ou fizesse sol eu estava
procurando outro emprego. Se eu ficasse aqui em The Causeway
após o verão, seria tão ruim? Se as crianças ficassem aqui de
alguma forma, também? Eu não podia me imaginar deixando-os
agora, ou simplesmente entregando-os a Sheryl, para ser
despejados em uma horrível casa de acolhimento. E isso depois
deles esperarem por meses em um orfanato, aguardando uma
eternidade para ver quem concordaria em levá-los. O pensamento
simplesmente me matava.

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Em casa, Amie e eu fizemos dinossauros de sparkles para
colocar a geladeira, e depois nos sentamos e lemos um livro juntas.
Nesse meio tempo, meu celular tocou no braço do sofá.

Sully: macarrão e queijo? Bife?

Ele terminou com um emoji piscando, o que me fez balançar


a cabeça.

"Do que você está sorrindo, Feelya?" Amie perguntou,


olhando para mim. Seu rosto era tão perfeito. Tão doce e inocente.
Seu cabelo flutuando em uma onda de estática que penetrava entre
nós.

"Nada, monstrinha. Apenas um amigo fez uma piada no meu


telefone."

"Foi uma piada engraçada?"

"Na verdade, não. Ele estava sendo atrevido."

Ela se recostou, com a cabeça apoiada no meu braço, rindo,


mostrando os dentinhos, e eu só queria envolver meus braços ao
redor dela e apertá-la forte. Ela era a coisa mais adorável. Ela tinha
o mesmo queixo, a mesma testa alta e as mesmas covinhas do pai
e do tio. A mesma cor de cabelo. O mesmo sorriso e o mesmo brilho
malicioso em seus olhos. "O que ele disse?", Perguntou, ainda
rindo.

"Ele está doente no momento, então eu fiz o jantar para ele


e entrei em sua casa do outro lado da ilha. Ele estava apenas
dizendo que queria um bife com macarrão e queijo para o jantar, o
que é realmente atrevido porque não é tão simples de fazer."

Seus olhos se arregalaram. "Eu amo bife com macarrão e


queijo."

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"Mmm, eu sei. Eu também."

"Podemos comer isso no jantar também?"

"Ah garoto."

Então foi isso. Uma rápida ida à loja mais tarde e Amie e eu
estávamos na cozinha com os ingredientes necessários, fazendo o
jantar que Sully havia pedido: bife com macarrão e queijo à la Amie.

Mais tarde, quando levei sua comida, Sully levantou a tampa


do seu jantar e arqueou uma sobrancelha, lembrando tanto Ronan
que fiquei sem fôlego.

"Por que, posso saber, o macarrão e o queijo verde? E por


que o bife... na forma de um coelho?"

"Não é um coelho. É um Velociraptor. Você não pode dizer


porque ainda não está pronto. Eu não queria que ficasse duro no
caminho até aqui."

Sully franziu a testa um pouco mais, olhando para a comida.


"Estou sentindo que você ajudou a preparar essa refeição."

"Foi mesmo. A minha chefe de cozinha é excelente. Cinco


anos de idade. Adora a cor verde e dinossauros. Ela lamenta muito
que você esteja doente e espera que você melhore logo."

Sully inclinou-se contra o balcão e suspirou pesadamente,


cruzando os braços sobre o peito. "Esta é uma estratagema barata
para eu me apaixonar por minha sobrinha e sobrinho através da
comida? Porque não vai acontecer. Eu sou impermeável à tristeza."

"Eu tenho certeza que você é. Tenho certeza que você é,


amigo."

Durante a próxima semana, isso não me impediu de alistar


a ajuda de Amie com as outras refeições de Sully. Monster Brains
(sopa de moluscos, com biscoitos), Putrid Pot Pie (peru e milho doce
- Amie não gostou do milho). Seabay, que, segundo Amie, parecia

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vômito. Felizmente, parecia mais uma outra caçarola de frango,
mas Sully tinha dado risada.

Minhas visitas de duas ou três horas à sua casa à noite


estavam se tornando cada vez menos estressantes e mais
agradáveis a cada dia que passava. Milagrosamente, Sully estava
mudado. Era uma coisa interessante assistir. Ele flertava como um
demônio e ainda estava afiado como um chicote com suas
respostas, mas a hostilidade havia desaparecido. Ele me enviava
mensagens uma ou duas vezes por dia e, surpreendentemente,
raramente queria matá-lo por causa do conteúdo. Raramente.
Ainda houve momentos em que ele enviou algo tão bárbaro e
excessivo que eu considerei dizer-lhe para se ferrar, mas na maior
parte do tempo ele estava se comportando.

Na sexta-feira, sete dias depois que ele tinha voltado para


casa do centro médico, entrei no farol e Sully me entregou uma
caneca de café. "Grande e preto, exatamente como você gosta",
disse ele, sorrindo.

"Isso não faz sentido", eu disse a ele, tomando o café com um


longo gole.

Sully sorriu, empurrando as mãos nos bolsos do jeans. "Não


é? Eu vou deixar você pensar sobre isso por um tempo. Que criação
terrível teremos hoje, então?" Ele perguntou, mexendo as
sobrancelhas por conta da caixa que eu tinha posto na mesa de
café.

"Por que você não vê?" Eu a peguei novamente e fui para a


cozinha, procurando por pratos. Sully entrou atrás de mim, ainda
se recuperando, fazendo o melhor que podia para minimizar a dor
das costelas, que ainda era constante e bem grande.

"Porra, mulher. Eu já tive meu treino do dia. Não preciso


persegui-la por toda a casa, você sabe.”

"Você chama tomar banho e se vestir de treino?"

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"Chamo. E limpar minha própria bunda. Você tem alguma
ideia de quão doloroso é me torcer e limpá-la agora?" Ele fez uma
boa demonstração, torcendo o tronco e depois gritou quando sua
caixa torácica latejou.

"Bem feito."

"Apenas abra a maldita comida, Lang," ele resmungou,


segurando a mão no peito, como se isso pudesse parar a dor.

Abri a Tupperware e mostrei o que Amie e eu tínhamos feito


antes de sair da casa. "Esta é a refeição favorita dela", disse-lhe.
"Ela disse que queria fazer isso para você, para que finalmente
melhorasse. Eu expliquei que as costelas quebradas demoravam
um pouco mais do que uma semana, mas ela parecia bastante
convencida de que esse seria o truque."

Sully considerou a refeição: panquecas, afogando-se no


xarope de bordo. Salsichas de frango e maçã. Ovos, mexidos, ainda
quentes da frigideira. Ele suspirou, recostando-se contra o balcão
da cozinha. "Nossa mãe costumava fazer isso para mim e Ronan
quase todos os dias quando estávamos de férias", ele disse
calmamente. "Ela chamava de disputa pela luz do sol."

Eu mordi meu lábio, não tendo certeza se eu deveria dizer


qualquer coisa. Inferno, no entanto. Não podia doer dizer a ele a
verdade. "Amie também chama assim. Ronan costumava fazer pra
ela.”

Sully olhou para a comida um pouco mais, se movimentando


e se contorcendo como se estivesse extremamente desconfortável.

"Bem. Porra.” Ele passou a mão por seus cabelos e deixou-a


lá na base do pescoço, seus lábios pressionados em uma linha
branca apertada.

"Vamos comer, Sully. Não precisa fazer disso uma


tempestade."

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"Não. Você está certa. Não." Ele ainda parecia derrubado pela
ventania, no entanto. Sentamo-nos e comemos em silêncio.
Quando terminamos, Sully fez algo que me surpreendeu. Ele se
levantou, e então estendeu a mão e me levou, fazendo-me levantar,
também. Pensei que ele iria me escoltar para fora da casa ou algo
assim - ele tinha sido pensativo e silencioso desde que eu lhe
mostrara a comida - mas, em vez disso, ergueu a mão direita e
colocou meu cabelo para trás da orelha, dando um sorriso
enigmático.

"Eu nunca beijei uma garota pela primeira vez sem estar
bêbado, sabe?", Ele disse.

"O quê? Você não está prestes a fazer isso." Tentei dar um
passo atrás, envergonhada, muito chocada por acreditar que por
um segundo ele estava falando sério. Ele passou um braço em volta
da minha cintura e me deteve.

"Deus, Lang. Nada na minha vida é fácil. No momento,


apenas sair da cama é uma maldita e difícil luta. A respiração é
bem mais custosa do que deveria ser na maioria dos dias. Não
dificulte isso também." Ele sorriu seu sorriso imprudente, covinhas
travadas e carregadas, prontas para matar, e meu peito apertou
firmemente. Ele estava falando perfeitamente sério, e eu não tinha
ideia de como reagir. Eu meio que estava congelada, alarmada e
desarmada, pega completamente desprevenida.

"Eu-"

"Você não quer que eu te beije?"

Lentamente, eu assenti com a cabeça. "Eu quero. Pelo


menos, acho que eu...”

"Sem mais divagações." Ele me apressou, curvando-se para


encontrar-me, sua boca caindo na minha, roubando o pequeno
suspiro que dei imediatamente. Se eu quisesse reagir de alguma
forma, para afastá-lo ou objetar, nunca teria tido tempo. Ele me

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atraiu para dentro dele, segurando-me cuidadosamente contra seu
corpo, seu peito pressionando contra o meu, a fivela do cinto
afagando meu estômago. Suas mãos eram firmes e persuasivas;
Parecia que ele queria me tocar em todos os lugares, sentir a
textura da minha pele sob a ponta dos dedos, para se deleitar com
a sensação de nossos corpos alinhados tão perfeitamente um
contra o outro. O beijo foi o tipo de beijo que fazia as pessoas
assobiar na rua. Foi espetacular - um terremoto em forma de beijo
que faria sua cabeça girar e seus joelhos se tremerem. Eu não sabia
o que fazer. Tinha duas opções: eu poderia empurrá-lo para longe
e estapear seu rosto com força o suficiente para derrubá-lo até a
próxima semana, ou eu poderia me deixar levar por ele e beijá-lo
de volta.

Eu queria fazer os dois, ele não tinha o direito de plantar


beijos em mim do nada, lançando minha sanidade no espaço, mas,
então, foi mesmo perfeito.

Eu o beijei de volta.

Enrolando meus braços ao redor de seu pescoço, subi na


ponta dos pés para reivindicar sua boca tão febrilmente quanto ele
reclamava a minha. Sua língua passou rapidamente pela minha e
então Sully estava segurando meu rosto na mão, esfregando a
almofada de seu polegar contra a carne inchada de meus lábios.
Ele recuou, sorrindo da maneira mais inimaginável e nefasta, como
se estivesse planejando a minha ruína dentro daquela cabeça
perversa.

"Sua boca..." ele sussurrou, rindo suavemente em voz baixa.


"Você não tem ideia de quanto tempo eu passei fantasiando sobre
sua boca, Lang."

"Você fantasiou? Por quê?” Essa era uma pergunta


incrivelmente ingênua. Eu sabia por que ele estava sonhando
acordado com minha boca muito bem. Sully parecia que estava
feliz por eu ter perguntado, no entanto.

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"Bem", ele disse, dando um passo à frente. Nós estávamos
encostados um contra os outro, então não tive outra escolha senão
dar um pequeno passo para trás ao mesmo tempo. "Seus lábios
são incríveis. Eles parecem tão carnudos, pelo amor Deus. Eu
imaginei pegá-los entre meus dentes mais vezes do que posso
lembrar. Ficar com raiva de você está sendo realmente muito difícil.
E só para que você saiba, Lang, toda vez que você lambe os lábios,
toda vez que a sua língua sai da sua boca tão perfeitamente
moldada, eu adoro imaginar o que sentiria ao ter a língua sua
lambendo a minha cabeça pau. Me deixa louco."

Eu não podia acreditar que ele simplesmente disse isso com


tanta facilidade. Will e eu nunca tínhamos falado sobre sexo. Nós
tentamos falar sacanagens um para o outro algumas vezes, mas
ele disse que o fazia sentir-se mal. Nojento, mesmo. Ele sentiu que
estava se aproveitando de mim.

Will era o cara mais baunilha, dentro e fora do quarto, e eu


já sabia, profundamente, que Sully era o oposto. Ele era menta e
morango, chocolate e pistache todos misturados em um só. Onde
Will era frio como gelo, Sully estava ardendo em fogo. Onde Will era
reservado, sempre preocupado com o que os vizinhos podiam
pensar, Sully estava ferozmente decidido a reclamar o que queria
e a ferrar alguém pensasse qualquer coisa sobre ele.

Ele entrelaçou os dedos no meu cabelo, torcendo-o em um


nó desarrumado na minha nuca, puxando-o suavemente,
inclinando minha cabeça para trás.

"E isso?", Ele disse, rastreando lentamente o dedo indicador


de sua mão livre pela linha da minha garganta. "Seu pescoço, Lang.
Porra. Você tem o pescoço mais sexy."

"Pescoços não são sexy", respondi tentando ignorar a batida


errática do meu coração enquanto tropeçava em meu próprio peito.
O medo estava borbulhando dentro de mim. A maneira como Sully
estava me segurando era mais do que sexual; era vital. Meu corpo

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estava zumbindo ao seu toque, cheio de eletricidade e toda vez que
ele roçava sua boca contra a minha, senti que me elevava para cada
vez mais longe da realidade.

Eu queria ele. Ele também me queria, era muito óbvio, tendo


em vista a ereção dura como rocha cuja pressão eu podia sentir na
parte inferior do meu estômago. Mas essa era uma ideia terrível.
Uma terrível ideia , terrível.

Sully era o tio de Connor e Amie. Ele era louco, tanto quanto
eu podia dizer e ele não queria nada com os filhos de seu irmão.
Eu não deveria querer ele. Não podia. Afastando-me, suspirei
fundo, já me odiando. Eu estava me equilibrando na borda de uma
faca. O olhar certo de Sully, a palavra certa e eu estaria caindo em
seus braços. Com certeza, quando eu olhei para ele, a expressão
sombria e pensativa em seu rosto era como uma chama; Eu dei
três passos gigantes de para longe dele, até as minhas costas
chegarem à parede atrás de mim.

"Uou. Isso foi muito estúpido", eu disse, rindo nervosamente.


"Ficar trancado neste farol deve realmente estar matando você,
Sully. Se você estiver disposto a se contentar comigo para escapar
do tédio, provavelmente devemos pensar em tirá-lo de casa o mais
rápido possível.”

Ele estava andando em minha direção, o queixo para baixo,


me encarando por baixo das sobrancelhas escuras dele - Sexy.
Malditamente sexy - e eu não pude evitar. A adrenalina disparou
por mim como uma bala ao deixar a arma, rasgando tudo à sua
volta. "Eu não estou entediado", ele disse devagar, com a voz baixa.
"Eu não fiquei entediado por um único segundo em sua
companhia, Lang. Desde o primeiro dia, você me intrigou."

"Assediei você. Eu o assediei. Você mesmo disse isso." Eu


estava olhando por cima do ombro, tentando descobrir como
escapar dele, passar para o outro lado da sala e chegar à porta da
frente, mas era como se Sully pudesse ler os meus pensamentos.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Ele balançou a cabeça. "Quanto tempo você ainda tem na ilha,
Lang?", Ele perguntou seco.

"Três meses e meio." Eu deveria ter gaguejado. Minha dicção


sempre me decepcionava quando estava nervosa e agora eu estava
aterrorizada. Eu deveria ter tropeçado em minha própria língua em
cada sílaba, mas ainda assim, eu, de alguma forma consegui falar
as palavras de uma só vez.

"Três meses e meio. Certo. Então, você acha que realmente


devemos desperdiçar o pouco tempo que temos juntos?"

Choque.

Eu estava em choque.

Sully estava sério. A intensidade que derramava dele levou-


me a tocar a parede atrás de mim, tentando me certificar de que
não deslizaria para baixo e entraria em colapso formando uma
piscina no chão. "Você sabe que passarmos tempo juntos, dessa
forma, não é uma boa ideia. Tanto da minha parte, quanto da sua.
Você está certo. Três meses e meio é uma quantidade tão curta de
tempo- "

"É tempo suficiente para nos conhecermos."

"É tempo suficiente para eu me apaixonar por alguém. De


verdade. E depois? Eu volto para a Califórnia, sem as crianças,
sem trabalho e com o coração partido?" Eu balancei minha cabeça.
"Não, Sully. Isso não acaba bem."

"Você não sabe como isso acaba", ele retrucou. "E eu posso
lhe garantir, você não terá se apaixonado por mim no momento em
que você deixar este lugar. Não vou deixar isso acontecer. Eu posso
protegê-la disso."

"Como?"

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Ele fechou o espaço entre nós novamente, movendo-se
lentamente. "Ao permitir que você me conheça. Ao mostrar-lhe
minhas verdadeiras cores." Ele gentilmente enfiou um fio de cabelo
atrás da minha orelha, olhando para o lóbulo dela como se
quisesse se deleitar com ele. "E eu vou acionar meus super poderes
de idiota em um cenário diabólico. Isso deve funcionar."

Olhei para ele desafiadoramente, procurando seu rosto. Ele


acreditava que suas respostas sarcásticas e sua língua afiada
seriam suficientes para conter as marés de algo que eu já sentia
incontrolável como a onda de um tsunami que corria para a costa?
Eu estudei seu rosto por um longo tempo, disposta a não me
inclinar em minha mão e fechar meus olhos. Sully estava
paralisado. A expressão em seu rosto estava vazia, seus olhos como
espelhos, apenas refletiam de volta para mim suas profundidades
sombrias, não demonstrando nada dele. Seus lábios estavam
apertados firmemente. Ele estava prendendo a respiração.

Afastando-me da parede, abaixei-me, peguei minha bolsa do


chão e logo passei por ele antes que ele pudesse me impedir. "Sinto
muito, Sully. Eu tenho que ir."

"Lang?"

Não me virei.

"Ronan e eu brigávamos o tempo todo", ele falou


rapidamente. "Nós nos irritávamos e surrávamos um ao outro, mas
apesar de tudo isso, nós nos amávamos. Depois do que ele fez com
a Magda, no entanto... não havia mais volta. Isso me tranformou.
Admito que não sou o homem que eu costumava ser. Mas você me
faz sentir... droga. Ele parou, resmungando. "Você me faz sentir
como se eu pudesse encontrar esse homem de novo, o homem que
eu era, antes de Magda e antes do Afeganistão e isso me assusta.
Eu nem sei se quero ser ele de novo. Então... não se afaste para
sempre. Eu entendo se você tem que ir embora agora. Mas

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certifique-se de voltar, ok? Isso ainda não acabou e você sabe
disso."

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CAPITULO 20
Anjos de neve

Três dias. Então, uma semana. Então duas.

Dezembro chegou e com ele a neve. Neve úmida e úmida que


não demorou muito tempo para transformar as estradas em um
pesadelo para dirigir. Tudo era cinza e triste, especialmente meu
humor. Rose comentou sobre o meu espírito abatido algumas vezes
e desistiu de tentar descobrir o que estava errado comigo. E foi
quando Amie perguntou por que eu estava tão triste o tempo todo
e se eu iria embora como seu pai e sua mãe, que eu percebi que
era preciso dar um basta. Eu não estava mais sozinha. Eu tinha
duas pessoinhas para levar em conta e ficar me lamentando,
sentindo pena de mim mesma porque eu tinha sido estúpida o
suficiente para desenvolver uma atração séria por um homem que
era essencialmente venenoso, só iria deixá-los ansiosos e infelizes.

Então afastei esses pensamentos.

Connor ganhou um papel no presépio da escola. Ele só tinha


duas falas, então não importou que ele tivesse se juntado ao elenco
em cima da hora. Ele arrasou no papel de pastor No. 2, e Rose e eu
choramos um pouco quando ele fez uma reverência no final da
peça, sorrindo de orelha a orelha. Nunca o tinha visto sorrir. Não
assim. Não como se ele fosse um garoto normal, sem problemas,
de sete anos de idade, brincando com seus amigos, esperando o
Natal.

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Outra semana.

Jerry, o barqueiro, decidiu navegar de volta para o


continente mais cedo e não contou a ninguém que ele não voltaria
até o dia depois do Natal, então os habitantes de The Causeway
atravessavam as poucas pequenas mercearias que permaneceram
abertas na ilha, tentando encontrar presentes de última hora,
juntamente com ingredientes para os jantares do feriado.

Então, na manhã de Natal. Acordei ao ouvir Amie correndo


de um lado para o outro do corredor, gritando a plenos pulmões,
seguido por seu irmão, que também estava gritando e rindo. Eles
entraram no meu quarto, gargalhando como maníacos, meio
vestidos, cabelos desgrenhados, ambos com sorrisos radiantes.

Jogando-se na minha cama, eles pularam em cima de mim


e continuaram a balançar e saltar, gritando a pleno pulmões.
"Neve! Neve! Neve!" Amie caiu de joelhos, pousando logo em cima
de mim. "Levante-se, Feelya. Há tanta neve lá fora. Precisamos
brincar nela.”

Com certeza, quando eu permiti que eles me arrastassem,


grogue e com uma necessidade dolorosa de cafeína, para a janela,
a vista toda fora da janela era de um branco puro, até onde os olhos
podiam ver. Devia ter havido uma enorme tempestade à noite e
todos nós dormíamos enquanto isso.

"Podemos?" Connor disse, olhando esperançoso. "Nós nem


estamos com fome. Não precisamos de café da manhã."

"Eu não sei sobre ignorar o café da manhã", eu disse,


bocejando. "Mas definitivamente podemos sair e construir um
boneco de neve primeiro. Que tal?"

Eles gritaram em resposta. Do lado de fora, o mundo estava


fresco e novo. Parecia que estava segurando a respiração. Como se
estivesse guardando um segredo. O enorme gramado na frente da
casa era um cobertor branco puro. Connor e Amie, em botas de

CALLIE HART Between Here and the Horizon


borracha rosa e verde, eram como animais selvagens, corriam um
com outro, em círculos, se empurravam, faziam anjos de neve de
costas.

Eles me arrastaram com eles e eu criei o anjo da neve mais


torto e sem forma, o que os fez rir. Nós três nos deitamos de costas
na neve, ofegantes, tentando recuperar o fôlego, olhando para o
céu e Connor estendeu a mão e pegou minha mão. Eu nunca
esquecerei isso. O pequeno gesto, geralmente incomum, que me
deixou tão perto das lágrimas. Apertei a mão e ele se afastou, mas
sorriu para mim quando correu, gritando tão alto que sua voz
ecoou na distância.

Quando o frio se instalou e a glória de carregar na neve já


não era suficiente para distrair as crianças da atração dos
presentes que os aguardavam debaixo da árvore de Natal, voltamos
para a casa. Na entrada, colocados ali, empilhados um em cima do
outro, havia três presentes envolvidos em papel pardo.

"Olhe!" Amie subiu os degraus e pegou o primeiro presente,


sacudindo-o em sua mão pequenina. "Papai Noel nos trouxe
presentes extras!" Ela levantou para me mostrar.

"Esse tem um O em cima." Connor pegou o presente –


comprido e estreito - dela, estudando o pequeno cartão de presente
que tinha sido fixado no topo. "Não diz mais nada. Eu acho que é
para você." Ele me entregou o presente e, em seguida, pegou um
embaixo. "Este tem um A nele. E este tem um C." Pegando o maior
e mais volumoso presente do chão, Connor deu a sua irmã, que
teve que segurá-lo com duas mãos.

"Uau! É pesado! De onde eles vieram?"

"Eu não sei, querida. Eu acho que o Papai Noel talvez tenha
esquecido desses, então ele os deixou aqui, onde ele sabia que os
encontraríamos." Os presentes não estavam lá quando saímos
antes, eu tinha certeza disso. Eu virei, examinando o gramado e o

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caminho que se estendia por mais de uma milha até a estrada
principal, e lá, na distância, eu o vi - uma figura alta vestida de
preto, tão de longe ele era apenas pouco mais de meio centímetro
de altura, afastando-se da casa. Calças pretas. Jaqueta preta. Um
chapéu preto, ou talvez apenas um cabelo muito, muito escuro.
Plumas de fumaça subiam no sopro da figura, nublando a cabeça
enquanto ele se tornava cada vez menor, até que eu não consegui
vê-lo mais.

"Quem era?" Connor perguntou.

"Eu não sei, amigo. Não tenho ideia . Vamos. Que tal
entrarmos e comermos mingau de aveia? Eu acho que estou
começando a congelar." Eu sabia quem era a figura misteriosa. Era
óbvio demais. Sully devia ter vigiado quando estávamos brincando
no gramado enquanto ele deixava os presentes. Ele tinha escapado,
a menos de cinquenta metros de distância, e nenhum de nós o
havia visto. Deslizei o pequeno presente no bolso do meu casaco,
levando as crianças para dentro, e não pude deixar de me
perguntar o porquê. Por que ele se incomodaria em se esconder na
propriedade para trazer às crianças um presente? Para me trazer
um presente. Depois de tudo o que ele disse, não fazia sentido que
ele chegasse a tal extremo, caminhando uma distância tão grande
no frio, tão cedo pela manhã. Por que ele não dirigiu a
caminhonete?

Eu não consegui passar muito tempo analisando o


comportamento do homem. O café da manhã precisava ser feito, e
depois as crianças passaram duas horas inteiras abrindo os
presentes e a brincando com seus brinquedos. Felizmente, tive a
precaução de encomendar tudo para eles on-line semanas antes,
então o ato de Jerry desaparecer não me afetou de forma alguma.

Connor e Amie, sem querer fazer isso, acabaram abrindo os


presentes de Sully por último.

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Para Connor, um telescópio bonito e pequeno, feito de latão
e madeira de bordo. Assim que ele abriu a caixa e tirou o artigo
complexo de dentro, eu sabia que Sully é que tinha feito. Você não
poderia mais comprar esse tipo de artesanato. Tudo era feito nas
máquinas, mas o telescópio de Connor era único, a madeira lixada
e moldada à mão, o funcionamento suave e deslumbrante. Connor
segurou-o reverentemente, os olhos arregalados e espantados. "É
incrível", ele disse sem fôlego. "Muito melhor do que os meus
binóculos. Poderei ver as estrelas com isso."

"Com certeza vai, amigo."

"Melhor presente de todos os tempos. Mal posso esperar que


escureça para que eu possa experimentá-lo."

O presente de Amie era tão impressionante. No começo,


parecia uma caixa cheia de pedaços de madeira aleatórios, lixados
e envernizados. Todos nós três paramos sobre a embalagem aberta,
observando o conteúdo com confusão nos nossos rostos até Amie
gritar.

“Eu sei o que é! Eu sei! Eu sei!” Ela caiu no chão e começou


a puxar os pedaços e colocá-los em frente a ela, até que ficou claro
pra mim: eram ossos. Ossos de dinossauro. Sully tinha esculpido
à mão pra ela um esqueleto simplificado e em escala do que acabou
por ser (depois de muitas horas brincando de onde-diabos-essa-
peça-encaixa?): Um Velociraptor.

Amie estava maravilhada.

Rose apareceu à tarde e juntos fizemos o jantar de Natal. Nós


trocamos presentes - eu tinha comprado pra ela uma bolsa da
Coach on-line. Ela me deu um lindo lenço de caxemira direto da
Escócia - e uma vez que terminamos com a comida e os presentes
e as crianças estavam jogadas no sofá, ela se virou para mim e
disse: "Você vai, então."

"Como assim?"

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"Não banque a tímida comigo, garota. Talvez eu tenha fingido
que não sabia o que estava acontecendo antes, mas testemunhei
minha parte de mulheres apaixonadas por Fletcher para
reconhecer quando eu vejo uma agora. Então vá. E diga-lhe Feliz
Natal por mim, ok? Coloquei uma meia cheia de carvão na porta
da frente nesta manhã. Tenho certeza de que ele viu o lado
divertido da coisa.”

Permaneci sentada ali, debatendo se eu deveria ficar e


discutir com ela, negar qualquer conhecimento sobre essa paixão
por Fletcher a que se referia, ou se eu deveria aceitar
graciosamente a derrota e confessar tudo. No final, havia apenas
uma coisa a se fazer.

“Sinto muito, mesmo”, disse suspirando. “Não era pra


acontecer. Ele é tão… tão irritante. Ele ganha você e aí ele pega
mais um pouquinho. Antes que perceba, ele é tudo que está na sua
cabeça e você se encontra desejando que nunca tivesse colocado
os olhos nele em primeiro lugar, mas já é tarde demais e…”

“E ele é o cara.”

“O mais inapropriado, pouco ortodoxo e instável que já


houve.”

Rose me deu olhar piedoso. “Nós não sabemos? Engraçado


como saber disso não muda nada, não é?”

Abaixei a cabeça, sentindo muito por mim mesma. “É o pior.”

******

Eu não tinha aberto o presente de Sully. Sentei no carro do


lado de fora do farol, com muito medo de sair do carro e entrar,
sabendo que ele deveria ter me ouvido estacionar. Segurei o

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pequeno presente que ele tinha deixado para mim em minhas
mãos, girando-o repetidamente, preocupando os cantos do papel
sob minhas mãos trêmulas. Eu estava assustada. E se fosse algo e
ao mesmo tempo, nada? Um par de meias? Um vale-compras de
uma livraria? A caixa tinha o tamanho e a forma errada para ser
uma dessas coisas, mas o pensamento ainda estava lá. E se fosse
um presente descartável que não significasse nada? Isso seria pior
do que ele me dar algo que significava demais? Jóias? Algo pessoal
e artesanal como ele tinha dado às crianças? De qualquer forma,
eu estava ferrada.

A porta do passageiro do carro abriu de repente, assustando-


me. Eu estava olhando tão atentamente para o presente que eu não
notei que Sully tinha deixado o farol e seguido para o carro. Suas
bochechas estavam vermelhas do frio e seus cabelos ondulados
tinham sido varridos de seu rosto. Mesmo assim, era o homem
mais bonito que já tinha visto.

Ele subiu no carro e se acomodou no banco do passageiro.


Sem olhar para mim, ele fechou a porta e depois olhou diretamente
para fora do pára-brisa. Nenhum de nós disse nada no início. E
então, "Você não vai abrir?"

"Eu estava pensando sobre isso", admiti. "As crianças


adoraram seus presentes. Obrigada."

Sully encolheu os ombros, soprando nas mãos. "Não é


grande coisa." Ele estava tentando fingir que não era, mas ele e eu
sabíamos quanto esforço ele colocou nesses presentes. Quanto
tempo deve ter levado pra ele fazer - horas e horas. Ambos os
presentes eram trabalhos de amor. Realmente foi um grande gesto
da parte dele. "Cheira como se o Natal tivesse vomitado aqui",
observou Sully

Realmente cheirava. Reservei um prato de comida para ele


que dissimularíamos durante o jantar sem realmente pensar nisso.
Um frasco de vinho quente vazou canela e o cheiro de especiarias

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inundava o carro, se misturando com o aroma de peru, recheio e
molho e produzindo um assalto oratório inegavelmente festivo.

"Se você não quer a comida, eu sempre posso levá-la para


casa comigo."

"Você está de brincadeira? Estive esperando em você por


horas. Estou faminto."

"Como você sabia que eu estava vindo?"

Sully olhou de relance para mim, com a boca aberta em um


sorriso. "Há esta parte em The Sound of Music, onde Maria está
tentando negar seus verdadeiros sentimentos pelo bastardo Von
Trapp. Ele caiu em alguma escada ou alguma merda e todos
pensam que ela não vai até ele, que ela vai deixar que ele descubra
sua merda sozinho ou o que quer que seja porque ele era um idiota
nível A para ela, mas depois no final do filme, quando os nazistas
estão prestes a levar o velho Von Trapp para Auschwitz, Maria
aparece com uma metralhadora e o resgata. Bem, ela tenta resgatá-
lo e é capturada no processo, então ele realmente precisa salvá-la
no final, mas no fim, tudo dá certo.”

Dou-lhe um olhar vazio. "Você já viu The Sound of Music,


Sully?"

"Claro que vi. Todos viram The Sound of Music.”

"Eu acho que você pode estar confundindo com alguns


outros filmes."

"Talvez", ele concordou, balançando a cabeça. "Existe uma


possibilidade muito grande de você estar certa mesmo."

Eu bati minha mão sobre meu coração, fingindo choque.


"Meu Deus. Sully Fletcher admitiu que eu posso estar certa sobre
alguma coisa?"

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Ele riu, mordaz e divertido de uma só vez. "Não abuse de sua
sorte, Lang. Vai me levar para algum lugar? Estou tão doente de
olhar para este farol.”

"Está escuro."

"Eu sei. Essa é a melhor parte."

Ele era um homem estranho. Eu dirigi com os faróis


desligados, subindo trilhas estreitas de mão única que se
inclinavam ao longo do litoral até chegar a um amplo trecho na
borda de um penhasco, com vista para o mar.

"Saia e sente-se comigo", comandou Sully. Ele alcançou o


banco de trás, fazendo uma careta - suas costelas obviamente
ainda estavam um pouco doloridas, apesar do período de quatro
semanas que teve para se recuperar - e pegou a bolsa com a comida
e o vinho quente. Ele saiu do carro sem dizer outra palavra e andou
para fora no escuro.

Esperei um segundo. Estava gelado lá fora e ele tinha


acabado de se recuperar de um ataque severo de hipotermia. O
homem realmente era louco. De carteirinha. Ainda assim, estava
fora de questão ficar sentado no carro. Ele parecia bastante
determinado quando saiu. Tinha pouca escolha a não ser segui-lo.

O oceano estava rugindo, caindo no penhasco, cuspindo


gotas geladas de água salgada na terra. Encontrei Sully encostado
a uma borda plana de rocha, escavando a neve com as mãos nuas.

"Sente-se." Ele apontou para a rocha nua, os olhos fixos,


firmes, me desafiando a me negar.

Eu sentei. Ele se juntou a mim, a perna pressionada contra


a minha e começou a me entregar as coisas da bolsa que eu
embalara em casa: peru; batatas em papel de alumínio; inhame;
um pequeno recipiente de molho bem tampado.

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"Eu não trouxe nenhum prato de papel ou garfo. Eu achei
que comeríamos na sua casa. Não podemos comer direto no papel
alumínio, Sully."

"Por que diabos não?" Ele pegou um pedaço de inhame


cristalizado e mergulhou-o na vasilha de molho, então o colocou
em sua boca, me mostrando um sorriso.

Eu revirei os olhos. "Você sabe que eles provavelmente


encontrarão nossos corpos aqui dentro de quatro dias, congelados
nessa pedra, certo?" Meu traseiro já estava dormente.

"Não seja boba." Ele se aproximou de mim, porém, colocando


um braço em volta dos meus ombros, me puxando para dentro
dele.

Nós dois comemos com as mãos, em silêncio, ouvindo as


batidas do oceano contra os alicerces da ilha. No mar, a uma
distância muito grande, as luzes dos navios de carga e dos tanques
piscavam e piscavam em vermelho e verde, como se estivessem
comemorando o feriado.

Uma vez que terminamos, Sully limpou a bagunça da nossa


refeição e sacou o vinho quente, derramando uma medida segura
até o topo do frasco. "Nós vamos compartilhar", disse ele,
entregando-me. Segurei a tampa contendo o líquido quente em
minhas mãos até que eu pudesse sentir meus dedos novamente e
então eu bebi, depois o passei para ele.

"Este mês foi uma merda", ele disse calmamente em voz


baixa. "Eu não percebi quão ruim seria. E você não me diga que
teve um ótimo momento, porque eu sei que você não teve.”

"Eu tive."

"Eu fui para a peça de Connor", ele falou. "Eu sentei na parte
de trás. Certifiquei-me de que ele não me visse.”

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"Você foi?" Eu não podia acreditar. Os presentes desta
manhã me abalaram, mas isso era completamente diferente.

Sully assentiu e depois bebeu um pouco de vinho. Ele


parecia perdido em pensamentos, os olhos brilhavam vagamente
mesmo que a noite estivesse preta em volta de nós. "Eu só queria
vê-lo. Ver os dois. Todos na ilha estão sempre discutindo sobre com
quem eles se parecem - Ronan ou Magda. Eu acho que queria me
decidir por mim mesmo."

"Oh." Peguei o vinho dele. "O que decidiu?"

"Eles parecem mais com Ronan. O que significa que eles


também se parecem comigo." Esse pensamento não parecia deixá-
lo feliz. Sua mão esquerda se fechou em um punho no colo. "Eu
não estava esperando isso. Eu deveria ter esperado, mas não
estava. Droga, Lang, você vai abrir seu maldito presente? Está me
deixando inquieto saber que estamos sentados aqui com ele no seu
bolso.”

Eu queria saber mais sobre o que ele tinha visto na noite da


peça de Connor, o que ele estava pensando enquanto observava o
filho de seu irmão recitar suas falas, talvez vislumbrando Amie e
eu na multidão sombria, mas sua confissão tinha obviamente o
deixado desconfortável e ele, claramente, não queria mais falar
sobre isso. Retirei o presente do meu bolso e o segurei, estudando-
o com um olho fechado.

"Posso balançar?", Perguntei.

"Claro."

Nada de quebrar dentro, então. Eu balancei-o e o pacote


delgado sacudiu muitas peçinhas dentro. "Hmm". Eu
desembrulhei com cuidado e então levantei a tampa da caixa azul
lisa, para revelar cabos de USB. Seis, sete, oito deles, cada um com
o mesmo design fino e prateado com um pequeno cordão anexado.

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"O que diabos são isso?" Eu perguntei, rindo.

Sully pegou um da caixa e segurou-o, sorrindo


maliciosamente. "Estes são os arquivos baixados pela minha
unidade compartilhada quando fui implantado, Senhorita Ophelia
Lang da Califórnia. Cada um tem vinte shows de pornografia
hardcore sem censura, cortesia do especialista Crowe. Sério,
espero que você entenda o quão honrada você deve estar. Estes
USB são meus pertences mais prezados."

Fiquei boquiaberta pra caixa, horrorizada. "Você está


brincando comigo? Quantas... quantas horas de pornografia é
isso?”

"Só Deus sabe. Pelo menos uma centena." Ele jogou o USB
de volta na caixa. "Talvez duas."

"Devo agradecer-lhe agora?"

"Somente se você quiser", disse ele, piscando.

"Bem, eu não quero. Deus, o que devo fazer com duzentas


horas de pornografia, Sully?”

"Assista. Dê a si mesma uma síndrome do túnel do carpo. Se


faça feliz, garota."

“Eu não… urgh!” Pensei sobre derramar o vinho quente que


eu estava segurando nas costas da sua jaqueta. Pensei sobre socá-
lo nas bolas, também, mas eu tinha a sensação de que ele estava
esperando esta reação e estava já preparando para bloquear meu
ataque. “Por que você tem que ser tão idiota, Sully Fletcher?”
rosnei.

Ele suspirou pesadamente e jogou o braço em volta do meu


ombro, puxando-me para ele de novo. "Eu te disse. Eu prometi que
seria um super idiota. Para protegê-la."

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"Ha! Para me proteger." Eu me retorci, tentando me levantar,
mas ele me segurou forte.

"Sim", disse ele. "Para protegê-la." E então, muito mais


silencioso, "E para me proteger também".

Esperei muito tempo, apoiando-me contra ele, respirando-o,


antes de sentir o momento certo para falar. "Sabe, também tenho
algo para você, Sully."

"Um presente de Natal?"

"Na verdade não. Apenas... algo que eu pensei que deveria


ter feito." Eu não podia ter certeza se o fato de dar-lhe o diário de
Magda era o certo a se fazer - ele disse na festa de Rose que ele
nunca quis voltar a vê-lo. Eu simplesmente não conseguiria
ignorar o fato de que eu certamente não deveria mantê-lo comigo.
Eu retirei o diário encadernado de couro de dentro do meu casaco
e agarrei-o com ambas as mãos, olhando para baixo. Eu dei a Sully,
me encolhendo.

"Jesus", ele sussurrou. "Eu acho que eu mereço isso depois


da pornografia."

"Isso não é tudo", eu disse a ele.

"Fica pior?"

Peguei o pequeno pedaço de fita e metal polido do meu bolso,


deixando-o na mão aberta de Sully. Fechei seus dedos, suspirando.
"Ronan pode ter decepcionado você, Sully, mas uma medalha é um
grande lance. Ele ganhou. Deveria ser sua. Você deve mantê-la.
Um dia, você pode ser capaz de olhar para ela e se orgulhar.”

Sully desenrolou os dedos um de cada vez, olhando para a


Purple Heart na palma da mão. Seus ombros arredondados, sua
postura caindo.

"Obrigado, Lang."

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"Você não está bravo?"

"Não. Eu não estou bravo, eu juro." Ele lentamente se


levantou, segurando o diário e a medalha com força, como se
fossem granadas vivas, prestes a explodir a qualquer segundo. Eu
deveria ter sabido o que viria a seguir. Eu deveria ter previsto isso
acontecer. No entanto, não sabia. Sully deu dois longos e decididos
passos para a borda do penhasco e lançou o diário de Magda ao
lado do mar escuro. As páginas explodiram em todos os lugares
como pássaros brancos, mergulhando na água agitada abaixo.

"Sully! Meu Deus!"

Ele se virou e olhou para mim. "O passado é o passado, Lang.


Qual é o objetivo de escondê-lo em uma gaveta, deixando-o
apodrecer?" Ele segurou a medalha, olhando-a brevemente antes
de retirar seu braço.

“Sully, espere!”

Ele parou.

“Tem certeza? Tem realmente certeza de que quer fazer isso?”

Ele me deu um e triste sorriso. “Mais que tudo no mundo.”


A medalha disparou na noite, desaparecendo imediatamente da
vista. Eu não a vi bater na água. Eu não ouvi o splash. Num
momento estava lá, na mão de Sully. No minuto seguinte, não
estava mais.

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CAPITULO 21
O Observatório

A luz estava ligada no farol quando voltamos. Um feixe de


luz amarela explodia no observatório redondo no topo do prédio,
varrendo lentamente para frente e para trás em direção ao oceano.
"Uau, eu não percebi que esse farol funcionava. Por que não notei
isso quando parei aqui antes?"

"Segue um cronômetro", disse Sully. "Eu não tenho que fazer


nada. Liga só quando chega a hora. Desliga do mesmo jeito. Eu
basicamente pago para trocar a lâmpada de vez em quando, e é
isso."

Eu sabia o que aconteceria se entrássemos. Entrei de


qualquer jeito. Sully estava certo. O mês passado realmente foi
uma merda, e hoje era o dia de Natal, maldito. Eu não me negaria
mais. Não pelas próximas doze horas, ao menos. Amanhã pode ser
uma história diferente, mas por enquanto...

"Você quer uma bebida?" Sully levantou uma garrafa de


vinho, levantando uma sobrancelha.

"Uísque?" Eu respondi.

Sully sorriu. "É por isso que eu gosto de você, Lang. Você
nunca deixa de me surpreender." Ele desapareceu de volta para a
cozinha; Quando voltou, estava carregando dois copos com gelo,
cada um contendo uma boa dose de uísque e tinha um olhar
curioso em seu rosto. "Eu não acho que meu amigo Jared pode

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levá-lo para casa esta noite, se você beber demais, sabe?", Ele me
informou.

"Tudo bem. Eu planejei dormir na sua cama."

"Oh, é mesmo?" Ele me entregou meu copo e tirou um gole


dele, sorrindo para mim. "Deixe-me adivinhar. Eu vou dormir no
sofá, então?"

Assenti com a cabeça, tentando esconder meu próprio


sorriso. "Você deveria estar acostumado a isso agora, considerando
a frequência com que você teve que dormir aqui recentemente."

Sully me deu a língua - um gesto tão brincalhão e atrevido


que eu fui pega de surpresa. "Não se preocupe, Lang. Na verdade,
estive dormindo no observatório durante a última semana, então
você pode ficar com a minha cama. Eu gosto de ouvir o som das
ondas lá em cima".

Nós bebemos nosso uísque e conversamos. Foi estranho e


confortável quando deveria ter sido qualquer coisa, menos isso.
Sully roçava as pontas de seus dedos para cima e para baixo em
meu braço, mal me tocando, embora eu estivesse muito consciente
disso. Minhas terminações nervosas estavam funcionando na
sobrecarga, provocando tremores que viajavam através do meu
corpo.

"Então. Você quer assistir alguma pornografia ou o quê?",


Ele perguntou, rindo, o rosto já enterrado dentro do vidro de seu
copo enquanto terminava o gole.

Eu nem tinha pensado ainda em piada como uma resposta.


Sully riu abertamente do olhar no meu rosto. "Jesus, Lang. Relaxe.
Eu juro que estou brincando."

Mais três goles, ele se inclinou e me beijou. Eu sabia que


estava se aproximando desta vez, então eu estava preparada. Ele
foi gentil. Não me apressou. Sem mãos frenéticas corriam por todo

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o meu corpo. Era quase como se estivesse preocupado que ele não
devesse estar fazendo isso. Nossos lábios se encontraram, e nós
dois ficamos o mais quente possível, respirando de forma errática,
meu pulso batendo por todo meu corpo. Lentamente, ele estendeu
a mão e pressionou a palma da mão contra o lado do meu rosto.
Ele fez um pequeno zumbido, perto de um rosnado, e me beijou
com mais força, separando meus lábios para que pudesse deslizar
sua língua na minha boca.

Esse beijo ardeu lentamente, atingiu as profundezas dos


meus ossos e permaneceu lá. Senti como se estivesse caindo nele.
Caindo para trás. Caindo, de uma forma ou de outra, e os braços
de Sully estavam ao meu redor, me segurando forte, prontos para
me pegar. Um sentimento de segurança, ser mantida em seus
braços. Ele era tão malditamente forte. Eu sabia que não precisava
temer nada se ele estivesse me segurando e isso, por si só, era um
pensamento perigoso. Ele não me seguraria para sempre. Logo que
ele me deixasse ir, eu teria que descobrir como fazer o mesmo. No
entanto, era impossível considerar essa coisa naquele momento,
com ele acariciando levemente meus cabelos com as mãos, sua
boca trabalhando contra a minha.

"Esse sentimento", ele ofegou contra minha boca. "Você


conhece esse sentimento, onde você simplesmente não consegue
se aproximar o suficiente de alguém? Eu nunca soube o que as
pessoas estavam falando até agora, Lang. Eu quero... eu nem sei o
que quero fazer. Só sei que não quero que você vá embora daqui
esta noite. Mesmo se você dormir em outro quarto.”

"Bom. Porque eu não vou a lugar nenhum."

Nossos rostos estavam tão próximos, a poucos centímetros


de distância. Olhando nos olhos dele de perto, era possível ver
todos os detalhes que eu tinha perdido anteriormente. Caramelo e
manchas de ouro marcavam as pupilas, iluminando os olhos,
suavizando-os um pouco. Eram tantas cores diferentes, todas

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misturadas e pintadas juntas para criar o tom de chocolate mais
bonito. Mas foi mais do que isso. Sempre que eu tive motivos para
passar o tempo com Sully antes, sua intensidade me aterrorizava,
e eu acabava longe do olhar dele. Eu nunca tinha me aproximado
o suficiente para ver como as mudanças microscópicas em sua
expressão gritavam tão alto sobre o que ele pensava ou o que estava
sentindo. Agora, eu estava vendo tudo.

Ele não tinha medo. Ele estava confiante. Ele era forte e era
honesto. Ele também estava um pouco quebrado - uma verdade
que ele não se importava de possuir. Com cuidado, ele passou a
ponta do dedo indicador na minha testa, entre minhas
sobrancelhas, descendo a ponte do meu nariz. Seu dedo demorou
sobre meus lábios, e eu tive que lutar contra o desejo de tirar a
língua e sugá-lo. Um desejo estranho de se ter. Eu queria muito,
mas eu me comportei. Sobre meus lábios, então, e sobre meu
queixo, passando o dedo pela coluna do meu pescoço até minha
clavícula. "Não estou acostumado com isso", ele disse suavemente.
"Eu não sei como lidar com você. Você parece tão... frágil.”

"Eu sou mais forte do que pareço", eu sussurrei de volta.

"Não duvido disso."

"Então você não precisa lidar comigo com luvas de pelica,


Sully. Eu não vou quebrar."

"Você não sabe o quão áspero posso ser", ele disse, com a
voz baixa, que vibrava contra meu peito. Uma onda de desejo bateu
em mim, me surpreendendo. Nunca tinha sentido nada disso
antes. Minha mente já estava imaginando os lugares em que Sully
poderia me possuir, todas as sensações que ele poderia inflamar
no meu corpo sem sequer tentar. Senti-me embriagada nele, minha
cabeça se fundiu com o cheiro, o calor e a sensação de seu peito
duro encostado no meu.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Você está um pouco vermelha, Lang. Você está com frio?",
Perguntou. No entanto, havia um brilho perverso em seus olhos -
ele sabia que eu estava mais quente do que qualquer coisa.

"Não. Estou bem. Só cansada. Talvez você pudesse me


mostrar onde eu vou dormir?" Eu achei seu quarto muito bem
quando precisei pegar roupas limpas para ele algumas semanas
atrás. Eu queria que ele me levasse para o andar de cima, no
entanto. Queria aproveitar as últimas horas restantes do dia de
Natal envolvida nele, nu, todas as pretensões e inibições
desaparecidas. Sully esfregou a almofada de seu polegar contra
meu lábio inferior, encarando-o, aparentemente fascinado.

"Tudo bem", ele falou. "Então vamos."

Meu corpo cantava enquanto ele me conduzia até o andar de


cima. Eu estava em desacordo comigo mesma, nervos tremiam por
antecipação e tremiam por diversão. Sully abriu a porta do quarto
e depois se inclinou para me beijar levemente nos lábios.

"Boa noite, Lang. Se você precisar de alguma coisa, vou estar


no primeiro andar no observatório, ok?"

Eu não sabia o que dizer. Assenti com a cabeça, tentando


não demonstrar minha confusão. Ele não ia dormir comigo? Nós
não iríamos finalmente fazer sexo? Sully beijou meu pescoço, seus
dentes mordendo suavemente a minha pele corada e então ele
recuou. Ele desapareceu nas escadas que continuavam até o
convés de observação do farol e eu estava paralisada na porta do
quarto.

Que diabos?

Passaram-se trinta segundos e depois outro minuto inteiro.


Ele não me queria? Essa foi uma besteira. Não. Simplesmente não.
Não entrei no quarto dele. Essa teria sido a opção fácil. Em vez
disso, escolhi a rota mais difícil, muito mais embaraçosa. Meu Dia
de Natal não estava terminando assim - solitário e confuso. Eu iria

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confrontá-lo. Perguntar o que diabos estava acontecendo. Subi as
escadas até o observatório, dois degraus de cada vez, planejando
todas as coisas ásperas e desagradáveis que eu lhe diria quando
chegasse ao topo.

"Sully Fletcher, você é o mais..." Meu pé alcançou o alto e eu


o vi parado, o luar entrando pelas janelas inclinadas, lançando
sombras de prata em sua pele perfeita, e de repente eu esqueci o
que eu ia dizer. Ele estava nu. E ele estava me esperando.

"Demorou bastante.", disse ele. "Muito corajosa, porém,


Lang. Muito, muito corajosa." Ele caminhou lentamente em minha
direção e senti como se estivesse prestes a cair de volta pela escada.
Ele era uma obra de arte. As linhas dos ombros eram fortes, largas
e poderosas. Seu peito era uma placa musculosa, formando um ‘v’
perfeito logo abaixo, onde seus quadris mergulhavam em sua
virilha. Eu não podia desviar o olhar. Suas coxas eram musculosas
e cobertas com uma leve camada de pêlos. E o seu pau...

Antes de me casar com Will, eu só tinha dormido com um


outro cara. Ele era menor do que Will, mas realmente sabia como
fazer uma mulher gozar. Will era consideravelmente maior, mas
pensava que isso não importava (ou talvez apenas importasse
menos) na forma como ele usava seu tamanho para me dar prazer.

Eu já sabia que Sully possuía tamanho e experiência, no


entanto. Um olhar sobre o jeito como ele se moveu enquanto
caminhava em minha direção me dizia que ele era um cara
altamente sexual. E ele era tão grande. Quase assustador.

Eu olhei para trás e vi que ele me pegou olhando. "Está tudo


bem, Lang", disse ele. "Não segure as suas vontades. Olhe tanto
quanto você quiser. Toque o quanto quiser. Prove tanto quanto você
quiser. Eu com certeza não vou me segurar.”

“Merda. Acho que estou surtando um pouquinho.” Admitir a


ele foi difícil. Não tão difícil como admitir pra mim quão

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inexperiente e indigna de repente me senti. E vulnerável. Deus, tão,
tão vulnerável. Sully, pisando macio com os pés descalços, deslizou
os braços em volta de mim, levantando-me do chão, as mãos
movendo-se debaixo das minhas coxas enquanto ele me guiava
para envolver minhas pernas ao redor de sua cintura.

"Não se assuste", ele ordenou. "Relaxe. Respire. Vou parar


sempre que você quiser. Apenas me diga."

"OK."

O telhado sobre o observatório era uma cúpula de vidro


puro. No centro da sala, um enorme espelho refletia a luz de uma
lâmpada surpreendentemente pequena atrás de uma gaiola de
malha de arame; Ele girou para a esquerda e a brilhante onda de
luz branca e pura nos lavou, lançando uma silhueta no feixe. Sully
não estava mentindo quando disse que estava dormindo aqui. Um
colchonete tinha sido trazido para cima, ao lado da cúpula,
cuidadosamente arrumado, com roupas de cama. Ele me levou até
lá, mas não me colocou no colchão. Ele me baixou de novo e me
pressionou contra o copo, então começou a beijar meu pescoço,
lamber e me morder até sentir que o mar de estrelas estava girando
com muita força e um pouco rápido demais.

Seu coração estava batendo no peito sob minhas mãos,


batendo tão loucamente quanto o meu. Eu não pude parar de tocá-
lo. Minhas mãos correram para cima e para baixo pelas costas,
minhas unhas cavando em sua carne, até que a textura de sua pele
mudou, a senti muito escorregadia e lisa, então parei. Era a cicatriz
da sua lateral - a que corria sobre suas costas. Sully não pareceu
notar que eu hesitei antes de acariciar novamente a cicatriz,
sentindo a topografia de seu corpo se alterar enquanto eu
explorava.

Ele continuou a beijar no meu pescoço, mas com o tempo eu


senti que ele endureceu um pouco. "Quem é que usa luvas de
pelica agora, Lang?" Ele resmungou em voz baixa.

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"Eu sinto muito. Eu não quero dizer. É só que-"

"Não dói. Isso não me incomoda. Você não precisa ficar cheia
de dedos por conta disso. Eu tenho uma cicatriz. É muito grande."
Ele recostou-se e me deu um sorriso malandro." Agora sinta-se
livre para superar isso e prestar atenção ao resto do meu corpo.
Que tal... aqui." Ele segurou minha mão e deslizou para baixo, de
modo que eu estava tocando sua ereção.

"Deus, Sully..." Eu fechei minha mão ao redor dele,


apertando suavemente, e suas pálpebras se fecharam, sua
respiração saindo em suspiros curtos e contundentes. Lentamente,
trabalhei minha mão ao longo dele, olhando para baixo entre
nossos corpos para que eu pudesse assistir o que estava fazendo
com ele. Foi fascinante, vê-lo literalmente, crescer ainda mais e
pulsar na minha mão, enquanto eu trabalhava para cima e para
baixo. Foi ainda mais fascinante quando olhei para cima e vi a
expressão em seu rosto - muita luxúria e desejo, lutando com sua
necessidade de autocontrole. Seu lábio inferior estava preso entre
os dentes e ele estava mordendo. Forte. Eu nunca tinha visto um
olhar tão abertamente sexual e quente no rosto de um cara antes
e isso quase acabou comigo. Eu queria arrancar minhas roupas do
meu corpo, empurrá-lo de volta para a cama improvisada e
afundar-me imediatamente sobre ele. Eu duvidava que ele tentasse
me parar, mas se eu fizesse isso seria cedo demais. Eu queria
saborear cada segundo dessa experiência. Eu precisava guardar
todos os segundos na memória, absorver cada momento que
compartilhamos enquanto nos beijamos, tocamos e exploramos o
corpo um do outro.

Meus sentidos estavam sobrecarregados, ansiosos e


tentando sair na frente, para que eu pudesse me concentrar em
como ele olhava, como ele sentia, como ele cheirava e como ele
provava tudo ao mesmo tempo. Sully parecia estar lutando
exatamente na mesma batalha.

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"Você não é real", ele me disse, enrolando um pedaço do meu
cabelo ao redor do dedo indicador. "Como você pode ser?"

"Tenho certeza de que sou real", falei sem fôlego.

"Então, por que constantemente sinto que estou debaixo


d’água quando estou com você? Sonhando? Imaginando cada
segundo?" Sua boca caiu na minha, faminta e exigente. Eu não
disse a ele que eu sentia o mesmo. Ele não teria fôlego para fazê-
lo. Ele exigiu tudo de mim, exigiu tudo o que eu tinha. Suas mãos
abriram caminho por debaixo da minha camisa, movendo-se com
confiança para cima, até que ele estava segurando meus seios. Ele
mordeu o lábio ao mesmo tempo, puxando-o bruscamente,
rosnando um pouco. Minha cabeça girava. O poderoso feixe de luz
nos atravessou novamente, transformando a noite em dia e Sully
segurou minha camisa, puxando-a sobre minha cabeça em um
movimento rápido. O meu sutiã também não permaneceu muito
tempo. Ele estendeu a mão e soltou o fecho na parte de trás, depois
puxou as tiras dos meus ombros, jogando-o por sobre o seu ombro.

Minhas costas se afastaram da parede de vidro grossa atrás


de mim, de modo que meu peito foi oferecido a Sully; Ele aproveitou
o fato e curvou-se sobre mim, pegando um dos meus mamilos em
sua boca e depois o outro. Suas mãos estavam cheias de mim.
Minha cabeça estava cheia dele.

"Sully. Oh meu Deus, por favor..." O que eu implorava? Nem


eu sabia. Para ele estar dentro de mim? Para ele me jogar na cama
e me penetrar? Eu definitivamente queria isso, mas minha súplica
estava pedindo mais do que isso. Por favor, não me machuque. Por
favor, não arruíne isso. Por favor, não me deixe arruinar isso. Por
favor, não me deixe ir. Por favor, não me deixe amar você...

Implorar poderia não adiantar de nada, no entanto. Eu me


sentia cheia de uma consciência inegável e sólida de mim mesma,
e do quão pouco controle eu tinha sobre meu próprio coração. Era
uma coisa traiçoeira e cruel que continuava tentando me levar para

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baixo, por um caminho que não queria trilhar. Na realidade, eu já
estava tropeçando cegamente por esse caminho, perdida e tão
desnorteada que não sabia para que lado ir e Sully era a única
coisa que eu podia ver.

Ele passou suavemente as duas mãos sobre o meu cabelo,


depois pelos meus ombros, apoiando-se no meu quadril. "Quão
estúpido estamos sendo, Lang? Quanto mais vamos deixar isso
ficar assim?" Ele perguntou com voz rouca.

"Eu não sei". Minha própria voz era baixa. Incerta.


Assustada. Sully pressionou sua testa contra a minha, expirando
pesadamente. Ele fechou os olhos, os músculos em seu maxilar
saltando, como se estivesse lutando para impedir que ele me
afastasse dele.

"Eu já lhe disse", disse ele. Ele parecia calmo, mas era uma
calma falsa, muito regular até mesmo para ser real. Eu ainda podia
sentir quão louco seu pulso estava sob minhas mãos, evidência de
seu verdadeiro estado emocional. "Eu já lhe disse que não vou me
segurar".

"Então, por que você está se segurando agora?"

Ele riu suavemente. "Por sua causa. Porque estou pensando


em outra pessoa antes de mim pela primeira vez em muito tempo.
Francamente, é uma merda."

Eu o beijei. Eu o beijei por muito tempo e eu o beijei forte.


"Solte as rédeas", eu disse. "Nenhum de nós quer agarrá-las tão
forte agora."

Ele abriu os olhos. Senti como se estivesse preso ao chão,


incapaz de se mover. "Sem besteiras?" Ele perguntou calmamente.

"Sem besteiras, Sully".

Meus pés estavam fora do chão. Um segundo, eu estava de


costas contra o vidro, ainda acariciando minha mão lentamente

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para cima e para baixo em seu pau duro, e no outro eu estava em
seus braços. Ele correu para a cama e esperei a sensação de cair
quando ele me desceu no colchonete, mas essa não veio. Ele varreu
os lençóis e o cobertor que estavam na cama, jogando-os no chão,
e então ele também estava varrendo meu jeans, tirando-o do meu
corpo. Ficando de joelhos, ergueu as mãos com firmeza nas
bochechas da minha bunda e enterrou o rosto entre minhas
pernas, mordendo o algodão macio da minha calcinha, gritando
alto. "Porra, Lang! O que diabos você fez comigo?"

Eu estava tão atordoada com a sensação de seus dentes


raspando a pele sensível da parte interna da minha coxa que nem
conseguir responder. Ele pressionou sua língua contra mim,
empurrando minhas pernas para deixá-las um pouco mais
abertas, e então puxou minha calcinha com o dedo indicador e me
lambeu, arrastando sua língua tortuosa e lentamente sobre minha
buceta, provocando meu clitóris, gemendo de uma maneira
dolorida que me fez querer gritar.

Ele empurrou os dedos para dentro de mim enquanto lambia


e meus joelhos tremeram. Sully riu em voz baixa, guiando-me de
modo que eu estivesse deitada de costas na pilha de lençóis que ele
acabara de jogar desordenadamente no chão.

"Isso é bom?" Ele perguntou suavemente. "Porque é bom


para mim. E também tem um fodido gosto bom."

"Merda, sim, é bom."

"Perfeito." Ele se abaixou entre minhas pernas novamente,


empurrando-as para abrir, então melhor teve acesso a mim. Sua
boca pairava menos de uma polegada acima da minha buceta.
Olhando para mim, os olhos meio fechados, os lábios molhados,
ele disse: "Assita, Lang. Me veja comendo sua buceta. Mantenha
esses olhos em mim, linda. Quero ver seu rosto quando você perder
o controle por minha causa. Eu quero ver seus olhos revirando
quando você gozar."

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Obedeci-o sem questionar. Ele bateu a ponta da língua sobre
meu clitóris, empurrando os dedos para dentro de mim, e foi
simplesmente demais para suportar. Eu balancei contra a boca,
ofegante, quase consciente do que mais estava acontecendo. Fiquei
de olho nele, observando-o trabalhar sua língua sobre mim, e, em
pouco tempo, eu podia sentir crescer dentro de mim, aquela
sensação de formigamento, espinhosa, deliciosa e exigente que
afundou suas garras em mim, ameaçando me puxar para baixo.

Sully deve ter percebido que eu estava perto; ele começou a


me esfregar com o polegar, além de me acariciar com a língua, e foi
assim. Tudo o que eu poderia aguentar. Eu caí, senti, eu gritei e
me retorci. Sully me agarrou pelos quadris e não me soltou. Ele
manteve sua boca em mim até que eu estava tremendo, meus
calcanhares escorregando e deslizando no chão enquanto eu
chutava, incapaz de controlar minhas pernas.

"Merda, merda, merda! Oh Deus. Sully!"

Ele recuou, dando-me um momento para me recuperar. A


alegria arrogante que eu esperava não chegou. Nem o tapinha da
presunção. Abri um olho e Sully estava olhando para mim com um
olhar inconfundível no rosto. Ele parecia tão serio que senti um
rubor de calor florescer por toda a minha pele.

"Isso foi incrível", ele disse, sua voz um sussurro baixo.


"Porra, Lang. Você é explosiva. Você é uma maldita dinamite." Ele
estava masturbando seu pênis, movendo-se rapidamente,
apertando-o. Ele me queria. Ele queria me tanto, eu podia ver
claramente em seus olhos. O sentimento era mútuo. Deixei meus
joelhos cair para ambos os lados e lentamente movi minha mão
entre minhas pernas, tocando levemente as pontas dos dedos sobre
minha buceta.

"Agora," eu disse a ele, recusando-me a quebrar o contato


visual. "Por favor, Sully. Não me faça esperar mais.”

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Eu não estava pronta para o que aconteceu depois. Ele
parecia selvagem quando caiu sobre mim, uma mão
grosseiramente tateando meus seios, a outra apoiando seu peso
enquanto ele se inclinava entre minhas pernas. Seu quadril estava
pressionando contra o meu, nossos corpos em alinhamento e então
ele estava me triturando, empurrando para dentro de mim e eu não
consegui me impedir de gritar.

Sully imediatamente ficou muito, muito quieto. Seus olhos


estavam arregalados, sem piscar, enquanto ele pairava sobre mim,
sua ereção enterrada no fundo de mim. "Puta que pariu", ele
sussurrou. "Você sente..." Ele parou, fechando os olhos. "Oh, meu
Deus, Lang. Merda."

Sua reação foi elétrica. Eu estava elétrica. Eu podia sentir


isso fluindo através de mim e para ele, uma transmissão de energia
intensa que prometia consumir e destruir. Incapaz de me parar,
comecei a balançar meus quadris embaixo dele, tremendo com
prazer pelo atrito que se criava entre nossos corpos.

Sully rosnou novamente, grunhindo quase. Ele parou de


amassar meu peito e moveu a mão entre minhas pernas
novamente, esfregando meu clitóris enquanto lentamente, com
cuidado, começou a se mover no mesmo ritmo que eu.

Encaixamo-nos perfeitamente. Senti-me derretida a ele


enquanto seus movimentos ficavam mais rápidos, até que ficamos
loucos com a necessidade um do outro, nos agarrando, mordendo,
beijando e cavando nossas unhas na pele um do outro.

Parecia que ambos tínhamos nos afundado além de nós


mesmos, como se tivéssemos perdido onde estávamos. A luz nos
atravessou repetidas vezes, lavando-nos, lançando sombras e
destaques em nossos corpos, mas nenhum de nós parecia notar.
O mundo se encolheu em espaços pequenos; nada existia fora do
pequeno observatório, onde Sully me segurou contra ele e

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empurrou para dentro de mim, cada vez mais rápido até que eu
implorei que ele fosse se liberasse.

Ele gozou inesperadamente, como uma chuva de meteoros,


devastadora e fulminante. Eu gritei, agarrando-me a ele, a cabeça
reclinada até o ponto em que parecia que meu pescoço iria quebrar,
e Sully também se apoiou em mim, rugindo, pressionando a testa
contra minha clavícula, ofegante, lutando pra respirar enquanto
seu corpo tremia.

A calma que se instalou sobre nós foi como um cobertor,


protegendo-nos, mantendo-nos aquecidos apesar da neve e do gelo
lá fora. Nós ficamos juntos por um longo tempo, Sully ainda em
cima de mim, ainda dentro de mim, e desenhei círculos e linhas
nos músculos duros de suas costas, da sua lateral, sobre sua
cicatriz. Nós respiramos como um, nossos corpos espelhando-se
mutuamente quando finalmente voltamos para nós mesmos.

"Bem", disse Sully calmamente, depois de um longo período


de tempo ter passado. "Estamos bem e verdadeiramente ferrados
agora."

"Por quê?" Eu sussurrei de volta.

"Porque. Esse foi o melhor sexo que já tive. Definitivamente


vou querer fazer isso de novo, Senhorita Ophelia Lang da
Califórnia. Eu vou querer fazer isso novamente, muitas vezes.”

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CAPITULO 22
Competente

A chuva me acordou na manhã seguinte, gotas de água


batendo levemente contra a cúpula de vidro do observatório. Sully
ainda estava dormindo. Seus pés estavam saindo da pilha dos
lençóis, ainda no chão, onde caíra em inconsciência. Seu pau nu
estava saindo dos lençóis também, e eu não conseguia ajudar a
mim mesma. Eu me sentei cuidadosamente e me permiti um longo
momento para admirá-lo enquanto dormia. Ele parecia menos
inquieto do que quando estava acordado, mas sua testa ainda
estava enrugada, como se ainda estivesse atormentado com o peso
de seus fardos em seus sonhos. Acariciei ligeiramente meus dedos
sobre aquela área enrugada entre as sobrancelhas, e o franzido
diminuiu, quase desaparecendo.

"Maldito seja, Sully Fletcher", eu sussurrei. "Vão todos para


o inferno." Rapidamente me levantei e me vesti, tentando não
incomodá-lo. Eu estava completamente vestida para sair na ponta
dos pés pela escada em espiral quando sua voz me impediu.

"Lang, espere."

Droga. Eu me virei e Sully estava sentado na confusão de


lençóis, peito desnudo, com luz brilhando sobre ele através das
enormes janelas sobre a cabeça. Ele tinha uma careta no rosto,
mas seus olhos eram doces. Não estava bravo. Um pouco
decepcionado, talvez. "Isso não vai funcionar para mim", disse ele.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"O que não vai funcionar?"

"Você sair furtivamente nas primeiras horas da manhã, com


a intenção de não voltar. Certo?"

Olhei para os meus pés.

"Lang?" Ele suspirou pesadamente, esfregando o rosto nas


mãos. Quando ele olhou para mim, eu pude ver a expressão rígida
em seus olhos. "Eu quero conhecê-los", disse ele. Eu balancei a
cabeça, não tendo certeza de ter ouvido corretamente. Ele quis
dizer Connor e Amie? Ele não podia, com certeza. Não depois de
ser tão violentamente contrário à ideia inicialmente. "É sobre isso,
não é? Você não quer se envolver comigo por causa das crianças?",
Continuou ele.

"Eu não quero me envolver demais com você porque tenho


que partir em breve e não quero ser só a casca de uma pessoa
quando voltar para L.A., Sully. Eu pensei que você queria manter
isso simples também.”

Ele soprou uma respiração frustrada, inclinando a cabeça.


"Talvez seja o que eu queria. No início. Mas agora... eu não sei.
Seria a pior coisa do mundo se eu quisesse mais?"

"Eu não pensei que você seria capaz. Foi o que você disse."

"Eu nem sei se sou. Mas eu quero descobrir."

Eu balancei a cabeça lentamente. "Sully, não posso arriscar


machucar as crianças, confundindo-as, simplesmente para que
possamos descobrir se estamos destinados a ficar juntos ou não.
Não seria justo."

"Eu não quero conhecê-los apenas por causa de nós dois",


disse ele rapidamente. "Quando vi Connor naquele palco na outra
noite..." Ele suspirou, olhando para as mãos entrelaçadas. "Eu
queria me aproximar e encontrá-lo quando tudo acabou. Era como
olhar para trás no tempo, de volta para quando Ronan e eu éramos

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pequenos. Não podia acreditar. E Amie. Ela é tão pequena. Tão
perfeita. Vê-la realmente me aterrorizou. Nem Ronan nem eu
fizemos nada para merecer uma garotinha tão perfeita. Eu me senti
tão protetor sobre os dois que senti como se eu tivesse corrido
contra uma parede de tijolos. Eu não conseguiria lidar com isso.
Mas depois nos dias que se seguiram... eu não sei. Não consegui
parar de pensar neles. Então eu fiz os presentes. Eu vi vocês
brincando na neve ontem de manhã e..." Ele balançou a cabeça,
recusando-se a olhar para mim. "Eu pensei, eu deveria fazer parte
disso. Eu não sei como me encaixo, mas sei que eu faço parte de
alguma forma." Esfregando a parte de trás do pescoço com uma
mão, ele parecia que estava lutando para encontrar as palavras
certas. "Então, não é só sobre você, Lang. É sobre eles também.
Você entende? Não estou prometendo nada. Não estou dizendo que
vou cuidar deles ou qualquer coisa. Eu só... quero conhecê-los."

Eu era um monte de coisas de uma só vez: Excitada. Muito


feliz. Ansiosa. Protetora. As crianças poderiam ter um encontro com
Sully sem ficarem completamente sobrecarregadas? Seria muito
para elas. Ronan e Magda nunca tinham mencionado Sully para
nenhuma das crianças. Eles não tinham ideia de que seu pai tinha
um irmão gêmeo. A semelhança iria assustá-los, especialmente
Connor.

Mesmo assim. Era o que Ronan queria. Ele queria que Sully
fosse o tutor legal das crianças, por fim. Ele certamente teria
querido que Connor e Amie conhecessem Sully de qualquer forma,
apesar do fato de ele nunca ter chegado a apresentá-los quando
estava vivo. Apertei as chaves do meu carro no meu bolso,
decidindo-me.

"Está bem então."

Sully olhou rapidamente. "OK?"

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"Sim. Mas eles são tão jovens, Sully, e eles passaram por
muita coisa. Não mexa com eles. Eu juro por Deus, se você fizer
isso, vou castrá-lo e pendurar suas bolas para secar. Entendeu.”

Ele mostrou os dentes, provavelmente sorrindo pelo uso de


uma de suas frases favoritas. "Entendi. Eu prometo que não vou
mexer com eles. E Lang? Só para você saber, eu também não
planejo machucar você. Eu também prometo isso.”

******

"Então, ele parece exatamente com ele? Ele é exatamente a


mesma pessoa?” Connor não tinha tirado os olhos de seu livro
desde que eu o sentei e sua irmã para falar sobre Sully, mas ele
estava claramente prestando atenção porque estava fazendo
muitas perguntas. "Como é que não sabíamos sobre ele?"

"Seu pai e Sully tiveram uma briga muito feia e eles não eram
amigos há muito tempo. Seu pai veio aqui para fazer amizade com
ele e ele realmente queria que você conhecesse Sully."

"Ouvi mamãe dizer Sully enquanto dormia", anunciou Amie.


"Ela estava triste. Ela estava chorando em seus sonhos."

"Não, ela não estava", rebateu Connor. "Isso nunca


aconteceu."

"Tudo bem." Coloquei uma mão no ombro de Connor,


tentando cortar essa conversa antes que ele pudesse se agitar.
"Tudo o que eu quero saber agora é se você gostaria de receber
Sully aqui em casa?"

Connor fechou o livro e colocou-o no braço da cadeira. "E se


não o quisermos?", Ele perguntou.

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"Então está tudo bem. Ele não precisa vir aqui. Eu acho que
você gostaria dele, no entanto."

"Eu quero que ele venha", Amie cantou. "Eu quero agradecer
pelo meu dinossauro". Eu confessei que Sully tinha lhes enviado
os presentes no início da conversa e os olhos de Amie se
iluminaram. Provavelmente ela estava planejando como ter ainda
mais esqueletos de dinossauros desse estranho para que ela
pudesse iniciar uma boa coleção.

"E você, Connor?" Ele ficou em silêncio. "Connor?" Fui e


sentei ao lado dele. "Quero dizer, você sabe. Realmente está bem
se você não quiser conhecê-lo. Eu entendo."

"Por que ele não veio nos ver antes?", Perguntou ele.

"Bem." Deus, isso seria difícil. "Você se lembra de como você


se sentiu quando seu pai morreu, não é? Sully sentiu o mesmo. Ele
ficou muito triste. Levou muito tempo para se sentir melhor, mas
agora ele gostaria, realmente gostaria de vê-lo." Seria muito
complicado explicar isso de outra maneira. Connor assentiu um
pouco e fungou.

"OK. Ele pode vir. Mas se eu não gostar dele, não vou falar
com ele."

"Está tudo bem, amigo. Está tudo bem se você mudar de


ideia ."

Eu poderia imaginar tudo muito bem: Sully aparecendo e


não sabendo o que dizer ou como agir. Connor se sentindo
desconfortável e correndo para seu quarto. As chances eram de que
acontecesse exatamente assim, mas ainda era a melhor
alternativa. Era melhor do que Connor nunca encontrar Sully e
melhor do que Sully eternamente imaginar como seria.

Havia apenas uma maneira de descobrir.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


******

“Está pronto?”

“Não exatamente. Isso é mais intimidante do que ir ao


tribunal militar.”

“Você já esteve perante o tribunal militar?”

“Não. Mais ou menos. Não exatamente. Tem certeza de que


eles não vão ficar irritados?”

Sully claramente não queria falar sobre o comentário do


tribunal militar, no entanto, eu estava muito interessada. Outra
hora, no entanto. Esfreguei minha mão em seu peito, tentando
tranquilizá-lo.

"Eles podem, no início. Mas vai ficar tudo bem, eu prometo.


Eles são crianças boas. Você só precisa dar-lhes um momento para
se ajustarem."

"Eu sou o único que precisa de tempo para se ajustar", disse


ele. "E se eles me chamarem de pai por engano? Vou perder a
cabeça, Lang. Eu não estou brincando."

"Não, você não vai. Você vai lembrá-los que seu nome é Tio
Sully e você vai dar a eles algum tempo. Isso é tão difícil para eles
quanto para você. Muito mais até. Você sabia que eles existiam,
afinal. Você é inesperado para eles."

Ele não parecia convencido. Eu tinha tanta certeza de que


ele ia ligar e desistir nesta manhã, mas quando ele realmente
apareceu às dez horas, usando camisa social bem passada e um
jeans preto e limpo, eu tive que dar um crédito a ele: ele era um
homem de palavra. Um homem aterrorizado por causa de sua
palavra, reconhecidamente, mas ainda assim, um homem de
palavra.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Vamos", eu disse a ele. "Eles estão esperando por você."
Levei-o até a cozinha, tanto Connor quanto Amie estavam sentados
à mesa, colando fotos que eu tinha recortado de revistas para eles
por um dia inteiro em enormes pedaços de papéis de artesanato.
Amie estava coberta de brilho, seus dedos absolutamente grudados
com cola até o ponto em que ela não podia separá-los mais. Connor
tinha pequenos e brancos fragmentos de papel na frente de sua
camisa e em seus cabelos, que estavam completamente
despenteados.

Quando Sully e eu entramos na sala, as crianças ficaram em


silêncio e Sully congelou - um coelho preso nas luzes de faróis. Os
três olharam um para os outros e comecei a me perguntar se não
tinha sido um grande erro. Connor foi o primeiro a desviar o olhar.
Lentamente, ele pegou uma foto cortada de um jogador de futebol
e começou a esfregar o bastão de cola sobre a parte de trás dela;
as pontas de suas orelhas estavam praticamente brilhando, mas
suas bochechas estavam pálidas, brancas, como se estivesse em
estado de choque.

"Uau", Amie respirou. Ela olhou para mim, um doce rosto


cheio de confusão, como se quisesse confirmar comigo - isso
realmente está acontecendo? "Você parece exatamente com meu
pai", ela sussurrou. Eu tinha avisado a ambos que Sully era mais
do que um pouco parecido com Ronan, e sim, que ele era
exatamente como Ronan, mas Amie não poderia ser
responsabilizada por ficar surpresa agora. A semelhança não era
natural.

Sully mudou de um pé para outro, limpando a garganta. Eu


nunca o vi tão fora do alcance. "Sim, bem. As pessoas sempre
dizem isso", ele respondeu. "Isso deve ser estranho para você,
hein?"

Amie assentiu com gravidade. "É muito estranho.”

"Entendi. Desculpe... eu não vim te ver antes.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Amie assentiu. "Feelya disse que você estava triste, então
está tudo bem. Você ainda está triste agora?"

"Eu acho que posso estar um pouco", disse ele. "Mas estou
melhorando."

Ele estaria falando a verdade? Ele estaria melhorando? Ele


odiaria Ronan um pouco menos a cada dia, e sentiria falta dele um
pouco mais? Era difícil saber. Assim que alguém mencionava o
nome de Ronan, era como se um pesado perseguidor de metal
estivesse batendo de frente com ele. Ele não queria falar sobre o
irmão. Ele não quis lembrar. Pelo que eu pude perceber, ele nem
quis pensar no fato de ter um gêmeo por um longo tempo, o que
dificultou a conversa mais aberta sobre a situação que estávamos
vivendo. Sully olhou para a cozinha desajeitadamente. Eu poderia
dizer que ele realmente não sabia o que fazer consigo mesmo, o que
me causava um orgulho irracional. Este foi um passo enorme para
ele.

Ele caminhou lentamente em direção à mesa e parou na


frente de Connor. "O que você está fazendo, cara?", Ele perguntou.

"Eu não sei", respondeu Connor. "Uma colagem do fundo do


mar?"

Sully inclinou a cabeça para o lado, tentando dar uma


olhada melhor. Connor inclinou-se sobre sua foto, escondendo-a
da vista. "Ei, tudo bem. Os artistas não gostam de compartilhar
seu trabalho até terminarem, certo? Eu sinto muito. Eu esqueci."

Connor olhou rapidamente para ele e encolheu os ombros.


"Eu não sou um artista. Sou apenas uma criança."

"Bem, você é muito melhor na arte do que eu, de qualquer


maneira." Sully me lançou um olhar de soslaio. Ele claramente
pensou que estava se afogando, fazendo zero progresso com o
menino; Ele não percebeu o quão incrível era que Connor estivesse
interagindo com ele, no entanto.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Você está ficar aqui para almoçar com a gente?", Perguntou
Amie, levantando-se para que ficasse de pé no assento da cadeira,
com a espátula da cola em uma mão e uma foto de Victoria
Beckham na outra.

Mais uma vez, Sully olhou para mim, linhas de preocupação


se formando em seu rosto. "Ahhh, eu não tenho certeza. Acho que
não pensei nisso.”

"Talvez Sully fique, dependendo de algumas coisas", eu disse


a ela.

"Que coisas?"

"Bem, depende se vocês gostaram uns dos outros, se querem


sair, eu acho."

"Eu gosto dele", disse ela. "E eu gosto de Connor e eu gosto


de você. Acho que devemos passar o dia todo juntos."

"Isso é muito legal de sua parte, Amie, mas nós apenas


vamos ver no que dá, está bem?"

Ela aceitou isso com uma pequena carranca no rosto e não


prolongou o assunto ainda mais. "Você pode sentar-se aqui", disse
ela, batendo a mesa em frente a ela. "Você gostaria de uma
cerveja?"

Sua oferta me surpreendeu porque não tínhamos cerveja e


eu nunca tinha bebido nenhuma na frente dela. Nunca. Talvez
Ronan tomasse uma bebida ou duas quando chegava em casa
depois do trabalho ou algo assim. "Está tudo bem, Amie. São dez e
quinze da manhã. É um pouco cedo para beber cerveja", disse
Sully, sorrindo.

"Papai gostava de beber cerveja", ela respondeu. "O papai


bebia cerveja para o café da manhã o tempo todo."

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Ronan costumava beber cerveja no café da manhã?
Caramba. Ele perdeu sua esposa. Ele tinha sido fodido o suficiente
para tirar sua própria vida. O fato de que ele estava tomando uma
cerveja ou duas antes de sair para trabalhar era muito triste.

Sully parecia que estava prestes a alcançar a jaqueta no


corredor e se afastar da casa, para nunca mais voltar, então
peguei-o pela mão e sentei-me à mesa, selando o negócio. Nada de
escapar agora. Normalmente Connor teria sido grosseiro e rápido
se ele se encontrasse em uma situação que não podia controlar. No
entanto, ele não parecia assim hoje. Parecia atordoado, porém
silencioso.

"Por que Sully e eu não fazemos uma colagem, também, e


vocês podem nos dizer o que você acham, hein?" Peguei algumas
revistas no meio da mesa e ofereci uma para Sully. Ele tomou com
gratidão e começou a cortar imagens com as pequenas tesouras
para crianças que eu estava usando mais cedo, suas mãos muito
grandes para empunhá-las de forma eficiente.

Uma hora depois, Rose entrou na casa e na cozinha para


encontrar Connor e Amie rindo violentamente da foto que tínhamos
acabado de completar. Nós transformamos Lady Gaga em uma
freira, e algum modelo famoso da moda, tinha recebido uma
reforma, transformando-se em um vampiro completo, com presas
desenhadas e olhos laser malignos, cortesia de Sully. No meio da
página, uma grande foto de um membro de uma banda inglesa
estava montando um garanhão que Amie insistiu que era um
unicórnio e o resto das cabeças dos membros da banda haviam
sido cortadas de seus próprios corpos e coladas nos corpos de
gatos.

Rose ficou na entrada e observou a cena, com os braços


cheios de mantimentos, diversão aparente por todo o rosto. "Parece
que perdi toda a diversão, não é?", Disse ela.

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"Venha e cole conosco", gritou Amie. "Eu fiz um Triceratops!
Veja!"

Rose observou obedientemente a bagunça de imagens que


Amie tinha colado no papel e assentiu com a cabeça, dizendo-lhe
quão excelente estava o trabalho que fizera. Ela então se virou para
mim e disse: "O? Acha que poderia me ajudar a guardar esses
mantimentos por um segundo?"

"Claro."

Sully estava tão absorvido em sua conversa com Connor,


debatendo com ele se uma mulher magra vestida de biquíni de uma
das revistas de moda que tínhamos cortado era realmente uma
alienígena, mal disfarçada de humano, que ele nem sequer me
olhou quando eu saí da mesa.

Rose me arrastou para a despensa e puxou a porta com a


metade fechada atrás de nós. "O que diabos está acontecendo?" Ela
sibilou. Ela estava sorrindo, encantada, mas, ao mesmo tempo,
parecia preocupada também.

"Ele pediu", eu disse. "Eu não o droguei e o coloquei no porta-


malas para trazê-lo até aqui, se é o que você está pensando."

"Eu não estava pensando nisso. Mas agora eu estou!"

"Não há nada para se preocupar, Rose, eu juro. Expliquei


sobre Sully para eles e ambos concordaram que queriam vê-lo. A
manhã inteira correu muito bem, na verdade.

"Hmm. Eu não sei. Nunca pensei que ele mudasse de ideia .


Ele não é o tipo de cara que voltar atrás em algo que uma vez ele
jurou não fazer, não só uma ou duas vezes."

"Eu sei. Eu sei."

"Você acha que ele vai fazer o que Ronan pediu e adotá-los,
então?"

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"Acho que não. Eu não sei."

"Tudo bem, O. Mas Deus, apenas tenha cuidado, ok? Sully é


um bom homem e ele definitivamente amadureceu desde que a
encontrou, mas não ficaria surpreso se ele enlouquecer depois
disso. Apenas observe, querida Eu realmente odiaria ver você ou
as crianças se machucar.”

******

Sully ficou pelo resto da tarde e isso era preocupante.


Preocupava-me, porque passei todo o tempo esperando que o
encanto acabasse. Amie estava sorridente com Sully, brincando
com ele e gritando a pleno pulmões quando ele a perseguiu pela
sala de estar. Connor ficou quieto por um longo tempo, mas logo
se aqueceu e se juntou à diversão. Era surreal. Eu continuava
sendo atingido com o mais forte sentimento de déjà vu, de volta à
noite anterior a que Ronan se matasse, quando ele estava vagando
pela mesma sala de estar, usando aquele remendo de pirata.

Às quatro horas, Sully disse que precisava ir. Amie parecia


que ia chorar. "Mas eu nem pedi outro esqueleto", ela sussurrou.

"Bem, talvez, se Sully voltar outro dia, você pode pedir-lhe


então." Ela falou alto o suficiente para que ele ouvisse de qualquer
maneira e ele piscou para mim. Ele parecia leve. Despreocupado.
Como se o mundo estivesse pesando menos sobre ele, por todos os
ângulos. Ele havia mudado tanto nas últimas duas semanas que
era quase difícil de acreditar.

"Por que você não vai e relaxa um pouco também?", Disse


Rose, quando estava acompanhando Sully até à porta. "Eu tenho
as coisas sob controle aqui. Se isso é o que acontece com Sully

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Fletcher quando ele se apaixona, então vocês dois devem passar o
maior tempo possível juntos."

Eu quase morri. Ninguém mencionou estar apaixonado. Eu


não falei. Sully certamente também não tinha. Por que ela diria
algo assim? Parecia que o chão estava se abrindo e prestes a me
engolir inteira. Eu olhei para Rose sobre o ombro de Sully,
sutilmente tentando deixá-la saber o quanto eu estava louca,
quando vi o reflexo de Sully no espelho na parede ao lado de nós,
junto com o meu e percebi que ele tinha visto cada franzida e brilho
que eu tinha feito. Perfeito.

"Eu sempre soube que uma mulher poderia falar muito com
um olhar. Mas, esse está em um nível totalmente novo, Lang."

O embaraço quase me afogou. Eu devo ter ficado vermelha.


Não, risque isso. Deve ter ficado roxa de horror. "Esqueça os
últimos três minutos", eu disse, pegando minha bolsa. "Obrigada,
Rose. Volto mais tarde, ok? Adeus, pessoal.”

Connor e Amie levantaram-se da mesa e me abraçaram um


a um. Connor parecia estar cada vez mais tátil, então eu não fiquei
tão surpresa quando ele envolveu seus braços em volta da minha
cintura e me deu um abraço muito breve e forte. Fiquei chocada
quando ele timidamente estendeu a mão para que Sully apertasse.
"Foi muito agradável conhecê-lo", ele disse com uma voz tranquila.

Sully engoliu em seco, olhando para o menino. Ele parecia


um pouco perdido com as palavras. "Você também, homenzinho.
Sempre que quiser sair, me avisa, ok?”

Connor considerou isso por um momento, e então assentiu.


“Certo.”

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CAPITULO 23
Os imperfeitos

Ao longo das semanas seguintes, Sully veio à casa cada vez


mais. No início, tinha que ser por convite formal. Ele gostaria de
jantar? Ele gostaria de vir comigo para levar as crianças para a
praia? Ele estava livre para vir construir fortalezas na biblioteca?
Mas, à medida que os dias e as semanas passavam, ele apenas
começou a aparecer. Ele vinha à casa às dez horas da manhã,
almoçava, ia comigo para buscar Connor na escola e ele era quem
o ajudava com sua lição de casa enquanto eu cozinhava o jantar
com Rose. Ele era quem levava Amie para a cama às sete. Ele se
sentava para intermináveis episódios da Peppa Pig e reprises de
Marvel Action Hour.

A mudança nele foi espetacular. E, durante o tempo de


qualidade que ele passava com as crianças, ele estava
constantemente me atraindo para ele, as mãos em cima de mim, a
boca áspera na minha, me tocava, me acariciava e me beijava.
Nunca na frente das crianças. Mas quando eles não estavam
olhando? Cara, essa era uma história totalmente diferente.

"Eu simplesmente não posso acreditar", disse Rose, um dia


no final de janeiro. "Eu juro que nunca o vi assim antes. Isso é...
bom, é meio chocante. Nunca pensei que o veria sorrir assim
novamente.”

Sully estava deitado de costas no chão da sala e Amie estava


empurrando seu peito, sentada em seu estômago. Suas pequenas

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mãos estavam puxando suas bochechas e sua testa, moldando seu
rosto em expressões estranhas. Ela ria a pleno pulmões toda vez
que ele rosnava ou colocava a língua para fora. Sua risada era
contagiosa. Connor talvez não tenha sido receptivo tão rápido a
Sully, mas o garoto adorava ter ele por aí. Ele estava sentado no
estilo indiano no chão a alguns metros deles, observando, sorrindo,
sem dizer nada, mas claramente feliz.

Inclinei minha cabeça contra o ombro de Rose, suspirando.


"Eu sei. Eu estou assustada."

Ela olhou para fora do canto do olho. "Entendi. Posso ver por
que você pode estar preocupada. Mas não estou mais. Eu não acho
que isso é fogo de palha, O. Ele não teve transtorno de estresse
pós-traumático quando ele voltou do Afeganistão, graças a Deus.
Ele estava apenas... com raiva. Ele ainda pode estar com raiva,
mas olhe para ele. Ele também está feliz. Ele encontrou algum tipo
de equilíbrio. Isso é muito especial."

Ela estava certa sobre ele ainda estar com raiva. Havia dias
em que ele era tão espinhoso e inacessível que queria chutá-lo nas
bolas. Dias quando cheguei tão perto de fazer exatamente isso. Mas
bastava um estímulo e ele não pensava duas vezes. Foi notável que
ele fosse capaz de virar o interruptor com tanta facilidade. Quando
perguntei sobre isso, ele simplesmente disse: "A guerra coloca as
coisas em perspectiva, Lang. Às vezes você perde de vista as coisas.
Às vezes, é preciso uma menina SoCal irritada para chutá-lo em
contato, mas nada é tão ruim quanto parece. Sinta-se livre para
me lembrar o burro que eu sou tantas vezes quanto você quiser.
Se eu sou demasiado insuportável, então jogue meu traseiro para
fora da casa." Ainda não tinha que fazer isso, mas ele sabia que
estava preparada e disposta. Talvez seja por isso que ele estava
claramente tentando tão duramente fazer isso funcionar. Semanas
passaram. Um mês. O dia dos namorados chegou e com ele uma
rosa cor de rosa e um simples cartão manuscrito no meu
travesseiro.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Lang.

Você não é tão inteligente como pensa que é. Eu sou


impermeável aos seus caminhos perversos. Eu não estou
apaixonado por você. Quando você sair desta ilha, não me
importo.

O mundo não vai parar de girar.

Não me sentirei vazio, nem despreocupado.

Não irei olhar pelas janelas do meu farol e ver apenas


a cinza e a miséria onde já houve uma beleza.

Não vou olhar meu celular, esperando que você ligue.

Não vou chorar a sua perda.

Não vou chorar (de uma maneira muito viril).

Não vou rezar para que seus pais decidam fechar seu
restaurante depois de tudo e se mudar para a costa leste.

Não vou assistir A Noviça Rebelde uma e outra vez,


desejando que minha namorada muito boa para ser verdade
volte para mim.

Todo segundo.

Todo minuto.

Toda hora.

Isso faria de mim o cara mais fraco do mundo.

Seu, temporariamente,

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Sully Fletcher.

P.S. verifique seu telefone.

Peguei o meu telefone da mesa de cabeceira, a pele picando


magoada, os olhos brilhando um pouco com as palavras que
escreveu no papel... até que eu vi a mensagem de texto esperando
meu na tela.

Em algum momento, Sully mudou seu nome em meus


contatos de 'Hottest Guy In The World' para 'Lamest Guy In The
World17'. A única mensagem que ele enviou para mim continha
poucas palavras, mas elas batiam forte.

Sully: Não faça isso, Lang. Não vá.

Eu me sentei na cama, olhando para a nota, relendo uma e


outra vez, sabendo agora o que ele realmente estava me dizendo.
Ele amava. Ele sentiria minha falta. Ele não queria que eu fosse
embora. Mais tarde, durante o jantar na casa, tentei falar com ele
sobre o que ele havia escrito, sobre o que ele me pediu, mas foi
difícil. As crianças estavam muito excitadas, cobertas de cola e
brilhos, mais uma vez, de fazer corações e cupido para decoração
com Rose. Claro que Rose estava conosco também e era quase
meia-noite quando tivemos um tempo sozinhos.

Sully nunca ficava em casa. Ele não parecia se importar de


visitar por longos períodos de tempo, mas eu ainda o pegava de vez

17 Cara mais estúpido do mundo.

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em quando olhando para a distância, ou parado na entrada de uma
das salas com um olhar perdido em seu rosto. Era fácil esquecer
que a casa em que vivíamos era a mesma casa onde ele cresceu.
Cada centímetro do lugar estava cheio de lembranças para ele, não
importava quão habilmente tivesse sido renovado. E eu
simplesmente estava dormindo no quarto antigo de seus pais, o
que o assustou infinitamente. Ele nunca colocaria o pé no andar
de cima se isso pudesse ajudá-lo.

À luz disso, tendia a dormir no farol com ele sempre que


queríamos um tempo sozinhos. Mais e mais frequentemente, Rose
ficava com as crianças durante a noite e eu saía da casa sob um
manto de escuridão, passava a noite com Sully, e voltava para casa
no início do amanhecer antes de Connor e Amie acordarem.

Esta noite não seria diferente. No entanto, nós não


conseguimos voltar para o farol. Sully dirigiu o meio caminho para
casa, e depois enveredou por uma trilha estreita, levando-nos na
direção oposta. Quando ele parou sua caminhonete, estávamos na
frente do que parecia um castelo arruinado, o telhado havia
desaparecido, a maioria das paredes destruídas. A neve cobriu a
construção de pedra, obscurecendo o que restava da estrutura, de
modo que tudo o que eu podia distinguir eram algumas partes
estranhas da parede e o topo de algumas das pedras angulares.

"Por que paramos aqui?", Perguntei.

"Porque vou foder agora, Lang. Não podia esperar até


voltarmos ao farol. Este era o lugar mais próximo que eu poderia
pensar onde não seríamos vistos."

"De jeito nenhum! Não vou fazer sexo com você no seu carro.
Está congelando, Sully."

"Fraca." Ele soltou seu cinto de segurança e então alcançou


e desabotoou o meu também. "Monte em mim. Saia de seu assento
e me monte, antes que eu te dê uma surra por ser desobediente."

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Ele estava brincando, mas havia um brilho escandaloso em seus
olhos que me fez corar um pouco mais. Ser espancada por Sully
não era uma perspectiva tão horrível. Na verdade, a ideia de sua
mão bronzeada meu traseiro nu me fez querer pressionar meus
joelhos juntos da maneira mais estranha.

"Não podemos estar a mais de dez minutos do farol. Não


podemos voltar para lá? Onde está quente?" Eu tentei não pensar
em ficar de joelhos, mas a imagem estava completamente
cimentada no meu cérebro agora.

"Eu juro para você agora, você não ficará com frio por muito
tempo, Lang. Eu terei você quente e excitada em pouco tempo." Ele
voltou zonzo para o assento de modo que estivesse quase inclinado,
sorrindo perversamente para mim o tempo todo. "Olhe," ele disse,
segurando minha mão. "Sinta isso." Ele me guiou na sua calça,
onde instantaneamente senti o enorme esforço que ele estava
escondendo em seus jeans. Ele estava mais do que duro. Ele era
uma rocha sólida. Ele fechou minha mão ao redor dele, fechando
os olhos.

"Se eu tirar minha mão nesse momento, Lang, o que você vai
fazer? Fazer-me levá-la para casa? Ou você vai me deixar usar isso"
Ele apertou sua mão na minha novamente, enfatizando o quão
excitado ele estava "para fazer você gozar?"

Quando ele colocou assim, dirigir-se direto para o farol


parecia uma opção precipitada depois de tudo. "Quente e excitada,
você disse?", Perguntei, levantando uma sobrancelha.

Ele abriu um olho e olhou para mim fora disso. "Tão quente.
Tão excitada."

"Está bem, então. Mostre-me."

"Eu estava esperando que você dissesse isso." Sua atitude


calma um segundo atrás foi todo um teatro. No segundo em que eu
concordei com seu plano maligno, ele surgiu e segurou-me,

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puxando-me do meu assento em sua direção. Eu não tive tempo de
protestar, nem mesmo abrir minhas pernas para me sentar bem
em cima dele. Sully tinha tudo sob controle, no entanto. Suas mãos
eram fortes e meu corpo parecia derreter-se à sua vontade sem
nenhum esforço de sua parte. Quando dei por mim, meu cabelo
estava torcido em um nó ao redor do punho de Sully, minha camisa
tinha subido, meu sutiã puxado para baixo e Sully tinha meu
mamilo esquerdo em sua boca. Ele massageou o feixe inchado de
nervos com a língua, mordeu-o, beliscando-o entre os dentes e a
sensação era tão forte e tão rápida que eu não conseguiria fazer
mais do que lutar para recuperar a respiração. Ainda não estava
acontecendo. Meus pulmões estavam trabalhando a meia
capacidade e não conseguiam acompanhar a necessidade de
oxigênio do meu corpo.

Sully empurrou os quadris para baixo, esmagando sua pelve


contra mim e eu pude sentir seu pênis de novo, duro e insistente,
esfregando minha buceta através do meu jeans. "Porra, Lang. Por
que diabos não consigo tirar minhas mãos de você? Não consigo
ter o suficiente. Você é mais viciante do que qualquer droga. Eu
desejo você vinte e quatro horas por dia, sete dias na semana.”

"Merda, Sully. Ahh!" Eu me pressionei contra ele quando ele


me mordeu de novo, apertando meu mamilo forte entre os dentes.
A sensação foi de eletricidade e fogo tudo em um só momento. Não
poderia aguentar, não aguentaria nem mais um segundo e, no
entanto, a dor e o prazer que me rodeavam eram tudo o que eu
queria ao mesmo tempo. Eu não poderia ter dito a ele para parar,
mesmo que eu quisesse.

As mãos de Sully trabalharam rapidamente, tirando minha


camisa sobre minha cabeça. Meu sutiã foi em seguida e então eu
estava meio nua e trêmula, minha pele explodindo em arrepios.
Sully rosnou no fundo da garganta enquanto me estudava por um
segundo. "Droga, Lang. Olhe para você. Você é perfeita. Você é a
garota mais bonita dessa ilha."

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Eu sou uma das únicas mulheres com menos de trinta e
cinco anos nesta ilha. Não é um grande elogio, Sully Fletcher."

Ele riu. "Você é a mulher mais bonita que já vi, então. Que
tal?"

"Agora você está sendo ridículo." Minhas bochechas estavam


se aquecendo, porém, o orgulho passando por mim. Sully parou de
sorrir e apoiou-se em um dos cotovelos, a cabeça inclinada para
trás, então ele estava olhando para mim. Seus cabelos escuros
estavam escovados para longe do rosto, marcando a mandíbula, os
olhos escuros e intensos. Ele me disse tão facilmente que me
achava linda. Por que era tão difícil para mim dizer-lhe que ele era
facilmente o cara mais gostoso que eu já tive o prazer de conhecer,
então? "Quero dizer, Lang", ele sussurrou. Deslizando a ponta dos
dedos sobre as pontas do meu cabelo, escovando-as levemente
sobre a pele nua do meu seio, ele expirou devagar, seus olhos
nunca deixando os meus. Parecia que ele estava olhando
diretamente para dentro de mim, como se pudesse ver através da
carne e dos ossos, diretamente a minha alma. Suas palavras
ecoaram esse pensamento quando ele falou novamente. "Você é um
incêndio. Você é teimosa e você não engole sapo. Você é forte. Você
não é humilhada. Você é uma mulher e uma guerreira de uma só
vez. Você é corajosa e gentil. E eu aprendi recentemente que ser
amável realmente requer coragem em alguns momentos." Ele fez
uma pausa, os olhos se estreitando enquanto me observava.
"Porra. Eu vivi no meu farol, lançando um feixe estreito para o mar
por um longo tempo, Lang. E então você varreu minha vida e
acendeu o escuro. Isso é bastante assustador para mim. Não estou
acostumado com a maneira como você me faz sentir. Eu sinto que
estou constantemente na defensiva com você, um passo atrás do
jogo."

Meu coração estava na minha garganta. Ele era sempre tão


fechado, o primeiro a fazer uma piada ou dar uma resposta afiada
para evitar ser sério, mas agora ele não poderia ter sido mais sério.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Havia uma calma repousando sobre ele que eu nunca tinha
experimentado antes e isso me fez querer me dobrar nele, envolver
meus braços ao redor dele e simplesmente me deitar lá, deixar
nossos batimentos cardíacos sincronizarem e baterem juntos.
Quem era esse homem? Ele era tão diferente do cara cauteloso,
agressivo e frio que quase me matou de susto no fim das escadas
há algumas semanas atrás. Aqui, estava um homem que poderia
amar, que tinha muito amor para dar, se somente ele se permitisse.

"Você me prometeu", eu sussurrei.

"Prometi o quê?"

"Que você não me deixaria cair".

Sully piscou, permanecendo absolutamente imóvel. "Você


sabia muito bem que isso aconteceria no momento em que você
começou a aparecer na minha porta com a comida em suas mãos,
Lang. Foi bom fingir que poderíamos evitá-lo, mas nós dois
sabíamos..."

"Eu pensei que você não gostava de pessoas que mentiam


para si mesmas", eu disse, dando-lhe um pequeno sorriso.

"Eu não sou perfeito. Eu quebro as regras."

"Já reparei."

Sully sorriu, pegando minha mão na dele, colocando-a sobre


seu coração. "Não esconda mais. Vamos ser honestos. Está na
hora."

"Deus, Sully, eu só... a situação, é..."

"Não," ele sussurrou. "Lembra? Nenhuma besteira. Conte-


me. Diga."

"Dizer o quê?" Já era tarde demais para os jogos agora. Nós


já tínhamos chegado muito longe.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Ophelia." Ele disse meu nome suavemente, com cuidado, de
modo que ele pesou. Ele disse que isso importava. Foi uma
repreensão, e uma carícia. Era a primeira vez que ele me chamava
pelo meu primeiro nome e a forma como ele modulou a palavra
inundou meu corpo com uma vibração quente, uma profunda
corrente subterrânea, como um diapasão que tivesse sido atingido
e zumbiria para sempre a menos que alguém fechasse a mão ao
redor dele.

"Eu te amo, Sully. Eu tentei não amar. Eu tentei muito. Deus


sabe que eu tentei." Eu queria enterrar meu rosto na camisa dele,
mas ele colocou os dedos no meu queixo e levantou meu rosto para
que eu não pudesse fazer isso.

"Abra seus olhos", ele ordenou.

Eu os abri, mas era tão difícil olhar para ele. Quase


impossível. Ele suspirou pesadamente. "Você não acha," ele disse
suavemente, "que eu não sinto o que você sente? Eu lhe disse tanto
naquela carta. Você não acha que a bravura e o machismo são
simplesmente sinais de que estou com medo? Porque eu estou,
sabe. Fiquei desde o primeiro momento em que te vi. Eu também
te amo, Ophelia. Deus, amar você é o mais e mais cruel que posso
fazer com você e ainda assim eu vou fazer isso. Você sabe o que
isso significa?"

Tentei desviar o olhar novamente - fui enterrada sob uma


avalanche de emoção, e senti como se estivesse sufocando. Sully
não me deixou esconder-me dele. Ele se abaixou, curvando-se para
que nossos olhos se encarassem mais uma vez. "Amar você não é
eu te contar uma coisa que nós dois já sabemos. É acordar juntos
todas as manhãs. É fazer amor, argumentar, lutar e lidar com os
problemas do outro. É caminhar através de brasas por você. É
protegê-la e honrá-la sempre. Não há meia medida nisso, certo?
Então, você tem que estar fodidamente certa, porque uma vez que
viajarmos por esta estrada juntos, não há como voltar. Não é uma

CALLIE HART Between Here and the Horizon


experiência de faculdade. Sou eu e você. Para sempre. Isso me
mudará e também mudará você. Já é parte de nós. Uma vez que
deixemos isso nos alcançar, não haverá volta. É isso que você
quer?"

"É o que você quer?", Perguntei com uma voz baixa.

"Não faça isso. Olhe para os seus sentimentos. Você não


precisa saber o que penso antes de tomar uma decisão."

"Eu sei que não. Eu só estou com medo de dizer.”

Sully sorriu – um sorriso largo, contagioso, insondável - e


senti que meu coração ia estourar. "Você já fez a parte mais difícil,
Lang. Esta próxima parte é apenas o primeiro passo."

"Para o que?"

Ele me deu uma olhada. "Diga-me você. Na verdade, me diga,


Lang. Agora mesmo."

Um frio tremor de pânico correu por minha espinha, mas eu


ignorei. Ignorei meu medo e peguei cada último pedaço de coragem
que eu possuía. "O resto de nossas vidas", eu disse com firmeza.
"É o primeiro passo para o resto de nossas vidas, porque é isso que
eu quero. Eu quero tudo isso. Contigo. Não consigo imaginar de
outra maneira."

Sully se moveu rapidamente, sentando-se ereto. Ele agarrou-


me, suas mãos agarrando meu cabelo, correndo pelas minhas
costas, tateando minha bunda através do meu jeans. Sua boca
encontrou a minha e por um momento o mundo fora da
caminhonete se afastou. Não havia neve caindo da janela. Não
havia nuvens escuras e ameaçadoras que bloqueavam a luz da lua.
Não havia ilha e não havia amanhã. Havia apenas esse momento,
nosso momento e a respiração que compartilhamos quando nos
beijamos.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Ele era um homem possuído. Eu era uma mulher perdida.
Juntos, tínhamos duas metades de algo frágil e delicado, bonito em
sua complexidade.

Sully mordeu meus lábios e minha língua, grunhindo.


Colocando uma mão na minha nuca, ele me beijou com mais força,
esticando novamente os quadris; O seu duro ainda estava furioso,
ainda feito de aço sólido. Ele balançou os quadris para frente e para
trás, esfregando-se contra mim, acendendo uma dor desesperada
dentro de mim. Eu precisava dele. Eu o queria mais do que nunca
quis alguém e não aguentaria esperar mais.

Eu rasguei a camisa dele, lutando com a cabeça dele e então


minhas mãos estavam puxando freneticamente a fivela do seu
cinto, tentando desafivelá-la. Sully assumiu o controle; Ele fez um
rápido trabalho no cinto, tirando-o completamente da cintura e
jogou-o sobre o ombro no banco de trás. Desabotoei suas calças,
movendo-as pelo seu corpo, tentando não engasgar quando puxei
o jeans para baixo sobre os quadris e a ereção ergueu-se livre.

"Maldição", eu murmurei ao meu alcance.

"O que há de errado?" Sully ofegou.

"Eu quero te montar tão forte, Sully. Eu preciso sentir você


dentro de mim agora mesmo. Mas eu também quero você na minha
boca. Quero fazer você gozar tão forte. Quero provar você. Eu quero
engolir você. Mas eu quero sentir você entrar em mim também."

Sully gemeu, a cabeça caindo contra o assento do carro.


"Deus, eu não posso ouvir você falar comigo assim. Você vai me
matar, menina.”

Passei a ponta da minha língua sobre a ponta do pênis,


tremendo de prazer. "O que você prefere?", Perguntei. Minha voz
era rouca e cheia de desejo. Sully alcançou a mão entre nossos
corpos, desceu entre minhas pernas e arrancou meus jeans já
abertos. Seus dentes à mostra, seus olhos ardendo em chamas.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Oh, estamos fazendo os dois, Lang. Estamos fazendo as
duas coisas." Ele pegou um punhado do meu cabelo e puxou-o -
suavemente o suficiente para que não doesse, mas o suficiente
para saber onde ele queria que eu estivesse. Ele o levou até minha
boca, abaixando minha cabeça sobre ele ao mesmo tempo e seu
pênis deslizou todo o caminho até a parte do fundo da garganta.
Ao mesmo tempo, ele começou a trabalhar os dedos de sua outra
mão contra minha buceta, esfregando pequenos círculos contra
meu clitóris através da minha calcinha.

"Merda, você está tão molhada", ele ofegou. "Você realmente


me quer, não é? Deus, eu posso sentir o quanto você me quer."

Eu podia sentir o quanto ele também me queria. Ele estava


ficando cada vez mais duro a cada segundo. Eu movimentei minha
língua, da base de seu pênis até a ponta e Sully, embaixo de mim,
com a respiração acelerando até quase hiperventilar.

"Porra Lang. Oh Deus. Ah Merda. Eu vou gozar. Baby, eu


vou-"

A luz brilhou de repente através da janela da caminhonete,


saltando ao redor do interior do veículo. Sully reagiu tão
rapidamente, demorou um segundo para descobrir o que estava
acontecendo. Ele não estava gozando. Ele estava me empurrando
e agarrando sua camiseta, tentando me cobrir com ela.

"Sully Fletcher, seu cachorro, você." Alguém estava parado


na janela do carro do lado do motorista, olhando através do vidro.
Eles tinham uma lanterna na mão e estavam apontando isso
diretamente para nós. "É você, Srta. Lang? É bom te ver
novamente." Eu reconheci a voz, mas não consegui localizá-la.
Estava muito ocupada lutando, tentando me vestir. Sully estava
com o rosto vermelho, puxando o jeans para cima por seu corpo,
jurando em voz baixa.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


No espaço de cinco segundos, nós passamos de “à beira de
fodendo” para “Sully chutando a porta da caminhonete aberta e
pulando do veículo, o peito desnudo, rugindo no alto dos pulmões”.
"Hinchliffe, seu filho da puta. Que diabos está errado com você?"

Hinchliffe? Hinchliffe. Ah não. O policial que apareceu depois


que eu relatei a morte de Ronan? Senhor, tenha piedade. Minha
própria camisa estava longe da vista, então agarrei a de Sully e a
vesti, saindo rapidamente do carro depois dele. Hinchliffe estava de
uniforme, a lanterna ainda agarrada na mão. Sully o tinha pela
garganta e estava prestes a golpeá-lo na face.

"Sully! Pare!" Eu corri pela neve, agarrando o braço que ele


levantou e puxou para trás, pronto para atacar. No momento em
que eu o toquei, Sully soltou, grunhindo em voz baixa.

"O que diabos você está fazendo, cara?" Ele sibilou,


empurrando Hinchliffe. "Você está espionando o que as pessoas
fazem em seus carros agora?"

Hinchliffe cuspiu no chão, esfregando o pescoço dele. "Eu


sou um policial, Sully. Porra, homem, sexo em público é uma
ofensa. E também atacar um policial. Eu poderia denunciá-lo agora
mesmo se eu quisesse."

"Você vai me prender?"

"Claro que não."

"Então, qual é o objetivo de me denunciar? Bem patético,


cara.”

"Tanto faz. É melhor você sair daqui antes que eu peça


reforço."

Sully começou a rir. "Reforço? Você quer dizer Caruthers?"

"Vamos, Sully." Eu enfiei meus dedos entre os dele e apertei.


Eu sabia que estávamos a salvo de outra explosão de raiva quando

CALLIE HART Between Here and the Horizon


ele apertou. Voltando-se para mim, ele me deu um pequeno
sorriso, mas eu poderia dizer que ele ainda estava fritando de raiva.

Seu olhar escuro permaneceu fixo e fixado em mim. "Tudo


bem", disse ele. "Se é o que você quer."

"É."

Hinchliffe resmungou depois de nós, enquanto voltávamos


para o carro. Sully entrou no espaço do motorista, ainda fervendo,
e segurou o volante, apertando-o com força. "Eu sinto Muito. Porra.
Eu não deveria ter perdido o controle assim. Eu apenas - o
pensamento de ele te ver nua..."

"Eu duvido que ele tenha visto alguma coisa", eu disse a ele.
"As janelas estavam muito embaçadas."

Sully virou-se para mim, muito sério e sua expressão sóbria


se transformou em diversão. Sua cabeça baixou, os olhos fechados
e ele riu. "Jesus, eles estavam bastante enrolados, hein? Droga.
Você me transformou em uma adolescente, Lang." Ele ligou a
caminhonete, disparando o motor para que os pneus girassem,
chutando a neve e saímos de lá, deixando Hinchliffe no
acostamento da estrada.

Quando voltamos para o farol, eu pretendia retomar


exatamente de onde estávamos antes de termos sido tão
grosseiramente interrompidos. Meu telefone começou a tocar na
minha bolsa antes mesmo de poder tirar a camiseta de Sully. Foi-
se o tempo em que eu poderia ter ignorado a ligação, mas não agora
que era responsável por duas crianças; Não podia escolher ou
selecionar quais as chamadas que eu atenderia ou não. Eu peguei
sem olhar para o identificador de chamadas, ansiosa para que
assim que encerrasse a chamada, Sully e eu pudéssemos nos
concentrar um no outro novamente.

Sully passou as mãos pelos meus ombros, nas minhas


costas, beijando meu pescoço enquanto eu pegava meu celular.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Alô?"

"Ophelia? Oh, graças a Deus, querida. Onde você esteve?


Estive tentando te ligar por horas."

Era minha mãe. Sua voz estava tensa, agitada e ela estava
falando as palavras emboladas, falando tão rápido que dificilmente
poderia entender. "Desculpe, não ouvi meu telefone. O que
aconteceu? O que há de errado? Mamãe? Você está aí?"

Um estrondo engasgou na linha. "Oh querida. É seu pai.


Sinto muito, querida, mas ele está morto.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


CAPITULO 24
Consequências

Ataque cardíaco.

Ele se levantou cedo pela manhã e foi até o cais com seu
equipamento de pesca. Mamãe o beijou na bochecha e disse-lhe
para voltar ao meio dia, o que ele não tinha feito. Ela passou a
maior parte da tarde, pronta para mordê-lo quando ele chegasse
em casa por não ter ajudado com o serviço de almoço no
restaurante e depois, por volta de quatro horas, ela começou a ficar
preocupada. Ele não estava atendendo seu telefone. Ela caminhou
até o cais, mas ele não estava em nenhum lugar.

Foi quando ela ligou para a polícia e eles lhe disseram o que
aconteceu. Ele tinha levado as mãos ao seu peito e derrubado as
grades na água às nove da manhã. Dois outros homens haviam
pulado atrás dele, tentando salvá-lo, mas ele havia desaparecido
na água e não estava em nenhum lugar.

Às duas horas da tarde, seu corpo apareceu na costa, a meio


metro da praia, em direção a El Segundo. Três surfistas
encontraram seu corpo primeiro, mas eles não pediram ajuda. Eles
reviraram seus bolsos, procurando algo de valor. Uma mulher que
andava com seus cachorros na costa os expulsara e chamou a
polícia. A carteira de papai, a aliança de casamento e o São
Cristóvão que ele sempre usava ao redor do pescoço
desapareceram, então a polícia não conseguiu identificá-lo até que
mamãe chamasse a estação para denunciá-lo como desaparecido.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Deus, sinto muito, O. Existe alguma coisa que eu possa
fazer para ajudar?" Rose estava se mexendo pela cozinha,
oferecendo para fazer chá, café, sanduiches, qualquer coisa para
tentar me fazer sentir melhor. Não havia nada a ser feito. Eu não
iria me sentir melhor em breve.

"Obrigada, Rose. Na verdade, está tudo bem. Eu só preciso


voltar para casa o mais rápido possível. Você pode cuidar das
crianças? Eu não sei por quanto tempo vou ficar lá." Levá-los
comigo estava fora de questão. E a ideia de deixar mamãe quando
ela precisava de mim também era difícil de aceitar. Rose esfregou
meu ombro de forma tranquilizadora.

"Você nem precisa pedir. Eles estarão bem aqui comigo. De


qualquer jeito, eles me devem cerca de três anos de férias. Você
leva o tempo que precisar.”

Estava amanhecendo. O sol estava se erguendo sobre a linha


do oceano e eu estava esperando na doca por Jerry, o barqueiro,
chegar quando a caminhonete de Sully acelerou sobre a colina em
direção ao estacionamento. Ele me levou de volta para The Big
House ontem à noite e me beijou por muito tempo, dizendo-me
para chamá-lo pela manhã quando soubesse o que tinha
acontecido. Ele estacionou o carro e o trancou, depois veio
correndo pelo ancoradouro, uma sacola pendurada sobre o ombro
e uma expressão sombria no rosto.

"Você não ligou. Você estava indo embora?"

A culpa me balançou. Não suportei o olhar dolorido em seu


rosto. "Sinto muito, Sully. Mas o que eu deveria fazer? Não posso
simplesmente pedir-lhe para largar tudo, entrar em um avião
comigo e ir até o outro lado do país."

Ele balançou a cabeça, franzindo a testa. "Você é tudo pra


mim, garota tola. Não vou deixar você passar por isso sozinha."

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Comecei a chorar. Foi a única reação que eu consegui ter.
Durante as últimas doze horas, eu tentei me manter forte, dizendo
a mim mesma que eu tinha que ser forte para mamãe, que eu
poderia voltar para a Califórnia sem desmoronar no aeroporto ou
no avião, mas eu não teria conseguido. Eu precisava dele. Eu
precisava tanto de Sully, mas eu estava com muito medo de
perguntar. Agora que ele estava aqui, me repreendendo por não me
apoiar nele, o alívio que senti foi demais pra mim.

Ele me puxou para ele, passando a mão pelo meu cabelo,


sussurrando suavemente para mim, me acalmando enquanto
chorava. Enterrei meu rosto em seu suéter escuro, soluçando,
confortando-me com seu calor e com o cheiro dele. "Shh, Lang. Não
se preocupe. Estou aqui. Eu vou cuidar de você, baby.

Ouvi-lo dizer essas palavras foi o suficiente. Eu poderia


passar pelas próximas vinte e quatro horas se ele estivesse ao meu
lado. E eu poderia passar as 24 horas seguintes depois disso. Os
dias e os meses que se seguiram seriam um mistério, mas tive a
sensação de que estaria bem se Sully estivesse por perto para me
fortalecer e me apoiar.

Jerry chegou logo depois das sete horas. Sully reservou um


bilhete de avião extra em seu telefone enquanto cruzávamos de
volta ao continente e quando chegamos ao aeroporto, tudo estava
em ordem. O avião de volta para L.A. estava praticamente vazio e
Sully e eu tínhamos três lugares para nós. Eu me deitei com a
cabeça no colo dele, a mão dele suavemente escovando meu cabelo
repetidamente durante a maior parte do vôo e tentei dormir. No
entanto, não consegui.

Do aeroporto de Los Angeles até o lugar onde cresci era


apenas um curto trajeto de carro saindo de Manhattan Beach.
Onde meu pai me ensinou a dirigir. Pescar. Cozinhar. Tornar-me
uma adulta responsável no mundo. Como ele poderia ter ido
embora? Como ele poderia estar morto? Meu coração estava doendo

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tão ferozmente quando desembarcamos do avião que senti que
nunca mais ficaria inteiro.

Sully tirou minha única mala de mim e levou-a pelo saguão,


me segurando firme. "Tudo vai ficar bem, Lang", ele disse em meu
cabelo. "Eu prometo. Pode não sentir agora, mas tudo vai ficar
bem."

"Capitão Fletcher? Capitão Sully Fletcher?”

À nossa direita, um grupo de homens estava se aproximando


rapidamente, vestido com equipamento militar completo. Fiquei
tão surpresa que soubessem o nome de Sully que levei um longo
momento para processar o que aconteceu depois. Sully ficou rígido
ao meu lado, parando quando os cinco homens nos
interromperam.

"Sim. Sou Sully Fletcher. Não mais capitão. Estou fora de


serviço há muito tempo."

O soldado na frente do grupo deu um passo à frente. Havia


um olhar duro e frio em seus olhos que me deixou
instantaneamente nervosa, embora eu não pudesse dizer o porquê.
"Você vai ter que vir conosco, senhor", ele grunhiu.

"Para que?" O rosto de Sully estava desprovido de qualquer


emoção. Parecia, de repente, como se ele fosse feito de pedra.

"Você está preso", disse o soldado. "Por se passar por um


oficial comissionado no Exército dos EUA." Os homens se reuniram
em torno de Sully, puxando-o, levando tanto a mala dele quanto a
minha, girando-o para que pudessem algemá-lo.

"O que? O que diabos está acontecendo, Sully? Diga-lhes!


Diga-lhes que cometeram um erro!"

Sully não disse uma palavra, no entanto. Ele parecia


atordoado, mas, ao mesmo tempo, havia um ar de resignação, o
que estava quase me matando de susto. "Sully? Sully, diga-me o

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que está acontecendo.” Os soldados o levaram pelos braços, em
ambos os lados e começaram a fazê-lo se movimentar pelo saguão
sem me dar nem tempo para pensar.

"Ei! Ei, diga-me o que está acontecendo!" Peguei o soldado


mais próximo, tentando fazê-lo parar, para explicar essa loucura
para mim, mas ele deu um puxão no braço. Girando, ele estufou o
peito e gritou comigo.

"Senhora, eu aconselho profundamente que você não me


toque novamente ou haverá graves consequências."

"Não toque nela, idiota", rosnou Sully. Era a primeira vez que
ele falou qualquer coisa desde que lhe disseram que estava preso;
Ele passou de uma feição de pedra a uma extremamente raivosa
em um instante, lutando para libertar-se dos soldados. Ele torceu,
tentando se soltar, mas os homens o agarraram firme e não parecia
que eles estavam planejando deixá-lo ir. "Tire suas mãos de merda
de mim, filho da puta!"

"Sully!" Eu tentei superar o enorme, gigante homem que


estava diante de mim, bloqueando meu caminho, mas ele era uma
parede de músculos e eu não tinha esperança.

"Senhora? Senhora. Pare. O capitão Fletcher está obrigado a


vir conosco. Se você não se acalmar, seremos obrigados a pedir que
as autoridades locais venham e detenham você até que saiamos da
deste local."

"Muito bom. Chame a polícia. Você não pode apenas levá-lo


assim. Ele tem direito ao devido processo, como qualquer outra
pessoa.”

"Ele não tem, senhora. Ele ainda é regido pelo Exército dos
Estados Unidos, independentemente de ele estar ou não em serviço
ativo. Fletcher cometeu um crime. Ele está sob investigação. Isso é
tudo.”

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"Mas ele tem direito a um advogado. Ele tem o direito de
saber por que ele está sendo..."

"Ophelia." Sully tinha parado de lutar e estava olhando para


mim. "Por favor. Está tudo bem. Apenas vá e fique com sua mãe,
ok? Eu vou encontrá-la assim que puder, eu juro."

E foi assim. Eles conduziram Sully e ele se foi.

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CAPITULO 25
Afeganistão

2009

Sully

"Não podemos fazer isso, Sully. Não há como removê-lo.


Fomos loucos por ter considerado isso.”

Eu endireitei a gravata de Ronan e segurei-o pelos ombros,


tentando não deixar meus nervos me denunciarem. O que
estávamos planejando fazer era loucura, de fato, mas não havia
mais alternativas. Ronan não poderia suportar outro dia aqui no
país, muito menos outro mês. Ou três. Ou cinco. Ou doze.

Whitlock não me chamou para o escritório dele para me dizer


que minha implantação estava sendo estendida. Em uma estranha
reviravolta do destino, ele me chamou para o escritório dele para
me agradecer pelo meu excelente serviço e para me dizer que eu
estava indo para casa. Não só a minha implantação, mas também
o meu contrato com o exército. Eu estava fora. Eu estava pronto.
Eu tinha terminado. A menos que eu quisesse me realistar, é claro.
Eu olhei para Whitlock no início, muito atordoado para falar ou
piscar. Mas então as engrenagens começaram a girar.

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"Não senhor. Eu acho que já tive minha cota de Afeganistão.
Dessa vida, de qualquer forma," eu lhe havia dito. "Já é tempo de
voltar para Nova York. Eu fiz minha namorada esperar seis anos por
mim. Provavelmente eu deveria me casar com ela antes que ela fique
entediada e seja fisgada por algum barista ou algo assim."

Whitlock riu, mas eu pude ver isso em seus olhos - ele


pensou que eu era menos homem por sair. "Bem, isso está
resolvido então. Por sorte, eu tenho que aguentar pelo menos um
dos meninos Fletcher por um tempo.”

Assim que eu deixei o escritório de Whitlock, fui encontrar


Ronan, para explicar meu plano. Ronan tinha questionado no
início, me disse que não poderia fazer um sacrifício tão ridículo por
ele, que eu estava louco, mas no final ele desistiu. Ele não podia
ficar. Eu poderia. Isso foi tudo.

"Se nos pegarem..." Ronan se moveu, esfregando as mãos


sobre o rosto.

"Nós não vamos ser pegos, idiota. Nós sacaneamos as


pessoas durante toda a vida e ninguém jamais conseguiu notar a
diferença entre nós. Por que iriam agora? Conheço seus homens.
Passamos por cada fase de suas missões passadas. Eu não vou
tropeçar e cometer um erro aqui. Está indo bem."

"E o que vou fazer quando voltar para os Estados Unidos?


Eu só vou me mudar com sua namorada e fingir para o mundo
como eu estou feliz e apaixonado? Magda vai me odiar por isso.
Viver com ela, fingir ser você? Isso não me afetará apenas. Isso
também a afetará.

Ele estava certo em relação a isso. Magda e Ronan nunca


foram próximos. Ronan constantemente me dizia que ela não era
certa para mim, enquanto, por outro lado, Mags sempre dizia que
Ronan era um mentiroso e não poderia confiar nele. Agora, todos
nós seríamos mentirosos. Eu expliquei a Magda o que aconteceria

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o melhor que pude, sem dizer diretamente as palavras, e ela depois
de um tempo conseguiu decifrar o que estava falando. Ela ficou
com raiva. Cara, ela ficou brava. Mas ela concordou por minha
causa.

"Apenas certifique-se de que ela não fique muito


preocupada", eu disse, entregando a Ronan a bolsa militar. Aquela
com CPTN. S. FLETCHER gravada na lateral. "E lembre-lhe que ela
não pode falar sobre isso com ninguém. Nem com os pais dela. Nem
Rose. Ela não pode sequer escrever sobre isso no diário dela, ok?
Ei? Você está me ouvindo?" Eu tomei o rosto de Ronan em minhas
mãos, forçando-o a encontrar meus olhos. "Isso é importante, cara.
Diga-me que você pode lidar com isso."

"Correndo para casa, me escondendo das minhas


responsabilidades? Ah com certeza. Eu posso lidar com isso muito
bem", disse ele amargamente. "Eu não posso acreditar que você
está fazendo isso por mim. Nunca vou poder me perdoar por isso."

Eu balancei a cabeça, suspirando. "Não há nada para


perdoar. Você faria isso por mim se eu precisasse disso. Estou do
seu lado. Eu sempre estou. Agora vá, antes que perca o seu maldito
voo para fora deste inferno. E certifique-se de dar a minha garota
um beijo por mim, meu irmão.

Atrás de mim, um soldado raso que eu não conhecia entrou


apressado através da aba da tenda, nos saudando, olhos frenéticos
entre nós dois antes de falar.

“Capitão Fletcher, senhor. Você está sendo chamado no


escritório do coronel Whitlock imediatamente. Ele precisa de você
na patrulha noturna com a companhia B." O soldado não
pestanejou. Ele encontrou a letra R no bolso do meu peito - Cptn.
R. Fletcher - e acreditou que eu era Ronan. Eu sorri para o meu
irmão, e então bati no ombro: viu?

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"Tchau, Sully", eu disse, abraçando-o com força uma última
vez. Era estranho chamá-lo pelo meu nome, mas era um bom show
em frente ao soldado. "Te encontro no outro lado, huh?"

Ronan assentiu, me dando um sorriso apertado. "Claro, meu


irmão. Obrigado."

******

Três meses se passaram. Seis e depois oito. Whitlock me


usou para patrulhas noturnas em quase todas as missões, o que
era bom para mim. A cidade acendia-se com tiros depois que o sol
caía. Nós brincávamos de gato e rato através de edifícios
queimados, caçávamos insurgentes, bombas de desarmamento,
dávamos retaguarda às equipes Seal e apoio aos fuzileiros, e em
meio a tudo isso eu tinha certeza de que Ronan estava seguro de
volta aos Estados Unidos.

Falei com ele todos os dias no início e depois uma vez por
semana. À medida que nossa comunicação diminuía, eu disse a
mim mesmo que era porque ele se sentia culpado. Nós não
conversamos sobre as missões que eu estava indo ou o perigo que
enfrentava todos os dias. Mas eu sabia que era difícil para ele - ver
o uniforme o deixou visivelmente pálido e desconfortável. Quando
Magda começou a atender menos o seu telefone, imaginei... Não sei
o que percebi. Nós passamos de falar todos os dias, onde ela dizia
da falta que sentia de mim, que me amava, e do choro toda vez que
eu dizia adeus, a ela recebendo minhas chamadas e raramente
atendendo.

Eu sabia o que estava chegando no fundo dos meus ossos,


mas não estava preparado para isso. Exatamente nove meses
depois de assumir a identidade de Ronan e enviá-lo de volta aos
Estados para fingir ser eu até meu retorno, recebi a ligação que

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mudou tudo. Não era uma ligação de Magda ou de Ronan, mas
uma chamada de ambos. Eu sabia desde o momento em que os vi
na tela do laptop, sentados na mesa juntos, cadeiras empurradas
muito perto, mãos escondidas debaixo da mesa, que estavam
prestes a me dizer algo que eu não queria ouvir.

"Nós não queríamos que isso acontecesse," Magda disse,


lágrimas brilhando em seus olhos. "Mas vivendo juntos, passando
tanto tempo juntos, fingindo o tempo todo... Foi inevitável, Sully.
Não conseguimos evitar."

Ronan parecia que sua vergonha o estava comendo vivo. "Eu


não sei o que dizer", ele sussurrou. "Você me deu tudo e eu te tirei
ainda mais. É imperdoável."

Olhei para a tela, tentando descobrir se era uma grande


piada. Deus, tinha que ser, certo? Como poderia ser verdade? E
então, Magda fechou a tampa do caixão. "Estou grávida, Sully.
Desculpe-me. Vamos ter um bebê."

Bebê?

A palavra balançou dentro do meu cérebro, provocando


explosões que acertavam o meu coração.

"Eu ainda te amo", ela sussurrou. "Eu amo os dois. Como eu


não amaria?"

"E aí então?" Eu engasguei meu riso. "Eu termino aqui em


alguns meses, volto para Nova York e então todos nós moramos
juntos? Uma família grande e feliz? Ronan fica com você de
segunda a quarta-feira, eu fico de quinta a sábado e alternamos os
domingos? Jesus, Magda."

Ela chorou, soluçando e Ronan colocou o braço em volta dela


e a consolou, não eu.

"Quanto tempo?", Perguntei. "De quanto tempo você está?"

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Ambos ficaram silenciosos por um momento e então Ronan
me deu uma resposta que me fez querer vomitar: "Dezesseis
semanas."

"Quatro meses? Quatro meses, porra?”

"Eu sei, meu irmão. Me desculpe. Eu sei que não há nada


que eu possa dizer para consertar isso, mas... "

"Não me chame assim. Não me chame de irmão. Nós


terminamos por aqui, Ronan. Você está certo. Isso é imperdoável."
Fechei o laptop, cortando a conexão. No entanto, não foi suficiente.
Peguei e joguei, lançando-o pelos ares.

Tinha acabado. Estava tudo acabado. O mundo como eu


conhecia tinha desaparecido. Magda teria um bebê de Ronan e eu
ainda estava preso no Afeganistão, fingindo ser ele. Saí correndo
da tenda e atravessei a base, minha cabeça batendo, meu coração
galopando no peito. Não demorou muito para encontrar o coronel.
Ele estava curvado alguns relatos da inteligência na sala de
comunicação, apertando os olhos através dos óculos de armação
grossa que ele usava. Quando ele me viu, se aprumou e limpou sua
garganta.

"O que posso fazer por você, capitão? Onde está o fogo?"

"Eu quero estender novamente, Coronel."

Sua expressão gelada se descongelou um pouco. "Isso não é


possível, Fletcher. Por mais que eu quisesse mantê-lo aqui, você já
esteve no país por muito tempo. Os superiores exigirão que você
volte ao serviço ativo nos Estados Unidos durante pelo menos seis
meses antes de podermos ter você."

"Com todo o respeito, coronel Whitlock, você acha que eu não


estou apto para o dever?"

"Não. Acho que não."

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"Você acha que sou mentalmente competente?"

"Normalmente, eu diria que sim, mas agora você está um


pouco louco, Ronan. Posso perguntar o que o deixou assim?"

"Apenas a necessidade de servir meu país, senhor. A


necessidade de proteger aqueles que eu amo e mantê-los seguros."
Este foi o discurso perfeito para chamar a atenção de Whitlock. O
patriotismo cego sempre o atingia. Ele coçou o nariz, olhou para
mim e depois deu um aceno superficial.

"Tudo bem então. Eu vou elabora a documentação para você


assinar manhã. Escreverei uma carta de recomendação pessoal
pedindo que o seu pedido de outra extensão seja concedido, mas
não posso garantir que seja aceito."

"Obrigado, senhor".

"Não, obrigado a você, Fletcher. Os homens bons são difíceis


de encontrar aqui.” Ele parou por um segundo, olhando de volta
para seus documentos da Inteligência. "Sabe, de vocês dois, eu
sempre tive certeza de que seu irmão seria o único a construir uma
carreira militar exemplar para ele, Ronan. Não me interprete mal.
Você sempre foi um excelente soldado. Você nunca teria
conseguido ser capitão de outra forma. Mas quando Sully partiu,
você realmente começou a brilhar. Suponho que às vezes um
homem precisa sair da sombra de seu irmão para mostrar suas
verdadeiras cores, hmm?

Cinco meses depois, eu estava de costas em um deserto que


ficava fora de Cabul. Meu corpo estava queimado, meus pulmões
cheios de inalação de fumaça e o coronel Whitlock estava me
chamando de bastardo louco, pedindo que homens me levassem
para um helicóptero antes de eu sangrar e morrer.

Do outro lado do mundo, Magda estava dando à luz meu


sobrinho. O nome dele era Connor. Em sua certidão de
nascimento, sob a seção intitulada "pai", uma enfermeira com

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uniforme rosa choque, exausta de um turno de quatorze horas,
escreveu o nome de Sully James Fletcher com tinta azul.

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CAPITULO 26
O Gatilho

O funeral foi cinzento e sombrio. O sol nunca parecia parar


de brilhar na Califórnia, mas de alguma forma o mundo era um
lugar preto e escuro e o tempo alegre não podia fazer nada para
mudar isso.

Mamãe não parava de chorar. Eu também não tinha parado.


Era tudo demais para mim. Papai tinha ido embora. Sully foi
arrastado pela polícia do Exército e não importa quantas vezes eu
liguei para descobrir o que estava acontecendo com ele, ninguém
me disse nada. Depois de um tempo, descobri que ele estava preso
na base do exército Camp Haan em Riverside e que estava
aguardando uma audiência. Ainda não podia acreditar nisso.

Fazer-se passar por um oficial comissionado. Foi o que o


soldado disse quando prenderam Sully no aeroporto. Não havia
como se fazer passar por um oficial comissionado. De jeito
nenhum.

Nós fizemos o velório de papai no restaurante. Metade do


bairro apareceu para se despedir de meu pai. Nós bebemos,
comemos e contamos histórias. A tarde foi agridoce - uma
verdadeira homenagem a um homem maravilhoso, amável e
generoso que havia tocado a vida de tantas pessoas. Minha tia,
Simone, organizou absolutamente tudo. Ela era uma dádiva de
Deus. Ela cumprimentou a todos na igreja. Ela coordenou tudo,
certificando-se de que todos soubessem onde e quando seria o

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velório. Ela arrumou as flores. Ela se certificou de que todos
estavam confortáveis e tinham o suficiente para comer e beber. Ela
afastava as pessoas para longe de mim e de mamãe sempre que
parecia que estávamos à beira do colapso total (que era muitas
vezes). Sem ela, teríamos ficado perdidas.

Quando o dia acabou, eu me ocupava recolhendo pratos e


copos do restaurante, tentando manter minha cabeça ocupada -
era adorável que tantas pessoas tivessem vindo nos mostrar nosso
amor e apoio, mas eu realmente não podia suportar outra pessoa
dizendo-me como estavam sentidos por minha perda. Eu estava
carregando uma pilha de pratos para a parte de trás da cozinha
quando vi uma figura alta e parecida com um pássaro vestida de
preto, afastada de lado.

Robert Linneman.

Ele me deu um pequena e triste sorriso quando me viu. O


que diabos ele estava fazendo aqui? Abaixei a carga que levava e
caminhei até ele. "Sr. Linneman? Você veio aqui para o funeral de
meu pai?" Enquanto eu falava, sabia que isso não fazia sentido.

Linneman balançou a cabeça lentamente. "Não, Srta. Lang,


embora eu esteja terrivelmente triste por saber de sua perda. Eu
também tenho que me desculpar por aparecer aqui assim, mas eu
recebi o pedido do Sr. Fletcher."

"Sully? Você o viu?”

"Sim. Eu representei Sully e Ronan por muito tempo agora.


Eu também representava seu pai antes deles. Enfim, fui chamado
e informado sobre a situação de Sully. Estive aqui tentando
resolver o problema há alguns dias. Sully me pediu para trazer esta
carta para você. Contra meu conselho, eu poderia acrescentar." Ele
estendeu um pequeno envelope, que parecia ter sido selado e
depois rasgado novamente.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Linneman suspirou quando me viu passar os dedos contra a
borda rasgada do envelope. "Sim, infelizmente, a polícia do Exército
leu antes que eu pudesse tirá-lo da base. Tenho medo de que o
conteúdo da carta de Sully provavelmente não tenha sido benéfico
para o seu caso.

Peguei a carta e comecei a ler. Ela explicava tudo. Enquanto


eu lia, os olhos examinavam rapidamente as páginas que Sully
tinha escrito para mim, as coisas começaram a ter muito mais
sentido. Ao mesmo tempo, elas eram muito mais confusas,
também.

"Então... Sully foi quem puxou esses homens dos destroços,


não Ronan?"

Linneman assentiu.

"Eu não entendo. Como Magda e Ronan explicaram por que


eles se casaram e não Magda e Sully? Quando eles voltaram às
suas identidades originais?" Minha cabeça estava doendo, cada
pedaço dessa nova informação que estava sendo dada
simplesmente não fazia sentido.

"Ronan descobriu quando Sully finalmente chegou em casa


da implantação. Ele voltou para a ilha e encontrou-o. Eles
concordaram então em trocarem de identidade novamente. Era
hora de eles serem quem eles deveriam ser. Eu supervisionei o
encontro entre eles. Ronan estava preocupado que Sully talvez não
estivesse satisfeito em vê-lo.”

"Então você sabia sobre isso? Todos esses anos?"

"Sabia"

"E você não pensou em mencionar nada sobre isso quando


Ronan morreu? Você não pensou em explicar por que seria tão
difícil conseguir que Sully ficasse com Connor e Amie?"

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Linneman alisou seu terno, recusando educadamente uma
bandeja de hors d'oeuvres18 da tia Simone. "Não era meu papel. Só
posso lidar legalmente com o assunto agora porque Sully me
pediu."

Deus, que bagunça. Era uma bagunça tão grande. Em


momentos como esses, eu normalmente teria me dirigido ao meu
pai para orientação, mas isso já não era possível. "Quão difícil é a
situação dele?" Eu perguntei.

"Uma dificuldade considerável", disse Linneman. "Parece que


ele desencadeou algum tipo de bandeira vermelha quando sua
identificação foi inserida nos sistemas da companhia aérea no
Maine. O exército tentou caçá-lo por algum tempo. Parece que uma
série de arquivos sensíveis foram vazados durante o tempo em que
Sully estava implantado sob o coronel Whitlock. Um especialista
chamado Crowe foi preso por vender segredos militares a terceiros.
Ele, de alguma forma, descobriu que Sully estava fingindo ser
Ronan naquela época e disse à polícia que Sully quem tinha
vendido a informação. Que ele tomou posse de uma série de
arquivos quando deixou o exército, e como Crowe não tinha
nenhum arquivo com ele quando foi preso, parece que Sully foi,
pelo menos, cúmplice ao esconder a evidência se não estava
diretamente envolvido nos crimes aos quais era apontado como
envolvido."

"Espionagem? Nunca ouvi nada tão estúpido em toda a


minha vida."

"Eu sei. Sully insiste que não tem nenhum arquivo secreto,
mas os militares não estão susceptíveis a acreditar nele, já que ele
mentiu sobre quem ele era durante tanto tempo. Basicamente, a
situação não é boa, Srta. Lang. Não parece nada boa."

"Eles não fizeram buscas no farol?"

18 Aperitivos servidos antes das refeições.

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"Eles isolaram o lugar. Nada foi encontrado, mas agora eles
estão dizendo que ele poderia facilmente ter escondido os arquivos
em outro lugar. Enterrado. Guardado em um lugar seguro. Dado a
outra pessoa, talvez."

Isso era ultrajante. Não havia nenhuma maneira de que


Sully estivesse envolvido com a venda de informações militares
secretas para qualquer um. De jeito nenhum. E também não estava
envolvido com esse tal de Crowe. O nome era familiar para mim,
Sully o havia mencionado uma ou duas vezes, mas se eles
estivessem alinhados um com o outro em atividades ilegais,
certamente ele não o teria mencionado?

Então…

Meu sangue correu gelado quando me lembrei de algo. Sully,


doente com febre depois que o Sea King afundou, tremendo e se
revirando no sofá, gritando um nome. Gritando com um homem
para ajudá-lo. Ele estava gritando com Crowe. Quando perguntei-
lhe sobre Crowe mais tarde, lembrei o olhar amargo no rosto de
Sully, quando ele disse que não era um amigo.

Houve outra vez, também. Outra vez em que Sully


mencionou Crowe. Eu invadi meu cérebro, tentando trazer a
memória para a minha mente, rastreando todos os momentos que
Sully e eu passamos juntos, tentando escanear conversas e
interações até que encontrei.

"Senhorita Lang? Ophelia, você está bem?" Linneman tocou


meu ombro, com uma profunda preocupação no rosto, mas eu
levantei a mão, enterrando-me mais fundo em meus pensamentos.

Quando? Quando foi? Deus, eu tinha que me lembrar. Eu


precisava lembrar. E então, assim quando estava prestes a desistir,
veio a mim em uma súbita precipitação, uma revelação que fez
minha cabeça girar. "Merda", eu sibilei.

"O que é, Ophelia?"

CALLIE HART Between Here and the Horizon


"Eu sei que arquivos são esses", eu disse a ele, balançando
a cabeça. "Eu sei exatamente o que são e eu sei onde encontrá-los
também."

Linneman pareceu alarmado. "Se eles podem ajudar a limpar


o nome de Sully, então precisamos levá-los imediatamente à
polícia", disse ele.

"Eu sei. Você deveria chamá-los e dizer-lhes que eles


precisam voltar para a ilha. Os arquivos são um conjunto de pen
drives. Eles estão na minha gaveta de roupas íntimas. E... bem."
Eu clareei a garganta. "Eles estão cheios de pornografia".

******

Os pen drives que Sully me deu de Natal estavam realmente


cheios de informações táticas de operações táticas e talibãs. Todos
e cada um dos arquivos estavam aparentemente corrompidos e as
unidades tinham sido substituídas por pornografia, mas a
informação ainda estava lá, espreitando sob a superfície,
esperando que alguém viesse encontrá-la. A identidade militar
digital de Crowe foi marcada nos arquivos, mostrando os horários
e as datas em que os baixou dos servidores protegidos do exército.
A identificação militar digital de Sully não foi encontrada. Uma
semana após as transmissões serem entregues à polícia militar,
Sully foi inesperadamente liberado de Camp Haan. Linneman me
telefonou para transmitir as boas notícias.

"Eu acho que você deveria ir buscá-lo", ele me disse. "Ele tem
sido muito selvagem com o fato de que eles não o deixaram ligar
para você. Tenho certeza de que ele apreciaria mais a sua garota
do que um velho empoeirado como eu.”

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Diriji-me a Camp Haan no 4Runner de mamãe, toda
temerosa porque teria que enfrentar outro homem arrogante
vestido de uniforme, mas quando cheguei lá, um homem alto e
bonito, vestido com trajes civis, me cumprimentou. Ele veio me
pegar no portão e me acompanhou para dentro do prédio,
apresentando-se como Sam. Ele era muito jovem, ainda com vinte
e poucos anos, mas caminhava com um ar de importância e
quando passamos por outros soldados nos corredores do prédio
administrativo pelo qual Sam me levou, todos pararam e o
saudaram, sem exceção.

Ele me levou a uma pequena sala sem janelas e gesticulou


para que eu me sentasse em uma mesa baixa - o único mobiliário
dentro da sala. "Sully estará com você em um segundo, Miss Lang.
Se você quiser, por favor, aguarde aqui, também volto em um
momento com os documentos de liberação dele." Ele saiu e eu
sentei na mesa como ele instruiu, tentando não roer minhas
unhas.

Cinco minutos depois, Sully entrou na sala acompanhado


por dois guardas armados. Ele estava vestido com uniforme militar
e parecia que não tinha dormido nos últimos dias. Havia círculos
escuros sob seus olhos, mas suas costas estavam eretas, seu
queixo estava alto e orgulhoso. Quando ele me viu, correu pela
sala, me abraçou, me levantando do chão.

"Droga, Lang", ele disse com os dentes cerrados. "Eu pensei


que você não viria." Ele deu uma chuva de beijos no meu rosto.
Colocando-me para baixo, colocou meu rosto nas suas mãos, me
escaneando da cabeça aos pés, como se estivesse guardando cada
detalhe na memória caso ele nunca mais me visse.

"É claro que eu vim", eu sussurrei. "Você não fez nada de


errado."

"O Exército dos EUA não vê isso assim", disse ele. "Eu ainda
estou bem fodido. Nunca deveria ter feito o que fiz."

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Inclinei minha testa contra o peito dele, fechando os olhos,
respirando um suspiro de alívio. "Você amava seu irmão. Isso é
tudo. E o que quer que você tenha feito, parece que você está limpo.
Eles disseram a Linneman que você seria liberado."

Sully franziu a testa. "Eles disseram?"

"Sim. O oficial que me pegou no portão disse que estava


providenciando seus documentos de liberação.”

Naquele momento, a porta se abriu novamente e Sam


apareceu, apressando-se. Ele nos deu um breve sorriso e então
estendeu a mão para Sully. "Segundo tenente Coleridge. Não
acredito que nos conhecemos.”

Sully apertou a mão de Sam, a cabeça inclinada tão


ligeiramente para um lado. Ele pareceu perplexo. "Coleridge?", Ele
repetiu.

"Isso mesmo, senhor. Sam Coleridge. Seu irmão me resgatou


daquele acidente ardente fora de Cabul. Eu tinha apenas dezenove
anos na época."

Sully abalado, perdeu o equilíbrio, com o reconhecimento no


rosto. "Está certo. Cabul."

"Nós quase terminamos aqui, senhor. Se você acabar de


assinar, onde indicamos com as cruzes vermelhas, podemos levá-
lo de volta. Sam entregou a Sully a papelada na outra mão,
sorrindo mais amplamente.

"Eu não entendo. Ronan não estava...”

"Não se preocupe, senhor. Tudo foi cuidado. Eu


pessoalmente testifiquei que você não foi quem me tirou desse
acidente. Foi definitivamente Ronan Fletcher, como confirmaram
os registros daquela noite."

"Mas e a carta que escrevi? Eu confessei que..."

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Sam balançou a cabeça. "Desculpe-me senhor. Não conheço
nenhuma carta com evidente relação com este assunto. No que diz
respeito, Ronan Fletcher realizou um total de cinco turnos no
Afeganistão, salvando a vida de mais de trinta e oito homens
durante o período de seu serviço. As unidades USB que foram
encontradas em sua casa foram tomadas por ele, sob a condição
de que eram algo completamente diferente. Nós acreditamos que
ele tinha zero conhecimento de seus conteúdos escondidos."

Sully fechou a mão ao redor da caneta que Sam estava


oferecendo a ele. "Ah. Entendo."

"Sim, senhor. Por sorte para você, este assunto foi resolvido.
Você teria sido enviado para o Gitmo, com certeza, caso contrário.
Provavelmente não teria pisado nos Estados novamente." O tom na
voz de Sam tornou as coisas muito claras - ele sabia que Sully era
o homem que o salvou. Ele sabia perfeitamente que Sully tinha
quebrado a lei, mas fingia ignorância para salvá-lo agora.

"Então eu deveria agradecer", disse Sully lentamente. Ele


assinou a papelada e entregou-a de volta para Sam enquanto eu
observava com espanto. Sam pegou a papelada e colocou-a no
bolso.

"Eu sempre desejei ver Ronan novamente", disse ele. Havia


um toque estranho e óbvio na voz que me fazia querer chorar. "Eu
queria agradecê-lo há muito tempo pelo que ele fez por mim. Esse
acidente foi catastrófico. Fiquei gravemente ferido. Além da
gravidade dos ferimentos, levei dez meses para recuperar o pleno
uso do meu corpo. Foi um caminho longo, difícil e doloroso, mas
eu estava agradecido por estar vivo para dar cada passo
agonizante. Ronan arriscou sua própria vida para me salvar e as
outras duas pessoas que ele arrastou para fora do caminhão
naquela noite. Eu nunca esquecerei isso. Nem minha esposa ou
meus dois filhos." Ele abriu sua carteira e segurou para que Sully
visse - dentro havia uma fotografia de uma bela mulher loira,

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segurando dois pequenos meninos que eram inconfundivelmente
filhos de Sam. "Eles querem transmitir seus agradecimentos ao
homem que salvou minha vida tanto quanto eu, capitão Fletcher.
É uma dívida que nunca poderá ser reembolsada.”

Sully permaneceu imóvel, olhando para a imagem. Ele


acenou com a cabeça muito devagar, com as mãos agora fechadas
em punhos na lateral de seu corpo. "Tenho certeza de que meu
irmão ficaria honrado de que tenha construído uma vida tão bonita
para si mesmo, sargento Coleridge. E ele gostaria de lhe dizer que
salvar sua vida era uma das únicas coisas que ele tinha orgulho de
realizar em sua vida também."

Os olhos de Sam brilharam, cheios de lágrimas. "Bem. Um


viva para segundas chances, hein, capitão?", Ele disse, sua voz
sufocada de emoção. "Para mim e para você, eu acho.”

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EPILOGUE

O Dr. Fielding, pessoalmente, era muito mais alto do que eu


achava. Seu escritório cheirava a couro desgastado, mas não de
maneira vã. Cheirava a couro desgastado se ele tivesse ido a uma
loja de design de interiores e comprado uma vela chamada "Worn
Leather", queimado em uma prateleira, enquanto ele mentalmente
avaliava crianças com problemas e seus pais igualmente
preocupados.

Connor sentou-se na extremidade do assento, pressionando


dois Legos juntos e puxando-os novamente. Amie estava
alegremente se divertindo no chão do outro lado da sala com outra
garotinha, que parecia perplexa com o desinteresse de Amie por
sua coleção Barbie.

Fielding, do alto de seus 1, 95m, recusou-se a sentar-se e


estava de pé junto a uma estante de livros, passando os dedos
distraídos sobre as lombadas dos livros exibidos lá: Dr. Seuss
misturados com Da infância para adolescência e A Antologia
Pisquiátrica da Criança de Cambridge "Então, Connor. Conte-me.
Você está feliz em voltar para a cidade agora?", Perguntou ele.

Connor parou de encaixar as peças do Lego e afastou-os.


"Sim. Eu gosto muito daqui.”

"E você gosta do seu novo apartamento? Você estava triste


por não voltar para o seu antigo? Aquele em que você viveu com
sua mãe e seu pai?"

Connor deixou cair o Lego e ergueu a cabeça, olhando


Fielding diretamente nos olhos. "Não, não estou triste. Eu gosto do

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apartamento novo. Dá para ver o parque da janela do meu quarto.
E o rio também."

Muita coisa aconteceu depois que Sully e eu deixamos Camp


Haan. O restaurante estava salvo e mamãe estava determinada a
ser independente. Eu estava preocupada em dizer-lhe que eu iria
me mudar permanentemente para Nova York, mas quando eu
arranjei a coragem e dei a ela a notícia, ela ficou absolutamente
emocionada por mim. Tia Simone estava se mudando para uma
casa algumas na mesma rua e ela ia gerenciar o restaurante com
minha mãe. Com o dinheiro extra que restou do pagamento
Linneman depositado na minha conta bancária, havia dinheiro
suficiente para reformar o local e realmente ter um novo começo.
Umberto’s era agora "George’s Place" e eu não poderia ter ficado
mais feliz.

Quando eu saí do avião no aeroporto JFK, Sully estava ao


meu lado, sorrindo suavemente. Para mim, ele não parecia nada
com seu irmão naquele momento. Ele era totalmente Sully - um
homem novo. Alto, misterioso, devastadoramente bonito e todo
meu. Ele me pegou e me levou em seus braços, segurando-me
como se estivesse com medo de que eu fosse uma espécie de
miragem e eu fosse desaparecer a qualquer momento e ele me
beijou forte. O mundo parou. Não havia aeroporto. Não havia
anúncios no alto-falante. Não havia multidões de pessoas à espera
de seus entes queridos, ou apressadas para embarcar em seus
vôos. Só eu e ele, e nosso futuro diante de nós e foi o momento
mais perfeito.

"Você está pronta para ir para casa?", Ele perguntou.

"Deus, sim. Tão pronta."

E então entramos em um táxi e nós dirigimos pelo trânsito e


confusão de Nova York até chegarmos ao nosso novo prédio em
Lower Manhattan. Depois que ele me empurrou para o elevador,

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ele puxou e beliscou meus mamilos por debaixo do meu suéter e
beijou meu pescoço até eu ter que dar um tapa e fazê-lo parar.

Nosso apartamento era pura perfeição: teto alto e lindas


colunas. Assoalho de madeira e sol virado para o sul durante toda
a tarde. Nós só tínhamos dois quartos, mas isso era suficiente para
nós. Mais do que o suficiente. Inesperadamente, Rose se mudou
conosco. Ela entrou em um curso noturno na Columbia e estava
terminando o bacharelado em literatura inglesa, o que significava
que durante o dia ela ficava com as crianças e depois corria para a
escola. Mais tarde, eu busquei-os e os trouxe de volta ao nosso
prédio, mas em vez de levá-los para o apartamento que
compartilhava com Sully, levei-os para um local mais amplo e
espaçoso que a Fletcher Corporation comprara para Connor e
Amie: quatro quartos e uma vista linda de morrer.

Todos estavam felizes. Todos amaram o arranjo. Nós ainda


nos sentíamos como uma família, todos vivendo juntos,
compartilhando as responsabilidades e os prazeres do dia-a-dia de
crescer juntos, mas Sully e eu tínhamos nossa privacidade quando
precisávamos e Rose também.

"Você sente falta de estar na ilha?", Perguntou Fielding,


tirando um livro da prateleira.

"Às vezes", disse Connor, o que me surpreendeu. Ele estava


perfeitamente feliz de voltar para Nova York - era tudo o que ele
conhecia antes que Ronan tivesse arrancado-o e o transplantado
para a pequena ilha ao largo da costa do Maine. "Às vezes sinto
falta do som do oceano", continuou ele. "E do silêncio também.
Pode ser bastante barulhento aqui."

Fielding sorriu. "Pode, não pode? Penso que você vai se


acostumar com isso novamente, no entanto. Então, sentirá como
se nunca tivesse ido embora, inclusive."

"Mmm. Eu acho que sim."

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"E quanto a passar seu tempo com Ophelia? E Sully e Rose?
Você gosta de ficar com todos eles em casa?"

"Sim. Eu gosto de verdade. Eu gosto de verdade de todos


eles. Amie também." Ele falou rapidamente, como se estivesse um
pouco em pânico. O Serviço de Proteção às crianças realizou uma
entrevista muito profunda e aterrorizante com todos nós quando
explicamos o que estávamos planejando e, desde então, Connor
estava preocupado que ele e Amie tivessem que ir embora. Com o
passar dos dias, ele ficou cada vez mais confiante, mostrando mais
personalidade e atitude do que nunca. Ainda assim, ele sabia que
Fielding teria o poder de arrastar o Serviço de volta às nossas vidas
e ele realmente não queria isso.

Fielding assentiu, sorrindo de uma forma reconfortante, que


parecia agradar Connor. "Essa é uma notícia realmente
maravilhosa. Estou tão feliz em ouvir isso. Existe alguma coisa que
você gostaria de me falar hoje? Você está preocupado com alguma
coisa? Há algo que talvez você gostaria de me falar sozinho?"
Fielding me lançou um olhar superficial quando falou isso e eu
queria dar um soco no homem. Eu entendi, no entanto. Eu entendi.
A segurança de Connor era sua principal prioridade. Se Connor
precisasse conversar com Fielding sozinho, claro que poderia. A
insinuação de que eu, ou Sully, ou Rose pudesse ter feito algo
errado foi bastante refinada.

Connor recusou sua oferta. "Não, obrigado. Amanhã vamos


ao Museu de História Natural para mostrar à Amie os esqueletos
de dinossauro. Os verdadeiros! E então vamos fazer panquecas
para o almoço. É o aniversário de Amie.”

"Esse parece que vai ser um dia muito especial, Connor.


Espero que você goste."

Mais tarde, segurando Connor com uma mão e Amie com a


outra, consegui pegar um táxi que nos levou até Tribeca, até o
armazém de Sully. Ele criou uma loja de itens exclusivos e

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artesanais para a elite de Nova York. Ele poderia facilmente ter se
aposentado com o dinheiro que Ronan havia reservado para o
cuidado com as crianças, mas ele se recusou a tocar em qualquer
centavo. Era tudo para eles, disse ele. Ele tinha vencido na vida,
sem seu irmão e não planejava que isso mudasse.

Encontramos Sully coberto de serragem e cheirando a pinho


recém-cortado na parte de trás de seu estúdio. Connor e Amie
gritaram e chamaram-no, correndo para ele e jogando os braços ao
redor de seu corpo. Ele ergueu os braços, olhando para baixo,
vendo as duas pessoinhas apegadas a ele e riu.

"Uau. Qualquer um pensaria que estavam felizes em me ver",


disse ele, sorrindo.

"Nós estamos, nós estamos!" Amie disse a ele, rindo. "É hora
de ir para casa para o jantar!"

"Eu sei." Sully olhou para mim e seu sorriso se transformou


em algo mais suave. Seu rosto estava cheio de luz, onde houve uma
vez tanta escuridão e raiva. Era como se ele estivesse
completamente diferente. Ele ainda era tão arrogante como sempre
e suas respostas eram afiadas e cáusticas tais como na época em
que o conheci. Mas agora havia uma calma nele que me fazia ainda
mais inacreditavelmente apaixonada por ele.

Nós fomos para casa, Sully no banco da frente com o


motorista de táxi e eu atrás com as crianças. As dez milhas inteiras
do armazém até o apartamento, Sully manteve a mão encravada
para trás dele, através do espaço entre o assento e a porta,
acariciando suavemente minha perna, os dedos enrolados em
torno do meu tornozelo, me tocando de um jeito ou de outro.

Nós jantamos com Rose e as crianças e depois ficamos para


banhar as crianças e colocá-las na cama.

"Você vai nos contar uma história, tio Sully?", Amie


implorou. "Uma história sobre quando você e o papai eram

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pequenos, como eu e Connor?" Sully pareceu desconfortável por
um segundo e então se sentou no final da cama de Amie, cruzando
os braços sobre o peito.

"Tudo bem. Mas seu pai e eu costumávamos reunir todos os


tipos de problemas, então vocês têm que prometer que não
seguirão nosso exemplo, ok?"

Amie e Connor assentiram solenemente.

"Certo. Bem. Houve uma vez, quando Ronan e eu éramos um


pouco mais velhos do que vocês, talvez dez anos e nós fizemos algo
muito ruim. Nós queimamos a McInnes feed store..."

Eu me afastei do quarto, me retraindo. Não podia acreditar


que Sully estava lhes dizendo algo tão inapropriado assim. Ele
tinha lidado com as crianças tão bem, no entanto. Ele amava ser
tio deles. Ele teria chegado a conhecê-los se Ronan e Magda ainda
estivessem vivos? Era duvidoso. Muito provavelmente, eles teriam
chegado até a idade adulta e nunca o teriam conhecido. Agora,
apesar do fato de seus pais terem desaparecido, Connor e Amie
tinham um tio amoroso e uma tia amorosa cuidando deles, assim
como eu. Talvez eu não tivesse um título familiar para eles me
chamarem, mas a maneira como eles disseram meu nome - com
amor e carinho - era o suficiente.

Uma hora depois, Sully entrou no nosso apartamento,


bochechas vermelhas e parecendo muito envergonhado. "Rose diz
que precisa investigar minhas histórias de dormir daqui pra
frente", ele me disse, inspirando enquanto se afundava no sofá ao
meu lado.

"Não estou surpresa."

Sully me deu língua estendendo-se para roçar seu dedo


indicador pela minha têmpora, bochecha e embaixo do meu queixo.
"Você está muito bonita agora, Senhorita Ophelia Lang da
Califórnia. Sabia disso?"

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Eu prendi um sorriso. Não seria bom se ele soubesse o quão
feliz os seus elogios me deixavam; Ele me provocava sem piedade.
"Claro que sim", falei alegremente. "Você não está nada mal
também, eu acho".

Sully riu, revirando os olhos. "Vamos. Nós dois sabemos que


eu sou o homem mais atraente do planeta. A coroa é pesada." Ele
estava brincando, mas também estava falando a verdade - ele
realmente era o cara mais quente do planeta para mim. Eu me
inclinei sobre ele e plantei um beijo careta entre as suas
sobrancelhas e Sully gemeu suavemente em voz baixa.

"Chegou uma carta para você", eu sussurrei para ele, o rosto


ainda estava a um centímetro acima dele. "É de Causeway".

"Provavelmente do Medical Center Gale, perguntando-me


quando eu vou embora e voltar para ela", ele me disse, piscando.
Ele se levantou e recolheu a carta da mesa, depois a abriu,
examinou a carta que desdobrou nas mãos. Havia dois pedaços de
papel no envelope. Sully leu um e depois o outro em silêncio, então
ficou parado olhando os dois.

"O que é, Sully?"

Ele não se moveu.

"Sully?"

Ele juntou os papéis e caminhou devagar para o sofá, onde


me entregou os dois pedaços de papel. "Uma voz do túmulo", ele
disse calmamente.

A primeira carta era de Linneman. Era breve e direta ao


ponto:

Caro Sully,

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Antes de seu irmão morrer, ele veio me ver e fez mudanças
significativas em sua última vontade e testamento. Como você
sabe, ele destinou uma soma significativa de dinheiro para você,
junto com sua casa de infância para fazer o que quiser. Ele também
se certificou de que as crianças estejam financeiramente seguras
pelo resto de suas vidas, graças à participação majoritária na
Fletcher Corporation. Além disso, Ronan também me deixou com
a posse de uma carta endereçada a você, para lhe ser enviada onde
você estivesse vivendo na data de hoje, dia 19 de outubro. Como
tal, encontre sua correspondência em anexo conforme as
instruções dele.

Desejo-lhe tudo de melhor em sua nova vida com Ophelia e


as crianças em Nova York, Sully. Não posso dizer que nunca
esquecerei o drama e o caos que acompanharam a família Fletcher,
mas, novamente, não posso dizer que eu também gostaria de
esquecer.

Talvez não tenhamos sido capazes de salvar meu querido


cunhado naquela noite, subimos naquele barco juntos e seguimos
rumo ao desconhecido, meu querido amigo, mas eu me considero
afortunado por ter tido a oportunidade de enfrentar a tempestade
ao lado de um homem como você.

Meus melhores cumprimentos,

Robert Clyde Linneman.

Desdobrei o outro pedaço de papel, segurando minha


respiração, não tinha certeza se eu deveria mesmo olhar para Sully
para ter certeza de que ele estava bem.

CALLIE HART Between Here and the Horizon


Meu irmão,

Foi minha maior honra chamá-lo assim pelos últimos trinta e


um anos, mesmo que tenha sido sua maior vergonha me reconhecer
com o mesmo título.

Eu não posso mais me desculpar. Eu nunca poderia pedir


desculpas o suficiente e a palavra perdeu seu significado para mim.
Em vez disso, escrevo esta carta para você agora, sabendo as
circunstâncias em que você a receberá, com o maior agradecimento
no meu coração.

Você sempre foi e sempre será o melhor homem. Sou tão grato
por você ser uma figura de pai para meus filhos. Estou tão
agradecido por ter encontrado a felicidade também. No momento em
que olhei para Ophelia, previ uma linda e maravilhosa história de
amor antes de você. Eu sei disso porque sei que também me
apaixonaria por ela. Esse não foi sempre o problema? Estávamos
condenados a amar as mesmas mulheres ao longo de nossas vidas?
Não desta vez, no entanto. Desta vez, o feliz para sempre pertence
a você, querido irmão. Pelo menos espero que sim, de qualquer
forma. Boa sorte para você e para Ophelia.

Chegou o tempo agora que eu também espero que a dor e o


sofrimento que eu causei tenham diminuído um pouco, e que, ao
passarem os próximos anos, você possa até aprender a perdoar
minhas fraquezas e minha traição. Porque meu amor por você só
perde apenas para a mulher que morreu em meus braços no ano
passado, Sully. Saiba que nunca teria arriscado o precioso vínculo
que eu compartilhava com você por nada menos que isso.

Obrigado por fazer o que não pude, Sully.

Obrigado por fazer o que é certo.

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Pra sempre seu irmão,

Ronan.

Dobrei novamente o papel, levando um longo momento para


considerar as palavras de Ronan. Ele orquestrou isso desde o
início? Ele sabia que Sully e eu nos apaixonaríamos? Como ele
poderia ter sabido de tal coisa? Mas, novamente, talvez ele pudesse
ter previsto. Ambos adoraram Magda, afinal. Talvez Ronan
soubesse quando ele me conheceu o que aconteceria entre seu
irmão e eu.

"Você quer falar sobre isso?", Perguntei em voz baixa.

Sully estendeu a mão e tirou a carta de Ronan de mim. Já


estava frio na cidade - o fogo queimava e crepitava alegremente na
grelha - e pensei por um momento que ele iria lançar a carta de
Ronan no fogo. Ele não lançou, no entanto. Ele colocou-a no braço
do sofá e olhou para ela por muito tempo, sombras brincavam e
cintilavam em seu rosto enquanto pensava.

"Não. Não, eu não quero falar sobre isso", ele disse de


repente, sorrindo para mim. "Eu só quero senti-la em meus braços,
Lang. Está bem?"

Eu me movimentei, deitei minha cabeça no peito dele,


ouvindo seu coração bater devagar e constante em meu ouvido por
um longo tempo. Sully distraidamente acariciou meu braço,
passando sua mão para cima e para baixo por um tempo, antes de
se debruçar e me beijar.

"Você está feliz?" Ele me perguntou calmamente.

"Sim."

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"Você me ama?", Perguntou ele.

"Mais do que jamais pensei ser possível."

Ele ficou quieto por um momento, então forçou o dedo


indicador embaixo do meu queixo e levantou-o, de modo que passei
a olhar para ele. "Você quer passar o resto da sua vida comigo,
Lang?" Seus olhos procuraram os meus, procurando algo que
pudesse ou não estar lá. Meu coração desacelerou, quase não
batendo. Ele estava me pedindo... ele estava me pedindo para me
casar com ele?

Cuidadosamente ele alcançou o bolso, procurando por algo.


Quando tirou a mão do bolso, agarrou algo firmemente na palma
da mão.

"Eu ia fazer isso amanhã", disse ele. "Quando estivéssemos


de pé embaixo de um esqueleto gigante de Velociraptor com as
duas crianças assistindo para que você não pudesse dizer não. Mas
vejo agora como isso poderia ser desagradável. Eu não quero que
você seja influenciada por Amie ou Connor. Ou por um dinossauro
de oito bilhões de anos. Eu quero que você decida sozinha, ok?
Então me diga, Ophelia. Eu preciso saber. Você gostaria de ser
minha esposa?"

Eu não pude desviar o olhar dele. Muita coisa tinha


acontecido no ano passado. Era louco pensar que Sully estava
seguro disso tão rapidamente. Mas, pensando bem, era isso
mesmo? Eu estava certa sobre ele. Ele era tudo o que eu queria.
Tudo o que eu sempre vou querer. Coloquei minha mão em cima
dele, sorrindo.

"Eu gostaria muito de ser sua esposa, Sully Fletcher. Eu


realmente gostaria muito disso."

Um sorriso ardente iluminou o rosto de Sully. "Sem


besteiras?", Ele perguntou.

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Eu sorri, incapaz de manter minha felicidade do meu rosto.
"Não. Sem besteiras, Sully. Sem besteiras.”

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