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A COMUNHÃO DA TRINDADE E A IGREJA PERICORÉTICA

A PERICORESE

A Teologia Moderna parte das três Pessoas juntas. Realça o fato de que as três
estão sempre inter-relacionadas e em eterna comunhão (pericórese) [on-line]. Esta relação
é tão absoluta que os divinos Três se unificam sem se fundirem, sendo então um único
Deus vivo.
Quero propor uma breve introdução sobre termo teológico denominado pericorese,
bem como sua contribuição tanto para a vida dos cristãos em suas respectivas
comunidades de fé, como também para a vida em sociedade, no tocante ao enfrentamento
de seus desafios de convivência pacífica.
Muito antes de se tornar um termo religioso ou teológico, a palavra pericorese (do
grego περιχώρησις) descreve uma dança de roda, característica das crianças em momento
de brincadeiras [1]. Esta palavra é composta de três radicais: 1) peri, que significa “à
volta de”, ou “movimento circular” (como por exemplo perímetro, periférico); 2) corea,
que significa “dança”, ou “bailado” (como por exemplo coreografia); e por fim, 3) esis,
que é um sufixo usado para formar palavras de ação ou processo. Assim, PERICORESE
era a palavra designada para o nome de uma dança tradicional em que um grupo de
pessoas dançava de maneira circular e de mãos dadas.
“A palavra pericorese (gr: περιχώρησις, dança de roda), foi usada no séc. IV por
Gregório Nazianzeno, que procura explicar a interpenetração, a coabitação do Pai no
Filho e no Espírito Santo; do Filho no Pai e no Espírito Santo; e do Espírito Santo no Pai
e no Filho. Não é possível entender plenamente este mistério, muito menos é possível
falar adequadamente sobre ele. Mas podemos crer no Deus que é Pai, Filho e Espírito
Santo, o único Deus, como declarado nas Antigas Escrituras: “Ouça, Israel, o Senhor
nosso Deus é o único Senhor. Ame, pois, o Senhor seu Deus de todo o seu coração, e de
toda a sua alma, e de todas as suas forças” – Dt 6.4-5. Posteriormente, o Autor destas
sagradas palavras, significativamente, acrescentou: “e de todo o seu entendimento” – Mc
12.30. Que o tenhamos!
Queremos dar apenas dois exemplos bíblicos de pericorese:
1. Filipe pediu para Jesus lhe mostrar o Pai. A resposta foi direta: “Estou há tanto
tempo com vocês e não me têm conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como
você diz: Mostra-nos o Pai?” – Jo 14.8-9. Imediatamente antes, o Senhor já havia
declarado: “Se vocês me conhecessem a mim, também conheceriam a meu Pai; e já desde
agora o conhecem e o têm visto”– Jo 14.7.
2. “Vocês ouviram que eu lhes disse: Vou, e venho para vocês” – Jo 14.28”.1

No séc. VIII, a partir da teologia de João Damasceno (675-749), a pericorese estava


relacionada à cristologia, descrevendo a mútua interpenetração de duas naturezas
heterogêneas, mas posteriormente passou a ser interpretada como a comunhão, inter-
relação e inter-habitação das Pessoas da Trindade Denomina uma relação co-igual e co-
eternal de pessoas iguais e diferentes. É o processo pelo qual cada Pessoa existe com uma
personalidade, mas que não é fechada em si mesma, pois está aberta a uma relação
igualitária, cuja marca mais profunda é a mutualidade (Jo 10.30; 17.20-23). Nenhuma das
1
+José Moreno, um bispo anglicano em busca da pericorese com Deus.
Pessoas da Trindade, por exemplo, presta subordinação cega às outras, mas respeito e
confiança. Nessa relação, vive-se integralmente o reconhecimento da autoridade de cada
uma das Pessoas, e não a imposição do poder de uma sobre a outra.
Não se trata, portanto, de um conceito abstrato ou meramente de palavras
sofisticadas, mas de demonstrar a beleza do Deus Pai que dança, não isoladamente, mas
acompanhado e de mãos dadas com o Filho e com o Espírito Santo. A pericorese é a
dança extraordinária do Deus Trino e Uno, de tal forma sincronizada que demonstra uma
reciprocidade sem limites e uma unidade que não se pode dissolver. É nessa dança,
realizada face a face e marcada sempre pelo amor que se fundamenta o vínculo da
unidade divina.
O uso mais antigo sobrevivente do substantivo, perichoresis (περιχώρησις), foi
encontrado em um manuscrito que foi atribuído a Cirilo de Alexandria.
No primeiro exemplo, Jesus está em interpenetração com o Pai; no segundo, em
interpenetração com o Espírito Santo. Nada mais claro e nada mais misterioso, de difícil
compreensão. Debrucemo-nos, pois, sobre este mistério — ousadamente e
reverentemente.
Acredita-se que João de Damasco usou este termo de Cirilo e trouxe à
proeminência como um termo teológico. Se Deus fosse um só haveria a solidão e a
concentração na unidade e unicidade. Se Deus fosse dois, uma díade (Pai e Filho
somente), haveria a separação (um é distinto do outro) e a exclusão (um não é o outro).
Mas Deus é três, uma Trindade. O três evita a solidão, supera a separação e ultrapassa a
exclusão. A Trindade permite a identidade (o Pai), a diferença de identidade (o Filho) e a
diferença da diferença (o Espírito Santo). A Trindade impede um frente-a-frente do Pai e
do Filho, numa contemplação “narcisista”. A terceira figura é o diferente, o aberto a
comunhão. A Trindade é inclusiva, pois une o que separava e excluía (Pai e Filho). O uno
e o múltiplo, a unidade e a diversidade se encontram na Trindade como que circunscritos
e reunidos. O três aqui significa menos o número matemático do que a afirmação de que
sob o nome de Deus se verificam diferenças que não se excluem, mas incluem; que não
se opõem, más se põem em comunhão; a distinção é para a união. Por ser uma realidade
aberta, esse Deus trino inclui também outras diferenças; assim o universo criado entra na
comunhão divina. Quando falamos em perichoresis, não devemos tentar encontrar uma
exclusiva definição ou, o que realmente ele quer dizer, estamos dizendo no verdadeiro
espírito, que a sua única definição é: “está incluído!”; as três pessoas se inter-relacionam
entre si. É precisamente neste sentido que, para nós cristãos, deveria se fundamentar
também as relações humanas e as organizações sociais, especialmente nossa estrutura
eclesiástica. Tal tese é defendida por Miroslav Volf, teólogo protestante que escreveu
sobre os aspectos da influência da estrutura Trinitária sobre a estrutura eclesiástica. Volf
afirma que a estrutura da Trindade é essencialmente policêntrica e relacional, onde não há
centralização ou hierarquização. Em seus escritos Volf criticou a ideia da natureza
hierárquica da igreja, afirmando que sua estrutura deve, necessariamente, refletir a
imagem da comunhão trinitária descrita na pericorese [3]. A reciprocidade na igreja
depende de um status de igualdade e unidade entre seus membros, leigos ou clérigos. O
testemunho da presença na igreja no mundo será mais confiável, e até mesmo mais
aceitável, se internamente ela vivenciar relações que expressem o potencial cooperativo e
solidário de seus membros. Infelizmente, muitas igrejas padecem do vício de sacralizar
sua estrutura, seu corpo doutrinário e seus agentes sacerdotais, estabelecendo uma relação
de dominação entre seus membros. As críticas a esse corpo sacerdotal são, em regra
geral, desqualificadas como heresias e até mesmo demonizadas. A partir desse
provocante pensamento, proponho algumas perguntas para reflexão.
Por que as igrejas geralmente aceitam um juízo sobre seus membros, em relação à
sua vida pessoal – no sentido mais específico sobre sua santidade ou pecaminosidade –,
mas dificilmente um juízo crítico sobre si mesmas enquanto instituição, ou sobre suas
decisões doutrinárias, rituais, princípios morais e estruturas hierárquicas?
Por que conseguimos facilmente compreender a Imago Dei como um referencial
para a vida humana – ainda que não plenamente experimentada pela humanidade –, mas
dificilmente compreendemos a pericorese como um referencial para a vida comunitária,
no tocante à transformação de nossas estruturas eclesiásticas?
Por que estamos testemunhando em nosso tempo o ressurgimento de uma série de
fundamentalismos eclesiásticos, enraizados na tese da infalibilidade de seus líderes?
Por que a estrutura hierárquica tem sido encarada como a base imutável da igreja,
em detrimento da comunhão e da unidade na diversidade?
A nossa vocação é, antes de qualquer coisa, para a vida e não para a morte, e vida
vivida em comunhão. A natureza da relação entre a Trindade através da pericorese nos
ensina que, por um lado, devemos abandonar e enfrentar projetos de poder pessoal e
social, que geram desigualdade, isolamento, violência e morte. E por outro lado, nos
ensina e nos desafia a experimentar cotidianamente relações igualitárias que promovem a
vida, a participação solidária na vida do outro e da sociedade. Há uma dinâmica familiar e
comunitária na manifestação de amor de Deus. Se o pecado, em suas múltiplas
manifestações, agride a Deus, o próximo e a nós mesmos, a vida redimida e relacional é
uma das múltiplas manifestações da graça de Deus.
Ao nos colocarmos diante do desafio da libertação de toda forma de desigualdade,
violência e domínio de uns sobre os outros, como por exemplo, o sexismo, o racismo, a
intolerância e opressão religiosa, etc., nos colocamos também no caminho rumo à
comunhão e imagem do Deus uno e trino. É preciso, pois, aprender o ritmo, acertar o
passo e entrar na dança.

Igreja Pericorética

O cristianismo se distingue dos outros monoteísmos por sua fé trinitária. Esse é um


grande mistério, como já cantou o poeta: “Quem me dera, ao menos uma vez, entender
como um só Deus ao mesmo tempo é três.” Já, no “façamos” de Gênesis 1.26 é possível
vislumbrar a ação criativa do Deus Uno e Trino. Ou seja, na criação do universo, Deus se
revela como comunhão perfeita do Pai com o Filho e o Espírito Santo.
Contudo, a expressão do Deus Trindade está presente na experiência histórica de
Jesus, que diversas vezes falou a respeito de sua união com o Pai (Jo 14.7-11), pela ação
do Espírito Santo. No Verbo encarnado, ponto climático da revelação divina, o Deus
Trino, que na tradição do Antigo Testamento, sempre apareceu de maneira velada, recebe
sua mais completa declaração. Além disso, nas suas origens, as comunidades cristãs
celebravam o Deus Uno e Trino, através de suas liturgias e fórmulas batismais (Mt 28,16-
20; 1Co 12,4-6; 2Co 13,13; 2Ts 2,13-14). Com o passar do tempo, diante das
necessidades apologéticas, foi elaborada uma profissão de fé sistematicamente refletida.
Muitas foram as tentativas de traduzir em linguagem lógica essa experiência inefável da
fé cotidiana, algumas inclusive de maneira extremamente especulativa e árida. Entretanto,
uma, designada pelo termo pericórese, é especialmente bela. Foi o pai da igreja, João
Damasceno, que a desenvolveu. Essa palavra grega, expressa a habitação mútua (inter-
habitação) das pessoas da Santíssima Trindade. A ideia de pericórese vem de uma dança
própria das crianças (brincadeira), em que uma ficava no meio e as outras dançavam ao
seu redor, quando então, por escolha ou verso recitado, a que estava no centro saía e
trocava de lugar com alguma que compunha a roda. A partir dessa imagem, Damasceno
afirmou que as pessoas da Trindade se relacionam de forma dinâmica, se interpenetram
(coabitam) sem perderem as suas identidades e se circundam criando o espaço vital para o
protagonismo das outras. Mas, o que isso tem a ver conosco?
Fomos criados à imagem e semelhança de um Deus que não é solitário, apesar de
ser Uno. Parafraseando o prólogo de João poderíamos dizer: No princípio Ele era a
relação! Dito de outro modo, o Deus cristão é o Deus-Comunidade que não se fecha em si
mesmo e nos convida para participarmos de sua dança amorosa (Jo 17.20-23). Crer nesta
realidade significa afirmar nossa esperança na realização do pleno ideal de comunhão
entre os seres humanos, apesar de suas diferenças. Significa professar que no Deus Trino
está a chave para a superação dos egoísmos humanos, geradores da violência e exclusão.
É como igreja, comunidade do Reino, que somos convocados a tornar visível, na história,
o amor trinitário. Como corpo vivo de Cristo, somos conclamados a desenvolver relações
não hierárquicas e colaborativas (1Pe 2.9; Fp 2.5-11), e, ainda, como Povo de Deus,
orientados a preservar a unidade na diversidade. Afinal, como ressaltou o apóstolo Paulo:
“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28). Em suma, somos chamados a ser
igreja pericorética!
A TRINDADE E A COMUNHÃO

2 Co 13.13: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do


Espírito Santo seja com todos vós. Amém”.
“Deus não poderia existir em nenhuma forma a não ser a tripessoal” (Berkhof).
“Deus não poderia contemplar-se a si mesmo, conhecer-se e comunicar-se Consigo
mesmo, se não fosse trino em Sua constituição” (Shedd).
Deus é amor (1Jo 4.16). A maior comunhão que existe está na trindade, pois estas
três Pessoas se amam mutuamente.
“Antes que houvesse o universo, antes que se movesse o mínimo átomo de matéria
cósmica, antes que emergisse a primeira réstia de inteligência, antes que começasse a
haver tempo, o Pai, o Filho e o Espírito Santo estavam em si em erupção vulcânica de
vida e amor. Existia a trindade imanente. Nós como criaturas, filhos e filhas, existíamos
em Deus como projetos eternos, gerados pelo Pai no coração do Filho com o amor do
Espírito Santo” (Leonardo Boff).
“Sob o nome de Deus a fé cristã vê o Pai, o Filho e o Espírito Santo em eterna
correlação, interpenetração e amor; de tal sorte que são um só Deus Uno. A unidade
significa a comunhão das Pessoas divinas. Por isso, no princípio não está a solidão do
Uno, mas a COMUNHÃO das três Pessoas” (Leonardo Boff).2

2
BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade. 3ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1986, p. 74.
“Deus, antes mesmo da criação, já era; e era todo amor e comunhão porque existia
eternamente como Trindade. Antes mesmo que houvesse qualquer objeto criado para ser
alvo do amor divino, Deus já era amor e relacionava-se em amor por ser esta a natureza
da Trindade. O Deus revelado na Bíblia não pode ser compreendido a não ser através da
experiência comunitária do amor”.3

“Nosso ingresso na igreja de Jesus Cristo dá-se em nome do Pai, do Filho e do


Espírito Santo. Ser salvo por Cristo e tornar-se membro da sua igreja é penetrar no
mistério da Trindade e ser envolvido por um Deus que é comunhão”. “O Deus cristão e
bíblico não existe solitariamente, ele é sempre a comunhão das três pessoas divinas”.4
É nesta relação de amor, neste dar e receber, nesta eterna e perfeita comunhão que
fomos criados conforme a imagem e semelhança do Deus trino. Fomos criados para amar,
conviver em amizade e comunhão com o Criador e toda a sua criação. Conhecer a Deus é
mergulhar neste mistério e participar desta comunhão eterna que nutre a alma humana e
resgata o sentido da nossa verdadeira humanidade.

“O Ser de Deus é um ser relacional, e sem o conceito de comunhão é impossível


falar sobre a realidade de Deus. A partir da Trindade nada existe por si mesmo,
individualmente. Comunhão é a razão de ser do homem”.5

3
SOUSA, Ricardo Barbosa. O CAMINHO DO CORAÇÃO. Encontro Publicações, 2002, p. 59.
4
SOUSA, Ricardo Barbosa. Op. Cit, p. 60.
5
SOUSA, Ricardo Barbosa. Op. Cit, p. 60.

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