Está en la página 1de 16

REFORMADOS DO SÉCULO XVI

reformadoseculo16.blogspot.com

Carta de Martinho Lutero a Johannes Staupitz [9 Fevereiro de 1521]

Ao reverendo e ótimo
Johannes Staupitz, mestre na
sagrada teologia, agostiniano
ermitão, do seu progênito no
Senhor.

Saúde. Admira-me que


minhas cartas e meus livretos
não tenham chegado ainda a
suas mãos como deduzo.
Pregando aos demais estou
me desqualificando a mim
mesmo,[1] que até ao extremo
me alieno-me no trato com os irmãos. Pelo que lhe garanto que poderá
ter uma ideia do espírito com que, todavia, trato a Palavra de Deus.
Nada se fez, ainda, em Worms contra mim, considerando que os
papistas andam maquinando desígnios perniciosos com furor invejável.
Spalatino escreveu-me dizendo que o evangelho goza ali de boa
aceitação, que espera que não me condenem sem terem escutado e
convencido.

Em Leipzig, Emser, sem envergonharem-se de modo algum, escrevem


contra mim um libelo que é um emaranhado de mentiras, desde o
princípio até o fim. Vejo-me necessitado de dar uma resposta a este
monstruoso desprezo pela causa do duque Jorge, que é quem encoraja
a loucura do autor.

Não me incomoda a notícia de que Leão[2] também se dirigiu contra


você, desta sorte poderás erigir para exemplo do mundo a cruz que
tanto pregou. Não gostaria que o lobo se contentasse com sua
resposta em que lhe concedes mais do que é justo. Ele interpretará
como se renegasses a mim e de tudo o que é meu, ao declarar que se
1/16
submete a seu juízo. Por isso, se Cristo o ama, o obrigará à revogação
deste escrito, pois que nessa bula se condena tudo o que ensinou e se
compraz. Como nada disto lhe é desconhecido, parece-me que ofende
a Cristo, pois aceita como juiz a quem é um furioso inimigo de Cristo, a
quem se desencadeia contra a palavra da graça. Terá que afirmar isto e
argumentar-lhe contra essa impiedade. Que não é para andar com
temores, mas gritar, este tempo em que o nosso Senhor Jesus Cristo se
vê condenado, despojado e blasfemado. Na mesma medida em que me
exorta à humildade, lhe exorto à soberba. A sua humildade é tão
excessiva como excedente é minha arrogância.

Mas a situação está séria. Vemos que Cristo está sofrendo. Se antes
foi preciso silenciar, agora quando o próprio boníssimo Salvador que se
entregou por nós padece de escárnio por todo o mundo, não lutaremos
por ele, não arriscaremos o nosso pescoço? Meu pai, que é muito mais
grave o perigo do que muitos pensam. Começa a entrar em vigor a
declaração do evangelho: “ao que me confessar diante dos homens, eu
o confessarei diante de meu pai, mas me envergonharei de quem se
envergonhar de mim.”[3]

Que pensem que sou soberbo, avarento, adúltero, homicida, antipapa e


réu de todos os vícios, contanto que não podem me impiamente arguir
em calar enquanto o Senhor sofre e diz: “não há escapatória para mim;
não há quem cuide de meu espírito; olhei para a minha direita e
ninguém me reconhecia”[4] Tenho a confiança de que esta confissão
me perdoará de todos os meus pecados. Que por este motivo lancei
confiado chifres contra esse ídolo e verdadeiro anticristo de Roma. A
palavra de Deus não é palavra de paz, mas palavra de espada.[5] Mas
“que direi, imundo eu sou, a Minerva?”[6]

Escrevo-lhe isto em confiança, porque muito temo que se levante como


um mediador entre Cristo e o papa que percebe o quão violentamente
ele é. Roguemos para que o Senhor Jesus Cristo sem tardar com o
sopro de sua boca destrua a este filho da perdição.[7] Se não quiser vir
após mim, deixe-me que marche e me enfade. Pela graça de Deus não
deixarei em minha tarefa de atirar na face de suas monstruosidades a
esse monstro.
2/16
É verdade que me enche de tristeza a sua submissão, que me revela a
um Staupitz tão diferente daquele pregador da graça e da cruz. Não
sofreria se houvesse atuado desta forma antes da promulgação da
bula e da ignomínia feita a Cristo.

Hutten e outros escrevem com força a meu favor e estão preparando


canções que farão pouca graça a essa Babilônia.[8] O nosso príncipe
atua com tanta prudência e fidelidade como constância. Edito essas
Asserções, por sua ordem, tanto em latim como em alemão.[9]

Felipe[10] lhe saúda e roga para que cresça o seu ânimo. Dê


saudações, por favor, ao médico Ludovico[11] que me escreveu com
tanta erudição. Não tive tempo de responder-lhe, por isso tenho três
prensas trabalhando só para mim. Adeus no Senhor, e rogue por mim.

Wittenberg.
Dia de santa Apolônia, 1521. O seu filho Martinus Lutherus.

NOTAS:
[1] 1Co 9.27.
[2] Leão X, por meio do arcebispo de Salzburg, Mateus Lang, urgiu a
Staupitz que declarasse como heréticas as doutrinas de seu súdito, Frei
Martinho Lutero. Veja a reação de Lutero ao informar-se de que
Staupitz se submetia a sua causa da decisão do pontífice.
[3] Mt 10.32; Lv 9.26.
[4] Sl 142.5.
[5] Mt 10.34.
[6] Dito recolhido de Erasmo, Adagia I.1.40.
[7] 2Ts 2.3 e 8.
[8] É interessante para notar o jogo de opinião pública nesta fase da
Reforma.
[9] Assertio omnium articulorum M. Lutheri per bullam Leonis X
novissimam damnatorum. WA 7, pp. 94-151.
[10] Felipe Melanchthon.
[11] Ele chama equivocadamente Ludovico, o médico do arcebispo de
Salzburg, cujo verdadeiro nome era Leonardo Schmaus.

3/16
Acerca da ordem do culto público [1523]

Por Martinho Lutero

O serviço de adoração que


agora está em uso comum em
todos os lugares remonta ao
começo genuíno cristão, e do
mesmo modo, o ofício da
pregação. Mas assim como
este foi pervertido pelos
tiranos espirituais, assim o
culto foi corrompido pelos
hipócritas. Do mesmo modo
que não abolimos por essa
causa o ofício da pregação,
senão que buscamos restaurá-lo outra vez ao seu lugar correto e
próprio, muito menos é nossa intenção eliminar o culto, mas sim
restaurá-lo novamente ao seu uso devido.

Três sérios abusos foram introduzidos no culto. Primeiro, silenciou-se a


Palavra de Deus, e permaneceram somente a leitura e o cântico nas
igrejas, o qual é o pior abuso. Segundo, quando se silencio a Palavra de
Deus introduziram uma multidão de fábulas e mentiras não cristãs, com
lendas, hinos e sermões que é algo horrível de suportar. Terceiro, tal
culto divino se converteu numa obra pela qual se poderia ganhar a
graça de Deus e a salvação. Como resultado, desapareceu a fé e todos
se esforçavam por entrar no sacerdócio, encheram os conventos e os
monastérios, e construíram igrejas.

Agora para corrigir estes abusos, primeiro deve-se saber que uma
congregação cristã nunca deve se reunir sem a pregação da Palavra de
Deus e a oração, ainda que seja breve, como diz o Salmo 102.21-22:
"Para que publique em Sião o nome de Jehová, e seu louvor em
Jerusalém, quando os povos e os reinos se congregarem para servir a
Jehová". E Paulo em 1 Coríntios 14 diz que quando se reunirem deverá

4/16
haver profecia, ensino e admoestação. Assim, quando não há pregação
da Palavra de Deus, melhor que nem se cante, nem leiam, nem sequer
se reúnam.

Este foi o costume entre os cristãos do tempo dos apóstolos e também


se deve praticar agora. Devemos nos reunir diariamente às quatro ou
cinco da manhã e os alunos, ou sacerdotes, ou quem quiser, para ler a
Palavra de Deus, da maneira em que, todavia, se lê a lição matinal; isto
o devem fazer um ou dois, ou de modo responsivo entre dois indivíduos
ou coros, como melhor lhes parecer.

Logo o pregador, ou quem quer que seja que se tenha nomeado, se


adiantará e interpretará uma parte da lição, para que todos entendam e
a aprendam e sejam admoestados. Ao primeiro Paulo chama "falar em
línguas", ao outro o chama "interpretar" ou "profetizar", ou "falar com o
sentido ou entendimento". Se não fizerem assim, a congregação não
receberá o benefício da lição, como ocorre nos monastérios e nos
conventos, onde somente gritavam às paredes.

A lição deve ser extraída do Antigo Testamento. Deve-se selecionar um


dos livros e ler um ou dois capítulos, ou a metade de um capítulo até
terminar o livro. Depois selecionar outro livro, e prosseguir assim até
que se faça a leitura de toda a Bíblia. E quando não se entender o texto,
seguir adiante, e dar glória a Deus. Assim com o treinamento diário o
povo cristão chegará a estar adestrado e bem versado na Bíblia.
Porque deste modo se formaram cristãos genuínos como nos tempos
anteriores - tanto virgens como mártires poderão se formar hoje.

Após a duração de meia hora ou algo assim, a lição e sua interpretação,


a congregação se unirá em dar graças a Deus, louvá-lo, e orar pelos
frutos da Palavra, etc. Para isto debem usar os Salmos e alguns bons
responsórios e antífonas. Em resumo, que tudo termine em uma hora,
ou o tempo que for conveniente; porque não se deve sobrecarregar as
almas, nem cansá-las, como sobrecarregam como mulas nos
monastérios e conventos atualmente.

5/16
Desse modo, reúnam-se às cinco ou seis da tarde. A esta hora
realmente se deve ler outra vez o Antigo Testamento, livro por livro, ou
seja, os profetas, assim como Moisés e os livros históricos se
consideram na manhã. Mas sendo que também o Novo Testamento é
um livro, permito a leitura do Antigo Testamento na manhã e do Novo
Testamento à tarde, ou vice e versa, e a leitura, interpretação, louvor,
cânticos e oração pela manhã, também por uma hora. Porque a única
coisa importante é que se permita trabalhar a Palavra de Deus para
elevar e vivificar as almas para que não se cansem. Se desejarem
celebrar outro culto similar durante o dia, após o almoço, é um assunto
de livre escolha. E ainda que toda a congregação não participe destes
cultos diários, os sacerdotes e alunos, e especialmente aqueles de
quem se espera, que serão bons pregadores e pastores, devem estar
presentes. E deve-se admoestá-los a fazer isto voluntariamente, não
por constrangimento ou forçados, ou para obter um prêmio temporal ou
eterno, mas somente para a glória de Deus e o bem-estar do próximo.

Além destes cultos diários para um grupo mais reduzido, toda a


congregação deve se reunir aos Domingos, e deve cantar a missa e
vésperas como é de costume. Em ambos os cultos se pregará para
toda a congregação, na parte da manhã sobre o evangelho do dia, e à
tarde sobre a epístola; ou o pregador pode usar seu discernimento para
determinar se quer pregar sobre certo livro, ou dois. Se alguém deseja
receber o sacramento neste tempo, que seja administrado num horário
que seja conveniente a todos os interessados.

Devem descontinuar completamente as missas diárias. Porque a


Palavra é mais importante e não a missa. Mas se alguém desejar o
sacramento durante a semana, que se celebre a misa quando houver a
inclinação e a oportunidade. Porque neste assunto não se pode
estabelecer regras definitivas.

Que se retenham os cantos nas missas dominicais e vésperas, mesmo


que sejam bastante boas e tomadas da Escritura. Todavia, pode-se
aumentar ou diminuir o seu número. Mas selecionar os cânticos para
os cultos diários da manhã e à tarde será o dever do pastor e pregador.
Porque cada manhã determinará um responsório, ou antífona, digno
6/16
com uma coleta, e o mesmo para a tarde, e com isto se lerá e cantará
publicamente após a lição e exposição. Mas momentaneamente
podemos eliminar as antífonas, responsórios, e as coletas, do mesmo
modo que as lendas dos santos e da cruz, até que sejam purificados,
porque há uma terrível quantidade de imundícia neles.

As festas dos santos devem ser descontinuadas, ou onde houver uma


boa lenda cristã, se poderá insertar como um exemplo após a leitura do
evangelho do Domingo. Podem continuar as festas da purificação e a
anunciação de Maria, e pelo momento também sua assunção e
natividade, ainda que os cânticos que são usados nelas não sejam
puros. A festa de João Batista também é pura. Nenhuma das lendas
dos apóstolos é pura, exceto a de são Paulo. Podem ser transferidas
para o Domingo mais próximo, ou celebrar separadamente, se assim
desejarem.

Outros assuntos se ajustarão segundo surja a necessidade. Para


resumir tudo: que tudo se faça para que a Palavra tenha liberdade de
atuar, em vez de palavrear como é a regra até agora. Podemos deixar
tudo, menos a Palavra. Por outro lado, nada é tão proveitoso como a
Palavra. Porque toda a Escritura mostra que a Palavra deve ter
liberdade para atuar entre os cristãos. E em Lucas 10, o próprio Cristo
disse: "uma coisa é necessária", ou seja, que Maria se sentasse aos pés
de Cristo e ouvisse diariamente a sua palavra. Esta é a melhor parte
para escolher e nunca lhe será tirada. É uma palavra eterna. Tudo o
mais passará, não importa quanto cuidado e esforço Marta dê. Deus
nos ajude a alcançar isso. Amén.

Carta de Martinho Lutero para George Spalatino [19 de Outubro de 1516]

7/16
19 de Outubro de 1516.

A George Spalatino, servo de Cristo e


sacerdote do Senhor, mestre
eruditíssimo, seu amigo sincero e íntegro
irmão.

Jesus. Saudações. O que me estranha no


eruditíssimo Erasmo, querido Spalatino, é
o seguinte: que ao interpretar o apóstolo,
entenda a justiça das obras, da lei ou
própria (que assim a chama o apóstolo)
como a observância das práticas
cerimoniais, e defenda, além disso, que
no capítulo quinto dos Romanos, o apóstolo não quis fazer referência
ao pecado original (que ele, por outra parte, admite). Se lesse os livros
que Agostinho escreveu Contra os pelagianos e, em especial, Do espírito
e da letra, Do mérito e remissão dos pecados, Contra duas cartas dos
pelagianos e Contra Juliano, inclusos quase em totalidade no volume
oitavo de suas Obras, perceberia que não fala pessoalmente, senão
apoiado nos pais de tanta importância como Cipriano, Nazianzeno,
Rético, Irineu, Hilário, Olímpio, Inocêncio e Ambrósio. Se o fizesse,
entenderia corretamente ao apóstolo e teria a Agostinho em maior
apreço do que até agora tem professado.

Tenho certeza de que meu dissentimento com Erasmo procede do


momento de interpretar as Escrituras Sagradas. Pois prefiro seguir a
Agostinho do que a Jerônimo, na mesma medida em que ele prefere a
Jerônimo do que a Agostinho. Não é que me deixe levar por predileções
de minha confissão religiosa, quando intento revalidar a Agostinho; é
que me dou conta de que são Jerônimo busca deliberadamente o
sentido histórico e, o mais admirável, que interprete muito melhor as
Escrituras quando o faz de modo acidental (por exemplo nas Cartas) do
que quando o intenciona fazer exaustivamente como nos Opúsculos.

8/16
A justiça da lei ou das obras não se encontra somente nas práticas,
mas também, e mais exatamente, nas obras de todo o decálogo;
porque se observam fora da fé em Cristo, ainda que sejam capazes de
fabricar Fabrícios, Régulos e homens integérrimos, saberão tanto de
justiça como um arbusto sabe de figos. Como opina Aristóteles, não é
realizando coisas justas como que nos justificamos, a não ser que se
trate de uma simulação, mas que nos justificamos (por assim dizer),
sendo justos é como realizaremos na justiça. É necessário que
transforme primeiro a pessoa e depois se transformarão as obras.
Agrada-se de Abel, antes que a sua oferta. Mas deixemos isto para
outra ocasião.

Rogo-te que te portes como amigo e cristão, e faças saber isto a


Erasmo. Porque o mesmo que espero e desejo que sua autoridade
chegue a ser celebérrima, temo que muitos se escudem em seu
patrocínio para defender a interpretação literal, ou seja, morta, da que
estão repletos os Comentários de Lira e quase todos os que foram
escritos posteriores a Agostinho. Até o próprio Estapulense, meu Deus,
tão espiritual e tão sincero por outra parte, lhe falta na interpretação da
Escritura Sagrada esta inteligência que está tão presente em sua vida e
em seus conselhos.
Acreditarás que estou temeroso ao ver que passou sob a vara de
Aristarco a homens tão eminentes, mas hás de saber que o faço por
causa teológica, e pela salvação dos irmãos.

Adeus meu querido Spalatino, e rogue por mim. Escrevo-te a


apressadamente, do recôndito de nosso monastério.

O dia seguinte à festa de são Lucas. 1516. Fr. Martinus Luther,


agostiniano.

NOTAS:
[1] WA Br1, pp. 70-71. Spalatino (Georg Burckardt, de Spalt), da mesma
geração que Lutero, ele viveu entre 1484-1545, exerceu um papel
decisivo nos começos da Reforma, dada a sua posição na corte de
Frederico, o Sábio, da Saxônia, de quem era chanceler e pregador. Foi o
mediador entre o príncipe e Lutero, humanista, e quem soube frear

9/16
certas destemperanças do reformador que lhe escreveu um numeroso
corpo de cartas. Cf. 1. Hüss, Georg Spalatin, Weimar 1956; Id., Georg
Spalatins Verháltnis zu Luther und der Reformation: Luther 31 (1960), pp.
67-80.
[2] Refere-se à edição das obras de Agostinho publicadas em Basiléia
no ano de 1506.
[3] Sobre o apreço de Erasmo por Jerônimo, em coincidência com as
predileções de todos os humanistas, cf. sua própria confissão a Leão X,
em 1515 (Opus epistolarum D. Erasmi 11, ed. P.S. Allen, Oxford 1906, p.
80 e 220).
[4] Spalatino também era um mediador entre os humanistas e Lutero,
cumpriu fielmente o encargo e na carta que escreveu a Erasmo lhe
repete estes conceitos (cf. Opus epistolarum, 417).
[5] Refere-se a Nicolás de Lira (1270-1340) que no início do século XIV
escreveu Postillae perpetue in vetus et novum testamentum com grande
aceitação e impresso em 1471-1472.
[6] Lefévre d’Etaples (m. em 1536), patriarca do círculo humanista e
reformista de Meaux, com algumas ideias próximas de Lutero.
Continuou fiel à Igreja de Roma, mas alguns de seu intimidade (Farel,
por exemplo) se tornaram em líderes fervorosos da Reforma
protestante. Cf. F. Hahn. Faher Stapulensis und Luther: Zeitschrift für
Kirchengeschitchte 57 (1938), pp. 356-432.
[7] Aristarco de Samotracia, gramático do século III a.C., que para
Lutero, Erasmo e os humanistas era o símbolo das atitudes críticas.

Carta de Martinho Lutero para Alberto de Maguncia [31 de Outubro de 1517]

10/16
Para Alberto de Maguncia

31 de outubro de 1517

Ao Reverendíssimo Padre em
Cristo, Senhor Alberto,
Arcebispo de Magdeburg e
Maguncia, Senhor de
Brandeburg, seu estimado
senhor e pastor em Cristo. A
graça de Deus seja com ele.

Que a sua Alteza Eleitoral


graciosamente me permita, o
menor e mais indigno dos homens, escrever a você. O Senhor Jesus
Cristo é minha testemunha de que eu, por conta de minha indignidade,
há muito tempo tenho hesitado fazer o que agora faço
audaciosamente, movido a isso por um senso de obrigação que eu
devo a você, reverendíssimo padre. Que a sua Graça olhe
graciosamente para mim, pó e cinzas, e responda à minha ânsia por
sua aprovação eclesiástica.

Com o consentimento de sua Alteza Eleitoral, a Indulgência Papal para


a reconstrução da Basílica de São Pedro em Roma está sendo levada
pelo do território. Eu não me queixo muito do alto clamor do pregador
de Indulgências, o qual eu não ouvi, mas me entristece o falso
significado que o povo simples atribui às indulgências, as pobres almas
acreditando que, quando compram tais cartas, asseguram a sua
salvação; e também que, no momento em que o dinheiro cai na caixa,
almas são libertas do purgatório; e que todos os pecados serão
perdoados por meio de uma carta de Indulgência, mesmo aquele de
ultraje à Mãe de Deus, fosse alguém blasfemo o suficiente para fazer
tal coisa; e, finalmente, que, por meio dessas Indulgências, o homem é
livre de todas as punições! Ah, Santo Deus! Assim estão aquelas almas
que têm sido entregues aos seus cuidados, querido padre, sendo
levadas no caminho de morte. E por elas você terá de prestar contas.
Porque os méritos de nenhum bispo podem assegurar a salvação das

11/16
almas confiadas a ele, o que nem sempre é assegurado através da
graça de Deus, o apóstolo admoestando-nos a "trabalhar a vossa
própria salvação com temor e tremor"; e que o caminho que leva à vida
é tão estreito, que o Senhor, por meio dos profetas Amós e Zacarias,
assemelha aqueles que alcançam a vida eterna a um tição tirado do
fogo; e, acima de tudo, o Senhor aponta para a dificuldade da redenção.
Portanto, eu não poderia mais permanecer em silêncio.

Então, como você pode, por meio de falsas promessas de Indulgências,


as quais não promovem a salvação ou a santificação das almas deles,
levar o povo à segurança carnal, declarando-os livres das dolorosas
consequências da má conduta, com as quais a Igreja costumava punir
os pecados deles?Porque atos de piedade e amor são infinitamente
melhores do que Indulgências, mas ainda assim os bispos não pregam
estes atos tão energicamente, embora o principal dever deles é pregar
ao seu povo o amor de Cristo. Em nenhum lugar, Cristo mandou pregar
as Indulgências, mas sim o Evangelho. Assim, a que perigo um bispo se
expõe quando, ao invés de pregar o Evangelho entre o povo, condena-o
ao silêncio, ao mesmo tempo em que o clamor das Indulgências ressoa
através do território? Não irá Cristo dizer a eles, "Tu coas um mosquito,
mas engoles um camelo"?

Em adição a isto, reverendo padre, tem sido espalhado largamente, sob


o seu nome, mas certamente sem o seu conhecimento, que esta
Indulgência é o inestimável presente de Deus, por meio do qual o
homem pode ser reconciliado com Deus e escapar do fogo do
purgatório, e que aqueles que comprarem a Indulgência não têm
necessidade de arrependimento.

O que mais eu posso fazer, reverendíssimo padre, além de implorar que


a Sua Serena Alteza olhe para este assunto e possa abolir este livreto
de instruções, e que ordene aqueles pregadores a adotarem um outro
estilo de pregação, para que não surja alguém e lhes refute escrevendo
um outro livro em resposta ao primeiro, para a confusão da sua Serena
Alteza, ideia que muito me alarma. Eu espero que a sua Serena Alteza

12/16
possa graciosamente se dignar a aceitar o fiel serviço que o seu
insignificante servo, com verdadeira devoção, renderia a você. Que o
Senhor guarde você para toda a eternidade. Amém.

Wittenberg, véspera do Dia de Todos os Santos, 1517.

Se for conforme o desejo de sua Graça, talvez você poderia olhar as


minhas teses que envio em anexo, para que você possa perceber que a
opinião sobre as Indulgências é muito variada, enquanto aqueles que as
proclamam fantasiam que tais Indulgências não podem ser disputadas.
Seu filho indigno,

Martinho Lutero
Agostiniano, separado como Doutor de Sagrada Teologia.

Carta de Martinho Lutero para Johannes Lange [1 Março de 1517]

Para Johannes Lange 1º de


março de 1517

No presente momento, eu
estou lendo o nosso Erasmo,
mas meu coração recua dele
mais e mais. No entanto, uma
coisa que eu admiro é que ele
constantemente e sabiamente
acusa não somente os
monges, mas também os
padres, de uma ignorância
preguiçosa e profundamente
arraigada.

Todavia, sou temeroso, pois ele não propaga com amplitude suficiente
a graça de Cristo e de Deus, da qual ele conhece muito pouco. O
humano é para ele de maior importância do que o divino.

Embora eu não queira julgar Erasmo, eu lhe advirto para que você não
leia cegamente o que ele escreve. Pois nós vivemos em tempos
perigosos e todos os que são bons estudiosos do hebraico e do grego
13/16
não são verdadeiros cristãos; mesmo Dr. Jerônimo, com as suas cinco
línguas, não conseguiu se aproximar de Agostinho, com sua única
língua -- embora Erasmo veja tudo isso de um ponto de vista diferente.
Aqueles que atribuem algo ao livre-arbítrio do homem consideram
estas coisas diferentemente daqueles que conhecem a livre graça de
Deus.

De nossa deserta Wittenberg.


Martinho Lutero, Agostiniano.

Sobre o hábito de embreagar dos alemães

Lutero disse: "Amanhã eu


tenho que dar uma palestra
sobre a embriaguez de Noé
[Gn 9: 20-27], então eu devo
beber o suficiente esta noite
para poder falar sobre a
maldade como alguém que
sabe por experiência."

O Dr. Cordatus [seu


convidado] disse: "De maneira
nenhuma, você deveria fazer o
oposto!"

Para isso, Lutero respondeu: "É preciso fazer o melhor dos vícios que
são peculiares a cada terra. Os boêmios empanturram-se, os Wendes
[colonos eslavos na Saxônia] roubam e os alemães bebem avidamente
sem parar. Como você superaria um alemão, querido Cordatus, exceto
deixando-o bêbado - especialmente um alemão que não ama música e
mulheres?"

LW rol. 54, no. 3476.

Sobre a predestinação

14/16
Por João Calvino

Antes que o primeiro homem fosse


criado, Deus por um decreto
determinou o que aconteceria a toda a
raça humana.

Através deste oculto decreto de Deus,


foi decidido que Adão cairia do seu
perfeito estado de sua natureza e
arrastaria toda a sua posteridade em
culpa e morte eterna.

Sobre o mesmo decreto penderia a


discriminação entre o eleito e o réprobo: pois, alguns Ele para si mesmo
adotou para a salvação; no entanto, Ele destinou outros para a
destruição eterna.

Apesar do réprobo ser vaso da justa vingança de Deus e, o eleito ser


vaso de misericórdia, todavia, não há outra causa da discriminação
encontrada em Deus, senão a sua simples vontade, a qual é a suprema
regra de justiça.

Apesar disto, é pela fé que o eleito recebe a graça da adoção, todavia, a


eleição não depende da fé, mas é anterior a ela em tempo e em ordem.

Portanto, a origem e perseverança da fé decorrem da gratuita eleição


de Deus, sendo que nenhum outro é verdadeiramente iluminado com fé,
nem são dotados com o Espírito de regeneração, a não ser aqueles que
Deus tenha escolhido: mas, o réprobo inevitavelmente mantém-se em
sua escuridão e distante queda da fé, mesmo que haja qualquer coisa
boa nele.

Apesar de sermos escolhidos em Cristo, todavia, o Senhor que


considera-nos entre os seus, está ordenado para si fazer-nos membros
de Cristo.

Apesar da vontade de Deus ser a suprema e primeira causa de todas as


coisas, e Deus dirigir o demônio e todos os ímpios segundo a sua
15/16
vontade, entretanto, a Deus nunca pode ser atribuído a causa do
pecado, nem a autoria do mal, nem é Ele aberto para alguma culpa.

Apesar de Deus ser verdadeiramente hostil ao pecado e condenar todo


a iniquidade dos homens, pois lhe são ofensivos, todavia, não
acontecem meramente pela sua permissão revelada, mas pela sua
vontade e decreto secreto em que todas as coisas ocorrem e os
homens são governados.

Apesar do demônio e réprobos serem servos e instrumentos para


conduzir suas decisões secretas, entretanto, de uma maneira
incompreensível, Deus assim opera neles, e através deles, ao restringir
sem, todavia, contaminar-se com o seu vício, porque a sua malícia é
usada num justo e correto caminho para um bom propósito, apesar da
maneira como é feito, muitas vezes para nós isto é ocultado.

Eles agem ignorantes e com calúnias, ao dizer que Deus se torna o


autor do pecado, se todas as coisas ocorrem pela sua vontade e
ordenança; pois, não distinguem entre a obstinada depravação dos
homens e os ocultos desígnios de Deus.

Extraído de B.B. Warfield, Studies in Theology (Grand Rapids, Baker


Books, 2002), pp. 193-194

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki

16/16

También podría gustarte