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Com ji foi dito, 2 histéria do jornalismo eserita como a biografia dos "grandes homens", como James Gordon Bennett (New York Hora), Joseph Pulitzer (New York World), Lord Northeliffe (Porly Mirror, The Times), William Randolph Hearst (Saw Frawciice Examiner, New York Journal, que deisaram a sua marca na profissio, Chalaby (1997) sublinha 6 papel dos chamados "bardes de imprensa” na historia do jorna- lismo. ‘Mas, igualmente importantes no desenvolvimento histérico da profissio, os repérteres foram-se transformando num mito coletivo no qual representam o individuo na sociedade de mass, aptos a mobilizar 0 poder da imprensa para cortigie injustga (Os repérteres do jornal Wrvhiagtou Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, do célebre caso Watergate, sio simplesmente a mais, recente manifestagio desta representagio do jornalista herdi, também transformado num filme de Hollywood. Elliott (1978:186-187) denota a projegio mundial do caso Watergate {quando tefere que os anos 70 poderiam ser definidos como a era do repdrter de investigacio, tal como os anos 30 foram a"era do. correspondente no estrangeiro”. No inicio de séeulo XXI, a pujanca da mitologia Worergate permanece dentro fora dos Estados Unidos. A morte de Kathleen Graham, dona do jornal Washington Pest, suscitow um iimero de artigos de comentirios sobre a sua vida em que a figura de Graham é elogiada pelo apoio incondicional aos seus jornalistas e pela coragem de desafiar 0 poder; foi endeusada & batizada "a mie de Waergat". @ Capitulo 2 ‘Ser ou nao ser noticia? ‘urante a Guerra Civil norte-americana, 0 General William Tecumsch Sherman foi informado de que trés jornalistas foram eapturados € executados pelas forgas rebeldes. Comentou o General: "Orimo, Agora va ‘mos ter noticias do Inferno antes do pequeno almogo" (Trotta, 1992) ara os nto membros da comunidad jornalistica,o mundo jornalistco parece er um mundo de noticias vindo "do inferno". ‘A observagio de Sherman assemelha-s a infimerascriticas 20 jornalismo na época contempdranea e prevé a existéncia de um meio mediitico dominado pela televisio hi mais de cem anos. A visio negativa do mundo eriada pelos jornalistas tem as suas raizes nos valoresnoticia que os profissionais do campo jor nalistico utilizam na sel cena construgio das 'estrias’ que contam sobre a realidade, Os vyalores-noticiasio um elemento centzal da cultural jornalistica € 0 tépieo deste capitulo. 0 que & noticia? A vi desta questio ~ 0 que é not 4 dos aconteeimentos do mundo real (0 que os jomnalistas apresentam € simultaneamente simplista e a minimalista a) simplista porque, segundo aideologiajomnalistica, © jornalista relaa, capta, reproduz ou retransmite 0 acon. tecimento, Segundo a metifora dominante no campo jornalstco, 6 jornalista € um espelho que rellete a realidade. © jornalista & sitmplesmente um mediador; eb) minimalista porque, segundo a ‘dcologia dominante, o papel do jornalista como mediador & um papel reduzidlo. Aliis, € signifieaivo que, habitualmente, os jornalisas sejam relutantes em reconhecer ou assumir a im- portinciae a influéncia do seu trabalho. Os valores-noticiasio, como jé tivemos oportunidade de sublinhar, um aspecto fundamental da cultura profissional Segundo Golding e Elliott (1978), sio um importante clemento de interagio jornalisica e constieuem referéncias clarase dspo- niveis a conhecimentos priticos sobre a natureza e 08 objetos das noticias, referéneias essas que podem ser utilizadas para facilitar a complexa e ripida elaboragio das noticias. Diversos estudos sobre o jornalismo demonstram que os jornalistas tm ‘uma enorme dificuldade em explicar 0 que é noticia, de explictar quais sio os seus critérios de noticiabilidade, para além de respostas vagas do tipo "o que é importante" e/ou “o que interessaao piblico". O reconhecimento dessa dificuldade uma das conclusées de Gaye Tuchman. Esta sociéloga norte americana elabora uma interessante anilise sobre a chamada "perspicicia noticiosa". Como jé foi citado, Tuchman (1972/ 1993:85) escreve: "Pareceria que a perspicicia noticiosa é 0 conhecimento sagrado, a capacidade secreta do jornalista que © diferencia das outras pessoas". Os jornalistas invocam a posse cde uma capacidade que, segundo ‘Tuchman, mal conseguem de- finir, em parte devido & forma como a culvura profissional privilegia um saber instintivo e nio reflexive. O académico britinico Stuart Hal sublinbou também a natureza exquiva dos valores-noticia. Para Hall, os valores-noticia sio uma das @ estraturas mais opacas do joraalsmo, ponto que iemos desen volver mais adiante. No entanto, uma conclusio geral dos estudos sabre os contetidos dos media noticiosos é que as noticias apresentam wm "padrio" geral bastante estivel e previsivel A previsbildace do esquema geral das noticias deve-s 3 esxisténcia de critrios de noticiabifidade, isto é, 3 existéncia de valores-noticia que os membros da tribo jotnalisica parttham. Podemos definir 0 conceito de noticabildade como o conjunto de critérios © operagSes que fornccom a aptidio de merecer um tratamentojornalistico isto & possur valor como noxicia. Assim, 0 crtérios de notcablidade sio 0 conjunto de valores noticia que determinam se tm acontecimento, ou assunto, &susceptivel de se tornar noticia, isto &, de ser julgado como metecedor de ser transformado em matéria notiivel e, por isso, possuindo ‘valornoticia® ("eersvorthinss) Os critérios de noticiabilidade em trés épocas histéricas Seguinndo o conselho de Cicero, uma compreensio histOriea do ornalismo ajuda-nos aentender aimportincia das "qualidades, duradouras", na expressio de Mitchell Stephens (1988), das noticias. Iremos ver agora o gue foi noticia em trés momentos histdricos os anos 70 do século XX, os anos 30-40 do séeulo XIX, eas primeiras décadas do séeulo XVII ~ para verifiear que 0s valotes noticia bisicos tém variado pouco, Segundo Stephens, as “qualidades duradouras’ das noticias sio © exteaordinitio, 0 insélito ("o homem que morde 0 cio"), o atual, a figura procminente,oilegal, as guerra, a calamidade ea morte, Escreve © historiador Stephens (198834): "Que a humanidade tem per smutado uma mistura semelhante de noticias com consisténcia através da histria ¢ através das culturas que criam interesse nestas noticias parece inevitivel, se no inato.” 6 Entramos numa "méquina do tempo" para o ano de 1616, © ano em que morre o dramatorgo inglés William Shakespeare. [Nesta data em que ainda nio hi jommais difrios, novidade que surge nas sltimas décadas daquele século,reina uma forma pré ‘moderna do jornal ~ as chamadas “folha volantes". As "folhas volantes’ si diferentes dos jornais em primeiro lugar porque so dedicadas habitualmente a um tinico tema, no a uma va riedade de assuntos como os jornas, ¢, em segundo lugar, nfo so publicagées regulares. Também nio eram folhas de simples informagio: as noticias eram sobretudo avisos moralistas ou imerpretagdes religiosas. As primeiras “folhas volantes" inglesas apareceram no séeulo XVII, mas havia "fothas volantes" publicadas na Europa ‘um século atris em Veneza. Curiosamente também havia "folhas volantes’ no Novo Mando ~ uma foi publicada na Cidade do México em 1541. As "folhas volantes” eomeyaram a aparecer para satisfazer a curiosidade sobre os acontecimentos, O que cera noticia nas “folhas volantes"? Foi publicado um total de 25 "folhas volantes* em 1616, Um tergo delas foi dedicado a um tipo de acontecimento: assassinatos. Um outro terco era dedicado as noticias sobre celebridades, incluindo uma sobre um discurso do Rei. Nao houve qualquer noticia sobre morte de Shakespeare; a inicareferéncia a Shakespeare na imprensa da sua época foi uma referéacia numa balada que comenta a morte da Rainba Isabel ema 1603, Na era das “folhas volantes", milagres, abominagdes, catistroles, acontecimentos bizarros foram as primeira ocorrén cias tratadas nos dias que antecedem os jornais. © nascimento dle um porco com dvas cabecas era "noticia", mas visto como sinal da raiva de Deus contra os pecados do seu povo na Inglaterra. Fregiientemente, a conduta dos herbis, uma batalha naval, cram assuntos para serem tatado, Ness dias, muito do 6 aque era "noticia era internacional: guerra ¢ trooas comercais eram dois dos assuntos principais. Quase completamente cesquecidos eram 0s acontecimentos de interesse local. © espaco cra salvaguardado para os assuntos a que as pessoas no tinham acesso, Outra curiosidade da época é que, muitasvezes, as "flhas volantes® eram transformadas em baladas; por exemplo, a carta de Colombo sobre a sua viagem foi impressa etransformada em 68 versos ea vitbria inglesa sobre a Armada Espankola inspirou 4 criagio de 23 baladas (Stephens, 1988:96). Um valor:noticia importante na época é insélio, isto é, fs acontecimentos que produziam © maiot espanto, a mais profunda maravilha, a maior surpresa, Sobre as noticias desta ea das "folhas volates’, historiador Mathais Shauberescreve: “E como sea qualidade de ser extraordinito, sensacional, pro- digioso, fosse vista como essencial” (citado em Stephens, 1988:135). Numa das suas pesas, Canto de Invern, Shakespeare faz pouco da credulidade dos seus contemporincos em relacio is “folhas volantes". Um escritor de baladss tenta vender a uma ‘amponesa os versos de uma balada composta por um peixe que apareceu na costa 40 mil metros acima da agua. Era suposto aque o peixe fosse uma mulher transformada em peixe porque ‘io queria consumar uma relagio amorosa, Na peca, a camponesa pergunta a0 escritor das baladas: “Acha que é verdade?" Outro valor-noticia importante nesta época ¢ a noti- ciabilidade do ator principal do acontecimento, Os atos ¢ a8 pa- lavras das pessoas importantes, as erBnicas eas proezas de per- sonalidades da “elite, como, por exemplo, o Rei e/ou a Rainha, Na época das "folhas volantes" houve um fascinio com os homteidios. Muitas delas se relacionavam com homicidios € enforcamentos de assassinos. Muitastinham relatos, eseritos na 5

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