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Políticos mentem porque a população se sente

melhor assim
Quando as pessoas querem o impossível, somente os mentirosos
demagogos podem satisfazê-las

economia

Thomas Sowell

quarta-feira, 18 abr 2018

O fato de muitos políticos de carreira serem mentirosos descarados e compulsivos não


é apenas uma característica inerente à classe política; é também um reflexo do
eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível, somente os mentirosos
demagogos podem satisfazê-las.
No entanto, quando a realidade se impõe e os efeitos econômicos de medidas
populistas começam a cobrar seu preço, os eleitores finalmente percebem que foram
enganados. E então começam a reclamar que os demagogos os enganaram e venderam
ilusões.

Essas pessoas são as mesmas que, no passado, não apenas acreditaram piamente nas
promessas dos demagogos, como também ignoraram rispidamente todos os alertas,
feitos pelos mais sensatos, de que determinadas políticas populistas eram
insustentáveis e cobrariam um preço caro no futuro.

Pessoas que se recusam a aceitar verdades desagradáveis quando estas são ditas em
épocas de bonança não têm direito de, no futuro, reclamar que os políticos mentiram
e que elas foram enganadas. Afinal, com essa mentalidade, que outro tipo de
candidato essas pessoas elegeriam?

O domínio da arte

Uma das principais mentiras do estado social-democrata é a noção de que o governo


pode dar às pessoas coisas que elas desejam, mas não conseguem bancar.

Dado que o governo não produz riqueza, não tem renda própria e se mantém por meio
do confisco de recursos das pessoas, então, por uma questão de lógica, se as pessoas
como um todo não podem bancar algo, tampouco pode o governo.

Se você vota em políticos que prometeram dar a você benesses pagas com o dinheiro
confiscado de terceiros, você não tem nenhum direito de reclamar quando esses
mesmos políticos resolverem tomar o seu dinheiro para repassá-lo para terceiros,
inclusive para eles próprios.

Existe, é claro, a imortal falácia de que o governo pode simplesmente aumentar os


impostos sobre "os ricos" e utilizar tal receita adicional para pagar por coisas que a
maioria das pessoas não consegue comprar. O que é incrível nesse raciocínio é a sua
implícita suposição de que "os ricos" são todos tão idiotas, que não farão nada para
evitar que seu dinheiro seja tributado.

Em nenhum país ocidental os ricos arcam exclusivamente com os impostos; quem


realmente fica com o grande fardo é a classe média. Não há, em nenhuma sociedade,
um número grande o bastante de ricos que possam custear sozinhos os gigantescos
gastos efetuados pelos estados assistencialistas ocidentais. [Para entender em mais
detalhes por que aumentar a tributação sobre os ricos gera um efeito contrário ao
pretendido, veja este artigo].
Na economia globalizada atual, os ricos podem simplesmente investir seu dinheiro
em países onde as alíquotas de impostos são menores. Basta um toque no computador,
e as fortunas vão embora para outros países.

Então, se você não pode confiar que "os ricos" irão pagar a conta, em que você pode
confiar? Nas mentiras.

Nada é mais fácil para um político do que prometer benefícios governamentais que
não poderão ser cumpridos.

A Previdência Social é perfeita para essa função. As promessas são feitas com base
em um dinheiro que só será pago daqui a várias décadas — sendo que, até lá, outra
pessoa estará no poder com a tarefa de inventar o que dizer e fazer quando descobrir
que nunca existiu tal dinheiro e a convulsão social começar.

Haverá o calote, sim, mas existem, no entanto, várias formas de postergar o dia do
acerto final. O governo pode, por exemplo, começar a restringir vários benefícios
previdenciários daqueles grupos que são menos influentes politicamente. Ele irá
começar dando pequenos calotes naqueles grupos que têm menos poder político e
pouco poder eleitoral. E dali vai começar a aprofundar.

Nos EUA, o governo vai começar a cortar o Medicare (programa de responsabilidade


da Previdência Social americana que reembolsa hospitais e médicos por tratamentos
fornecidos a indivíduos acima de 65 anos de idade) e o Medicaid (programa
financiado conjuntamente por estados e pelo governo federal, que reembolsa hospitais
e médicos que fornecem tratamento a pessoas que não podem financiar suas próprias
despesas médicas)

[N. do E.: aqui no Brasil, as vítimas serão alguns pensionistas, que irão se aposentar
recebendo proporcionalmente menos do que contribuíram. Depois, os cortes
provavelmente irão para alguns setores da saúde pública. A faca começará sempre
sobre os menos influentes. Haverá gritaria, mas será feito.]

É apenas uma questão de tempo. O fato é que todos esses problemas de longo prazo
irão, eventualmente, desafiar as belas e sonoras mentiras que são a força vital das
políticas de bem-estar social. Mas ainda irão ocorrer muitas eleições entre hoje e o dia
do acerto final — e aqueles que são profissionais na arte da mentira ainda irão vencer
muitas dessas eleições.

E, enquanto o dia do ajuste de contas não chega, há diversas maneiras de


aparentemente superar esses problemas. Se a arrecadação do governo não estiver
conseguindo acompanhar o ritmo do seu aumento de gastos [como é o caso do Brasil],
ele pode insistir no aumento do endividamento. Mas mesmo esta política é limitada,
pois chegará um momento em que a dívida estará tão alta, que os investidores não
mais confiarão na capacidade do governo de honrá-la. E aí os juros subirão.

Outra alternativa é imprimir mais dinheiro. Isso não torna nenhum país mais rico, mas
insidiosamente transfere parte do poder de compra da população — bem como a
poupança e a renda das pessoas — para o governo e seus protegidos, gerando
uma redistribuição de renda às avessas. Imprimir mais dinheiro significa inflação —
e a inflação é uma mentira discreta, por meio da qual o governo pode manter suas
promessas no papel, mas com um dinheiro cujo poder de compra é muito menor do
que aquele que vigorava quando as promessas foram feitas.

Sem surpresa

Promessas sublimes sobre "justiça social" e "igualdade" não passam de estratagemas


feitos para aumentar o poder de políticos, uma vez que tais belas palavras não possuem
nenhuma definição concreta. Elas nada mais são do que um cheque em branco para
criar uma gigantesca disparidade de poder que, em comparação, ofusca
completamente as disparidades de renda — e é muito mais perigosa.

Quem não entende o completo cinismo que existe na política não entende nada de
política.

De novo: será que é realmente tão surpreendente que eleitores com expectativas
fantasiosas e irreais elejam políticos que mentem descaradamente sobre serem capazes
de cumprir tais fantasias?

 Intelectuais e raça - o estrago incorrigível


E as tragédias causadas pelos oportunistas
política

Thomas Sowell

domingo, 19 nov 2017

Há tantas falácias ditas sobre raça, que é difícil escolher qual é a mais ridícula. No entanto, uma
falácia que costuma se sobressair é aquela que afirma haver algo de errado com o fato de que as
diferentes raças são representadas de forma numericamente desproporcional em várias
instituições, carreiras ou em diferentes níveis de renda e de feitos empreendedoriais.

Cem anos atrás, o fato de pessoas de diferentes antecedentes raciais apresentarem taxas de
sucesso extremamente discrepantes em termos de cultura, educação, realizações econômicas e
empreendedoriais era visto como prova de que algumas raças eram geneticamente superiores a
outras.

Algumas raças eram consideradas tão geneticamente inferiores, que a eugenia foi proposta como
forma de reduzir sua reprodução. O antropólogo Francis Galton chegou a exortar "a gradual
extinção de uma raça inferior".

E as pessoas que diziam essas coisas não eram meros lunáticos extremistas. Muitos deles eram
Ph.D.s oriundos de várias universidades de ponta, lecionavam nas principais universidades do
mundo e eram internacionalmente reputados.
Reitores da Universidade de Stanford e do MIT estavam entre os vários acadêmicos defensores
de teorias sobre inferioridade racial — as quais eram aplicadas majoritariamente aos povos do
Leste Europeu e do sul da Europa, uma vez que, à época, era dado como certo o fato de que os
negros eram inferiores.

E este não era um assunto que dividia esquerda e direita. Os principais proponentes de teorias
sobre superioridade e inferioridade genética eram figuras icônicas da esquerda, de ambos os lados
do Atlântico.

John Maynard Keynes ajudou a criar a Sociedade Eugênica de Cambridge. Intelectuais adeptos
do socialismo fabiano, como H.G. Wells e George Bernard Shaw, estavam entre os vários
esquerdistas defensores da eugenia.

Foi praticamente a mesma história nos EUA. O presidente democrata Woodrow Wilson, como
vários outros progressistas da época, eram sólidos defensores de noções de superioridade e
inferioridade racial. Ele exibiu o filme O Nascimento de uma Nação, que glorificava a Ku Klux
Klan, na Casa Branca, e convidou vários dignitários para a sessão.

Tais visões dominaram as primeiras duas décadas do século XX.

Mudando de lado - mas não para melhor

Agora, avancemos para as últimas décadas do século XX. A esquerda política desta era já havia
se movido para o lado oposto do espectro das questões raciais. No entanto, ela também
considerava que as diferenças de sucesso entre grupos étnicos e raciais era algo atípico, e clamava
por uma explicação única, vasta e arrebatadora.

Desta feita, em vez de os genes serem a razão predominante para as diferenças nos êxitos
pessoais, o racismo se tornou o motivo que explicava tudo. Mas o dogmatismo continuava o
mesmo. Aqueles que ousassem discordar, ou até mesmo questionar o dogma predominante em
ambas as eras, era tachado de "sentimentalista" no início do século XX e de "racista" na era
multicultural.

Tanto os progressistas do início do século XX quanto os novos progressistas do final do século


XX partiram da mesma falsa premissa, a saber: que há algo de estranho quando diferentes grupos
raciais e étnicos alcançam diferentes níveis de realizações.

No entanto, o fato é que minorias raciais e étnicas sempre foram as proprietárias — ou gerentes
— de mais da metade de todas as principais indústrias de vários países. Dentre estas minorias
bem-sucedidas, temos os chineses na Malásia, os libaneses na África Ocidental, os gregos no
Império Otomano, os bretões na Argentina, os indianos em Fiji, os judeus na Polônia, os
espanhóis no Chile — entre vários outros.

Não apenas diferentes grupos raciais e étnicos, como também nações e civilizações inteiras
apresentaram níveis de realizações extremamente distintos ao longo dos séculos. A China do
século XV era muito mais avançada do que qualquer país europeu. Com o tempo, no entanto, os
europeus ultrapassaram os chineses — e não há nenhuma evidência de ter havido alterações nos
genes de nenhuma destas civilizações.
Dentre os vários motivos para estes diferentes níveis de realizações está algo tão simples quanto
a idade.

A média de idade na Alemanha e no Japão é de mais de 40 anos, ao passo que a média de idade
no Afeganistão e no Iêmen é de menos de 20 anos. Mesmo que as pessoas destes quatro países
tivessem absolutamente o mesmo potencial intelectual, o mesmo histórico, a mesma cultura — e
os países apresentassem rigorosamente as mesmas características geográficas —, o fato de que
as pessoas de determinados países possuem 20 anos a mais de experiência do que as pessoas de
outros países ainda seria o suficiente para fazer com que resultados econômicos e pessoais
idênticos sejam virtualmente impossíveis.

Acrescente o fato de que diferentes raças se desenvolveram em diferentes arranjos geográficos,


os quais apresentaram oportunidades e restrições extremamente diferenciadas ao seu
desenvolvimento, e as conclusões serão as mesmas.

No entanto, a ideia de que diferentes níveis de realização são coisas atípicas — se não sinistras
— tem sido repetida ad nauseampelos mais diferenciados tipos de pessoas, desde o demagogo
de esquina até as mais altas eminências do Supremo Tribunal.

Nunca houve igualdade de realizações grupais

Quando finalmente reconhecermos que as grandes diferenças de realizações entre as raças,


nações e civilizações têm sido a regra, e não a exceção, ao longo de toda a história escrita, restará
ao menos a esperança de que haja pensamentos mais racionais — e talvez até mesmo alguns
esforços construtivos para ajudar todas as pessoas a progredirem.

Até mesmo um patriota britânico como Winston Churchill certa vez disse que "Devemos Londres
a Roma" — um reconhecimento de que foram os conquistadores romanos que criaram a mais
famosa cidade britânica, em uma época em que os antigos bretões eram incapazes de realizar
esta façanha por conta própria.

Ninguém que conhecesse os iletrados e atrasados bretões daquela era poderia imaginar que algum
dia os britânicos criariam um império vastamente maior do que o Império Romano — um
império que abrangeria um quarto de toda a área terrestre do globo e um quarto dos seres
humanos do planeta.

A história apresenta vários exemplos dramáticos de ascensão e queda de povos e nações, por
uma variada gama de motivos conhecidos e desconhecidos. Mas há um fenômeno que não possui
confirmação histórica, um fenômeno que, não obstante esta ausência de exemplos práticos, é
hoje presumido como sendo a norma: igualdade de realizações grupais em um dado período do
tempo.

As conquistas romanas tiveram repercussões históricas por séculos após a queda do Império
Romano. Um dos vários legados da civilização romana foi o alfabeto latino, o qual gerou versões
escritas dos idiomas da Europa ocidental séculos antes de os idiomas do Leste Europeu serem
transformados em letras. Esta foi uma das várias razões por que a Europa ocidental se tornou
mais desenvolvida que a Europa Oriental em termos econômicos, educacionais e tecnológicos.
Enquanto isso, as façanhas de outras civilizações — tanto da China quanto do Oriente Médio —
ocorreram muito antes das façanhas do Ocidente, embora a China e o Oriente Médio
posteriormente viessem a perder suas vantagens.

Há tantas reviravoltas documentadas ao longo da história, que é impossível acreditar que um


único fator sobrepujante seja capaz de explicar tudo, ou quase tudo, do que já aconteceu ou do
que está acontecendo. O que realmente se sabe é que raramente, para não dizer nunca, ocorreram
façanhas iguais alcançadas por diferentes pessoas ao mesmo tempo.

No entanto, o que mais temos hoje são grupos de interesse e movimentos sociais apresentando
estatísticas — que são solenemente repercutidas pela mídia — alegando que, dado que os
números não são aproximadamente iguais para todos, isso seria uma prova de que alguém foi
discriminatório com outro alguém.

Se os negros apresentam diferentes padrões ocupacionais ou diferentes padrões gerais em relação


aos brancos, isso já basta para despertar grandes suspeitas entre os sociólogos — ainda que
diferentes grupos de brancos sempre tenham apresentado diferentes padrões de realizações entre
si.

Quando os soldados americanos foram submetidos a exames mentais durante a Primeira Guerra
Mundial, aqueles homens de ascendência alemã pontuaram mais alto do que aqueles de
ascendência irlandesa, sendo que estes pontuaram mais alto do que aqueles que eram judeus. Carl
Brigham, o pioneiro do campo da psicometria, disse à época que os resultados dos exames
mentais do exército tendiam a "desmentir a popular crença de que o judeu é altamente
inteligente".

Uma explicação alternativa é que a maioria dos imigrantes alemães se mudou para os EUA
décadas antes da maioria dos imigrantes irlandeses, os quais por sua vez se mudaram para os
EUA décadas antes da maioria dos imigrantes judeus. Alguns anos depois, Brigham viria a
admitir que a maioria dos mais recentes imigrantes havia sido criada em lares onde o inglês não
era a língua falada, e que suas conclusões anteriores, em suas próprias palavras, "não possuíam
fundamentos".

Nessa época, os judeus já estavam pontuando acima da média nacional dos exames mentais, e
não abaixo.

Se não há igualdade geral de resultados, por que o espanto?

Disparidades entre pessoas do mesmo grupo, em qualquer área que seja, não são obviamente
uma realidade imutável. Mas uma igualdade geral de resultados raramente já foi testemunhada
em qualquer período da história — seja em termos de habilidades laborais ou em termos de taxas
de alcoolismo ou em termos de quaisquer outras diferenças — entre aqueles vários grupos que
hoje são ajuntados e classificados como "brancos".

Sendo assim, por que então as diferenças estatísticas entre negros e brancos produzem afirmações
tão dogmáticas — e geram tantas ações judiciais e trabalhistas por discriminação — sendo que a
própria história mostra que sempre foi comum que diferentes grupos seguissem diferenciados
padrões ocupacionais ou de comportamento?
Um dos motivos é que ações judiciais não necessitam de nada mais do que diferenças estatísticas
para produzir vereditos, ou acordos fora de tribunais, no valor de vultosas somas monetárias. E
o motivo de isso ocorrer é porque várias pessoas aceitam a infundada presunção de que há algo
de estranho e sinistro quando diferentes pessoas apresentam diferentes graus de êxito pessoal.

O desejo de intelectuais de criar alguma grande teoria que seja capaz de explicar padrões
complexos por meio de algum simples e solitário fator produziu várias ideias que não resistem a
nenhum escrutínio, mas que não obstante têm aceitação generalizada — e, algumas vezes,
consequências catastróficas — em vários países ao redor do mundo.

A teoria do determinismo genético, que predominou no início do século XX, levou a várias
consequências desastrosas, desde a segregação racial até o Holocausto. A teoria atualmente
predominante é a de que algum tipo de maldade explica as diferenças nos níveis de realizações
entre os vários grupos étnicos e raciais.

Se os resultados desta teoria hoje em voga gerariam tantas mortes quanto no Holocausto é uma
pergunta cuja resposta requereria um detalhado estudo sobre a história de rompantes letais contra
determinados grupos odiados por causa de seu sucesso.

Estes rompantes letais incluem a homicida violência em massa contra os judeus na Europa, os
chineses no sudeste asiático, os armênios no Império Otomano, e os Ibos na Nigéria, entre outros.
Exemplos de chacinas em massa baseadas em classes sociais e voltadas contra pessoas bem-
sucedidas vão desde os extermínios stalisnistas do kulaksna União Soviética até a limpeza
promovida por Pol Pot de pelo menos um terço da população do Camboja pelo crime de serem
pessoas cultas e de classe média, crime este que era evidenciado por sinais tão tênues quanto o
uso de óculos.

A perseguição liderada pelos intelectuais aos bem-sucedidos

Minorias que se sobressaíram e se tornaram mais bem-sucedidas do que a população geral são
aquelas cujo progresso provavelmente em nada está ligado ao fato de terem ou não discriminado
as maiorias politicamente dominantes. No entanto, foram exatamente estas minorias que atraíram
as mais violentas perseguições ao longo dos séculos e dos países ao redor do mundo.

Todos os negros que foram linchados durante toda a história dos EUA não chegam ao mesmo
número de homicídios cometidos em apenas um ano contra os judeus na Europa, contra
os armênios no Império Otomano ou contra os chineses no sudeste asiático.

Há algo inerente aos sucessos de determinados grupos que inflama as massas em épocas e lugares
tão distintos. O que seria? Esse fenômeno inflama não apenas as massas, como também leva a
genocídios cometidos por governos, como os da Alemanha nazista ou o regime de Pol Pot no
Camboja. Podemos apenas especular as razões, mas não há como fugir desta realidade.

Aqueles grupos que ficam para trás frequentemente culpam seu atraso nas malfeitorias cometidas
por aqueles grupos mais bem-sucedidos. Dado que a santidade não é comum a nenhum ramo da
raça humana, é óbvio que nunca haverá escassez de pecados a serem mencionados, inclusive a
arrogância e a insolência daqueles que calham de estar no topo em um determinado momento.
Mas a real pergunta a ser feita é se esses pecados — reais ou imaginários — são de fato o motivo
destes diferentes níveis de êxitos pessoais.

O problema é que os intelectuais — pessoas de quem normalmente esperaríamos análises


racionais que se contrapusessem à histeria das massas — frequentemente sempre estiveram
na vanguarda daqueles movimentos que promovem a inveja e o ressentimento contra os bem-
sucedidos. Tal comportamento é especialmente perceptível naquelas pessoas que possuem
diplomas mas que não possuem nenhuma habilidade economicamente significativa que lhes
permita obter aquele tipo de recompensa que elas esperavam ou julgavam ter o direito de auferir.

Tais pessoas sempre se destacaram como líderes e seguidoras de grupos que promoveram
políticas anti-semitas na Europa entre as duas guerras mundiais, o tribalismo na África, e as
mudanças sociais no Sri Lanka, um país que, outrora famoso por sua harmonia intergrupal, se
rebaixou, por influência de intelectuais, à violência étnica e depois se degenerou em uma guerra
civil que durou décadas e produziu indescritíveis atrocidades.

Intelectuais sempre estiveram por trás da inflamação de um grupo contra outros, promovendo a
discriminação e a violência física em países tão díspares quanto Índia, Hungria, Nigéria,
Tchecoslováquia e Canadá.

Tanto a teoria do determinismo genético como sendo a causa dos diferentes níveis de realizações
pessoais quanto a teoria da discriminação como o motivo destas diferenças — ambas
contraditórias e criadas por intelectuais — geraram apenas polarizações raciais e étnicas. O
mesmo pode ser dito da ideia de que uma dessas teorias tem de ser a verdadeira.

Essa falsa dicotomia de que uma delas tem de ser a verdadeira deixa aos grupos mais bem-
sucedidos duas opções: ou eles se assumem arrogantes ou se assumem culpados criminalmente.
Da mesma forma, deixa aos grupos menos exitosos a opção entre acreditar que sempre foram
inerentemente inferiores durante toda a história ou que são vítimas da inescrupulosa maldade de
terceiros.

Quando inumeráveis fatores fazem com que a igualdade de resultados seja virtualmente
impossível, reduzir estes fatores a uma questão de genes ou de maldade é a fórmula perfeita para
se gerar uma desnecessária e perigosa polarização, cujas consequências frequentemente são
escritas em sangue ao longo das páginas da história.

Multiculturalismo

Dentre as várias e ignaras ideias a respeito de grupos raciais e étnicos que polarizaram as
sociedades durante séculos e ao redor de todo o mundo, poucas foram mais irracionais e
contraproducentes do que os atuais dogmas do multiculturalismo.

Aqueles intelectuais que imaginam que, ao utilizar uma retórica multicultural que redefine e até
mesmo revoga o conceito de atraso, estarão ajudando grupos raciais e étnicos que ficaram para
trás estão, na realidade, levando estas pessoas para um beco sem saída.

O multiculturalismo é um tentador paliativo aplicado àqueles grupos que ficaram para trás
porque ele simplesmente afirma que todas as culturas são iguais, ou "igualmente válidas", em
algum sentido vago e sublime. De acordo com este dogma, as características culturais de todas
as etnias e raças seriam apenas diferentes — nem melhores nem piores.

No entanto, tomar emprestadas características particulares de outras culturas — como os


algarismos arábicos que substituíram os algarismos romanos, mesmo nas culturas ocidentais
oriundas de Roma — implica que algumas características não são simplesmente diferentes, mas
sim melhores, inclusive os números utilizados.

Algumas das mais avançadas culturas de toda a história pegaram emprestados comportamentos
e características de outras culturas; e isso pelo simples fato de que até hoje nenhuma coleção
única de seres humanos foi capaz de criar as melhores respostas para todas as questões da vida.

Todavia, dado que os multiculturalistas veem todas as culturas como sendo iguais ou "igualmente
válidas", eles não veem nenhuma justificativa para as escolas insistirem, por exemplo, que as
crianças negras aprendam seu idioma materno. Em vez disso, cada grupo é estimulado a se apegar
ferreamente à sua própria cultura e a se orgulhar de suas próprias glórias passadas, reais ou
imaginárias.

Em outras palavras, membros de grupos minoritários que são atrasados educacionalmente e


economicamente devem continuar se comportando no futuro como sempre se comportaram no
passado — e, se eles não conseguirem os mesmos resultados dos outros, então a culpa é da
sociedade. Essa é a mensagem principal do multiculturalismo.

George Orwell certa vez disse que algumas ideias são tão insensatas, que somente um intelectual
poderia acreditar nelas. O multiculturalismo é uma dessas ideias. Aintelligentsia sempre irrompe
em indignação e ultrajes a qualquer "diferença" ou "disparidade" de resultados educacionais,
econômicos ou outros — e denuncia qualquer explicação cultural para esta diferença de
resultados como sendo uma odiosa tentativa de "culpar a vítima".

Não há dúvidas de que algumas raças ou até mesmo nações inteiras foram vitimadas por
terceiros, assim como não há dúvida de que câncer pode causar morte. Porém, isso é muito
diferente de dizer que as mortes podem automaticamente ser imputadas ao câncer. Você pode
pensar que intelectuais seriam capazes de fazer essa distinção. Mas muitos não são.

Ainda assim, intelectuais se veem a si próprios como amigos, aliados e defensores das minorias
raciais, ao mesmo tempo em que empurram as minorias para a estagnação cultural. Isso permite
à intelligentsia se congratular e se lisonjear de que estão ao lado dos anjos contra as forças do
mal que estão conspirando para manter as minorias oprimidas.

Por que pessoas com altos níveis de capacidade mental e de talentos retóricos se entregam a este
tipo de raciocínio deturpado é um mistério. Talvez seja porque elas não conseguem abrir mão de
uma visão social que é extremamente lisonjeira para eles próprios, não obstante quão deletéria
tal visão possa ser para as pessoas a quem elas alegam estar ajudando.

O multiculturalismo, assim como o sistema de castas, encurrala e amarra as pessoas naquele


mesmo segmento cultural e social no qual elas nasceram. A diferença é que o sistema de castas
ao menos não alega beneficiar aqueles que estão na extremidade inferior.
O multiculturalismo não serve apenas aos interesses ególatras dos intelectuais; ele serve também
aos interesses de políticos que têm todos os incentivos para promover uma sensação de
vitimização — e até mesmo de paranóia — entre grupos de cujos votos eles precisam em troca
de apoio material e psicológico.

A visão multicultural do mundo também serve aos interesses daqueles que estão na mídia e que
prosperam ao explorar os melodramas morais. O mesmo pode ser dito de todos os departamentos
universitários voltados para estudos étnicos e sociais, bem como de toda a indústria de assistentes
sociais, de especialistas em "diversidades" e da ampla gama de oportunistas que prosperam ao
fazer proselitismo racial.

Os maiores perdedores de toda essa história são aqueles membros das minorias raciais que se
permitem ser conduzidos para esse beco sem saída do ressentimento e da raiva, mesmo quando
há várias outras avenidas de oportunidades disponíveis. E todos nós perdemos quando a
sociedade fica polarizada.

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autor

Thomas Sowell
, um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de
Stanford. Seu website: www.tsowell.com

A ideia politicamente correta mais ignara de


todas
economia

Thomas Sowell

segunda-feira, 18 jul 2016

Se houvesse uma disputa para ver qual é a ideia mais ignara da política atual, minha escolha seria
aquela que afirma que, se não fosse o preconceito e a discriminação, todas as pessoas (homens e
mulheres, negros e brancos, gays e heterossexuais, cristãos, judeus, muçulmanos, ateus, budistas
etc.) seriam igualmente distribuídas em termos de renda, ocupação, posição em empresas e
premiações recebidas.

Cruzadas políticas, impérios burocráticos, e lucrativas carreiras pessoais voltadas para a


reclamação e exigência de mais "direitos" já foram erguidos tendo exclusivamente por base essa
suposição, a qual praticamente nunca foi testada contra quaisquer fatos.

Peguemos o mais recente exemplo dessa obtusidade. Um artigo do The New York Times viu
como um problema o fato de que mulheres estão extremamente sub-representadas no ranking
mundial dos melhores jogadores de xadrez. Igualmente, vários artigos, reportagens de TV e
lamúrias políticas já foram produzidos tendo por base uma suposta "sub-representação" de
mulheres no Vale do Silício, algo visto como um grave problema que tem de ser urgentemente
resolvido.
Por acaso há um exército de meninas que estão ávidas para jogar xadrez, mas que estão sendo
negadas a esta oportunidade? Por acaso há um exército de mulheres com um Ph.D. em ciências
computacionais pelo Massachusetts Institute of Technology e pelo Instituto de Tecnologia da
Califórnia sendo friamente rejeitadas quando vão ao Vale do Silício se candidatar a um emprego?

Será que meninos e meninas não podem ter interesses distintos? Se as meninas tivessem o
mesmo interesse em xadrez que os meninos, mas fossem banidas dos clubes de xadrez, aí sim
haveria um argumento. Mas isso seria algo muito diferente do fato de que elas simplesmente não
têm o mesmo interesse por xadrez que os meninos. Quanto aos rankings de xadrez, não se trata
de algo subjetivo: eles se baseiam em quais jogadores (e suas respectivas pontuações) você já
venceu e perdeu para.

Por acaso não se deve permitir que mulheres e homens tomem decisões diferentes em relação a
como irão gastar seu tempo e viver suas vidas?

Jogar xadrez não é o único empreendimento que pode exigir uma grande parcela de tempo em
sua vida, bem como um perseverante esforço, para se chegar ao topo. Se você quer se tornar um
grande cientista, um sócio em uma grande firma de advocacia, ou o executivo-chefe de uma
grande corporação, você muito dificilmente conseguirá tal façanha apenas trabalhando de 9 às
17h, tirando várias licenças para ter filhos e criá-los.

Mas tudo pode piorar.

Aplicar essa mesma e infundada suposição sobre "diferenças de representatividade" para


diferentes grupos raciais e étnicos tornou-se hoje uma política lucrativa: ela gera várias e ruidosas
reclamações e cruzadas políticas, além de milhões de dólares em processos judiciais acusando
"discriminação" — tudo sem uma única evidência senão números que não se encaixam nas
pressuposições dominantes.

E o fato é que você pode estudar inúmeros grupos, em vários países ao redor do mundo, hoje ou
mesmo ao logo dos séculos da história, e não encontrará um único exemplo desses "resultados
iguais" que possam ser utilizados como referência para estipular que "está havendo
discriminação".

Eis aí um fenômeno que não possui confirmação histórica, um fenômeno que, não obstante uma
ausência de qualquer exemplo prático, é hoje presumido como sendo a norma: igualdade de
realizações, de diferentes grupos (de cor, etnia e gênero), em um dado período do tempo.

No entanto, o que mais temos hoje são grupos de interesse e movimentos sociais apresentando
estatísticas — que são solenemente repercutidas pela mídia — alegando que, dado que os
números de realização, premiação e representação ocupacional não são aproximadamente iguais
para todos, isso seria uma prova de que alguém foi discriminatório com outro alguém.

E isso, segundo o salto lógico realizado por esses ideólogos, seria uma comprovação de que os
resultados seriam iguais para todos caso alguém não tratasse mal outra pessoa.

O problema, só para começar, é que mesmo algo tão simples e básico quanto diferenças de idade
entre grupos pode arruinar qualquer pressuposição de resultados iguais.
Se cada porto-riquense que vive nos EUA tivesse uma renda idêntica à renda de cada nipo-
americano de 20 anos de idade — e rendas idênticas também para todas as outras idades —, o
nipo-americanos ainda assim teriam, em sua totalidade, uma renda média superior à dos porto-
riquenses nos EUA. E seria assim porque a idade média dos nipo-americanos é muito maior que
20 anos de idade. Há muito mais nipo-americanos com mais de 20 anos de idade do que porto-
riquenses. Se um grupo é formado por pessoas com mais anos de experiência de trabalho, então
esse grupo normalmente ganha maiores salários.

A média de idade na Alemanha e no Japão é de mais de 40 anos, ao passo que a média de idade
no Afeganistão e no Iêmen é de menos de 20 anos. Mesmo que as pessoas destes quatro países
tivessem absolutamente o mesmo potencial intelectual, o mesmo histórico, a mesma cultura — e
os países apresentassem rigorosamente as mesmas características geográficas —, o fato de que
as pessoas de determinados países possuem 20 anos a mais de experiência do que as pessoas de
outros países ainda seria o suficiente para fazer com que resultados econômicos e pessoais
idênticos sejam virtualmente impossíveis.

Pessoas com 20 anos a mais de experiência de trabalho normalmente ganham maiores salários. E
diferenças etárias são apenas uma das várias diferenças entre os grupos.

Mais ainda: uma igualdade geral de resultados jamais foi testemunhada, em qualquer período da
história, até mesmo entre aqueles vários grupos que hoje são ajuntados e classificados como
"brancos". Sendo assim, por que então as diferenças estatísticas entre negros e brancos, ou entre
homens e mulheres, produzem afirmações tão dogmáticas — e geram tantas ações judiciais e
trabalhistas por discriminação — sendo que a própria história mostra que sempre foi comum que
diferentes grupos seguissem diferenciados padrões ocupacionais ou de comportamento?

Um dos motivos é que ações judiciais não necessitam de nada mais do que diferenças estatísticas
para produzir vereditos, ou acordos fora de tribunais, no valor de vultosas somas monetárias. E
o motivo de isso ocorrer é porque várias pessoas aceitam a infundada presunção de que há algo
de estranho e sinistro quando diferentes pessoas, de diferentes cores, gêneros e opções sexuais,
apresentam diferentes graus de êxito pessoal.

O desejo de intelectuais de criar alguma grande teoria que seja capaz de explicar padrões
complexos por meio de algum simples e solitário fator produziu várias ideias que não resistem a
nenhum escrutínio, mas que não obstante têm aceitação generalizada — e, algumas vezes,
consequências catastróficas — em vários países ao redor do mundo.

A vida é, sem dúvida nenhuma, injusta. Mas isso não é o mesmo que dizer que as injustiças
ocorreram exatamente em todos os lugares em que as estatísticas foram coletadas. As origens
das desigualdades de resultados frequentemente remetem a diferentes ambientes familiares
vividos na infância ou a diferentes arranjos geográficos e culturais para grupos e nações.

Essas diferenças entre nações, bem como as diferenças entre indivíduos e grupos, refletem o fato
de que o mundo jamais apresentou condições equitativas para todas as pessoas em todos os
lugares do mundo. O renomado historiador Fernand Braudel disse que "Em nenhuma sociedade,
todas as regiões e todas as partes da população se desenvolveram de maneira uniforme e
homogênea".
Por mais quanto tempo vamos continuar tratando como se fosse uma regra algo que não apenas
nunca ocorreu na história do mundo, como também dificilmente virá a ocorrer?

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autor

Thomas Sowell
, um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de
Stanford. Seu website: www.tsowell.com.

Isolamento, cultura, geografia e até mesmo


geologia - e sua relação com a desigualdade

economia

Thomas Sowell

sexta-feira, 29 jan 2016


No século XX, dentre todas as explicações inventadas pelos intelectuais ocidentais
para explicar as disparidades econômicas, educacionais e empreendedoriais dos
indivíduos, duas se sobressaíram: nas primeiras décadas do século, dizia-se que a
explicação estava no fato de haver diferenças raciais e inatas de destreza, talento e
aptidão; já nas últimas décadas, dizia-se que a explicação estava na discriminação
racial.

A maioria de nós consideraria ambas estas duas explicações ridículas. No entanto,


genes e discriminação eram as explicações predominantes para as diferenças entre
brancos e negros oferecidas pelos intelectuais no século XX.

Em nenhuma dessas duas épocas a intelligentsia aceitava qualquer outra


explicação. Tais explicações não foram oferecidas como sendo apenas uma
possibilidade dentre várias outras. Não. Elas foram fornecidas como sendo a
verdade predominante, quando não exclusiva. Em cada uma dessas épocas, os
intelectuais estavam plenamente convencidos de que tinham a resposta correta, e
rejeitavam e menosprezavam qualquer um que tentasse oferecer outras
respostas. Qualquer indivíduo que dissesse algo em contrário se arriscava a ser visto
como um "sentimentalista", no início do século, ou como um "racista", no final do
século.

Desta dogmática insistência em uma teoria generalista surgiram aberrações como as


quotas raciais e toda essa infinidade de processos judiciais por racismo que superlotam
os tribunais atualmente. Tudo se baseia na presunção de que diferenças nos êxitos
pessoais entre pessoas de cores distintas é uma prova de que alguém prejudicou outra
pessoa.

No início do século, a teoria de que o determinismo genético explicaria as diferenças


nos êxitos pessoais e seria uma prova de que algumas raças são inferiores às outras
levou à defesa de coisas como a segregação racial, a eugenia e, mais tarde, culminaria
no Holocausto. A teoria atualmente predominante — a de que algum tipo de maldade
explica as diferenças nos níveis de realizações entre os vários grupos étnicos e raciais
— nos trouxe a era dos privilégios e do vitimismo.

Em ambas as eras, as teorias predominantes amaciaram e lisonjearam os egos dos


intelectuais — no primeiro caso, eles foram vistos como salvadores da raça humana;
no segundo caso, como libertadores das vítimas do racismo.

Dentre as ignoradas explicações alternativas para os diferentes níveis de êxito pessoal


e grupal estavam a geografia, a demografia e a cultura.
Por exemplo, pessoas com a desvantagem geográfica de viverem isoladas em vales
montanhosos raramente — para não dizer nunca — produziram façanhas de nível
internacional. Elas raramente geraram algum avanço para a ciência, para a tecnologia
ou até mesmo para a filosofia. Muito pelo contrário: as pessoas de tais localidades
invariavelmente ficaram para trás em termos de progresso em relação ao resto mundo
— inclusive em relação às pessoas da mesma raça que viviam nas planícies logo
abaixo. Montanheses sempre foram conhecidos por sua pobreza e atraso em todos os
países ao redor do mundo, especialmente no milênio anterior à criação dos modernos
meios de transporte e de comunicação, os quais aliviaram seu isolamento.

Essas comunidades montanhesas não apenas eram isoladas do resto do mundo, como
também eram isoladas umas das outras. Mesmo quando, em uma linha reta, a
distância entre elas não era significativa, elas eram separadas por terrenos
extremamente acidentados e escarpados.

Como bem observou o ilustre historiador francês Fernand Braudel, "a vida na
montanha era persistentemente mais atrasada em relação à vida da planície". Um
padrão de pobreza e atraso podia ser percebido das Montanhas Apalaches nos EUA
às Montanhas Rife no Marrocos; dos Montes Pindo na Grécia às montanhas e
planaltos do Sri-Lanka, de Taiwan, da Albânia e da Escócia.

Da mesma maneira, pessoas geograficamente isoladas em ilhas distantes ou pessoas


isoladas por desertos ou por outras características geográficas raramente apresentaram
— ou ao menos conseguiram imitar — os progressos da população
continental. Novamente, isso era especialmente notável antes de os modernos
sistemas de transporte e comunicação terem-nas colocado em contato com o resto do
mundo.

O atraso em relação às pessoas com um universo cultural mais amplo ocorria


independentemente da raça das pessoas que viviam em localidades isoladas. Por
exemplo, quando os espanhóis descobriram as Ilhas Canárias no século XV,
encontraram pessoas de raça caucasiana vivendo um nível de vida da idade da pedra.

Inversamente, pessoas urbanizadas quase sempre se mostraram na vanguarda do


progresso, contribuindo muito mais para os avanços históricos da raça humana do que
um número similar de pessoas dispersas pelas terras do interior — mesmo quando
ambos os grupos eram da mesma raça.

Tão importante quanto o isolamento cultural, especificidades geográficas e


geológicas são um fator igualmente importante, uma vez que nem todas as áreas
geográficas são igualmente aptas à construção de grandes cidades. Por exemplo, a
esmagadora maioria das cidades foi construída sobre cursos d'água navegáveis — e
não são todas as regiões do globo que possuem cursos d'água navegáveis. Até mesmo
a ausência de transporte animal fazia diferença. Esta era a situação do hemisfério
ocidental quando os europeus chegaram e trouxeram cavalos, animais desconhecidos
pelos nativos da região.

Assim como é criado pela natureza, o isolamento também pode ser criado
artificialmente pelo homem. No século XV, quando a China era a nação mais
avançada do mundo, seus líderes decidiram isolar o país em relação aos outros povos,
todos eles considerados meros bárbaros. Após alguns séculos de isolamento, a China
se surpreendeu negativamente ao ver sua liderança ser sobrepujada por outros povos,
chegando em alguns casos a ficar à mercê deles. O Japão cometeu o mesmo erro no
século XVII.

Em alguns casos, o isolamento se deve a uma cultura que resiste obstinadamente a


absorver traços de outras culturas. O Oriente Médio, por exemplo, já foi mais
avançado que a Europa. Porém, ao passo que os europeus aprenderam bastante com
o Oriente Médio, os árabes não tiveram o mesmo interesse em aprender com os
europeus. A quantidade de livros que a Espanha traduzia do arábico em apenas um
ano era maior do que a quantidade de livros que os árabes verteram para o arábico em
mil anos.

A demografia também é outra característica crucial. Dentre os vários motivos para


os diferentes níveis de avanços e conquistas está algo tão simples quanto a idade. A
média de idade na Alemanha e no Japão é de mais de 40 anos, ao passo que a média
de idade no Afeganistão e no Iêmen é de menos de 20 anos. Mesmo que as pessoas
destes quatro países tivessem absolutamente o mesmo potencial intelectual, o mesmo
histórico, a mesma cultura — e os países apresentassem rigorosamente as mesmas
características geográficas —, o fato de que as pessoas de determinados países
possuem 20 anos a mais de experiência do que as pessoas de outros países ainda seria
o suficiente para fazer com que resultados econômicos e pessoais idênticos sejam
virtualmente impossíveis.

Ao se analisar os êxitos econômicos dos diferentes povos e das diferentes raças, é


possível constatar várias diferenças que não têm nada a ver com genes ou com
discriminação, mas sim com questões culturais, geográficas e demográficas. No
entanto, é muito mais trabalhoso examinar estes fatores e suas complexas interações
do que simplesmente ser um oportunista e se agarrar à teoria predominante da época,
e então se auto-congratular por ser um protetor dos oprimidos.

Afinal, quem são os racistas?


política

Thomas Sowell

sexta-feira, 20 nov 2015

Alguns anos atrás, uma pessoa disse que, de acordo com as leis da aerodinâmica, um abelhão
não pode voar. Mas os abelhões, alheios às leis da aerodinâmica, vão em frente, contrariam os
dizeres dos especialistas, e voam assim mesmo.
Algo semelhante ocorre entre as pessoas. Enormes e tediosos estudos acadêmicos, bem como
melancólicos e sombrios editoriais de determinados jornais, são produzidos às pencas
lamentando o fato de que a maioria das pessoas pobres e negras não consegue ascender
socialmente, e que isso seria uma fragorosa demonstração de discriminação.

O curioso é que, em vários países ao redor do mundo, inclusive naqueles países chamados de
terceiro mundo, vários imigrantes extremamente pobres, principalmente oriundos da Ásia, não
apenas conseguem prosperar mesmo sendo de uma cultura totalmente distinta, como também
conseguem enriquecer sem jamais recorrer a favores especiais e a políticas de ação afirmativa.

Normalmente, estes imigrantes asiáticos chegam a um novo país praticamente sem nenhum
dinheiro, sem nenhum conhecimento do novo idioma e sem nenhuma afinidade cultural. Eles
frequentemente começam trabalhando em empregos de baixa remuneração. Mas trabalham
muito. A norma é trabalharem em mais de um emprego. Trabalham tanto que conseguem poupar
e, após alguns anos, utilizam esta poupança para empreender.

Muitos abrem um pequeno comércio, no qual continuam trabalhando longas horas e ainda
continuam poupando, de modo que se tornam capazes de mandar seus filhos para a escola e para
a faculdade. Seus filhos, por sua vez, sabem que seus pais não apenas esperam, como também
exigem, que eles sejam igualmente disciplinados, bons alunos e trabalhadores.

Vários intelectuais já tentaram explicar por que os imigrantes asiáticos são tão bem-sucedidos
tanto em termos educacionais quanto em termos econômicos. Frequentemente chega-se à
conclusão de que eles possuem algumas características especiais.

Isso pode ser verdade, mas seu sucesso também pode ser atribuído a algo que eles não têm:
"líderes" e autoproclamados porta-vozes lhes dizendo diariamente que são incapazes de prosperar
por conta própria, que o sistema está contra eles, que eles não têm chance de ascender
socialmente caso não sigam os slogans repetidos mecanicamente por estes líderes e sociólogos,
e que por isso devem se juntar sob o rótulo de "vítimas do sistema" e exigir políticas especiais e
tratamento diferenciado.

Vá a qualquer país, seja ele rico ou em desenvolvimento, e pesquise sobre a existência de


"líderes" e de grupos de interesse voltados para a promoção de políticas de ação afirmativa para
os asiáticos. Você não encontrará. Você não encontrará sociólogos dizendo que os imigrantes
asiáticos, por serem minoria e por estarem culturalmente deslocados, estão em desvantagem e
que por isso o governo deve criar leis de cotas para ajudá-los a ascender socialmente.

Infelizmente, é exatamente esta linha de raciocínio, só que em relação aos negros, que vem sendo
diariamente propagada por acadêmicos e sociólogos irresponsáveis. Eles são a versão humana
das leis da aerodinâmica, que dizem precipitadamente que determinadas pessoas não podem
ascender e prosperar a menos que haja um empurrão do governo.

Aquelas alegações morais que foram feitas no passado por gerações de genuínos líderes negros
— alegações que acabaram por tocar a consciência de várias nações e que viraram a maré em
prol dos direitos civis para todos — hoje foram desvalorizadas e apequenadas por uma geração
de intelectuais, sociólogos e autoproclamados "líderes" de movimentos raciais que tratam os
negros como seres abertamente incapazes de prosperar sem a ajuda destes pretensos humanistas,
os quais agem abertamente de acordo com uma agenda política de escusos interesses próprios.

O que é perfeitamente perceptível é que, ao longo das gerações, as pessoas que dizem falar em
prol do "movimento negro" sofreram uma mutação de caráter: se antes possuíam uma alma nobre,
hoje não passam de charlatães descarados. Após a implantação definitiva de políticas de ação
afirmativa nos EUA, esses charlatães perceberam que era muito fácil ganhar dinheiro, poder e
fama ao redor do mundo ao simplesmente se dedicarem à promoção de ações e políticas raciais
que são totalmente contraproducentes aos interesses das pessoas que eles próprios dizem liderar
e defender.

No passado, vários outros grupos de imigrantes também representavam minorias que tinham tudo
para ser consideradas oprimidas e discriminadas, pois chegavam a outros países quase sem
nenhum dinheiro, com pouquíssima educação e com total desconhecimento da cultura local, mas
que não obstante ascenderam por conta própria, muito provavelmente porque não foram
"privatizadas" por líderes raciais. Imigrantes e outras minorias que nunca tiveram "porta-vozes"
e "líderes" raramente dependeram de subsídios do governo e quase sempre apresentaram altos
níveis educacionais obtidos com o esforço próprio.

Grupos que ascenderam da pobreza à prosperidade raramente o fizeram por meio de líderes
étnicos ou raciais. Ao passo que é fácil citar os nomes de vários líderes do "movimento negro"
ao redor do mundo, tanto atuais quanto os do passado, quantos são os lideres étnicos que
defendem os interesses dos asiáticos ou dos judeus em países em que eles são a minoria?

Ninguém pode negar que há anti-semitismo e que já houve discriminação aos asiáticos. Sempre
houve. Mas eles nunca seguiram "líderes" cujas mensagens e atitudes serviram apenas para
mantê-los presos à condição de bovinos.

Essa postura de dizer aos seus "seguidores" que eles são mais atrasados, tanto econômica quanto
educacionalmente, por causa de outros grupos "opressores" — e que, portanto, eles devem odiar
estas outras pessoas — tem paralelos na história recente. Essa foi a mesma motivação utilizada
pelos movimentos anti-semita no Leste Europeu no período entre-guerras, pelos movimentos
anti-Ibo na Nigéria na década de 1960, e pelos movimentos anti-Tamil, que fizeram com que o
Sri Lanka, outrora uma nação pacífica e famosa por sua harmonia intergrupal, se rebaixasse, por
influência de intelectuais, à violência étnica e depois se degenerasse em uma guerra civil que
durou décadas e produziu indescritíveis atrocidades.

Será tão difícil entender, mesmo com todos os exemplos históricos, que o progresso não pode
ser alcançado por meio de líderes raciais ou étnicos? Tais líderes possuem incentivos em demasia
para promover atitudes e políticas polarizadoras que são contraproducentes para as minorias que
eles juram defender e desastrosas para o país. Eles se utilizam das minorias para proveito próprio,
atribuindo a elas incapacidades crônicas que supostamente só podem ser resolvidas por políticas
que eles irão criar. Eles são os verdadeiros racistas.

Lugares comuns que substituem o


raciocínio crítico
economia

Thomas Sowell

domingo, 27 set 2015

Se algum dia criarem um concurso para aquelas palavras que se passam por pensamento profundo
e crítico, "diversidade" e "pluralidade" facilmente iriam para a final e teriam um embate
duríssimo.

A beleza destas duas palavras mágicas e encantadoras é que você não necessita de nenhuma
nódoa de evidência empírica e nem de nenhum processo de encadeamento lógico para recitar
rapsódias sobre os supostos benefícios da diversidade e do pluralismo. A própria ideia de querer
testar estes belos termos em relação a algo tão feio quanto a realidade é em si vista como um ato
sórdido.

Diversidade e pluralidade são termos que, justamente por englobarem de tudo, dispensam seus
promovedores de explicar especificamente o que defendem. Há diversidade e pluralidade de
gênero, de cor, de preferências sexuais, de renda, de inteligência, de etnia etc. Sendo assim,
perguntar se aquelas instituições que promovem a diversidade 24 horas por dia e sete dias por
semanas apresentam melhores resultados do que as instituições que não dão a mínima para estes
"pré-requisitos" fará apenas com que você seja visto como um reacionário insensível, malicioso,
racista, misógino e homofóbico.
Citar evidências empíricas que mostram que aquelas localidades obcecadas com pluralidade e
diversidade geram relações ruins entre as pessoas forçadas a conviver sob o mesmo ambiente é
se arriscar a ser rotulado e marginalizado. O livre pensamento e a liberdade de expressão não
são livres.

A moda agora ao redor do mundo é afirmar que os governos devem promover a diversidade e a
pluralidade — o que na prática significa que alguns grupos organizados têm mais direitos do que
outros, o que por sua vez significa a abolição da ideia de "igualdade perante a lei".

Neste cenário, algumas perguntas se fazem necessárias. Como é possível que um país
racialmente homogêneo como o Japão consiga apresentar uma educação de alta qualidade sem
ter de recorrer ao essencial ingrediente da diversidade e do pluralismo, uma necessidade
"premente" segundo os sociólogos da atualidade?

Inversamente, por que a Índia, uma das mais plurais e diversas nações da terra, apresenta um
histórico de intolerância e de violência letal entre seus diversos grupos de pessoas pior do que
aquele observado no sul dos EUA durante a vigência da segregação racial?

O simples ato de fazer tais perguntas já é garantia de ser acusado de recorrer a táticas desonestas
e de possuir motivações torpes demais para serem dignificadas com uma resposta. Não que os
genuínos defensores da pluralidade tenham alguma resposta, é claro.

Dentre os candidatos que disputam a segunda colocação no torneio dos lugares comuns que
tornam o pensamento algo obsoleto está o termo "socialmente excluído" e todas as suas variáveis.

Pessoas que não se encaixam nos pré-requisitos básicos exigidos por determinados objetivos e
funções, desde admissão em uma universidade a um empréstimo bancário, passando por
empregos em cargos que exigem diversas habilidades, são tidas como pessoas socialmente
excluídas cuja ascensão social lhes foi "negada pela sociedade". Donde surgem as desculpas de
que tais pessoas estão moralmente eximidas de seguirem uma vida pautada pelas mesmas regras
aplicáveis ao restante da população — como, por exemplo, não recorrerem à criminalidade.

Tanto o 'pluralismo' quanto a 'exclusão social' devem ser corrigidos por políticas públicas, como
por exemplo as cotas. Segundo os teóricos, tais políticas equalizariam as "oportunidades de
acesso". O problema é que os defensores dessa tese sempre refugam quando instados a explicar
por que uma igual oportunidade de acesso seria sinônimo de igual probabilidade de sucesso.

Há um exemplo interessante disso na própria política. Peguemos um estado americano


conhecido mundialmente: a Califórnia. Trata-se de um estado majoritariamente
progressista. Neste estado, eleitores conservadores e eleitores progressistas têm exatamente a
mesma oportunidade de votar. No entanto, as chances de um candidato conservador ser eleito
na Califórnia são muito menores do que as chances de um candidato progressista. Será que os
progressistas defenderiam cotas e uma lei de "igual oportunidade de acesso" para políticos
conservadores na Califórnia?

Similarmente, todas as pessoas podem tentar adentrar uma universidade, pedir um empréstimo
bancário ou disputar um determinado emprego. Se todas essas solicitações forem julgadas pelos
mesmos critérios, então todos tiveram uma igual oportunidade de acesso. Se aquele sujeito com
pouquíssimas qualificações intelectuais não conseguiu o emprego na multinacional ou o ingresso
em uma universidade, ou se um sujeito de histórico creditício duvidoso não conseguiu o
empréstimo bancário, isso não significa que lhe foi negada a mesma oportunidade de
acesso. Simplesmente nunca houve uma igual probabilidade de sucesso.

A 'diversidade' e a 'exclusão social' geram um terceiro lugar comum: 'redistribuição de renda' —


ou, sua variável próxima, 'justiça social'.

Aparentemente, todas as pessoas têm direito a receber uma "fatia justa" da prosperidade da
sociedade, não importa se elas trabalharam 16 horas por dia para ajudar a criar essa prosperidade
ou se não fizeram nada mais do que viver na mendicância ou recorrer ao crime. No final, tudo
indica que devemos alguma coisa a estas pessoas pelo simples fato de elas nos agraciarem com
sua existência. Tudo indica que elas "têm o direito" de viver à custa dos pagadores de impostos,
mesmo que sintamos que poderíamos viver muito bem sem elas.

No outro extremo da escala da renda, os ricos supostamente devem pagar sua "fatia justa" em
altos impostos. Mas para nenhum dos dois extremos da escala da renda há uma definição
concreta do que é uma "fatia justa". Há um determinado número ou uma proporção
exata? Nunca se soube. 'Justiça social' e 'redistribuição de renda' são apenas sinônimos políticos
para "mais poder arbitrário para o governo", cuidadosamente adornado por uma retórica
sonoramente moralista.

A intelligentsia vem há décadas promovendo a ideia de que não deve haver nenhum estigma em
se aceitar auxílios do governo. Viver à custa dos pagadores de impostos é retratado como um
"direito", ou, mais ponderadamente, como parte de um "contrato social".

É claro que você não se lembra de ter assinado qualquer contrato desse tipo, mas tal lugar comum
soa poético e pomposo. Ademais, e isso é o que interessa, ele rende muitos votos entre os
ingênuos, e este é exatamente o objetivo de políticos que defendem assistencialismo.

Por fim, "acessível" é outro termo popular que substitui toda e qualquer necessidade de
pensamento crítico. Dizer que todo mundo tem direito a "moradia acessível" é bem diferente de
dizer que todo e qualquer indivíduo deve poder decidir qual tipo de casa quer ter.

Programas governamentais que distribuem "moradias a preços acessíveis" nada mais são do que
programas que dão a algumas pessoas o poder de não apenas decidir qual imóvel elas querem ter
como também o de obrigar outras pessoas — os pagadores de impostos, os donos dos imóveis
etc. — a absorver uma fatia do custo desta decisão, uma decisão da qual elas nunca foram
convidadas a participar.

E, ainda assim, a crença de que pessoas que preferem que as decisões econômicas sejam feitas
voluntariamente por indivíduos no mercado não são tão compassivas quanto aquelas pessoas que
preferem que tais decisões sejam tomadas coletivamente por políticos nunca é vista como uma
crença que deveria ser comprovada por fatos.

Mas, por outro lado, isso não é algo recente. A crença na compaixão superior dos políticos é um
fenômeno mundial que data ainda do século XVIII. E, em todas as épocas e em todos os locais,
nunca houve nenhum esforço genuíno dos progressistas para verificarem se esta pressuposição
crucial é sustentada por fatos.

A realidade econômica, no entanto, é que o governo fazer, por meio de decretos, com que várias
coisas sejam mais "acessíveis" de modo algum aumenta a quantidade de riqueza na
sociedade. Colocar o governo para redistribuir propriedade e determinar seu "valor justo" não
faz com que a sociedade seja mais rica do que seria caso os preços dos imóveis fossem
"proibitivos". Ao contrário: tais políticas, que nada mais são do que controles de preços e
redistribuição de propriedade, reduzem os incentivos para se produzir.

Nada do que aqui foi dito é uma ciência obscura e inacessível. Porém, se você é do tipo que
jamais se põe a pensar criticamente e se contenta com a mera repetição de lugares comuns, então
não importa se você é um gênio ou um deficiente mental. Palavras fáceis que impedem as
pessoas de pensar criticamente reduzem até mesmo o mais reconhecido gênio ao nível de um
completo idiota.

A redistribuição é uma ideia economicamente


insensata

política

Thomas Sowell

sexta-feira, 22 0aio 2015


Todas aquelas pessoas que falam com
assombrosa desenvoltura sobre Redistribuição de renda
redistribuição de renda normalmente
agem como se os indivíduos de uma sociedade fossem meros objetos inertes, os quais
podem ser comandados e controlados como peças em um tabuleiro de xadrez, com o
objetivo de servirem de peões para a realização de algum projeto grandioso.
Porém, se considerarmos que os seres humanos são dotados de livre-arbítrio e têm
respostas instintivas e particulares a toda e qualquer política adotada pelo governo,
então simplesmente não faz sentido pressupor que as políticas do governo terão o
efeito pretendido.

A história do século XX está repleta de exemplos de países que se propuseram a


redistribuir riqueza e acabaram redistribuindo pobreza. Os países comunistas foram
um exemplo clássico, mas não são de modo algum o único exemplo.

De acordo com a teoria defendida pelos adeptos da redistribuição de renda, confiscar


a riqueza das pessoas mais bem-sucedidas e redistribuí-la para os mais pobres fará
com que toda a sociedade se torne mais próspera. Entretanto, quando a União
Soviética confiscou a riqueza de fazendeiros bem-sucedidos, os alimentos se
tornaram escassos e o resultado foi a inanição. Sob o regime de Stalin, durante a
década de 1930, o número de mortos de fome foi praticamente igual ao número de
mortos no Holocausto de Hitler na década de 1940.

Por que isso acontece? Realmente, não é nada complicado. No mundo real, só é
possível confiscar a riqueza que já existe em um dado momento. Não é possível
confiscar a riqueza futura; e é menos provável que essa riqueza futura seja produzida
quando as pessoas se derem conta de que ela também será confiscada.

Os agricultores da União Soviética, tão logo perceberam que o governo iria confiscar
uma grande parte da colheita futura, simplesmente reduziram a quantidade de tempo
e esforço investidos no cultivo de suas plantações. Eles passaram a abater e a comer
animais ainda jovens, os quais, em circunstâncias normais, seriam mantidos e
alimentados até se tornarem prontos para a venda.

Na indústria, no comércio e nos serviços, as pessoas também não são objetos inertes.
Os industriais, por exemplo, e ao contrário dos agricultores, não estão amarrados ao
solo de nenhum país. O russo Igor Sikorsky, pioneiro da aviação de seu país, pôde
levar a sua experiência para os EUA e, com isso, produzir seus aviões e helicópteros
a milhares de quilômetros de distância de sua terra natal. Os financistas são ainda
menos amarrados à sua terra, especialmente hoje, quando vastas somas de dinheiro
podem ser enviadas eletronicamente, a um simples toque no computador, a qualquer
parte do mundo.

No que mais, se as políticas confiscatórias podem produzir repercussões


contraproducentes em uma ditadura, elas são ainda mais difíceis de lograr algum êxito
em uma democracia.
Uma ditadura pode repentinamente se apossar do que quiser. Já uma democracia —
pelo menos nas mais avançadas, nas quais as instituições são fortes — exige que
primeiro haja discussões e debates públicos. Aqueles que sabem que serão o alvo
preferencial dos futuros confiscos podem imaginar o que está por vir e,
consequentemente, agir de acordo — normalmente, enviando seu dinheiro para o
exterior ou simplesmente saindo do país.

Entre os ativos mais valiosos de qualquer país estão o conhecimento, as habilidades


práticas e a experiência produtiva — aquilo que os economistas chamam de "capital
humano". Quando pessoas bem-sucedidas e com um grande capital humano deixam
o país — seja voluntariamente, seja por causa de governos hostis ou por causa de
multidões bárbaras que foram intelectualmente excitadas por demagogos que
exploram a inveja —, haverá um estrago duradouro na economia desse país.

As políticas confiscatórias de Fidel Castro fizeram com que vários cubanos bem-
sucedidos fugissem para a Flórida, vários deles deixando grande parte da sua riqueza
física para trás. Mesmo refugiados e completamente destituídos, eles cresceram e
voltaram a prosperar na Flórida, tornando-se uma das comunidades mais ricas daquele
estado. Já a riqueza que eles deixaram para trás em Cuba não impediu que as pessoas
de lá se tornassem indigentes no governo de Fidel. A riqueza duradoura que
os refugiados levaram consigo era o seu capital humano. A riqueza material que
ficou para trás foi consumida e não foi replicada.

Todos nós já ouvimos o velho ditado que diz que dar a um homem um peixe irá
alimentá-lo por apenas um dia, ao passo que ensiná-lo a pescar irá alimentá-lo por
toda a vida. Os partidários da redistribuição querem dar a cada indivíduo um peixe
para assim deixá-lo dependente do governo, sempre à espera de mais peixes no futuro.

Se esses "redistribucionistas" realmente fossem sérios, o que eles iriam querer


distribuir seria a capacidade de pescar, ou a capacidade de ser produtivo de outras
maneiras. O conhecimento é uma das poucas coisas que podem ser distribuídas para
todas as pessoas sem que isso reduza o montante detido por algumas.
Isso serviria perfeitamente aos interesses dos pobres. Mas não serviria aos interesses
de políticos que querem exercer o poder, e que recorrem à redistribuição para obter
os votos de pessoas que maliciosamente se tornaram dependentes deles.

Para as várias pessoas que não querem pensar mais detidamente, a redistribuição é
uma política humana e decente. E gera muitos votos.

A mentalidade da esquerda e seus estragos sobre


os mais pobres

política

Thomas Sowell

quarta-feira, 7 jan 2015

Quando adolescentes criminosos e assassinos são rotulados de "jovens


problemáticos" por pessoas que se identificam como sendo de esquerda, isso nos diz
mais sobre a mentalidade da própria esquerda do que sobre esses criminosos violentos
propriamente ditos.
Raramente há alguma evidência de que os criminosos sejam meramente
'problemáticos', e frequentemente abundam evidências de que eles na realidade estão
apenas se divertindo enormemente ao cometer seus atos criminosos sobre terceiros.

Por que então essa desculpa já arraigada? Por que rotular adolescentes criminosos de
"jovens problemáticos" e supor que maníacos homicidas são meros "doentes"?

Pelo menos desde o século XVIII a esquerda vem se esforçando para não lidar com o
simples fato de que a maldade existe — que algumas pessoas simplesmente optam
por fazer coisas que elas sabem de antemão serem erradas. Todo o tipo de desculpa,
desde pobreza até adolescência infeliz, é utilizada pela esquerda para explicar,
justificar e isentar a maldade.

Todas as pessoas que saíram da pobreza ou que tiveram uma infância infeliz, ou
ambas, e que se tornaram seres humanos decentes e produtivos, sem jamais praticarem
atos violentos, são ignoradas pela esquerda, que também ignora o fato de que a
maldade independe da renda e das origens, uma vez que ela também é cometida por
gente criada na riqueza e no privilégio, como reis, conquistadores e escravocratas.

Logo, por que a existência do mal sempre foi um conceito tão difícil para ser aceito
por muitos da esquerda? O objetivo básico da esquerda sempre foi o de mudar as
condições externas da humanidade. Mas e se o problema for interno? E se o
verdadeiro problema for a perversidade dos seres humanos?

Rousseau negou esta hipótese no século XVIII e a esquerda a vem negando desde
então. Por quê? Autopreservação. Afinal, se as coisas que a esquerda quer controlar
— instituições e políticas governamentais — não são os fatores definidores dos
problemas do mundo, então qual função restaria à esquerda?

E se fatores como a família, a cultura e as tradições exercerem mais influência positiva


do que as novas e iluminadas "soluções" governamentais que a esquerda está
constantemente inventando? E se a busca pelas "raízes da criminalidade" não for nem
minimamente tão eficaz quanto retirar criminosos de circulação? As estatísticas ao
redor do mundo mostram que as taxas de homicídio estavam em declínio durante as
décadas em que vigoravam as velhas e tradicionais práticas tão desdenhadas
pela intelligentsiaesquerdista. Já quando as novas e brilhantes ideias da esquerda
ganharam influência, no final da década de 1960, a criminalidade e violência urbana
dispararam.

O que houve quando ideias antiquadas sobre sexo foram substituídas, ainda na década
de 1960, pelas novas e brilhantes ideias da esquerda, as quais foram introduzidas nas
escolas sob a alcunha de "educação sexual" e que supostamente deveriam reduzir a
gravidez na adolescência e as doenças sexualmente transmissíveis? Tanto a gravidez
na adolescência quanto as doenças sexualmente transmissíveis vinham caindo havia
anos. No entanto, esta tendência foi subitamente revertida na década de 1960 e
atingiu recordes históricos.

Desarmamento

Uma das mais antigas e mais dogmáticas cruzadas da esquerda é aquela em prol do
desarmamento. Aqui, novamente, o enfoque está nas questões externas — no caso,
nas armas.

Se as armas de fato fossem o problema, então leis de controle de armas poderiam ser
a resposta. Mas se o verdadeiro problema são aquelas pessoas malvadas que não se
importam com a vida de outras pessoas — e nem muito menos para as leis —, então
o desarmamento, na prática, fará apenas com que pessoas decentes e cumpridoras da
lei se tornem ainda mais vulneráveis perante pessoas perversas.

Dado que a crença no desarmamento sempre foi uma grande característica da esquerda
desde o século XVIII, em todos os países ao redor do mundo, seria de se imaginar
que, a esta altura, já haveria incontáveis evidências dando sustentação a esta
crença. No entanto, evidências de que o desarmamento de fato reduz as taxas de
criminalidade em geral, ou as taxas de homicídio em particular, raramente são
mencionadas por defensores do controle de armas. Simplesmente se pressupõe, de
passagem, que é óbvio que leis mais rigorosas de controle de armas irão reduzir os
homicídios e a criminalidade.

No entanto, a crua realidade não dá sustento a esta pressuposição. É por isso que são
os críticos do desarmamento que se baseiam em evidências empíricas, todas elas
magnificamente coletadas nos livros "More Guns, Less Crime", de John Lott, e "Guns
and Violence", de Joyce Lee Malcolm. [Veja nossos artigos sobre
desarmamento]. Mas que importância têm os fatos perante a visão inebriante e
emotiva da esquerda?

Pobres

A esquerda sempre se arrogou a função de protetora dos "pobres". Esta é uma de suas
principais reivindicações morais para adquirir poder político. Porém, qual a real
veracidade desta alegação?

É verdade que líderes de esquerda em vários países adotaram políticas assistencialistas


que permitem aos pobres viverem mais confortavelmente em sua pobreza. Mas isso
nos leva a uma questão fundamental: quem realmente são "os pobres"?

Se você se baseia em uma definição de pobreza inventada por burocratas, como aquela
que inclui um número de indivíduos ou de famílias abaixo de algum nível de renda
arbitrariamente estipulado pelo governo, então realmente é fácil conseguir estatísticas
sobre "os pobres". Elas são rotineiramente divulgadas pela mídia e gostosamente
adotadas por políticos. Mas será que tais estatísticas têm muita relação com a
realidade?

Houve um tempo em que "pobreza" tinha um significado concreto — uma quantidade


insuficiente de comida para se manter vivo, ou roupas e abrigos incapazes de proteger
um indivíduo dos elementos da natureza. Hoje, "pobreza" significa qualquer coisa
que os burocratas do governo, que inventam os critérios estatísticos, queiram que
signifique. E eles têm todos os incentivos para definir pobreza de uma maneira que
abranja um número suficientemente alto de pessoas, pois isso justifica mais gastos
assistencialistas e, consequentemente, mais votos e mais poder político.

Em vários países do mundo, não são poucas as pessoas que são consideradas pobres,
mas que, além de terem acesso a vários bens de consumo que outrora seriam
considerados luxuosos — como televisão, computador e carro —, são também muito
bem alimentadas (em alguns casos, até mesmo apresentam sobrepeso). No entanto,
uma definição arbitrária de palavras e números concede a essas pessoas livre acesso
ao dinheiro dos pagadores de impostos.

Esse tipo de "pobreza" pode facilmente vir a se tornar um modo de vida, não apenas
para os "pobres" de hoje, mas também para seus filhos e netos.

Mesmo quando esses indivíduos classificados como "pobres" têm o potencial de se


tornar membros produtivos da sociedade, a simples ameaça de perder os benefícios
assistencialistas caso consigam um emprego funciona como uma espécie de "imposto
implícito" sobre sua renda futura, imposto este que, em termos relativos, seria maior
do que o imposto explícito que incide sobre o aumento da renda de um milionário.

Em suma, as políticas assistencialistas defendidas pela esquerda tornam a pobreza


mais confortável ao mesmo tempo em que penalizam tentativas de se sair da
pobreza. Exceto para aqueles que acreditam que algumas pessoas nascem
predestinadas a serem pobres para sempre, o fato é que a agenda da esquerda é um
desserviço para os mais pobres, bem como para toda a sociedade. Ao contrário do
que outros dizem, a enorme quantia de dinheiro desperdiçada no aparato burocrático
necessário para gerenciar todas as políticas sociais não é nem de longe o pior
problema dessa questão.

Se o objetivo é retirar pessoas da pobreza, há vários exemplos encorajadores de


indivíduos e de grupos que lograram este feito, e nos mais diferentes países do mundo.

Milhões de "chineses expatriados" emigraram da China completamente destituídos e


quase sempre iletrados. E isso ocorreu ao longo dos séculos. Independentemente de
para onde tenham ido — se para outros países do Sudeste Asiático ou para os EUA
—, eles sempre começaram lá embaixo, aceitando empregos duros, sujos e
frequentemente perigosos.

Mesmo sendo frequentemente mal pagos, estes chineses expatriados sempre


trabalhavam duro e poupavam o pouco que recebiam. Era uma questão
cultural. Vários deles conseguiram, com sua poupança, abrir pequenos
empreendimentos comerciais. Por trabalharem longas horas e viverem frugalmente,
eles foram capazes de transformar pequenos negócios em empreendimentos maiores
e mais prósperos. Eles se esforçaram para dar a seus filhos a educação que eles
próprios não conseguiram obter.

Já em 1994, os 57 milhões de chineses expatriados haviam criado praticamente a


mesma riqueza que o bilhão de pessoas que viviam na China.

Variações deste padrão social podem ser encontradas nas histórias de judeus,
armênios, libaneses e outros emigrantes que se estabeleceram em vários países ao
redor do mundo — inicialmente pobres, foram crescendo ao longo de gerações até
atingirem a prosperidade. Raramente recorreram ao governo, e quase sempre
evitaram a política ao longo de sua ascensão social.

Tais grupos se concentraram em desenvolver aquilo que economistas chamam de


"capital humano" — seus talentos, habilidades, aptidões e disciplina. Seus êxitos
frequentemente ocorreram em decorrência daquela palavra que a esquerda raramente
utiliza em seus círculos refinados: "trabalho".

Em praticamente todos os grupos sociais e étnicos, existem indivíduos que seguem


padrões similares para ascenderem da pobreza à prosperidade. Mas o número desses
indivíduos em cada grupo faz uma grande diferença para a prosperidade ou a pobreza
destes grupos como um todo.

A agenda da esquerda — promover a inveja e o ressentimento ao mesmo tempo em


que vocifera exigindo ter "direitos" sobre o que outras pessoas produziram — é um
padrão que tem se difundido em vários países ao redor do mundo.

Esta agenda raramente teve êxito em retirar os pobres da pobreza. O que ela de fato
logrou foi elevar a esquerda a cargos de poder e a posições de autoexaltação — ao
mesmo tempo em que promovem políticas com resultados socialmente
contraproducentes.

A arrogância

É difícil encontrar um esquerdista que ainda não tenha inventado uma nova "solução"
para os "problemas" da sociedade. Com frequência, tem-se a impressão de que
existem mais soluções do que problemas. A realidade, no entanto, é que vários dos
problemas de hoje são resultado das soluções de ontem.

No cerne da visão de mundo da esquerda jaz a tácita presunção de que pessoas


imbuídas de elevados ideais e princípios morais — como os esquerdistas — sabem
como tomar decisões para outras pessoas de forma melhor e mais eficaz do que estas
próprias pessoas.

Esta presunção arbitrária e infundada pode ser encontrada em praticamente todas as


políticas e regulamentações criadas ao longo dos anos, desde renovação urbana até
serviços de saúde. Pessoas que nunca gerenciaram nem sequer uma pequena farmácia
— muito menos um hospital — saem por aí jubilosamente prescrevendo regras sobre
como deve funcionar o sistema de saúde, impondo arbitrariamente seus caprichos e
especificidades a médicos, hospitais, empresas farmacêuticas e planos de saúde.

Uma das várias cruzadas internacionais empreendidas por intrometidos de esquerda é


a tentativa de limitar as horas de trabalho de pessoas de outros países — especialmente
países pobres — em empresas operadas por corporações multinacionais. Um grupo
de monitoramento internacional se autoatribuiu a tarefa de garantir que as pessoas na
China não trabalhem mais do que as legalmente determinadas 49 horas por semana.

Por que grupos de monitoramento internacional, liderados por americanos e europeus


abastados, imaginam ser capazes de saber o que é melhor para pessoas que são muito
mais pobres do que eles, e que possuem muito menos opções, é um daqueles
insondáveis mistérios que permeiam a intelligentsia.

Na condição de alguém que saiu de casa aos 17 anos de idade, sem ter se formado no
colégio, sem experiência no mercado de trabalho, e sem habilidades específicas,
passei vários anos de minha vida aprendendo da maneira mais difícil o que realmente
é a pobreza. Um dos momentos mais felizes durante aqueles anos ocorreu durante
um breve período em que trabalhei 60 horas por semana — 40 horas entregando
telegramas durante o dia e 20 horas trabalhando meio período em uma oficina de
usinagem à noite.

Por que eu estava feliz? Porque antes de encontrar estes dois empregos eu havia gasto
semanas procurando desesperadamente qualquer emprego. Minha escassa poupança
já havia evaporado e chegado literalmente ao meu último dólar quando finalmente
encontrei o emprego de meio período à noite em uma oficina de usinagem.

Passei vários dias tendo de caminhar vários quilômetros da pensão em que morava no
Harlem até a oficina de usinagem, que ficava imediatamente abaixo da Ponte do
Brooklyn, e tudo para poupar este último dólar para poder comprar pão até finalmente
chegar o dia de receber meu primeiro salário.
Quando então encontrei um emprego de período integral — entregar telegramas
durante o dia —, o salário somado dos dois empregos era mais do que tudo que eu já
havia ganhado antes. Foi só então que pude pagar a pensão, comer e utilizar o metrô
para ir ao trabalho e voltar.

Além de tudo isso, ainda conseguia poupar um pouco para eventuais momentos
difíceis. Ter me tornado capaz de fazer isso era, para mim, o mais próximo do nirvana
a que já havia chegado. Para a minha sorte, naquela época não havia nenhum
intrometido de esquerda querendo me impedir de trabalhar mais horas do que eu
gostaria.

Havia um salário mínimo, mas, como o valor deste havia sido estipulado em 1938, e
estávamos em 1949, seu valor já havia se tornado insignificante em decorrência da
inflação. Por causa desta ausência de um salário mínimo efetivo, o desemprego entre
adolescentes negros no ano de 1949, que foi um ano de recessão, era apenas uma
fração do que viria a ser até mesmo durante os anos mais prósperos desde a década
de 1960 até hoje.

À medida que os moralmente ungidos passaram a elevar o salário mínimo, a partir da


década de 1950, o desemprego entre os adolescentes negros disparou. Hoje, já
estamos tão acostumados a taxas tragicamente altas de desemprego neste grupo, que
várias pessoas não fazem a mais mínima ideia de que as coisas nem sempre foram
assim — e muito menos que foram as políticas da esquerda intrometida que geraram
tais consequências catastróficas.

Não sei o que teria sido de mim caso tais políticas já estivessem em efeito em 1949 e
houvessem me impedido de encontrar um emprego antes de meu último dólar ser
gasto.

Minha experiência pessoal é apenas um pequeno exemplo do que ocorre quando suas
opções são bastante limitadas. Os prósperos intrometidos da esquerda estão
constantemente promovendo políticas — como encargos sociais e trabalhistas — que
reduzem ainda mais as poucas opções existentes para os pobres. Quando não reduzem
empregos, tais políticas afetam sobremaneira seus salários.

Parece que simplesmente não ocorre aos intrometidos que as corporações


multinacionais estão expandindo as opções para os pobres dos países do terceiro
mundo, ao passo que as políticas defendidas pela esquerda estão reduzindo suas
opções.

Os salários pagos pelas multinacionais nos países pobres normalmente são muito mais
altos do que os salários pagos pelos empregadores locais. Ademais, a experiência que
os empregados ganham ao trabalhar em empresas modernas transforma-os em mão-
de-obra mais valiosa, e fez com que na China, por exemplo, os salários passassem a
subir a porcentagens de dois dígitos anualmente.

Nada é mais fácil para pessoas diplomadas do que imaginar que elas sabem mais do
que os pobres sobre o que é melhor para eles próprios. Porém, como alguém certa
vez disse, "um tolo pode vestir seu casaco com mais facilidade do que se pedisse a
ajuda de um homem sábio para fazer isso por ele".

Olá Laurindo Panzo

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Pensar está se tornando algo obsoleto


filosofia

Thomas Sowell

terça-feira, 23 dez 2014

Embora seja humanamente impossível responder a todos os e-mails e cartas que os leitores me
enviam, muitos deles são bastante interessantes e intelectualmente instigantes, tanto no sentido
positivo quanto no sentido negativo.
Por exemplo, um jovem me enviou um e-mail pedindo as fontes em que eu havia me baseado para
citar alguns fatos negativos sobre o desarmamento em um artigo recente. É sempre bom checar os
fatos — especialmente se você checar os fatos de ambos os lados da questão.

Em contraste, um outro sujeito simplesmente me criticou por tudo o que eu havia dito nesse
artigo. Ele não pediu as minhas fontes e nem quis saber se elas existiam; ele simplesmente saiu
fazendo afirmações em contrário, como se essas suas assertivas fossem automaticamente corretas
pelo simples fato de estarem sendo pronunciadas por ele, algo que, em sua mente, invalidaria
automaticamente tudo o que eu havia escrito.

Ele se identificou como médico, e as alegações que ele fez sobre armas eram as mesmas que haviam
sido feitas anos atrás em uma revista médica — alegações que já foram inteiramente desacreditadas
desde sua publicação. Ele poderia ter aprendido isso caso houvesse me dado a oportunidade de
responder às suas provocações, de um modo que nos engajássemos em um debate. Porém, ele
próprio deixou claro desde o início que sua carta não tinha o objetivo de gerar um debate, mas sim
apenas de me acusar e me denunciar.

Esse tipo de comportamento se tornou um procedimento padrão no mundo atual.

É sempre surpreendente — e apavorante — constatar quantos assuntos extremamente sérios não são
discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-
afirmativas, tudo de maneira generalizada. Seja em debates de internet ou até mesmo em programas
de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor falando mais alto do que ele ou
simplesmente recorrendo a frases de efeito de cunho emotivo.

Há inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que na realidade se esteja
produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada — para não dizer idiotizante — certamente
têm algo a ver com a atual situação, mas isso não explica tudo. A educação não somente foi
negligenciada no sistema educacional atual, como também já foi quase que completamente
substituída pela doutrinação ideológica. A doutrinação que hoje é feita por professores e instituições
supostamente educacionais é amplamente baseada na simples vocalização das mesmas
pressuposições básicas e não-comprovadas de sempre.

Se as instituições educacionais de hoje — desde escolas a universidades — estivessem tão


interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas com diversidade racial e sexual, os
estudantes ao menos adquiririam experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de
diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais diferenças. No
entanto, a realidade é que um estudante pode passar por todo o seu ciclo educacional, desde o jardim
de infância até seu doutoramento, sem entrar em contato com absolutamente nenhuma visão de
mundo que seja fundamentalmente diferente daquela que prevalece dentro do espectro de opiniões
autorizadas e politicamente corretas que domina o nosso sistema educacional.

No que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é completamente maniqueísta:


as pessoas imbuídas dessas ideias realmente se veem como anjos combatendo todas as forças do mal
— seja o assunto em questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o
feminismo ou qualquer outro ismo.

Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias. Um indicativo desta noção de


monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista é o fato de que as instituições que estão
majoritariamente sob seu controle — escolas, faculdades e universidades — são justamente aqueles
que usufruem muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.

Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da homossexualidade é comum nos
campi universitários — e comparecer a palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente
algo obrigatório nos cursos introdutórios —, qualquer crítica ao comportamento homossexual é
imediatamente rotulada de "reacionarismo", "preconceito" e "incitação ao ódio", sujeita a imediata
punição.

Enquanto porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para denunciar com veemência
"os brancos" por seus pecados passados e presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante
branco que similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de grupos não-brancos
garantidamente será punido, se não expulso.

Até mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente nada podem ter de pagar
um preço caso não concordem com a lavagem cerebral que ocorre nas salas de aula. Recentemente,
nos EUA, um aluno da Florida Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava
escrito a palavra "Jesus", a mando de seu professor, foi suspenso pela universidade. Felizmente, a
história veio a público e gerou uma onda de protestos fora do mundo acadêmico.

A atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um caso isolado de extremismo,
mas o fato é que o establishment universitário saiu solidamente em sua defesa e atacou
implacavelmente o estudante. Tal atitude mostra que a podridão moral que impera na academia vai
muito mais além do que um simples professor adepto da doutrinação e da lavagem cerebral.

Estamos hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se espalhou por metástase
ao longo de todo o mundo acadêmico. As universidades se tornaram tão dominadas por uma
insistência na inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer professor
"forasteiro", que não compactue com a predominância deste pensamento gregário, não mais pode
falar a respeito de um determinado assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus
pares. Uma simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam questionar a
santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio de introduzir as pessoas
a uma ampla gama de assuntos que lhes permitiria pensar e falar inteligentemente sobre várias
questões que estivessem afetando suas vidas. O pensamento coletivista — que hoje é predominante
no meio universitário — rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de determinadas questões apenas
àquelas pessoas que são reconhecidas como "especialistas" por seus pares.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de frases de efeito de cunho
emocional evidencia a completa falência do sistema educacional. Se professores universitários —
teoricamente a nata intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as
mais rígidas seguidoras do rigor intelectual — agem assim, como podemos esperar que o restante da
população apresente discernimentos mais profundos?

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém, estamos cada vez mais
terceirizando esta função para acadêmicos, que por sua vez pautam o conteúdo da mídia. Tal
terceirização de pensamento ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais
e significativos.

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um aprendizado útil. O real
fracasso está naquilo que de fato é ensinado — ou melhor, doutrinado — nas salas de aula, algo
evidenciado pelos formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de
apresentar qualquer resquício de pensamento original.

Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas" cujos empregos se


resumem a promover a agenda do establishment político e cultural já têm tudo explicado para você.
Por que é importante um país ter uma economia
aberta

economia

Thomas Sowell

segunda-feira, 7 jul 2014

Houve uma época em que o povo da Índia tinha de entrar em uma lista de espera para
conseguir comprar o carro Ambassador, que era fabricado pela Hindustan Motors e
que era uma mera e óbvia cópia do sedã britânico Morris Oxford de algumas décadas
anteriores.
O motivo para essa lista de espera era simples: o governo indiano não permitia a
importação de carros estrangeiros, pois queria evitar a concorrência e, com isso,
"proteger e estimular" a indústria nacional.

O fato de que o Ambassador era uma mera cópia não é nenhum motivo de
condenação. A primeira câmera Nikon era uma óbvia cópia de uma câmera alemã
chamada Contax, e a primeira Canon era uma óbvia cópia da também alemã Leica. A
diferença é que, ao longo dos anos, Nikons e Canons foram se aperfeiçoando até se
tornarem o estado da arte, tanto durante a era do filme quanto na atual era digital.

O mesmo não ocorreu com o Ambassador. O carro se tornou famoso por sua péssima
dirigibilidade, pelo seu baixo desempenho e pelo seu pobre acabamento. Porém, dado
que ele era a única opção em toda a Índia, as pessoas não tinham alternativa a não ser
entrar em uma lista de espera que durava meses — em alguns casos, anos.

Em comparação, Nikon e Canon já surgiram sendo reconhecidas como produtos de


qualidade, e foram melhorando ainda mais à medida que as empresas que as
produziam iam adquirindo mais prática e mais experiência. Operando em um
mercado internacional altamente competitivo e exigente, elas não tinham escolha: ou
se aperfeiçoavam ou desapareciam.

Por outro lado, o Hindustan Ambassador não tinha esse problema da concorrência,
pois ele usufruía uma total reserva de mercado imposta pelo governo. Quem tinha
problemas era quem comprava um Ambassador.

No final do século XX, a Índia começou a flexibilizar algumas de suas rígidas regras
e regulações que vinham estrangulando as empresas indianas. Embora a Índia ainda
esteja bem longe de um livre mercado, o simples fato de relaxar algumas de suas
restrições econômicas foi o suficiente para promover uma alta taxa de crescimento e
uma substancial redução em sua alarmante pobreza.

O governo indiano até mesmo permitiu que uma fábrica automotiva japonesa se
instalasse na Índia e fabricasse ali seus carros. Isso resultou em um carro
chamado Maruti, cujas vendas rapidamente dispararam e levaram o carro ao topo da
lista dos mais vendidos, fazendo com que ele se tornasse o carro mais popular da
Índia. Mas o evento mais notável foi este: a concorrência do Maruti levou a vários
aprimoramentos no Ambassador. Uma revista especializada britânica disse que o
Ambassador agora tinha uma "aceleração perceptível".

Agora que havia concorrência, a revista britânica The Economist anunciou que "os
Marutis também estão sendo aprimorados, já se antecipando à futura entrada de novos
concorrentes em decorrência uma nova rodada de abertura comercial".

Talvez o último capítulo da história do Ambassador esteja sendo escrita neste


momento: a Hindustan Motors anunciou recentemente que estava fechando —
indefinidamente — a fábrica onde o Ambassador era construído. De acordo com
o The Wall Street Journal, "a empresa citou a baixa produtividade, 'uma crítica
escassez de fundos', e uma baixa demanda por seu produto principal, o Ambassador".
Após essa pequena história, faça um rápido exercício mental: qual empresa do seu
país se parece com a Hindustan Motors?

Pense em todas aquelas empresas (privadas ou estatais) que usufruem um quase-


monopólio de sua área em decorrência de tarifas de importações proibitivas e de o
mercado ser regulado por agências reguladoras. Fabricantes de automóveis, empresas
de telefonia, empresas aéreas, empresas de TV a cabo, empresas de eletricidade,
bancos etc. Os serviços delas são bons?

E quanto aos Correios, cujo monopólio é o mais explícito e mais protegido?

Ironicamente, a Índia privatizou parcialmente seus Correios ao permitir que empresas


privadas também entregassem correspondências e outros
pacotes. Consequentemente, as entregas do correio estatal caíram de 16 bilhões para
menos de 8 bilhões em apenas seis anos, ao mesmo tempo em que a população da
Índia continuou crescendo a altas taxas.

Sempre será possível manter uma empresa velha, pesada e ineficiente funcionando —
basta o governo despejar nela quantias ilimitadas de dinheiro confiscado dos
pagadores de impostos [como ocorre com os Correios e com a Eletrobras], ou
protegê-la da concorrência de estrangeiros via regulações [como ocorre com todas as
outras empresas que são reguladas por agências reguladoras] ou via tarifas de
importação.

A Hindustan Motors teve de fechar suas portas porque o dinheiro acabou e porque os
concorrentes se mostraram superiores e mais bem preparados para atender aos desejos
dos consumidores indianos. Por quanto tempo ainda teremos de manter nossas
próprias versões do Hindustan Ambassador respirando por aparelhos à custa dos
pagadores de impostos e dos consumidores cativos que não têm a liberdade de decidir
de quais empresas irão comprar seus produtos?

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