Está en la página 1de 3

Sobre crenças e espiritualidade

Marcelino Pequeno, 17-12-2018

Lu, vamos começar louvando o nível de sua resposta que convida ao diálogo.

Observe que minha ênfase residiu na fortuna acumulada, mais do que na questão da
sexualidade, justamente por estar atento às conexões que você enfoca em sua resposta.

Para mim a grande questão é sobre a credulidade e se a grande fortuna angariada pelos mestres
espirituais não é um indício que eles estão bem interessados em bens materiais, quando estão
a nos incentivar a abandonar o lado material da existência em nome da espiritualidade.

Bem pé no chão: O fato deles enriquecerem enquanto pregam a fé e a espiritualidade não indica
que eles são no fundo falsos profetas a explorar a ingenuidade e fé alheia?

Em nome de Deus tudo é possível, os caminhos de Deus são inexplicáveis e assim se justifica
qualquer coisa, inclusive guerras, perseguições, torturas e atrocidades, como nos ilustram a
história das religiões e crenças.

Aqui chego no âmago da minha questão: crença, ceticismo e criticismo.

Apologia à Ciência, Ceticismo e Criticismo

A ciência não tem método nem objeto, praticamente qualquer coisa ou fenômeno pode ser
estudado pela ciência (inclusive ela mesma), tem princípios. E há dois acima de todos: O
ceticismo e o criticismo.

Em ciência toda teoria é de antemão falsa, a menos que se “comprove” o contrário. A posição
básica do cientista é a de dúvida, ele duvida de tudo o que lhe é apresentado, inclusive, e
principalmente, de suas próprias teorias e convicções. Quando ele apresenta uma teoria ou
defende uma tese, seus pares fazem todo o esforço possível para refutá-la. Se ela conseguir
sobreviver a esse ataque, ela alcança os anais de algum evento ou revista científica. O critério
máximo em ciência é a empiria. A teoria precisa se ajustar aos fatos e não vice-versa. E não
sejamos ingênuos, como os positivistas da primeira metade do século XX, de achar que existem
fatos completamente objetivos e que eles mesmos só são fatos dentro de uma teoria e visão de
mundo. Não há fundamentos sólidos para uma teoria científica e isso as fazem ainda mais
questionáveis e criticáveis. Nenhuma teoria científica é acabada e definitiva, toda e qualquer
teoria poderá algum dia ser revisada.

Mas é essa dinâmica de constante ceticismo e criticismo que garante o sucesso da ciência. A
ciência é explicada muito mais pela sociologia do que pela filosofia!

Crenças e Religião

O processo basicamente inverso é o que se verifica com crenças e religião. Nesse campo, as
teorias (as doutrinas) já vêm acabadas e definitivas. Elas são inquestionáveis, se você questiona
é porque não tem fé, e está desqualificado. O mais importante: elas não precisam guardar
nenhuma aderência aos fatos. Como os fatos são espirituais, de elementos intangíveis, não
físicos, eles são fatos dentro da crença religiosa e não há o que questionar, sob pena de cometer
heresia ou incredulidade. Assim são os milagres, as curas, as potencializações de energia, as
vidas passadas, as vidas futuras, os espíritos superiores e inferiores etc ...

Veja, por exemplo, o texto que Harley postou:


"O que o plano espiritual deseja realmente que a gente observe, esclareça e aprenda com toda
essa revelação escancarada?" Aconteça o que acontecer, há sempre uma resposta justificada
pelas entidades espirituais.

Crenças e religiões são edifícios que se põem de pé sem alcançarem o chão, estão flutuando no
espaço, como as tartarugas que sustentam a Terra para ela não cair no espaço ...

Espiritualidade
Isso quer dizer que as crenças, religiões, mitos e visões de mundo de povos originários devam
ser ignorados e desprezados como quimeras do passado?

Essa foi a atitude arrogante do Iluminismo e que agora é questionada, quando o próprio
iluminismo da razão mostrou suas limitações no século XX. O século XX foi terrível para a visão
iluminista da ciência e tecnologia.

A física de Newton (o paradigma por excelência do iluminismo científico e a mãe da visão


mecanicista do universo) foi revisado pela teoria relativista de Einstein e depois pela mecânica
quântica. Freud e Darwin impuseram limites ao intelecto e consciência humanos. Somos mais
irracionais do que gostaríamos de ser, e nossa razão não é qualitativamente diferente da de
outros animais, nós mesmos sendo animais. Nem a matemática escapou com Godel mostrando
os limites da razão matemática. Há verdades matemáticas impossíveis de se provar!

A razão é insuficiente como guia para a vida. A ciência não lida com valores, ela é irrelevante
para se decidir o que é bom ou ruim para mim, como que devo viver. Impossível se racionar
sobre todos os aspectos da vida, muita coisa precisa ser sentida e intuída, a razão sem fazer
parte do processo.

Stuart Kauffman, o biologista, enfatiza que é necessário ressacralizarmos o universo. A alienação


do universo e da natureza trazidos pelo reducionismo e mecanicismos cobra seu preço no
niilismo dos tempos atuais.

Joseph Campbell, o mitólogo, propõe para a contemporaneidade a junção da ciência com os


mitos como o substituto para o papel antes ocupado pelas religiões. Ou melhor, refundemos os
mitos, mas sem perder de vista os conhecimentos trazidos pela ciência. Seria descabido uma
volta aos mitos desprezando a ciência. Por outro lado, a ciência sozinha é incapaz de projetar
valores.

Conclusão

Há espaço para ciência, espiritualidade, mitos e rituais na sociedade contemporânea. Há


inclusive espaço para a fé, para aqueles que adotam essa postura frente ao mundo. Entretanto,
não podemos renunciar nunca ao espírito crítico. Que a fé não nos deixe cegos para as
evidências da razão e dos fatos. Uma postura acrítica e ingênua nos deixa vulneráveis a qualquer
oportunista que queira tirar vantagens de nossa fé. Teorias e crenças que trazem explicações
para a vida e para o universo hão que ser absorvidas com a consciência de que não são factuais.
São mitos, alegorias e símbolos que trazem sabedoria sobre a vida (o modo de viver) e o
universo. Elas trazem uma visão de mundo e se nós nos coadunamos com esta visão e queremos
adotá-la, devemos fazê-lo com a consciência de que não são factuais.

Sobretudo, devemos ter muito cuidado em não colocar nossa fé, felicidade e significado para a
vida em terceiros. Os únicos responsáveis e guardiões de nossas próprias vidas somos nós
mesmos. Podemos até cair no risco de uma interiorização narcisista, conforme traz o texto que
a Carol trouxe, mas depositar nossas vidas nas mãos de terceiros é uma fuga de nossa
responsabilidade básica para com a nossa própria vida e felicidade.

También podría gustarte