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Lembrámos atrás a regra segundo a qual a lei só dispõe para o futuro. Todavia, a lei
interpretativa é, por definição, retroativa. Nos termos do art. 13.º do Código Civil, a lei
interpretativa integra-se na lei interpretada. As leis verdadeiramente interpretativas – as
únicas que podem ser retroativas – são aprovadas para esclarecer o sentido ambíguo de
uma lei anterior, quando esta lei interpretada é suscetível de mais do que uma
interpretação (quando o conjunto de argumentos legais nunca garante ou justifica
apenas um e só um resultado num caso particular).
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De 12 de julho de 2017, proc. n.º 751/2016, 3.ª secção, relator: Conselheiro Gonçalo de
Almeida Ribeiro.
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Ela pode ter em conta argumentos de justiça, utilidade ou oportunidade, desde que estes
respeitem os critérios de interpretação. Como o sentido fixado pela lei interpretativa
corresponde a um dos sentidos possíveis da lei interpretada, a lei interpretativa não lesa
a confiança legítima do contribuinte.
Nas leis interpretativas, como referimos, não há expectativas legítimas quanto a uma
interpretação correta.
Por conseguinte, perante decisões contraditórias por parte dos órgãos decisores, sejam
eles a autoridade tributária ou os tribunais, é recomendável que o legislador esclareça o
sentido da lei o mais rapidamente possível. Não concordamos também seja necessário
esperar por uma controvérsia jurisprudencial, e que essa controvérsia ou divisão
jurisprudencial seja estatisticamente significativa (veja-se esta argumentação no no
acórdão 395/2017).
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Selo2, e o adicional ao IMI3 que substituiu a referida verba 28.1, o objeto de tributação é
parcelar. No caso do IMI o objeto de tributação é a propriedade, usufruto ou direito de
superfície sobre imóveis; no caso da verba 28.1 e do adicional ao IMI, a tributação incide
sobre a propriedade, usufruto ou direito de superfície de imóveis avaliados acima de um
determinado valor patrimonial tributário.
Este preceito exigiria um imposto geral sobre o património, dado que os impostos
parcelares discriminam alguns ativos (no caso português só se tributa o património
imobiliário) a favor de outros (no caso português, os ativos mobiliários não são
abrangidos pelos impostos sobre o património). Por conseguinte, os impostos parcelares
sobre o património não assentam num critério de igualdade que permita a
redistribuição.
Assim sendo, é razoável defender que os impostos parcelares sobre o património não
são inconstitucionais, mas é preciso ter presente que a tributação de uma parte do
património não constitui um critério de igualdade adequado a prosseguir fins
redistributivos típicos dos impostos pessoais. A pessoalidade implica a tributação da
riqueza global.
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Aprovada pela Lei n.º 55-A/2012, de 29 de outubro, e alterada pelo Lei n.º 83-
C/2013, de 31 de dezembro.
3 Aditado ao Código do IMI pela Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro)
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Além disso, quando o legislador escolhe um objeto de tributação parcelar está
obrigado, ainda assim, a encontrar um parâmetro correto de igualdade, por
referência a esse objeto.
É preciso notar que o objeto de tributação da verba 28.1. da Tabela Geral do Imposto
de Selo, diferentemente do objeto de tributação do IMI, não era apenas a propriedade,
usufruto ou direito de superfície de unidades de prédios urbanos. Se assim fosse, o
art. 112.º do CIMI teria sido revogado, e todas as unidades com autonomia jurídico-
económica seriam tributadas em Imposto de Selo, à taxa proporcional de 1%: a igualdade
estaria assegurada.
O mesmo é dizer que a finalidade da verba 28.1 era redistributiva (como acontece
com os impostos progressivos). O valor de 1 000 000 € escolhido pelo legislador passou
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a ser o ponto de referência, o critério de comparabilidade.
O problema é que a verba 28.1. incidia sobre cada unidade de um prédio urbano,
desde que atingisse um mínimo valor patrimonial tributário (VPT) (1 000 000 €), e
não sobre o conjunto de unidades de prédios urbanos, propriedade, usufruto ou direito
de superfície, de um dado sujeito passivo, que atingisse o referido VPT.
Como o imposto introduzia progressividade ao IMI e a sua finalidade era
redistributiva, não deveria o VPT referir-se apenas a uma parte dos prédios urbanos
do sujeito passivo (a cada unidade jurídico-económica), deixando outros de fora, sem
uma razão que justificasse tal exclusão. Não existia razão para tal exclusão. A razão do
imposto progressivo não era (não podia ser) tributar cada “unidade de luxo” com
autonomia económico-jurídica, excluindo outras que ficassem abaixo ou ligeiramente
abaixo do VPT de 1 000 000 €.
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Não é pois suficiente defender que o fim da norma contida na verba 28.1 era o de
tributar os patrimónios imobiliários de maior valor para satisfazer “o princípio da
equidade social na austeridade” (V. a referência nos acórdãos n.º 590/2015 e n.º
378/2018). Não é o valor de cada património imobiliário isoladamente considerado
que permite satisfazer esse princípio de equidade – vertical – seja em austeridade ou
fora dela, mas o conjunto desse património.
Além do mais, a verba 28.1., na versão da citada lei de 2012, discriminava os prédios
urbanos em relação aos terrenos para construção.
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possamos dirigir, veio acabar com a desigualdade criada pela verba 28.1 da Tabela Geral
do Imposto do Selo.
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V., por exemplo, acórdão do STA, proc. N.º 0473/13, de 21 de fevereiro de 2018, 2.ª
secção, relatora, Conselheira Ana Paula Lobo;
e o acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, de 2 de jan. de 2017, proc. 06047/12,
relatora, Ana Maria Pinhol.
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Na verdade, a aplicação das regras dos preços de transferência a estes casos não seria
inédita: elas têm sido aplicadas pela autoridade tributária às SGPS em caso de relações
especiais e de alienação de ações: veja-se o caso tratado no acórdão do pleno do STA,
processo n.º 1402/17, de 27 de junho de 2018.