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Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)

“MÉDICOS DE CORPO E ALMA” MONÓLOGO


Adaptação teatral de Paulo Vitor Grossi com base nas citações de Fílon de Alexandria,
Flavio Josefo, Anne e Daniel Meurois-Givaudan e no Evangelho Essênio da Paz
Arte da capa: Marília Veloso

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)


“MÉDICOS DE CORPO E ALMA”

PERSONAGEM
O Orador, que apresenta o estilo de vida essênio

ÉPOCA
Primeira parte do século XXI

LUGAR
Um calmo palco e seu fundo preto.
Projeções permeiam o discurso

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)


ATO ÚNICO

[O pano é aberto. O Orador sobe ao palco enquanto é anunciado pelo locutor do teatro.]

LOCUTOR
(animado)
E agora fiquem com um dos essênios, um dos poucos, dos novos... um
dos médicos da alma.

[Com passos vagarosos chega o Orador essênio ao centro do palco e se ajeita colocando
de lado as sandálias de couro surrado em um canto. Sorri, apenas veste uma túnica de linho
gasto. Seus longos cabelos e barba espessa completam uma feição muito percorrida. E ele
fala sem pensar em cerimônias.]

ORADOR
(calmo)
Todas as referências encontradas nos textos dirigem-se a eles como “os
novos”, “os muitos”, “os piedosos”; falam também de uma “comunidade
santa”. O nome “Essênios” era dado pelas demais pessoas e significava
“santos, aqueles que podiam curar”. Atualmente, o que vocês sabem vem
através das crônicas do passado, as mesmas que até os dias de hoje nos
restringem a um grupo secreto, e que não se chamava entre si por um
nome específico. Talvez não precisasse!

[A partir daqui a imagem de um sol nascente lentamente se mescla à figura do Orador. A


projeção bastante luminosa demarca o ator.]

ORADOR
Nossos adeptos estão agora espalhados pelo mundo, contam com homens
e mulheres que preferem os povoados nos quais os costumes sejam
simples, fugindo das cidades por causa da corrupção dos seus habitantes;
ficamos sim suficientemente afastados para evitar efeitos nocivos; via de
regra, se afastar de todas essas tecnologias! Somos sim uma gente solitária
mas não quer dizer que nos afastamos de vez do resto da Humanidade,
ainda que seja necessário ao menos por um período. É preciso pensar
com a cabeça livre. Viver sem paixões e renunciar ao comércio, carecer de

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dinheiro e apenas estar no meio natural é mais que uma aventura, é uma
doação, tantas vezes nossa única companhia. Mas é por amor, o mesmo
amor incondicional prescrito pelo Mestre Jesus Cristo em sua poesia, em
seu Evangelho da Paz:

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tenho amor,
minhas palavras serão como o som do metal ou como o tinido de um
prato. Ainda que diga o que há de vir e conheça todos os segredos e toda a
sabedoria; e ainda tenha uma fé tão forte como a tormenta que move as
montanhas de lugar, se não tenho amor não sou nada. E ainda que dê
todos meus bens para alimentar ao pobre e lhe ofereça todo o fogo que
recebi de meu Pai, se não tenho amor não encontrarei nisto proveito
algum. O amor é paciente e o amor é amável. O amor não é invejoso, não
faz mal, não conhece o orgulho; não é rude nem egoísta. É equânime, não
crê na malícia; não se regozija na injustiça, senão que se deleita em toda
justiça. O amor defende tudo, o amor crê tudo, o amor espera tudo, o
amor suporta tudo; nunca se esgota; mas quanto às línguas, cessarão, e
quanto ao conhecimento, ele se desvanecerá. Pois possuímos em parte a
verdade e em parte o erro, mas quando venha a plenitude da perfeição, o
parcial será aniquilado. Quando o homem era criança, falava como
criança, entendia como criança, pensava como criança; porém quando se
fez homem abandonou as coisas de criança. Porque nós vemos agora
através de um cristal e através de sentenças escuras. Agora conhecemos
parcialmente, mas quando tivermos acudido ante o rosto de Deus, já não
conheceremos em parte, pois nós mesmos seremos ensinados por Ele. E
agora nos restam três coisas: a fé, a esperança e o amor, porém a maior
delas é o amor.”

Queremos recorrer a esse amor, expressá-lo, divulgá-lo. O vocabulário do


amor é sempre simples, tenho certeza que sabem.
Eu vim de perto de vocês, e acredite, há muitos de nós que querem o bem
que o amor traz. A fraternidade então se renova continuamente devido à
essa incessante corrente de refugiados que nos procuram em grande
número, são seres fustigados pela existência, gente a quem as vicissitudes
da sorte impulsionaram a se adaptar a tal gênero de vida. Assim, através
dos séculos, por incrível que pareça, nosso povo se perpetuou em lugares
onde ninguém havia nascido, mas que muitos por fim queriam estar. Acho
que já imaginam!

[Agora as projeções focam em diversas pessoas sendo ajudadas pela benevolência alheia.
A sugestão é que se utilizem imagens icônicas da cultura popular, de hospitais até a ajuda
humanitária e solidária realizada pelo mundo.]

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ORADOR
Além de nossa renúncia às riquezas, comemos só os alimentos mais
simples. Usamos roupas e calçados até às últimas antes de adquirir outros
novos. Temos como norma a limpeza e ainda o cultivo da terra, e vocês
entenderão como é se dedicar a esses ofícios pacíficos. Não há entre nós
escravos nem senhores, entre nós somos convictos de que a fraternidade
humana é a relação natural do homem; notem o quanto essa noção foi
desacreditada na sociedade atual; não apenas por causa de um punhado
de ambiciosos, mas sim por equívocos sucessivos. Por isso, mantemos
uma igualdade fraternal. É o caminho da vida, é inclusive o mais simples!
Com isso a mente fica mais leve; não chegamos à toa em tudo isso,
estudamos muito, sentimos o chamado de Deus, fomos estudar o que o
planeta nos dava, suas raízes medicinais e as propriedades das plantas,
pedras e das águas, por exemplo, e aí então utilizamos para curar. Não é
que para isso tivemos que praticar a predição do futuro! Era o natural,
apenas.

[Pausa, e o Orador caminha pelo palco espaçoso olhando de um lado a outro. Depois olha
para cima e uma luz cai sobre ele, que sorri. Depois se volta para a plateia.]

ORADOR
(sempre calmo)
Era nosso costume não falar antes do nascer do Sol, e nos limitávamos a
recitar preces tradicionais, nas quais suplicávamos ao Astro que se
mostrasse. Guardem em seus corações. A oração era a seguinte:

“Dou graças, Senhor, porque tudo inunda com a Tua Luz, porque vence
as trevas, porque ilumina o meu rosto, e porque nos prepara a Semente
Eterna.”

Depois íamos para o trabalho, que se prolongava até às onze, e voltávamos


satisfeitos das nossas terras, lavando com água fria o que deveria ser
lavado. Já desse modo purificados, vestíamos nossas roupas de linho e nos
dirigíamos ao refeitório. Sentados em silêncio, assim era servido diante de
cada qual um pão e um pouco de alimento num pequeno prato. O
sacerdote que presidia o refeitório recitava a ação de graças e voltávamos a
rezar ao finalizar a refeição, para terminar como começamos, com
louvores a Deus, a fim de testemunhar que somente de sua liberalidade
recebemos tudo o que temos para nossa alimentação. Após retirarmos as
roupas de linho, que considerávamos sim como sagradas, voltávamos
então ao trabalho.

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À noite, ao nos reunirmos de novo, falávamos, um de cada vez, sem
interrupções nem alvoroço; o silêncio tinha suma importância entre nossa
gente. Quando dez de nós nos sentávamos juntos e um desejava falar, este
último devia conter-se se os nove restantes desejassem permanecer
calados. O silêncio não era considerado como ausência de palavra, mas
sim o momento em que se recebia instruções sobre a Palavra Divina. Na
ausência desta, o silêncio era também sagrado. A importância do silêncio
recorda-nos os pitagóricos, os quais prescreviam para os seus discípulos
cinco anos de silêncio, em que só recebiam ensinamentos. Também no
Budismo só se deviam pronunciar as palavras necessárias e nunca utilizar
palavras ociosas.
Mais tarde o Mestre iria traduzir esse silêncio em um pacífico
cumprimento, ouçam o que repito:

“Venham a mim quantos se sintam cansados e quantos padeçam em


conflitos e aflições! Pois minha paz nos fortalecerá e nos confortará.
Porque minha paz derrama complacência. Por isso cumprimento vocês
sempre dessa forma: ‘A paz esteja conosco!’ Cumprimente portanto entre
vocês de igual maneira, para que a seu corpo descenda a paz de nossa Mãe
Terrestre, de igual maneira, e a seu espírito a paz de nosso Pai Celestial. E
então encontrarão a paz também em vocês, pois o reino de Deus estará
em nosso interior. E agora regressem entre nossos Irmãos, com quem até
agora estiveram em guerra, e deem a eles também dessa paz. Pois felizes
são aqueles que lutam pela paz, pois encontrarão a paz de Deus. Vão, e
não pequem mais. E deem a todos nossa paz, como eu lhes dei a minha.
Pois minha paz é a de Deus. ‘A paz esteja conosco.’”

[Um pequeno intervalo no qual o Oração parece refletir sobre suas próprias palavras. Ele
então volta a si.]

ORADOR
(concentrado)
Como outros, também sustentávamos que a Alma era imortal. O Espírito
emana do mais puro éter, e uma magia natural arrasta-o para baixo,
ficando enredado na prisão do corpo. Mas, uma vez posto em liberdade
pela morte, alegra-se e é levado para o alto. Também acreditávamos,
como os gregos, que as almas cobertas de virtudes tinham reservado um
lugar de repouso definitivo mais para além do mar, lugar refrescado por
uma brisa suave, onde não havia neve, chuva nem calor.
Assim qualquer um de nós praticaria a piedade em relação à deidade e
observaria a justiça com respeito aos homens; não causaria dano a
ninguém, nem por própria determinação nem sob ordem alheia; manteria

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constantemente a fé nos homens e em especial nos poderes existentes,
porque nenhum governante obtém o seu cargo senão “pela vontade de
Deus”; da mesma forma qualquer um de nós aceitaria para sempre o
injusto e lutaria pelo justo; no caso de obter autoridade, não abusaria
jamais dela; seria eternamente um amante da Verdade e a colocaria em
evidência face aos mentirosos; manteria as suas mãos afastadas do roubo e
a sua alma pura de toda a ganância pecaminosa; não ocultaria nada aos
membros da fraternidade e nada revelaria dos seus segredos aos estranhos,
ainda que fosse torturado até à morte. Juramos dessa maneira transmitir as
regras tal como as recebemos, juramos preservar com cuidado os livros da
fraternidade e os nomes dos Anjos. Bem, isso é um pouco do nosso dia a
dia, assim como as pessoas hoje em dia têm o seu. É assim em cada época.

[Pausa. Daqui por diante um sem número de projeções é apresentada por cima da figura
do Orador. São campos e plantações, montanhas e animais serenos. As cores animam
ainda mais o ambiente.]

ORADOR
(enfático)
Para construir um mundo novo e melhor, o homem precisa encontrar
propostas alternativas que o satisfaçam pessoalmente e que se possam
considerar boas para os outros. O homem do nosso tempo necessita de
uma Nova Aliança. A oração ajuda. Vamos orar, é tão simples:

“Ó Fonte da Manifestação! Alento da vida! Pai-Mãe do Cosmo! Faça Tua


Luz brilhar dentro de nós, para que possamos torná-la útil. Nos ajude a
seguir nosso caminho movidos apenas pelo sentimento que emana de Ti.
Que nosso eu possa estar em sintonia contigo, para que caminhemos com
realeza com todos os outros seres criados. Estabelece Teu Reino de
unidade agora. Que Teu desejo e os nossos sejam um só, em toda a luz,
assim como em todas as formas. Nos dê o que precisamos cada dia, em
pão e compreensão. Desfaz os laços dos erros que nos prendem, assim
como nós soltamos as amarras que mantemos da culpa dos outros. Não
permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos
iludam. Mas nos liberte de tudo que nos aprisiona. E não nos deixe
sermos tomados pelo esquecimento de que de ti nasce a vontade que tudo
governa, o poder e a força viva de todo movimento, e a melodia que tudo
embeleza e de idade em idade tudo renova. Amém!”

Estes são os nossos caminhos no mundo: iluminar os corações dos


homens, endireitar diante deles todos os caminhos da Justiça e da
Verdade, instalar em seus corações o espírito de humildade, de paciência,

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abundante misericórdia, bondade eterna, inteligência, compreensão,
sabedoria poderosa que confia em todas as obras de Deus e se apoia na
abundância de Sua graça; um espírito de conhecimento em todos os
planos de ação, de zelo pelos mandamentos da Justiça, de planos santos
com inclinação firme, de abundante misericórdia com todos os filhos da
Verdade, de pureza gloriosa que odeia todos os ídolos impuros, de
conduta modesta com prudência em tudo, de discrição acerca da verdade
dos mistérios do Conhecimento.
Meus Amigos, cada dia, cada dia de sua vida se alimente de nosso Pai,
tome sua vida. Seja, então, puro. Aprende a transformar o amor pelos
apetites materiais em amor pelo Eterno. Desta forma, conhecerá o Divino
que brilha em cada coisa. Aprende a amar o amor pelo amor, aprende a
não mais se sentir diferente dos outros. É esta diferença que complica
tudo. Eu afirmo, a vocês todos que me escutam, só a sensação de unidade
total com o Pai e sua criação é libertadora. Eis o começo do verdadeiro
caminho.
Estes são os conselhos do Espírito aos filhos da Verdade no mundo. E a
visita de todos os que nele caminham será para cura, paz abundante em
uma vida longa, frutuosa descendência com todas as bênçãos perpétuas,
gozo eterno com vida sem fim, e uma coroa de glória com uma veste de
majestade na Luz eterna.
Vejam como nos ocupávamos em viver na prática os mandamentos da
Justiça. Já que a vida do grupo colocava o serviço ao Eterno como foco de
existência, não nos ocupávamos com estudos seculares, apenas nos
concentrávamos em estudar aquilo que diz respeito a Deus, à origem do
Universo, aos mistérios do Reino do Céu e às normas éticas da Justiça.
Éramos homens de ação e não de divagação. Quem dentre nós não
poderia dizer as palavras a seguir:

“De que adianta, meus Irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tiver ações
que a comprovem? Esse tipo de ‘fé’ é capaz de salvar? (...) Hunnf. Da
mesma forma, a fé por si mesma, se não for acompanhada de ações, está
morta.
Mas alguém dirá que você tem fé e eu tenho ações concretas. Me mostre
essa sua fé sem atos, eu lhe mostrarei a minha fé por intermédio das
minhas ações!”

[O Orador se detém um pouco, abaixa o corpo e toca o solo do teatro, pegando assim um
punhado de areia. Ele ergue a mão e deixa a areia imaginária cair das mãos. É um gesto
prosaico que termina em um leve sorriso.]

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ORADOR
(questionando)
Eram então os essênios dotados de nobres valores morais e espirituais?
Talvez isso, e algo mais! Somos sim instruídos na piedade, na santidade,
na retidão, na economia, na política, no conhecimento do que
verdadeiramente é bom, mau e indiferente, para escolher as coisas que são
necessárias e evitar as que são contrárias. Nisso usávamos uma regra e uma
definição tríplice, isto é: amor a Deus, amor à humanidade e à virtude.
De tamanho amor a Deus dávamos inúmeras demonstrações; por
exemplo, uma constante e inalterável santidade em todos os aspectos da
vida; uma abstenção de juramentos e falsidades, e uma firme crença de
que Deus é a fonte de todo o bem, mas de nada de mal. De tal amor à
virtude daríamos provas no desprezo pelo dinheiro, pela fama e pelos
prazeres, na sua continência, na sua resistência, na fácil satisfação de
nossas necessidades, na simplicidade, alegria de temperamento, modéstia,
ordem, firmeza, e em todas sãs coisas do gênero.
Na transcrição supra, constata-se que priorizávamos o amor nessas três
dimensões, sempre. Eu recordo quando da vez que um dos mestres da
Torá se aproximou e ouviu um debate nosso. Notando que o Mestre lhe
dera uma boa resposta, perguntou: ‘Qual é o mandamento mais
importante?’
O Mestre respondeu. O mais importante é: ‘Ouçam, Irmãos, nosso Deus
é um, e você deve amar, amar seu Deus, de todo o coração, de toda a
alma, de todo o entendimento e com toda a força.’
A segunda raiz do amor é esta: ‘Ame o próximo como a si mesmo.’ Não
existe mandamento maior que estas máximas. ‘Porque o fruto do Espírito
é amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fé, humildade,
autocontrole. Virtude.’

Mas se vivíamos na simplicidade e éramos despidos de ambições


materiais, como não acreditam alguns até hoje que cultivávamos de bom
grado a terra, que estávamos empenhados nas diversas artes que
promovem a paz, beneficiando assim a nós mesmos e aos nossos
vizinhos? Ninguém seria capaz de acumular tesouros de ouro e prata, nem
adquirir grandes extensões de terra por um desejo de lucro, nosso
provedouro era somente para com as necessidades absolutas da vida.
Embora fôssemos quase as únicas pessoas em toda a humanidade que não
se satisfaziam com riquezas e posses, e isso por nossa própria escolha e
não por carência de sucesso... no entanto, ainda nestes dias somos
considerados os mais ricos, porque sustentamos que o suprimento de
nossas necessidades e o contentamento da mente são as reais riquezas,
como na verdade o são. Quem dera aí sim... dividir!

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[O Orador estende as mãos na direção do público. Após seu gesto são refletidas muitas
imagens de pássaros. O palco é tomado pelos voos e acrobacias dos pássaros.]

ORADOR
Não lembram que o Mestre também seguiu o estilo de vida essênio ao
desprezar as riquezas materiais e dedicar-se exclusivamente ao Reino do
Céu? Ensinou o Messias que a riqueza do mundo não é importante, e sim
ser rico para com Deus. Leio desde os livros imemoriais e repito já que é
o momento:

“Não juntem riquezas para vocês na Terra, onde traças e ferrugem e


destroem, e onde os ladrões abrem à força e roubam. Em vez
disso, juntem riquezas para vocês no Céu, onde nem a traça nem a
ferrugem destroem, e onde os ladrões não entram nem roubam.”

[Pausa para uma outra longa respiração. O Orador fica olhando a plateia curiosa.]

ORADOR
(caminhando)
Eu lembro de outros povos descrevendo as atividades essênias. “Eles
vivem em conjunto no mesmo lugar, comentavam, e organizam-se em
companhias, sociedades, agrupamentos e associações, e trabalham juntos
durante toda a vida para o bem comum da irmandade. Os diferentes
membros da Ordem estão empenhados em ocupações diversas; trabalham
alegre e diligentemente, e nunca abandonam suas tarefas por causa do frio,
do calor e de qualquer mudança climática. Dirigem-se para o trabalho
diário antes que o Sol se levante, e não o deixam senão depois que o Sol
se ponha, quando, então, voltam para casa não menos alegres do que
aqueles que estiveram se exercitando em qualquer outro concurso.
Acreditam que sua ocupação é uma espécie de ginástica de maior
benefício para a vida, de maior prazer, tanto para a alma como para o
corpo e de uma vantagem mais duradoura do que quaisquer competições
atléticas, porque eles podem continuar alegremente em seu trabalho como
uma recreação mesmo quando a juventude e o vigor do corpo já se foram.
Os que conhecem o cultivo da terra empenham-se na agricultura; outros,
que sabem como lidar com animais, cuidam dos rebanhos; alguns são
hábeis para lidar com as abelhas; e outros, ainda, são artesãos e
manufatureiros, precavendo-se dessa forma contra a falta do que quer que
seja. Eles não excluem nada que seja indispensável para suprir as
necessidades absolutas da vida. Eles se dedicavam a um trabalho
comunitário com intenso prazer, atuando em diversas áreas com o

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objetivo de tornar a comunidade autossuficiente (...)” Eles eram como...
‘nós’ deveríamos ser... até então??”

Eu vejo esses comentários como uma curiosidade boa. Havia simplicidade


e comunhão na irmandade dos essênios, inclusive por meio de um sistema
comunitário de bens. Acredito que isso interesse. Saibam que, para
começar, ninguém tinha casa própria, pois elas pertenciam a todos. Ao
que me lembre, trabalhávamos lá de comum acordo. Não passava pela
ideia de alguém dizer: ‘Aqui é minha terra, lá, a tua.’ Todos diziam: ‘Eis a
nossa terra.’ Além do mais, todos vivíamos juntos em sociedade; as casas
também estariam abertas para os membros da irmandade que vinham de
outros lugares. Com isso, todos mantínhamos um único tesouro em
comum, um armazém de provisões, de roupas comuns e de alimentos
partilhados para todos os que comiam juntos. Esse modo de viver em
igualdade, e de comer juntos, na verdade não poderia ter sido tão
facilmente criado em qualquer outro povo; com efeito, isso teria sido
impossível em certos lugares, países inteiros, tão estreito é o conceito de
vivência... tão estreita é a mesquinharia humana em alguns lugres,
infelizmente ainda não compreende. Que desperdício. Bem, pelo que
quer que recebíamos diariamente, quando trabalhávamos por salários, não
tínhamos o direito de retê-lo como coisa própria, mas entregávamos ao
fundo comum, e deixávamos todos os que o quisessem fazer disso um uso
comum.
Os doentes também não eram negligenciados pelo fato de não poderem
ganhar coisa alguma, mas recebiam o que era necessário para o seu auxílio
do mesmo fundo comum, de modo que eles sempre passavam muito
bem, sem carecer de coisa alguma. “Se um de nós fica doente, é curado
com os recursos comuns e atendido pelo cuidado e preocupação de
todos”, claro. A comunidade mostrava seu respeito, reverência e cuidado
para com os idosos também, como os filhos fazem com os pais, ajudando-
os continuamente com toda a generosidade, tanto material como
espiritualmente em sua idade provecta. E então todos comiam na mesma
mesa e recebiam todos os dias o mesmo alimento, sendo sempre amantes
da frugalidade e da moderação e avessos ao luxo e extravagâncias;
futilidades são como uma moléstia tanto na mente como no corpo!
Não somente nossa mesa era em comum como também nossas vestes.
Havia uma provisão de tecido de capas rústicas para o inverno, e para o
verão roupas baratas, sem mangas, a cujo estoque podíamos recorrer e
apanhar livremente a espécie que desejássemos, porque o que quer que
seja que pertença a cada um pertence a todos, e o que quer que seja que
pertencia a todos pertence a cada um.

Amigos, todos nós éramos crentes de que tínhamos o necessário,


tínhamos um coração e uma alma, e ninguém reivindicava suas posses;

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todos, porém, partilhávamos o que possuíamos. Com grande poder, os
emissários, os ‘apóstolos’, continuaram a testemunhar a ressurreição do
Mestre, e eles eram tidos em alta conta. Eram essênios na forma de viver.
Também tinham o necessário. Nenhum deles era pobre, porque os
proprietários de terras ou casas as vendiam e entregavam o valor
correspondente aos emissários, para fazer a distribuição a cada um de
acordo com sua necessidade.
Todos os que confiavam no Messias permaneciam unidos e possuíam
tudo em comum; na verdade, eles venderam suas propriedades e bens e
distribuíram o dinheiro a cada um conforme a necessidade.

[As projeções se voltam para os desertos e suas caravanas e tribos inteiras se deslocando.
O Orador chega bem perto da borda do palco, cada vez mais próximo do público.]

ORADOR
(esperançoso)
E por que eu venho aqui dizer tudo isso? Para alertá-los, para ativar em
suas mentes a luz da compreensão, pois um dia haverá uma decisão e
estaremos todos frente a frente, todos prontos a sermos limpos dentro da
maior paz de espírito. Éramos os amantes da paz, de vida em vida
espalhando tais notícias com as mãos abertas. Nenhum fabricante,
nenhum fabricante de armas ou de engenhos de guerra, nem qualquer
homem que faça coisas relacionadas com a guerra, ou até coisas que
poderiam levar à maldade em tempos de paz é encontrado aqui. No
mundo existe apenas uma arma que merece ser respeitada, a única que
Deus poliu para todos: o amor. É equivalente ao ensino do Mestre Jesus:

“Quão abençoados os que promovem a paz! Porque serão chamados


filhos de Deus.”

O rabino Paulo assim abordou o tema, e ele adicionou que “Se possível,
quanto depender de vocês, tenham paz com todos os homens.” Sim!

Eu venho de bom coração, me acompanhem, por favor, porque penso


que os homens são iguais e, consequentemente, repudiam a escravidão;
ela infelizmente é tão natural nessa época, em muitas delas. Não só a
escravidão referente ao corpo mas também à mente, falo da dependência
sensorial, moral. Mas nenhuma forma de dominação é eterna. Eterna é a
mente de Deus.

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)


Juntos não encontraremos nenhum escravo, porque todos serão livres e se
servirão mutuamente. Lado a lado condenaremos os proprietários, os...
empresários! de escravos, não apenas como injustos, visto que corrompem
o princípio da igualdade, mas também como ímpios. As próximas
gerações precisam ser livres, todas as gerações precisam!
À luz do pensamento essênio, nossa irmandade formaria uma
“comunidade de santidade” e a própria santidade seria a oferta a Deus,
consoante a prescrição da Regra da Comunidade:

“Quando as coisas existirem de acordo com estas disposições para


fundamentar o espírito de santidade na verdade eterna, para expiar pela
culpa da transgressão e pela infidelidade do pecado, e pelo beneplácito
para a terra sem a carne dos holocaustos e sem as gorduras do sacrifício,
quer dizer, a oferenda dos lábios segundo o preceito será como o perfume
agradável de justiça, e a perfeição de conduta será como a oferenda
voluntária aceitável.”

Tínhamos então uma vida perfeita e feliz? Sempre, sem dúvida, e todos
nos reconhecíamos como independentes e livres por natureza, muitos
elogiavam nossas refeições em comum e comunhão de bens, o que
ultrapassava qualquer descrição e constituía prova evidente de uma vida
perfeita e muito feliz. Estava em nossos rostos!
Nós os essênios, a terceira seita, atribuíamos e entregávamos todas as
coisas, sem exceção, à providência de Deus. Crendo que as almas são
imortais, achando que se deve fazer todo o possível para praticar a Justiça
e sem se contentar com ofertas vagas, sempre fomos felizes; não é um
sacrifício, é uma cerimônias ainda maior. Esses são costumes
irreprocháveis. A virtude é tão admirável que supera em muito a de outras
nações, porque fazíamos com todo empenho e preocupação e a ela nos
aplicávamos continuamente.

Vejam a diferença para com a sua sociedade, o que veem por todo lado;
em nossa comunidade todos possuíamos os bens em comum, sem que os
ricos tivessem maior parte que os pobres. Não tolerávamos nem criados,
porque considerávamos uma ofensa à natureza, que fez todos os homens
iguais; também não havia esse querer sujeitar os outros. Assim, nos
servíamos igualmente e apenas pela ocasião da ordem escolhíamos
homens de bem como sacerdotes, que recebiam tudo e tinham o cuidado
de fornecer alimento a todos; nós confiamos uns nos outros como seres de
coração. Você ainda confia? Esse era um viver em estreita união, uma
contínua troca de bons procedimentos e todos se sentiam bem!

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)


Eu vou propor uma analogia. Será preciso que todas as pessoas se
transformem em taça, isso, em taça, para receber o que nosso povo
acumulou durante gerações. Mas, não esqueça... uma taça não se destina
só a receber... a metade de sua riqueza evapora se ela demora muito a
chegar aos lábios de quem tem fome e sede.
Se desprezávamos as riquezas era porque todas as coisas sempre serão
comuns entre a gente, com uma igualdade tão admirável; quando alguém
abraça a seita, despoja-se de toda propriedade, para evitar, por esse meio,
a vaidade das riquezas, poupar aos outros a vergonha da possessão e em
tão feliz união vivermos juntos como seres irmãos.
Nada venderemos e nada compraremos entre si; mas permutaremos uns
com os outros tudo o que tivermos.
Já sobre os vícios que há tempos assolam a Humanidade, considerávamos
por exemplo os prazeres como vícios, que se deviam evitar, e a
continência e a vitória sobre as paixões tínhamos como virtudes, que
muito devemos estimar; isso é para qualquer era.

[O Orador faz mais essa pausa para se aliviar um pouco. Coloca as mãos cruzadas na frente
do corpo e por alguns segundos fica em silêncio. Uma nova projeção contendo o globo
terrestre é exibida.]

ORADOR
(refeito)
Não acham que deve a gente atual também se voltar para a religião e para
Deus? É a vez de sermos novamente piedosos para com Ele, falem então
de coisas santas; antes que o Sol desponte façam suas orações, recebam a
tradição dos povos místicos; isso para pedir a Deus que faça brilhar sobre
a Terra a surpresa do verdadeiro Sol. Depois vá trabalhar, cada qual em
seu ofício, segundo o que lhe é determinado.
‘Todo homem deveria conhecer a terra. A terra não é apenas este
ajuntamento de poeiras negras ou vermelhas sobre as quais o homem se
desloca, a terra é um fermento, um mundo, uma multidão de pequenos
seres que refletem a vida do Pai em si próprios. Uma vida que existe, e
que pensa, para ser querida, por nós, a cada instante através dos éons, as
formas de expressão do Ser Divino. Em contato com o solo, pés na argila,
devemos aprender a falar de grão em grão de vida e, assim por diante, ao
infinito. Este grão de vida é o Uno, e nós somos os filhos do Uno. Eis por
que devemos procurar a identificação com a poeira ínfima que o vento
joga em nossos olhos. A identificação é a chave da compaixão e a
compaixão é a chave do Pai, a chave do Homem.’

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)


O dia passará com seus deveres, de fato vivemos com as portas abertas,
sempre com gratidão.
Jamais haverá barulho em nossas casas; nunca se vê a menor
perturbação; cada qual fala por sua vez e sua posição e seu silêncio
causam respeito aos estrangeiros. Tão grande moderação é efeito de
uma contínua sobriedade; não comemos nem bebemos mais do que é
necessário para a sustentação da vida e a benfeitoria com os mais
necessitados. Com a anuência de nossos superiores ajudamos os pobres, a
compaixão pelos infelizes é nossa razão! Já dizia a sabedoria que o nome
da primeira coisa que o homem perdeu na Terra é ‘compaixão’. Irmãos,
só ela abrirá a porta da ajuda total... absolutamente total, absoluta, sem
‘mas’ nem ‘talvez! Se um ser sofre, procura saber qual é seu sofrimento,
procura tomar sua desarmonia, se identificando com ele. Através disso,
respirará e vibrará no ritmo desse ser, captando assim com precisão a
fonte da sua doença, desviando e fazendo teu corpo luminoso tocar o
dele. Bastará que deseje com toda a força do mundo. Por isso estamos
neste mundo!

[O Orador sorri para a plateia em imensa concórdia. Mexe em sua barba e dá mais alguns
passos mexendo um pouco mais na barba..]

ORADOR
(caminhando)
Temos imenso cuidado de reprimir também a cólera; amamos a paz e
cumprimos tão inviolavelmente o que prometemos que se pode prestar fé
às nossas simples palavras, como a juramentos. Que resta das palavras se
não passam de promessas de fatos? Que resta das palavras se os fatos as
traem? Basta tua palavra. Adote este princípio por toda a vida, lembra e
age de modo que um ‘sim’ seja um ‘sim’ e um ‘não’, um ‘não’. Então, que
o discurso seja o ato ao mesmo tempo. Compreendam bem isto: uma
palavra pode ser um carregamento de amor que corre ao encontro da
Humanidade; quero falar de um mundo tangível que penetra em outro
mundo. Quando a palavra se faz ato, o objetivo é atingido, porque ela
transmuta. Nesse sentido, jamais poderíamos tolerar quaisquer perjúrios,
porque não podemos crer que um homem seja um mentiroso quando tem
necessidade, e ainda tome a Deus por testemunha; a isso tudo acertamos
solenemente honrar e servir a Deus de todo o coração, observar a justiça
para com os homens, nunca fazer voluntariamente mal a ninguém, mesmo
quando isso fosse ordenado; igualmente temos aversão pelos maus; ajudar
sempre aos homens de bem é nosso lema, de todos os modos possíveis, e
manter fidelidade a todos, porque recebemos esse poder de Deus. A isso
acrescentamos que, se formos constituídos num cargo, não abusaremos
do poder para maltratar os inferiores; que nada tenhamos mais que os

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)


outros, nem em suas roupas, nem no que se refere às suas pessoas, melhor
é ter um amor inviolável pela Verdade, Ética, e, diante disso,
repreenderemos severamente os mentirosos; conservaremos assim as
mãos e as almas puras de todo roubo e de todo desejo de lucro injusto.
Esses mesmos conceitos nos esclarecem que as almas são criadas imortais,
para se darem à virtude e se afastarem do vício; que os bons se tornam
melhores nesta vida pela esperança de serem felizes depois da morte, e os
maus, que imaginam poder esconder neste mundo suas más ações, são
castigados com tormentos eternos. Tais são os nossos sentimentos com
relação à excelência da alma, dos quais não nos afastamos. Saibam
reconhecer, eu anuncio, não façam mais o bem apenas por temer o mal.

[O Orador sorri novamente. Ganha cada vez mais energia. Um céu em harmonia é
projetado no palco, suas nuvens desfilam compassadamente.]

ORADOR
(amistoso)
O Eterno delega seus poderes a todos que têm a capacidade de fazer
surgir luz à sua volta. Assim, nós somos os anjos de Deus e nossa Terra
está neste diamante pulsante que clareia as noites da fraternidade. Desde o
início dos tempos, nós semeamos este mundo e seu coração a fim de
expulsar as trevas. ‘O coração é simplesmente todo-poderoso e para
sempre. O homem ou o sufoca ou lhe escuta. Com muita frequência,
infelizmente, o homem pensa ouvi-lo quando mal o deixa respirar sob as
razões e as desculpas de sua mente. Vocês sabem que não estou falando
do coração que pulsa em nós ao ritmo das estações. Falo do sol interior
que nos liga à cadeia dos mundos transcendentes. Estamos no universo do
ser, Irmãos, então fiquem agora no universo do futuro. É a hora de
abolirmos as barreiras, pois elas nos sujeitam às técnicas e ao tempo.
Saibam simplesmente pedir sem se preocupar com a resposta, pois a
resposta é sempre a mesma: sim. A força do Pai é concedida
incondicionalmente, assim como a todo homem.’
Falamos assim aos homens da Terra em múltiplas línguas, sob múltiplas
aparências. Fincamos nossos pés como raízes móveis de nossa árvore
corporal e recebemos constantemente uma seiva secreta, maternal em sua
polaridade, reflexo transmutado da seiva solar. Não se escandalizem com
estas palavras, Amigos, porque uma luz demasiado forte cega quem
sempre viveu na noite. As cortinas que velam o esplendor da Terra do Pai
só podem ser afastadas uma a uma, com infinitas precauções. Sabemos o
que dizemos. Houve um tempo em que os homens deste mundo viviam
numa outra Terra, diferente desta, em alguma parte da espiral... a luz forte
demais aniquilou o sopro de seus corações; a força mental matou seu
amor, e seu mundo foi projetado nos confins dos universos. Nós

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)


cultivamos as almas, e a providência do Eterno quis que as replantássemos
aqui, entre a luz e as trevas, para ensiná-las a discernir.
A nossa doutrina é esta: que todas as coisas são melhor atribuídas a Deus.
Ensinamos a imortalidade das almas, e consideramos que as recompensas
da retidão são zelosamente adquiridas com esforço.
O julgamento divino de todos que caminham com este espírito será a
saúde, uma vida longa em grande paz, e abundância, junto com todas as
bênçãos eternas e alegrias infinitas numa vida sem fim, uma coroa de
glória e uma vestimenta majestosa de luz infinda. Amém!

[O Orador reverencia o público e se movimenta pensativo, depois sua expressão vira algo
serena. Uma enorme lua é projetada no palco.]

ORADOR
(com pesar)
Ainda não acabei, ouçam, meus caros. O bom Irmão avisa, não será
sempre de vitórias que viverão; na vida em certos momentos decisivos nos
deparamos com o mal. Mas os caminhos do espírito da.. falsidade são
estes: ganância e negligência na busca da retidão, maldade e mentiras,
arrogância e orgulho, hipocrisia e engano, crueldade e mal abundantes,
mau humor, muita insensatez e descarada insolência, atos abomináveis
cometidos com espírito de luxúria e conduta lasciva a serviço da impureza;
e também uma língua blasfema, cegueira do olho e surdez o ouvido, cerviz
dura, dureza de coração, infelizmente... assim caminham, assim caminham
estes homens equivocados para as sendas das trevas e do logro inútil. Por
tudo isso passamos, por tudo isso tropeçou a Humanidade e aqui estamos,
mais sábios. Pois fujam em nome da paz, e ajudem quem ainda não
consegue por seus próprios meios; Deus nos ajuda!

[Mais uma pausa, a última, e o Orador se dirige para o canto do palco e apanha um jarro
de barro. Ele bebe o liquido, é a mais pura água. Ele se refresca e com as mãos lava o rosto
e joga o cabelo para trás.]

ORADOR
(mais positivo)
De agora em diante, o homem se purificará pela água, é a água que
queimará suas escórias. A água, como a terra, é uma matriz. Eis, Irmãos, a
força de uma outra iniciação! Ela é o segundo nascimento dos que veem,
mas também sua primeira morte.

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)


Os corpos são corruptíveis e a matéria de que são feitos não é
permanente; mas as almas são imortais e continuam para sempre; e vieram
do mais sutil ar e são unidas a nossos corpos como a uma prisão, a que
foram arrastadas por um espécie de atração natural; mas quando são
libertadas dos laços da carne, então elas, como libertas de um longo
cativeiro, regozijam-se e ascendem. Essa é a ressurreição que aperaremos,
para nós ela realmente existe, é a ressureição do próprio homem, a do
espírito humano que se regenera, que encontra sua fonte e reconquista sua
verdadeira nobreza. Assim seja.

[O Orador abaixa o corpo em sinal de reverência, ficando de cabeça baixa enquanto o


pano desce lentamente. A luz da lua vai ficando cada vez mais intensa até embranquecer o
palco por completo.]

LOCUTOR
(animado)
Sim, muito obrigado por sua presença aqui! O amor absoluto grita sua
existência até no menor átomo de vida, então que ódio absoluto se anule a
si mesmo e não conseguirá ter consistência. Que um terço dos homens se
ponha ao mesmo tempo, e voluntariamente, a emitir ideias semelhantes
de paz e de amor incondicional, e a estrutura de toda matéria será
modificada para sempre. Irmãos, recebam nossa paz, a paz das almas
deste mundo e a paz do Uno!

FIM

Atos I Médicos de corpo e alma (Monólogo)

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