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31^ M ^ í l L S ^
Ie ne fay rien
sans
Gayeté
(Montaigne, Des livres)

Ex Libris
José M i n d l i n
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L*-<o \JL^Ax>juJk^O
O U-ü)
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- AMERICA -

A ORIGEM DE UMA SONATA


DE BEETHOVEN

P ASSAVA um dia o
grande maestro por
Importadores de appare-
Ihos para electricidade,
uma casa pobre, de
que sabiam as notas de uma
sua sonata. Parou, ao ouvir
uma voz de mulher que de
dentro dizia:
— Que não daria eu para
água. gaz, luz incandes-
cente, esgotos, folha de
Flandres, cobre, eslanho,
bacias e la>-alorios de fer-
ro esmaltado e de louça,
fogões, canos de
pn
ouvir esta musica tocada por ferro e de chumbo,
um artista 1 lustres, lampeôes,
Beethoven empurrou arandelas e móis
porta da humilde habitação artigos concernen-
aAou-se numa saleta muito tes, e das legitimas
simples, contígua <» uma loja lâmpadas
de sapateiro.
Sentada ao piano estava
uma moça e junto delia um
LUCAS
rapaz com roupas de trabalho.
— Peço-lhes perdão — disse Beethoven aos dois jo- Encarregam-se de installações eleclricas
vens — mas ouvi musica e como entendo um bocadinho dessa
arte, não resisti ao desejo de entrar...
A moça enrubeceu e o joven franziu cenho, quasi
MEDEIROS SARTORE & C.
ameaçador. Successores de MEDEIROS & BORGES
— Além disso, accrescentou Beethoven, ouvi que Rua Marechal Floriano, 23 e
disse a menina. Queria. desejava ouvir . . . Emfim, quer
deixar-me tocar ? Theophilo Ottoni, 142
— Obrigado, senhor, respondeu joven irmão da T E L E P H O N E N O R T E 1035
moça, mas o nosso piano é muito máu e além do mais R I O IDE J A N E I R O
não temos musica.
— Não têm musica? exclamou o maestro. Mas ent5o
como toca a menina?
Mas interrompeu-se córou. Tinha percebido que a » • • * • * • » • *

moça o fitava com duas pupillas mortas, sem expressão.


— Peço-lhe perdão, balbuciou. Não havia observado.
Então a menina toca de ouvido?
— Sim, senhor, respondeu a pobre cega.
— E onde ouviu essa musica?
— Na roa. . . Tínhamos visinhos que tocavam. E quan-
If
,
t do se abriam as janellas... E a cega calou-se.
Beethoven sentou-se ao piano e tocou. Uma nova
inspiração o animava naquelle ambiente humilde, entre uma
FORNECEDORES DO GOVERNO

moça; e o seu irmlof, que o olhavam extasiados.


Quando terminou, pequeno sapateiro dirigiu-se a elle : Ferragens, tintas, louças c artigos de fantasia
— Quem! é o senhor? Diga-me, eu lhe supplicol
Beethoven não respondeu. Erguendo os olhos para o
seu interlocutor, sorriu-lhe com aquelle seu sorriso ao mesm»
tempo doce e melancólico.
— Ouça, disse afinal. Segui apenas da primeira i
• ultima nota a sonata de que .» sua irmí tocou um fragmento.
Um grito de alegria partiu dos lábios da moça:
— Beethoven I Beethoven !

O grande compositor ergueu-se C quis sahir.
— Toque-a mais uma vezl pediram insistentemente os
dois jovens.

I
A esse tempo os raios argenteos da lua penetraram
na saleta acariciaram a. face tr.ste da céguinha.
O olhar do rapaz encontrou o da moça, e elle excla- Brande soilimenlo de Trens de cosinha em alumínio
mou, commovido:
— Pobre irmãzinha 1
— Está bem, disse o maestro. Desde que ella náo 9, Rua da Carioca, 9
pôde ver o luar, vai «ouvil-o...v
Poi-se a tocar de novo e improvisou aquella melo- Telcphone Central 1305
dia inesquecível que o mundo conhece pelo nome de «Sonate
du clair de lune...» RIO DE JANEIRO
Pippo LEOPARDI
nado de
martello Este cidadão mostrava aos presentes u " " di

ffcTLE,LlPS i.iu
bem feio, valha a verdade, AJgun •
contai em vôi alta. Oito mil setecejntot
oito mil setecentos trinta. Gostei de ver
em arithmetica. Oito mil setccentjs c trinta
1 !•/ se um silencio.
vinte
força di •' gente
setej

'I" •• nove mil...

ti cavalheiro collocado | Lítrii da meja encorajava


auditório com Vamos Vejamos, senhores. N í o dizem mais
l | \ | i pithivii rs \ m •> Paris para receber uma

D pcq

ts
i
me
i minha
pareceu
Pensei que talvez não houvesse entre os presente»
nenhuma pessoa que soubesss contar além de nove mil. E
<\- lamei: Nove mil
Uma senhora de idade que
quinhentosl
havia irritado com i
ainda mais lasl imprei uma arithmetica r, ostentação dos seus conhecimentos aridimeticos, encarou-me
I ., minha chamada a cartório, estudo todas ,,,,,, um ar esquerdo disse: Dez mill»
um
ird< - duís li >ras. A ' Í j i pouco. Onze nul! bradei.
Ha dias passava eu pela rui — Doze! disse i:11a.
Cm • i asa, na i squ na da rua Grange - — T r e z e ! volvi.
HJI, OU minha attenção. I urregadores entravam — Quatorze mil quinhentosl oppoz a velhota,
i Perguntei .. um transeunte: Pode faz -r favor A sala inteira, cheia de admiração, tinha os olhos vol.
de din casa i esta? EU< mdeu: E' tados para mim. Recolhi-me um instan-
te. Depois pronunciei claramente, com
uma pose excéllente :
— \'intc mil I
A velhota calou-se. Reinou um
longo silencio. Eu estava encantado
com a historia. 0 cavalheiro bateu
• com martello na mesa olhou-me
, ,,:n certa estim i, murmurando i Vd
ü judicado!. Eu não comprehendia bem
i|ue elle queria dizer, m i s estava
orgulhoso. Pediram-me que deixasse
o meu nome c endereço.
V. não entendo mais coisa algum.i
deste t a s o complicado. Obrigaram-me
u pagar vinte mil franco.; e me pre-
sentearam com um velho centro de me-
i a . . . Que é que eu vou faicr d e i : i

Max e Alex FISCHER


rfVWWW^^^V^V^^^^^^^*^^^^VN^^^^rt^****A**A^V

Quando foram ínvenlados os


relógios ?

N a antigüidade só se usavam,
para medida do tempo, i qua-
drante solar os relógios d'agua,
ou clepsydras. A idade média foi
o reino da ampulh-la, cuja invenção
se attribuc aos chinezes.
A idéa de fa;er gyrar pontei-
ros sobre um quadrantü graduado,
com auxilio de rodas dentadas mo-
vidas por um peso c no emtanto mui-
to antiga, foi já a ella so refere
Aristóteles.
Mas foram nei essarios sc< ulos
G para * resolução do delicado proble-
ma que consiste cm g r a d u a r o mo-
vimento gerador. O primeiro relógio
mecânico foi fabricado em fins do
SeCUlO X.
Tratou-se depois de construir
ALGERIA PITTORESCA portáteis. Um autor do sé-
Lm quadro csracteristico: muros vetustos, albornozes, palmeiras, água culo XV conta que no seu tempo
para soluções e um sol de escaldar...
hawa já relógios portáteis que não
Hotel Drouol Ha u:na grande affluencia de a m a d o r eram maiores do qu~ uma amêndoa . Mas somente depois
causa do leilã.» X—V—Z . da invenção, p j r Huygeni, em i^74. do regulador de mola
Lsta resposta não me adiantou nada. Emfim... como os em espiral, é que os relógios entraram no caminho do
divertimentos gratuitos não são muitos em Paris, segui os progre
visitamos. E foi em I75"J qu-; Uarrison construiu u , prim
Numa vasta saia esia.ar.: pcssAas amontoadas de pé. chronometros.
• •_ A XXXXXXXDXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Nem mais uma expe-


íiencia duvidosa!!
A única tintura cem
que me tenho dado bem na reforma
de meus vestidos tem sido a

"GERMANIA"
a mais afamada e barata, pois
custa só
1 $ 5 0 0
COISAS LONDRINAS O pobre Tancredo não podil com ilinr o BOmBft M "
voh'ia-se. inquieto, no leito, COOU a t e n u a d o pot UM remorso.
Intrigada, Angela, sua esposa, indagou-lhe:
— Porque te remexes assim na Cama, Tancredo ?
— Ora, porquel Porque lenho que pagar eoolooo,
amanhã, ao casca do Felicio, n l o tenho nem 5*oool
— E é isso que te preoecupa? fez ella calmamente.
— Está claro I
— Muito bem: levanta-te, vac procurar o r e l i d o ,
acorda-o dite-lhe; «Tenho de pagar-te amanhã 200J000,
mas não pago, porque estou «promptol»
— E então ?
— Então, continuou Angela, será o Felicio quem
perderá o sccnno tu dormirás regaladamente. . .
— BOt —

NEGOCOS, NEGÓCIOS...
Miss Margaret Wilson, a filha do ex-presidente dos
Estados Unidos (pae, também, de Miss Lcague of Nations),
iniciou nova vida, em Julho ultimo, ingressando na car-
reira commcrcial.
Miss Margaret associou-se a uma agencia de publi-
cidade cujo quartel general é em New-York. Aos photogra-
phos e aos jornalistas q u : puzeram cerco aos seus sumptuo-
sos escriptorios, declarou nova «business woman» que o
cornmercio sempre a havia interessado. H a um anno resolvida
a escolher uma carreira, ella decidiu pela publicidade, cujos
segredos estudou cuidadosamente durante um anno.
Miss Wilson permanece no seu escriptorio, de 9 ás
17.30 horas, consagrando apenas 30 minutos ao almoço.
O inlelligente c a v a l l o " D i c k " , q u e no "Lyceum
Ao que dizem, poucas horas depois de inaugurada,
imita o c t l c b r e C i r l i l o .
já a nova agencia havia conseguido alguns contractos im-
4 portantes . . . «Ce qui femme veut...»

ças. Da «Casa degli Inglesi», aonde se pódc chegar de

O ETNA carro de Catania, a cidade visinha, ha apenas uma hora


meia de ascenção para se chegar ao cimo.

Uma fecundidade maravilhosa do solo, conseqüência


das terríveis catastrophes, * offertada ao3 homens nos flancos
e na base do enorme vulcão. P o r isso, era nenhuma parte
da Itália a população é tão densa como alli. Apezar do
perigo imminente, innumeras aldeias se comprimem entre
Pretendiam os antigos que Júpiter havia sepultado as laranjeiras, os .limoeiros, as palmeiras e as flores.
sob o macisso do E m a . separado das outras montanhas da
Basta pois aos habitantes do local colher os fruetos
Sicilia por profundos valles, os titães Encelaio Typhon,
que lhes offerece o seu terrível visinho; em compensação,
• que eram estes que, no s;u furor, vomitavam, do
depois de alguns mugidos surdos, a s lavas fazem ás vezes
alto cimo, chammis e lava sobre os mortaes. Diziam mais
que os Cyclopes forjavam os raios do mestre dos deuses devastações terríveis na paizagem verdejante.

e do universo no interior da vulcão a cuja base Ulysses A mais terrível, talvez, dessas catastropnes periódi-
encontrara o gigante Poliphemo. cas, fez morrerem em 1693 cerca de 60.000 homens. Mas,
passada a cólera, os homens voltam, felizes de viverem
Sem duvida a Etna, chamado outr'ora «o pilar dos
sob o mais bello sol do mundo e sobre uma terra tão fér-
céus» é digno de ter suscitado nos espíritos heróicos fan-
til que não exige o menor esforço humano.
tásticas legendas, pelo seu aspecto formidável e pelas ter-
ríveis ameaças que espalha pelos arredores. O vulcão é cultivado até á altura de 700 metros,
em que começa o zona chamada das florestas, mas que
A montanha tem 180 kilometros de circumferencia na
actualmente está quasi completamente despida pelos l;nha-
base lança o fumo, pela sua cratera principal, a 3.369
dores. A partir de 2000 metros não ha sombra de ve-
metros de altura. Menos harmonioso de linhas do que o
getação nem de cultura.
Vesuvio. de cume muito mais aggressivo, embora relu-
zente ao sol como velludo negro, o Etna é mais acces- A 3000 metros se abre atravéz dos flancos subver-

ral á escalada, pois nelle não K encoatram ciazas moyedt- tidos, uma infinidade de crateras hiautat. . .


- AMERICA -
am inimigo invisível com todo o esforço da sua potente
musculatura. O seu autor, Fernando Thauby, verdadeiro
«avançado» da nova geração, parece ter a s s u m ü o o papel de

N ÃO se passa anno em que as revistas parisienses plasmador das legendas da raça aborígene do Chile, os
de arte não assignalem a victoria de alguns ar- famosos araucanios dos tempos da conquista hespanhola.
tistas hispano-americanos, especialmente chilenos, A arte chilena, apoiando-se muito embora nos ele-
alguns dos quaes, como o esculptor Nicanor Plaza e o mentos tradicionalistas, procura esforçada e brilhantemente
pintor Valenzuela Llanos, chegaram alcançar medalhas do caminho da emancipação da originalidade.
«Salon>> official, distincção hsongelra si se considerar es-
pirito exclusivista francez.
A escola franceza teve grande influencia na pintura
chilena, orientada ha meio século por Paris, pelos seus
pensionistas, os seus mestres francezes e pelo gosto das
classes abastadas educadas na França.
D e algum tempo para cá. porém, a nova geração
e artistas chilenos começa achar no Hespanha a sua
: [aturai tradição artística. Esse movimento culminou com o
advento de Alvares de Sotomayor que, como director da

"0 T O p i " , escn.'ptnra do artista chileno remando Thaohy


Escola de Bellas Artes de Santiago, soube provocar le
dirigir a tendência hespanholista que desde então se mani-
festa brilhantemente nos «saldes» chilenos. Manchas Cravos
Sardas Vermelhidões
E s s e director teve o poder de reaccender * flamma Espinhas Comiohõen
atávica que dormia no fundo do espirito artístico chile- Rugosidades Irritações
no. E ' curioso notar que, sem contacto algum com os Dores Conr.usões
Eczemas Quoimaduras
mestres hespanhíes, essa arte havia tido já reminiscencias Dartbro» Inflammações
ancestraes da escola hespanhola em mestres chilenos como Golpes Frieiras
Juan Francisco González, o mágico da côr; Benito Re- Feridas Perda do oabello
bolledo Corrêa, um gênio nativo, sem duvida o mais original Poderoso andsepfieo, cic.trisanle. anli-eczcmatoso.
vigoroso pintor do seu paiz; e finalmente Lobos, o mal- «nti-parasilano, comoatt e evila o suor relido das mão
e dos sovacos, limpa e amaria a pelle.
logrado artista em cujas telas se casava o processo he3-
VENDE-SE EM TODA A PARTE
anhol com a originalidade derivada da maravilhosa na- Deposito : Droijrarla ARAÚJO FREI TAS A P. R[Q

Í ireza ambiente.
N a esculptura chilena occorre outro tanto; mas é
difficil assignalar influencias atravéz do toque vigoroso que
a raça a terra novas imprimem aos velhos moldes.
Uma prova disso está na obra que aqui reproduzimos, C/'C/JC "drrxc/ç*, "
na qual um «toqui», ou caudilho araucaoio, sa defende de V
ANNO I Rio de Janeiro, Setembro de 1923 N°. 1

A CIDADE-PROTEU
17
começou d e 1904. Dahi esta verdade proclamada algujes :
civilização do paiz data d o momento preciso em q u e foi
RIO é hoje uma grande cidade, onde já se

O começa a v i v e r . . . O progresso da urbs, nes-


traçada a Avenida Rio Branco.
O Rio, pelo menos, principiou a contar desse ins-
tante providencial, que é o melhor apanágio d a energia
tes últimos vinte annos, tem sido vertiginoso. A da nacionalidade. Porque, na realidade, o que existia ante-
remodelação, feita na presidência Rodiigues Al- riormente, não poderia, a rigor, chamar-se de cidade. E r a
ves, foi o ponto d e partida para a sua uma aldeia colossal, lembrando u m a cidade-dedalo, uma
maravilhosa transformação. A obra d e Passos, o titan Canudos centupl cada, descripti pela penna magistral de
desse lance formidável d e prodígio proteíco, com a energia Euclydes d a Cunha . . . . . . dedalo desesperador de beccos
fecunda d e Frontin, o senso de realizações iniciado por estreitíssimos, mal separando o baralhamento cahotico d o s
Lauro Muller, marca é r a d a grandeza e do esplendor casebres feitos a o acaso, testadas volvidas para todos os
desta capital, que differe agora radicalmente da antiga pontos, cumieiras orientando-se para todos os rumos, como
Sebastianopolis, para gáudio d o s cariocas contemporâneos se tudo aquillo fosse construido, febrilmente, numa noite,
e desespero d o s ferrenhos amigos d a tradição, devotos por uma multidão d e loucos. .. » .
das velharias q u e fizeram o renome d e Vieira Fazenda Tal .1 obra-prima dos colonizadores apressados negli-
e q u e ainda motivam suspiros desconsolados a o s q u e vivem gentes o resultado d a s construcções a o alvedrio canhestro
do passado, num excesso d e lyrismo lamecha. dos mestres d e obra. Agora, não. J á h a ura plano d e edi-
O culto absorvente d o passado, entretanto, é uma aber- ficações c os architectos não se occupam com malbaratar
tempo construir projectos improductivos, a traçar c a s -
ração n o s tempos q u e correm ou, para melhor definir
tellos no a r .
a nossa época trepidante, nos tempos q u e voam. O carioca,
neste século d o aeroplano e do radíogramma, riscou da O Rio já ostenta alguns edifícios bellos, d e estylo
memória R i o velho, d e aspecto colonial, labyrintho de nobre, embora se adorne, aqui e alli, com «elephantes
ruas estreitas e sinuosas, d e viellas immundas, habitaculo brancos», numa faceirice própria d e m e g e r a s . . Demais,
ideal para .» febre amarella e a s intrigas d e uma corto subst tuiu «Provisório» pelo «Municipal», si bem que

sem fausto. Mesmo porque, n a phrase luminosa <= rebelde este theatro definiti/o tenha defeitos insanáveis e irremovi-
veis. Tem, alem disso, hotéis modernos, confortáveis, onde
de Ingenieros, o futuro sempre é melhor.
se paga muito para a acquisição d e dyspesias, assim como
Quando o Castello ficar completamente arrazado e
possue cassinos, estabelecimentos balneários, cabarés c casas
surgir d e s u a vasta área a perspectiva d e novos parques,
de chá, q u e , noutro tempo, só se tomava, á s vezes,
praças, ruas e avenidas, na imponência d e monumentos t
em pequeno.
palácios, d e edifícios majestosos e amplos, o Rio tornar-se-á
O Rio, pois, é uma cidade que se vae tornando digna
uma cidade soberba; nesse dia, q a e n ã o está longe, o s
da natureza que lhe serve d e edênica moldura. Chamavam-
famosos thesouros, creados pela lenda ou pela imaginação
lhe a cidade d e Deus. Hoje, já se v a e tornando a do
saudos:sta de reUrdatanos inveterados, tomarão u m a forma
homerp. Falta-lhe, certamente, muito para alcançar todo o
d e realidade, pois valorizada essa parte opima do perimetru
seu esplendor.
urbano, * «todletc» d a metrópole brasileira apresentará o
Actualmente, a sua insipidez desappareceu, com
regio prestigio d a belleza, do luxo, d a esthetica, da hygiene
movimento dos turistas, o bulicio d a s ruas, o augmento do
e d o conforto.
transato, a s delicias d a vida nocturna, cheia d a s pernas,
Antes desse combate renhido, em que o tradicionalismo
das vozes, dos risos d o «Ba-ta-clan » e do encanto, d a
foi arrazado (consistia elle n u m a'cervo d e monstruosidades graça, d o s meneios d a s «tiples» d a Velasco.
históricas, espécie d e exposição permanente d e mau g o s t o . . . ) ,
Si o Rio continuar nesse crescendo, ficará em breve
O Rio e r a a. Porcopolis, repleta d e «cortiço3»... sem abelhas.
um p a r a i s o . . . para os ricos.
Passos e Oswaldo Cruz foram os heróes destemidos,
que, á guisa d e Hercules, limparam a s estrebarias d e Augias.
Saul de NAVARRO
Até então, venerava-se o erro e o descuido legados
pelos successores d e Estacio d e Sá. A tradição brasileira
IKK I *

FEMINISMO E ECONOMIA
^=
<a " duziram-se de muito a-- occupaçôes
domesticas a mulher, com isso.

o
I 'i"]l'
feminismo começou
ii.ir-st- |>o-M\t'l desde que as
i tor- loi se entregando ao luxo.
E' certo que lhe ficava lhe
sociedades passaram do typa ficará ainda uma missão esthetica e
guerreiro ao industri il. moral e mesmo uma funeção admi
Numa sociedade guerreira i mu- nístrativa; mas reduziu-se tanto o âm-
Iher tinha que ser inferior. bito da casa antiga e augmenta-
E si .1 passagem da socie- ram de tal modo as necessidades ar-
dade guerreira á indus:rial foi i> pró- tificiaes creadas pela civilização, que
logo do feminismo, a granie in- a mulher teve de sahir á rua, impei-
dustria escreveu o primeiro capitulo lida pela força dos factos econômicos
de conclusões terminantes. A gran- Em plena rua, no mesmo plano do
de industria foi reduzindo as in- homem, a antiga divisão não tem
dustrias domesticas e tirou á casa razão de ser e a igualdade de direi-
a sua importanccia industrial. O lar tos, que é norma de justiça para t
era um centro industrial que abas- concurrencia, instaura-se fatalmente.
tecia de muitas coisas .x família
alli se fiava : tecia, se i onfei ciona- Gotnez de BAQiERO
vam os tecidoã OU pai I menos par
te dcllcs: alli se obtinham do cur-
ral OU da horta muitos prnducto?
Mais vale uma verdade amar-
de alimentação. Km summa: com
ga do que uma doce mentira.
prava-se pouco. A casa tinha um
logar importante na economia priva- HalL CAINE.
da, e esta economia era presidida
pela mulher: era o seu reino.

A grande industria destruiu essa


A bisbilhotice é um impulso
constituição econômica. Hoje. a casa
humano, de latitude infinita, que,
da mulher mais trabalhadora tem
como todos, vai do reles ao sublime:
pequeníssima importância industrial
por um lado leva a escutar ás por-
() fuso e a roca passaram á historia.
tas e, pelo outro, a descobrir a Ame-
E" mais conveniente comprar as coi
rica.
s.is do que fazel-as em casa. Re- Eça de QUEIROZ

IBBHBUUBBBBBBUBUBUãUUUUBBaBaUUUUUUUUUUUUUBBUBBBUUUUUUUUUBBBUUUUBBBUUBBãUUl
OS IrPIIISr-TOIFllES I D O HNTTJ
•Mon modele ef mon chien», de Hervé. (Salão de Paris, 1912)

xxxx, : • -.-••••-•• -• •xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx^x


s^P" cisam fazer uma viagem de um kilometro para chegarem
á casa do amigo João.
As faltas dos grandes Eil-os partidos. Deixaram-nos ir sós. fiados nas suas
promessas: elles se c o m p r o m e t e r a m a ir multo direitinhos,
não se afastar do caurnho, a evitar os cavallos e os
£' d o s u a v e , d o amável a u t o r d ' « 0 c r i m e d e carros não deixar Etienne, o menor do bando.
S y l v e s l r e B o n n a r d - e s s a jóia d a m o d e r n a Eil-os partidos. Vão em ordem, em uma fileira
l i t t e r a l u r a f r a n c e z a . a p a g i n a q u e a q u i of- única. Não se pode partir melhor. No emtanto, ' ha um
ferecemos a o s n o s s o s leitores. Extrahida da senão nessa bella compostura. Etienne ê muito pequenino.
sua obra «Pierre N"7iêre» e especialmente E ' verdade que elle está animado de uma grande co-
t r a d u z i d a p a r a AMERICA, essa pequenina ragem. Eífoiça-se apressa passo. E além disso
fábula diz t o d a a d e l i c a d e z a e t o d a a t e r - agita os bracinhos. Mas é muito pequeno demais não
n u r a d e q u e é c a p a z a g r a n d e a l m a de A n a - pode seguir os amigos. Fica para traz. E ' fatal; os philoso-
fole F r a n c e . phos sabem que as mesmas causas produzem sempre os
mesmos effeitos, Mas nem Jaeques, nem Bernardo, nem
Marcello, nem mesmo Rogério são philosophos. Elles ca-
S
estradas parecem-se com rios, minham de accôrdo com as suas pernas, pobre Etienne,
Isso porque os rios são estra- de accordo com as suas: não
das naturaes por onde se via- ha equ librio possível. Etienne
ja com botas de sete léguas; corre, bufa, grita, mas fica pa-
que outro nome conviria ás ra traz.
barcas? As estradas são como Os grandes, os mais velhos,
rios que o homem fez para deviam esperal-o, direis, re-
homem. gular o passo pelo seu. Ah!
As estradas, as b':llas es- seria da parte delles uma alt i
tradas tão uniformes corno virtude. Nisso elles são comi' "s
superfície de um rio, sobre as quies a roda do carro homens. AvanteI d i z e n os for-
sola do sapato encontram um apoio ao mearão tempo tes do mundo; e deixam os
tão solido c tão macio, são as obras-primas dos nossos
ti fracos para traz. Mas esperàe
pães
p que morreram sem nos deixar os s;us nom?s e que pelo fim da historia.
não conhecemos sinío pelos s;:us beneficio». Bemdictas sc-
nâ De repente os nossos gran-
.m as estradas, p :Ias quaes os fruetos da terra nos che- des, os nossos fortes, os nos-
gam abundantemente que approximam os antigos, sos quatro peraltas se detém;
Foi para verem um amigo, o amigo João, que Ro- viram no chão um bicho que
gério, Marcello, Bernardo, Jarques e Etíenne tomaram salta. O bicho salta porqu • t
«. estrada nacional qu:: ext;n.le ao sol, ao longo dos pra- uma rã vai em busca dO
,s e dos campos, a sua linda faixa amarella, atravessa prado que margei r a estrada

1
as villas e as aldeias l:va, dizem, ao mar em que
Esse prado é 9 sua pá-
tria; é-lhe caro parque ella alli
estão os navios. tem sua morada, junto dum ANATOLE FRANCE
Os cinco companheiros não vão até lá. Mas pre- riacho. Salta.
RICA

Uma
I Ma
ia
t
é uma
verde:
grande
tem
curiosidade
HpeCtO de
CM dá-lbe qualquer e u s » de maravilhoso. Ber-
da
uma
natureza.
folha \n.i
V
nardo. Rogério, facques <• Marcello lançam-se em sua per-
see.uu.io. Adeus I lienos e helli estrada toda amarellal
adeus |I|HIIHM|I i . i l o s no prado. Sentem logo os pés
enterrarem na Urra fôf.i que alimenta um matto espes-
so. Alguns passos m>is se enlameiam até aos joelhos:
3 matt i eacoudia um brejo I
S.íim com muito custo. Os seus sapatos, meias t
pernas estão negros. Foi a nympha do prado verde que
calçou botas de lama nos quatro desobedientes.
Etienne alcança-os exhausto. Não sabe, ao vel-os as
sim calçados, si deve ficar satisfeito ou triste. Medita
na sua alma innocenle as catastrophes que férem os
grandes e os fortes. Quanto aos quatro enlameados, voltam
lamentavelmente sobre os seus pissos. Pois como haviam
de ir ver amigo João em tal estado? Quando entrarem
em casa, as suas mães lerão nas s j a s pernas a falta que
commctteram. ao passo qu3 ú candura do pequeno Etienne
reluzirá nas suas perninhas rosadas.

Anatole FRANCE

Appareceu em New-York, onde está fazen-


do um grande suecesso, um limpador de vidraças
capaz de emittir, quando canta, duas notas ao
mesmo tempo. Os jornaes esperam poder noticiar
breve o apparecimento de um tenor capaz de
limpar duas vidraças ao mesmo tempo.

Só se devem combater as opiniões pelo ra-


ciocínio. Não se dão tiros de carabinas nas As A v e n t u r a s A r t í s t i c a s
idéas. — RIVAROL.
Alexandre Archipenko, o tsculptor que acaba 1
de fazer uma exposição em New-York, é um
Pensae duas vezes antes de falar e pen-
desses artistas que acham que «o espirito da
sareis duas vezes melhor. — P L U T A R C H O .
sua altamente mecanizada geração não pôde ser
expresso pela placidez do mármore e do bronze.
O verdadeiro bem é aquillo que nos torna
Dahi as suas arrojadas tentativas de unir, nos
melhores. — Santo AGOSTINHO.
seus trabalhos, os recursos da esculptura aos
da pintura, a que se ajuntam as innovações de
O DOUTOR J. W. EVANS, sábio ameri-
novos materiaes introduzidos na confecção de taes
cano, descobriu ha pouco que a erosão das águas
obras. O leitor decidirá: pelo applauso ou pela
d o Atlântico fizeram recuar de 2 centímetros e
condemnação . . .
meio a costa americana, no atino passado. E'
o caso de se agradecer ás companhias de ma-
vegação o não terem augmentado o preço das
Quando morre uma criança, nós também
passagens.
morremos um pouco nella, porque ahi morre
uma illusão nossa. — Graça A R A N H A .

A variedade é o que mais ama na vida o


coração humano. — Alexandre HERCULANO.

Os preguiçosos têm sempre vontade de fa-


zer qualquer coisa. — VAUVENARGUES.
VIDAS E1ST É R
-(CONTO)-
PEZAR do tempo decorrido, elle manadas famintas dos seus modestos servidores. E depois,
não esquecia. Além de que na velhice, o mui nobre senhor de Villasantos e r a um
não era tão velho para « tal pobre aposentado quem a Nação atirava mensalmente a
ponto perder a memória. Ti- esmola de umas moedas para tornar mais longa a sua
nha sido mesmo aquella aven- agonia.
tura mais interessante da sua Si elle quizesse, en-
mocidade. E, si bem que lhe cheria com sua let-
houvesse acarretado muitos des- tra tieaaula centenas de
gostos, tal aventura fizera com paginas n a r r a n i o a sua
q u i elle se detivesse á beira vida obscura e ignora-
do abysmo. E que abysmo! Um espantoso precipicio, com d a ; escreveria a sua
morte no fim . . . De que se livrara! Agora, no inverno historia, não para
que se avisinhava, vendo «i próxima chegada da pallida dama vulgo, mas para i N 0 -
do sudario branco, sem affectos e, por conseqüência lógica,
sem família, voltava a dansar na sua imaginação a silhueta
gentil da caixeirinha. Que teria sido feito delia? Talvez se
houvesse casado com algum vendedor de louças e estivessem
estabelecidos. Talvez os negócios prósperos a houvessem
transformado numa senhora opulenta, consagrada ao lar que
íormára Talvez, também. peccado houvesse batido ás
portas do seu coração ella morasse actualmente com algum
sujeito, numa união sórdida. E porque não m o r t a ? A
vida reserva-nos dolorosas surprezas. Estaria rodeada dos
seus? Quem sabe? Bem se lembrava e l l e . . . Morena, de
cabellos curtos crespos, olhos muito grandes, muito
íiegros, m u t o brilhantes, com p s s t a m s espessas e os arcos
negros das olheiras profundas. . . Elle de certo nunca
a m a r a ; nunca a pudera amar. O seu amor foi pela outra,
pela loura boneca que veio dos Andes com *. neve dos
oincaros no corpo divino, tão branco coma leite, e co'm
> fogo dos vulcões da cordilheira demoniaca no seu sangue
• - ^ • M ^ * ^ > " ^ ""-**
ade mulher apaixonada.
A outra! E r a bonita, sim, seduetora. . . Elle
hamava a menina dos olhos côr do céu, e a bonema
ria. satisfeita na sua vaidade de menina que presente
breza, q u j sentirii orgulho
um mysterio nas palavras do home.TL Que vergonhaI Apai-
ao saber da abn;gação de
xonado por uma pequena de dez annos! U m crime! Pen-
um pobre diabo. Loucuras!
sando bem, não havia dalicto tal. Quando elle se apai-
Elle não soube que eram
xonou foi outr'ora. na juventude; agora apenas havia
riquezas porque, antes ao
recordações, fantasmas das COS3S que se foram para nunca
seu nascimento, alguém dis-
mais voltar. A menina dos olhos côr do céu seria já uma
sipara a fortuna dos seus; e elle nasceu humilde, viveu hu-
mulher, feliz ou desgraçada, porém, uma mulher. Como pas-
milde c humilde morreria, Deus sab^ onde, num dia n ã o
mam depressa os dias! Hoje moço, alegre, cheio de illusões;
sabido, em um minuto q u i l q u e r . . .
amanhã, velho, triste, cheio d>- d e s e n g a n o s . . . O mundo
A silhueta da caixeirinha continuava a dansar no seu
não pára seu monóto-
cérebro. Carmen? Luiza? C h a m a v a - s e . . chamaV3- s e A n l
no gyrar, dia c noite,
Chamava-se Rosário I
líiz e sombra, como
— Estás convencido, meu velho? E ' difficil recor-:
»ida dos homens, ale-
ilar . . Disse de si para si.
gria c dor, ri-
Apanhou a penna. preparou o papel.
I I I lagrima.
Impossível. A mão recusou-se obedecer-lhe. A pen-
Duas mulhe
na. como um estylete, rasgiva papel.
es cruzaram o
— Coragem, meu velho, a v a n t e ! A mão vacilla mas ,
eu caminho,
coração ainda é forte e a g u i a r á ! 1
por ellas soffreu
Todas as tentativas foram inúteis.
-Jle coisas índi-
— Velho infeliz, não podes escrever, mas apenas pensar I
ztveis, humilha-
E pensando, pensando, adormeceu.
ções e ofíensas .
Tac, tac, tac. . . <
ÍK, o altivo senhor de
Despertou-o ruído. De quando quando soav»
Villasantos, descendente
uma campainha.
d« uma estirpe glorio
— Si tivesse uma machina de escrever I Dando golpes
de nobres cavalhei-
ros. N o b r e ? Sim. Ha seccos no teclado encheria de lettras papel e riria do
sido nobres os meu pulso . . .
antepassados ; i No aposento contíguo um negociante despachava ã
obre era el!e, por sua correspondência utilizando-se de uma esplendida «Smith».
Si elle ao menos m'a cedesse por m o m e n t o s . . .
legitimo rebento de um tronco veneravel; nobre, 0 visinho ac cedeu com prazer ao pedido do senhor
-:ra a sua alma, nobre a sua condueta. E no emtanto de Villasantos. E naquella mesma noite « cobiçada machina
a os outros, para sociedade despotica de bastardos enri- passou, como uma jóia de preço, ao quarto do improvisado
idos, não passava de um pobre diabo encadeiado á escriptor.
a da minguada gratificação que Estado entrega ás Tac, tac, tac . . .
1 1// A7f A

Muito beml I. o titulo > Recon


< Memórias? \ moda >áo novelbu alegres, com um santos livre de enxei toa, \i\ re
i de emo Io um p o m o de immorálidade, Nada meu I asteii,i\ . .
ilioia foram uiupi id< l
vellu i, a lua historia não interessará a^ meninas que d m - i ls desejos *\^ honrada
sjm no griU-roum do Palace . E nsm tâo pouco aos risca pelo cavalliciro, Dir-se-in qu •• i senhoi di Villasantos,
MIIIOS Escreveria para ti. como dizeai os es:rvptores men- durante a sua obscura missão de funci lon.iiio pUbliCO, lia-
tirosos. Mas conheces a lua vida. minuto por minuto. NSo via passado uma existência silenciosi reverente nos qua to
cens parentes: quem deixar as folhas e s c r i p t a s . . . Em frios de iminundas hospedarias. Na quietude de i detestáveis
compensação, si deacrevesses as mas remotas aventuras . u b a u l o s que sorte lhe reservara, sua alma \ " . n a empo»
de amoi adaptadas aos tempos de bailécos absurdos e de li- de ideaes sonhidos, cheia de juventud: e t - n u de missões
berdades censuráveis, talvez ftzesses uma obra-prima ao de justiça, Naquellas horas de clausura voluntária, serena
gOsto ila^ raparigas que fumam cigarro- turcos e bebem altivez da sua raça assomava ás pupillas eui/enl.i- do-
licores verdes, amarellos a z u e s . . . : Vicio? Esta palavra. seus olhos cansados, no ulti.n > adeus .1 magnificência das
nem .« pronunciava; peccados ligeiros, tliris escandalosos. grandezas perdidas, no ultimo grito de revolta ante a-
flores exóticas que nos t r o a x ; i Liberdade. Avante, pois! rumas de um brazão ante os estremecimentos agonicos di
Não serás o primeiro velho que cscre.e u:n i novella sen- uma casta. E agora, no vil lamerati do Ministério, trans-
imtlo-se Joven. formado em roda insignificante da irrisória m.u bina buro-
c r a t c a , o senhor de Villasantos era simplesmente Villasantos,
Tac, tac, t a c . . .
um pobre chefe qu.- discutia sobre t mr,i„ que COinmentavo
Dóem-me os b r a ç o s . . . Comprehendes, velhote?
com os subalternos a plástica de uma certa dausaiiua.
Quando te aposentaram, foi porqac não servias mais. por-
Viveu duas vidas oppostas. Pelo pensamento, loi digno
que ha\ias dado já o frueto da tua vida pardacenta noa qua-
descendente daqueüe arrogante marquez de Villasantos que,
renta annos de serviço activo I
ao cabo de uma vida honra 11, entregou o s.:ti patrimônio
Dolorido, vem esperanças, falto de té, sd>andonou ten-

I I l>

tativa. Contemplou cm silencio a machina, que parecia espe- aos azares do |ogo da bqísa; mas na realidade de verme que
rar ft chegada de ruàos ageis qu.i fizessem palpitar re- só provou fél do infortúnio, foi plebeu, plebeu como CM
cendo poemas narrações emotivas cruéis. Naquella mistura demais: um desgraçado escravo de um noiic, com a-
d e alavancas e de molas escondia-se o enigma do porvir. rot.is e um eterno socr;sí amargo n >.s lábios.
As idéas audazes, as salvadoras arrogância?, os preceitos lu- Certa vez lhe s u p p r i m i i a n o de nos documentos
ninosoS, .i> tormulas mercantis, os pensamentos dos homens oífic aes. Alfeu n espí ito de n o c r a t x o , offendiio pet t nobreza
que, com os seus egoismos, turbam paz dos povos ou do collega, tomara a q u e l a vingança. Pa a que reclamar? \')eséx
•os fazem invencíveis, as profanas crenças futuras, a honra, então elle próprio o supprimíra nos seus cartões. Fotté
a virtude, O delictn. . . Alli estava o cérebro mecânico que Antônio de Villasantos? O r a ! [<»->• Vi Uviutos, prómpío*í
deixaria gravada com signaes indeléveis, para assombro Todas as manhãs, ao chegar á repartição,• havia
das gerações futuras, frieza de uma geração que zom- pre um collega para eonvite iufallivel :
bava das legendas sagradas dos tempos românticos em que Chefe, um rateio para o café!
os homens se matavam por uma mulher, por uma honra ou E • café era tomado em commuin. Café' servídc •
por , uma bandeira. colheres, p>rqu_* fornecedor da b 2b ida achava qu-
O senhor de \ illasantos cerrou os olhos, porque se perdiam sempr entre os objectos accumulados sobre as
•Smith lhe pareceu uni sangrento instrumento de tor- mesas. Palitos pileíras d ; âmbar duvidoso faziam as
tura, Depoois cobriu-a com o panno negro. E, * Hvr< suas vezes.
d a - influencia do modernismo, pôz-se ler livros torn- — Succulento! dizia invariavelmente um deites
eado- de tolhas amarelladas. mystico legado da s u i santa mãe. riciando bigode.
— g u a n d o eu morrer — disse-lhe ella nos dias dis- — .Detestável! respondia outro.
tantes dá meninice — estes livros s^rão os teus miis fieis E Víllasantoos intervínha. sorrindo, paternal.
aVl.igos; nelles aprendjrás os códigos d i honra; pn elles — «'alma. meus amigos. O café não é boi
conheceria os feitos gloriosos dos homens que traziam o teu mau. E ' um café burocrata. sem aroma agradai e .
appeilido. as legendas sublimes da tua estirp.-. porquê sabor definido. Mas fum rga DOS faz felizes . .
—r Brutal, amigo Sr. José !; dia-se. de tarde, entre as moitas dos jardins floridos, em
— Senhores, acabada (a nossa merenda humilde, es- que, ébrias de prazer, brincavam crianças". E quasi sempre
pera-nos trabalho.. . — insinuava o chefe com a timi- os seus risos c cantigas o faziam chorar, como si fos-
dez de um collegial. sem censuras á sua via estéril.

— Melhor seria que nos esperasse unia loura: por As províncias adormecidas, longe de lenitivos, são
exemplo, a vendedora de fumos, da esquina. Não acha, Sr. offertorios de lembranças para as almas torturadas, Elias
José da minValma? nos obrigam a julgarmos severamente o nosso passado, «».
nos orgulharmos de êxitos distantes nos mortificar-
— Quem fala ém tabaco ?
mos com as sombras de imperdoáveis esterilidades. Mais
Não ha um pito- para este desgraçado chefe de
do que províncias adormecidas, são povos que vivem de
família? perguntava, de um canto, um sujeito de roupa recordações.
lustrosa pelo uso.
No seu retiro voluntário, o senhor de Villasantos ha-
— Ordem, senhores!
via tido o. infeliz idéa de escrever as suas Memórias. Apenas
— Sim, ordem . . . do dia : trabalhar o mais devi um instante considerou fracassada «. sua árdua empreza.
gar possível, para dar menor rendimento. Lançou longe os livros da herança materna e, com «. tena-
— Amén ! cidade dos velhos, descobriu a machina e os seus dedos
— Tor todos os séculos dos séculos... esqueléticos côr de cera recomeçaram «i bater fe-

E bando de funecionarios começava > trabalho riado reíuzente.

entre pilhérias obscenidades. Tac, tac, tac. ..


O s velhos livros do legado materno o embalavam. As
paginas amarellecidas, com gravuras „ três cores, dulcifi-
— Sr. José, não se deita hoje ?
cavam' as asperezas do seu- caracter, tornado irritadiço na
idade avançada. Eram breviarios sãos, alentadores per- Era i voz áspera da dona da casa. que pedia

suasivos.. José Antônio de Villasantos, chegou a. considerai explicação daquelle facto anormal na existência monótona
ilo ancião.
a sua leitura como um cauterio purificador. Quando o apo-
sentaram, ao completar os sessenta cinco annos, retirou- — Estou escrevendo *. minha vida... respondeu elle.
se para <t calma de uma tranquilla província. A sua vida — A sua vida ?
melhodizou-se ainda mais. Ouvia, devotameiite. a missa diá- — Sim! Uma vida estéril. .
ria na legendária calhedral. que destacava, orgulhosa, as
suas torres mudas no fundo violeta do amanhecer. Escon- Gloria de SAN T E L M O — (Desenhos de Ochua).

i^vyVu-Lrr»ii*^*^*i*i* ** •«••****

<8> ®

<2> ©
PINTURA CON;r,Et}ÍJ)?Oiyv,t%\ ,'„..
«La rafale», de A. Quínsac. Salão de Paris, 1913).
Vinham paia .. vida - scenari» de duello, pela con-
quista de uma ventura precária — onde i' forçoso que -
CD
sinceridade seja tangida pelo sarcasm > que I pureza per-
corra, ignorada infeliz, sua via dolorosa...
E porque vinham elles, alvas columbas lamentáveis,
ra>gar nos espinhos as carnes tenras ; expor o collo niveo a
dilaceraç&o monstruosa das fréchas? Ou, pequeninas bestas
ainda innocentes, cumprir o destino odioso de puugir tam-
bém, de também arrancar aos corações alheios ais dolo-
ridos e lagrimas ardentes ?

Vinham para » vida, para a tortura de todas as


decepções de todos os mallogros. Sonhariam 3 não veriam
realizada uma parcella de ideal; teriam vontades para sen
til-as esmagadas; extenderiam lábios sequiosos para taças
fugitivas; abririam os olhos para claridades que não bri-
lhariam nunca. . . Todas as aspirações seriam frustradas
desenganados todos os anceios. Perderiam passos no deserto,
os olhos tragicamente cravados na miragem esquiva da
felicidade.

Ambicionariam a gloria e teriam pó; ergueriam os


braços pava* os pincaros não sahiriam jamais da coh-
stricção das grotas; artistas, teriam a. incotnprehensão
hostilidade; idealistas, esbarrariam no escarneo; amantes, se-
riam trahidos; cobiçosos, apalpariam ruínas; os beijos
haviam de fugir-lhes e os seus abraços abraçariam o vácuo;
não encontrariam um carinho para seu carinho, nem
um eco para sua voz, nem uma pupilla em que se re-
flectisse brilho do seu olhar sedento. E os olhos appel-
lariam sempre em vão, e debaldc clamariam eternas as boc-
cas, as mãos retorcidas inutilmente avançariam na noite,
numa solicitação obstinada e infinita... E um dia haveria
O nome RODIN, pelo que seu respeito se tem
sobre a terra um túmulo — concretização irônica de todos
tscripto traz logo á idéa um hispido fazedor de monstros
os anceios, realidade irrisória de todos os ideaes, cinzas de
em rsi ulpiura. Nada menos justo, e ' prova é a soberba
incêndio.
«Idade de Bronze' que aqui reproduzimos, modelo de har-
monia de linhas de elegância máscula de formas.

Silverio ROSAS.

J)e urr] livro igqorado inm»M«niKMitw Quando se está alegre, é que não se ama:
o amor é uma coisa grave, triste e profunda.

(S seus collegas de infância! Tinha saudades del- Octave MIRBEAU


©
figurinhas delgadas que riam ou questionavam,
ignorantes dos seus amargos destinos, na inconsciencia de A inextinguivel hostilidade dos néscios foi
anhos que sallitam felizes dois minutos antes de receberem, sempre o pedestal de um monumento. — I N G E
em pleno coração, <. punhalada mortal do magarefe. Fructos NIEROS.
ephemeros da inconsci;ncia ínelutavel do Instincto, pisavam, '
tripudiando alacres. o limiar de um mundo em que ha in-
vejas surdas, ódios trágicos, guerras cruentas, <. delação
A única victoria, em amor, é a fuga. - NA
ascorosa do sabujo c j punhal traiçoeiro do sicario, onde POLEAO.
ha olhares que crestam e boceas que infamam, onde punhos
se contractam dissimulados, dentes rangem macabros na

sombra !
Dispondo, como paiz em phase evolutiva, bicionismo para que se veja mais a ellas do que
de escassos recursos para a diffusão da cultura. a scena que se desenvolve diante de nossos olhos...
o theatro deveria constituir para nós um poderoso Approveitemos o theatro como um excellen-
elemento de educação, não só esthetica, mas te instrumento de conformação da consciência
mesmo moral das multidões. Ao lado do thea- do povo. Transformemol-o n'uma arma de civi-
tro-industria, fonte de rendimento, ha logar para l'sação, n'um espelho em que se reflictam de
a belleza. Não se confunda o appello aos appeti- preferencia os nossos defeitos, os nossos encantos.
tes grosseiros com manifestação artistica . . .
Nesse particular o brasileiro é um povo C a r l o s MAUL
calumniado. Dizem - no hostil á
arte superior, ávido de prazeres 1 | 1 1 i
rasteiros que a sua mentalidade
amorpha digere voluptucsamente.
Será exacto esse conceito, ou será
0 fumo é desinfectante?
que lhe dão o baixo theatro por
Um italiano, o Sr. Puntoni, aca-
não lhe poderem offerecer outro
ba de estudar a acção desinfectante
os que o responsabilisam pelo
do fumo em condições comparáveis
supposto calor com que appliude á da cavidade buccal e a mesma
a farça triumphante ? . . . acção «in vitro», a titulo de com-
Mas .tal affirmação não cor- paração.
responde á realidade. Não conheço
povo mais dócil, mais plástico, do Basearam-se os seus estudos no
o nosso. Elle acceita tudo. E se virus cholerico, no meningococo,
acceita tudo, por que não lhe dar- no bacillo de Pfeifer, no da fe-
mos, através do palco, uma orien- bre typhica, no da diphteria, no
tação para a belleza, para o bom estapilococo, no estreptococo, to-
gosto, para a comprehensão das dos elles collocados em recipientes
idéas ? . . . de vidro: os germens foram mor-
Quando lançamos, a titulo tos no fim de cinco a trinta mi-
de experiência, o Theatro da Na- nutos.
tureza, não foi com enthusiasmo frt
" ''jjgnf • Estudando a composição do fu-
que a platéa vibroa diante das mo, reconheceu o Sr. Puntoni que
tragédias eternas que o gênio gre- as suas propriedades bactericidas
go, tão claro e tão empolgante, eram devidas a três corpos: o
nos legou ? Aquella simplicidade formol, o piveol e a nicotina.
formidável toca todas as almas, é Entretanto foi observado que
penetrante como um philtro, e o poder desinfectante que o fumo
não ex'ge conhecimentos especiaes exerece de um modo notável «in
para a sua percepção. Nós não vi- vitro», está longe de ter o mes-

S mos também o fracasso de ou-


tros emprehendimentos a que fal-
tou a sinceridade ? . . .
"O E S P I R I T O D A D A N S A "
Hsculplura de Alfrtd Lenz, artista
americano.
mo valor na bocea dos fumantes.
Pode-se, é facto, admittir que
se produza na bocea uma acção ba-

( Espalhemos o riso bom da satyra que corrige


deformidades, cultivemos os sentimentos genero-
sos, nas bellas formas de arte. Não ha baixo nem
alto theatro, quando os gêneros reflectem um
ctericida depois do uso de uma grande quanti-
dade de tabaco. Mas essa acção só se exerce sobre
os germens menos resistentes, como o meningococo
e o vibrião cholerico. Por conseguinte não se po-
nobre intuito ou um penstmento elevado. Ha,
dem destruir com o fumo os micróbios que apre-
pura e simplesmente, theatro. A farça, a come-

» dia, o drama, a tragédia, a opera, comportam


uma affirmação de arte ao alcance do espirito
popular. O chamado theatro de él.t3 é falso, co
sentam a mesma resistência que o bacillo typhico.
E ' pois um erro palmar suppôr que a acção
bactericida do fumo se manifeste até nas vias
mo são falsas as elites que o procuram por exhi- respiratórias.
® "Salão' âe 1923
( LIGEIRA NOTICIA )

natureza brasileira: Nevoas da manhã, Em plena


\_) E P O I S da emphase patriótica do «Salão natureza, Uma tradição que des ip parece
do anno passado, em que os nossos Outro mestre. Visconti, apresenta Despedida,
pintores, forçados pela data que com- Martyr, Para a Escola, com o estylo em que se
memorávamos, procuraram despertai interesse fi fez admirado.
xando em symbolos mais ou menos felizes os Entre outros trabalhos, Lucilio de Albu-
feitos da nossa emancipação política, a Exposição querque concorre com uma En'rada da Guanabara
actual apparece-nos mais modesta, é verdade, po- e A curva da Estrada.
rem mais apreciável pelo caracter de diversidade Parreiras, o fecundo mestre da paizagem,
e dé independência revelados na escolha dos the- tem um logar importante no actual certamen.
mas offerecidos á inspiração dos nossos artistas.
La vallée de Ia Data (Suissa) Sudoeste, Cataratas

K* • i »fVOM «

«Yéra»,
de
Pedro
Bruno

... \'....,'< •"•'•

Antes do mais, o «Salão» deste anno denota do /gufis>u' Inferno Verde, (Brasil) e Hora Dou-
uma operosidade e um esforço dignos de admi- rada ('França), com o triptyco Terra Natd, mos-
ração num paiz em que a indifferença glacial tram que a paizagem brasileira, como a extra-
ambiente ameaça matar em germen toda velleidade nha, não tem segredos para o seu pincel.
artística e em que é preciso ter a obstinação dos Timotheo da Costa expõe obras em que
fanáticos para vencer os incontáveis óbices que sobresáe uma Paizagem.
estorvam a carreira das artes — ainda entre nós André Vento apresenta o painel decorativo
consideradas um passatempo de meninas ricas ou Matinal (pointillé) e um mystico Pierrot em Sonho
uma mania de indivíduos que não dão para ou- desfeito. Mais terrenos são os motivos de Pedro
tros misteres mais sérios. Bruno: Symbolo das Praias, Yára e 'Repouso,
A actual Exposição, em que se contam onde a mestria da factura rivaliza com a lim-
muitos trabalhos excellentes, é um documento de pidez dos tons.
que os artistas brasileiros empregam brilhante- Carlos Chambelland detém o espectador dian-
mente o seu talento e o seu esforço afim de as- te da formosa luz das Commungantes e da exe-
segurarem á nossa terra, no terreno artístico, um cução do Retrato.
logar de destaque entre as nações americanas. Levino Fanzeres dá-nos aspectos da natureza
Baptista da Costa expõe algumas telas nota- em Paizagem de Campos e Terra Virgem além
rp oiusuniuss o t-pAaj ZSA EUITI SIBUI anb u » sraa de outros. Na praia., Balcão florido e Fim fa
r
— AMERICA —

vão de Fiúza Guimarães, 1 arde de 'Sol, de


Garcia Bento e o magnífico effeito de luz do
Prelúdio, de João de Azevedo.
O ssntimento decorativo de Mario Tullio ex-
pande-se em varias telas, ao passo que Edgard
Parreiras, em Mangueira e Paula Fonseca, em
Recanto de Faz:nda, voltam-se de preferencia para
a paizagem brasileira.
A lenda da Yára encontrou em Manoel San-
tiago um novo apaixonado e a interpretação da
figura humana tentou Cândido Portinari, que exe-
cutou o retrato do escultor Mazzucchelli.
Na sacção de esculptura avttlam, entre ou-
tros, os trabalhos de Antonino Mattos (Velho
fauno), de Leopoldo Silva. Mo lestino Canto e
Mazzucchelli.

S . IF

«FIM DE PASSEIO»,
de Georgina' Albuquerque
passeio, telas de Georgina de Albuquerque, encan-
tam pela frescura e pela luz.
Oswaldo Teixeira é incansável e vertiginoso
nos seus progressos. Apenas um adolescente, ex-
põe trabalhos que forçam o estudo: Sinite par-
vulos... Recostada. Admira-se ainda um Re-
trato e um delicadíssimo pastel; Adolescente.
Bernardino Pereira conseguiu em Depois d>
vento um mágico effeito de transparência da água
de um lago de parque.
Bracet trabalha o sagrado e o profano em
Direito de asylo e Manoel Constantino faz um re
trato, Edith, que é toda uma psychologia in-
fantil.
Manoel Faria expõe um bom retrato (n. 62),
junto de Maruf e Retrato da s°nhorinha L. B.
de Sarah Figueiredo.
«RECOSTADA»,
Podem notar-se ainda os desenhos a car- d e O s w a l d o Teixeira
<>»C<>C<?0<;<:<>cX^

f^SUFFRAGISTASTi
EJ-
Realizava-se um congresso feminista. Havia
Um dos títulos de gloria do carioca é a
«ma agitação entre as congressistas e uma an- facilidade ( e a felicidade j com que cria os
ciedade insopitavel pela discussão dos ; hemas neologsmos mais expressivos e a presteza com
de que dependia o futuro do partido. que se apropria das expressões de outros
Afinal, uma senhora, a presidente, ergue- pontos do paiz e as torna incisivas, com uma
se com solennidade. Estava magni- força que nem sempre possuíam.
O linguajar carioca já teve a
ficamente vestida e ostentava um
honra de dois livros, o que mostra
chapéu ultimo modelo, de cau-
< star sendo motivo de attenção.
sar inveja... E depois de agitar
Bamba . . . Haverá um termo que
nervcsamente uma campanha, dirige- melhor exprima o valentão ?
se ás circumstantes: O nome de um theatro de Pa-
— Concidadãs! Estou prompta ris desembarcou no Pharoux com
uma troupe theatral. Pois já o ca-
a responder a todas as perguntas
rioca enriqueceu o seu léxico com as
que me quizerem fazer ! t x p r ss e s : batacl n s o, hataclanizar,
E todas as suffragistas, em uni- bataclanico. E a p h r a s ; adquire um
sono: enorme poder expressivo:
— A «psquena» estava batacla-
— Onde é que a senhora com-
nicamente vestida . . .
prou esse delicioso chapéu ?
X. Y.
LON o £ > A ( M S 1918
W.MOHfflSS'fí»

15i:i.LAS-AKTKr>!
HEURE CALME, d e H. M o n t a s M e r . ( S a l ã o de P a r i s , 1912)

| CZ>Q>CD |j CZXQXCJ [ c ^ O c n j| n=>Q<=2 j| i z > ) õ ] | pQq |[pQq j| c z ^ ã ] j ç ^ Q c n || P < ) < Z I | PQCZ] |[~J=>Qc3i \

# <

Padaria Prozerpina
Deposito listrada
de ^erpo Central do J|razil
(FILIAL)

José Pacheco da Rocha


Commercio de J-arirjha de Crigo e seus preparados
TELEPHONE 1140

91, Rua B a r ã o de São Felix, 91


RIO IDE JAUNTEIIFLO
•1
BERLIOZ E ROUGET DE LISLE

Muita gente ignora que Berlioz esteve a agrada isso. Lndicae-me um dia em que poderei
ponto do collaborar com o autor da «Marselheza».
<» musicista romântico havia feito* um arranjo do
hymno nacional trance/ para dois coros e uma
encontrar-vos ou

poeta como sois não acharia


vinde
migo um almoço máu, sem duvida, ma- que u
1 ("hoisy partilhar

tal. adorado
z
coi

jm
pelo
massa instrumental, e dedicara o seu trabalho ao ar dos campos. Ku não esperei esta oceasiãò para
iiutoi desse canto admirável. Foi então que elle tentar approximar-me de vós e agradecermos a
recebeu de Rougel de Lisle esta curiosa carta: honra que fizestes t uma pobre obra minha,
vestindo-a de novo e cobrindo, ao que se diz, a
tChoisy le-Çoi, 29 de Dezembro de 1830- sua nudez de todo o brilho da vossa imagina-
Nós não nos conhecemos, Sr, Herlioz. Que- ção. Mas sou um pobre eremila enfermo que só
reis que Havemos relações ? A vossa cabeça parece rara e rapidamente apparece na vossa grande
um vulcão eternamente em erupção; na minha cidade e que ahi não faz o que desejaria. Fi-
nunca houve mais do que um fogo de palha que caria muito lisongeado si não recusasseis o
se extingue e ainda fica 1 fumegar um pouco. No meu pedido, si bem que elle não VOS seja
eintanto, da riqueza do vosso vuh ao e dos res- muito agradável.
to-- <lo meu logo de palha, pó le resultar qual- Tratava-se de um libreto de opera sobre
quer t oisa. Tenho a fazer vos. a esse respeito, uma Othelo, que o autor da «Marselheza» tinha pre-
ou mesmo duas propostas. Para isso era preciso parado e para o qual esperava a musica do
que nos tríssemos nos entendêssemos. Si vos joven Berlioz.

V - ^ ^ - ^ r V ; ; •':•••: • ::::;:;;-"^i;:-:::í;!:::

Is chapéus parisienses

Um lindo
modelo que
parece Ins-
pirado no
futurismo.
— AMERICA —

DESESPERAÇAO DE CINZAS

JVO martyrio das minhas esperanças,


Tive raivas, blasphemias, desvarios...
E ergui meus braços hirtos como lanças,
Contra os astros somnambulos e frios...

Porque jamais os soes, em noites mansas,


Rasgassem luz nos meus fataes transvios,
íbri-me cm ódios e desesperanças
Como um vulcão se abre em clarões bravios.

E — cratera de auathemas c assombros —


Tudo queimei em brasa de tormentos...
E hoje, que o amor desfez-se em lama e escombros.

Contra as conste Ilações, a cscureccl-as,


Irrojo as cinzas do meu tédio aos ventos,
E a fumaça dos sonhos ás e st reli as...

Moacyr de ALMEIDA
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A ESTRELLA QUE EMIGROU


Pola Negri abandonou o velho continente e o titulo de condessa, em busca
de terras americanas. Eil-a já em Hollywood, onde é conhecida por Bellu D ,ivirt.
AMERICA

A Temporada Lyrlca
,i .i i
Duas cartas inéditas de bima fôarrefo

im ista que as Li I Nãov ,,h.i. |. o.1 outro joi 11 >l '


Vi"I ilou ii" M tni ituriu do 111I1 1. :,
das iniquidades, il.o .11 um poui o.

S
lu
• •- humano dol iinenti Que valia a |u 'I typu sem sei 1 cpoi tjrV 1 litilv
I li" i.i" podia i' 1 - M I ! 1 \ " ni"ii"-. i| 1 in.i"
: -t i ' das
i . inipi 1 11 -i linh 1 11 ' 1 1 1 .1 1 1 I1 certa repci

» 1 ussã • li.iv 1.1 MI -in liga i" m i . . I - I I I 1 uplc • empri


dessa rebeldia iu 11.i" era nada I -I.IV -i qu 1 ti n lá, enfiou peijj


dissi ' " i i mu ta 11 itui alidade :
em ironias pungi ites, i u sarcasmos
Meu I lli". V. li i| uni podi 1 11 I 1
paginas >!"-
promcttida . . Sim ?
pelos seus incontável

t
' ' Kepoi ti 1 saiu dahi cm diante sumpn -, 1 11
orna 'I" paiz.
' otltl mi i p i o i u i llill.l.
\ |'|i|i<|ll" ri < li. M l "

\ morte do autor de Polycarpo Quaresma 'li BARRETO


torturado pelo mal m »
.nl!,, di do qu dqu i i oisa da morte de Ri". t8 5 09.
11 Quixoti e de I angus! a de Fraqu - tr de Qui 1 nl" Vntonfo
desappai ecei no non» nto do iriu lativ " dos Rei - I" li"|i' .. lua 1,1111 li 11
Formi- 1 ai tão, Viciam li ije 110 mesmo paqui Li
dando <l"- nul cJic; .1 nu .ii|n \lialolc l'i.nu e,
\ - duas cartas 11 v ri 1 - .mi". Medeiros ".
illogrado bem iusuppoi tav ris estudantes 1 não c ituv .1
is, valem i bsidio I .11 nil.i , ' mi agraram lio t alei
tudo <li .il ii i i do i» insadoi 11 li,11,iu 1 oir. i I almoçai 110
que perfilhava orgulhosa nem : u I tam 11.a \i .HIIIIII.I teu uma se iiü
di cm honra ,1 elle.
•- i não possu . inimigu

t
' ' \< in falou, I ilnii 1 uqucU '
i .111. 5a I", 1. 11. ,i" aquelhi falta de isãu qui
Eu já sabia 'I" i .< q ti I' 11 . di i a m . ' li n a 11
1. i i . i 1 1 ii.i t .i nl 11 .1 .1"
Svl.i ,11. Bonnarú,
lt in.i vez qu< estivi pa • "i |U'zcn Disse q u • . ia 11' !• pre "
liou in na histõi ia. Não .1" ii ,.i I " li 1I1.1 p Ia paz
i v minli i \ :n i i [ue inti- lllli r i - a i . An.ilolc I C -|M n le 1 >.ili .nu -iit •
midade <11 ,il <•. a li i '1 ' tu -.ti i.il de- se I c ". .Sc 11 ,1 -. 1 n o . i d o . ;"i I 1 ,
' • i ' 5o em Mme. i|" • ch gará ao amargor. te? apreciava mu t esl i tci 11. I> :lla,
fulgando abra, a l ly osa e'la vae etc., cm que não li 1.1 1 prejuízos de 1 .t.,-i ,
i -n - ' b jou o iti 11.1.
1 ei nai Quanto J |> 1/ nu" cisai 'li . que
i: nl hisloi ia d d e Íamos gíiat da 1." das IUI pi' za 'I" .
i qu \\ .i-i i1 g ti ntou me. I lav t.i entimentos do enganos <!" 1 oração.
no Republica . do Glyceriq, uni repórter 1
omo já está consagrado, ande I c
Era um cap i ola di iiicni andou aqui, p Ias ruas, era pio-
Minas ou Estado do Rio canhestro, bom. tissão, -i ' imuanhado de repoi tei . de
Fazia policia. photographos. T*»»>ft:. ft/y) o~ rj^x^t-a»
Não - mesmo ahi que • II '• a^ i^iTq. As. -^ q C ^
travou conhecimento com uma rapa I assim j ' . . >"i.i elli-, e e i não "
mulata Gcorgin - na rua li
ge. O paquete 1 In gou • !•" iigo i noiti . pio
do Lav radio. 1 --a" ai,ilou |. I . a , |„ ,. . . . ,,. expediente
Todos os 'í a; ' 1'. ia dormir com 1' l i . ue' -, l' / tal refoi
cila, após terem ambos seu trabalho. Elle ia importância da 11 pari ção eu penso livro
mais cansado do que ella. porque escrever, mesmo quando
em nada , futura, p .-i ri< . •-. Vndo ima-
se è repórter, cança mais que amar. A consideração 6
ginando o meio de sair daqui. S
minha. Supponhj que ambos estavam satisfeitos, tanto as-
dé .rancon 1 tças á tal
sim, isto por p a r t ; ddla. q u ; o pombal: todo falava
qui termo!) da Gejrgina com • repórter, • lam-se promoções e eu no •. preterido,
e inveja. qui é Domingos pro
Mas Repórter não estava satisfeito com a im- me sabem como ro
fui,d"
prensa. E s t a r puvear o bestunto em coisas de assassinato,
incêndios, etc.. — era de esvasiar craneo! Cavou, cavou. íclí-

cavou e foi nomeado escripturario das Obras do Ministério 1 : nos v: [0 dO Hei -

do Interior.
elle ganhava 120 mil, nas Obras
elle ia ganhar 250SÍ000. candidato á \, , „.-,
Na tarde da nom : u contente para a
- .. Ia ganhar m i i s e lhe podia fazer p do Hermes. Elle to-noa ~ serio. O L,. indo le-
- auxiliai-a em dia de difficulda ' vantaram ~ candidatura
Entrou radiante, beijou-a muito. etc.
— Deixei a imprensa, sabes ?
— Porque ?
— Xão gosto, é uma vida i n g r a t a . . .
AMERICA —

começou a enchei -se. Tomei em consideração as tuas recommendações


H a dias fizeram unia ovação ao Rio Branco e DUCL ao João que já viste os quadros 03... (inin-
logo os «alferess lembraram-se de fazer uma esse tolo, telligiyel . ) Sinto não estar cm Paris comtigo, não
uo dia do seu anniv crsario, como se os dois, Rio 15. H. para expl:car-te com um nada de pedantismo (não vae
fossem homens do mesmo quilate. O P e n a l pediu entào mal, não achas ? ) gravemente essas quinquilharias to-
a gralha que declarasse se era ou não candidato. Elle pio- das com que sonho desde tantos annos; mas para nos
metteu, mas não fez. Isto foi a iz 14 Pennâ, inebriarmos juntos, com auxilio desta nossa velha c gran-
á vista da evasiva de 12. pediu-lhe que fizesse por csciipto de amizade; para nos inebriarmos íle belleza, de civili-
declaração. Elle a fez, pedindo demissão atacando sac.ao, de saber, de cerveja, de barulho, de fêmeas
candidatura Campista, Sabes que Penna fez? Mandou tolices, satUrando-nos bastante paia virmos morrer' em paz
chamai-o, pediu-lhe desculpas, abandonou Campista e c sui cg". nc-t.L terra, que i rica ' " t|ue é pobre, quo
a gralha ficou na pasta. Está alti * que está reduzido a dá esperanças e dá dcsauiiuos, cultivando nosso jardim
Brasil I e criando filhos que fossem ser bacharéis graves e segu-
Engraçado é que Campista ficou também só iu- do seu saber. Quando penso em Paris, Antônio, te-
o Carlos Peixoto julgou-se obrigado . nho pesadellos de Raskolnikoff.
resignar a presidência da Câmara. Quan-
do voltares, estará eleito o Hermes
e o império dos alteres voltará —
quem sabe! — o M i n a s Gcrucs tal- Saudados c um abraço do
vez ainda asseste os canhões para
Kio. AFFONSO

Ww w w
i Sk Si Bt
•W S V i V W S V X S V S V V .
CANDIDAMEN
=^ (C O N T O )

na c o n f u s ã o d e r u í d o s e d e luzes, uma m u l t i d ã o
( J p a r descia, m u i t o u n i d o , n u m a a u s ê n c i a ia e vinha a p r e s s a d a , confusa, o n d e a n t e .
a b s o l u t a d a s r e a l i d a d e s o b l i t e r a d a a pe l i r a a h o r a da sahida d o s b a n c o s e d a s
^ los í n t i m o s f e r v o r e s , a c a l ç a d a l a r g a lojas e o povo d e n s o , p e s a d o , .is vezes a l e g r e e
no crepúsculo da g r a n d e cidade. Uma nevoa r u i d o s o • 0111 excesso, o u t r a s triste e a t o r d o a d o

I
p a r d a c e n t a , feita de pó e da e v a p o r a ç ã o d a s n u s
havia p o u c o i r r i g a d a s , esmaecia as luzes artifi
ciacs q u e se iam a c c e n d e n Io e os envolvia de
u m a i m p r e c i s ã o a c ç ó r d e com a seu v a g o sentir.
próprio de namorados.
1 om essa tontttra d e q u e m , e n c e r r a d o m u i t o t e m p o
n u m a sala e s c u r a , se a c h a d e r e p e n t e e m plena
Iu/ e ao a r livre, ia. pelas c a l ç a d a s , afastava-
se d o c e n t r o , r a r e f e i t o e mais t r a n q u i l l ò pela
ausência d e n e r v o s i s m o s .
Parecia que o a m o r ao m e s m o t e m p o os E, sem d a r e m p o r isso, elles e n c u r t a r a m
guiava, isolava e e x a l t a v a . Para elles a q u e l l e o p a s s o e as suas p a l a v r a s t o m a v a m u m a dia
amor. o seu a n u i r . era .. única r a z ã o de :i p h a n e i d a d e u n g i d a d e um a r r o u b o q u a s i m y s t i i u .
P a r a elle viviam e d e l l c t i r a v a m t o d a s as suas - Olha. di/ia o rapaz, falta pouco, Hoje
illusies. Q u a n d o n o - c a s a r m o s . . . Q u a n d o tiver- sem ir m a i s l o n g e , d i s s e - m e o chefe que está
m o s a n o s s a casinha... Q u a n d o eu fôr p r o m o v i - m u i t o s t t i s f e i t o c o m m i g o e p e n s a r á em mim
lo... Q u a n d o tu fores p r o m o v i d a e a tua m a m ã e Fez u m a p a u s a e p r o s e g u i u :
>2 d e i x a r convencer... T a e s os seus p e n s a m e n t o s — Si elle m e p r o m o v e r a n t e s d o fim d o
as suas palav r a s . a n n o , vou falar á tua m ã e . P ô d e ser q u e se
E r a m ambos empregados num banco: elle o p p o n h a ; m a s afinal n ã o terá o u t r o remédio
. orno p a g a d o r e ella c o m o d a c t y l o g r a p h a . saião ceder. Viveremos a principio muito modes-
F a z i a m u m b o m p a r . T a l v e z elle fosse u m t a m e n t e ; q u e i m p o r t a ! ao m e n o s e s t a r e m o s jun-
pouco deselegante, alto e m y o p e . Ella porém. t o s . . . Depois . .
e r a m u i t o b o n i t a - - o l h o s v e r d e s , fina e p i d e r m e . A c a l ç a d a ia ficando d e s e r t a . N a confu-
c a b e l l o s c r e s p o s , e m a c i o s . Vestiam a m b o s com são de luzes o a s p h a l t o parecia um rio e s c u r o
m o d é s t i a ; elle. um t a n t o d e s c u i d a d a m e n t e e cila, • r e l u z e n t e . D e vez em q u a n d o passava, r á p i d o ,

R i om uma tal oü qual g a r r i i i i c. um a u t o m ó v e l .


Todas as noites, ao sahir dos escriptorios, Animaram-se, a a t r a v e s s a r . Quasi eio
cuniam-se e vagavam pelas ruas, passeando <> da rua elle se d e t e v e , a i n d a a s o n h a r :
polir.- idyllio á luz m o r l i r a dos combustòres. E s c u t a , m e u b e m ; para c o m e ç a r , pro-
c u r a r e m o s uma casinha a l e g r e que tenha muita

k
EIle falava-lhe a p a i x o n a d a m e n t e , com um
luz, m u i t o sol e m u i t o ar. LcVarâs ps teus ,pas-
•mo fervor cheio- d e caricias, com u m a a r d e n t e
is iros e as m a s Flores . . .
contida n u m a h u m i l d a le de a d o r a ç ã o .
I n c l i n a d o s o b r e o h o m b r o da sua amada., ia-lhe Ella não m u ia quasi. Via desi ei pela
d e r r a m a n d o na concha da o r e l h a , leve graciosa rua um a u t o e n o r m e . < Is ph iróes .i<< "it liam <•
no um i aracol m a r i n h o , .1 ia ara ia de 1 ari a p a g a v a m com um piscar irônico. A l l u e i n a d a . vi.i •>
de de a m o r . A's \ e / e , apoia c h e g a r , a t i r a r s- s o b r e o seu n a m o r a d o . Ks|e nada
e p ire ia uma 1 riate.a qtlC |i 1 pei 1 ebia ; o seu anioi \ endava lhe os o l h o s ;
om .1 m a m ã e . Então ell 1 lábia sorrir < M.u . t a r d e . . .
achar a 1
(.ala , ra o p p o r t u n a , "nu 1 I teu uni p i s ,0 sem que ella t i / e s s e
0
um g e s o p a i a delel o e o I a l i o av ançOVJ
divino dom fie m a i c r n i l:i'le que têm
olii 1 ell, [' oi e n t ã o que ella recuou,
as m u l h i
dei cando o a b y s m a r se na m o r t e .
E m t o r n o d e l l e s a \ ida 'Ia 1 noi t i c a r r o pá roa. I lou\ è g r i t o s , c o r r i Ias.
' idade g . r r. a i 0111 a sua trepi- e\i l a m a ç õ e s a n g u s t i o s a s .
dação surda t amea Ella 1 ti ou um ins
1 Passavam ra- tante a i o n t e m p l a l ó
pidos os auton . i 0111 as suas p u p i l l a s
COm O es' repito (Ias
. Iara 11 ias. indiffe-
b u z i n a s e o rugíi 1 -i-nies | >epo ; - afastou
i r e n a s ; 05 j o r r o s de i . se p e r d e u na som
1/ «iu ' .1 phari lira, e n t r e as ,11 v ores...
l h a m tuna iiiterinit
encía q u e c e g a v a c, A n t a de HOYOS Y VISEI).
. POBRE RAPAZ
os \elhos. fúnebres
]•'. dê-se uma Fe m ".eme ii-
l.iia I
t Ali i ' de , .o tola '• sobrei asai a...
I. verdade. Em siniima. esse addravel rapaz estavi
uma noite num baile, em i as i de uma família
E que cara! Nem tinha notado.
e ollde vens
distineta. O dono t\.\ casa 6 sub-director,
Mas v a m o s ao rs
1 >a igre ja.
C Z D C D ( T D ( Z D C Z D C D ( Z D C Z ) sencial.
Já sei um a m i g o .
.Muito , a r o .
Mossa noite, o meu
pobre amigo não pai a • i
Mo
de dansar. ( o m p i ehen
Trinta annos. Eri-
d e se : b c l l o r a p a / , toi Ia
genheiro eli ctri. is.a. Um
o admiravam, jovens
joven d e futuro. Ah. bem
velhas. Como sen
iillm a g i n a s , i vida 6 uma
tia muito calor, commel
o si estúpida.
teu i imprudência de ir
E tu ii i onhei ias
ao b u l i e t para t o m a r um
I teS !e ha muitos
sorv ele, s e n t o u se junto
nos.
i unia janella por onde
Ah, entrava uni a r fresco, a o
^ 1 izemos juntos os lado de uma linda pe-
estudos.
quena e ...
Os meus |>ais o esti-
E ...
mavam muito. E pensí-
- N a d a m a i s foi pre-
mos até que a minha
ciso.
irmã... P o b r e d i a b o !
Acabo de i hegar ila
Que queres, tilho1
igreja.
E* a vida . . .
— Vieste do seu en-
Bem s •[.
terro . . .
Devemo-nos con-
— Não. Acabo de
formar . . .
assistir ao seu (asamen
Está visto . . .
to . . .
E como foi ?
Muito naturalmente.
Como os outros ? Pelix G A L I P A U X
Como os outros.
Elle resplendia de saúde,
era espirituoso. jovial,
p r o c u r a d o p o r t o d e s , dis-
c? c?
V
putado nos salões. Co-
o
nhecia todo mundo em
> : *
Paris, era obrigado a
í?
a c e c e i t a r t o l o s os convi-
-->
tes.

- E ' isso. S ã o raras o- -o O :,• •: s>


ht o j e a s p e s s o a s a l e g r e s . Harold Lloyd e a sua esposa Mildred Davis
° Lloyd. que se vê em apuros para acompanhar
O s m o ç o s são sinis-
o marido nas suas diabruras cinematographicas.
tros.
O- O
MUMDO SIDERAL

Norma Talmaclge, estreita de primeira grandeza


.....

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A chave dos hieroglyphos
E
=C3> <^F=

F OI a 17 de setembro de 182; que Cham-


pollion apresentou, decifrado, á Aca-
demia cie Inscripçces e de Bellas I..1-
trás. 0 enigma proposto, desde séculos, pela es-
«Si faço os exercícios de latim, escreve ell
ao s?u irmão, é para não ser punido: 0 grego,
hebraico c os seus dialectos, eis o que eu ardei
temente desejo apprender.
phinge agachada ao pé dos obeliscos, sobre a Foi conservada a Bíblia em hebraico ma

I
poeira do império tios Pharaós. cada com o ssu nonr?. e o seu numero de collegio
Ha alguns annos poliam v e r s e ainda, no as margens estão cobertas de notas e correcçõe
aposento oecupado por Champollion em casa do em hebraico, sem emendas nem hesitações. São o
seu irmão mais velho, os desenhos por este traça- passa-tempos dos seus quinze annos; mas ond
dos na parede e que uma (amada de cal fez des- apprendeu elle o hebraico? E ' com dezesete n
apparecer. Eram grupos de caracteres egypcios nos que, terminados os seus primeires estudos
que elle, quando adolescente, copiava e recopiava, chega a Paris e oecupa o logar na Bibliothec
tentando adivinhar o seu sentido obstinadamente Imperial, cons-guindo pelo seu irmão.
oceulto. Xinguem até então os traduzira. M is O logar é modesto, não dá para a subsiston
uma vóz interior dizia-lhe: cia, mas ao menos se está junto aos mais lumino
— E's o enviado que os lera. sos centros do saber.
E durante vinte annos só teve um apaixo- «Posso agora entregar-me de todo ao estudi
nado desejo: lel-os. do árabe, do syriaco, do childaico e do persa»,
Em Vif, na morada da família Champol- escreve elle.
lion. foram por muito tempo conservadas, intac- E mede o poder oceulto da impulsão que o.
tas e quasi todas inéditas, as cartas do illustre anima. Uma vontade o arrasta, e é simplesmente
egyptologo. E talvez ainda lá estejam. E ' neces- a sua vontade. Nas trevas em que penetra, des-
sário ler essas cartas de um collegial ao sau ir- lumbrado e arquejante, uma mão o empolga. Elle
mão, de um estudante exilado em Paris, para ver escreve ao i r m ã o :
como se preparam esses entes dotados do divino
«Fui irresistivelmente impellido pela minha
dom da intuição para realizar entre os homens
cabeça, meus gostos e meu coração, nos cami-

I
a sua missão providencial.
nhos difficies e eriçados de asperezas que sem
Champollion entra no Lyceu de Grenoble
cessar se renovam. Tal é o meu destino. Cum
com treze annos. E ' timido, impressionável, mas
pre-me realizal-o a todo transe».
voluntarioso. A vivacídade da sua intelligencia
é surprehendente como a escolha dos seus estu- Este grito do predestinado é o signal do

I
dos. Ella aprende sósinho dialectos que ninguém eleito.
lhe ensina. Afflige-o a mediocridade dos seus recursos.
— Este menino tem curiosidades interes- Obrigado a despedir a empregada, por econo
santes, dizem os mestres. mia, o estudante faz os seus próprios serviços
Champollion vae assim, como solicitado por e se impõe uma parcimônia rigorosa.
uma força extranha. com os olhos voltados para Feitas todas as contas do seu orçamento,
o Oriente, ou como guiado por uma estrella simi- restam-lhe apenas vinte francos para as distracções
lhante á que orientou os reis magos. E essa es- próprias da mocidade. Mas os seus estudos não
trella pára sobre a terra lhe deixam tempo para isso.
dos Pharaós. Elle sonha E no Paris apaziguado
o Egypto que apenas co- em que reina a abundân-
nhece pelas narrativas da cia, em que o luxo recupe-
Historia Antiga e pelo An- rou o seu império e em que
tigo Testamento. O jovèn o soberano ordena se reali-
estudante segue o program- zem festas e recepções, o
ma clássico por obediência pobre Champollion elegan-
mas faz estudos á parte e te, communicativo, jovial e
estuda tudo o que o appro- loquaz é obrigado a fugir
xima da sua obsessão. da sociedade, por se não
— AMERICA —i

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TEI,

vexar. Apezar disso, sempre consegue travar ai «Tudo o que disseram sobre os obeliscos os
gumas relações. Kircher, os Jablonski os Warbuton, só 'serve

I
para provar que nada entendem disso».
Freqüentador assíduo do Collegio de Fran;a
E elle próprio, que meditou dias, mezes
inteiros, sente-se desanimado. Nada comprehen-
deu! Volta a Grenoble. onde é nomeado profes-
e da Escola Especial das Línguas Orientaes, elle sor de historia na Faculdade. São-lhe necessários
se sente logo mais apto a dar lições que a recs- ainda dez annos de labor ininterrupto, exclusivo,
bèl-as. As suas conquistas são fulminantes. Mal obstinado, para poder exclamar:
aborda uma língua difficial e esta lhe pertence
inteira... Nada lhe resiste: já está senhor do copta — Eureka !
e do árabe; pede ao irmão uma grammatica chi- E ' nessa época que, no aposento de Vif, elle
neza «para se distrahir» e confessa sentir gran- traça na parede esses grupos de signaes myste-
de prazer com o estudo do pcheleri e do zend. riosos, hoje apagados, entre os quaes dois princi
«Tenho a satisfação de poder ler coisas que palmente o preoccuparão, porque elle presente que
ninguém conhece, nem mesmo de nome». dalli deve jorrar a luz.
Mas a sua idéa fixa são esses espelhos ainda
velados das civilizações mortas: os papyrus. Cham Trata-se de dois fragmentos: um, com ins
pollion sabe que alli está a sua gloria. cripção em três caracteres: hieroglyphicos, de
«Os papyrus estão sempre presentes á mi- módicos e gregos, achado pelos soldados france
nha memória. Tão bôa palma a colher! Espero zes em Rosetta, durante a campanha do E g y p t o
I q u e ella me seja destinada ! » Pela inscripção em grego, verificava-se que a hi
No seu tempo e anteriormente estrangeiros eroglyphica significava o nome Ptolomeu. No ou
se atiraram á mesma aventura: o inglez Young, tro fragmento achado num obelisco, a palavra P t o
cujas descobertas, diz elle, não passam de uma «ri- lomeu estava junta ao nome Cleopatra.
dícula impostura»; o sueco Akerblad »que, apezar Champollion nota um dia —• é ,o golpe de
do seu alphabeto, é incapaz de ler três palavras gênio annunciador — que o primeiro signal da
a seguir numa inscripção egypcia; o allemão palavra Ptolomeu, é igual ao quinto de Cleopatra;
Guntherwalh, cuja pretendida decifração é apenas o segundo de um, T, é o sétimo do outro; o
segundo o sábio francez, um «sonho tudesco»; e quarto do primeiro, L, é o segundo do outro. O
o dinamarquez Zoega, que ajuntou uma enorme numero dos signaes reconhecidos accresce-se de-
quantidade de materiaes e «não poude collocar
pedra sobre pedra».
I - >AMERICA -

todos os que compõem o nome Cleopatra, E ahi o duque de Orleans tomava posse delia, solomne-
st.i, com i metade do alph ibetn. i chave dos mente. em nome da França.
üeroglyphos. A sagacidade do sábio venceu <> \ brilhante descoberta do alphabeto egyj
mutismo da esphinge. Caiu o véu. o Egypto CÍO, ilizia elle, honra tanto 0 sábio como a naçãi
revela, com o segredo da sua língua, o da sua a que elle pertence. Esta deve orgulhar-se de que
historia. um francez tenha decifrado esses signaes cuja de-
A 22 de setembro de 1S22, numa sessão pre- cifração desesperou todos os povos modernos.
sidida pelo Snr. de Sacy, Champollion dava a co- Champollion colheu pois a palma esperada.
nhecer á Academia das Inscripções o resultado Mas o seu destino estava cumprido e dez annos
definitivo da sua descoberta. No anno segui.ue. mais tarde ella ornava o seu túmulo.
na Sociedade Asiática por elle próprio presidida. Gcorg. s MONTORGUEIL

i-irii-ii-ini-|-i|-inii- - r n r. - --ir f-iCirn- ii-i-i-.'innrn-ii-i-ifv-i(-i*iririri*i^ii-i-ii*i(-r.-.v- rnniViifirifiivi-iViiiiW»ViAiW,

UM REBELDE E TORTURADO DA ESTHESIA WIWWMMWMVnvAw

Koek - Koek, um vigoroso artista iaglez, qus berar de um temperamento torturado e empol-
é um rebelde luminoso d i esth:s'.a, apparec:u ha gante. O quadro, cuja única reproducção existente
pouco tempo no Rio, pela primeira vez, abrindo entre nós, estampamos, não foi exposto no Rio. E '
uma exposição de quadros que impressionaram uma perspectiva lindíssima do canal de Ams-
vivamente a quantos lhe viram, nas tintas fortes, terdam, cujo original se encontra num museu
n o esbranjamento atordoador de luz, o transver- de Gênova.
As residências con-
fortaveis

O bello prédio cuja fachada


e um dos interiores aqui reprodu-
zimos, foi construído na pittoresca
Avenida Paulo de Frontin, pela fir-
ma Prado Peixoto & Companhia,
do Rio de Janeiro.
Essa acreditada firma, como nos
informamos, pessoalmente, dispõe de'
uma bem apparelhada secção de cons-
trucções civis e hydraulicas, na rúa
Saccadura Cabral, n. 327, capaz:
das maiores realisações na sua espe-
cialidade, para o que mantém um
corpo de profissionaes com habili-
tação comprovada.

r
.2TE
XI E' famoso o gosto inglez pelo jardim. Na tranquillldade deste c a n t o d e p a r q u e /<
d e s t a c a - s e o b a n c o d e p e d r a q u e d a t a d e 1700. Duas e s t a t u a s d e Eros p a r e c e m e s p e r a r q u e
o s o c e g a d o r e c a n t o s e e n c h a d e arrulhos...

^ ^ » « •
W ®^ fffe
A invenção dos sellos do Correio

O sello do correio nasceu em Londres, a clarando-lhe que era tão pobre que não podia
10 de Janeiro de 1S40 e a Inglaterra o empre- pagar um shilling. Hill offereceu-lhe o shilling e
gou, sósinha, durante dez annos. A França só o custou a vencer a recusa da mocinha.
adoptou em Janeiro de 1849, e a Allemanha em
Quando o carteiro já ia longe, ella confes-
1S50.
sou que a carta nada tinha escripto no interior
Antes da sua creação, o preço do po e s:m na sobrecarta, onde alguns signaes que
muitíssimo elevado, não era pago, como hoje, completavam o .endereço lhe ciavam suffficientes
pelo remettente, mas pelo destinatário, que o en- noticias do seu irmão — ou do seu noivo — e
tregava ao carteiro. que elles haviam combinado esse modo de cor-
Um viajante inglez, Rowland Hill, foi quem respondência afim de evitaram o pagamento das
imaginou o pagamento na partida da carta e inver- taxas.
teu, portanto, os papeis. Isso porque notou que o Assim o amor (fraterno ou simplesmente
systeim então em uso dava logar a innumeras o amorj concorreu para um invento que tanto
fraudes. veio facilitar as relações entre homens.
Por occasião de uma viagem pelo norte do
iMMWAhVAMlWVWVvyvVMWWV^WlMMMMMMMNM
seu paiz, chegou Hill a uma hospedaria junto
com o carteiro. Uma mocinha recebeu a carta- A moralidade é a organização systematica
que lhe foi apresentada, examinou-a attentamen- da fraqueza co.nmum. — Raul P O M P E I A .
te, perguntou quanto devia pagar e acabou de- Devemos fazer as coisas; mal, porém fazel-
volvendo-a, com um suspiro, ao carteiro, e de-
as. — S A R M I E N T O .
O magnífico effeito que se pôde tirar do papel pintado para a decoração
de uma sala de jantar moderna.

A ausência de tradições na America suppri- Um litterato perguntou a um usurario si


me o obstáculo da inércia e favorece o pro- havia lido o seu ultimo romance.
- - Sim, senhor, e interessou-me muito.
gresso e todas as ídéas do futuro. — João RI-
— Acredito; o senhor é um homem que
BEIRO. nada faz s;m interessj . . .

Um admirável desenho do
mimai sta Paul Jouve.
,1.1// RH 1

®
ESTALEIROS E 0FFIC1NAS DE CONSTRUCÇÕES NAVAES
<> <•

Encarregam-se de construcções,
reconstrucções e encalhes de qualquer espécie de embarcação.
-«•c-o-
Incumbem-se de effectuar vistorias
e de fornecer planos e orçamentos para quaesquer obras
de construcção naval.

84- e 8 6 - F^ra.lsí do Caju


-<K>-vV-

TEIXEIRA & NUNES


Telephone Villa 3 6 5 4
® •®

A arte photographica em Santos Um amigo intimo o procurou para dar-lhe


a noticia, exclamando:
As duas nítidas photographias que n?ste — Alegra-te! E ' s finalmente «immortal»!
numero de America illustram a pagina de publi- — Sim, respondeu Taine calmamente. Ago-
cidade referente á Companhia Constructora de ra posso morrer socegado . . .
Santos são trabalho do provecto artista-photogra-
pho santista Snr. J. Marques Pereira.

Cremos ser excusado outro qualquer elogio AM ERICA


á proficiência com que esse cavalheiro executa
EXPEDIENTE
os seus trabalhos e que lhe grangeou grande no- Numero avulso :
meada naquella importante cidade do Estado de
Na Capitol $500 | Nos Estados $600
S. Paulo.
E' nosso representante na cidade de Santos o
UM IMMORTAL Snr. José Espíndola Teixeira.

Embora nunca houvesse Taine solicitado a E' nosso agente geral para o Estado de S. Paulo
o Snr. Antônio de Maria. (Rua da Boa Vista, 5 - A)
honra de ser nomeado membro da Academia a quem se devem dirigir os Snrs. agentes de revistas
das cidades do interior daquelle Estado que desejarem
Franceza. esta instituição lamentava que os seus receber este magazine.
compatriotas não tivessem feito ainda «immor-
Redacção: AVENIDA RIO BRANCO, 112
tal» o celebre critico e philosopho.
R I O IDE JANEIRO
Fez-se afinal a honrosa designação.
1
J P ^ v l )+•*& l ?T

CHESTER BEACH. esculptor americano,

consegue dar ás suas figuras uma nervosidade e uma graça

encantadoras. E um artista afamado em modelar corpos

jovens de mulher.

Duas estrellinhas do cinema :


+- i i i
-L

J A N E e KATHERINE LEE,

J l_J
I—I—I—l
[_ 4- J i l | I I |_
~r~r 4-++++++

Praça e palácio do Congresso, em Buenos Aires


Companhia JinjulJ i flavegacãaijogía
Impoitantes estaleiros da Ilha do Víanna
Apparelhos c o m todos os aperfeiçoamentos m o d e r n o s para
quaesquer trabalhos de reparação e construcção naval

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AMERICA -

of/a A A R T E M Á G I C A DO P E R F U M I S T A DQQ
• M A * M * M A * * W * M * A * A A * A * A A * * * . * * * * * * , * • «i*i*i» «•*i«,.»«»«»*fc«,«,.|-.-^WlrY\r*Lr\rWV rfVtftAJX*.

muito raro encontrar-se hoje um per- notas graves, ordenou-os em escala. Com o odo-
E fume novo. porque estão de tal fôrma
phono considerou-se possível produzir qualquer
perfume harmonioso que impressionasse os nervos
explorados os recursos do pcrfumista olfactivos do mesmo modo que a musica clássica
que é cada vez mais difffic.il achar uma combi- impressiona o ouvido de um auditório. As combi-
nação para um aroma desconhecido. nações e recombinações de odores são quasi infi-
Um dos principaes perfumistas de Paris gas- nitas e a fabricação de perfumes delicados pôde
ta annualmente uma importância respeitável em considerar-se tão illimitada como a composição mu-
experiências para produzir perfumes novos. sical. Só uma casa de Paris fabrica mais de qui-
Acham-se reunidas em seu laboratório todas as nhentos perfumes differentes.
matérias primas produzidas no mundo e appli- O odophono pôde servir de guia ao per
iveis á fabricação de essências: essência de fumista; mas este, de qualquer modo, deve tei
rosas, de violetas, de jasmins, de tomilho e de muito delicado o sentido do olfacto no que se
mentha. Figuram ainda na lista o âmbar, a alga- refere á apreciação dos perfumes. E ' um artista
lia, o almiscar do Himalaya. o áloe, o cedro, o que trabalha com um instincto mais elevado do
sandalo da Palestina, a canella, a r.óz muscada, o que o do homem de sciencia que toma medidas
limão, a tilia dos trópicos, da America do Sul e faz cálculos de accôrdo com regras e fórmulas
e da África, e todas as distillações syntheticas do
ai fixas.
alcatrão e de productos mineraes. Com todos
es
Não se pôde aprender num dia a arte do
esses
m perfíumes essenciaes e com as suas innu-
perfumista; nem num anno, si se. carece de um
meras modificações, o perfumista obtém os má-
delicado sentido de olfacto.
gicos productos da perfumaria moderna.
Não satisfeito com tal acervo de matérias Os perfumes têm sido usados desde a mais
P'
primas, o fabricante de hoje possue per/los per- remota antigüidade e figuraram sempre em gran-
«"
fumistas
eri que correm bosques, campos e jardins des actos, quer sob a fôrma de incenso religioso,
em busca de novas combinações de fragrancias.
E: quer na satisfação pessoal. Recordando as velas
Esses
tr; homens, que recebem elevados ordenados, perfumadas que levavam Cleopatra sobre o Nilo,
trabalham com afinco, invadindo até os jardins ou a extravagante fragrancia que acompanhava
freqüentados por gente elegante. sempre a Helena de Tróia, ou o banho diário
rr Da mesma forma que as cores, os perfu- de leite perfumado com essência de violetas da
mes têm uma gamma, chamada odophono, devi- imperatriz Josephina, vemos que a perfumaria
da á descoberta do D r . Septimus Piesse, que a serviu para que as nações buscassem o progresso
estabeleceu sob bases scientificas. Baseia-se o na arte. Seriam necessárias muitas paginas para
odophono do Dr. Piesse na supposição de que descrever o incenso que a religião emprega —
existe certa escala ou gamma de odores, como extrahido de resinas, cortiças, madeiras, flores
existe a dos sens; e para demonstrar esta con- e sementes. Cada deus ou deusa tinha o seu in-
clusão classificou e ordenou uns cíncoenta perfu- censo especial. E a arte da fabricação de misturas
mes, de maneira que correspondessem a outras caríssimas para. incensar attingiu o seu apogeu ha
tantas notas differentes. Tomando os perfumes mais de mil annos . . .
J)olsa de vaidade
illuminada
A Universal Leather Gooda Company, de

( hicago, lançou ao mercado vim novo e interes-

sante accessorio feminino, com o nome de bolsa

de vaidade «Night Light», que muito deve agra-

dar ás senhoras e senhorinhas.

Essa bolsa é fabricada em couro de di-

versas qualidades até o tamanho máximo de 3

PARIS E OS SEUS CHAPÉUS


Uma das ultimas creações Alphonsine

xniHüaLDDmnrnnDiDDajm

fl flustralia
e os kangurús
O kangurú tornou-se raro na Austrália, em

conseqüência das caçadas de extermínio que a

esse grande marsupial fizeram indígenas e co-


por 6 por 9 pollegadas, tendo na tampa um espe-
lonos. A' vista da ameaça da extineção dessa
lho e uma pequena lâmpada electrica que illu-
curiosa espécie, foram promulgadas leis prote-
mina o seu interior e a pessoa que a está usan-
ctoras que asseguraram ao kangurú uma vida pri-

vilegiada. do permittindo,, assim, que em qualquer ocea-

E elle as aproveitou tão bem que consti sião a dama possa não só encontrar qualquer

tue actualmente um flagello para os fazendeiros objecto que alli esreja guardado, como também

da grande ilha, que. com as suas plantações recompor a toilette.


devastadas, pedem a revogação das leis pro-

tectoras que permittiram áquella espécie multi-

plicar-se até se tornar um perigo tão grande

como os coelhos.
Os sports, no Brasil, já conquistaram o seu logar ao sol. E' uma verdade cuja demonstra-
ção não se precisa fazer. Às coisas do sport são hoje entre nós tratadas com particular carinho.
Aqui esfá, por exemplo, a soberba archibancada da piscina da ilha das Enxadas, mandada construir
pela Liga dos Sports dn Marinha. A sua consfrucção. em que o conforto e a elegância se casam
admiravelmenfe, foi confiada aos Srs. Prado Peixoto & C. e é um aftesfado da competência desses
consfructores.

Griffith, o famoso director de emprezas ci- matographicas, então já produzidas com as suas
nematographicas, prevê que no anno de 2023 a cores naturaes.
industria editorial publicará films em vez de li- Griffith, como se vê, não chegou ás ultimas
vros. As bibliothecas de films cinematographicos conseqüências das suas previsões. Vamos tentar
serão tão diffundidas como o são hoje as biblio-
completal-o: abandonando gradativamente o uso
thecas particulares. O cinema será muito mais im-
da palavra, substituída pelas «imagens», o ho-
portante que o theatro. O phonographo receberá
mem de 3023 terá perdido o dom da vóz e in-
mil aperfeiçoamentos e será mais empregado do
que actualmente, m a s o publico pouco se inte- voluido para o primata, tão certo é que a func-
ressará pelas palavras: preferirá as imagens cine- ção é que faz o órgão.

a
a maioi
maior e mais sortida em artigos 1
S* C* i
sports, roupas de banho
Casa Sportsman ^ e calçados finos.
Srande sortimenfo de artigos de foot-ball- Camisas, bolas, meias, shooteiras, joelheiras, e
25^Rua dos Otirives^-^T—Raul Campos
(FOLK-LORE ARGENTINO)

das selvas, co no qualquer thaumaturgo indígena:

O FOLK-LORE argentino adquire as qua-


lidades typicas da região habitada pe-
los indígenas que o crearam. E' por
essa razão que elle tanto varia de
uma zona a outra da republica. Das três raças
e vèm-s.- conversões maravilhosas de homens em
aves o'j eai arvores, devidas ora ao poder sobre-
natural de um sinto, ora simplesmente á natu-
reza, porque em to Ias essas metamorphoses se
sente o exercício do seu poder p.intlu-isla.
principaes de Índios que povoaram o solo da
Muitas dessas formosas legendas voam es-
hoje Republica Argentina, quichúas ao norte,
parsas em livros de diversos autores: livro
guaranys no littoral e araucanios ao sul, foram
as duas primeiras as que deixaram mais rico curioso seria o que as reunisse todas e apre-
acervo de tradições e sentasse como um le-
de legendas. gado das gerações
passadas. Livro bello
A araucania, raça
e interessante. Porém
indomita e batalhado-
de maior estima se fa-
ra, legou legendas e
ria credor o artista
mythos em que se no-
que, conformando a
ta a sua crueldade, ao
s i a inspiração com a
passo que a guarany,
popular, glosasse em
raça poética, deixou
legendas próprias as
tradições em que, ape-
legadas pelos séculos.
zar de selvagens, pas-
Foi esse o trabalho
sam auras deliciosas
meritorio de alguns
de elegia. A quichúa,
músicos argentinos; e
ou melhor, os calcha-
muitas dessas vidali-
quies. como eram cha-
ta s, delitos e milon-
mados pelos subditos
gas filigranadas pela
do Inca no território
sua arte e desbasta-
argentino, foi uma ra-
das das suas aspere-
ça eminentemente tris-
zas, encheram de as-
te; a vidalita, a sua
sombro e de encanto
formosa creação musi-
aos músicos celebres
cal e poética, é um
do estrangeiro.
exemplo disso. A tris-
teza calchaqui é resi- Afim de apostolar
gnada, em geral de pelo exemplo, inten-
uma enervante melan- tei por minha parte
cholia, bem que não glosar algumas legen-
faltem sopros trágicos das calchaquies em
que a agitem, tornan- que a sua ingenita
LOIS WILSON, h e r o í n a d e films melancolia toma co-
do irrequieta a sua in-
q u e têm e m o c i o n a d o a_ plaíéa res trágicas, porque
dolência e obrigando
D • U C c a r i o c a D D. D D essa raça, como que
o seu espirito frouxo
a atirar-se ao fundo abysmo do mysterio, co- presentindo o seu fatal destino, não conheceu
mo em busca do como e do porque. o riso sadio. Da minha curiosidade pelas ci-

Í Zupav, o diabo calchaqui, a legenda do


pássaro Kakuy, a da Salamanca e tantas outras,
vilizações pretéritas e do desejo de perpetuar a
sua herança, nasceram pois estas «Bailadas me-
ricas em imaginação e belleza, revelam-nos a diterrâneas», uma das quaes transcrevo a se-
alma desses povos hoje quasi extinetos. guir.
A's vezes a religião christã se ajunta á solar A VINGANÇA DA F L O R E S T A — A fle
e então apparecem legendas em que um santo resta, essa hirsuta floresta tão cheia d e < tes
catholico, por exemplo, faz milagres em m n o mysteriosas, tem um espirito perverso e vinga-
tivo. Sabem-n'o os camponezes, que o temem
mesmo sem o terem visto. Imaginam-n'o cor-
nudo, de pello áspero e patas bifiias, identifi-
- AMERICA

pelo machado do forte mancebo, Juncho e o seu


companheiro encontraram um ente de apparecencia
monstruosa. Juncho, mais valente, preparou o

I
cando-o com Zupay. Ha quem o pinte com fôr- seu instrumento de trabalho, disposto a.combater;
mas de animal hybrido, de tigre e to.iro por o seu amigo fugiu, espavorido, e escondeu-se nas
exemplo. E os ingênuos moradores dos logares moitas. Foi elle quem assim poude assistir e
visinhos á floresta fogem delia assim que as narrar a metamorphose de Juncho.
sombras começam a derramar mysterio nas fo- O companheiro esperava, tremulo, o começar
lhagens e pavor nos peitos mais fortes. da lucta, quando viu que Juncho se immobili-
Muitas legendas attestam a perversidade des- zava na sua attitude aggressiva, deixando ca-
se espirito selvático que odeia o homem porque hir das mãos o machado. Depois viu que a

Um modelo de chapéu

Um lindo conjuncto que se casa

perfeitamente como oval

de tim rosto

rê nelle o seu inimigo sempre prompto a ,de- sua figura tomava um aspecto raro, mais negro
i-astar os seus domínios. e rugoso; e viu-o por fim deitar galhos e fo-
lhas, rapidamente, e, de medo, perdeu os sen-
tidos. Quando voltou a si, já não viu o monstro;
mas na clareira, banhada pelo luar, erguia-se
Juncho era um rapagão de músculos rijos
e bello porte; era lenhador e passava os dias uma arvore para elle desconhecida: uma arvore
na floresta a abater gigantes. O seu machado da altura de um homem, de tronco espesso e
inexorável fendia os grossos troncos e a flo- galhos curtos. E parecia um homem em attitude
resta, graças ao seu trabalho, tinha clareiras de entrar em combate . . .
em que o astro diurno podia já arrastar as Passaram-se muitos annos. A floresta j á
suas doiradas vestes. não rodeia aquella arvore; mas os lenhadores
Mas o espirito da floresta o espreitava, que passam por ella se descobrem, porque jul-
espreitava-o com olhos phosphorescentes e gar- gam com essa demonstração de respeito afastar
ras promptas, por entre as arvores, por detraz o perigo a que se expõem quando vão desafiar
das moitas, prestes a vingar os seus mortos. o espirito que a floresta esconde no seu seio
Chegou o dia da vingança. Certa vez, em plena e de cujo terrivel poder é prova aquella arvore
selva, a noite serprehendeu Junchó e " um seu que outr'ora foi um homem . . .
companheiro bisonho; regressavam elles, machado
ao hombro, cantarolando uma vidalita; de re-
pente, ao passarem por uma das clareiras abertas Ernesto MORAbES.
— AMl RH A -
Eu, mal ?! Nunca me senti melho
OS TÚMULOS VENERADOS minha vida !
Então porque gemia tanto ?
Ha nos arrabaldes de Vienna um numero Eu não gemia ; cantava . . .
considerável de velhos cemitérios ha muno aban
donados, que a municipalidade vae transformar
erri jardins públicos. De futuro, pois. as crian;as
UM CONSELHO
brincarão alegremente sobre cs túmulos nivelados
eus gritos ingênuos não pertubarão, sem du-
Uma sociedade de beneficência dava
vida, o somno dos mortos esquecidos.
concerto e 'contava com o gentil concurso da es
Mas uma forte ema ão empolgou o mundo trella» lyrica local. Conscguira-o com muito tra
intellectual quando se soube que o cemitério de balho e muitos rogos, pois a «estrclla» estava
Waehring estava incluído n<— projecto de tans- resfriada e com tosse e resistia a prestar o sen
forma pois, tocar nos dois mortos illus- auxilio á festa.
Ao começar o numero de canto pediu des
tres. Beethoven e Mozart, que repousam naquelle culpas ao publico por não achar-se, devido á
humilde recinto ? Em conseqüência dos instantes tosse pertinaz, á «altura das espectativas»
pedidos, decidiu s,. poupar i s dois túmulos sagra- E começou:
dos, a cujo lumlo os peregrinos da arte vêm me- «Dependurarei minha harpa num salgueiro
ditar junto do bocado de pó tornado pó», que foi (Tosse).
Repetiu:
0 invólucro terrestre tio titan da musica e do dc-
Dependurarei minha harpa num salgueiro.,
itor da Flauta encantada. (Tosse continuada).
Então, do fundo da sala, uma vóz compassiva
gritou :
— Dependure-a num ramo mais baixo
O código moral e social dos esquimós con-
têm alguns preceitos bem interessantes. Aqui vão Z CZ2CZHZ3CZJZZ)CZDCDCDC3
alguns delles: O homem que, voluntária ou invo-
luntariamente, mata outro, deve. emquanto viver,
sustentar a viuva e os filhos da sua victima. A ma-
deira encontrada nas praias é um thesouro que per-
tence ao que a achou. Ninguém deve comer no
mesmo dia phóca e bacalhau. Os grandes ani-
maes caçados são considerados propriedade com-
mum da tribu e não do caçador.

CARUSO INCOMPREHENDIDO

Ao canto de um vagão de trem. um indi-


víduo, recostado ao banco, e com' os clhos cerra-
dos, começou a gemer baixinho.
Os passageiros ergueram a cabeça e entreo-
lharam-se com olhos de compaixão. Um delles
Hoapfner& Co.,Ltd.
saccou da sua maleta um frasco de wisky e appro- LYTHOGRAPHIA
ximou-o dos lábios do infeliz, que abriu os olhos, E TYPOGRAPHIA
tomou o frasco e bebeu um enorme trago.
— Sente-se melhor agora ? perguntou o ho- Av. Mem de Sá, 236-240
mem. Tel. Central 378
i r
— Sim, obrigado. R I O
— E porque se sentia tão mal ?
- AMERICA

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spuz^^jli n fo II i ]|IE>*KZ3 |[1irjfcb<>c31| n jL-^

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ECE«HI'í>Ca«S *

ilido para a noite, da casa Blanche l ebouvier


de Paris

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T*
«r
Inventos de Henrique Schayé
Privilegiados no Brasil e no Extrangeiro

© CífNTAS
pQ r a as
COSTAS
Cintas fortes,
aconselhadas petos Srs.
resistentes,
Cirur-
• giões, próprias para appendicile,
hérnias e eventrações, sobrevin-
das após as intervenções cirúrgi-
a cas, faz-se todo e qualquer tra-
tf) Oi
CPltETE PARA MODElAfc
balho de borracha em lamina ou
O C°RPO j tecidos com bor-
Colletes e por- racha, poupas de

I ta-seios
O senhoras e Cin-
para 'Sscaphapdro
vilegiadas e ado-
pri- I
O
o tas para homens piadas como typo Q
o
r e senhoras,
quenas ou gran-
des, fazendo
pe- na
Çu erra
JYÍarinl]a
brasileira.
de

desapparecer ''JJt***^'
Henrique Schayé
localmente as ^''^jüjsr
HP &p
ir .«'."i^BlfV

gorduras do ventre, das costas l&fi&^E


e dos quadris.

Innnm 'Vf
\ •...

^jmjur

Tel. Central 1074


Escaphandro era acção
RIO I>E J A X E I R O • D
~0
A. A ^ Ü T E 1>0 B O R D A U O
Belln modelo de bordado sobre filo, para sobre filo. Todo o bordado é feito em «Riche-
almofada ou applicação de stores. liell».
Este modelo é desenhado sobro uma cam- Dcpo's de prompto bordado; recortam-se
braia fina de 0111,40 x om. 60 o depois alinhavado cuidadosamente as partes que devam ser abertas.

:-r-r z z ' ;

OS INSECTOS

A TELEGRAPHIA SEM FIO


As antennas de alguns insectos são recepto"-
ras de ondas; c o q u e se pôde concluir do estudo
'I 1 "' sobre 1 faculdade de orientação de certas
espécies acaba de fazer um naturalista americano;
<> bombyx, por exemplo, reconhece a pre-
sença de um seu siniillianie ,1 varias centenas
de metros de distancia. E' pouco razoável, nes-
.1 condições, attribuir essa aptidão a qualida-
des especiacs de vista, de mui In ou mesmo de
olfacto. E o que confirma 1 supposição do Sr.
Hormc é a pratica 1 que se entrega o bombyx
antes de encetar o vôo; cllc agita as antennas em
todas as direcções parece preparar o seu qua-
dro receptor paia receber os avisos dos outros
postos de emissão.
n doa mnis recentes retratos dr- fifary Pickford, JnW
a artista de scrptro indisputado
EB
I 1// RH I

A. I L H A D O S PINGÜINS

São nas l u i ai ias C Mi 1 Nestes iiliiinos annos o Estado de \m a


n.c ão - m istica de Mi líergorci mio cxisl Vork plantou 6o milhões de arvores " Ma
ilh i dos pingüins. I [a , hus tts exei ui.i iam
mesmo in lis de unia bem " -eu program
ao sul do i abo da iu.i dr leilmi s .mi n
I ;spei in a to, |a len Io i on\ n ti
I li S I' Ic.ii} n mi do e n flores as CPI i a
memoriaes alli se fi- de 51 l.l IOO li 'i Ia 1 e s
taram em gran les Isso porqti • a \ 0 1
rolon is .. es
te Ameia a ia aos
111 r i u
po.uos sc tnrnan Io um
specto quasi luun mo
deserto. A extmsAo
E todos n~ a m e iS S '
das florestas desse
i \ 1 li a m das silas
paiz, que rv.\ de i'"'
ilh is quanti lad - ir
inilli 11 s de lu <-;. 11 es.
. d ula\ eis de guano.
1 n ou reduzida ;i me
\iin.il in imoda
lade. pelos çyi lonCS,
dos i mu os exei i ici< s
de tirOS '!"- na\ins, pelos íncen lios e pc

os pingüins proí ura Ia mão do homem.

nim refugio mais para


0 SUl, d e o n d e . . a b a m

de i ai em bus a
do seu primi i\ o abi i
0 penedo que deu o
á Inglaterra
go porque, i om o
.\<\\ cano da paz, i cs 4 l/ilr n il ,1 r . . 1 PílSSl
'I 1 alais ilc-cn li. 1
sou o ruido da .iiii I a, c vci ;i, pei to de -ti ci-
lha ria nas proximi !a
REX INGRAM, dade ingleza, o pene lò
qu • o, ingle/eí i li unam
dês das -nas ilhas pa : 1
hakespi a e's Cli I, [amo o,
3 homei
i iiicis. i is pingüins nã ' por ter nome il<»
grahdc poeta-ai to , mas pói -
deii stam i guerra... que elle se deve nome de Albion, pelo qual os
os o, 11.1 103 1 UMIIC a n Gr3 Uretanli i airida
usado actualmente, com epichetos m u s 011 menos
í;i oraveU, para designar a poütii i ihg'.eza em J I C rela
Uma de Mark Twain outros |' 1 / - -.
O pene Io <11 i oita sul da Inglatci
Quando estava cm New York costu- ia, abuadante em cal, apresenta uma
mava o endiabrado humorista passear .. I - 1,,, 1. . m la<i n : albu
rio da visinhiaça, fechado 03 a n t g o i por i s , . baptizararn ilha
apenas por uma cerca. /afi\' rom o nome de Albion.
Mark Twain encontrou-se uma tarde A ellas faz Júlio César referem
com uns suje tos qu^ ian e vinham por nos si us Commentar o
aquelle logar de repouso. ^ discutir e a
tomar medi
Intrigado, pergu.it -u-lhes L;ran l< A ignorância é
criptor :
berba. — FLAUBERT.
— Que fazem vocês aqui?
Ao que um delles respondeu :
— Vamos construir um muro e.n
11- tscra.os iu Io \, :rde n n •
volta do cem te rio. porque esta cerca é
insutticiente.
até
RI
— l"m muro? Para que?
E' integramente desn^cessari"
que estão aht dentro não sahlrão nanca
e raios me partam si os que estão de Para i
têm vontade de entrar !
AMERICA

"PLRSANt"

Vestido para

a tarde

Creaçío Char-

lotte, de Paik
11// RH 1

j/J alma da multidão

Entra se na sala du liibunal do Jury. Alli


se comprime uma multidão impaciente, Indaga
se o porque dessa afflucncia e chega se ,i con
clusão de que - p.ua assistir ao julgamento de
Um assassino ignóbil e frio.
A' mesma hora. num saláo austero, entrega'
se ,, medalha humanitária a um hoüiem cjue,
com risco >.\A própria, salvou a vida a um simi
lhante.
Contam-se os assistentes: sà<> cinco ou si i
além de vim continuo somnolento . . .

() leão tem os dentes c as garras; o ele


plianle e o javali ,is p r e / a s , u louro os i lli-
Ins. a siba a lima lom que turva a água; a
Natureza deu á mulher, paia se defender, ape
nas a dissimulação... SCHOPENIÍAUER I'o
res do Mundo.

<) e x p i r a r de unia rosa tem alguma i oisa


do expirar de uma mulher bonita. F0RJAZ
SAMPAIO Palavras i ynicâs,

jÇ p/n fura a óleo


. Tinha-se perdido o segredo da fabricação
das pinturas a fresco, executadas na antigüi-
dade, que fizeram chegar até nós, em excellenti
estado de conservação, as obras-primas gri
e romanas, o principalmente os celebres In
Incoherencias da moda de Porripeia < de I len ulano.
- Com luvas de «chauffeu» iJois inventores, Mme. Lcpeyn o Snr.
Bertin, depois <h pacientes pesquizas, parece te-
se»... e a n d a n d o a p é !
rem conseguido fabricar tintas idênticas .ís usadas
pelos artistas da Grécia antiga. Oa meio- scien-
tili.o- esperam qm- essa descoberta franceza
V permitta ás obras modernas supportarem a prova
do tempo.
XXXXXX XX}
- AMERICA —

forma-a num vasto sanatório para as crianças

pobres d.is grandes cidades allemãs.

Uma ilha... uni penhasco rude no mar fu- Apezar de envolvida ás vezes nas brumas

rioso... depois, uma inexpugnável fortaleza onde do Mar do Norte, Heligoland é acariciada no

se amontoaram machiftas de destruição. Eis He- verão pelos longos sorrisos do sol. E' por isso

[igoland. Mas uni terceiro periudu começa para que levam paia lá as crianças que se estiolam

ilhota: unia sociedade de beneficência Lrans- nas ruas sombrias das cidades.

F O O T - B A L L

O Team do Vasco, vencedor do campeonato deste anno

Iciu ao menos uni filho com as mãos mal con


Cheios de dedos.. formadas. I'. si um desses phenomenos se con
li,, em ' giõi da Noruega i u- son ia i om uma pe iôa normal, pôde se prev er,
lero considerável de indivíduos munidos de de .issiin de 1.11 io ai ontci e que, si gun Io a ha' de
supplemcntares dois três • mesmo quatro Mcndel, metade dos filhos serão anormaes.
em ' ada mão. por exemplo. I. sa pai Os sabioS q u e se d e d i c a r a m a o CStudü ^\.i
ticularídade d hereditária e se transmitte indiffe- gcncalogia desses indivíduos descobriram que elles
por um ou por outro ascendente. To- têm uma origem commum que remonta a .caia
,,,, i l.i.i q u e SC c a s a m , de duzentos < im o< nla annos.
A MODA INFANTIL
• - • • •*»

\ Moda essa bôa fada


que nos inspira as maneiras
de tornar dh inas as creaturas
humanas, não se i onte ila i ora
as mulheres que em he de cn
. .mi" e de graça : ella se pre
Oi i upa lambem i 0111 as i i i.in
ias. que lambem são dignas
dos seus i uidados.
E hoje. mais talvez do
cjuç num a. ha a preo < upação
de bciil \ esir os pe pieninos
sei es. não i om i graça I ria
das bonecas, mas i o.n elegan
i i.i das roupas que lhes não
tirem o donairc e a flexibili-
dade dos movimentos.

if^ir^ =&= pQq || pQq '| i • H—-fo


[=S^
II II
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5
I^LJCÍ^
K.
O fV E TOS /; E
r = == , — —

LUIZ DELPHINO

P e l e j a inútil
Quando ás vezes procuro um nome que resuma
— o que sou ? porque sou ? por onde vamos indo ? . .. —
si penso, não encontro o Belto em coú a alguma ;
si não penso, acho mais ou menos tudo lindo ...
Um som prende outro som, cobre a espuma outra espuma
de um grande sonho, como um vasto mar infindo :
si irrequieto o abandono e outro caminho scindo,
é tudo arneiro, steppe, ou rocha, ou vento, ou bruma.
Por mais que eu clame a um Deus, um Deus qualquer que seja,
para mudar da aranha o esquálido organismo
que baba os fies de ouro em que o universo arqueja,
nada: e torno a clamar: ninguém ; indago, scismo ...
e largo, de cansado, a estúpida peleja.
tendo a um lado o mysterio e do outro lado o abysmo.

Marinha
Como um milhar de leões, disse me o Oceano: Eu rujol
Pois bem : á tarde, em pé, eu vi do tombadilho
do barco em que ia, entrar no oceaso o Sol, por cujo
antro ainda lançava ao longe igneo rastilho ;
e a noite vir, trepar, subir como um marujo,
por mastros e brandaes cheios de azas e brilho
de anneis de aço e de bronze areados, num sarilho ;
manchando tudo em torno ao pulso enorme e sujo ;
e eu surprehendi em baixo o Mar numa humilhada
attitude, ante o céu calmo, estreitado e frio :
e essa água assim escura, ondeante e fatigada,
parecia-me então um polvo luzidio
que pelo dorso immundo e visguento, agarrada,
arrastava na sombra a concha do navio !

O O
\
f Í ^ S M ^ ; M
I rxTP

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CASA FUNDADA EM 1852

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110, Rua do Rosário, 112

RIO DE JANEIRO
— AMERICA —

D 0
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D

RODOLPHO VALENTINO,-depois
de muito meditar, a vista das
paixões que suscitou, resolve
divorciar-se.
O GUARDA-LIVROS
i VNOO velho l r.is, guarda-livros Eram-lhe sempic igu.ics os di is, as semanas, os
Ha f nu t l.ibu-c ,V C , sahiu do meies, as estações os annos. Toda dia, :i mesma hora,
, ntabelei imi nt >. 5cou alguns ms erguia-se, partia, chegava ao escriptorio, almoçava, retira
t ii tes deslu ulir.i lu u n i o brilho U - T , jantava c detava-se, sem que nada h o u v e s s : jamais
do sol |> tente. rrabalhara todo interrompido monotonia dos mesmos actos. do.s metmoi
o ilii á luz amaveUada tio bico de acontecimentos *; d a s mesmas ide 16,
gax, no tuado d a loja, junto da Outr'ora, diante d o pequeno espelho redondo deixado
,i i i e s t e t i p m f u i d t como uni pelo seu predecessor, elle contemplava seu bigode touro
po o. E r a tão escura saleta em o s seus cabcllos anuclados. E agora, todas a s tardes,
D bavu qu.irenti a o n i s , passa- antes d e partir, vi i pelo mesmo espelho o bigode branco
va o- dias, q u : mesmo em pleno ã fronte irremediavelmente calva. Q u t r c n t a annos se ha
veras elle só polia dispensar a lu/ viam escoado, longos e rápidos, vazios como um dia de
arl i ial » nt:< a s onz-- as ir - tristeza e iguaes como a s horas de u m a , mesma noitel
horas Quarenta annos de q u e nada ficara, nem mesmo uma
Havia -enipre .d i. humidade lembrança, nem mesmo uma desgraçça, d e p ô s da 11101 te dos
tt ', ,i> emanações daqurlli cs- seus pães. Nada I
pec.i di fossa em qu s ab ia janella entravam pela
saleta - -c U r.i ., enchiam dum cheiro de bolor e de
esgotto Nesse dia velho Leras ficou deslumbrado, n i porta
Desde quarenta annos passados Leras chegava toJa< as da rua, pelo fulgor d o sol poente,' ^, e m vez de j e di-
manhãs ,,s M hora-, essa prisão, : alli ficava a t é iie.ii .1 casa, teve a idéa d e fazer u m pequeno gyro
as - d i .. ui . ad i - ibre os livros, antes do jantar, q u e lhe acontecia
es " 1 " ' mi de mu bom quatro ou cinco vezes no anuo.
enipn e.., Io, Chegou a o s boulevards, onde se agi-
Ganhiva aciualm ut três m l fran- tava - multidão sob a s arvores rever-
• ••- p ii ann i, teu Io i o.n .i I i m 1 decidas. E r a uma tarde d e primavera,
c qu nl, nlos fr m ,,.. Era celibatario uma dessas primeiras tardes tepidas
porqu s , ordenado nun a Ih.- p i - niolles que turbam os corações com
mittira qu< - casasse. E nada tendo ^o uma embriaguez d e vida.
da vida, nà i t n h i ambição alguma, Leras caminhava co:n o seu passo
No , m i i i i t i . uma vez o.i outra, can- saltitante de velho; ia com um brilho
sei,, do seu labor mo.iotono • niimu,. alegre no olhar, feliz com alegria uni-
formulava um desejo platônico: AM si versal e com a tepidez d o a r .
• •-- cinco mil libras de renda, Chegou a o s Campos Elyseos e
que boa vidatl contnuou a andar, reanimado pelos ef-
1 --., boa vida elle aliás nunca flu.ios d e mocidade que passavam na
po.s nunca passara do-, seus ven brisa.
c in '•!• is mensaes O céu inte ro flammejava
V vida Ih passara s e n accidentes, Arco d o Triumpho desenhava a sua
» n 'i"" V- qu isi sem esperanças. A massa negra sobre fundo illumiaado
faculda h de sonho, que cada uin de do horizonte, como um gigante d e pé,
nós t ., co-nsigo, nunca se desemolvêra no meio de um incêndio. Quando che-
n.t nu liocrilade das MUS ambições. gou junto do monstruoso monumento,
I is vinte um anno- p.ir.i b velho guarda-livros sentiu fome e
.» , . i s , Labuie Jc C , de lá não mais sahira. entrou num rest mrante para jantar.
Em 1.^50 perdera o pa,i, depois a mãe. em 1859. Serviram-lhe diante d o estabelecimento, n i calçada,
E depois disso o único acontecimento da sua vida foi um pedaço d e carneiro, u m i salada e s p a r g o s ; e Leras
uma mudança em 1S6S. porque seu senhorio augmen- jantou como havia muito não fazia. Comeu queijo d e
IAT.Í o aluguel do quarto. 15 ne e bebeu meia garrafa d e bordeaux fino. Tomou d e -
Saltava do leiio todos o ; d a s . ás 6 horas p.ecis.is, pois café e licores, q u e raramente lhe acontecia.
ao sem d e um ruido terrível de c o r r e n t e . Depois d e ter "pago, sent.u-se alegre, vivo mesmo
Duas veies, no emtanto. esse relógio se desarranjára. um tanto perturbado. Disse comsigo: «Que bôa noite! Vou
em i;:< e em 1S-4. sem que elle jamais descobnss continuar o passeio até á entrada do Bois d e Boulogne,
-... Levantava-se, fazia cama. varria quarto que isso me fará bem.->
espanava -i cadeira : „ cornmoda. E nesse trabalho E partiu. U m fragmento de canção q u e outr'ora can-
. uni 1 hora meia. tada uma d a s suas visinhas, vinha-lhe obstinadamente í
Depois sahia. comprava um pão na padaria Lahure, memória.
de qu- conhecera doze proprietários differentes sem que Quand le bois re-. erdít,
ella perdesse o n o i t - ; punha-se caminho, 1 comer va- Mon amoureux m e dit :
garosa- Viens respirer, m i belle.
A sua existência inteira decorrera pois na estreita Sous Ia tonnelle.
sala sombria, forrada sempre c o n mesmo papel. E n t r a r a E elle o trauteava sempre, e recomeçava todo m o -
mcKv*- como ajudante d o sr. Brument. com desejo de mento. A noite descera sobre Paris, uma noite sem
subsrrjil-o. mais tarde. \ento, uma noite d e estufa. Leras s :guia a avenida do Bois
- -bst taira-o e agora nada mais esperava, de Boulogne distrahia-se » ver passarem os fiacres. O s
j Toda essa seara de recordações q_ie colh-m <>s carros vinham, com os seus olhos luminosos, u n a t r á z d o
oaoens no decorrer d a existência os acontecimen- outro, de xando v e r p o r momentos u m p a r abraçado, aI
tos- imprevistos, os amores doces ou trágicos, as viagens mulher d ; vestido claro, o homem d e terno preto.
aver.'-*vsas todos 05 azares d e u m a vida li i r e ha t.im-lhe E r a uma longa procissão d e namorado,, a p
- -iros. sob céu estreitado ardente. E elles p i s s i a m , passa»
AMERICA

vam sempre, recostados nas carruagens, mudos, aconche- ainda só, sempre só, isolado como ninguém no mundo . . .
gados, perdidos na allucinação, na emoção do desejo, no Levantou-se, deu alguns passos e, bruscamente fati-
frem to do próximo amplexo. A sombra tépida parecia cheia gado como si acabasse de fazer uma longa viagem » pé,
de beijos que voejavam, que fluctuavam no ar. Uma sen- cahiu pesadamente sobre banco visinho.
sação de ternura enlanguescia o ambiente, tornava-o mais Que esperava elle? Nada! Pensava somente que deve
suffocante. Todas essas creaturas enlaçadas, na embr aguez ser bom, quando ss é velho, achar, ao entrar em casa,
do mesmo desejo, do mesmo pensamento, faziam correr uma crianças que papagueiam. E ' doce envelhecer quando es-
febre pelo ar. Todas essis carruaens, cheias de caricias, dei- tamos cercados desses pequeninos entes que nos devem
xavam á sua passagem uma emanação subtil perturbadora. vida, que nos amam e acariciam, que dizem essas palavras
Leras. um pouco fatigado da marcha, sentou-se um plgenuas encantadoras que reanimam o coração conso-
banco para ver passarem os fiacres carregados de amor. Iam de tudo . . .
E logo depois chegou-se a elle uma mulher e tomou E. ao pensar no seu quarto vazio, no seu pequeno
logar a seu lado. quarto limpo e triste, onde só elle entrava,
— Boa noite. . uma sensação de agonia assaltou-lhe <* alma.
Leras não respondeu. Ella continuou: \ \ O seu quarto pareceu-lhe ainda mais la-
— Não sejas casmu-ro, meu c a r o ; verás como ,/ mentavel que o escriptorio.
eu sou cai inhosa. Ninguém o visitava, ninguém falava
Elle exclamou, afinal : alli. Era um quarto m o r t j , mudo, sem
— A senhora está e n g a n a d a . . écho de vóz humana. Dir-se-ia que as paredes
A rapariga passou-lhe o braço ao pescoço. guardam qualquer coisa das pessoas que vi-
— Deixa-te disso, não te faças estú- vem entre ellas, qualquer coisa das suai
pido. Ouve . . . attitudcs, das suas figuras, das suas pa-
O velho ergueu-se e se afastou, com lavras. As casas habitadas pelas familias fe-
coração oppresso. lizes são mais alegres do que as habi-
Cem passos adiante. abordou-o uma tações dos miseráveis. O seu quarto era
outra mulher. de recordações como sua vida.
— Queres sentar-te um momento ao pé E espanteu-o a idéa de entrar
mim. meu rapaz ? nesse quarto, sósinho, de tar-se <na
Elle indagou-lhe: sua cama, repetir todos os seus mo-
— Porque fazes isto'' vimentos todas as suas tarefas
A mu her collocou-se diante costumeiras. E, como para mais se
delle, com i vóz alterada, rouca, afastar desse s i n s t r o aposento da

»
indignada : hora de para elle voltar, levan-
—: Oral Nem sempre é por tou-se e, encontrando de súbito *.
prazer I primeira aléa do parque, entrou
Leras insistiu, com uma voz para sentar-se sobre a relva. .
branda : Ouvia em torno, no Aito, em
— E então, que é que te toda parte, um rumor confuso,
obriga ? immenso, cont nuo, fSito de ruidos
Ella rosnou . innume o ; e diferentes, um rumor
— E ' preciso viver, sabes ? turdo, próximo, distante, uma va-
E afastou-se cantarolando. ga e enorme palpi.ação de vida:
O velho guarda-Lvros fi~oj as- terá o hálito de Paris que respi-

» sombrado. Outras mulheres pafsa-


vam por e l e , chamando-o.
Parecia-lhe que quilquer c o s a
negra, pung nte, se estendia sobre
rava como um ente colossal.

O sol, alto já,


uma onda de luz sobre
derramava
Bois
A sua cabeça. de Boulogne. Começavam cir-
E sentou-se de novo a um banco. Os carros desfi cular alguns carros alguns cavalleiros chegavam ale-
lavam sempre. gremente.
— Antes eu não tivesse vindo, pensou; estou incom-
Um casal ia passo por uma alameda deserta Su -
modado, a b o r r e c i d o . . .
E poz-se a pensar em todo esse amor, venal ou bitamente a moça, erguendo os olhos, viu um vulto es-
apaixonado, em todos esses beijos, livres ou pagos, que curo nos galhos de uma arvore. Levantou «* mão, admirada
passavam d ante delle. inquieta ;
0 a m o r ! Elle mal o conhecera I Só tivera na
— Olha. . Q.ue é aquillo ?
'ida duas ou três mulheres, por acaso, por s u r p r e z a . . .
as suas posses não lhe permittíam aventuras. E pensava Depois, com um grito, deixou-se cahir desmaiada

r
na vida que levara, tão differente da vida dos outros, nessa nos braços do companheiro.
da tão sombria e i n s i p d i , tão vasia e e s t é r i l . . .
Chamados os guardas, estes retiraram dos ramos um
H a creaturas que posit.vãmente não têm sorte. E de
repente, como si se houvesse rasgado um espesso véu, velho enforcado nos suspensorios.
elle percebeu a miséria, a infinita, a monótona miséria Verificou-se que a morte oceorrêra na véspera. P«-
da s u a existência: a miséria passada, a presente e «* fu- lo.s papeis encontrados nos seus bolsos, ficou apurado tra-
tura; os últimos dias em tudo iguaes aos primeiros, sem
tai-se de um guarda-livros, por nome Leras, empregado da
nada em volta delle, nada no coração, nada em parte al-
guma, n a d a . . . casa Labuze & C.
O desfilar dos carros continuava. E elle via sempre A sua morte foi atribuída « um suicídio, de causa
apparecerem e desapparecerem, na rápida passagem do ignorada. Talvez um súbito accesso de loucura. . .
carro descoberto, os pare3 silenciosos e abraçados. Parecia-
lhe que i humanidade inteira desfilava d a n t e delle, ébria
de alegria, de prazer e de felicidade. E elle estava só- CUiy <le N A U I M N N A N T
sinho z olhai-a, s6, inteiramente só. E amanhã estaria
AMERICA —

R E G A T A S DE AGOSTO
"Candinho' , da Faculdade de Medicina, vencedor do Campeonato Acadêmico
O C O O ü O C O O O O O O O O O C O O w O O O C O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O O

OS SEGREDOS DE CARTHAGO A VIUVA INCONSOLAVEL


Com as recentes excavações levadas a effei- No bonde. A viuva incónsolavel, o filhi-
to pelo padre Delattre nas proximidades d a ne- tiho e o Ephigenio.
A criança triturava o joelho do «tmanu-
cropole Robs, cemitério dos sacerdotes e das
ense, manchava-lhe a s calças com o branco dos
socerdotizas de Casthago, foram descobertas esta-
sapatinhos.
tuetas em elevado numero, quasi todas repre- Por fim, fixando nelle os grandes olhos
sentando rostos de mulher. líquidos, indagou:
— Como é que o senhor se chama ?
Essas estatuetas serviam para a ignição de
Ephigenio, meu anjo.
perfumes e são de t e r r a - c o t a : a cabeça de mu- O ssnhor é casado ?
lher, pousida sobre uma base arredondada, traz Não !
— Não tem filhinhos ?
um diadema achatado n o alto, e era ahi que
— Não.
se depositavam as substancias a queimar. Seguiu-se um curto silencio. E o gury, vol-

I a
maioria
Os traços do rosto de muitas dellas são de
pureza perfeita
representavam
certa a sua origem
e acredita-s e que em
a deusa
carthagineza.
Tanit,
sua
pois é
tando-ss para a senhora de preto, indagou:
— Mamãe ! Que é mais que você me pe-
diu para perguntar ?
Na primeira parada desceram apressadamente
dois passageiros . . .

GrY^iKASIO BRASILEIRO
ESTABELECIMENTO DE INSTRUCÇÃO PRIMARIA E SECUNDARIA
INTETllNTATO, SEJVCI - IJNTXEJHJNTA.TO E EXTERNATO.

R U A C O P A C A B A N A . , 6 2 0
AMERICA u

De "cow^boy" a pintor emento (AM


^M^*^MMAMMIS>MMSilMVVVWVVV«W«M«V«««««VVVWV«V«WM VVMWM***»

A arfe maravilhosa de Vai» Dearing Perrine

<3=í>

AN Dearing Perrine é um ver-


<lol> dadeiro mestre da «evocação»,
Uns ligeiros traços brancos sobre
uapel preto, e nos faz ver a figura
e o movimento de uma bailarina, ou as
linhas do corpo esbelto e formoso de
ama mulher, illuminado de reflexos de
prata; graças á sua arte, quasi sentimos
a brisa que agita as dobras das vestes e
adivinhamos o começo e o lim dos movi
mentos cujo momento central elle sou-
be fixar tão maravilhosamente.

Está claro que, si o artista con-


segue operar taes milagres com elemen-
tos como o giz e <> papel preto, isso é
devido a que Vau Dearing Perrine é
-ama victima enamorada de tal methodo. Três «croquis» de Perriríe,
õ papel negro representa para elle a representando attitudes de
tréva cósmica, o ventre de que ema- Isadora Duncan e de Ni-
jinsky.
nam todas as formas: e o giz representa
a luz. Assim, quando começa um dos seus
desenhos, elle deve pronunciar o <Faça-
3f- a luz ! » do Gênesis.
Perrine nasceu no Oésté dos lis-
tados Unidos, onde durante muito tem-
po exerceu o agitado mister de vaquei-
ro. Um dia. ao ver um cartaz colorido
na parede de uma venda, sentiu-se pela
•mineira vez atormentado pela «doce
enfermidade» da arte. Mais tarde rumou
para Nova-York. onde estudou no Ins-
tituto da Cooper Union c na Academia
de Bellas Artes, até chegar ao ponto
em que, segundo a phrase sacramentai,
os mestres nada mais tinham a ensinar-
lhe. Desde então dedicou-se a pintar
os seus estados de alma reflectidos no últimos annos a buscar expressão na côr movei
*r e no vento, nas agu-i^ e nas arvores oi dynamica. Vau Dearing Perrine reside em
\a suas paizagens, sempre muito pro- Píilsides, nas alturas abruptas da margem do
curadas, estão apaixonadamente cheias Hudson de oti le desce tle quando c.n quando so-
de côr e de movimento. Não s • confor- bre Nova-York, para, como uma águia, agitar
mando, aliás, com o meio estático da a atmosphera das galerias de arte com o bater N
simples pintura, dedicou-se durante os de suas azas...
AME RH

Fr&uk W iv-i-»t • nome «!»• um artista americano \ ida das aves aquáticas, cujos costumes surprehendeu admi-

Kfejftboente muito cm i6ga na terra d > dollar do. . . ravelmentc o seu lápis aídextrado. lü, como é natural, sua

i mtMii.t. Bensoa tornou-se um especialista eaa flagrantes da fama voou sobre as fronteiras 2 actualmente cone mundo.

A invenção dos phosphoros


Os phosphoros com enxofre eram COTfbecídos pcfyaa

' ° .' antigos.


fórum c
Marcial
nas
fala. dos
ruas ricas.
pequenos
Taes phosphoros
que os vendiani jtu>
tinham, di-us
cabeças 1 eram usados principalmente uas saturnae»,

4 ' No Paris medieval o vendedor de phosphoros i<<--


sava pelas r u i s com um grito particular os mais procura-
dos eram aquelles que vendiam o seu artigo com muito
enxofre.
5*^'' •<• •• ^ i ^ W ^ Foi em 1835 que alguém se lembrou de combinad
\ m chio rato de potássio com o phosphoro, para fabricar os
%
3^4 iA
w ai :u ies palitos que se inflammam
esse artigo
transportado p i r a Paris
pela prim-ira vez
1 om o attrito. Appareceu
11.1 A l l e m i n h i ,
ahi a n a l i s a d o por um pharmaceutíco
de on*l
então
ifoí

[-.^^
é -.•-"•."'"
mJ?*fy.- :i
'-•>-•-;y^^y^^-^ístéi. ^ \H Desta cidade p issou segredo dos phosphoros Londre*,
•^njm

z00t&'"y
onde dois chímícos porííaram em fazer fortuna com *:11*.
Depressa cahiu fabricação n-> domínio publico, sendo que
o seu inventor anonymo não tir.íra p ttente.
- •
-! " -- "~- O phosphoro branco ordinário, devido te
accádentes mortaes servido (ura fitts 1 rímínoeos, foi
-mu.do. por proposta dos professores Revoai e La •-•
A. paathfra SACA' e:icarrega-se de vigiar o autumovêl
Es< oia de Alfort, pelo phosphoro vermelho, 1 hamado amor
de sen d»':i«.» Morriner Haii'i«vk. de Paris, emquanto pho. . que não pfferece nenhum perigo de en\ 1

csút ir.* .:, do •! ou de incêndio.


AMERICA —

bolo chimico II 2Õ era odiado por Peixoto. E


A P R O P H E C:IA
IA | havia nesse ódio um presentimento. porque Pei-
xoto cestumava dizer propheticamente á mulher:
O Peixoto era um *< adepto fervoroso de — Olha, Maria, morrerei no dia em que
Baccho », para usar do circumloquio reporterosco beber água! Podes ficar certa disso!
que quer dizer, na- Um dia destes,
da m a s , nada ms- de repente, fez-se
nos, um beber rã o um grande reboli-
de quatro ces ades. ço alli na rampa
Peixoto, com c!o Mercado. A'
uma calma de anjo beira do cães for-
e uma iniiíferença mou- se um gru-
de fakir, bebia sem- po af.licto que bra-
pre, bebia como es- cejava e atgn.en'a-
ponja, todas as be- \.i sempre... Gri.oS,
bidas — - com a e\t laniaçi'es, de-
condição de que ti- dos trrtos que apon-
ve s e n álcool. Por- tavam o mar. E ^o-
que :'s50 de água bre a água do mar,
cria sapos na barri- um chapéu velho
ga ! — explicava, que boiava... Poli-
rindo, a piscar os i iaes corriam, ata-
olhos miúdos habi- rantados, um foi ao
tuados a verem tu- telephone, a pedir
do duplamente e o a Assistência.
mundo á roda. co- Cheguei - me.
mo uma maxam- movido pela .minha
bomba. invencível curiosi-
Pouco se 1 he dade de carioca. E
dava que so^r..' a tive a explicação
sua cabeça cahis- do c; so- o Peixo-
sem, como pedras, to, depois de be-
todos os epiihetos. bericar por todi s
synonymos de be- os botequins do
bedo, creados pela Mercado, v e r a , zig-
zagueando, até á
ftrtil inven.iva po-
rampa, fizera pro-
pular ou por qual-
i.igios de equilíbrio
quer outra inventi-
lia aresta do cáes
va: ftr-. o.os.) aciep-
.' acabara caliin.do
to de Baccbo, páu
r/agua.
d' água, cachaça^
gambá , esponja , ( 1 pobre Pei-
chuva... Peixoto be- xoto não appareceu
bia, bebia. Qac ha mais. E sua mu-
de conden n ivel nis lher, que ; ctorrêra,
so, numa < idade < m ex| 1 cou, mim haus
que h i tanta falta to: liem dizia
d'agua ? , 1 • que njoweria
lio dia em que fre-
1'eíxo o era um
1H sse água !
(• b r i o inveterado
(outra expressão de Cumprira 3e
repórter de maus .1 propllrcia.
fígados, em dia de
atrazo de paga-
mento;. Parece que 7 DE SE TEMBRO
esse homem, desde
Porque 1 s ã s tão satisfeito, meu vejh > ? ^
o dia em que nas-
ceu, jurou guerr.i Et que me lembro tle que es',0.1 liv iv
á água. O seu sym- dca despezas... do outro centejvirió !
fe A ilha de Robinson Crusoè â
Q
l rn solo moni.inhiiM., pedrento, pouco fértil, em qu.- apenas c
i inha e a oliveira; pOttCOl habitantes, cuja principal
mas uma p e s o abundante, taes tSo
as características da dh.i de Juan
rernarule/, perdida BO m i r dos Ca
nÜbUi 700 kilometros da costa do
Th le. a que ella pertence. A ílhi de
luan I : ernandez deve nome ao cé-
lebre navegador hespanhol qm a des-
cobriu no XVI século. Mas com as
«ua> oliveiras: O peixe das suas
• ostas, ella não teria nenhum titulo
de gloria si o marinheiro escossez
Mcxandre Selkirk, que alli foi aban-
lonado depois de uma revolta
bordo, não tivesse passado nella qua-
tro annos de vida solitária.
De Alexandre Selkirk fez Daniel
de Foe o heróe do seu célebre livro
KOBINSON CRUSOE

O POETA
A LAGOSTA
Tasse-uva um dia (iéiaid de Nerval
oelas rua*- de 1'aris. puxando por um
. ordel. 101110 um cão de luxe, uma
enorme lagosta. Houve escândalo, for-
mou-Sf uma multidão de basbaques que
impediam o transito. Resultado: poc-
Li foi parar 110 p03tO de policia. In-
quirido pelo coinmissario sobre tal
extravagância, Nerval exclamou, indi-
gnado — Vocôs saem á rua com ca- 'ARCHITECTURA COLONIAL MEXICANA
chorros gatos, animaes entupidos que A igrej* de S. Francisco Acafepec, no Estado de Puebla, México, é um lempto
do mais p««ro estylo cht/rrigueresco. tão luxuoso exferna, como infernamenle Profusa-
aada sabem. Ao passo qu? minha la- menle decorado com azulejos de Talavera, columnas salomonícas c uma infiníd ade de la-
gosta conhece as maravilhas das pro- vores de cantaria, essa igreja é uma jóia da architectura colonial mexicana aftráe fo-
rasteiros sem conta pela sua fama muitas vezes justificada.
rundeias marinhas

A mais antiga carta


geographica
Segundo afftrma escriptor basco
Segundo de Ispizua, mais velho map-
pa que se conhece é organizado
no século VII p^Io hespanhol Orosio.
Essa carta dá ao mundo a confi-
guração de uma ferradura, de que A
África oecupa » parte inferior a
Europa i superior.
A Ásia foi collocada na curva da
ferradura Medíteraneo no centro.
O estreito de Gibraltar é abertura
Oceano abrange o todo.
Felizmente o Orosio morreu a n t t v
de Colombo, porque se veria em
aperturas para collocar no seu mappa-
ferradura o continente americano

P A I Z A G E M A L P E S T R E — LimVrecho l>pico da SuissaTcom os seus colos-


sos nevados e as scas (ilas de pinheiros melancólicos...
— AMERICA
incerta, estão compenetrados desta primeira verdade: q u e
o dollar regula a s suas compras. Partindo desse principio
como está pobre o marco-papel! E m relação a o dollar
tomado como base de cambio, differença do marco
entre 1914 1923 é d e 30.000 p o r , ! Comprehende-se.
pois, que se houvesse podido comprar, antes da guerra, três
vaccas pelo preço actual d e u m litro d e leite, ou u m a
casa mobiliada por 180/300 marcos, preço actual de um
par de s a p a t o s . . .
Assim também, p o r inverosimil que isto pareça, u m a
ferradura custa hoje em Berlim o preço de um cavallo,
antes da guerra, uma dona de casa pagará por um carretei
de linha nada menos de 12500 marcos, quantia que anti-
gamente lhe daria para adquirir uma dúzia de machinas
de costura . . .
»»*VV»VVVVV*VVVV^**«*'VV>********»A»i»*^"i»^*»*W*»*»

PRECOCIDADES
Ao completar doze annos já havia Pascal resolvido
as trinta ,. duas proposições de Euclydes. Outros exemplos
de precocidade: Dante compôz o seu primeiro soneto aos
nove a n n o s ; o Tasso escreveu os primeiros versos aos d e z ;
Calderon começou a escrever a o s treze; Victor Hugo, a o s
quatorze, e r a laureado da A c a d e m a dos jogos floraes d e
Tolosa; aos doze annos já Byron versificava; Meyerbeer
dava concertos de piano apenas com seis annos d e idade;
Cláudio Vernet desenhava perfeitamente aos sete; com onze
annos já Mirabeau e r a auctor de um volume; Haendel com-
punha u m a missa aos treze; Raphael já e r a pintor a o s
sete; finalmente, com quatorze annos, Weber fez repre-
sentar *i sua primeira opera.

JACK D E M P S E Y , o formidável «boxeur» americano,


caricaturado por S E M

A odysséa do marco
Uma das coisas q u e mais chocam o espírito do
estrangeiro q u e actualmente chjga á Allemanha é o a u g -
mento formidável d o preço, em marcos, d o s objectos mais
modestos. Apezar d e nos dizerem os jornaes, todos os dias,
o quanto é Ínfimo o valor d o marco actual, so u n exem-
plo concreto nos poderá d a r idéa justa d a derrocada mone-
tária naquelle paiz.
Eis alguns documentos extrahidos de um jornal alle-
m í o que, ai.ás, os commenta sem azedume.
Sob titulo '<Uma triste historia em cinco imagens
banaes», o «Berliner Illustrírte Zeitung* consigna prelimi-
narmente q u e i#ooo marcos valem apenas 3 ou 4 pfcnnigs-
oaro. O padrão pelo qual parece fixar-se nesta hora o ins-
tável valor d o m a r c o é z dollar, em razão do commercio
activo entre a Allemanha os Estados-Unidos. Segue-se
dahi q u e lá tudo se refere a o curso do dollar. A mais
obscura vendeira, a quem se compra um maço de ci-
«jarros, pergunta infallivelmente :
— A quanto está hoje dollar, senhor ?
Ella faz essa pergunta sem anciedade nem ainar-
jjora, como si perguntasse qu2 h o r a é ; porque, para a orga- PHOTOGRAPHIA ARTÍSTICA
nização da sua vida, é-lhe tão necessário conhecer o curso do
dollar como a hora. Paizagem da costa da Califórnia em que u m a arvore
As pessoas mais humildes, os menos aptos a affrontar torturada, diante do nevoeiro d ò horizonte, tem qualquer
o grande problema d o s câmbios e a sua solução sempre coisa de dantesco . . .
C om o feito brilhante do aviador patrício pêndulo que marca os instantes de emoção dos
<- arlos Chevalier, ficou em moda a prova fasci- que, em terra firme, contemplam a proeza.
nadora do salto em pára-quedas — tão fasci- A proposto, julgamos interessante publicar
aadora que já outros, inclusive uma senhora. aqui as impressões que da sua primeira queda
se aprestam para imital-o. lançando-se de uma
trouxe Fronval. o destemido campeão mundial
altura vertiginosa e abandonando-se á mercê do
do looping.
vento . . .
Depois de haver lançado do seu avião m-
E ' uma prova perturbadora essa pelo
numeros «pára-quédistas», lá num dia resolveu
sangue-frio que requer, pela seguran^i que exi-
ge no lançar-se o sportman do apparelho. des- Fronval precipitar-se também das alturas, e fel-o
amparado, numa queda brus;a, até ao momen- em optimo estylo, como o attestam os succes-
to em que o pára-quedas abra a umbella pro- sivos instantâneos, que aqui reproduzimos, do
tectora e faça cessar a vertigem . . . E o ousado film então tomado de um avião.
sportman vae descendo. balouçando-se, como um «Si muitos espectadores, diz elle, assistem
ME RI CA —

n
GD.
O

' I
na
n

á descida em pára-quedas, levados pela attracção Depois, ::ada: não senn a menor emoção desde
do perigo, muitos ha que comprehendem a im- o salto até á abertura do apparelho. Essa ma-
portância capital desse anjo tutelar, dessa boia nobra é tão rápida que nada se sente. O único
de salvação aérea. Na America, entre as pro- incommodo para um piloto é tiao poder dirigir-se
vas do brevet de piloto, é obrigatória descida
c ficar á discri.ão do vento.
em pára-quedas.
A própria chegada ao sól:> é banal. O que
E ' por isso que. depois de lançar tantos
me chocou nos meus sentimsntos de aviador foi
coflegas, fiz questão de, por meu turno, atirar-
ver que uma multidão se precipitava para me
me do alto de um avião. Devo confessar, sem
dirigir felicitações. Não sei porque se cumpri-
nenhuma pretenção ou exaggero, que não sof-
íri angustia de espécie alguma. Deixar-se cahir menta um homem que s- contenta com substituir
em pára-quedas é, mais ou menos, fazer como um sacCO de areia . . .
o mergulhador — com a differença de ser de Como se vê, Fronval, além de ousado, é'
mais alto. E ' esse o único momento desagradável. modesto . . .
1.1// RH \

A ACROPOLE

\«i('|.(.lt ama palavra <pn designaví antig un« nii


parte aJi i das »i Lades gregas, em que erguiam os Mn to si' (em debatido questão de sabei «1 os
templo* ai cidadelas; hoje designa a m1 S illustn ani gos conhec iram a America, Homero 1 ollocavi I lyiai
das coUinas, .1 que domina Athmas cm que as 1»" 10 mai Occidental. 111 is lungunii s.ibe si se tratava rfn
brrs rumas do P ITth DOA attesl i n de P h d n
terra de Colombo. Aristóteles fala de uma terra t§0
panda» de Pendes encantadora que o Senado de Carthago prohibia aos na
\ w ropoJi de \ t h e n a s é um rochedo escarpado vegantes qu • a visitassem. Diodoro allude á ilha enormr
á excepçao de uma banda, terminado p n um planalto de distante para qual os carthaginezes contavam transir
300 metros de comprimento, rir sede do seu império,
156 metros acima do nível do mar si soffiessem algum revez n;i
Foi lá, segundo legenda, que Ce Afrua, Segundo Ptolomeu, as ei
crops fundou - cidade que Pal- iiriniilades da Ásia se reuiiiati
ia s Athcnéa (Minerva | deu num» uma «terra desconhecida» qu*
a que ensinou sabedoria se approximava da África pelo
as artes. oceidente, Quasi todos os monu
A Acropole foi «* principio cer- mentoã geographicos da antiguida
cada de fortes muralhas, de que de indicam um continente aus-
ainda In vestígios, desde os pri- tral.
meiros séculos históricos coberta Outros, mais recentes, d>
de templos Xerxes, na V século, sem ser indiscutível visita de
destruiu-os, mas os gregos os navios á America, antes de Co-
reconstruíram logo que invasão lombo, que «os rudes explo-
dos persas foi repellida. radores dos portos da Noruega
Foi
porém no tempo de Pe- e do Be 1 tico acharam a Ame ica eep-
ndei e sob o impulso desse tentrional no primeiro anno do sé-
grande homem, que se esgueram culo X I . Estes navegantes ha-
sobre 1 Acropole os mais admi- viam descoberto as ilhas Fe-
admíraveifl monumentos da archi- roe no anno 861, a Islândia,
tectura ; da estatuaría gregas. entre 860 : 872 o •. Groen-
Chegava-se á esplanada pelos lândia em 982. E m 1,001 um is-
Propyleos, eolumnatas de accesso I.in. ir/. Biom, passando pela Groen-
cujas ruinas indicam ao mesmo lândia, foi impellido por uma
tempo w sul majestade sua tempestade para sudoeste e
harmonia. Ao lado dessas en* chegou a umas terras baixas co-
iradas monumentaes, havia uma bertas de florestas. Voltando
grande sala, Pinacothéca, onde Groenlândia, ahi narrou <* sua
HARRY CH1N, primeiro aviador chinez, veio aventura»,
se conservavam as pinturas pôr termo a uma s tuação esquerda para os da sua
cujas paredes ainda estão de pé. raça. Pois, q u e ? ! Os «filhos do Céu» ainda não ha- Leif, filho de Eric Randa,
Mais adiante, á direita, as rui- viam voado? Toda sua litteratura, toda «. sua arte fundador da colônia noruegueza
nas do Parthenon. de Phidias, de está cheia de vôos fantásticos de príncezas sobre da Groenlândia, embarcou com
que as múltiplas invasões saqua- dragões alados, de escapadas felizes ou infortunadas pa- elle chegaram a um ponto
ram o interior e quebraram co- t a as nuvens, os «filhos do Céu» não tinham ainda qualquer da America do Norte, on-
lumnas, arrebataram frisos ca- um titulo official de aviadores. H a r r y Chin veio, pois, íizeram commercío de pelles com
realizar os sonhos do seu velho legendário paíz.» os selvagens. Esse território foi
piteis, sem no emtanto destruí-
por elles baptisado com o nome
rem graça das linhas z_ de Vinlandia. O bispo Eric, em
belleza do conjuneto. 1121, partiu da Groenlândia, para
A' direita um outro templo, o Erechthéion, tambern Vinlandia, para pregar o Evangelho aos indígenas.
dedicado a. Minerva, menos importante do que o Parthenon. Acredita-se também que os irmão Jeni, venezianot
mas delicioso pelas suas cariatidas. E, por toda parte, uma serviço de um chefe das ilhas F e r o e e Shetland, visi-
infinidade de estatuas em honra dos taram de novo essa terra em 1380.
deuses. A mais bclia de todas, da lavra Por sua vez os Árabes procuraram rei-
de Phidias, era estatua colossal de vindicar d descoberta da America.
Athena Promachos. de que uma ex- Pretende-se que os irmãos Almaguri-
cavação no rochedo ainda revela o lo- nos, de Lisboa, penetraram nas terras
gar em que assentava. mais afastadas do Oceidente.
O solo da Acropole está hoje jun- — «o» —
cado de restos alu.dos de todas essas
maravilhas de arte. Obra dos bárbaros O guarda roupa de Carlifo
que tantas vezes pisaram esse solo sa- O g u a r d a roupa de Carlito, em qav
grado, desde os romanos, incapazes de o celebre excêntrico escolhe as suas inve-
comprehender belleza da coluna até rosimeis toilettes compõe-se de 5 cos-
tumes completos, 19 chapéus, 7 pares
aos venezianos e aos turcos que ou- de sapatos, 4 bengalas. E s s e guarda
saram profanar as obras de Callicrates. roupa, segundo os cálculos do3 entendi-
de Mnesicles de Phidias. dos, vale cerca d e . . . dois dolars!
O E T E R N O P R O B L E M A FEMININO

Entre o Capital e o Trabalho. (Desenho de LOWELL) ^


, -Ç-U

'ELLAS" p o r "ELLES"

P OR cansa 4o fogo e da* mulheres (•


f|ue as cruzes nascem á beira das
estradas. TAUNAY Innocencía,
*"• Ó C U L O S
Ern verdade, a mulher tem sempre si-
tuação que irnp"." pela illusâo que sabe pro-
duzir. MAUPASSANT Norre coeur.
.^.PINCS-NEZ
•Z) COM CRYSTAES Z E l S f
As mulheres derem apparecer-noa num so-
nho ou numa améola de luxo qae poetize «
suo vulgaridade. MAUPASSAN1 Pfcrre ei

LUTZ, FERRANDO
Jeao.

I'ma mulher b II i vai- quanto pisa em - C I A . LTDA.


ouro; uma mulher que além 'i 10 no ama,
njo tern preço. S1ENK1EWICZ QuO V.KII . • ^APPARELHOS
O CONÇALVES DIAS40
PHOTOORAPHICOS
r, encanto de BOM mulher augmenta sem- KODAK
pre i K eala. Isso i uma verdade
ruja evídendi *ó o» homens sentem. PIERRE
I/)t'YS Contei cnóiíít.
DOUGLAS FAIRBANKS

O- -<>
«O marido de Mary» e Evelyn Brent, numa scena do
:: novo film «Bagdad'. de que sSo protagonistas. :: ::
o-

ái
AMERICA —

<WMWWW*WM

ACA
**V*A**^<WSAr
«*^^lM»W^»V»»WVi (VWKIIIIWIWIW^WVWIIW*

Boje, 2i<« a litteratura sertaneja, com a frescura Mostra mais uma coisa, mais outra: « roça de mi-
e o encanto de todas as cousas singelas e ingênuas, está lho, as crias no pasto, emfim, p ' r a encurtar palavra, o
jantar demorou um pedaço bom.
em franco successo. i ae lastimcr que se ache em esque-
E pagou a pena que estava «chiba», acompanhado
cimento o nome de Azevedo Júnior, o ynallogrado escri- de um restillo que não era de arrenegar.
ptor patrício que com tanto talento fixou os costumeft e O sol já ia querendo tombar, quando eu, tendo
posto uns badulaques na capanga p'r'os meninos, montei
a p«yche dos nossos matutos. no «Queimado».
E' no intuito de relembrar esse nome que aqui re- A principio, tudo foi sem novidade, nem eu me
importei com uma zoeira nos ouvidos assim a modos
produzimos o conto '-S03ÍBBAÇAO", ha cerca de um
de umas tonturas. . . Feri logo na binga, accendi o meu
decenwo publicado na imprensa carioca. pito, e deixei o pagão andar numa toada.
Mas vocês sabem que daqui ao sitio do compadre
U R O por Deus que eu vi Quinca tem terra damnar.

J I
sombração, ali na
da, pegado á
estra-
ribanceira
onde o C h c o tropeiro to-
Foi pegando a escurecer.
Olhei para o céo: as estrellas es-
tavam pintando aqui ali. N o var-
mou com ferro no sangrador e gedo, já estava bem pretum;, de
adornou de uma banda, que não modo que, depois de passar a ponte
abriu mais, — disse Benedicto que Velha começar a subir o tope on-
estava «batendo taquara» no nego- de está » cruz do Chico, era um
cio do povoado, naquella noite frio- estirão . . .
renta de Junho. *)yy Tentação do capeta 1
Os parceiros arregalaram os olhos, E m vez de banzar minhas coisas,
mu to curiosos, aconchegando-se uns peguei matutar no coitado, que
aos outros: todos tinham conhecido i Deus lhe fale n'alma.
Chico, homem de suas posses, tendo O coiração desandou bater com
uma b u r r a d a bòa, vivendo, abaixo e uma força, que não tinha mais pa-
arriba, nesses fundos de sertão. Crea- rada . . .
tura de se lidar com geito, porque, 0 cabello cresceu que até, juro
por um tiquinho de nada, fechava a por essa luz, o chapéo « modo que
cara, dava uma resposta, e ferrava pulou rto ar. E , naquelle pretume to-
logo. Pagou caro malucagem, pois do, eu vi uma coisa branca . . . bran-
íoi «maligno» servido que o Chico ca, espichando do lado da ribancei-
batesse bocea com um caboclo gran- ra
dalhão, e ambos, esquentados de Cruzl credo ! Correu-me uma
pinga e de «reiva», travaram num tremedeira pelo corpo todo, que nem
átimo: o grandalhão sugigou o tropei- sei como tive p i para fincar a espora
ro que comeu terra como um perrengue. e foi o preci- no (Queimado», que abriu num galopão desabotinado.
P p i c i o , que todo o povoado soube. Coragem para olhar p'ra traz, «adonde?» Parecia que
O criminoso botou o pé na estrada e sumiu, que sombração «avoava» em riba de m i m . . .
nem mais noticias delle. Amoitou por esse mundo. Só tomei «suspiração» quando vi a luzinha em casa
Puzerarn uma cruz no logar onde Chico tombou do «seu» João Carapina . . .
de uma feita. Até então, nunca ninguém tinha visto nada, Com graça de Deus, estava no a r r a i a l . . . Pen-
e o povo não deixava de trançar por allí, fosse a que hora sei morrer . . . ; • I i J ^ 4". I
fosse, que sertanejo santo a n l a com o sol claro, como de Falei do «causo» com o compadre vigário, mas
noite com o escuro, que nem zumbi, elle riu muito e disse que o Chico precisava era de
O que Benedicto vinha contar agora era de fazer missa. Não fiz questão; mandei rezar duas logo, ouvi
correr um tremor na regueira das costas, Elle não era com a dona.
potoqueiro, nem também qualquer páu arranhando no matto E o caboclo, ainda assustado, concluiu: cruzl
ou coriango soando mettiam medo. Tinha varado esses Os parceiros guardaram silencio, pensando no que
caminhos todos, ás vezes debaixo de um aguão doido, só acabava de lhes contar o Benedicto, que não era «sapé-
vendo o trilho quando relampiava, e nunca topara nem cador»; ao contrario, palavra na bocea delle era verdade.

P bicho nem creatura de Deus.


— Mas como foi então? perguntou o Manoelsinho, que
já ouvira contar que «tinha» lobishoraem ali p ' r ' a s bandas
O vendeiro, cocando a barba, fazia cara de riso,
achando no intimo que o Benedicto, com as porchadas de
restillo, ficara com as ideas quentes, e a «resto» viu
do cemitério velho, onde morava um sujeito, quo soffrh de tudo aquillo . . Mas não disse nada porque o caboclo era «boa
amarellão e diziam que elle «virava» sombração. Cruz 1 dita», e, si elle pegasse a caçoar, podia o outro ficar
Ave - Maria 1 amuado, e lá se ia o freguez.
— E u tinha ido na casa do compadre Quinca com — Coitado do Chico I coitadol limitou-se a dizer o
• prar delle uns taboados para o patrão que, nesse meio tem- vendeiro, emquanto o Manoelzinho chegava & porta e olha-
po, andava encorajado c pouco passeador. Mandou que eu v a o breu que estava na rua.
íosse c pegassa o melhor animal. Botei o basto no «Quei- — E h l que você é um «porqueira de perrengue»:
mado», saltei em riba, e foi bateir com tala uma vez só. bravatou o Benedicto. Vamos embora, que amanhã temos
0 bichinho até parecia que voava. que puxar serviço, na r e g r a . . . Medo agora de que?
Sombração não vem onde tem gente
* do c aQuando cheguei no compadre, estava beirando hora
f é . . . Arrumei o negocio, mas não houve volta do
compadre me deixar tornar p ' r a traz sera jantar. A comadre Azevedo li \ l o i t
dona também «enrestou» commigo eu fiquei.
CARPENTIER E O SPORT DO MURRO
;5^ g^£ "^L=JJ

No momento em que subo pira o uno. ,,,,,


JH^ LGUNS annos antes do seu ruidosa en-
tinua elle, não sar.o nenhum nervosismo intem
/ contro cont Dempsey, encontro esss em
pestivo e nenhuma apprehtensão. Foi essa calma
que foi vencido, e s : r e \ i i Georges Car-
superior que provocou, num match em Monte-
pentier, de Londres, um artigo para a imprensa
Cario, as seguintes palavras do famos > Ki 1 Mac
do seu paiz, em que falava singelamente tio -=port
Coy, boxeur americano «O único f rance/ que não
em que se tomara campeão, divulgando o s?u
parece francez, aqui, é Carpentier, porque não
modo pessoal de julgal-o e a opinião que sobre
escuma, não grita, nem fala em algaravia».
elle formara a sua longa experiência.
Carpentier considera «scientifico» o seu me
Carpentier, segundo elle próprio confessa, thodo de preparação para o combate. E ânus
batia se desde a infani ia, quan- centa: Desde que combino coro
do, ágil «gamin», lia a «buena- um adversário um encontro even-
di( ha aos freqüentadores das ta- tual, c o n e , o a lre'nar, esforçando
vernas, a troco de alguns sous • me sempre por tel-o diante de
derramados no seu bonet. mim.
A vxtoria do seu rival ame- Não lia coisa que eu faça,
ricano em nada diminuiu a auto- por Ínfima que seja, que não te-
ridade das palavras do boxeur» nha a sua razão de ser; conven-
lrar.iv/. entre as quaes se contam ço-me de que a negligencia disto
verdadeiros aphorismos sponivos ou daquillo será a minha perda.
Transmittindo- as aos leitores de Acostumei-me a considerar sempre
«America», estamos cenos de que os adversários muito superiores
despertarão grande interesse, par- a mim e nunca commetti o erro
tidas que foram da bocea de um de suppor que o.s poderia vencer
profissional cuja derrota não se de- facilmente.
veu a deficiência de jogo, mas tão somente á E Carpentier proseguc:
maior resistenecia physica do seu excepcional ad- Comparado ao treino, o combate não é
versário. nada. Por isso eu me pergunto como certos
A mentalidade, a figura, a profissão do pugilistas podem fazer delle uma tarefa tão triste
«boxeur > diz Carpentier, devem ser alguma e tão enfadonha.
coisa de desconcertante para o publico. Eu O que se deve ter sempre, insisto nisso, é
sempre me perguntei que concepção pode 0 ar livre. A maior parte dos boxeurs treinam
elle fazer de um rapaz que abraça uma profis-ão a portas fechadas; além disso não se divertem
em que a renuncia se impõe periodicamente e fora dos combates e (• batendo-se que elles falam,
que. destinado a bater-se. só pensa no combate. dormem e vivem.
Creio que elle o representa como uma espécie E' essencial, não resta duvida, concentrar
de bruto. Xo emtanto. si o publico me visse todas as faculdades no treino; mas o boxeur qu
nos meus treinos, concordaria em que o retrato não tem a idéa de variar largamente o seu pro
que de mim formava não passava de uma grosseira gramaria, corre um perigo real; a sua imaginaçãoo
caricatura. torna-se pesada, elle deixa de pensar co.no um
E Carpentier nos mostra como. em pleno ser intelligente e o treino torna-se ness~ caso um
período de treino, acha meios de fazíY musica com terrível obsessão.
o seu «manager» Descamp e com os seus amigos, Xos meus treinos, tendo o meu «manager
:
numa sala em que se acham a sua progenitora como arbitro, eu evoco o adversário que devo
e a sua avó. affrontar. Ataco esse fantasma e bato-me com
elle com t o l a s as minhas forças, como si se tra- deiro pugilato. Não poupo os njeus parceiros, e
tasse de um ser real c não imaginário. Acho elles muito menos a mim, de mineira que f>s
que todo bc.xcur deveria, fazer o mesnu e ftão «knock-outs» não são raros entre nós.
julgar que perde tempo coai isso. t£ Carpentier confessa afinal que ha dias
,\ minha opinião diz adiante o lutador em c[uc abandona o treino e se dedica á pesca ,i
francez, é de que o box de preparação deve ser linha porque, diz elle, não conhece melhor modera-
alguma coisa mar, do que uma troca de Rolpes dor dos músculos nem rcconlorlo mais ellica/, pois
ddir.ados. Ao menos uma vez por dia eu me em- desenvolve bem as idéas •:• ia/ com que por algu-
penho num combate que tem o ar de um verda- mas horas não se pense cm luta...
tentes, como o branco mais te-
M e d i n d o o colosso mível para Dempsey. Ha, por
isso, uma anciedade enorme pe-
Louis An gel Firpo, o
lo próximo encontro de Firpo
terrível «boxeur» argentino, con com o cole ssal vencedor de Car-
c n r.i ac u d.r.ente sobre o seu pentier. E ' a luta dos gigantes...
punho de ferro as attenç"es do A nossa photographia mos-
mundo inteiro. 0 vencedor de tra Tex Rickard e Mac Leary
Bill Brennan e de Jack Willard medindo a envergadura do pos-
i considerado já, pelos rompe s : vel futuro campeão do mundo.

IWWWMMMW^WWWtWWWWWW* «• w » i w

:.00<rQOOOOOOOOO o ooo o o o o o o o o o o o o o o o o

^ - ^
o
r-\ FAR-WBST
/ " ^

O Far-West, região agqra tão em moda, é Tuscon, ao sul, e até aos arredores de Los An-
uma vastíssima zona que o cinema se annexou e geles, San Francisco e Taconna, a oeste.
em que sustenta um verdadeiro exercito de lan- J á não existem mais as enormes soliiões de
çadores de laço e de cavalleiros intrépidos, sempre outr'ora: novas cidades avançam cada vez mais pe-
promptos a saltar atravéz de valles e barrancos. los campos,
Em realidade, Far-West é uma expressão florestas e
empregada pelos primeiros americanos das cida- montanhas.
des do E'ste para indicar os irnmensos territó- Linhas fér-
rios quasi desertos e quasi mysteriosos do longín- reas percor-
quo Oeste. Nesse tempo o Far-West começava
rem os espa-
nos montes Alleghannys e comprehendia os iicos
ços antigamente desertos.
territórios regados pelo Ohio e pelos seus affluen-
Ranchos de «cow-boys,»
tes. e habitado por tribus indígenas e buffalos.
guarntçõe» federaes, po-
A partir de iSoo, o termo se applicava a todos
voam cada vez ma : s o
os territórios que deviam mais tarde formar os
Far-West, que engen-
Estados de Kansas, Xebraska. Texas, Colorado,
drou toda uma litteratura
Wyonning. Montana e Dakota.
tão explorada pelo cine-
Hoje em dia pode-se dizer que a expressão
ma, mas cujo pittoresco
Far-West designa, de um modo um tanto vago, a
porção immensa de terras que se extende de Bis- de»apparece de dia para
dia... CD CZD t a
mark e Glandive, ao norte, até Paso dei Xorte e
— AMERICA -

competentes, as suas obras difficümente poderão


PINTANDO COM A AGULHA ser imitadas. Entre as suas obras primas contam-se
«A Cascata» c «A Dansa», que aqui reproduzi-

í A! mos.

\ I X ' arte da tapeçaria, que immortahzo u os

I TfT* Gobeünos, tem na Sra. Margueritte Zo-


rach uma cultora das mais fervorosas
intelligentes. As suas cores são as mais brilhan-
tes poss-veis e dão aos seus trabalhos um cunho
ultra-moderno inconfundível. Em resumo: a Sra.
Zorach é uma pintora origiial, que trocou o pincel
pela agulha. Xão se trata de uma reproductora de
quadros celebres, mas de uma artista que executa
compos'ç"es suas e com tal mestria que, dizem os

NORMALMENTE, a altura de um homem

pode variar entre 1,25 e 1,99 metros; aquém

ou além dessas cifras ha os gigantes e os anões.

Hilary Agyléa de Sinai, a mulher mais pequena

do mundo, media 38 centímetros. Em compen-

sação, o finlandez Caimus tinha 2,83 metros de

de altura!

Os homens menores do globo são os negros

Akka, população africana cuja altura média é de

i>37- Seguem-se o indo-chinez, o japonez e o

malasio.

Os maiores homens do mundo se encon-

tram na Polynesa (1,74) " a África (1,72) c na

Europa Occidental, cm que os inglezes attingem a

média de 1,71 metros.

São os escossezes, no emtanto, que batem

todos os records, com 1,78. São, de facto, em

média, os maiores homens do mundo.

rm
*P- iyj

O FIM UTILITÁRIO DA NATAÇÃO
O methodo de salvamento de Weissmuller, recordman do mundo

A
S mais issc ias performances» dos nadadores Anui está, nos instantâneos que illustrain esta pagina,
um methodo por mim julgado sup.nor a to-los os outros
ã procura constante da melhor,a do techníca até aqui usado-. A s m i/antagern <:,,,,.,! está em que
do est)'lo, facl ires da velocidade na água, não salvador não 6 incommodado pelo movincuto das pernas
devem fazer esquecer fiim utilitário da natação. conserva sufficicntc força para l : v a r vic tinia á praia,
* N à - foi sem duvida para baterem records . m a s para se mo que esta se d e b a t i , o qu/a 6 caso freqüente.

Icfendercm contra água, que os primeiros homens pro- Pode-se observar nesta-, photographias, que po
curaram aprender nadar. Infelizmente essa doutrina foi senhorita Sibyl Bau-r, minha liberdade: de movimento»

depressa abandonada só lado sportivo parece interessar - i possibilidade que tenho d< s m fadiga, arrastar sobre a

. Porque não se organizam campeonatos de salva- água uma pessoa

- u convencido de que causariam enthusiasmo e. Não se trata, neste caso, de n a d o . de cítylo, mas de

de qu idejm uma necessidade. eade; e seria mais importante saber o modo de salvar
uma pessoa a afogar-se, do que tentar bater recordíi
Acho que está muito descurada a educação dos sal-
• ada vez maiores.
ores a que muitos ho - eado iia-iar p-r-
fe:tamente, ficariam embaraçadissimos para salvar uma pes- i>ou eu, a l a s . primeiro convencido deita W-idude

soa em perigo, por não saberem como mover-se carregando Johnny WEISSMULLER
aquelle peso morto que ás vezes atrapalha unto salvador.
A garantia de uma machina

está na lubrificaçãou
!
«

l u OJ óleos de classe «
«

Hélio A
Hélio B
I
Hélio C
Soviel-Betaluna e Engine Dick

» *A ******** *!'*• t**• - . 4*4* *fi4 4 'A A'A m M • * 4 4 A 4 i & & A A 4 . i 4 . Í i ^ U U U U U U i i . M u i


»*&*»»»»»»%*%*»*••
^

• •••••**•«••«-

a Casa HOEPFNKB ,v r- •"-». M o i J.<- Si, Ji6oo) - KJO •4


A TERRA FECUNDA D O S TRÓPICOS. . . (De JEFFEKSON)
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FAZENDAS ESTAÇÕES ESTRADAS DE FERRO NAVIOS
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T
s/t- "s ir"-" '•• "
; •

. • • " . '

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Verifiquem as grandes vantagens que seguem, sobre os seus similares :


I-) Não tem bateria de accumuladores
2») São de 1 10 volts, 1.500 watts.
3a) D e partida e parada inteiramente automáticas, bastando para isso accender ou apagar qualquer
lâmpada da installação.
40 Economia mcomparavel de combustivel.
5=) Espaço occupado. o mínimo possível.
-A-GEJNTTES E IDEFOSITAJrtlOS :

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Engenheiros Importadores e Exportadores

15, 17 — R u a M u n i c i p a l — 19, 21 RIO D E J A N E I R O


Peçam informações mais detalhadas
— AMERICA —

= ^

9 ISSO, meu caro, disse Lamirre a Sem- á sua mulher. Desta fôrma, a primeira coisa

E plut. E' como te d i g o . . .


— E ainda exaltam o progresso, as
maravilhas da sciencia! exclamou Sem-
que fez Semplut ao chegar á casa foi contar
á sua esposa a mysteriosa traição de Mme. La-
mirre, recommendando-lhe, naturalmente, que a
plut abanando, incrédulo, a cabeça. Porque eu não revelasse a ninguém.
fizera como tu e como toda a cidade: installára No mesmo dia Mme. Semplut encontrou
em minha casa um apparelho de radiotelephonia Mme. Lamirre no footing. Correu ao seu en-
para ouvir bôa musica e conhecer o boletim contro, apertoii-lhe effusivamente a mão e disse-
meteorológico, o movimento da Bolsa... lhe, num tom compassivo :
— Em todo caso, sempre tens mais sorte — Pobresinha !
do que eu, observou Lamirre com amargura. E como Mme. Lamirre ficasse surpreza, de
— E' verdade. Estou ainda perturbado com bocea aberta, proseguiu :
o que me contaste. E' possível que Mme. La- — Vou dar-te um grande desgosto, bem
mirre. .. sei... Não tenho outro remédio.. . Não te-
— E' certo, meu caro. Surprehendi tudo. nho o direito de deixar-te por mais tempo
Ella julgava que eu tinha partido para o es- num engano que muito te prejudica...
criptorio... — Não te comprehendo, disse Mme. Lamir-
— E ouvia uma declaração de amor... re. Que queres dizer com isso ?
— Tal qual. Ella estava em êxtase, ao pas- — Que tu te apoderas do que é meu. E'
so que o «alto-falante» enchia-lhe os ouvidos de a mim que elle ama. E' a mim que elle man-
uma porção de «minha querida», «minha ama- da todos os dias, depois do almoço, a vibran-
da», de beijos loucos e apaixonados, de juras te expressão da sua paixão ardente... E' pre-
de amor perpetuo e de feroz fidelidade. Es- ciso ser razoável, minha amiga, e não ouvir o
tava de tal modo absorvida por essa audição «alto-falante» quando julgares que o teu mari-
criminosa que não percebeu a minha entrada do sahiu ... Quero poupar-te soffrimentos e de-
e pude assim inteirar-me do caso sem ser visto cepções inúteis...
siquér. Mme. Lamirre empallidecêra. Murmurou de-
— Tiveste uma coragem... ou antes, uma pois, muito perturbada :
fraqueza! E não fizeste nenhuma violência ? — Como soubeste ?
— Estou sendo astuto... O meu plano é — Pelo meu marido,, a quem o teu tudo con-
conhecer primeiramente o cúmplice da mise- tou. O Sr. Lamirre está fora de si. Quer des-
rável cobrir o teu cúmplice... Pobresinha! E' o
— Isso não s.erá muito fácil, notou Sem- meu... Mas tu não és menos culpada pela in-
plut. tenção . . .
— Terei toda a paciência e hei de conse- Mme. Lamirre levantára-se, com um olhar
guil-o. Entrementes, posso contar com a tua dis- provocador.
crição ? — Por muito encolerizado que se
— Ora, ora! Naturalmente. Mudo ache o meu marido, estarei prompta a
como um túmulo ! tudo soffrer. Mereço a sua vingança,
pois sou culpada; apenas te acho um
Nunca um marido julgou que seja tanto pretenciosa quando affirmas que
trahir um segredo o facto de confial-o eu apenas sou culpada pela inten-
- .-1.1// RH 1

çjo. rena qualquei prova de que és


amada era meu logar •
PHOTOGRAPHIA ARTÍSTICA
— Mas . .
Si assim Fosse, já m'o terias
há lançado ao rosto... Agrada-te desviar
em teu proveito as homenagens que
me são dirigidas. A vontade! Por-
que razão iria eu dar-me ao traba-
lho de disputar-te um COraçâO que me
pertence ? Até logo . . .
E Mine. Lamine afastou-se alti-
va, deixando Mme. Semplut estar-
recida e suffocada . . .

Numa cidade pequeu i como


Sembledont tudo é mysterio e não
ha mysterio que se não torne a
fábula de toda a população. E' pro-
vável que Semplut se tivesse lança-
do a outras indiscrições e que Mme.
Lamirre, que nada mais tinha a per-
der, tivesse espalhado algumas in-
trigas sobre os fallaciosos colloquios
de Mme. Semplut com o seu «alto-
fallante». O certo é que o caso des-
sas duas senhoras não tardou em ser
conhecido de todos os homens, que
falavam delle cm vóz baixa.
Ora, dentro em pouco alguns
delles notaram em sua mulher uma
inquietação insólita: expandiam-se-
de modo áspero, cheias de fel, a
respeito das suas melhores amigas.
Dir-se-ia que todas as habitantes de
Sembledont tinham ciúmes umas das
outras.
Alguns maridos, subitamente com
a pulga atraz da orelha, puzeram-se
a vigiar as suas companheiras. E
descobriram immediatamente que to-
das essas senhoras, á hora em que
elles iam para o trabalho, entrega-
vam-se á audição culposa das pala-
vras de amor que já haviam enlou-
cido Mme. Lamirre e Mme. Semplut.
Esposas veneraveis e deploráveis sol-
teironas bebiam-n'as mesmo com vo-
lúpia.
Lamirre teve um certo allivio
ao perceber que elle não era o úni-
co ridículo. Quanto a Semplut, sen-
Uma deliciosa ••pose" de lvette Charante,
tiu-se grotesco de confiar com tanta
ex-favorita dos cabarets de Paris e precaução á sua mulher um segredo
actualmente uma das melhores que ella própria lhe oceultára. En-
trementes, os maridos de Semble-
artistas do cinema no Ve- dont, que ainda não tinham decidido
lho Continente. fazer saber ás suas mulheres que
— AMERICA

iam o seu máu comportamento, estavam


muito agitados e mantinham entre si freqüen-
tes conciliabulos. Apenas um delles, certamente,
ENTRE OS GELOS POLARES. 1?
possuía uma esposa realmente infiel, mas todos
os outros eram enganados «virtualmente», si as-
sim se pôde dizer. O sub-prefeito não esca-
para á epidemia e a própria sub-prefeita fur-
tava com o seu «alto-falante». T ' ODO mundo é geralmente inclinado a con-
siderar o Esquimó um ser de capacidade
intellectual inferior. O explorador Le-
den, que fez já cinco viagens de estudos ethno-
graphicos á Groenlândia, traz sobre elle uma
Este funecionario teve uma idéa que visava opinião bem differente.
confundir talvez a culpada e no mínimo dar O Esquino, ao contrario, affirma elle, é de
uma notável intelligencia. Si elle ficou num
uma lição a todas as outras. Convidou, pois, os
estagio primitivo da civilização, isso se deve ás
notáveis da cidade para uma sessão de radio-
suas condições de vida e á falta extrema de
telephonia que devia se realizar justamente á matérias primas. E no emtanto tirou um partido
hora quotidiana da subrepticia sessão amorosa. admirável do pouco de madeira e de ossos que
Apezar de todas as suas evasivas, as se- a Natureza pôz á sua disposição. O seu harpéu,
nhoras foram obriga- cuja parte superior
das a comparecer em se destaca automati-
companhia dos res- camente para deixar
pectivos maridos. E fluetuar a madeira, é
quando se acharam uma maravilha de ha-
reunidas no grande bilidade.
salão da sub-preifei- Os habitantes da
tura, estavam mais costa oriental da Gro-
mortas do que vivas. enlândia estão, ha
As lâmpadas estavam cerca de mil annos,
accesas e o «alto-fa- separados das tribus
lante» collocado na da sua raça que po-
mesa do centro. voam a costa Occi-
dental e as vastas re-
E subitamente, á
giões do norte do
hora exacta, habitual,
Canadá. A travessia
a voz amada se fez
ouvir. E pronunciou da península é im-
estas palavras : possível a homens
que não disponham
-Senhor sub-prefei- de um equipamento
to, minhas senhoras, perfeito e as tem-
meus senhores. Sou pestades continuas e
vosso humilde servi- UI»I < URIOSO INSTANTANKO as barreiras de ge-
dor. Sinto-me feliz, los fluetuantes do
minhas senhoras, pe- N u m jogo de f o o l - b a l l , a bola esfá segura ao mesmo
cabo FareWel, tor-
la oceasião que me tempo pele pé de um jogador, pela cara de o u l r o
nam impraticável a
concede o governo e pela mão do terceiro.
viagem por mar, pe-
para apresentar-vos as lo sul, nos barcos indígenas.
minhas ultimas homenagens. Adeus, minhas se-
nhoras. Nunca mais ouvireis a minha voz. Não Depois que os primeiros emigrantes ha dez
sabereis nunca quem sou nem onde estou. Quiz séculos, abriram passagem, evidentemente pelo
experimentar as influencias perversa; que pode norte, a separação foi completa entre elles e
ter um novo invento sobre a moralidade, so o resto da sua raça. E no emtanto os costumes
bre a virtude femininas. Estou scíente. A ex- são idênticos aos dos seus longínquos parentes e
periência deu resultados inesperados. Acceitae, assim a lingua complicada, differente de todos
senhoras, com os meus calorosos agradecimentos, os idiomas europeus e asiáticos, mas muito ló-
as minhas homenagens respeitosas...» gico, com regras grammaticaes que não apre-
sentam nenhuma excepção. Assim também a mu-
Adrien VELY sica, muito extranha, toda vocal, pois o uni-
- AMERICA -

oo instrumento é uma espécie de tambor que theogonia compiicadissima, cujo chefe é um ente
acompanha o canto num rythmo sempre dif- feminino, Nudliajok, mie de todos <>s homens,
ferente. que, depois da morte destes, manda os bons
() doutor Leden trouxe dessa musica, cuja para 0 paraíso, no fundo do mar, lá, onde ha
gamma e intervallos differem inteiramente dos calor
nossos, vários discos phonographicos, que são Pathetica aspiração de unia raça cuja vida
documentos preciosos. se escoa na luta contra 0 frio e que procura o
Os costumes de todas essas tribus são mui- seu céu no fundo do mar, a>> passo que envia
to simples e tão sérios que não ha alli tribu- os maus para ura inferno collocado no alto, nas
naes nem policia. A religião apresenta uma regiões geladas do ar...

^^mãááMMãÉ^^S^mMMmáMmÉMÍ^

^ ^ ^

UM TRAMPOLIM MODELO
s5- ^ -

Parallelamente ao innegavel desenvolvi-


mento deis sports em nosso paiz. verifica-se
o natural desenvolvimento da nossa indus-
tria nesse ramo de actividade. Ainda ago-
ra acaba de construir a firma Prado Pei-
xoto tV: C , desta praça, o solido e ele
gante trampolim cuja photographia aqui
estampamos, feito especialmente para a Liga
dos Sports da Marinha.
¥.' um trabalho que constitue um pre-
cioso documento para a competência do
pessoa] dos estaleiros daquella firma, capaz,
por si só. de elevar ás maiores alturas o
nume de uma casa.
MAGAZINE MENSAL I L L V S T R A D O

ARTE -" MODA ~ CINEMA - SPORT


DIRECÇAO D E SYLVIO FIGUEIREDO

ANNO I Rio de Janeiro, Outubro de 1923 N°. 2

O RITUAL DA BELLEZA M H ^ i W IWWMWMWi^WMWWII^IVVWMWW^cilVVIiVWWW^II

I ^ A poesia c o ritual da belle- de una comunión o coparticipación en un solo y


za
Ç_L*0-^^^C > a liturgia do espirito. único mistério. Son heridos de Ia batalla eter-
1^ ^ - J ^ ^ j O verso, que a encerre, a na, condenados a ensanchar sin trégua Ia própria
K
//•Üv' ' ^ S ^ B * ^ ^ ' a cllu' a r o n t e n n a > t e m llaga, para indagar de Ias sensaciones más in-
• ^ TMkv. p 0 ; j e r (j e u n l evangelho
Q tensas dei dolor ei sentido incógnito de Ia vida.
e a graça angélica da pu-
Esconden delicadamente sus palabras en he-
reza : crystaliza o pensa-
mistiquios; Ias juntan, como arcada de bóvedas
mento, diviniza o ser e integra-o na harmonia
soberbias, en ei grupo solemne de Ias estrofas, que
universal do Cosmos. Um verso integral, perfeito,
avanzan como un coro helénico; o Ias acoplan
canta, illumina e perfuma, porque vôa, brilha
con arte sutil en Ia ligazón espiritual de Ia rima,
e floresce... O poeta, quando realiza o seu dom
porque Ia Música es ei primer movil dei senti-
prophetico. viola o segredo impenetrável da
miento, y cada melodia familiar guarda entre
vida e d a morte, desvenda o mysterio do Absoluto,
pliégues invisibles de su manto Ia memória de
penetra os circulos do Inconsciente, porque se
una emoción vital dei hombre. La Poesia es Ia
torna um agente da Verdade, uma irradiação do
única religión permanente, superior ai impetu
Infinito.
dei tiémpo, ai vuelo de Ias horas, ai paso desola-
A poesia, como energia da alma, possue o
dor de Ias centúrias».
tacto subt'1 dos cegos, que vêem pelo som t pelo
olfacto: é a sublime insciencia das forças eternas, Miguel Rasch Islã bebe nessa taça, numa
o sorriso luminoso da espécie, a levitação do ho- libação com as musas.
mem, a sombra imponderável que se confunde e E m Cuando Ias hojas caen... seu ultimo
se completa na fluidez do espaço, como si fosse livro, o grande poeta da Colômbia mantém a
um punhado de rosas desfolhadas ao sopro de uma realeza do verso, cultuando a belleza, com o
rajada ou uma theoria de aves que remontassem fervor mystico de u m asceta do sonho.
ao céu, á maneira de um bando de pensamentos... <) titulo de sua obra preciosa define-a:
A poesia, emfim, concentra a suggostão au- ...un cambio, cual de savias, dentro dei pen-
gural dos symbolos, a musicalidade remota dos [sumie/ito,
mundos, o gyro vertiginoso e imperceptível das y un caer, como de ho/as, dentro dei corazôn!..,
espheras: capta as ondas sonoras do Ether, guar- E ' que elle, como todo iniciado, sabe ex-
da o incenso das nuvens, retém, no pistillo das primir, na linguagem suprema do rythmo, o divi-
estrophes, o pollen do Verbo fecundador, força no sortilegio da poesia.
genesica do Orbe, captando o rythmo da eterni- Lyrieo ultra sensível, imaginação fera/, po-
dade. tencialidade creadora e esthetica, sabe cantar a
Gabriel Alomar, persrrutando o sentido no- mulher, tecer o elogio da amada, com o viço de
i/o da poesia, decifrou o mais hermético de seu um epithalamio, sem destoar nem pender para a
prestigio incomparavel: vulgaridade. E no Retrato, soneto que tem o
«Sobre ei rebano innumerable de los hom- encanto de uma visão pre-raphaelica de Dante
bres a través de los tiempos, los poetas se dan Rossctti, pinta-a com maestria, revelando toda a
Ia mano transmitiéndose l i sagrada copa, copa pulchritude que irrompe de sua sideral presença:
) pira qut • semblante no at di con su fria mariposas, fixando, com uma tessitura d
paiol,:, mm sombra rompe en ei Ia arm nho japonex sobre seda, o rontacto cie duas vidas
un Itnrir excesiva •.u/u. <! cutís d ptrla. inferiores lembrando i magia de um Mirheli
que rimasse o seu culto cia natureza.
Es li falta que abona In feliz d</ diseno; E as folhas caem , folhas cie ai i/ores au
In que Inv ilt humano en ,/'•/,• PS tan to i ui gustas. Os versos sfto folhas soltas que se despren
[ pequeno dem AA arvore da vida. o cérebro, E desta»,
:, porque h mano de Di<s tembló nl hac ria o na. u i sua queda, tal como uma expansfti
membranosa do ramo de uma planta, traça o
destino fúlguro de uma estrella cadente:
Depois, uma nuvem, que ! o sonho alado
Ias agaas, surge-lhe e fal o estabelecer uma estra-
II viandante
nha affinidade i um a sua vi li incerta vaga.
c • \ c 1 i mando:
Vengo desde Io ignoto: traigo herida Ia planta,
I as êxodos sm d ave; tos vaev.n 'S dt proa. mancillado d ensueno y ei ideal marchito;
de los mágicos palies dei amor soy proscrito;
Que espera ella ? Diluir-se. Elle, que aguar- mi bordón s Io polvo de recaídos levanta.
da ' Morrer . . .
En mi ninguna claridad s • ad l-intn.
A unia onda interroga
v a solas en Ia noche, desolado y contrito,
con emplo con mirada de estupor Io injiitito,
donde estará Ia plavt, donde estará ei recodo
y mi ilud'1, en presmeia dei azar, se agiganta.
tranqüilo en qut /iodamos sin morir reposa '-

Mas a sua anciã persiste, porque o poeta Mi taciturna frente ya quimeras no forja;
• o rhapsodo de todas as almas que soffrem .. roto está, cuú Ia ma/ia, de mis sue nos, mi vaso;
nostalgia das vilas anteriores. E contemplando leve, como l-i huella de mis pi^s, es mi a'/on i.
uma es r e l a . murmura de si para comsigo, num i
confidencia com astro solitário e indifferente: Eu mi rostro caindo li fatig'i se adviert.',
V tm,i> g° Ei marcha v aligero mi paso,
desdi Ia tierra innobl fijo en ti Ias pupilas a ver s' ai fin consigo fio andar más, en Ia musrte
con una indejinible nos algia s deral
Ras li Islã, com ,i sua lyra de ouro, canta
Em Momento Musical o mesmo requinte
á maneira desses peregrinos, que ssguem, p 1 i
de esthesia. Rasch Islã. depois, em Sueho d
vida. com os olhos voltados para as eslrellas...
Artista, tem o surto de um condor.
NU admirável soneto Idilio Matinal, cies-
cicve. como numa aquarela, o amor de duas

C O u 0 O u d O u O O O O C O O O O O D C O O O O O O O O O O

Sacha Guitry pintor


Depois de escrever peças como Co-
mediante, Deburau, Pasteur. Sacha
Guitry deve ter também exclamado.
Vnch'io s no pittore» E pôz-se a
fa/er. com suecesso. uma serie d?
quadros e de caricaturas, o que o
não impede de voltar, de quando
em quando. í crear novos papeis
para o seu pai. o aetor Lucien
(luitry.
AMERICA

Ifr^KtA^

QUE PBRGUNT4I
ELLE — Porque é que pintas a cara a s s i m ?
ELLA — H o m ' e s s a l Oue q u e q u e r i a s q u e e u p i n t a s s e TI
4 W/ RH 1

As praias newyorkinas galerias do "chie" 1


F 1
W estchester-Bilmore, a praia a-istocratica de As modas simples e estylizadas de Paris,
New-York, converteu-se, apenas começou o verão, os modelos audazes que se langam em Long-
em um vivo mostruario de modas... champs, os penteados rigorosos e singelos da
A' luz dourada dos crepúsculos canicu!ares, Londres nobre e desportista, o atrevimento dos
sobre a fina areia em que pisam as banhistas modistas newyorkinos, se apresentam na praia
mundanas, se extende um longo tapete de co- mundana no mostruario magnífico e claro, que
res alegres e por elle desfilam elegantemente os lhe empresta a natureza, rendida ao feitiço do
manequins vivos... clima canicular...
Nas tribunas e deante dellas, uma multi- E assim se compõe uma mistura magnífica
dão enfeitada e frivola na qual se salientam as em que se harmonizam as vibrações da luz natural
«girls desportivas e caprichosas da 5." Ave- e as alegres cores dos vestuários em que a
nida e os grandes financeiros, os afortunados arte poz sua amável subtileza...
imperadores do ouro, admira a exhibição das O ar embalsamado de fragrancias iodicas,
toilettes em que a fantasia dos modelos e acaricia as figuras que sobre o tapete pas-
dos costureiros, se compraz em imaginar es- seam suas toilettes inéditas..
tvlizadas creações de sedas e de gazes para E de longe, o mar, encrespando-se em ondas
realce do eterno feminino... infinitas, faz avançar para a praia seus mo-
E nas tardes claras e cheias de sol, em veis esquadrões empenachados de espuma, e, ao
frente a esmeralda verde do mar que entoa os desfazer-se brandamente na areia, assemelha-se
seus arrulhos miilenarios.a praia dos banhos tô- ao cortezão galante que vem render aos pés
nicos e hvgienicos se transforma em galeria das bellezas uma rvthmica e madrigalesca ho-
do chie * . . . menagem . . .
AMERICA —

AS LOURAS DO CINEMA

o-
S //íriasor possue urna
cabelieira lou im c u r o lào puro,
que om tazedor de madrigaea s<
cap< omparal-a â... O io
o linha oui O ).
A idéa de formar personalidades p t l n mo
da. de não confundir c s t y p o s , em o n l i o l o m -
)em éciSo no que se ri lere ao penteado,
D e p o i s do império quosi universal dos
«americanas.. Iioje usadas somente pelai
irocinhas, pelo razão de t ô a ellos «ciem
convenientes, a moda p r o c u r a , por todos os
meio*, corivencer a mulher da neceSMdode
de fazer um penteado para St, para dar
mais caracter e ferça ás suas leilões e lui
mais intensa aos seus olhos.
Esla tendência não pôde ser mais acer-
(ada. uma vez que nada conlribue lanlo para
a f o i c i a ç õ o de um lypo de belleza, como o
m o d o de dispor os eabellos.
h difíieilmenle poder-se-ó rnccnlror
uma fôrma de penlcndo que favoreça a I o -
das igualmente, nem mesmo a numero re-
duzido.
O s adornos lançados por alguns mo-
dislas facilitam muito a tarefa de encontrar
a maneira de pentear se bem.
A pluma a c a r i c a d o r a , o «bonde a i i . se-
vero, a ingênua g n n a l d a . os diademas ru'i-
lanles. são outros tantos laelores da belle-
za que a mulher deve aproveitar p a r o , com
elles, crear um lypo que revele e alfirme
s u j individutlidadc eslhelica...
AMERICA

TTiVI H E S ^ ^ ^ K T Ü O I ^ " A Z " IDA D A N Ç A


EJVT N E A A 7 - Y O R K
ESTEVAM C 0 R T I Z A 5 consagrado " A Z " da danço em New York, elevou os hábeis trejeitos
e contorsões do t a n g j C K I O L L O é categoria de sacerdócio a r t i s l k o .
Nos mabnées e soirées arislooalices dos priniipaes lheetros e durante as madrugadas noi "dan-
cing' , dos hotéis de móis nomeado, o hespanhol "Corlez" é o " A Z " do densa moderno, na qual, como
reminiscencia da polria distante, se oprc ; ento vestido com o orig nafidade e o luxo arbitrário e con-
vencional de um desses andaluzes de clvomos que enfeitam as caixas de passos de Mélaga .. .

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A Carlos Maul

Sob o baobab que pende ao Senegal e o enruga,


Lerdo e rotundo, o olhar de apathico, descansa
Na riba o pachyderme; á pressa, como em fuga,
Trochylus, ao vae - vem, da ribanceira á frança,

Desaggregam-lne ao dorso o verme e a sanguesuga ...


Dardeja o sol d e fogo a aurifulgida lança,
E-, d o s s e u s g o l p e s d e o u r o , o a m p n i b i o o p a s s o estuga
O ventre quasi a rasto, e m busca d'agua avança;

Calca á riba a nymphéa, os inguefos destouca;


IL a o s o l q u e n ' a g u a accende os fulgores d e jóia,
Cérebro deprimido, enorme a Horrenda bôcca,

A lembrar de outra fauna os typos mais remotos,


O colosso africano, o hippopotamo boia,
E. a o S e n e g a l devora a floração d e lotos.

Ibranlína Cardona.
(Do livro "Kosmos", n o prelo)

V. -J\
AMIRH A

O j a t r o esplendidos figurinos para os pequeninos "homens de amanhã" O s desenhos e ornafos revelam o bom gost
moderno desse gênero de indumentária.

FRAGMENTOS DE PHILOSOPHIA
sr

Nunca, como hoje, foi tão difficil prever


a próxima orientação do mundo. Certas descober-
tas scientificas têm sobre a vida dos povos
uma influencia muito superior á que exerceram
outr'ora a sede de conquistas, os conflictos
religiosos e as ambições dos reis.

O heroísmo pôde salvar um povo em cir-


cumstancias difficeis, mas é a accumulação diá-
ria de pequenos esforços que faz o progresso.

Todas as descobertas da psychologia ten-


dem a demonstrar que a historia clássica é a
narração de acontecimentos tão incomprehendi-
dos pelos seus autores como pelos escriptores
que os contaram.

A injustiça bem aproveitada depressa se


transforma em justiça.

Gustave LE BOX.
— AMERICA —

O ponto do vista infantil


As crianças são pessoas pequeninas e os sado numa travessia de Paris em barca. Os cáes
pequeninos factos parecem-lhes importantíssimos e a sua actividade, as pontes, o rio ? Não. O
porque estão na sua escala. As grandes coisas, mais curioso para ella tinha sido a vista de um
pela sua desproporção, não lhes despertam in- cão afogado que boiava...
teresse. A cri^fca s ó percebe o detalhe. O con-
Contavam um dia a um pequeno o nau- ggàm
juncto é muito grande, ella o não vê.
frágio de um navio um plena doca: a guar-
nição no trabalho, o capitão na sua cabine a
escrever e o navio deitando-se depois sobre o A miserável constituição physica, moral ou
flanco. O menino, olhos muito abertos, escutava intellectual da maioria dos homens provém, sem
religosamente. Depois ex- duvida, de se concluírem
clamou :
usualmente os casamen-
— Imagino como ficou
tos, não por escolha ou
tudo sujo !
pura inclinação, mas por
— Como, assim ?
considerações exteriores
— Ora ! Quando o tin-
de toda espécie e segun-
teiro entornou !
Assim a menina a quem do circumstancias acci

uma vez perguntaram o dentaes.


que mais a havia interes- SCHOPENHAUER

o— Calixto Cordeiro
I NOSSA C I P |o Não poderíamos dar me-
lhor noticia ao nossos lei-
O desenho primoroso da tores: Calixto Cordeiro, o
capa deste numero de AME- Aos jornaes da Capi= grande artista que tem um
passado de glorias na arte
RICA, devemol-o ao lápis íal e dos Estados, a brasileira, inicia no presente
elegante de Jefferson, o ad- numero de AMERICA a sua
Dírecção de AMERICA collaboração, com uma char-
mirável illustrador patrício,
que tem o dom invejável manifesta a seu profurv ge em que não se sabe o
que mais apreciar: si o hu-
de apresentar em cada tra- do r e c o n h e c i m e n t o mor adorável da idéa, si a
balho uma novidade que é elegância e a correcção do
pelas capíívaníes e ani= traço.
um encanto para os olhos e
para o espirito.
madoras palavras com E ' excusado qualquer en-
carecimento da acquisição
E' esse o melhor elogio que noticiaram o appa* soberba que fizemos, tra-
tando-se, como se trata, de
que, a nosso ver, se pôde recímento deste maga»

I
um illustrador capaz de riva-
fazer a esse artista perfeito
zlne. lizar com os mais vigorosos
cuja nomeada provém do es- artistas estrangeiros.
forço e do talento com que Calixto Cordeiro já nos
prometteu a illustração d a
elle se consagra, entre nós,
f\ Sr* capa para o nosso terceiro-
á arte difficil da illustração. numero.
— AMERICA -

ASPECTOS DO BKASIIi
l'ma colônia de pescadores em Cubatão, posando em frcnfe á respecliva escola.

CABA de sahir, em bella edição de Ben-

A
entre
jamin

o Brasil
C o s t a l h t e Miccolis o novo
de Carlos
e a
Maul, intitulado: A
Argentina.
livro
intriga
AMERICA
EXPEDIENTE
Nessa obra o escriptor patrício estuda di- Numero avulso:
versos aspectos das questões que perturbam a Na Capital $500 Nos E s t a d o s . $600
cordialidade entre as nações de Continente, e
aponta os rumos para uma acção de fraternidade
E' nosso representante na cidade de San-
larga e duradoura. tos o Sr. José Espíndola Teixeira.
E um livro que merece ser lido e medi-
tado pelos bons americanistas. E' nosso agente geral para o Estado de
S. Paulo o Sr. Antônio de Maria. (Rua da
Boa Vista, 5-A) a quem se devem dirigir
os Srs. agentes de revistas das cidades do
Muito devo aquella senhora que alli interior daquelle Estado que desejarem re-
ceber este magazine.
vai.
— E' sua bemfeitora ?
E' nosso agente na cidade de Santos o
— Não. E ' a modista de minha mulher...
Sr. Paiva Magalhães, cujo estabelecimento é
conhecidissimo nessa importante cidade pau-
lista.
A humanidade não chega até onde querem
os idealistas em cada perfeição particular: mas Redacção. Rua da Quitanda, 157, 1.* andar
ultrapassa sempre o ponto aonde teria ido s^m RIO D E JANEIRO
o seu esforço. — INGEXIEROS.
— AMERICA —

UMA ENTREVISTA RÁPIDA COM SANTOS CHOCANO


V
Rcnovacion, o esplendido boletim mensal de — Pela concepção, Cervantes; pela execução,
idéas, livros e revistas da America Latina, que Flaubert.
se publica em Buenos Aires, num de seus úl- — Qual é o seu livro predilecto ?
timos números, t rouxe a seguinte entrevista com — «As mil e uma noites».
o insigne poeta Santos Chocano, a maior glo- — Qual o seu maior prazer ?
ria viva do parnaso do Novo Mundo : — A leitura.
— Sua concepção sobre a belleza ? — Sua aversão particular ?
— O ruido.
— Penso como Nietzsche que a belleza é
— Que pensa o Sr. de sua obra?
mediterrânea: vale dizer paga. Melhor ainda:
— Que tem todas as qualidades e todos os
grega. Emoção pura, expressão clara. Venus é
defeitos de minha raça. Portanto, é sincera.
loura: rosa, mármore e ouro. O Christianismo
Sendo bella, não resta duvida, então, de que
trouxe a tristeza, o mysterio e a inqu etude.
perdurará. Si viver mais vinte annos, a com-
Em nossa America, a belleza é feita de claridade
pletarei. Nos primeiros vinte, passei pela mi-
e me!anco'ia. Assim é que eu a aprecio.
nha Edade de Pedra; nos vinte depois, entrei
— Sua concepção sobre a vida? na minha Edade de Ouro; e sinto-me agora
— Mysterio e theatralidade. Para commi- necessariamente maduro e afinado para iniciar
go mesmo, sabe-me ella como um arcano; para a minha Edade de Diamante. Assim seja !
com os demais, tenho-a por um desporto. — Qual é o seu lemma?
— Em que consiste para o Sr. a felicidade? — O do meu escudo familiar: «O encuentro
— Na satisfação de todos os desejos, que camino o me Io abro.»
constituísse a quietude do espirito. A verdadeira
felicidade é contemplativa. Somente a têm apre-
ciado os mysticos.
— Qua!l é a sua idéa na vida ? 0-A_nsriCTTX.^v
— Poder realizar a minha Obra de Arte Muita gente, capaz de pronunciar dez vezes
por completo, em plena certeza de sobreviver. ao dia as palavras «canicula», «canicular», fi-
Na vida, como ideal, deve ter-se algo que tenda caria embaraçada si lhe perguntassem a origem
a perpetual-a. dessas expressões. Pois é simples: canicula vem
— Si não fosse poeta, que preferiria ser? de uma estrella da constellação do Cão, Sirius, a
— Pintor á maneira de Velasquez. mais brilhante de todas. Os antigos, especial-
— Qual é a personagem histórica que mais mente os egyprios, que attribuiam ás estrel-
admira? las uma considerável influencia, acreditavam que
— Não seria sincero si respondesse com um o apparecimento da constellação do Cão é que
nome. Solicitam minha admiração por egual : trazia os dias mais quentes. Os dias caniculares
Colombo, o inspirado, Sócrates, marcavam no Egypto o começo
o reflexivo, Napoleão, o Conquis- do anno e eram o pretexto para
tador, Boiivar, o Libertador... grandes festas de caracter sagra-
O mais digno, quiçá, de admi- do. A crença desappareceu mas a
ração seria São Francisco de As- palavra «canicula» foi conser-
sis, mas assim mesmo estou lon- vada.
ge do desejo de trocar a minha
vida pela sua.
— Qual é o heróe da vida
actual que prefere ? Um rei pescando, caçando,
— Sem duvida que Gabriel montando a cavallo ou ouvindo
DAnnunzio, que é Poeta em missa é coisa banalissima. Os

I
acção e reclama, para o sport reis modernos gastam nisso meia
com que vive a sua vida, o existência; a outra metade da vi-
marco do Renascimento. da elles a levam a comer, dor-
— Qual é, para o Sr., o mir, governar e outros miste-
maior escriptor da prosa? res. — DICENTA.
— AMERICA -

*> S A C R I F Í C I O &
oo w x o J=
JL

Trabalhava esforçadamente uma noite, no

P
ARA uns era um monstro de egoísmo e
de frieza; para outros, um sábio pro- seu laboratório, quando Badel, o seu intimo ami-
fundo que sabia para onde ia, a quem go e companheiro de estudos, lhe trouxe a no-
os eunuchos '3 os superficines não li- ticia de que o seu filho Hygino acabava de
gavam importância. Para outros, emfim, era um assassinar um homem, num cabarct de luxo. Mo-
homem, no sentido mais nobre e amplo do vo- tivos ? Os mesmos de sempre: o álcool, as mu-
cábulo. lheres... O sábio ficou alguns instantes pensa-
Diziam os primeiros, ao v e l o passar a uma tivo; depois, sem affectação, sentenciou grave-
distancia que lhes não offerecia perigo: — Alli mente :
vai com toda a ele- — Cadeia, caso ] er-
gância e toda a dis- dido... Sim, ponham-
plicência, o pai que n'o na c a d e i a . . .
assassinou o próprio — Mas, Jaymc, co-
filho... mo podes falar as-
Os segundos se li- sim, tratando-se do
mitavam a dizer inti- teu único f lho ho-
mamente: — Esse ho- mem, a quem sempre
mem não saberá on- quizeste acima de tu-
de põe o pé, mas sa- do ? Estás em teu
be o que foi, o que é juizo perfeito? Reflec-
e provavelmente o
te, é preciso. O ra-
que será o seu espiri-
paz não deve e não
to. Os últimos aceres-
pode ir para a ca-
centavam: — Pensará
deia ! Além dis^o, não
muito, porém melhor
o ju'go culpado; um
e com mais sciencia.
impulso, dreumstan-
E si encontrarmos
num homem um gran- cias especiacs... as mu-
de coração antes de lheres, o álcool, a
um grande cérebro, mocidade . . . Sabes o
vangloriemc-n s delle, que isso é ? Sem du-
pensando naquelle ho- vida. Pois então ? Uma
mem da legenda, que palavra tua ao depu-
conduzia todo um po- tado Freitas, um tele-
vo atravéz de uma phonema ao senador
floresta sinistra, sob Alzaga Gómez. O teu
uma noite eterna: e p r e s t i g o é enorme;
como o povo duvida- diante da tua vonta-
ra do seu salvador, de não haverá juiz
este arrancou do peito o coração e com o co- inflexível nem porta de cadeia que se não abra...
ração erguido á maneira de archote,. chegou á — Cala-te! Não darei um passo, não pro-
terra promettida. Ahi entristeceu-se e morreu, nunciarei uma palavra para attenuar a sua con-
e os outros homens partiram o seu coração e demnação, nem entrarei em tratos com homens
cada fragmento foi uma particula de ouro e de influentes. Hygino é um caso perdido.
luz... Não acreditas': Serás forçado a isso. Luc-
Passavam pela casa do doutor Oman to- tei sem descanço durante vinte e cinco annos,
das aquellas almas de algum modo soffredoras, com toda a fé e todo o amor de que é capaz
e todas eram por elle consoladas. Elle col lo- um medico e um pai, para desviar um filho
cava num mesmo plano os obreiros e os po- da inclinação ingenita ao mal e ao delicto, e fo-
derosos.
ram vãos todos os meus sacrifícios... A semente
— AMERICA

pedra dura... J, einaram durante minutos, um silencio e


ser: percorreu a orbita que lhe estava traçada. uma expectativa. Hygino rompeu-o, dizendo em
Foi a principio um menino voluntarioso e cruel, vóz baixa, em que vibrava uma dôr profunda:
depois um adolescente vaidoso e folgazão, mais — Tenho a sensação de haver vivido muitos
tarde um péssimo e pretencioso estudante. De- séculos em poucos dias. Tudo me parece um so-
pois abandonou os estudos e freqüentou Florida, nho... Uma scena de sonho, o momento em que
o hippodromo e os cabarets. Trahiu a amizade baleei, no cabaret, o meu melhor amigo, e aquel-
e zombou do amor materno e filial, empenhou le em que, antes de morrer, elle me disse: «Eu
jóias olheias. falsificou firmas de cheques, e por te perdôo...» E ella, a mulher mercenária que
fim... roubou. Faltava a apotheose do crime e nos enganava a ambos... Sim, tudo passou como
acaba de assassinar. E ' um caso perdido, per- um sonho pavoroso... Depois, o cárcere, a som-
dido ! bra e o remorso... E tu, meu pai, abandonando-
— Perdido, n ã o ; dize antes: desesperador ! me á minha própria sorte... E o outro amigo fa-
— Dá no mesmo . . . zendo tudo para dar-me de novo a liberdade.
— E ' irrevogável a tua decisão ? Tudo como num pesadelo... Não era preferível
— Irrevogável ! a prisão á tua impassibilidade, ao teu desprezo ?
— E m nome da nossa amizade nunca des- Porque não me matas ou não me indicas o meio
mentida, eu o salvarei então. de desapparecer sem envolver o teu nome numa
Até breve. Oman ! nova infâmia? Fala, doutor Oman; já me sinto
— Até sempre, meu nobre amigo ! homem, pois m'o ensinaste a s e r . . .
E aquelle homem, que en E acabou chorando amar-
carnava a lealdade e o no- gamente como um menino
bre espirito de sacrifício, a quem não se perdoa uma
afastou-se. estrangulando um falta grave. O pai, depois
soluço. De caminho pensava de uma larga pausa, falou:
que Oman era um espirito — Lím meio para desap-
superior, que procedia talvez parecer correcta e cortez-
como um semi-deus que ad- mente, não como quem dei-
ministrasse justiça sem cui- xa uma vida de vicio e de
d a r de dogmas moraes nem libertinagem, mas como
de lamúrias mulheris. Mas, quem sáe de um elegante
apezar de tudo. havia de salão de baile ? Tu confun-
fazer qualquer coisa pelo des as situações, Hygino...
desditoso Hygino, afim de Não importa; tratemos de
que este, embora assassino, procurar uma sahida já não
não apodrecesse num cár- direi elegante, ao menos
Í cere como uma vil carcassa
humana !
razoável. Vamos ver si te
agrada algumas das duas
propostas ou caminhos que
— Promessas de emenda ! Ora ! Muito bo- te vou indicar. Devo explicar que não se trata
nito isso, joven Hygino ! Uma pantomima mil de endireitar uma vida, mas de fazel-a íiova,
vezes repetida... Sim, um homem pôde cahir deslumbrante, Eis o primeiro caminho: a fazen-
muito, descer até á própria abjecção e no em- da I Bern sei aue a esta simoles Dalavra sentes
tanto conservar-se homem, não humilhar-se nem um invencível asco e uma atroz repugnância.
estar disposto a isso. E ainda queres fazer-me a E ' lógico: lá está o bando... os assassinos de
affronta de possuir um filho que se esquece da punhal e pistola... Reinam a ignorância, os mos-
sua elevada condição de homem para implorar quitos e os animaes venenosos proliferam, as
misericórdia a um pae a que nunca respeitou mulheres são ordinárias e os homens patifes e
nem amou ? Si ha um ser pensante além da es- estúpidos. Nem um hippodromo, nem um cabaret
phera terrestre, devem repugnar-lhe os homens nas proximidades, nem a menina de talhe fle-
que se arrastam e claudicam sem cessar Quem xível e provocador; a roleta também longe...
é incapaz de se superar a si próprio, deve afas- Mas, perto, o céu puro, a manhã radiosa e a
tar-se da família humana pela porta da covar- philosophia dos animaes pacíficos. Trabalhar nos
dia máxima... Comprehendes ? campos, enthesourar saúde para o organismo e
sentimentos puros para o espirito. Que sei eu ?
Hygino fez com a cabeça um signal affir- E si gostas das proezas dos «cow - boys» de ci-
vnativo; o doutor Oman continuou a passear pelo nema, poderás montar um bcllo cavallo, armado
gabinete, digno, magnífico, sem nervosismos, co- de boas pistolas... O scenario é vasto e régio.
mo convém a um pai erigido a juiz de um filho Mas sempre sem pedir nem dar coisa alguma
aviltado.
- ,11// RH 1

i ninguém, vivendo do teu trabalho «o no o mais


humilde peão ati que sejas . . i p i / de river .1 ri-
A -CASA BRANCA
da nova da honra <• da saúde. 0 mino caminho
fl — ——ir'
i F = "5>

elle
mais lyrico e metaphysico: podes chegar por
ser um grande conductor do povos, <>u

um s mples mordom 1... ™1 «Casa Branca», cujo nome official é
I min clcpcndc das tuas aptidões, do m e l o A The Executive Mvtsion, é a residên-
por que encares o mundo. Trata-se de embarcar cia do primeiro magistrado dos Es-
num navio que parte amanhã para ,. Europa, | k O==^ü tados Unidos e está situada numa ele-
sem outra bagagem sinão os tuas iüus.ões e vação de terreno, num quadro de verdura, a
sem outros haveres m lir- do que o teu passa- alguns minutos cio Capitólio, cujo parque se
porte. Que 1.1I f confunde com os seus jardins, á margam do
- Si apenas ha esses dois caminhos, ama- Potomac. E ' tão modesta, que muitas vezes se
nhã tomarei um. E ella - Sabes o quanto me têm feito zombarias sobre a sua simplicidade.
ama? Não poderia viver sem mim; conheçó-a e Edificada em 1792 para Washington, por um
>ei que se mataria. E' essa morte... irlandez estabelecido em Charleston, Carolina do
< ) doutor 1 im.m comprehendeu 1 ..Ilusão e Sul; que se inspiroa no palácio do duque de
-..in astii o: Lcinster, em Dublin, a Cisa Branca foi em 1.S14
Não serei eu, nem ninguém, que h ide destruída por um incêndio, e logo depois re-
carregar na consciência o remorso de haver pro- construída sobre os mesmos planos e com as
vocado .1 morte tia loura Alice Fons. Ella sa- mesmas pedras amarellas pintadas de branco.
berá consolar-se no dia em que deixares de E ' uma bella morada mas não p issue nada de
mostrar-lhe .1 tua fortuna. Fica tranquillo quanto particularmente artístico. A fachada sul ,é em
a isso, Hygino; essa categoria de mulheres finas fôrma de columnata semi-circular :• 0 lei to cer-
e elegantes como tua Alice nunca perdem a cado de balaustres. No vestibulo altos espelhos
c abeca pelo ultimo imbei í] p >r quem se deixa-
reflectem os retratos de todos os presidentes,
ram c cinciinsi.il' . . .
desde John Adams, que foi o primeiro. Alli se
•»« encontra o de M o n r o ; e a alta figura de Was-
Nessa noite, ao deitar-se. o joven Hygino hington, coroada de louros e cercada de tro
teve o cuidado de examinar bem a pistola. To- phéos, com a de Lincoln a fazer-lhe pendaat. As
das .is balas estavam no logar. Excellentel Um recepções têm logar no salão azul. Mais adiante
leve sorriso illuminou-lhe o rosto p d l i d o . Sabia está o salão verde, depois o vermelho, muito inti-
que no dia seguinte não tomaria nenhum dos mo, cheio de bibeljts. Roosevelt fez augmentar
caminhos que generosamente lhe indicara o seu a sala de jantar, que pode receber cem con/ivas.
velho pai. Não se sentia capaz de s^r heróe, No primeiro e único andar estão os escriptorios
nem siquér ho.nem; o futuro apparecia-lhe como e aposentos privados e a bibliotheca que < onta
um monstro apocalyptico e decidiu-se pelo ca- 7.000 volumes e cuja mesa é feita com a ma-
minho que não assusta nunca os covardes, pelo deira do navio Resolute, enviado cm 1.S32 ás
caminho prohibido aos sábios e aos que de al- águas areticas, á procura de John Franklin. As
gum modo se sentem homens e a quem não suas estufas são afamadas. A Casa Branca é
attráe a sereia de um fragmento de c h u m b o . . . accessivel a todos em certos dias em que o presi-
*** dente está at home. Qualquer cidadão americano
Alice vi\c ainda e cada dia está mais de- pôde entregar o seu cartão: um secretario par-
liciosa. Si alguém lhe pergunta porque tão de- ticular o recebe e faz entrar. Por fim, uma
pressa subs ituiu no seu coração Hygino Oman tradição amável: a seguna-feira de Paschoa; para
por Homero Vidal. ella. com a graça própria gáudio das crianças de Washington que se espa-
das deusas olympicas, responde: lham pelos jardins, os ovos de todas as tôres
--- Não sei... não sei! são ccllccados ao lon-
Hygino era bom e ás ve- go dos gramados.
zes até intelligente. Mas
eu o achava um pouco
pateta, coitado !
J. V. M a n s i U a Eorim de. cobertas nos
sepulcros egypcios har-
pas cujas cordas se con-
A alegria dos velhos é servaram intactas e soam
um mandamento para a harmoniosamente depois
vida. — GRAÇA ARA- de um silencio de três
NHA. mil annos.
AMERICA -
IP
~ir"
J O ANJO DO LAR I ?*%
&

â^m ^ IL-

H
\ mulheres que são um peso paia a vida litados, isto é, o histerismo, a neurasthenia qi
de um homem e que MI servem para ataca as mulheres ociosas á força de so pcnsaie
difficultar-lhe a marcha. em adoecer. As mulheres acabaram acreditando Io
Não me refiro ás mulheres formosas que o chie é ser nervosa, e com uma incrível
OU garridas que, inspirando uma grande pai- leviandade confundem nervos debilitados com
xão, põem cm perigo o futuro e a existência do irascibilidade de caracter. E' assim que muita
enamorado. Falo apenas das mulheres communs, senhoras só têm nervos para se enfastiai, par
das que já t e m o com chorar, para
pai la/e
pinheiro para a vida. alarido e nunca paia !
E alludo precisamen- empregal-os em qual-
te ás que amam o seu quer coisa proveitosa.
companheiro, áquellas Estas nervosas têm
que, cm determinado sempre uma doença
momento, são capa/es qualquer, entristecem
dos maiores Sacrifícios o marido com a nar-
pelo ente amado. Re- ração das suas dores

I
firo-me a estas e para c si este, que ao prin
estas eSCreVO, que ás cipio ouviu pachorren
outras — ás que vi- tamente, acaba por
vem sem amor junto não fazer caso, recebe
ao seu marido - na- o qualificativo de mau
da adianta dizer nem homem, de egoísta ;•
ha que fa/er em seu de sem coração,
beneficio.
Outra, e não menos
Mulheres ha que,
nociva, é a ambiciosa
amando e sendo ama- eternamente descon-
das, bem depressa fa- tente da sua situa
zem a vida do lar ção pecuniária, nã;
insupportavel para o acha bom nada do
seu marido. que é seu; nunca se
Toda mulher, ao le- acha bem vestida e a
vantar-se, deve pensar sua casa nunca está
como melhor oração apresentavel; hoje tem
matutina: Si o amoi necessidade de um
de uma mulher não movei, amanhã de um
facilita a vida do seu a d o r n o . . . O ordenado
amado, para que ser- do marido nunca che
ve ? ga para esses supér-
Facilitar a vida ! fluos, porém, ella, co-
Deixar de pôr, com a mo boa dona de casa,
rudeza dos gestos, LA MOUCHEi economiza e com isso
W i ' "!. GUILL/IUME D(E FueSS .
com a irritação da S3S THC- r-LV . . Zfy arranja a sua casa.
vóz, com a mesqui- Um encanto de mu-
nhez dos sentimentos, A s c o n q u i s t a s f e m i n i n a s n a Arte lher! pensa muita gen-
a nota dissonante, as- LA MOUCHE. de Mlle. M. Guillaume. (Salão de Paris. 1912)
te, excepto o seu ma-
pera. brutal, na melodia da existência! Facilitar rido, pois este sabe que a sua economia co-
a vida eqüivale a abrandar a morte, porque meçou pela suppressão da empregada e que ella
quem viveu sem sobresaltos saberá morrer serena- própria cose a roupa, trabalha todo o dia,
m e n t e . . . E isso demanda um tão simples, um nervosa, cansada e não tem tempo para sentar-se
tão pequeno esforço da mulher que ama o junto delle, com a cabeça apoiada ao seu peito,
seu marido ! o u v i n d o - o f a l a r . . . Por economia não vai ao
Ha mulheres que só fazem tornar pesada a passeio, ao theatro, pelo braço do marido —
existência de um homem. Um exemplo: a que como dois noivinhos - despreoecupados e .indo
tem a mania das enfermidades, dos nervos debi- de tudo. Não se dá ao luxo de esperai-o um
AMERICA

dia com a surpreza de uma guloseima. Am- o amor próprio do homem. Mas dahi aos ex-
biciosa, descontente, sonha com moveis caros e tremos da ciumenta, que não acredita na pa-
cama
c de bronze... «A minha cama é o meu lavra do marido, que entrega a sua imaginação
ninho» diz, falando da sua, a mestra das mu- ás fantasias e aventuras, torturando-lhe a vida,
lheres amorosas, a poetiza Ibarburu'. vai grande differença. Também os ciúmes se
Ha ainda a queixosa, sempre aborrecida curam... As mulheres — peso fazem um mal
com os filhos, com as criadas e com os visinhos; enorme. A s vezes bastam essas mesquinharias'
conta ao marido as manhas do bébé, os estouva- para fazerem fracassar a vida de um homem.
mentos da criada e a desfeita que lhe fez Ameniza a vida, mulher, domina os teus
a visinha. E o pobre homem, antes de entrar em nervos, acalma a tua ambição, cura os teus
casa, pensa com horror e em seguida com indif- ciúmes, sê suave e serena, desinteressada e jo-
ferença em tudo o que lhe vai dizer a mtt- vial, que o teu amado t o agradecerá.
lher e que elle já sabe de c ó r . . . No caminho da vida — olha que um homem

I
Mas ha outra mais: a ciumenta, a ciumenta é alguma coisa mais do que imaginas — não
absurda, que tem visões e vê sombras. te tornes o espinheiro que o detenha ou fira;
O ciúme é para o amor o que o sal sê antes sempre para elle a relva fresca, suave
é para a comida. Sem elle o amor é insipido; silenciosa, para que elle caminhe sem tropeços e
em demasia — como o sal — desagrada e pre- repouse nas horas de fadiga...
judica. O ciúme é necessário porque lisongeia Herminia C. BRUMANA

O THEATRO INGLEZ

Um .racterizações admiráveis
or britanníco Regínald Bach, cujas
glorias no palco londrino datam de 1912..
^

[ilji ii >Qc II i ii i
A CELEBRE REGATA OXFORD-CAMBRIDGE
A parlida do pareô. Os remadores comeram já a enfrer em acção, mas ainda não empregam esforço considerável
As '" arrancadas de partida são hoje consideradas absurdas.

•-••*-.-----» » . * . * . • . • . * , » . « : • - •• • : • ; • : • • < • • . * . * . « * * . < * . • . • . * . » . * . * . ' » . * . « . « . « . « , * . • . «

"TIT.VV NOVO CONCEITO I>lí P K O P R T E D A D E

evolução cia ii' c a., de propriedade rea- o u t r o r a . adquire um valor muito maior devido
A liza se hoje num sentido duplo. Por
aos esforços e á propaganda do < ommercinnte que
acredito 1 o seu estabelecimento. O povo acostuma
um lado .1 collectividade tende a affir- se a frei|uental-o. 0 immovel ganha assim maii
mar o seu direito sobre certos bens que \ i l o r independentemente do proprietário. No em
até ha pouco reconhecia como de inteira proprie- tanto, uma vez terminado o contracto, o propr'e
dade de partii ulares. N 1 I rança, por exemplo, tario exige do inquilino um augmento do preçi
as cachoeira- e as minas não serão concedidas em do aluguel, sob a ameaça de usar do seu díreíti
propriedade plena e perfeita mias a titulo precário de recusar a renovação do contracto e de r.lug'
e transitório. o local a outro commerciante do mesmo ramo
Por outro lado. a complexidade da vida mo- E assim fazendo usa de um direito estríeto
derna faz nascer e reconhecer-se um direito de mantém-se nos termos do contracto. Muito bem
propriedade sobre bens que não parecia terem Cada vez mais penetra nas idéas jurídicas a noçã'
uma individualidade sufficiente para isso. A pro- de um «possível abuso do direito», que o legis
priedade, limitada a principio aos objectos ma- lador deveria evitar. Como conseguil-o ?
teriaes e bens moveis, extendeu-se pouco a pouco
Duas soluções parecem possíveis. Uns véu
.1 terra, para recahir finalmente sobre coisas
no augmento do valor dado a um immovel peli
incorporeas ou immateriaes. Assim nasceu a pro-
oecupante um verdadeiro direito que confere ai
priedade industrial sobre os inventos, as marcas
locatário a faculdade de obter a renovação au
e as patentes e a propriedade litteraria e artísti-
tomatica do contracto, uma vez vencido: salvo
ca contra o plagio, etc.
reserva de rescisão normal e a de fixar, em curt
O parlamento francez occupa-se actualmente
casos, por meio de arbitragem, o novo preço d
em proteger a propriedade commercial». Que
aluguel. A propriedade commercial apparece
vem a ser isto ?
sim como um direito que se oppõe á propriedad
A noção de propriedade commercial nas
inimobiliaria. Outros p r o p l e m uma solução mais
ceu da reacção contra o abuso da propriedade
modesta: o commerciar.te a quem se pede a casa
e nas seguintes condições: Um negociante aluga
tem direi.o a uma indemnização pelo maior valor
por um determinado tempo um local para com-
dado ao local, do mesmo modo que o colono ar-
mercio. Graças aos seus esforços, á sua habilidade,
rendatário te 11 direito a uma pelas bemfeitorias
ás suas qualidades, o negocio prospera e a clien-
introduzida 1 - no campo que lavrou.
tela augmenta. O local alugado, de pequeno valor
AMERICA

1 DIÁLOGOS CONTEMPORÂNEOS
•kl:
DA GUERRA Am

O VELHO lheira I Até as mulheres e as crianças pegavam


A mocidade do meu tempo cuidava mais em armas 1...
das cousas serias do que esta que ahi anda sem
O MANETA
ideaes, sem patriotismo, sem orgulho pelos seus
O senhor também tomou parte n'alguma
maiores que ella desconhece. Com que saudade
batalha ? Sentiu o frio e a fcme nas trincheiras ?
recordo o Magnânimo, que nos cobriu de gloria
Dormiu sobre cadáveres de companheiros attingi-
durante mais de meio século I Quem viu, como eu
dos pelas balas inimigas ?
vi, o regresso de Caxias dos campos pajaguayos !
Que apotheose ! Essa guerra enche as paginas O VELHO
a nossa historia ! Tenho ainda vivos na lem- Não tive occasião de entrar na linha de fogo.
;
brança os seus episódios culminantes, as tragédias Meu pae era do Estado - Maior, e eu o acompa-
da nossa bravura ! Ah ! a campanha da cordi- nhei como ajudante de ordens. Do acampamento,

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JOHN R. LAEDLEIN. artista norte-americano, é um decorador de inegualavel bom gosto e tem diante de si uma carrei-
ra vidoriosa. O despertar dâ Primavera e A Partida do Outomno aqui reproduzisos. são duas
pequenas obras-primas de gravura em madeira executadas com um simples Iraço branco sobre
fundo negro e em que se pôde nofar o gôsfo discreto de composição alliado a
uma extraordinária belleza de linhas.
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O L A G O IDE H E N L E Y
O Inijo de Henley, em que se disputam as mais celebres provas de remo da Inglaterra, é um dos mais formosos do mundo.
A enorme multidão epinhada as suas margens diz bem do enlhusiasmo que desperta naquelle paiz o spoit do
remo. Milhares de barcos de Ioda sorte, cheios de tripulantes animadíssimos, flucfuem sobre as
águas tranquillas do lago.

porém, não perdi um detalhe das operações. Pos- ou n'uma revolução. E ' nas luctas sangrentas que
suiamos excellentes binóculos . . . .i humanidade se retempera ; melhora . . .
Vejo que o senhor não tem um braço. E'
\ etcr.mo "-.... ') HOMEM SÁO
. . . s perde os braços, as pernas, os olhos...
ii MANETA
Não. fiquei sem o braço n'um desastre de O CAOLHO
estrada de terro. Não havia ainda a lei de acci- . . . e adquire mais confiança nas suas for-
dentes de trabalho. Antes houvesse sido na guer- cas. Que importa a morte e a ruína de milha
ra. Com a medalha de mérito e o soldo não esta res de individous, se elles não serão esquecidos
ria mendigando o pão . . . Eu amo o heroísmo . . . pelos que lhes sobrevivem e rememoram os feitos ':
Eu lamento não ter entrado n'uma guerra, por
<» VELHO que estou certo que nada de maior me suecederia
Quando vejo um mutilado, não posso es- além da perda de um olho. E com que satisfaçãi
quecer T espectaculo soberbo de um trem carre- eu contaria aos moços de agora as minhas proe-
gado de feridos. Milhares de homens sem pernas, zas, cone itando-os a se prepararem para uma re
sem orelhas, sem braços, sem nariz, sem mãos, produção do meu exemplo dignificador.
iodos moços e vigorosos, sacrificados pela liber-
d.ide da Pátria I O FABRICANTE DE PANEI-LAS
A paz é inimiga do progresso. Eu que o
I' CAOLHO
diga e vivo de fabricar panellas para as cosi-
Eu perdi um olho n'um conflicto entre bê- nhas domesticas. Se o governo declarasse uma
bados. .Desejaria antes tel-o vasado por uma bayo- guerra, a minha industria, requisitada pelas au-
neta n'um encontro corpo a corpo entre exércitos toridades desenvolver-se-ia, e com o mesmo ferro
das caçarolas talvez eu pudesse confeccionar algu-
mas toneladas de balas. Assim, não saio da po-
resa, da m e d i o c r i d a d e . . .
O CAMPONEZ
Não ha povos bellicosos. O que ha são fa-
bricantes de panellas, caolhos, capengas, manetas
e velhos velhacos illudindo a humanidade. O que
- AMERICA -

I
ri
D CAPENGA ha são os vadios explorando os simples.
Adoro a guerra ! Gosto de ver os batalhões
() HOMEM SÃO
garridos, disciplinados, marchando para o morti-
A guerra é um artificio dos ineptos para a
cínio com musica !
extorsão violenta da fortuna alheia, um meio de
O CAMPONEZ impedir que os que trabalham recolham os fruc-
tos da sua operosidade. E ' uma allucinação col-
E os resultados da guerra ? Quem lucra lectiva provocada pela insidia de meia dúzia.
com a lucta dos povos ? Quem trabalha ? Quem Tens razão, camponio, quando attribues aos invá-
produz ? Quem arranca a riqueza do seio da terra lidos physicos e moraes a culpa dos embates en-
e a dístribue a mancheias pelo mundo para a feli-
tre as nações. Quem se recruta para a vanguarda
cidade de todos ? Não.
com a lisonja á sua vitalidade e galhardia ?
Quem tira proveito da carnificina és tú. ó ()s elementos varonis dos quaes depende o fu-
fundidor de panellas. és tú, ó caolho: sois vós, o turo das nacionalidades. A peleja de um dia ex-
capenga, ó maneta, ó velho, que odiaes os ho- termina varias gerações robustas, esmaga „ obra
mens sadios, os perfeitos: que não tendes em que de cem annos de labuta pacifica. Quem perde,
pensar pelo estado de incapacidade em que viveis, perde, e quem ganha também perde. E quem
e que por isso mascaraes as vossas idéas pérfidas fica para restaurar o edifício desmantelado até
com o manto do patriotismo, que só germina na que as creanças se tornem adolescentes aptos para
paz e não é uma doutrina de maldades, de in- um esforço utilitário e profícuo ? Os velhos, os
vejas, de destruição.
manetas, os capengas, os caolhos, em summa, a
legião dos incapazes, dos mostrengos, dos pro-
o CAPENGA
creadores de tarados e de loucos.
O sr. é pacifista ? Os pacifistas acabam sen- E por que se ensina, como estimulante das
do victimas dos povos bellicosos. boas qualidades, da nobreza individual, o amor á
/ y V M V W - V A V W W V l M S ^ f V C M V U V ^ V ^ *^"!/^^^^WAW^^^A^*lWil'i^cM^^AAWl

B B 00 EI È|E 0 M H Et 0 0.0M0 0 i i l l i i l i 0 0,0 0 00 001 WVV*ASV-*^**V*V*V*V*****^^

0 pai da guilhotina

lia dois séculos nascia, em Melz


Anloine l.ouis, que seria mais tarde
um cirurgião notável, mas que é sobre-
tudo conhecido pela parte que teve
na introducção, na frança, do instru-
mento de supplicio chamado a prin-
cipio «Louisettc» e que depois ficou
sendo guilhotina. Enganou-se pois
sempre a tradição popular com o at-
tribuir ao Dr. Guillotin n invenção
da sinistra machina. foi Anloine
Louis que, a 20 de março cie 171,12, a
presentou á Convenção um processo
OS NOVOS 3NTA FITsTTTJJElA. de execução Capital «seguro, rápi-
'Refralo do esculplor Mazzucchelli" quadro com que se apresen- do c uniforme».
tou ao "Salão' desfe anno o pinfor patrício Cândido Porlinari.
I 1// RH I

zingaros sinistros e enchem 0 M-, mi


ferem ias da sua rhetorica unctuosa n.\ mais Iru
pressionante das mystificaçCes, não propfiem, por
exemplo, que i Liga das \'açc"es exija, COmO <-ssen
ciai á sua existência, a transformação das usinas
de material bcllico em fabricas de artelactos agri
colas ? A terra ainda está tão cheia de florestai
que pedem desbravadores destemidos, e de caiu
pos fera/es que reclamam arados e sementes '

TARTUFO

Queres muito. Os estropiados se defendei


da pecha de covardes incitando os demais á pra-
tica tio que elles não podem, como os ricos fun-
dam hospitaes destinados a afastar das suas vis-
tas sensibillssimas os enfermos que elles próprios
fizeram, creando desigualdade maiores que as d,i
natureza. Contenta te com esses músculos esplen-
didos que os aleijees invejam e faz por convencei
os sempre assim.
A paz é a ambição suprema dos verdadei-
ros fortes, porque só esses têm no mais alto gráo
o instineto de conservação da espécie. E ' pena,
entretanto, que o mundo esteja tão repleto de ca-
pengas e manetas e principalmente de velhos irri
tados com a juventude que não v o l t a . . .
Consola-te e o m m g o , homem vigoroso e bom,
Eu também sou um gramle calumniado. A's vezes
digo a verdade, a meu modo, e sou injuriado
pelos que me não comprehendem a plvilosophia ..

Carlos MAUL

A ORIGEM DO T E R M O «YANKEE»

Os pelles-vermelhas pronunciavam «yengins»


a palavra english», inglez. Com o tempo aquelle
UM CAMPEÃO MUNDIAL DO REMO
termo transformou-se em «yankee*, nome por
F.rnest Barry. remador de esquife, antigo campeão mun- que se designam os norte-americanos.

» dial. Os competentes poderão julgar da correcção da


sua attitude sobre o frágil e elegante barco.
A maior felicidade, do homem é o próprio
homem. BOSSUET.

guerra, a destruidora. em vez do amor á paz. a


construetora ? Se nenhum estadista tem a cora- — Não creio que o seu filho chegue a ser
gem de assumir a responsabilidade franca de uma um bom pintor; mas estou certo de que será um
guerra, e na hora da desgraça lança sobre a ca- magnífico escriptor.
beça do adversário os anathemas de que foge es-
— Porque ?
pavorido. porque não se prohibe a industria par-
ticular de instrumentos mortíferos ? Por que esses — Porque tem umas orelhas boas para
diplomatas que percorrem os paizes como bandos segurar a caneta...
— AMERICA —

OS OLHOS PERIGOSOS

São inquestionavelmente um pe-


rigo os olhos da esplendida eslrella
do cinema Bébé Daniels.
Um perigo contra o qual nâo
" habeas-corpus " que valha .
-O
l Mi R/i A —

f\ UNIVERSALIDADE DO LYRISMO
^
£== ==a

E NTRE a confusão que ahi Vemos na poe-


sia, cnovellada na avalanche das reno-
vações abstrusas e cretinas salvam-se
Assim é que encontramos similitiide etitn
a imaginação lyrica de todos os povos, mes
uns raros poetas que, numa forma de
expressão ainda muito deficiente, se adornam com mo os que, desde eras remotíssimas, haviam
as pi umas de pavão da poeiia oriental, dando- sido separados por oceanos intransponíveis. O
a como novidade mais recente que as theorias amor flue na poesia de todas as raças, com a

I
mesma serenidade, desabrochando em metapho-
de Einstein. ras tão brilhantes nas regiões clivosas dos An-
Poesia de orientaes, bebida no manancial des, como no avelludado remanso dos hortos de
de Tagore e Ornar Kheyan, já velhos c onha- louros, tão suaves nas rnvinas geladas da Ks-
dores e pensadores que, no silencio e no clarão candinavia como nos vermelhos infernos de areia
de seus paizes nataes, são apenas reflexo do d'Africa. E' quem se deteve a sentir a poesia
sonho e do pensamento de antigos poetas, an- dos povos, borbotando em imagens lyricas, no-
tiquissimos aedos que povoaram de rythmos,en- ta quanto c interessante essa egtialdade. A mes-
tre luz e rosas, os afastados tempos de esplen- ma imagem que abrolhou da cythara de mar-
dor de sua pátria. Esse lyrismo de abstra- fim do aédo helleno, inflamma a pesada harpa
ções e deslumbramentos, mysticos ou arrebata- do hebreu, e rola na voi rouca e meiga do
dos, esse pendor para a synthese vaga, esse Scalda dos fjords, e do haravec dos Andes.
icbuscamento em que se afervoram alguns Se lermos uma poesia dos Incas encontraremos
para pincelar ligeiramente uma scena, manchan- tão grande semelhança com a dos outros po-
do-.! em cores rápidas —tudo isso é resultado vos, a ponto de se fazer confusão. Eis ahi um
de uma influencia que nos vem das terras lon- trecho yaravi do Peru' pre-co!ombiano, que en-
gínquas e radiantes do Oriente, com escalas contramos em Ollantay, o poema-dramatico de
pelos centros da Europa. E' isso qu? faz mui- autor iftcà desconhecido:
tos de nossos jovens intellectuaes, desabrirem-
«Sua bocea entreaberta descobre duas filei
se contra ,a poesia até hoje existente, quando
ras de pérolas; suas faces são como duas ro-
elles nem- forma de expressão nova possuem,
sas cahidas na neve; seus supercilios são dous
pois que requintam a sua expressão em não ter
arco-iris, seus cilios flechas ardentes e mata
forma, e em exprimirem sem belleza a bel-
doras, sobre os seus olhos fulgidos como sóe
leza que pretendem encerrar nos versos.
nascentes... »
E o que mais é de notar está no que di-
A metaphora dos dentes como pérolas é vul
zem esses pretensos renovadores, alardeando que
garissima e fácil de se encontrar, tão cedo en
o seu lyrismo, é diverso de todo o que, até
tre os malaios, como entre os parisienses moder
o momento presente, tem sido cultivado no
nos. Assim também a das faces comparadas
mundo, quando todos nós sabemos que o ly-
rosas. Mas a linda imagem das sobranjelha
rismo, como, aliás, todas as manifestações de
como arcos, menos commum, eil-a numa ca
poesia, é sempre o mesmo. O asiatismo pasti-
ção de Kechich-Oglu, poeta kirghiz das mar-
chado desses modernistas é uma sombra defor-
gens lendárias do Da-
mada da belleza que
núbio: «Estou presi
enchia a alma barba-
de amor por uma jo
ra dos povos, desde
vem bella, de olhos
quando ainda vagia,
langurJos, cujas
no seu berço de gra- brancelhas são arcos
nito, a civiüsação. que e os cüios flechas...
partiria do Altaí, a Num outro canto in
montanha de ouro ca, recolhi Jo porOar
que tocava a via-'.a- ti'asso, deparamos a
tea dispersa em mi-
H ml
I
imagem dos seios d
grações sobre o ocei- mulher comparados
dente.
dous cabritos brancos, muito approximada a nas odes de Anacreonte, ou na cadência bar-
uma semelhante de Sa'omão. Por toda a poesia bara dos hindus, nos seus hymnos violentos a
dos ottomanos e árabes, cantando a formosura Kama, deus dos serralhos e do amor.
das Mihri, Zeineb ou Leila, estão semeadas as O lyrismo é sempre o mesmo. O correr dos
metaphoras que lembram as do lyrismo dulcis- séculos não torce o curso ao fluir da poesia,
simo dos dinamarquezes adoradores de Herdia que é a mesma, entre os asiáticos, como entre
edeThor, ou dos celtas, ou dos finno-mogóes, nós, tão linda ha vinte séculos, como nestas eras
que acampavam, sob as «yourtes» rubras, na ne- actuaes, em que a electricidade transmitte ao
ve da Europa central, ou dos japonezes, cuja homem a illusão de que pode renoval-a. Tudo
arte de sol é uma explosão de cores. A .ensua- é velho na humanidade, como diria Accacio. A
lidade na poesia, que Coleridge disse ser uma questão está na belleza que se pode trans-
as grandes virtudes de Milton, rebenta em mittir...

Í imãs de luxuria nos ghazels de Hafiz, como Moacjr de ALMEIDA

homem, lenrfo 14 horas por dia, exgotíar apenas as obras


jÇ leitura e a idade sobre historia na bibliotheca nacional. Eram, naquelle
tempo, 20.000, algumas em vários volumes !
Em que idade mais se lê ? A esta pergunta a biblio-
thecs publica de Cambridge responde : um rapaz de qua-
torze annos lê em média 4 3 volumes por anno; aos vinte
annos a média é de 59 volumes ; aos trinta, a necessidade O CELEBRE PHILOSOPHO Herbert Spencer
de leitura chega ao seu ponto culminante: 05 freqüentado- tinha um gênio irascivel e nervoso, que elle próprio reco-
res da bibliotheca lêm 174 volumes ; aos cincoenta, a média nhecia e lastimava. P o r isso não se casou. E quando lhe
cáe a 2 7 : emfim, aos sessenta, é apenas de 15 volumes perguntavam a razão do seu obstinado celibato, respondia:
por anno. — Consolo-me com o pensar que existe no mundo
Ajuntemo", com um detalhe fornecido por Victor Hugo uma mulher que não conheço e a quem fiz venfurosa :

que seriam precisos, em 1819, oitocentos annos para um aquella com que não me casei . . .

sJ--n. f-j:
c-<>o><xx> <><>ç<X><>0^<XX><>«C^

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— AMERICA —

Sc

Um u r s o amigo s e m p r e é ^f)^ $
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preferível a um amigo urso... ífjllVF
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I 11// RICA

!©6sEXnA/\Í?a (Fragmento)

las. A luz penetrou, franca, [Iluminando inten-

E
OS exames vieram. Num dia luminoso
c caliclo cie novembro a grande sala samente as face; cm que se franziam Ftiper>
de visitas, preparada para o acto, en- cilios, na protecção dos olhos deslumbrados.
cheu-sc da turba ruidosa e inquieta Transeuntes appareceram, que se detinham uni
dos aluirmos, acompanhados de pães e mães, momento, inquiriam com o olhar, um lorriso
de pessoa; da família da mestra e d? convida- estúpido nas faces e iam-se, indifferentes, a
dos. Dispostas em semi-circulo, as cadeiras da- pensar noutra coisa, á; voltas de novo com
vam á peça a apparencia de um pequeno theatro os seus cuidados. Outros, ociosos, atracavam-
e,em face, uma mesa garrida desapparecia qua- se definitivamente ao peitoril, satisfeitos, ni ex-
si, sob uma invasão de flores em jarras, cem pectativa de um passa-tempo gratuito...
um panno grenat muito vistoso. Tre; cadeiras, A directora tomou o seu logar c foi logo
de um lado, eram destinadas á directora e aos ladeada por um rapaz de óculos, muito in-
dois examinadores. Do lado opposto, de cos- sinuante — era o seu irmão e por uma
tas para a assistência, assentar-se-ia o exami- senhora grave que respirava indulgência, mui-
nando. Ostentava-se mais uma vez o apparato to compenetrada, aliás, do seu papel de juiz.
das provas de exame, feito talvez numa inten- Houve na sala um vozeio abafado, confuso, cor-
ção innocente de festa e de alegria e que tado a tempos de scius! imperiosos.
acarreta os peiores resultados para o animo E veio o primeiro examinando, um estreante
timido e impressionável das crianças, provoca naquella sorte de cerimonias. Leu o seu trecho,
com a sua solennidade as inhibições da me- respondeu, um pouco hesitante, a todas as per-
Í mória, as desordens do systema circulatório, o > guntas feitas pelo moço em vóz paternal, per-
prime o coração, estrangula as vozes na gar- guntas a que se seguia, em tom mais baixo, o
ganta e gela a; extremidades dos dedos tre- subsidio immediato da primeira syllaba da res-
»mulos. posta :
Crianças iam e vinham, como pássaros as- — A capital da França é . . . ? Pa..
su
sustados, chamados aqui e alli por scius. im- — Paris !
pa
pacientes mas discretos. Todos procuravam lo- — Paris, não é? O examinador exultava, num
ar, arrumavam-se como para um espectaculo. sorriso beatifico que lhe sulcava o rosto ma-
No corredor que dava para a sala de jantar, gro; os seus óculos tinham scintillações de re-
onde: enormes pratos de biscoitos se escondiam lâmpagos. Muito bem !
á sombra de ramalhetes bastos, que cediam ao Ou, então:
próprio peso, a alacridade e o ruido eram in- — O Brasil é republica ou monarciiia? Re...
tensos. Commentarios, risinhos nervosos, confi- — Republica !
dencias, as derradeiras trocas de idéas antes — Perfeitamente !
da prova imminente animavam aquellas cabeci- E o examinando sentia que havia acertado,
nhas muito frisadas, preparadas com longos cui- esquecido já do auxilio e sem fazer bem uma
dados para a festa, com cabelleira; dispostas idéa do que vinha a ser uma monarchia ou uma
em pastinhas ou cachos meticulosos nos meninos, republica. Acertara. Ainda bem !
ornadas de grandes laços vermelhos, verdes, Passou depois á senhora. Sommou, subtrahiu,

I
azues, nas meninas; emquanto a pro- multiplicou, plantado diante do qua-
fessora ia e tornava, numa febre, dro negro, a gizar algarismos com
providenciando, como um contra-re- um tac-tac surdo, no meio do silencio
gra, para que nada faltasse ao bri- geral cortado a espaços por um ou
lho da cerimonia. outro pigarrear sonoro. Notava-se que
Fora, o sol de meio-dia avermelha- se constrangia sob o dardejar de tan-
va os telhados e pro- tos olhares curiosos.
jectava sombras arro- Na divisão, porém,
xeadas que escorriam emperrou. A examina-
pelas paredes das ca- dora soecorreu-o lo-
:.as fronteiras. Ao fun- go, como a um nau-
do, o céu recurvava- frago, e o moço de
se, muito límpido e óculos, e a directora,
distante. Abafa-se. e a sala em peso ti-
Abriram-se as janel- veram uma inquieta-
O NODERXO MOBILIÁRIO ITALIANO
Sala cie jantar executada de accôrdo com os desenhos de Ezio Giovannozzi. As lâmpadas
são obras-primas da fabrica De Matíeis.

ção e um desejo imperioso de salval-o a todo um reprovado! E a cada «approvado com dis-
transe, numa soidariedade commovedora. Cabe- tincção e louvor», «approvado plenamente», um
ças erguiam-se, anciosas, ademanes discretos esbo- murmúrio corria pela sala, procurava-se insis-
çavam-se na consternação geral, olhares obsti- tentemente o pequeno heróe, que sé afundava
nados procuravam transmittir, no seu magne- mais na cadeira, meio vexado, numa modéstia
tismo, a chave do enigma diante do qual he- sincera.
sitava e tremia aquelle OEdipo de calça; curtas. Distribuiram-sc então os prêmios, vistosos li-
E quando a difficuldade foi vencida, houve na vros para crianças, cheios de gravuras encan-
assistência um profundo suspiro de allivio. Salvo! tadoras, com uma dedicatória enthusiastica no
Palmas reboaram. A prova estava termina- frontespicio.
da. E veio outro, e passaram pela; suavíssimas Depois, a mesa de doce;, com as balas e os
forças caudinas toda; aquella; cabecinhas inquie- biscoitos, onde a familiaridade dissipou os úl-
tas. Ao termo de cada exame, os applausos cho- timos, resíduos da solennidade de momentos
viam infalliveis. E a criança victoriosa, pas- antes.
mada do seu próprio mérito, duvidando ainda E quando sahiram, como um bando de aves
um pouco da realidade, tinha o ar -satisfeito de rumorosas, para a rua tranquilla que modorrava
quem conquistou um mundo. ao sol, cada menino apertava ao peito, com
Seguiram-se momentos de expectativa anciosa. amor, o seu livro de figuras, despojo opimo da
Os examinadores e a directora consultavam-se, primeira victoria — tão fácil ! — na emula-
discutiam em vóz baixa, organizavam o «re- ção trágica da vida . . .
sultado >. Depois a presidente proclamou-o. Nem S . I-
- AMERICA -

A ORDEM NA DESORDEM
I EMPRE me causou surpreza, pela exces- eirados, não estão assim por desidia nem por
siva nccedade que encerra, um dito falta de tempo para a arrumação 0 inlel-
S
I I
vulgar: Como é desordenado este ho-
mem ! principalmente quando se ap-
lectual nunca se queixa de falta de tempo
mas porque é exactamente ness.i posição que v"i i
;

plica a uma pessoa não vulgar ou de méritos ser uti izado; no momento prechoj é que deu
indiscutíveis em algum ramo de trabalho útil tio dessa desordem apparente reina a ma.s ad-
á sociedade. mirável unidade, com o fim de facilitar deter
No emtanto ouvi remo; sempre repetida essa minado estudo ou, ás veze;, alguma gloiiisi
phrase diante da mesa de trabalho de um pro- descoberta.
fessor eminente, do investigador inquieto, incan- E sempre assim, uma mestra sábia, ini-
sável,, do estudioso que, aproveitando o minuto mitável, a Natureza, é o modelo perfeito da
Idisponível, desordena o seu material de trabalho desordem geradora da ordem natural dos acon-
sem se preoecupar da sua arrumação. tecimento; da vida: uma erupção, causadora de
Pôde oecupar-se de est.ietica o jurista cioso uma insoMta perturbação em certo ponto d,i
da sua profissão, quando vae do código civil crosta terrestre, nada faz sinão preparar uma
éra de prosperidade e de riqueza pira o logar
ao penal, deste ao registro official e depois
em que se produziu, pondo as
ás recopilações de leis, para vol-
cousas numa ordem admirável:
tar em seguida ao; códigos? Evi-
Virá o resfriamento da massa can-
dentemente a desordem do seu
dente de lava, depois a sua conso-
escriptorio s> se produz quando
lidação; c finalmente essa massa
a sua esposa, com toda a garridi-
se decomporá e enriquecerá o so-
ce, empilha os livros de capa azul
lo com elementos mineraes, como
ao lado dos vermelhos e estes
ferti izante; adubo; chimicos.
junto dos verdes. Porque quem
trabalha restringe-se a um mundo Por sua vez as myriade; de
que é a sua mesa e alli está átomo; amontoados na mais in-
familiarizado com os membros crível desordem diante dos que os
dessa communidade (livro; e ap- observam de uma dessas janel-
parelho;), seus amigos que, onde las do infinito qu; são a; lentes
quer que sejam collocados, lhe do ultra-microscopio, estão eipe-
sorriem, recordando-lhe theorias, rando que o átomo central, dire-
idéas e conceitos básicos mettidos ctor da obra, dê a ordem de forma-
nas suas vestes de cores variadas. ção, para que desse pandemônio saia
Ao passo que a sua esposa julga que a catego- á vista attonita do observador o modelo mais
maravilhoso de ordem e harmonia, apresenta-
ria do; conhecimentos e;tá na razão directa das
do instantaneamente num conjuneto perfeito, com-
cores da lombada e da capa dos livros. Do
plexo e definitivo da molécula recemnascida.
mesmo modo que a esposa ingênua, quantos
pseudo-bibliophilos põem o seu orgulho na en- E a que se deve tudo isto ? A' ordem
cadernação das obras expostas na; estantes com immutavel que reina na mais apparente des-
toda ordem, para que apenas sejam Ida; pela ordem, comparável ao prodígio da retina que,
poeira ? apenas com o contacto dos innumeros raios
heptaco'orido; do espectro disseminados ao aca-
Eis-nos diante da mesa de trabalho do so, faz surgir a magia da luz branca, que
sábio pesquizador: elle sahiu por alguns mo- é o encanto da vista e da existência !
mentos para observar o funecionamento de al-
guns apparelhos em outra sala. Quem não co- D. CORTI.
nhecesse a autoridade do conhecido scientista, Santa Fé, 1923.
acharia ridículo pretender outorgar-lhe tanta no-
meada, tal é a desordem do seu gabinete. MÁXIMA ORIENTAL — O porteiro de um
tolo pôde sempre affirmar que não está nin-
Mas esse microscópio posto a um canto,
guém em casa.
esse frasco destampado, aquella proveta sempre — — «o»
em ebulição, esta pinça, este tubo quebrado, A coisa que eu mais detesto ('• ferir a ver-
aquelle montão de papeis amarellados, empo- dade. — PASCAL.
- AMERICA —

BLANCHE SWEET

-O
A formosa artista do cinema não
desmente o nome : muito " branca "
e muito " doce "...
y
I 1// RH \

O PAIZ
DAS MULHERES FORMOSAS
\<) ha região do mundo que tenha al- simas e attentas e tratam muito bem a sua

I
N d o
cançado tanta fama pela formosura das
suas mulheres como a parte Occidental
Caucaso, onde vivem os circassia-
mercadoria.
Não é preciso dizer que, para u u pai cir-
cassiano, casar uma filha é uma desgraça. I du-
nos. Uma belleza circa;;iana é a jóia mais apre- cal-a, polil-a e aformoseal-a, com a esperança de
ciada nos harens di Turquia, de Marrocos ou a vender bem e ver surgir um troca-tinl is que
do Egypto. se apaixona por ella e a leva, não é lá de
O segredo da formosura dessas mulheres facto coisa muito engraçada. Por isso alli, en-
está simp'e;mente nos cuidados de que as cer- tre os pobres, que são a maioria, ninguém con-
cam desde meninas. Mesmo nas famílias iwi.s cede a mão da sua filha e portanto é inútil
pobres da montanha a delicada epiderme femi- pedil-a. Quando um homem ama a uma mulher,
nina é friecionada diariamente, dos pés á ca- apresenta-se a cavallo em sua casa, ataviado
beça, com ungiientos perfumado; que a tornam pomposamente, toma-a pela cintura, põe-na sobre
branca e suave; as mãos e os pés têm um a sella e foge com ella a galope.
trato que assombraria o mais hábil manicuro de No dia seguinte o raptor aplaca a ira dos
Londres ou de Paris; três vezes por dia, no seus sogros enviando-lhes o kalim, ou preço da
minimo, se untam com óleo e se pen- mulher; sem o que correria o gan

I teiam com toda a meticulosidade os


Labcllo; e nos olhos se injecta bella-
dona para que adquiram o brilho
humido e cheio de seducção de que
falam os poetas orientaes.
gue de ambas as famílias.
Entre as poucas famílias rica; da
região as coisas se passam de outro
modo. O casamento se combina quan-
do os futuros esposos têm apenas
Ademais, a joven circassiana apren- oito ou dez annos, si bem que só
de a dansar as languida; dansis ori- se casem na maioridade. Si nesse pra-
Í e n t a e s que tornam e;belta; as fôr- zo a menina se casa com outro, o;
mas e a cantar as queixo;as canções seus pães indemnizam o noivo ludi-
da montanha que adoçam a vóz. briado.
A' primeira vista parece absur- Chegada a circassiana rica aos
do que míseros montanheze; edu- treze ou quatorze annos, o futuro ma-
quem as filhas desse modo; mas tudo rido manda á sua casa dois amigos
» \ i c a r á explicado si se souber que com alguns cordeiros e uma mulher
entre os circassianos a carreira da que faz de intermediária. Esta discute
mulher é ser escrava. O harém de um pachá com os pães o preço da joven, e quando os ;.mi-
ou de um grão-vizir representa para ellas o mes- gos acham que se chegou a um ajuste honroso,
mo que o theatro para as raparigas pobre; do degollam os cordeiros. E' o signal que dá co-
Oceidente: o único meio de sahir da miséria. meço á festa. A população inteira aceorre á casa,
O maior titulo de gloria para uma moça cir- come-se muito cordeiro as;ado, bebe-se muito vi-
cassiana é ser vendida por alto preço. E a ver- nho do Caucaso e a noiva é conduzida procissio-
dade é que o viajante, por maior adversário nalmente á casa do noivo. Alli,'' sentam-se nnibos
que seja da escravidão, quando contempla as diante do fogo da lareira, com um cirio á mão,
pobres choupanas dos circassianos, quando vê onde os abençoa o <dekano;„, ou sacerdote, de-
as suas mulheres jungidas ao arado ao lado pois de beber á sua saúde um enorme copo de
de um boi modorrento, trabalhando como bes- vodka. Ma; o rapto tradicional não pode faltar.
tas, comprehende que aquelles pae; vendam as Terminada a cerimonia, o séquito fôrma com a;
filhas e que estas queiram ser vendidas. suas espadas uma abobada de aço, por onde pas-
Apezar de tudo, uma circassiana não at- sa o noivo conduzindo a noiva de novo para jun-
tinge quantias fabulosas. Por cem dollars po- to dos pães desta.
de obter-se uma linda joven e uma verdadeira
belleza custa apenas o dobro. Durante quatorze dias vivem assim sepa-
Os commerciantes que negoceiam com es- rados, sem ao menos se verem; passado esse
sas beldades, em sua maior parte armênios, em prazo, elle se apresenta a cavallo, toma a mulher
nada se parecem com o vendedor de escravos c a leva, fingindo fazel-o violentamente. E, para
tradicional. São pessoa; muito educadas, finls- dar mais caracter á cerimonia, o pae e os ir-
— AMERICA _

V V W W . W C V W M W W A W > W
LOQUACIDADE MASCULIKTA
U E R O d e pr.ssageni contribuir com o tolices e das villanias que havemos de commetter.
Q meu fraco concurso para o descrédito de
uma legenda posta em circulação pela
Falar demais nunca evitou uma acção má. Ao
contrario, tem ajudado a preparar um grande
vaidade do homem. Qual de nós, gente numero dellas.
de calças, tem deixado de troçar d a loquacidade André L I C H T E N B E R G E R
feminina, num tom de superioridade ferina c
irônica ? Quaes os que não ridicularizam as reu-
niões femininas cujo pretexto é variável: absorção
de chicaras de chá, execuções musicaes, obras de
caridade, etc. ? Sejamos francos ao menos uma
vez e confessemos que. d e nossa parte, fazemos
o mesmo e que só os pretextos differem. Está claro
que não praticamos os fivc-á clock nem as reu-
niões de costura. Mas no fundo, nas varias assem-
bléas. políticas, beneficentes, sociaes, em que se
dispende uma tão grande parte d a nossa activi-
dade, nas nossas academias, nos conselhos de ad-
ministração, nas commissSes. quantos minutos são
real e utilmente consagrados á discussão cerrada e
efficaz das altas questões em debate ? Quantos, ao
contrário, são gastos em fórmulas vãs, em perío-
dos redundantes, em phraseologia estéril, em cum-
primentos, em excusas. em exercícios verbaes so-
noros e ocos, cuja única explicação, aliás in ustifi-
cavel, é o prazer que tem o homem em enfileirar
vocábulos que agradam ao ouvido e lisongeiam
a sua vaidade ? Experimentae fazer a discriminação
dos instantes consagrados ao trabalho e dos que
são perdidos nessas gymnasticas lamentáveis: e
por muito pouco pudor que tenhais, acabareis
confessando para que lado pende a balança. E
á tarde, quando a vossa esposa chegar atrazada
das suas visitas, s;rá com um sorriso menos con-
descendente que opporeis ás futilidades das suas
distracções a gravidade substantcial das sessões o
reuniões em que vos oecupastes.
Direis, afinal:
— Seja. Mas, no fim de contas, que mal ha
nisso 1- Poder-se-ia fazer coisa muito peior.
E ' exacto. E declaro abertamente que mais
vale a gente tagarelar do que se consagrar a assai
tos ou a assassinatos, nos minutos de lazer. Infe-
lizmente, porém, o tempo dedicado a esse papa-
guear supérfluo o í raramente em prejuízo das

c M M / / / / A H M <

mãos da moça correm atráz delle, dando tiros...


de pólvora secca.
Desse dia em diante a formosa circassiana
é a companheira e a servidora do seu marido,
lutando ao seu lado em caso de guerra e de- mythologia modernizada
dicando-se, no tempo de paz, ao cultivo do campo DIANA CAÇADORA
e da belleza das suas filhas. (Dfsenho áe Herouarc!)
- AM h RICA —
— AMERICA

.V P I N T U R A CONTEMPORÂNEA
"LE RETOUR DU JOUR", de A. Osbert. (Salão de Paris, 1Q12.).

"ELLAS" POR "ELLES' para desenvolver o seu sentido pratico actual


interior da economia domestica.
verdadeiro homem deseja duas coisas: Tudo o que uma universidade ou con-
o perigo e o jogo. Por isso ama a juncto final de todas as escolas superiores pô-
mulher, o jogo mais perigoso de to- de fazer por nós, reduz-se, pouco mais ou
do;. — NIETZSCHE. menos, ao que fez a primeira escola que houve
no mundo : ensinar-nos a ler. Aprendemos a
ler em varias línguas, em varias sclencias; apren-
Não creio que haja nada comparável á agi- demos o alphabeto e as lettras de toda espécie
lidade com que as mulheres esquecem aquillo de livro. Mas o logar em que podemos obter a
que foi tudo para ella;. Por e;;e tremendo po- sciencia, toda a sciencia emfim, são os livros.
der de esquecimento, como pela faculdade de Depois do que por nós fizeram excellentes pi.o-
amar, ellas são verdadeiras forças da nature- fessores, toda a nossa sciencia theoretica depende
ra. — ANATOLE FRANCE. do que lemo;. A verdadeira universidade em
nossos dias é uma bôa collecção de livros.
Todas as mulheres são iguaes quando nos
CARLYLE.
agradam. — MAUPASSANT.

As mulheres não go;tam muito dos con- UMA PROVA do terror que experimen-
templadores e prezam singularmente os que põem tam os animaes com a presença do homem é o
as idéas em acção. — THEOPHILE OAUTIER facto referido por Sven Hedin, relativo aos
camellos selvagen; das planícies asiáticas. Es-
Todo misogyno ignora a mulher: são gran-
ses animaes farejam a presença do «homo-sa-
des meninos desiüu lidos que fazem do seu ran-
piens» a uma distancia de vinte küometros e fo-
cor uma theoria e que negam, para não serem
Vencidos por ella, es;a coisa frágil, ondeante, gem em seguida, com tal su;to e tanta rapidez
ductil e delicada que é uma alma de mu- que por vários dias não Be detêm: e sabe-se
lher. — VARGAS VILA. que um camello pôde correr em um dia cen-
tenas de Mlometros !
O MILAGRE DOS LIVROS Além disso os camellos levam annos sem
se acercarem do logar peri-

Í
OS livros realizam mila-
gres como os das legendas ru- goso em que esteve acampa-
nicas. Elles persuaden aos ho- do um bando de caçadores,
mens. A mais insignificante no- a menos que as chuvas hajam
feiio desapparecer o «cheiro do
É v e l l a , dessas que nas remotas
homem...»
aldeias entretêm a ociosidade
das moças simples, contribue CZ> CD CDCD CD CD
PESCA no Brasil tem a beirinhas, com ligeiras diffcrcnç is, ainda con
sua origem perdida nos servam muitos do; hábitos do indígena, nesse
nossos tempos pre-colo- sentido. As audacias da grande industria são
niaes. Os autochtones ali- lhes quasi desconhecidas, e os apparelhos que
mentavam-se de prefe- empregam pouco distam dos petrechos em voga
rencia da caça e do nas tabas.
peixe abundante dos nos- O que ha de curioso na pesca no Brasil é
sos rios e das nossas o seu característico em determinadas regiões,
costas extensissimas. Do-
principalmente no norte e nordeste do paiz. Nos
minando a montaria»,
rios é a piroga, no oceano é a jangada, que
nome que o nosso ca-
preponderam, revelando nos seus tripulantes qua-
boclo da bacia amazô-
nica dá á sua canoa, o habitante primitivo das lidades raras de intrepidez e de bravura.
selvas brasi icas persegue os cardumes e prende-o Se compararmos as nossas pescarias, pra
nas suas redes de tucum, fio finíssimo e ícsis- ticadas por cerca de cem mil indivíduos, e as
tente tecido de fibras vegetaes. das nações que lhe; deram uma organisação in
O mais interessante, porém, é que actual- dustrial em que tudo do peixe se aproveita,
mente, as nossas populações littoraneas e ri- desde a carne aos mais Ínfimos resíduos, vtri

A casa de um pesca-
dor na Praia do Abra-
hão, Ilha Grande.
AMERICA -
I

Uma colônia de pescadores, na Noruega, com residências


confortáveis e hygienícas
ficaremos que tudo nos falta. Por erpquanto, nós remos algo de proveitoso para o futuro, espa-
nos podemos orgulhar do encanto maravilhoso lhando pelo nosso immenso littoral os portos
das nossas enseadas, do fragor dos nossos rios, de pesca, coalhados de navio;, com pequenas vil-
e da riqueza da nossa fauna aquática, que se- las florescente;, e onde a piroga do indio passe
gundo Agassiz é talvez a maior do planeta. a ser uma lembrança saudosa ao lado dos bar-
Faltam-nos ainda os recursos para disputar cos-motores, do; trawlers, e outros engenhos que
aos scandinavos a palma que esses povos de a civilisação inventou para o conforto do ho
navegadores conquistaram em mais de um século. mem, diminuindo-lhe o esforço e augmentando
Com um pouco de tenacidade, entretanto, realiza- lhe os lucros.

iMl mi Br «/ «/ BB •1 cm (mi (mi »? »; m>


OS BANCOS DE CORAL do Mediterrâ- NA BULGÁRIA, em vez do serviço militar
neo se estão exgottando e não tornarão ao pri- obrigatório, instituiu-se o que se pôde chamar
mitivo estado sinão daqui a muitos annos. No o serviço econômico obrigatório. Todo cidadão
homem ou mulher, é obrigado a trabalhar para
emtanto o coral continua a baixar de preço, o Estado em obras de utilidade publica (cons-
porque está fora de moda. Só os napolitanos o trucção de estradas, de edifícios, trabalhos de
usam como amuleto. Ha também muito coral... administração, exploração de industrias fis^aes)
artificial, de vidro, fabricado pelos allemães. num período máximo de oito mezes para os ho-
Antigamente o empregavam em pharmacla, pul- mens e quatro para as mulheres. Esse serviço
pôde ser exigido de uma só vez ou parcial-
verizado, mas agora sabe-se que. o vulgar car-
mente e entre as idades de 20 a 40 annos
bonato de cal tem a; mesmas ou melhores pro- para os homens e de 16 a 30 para as mu-
priedades medicinaes que o coral pulverizado lheres.
\MI RH A

U M RETRATO DE BAUDELAIRE

^_ STE retrato e'o exquisil cantor das I 1 «"> expressão de desillusão • de dôr uma réplica
ri s do mal pertence ao I >r. Briand commovida do grande satyrista aos quartetos que
0 poeta lhe dedicou um dia ?
que ei rei ebeu i orno presente do Snr
A authcnlic idade desta obra está portanto
^o Lucipia. antigo prosidente do Con- muito longe de ser estabelecida. Ignora-se ainda
sc1 ho M u n i i i ]i a 1
o nome do artista
de Paris. Este, por
que, c o u uma espei ie
seu turno, o rei ei í i a
de genial espontanei-
de um am : go pobre,
seu protegido, que dade, so.ibc fixar lia-
Ih • ha\ i i ei fei ta Io .. ra sempre c com toda
. ciis.i ni.iis pie i rosa ,i emoção da sua ai
que possui.i Sobre a ma, a expressão dolo-
macieira do i hassis 1 - rosa c agoniada do
se, meio apagado, o B ,u lelaire dos ulti -
nome de Mon/.icelli. mos dias, do Baude-
I o 'os os que \ iram laire das torturas do
este retrato i riticaram
ópio : «Dentro em
tal attribuição, que guar-
po.xo vai o scetiario
da no emtanto um va-
enncgrecer - se e as
lor de indicação. Igno-
ra-se ate' hoje o nome tempestades se amon-
do autor desta ima- toarão na t r é v a . . . »
gem commoicntc
são desconhecidas as
condições em que foi
executada. Submetida e^sa
ao exame de vários e
notories cii ices de
O homem, por arti-
arte, ella até agora
licios cie rhetoricJ, p r
apenas suggeriu opi-
habilidade profissional.
niões vagas. Para uns
pe'o habito de em-
trata se de um fogoso
BAUDELAIRE, pregar a penna para
esboço de Monticelli. tratar de todos os ne-
Para outros, de um inl c o m o i<>i r e t r a t a d o p e l o p i n t o r
gócios da vida, chega
<I<«.<<>I|||<'<Í<I<>
estudo de Ricard, que sempre a disfarçar a
admirava muito Baudelaire c- que parece ter exe- sua natureza própria na sua prosa impessoal, uti-
litária ou Literária. A mulher, porém, só escreve
cutado um retrato do poeta depois da sua morte.
para falar de si e põe um pouco delia em cada
Os mais positivos, finalmente, descobrem nesse
palavra. Ella não conhee as astucias do estylo e
genial e penetrante esboço a mão de Daumier.... abandona-se inteira na innocencia das suas ex
Xão seria essa pintura tão viva na sua pungente pressões. — M A U P A S S A N T .
A S BAILARINAS EM VOGA
IO
1
o
ANNITA BEKBER, NA SUA
DANSA «O DANDY HES-
PANHOL' .
v __ Sy
O PADRINHO
(CONTO

AQUELLA tarde de domin- Eu também! Vou com a mamãe e o


go, Juanito, a pobre cri- padrinho !
ança, o filho natural, que Nós vamos ao parque. E tu ?
D se criava entre caras car- Eu também, respondia Juanito. I
rancudas como si recebes- crescentava: Lá nos e n c o n t r a r e m o s !
se a vida de esmola, con-
— Leva os teus brinquedos! Nós vamos le-
templava, debruçado ao
var a pá e o arco.
parapeito da janella, o
sol formoso de junho, Bem. Lá nos encontraremos !
cuja flamma, reverberan- Brincar no parque! Ineffavel illusào paia
do sobre a parede fron- Juanito, sempre preso em casa, a quem, quando
teira, ornava-a de uma colgadura deslumbrante, muito, consentiam que fosse brincar junto ao
mais brilhante do que as que no dia do Corpus- rio, onde não havia areia para fazer castellos
Christi adornam os bal- e onde as pedras im-
cões. Preso sempre em pediam o rolar dos ar-
casa, o pequeno olhava cos! Brincar no parque!
avidamente a rua em que Naquella tarde, finalmen-
brincavam os seus ami- te, brincaria no parque,
guinhos e chamava-os na areia extensa, á bon-
com gritos alegres, simi- da dos lagos, na areia
Ihantes aos pios dos pás- tão macia e doce ao ta-
saros engaiolados quando c t o . . . Correria até per-
vêm outros pássaros li- der-se pelas alamedas en-
v i es. Estava contentissi- sombradas em que silvam
mo porque naquella tar- melros e onde surgem
de a sua mãe lhe pro- cascatas imprevistas...
mettêra leval-o a passeio, E Juanito saltava de
vestira-o com a sua rou- prazer e de impaciência,
pinha mais nova e lhe a g a r r a d o aos ferros da
penteara os cabellos, re- sacada, olhando uma vez
partindo-os lindamente ao ou outra para o interior
centro. O padrinho pro- da casa, onde a mamãe,
mettêra vir buscal-os ás bella e joven, acabava
cinco horas, quando a luz de se preparar diante
do sol é menos intensa do espelho magicamente
e Juanito estava ancioso illuminado pelo seu ros-
por dar a noticia aos to. Como a mamãe cus-
amiguinhos que nos ou- tava a se vestir ! E,
tros domingos via sa- principalmente, como cus-
hir com os seus pães, tava a chegar o pa-
vestidos elegantemente e drinho !
carregados de brinque- Inclinado sobre a rua,
dos emquanto que elle Juanito via partirem os
ficava em casa, á ja- seus amigos, á mão das
nella, entre as plantas suas mamães, que, na
dos vasos, como um po- porta da rua, ainda lhes
bre canário t r i s t e . . . faziam uma ultima cari-
— Pepito! Luizinho I cia para alisar-lhes os
chamava, debruçado para a rua. cabellos ou ajustar-lhes os gorros de marinhei-
Os outros respondiam, erguendo as cabeças ro, com largas fitas em que se lia um nome.
e entre-cerrando os olhos, porque estava tão E elles partiam, dobravam a esquina, dirigin-
alto aquella janella de um terceiro a n d a r . . . do-lhe ainda um olhar de adeus, sem se atre-
— Que é ? verem a gritar-lhe, porque os intimidava a pre-
— Vaes sahir ? sença dos seus pães graves, c i r c u m s p e c t o s . . .
— Vou! lam-se. E elle continuava na sacada, sem que
— AMERICA -
' -
a sua mamãe, já prompta, lhe dissesse: Va- E tristemente vio-os afastarem-se. Iam cem
mos, Juanito! e sem que o seu padrinho viesse... os pães e as mães para o immenso parque ten-
Que havia succedido? Ficaria ainda em casa, tador. Juanito pensou: «E' isso. Elles têm pae,
naquelle domingo ? E Juanito, sem animo de eu só tenho um padrinho!» E pela primeira vez
interrogal-a, olhava timidamente a mamãe, que atormentou-o o enigma daquelle homem que
ia e vinha nervosa diante do espelho. só ia á casa de visita, a que o haviam ensi-
De repente ouviu gritos indignados e af- nado a chamar padrinho e que no emtanto
flictos no interior da casa. A mamãe, dirigin- ás vezes o beijava com tanta ternura...
do-se á criada, exclamava :
R. Cansinos ASSEXS.
— Também hoje, não pode vir, n a o
Está claro: tem que levar os outros.
E, maguada e colérica, deixou-se cahir so- NADA DE NOVO
bre uma cadeira, e começou a arrancar todos
os seus enfeites, com gestos furiosos, desman- A arte de reparar os irreparáveis ultrajes
chando aquella figura de mulher feliz que com dos annos é velha como o mundo. Acaba de
tanta paciência compuzéra ao espelho para hon- ser exhumado do fundo da bibliotheca do Va-
rar o domingo... E o espelho parecia absor- ticano um velho papyro que revela a existência
ver todas aquellas graças, devorando-as no seu de institutos de belleza na Roma antiga.
seio profundo. E ficava apenas uma mulher Os donos desses estabelecimentos onde as
triste, mal vestida e desgrenhada... bellas patrícias vinham cuidar dos penteados,
Juanito, timidamente, deixou a janella e ap- das mãos, e dos pés, chamavam-nos: andra-
nroximou-se delia, rápido. Presentia vagamente
i podocapeloi. Esses institutos tinham machinas pa-
um mysterio de dôr e de vergonha. Quiz hei- ra tratar dos corpos e dar-lhes movimentos har-
jal-a, afim de a consolar, mas faltou-lhe a moniosos. Gabavam-se mesmo os apparelhos des-
coragem. Eram tão duros, naquelle momento tinados a modificar um nariz muito achatado ou
os olhos maternos, tão doces em outras occa- muito aquilino. Em todos os estabelecimentos
siões! Perguntou-lhe, medrosamente : o uso era apertar o corpo das raparigas com
faixas para as tornar mais esbeltas. As nossas
— Mamãe, não sahimos mais? O sol está novidades datam pois de mais de dois mil
desapparecendo... annos...
Era verdade. A luz do sol afastava-se, dis
» • * • • • «
solvia-se sobre as cariatides de mármore que
fora, no angulo da rua, sustinham o frontão de O MESQUINHO INSECTO...
um edifício publico.
A mãe, furiosa, respondeu-lhe: Segundo recentes observações, os aeroplanos
exercem um papel importante na caça e na des-
— Não, não podemos sahir. O padrinho nãc
truição dos insectos. No verão, quando esses
vem mais !
animalculos alados pullulam, notam-se sobre as
O padrinho! Juanito ficou pensativo. Adi helices dos aviões que voltam de longas viagens
vinhava vagamente. minúsculas manchas de sangue a que adhere uma
enorme quantidade de patas. O

§ sós ?
— Mas porque não sahimos

— Deixa-me em paz, meni-


no ! Não vês que a tarde está
curioso é que nunca se en-
contram nem as azas nem os
corpos, violentamente repellidos
feia ? pela helice c ás vezes aspira-
O pequeno olhou-a assom- dos pelo motor até aos órgãos
brado. Tarde feia?! Pois não essenciaes deste. Dessa fôrma
brilhava ainda o sol ? tem-se visto moscas e outros in-
sectos penetrar no carburador e
Mas não se animou a re-
impedir o appareho de continuar
plicar. A tarde do domingo ap-
o vôo depois de uma parada.
parecia-lhe já desfeita como os
adornos que a mamãe atirara ao Está ahi uma revelação que
chão, como sombras prematuras. faz. pensar na fábula do mosqui-
Os últimos companheiros par- to c do leão, do bom e velho
tiam . La Fontaine.

t
— Não vens, Juanito? grita-
am-lhe.
D D
Elle respondeu-lhes :
— Não! A tarde ficou feia.
PARASOL é o cogumelo das praias. bitação ao ar livre em que as pessoas geral-

O Contrariamente á maior parte dos co-


gumelos da botânica, elle brota princi-
palmente nos dias de snl e de calor.
mente mais dissimuladas se julgam ao abrigo
dos olhares indiscretos.
E' pois um prazer para o observador pas-
Quanto mais quente é a temperatura, quan- sear entre as pequenas suecursaes — abertas aos
to mais ardente é o sol, tanto mais brotam á quatro ventos — dos chalets cuidadosamente fe-
beira-mar os cogumélos-parasóes. chados e das «villas» mysteriosas... Ahi se mos-
O parasol, ou cogumelo da pra a, é em tram ingenuamente as pessoas taes quaes são
geral branco e listrado de vermelho. Ha no no seu intimo e podemos devassar-lhes o pen-
emtanto alguns todo escarlates e outro, risca- samento como por grandes janellas abertas so-
dos de azul. bre innumeras intimidades.
O parasol, ou cogumelo da praia, tem de * *
eommutn com o gyrasol esta particularidade : Aqui está, por exemplo, voluntariamente ali-
volta-se sempre pari o lado do sol. nhada por um cultivador methodico, uma série
(is parasóes, ou cogumelos di praia, se- de cogumélos-parasóes. Dir-se-ia uma pequenina
meiam-se todas as manhãs entre as dez e as rua cujas casas não têm fachadas. Vamos por
onze horas. Os seus cultivadores os plantam ella. Uma vez que as janellas estão abertas,
na areia das praias de acçôrdo com as IL-VS- insinuemos de passagem o nosso olhar; que
sidades do consumo. digo? entremos sem bater e sem nos fazer an-
nunciar, pois que não ha portas nem porteiros.
**
E' á hora do banho, ao meio dia e tam-
bém á tarde, pelas cinco horas, que a cultura PARASOL NUMERO 1 - Gente chie e
dos cogumélos-parasóes se torna intensa. bem vestida. Têm, ambos, os olhos pregados
Os cogumélos-parasóes irrompem então da ao azul do céu. Desde ha três quartos de hora
terra com a rapidez dos seus confrades do mat- que alli estão e não trocaram palavra. Cada
to na manhã seguinte a uma noite de chuva qual pensa numa coisa que não interessa ao
forte. E a sua colheita realiza se á tarde, á outro. E sentem-se bem sob o parasol, por-
hora em que os banhistas correm ao Cassino. que a animação ambiente propicia os seus de-
O cogumélo-parasol, apezar de não ser co- vaneios.
mestivel, não é venenoso. Mas abriga sob a
— Ella julga que eu me interesso pelo
sua umbella indivíduos de sexos differentes que que se passa em torno e deixa-me socegado...
ás vezes aproveitam a sua immobili Jade prolon- pensa o rapaz.
gada para distillarem o veneno da maledicencia.
Aliás é muito instruetivo um passeio atravéz — Elle julga que eu me interesso por
da floresta de cogumélos-parasóes. todos esses imbecis e deixa-me em paz... pen-
sa a moça.
As pessoas abrigadas á sua sombra não PARASOL NUMERO 2 - Classe média.
têm desconfiança alguma e Um senhor já madurão e
acreditam-se em sua própria três damas nas mesmas con-
casa. E nem imaginam qu; c. dições. Elle fala e ellas
parasol é uma casa que só ouvem. E' um "causeur«. As
possue o telhado e em que só damas ouvem com respeito
os discretos podem morar sem a erudição de diecionario
perigo. do cavalheiro. Elle tenta ex-
Cada uma dessas cupolas lis- plicar porque a maré monta
tradas de vermelho é uma ha- e cresce. Infelizmente entre
as senhoras ha uma curiosa que o embaraça
com as suas perguntas. Mas logo as três da-
mas, cansadas de ouvir, mergulham nos seus
Independência
devaneios respectivos, limitando-se a menear li-
geiramente a cabeça afim de não desanima-
Gonçalves Ledo cujo nome, depois de qua-
rem o o r a d o r que continua a desfiar todas as
si um século de esquecimento, volta á tona
banaiidades e todos os logares-communs.
para fulgurar na nossa historia com o máximo
do seu esplendor, começou a trabalhar pela
PARASOL N U M E R O 3 — Um flirt. El-
nossa emancipação política com ideas republi-
les se olham nos olhos e se dizem baixinho
canas muito antes de vários dos que são apon-
coisas que devem ser muito ternas, pois que
tados como os seus autores exclusivos.
cada qual parece agradecer ao outro as pala-
Quando se deu a invasão francesa em Por-
vras ditas. Jovens recem-casados? Uma aven-
tugal, sendo José Bonifácio lente da Universi-
tura? Sentimo-nos indiscretos e, não podendo
dade de Coimbra e Ledo acadêmico, aquelle
fechar a porta, passamos a d i a n t e . . .
concitou os seus discípulos nascidos no Brasil
PARASOL N U M E R O 4 — Um senhor, a a formarem um batalhão que fosse dar com-
esposa, duas filhas de physico ingrato, com bate ás tropas de Junot. Gonçalves Ledo não
dote e desejo de casar. Parasol melancólico e acceitou o convite do Andrada, e escrevendo para
provincial. Silêncios in- Londres a seu irmão
termináveis cortados Custodio, em 1808 as-
por breves reflexões sim se exprimia :
que não valiam a pe- «Mas eu tenho ra-
na de serem pronun- zões patrióticas para
ciadas. Tédio. Medio- não acompanhar o d r .
cridade. Preoccupaçõe; Andrada nas forças de
de futuro . . . Frant. A invasão do
general Junot, a par-
PARASOL N U M E -
tida do Rei e da
RO 5 — Um senhor,
Corte para o Rio de
só, lê u n jornal da
Janeiro, o Tratado de
primeira á ultima li-
Fontainebleau, os acon-
nha, sem levantar os
tecimentos que ora se
olhos, haja o que
desenrolam na Euro-
houver. Como um jor-
pa são, e ninguém o
nal não é tão longo
negará de boa-fé, o
assim, a gente sup-
inicio, sitião o gran-
põe, ao fim de uma
de passo da nossa
hora, que o cavalhei-
formação nacional, da
ro recomeça a leitu-
Liberdade do Brasil.
tura, desde a primeira
«Partirei d a q u i bre-
linha...
vemente e acompanha-
PARASOL NUME- do de mais amigos
RO 6 — Um viveiro irei organisar no Bra-
de pássaros. Duas se- sil a primeira loja
A R T E M E X I C A N A maçonica que será o
nhoras tagaré'as, três
Moüvc / tcaíeca, d e p u r o estylo indígena centro da propaganda
moças e quatro me
liberal no Brasil. —
ninas chocalheiras. No-
Joaquim Gonçalves Ledo.»
ve pessoas e nove conversações. Uma 'soirée-,
Esta carta demonstra que Gonçalves Ledo
de papagaios zarolhos. E' 0 record de veloci-
iniciou entre nós a campanha da independência
dade dos moinhos de palavras. Três assumptos antes mesmo da revolução pernambucana de
por minuto. Exclamações. Risos. Moto-coníinuo 1817; sendo de justiça portanto que se lhe
da palavra humana. Tlin-tlin, ruido articulado dê na nossa historia o logar de evidencia que
mas sem significação. Elocução mecânica. Cas- lhe compete de direito pela intrepidez da sua
catas de riso. Jactos de syllabas. Quando já acção intelligente.
não ha coisa alguma, ainda ha muita coisa... —€0»—

Ou, indo se odeia uni homem, sào oclieu


Miguel ZAMACO/S tos todos os seus actos. HA LI. CAI NE.
IMl RH 1

AS OBRAS ZPPUiVEAS I D A FTTSITTJTIA-


La Fortune passe, de Q u i n s a c . — ( S a l ã o de Paris, 1012)

•Ç-*CD-<> • ; <• <> CL.-0- -0 CD-<>-+CD-+-+C^-4-CZJ*CD+^CD-*-+CD-4--$-^-4--*-CZD4--4-C--*--4-CD-+

I udo ei que justo já foi pensado, mas 1 1 amor desappareceu, era a iunocein i,i do
levemos fazer esforços para pensal-o cie 110- coração - a Humanidade está na idade adul-
i.i 'Kl HE. ta. COELHO NETTO.

0 M A I O R R E L Ó G I O D O M U N D O é o do edifí-
cio do M e t r o p o l i t a n a , companlro de seguros de vida com AN I LS DA G L J L R R A esteve em moda na Allemanha
sede em N e w - Y o r k . O s p o n - o uso de pholographias nas
leiros desse relógio monstro unhas, hsta moda foi lança-
occuoam a altura de Ires an- da por um sobrinho do ex
dares e quando passam dian- liaiscr que ostentava, sobre a
te das janellas fazem trova I) tinha, um minúsculo retraiu da
absoluta no interior do p"edio ' sua noivo.

: m • Como o chloroformío,
SEGUMDO EMA AN II- a mentira, tem a sua 1 011
G A superstição romana, cada
mulher tinha um fio de cabel- ta de ser applirada A
lo consagrado a Proserpina. certo ponto é indispen
rainha dos infernos, e só mor- savel retirar o fluido das
reria quando esse fio cahisse.
narinas do anesthesiado,
abrindo as janellas por
Uma bella série de tra- onde penetre a regcnera-
balhos do mestre veneziano dora corrente de ar e luz.
Umberlo Belloto que com Eduardo Ramos
echnica segura e grande o r i -
ginalidade une o ferro fundi- A BANDEIRA NACIO-
N A L mais antiga é a da D i n a -
do ao vidro e ao esmalte.
marca, que se usa desde 1219.

I
Urna interprerev ["heodoro
koberfs, rio prólogo blbl dez
mandamentos". a nova produ
de Cecil B. de Milles.
0_ <P
AMERICA -

V K K S O S « E S C O O U E C I D O S

• >E X * U

UBEN Dario, o rouxinol de Nicarágua» Despertam nos pincaros os pássaros adorme-

R como o classificou um critico, deixou


uma obra vasta, attestado não só da
sua fecundidade, mas também da sua
cidos sobre as folhas frescas do lyrio e do
loureiro.
Quem é essa que chega, tão bella como
esplendida imaginação. Com Amado Nervo, elle Flora? Quem é essa divina e adorável im-
foi talvez a figura mais expressiva da poesia peratriz ?
centro-americana, para não dizer da hespanhola
pelos accentos novos que introduziu no harmo- Quem é essa que tem os lábios da Aurora,
nioso e plástico idioma de Cervantes transplan- e a fronte casta e pura como uma flor de liz ?
tado para os trópicos. Quando anda, esparge lyrios; e quando olha,
Além dos volumes que correm mundo, ha estrellas.
de Ruben Dario innumeros poemas que se per- Quem seu sorriso visse, para morrer de-
deram em publicações ephemeras ou nas mãos pois ! Quem um formoso príncipe fosse para
de amigos. seguir-lhe o rastro ! Quem fosse um deus amante
A revista Cuba Contemporânea' offerece- para beijar-lhe os pés !
nos agora algumas dessas producções quasi»
inéditas. E todas ellas evidenciam o mesmo es- Por ella, um pássaro está triste na mon-
plendor verbal, o mesmo sopro lvrico que ca- tanha, porque sentiu o perfume da fragrante
racteriza a personalidade do extranho cantor de flor. Viu-a o céu numa noite magnífica e ex-
Prosas profanas . tranha, e um astro por ella está morrend > de
Eis uma dessas encantadoras jóias tradu- amor.»
zida para a nossa lingua, em prosa, para não
lhe prejudicarmos a idéa.

COMO POMBAS
UMA SENHORA de idade indefinida canta
Ante a loira Cipria que inflamtna o co- num salão uma coisa ra-i;sirni a qu; ella pró-
ração os tigres da Hircania -se transformam em pria chama roman/i. Um ouvinte pergunta a
pombas ; outro :
Ouve-se já o alegre ruido do carro de Ti-
— Como se chama isso ?
tania, que enamorada, procura os beijos de
Oberon. — &0 adeus á vida».
A festa das ro- — Não diga mais nada. Eu pago o enterro...
sas e o canto dos
ninhos enchem os
verdes campos e
povoam o vergel.

— Conheces o doutor Lopes, especialista


em moléstias da pelle ?
— Como não? Fui o primeiro ciiente a
quem elle arrancou couro e cabello...

PROVÉRBIO CHINEZ

O melhor disfarce para se viajar


sem medo dos ladrões é o de po
licia; o melhor para se viajar sem
medo da policia é o de ladrão.
— AMERICA —

OS FRUCTOS DE UMA ADMINISTRAÇÃO


PROGRESSISTA EM SERGIPE
— — —
@otno o âv. (graccho gardoso ^ae encarando o problema
da inshmcção no g s t a d o ^ ^ ^ =

1 ^ - s
juneto
^
E R G I P E está agora entregue a uma ad-

de
ministração h -nesta e intelligente,
trabalha. O Sr. Graccho Cardoso, pri-
meiramente, soube cercar-se de um con-
auxiliares. antes do mais jovens,
que

e
se sente da mensagem, está lhe merecendo útil
attenção.

Diz s. excia.:
Acompanhemos

Sergipe, tradicional
em
do governador Graccho Cardoso nesse particular.

viveiro
parte

de
as palavras

excedentes
ch?ios de leaes intenções d ; trabalho. Da irrepro- educadores, não deve esquecer o seu brilhante
chavel gestão d : s n e g . c o s públicos daquelle Es- passado, cumprindo-lhe por um pouco mais de
taco, tem-se uma s n c e r a e inconfundível impres- desvelo e de c a r n h o na formação dos m;stres
são, atravez a leitura da recente primeira m?n- incumbidos de preparar as gsraç~es do futuro.
sagem do governador sergipano, que é um docu- Não ha funeção tãa primordial para um povo
mento á altura dos meritas do principal auxiliar nem mais delicada para um Governo. Seleccione-
do mais efficiente ministro da agricultura, que mos, associemos a aptidão ao saber, emfim re-

I
jamais tivemos. Sr. José Bezerra. formemos sinceramente a nossa instrucção, a
Da leitura da alludida mensagem, sente-se começar pela normal, porquanto só os professo-
que Sergipe entra n'uma segura phase de tra- res consumados tornam as escolas capazes.
balho e prosperidade. Antes do mais, as suas De que vamos a cada passo comprehenden-
finanças vão sendo postas em ordsm, e o s?u do melhor que o ensino é um alimento in-
novo governador vae encontrando recursos, para dispensável é documento frisante a crescente
pôr um funeção as forças vitaes do Estado. Pri- progressão da matricula geral m s estabelecimen-

meiramente, a receita a ascender, de maneira a tos escolares, consgnada na estatística abaixo:

já quasi attingir o nivel excepcional que ss al-


Annos Matricula Freqüência
cançou com a guerra. De outro lado, emquanto
1920 9.669 7.434
as rf-ndas se fortal -cem. é exacto que as d ;s-
Ic;2I 9.860 7-855
aezas também avultam, mis se invertendo a ren-
0.032 7.940
da em obras e serviços de patente utilidade para 1922

1923 0.841 8.694


Estado. E' assim que, levanto para o governo
to seu Estado, u na ri ição av sacia das forças Ac.ualmente, o Estado mantém 243 estabele-
econômica*; nacionaes, o Sr. Graccho tem as suas cimentos de ensino, assim discriminados: Atheneu
vis;as de preferencia volta Ias. para a economia Sergipense 1 ; Escola de Commercio 1 ; Escola
agrícola de Sergipe. E o plano, que .-.. v\cia. Normal 1; Escola Complementar 1; Grupos Es-
e.sbo.a. ne,se particular, em sua m •iisag-in, não colares, na capital 4; em Estância 1; em Ca-
ha duvida que merece OS mais francos applaus ,s. pella 1: Reunião de Escolas, 1.
Mas não '• se', neste importante campo da () numero de escolas isoladas attinge a
administração publica, que o gjvemo de Sergipe 227, sendo: na capital, 12; nas cidades, 52: nas
tem concentrado os seus cuidados de atilado ho- villas, 38; em povoados, 152. Para meninos, 4 6 ;
mem de governo. A i n s t r u ç ã o publica, conforme para meninas, 50; mixtas 131.
— AMlRH A —

o movimento dessas escolas foi o seguinte: Nesta ordem de ideas adeantadas, um dos
cuidados do g iverno serg pano foi 11 anáfoimar
Matricula Freqüência
muitos edifícios de cadeia. 110 interior do Estado,
Meninos 4-24' 3-359 em escolas o grupos escolares, 'K' dessa iio\.i
Meninas 4-499 3-5ÔS orientação (pie surgiram os grupos escolarse de
Sylvio Roméro Vigário Barroso. Mas além
S.740 6.924 dessas adaptações felicíssimas, registra-se .1 cria-
ção de novos grupos escolares, nos pontos mais
A matricula em duas escolas nocturnas de
importantes do pequeno e progressista Esta Io.
Aracaju, em duas da cidade de Estância e em
uma de Própria, únicas existentes, accusa este Estas ideas adeantadas do actual governo

movimento assás desfavorável e significativo do sergipano ainda mais se precisam na attenção

pouco proveito que representam: matricula mas- com que o Sr. Graccho Cardoso procura melhor

culina. 95: feminina, 89; freqüência masculina, apparelhar o tsAtheneu Sergip. ns.«, curando es-

58; feminina, 8 1 ; ou seja o total de matricula pecialmente de uma bibliotheca digna de sua

de ambos os sexos, 184; total de freqüência de finalidade. Mas não é só da instrucção em geral

ambos os sexos, 139. que cura zelosamente o avisado administrador.


Correlatamente com um inteligente plano de eco-
Dos 10.032 alumnos matriculados nos gru-
nomia agrícola, o Sr. Graccho Cardoso vae atten-
pos e escolas isoladas no anno de 1922, apenas
dendo com muita visão, ao problema da educação
160 terminaram o curso primário de 4 annos,
profissional. E ' nessa ordem de cuidados que a
retirando-se a maioria no 2.0, 3.0 e 4. 0 ..nnos,
mensagem merece ser lida attentamente, princi-
antes dos exames finaes. Desses 160 alumnos que
palmente quando trata do Instituto Profissional
terminaram o curso, 102 SÃO do sexo feminino e
Coelho e Campos.
apenas 58 do sexo masculino, assim distribuídos:
nos grupos escolares da capital, 88, sendo 23 Hoje, esse Instituto tem um b.dlo patrimô-
meninos e 65 meninas; no grupo escolar de Ca- nio,. Além disso, é uma officina de trabalho c
pclla, 5, sendo 4 meninos e uma menina, e nas riqueza utilissima para o Estado.
escolas isoladas, 67, dos quaes 31 meninos e 36 Só esse lado de uma administração seria
meninas. o bastante para recommendar á gratidão dos
Quanto á inspecção escolar, o numero de habitantes de um Estado, a condueta de um ad-
zonas cm que se reparte o Estado foi reduzido ministrador. Vê-se que ha ali uma intclligencia
a três, consoante o decreto n. 804, de 23 de culta e progressista, liberta dos cuidados absor-
Abril do corrente anno. ventes da politicalha. Este exemplo, que dá Ser-
gipe, é o que se impunha nos demais Estados
A primeira abrange 5 grupos e 49 escolas
da Federação que se amofinam n'um ambiente
isoladas; a segunda 1 grupo, 1 reunião de es-
irritante de competições pessoaes.
colas e 83. escolas isoladas; a terceira 95 es-
colas isoladas.
As Caixas Escolares devem subsistir tanto
pelo auxilio official como pelo favor popular.
Entre nós, o prestimo dessas instituições mixtas
A experiência de nada vale, porque um
não logrou ainda arraigar-se no entendimento
facto nunca se reproduz com as mesmas cir-
e nos hábitos das populações, de sorte que des-
cumstancias. — PIERRE LOUVS.
fallecem por ausência de sócios contribuintes. A
situação dellas está a solicitar das vossas luzes
uma providencia. De quantos assassinatos se comp';í uma
Por sua vez. a hygiene escolar, o mais palpi- grande batalha ?
tante aspecto da hygiene moderna, urge ser crea- Eis um ponto em que a nossa razão se
da e systematizada, por maneira adequada e perde e nada sabe dizer. — A L F R E D D E VI-
completa. GXV.
AMERICA —

Dedicando e m b o r a construido com o maior


todas as forças da sua carinho: E' por isso que
attenção á moda em con- a industria se esforça por
juncto, a mulher não deve der um cunho elegante e
nem por um m o m e n t o e distincto aos menores
deseurar os detalhes. objectos : bolsas, sombri-
nhas. Isques, que são os
O mais insignificante
modestos a u x i l i a r e s da
pormenor é capaz de com-
gloria feminina... no fooling
prometter todo um systema
e nos salões.

niriÀ

D D D D a a D D CD CD CD CD t^l CD C_)

A ASSUMPCÃO E OS PINTORES

; M todas as épocas foram os mestres em 1518, peloi marquez de Cigognora, que a

E • de arte inspirados pela


Virgem 2 a interpretaram diversament •
imagem cia doou á Academia de Veneza.
Dresde possue uma Virgem carregada por

Limitemo-nos aos antigos; uma das pri- anjos sobre nuvens, composição de Raphael. E m
meiras obras conhecidas é a pintura a fresco de Dusseldorf ha sobre o mesmo assumpto um qua-
S. Clemente, em Roma, que data do século nove dro de Rubens, como na National Gallcry, de
Em todos os museus do mundo se acha Londres, se encontra um interessante trabalho de
representada essa apotheose de Maria. Como ci- Boticelli. Mas de todos os gênios da pintura, é
tar todos os sanctissima assumpta da Itália ''. Ha Murillo o que merece o titulo de pintor da Vir-
os de Andréa dei Sarto, de Perugino, de Tinto- gem. Ha, do mestre hespanhol, três assumpções
reto, de Paulo Veronez. Ticiano havia feito uma na Inglaterra e uma em Petrogrado.

obra - prima que por muito tempo ficou ignora- Quanto a Poussin, pintou nada menos de
da no convento de Frari, onde foi descoberta, treze quadros sobre o assumpto.
.4.11/ RICA
— AMERICA
I
I O THEATRO RUSSO CONTEMPORÂNEO "]
* > t
NTES da revolução, o theatro dramático evolução da arte dramática daquelle paiz.

A russo havia chegado á perfeição. O


Theatro de Arte>, de Moscou, depois
de haver feito, em 1935 e 1905, a
sua «tournée» pela Europa e pela Norte-Ame-
Entre os artistas e directores das compa-
nhias appareceram reformadores e revolucioná-
rios que tinham sobre os fins da arte theatral
opinião própria, bem distincta da de Stants-
rica, tornou-se famoso em todo o mundo. O lavsky.
seu director, Stanis- Segundo o seu cri-
lavsky, que foi o teiio, o theatro não
creador e o inspi- deve servir para re-
rador desse theatro flectir a vida real,
de naturalismo puro, mas para crear o
parecia antes o pro- seu próprio mundo
pheta de uma nova de illusões e de so-
religião theatral e os nhos.
artistas que o com- Com esse propósi-
punham fo-am bem to renunciaram, pois,
os seus fieis. ao ultra - natura ismo
Todos elles, artis- do «Theatro de Arte»
tas de primeira or- e querem voltar á
dem no desempenho antiga fôrma da ar-
dos seus papeis, por tifuiaÚdade no palco.
mais insignificantes Um desses revolu-
que estes fossem, se cionários theatraes,
transformam na per- Fairoff, instituiu em
sonagem que repre- Moscou o «Theatro
sentam e conseguem de Câmara». Outros
crear uma figura per- artistas, enthusiastas
feitamente real e vi- como elle e adeptos
va, o que explica a da nova crença thea-
funda impressão que tral, formaram a com-
sempre causou ao pu- panhia do seu thea-
blico. O espectador tro, cujo repertório
crê contemplar a pró- consiste em tragédias
pria vida palpitante e e arlequinadas. Os
não a sua represen- pintores russos das
tação no palco. escolas modernissimas
fazem decorações pa-
Com a revolução
ra esse theatro ultra-
boischevista uma par-
moderno e desenhos
te da companhia do
para os trajes dos
«Theatro de Arte-
interp e es, verdadei-
deixou Moscou e,
ramente fantásticos.
com grande êxito ar-
tístico, percorre a O theatro é fre-
EurOpa e a America. PHOTO URA 1'IIIA A K I I M K A qüentado pelo seu
Retrato de criança, de Remfeldt. norueguez publico sempre nu-
A outra parte per-
meroso.
manece no seu paiz e
trabalha actualmente no seu antigo theatro. O
seu repertório é formado pelas peças de Che-
jov, Andreiv e por obras clássicas, tanto rus-
Outro revolucionário theatral, Vajtangoff,
sas'como estrangeiras. Entrementes, a revolução
morto ha pouco, tornou-se famoso e até ines-
russa exerceu uma grande influencia sobre a
- AMI RICA —

quecivcl pela SUS duccção d IS peças do thea- Fimcciona actu ilmentc em Berlim um tlntheat
tro Hahima . fantil russo que tem sido muito apreciado pe-
Este theatro, creado em Moscou ao tempo lo próprio publico allemão.
da revolução, é a primeira tentativa da repre- O repertório do theatro infantil compõe-
sentação, na Rússia, de peças dramáticas em se dos melhores contos de Andersen, de Ki-
hebreu antigo. Os artistas que formam o seu pling, etc, e de peças especialmente para elle
elenco são jovens dotados de muito talento e escriptas.
enthusiasmo. O melhor testemunho do valor de Nos theatros de opera, na Rússia, também
tal conjuneto é a carta de Máximo Oorki pu- se realizam representações especiaes para a in-
blicada num periódico russo editado em Berlim, fância.
na qual o eminen- As companhias de
te escriptor diz que bailados russos são
os artistas do theatro famosas no mundo
* Habima o fazem inteiro. As compa-
recordar os do «Thea- nhias russas de ope-
tro de Arte» na ra fazem também a
época da sua juven- propaganda intensa da
tude, quando, cheios musica russa.
de enthusiasmo, es-
Assim, pois, a re-
tavam a crear a fa-
volução russa não
mosa companhia.
acarretou a decadên-
Em 1918 formou- cia da arte theatral
se em Petrogrado o daquelle paiz, mas
primeiro theatro in- produziu, ao contra-
farrtil sob a direc- rio, a eclosão de fôr-
ção de Borich e de mas novas que fa-
um conselho theatral rão época na arte
formado de famoso1, theatral.
pedagogos e culto;es
da litteratura in- R. L. de Dorfman.
fantil.
Até agora, em ne-
nhuma parte do mun-
do, despertou inte- E' precisa ás vezes
resse a creação de tanta bravura para
um theatro infantil, arrostar o encomio
a não ser as ten- face a face, como as
tativas de uma so- aggressões. Raul
ciedade pedagógica POMPEIA.
de Budapest e as de
Benevente, na Hespa-
nha, todas infrueti-
feras. EM UGANDA é
No emtanto o thea- impossível construir-
tro infantil pode con- se uma rede telegra-
siderar-se como uma phica porque os ne-
fôrma ideal de thea- igros cortam e rou-
tro em que os ar- o INTP ARTÍSTICO jbam os fios de co-
tistas e o publico "La femme à 1'évenfail", de J . Monfi. (Salão de Paris, 1912) ibre para fabricarem
se sentem unidos, braceletes.
pois que os meninos, que possuem a imagina-
ção mais viva e espontânea que os adultos, par-
ticipam da vida do palco com toda a alma
Só os grandes corações sabem quanta glo-
e apreciam com enthusiasmo o trabalho dos ar-
ria ha em ser bom. — FENELON.
tistas.
Ao theatro infantil se attribue uma grande
importância pedagógica. Nelle se representam
peças de caracter instruetivo que muito influem O melhor meio de se desfazer de um ini-
no desenvolvimento da moral dos meninos. migo é fazel-o um amigo. — HENRIQUE IV.
— AMERICA —

O DINHEIRO NAS RUAS


México possue um frio de cidades celebres

O ) desde séculos passados pela sua exploração


das minas de prata: Guanajuato, Z-icaéca e
principalmente Cntorce, esta envolta numa nu-
vem de legendas. Uma fabulosa historia de quatorze
bandidos com fhesouros occulfos na montanha escarpa-
da em que Catorce se alcandóra. dá-lhe uma attracção
mysteriosa e terrível, a que se junta o encanto do logar
extranho em que está situada a cidade mineira.

A montanha, quasi inaccessivel, cava-se numa


espécie de valle e ahi. como num nicho, se aninha a
cidade. O tecfo em fôrma de terrasso de uma casa
serve de apoio ao rez-do chão da outra. Nenhum vehi-
culo pôde circular nesse verdadeiro funil. Um longo tunnel
que penetra a montanha e desemboca nos valles serve
para o transporte de mineraes que é feito por vagões
tirados por mulas.

Com o tempo, os terrenos argenfiferos das mon-


tanhas parecia terem-se exgotfado. Agora, porém, des-
cobriu-se que o solo da cidade é mais rico ainda em
prnta do que as escarpas que a circumdam. O s pró-
prios resíduos das minas abandonadas contêm ainda
fortunas. Desta (orma, a exploração recomeçou com
enorme intensidade: põem-se abaixo as casas, excavam-
se as ruas que encerram thesouros mais pneciosos
ainda do que os dos quatorze ladrões da legenda local.
E quem passa pelas ruas, deslumbrado com tanta pra-
ta, sente a impressão de que o precioso metal casca-
teia p»las sargefas. E' a realização de um sonho das
"Mil e uma noites' . . .

•••••••••••••••••••*
>••••••••••••••••
••••••••••••••••

— ^V >I O I> A . —
Elegante costume de Marion Belle em
"crêpe maio;ain" preto, com blusa e vistas
de crépe da China "beije" e preto.
A Ml RICA

O AMOR EM L1TTERATURA "ESCRIPTQRIO DE PSYCHIATRIA-


SERVIÇl» de objei tos ai hadi s, cia pi

O
NMl >R foi sempre. <• em todas as I I
vili/ic.cCs. um dos princip.ies themaa
O feitura de polii ia cie Paris, rei ebeu o
nome de «escriptorio de psychiatria e
1 tterarios. Porque ? !'c rque o amor é não ha um so dos seus empregados
_:::.::vi ci:n ,ticito o centro da vida e a que não saiba a r.i/ão disso. A clientela que
preoccupaçâo máxima do gênero humano? No elle recebe não se ívn >\ i tanto eo no se poderia
emtanto talvez tudo se p issa explicar como um imaginar. São. em principio, sempre os mesmos
caso cie utüitarisma de negocio littcrario. Sim, os que perdem qualquer coisa e que voltam, pois
fala se muito de am ir em litteratura parque os o esquecimento é nelles um mecanismo de repe-
verdadeiros consumidores, os que formam a gran- tição.
de clientela litteraria, são os jovens... Ma casos incríveis até: os de pessoas que
Estes formam a massa espessa do publico, esquecem naquella repartição o objecto que aca
a multidão impaciente e curiosa, o numero, o bam de recuperar, 0.1 oura qualquer, o que é
enthusiasmo. São elles que se encarregam de conforme a thenria tios actOS falh idos de l''reud.
exgottar as edições e de encher os theatros. Uma senhora perde sua bolsa, dá 10
São elles qüe lêm avidamente, gulosamente, t francos de recompsnsa ao recebedor do bonde
qualquer hora do dia ou da noite, no peior dos que a achou e, alguns minutos mais tarde, dei-
xa-a de novo num outro bonde.
logares, na mais incommoda das situações, sa-
lia pessoas que perdem até 1 noção cio
crifii ando o s iiiino. a alimentação, os prazeres,
caminho percorrido ou, quando escrevem, es-
Uiclo enilini. ]iela satisfação do seu vicio impe-
quecem de dizer o indispensável, isto é, objei -
rioso. Mais tarde fazemo-nos displicentes, par-
to perdido e reclamado: falam dos pais, dos
cimoniosos, exigentes; vacillamos muito antes de
amigos, das relaçles, do interesse que têm pelo
lêr um novo livro e exigimos que elle nos diga
objecto, lembrança de família, contam a historia
«ois.is extraordinárias, porque a vida, por sua
desse objecto mas esquecem de dizer de que se
(cinta, já nos narrou muita c o i s a . . .
trata. Outras pedem uma resposta urgente, as-
Não somos nós, os homens maduros, que signam de modo illegivel e não deixam o end -
fazemos com que se exgottem as edições. São reco !
os moços. E estes vivem cheios de idéas e sen- Outro caso: um rapaz entrou lá um dia para
saçc es de amor. Assim se co.nprehende que es- buscar uma bengala que esquecera num bonde
criptores e editores adulem e favoreçam a essa O empregado consultou os livros e achou o re-
paixão erótica da juventude. Quasi todas as no- gistro da bengala. O rapaz desceu ao gllichet
vcllas começam monotonamente tratando, desde das restituições, deixando no 1.0 andar as luvas
a primeira pagina, de um conflicto e o chapéu. A surpreza fzéra-o
de amor. ou descrevendo uma in- perder a cabeça. Recebida a
decente scena de luxuria. Mes- bengala, elle assigna o recibo
quinha escrav idão litteraria ! Tris- e... deixa-a no guichet!
te negocio, quando não se faz por
necessidade do temperamento e Felizmente um empregado o es-
sim por ganância ! piava e não deixou que o ra-
paz sahisse de lá... sem paletot 1
Os trágicos gregos nos de-
monstram que é possível reali-
zar um dos maiores esforços litte- O ESTYLO É O HOMEM
rarios sem que o amor sexual
intervenha sinão em pequena par- Eis uma phrase muito citada
te. A tragédia grega do grande por pessoas que nunca leram o
século manobra com outros con- discurso acadêmico de Buffon.
flictos mais profundos e mais hu- Ora, o grande naturalista dis-
manos do que os que provêm do •y se «Le style est de 1'honm- mê-
erotismo. n-.e» querendo declarar com isso,
não como se crê commumente,
O amor füial e fraternal, o que a maneira de escrever de
culto dos antepassados, a supers- um autor tráe o seu tempera-
tição religiosa, o ódio. a vingança, a ambição, mento, mas que o estylo somente, isto é, os
eis os principaes motivos da tragédia grega, materiaes que pertencem a todo mundo, cons-
tão cheia de paixão e de ternura, apezar da titue o mérito e a originalidade de um es-
ausência quasi completa do erotismo e da lu- criptor.
xuria. I
J o s é M. S A X A Y E R R I A HDr
— A 1// RH \

,^úhs,
O invólucro
soberbo
A mulher deve appere-
cer-nos numa auréola de luxo,
senfrnciou o grande roman-
cista em cuja obra a mulher
a todo momento perpassa,
num bater de azss ovantes ou
estraçalhadas . \ crdade
profunda de que se compene-
traram os . . costureiros, a
ponto de crearem trajos como
esta sumpluosa capa de vel-
ludo broche, trobilho pari-
siense que vem msis uma vez
justilicar a det nçãodo sceptro
da moda pela cirande Cidade-
Luz.

^ ^ ^
AMERICA

AS NOITES DE VERÃO NO OUTEIRO DE


— — -- MONTMARTRE --
.1 I.
Uma pequena praça, rectangular e calma. funicular de Montmartre, outn s em taxi, outros
plantada de arvores e que se julgaria de al- ainda em seu próprio carro, pslas ruas Lepic
guma villa longínqua si não fosse o kiosque c Lamarck. Em breve estabelece-se 1 balburdia.
vigia que a afeta. Os automóveis com os motores estafados são ar-
As casas, em volta, têm apenas d ás anda- rumados com difficuldade.
res. Suas velhas fachadas tendem-se sob os te- Como por encanto os passeies, o centro da
lhados. praça e as calçadas exteriores, inclusive, s? co-
Por toda parte creanças brincam: creadas brem de mesas, cadeiras e bancos que são dispu-
vão á fonte, gatos esprèguiçam-se ao sol. Nas tados pela multidão.
janelLis roupas brancas enxugam. l'm milagre converteu a menor barraca no
Algemas lojas: um mereceiro. uma lei:e- maior restaurante que. de uma c isinha de 4 me-
ria. e vendedores de vinho, conforme as tabo- tros quadrados no fundo da loja. fornece cin-
letas dos seus coenta. cem jan
estabelecimen -- tares . . .
tos. Pode : s esco-
Estairo- 11- lher: aqui a
davia cm Pa- „ Ma : son Cã -
riz. ao lado do theríne», o ( lai
Sacré Coeur. no ron des chaus-
cimo do ' mtei- seurs à pied», o
ro de M nt- Kcs.aurant du
martre e é i Tf r re » . Num
praça do Ter- aristocrático iso-
lamento, na pra-
tre que marca
ça Calv aire, con
o ponto mais
tigua, está o
ai:o da capital.
«Couc u». Mo
po's se eleva a
c; n:o da rua
i 29 metros aci-
Saint Rustique
ma do nivel do
está o «Moulin
mar.
joyeux».
Ouem. portan-
Podeis pc dir
to, entre ;is pes-
um menu suc-
soas da cidade,
culento : 1 • g 5-
tentaria essa as-
ta ;i amei ic l-
cenção pelas ruas
111. frangos á
estreitas pe- caçador... < ' pre-
dregosas, que ço está na ci-
K abam. na m.i- las exi-
icr parte, em tura
escadaria i- Com gencias.
certeza pequenos burguez :s e artistas de uma Si t íverdes que esperai v ossa 111 :s 1, apro-
nova «Víe de Bahême» q ie se íristall iram 11-. veitae para ir até i loja c antiguidades, sob
alturas estão ao abrigo dos visitantes esta taboleta I lie Old (uriositv Shop > : alli ell-
indisr retos . . . contrareis estatuetas em gesso de Joanna D'Arc
A's 8 horas da noite ahi estamos, e subi- e de Napoleáo . . .
tamente a pequena praça se encha d- uma ar.i- Tal ' effectivamente, a ultima predilícção
mação inesperada. De todos os lados, por es- parisiense- ir jantar ao ar livre, no Outeiro de
tas quentes noites de verão, um estranho publico Montmartre. E' coisa aliás agradável. Em volta
afllue: burguezes abastados, pessoas do povo, de nós a vida do bairro continua. Um philosopho,
personalidades do «Tout - Paris», inglezes e ame- num bine o. fuma indil lerente o sen cachimbo.
ricanos de passagem. Uns vêm a pé ou pelo I'm casal familiar, hospede de uma tenda mais
PÚRPURA Y NÁRNOL

Desnuda cn Ia opulencia de su carne es Ia tiniria,


e/i Ia alcoba purpúrea de imperial terciopelo,
esta Ia liembra imponente. Lo cxcesivo dei peto
Ia obliga a andar con curta molicie involuntária.

Los espejos sou de una limpidez visionaiia,


y en su fondo que miente lontananzas de ciclo,
Ia rhujer se contempla con fanático ceio,
v= =J entanto que modula Ias cadências de un ária.

Por Ias altas ojivas entra ei sol de Ia tarde ;


relumbra en los tapices ; en lai púrpuras arde,
y en li alcoba ei ocaso se refugia y c mpendia.

Y entre ia liamarada de carmin dei instante,


11 mujer es cual una colam nata joyante
de una cidad de márnwl que de pronto se incendia.
Miguel RASCH ISLÃ.
(lia livrei -Caanclo Ias liojus eaen. recentemente H]>i>areriilc> cm
Bogotá, Colômbia).

As moscas falam e ouvem tinetos, O apparelho para isso usado foi o microphonoe
o observador teve oceasião de escutar, durante duas ho-
ras, a palestra que enlrefiveram animadamente três illustres
moscas.
Depois de terem verificado que as aranhas gostam da As Ires dislinetas representantes da familia das mus-
musica, que os peixes ouvem e outras curiosidades desse cidas commentaram jovialmente a questão do cambio, do
jaez. tentaram os sabies descobrir si as moscas falom entre desarmamento, da tuberculose e dos assucareiros hygeni
si. Lm doutor americano chegou emfim a constatar que cos e a conversa terminou com phrase lapidar da mais
essa linçua^em existe e que não é puramente mímica como velha :
a das formigas. As moscas emiltem sons variados e dis- Não ! Decididamente o homem é o rei. . . da blügüí

modesta, está installado sem cerimenia, pois o née da Agencia Co >k, suspeitarão, porventura,
homem tirou o paletot... da riqueza de recordações que surgem de toe l i -
1
'~ petits Poalbots andam e n t r e as mesas as partes em volta delle- ?
recusando alguns vinténs, ne.n punhados de
iS . . . Porque Montmartre. - - o verdadeiro, o do
i is cantores populares modulam romanzas Outeiro. que nada tem d e c o m m u m c o m as "boi-
seninenêaes a c o m p i n h a n d o s.1 n a s s u a s guitarra-. tes de nuit» fraudulentas do bairro Pigalle —
antes do peditorio . . . conservou o seu acolhimento familiar.

Estes hospedes elegantes, cujo auto espera A fama que agora o beneficia durará mui-

sobre ei r u J e pavimento da rua Mont Cenis, es- to tempo ?


: - - g iro- que a complacente indicação dum Robert de- BEAUPLAN
p o r t e i r o d e h >tel fez s u b i r e m t ã o a l t o n a falaz es-
perance, d e se m i s t u r a r e m c o n os rapins i e que
idmiram de se reverem comi em uma tour-
AMERICA

DIALOGO SOBRE O AMOR


O NAMORADO
D
mor? Estás até esse ponto carcomido e aviltado
pela tua taciturna misanthropia? Nada ha, sob
OIS eu te asseguro: tudo o céu, tão transcendente como o amor.
adquire uma realidade
luminosa. O mundo il- O MISANTHROPO
luminou-se para mim. E
o que até então era O amor, ao contrario, é a funeção mais ló-
para mim vasio de gica, quotidiana e vulgarmente necessária que
sentido, o que precisa- existe no mundo. Por isso se torna sempre ri-
va de explicação, torna- dícula a vaidade com que o apaixonado pro
se agora transparente... clama o seu amor, como si de facto possuísse
Na rea'idade, um sopro alguma coisa excepcionalmenrte rara. Desejarias
do Espirito Divino aca- que eu me commovesse ante essa paixão que
ba de visitar-me. te exalta, e eu só posso sorrir. A vaidade do
namorado é a coisa mais insupportavel para os
O M1SANTHROPO outros, e a mais grotesca, como é grotesco as-
sistir, de muito longe, o movimento dos pares
Porque todas essas exclamações atropeladas num baile. Em summa: o amor nada tem de
e presumpçosas? Simplesmente porque estás apai- extraordinário, porque é uma funeção naturalis-
xonado. Isso te dá um ar grotesco de sufficien- sima de que se vale a Natureza, e porque se
cia, quando o natural seria que, conhecendo o pratica diariamente em torno de nós.
ridículo que ha sempre no amor, tratasses de
dissimulal-o. O NAMORADO
O NAMORADO
Bem conheço a tua canção, ó taciturno ami-
Pois não te commove o espectaculo do a- go! Nada mais me direis do que está escripto
• \ll RH I

nos livros ilos autores que são com< que se eSVâe logo que i N i t u i e / i consegue 0
qut i Natureza necessita, para perpetuar-se, do seu intento. Mis, desde que tanto agrada >08
auxilio desse frenesi erótico pelo qual as cs- teus lábios a palavra realidade, dize-me si crj
pecies evitam o risco de desapparecer : que o cada minuto não se contém em iodo amor a
amor é o modesto intermediário ti i eternidade. suprema das realidades. Dize-me si o amor não
é a máxima realidade, cada vez cm que vem
encher o coração dos seres. Tu 0 comparas ao
baile. Pois seja! 0 baile é uma expressão dio-
nysiaca que enlouquece tio prazer e tL alegria
os dansarinos. E é menos enlouqiiecedor ; ale-
gre porque ao espectador afastado pareça ri-
sível ? A culpa seria da distancia, da frial-
dade, da falta de realidade do espectador! As-
sim também o amor exalta e enlouquece ao que
se sente ferido pela sua divin i tortura e cada
namorado pensa realizar uma funeção única e
transcendente, obedecendo a esse impulso natu-
ral e necessário que sentem totlos os seres
de julgar que são o centro do mundo.

O MISANTHROPO

Tu mesmo o disséste: o amor é tuna to


tura.

O NAMORADO

O amor é, com effeito, uma tortura, uma


divina tortura. Al is seria, sem isso, tão exci-
tante e desejado? A idéa do prazer pacifico
e isento de toda perturbação é um mytho in-
ventado para a gente commum que não pensa
nem comprehende. A verdade é que o prazer
não pode existir si lhe falta o contraste, o
lado de sombra, o ponto tle inquietude, de
espinho, de temor, de perigo. Quanto mais vi-
vas forem essas qualidades, tanto maiores serão
as excellençias do prazer. Sabem-n'o perfeita-
mente os gozadores, os que para chegarem ao
prazer saltam sobre o peccado. Não ha porventura
cm todo prazer um peccado, ou seja uma in-
fracção? Lembra-te de que a Natureza ante-
põe o perigo á mais simples satisfação do pa-
ladar...

O MISANTHROPO
A mim a d o r parece-me absurda. Si para
chegar ao prazer tenho que passar pela dor,
prefiro a b s t e r - m e . . .

O NAMORADO

Falas como delapidador e não como pru-


dente. Pensas ser astuto e não passas tle um
insensato. Estás malbaratando a tua vida. De
que te serve uma vida que não usas? Ainda si
a vida fosse i n t e r m i n á v e l . . . Mas, ao contrario,
ella se está dispersando e consumindo diante
dos teus olhos. S i , d e i x a r e s de usar a vida,
commetterás a maior dissipação imaginável. De
que vale uma vida sem intensidade? E a maior
AMERICA —

intenrsidade reside no amor, como neste existe


a mais profunda força da vida e o prazer
que chega ao delírio e á vertigem. Por isso o
amor é a eterna causa das maiores tragédias!

O MISANTHROPO

Tu o disséste: o amor é igual á dor.

O NAAAORADO

Sim. No amor mais feliz palpita irremedia-


velmente a dor. Como o amor é o que ha de
mais perigoso e frágil, vae sempre acompanhan-
do do soffrimento. Sofírer e gozar são coisas
idênticas para o apaixonado, a ponto de mui-
tas não saber este discernir si a volúpia que
o transfigura provém do prazer ou da dor.
A duvida, essa grande geradora de tormentos,
segue constantemente o a m o r ; e o ciúme, como
uma fúria desencadeada, precede-o e o rodeia.
Não importa. O namorado quer antes de tudo
viver, e o amor é a mais sublime exaltação
da vida. Por um momento de deliquio, toda a
existência! grita o namorado. O amor é uma su-
blime exaltação da personalidade, e aquelle q u :
recebe esse sopro divino está convencido de
que o mundo e o céu com todos os seu; as-
tros, concederam-lhe a qualidade finalista, a con-
dição do central e do absoluto. Magnífica il-
lusão! O ser mais modesto, ao ter a convicção
dee que outro ser lhe entregou o seu destino,
ao comprehender que aquella que elle admira
e adora lhe cáe nos braços, sente-se arrebata-
do por um indescriptivel orgulho. Nada concebe,
naquelle instante, que possa existir acima delle.
Alheia-o a embriaguez do triumpho, engrandece-J
e o torna magnífico. E' o possuidor do que
ha de excelso no mundo, a sua amada, e offc-
rece-se ao mesmo tempo como escravo ao objecto
do seu amor. E' déspota e escravo ao mesmo
tempo; agora ciumento e deprimido, logo or-
gulhoso e exaltado; embriaga-se com todas as
t v o l u p i a s , c 0 r n todas as inquietudes, com todos
os tormentos; abraza-se de tentação; torna-se
suave de t e r n u r a ; convence-se de que o orbe
inteiro se concentra na sua vida e no emtanto
está prompto a dar essa vida por um nada;
assim, o namorado é uma coisa extraordinária,
ou monstruosa, si p r e f e r e s . . .

O MISANTHROPO

Eu, por mim, creio que no amor só exis- AS TOILETTES ELEGANTES


te rhetorica, á parte a necessidade de pro-
creação de que falámos ha pouco. Estás apai- Gracioso modelo ••Figaro", de Worth,
xonado e bem o demonstras com o teu fogo com saia de setim preto e jaque-
rhetorico. Supprimamos a eloqüência ao amor: ta de alpaca branca, ornada
que nos resta? O homem é um temperamen- de vivos pretos e gran-
to naturalmente litterario e é no amor que des botões de
tlle mais põe litteratura. O homem veste a azeviche.
1 11/ RH 1

mulher com os attributos tle que esta carece;


1111 frialdatlc ,tna'v sado: a, tudo perde 0 qUI chamai
.ittrihiie-lhe uma espiritualidade e uma emoti- rhetorica, eloqüência, litteratura, li pensas as-
sim possuil-as mais real, mais integralmente. I u-
P v idade que SÓ existe neilc, eterno inlaginitivo
que é, etc no exaggerado. Quando pedimos á saía o teu systema com um vinho cheiroso e
cheio tle espirito: tira-lhe 0 espirito, c quan-
mulher correspondência ella não nol-a

» póde dar. porque não possue os attributos com


que a vestimos. E' possível trazermos dentro
de nos a mulher que amamos; mas quando exi-
do na tua taça nada mais houver do que um
liquido insipido e innocuo, dirâs que
realmente o t e u vinho? Ao contrario, tiraste
possues

a sua verdadeira realidade. O espirito, o impon-

(
giinos que a mulher seja como essa imagem
que está e n mi-, não a encontramos e somos pre- derável, a faculdade de produzir embriaguez,
sa de desespero. Por isso ha em todo amante era a única realidade d o vinho. Assim acon-
um falhado. A pobre mulher por sua vez se tece com tudo no mundo. Porque o mundo sem
affliiíc porque não sabe como dar o que lhe espirito, e o espirito é uma embriaguez, se
exigimos; sente-se incapaz de chegar á imagem converteria numa coisa insipida, numa coisa sem
que trazemos dentro de nós; e sente-se menos realidade. Tudo o que disséste do amor é essa
mulher, uma mulher de vôo baixo, mulher real coisa insulsa que fica depois da tua analyse;
v carnal, jungida á t e r r a . . . Ella só possue o rea- mas o resto te escapa e o resto, que era o
lismo da mulher, uma imaginação terrena e espirito, era também a única realidade.
normal e uma ternura profundamente humana,
que breve adquire o seu sentido verdadeiro: O MISANTHROPO
ternura de mãe. Então estabelece-se o con-
Não. O real no amor é o tédio. O amor
flicto: não se entendem. Ella procura fingir.
termina sempre por um bocejo.
Engana o homem, simulando emoções desme-
suradas, e elle volve instjnctívamente aos seus O NAMORADO
sonhos, buscando em outra mulher a imagem
que havia construído em seu intimo. Eis a ver- O ' desventurado! Como entendes mal a es-
dadeira historia do amor, quando o despimos sência do amor! O amor é uma tão grande
de eloqüência. exaltação da personalidade que o infinito mes-
mo parece-lhe insufficiente para a sua pro-
O NAMORADO jecçâo. »Amar-te-ei eternamente!» exclama o na-
morado. O t é d i o . . . Mas isto existirá real-
Si tirares a eloqüência a todas as grandes
mente ?
coisas que fazem a vida digna de ser vivida,
só te ficará o vácuo entre os dedos. Sob a tua José M. SALAVERR/A.
— AMERICA

O ALMIRANTE ALEXANDRINO DE ALENCAR


E A SUA 65. : DATA NATALICIA

1 a RESTAMOS hoje sincera homenagem ao sima, ainda hoje, após quinze annos de execução,
•*• : almirante Alexandrino de Alencar, emi- o almirante Alexandrino de Alencar é um mo-
•*••* nente ministro da Marinha, cujo sep-
delo vivo para a mocidade brasileira, na phra-
tuagesimo quinto anniversario passou na
se competente do chefe da Missão Naval Ameri-
data de 12 de Outubro.
cana, o almirante Vogelgesang.
Official de um passado de gloriosas tradi-
Estimadissimo no seio de sua classe pelas
ções, aspirante aos 15 annos de edade e logo
enviado ás águas paraguayas onde tomou parte qualidades de caracter altivo, de republicano
na campanha e depois disso, quasi 60 annos de convicto, tratando a todos com rigorosa justi-
actividade productiva, como commandante tle ça, desinteresse e completa isenção de animo,
torpedeiras, instructor de artilharia, ajudante tle unindo á grande modéstia e simplicidade de

Almirante Alexandrino de Alencar

ordens do almirante Jaceguay e de outros em costumes, extraordinária energia c severidade no


commissões de excepcional importância, comma i- manejo dos dinheiros públicos e na defeza das
dante de diversas unidades da nossa esquadra, mais palpitantes necessidades da Marinha, de
capitão-tenente commandante do Riachttelo ao que é a própria historia, no período inauu-
tempo da proclamação da Republica, escoltando gtirado a 15 tle Novembro de 89, vê o illustre
o saudoso imperador D. Pedro II, á Europa, chefe da nossa Armada passar mais um anni-
heróico commandante do "Aquid.ihan« nos succes- versario cercado do respeito, admiração, sytnpa-
sos revolucionários de 93, senador da Republi- thia e amizade dos brasileiros dignos e pa-
ca, actualmente ministro da Marinha pela ter- triotas.
ceira vez, ministro do Supremo Tribunal Mi- As inntimenis felicitações por elle recebidas,
litar, e mais do que tudo isso, o marinheiro il- juntamos as nossas, fazendo votos para que
lustre das acções promptas, decisivas, reorga- possa o eminente patrício continuar ao serviço
nizador da Marinha, combatente enthusiasta pe- da Nação, sempre forte e activo como tem sido
la elevação moral dos nossos marinheiros, aos nos 58 annos tle verdadeira dedicação e muitas
quaes beneficiou com uma reforma modernis- vezes tle sacrifício á causa publica.
I 1// RH 1

~"&É DONA

SI Ni i grande da matriz quella cara. não gemesse- no ehodó... 1 'm lor


tinha batido ei ultimo si. mo. seil Alves, uni lorresino, por I )ens Nossi
gnal para o terço. SenhorI Eu mesmo gastei meus cobres... Malucarjj
Num passo pesado, a- de moço... mas pagava a pena, isso ê que pagava
i abafada no chalé p ir mesmo. Não tinha aqui quem andasse mais iu
\ i.c cia triagem da boi ei pilha do que essa crealuia! Comprava do bom
da noite», a devota, gor- 2 do melhor nos negócios e sempre «boa dita»,
d,incluída, subia, vagarosa Incho não faltava; só o compadre Tolonho, coi
mente, o becco que i > dar tado! Deus lhe tale nalnia. gastou ouro que D&O
no largo onde estava :i foi graça... A diaba era mesmo de botar a cabeça
templo. Topou então com de uma creatura na perdição. No violão, isso '•
o Zé Ribeiro que vinha vindo i o \lves, co- que era de se vêr! Era sarada duma feital < an
meta, c hegado naquelle dia no povoado. tava modinha como nunca ninguém mais lia de
cantar I Nunca! Muita < ostaneira nós batemos por
Adeus, dona! Já sarou bem? perguntou
essas ruas, seu Alves! Tudo rapaziada de ponta
0 Zé, que uno cerne» agüentava ainda bem os
de dedo, damnisca p'ra gastar com a dona... De-
janeiros, embora já fossem um punhado delles.
pois, você sabe, a gente pega a criar juízo, vae
Quall seu Zél vou ahi d'uma banda.
amoitando, o cabello desanda a pintar, e unia
fazendo biscoito p'ra viagem sem chapéo... A
creatura não tem remédio sinão perder a COchü,
mardita não me larga, e, quando pega a fazer
Mas que aquillo foi um trem... isso não tem
frio, não tenho mais arrumação... respondeu nu-
quistã...
ma voz cançada a dona, de cara pellancosa, tini
i ada de rugas, mis olhos apagados e tristes. E agora deu para devota, não? obser-
Mas porem, o terçosinnho i dona não vou cometa.
perde, hein ': volveu o Zé com um sorriso maroto, Pois então! Rezadeira está alli! Não
de libertino. tendo a mardita, bate numa toada p'ra igreja,
Adio! eu sou 1,1 como você que é par- a esta hora, e de manhã não perde missa... Em
ceiro do capeta ? E' porque você inda não viu quanto foi moça, a carne foi de capeta; agora,
mesmo a magra direito... o resto, que é só osso toca p'ra desobriga, de
- JSOU couro nagua. a dona sabe disso... medo de ir p'ro barro... Mas porem ha de ir que
0 ruim é que os janeiros vão amontando na ca- ninguém fica p'ra semente... concluiu > Zé Ri-
ntada... E é só a gente perrengar sem talvez... beiro desconsolado.
V o, 6 que diga. dona I — Lá isso tem razão! disse o Alves dimi-
A devota suspirou, e: nuindo o passo, que já ia fechando a noite, e
na rua não havia luz. >
Tá bom. não pegue a alembrar o pas-
sado... Até outra oceasião, seu Zé. Os dois chegaram ao hotel.
Continuou a subir vagarosamente, emquanto Zé Ribeiro não quiz entrar, e, meio core ova-
o Zé e o Alves proseguiam a caminhada. do, puxando a gola do paletó surrado, conti-
— Quem é esta barata? perguntou, curioso, nuou, banzando, sobre o jaassado, quando elle,
0 cometa. de «sangue na guelra», enthusiasmado, era o
— Aquelle mundo de carne e de fiara, que mantena dos moços, e a «dona», que agora
você viu. já foi á tentação de muita gente! Hoje ahi estava feia que até doia, enrabíchava muita
1 um caco; mas gente nesse povoa-
aqui ha um par de ' " l do...
annos mais p'ra ^ M J U jMUü' — Isso é que foi
traz, era um trem... ^Igâsasftf^ ^ ^ - ~ v^ i um tempão! disse
Qual I não havia ca- "^A"^Vf^" li JlJT? ' alto o Zé, esquecí-
ooclo que, vendo a- < do de que já dei-

II transformação por que passa, em pouco tempo, um annel di noivado-


OS CABELLOS CURTOS E A
PSYCHE FEMININA

• • • • • • • •
; HOMAS Graham, juiz superior do tri- «Os maridos, diz elle, não gostam das mu-

T •
:
bunal tle Chicago e quasi especialista
nos processos de divorcio, de que jul-
lheres que se penteiam mal; c pentear cabellos
compridos é uni trabalho complicado a que mul-
ga por anno uma media tle mil c qui- tas vezes se renuncia».
nhentos, acaba de fazer uma conferência em favor Isto parece-me de unia medíocre psycho-
:da nova moda. adoptada pelas moças, de trazer logia. Em primeiro logar, nunca se viu uma
cabellos curtos. mulher deixar de consagrar á sua toilette o
Desde que existe esta moda, ha portanto tempo indispensável, e mesmo mais do que isso.
dois annos. affirmou elle. ainda não vi uma Em segundo, ha numerosos casos de mulheres
única senhora de cabelleira curta figurar num que tinham os cabellos tão curtos que eram obri-
processo de divorcio. gadas a usar cabclleiras postiças e isso não as
«E' verdade, prosegue elle. que conheci mui- impediu de se divorciarem.
tos maridos de senhoras de cabellos curtos que A verdade parece ser que a moda dos ca-
se queixavam de que estas tinham seduzido ou- bellos curtos é um signal - - feliz ou lamentável,
tros homens, mas também nunca elles tiveram a não sei bem — de uma certa «masculinização»
coragem ou o desejo de as abandonar. das mulheres. Assim masculinizadas. ha uma por-
(Além disso está averiguado que, ha mais ção de coisas de ordem sentimental que cilas
de um anno. nenhuma moça de cabellos curtos não tomam ao serio, nem de modo trágico. En-
tem feito tentativa de suicídio. Parece que cilas tão, não só cilas não se divorciam, mis também
tem um temperamento muito alegre para cor- não se atiram mais á água nem pela janella.
rerem a tal extremo». A única questão é de saber si, sob o ponto de
Está portanto entendido:, as mulheres que vista social, isso representa um progresso ou uni
cortam o cabello nem se divorciam, nem s.; recuo. Digamos que seja apenas uma evolução...
suicidam. Mas onde creio que esse magistrado
se engana é na explicação do phenomeno: Pi erre MI ELE

xára o cometa, bobeando na besteira de um


hotel renquem.
Na egreja, «apoiada» no chão, porque a
mardita não lhe dava mais moda de ajoelhar,
a dona rezava muito devota segurando na croiitha,
presente ainda de seu padre vigário.
Foi uma «cara que se podia vér»; hoje, um
caco de mulher velha, pesadona, de lenço a ca-
beça, atabafada no chalé, j o Zé Ribeiro < cin-
tava que até ella mascava fumo e pitava ca-
chimbo.
E r a «pertar a volta da lua» e a dona ter a .
mardita com um febrão bravo que quasi lambia a
coitada.
TODAS AS
— A modo que é castigo! costumava a ' GRAVURA
IMPHESSAS M'ESTA BEVISTA
dizer o Manéca, muito desabusado para arreliar -» SÃO FEITAS NA /
as beatas que esconjuravam delle.
ASAYIANN/
A dona assim o via fechava a cara e: «_• (ANTIGA CASA BRUM ) _

— Cruz nelle! Capeta! Maligno! \ RABlrèlÔ &r> °$EPULYÊDA j !


Pobre dona! &r ««« K»°,'A°
rfteplj.rlorfe-0567.
RIO DE l A N E l B O •* In
Azevedo Júnior.
11// RH 1

O DESENVOLVIMENTO DOS ESTALEIROS


^ ^ ^ N/W/AES BRASILEIROS
• WC^,^ t>-^-

A Capital da Republica mantém, apesar da crise eco- Tivemos oceasião de passar a vista sobre diversas
nômica que atravessamos, estaleiros de construccão naval notas de obras executadas nesse estabelecimento e afora
que honram o bom nome brasileiro. os particulares e as de pequena monta i Concertos geraes
Esses estabelecimentos, quer particulares, quer offi- de um contra torpedeiro e de um navio mineiro, Transfor-
ciaes. com raras excepções. conseguiram, com o ensina- mação de um casco em bafelão para carvão. Adaptação
mento que a guerra deu aos demais estabelecimentos con- de um navio para transporte de óleo combusíivel. Cons-
gêneres dos paizes em lueta. melhorar grandemente seu írucção de oito lanchas para as capitanias de portos. Con-
apparelhamento e pessoal. certos de rebocadores e lanchas. Construccão de embarca-
A siderurgia, porem, só agora iniciada entre nós, ções meúdas. Construccão de uma ponte batei para o dique
obriga-nos a depender ainda grandemente do estrangeiro, 'Santa Cruz' E muitos outros.
o que representa uma desvantagem que não é preciso de-
monstrar. A photographia que hoje apresentamos mostra uma
parte das carreiras do alludido estabelecimento.
Temos que favorecel-a em larga escala para que ella
Ao fundo vê-se a cidade de Nictheroy ( S . Lourenço).
nos possa dar de futuro tudo o que, por ventura, preci-
sarmos para todos os misteres. Atracado está o contra torpedeiro "Matto-Grosso",
Desses estabelecimentos o primeiro que visitamos foi A vista de tudo isso estamos convencidos de que
o da ürma Prado Peixoto & Cia., optimamente montado, podemos obter desse estabelecimento tudo o que necessi-
em Nictherov. tarmos relativamente a construccão naval,
As officinas recem-reformadas. os machinismos aper- Não podia, pois. ser melhor a impressão de progres-
feiçoadissimos de que se acham suppridos, offerecem ao so, que trouxemos daquella immensa colmeia onde
operário todo o conforto e facilidade de trabalho. centenas de operários exercem a sua actividade e se es-
O que importa em operários bem dispostos á execu- forçam por elevar a industria brasileira aos destinos que
ção dos trabalhos os mais perfeitos e completos. lhe esfão reservados.
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AMERICA —

ffW O NUMERO ESPECIAL DE


AMERICA
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' A P R O V E I T A N D O a opportunidade que nos offerece o ul-


timo mez do anno, resolvemos organizar para Dezembro
próximo um numero especial de A m e r i c a
certos, agradará immenso aos seus innumeros leifores.
que, esfamos
-TI

s
Magazine de cunho caracteristicamente arlistico, apresen-
tar-se-á A m e r i c a nessa edição especial com o numero
de paginas augmentado, além do desenvolvimento das suas
secçòes de arte, moda, cinema e sports a que deve a acceifa-
ção lisongeira que teve por parte do publico brasileiro, sem-
pre justo no avaliar os o f o r ç o s dos que intentam servil-o.

As artes plásticas terão logar condigno no numero espe-


cial de A m e r i c a , e serão representadas em nitidas
gravuras. A pintura e a esculptura, especialmente a americana
e a brasileira, apparecerão nas paginas do nosso magazine,
numa revelação do seu progresso e da sua pujança.
® A secçao de modas de A m e r i c a , que tanta accei-
tação e gabo mereceu do publico ledor da nossa terra, apre-
w
sentar-se-á ampliada e enriquecida de gravuras admiráveis que
constituirão um *compte-rendu» dos progressos da moda na
hora presente. E' uma secção que despertará intenso interesse
no bello sexo brasileiro.
C I K E A \ A
A arte moderna do cinema será homenageada com a ex-
hibição de photographias das estrellas de ambos os sexos mais
prestigiadas pela preferencia dos nossos patrícios.
S P O R T
Nesta secção, amplamente desenvolvida, será dada conta
dos progressos acfuaes realizados pelos homens que adopta-
ram o lemma mens sana in corpore sano», ludo illuslrado
com excellentes gravuras.
0 numero especial de AMERICA é um "tdur de force!"
Era preciso, no emtanto, fazer muito maisl E não hesitá-
mos um segundo: commettemos a F R A N C I S C O A C Q U A K O -
NE, o joven e talentoso artista patrício, a tarefa de executar pa-
ra a nossa capa uma illustração a cores, que será um um ver-
dadeiro mimo offerecido aos nossos leifores.
Illustrações internas, n duas cores, dos reputados artistas
K patrícios KALIXTO e J E F F E R S O N , com legendas bem-humo-
radas, a par de charges de SYLV10, ornarão as paginas do
Ir1 nosso numero especiol. \
I E T T K A S
Mas era preciso dar á parte litteraria dò magazine um de-
senvolvimento maior e enriquecel-a com obras-primas de artistas
nacionaes. Podemos pois, com satisfação, annunciar ei publicação,
no nosso numero especial, de um admirável soneto do eminente
poeta patrício MARTINS FON FES, esse ourives do verso que é unia gloria da
intelectualidade brasileira. Illusfrado pelo lápis de um artista brasileiro, esse so-
neto inédito, gentilmente offi recido a A m e r i c a pelo grande poeta de «Ve-
rão», despertará nos nossos leitores a admiração que provocam as-obras de arte
superiores e perfeitas. O corpo de collaboradores de A m e r i c a , compos-
to de nomes consagrados nas lettras brasileiras, como Carlos Maul, Saul de
Navarro, Moacyr de Almeida e Terra de Senna, apresentar-se-á brilhantemen-
te, firmando chronicas sobre assumplos de actuilidade. Poesias, contos, no-
vellas, photographias artísticas e curiosidades mundiaes completarão o numero es
pecial de A M E R I C A que apparecerá nas proximidades do
:** A / l \ 2 a X . I T K E923
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AMERICA
1
Um trecho das "Farpas"

L H E M O S agora a litteratura. A litte- A poesia fala-nos ainda de Julieta, Virgí-


ratura — poesia e romance — sem idéa, nia, Elvira, — bellas e interessantes creaturas
sem originalidade, convencional, hypo- no tempo em que Shakspeare se ajoelhava aos
crita, falsissima, não exprime nada : seus pés, em que Bernardin de Saint-Pierre lhe
nem a tendência collectiva da socie- offerecia rape da sua caixa de esmalte circum-
dade, nem o temperamento individual do es- dada de pérolas, em que Lamartine, embuçado
criptor. Tudo em torno d'ella se transformou, na sua capa romântica de 1830, as passeava em
só ella ficou immovel. De modo que, pasmada gondola nos lagos da Itália. Hoje são um ideal
e alheada, nem ella comprehende o seu tempo, de museu.
nem ninguém a comprehende a ella. E ' como E todavia, além d'estas mulheres, ella nada
um trovador gothico, que accordasse d'um conhece no mundo. A poesia contemporânea com-
somno secular n'uma fabrica de cerveja. põe-se assim de pequeninas sensibilidades, pe-
Fala do ideal, do extasi, da febre, de Eau- queninamente contadas por pequeninas vozes. O
ra, de rosas, de lyras, de primaveras, de vir- poeta lyrico A diz-nos que Elvira lhe dera um
gens paüidas — em torno d'ella o mundo in- lirio d'uma noite de luar! O poeta lyrico B re-
dustrial, fabril, positivo, prático, experimental, per- vela-nos que um desespero atroz lhe invade a
gunta, meio espantado, meio indignado: alma, porque Francisca está nos braços de outro I
O poeta lyrico C conta-nos uma noite que pas-
— Que quer esta tonta ? Que faz aqui ?
sou com Euphemia, n'um caramanchão, olhando
Emprega-se na vadiagem, levem-n'a á policia !
os astros e dizendo phrases. E no meio das
Ella, desattendida e desauetorisada, \ae
oecupações do nosso tempo, das questões que
todavia soltando, com grandes ares, por entre
em roda de nós de toda a parte se erguem como
o gaz e o pó do macadam, as declamações so-
temerosos pontos de interrogação, estes senhores
noras do lyrismo de Lamartine e do mysticis- vêem contar-nos as suas descrençasinhas ou as suas
mo de Chateaubriand. E gloria-se de ser nos exaltaçõesinhas! No emtanto operários vivem na
seus costumes e nas suas obras intransigente- miséria por essas trapeiras, e gente do campo
mente ideal. Mera questão de rhetorica: os poe- vive na miséria por essas aldeias I E o sr. Fulano
tas lyricos e os scismadores idealistas trataram e o sr. Sicrano empregam toda a sua acção
de se empregar nas secretarias, cultivam o bife intellectual em se gabarem que apanharam bo-
do Áurea, são d'um centro político, e usam ninas no prado para as ir pôr na cuia de Elvira I
flanela. Noites e noites movem-se os prelos a -/apor,
E m França ao menos a litteratura, quando calandra-se o papel, esfalfam-se os typographos,
a corrupção veiu, exprimiu a corrupção. No arrasam-se os revisores, emprega-se uma immensa
Paris da decadência, no Paris do barão Hauss- quantidade de vida e de trabalho, para que o
mann, e dos srs. Rouher e Fialin (vulgo de publico saiba que o poeta lyrico Polycarpo de
Persigny), os livros detestáveis foram a expres- tal ama uma virgem pallida com olheiras!
são genuína e sincera de uma sociedade que E ainda se a poesia lyrica se contentasse
se dissolvia. A litteratura de Boulevard ha de fi- com ser de uma inutilidade lôrpa. Mas ella é
car por esse motivo, e ha de ter o seu logar na d'um erotismo oifensivo 1 Ha lupanares mais cas-
historia do pensamento, assim como da deca- tos do que certos livros de versos que se cha-
dência latina ficaram Apuleu, Petronio e o mor- mam melancholicamente Harpejos ou Prelúdios.
dente Tertuliano, cujo estylo tem scintillaçõcs Poesia lyrica, poesia lyrica, esconde-te nos
ainda hoje tão vivas que parecem emanadas da
conselhos de ministros ou nas secretarias do Es-
podridão do moderno mundo poético.
tado! Não appareças ao mundo vivo. Sabes qual
Na corrente da litteratura portugueza ne- é o logar que tu n'elle mereces? Não é o Pan-
nhum movimento real se reflecte, nenhuma acção theon, é o Limoeiro.
original se espelha. Como nas águas immoveis A poesia individual tem um nobre alcance
e escuras da lagoa dos mortos apenas n'ella se quando o poeta se chama Bryon, Espronceda,
retratam sombras. Mas são sombras que não tcem Hugo, Lamartine, Musset. Porque então n'aquel-
as lividas roupagens usadas no Estygio: estão las almas todo o século com as suas duvidas,
de fraque e de chapéo alto — e é a única cousa as suas luetas, as suas incertezas as suas ten-
que lhes dá direito a julgarem-se vivas I dências, as suas contradicções, se retrata. São
I
toda
11// A7( I

randes alma- sonoras onde vibra em resumo


vida que .1- cerca. Estuda-se alli como
11 um summario existência de uma épocha. Mas,
nario • uma poética, com um barrete de algo
dào na cabeça... N'este caso como havemos
de acreditar na seriedade da sua arte?
com franqueia, que se ha d<- estudai na alma
() romance, e-se. é .1 apotheose do adul-
do -1 foào, ou na alma do sr. Francisco? \ im-
tério. Nada c-tuda. nada explica; não pinta ca-
mensa duvida que pesa -obre li.ii\.i ; Os tor-
racteres, não desenha temperamentos, não ana
mentos ideaes que agitam 1 rua deis Fanqueiros?
hs.i paixões. Não tem psychologia, nem acção.
E a maior desgraça .1 maior tolice i que. Julia pallid.i, casada com Antônio gordo, ;i(ir,i
por fantasia lyrica, alguns homens honestos ,is algemas conjugaes á cabeça do esposo, e
n.1 sua vida vêem de.inte do Publico declarar -se desmaia lyricamente nos braços de Arthur des
perversos na sua rim i ! grenhado e macilento. Para maior commoçáo do
leitor sensível e para desculpa da esposa infiel
I ornemos um exemplo, um dos mais pic^ is
Antônio trabalha, o que é uma vergonha bur-
c -r. X. 0 sr. \ | . ' um rapaz honesto, bom
gueza, e Arthur é vadio. o que é uma gloria
chefe de família, ganhando honradamente o seu romântica. E é sobre este drama de lupanar
pão. Merece i nossa estima. que as mulheres honestas estão derramando as
Vejamos a sua poesia. Ahi não se fala lagrimas da sua sensibilidade desde 1830! (1
senão em amores, prazeres, delírios, orgias, vir- auetor, ordinariamente tem o habito de Sant'
gens sacrificadas... Das seguintes cousas uma: lago. () editor tem a perda. () leitor tem o té-
dio. Santa distribuição do trabalho!
Ou o si. X. pinta ,1 verdade quando escre-
ve estes seus versos, e então é um devasso que De resto quando um sujeito consegue ter
dá um exemplo detestável 1 seus filhos, o des- issim escripto três romances, a consciência pu-
blica reconhece que elle tem servido a causa
considera sua e-pos,i . . . Como havemos de acre-
do progresso e dá-se-lhe a pasta da fazenda.
ditar em tal caso na seriedade do seu caracter?
1 iu ei sr. X. não diz a verdade, e todos EÇA DE QUEIROZ
aquelles -eu- extasis são rimados muito acon-
chegadamente i mesa do chá. entre um líccio-

Os modernos brinquedos
para crianças
Os brinquedos para crianças evoluíram também e
collocaram-se á altura da época. Ahi está por exemplo
o carro em que Pat e Micky Moore, pequenos artistas
do cinema, brincam nas hores de descanso. A outra
pholographia representa um automóvel em miniatura
pilotado por um pequerrucho da terra dos dollars.
MAGAZINE MENSAL ILLLSTRADO
A R T E ~ LETTRAS - MODA ~ CINEMA ~ S P O R T
D i r e c t o r - p r o p r i e t á r i o : SYLVIO FIGUEIREDO ^-.^ G e r e n t e : M. ESPÍNDOLA.

ANNO RIO DE JANEIRO, NOVEMBRO DE 1923 N.

Moralidades... Immoralidades...
AIS uma victoria do fe- sentativos da civüisação latina protestam contra
minismo ! E ' esse o os costumes dissolutos, isto é contra a osten-
nosso grito de satis- tação da belleza feminina, contra a elegância,
fação, a cada senho- a desenvoltura dos movimentos, a graça dos ade-
ra ou senhorita que manes. O contraste é evidente. E m Constanti-
ingressa n'uma secre- nopla escancaram-se os serralhos e os rostos se
taria de Estado pa- illuminam sem aquelle tchartcharf impertinente que
ra encanto da buro- lembra o véu espesso com que as carmelitas apa-
cracia e. dizem os en- gam as visões do mundo.
tendidos, também para Em Roma o suecessor de S. Pedro impõe
a boa ordem dos serviços públicos. ás suas fieis ovelhas blusas de golla alta e saias
Estarão as mulheres de accordo com o até ao tornozelo para gáudio dos costureiros
nosso enthusiasmo de concurrentes que se dei- e indignação dos esthetas . . .
xam vencer, alegres, por esse suavíssimo do- São os imperativos da moral superando a
mínio ? dictadura da moda. Da moral ? . . . Sim, da moral,
Contentar-se-ão ellas com uma conquista tão ou da moralidade, para aquelles que, repetin-
pequena que os velhos ronds de cair saúdam do os anathemas da Biblia, sagraram a mulher
com o mais límpido dos seus sorrisos de fau- o foco da immoralidade humana, o symbolo trá-
nos decrépitos ? . . Será para ellas, hoje, o func- gico da tentação e do p e c c a d o . . .
cionalismo do governo o equivalente do «teu Nas praias acontece o mesmo. Os olhares
amor e uma cabana» dos lindos tempos ro- pudicos repudiam a contemplação dos corpos de
mânticos ? I linhas esplendidas que se entregam á volúpia
T a l v e z . . . Mas o mais interessante é que, das ondas marinhas, a mais carinhosa e ingênua
ao passo que as mulheres penetram nas offi- de todas as volupias.
cinas que pareciam privativas dos homens, a so- E ' um escândalo !
ciedade lucta por compellil-as á sua antiga con- — E ' uma vergonha I
dição de coisa, objecto de luxo, jóia musulmana - As mulheres vão quasi nuas ao banho !
para a delicia dos sultões m o d e r n o s . . . Prefere- E o clamor avulta, pedindo medidas po-
se á mulher — mulher, a creatura que oscilla liciaes oppressivas que recondu/am a mulher ao
entre a ferocidade britannica de uma Pankurst recato de out'rora, aos dias em que os idyl-
e a bravura indiatica de uma professora Dal- lios eram monótonos sob o cuidado das ma-
tro... tronas h i r s u t a s . . . As praias alvissimas estão
Prova desse retrocesso tem oi-a, de um lado, condemnadas á tristeza. Em vez das correrias
no recente aviso do Vaticano em que o Papa alacres, do especlaculo pagão do banho das
se recusa a receber as senhoras que não esti- nymphas, i sombra de um cortejo de monjas
verem vestidas segundo um figurino ecclesiastico, afogadas nas dobras de mantos negros.
e de outro, na nossa ogerisa falsa ogerísa E d'ahi, - quem sabe ? - talvez os mo-
aliás - á indumentária das praias de banhos. ralistas tenham as suas razões serias para exigir
Emquanto na Turquia, a «enferma da Eu- que as mulheres oceultém ... sua belleza. Elles
ropa» como o Oceidente desdenhoso chrismou preferem adivinhar o que não vêm, e com isso
a pátria dos Osmanlis, um revolucionário da dão trabalho á imaginação... Cubram-se pois
fibra de Kemal Pae há arromba as portas dos as mulheres e vistam-se as estatuas...
harens e liberta da vigilância d o - eunuchos os
bandos de formosas odaliscas, os povos repre- Carlos M A U L
I 1// RH 1

JKZ A SEKEU
PPARECEU de improviso, certa manhã. lactites teceu o mais vaporoso traje, expc

A Sahiu da mansão submarina, onde as


princezinhas Borrascas olham com olhos
somnolentOS bruscamente illumin idos p. - -
a voracidade do vento e á descortezia do -oi
sempre tão prosaicos, um e outro, t,i" realista!
e pouco amigos de manter licções.
1 i- scentelhas do odiei. Sahiu fresca, r.idi.uu.'. Assim, festejada e em festa, :t sereia ,le-
moça; e, como devia permanecer por muito tem- conhecida, a filha dos mares de agora, muito
po iVira do mar. applicava ao ouvido um :aracol remotamente aparentada com as monstruosas s.
de nacar, caixa maravilhosa em que ficara pri- reias que attrahiram Ulysses e Argos, chegou
sioneira .. majestade do Oceano, como uma águia á praia, na hora deserta e envolvida nas roupa-
numa gaiola de
gens azues du
rouxinol. As ondas
amanhecer.
? as profundezas
("om passo bre-
marinhas engalana-
v e percorreu a dou-
r.iin adonzellacom
rada curva, ao pé
essa garridice com
dos alcantis cris-
que os grandes dis-
pados e trágicos.
farçam os seus or-
Subida a uma emi-
gulhos; e todas as
nência, olhou a
metaphoras que o
paizagem em todas
homem teceu para
as direcções, em-
vestir de belleza a
quanto a ventania
belleza feminina vol-
revoltava os seus
tearam em torno
cabellos e modela-
da moca fugida
va com avidez fre-
dos domínios de
nética as suas fôr-
Neptuno. As péro-
mas sob a docili-
las, rivaes eternas dade das vestes. A
dos dentes, cingi- moça parecia apai-
ram lhe o pescaço xonar-se por toda
e lhe pousaram so- a formosura, então
bre o seio. desejo- ainda áspera e ru-
sas de que a sua de, do campo e da
luz fria se combi- enseada. Ao Poen-
nasse com a quen- te, revolto e livi-
te brancura da pel- do, fugia um ban-
l e ; e as gottas d'a- do de n u v e n s . . .
gua. modeladas pe-
E quando ella
la inveja, augmen-
terminou as suas
taram as suas iri-
explorações, sobre
sações até supplan-
que punha a mi-
tar. cabelleira de
sericórdia e o es-
ouro acima, ás pé-
timulo do seu sor-
rolas deliciosas. O
riso, a paizagem
coral, elemento mui-
se transformou a
to usado peles poe-
pouco c pouco. A
tas para o fabrico
amarellada espuma
de lábios, entrou em campo e teceu as suas vol- das ondas, que subiam ponteagudas, com pesti-
tas e serpenteios, envolventemente, com graciosa lencias de naufrágio, abandonou a sua fúria e
felinidade: e por ultimo a espuma, a espuma adquiriu uma prateada mansidão; o céu ostentou,
branca e leve e subtil, eterna e ephemera, re- ainda tremulo de pudor, o seu esmalte de pri-
lâmpago e frivolidade, elegância e ponderação, mavera, tão escondido durante oito mezes de
preparou as suas legiões de bolhas e de esta- intempéries; o campo, que verdejava úmidamen-
— AMERICA —

te, desabrochou, rápido, numa pompa jubilosa; boios estridulava, substituindo, na solitude ar-
e as arvores se uniram sobre os caminhos, para cadica, o canto sonoro dos rouxinóes e dos mel-
fazerem os seus dóceis, e as flores atapetaram ros...
os valles, e a neve dos pincaros desceu á terra E. Ramires ANGEL
cantando, feita transparência e l i g e i r e z a . . . Tudo
se poz a rir na natureza, tudo se consagrou á
a l e g r i a . . . E surgiram os vernizes, os enfeites
que rejuvenescem as perspectivas e dão firmeza
definitiva ao esboçado e ao indeciso. Do seio da
AS CHAMINÉS MAIS ALTAS DO MUNDO
mãe-terra começou a fluir o aroma sensual das
MAIS alta chaminé do mundo é a
germinações e dos renascimentos. O homem co-
das fabricas americanas de Anacoada
meçou a sentir que os seus pés, ao contacto da-
e serve para o escapamento dos ga-
quella terra vernal, se deformavam um pouco
—— -^—i- zes que se desprendem com o trata-
e tomavam o aspecto da pata do satyro. A mu-
mento do cobre, gazes summamente prejudiciaes
lher desejava, cheia de languidez,
a todo ser vivo, incluídas as plan-
a sombra da arvore, a cuja som-
tas.
bra julgava enroscada outra ser-
A sua altura é de 178 met-
pente. Tudo na vida era expec-
tros e o seu diâmetro, na base,
tativa e na natureza tudo satis-
de 22,85. A espessura das pare-
fação. A fada do mar, noiva de
des é de dois metros, na base, e
Maio, havia mobilizado as turbu-
de 60 centímetros no ápice. Pode
lentas manifestações do bom tem-
evacuar cem mil metros cúbicos
po.
de gaz por minuto.
E dominados os vendavaes, ali- Vem em seguida a chaminé
sadas as relvas. bem limpos e das fabricas metallicas japonezas
aplainados os caminhos, reforça- de Saganosaki, com 167 metros
da a alliança entre o ínar e a al- de altura e 8,40 de diâmetro na
deia, acolhedora a praia e mais parte superior.
oxygenada do que nunca, come-
çou entre os homens a éra res-
plandecente do veraneio.
Pela ribanceira próxima avan- Sem pátria não pode haver
çavam durante o dia filas inter- sentimento collectivo da naciona-
mináveis de carros cheios de via- lidade— inconfundível com a men-
jantes ; pela estrada d eslisavam, tira patriótica explorada em to-
ásperos e sussurrantes, os pneuma- dos os paizes pelos mercadores
ticos dos automóveis; e todos con- e pelos militaristas. Só é possí-
duziam no seu interior alguns ca- vel na medida que marca o ryth-
valheiros que haviam resolvido mo unisono dos corações para
mudar de tédio, oxygenando-o um nobre aperfeiçoam?nto e nun-
junto do Oceano. ca para uma aggressividade ignó-
Ao termo de um anno o bil que fira o mesmo sentimen-
homem voltava ao campo, sob o pretexto fallaz to de outras nacionalidades.
de que assim o exigia a saúde. Exigente saúde
Não ha maneira mais baixa de amar a pró-
que não podia tolerar os rigores do estio sem
pria pátria do que odiar á pátria dos outros ho-
appellar para os remédios da pharmacopéa do
mens, como si todas não fossem igualmente dignas
baccarat, do foot-ball e do flirt no terrasso de
de gerar em seus filhos iguaes sentimentos. O pa-
asphalto...
triotismo deve ser emulação collectiva para que a
O mar passava a oecupar a categoria, aliás própria nação ascenda ás virtudes de que dão
honrosa, de pretexto, de alcoviteiro. Cumpria uma exemplos outras melhores •? nunca inveja collectiva
missão decorativa, uma missão de cumplicidade. que faça soffrer com a superioridade alheia e le-
Fazia-se mundano e perdia a sua majestade. Ves- ve a desejar o labaixamento dos outros até ao pró-

I
tia o smoking, como certos libertinos. Reservava prio nível. Cada pátria é um elemento da hu-
o seu desprezo e a sua má educação para o manidade; aiihelci da dignificação nacional deve
inverno, para a rede e para a n u v e m . . . ser um aspecto da nossa fé na dignificação hu-
Assim, quando a sereia cheia de pedrarias mana. Ascenda cada raça ao seu mais alto nivel
viu consumada a metamorphose da paizagem, rea- como pátria, e pelo esforço de todos se alevanta-
lizada em honra da sua belleza e do seu sor- rá o nivel da espécie, como humanidade.

I
riso, julgou-se um estorvo e afastou-se por en-
tre as grutas e os alcantis. O apito dos com- JOSÉ 1NGENIERÜS
,1.11/ RH \
A • A ::<x>
<>c<x>&>c<x^^^^ fto*«oo©oo«
AS PEQUENAS ESTRELLAS DO CINEMA
.....
<><XX>S<>G'C<>G<XXXX>C<XXXXX>CO,>' 4C-fX>^<>G=<><X><><><X><X>0><X><><>^'C'<><>

* " ' " " " i i| necessária a invenção e o desenvolvi- quenita seria a protagonista. A experiência foi
• l-T •• mento da cinematographia para que decisiva: Babby Peggy provou que podia ar-
I ; | nasce—e .1 categoria dos pequenos míl- rancar risos e lagrimas aos espectadores.
: : : : : : : : : : Honarios, feitos pelo seu próprio es- Uma importante companhia monopolizou lo-
forcei, e que não se devem confundir com os que go a pequena, fazendo-a assignar por pro-
na-, iin riquíssimos, «com uma colher de ouro a curação I um contracto de três annos que
bocea segundo a curiosa expressão ingleza. lhe a-segura o ordenado animal de 1.500,000
Rei eber uma migalha da humanidade, i ma dollars !
pequerrucha de três annos, ordenados animaes de
milhares de dollar-. ei- Jackíe Coogan é ou-
um facto que deverá pro- tro menino prodígio th
vocar gritos de inveja ou enormes salários: o epi-
de horror aos que não theto de thc iniUion d l
ha muito se indignavam lar kid (o gury milliona-
de que um pugilista g a - rio) que ha quatro annos
nhasse outro tanto pa- lhe deram os seus com-
ra -e exhibír sobre um patriotas (elle tem oito
estradei trocar -necos annos, agora) basta pa-
com um rival. W.**' ra nos informar sobre .1
E í sempre a eterna sua fortuna.
lei da offerta e da pro- Jackíe foi descoberto
cura. Si o publico re- e lançado pelo célebre
i Iam i c rianças ai tri- Charlie Chaplin, que
ze- no écran, é preciso com elle representou va-
dar-lh'as a todo transe. rias peças antes de en-
E si um desses minús- commendar os dramas e
culos artistas conqui-ta comédias de que o me-
os favores de publico, nino era o heróe. A fa-
torna-se logo uma mer- <k I ma do petiz tornou-se
cadoria rara cuja posse enorme, tão grande que
as companhias cinemato- os seus pais o arrebata-
graphícas se disputam. « y
ram a Carlito para fun-
V ^ dar com elle uma com-
Essa é a historia de panhia, The Jackíe Coo-
Babby Peggy, porque es- gan Productions Limited.
sa pequenita de quaren-
ta e três mezes tem já
uma historia que enche
columnas de numerosas publicações surgidas da ROSTAND ASTRÔNOMO
voga cada vez maior que essa arte tomou em
todos os paizes.

S
E D U Z I D O pelo mysterio dos mundos
O seu verdadeiro nome é Montgomery. Os longínquos, o autor de Cyrano, como
seus pais habitam Los - Angeles, a linda cidade Saint - Saéns, fizéra-se astrônomo e in-
da Califórnia que. graças á sua límpida atmos- terrogava os espaços estellares: Não era um sim-
phéra e aos seus arredores pittorescos e varia- ples astrônomo amador, mas um erudito conhece-
dos, se tornou o maior centro cinematographico dor do mundo planetário que entretinha cor-
do mundo. respondência com sábios e era por estes trata-
Os seus destinos foram decididos a vapor: do de «confrade».
em algumas horas. Ha poucos mezes fazia ella A Sociedade Astronômica da França con-
parte de um elenco infantil e desempenhou o tava-o entre os seus sócios. Rostand foi acceito
seu papel mudo com tanta naturalidade qu? o nesse instituto por unanimidade e teve como pa-
en-cenador a notou entre todas e pediu a um drinhos Bailland, director do Observatório de
autor que compuzesse uma peça de que a pe- Paris e Camille Flammarion.
AMERICA —

• • • • • • • • • • < • • • • • • • • • • • • • • •
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! "• i | AS E8TRELLAS DO PALCO j


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I

A graciosa actriz Belmira de Almeida, da Com-

I
panhia do Trianon, que a platéa carioca já se
habituou a applaudir, numa calorosa homenagem
ao seu talento.

!
- AMERICA

^ j j ? Da Flandres de cathedraes e nevoas ^


LANDRES, que nos deu na Renascença to-
F

da uma primavera de gênios, entre a
sangueira daquelles évos épicos, não per-
deu com o correr dos séculos o prestigio
Surge agora nos periódicos belgas .• pari-
sienses, o annuncio tle um novo gênio flamen-
espiritual que esclarece os seus filhos. Temos visto go, a quem a critica não poupa OS adjectivos
que, dividida pelos acontecimentos políticos, des- pancgyricos. Herman Teirlinck, que somente es-
dobrada cm duas nações, apresenta, de vez em creve no idioma flamengo, requintando nesse
vez, o lampejo da arte que, do época em época, chauvinismo com que Mistral revocou o pas-
se vem reflectindo nas obras alli apparecidas! sado de seu torrão provençal, recorda muito o
brotando em cores nas telas, harmonizando-se cm symbolista genial de «L'oiseau bkut>, sugges-
contornos nos mármores, ou prefulgindo nas pa- tionado pelo brilhante mysticismo que, ás ve-
ginas de seus poetas e escriptores. A Bélgica, zes, transiu/, das obras daquelle escriptor.
por exemplo, tem sido um paiz fecundo desses re-
lâmpagos. Como o autor de «Pelleas et Melisande»,
Teirlinck nasceu em (iand. As peças que o
No ultimo quartel do século passado, ardia
Theatro Flamengo, de Bruxellas, acaba de re-
em Bruxellas, e mais tarde em Paris, o enthu-
presentar, causando «fanatismo» na platéa il-
siasmo pelo apparecimento de um pensador pro-
lustre, são «Der Vertroodge Film» e «Ik dien».
fundo, Maeterlinck. Ao lado desse soturno aedo
Esta ultima, cuja traducção é «Eu sirvo», é
das brumas, que foi Rodenbach, Maurice Mae-
o desenvolvimento da lenda de «Irmã Beatriz»,
terlinck apresentava uma sensibilidade e uma
de que o dramaturgo de «Monna Vanna> tratou
espiritualidade estranhas. Si aquelle se havia
também. Contam os «in fólios» empoeirados dos
perdido na torturante contemplação dos canaes
tempos antigos, que a pobre freira Beatriz trans-
de Bruges, este se abysmara no insulamento em
fugitt do isolamento conventual, arrastda pela pai-
si próprio. Maeterlinck, tal é a profundeza se-
xão para o vortilhão do mundo. Desceu, tle queda
reníssima de seu pensamento, parece ter alcançado
em queda, os escalões do vicio. Prostituiu-se, e
ao mais esconso páramo da emotividade univer-
até o infanticidio perpetrou.
sal, ahi descendo através de si próprio, como
se transformasse a alma num poço em cujo Mas, durante todo esse tempo em que a
fundo fervesse o cosmos. Em todas as suas pa-
transviada soffria longe do convento, a imagem
ginas maravilhosas, filtra-se essa suggestão. Tem
da Virgem que, todas as manhãs, Beatriz or-
deslumbramentos, mas estáticos; arroubamentos
nava em flores, animou-se, tomou-lhe as feições,
paralysados em êxtase, e tudo é tão crystallino
e desempenhou no convento obscuros misteres,
aos seus olhos que, em cada homem, em vez de
afim de que, até a sua volta, a falta da reli-
ver uma fera acuada, dis-
giosa não fosse percebida.
cerne um deus ignorado.
No tracejar das sce-
Esta é a serenidade que fez nas, no exaltamento ar-
Octave Mirbeau escrever a- doroso das phrases, Teir-
quelle celebre elogio, inf lam- link revela um talento pro-
mado de assombro, dizendo digioso, que differe do de
que .Maeterlinck deixava á Maeterlinck pelo calore pe-
penumbra o próprio Sha- lo pathetico que enche os
kespeare, porque Maeter- diálogos. Não tem o novo
linck attingiu o horror sem dramaturgo belga o poder
o rasgar dos relâmpagos da subjectivo do seu conterrâ-
tragédia rubra. Les aveu- neo, cujas peças parecem ter
gles> fazem os cabellos se sido escriptas com as tintas
erriçarem, sem ter, no en- do silencio e da contem-
tretanto o tempestear dos plação.
anathemas. A fatalidade não Emfim, as pennas que de-
apresenta, em Maeterlinck, têm a critica na Bélgica e
uma catadura de medusa; na França, traçam encomios
talvez pareça mais uma es- transbordantes a esse novo
phinge entre nevoas. dramaturgo. Escriptores, em
- AMERICA —

ASPECTOS CARIOCAS
Uma vista da Guanabara, num lindo domingo de sol em que se realizaram as regat«s á vela do "Àudax - Club

• • • • • » • » manonomaminon

que fuzile o gênio, fallecem actualmente no ças á viva claridade espalhada pelo crescente lu-
mundo da dramaturgia. Possa, em Teirlinck, nar. Os cidadãos de Bysancio, reconhecidos, pu-
ter a Bélgica um gênio que, como Maeter- zeram essa insígnia na sua bandeira.
linck, seja uma constellação entre as torres Quando vieram os romanos, estes adopta-
gothicas das cathedraes e as brumas da velha ram para a nova cidade de Constantinopla o es-
Flandres... tandarte ornado do crescente. Emfim, quando
Mahomet II tomou a grande capital em 1453,
Moarvr de ALMEIDA. ajuntou o emblema já celebre á sua própria ban-
deira que até então era toda vermelha. E elle
costumava explicar aos seus soldados que a nova
bandeira representava Constantinopla sobre um
campo ensangüentado.
O CRESCENTE
Pensamento chinez.
ISCUTE-SE agora sobre si, depois de
m Mede a altura da agita antes de entrares

D ; haverem mudado a sua capital para An-


: gora, têm os turcos o direito ao cres-
cente da sua bandeira. Segundo certas
no váu.
—«o»—•

Na arte só têm importância os que criam


autoridades, o crescente só pertence ao sul-
almas, e não os que reproduzem costumes. —•
tão na qualidade de senhor de Constantinopla.
EÇA DE QUEIROZ.
O crescente foi o emblema dessa cidatle muito
antes da conquista ottomana. Quando Alexandre
o Grande sitiava a antiga Bysancio, diz uma Os que gostam de dar conselhos devem
legenda, um ataque nocturno foi repellido gra- também rccebel-os de bôa vontade. CAT \ 0
- AMERICA —

r
i
O CAMPEONATO DE FOOT-BALL
=
7" -W W ^

O c o m b i n a d o paulista., c a m p e ã o d e 1923

CD CD CD CD CD CD CZD^ CD CD CD CD CD CD CD CD
S'-v*'---^*vv*s*'****^-*-**s*-^&vv*r^^

BOM HUMOR Affirmo-te que fiquei apaixonado por ci-


la na primeira vez em qus a vi.
A* p r o c u r a d e e m p r e g o — E vaes casar-te ?
— Não, porque depois falei com ella va-
Escreve á machina ? rias vezes.
— Sim. senhor.
— Sabe inglez ?
— Sim. senhor. — Depois do dilúvio, que aconteceu ?
— Fuma ? Bebe ? — Ora ! Deve ter ficado tudo enlameado
- Não. senhor. Mas. si fôr necessário, apren-
derei . . .
A arte é inútil como o esplendor coradc
das pétalas sobre a fecundidade do ovario.
- Que fazes. Mariazinha ?
Escrevo uma carta á Julinha. RAUL POMPEIA
— Mas tu não sabes escrever !
Não faz mal. Ella também não sabe ler! O melhor meio de fazer de alguém um
incompetente é obrigal-o a tratar de tudo.

— Tratas muito mal ao Arthur, sem te FAGUET


lembrares de que elle é um optimo partido !
Talvez seja. Mas ha duas coisas que O mundo moderno succumbe sob uma in
me impedem de gostar delle. vasão de fealdade.
— Quaes são ?
A sua cara e . . . a de um outro r a p a z ! Pierre LOUYS
— AMERICA —

A PINTURA CONTEMPORÂNEA

<r>-
"Christo apparecendo a Cleopas cm E m m a u s " ,
-o
quadro do mestre francez Jean Louis Forain.

o- -<&
- AMLRICA M
= = = = =
IU —'— 3E0
m
m ———
EPIGIWMMISMO sm
tt
\() gastes a tua intelligencia em fazer renos cimos do pensamento, para banhar a alma

N /ombarias, satyras, epigrammas,


mesmo por passatempo.
nem

Não ridicularizes aos homens, nem


nos espaços do ideal, para attingir i Belleza, í
mister despojar sr desse espirito de critica pun-
gente.
rias dos seus actos, por obsurdos que sejam. O homem superior toma a vida a serio.
Não te rias das coisas da vida. Sorri ás vezes docemente, quasi sempre melan-
Os humoristas, principalmen- colicamente. A's vezes a sua pen-
te os mordazes, fazem soffrer e na derrama subtilissimas ironias,
portanto são desgraçados. nunca veneno.

( is espíritos burlescos só têm Criticar é mostrar sympathia.


engenho. Falta-lhes talento, que Sem sympathia não pode haver
é ,i aptidão construetora por ex- comprehensão.
ccllencia. Só sabem criticar em A critica dos defeitos está
fôrma negativa, dissolvcnte. ao alcance de todos, até dos igno-
rantes. A outra, a philosophia,
E ' um sophisma crer que a
não. E ' patrimônio dos espíritos
critica pungente, por subtil e per-
de cscól.
fumada que seja, corrige e contri-
bue para o progresso. Só a sug- O epigrammismo é vicio que
gestão educadora, na escola e no fomenta ódios e acaba por dila-
lar, modifica e melhora, corrige cerar a quem o exerce. Seja a
e enaltece. tua missão dilatar e melhorar
a vida, não comprimil-a nem cn-
E ' ao contrario verdade trans-
curtal-a.
parente que a critica de tal na-
tureza tem apagado flammas de
Juan Ramon U R I A R T E
inspiração genial e quebrado von-
tades que forjariam novos des-
tinos humanos; envenenando co-
rações e arrastando ao vicio in-
telligcncias creadoras.
2ZSS
Para ascender aos altos e se-

m CURIOSIDADES O capitão Cook deu alguns pregos aos in-


dígenas de Tahiti e estes os semearam com a
esperança de obter outros.
c. -CDCD-

E m alguns districtos do Indostão não é


O fumar acha-se em toda a America li-
permittido á sogra falar com a mulher do seu gado a cerimonias religiosas, do mesmo mo-
filho, expediente que. segundo Dubois, é cxcel- do que o incenso no mundo antigo.
lente para conservar a paz domestica.

Os selvagens attribuem vida aos objectos


inanimados. Por esta razão preferem um anzol
A escripta pareceu sempre aos selvagens que pegou um grande peixe a um punhado
coisa mágica. E julgam, ao ver o leitor inter- desses instrumentos ainda não usados. E também
pretando os caracteres, que o livro é um espirito não collocam nunca duas redes juntas, com re-
que murmura as respostas a quem o interroga. ceio de que se zanguem uma com a outra.
— AMERICA —

HISTORIAS W
3 ( F r a g m e n t o ) £7

D E S P E R T A R da sua ardente fanta- que, para casar, ser feliz e ter muitos filhos,

O sia fez-se sob a rutilancia das nar-


rações fabulosas da Marianna, a sua
ama preta. Embalára-se, como a um
fosse necessário e fatal soffrer com desprendi-
mento tantos perigos e tantas vezes enfrentar
a morte . . .
arrolo, ao raconto mirifico de acções desenro- Mas o que o fazia delirar, fugindo á rea-
ladas num mundo de sonho; a lenda guiara os lidade e immergindo plenamente numa atmos-
seus primeiros passos na vida do pensamento. phera de sonho onde encontrava inteira satis-
As aventuras extraordinárias que, na bocea exal- facção a sua esbatida e incipiente esthesia, eram
tada daquella herdeira do sonho incoercivel de as descripções fascinadoras de palácios relam-
africanos captivos, tinham um calor e um colo- pejantes ao sol, em que tudo é incrustado de
rido tão vivos; que palpitavam e viviam ao pres- raras pedrarias, em que ha cupolas e thronos
tigio evocador daquella vóz cantante, ora lenta, forrados de brilhantes, columnas e pórticos de
arrastando-se mollemente, com pausas insoífriveis, ouro massiço, deslumbrantes creações pueris da
pela seqüência dos detalhes, ora esperta, pre- ardente imaginação oriental, da fantasia demente
cipitada e célere como os episódios fulmineos de homens que só conheciam o d e s e r t o . . . Aqui
e inquietantes que narrava, deixavam-n'o entre o monstruoso e terrifico é systematicamente ba-
vibrante e incrédulo, mais amante da belleza e nido e cede logar ao esplendente e ao sump-
d a vida intensa das scenas do que enthusiasta tuoso, á vida ideal para que desprega as azas,
do valor dos factos que sabia illusorios: eram no rapto delirante, uma raça infausta e venci-
as surprehendentes metamorphoses de seres hu- da que esmagam a aridez inelutavel do solo
manos em animaes, os malefícios de bruxas, o e a perpetua monotonia dos h o r i z o n t e s . . .
súbito rebentar de chammas do seio da terra, Seguia com curiosidade ávida todos os de-
que barravam o passo ao paladino, as fugas talhes sobre as construcções obcecantes, esfor-
temerárias, as perseguições encarniçadas, os com- çando-se por fazer uma idéa bem nitida do que
bates singulares e, dominando o interesse de seria um palácio de ouro com zimborios e mi-
todos os transes, motivo central, nervo de toda naretes cobertos de gemmas. E identificava-se
a historia, a bravura índomita de um enamo.-ado completamente com os visionários daquellas ci-
que, sorrindo aos mil perigos, salvava a donzella dades excellentes, fundia-se com elles pela com-
que amava e com quem acabava casando, sob munidade de ideal. Seria porque os povos que
a advertência da narradora de que «foram muito o sonharam eram talvez crianças também ou
felizes e tiveram muitos filhos»... E tudo num porque a criança, pelo restricto campo de ex-
scenario de florestas apavorantes, periência e pelo pobre cabedal
povoadas de animaes fantásticos, de conhecimentos, era também o
ou de castellos inaccessiveis cuja beduino do deserto m e n t a l . . .
entrada guardavam dragões que
Mais tarde, liberto do hy-
despediam labaredas pelas nari-
nas, toda uma fantasia medieval pnotismo daquellas narrações e
de possessos, de guerreiros e de possuidor já de mais apreciável
mysticos que criam sinceramente sciencia do meio physico em que
n o demônio, escravos de um me- Vivia, lembrava-se, com um sorri-
do incurável e i m b e c i l . . . so, daquella magnificência conven-
cional e gostava de comparal-a
Essas narrativas deixavam-n'o ao esplendor dos «seus» dias de
pensativo, sobretudo o eterno ar- sol: e sentia que ficava imme-
gumento em que figurava um diata e extranhamente diminuída,
cavalheiro que se bate pela sua apresentando o brilho falso de
dama e recebe no casamento o uma apotheose que vira no thea-
prêmio excelso á sua intrepidez. tro. E ' que aquclles palácios des-
Achava extranho esse facto de lumbrantes, aquella vida sumptuo-
*
UM PAPA LÉGUAS

MARÍTIMO

Um borco-molor com ca-


pacidade para o pessoas
e capaz de fazer 40 n
lhas por hora. Como
vê na gravura, metade do
barco está lóra degue,..

Morrer um homem ignorante, quando ti- Trivial, etymologicamente, quer dizer: aquillo
nha a faculdade de conhecer, eis a que eu cha- que se encontra ao atravessar a rua.
mo uma coisa trágica e que deve acontecer
***
mais de vinte vezes por minuto, como de facto
acontece. Porque não se communicar a todos, As leis primitivas faziam parte dos cultos
diligentemente, a miserável fracção de sciencia e eram cantadas. Por isso sempre se escreveram
que o gênero humano adquiriu em um vasto em verso, como, por exemplo, os versículos do
universo de ignorância ? livro de Moysés e os çlocas do de Manú. Entre
CARLYLE os romanos chamavam-se carmina (versos) e en-

*•• tre os gregos, cantos.

Póde-se distinguir quaes são os sensatos e


quaes os loucos, nesta vida em que a razão ás
A temperatura do Mediterrâneo é de
vezes devia chamar-se tolice e gênio a loucura ?
graus mais elevada que a do Atlântico; a evs

MAUPASSANT voração é, pois, mais activa no mar interior


e as suas águas são por conseguinte mais sal-
*»»
gadas do que as do oceano; são águas azues
A palavra Golgotha significa : lugar do que, quando chegam a attingir grande profun-
craneo. didade, se t o m a m verdes.

sa, eram o ideal da inopia de uma raça acor- tendo sempre diante de si o espectaculo gran-
rentada á monotonia do deserto hostil e só podia dioso de florestas fartas onde corre a gamma
despertar um interesse medíocre ou uma curio- toda do verde, de águas cantantes de rios e
sidade frivola no homem que vive em meio á cachoeiras, de uma fauna e uma flora mara-
opulencia de uma natureza que exgottou no in- vilhosas, não aspirará o oásis, não sonhará Cha-
cola a capacidade de sonho. O brasileiro, leva- naan...
do á vertigem por um delírio de luz e de
cores, existindo junto a um oceano soberbo e S. F.
— AMERICA —

ESTRELLAS DO CINEMA

O
Claire Windsor, a linda artista ame-
ricana, metamorphoseada em Mme.
Du Barry, a favorita de Luiz XV.
O O
- AMERICA —

* » SAiMIÜ * f?
BusU s múltiplas legendas imaginadas pelos an- rapariga e alguns fragmentos. M.is ahi não se
j \ \ tigos gregos cm honra de Sapho, c ;am- encontra a graça e a doçura do rythmo :iem a
! bem as aventuras de quê ornaram a Sua musica da linguagem que maravilharam os gre-
historia, fizeram dessa mulher famosa gos.
No emtanto, só pelo facto de ter Sapho
unia personagem mythica. Ella viveu, ao que inspirado os poetas que a cantaram, os grava-
parece, entre 630 e 570 antes de Christo e oouca dores que reproduziram os seus traços em me-
dalhas e os esculptores que animaram o már-
coisa ha de certo sobre a sua existência real.
more com a sua figura, deve a arte humana
Não obstante, sabe-se que ella morou em á poetiza grega uma enorme gratidão.
Fesbos e que foi
obrigada a fugir FRAGMENTOS OE
para a Sicilia. Ma-
PHILOSDPHIA
is tarde voltou a
Mitylene, onde cos- A grande guer-
tumava fazer reu- ra demonstrou dois
niões de moças, a factos inteiramente
quem cantava, ao novos. () primeiro
som da lyra. ver- é que, com o cus-
sos da sua lavra to actual das bata-
e a quem ensina- lhas, o vencedor fi-
va a poesia. Sabe- ca tão arruinado
se também que ella como o vencido.
casou com Cerco- O segundo, que as
las de Andros, teve indemnizações de-
uma filha, Cleio, vidas pelo vencido
e morreu em idade são indirectamente
avançada, o que pagas pelos povos
desmente a fábula, que não tomaram
repetida por Ovi- parte alguma no
dio. do seu suicí- conflicto.
dio por ciúmes. **»
Muitas outras fic-
A civilização da
ções de que ella
intelligencia não es-
foi objecto só
tá em relação com
têm valor histórico
a do sentimento,
por haverem orna-
Alguns annos de
do as narrações A. i n f â n c i a n a P i n t u r a educação clássica
dos velhos aédos La loíletts d e Ia p o u p é e , q u a d r o d e A. F a u g e r o n .
bastam para fazer
gregos. de um negro um doutor, mas são necessários
Aliás, não se comprehende. examinadas á séculos para se fazer delle um homem civili-
parte as legendas, o enthusiasmo dos hellenos zado. A guerra mostrou como eram numerosos
por Sapho. por elles considerada o maior poeta nos grandes paizes os homens dotados de uma
lyrico. superior mesmo a Pindaro. E' verdade alta cultura mas que não tinham sahido ainda
que de todas as suas obras só chegaram até da barbaria ancestral.
nós um hymno a Aphrodite, uma ode a uma Gustave LE BON
^Mm <&oefa muito nosso
z
^ ^ < ^ ^ -

E S. Paulo, daquella admirável S. Pau- nicas nos seus respectivos logarss, á maneira das
lo de Klaxistas e que a par da poesia columnas resistentes a qualquer humidade do en-
machiavelica dos Andradas nos tem da- genheiro ferro-viario dr. Luiz Carlos.
do, felizmente, o lyrismo encantador O que o caipira quer é dizer o que sente,
de Cleómenes Campos, o poeta encantador de o que lhe vae dentro d'alma, seja lá como fôr.
«Coração Encantado» e o estro riquíssimo, opu- E ' a esse salva-vidas poético — a ingênua liber-
lento de Paulo Gonçalves, chegou-me, ha dias, dade de não fallar correcto — que se agarram
um novo livro de versos absolutamente caipiras: com unhas e dentes os senhores poetas cai-
— «As Moreninhas», de Cesidio Ambrogi. piras, salva-vidas esse que dispensa os trabalhos
Devo confessar, primeiramente, que tenho estafantes do verso limado e da imagem buri-
em bôa conta a classe, que já se vae tornando lada.
numerosa, dos chamados poetas caipiras, o nosso E esse commodismo poético não deixa de
Catullo inclusive, mau grado algumas daquellas ser, afinal, uma demonstração clara, evidente,
suas imagens de um lyrismo muito Academia de acceitavel sinceridade.
de Lettras, mettido a martello na cachóla dos Pelo menos não ha nesse gênero nacionà-
indefesos carreiros do Cariry e dos vaqueiros lisado como caipira, a intenção de pulverizar

>do Pajahú. Para mim é o poeta caipira o mais


sincero de todos os caipiras da nossa chamada
poesia indígena, salvaguardados, é certo, os di-
o leitor com imagens gregas passeiando,
túnica e sapatos a Luiz XV, ás margens do
Amazonas, por entre casas de sapê e templos
de

reitos adquiridos pelos versos heróicos do sr. pagãos...


Hermes Fontes, a elegância poética do cantor * **
dos «Castellos na Areia» e a melancholia inof- E, talvez por isso tudo, encontrei no sr.
fensiva e bella de Murillo Araújo. Cesidio Ambrogi, como ha tempos no sr. Cor-
Porque nelles, nos poetas do sertão, não ha nelio Pires, um dos mais recommendaveis poe-
afivellada á alma essa mascara que rouba aos tas caipiras.
aédos do Flamengo e das mattas super-civilisa- Buscando os seus assumptos por entre o
das do Largo do Machado a própria indivi- sapê que cerca discretamente „ intimidade do
dualidade: uma pretensa sensibilida- lar caipira; compondo os seus qua-
de retocada exaggeradamente a tra-
drinhos em motivos da vida do nos-
ços largos do «baton» pernóstico da
so interior, o poeta de «As Moreni-
litteratura.
nhas» tem, pois, de ante-mão o seu
O nosso caipira é intencional-
«habcas-corpus» garantido, como to-
mente um poeta, um coração profun-
dos os vates de choças, restingas e
damente emotivo, um espirito ma-
juritys, pelas rimas de «muié» com
nifestadamente bom, mesmo acocora-
do sobre os calcanhares como o quiz, café ou ramo com «estamo» (estô-
nos «Urupés», a visão litteraria do mago).
sr. Monteiro Lobato, sentimentos es- E dentro dos princípios defen-
ses que o caboclo faz esplodir os- didos por esse «habeas-corpus», de
tensivamente, ao som de uma viola, que o caipira diz «estamo» em vez
com musica de ouvido ou de Eduar- de estômago, acceito e sou o pri-
do Souto, ou em melosos versinhos, meiro a justificar o ultimo tercetto
quasi sempre «quadrínhas» sem aquil- do soneto «Na caçada», que se en-
lo a que os bigodes outr'ora par-
contra á pag, 50 do volume:
nasianos do sr. Alberto de Oliveira
chamam emphaticamente de «techni-
ca do verso». Mas nisso, oh susto tivera I
O bicho salta na espera
Pouco importará, sem duvida,
ao caboclo poeta, a contagem de E os pés lhe mette no «estamo».
syllabas e a collocação, não de pro- Não ha duvida, porém, sobre
nomes, coisa que continua a ser, na a authenticidade do episódio, como
vida publica da lingua portugueza, é nosso também e muito nosso esse
o mais delicioso dos problemas, um quadrinho delicioso de um bucolis-
caso muito sério, mas a das tô- mo encantador :
— AMERICA -

l'riin.i\ ci.i Sol Rumores. A angustia o axrependimen


Cruzam se .1/.1-. rhilr.un ninhos. pelos nossos actos não são muitas vezes mau
E anda 11111.1 orgia de cores do que o receio das suas consequem ias scnn-
E Sons, ao léo, IIOS caminhos. PENHA! IU

No lerreiro nhã Dolores OS ANIMAES E O SPORT


I ).í quiréra 1 uns pintainhos;
junto ao paio», grunhidores, O homem é. por principio, o rei da 1 rea
Fossam alguns bacorinhos. cão. No emtanto, sob 0 ponto de vista de «per-
formances» atbleticas, elle está collocado muito
Rebrmha o sol, triumphal... abaixo dos seus irmãos inferiores.
Nhô Zéca Antonho a cavallo Não ha corredor capaz de cobrir em 10
Se abysma num cafezal. P E S C A D O R E S segundos uma distancia de 100
metros, o que representa uma
distancia horária de 36 kilome-
Geme, perto, uma caneella.
tros. Ora, um galgo, em per-
Ao longe clarina um gallo
curso reduzido, consegue facil-
E uma araponga m a r t e l l a . . .
mente a velocidade de 72 ki-
lometros.
Vejamos agora o sr. Cesidio Quanto á corrida de resis-
Ambrogi mettido na pelle de
tência, os detentores do record
poeta civilisado, a descrever,
s ã o ' o lobo, que pode fazer nu-
com ares de philos opho anti-
quado, um velho monjolo de ma noite 150 kilometros, e o
uma fazenda próxima: camello, que mantém facilmente
a andadura de 25 kilometros á
hora durante um dia.
«Velho monjolo, á magua con-
[demnado! Quanto ao salto de altura,
Quem sabe si por um estranho nós nada somos em face do
[fado cabrito montez e do antílope,
Não tens nervos também e nã>j que transpõem habitualmente
[tens alma ? obstáculos de 4 metros de al-
tura, e do jaguar, que alcança
de um salto um galho colloca-
Prefiro, pois. a essas explo-
do a 5 metros do solo.
sães pyrotcchnicas de imagens
avoengas, a sinceridade de ex O consolo é que, em outros
pressão dos versos caipiras: domínios, o homem é o mo-
narcha absoluto; e tanto que,
Um foguete no ar espóca quando Sadi Lecointe se eleva
«Tão chegam») — - diz Nhô João. a 10.500 metros, não encon-
E estúa to.la a sitióca — Os meus pais têm medo que eu caia á água . . tra nessas alturas um só espe-
N'uma enorme confusão. — Pois os meus não se incommodam; eu não cimen do reino animal. E quan-
denljo cftapéu nopo . . . to ao record de duração, não
Na frente a noiva, a Silóca tardaremos em superar o albatroz, a única ave
Vem cavalgando o Alazão, marinha capaz de fazer a travessia dos oceanos.
Üm cavallinho macóta
Que nem tem geito de «bão». O titulo mais curto é o de um diário de
New - York dedicado ás mathematicas e que se
E ao chegar, sem mais recatos, chamava simplesmente X.
Dos pés arranca os sapatos O mais comprido é o de um periódico
E ao ver-se livre de peias. de Varsovia, que se c h a m a : «Spravvosdania z —
— Safa! — exclama em meio ao povo, pismiennietwa —• naukowego — polskiego — w
Si eu me casasse de novo, — dzi — edzinie — nauk — matem — atycznych
Me casava só de meias !» — i — przyrodni — czych».

Continue, portanto, o sr. Cesidio Ambrogi de o poeta: essa exigente senhora quando pre-
a ver e observar as choças dos nossos pacatos tende homenagear alguém não se recusa nunca
caboclos, deixando de parte a malfadada poe- a tomar uma passagem, acredite o sr. Cesidio,
sia symbolista dos sertões do nosso Parnaso. no próprio trem da M o g y a n a . . .
E quanto á Posteridade, não se incommo- T e r r a de SEN NA
AMERICA

T I H I E I D A . I B ^ I R A .

-O
A fama, de que sempre foi favorita a formosa Theda bara, parece havel-a esquecido um pouco . . . E no emtanto
Theda foi uma artista que escravizou plaléas . . Os seus olhos líquidos, profundos, expressivos, ainda hoje man-
têm nos olhos que os viram o prestigio que emana de Iodas as coisas magnéticas.
O-
-«o
<>í*í S P O R T S N.V A.IÍOEIVTIIVA
l n>.> viste» g e r a l d o i m p o r t a n t e e d i l i c i o d o Club d e R e g a t a s d e R o s á r i o , t o m a d a
numa taide calma de verão.
S> <G> O O <£ O O O v v O <? O ">íJ> v <C= <p O «!? <> O
— AMERICA

O <!> <0

I
i> o o o <? O O O O O
-5» O
í> o O o o
O O O CABELLOS CORTADOS O O O O O
0> o o =0 o
0 O o o O O O O O O O O O o o O O O O o <> o .:. c;

UMA interessante enquêie, flexos se podem modificar á vontade e que dei-


em «Les Annales», Yvonne xa ver uma nuca com cachos caprichosamente en-
Sarcey dá conta da opi- rolados e macios, uma cabelleira emfim que á
nião de vários representan- noite se desenrola amorosamente em madeixas
Í 0^\N^\ WlV^C^L teS
^° S e X 0 ^ e l ° S O D r e a
odorantes, com reflexos louros, ritivos, negros
ou castanhos...
moda dos cabellos corta- Haverá coisa mais maravilhosa? Como não
i -"*Wf% I cios, em plena voga entre
Í V^T °^^OM as
Ündas criaturas do se-
comprehendem as mulheres que até ás feias
dará belleza e attractivos magnéticos uma ca-
xo lindo. belleira sumptuosa e bem arranjada, como as
Aqui vão alguns desses que se vêm ainda na Hespanha e na Itália? Será
veredicto, que elevem de possível que ellas não se saibam olhar diante
certo interessar (interessar de um espelho? O homem é já feiissimo com
somente, porque a mulher costuma considerar de os seus cabellos cortados; que dizer então da
pouco peso a opinião dos indivíduos do sexo
mulher cujo pescoço ras
contrario), que deve in-
pado e áspero de'xa ver
teressar, dizíamos as
uma côr azulada sob ps
louras ou morenas del-
cabellos estupidamente
dades que sacrificaram
curtos que parecem uma
no altar da Moda as
perruca mal collocada?
suas formosas ma^eixas
E' horrendo e ás vezes
de ouro ou de ébano.
repugnante! E como is-
Jacques Qaudet escre-
so se harmoniza mal
ve. «Apezar de não ser
com as toilettes femi-
mais um homem casa-
ninas !
douro, responde e; sem
hesitação que dificilmen- O homem teve ou-
te me casaria com uma tr'ora razões imperiosas
mulher de cabellos cor- para tosar a cabelleira
tados. Digo diffitilmen- e o uso fez o resto —
te, em logar de pôr a mas nós somos e conti-
negativa absoluta, por- nuaremos a ser o «sexo
que algumas mulheres feio>..
ficam apezar de tudo Sou um feminista en-
bellas com esse penteado carniçado. E desejaria
e porque, a sua finura, que a mulher tivesse to-
a sua intelligencia e o dos os direitos do ho-
seu espirito não sof- mem, absolutamente to-
frem com isso a menor dos e que vivesse, co-
diminuição ; e admitto mo elle. Mas porque ra-
mesmo que se possa fi- zão têm as mulheres
car loucamente apaixo- desde algum tempo a
nado por uma mulher mania absurda de tomar
de cabellos curtos, pois ao homem justamente o
que sempre fica a espe- que elle possue de mais
rança de que ella os dei- desagradável ou ridícu-
xe crescer de novo. lo? Nada mais justo que
Isso não quer dizer íf/V/ó a mulher cobice as li-
que eu ache esse pen- berdades do homem ;
teado absolutamente feio; mas é horrível que el-
mas não creio que haja nada mais admirável, a pretenda 03 nossos trajos, os nossos cabel-
mais captivante numa mulher (á excepção dos os cortados e talvez a nossa calvicie, e as nos-
olhos) do que uma bella cabelleira, qtu lhe dá sas manias de fumar e de jogar !
uma physionomia própria e bem feminil, uma Si não houver uma reacção salutar, creio
cabelleira longa e basta, arranjada de mil ma- que dentro de algumas décadas só haverá um
neiras durante o dia, uma cabelleira cujos re- sexo, o feio, o que será uma coisa bem triste!»
I

AS CAPITÃES NORTISTAS

Vista geral de Aracaju, capital do pequeno mas prospero Estado, tomada de um avião. Vêm-se
junto á praia, dois hydroplanos em evoluções.

wjwwmwww

Jacques Favier opina: Cabellos cortados,


olhos alongados pelo bistre, carmin nas faces e "Elias" por "Elles"
rougc nos lábios: não! este quadro da moça .: S mulheres são tolas; uma vez que o
de agora não é feito para seduzir os futuros ma-
/ \ amor lhes entra no cérebro, nada mais
ridos que nós somos !»
Paul Ainaud chega a ser rude: «Nunca po- •. comprehendem. Não ha sensatez que
derei comprehender que moças honestas tenham resista: o amor acima de tudo, tudo
prazer em se parecer com as outras. Ha em Mar- pelo amor !
selha uma categoria de jovens ou velhas cria-
MAt 'PASSANT
turas de cabellos cortados a que chamam ca-
goles. E eu queria saber si «Mlle. Blonde-aux-
cheveux-coupés> gostaria de ser assim chamada.)
Jacques Trévière sentenceia: «Penso que tu- As razões por qtJe uma mulher ama a um
do está na maneira ; algumas atrevidas, com homem são sempre razões secretas.
o nariz no ar, gestos bruscos, vóz forte, são sim- HENR1 BATAILLE
plesmeente odiosas com essa cabelleira de ho-
As mulheres que amam perdoam mais fa-
mem ; outras sabem ficar seductoras com os ca
bellos curtos. Não ha, a bem dizer, cabelleiras cilmente as grandes indiscrições do que as pe
feias ou bonitas, mas bonitas ou feias maneiras quenas infidelidades.
de a trazer. Em summa, ha duas raças: a das LA ROCHEFOLJCAULD
que são mulhere-s e a das que o não são.
Aos cincoenta annos as mulheres se fazem
Como se vê, a opinião masculina sobre a
moda dos cabellos curtos é a menos favorável devotas, porque esse é para ellas o tempo da
possível; mas isso não importa: a questão é que apparição do diabo.
as mulheres a estimem... HELVÉCIO
— AMERICA —

Alice Terry, uma das mais lindas artistas


da scer.a muda, que acaba de fazer um re-
tumbaníe succesao como protagonia
fílrn "Scararnoucr.e"
*"
I 1// RH 1

à
As modernas Insíallações
•>'A ÓPTICA
RUA DA QUITANDA - Esquina da RUA BUENOS AIRES

<Ò*

Gabinete
para exames

-©-

-ô-
Offícinas

Exames da VISTA, GRÁTIS


Diariamente
Consultório a cargo do Dr. RODRIGUES CAÓ
Especialista das moléstias dos olhos, c o m pratica nos hospltaes europei

w
AMERICA —

ÍASSOPRANDO 0 BORE
MER1CANOS ! Deus, e regulem a acção dos homens pelo movi-
E' preciso que ha- mento dos soes?...
ja músculos de fer- Nada disso possueis ainda, America !
ro que levantem o Nada de espiritualmente grandioso te enverga

r
El-Dorado, e o apre- a lombada de cordilheiras e de rios-mares!
.- » i i sentem rudemente Nada d'isso te faz sorrir como um jequitibá or-
gulhoso das suas centenas de franças. Nada
d i s s o , noiva de Tupan . . .
Tal o cacique exilado das suas hordas de
bronze, — espera, ó virgem abandonada, que
l, J" \&{\ á Europa, á Ásia, os teus gigantes remidos descerrem os braços
II ^\v^JE0\ •* África, á Ocea- para o Azul, coalhando os teus sertões, desde
// J \S R 4 . nia! E' tempo de
J/A \) o Amazonas ao enxame de ilhas do Canadá e
levarmo? á bocea as da Patagônia. Espera !
pocemas enormes, e, com ellas, apavorarmos as Espera, que uma geração de cyclopes vem a
caminho de ti, neste s é c u l o . . .
ístrellas! E' t e m p o de manejarmos os tacapes
Padua de ALMEIDA.
leante do Sol !
A pujança da America ruge pelos seus titans Sarah Bernhardt
:le luz, que não a plasmam como ella é! Que é confeiteira
los esculptores, de veias
Pouco faltou para que
;ntumescidas, que lhe i insigne trágica france
dêem o relevo dos as- /a fosso uma . . . confei-
teira.
tros, com seus buris
Num momento de rai-
faiscantes? Que é dos va e de despeito, quan-
pintores que escorem do se achava no thea-
tro do Gymnasio c Mar
os troncos das suas flo-
tignj lhe havia confia-
restas e as catadupas do uni papel que lhe
los seus rios, em toda desagradava. Sarah pen-
sou seriamente em de-
sua grandeza natural ?
dicar-se ao commercio;
Que é dos trovadores lào seriamente, que ate'
íusculosos que a can- já havia escolhido o ra-
mo a que ia consagrar
tem em bailadas e es-
se: confeitaria.
trondos; e, com o arco Para isso chegou mes-
retezado ao busto mo- mo a tratar uma no

I
boiilevard dos Italianos,
reno, entoem o pean da
que afinal não chegou i
sua alegria até as re- adquirir por unia ques-
giões inter-planetarias ? tão de accommodaçces.
Que é dos seus ar- Esse motivo insignifi
caule baStOU para que
tistas ? Sarah llornhanll \ollas
Que é dos seus sacer- se li c arreira de que es.
dotes, que professem a ia\a desgostosa no mo-
mento e que mais tar-
idolatria dos raios e dos de lhe ciaria tanta gloria
condores ? Que é dos
O despertar da America 3 tantos lucros . . .
seus juizes, nus e seve-

Í
ros, que distribuam a
— AMERICA —

PROLONGAMENTO da obra prodigiosa de gênio, deu á lenda medieval


vida é um desejo que o sopro genesico da Arte, o clarão imperecivel da
nasceu talvez com o Belleza. Ahi, nesse poema immortal, o esforço
primeiro homem. Em para alcançar a mocidade perenne motiva o surto
todos os tempos essa da alma de todos os homens que, sob o do-
•rrrMWir"- esperança sorriu á es- loroso influxo do pensamento, na tortura da du-
vida e na angustia da razão, interrogam o Ab-

k
v \ I3Kr Bnm pecie. Houve quem,
soluto, se abysmam no universo, para roubar o
fogo do ceu, para arrancar o arcano das es-
phinges que os envolvem, numa sublime rebeldia
de titans.
^^J^SüB^^ sonhando demasado, Fausto, para tanto, vende a alma ao Diabo.
JWâS&Sk procurasse tornal-a e- O homem moderno, o torturado de hoje, o novo
/ flfanPWv^ terna, que seria o Fausto tem a mesma aspiração incontida. Ab-
P™>?*a^*'' peior dos supplicios, sorve-o o problema inextricavel da vida e, ao
porque a eternidade deve ser para os deuses revez do symbolo goethiano, entrega o seu cor-

t e para os immortaes o supremo tédio...


A vida... Uma illusão, como tudo no mun-
do. Morremos a cada instante, isto é, transforma-
mo-nos a cada minuto. A vida, portanto, é
uma dansa de Proteu. Prolongal-a eqüivaleria
po á Sciencia.
O Dr. Voronoff é, neste século, um Mephis-
tophelesdebis.uti, acenando-nos com a esmeralda
symbolica, que representa, por signal, a espe-
rança, esse demônio de olhos verdes, na phra-
a augmentar o ludibrio de nossa condição. A
nossa existência, quiçá, a de tudo, pode ser se preciosa de Machado de Assis.
definida pelo verso dantesco : O rejuvenescimnto do homem serve-lhe de
Xon e il mondan rumor altro che un fiato applicação pratica, consistindo o systema do me-
Di vento, ch'or vien quinei ed or vien qui id:, dico diabólico em enxertar glândulas de macaco.
E mula nome, perché muta lato. Ha uma certa lógica nesse processo maravilhoso,
Í Deixando de definil-a pela musa dos poetas, que actualmente interessa todas as creaturas que
a mesma finalidade se depara na verdade da sci- dobraram» o cabo dos sessenta annos... O sí-
encia : mio, na theorii de Darvvin, éo nosso genitor ve-
«Pontes de passagem, machinas reduetoras neravel, estando já muito abalada a crença de
da matéria e libertadoras da energia, eis o que que tenhamos origem divina. Adão, sem o eu-
somos., diz o Dr. Teixeira Coimbra, na sua phemismo lyrico da Bibli 1, não é senão um
admirável these de doutoramento — «A vida e chimpanzé authentico. Ora, sendo assim, é jus-
a morte. to que as glândulas tio nosso pae presumível
Na Edade Media — esse calabouço da sirvam, providencialmente, para nos livrar dos
Historia — o problema foi uma idéa fixa, absor- horrores da longevidade, dando-nos a delicia de
vente, dando origem á poesia dos sábios da al- um retorno á edade viril.
chimia, metaphysicos do impossível, que sof- O Dr. Voronoff torna-se, destarte, um thau-
friam o mal da vaidade incoercivel de tentar maturgo, um excellente S.itanaz, um portentoso
abrir as portas bronzeas do mysterio, que ain-
Messias.
da detêmj a ânsia humana de quebrar o inviolável
Todos os velhos, neste momento, acompa-
segredo de seu destino. Os alchimistas, com o
nham com alvoroça-
elixir da longa vida, anhelavam uma solução
da soffreguidão os
para o problema do ser.
resultados dessa al-
Fausto é o sym-
chimia cirúrgica. E
bolo eterno dessa vo-
até o divino Anato-
lição obsedante, in-
fatigavel, do homem le Fratice, octogená-
que não se confor- rio de edade e de
ma com a sua con- scepticismo, vae, ao
tingência de ser um que propala o irôni-
Prometheu que se co e indiscrecto tele-
não liberta... e en- grapho, sujeitar-se á
velhece.
Ooethe, com a sua
experiência, levado talvez, pelos caprichos do ter-se do casamento, que é uma loucura justífi
amor. porquanto, depois de ter, como abelha cavei na mocidade.
do espirito, construído uma co'.méa immensa de O mundo, neste instante, soffre uma trans-
ironia phüosophka, de amave! e irreverente pes- formação completa. Dír-se-ia que ha uma re-
simismo, acabou victima da própria penna-estv- versão ao cahos . . .
lete, ferindo-se nos espinhos das rosas que lhe
perfumam O jardim de Epicuro ... E, velho. Valha-me o próprio Anatole : «Créer le mon-
fez uma tolice, perdoavel quando se tem pouco de est moins impossible que de le compren-
juizo e vinte annos ardorosos e inexperientes: dre...»
casou-se : Saul de \AYARR').
Casou-se... E. pour cause, entrega-se á pe-
rícia do Dr. Voronoff, que, ao lhe enxertar as
glândulas do macaco — o novo martyr da sci- MÁXIMA PERSA
encia, que vae concorrer com os coelhos e as A paciência <• uma arvore de raiz
cobaias, victimas predüectas dos laboratórios, ha de fructos saborosos.
de sorrir com uma malícia de Mephistopheles e

t
uma subtil perversidade de Sylvestre Bonnard.
Os ironistas, pura não serem victimas de O amor próprio é o maior inimigo da ver-
si mesmos, deveriam, na edade critica, abs- dade. SIVRV
IMERICA —
r >
A vitalidade activa dos livros
V J

if P R E C I S O constatar mais unia vez inn.i


QÍ grande lei de todas as creações de

arte: o que ha de melhor, de essencial,


\
^ de mais vivo nellas, não é o que o

artista meditou e quiz fazer, é o elemento in-


*..'' consciente que elle lhes ajuntou, ás mais das ve-

zes sem o saber e não raro máu grado seu.

Devo acerescentar que é justo ver nessa in-

consciencia, não uma humilhação para o artista,,

mas um ennobreeimento da sua obra c uma re-

compensa a um outro trabalho, o que elle exe-

k cutou, não sobre a sua própria obra, mas sobre

0 seu próprio espirito. Iisse dom de pôr inun

livro mais do que se pretendia e de ultrapassar

a sua própria ambição, só •£ concedido aos genios

softredores e sinceros que trazem no fundo do

seu ser o rico thesouro de uma corajosa e alta


>k. experiência desinteressada. Foi assina que (er-

vantes escreveu o «Don Quixote» e Daniel de

Foe o >d<obinson». sem suspeitarem do que insi-

nuavam : um, todo o ardor heróico do hespanhol,

o outro, toda a energia solitária do anglo-saxão.

Si elles não tivessem praticado essas virtudes

desde longos annos, o primeiro uma empreza

cavalheiresca, o segundo uma invencível pacien

cia. os seus romances nada mais teriam sido do

que aquillo que elles pretendiam, isto é, simples

narrações de aventuras. Mas a sua alma vali

mais do que a sua arte e cila passou nessa ai te


Os figurinos modernos para dar-lhe o poder de symbolismo que é
Vestido para a tarde, de organdi bacana, vitalidade activa dos livros.
com saia bordada. A golia e as mangas, bem
curtas, -ã • enfeitadas com bordados differentes.
Paul BOURGET
O fundo do vestido é de tafetá preto.
^m^mmm^m^Êmmmmmmn^^
— AMERICA

* f

ÃO gostavam os outros meni- Vamos lá! Não és rus-


nos do pequeno Kostia, que

Í era doentio e tinha o rosto


transparente e os cabellos
castanhos sempre despentea-
> dos.
Não gostavam d e l l e . . . Porque ? Com cer-
teza pelo mesmo motivo que os adultos não gos-
tavam dos adultos similhantes ao Kostia peiasa-
las tão bem o russo ?
Não, senhor;

— Ora, ora! E como fa-

— E ' que fugimos de Londres quando eu


era ainda muito pequeno.
— Fugistes ? Como ? Q u e r n vos obrigou a
sou in-

tivo e de olhos claros. Um grupo e outro se dif- fugir ?


ferenceiam apenas pela idade; mas o desamor
Os pensativos olhos do menino ergueram-
subsiste.
se ao céu e seguiam a passagem altíssima das
Quasi todos os meninos repelliam igualmen-
nuvens.
te a Kostia; quando este se chegava a um grupo
— Oh! E ' uma historia longa, senhor; é
de crianças, levantava-se um grito unanime:
o caso que o meu pai matou um h o m e m , . .
— Vae-te! Vae-te! Não te queremos aqui!
Depois de permanacer um instante junto O senhor começou a inquietar-se e afas-
dellas, suspirava e começava a contar de um tou-se um tanto do menino melancólico que fa-
modo suave e indeciso: lava com simplicidade de coisas tão horríveis.
— O nosso porteiro estava no pateo a fa- Matou um homem ? Porque ?
zer um buraco para plantar uma arvore e a pá Na City havia una Banco que ainda
bateu numa qualquer coisa dura. Olhou e eram existe J se c h a m a . . . «Deustch B a n k » . . . O meu
ossos, uma caveira e uma caixa de f e r r o . . . Abri pai estava empregado nelle e logo, graças á sua
ram-n'a e nella . . . honorabilidade, foi feito c a i x a . . . Uma noite, quan-
— Vae-te embora! Não precisamos sabel-o... do punha em ordem algumas contas, viu um
Suspirava de novo, submisso, retirava-se para vulto que deslisava furtivamente pelo corredor,
um canto e, assentando-se num banco do parque em direcção aos subterrâneos em que se guar-
aquecido pelo sol, punha-se a m e d i t a r . . . dava o o u r o . . . \ ü meu pai escondeu-se e se
— Como te chamas, menino ? dispoz a seguil-o. E quem julga o senhor que
— Jim... era aquelle homem ? 0 director do Banco! Des-
•u ao subterrâneo, encheu uma carteira de ouro < om certeza lhe pregou algum carapetüo
de notas e quando sahiu o meu pai saltou-lhe A sua mãe Ia/ lodo o possível pai i
garganta, apertando-a. Papai- comprehendeu que desse vicio, sem I\A.\.I conseguir.
-i o outro conseguisse escapar toda a culpa re Elle tem > m ã e v L\ a
ihiri.i sobre elle. 0 desespero deu-lhe forjas; Sem duvida 1 Mas com ceil.v.i n a l u i .
itracou-se com o canalha • logrou estrangulal-o. com ella si proseguir nas suas mentiras, Que pe
Chegou a c a~a na mesma noite, tomou -me nos queno embusteiro ! Já o conhei cm em oda
braços, itravessámos o Tâmisa e viemos para rua. E' surprehendente I
Rússia. I 1
Pobre cabecinhal disse com pena o ho- Ao chamado insistente da campainha, í.bril]
mem, dando-lhe palmadinhas no hombro. E .. lhe a porta a empregada l l i a c h a .
tua mãe. onde está ? Onde esteve você. Kostia, a estas horas
Morreu queimada, senhor. - Distrahindo nie na rua: um automóvel ai a
Queimada ? ba de atropelar o nosso porteiro e estive ven
Uma ve/ os garotos de Londres embe- do. Vê si tenho sangue nos s a p a t o s . . .
beram de petróleo una rato e atearam-lhe fogo; Quem foi atropelado, Estevão? Mata
naquelle momento passava a mamãe pela rua. ram-n o
com as compras que fizera; o rato, que ardia, — Sim. I Is cavados tomaram o freio nos
metteu-se pelo seu capote e ao cabo de um mi- cientes . . . < ) carro Lv ava unia senhora elegan
nuto .1 mamãe parecia um arclaotc . . . t e . . . e Estevão atirou-se para segurar as re
l l pequeno pendeu tristemente a cabeça e cleas dos animaes .. .
emmudeceu; pouco faltou para que o compassivo Porque é que mentes assim, Kostia ?
senhor se desfizesse em pranto, profundamente A principio era um automóvel, agora é um ca-
chocado por tanta desdita. vallo. Sempre inventas cada coisa !
- Pobre creaturinhal Vem, vou acompanhar- Não. Não é invenção. E a condessa
te até á casa, afim de que nada te aconteça affirmou que. depois de curada, se casaria com
de mal. elle .. .
Jini sorria brandamente.
Está bem, basta de mentiras. A co-
• Não, senhor: nada me acontecerá! Vê
mida está esfriando; a mamãe sahiu e a vovó
este talisman? Elle me protege contra tudo e
está te esperando . . .
contra todos !
Balançando-se nas suas peruinhas delgadas,
1 irou ito bolso um pedaço de madeira e Kostia fez um tregsito mysterioso e dirigiu-se
mostrou o confiadamente ao seu interlocutor. para a sala de jantar.
Que talisman é este ? Porque vens tão tarde ? psrguntou-lhí
Deu-mo na Criméa uma velha tartara. a avósinha. indo ao seu encontro. Onde esti-
Lembro-me ainda: estávamos trepados a una pe- veste mettido ?
nhasco altíssimo, bem á borda do mar. - Estive uma hora defronte á nossa por-
E que suecedeu ? Enaquanto eu o tinha em ta. Uma historia interessantíssima
meu poder, a pedra rolou debaixo dos seus pés — Que foi ?
e . . . puni ! Ella e a pedra, no mar ! . . . — Comprehendes,' vovó ?
Lm milagre! Lm verdadeiro milagre! Ia chegando á nossa porta, olhei e . . . dois
Esta é .i tua casa ? Bem; adeus. Jim; sé feliz, sujeitos estavam a fazer não sei que com a fe-
meu pequeno ! chadura ; um dizia: «A cera está muito dura, não
Jim subiu animosamente a escada e o se- sáe o molde» e o outro, que era mais baixo, res-
nhor acompanhou-o com a vista a d m i r a d a . . . pondeu-lhe : «Aperta, aperta, que sahirá»!
E ficou tão largo tempo, abstracto, que a — Kostia, gritava a avó alarmada, não
porteira, com as saias arregaçadas, chegou-se a mintas !
elle, perguntando-lhe:
— Está bem; si julgas que são m e n t i r a s . . .
— Quem procura o senhor ? respondeu Kostia, sorrindo sarcasticamente; dei-
— Xinguem. Diga-me: xa que elles penetrem na
quem é o menino que aca- casa e nos roubem tudo
ba de entrar ahi ? c nos degollem. Então verás
— E ' Kostia. o filhinho
si são mentiras ou verdades.
dos Cherepitzin. Porque per-
A minha obrigação é con-
gunta ?
t i r o que v i . . .
— Como ? Não é in
glez ? A avósinha se deses
— Que pergunta! E ' perava.
una fedelho. e n ida mais. — Kosda. estás mentindo!
AMERICA

Vejo pelos teus olhos que acabas de in- — Pois ahi está o que assombra. Estava
tentar essa historia. eu sentado num banco quando, de repente, do
Inventar? fez elle, dando ás suas pala- meio da folhagem, começou a surgir e a appro-
vras una tona sibyllino. E si eu te mostrar o pe- ximar-se de mim, assim como uma nuvem cin-
daço de cera. dirás também que o inventei ? zenta . . . mais p e r t o . . . cada vez mais perto. Olhei:
— E como o tens em teu poder ? era a mãe de Lidochka. Estava tão triste! Che-
— Muito simplesmente: elles subiram a um gou-se rapidamente a mim, poz-me a mão á ca-
carro, eu tomei a trazeira e, quando chegámos beça, ameaçou-me com um dedo e foi-se, sena
aos subúrbios, passei correndo junto do homem me dizer palavra . . .
mais baixo, dei-lhe um tranco e tirei-lhe do — Sim, senhor, exclamou o pai, ilhando
bolso o molde de cera. Aqui está elle ! o filho com una sorriso indulgente. Que coisas
Tomou pela segunda vez do mesmo pedaço acontecem ás vezes !
de madeira que havia mostrado no jardim e — Que papel é este, papai ? perguntou
mostrou-o de longe á avósinha de vista fraca. Kostia, olhando o pai por cima do hombro.
A duvida apossava-se do coração desta: «Bem Tem uma pistola d e s e n h a d a . . .
sei que ê m e n t i r a . . . Mas si acaso é verdade o — Istc/ é a conta da casa de armas. Com-
que elle diz ? Ha casos de ladrões que tiram prei una revolver para o nosso Banco.
moldes das fechaduras, penetram nas casas e de- — Um revolevr ?
golam os moradores. Ainda hontena li no jornal Sina, para o cobrador.
um caso destes. E ' preciso dizer a Lliacha que — Um revolver ?
feche o íerrolho da p o r t a . . . » Kostia, com os olhos muito abertos, olha-
— Vae chamar l l i a c h a . Kostia obedeceu va fixamente a face sorridente do pai. J á ha-
foi a correr até ao vestibulo, onde gritou a viam voado muito longe os seus pensamentos e
liacha. que falava ao telephone: pelo seu rostinho passavam sombras imperceptí-
Lliacha ! Deixaste veis de idéas . . .
outra vez aberta a torneira Tremeu, levantou-se de
da cosinha. Está cheia d'a- um salto e sahiu do ga-
gua e os moveis estão sa- binete, no seu passinho miú-
hindo pela janella ! do. Atravessou como una ven-
Lliacha abandona de- daval as salas e como um
rpressa o phone que bate vendaval, os cabellcs desgre-
ruidosamente contra a pare- nhados, entrou no quarto da
de: corre até á cosinha. tro- mamãe, que trabalhava cal-
peçando nos moveis que en- mamente junto á mesa.
| c c ; n t r a no caminho. Mamãe ! Papai está
Ao cabo de um minu- passando mal !
to desenrolou-se uma scena tremenda. Que foi ?
— Kostia! Mentiste outra vez! Vou-me em- Ao entrar no seu gabinete vi-o ahido
bora desta casa. que não posso mais supporiar ao chão. junto á mesa, ao lado de una revolver.
isto ! Perto ha uma mancha d e . . .
Eu pensava que corria água -»• disse Um grito selvagem, espantoso . . .
Kostia. justifirando-se timidamente, a olhar com
olhos supplicantes a criada enfurecida. Pelo me- Que heide fazer deste menino ? interro-
ios ouvi o b a r u l h o . . . gava a mãe, chorando e olhando Kostia quasi
com ódio, ao passo que este, assustado como
Quem sabe o que era esse doce e inoffen- um pássaro em dia de tormenta, atracava-se ao
sivo menino? Talvez lhe parecesse uma reali- pescoço do pai.
• dade que os homens que estavam fumando pa-
Com as suas mentiras este pequeno aca-
cificamente junto de sua casa intentassem de
bará fazendo-nos loucos! A criada nem pode
facto tirar o molde de cera da f e c h a d u r a . . .
velo, e os meninos o repellem como a um ca-
chorro leproso. E ' uma criança que faz pena.
11 I
Que será delle quando crescer ?
Bem o imagino, infelizmente, disse o
A' noite estava Kostia no gabinete do seu
pai a meia voz, estreitando contra o peito a ca-
pai, junto á mesa de escrever, e com olhos muito
becinha do filho. Crescerá e todo mundo se afas-

t
abertos olhava as mãos do seu progenitor que
tará delle, como agora; não o comprehsnderão e
exiam vários papeis.
zombarão delle .. .
— Onde estiveste hoje, Kostia ?
- E quando se tornar homem emfim ?
— No jardim.
— Viste boas coisas ? Querida, disse tristemente o pai, aba-
Vi a mãe de Lidochka Priaguina. nando a cabeça que já Começava a ene anei cr.
—Que dizes? A mãe de Lidochka já morreu! Será p o e t a . . . Are alio AVERCHENKO
A VIDA U R B A N A
Esperando que passe a chuva...

t&tgtK3Ji®/mi**mí'^íSn^inaêSittveHnnsBnm^tnJ^^J^i^^s^i^sf^iir^í! :i* -r^^mmT'-z^- ts>P z Í; ;•«**!?!

! Phüosophía para os dias de chuva


c «, ^ *
EXPEDIENTE
A arte não passa talvez do dom de oinar
,. , t Na Capital $500
a verdade com as graças irresistíveis da mentira. Numero avulso
I Nos Eslados $600
•**
O vento que apaga o phosphoro accende
E' r.cssc representante r.a cidade de Santos,
o brazeiro. ; Sr.r. Jo3é õpindola Teixeira.
•»*
SÃO NOSSOS A G E N T E S :
A desgraça alheia nunca nos parece r.rei- Para lodo Estado de São Paulo, o Snr. Anfonio de
ramente immerecida. M a r i a , rua da Boa Vísla 5 A, Capifal, por <ujo inlermedio

** * devem ser feitos os pedidos dos agentes de revistas do interior


do Estado.
PROVÉRBIOS TURCOS Na cidade de Santos, Snr. Paiva Magalhães.
No Estado da Bahia, o Snr. Manoel Porto, Portão da
A bocea do sensato está no coração. O co- Piedade 11. Capital.

ração do louco está na bocea.


»**
Quem dá pouco, dá do coração: quem da HOEPFNER Sc C I A . X.XID.
muito, dá da fortuna. AV. MEM DE SA 236-240 — RIO

Redacção: R. da Quitanda 157, 1 .° andar


A pouco e pouco o rouxinol canta na ga-
iola. RIO DE JANEIRO
£mile Qergerat
Mm
— AMERICA —

WOSt I ()H,,-|

M ME. Naquette, muito animada, conversa


:om a filha. Magdalena desenha no ar
um gesto de certeza.
— Mamãe, eu o amo!
valheiro e o haver assumido responsabilidades
imaginárias para não comprometter a reputação
de uma mulher que tinha usado o seu nome.
Em summa, elle procedeu correctamente!
— Ora! Mme. Naquette dá de hombros :
— Como, assim? São coisas que se sentem, — Nunca ouvi dizer que Odette tivesse
ahi está ! enganado o marido !
— E s uma menina ! Magdalena desatou a rir :
— Tenho vinte e seis annos ! — Isso lhe teria sido difficil, feia como é!
— Nem por isso deixas de ser uma menina Garanto-te que ninguém tentaria seduzil-a...
e a imaginação das meninas pôde enganal-as. — Então, porque motivo Nageur se di-
— Estou segura de mim. vorciou ?
— E estás certa de que Gérard Nageur tam- — Porque? fez Magdalena com vehemencia.
bém te ama ? Mas, mamãe, não é só porque um cônjuge en-
— Certíssima. gana o outro que a gente se divorcia...
— Eu, de mim, te confesso, minha filha, — Confesso-te mesmo, Magdalena, que is-
que não me encarregaria de fazer a felicidade so ainda não é uma razão sufficiente.
de um homem divorciado. E' peior do que ca- — Que é que julgas necessário, minha po-
sar com um viuvo. bre mamãe?

I — Porque, mamãe ?
— Porque, num viuvo, foi a força maior que
rompeu os laços. Talvez seja um homem serio
que soffreu; posso acreditar no seu bom coração,
— Eu sou assim. Não gosto do divorcio.
Tenho horror ao divorcio. As nossas mães não
se divorciavam e o mundo não andava aeior;
ao contrario. Quanto a Nageur, uma vez que a
sua mulher não o enganava...
ao passo que um divorciado...
— Bem sabes, que a razão está com Oérard — Era peior ainda! O pobre rapaz fez-
que foi essa Odette que o fez infeliz... me as suas confidencias. Essa Odette tinha um
— Não é isso que diz o processo... gênio terrível.
— Ora, o processo! Creio que não irás cen- — Elle o devia ter verificado antes do ca-
urar a Oérard o ter-se elle mostrado um ca- samento.
— .4.1// RICA -

- Foi só depois que ella se revelou. Parece — Fal-o-cei.


que cila era exigente, tyrannica, autoritária. Ti- — Prepararás gulodiees para elle...
nha ciúmes de tudo. Acabara por indispor Oé- — Estou prometa a isso.
rard com todos os amigos; invejosa, cheia de or- — Nesse caso elle achará uma tal differença
gulho, ella brigava com elle sempre que a mu- entre a sua vida passada e a nova, que SC
lher de um amigo lhe mostrava uma jóia nova: sentirá feliz e te adorará.
(Ella tem sorte, ao passo que eu... » Podes — Mamãe, exclamou Magdalena exaltada e
imaginar a existência agradável que o misero satisfeita, estou certa de que Gérard me dará
levava... a felicidade.
— Evidentemente, si... — Escreve-lhe pois, para que venha ver-
— Quanto ao interior, Odette não acceitava me e pedir-me a tua mão. Que pretendo eu,
a menor observação. Si Gérard se queixava de minha querida? Que nada lamentes, mais tarde.
que as suas camisas não tinham botões, a megera — Nada lamentarei, descansa !
respondia-lhe que elle próprio os pregasse... — Beija-me e trata de ti como desejas
Si elle timidamente mostrava o desejo de comer
um prato predilecto, a perversa objectava logo
que custava muito caro. Si trazia um camarada Ha um anno Magdalena tornou-se Mme. Gé-
para jantar, ella fazia máu modo e num dia em rard Nageur.
que elle se zangou e lhe respondeu, ella que- A principio elles formaram o lar mais lin-
brou dois pratos de raiva, e amuou durante uma do que se pode imaginar.
semana ! Mme. Naquette todos os dias se felicitava pe-
Mme. Naquette não poude deixar de rir : la escolha da sua filha.
— E' um numero, essa Mme. Nageur !
Depois verificou ligeiras mudanças na at-
Magdalena irritou-se:
titude dos esposos. Gérard por qualquer coisa
— Ella não é mais Mme. Nageur! Não
se irritava. Magdalena esforçava-se por agradar-
tem mais direito de chamar-se assim! Ella re-
lhe, mas não o conseguia tão facilmente como ao
tomou o seu nome de solteira «Goulache» que
principio.
é afinal bem ridículo e parece feito para ella !
— E tu, então, queres por tua vez chamar- A s palavras doces e submissas da mulher,
te Mme. Nageur? Estás decidida? Nageur respondia de máo humor. Um dia em
— Eu e Gérard nos amamos, mamãe. que Magdalena havia ousado contrariar a sua
— Tu és maior, minha filha. Não te posso opinião a propósito de uma peça de theatro
impedir de fazer o que queres. Permitte-me ape- que havia visto na véspera, Gérard se exaltou
nas que te dê alguns conselhos. e chamou-a tola.
— Escutal-os-ei, mamãe. Escutarei o que te Num outro dia Magdalena, com um vesti-
dictarem a tua affeição por mim e a tua ex- do novo, dizia ao marido :
periência. — Vês? Comprei este vestido rosa porque
— Muito bem. O meu conselho é que deveras me disséste que gostavas dessa côr . . .
mostrar-te tanto mais meiga para o teu marido Ao que Nageur respondeu :
quanto a outra era — Não queres en-
áspera.
tão ter um gosto só
— E" a minha in-
teu ?
tenção.
— Deixarás esse Uma manhã em
homem exercer no que Gérard dava o
seu lar a sua legi- laço a uma grava-
tima autoridade... ta de um verde ber-
— Estamos de ac- rante, Magdalena dis-
côrdo. se-lhe delicadamente:
— Seguirás a sua
opinião em todos os
assumptos... Mflfe — Que cór engra-
çada escolheste!
Nageur voltou-se
— AMERICA —

/H^a^
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^ ^ O S ^ ^
VITRfiES
ARTÍSTICOS
À arfe do vifral, que foi uma das
maiores bellezas da architectura do Nor-
te, continua a merecer dos italianos o
maior carinho. Ha artistas mediterrâneos
que se consagram com esforço á pro-
ducção de obras-primas nesse gênero
difficel. Viftorio Grassi. por exemplo,
desenhou esse admirável viíral " O idolo'
verdadeiro prodígio de estylizeção que
é uma gloria para a moderna arfe ita-
liana.

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e, batendo com o pé, atirou-lhe: Vaes fazer-me o favor de resistir francamente


— Eu faço o queres, entendes? Não rece- e de, á primeira palavra, abater a proa desse
bo ordens de ninguém. Trata de ti e deixa-me tratante. A minha opinião está formada Elle é
em paz ! apenas estúpido. Ha pois um recurso. Porque para
Essas discussões se repetiam a miúdo e não fazer o que se quer, de um marido estúpido,
acabaram por levar Magdalena, banhada em é preciso ser mais estúpido do que elle. Faze o
pranto, á pobre Mme. Naquette, que não poude que te digo. Faze-o hoje mesmo, e dá-me noti-
occultar a sua emoção. cias. Em ultima analyse, não devíamos ter mu-
Mme. Naquette não hesitou, porque era re- dado os seus hábitos...
soluta e principalmente porque era mãe. **#
Foi procurar o genro e teve com elle uma Mme. Naquette percebia que o lar da sua
longa conversação. filha já ia melhor. Nageur perdera os seus ares
Depois dessa longa conversação ella teve fanfarrões e falava de novo com doçura a Magda-
outra com Magdalena, que encontrou abatida e lena. Até que um dia a joven Mme. Nageur
dolente : chegou a casa da sua mãe com o olhar bri-
— Acabo de ver o teu marido. Comprehendo lhante e a alegria estampada no rosto :
tudo. Nós nos enganámos. Accuso-me de te ha- — Vê, mamãe, o que Gérard me trouxe
ver dado maus conselhos. Vamos mudar de metho- ainda agora !
do, minha querida Magdalena. O teu marido é E mostrava no braço urru lindo bracelete or-
um patife. E' um covarde. A sua primeira mulher nado de brilhantes e de esmeraldas.
fazia-o tremer; e agia como bem entendia. To- — Como foi isso, meu Deus! exclamou Mme.
maste o meio contrario e esse imbecil logo abu- Naquette extasiada.
sou. Quanto mais de abaixaste diante delle, mais — Oh! pouca coisa. Esta manhã, ao almoço,
elle pensou que se elevava. Quanto mais gentil e Gérard me irritava. Então eu lhe atirei o meu
complacente te mostravas, tanto mais elle se copo á cara...
fazia autoritário. E' preciso mudar tudo isso! Pierre VALDAGNE
— AMERICA —

CAVALLINHOS E
=cz> ,q
^3

O TEMPO — uma boniteza! Dias muito


claros, sol que era uma gostosura, pela
manhã então, para aquentar a gente;
noites de luar, convidando ás costa-
remate era «Rapadura é coisa dura?» a que to-
dos, voz bem forte, respondiam: «EJ sim sinhô!»
Mal principiava o lusco-fusco da tardinha,
começava a subir gente pela rua que ia dar ao
neiras com as suas valsas muito lentas, os seus
circo; eram os crioulos com taboleiros, os ne-
lundus buliçosos e as suas modinhas apaixonadas.
gociantes miúdos que collocavam perto da en-
Mas, faltava alguma coisa. .. Nas rodas de
trada mesas com garrafas de cerveja e de
palestra, queixavam-se de um <aburcimento que
samba; negras que armavam trempes para «quen-
não tinha arrumação), e os assustados, orga-
tar» café, e outras que vendiam quitandas e
nizados ás pressas, aos domingos, concorrendo
pasteis, cobertos com uma toalha muto ani-
os rapazes na provata para os sequilhos e o cer-
lada, nos balaios; luzes de lanternas picavam o
vejame, não bastavam.
escuro, e, á porta do circo, o pharol. tresan-
Um velhote sertanejo, contando suas prosas dando a «óleo», dava uma luz fumarenta.
á porta do negocio do Quincas, dizia que nun-
ca vira o paiz tão esturdio e chué» que até Com pouco, vinha a musica. Um dobrado de
parecia o «anno da fumaça.» Nos dias de ser- «mexer com o povo». Vozeio constante, risa-
viço, quem não entrava no lasca, ao menos para das, e a meninada, rondando o barracão, ca-
barranquear, bobeava á tôa, sem ter onde ir. çando meio de entrar por debaixo do panno.
De vez em vez, um foguete listrava o ar. Povo
Num átimo, porém, tudo mudou. Chegaram
os cavallinhos. Não tardou que, á entrada da vinha vindo, c destacava-se a figura de algum
cidade, na beira da estrada que ia dar ao cometa, lenço de seda ao pescoço, paletot de
rio, começassem a armar o circo. A meninada palha de seda, pharol no annular, bem á mos-
«.amontoou lá, rente, assistindo ao trabalho de tra, falando com o sotaque portuguez. Compra-
«fazer» as archibancadas. Ergueu-se o mastro, va-se o buleto; entrava-se. Nas geraes, já um
um cujo tope, desbotada e suja, fluctuava a povão. Os belgas, em roda do mastro, clareavam
bandeira nacional. o recinto. Nas cadeiras, as moças só na puba
Em poucos dias, promptinho o barracão de de vestidos pimpões; o dr. juiz de direito,
panno velho, com remendos. com o seu todo achamboado; o promotor, 'de
Na tarde da estréa, o palhaço passeou a ca- Iunetas, muito na «imposturia de ser doutor»,
vallo por toda a cidade, annunciando o es- namorador como ninguém, fariscando casamento
pectaque da grande companhia Estrella do Nor- ourado; o juiz municipal, solteirão incorrigivel,
te-. A garotada, na fiúza de apanhar entrada, sempre «de nariz torcido», achando tudo aquil-
seguia, ruidoso magote, o cavalli- lo uma «besteira».
coque, a passo. Ora enganchado, Começava o espectaculo. Da-
ora de pé no largo sellim, o hi a nada, rebentavam as pi-
palhaço, a cara lustrosa de pre- pocas: o povo estava achando tu-
to, os beiços muito vermelhos, do bom. A's graças do palhaço,
os olhos muito brancos, cantaro- encalistrando seu mestre, — es-
lava o pregão; quando elle, al- touravam as gargalhadas. A' ap-
çando os braços, dizia: «O paiá- parição da artista, a cavallo, com
ço é bão!>, a meninada respon- o saiote azul esvoaçando, corpete
dia: • Pra come feijão! Fazia com lentejoulas, deixando vêr o
uma pirueta e: Catirina na ji- collo empoado, risonha, faceira,
nella! e os garotos logo de cumprimentando, atirando beijos,
prompto: Com carinha de pa- a roceirada, o olhar acceso, res-
nella!» mungava um <Eh! dona!» e era
Todos accorriam para vêr, toda attenção. Alguns apreciavam
e o palhaço, notando moças, rin- o animal, davam opinião, como
do-se, careteava, bamboleando-se, entendidos.
a dizer : Catirina, qu'é que A musica chorava uma valsa,
tem? o grupo, sem tardança: depois atacava um galope: a ar-
v Perna fina, meu bem! , E o tista, agitando o chicotinho, va-
AMERICA —
rava arcos de papel, pulava faixas que os Gente da roça desamarrava os animaes pre-
criados esticavam. sos nas estacas, e ia-se, aproveitando a Lua, que
Das geraes, rompiam «bravos!», mais fortes já havia apparecido.
as palmas, e, quando o anima,!, a passo, dava a Lá no alto, o velho relógio da capella batia
volta ao picadeiro, a dona sorria, agradecendo as meia noite.
saudações. Aos grupos, vinha o povo descendo, com-
O espectaculo estava «bom na circumstan- mentando o que vira, recordando-se de outras
cia» — commentava o povinho que, no intervallo, companhias, cotejando o mérito dos artistas.
vinha todo cá para fora «arejar». Em redor dos Senhoras, zangando creanças que dormiam, ca-
botequins, a freguezia chuchurreava o café na minhavam apressadas, afflictas por casa.
tigela, e as quitandas tinham sahida; outros tara- Em volta dos botequins, palestrava-se ainda;
vam um golo da «branca», pigarreavam; muitos, mas não tardava que tudo silenciasse e, do fo-
acocorando-se junto aos fogõesinhos, puxavam gosinho das trempes, morrendo aos poucos, sa-
brazas para o pito que haviam posto detraz hia tênue fumo.
da orelha ou na fita do chapéu. Ao primeiro cantar dos gallos, já a cidade
repousava a somno solto. Ao luar, descido o
Conversavam: Estava bom deveras! A dona
panno, via-se o mastro do circo, muito alto,
era um trem na conta. .. Agora, que o palhaço,
sem bandeira.
no violão, fosse como o da terra, isso adio! era
baixo p'ra topa! Oito dias depois, iam-se os cavallinhos. E
ganharam bem «ali na nota», diziam todos. A
O cometa, muito liberal, offerecia cerveja aos meninada assistia aos desmanchar do circo; por
conhecidos, abraçando-os, aproveitando o ensejo muito tempo, lá ficava, no chão de terra ver
para um «pedidosinho». Baforava uma fumara. melha, o signal do picadeiro; nas cinzas dos
da do charuto, conservando-lhe a cinza «fazendo fogõesinhos ronronavam os gatos vadios; nas
um bonito» e accrescentava que em fazendas ti- palestras, repetiam-se as graçolas do palhaço,
nha um sortimento como si «pudia desejarh. os seus lundus, e faziam-se referencias brejei-
Um zum-zum continuo; pregões de botequinei- ras á plástica das artistas, que deixavam, saudo-
ros cantavam no ar, a que subia uma poeira sos, os seus partidários.
fina que as luzes douravam. Noctivagos, sem
Azevedo JÚNIOR.
tacho, rondavam os arredores; não raro o carrei-
rão dos meninos, em algazarra, porque o «ho-
mem dos cavallinhos» pegara um rapazinho en-
trando por baixo do panno. Outros, lamurian- AS MARAVILHAS DO CINEMA
tes, pediam á gente que passava: «Moço, mi
dá um buleto?»
Dentro, tocava a sineta. Todo o povo aba- S biologistas americanos ligam a maior
lava. A musica quebrava uma polka. Era a
vez dos trabalhos ao trapezio. Tudo erguia olhos
O importância ás experiências ha pouco rea-
lizadas pelo Dr. Herm, do museu ameri-
lá para cima; nos lances mais difficeis, ou- cano de historia natural, com um novo typo
via-se um «chiii». Muitos baixavam a cabeça de cine-microscopio.
achando aquillo um «disparate». Respiravam mais O Dr. Herm conseguiu photographar a len-
desafogados, quando os artistas desciam vago- ta incubação de um pinto no ovo. Com um extre-
rosamente, volteando na corda, mo cuidado, um pedaço de dois
e pulavam em terra. Atroava o centímetros e meio da casca de
vivorio; reboava a salva de pal- um ovo foi substituído pelo vidro
mas. Então, uma voz grossa par- e, por essa pequena janella, fo-
tia das geraes: «Palhaço, a chu- ram tomados automaticamente cli-
la!» Outras vozes secundavam: chês, de 10 em 10 minutos, du-
«A chula!» rante um período de trinta e três
O palhaço accedia. Era de horas. O film obtido mostra ni-
vêr como a roceirada applaudia. tidamente a transformação do
Choviam os apartes: «Ahi, dam- ovo fresco até ao momento em
nisco!» «Isso, macota!» «Tá só- que começa a bater o coração do
sinho, malungo!» pinto. I j | 11.
Após a pantomima, ainda a
rapaziada, já no chodó por ai Julgamos sábios que com o aper-
guma das «moças do circo», gri- feiçoamento desse processo che-
tava-lhe pelo nome, applaudindo gar-se-á a estudar os progressos
muito, tirando os chapéos, num das colônias de micróbios patho-
enthusiasmo onça. genos em certas moléstias.
— .-1 1// RH 1

Reclame Yankee

Os americanos imaginaram uma cu-


riosa reclame para «lançai a praia es-
tivai de- Veninoi : uma longa lil.i de b.i-
nhistas encantadoras que traziam gran-
des lettras brancas sobre os maillots
negros, passeava pela cidade <• pela
praia. As lettras. reunidas, formavam es-
ta phrase: / / you want tive, Uve in
Yentnor. (.Si quereis viver, vivei em \ e n i -
nor |.

E m vários pontos da lnclia cada


noivo se marca com o sangue do fil-
tro, provavelmente para significar a in-
tima união realizada entre elles.

A esculptura franceza

"Rei morto, rei posto" jlntoine


Bourdelle é hoje considerado o digno
substituto de %odin na arte franceza,
jfl escultura do mestre oioo tem a no-
bre seoeridade, o cunho emocional e
torturado que fizeram a gloria do mes-
tre que a frança perdeu, jllém do re-
trato do grande esculptor, estampamos
aqui dois trabalhos seus: um busto de
Jlnoto/e ZFrance, seu amigo, e "A es-
culptora" composição exquisita que é
um verdadeiro padrão da sua obra.

A VISÃO DA GUERRA

A
GUERRA é formosa para ti, ó joven ardente Para ti, eterno descontente, político ambicioso que,
depois da carnificina, irás alegrar-te com os restos da
desgraça ou inflar-te com A victoria que tramarás
que, cheio de Ulusões de glória, nasceste cora uma nova infâmia p a r a que, quando a nação houver
boa estrella: as balas inimigas te pouparão, recobrado a saúde perdida e as suas veias de novo
emquanto os teus companheiros irão cahindo se entumecerem, consigas novas discórdias que tragam
como inícios maduros de um ramo secco; sahirás victorioso nova vingança de ódios de invejas.
nas lutas, e quando volta res, cheio do orgulho do ven- Para ti, artista pensador, que achas um campo
cedor, todos de acclamarão como um dos primeiros filhos admirável em que deixes voar as tuas fantasias
da Pátria. Mas p a r a aquellas pobres velhas que somente po-
Para ti, mercador, que pássaras bem explorando derão chorar, p a r a aquellas mulheres pallídas, p a r a aquel-
iniquamente os patriotas necessitados negociando com las míseras crianças d e s a m p a r a d a s . . . para aquellas pf-n-
a Republica, que bemdirás essa discórdia que te encherá sões solicitadas, p a r a aquella luz á noite, p a r a aquel-
de dinheiro e de satisfações. las tristes machinas de c o s t u r a . . . para aquelles ves-
P a i a d. banqueiro, que emprestarás o teu dinheiro tidos pretos
-a j u r o alto: para ti, senhor da pólvora e de machinas
d t matar homens, que vende rás os teus ferros a pre- Ruben DARIO.
ç o s fabulosos — sangue c ouro — verdugo de míse-
r o s povos lançados ao mar, a o vento á sepultura.
AMERICA —

LEITURAS D E
MARAT E A VIVISECCÃO
INFÂNCIA
M tempo de férias, as minhas exigên-
As
correspondência
antes dos
linhas

sombrios
que
de Marat
se

dias
vão lêr, extrahidas
e traçadas dez
do Terror,
da
annos
constituem
E cias
pouca
intellectuaes
coisa.
Isso porque é agradável, e ao
se reduzem a bem

um documento curioso sobre a mentalidade do mesmo tempo hygienico, descansar o cérebro por
famoso revolucionário. algumas semanas. Bem
«Affirmaes, escreve sei que se poderia as-
o futuro terrorista a pirar una uso mais in-
um dos seus amigos, tenso da intellectua-
que não podeis ver lidade. Ha tantos gê-
innocentes animaes ras- nios eminentes, po-
gados pelo escalpél- rém mais ou menos
l o : o meu coração é absconsos, aos quaes
tão terno como o vosso nunca tivemos a co-
e eu também não gos- ragem de procurar e
to de ver soffrer po- a que poderíamos
bres creaturas ; mas consagrar algumas tar-
seria impossível com-
des ! Embora fique
prehender as secretas,
diminuído aos vossos -
pasmosas e inexplicá-
olhos,-, confesso ter
veis maravilhas do
da philosophia de Spi-
corpo humano si se
•noza e do poema d e
não tentasse surpre-
Dante idéas singular-
hender a natureza n a
mente superficiaes.
sua obra e não se
Não seria a oceasião
poderia chegar a es-
de aprofundal-as ?
se resultado sem fa-
zer um pouco de mal Sena duvida, mas
por muito bem: só não a aproveitarei.
assim se pode ser Porque ha igualmen-
bemfeitor da huma- te ao alcance da mi-
nidade. A observação nha mão «As desven-
dos músculos e as
turas de Sophia», «Os

differentes proprieda- filhos do Capitão

des do sangue leva- Crant» e «Robinson».

ram-me a fazer im- E aposto cena con-


portantes descobertas, OS P I N T O R E S DO RÚ tra um em que, si
a que eu nunca teria eu daqui a pouco
A p r è s le tub", d e F r è r e b e a u (Salão d e
Paris, 1912). abrir um livro, hade
chegado si não hou-
ser una destes.
vesse cortado a cabe-
Porque ? Não é unicamente por causa do
ça e os membros a uma porção de animaes. seu valor intrinseco. Não que eu negue os mé-
Confesso que ao principio sentia pena e repu- ritos de Mnae. de Ségur, cujos contos não ces-
gnância; mas acostumei-me pouco a pouco a isso sam de enthusiasmar as gerações suecessivas, nem
e consolo-me com a idéa de que assim pro- os de Júlio Verne, antecipador maravilhoso e
cedi para allivio da humanidade.» suggestivo de todas as descobertas do ultimo meio
I ,1.1// RH A

o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o

século, e ainda menos os de Daniel de Foé,


cuja narrativa tem tanto mérito philosophico quan-
to litterario.

Mas não é unicamente nem sobretudo por


causa das suas qualidades que eu relerei esses
livros. E ' porque os li quando criança; porque
elles fizeram vibrar a minha incipiente sensi-
bilidade e porque, ao folheal-os de novo, é
a mim mesmo que revejo, um eu que é o mes-
mo do menino cujos traços se apagam sobre pho-
tographias amarelladas.

Pensar que esse menino foi morto para


sempre pelo velho senhor que escreve estas li-
nhas í uma idéa inexprimivelmente melancólica. TODAS AS
' GRAVURA
E ha um prazer, que eu me sinto inteiramente " IMPBESSAS NESTA P.EVISTA
-. SÃO FEITAS MA /
incapaz de definir, em achar de novo, aqui e
alli, alguns fragmentos delle entre as paginas
ASAYIANN/-
/ (ANTIGA CASA BRUNl-
fanadas dos livros que povoaram com as suas & RARRÉR) è? ÍEPULVEDÁ / ;
Z\r R O A L-E.DO, . 3 0 /»i
visões a alma sedenta e anciosa da criança...
• Tf/eph. norte - 3 5 6 7 ^
- BIODE lANEIEO >
Quando as releio, despertam em mim ve-
lhas pequeninas coisas delicadas. E tenho a idéa
de que estou muito menos morto.

.André LICHTENBERGER
— AMERICA —

Si de facto existiu, não teve no Mirande, o castello de Castelmore, em que o


emtanto a existência aventurosa ima- nosso homem nasceu ahi por 1620, não tinha
ginada por Alexandre Dumas, que razão alguma de erguer uma torre orgulhosa.
delle fez o heróe do seu celebre O seu domínio mediaJse pela sombra que elle
romance. Não obstante, não ha mui projectáva sobre o solo; o interior era nu'
ta differença entre o d'Artagnan fi- e apenas continha moveis usuaes, sem preten-
ctício e o cadete da realidade que, ção a luxo. A vida era medíocre e as sete
chegado a Paris famelico e cheio de crianças que se comprimiam em torno da mesa
ambições, ter-se-ii tornado mare- paterna alli saboreavam este prato bem pouco
chal de França si não fosse um de- custoso: a esperança que lhes davam as nar-
sastrado tiro de mosquete. E' o rativas familiares sobre tantos gascões miserá-
veis tornados illustres na corte de Henrique IV
que se vae vêr com a leitura desta
este mesmo um heróe afortunado.
narrativa do historiador H. de Fels.

r
^ ^
ELTRO galantemente recurvado, dentes
de lobo sob um bigode retorcido, a
mão pousada sobre a concha de uma lon-
Quando, em 1640, o futuro mosqueteiro to-
mou o caminho de Paris, é provável que, com
tal regimen, estivesse migro como um pastor
ga espada; intrépido mas reflectido : da sua terra. Elle não perdera tempo em estudar;
orgulhoso, mas astuto; hábil no manejo das ar- a sua instrucção se limitava a saber manejar
mas, mas com o espirito fino como a lamina da sua uma espada, e elle a manejava bem.
espada, tal se apresenta á nossa imaginação o Essa espada era a sua principal riqueza;
dArtagnan, heróe do romance. Que perderá, com-
si nada prova que elle partisse do castello na-
parado a elle, o verdadeiro mosqueteiro do rei,
tal com uma golla de 22 francos e com dez es-
Charles de Batz-Castelmore, chamado dArtagnan?
cudos nas botas, o que é certo é que elle não
E' que os homens de lettras se mostram pródigos
possuía as 250 libras necessárias, nesse tempo
de anecdotas aventurosas a seu respeito. An-
de vida barata, para ir a Paris equipar-se con-
tes de Alexandre Dumas, um outro escriptor,
venientemente e esperar o bom vento. Mise-
Courtils de Sandras, começou a legenda. Desde
rável dos maiores, elle era além disso de
1700, isto é, vinte e
uma nobreza duvido-
sete annos depois da
morte da per sonagem, sa, o que prova a
já esse folliculario multa imposta mais
orna a sua historia tarde, por usurpação
de episódios cheios de titulo aos seus ir-
de imaginação e de mãos, como elle Batz-
erros. Para melhor il- Castelmore. Por pru-
ludir o leitor, elle dência, pois, o nosso
publica as memórias cavalheiro intitulou-se
de dArtagnan, de Artagnan, nome já
que o heróe jamais usado com vantagem
escreveu uma linha, na corte e oriundo
mas atravéz dasquaes, da illustre família
sempre com a espada dos Montesquiou, a
á mão e a fanfarri- que pertencia a sua
ce aos lábios, elle mãe, cuja alliança ha-
se eleva á fortuna via enchido de orgu-
sob o sorriso das gulho os Batz-Castel-
bellas e a admiração more, descendentes de
dos poderosos. commerciante de Lu-
Na aldeia de Lu- piac. Não importa.
piac, não longe de Não era necessário
- ,1.»// RH A

possuir tantos escudos, nem títulos de nobreza Artagnan certamente tomou pai te em duel*
para vencer Sob Lui/ XIII, quando se era gav- los. \\;is si se ignora que elle tenha sido algum
ião, isto é, bravo, ambicioso, cheio de pic- dia ferido em combate regular, muito menos se
sumpçSo, com o nariz assestado para a fortuna. sabe que elle haja participado de encontros
Em Paris Artagnan instailou-sc na rua des sensacionaes. Quando elle appareceu em Paris
Fossoyeurs, no albergue do Gaillard-Bois, a dois os editos de Richelieu tinham acalmado os
passos da rua de Tournon, em que estava o pa- duellistas. Havia ainda quem se batesse por ques-
lácio do senhor de Troisville, capitão dos mos- tões de honra, mas a moda estava em declínio.
queteiros. BastOU pois a d'Ar-
E' exacto que tagnaii mo3trar-se,
elle tinha uma em algumas cir-
carta de recom- cumstancias banaes,
mendação para de com a espada á
Troisville e que mão, para estabe-
elle travou conhe- lecer a sua reputa-
cimeento, em ca- ção de gentilho-
sa deste, mas sem mem valoroso. Em
episódios romanes- todo caso, é certo
cos, com três ou- que sobre o seu
tros gascões, gran- destino os duellos
des espadachins, nenhuma influen-
chamados pela le- cia exerceram; nem
genda : Athos, Por- o sitio de La Ro-
thos E Aramis. chelle, tampouco,
O primeiro que nem as contendas
elle encontrou, Por- tle Richelieu com
thos (na realida- Anna dAtistria e
de, Isaac de Por- Buckingham, pois
tau) depois de ou- o nosso cadete de
vir o joven Arta- Oasconha, nessa
gnan elogiar os época, ainda brin-
seus parentes de cava nas ruas de
Montesquiou, dis- Lupiac com fede-
se-lhe mais ou me- lhos da sua idade.
nos o seguinte: E n t r a n d o para
— Está bem. as g u a r d a s elle fi-
Deveis, pois, imi- cou quasi sempre
tal-os em tudo ; nos exércitos e se
do contrario o me- conduziu brilhan-
lhor é voltardes pa- temente nos assé-
ra o logar de que dios de Arras, de
viestes. La Bassée e de
Artagnan ligou- algumas outras ci-
se também a Hen- dades. Em Qrave-
rv dAramitz, a lines elle penetra
que o titulo feu- só num forte avan-
dal de abbade lei- çado dos hespa-
go dAramitz va- nhóes. O camara-
P H O T O G R A P H I A ARTÍSTICA da que o acom-
leu, sob o reino
de Alexandre Du- "o ?L:RT" P O S E D E HANNA GATH E ILSE EILERS, DE BERLIM. panhava abando-
mas, um episcopa- na-o e conta na
do imaginário e gostos ecclesiasticos provavel- companhia que Artagnan morreu crivado de gol-
mente também imaginários. pees. Os francezes atacam e o encontram bem
O terceiro amigo, Armand de Sillègue d'A- vivo, oecupando sósinho a posição onde aliás
thos, nunca teve nada de mysterioso. Franco- elle não achara inimigo algum. Foi sem duvida
mosqueteiro, elle não se tornou conde de Ia este episódio que fez conceber a Dumas a idéa
Fere, na sua velhice, pela simples razão de do bastião de La Rochelle. No emtanto, ape-
que morreu em 1643, de um ferimento a espada zar dos seus serviços, Artagnan arrasta sempre
recebido talvez no curso de um combate no botas sem solas; afinal, nomeado mosqueteiro,
qual elle assistia o nosso heróe. elle entrevê as primeiras perspectivas. E' no
— AMERICA

campo de Amiens. Mazarino pede a de Iro.sville Saudado na cidade pelo olhar admirado das
a designação de dois mosqueteiros que sejam fi- burguezas, Artagnan procura imitar a alta perso-
§ dalgos mas que tenham apenas a capa e a es- nagem na corte em que elle tem o favor do
pada, afim de estar certo do seu zelo em troca soberano; freqüenta a casa de Mme. de Sévigné,
da fortuna que lhes promette. De Troisville perde-se ás vezes pelos salões das preciosas e
apresenta-lhe dArtagnan e um certo Besmatin. necessita de uma singular finura de espirito para
Os dois mosqueteiros imaginam-se já su- não deixar transparecer, sob o seu gibão de
bitamente ricos; mas têm de fazer largo descon- cavalleiro parvenu, o fidalgo ignorante e rude que
to, porque a generosidade de Mazarino é limi- vinte annos de campanha ainda mais embrutece-
tada. O ministro os emprega em várias mis- ram. Elle fará ainda melhor neste gênero.
sões, para as quaes lhes entregaram algum di- Falta apenas á sua fortuna um casamento ri-
nheiro; mas, pagas as despezas, ficava-lhes tão co; este se apresenta. A 5 de Março de 1659,
pequeno lucro que para elles não havia diffe- no Louvre, em presença de Luiz XIV, elle assi
rença do passado. gna o seu contracto de casamento, com a nobre
Havia no emtanto uma para Artagnan; por- dama Charlotte-Anne de Chanlecy.
que elle bem depressa se fez apreciar pelas suas No emtanto os mosqueteiros acompanham a
qualidades de homem de confiança e pelo seu Saint-Jean-de-Luz Luiz XIV que vai desposar
valor de infatigavel cavalheiro. Tornado crea- nessa cidade Maria Thereza. Talvez, ao passar
tura do primeiro ministro, o mosqueteiro exe- não muito longe de Castelmore, Artagnan ti-
cuta logo proezas formidáveis. Assim, durante vesse deixado o cortejo para ir de uma cami-
a Fronde, recebida a noticia da batalha de Re- nhada saudar a mansão paterna. Mas a visita
thel, elle é enviado a esta cidade, ao marechal foi rápida, porque o gascão não era homem
du Plessis. No dia seguinte elle já se acha de que medisse melancolicamente sobre o limiar
volta. dos seus pães a fuga do tempo e se enternecesse
A sua celeridade e exactidão no cumprimen- com as lembranças da sua mocidade. Só o inte-
to de ordens, o partido que tomou de seguir ressava a acção e um bello dia se preparava
Mazarino durante a sua desgraça, o cuidado com para elle, esse 26 de Agosto de 1660, em que
que serviu ao ministro de mensageiro para a Fran- Paris, coberto de arcos de triumpho, ia aco-
ça, fizeram já delle uma pequena personagem. lher com enthusiasmo a nova rainha que lhe
Artagnan obteve já uma patente de capitão das trazia Luiz XIV, na aurora gloriosa do seu
guardas, mas espera coisa melhor, pois, quan- reino. Artagnan, nessa circumstancia, foi magní-
do Mazarino entra triumphante em Paris, o mi- fico, precedendo os soberanos á frente da sua
nistro sabe, e o joven rei muito menos o igno- companhia, pomposamente vestido e montado num
ra, que Artagnan é tão valente soldado quanto cavallo de preço «ornado, nada mais nada menos,
servidor seguro nas missões que demandam como um altar de confraria», que levava cerca
discreção e esperteza. O gascão ágil e frio, de vinte pistolas de fitas.
como diz Cyrano, está portanto em pleno êxito. O sub logar-tenente está a ponto de tornar-
Quando o rei reorganiza a sua companhia de se capitão; ao horizonte se desenha mesmo para
mosqueteiros, dissolvida em 1646, é a Arta- elle o bastão de marechal. Ellle é chamado para
gnan que elle nomeia o seu sub-logar-tenente. as grandes fortunas, diz Saint-Simon. Luiz XIV
E', em realidade, entregal-a á sua direcção, por- lhe confia, primeiramente, a missão mais de-
que o capitão de titulo, o licada: encarrega-o de pren-
duque de Nevers, delia não der em giande íegredo Fou-
se occupa. Já não se trata, quet, o superintendente das
aliás, dos espadachinsesfar- finanças que, quasi tão po-
rapados de Luiz XIII, ama- 'j£r í I N deroso como o rei, é por
dores de duellos e de gran- este accusado de prevarica-
des bebedeiras nas tavernas. ção. Fouquct é preso em si-
E' o esquadrão de escól que
gillo. O soberano só tem
dá ao seu chefe um logar
entre as altos dignitarios confiança em Artagnan, o
do exercito, composto que é tmico que pódc ver o pri-
de fidalgos disciplinados, to- sioneiro. Dutante longos me-
dos vestidos com a casaca zes elle não o deixará, co-
azul com grandes cruzes de mo a sua sombra e, facto
prata, todos montados em único nos annaes das pri-
magníficos cavallos unifor-
sões, cumpriu a sua mis-
emente pardos.
são satisfazendo o rei, Fou-
.
1.1// RH A

quel e os amigos de Fouquet, de que elle crina soberba, Orgulhoso tle s u p p o i t a r no seu
foi a única consolaçSo. dorso a graciosa artista acrobata que mais ti
••• afagava do que lhe batia com o chicotinho, uni
( inco annos depois de ter conduzido o su- sussurro corria pela multidão que enchia a casa
perintendente á fortaleza de Pignerol, Artagnan de espectaculos. As criança-; batiam palmas e mio
é chamado a exercer os mesmos talentos e as se cansavam de admirar o intelligcnte e bello
mesmas funeções para com uma outra perso- animal.
nagem considerável, Lau/tin, de quem a Cirande Habituado a fazer, desde pequeno, apenas
Mademoiselle queria fazer o seu marido. O já aquelle trabalho, Nelusko nunca se preoecupou
então capitão de mosqueteiros executou mais de aprender outra coisa. E si sabia do trote em
uma vez a tarefa com os louvores combinados volta do picadeiro, apenas tinha geito para mar-
do que deu a ordem de prisão e do próprio pri- char lentamente pelo g r a m a d o do campo em que
sioneiro. pastava, e isso mesmo por que era obrigado a
Que t i d o e que habilidade, nesse soldado procurar os melhores sitios em que havia grama
sem cultura! Habilidade e tacto que fazem del- tenra. Nelusko era indolente e julgava que com
le uma figura muito mais complexa e rara do o fácil trabalho do circo estaria eternamente a
que a do duellista legendário. salvo de difficuldades.
SÓ lhe restava esperar tranquilla- O r a , aconteceu que o dono do circo
mente as ultimas honrarias que lhe resolveu acabar com aquella profissão e
faltavam. Mas Artagnan, apezar de tei- dedicar-se a outros negócios. Vendeu,
mais de cincoenta annos e de haver pois, o material, os artistas dispersaram-
d a d o provas de capacidade como di- se, á procura de outros trabalhos e Ne-
plomata tle corte, era ainda, antes de lusko foi vendido a um leiteiro, para
tudo, um fogoso militar. puchar uma carrocinha de distribuição
Em 167 3 elle toma parte no si- domiciliar de leite.
tio de Maestricht. Ataca com os seus Mas, habituado á marcha circular
mosqueteiros c quando estes voltam, em torno do picadeiro, o antigo cavallo
com a espada amolgada e sangrenta, de circo começou a gyrar com a car-
tendo perdido cento e trinta dos seus, roça no meio da praça publica, mostran-
em tresentos, o capitão falta á chama- do-se imprestável para o novo serviço.
da. Muito amado pelos seus homens, Resultado: apanhou muitas chicotadas,
alguns vão á sua procura numa meia- que nem de longe se pareciam com as
lua batida pelo fogo inimigo, e acham cariciosas chicotadas da acrobata, e, além
Artagnan morto, com o pescoço atra- disso foi vendido a um roceiro, para
vessado por uma bala de mosuuete. montaria. Com o roceiro não se mostrou
O cadette de üasconha morria como heróe. melhor o pobre Nelusko e dava a im-
O rei, diz La Gizctte de tran- pressão de um cavallo maluco todas as
ce, falou muito bem de d A r t a g n a n nes vezes em que o seu proprietário o caval-
sa oceasião, e louvou-o em particular pelo facto gava e começavam os dois a andar á roda.
de ser elle o único homem que achou meios Está claro que o cavalleiro também parecia
de se fazer amar pelos outros, sem fazer aliás doido.
para elles coisas extremamente agradáveis./ Vendido novamente, Nelusko passou de mão
Mesmo despojado das aventuras que o fi- a mão d u r a n t e muitos annos, sempre incapaz de se
zeram celebre atravéz do romance, não vale o ver- adaptar a outro trabalho que não fosse andar á
dadeiro Artagnan tanto como a sua legenda? roda e a apanhar sempre bordoada dos seus do-
H. de EELS. nos enfurecidos.
E, como só a p r e n d e r a a gyrar, acabou medio-
cremente, elle, que fora um cavallo admirado e
0 CAVALLO DE CIRCO invejado, a puxar o braço de um moinho de
íarinha, t r a b a l h o monótono e sem brilho, muito
•i^c—••—i——a—mmmmommmamm•—MI
próprio para a paciência dos pobres burrinhos.
(Conto para crianças)
Isto mostra que animaes e homens necessitam
Kl ELLSKO era um cavallinho malhado, ele- de ter conhecimentos variados, para serem ap-
gante e ligeiro, que fazia inveja aos plicados quando novas condições de vida o
outros indivíduos da sua espécie. Ne- exigirem.
viL- G. L.
nhum animal apparecia com mais garbo
no picadeiro do circo em que trabalhava e onde
fora criado. Quando elle surgia, airoso, menean- Quem sabe viver com pouco, de nada sen
d o a cabeça, com o seu trote miúdo, a agitar a te falta. — P U B L I U S SYRUS.
— AMERICA —

O MASCARA
o
—DE —
'O
FERRO 'O

O .Mascara de ferro-, de que viam visto representar as suas farç.is. A con-


Maurice Rostand fiz o heróe dz cordância das datas é aliás eloqüente. Julga-se
um drama, é um enigma histó- que Molière morreu a 16 de fevereiro: o pri-
rico que por muito tzm/io apai- sioneiro mascarado, um mez mais tarde, estava
xonou os espíritos. Nesta pagi- a caminho de Pignerol, a sua primeira Bastilha.
na G. Lcnôtre expõe uma das Não ha duvida: era Molière! Os seus inimigos
mais extranhas hypoth:s:'s imagi- tudo conseguiram da indulgência culpada do r e i ;
nadas, a de pretender que o pri- conseguiu-se fazer comprelaender a Sua Majestade
sioneiro mysterioso não era ou- que o seu protegido era indigno do augusto fa-
tro sinão Mclicre. vor. Mas como não se podia incriminar as co-
médias que o próprio Luiz XIV apoiara e ap-
plaudira, foi necessário precisar o crime do i-s-
A cerca de quarenta annos, Anatole Lo- trião immoral que por muito tempo zombara
quin. que manifestamente tinha vagares das leis divinas e humanas e achou-se isto: Mo-
e n ã o sabia em que occupal-os, ima- lière, casando-se com Armande Béjart, despo-
— — ginou que nem tudo e r a normal nas sára a própria filha: estabeleceu-se uma con-
circumstacias conhecidas da morte de Molière; fusão voluntária entre Armande. nascida 24 an-
depois d e ler o livro da Vung sobre o Mascara nos depois da sua irmã Madeleine, e a pequena
de ferro, elle reparou que a primeiro menção Françoise, filha dessa mesma Madeleine; affir-
que se fez desse prisioneiro mysterioso remonta mou-se audaciosamente que nunca houvera Fran-
ao mez de abril de 1673. Estabeleceu-se pois çoise alguma, mas somente uma Armande e que
no seu espirito uma correlação funesta: o desgra- esse nascimento datava do tempo em que Molière
çado que arrastam de prisão em prisão, cujo vivia com a sua linda camarada. Deve-se cier
rosto cobrem, n ã o com uma mascara de feiro, que de todos os ódios, o dos autores sem talento
mas com uma de v e l l u d o . . . E ' que esse rosto e invejosos do suecesso dos seus confrades felizes
era, pois, muito conhecido ! Porque oceultar os é o que se revela mais tenaz e rancoroso, por-
seus traços physionomicos aos camponios fran- que essa odiosa calumnia era da invenção do
cezes que o viam passar com o seu guarda, o poeta Montfleury; este vingava-se assim dos rao-
.Snr. de Saint - Mars, si esses traços não 'ossem tejos com que Molière o zurzira em Clmpiom-
populares ? Si o prisioneiro mascarado era, 1 orno
ptu de Versailles.
se disse, Mattioli, o agente do duque de Mantua,
ou o patriarcha armênio Avedick, ou mesmo o Enganado, Luiz XIV indignou-se. O caso
duque de Monmouth, ou o duque de Be.i .rort, estava para decidir-se: mas o rei não podia pen-
ou o conde d e Vermandois, ou um irmão de Luiz sar cm entregar ao carrasco una homem de que
XIV, como mais tarde insinuou Voltaire, por- elle sempre tomara a defesa: fora dar-se 11111
que dissimular o seu rosto, que ninguém na pro- desmentido a si próprio. Elle consentiu, afinal,
víncia conhecia ? Ao passo que a precaução se em que o autor do Tartufe se sumisse de tal
impunha e justificava, si se tratasse de um co- modo que ninguém mais ouvisse falar delle. Dalai
mediante que, durante dezeseis annos, correra as essa «desgraça» súbita, essa morte supposta, essa
aldeias da França, que todos os campone/es ha- inhumação fictícia e a mascara, precaução supre-
1W/ RICA -

I F O O T B^ILi,
O combinado carioca, vencido pelos paulistas no ultimo jogo do campeonato deste anno.
AW*W 'S.VWWWWWW^^.IVWVMSAIW^SIMJWW^VS.SIVWWVVWS^^

ma que evitasse todo perigo de una eventual intriga) quiz que o túmulo fosse exeavado em
reconhecimento. 1722, e os ossos fossem depositados «próximo
á casa do capellão»; dahi foram retirados em 17 5 o
e levados para a igreja de Saint-Joseph «onde
Convém observar que. quando uma suppo- ainda estavam em 1770»; só então os inhumar.ini
sição desse gênero se fôrma no cérebro de um de novo «no local primitivo», para de novo os
erudito amador, effectua-se espontaneamente una exhumarem em 1792. Collocados numa caixa e
phenomeno de crystallização que sem cessar a etiquetados, foram mettidos na crypta da igreja,
reforça. Tudo o mais que ler, tudo o que sou- depois levados para o sotão do corpo de guar-
ber, servirá para subsidio da sua idéa. Xão mais da visinho; em 1799 viajaram até ao Museu dos
será senhor da sua critica e fechará voluntaria- Monumentos Francezes (jardim da actual Escola
mente os olhos ás contradicções mais evidentes. de Bellas Artes) e foram emfim collocados, em
Tal foi o caso de Anatole Loquin. Elle estudou 1817. no cemitério du Père-Lachaise. Portanto,
primeiro a certidão de óbito de Molière, e o nem certidão de óbito, nem túmulo.
que ahi achou, ou melhor, o que não achou, en- Anatole Loquin, preoecupado com decifrar
cheu-o de confiança. Officialmente, com effeito, o enigma do Mascara de ferro, propunha-se as-
Molière não morreu a 17 de janeiro de 1673; sim o problema:
a certidão que constata esse pretendido óbito, «Achar um homem célebre, extremamente
não assignada por testemunhas, é legalmente nulla. em vista, de rosto bem conhecido, julgado morto
Póde-se. ao menos, encontrar o túmulo do au- repentinamente depois de 1670 e antes de 1674
tor das Precieuses? Xão. Elle foi innhumado «ao e que tivesse provocado ódios e temores bas-
pé da Cruz.) do cemitério Saint-Joseph. diz esse tante vivos para que fosse afastado definitiva-
documento suspeito e foi nesse logar que Mme. mente, sem morrer, do tracto dos vivos».
Molière fez collocar uma pedra «de um pé de Deve-se reconhecer que nunca um dialec-
altura acima do solo»: mas a desgraça 1 ou a tico foi menos inspirado porque certamente, sen
- AMERICA -

se dar conta. Anatole Loquin adaptava os


seus dados a uma solução que tinha toda
prompta. ent vez de subordinar essa solu-
ção a premissas estabelecidas com inteira
isenção de animo.
As suas eram arbritarias. Nada faz
crer, com effeito, que o homem de mas-
caras de ferro fosse celebre nem extrema-
mente em vista; a data em que essa sinis-
tra apparição faz a sua entrada na Histo-
ria não está forçosamente comprehendi-a
entre 1670 e 1674 pois que Voltaire, que
se fez o seu primeiro emprezario, indica
a de 1661; outros se inclinam por 1669.
Depois dos trabalhos decisivos de Frantz
Funck - Brentano. devemo-nos deter na da-
ta de 1678.

Aliás eu nae admiro de que elle não


tenha sido detido na sua demonstração fan-
tasista pela constatação de um facto inne-
gavel e que oppõe á sua these uma objec-
ção peremptória. Ninguém ignora que Ar-
mande Béjart, depois da morte, ou, si qui
zerem, do desapparecimento de Molière, ca-
sou-se a 31 de maio de 1677 com o com-1
diante Guérin, conhecido no theatro pelo
nome de Estriche. Ora, é verosimü que
si, pelo respeito para com a religião e os
seus ministros, Luiz XIV tivesse sacrifi-
cado Molière ao ódio dos seus devotos, elle
supportaria que a 'mulher não viuva do
seu prisioneiro mascarado casasse de novo ?
Isso teria sido tornar-se cúmplice de um
acto de bigamia, crime julgado no século
XVII muito mais severamente do que hoj
e considerado então una sacrilégio pelas
leis da Igreja.
Decididamente, a supposição de Ana
tole Loquin levaria a conseqüências im-
previstas; o seu ponto de partida era vi-
sivelmente falso e Molière não era o Mas-
A s toilettes elegr&nte» cara de ferro.
Elegante traje de tarde em «crêpe geor-
gette» resedá sobre fundo da mesma côr.
A frente é ornada nos dois lados com um
entremeio de crivo sobre organdi.
O cinto que augmenta 0 corpo do vestido,
tem o mesmo enfeite que a saia.
- AMI RICA -

TENNIS
Alguns vencedores
dos jogos cnlrc S.
Paulo e Rio.

/a. -3\
REGATAS
Claudionor Provenzano.
vencedor do Campeonato do
Remador.

\fi" TTT- •a/

e
AMERICA

O PLAGIO DA M O D A ^ *
Os grandes modistas francezes se prepara-
^J
ta de provas. A moda é plagiaria por natu'eza.
ram para perseguir os plagiarios. No tocante á moda a mulher tem um grande
Já não é sé) a litteratura que soffre esta instineto de imitação. Copiam uma das outras,
praga de imitadores. Os modelos que tantos des- penteados, chapéos, trajes, adornos.
velos custam aos artistas da moda e que são Sempre a moda foi plagio. Um dia a Im-
apresentados orgulhosamente por seus creadores, peratriz Eugenia que tão plagiada foi nas suas
soffrem o ultraje da imitação. crinclinas e suas modas, apresentando-se com seu
O papel do plagiario é bastante fácil e se filho, em uma parada militar, collocou uma ban-
exerce sem esforço de deira vermelha como
imaginação. insígnia de guerra, so-
Os industriaes ame- bre o seu traje pre-
ricanos que fazem edi- to. Surprehendida as-
ções clandestinas de sim pela vista da es-
obras européas. che- posa do Embaixador
garam a estabelecer Inglez e seduzida es-
um centro de imita- ta, pela graça da hes-
çces em Paris. nhola, foi lançada a
< Is modistas não a- moda das bandeiras
chana meio de se de- vermelhas.
fender. N ã o ha ne A faixa que amar-
nhum modelo que es- rou nes e.i- cabellos
teja livre de uma co- a bella Marqueza de
pia, tão bem feita, Fontanges de.i origem
que é inútil aos gran- ao penteado de seu
des naodistas invoca- nonae.
rem eis foros de sua
Bastou que um dia
arte. dizendo que o
uma bella levantasse
traje ou chapéo co-
as mangas do vesti-
piado não tem a gra-
do deante do sobera-
ça e a distincção do
no que elogiara seus
modelo orginal : a
braços, para que todas
differença de preço
as outras passassem a
faz com que as co
usar mangas curtas
pias alcancem maior
O mesmo motivo
venda.
fez cahir aquelles ina-
E ' verdadt que ;i mensos penteados que
copia dos modelos é eram castellos com ar-
um delícto. Os mode- madura de arame, pa-
los da alta costura ra que imperasse o
são. como se sabe, pa- penteado baixo.
tenteados c a repro- O S BOUDOIRS M O D E R N O S Não se usam em
du< cão p r o h b í d a ; a Uma e l e g a n t e "coiffeuse" d a ultima m o d a .
nossos dias os ban
copia I- sujeeíta ás penas da 1-i. dós á (lei) de Msrods c ainda não impera a
¥.' tão difficil porém ao modisla provar cinta á Langie como a usa a bella nadadora í
iiii) destes delictos, como ao escriptor ou ao pin- A moda sempre foi imitação. Até uma das
prendas de mais antigo e discutido uso. o corset,
• que v é sua obra desfigurada por um iini-
foi inventado pelas mulheres para imitar i cin-
tador. tura de vespa dos guerreiros do Norte.
Quando uni plag'arío compra um mod:do, 0 que salva o grande modista é poder
mta-0 variando pequenos detalhes, porém 0 suf- satisfazer o anhelo de originalidade, o lesejo
ficiente para que perca ,. identidade e o põe de ser o primeiro em apresentar um íodelo
que usem todas as mulheres, e o orgulho de
venda a preços sem comp Ic-nc i;i, \ ulgarí cm-
ostentar uma grande firma, como garantia de
do-o para a exportação. elegância, no forro das toilettes. Isso deve bas-
' i desespero dos modistas está nessa lal- tar-lhes. CARMEN.
— AMlRH \

A S C O N S T R U C Ç Õ E S JVEOIDEIRJSrAS
O lindo e elefante prédio construído em Santos para o Coronel Joaquim Monlenegro, pela Companhia Constructora . *
Santos. E" uma residência confortável e distincta, no gênero em que se tornou especialista a companhia referida

É
OS PROGRESSOS OE SANTOS 5] 1'ma. boa, r e i ^ i n m c n d a ^ ã o

Para qualquer casa é ter seus


impressos perfeitos e nítidos
Em exposição clara e magnífica, um bri-
lhante collaborador da «A Tribuna», estylista im- C o n s e g u e - s e

peccavel, de mérito assás reconhecido, tem dis- 1 quando seus impressos são fei-
criminado os evidentes progressos grandiosos da tos na : - - — — —- — — —

cidade de Santos, nos últimos annos. sob a ad-


TYPOGRAPHIA E PAPELARIA
ministração do seu actual prefeito, apesar da
situação precária e oppressiva das finanças do
município, oriunda das gestões transadas. ===== DE = = =

Opportunamente. com a succinta apreciação L. C A R V A L H O & co.


que exige o exiguo espaço de uma revista que.
como America, se occupa de assumptos diversos | RUA15 DE NOVEMBRO, 149
e múltiplos, trataremos dos surprehendentes pro-
Telephone, Central 4-4-7
gressos da legendária terra dos Andradas. deta- S A N T O S
lhadas agora pela A Tribuna) de Santos.
I
ft ^m&mtti*^x-iC%^<WkMSnWG*kWnn^Êim
AMERICA —

Na era do bailado
^!r =Q fí* =ü^

«Tudo dansa!» é uma ex-


pressão brasileira que bem
se pode applicar ao mundo
actual. Nunca, talvez, come
hoje. a dansa esteve tão em
voga e exerceu tal prestigio:
bailarinas ganham milhões,
organizam-se records que são
verdadeiras corridas á mor-
te . . . As irmãs Dolly, que
estão fazendo furor nos Es-
tados Unidos, por emquanto
só têm batido o record de
graça e de belleza. Quanto
á excentricidade . . . nem se
discute !

O o <£ O O O <:? O <> <P <> <í? : > O 0 O O 0 0 0 O O O O O O O O O O O OOOOOOOÍPOOOOOO

OS COSTUMES
-v^* *v

ADA dia se torna mais indispensável o Requer essa toilette, como complemento, um
traje tailleur no guarda roupa de uma chapéu de pequenas dimensões e de extrema
dama elegante. Para a manhã, para simplicidade.
essas sahidas improvisadas ás lojas, á Na mão a bengala ou o guarda-chuva,
casa da modista, e t c , a mulher hoje necessita segundo o tempo.
lesses trajes simples de linha severa e graciosa Empregam-se actualmente para a confecção
que resistem a todas as modas de fantasia, con- destes costumes, fazendas lisas de tons cinzentos.
ervando sua integridade e sua distineção... Fazem-se também com a combinação da saia
Para a rua, quer para a dama de alta preta com o casaco em tom «beije» íscuro;

roda como para a mulher modesto que sae de porém esse traje, na realidade, parece indica-
para o trabalho. '• o traje ideal. do para excursões de caracter sportivo.
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philis cutânea, na 8 a enfermaria obten-
do u m resultado surprehendente. O
doente, que pesava 3 8 kilos, augmen-
tou s e i s k i l o s c o m o uso de vidro e
meio do referido preparado, tendo as
: m a n i f e s t a ç õ e s cutâneas cicatrizado
completamente.
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1." tenente encarregado da 8 . 1 enfer-
maria.
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Construccão da porta-batel para o dique " S a n t a C r u z '


tf CD CD CD
AMERICA -

L
Âs cidades já não podem prescindir dos campos de aviação
\ política de vistas estreitas que leva as
M\ revista norte-americana publica uma

U serie cie- observações curiosas sobre


.1 av&ção as necessidades que esta
faz apparecer.
municipalidades a dividir bons campos para ater
rissagena em lotes de terreno para construi òcs,
terá como conseqüência localização dos campos
de aterrissagem em pontos muito afasta los cio
Aeroplanos norte-americanos, em vôo recente
centro das cidades e onde a sua utilidade coinu
que fizeram por sobre San Diego, afim de obser-
var ,i^ condições cie iterrissagem n'aquella zona, depósitos para a navegação aérea commercial
verificaram, com tristeza, que o campo munici- ficará diminuída de muito.
pal de Veneza pequena cidade da Califórnia), ii grande valor da navegação aerca com-
havia sido dividido em leites para construi ;oes. mercial está n.i sua velocidade. Ora, s 1 o, pas
Este facto despertou i attenção dos uveres- sageiros as mercadorias forem obrigados ,i
s.iclcis sobre o descuido que se nota d i parte desembarcar n uma distancia considerável cio
de muitas cidades no <|ii.- respeita i aerodromos centro das cidades a que sr destinam, perderãui
munic ipaes campos de aterrissagem, os qua is um tempo precioso quando o que exactamente
precisam ser preparados, em tempo i visando buscavam com aquelle meio cie transporte era ,i
um futuro talvez bem próximo. lapide/.

No meio do lorvelinho vertiginoso da vida contemporânea, o homem soube crear-se


um repouso ás suas múltiplas preoecupações. E o fypo da residência ac
por uma elegância discreta que faz bem á vista e alegra o coraç
— AMERICA —

MARIA VICTORIA
^=.= , c = ^

è i

Ir A\ UANDO nasceu a menina, perguntaram ao vestido de D. Victoria. roçando os dedos


nl I I fr a D . Victoría qual devia ser o nome pelos muros.

C \J ^
v
da sua filha. Sentada majestosamen-
te no leito, e julgando ter benefi-
ciado a humanidade, dando mais uma parochia
Maria Victoria completou vinte c oito annos
solteira; o juiz já tinha morrido, talvez. de
aborrecimento, pois toda a sua vida tinha sido
na ao senhor vigário, ella respondeu seriamente um longo bocejo. Viviam mãe e filha, uma ao
— Não sei. lado da outra, no casarão cujo telhado arrui-
nado cobria metade do becco que passava ao
Tia Rita e nh'.\nna. a ama e a curiosa,
lado.
depois de terem affirmado, como de c ostume,
sacudindo as velhas cabeças, que nunca se tinha Era calçado com grandes pedras como tú-
visto creança assim, cochicharam durante algum mulos • por sobre ellas corria um filetc de
lempo. agua, rolando preguiçoso, muito cansado, pare-
Disto resultou, depois de um;i consulta ao cendo evitar passar por baixo da janella onde
jui/. que a recém-nascida passou a chamar-se o visinlio pharmaceutico se debruçava todos os
Maria Víctoria. dias.
Parecia não poder viver sob o peso do Elle babava uni pouco, e, na sua sala de
nome de sua mãe. Cresceu pallida e magra, jantar havia uma esteira enrolada, para quando
tendo os olhos sempre tapados por uma mc- tivesse os a t a q u e s . . . Victoria sentia o seu olhar
< ha de cabellos. cheia de manchas ruivas como momo seguil-a pela casa, atravez das paredes]
queimaduras. todas as tardes.
Quando sahia. a mulher do juiz repuxa- A viuva do juiz, concertando os óculos e
va-os brutalmente para traz. prendendo-os com cotia uma ruga má ao canto da bocea, disse
uma fita azul. Ella abaixava a cabeça, e não um dia á filha: — O pharmaceitico Andrade
a levantava nunca, sempre calada c agarrada pediu a tua m ã o ; o casamento será daqui a
1.1// R/CA —

FIGURINHAS

DA MODA

O O O

Um majestoso
c h a p é u e dois
veslidos l y p l c o s
da moda actual.

um mez Victoria não respondeu, e continuou disseram que o fora a mandado do medico;
i costura, pensando, p e n s a n d o . . . Aos poucos, a quando o negro que o matara foi encontrado
foi lhe subindo ao rosto um rubor que quasi a agonizante na prisão, todos disseram que Maria
tornou b o n i t a . . . Victoria. a viuva, o envenenara.
O pharmaceutico, um mez depois, já não A cadeia era muito grande e na calíça
chegava á janella do becco. nem Victoria mo- branca a humidade traçara signaes mysteriosos,
rava mai> com sua mãe. Os notáveis da pe- esverdeados. Avançava sobre uma l i d i r a fron
quena cidade não se reuniram mais na botica teira á pharmacia. Parecia o craneo apodrecido
para não perturbarem os recem-casados. e a de uma caveira enterrada alli havia muitos an-
pharmacia parecia deserta, com a sua lampa Ia nos. olhando para Maria Victoria com as suas
sempre accesa, ao lado do boccal vermelho. janellas gradeadas. como olhos negros • raia-
Mas foram voltando, e, dentro eiaa breve, dos. E, quando chovia, sahia da porta da cadeia
já se falava alto e ria de novo na pequena uma baba escura e lenta, que vinha passar sob
loja. O promotor, o tabellião e o irmão do o alpendre, tle; onde- Maria Vic toria, chamada
advogado contavam, á meia voz. o que se pas- pelos gritos, pudera distinguir o preto, agar-
sava na casa do novo juiz e na do medico, rado ás grades, delirando com as dores do ve-
i | pharmaceutico era inimigo antigo do medico, neno.
e a? receitas deste eram sempre mal feitas por Aquelles olhos vasios seguiram Maria Vi-
aquelle. ctoria pela casa. atravéz das paredes, e aquella
i I doutor passou um dia pela rua prin- baba lenta, quando chovia, corria até á sua porta
cipal do lugar. Nesse mesmo momento explo- e isso por muitos annos, muitos a n n o s . . .
dio uma ruidosa gargalhada na p h a r m a d a . e.
quando o pharmaceutico foi assassinado, todos (Desenho de JEFFEBSOS) Cornelio de Oliveira PENNA.
AMERICA —

O MELHOE PBESEfelTE
CONTO DE NATA Lo
De
ANTÔNIO
LArAcGO

ff =>j% OÃOSINHO era um bom menino. Obè- --Lcvanta-tc c anda ver o presente do Me-

\^
J ^ft
diente, socegado. excessivamente
fectuoso e muito applicado ao estu-
do das primeiras letras, era
af-

apon-
nino Jesus.
Joãosinho saltou da cama encaminhou-se
para a sala. Uma bella arvore de Natal "lá
tado) como o modelo das crianças ajuizadas, por eslava carregada cie brinquedos. Viam-se, pen-
sua Índole invejável. O pae satisfeito com os dentes de cada galho, em profusão, meias de
seus progressos, com a sua condueta irrepre- file'), de diversos tamanhos, contendo grande va-
hensivel e pelos bons sentimentos que já des- riedade de surprezas, carrinhos de madeira e
pertavam em su'alma, cumulava-o de carinhos de folha, mysteriosas caixinhas envoltas cm pa-
e de brinquedos, orgulhoso de gai ir a qu :11a in- pel cie seda, cartuchos com bonbons, polichi-
telligencia precoce que já se manifestava tão nelos, pequenas espheras colori Ias. minúsculos
promittente de bons fruetos. Xão era commum lampeêes venezianos e muitos objéctos mais. foão-
numa criança de oito annos tanto discernimento sinho, radiante de contentamento, permaneceu por
e cordura. Nessa noite o par- perguntou-lhe: muito tempo contemplar o regio presente do

I -Sabes que estamos na véspera cio Natal?

— Já fiz
Quero uma arvore com brinquedos.
o meu pedido ao Menino Jesus.
Menino

[' bom
]csiis.
Vês,
para
' E abraçando
meu filho,
os meninos que são
a
como

criança
Menino
bons?
beijou-lhe as
Jesus

fa-
ces com ternura.
--Onde vaes pôr os sapatos?
-Debaixo da cama.. Obrigado, paesinho!

- - N ã o seria melhor pólos na sala de vi- Não ('• a mim que deves agradecer.

sitas ? Eu sei que o Menino (esus ê você...


Porque, paesinho ? Ficou resolvido, conforme o desejo cie João-
— E' que ; Menino Jesus não gosta de sinho, que todos aquelles brinquedos fossem dis-
tribuídos pelas creanc.as pobres da visinhança.
•r visto. Podias estar a c o r d a d o . . .
I'. assim se fez. ProcedeÚ-se ao sorteio cias
Ah !
prendas que foram entregues com i maior sa-
No dia seguinte o pae foi despertar o
ho.
O E C L E C T I S M O 3STO M O B I L I Á R I O
Num dormitório moderno, o leito loscano do século XVI combina perfeitamente com a rica tapeçaria
hespanhola. A arle das duas peninsulas fornece ainda cs oulros objecfos accessorios
formando um conjunclo harmônico e elegante.
^..«^<*..»"*W>I.I,I*»W«»»»M1M •

tisfação por Joãosinho, que demonstrava o seu Joãosinho entrou com o menino e a creada
júbilo quando as melhores prêmios eram adju- que chamara o fechou a porta.
dicados .is creanças mais pobres. Tamanho des- Passado algum tempo o pobresinho app.a
prendimento caracterizava a sua bondade. Quan- receu. Vestia um terno de fustão branco, á ma-
do já não restava na arvore una único brin- rinheira, trazia á cabeça um bonet novo de pala
quedo, viu-se encostado ao portal da sala um envernizada e calçava uns elegantes sapatos d
pobresinho descalço e esfarrapado que olhava camurça. Joãosinho tinha dado ao pobre "ieniin
desconsolada e humilde para a arvore despo- o presente que o pae lhe fizera nesse dia
jada. A sua attitude. a tristeza que se lhe re- Diante da nobreza daquelle gesto, de uma acçá
velava no semblante inspiraram grande compaixão tão magnânima, o pae, tomando Joãosinho nos
a Joãosinho. que se approximou J o retardatario. braços, beijou-o demoradamente e disse lhe- com
Não ganhaste um brinquedo' movido;
Não...
- M u i t o bem, meu filho'
Porque não entraste ?
— Foi o Menino Jesus . . .
Estou de pé no chão. disse a creança
— Foi elle, replicou o garoiiuho. desmet]
sensibilizada até ás lagrimas pelo modo cari-
tindo-o a sorrir.
nhoso com que era interrogado.
Como te chamas ?
Vem cá. O teu presente está lá em cima.
— Luizinho.
E dando a mão á criança, levou-o atravez
das salas até ao seu quarto. O pae que obser- — Pois agradece-lhe. Luizinho. que elle

vava a scena não quiz intervir e esperou com o Menino Jesus . . .

anciedade o seu desfecho. Antônio bamego


~- AMERICA -

TERPSYCHORE NO SÉCULO XX

•0
Mae Murray, a excellenle bailarina cujas poses harmoniosas e perfeitas sáo realçadas pelo luxo delirante de suas
. loilelles e dos scenarios inauditos que lhe servem de fundo.
-O
< ; •
- AMERICA •

3K CARTAS DE AMOB
-sSÕ== *^a£g?

í.^" M dos meus confrades en.leiei ou m • annos vem experimentando em vão outros amo
0|<>sí|0
res, a evocação de um amor pelo qual conhe
I I a mim • a outros escriptores) um
ceu tantas alegrias (ou soffrimentos) não dei-
l-;^,^^ questionário a respeito das cartas
xará de- commovel-o melancolicamente, talvez de
<X><X>CG de amor. Devemos desiruil-as. per-
liciosamente. E as cartas relidas nessas condi-
gunta-se, ou. ao contrario, guardal-as ? E pode-
caies recobrarão todo b seu sabor. Repito-o: as
mos esperar dei Ias um reconforto ou uma de-
soluções do problema são variáveis ao infinito.
cepção? Porque ha duas escolas: .. de Danle.
E não sc~ pode responder ,í questão definitiva
que esc revia :
e categoricamente.
A maior desventura
No emtanto, reflectindo bem, creio que ha
!•".' a lembrança f. liz num dia de infortúnio!
interesse em destruir as cartas de amor, porque,
e i de Alfre.l de MuSSet, a quem devemos em três ve/es sobre quatro, edlas se evaporam
c stc -, \ e: s celebres : quando as relemos depois ele alguns me/es ou
annos e provocam no leitor um sentimento de
l'n souvênir heureux est peut-être sur terre magoa e de humilhação. Humilhação de na,Ia
Plus vrai que le honlieur. mais acharmos em in'>s do que sentíamos
outr'ora com tanta febre e violência e, o que
Não é fácil, em verdade, .solucionai- esse é mais doloroso, de nada mais acharmos nessas
pequeno problem i sentimental. E aposto em que phrases ela graça, do encanto, da elegância, ela
as respostas nos surprchenderáo pela sua di- originalidade, do ardor que lhes altribuiamos cm-
versidade. Tudo depende do estado de espiri- tr'ora de boa fé, quando estávamos apaixonados
to ou. como diriam os psychologos. do estado por aquella que as escrevia.
de alma do homem que relê as cariai, no mo- Sim, queimemos as cartas á medida que as
mento em que as relê. Si depois da ruptura, formos recebendo. Assim, primeiramente, evita
da separação, elle Saboreou outras venturas . remos mais catastrophes e depois conservaremos
mais ardentes, mais completas do que aquella no futuro a illusão de que (dias eram únicas,
cujo perfume sente de novo em paginas ama- que nunca ninguém havia escripto nem recebi Io
relladas, elle as percorrerá com o olhar urra iguaes e que é uma pena não as haver con-
tanto secco. um tanto indifferente e ligeiramente servado. Ao passo que, conservando-as, sabemos
desilludido (sobretudo si uma nova paixão o o que nos espera. E mais vale una remorso ou
domina actualmente). Ao contrario, si elle se uma saudade lisongeira do que uma illusão hu-
sente isolado, viuvo de coração, e si ha muitos milhante. Edmond SÉE.

À U X E A I L E A \ A :ZV*. O DD L E » Bf A .
Os modernos artista allemães trabalham com esforço e talento para a producção de obras que não desmintam a
tradições artísticas da Germania. Aqui eslão duas amostras das suggesttvas applicações da arte
decorativa na cerâmica, trabalhos de A. Flad, e uma esculptura, "O mono" concepção "ultraisla" de A. Pukcoger
MAGAZINE MENSAL ILLVSTRADO
A R T E ~ LETTRAS ~ MODA - CINEMA ~ S P O R T
D i r e c t o r - p r o p r i e t á r i o : SYLVIO FIGUEIREDO ^-.^ G e r e n t e : M. E S P Í N D O L A
z
ANNO I RIO DE JANEIRO, D E Z E M B R O DE 1923 N.

O PRÊMIO DA VIRTUDE
l i ) I m.t

CENSURA interdictou o males: um, o de dar aos leitores ingênuos desse


film de La Garçonnc.. livro a impressão de que elles commetteram um
— Quer dizer que os f?Í3 peccado, e butro o de estimular os restantes
r.e ssos pornograplaos se incautos a devorar, clandestinamente, a obra de
transformaram em guar- Margueritte, com a satisfação perigosa de e|ueeai
da-negra cia imm irali- mastiga U ni pomo vedado ao nosso appetite.
lidade . . . Imitamos Jeovah no Paraíso: c^Adão, aquelle fm-
— Como ? . . . cto é delicioso e revelar-te-á a vida. Não deves
--Pois não foi em comel-o...» E ' sabido que o nosso pae sym-
nome dos bons costumes que se impediu a vul- bolico, que devia ser um homem intelligente,
garização, na tela, das scenas desse livro bem não despeitou a ordem divina, legando á sua
menos escandaloso do que o «Cântico dos Cân- progenie o habito de preferir sempre as cousas
ticos . e talvez mais efficiente, como castigo ao prolaibidas aquellas que nos estão ao alcance
vicio, do que todos os anáthem 15 da Bíblia da m ã o . . . Esses moralistas contemporâneos são
E La Garçonnc não é um poço de os melhores auxiliares dos livreiros... A .'.egião
ignomínias?... Confesso que não o li, cumprindo de Honra não contribuiu para que La GárçoiCi '
á risca os conselhos do meu director espiritual... obtivesse em mezes uma tiragem ele quinhen-
Então, Margueritte não é um romancista in- tos mil e x e m p l a r e s ? . . . A censura que não con-
decente ? . . . sentiu epic os nossos olhos passeassem sobre as
Nada d i s s o . . . La Garçonne existe. Vive paginas de Margueritte humanizadas pelo cine-
ean todas as sociedades roidas de preconi eitos matographo, veio em auxilio dos commerciantes...
e que acreditam nas virtudes miraculosas da fo- Então La Garçowv: (• uma obra honesta .'...
lha de parra . . . HonestíssimaI Eis o termo. Não é mo-
Mas. talvez no cinema as paginas do ro-
ral nem immoral. Amoral é 1 sociedade que feita
mance apparecessem demasiado escabrosas . . .
retrata. Poderíamos applicar-lhe o verso profun-
Xão é possível. Mais escabrosas do que do de Sully Prudhomme:
o Ba-ta-clan, do que os vawlcvWes das tempo
| ' l . r t,Ctili ccslr danl I eirl c c- q u ' i l c-sl (tcilis lei v i c > .
radas officiaes do Municipal?... 0 <|ue poderia
espantar era a apparieão do quadro em epie: a Na arte o mal continua a ser o mal...
rapariga emancipada surge, entre outras do seu Os indivíduos, os costumees, desenhados por um
meio, fumando e,pio . . . E ísse> pelo facto de artista, quando são torpes não se transfiguram...
e e-rtas a n a l o g i a s . . . Houve, ou ha ainda, em Bo- Margueritte eleve estar e onlenlissimo com
tafogo, uma rasa desse g ê n e r o . . . que a po- a sua sorte. Imaginean si os críticos, dizendo aliás
licia não conhece prudentemente . . . a verdade, houvessem dito que La Garçonn ;
Estás defendendo a litteratura fescennina, 1 cimo o mais cândido elos dr.inialhòes ele 1'onsou.
pelo epie v e j o . . . termina com.' ei castigo do vicio e o prêmio da
- Não defendo nem accUSO. Constato ape- virtude'?... Que lastima para os e d i t o r e s . . . E
nas um phenomeno alarmante ele desequilíbrio, Margueritte que se e;onteniass" i om o pnx Mo::-
Falta-nos nesse particular o senso psychologico. tyon...
Sem querer, com essa prohibição fizemos dois Carlos MAUL
AMERICA -

I nesses 565 dias de \^:\ não se con- Companhia do Theatro Apollo de Madriel, C0H1
^ ^ solidou, e de uma vev para sempre, o concurso de 4 estrellas de real valor no
^Sr 0 theatro nacional, apregoado desde gênero: Rosa Rodrigo, ex-soprano elo Scala, de
tempos áureos da arte olonial Milão, que aepii já esteve, ha dois annos
de ]oão Caetano no Theatro S. Januário, pode- na temporada Lyrica official: Eugenia Gallindo,
se-, entretanto, affirmar que anno prestes a Clara Milani e Maria Caballe'-, preenchendo toda
findar foi, como os j.i passados, um anno ver- a sua temporada com duas revistas ele grande
dadeiramente promissor para o problema que espectaculo «Arco-íris» e «La tierra de Carmen»,
tantos cabellos brancos creou na cabelleira negra A prata da casa teve um movimento rela-
e espessa do incansável batalhador que foi Arthur tiv amente compensador.
Azevedo. No Trianon a Companhia sob a direcção
Hasta dizer-se que n ) : ; começou com a de- Viriato Corrêa representou as seguintes pi-
noticia sensacional de que o auctor actor Leopoldo cas, todas nacionaes: «E o Amor Venceu», e-
Króe-s iria á Europa comprar peças e descobrir «O Filho de- Papae», de Paulo Magalhães; «O
a u c t o r e s , como Noviço» de Mar
qualquer persi na- tins Penna: «Tra-
gem di- Pirandello, vessuras eh- Bcr
para uma tempora- tha», ile Antônio
da de puro resur Guimarães; «Eva
giniento da Arte no Ministério», ele
Nacional, promessa Mario Dominguese
realizada em Agos- Mario Magalhã s;
to 1 om uma série, «() mime so ("oii •
no S. |ose'\ de 4 bri», c() 'Fio Sal
P e ç a s franceza ^: vador», «Discípulo
Sign d de- Al ir- Amado» e «Graças
iu \s Vinhas a Deus», ele Ar
do Senhor . «O m a n d o (ionzaga;
Rei etc s ( .lande.. «Zúzú» de Viriato
Hotéis Mllc Corrêa: «O Outro
I alharim». André» e -Casado
[sso, apóz a coni- sem ter mulher»,
m m r cão do cen- eh- Corrêa Varella;
tenário, a n i na o u «Fogo de Vista,.
um pouco o naer- de Coelho Netto:
c a d ,. extrangeiro «Dr. Sem Sort-..
que nos forneceu, de Zé Antônio <
a 1 é m do trivial- «Escola da Mentir-
Chaby. Satanellae ra», de Cláudio de-
Henrique Alves, Sejuza. No Recreio,
Ba-ta-clan. (esta apóz o suecesso ela
com unaa única no- peça de estrea
vidade em 4 pe- "Meu bem. não
ças : as pernas es- chora*, ti v e m o s
pirituaes de Mis- p 11 c imp inh a O t
tinguette que só A a c t r í z S r » . A m a d a Fi"onafi*e«lo tilia Amorim. que
fez as 2 primeiras ainda hoje oecupa
C e s t Ia Miss> e o theatro. as revis-
La Marche à 1'Etoile a Lyrica e a Fran- tas e burleta s «A Escripta é outra», de Al
ceza do Municipal, com Mlle. Gabrielíe Dor- fredo Brêda: Rio Alegre,, de Gastão d'ojeiro:
ziat ,i frente as companhias italianas das (Olha á Direita», de Fritz Frotz: «Cabocl
sr.is. Vera Vergani e Maria Melato. servida esta Bonita», de Marques Porto e Ary Pavão, V
á ultima hora como doce sobremeza aos assi- ella que me deixou», de Bittencourt Menezes]
gnantes. «A Botica do Anacleto-, de Marques Porto;
Do mercado europeu nos veio ainda a Maçã» dos Irmãos Quintíliano; "Vida Apert.
- AMERICA -

da», de Freire Júnior; «Minha Terra tem pai sivel má vontade do emprezario Pinfild.
taaeiras» e «Pennas de Pavão», de Marques Porto Finalmente, tivemos, além do projecto Nina
6 Affonso de Carvalho. Sanzi, que pretende cona os dois mil contos
No S. José a companhia de revistas re- que possue construir um theatro de comedia,
presentou as revistas «Tatu subiu no páu», do: uaaa êxito formidável do theatro italiano da sra.
Irmãos Quintiliano, «Você Vae», de Jo.sé Pau- Vera Vergani: a famosa peça de Pirandello «Seis
lista e Renato Alvim e «Meia noite e trinta». personagens á procura de um autor», e mais
de Luiz Peixoto. as temporadas de opereta, no Lyrico e no Re-
Deixando o theatro em Julho voltou em publica, das Companhias Clara Weiss, que nos
Novembro, estreando com a revista «Sonho de trouxe as ultimas novidades como «Danse delle
üpio». de Oscar Lopes e Duque. Libellule», «La Bayadera» e «Noite de Dansa»
A Companhia de comédias dirigida pelo actor e, já aao apagar das luzes, essa «blague» que
Francisco Marzullo, attentíe pelo pomposo
occupando o Carlos nome de Companh ; a
Gomes, de Janeiro a Ba ta-clan Antônio de
Março, representou os Souza.
seguintes orig'na<s:
«A Menina do Café»,
de Victor Pujol e o
«Micróbio do Carna- Felizmente um fa-
val», de Gastão To- cto auspicioso, q u e r ã o
jeiro. foi positivamente as
«reprises» suecessivas
Encerrou a sua de Bataille c Bernstan
ociysséa pelo mar, sem ile Mllc. Dorziat, jus-
enchentes, do velho tifica o titulo hono-
theatro. com i ma peça rifico ile p t o m s s o r
de Paulo Magalhães dado ao anno theatral
— «O Homina que de 1923: a tímporada
morreu», sendo sub- da Companhia Brasi-
stituída pela Compa- leira Abigail Maiaeni
nhia Garrido, que sob Buenos-Ayres e Mon-
a direcção de Alda tevidéo, cona artistas
Oarrido tem repre- e reperte rio exclusiva-
sentado até hoje a, mente nacionaes, gra-
seguiu t-s burletas ças a esse espirito de
«Quem paga é o Co- trabalho formidável
ronel», «Luar de Ra- que é Oduvaldo Vian-
queta», «Rainha de na. E para fechar este
Bflleza» e «A Peque- rápido retrospecto do
i- i da Marmita./, de- nosso movimento sic-
Freire Júnior; -Ma-
nico, emquanto a si a.
ria Sabida», de Vi-
Nina Sanzi não cons-
ctor Pujol; «A Fran-
tróe. com os seus 2
cezinha do Bata
mil contos, o theatro
clan», de Gastão To
naci n d definitivo 1 fa-
jeiro; «O Embaixa
e to esse que já ga-
dor», de Armando
rante o titulo de pro-
Gonazga c «Morena
missor ao anno de
Salomé». de Corrêa O acato» /VT-iarisin<lo <ictnr.íig;}\ 1924J vai- transcrever
da Silva.
o que da nossa Arte
Em Maio a Sra. .UCÍlíí P e r e S t e n t o u , d e affirmou, apóz a estréa ela Companhia Abigail
mãos dadas ao sr. Antônio Ramos, reeditar o Maia no Urquiza, e> chronista theatral de «El
velho repertório das glorias de Dias Braga, mal Dia» de Montevidéo, a propósito da comedia
de que foi acomm°ttida, ha dias, a sra. Maria de Armando Gonzaga «O Ministro do Supremo».
(astro e no mesmo theatro João Caetano.
«Es esta de Gonzaga Ia primera
Tivemos ainda em 1923 a tentativa do obra cômica que se nos dá a conocer,
actor Christiano de Souza no Cinema Central, y nos resulta interessante ei apreciar ei
tentativa essa fracassada graças a uma formi- sentido que se tiene en ei teatro bra-
dável desorganização tcchnica ai liada a uma sen sileião de los motivos hilariantes. No hay
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
- AMERICA -

chistes. Esa pirueta antipática a que se )islancia em avião sem moto) 8.kioo,
obliga una palabra para que aparezca di- por ilioret. n'um apparelho Bardin, em Vau
e i e n d o Otra COSa q u e Io d e SU re d Si- ville, no dia _•(> d e Agosto.
g n i f i c a d o , tio existe hasta ahora y
por Io q u e llevanios visto cia ei tea- Duração em balões de /.« categoria
tro b r a s i l e ã o . N o utilizan t a m p o c o los i 9 h s . 4.Í111. p o r M. F l e u r y , n'um balão i
r e c u r s o s s i e m p r e eficaces dei m i e d o i r r e - 400 m 3 de hydrogcnio.
m e d i a b l e y pue-
ril, ni ai fameli-
i o. ni ai m a t o n
aparatos!) y co-
CA E LÁ
b a r d e , ni ai ma-
I In muito quem r!a
rido enganado
daa m i ^ i i s inlindm ris e Iti
ni a n i n g u n o d e
ÜVMIIICS ( e [atvei mulas )
1 s USU lies ti] os
t onb oversias grammatii aei
qu • en ei tea-
? quem exfranlie a falia de
tro riopl t n s e
IKH IIUIS | > O s i | i \ , i s , •-(••illi.is c
si- utilizan en
definitivas p o r a „ artedifficl
pi c c u r a de co-
de Falar tle es( i evci, N'fio
n r c i d a d h reda-
temos regras rirmes pm-.,i D
dos de Ia esce-
corocação de pronomes.
na h spaiiola y
emprego do infinito pessoal
fi an< c-/a .
impessoal é a CQÍPO menos
inconcussa que r x i s l r na
nossa língua. A única rc<j,ni

Alguns records s e g u r a , por etnquanto, é


esta, dr uma latitude tu com»

Mundiaes de vôo modadora i i nda qual CM re-


VÍI c fülc tomo bem enlrn-
Sá o 1 cs s guin-
da . • P01 tanto, Brasil tom
tcs a l g u n s dos re-
S ou com Z>, t 11 (I o 0
cord s mundiaes
ni.lis nc-sr conseguinte.
111 lis imp 1 i a m s:
Altura: 10.741 Mas; no meio ilr Ia

111 11 cs. ob i Io por (l.i cssii insegurança e con-

S a d i 1. e c o i n t e. fui i"io. salve-nps t onsdio


ile que não somos nos, ( s
n ' u n i bípl n Ni: u-
que falam diomá que ( li
purt-Delage, em
mães limou l.tíi I.IKIJ
\ illacoublay, n o
des polirfim, as uni< as vn li
di 1 5 de S e t e m b r o
mas do mal. Outros povo*
deste anno.
solTrem as loi (uras . . . «le
D.ir çã , s 111
não saber Falar 'si isso <'"'-
1 sei li 37 h s .
gada ser uma t o r t u r a .
1 5 m. 14 -. 4 5.
dianfe dos quotidianos o*£
por L o w e l l H.
pi 1 ates : babozcíras 00*
S m i t h e Ri. h t e r .
((ue o sabem). Ainda a^ora
c 111 San I i e g o , n o s
um tirando jornal fram i ' '
dias 27 e 28 de
" E x c e l s i o r " , abre columiWI
Agosto.
nas suas paginas para ex
\ il uidade — O s
plicar aos h e r d e i r o - B0|
m smos norte-ame-
.A. c a n t o r a Si*a. K - o s i t a Kodarlgo sés esla coisa mara-
r i c a n o s Lowell Smi
vilhosa : o modo certo, COP1
th e R i c h t e r obti-
recto, perfeito, de pronunciar Francez. Porque é preciso que
v e r a m 5 r e c o r d s lobre differentes distancias, a
saiba : ha na Franca milhares de pessoas que não sobem pronunciar
saber: f,
certo palavras corriqueiras como / " ? " / . " " / • "'"f' ele. Tal qual tomo

s o b r e 2.500 k i n s 142. k. 182 p . h o r a nós. . .


O.IHHI 141. k. 870
3.500 142. k. 17"
• 4.11H1 142. k. 000
> 5.000 142. k. 530
CIDADE de Nova York. na parte guma teve largura sufficientc para que nVlla

A correspondente á ilha ele Manhattan,


apresenta um contorno bastante ori-
se formem duas linhas de circulação, em cada
sentido e ha mesmo três ruas que soffrem ainda
ela complicação de serem mais ou menos ob-
ginal, poas que para una compri-
mento de doze milhas tem uma largura ele struídas pelas columnas do «Elevated«.
duas. E apezar do seu desenvolvimento se ti r Si juntarmos a isto a necessidade que têm
realizado em todas as dirécções, é cm Manhat- os omnibus e automóveis de praça, de parar
tan que mais se faz sentir a necessidade da para desembarcarem ou receberem passageiros
solução do problema do trafego. e si levarmos em conta que não se pode sup-

:;- ria

O movimento de vehirulos no sentido ela primir, inteiramente, os pontos ele pirada para
largura da cidade é grande, mas bem pequena automóveis, c•omprehendere-mos porque não é con-
6 a sua importância se o compararmos com ei tínua a circulação nas grandes ruas. A única
que se realiza no sentido do comprimento (o solução para estas eliflie iildades consistiria na
'<up-dovvn» dos norte-americanos). Para o mo- separação das varias classes de vehiculos por
vimento este-oeste ha cerca de duzentas ruas, vias differentes. 0 «Sub-way» (> o «Elcvated»,
ao passo que para o enorme transite) norte- sul exactamente porque têm um caminho que lhes
ha apenas onze grandes artérias prine ipaes, com e'- próprio, são muito m iis rápidos.
uma extensão apreciável e sem interrupção A segunda causa da lentidão no trafego
do ('entrai Park. sãc) os cruzamentos ele ruas.
Estudadas as causas da lentidão do ira O transito lcslc-ocste não '• grande, mas
concentra-se em certas ruas. com especialidade,
fego nas ruas congestionadas, e-ncontraram-se duas
e cerca de 90 0/0 de, trafe-go transversal são absor-
rausas principaes. vidos por umas elo/e ruas, talvez: aquellas que
A primeira d'ellas residia no facto ,.de tra- servem as pontes • os Kerry-boats.
fegarem, em uma mesma rua, carros, caminhões, A solução ideal para esta elif I ieuldade Se-lia
carros tirados por animaes, omnibus etc. Além a eliminação dos cruzamentos d'- ruas, n'estes
d'isso, salvo uma ou duas excepções, rua al- pontos em que o movimento c muito intenso.
O REGRESSO DO VENCIDO
Firpo ao chegar a Buenos -Vires, agradece, ela janella do trem. as saudações da
multidão apinhada na estação

CD- CD- CD CD CD CD CD- =^-CD CD CD CD CZ CD C D — CD—CD

Ha sempre espíritos investigadores que- pro- Segundo a idéa de Clark, o trafego trans-
curam resolver estes problemas interessantes c, /ersal cortaria esta grande artéria por meio de
quando apparecem soluções intelligentes. ha toda pontes (como nos mostra a figura) e com isto
u. vantagem em que d'ellas se dê publicidade, augmentar-se-ia, de muito, a velocidade do tra-
para que sejam aproveitadas como merecem. fego.
Está n'este caso a solução ideada por Ca- O accesso para o boulevard, ou a sabida
meron Clark para uma melhor circulação de
d'elle seriam feitos por meio de simples cami-
vehiculos na cidade de Xova York. Este norte-
nhos em rampa, partindo de cada cruzamento
americano imaginou um grande boulevard, com
de ruas. E o modo porque foram traçados estes
100 pés de largura (tanto como a nossa Ave-
caminhos sempre aos pares, um descendo e
nida Rio Branco -de edifício a edificio), pas-
outro subindo, evita habilmente a manobra para
sando pelo centro de Manhattan e em um nivel
a mudança de direcção, dentro do boulevard.
mais baixo que o nivel normal das ruas. Este
boulevard deveria dar espaço para quatro linhas De accordo com esta idéa, o carro que
de trafego de carros em cada sentido, cona uma quizer mudar de direcção será o único caceteado
linha extra de cada lado para os carros pa- com a manobra a fazer, em vez de obrigar
rados. os demais carros, de ambas as dirécções, a mo-
Para fazermos uma idéa da importância da dificarem as suas marchas por causa d'elle.
solução imaginada, basta que comparemos a ca- Clark imaginou traçar este boulevard na
pacidade da s\a Avenida, que é de 3.000 carros 2.a Avenida, fazendo-o seguir atravéz da Cana)
por hora. com a que teria este boulevard com Street e da Canal Avenue até ligar-se com o
os seus 18.000 por hora. Riverside drive.
sX;O0<X> \ 0 têm coração, nem romantismo, nem Pela sua historia e por esse mesmo es-

N
3 .M
o |Mo
ancias infinitas de amar e de ser
amadas ? . . .
— Pff!
pirito de sacrifício que vocês negavam que se
pudesse aninhar nessas almas tão propensas aos
formosos c redemptores sonhos do coração. Du-
— Falta lhes espirito ele sacrifício . . . vidam ? Riem burlescamente ? Sou ca que os la-
— Quem disse isso ? mento, porque vocês, tendo olhos, não vêm, e
Esta conversação era travada nuna café-can- tendo ouvidos, não ouvem.
tante entre vários amigos, o primeiro dos quaes, Sim. Marina. Marina Guerra, epie foi noiva
um pintor famoso e ao mesmo tempo inspira - do pobre Guilherme Alvarez.
dissimo poeti. era o que falava com tanta ve- Do que morreu no accidente de avia-
hemencia das raparigas que em outras mesas ção ele- Citruénigo ?
distrahiam os seus ocios ingerindo absurdas e Isso! Do que se suicidou.
diabólicas bebidas. - Ha de tudo no mundo, affirmou o ar-
Douradas mariposas attrahidas pela luz dos tista. Guilherme Alvarez suicidou-se quando, ar-
jalanteios, nella queimavam as azas dos seus ruinado, se viu perdido e não quiz manchar
sonhos, passando a vida na doce interinidade a o seu nome com nenhuma acção indigna. Co-
que as condenanava o seu sexo nheci-o. Fui testemunha das suas
e também a sua própria significa- primeiras loucuras, quando, ape-
ção social. nas sahido da Academia, se fez
Pobres bonecas! Pobres peque- aviador pelo seu amor ao extraor-
nas inspiradoras de tantas nov el- dinário e ao perigoso. Foi então
las futeis e transitórias! que conheceu Marina Guerra e
se entregaram ao seu trágico idyl-
Ahi está a Marina Guerra,
lio. Guilherme, filho de uma fa-
aerrescentou o pintor indicando
mília rica de Cadiz, vivia com
uma mulher de lueto e elegantís-
tal independência que não que-
sima, porém muda e espectral
ria receber dos seus pais a me-
como uma sombra, que, oceulta
nor ajuda.
aum dos ângulos do salão, pare-
cia perdida num mundi) ele lem- Desertor de todas as Uni-
branças, evocaçetes e presentimen- versidades e Escolas, entrou para
te.s. —Ahi está ella! uma. Academia onde se fez avia-
— Ah! A M a r i n a . . . disse outro. dor, como ficou dito, pela anciã
— Parece louca, commentou um de novidades e pelo desejo ele
terceiro. aventuras. Occultando a sua mo-
Mas louca como a nobre desta posição, vivia junto de Ma-
Ophelia immortal e eterna, insis- rina, z quem pintava o seu des-
tiu o pintor. Ahi está como ele tino e a sua situação com co-
costume, absorta e petrificada res lisongeiras, empenhando-se e
empobrecendo, sem que edla sus-
como uma esphinge dolorosa e
peitasse a verdade. Dessa falsa
incomprehensivel.
m unira ele viver sobrev. i -ram não

I
- Você a conhece ?
poucas d sv (-aturas, elas quaes a
— E a admiro.
menor não foi ter a família de
— Porque ?
- s AMERICA —

Guilherme, escandalizada pelas extravagância


filho, retirado toda a protecçào que lhe <hs
pensava. Aquella bala perdida era fatal. Coi-
sas da v ida !
1-'.' exacto, coriamentou outro.
\ eterna historia, affirmou terceiro.
Isso: a eterna historia: mas historia do
lorosa e sangrenta, pois Guilherme, arruinado,
miserável e em via d e c o m m è t t e r a l g u m a s dessas
vile/as a i|iie .1 má vida freqüentemente nos 0 BURRO SEM CABEÇA
lane,a. preferiu eliminar-se- a deixar uma recor-
dação amarga taa memória de alguém. E. pre CONTO PARA CRIANÇAS
meditando-o, procurou um meio de disfarçar o
Zézinho .'• um vivo e intelligente menino, filho tle uin
siii. idio. oceultando-o nas duvidas que surgiriam
fazendeiro <lo Estado de Minas. Zézinho freqüenta escola
si elle- se precipitasse com o seu apparelho.
na cidade \ -u passai as féi ias aa fazenda, onde se de-
E assim o fez . . .
licia com os admiráveis quadros tia vida dos campos:
Mas a p o b r e M a r i n a . . . paizagem linda, com OS seus campos verdes, fet liados ;m
Lá ia e u : a p o b r e M a r i n a , como disse longe pelas montanhas de recortes caprichosos, que parecem
você", soube tia verdade quando já não havia abraçar, com um abraço de pedra, valles maltas que se
ri m é d i o . estendem até aos seus músculos de granito; movimento
E soube-o por uma carta do próprio Gui- (lu trabalho tia roça, <>s carros, as tropas»* as colheitas
lherme. s espcciaculo do gado que recolhe pachorrentamente aos
1 curraes, ao cahír da noite, mugindo como si estivesse dos-
Infeliz
gostoso de ter findado dia com saudades do sol tul
M a s . a s s i m q u e com a m o r t e d o seu
gente do sertão,
amante- soube d o s u e c e d i d o , m a n d o u á família Zézinho K"sl*' destas scenas, da vida tranquilla d;i
de Guilherme Alvarez a carta elo desgraçado, roça, .10 ar livre, sob i luz cariciosa.
supplicando por Deus que pagassem uma se- Uma tarde estava elle na varanda, em companhia
pultura luxuosa v christã para o pobresinho. Mas do- pais da irmãsinha, quando se approxímou, de rha
a família não quiz tratar com similhante mulher: pé o ,i mão, mim boas-t.u des arrastado rouquenho,
catholicos todos, não podiam tampouco honrar Chico, forfeiro tia fazenda, homem trabalhador mas intuir;
assim i memória do condemnado suicida. E te, que lhes contou um encontro terrível que tivera
véspera, pelo qual ainda tinha os cabellos arrepiado»,
então Marina, mulher toda coração, alma. ro-
Narrou elle ter visto, -i noite, quando se dirigia para
mantismo e espirito tle sacrifício, tomou sobre
casa, um burro sem cabeça, que passara por elle i om
si a tarefa tle enaltecer e honrar a triste me- \ eloi idade do raio.
mória daquelle que feira o seu amor. Dedicou- Amedrontado, deitou correr, ali- que chegou ;i casa,
se a reunir todo o dinheiro preciso para que offegante suado, tremendo ainda pela singular apparíçan,
Un- construíssem um luxuoso mausoléu, e, em- O fazendeiro sorria, Foi quando Zézinho, que, apezai
p rahando e vendendo de muito pequeno, é ms-
tudo o que possuia, ll UÍdo, ''le ai OU de fíU C
Chico -z lhe disse
so agora sorri de lon-
ge em longe; mas — «Seu» Chico, quem (•
f. 1 ei porque, arruina- que lhe contou que um
da também, fie a-lh • burro sem cabeça pôde an-
dar !
0 consolo de hav er
cumprido o dever que Vo< ê não sab.- que um
animal de< apitado morte
lhe dictaram a sua
instantaneamente ?
consciência e o seu
O Chico enfiou T i, J < i
coração. Que lhes pa-
ai hou pala* ras que dizer,
r ce -
E assim um menmo
- Q u e Marina mor- de oito armo-:, pelo fai to
rer.! talvez num azylo de ter aprendido nos livros,
ou cm qualquer abri- deu um quinau um ve-
mas que é uma lho roceiro, coitado, cuja
nobre mulher. ignorância o fazia pre?a da
superstição
- São muito com-
plicadas e extranhas Os males da ignoram ia
1 são incontáveis e enormes.
stas mulheres para
I "m homem instruído vali
serem julgadas tão li-
por dois.
geiramente, disse fi-
nalmente o pintor. O. L.
— AMERICA —

EL -O
TRAIDOR
(CONTO IITSTOKTCO) O

UITAS noites sob a os pântanos, torturados pelo fogo do sol e da


chanama dos astros, febre. Tudo fora em v ã o . . . Onde, então, se es-
muitos dias sob o in- condiam as montanhas magn-ficas, cujo fulgor
cêndio do sol, os de- apparecia nos sonhos desses seres tantalizados ?
vassadores das ma'.tas Onde as cavernas scintillantcs, as montanhas, os
brutas haviam já ca- rios coalhados de gemnaas ?
minhado por essa re-
O desanimo começou a abater os jorna-
gião barbara e equato-
deantes, enlouquecidos pela revolta contra a na-
rial. Vinham das ban-
tureza áspera c bruta que somente desentranhava
das do Pacifico, onde
em pedrarias o horizonte, no deslumbramento
as grinapas andinas, no esplendor do céu, ta-
de alvoradas e oceasos . . .
lhavam-se em vultos cyclopicos como esculptu-

I
ras de granito, e luz, e neve. As terras perua- Um dia, um homem deu o grito de re-
nas, nesse tempo, convulsionavana-se numa es- bcllião. E r a pequeno de corpo, de olhos de
pantosa tragédia que até em nossos dias re- tigre, e feições duras. Coxeava de uma perna,
percute, sob o nome de «conquista do Peru», mas tinha una braço temível quando fazia brilhar
em estrondos de batalhas e tempestades de pai- a espada; ou a lança. Uma fama sangrenta cer-
xões. Entre os milhares de aventureiros, que cava-o de terror, pois, numa noite de tormenta,
se mudavam em feras ao jogo das ambições á frente de uiaa bando de aventureiros, des-
enormes, a uns attrahia a gloria immorredoura garrados na matta, havia erguido o punho
alcançada em prelios pela bandeira do Rey; cerrado contra o céu livido, insultando e amea-
mas a todos seduzia e arrebatava a perspectiva çando Deus. Ao erguer a voz de revolta, to-
dos thesouros que a terra trazia nas entranhas. dos os seguiram atrahidos por esse sentimento
E foi esse sentimento, que afogueava todos os de pavor e- admiração cruel com que os lo-
ânimos, que arrastara um dia, em Lima, essa bos humanos olham o mais feroz da alcateia.
multidão quasi bravia, á conquista de fortuna O nome de Lope de Aguirre foi acclamado.
como nunca fora ainda descoberta, nessa era ciai meio das arvores tirânicas^ c o bandido,
de maravilhas scheherazadicas. Falaram-lhes de após embeber o punhal no coração de Pedro
uma terra, onde as montanhas eram de sol de Urzua, fez-se proclamar mestre de a m t w
transformado em pedra rutilante. E havia ca- da expedição, e una fidalgo sevilhano, d. Fer-
choeiras verdes petrificadas, as jazidas de es- nando de Guzmàn, teve o titulo de general.
meraldas; e rubins sangrando no fundo dos val-
O assassino, numa assembléa na clareira da flo-
les; diamantes estrellando as grutas de ame-
resta virgem, empunhando o ferro ensangüen-
thista. Prasios, chrysoprasios, granadas c saphi-
tado, agitara as almas desses homens terríveis
ras. todo um pandemônio de radiações e co-

I
com as suas palavras roucas:
res, mergulhado no silencio sinistro das flo-
restas, onde o pello listrado dos tigres punha Eldorado ? Para cjue o queremos ? Eldo-
rado mais fascinante que ha é o
tonalidades flammeas. O sonho de El-
Peru. O céu foi feito para quem o
dorado allucinára os homens rudes
merece- o mundo, para quem o con-
na província ameríco-espanhola. Quan-
quista. Si quizerdes, o Peru será nos-
do Pedro de Urzua, fidalgo navar- so !»
rez, obteve permissão de partir á
E ante esse vulto impressionante,
descoberta das minas desvairadoras,
de cabellos ao vento rugidor da noi-
os aventureiros se agglomeraram em
te, as physionomids do- ex/pediçiona
volta de sua espada que apontaria, rios, avermelhadas pelo clarão de uma
como um cometa, entre as selvas fogueira vai illantc, contralairam-sc vio-
assombrosas, o caminho das rique- lentamente. Os olhos falsearam; e,
zas. E assim era que muitos dias mais rubros que a chamnaa da fo-
e muitas noites, em marcha in- gueira, arderam os corações.
cessante, atravessaram o mysterio *
dos sertões, travando lueta contra • *
as feras, transpondo os rios e
A multidão que partira em busca
- AMERICA -

A C H R O N O P H O T O G I Í A P H I À DA E S G R I M A
U m a série de curiosos documentos obtidos com o apparelho chronophotographico de Marey e
que mostram a decomposição de um golpe de esgrima.

de Eldorado rareara, tempo, depois. Eram cha- pois do banditismo, era o homem mais frio de
mados os «maranones». e oitenta delles exis- todos, nunca .se presentiu em sua fronte
tiam sob a bandeira de Aguirre: um pedaço sombra do remorso. Ha dias, no entretanto, vive
de tafettá negro, cortado por duas espadas ver- afastado e sombrio. Murmura e gesticula sosinho
melhas, em cruz. E m noite de luar muito bran- como um louco. Parece que o persegue uma
co e haacio, próximo a um «pueblo» de Venezue- turba de espectros. Embalde se desmandou era
la, um dos aventureiros que obedeciam ás or- novas atrocidades: o sangue já o não alegra í
dens do bandido, chegava a uma grota, onde incita. Pela manhã de hoje, ao despertarmos,
um homem o aguardava. Desceu do animal res- houve assombro em todo o acampamento. Aguirre
folegante e tirando o largo sombrero, saudou mandara buscar ao «pueblo» um dos frades mis-
aquelle que o esperava. sionários, para ouvil-o em confissão. E como
— Galindo, falou este, ha muito que te es- esse não o quizesse absolver, ordenou que o
pero, bem duas h o r a s . . . Ha suecesso g/ave no enforcássemos . . .
acampamento do traidor? — Por Deus! — clamou o que fora cha-
O que chegara, enxugando o suor que lhe mado de Melendez E quando será enforcado
banhava a fronte, sentou-se a um jaedrouço. e o santo missionário ?
disse: E como se erguesse para saltar sobre a
— Sina. Melendez. Aguirre. que como sa- sella do s e u ginete, Galindo prendeu-lhe o braço:
bes é hoje o único chefe dos anaranones», — Ha tempo, Melendez. Amanhã somente
anda transtornado nos últimos dias. OutCora, esse o frade será assassinado. O que preciso é di-
miserável tinha uma frieza incrível, fora de com- zer-te porque tenho trahido Aguirre
bate: uma serenidade pasmosa, na intimidade. — Sim, não atino com a razão. Nem pedes
Na invasão dos «pueblos» da Venezuela, ma- ouro, nem outro galardão, atraiçoando o Traidor...
tando, saqueando, incendiando, elle não se trans- — E ' o que te contarei agora, Melendez.
figurava senão pelo ódio que lhe cerrava os E sentando-se novamente, falou pausada-
dentes rangentes, e inflammava-lhe os olhos. De- mente:
AMERICA -

O SOJrtJrtISO DJ± TEIFCRA.


C c m o as physíonomias rudes e angustiadas podem d e s a b r o i h a r um dia num sorriso, lambem o foce adusla c e s c a b r o s a da t e r r a sorri pela corolla
das flores. E são sorrisos esses eslonleadores e divinos, porque exhalam a magia do perfume divino c e s l o n t e a d o r . . .

— Tu me conheceste ha vinte e um an- a triste noticia do assassinato de meu amigo.


nos. em Potosi, quando tu e eu, e centenas de H i n o j t s i i r a um irmão para mim, que nasci
castelhanos, alli nos achávamos, desvairados pelo sem família c que elle protegeu desde Sevi-
ouro. E r a eu então o maior amigo de Hinojosa, lha em que me encontrou vagabundo c esfar-
o corregedor. E, como te lembras, em Poto- rapado, arrancando-me ás naãos dos alarbadciros
si, Lope de Aguirre era um dos aventureiros da guarda. Lu o segui na sua vinda para o
de peor fama de toda a província. Sabíamos Peru, c sempre me devotei á sua amizade. No
das traições que praticara desde a sua chegada momento em que Juan, o servo de Hinojosa,
a Lima, quando ao pelejar sob o pavilhão rc- rasgadas as vistes, golphando a vida por mal
voltoso de Gonzalo Pizarro, atraiçoou-o na fuga chagas, tombou á minha frente, eu jurei so-
da cidade. Havia sido encarregado de cobrir bre a cruz do meu punhal que, a ferro ou
,.. retirada do valente general e, no emtanto, fogo, haveria una dia de matar o assassino.
voltou a Lima, dando vivas ao Rei c matando Calou-se, una instante, para tomar fôlego.
os pizarristas para obter os favores de Lagasca. No alto céu, varando i alvura da lua, una pás-
Sabíamos de mil outras vilezas de Aguirre, mas saro negro passou rápido. E Galindo, dcp ( ,is
tolerávamos o infame porque não praticara ainda de descançar, recomeçou:

I
nenhuma atrocidade em Potosi. Foi numa noite, — Segui-o. Nas suas traições teve-mo elle
como esta, lavada de luar, que o bandido, en- sempre por testemunha. Perdi-o de vista quan-
cabeçando a rebellião que tanto sangue derra- do partiu em companhia de Urzua. E, pas-
mou na região do ouro, deu largas ao seu ins- sado muito tempo, ao saber de seu paradeiro
tineto de fera. A primeira idéa que me veio pila noticia de suas crueldades nesta região,
nessa noite trágica foi o ódio que Aguirre para aqui me fiz de viagena, e alistei-me entre
nutria surdamente contra Hinojosa. Eu morava os «maranones». Mas os soldados do Rei che-
então além das minas, ao pope da montanha, garam próximo ao acampamento. Soube que tu
quando um dos creados do corregedor, escor- os commandavas, c decidi entregar-te Aguirre.
rendo sangue, veio morrer a meus pés dando Tu o terás amanhã, ao romper do sol.
1.W/ RH 1

louve quem me trahisse guiando os i


este acampamento, Bem presentin <-u qu-- ia inoi
A .abana de Aeuirre ficava i entrada de rer. Inútil í l u t a r . . . E travando um punhal na
um valle resplandescente, .i sombra de 111 i ^ - mão violenta, arrojou se colina a própria filha,
sunos pinça ros que se estorciam na vertigem E ' tua. ('• minha filha. Lopcl rugiu
do azul, faulhantes ao sol. Rompera a manhã, a Torralba, allucinada.
e antes desta esclarecer o céu, apagan Io os t'm forte repellão, um relâmpago, e o ha
astros, j.i o cadáver d< um frade balouçava- •que,ir de um corpo, c a jovem filha do sce
se a extremidade de uma cauda, numa volta
lerado, uma creança de uns dezesste annos, i a
do carreiro, o chefe dos marafiones que não
hiu varada pelo aço miserável...
dormira um instam-, havia modificado a or-
dem que dera, e alguns de s<-us homens, ma- Não quero que chamem filha
drugada alta, arrastar,mi o religioso c nfor- do Traidorl exclamou o Aguirre, emquanta
caram-n'o na primeira arvore depara,Ia. i Torralba perdia os sentidos de pavor.

Sinistro, Aguirre. em sua choupana, mais J.i então os soldados de Melendez, guia
hediondo que nunca, pois em seu semblante dos por Cristobal Galindo, tinham oecupado o
h a \ i i como que a sombra de um í aza satânica acampamento, prendendo os rem inescentes do
murmurava palavras que aterro bando que trouxe em agonia as
rizavam a sua filha, e a amante. opulações andinas, nesses tempos
a celebre Torralba, que 0 havia se- revoltos. Contam os chronistas
guido cm todas as jornadas. A qúe o Traidor recebeu rindo
lu/ do sol que illuminára, i bei- s soldados, apontando para o ca-
ra do carreiro, o oscillante cada iver cia filha, que apunhala
\cr do frade, alumeau as feições ra. Cristobal Galindo, que cr,,
desse homem mil vezes assas um dos primeiros a cercal-o, er-
sino. < i miserável, a quem os li gueu ao hinibro o arcabuz c des-
menhos tinham qualificado, pelas pediu o tiro.
suas atrocidades. 11 loco Aguir- Aprende a atirar, perro!
re scismava negros pensamentos -gritou-lhe Aguirre, ferido no bra-
que lhe davam aos olhos reflexos ço.
infernaes. Ao segundo projectil, que o
Matei muito disse elle. attingiu em cheio no peito, ba
em dado momento. á amante que queou pesadamente. Mas não an-
se achava abraçada á filha a um tes <1<- chalacear ainda:
canto Matei, trucidei. Agora Ah ! este foi cm regra!
sinto que vou morrer: espalhei
tanto sangue que VOU morrer afo-
gado em suas ondas. Todos me 1J •, \
E assim morreu aquelle cuja
amaldiçoam, própria natureza tradição perdura ainda na memó-
me odeia. As montanhas têm uma ria de algumas povoações de Ve-
expressão de raiva, em seus perfis, quando as
nezuela : Colômbia. A cabeça de Aguirre: con-
olho. Odeia-me a luz, c a t r e v a . . .
servou-sc muitos annos. encerrada numa jaula
E mirando a filha que se abraçava á de ferro, num «pueblo» á sombra dos Andes.
Torralba, assustada desses contínuos divagares de E ' o que nos contam os chronistas, entre os
seu abominável pae. Aguirre teve uma idéa hor- quaes Ricardo Palma, fazendo que esse lypo
rorosa. de legenda infame nos surja aos olhos, cercado
Tu \aes ficar no mundo, após a mi- de uma nuvem vermelha e de uma revoaJa
nha morte! - exclamou — Nunca! Nunca per- de abutres . . .
dure sobre a terra o sangue de Aguirre. Fi-
lho ou filha que ficasse depois de eu ser pros- l l u a c j r «le \MIKII>A
trado. perpetuaria uma raça de malvados, e de
naaldictos. O maior malvado e naaldicto, sou eu.
em minha raça: e eu quero que essa desap-
pareça.
As pessoas fracas são as tropas ligeiras
Neste momento, na entrada do valle. es-
do exercito dos maus; são mais maléficas do
tendendo-se na manhã radiosa. rebentou uma
que o próprio exercito: infestam e devastam.
íanfarra de cometas.
— Ah! os realistas! — bradou o bandi- CUAMIORI
— AMERICA

OS JARDINS PE

LUXO

Ao la-lo da resi-
dência confortável, ex-
lende-se o jardim cui-
dado, em Ioda a sua
elegância moderna, os-
tentando a sua ter-
rasse, o seu cara-
manchel e a profusão
das suas flores varia-
das.
E os raios alegres
do sol projeclam som-
bras avelludadjs que
lambem as columnas
com uma indolência de
caricia . . .

o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o ooooo ooo
A VELHICE DE LAMARTINE A joven olhou ainda uma vez o ancião
que se afastava, comprehcndeu a crueldade de
uma tal miséria num tão grande coração c bai-
f~\ G R A N D E poeta francez teve uma ve-
xou a fronte, sentindo que os seus lindos olhos
lhice lamentável. A propósito. Mon-
se humedeciam . . .
selet cita esta passagem pungente:
E r a uma tarde de musica, nas Tulherias.
Uma moça muito elegante, acompanhada duna
rapaz não menos correcto, voltou-se para um
ancião apertado na sua sobrecasaca de golla alta í ENCERAOOR e LUSTRAOOR \
e que tinha «uma cara de águia c de .avalio •Y-
<r
inglez». Ella mostrou o velho ao seu compa- de Moveis, Pianos, Armações, etc. <r
Y <f
nheiro e poz-sc a rir.
Então um escriptor em voga approximou-
se da moça e perguntou-lhe: X EDUARDO MENEZES
— Conhece o nome desse velho que a faz
rir ? t Rua S. Pedro, 142 Tel. N. 1488 t
.Absolutamente.
L ' Lamartine!
LIPTON
'^saMísa?
*"«c-2
« > » * • ' - »--r-víO"-' • -'""-
" * s * ~ -r-->->.-.
Os chapéus simples e graciosos Os simples chapéus que ahi se
Depois de haver recorrido a vêm possuem essa alta qualidade:
todas as extravagâncias, o futu- a de fazerem realçar, graças ás
suas linhas elegantes, a belleza
rismo inclusive, a Moda parece
e ,, graça dos rostos femininos.
ter reconhecido que em chapéus,
como em tudo o mais, a simpli-
cidade é a suprema lei da ele-
gância.

500 DOLLfíRS POR DUAS PALAVRAS!


em
;<>? ><5v -^ Nova-York um indivíduo que sobre o céu azul, usando como penna um ae-
-.r • r1 s PV
roplano e como tinta uma fumaça branca e es-
<X>^y<>0 ganha 500 dollars para escrever duas
pessa, tal como si .1 molhasse 110 leite da Via
<£/><0>^> palavras todas as vives em que ac ha
l.ai tea.
<X> O0> conveniente fazel-o. Não se julgue
Quando as condições atnaosphericas são pro-
que essas duas palavras sejam o seu nome c
picias, o aeroplano faz com que toda Nova-
o s e u appellido escriptos num cheque sobre fun-
York levante os olhos ao céu: e, diante da
dos depositados em algum banco. Não. São duas
admiração publica, traça no azul, com certas
palavras que uma fabrica de cigarros escolheu
evoluções, as suas onze lettras, cada uma das
para annunciar os seus productos, duas palavras
quaes mede centenas de metros.
que, juntas, contêm onze lettras. Si o leitor
Com a fumaça calligraphica de sua inven-
julga que pode escrever duas palavras como
ção o aviador annuncia a fumaça dos cigarros
as escreve o nosso homem, vá a qualquer ei-
ri quando ouve dizer que 1 gloria é fumo,
dade norte-americana que ganhará outro tanto
pois para elle, indubitavelmente, acontece o con-
e enriquecerá rapidamente.
trario e o fumo é gloria ou, pelo mer
A difficuldade, porém, está no como Este
seu equivalente cm ouro . . .
escrevente, porque afinal outra coisa não é,escreve
— Um uoll
— M n s si o empregado ncaba de pedir o p e M I
um dollar ?
— E' verdade : e isto porque eu preferia rece-
ber apenas um dollar 11 deixar o meu frabelho.
O homem pareceu surprclieiulido com a rrs-
posla e, desejoso de encerrar a c o n v e r t a , indagou,
— B e m , m - s diví i-me 0 ullimo preço,
— D o l l a r e meio.
— C o m o . si acaba de pedii um dollar e
quarto ?
— E' verdade ; c que anles eu achava mais
vantajoso um dollar c um quarto do que agora
doll.sr e meio.
O homemsinlio deixou silenciosamente as moe-
das sobre o balcão e sahiu do eslabcleciini nlo
com o livro e a lição salutar r e c t b d a do mestre
na arte de transformar á vontade o tempo cm ri-
queza ou em sabedoria.
Em Ioda parle ha gastadores de lempn...

UMA ANECDOTA
rigia-se um pobre diabo de advogado omeii-
cano ao Far-Wesf para ahi tentar fortuna.
A u d a c i o s o em exlrcn.o,
(ornou logar no Irem sem se
munir do bilhefe de virgem.
O seu bilhefe, faz lavotr
— N ã o o tenho, respon-
de o viajante de contrabando,
mas faço parle da redacção
do D a i l y N e w s de Naslivil-
le...
— À sua carfeira de re-
dactor ?
— Também a não tra-
go...
— Então o s:nhor hade
pagar a viagem, a não ser
que o director do D a i l y News,
OS CHAPÉUS ELEGANTES que viaja neite frem o reco-
nheça,..
D o i s lindos modelos de c h a p é u : o primei- Seguindo o corredor que
ro, cloche de feltro malva com plumas, creação atravessa Iodos os trens ame-
Alphonsine : o outro, de seda preta e rajada de ricanos, chegam os dois á
branco c azul. modelo Suzanne Castelli. \ presença do todo - poderoso
director do D a i l y News, a
quem o cobrador explica o
O í>
situação i r r e g u l a r do seu redactor. O dircefor lança um
olhar sobre este e hesita um insfenfe.

T A lição de Franklin \ — S i o conheço ? pergunta afinal. Sem duvida,


Browny S m i t h , um dos meus melhores euxilíares...
<? O fruque serviu e o advogado respirou emfim.
o Chegados ao destino, o advogado encontra-se com
o direefor do D a i l y N e w s e aproveita a oceasião para

U m homem que havia passado uma hora inteira diante


da vitrine da livraria de Benjamin Franklin entrou
finalmente e perguntou ao empregado :
agradecer-lhe o favor que lhe havia feito.
— Q u e favor ?

— Q u a n t o custa esfe livro ? — O de me haver reconhecido como redactor do seu


jornal.
— Um dollar.
— Não o pôde deixar por m e n o s ? — Então o senhor não é o r e d a c t o r ? . . .
— Custa um dollar. — Infelizmente, n ã o !
O nosso homem lançou pezarosamenfe um olhar
— Pois bem. N e m eu também sou o dircefor do
sobre os livros postos á venda e continuou a perguntar •
D a i l y N e w s . Eu havia " c a v a d o " um passe em nome delle
— O Snr. F r a r k f i n está ?
e eslava com um medo roxo de que você me esfregasse o
— S i m . senhor. M a s está muito oecupado.
negocio ! N ã o tem nada que agradecer !
— E' que eu desejava falar-lhe,
O empregado foi avisar o patrão. Q u a n d o esfe veio,
perguntou-lhe o comprador • O Q O ••;. O O
o <> o o o o ov
— S n r . Franklin, qual o ultimo preço deste livro ? o o o o o <>
- AMERICA -

A formosa artisla do cinema na dansa " O espirito


da Juvenlude" com que maravilhou o publico de
Londres.
O príncipe Salih Haaaaado tez soleune voto
de nautismo até conseguir o amor de sua
•j— adorada, a bella dausarina a-aassa Vera Vra-
em que se tornara o príncipe, a bella Vratíslawa
que só nas agitações da dansa, na alegria da vida
nômade, prociarava encontrar a satisfação das
tislawa. suas curiosidades, dos seus irresistíveis desejos
Recorrer a tal processo para forçar o coração de cie emoções, e as vivas e fortes impressões de que
lama mulher parece a todos uma cândida inge-
necessita a sua alma de pássaro?
nuidade, imprópria dos íaossos dias.
Si não conseguir o seu fim com a sua figura Não parece ás leitoras que esse gesto romântico
gentil, a sua j u v e n t u d e , o fogo sombrio cie seus de Salih carece da galhardia, da intensa exaltação
olhos, a vehemeaaeia das suas palavras, conseguil-o-á amorosa de um espirito joven, tanto mais quanto
com o silencio ? esse espirito se íautre no sangue ardente de
A espliinge não despertará a sympathia pie- um árabe?
dosa que pretende. Sem ter nas veias
Ao responder por si-«- o togo abrazador da
gnaes, o amaiate des- Turquia asiática, qiaal-
denhado. á> palavras quer joven meridional,
que lhe dirigem, j u l - mesmo não seiado prín-
gai--se-á que não sabe cipe, haveria adoptado
expressãi--se no idioma numa a t t i t u d e menos
que lhe falam e isto, resignada, um gesto
mais do que admiração
veheanente, mais sym-
respeitosa que- inspira
patlaico e commove-
um voto. causará o riso
franco qne provoca o clor.
riclic ulo. E talvez essb joven
se condeiiinasse a- um
Em que mente j u -
venil sonhadora ou ro- mutismo também,
mântica produzirá im- quando as saaas pa-
pressão a a t t i t u d e do lavras fogosas e as suas
príncipe, si a loqua- exaltadas demonstra-
cidade, a exaltação da
ções de amor não hou-
palavra, é o qne pre-
dispõe á sympathia e vessem logrado accen-
ao amor as imaginações der no peito amado a
femininas? chamma corresponden-

Que pensaria a bella te; não a esse iu u-


dausarina que, movida tismo convencional
pela volubiliclade de mas ao que cerra, os
sen espírito, pelo anhe- lábios paia sempre e
lo de expandir a sua
deixa no rosto a ex-
alma, se lançou á ma-
pressão da augusta iin-
1'iposear pelo inundo,
ávida de emoções para mobilidade.
seu coração, de luz pára Con as flores naurchas da recordação e as floies frescas da esperança,
os seus olhos de ca- se tece a coroa da nossa vida, que é trabalho, amor e desengano.
minhos para a sua vida lia no British Mu-
e o seu pensamento? seum uma colleeeão de
Como poderia a bella Vratíslawa sentir-se com- discos phonographicos com as vozes de todos os
movida ante a estatua do silencio e cia quíetude grandes oradores aetnaes.
£ & & £ £ OMO todos os as
" • ^^. *^ ,
cQ; Ç „ ;<> tros c todas as
£.£""£^ mantfestaç. es cc
lestes conhecidas cios anti-
tigos, a Via Láctea deve o
seu nome a legendas my-
thologicas. Os gregos af-
firmavam que e-sa faixa es
branquiçada, tão visível nas
bellas noites de verão, de-
via i sua origem a algumas
gottas de leite cahidas do
seio de Juno, sugado por
Hercules infante.
Foi essa a legenda que
prevaleceu, porém não a
única pela qual os gregos
explicaram a formação da
nebulosa. Elles affirmavam
também ser ella o sulco in-
flammado feito por phaeton-
te quando conduziu inconsi-
deradamente o carro do
Sol atravéz do Azul. Ovi-
dio, emfim. declarava que
ella era o caminho dos
deiase, : «. \ ia da immorta-
lidade.
— AMERICA —

AS CAPITÃES DO NORTE
Vista parcial da cidade de S. Salvador, Bahia, tomada de um avião. Vêm-se a praia de Nazareth,
o pharol de Santo Antônio da Barra e o forte de S. Marcello.

CD CD CD

A S y l vio rigueiredo

Chispa de ouro que o olhar humano ao longe alcança,


Foco illuminador de outros mundos da altura,
Surge a estrella a brilhar no espaço de bonança,
Como um trevo de luz dentro da noite escura.

Millenios, sob a paz da bem-aventurança,


Pelo crysol de luz a alva tempera apura;
Da phosphorea matéria evoluída ora lança
As ondas de calor, circumgira, fulgura.

E hoje que — chamma astral de primeira grandeza,


A ellipse de ouro traça e espalha a esteira clara
A seguil-a, atravéz de infinito, áurea, accesa,
Penso vel a no céo do Levante fecundo,
Como o astro protector que os Reis magos guiara
Ao estabulo natal do Salvador do mundo.
Ibrantina Cardona
(Ho KnemoB)
R I C A R D O MA RIN. i.
personalíssimo a r t i s t a
que pOBSUC BI
poder de reunir em linhas
ma }nifi< u nervosas o -<•
gredo il«> movimento r a gra-
Ça próprio piHoresca das \
mais genuínas w enas hes-
panhola t. raUfK ou o seu
prestígio Iriumphendo plena- \ ,\ \ •Vil*vnvfiffJ.ú •
mente: om Londres, onde
uniíi expOSÍÇfio de seus (rft-
bnlhos Constituiu um verda-
deiro aconlecimenfo ai lisltco.
As grande* ddiiuis injlczos
disputaram os leques hes-
panlioes de Ricardo Mari:i.
verdadeiros quadros de pura
espiritualidade hespontu Ia.

V.
i OS DIVÓRCIOS IMPREVISTOS
"1
.1
S I se fizesse um catalogo dos motivos de divorcio admil-
lidos nos Estados Unidos, fer-se-ia um documento
bem curioso. Não se passa um dia sem que se apre-
Mas com os preços acfuaes, nem se deve p;nsar nisso, sob
pena de ruina. O s dois esposos pedem autorização de
procurar, cada um do seu lado, um cônjuge mais con-
sentem casaes ao tribunal, a reclamar a sua separação por veniente.
um motivo novo. Tal oufro, ainda, havia prohibido, desde o dia do seu
Tal marido quer abandonar a esposa porque tem a casamento, que a sua sogra viesse vel-o. Elle lhe fixara
idéa particular de que um lar não deve durar mais de mesmo um secfor de circulação. Fizéra-lhe a prohibição
sete anr.os. E aliena que os cônjuges, nesse lapso de tem- absoluta de morar a menos de dez milhas da sua casa. E
po, já se deram o melhor e o p;ior de si próprios. Conhe- como a infeliz mulher houvesse desobedecido á ordem, o
cem a fundo os seu 5 defeitos e qualidades. Com o prolon- marido julga que a sua felicidade conjugai está ameaçada.
gamento da co-habifação. elles somente poderão obter uma E a se empenhar em disputas inúteis, elle prefere a renuncia
repetição fastidiosa. Mais vale romper uma união do que e abandona a mulher.
conserval-a gasta e monótona ! Esses exemplos poderiam ser multiplicados ao infinífo.
Tal outro reclama o divorcio por incompat.bilidade de Mas o ponto mais curioso é esfe : nunca, nos Estados
legumes. A mulher, que é joven. bella e intelligente. seria Unidos, se viu tanto divorcio pronunciado por embriaguez
perfeita sem este pequeno detalhe . ella só gosta dos legu- do marido como depois do advento da chamada 'lei secca».
mes verdes. O marido os detesta 5i a vida fosse menos
cara. um e outro poderiam ter o seu alimento particular. Alberf A C R E M A N T
AMERICA —

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r—éT r 3L o i t : 7%- ">

F/or.' teu corpo é tal qual uma rosea corolla !


A tu'alma subtil lembra um aroma azul!
De ti. filtro lendário, a poesia se evola.
Como o olor nos jardins da princeza Budrul!
'a A sombra, ao teu passar, toda se acatasola!
O solo. ao te sentir, faz-se de pama e tul!
Ci Para te adormecer, ouve-se a barcarola
Do pássaro encantado, o divino bulbul!
© Roseia-se, ao tocar-te, a carieia da brisa !
E, pelo teu perfume, a luz se saphiriza,
Ao sorrir da manhan. sob o orvalho do sol!

Flor! escuta a bailada, o — Era uma vez... do poeta,


e?7 le? Tu que és. para o meu beijo, a ventura completa.

s>. A rosa de Xirás. noiva do rouxinol!

MARTINS FONTES
- AMERICA —

PARNASO AMERICANO ^

Et JflRQÍM ENCANTADO
(El clavel; Ia rosa; Ia margarita; ei lirio.)

Cuando suena Ia campana DONA ROSA. Confesión


De media noche, en mundana Hacéis, fray Lis, de un secreto :
Charla están: Ia arquiduquesa El ayuno, Ia oración.
Dona Rosa, Ia marquesa Son, pues, llamas de pasión ?
Margarita, elfraile Lirio
(pobre carne ãe martírio) MÂRGARITA.-Es cruel ei reto?
Y Clavel, chulo sin blanca LIRIO.- Es cruel Ia tentacion...
A quien e/ vino y Ia banca
Quieren echar Ia carlanca. Pausa.- Un pájaro en viaje
Hablan como en un delírio : Lamenta sobre ei paisaje.
Bosteza ia tuna llena
8 CLA VEL.- Según vá Ia cosa, Y entre Ia fronda de encaje
Archiduquesa, liará quiebra Cada voz dice una pena.
o Mi ilusion. Dadme piadosa
La posirer dorada hebra CLA VEL.- No tengo un ochavo.
Que vuestros cabellos glosa. Fuy gran sehor; soy esclavo...
DUNA ROSA. Que amargura!
DONA ROSA.-Pobre amigo! Pavesa es ya mi hermosura!
No hay yá en vuestros ojos
[fuego...! MARGARITA.- Amor, amor,
Hasta en ei mis mo dolor !
CLA VEL. - Vuestra estreita sigo
Y además, seilora, os digo LIRIO.- Es esto un cuento brujo?
Que ei ruisehor canta ciego. Callo; soy fraile cartujo.
Y a tiempo que Ia campana
MARGARITA. Gentil frase! Llama a misa Ia mahana
Mientras un rayo lunar Y huye deljardin Ia luna,
Anide en nuestro pesar, Oportuna,
Dejad que ei ensueho pase. En caravana se ván
(Ta-lán... ta-lán. . ta-lán... )
LIRIO.- Un ensueho, marquesa., La gentil archiduquesa,
Es ei vivir, un espasmo. La marquesa,
Tened por breviario de esa El fraile y ei
Cordial suma ai padre Erasmo. Sehorito don Clavel.

CASTANEDA ARAGON
(COLUMBIA)

• mtHHIHHHHHHHtHtHHMmm
•if
— AMERICA —

lwvwvv y^>^A***W*'t 1 jJ

E' assim que os americanos qua-


lificam Kalherine Mac Donald, talvez
por lhe verem na cabeça airosa, no
busio perfeito, na graça das linhas
do corpo, uma sirnilhança com a
Venus de Müo, o eterno canon da
belleza lerninína...
.v^v********** ^

sal
fán
II
UM ESTABELECIMENTO MODELAR DE ÓPTICA
^

O Rio de Janeiro já se pode orgulhar


ile possuir boje, eiaa todos os ramos
da actividade commercial, estabe-
lecimentos que mantém unia determi-
belecimento, que é hoje «A Óptica-, sob a fir-
ma Noiiguè (V O., no mesmo local onde tiineei-
onava a antiga secção da Casa Vieitas (Rua
Buenos Aires, esquina da rua, da Quitanda).
nada especialidade e cujos negócios são leitos Escusado se torna p a t e n t e a i a assombrosa
com alto critério, dentro das normas da mais prosperidade da nova casa, sob a direcção
rigorosa ethica profissional. de tão escrupúloso e competente especialista.
E' a esses factores que deve a sua rápida A Óptica dispõe boje das melhores
prosperidade o estabelecimento «A Óptica >, officinas que no gênero funccionam no Rio;
cujo chefe, o Snr. Luiz Nou^rué. além de além disso possue também um optinao consul-

um profissional capaz, é um estudioso infa- torio clinico, de moléstias dos olhos.a cargo
tigavel dos problemas do oculismo. do illustre medico oculista Dr. R o d r i g u e s C a ó .
E m 16 de J u n h o do anno p. findo, deixou Os artigos de venda da casa. taes como
elle. espontaneamente, o cargo de chefe da óculos e pince-nez. "face-à-mains'". binóculos
secção de Óptica da Casa Vieitas, onde adqui- de campo e de theatro. e t c , são de urna impec-
r i u um graiade cabedal de conhecimentos, cahilidade a toda prova: e para justificar o
sendo cerca de H>U * * I o numero de pessoas que asseguramos basta-nos invocar o teste-
por elle exaiaainadas e, logo em seguida, acom- m u n h o sincero do immenso publico que hoje
panhado de todo o pessoal technico. seus em dia dispensa a sua preferencia a esse esta-
antigos auxiliares. installou o modelar esta- belecimento modelar.
OOJVtO SE CRÊA A. 3VT03DA.
:ulíé a grande desenhista das ir.aia apuradas elegâncias parisienses, srea neate seu desenho, que tem a íra?a
'sumptuosa e aristocrática 3119 caracteriza sempre as suas lllustraçôes, "um admirável modele de traje
de noits 39vero e gracica ' ", 9839 gênero de tcilette.
AMERICA —

A preparação das crianças para os sports


• • • * » » • • » • : » : • : » • • • • • • • ••

Sestudantes parisienses ças educadas ao ar livre, sem nenhum 'ons-


não constituem umacx- trangimento, se tornassem bellos especimens da
cepçào. Elles são tacs Humanidade.
quaes cena a maioria Guiados per esse ideal de liberdade, os pais
dos seus camaradas e e os educadores deviam constituir o seu «Me-
as suas deformações thodo».
hereditárias ou adqui- Mas infelizmente a vida sedentária dos ci-
ridas são cammuns. vilizados cria deformações múltiplas, oceultas e
Essas taras, epie ,is apparentes, como por exemplo o dorso arqueodo
vezes denotam una es- e os pés achatados, que são os mais freqüentes.
tado de rachitismo e E ' preciso lutar diariamente contra essas
sempre uma insufficiencia muscular resultante de deploráveis transformações quotidianas que affe-
diversas causas, são ás mais das vezes ignoradas ctana profundamente e para sempre os organis-
por causa da negligencia da família, da indif- mos em desenvolvimento.
ferença da Es- Os exercidos
cola e não raro preprius para as
dos médicos. t a r a s prsscaes
X u na a ocea- devem ser alter-
sião em que, nados com jogos
por discursos e que sejam esbo-
promessas vãs, ços dos movi-
pretende-se me- mentos a que
lhorar a raça, se entregará o
é necessário cui- pequeno ser
dar da forma numa idade
que se deve dar mais avançada.
á educação phy- Os pequenos
sica da infân- saltos variados,
cia. Xunca é os exercicies de
demais repetir, fixação das
é esse o pri- omoplatas e a
meiro dever a rectificação da
cumprir para colunana verte
cona a Huma- bral serão pra
nidade. ficados diária
Os exercícios msnte e, sem
systematicos de Alguns sports elementares p a r a as c r i a n ç a s : o a r r e m e s s o da pre que se apre
conjuneto, exe- esphera, a corrida a pé, o salto s e m impulso sentar a ocea
cutados com sião, acompa
uma cadência uniforme, não correspondem ao eme nhados de sports elementares iradividuaes cuj
se espera de uma bôa educação. Servem ape- technica é instinetivamente conhecida: a corri-
nas para mostrar grandes agrupam n t s me- da, o salto sem impulso, o arremesso, a ascenção
canizados e se oppõem a toda transformação por meio de cordas, etc.
individual progressiva. Só se poderia admittir
Com a applicação deste programma minimo
esse processo si se tratase de individuos idsn-
se preparariam adolescentes, depois adultos sóli-
ticos. Ora. os seres são dissimilhantes e só se
podem aperfeiçoar por uma educação individual. dos entre os quaes a selecção revelaria ou aper-
E ' no estudo dos «gestos naturaes» que feiçoaria os campeões de todos os gêneros, gym-
se devem procurar os processos de desenvol- nastas. nadadores, athletas, etc.
vimento ou de educação que convém a cada O futuro de uma raça depende da obser-
um. pois a sua execução é pessoal e compor- vação de uma rigorosa hygiene physica quo-
ta sempre effeitos úteis, além de que permitte tidiana.
evitar a monotonia.
Podemos admittir, em principio, que crian- Elie MERCIER.
— AMERICA
Is figuras de re"evo das nossss industrias

Como havemos de pretender que um Outro


' • O M O .i<> admirável espirito emprehende guarde o nosso segredo, si nós mesmos não i>
1
dor de- Roberto Simonsen, o [Ilustre podemos guardar i
engenheiro de capacidade techmea sem LA ROCHEFOUCAULD.
ri\,d. a Companhia Constructora de
Santos deve igualmente o seu estupendo : for-
A vingança não apaga i offensa.
midavel progresso ao seu digno vice-presidente,
o Sr. H.imld K. Murray, cujo rirocinio administra- CALDERON.
tivo tem contribuielo bastante para o engrande-
cimento da poderos i
enapr. za industrial -.ira fAPÓLOGO
tista
O Sr. Harold K.
Murray, ao seu tra- ivia um homem
to assás cavalheiresco que era muito esti
e lhano, allia as qua- mado na sua aldeia
litlades primordiaes e porque contava histo-
mais accentuaelas e rias. Todas as manhãs
perfeitas do verdadei- sabia da aldeia c á
ro business mon, pos- tarele, quando voltava,
suindo a clara visão todos os trabalhado-
do brilhante êxito dos res, depois de terem
negócios que lhe es- mourejado o dia todo,
tão affectos, graças á rodeavam-n'o, dizendo:
criteriosa direcção qae -— Conta-nos, va-
s. s. lhes dá, e .H>- mos ! Que é que viste
quaes, com a energia hoje ?
e o discernimento das — Vi no bosque
pessoas ciosas, como um fauno a tocar
elle, do cumprimento flauta e um coro ele
exacto do dever e faunosinhos a bailar
movido por uma von- em vejlta . . .
tade perseverante e — Continua, conti-
inabalável, uma deci- nua... Que viste mais ?
são firme e resoluta inquiriam os homens.
de trabalho persisten- — Ao chegar á bei-
de e infatigavel. im- ra-mar vi três sereia-,
prime orientação acer-
á borda das ondas,
tada e profícua.
a pentear com um
«America», nestas pente de ouro os seus
column.as. presta ho- cabellos verdes . . .
menagem sincera a i E os homens o
distineto cavalheiro, amavam porque elle
que tanto gosa de O S n r . H a r o l t l K. M u r r a y , contava historias.
conceito e sympathia ice presidente da C. Constructora de Santos Uma manhã sahiu,
nos meios conamerciaes como todas as manhãs,
e na sociedade de Santos, para onde regressou da sua aldeia; mas ao chegar á beira-mar, eis
ha dias do Rio. depois de ser por algum renapo que vê três sereias á borda das ondas, penteando
hospede da terra carioca, em que é estimadissimo. com um pente de ouro os seus cabellos verdes.
E. continuando o seu passeio, viu, ao chegar ao
bosque, um fauno a tozar flauta e um coro de
faunosinhos a bailar em v o l t a . . . E naquella noite,
A mulher inspira-nos sempre o desejo de quando voltou á aldeia e lhe pediram, como to-
fazer obras bellas. porém tira-nos o tempo de das as noites:
fazel-.is. — Conta-nos. vamos! Que viste hoje?
O-cir \XILDE. — Xão vi n a d a ! r e - p j n h - u . . — O s c a r WILDE
AMERICA —
— AMERICA —

O MOBILIÁRIO ELEGANTE
l*iii salão de bibliotheca em que o menor detalhe tráe um apurado gosto artístico.

•miuníiitutiMiitiiHiiiiiiiitmimiiMiiituiiiiiininirru iiiiiiiiminiiiuii nuiiitiHiiinttiiniiiiiiJJiuiujuiiiiJiiiitiiiiiuniiiiiiitiiiiiiiiuiuiiiiiiiiiiiiia líiiiiiiiiiiiiriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitHiiiiiitiiiiiiiiiiuiiiiuiiiMiii^

SONETO DE ARVERS •*•+++•*•+++++![$ I


•9

T e n h o u m « e n r e d o n ' a l m a e u m m y s t e r i o na vida:
-<> e s t e inliuito a m o r nascido sem pensar...
•o-
Ella nunca entreviu esta febre contida, •9-
•©•
pois, sendo o mal s e m cura, achei melhor calar.
-9
E, i g n o r a d o , a n d a r e i n a m i n h a o b s c u r a lida, 4
sempre a seu lado e sempre a sós, com o meu penar,
-6- c a l c a n d o , a t é m o r r e r , e*»ta p a i x ã o p r o h i h i d a , <r
-6-
s e m d"Ella n a d a o b t e r , s e m n a d a l h e i m p l o r a r .
-è- -9
•6- Ella, e n t r e t a n t o , a b s o r t a , irá n o s e u c a m i n h o , •9-
-9- «•«•ni o u v i r m u r m u r a r , e m d e r r e d o r , b a i x i n h o ,
•9"
e s t e arrulho de amor, que a segue aonde Ella vã.
"9
•9- Eiel ao rude dever, e r g u e n d o a fronte bella, •9
dirã, depois de ler m e u s v e r s o s c h e i o s d'Ella : •9-
" Q u e m u l h e r s e r á essa*?"... e n ã o c o m p r e h e n d e r á ! •o
•9- -9-
• I
»»^-<;;^.^.^-Í>.Í>^.^.>^.^.:>^.^.^.^.^.^.(Q;^.^.^.^..<>.
iiui<iiinitiiiiMrrHunn!iiuiifMiiHiiuiiniii[iiHinniiiiniiiiiu>tiiniiiii iiiiiimiiiHiiiiiiiniiiiiiiiiinmi.iiiiiiiin
JOSÉ OITICICA •*••*•••••<>-1
tiiiiiiiiiiiiHiiiiitaiiiiiiiiitiiniiiiiiiiiiiiiiMiiMiiiiiiiiiiiiiiiiiiHimimiiimin«niiiiniHiiii!iiiiii
AMERICA —

POESIA^l
-ato -Z -ní?n-
Noite de iNatal LUIZ LAMEGO

Que solidão em torno a mim! Dirse-ia


que, no seio da sombra triste e incerta,
detém-se a vida, sob aZnoite fria,
da terra inculta á abobada deserta.
Scismo... Que noite linda! Emfim, liberta,
volta ao passado a minha phantasia.
O' velha noite de Natal! Desperta
a saudade, e me punge, e me crucia...
Papae Noel, meu tremulo velhinho!
Quando passares por aqui, na estrada,
detém te um pouco á beira do caminho,
e. com a tua graça eterna e extranha,
deixa para minhalma torturada
um pouco da illusão que te acompanha!
25 — Dezembro —1922.

SILVERIO ROSAS

Ixion distende os músculos. A usura


da terra hostil as forças lhe consome ;
e, escravo dos anceios de fartura,
urge que a terra, como a um pôtro, dome!

Resignado á infinita desventura,


luta e, quando sacia a sede e a fome,
ú água que bebe as lagrimas mixtura,
e o suor amargurado ao pão que come.

E, condemnado á millenar empreza,


o homem, fraco, invectiva a Natureza,
como o servo acurvado á gleba ardente :

- Porque me impões tão ásperas refregas


e, somente domada, o seio entregas,
si as mães são boas espontaneamente?

0 G GD G D D ü 0 D
CHOPIN, O POETA DA MUSICA í
tí "% R E D E R I C O chopin nasceu a 22 de cobertos ele pétalas ele rosas; Frederico Cho-
tf' fevereiro de 1 810, em Zelazowa-Wol 1, pin amou com uma paixão desgraçada a uma
i v£> p ' r t o de Varsovia. (> seu pae, de mulher que nunca epiiz ser sua. Maria Wod/.ins-
^Bd^ origem lorena. era preceptor elo fi- ka. a polaca dominada pelo atavismo bárbaro
lho único da condessa Skarbcek. de um espirito de casta, desdenhou sempre o
A sua mãe, Justina Krzyzanovska, era polaca. artista quem só via quando este tocava. E
sobre essa funesta influencia exercida á distan-
Menino prodigio, Chopin dava concertos aos
cia, pela Mãe Pátria; sobre essa recordação
oito anno-,. aos dezescte realizou a sua primeira
inesquecível — una maço de cartas de Maria
excursão pela Europa ? em novembro de [831
deixou Varsovia para nunca mais voltar. YVodzinska achado entre os papeis ele Chopin
depois da sua morte - escreveu o «poeta da
Chegou a Paris e soffreu a desillusão que musica» o seguinte epitaplaio que o era da sua
a todo artista causa a vulgaridade cosmopolita vida sentimental: Moia breda! Minha desdita!
do boulevard. Mas não tardou em conhecer e
amar .10 Paris verdadeiro e um tanto hermé- Buscando esquecimento para esse mal de
tico ela- aristocracias: aristocracia do talento, aris amor. Chopin teve amores breves, entre os quaes
sobresahiram as suas relações com a condessa
tocracia do sangue e aristocracia do elin'ieiro.
de Agoult e cona Joanna Stirling. Mais tarde
Chopin havia ganhado uma peejuena for-
ahi por 1838, começou a sua lamentável liga-
tuna durante as suas viagens, entre 1827 e
ção cona George Sand: uma convivência sem
1831: isso permittiu que elle se installasse em
ternuras e sem comprehensão mutuas, que durou
Paris com um certo ruielo. Vestia com gosto
dez annos pela força do habito e que acabou
e cuidado apurados. Ornava os dedos com .ni-
em 1847, quando o maravilhoso pianista, ven-
neis .uni-o-, e preciosos e calçava, sempre que
cido pela tisica da larynge, já não era mais
sahia á rua. luvas brancas impeccaveis. As suas
do que uma ruina.
capa-, a- suas bengalas, as suas gravatas er,,m
copiada- pelos devotos daquella romântica ele- Os dois últimos annos de sua vida foram
gancia do tempo, que tão bem c|uadrava com de infinita amargura. A 17 de outubro de 1849,
o typo delicado e cona o caracter sonhador ao cahir da tarde, Chopin sentiu-se morrer. Com-
de Chopin. prehendendo que não veria luzir o sol do dia
seguinte, quiz expirar entre as suas devoções
1 ic-M- modo aquelle artista, eme ao ta-
de arte e os seus affectos humanos. Fez cha-
lento reunia a juventude dos seus vinte e una
mar a s suas amigas e as suas amantes. As ami-
annos. uma grande belleza physica e uma in-
gas vieram. As amantes, não.
superável distincçâo. viu abrirem-S2 para o re-
ceber com toda a honra as portas do., salões Acompanharam o moribundo, naquella noite,
menos .acessíveis dos jaubourgs Saint-Germain a princeza Potoka, a princeza Marceline de Vir-n-
e Saint-Honoré. Pouco depois de chegar era ne, a princeza Czartoriska, madame Solange Cle-
já Chopin o homem da moda em Paris: e singer e Gutman, o seu discípulo predilecto.
assim começou para o grande musico aquelle Antes do alvorecer Chopin pediu á prince-
caminho triumphal que za Potoka que lhe can-
devia ser de perfeita tasse o «Psalmo» de
ventura e que. por obra Stradella. A. princeza,
da fatalidade, foi de im- diante do pianno, cantou,
placável soffrimento até
a reprimir os soluços. As
á morte . . .
outras s-nhoras choravam
Frederico Chopin. que também, de joelhos, re-
inspirava paixões avassal- clinadas sobre o leito.
ladoras ás mulheres mais Quando a vóz da prin-
bellas e- queridas do Pa- ceza Potoka se extinguiu
ris de então: Frederico cona a ultima nota do
Chopin. a quem as suas - Psalmo», Chopin havia
admirad-.«ras recebiam em morrido . . .
sal">es cujos tapetes ha-
viam sido previam ?nte
Anlonio G. di LINARES
AMERICA -

E l l e c o m e ç o u .dni x„ e. n
« cdloo-- m
m ee <* li «» e«,, s e n d o e u u m a « g e m m a ' % nfto
d e v i a e h a m a r - m e ''Clara"»
AMI RICA —

Não procura indagar de onde vens;


trata de ver aonde vais.
BE Al MARCHAIS.
—o—
0 que merece -er feito, merece ser
bem feito.
POUSSIN.
—o—
O homem que tem o tempo diante de
si é um deus.
BATAILLE.

j$S travessias arrojadas

Alain Gerbauli, o teme-


rário sporlsman que reali=
zou a travessia do Atlântico,
sósínho, a bordo de uma
balandra de IO metros.

E ' uma questão impjrtante a de sa-


ber si a civilização não enfraquece nos
homens a coragem ao mesmo tempo
que a ferocidade. Mas os homens civi-
lizados affcctam a coragem pelo respeito
humano e fazem assim uma virtude ar-
tificial mais bella talvez do que a na-
tural.
An ai ile ERANCE.

J
O <p O O V Z~ O <? <? Q V -? Q O O & O O O » Q Q O O Q O O < > 0 0 0 0 < > 0

) V - < r—v

@ âifISf4
Tu, artista revél, na tortura inaudita
Desse tédio immortal, sonhador delirante,
Vives; e em torno a ti, em espasmos, se a&ita
A humanidade, — tôrva e barbara bacchante!
Para a tua alma, a Vida inclemente e maldita
É um inferno maior do que o inferno de Dante!
E o Mundo não comprehende essa angustia infinita;
E ha Alguém que não sente esse amor crepitante!
Soffres. Choras. Por fim. ás alturas elevas
Os braços, na afflicção das titanicas luctas,
E tombas, no amargor de um sudario de trevas!
As tuas ânsias, quem chegará a entendel-as?
— 0' grande soffredor, ó poeta, as pedras brutas
Não podem comprehender o sonho das estrellas...
1923 R O B E R T O GI1.
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\() tem talvez, sentenciou & Seu menino não andava por ahi escapri-
dona, depois de olhar o Üando? perguntou a d°ua, que era já velhota,
doentinho; o que esta crea- mâscadeira de fumo, e muito sabida e.w «coisas
tura de Deus tem é que feitas».
branto. Neste mundo não Andava, «nhora» sim, respondeu a mãe
^^c falta nunca um capeta para do doente.
\\\ atténtar a vida de uma Pois está alai! elle apanheu q u e b r a n t o . . .
(// gente. Algum maligno olhou para elle, e o pobresinho
A cabocla, que j;i esta- está agora p e n a n d o . . . Tem máo olhado, ora
va toda se derretendo no si tem !
pranto d> choro, vendo que -E a dona sabe tirar? perguntou a ca-
o seu «quero bena« perrengava sem geito. con- bocla.
cordou com a donu e contou entre lagrimas
- Saber eu sei, mas aqui naesmn no ar-
que. para o pequeno ficar daquella moda, só
raial tem uma mestra disso.
mesmo coisa feita.
Quem é, inda que mal pergunte ?
Ia crescendo, com a graça de Deus, bona-
zinho deveras e puxando bem o seu angu. Es- A iiá Quiteria do Benedicto, aquella que
tava creando corpo, rodava a casa toda, em- mora no caminho do inunho, assim um tico mais
fina. para encurtar palavra, o pequeno era mes- p'ra riba.
mo «caboclo sarado». E a dena offereceu-se para ir chamar a ben-
Quando no arraial andou a tosse comjorida zedeira, cmquanto a cabocla ficava sentada ao
que foi um disparate, o damnado do menino pé do catre, onde o filho, caboclinho de seus
não teve nada. Brincava no brejo, quando o quatro annos, gemia baixinho de barriga para
sol estava de queimar como labarela, e nunca o ar, devorado pelo febrão.
apanhou uma febre, e até parecia que nem i O pae andava pelejando na roça para ga-
sezão brava da beirada do rio, na baixada das
nhar seus cobres.
águas, podia com elle.
Cona pouca duvida chegaram a dona e siá
De um par de dias para cá, pegou a fi-
Quiteria. atabafada num chalé, porque também
car assim só no canto, tremendo com uns ar-
não estava boa nem nada, cona umas saffocações
repios como no tempo de geada, em que o
que não a deixavam dormir.
frio urra numa toada: perdeu o «appetite de
comer» e achava tudo enjoado. 'Tou mesmo una caco, observou rindo,
mostrando as gengivas murchas.

C
Catarrhão não era.
Entrou no quartinho do doente. Siá Quiteria
Levou o pequeno a seu Chico boticário,
olhou fixe para o pequeno, palpou-lhe a barriga
que mandou dar azeitinho. que «estava que nem um tambor», e concordou
Foi uma campanha! O menino berrou como que era quebranto e dos brados».
um marruá, que não queria beber essa «por- -Mas olhe, disse dirigindo-se para a ca-
queira», mas, afinal, tanto engambellou, que bocla, não pegue a se arreliar dessa moda;
elle virou uma golada. com a graça de Deus, o pequeno não escan-
Qual! ficou assim mesmo, todo encorajado goteia ainda desta v e z . . . Eu tiro o que o
na cama e com uma canseira nos peitos como maligno botou no corpo delle e fica fechado
a dona estava vendo. p'ra sempre.
Voltou na botica, e szti A cabocla sorriu triste-
Chico disse que não era mente, esperançada da pro-
nada e achou que o gumi- messa da dona, que se
lorio cortava o mal de mostrava tão serviçal.
uma vez. Xão vê! Siá Quiteria desamarrou
— E o coitadinho de o lenço grande de rama-
Deus está ahi desse modo, gens e tirou de dentro
que é de cortar o roira- três raminhos de arruda;
ção, terminou a cabocla - enfiou um delles num vi-
muito agoniada, limpando drinho de a/cite doce, fa-
os olhos na ponta do pa- zendo três cruzes sobre
letó. o d n e n e , borrifando-o e
rezando & meia \o/. rosou fora os ramuihos lia de vêr que aquella c.mseiia passa num
e. depois, muito grave, pe.liu um fogareiro. átimo... Mas. foi um quebranto dos diabos p ra
A cabocla, muito espantada, disse que não riba!
tinha isso, mas .1 dona deu logo um pulo i E u b e m talei, a t a l h o u a dona, que nunca
casa e trouxe um com umas brazas muito vivas. falta capeta n e s t e m u n d o p a r a altentar uma gente.
Sobre ellas, siá Quiteria jogou benjoim, incenso Até amanhã1 Ponha seu coiiaçào» no
e .dl.i/em.i. saindo a defumar os quatro c ali
quieto. .' q u e , com a vontade de Deus, não li i
tos do quarto para botar para fora quebranto»
de üssuceder nada de mil ao pequeno.
veiu depois defumar o doentinho, que g-m-u
mais alto, >ng rizido com a fumaça. Saíram as duas velhas da casa de sapé
Vos estalidos das brazas, siâ Quiteria re- do caboclo.
zando, s irriu contente explicou que era a «por- () a r r a i a l i n o d o r r a v a ao sol d e d u a s h o r a s ;
queira que. e s t a v a sain Io n a s m a s .. c r i a ç ã o ciscava, c n a s a r v o r e s can-
A dona, mãos juntas, s -ntad.i num tambo- t a v a m os p a s s a r i n h o s , f u g i n d o ao r i g o r da c a l m a .
rete, rezava também, acreditando que ,. coisa Então, o pequeno como vae? perguntou
feita ha\ i i ile acabar. o Nico, lá de dentro da tenda tio sapateiro.
Inda tenho de voltar dois dias, aceres- á s'â Quiteria.
centou a benzedeira. Veja li: não carece Ass!m... E' quebranto brub >! respondeu
você estar nessa paixão tola, o pequena inda i v,lha.
ha de p e s c a r m u i t a piaba lá n o corgo q u a n d o m a i s
(i Nico sorriu descrente, achando uma bo-
g r a n d i n h o . Bote isso n o p e s c o ç o d e l l e : é figa
bagem; para elle não tinha que vêr o
d e G u i n é e q u e r o vêr qual é o i n i m i g o q u e
p o d e COm ella.
in nino estava carecendo de tom ir «lombrigueiro»,
No quartinho, o enfermo agonizava lenta-
Fez m e n ç ã o d e se r e t i r a r ; m a s cabocla,
muito a g r a d e c i d a , q u i / p o r força q u e ella to-
mente: presa numa fitasinha encarnada, sobre o
inass - um cafésinho coado d<- cagorinha mesmo». peito descarnado, já se ostentava a figa que
Eu fico obrigada, disse a benzedeira, ->, /. siá Quiteria havia dado.
para outra vez. Vá para perto do pequeno... Azevedo J I X I O R

OS IPAJFtGiTJES Xs^COIDEEtlSrOS
Una lindo recanto de parque silencioso e tranquillo onde uma plantação de peonias,
surgindo no mysterio das moitas, parece um cortejo alacre
em saudação á Primavera
A S P E C T O S DO P A I Z
Uma vista da praia José Menino, em Santos, tomada de um avião
Q ç o O d> O Q ~ Õ ~ Q o o o o o o o o~7>~õ~<> o o o o o o o o o o o o o o
^•••••••»

z&a AO CAVALLEIRO DO RAIO.

O h l J >eslVa!da o p e n d ã o , s e n h o f d o s v e n t o s !
J{l'ílllCl«' O S IVaillíislíCS I W u U l OS itíitlllI)01'OSl
E , mergulhado entre bulcões e açores,
d e r r i b a o s g r o s s o s m u r o s cios c o n v o n t o s !
iRacha a l b a r r a n s ! N o s feudos e v e r s o r e s
dos* m a i s r u d o s C a u d i l h o s t r u c u l e n t o s ,
d e s a b a si v o z t i o s q u a t r o f i r m a m e n t ô s ,
dlerrúe I o d a s sis c r a s t a s e | ) o n d o r o s !
L e v a as aldeias e os carvalhos, tudo
que puderes, no arranco, levantar
s o b r e si eoátieha t e r r í v e l dess*e e s c u d o !
L e v a ! E , ao sumir das trompas, ao calar
d o s t e u s g u e r r e i r o s n o Infinito m u d o ,
p l a n t a o l>alsão d o a r c o - i r i s s o b r e o m a r !

PADUA DE ALMEIDA
n// RICA -

E S T U D O S D E R Y T H M O
" A. d a n s a " , pose das dansarinas Marion Morgan.

A T1SSÂS1ISA VIDA
•J&
ÃO sabemos comprehender que em toda existência sibilidade de amar e de querer esquecem-se demasiado das
ha alegria e dor e que ambas são necessárias á dores materiaes da existência. Ha sem duvida pezares vagos
harmonia universal e á formação de almas. À fe- e complicados cuja elegância e distincção arrebentam os
licidade — que imaginamos em nosso sonho de vida supe- jovens que andam em busca de sensações reras e as lindas
rior — nunca é completa, e mesmo que a possuíssemos, senhoras ávidas de emoções refinadas; mas que são elles
breve nos fatigariamos delia, porque, segundo um profundo em face das tremendas misérias da inquieta humanidade a
pensamento de Maurice barres, ha uma cousa superior á procurar a luz entre as trevas invasoras e a lutar, pela sua
belleza : é a variedade. No dia em que ninguém mais accei- incerta durabilidade, contra a pobreza, o abfndono e a en-
lar o seu destino, o mundo saltará. Mesmo pobre e aban- fermidade ? A verdadeira vida não é a vida artificial e vã
donado, ninguém deve desesperar, porque não ha desgreça dos fantoches psychologicos que limitam o universo ao es-
completa e definitiva, como não felicidade absoluta. Tudo tudos dos seus pequeninos tédios iníimos e derramam, s o -
se entrelaça, tudo se attenúa, e a vida não é nem tão bôa bre a multidão de desgreçados que elles desdenham a sua
nem tão má como julgamos. piedade de dilettantes.
Todos os livros modernos cuja psychologia pretende
denunciar o mal do pensamento e a nossa dolorosa impos- Honrj B O R D E VI \
AMERICA -

L
O N T R A a crença geral Reniero Dozy, veio decalaindo desde o Califado de CorJova,
em Histor.a d:s Musulinanos da fastigio da sua perfeição e espiritualidade. Da-
Hcspanha, r.ega a imaginação dos quella maravilhosa civilização só conserva o or-
arabes->. O seu sangue, diz elle, gulho da procedência. Muitos mouros de Tetuan
é mais impetuoso e férvido do que o nosso, são conservam com amor, secretamente, as chaves da
mais fogosas as suas paixões, mas elles for- casa de Cordova ou de Granada.
mam o povo menos imaginativo do mundo.» O viajante a principio é deslumbrado e
E accrescenta que em religião não tive- confundido pela côr do ambiente, pela sensua-
ram mythologia. nem epopéia em litteratura. lidade do costume, pelo fanatismo de uma re-
A sua religião é «a mais -,simples e a ligião exterior.
mais isenta de mysterios». Os poetas «descre- Pareceria que o arabe desenvolveu as suas
vem o que vêm e sentem, porém nada in- demais qualidades para oceultar a sua falta de
ventam.» essência imaginativa.
Os contos fantásticos das Mil c uma noi- Si essa raça tivesse imaginação seria a mais
tes são de origem persa e india. Só têm de perfeita c a mais poderosa do mundo.
árabe o real. o costume e a anecdota.
A anciã g u e r r e r a , o seu maior atavismo,
O primeiro olhar do \iajan'.e encheu-se de
desapparece cona a civilização. A guerra se con-
luz e de côr. E pensou erroneamente que se
verte em uma imposição de cultura c de com-
achava diante do povo mais imaginativo do
mercio. Na retaguarda do imperialismo inglez
mundo.
ou allemão vão os navios mercantes e os oro-
Depois, no emtanto. meditou sobre essas fessores.
palavras de Dozy e achou-as verdadeiras. O sol
Essa raça tem, como nenhuma outra, em
provoca a sensualidade, o «colorismo», a reli-
alto grau, o senti io da arte, -o epieurismo
gião apaixonada. O homem dos paizes brunao-
para a vida, unaa simples e ardente fé.
sos é mais imaginativo e a sua religião t t m
um mysticismo d?licado. E m qualquer outra o artista, o sybarit.i,
o religioso, são casos isolados, homens predi-
Dahi o ter o gelado paiz escandinavo crea-
lectos.
do a potente mythologia dos Eddas c o não
Os mais toscos artífices bordam primoro-
possuir a Arábia de sol causticante nem ru-
samente com fios de ouro e de prata; pintam
dimentos de mythologia.
com muito bom gosto um ttifor, estampam de-
Talvez haja cases particulares que consti-
licadamente unaa carteira de
tuam excepção, apezar de não ser possível a
couro, a eiacadcrnação de um
existência de uma palmeira nos gelos do Norte,
livro; tecem luxuosos tapetes,
ou de una iceberg sob o sol do Sahara.
luminosas s?das de cores.
A raça árabe é antes contemplativa. Os Mas reproduzem continuida-
mouros fumam durante horas inteiras os seus mente um archetypo', um mo-
enormes cachimbos de kif, em que ha arabes- delo.
cos lavrados, e ficam-se a contemplar as vo-
Talvez 0 Proph li II.es hou-
lutas aromatícas. Admiram silenciosamente uma
vesse- prohibido a reproducção
bella paizagem. falham a rua vistosa acocora-
da figura, humana, não tanto
dos, arrímados a uma parede.
para e v i a r a idolatria, mas por
Ao vel-OS assim, imaginar-se-ía que elles es- haver notado ausência de ima-
tão a meditar ou a imaginar; no emtanto elles ginação na sua raça.
estão apenas em Icthargo. A visão e a idéa não Por esse motivo o artífice
lhes passa dos olhos adormecidos. mouro carpinteiro, ferreiro,
O kif, o hachish, o ópio, excitam a ima- tecelão, reduziu o ornato
ginarão do europeu, enchem-lhe o cérebro de das suas obras a motivos geo-
imagens de fantasia. A um árabe só causam métricos.
sornno. o próprio architecto nada
Imaginação parece o synonimo de evolu- imaginou. Dahi a uniformidade
ção. A raça arabe não evolue. tAo contrario, da cidade. 0 construetor faz
AMERICA -

os p.iMincntos com mármores nrancos e negros sua religião, diz muito tem Dozy, t
axadrezados ou com miúdos mosaicos de cores; o mais simples e isenta de nu sterioa
põe ladrilhos ,is escadinhas que vão de uma E por isso o Korão menos um livro
,i mura habitação, nos \ãos das janellas e das de regras espirita,ics do que um livro de IIOI
portas, nas columnas; estuca os te:tos cona ver- mas ile proceder na vida.
sículos do Korào; 0 carpinteiro, por sua vez, Assim, por exemplo, exige o Koiào iO'
construirá os seus lavores pintados, as portas crentes, quando tiverdes de (azei a oração, li
em fôrma de ferradura, e sempre 'do mesmo vae o rosto, e as mãos ali- aos COtOvelloS; Btl
modo. xugae a cabe,a, e os pés até aos tornozelos,»
Os themas da arte mourisca S3 reduzem, No enorme território islâmico ha dilatadas
portanto, a complicadas geometrias de cores. A regices sem rio, nem poço, nem manancial. O
geometria artística alcança entre os árabes um Propheta previu es'.e facto, ordenando que si
intenso desenvolvimento. Seria interessante, dado os beduinos não tivessem água, poderiam c ,
o seu instineto congênito, imaginar até onde che- fregar o rosto e as mãos «com areia fina e
garia a arte do arabe sem i coacção religiosa. pura.»
Seria uma apotheose de côr. embora reprodu- A única promessa que se faz aos que
zisse a vida tal qual é. cumprem esses mandamentos ê o Paraíso, um
<> arabe. dizíamos, é também um sybarita. jardim «irrigado por muitos córregos» e em
Gosta de (,avalies csbcltos, de mulheres for- que ha «virgens de olhos honestos».
mosas, de jardins, de cores, de musicas de simi- Para o christão c o buddhista ha um
ptuosidades, mas exclue cio prazer to Ia tdeali- Além illimitado e innumcravel que não se chega
dade. a descrever.
( 1 europeu intensifica o prazer <) beduino devia ser o homem
pela imaginação. O arabe busca a mais religioso dessa raça, por-
imaginação pelos grandes e nu- que para elle. symbolo da sole-
merosos prazeres, isto é. exlráe dade, um regato ou uma virgem
uma gotla de e s.-ncia de uma seriam a felicidade completa.
braçada de rosas. E no emtanto! é o mais soept co.
Ama i vida com epicurism O arabe sedcn'ario, mesmo que
como si nada esperi-s • do Além poss t conseguir na vila o prazer
depois ila m ute. < > jardim '• " prometlido, refugia-se no mysticis
Paraíso que lhe- prometle um mo para augmentar a mollicia.
c intinuado prazer exaltado e inel Tive oceasião de ver es:a cida le
favel. no Ramadan, o mez do jejum
E não é somente o homem da e da abstinência.
cidade que se rodeia de magni- E observei a rigor com que se
ficencias, mas até o mais rude guardavam os preceitos prophe-
montanhez. ticos.
E ' na niinuc a. no detalhe, que Durante o mez ile Ramadan,
que se vê a fina sensualidade o arabe jejúa todo o dia e so-
dessa raça.
Í Mesmo no café mais immundo
ha sobre as sujas mesas de
mente pôde comer entre o ocea-
so- e a aurora.
O homem um pouco descrente
madeira um grande ramo de flores. De vez admira essa constância na fé.
em quando acerca-se delle, para aspirar-lhe o
perfume, algum mouro miserável. E pensa em si ;. civilização não enfra-
Nesses cafés os mouros montanhezes pas- queceria essa fanática e ardente fé. Porque os
sam horas a combinar simples harmonias cona mouros que estiveram em Paris ou em Madrid
as duas cordas do guembri. Si 'elles tivessem já não guardam com tanto rigor o Ramadan.
imaginação, não lhes bastariam duas cordas para Si o arabe tivesse sobre essas qualidades
desenvolver a sua fantasia musical. a imaginação e perdesse o seu instineto cie
A' excepção do mendigo que extende a feroz individualidade, seria a raça mais poderosa
mão ou o prato de cobre, vestido com an-
e perfeita.
drajos, que é igual em todos os paizes, o
mouro mais humilde da cidade veste com cui- Corrêa - C^X^ÜEKO> T

dado e limpeza trajes de cores claras. E me- Tetuan (Marrocos).


lhor resaltará o seu sybaritismo, a sua sensua-
lidade no vestir, si o compararmos a outra raça
isolada no seu bairro, os hebreus. que vestem
uns raros e tetricos balandráus cheios de man- ^
chas de óleo e de cera.
AMERICA

U M proprietário inglez recém-fallecido, a quem


sobrava dinheiro e faltavam parcnlts dignos
de attenção. deixou em seu testamento uma
boa parle da sua fortuna deslinada á instituição de
um prêmio, muito importante e pouco vulgar, que
será concedido, annualmente, á «mulher ideal».
Si no legado não se especificassem mais con-
dições que esta, a missão das pessoas encarrega-
das de outorgar o prêmio não seria extremt mente
difficil: porém o inslituidor do prêmio, solleiião
empedernido, linha, desgraçadamente, suas ideas so-
bre o que se pode chamar uma 'mulher ideal...»
E assim estabeleceu no testamento a serie de
qualidades que devem reunir as candidatas, quali-
dades estas que difficultam de uma maneira feirivel
a administiação do legado e que sco as seguintes'.
«A mulher ideal deve:
Ter menos de 30 annos.
Não ser casada.
Não ser fiiha de primos irmãos.
Ser alegre.
Saber menfar a cavallo.
Saber nadar.
Ser capaz de ler filhes sãos e de tratal-os
convenientemente.
Conhecer Historia.
Saber Geogrephia.
Possuir noções de Anatomia e PhysiologV
Conhecer a fundo a economia domestica.
Haver lido e comprehendido a obra de S h a -
kespeare.
Ser leitora assídua do 'Quixole» e dps novel-
las de Dickens.
Conhecer a obra litteraria de sir Walter Scott.
de Kipling e de Slevenson.
Não ignorar Carlyle nem o Americano Wall
Whifman, nem o escossez Roberto Burns.
Haver lido a 'Feira da Vaidade», de Thaike-
ray e os "Prazeres da Vida , de Lubbock.
Haver estudado e saber commentar a Bí-
blia.-
Como vêm, a esta mulher ideal, a quem se
suppõe preparada parn ser fambem esposa ideal,
pois que se lhe exige capacidade para ter filhos e
(rafal-os convenientemente, pedem-se muitas cousas
que de modo nenhum podem conliibuir para fazea
a felicidade do marido c a'gumas que seguramente
fariam a sua desgraça.
] 0 prêmio ora instituído, em Londres, paro a
"mu. her ideal > seria cousa admirável c digna de
ser '/rifada em fodos os paizes, se fosse um prê-
mio sem condições, ou ao menos com as tondições
que proptje mestre de La Fouchardíère:
« . . . será considerada mulher ideal a que for
capaz de offerecer a seu marido um bom beijo pa-
ra despedil o pela manhã, e uma boa ceia vares rc-
cebel-o á noite.»
A. d. de LINHARES

o
Três « r a p a r i g a s ídeaes» p r e m i a d a s
p o r u m g r a n d e d i á r i o de P a r i s , s e m
m a i s oondieões q u e s e r e m bellas
e i o a s . . . P o r q u e e s t a e «raparigas
ideaes» n ã o o o n h e c e m Historia
nem oornprehendem Shakeapeare.

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CATECISMO
(EJrt-A-Ca-JVIEISrXO) |

TLIRBA juvenil dos alumnos marche desencontrado, cona paradas bruscas para se
do catecismo era recruta- resolver unaa questão entre dois meninos que se
da, de rasa em casa, por disputavam o lado de fora da calçada ou para
devotas diligentes que, á esperar o fedelho tresmalhado que lá ficara,
frente do batalhão de fu- á esquina, a amarrar os cordões do s a p a t o . . .
turos soldados do Senhor E a caminhada proseguia. Adiante, razia-
(e quantos desertores!) se de novo alto ena frente ide outra casa de
se dirigiam á igreja com aspecto rebarbativo. Batiam-se palmas. Uma cria-
um aprumo de caudilhos, a balouçarem sobre da negra assomava ao flanco do prédio, lim-
o peito murcho a sua insígnia pendente de pando as mãos ao avental, espiava estupida-
uma fita roxa enlaçada ao pescoço. nacnte, interdicta; depois eclipsava-se. Decorriam
Á hora do termo das aulas dos collegios minutos. E de súbito, abrindo uma porta com
leigos, ellas sahiana a arrebanhar os pequenos estrondo, sahia da casa feia e carrancuda, como
legionarios. num trabalho farigante, serviçaes para una lepidoptero da crysalida, uma menina gra-
com Deus, com os sacerdotes e cona os pães ciosa, cona os cabellos cacheados, um laço pe-
dos catechumenos. E r a a hora em que as crian- tulante pousadoj sobre a cabeça como uma gran-
ças, pela prolongada reclusão numa sala de es- de borboleta rubra. E vinha, sorridente, no
cola, ás voltas com estudos complicados e mui- curioso e bamboleante passo infantil, que choca
tas vezes fastidiosos, fizeram jus a uma liber- um contra o outro os jojlhos; descia como una
dade plena, ao ar livre, nas tardes lindas da passarinho, saltitante, os degraus da varanda,
nossa terra, onde pudessem dar expansão á sua empunhando o seu catecismo encardido; e mis-
turava-se no grupo, acolhida entre murmúrios e
alegria natural, como os pássaros a que basta
afagos.
espaço e um raio de sol -para que desfiem
das minúsculas gargantas o rosário dos seus gor- O bando engrossava sempre. Faziam-se vol-
geios dionysiacos. tas estafantes pelo centro da cida-
É conhecida a alacridade com que de, contornavam-se os longos quar-
as crian;as deixam a escola, dissemi- teirões, em marchas e contra-mar-
nando-se ruidosamente pelas rua?, de- chas intermináveis. De caminho, as
pois das horas de circumspecçâo im- crianças contendiam por um objecto
postas pelo estudo. Cantam, com o achado nas calçadas, uma figura de
seu riso franco, o epinicio da liber- carteira de cigarros, unaa ponta de
dade reconquistada, o hymno espon- lápis ou qualquer fragmento de me-
tâneo que rompe de mil peitos inc;n- tal. Á porta dos armazéns apanha-
didos por um sangue novo. e que vam-se mancheias de grãos de milho
rola por mil boceas soffregas de vida, que eram roidos por desfastio. Me-
a marselheza que os impelle ao assal- xia-se com os cachorros nos portões,
to das arvores, na conquista dos fru- para provocar alarido. Subitamente,
ctos tão amados . . . nova parada, novo companheiro para
as fileiras. Até que se chegava ao
Mas vinha a senhora do catecismo poial do templo. Entrava-se. O con-
e consumava-se o esbulho. Largava-se traste da penumbra com a luz de
ás pressas sobre a mesa o livro de fora desgostava una pouco. Mas os
leitura, engulia-se rapidamente uma aspirantes á gloria celeste eram dis-
merenda; e, tomando do Catecismo tribuídos promiscuamente pelos ban-
da Doutrina Chnstã, <> recruta con- cos, no meio de uma confusão bas-
fundia-se no grupo que, impaciente, o tante ruidosa para ser uma irreverên-
esperava á porta. Adeus, jardins e ar- cia . . .
vores, e areias das praias I O bando
Para quem olhasse de longe
rompia, a d ó s de fundo, num marche-
- AMERICA -

do alto, a nave cheia do bando alacre de


crianças vestidas de cores variadas e 'com as
suas cabecinhas inquietas tinha o aspecto de um
: :
• •
OS PRECURSORES OÀ TLLEGRAPHIA
theatrinho infantil. E imaginava-se que OS deu
ses no altar mór, como num palco, iam re- Â o mundo antigo havia procurado ex-
presentar qualquer farça bem-humorada aos seus
pequeninos espectadores.
J pedir mensagens mais rápidas do
que pelo systema de portadores, Nas
Nd triste scenario do templo a criança jo- circunstancias importantes, accendiam
vial fica deslocada. E não cabe a alegria dos se á noite, sobre morros, ile distancia em dis
que vPm para a vida, cheios de enthusiasmos, tancia, varias fogueiras para a transmissão de
no ambiente funereo consagrado ás meditações noticias. Empregan.lo-se alguns archotes que ar
sobre a Morte . . . d iam em maior ou mvnor tempo, chegava 9 !
Apezar da severidade soturna da igreja, o m sino a compor phrases. O autor Polybio, que
pensamento infantil era levado irresistivelnacnte viveu mais ou menos etaa 150 antes de Christo,
para fora, para a cidade que !se agitava ao indica um systema engenhoso e complicado. Pu-
sol como uma ave que arrufa as pennas e se nha-se sobre morros vasos cylindricos exacta-
delicia á luz acariciadora. Vinha á recordação dos mente iguaes, graduados, sendo que cada grau
reclusos a liberdade das creanças correspondia a unaa phrase a trans-
encontradas pelo caminho, a brin- mittir.
car despreoecupadamente, livres da Ksses vasos erana cheios dágua e
seca formidável do catecismo, da ao primeiro signal tlado por um ar
beata e do padre melífluo. E um chote, abria-se as torneiras. Quando
fastio immenso, que a companhia das o posto transmissor apagava o ar-
outras crianças não era bastante para chote, o outro abri 1 as torneiras e
minorar, enchia a alma do catechu- só restava ler a phrase transmiti ida
naeno, forçado a supportar três vezes pela altura do nivel dágua.
na semana essas aulas sem sentido, Os gaulczes, para annunciarem de
a. ouvir, diante de fileiras de san- Orlcans aos seus irmãos de Auvergnc
tos immoveis como personagens de um massacre de romanos, collocaram
una mundo petrificado, a vóz do- homens de distancia em distancia. A
lente e mysteriosa de um sacerdote, noticia foi recebida no logar de des-
interpretador lilteral de symbolos tino, de vóz cm vóz, na mesma
ora suaves, ora terrificos, que se tarde. Foi esse o processo que se
baralhavam e perdiam na univer- empregou de Saint-Germain a Pa-
sal incomprehensão dos seus tenros ris para annunciar o nascimento de
ouvintes. Luiz. XIV.
Oh! como exultavam quando, numa O verdadeiro telegrapho por si
tarde de catecismo, ainda no colle- gnaes, que permitte transmjittir ra-
gio, viam formarem-se sobre a lim- pidamente qualquer phrase, data de
pidez do céu grossos bulcões que Chappe que, a 22 de março de
subiam pelo azul como unaa cathedral 1792, expôz o seu systema á Con-
que crescesse milagrosamente! Pas- venção. Consistia tal systema em col-
sava-se um tempo. E de repente locar sobre eminências torres em cujo
troava, longínqua e surda, a arti- topo um mastro, munido de três pe-
lharia grossa precursora da violen- ças de madeira, podia dar cento
ta fusilaria das gottas d'agua. E ao soar das e noventa e seis signaes differentes. Com esses
três horas, sob um céu plúmbeo e aterrador, apparelhos, uma mensagem de Toulon a Paris
sahiam da escola em fuga, como os habitan- (840 kilometros) gastava nada menos de . . .
tes de uma cidade ameaçada de invasão e dis- quinze dias!
persavam-se pelas ruas, entre nuvens de pó e
com as vestes batidas pelas rajadas, rumo ás wjÊfrwmrarwjmr/mrmn

casas, esgueirando-se sob os beiraes, ao abri-


crianças podiam tranquillamente oecupar-se, jun-
go dos primeiros pingos grossos que prece-
to ás vidraças fustigadas pelo aguaceiro, dos
diam as bategas, como os batedores do liquido
seus ingênuos brincos — os castellos de ar-
exercito.
mar, as bonecas esgrouviadas e estrábicas e o
Nessas tardes em que. até ao cahir da povo enorme das figuras de papel recortadas
a tesoura, molles e retorcidas como numa dan-
noite, o trovão rolava victoriosamente pelos céus
sa epiléptica...
subvertidos, secundado pela carga cerrada das
chuvas fortes, não havia catecismo! E as S. F.
- AMERICA -

O 50.° anniversario da machina de escrever 1


1EL á memória dos homens que crea- escrever celebradas naquella cidade, cm Setem-
„, ram a sua prosperidade econômica, bro ultimo, sob os auspícios da Herkimer County
a Norte-America celebrou ha pouco Historical Society, que fez erigir um monumen-
o 50.0 anniversario da entrada em to a Christopher Latham Sholes na sua cidade
circulação do primeiro modelo commercial da natal.
machina de escrever. Sob o ponto de vista econômico, sinão sob
Sena duvida, muitos brevets de machinas o itatelle.tual, a invenção da machina de escrever
de imprimir ou de transcrever successivamentc pôde ser comparada á invenção da imprensa.
as lettras como na escripta haviam sido toma- Ha milhares e niilhares de operários em-
dos jaor inventores antes da venda das primeiras pregados, no Antigo e no Novo Mundo, na cons-
typ: writng michnes construídas em 1873 por truccão de machinas de escrever, cujas marcas
Latham Sholes. conhecidas são mais de tresentas, conforme a lista
O primeiro em data foi o engenheiro in- dos Typewriter Top cs.
glez Henry MUI (1713), mas o seu apparelho Calculado numa média de dez o numero
ficou apenas em theoria. O americano William ile series lançadas por cada uma dessas 300
Burt, em 1829; o francez Xavier Projean, em marcas, teremos cerca de 3.000 modelos existentes.
1833; o americano Thurber. e o francez Fou- A maior parte das marcas afamadas se gaba
caud, em 1843; o s americanos E d d y e Hu- de ter posto ena circulação um milhão ou dois
ghes, em 1850; Jones em 1852; Thomas, ena de machinas; de maneira que se pode calcular
1854; Beach e John Cooper em 1856, todos em mais de 100 milhões o numero de machin s
construíram machinas de imprimir caracteres, mas de escrever actualmente existentes no mundo in-
nenhuma dellas podia pretender substituir pra- teiro.
ticamente a escripta corrente. Quasi sempre o pessoal empregado na da-
A Erancis Printing Machine, primeira ma- ctylographia é feminino. Pode-se pois imaginar
china de teclado análogo ao do piano, data de que r c o l u ç ã o nos costumes se effectuouj no curso
1857. A House Typewriter, de 1865, foi a pri- dos uhjjmos vinte annos, por motivo dessa absor-
meira machina de cylindro movei. Deve-se mencio- pção crescente de mão de obra feminina .pelas
nar ainda a Peeler Writing and Printing Machine, administrações publicas e privadas, pelo commer-
americana, de 1866; a Pterotype John Pratt, de cio, p.do banco, pela industria . . .
1868, e a Pastor HanSen Schreilbkugcl csphe- Cincoenta annos bastaram á machina de es-
rica de 1872. crever e ás suas cognatas, a machina de cal-
Realizando uma synthese feliz de todas es- cular, a duplicadora, a linotypo, e t c , para con-
sas tentativas, Christotpher Latham Sholes tor- quistarem o mundo. Como negar, diante de tal
nou-se o verdadeiro creador de uma industria facto, a rapidez do progresso scientifico e in
destinada a enriquecer a Norte-America, a trans- dustrial que subverte e subverterá cada vez mais
formar os methodos commerciaes, a fazer viver as condições econômicas e sociaes da vida?
no mundo inteiro milhões de dactylographos e a
revolucionar mais tarde a imprensa pela lino- M. P.
typo.
Os primeiros modelos de Sholes, 0 D • D • a • D
brevetados em 1868 e cons- J^ i^
Todas as idéas claras são verda-
truídos em 1873, acham-se no
Smithsonian Institute de Was- deiras.
hington. Uma photographia tirada
Descartes
em 1872 representa a filha do
inventor assentada diante de um Â^LÊÈL • (l destino de muito homem
dos modelos por elle construídos.
Sholes era natural da cidade de depende de haver ou mão uma hôa
Ilion, no Estado de Nova-York. bibliotheca na casa paterna.
áÊÊ 1 ^^L
Miss Sholes, actualmente Mis-
De Amicis
tress Charles L. Fortier, assistiu
com o seu marido ás festas do tajB>__^J.^Íf4B_^jL__
D • a a a D a
50.0 anniversario da machina de

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Sapatilhos, Gatos Singelos e Dobrados, Âncoras, etc.
O c i n e m a n í l o nisiiss s e r á mudo

O sábio americano Lee de Eo- ção — e essa anaplificação c evidentemente mui-


rest, inventor da lâmpada e.audion», to grande quando se trata de fazer falar um
fez, depois de quatro annos de pes- film numa sala de espectaculos - tanto mais
quizas, umi descoberta considerável: importância tomam esses ruidos adventicios em
a da photograph.a dos sons, graças relação aos sons musicaes.
á qual fica def n tivamente resolvido *
o problema do < cinema falado». Nes- Esses inconvenientes lançaram os pesquiza-
te artgo René Brocard expe os in- dores noutra via: a da photograplaia dos sons
sultados dos trabalhos de Lee de Eo- e da sua reproducção por meio da pilha olioto-
rest. electrica.
Infelizmente o processo photographico, ape-
I ITOS foram os que intentaram curar zar dos seus animadores resultados, não sahi-
a Arte Muda da sua enfermidade. ra aiaada do laboratório, quando recentemente de
Léon Gaum c nt. tão s r a n d e sábio quan- Forest, o celebre inventor do audion, apresen-
to grande industrial foi una delles tou ao publico o resultado das suas investiga-
e talvez o primeiro. Foi com effeito ena dezem- ções.
bro de 1910 que elle fez apresentar á Acade- De Forest adoptou o processo photogra-
mia de Sciencias. pelo professor d'Arsonval, um phico mas, no inicio dos seus trabalhos, assen-
apparelho graças ao qual este poude escutar tou una certo numero de princípios determinan-
a sua própria conanaunicação á douta companhia, do as condições a que devia satisfazer um sys-
ao passo- que na tela apparecia a sua imagem tema de cinema falante para ter um suecesso
lendo essa conanaunicação. commercial. Esses princípios são os seguintes:
Infelizmente o registro vocal ou musical 1.1. Preliminarmente, de Forest pensou,
por meio do phonographo mal se podia fazer com razão, ser necessário registrar simultanea-
ao mesmo tempo que a photograplaia da scena, mente as imagens e os sons num film de lar-
não. como se poderia suppor. por causa do syn- gura normal, afim de evitar o fabrico de ap-
chronismo a estabelecer (este synchronismo não parelhos especiaes ou a modificação, que aliás
apresenta aliás grandes difficuldades) mas por- parece impossível, dos apparelhos actuaes.
que o phonographo não podia ser collocado suf- 2." Que era preciso restringir-se á ve-
icientemente longe dos actores para livral-os de locidade normal da projecção.
uma sujeição de que o seu jogo de scena fa- 3." Realizar dispositivos de registro c
talmente se resenti- de reproducção tan-
ria: a de ficar to quanto possível
muito perto da isentos de inércia.
trompa. de e x a g g e 4.0 — Imaginar
rar a dicção e a una microphono s u -
articulação da vóz; ficientemente sensí-
ena uma palavra, vel para ser collo-
d : representar para cado a uma razoá-
o phonographo. vel distancia do
Emfim, apezar actor ou da fonte
dos aperfeiçoamen- sdnora, de modo a
tos reaes de que ficar fora do cam-
foi objecto, o pho- po da objectiva e
a não constituir
nographo ain d a
para o actor uma
hoje não está isen-
sujeição penosa c
to de ruidos adven-
capaz de compro-
ticios e principal-
metter o seu jogo
mente o ruido pro-
de scena.
vocado pelo a tt ri-
to da agulha sobre 5.0 — Conseguir
o disco. Ora, o re- que a reproducção
CURIOSIDADES DE M O N T M A R T R E seja tão bôa (ou,
s u l t a d o c que,
quanto mais se am-
' L e Lapin A g i l e ' um lindo recanto do famoso bairro, que é ao mesmo tempo o refugio si possível, me-
preferido pelos seus poetas e bohemios. lhor) como a das
plifica a sua audi-
AMERICA -

audições phonographicas e sufficientemente for- O apparelho lem tal sensibilidade que pôde
te para -er ouvida em todos os pontos d is ma- ser collocado a uma distancia sufficientemente
iores salas de espectaculo. larga dos a d o r e s ou dos iust nimentos para qui-
6.0 Registrar os sons ., una canto do nada appareça na pellicula exposta simultânea
film bastante estreito para não reduzir sensi mente.
t/elmente ., dimensão das imagens. Isto signi- As correntes telephonicas geradas pelo mi
fica que o registro photographico dos sons deve crúphono são evidentemente de muito fraca in
ser tal que a largura ou a amplitude dos tra- tensidade; mas consegue-se amplificai as vários
ços seja constante. Para isto milhares de vezes por meio
é preciso que as variações ile uma série de amplifica
sonoras sejam interpretadas dores de lâmpadas (esta
photographicamcnie. não por Lâmpada é o audkm e vere-
linhas de differentes dimen- mos, a seu tempo, que só
sões, mas de igual com graças a t l l e ponde ser n a
prinaento e mais ou menos lizado o film falante). K'
cerradas. Ena outn s termos, preciso, com effeito, que el-
o registro luminoso deve to- les possam chegar a mo-
mar a forma de braços pa- dular uma corrente alterna-
rallelos que risquem toda a da de alta freqüência for-
largura da faixa a elle re- necida também por una au-
servada, traços e-ses extre- dion, mas, neste caso, por
m imente finos e sempre per- um audion gerador de on-
pendiculares á direcção em das. Essa corrente de alia
que corre o film.
freqüência atravessa um pe-
E ' claro que estabele- queno tubo cheio de uni
cer princípios é uma coisa gaz judiciosamente escolhi-
c outra achar o meio de do, chamado photion, se-
applical-os. De gundo uma sug-
Forest e os seus gestão do pro-
collaboradores Lt fessor Wood.
gastaram, com
effeito, mais de Essa lampi-
quatro annos de pada photion ê
esforços ininter- collc cada no in-
ruptos para terior do appa-
preparar o pro- relho de projec-
cesso que vamos ção, num pon-
descrever e que to em que o
emergiu de nu- film se desenro-
merosas pesqui- la com movi
zas e tentativas mento continuo
em cujos deta- a cerca de vin-
lhes não entra- te e cinco cen
remos. timetros da ob-
jecliva ( s a b e
Vejamos pri- s" que, junto
meiramente o re- desta, o film é,
gistro. De Fo- ao contrario,
rest r e p e 11 i u animado de um
(AKICATÜRAS DE EÜTUEM,AS...
como impróprio movimento sacu-
o naicrophono de tUarp Pickford, Hila Haldi e Horma Talmadge, segundo o lápis maldoso de Kliz dido, para per-
diaphragma e mittir a photo-
substituiu-o por um microphono thermico. Este graphia das imagens uma por u m a ) ; sob o ef-
instrumento contém, um certo numero de fios de feito da corrente de alta freqüência, a lâm-
platina muito finos e curtos que são aquecidos pada irradia ccns'antemente uma luz violeta-rosa,
ao rubro por uma fonte local de corrente electrica á qual a emulsão photographica é muito sen-
Quando se emittem sons diante desse apparelho, a sível; o tubo é collocado num apparelho cine-
resistência dos fios á electicidade varia continua- matographico de tomada de vistas, de mode-
mente, mas de perfeito accordo com as variações; lo commum.
de extensão das ondas de sons. A luz irradiada pela lâmpada photion c
concentrada por unaa lente sobre uma fenda ex-
cessivamente fina, aberta a prumo sobre uma
AMERICA

traços parallelos do mesmo tamanho constitue


uma das características mais interessantes da in-
venção de Forest. Até então, com effeito, em-
I
pequena parte da superfície sensibilizada do film.
Como a intensidade dessa luz cresce e decres- pregando-se um espelho ligado a um diaphra-
ce em relação ao seu brilho normal, de per- gina, photographavam-se os sons sob a fôrma
feito accordo cona as variações de intensidade de sinuozidades de amplitude desigual e cor-
da corrente de alta freqüência que provoca a respondente á altura dos sons. Não se podia
illuminação do tubo (corrente que por sua vez portanto pensar ena photographal-os sobre o pró-
segue as variações das correntes telephonicas, prio filin, pois que era preciso ter conta da
isto é, as modulações próprias dos sons reco- largura do traço corresponde ate á amplitude má-
xima e de outro lado, não se podia redu-
lhidos pelo microphono), a voz ou a musica
zir esse traço
f i c a m lateral-
aquém de una
mente photcgra-
certo limite sem
phadas sobro o
correr o risco
film e isso ao
de fazer desap-
mesmo t e m p o
pirecer o regis-
que as imagens tro dos s o n s
cerrssp n ^ e n t . s . imito f r a c o s .
Não ha, neste Ora, uma inven-
caso, n e n h u m ção só vale pe-
p r o b l e m a de las suas appli-
synchronização a cações commer-
resolver, como ciaes, ou não
era o caso quan- será mais do
do se tratava que uma curio-
de fazer coinci- sidade de la-
dir a audição boratório. Mo-
do phonogra- dificar a largu-
pho com o mo- ra dos films se-
vimento dos lá- ria exigir no-
bios de um actor vos apparelhos
de cinema, por de photograplaia
exemplo.
e de projecção,
Si se exami- films de duas
nar com atten- dimensões, etc.
ção um frag-
mento do film Com o systema
nessas c o n d i - de de Forest,
ções, ver-se-á á ao contrario, as
sua margem es- dimensões stan-
querda, entre as dard são con-
imagens e as servadas e os
perfurações, uma apparelhos têm
estreita faixa de necessidade ape
menos de três nas de ligeiras
millimetros, ris- O MUNDO PITTORESCO modificações: o
cada, em toda Uma cerejeira florida, ern Vienna, Austrio tubo luminoso,
a sua largura, nas machinas
de uma infinidade de traços parallelos de uma photographicas, e nas de projecção a lâmpa-
finura extrema e unidas a ponto de só se per- da c a pilha photo-electrica.
ceberem com o auxilio da lente.
Esses traços ou riscas interpretam, simples- Já vimos o que se passava com a tomada
mente pela sua variação de densidade, isto c, de vistas. Examinemos agora a projecção, ou
pelo seu numero maior ou menor na unidade a reproducção.
de comprimento - o intervallo de um décimo
No apparelho de projecção, a parte do film
de millimetro, por exemplo todos os sons
que traz o registro photographico dos sons de-
imagináveis.
senrola-se diante de um pequeno orifício aná-
Esse registro photographico dos sons por logo ao do apparelho photographico. Por esse
— AMERICA -

orifício pass.i lu/ de uma pequena lampa tCran por Uma musica ou uni poema apropi ia los,
di de grande brilho que, atravessando a parte
referida, incide sobre uma pilha photo-electrica Notemos, para terminar, que, si supprimii
de sulphito de thalio. Convém lembrai- que o nios as imagens ao film falante, restai nos ,i um
sulphito de thalio. como o selenio e o potássio, t il in talado ou de musica. I>ra, nenhum disco
tem i propriedade curiosa de mudar de capa- phonographico poderia apresentar uni registro t&o
cidade de resistência ele. tri. a segundo o grau fiel. e nenhuma agulha seria capaz de o re-
de illuminação a que é submettido. Mais ou produzir sem o menor attrito. Além disso os
menos illuminada, segundo a densidade das li- discos são pesados, frágeis, CUStOSOS e Se es
nhas que [lassam diante do orifício, essa pilha. i r.inam rapidamente.
que foi consideravelmente aperfeiçoada por Theo- A invenção de de Forest constituo por
dore \Y. ( a s e . collaborador de de Forest. re- tanto uma dupla revolução, pois que ao mesmo
transforma ena correntes de intensidade variável tempo transforma o cinema c prometle sulisii
os sons photographados sobre o film. Como no tuir o actual apparelho phonographico por um
a d o do registro, inteiramente novo,
uma bateria de três isento de todos os
lâmpadas audion inconvenientes d o
amplia cerca de mil seu predecessor c
vezes o valor' des- tão próximo da
sas correntes, afim perfeição quanto
de que estas pos- humanamente s e
sam accionar os po- pôde pretender,
r n t e s alto falantes flené BROCARD
dissimulados por
K
traz do ecran.
Isso não quer
dizer que os sons
&$
O REI
r produzidi s sejam
mil vezes mais for- N/1 t n i : dó, nas IJU-
tes do que os sons ' ' radas, o papel
originaes. pais ha do boi, animal bionco
entre o reg stro e — mas cheio da no-
breza respeitável de
a reproducção uma
toda bronquidão hon-
enorme perda de rada e séria—posto a
intensidade. luclar com uns maca-
cos enfeitados, que
ora fogem para aqui,
I alvez ao leitor ora Se escondem alli.
*L ora se esgueirani aos
ocorra a pergun- botes, bobeando o po-
ta: bre ani nal com umn
capa vermelho. Não
— Deve-se desf-
iar que os actores >M ha lucla. O boi, toma-
do de cólera, investe
de cinema falem contra o inimigo, para
e cantem ? se bater á n oda he-
róica, de habito entre
Não, responde- os seus. Mas só en-
remos. Esses acto- contra vultos fugidios,
O IRRESISTÍVEL HAROLDO miragens de homens
res não têm com
O jovial arlis'a. cansado de fazer rir o publico, vae para jurafo da esposa que se somem ante
certeza vozes agra-
que o olha desconfiada, temendo uma nova farça... sues marradas. Por
dáveis : alguns pos- fim o (ouro, compre-
suem uma linguagem incorrecta, outros não co- hendendo o papel grotesco a que o obrigam, embezérre,
nhecem quasi a lingua do paiz. Aliás, não se baixa a cabtça, com lagrimas de vergonha e dor nos olhos
deve procurar transformar o cinema em theatro. bondosos, e não se presta méis ás sortes.
E ' verdade que ha numerosos casos ena que a O papel do boi será idiota, mas o do toureiro é
vil.
introducção conveniente de textos falados ou de No emtanto, o homem é que é o rei dos animaes...
selecções musicaes augmentará consideravelmen-
te o interesse de um film, quer sob o ponto Monteiro LOBATO
de vista artístico, quer sob o ponto de vista
recreativo ou educativo. Quem é feliz não pode morrer sereno. Fe-
Assim, algumas emoções, certos sentimen- licidade e morte tranquilla são termos antagô-
tos, só poderão ser expressos com justteza no nicos. Bertha von SUTTNER.
- AMERICA -

A. n^rnuE^rcxiv r> o PRETO


^ Í O T H E A T R O ^ A s C I O ^ i V X

OMMENTANDO, por laços inquebrantavei-s ao preto africano ou


ha dias, a re- mesmo ao nacional de côr preta.
cente «tournée» Rebuscando os nossos poucos annos de vida
a o Prata da scenica, encontraremos poucos artistas, muito pou-
Companhia Abi- cos mesmo, que não tenham o seu primeiro
gail Maia, di- suecesso acorrentado a uma carapinha e a uma
zia o brilhante bciçola d e massa decorada a «baton» vermelho,
actor Manoel exceptuado, é claro, o sr. Benjamin de Oliveira,
Durães, prime'- que arranca sem esforço as gargalhadas dos
ra figura mas- seus admiradores de cara pintada de branco,
culina daquelle como qualquer chicharrão de circo de Araruama.
bcllo conjuncto Quem não se lembrará, por exemplo, da-
que (Iduvaldo quella maravilhosa creação d o actor Claudi-
Vianna dirige, iiii de Oliveira o velho «Pae João» d ' « 0
ser a impressão Dote» de Arthur Azevedo?
geral da noite No theatro de revistas encontramos então,
de estréa n o Odeon de Rucnos-Ayres que, ao de cara lambusada de pó de sapato preto e
subir o panno. estrugisse como saudação o clas- gaforinha revolta, a fazer o negro ou o mulato,
sico e irreverente «m aca- toda uma legião de artistas.
quito.» Não vamos discutir Alfredo Silva será sempre
aqui a imprccedencia des- aquelle typo mestiço do
si impressão geral», prin- guarda do «Forrobodó» de
< ipalmente em se tratando Luiz Peixoto, como o bar-
de- um povo relativamente beiro Ananias revelou ha
culto, como o argentino e annos, na revista de Bas-
que, mau grado todo esse tos Tigre () Rapadura,
lamentável trabalha de sap i una cômico que ainda hoje
dos chamados nacionalistas se conserva no primeiro pla-
dos últimos modelos do fu- no '— o actor Pinto Filho.
-il Mauser, ainda é um dos Estlaer Bergerath foi no
nossos bons e pacatos ami- seu tempo a melhor mulata
gos. O que pretendemos brasileira do nosso theatro
ronstatar com esses poucos ligeiro e Julia Martins che-
bonecos que ahi vão é tão gou a ser Julia Martins
-ómente a benéfica influtn- graças a um sem numero
ria exercida pela c ór preta de mulatas que legou á his
sobre a evolução d o nosso toria dos palcos nacionaes.
parco theatro nacional, in- O actor João Martins, a
fluencia essa que não com- graça commedida da nossa
portaria um amúo, siquer, revista, possue dentre os
por p a r t e d o sentimen seus êxitos, esse admirável
to pátrio da companhia bra- typo da revista de João Ca-
sileira, ante um «macaqui- nali «Posso desabafa?»:
toU no caso da estréa ter Augusto Annibal e Palmy-
sido uma peça como o «De- ra Silva, naquelle casal de
pretos da comedia «Terra
mônio Familiar» ou "Manhãs
Natal» foram, não ha muito,
fie Sob;, peças que retratam
a «isca» do publico ele-
differentes epochas. m a s gante do Trianon; Célia
onde o preto contribue para Zenatti n a «Meia noite c
o êxito dos seus interpretes trinta», uma preta retinta,
e. por conseqüência dos seus foi 8o o/0 do suecesso da
autores, d o nosso theatro. revista de Luiz Peixoto.
Porque a verdade é que E Célia Zenatti é uma
Jayme Cosfa na "Princeza de Bagdad legitima argentina . . .
o nosso theatro está ligado
- AMERICA -

um p a p e l d e r e l e v o . nOS aUreOS tempos do Cha


telei - do S. Pedro, fei se o inimitável l'ro
copio» no moleque fogueteiro da tjuritj . . . Jaj
me Costa o iinc-ii estreito Ia actual Compa
nhia do Trianon, mi I - acaba de fazei no Dr,
Sem Sorte» o tvpo brasileiramente nacional do
Basilio Vianna, teve as suas primeiras glorias
no creoulão da dPrinceza de Bagdad».
Carlos Torres SÓ conseguiu mostrar a |e
galidade do seu titulo honorífico de actor co
mico quando, na companhia Lcopol-Jo Fróes, f •/
aquelle interessante «chauffeur» de «Longe dos
I >lh0S . . .»
Finalmente 0 actor Manoel Durães tem en
ire outras não inferiores ereaçòes i velho
Domingos de «Manhãs de Sol», que i critica
do Prata consagrou e esse engraçado cabo «Meu
Nego» da Flor Tapuya.
A Companhia Abigail Maia não foi saudada
em Buenos Ayres com o clássico e anli-brasilciro
«macaquitOS», para .1 felicidade geral da nação.
O que não resta duvida, porém, é que aos
typos admiráveis de «naacaquitos» devemos nós
uns tantos nomes de incontestável mérito no nos
so theatro de comedia, drama e revista.
Saudemos, pois, o pó d e sapato e a rolha
queimada como uns dos mais fortes alicerces desse
palácio inacabavel, enuilo, ao que parece, ,1o edi
ficio do Fórum, que é o theatro nacional dos
sonhos de Arthur Azevedo e dos milhões da
sra. Nina Sanzi.
Terra de SENNA

EXPEDIENTE
NUMERO ESPECIAL
l ' r « ' 0 0 : ISOOO p a r a t o d o o B r u s l l

E' r.033c representante na oidode de Santos,


: Snr. J03ê Spinctsla Teixeira..
SÃO NOSSOS A G E N T E S :
Para lodo o Estado de São Paulo, Snr. Antônio de
Manoel Durães no "Velho Domingos' da comedia M a r i a , rua da Boa Visla 5 Á . Capital, por cujo intermédio
devem ser leitos os pedidos dos agcnf.es de revistas do interior
"Manhãs de Sol do Estado.
Na cidade de Santos, Snr. Paiva Magalhães,
No Estado da Bahia, u Snr. Manoel Porto. Portão <\a
Piedade 1 1 . Capital.
Em Bello Horizonte, os Srs, Giacomo Aluollo & C Rua
da Bahia.
Otilia Amorim deve parte do seu prestigio
no theatro de revistas aos admiráveis typos de impREsso HA easn
mulata c Alda Garrido, essa garrula excêntrica H O E P F N E R <Se C I A . T-TJO.
AV. MEM DE SA 256-240 — RIO
das burletas rigorosamente nacionaes. firmou o
seu nome na Mulata do Cinema» de Gastão Redacção: Rua da Quitanda, 1 5 7 , 1 . andar
Tojeiro. da mesma forma que Procopio Fer-
RIO DE JANEIRO a
reira, que. possuindo no "Capitão Corcoran»
— AMERICA -

(T""\ O S N O V O S P R O C E S S O S D E I R R I G A Ç Ã O i"£|N
I *O : :O : I
l : o o o o o o D A S CULTURAS o o o o o o : : I
::::::.':::::: f^A das operações mais necessárias á aquelle da trave uma armação metallica, á qual
li I I :: fertilidade das terras, e das mais estão fixadas as torneiras de rega.
•• I M " A água, fornecida por uma bomba especial
:: ^ ^ :: diffáceis, é a réea. E bom oneroso ou pela própria canalização da cidade, acciona
.. .• ° unaa pequena turbina situada na extremidade da
::::::::::::: S erá o trabalho para quem quizer viga. assegura o movimento do carro e vae,
fazer uma irrigação eopiosa c uniformemente dis- atravéz do reservatório longitudinal, regar as
tribuida. plantações.
Procurando solucionar esta difficuldade fo- Una systema de 4 polias, postas cm mo-
ram inventados os apparelhos de rega rotativos, vimento pela turbina,
os quaes apresentam entretanto o inconveniente por meio de una cabo
de exigirem que se sem fim. move o c a n o
regue duas v ezes a n'um ou n outro senti-
mesma porção de ter- do. Um contrapeso im
ra para que se possa mobiliza as duas ro-
cobrir toda a superfí- das de um mesmo
cie do terreno. De fa- lado do carro, o que
cto. a juxtaposição determina o avanço
pelo apparelho rota- d'este. Quando e l l e
tivo deixaria espaços chega ao fina do cur-
sem á g u a ; ist -. en- so, encontra um es-
tretanto, não invalida barro, o qual, pro-
o seu emprego se con- vocando um balanço
sideramos a facilidade no contrapeso, faz com
extrema de sua instal- que entrem em acção
lação. as outras duas polias
Mas ha melhor. e estas, accionaado,
O apparelho repre- por sua vez o carro,
sentado pela photo- fazem-n'o voltar em
graplaia que illustra sentido contr.rio.
estas notas, permitte
Ha una dispositivo
que se obtenha uma
que faz com que cesse
irrigação abundante e a irrigação quando o
regular. sobre qual- carro pára. Coasiste
quer superfície de ter- elle ena que o carro,
reno, seja elle gran- em movimento, accio-
de ou pequeno, e isto na umabombaque t m
sem necessidade de por effeito abrir vál-
pessoal. A cousa é tão vulas situadas abaixo
engenhosa, que ofunc- dos syphões de ali-
cionamento completo mentação das torneiras de rega.
obtém com a manobra
d'este systema de ir- Assim jque o cano pára, pára a bomba e as
rigação automática, se válvulas se fecham automaticamente. Não ha, por
de uma simples torneira. isso, perda de água e os syphões conservam : se
O «Fluviose» (este o nome dado ao appa- sempre escorvados c promptos para quando se
relho ) c constituído por duas partes: uma fixa os queira utilizar.
• outra movei. A parte fixa consiste ena uma Aliás o nivel d'água é mantido constante
trave de ferro mantida a uma certa altura por graças a um flucluador que age sobre a compor-
meio de columnas fixas em bases de concreto. ta de admissão de água.
Ksta viga supporta uma espécie de caixa que A velocidade do carro é de (> metros por mi-
constitue um reservatório longitudinal de água- nuto, o que assegura uma irrigação muito regular.
O comprimento d'csta trave deve ser igual Pode-se diminuir o curso do carro, tanto quan-
to se queira, por meio de esbarros intermediários,
ao do terreno a regar. Sobre ella se desloca
um cano, levando em um plano perpendic -ular
-s,
iíS»-' - -

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RIO DE JANEIRO
— AMERICA -

NO VALLE DOS LACRAUS


limjlllmiimiii
nlllllMllllllllln nllllMIIIIIIIIIJIIIIIIIIHIIIIlItTv

OL: muito sol que calcina as pedras;

S
por ella, espalhanclo-a por onde passe; inten-
areia que ao mais leve sopro se tando divertir-se e aborrecendo os seus simi-
levanta em torvelinhos, sepultando Ihantes.
tudo o que encontra em seu ca- E não contente com isso, trata de coni-
minho. Respira-se p ó : pó na roupa, no cabello, municar seu tédio aos que elle crê que se
nas sobrancelhas, entre os dentes que rangem... aborrecem debaixo da terra, tanto quanto elle
e nos pulmões. Sede. Sede! alli se sente o sobre ella.
que vale a á g u a ! Só o filho do deserto sabe Para esse fina, acampou em pleno reino
aprecial-a verdadeiramente. Cheiro, cheiro a ca dos reis mortos. Esse novo Barnum que ensur-
mello; alli tudo rescende a camello: o ar, as dece a mundo inteiro, batendo una bombo nunca
pedras, cs i n d í g e n a s . . . e os camellos. ouvido, habita o valle do silencio, goza o de-
Silencio! silencio absoluto; o silencio do- serto, os túmulos e . . . o «spleen».
mina, esmaga. E ' o reino do nautismo. A pala- Os dias suecedem-se ás noites e estas aos
vra destoa. Espera-se a vóz potente de Jehová. dias; uns atráz dos outros, todos iguaes. O
Crê-se . . . mesmo esplendor ao desapparecer do sol como
Depois da terra limitada, o céu sem li- á sua a p p a r i ç ã o . . . e o inglez imperterrito se
mites. <> gigantesco prisma gyra, passam as co- aborrece ena seu sitio.
res da palheta celeste uma atráz das outras: A enorme reclame resoou pela terra e at-
verde, côr da esperança — conaçJi é todo o des- trahiu gente de todas as raças, cores, gostos
pertar depois rosa. amarello. branco, azul. e categorias. Correspondentes, photographos, pin-
violeta, vermelho, ocre e de repente, negro, que tores, reis, millionarios, scientistas, cosinheiros,
se coalha de diamantes. Estas cores intensas, sem- egyptologos, pedreiros. Todos aqui pagam ou
pre as mesmas, ás mesmas horas, suecedem-se são pagos - tudo é negocio, o «business» mais
desde a c reação do repugnante que jamais
mundo, sem descanço. se fez cona um ca-
Nesse clima sente- dáver.
se c|ue sua própria Esse saque ena nada
pcllc íncO nmóda... e se assemelha ao na-
ii ni- e na bocea cm poleonico. Aquelle era
sabor a s a n g u e . . . No pela gloria. este é
meio de tudo isso . . . pelo dinheiro. Pare-
o Valle los r i,< ce que só se trata
<- debaixo de cada pe- de tirar as «pellegas»
dr.i um escorpião. ao publico: por meio
Ahi dormem os dos jornaes, do cine-
ph traós <> somno da ma ou do quer que
morte, rodeados de seja.
irtefacti s ridi ulos, Em compensação,
c sperando a total de- servem-se os despo-
composição do planeta jeis de um infeliz
pare acabarem de ser. que morreu ha três
Perturbando essa mil annos, enfeitados
paz secular... um in- c um as diversas bu-
glez. gigangas de um gos-
* * * to péssimo, que pa-
l i ri homem que se rei em tiradas do
aborrer e. Cançado de guarda-roupa de thea-
sc-us cachimbos, de tro de terceira or-
seus cavallos, de seus dem.
lie ores, de suas idéas Trastes bichados,
e de seu cérebro im- cousas sem arte nem
THEATRO BRASILEIRO razão; objectos que
pregnado de nevoa
britannica, intoxicado A actriz Sra. Abigail Mala só poderiam appetc-
- AMERICA -

cafeteiras sobie i cabeça; viu... fumo, p.d


meiras que se moviam Í\Í direita paia i es
querda e vice c i s a . viu um lago, viu... um
grupo de banhistas da Mack Sennet, U l|en
Turpin, • um tigre bocejando. Viu palácios de
madeira e eepapier mfiché» de estylo arabe. Poi
fim. viu o Egypto, t d como o podem ver um
lord inglez e um judeu russo aineric a n o
Quando mais atarefado estava contemplando
as banhistas, uma pesada mão pousou sobre seu
hombro ...
1'nia vóz grave, triste, falou:
Porque v deste interromper meu somno?
A d i v i n h o u , pela p e r g u n t a , q u e m era...
Por a m o r cia sciencia n ã o s e r á . Por a m o r
i a r t e , a i n d a m e n u s . Por d i n h e i r o ? . . . A v a r e z a . '
S e r á que a a l m a de R o t s c h i l 1 t r a n s m i g r i i u
i n c a r n o u - s e em teu c o r p o ?
Isso lhe- p a r e c e u um i n s u l t o dei i.lill se
i responder.
Não. a m i g o T u t . . . Vou d i z e r t e a ver-
d a d e ; si m e tens aqui a te e n t e d i a r , n ã o é
por n e n h u m d o s m o t i v o s q u e s u p p õ e s , n e m por

O n t i n o NO \OKS<> i m : \ i 1:0
João Martins na revista "Posso desabafa?"
• ei um G u i l h e r m e I I . de nefasta memória.
B e n s q u e si fussem m o s t r a d o s i um be-
cluinci. s e r i a m q u e i m a d o s p a r a s e p a r a r o o u r o
do resto.
Do triângulo que forma o ser do inglez.
o l a d o mais i n n o c u o é, sem d u v i d a , a s u a vai-
d a d e , essa v a i d a d e b r i t a n n i c a que não sorri,
c o m o a latina que parece pedir desculpas
s e n ã o séria e e s t ú p i d a c o m o t u d o o q u e é
s é r i o . N o s s o h o m e m tem a f r a q u e z a d e q u e r e r
q u e (o seu n o m e p a s s e á historia, c o u s a fácil
q u a n d o se t e m d i n h e i r o .
A p e z a r d e t u d o se a b o r r e c e . A b o r r e c e - s e
p o r q u e termiaaou o p e r i g o , a a c ç ã o e o im-
p r e v i s t o : t r ê s c o u s a s q u e f a z e m a vida a g r a -
dável.
*
Uma tarde de modorra. depois de uma
r e f e i ç ã o p e s a d a e d e una vinho o r d i n á r i o , l o n g e ,
muito longe do club londrino • d e seu pri-
moroso bar. o nobre lord acabou por dormir
d e v e r a s e teve u m s o n h o . X ã o u m a visão c o m o
a p ô d e ter um a r t i s t a ou u m s c i e n t i s t a . n ã o .
T e v e u m a visão d e h o m e m rico... u m a v isão
d e film, p r e p a r a d o e c o n f e c c i o n a d o p o r uma
f a b r i c a a m e r i c a n a . . . e riu . . .
Viu bailarinas de «variedades", com pouca O PRETO NO M O S S O THKATItO
roupa e m u i t a p i n t u r a , d a n ç a n d o o ><shimmy». Manoel Ourães io cabo "Mau Nego" da tparita "Fiar tapuya
que me inspirasses um desmedido interesse eça congestionada, não sabia si pelo vinho, a
Agora que te vejo, maltrapilho e sujo, me in- má digestão, o calor ou a posição incommoda.
teressas ainda menos, pois me apercebo de que Estirou-se.
te conservaste muito m a l . . . Dir-te-ei sem inten- Coçou-se . . .
ção de offender-te que melhores que tu, temos - Sonho estúpido! aconteceu-me isso por
no «Iiritish» e em «Mme. Tusand's» . . . ter comido demasiado — Lembrou-se da prophecia
Então?... perguntou Tut um tanto c do extranho beijo. Tão ao vivo foi que pare-
molestado.
cia verdade. Ainda ficara a i m p r e s s ã o . . . uma
-Pois vim v e r t e por duas razoes: um comichão d e s a g r a d á v e l . . . Quanto mais cocava mais
pouco por vaidade e muito porque me abor- doia e até lhe pareceu eme havia, inchado a cara.
recia.
Procurou o espelho; viu qualquer cousa que
- E por essas fiivo'as se movia, que desusava
razões vens perturbir es debaixo de uma pedra.
que em paz esperam, sem Não fez caso. Encontrou
dor. transformar-se em o espelho s certificou-se
nada ? E porque os de de que a cara estava in-
agora não castigam aos chada. No centro havia
violadores de sepulturas? unaa pequetaa mancha ro-
— Já o advinho! E ' xa.
duro! Quando encontra- * * *
mos um desses beduinos Dois dias depois, era
profanando um túmulo, tão cadáver quanto Tut.
não o julgamos . . . vai * *
á forca. Os reis, por muito reis
— - Vamos!... já te que sejam e por muito
ciinipr hendo . . . Tu nos enabalsamados que este-
roubas para p o d e i s co- jam, como os outros se-
mer. Xão é isso ? res da creação, se decom-
— Não sejas tolo! para pêem. A vida, porém,
poder c o m e r - . . . não sa- continua em outra fôrma
bes que sou um illus e a que era rei é outra
tre lord. honra da scien- vez o que foi antes; um
cia. com muito dinheiro pouco de tudo: gaz. lu-
ê protegido pelas au- va, vegetal, mineral.
toridade- ? Talvez, com o tempo,
-Ah! E's um dos contribua para a inte
que mandam ? gração de um novo ho-
Mais ou menos. mem.
Vejo que o mundo O espirito se fôrma de
mudou p o u c o . . . Só o ac côrdo com o ambien-
rrajes e o penteado. te, e com as condições
Assim ,'. amigo do clima.
pharaó. Num clima generoso,
Como dantes; o o verme vil pôde chegar
mais forte faz o que a uma borboleta bella e
q u e r . . . Tem graça ! An- Os c a m p e õ e s europeus iuoffensiva; o mesmo, em
tigamente nós v en lamo-, Paul Marlin, campeão suisso dosflOOe dos 1.500 melros uni meio cruel, difficil,
os judeus, hoje os judeus nos v e n d e m . . . De amolda - se OU perec e Essa lucta cruenta deixa
forma que tu te sent -s m i l . . . Vaidade e aborre- suas pegadas tanto no corpo como na alma.
cimento . .. Também as almas se decompõem. A alma
— Accrtaste. do homem, que é <> Kosmos, não pôde se ajus-
Vou dar-te um remédio para as duas tar ás necessidades de una i flor ou tle um rato.
cousas. Acabará teu aborrecimento e serás cé O pedaço tle alma de una rei tocado pelo
h-bre. escorpião, não pôde estar respirando doçura !
Approximou-se . . . e lhe deu um beijo. Pois as condições m u d a r a m . . . e si o escor-
Caramba! ' c a n o cheiras mal' proles pião faz alguma mordedura, não é para vingar
tou o sabío. Livrou-se do abfaço, abriu <>s olhos este ou o outro. Age segundo sua natureza.
e ... o pharaó havia deaapparecído, Somos •» que c ornemos. Si comemos uma
As banhistas também. i ,à tomamos sua alma, si comemos una peda-
Encontrou se encharcado de suor e «i ca- ço de homem tomamos a alma correspondente
AMERICA

O CONVENCIONAL HIERATISMO QUE


IMPÕE A MODA A FIGURA FEMININA

• ; V R E C E q u e ., m o d a só devia e x e r c e r LCOnO. As vestes l a r g a s c- s i m p l e s e s t v l l / a m as


: mJ : seu i m p é r i o s o b r e os objectOS m a t c - f i g u r a s c e s t ã o n.\ m o d a as p o s e s l i g i d a s . os
| '. riaes SUJeitOS ao c a p r i c h o ,i f a n t a s i a : gestos lentos e mecânicos, a impertui habilidade
•••••• ns t r a j e s , os m o v e i s , as j ó i a s . . . N ã o s a x o n i a . . . C o m o no film, a e l e g a n t e c a m i n h a di
a s s i m . Mad.mie M o d a i n v a d e o c a m p o do reita, hieratíca, imitando a rigidez artística dessas
physico, do fundamentalmente humano... figuras p o h chromicas. que decoram os I risos
H o j e se u s a m g e s t o s e f i g u r a s c o m o se u s a m egypcios ...
toilettes <• c h a p é u s . . . A influencia cio film i m p õ e Encantadora, absurda tyrannica da Moda que,
.1 figura feminina r y t h m o s , p o s e s , a p p a r e n c i a s . . . n ã o Contente com o seu r e i n a d o c m g a / . - s . si-
A voga d e F r a n c e s c a Bertini m a r c o u u m a época d a s e jóias, intenta i m p o r s u a s s e n t e n ç a s ,i bel
de n o r m a s d a s a l t i t u d e s n e g l i g e n t e s dos g e s t o s leza humana I
c a r i n h o s o s e s u a v e s , dos felinos m o v i m e n t o s cheios N ã o se m o d e l a , c o m o a tela OU o m e t a l ,
de g r a ç a , flexíveis e s i n u o s o s . . . o divino b a r r o da e s c u l p t u r a f e m i n i n a , q u e já
A g o r a i m p e r a um h i e r a t i s m o forçado de fez com d e l e i t e de a r t i s t a g e n i a l o s u p r e m o
i*****'****r*vvv**^'t**v*s****r**********ir**v**u
Artífice... i) espontâneo e natural reinará sempre
s o b r e i o d o a r t i f i c i o . . . U n i f o r m i z a r o g e s t o ou a
figura é destruir o melhor encanto da belleza,
q u e tem sua p r i n c i p a l g r a ç a n a d i v e r s i d a d e . . .
N ã o se p o d e m u s a r g e s t o s , n e m m o v i m e n t o s ,
ccimo se u s a m m o d e l o s d e c a u d a s d e vestidos ou
chapéus...
A natureza é anarchioa c inviolável... K
c o n t r a sua d e l i c i o s a m u l l i f o r m i d a d c esbarraram
s e m p r e a s e x t r a v a g â n c i a s d a M o d a , , p o r q u e > en-
c a n t o d a m u l h e r só se reje p e l o e a n o n i m m o r t a l
i n v a r i á v e l da B e l l e z a . . .

ÃivClCAÇÀO DA GRANDEZA INCAICA


N o m a g n í f i c o a r t i g o q u e , s o b esse titulo,
publica no presente n u m e r o o nosso brilhante
c o l l a b o r a d ò r S n r . Saul d e N a v a r r o , p a s s o u um
e r r o t y p o g r a p h i c o q u e n o s a p r e s s a m o s em re-
. t i f i i a r . p o r n ã o ser d e 1'acil c o r r i g e n . l a .
A s s i m , na ultima p a g i n a , o n d e se lê, nu
c o m e ç o d e um d o s p e r í o d o s , «Una d i a A p u m a r c u
c o m e ç o u a f a z e r s o b r e d a n t e s c a , etc», deve-se
entender: a U m l a n c e é p i c o , q u e r e c o r d a unia
visão d a n t e s c a , etc.»

FIGURINHAS DA MODA

aos g l ó b u l o s d e seu s a n g u e ou de su is f i b r a s ,
p o r e m si n o s n u t r i m o s d e l l e . vivente, c o m o o
f a z e m o s n o c o r p o d a m ã e . a d q u i r i n a o s seu es-
pirito e depois o ambiente nos acaba de formar,
i is reis s a t u r a r a m o a m b i e n t e e m r e d o r c o m
i sua p o d r i d ã o . Assina é q u e o a m b i e n t e q u e
respiraes nos túmulos é parte de um pharaó e
d e b a i x o d e c a d a p e d r a ha p a r t e d o seu e s p i r i t o . . .
A e q u i d a d e e x i g e q u e se r e c o n h e ç a u m a a l m a
ena c a d a c o u s a . . . si una i n g l e z a t e m , p o r q u e
n ã o a t e r á una e s c o r p i ã o ?

Luiz CSABAL D ASNLNZIO caricaturado por WYNN


— AMERICA

0 O
OS POETAS BRASILEIROS

Martins Fontes, o artista que burilou os versos admiráveis de "Verão" e a cuja


penna se deve o soberbo soneto "Flor!" que publicamos no presente numero.
—O
- AMl RICA -

visãu c o m p l e t a
en- um grande
Artista pudesse Illlllu.

ser d i t a . cega-
ria o M u n d o . \ bica. ao fundir se na Palav i a , perdi
* sua es-o.icia: o Absoluto; a-tsim, i Palavra
não é uma revelação: ó uma mutilação.
N ã ei h i\ i r.í
*
I Ibra de Arte
T o d o ('.lande P e n s a d o r é um Inacttial, SÓ,
immortal fora
p e r d i d o nu m e i o dos homens.
das da A r t e So
*
ciai.
F o r a da L i b e r d a d e nãó ha Eloqüência; lia
apenas Rhetorica;
< • maior de *
ver da A r t e í
l 111 H o m e m Livre é m a i s d o que um
servir ,í Liber-
e x e m p l o , c- i.ni p e r i g o ' ; s u p p r i m i l - o é um d e v e r
ado.
d e c o n s e r v a ç ã o na T y r n m n i a .

Vargas VILA
A \MC- tem o direito c () dever de im-
miscuir-se nas [ uc tas ardentes dos homens, de
respigar ,, sua colheita de victorias nu campo
fecundo d., Ac,,",,,. ,u- cantar a Marselheza es-
OS INCAS
trondosa dei tudas ai rSbelIiões „ | S grandes ba-
talhas d., Vida, sobr.- u coração <\A Humani
dade vencida e humilhada pela Força.
A brilhanfe civilização alcançada pelo Peru duranlc-
a dominação dos Incas, punha-o, senão em nivel
superior, pelo menos em nivel n t o infeiior ao
dos invasores hespanlióes.
Míinco-Capac, o primeiro Inca, loi um verdadeiro
civilizador. D c l o u inuilas leis humanas e sabias cujes textos
Quem não consegue ser escriptor, faz-se
de lodo se perderam; ensinou ao seu povo as arles a
• ritico; poi nau podei i re ir, conforma-se i orri
ciihura da terra, estabeleceu a familía, ordenou que os seus
destruir.
subdifos conlrahissem malrimonio aos vinle annos e regulou
a mais S'ibia distribuição de terras que se con' ece
Manco-Capcic preocupava-se fanlo com a felicidade
A faculdade critica .'• a negação absoluta
do s u povo que este, em retribuição, considerou-o uni
do Gênio. deus e chamou-lhe Capac, que significa : cheio de viifudes.
F.nlre os descendentes desse grande monarcha encon-
Iram-se reis eminentes como Incn-Koca. que fundou e colas
O a t h l e t i s m o , em toda ordem material, pa-
para os príncipe», onde estes aprendiam a ínlerprela<,ão dos
re, e-me uni spurt de c i r c o . quipos, que eqüivaliam á nossa escripta, e dos quaes se
serviam para conservar ; u a s tradições. Creou
Toda a obra de Arte deve ser unia «g* o cargo de administrador do Império, o qual
era encarregado de conservar os qUipOS no
obra de- combate. C—^~
lemplo do Sol.
Outro Inca famoso foi Pachaculec, que
O vulgo '• o i n i m i g o n a t u r a l do su- fundou cidades,^fez conslruir palácios, aque-
blime.
duclos, estradas, efc.
O joven principe Nez.ahualcoyofl presfou
T e n h o h o r r o r a o s h o m e n s q u e riem lambem grandes serviços e tratou diligente-
e m u i t o d e s p r e z o p e l o s q u e fazem rir. mente do bem-estar do seu povo. Foi elle
* quem mandou construir um grande templo
"ao Deus desconhecido, causa das c a u s a s "
D e t o d o s os g e s t o s a b s u r d o s d e um
E assim desenrola-se uma lista enorme
e s c r i p t o r . o m a i s vil é a q u e l l e e m q u e
de governantes incas cuja única preoecupação
esquece a Santidade da Palavra.
foi a felicidade do seu povo, lista que termina
*
com Sayri-Tupac, chamado Don Diogo Inca
O riso é o relincho dos homens. ultimo imperador do Peru.
MUNDO SIDERAL

O- -o
NÀTHALIE KOVANKO foi uma artisfa que surgiu,- como um aslro, para resplandescer: o seu triumpho é contem-
porâneo da sua estréa. Sobre ser uma das mais hábeis infrepreles de difficies papeis, Nathalie é uma das mais
bellas mulheres que têm apparecido nas telas, O seu ultimo suecesso foi o grande film "Mil e uma noites'
Ò- O
AMERICA -

Q u ã o lonje .-siá o tempo dos pagcns c- des l i t e i r a s ! N a vertigem progressista dos nossos dias duas frágeis e elegantes
senhorilas. quando,-de ejnm passea r , entram sósinhas num aulo e vencem distancias pnsmosas.
I: o monstro de aço obedece documente ás mães femininas, como os dragões das legendas obedeciam ás fadas.

CD=

rur~
o^n 0 estado actual da Aviação
I passarmos unaa revista pelo que tem vôo. Aeroplanos, sem piloto,
£^J feito a Aviação n'estes últimos tena- complicadas.
/s^P pos, ficaremos surprezos diante dos E as maravilhas se suCcedem e
seus recentes progressos, tal a sua tiplicam.
extensão e variedade. Mas, em meio cie toda esta actividade bri-
O record mundial de velocidade já vae lhante para o homem, e que indica o que po-
a perto de 245 milhas por hora. dem o seu esforço e a sua intelligencia, desta-
Os records de duração de vôo não sur- cam-se conquistas que importam muito mais que
prelaendena menos. O Serviço Aéreo norte-ame- isto, porque representam a base solida sobre .1
ricano já tem a gloria de uma travessia trans- qual repousam novas possibilidades para maio
eontinental. sem parar. res triumphos.
As ultimas experiências feitas nos indicam Assim, o que emerge mais claramente .los
a possibilidade de se obter motores que traba- factos acima citados e nos apparecc como que
lhem, a toda a força, durante 250 horas, inin- constituindo importantes linhas geraes é;
terruptamente. t.o)— o enorme augmento na duração de
Aeroplanos sem motor permanecem no ar. trabalho e na confiança que nos inspiram mo-
por muitas horas, sem mais outros elementos tores e apparelhos.
que o ar e a habilidade do piloto: 2,0) — a próxima solução do vôo á noite.
Helicópteros sobem verticalmente, pairam so- 3.0;—o advento do aeroplano sem motor,
bre una dado ponto ou fazem um circuito com- cuja primeira conseqüência será o aeroplano con
pleto, em vôo horizontal. motor de fraca potência, ou. por outras palavras,
Aeroplanos atracam em dirigiveis, em pleno o aeroplano barato.
W ^ wocaç&o àa candeia vr\ca\ca w
—\r-
Um passado de esplendor na visão esthetica de Abraham Valdelomar r
K
-=a

O
PERÚ. com o Império dos Incas, os fantasia abundante c subtil, no rythmo estranho
filhos do Sol,, e o México, cona de sua musica selvagem e suave, coma si fosse
o império dos Aztecas, os gregos i descripção melódica de una so.alao altivolo de
de bronze pelo culto de seu poly- condor.
theismo e prodígio de sua arte, são as duas E ' que Valdelomar não é senão um ani-
grandezas características da America, que, antes mador do passado epico dos filhos do Sol,
da conquista européa resultante da realização do desses apolloneidas bárbaros da America. O seu
sonho de Colombo, tinham uma civilização pró- verbo é uma dansa de véos, uma orchestração
pria, destruída depois pelos invasores brancos, braaaca das neves andinas, um teclado de co-
que foram, assim, os bárbaros do século XVI, res, uma pincelada de s o n s . . . Sc:ate-se-lhe a
no vandalismo de fazer desapparecer o mundo mesma, poesia de Alencar ena Iracznvt e em ou-
romano da Aiaaerindia. que se levantava nos tros poemas em prosa, o n l e cantou a alma pri-
dois extremos deste laemispherio: ena Cuzco c mitiva, a vida, o martyrio c as façanhas dos
ciai Tenochtitlan. nossos aborígenes. O reconstruetor illuminado e
Abraham Valdelomar é um evocador admi- sensível, o restaurador artístico do passado in-
rável da grandeza incaica. Na visão esthetica cáico, tem a mesma doçura, o mesmo brilho do
do magnífico prosador peruano o passado esplen nosso suavíssimo estylista, que inamortalizou as
dido surge ena toda a sua opulencia e belleza. raças rudes, mas heróicas, que foram sacrifica-
Los hijos dei Sol i contos incaicos i revelam os das pelos conquistadores brutaes, violadores da
attributos estheticcs do mallogrado intellectuai, virgindade da terra e da alma da America pre-
morto, prematuramente, em pleno viço da mo- colombiana.
cidade e do talento. O Alencar peruano tem, na opinião de Cle-
A leitura dos chronistas coloniacs, o en- mente Palma, toda a belleza, toda a força des-
thusiasmo pela sua raça heróica, o culto pelo criptiva, toda a suggestão maravilhosa dos gran-
passado glorioso, onde fulge o Império dos In- des poemas.
cas, foram a origeiaa desse pequeno e maravilhoso
livro, serie curta de contos poematicos, perfu-
mados de lenda, rebrilhantes de estylo, repassa- Los hijos dei Sol são um hymno á raça
dos de belleza e simplicidade, rutilos, diaphanos, luminosa, eme fulge, como os thesouros, na his-
que lhe saíram da penna com a graça espon- toria do Peru.
tânea das flores que. pela manhã, orvalhadas O Império dos Incas surgiu no valle do
ainda, parecem, á caricia do sol, a transfiguração Cuzco, sendo fundador dessa dynastia de titans
da luz em perfume . . . .Mane o-Cápac, que alli chegou em companhia da
A prosa de Valdelomar é uma anfora in mulher, Manaa-Odlo, aurcolados pelo prestigio
digena, onde se estvlizou um capricho de or- de uma lenda que os fazia filhos do Sol e
chideas, c- onde se- bebe uma água fresca, co- nascidos no regaço do lago Titicaca, essa pu-
lhida á noite, numa chuva de temporal, á ma pilla dos Andes, aberta a 3.915 metros de al-
neira de um lacrhnario do céa ... titude, onde se refleete o Infinito e os condores
Manuel Beltroy enaltece a se banham . . .
sua imaginação evo< adora, a Os trabalhos do encanta-
sua prosa fulgente e rea- dor indianista são productos
lista, a sua sensibilidade de estudo das origens, das
rara e delicada, gabando- lendas e tradições incaicas,
lhe a excellencía e fínu- e outros sahiram de sua arte
ra do estylo, "estylo ágil. original, louçan e vibrante.
solto. aligero diaphano Nos primeiros contos, sobre-
como péplo de bayadera». sáem El cambio hacia ei
Ha, nesses contos lyricos sol 1 Los Hermanos Ayar
e 'picos ao mesmo tempo, 2 nos últimos El alfarero e
o sabor de uma leitura di- El tiombre Maldito. Laça-
versos sem o eco monótono mos um esboço rápido de
das rimas, no vôo de uma alguns primores dessa obra
AMERICA -

I.UXO. E L E G Â N C I A , CO?fFORTO
Um living-room admirável de hom gosto e de sobriedade, que a tapeçaria, as flores e os livros tomam attrahente e encantador.

suggestiva, verdadeiro florilegio ameríndio. o deixava-se levar pelo seu sonho, numa ânsia
Comecemos pelo que abre o livro; de espaço e de liberdade. Ninguém o via tra-
El alfarero (sanu-camoyok). balhar. Só, em plena selva, colhia flores e
hervas para o preparo de sua pintura, carre-
Apumarcu era um artista da selva, um Phi-
gando barro para o seu labor. E da argila,
dias bárbaro.
sob o sopro dessa alma de artista, sahia uma
Fronte ampla, cabelleira crescida e rebel-
estatua de deusa, uma anfora, uma serpente,
de: olhos fundos: olhar doce c sonhador, simples
uma dança da M o r t e . . .
• silencioso: vivia só. errante, tendo por ha-
bitação uma cabana humilde. Tinham-n "o por Uma tarde, tendo ido ao rio para buscar
louco. água. afina de desfazer o seu barro, ouviu uma
Contemplativo, fugia dos seus semelhantes suave canção na fronde. L depois, approxiniou-sc

O MELHOR DENTIFRICIO
LIMPA E CONSERVA OS DENTES

Encontra-se em todas
as Pharmacias e Perfumarias
— AMERICA —

ARTE MODERNA 1

Um dos retratos a óleo em que o pin-


tor allemão Alfred Helberger, até ha pouco
nesta Capital, revela a famosa escola ex-
pressionista, hoje reinante na Allemanha.
Nas figuras que pinta, Helberger procu-
ra expressar o sentimento intimo do mo-
mento no retratado.
Alfred Helberger expuz no Rio .uma
interessante collecção de paizagens no mes-
mo gênero, aspectos da Itália e da Norue-
ga, onde a artista [lassou a grande parte
cie sua existência.

delle essa caricia audível : um homem, sobre uma E confessou-lhe que. perdendo-a, não po-
rocha, solitário, á margem do rio. locava. La dia ser alegre. Apumarcu, que não a perdera,
Iou-lhe : nem a tivera, por que era triste?
Quem és tu c por que tocas aqui, onde Por que não era o «alfarero» do Inca,
ninguém pude- ouvir-te? que lhe ciaria por esposa a mais bella dama
da corte? Por que vivia solitário? L Apumarcu
E quem és tu, que vens assim a c-ste-s
lha contestou que algo lhe faltava; sentia uma
logares, onde- só ha uma saudade, que : minha?
ânsia inexplicável em sua alma.
respondeu-lhe o Orpheu andino.
«Vo siento que hay algo que yo podria
Sou Apumarcu, ei alfarero» (oleiro).
hacer y sé que podria ser feliz. Tengo un
- A h ! irmão, sou Yacíán Nana) (sem pá-
incêndio en ei alma, veo una serie de cosas
tria), o que toca a «cantara».
pero no puedo expresarlas. Tu sufres y cantas
E desde então se tornaram amigos insepa- eu Ia atilara tu dolor y Itaces llorar a los que
ráveis, se- fizeram irmãos. te escuchan, pero yo siento, veo, imagino gran-
Vactan lhe disse que a sua amada havia des c usas y sou incapaz de realizadas. Sabes?
se perdido e el|e tocava na esperança de encon- Yo quisiera pintar Ia vida tal como Ia vida es.
tral-a. Descrevia-lho a formusura, fazia a Apu- Yo quisiera representar en un pequeno trozo Io
marcu o retrato de sua eleita. O artista fez-lhe que vc-n mis ojos. Aprisionar Ia natufaleza. Ha-
uma cabeça. Vactan lhe disse commovido: cer lu que hace ei rio con los árbolcs y con
ei cielo. Kcproducirlos. Pero yo no puedo: me
Não tocarei senão para ti, irmão, por- faltan colores, los colores no me data Ia idea
que a compreendeste e m'a devolveste. Creio de lu cpte yo tengo en el alma.»
que o barro, em (pie ella está aqui, em tua
obra, viverá eternamente. E's maior que o Sol, Nessas palavras não está todo o anseio
porque elle a fez e a levou, emquanto tu a do ideal, toda a alma dos artistas, todo o cs-
fizeste em dura argila e não morrerá nunca. forço da perfeição?
-
11// RICA

Que symbolo estupendo!


I m dia Apumarcu começou .< fazer sobre
u mUta i» emires da tarde, de uma tarde- íno-
gualavel. Colheu folhas e principiou .. esfregai [ N O H vrrn>A< >
as sobre o muro e com um is flores ia dando
as tonalidades
L possuído de um i força estranha, deu Nunca mais me esqueci. Era eu creança.
impulso febril ao trabalho, reproduzindo a luz E cm meu velho quintal, ao sol nascente'
e a paisagem cpie via pela janella. Deteve-se Plantei com a minha mão ingênua e mansa
de súbito. Faltava algo. uma só COUSa, um tom. Lni.i linda amendocira adolescente.
uma côr que elle não tinha. Como encontrál-O?
Tirou um pequeno punhal c golpeou o E cresceu a mais rutila esperança
pulso. E o sangue surgiu quente e rubro, aos Da minha vida... E aos poucos, lentamente,
borbotões. Misturou-o com a água de um vaso Pendeu os ramos sobre o muro cm frente,
3 viu a que lhe faltava e proseguiu a pintura
E foi Iruclificar no visinhançn.
até que- caiu exangue sobre o leito.
Quando Vactan Xanav voltou, pncontrou-o Dahi por diante, pela vida inteira,
estendido sobre o leito: o sangue coagulado e Todas as grandes arvores que cm minhas
no chão um pequeno lago escarlate; no muro
Terras, n um sonho esplendido semeio,
viu a paisagem da ultima t a r d e . . .
Beijou-lhe a fronte e. chorando, tocou i Como aquella magnífica amendocira,
seus pés a canção do crepúsculo. «El oro dei Sol I lllur.se .in nas chácaras visinhas,
caía por Ia ventana estrécha y se desleia en
E vão dar frueto no pomar alheio.
Ias ropas dei artista, en cuyo roslrei anguloso
habia un tono verde v en cuyos ojos sefioreaba l i u i. i u ; i i <,M
e-sa humedad trájica de los ojos que ya no
lienen vida.
A sus pies encontro Vactan Nana) una
e abecita de barro cota Li imagen dei • migo
muerto. V siguió tocando, tocando hasta que ia
noclae cavo. como una sola sombra inerte so- A mulher é conservadora. Ella deseja a
bre ei Mundo silencioso» . . . solidez. E que ha de mais natural ? E' neces-
sário um solo firme e seguro para o lar e
para o berço.
Um dia Apumarcu começou a fazer sobre
MICHELE T
dantesca. é o canto impressionante, de um colo-
rido a Doré El ca/nino hieia ei sol, onde
os sobreviventes da raça incaica, fugindo dos
vencedores hespanhóes, vão em busca da morada Outra producção magistral é o conto «LI
do sol, para encontrar refugio e salvação, num Pastor y ei Rcbarm de Nieve», em que Kiilí-
desfile trágico de sombras pelas montanhas, até Kimiy lo que ultraja a neve;, irmão do Inca
que exhaustos, famintos, desanimauos, chegam ás Túpãc Yupangui. por inveja e vingança daquelle
margens de una lago immenso, verde, mysterioso que desposára uma virgem do Sol. segurou um
e sereno, onde o sol. na agonia, ia desappare- cordeiro para conametter e> horrível crime de
cendo. Mas o deus não os attendeu e elles, degollal-0. Queria manchar com sangue ,ubro
os milhares de Índios vencidos e errantes, re- as neves perpétuas. O Sol percebeu-lhe o intento
solvem ir ao seu encontro. E á beira do lago saerilego e quando, no e:ume da montanha, em
cavam sepulturas e todos, enterrando-se. buscam meio do rebanho sagrado, de que era pastor,
voluntariamente a morte, restando apenas una he- preparava o sacrifício, o Astro Rei se occultOU
róe que. não podendo enterrar-se a si mesmo. rapidamente. Uma tempestade desencadeou-se <•
se encaminha para o lago e morre numa ânsia cahiu neve, neve, n e v e . . . Quando voltou a sair
de luz. Mamando ai S o l » . . . o Sol, restavam convertidos ena neve o reba-
Em Hombre Maldito ergue-se a figura es- nho ie o p a s t o r . . . Los hijos dei Soh são uma
pectral de Karchis. o cego. de orbitas vastas, apotheose da civilização dos Incas, dessa raça
o sacrilégio roubador do sol, por elle castigado, aborígene, que avulta no passado do Novo Mun-
c que vaga. tacteando, pelas montanhas, den- do e brilha como o Sol que era o seu culto,
tro do silencio e da noite eterna, numa evoca- sendo o symbolo impereçivel de todos os povos
ção de Edipo. creado pelo gênio trágico de que vivem na America.
Sophocles. Saul de NAVARRO.
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