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Mulheres na Engenharia: Desafios, Possibilidades e Contribuições

Desmistificando estereótipos sexuais: existe realmente diferença entre


engenheiros e engenheiras?

Nome: Felipe Guilherme Melo


E-Mail: felipeguilherme1@gmail.com
IES: Universidade Federal da Bahia, Programa de Engenharia Industrial

Nome: Rosana Almeida Nascimento


E-Mail: nanaeq@yahoo.com.br
IES: Universidade Federal da Bahia, Programa de Engenharia Industrial

Nome: Claudio Henrique Costa Cerqueira


E-Mail: clauz.cerqueira.cc@gmail.com
IES: Universidade Federal da Bahia, Programa de Engenharia Industrial

Nome: Márcio André Fernandes Martins


E-Mail: marciomartins@ufba.br
IES: Universidade Federal da Bahia, Programa de Engenharia Industrial

Resumo:
Com baixa representatividade no mercado de trabalho e na comunidade
acadêmica, a mulher engenheira ainda enfrenta grandes desafios em
suas trajetórias acadêmico-profissionais. Este estudo se propõe a
comparar o desempenho de homens e mulheres concluintes dos cursos
de engenharia no Brasil, a partir dos resultados do Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes (ENADE). Assim, busca-se verificar se há
diferença estatisticamente significante entre o desempenho desses
estudantes, a ponto de sustentar o afamado estereótipo sexual nesta
área do conhecimento. Os resultados mostram que apesar dos
estudantes de engenharia do sexo masculino apresentarem um
desempenho moderadamente superior, no ENADE 2011 e 2014, as suas
notas não se diferenciam significativamente das notas das estudantes do
sexo feminino. Desse modo, infere-se que supostas diferenças entre
homens e mulheres na engenharia perpassam os aspectos relacionados
à assimilação de conteúdo ou ao potencial cognitivo dos estudantes.
Salvador/BA – 3 a 6 de setembro de 2018
“Educação inovadora para uma Engenharia sustentável”

DESMISTIFICANDO ESTEREÓTIPOS SEXUAIS: EXISTE


REALMENTE DIFERENÇA ENTRE ENGENHEIROS E
ENGENHEIRAS?

1. INTRODUÇÃO

Ao passo em que os cursos de engenharia crescem


vertiginosamente no Brasil, eles também representam uma das
profissões menos procuradas pelas mulheres (Olinto, 2011). Nesse
sentido, Casagrande e Souza (2017) ressaltam que existem diferenças
nas trajetórias acadêmicas de homens e mulheres que suplantam as
barreiras socioculturais e adentram em redutos do sexo oposto, como
homens nas licenciaturas e mulheres na engenharia.
No Brasil, é senso comum que os cursos de engenharia, afamados
pela origem militar, atraem um público majoritariamente masculino.
Assim sendo, embora a quantidade de mulheres ingressantes nesses
cursos tenha crescido (Tozzi e Tozzi, 2010), principalmente após a
década de 90, com diversificação das modalidades/áreas de engenharia,
“a divisão sexual do trabalho se reproduziu dentro dessas mesmas áreas,
dela decorrendo a atribuição de trabalhos diferentes, de diferente valor,
a engenheiros e engenheiras” (Lombardi, 2006, p. 174).
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(INEP, 2016) mostram que as mulheres representam 60% dos
estudantes universitários brasileiros e, entre professores, correspondem
a 53%.
Em 2013 o mercado de trabalho de engenharia ainda era
predominantemente masculino, com uma quantidade de cargos
ocupados por homens até 5 vezes maior do que por mulheres (Salerno
et al., 2013). Sob a perspectiva acadêmica, Freitas (2013) afirma que
dentre os mestres e doutores formados no Brasil, as mulheres são
maioria desde 1998 e 2004, respectivamente. Todavia, a área das
engenharias possui o menor percentual de mulheres com ambos os
títulos, em torno de 30%.
Os dados supracitados indicam que a segregação sexual ainda é um
dos grandes entraves que dificulta tanto a atuação profissional quanto a
obtenção de títulos acadêmicos pelas mulheres engenheiras.
À luz disso, este estudo se propõe a comparar o desempenho de
homens e mulheres concluintes dos cursos de engenharia no Brasil, a
partir dos resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
(ENADE), aplicado em 2011 e 2014. Assim, busca-se verificar se há
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diferença estatisticamente significante entre o desempenho desses


estudantes, a ponto de sustentar o estereótipo de que estudantes do sexo
masculino possuem maior afinidade com a área das engenharias e,
consequentemente, absorvem uma carga maior de conhecimento. Esta
preconcepção é denominada por Saavedra (2001) como “bipolarização
dos conhecimentos”.

2. DADOS E MÉTODOS

A base de dados utilizada neste estudo foi elaborada a partir dos


microdados do ENADE 2011 e 20141, disponibilizados pelo INEP (INEP,
2014; 2016). Os resultados foram computados com o software R 3.3.3.
Os dados foram avaliados quantitativamente por meio da análise
estatística descritiva, exploratória e inferencial. Em relação ao teste de
hipótese, considerando a não normalidade dos dados, verificada por meio
do teste de aderência de Komogorov-Smirnov, e a presença de outliers
(valores aberrantes), examinada na análise gráfica, optou-se por aplicar
o teste não paramétrico de Mann-Whitney para comparar os
desempenhos dos dois grupos de estudantes (masculino e feminino).
Adotou-se um nível de significância de 0,01.
As hipóteses testadas com a aplicação do teste de Mann-Whitney
foram: H0 = Os grupos possuem rankings médios iguais e H1 = Os grupos
possuem rankings médios diferentes. (McDonald, 2014).
O coeficiente “r” do teste do tamanho do efeito foi obtido por meio da
Eq. 1, proposta por Fritz, Morris e Richler (2012).
𝐸𝑠𝑡𝑎𝑡í𝑠𝑡𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝑡𝑒𝑠𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑛𝑛−𝑊ℎ𝑖𝑡𝑛𝑒𝑦 (𝑍)
𝑇𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑑𝑜 𝑒𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 (𝑟) = (Eq. 1)
√𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑜𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎çõ𝑒𝑠 (𝑁)

Sullivan e Feinn (2012) esclarecem que o tamanho do efeito


expressa a magnitude da diferença entre os grupos, independentemente
do tamanho da amostra, e é classificado em três níveis: pequeno (r =
0,1), médio (r = 0,3) ou grande (r = 0,5) (Fritz, Morris e Richler, 2012).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Em 2011, 41832 estudantes de engenharia, distribuídos entre 1184


cursos, participaram do ENADE. Em 2014, participaram 82153
estudantes de 2002 cursos distintos (Tabela 1)2.
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Tabela 1 – Distribuição dos estudantes no ENADE 2011 e 2014 por sexo e curso.
Modalidades dos cursos de ENADE 2011 ENADE 2014
engenharia3 M PR (%) F PR (%) M PR (%) F PR (%)
Eng. Civil 5564 74,7 1880 25,3 15371 71,2 6213 28,8
Eng. Elétrica 6609 89,1 807 10,9 8642 87,7 1208 12,3
Eng. de Computação 195 92,4 16 7,6 2232 87,6 316 12,4
Eng. de Controle e Automação 2169 92,6 173 7,4 3196 89,7 367 10,3
Eng. Mecânica 5372 92,2 457 7,8 9693 91,1 948 8,9
Eng. Química 1373 53,2 1206 46,8 1959 46,3 2271 53,7
Eng. de Alimentos 293 24,6 897 75,4 343 22,0 1216 78,0
Eng. de Produção 6104 73,9 2160 26,1 10369 68,8 4703 31,2
Engenharia* 1191 71,3 480 28,7 3236 68,4 1493 31,6
Eng. Ambiental 2022 58,8 1414 41,2 3104 47,4 3444 52,6
Eng. Florestal 825 56,9 625 43,1 957 52,3 872 47,7
Notas: *a modalidade “Engenharia” se refere aos cursos de bacharelado interdisciplinar e aos cursos que
não se enquadram em nenhuma das outras modalidades; M = masculino; F = feminino;
PR = porcentagem relativa por modalidade.

A Tabela 1 mostra que em 2014 os cursos de Engenharia Química


e Engenharia Ambiental tiveram um número de estudantes concluintes
do sexo feminino superior ao masculino, inscritos no ENADE. O curso de
Engenharia de Alimentos apresentou a maior representatividade do sexo
feminino. Em contraste, os cursos de Engenharia nas subáreas de
Elétrica, Computação, Controle e Automação e Mecânica tiveram seus
concluintes, predominantemente, do sexo masculino. Estes resultados
condizem com a análise feita por Lombardi (2010), que afirma que as
engenheiras encontram menos resistência nas áreas menos tradicionais
da engenharia.
Em relação ao desempenho dos estudantes, a Tabela 2 mostra que
as estatísticas descritivas das notas dos exames, categorizadas pelo
sexo, se aproximam. Comparado com 2011, a média das notas dos
estudantes foi ligeiramente superior em 2014, para ambos os sexos.
Assim como verificado por Silva, Vendramini e Lopes (2010), os homens
geralmente tendem a possuir médias superiores.

Tabela 2 – Estatísticas descritivas das notas dos estudantes de engenharia no ENADE


2011 e 2014
Desvio Média
Ano Sexo N Média Mediana Mín. Máx. Assimetria Curtose
padrão Truncada
2011 F 10115 41,53 12,06 41,3 41,4 1,9 86,1 0,10 -0,07
2011 M 31717 42,24 13,53 42,0 42,1 0,5 90,8 0,12 -0,23
2014 F 23051 45,60 12,99 45,3 45,5 1,9 93,8 0,08 -0,24
2014 M 59102 46,30 13,87 45,8 46,1 1,2 97,4 0,12 -0,25

Diante desses dados, emerge nossa inquietação no sentido de


comparar as notas dos estudantes de engenharia no ENADE 2011 e
2014, considerando o sexo como categoria de agrupamento. Os
resultados dessa comparação são apresentados na Tabela 3.
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Tabela 3 – Resultado da comparação dos desempenhos dos estudantes no ENADE 2011


e 2014, considerando o sexo.
Teste de Mann-Whitney TE
Ano Sexo N RM
U Sig r
Masculino 31717 21054,56
2011 156030000 0,0000 0,0202
Feminino 10115 20483,57
Masculino 59102 41367,79
2014 663990000 0,0000 0,0196
Feminino 23051 40331,41
Notas: N = quantidade de cursos; RM = ranking médio; U = estatística do teste; Sig. = significância;
TE = tamanho do efeito; r = estatística do teste.

Apesar dos resultados do teste de Mann-Whitney apresentarem


significância estatística (sig. < 0,01), os resultados do teste do tamanho
do efeito mostram que a magnitude dessas diferenças é ínfima. Em
outras palavras, infere-se que apesar de apresentar um ranking médio
moderadamente superior, as notas dos estudantes de engenharia do
sexo masculino no ENADE 2011 e 2014 não se diferenciam
significativamente das notas das estudantes do sexo feminino.
Esses resultados sugerem que o fator sexo talvez não seja, por si
só, preponderante no que se refere à assimilação de conteúdo e ao nível
de conhecimento desses estudantes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A luta pela equidade entre homens e mulheres nas mais diversas


esferas sociais, principalmente na educacional e profissional, é forjada
por aspectos históricos e culturais. No âmbito acadêmico, apesar da
ampliação e do amadurecimento das discussões sobre igualdade de
gênero, é imperativo reconhecer que muitos cursos ainda são
notabilizados por estereótipos sexuais, a exemplo das modalidades de
engenharia. Assim sendo, homens e mulheres são rotulados como
capazes ou incapazes de adentrar e concluir com sucesso determinados
cursos de graduação, tendo, como consequência, impactos negativos
relacionados às possibilidades de atuação profissional.
Considerando que a maioria dos estudantes dos cursos de
engenharia inscritos no ENADE em 2011 e 2014 se formou nos dois ou
três anos seguintes, e que eles representam hoje uma parcela
significante dos profissionais disponíveis para o mercado, os resultados
deste estudo mostram que não há diferença estatisticamente significante
entre os níveis de conhecimentos desses engenheiros e engenheiras.
Destarte, a questão sexo não deve ser considerada como um critério para
avaliação de conhecimentos, competências e habilidades desses
profissionais.
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Cientes da limitação de considerar apenas a nota geral do ENADE


como único parâmetro para avaliar o desempenho dos estudantes,
concluímos que, supostas diferenças entre homens e mulheres na
engenharia perpassam os aspectos relacionados à assimilação de
conteúdo ou ao potencial cognitivo dos estudantes.

REFERÊNCIAS
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Notas finais:
1
Para os anos de 2011 e 2014, considerou-se a variável Nota Geral (NT_GER) como parâmetro para medir o desempenho dos estudantes no
ENADE. Esta variável equivale à nota bruta da prova (média ponderada da formação geral [25%] e componente específico [75%]) e varia em
valores contínuos de 0 a 100. Os resultados do ENADE 2009 não fizeram parte do estudo por apresentarem erros no separador decimal das
notas.
2
Foram excluídos da amostra os estudantes com nota geral igual a zero, seja por não terem comparecidos à prova ou por não terem acertado
nenhuma das questões. Desse modo, acredita-se que os resultados traduzem a realidade dos desempenhos de forma mais precisa.
3
A categorização das modalidades dos cursos de engenharia feita pelo INEP durante o ENADE de 2011 e 2014 apresenta variações. Em 2011,
existiam 46 modalidades categorizadas em oito grupos. Em 2014, o INEP considerou apenas 11 modalidades. Nesse sentido, para viabilizar e
apresentação dos resultados, realizou-se a unificação das modalidades divergentes considerando a grande área de cada grupo em 2011 e as 11
áreas adotadas 2014.

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