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Uma geografia para a ciência faz diferença:


um apelo da Saúde Pública

Geography of science makes a difference:


an appeal for public health

Maria Cristina Soares Guimarães 1

Abstract Introdução

1 Instituto de Comunicação This article introduces a perspective for analyzing O encontro entre a ciência e a geografia compõe
e Informação Científica
e Tecnológica em Saúde,
the relationship between geographic space and o cenário do texto que segue. De todas as ativi-
Fundação Oswaldo Cruz, scientific practice and the possible contribution dades humanas, a ciência é ainda aquela menos
Rio de Janeiro, Brasil. by the geography of science to understanding and tensionada pelo olhar da geografia, aqui tomada
Correspondência developing strategies in favor of public health. como o campo dedicado ao estudo dos princí-
M. C. S. Guimarães Contributions by the field of social studies of sci- pios da organização espacial das atividades hu-
Instituto de Comunicação
ence, specifically from the Actor-Network Theory manas 1. Ainda que o conceito “contexto” se faça
e Informação Científica
e Tecnológica em Saúde, and its concept of translation, and the geography presente em várias linhas de investigação cientí-
Fundação Oswaldo Cruz. of Milton Santos, form the theoretical framework fica, no geral o espaço é pouco problematizado,
Av. Brasil 4365, Rio de
that allows exploring the spatial dimensions of the quando não simplesmente tomado como um a
Janeiro, RJ
21040-900, Brasil. production and circulation of scientific knowl- priori, uma coisa em si. Quando entendido como
cguima@icict.fiocruz.br edge. The article discusses how this approach both “um conjunto indissociável de sistemas de obje-
enriches and challenges the recent international tos e sistemas de ações” 2 (p. 18), fixos e fluxos de
policies in favor of knowledge translation. The ar- processos materiais e de significação, o espaço
ticle identifies a possible contribution by the field encontra a ciência em várias perspectivas e an-
of Information Science to favor the movement of gulações, dando forma a diferentes paisagens e
knowledge, aiming to help minimize the imbal- topografias que iluminam o caráter múltiplo e
ance between what is known in theory and what heterogêneo dos processos de produção, circula-
is applied in practice in health, or the so-called ção e incorporação do conhecimento. Se e como
“know-do gap”. essa perspectiva pode auxiliar no entendimento
e resolução dos desafios da saúde publica, é o
Use of Scientific Information for Health Decision que se propõe aqui discutir.
Making; Knowledge Management for Health Re- Inúmeras metáforas, oriundas de diversas
search; Science áreas disciplinares, dão conta de diferentes pers-
pectivas da espacialidade da atividade científica:
“geografia(s) do conhecimento”, “geografia(s) da
ciência”, “espaço(s) do conhecimento”, “lugares
do conhecimento” 3. Tal diversidade de concep-
ções desagrada alguns especialistas, que pedem
mais rigor nas categorias analíticas do espaço

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social 1. Outros, entretanto, comemoram e ad- tória unidirecional do conhecimento, associada


vogam que tal pluralidade é um indício do cres- a uma adequação semântica e uma variação de
cente reconhecimento da importância do espa- forma/formato para alcançar o social. Esse é o
ço na leitura da atividade científica, servindo de modelo, por exemplo, de várias propostas de di-
inspiração para novas linhas de investigação e vulgação científica e democratização da ciência,
estimulando a interdisciplinaridade 4. de estudos relacionados à incorporação dos re-
Aqui, uma perspectiva vem do campo disci- sultados de pesquisa na formulação de políticas
plinar da Ciência da Informação, na qual o espaço públicas e também na área de medicina baseada
é visualizado e apreendido como um complexo em evidência.
sistema de fluxos de informação, uma combina- O baixo grau de sucesso dessas alternativas
ção de informação como produto (objeto) e co- até então ainda pouco tem suscitado a incorpo-
mo processo (ação), tanto signo quanto semânti- ração do espaço como uma variável dependente
ca, tanto discurso quanto gesto, tanto evidência nessa equação. Jöns 5, por exemplo, assinala que,
quanto sentido, uma ininterrupta reconfigura- a despeito da recente convergência de interesses
ção de forma, conteúdo e significado, à medida sobre as relações entre espaço e ciência, já não
que circula no social. Pontos de resistência e de é mais suficiente dizer que a geografia faz dife-
concentração se misturam a uma malha flexí- rença. É preciso ir além e discutir como; como
vel e dinâmica, orientam uma nova topografia e o conhecimento trafega por entre diferentes es-
fundam novos lugares, que definem novos usos paços de práticas sociais idiossincrásicas, locais
do conhecimento e geram valores de naturezas e mestiças.
múltiplas. Esse processo de reconfiguração do É no movimento de passagem de um ponto a
conhecimento que se dá ao longo de sua viagem outro no espaço, da assepsia dos lugares criados
por entre diferentes espaços, incorporado em di- pela ciência para “confusão” dos lugares vividos,
ferentes dispositivos, descreve o movimento que no limite onde o conhecimento se articula co-
liga o saber ao fazer, o conhecimento à ação. mo informação e se incorpora em dispositivos
No entanto, esse movimento do conheci- móveis, que se coloca o desafio de pensar a ex-
mento é reconhecidamente problemático: mini- tensão espacial do conhecimento. Entender esse
mizar o “know-do gap”, ou o distanciamento que movimento como uma recorrente atividade de
existe entre aquilo que se sabe e o que se coloca reconfiguração e recriação do conhecimento e
em prática, é uma preocupação que transcende o do espaço social é o desafio a ser abraçado por
campo da saúde. Há mais de três décadas, quan- aqueles que acreditam que, pelo menos, é pos-
do começou a ser contestado um modelo teórico sível tensionar as barreiras reais e ideológicas
que assumia que investimentos em ciência con- que separam os espaços e distanciam o saber do
duziam, linearmente, ao bem-estar social, per- fazer. Como já alertou Foucault 6 (p. 69): “Once
manece em aberto a questão: qual a arquitetura knowledge can be analysed in terms of region, do-
da ponte que deve ligar a ciência à sociedade? Ou main, implantation, displacement, transpositon,
que “não-lugar” é esse que separa o conhecimen- one is able to capture the process by which know-
to científico do mundo vivido? ledge functions as a form of power”.
Especialmente no campo da saúde, no qual Muito antes de ser um “tour de force” sobre
a distância que separa países e saberes redun- o tema, o que segue é um breve e intencional
da em iniqüidades que chegam a ferir a ética, os recorte da literatura recente que procura dar
anos recentes presenciam um debate acalorado conta das relações entre espaço e conhecimen-
sobre as melhores estratégias e abordagens pa- to. Mais precisamente, toma-se como ponto de
ra favorecer o movimento do conhecimento, em partida o florescimento dos “estudos sociais da
suas inúmeras perspectivas: do Norte para o Sul; ciência”, campo que agrega todo um conjunto
do laboratório para o hospital; da academia para de linhas de investigação que defende que o
os gabinetes dos tomadores de decisão; dos pro- conhecimento científico deve ser entendido co-
fissionais de saúde para os pacientes; dos “have” mo um produto social, a partir do que o espaço
para os “have not”. Reconhece-se, assim, que es- passou a oferecer uma perspectiva privilegiada
teja disponível um estoque de conhecimento que de análise 7. De fato, tornou-se impraticável não
aguarda por sua apropriação. Subjacente a essa invocar o espaço para falar, por exemplo, sobre
proposta, repousa, por certo, um reconhecimen- tradições de pesquisa e o nascimento de espe-
to de diferentes espacialidades de produção e de cialidades; sobre campo científico e habitus; so-
uso do conhecimento. Contudo, são visões do es- bre mobilidade acadêmica e cooperação inter-
paço que, além de estáticas, diferenciam-se, no nacional; sobre centro e periferia; sobre experts
geral, por aparatos cognitivos e grupos funcio- e leigos. Em certo grau, a epistemologia cedeu
nais. Via de regra, as alternativas propostas para espaço à etnografia; importa entender a ciên-
aproximar esses espaços pressupõem uma traje- cia em ação. Como apontado por Law & Mol 8

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(p. 2): “No longer universal as a result of being como a “empiricização de possibilidades laten-
transcendental, science needed to be localised”. tes” 13 (p. 52).
Naylor 14 apresenta uma síntese de alguns tra-
balhos fundamentais para o que, especialmente
E abriu-se a caixa-preta da ciência... a partir dos anos 80, se convencionou denominar
“história da geografia da ciência”. Os trabalhos
O que Burke 9 chamou de “geografia da verdade” de Shapin 15 e Schaffer 16 são considerados se-
agrega um conjunto de esforços multidisciplina- minais. Oriundos do campo da sociologia do co-
res que, há cerca de três décadas, tem mobiliza- nhecimento científico, ambos os pesquisadores
do pesquisadores de diversas linhas no campo explicitaram a importância do laboratório como
das ciências sociais, mais especificamente na o lugar que delimitou e possibilitou um espaço
interface entre a geografia e os “estudos sociais de interações para a produção e acreditação do
da ciência”. A aposta de que é possível delinear conhecimento científico. Ao descrever os labo-
um “lugar para o conhecimento”, ou que o es- ratórios da Royal Society na Inglaterra do sécu-
paço, primeiramente enquanto território, im- lo XVII, Shapin 15 explora, entre outros pontos,
prime uma “marca d’água” na ciência, é ainda como a proximidade espacial com o objeto de
uma visão que encontra resistências na tradição estudo ampliava o acesso à informação e provia
científica ocidental. Se a ciência é portadora da um ambiente crítico de confiança e cumplici-
verdade, o conhecimento científico é universal dade entre os participantes. Mais, os limites do
e não pertence a lugar nenhum, mas a todos os espaço atuavam como credenciais de inclusão
lugares: “Truth is – and, arguably, always has been e exclusão de testemunhas privilegiadas do fato
– the view from nowhere” 10 (p. 5). empírico.
Mais uma vez é a Kuhn 11 que se recorre para Por sua vez, Schaffer 16 discorre sobre a intro-
estabelecer o marco teórico de um pensamento dução dos laboratórios de física na universidade
transgressor para uma então intocada e pura prá- britânica do século XIX e explora como a escolha
tica científica. Até Kuhn, a ciência era uma “caixa- de um local geográfico específico para constru-
preta”, um belo arranjo de inexoráveis triunfos ção deles foi fundamental para atender a reivin-
teóricos e experimentais 12. Subsumida pelo seu dicação de que era crítico isolar os experimentos
próprio sucesso, a ciência era analisada na pers- das influências externas, de forma a garantir a
pectiva de inputs e outputs, e não em sua com- universalidade das medições efetuadas: “If labo-
plexidade interna. A partir de Kuhn, a história ratory physics can claim to secure the ‘view from
da ciência deixa de ser um suave desenrolar de nowhere’ which allow its work easily to escape the
realizações bem-sucedidas: antes, é na hetero- trammels of local context, this is in part because
geneidade de práticas, no contencioso dos argu- of its peculiar connexion with the putatively tran-
mentos, nos interesses e nos jogos de poder, nos quil fantasy and strenuously engineered reality of
imperativos sociais e nas contingências várias, a place in the country” 16 (p. 153).
nas bordas e nos limites das práticas científicas, Kohler 17 sintetiza a utopia perseguida para
que melhor se aquilata a natureza da criatividade um laboratório: “a placeless place”, ou um lugar
do empreendimento científico. sem lugar, um lugar neutro, à parte do mundo,
Tomada como mais uma prática social e cul- que aspira à simplificação e à padronização, po-
tural, a ciência deixa de ser uma unidade con- sição similar àquela apresentada por Latour &
ceitualmente e metodologicamente homogênea, Woolgar 12, no pioneiro estudo etnográfico da
mas uma variedade de práticas resultantes de ciência, descrito no livro Laboratory Life: The So-
padrões de treinamento local e de socialização. cial Construction of Scientific Facts. Permanece,
É esse caráter plural e mestiço do conhecimento entretanto, o dilema entre o local e o global do
científico, além das particularidades dos proces- conhecimento científico: ora, se o conhecimento
sos de geração, certificação e transmissão que é então gerado em espaços tão específicos, guar-
se abrem à aproximação da geografia: abrem-se dando particularidade local, como é possível que
ao escrutínio os espaços onde o conhecimento ele possa viajar com tanta eficiência por outros
é produzido, testado, contestado, posto em cir- espaços e se globalizar?
culação, consumido, (in)corporado e estocado. É Shapin 15 quem sugere uma resposta: o
Em cada espaço, um sistema de objetos e práti- conhecimento e as técnicas trafegam desde que
cas que transformam seu sentido e possibilitam estejam institucionalizados e padronizados. Os
recriações. Laboratórios, museus, províncias, ci- livros, mapas, gráficos, termômetros e desenhos
dades e regiões urbanas são exemplos de lugares são exemplos de veículos eficientes para a via-
de construção e reconfiguração de conhecimen- gem do conhecimento de um lugar para outro,
to. E dessa perspectiva muito se beneficiaram os de forma relativamente estável. Uma vez que eles
historiadores da ciência para iluminar o espaço possam ser reproduzidos e disseminados, poten-

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cialmente todos podem compartilhar de uma conhecimento viaja pelo movimento de transla-
mesma visão de mundo. Avança Shapin 15: quan- ção, suscitando interesses e estabelecendo alian-
do um termômetro ou um mapa é incorporado ças, estendendo as redes e reconfigurando-as até
nas práticas científicas, o conhecimento se torna que, potencialmente, se estabilizam. Voilà!
durável, robusto, incontestável. Para entender a O conceito de translação, enquanto um pro-
velocidade de disseminação do conhecimento, cesso, um movimento, enfatiza a continuidade
é preciso entender como ele é distribuído e tor- de um deslocamento e as transformações que
nado estável, por meio de uma ampla rede de ocorrem no seu curso: deslocamento de metas e
atores. interesses, de atores, de objetos, de inscrições, o
Aqui, duas são as palavras-chave sugeridas: qual, simultaneamente, molda novos espaços de
credibilidade e confiança 18. Do Programa For- práticas sociais. “To translate is to displace (...) to
te, uma linha de pesquisa dos estudos sociais da translate is also to express in one’s own language
ciência, originada na Universidade de Edimbur- what others say and want, why they act in the way
go 19, vem o “postulado da simetria”: “Both the they do and how they associate with each other: it
true and false, and rational and irrational ide- is to establish oneself as a spokesman. At the end of
as, in as far as they are collectively held, should the process, if it is successful, only voices speaking
all equally be the object of sociological curiosity, in unison will be heard” 24 (p. 223).
and should all be explained by the reference of sa- Ainda que careça de maior discussão teórica,
me kinds of causes. In all cases the analyst must o conceito de translação rompeu os limites da
identify the local, contingent, causes of belief” 20 Teoria Ator-Rede e se difundiu por outras áreas
(p. 84). Logo, o problema da verdade e da valida- do conhecimento. Na literatura do campo das
de das declarações de conhecimento é desloca- políticas de saúde e na área de pesquisa clínica,
do, e entra em cena o problema da credibilidade. “translação do conhecimento” implica o neces-
De forma sumária e superficial, seria como dizer: sário movimento de fazer chegar à prática aquilo
verdade é aquilo que se acredita como tal no âm- que já se conhece pelos resultados da pesquisa.
bito de uma coletividade. Conteúdo e contexto Ou seja, um processo que possibilite a aplicação
estão profundamente imbricados em uma rede do conhecimento para a melhoria da saúde, pro-
de relações de poder e em percepções coletivas porcionando serviços e produtos de saúde mais
de validade e legitimidade do conhecimento “em efetivos, e fortaleça o sistema de saúde como um
produção” 4. todo. A translação seria a ponte, o não-lugar, a
Talvez venham de Latour 21,22 as mais con- peça que falta no quebra-cabeça do “know-do
tundentes descrições do processo de “fabricação gap”.
do conhecimento” e de suas imbricações sociais,
técnicas e políticas no contexto local. Tamanha
contundência gera reações na mesma propor- Translações para a saúde: uma nova
ção: aplaudido por muitos, criticado por tantos agenda de pesquisa
outros 7,19,23. De interesse para o presente texto,
cabe ressaltar (e simplificar) alguns pontos da No campo da saúde, o “know-do gap” possui vá-
chamada Teoria Ator-Rede: em uma perspecti- rias extensões e qualificações. Segundo a Orga-
va pós-humanista, e em extensão ao conceito de nização Mundial da Saúde (OMS) 25 (p. 3): “Brid-
simetria de Bloor anteriormente citado, Latour ging the know–do gap is one of the most important
advoga que humanos e não humanos interagem challenges for public health in this century. It also
em uma rede de forma contínua e concomitante, poses the greatest opportunity for strengthening
de maneira que essas entidades tomam forma health systems and ultimately achieving equity in
e atributos como resultado de suas interações. global health”. Pelo menos dois movimentos são
O que move essa rede heterogênea é o interesse necessários: do conhecimento para a formulação
para conseguir aliados, assegurando, pela con- política; do conhecimento para a prática/ação
fiança conquistada, uma certa invariabilidade de saúde.
nas “declarações de conhecimento” ao longo de O desafio pela eqüidade em saúde se dá quan-
sua viagem, em que contexto e conteúdo se co- do se coloca em cena outro desequilíbrio, o gap
produzem. Cientistas “transladam” interesses: as 10/90, que aponta para a dispersão de recursos e
redes devem permitir que poder e autoridade flu- demandas entre ricos e pobres, desenvolvidos e
am em conjunto, em um movimento que esten- em desenvolvimento, Norte e Sul, caucasianos e
de as redes, as condições iniciais do laboratório, “os outros”: 90% dos investimentos em pesquisa
fornecendo novas definições tanto da natureza, em saúde estão direcionados àquelas patologias
quando da sociedade. Em suma: Latour torna a que afetam 10% da população mundial. As doen-
ciência impura, funde-a com a tecnologia, sendo ças prevalentes em países de baixa renda, ou as
politizadas com um emaranhado de interesses. O negligenciadas, são virtualmente esquecidas nos

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portfólios de investimentos de Pesquisa e Desen- como sistemas técnicos dotados de intencionali-


volvimento (P&D) das grandes indústrias farma- dade, mercantil ou simbólica, com funcionalida-
cêuticas 26. O Relatório de Desenvolvimento Hu- des próprias, ...e é nessa condição que aceitam ou
mano 2007/2008, editado pelo Programa das Na- recusam funções transmissoras dos processos”.
ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) 27, São as noções de horizontalidade e verticali-
é também testemunha: no limite, a geografia dade do espaço que permitem uma diferenciação
da ciência (in)forma a geografia da saúde (ou entre local e global 13. Na horizontalidade, ou no
vice-versa). O resultado é o mesmo: a saúde ha- espaço banal, está a “confusão” da vida coletiva,
bita, preferencialmente, o mesmo espaço que a o casamento dos fluxos econômicos e dos cultu-
ciência! rais, onde estão presentes os ricos e os pobres, os
O mesmo padrão de desigualdade não é que mandam e os que obedecem, os poderosos
dissimilar, por exemplo, daquele encontrado e os não poderosos. As horizontalidades são da
na distribuição Norte-Sul no que diz respeito ordem do sentido. As verticalidades são pontos
à atividade científica no Brasil: o Sul concentra no espaço que demarcam as escolhas feitas pelo
melhor perfil epidemiológico (menor carga de capital econômico, necessários à manutenção
doença) e maior concentração de investimentos da circulação, distribuição e consumo de bens,
em pesquisa em saúde. Não é surpresa, portanto, e que pouco se importam com o entorno. As ver-
que, no geral, as políticas públicas no campo da ticalidades são da ordem da eficácia. Ambas, ho-
Ciência e Tecnologia (C&T) no país venham, ao rizontalidades e verticalidades, interagem cons-
longo das ultimas décadas, com forte indução tantemente. O jogo se dá entre o local e o global,
para o desenvolvimento científico e tecnológico entre a busca do sentido e a busca do resultado. A
fora do eixo Sul-Sudeste 28. O desafio, no entanto, globalização traz, portanto, potencialidades para
perdura. reconfigurações do espaço: “...o local é a realiza-
A geografia econômica tem sido pródiga em ção possível em um dado momento. Mas, quando
analisar essa dispersão desigual de bem-estar encaro o global, vejo outras perspectivas e almejo
social no espaço. O processo de globalização da alcançá-las. Quando as vejo em outros lugares me
economia e a centralidade do conhecimento e pergunto: por que não aqui?” 13 (p. 52).
do processo de aprendizado na sociedade con- Especialmente no campo da “saúde mun-
temporânea são apenas duas variáveis que pos- dial”, o conceito de translação, anteriormente
sibilitam um novo entendimento das relações citado no âmbito da Teoria Ator-Rede, tornou-se
entre espaço e geração de “riquezas”. Acelerado uma sedutora metáfora para conclamar um ne-
pela crescente e invasiva incorporação das Tec- cessário e urgente processo que estimule o mo-
nologias de Informação e Comunicação (TICs) vimento do conhecimento, então enraizado em
na sociedade, é pela e na capacidade de gerar co- verticalidades, para as horizontalidades do mun-
nhecimento, promover seu fluxo e maximizar seu do vivido, onde a saúde, na sua concepção mais
uso que novos espaços se definem como centrais ampla 34, tem sua morada. Segundo a OMS 25
ou periféricos 29. Há pelo menos duas décadas, (p. 54), translação do conhecimento é um concei-
pesquisadores de virtualmente todas as áreas do to que diz respeito à “…synthesis, exchange and
conhecimento se debruçam sobre a atual confi- application of knowledge by relevant stakehol-
guração da sociedade e uma literatura infindável ders to accelerate the benefits of global and local
dá conta dessas discussões 30,31,32. Não seria um innovation in strengthening health systems and
exagero, ou uma aventura, generalizar que há um improving people’s health”. Um conceito relati-
ponto em comum entre todos: a capacidade de vamente novo, para um problema relativamente
gerar conhecimento implica a possibilidade de velho: a subutilização do conhecimento disponí-
usá-lo. Ou o uso do conhecimento demanda co- vel no sistema de saúde dos países 35,36,37,38.
nhecimento: “Pelo simples fato de viver, somos, A OMS 25 reconhece que seu conceito de
todos os dias, convocados pelas novíssimas ino- translação do conhecimento é derivado do Mi-
vações a nos tornarmos, de novo, ignorantes, mas, nistério da Saúde canadense, The Canadian Ins-
também, a aprender de novo. Trata-se de uma es- titute of Health Research (CIHR) 36 (p. 6), que tem
colha cruel e definitiva. Nunca, como nos tempos uma definição um pouco mais ambiciosa, se não
de agora, houve necessidade de mais e mais saber verdadeira, com maior fidelidade ao desafio en-
competente, graças à ignorância a que nos indu- volvido: “the exchange, synthesis and ethically-
zem os objetos que nos cercam e as ações de que sound application of research findings within a
não podemos escapar” 33 (p. 92). Vem ainda de complex set of interactions among researchers
Santos 32 (p. 90) uma perspectiva para entender and knowledge users. In other words, knowledge
o processo: o espaço, agora como um sistema translation can be seen as an acceleration of the
de objetos não naturais, “...mas fabricados pelos knowledge cycle; an acceleration of the natural
homens para serem a fábrica da ação, já nascem transformation of knowledge into use”. É reco-

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nhecido que diferentes abordagens e estratégias Informação e translação: uma nota final
estão envolvidas nesse conceito, dado se tratar
de diferentes pesquisas (biomédicas, clínicas, A noção do espaço geográfico, enquanto exten-
sobre os sistemas de saúde, sobre os serviços de são/distanciamento e como delimitação de um
saúde, dentre outras) e de diferentes públicos- espaço sócio-cognitivo, sempre desempenhou
alvo (outros pesquisadores, profissionais de saú- um papel importante em linhas de pesquisa clás-
de, tomadores de decisão, pacientes, sociedade sicas na Ciência da Informação, especialmente
em geral). Mas o princípio se mantém: acelerar a na área de “estudos de usuários” e “comunica-
captura dos benefícios da pesquisa com vistas à ção científica”. No primeiro caso, o ponto-chave
melhoria dos sistemas de saúde, seus serviços e passa pelo acesso à informação; no segundo, diz
produtos, alcançando melhor patamar de saúde respeito às particularidades do processo de co-
para toda a coletividade. municação que delimita um espaço de práticas
Um indicativo do grau de institucionalização sócio-cognitivas específicas, tanto intracampo
da estratégia de translação de conhecimento na científico como entre a ciência e seus diferentes
agenda política de alguns países é dado pela mo- interlocutores na sociedade. Ainda nos anos 60
bilização de recursos financeiros para pesquisa do século passado, Allen 42 evidenciou como o
no tema, que já se fazem presentes, ainda que espaço físico influenciava o acesso à informa-
proporcionalmente baixos. São duas as princi- ção e seus fluxos, o que orientou decisivamente
pais preocupações: a produção de “evidências a arquitetura dos laboratórios de P&D. Christo-
científicas” e o desenvolvimento de estratégias vão 43, por sua vez, explicitou diferentes taxas
que possibilitem suas aplicações 39. São proble- de obsolescência da literatura científica para
mas que se traduzem em estatísticas assustado- uma mesma especialidade em países distintos.
ras para os pacientes: 30% a 40% não recebem Ambas as pesquisas questionam o processo de
tratamento de efetividade comprovada; 20% a transferência e uso da informação quando to-
25% recebem tratamento inadequado ou poten- mados de forma linear e descontextualizada: o
cialmente perigoso 40. A estratégia de translação espaço importa.
do conhecimento deve ser tomada como um Enquanto campo do conhecimento dedica-
novo paradigma, um pensar dirigido à aprendi- do ao estudo dos fenômenos de informação, es-
zagem e ação para minimizar o distanciamen- pecialmente, mas não exclusivamente, da área
to entre produção e uso do conhecimento, sem de C&T, a Ciência da Informação vem experi-
prescindir de uma forte liderança para guiar a mentando modificações profundas nas últimas
realização da política em prática. décadas. Por um lado, uma nova dinâmica de
Esse processo, e seus desafios, estão mais desenvolvimento científico se impôs, com um
bem descritos na literatura para o continuum da número crescente de especialidades e respec-
pesquisa clínica, a partir da bancada do labora- tivas particularidades de processos e produtos
tório até alcançar a prática clínica e as políticas de informação. Por outro lado, e de forma inti-
de saúde 41. Diferentes barreiras ou limites de en- mamente conectada, as TICs redimensionam os
clausuramento do conhecimento são apontados métodos e estratégias de organização de “esto-
e seus respectivos espaços de práticas institucio- ques de conhecimento”. Novos desafios se apre-
nais, que vão desde as questões regulatórias, a sentaram, especialmente aqueles relacionados
incompletude das bases de dados, ausência de tanto à problematização das noções de acesso e
pesquisadores qualificados, as características transferência de informação, quanto ao processo
dos sistemas de saúde, o alto custo das pesqui- de comunicação na interface ciência-sociedade,
sas, a desconfiança (ou confiança) da sociedade antes monológico e orientado pela academia,
nos experts, dentre outros. Depreende-se daqui agora dialógico e demandado pela sociedade.
a complexidade da viagem do conhecimento Assim, o conceito de acesso deixa de ser
e sua reconfiguração ao longo do processo de pensado simplesmente como disponibilização
(re)contextualização em diferentes espaços de de informação, um ideal de democratização de
práticas. Translação envolve, portanto, um pro- informação tomado como função e relação di-
cesso de criação de novo conhecimento. reta do uso de tecnologias que a promovem e a
Da necessidade à oportunidade de empre- favorecem de forma inequívoca. Some-se aqui,
endê-lo, enquanto agenda política e de pesqui- na sociedade contemporânea, um novo perfil
sa, estende-se um longo caminho, no qual uma de usuários de informação, que reverberam o
abordagem transdiciplinar é requerida. A título atributo da reflexividade: “A reflexividade social
de contribuição, uma perspectiva da Ciência da diz respeito a uma sociedade em que as condições
Informação é sumarizada a seguir. em que vivemos são cada vez mais o resultado
de nossas próprias ações, e, inversamente, nossas
ações vivem cada vez mais a administrar ou en-

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frentar os riscos e oportunidades que nós mesmos evidências científicas, são “humanizados”, e seus
criamos” 44 (p. 20). Por sua vez, a reflexividade limites se fragmentam: o acesso à informação
engendra os sistemas peritos, “...sistemas de ex- deixa de ser uma etapa e passa a ser um processo;
celência técnica ou competência profissional que deixa de ser uma oferta e passa a ser uma nego-
organizam grandes áreas dos ambientes material ciação, dentro de uma estratégia que favoreça o
e social em que vivemos hoje” 44 (p. 35). Os experts, seu uso. Aqui, o conceito-chave é relevância 48,49;
representantes de uma competência antes toma- mais especificamente, relevância situacional 50,
da como restrita ao mundo científico, ganham a que discute como diferentes noções de espaciali-
companhia de experts leigos, cidadãos comuns dade estão relacionadas a diferentes percepções
do mundo vivido. Mas eles sempre existiram, so- de utilidade da informação.
mente estavam esquecidos. É o conceito de relevância que permite situar,
A importância dos experts leigos na produção no limite de um sistema de recuperação da infor-
do conhecimento médico foi descrita ainda em mação, um processo de negociação entre quem
1935, em Genesis and Development of a Scien- produz, quem representa e registra e quem de-
tific Fact, trabalho seminal de Fleck 45. O autor manda informação, uma rede de atores que car-
descreve como o conhecimento sobre sífilis foi reiam diferentes dimensões de espaço enquanto
resultado de um processo coletivo de comunica- práticas sociais. Esse é um processo que pede
ção entre distintos “coletivos de pensamentos”, uma constante reapresentação do conhecimen-
que envolveu especialistas, médicos e pacientes. to, uma translação, uma extensão de significado e
Epstein 46, em Impure Science: AIDS, Activism, de relevância da informação, em um movimento
and the Politics of Knowledge, descreve como os duplo que, ao mesmo tempo em que retém parte
ativistas norte-americanos se tornaram partici- do sentido original do conhecimento, também
pantes privilegiados na construção do conheci- o amplia. Desse modo, o foco passa a ser a bus-
mento sobre AIDS, alterando a episteme das prá- ca por metodologias, instrumentos e estratégias
ticas da pesquisa biomédica. Em ambos os casos, que possibilitem que as etapas de identificação,
o atributo principal dos leigos foi descrito como acesso, recuperação e disseminação de informa-
credibilidade: a capacidade de atrair e envolver ção formem, juntas, um espaço de transforma-
simpatizantes, o que legitimava seus argumen- ção, recriação e/ou criação de nova informação.
tos como “conhecimento” e os credenciava como Essa abordagem teórica vem sendo construída
portadores de “verdades”. no âmbito de uma especialidade emergente da
Fica a lição de que uma evidência científi- Ciência da Informação, denominada “Socializa-
ca não equivale necessariamente a uma única ção da Informação” 51.
tipologia de conhecimento com potencial de Aqui, mais uma vez, o caminho a ser trilha-
guiar a ação coletiva. Seguindo Lomas et al. 47, é do pede participação e parceria entre os atores,
preciso diferenciar “evidência coloquial” e “evi- entre produtores, intermediários e usuários de
dência científica”. A primeira diz respeito às ho- informação, especialmente nos limites onde os
rizontalidades, à informação relevante no nível espaços se diferenciam, na fronteira que sepa-
contextual, aos valores sociais e ao conhecimen- ra a evidência científica da evidência coloquial.
to experiencial, hábitos, tradição e julgamentos A articulação entre essas duas evidências, que
políticos e éticos. A segunda remete às vertica- expressam diferentes taxonomias espaciais de
lidades, que guarda contornos de sistematicida- conhecimento, podem conduzir a novas concep-
de, replicabilidade e verificabilidade. Ambas são ções e desenhos de sistemas de recuperação da
contexto-sensitivas, e suas interações no plano informação. Se esses sistemas exibirão caracte-
de um processo deliberado se dão em termos não rísticas de extensão espacial e inclusividade, an-
neutros. Antes de julgar pelas verticalidades, ou corando o processo de translação, é ponto ainda
pelo valor intrínseco ou eficácia de uma evidên- em aberto. Da possibilidade à oportunidade de
cia, o caminho para a translação seria a análise desenvolvê-los e testá-los, há ainda um longo ca-
da aplicabilidade desta, ou da possibilidade de minho, mas que pode fazer uma grande diferen-
criar verticalidades a partir das horizontalidades, ça para a saúde pública.
o global a partir do local.
Foi também para ultrapassar uma visão sim-
plista de transferência de informação/evidência
científica que a Ciência da Informação passou
a empunhar a bandeira da “função social da in-
formação”, em que produção, acesso e uso de
informação se aproximam, produto e processo
se confundem. Os sistemas de recuperação de
informação, espaço de guarda e manutenção das

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UMA GEOGRAFIA PARA A CIÊNCIA FAZ DIFERENÇA: UM APELO DA SAÚDE PÚBLICA 57

Resumo

O artigo introduz uma perspectiva para analisar as re-


lações entre o espaço e a prática científica, bem como
a contribuição que a geografia da ciência pode trazer
ao entendimento e desenvolvimento de estratégias
em favor da Saúde Pública. Contribuições do campo
dos estudos sociais da ciência, mais especificamente
da Teoria Ator-Rede e seu conceito de translação, e da
geografia de Milton Santos, formam o arcabouço teó-
rico que permite explorar as dimensões espaciais da
produção e da circulação do conhecimento científico.
Argumenta-se como essa abordagem enriquece e pro-
blematiza as recentes orientações políticas em favor da
translação de conhecimento, em âmbito internacio-
nal. Uma possível contribuição do campo da Ciência
da Informação para favorecer o movimento do conhe-
cimento é apontada, com vistas a auxiliar no desafio
de minimizar o reconhecido desequilíbrio entre o que
se sabe em teoria e o que aplica na prática (know-do
gap) da saúde.

Uso da Informação Científica na Tomada de Decisões


em Saúde; Gestão do Conhecimento para a Pesquisa
em Saúde; Ciência

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