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Investigación original / Original research

Portfólios reflexivos: construindo


competências para o trabalho
no Sistema Único de Saúde
Rosângela Minardi Mitre Cotta,1 Érica Toledo de Mendonça 2
e Glauce Dias da Costa 3

Como citar Cotta RMM, Mendonça ET, Costa GD. Portfólios reflexivos: construindo competências para o trabalho
no Sistema Único de Saúde. Rev Panam Salud Publica. 2011:30(5):415–21.

resumo Objetivo.  Avaliar a experiência inovadora de educação por competências através de portfó-
lios para a formação de profissionais que atuarão no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.
Métodos.  Utilizou-se a pesquisa qualitativa como modelo de abordagem. Realizou-se a aná-
lise documental de 25 portfólios produzidos nos anos de 2008, 2009 e 2010 na disciplina de
Políticas de Saúde na Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, Brasil, com o objetivo
de verificar se esse método permitiu a aquisição das competências de aprender a ser (atuar
com autonomia, juízo, responsabilidade pessoal); aprender a conhecer (assimilar conhecimentos
científicos e culturais gerais e específicos, que se completarão e atualizarão ao longo da vida);
aprender a fazer (adquirir procedimentos que ajudem a enfrentar dificuldades na vida e na
profissão); e aprender a conviver e a trabalhar com outros (compreender melhor os demais, o
mundo e suas inter-relações).
Resultados.  Observou-se um envolvimento com as atividades propostas, destacando-se a
gestão da informação (busca ativa, seleção, análises críticas, resenhas, sínteses e avaliação da
informação). Houve uma gradativa abertura ao pensamento crítico, integrando novas dimen-
sões à visão inicial dos estudantes sobre o SUS, que passou do foco na doença e na cura para
um foco em saúde e prevenção, e de uma visão do SUS como modelo teórico para a visão de um
projeto possível e em construção.
Conclusões.  O uso dos portfólios possibilitou a formação de profissionais de saúde-cidadãos,
com ênfase acadêmica, pedagógica e prática. Isso indica que a universidade e o docente podem
orientar-se ao desenvolvimento da capacidade de decisão e pensamento reflexivo dos estudantes.

Palavras-chave Materiais de ensino; ensino; educação baseada em competências; Brasil.

Os debates atuais acerca das metodolo- vultosas transformações no âmbito da com as Diretrizes Curriculares Nacionais
gias inovadoras de ensino-aprendizagem tecnologia e da produção de informação (DCN) brasileiras para os cursos da área
vêm imbuídos da necessidade de refle- e conhecimento (1). A mudança de foco da saúde. As DCN preveem mudanças
xão e de revisão das práticas profissio- do processo de educação visa ao fomento curriculares pautadas no conceito am-
nais, num cenário no qual predominam do sentido de autonomia, criatividade pliado de saúde e na consideração do
e responsabilidade, possibilitando que território dos indivíduos como lócus da
1 Universidade Federal de Viçosa (UFV), Programa o aluno aprenda a buscar soluções e a prática clínica. A formação profissional
de Inovação em Docência Universitária da Área da
Saúde (PRODUS), Viçosa (MG), Brasil. Correspon-
resolver problemas profissionais (2, 3). deve enfocar as diretrizes e princípios do
dência: rmmitre@ufv.br Ao transcender esse debate para o Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja,
2 UFV, Departamento de Medicina e Enfermagem, campo da saúde, torna-se importante universalidade, integralidade, equidade,
Viçosa (MG), Brasil.
3 UFV, Programa de Pós-Graduação em Ciência da refletir sobre qual é o perfil profissional descentralização, participação e controle
Nutrição, Viçosa (MG), Brasil. desejável na atualidade, em consonância social e regionalização/hierarquização,

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considerando, assim, as necessidades de cias e habilidades respeitando o ensino forma coletiva. Os portfólios eram subdi-
saúde individuais e coletivas, reorien- em diferentes contextos (7), focando em vididos em três partes:
tando o modelo assistencial com foco resultados centrados no processo, e não
na doença na direção de um modelo de na forma pontual e quantitativa utilizada 1) Minha trajetória: memórias redigi-
produção social da saúde, que valorize nas avaliações tradicionais. das no início e no final do semestre.
a promoção da saúde, salientando-se os Frente a isso, o presente estudo teve Cada aluno escreveu sobre sua ins-
seus determinantes sociais (4). Desde por objetivo avaliar a experiência inova- crição histórica no mundo e sobre o
essa perspectiva, as DCN dos cursos dora de construção de portfólios coleti- grupo. Conjuntamente, os membros
da área da saúde desafiam as formas vos na disciplina de Políticas de Saúde do grupo também escreveram sobre a
cristalizadas tradicionais de ensino- em uma universidade pública brasileira. percepção que tinham sobre seus co-
aprendizagem, visando a formação de legas (características pessoais, afetos,
profissionais-cidadãos engajados na luta MÉTODOS qualidades . . .).
pela recuperação da dimensão essen- 2) Aprendendo com o grupo: todas as
cial do trabalho em saúde: a produção Esta pesquisa utilizou a metodologia atividades orientadas na disciplina e
de cuidados em resposta às demandas qualitativa como modelo de abordagem realizadas em grupo que representa-
­sociais (5). e a análise documental (9) como técnica vam diferentes maneiras de abordar
Assim, utilizar metodologias ativas de investigação. Cellard (10) ressalta a as temáticas das políticas de saúde,
e inovadoras significa apostar em uma relevância da análise documental pela por meio dos preceitos teóricos (rese-
educação que desenvolva processos crí- possibilidade de reconstruções e por per- nhas, sínteses ou resumos de artigos
ticos de ensino-aprendizagem, que des- mitir o acréscimo da dimensão do tempo científicos e de capítulos de livros) e
perte a criatividade e se baseie nela, que à compreensão da dimensão social. O através de narrativas (relatos de ex-
apresente as situações como problemas a documento como unidade de análise periências vivenciadas nos diferentes
resolver — ou seja, uma formação que se permite um corte longitudinal que favo- cenários de práticas, sob a forma de
aproxime tanto quanto possível da vida rece a observação de um processo de ma- problema, para discussão em grupo).
real (4, 6). turação ou de evolução de indivíduos, 3) Espaço de criatividade: espaço livre
Nessa perspectiva, dentre os recur- grupos, conceitos, conhecimentos, com- onde o grupo exercia sua criatividade
sos inovadores do processo de ensino- portamentos e práticas ao longo de um utilizando charges, poemas, músicas,
aprendizagem e de avaliação, destaca-se período (11). O presente estudo é parte fotos, desenhos presentes na mídia
o portfólio, como instrumento-estratégia de um projeto de inovação em docência escrita e eletrônica, bem como criados
de estimulação do pensamento reflexivo. universitária e foi aprovado pelo Comitê pelo grupo. Essas atividades eram
De acordo com Klenowski (7), o portfó- de Ética em Pesquisa da Universidade sempre acompanhadas de reflexões
lio pode ser definido como um conjunto onde se realizou o trabalho (Protocolo críticas.
de trabalhos no qual o estudante retrata no. 091/2010).
sua história de vida, seus progressos e Realizou-se a análise de portfólios Os portfólios foram datados cronologi-
realizações, destacando sua participação produzidos na disciplina de Políticas de camente (P2008, P2009, P2010) conforme
na seleção e julgamento dos conteúdos Saúde pelos alunos de graduação dos o ano em que foram desenvolvidos e nu-
procurados, o que promove uma refle- cursos de Nutrição e Enfermagem da merados aleatoriamente (no. 1, no. 2, . . . ,
xão e o desenvolvimento da capacidade Universidade Federal de Viçosa, Minas no. 25) de forma a possibilitar uma orga-
crítica. Gerais, Brasil. No período do estudo, nização do acervo para posterior análise
Sendo assim, o portfólio apresenta-se estiveram envolvidos neste trabalho 165 e apresentação dos dados. Utilizou-se a
como um instrumento capaz de levar o alunos, divididos em nove turmas e co- técnica de análise temática, com recorte
aluno a colecionar suas opiniões, dúvidas, ordenados por dois docentes. do texto em unidades comparáveis, sob
dificuldades, reações aos conteúdos e aos A construção dos portfólios, realizada a forma de categorização. Para Bardin
textos estudados e às técnicas de ensino, em equipes, visou ao desenvolvimento (13), a categorização tem por finalidade
sentimentos e situações vividas nas rela- das cinco competências descritas por fornecer uma representação simplificada
ções interpessoais, oferecendo subsídios Fallows e Steven (12): habilidade de co- dos dados brutos, que passam a ser dados
para a avaliação do estudante, do educa- municação em geral; gestão da informa- organizados.
dor, dos conteúdos e das metodologias de ção (busca, seleção, análise e avaliação Inicialmente, foi feita uma leitura flu-
ensino-aprendizagem (4). Em educação, o da informação procedente de diversas tuante dos portfólios para estabeleci-
portfólio apresenta várias possibilidades, fontes); habilidades para a utilização de mento das categorias presentes no corpus
tendo como principal fator de aprendi- novas tecnologias; trabalho em equipe, documental. Após o agrupamento das
zagem a construção pelo próprio aluno ética, reconhecimento da diversidade, categorias, foram formuladas compe-
ou grupo de alunos. Pouco a pouco, ao exercício da alteridade, resiliência, com- tências adquiridas pelos estudantes com
longo do semestre letivo, o estudante vai paixão, solidariedade, paciência e es- a utilização do portfólio como instru-
organizando suas produções, as quais cuta qualificada; competências pessoais, mento de aprendizagem, com base nas
evidenciam o seu processo de constru- como gestão do tempo, responsabilidade proposições do informe da Organização
ção do saber (6–8). Assim, o portfólio e planejamento. das Nações Unidas para a Educação, a
se caracteriza como um instrumento de Foram inseridos no corpus documental Ciência e a Cultura (UNESCO), elabo-
avaliação formativa, por promover uma todos os portfólios produzidos nos anos rado pela Comissão Internacional sobre
aprendizagem pautada no feedback pro- de 2008, 2009 e 2010, compreendendo Educação (14), que recorre ao conceito
fessor-aluno, por desenvolver competên- um total de 25 portfólios, construídos de de competência e concretiza os objetivos

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do sistema educativo em quatro linhas los docentes evidenciou a evolução do nha e que foram totalmente transfor-
fundamentais: aprender a ser (atuar com senso crítico dos alunos; de início, por madas [. . .] (P2008, no. 8).
autonomia, juízo, responsabilidade pes- exemplo, eles selecionavam reportagens
soal); aprender a conhecer (assimilar co- ou charges que discorriam sobre o SUS Pela análise dos portfólios, observou-se
nhecimentos científicos e culturais gerais geralmente sob o viés negativo, e se que, ao problematizar as temáticas refe-
e específicos, que se completarão e atua- portavam de forma acrítica, ressaltando rentes ao SUS, muitos estudantes “apren-
lizarão ao longo de toda a vida); apren- apenas as mensagens explícitas trazidas deram a conhecer”, pois mostraram-se
der a fazer (adquirir procedimentos que pela mídia. Gradativamente, à medida capazes de avaliar criticamente os mais
ajudem a afrontar as dificuldades que que os conteúdos eram trabalhados na diferentes interesses que permeiam a
se apresentem na vida e na profissão); disciplina, os alunos foram adquirindo saúde, possibilitando uma visão mais
e aprender a conviver e a trabalhar com a capacidade de relacionar esses con- ampliada, pautada na importância de
outros (compreender melhor os demais, teúdos e discutir criticamente. Além seus determinantes sociais no processo
o mundo e suas inter-relações). disso, a criatividade se manifestou, por saúde-doença, como mostram os trechos
exemplo, por meio da composição ou a seguir:
RESULTADOS pesquisa de músicas, poemas, ou dese-
nhos e imagens que representavam sua [. . .] a saúde não pode ser objeto de
Durante todo o processo de construção “nova” percepção sobre o SUS, possi- mercado, pois este tende a excluir os
dos portfólios, os docentes responsáveis bilitada pela construção dos portfólios, indivíduos de baixa renda que não
pela disciplina atuaram como investigado- pelo trabalho em equipe, pelo feedback possuem condições de adquirir o ser-
res críticos do que ocorria na sala de aula, e avaliações contínuas realizadas pelos viço e que mais necessitam dele [. . .]
orientando e problematizando os textos, professores ao longo do semestre letivo, (P2010, no. 2 e no. 4).
artigos, charges, músicas e reflexões do além do exercício da autoavaliação e
grupo, sempre com o intuito de preservar avaliação pelos indivíduos e grupos. Os dois filmes (Um ato de coragem e
a autonomia do aluno e ­resgatar o seu pa- Paralelamente, trabalhou-se o desen- À procura da felicidade) confirmam as
pel como sujeito que busca e constrói o seu volvimento das habilidades de comuni- seguintes características do modelo
próprio conhecimento. Para a análise dos cação escrita como competência trans- neoliberal: excludente, desigual, sem
portfólios, consideraram-se todas as cons- versal na educação universitária. participação social, não possibilitando
truções, reflexões e documentos que os A partir daí, optou-se por analisar acesso a toda população, além de não
compunham. Assim, a análise mostrou especificamente as competências “apren- oferecer um serviço integral e me-
que os portfólios permitiram aos alunos der a conhecer” e “aprender a fazer” diante a necessidade (P2010, no. 2).
“aprender a ser” através da atividade (tabela 1). Essas foram as duas com-
“Minha trajetória”, que possibilitou o au- petências iniciais desenvolvidas com a Em relação à competência “aprender
toconhecimento e o reconhecimento pela construção dos portfólios, representa- a fazer”, a busca dos alunos pelas fontes
equipe de trabalho; “aprender a conhe- das pelos apartados “Minha trajetória” e de informação que contribuíram para
cer”, através das atividades orientadas “Aprendendo com o grupo”. a reflexão de questões intrinsecamente
de leitura de textos, artigos, reportagens, Em relação à competência “aprender a ligadas à saúde trouxe para o centro o
elaboração de resenhas e sínteses indi- conhecer”, o portfólio mostrou-se como estudante como sujeito do seu processo
viduais e coletivas e da conexão dessas uma importante ferramenta, capaz de es- de aprendizagem (tabela 1).
atividades com vivências ligadas à reali- timular a compreensão e o conhecimento
dade social e política; “aprender a fazer”, sobre o SUS, bem como sobre diversos [. . .] pensar em políticas públicas re-
através das atividades orientadas e do interesses que interferem na implemen- quer reflexões que se estendam a te-
“Espaço de criatividade”; e “aprender a tação dessa política, como apresentado mas além de moradia, saneamento
conviver e a trabalhar em grupo”, uma na tabela 1 e nos depoimentos dos dis- básico, salário mínimo, merenda esco-
vez que os portfólios foram construídos centes, registrados nos portfólios: lar, saúde. Antes mesmo de pensar em
em equipe. políticas públicas, se faz importante
A análise dos portfólios apontou O portfólio foi uma experiência impor- pensar em seres humanos que se fa-
para um gradativo envolvimento dos tante [. . .] Passamos a ficar mais aten- zem de satisfações, desejos e anseios
estudantes nas atividades propostas, tos ao mundo que nos rodeia, a prestar [. . .] (P2010, no. 4).
destacando-se a competência relativa à atenção no nosso cotidiano no que diz
gestão da informação, com busca ativa respeito a saúde e sistemas sanitários. Nesse sentido, ressalta-se a importân-
e avaliação da informação procedente Músicas, notícias na televisão, repor- cia do portfólio no desenvolvimento de
de reportagens e textos selecionados tagens em revistas, filmes . . . tudo competências necessárias ao futuro pro-
conforme os conteúdos e temáticas a isso que antes não tinha importância fissional de saúde: cognitiva (reflexão),
serem trabalhados na disciplina sobre para nós passou a ser visto com outros psicológica (consciência do seu papel
as questões relacionadas ao SUS. O es- olhos (P2008, no. 9). profissional) e atitudinal (mudança de
tímulo à criatividade e a busca ativa postura na formação e prática do aluno
e crítica das informações disponíveis A elaboração do portfólio [. . .] nos pro- baseado nas DCN e na consolidação do
estimulou nos acadêmicos a geração porcionou [. . .] melhor conhecimento SUS) (15).
de ideias novas, variadas e originais. O do mundo que está ao nosso redor, e Outrossim, merece destaque, na aná-
processo de construção dos portfólios e a realidade do país em que vivemos lise dos portfólios, a mudança de con-
sua avaliação ao longo do semestre pe- [. . .] opiniões e concepções que eu ti- cepção e a crítica aos métodos e para-

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TABELA 1. Competências e unidades de registro obtidas pela análise dos portfólios produzidos atender os mais pobres, mas que é um
na disciplina de Políticas de Saúde, Universidade Federal de Viçosa (MG), Brasil sistema que tem como uma de suas di-
retrizes a universalidade [. . .] (P2008,
    Competência/unidade de registro no. 7).
Aprender a conhecer
Gestão da informação Seleção, análises críticas, resenhas e sínteses de artigos O antes [do portfólio]: saúde, ausência
científicos e avaliação da informação de doença. Visão do SUS: programa
Conhecimento crítico-reflexivo Aperfeiçoamento das capacidades de refletir e de governo, que atende a população
compreender as informações, avaliar e atuar sobre elas carente. O depois [do portfólio]: saúde
Visão ampliada da saúde Percepção da importância dos determinantes sociais no possui um significado mais amplo, não
processo saúde-doença é só ausência de doença, é estar bem
Visão ampliada do Sistema Único de Saúde Mudança de percepção sobre a política nacional de fisicamente, psicologicamente, social-
saúde, com o despertar dos estudantes para o seu papel mente, estar bem com o ambiente em
potencial na transformação da imagem do SUS
que se vive (P2010, no. 1).
Aprender a fazer
Sujeito do próprio processo de aprendizagem Busca, seleciona, lê, analisa, reflete, apreende e constrói
A construção do portfólio assegurou
seu conhecimento
aos alunos a possibilidade de aprende-
Capacidade de avaliação e de autoavaliação Situações vivenciadas pelos estudantes que os levavam
a rever, reconstruir, reestruturar e reelaborar os seus rem por si mesmos e com o grupo, exer-
conceitos e preconceitos citando ferramentas que geram autono-
Habilidades de comunicação escrita Interpretação e desenvolvimento da escrita e do estímulo mia e ajudam a gerenciar a sociedade do
à criatividade a partir da elaboração de resenhas, conhecimento na qual estamos imersos,
sínteses individuais e coletivas e outros de forma a poder tomar decisões. Além
Transformação em estudantes-cidadãos Emancipação, autonomia e compromisso social e político disso, o portfólio permitiu “aprender a
dos estudantes conhecer”, pois potencializou a cons-
trução do conhecimento com vistas à
autonomia dos sujeitos em formação,
valorizando o pensamento crítico e inde-
digmas estabelecidos acerca do SUS e Constatando, nos tornamos capazes pendente, consoante com as DCN, numa
das políticas de saúde. Os alunos rela- de intervir na realidade, tarefa incom- dimensão que ultrapassa a reprodução
taram que, a todo o momento, viam-se paravelmente mais complexa e ge- de saberes tecnicistas do processo de
diante de situações que os levavam a radora de novos saberes do que sim- trabalho em saúde, ampliando e diver-
rever, reconstruir, reestruturar e reela- plesmente a de nos adaptarmos a ela sificando o olhar e a capacidade de fazer
borar os seus conceitos e preconceitos, (P2008, no. 1). julgamentos.
renovando-os constantemente:
A figura 1 ilustra a visão dos estu-
Há uma evolução positiva no aprendi-
Antes eu pensava que profissionais da dantes sobre o SUS antes e depois da
zado e na compreensão da realidade da
saúde só poderiam atuar na cura de construção do portfólio coletivo. Rom-
saúde no Brasil [. . .] nosso foco mudou
doenças, mas percebi que a prevenção per com o paradigma presente nas prá-
da atenção clínica/curativa para a aten-
é a melhor solução [. . .] digo que o SUS ticas sanitárias do SUS, impregnado pela
ção primária à saúde (P2008, no. 2).
é um sonho no qual temos que traba- visão biologicista e curativista, requer
lhar para que ele vire realidade (P2008, mudança ativa na formação dos profis-
no. 7). sionais de saúde. A análise dos portfó- A partir da disciplina Políticas de
lios nos permite afirmar que os alunos Saúde e com a construção do portfólio,
A experiência de construção de portfó- apreenderam a importância de revisar vejo que desenvolvi um pouco mais
lios, nesse sentido, propiciou um estrei- conceitos e práticas, havendo, portanto, minha visão crítica não somente em
tamento na relação entre ensino e pes- uma aquisição da competência “apren- relação às Políticas de Saúde mas tam-
quisa, por meio do estímulo à busca por der a conhecer”. bém em relação a vários outros assun-
artigos técnicos e científicos e materiais tos. Fica evidente o processo pelo qual
didáticos em diferentes bases de dados, Antes a primeira coisa que vinha à passei: conhecer-reconhecer-aplicar-
correlacionando-os aos assuntos traba- minha cabeça quando pensava em -viver (P2010, no. 4).
lhados em sala de aula e enriquecendo, SUS era hospital, internação, remédio
assim, o aprendizado. Essa experiência para os pobres, e hoje vejo que por trás [. . .] O portfólio foi fundamental para
também motivou o autoconhecimento e dessas três letras existe muito mais do que os conhecimentos obtidos na teo-
o conhecimento dos colegas de equipe, que isso: vigilância sanitária, preven- ria fossem fixados e analisados, e não
implicando compromisso do estudante ção de doenças, dentre outras coisas. apenas decorados. . . . através dele, nos
para com o seu meio e estimulando-o a [. . .] (P2008, no. 7). tornamos pessoas mais capacitadas
rever e repensar estratégias para a supe- e preparadas para a vida profissional
ração dos obstáculos que se interpõem [. . .] antes de saber sobre saúde pú- (P2010, no. 5).
ao desenvolvimento das atividades pro- blica era muito fácil criticar o sistema
postas, o que é demonstrado no depoi- de saúde. [. . .] Não vou mais dizer O pensamento crítico se refere à capa-
mento a seguir: que o SUS é um sistema direcionado a cidade de ir além dos significados apa-

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FIGURA 1. Visão dos estudantes sobre a Política Nacional de Saúde antes e depois da cons- e cidadãos, com capacidade de decisão
trução de portfólios na Disciplina de Políticas de Saúde, Universidade Federal de Viçosa (MG), própria. Na maioria das vezes, o que
Brasil se observa é um sistema educativo cuja
atuação gera condutas rotineiras e au-
ANTES DEPOIS tomáticas, dependentes e habitualmente
SUS pouco reflexivas. Em contrapartida a
essa maneira de educar e aprender, a
experiência de 3 anos de construção de
• Doença • Saúde portfólios em equipes, apresentada no
• Cura/medicamento Construção do Portfólio • Promoção/prevenção presente estudo, promoveu um cresci-
• Ruim/descontentamento • Bom/contentamento mento orientado à emancipação, à auto-
• Para pobres/focalizado • Para todos/universal nomia e ao compromisso social e político
• Individual • Coletivo/cidadania dos estudantes (4, 16).
• Teórico • Prática/realidade
A indução de mudanças no eixo de
• Possível/em construção
formação dos profissionais de saúde
requer a articulação de saberes e prá-
ticas pautados por orientações sociais
que respeitem a diversidade, a formação
ética e humanística e que valorizem a
integração de saberes e a articulação
desses com a realidade vivida. Sob essa
rentes e de dar-se conta do que está por Discussão ótica, a construção do conhecimento a
detrás das ideias, argumentos, teorias, partir da problematização da realidade
ideologias e práticas sociais das quais A educação centrada em competências intermedeia o resgate da teoria e da prá-
somos testemunhas cotidianamente (16). possibilita um enfoque que contempla tica, estimulando a participação ativa do
A análise dos portfólios, uma estratégia aprendizagens necessárias e substan- estudante nesse processo (2).
de ensino, aprendizagem e avaliação em ciais para que o estudante atue de ma- A representação inicial do objeto de
Políticas de Saúde, mostrou claramente neira ativa, responsável e criativa na análise — a política de saúde brasileira,
a aquisição de uma atitude de dúvida e construção de seu projeto de vida, tanto o SUS — passa por um processo de
interrogação frente ao que estava posto pessoal e social como profissional (3). A reconstituição progressiva, a partir de
pela mídia e por outras referências e que competência supõe a interação entre três situações atuais e reais vivenciadas pelo
contribuiu para um conjunto de mudan- componentes essenciais, a saber: um con- estudante, nas quais as (re)interpreta-
ças de ideias e criação de juízos de valor junto de capacidades (habilidades); um ções do mundo e a abordagem teórica se
próprios sobre as pessoas, políticas e conjunto de conhecimentos gerais pro- articulam dialeticamente. Os discentes
situações (figura 1). cedentes de disciplinas científicas; e uma saem de suas posturas de meros recep-
atitude apropriada para o desempenho tores acríticos do conhecimento para se
Termino esse portfólio com sentimento de uma função. tornarem cidadãos capazes de avaliar as
de renovação do modo de enxergar a A partir da análise realizada, ressalta-se situações e propostas que lhes são apre-
saúde e tudo o que se relaciona a ela que a busca, seleção, análise e avaliação sentadas continuamente (4).
(P2010, no. 2). das reportagens, charges, músicas, poe- Dentro dessa perspectiva, a experi-
mas e fotografias, dentre outros, veicu- ência de construção dos portfólios na
[. . .] enquanto existir comprometi- lados pela mídia impressa e eletrônica disciplina de Políticas de Saúde pode ser
mento e atitude por parte dos profis- sobre o SUS, orientadas pelos debates considerada uma estratégia inovadora,
sionais de saúde, dos gestores e dos nos grupos, tanto no espaço da sala de ao combinar uma formação profissional
usuários, sempre existirão árvores e aula como nos encontros extraclasse que crítica e reflexiva com questionamento
sementes fecundas que serão sempre a construção do portfólio demandava, permanente dos conhecimentos cristali-
lançadas no território da saúde brasi- gradativamente transformaram os estu- zados e rechaço do controle e imposição
leira (P2008, no. 6). dantes em cidadãos, levando-os a uma de pensamentos e ideias — para que surja
mudança de percepção sobre a política criatividade, é necessário que haja certo
Assim, pela análise dos portfólios, nacional de saúde. Esses achados vão grau de liberdade e autonomia (17).
destacaram-se dois elementos primor- ao encontro do estudo desenvolvido por Outra questão é capacitar os estudan-
diais: a avaliação crítica feita pelos alu- Blanco (15), ao apontar que a sociedade tes para desenvolverem tanto os seus
nos em relação às informações veicu- da informação, tão influenciada pelos conhecimentos quanto a aplicação prá-
ladas pela mídia impressa e eletrônica meios de comunicação, a publicidade e tica desses conhecimentos, fator de vital
sobre o SUS; e a mudança de percep- a tecnologia, necessita de cidadãos ca- importância para a política de saúde.
ção sobre a política nacional de saúde, pazes de avaliar todas as propostas de Pretende-se que o estudante chegue a ser
com o despertar dos estudantes sobre ofertas que lhes são apresentadas a todo autônomo, e isso passa necessariamente
o seu papel potencial na transformação momento. pelo fomento da capacidade de analisar,
da imagem do SUS perante a sociedade Cabe perguntar se o sistema educativo avaliar e emitir juízo. Assim, o desen-
e na melhoria da situação da saúde do que conhecemos fomenta o desenvolvi- volvimento de competências gerais na
país. mento de seres humanos profissionais construção do portfólio coletivo (em sala

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de aula e fora dela) mostrou-se como ras, sendo necessárias instruções não ape- de saúde é a necessidade de motivar o
um meio orientado à formação não só nas sobre a forma de se trabalhar com educando para aprender. Tradicional-
acadêmica, mas também pedagógica, do portfólios, mas também no sentido de mente, a aprendizagem enfoca modos de
futuro profissional de saúde-cidadão, e ajudar os alunos e demais docentes a en- avaliação baseados em exames centrados
afirmou o papel da universidade e do tenderem o que é um portfólio e por que na identificação dos resultados de forma
docente para além da mera transmis- ele pode ser usado na educação (19, 20). pontual, em provas. Como resultado,
são de conhecimentos (18). O portfólio Além disso, o trabalho com portfólios têm-se alunos que estudam para serem
propiciou um aprendizado muito além requer investimento em capacitação dos aprovados e não para aprender, postura
do adestramento e da profissionalização educadores, destacando-se a importância esta que dificulta a compreensão e a
e resultou necessariamente na integra- de os próprios docentes passarem pelo aquisição de competências, bem como
ção do conhecimento relativo a como processo de construção de portfólios — o desenvolvimento de atitudes crítico-
atuar, como conviver e como ser — tudo exercitando, dessa forma, a competência reflexivas que potencializem o aprendi-
isso voltado para uma formação ética e de “aprender fazendo”. Outro fator limi- zado autônomo. Assim, o portfólio surge
­humanista (4, 15). tante refere-se ao fato de que a construção como uma estratégia de avaliação com
Assim, pode-se inferir que a meto- dos portfólios requer muita dedicação, en- real impacto na motivação e aprendiza-
dologia utilizada na disciplina revelou volvimento e grande consumo de tempo, gem significativa, na qual tanto o profes-
o potencial de mudança de aptidões e tanto dos docentes como dos alunos. Cui- sor como o estudante transformam sua
atitudes, atuando fortemente nas esferas dado especial deve ser tomado com sua forma de ver, pensar e agir.
afetiva, emocional e vivencial. Estimu- estruturação, pois, quando se torna rígida Destaca-se ainda a importância da for-
lou também a cooperação e a integração e burocrática, pode desviar o foco do mação docente para a implementação
social entre os alunos, que vivencia- trabalho dos alunos, embotando a criativi- das metodologias inovadoras de ensino-
ram e experimentaram as dificuldades dade e a autonomia. Finalmente, os objeti- aprendizagem, especialmente no tocante
do trabalho em equipe (6). Verificou-se, vos da utilização dos portfólios precisam ao método de construção do portfólio,
dessa forma, que a utilização de portfó- estar muito bem delineados e claros, tanto bem como a necessidade de motiva-
lios como metodologia de avaliação e para os docentes como para os discentes ção dos alunos para engajamento nesse
estímulo à aprendizagem significativa envolvidos no processo (4, 19). ­processo.
suscitou nos alunos a reflexão sobre suas Por fim, a experiência de construção
experiências e o aprendizado a partir CONSIDERAÇÕES FINAIS de portfólios em grupos mostrou-se im-
delas, mostrando-se potencialmente ins- portante para uma formação em conso-
tigante e inovadora. A proposta de construção de portfó- nância com as DCN e a Política Nacio-
No entanto, é preciso estar atento a lios coletivos para a aquisição de compe- nal de Saúde. Nessa oportunidade, os
algumas limitações na utilização de port­ tências para o trabalho no SUS baseou-se estudantes puderam elaborar e exercitar
fólios coletivos. Um ponto importante essencialmente na força criativa e de conteúdos, conhecimentos e experiên-
refere-se à necessidade de avaliar, além intercâmbio do trabalho em grupo, onde cias, favorecendo o trabalho criativo, co-
da produção do grupo, a qualidade e a educação é um espaço inovador de letivo, problematizador e transformador
o comprometimento de cada aluno. A construção do saber e os alunos são os da realidade.
maioria dos alunos está acostumada com agentes de sua própria aprendizagem.
o professor direcionando a educação. Assim, é fundamental o enfoque meto- Agradecimentos. O presente trabalho
Autoavaliação, solicitação de feedback, re- dológico de caráter interativo e ativo, foi realizado com o apoio da Coorde-
flexão e identificação das necessidades baseado na comunicação dialógica entre nação de Aperfeiçoamento de Pessoal
individuais e coletivas de aprendizagem, professor-aluno e aluno-aluno. de Nível Superior (CAPES) (processo
fundamentais para o uso de portfólios, O que se observa quando se trabalha no. 23038.009788/2010-78, AUX-PE-Pró-
podem ser percebidas como ameaçado- com temáticas relacionadas às políticas Ensino Saúde 2034/2010).

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Disponível em: http://www.rieoei.org/delos

abstract Objective.  To assess the innovative experience of competency education through


reflective portfolios for the training of professionals who will work in the Brazilian
Unified Health System (SUS).
Learning portfolios as a Methods.  A qualitative research approach was employed. Documentary analysis
tool for reflection: building was carried out covering 25 portfolios produced in the years 2008, 2009, and 2010
competencies for work in the in the health policy course at the Federal University of Viçosa, Minas Gerais, Brazil,
in order to verify if this method allowed the acquisition of the competencies: learn-
Unified Health System ing to be (acting with autonomy, good judgment, personal responsibility); learning
to know (assimilating general and specific scientific and cultural knowledge, which
will be complemented and updated in the course of life); learning to do (acquiring
procedures that will be useful for facing life and work difficulties); and learning
to live and work together (better understanding of others, the world, and their
­inter-relationships).
Results.  Students became involved with the proposed activities, especially the man-
agement of information (active search, selection, critical analyses, reviews, syntheses,
and evaluation of information). There was a gradual opening to critical thinking,
integrating new dimensions to the initial vision held by students on the SUS, which
moved from a focus on disease and healing to a focus on health and prevention, and
from a vision of SUS as a theoretical model towards a view of SUS as a feasible project
that is under construction.
Conclusions.  The use of portfolios has enabled the education of citizen-health pro-
fessionals, with academic, pedagogical, and practical emphasis. This indicates that
universities and teachers can turn to the development of decision-making capacities
and reflective thinking by students.

Key words Teaching materials; teaching; competence-based education; Brazil.

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