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gersonantonio.p@gmail.com
2018
Gerson Pagarache
entre si. É o objectivo deste breve artigo discutir os conceitos de “língua” e de “dialecto” a
partir de uma perspectiva geral com o fim de clarificar se xichangana e xirhonga são línguas
fundamentalmente bibliográfico.
1.0 Introdução
Esta situação cria o contacto de línguas que, por sua vez, dá luz a certas implicações.
Segundo Herk (2012), o contacto entre línguas pode fazer surgir fenómenos como
pidgins, assim como a dificuldade de determinar se uma certa variedade¹ é língua ou dialecto.
Xichangana e Xirhonga são duas variedades faladas no sul de Moçambique. E elas são, de
certa maneira, imensamente inteligíveis, o que cria, entre diversos estudiosos, a dificuldade
de as classificar entre línguas e dialectos, daí decidir-se enveredar pela produção deste
estudo.
¹Já que este estudo visa determinar se xichangana e Xirhonga são línguas ou dialectos de mesma língua, mostra-se necessária
a recorrer a um termo neutro que os possa classificar, até que se teça alguma conclusão. E o termo ´´variedade´´ mostra-se
ser o termo adequado para tal, pois como se disse anteriormente, ele é um termo neutro que pode ser aplicado a qualquer
modalidade linguística, seja língua ou dialecto.
Quando Guthrie (1967) classificou as línguas africanas, ele agrupou-as de acordo com a
xichangana, no mesmo grupo que rhonga, por partilharem a mesma geografia e genealogia, e
considerou-as línguas diferentes, mesmo que sejam inteligíveis. Mas, por outro lado,
observamos Babalola (1983), que olha xichangana como sendo dialecto junto de Xirhonga,
Este foi o motivo principal que levou a elaborar este estudo, o facto de repararmos que há
diferentes posições tomadas por diferentes estudiosos no que diz respeito às línguas
Xichangana e xirhonga. Para a arena linguística, e por extensão, para a arena científica, esta
Nesta fase do trabalho, discute-se os conteúdos teóricos basilares que norteiam o tema em
questão: Língua, Dialecto e básicas informações sobre Xichangana e Xirhonga.
2.1 Língua
Visto que o nosso trabalho visa enquadrar as variedades Xichangana e Xirhonga entre
Vale, antes, ressaltar que o termo língua tem sido definido sob dois pontos de vista:
linguístico.
De acordo com Sausurre (1999), língua é ´´um sistema de sinais distintos correspondentes
a ideias distintas´´. Esta posição é reforçada por Alfandega (2008), que olha língua como
Estes autores definem língua sob ponto de vista puramente linguístico, em que ela deve
ser entendida como sendo uma combinação de sinais particulares que transmitem uma
mensagem.
De acordo com Carvalho (1979), língua é uma entidade histórico-cultural que confere a
unidade e a individualidade, onde a consciência dos sujeitos falantes exige o seu modo de
falar e de mútua compreensão, mas se sentem unidos por uma tradição histórica, pelo
reconhecimento de que esses diversos modos de falar pertencem a uma tradição linguística e
cultural comum.
Este posicionamento mostra-se de fulcral importância para aquilo que são os objectivos
deste estudo, porque ele confere às pessoas a propriedade de considerar como sendo língua
entre língua e dialecto pode ser observado em Chambers & Trudgill (1980). Este autor defini
2.2 Dialecto
Um outro conceito a ser definido de forma clara, para tornar o nosso estudo mais claro e
Segundo Mané (2012), o termo dialecto é usado para descrever uma variedade da língua,
De acordo com Chambers & Trudgill (1980), em seu estudo sobre ´´dialectologia´´,
dialecto é um termo aplicado para formas de uma língua. E doravante, o autor acresce que
dialecto refere, ainda, a variedades que são gramaticalmente assim como fonologicamente
diferentes das outras variedades. Ou seja, para este autor, dialectos devem ser vistos como
2.3 Xichangana
país. Segundo Sitoe (2000), esta variedade faz parte do grupo Tsonga, que comporta 3 outras
Xichangana possui, segundo Ngunga & Faquir (2011), os seguintes dialectos distribuídos
zona sul do país. E como se viu anteriormente, esta variedade faz, também, parte do grupo
Marracuene, Maputo, Matola e Boane; Xizingile, falado em Katembe até a ponta de ouro;
Portanto, estas duas variedades fazem parte do mesmo grupo linguístico Tsonga, devido à
sua localização geográfica, já que ambas são faladas na zona sul do país.
Antes, importa informar que os diferentes autores adoptam diferentes factores para as
suas colocações. Uns apelam para factores de natureza geográfica, outros de natureza
um destes factores.
Comece-se, primeiro, por discutir os autores que defendem a ideia de que xichangana e
A maior parte dos estudiosos moçambicanos parece estar de acordo incontestável de que
discutir dois dos primeiros estudiosos a classificarem e agruparem as línguas bantu. São eles
Doke (1945), citado por Ngunga (2004), classifica as línguas bantu sob sustento do
prosseguindo desta forma, para Doke (1945), xichangana e xirhonga são línguas diferentes,
inteligíveis.
Para Guthrie (1967), que classifica e agrupa as línguas bantu sob sustento de factores
Estes dois autores defendem a ideia de que xichangana e xirhonga são línguas diferentes
geográfico e genealógico.
delibera uma determinada variedade como sendo língua ou dialecto, sem considerar os
Lopes (2004) levou a cabo um estudo sobre a vitalidade de Xirhonga na sua relação com
as línguas do sul do país, em particular xichangana. Este autor, durante a sua discussão, não
hesita em afirmar que xirhonga é uma língua independente, assim como o xichangana o é.
Entretanto, o autor admite que a língua xirhonga está a sofrer um processo de diluição para
xichangana, isto é, o xirhonga está a machanganizar-se cada vez mais. Isto, segundo o autor,
deve-se ao facto de xichangana e xirhonga estarem a disputar o mesmo espaço geográfico e
Um outro autor que toma uma posição face à questão é Firmino (2002). Ainda que de
forma ligeira, Firmino (2002) concebe xichangana e xirhonga como sendo línguas distintas,
quando diz que “ xichangana e xirhonga são as duas línguas mais predominantes da província
e cidade de maputo”.
Esta passagem reflecte a posição deste autor face à nossa discussão. A passagem mostra
que para Firmino (2002), xichangana e xirhonga são duas línguas diferentes.
Ngunga & Faquir (2011) organizaram o relatório sobre a padronização da ortografia das
xirhonga como sendo línguas diferentes, e cada uma delas possui seus próprios dialectos.
Mais uma vez, é o critério sociopolítico que se encontra por trás desta classificação por
Portanto, estes são os autores escolhidos neste estudo, que apontam xichangana e
xirhonga como sendo línguas diferentes um do outro, ainda que sejam mutuamente
inteligíveis. E os critérios que sustentaram a opinião destes autores, dentre outros, foram:
A seguir a esta posição, veja-se os autores que defendem uma posição contrária.
Um dos aspectos que leva certos autores a considerar xichangana e Xirhonga uma mesma
língua é a grande semelhança gramatical que se verifica entre as duas línguas, desde os
aspectos fonético-fonológicos, diferenciando-se apenas em algumas casas fonológicas, como
a alternância entre sons vibrantes alveolares para xichangana e fricativas alveolares para
Xirhonga, aos aspectos morfo – sintácticos, o que culmina com a mútua inteligibilidade.
De acordo com Babalola (1983), por exemplo, xichangana e Xirhonga são mesma língua
devido a partilha geográfica e a mútua inteligibilidade que se verifica entre os mesmos, o que
Uma das passagens que ilustra esta classificação pode ser apreciada abaixo, quando o
´´-Yao
-Makonde
-Makua-Lomwe
-Nyanja
-Chuabo
-Chewa
-Shona
-Changana-Ronga´´
Portanto, esse autor assume que as variedades xichanga e Xirhonga são uma mesma
4.0 Conclusão
são línguas diferentes ou dialectos de mesma língua, isto é, uma mesma língua. E para se
Um dado importante a ser ressaltado diz respeito aos critérios usados pelos autores para
lado, porque existem variedades faladas numa mesma região e nem por isso são dialectos da
moçambique, e por outro, porque, como afirma Chambers & Trudgill (1980), variedades
como Norwegian, Swedish e Danish em Scandinavian são mutuamente inteligíveis, mas são
afirma que ´´a distinção língua e dialecto é mais processada sob ponto de vista social e
E é com esta ultima posição que concordamos, daí concluirmos que xichangana e
Xirhonga são línguas diferentes, porque, por um lado os falantes assim o assumem, e por
Com isto, pode-se assumir que o nosso problema de partida foi respondido com sucesso.
E para posteriores estudos, sugere-se que se leve a cabo um estudo que procure confrontar os
diferentes critérios que sustentam a distinção entre língua e dialecto, com vista a adoptar-se
um deles sempre que se pretender distinguir língua e dialecto tendo em conta certas
variedades.
5.0 Referências Bibliográficas
ALFANDEGA, Pita Bongece. Cisena 100 anos depois. 1ª Edição, Imprensa Universitária.
Maputo, 2009.
LOPES, Armando Jorge. A batalha das línguas. 1ª edição, UEM. Maputo, 2004.
NGUNGA, Armindo & FAQUIR, Osvaldo (2011). Padronização da Ortografia das Línguas
Moçambicanas: Relatório do III Seminário. 1ª Edição, CEA. Maputo.
SPOLSKY, Bernard. Sociolinguistics. 3ª edição, Oxford University Press. New York, 2001.