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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


ESCOLA DE BELAS ARTES

TAYGOARA AGUIAR DO CARMO SOUSA

ESTAÇÕES DO OLHAR: Fotografia como ferramenta de construção do olhar


artístico, da consciência étnica e do aumento da autoestima de jovens do Colégio
Estadual Almirante Barroso.

SALVADOR
2010
2

TAYGOARA AGUIAR DO CARMO SOUSA

ESTAÇÕES DO OLHAR: Fotografia como ferramenta de construção do olhar


artístico, da consciência étnica e do aumento da autoestima de jovens do Colégio
Estadual Almirante Barroso.

Monografia apresentada no curso de


Especialização em Arte Educação:
Cultura Brasileira e Linguagens Artísticas
Contemporâneas da Escola de Belas
Artes da Universidade Federal da Bahia,
sob orientação da Profª Dra. Nanci
Helena Rebouças Franco, como requisito
parcial para obtenção do grau de
Especialista em Arte-Educação.

SALVADOR
2010
3

Para minha mãe. Por ter me tornado forte.


4

AGRADECIMENTOS

A Escola de Belas Artes pela minha formação e por me ensinar a produzir diante da
precariedade.

A Objetiva, pela qualidade das ampliações e pelo desconto que viabilizou


financeiramente o projeto.

A minha orientadora, professora Dra. Nanci Franco, por não ter me abandonado,
pelas dicas e pela paciência.

A Rosa Bunchaft, por ter “deixado” eu usar o título do projeto, por ter surgido na hora
certa e por ter feito parte de todas as etapas, mesmo com aquele barrigão.

A André, por me fazer pensar no assunto.

A Jorge, pelo embasamento teórico e por ter acreditado.

A Maíra, por ter dado força enquanto eu escrevia.

E a todos que me ajudaram pelo MSN.

Muito obrigado.
.
5

O Registro da câmera ou de quem a conduz


pode conter diferentes imagens ou pontos de
vista da mesma história. Depende apenas do
olhar. (MAURÍCIO PESTANA, 2009).
6

RESUMO

Esta monografia propõe o estudo da fotografia como recurso pedagógico no


alfabetismo visual de jovens estudantes do ensino médio do Colégio Estadual
Almirante Barroso. Busca-se aqui, através da realização de oficinas de fotografia e
aulas sobre a história do subúrbio, entender o papel das imagens fotográficas na
construção do imaginário social.

Sob os olhares de moradores do Subúrbio Ferroviário, conduzidos pela linha do trem


que corta toda aquela região - Investiga-se a influência da imagem, suas origens e
suas implicações nas relações raciais na cidade de Salvador.

Acredita-se que o processo de inclusão visual promovido por esta pesquisa


contribui com a construção da identidade étnica dos jovens educandos e promove a
formação de uma consciência crítica da realidade na qual eles estão inseridos.

A presente pesquisa foi realizada no segundo semestre de 2009 com uma amostra
de 10 jovens estudantes do Colégio estadual Almirante Barroso. Participaram
também desta pesquisa, como tutores, um professor de história da África da
instituição e duas estudantes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal/BA.

Percebe-se, a partir dessa pesquisa, que o registro fotográfico, apesar de possuir


o status de verdade, exclui o ponto de vista daqueles que não detêm os meios de
produção e distribuição deste tipo de imagens, homogeneizando o conceito de
realidade no imaginário coletivo e invisibilizando determinados grupos sociais.

Ficou claro que a invisibilização destes grupos sociais, entre eles os afro-
descendentes, tem forte influência no processo cognitivo e afeta diretamente a auto-
estima destes indivíduos excluídos do processo de comunicação.

Esta experiência serviu para comprovar o caráter multidisciplinar da fotografia e


possibilitar, através da inclusão visual, a apreciação de novas imagens produzidas a
partir do olhar nativo de jovens moradores da periferia, debruçados sobre a sua
própria realidade.
Palavra-Chave: Fotografia, Afro-brasileiros, Autoestima, Subúrbio Ferroviário, Trem,
Paripe, inclusão visual, Arte Educação, Escola Pública, Col. Est. Almirante Barroso
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ABSTRACT

This monograph proposes a reflection

Keyword: Fotografia, Afro-brasileiros, Autoestima, Subúrbio Ferroviário, Trem, Paripe,


Arte Educação, Escola Pública. Colégio Estadual Almirante Barroso
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SUMÁRIO
1.0 INTRODUÇÃO: 6
2.0 CULTURA, RACISMO E AS REPRESENTAÇÕES IMAGÉTICAS 14
DA SOCIEDADE

3.0 A FOTOGRAFIA COMO FERRAMENTA DE ARTE-EDUCAÇÃO 33

4.0 A REPRESENTAÇÃO FOTOGRÁFICA DOS AFRO-BRASILEIROS


NA CIDADE DE SALVADOR E SUAS IMPLICAÇÕES NA
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ÉTNICA
5.0 ESTAÇOES DO OLHAR
6.0 CONCLUSÃO 39
7.0 REFERÊNCIAS 43
8.0 ANEXOS
9

1.0 INTRODUÇÃO

Expressar-se através da linguagem escrita, falada ou visual afirma a existência do


indivíduo enquanto ser social, visto que o ato da comunicação pressupõe o domínio
de símbolos e códigos específicos de cada sociedade. No entanto, a linguagem
visual requer uma análise diferenciada visto que as imagens são interpretadas de
maneira muito distinta do modo como absorvemos os outros tipos de linguagem.

Sofia Olswevisk Filha (1982, p. ??), afirma que “a linguagem escrita, (assim como a
falada), é linear, o entendimento se faz através da leitura de uma linha após a outra,
o que nos leva, de forma gradual, ao entendimento da mensagem”. Já na linguagem
imagética a mensagem se completa através de leituras sucessivas onde, segundo a
autora, interfere primeiramente a emoção e em seguida a cultura.

Esta particularidade da linguagem visual é que a torna um excelente veículo de


divulgação, seja de produtos, conceitos ou ideologias. A imagem é direta, atinge
mais rapidamente o espectador e provoca nele, em frações de segundos,
sentimentos que a linguagem escrita precisaria de páginas para descrever.

A fotografia surgiu no final do século IXX e de lá pra cá foi a técnica de produção de


imagens que mais se desenvolveu e foi difundida. Atualmente encontra-se inserida
de tal forma na sociedade que não se percebe mais a sua existência individual.

Apesar de representar apenas pequenos fragmentos do mundo, que podem ser


manipulados ou adulterados facilmente, a imagem fotográfica na maioria das vezes
é aceita como a representação fiel da realidade e por isso é uma ferramenta
importante na perpetuação dos paradigmas da classe dominante.

A imagem é uma forma do ser humano se relacionar com o mundo em que vive,
portanto, ao decifrá-las acabamos por compreender melhor as relações sociais
implícitas nas representações imagéticas. Essa compreensão, alvo da pesquisa do
presente trabalho, se faz necessária no sentido de possibilitar a desconstrução dos
aspectos negativos que a representação estereotipada, de uma determinada parcela
étnica da população, traz para a sociedade como um todo.
10

Tendo em vista que atualmente, graças ao desenvolvimento da técnica e a redução


dos custos de produção, a fotografia é a forma mais comum de representação
imagética da realidade, questiona-se: De que forma a fotografia, como um
recurso de arte educação, pode ser um instrumento de construção da
identidade étnica e do aumento da auto-estima de jovens do ensino médio do
Colégio Estadual Almirante Barroso, localizado em Paripe, no Subúrbio
Ferroviário de Salvador?

O presente trabalho irá buscar na arte-educação, através da prática da fotografia,


uma alternativa de representação do afro-brasileiro que vá de encontro às imagens
estereotipadas veiculadas pela mídia, publicidade e pelo ensino escolarizado oficial.

Diversos autores afirmam que a população negra no Brasil é representada de forma


negativa ou é sumariamente invisibilizada nas imagens dos livros didáticos, na mídia
e na publicidade, espaços onde se “omite ou apresenta-se de forma simplificada e
falsificada o cotidiano [...] e o processo histórico-cultural de diversos segmentos
sociais” SILVA (2001) e ainda, onde se “relegam aos negros papéis secundários no
plano social, econômico e político” (ROCHA; SILVA, 2006).

Neste trabalho e na atividade prática vinculada a ele, pretende-se dar visibilidade à


visão de mundo dos jovens do bairro de Paripe, subúrbio ferroviário de Salvador.
Não se objetiva aqui buscar uma representação positiva destoante da realidade,
busca-se mostrar, através de uma exposição fotográfica produzida pelos próprios
educandos, os diferentes aspectos da vida dos cidadãos negros do Subúrbio
Ferroviário de Salvador e a partir deles construir um banco de imagens que
possibilite uma análise crítica desta realidade, por parte dos seus próprios
moradores e de todas as pessoas que tiverem contato com as fotografias que foram
produzidas.

O recorte territorial deste projeto limita-se ao Subúrbio Ferroviário de Salvador


devido à sua importância histórica e a grande concentração de afro-descendentes.
Segundo Soares (2006), o subúrbio possui uma área de 4.145 ha, formado por cerca
de 20 bairros populares mantenedores de grandes manifestações da cultura afro-
descendente.
11

A região tem aproximadamente 500 mil habitantes, de acordo com os últimos dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua maioria negros,
pobres e com baixa escolaridade, vítimas da maior violência urbana do contexto
metropolitano.

IMAGEM I - Salvador, Bahia. IMAGEM II -Subúrbio Ferroviário.

Ainda segundo o IBGE, a renda per-capita dos moradores do Subúrbio é abaixo de


dois salários mínimos. A oferta de vagas no ensino fundamental é menor que a
demanda; o índice de mortalidade infantil é maior que o de toda a cidade; e é grande
o número de desempregados.

Tudo isso imprime à população da área, características de exclusão em relação ao


restante dos soteropolitanos e torna a região uma arena propícia para a investigação
dos efeitos da veiculação de imagens negativas e/ou estereotipadas do negro.

A escolha do problema, bem como a delimitação geográfica desta pesquisa justifica-


se na observação pessoal que faço, desde a minha infância, das relações raciais na
cidade de Salvador. Esta observação me permitiu perceber, enquanto morador do
Subúrbio Ferroviário, que existe uma estreita relação, baseada em atitudes e
ideologias racistas, entre o espaço geográfico para onde foram empurrados os
descendentes de africanos na nossa cidade e o espaço social destinados aos
negros em nossa sociedade.
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Mais tarde, fora do subúrbio e já como profissional da área de design, percebi que
as empresas e instituições detentoras dos meios de produção de imagens
discriminavam e estabeleciam papéis sociais inferiores aos afro-descendentes,
utilizando-se da imagem veiculada pela mídia e pelo ensino oficial, entre outras
ferramentas de persuasão, para perpetuar o leque de teorias discriminatórias
remanescentes dos ideais do recente passado escravista da sociedade brasileira.

Trabalhar com produção de imagens fotográficas, publicitárias em vídeo e impressas


permite perceber o poder que as fotos adquirem perante os expectadores, em sua
maioria, passivos à capacidade de manipulação ideológica através da imagem e
crentes no caráter de verdade que estas representações trazem consigo.

Toda a imagem produzida é criada a partir dos paradigmas da pessoa que a produz.
Logo, torna-se imprescindível instrumentalizar com subsídios técnicos e teóricos os
grupos excluídos das representações sociais na cidade de Salvador, para que eles,
através da sua produção artística, possam contribuir com a sua visão de mundo nas
imagens que circulam pela cidade.

Para isso, torna-se necessária a prática pedagógica da fotografia como ferramenta


de arte-educação junto a jovens moradores da periferia. A pertinência desta
pesquisa se dá na medida em que estudos acadêmicos neste sentido ainda são
poucos e estes, quando existem, se limitam, na maioria das vezes, ao debate teórico
sobre a questão.

É claro que pesquisas como a da professora Ana Célia Silva, em seu mestrado e
doutorado são valiosas fontes de pesquisa e um poderoso referencial teórico sobre a
discriminação racial no livro didático e as diferentes formas de desconstruí-la. Outra
importante referência que não pode deixar de ser citada é o trabalho realizado por
Wanda Machado no terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá e na Escola Ana
Maria Eugênia dos Santos, instalada nas dependências desta instituição religiosa.
13

Em sua pesquisa, realizada para a elaboração de sua dissertação de mestrado em


Educação na Universidade Federal da Bahia, Machado examina o processo
cognitivo e a formação de conceitos na mente das crianças durante o cotidiano
escolar e mostra, no livro fruto da pesquisa, “a importância de uma dada cultura
como fonte de educação inicial da criança” (MACHADO, Wanda, 2002, p. 17).
Experiências como as citadas acima, constituem-se como belíssimas exceções no
ambiente acadêmico e demonstram a importância da interação da Universidade com
a sociedade, visto que,

A revolução tecnológica das duas últimas décadas, que concretamente


tornou o homem universal, possibilita e exige uma pedagogia que
desenvolva a convivência entre os diferentes definida pela localidade e pelo
cotidiano (Idem, p. 19)

Essa pesquisa traz como principal diferencial a realização de uma experiência


prática junto aos jovens do Colégio Estadual Almirante Barroso, onde se buscou,
através da experiência empírica, apontar para um modelo de prática pedagógica que
possibilite, de forma dialógica, a inclusão da imagem do negro nas representações
sociais.

É importante salientar a importância de pesquisas como esta dentro da academia,


visto que o espaço da universidade durante muito tempo foi um espaço de
construção e manutenção dos aspectos racistas da ideologia dominante. Como
veremos no capítulo que se segue, vários estudiosos, entre eles autores como:
Oliveira Viana, Nina Rodriguez e Euclides da Cunha, defenderam dentro da
academia teses que compactuavam com teorias discriminatórias.

Neste sentido, esse trabalho pode vir a ser uma modesta contribuição para futuras
pesquisas acadêmicas, visto que será o primeiro projeto de especialização em arte-
educação realizado na Escola de Belas Artes - UFBA a promover, junto a jovens
moradores do Subúrbio e mediante ao estudo e a prática da fotografia, a
desconstrução dos estereótipos negativos relacionados aos negros. Contemplando
através da arte-educação a visão de mundo de jovens afro-descendentes da
periferia da nossa cidade.
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Para tanto, parte-se dos seguintes pressupostos:

1. A invisibilização e a falta de referenciais positivos do negro nas


representações imagéticas, dentro do ambiente escolar, leva à fragmentação
da identidade étnica dos estudantes afro-brasileiros;

2. As representações negativas estereotipadas do afro-brasileiro nos diversos


espaços sociais levam o cidadão negro ao processo de negação do seu
assemelhado étnico, processo que atinge diretamente a auto-estima desses
indivíduos;

3. A fotografia, como ferramenta de arte-educação, pode ser um instrumento


que possibilite a construção da identidade étnica e a elevação da auto-estima
de jovens negros do Subúrbio Ferroviário de Salvador;

4. Uma exposição de fotografias do subúrbio, que mostre seus habitantes e


paisagens do ponto de vista dos seus moradores, pode também contribuir
com a formação do pensamento crítico sobre a realidade dos jovens negros
do Subúrbio Ferroviário de Salvador.

Sendo que o objetivo geral desse estudo foi investigar de que forma a fotografia,
como um recurso de arte educação, pode ser um instrumento de construção da
identidade étnica e conseqüente aumento da auto-estima de jovens do ensino médio
do Colégio Estadual Almirante Barroso, localizado em Paripe, no Subúrbio
Ferroviário de Salvador. Para tanto, foram elencados os seguintes objetivos
específicos:

• Promover a aproximação da Universidade com a Escola Pública Estadual;

• Compreender, junto aos estudantes, a relação entre o território do Subúrbio


Ferroviário e a etnia afro-brasileira;

• Identificar o preconceito com base na cor da pele nas representações


imagéticas dos negros na publicidade;

• Contribuir com a formação do pensamento crítico através da construção do


olhar fotográfico;
15

• Realizar uma experiência pedagógica de ensino e prática da fotografia junto


aos estudantes do Colégio Estadual Almirante Barroso;

• Realizar exposições de fotografias do Subúrbio Ferroviário feitas por


estudantes do Colégio Estadual Almirante Barroso.

Esta pesquisa traz como referenciais teóricos, o Método Paulo Freire e a


pesquisa-ação. A partir destes referenciais, buscou-se ensinar e aprender em
reciprocidade de experiências através do processo intervencionista que se
deu em círculos de cultura/oficinas durante a minha vivência com jovens
estudantes e professores do ensino médio estadual.

O método Paulo Freire foi pensado originalmente como uma forma de alfabetizar
adultos. Nele, os alfabetizandos aprendem a ler e escrever na medida em que
refletem criticamente sobre sua realidade. Esta pesquisa transfere para a linguagem
visual as práticas metodológicas de Paulo Freire. Aqui se mantém o foco na
alfabetização, porém não a alfabetização da linguagem escrita e falada, busca-se
sim o Alfabetismo visual, ensinar a ler e produzir imagens através da prática
fotográfica

Conhecido também como a “Pedagogia da Libertação”, o Método Paulo Freire toma


como ponto de partida palavras do universo vocabular do alfabetizando, visto que
estas são “[...] significações constituídas ou re-constituídas em comportamentos
seus, que configuram situações existenciais.” (FIORI apud FREIRE, 2005, p. 10).

Tais significações são codificadas em quadros, imagens, músicas, vídeos, entre


outros, representativos das respectivas situações e transferidas para o mundo dos
objetos (fotografias, slides, vídeos, textos, etc.), possibilitando ao alfabetizando
distanciar-se para ver sua própria experiência e deste modo decodificá-la.

A descodificação é a análise e conseqüente reconstituição da situação vivida:


reflexo, reflexão e abertura de possibilidades concretas de ultrapassagem (...)
que leva a consciência a escutar os apelos que a convocam sempre mais além
dos seus limites: neste instante, faz-se a crítica” (Idem)
16

Todo este processo se dá através de reuniões chamadas “Círculos de Cultura” nas


quais não existe a figura do professor e sim um coordenador, cujo papel é "dar as
informações solicitadas pelos participantes e propiciar as condições favoráveis à
dinâmica do grupo, reduzindo ao mínimo sua intervenção direta no curso do diálogo.
No Círculo de Cultura, de forma geral, não se ensina, aprende-se em “reciprocidade
de consciências”.

A pedagogia de Paulo Freire é dialógica, ou seja, busca a educação através do


diálogo horizontal onde tanto o educador quanto o educando estão em processo de
ensino-aprendizagem. Contrapondo o tradicional caráter “bancário” da educação, no
qual os educandos são passivos depositários do saber detido pelo educador.

A pesquisa-ação é uma categoria de pesquisa que surgiu nos Estados Unidos


durante a segunda guerra mundial com o intuito de resolver problemas concretos
através da pesquisa científica.

Nesta modalidade há a intenção não apenas de compreender o fenômeno, mas de


modificá-lo para melhor, dentro dos limites da ética e tendo como base as
necessidades da comunidade na qual o pesquisador irá se inserir.

Thiollent (2006, p. 14) define a pesquisa-ação como sendo:

[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e


realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo.

Portanto, segundo Figueiredo (2008) a pesquisa-ação é uma modalidade de


pesquisa social onde existe uma interação entre o pesquisador e seus
objetos/sujeitos da pesquisa que irão analisar em parceria um problema detectado
para, em seguida, criarem mecanismos que viabilizem a solução da questão.

Para um maior rigor científico a pesquisa-ação está dividida em três etapas


metodológicas:

• Diagnóstico – onde o pesquisador identifica o problema e estabelece


possibilidades de solução.
17

• Ação – em parceria com os sujeitos da pesquisa é definido e executado o


plano de ação.

• Avaliação – onde ocorre a avaliação do processo, da aprendizagem teórica e


dos resultados alcançados.

Dialogando com os autores citados acima, a metodologia adotada por esta


pesquisa foi dividida em três etapas: Investigação, Rodas/Atividade de Campo,
Exposição/Avaliação.

Na etapa de investigação houve o processo de imersão na comunidade, através de


reuniões e entrevistas com o corpo docente, na figura do diretor da escola,
Professor Paulo ??? e do Prof. Jorge Batista. Foi realizado, de forma geral, um
levantamento do perfil dos estudantes do estabelecimento de ensino, seus
costumes, suas histórias e suas práticas cotidianas. Nesta etapa também foram
coletadas sugestões de atividades, as possibilidades e os limites da pesquisa de
acordo com a proposta acadêmica do colégio.

As Rodas (Problematização/descodificação) foram formadas ao exemplo dos


“círculos de cultura” e incluídas nos programas1da visita orientada à galeria de
Arte ACBEU e das oficinas de Fotografia Pinhole; Construção do olhar e de História
da Fotografia.

Através dos debates, promovidos em sala de aula pelo professor Jorge Batista, e
das exposições participativas com auxílio de multimeios, buscou-se
compreender, junto aos estudantes, a história do Subúrbio Ferroviário e sua relação
com a questão racial, o papel da fotografia na sociedade, os métodos de produção
da imagem fotográfica e os aspectos artísticos da sua prática, dando aos
participantes subsídios teóricos para a próxima etapa da pesquisa.

Para a Atividade de Campo definiu-se em comum acordo, baseando-se nas


discussões das etapas anteriores, que os jovens fariam um registro fotográfico das
paisagens do Subúrbio Ferroviário possíveis de serem observadas pela janela do
trem, observando as particularidades das cenas características do roteiro Calçada-
Paripe-Calçada.

1
ANEXO 1-Plano de aula das oficinas.
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A etapa de Avaliação se deu em dois momentos distintos. Primeiramente foi feita a


análise e seleção das fotografias para a exposição. Na ocasião, a partir dos
conhecimentos obtidos nas oficinas e de critérios pessoais, os jovens escolheram as
fotos que foram ampliadas. Em um segundo momento, durante a exposição, foram
distribuídos questionários e realizadas entrevistas para uma posterior análise e
síntese a ser realizada junto com a revisão da bibliografia relacionada ao tema
desta pesquisa.

A Exposição foi realizada no pátio do Colégio Estadual Almirante Barroso e


pretende ser re-montada em 2010 na Galeria Cañizares da Escola de Belas Artes da
UFBA.

A todo o processo empírico (oficinas, trabalho de campo, exposição) deu-se o nome


de “Estações do Olhar”. Este nome foi escolhido pelo coletivo Luxco Fluxo, um dos
colaboradores deste projeto, e parte da idéia de reproduzir o trabalho de inclusão
visual do olhar de jovens moradores do Subúrbio, nas escolas da rede pública em
torno das estações de trem daquela região. Busca-se com este título ressaltar a
importância simbólica da ferrovia como elemento de coesão dos diversos olhares
presentes nas estações-bairros do Subúrbio Ferroviário.

O presente trabalho irá descrever a realização desta experiência intervencionista


desde as suas fundamentações teóricas dentro do complexo sistema de combate à
discriminação racial, no qual ele se insere, até os resultados finais obtidos pelo
Projeto Estações do Olhar em sua realização no Colégio Estadual Almirante
Barroso, em Paripe, Subúrbio ferroviário de Salvador.

No capítulo que se segue buscaremos compreender as relações entre a cultura, o


racismo e as representações do negro na nossa sociedade. Em seguida trataremos
da fotografia, sua importância como ferramenta de arte-educação e suas
características interdisciplinares. Em outro momento trataremos da fotografia do
negro na cidade de Salvador/BA e abordaremos a importância da imagem
fotográfica na construção da identidade étnica. Por último será feita aqui a análise da
atividade prática vinculada à esta pesquisa – O projeto Estações do Olhar, seguida
das considerações finais.
19

2.0. CULTURA, RACISMO E AS REPRESENTAÇÕES IMAGÉTICAS


DO NEGRO/NEGRA2 NA SOCIEDADE

A cultura ao longo dos anos acumula determinados conceitos e representações


ideológicas que, incorporados à vida social, configuram o imaginário dos indivíduos
e influenciam as suas práticas. Ela “é como um mapa que orienta o comportamento
dos indivíduos em sua vida social” (RODRIGUES, 1986, p.11 apud GOMES, 2003,
p. 76). Tal mapa possui um caráter convencional e é submetido a um código pré-
estabelecido.

A cultura em uma sociedade é guiada por uma lógica simbólica, construída ao longo
do processo histórico, que condiciona o comportamento dos atores sociais segundo
as suas exigências, mesmo que estes muitas vezes não tenham consciência disso.
Este caráter de inconsciência do condicionamento cultural nos remete ao conceito
de imaginário social do filósofo francês Henri Lefebvre (1991) que “distingue a
imaginação individual e os grandes simbolismos que subsistem nas culturas e
reconhece que as ações humanas não resultam de decisões estritamente racionais”
(apud FERREIRA & EIZIRIK, 1994, p. 6).

Resultado da submissão da sociedade aos simbolismos culturais, os sistemas de


representações são oriundos do relacionamento dos indivíduos e dos grupos
sociais, ao mesmo tempo, que regulam estas relações e condicionam as ações das
pessoas dentro de um grupo. De modo que representações e práticas se tornam
elementos inseparáveis, pertencem à esfera das relações de poder vigentes e
podem ser tanto ferramenta de manutenção como de transformação das relações
sociais.

Ainda Segundo Rodrigues

Uma vez constituídos, os sistemas de representações e sua lógica são


introjetados pela educação nos indivíduos, de forma a fixar as similitudes
essenciais que a vida coletiva supõe, garantindo, dessa maneira para o sistema
social, uma certa homogeneidade”. (IDEM)

2
Usarei o termo no gênero masculino daqui por diante
20

Mas, se essas semelhanças universais são importantes na nossa identificação como


seres humanos, as particularidades também não podem deixar de ser pontuadas,
sob pena de desumanização e invisibilização de determinados grupos sociais.

O fato de que todos os seres humanos nascem, crescem e procriam não é falso ou
sem importância, no entanto não é determinante ao traçar um perfil verdadeiro da
espécie que seja essencialmente humana e não uma mera idealização.

Pois de acordo com Geertz, “pode ser que nas particularidades culturais dos povos
– em suas esquisitices – sejam encontradas algumas das revelações mais
instrutivas sobre o que é ser genericamente humano” (1978, p. 55 apud GOMES,
2003 p. 76).

A partir desta afirmação podemos concluir que apesar de negros e brancos serem
iguais geneticamente, as diferenças entre eles foram construídas pela cultura, ao
longo do processo histórico, como forma de classificação do humano.

No entanto, no contexto das relações de poder e dominação, essas diferenças


biológicas entre as raças foram utilizadas como forma de hierarquização de
indivíduos, grupos e povos, como nos fala GOMES (2003, p. 76).

Atualmente, a hierarquização biológica entre seres humanos não é mais aceita no


meio científico. No entanto, a academia durante muito tempo esteve a serviço do
racismo biológico (eugenia), construindo e disseminando teses e ideologias
discriminatórias, entre elas a teoria do branqueamento. No final do século IXX
autores como Ruy Barbosa, Nina Rodrigues, Euclides da Cunha, Sylvio Romero e
Oliveira Vianna, defendiam a tese de que o branqueamento da população brasileira,
através da miscigenação, era o único caminho para o desenvolvimento da nação.

Nina Rodrigues dizia que “Os negros se diluirão na população branca e estará tudo
terminado” (s/d, p. 15 apud Olszewski, 1989, p. 25). Já Afrânio Peixoto escreveu:
“em trezentos anos mais, seremos todos brancos, não sei o que será dos EEUU, se
a intolerância saxônica deixar crescer, isolado, o núcleo compacto de seus doze
milhões de negros” (SKIDMORE, 1976, p. 91 apud Olszewski, 1989, p. 25).
21

Ao assumir valor de verdade no imaginário da elite política e dirigente do início do


século passado, a produção teórica desses e de outros autores, fez com que a
mistura racial passasse a ser concebida como elemento crucial do projeto de
branqueamento da população nacional.

Com base na teoria do branqueamento a figura do negro foi sistematicamente


excluída das representações imagéticas da época e o seu papel como agente ativo
da construção da sociedade brasileira foi negado através de um processo de
invisibilização que seu deu principalmente na escola através dos livros didáticos
principais fontes de formação do imaginário de uma sociedade onde:

O negro era percebido como herdeiro de uma ordem social arcaica e


ultrapassada, ligada ao tradicionalismo, à ignorância, ordem a ser substituída por
um modelo europeizante (...). Assim, a figura do negro, com seu corpo, suas
práticas e sua história, constituiria a presença incômoda da antiga ordem
escravocrata, incompatível com o projeto de um país “civilizado”. (GOUVÊA,
2005, p84)

No início do século XX surge o Mito da Democracia Racial, que pretendia provar,


pela ausência de discussão, a inexistência de conflitos motivados por questões
raciais. Criado por Gilberto Freire na década de 1930, afirma que a miscigenação da
sociedade brasileira dirime os preconceitos. Portanto, as portas da igualdade de
realização econômica, social e política estão abertas aos diversos grupos raciais
exatamente por não existir aqui discriminação que tenha por base a raça ou a cor.
Essa afirmação é base do racismo brasileiro atual e contribui, segundo SISS (2005,)
para que as desigualdades raciais continuem sendo mantidas fora da arena política,
local por excelência da resolução de conflitos.

Segundo Nilma Lino Gomes, é importante politizar o conceito de raça porque apesar
de ser um conceito sem validade do ponto de vista biológico, na esfera social e
política, ele é relevante ao se pensar os lugares ocupados e a situação dos negros e
brancos em nossa sociedade.

“O debate sobre racismo e cultura negra é uma discussão política. Ao não


politizarmos a raça e a cultura negra, caímos fatalmente nas malhas do racismo
e do mito da democracia racial”. (GOMES, p.23, 2003)
22

Estes conceitos ideológicos, construídos sob influência da sociedade escravista e


discriminatória se fazem presentes até hoje, regulam as relações sociais entre
negros e brancos e são introjetados nos indivíduos pela cultura, que tem na escola e
na mídia seus principais difusores de representações imagéticas negativas sobre o
afro-descendente.

Para compreender como estas representações são processadas no imaginário do


indivíduo negro vejamos o que Stanley Took Williams 3(REDENÇÃO, 2003) fala
sobre os estereótipos.

Segundo ele, quando o indivíduo é agredido através de rótulos estereotipados que


agregam a si qualidades negativas, e quando lhe faltam referências para que
perceba o contrário, ele (o indivíduo) é levado a “comprar” os rótulos que lhe foram
impostos pela sociedade, regendo as suas ações de acordo com os estereótipos a
ele determinados. Ao mesmo tempo em que passa a odiar em si mesmo todas as
características mal vistas pelos outros, o que ainda segundo Stanley, pode levá-lo a
transferir todo esse ódio, muitas vezes de forma violenta, ao seu semelhante,
portador dos mesmos “vícios” e “defeitos” que ele próprio julga ter.

A maciça assimilação desses estereótipos na escola se torna uma questão mais


delicada durante a infância, visto que estes valores irão guiar todo o processo de
aprendizagem da criança,

“que terá toda a sua estrutura de pensamento impregnada por eles e através do
processo de acomodação4, ao longo do tempo, irá se afastar dos
questionamentos necessários para a livre formação da sua personalidade”
(DEIRÓ, 2005, p.18).

A internalização da negação do “outro” assemelhado étnico traz consigo sérias


conseqüências para a sociedade e contribui, entre outras coisas, com o aumento da
violência e a evasão escolar principalmente nas comunidades onde a presença do
afro-descendente é predominante.

3
Fundador da principal gangue de Los Angeles, os Crips, Stanley Took Williams III foi condenado à pena de
morte e executado em 2005. Durante o tempo que passou na prisão ele escreveu uma série de livros infantis
denunciando a ação e os perigos das gangues. Seus livros ajudaram a diminuir o número de jovens nas gangs e
lhe renderam indicações ao Prêmio Nobel, em 2001 ao Prémio Nobel da Paz e posteriormente ao Prémio Nobel
de Literatura.
4
A assimilação e a acomodação são fenômenos que juntos explicam a adaptação intelectual e o
desenvolvimento das estruturas cognitivas. Segundo Piaget (p. 18, 1996), acomodação é “toda modificação dos
esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores (meio) ao quais se aplicam”. (N.A)
23

Embora, em uma análise superficial, as relações entre as representações imagéticas


do negro (suas conseqüências), o racismo e a posição dos descendentes de
africanos na sociedade pareçam ser apenas circunstanciais, basta um olhar mais
atento para perceber um intricado sistema de discriminação, com base na cor da
pele, que se perpetua utilizando-se ao mesmo tempo da difusão de imagens
discriminatórias e da invisibilização dos afro-descendentes.

Nos livros didáticos de história os negros só são mostrados até o período da


escravidão e sempre na condição de escravizados. Os protagonistas de filmes e
novelas em sua maioria possuem o fenótipo ariano, assim como a esmagadora
maioria dos modelos publicitários expostos em outdoors, mobiliários urbanos e
diversas outras peças de orientação do consumo espalhadas pela cidade.

Até o início do século XX os cidadãos negros eram pouco representados nos livros
didáticos. Neste período predominavam as teorias racistas e o desejo de
branqueamento da sociedade amparado pelas elites dominantes que não mediam
esforços no sentido “clarear” a população do país.

Esses esforços tinham grande repercussão no conteúdo dos livros didáticos da


época que não escaparam do bombardeio ideológico da teoria do branqueamento,
como podemos ver abaixo neste texto extraído de um livro de literatura e língua
portuguesa de 1919,

Tamil disse-nos que os primeiros homens que foram criados viviam à margem de
um grande rio, que fica para lá, Disse Pérola da Manhã, apontando para o norte.
Eram todos pretos. Mas, alguns deles que sabiam nadar, atravessaram o rio
para o outro lado. A água lavou-os e eles ficaram brancos. Desde então, os
homens brancos estão sempre a estender os braços, convidando os homens
pretos a também atravessarem o rio (...) eu também desejava atravessá-lo nado,
a fim de tornar-me branca. (ANDRADE, 1919, p. 32 apud GOUVÊA, 2005, p.86)

Excluídas representações pejorativas como a do trecho descrito acima, na maioria


dos livros didáticos, os negros nem eram citados, exceto apenas, segundo DEIRÓ
(2005), nos livros de história e mesmo assim apenas quando o assunto era a
escravidão ou em alguns casos quando se tratava da Guerra do Paraguai.
24

Assim sendo, pode-se dizer que até a terceira década do século XX deu-se a
invisibilização sistemática do negro no livro didático brasileiro. Só a partir da
década de 1930, com o surgimento da discussão em torno de uma brasilidade e da
afirmação de sua composição étnica, pautada no mito da democracia racial, o negro
passa a ter o seu espaço nos livros utilizados na escola.

No entanto, “A negra e o negro velho transformaram-se em personagens constantes,


como agentes socializadores das crianças brancas, numa posição de servidão que
revela a continuidade com o modelo escravocrata”. (GOUVÊA, 2005, p84)

O resgate do negro e da negra contadores de histórias na década de 30 se dá a


partir de uma perspectiva de folclorização desses personagens, relacionados a uma
tradição situada no passado e que ia de encontro aos ideais de modernização e
desenvolvimento do país.

Desde então, as representações estereotipadas do negro e da negra no livro


didático e paradidático tornaram-se recorrentes, porém na maioria das vezes
passam despercebidas aos leitores, em sua maioria crianças e jovens em plena
formação de suas personalidades. O desejo de negar a matriz africana na
composição étnica na nossa sociedade está presente de forma clara na obra de um
dos mais conhecidos autores da literatura brasileira. Como podemos ver neste texto
do livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, autor que teve espaço
garantido em vários livros de gramática e literatura da época,

Tia Nastácia, não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta. — Que
não seja boba e venha — disse Narizinho — eu dou uma explicação ao
respeitável público... — Respeitável público, tenho a honra de apresentar (...) a
Princesa Anastácia. Não reparem ser preta. É preta só por fora, e não de
nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até
que encontre um certo anel na barriga de um certo peixe. Então, o encanto
quebrar-se-á e ela virará uma linda princesa loura. (LOBATO, 1931, p.206)

Nesta passagem, de um dos mais famosos livros infantis da nossa literatura, o autor
deixa transparecer que ser “preta de nascença” é um motivo de vergonha, além de
deixar explícito o modelo estético a ser buscado, quando simbolicamente o encanto
se quebrar e a personagem se tornar “uma linda princesa loura”.
25

Textos como este, imputados no imaginário da sociedade pelo ensino oficial,


veiculam e perpetuam ainda hoje o racismo existente na ideologia dominante, que
insiste em inculcar a branquidade normativa e invisibilizar o negro nas
representações textuais e imagéticas contidas nos livros didáticos onde,

(...)a criança negra é ilustrada e descrita através de estereótipos inferiorizantes


e excluída do processo de comunicação, uma vez que o autor se dirige apenas
ao público majoritário nele representado, constituído, por crianças brancas de
classe média. (SILVA, 2001, p.14).

Diversas pesquisas já foram realizadas no sentido de identificar e o racismo


presente nos livros didáticos do ensino oficial. Nestas pesquisas é possível perceber
como a representação imagética pejorativa se a alia aos textos preconceituosos
agregando força e pregnância ao discurso racista destes materiais.

Tão importante quanto a educação formal, quando se trata de construir conceitos e


disseminar ideologias, a publicidade é mais um veículo onde as imagens e os textos
são utilizados para propagar discursos racistas e discriminatórios

Em uma sociedade regida pelo consumo, a publicidade cada vez mais toma para si
o papel de formadora de opinião e orientadora do estilo de vida da população,
independente de classe social. Conseqüentemente, ao se estudar as peças
publicitárias e as formas como o negro é representado nos veículos de marketing,
faz-se uma análise do papel ocupado pelos afro-descendentes no imaginário social.

Com base nesta constatação, diversas pesquisas já foram realizadas no Brasil com
o intuito de analisar como é feita a representação dos afro-descendentes na mídia
impressa e na publicidade.

Em 1988 Carlos Hasenbalg realizou um estudo sobre a representação do negro em


publicidade. Na ocasião registraram-se peças publicitárias com personagens
humanas de canais de televisão do Rio de Janeiro e as peças publicitárias
impressas em sete revistas publicadas no mês de abril de 1981.

Nesta pesquisa Hasenbalg constatou que o índice de “branquidade” na publicidade


era de 30, ou seja, para cada pessoa de pele escura representada foram veiculadas
30 pessoas de pele clara. Diante dos dados expostos a pesquisa concluiu que:
26

A tendência geral era de opção por modelos de estilo nórdico. A escolha de uma
“estética ariana”, que privilegia os traços nórdicos, além da pele clara também
olhos e cabelos, e desvaloriza os traços fenotípicos das populações negra e
indígena. ROCHA & SILVA (2006, p. 09)

Vale ressaltar ainda que mesmo nas poucas vezes onde a imagem do afro-
descendente foi veiculada, prevaleceu a tendência ao uso de estereótipos e da
representação do personagem negro em situação de inferioridade social.

Em 2006, em uma pesquisa semelhante observou-se pequenas mudanças positivas


na forma de representação da diversidade racial na publicidade. No entanto,
constatou-se que apesar do índice de “branquidade” ter reduzido para 10.9, ainda se
mantinha a estereotipia. Concluiu-se ainda que,

Além da sub-representação, permanecem outras formas de hierarquia racial,


mantendo tendência a representação de estereótipos para personagens negras,
mantendo espaços preferenciais de subalternidade para personagens negras e
associando branquidade e humanidade, atribuindo a personagens brancas o
status de norma social. ROCHA & SILVA (2006, p. 10)

Na cidade de Salvador/BA, nos dias atuais o negro está aos poucos ocupando um
espaço mais representativo no campo da publicidade. Mas, quando se sabe que
esta é a cidade, fora do continente africano, que possui a maior população negra em
seu território nota-se que o percentual de afro-descendentes na publicidade
soteropolitana ainda está muito distante da realidade de mais de 80% dos seus
habitantes.

Os movimentos negros questionam a branquidade normativa, e em determinados


momentos, conseguem resultados como a implementação de leis que determinem a
diversidade5. Porém em um país como o Brasil que possui mais da metade da
população afro-descendente os frutos dessas ações tem um efeito
proporcionalmente diminuto. Entretanto é válido mostrá-los e enaltecer a importância
de campanhas que contemplem a diversidade étnica e de gênero.

5
Lei n.o2325 de 1995, que obriga a Prefeitura do Rio de Janeiro a incluir cotas 40% de atores e modelos negros
em seus comerciais. Projeto de lei dos então vereadores Antonio Pitanga e Jurema Batista
27

As peças abaixo foram veiculadas em Salvador/BA e Região metropolitana em um


grande jornal local. A campanha teve ampla aceitação do público alvo e aumentou
consideravelmente as vendas do produto, segundo informações da agência
responsável pelo trabalho.

IMAGEM III - Campanha da Avance Telecom (Grupo A Tarde)– Kátia Flávia Design (2009)

Este tipo de campanha, exemplo de diversidade bem aplicada em peças


publicitárias, é fruto da pressão dos movimentos sociais e vai de encontro à maioria
dos materiais veiculados pela mídia. Que costuma invisibilizar o afro-descendente,
mesmo quando este é uma grande parcela do seu público consumidor. As imagens
abaixo são capas de catálogos de venda de produtos de grande circulação no
Subúrbio Ferroviário de Salvador.
28

Nas peças abaixo, assim como em todos os números destas revistas, a branquidade
normativa se faz presente.

IMAGEM IV - Capas dos catálogos Via Blumenau e Hiroshima

Em pesquisa realizada pelos estudantes das turmas de história do Professor Jorge


Antônio Batista no Colégio Estadual Almirante Barroso, constatou-se que em
nenhum número de ambos os catálogo acima havia sido veiculada fotografia de
modelos de pele negra. Fato que impressiona pela quantidade de modelos
representadas por catálogo (praticamente todas as páginas são ilustradas por mais
de uma figura humana) e pelo público alvo que estes catálogos atingem, formado,
em sua maioria, por moradores afro-descendentes da periferia.

A reprodução de imagens fotográficas é a principal técnica utilizada no mundo


contemporâneo para difundir representações imagéticas.

A fotografia assume desta forma um papel importante na construção do imaginário


social e na codificação do mundo aceita pela sociedade. O que torna indispensável
uma educação do olhar fotográfico que contemple os conhecimentos necessários
para se produzir e/ou para se interpretar esse tipo de imagem.
29

3.0. A fotografia como ferramenta de arte-educação

Descodificar as fotografias (entendê-las e reconfigurá-las), produzir novas imagens e


dar um novo sentido a sua descodificação são passos necessários quando se
objetiva a construção do pensamento crítico, através da análise da imagem, em
indivíduos em processo de educação formal.

Para tanto é imprescindível a participação ativa dos excluídos das representações


convencionais da realidade, sua visão de mundo, seu corpus e suas vivências
particulares.

A arte-educação é um terreno fértil para se discutir e re-configurar, a partir da


escola, o papel reservado aos negros nas representações imagéticas da realidade.
Para tanto, o estudo e a prática da fotografia como técnica artística é um forte aliado
na codificação das situações reais experimentadas pelos afro-brasileiros.

Paulo Freire (2005) afirma que a codificação (e a descodificação) de situações reais


em forma de textos, músicas, imagens, etc. são importantes porque colocam os
sujeitos fora do acontecimento real, criando um distanciamento que possibilita uma
percepção livre do pragmatismo da vivência empírica e permite uma análise crítica
da situação vivida.

Em um círculo de cultura, descrito no livro “Pedagogia do Oprimido” uma mulher


simples do povo, diante de uma situação representada em uma imagem no quadro,
resumiu a importância da codificação e da descodificação: “Gosto de discutir sobre
isso porque vivo assim. Enquanto vivo, porém, não vejo. Agora sim, observo como
vivo” FREIRE (2005, p. 13).

No exemplo abaixo o jovem articula uma análise da sua própria realidade que ele
percebeu apenas no momento que olhou a fotografia (código) e a descodificou
baseando-se na sua vivência, nos seus anseios e necessidades.

Consegui tirar uma foto de meninos brincando em um lixão, em um campo


improvisado e na maior alegria. Então eu pensei: Será que os governantes não
vêem estas coisas? Será que só nós suburbanos não temos direito de ter a
globalização? Será que não podemos ser cidadãos globalizados com quadras de
esporte e um lugar decente para nossas crianças brincarem?

(Jeferson dos Santos, Estações do olhar, 2009).


30

IMAGEM V - São João - Salvador, Bahia.

O código (signo) fotográfico possui um caráter documental, relacionado a uma


realidade concreta. No entanto essa realidade é apenas uma representação que
possibilita ao observador imaginá-la e interpretá-la de acordo com os seus próprios
paradigmas. No caso do jovem citado acima, a análise veio apenas a partir da
observação da imagem documental produzida por ele próprio.

A imagem fotográfica é uma espécie de gatilho que dispara a imaginação e a


interpretação dos signos fixados na imagem documental. Tal interpretação se dá
com base nas nossas experiências do passado, nas nossas ficções e realidades.

O processo de construção da realidade fotográfica acontece a partir de dois pontos


distintos - do ponto de vista do fotógrafo e do ponto de vista do observador.

Boris Kossoy (2005) chama de “Primeira Realidade” a imagem captada pelo


fotógrafo no instante do acontecimento do fato registrado. Fixa e imutável, ela já se
encontra imbuída do olhar de quem a produz, que por sua vez tem seus paradigmas
moldados pela cultura. Esta primeira etapa da construção do signo “se refere à
realidade do assunto no seu contexto espacial e temporal, assim como à produção
da representação” (KOSSOY, 2005, p. 49).
31

A fotografia, registro criativo do assunto fotografado, corresponde, ainda segundo


KOSSOY, à “Segunda Realidade”, a do documento, sujeito a uma série de
interpretações diversas em sua trajetória ao longo do tempo e do espaço.

Esta segunda etapa da interpretação é onde os diferentes observadores


descodificam as imagens fotográficas de acordo com suas visões de mundo,
completando, desta forma, o complexo processo de construção de realidades.

Logo, o sentido das fotografias, ao contrário do que se imagina, não possui uma
verdade absoluta, está condicionado, desde o momento da sua criação, aos valores
e às verdades de quem as produz e de quem as observa.

Reafirma-se, deste modo, a importância da produção de imagens fotográficas por


parte da parcela da população excluída nas representações convencionais. Visto
que “o registro da câmera ou de quem a conduz pode conter diferentes imagens ou
pontos de vista da mesma história. Depende apenas do olhar.” PESTANA (2009).

Atualmente, devido ao largo acesso à dispositivos de captura de imagens digitais


como: celulares, câmeras digitais automáticas de baixo custo, etc. as novas
gerações já possuem um nível intermediário de alfabetismo visual e de certa forma
já atuam no papel de produtores de imagens fotográficas.

Ademais, nunca se produziu tantas imagens como nesta última década e essa
profusão de imagens fotográficas acaba por banalizar o processo de captação e
apreciação de fotografias, esvaziando de sentido os signos produzidos pelo senso
comum.

Sistematizar essa produção, compreender a importância dela e torná-la uma


experiência de reflexão por parte dos novos fotógrafos e seu público são os desafios
que uma experiência pedagógica em fotografia enfrenta nos dias de hoje.

No entanto, este desafio é facilitado pelo fascínio que a fotografia, sua prática e sua
observação exercem nos seres humanos. A fotografia faz o indivíduo pertencer à
situação representada, é um campo onde se resgata ou se fabrica memórias, com
base em experiências individuais ou por influência da cultura na qual o observador
está inserido.
32

BARTHES (1984) chama de “Studium” o fenômeno cultural que gera o interesse do


ser humano pela fotografia. Segundo ele, Studium seria a “aplicação a uma coisa, o
gosto por alguém, uma espécie de investimento geral, ardoroso”.

É pelo Studium que me interesso por muitas fotografias, quer as receba como
testemunhos políticos, quer as aprecie como bons quadros históricos: pois é
culturalmente que participo das figuras, das caras, dos gestos, dos cenários, das
ações. (BARTHES, Roland, 1984, p. 45)

Em seguida o autor identifica mais um elemento na fotografia ao qual ele dá o nome


de “punctum”. Punctum seria o “acaso”, em forma de um detalhe, que como uma
flecha salta à fotografia atingindo o observador, “ferindo-o”. É o punctum que leva o
observador a destacar uma fotografia dentre tantas outras que ele julga possuir
algum valor.

O studium é uma espécie de saber convencionado que permite ao observador viver


as intenções do fotógrafo, compartilhar as premissas da sua prática. O punctum é
acionado por detalhes que extrapolam as convenções sociais e está intrinsecamente
relacionado com as experiências e sensações particulares do observador.

Cabe ao educador intermediar os efeitos do Studium na prática fotográfica dos


jovens educandos, de modo a minimizar os efeitos negativos da ideologia
dominante. Para tanto é necessário estabelecer um acordo, através dos debates nos
círculos de cultura, que possibilite a desconstrução dos estereótipos pré-
estabelecidos pela cultura.

Ao se trabalhar a arte-educação através da fotografia a partir de uma perspectiva


antropológica, deve-se ter em mente que é o punctum que desencadeia os
sentimentos que formam a visão original do indivíduo, sujeito da pesquisa, é nele
que encontraremos o olhar individualizado do “nativo”, possivelmente muito diverso
do olhar meramente efêmero e superficial do “estrangeiro”.

Abaixo, um exemplo de como um simples detalhe na fotografia pode trazer à tona


memórias adormecidas e resgatar/produzir sentimentos.
33

IMAGEM VI -Subúrbio Ferroviário - Salvador, Bahia.

De todas as fotos, uma das que mais me chamou a atenção foi a que mostra
dois meninos em um bairro simples, no meio da rua, descalços, brincando de
bola, com um sorriso imenso no rosto, gosto disso. Nela eu vejo que mesmo em
meio a tantos problemas, falta de infra-estrutura, eles encontraram uma maneira
simples de se divertirem, enquanto algumas vão para o mundo do crime, outras
vão para as ruas e outras não desgrudam dos jogos eletrônicos, eles preservam
uma tradição de brincadeiras que nossos pais e avós brincavam. E me lembrei
também muito da minha infância, quando eu e outras crianças ficávamos
brincando o dia todo na rua, de brincadeiras tão simples, mas que nos
proporcionavam muita diversão. Esses sim eram momentos inesquecíveis, e
tenho certeza que para eles, aquele momento no meio da rua, brincando de
bola, também foi.

(Andressa S. Ferreira, Estações do olhar, 2009)

No exemplo acima, o sorriso e a brincadeira dos garotos (punctum) desencadeou na


estudante uma série de impressões ligadas às suas vivências particulares, levando-
a a descodificar a imagem à sua maneira e a realizar uma análise crítica de uma
situação real vivida pelos jovens de sua comunidade.

Além de permitir a inclusão visual dos jovens, enquanto produtores e observadores


de imagens, a prática pedagógica da fotografia possibilita o tão necessário processo
de alfabetismo visual.

Para RUDOLFH ARHEIN (2008) “A capacidade inata para entender através dos
olhos está adormecida e deve ser despertada. E a melhor maneira é manusear
lápis, pincéis, escalpelos e talvez câmeras”.
34

Segundo DONDIS (2007), a experiência visual humana é fundamental no


aprendizado para que possamos compreender o meio ambiente e reagir a ele. No
entanto, para nós, a ação de ver é tão natural que nos esquecemos da
complexidade contida no ato de enxergar.

O alfabetismo visual pode ser comparado ao alfabetismo verbal. Existem diversos


níveis de inteligência visual, assim como existem diversos níveis de aplicação do
alfabetismo verbal, o que torna pessoas capazes de escrever poesias e outras não.
Pessoas com um nível maior de alfabetização visual são capazes de produzir ou
analisar de forma mais proveitosa uma fotografia, uma tela ou um vídeo longa-
metragem.

“Na verdade, o alfabetismo visual [...] eleva nossa capacidade de avaliar acima da
aceitação (ou recusa) meramente intuitiva de uma manifestação visual qualquer.
Alfabetismo visual significa uma inteligência visual.” (DONDIS, 2007, p. 231).

Tudo isso faz do alfabetismo visual um ponto importante a ser observado pelo
educador. Maior alfabetismo visual significa uma maior compreensão do meio
ambiente e conseqüente construção de uma visão individualizada da realidade.

DONIS. A. DONDIS defende a idéia da existência de uma sintaxe visual que


possibilita uma sistematização do aprendizado. Segundo a autora,

Há elementos básicos que podem ser apreendidos e compreendidos por todos


os estudiosos dos meios de comunicação visual, sejam eles artistas ou não, e
que podem ser usados, em conjunto com técnicas manipulativas, para a criação
de mensagens visuais claras. O conhecimento de todos esses fatores pode levar
a uma melhor compreensão das mensagens visuais. (idem, p. 18).

Ao se trabalhar a análise e a prática da fotografia é necessário que estes elementos


básicos sejam explorados e compreendidos pelos educandos que, ao familiarizarem-
se com eles, naturalmente irão estar mais capacitados para produzir imagens e
compreender melhor a linguagem visual muito além do senso comum.
35

Os elementos básicos da sintaxe visual tornam a construção de imagens,


fotográficas ou não, um processo intencional, possibilitando a manipulação do
sentido e o questionamento de signos pré-estabelecidos. Logo, a inclusão visual,
através do alfabetismo, é indispensável na formação da consciência crítica do
mundo e na transformação dos educandos em atores ativos na construção das
representações imagéticas da sociedade.

Na tabela abaixo, estão listados os elementos básicos da linguagem visual.

Ponto Cor

Linha Textura

Forma (círculo, quadrado, triângulo) Escala

Direção Dimensão

Tom Movimento
TABELA 1: Elementos básicos da sintaxe visual

Não é o objetivo desta pesquisa explanar sobre cada um dos elementos acima,
basta apenas dizer que através da compreensão e do uso combinado deles é
possível sistematizar a produção e a análise técnica-formal de qualquer imagem.

A utilização da fotografia como ferramenta de arte-educação possibilita ainda o


estudo das teorias da imagem e das categorias conceituais que regem a forma e a
composição. Visto que estes conteúdos são inerentes à prática fotográfica e
pressupostos básicos da fotografia seja ela artística ou meramente documental.

6
Assim sendo, a teoria da gestalt e conceitos como: configuração da forma,
enquadramento, linhas condutoras, equilíbrio tonal, forças perceptivas, unidade,
pregnância, perspectiva, regra dos terços, entre outros, são apenas alguns dos
conteúdos teóricos relacionados às artes visuais que podem ser estudados através
da prática da fotografia em um processo de arte-educação.

6
Teoria psicológica alemã do início do século XX que trata dos princípios da organização perceptiva. A gestalt
acredita que O todo é mais do que a soma das partes que o constituem. Por exemplo: uma cadeira é mais do
que quatro pernas, um assento e um encosto. Uma cadeira é tudo isso, mas é mais que isso: está presente na
nossa mente como um símbolo de algo distinto de seus elementos. (N/A)
36

Se tratando de um contexto mais interdisciplinar, o estudo e a prática da fotografia


mantém estreitas relações com áreas como a física, química, matemática e história
devido à tecnologia envolvida e os métodos de procedimento do fazer fotográfico.

Em uma aula de laboratório da oficina de fotografia pinhole 7 realizada durante a


pesquisa foi apresentada a composição química dos produtos envolvidos no
processo de revelação. Durante uma visita à galeria pode-se debater sobre a função
social e a história da fotografia. Em outro momento foi possível discutir sobre óptica
e números fracionários enquanto se explicava a função do obturador e do diafragma
da câmera fotográfica.

Portanto, a fotografia é uma ferramenta que possibilita a integração entre as artes e


as disciplinas mais cartesianas do currículo escolar. No campo social, a
compreensão dos processos de produção e apreciação de imagens fotográficas leva
o educando a aprimorar a sua visão de mundo e a construir uma visão crítica da
realidade.

A fotografia, acima de tudo, exerce uma grande fascinação nos jovens estudantes,
seja pelo seu caráter de “nova tecnologia”, ou seja por motivos culturais.

Tal fato facilita a interação com os educandos e estimula a participação destes no


rico processo de ensino-aprendizagem proporcionado pelo estudo da fotografia
enquanto ferramenta de arte-educação.

7
A fotografia pinhole permite que você faça uma foto necessitando apenas de um recipiente protegido contra a
luz (caixa, lata, etc.) com um pequeníssimo furo e contendo material fotossensível em seu interior.
37

4.0 A representação fotográfica dos afro-brasileiros na cidade de


Salvador e suas implicações na construção da identidade étnica

A técnica da fotografia (história)

• Niépce

• Daguerre

• Florence

• Padre em Salvador

• Anúncios em Salvador

• Falar da luz e da importância dos retratos (status social)

A fotografia do negro em Salvador (histórico)

• Negros cativos (posse, poder)

• Negros alforriados (posse, poder)

• Exótico (europeus)

• Etnográfico

• PIERRE VERGÊ

• LÁ E CÁ – SALVADOR NEGRO AMOR

• Jorge ilha

• Editorial de moda Adidas da revista Muito

• Identidade étnica, como? porque?

Carlos Rodrigues Brandão, em seu livro Identidade e Etnia(1986) diz:


[...] as identidades são representações inevitavelmente marcadas pelo confronto com o outro: por se
ter estado em contato, por ser obrigado a se opor, a dominar ou ser dominado, a tornar-se mais ou
menos livre, a poder ou não constituir por conta própria o seu mundo de símbolos e, no seu interior,
aqueles que qualificam e identificam a pessoa, o grupo, a minoria, a raça, o povo. Identidades são,
mais do que isto, não apenas o produto inevitável da oposição por contraste, mas o reconhecimento
social da diferença.
38

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Identidade e etnia: construção de pessoa e resistência cultural. São
Paulo: Brasiliense, 1986.
APUD

ALESSANDRA CAVALCANTI DOS SANTOS, MONOGRAFIA, MACEIÓ, 2008, PAG 30

A motivação de pertencer favorece o instinto gregário e a consciência de que o homem existe,


também na sua individualidade. (MACHADO, Vanda, 2002, p.76)
39

5.0 Estações do Olhar

Estações do Olhar foi um projeto de arte educação idealizado com apoio do Coletivo
Luxco Fluxo em uma parceria com a estudante Rosa Bunchaft. Tal projeto foi
registrado como uma atividade de extensão da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia e tem como plano de fundo a malha ferroviária do
Subúrbio Ferroviário de Salvador.

Trata-se de uma atividade prática-pedagógica que envolve o ensino e a


experimentação do processo fotográfico, suas bases históricas, técnicas, artísticas e
sociais relacionadas com a história do subúrbio e a imagem dos seus habitantes
diante do corpo social da cidade de Salvador.

Esta atividade têm como pressuposto básico a idéia de que a fotografia como
ferramenta de arte-educação pode tornar possível a valorização da estética e da
identidade étnica dos habitantes do Subúrbio Ferroviário de Salvador. Promover a
inclusão visual de jovens dessa região foi o principal objetivo do projeto.

O projeto Estações do Olhar buscou como objetivos específicos estreitar os laços


entre a academia e a comunidade do Subúrbio Ferroviário de Salvador, valorizar a
história e reconhecer as comunidades situadas no entorno da linha férrea, além de
contribuir com a construção da identidade étnica dos jovens e das jovens
participantes das atividades planejadas.

O projeto objetivou ainda captar imagens do entorno da via férrea sob o olhar dos
jovens do Colégio Estadual Almirante Barroso, localizado em Paripe e realizou
exposições, com o resultado final do trabalho de campo, tanto no Colégio quanto na
Escola de Belas Artes da UFBA.

O projeto foi dividido em 6 (seis) etapas metodológicas assim distribuídas:

1. Foram realizadas pelo Professor Jorge Batista, docente da cadeira de história


do C.E.A.B, aulas expositivas sobre história e contemporaneidade do bairro
de Paripe e das comunidades ao longo da linha férrea, visando a
sensibilização e a abordagem crítica sobre identidade e estética do Subúrbio
Ferroviário,
40

2. Oficina de princípios básicos da fotografia com atividades de laboratório e


fotografia pinhole, além de uma visita orientada à exposição do coletivo
Lusxco Fluxo.

3. Aula expositiva sobre construção do olhar, aspectos técnicos, históricos e


sociais da arte da fotografia.

4. Trabalho de campo durante um passeio de trem. Foram fornecidas


máquinas digitais aos jovens e às jovens participantes que registraram
imagens do trecho Paripe-Calçada-Paripe. Nesta etapa foram solicitados
textos dissertativos sobre a experiência de cada educando.

5. Através da realização de círculos de cultura baseados no método Paulo


Freire e na pedagogia Griô, foram feitas a análise e seleção das fotografias
que foram expostas.

6. Exposições de integração na Escola de Belas Artes e no colégio Estadual


Almirante Barroso. Nesta etapa foi realizada a aplicação de questionários
aos visitantes da exposição.

INSERIR PLANOS DE AULA

Falar sobre as datas e os locais onde aconteceram as oficinas

Para o Coletivo Luxco Fluxo a realização das atividades práticas e das oficinas
realizadas na Escola de Belas Artes – UFBA, na galeria do ACBEU e no Colégio
Estadual Almirante Barroso serviram como uma experiência piloto e base para a
realização de projetos semelhantes que prevêem a ampliação do recorte geográfico.

Para o presente trabalho, as oficinas integradas ao projeto Estações do Olhar


constituem-se como ferramentas de experimentação empírica e fazem parte dos
mecanismos de análise e confrontação dos dados teóricos com a prática
pedagógica.
41

Durante a realização das atividades planejadas observou-se o fascínio que o


ambiente acadêmico exerce sobre os educandos, em sua maioria concluintes do
ensino médio e ansiosos por prestar vestibular. A utilização do espaço físico e o
contato horizontal com professores e estudantes da academia, além de ser um
incentivo para estes jovens, proporcionou o aumento da auto-estima deles, o que é
justificado pela sensação de pertencimento a um espaço que lhes é negado
socialmente.

Do ponto de vista dos estudantes acadêmicos, o contato com uma realidade


diferenciada enriquece e humaniza a formação universitária e foi uma oportunidade
de compartilhar e trocar conhecimentos com pessoas que possuem uma visão de
mundo diversa da qual eles estão habituados.

A oficina de fotografia pinhole foi realizada no laboratório da Escola de Belas


Artes e ministrada por uma estudante da instituição. Nela os educando foram
levados a inferir de forma empírica sobre os aspectos físico-químicos do processo
fotográfico.

Todo o processo de montagem das câmeras fotográficas feitas com latas foi
realizado pelos próprios educando sob a orientação dos estudantes da Escola de
Belas Artes envolvidos no projeto.

IMAGEM VII –Oficina de fotografia pinhole (montagem das câmeras de latas)


42

A fotografia pinhole tem como característica a experimentação. Os tempos de


exposição são ajustados de forma empírica observando a incidência de luz e o
motivo a ser fotografado, neste processo foi interessante notar como os educandos
reagiram à frustração quando a fotografia não saia como planejado. Notou-se
também que as atividades práticas possibilitam o aprendizado de conceitos teóricos,
tanto quanto os debates e as aulas expositivas. O depoimento abaixo ilustra bem a
impressão dos educandos sobre o processo da oficina.

Nosso segundo contato foi na escola de belas artes, lá aprendemos o que é o


pin-hole , que são fotos tiradas em latas. Nós preparamos as latas, pintamos,
furamos e colocamos a proteção. Depois fomos ao laboratório, uma sala
totalmente escura só com algumas luzes vermelhas, pois a claridade pode
danificar o papel utilizado para tirar as fotos e a própria foto. Vimos os produtos
usados para revelar as fotos, o papel usado, aprendemos como funciona dentro
de uma máquina e colocamos o papel dentro da lata.

Em seguida fomos para uma praça tirar as fotos, algumas deram certo, outras
não, inclusive a minha. Como no pin-hole só podemos tirar uma foto de cada vez
e só podemos ver o resultado depois, estavam todos muito ansiosos. Na hora de
revelar as fotos, fui logo a primeira, mas quando vi o papel todo preto, não sabia
se ria ou se chorava, toda minha expectativa desmoronou, principalmente
quando vi a segunda foto que ficou a mesma coisa, toda preta. Eu estava triste e
decepcionada, e ao mesmo tempo queria dar risada, ainda mais que se a foto
tivesse dado certo ficaria tão linda, mas eu não desisti. Já estava no horário de ir
e minhas duas tentativas haviam falhado, pensei que ia ir embora sem tirar
minha foto, mas aí eu tive mais uma chance, e dessa vez deu certo. Quando vi o
resultado fiquei tão feliz, e satisfeita, finalmente havia dado certo, e agora eu
podia ir, com a sensação de dever cumprido. Esse dia foi o máximo, adorei ter
passado por essa experiência e ter conhecido aquele lugar, foi tudo nota 10.

(Andressa S. Ferreira, Estações do olhar, 2009)

IMAGEM VII–Oficina de fotografia pinhole (captação e revelação)


43

O segundo encontro foi uma visita orientada à exposição fotográfica do coletivo


Luxco Fluxo. Lá os estudantes, monitorados pelos integrantes do coletivo,
observaram e discutiram as imagens obtidas através de fotografias de uma câmera
escura instalada dentro de um vagão de trem.

A discussão sobre a estética do trabalho exposto foi o pano de fundo para o debate
sobre o papel social da imagem. Neste encontro discutiu-se sobre a história da
fotografia e os aspectos físico-químicos de sua prática. Nesta visita os estudantes
puderam apreciar protótipos de câmeras-escuras de vários tipos. Buscou-se com
esta visita utilizar o lúdico como forma de compartilhar conhecimentos.

IMAGEM IX – Visita orientada à galeria ACBEU

Uma frase dita durante as conversas ilustra bem o papel do lúdico e das analogias
no processo cognitivo. Um educando, ao falar sobre o processo de fixação da
imagem em suportes físicos (filme, vidro, papel) expressou da seguinte forma o que
entendeu do assunto: “Se não existisse câmera a foto ficaria apenas em nossa
mente como nosso filme mental.” (Messias S. Santos – Estação do olhar -2009)
44

5.1. Análise do trabalho de campo e exposição

Foram considerados como objetos de análise do Projeto Estações do Olhar não só


as fotografias, produto final das oficinas, mas também os comportamentos e os
depoimentos dos facilitadores, educandos e dos espectadores da exposição final.

Apesar de neste trabalho a utilização de textos, questionários e do recurso da


avaliação processual terem sido ferramentas importantes na coleta e na análise das
informações, muitas vezes lançou-se mão, na elaboração deste capítulo, da
descrição das impressões pessoais sobre os fatos constatados pelos facilitadores
durante o processo empírico.

Tal opção metodológica justifica-se pela dificuldade de se captar através de


questionários, gráficos, textos ou entrevistas, sutilezas perceptíveis apenas durante
o convívio proporcionado pelo compartilhamento das vivências e pela prática
dialógica da pedagogia.

A partir dessa premissa que foi realizada a interpretação dos dados obtidos durante
os círculos de cultura, aulas expositivas e atividade de campo, contidas no processo
empírico.

Devido ao grande número de fotografias obtidas na atividade de campo fez-se


necessária uma seleção prévia do material. Esta seleção foi feita observando
critérios puramente técnicos tais como a qualidade da luz, foco e/ou
enquadramento. Buscou-se, nesta etapa do processo, eliminar apenas as fotografias
que não atendessem os critérios mínimos de qualidade nos quesitos acima
estabelecidos.

Observou-se um grande número de fotografias fora de foco e tremidas. Atribui-se tal


fato à dificuldade de se fotografar em um trem em movimento. No entanto, esta
condição inóspita a princípio, foi aproveitada por alguns educandos que obtiveram
resultados favoráveis explorando a utilização de longa exposição com motivos em
movimento, como na foto abaixo.
45

IMAGEM VII –Longa exposição de um motivo em movimento

Após esta triagem,

Interseções

5.4 Análise Pedagógica

(colocar e comentar aqui trechos das redações e fotografias onde podem ser
observados os conceitos estudados)

Depoimentos

(aqui irei colocar minhas impressões sobre as fotografias e redações, suas


relações com a questão étnica, auto-estima e identidade dos jovens)

5.5 Análise da Exposição

(colocar e comentar os gráficos gerados a partir dos questionários )


46

6.0 CONCLUSÃO

Antes de fazer as considerações finais sobre esta pesquisa é importante esclarecer


as condições nas quais a atividade prática foi realizada. O planejamento e a
execução das atividades do Projeto Estações do Olhar foram realizados em paralelo
e toda a experiência foi tratada como um trabalho em processo de construção.

Deste modo alguns pontos acabaram sendo deixados de lado e muitas


necessidades só foram percebidas depois do encerramento do projeto. Mesmo que,
de forma geral, isto não tenha inviabilizado a experiência, ao tentar reproduzi-la será
importante atentar para alguns detalhes relacionados ao tempo, ao número de
participantes e principalmente com as formas de repercussão da atividade dentro da
comunidade na qual ela foi realizada.

Dado as condições restritivas inerentes a projetos com pouca verba e prazo exíguo,
a amostra teve que ser reduzida e não foi possível dá uma maior visibilidade ao
projeto dentro do Colégio durante a realização das oficinas.

Se por um lado o número reduzido de participantes tornou viável a realização das


oficinas e do trabalho de campo, por outro, criou um distanciamento entre os
estudantes que participaram e os que não fizeram parte da experiência.

Isto exposto, fica clara a necessidade de ampliar a amostra da pesquisa, além de


aumentar a participação e o envolvimento dos professores e estudantes do colégio.
Para tanto uma alternativa apropriada seria a realização de mesas redondas,
palestras e debates que teriam como tema gerador as fotografias da exposição do
projeto Estações do Olhar.

Apesar das observações acima, o Projeto Estações do Olhar cumpriu com os seus
objetivos e foi muito bem aceito pela comunidade do Colégio Estadual Almirante
Barroso.

Ademais, como forma de contemplar os itens acima descritos, planeja-se a


realização de uma mesa redonda e uma exposição na Escola de Belas Artes da
UFBA, nas quais estarão presentes representantes do corpo docente, pais e
estudante do Colégio, além da comunidade da Escola de Belas Artes.
47

Esta pesquisa proporcionou a aproximação institucional entre o Colégio Estadual


Almirante Barroso e a Universidade Federal da Bahia, no caso, representada pela
Escola de Belas Artes.

A utilização dos laboratórios e salas de aula de ambas as instituições, a visita à


galeria de arte, orientada por estudantes do curso de Artes Plásticas e as
exposições realizadas no Colégio e na Galeria Cañizares, contemplaram a troca de
conhecimentos entre a comunidade do Subúrbio Ferroviário e a Universidade,
representadas pelos seus estudantes e professores.

No que se trata do potencial da fotografia como uma ferramenta de arte-educação,


pôde-se notar, no desenrolar deste projeto, que a imagem fotográfica é um elemento
fundamental na construção de conceitos ideológicos.

Portanto, quando se trata de promover um processo de inclusão visual através da


fotografia é importante que ela esteja integrada e seja decodificada no contexto
particular da comunidade na qual ela está inserida.

A fotografia é uma técnica que transita entre diferentes campos do conhecimento,


logo o processo de arte-educação através do ensino dela é um campo propício para
práticas pedagógicas interdisciplinares.

Aprender a fotografar, através de um projeto de arte-educação, mostrou-se, no


decorrer deste trabalho, uma possibilidade atraente de introdução ao aprendizado de
diversas disciplinas.

Foi possível perceber ainda, que através do estudo da técnica fotográfica os


educandos foram levados a conhecer e se familiarizar com os conceitos construtivos
básicos das artes visuais. O conhecimento destes conceitos permitiu a
sistematização da criação e captura de imagens e possibilitou um ganho técnico
significativo na produção fotográfica dos jovens participantes das oficinas.

Ademais, quando inseridas em sua comunidade, a captura (codificação) e a análise


das imagens (descodificação) atuaram, junto ao educando, como motivações
básicas de pertinência.
48

Ao se identificar com o espaço e as personagens representadas nas fotografias


expostas em um ambiente que as legitimou enquanto obra de arte, portanto de
forma positiva, os jovens educandos se sentiram parte dos grupos e dos territórios
ali representados.

A sensação de fazer parte de determinado grupo ou etnia, além de ser importante


para a elevação da autoestima, estimula a idéia de pertencimento e é o princípio
básico da formação da identidade, visto que “a motivação de pertencer favorece o
instinto gregário e a consciência de que o homem existe, também na sua
individualidade” (MACHADO, Vanda, 2002, p.76).

Logo, de acordo com a análise das reações do público à exposição e de acordo com
os textos produzidos pelos educandos, é possível afirmar que a fotografia atuou
como um mediador ao desenvolvimento do pensamento analítico da dimensão
simbólica da imagem.

Essa tomada da consciência crítica através da análise simbólica da fotografia


estimulou o (re) conhecimento da comunidade do Subúrbio Ferroviário que por sua
vez, através do conceito de alteridade8 e do reconhecimento social das diferenças,
deu subsídios aos educandos para uma reflexão acerca da sua identidade étnica.

Com a experiência adquirida com este trabalho buscarei a partir de agora dar
continuidade a pesquisa sobre a representação imagética do negro na sociedade.
Na tentativa de ampliar os horizontes desta investigação pretendo abordar as
representações em mídias audiovisuais.

Para tanto, um desdobramento já planejado do presente trabalho é a realização de


um projeto audiovisual em parceria com alguns estudantes do Colégio Estadual
Almirante Barroso durante o semestre letivo 2010.1, na disciplina Produção e
Análise da Imagem, lecionada por mim na Escola de Belas Artes-Ufba.

8
O conceito de alteridade afirma que a existência do "eu-individual" só é permitida mediante o contato com o
outro.
49

Pretende-se realizar, no decorrer do próximo semestre 5 “programetes” para


televisão de 1 minuto cada, ensinando o telespectador a realizar penteados afros.
Em parceria com o professor Jorge Antônio Batista busca-se com esta atividade dar
continuidade ao seminário “Cabelo e Identidade”, realizado pelo mesmo durante a
semana da consciência negra, em 2009, no Colégio Estadual Almirante Barroso.
50

7.0 REFERÊNCIAS

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ARNHEIM, Rudolf, 1904-1997 Arte e percepção visual: uma psicologia da visão


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52

8.0ANEXOS

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