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“O amor nos deixa em um estado de entrega, somos possuídos por ele, e isso é universal.

A
poesia em seus melhores momentos também faz isso. Assim como não podemos explicar a
força do amor, também não entendemos o poder da poesia”, comparou Derek Walcott, durante
o painel que encerrou os eventos de sábado, na VII Fliporto. Em conversa com o poeta
pernambucano Marcus Accioly, Walcott se mostrou um apaixonado pela poesia e falou sobre
sua principal obra, Omeros (Cia. Das Letras).
Prêmio Nobel de Literatura em 1992, Walcott resistiu em classificar seu livro como um poema
épico, “nunca quis encaixá-lo em uma categoria. Não o penso como épico, apesar de alguns
elementos, como o mar e o céu, estarem presentes no livro”. O poeta completou falando sobre
um dos grandes prazeres na escrita da obra, “fiquei muito próximo desses elementos que
compõem o poema, os ventos, o mar e as pessoas que retrato”.
Accioly, além de ler a versão em português dos trechos que Walcott escolheu para citar durante
o painel, fez algumas perguntas, “bem complexas, por ser ele também um poeta”, como reparou
o caribenho. Accioly descreveu o autor como “o poeta que é o próprio mar”, e questionou o
porquê dessa presença tão marcante em sua poesia. “Eu vivo em uma ilha, acordo e vejo o mar
todos os dias. Ele tem seu próprio drama, o clima muda, e as cores dele mudam junto”,
respondeu Walcott.
O entrevistado contou que seu projeto de escrever um poema caribenho em língua inglesa se
consolidou quanto à origem, mas não quanto à construção. “Um poeta não tem tempo de criar
a forma, por isso, copiamos estruturas, essa é uma dívida que tenho com minha terra.”
Ressaltou, ainda, a universalidade da poesia, “existe a brasileira, como existe a inglesa, mas, de
alguma maneira, elas são uma só. Poetas existem independentemente de país, raça e gênero”.
http://revistacult.uol.com.br/home/2011/11/subestimamos/
Amor depois de amor

Vai vir o tempo


em que você, orgulhoso,
vai saudar a si mesmo chegando
à sua própria porta, em seu próprio espelho,
e vão trocar sorrisos de boas-vindas,

você vai dizer, sente-se. Coma.


Vai amar o estranho que um dia você foi.
Dê vinho. Dê pão. Devolva seu coração
pra ele mesmo, o estranho que o amou

por toda a sua vida, e a quem você ignorou


por outro alguém, que o conhece de cor.
Pegue da estante as cartas de amor,

as fotografias, as anotações desesperadas,


descasque seu reflexo do espelho.
Sente-se. Sirva-se da vida.

Trad.: Rodrigo Garcia Lopes


Desfecho

Vivo nas águas,


solitário. Sem mulher nem filhos.

Atravessei todas as possibilidades


para chegar até aqui:

pequena casa em água cinza,


janelas sempre abertas
para o velho mar. Não escolhemos o destino,

mas somos o que fizemos.


Sofremos, os anos passam,
lançamos a carga fora, mas não a necessidade

de obstáculos. O amor é uma pedra


no leito do mar
debaixo da água cinza. Agora, nada mais quero

da poesia senão o coração.


Não quero a piedade nem a fama nem a cura. Silenciosa
esposa, contemplamos a água cinza,

e numa vida repleta


de mediocridade e lixo
vivemos como rocha.

Devo desaprender sentimentos,


esquecer meu dote. Isto é maior
e mais difícil do que o que se entende por vida.

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