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Reações de Combustão e Impacto Ambiental por meio de

Resolução de Problemas e Atividades Experimentais

Mara Elisângela Jappe Goi e Flávia Maria Teixeira dos Santos


O laboratório tem um papel central no ensino de química e as pesquisas têm revelado a sua importância no
engajamento do estudante no processo de investigação. Neste trabalho, apresentamos uma pesquisa qualitativa
de acompanhamento e análise de uma experiência de utilização de atividades experimentais em laboratório de
química a partir da metodologia da resolução de problemas. Esse estudo, desenvolvido na 2ª série do Ensino
Médio, envolveu 37 alunos em uma escola de Porto Alegre (RS) e centrou-se no tema reações de combustão e
impacto ambiental. Os resultados indicam que a articulação do trabalho experimental à resolução de problemas
semiabertos pode ser muito eficaz para a aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes pelos estudantes.
atividades experimentais, resolução de problemas, ensino e aprendizagem de química

Recebido em 09/09/08, aceito em 01/04/09

203

A
s atividades experimentais mentos teóricos; estruturados como faltam condições materiais para a
foram introduzidas nos currí- “receitas” que reduzem a participação execução desse trabalho na maioria
culos escolares de Ciências dos estudantes à mera manipulação das escolas.
Naturais há mais de 30 anos como de fenômenos e que proporcionam Parte das deficiências do ensino
resultado da pesquisa para o de- uma imagem deformada do trabalho experimental está relacionada à
senvolvimento de habilidades cien- científico (Zuliani e Ângelo, 2001; epistemologia dos professores, isto
tíficas dos estudantes. Os currículos Gil-Perez e Payá, 1988; Gil Perez é, suas crenças sobre a natureza do
escolares elaborados nessa época e González, 1993; conhecimento cientí-
(Biological Science Curriculum Study, González, 1992; fico. Essas crenças
Physical Science Study Committee, Hodson, 1994). As atividades experimentais favorecem a utiliza-
Harvard Project Physics e Chemical Nesses casos, são foram introduzidas nos ção de atividades
Education Material Study etc.) foram privilegiadas as ob- currículos escolares de práticas típicas de
utilizados em diferentes países com o servações e experi- Ciências Naturais há professores que con-
objetivo de “desenvolver habilidades mentações “livres” mais de 30 anos como cebem a aprendiza-
de pesquisa e levar os estudantes a que desconsideram resultado da pesquisa para gem como absorção
agir como cientistas” (Maor e Taylor, o papel essencial o desenvolvimento de ou reprodução de
1995, p. 839). da construção de habilidades científicas dos conhecimentos pro-
Nas décadas de 1970 e 1980, hipóteses e de um estudantes. duzidos pela comuni-
muitos educadores questionaram corpo coerente de dade científica e que
o papel do trabalho de laboratório, conhecimentos (Gil-Pérez, 1996). As enfatizam a confirmação e o ensino
mostrando que o currículo baseado atividades experimentais nem sem- de fórmulas e fatos científicos (Maor
na investigação havia falhado na pro- pre são adequadas às habilidades e Taylor, 1995). Nas atividades expe-
moção de habilidades de pensamen- mínimas dos estudantes que não rimentais, esses professores estão
to crítico, elaboração de questões têm ideias claras sobre o que estão preocupados com detalhes técnicos
fundamentais, raciocínio e resolução fazendo no laboratório e não conse- e manipulação de equipamentos que
de problemas nos estudantes de ci- guem relacionar os conceitos utiliza- consomem muito de seu tempo e
ências (Hofstein e Lunetta, 1982). As dos pelo professor aos fenômenos de sua energia (Hofstein e Lunetta,
pesquisas revelaram enormes insufi- observados nas atividades (Insausti, 1982). Assim, embora várias déca-
ciências da realização de trabalhos 1997). Nas escolas brasileiras, os das de pesquisa tenham permitido
práticos, geralmente utilizados como professores estão despreparados uma base teórica consistente sobre
atividades de ilustração dos conheci- para a utilização de experimentos e a natureza da aprendizagem e o valor

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das atividades experimentais, essas em grupos de discussão (Tobin, 1990; tes sobre o interesse da situação
informações tiveram relativamente Hofstein e Lunetta, 2004). abordada. Essa aproximação propor-
pouco impacto sobre as práticas Estruturados em equipes coope- ciona uma concepção preliminar da
educativas. rativas, os estudantes tratam situ- tarefa e ajuda a formar as primeiras
Apesar dessas constatações, ações problemáticas de interesse, ideias motivadoras para o tratamen-
Tobin (1990) sugere que é possível interagindo com os membros de to da situação problema. A seguir,
a aprendizagem no laboratório se for seu grupo, com outras equipes (nas passa-se à organização dos grupos
dada ao estudante oportunidade de atividades de plenária de apresen- de trabalho: os estudantes leem e
manipular equipamentos e materiais tação das soluções propostas aos analisam o problema, levantam hipó-
em um ambiente apropriado para a problemas) e com as comunidades teses, planejam possíveis soluções e
construção de conhecimento sobre científicas, representadas pelo pro- experimentos que comprovem suas
os fenômenos e conceitos científi- fessor e pelo livro-texto (Gil-Perez e hipóteses, baseadas nos referenciais
cos. A ênfase deve ser colocada no cols., 1999). bibliográficos e nas informações
engajamento social do estudante na A resolução de problemas pode disponibilizadas pela professora.
proposição de questões, nas ativi- basear-se na apresentação de situ- Num quarto momento da sequência
dades de resolução de problemas ações semiabertas e sugestivas que organizativa, os estudantes realizam a
e na reflexão sobre a viabilidade e exijam dos estudantes uma atitude atividade prática em laboratório para
adequação de seus conhecimentos, ativa e um esforço para buscar res- verificar se as alternativas de solução
de seus colegas e da comunidade postas próprias. O ensino baseado são adequadas e suficientes para a
científica. na solução de problemas pressupõe resolução do problema. A seguir, as
O modelo socioconstrutivista promover nos alunos o domínio estratégias são socializadas com
fornece uma importante estrutura de procedimentos, assim como a a turma, e os grupos fazem uma
conceitual para a análise do proces- utilização dos conhecimentos dispo- exposição relatando as estratégias
so de construção de conhecimento níveis para dar solução a situações adotadas, os erros ocorridos e os re-
científico nos laboratórios escolares. variadas (Pozo, 1998). Quando essa sultados obtidos na resolução do pro-
204 Nesse modelo, a aprendizagem é metodologia é associada às ativida- blema. Após os relatos, a professora
um processo ativo, interpretativo e des práticas de laboratório, ela pode promove um debate coletivo sobre
interativo. A compreensão é desen- servir como um instrumento que as diferentes estratégias propostas
volvida no contexto social da sala favoreça o tratamento de questões e os resultados obtidos, analisando,
de aula de ciências e, portanto, é fundamentais para a construção e comparando e compilando as dife-
contextualizada. A experimentação o entendimento de conceitos, pro- rentes soluções.
no laboratório escolar pode promo- porcionando uma visão correta do A atividade é avaliada utilizando
ver oportunidades para o estudante trabalho científico aos estudantes as produções escritas, que compilam
construir significados por meio da (González, 1992). Assim, os alunos as revisões bibliográficas elaboradas
resolução de problemas. podem construir hipóteses, analisar pelos estudantes, os relatórios das
Os trabalhos elaborados nessa dados, observar criticamente os pro- atividades práticas desenvolvidas e
perspectiva (White e Frederiksen, blemas de interesse e implicações um instrumento final que investiga a
1998; Polman e Pea, 2001; Van Zee, da própria Ciência. eficiência da abordagem adotada.
2000; Van Zee e cols., 2003) colocam Os problemas propostos podem
ênfase no engajamento social dos Resolvendo problemas ser classificados como qualitativos
estudantes. As atividades realizadas O estudo experimental foi aplicado semiabertos (Watts, 1994). Nos enun-
em grupo potencializam a comunica- por um período de quatro semanas a ciados, são fornecidos os princípios
ção e a argumentação, importantes um grupo de 37 estudantes, organi- gerais necessários para a solução
aspectos da atividade científica, que zados em duas turmas da 2ª série do dos problemas, que permitem análise
permitem aos participantes construir Ensino Médio de uma escola de Porto das diferentes formas de modela-
significados compartilhados. Nas Alegre (RS). Os dados dessa pes- ção e oportunidade para melhorar
atividades práticas, as indagações se quisa incluem as aulas de realização a experimentação. Os estudantes
constituem verdadeiras discussões da estratégia didática, as atividades devem elaborar a melhor estratégia
e estimulam o uso da linguagem na produzidas pelos alunos e a avaliação para chegar à solução do problema,
construção social do conhecimento. do trabalho realizado. negociando com os membros do
Os estudantes participam da elabo- Para a realização dessa imple- grupo de trabalho o planejamento da
ração de questões, reflexão sobre a mentação didática, utilizamos uma abordagem ou tratamento que deverá
própria aprendizagem, debate sobre sequência organizativa, adaptada a gerar uma solução tangível. Torna-
respostas incorretas, clarificação de partir da sequência elaborada por se responsabilidade do estudante
confusões, reflexão crítica sobre suas Zuliani e Ângelo (2001), que prevê delinear o problema, decidir qual a
próprias concepções, consideração inicialmente uma aproximação ao solução mais apropriada, derivar e
de ideias novas, teste de ideias con- conteúdo que será apresentado por testar possíveis soluções, e o seu
flituosas e negociação de significados meio da discussão com os estudan- sucesso é julgado pela eficiência da

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solução por ele elaborada. ideias com os membros do grupo; tíveis fósseis, gerando assim grande
A principal virtude da resolução de e aceitar as ideias dos outros. Todos quantidade de gás carbônico livre na
problemas qualitativos semiabertos é esses elementos estão presentes nas natureza. Uma das consequências da
o seu potencial para a construção de discussões nos grupos assim como emissão desse gás em grande escala
conhecimento e sua transferência a nas plenárias com toda a turma. é o aumento do efeito estufa. Faça
outros contextos, além de possibilitar Os problemas (Pr) foram elabora- um levantamento teórico do que é o
a transferência de responsabilidade dos procurando o aprofundamento efeito estufa e demonstre experimen-
sobre a aprendizagem do professor conceitual e procedimental do tema: talmente o que é esse efeito, como
para o estudante. As principais inten- Pr I- Em nosso dia a dia, pode- ele ocorre e qual a natureza desse
ções deste trabalho com problemas mos observar várias combustões fenômeno.
qualitativos semiaber- domésticas. Como Pr V- Os problemas I, II, III e IV
tos são: explorar as exemplos, podemos nos instigam a criar alternativas para
ideias dos estudantes No modelo citar: a queima de reduzir o impacto ambiental causado
e propor tarefas que socioconstrutivista, madeira, gás de cozi- pelas reações de combustão, sejam
encorajem a discus- a aprendizagem é nha, vela, álcool etc. elas de natureza doméstica (queima
são e o debate sobre um processo ativo, Até mesmo ao fazer da madeira, gás de cozinha, vela etc.)
“como as coisas fun- interpretativo e interativo. um tradicional chur- ou industrial (queima de combustíveis
cionam”; desenvolver rasco, realizamos a fósseis em grande escala). Proponha
soluções para diferentes aspectos de queima (combustão) do carvão. Ao alternativas teórico-práticas para
um problema contextual; organização iniciar os preparativos para um bom amenizar alguns desses impactos
de pequenos grupos de trabalho ou churrasco, devemos produzir o fogo, ambientais.
tarefas individuais em um grupo; mo- geralmente, para isso, utiliza-se car- Resumidamente, o Pr I visa
bilidade de papéis desempenhados vão. Entretanto, o que é carvão? Expli- instigar os estudantes a fazer uma
pela professora e pelos estudantes que detalhadamente como o carvão é pesquisa sobre o carvão como
no controle e na direção da atividade obtido e como ele gera energia. fonte alternativa de energia. O Pr II
e no emprego de uma variedade de Pr II- A gasolina, assim como o compara os impactos ambientais 205
estratégias de ensino e aprendizagem; carvão, gera energia e, por isso, é produzidos pelo uso do carvão e da
uso de um conjunto de técnicas de muito utilizada no dia a dia como fonte gasolina e propõe, ainda, a investi-
comunicação para focar conhecimen- energética. No entanto, tais substân- gação prática sobre a adulteração
tos específicos e atividades cognitivas cias provocam grandes impactos da gasolina. O Pr III foca sobre os
(Watts, 1994, p. 43). ambientais. Sabemos que existem poluentes atmosféricos produzidos
O tema selecionado para o trata- diferenças entre os tipos de gasolina nos processos de geração de ener-
mento por atividades práticas com (comum e aditivada). Pesquise qual gia e a comprovação experimental
problemas semiabertos foi “Reações desses tipos provoca menor impacto da emissão de partículas poluidoras.
de combustão e impacto ambiental”. ambiental e porquê. Além de contar O Pr IV aborda os efeitos ambientais
Essa opção relacionou-se com o an- com os diferentes tipos de gasolina, das altas concentrações das partícu-
damento do conteúdo programático temos um problema que envolve las emitidas nas reações de combus-
no período de aplicação das ativi- interesses comerciais desonestos: tão estudadas. O Pr V busca levar
dades e a necessidade de inclusão a adulteração da gasolina. Pesquise os estudantes a propor alternativas
de temas transversais no currículo, quais as adulterações mais frequen- para a redução da emissão desses
como evidenciado nas Orientações tes e demonstre experimentalmente poluentes atmosféricos.
curriculares para o Ensino Médio como comprová-las.
(Brasil, 2006). Pr III- A poluição do ar provocada Estratégias para a solução dos problemas
Os estudantes foram incentivados pelas combustões diárias – como Neste artigo, apresentamos os
a trabalhar em pequenos grupos e a exemplo, aquelas provocadas pelos resultados de uma implementação
participar em práticas sociais para veículos automotores leves e pesa- didática que constitui a linha de traba-
construir conhecimento científico dos – é um grave problema nos gran- lho desenvolvida pelos autores (Goi,
colaborativamente (Hogan e cols., des centros brasileiros e do mundo 2004; Goi e Santos, 2004; Santos
2000). Engajar os estudantes num todo. Um dos maiores problemas é e Goi, 2005). Ao longo dos últimos
diálogo favorece a construção de a emissão de gases poluentes. Faça cinco anos, os resultados das pes-
conhecimento, pois possibilita im- um levantamento sobre os gases que quisas têm corroborado a concepção
portantes elementos que sustentam poluem o ambiente, como poluem de que a resolução de problemas é
essa construção: a capacidade de e organize estratégias laboratoriais uma estratégia didática que pode ser
articular e clarificar o que o grupo não para comprovar as emissões de par- trabalhada conjuntamente com as
sabe; de apresentar ideias provoca- tículas poluidoras. atividades experimentais. Essa conju-
tivas de forma articulada; ser capaz Pr IV- A partir da expansão indus- gação pode ser bastante eficiente na
de compreender as questões para trial, cresceu consideravelmente a construção conceitual, procedimental
clarificá-las; interpretar e construir utilização de reações com combus- e atitudinal dos estudantes em rela-

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Tabela 1: Estratégias usadas pelos alunos para resolver os problemas.

Estratégias Teóricas Estratégias Experimentais


Apresentação das definições, classificações, obtenção e geração
Pr I
de energia a partir do carvão e curiosidades.
Dissolução de um copo plástico com gasolina (quanto
mais rápida a dissolução, mais pura é a gasolina. A
dissolução deverá ocorrer em 1 minuto, caso contrário
a amostra será considerada adulterada).
Teste da Proveta – Sugerido pela Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) (http://
www.anp.gov.br/)
Descrição da adulteração da gasolina.
Pr II Dissolução do isopor com a gasolina.
Conclusões sobre os impactos ambientais gerados.
Teste da Proveta – identificação de percentual de álcool
na gasolina.
Comparação entre as cores da gasolina comum e
aditivada.
Cálculo do percentual do álcool presente na gasolina
a partir da densidade da amostra1 (ver anexo: Aula
experimental).
Queima do carvão com óleo.
Queima do álcool e da gasolina com utilização de filtro
de papel.
Queima do álcool e da gasolina, coleta dos gases des­
Descrição sobre gases poluidores, natureza e fonte de emissão.
prendidos com algodão úmido. Mistura do algodão em
Pr III Alternativas para a diminuição dos problemas ambientais.
água e teste do pH da solução formada.
Limites máximos das emissões permitidos pela legislação.
206 Queima de plástico com utilização de filtro.
Filtro com iodeto de potássio e amido utilizado em
estações meteorológicas convencionais.
Queima do enxofre para comprovar a chuva ácida.
Aquecimento da água para verificar a emissão do CO2.
Queima da madeira.
O que é efeito estufa: descrição e consequências.
Pr IV Aquecimento em recipiente aberto e fechado.
Alternativas para diminuir a produção de gases.
Incidência de raios luminosos sobre espelhos em su-
perfícies claras e escuras.
Construção de pilhas de limão, batata, laranja em subs­
tituição às pilhas convencionais.
Reciclagem do lixo.
Queima de carvão, utilizando filtros.
Uso de transporte coletivo.
Identificação da contaminação por óleo, utilizando
Alternativa de produção de álcool a partir da banana.
corantes solúveis em água.
Filtros nas chaminés.
Pr V Energia solar.
Aumento da arborização e da fiscalização no desmatamento.
Diferentes matérias como revestimento das residências
Uso de energia solar, eólica e de biocombustível.
como isolantes térmicos.
Efeito fototérmico e fotovoltaico.
Simulação de um parque eólico.
Reciclagem de materiais.
Uso da água do mar como solução eletrolítica para
gerar energia.

ção ao conhecimento químico. sua maioria, não foram inovadoras. se na atividade; manipularam os
Nessa implementação, os dados Os estudantes utilizam as estratégias equipamentos e as substâncias com
indicaram que a existência na es- que são encontradas nos livros-texto, bastante destreza; debateram, sem
cola de uma rotina de utilização de na internet e nas diferentes fontes dificuldades, questões referentes às
atividades experimentais facilitou a utilizadas na pesquisa teórica. práticas com colegas e a professora.
organização dos grupos de trabalho Os dados revelaram a diversidade Assim, a resolução dos problemas
e a dinâmica da resolução dos pro- das propostas e a originalidade de al- foi uma atividade bastante praze-
blemas. gumas delas. A autonomia foi uma ca- rosa para grande parte dos alunos.
Na Tabela 1, apresentaremos racterística fundamental nesse grupo. Durante a solução de cada um, os
as principais estratégias teóricas e A despeito das experiências realizadas estudantes não só realizaram debates
experimentais elaboradas pelos estu- anteriormente (Goi e Santos, 2004; e discussões sobre os resultados
dantes para cada um dos problemas. Santos e Goi, 2005), os estudantes obtidos, como também conversaram
As estratégias experimentais, em conseguiram organizar-se e engajar- sobre a adequação ou não da estra-

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tégia elaborada e testada. Os dados utilização da estratégia de resolu- para o desenvolvimento de habilida-
corroboram nossas observações em ção de problemas contribuiu para a des dos alunos.
trabalhos anteriores de que a metodo- aprendizagem e foi significativa para No decorrer do processo, os estu-
logia auxilia o aluno a tornar-se mais a compreensão das aulas práticas. dantes demonstraram maior engaja-
autônomo, utilizando diferentes ma- Eles não sentiram dificuldades para mento nas atividades de resolução de
neiras de resolver a mesma situação. compreender os problemas por meio problemas que aquela habitualmente
Outra importante fonte de infor- dos experimentos, apesar de ser esta envolvida no laboratório tradicional.
mação sobre o processo vivenciado a primeira vez que a professora utiliza Esse engajamento mostrou que eles
nesta pesquisa foi o diagnóstico a conjugação dessas metodologias. tinham objetivos mais definidos,
realizado após as atividades no A autoavaliação é fundamental portanto estavam mais inseridos nas
laboratório de Química. Nesse diag- para que os alunos possam incluir- atividades. A resolução de problemas
nóstico, foi utilizado um instrumento se no trabalho e tornem-se mais tornou-se uma estratégia motivadora
testado e validado por nossa equipe autônomos em suas decisões. Re- e permitiu aos alunos desenvolver
(Goi, 2004). lativo a isso, os estudantes parecem atitudes e construir a própria metodo-
A análise do pós-diagnóstico concordar que não desperdiçaram o logia na organização de formas para
evidenciou resultados importantes tempo; que colaboraram com o gru- resolver os problemas.
relacionados ao trabalho com reso- po; que as atividades experimentais Quanto às estratégias adotadas
lução de problemas e consistência foram motivadoras para a resolução pelos grupos, salientamos que elas
das opiniões dos estudantes. Quanto dos problemas; e que em cada aula foram inovadoras se comparadas com
aos problemas sugeridos, os alunos aprenderam novos conhecimentos. as obtidas em trabalhos anteriores da
concordam que estes necessitaram Os resultados obtidos no diagnós- equipe. Os grupos criaram estratégias
de pesquisa, exigiram raciocínio, mas tico final são relevantes e contribuem “inéditas” para solucionar experimen-
foram de fácil compreensão já que a para fortalecer a fidedignidade das talmente algumas das situações.
linguagem utilizada foi acessível e a observações realizadas nas aulas. Coletaram, via pesquisa bibliográfica,
compreensão dos problemas ocor- Na autoavaliação, os alunos alegam estratégias relatadas no material
reu sem grandes dificuldades. Além que se inseriram nas atividades. Eles didático disponível e que, portanto, 207
disso, os alunos relatam que as estra- parecem ter adquirido autonomia e reproduziram experimentos cientifica-
tégias adotadas pelos grupos foram segurança em relação aos aspectos mente aceitos. Entretanto, podemos
adequadas para a resolução dos pro- conceituais dos problemas propos- argumentar que houve um crescimen-
blemas, que quanto maior o número tos, revelando a aprendizagem de to na busca por dados bibliográficos
de estratégias adotadas maiores as novos conhecimentos. para resolver cada situação, o que não
chances de obter sucesso na ativi- observamos nas aulas tradicionais. O
dade. Os alunos compreendem que Considerações finais trabalho de resolução de problemas
as estratégias ajudam na resolução A convergência da resolução instigou o aluno e motivou-o na in-
dos problemas e que as atividades de problemas e do trabalho expe- vestigação de experimentos aceitos
experimentais foram fundamentais rimental ressignificou a utilização pela comunidade científica. Os dados
na resolução das situações. de uma e outra estratégia em uma corroboram a concepção de que esse
Em relação às aulas experimen- investigação dirigida (Gil-Perez e tipo de trabalho é mais adequado
tais, os estudantes alegaram que cols., 1999), o que permitiu a ela- quando o professor utiliza essa meto-
estas facilitaram a resolução dos boração de estratégia didática para dologia na rotina escolar (Echeverría
problemas e que estavam de acordo melhorar a compreensão do tema: e Pozo, 1998, p. 16).
com as suas expectativas. Tam- reações de combustão e impacto Outro elemento revelado durante
bém acreditam que essas aulas ambiental. A aprendizagem a partir de a resolução dos problemas relaciona-
exigiram raciocínio, mas os grupos problemas revelou-se uma estratégia se à inserção dos estudantes no
conseguiram utilizar experimentos para desenvolver as potencialidades grupo. Por meio dessa metodologia,
para resolver as situações. Quanto criativas dos estudantes, mobilizando os estudantes estão mais atentos às
aos relatórios orais e escritos, os conhecimentos e habilidades destes atividades experimentais como na
estudantes concordam que esses por meio de um trabalho teórico e organização em aula das estratégias
instrumentos auxiliam na compreen- prático. A articulação entre a teoria e para solucionar cada situação. Isso
são dos problemas sugeridos. Não a prática foi favorecida, como vimos evidenciou o comprometimento e a
apresentaram dificuldades em expor neste trabalho, pela resolução de motivação durante a etapa de reso-
o seu pensamento para o grupo e problemas, visando a uma melhor lução dos problemas.
não houve dificuldade na elaboração compreensão dos conceitos e dos Como evidenciamos na sequên-
dos relatórios, já que a produção de processos da Ciência. Essa proposta cia organizativa de realização das
documentos e o diálogo em sala de se revelou bastante eficaz na melhoria atividades, esta incluiu debates orais
aula é uma metodologia corriqueira- do uso do laboratório didático; auxi- após cada resolução e, nessa etapa
mente utilizada nas aulas de química. liou na compreensão e estruturação do trabalho, a observação das aulas
Os estudantes acreditam que a do trabalho experimental; e contribuiu revelou que a abordagem contribuiu

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Mara Elisângela Jappe Goi (goi59@terra.com.br),
para o aprimoramento da argumen- ocorridos durante a experimentação, licenciada em Química pela Universidade Regional
tação oral dos estudantes. Alguns a eficiência de cada estratégia ado- do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNI-
alunos que, durante as aulas, nunca tada, eles, juntamente com o grupo, JUI), mestre em Ensino de Ciências e Matemática
participaram, demonstram maior auto- organizaram um relatório dissertando pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), é
docente do Colégio Vicentino Santa Cecília, Porto
nomia para expor aos colegas o que sobre aspectos referentes a cada um Alegre (RS). Flávia Maria Teixeira dos Santos (flavia.
pensavam sobre as situações. Assim, dos problemas solucionados. santos@ufrgs.br), licenciada em Química, mestre
a exposição oral inseriu grande parte em Educação pela Universidade Federal de San-
dos alunos no contexto do trabalho. Nota ta Catarina (UFSC), doutora em Educação pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é
Após essa exposição em que estudan- 1. A aula experimental foi a proposta docente do Departamento de Ensino e Currículo da
tes comentaram sobre os conceitos mais original dos estudantes e poderá Faculdade de Educação da Universidade Federal do
construídos, os erros ou imprevistos ser útil para os professores de química. Rio Grande do Sul (UFRGS).

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no de Ciências e Matemática, Universidade POZO, J.I. A solução de problemas: docente. São Paulo: Escrituras, 2001. p.
Luterana do Brasil, Canoas, 2004. aprender a resolver, resolver para apren- 69-80.

Abstract: Combustion reactions and environmental impact through problem solving and experimental activities. The laboratory has a central role of chemistry teaching and the researches have been
revealed us it importance in the students involvement in the investigation process. In this paper, we will present a qualitative inquiry of following-up and an analysis about an experience of using
experimental activities in the chemistry lab from the problem solving methodology. This study which was developed with the 2nd level of the High School, involved thirty-seven students from a school
in Porto Alegre (RS). The results indicate that the articulation of the experimental work joined the resolution of half-open problems can be very efficient for the learning of concepts, procedures and
attitudes by the students.
Keywords: experimental activities, problem solving, chemistry teaching and learning.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Reações de Combustão e Impacto Ambiental Vol. 31, N° 3, AGOSTO 2009
Anexo
Aula experimental - resolução do problema 1
Percentual de Densidade Percentual de Densidade
Gasolina álcool (%) (g/cm3) gasolina (%) (g/cm3)
A gasolina é composta por hi- 22 0,1730 78 0,5750
drocarboneto, enxofre, nitrogênio 23 0,1808 77 0,5676
e compostos metálicos. A gasolina
24 0,1887 76 0,5602
adulterada possui mais álcool do
que a comum, já que este tem que 25 0,1996 75 0,5529
estar entre 22% e 27% da gasolina. 26 0,2044 74 0,5455
Caso não possua esse percentual, 27 0,2123 73 0,5381
ela estará adulterada.
Somando o valor em percentual da
densidade do álcool com o da gaso- Gasolina Álcool Referências
lina, obtém-se o valor da densidade
0,7372 0,7865 BRASIL ESCOLA. Gasolina aditiva-
da mistura com esse percentual. Por Densidade
g/cm3 g/cm3 da ou gasolina comum? Disponível
exemplo, somando 22% da densida-
em: <http://www.brasilescola.com/
de do álcool com 78% da densidade
curiosidades/gasolina-aditivada-e-
da gasolina, adquire-se o valor de
gasolina-comum.htm>. Acesso em:
densidade da gasolina com 22% de Densidades da gasolina adulterada 08 mai. 2008.
álcool. Mediante esse meio, após as
22% de álcool 0,7480 g/cm3 CONSUMIDOR BRASIL. Combus-
atividades em aula, na qual obteremos
tíveis adulterados. Disponível em:
o valor de densidade da amostra de 23% de álcool 0,7484 g/cm3 <http://www.consumidorbrasil.com.
gasolina, poderemos comparar essa
24% de álcool 0,7489 g/cm3 br/consumidorbrasil/textos/dicascon-
densidade com as relatadas acima,
sumo/combustiveisadulterados.htm>.
indicando o percentual de álcool 25% de álcool 0,7495 g/cm3 209
Acesso em: 08 mai. 2008.
misturado. Caso não esteja listado,
26% de álcool 0,7499 g/cm3 PETROBRÁS. Disponível em:
podemos, por meio do mesmo pro-
<http://www.br.com.br>. Acesso em
cesso, calcular o percentual de álcool 27% de álcool 0,7504 g/cm3 08 mai. 2008.
na gasolina a partir de sua densidade.

29º Encontro de Debates


sobre o Ensino de Química

O 29º Encontro de Debates sobre o Ensino de Química (EDEQ) será realizado no Centro Universitário Franciscano
(UNIFRA), na cidade de Santa Maria (RS), no período de 22 a 24 de outubro de 2009, com o tema Ressignificando a
Química rumo à sustentabilidade.
Os organizadores do evento buscam a promoção de uma educação que venha ser marcada por novas práticas e
relações no próprio processo de produção do conhecimento químico escolar por parte de professores e estudantes.
No evento, serão realizadas diversas atividades como mostras de materiais didáticos, minicursos, palestras, debates
e apresentação de trabalhos de pesquisas.

Informações adicionais: http://sites.unifra.br/edeq2009


Contato: edeq2009@unifra.br

Luciana Caixeta Barboza (editoria QNEsc)

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Reações de Combustão e Impacto Ambiental Vol. 31, N° 3, AGOSTO 2009

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