Está en la página 1de 126

h

Koans e Contos Zen

h
Há uma hi s t ór i a i ndi a na de um home m que
e r a um a t e u e a g nós t i c o, um r a r í s s i mo t i po de
pos t ur a na Í ndi a . E l e e r a uma pe s s oa que
de s e j a v a l i v r a r - s e de t oda s a s f or ma s de
r i t os r e l i g i os os , de i x a ndo a pe na s a e s s ê nc i a
da di r e t a e x pe r i ê nc i a da Ve r da de . E l e a t r a i u
di s c í pul os que c os t uma v a m s e r e uni r a s e u
r e dor t oda s e ma na , qua ndo e l e f a l a v a a t odos
s obr e s e us pr i nc í pi os . Após a l g um t e mpo e l e s
c ome ç a r a m a se j unt a r a nt e s do me s t r e
a pa r e c e r , por que e l e s g os t a v a m de e s t a r em
g r upo e c a nt a r j unt os .

E v e nt ua l me nt e f oi c ons t r uí da uma c a s a pa r a
a s r e uni õe s , c om uma s a l a e s pe c i a l pa r a o
me s t r e a g nós t i c o. Após s ua mor t e , t or nou - s e
uma pr á t i c a e nt r e s e us s e g ui dor e s f a z e r uma
r e v e r ê nc i a r e s pe i t os a pa r a a a g or a s al a
v a z i a , a nt e s de s e e nt r a r no s a l ã o. E m uma
me s a e s pe c i a l a i ma g e m do me s t r e e r a mos t r a da
e m uma mol dur a de our o, e a s pe s s oa s de i x a v a m
f l or e s e i nc e ns o l á , e m r e s pe i t o a o me s t r e .

E m pouc os a nos uma r e l i g i ã o t i nha c r e s c i do


e m t or no da que l e home m, que e m v i da nã o
pr a t i c a v a na da di s s o, e que , a o c ont r á r i o,
s e mpr e di s s e a os s e us s e g ui dor e s que f i c a r
pr e s o a e s t a s pr á t i c a s l e v a v a f r e qüe nt e me nt e
a pe s s oa a s e i l udi r no c a mi nho da Ve r da de .

1
“ Tenhai s conf i anç a não no mes t r e, mas no
e ns i na me nt o.

“ Tenhai s conf i anç a não no ens i nament o, mas


no e s pí r i t o da s pa l a v r a s .

“ Tenhai s conf i anç a não na t eor i a, mas na


e x pe r i ê nc i a .

“ Não cr ei ai s em al go s i mpl es ment e por que v ós


ouv i s t e s .

“ Não cr ei ai s nas t r adi ç ões s i mpl es ment e


por que e l a s t ê m s i do ma nt i da s de g e r a ç ã o pa r a
g e r a ç ã o.

“ Não cr ei ai s em al go s i mpl es ment e por que f oi


f a l a do e c ome nt a do por mui t os .

“ Não cr ei ai s em al go s i mpl es ment e por que


e s t á e s c r i t o e m l i v r os s a g r a dos ; nã o c r e i a i s
no que i ma g i na i s , pe ns a ndo que um De us v os
i ns pi r ou.

“ Não cr ei ai s em al go mer ament e bas eado na


a ut or i da de de s e us me s t r e s e a nc i ã os .

“ Mas após cont empl aç ão e r ef l ex ão, quando


v ós pe r c e be i s que a l g o é c onf or me a o que é
r a z oá v e l e l e v a a o que é bom e be né f i c o t a nt o
pa r a v ós qua nt o pa r a os out r os , e nt ã o o
a c e i t e i s e f a ç a i s di s t o a ba s e de s ua v i da . ”

Ga ut a ma Buddha - Ka l a ma S ut r a
Qua ndo c ur i os a me nt e te pe r g unt a r e m,
bus c a ndo s a be r o que é Aqui l o,
Nã o de v e s a f i r ma r ou ne g a r na da .
Poi s o que que r que s e j a a f i r ma do nã o é
a v e r da de ,
E o que que r que s ej a ne g a do nã o é
v e r da de i r o.
Como a l g ué m pode r á di z e r c om c e r t e z a o
que Aqui l o pos s a s e r
E nqua nt o por si me s mo nã o t i v er
c ompr e e ndi do pl e na me nt e o que É ?
E , a pós t ê - l o c ompr e e ndi do, que pa l a v r a
de v e s e r e nv i a da de uma Re g i ã o
Onde a c a r r ua g e m da pa l a v r a nã o
e nc ont r a uma t r i l ha por onde pos s a s e g ui r ?
Por t a nt o, a os s e us que s t i ona me nt os
of e r e c e - l he s a pe na s o s i l ê nc i o,
S i l ê nc i o - e um de do a pont a ndo o
Ca mi nho.

“ Ver so Zen”
Antes de entendermos o Zen, as
montanhas são montanhas e os rios são rios;

Ao nos esforçarmos para entender o


Zen, as montanhas deixam de ser montanhas
e os rios deixam de ser rios;

Quando finalmente entendemos o Zen,


as montanhas voltam a ser montanhas e os
rios voltam a ser rios.
1. Uma xícara de Chá

Na n- I n, um me s t r e j a ponê s dur a nt e a e r a Me i j i ( 1868 -


1912) , r e c e be u um pr of e s s or de uni v e r s i da de que v e i o l he
i nqui r i r s obr e Z e n. E s t e i ni c i ou um l ong o di s c ur s o
i nt e l e c t ua l s obr e s ua s dúv i da s .
Na n- I n, e nqua nt o i s s o, s er v i u o c há . El e e nc he u
c ompl e t a me nt e a x í c a r a de s e u v i s i t a nt e , e c ont i nuou a
e nc hê - l a , de r r a ma ndo c há pe l a bor da .
O pr of e s s or , v e ndo o e x c e s s o s e de r r a ma ndo, nã o pode
ma i s s e c ont e r e di s s e :
“ Est á mui t o chei o. Não cabe mai s chá! ”
“ Como est a xí car a, ” Nan- i n di s s e , “ v oc ê e s t á c he i o de
s ua s pr ópr i a s opi ni õe s e e s pe c ul a ç õe s . Como pos s o e u l he
de mons t r a r o Z e n s e m v oc ê pr i me i r o e s v a z i a r s ua x í c a r a ? ”

2. Uma Parábola

Ce r t a v e z , di s s e o Buddha uma pa r á bol a :


Um home m v i a j a ndo e m um c a mpo e nc ont r ou um t i g r e . E l e
c or r e u, o t i g r e e m s e u e nc a l ç o. Apr ox i ma ndo - s e de um
pr e c i pí c i o, t omou a s r aí z es e x pos t a s de uma v i nha
s e l v a g e m e m s ua s mã os e pe ndur ou - s e pr e c i pi t a da me nt e
a ba i x o, na be i r a do a bi s mo. O t i g r e o f a r e j a v a a c i ma .
T r e me ndo, o home m ol hou pa r a ba i x o e v i u, no f undo do
pr e c i pí c i o, out r o t i g r e a e s pe r á - l o. Ape na s a v i nha o
s us t i nha .
Ma s a o ol ha r pa r a a pl a nt a , v i u doi s r a t os , um ne g r o e
out r o br a nc o, r oe ndo a os pouc os s ua r a i z . Ne s t e mome nt o
s e us ol hos pe r c e be r a m um be l o mor a ng o v i c e j a ndo pe r t o.
S e g ur a ndo a v i nha c om uma mã o, el e pe g ou o mor a ng o c om a
out r a e o c ome u.
“ Que del í ci a! ” , el e di sse.
3. Nas Mãos do Destino

Um g r a nde g ue r r e i r o j a ponê s c ha ma do Nobuna g a de c i di u


a t a c a r o i ni mi g o e mbor a e l e t i v e s s e a pe na s um dé c i mo do
núme r o de home ns que s e u opone nt e . E l e s a bi a que pode r i a
g a nha r me s mo a s s i m, ma s s e us s ol da dos t i nha m dúv i da s . No
c a mi nho pa r a a ba t a l ha e l e pa r ou e m um t e mpl o S hi nt ó e
di s s e a os s e us home ns :
“ Após eu vi si t ar o r el i c á r i o e u j og a r e i uma moeda . S e
a Ca r a s a i r , i r e mos v e nc e r ; s e s a i r a Cor oa , i r e mos c om
c e r t e z a pe r de r . O De s t i no nos t e m e m s ua s mã os . ”
Nobuna g a e nt r ou no t e mpl o e of e r e c e u uma pr e c e
s i l e nc i os a . E nt ã o s a i u e j og ou a moe da . A Ca r a a pa r e c e u.
S e us s ol da dos f i c a r a m t ã o e nt us i a s ma dos a l ut a r que e l e s
g a nha r a m a ba t a l ha f a c i l me nt e .
Após a ba t a l ha , s eu s e g undo em c oma ndo di s s e - l he
or g ul hos o:
“ Ni nguém pode mudar a mão do Dest i no! ”
“ Real ment e não. . . ” di sse Nobunaga most r ando- l he
r e s e r v a da me nt e s ua moe da , que t i nh a s i do dupl i c a da ,
pos s ui ndo a Ca r a i mpr e s s a nos doi s l a dos .

4. Garotas

T a nz a n e E k i do c e r t a v e z v i a j a v a m j unt os por uma


e s t r a da l a ma c e nt a . Uma pe s a da c huv a a i nda c aí a,
di f i c ul t a ndo a c a mi nha da . Che g a ndo a uma c ur v a , e l e s
e nc ont r a r a m uma be l a g a r ot a v e s t i da c om um qui mono de
s e da e c i nt a , i nc a pa z de c r uz a r a i nt e r c e s s ã o.
“ Venha, meni na, ” di sse Tanzan de i medi at o. Er guendo- a
e m s e us br a ç os , e l e a c a r r e g ou a t r a v e s s a ndo o l a ma ç a l .
E k i do nã o f a l ou na da a t é a que l a noi t e qua ndo e l e s
a t i ng i r a m o a l oj a me nt o do T e mpl o. E nt ã o e l e nã o ma i s s e
c ont e v e e di s s e :
“ Nós monges não nos apr oxi mamos de mul her es, ” el e di sse
a T a nz a n, “ e s pe c i a l me nt e a s j ov e ns e be l a s . I sto é
pe r i g os o. Por que f e z a qui l o? ”
“ Eu dei xei a gar ot a l á, ” di sse Tanzan. “ Você ai nda a
e s t á c a r r e g a ndo? ”

5. Sem trabalho, Sem comida

HY AKUJ O, o me s t r e Z e n c hi nê s , c os t uma v a t r a ba l ha r c om
s e us di s c í pul os me s mo na i da de de 80 a nos , a pa r a ndo o
j a r di m, l i mpa ndo o c hã o, e poda ndo a s á r v or e s . Os
di s c í pul os s e nt i r a m pe na em v er o v e l ho me s t r e
t r a ba l ha ndo t ã o dur a me nt e , ma s e l e s s a bi a m que e l e nã o
i r i a e s c ut a r s e us a pe l os pa r a que pa r a s s e . E nt ã o e l e s
r e s ol v e r a m e s c onde r s ua s f e r r a me nt a s .
Na que l e di a o me s t r e nã o c ome u. No di a s e g ui nt e t a mbé m,
e no out r o.
“ El e deve est ar i r r i t ado por t er mos escondi do suas
f e r r a me nt a s , ” os di s c í pul os a c ha r a m. “ É me l hor nós a s
c ol oc a r mos de v ol t a no l ug a r . ”
No di a em que e l e s f i z e r a m i s s o, o me s t r e t r a ba l hou e
c ome u e x a t a me nt e c omo a nt e s . À noi t e e l e os i ns t r ui u,
s i mpl e s me nt e :
“ Sem t r abal ho, sem comi da. ”

6. Nada Existe

Y AMAOKA T E S S HU, qua ndo um j ov e m e s t uda nt e Z e n, v i s i t ou


um me s t r e a pós out r o. E l e e nt ã o f oi a t é Dok uon de
S hok ok u. De s e j a ndo mos t r a r o qua nt o j á s a bi a , e l e di s s e ,
v a i dos o:
“ A ment e, Buddha, e os ser es senci ent es, al ém de t udo,
nã o e x i s t e m. A v e r da de i r a na t ur e z a dos f e nôme nos é v a z i a .
Nã o há r e a l i z a ç ã o, ne nhuma de l us ã o, ne nhum s á bi o, ne nhuma
me di oc r i da de . Nã o há o Da r e t a mpouc o na da a r e c e be r ! ”
Dok uon, que e s t a v a f uma ndo pa c i e nt e me nt e , na da di s s e .
S ubi t a me nt e e l e a c e r t ou Y a ma ok a na c a be ç a c om s e u l ong o
c a c hi mbo de ba mbu. I s t o f e z o j ov e m f i c a r mui t o i r r i t a do,
g r i t a ndo x i ng a me nt os .
“ Se nada exi st e, ” per gunt ou, cal mo, Dokuon, “ de onde
v e i o t oda e s t a s ua r a i v a ? ”

7. A Subjugação de um fantasma - Um Exorcismo Zen...

Uma j ov e m e be l a e s pos a c a i u doe nt e e f i na l me nt e c he g ou


à s por t a s da mor t e .
“ Eu t e amo t ant o, ” el a di sse ao seu mar i do, “ Eu não
que r o de i x a r - t e . Pr ome t a s que nã o me t r oc a r á s por ne nhuma
out r a mul he r ! S e t u nã o o f i z e r e s , e u r e t or na r e i c omo um
f a nt a s ma e t e c a us a r e i a bor r e c i me nt os s e m f i m! ”
L og o a pós , a e s pos a mor r e u. O ma r i do pr oc ur ou r e s pe i t a r
s e u úl t i mo de s e j o pe l os pr i me i r os t r ê s me s e s , ma s e nt ã o
e l e e nc ont r ou out r a mul he r e s e a pa i x onou. E l e s t or na r a m-
s e noi v os e l og o s e c a s a r i a m.
I me di a t a me nt e a pós o noi v a do um f a nt a s ma a pa r e c i a t oda s
a s noi t e s a o home m, a c us a ndo- o por nã o t e r ma nt i do s ua
pr ome s s a . O f a nt a s ma e r a e s pe r t o, t a mbé m. E l a l he di z i a
t udo o que a c ont e c i a e er a f a l a do e nt r e e l e e s ua noi v a ,
me s mo a s ma i s í nt i ma s e x pe r i ê nc i a s .
S e mpr e que da v a à s ua noi v a um pr e s e nt e , o f a nt a s ma o
de s c r e v i a e m de t a l he s . E l a a t é me s mo r e pe t i a s ua s
c onv e r s a s , e i s s o a bor r e c i a t a nt o o home m que e l e nã o e r a
c a pa z de dor mi r . Al g ué m o a c ons e l hou a ex por s e u pr obl e ma
a um me s t r e Z e n que v i v i a pr óx i mo à v i l a . E nf i m, e m
de s e s pe r o, o pobr e home m f oi bus c a r s ua a j uda .
“ Ent ão sua ex - e s pos a t or nou- s e um f a nt a s ma e s a be t udo
o que v oc ê f a z , ” c ome nt ou o mes t r e , me i o di v e r t i do. “ O
que que r que v oc ê f a ç a ou di g a , o que que r que v oc ê dê à
s ua a ma da , e l a s a be . E l a de v e s e r um f a nt a s ma mui t o
s á bi o. . . Re a l me nt e v oc ê de v e r i a a dmi r a r t a l f a nt a s ma ! A
pr óx i ma v e z que e l a a pa r e c e r , ba r g a nhe c om e l a . Di g a a
e l a e x a t a me nt e o que di r e i a v oc ê . . . ”
Na que l a noi t e o home m e nc ont r ou o f a nt a s ma e di s s e o
que o me s t r e ha v i a i ns t r uí do:
“ Você sabe t ant o de mi m que eu nada posso esconder - l he !
S e v oc ê me r e s ponde r a pe na s uma que s t ã o, e u l he pr ome t o
de s f a z e r me u noi v a do e pe r ma ne c e r s ol t e i r o. ”
“ Na ver dade, eu sei que você f oi ver um mest r e Zen
hoj e ! Di g a - me s ua que s t ã o. ” Di s s e o f a nt a s ma .
O home m l e v a nt ou s ua mã o di r e i t a f e c ha da e pe r g unt ou:
“ Já que sabes t ant o, di ga- me a pe na s qua nt os f e i j õe s e u
t e nho ne s t a mã o. . . ”
Ne s t e e x a t o mome nt o nã o ha v i a ma i s ne nhum f a nt a s ma pa r a
r e s ponde r a que s t ã o.

8. Verdadeira Riqueza

Um home m mui t o r i c o pe di u a S e ng a i pa r a e s c r e v e r a l g o
pe l a c ont i nui da de da pr os pe r i da de de s ua f a mí l i a , de modo
que e s t a pude s s e ma nt e r s ua f or t una de g e r a ç ã o a g e r a ç ã o.
S e ng a i pe g ou uma l ong a f ol ha de pa pe l de a r r oz e
e s c r e v e u: “ Pa i mor r e , f i l ho mor r e , ne t o mor r e . ”
O home m r i c o f i c ou i ndi g na do e of e ndi do. “ E u l he pe di
pa r a e s c r e v e r a l g o pe l a f e l i c i da de de mi nha f a mí l i a !
Por que f i z e s t e uma br i nc a de i r a de s t a s ? ! ? ”
“ Não pr et endi f azer br i ncadei r as, ” expl i cou Sengai
t r a nqüi l a me nt e . “ S e a nt e s de s ua mor t e s e u f i l ho mor r e r ,
i s t o i r i a ma g oá - l o i me ns a me nt e . S e s e u ne t o s e f os s e
a nt e s de s e u f i l ho, t a nt o v oc ê qua nt o e l e f i c a r i a m
a r r a s a dos . Ma s s e s ua f a mí l i a , de g e r a ç ã o a g e r a ç ã o,
mor r e r na or de m que e u e s c r e v i , i s s o s e r i a o ma i s na t ur a l
c ur s o da Vi da . E u c ha mo a i s s o Ve r da de i r a Ri que z a . ”
9. Homem Santo

Boa t os e s pa l ha r a m- s e por t oda a r e g i ã o a c e r c a do s á bi o


Home m S a nt o que v i v i a e m uma pe que na c a s a s obr e a
mont a nha . Um home m da v i l a de c i di u f a z e r a l ong a e
di f í c i l j or na da pa r a v i s i t á - l o. Qua ndo c he g ou na c a s a ,
e l e v i u um s i mpl e s v e l ho de nt r o que o r e c e be u, a br i ndo a
por t a .
“ Eu gost ar i a de ver o sábi o Homem Sant o, ” di sse el e ao
out r o. O v e l ho s or r i u e pe r mi t i u - o e nt r a r .
E nqua nt o e l e s c a mi nha v a m a o l ong o da c a s a , o home m da
v i l a ol ha v a a ns i os a me nt e e m t or no, a nt e c i pa ndo s e u
e nc ont r o c om um home m c ons i de r a do um v e r da de i r o S a nt o.
Ma s a nt e s que pude s s e da r pe l a c oi s a , e l e j á ha v i a
pe r c or r i do a e x t e ns ã o da c a s a e l e v a do pa r a f or a . E l e
pa r ou e v ol t ou- s e pa r a o v e l ho:
“ Mas eu quer o ver o Homem Sant o! ”
“ Já o f i zest e, ” di sse o vel ho. “ Todos que t u enc ont r as
e m t ua v i da , me s mo se el es pa r e ç a m s i mpl e s e
i ns i g ni f i c a nt e s . . . v e j a c a da um de l e s c omo um s á bi o Home m
S a nt o. S e f i z e r e s de s t e modo, e nt ã o qua i s que r que s e j a m
os pr obl e ma s que t r oux e s t e s a qui hoj e , s er ão
r e s ol v i dos . . . ”
E f e c hou a por t a .

10. Os Portais do Paraíso

Um or g ul hos o g ue r r e i r o c ha ma do Nobus hi g e f oi at é
Ha k ui n, e pe r g unt ou- l he : “ S e e x i s t e um pa r a í s o e um
i nf e r no, onde e s t ã o? ”
“ Quem é você?” per gunt ou Hakui n.
“ Eu sou um samur ai ! ” o guer r ei r o excl amou.
“ Você, um guer r ei r o! ” r i u- s e Ha k ui n. “ Que e s pé c i e de
g ov e r na nt e t e r i a t a l g ua r da ? S ua a pa r ê nc i a é a de um
me ndi g o! ” .
Nobus hi g e f i c ou t ã o r a i v os o que c ome ç ou a de s e mba i nha r
s ua e s pa da , ma s Ha k ui n c ont i nuou:
“ Ent ão você t em uma espada! Sua ar ma pr ovavel ment e est á
t ã o c e g a que nã o c or t a r á mi nha c a be ç a . . . ”
O s a mur a i r e t i r ou a e s pa da num g e s t o r á pi do e a v a nç ou
pr ont o pa r a ma t a r , g r i t a ndo de ódi o. Ne s t e mome nt o Ha k ui n
g r i t ou:
“ Acabar am de se abr i r os Por t ai s do I nf er no! ”
Ao ouv i r e s t a s pa l a v r a s , e pe r c e be ndo a s a be dor i a do
me s t r e , o s a mur a i e mba i nhou s ua e s pa da e f e z - l he uma
pr of unda r e v e r ê nc i a .
“ Acabar am de se abr i r os Por t ai s do Par aí so, ” di sse
s ua v e me nt e Ha k ui n.

11. É mesmo?

Uma l i nda g a r ot a da v i l a f i c ou g r á v i da . S e us pa i s ,
e nc ol e r i z a dos , ex i gi r am s a be r que m er a o pa i .
I ni c i a l me nt e r e s i s t e nt e a c onf e s s a r , a a ns i os a e
e mba r a ç a da me ni na f i na l me nt e a c us ou Ha k ui n, o mes t r e Z e n
o qua l t odos da v i l a r e v e r e nc i a v a m pr of unda me nt e por
v i v er uma v i da di g na . Qua ndo os i ns ul t a dos pa i s
c onf r ont a r a m Ha k ui n c om a a c us a ç ã o de s ua f i l ha , e l e
s i mpl e s me nt e di s s e :
“ É mesmo?”
Qua ndo a c r i a nç a na s c e u, os pa i s a l e v a r a m pa r a Ha k ui n,
o qua l a g or a e r a v i s t o c omo um pá r i a por t odos da r e g i ã o.
E l e s e x i g i r a m que e l e t oma s s e c ont a da c r i a nç a , uma v e z
que e s s a e r a s ua r e s pons a bi l i da de .
“ É mesmo?” Hakui n di sse cal mament e enquant o acei t ava a
c r i a nç a .
Por mui t os me s e s e l e c ui dou c a r i nhos a me nt e da c r i a nç a
a t é o di a e m que a me ni na nã o a g üe nt ou ma i s s us t e nt a r a
me nt i r a e c onf e s s ou que o pa i v e r da de i r o e r a um j ov e m da
v i l a que e l a e s t a v a t e nt a ndo pr ot e g e r .
Os pa i s i me di a t a me nt e f or a m a Ha k ui n, c ons t r a ng i dos ,
pa r a v e r s e e l e pode r i a de v ol v e r a g ua r da do be bê . Com
pr of us a s de s c ul pa s el es e x pl i c a r a m o que t i nha
a c ont e c i do.
“ É mesmo?” di sse Hakui n enquant o devol vi a a cr i ança.

12. Certo e Errado

Qua ndo Ba nk e i r eal i z av a s e us r et i r o s e ma na i s de


me di t a ç ã o, di s c í pul os de mui t a s pa r t e s do J a pã o v i nha m
pa r t i c i pa r . Dur a nt e um de s t e s S e s s hi ns um di s c í pul o f oi
pe g o r ouba ndo. O c a s o f oi r e por t a do a Ba nk e i c om a
s ol i c i t a ç ã o pa r a que o c ul pa do f os s e e x pul s o.
Ba nk e i i g nor ou o c a s o.
Ma i s t a r de o di s c í pul o f oi s ur pr e e ndi do na me s ma f a l t a,
e nov a me nt e Ba nk e i de s de nhou o a c ont e c i me nt o. I sto
a bor r e c e u os out r os pupi l os , que e nv i a r a m uma pe t i ç ão
pe di ndo a di s pe ns a do l a dr ã o, e de c l a r a ndo que s e t a l nã o
f os s e f e i t o e l e s t odos i r i a m de i x a r o r e t i r o.
Qua ndo Ba nk e i l e u a pe t i ç ã o e l e r e uni u t odos di a nt e de
si .
“ Vocês são sábi os, ” el e di sse aos di scí pul os. “ Vocês
s a be m o que é c e r t o e o que é e r r a do. Voc ê s pode m i r pa r a
qua l que r out r o l ug a r pa r a e s t uda r e pr a t i c a r , ma s e s t e
pobr e i r mã o nã o pe r c e be ne m me s mo o que s i g ni f i c a o c e r t o
e o e r r a do. Que m i r á e ns i ná - l o s e e u nã o o f i z e r ? E u v ou
ma nt ê - l o a qui me s mo s e o r e s t o de v oc ê s pa r t i r e m. ”
Uma t or r e nt e de l á g r i ma s f or a m de r r a ma da s pe l o mong e
que r ouba r a . T odo s e u de s e j o de r ouba r t i nha se
e s v a e c i do.
13. Buddha Cristão

Um dos mong e s do me s t r e Ga s a n v i s i t ou a uni v e r s i da de e m


T ok y o. Qua ndo e l e r e t or nou, e l e pe r g unt ou a o me s t r e s e
e l e j a ma i s t i nha l i do a Bí bl i a Cr i s t ã .
“ Não, ” Gasan r epl i cou, “ Por f avor l ei a al go del a par a
mi m. ”
O mong e a br i u a Bí bl i a no S e r mã o da Mont a nha e m S ã o
Ma t e us , e c ome ç ou a l e r . Após a l e i t ur a da s pa l a v r a s de
Cr i s t o s obr e os l í r i os no c a mpo, e l e pa r ou . Me s t r e Ga s a n
f i c ou e m s i l ê nc i o por mui t o t e mpo.
“ Si m, ” el e f i nal ment e di sse, “ Quem quer que pr of er i u
e s t a s pa l a v r a s é um s e r i l umi na do. O que v oc ê l e u pa r a
mi m é a e s s ê nc i a de t udo o que e u t e nho e s t a do t e nt a ndo
e ns i na r a v oc ê s a qui . ”

14. A Lua Não Pode Ser Roubada

Ry ok a n, um me s t r e Z e n, v i v i a a ma i s s i mpl e s e f r ug a i s
da s v i da s e m uma pe que na c a ba na a os pé s de uma mont a nha .
Uma noi t e um l a dr ã o e nt r ou na c a ba na a pe na s pa r a
de s c obr i r que na da ha v i a pa r a s e r r ouba do.
Ry ok a n r e t or nou e o s ur pr e e nde u l á .
“ Voc ê f e z uma l ong a v i a g e m pa r a me v i s i t a r , ” e l e di s s e
a o g a t uno, “ e v oc ê nã o de v e r i a r e t or na r de mã os v a z i a s .
Por f a v or t ome mi nha s r oupa s c omo um pr e s e nt e . ”
O l a dr ã o f i c ou pe r pl e x o. Ri ndo de t r oç a , e l e t omou a s
r oupa s e e s g ue i r ou- s e pa r a f or a .
Ry ok a n s e nt ou- s e nu, ol ha ndo a l ua .
“ Pobr e coi t ado, ” el e mur mur ou. “ Gost ar i a de poder dar -
l he e s t a be l a l ua . ”
15. Equanimidade

Dur a nt e a s g ue r r a s c i v i s no J a pã o f e uda l , um e x é r c i t o
i nv a s or pode r i a f a c i l me nt e di z i ma r uma c i da de e t oma r
c ont r ol e . Numa v i l a , t odos f ug i r a m a pa v or a dos a o s a be r e m
que um g e ne r a l f a mos o por s ua f úr i a e c r ue l da de e s t a v a s e
a pr ox i ma ndo - t odos e x c e t o um me s t r e Z e n, que v i v i a
a f a s t a do.
Qua ndo c he g ou à v i l a , s e us ba t e dor e s di s s e r a m que
ni ng ué m ma i s e s t a v a l á , a l é m do mong e . O g e ne r a l f oi
e nt ã o a o t e mpl o, c ur i os o e m s a be r que m e r a t a l home m.
Qua ndo e l e l á c he g ou, o mong e nã o o r e c ebe u c om a nor ma l
s ubmi s s ã o e t e r r or c om que e l e e s t a v a a c os t uma do a s e r
t r a t a do por t odos ; i s s o l e v ou o g e ne r a l à f úr i a .
“ Seu t ol o! ! ” el e gr i t ou enquant o desembai nhava a
e s pa da , “ nã o pe r c e be que v oc ê e s t á di a nt e de um home m que
pode t r uc i dá - l o num pi s c a r de ol hos ? ! ? ”
Ma s o me s t r e pe r ma ne c e u c ompl e t a me nt e t r a nqüi l o.
“ E você per cebe, ” o mest r e r epl i cou cal mament e, “ que
v oc ê e s t á di a nt e de um home m que pode s e r t r uc i da do num
pi s c a r de ol hos ? ”

16. O ladrão que se tornou um discípulo

Uma noi t e qua ndo S hi c hi r i Koj un e s t a v a r e c i t a ndo s ut r a s


um l a dr ã o c om uma e s pa da e nt r ou e m s e u z e ndo, e x i g i ndo
s e u di nhe i r o ou a s ua v i da .
S hi c hi r i di s s e - l he :
“ Não me per t ur be. Você pode encont r ar o di nhe i r o
na que l a g a v e t a . ” E r e t omou s ua r e c i t a ç ã o.
Um pouc o de poi s e l e pa r ou de nov o e di s s e a o l a dr ã o:
“ Não pegue t udo. Eu pr eci so de al guma soma par a pagar
os i mpos t os a ma nhã . ”
O i nt r us o pe g ou a ma i or pa r t e do di nhe i r o e pr i nc i pi ou
a s ai r .
“ Agr adeça à pes s oa qua ndo v oc ê r e c e be um pr e s e nt e , ”
S hi c hi r i a c r e s c e nt ou. O home m l he a g r a de c e u, me i o
c onf us o, e f ug i u.
Pouc os di a s de poi s o i ndi v í duo f oi pr e s o e c onf e s s ou,
e nt r e out r a s c oi s a s , a of e ns a c ont r a S hi c hi r i . Qua ndo
S hi c hi r i f oi c ha ma do c omo t e s t e munha e l e d i s s e :
“ Est e homem não é l adr ão, ao menos t ant o quant o me di z
r e s pe i t o. E u l he de i o di nhe i r o e e l e i nc l us i v e me
a g r a de c e u por i s s o. ”
Após o home m t e r c umpr i do s ua pena , e l e f oi a S hi c hi r i
e t or nou- s e um de s e us di s c í pul os .

17. Verdadeira regeneração

Ry ok a n de v ot ou s ua v i da a o e s t udo do Z e n. Um di a e l e
ouv i u que s e u s obr i nho, a de s pe i t o da s a dv e r t ê nc i a s de
s ua f a mí l i a , es t a v a g a s t a ndo s e u di nhe i r o c om uma
pr os t i t ut a . Uma v e z que o s obr i nho t i nha s ubs t i t uí do
Ry ok a n na r e s pons a bi l i da de de g e r e nc i a r os pr ov e nt os da
f a mí l i a , e os be ns de s t a por t a nt o c or r i a m r i s c o de s e r e m
di s s i pa dos , os pa r e nt e s pe di r a m a Ry ok a n f a z e r a l g o.
Ry ok a n t e v e que v i a j a r por uma l ong a e s t r a da pa r a
e nc ont r a r s e u s obr i nho, o qua l e l e nã o v i a há mui t os
a nos . O s obr i nho f i c ou g r a t o por e nc o nt r a r s e u t i o
nov a me nt e e o c onv i dou a pe r noi t a r e m s ua c a s a .
Por t oda a noi t e Ry ok a n s e nt ou e m me di t a ç ã o. Qua ndo e l e
e s t a v a pa r t i ndo na ma nhã s e g ui nt e e l e di s s e a o j ov e m: “ E u
de v o e s t a r f i c a ndo v e l ho, mi nha s mã os t r e me m t a nt o!
Pode r i a me a j uda r a a ma r r a r mi nha s a ndá l i a de pa l ha ? ”
O s obr i nho o a j udou de v ot a da me nt e . “ Obr i g a do, ” di s s e
Ry ok a n f i na l me nt e , “ v oc ê v ê , a c a da di a um home m s e t or na
ma i s v e l ho e f r á g i l . Cui de - s e c om a t e nç ã o. ” E nt ã o Ry ok a n
pa r t i u, j a ma i s me nc i ona ndo uma pa l a v r a s obr e a c or t e s ã ou
a s r e c l a ma ç õe s de s e us pa r e nt e s . Ma s , da que l a ma nhã e m
di a nt e , o e s ba nj a me nt o do s e u ne t o t e r mi nou.

18. O Homem rico

Um home m que r i a f i c a r r i c o e , t odos os di a s , i a pe di r a


De us que l he a t e nde s s e à s s úpl i c a s .
Num di a de i nv e r no, a o v ol t a r da or a ç ã o, a v i s t ou, p r e s a
no g e l o do c a mi nho, uma pol puda c a r t e i r a de di nhe i r o.
No me s mo i ns t a nt e , j ul g ou- s e a t e ndi do. Ma s c omo a
c a r t e i r a r e s i s t i s s e a os s e us e s f or ç os , ur i nou e m c i ma
de l a a f i m de de r r e t e r o g e l o que a r e t i nha . E f oi e nt ã o.
. .
Que de s pe r t ou na c a ma t oda mol h a da . . .

19. Morte de Tokuan

Me s t r e T ok ua n ( c uj o nome s i g ni f i c a “ pe pi no” ) e s t a v a
mor r e ndo; um di s c í pul o a pr ox i mou - s e e per g unt ou- l he qua l
e r a o s e u t e s t a me nt o. T a k ua n r e s ponde u que nã o t i nha
t e s t a me nt o; ma s o di s c í pul o i ns i s t i u:
- Nã o t e nde s na da . . . Na da pa r a di z e r ?
- A v i da nã o pa s s a de um s onho.
E e x pi r ou.

20. Eremita e a ambição

Na Chi na a nt i g a , um e r e mi t a me i o má g i c o v i v i a numa
mont a nha pr of unda . Um be l o di a , um v e l ho a mi g o f oi
v i s i t á - l o. S e nr i n, mui t o f e l i z por r e c e bê - l o, of e r e c e u-
l he um j a nt a r e um a br i g o pa r a a noi t e ; na ma nha
s e g ui nt e , a nt e s da pa r t i da do a mi g o, qui s of e r t a r - l he um
pr e s e nt e . T omou de uma pe dr a e , c om o de do, c onv e r t e u - a
num bl oc o de our o pur o.
O a mi g o nã o f i c ou s a t i s f e i t o; S e nr i n a pont ou o de do
pa r a uma r oc ha e nor me , que t a mbé m s e t r a ns f or mou e m our o.
O a mi g o, por é m, c ont i nua v a s e m s or r i r .
- Que que r e s , e nt ã o? - i nda g ou S e nr i n.
Re s ponde u- l he o a mi g o:
- Cor t a e s s e de do, e u o que r o.

21. Presente de Insultos

Ce r t a v e z e x i s t i u um g r a nde g ue r r e i r o. Ai nda que mui t o


v e l ho, el e a i nda er a c a pa z de de r r ot a r qua l que r
de s a f i a nt e . S ua r e put a ç ã o e s t e nde u - s e l ong e e a mpl a me nt e
a t r a v é s do pa í s e mui t os e s t uda nt e s r e uni a m- s e pa r a
e s t uda r s ob s ua or i e nt a ç ã o.
Um di a um i nf a me j ov e m g ue r r e i r o c he g ou à v i l a . E l e
e s t a v a de t e r mi na do a s er o pr i me i r o home m a de r r ot a r o
g r a nde me s t r e . J unt o à s ua f or ç a , e l e pos s uí a uma
ha bi l i da de f a nt á s t i c a e m pe r c e be r e e x pl or a r qua l que r
f r a que z a e m s e u opone nt e , of e nde ndo - o a t é que a e s t e
pe r de s s e a c onc e nt r a ç ã o. E l e e s pe r a r i a e nt ã o que s e u
opone nt e f i z e s s e o pr i mei r o mov i me n t o, e a s s i m r e v e l a ndo
s ua f r a que z a , e e nt ã o a t a c a r i a c om uma f or ç a i mpi e dos a e
v e l oc i da de de um r a i o. Ni ng ué m j a ma i s ha v i a r e s i s t i do e m
um due l o c ont r a e l e a l é m do pr i me i r o mov i me nt o.
Cont r a t oda s as a dv e r t ê nc i a s de s e us pr e oc upa dos
e s t uda nt e s , o v el ho me s t r e a l e g r e me nt e a c e i t ou o de s a f i o
do j ov e m g ue r r e i r o. Qua ndo os doi s s e pos i c i ona r a m pa r a a
l ut a , o j ov e m g ue r r e i r o c ome ç ou a l a nç a r i ns ul t os a o
v e l ho me s t r e . E l e j og a v a t e r r a e c us pi a e m s ua f a c e . Por
hor a s e l e v e r ba l me nt e of e nde u o me s t r e c om t odo o t i po de
i ns ul t o e ma l di ç ã o c onhe c i dos pe l a huma ni da de . Ma s o
v e l ho g ue r r e i r o me r a me nt e f i c ou pa r a do a l i , c a l ma me nt e .
F i na l me nt e , o j ov e m g ue r r e i r o f i na l me nt e f i c ou e x a us t o.
Pe r c e be ndo que t i nha s i do de r r ot a do, el e f ug i u
v e r g onhos a me nt e .
Um t a nt o de s a pont a dos por nã o t e r e m v i s t o s e u me s t r e
l ut a r c ont r a o i ns ol e nt e , os e s t uda nt e s a pr ox i ma r a m- s e e
l he pe r g unt a r a m: “ Como o s e nhor pôde s upor t a r t a nt os
i ns ul t os e i ndi g ni da de s ? Como c ons e g ui u de r r ot á - l o s e m a o
me nos s e mov e r ? ”
“ Se al guém vem par a l he dar um pr esent e e v oc ê nã o o
a c e i t a , ” o me s t r e r e pl i c ou, “ pa r a que m r e t or na e s t e
pr e s e nt e ? ”

22. Caçando dois coelhos

Um e s t uda nt e de a r t e s ma r c i a i s a pr ox i mou - s e de s eu
me s t r e c om uma que s t ã o:
“ Gost ar i a de aument ar meu conheci ment o das ar t es
ma r c i a i s . E m a di ç ã o a o que a pr e ndi c om o s enhor , e u
g os t a r i a de e s t uda r c om out r o pr of e s s or pa r a pode r
a pr e nde r out r o e s t i l o. O que pe ns a de mi nha i dé i a ? ”
“ O caçador que espr ei t a doi s coel hos ao mesmo t empo, ”
r e s ponde u o me s t r e , “ c or r e o r i s c o de nã o pe g a r ne nhum. ”

23. O Mais Importante Ensinamento

Um r e noma do me s t r e Z e n di z i a que s e u ma i or e ns i na me nt o
e r a e s t e : Buddha é a s ua me nt e . De t ã o i mpr e s s i ona do c om
a pr of undi da de i mpl i c a da ne s t e a x i oma , um mong e de c i di u
de i x a r o Mona s t é r i o e r e t i r a r - s e e m um l oc a l a f a s t a do
pa r a me di t a r ne s t a pe ç a de s a be dor i a . E l e v i v e u 20 a nos
c omo um e r e mi t a r e f l e t i ndo no g r a nde e ns i na me nt o.
Um di a e l e e nc ont r ou out r o mong e que v i a j a v a na a t r a v é s
da f l or e s t a pr óx i ma à s ua e r mi da . L og o o mong e e r e mi t a
s oube que o v i a j a nt e t a mbé m t i nha e s t uda s ob o me s mo
me s t r e Z e n.
“ Por f avor , di ga- me se v oc ê c onhe c e o g r a nde
e ns i na me nt o do me s t r e , ” pe r g unt ou a ns i os o a o out r o.
Os ol hos do mong e v i a j a nt e br i l ha r a m, “ Ah! O me s t r e f oi
mui t o c l a r o s obr e i s t o. E l e di s s e que s e u ma i or
e ns i na me nt o e r a : Buddha NÃO é a s ua me nt e . ”

24. Aprendendo do modo mais duro

O f i l ho de um me s t r e e m r oubos pe di u a s e u pa i pa r a
e ns i na r - l he os s e g r e dos de s e u of í c i o. O v e l ho l a dr ã o
c onc or dou e na que l a noi t e l e v ou s e u f i l ho pa r a a s s a l t a r
uma g r a nde ma ns ã o. E nqua nt o a f a mí l i a dor mi a , el e
s i l e nc i os a me nt e l e v ou s e u a pr e ndi z pa r a de nt r o de um
qua r t o que c ont i nha um a r má r i o de r i c a s r oupa s . O pa i
di s s e a o f i l ho pa r a e nt r a r no a r má r i o e pe g a r a l g uma s
r oupa s . Qua ndo o r a pa z f e z i s s o, s e u pa i r a pi da me nt e
f e c hou a por t a e o pr e nde u l á dent r o. E nt ã o e l e s a i u, e
ba t e u s onor a me nt e na por t a da f r e nt e , a c or da ndo
c ons e que nt e me nt e a f a mí l i a que dor mi a , e r a pi da me nt e
f ug i u a nt e s que qua l que r pe s s oa o v i s s e .
Hor a s ma i s t a r de , s e u f i l ho r e t or nou à c a s a , e m t r a pos
e e x a us t o.
“ Pai ! ” el e gr i t ou em f úr i a, “ Por que o senhor me pr ende u
no a r má r i o? S e e u nã o t i v e s s e us a do de s e s pe r a da me nt e me us
r e c ur s os c om me do de s e r de s c obe r t o, e u j a ma i s t e r i a
e s c a pa do. T i v e que a ba ndona r t oda a mi nha t i mi de z pa r a
s a i r de l á! ”
O v e l ho l a dr ã o s or r i u: “ F i l ho, v oc ê a c a bou de t e r s ua
pr i me i r a l i ç ã o na a r t e da r a pi na g e m. . . ”

25. Gutei e o Dedo

O Me s t r e Gut e i , s e mpr e que l he f a z i a m uma pe r g unt a ,


r e s pondi a l e v a nt a ndo um de do s e m di z e r na da . Um nov i ç o
a dqui r i u o v í c i o de i mi t á - l o. Ce r t o di a , um v i s i t a nt e
pe r g unt ou a o nov i ç o:
“ Que ser mão o Mest r e est á pr onunc i a ndo a g or a ? ”
O nov i ç o r e s ponde u l e v a nt a ndo o de do. O v i s i t a nt e ,
qua ndo s e e nc ont r ou c om o Me s t r e , c ont ou - l he que o nov i ç o
o i mi t a r a . Ma i s t a r de , o Me s t r e e s c onde u uma f a c a na s
v e s t e s e c ha mou o nov i ç o. Qua ndo e s t e s e a pr e s e nt ou,
Gut e i pe r g unt ou- l he :
“ O que é Buddha ? ”
O r a pa z , a ns i os o pa r a i mpr e s s i ona r o me s t r e , r e s ponde u
l e v a nt a ndo o de do. O Me s t r e e nt ã o a g a r r ou - l he a mã o e
c or t ou- l he o de do c om a f a c a . O di s c í pul o, a pa v or a do e e m
c hoque , j á i a s a i r c or r e ndo, ma s o Me s t r e o c ha mou c om um
g r i t o:
“ NOVI ÇO! ”
Qua ndo o r a pa z s e v ol t ou pa r a o Me s t r e , e s t e pe r g unt ou
a br upt a me nt e :
“ O que é Buddha?”
O di s c í pul o i a l e v a nt a r o de do, ma s nã o t i nha ma i s
de do. Ne s t e i ns t a nt e , e l e a l c a nç ou o S a t or i .

26. Seguindo a corrente

Um v e l ho home m bê ba do a c i de nt a l me nt e c a i u na s t e r r í v e i s
c or r e de i r a s de um r i o que l e v a v a m pa r a uma a l t a e
pe r i g os a c a s c a t a . Ni ng ué m j a ma i s t i nha s obr e v i v i do à que l e
r i o. Al g uma s pe s s oa s que v i r a m o a c i de nt e t e me r a m pe l a
s ua v i da , t e nt a ndo de s e s pe r a da me nt e c ha ma r a a t e nç ã o do
home m que , bê ba do, es t av a qua s e de s ma i a do. Ma s ,
mi r a c ul os a me nt e , e l e c ons e g ui u s a i r s a l v o qua ndo a
pr ópr i a c or r e nt e z a o de s pe j ou na ma r g e m e m uma c ur v a que
f a z i a o r i o.
Ao t e s t e munha r o e v e nt o, Kung - t z u ( Conf úc i o) c ome nt ou
pa r a t oda s a s pe s s oa s que di z i a m nã o e nt e nde r c omo o
home m t i nha c ons e g ui do s a i r de t ã o g r a nde di f i c ul da de s e m
l ut a :
“ El e se acomodou à água, não t ent ou l ut ar com el a. Sem
pe ns a r , s e m r a c i ona l i z a r , e l e pe r mi t i u que a á g ua o
e nv ol v e s s e . Me r g ul ha ndo na c or r e nt e z a , c ons e g ui u s a i r da
c or r e nt e z a . As s i m f oi c omo c ons e g ui u s obr e v i v e r . ”

27. O Sonho

Ce r t a v e z o me s t r e t a oí s t a Chua ng T z u s onhou que e r a


uma bor bol e t a , v oa ndo a l e g r e me nt e a qui e a l i . No s onho
el e nã o t i nha ma i s a mí ni ma c ons c i ê nc i a de s ua
i ndi v i dua l i da de c omo pe s s oa . E l e er a r e a l me nt e uma
bor bol e t a . Re pe nt i na me nt e , e l e a c or dou e de s c obr i u- s e
de i t a do a l i , um pe s s oa nov a me nt e .
Ma s e nt ã o e l e pe ns ou pa r a s i me s mo:
“ Fui ant es um homem que sonhava ser uma bor bol et a, ou
s ou a g or a uma bor bol e t a que s onha e m s e r um home m? ”

28. Egoísmo

O Pr i me i r o Mi ni s t r o da Di na s t i a T a ng e r a um he r ói
na c i ona l pe l o s e u s uc e s s o t a nt o c omo home m de e s t a do
qua nt o c omo l í de r mi l i t a r . Ma s a de s pe i t o de s ua f a ma ,
pode r e r i que z a , e l e s e c ons i de r a v a um humi l de e de v ot o
Buddhi s t a . F r e qüe nt e me nt e e l e v i s i t a v a s e u mes t r e Z e n
f a v or i t o pa r a e s t uda r c om e l e , e e l e s pa r e c i a m s e da r
mui t o be m. O f a t o de que e l e e r a pr i me i r o mi ni s t r o
a pa r e nt e me nt e nã o t i nha e f e i t o e m s ua r e l a ç ã o, que
pa r e c i a s e r s i mpl e s me nt e a de um r e v e r e ndo me s t r e e s e u
r e s pe i t os o e s t uda nt e .
Um di a , dur a nt e s ua v i s i t a us ua l , o Pr i me i r o Mi ni s t r o
pe r g unt ou a o me s t r e , “ Me s t r e , o que é o e g oí s mo de a c or do
c om o Buddhi s mo? ”
O r os t o do me s t r e f i c ou v e r me l ho, e num t om de v oz
e x t r e ma me nt e de s de nhos o e i ns ul t uos o e l e g r i t ou e m
r e s pos t a :
“ Que t i po de per gunt a est úpi da é est a?! ?”
T a l r e s pos t a t ã o i ne s pe r a da c hoc ou t a nt o o Pr i me i r o
Mi ni s t r o que e s t e t or nou- s e i me di a t a me nt e a r r og a nt e e c om
r ai va:
“ Como ousa me t r at ar assi m?”
Ne s t e mome nt o o me s t r e Z e n s or r i u e di s s e :
“ I STO, Sua Excel ênci a, é egoí smo. . . ”

29. Conhecendo os Peixes

Ce r t a v ez Chua ng T z u e um a mi g o c a mi nha v a m à ma r g e m de
um r i o.
“ Vej a os pei xes nadando na cor r ent e, ” di sse Chuang Tzu,
“ El es est ão r eal ment e f el i zes. . . ”
“ Você não é um pei xe, ” r epl i cou ar r ogant ement e seu
a mi g o, “ E nt ã o v oc ê nã o pode s a be r s e e l e s e s t ã o f e l i z e s . ”
“ Você não é Chuang Tz u, ” di s s e Chua ng T z u, “ E nt ã o c omo
v oc ê s a be que e u nã o s e i que os pe i x e s e s t ã o f e l i z e s ? ”

30. Plena Atenção

Após de z a nos de a pr e ndi z a g e m, T e nno a t i ng i u o t í t ul o


de me s t r e Z e n. Num di a c huv os o, e l e f oi v i s i t a r o f a mos o
me s t r e Na n- I n. Qua ndo e l e e nt r ou no mos t e i r o, o me s t r e
r e c e be u- o c om uma que s t ã o,
“ Você dei xou seus t amancos e seu guar da- c huv a no
a l pe ndr e ? ”
“ Si m” , Tenno r epl i cou.
“ Di ga- me e nt ã o, ” o me s t r e c ont i nuou, “ v oc ê c ol oc ou s e u
g ua r da - c huv a à e s que r da de s e u c a l ç a do, ou à di r e i t a ? ”
T e nno nã o s oube c omo r e s ponde r a o k oa n, pe r c e be ndo
a f i na l que e l e a i nda nã o t i nha a l c a nç a do a pl e na a t e nç ã o.
E nt ã o e l e t or nou- s e a pr e ndi z de Na n- I n e e s t udou s ob s ua
or i e nt a ç ã o por ma i s de z a nos .
31. Concentração

Após g a nha r v á r i os t or nei os de Ar c o e F l e c ha , o j ov e m e


a r r og a nt e c a mpe ã o r e s ol v e u de s a f i a r um me s t r e Z e n que e r a
r e noma do pe l a s ua c a pa c i da de c omo a r que i r o.
O j ov e m de mons t r ou g r a nde pr of i c i ê nc i a t é c ni c a qua ndo
e l e a c e r t ou e m um di s t a nt e a l v o na mos c a na pr i me i r a
f l e c ha l a nç a da , e a i nda f oi c a pa z de di v i di - l a e m doi s
c om s e u s e g undo t i r o.
“ Si m! ” , el e excl amou par a o vel ho ar quei r o, “ Vej a se
pode f a z e r i s s o! ”
I mpe r t ur bá v e l , o me s t r e nã o pr e pa r ou s e u a r c o, ma s e m
v e z di s s o f e z s i na l pa r a o j ov e m a r que i r o s e g ui - l o pa r a a
mont a nha a c i ma . Cur i os o s obr e o que o v e l ho e s t a v a
t r a ma ndo, o c a mpe ã o s e g ui u- o pa r a o a l t o a t é que e l e s
a l c a nç a r a m um pr of undo a bi s mo a t r a v e s s a do por uma f r á g i l
e pouc o f i r me t á bua de ma de i r a . Ca l ma me nt e c a mi nha ndo
s obr e a i ns e g ur a e c e r t a me nt e pe r i g os a pont e , o v e l ho
me s t r e t omou uma l a r g a á r v or e l ong í nqua c omo a l v o,
e s t i c ou s e u a r c o, e a c e r t ou um c l a r o e di r e t o t i r o.
“ Agor a é sua vez, ” el e di sse enquant o el e suavement e
v ol t a v a pa r a s ol o s e g ur o.
Ol ha ndo c om t e r r or pa r a de nt r o do a bi s mo ne g r o e
a pa r e nt e me nt e s e m f i m, o j ov e m nã o pôde f or ç a r a s i me s mo
c a mi nha r pe l a pr a nc ha , mui t o me nos a c e r t a r um a l v o de l á .
“ Você t em mui t a per í ci a com seu ar co, ” o mest r e di sse,
pe r c e be ndo a di f i c ul da de de s e u de s a f i a nt e , “ ma s v oc ê t e m
pouc o e qui l í br i o c om a me nt e que de v e nos de i x a r
r e l a x a dos pa r a mi r a r o a l v o. ”

32. Professor de Sino

Um nov o e s t uda nt e a pr ox i mou- s e do me s t r e Zen e


pe r g unt ou- l he c omo e l e pode r i a a bs or v e r s e us e ns i na me nt os
de f or ma c or r e t a .
“ Pense em mi m como um si no, ” o mest r e expl i cou. “ Me dê
um s ua v e t oque , e e u i r e i l he da r um pe que no t i ni do.
T oque - me c om f or ç a e v oc ê r e c e be r á um a l t o e pr of undo
ba da l o. ”

33. O Elefante e a Pulga

Ros hi Ka pl e a u ( um me s t r e Z e n mode r no) c onc or dou em


f a l a r a um g r upo de ps i c a na l i s t a s s obr e Z e n. Após s e r
a pr e s e nt a do a o g r upo pe l o di r e t or do i ns t i t ut o a na l í t i c o,
o Ros hi qui e t a me nt e s e nt ou- s e s obr e uma a l mof a da c ol oc a da
s obr e o c hã o. Um e s t uda nt e e nt r ou, pr os t r ou - s e di a nt e do
me s t r e , e e nt ã o s e nt ou- s e e m out r a a l mof a da pr óx i ma ,
ol ha ndo s e u pr of e s s or .
“ O que é Zen?” o est udant e per gunt ou. O Roshi pegou uma
ba na na , de s c a s c ou- a , e c ome ç ou a c omê - l a .
“ I sso é t udo? O senhor não pode me di zer nada mai s?” o
e s t uda nt e di s s e .
“ Apr oxi me- s e , por f a v or . ” O me s t r e r e pl i c ou. O
e s t uda nt e mov e u- s e ma i s pa r a pe r t o e o Ros hi ba l a nç ou o
que r e s t a v a da ba na na e m f r e nt e a o r os t o do out r o. O
e s t uda nt e f e z uma r e v e r ê nc i a e pa r t i u.
Um s e g undo e s t uda nt e l e v a nt ou - s e e di r i g i u- s e à
a udi ê nc i a :
“ Vocês t odos ent ender am?” Quando não houve r espost a, o
e s t uda nt e a di c i onou:
“ Vocês acabar am de t est emunhar uma compl et a
de mons t r a ç ã o do Z e n. Al g uma que s t ã o? ”
Após um l ong o s i l ê nc i o c ons t r a ng i do, a l g ué m f a l ou.
“ Roshi , eu não est ou sat i sf ei t o com sua demonst r ação. O
s e nhor nos mos t r ou a l g o que e u nã o t e nho c e r t e z a de t e r
c ompr e e ndi do. DE VE e x i s t i r uma ma ne i r a de nos DI Z E R o que
é o Z e n! ”
“ Se você i nsi st e em usar mai s pal avr a s , ” o Ros hi
r e pl i c ou, “ e nt ã o Z e n é ' um e l e f a nt e c opul a ndo c om uma
pul g a . . . ' “ .

34. Livros

Hs üa n- Chi e n, qua ndo j ov e m, e r a um de v ot o e s t uda nt e do


buddhi s mo. E s t udou mui t o os c onc e i t os e a s dout r i na s , e
t or nou- s e mui t o há bi l e m a na l i s a r os t e r mos c ompl e x os , e
s e c ons i de r a v a um e x pe r t e m f i l os of i a buddhi s t a . Apr e nde u
de c or o S ut r a do Di a ma nt e , e or g ul hos a me nt e e s c r e v e u um
l ong o c ome nt á r i o s obr e e l e .
Um di a , s a be ndo que e m Huna n ha v i a um g r a nde s á bi o que
di z i a c oi s a s que e l e nã o c onc or da v a , r e s ol v e u v i a j a r a t é
l á pa r a pr ov a r , a t r a v é s de s e u c onhe c i me nt o, que o
pr e t e ns o s á bi o e s t a v a e r r a do. E l e pe g ou s e u c ome nt á r i o
Qi ng l ong s obr e o S ut r a do Di a ma nt e e pa r t i u.
No c a mi nho, e nc ont r ou uma v e l ha que v e ndi a bol i nhos de
a r r oz . Ca ns a do e c om f ome , f a l ou à s e nhor a :
“ Gost ar i a de c ompr a r a l g uns bol i nhos , por f a v or . ”
“ Que l i vr os est á car r egando? “ , per gunt ou a vel ha.
“ É o meu coment ár i o sobr e o sent i do ver dadei r o do Sut r a
do Di a ma nt e , ” di s s e or g ul hos o, ” ma s v oc ê nã o s a be na da
s obr e e s s e s a s s unt os pr of undos . ”
Após um pe que no mome nt o e m s i l ê nc i o, a v e l ha l he di s s e :
“ Vou l he f azer uma per gunt a, e se puder me r esponder eu
l he da r e i os bol i nhos de g r a ç a . S e nã o, t e r á que i r
e mbor a , poi s nã o v ou l he v e nde r os bol i nhos . ”
Ac ha ndo- s e c a pa z de r e s ponde r qua l que r pe r g unt a , qua nt o
ma i s de uma pe s s oa s e m os s e us a nos de c onhe c i me nt os nos
t e r mos f i l os óf i c os , di s s e :
“ Mui t o bem, per gunt e- me ” .
“ Est á escr i t o no Vaj r acchedi ka que a Ment e do passado é
i na t i ng í v e l , a Me nt e do f ut ur o é i na t i ng í v e l e a Me nt e do
pr e s e nt e é i na t i ng í v e l ; di g a - me e nt ã o: c om qua l Me nt e
v oc ê v a i s e a l i me nt a r ? ”
E s t upe f a t o, Hs üa n- c hi e n nã o s oube o que di z e r . A v e l ha
l e v a nt ou- s e e c ome nt ou:
“ Si nt o mui t o, mas acho que t er á que se al i ment ar em
out r o l ug a r ” , e pa r t i u.
Qua ndo c he g ou no s e u de s t i no e nc ont r ou L ong t a n, o
me s t r e do t e mpl o. T i nha c he g a do t a r de , e a i nda a ba l a do
c om o enc ont r o a nt e r i or , s e nt ou - s e s i l e nc i os a me nt e e m
f r e nt e a o me s t r e , e s pe r a ndo que e l e i ni c i a s s e o de ba t e . O
me s t r e , a pós mui t o t e mpo, di s s e :
“ É mui t o t ar de, e você est á cansado. É mel hor ir par a
s e u qua r t o dor mi r . ”
“ Mui t o bem, ” di sse o i nt el ect ual , l evant ou- s e e c ome ç ou
a s a i r pa r a a e s c ur i dã o do c or r e dor . O me s t r e v e i o de
de nt r o do s a l ã o e c ome nt ou:
“ Est á mui t o escur o, t ome, l eve est a vel a acesa, ” e l he
pa s s ou uma da s v e l a s a c e s a s do a l t a r . Qua ndo Hs üe n - c hi e n
pe g ou a v e l a t r a z i da pe l o me s t r e , L ong t a n s ubi t a me nt e
a s s opr ou- a , a pa g a ndo a l uz e de i x a ndo a mbos s i l e nc i os os
e m me i o à e s c ur i dã o. Ne s t e mome nt o Hs üa n - c hi e n a t i ng i u o
S a t or i .
No di a s e g ui nt e , l e v ou t odos s e us l i v r os e c ome nt á r i os
pa r a o pá t i o e os que i mou.

35. Obra de Arte

Um me s t r e e m c a l i g r a f i a e s c r e v e u a l g uns i de og r a ma s e m
uma f ol ha de pa pe l . Um dos s e us ma i s e s pec i a l me nt e
s e ns í v e i s e s t uda nt e s e s t a v a obs e r v a ndo. Qua ndo o a r t i s t a
t e r mi nou, e l e pe r g unt ou a opi ni ã o do s e u pupi l o - que
i me di a t a me nt e l he di s s e que nã o e s t a v a bom. O me s t r e
t e nt ou nov a me nt e , ma s o e s t uda nt e c r i t i c ou t a mbé m o nov o
t r a ba l ho. Vá r i a s v ez es , o me s t r e c ui da dos a me nt e
r e de s e nhou os me s mos i de og r a ma s , e a c a da v ez s eu
e s t uda nt e r e j e i t a v a a obr a .
E nt ã o, qua ndo o e s t uda nt e e s t a v a c om s ua a t e nç ã o
de s v i a da por out r a c oi s a e nã o e s t a v a ol ha ndo, o me s t r e
a pr ov e i t ou o mome nt o e r a pi da me nt e a pa g ou os c a r a c t e r e s
que ha v i a e s c r i t o no úl t i mo t r a ba l ho, de i x a ndo a f ol ha em
br a nc o.
“ Vej a! O que acha?, ” el e per gunt ou. O Est udant e ent ão
v i r ou- s e e ol hou a t e nt a me nt e .
“ ESTA. . . é ver dadei r ament e uma obr a de ar t e! ” ,
e x c l a mou.
( Uma l enda di z que e s t e é o c ont o que de s c r e v e a
c r i a ç ã o de a r t e do me s t r e Kos e n, que por s ua v e z f oi
us a da pa r a c r i a r o e nt a l he e m ma de i r a da s pa l a v r a s “ O
Pr i me i r o Pr i nc í pi o” , que or na me nt a m o por t ã o do T e mpl o
Oba k u e m Ky ot o) .

36. Buscando por Buddha

Um mong e pôs - s e a c a mi nho de uma l ong a pe r e g r i na ç ã o


pa r a e nc ont r a r Buddha . E l e l e v ou mui t os a nos e m s ua bus c a
a t é a l c a nç a r a t e r r a onde di z i a - s e que v i v i a Buddha . Ao
c r uz a r o s a g r a do r i o que c or t a v a e s t e pa í s , o mong e
ol ha v a e m t or no e nqua nt o o ba r que i r o c onduz i a o bot e . E l e
pe r c e be u a l g o f l ut ua ndo e m s ua di r e ç ã o. Qua ndo o obj e t o
c he g ou ma i s pe r t o, e l e v i u que e r a um c a dá v e r - e que o
mor t o e r a e l e me s mo!
O mong e pe r de u t odo o c ont r ol e e de u um g r i t o de dor à
v i s ã o de s i me s mo, r í g i do e s e m v i da , f l ut ua ndo
s ua v e me nt e na c or r e nt e do g r a nde r i o.
Ne s t e i ns t a nt e pe r c e be u que a l i es t av a c ome ç a ndo s ua
bus c a pe l a l i be r a ç ã o. . .
E e nt ã o e l e s oube de f i ni t i v a me nt e que s ua pr oc ur a por
Buddha ha v i a t e r mi na do.
37. O Agora

Um g ue r r e i r o j a ponê s f oi c a pt ur a do pe l os s e us i ni mi g os
e j og a do na pr i s ã o. Na que l a noi t e e l e s e nt i u - s e i nc a pa z
de dor mi r poi s s a bi a que no di a s e g ui nt e e l e i r i a s e r
i nt e r r og a do, t or t ur a do e e x e c ut a do. E nt ã o a s pa l a v r a s de
s e u me s t r e Z e n s ur g i r a m e m s ua me nt e :
“ O “ amanhã” não é r eal . É uma i l usão. A úni ca r eal i dade
é “ AGORA. O v e r da de i r o s of r i me nt o é v i v e r i g nor a ndo e s t e
Dha r ma ” .
E m me i o a o s e u t e r r or s ubi t a me nt e c ompr e e nde u o s e nt i do
de s t a s pa l a v r a s , f i c ou e m pa z e dor mi u t r a nqüi l a me nt e .

38. Nada santo

Ce r t a v ez Bodhi dha r ma f oi l e v a do à pr e s e nç a do
I mpe r a dor Wu, um de v ot o be nf e i t or buddhi s t a , que a ns i a v a
r e c e be r a a pr ov a ç ã o de s ua g e ne r os i da de pe l o s á bi o. E l e
pe r g unt ou a o me s t r e :
“ Nós const r uí mos t empl os, copi amos os sut r as sagr ados,
or de na mos mong e s e monj a s . Qua l o mé r i t o, r e v e r e nc i a do
S e nhor , da nos s a c ondut a ? ”
“ Nenhum mér i t o, em absol ut o” , di sse o sábi o.
O I mpe r a dor , c hoc a do e a l g o of e ndi do, pe ns ou que t a l
r e s pos t a c om c e r t e z a e s t a v a s ubv e r t e ndo t odo o dog ma
buddhi s t a , e t or nou a pe r g unt a r :
“ Ent ão qual é o Sant o Dhar ma, o Pr i mei r o Pr i ncí pi o?”
“ Um vast o Vazi o, sem nada sant o dent r o del e” , af i r mou
Bodhi dha r ma , pa r a a s ur pr e s a do I mpe r a dor . E s t e f i c ou
f ur i os o, l e v a nt ou- s e e f e z s ua úl t i ma pe r g unt a :
“ Quem és ent ão, par a f i car es di ant e de mi m c omo se
f os s e um s á bi o? ”
“ Eu não sei , Maj est ade” , r epl i cou o sábi o, que assi m
t e ndo di t o v i r ou- s e e f oi e mbor a .
39. Onde está sua mente?

F i na l me nt e , a pós mui t os s of r i me nt os , S ha ng Kwa ng f oi


a c e i t o por Bodhi dha r ma c omo s e u di s c í pul o. O j ov e m e nt ã o
pe r g unt ou a o me s t r e :
“ Eu não t enho paz de espí r i t o. Gost ar i a de pedi r ,
S e nhor , que pa c i f i c a s s e mi nha me nt e . ”
“ Ponha sua ment e aqui na mi nha f r ent e e eu a
pa c i f i c a r e i ! ” r e pl i c ou Bodhi dha r ma .
“ Mas. . . é i mpossí vel que eu f aça i sso! ” af i r mou Shang
Kwa ng .
“ Ent ão j á paci f i que i a s ua me nt e . ” , c onc l ui o s á bi o.

40. A prática faz a perfeição

Um e s t uda nt e de c a nt o de ópe r a dr a má t i c a t r e i nou s ob um


r í g i do pr of e s s or que i ns i s t i a que e l e r e c i t a s s e di a a pós
di a , mê s a pós mê s o me s mo t r e c ho da me s ma c a nç ã o, s e m
j a ma i s s e r pe r mi t i do i r a di a nt e . F i na l me nt e , opr i mi do
pe l a f r us t r a ç ã o e de s e s pe r o, o j ov e m f ug i u e m bus c a de
out r a pr of i s s ã o. Uma noi t e , pa r a ndo e m uma e s t a l a g e m, e l e
e nc ont r ou por a c a s o o a núnc i o de uma c ompe t i ç ã o de
r e c i t a ç ã o. Nã o t e ndo na da a pe r de r , e l e e nt r ou na
c ompe t i ç ã o e , é c l a r o, c a nt ou a úni c a pa s s a g e m que e l e
c onhe c i a t ã o be m. Qua ndo e l e t e r mi nou, o pa t r oc i na dor da
c ompe t i ç ã o c ong r a t ul ou- o e f us i v a me nt e s ua pe r f or ma nc e . A
de s pe i t o da s e mba r a ç a da s obj e ç õe s do e s t uda nt e , r e c us ou -
s e a a c r e di t a r que ha v i a e s c ut a do um c a nt or pr i nc i pi a nt e .
“ Di ga- me , ” pe r g unt ou o pa t r oc i na dor , “ que m é s eu
i ns t r ut or ? E l e de v e s e r um g r a nde me s t r e ! ”
O e s t uda nt e ma i s t a r de t or nou - s e c onhe c i do c omo o
g r a nde c a nt or j a ponê s Kos hi j i .
41. O Paraíso

Dua s pe s s oa s e s t a v a m pe r di da s no de s e r t o. E l a s e s t a v a m
mor r e ndo de i na ni ç ã o e s e de . F i na l me nt e , e l e s a v i s t a r a m
um a l t o mur o. Do out r o l a do e l e s podi a m ouv i r o s om de
que da s d' á g ua e pá s s a r os c a nt a ndo. Ac i ma e l e s podi a m v e r
os g a l hos de uma á r v or e f r ut í f e r a a t r a v e s s a ndo e pe nde ndo
s obr e o mur o. S e us f r ut os pa r e c i a m de l i c i os os .
Um dos home ns s ubi u o mur o e de s a pa r e c e u no out r o l a do.
O out r o, e m v e z di s s o, s a c i ou s ua f ome c om a s f r ut a s
que s obr e s s a í a m da á r v or e a l i me s mo, e r e t or nou a o
de s e r t o pa r a a j uda r out r os pe r di dos a e nc ont r a r o c a mi nho
pa r a o oá s i s .

42. Gato Ritual - Complicando o que é simples

Qua ndo um me s t r e e s pi r i t ua l e s e us di s c í pul os c ome ç a v a m


s ua me di t a ç ã o do a noi t e c e r , o g a t o que v i v i a no
Mona s t é r i o f a z i a t a nt o ba r ul ho que os di s t r a í a . E nt ã o o
pr of e s s or or de nou que o g a t o f os s e a mor da ç a do dur a nt e a
pr á t i c a not ur na . Anos de poi s , qua ndo o me s t r e mor r e u, o
g a t o c ont i nuou a s e r a ma r r a do dur a nt e a me di t a ç ã o. E
qua ndo o g a t o e v e nt ua l me nt e mor r e u, out r o g a t o f oi
t r a z i do pa r a o Mona s t é r i o e a ma r r a do. S é c ul os de poi s ,
qua ndo t odos os f a t os do e v e nt o e s t a v a m pe r di dos no
pa s s a do, pr a t i c a nt e s i nt e l e c t ua i s que e s t uda v a m os
e ns i na me nt os da que l e me s t r e e s pi r i t ua l e s c r e v e r a m l ong os
t r a t a dos e s c ol á s t i c os s obr e a s i g ni f i c â nc i a de se
a mor da ç a r um g a t o dur a nt e a pr á t i c a da me di t a ç ã o. . .

43. Natureza

Doi s mong e s e s t a v a m l a v a ndo s ua s t i g e l a s no r i o qua ndo


pe r c e be r a m um e s c or pi ã o que e s t a v a s e a f og a ndo. Um dos
mong e s i me di a t a me nt e pe g ou- o e o c ol oc ou na ma r g e m. No
pr oc e s s o e l e f oi pi c a do. E l e v ol t ou pa r a t e r mi na r de
l a v a r s ua t i g e l a e nov a me nt e o e s c or pi ã o c a i u no r i o. O
mong e s a l v ou o e s c or pi ã o e nov a me nt e f oi pi c a do. O out r o
mong e e nt ã o pe r g unt ou:
“ Ami go, por que você cont i nua a sal var o escor pi ão
qua ndo v oc ê s a be que s ua na t ur e z a é agi r c om
a g r e s s i v i da de , pi c a ndo- o? ”
“ Por que, ” r epl i cou o monge, “ agi r com compai xão é a
mi nha na t ur e z a . ”
( Out r a v e r s ã o de s t e c ont o de s c r e v e uma r a pos a que
c onc or da e m c a r r e g a r um e s c or pi ã o e m s ua s c os t a s a t r a v é s
de um r i o, s ob a c ondi ç ã o que o e s c or pi ã o nã o o pi que .
Ma s o es c or pi ã o a i nda a s s i m pi c a a r a pos a qua ndo a mbos
e s t a v a m no me i o da c or r e nt e z a . E nqua nt o a r a pos a
a f unda v a , l e v a ndo o e s c or pi ã o c ons i g o, e l a l a me nt os a me nt e
pe r g unt ou a o e s c or pi ã o por que t i nha c onde na do a a mbos à
mor t e a o pi c á - l a . “ Por que é mi nha na t ur e z a . ” . A me s ma
e s t ór i a é e nc ont r a da na t r a di ç ã o i ndí g e na a me r i c a na . No
Br a s i l a r a pos a é s ubs t i t uí da por um s a po. )

44. Sem Mais Questões

Ao e nc ont r a r um me s t r e Z e n e m um e v e nt o s oc i a l , um
ps i qui a t r a de c i di u c ol oc a r - l he uma que s t ã o que s e mpr e
e s t e v e e m s ua me nt e :
“ Exat ament e como você aj uda as pessoas?” el e per gunt ou.
“ Eu as al canço na que l e mome nt o ma i s di f í c i l , qua ndo
e l a s nã o t e m ma i s ne nhuma que s t ã o pa r a pe r g unt a r , ” o
me s t r e r e s ponde u.

45. Não Morri Ainda

O I mpe r a dor pe r g unt ou a o Me s t r e Gudo:


“ O que acont ece com um homem i l umi nado após a mor t e?”
“ Como eu poder i a saber ?” , r epl i cou Gudo.
“ Por que o senhor é um mest r e. . . não é?” r espondeu o
I mpe r a dor , um pouc o s ur pr e s o.
“ Si m Maj est ade, ” di sse Gudo suavement e, “ mas ai nda não
s ou um me s t r e mor t o. ”

46. Samsara

O mong e pe r g unt ou a o Me s t r e :
“ Como posso sai r do Samsar a ( a Roda de r enasci ment os e
mor t e s ) ? ”
O Me s t r e r e s ponde u:
“ Quem t e col ocou nel e?”

47. Mente em Movimento

Doi s home ns e s t a v a m di s c ut i ndo s obr e uma f l â mul a que


t r e mul a v a a o v e nt o:
“ É o vent o que r eal ment e est á se movendo! ” decl ar ou o
pr i me i r o.
“ Não, obvi ament e é a f l âmul a que se mov e ! ” c ont e s t ou o
s e g undo.
Um me s t r e Z e n, que por a c a s o pa s s a v a pe r t o, ouv i u a
di s c us s ã o e os i nt e r r ompe u di z e ndo:
“ Nem a f l âmul a nem o vent o est ão se movendo, ” di sse, “ É
a ME NT E que s e mov e . ”

48. O Quebrador de Pedras

E r a uma v e z um s i mpl e s que br a dor de pe dr a s que e s t a v a


i ns a t i s f e i t o c ons i g o me s mo e c om s ua pos i ç ã o na v i da .
Um di a e l e pa s s ou e m f r e nt e a uma r i c a c a s a de um
c ome r c i a nt e . At r a v é s do por t a l a be r t o, e l e v i u mui t os
obj e t os v a l i os os e l ux uos os e i mpor t a nt e s f i g ur a s que
f r e qüe nt a v a m a ma ns ã o.
“ Quã o pode r os o é e s t e me r c a dor ! ” pe ns ou o que br a dor de
pe dr a s . E l e f i c ou mui t o i nv e j os o di s s o e de s e j ou que e l e
pude s s e s e r c omo o c ome r c i a nt e .
Pa r a s ua g r a nde s ur pr e s a e l e r e pe nt i na me nt e t or nou - s e o
c ome r c i a nt e , us uf r ui ndo ma i s l ux os e pode r do que e l e
j a ma i s t i nha i ma g i na do, e mbor a f os s e i nv e j a do e de t e s t a do
por t odos a que l e s me nos pode r os os e r i c os do que e l e . Um
di a um a l t o of i c i a l do g ov e r no pa s s ou à s ua f r e nt e na
r ua , c a r r e g a do e m uma l i t e i r a de s e da , a c ompa nha do por
s ubmi s s os a t e nde nt e s e e s c ol t a do por s ol da dos , que ba t i a m
g ong os pa r a a f a s t a r a pl e be . T odos , nã o i mpor t a quã o
r i c os , t i nha m que s e c ur v a r à s ua pa s s a g e m.
“ Quão poder oso é est e of i ci al ! ” el e pensou. “ Gost ar i a
de pode r s e r um a l t o of i c i a l ! ”
E nt ã o e l e t or nou- s e o a l t o of i c i a l , c a r r e g a do e m s ua
l i t e i r a de s e da pa r a qua l que r l ug a r que f os s e , t e mi do e
odi a do pe l a s pe s s oa s à s ua v ol t a . E r a um di a de v e r ã o
que nt e , e o of i c i a l s e nt i u - s e mui t o de s c onf or t á v e l na
s ua da l i t e i r a de s e da . E l e ol hou pa r a o S ol . E s t e f ul g i a
or g ul hos o no c é u, i ndi f e r e nt e pe l a s ua r e l e s pr e s e nç a
a ba i x o.
“ Quão poder oso é o Sol ! ” el e pensou. “ Gost ar i a de ser o
S ol ! ”
E nt ã o e l e t or nou- s e o S ol . Br i l ha ndo f e r oz me nt e ,
l a nç a ndo s e us r a i os pa r a a t e r r a s obr e t udo e t odos ,
c r e s t a ndo os c a mpos , a ma l di ç oa do pe l os f a z e nde i r os e
t r a ba l ha dor e s . Ma s um di a uma g i g a nt e s c a nuv e m ne g r a
f i c ou e nt r e e l e e a t e r r a , e s e u c a l or nã o ma i s pôde
a l c a nç a r o c hã o e t udo s obr e e l e .
“ Quão poder osa é a nuvem de t empest ade! ” el e pensou
“ Gost ar i a de ser uma nuvem! ”
E nt ã o e l e t or nou- s e a nuv e m, i nunda ndo c om c huv a c a mpos
e v i l a s , c a us a ndo t e mor a t odos . Ma s r e pe nt i na me nt e e l e
pe r c e be u que e s t a v a s e ndo e mpur r a do pa r a l ong e c om uma
f or ç a de s c omuna l , e s oube que e r a o v e nt o que f a z i a i s s o.
“ Quão poder oso é o Vent o! ” el e pensou. “ Gost ar i a de ser
o v e nt o! ”
E nt ã o e l e t or nou- s e o v e nt o de f ur a c ã o, s opr a ndo a s
t e l ha s dos t e l ha dos da s c a s a s , de s e nr a i z a ndo á r v or e s ,
t e mi do e odi a do por t oda s a s c r i a t ur a s na t e r r a . Ma s e m
de t e r mi na do mome nt o e l e e nc ont r ou a l g o que e l e nã o f oi
c a pa z de mov e r ne m um mi l í me t r o, nã o i mpor t a s s e o q ua nt o
e l e s opr a s s e e m s ua v ol t a , l a nç a ndo - l he r a j a da s de a r .
E l e v i u que o obj e t o e r a uma g r a nde e a l t a r oc ha .
“ Quão poder osa é a r ocha! ” el e pensou. “ Gost ar i a de ser
uma r oc ha ! ”
E nt ã o e l e t or nou- s e a r oc ha . Ma i s pode r os o do que
qua l que r out r a c oi s a na t e r r a , e t e r no, i na mov í v e l . Ma s
e nqua nt o e l e e s t a v a l á , or g ul hos o pe l a s ua f or ç a , e l e
ouv i u o s om de um ma r t e l o ba t e ndo e m um c i nz e l s obr e uma
dur a s upe r f í c i e , e s e nt i u a s i me s mo s e ndo de s pe da ç a do.
“ O que poder i a ser mai s poder oso do que uma r ocha?! ?”
pe ns ou s ur pr e s o.
E l e ol hou pa r a ba i x o de si e vi u a f i g ur a de um
que br a dor de pe dr a s .

49. Talvez

Há um c ont o T a oí s t a s obr e um v e l ho f a z e nde i r o que


t r a ba l hou e m s e u c a mpo por mui t os a nos . Um di a s e u c a v a l o
f ug i u. Ao s a be r da not í c i a , s e us v i z i nhos v i e r a m v i s i t á -
l o.
“ Que má sor t e! ” el es di sser am sol i dar i ament e.
“ Tal vez, ” o f azendei r o cal mament e r epl i cou. Na manhã
s e g ui nt e o c a v a l o r e t or nou, t r a z e ndo c om e l e t r ê s out r os
c a v a l os s e l v a g e ns .
“ Que mar avi l hoso! ” os vi zi nhos excl amar am.
“ Tal vez, ” r epl i cou o vel ho homem. No di a s e g ui nt e , s e u
f i l ho t e nt ou doma r um dos c a v a l os , f oi de r r uba do e
que br ou a pe r na . Os v i z i nhos nov a me nt e v i e r a m pa r a
of e r e c e r s ua s i mpa t i a pe l a má f or t una .
“ Que pena, ” di sser am.
“ Tal vez, ” r espondeu o f azendei r o. No pr óxi mo di a,
of i c i a i s mi l i t a r e s v i e r a m à v i l a pa r a c onv oc a r t odos os
j ov e ns a o s e r v i ç o obr i g a t ór i o no e x é r c i t o, que i r i a
e nt r a r e m g ue r r a . Ve ndo que o f i l ho do v e l ho home m e s t a v a
c om a pe r na que br a da , e l e s o di s pe ns a r a m. Os v i z i nhos
c ong r a t ul a r a m o f a z e nde i r o pe l a f or ma c om que a s c oi s a s
t i nha m s e v i r a do a s e u f a v or .
O v e l ho ol hou- os , e c om um l ev e s or r i s o di s s e
s ua v e me nt e :
“ Tal vez. ”

50. Cipreste

Um mong e pe r g unt ou a o me s t r e :
“ Qual o si gni f i cado de Dhar ma- Buddha ? ”
O me s t r e a pont ou e di s s e :
“ O ci pr est e no j ar di m. ”
O mong e f i c ou i r r i t a do, e di s s e :
“ Não, não! Não use par ábol as al udi ndo a coi sas
c onc r e t a s ! Que r o uma e x pl i c a ç ã o i nt e l e c t ua l c l a r a do
t e r mo! ”
“ Ent ão eu não vou usar nada concr et o, e ser ei
i nt e l e c t ua l me nt e c l a r o, ” di s s e o me s t r e . O mong e e s pe r ou
um pouc o, e v e ndo que o me s t r e nã o i r i a c o nt i nua r f e z a
me s ma pe r g unt a :
“ Ent ão? Qual o si gni f i cado de Dhar ma- Buddha ? ”
O me s t r e a pont ou e di s s e :
“ O ci pr est e no j ar di m. ”
51. Chá ou Paulada

Ce r t a v e z Ha k ui n c ont ou uma e s t ór i a :
“ Havi a uma vel ha mul her que t i nha uma casa de chá na
v i l a . E l a e r a uma g r a nde c onhe c e dor a da c e r i môni a do c há ,
e s ua s a be dor i a no Z e n e r a s obe r ba . Mui t os e s t uda nt e s
f i c a v a m s ur pr e s os e of e ndi dos que uma s i mpl e s v e l ha
pude s s e c onhe c e r o Z e n, e i a m à v i l a pa r a t e s t á - l a e v e r
s e i s s o e r a me s mo v e r da de .
“ Toda vez que a vel ha senhor a vi a mong e s se
a pr ox i ma ndo, e l a s a bi a s e e l e s v i nha m a pe na s pa r a
e x pe r i me nt a r o s e u c há , ou pa r a t e s t á - l a no Z e n. Àque l e s
que v i nha m pe l o c há e l a s e r v i a g e nt i l e g r a c i os a me nt e ,
e nc a nt a ndo- os . Àque l e s que v i nha m t e nt a r s a be r de s e u
c onhe c i me nt o do Z e n, e l a e s c ondi a - s e a t é que o mong e
c he g a s s e à por t a e e nt ã o l he ba t i a c om um t i ç ã o.
“ Apenas um em cada dez consegui am escapar da
pa ul a da . . . ”

52. Os Poderes Sobrenaturais

Ce r t a ma nhã , o Me s t r e Da i e , a o l e v a nt a r - s e , c ha mou s e u
di s c í pul o Gy oz a n e l he di s s e :
“ Vamos f a z e r uma di s put a pa r a s a be r que m de nós doi s
pos s ui ma i s pode r e s s obr e na t ur a i s ? ”
Gy oz a n r e t i r ou- s e s e m na da r e s ponde r . Da l i a pouc o,
v ol t ou t r a z e ndo uma ba c i a c om á g ua e uma t oa l ha . O me s t r e
l a v ou o r os t o e e nx ug ou- s e e m s i l ê nc i o. De poi s , Da i e e
Gy oz a n s e nt a r a m e m a nt e uma me s i nha e f i c a r a m c onv e r s a ndo
s obr e a s s unt o di v e r s os , t oma ndo c há .
Pouc o de poi s , Ky og e n, out r o di s c í pul o, a pr ox i mou - s e e
pe r g unt ou:
“ O que est ão f azendo?”
“ Est amos f azendo uma compet i ção com nossos poder es
s obr e na t ur a i s ” , r e s ponde u o Me s t r e , “ Que r e s pa r t i c i pa r ? ”
Ky og e n r e t i r ou- s e c a l a do e l og o de poi s r e t or nou
t r a z e ndo uma ba nde j a c om doc e s e bi s c oi t os . O Mes t r e Da i e
e nt ã o di r i g i u- s e a os s e us doi s di s c í pul os , e e x c l a mou:
“ Na ver dade, vós super ai s em poder es sobr enat ur ai s
S a r i put r a , Mog a l l a na e t odos os di s c í pul os de Buddha ! ”

53. Pó

Cha o- Chou ( J os hu) c e r t a v ez var r i a o c hã o qua ndo um


mong e l he pe r g unt ou:
“ Sendo vós o sábi o e s ant o Mest r e, di zei - me c omo s e
a c umul a t a nt o pó e m s e u qui nt a l ? ”
Di s s e o Me s t r e , a pont a ndo pa r a o pá t i o:
“ El e vem l á de f or a . ”

54. Jardim Zen - A Beleza Natural

Um mong e j ov e m er a o r e s pons á v e l pe l o j a r di m z e n de um
f a mos o t e mpl o Z e n. E l e t i nha c ons e g ui do o t r a ba l ho por que
a ma v a a s f l or e s , a r bus t os e á r v or e s . Pr óx i mo a o t e mpl o
ha v i a um out r o t e mpl o me nor onde v i v i a a pe na s um v e l ho
me s t r e Z e n. Um di a , qua ndo o mong e e s t a v a e s pe r a ndo a
v i s i t a de i mpor t a nt e s c onv i da dos , e l e de u uma a t e nç ã o
e x t r a a o c ui da do do j a r di m. E l e t i r ou a s e r v a s da ni nha s ,
podou os a r bus t os , c a r dou o mus g o, e g a s t ou mui t o t e mpo
me t i c ul os a me nt e pa s s a ndo o a nc i nho e c ui da dos a me nt e
t i r a ndo as f ol ha s s ec as de out ono. E nqua nt o el e
t r a ba l ha v a , o v e l ho me s t r e obs e r v a v a c om i nt e r e s s e de
c i ma do mur o que s e pa r a v a os t e mpl os .
Qua ndo t e r mi nou, o mong e a f a s t ou - s e um pouc o pa r a
a dmi r a r s e u t r a ba l ho.
“ Não est á l i ndo?” e l e pe r g unt ou, f el i z , pa r a o v e l ho
mong e .
“ Si m, ” r epl i cou o anci ão, “ mas est á f al t ando al go
c r uc i a l . Me a j ude a pul a r e s t e mur o e e u i r e i a c e r t a r a s
c oi s a s pa r a v oc ê . ”
Após c e r t a he s i t a ç ã o, o mong e l e v a nt ou o v e l ho por
s obr e o mur o e pous ou- o s ua v e me nt e e m s e u l a do.
Va g a r os a me nt e , o me s t r e c a mi nhou pa r a a á r v or e ma i s
pr óx i ma a o c e nt r o do j a r di m, s e g ur ou s e u t r onc o e o
s a c udi u c om f or ç a . F ol ha s de s c e r a m s ua v e me nt e à br i s a e
c a í r a m por s obr e t odo o j a r di m.
“ Pr ont o! ” di sse o vel ho monge, ” agor a você pode me
l e v a r de v ol t a . ”

55. Ponte de Pedra

Ha v i a uma f a mos a pont e de pe dr a no Mona s t é r i o de Cha o -


Chou ( J os hu) que e r a uma a t r a ç ã o do l ug a r . Ce r t a v e z um
mong e v i a j a nt e a f i r mou:
“ Já ouvi f al ar sobr e a f amosa pont e de pedr a, mas at é
a g or a nã o a v i . Ve j o s ome nt e uma t á bua . ”
“ Vedes uma t ábua, ” conf i r mou Chao- c hou, “ e nã o v e de s a
pont e de ma de i r a . ”
“ Ent ão onde est á a pont e de pedr a?” per gunt ou o monge.
“ Acabast es de cr uzá- l a ” , di s s e pr ont a me nt e Cha o- Chou.

56. Apenas duas palavras

Ha v i a um c e r t o Mona s t é r i o S ot o Z e n que e r a mui t o


r í g i do. S e g ui ndo um e s t r i t o v ot o de s i l ê nc i o, a ni ng ué m
e r a pe r mi t i do f a l a r . Ma s ha v i a uma pe que na e x c e ç ã o a e s t a
r e g r a : a c a da 10 a nos os mong e s t i nha m pe r mi s s ã o de f a l a r
a pe na s dua s pa l a v r a s . Após pa s s a r s e us pr i me i r os de z a nos
no Mona s t é r i o, um j ov e m mong e f oi pe r mi t i do i r a o mong e
S upe r i or .
“ Passar am- s e de z a nos , ” di s s e o mong e S upe r i or . “ Qua i s
s ã o a s dua s pa l a v r a s que v oc ê g os t a r i a de di z e r ? ”
“ Cama dur a. . . ” di sse o j ovem.
“ Ent endo. . . ” r epl i cou o monge Super i or .
De z a nos de poi s , o mong e r e t or nou à s al a do mong e
S upe r i or .
“ Passar am- s e ma i s de z a nos , ” di s s e o S upe r i or . “ Qua i s
s ã o a s dua s pa l a v r a s que v oc ê g os t a r i a de di z e r ? ”
“ Comi da r ui m. . . ” di sse o monge.
“ Ent endo. . . ” r epl i cou o Super i or .
Ma i s de z a nos s e f or a m e o mong e uma v ez ma i s
e nc ont r ou- s e c om o s e u S upe r i or , que pe r g unt ou:
“ Quai s são as duas pal avr as que você gost ar i a de di zer ,
a pós ma i s e s t e s de z a nos ? ”
“ Eu desi st o! ” di sse o monge.
“ Bem, eu ent endo o por quê, ” r epl i cou, cáust i co, o monge
S upe r i or . “ T udo o que v oc ê s e mpr e f e z f oi r e c l a ma r ! ”
( Es t e é um c ont o c omum e m a l g uns l oc a i s S ot o
oc i de nt a i s . Nã o e x i s t e c e r t e z a s e é um c ont o Z e n
or i g i na l . Como mui t a s a ne dot a s , e s t a a qui nos f a z r i r ,
ma s t a mbé m nos e nc or a j a a r e f l e t i r s obr e o quê há de
e ng r a ç a do ni s s o t udo. . . )

57. Aranha

Um c ont o T i be t a no f a l a de um e s t uda nt e de me di t a ç ã o
que , e nqua nt o me di t a v a e m s e u qua r t o, pe ns a v a v e r uma
a s s us t a dor a a r a nha de s c e ndo à s ua f r e nt e . A c a da di a a
c r i a t ur a a me a ç a dor a r e t or na v a c a da v e z ma i or e m t a ma nho.
T ã o t e r r i f i c a do e s t a v a o e s t uda nt e que f i na l me nt e f oi a o
s e u pr of e s s or pa r a r e l a t a r o s e u di l e ma :
“ Não posso cont i nuar medi t ando com t al ameaça sobr e
mi m, ” di s s e e l e t r e me ndo de pa v or . “ Vou g ua r da r uma f a c a
e m me u c ol o dur a nt e a me di t a ç ã o, de f or ma que qua ndo a
a r a nha a pa r e c e r e u pos s a ma t á - l a ! ”
O pr of e s s or a dv e r t i u- o c ont r a e s t a i dé i a :
“ Não f aça i sso. Faça como eu l he di go: l eve um pedaço
de c a r v ã o na s ua me di t a ç ã o, e qua ndo a a r a nha a pa r e c e r ,
ma r que um ' X' e m s ua ba r r i g a . De poi s di s s o v e nha a t é
mi m. ”
O e s t uda nt e r e t or nou à s ua me di t a ç ã o. Qua ndo a a r a nha
nov a me nt e a pa r e c e u, e l e l ut ou c ont r a o i mpul s o de a t a c á -
l a e e m v e z di s s o f e z c omo o me s t r e s ug e r i u. E nt ã o c or r e u
pa r a a s a l a de de l e , g r i t a ndo:
“ Eu a mar quei na bar r i ga! Fi z o que me pedi u! O que
f a ç o a g or a ? ”
O pr of e s s or ol hou- o e f a l ou:
“ Levant e a t úni ca e ol he pa r a s ua pr ópr i a ba r r i g a . ”
Ao f a z e r i s s o, o e s t uda nt e v i u o “ X” que ha v i a f e i t o.

58. Meditação e Macacos

Um home m e s t a v a i nt e r e s s a do e m a pr e nde r me di t a ç ã o. F oi
a t é um z e ndo ( l oc a l de pr á t i c a me di t a t i v a z e n) e ba t e u na
por t a . Um v e l ho pr of e s s or o a t e nde u:
“ Si m?”
“ Bom di a meu senhor , ” começou o homem. “ Eu gost ar i a de
a pr e nde r a f a z e r me di t a ç ã o. Como e u s e i que i s s o é
di f í c i l e mui t o t é c ni c o, e u pr oc ur e i e s t uda r a o má x i mo,
l e ndo l i v r os e opi ni õe s s obr e o que é me di t a ç ã o, s ua s
pos t ur a s , e t c . . . E s t ou a qui por q ue o s e nhor é c ons i de r a do
um g r a nde pr of e s s or de me di t a ç ã o. Gos t a r i a que o s e nhor
me e ns i na s s e . ”
O v e l ho f i c ou ol ha ndo o home m e nqua nt o es t e f al ava.
Qua ndo t e r mi nou, o pr of e s s or di s s e :
“ Quer apr ender medi t ação?”
“ Cl ar o! Quer o mui t o?” excl amou o out r o.
“ Est udou mui t o s obr e me di t a ç ã o? ” , di s s e um t a nt o
i r ôni c o.
“ Fi z o máxi mo que pude. . . ” af i r mou o homem.
“ Cer t o, ” r epl i cou o vel ho. “ Ent ão vá par a casa e f aça
e x a t a me nt e i s s o: NÃO PE NS E E M MACACOS . ”
O home m f i c ou pa s mo. Nunc a t i nha l i do na da s obr e i s s o
nos l i v r os de me di t a ç ã o. Ai nda me i o i nc e r t o, pe r g unt ou:
“ Não pensar em macacos? É só i sso?”
“ É só i sso. ”
“ Bem i sso é si mpl es de f azer ” pensou o homem, e
c onc or dou. O pr of e s s or e nt ã o a pe na s c ompl e t ou:
“ Ót i mo. Vol t e amanhã, ” e bat eu a por t a.
Dua s hor a s de poi s , o pr of e s s or ouv i u a l g ué m ba t e ndo
f r e ne t i c a me nt e a por t a do z e ndo. E l e a br i u - a , e l á e s t a v a
de nov o o me s mo home m.
“ Por f avor me aj ude! ” excl amou af l i t o “ Desde que o
s e nhor pe di u pa r a que e u nã o pe ns a s s e e m ma c a c os , nã o
c ons e g ui ma i s de i x a r de me pr e oc upa r e m NÃO PE NS AR
NE L E S ! ! ! ! Ve j o ma c a c os e m t odos os c a nt os ! ! ! ! ”

59. O Eu Verdadeiro

Um home m mui t o pe r t ur ba do f oi at é um me s t r e Z e n,
a pr e s e nt ou- s e e di s s e :
“ Por f avor , Mest r e, eu me si nt o desesper ado! Não sei
que m e u s ou. S e mpr e l i e ouv i f a l a r s obr e o E u S upe r i or ,
nos s a v e r da de i r a E s s ê nc i a T r a ns c e nde nt a l , e por mui t os
a nos t e nt e i a t i ng i r e s t a r e a l i da de pr of unda , s e m nunc a
t e r s uc e s s o! Por f a v or mos t r e - me me u E u Ve r da de i r o! ”
Ma s o pr of e s s or a pe na s f i c ou ol ha ndo pa r a l ong e , e m
s i l ê nc i o, s e m da r ne nhuma r e s pos t a . O home m c ome ç ou a
i mpl or a r e pe di r , s e m que o me s t r e l he de s s e ne nhuma
a t e nç ã o. F i na l me nt e , ba nha do e m l á g r i ma s de f r us t r a ç ã o, o
home m v i r ou- s e e c ome ç ou a s e a f a s t a r . Ne s t e mome nt o o
me s t r e c ha mou- o pe l o nome , e m v oz a l t a .
“ Si m?” r epl i cou o homem, enquant o se v i r a v a pa r a f i t a r
o s á bi o.
“ Ei s o seu ver dadei r o Eu. ” di sse o mest r e.

60. Ansiando por Deus

Um s á bi o e s t a v a me di t a ndo à ma r g e m de um r i o qua ndo um


home m j ov e m, um t a nt o e nt us i a s ma do, o i nt e r r ompe u.
“ Mest r e, eu desej o ser seu di scí pul o! ” , di sse o j ovem.
“ Por quê ? ” r e pl i c ou o s á bi o.
O j ov e m e r a uma pe s s oa que s e mpr e ouv i u f a l a r dos
c a mi nhos e s pi r i t ua i s , e t i nha uma i dé i a f a nt a s i os a e
r omâ nt i c a de l e s . E m s ua i ma t ur i da de , e l e a c ha v a que s e r
“ espi r i t ual ” er a al go como par t i ci par de um movi ment o, de
uma c r e nç a , de uma moda , s e m g r a nde s c ons e qüê nc i a s . E l e
e nt ã o pe ns ou numa r e s pos t a be m “ pr of unda ” e di s s e :
“ Por que eu quer o encont r ar DEUS! ”
O s á bi o pul ou de onde e s t a v a , a g a r r ou o r a pa z pe l o
c a ng ot e , a r r a s t ou- o a t é o r i o e me r g ul hou s ua c a be ç a s ob
a á g ua . Ma nt e v e - o l á por qua s e um mi nut o, s e m pe r mi t i r
que r e s pi r a s s e , e nqua nt o o t e r r i f i c a do r a pa z c hut a v a e
l ut a v a pa r a s e l i be r t a r . F i na l me nt e o me s t r e o pux ou da
á g ua e o a r r a s t ou de v ol t a à ma r g e m. L a r g ou - o no c hã o,
e nqua nt o o home m c us pi a á g ua e e ng a s g a v a , l ut a ndo pa r a
r e t oma r a r e s pi r a ç ã o e e nt e nde r o que a c ont e c e r a . Qua ndo
e l e e v e nt ua l me nt e s e a c a l mou, o s á bi o l he pe r g unt ou:
“ Di ga- me , qua ndo e s t a v a s ob a á g ua , s a be ndo que
mor r e r i a , o que v oc ê que r i a ma i s do que t udo?
“ Ar ! ” , r espondeu o j ovem, amuado.
“ Mui t o bem” , di sse o me s t r e . “ Vá pa r a s ua c a s a , e
qua ndo v oc ê s oube r a ns i a r por um De us t a nt o qua nt o v oc ê
a c a bou de a ns i a r por a r , pode v ol t a r a me pr oc ur a r . ”

61. Por que palavras?

Um mong e a pr ox i mou- s e de s e u me s t r e - que s e e nc ont r a v a


e m me di t a ç ã o no pá t i o do T e mpl o à l u z da l ua - c om uma
g r a nde dúv i da :
“ Mest r e, apr endi que conf i ar nas pal avr as é i l usór i o; e
di a nt e da s pa l a v r a s , o v e r da de i r o s e nt i do s ur g e a t r a v é s
do s i l ê nc i o. Ma s v e j o que os S ut r a s e a s r e c i t a ç õe s s ã o
f e i t a s de pa l a v r a s ; que o e ns i na me nt o é t r a ns mi t i do pe l a
v oz . S e o Dha r ma e s t á a l é m dos t e r mos , por que os t e r mos
s ã o us a dos pa r a de f i ni - l o? ”
O v e l ho s á bi o r e s ponde u: “ As pa l a v r a s s ã o c omo um de do
a pont a ndo pa r a a L ua ; c ui da de s a be r ol ha r pa r a a L ua ,
nã o s e pr e oc upe c om o de do que a a pont a . ”
O mong e r e pl i c ou: “ Mas eu não poder i a ol har a Lua, sem
pr e c i s a r que a l g um de do a l he i o a i ndi que ? ”
“ Poder i a, ” conf i r mou o mest r e, “ e assi m t u o f ar ás,
poi s ni ng ué m ma i s pode ol ha r a l ua por t i . As pa l a v r a s
s ã o c omo bol ha s de s a bã o: f r á g e i s e i nc ons i s t e nt e s ,
de s a pa r e c e m qua ndo e m c ont a t o pr ol ong a do c om o a r . A L ua
e s t á e s e mpr e e s t e v e à v i s t a . O Dha r ma é e t e r no e
c ompl e t a me nt e r e v e l a do. As pa l a v r a s nã o pode m r e v e l a r o
que j á e s t á r e v e l a do de s de o Pr i me i r o Pr i nc í pi o. ”
“ Ent ão, ” o monge per gunt ou, “ por que os homens pr eci sam
que l he s s e j a r e v e l a do o que j á é de s e u c onhe c i me nt o? ”
“ Por que, ” compl et ou o sábi o, “ da mesma f or ma que ver a
L ua t oda s a s noi t e s f a z c om que os home ns s e e s que ç a m
de l a pe l o s i mpl e s c os t ume de a c e i t a r s ua e x i s t ê nc i a c omo
f a t o c ons uma do, a s s i m t a mbé m os home ns nã o c onf i a m na
Ve r da de j á r e v e l a da pe l o s i mpl e s f a t o de l a s e ma ni f e s t a r
e m t oda s a s c oi s a s , s e m di s t i nç ã o. De s t a f or ma , as
pa l a v r a s s ã o um s ubt e r f úg i o, um a dor no pa r a e mbe l e z a r e
a t r a i r nos s a a t e nç ã o. E c omo qua l que r a dor no, pode s e r
v a l or i z a do ma i s do que é ne c e s s á r i o. ”
O me s t r e f i c ou e m s i l ê nc i o dur a nt e mui t o t e mpo. E nt ã o,
de s úbi t o, s i mpl e s me nt e a pont ou pa r a a l ua .

62. O Som do Silêncio

Ce r t a v e z , um buddhi s t a f oi à s mont a nha s pr oc ur a r um


g r a nde me s t r e , que s e g undo a c r e di t a v a pode r i a l he di z e r a
pa l a v r a de f i ni t i v a s obr e o s e nt i do da S a be dor i a . Após
mui t os di a s de dur a c a mi nha da o e nc ont r ou e m um be l o
t e mpl o à be i r a de um l i ndo v a l e .
“ Mest r e, vi m at é aqui par a l he pedi r uma pal avr a sobr e
o s e nt i do do Dha r ma . Por f a v or , f a ç a - me a t r a v e s s a r os
Por t õe s do Z e n. ”
“ Di ga- me , ” r e pl i c ou o s á bi o, “ v i ndo pa r a cá v ós
pa s s a s t e s pe l o v a l e ? ”
“ Si m. ”
“ Por acaso ouvi st es o seu som?”
Um t a nt o i nc e r t o, o home m di s s e :
“ Bem, ouvi o som do vent o como um suave cant o
pe ne t r a ndo t odo o v a l e . ”
O s á bi o r e s ponde u:
“ O l ocal onde vós ouv i s t e s o s om do v a l e é onde c ome ç a
o c a mi nho que l e v a a os Por t õe s do Z e n. E e s t e s om é t oda
pa l a v r a que v ós pr e c i s a i s ouv i r s obr e a Ve r da de . ”

63. O Mudo e o Papagaio

Um j ov e m mong e f oi a t é o me s t r e J i - s hou e pe r g unt ou:


“ Como chamamos uma pessoa que ent ende uma v e r da de ma s
nã o pode e x pl i c á - l a e m pa l a v r a s ? ”
Di s s e o me s t r e :
“ Uma pessoa muda comendo mel ” .
“ E como chamamos uma pes soa que não ent ende a ver dade,
ma s f a l a mui t o s obr e e l a ? ”
“ Um papagai o i mi t ando as pal avr as de uma out r a pessoa” .

64. Autocontrole

Um di a a c ont e c e u um t r e me ndo t e r r e mot o que s a c udi u


i nt e i r a me nt e um t e mpl o Z e n. Pa r t e s de l e c he g a r a m me s mo a
r ui r . Mui t os dos mong e s f i c a r a m t e r r i f i c a dos . Qua ndo o
t e r r e mot o pa r ou o pr of e s s or do t e mpl o di s s e , v a i dos a e
a r r og a nt e me nt e :
“ Agor a vocês t i ver am a opor t uni da de de v e r c omo um
v e r da de i r o s á bi o Z e n s e c ompor t a di a nt e de uma s i t ua ç ã o
de c r i s e . Voc ê s de v e m t e r not a do que E U nã o e nt r e i e m
pâ ni c o. E U e s t i v e s e mpr e mui t o c ons c i e nt e do que e s t a v a
a c ont e c e ndo e do que f a z e r . E U g ui e i v oc ê s t odos pa r a a
c oz i nha , a pa r t e ma i s f i r me do t e mpl o. E e s t a f oi uma
br i l ha nt e de c i s ã o, poi s c omo v oc ê s v êem t odos
s obr e v i v e mos s e m ne nhum a r r a nhã o! Cont udo, a de s pe i t o de
me u g r a nde a ut oc ont r ol e e c ompos t ur a e x e mpl a r , a dmi t o t e r
s e nt i do um pouc o - mui t o pouc o - de t e ns ã o. F a t o que
v oc ê s de v e m t e r de duz i do qua ndo me v i r a m be be r um g r a nde
c opo de á g ua , a l g o que e u j a ma i s f a ç o e m c i r c uns t â nc i a s
nor ma i s . . . ”
Ne s t e mome nt o a l g uns mong e s s or r i r a m, ma s nã o di s s e r a m
na da .
“ De quê est ão r i ndo?” per gunt ou o pr of essor .
“ Aqui l o não er a água , ” di s s e um dos mong e s , “ er a um
g r a nde c opo de mol ho a pi me nt a do. . . ”
65. O Silêncio Completo

Qua t r o mong e s de c i di r a m me di t a r e m s i l ê nc i o c ompl e t o,


s e m f a l a r por dua s s e ma na s . Na noi t e do pr i me i r o di a a
v e l a c ome ç ou a f a l ha r e e nt ã o a pa g ou.
O pr i me i r o mong e di s s e , “ Oh, nã o! A v e l a a pa g ou! ”
O s e g undo c ome nt ou, “ Nã o t í nha mos que f i c a r e m s i l ê nc i o
c ompl e t o? ”
O t e r c e i r o r e c l a mou, “ Por que v oc ê s doi s que br a r a m o
s i l ê nc i o? ”
F i na l me nt e o qua r t o a f i r mou, t odo or g ul hos o, “ Aha ! Eu
s ou o úni c o que nã o f a l ou! ”

66. Sem Problema

Um pr a t i c a nt e Z e n f oi à Ba nk e i e f e z - l he e s t a pe r g unt a ,
a f l i t o:
“ Mest r e, Eu t enho um t emper ament o i r ascí vel . Sou às
v ez es mui t o a g i t a do e agr es s i v o e a c a bo c r i a ndo
di s c us s õe s e of e nde ndo out r a s pe s s oa s . Como pos s o c ur a r
i s s o? ”
“ Tu possui s al go mui t o e s t r a nho, ” r e pl i c ou Ba nk e i .
“ Dei xe ver como é esse compor t ament o. ”
“ Bem. . . eu não posso most r á- l o e x a t a me nt e a g or a ,
me s t r e , ” di s s e o out r o, um pouc o c onf us o.
“ E quando t u a most r ar ás par a mi m?” per gunt ou Bankei .
“ Não sei . . . é que i sso sempr e sur ge de f or ma
i ne s pe r a da , ” r e pl i c ou o e s t uda nt e .
“ Ent ão, ” concl ui u Bankei , “ essa coi sa não f az par t e de
t ua na t ur e z a v e r da de i r a . S e a s s i m f os s e , t u pode r i a s
mos t r á - l a s e mpr e que de s e j a s s e . Qua ndo t u na s c e s t e nã o a
t i nha s , e t e us pa i s nã o a pa s s a r a m pa r a t i . Por t a nt o ,
s a i ba s que e l e nã o e x i s t e . ”
67. Impermanência

Um f a mos o me s t r e e s pi r i t ua l a pr ox i mou - s e do Por t a l


pr i nc i pa l do pa l á c i o do Re i . Ne nhum dos g ua r da s t e nt ou
pa r á - l o, c ons t r a ng i dos , e nqua nt o e l e e nt r ou e di r i gi u- s e
a onde o Re i e m pe s s oa e s t a v a s ol e ne me nt e s e nt a do, em s eu
t r ono.
“O que vós desej ai s?” per gunt ou o Monar ca,
i me di a t a me nt e r e c onhe c e ndo o v i s i t a nt e .
“ Eu gost ar i a de um l ugar par a dor mi r aqui nest a
hos pe da r i a , ” r e pl i c ou o pr of e s s or .
“ Mas aqui não é uma hospedar i a, bom homem, “ di sse o
Re i , di v e r t i do, “ E s t e é o me u pa l á c i o. ”
“ Posso l he per gunt ar a quem per t enceu est e pal áci o
a nt e s de v ós ? ” pe r g unt ou o me s t r e .
“ Meu pai . El e est á mor t o. ”
“ E a quem per t enceu ant es del e?”
“ Meu avô, ” di sse o Rei j á bast ant e i nt r i gado, “ Mas el e
t a mbé m e s t á mor t o. ”
“ Sendo est e um l ug a r onde pe s s oa s v i v e m por um c ur t o
e s pa ç o de t e mpo e e nt ã o pa r t e m - v ós me di z e i s que t a l
l ug a r NÃO É uma hos pe da r i a ? ”

68. Buddha - Além da Palavras

Ce r t a v e z e s t a v a Buddha s e nt a do s ob uma á r v or e , c om os
s e us di s c í pul os r e uni dos à s ua v ol t a e s pe r a ndo que e l e
i ni c i a s s e s e u di s c ur s o. E m de t e r mi na do mome nt o, Buddha
c a l ma me nt e i nc l i nou- s e e c ol he u uma f l or . L e v a nt ou - a à
a l t ur a de s e u r os t o e g i r ou - a s ua v e me nt e . S e us di s c í pul os
f i c a r a m e s pa nt a dos e c onf us os , e mur mur a r a m e nt r e s i
que s t i ona ndo o s e nt i do da qu i l o. De nt r e e l e s , a pe na s
Ka s hy a pa e nt e nde u o g es t o, s or r i ndo. S ha k y a muni Buddha
pe r c e be u que Ka s hy a pa t i nha c ompr e e ndi do, e l he di s s e :
“ O mét odo de Medi t ação que ensi no é ver as coi sas como
e l a s s ã o, na da r e j e i t a r e t r a t a r a s c oi s a s c om a l e g r i a ,
v e ndo c l a r a me nt e s ua f ac e or i g i na l . Es s e Dha r ma
mi s t e r i os o t r a ns c e nde a l i ng ua g e m e os pr i nc í pi os
r a c i ona i s . O pe ns a me nt o l óg i c o nã o pode s e r us a do pa r a
obt e r a Compr e e ns ã o; a pe na s c om a s e ns i bi l i da de da nã o -
me nt e a l c a nç a - s e a Ve r da de . Vós c ompr e e nde s t e s . Por i s s o,
c onc e do- l he a pa r t i r de s t e mome nt o o e s pí r i t o do Dhy a na . ”

69. Uma vida inútil?

Um bondos o f a z e nde i r o t or nou- s e v e l ho de ma i s pa r a pode r


t r a ba l ha r nos c a mpos . As s i m e l e pa s s a v a s e us di a s a pe na s
s e nt a do na v a r a nda , f e l i z e m obs e r v a r a na t ur e z a . S e u
f i l ho e r a uma pe s s oa i ns e ns í v e l e a mbi c i os a que nã o
g os t a v a de da r dur o. Ma s , a i nda t r a ba l ha ndo na f a z e nda ,
podi a obs e r v a r s e u pa i de v e z e m qua ndo a o l ong e .
“ El e é i nút i l , ” o f i l ho f al ou par a si mesmo, agast ado,
“ el e não f az nada! ”
Um di a o f i l ho f i c ou t ã o f r us t a d o por v e r s e u pa i numa
v i da que e l e c ons i de r a v a a bs ur da , que c ons t r ui u um c a i x ã o
de ma de i r a , a r r a s t ou- o at é a v a r a nda e di s s e
i ns e ns i v e l me nt e pa r a o s e u pa i ent r a r ne l e . S e m di z e r uma
pa l a v r a , o pa i de i t ou- s e no c a i x ã o. Após f e c ha r a t a mpa ,
o f i l ho a r r a s t ou o c a i x ã o a t é a s f r ont e i r a s da f a z e nda
onde e x i s t i a um g r a nde a bi s mo. Qua ndo e l e s e a pr ox i mou da
be i r a , ouv i u uma s ua v e ba t i da na t a mpa , de de nt r o do
c a i x ã o. E l e a br i u- o. Ai nda de i t a do l á pa c i f i c a me nt e , o
pa i ol hou pa r a s e u f i l ho.
“ Sei que você v ai l ançar - me no a bi s mo, ma s a nt e s de
f a z e r i s s o pos s o l he s ug e r i r uma c oi s a ? ”
“ O que é?” di sse o f i l ho, conf uso e al go const r angi do
por v e r s e u pa i t ã o c a l mo.
“ Lance- me a o a bi s mo, s e qui s e r , ” di s s e o pa i , “ ma s
s a l v e e s t e bom c a i x ã o de ma de i r a . S e us f i l hos pode m
que r e r us á - l o um di a c om v oc ê . . . ”
70. Quando cansado...

Um e s t uda nt e pe r g unt ou a J os hu, “ Me s t r e , o que o


S a t or i ? ”
O me s t r e r e pl i c ou: “ Qua ndo e s t i v e r c om f ome , c oma .
Qua ndo e s t i v e r c a ns a do, dur ma . ”

71. Duelo de Chá

Um me s t r e da c e r i môni a do c há no a nt i g o J a p ã o c er t a v e z
a c i de nt a l me nt e of e nde u um s ol da do, a o di s t r a í da me nt e
de s de nhá - l o qua ndo e l e pe di u s ua a t e nç ã o. E l e r a pi da me nt e
pe di u de s c ul pa s , ma s o a l t a me nt e i mpe t uos o s ol da do e x i g i u
que a que s t ã o f os s e r e s ol v i da e m um due l o de e s pa da s . O
me s t r e de c há , que nã o t i nha a bs ol ut a me nt e ne nhuma
e x pe r i ê nc i a c om e s pa da s , pe di u o c ons e l ho de um v e l ho
a mi g o me s t r e Z e n que pos s uí a t a l ha bi l i da de . E nqua nt o e r a
s e r v i do de um c há pe l o a mi g o, o e s pa da c hi m Z e n nã o pôde
e v i t a r not a r c omo o me s t r e de c há e x e c ut a v a s ua a r t e c o m
pe r f e i t a c onc e nt r a ç ã o e t r a nqüi l i da de .
“ Amanhã, ” di sse o mest r e Zen, “ quando você duel ar com o
s ol da do, s e g ur e s ua a r ma s obr e s ua c a be ç a c omo s e
e s t i v e s s e pr ont o pa r a des f e r i r um g ol pe , e e nc a r e - o c om a
me s ma c onc e nt r a ç ã o e t r a nqüi l i da de c om que v oc ê e x e c ut a a
c e r i môni a do c há ” .
No di a s e g ui nt e , na e x a t a hor a e l oc a l e s c ol hi dos pa r a
o due l o, o me s t r e de c há s e g ui u s e u c ons e l ho. O s ol da do,
t a mbé m j á pr ont o pa r a a t a c a r , ol hou por mui t o t e mpo e m
s i l ê nc i o pa r a a f a c e t ot a l me nt e a t e nt a por é m s ua v e me nt e
c a l ma do me s t r e de c há . F i na l me nt e , o s ol da do l e nt a me nt e
a ba i x ou s ua e s pa da , de s c ul pou - s e por s ua a r r og â nc i a , e
pa r t i u s e m t e r da do um úni c o g ol pe .
72. Surpreendendo o Mestre

Os e s t uda nt e s e m um mos t e i r o f i c a v a m e s pa nt a dí s s i mos


c om o mong e ma i s v e l ho, nã o por que e l e f os s e r í g i do, ma s
por que na da pa r e c i a i r r i t á - l o ou pe r t ur bá - l o. Na v e r da de ,
e l e s o c ons i de r a v a m a l g ué m s obr e na t ur a l e a t é me s mo um
t a nt o a s s us t a dor . Um di a e l e s de c i di r a m f a z e r um t e s t e
c om o mes t r e . Um g r upo de l e s e s c onde u - s e s i l e nc i os a me nt e
e m um c a nt o e s c ur o de uma da s pa s s a g e ns do t e mpl o, e
e s pe r a r a m o mome nt o e m que o v e l ho mong e i r i a pa s s a r por
a l i . Num mome nt o o v e l ho home m a pa r e c e u, c a r r e g a ndo um
c opo de c há que nt e . E x a t a me nt e qua ndo e l e pa s s a v a , t odos
os e s t uda nt e s pul a r a m na s ua f r ent e , g r i t a ndo o ma i s a l t o
que podi a m:
“ AAAAAAHHHH! ”
Ma s o mong e nã o de mons t r ou a bs ol ut a me nt e ne nhuma
r e a ç ã o, de i x a ndo t odos pa s mos de e s pa nt o. Pa c i f i c a me nt e
f e z s e u c a mi nho a t é uma pe que na me s a no c a nt o ma i s
a f a s t a do do t e mpl o, g e nt i l me nt e pous ou o c opo, e e nt ã o,
e nc os t a ndo no mur o, de u um g r i t o de c hoque :
“ OOOHHHHH! ”

73. Trabalhando Duro

Um e s t uda nt e f oi ao s eu pr of e s s or e di s s e
f e r v or os a me nt e ,
“ Eu est ou ansi oso par a ent ender seus ensi nament os e
a t i ng i r a I l umi na ç ã o! Qua nt o t e mpo v a i de mor a r pa r a e u
obt e r e s t e pr ê mi o e domi na r e s t e c onhe c i me nt o? ”
A r e s pos t a do pr of e s s or f oi c a s ua l ,
“ Uns dez anos. . . ”
I mpa c i e nt e me nt e , o e s t uda nt e c ompl e t ou,
“ Mas eu quer o ent ender t odos os segr edos mai s r ápi do do
que i s t o! Vou t r a ba l ha r dur o! Vou pr a t i c a r t odo o di a ,
e s t uda r e de c or a r t odos os s ut r a s , f a r e i i s s o de z ou ma i s
hor a s por di a ! ! Ne s t e c a s o, e m qua nt o t e mpo c he g a r e i ao
obj e t i v o? ”
O pr of e s s or pe ns ou um pouc o e di s s e s ua v e me nt e ,
“ Vi nt e anos. ”

74. A História do Homem

Cont a - s e que na Pé r s i a a nt i g a v i v i a um r e i c ha ma do
Z e mi r . Cor oa do mui t o j ov e m, j ul g ou- s e na obr i g a ç ã o de
i ns t r ui r - s e : r e uni u e m t or no de s i nume r os os e r udi t os
pr ov e ni e nt e s de t odos os Pa í s e s e pe di u - l he s que
e di t a s s e m pa r a e l e a hi s t ór i a da huma ni da de . T odos os
e r udi t os s e c onc e nt r a r a m, por t a nt o, ne s s e e s t udo.
Vi nt e a nos se e s c oa r a m no pr e pa r o da e di ç ã o.
F i na l me nt e , di r i g i r a m- s e a pa l á c i o, c a r r e g a dos de
qui nhe nt os v ol ume s a c omoda dos no dor s o de doz e c a me l os .
O r e i Z e mi r ha v i a , e nt ã o, pa s s a do dos qua r e nt a a nos .
“ Já est ou vel ho, “ di sse el e. “ Não t er ei t empo de l er
t udo i s s o a nt e s da mi nha mor t e . Ne s s a s c ondi ç õe s , por
f a v or , pr e pa r a i - me uma e di ç ã o r e s umi da . ”
Por ma i s v i nt e a nos t r a ba l ha r a m os e r udi t os na f e i t ur a
dos l i v r os e v ol t a r a m a o pa l á c i o c om t r ê s c a me l os a pe na s .
Ma s o r e i e nv e l he c e r a mui t o. Com qua s e s e s s e nt a a nos ,
s e nt i a - s e e nf r a que c i do:
“ Não me é possí vel l er t odos esses l i vr os. Por f avor ,
f a z e i - me de l e s uma v e r s ã o a i nda ma i s s uc i nt a . ”
Os e r udi t os l a but a r a m ma i s de z a nos e de poi s v ol t a r a m
c om um e l e f a nt e c a r r e g a do da s s ua s obr a s .
Ma s a e s s a a l t ur a , c om ma i s de s e t e n t a a nos , qua s e
c e g o, o r e i nã o podi a me s mo l e r . Pe di u, e nt ã o, uma e di ç ã o
a i nda ma i s a br e v i a da . Os e r udi t os t a mbé m t i nha m
e nv e l he c i do. Conc e nt r a r a m- s e por ma i s c i nc o a nos e ,
mome nt os a nt e s da mor t e do mona r c a , v ol t a r a m c om um
v ol ume s ó.
“ Mor r er ei , por t ant o, s e m na do c onhe c e r da hi s t or i a do
Home m - di s s e e l e . ”
À s ua c a be c e i r a , o ma i s i dos o dos e r udi t os r e s ponde u:
“ Vou expl i car - v os e m t r ê s pa l a v r a s a hi s t ór i a do Home m:
o home m na s c e , s of r e e , f i na l me nt e , mor r e . ”
Ne s s e i ns t a nt e o r e i e x pi r ou.

75. Kantaka e o fio de Aranha

As s i m e u ouv i :
O Buddha , um di a , pa s s e a v a no Cé u T r a y a s t r i ms a , a s
ma r g e ns do l a g o da F l or de L ót us . Na s pr of unde z a s do
l a g o, l obr i g a v a o Na r a k a ( um t i po de r e g i ã o de de mé r i t o
Ká r mi c o, na t r a di ç ã o do Buddhi s mo Ma ha y a na ) . Ne s s a
oc a s i ã o, v i u a l i um home m c ha ma do Ka nt a k a que mor t o di a s
a nt e s , se de ba t i a e pa de c i a na s pr of unde z a s .
T r a ns bor da ndo de c ompa i x ã o, o Buddha S ha k y a muni que r i a
s oc or r e r t odos os que , e mbor a s e a c ha s s e m me r g ul ha dos no
Na r a k a , t i v e s s e m pr a t i c a do uma boa a ç ã o na v i da .
Ka nt a k a f or a l a dr ã o e l e v a r a uma e x i s t ê nc i a de v a s s a .
Por i s s o me s mo e s t a v a no Na r a k a . Ce r t a v e z , no e nt a nt o,
a g i r a c om g e ne r os i da de : um di a , e nqua nt o pa s s e a v a m,
a v i s t a r a uma i nof e ns i v a a r a nha e t i v e r a v ont a de de
e s ma g á - l a ; r e pr i mi r a - s e , c ont udo, pe ns a ndo, s ubi t a me nt e ,
que t a l v e z pude s s e f a v or e c ê - l a ; de i x a r a - a c om v i da e
s e g ui u o s e u c a mi nho.
O Buddha S ha k y a muni v i u ne s s a a ç ã o g e ne r os a um bom
e s pí r i t o, e s e nt i u- s e i nc l i na do a a j udá - l o. Por i s s o f e z
de s c e r a s pr of unde z a s do l a g o um c ompr i do f i o de t e i a de
a r a nha , que c he g ou a o Na r a k a no l ug a r onde e s t a v a
Ka nt a k a .
Ka nt a k a ol hou pa r a a nov i da de e c onc l ui u que s e t r a t a v a
de uma c or da de pr a t a mui t o f or t e . Ma s , nã o que r e ndo
a c r e di t a r ni s s o, di s s e c ons i g o que de v i a s e r , s e m dúv i da ,
um f i o de t e i a de a r a nha pe ndur a do, mui t o f i no, e que
s e r i a pr ov a v e l me nt e di f i c í l i mo t r e pa r por el e ; me s mo
a s s i m, a r r i s c a r i a t udo, poi s de s e j a v a a r de nt e me nt e s a i r
da que l e Na r a k a .
Ag a r r ou, por t a nt o o f i o, e mbor a nã o de i x a s s e de pe ns a r
nos pe r i g os da es c a l a da , poi s a l i nha pode r i a r e be nt a r de
um mome nt o pa r a out r o; ma s f oi s ubi ndo. . . s ubi ndo. . .
a ux i l i a ndo- s e c om os pé s e a s mã os , e e nv i da ndo g r a nde s
e s f or ç os pa r a nã o e s c or r e g a r .
A e s c a l a da e r a l ong a . Che g a do a me t a de do c a mi nho, qui s
ol ha r pa r a ba i x o e c ont e mpl a r os Na r a k a s , que j á t i nha m
f i c a do, de c e r t o, mui t o l ong e . Ac i ma de l e , v i a a l uz e s ó
a mbi c i ona v a a l c a nç á - l a .
I nc l i na ndo- s e pa r a ba i x o, a f i m de ol ha r pe l a
de r r a de i r a v e z , v i u uma mul t i dã o de pe s s oa s que t a mbé m
s ubi a m pe l o f i o, numa s uc e s s ã o i ni nt e r r upt a , de s de a s
g r a nde s pr of unde z a s do Na r a k a . K a nt a k a f oi t oma do de
pâ ni c o: a c or da pode r i a , qua ndo mui t o, a g üe nt á - l o; ma s
c om o pe s o da que l a s c e nt e na s de pe s s oa s a g a r r a da s a e l a
a c a ba r i a c e de ndo, e t odos , c om e l e , v ol t a r i a m a o Na r a k a !
Que a z a r ! Que dr og a ! Aque l a g e nt e l á e mba i x o nã o t i nha
na da que s a i r do Na r a k a . Por que pr e c i s a s e g ui r - me ? -
pr a g ue j a v a e l e , i nc r e s pa ndo os s e g ui dor e s .
Ne s s e pr e c i s o mome nt o, o f i o c e de u, e x a t a me nt e a a l t ur a
da s mã os de Ka nt a k a , e t odos r e me r g ul ha r a m na s
pr of unde z a s t e ne br os a s do l a g o.
Na que l e me s mo i ns t a nt e , o s ol do me i o- di a r e s pl a nde c i a
s obr e o l a g o e m c uj a s ma r g e ns t r a nqüi l a s pa s s e a v a o
Buddha . . .

76. Baso e a Meditação

Qua ndo j ov e m, Ba s o pr a t i c a v a i nc e s s a nt e me nt e a
Me di t a ç ã o. Ce r t a oc a s i ã o, s e u Mes t r e Na ng a k u a pr ox i mou - s e
de l e e pe r g unt ou- l he :
- Por que pr a t i c a s t a nt a Me di t a ç ã o?
- Pa r a me t or na r um Buddha .
O Me s t r e t omou de uma t el ha e c ome ç ou a e s f r e g á - l a c om
um pe dr a . I nt r i g a do, Ba s o pe r g unt ou:
- O que f a z e i s c om e s s a t e l ha ?
- Pr e t e ndo t r a ns f or má - l a num e s pe l ho.
- Ma s por ma i s que a e s f r e g ue i s , e l a j a ma i s se
t r a ns f or ma r á num e s pe l ho! s e r á s e mpr e uma pe dr a .
- O me s mo pos s o di z e r de t i . Por ma i s que pr a t i que s
Me di t a ç ã o, nã o t e t or na r á s Buda .
- E nt ã o o que f a z e r ?
- É c omo f a z e r um boi a nda r .
- Nã o e nt e ndo.
- Qua ndo que r e s f a z e r um c a r r o de boi s a nda r , ba t e s no
boi ou no c a r r o?
Ba s o nã o s oube o que r e s ponde r e e nt ã o o Me s t r e
c ont i nuou:
- Bus c a r o E s t a do de Buda f a z e ndo a pe na s Me di t a ç ã o é
ma t a r o Buda . De s s a ma ne i r a , nã o a c ha r á s o c a mi nho c e r t o.

77. A Bola e o Zen

Ce r t a v e z , e nqua nt o o v e l ho me s t r e S e ppo Gi s e n j og a v a
bol a , Ge s s ha a pr ox i mou- s e e pe r g unt ou:
“ Por que é que a bol a r ol a?”
S e ppo r e s ponde u:
“ A bol a é l i vr e. É a ver dadei r a l i ber dade. ”
“ Por quê?”
“ Por que é r edonda. Rol a em t oda par t e, sej a qual f or a
di r e ç ã o, l i v r e me nt e . I nc ons c i e nt e , na t ur a l ,
a ut oma t i c a me nt e . ”
78. Tigelas

Ce r t a v e z um e s t uda nt e pe r g unt ou a o me s t r e J os hu:


- Me s t r e , por f a v or , o que é o S a t or i ? .
J os hu r e s ponde u- l he :
- T e r mi na s t e a r e f e i ç ã o?
- É c l a r o, me s t r e , t e r mi ne i .
- E nt ã o, v a i l a v a r t ua s t i g e l a s !

79. Kito

Um di a , Um v e l ho f oi v i s i t a r me s t r e Ry ok a n e di s s e - l he :
- E u qui s e r a pe di r - v os que f i z é s s e i s um k i t o [ Ce r i môni a
pa r a c umpr i me nt o de uma pr ome s s a ] e m mi nha i nt e nç ã o.
As s i s t i à mor t e de mui t a g e nt e a o me u r e dor . E t a mbé m
de v e r e i mor r e r um di a . Por t a nt o, por f a v or , f a z e i um k i t o
pa r a e u v i v e r por mui t o t e mpo.
- De a c or do. F a z e r um k i t o pa r a v i v e r mui t o t e mpo nã o é
di f í c i l . Qua nt os a nos t e nde s ?
- Ape na s oi t e nt a .
- Ai nda s oi s j ov e m. Di z um pr ov ér bi o j a ponê s que a t é os
c i nqüe nt a a nos s omos c omo c r i a nç a s e que , e nt r e os
s e t e nt a e os oi t e nt a , pr e c i s a mos a ma r .
- Conc or do, f a z e i - me e nt ã o um bom k i t o!
- At é que i da de que r e i s v i v e r ?
- Pa r a mi m, a c ho que ba s t a - me v i v e r a t é os c e m.
- Vos s o de s e j o, na v e r da de , nã o é mui t o g r a nde . Pa r a
c he g a r a os c e m a nos , s ó v os r e s t a v i v e r ma i s v i nt e . Nã o é
um pe r í odo t ã o l ong o a s s i m. E s e ndo o me u k i t o mui t o
e x a t o, mor r e r e i s e x a t a me nt e a os c e m a nos .
O v e l ho f i c ou c om me do:
- Nã o, nã o! F a z e i que e u v i v a c e nt o e c i nqüe nt a a nos !
- At ua l me nt e , t e ndo a t i ng i do os oi t e nt a , j á v i v e s t e
ma i s da me t a de do pr a z o que de s e j a i s . A e s c a l a da de uma
mont a nha e x i g e g r a nde s oma de e s f or ç os e t e mpo, ma s a
de s c i da é r á pi da . A pa r t i r de a g or a , v os s os de r r a de i r os
s e t e nt a a nos pa s s a r ã o c omo um s onho.
- Ne s s e c a s o, da i - me a t é t r e z e nt os a nos !
Ry ok a n r e s ponde u:
- Como o v os s o de s e j o é pe que no! S ome nt e t r e z e nt os
a nos ! Di z um pr ov é r bi o a nt i g o que os g r ous v i v e m ma i s de
mi l a nos e a s t a r t a r ug a s de z mi l . S e a ni ma i s pode m v i v e r
t a nt o a s s i m, c omo é que v ós , um home m , de s e j a i s v i v e r
a pe na s t r e z e nt os a nos !
- T udo i s s o é mui t o di f í c i l . . . - t or nou o v e l ho,
c onf us o. - Pa r a qua nt os a nos de v i da pode i s f a z e r - me um
k i t o?
- Que r di z e r , e nt ã o, que nã o quer e i s mor r e r ! E i s a í uma
a t i t ude de t odo e m t odo e g oí s t a . . . - r e pl i c ou o me s t r e .
- Be m, t e m r a z ã o. . . . - r e s ponde u o a nc i ã o, c ons t r a ng i do.
- As s i m s e ndo, o me l hor é f az er um k i t o pa r a nã o
mor r e r .
- S i m, é c l a r o! E pode s e r ? E s s e é o k i t o que e u que r o!
- o v e l ho a ni mou- s e ba s t a nt e .
- É mui t o c a r o, mui t o, mui t o c a r o, e l ev a mui t o
t e mpo. . .
- Nã o f a z ma l . - c onc or dou o v e l ho.
Aj unt ou, e nt ã o, Ry ok a n:
- Come ç a r e mos hoj e c a nt a ndo a pe n a s o Ma k k a Ha nny a
S hi ng y o; a s e g ui r , t odos os di a s , v i r e i s f a z e r z a z e n no
t e mpl o. Pr onunc i a r e i , e nt ã o, c onf e r ê nc i a s e m v os s a
i nt e nç ã o.
De s s a ma ne i r a , de uma f or ma s ua v e e i ndi r e t a , Ry ok a n
f e z o v e l ho home m de i x a r de s e pr e oc upa r c om o di a de s ua
mor t e e o c onduz i u a o Dha r ma .
80. Essência

Na Chi na , ha v i a um mong e Z e n, c ha ma do me s t r e Dor i , que ,


por f a z e r z a z e n e mpol e i r a do num pi nhe i r o pá r a - s ol , f or a
a l c unha do de me s t r e Ni nho de Pa s s a r i nho Um poe t a mui t o
c é l e br e , S a k ur a t e n, f oi v i s i t á - l o e, ao v ê- l o f az er
z a z e n, di s s e - l he :
“ Tomai cui dado, que i sso é per i goso; poder ei s, um di a,
c a i r do pi nhe i r o! ”
“ De manei r a nenhuma, ” r espondeu mest r e Dor i . “ Vós é que
c or r e i s pe r i g o de um di a c a i r . ”
S a k ur a t e n r e f l e t i u. “ Com e f e i t o, v i v o domi na do por
pa i x ã o, é c omo br i nc a r c om o r a i o” . E pe r g unt ou a o me s t r e
Z e n:
“ Qual é a ver dadei r a essênci a do budi smo?”
Me s t r e Dor i r e s ponde u:
“ Não f açai s nada vi ol ent o, pr at i cai soment e o aqui l o
que é j us t o e e qui l i br a do. ”
“ Mas at é uma cr i ança de t r ês anos sabe di sso! ” excl amou
o poe t a .
“ Si m, mas é uma c oi s a di f í c i l de s e r pr a t i c a da a t é
me s mo por um v e l ho de oi t e nt a a nos . . . ” c ompl e t ou o
me s t r e .

81. Perguntas do Rei Milinda

Dur a nt e uma c onv e r s a , o r ei Mi l i nda pe r g unt ou ao


Bodhi s a t t v a Na g a s e na :
- Que é o S a ms a r a ?
Na g a s e na r e s ponde u:
- Ó g r a nde r e i , a qui na s c e mos e mor r e mos , l á na s c e mos e
mor r e mos , de poi s na s c e mos de nov o e de nov o mor r e mos ,
na s c e mos , mor r e mos . . . Ó g r a nde r e i , i s s o é S a ms a r a .
Di s s e o r e i :
- Nã o c ompr e e ndo; por f a v or , e x pl i c a i - me c om ma i s
c l ar ez a.
Na g a s e na r e pl i c ou:
- É c omo o c a r oç o de ma ng a que pl a nt a mos pa r a c ome r - l he
o f r ut o. Qua ndo a g r a nde á r v or e c r e s c e e dá f r ut os , a s
pe s s oa s os c ome m pa r a , e m s e g ui da , pl a nt a r os c a r oç os . E
dos c a r oç os na s c e uma g r a nde ma ng ue i r a , que dá f r ut os .
De s s e modo, a ma ng ue i r a nã o t e m f i m. E a s s i m, g r a nd e r e i ,
que na s c e mos a qui , mor r e mos a l i , na s c e mos , mor r e mos ,
na s c e mos , mor r e mos . Gr a nde r e i , i s s o é S a ms a r a .
E m out r o S ut r a , o r e i Mi l i nda pe r g unt a a i nda :
- Que é o que r e na s c e no mundo s e g ui nt e ( De poi s da
mor t e . )
Re s ponde Na g a s e na :
- De poi s da mor t e na s c e m o nome , o e s pí r i t o e o c or po.
O r e i pe r g unt a :
- É o mes mo nome , o me s mo e s pí r i t o e o me s mo c or po que
na s c e m de poi s da mor t e ?
- Nã o é o me s mo nome , o me s mo e s pi r i t o e o me s mo c or po
que na s c e m de poi s da mor t e . E s s e nome , e s s e es pí r i t o e
e s s e c or po c r i a m a a ç ã o. Pe l a a ç ã o, ou Ka r ma , na s c e m
out r o nome , out r o e s pí r i t o e out r o c or po.

82. Bonecos

E i s a qui a hi s t ór i a do mong e Z e n Hot a n.


Hot a n ouv i a a s pr e l e ç õe s de um me s t r e . Na e s t r é i a da s
pa l e s t r a s , a a s s i s t ê nc i a f oi nume r os a ma s , a pouc o e
pouc o, nos di a s s e g ui nt e , a s a l a s e e s v a z i ou; a t é que , um
di a , Hot a n f i c ou s ó na s a l a c om o me s t r e . E e s t e l he
di s s e :
- Nã o pos s o f a z e r uma c onf e r ê nc i a s ó pa r a t i ; de ma i s a
ma i s , e s t ou c a ns a do.
Hot a n pr ome t e u v ol t a r no out r o di a c om mui t a g e nt e .
Ne s s e di a s , por é m. v ol t ou s ó. Nã o obs t a nt e , di s s e a o
me s t r e :
- Pode i s f a z e r a c onf e r ê nc i a hoj e , por que eu t r oux e
nume r os a c ompa nhi a !
Hot a n t r oux e r a m bone qui nha s , que e s pa l ha r a pe l a s a l a .
Di s s e - l he o me s t r e :
- Ma s s ã o a pe na s bone c a s !
- Com e f e i t o, - r e s ponde u- l he Hot a n. - ma s t oda s a s
pe s s oa s que a qui v i e r a m nã o s ã o ma i s do que bone c a s , poi s
nã o c ompr e e nde m pa t a v i na dos v os s os e ns i na me nt os . S ó eu
l he s c ompr e e ndi a pr of unde z a e a v e r da de . Me s mo que mui t a
g e nt e t i v e s s e v i ndo, s e r v i r i a t ã o - s ome nt e de e nc hi me nt o,
de c or a ç ã o, v a z i o s e m f undo.

83. Vem...

Me s t r e T ok us a n ( 742 - 865) e s t a v a s e nt a do e m z a z e n à
be i r a do r i o. Av i z i nha ndo- s e da ma r g e m, um di s c í pul o
g r i t ou- l he :
- Bom di a , me s t r e ! Como e s t a i s ?
T ok us a n i nt e r r ompe u o z a z e n e , c om o l e que , f e z s i na l
a o di s c í pul o:
Ve m . . . v e m . . . !
L e v a nt ou- s e , de u me i a - v ol t a e pôs - s e a l a de a r o r i o,
s e g ui ndo o c ur s o da á g ua . . .
O di s c í pul o, ne s s e i ns t a nt e , e x pe r i me nt ou o S a t or i .
84. O Médico e o Zen

Ke ns o Kus uda , di r e t or de um hos pi t a l e m Ni honba s hi ,


T óqui o, r e c e be u um di a a v i s i t a de um v e l ho a mi g o, t a mb é m
mé di c o, que nã o v i a há s e t e a nos .
“ Como vai ?” , per gunt ou Kusuda.
“ Dei xei a medi ci na” , r espondeu o ami go.
“ Ah, si m?”
“ Na ver dade, agor a eu pr at i co o Zen. ”
“ E o que é o Zen?” - - qui s s a be r Kus uda .
“ É di f í ci l expl i car . . . ” - - he s i t ou o a mi g o.
“ E como é poss í v e l e nt e ndê - l o, e nt ã o? ”
“ Bem, deve- s e pr a t i c á - l o. ”
“ E como f aço i sso?”
“ Em Koi shi kawa, há uma sal a de medi t ação di r i gi da pel o
Me s t r e Na n- I n. S e qui s e r e x pe r i me nt a r , v á a t é l á . ”
No di a s e g ui nt e Kus uda di r i g i u - s e à s a l a de me di t a ç ã o
do Me s t r e Na n- I n. Ao c he g a r , g r i t ou:
“ Com l i cença! ”
“ Quem é?” r esponder am l á de dent r o. Um vel ho de aspect o
mi s e r á v e l , que s e a que c i a j unt o a um f og a r e i r o pr óx i mo a o
v e s t í bul o, di r i g i u- s e a e l e . Kus uda e nt r e g ou - l he s eu
c a r t ã o e o v e l ho, a pós da r uma ol ha da , di s s e s or r i ndo:
“ Ol á! ! ! F a z t e mpo que o s e nhor nã o a pa r e c e ! ”
“ Mas. . . é a pr i mei r a vez que venho aqui ! ” - di s s e
Kus uda , s ur pr e s o.
“ Ah, si m? É a pr i mei r a vez? Como est á es cr i t o ' Di r et or
de hos pi t a 1' , pe ns e i que f os s e o S a s a k i . O que o s e nhor
de s e j a ? ”
“ Quer o f al ar com o Mest r e Nan- i n. ”
“ Já est á f al ando com el e! ” di sse o vel ho, abr i ndo um
l a r g o s or r i s o.
“ Ent ão o Mest r e Nan- i n é o s e nhor ? ” , di s s e Kus uda me i o
de s c onf i a do. E s pe r a v a a l g ué m ma i s “ v e ne r á v e l ” .
“ Eu mesmo” , r espondeu o vel ho, sem dar most r as de
r e s ol v e r a ma nda r s eu v i s i t a nt e e nt r a r . Já me i o
de s a ni ma do e um t a nt o de s de nhos o, Kus uda de c i di u f a l a r
a l i me s mo, de pé , no v e s t í bul o:
“ Eu gost ar i a que o senhor me ensi nasse a pr at i car o
Z e n. ”
O v e l ho ol hou pa r a e l e e di s s e :
“ Pr at i car o Zen? O senhor é um médi co não? Deve ent ão
t r a t a r be m de s e us doe nt e s e s e e s f or ç a r pa r a o be m de
s ua f a mí l i a , o Z e n é i s s o. Ag or a , pode i r e mbor a . ”
Kus uda v ol t ou pa r a c a s a , s e m e nt e nde r na da . I nt r i g a do
c om a s pa l a v r a s de Na n - I n, t r ê s di a s de poi s r e s ol v e u
vi s i t ar nov a me nt e o v e l ho Me s t r e . Na n - I n a t e nde u- o
nov a me nt e no Ve s t í bul o.
“ Novament e o senhor aqui ? O que desej a?”
“ I nsi st o par a que o senhor me ensi ne a pr at i car o Zen! ”
- di s s e Kus uda pe t ul a nt e me nt e .
“ Or a, nada t enho a acr escent ar ao que j á di sse out r o
di a . Vá e mbor a e s e j a um bom mé di c o” . E f e c hou a p or t a .
Doi s ou t r ê s di a s de poi s , Kus uda nov a me nt e v ol t ou a v e r
o Me s t r e , poi s a bs ol ut a me nt e nã o c ons e g ui r a e nt e nde r s ua s
pa l a v r a s .
“ Out r a vez aqui ?”
“ Eu vi m por que não consegui ent ender suas pal avr as, por
ma i s que pe ns a s s e s obr e e l a s . ”
“ Pensando nas pal avr as é que o s e nhor nã o v a i e nt e nde r
c oi s a ne nhuma me s mo! ” - di s s e o v e l ho mong e .
“ Ent ão o que eu devo f azer ?” - di s s e Kus uda , j á qua s e
de s e s pe r a do.
“ Pr ocur e per ceber por si , or a essa! Agor a, vá embor a. ”
Ma s Kus uda de s t a v e z z a ng ou- s e mui t o e r e s ponde u:
“ Por t r ê s v e z e s , e mbor a t e nha mui t os a f a z e r e s , l a r g ue i
t udo e v i m a t é a qui pe di r - l he pa r a me e ns i na r o Z e n e
s e mpr e o s e nhor me ma nda e mbor a s e m me da r o mí ni mo
e s c l a r e c i me nt o! Que es pé c i e de me s t r e é o s e nhor ,
a f i na l ! ? ! ”
“ Ah! Fi nal ment e el e zangou- s e ! ” , e x c l a mou o Me s t r e .
“ Mas é EVI DENTE! ” , desabaf ou o médi co.
“ Ent ão agor a chega de pal avr eado e sej a educado! Faça-
me uma s a uda ç ã o. ”
E nc a r a ndo f i x a me nt e o v e l ho mong e , Kus uda r e pr i mi u s ua
v ont a de de da r - l he um s oc o na c a r a e i nc l i nou - s e e m
r e v e r ê nc i a . O Me s t r e e nt ã o c onduz i u- o à s a l a de me di t a ç ã o
e o e ns i nou a pr a t i c a r z a z e n.
Anos de poi s , Kus uda f i na l me nt e e nt e nde u por que o Z e n
t a mbé m é c ui da r be m dos doe nt e s e e s f or ç a r - s e pa r a o be m
de s ua f a mí l i a .

85. Joshu e o Grande Caminho

Ce r t a v e z , um home m e nc ont r ou J os hu, que e s t a v a


a t a r e f a do e m l i mpa r o pá t i o do mos t e i r o. F e l i z c om a
opor t uni da de de f a l a r c om um g r a nde Me s t r e , o home m,
i ma g i na ndo c ons e g ui r de J os hu r e s pos t a s pa r a a que s t ã o
me t a f í s i c a que l he e s t a v a a t or me nt a ndo, l he pe r g unt ou:
“ Oh, Mest r e! Di ga- me : onde e s t á o Ca mi nho? ”
J os hu, s e m pa r a r de v a r r e r , r e s ponde u s ol í c i t o:
“ O cami nho passa al i f or a, depoi s da cer ca. ”
“ Mas, ” r epl i cou o homem mei o conf uso, “ eu não me r ef i r o
a e s s e c a mi nho. ”
Pa r a ndo s e u t r a ba l ho, o Me s t r e ol hou - o e di s s e :
“ Ent ão de que cami nho se t r a t a ? ”
O out r o di s s e , e m t om mí s t i c o:
“ Fal o, mest r e, do Gr ande Cami nho! ”
“ Ahhh, esse! ” sor r i u Joshu. “ O gr ande cami nho segue por
a l i a t é a Ca pi t a l . ”
E c ont i nuou a s ua t a r e f a .

86. Apenas uma estátua

Ce r t a v e z T a n- hs i a , mong e da di na s t i a T a ng , f e z uma
pa r a da e m Y e r i nj i , na Ca pi t a l , c a ns a do e c om mui t o f r i o.
Como e r a i mpos s í v e l c ons e g ui r a br i g o e f og o, e c omo e r a
e v i de nt e que nã o s obr e v i v e r i a à noi t e , r e t i r ou e m um
a nt i g o t e mpl o uma da s i ma g e ns de ma de i r a e nt r oni z a da s de
Buddha , r a c hou- a e pr e pa r ou c om e l a uma f og ue i r a , a s s i m
a que c e ndo- s e . O mong e g ua r di ã o de um t e mpl o ma i s nov o
pr óx i mo, a o c he g a r a o l oc a l de ma nhã e v e r o que t i nha
a c ont e c i do, f i c ou e s t a r r e c i do e e x c l a mou:
“ Como ousai s quei mar a sagr ada i magem de Buddha?! ?”
T a n- hs i a ol hou- o e de poi s c ome ç ou a me x e r na s c i nz a s ,
c omo s e pr oc ur a s s e por a l g o, di z e ndo:
“ Est ou r ecol hendo as Sar i r as ( * ) de Buddha. . . ”
“ Mas, ” di sse o guar di ão conf uso “ est e é um pedaço de
ma de i r a ! Como pode s e nc ont r a r S a r i r a s e m um obj e t o de
ma de i r a ? ”
“ Nesse caso, ” r et or qui u o out r o “ sendo a pe na s uma
e s t á t ua de ma de i r a , pos s o que i ma r a s dua s out r a s i ma g e ns
r e s t a nt e s ? ”
( * ) S a r i r a s - t a i s obj e t os s ã o de pós i t os mi ne r a i s -
c omo pe que na s pe dr a s - que s obr a m de a l g uns c or pos
c r e ma dos , e que s e g undo a t r a di ç ã o f or a m e nc ont r a dos a pós
a c r e ma ç ã o do c or po de Ga ut a ma Buddha , s e ndo c ons i de r a dos
obj e t os s a g r a dos .
Koa n: E m que pa r t e de um obj e t o f i c a o r e v e r e nc i a do
S a g r a do?
87. O Monge Indiferente

Uma v e l ha c ons t r ui u uma c a ba na pa r a um mong e e o


a l i me nt ou por v i nt e a nos , c omo f or ma de a dqui r i r mé r i t os .
Ce r t o di a , c omo f or ma de e x pe r i me nt a r a s a be dor i a
a dqui r i da pe l o mong e , a v e l ha pe di u à j ov e m mul he r que
l e v a v a a o mong e o a l i me nt o t odos os di a s ( j á que a v e l ha
s e nhor a nã o podi a ma i s f a z e r o c a mi nho c om f r e qüê nc i a ) o
a br a ç a s s e . Ao c he g a r à c a ba na , a me n i na e nc ont r ou o mong e
e m z a z e n. E l a a br a ç ou- o e pe r g unt ou- l he s e g os t a v a de l a .
O mong e , f r i o e i ndi f e r e nt e , di s s e de f or ma dur a :
“ É como se uma ár vor e seca est i vesse abr açada a uma
f r i a r oc ha . E s t á t ã o f r i o c omo o ma i s r i g or os o i nv e r no,
nã o s i nt o ne nhum c a l or . ”
A j ov e m r e t or nou, e di s s e o que o mong e f e z . A v e l ha ,
i r r i t a dí s s i ma , f oi a t é l á , e x pul s ou o mong e e que i mou a
c a ba na . E nqua nt o e l e s e a f a s t a v a , e l a g r i t ou:
“ E eu, que passei vi nt e anos sust ent ando um i di ot a! ”

88. Baso e o Nariz

Ce r t o di a Ba s o pa s s e a v a e m c ompa nhi a de s e u j ov e m
di s c í pul o Hy a k uj ô. A c e r t a a l t ur a do pa s s e i o, v i r a m uma
r e v oa da de pa t os s e l v a g e ns . Ba s o pe r g unt ou e nt ã o a
Hy a k uj ô:
“ Que é aqui l o, Hyakuj ô?”
“ São pat os sel vagens, Mest r e” - di s s e o j ov e m.
“ E par a onde vão?”
“ Vão- s e e mbor a , v oa ndo. . . ” - r e pl i c ou Hy a k uj ô, f i t a ndo
o c é u, pe ns a t i v o.
E nt ã o Ba s o a g a r r ou o na r i z de s eu di s c í pul o c om t oda a
f or ç a , da ndo um f or t e pux ã o. Hy a k uj ô g r i t ou:
“ Aaaai ! ”
Ba s o e x c l a mou: “ NÃO F ORAM E MBORA COI S A NE NHUMA! ”
Ao ouv i r i s s o, Hy a k uj ô obt e v e o S a t or i .

89. O tesouro em casa

Um di a , um j ov e m c ha ma do Y a ng F u de i x ou s ua f a mí l i a e
l a r pa r a i r a S z e - Chua n v i s i t a r o Bodhi s a t t v a Wu - J i . E l e
s onhou que j unt o à que l e me s t r e pode r i a e nc ont r a r um
g r a nde t e s our o de s a be dor i a . Qua ndo j á s e e nc ont r a v a à s
por t a s da c i da de , a pós uma l ong a v i a j e m c he i a de
a v e nt ur a s , e nc ont r ou um v e l ho s e nhor . E s t e l he pe r g unt ou:
“ Onde vai s, j ovem?”
“ Vou est udar com Wu- J i , o Bodhi s a t t v a . ” - r e s ponde u o
r a pa z .
“ Em vez de buscar um Bodhi sat t va, é mai s mar avi l hoso
e nc ont r a r Buddha . ”
E x c i t a do c om a pe r s pe c t i v a de e nc ont r a r o Gr a nde
Me s t r e , di s s e Y a ng F u:
“ Oh! Sabes onde encont r á- l o? ! ”
“ Vol t es par a casa agor a mesmo. Quando l á chegar es,
e nc ont r a r á s uma pe s s oa us a ndo uma ma nt a e c hi ne l os
t r oc a dos , que l he c umpr i me nt a r á . E s s a pe s s oa é o Buddha . ”
O r a pa z pe ns ou, a t e r r a do: “ Como pos s o r e t or na r a g or a ,
qua ndo e s t ou à s por t a s do me u obj e t i v o? E u t e r i a que
c onf i a r mui t o no que e s t e s i mpl e s v e l ho me di z ” . E nt ã o
Y a ng F u t e v e uma f or t e i nt ui ç ã o de que a que l e s i mpl e s
home m à s ua f r e nt e e r a a l g ué m de g r a nde s a be dor i a . Num
i mpul s o, v ol t ou- s e pa r a a e s t r a da , s e m j a ma i s t er
e nc ont r a do Wu- J i . E l e r e t or nou o ma i s r á pi do que pode ,
a ns i os o pe l a v ont a de de e nc ont r a r Buddha . Che g ou e m c a s a
t a r de da noi t e , e s ua a mor os a mã e , e m me i o à a l e g r i a e
pr e s s a de a br a ç a r o f i l ho que r et or na v a a o l a r , c obr i u- s e
de uma ma nt a us a da e c a l ç ou s e us c hi ne l os t r oc a dos .
Ol ha ndo pa r a s ua mã e de s s e modo, que v i nha s or r i ndo e
pr ont a a a br a ç á - l o, Y a ng F u a t i ng i u o S a t or i . E s t e e r a o
ma i or t e s our o.
90. O Mistério do Zen

Ce r t a v e z , Hua ng S ha n- k u pe r g unt ou a o me s t r e Hui - t ' a ng :


“ Por f avor , Mest r e, di ga- me qua l é o s i g ni f i c a do oc ul t o
do Buddhi s mo? ”
O Me s t r e r e pl i c ou:
“ Kung- T z u ( Conf úc i o) di s s e : ' Pe ns a i s que e s t ou
e s c onde ndo c oi s a s , ó me us di s c í pul os ? Na v e r da de , nã o
e s c ondo na da de v oc ê s ' . O Z e n t a mbé m nã o t e m na da de
oc ul t o. A Ve r da de j á e s t á r e v e l a da . ”
“ Não ent en. . . ! ” est ava di zendo o homem. Mas o mest r e
f e z um g e s t o de s i l ê nc i o e di s s e :
“ Não di gas nada! ”
Hua ng S ha n- k u f i c ou c onf us o. O Me s t r e e nt ã o e r g ue u - s e e
c onv i dou- o a s eg uí - l o a t é o s opé de uma mont a nha . E l e s
c a mi nha r a m e m s i l ê nc i o. L á c he g a ndo, o Me s t r e pe r g unt ou:
“ Sent es o suave ar oma dos ci pr est es?”
“ Si m, ” di sse o out r o.
“ Como vês, t ambém eu não escondo nada de t i . ”

91. Sem Motivo

Ce r t o di a , t r ê s a mi g os pa s s e a v a m e v i r a m um home m no
c ume de um pe que no mont e , s e nt a do. Cur i os os s obr e o que
e s t a r i a o home m f a z e ndo, f or a m a t é e l e , us a ndo a t r i l ha
na e nc os t a . Che g a ndo l á , o pr i me i r o di s s e :
“ Ol á, est á esper ando um ami go?”
“ Não. . . ” - r e s ponde u o out r o. O s e g undo home m r e pl i c ou:
“ Ent ão est á r espi r ando o ar pur o! ”
“ Não. . . ” - di s s e o e s t r a nho. O t e r c e i r o a mi g o di s s e :
“ Já sei ! Você est ava passando e r esol veu ol har est e
be l o c e ná r i o. ”
“ Não, na ver dade. . . ” - r e pe t i u o home m. Os t r ê s a mi g os
e nt ã o e x c l a ma r a m a o me s mo t e mpo, e s t upe f a t os :
“ Mas ent ão, o que f az aqui ? ! ”
O home m di s s e c om um s ua v e s or r i s o:
“ Apenas ESTOU aqui . . . ”

92. A Morte de Buddha

As s i m e u ouv i :
E s t a v a o Abe nç oa do - j á a de nt r a do e m a nos - c a mi nha ndo
no Bos que de Upa v a r t a na , e m c ompa nhi a de s e u di l e t o
di s c í pul o Ana nda , qua ndo s ubi t a me nt e s e nt i u - s e f a t i g a do.
De i t ou- s e um pouc o pa r a de s c a ns a r , c om Ana nda a s e u l a do.
Após um t e mpo, s e nt i u- s e me l hor e l e v a nt ou- s e . Um pouc o
ma i s a di a nt e na s e nda , o Ve ne r á v e l v ol t ou a pa r a r ,
f a t i g a do. L og o a pós a l g um t e mpo e m de s c a ns o, l e v a nt ou - s e .
E nt ã o, pe l a t e r c e i r a v e z , s e nt i u- s e mui t o c a ns a do, e
Ana nda , a f l i t o, o a j udou a de i t a r - s e à s ombr a de uma
á r v or e . O Abe nç oa do e nt ã o di s s e a s e u di s c í pul o:
“ Busque meus di scí pul os e r euna- os à mi nha v ol t a , poi s
o T a t ha g a t a e m br e v e t e r á s ua pe r s ona l i da de e x t i nt a . ”
Qua ndo os di s c í pul os s e a s s e nt a r a m, di s s e o Buddha
mui t a s c oi s a s s á bi a s , e e nt ã o di s s e a Ana nda , ma s f a l a v a
pa r a t odo o S a ng ha :
“ Pr eguei o Dhar ma sem l i mi t es ent r e o ocul t o e o
r e v e l a do, poi s no t oc a nt e à Ve r da de o T a t ha g a t a nã o t e m
na da que s e a s s e me l he a o punho c e r r a do de um i ns t r ut or
que oc ul t a a l g uma c oi s a .
“ Já sou vel ho, Ananda, t enho oi t ent a anos e t er mi no
me us c a mi nhos e me us di a s ; a s s i m c omo uma v e l ha c a r r oç a
que v a g a me nt e r oda na e s t r a da , a s s i m me u c or po s e
s us t e nt a c om mui t a f r a g i l i da de . Me u c or po s ó e s t á be m
qua ndo me r g ul ho no e qui l í br i o da me di t a ç ã o.
“ Por i sso, monges, per manecei na Senda, e assi m devei s
v os g ui a r pe l os Pr e c e i t os . Que o Dha r ma e a s r e g r a s do
S a ng ha s e j a m v os s o me s t r e qua ndo e u pa r t i r ; e que o
S a ng ha s a i ba de r r og a r , s e c onv i e r , os pr e c e i t os de p ouc a
i mpor t â nc i a . S e c ons e g ui r de s g ua r da r be m os Pr e c e i t os ,
di s s o r e s ul t a r á a Boa L ei . S e nã o c ons e g ui r de s g ua r da r de
f or ma c or r e t a o s e nt i do dos Pr e c e i t os , e nt ã o s e us
pr e t e ns os a t os de bene v ol ê nc i a s e r ã o de s t i t uí dos de
mé r i t os r e a i s .
“ Assi m, poi s, Ananda, s e de v os s a s pr ópr i a s l â mpa da s .
Apoi a i - v os e m v ós me s mos e nã o e m ne nhum s us t e nt á c ul o
e x t e r no. S us t e nt a i - v os a pe na s na Ve r da de . Que e l a s e j a
v os s a ba nde i r a e r e f úg i o. ”
Di r i g i ndo- s e à a s s e mbl é i a , pe r g unt ou:
“ Se ai nda ent r e vós al guém abr i ga dúvi das, que a
e x ponha l i v r e me nt e , poi s me u t e mpo de r e s ponde r a t oda s
a s dúv i da s e s t á e nc ur t a ndo. ”
Ana nda di s s e , a pós um pe r í odo:
“ Cer t ament e, dent r e os que aqui se encont r am não há
ni ng ué m que a br i g ue dúv i da s ou r e c e i os a c e r c a do Buddha ,
do Dha r ma e da S e nda . ”
E nt ã o o Abe nç oa do pr of e r i u s ua s úl t i ma s pa l a v r a s :
“ Decadênci a é i ner ent e a t odas as coi sas exi st ent es,
por é m o Dha r ma pe r dur a r á e t e r na me nt e . Bus que m c om a f i nc o
por s ua l i be r t a ç ã o. ”
Ne s t e mome nt o o Buddha e nt r ou e m me di t a ç ã o, e e x pi r ou
t r a nqüi l a me nt e .

93. O Dharma Eterno

Um di a um di s c í pul o pe r g unt ou a o s e u pr of e s s or :
“ Mest r e, t odas as coi sas exi st ent es t êm de ext i ngui r -
s e , ma s há uma Ve r da de E t e r na ? ”
“ Si m, ” di sse o mest r e. E apont ou par a o j ar di m:
“ El a é como as f l or es do campo, que de t ão bel as
pa r e c e m br oc a dos de pur a s e da ; c omo um r i a c ho
a pa r e nt e me nt e i móv e l , ma s que de f a t o e s t á f l ui ndo
s ua v e me nt e pa r a o oc e a no. ”

94. O Verão Zen

Ao t e r mi na r o Ve r ã o, Y a ng - s ha n f e z uma v i s i t a a Kue i -
s ha n, que l he pe r g unt ou:
“ Não vos vi por aqui t odo o Ver ão, o que f i zest es?”
Y a ng - s ha n r e pl i c ou:
“ Est i ve cul t i vando um pedaço de t er r a e t er mi nei de
pl a nt a r uma s s e me nt e s . ”
“ Ent ão, ” coment ou Kuei - s ha n, “ nã o de s pe r di ç a s t e s o
v os s o Ve r ã o. ”
Por s ua v e z , Y a ng - s ha n di s s e :
“ E vós, como passast es o Ver ão?”
“ Uma r ef ei ção por di a e um bom s ono à noi t e , ”
a r g ume nt ou o out r o.
“ Ent ão, ” f oi a vez de Yang- s ha n c ome nt a r , “ nã o
de s pe r di ç a s t e s o v os s o Ve r ã o. ”
Koa n: Bus c a mos a Ve r da de l ong e , ma s el a es t á s e mpr e
pr óx i ma de nós .

95. Como capturar o Vazio

S hi n- k ung pe r g unt ou a um dos s e us ma i s i nt e l i g e nt e s


mong e s :
“ Podei s capt ur ar o Vazi o?”
“ Si m, senhor ” , r epl i cou el e.
“ Most r ai - me c omo f a z e s , ” pe di u o me s t r e .
O mong e a br i u os br a ç os e a ç a mba r c ou o e s pa ç o v a z i o.
S hi n- k ung di s s e :
“ É essa a manei r a? Apesar de t udo, não capt ur ou coi sa
a l g uma . ”
“ Ent ão, ” r epl i cou o mong e um t a nt o of e ndi do, “ qua l é o
mé t odo que us a s ? ”
O me s t r e s e g ur ou o na r i z do a l uno e de u um f or t e pux ã o.
O r a pa z g r i t ou:
“ Aai i i ! Est ás puxando com mui t a f or ça! Est á me
ma c huc a ndo! ”
O me s t r e r e pl i c ou:
“ Per f ei t o! Essa é a manei r a de r eal ment e capt ur ar o
Va z i o! ”

96. A Pedrinha no Bambu

Hs i a ng - y e n f ui di s c í pul o de Pa i - c ha ng . E r a uma pe s s oa
mui t o i nt e l i g e nt e , e s e mpr e c onf i ou na pr e s unç ã o de que
s e e s t uda s s e e a bs or v e s s e t odo o c onhe c i me nt o dos t e r mos
e t e x t os buddhi s t a s , s e r i a um e nt e nde dor do Z e n. Após a
mor t e de s e u me s t r e , e l e di r i g i u - s e a Kue i - s ha n - que e r a
o ma i s a nt i g o di s c í pul o de Pa i - c ha ng - pa r a que e s t e l he
or i e nt a s s e . Ma s Kue i - s ha n c ome nt ou:
“ Soube que est i vest e sob a or i ent ação de meu ant i go
me s t r e e f a l a r a m- me de t ua not á v e l i nt e l i g ê nc i a . T e nt a r
c ompr e e nde r o buddhi s mo at r av és de s t e me i o l ev a
g e r a l me nt e a uma c ompr e e ns ã o a na l í t i c a , que e m s i na da
t e m de út i l , ma s que pode i ndi r e t a me nt e l e v a r o
pr a t i c a nt e a uma i nt ui ç ã o do s e nt i do Z e n. Por i s s o, e u
l he pe r g unt o: c omo t u e r a s a nt e s de t e us pa i s t e r e m l he
c onc e bi do? ”
Hs i a ng - y e n f i c ou pa s mo, s e m s a be r o que di z e r . Pe di u
l i c e nç a e f oi pa r a s e u qua r t o, e pr oc ur ou e m t odos os
t e x t os e c onc e i t os uma r e s pos t a pa r a a e s t r a nha que s t ã o.
Nã o f oi c a pa z , e v ol t ou a o out r o mong e . Pe di u - l he pa r a
e ns i na r s obr e o s e nt i do do que qui s di z e r , e Kue i - s ha n
pe r g unt ou:
“ Si nt o mui t o, mas nada t enho a l he dar . Tu sabes mai s
do que e u, e s e nós de ba t ê s s e mos c om c e r t e z a e u f i c a r i a
e m di f i c ul da de s . T udo o que e u l he pude s s e di z e r pe r t e nc e
à s mi nha s de s c obe r t a s pe s s oa i s e j a ma i s pode r i a s e r t e u. ”
Hs i a ng - y e n f i c ou de s a pont a do e a c hou que o mong e ma i s
v e l ho l he es t av a e s c onde ndo al go de l i be r a da me nt e .
Re s ol v e u pa r t i r do t e mpl o, e bus c a r o c onhe c i me nt o
a t r a v é s dos l i v r os e c onc e i t os , poi s a c ha v a que na
v e r da de o s e u c onhe c i me nt o n ã o er a s uf i c i e nt e , e por i s s o
o out r o nã o qui s l he r e s ponde r . F oi mor a r e m um
e r e mi t é r i o e pa s s ou a e s t uda r c om a f i nc o. Após v á r i os
a nos , a c ha ndo- s e s uf i c i e nt e me nt e c onhe c e dor dos c onc e i t os
buddhi s t a s , v ol t ou a Kue i - s ha n. E s t e , qua ndo ouv i u s ua s
dout a s e x pl i c a ç õe s e s ua s ol i c i t a ç ã o por or i e nt a ç ã o,
a pe na s s or r i u e na da di s s e . Vi r ou - s e e f oi e mbor a .
Hs i a ng - y e n f i c ou i r r i t a dí s s i mo. Na que l e mome nt o t omou
uma de c i s ã o, de s t r ui u t odos os s e us t e x t os e r e s ol v e u
de s i s t i r dos e s t udos , a i nda que j á f os s e um g r a nde
i nt e l e c t ua l . E l e pe ns ou: “ Qua l a ut i l i da de de e s t uda r o
buddhi s mo, s e e s t e é t ã o s ut i l e s e é t ã o di f í c i l r e c e be r
i ns t r uç õe s de out r e m? S e r e i a g or a um s i mpl e s mong e
pr a t i c a nt e , e de s i s t o de e nt e nde r qua l que r c oi s a ! ”
Aba ndonou o t empl o e s ua s c e r c a ni a s , c ons t r ui u uma
c a ba na pr óx i ma à s e pul t ur a de Chu, o Me s t r e Na c i ona l de
Na n- y a ng , e pa s s ou a v i v e r uma v i da s i mpl e s l ong e dos
e s t udos e que s t õe s .
Ce r t o di a , e s t a v a v a r r e ndo o c hã o de s ua c a s a qua ndo a
v a s s our a t oc ou numa pe dr i nha , que r ol ou e ba t e u e m um
ba mbu. E m me i o a o s i l ê nc i o, o s om e c oou s ua v e me nt e . Ao
ouv i r e s t e s om, Hs i a ng - y e n e x pe r i me nt ou o S a t or i , e
f i na l me nt e c ompr e e nde u o que t i nha l he di t o Kue i - s ha n.
El e e nt ã o a j oe l hou- s e e s i l e nc i os a me nt e f ez uma
r e v e r ê nc i a de a g r a de c i me nt o a o s á bi o mong e .
97. Compreendeis o Budismo?

Um mong e pe r g unt ou a Hui - ne ng ( o S e x t o Pa t r i a r c a Z e n) :


“ Quem her dou o espí r i t o do Qui nt o Pat r i ar ca?”
Hui - ne ng r e s ponde u:
“ Aquel e que compr eende o Budi smo. ”
“ Ter í ei s ent ão vós her dado est e espí r i t o?” qui s saber o
mong e .
“ Não, ” r epl i cou o me s t r e . “ E u nã o o he r de i . ”
“ Por que não?! ?” o monge, nat ur al ment e pasmo, per gunt ou
e nt ã o.
“ Por que não compr eendo o Budi smo. ” Af i r mou Hui - ne ng .
Koa n: Vós c ompr e e nde i s o Budi s mo?

98. Além do Vazio

Ce r t a v e z um mong e pe r g unt ou a L i - c ha n:
“ Se t odas as coi sas s e r e duz e m e m úl t i ma a ná l i s e a o
Va z i o, e s t e a quê s e r e duz i r á ? ”
Re s ponde u o me s t r e :
“ Mi nha l í ngua é cur t a demai s par a vos expl i car . ”
“ E por que vossa l í ngua é t ão cur t a?” per gunt ou o
mong e , i nt r i g a do.
“ No i nt er i or e no ext er i or el a é da mesma vazi a
na t ur e z a . ” Di s s e o me s t r e .

99. A Sábia Iluminada

Pe r t o do t e mpl o onde v i v i a o me s t r e Ha k ui n, mor a v a uma


j ov e m c om s e u pa i . S e u nome e r a Os a t s u, e e mbor a s e g unda
a t r a di ç ã o j a pone s a e l a e s t i v e s s e e m i da de pa r a c a s a r ,
por ma i s que s e u pa i i ns i s t i s s e e l a nã o que r i a f a z ê - l o,
pr e f e r i ndo e s t uda r os S ut r a s . Ce r t o di a , a pós l e r um
S ut r a , a t i r ou o l i v r o pa r a c i ma de uma me s a e s e nt ou - s e
e m c i ma de l e , da ndo g os t os a s g a r g a l ha da s . As s us t a do, s e u
pa i f oi v e r Ha k ui n e m bus c a de c ons e l hos . O me s t r e
r e s ol v e r i r f a l a r c om a me ni na . Ao v e r Ha k ui n c he g a r e l a
s or r i u e s e nt ou- s e à s ua f r e nt e .
“ Di sser am- me que s e nt a s t e s em c i ma de um S ut r a ” ,
pe r g unt ou o me s t r e .
“ Si m, ” r espondeu a mul her , “ poi s sou mai s di gna de
r e s pe i t o do que um s i mpl e s l i v r o de s ut r a s . ”
Ha k ui n ol hou- a e di s s e :
“ Nesse c a s o é me l hor i r pa r a o t e mpl o e nã o ma i s f i c a r
e m c a s a . ” A pa r t i r de s t e di a Os a t s u pr a t i c ou o Z e n s ob a
or i e nt a ç ã o de Ha k ui n. De poi s de a l g um t e mpo, s e g ui ndo os
c ons e l hos do me s t r e , e l a c a s ou - s e e t e v e f i l hos , a i nda
que c ont i nua s s e a pr a t i c a r o Z e n. Qua nd o f i c ou ma i s
v e l ha , e l a t e v e ne t os , os qua i s a ma v a mui t o. J á e nt ã o e r a
c ons i de r a da uma s á bi a me s t r a .
Um di a a c ont e c e u de um de s e us j ov e ns ne t os a doe c e r e
mor r e r . No di a do f une r a l , Os a t s u a br a ç ou o e s qui f e , e
c hor ou mui t o. Um dos pr e s e nt e s , e s t r a nha ndo o f a t o,
di s s e - l he :
“ Ent ão, embor a sej as I l umi nada pel a Sabedor i a, sof r es
ma i s do que nós ? ”
“ Eu amava mui t o est e meu net o! ” di sse si mpl esment e a
s á bi a Os a t s u, e nt r e l á g r i ma s .
Koa n: O s e nt i me nt o j a ma i s a ba ndona o s á bi o. Qua l é o
s e g r e do do a mor s e m a pe g os ?

100. Inferno?

Um home m pe r g unt ou a o me s t r e Z e n:
“ Onde est ar á o senhor daqui a cem anos?”
“ Renasci do como um caval o ou um bur r o” , r espondeu o
v e l ho s á bi o.
“ Oh! ” , excl amou o homem , conf uso. “ E depoi s di sso?”
“ Renascer ei em um Nar aka[ 1] ” , decl ar ou o mest r e.
“ Ma s . . . o s e nhor é um home m bom e s á bi o, por que t a l
c oi s a a c ont e c e r i a ? ” pe r g unt ou o home m.
“ Se não r enascer lá par a ensi nar o Dhar ma, quem o
f ar á?”
[ 1] Re g i ã o de de mé r i t o k á r mi c o, a s s oc i a da ao s e mi t a
“ I nf er no” .
Koa n: O Dha r ma es t á e m t oda pa r t e . Onde tu es t ar ás
da qui a c e m a nos ?

101. Bambu longo, bambu curto

Ce r t a v e z , dur a nt e uma pa l e s t r a , um mong e pe r g unt ou a


um me s t r e Z e n:
“ Qual o si gni f i cado f undament al do Budi smo?”
O me s t r e di s s e :
“ Ao f i nal da pal est r a f i que aqui sozi nho comi go que eu
l he e x pl i c a r e i . ”
I ma g i na ndo que al go mui t o i mpor t a nt e l he s er i a
r e v e l a do, o mong e e s pe r ou i mpa c i e nt e o f i m da pr e l e ç ã o.
Qua ndo t odos s a í r a m, e l e pe r g unt ou a ns i os o:
“ Ent ão, r esponder - me - á s a g or a ? ”
“ Si ga- me , ” di s s e o me s t r e e l e v a nt ou - s e . Conduz i u o
mong e a o be l o j a r di m a os f undos do t e mpl o, a pont ou pa r a o
bos que de ba mbus e di s s e :
“ Est e bambu é l ongo, aquel e é cur t o. ”
102. Mente Ecológica, Mente Zen

Um di s c í pul o pe r g unt ou a o s e u me s t r e Z e n:
“ Como posso f azer com que as mont anhas, os r i os e a
g r a nde T e r r a me be ne f i c i e m? ”
Re s ponde u o me s t r e :
“ Vós devei s benef i ci ar as mont anhas, os r i os e a gr ande
Ter r a. ”
Koa n: A me nt e Z e n é a nut r i ç ã o da T e r r a . A me nt e da
T e r r a é a nos s a nut r i ç ã o.

103. O que estais fazendo?

S hi h- t ' ou, c er t a v ez , pe r g unt ou a o s e u di s c í pul o Y ue h -


s ha n:
“ O que es t a i s f a z e ndo a qui ? ”
“ Nada est ou f azendo” , r espondeu o pupi l o.
“ Ent ão est ai s gast ando seu t empo! ” Di sse o mest r e,
t e s t a ndo- o.
“ Não ser á t ambém gast ar o t empo, quando f azemos al guma
c oi s a ? ” r e pl i c ou o mong e .
“ Di zei s que nada est ai s f azendo, mas quem é est e
i ndi v í duo que na da f a z ? ”
Re s ponde u Y ue h- s ha n:
“ At é o mai s sábi o não pode saber . ”

104. O Aperfeiçoamento Pessoal

Um pr a t i c a nt e c e r t a v e z pe r g unt ou a um me s t r e Z e n, que
e l e c ons i de r a v a mui t o s á bi o:
“ Quai s são os t i pos de pessoas que necessi t am de
a pe r f e i ç oa me nt o pe s s oa l ? ”
“ Pessoas como eu. ” Coment ou o mest r e. O pr at i cant e
f i c ou a l g o e s pa nt a do:
“ Um mest r e como o senhor pr eci sa de aper f ei çoament o?”
“ O aper f ei çoament o, ” r espondeu o sábi o, “ nada mai s é do
que v e s t i r - s e , ou a l i me nt a r - s e . . . ”
“ Mas, ” r epl i cou o pr at i c a nt e , “ f a z e mos i s s o s e mpr e !
I ma g i na v a que o a pe r f e i ç oa me nt o s i g ni f i c a s s e a l g o ma i s
pr of undo pa r a um me s t r e . ”
“ O que achas que f aço t odos os di as?” r et r ucou o
me s t r e . “ A c a da di a , bus c a ndo o a pe r f e i ç oa me nt o, f a ç o c om
c ui da do e hone s t i da de os a t os c omuns d o c ot i di a no. Na da é
ma i s pr of undo do que i s s o. ”

105. O Buddha Cipreste

Um di s c í pul o pe r g unt ou a o s e u me s t r e :
“ Mest r e, um ci pr est e possui a nat ur eza de Buddha?”
“ Si m, ” di sse o sábi o.
“ E quando el e se t or nar á um Buddha?” i ndagou o al uno.
“ Quando o céu cai r . . . ” c ome nt ou o me s t r e . O di s c í pul o,
c onf us o, pe r g unt ou e nt ã o:
“ E quando o céu cai r á?”
“ Quando o ci pr est e t or nar - s e Buddha , ” f i na l i z ou o
s á bi o, s or r i ndo.

106. A Gargalhada Zen

Uma be l a noi t e , o me s t r e Y a o- s ha n f oi pa s s e a r pe l a s
mont a nha s . E r a uma l i nda noi t e de v e r ã o, e qua ndo o s á bi o
e s t a v a na be i r a de uma e s c a r pa , a s nuv e ns de s c obr i r a m a
l ua e a né v oa di s s i pou- s e s ubi t a me nt e . Y a o- s ha n pôde
e nt ã o v e r o v a l e i l umi na do pe l a l ua , numa v i s ã o de
s onho. . .
Ol ha ndo t a nt a be l e z a , Y a o- s ha n r e pe nt i na me nt e c ome ç ou a
da r g os t os a s g a r g a l ha da s . S e u r i s o f oi t ã o a l t o que os
e c os r e v e r be r a r a m por qui l ôme t r os de di s t â nc i a .
No di a s e g ui nt e , os ha bi t a nt e s da pe que na a l de i a
pr óx i ma da s mont a nha s c ome nt a v a m e nt r e s i :
“ Ont em à noi t e ouvi r i sos! Mi st er i osos r i sos, e não sei
de onde v i nha m. ” - di s s e um a l de ã o.
“ Si m, eu t ambém ouvi ! I sso é r eal ment e mi st er i oso! ” -
r e pl i c ou out r o. Doi s mong e s do t e mpl o ouv i r a m os
c ome nt á r i os e um de l e s s i mpl e s me nt e di s s e :
“ Não há mi st ér i os no Zen. O som que ouvi st es f or am de
Y a o- s ha n, r i ndo na s c ol i na s . O S om da a l e g r i a z e n é c omo
a v i da : nã o e nc ont r a f r ont e i r a s , e é ouv i da por t odos . ”

107. Homem ou Mulher - Não Faz Diferença

Uma monj a v i v i a pr e oc upa da e mor t i f i c a da por que ,


s e g undo t i nha l i do num t e x t o, o f a t o de s e r uma mul he r
obs t a c ul a v a s e u c a mi nho e s pi r i t ua l ; que t oda mul her
de v e r i a a ns i a r por r e na s c e r c omo home m, pa r a que a s s i m
pude s s e de s e nv ol v e r - s e no Ca mi nho. Como e l a t i nha l i do
t a l c oi s a e m um S ut r a , e l a i ma g i nou que i s s o s e r i a a l g o
r e a l e s é r i o, ma s nã o e nt e ndi a c omo pode r i a s e r a s s i m. Um
di a , bus c ou o me s t r e L ong - t a n e pe r g unt ou- l he :
“ Mest r e, l i em um Sut r a que ser uma mul her é al go r ui m,
e que de v o me a pe r f e i ç oa r pa r a que , um di a , pos s a
r e na s c e r c omo um home m e a s s i m pode r a t i ng i r a s a be dor i a .
Ma s c omo pos s o f a z e r i s s o? O que de v o f a z e r pa r a r e na s c e r
c omo um home m? ”
O me s t r e s i mpl e s me nt e pe r g unt ou - l he :
“ Há quant o t empo és uma monj a?”
“ Mas. . . ” r epl i cou a monj a “ eu não per gunt ei sobr e i sso.
Pe r g unt e i c omo pos s o um di a r e na s c e r c omo home m! ”
“ O que t u és agor a?” per gunt ou o mest r e.
“ Uma mul her , or a ! ” r e s ponde u a monj a , s ur pr e s a . “ Que m
nã o s a be di s s o? ”
“ E quem r eal ment e conhece t ua ver dadei r a nat ur eza par a,
a pa r t i r do f a t o de s e r e s uma mul he r , s e nt e nc i a r
t ol a me nt e que t ua c ondi ç ã o f e mi ni na l he i mpe de de
c ompr e e nde r o Dha r ma ? ” di s s e L ong - t a n.
Ne s t e mome nt o a monj a obt e v e o S a t or i .

108. Chuva

Num di a c huv os o, qua ndo e s t a v a s e nt a do c om um di s c í pul o


no s a l ã o do t e mpl o e ouv i ndo a s g ot a s d' á g ua ba t e ndo
s ua v e me nt e no t e l ha do e no pá t i o, o me s t r e J i ng - qi ng
pe r g unt ou a o out r o mong e :
“ Que som é aquel e l á f or a ? ”
“ É a chuva, ” r espondeu o monge. O mest r e di sse:
“ Ao buscar f or a de si mesmos al guma coi sa, t odos os
s e r e s s e c onf unde m c om os s i g ni f i c a dos . ”
“ Ent ão, ” r epl i cou o di scí pul o, “ como dever i a eu me
s e nt i r e m r e l a ç ã o a o que pe r c e bo, Me s t r e ? ”
O s á bi o a pe na s di s s e :
“ Eu sou o bar ul ho da chuva. ”

109. Onde Começa o Caminho?

Um di a , um di s c í pul o f oi ao me s t r e Ki a n - f a ng e
pe r g unt ou- l he :
“ Todas as di r eções l evam ao cami nho de Buddha, mas
a pe na s uma c onduz a o Ni r v a na . Por f a v or , me s t r e , di g a - me
onde c ome ç a e s t e Ca mi nho? ”
O v e l ho me s t r e f e z um r i s c o no c hã o c om s eu ba s t ã o e
di s s e :
“ Aqui ” .
110. Não tenho nada

Um j ov e m mong e a pr ox i mou- s e de Cha o- c hou mui t o


or g ul hos o e e uf ór i c o, e di s s e :
“ Me desf i z de t udo o que t i nha! Mi nhas mãos est ão
v a z i a s e v i m à v ós c om o c or a ç ã o s e r e no! ”
“ Ent ão r est a apenas desf azer es - t e di s s o, e c he g a r á s a o
Z e n. ” Af i r mou o me s t r e .
“ Mas, ” r epl i cou o monge, “ não t enho mai s nada. Do que
ma i s pos s o me de s f a z e r ? ”
“ Tudo bem, ” coment ou o sábi o, “ se t u quer es mant er o
Na da que a i nda c a r r e g a s , f i que c om e l e . . . ”

111. Estou Aqui

Um v e l ho mong e e s t a v a s e c a ndo v e g e t a i s s ob o i nc l e me nt e
s ol do me i o- di a . Um home m a pr ox i mou- s e s ol í c i t o e di s s e :
“ Quant os anos t ens?”
“ Sessent a e Oi t o, ” di sse o anci ão.
“ Por que t r abal has t ant o aqui no t empl o?”
“ Por que aqui no t empo t e m t a nt o t r a ba l ho a f az er , ”
r e pl i c ou o mong e .
“ Mas por que t r abal ha sob est e sol t ão quent e?”
“ Por que o sol quent e est á l á, e meu t r abal ho é aqui . ”

112. Isso também passará

Um pr a t i c a nt e f oi a t é o s eu pr of e s s or de me di t a ç ã o,
t r i s t e me nt e , e di s s e :
“ Mi nha pr á t i c a de me di t a ç ã o é hor r í v e l ! Ou e u f i c o
di s t r a í do, ou mi nha s pe r na s doe m mui t o, ou eu
c ons t a nt e me nt e f i co c om s ono. É s i mpl e s me nt e
hor r í v e l ! ! ! ! ”
“ I sso passar á, ” o pr of essor di sse suavement e.
Uma s e ma na de poi s , o e s t uda nt e r e t or nou ao s eu
pr of e s s or , e uf ór i c o:
“ Mi nha pr át i ca de medi t ação é mar avi l hosa! Eu si nt o- me
t ã o c ons c i e nt e , t ã o pa c í f i c o, t ã o r e l a x a do, t ã o v i v o! É
s i mpl e s me nt e ma r a v i l hos o! ! ! ! ! ”
O me s t r e di s s e t r a nqüi l a me nt e :
“ I sso t ambém passar á. ”

113. O Real Imaginário

Um mong e pe r g unt ou a Y e n- k ua n:
“ Quem é r eal ment e Vai r ochana Buddha?”
“ Por f avor , ” r epl i cou Yen- k ua n, “ pa s s e - me a que l e j a r r o
d' á g ua . ”
O mong e e s t i c ou o br a ç o, pe g ou o j a r r o e o c ol oc ou na
f r e nt e do out r o. Y e n- k ua n e nt ã o di s s e :
“ Pode r ecol ocá- l o no l ug a r or i g i na l , por f a v or ? ”
O mong e f e z i s s o, s e m c ome nt á r i os . Após um mome nt o e l e
pe r g unt ou nov a me nt e a Y e n- k ua n:
“ Quem é r eal ment e Vai r ochana Buddha?”
O me s t r e r e s ponde u:
“ A vener ável di vi ndade est eve aqui , mas j á r et or nou ao
s e u l ug a r . ”

114. Quem é você?

O Me s t r e Ma - k u c e r t a v e z c ha mou s e u di s c í pul o:
“ Li ang- s ui ! ”
O out r o mong e r e s ponde u:
“ Si m?”
Ao ouv i r e s s a r e s pos t a , o me s t r e nov a me nt e c ha mou:
“ Li ang- s ui ! ”
O mong e di s s e :
“ Pr ont o! ”
Pe l a t e r c e i r a v e z o me s t r e f a l ou:
“ Li ang- s ui ! ”
O di s c í pul o, i nt r i g a do, r e pl i c ou:
“ Est ou aqui , mest r e. ”
Após uma pa us a s e m na da di z e r , o s á bi o e x c l a mou pa r a
s e u a l uno:
“ Quão t ol o t u és! ”
Ao ouv i r i s s o L i a ng - s ui t e v e o S a t or i , e a f i r mou:
“ Mest r e, j á não mai s me engano. Se não t i vesse buscado
a v ós c omo me s t r e , e u t e r i a s i do l e v a do mi s e r a v e l me nt e ,
dur a nt e t oda mi nha v i da , a pe r ma ne c e r pr e s o a os s ut r a s e
a os s a s t r a s ! ”
Ma i s t a r de , a l g uns c ompa nhe i r os de L i a ng - s ui
pe r g unt a r a m- l he :
“ O que sabes sobr e a f i l osof i a de Buddha?”
L i a ng - s ui r e s ponde u:
“ Tudo o que sabei s eu t ambém sei . Mas o que sei nenhum
de v ós s a be i s . ”

115. Mente e Não-Mente

Um mong e pe r g unt ou a T a - c hu:


“ São as pal avr as a Ment e?”
“ Não, as pal avr as são condi ções ext er nas. El as não são
a Me nt e , ” di s s e o me s t r e .
“ Ent ão onde, f or a das condi ções ext er nas, podemos
e nc ont r a r a Me nt e ? ”
“ Não há Ment e al ém das pal avr a s , ” de c l a r ou o s á bi o.
“ Não havendo Ment e i ndependent e das pal avr as, o que é
a f i na l a Me nt e ? ” pe r g unt ou o mong e , c onf us o.
“ A Ment e é sem f or ma e sem i magens. Em ver dade, el a nem
de pe nde ne m é i nde pe nde nt e da s pa l a v r a s . É e t e r na me nt e
s e r e na e l i v r e e m s e u mov i me nt o. ”
Koa n: Onde e s t á a s ua Me nt e ?

116. A Velha e o Buddha

Ha v i a uma v e l ha mul he r que v i v i a no l a do l e s t e da


c i da de e m que t a mbé m mor a v a o Buddha . E l a na s c e r a qua ndo
t i nha na s c i do Ga ut a ma , e t i nha v i v i do t oda s ua v i da
a c ompa nha ndo a e s t ór i a de S ua v i da , uma v e z que e r a s ua
c ont e mpor â ne a . E nt r e t a nt o, e l a nunc a qui s v ê - l o, ou f a l a r
c om e l e . S e mpr e que ouv i a que Buddha s e a pr ox i ma v a , e l a
f ug i a de s ua pr e s e nç a , t e nt a ndo por t odos os modos
e v i t a r - l he o ol ha r , c or r e ndo pa r a a qui e pa r a a l i ,
e s c onde ndo- s e .
Ma s c e r t o di a , e l a e s t a v a e m um l oc a l de onde nã o podi a
s a i r ou s e e s c onde r . Buddha s e a pr ox i ma v a , e a v e l ha
mul he r , de s e s pe r a da e m s e u t e r r or de e nc ont r a r t a l home m,
j á nã o s a bi a o que f a z e r . E nt ã o, no úl t i mo mome nt o, e l a
f e z a úni c a c oi s a pos s í v e l pa r a e v i t a r v e r o Buddha :
e r g ue u a mba s a s mã os à f r e nt e de s e u r os t o, t a pa ndo a s s i m
s ua v i s ã o.
Ne s t e mome nt o, ma r a v i l hos a me nt e , o r os t o de Buddha
a pa r e c e u e nt r e c a da um de s e us de z de dos .
Koa n: A c ondi ç ã o de Buddha r e pr e s e nt a a a bs ol ut a
a f i r ma ç ã o ( Dha r ma ) . Nã o s e pode f ug i r da Ve r da de , poi s
e l a v a i e s t a r a c a da pa s s o de s e u c a mi nho. Por t a nt o, que m
é e s t a v e l ha mul he r ?
117. A Morte de Um Gato

No mos t e i r o de Na n- Ch' ua n ( 748 - 834 d. C. ) , os mong e s da


a l a or i e nt a l di s c ut i a m c om os da a l a oc i de nt a l , no me i o
do doj o de me di t a ç ã o, s obr e a pos s e de um g a t i nho. E m
me i o à c onf us ã o c he g a o me s t r e , que s i l e nc i os a me nt e pe g a
o g a t o pe l o c a ng ot e e o e r g ue a c i ma de t odos . O s i l ê nc i o
c a i s obr e os mong e s , e o me s t r e di z :
“ Al gum de vós podei s di zer al go par a sal var est e pobr e
a ni ma l ? ”
Ni ng ué m s oube o que di z e r . O me s t r e s i mpl e s me nt e t or c e
o pe s c oç o do g a t o, ma t a ndo- o. Di v i de - o e m doi s , e l a nç a
uma pa r t e na di r e ç ã o de c a da g r upo de mong e s de s ol a dos .
Ma i s t a r de , qua ndo Cha o- c hou r e t or nou de uma v i a g e m,
ouv i u de a l g uns mong e s o r e l a t o do a c ont e c i do. Al i pe r t o,
Na n- Ch' ua n obs e r v a v a a c onv e r s a . Um dos mong e s pe r g unt ou
a Cha o- c hou:
“ O que t er i as f ei t o par a sal var o gat o?”
Cha o- c hou na da di s s e , de s c a l ç ou a s s a ndá l i a s , c ol oc ou -
a s na c a be ç a , e s a i u a nda ndo. Ne s t e mome nt o Na n - Ch' ua n
a pa r e c e u e di s s e , num t om e nt r i s t e c i do:
“ Est i véssei s aqui na ocasi ão e t er í ei s si do capaz de
s a l v a r a que l e g a t i nho. ”
Koa n: O que é “ pos s ui r ” ?

118. O Corajoso General

Ha v i a um c e r t o g e ne r a l c hi nê s , que e m ba t a l ha l i de r ou
s e us home ns c om c or a g e m e de s t e mi da f or ç a . Na da podi a
l e v á - l o a s e nt i r me do, poi s s ua c onv i c ç ã o e r a i na ba l á v e l .
Ce r t o di a e l e e s t a v a e m c a s a , t oma ndo c há us a ndo s ua ma i s
a dor a da r e l í qui a , uma bel a x í c a r a de por c e l a na f i na me nt e
de c or a da . E l e e r a pr of unda me nt e a pe g a do à que l a pe ç a , e a
e s t i ma v a mui t o. Qua ndo f e z o g e s t o de c ol oc á - l a na me s a
s ua mã o v a c i l ou e a x í c a r a c ome ç ou a c a i r a o c hã o.
T e r r i f i c a do c om o t e mor de que a pe ç a s e que br a s s e , o
g e ne r a l l a nç ou- s e a o c hã o e no úl t i mo mome nt o c ons e g ui u
pe g á - l a .
Ai nda t e ns o, t r e me ndo e s ua ndo f r i o, o g e ne r a l pe ns ou:
“ Li der ei homens em t er r í vei s guer r as e passei por
mome nt os a s s us t a dor e s na v i da s e m j a ma i s v a c i l a r ! Como é
pos s í v e l que e u s e nt i s s e t a nt o t e mor por c a us a de um
pe que no obj e t o de por c e l a na ? ! ? ”
E nt ã o o g e ne r a l pe r c e be u pl e na me nt e a na t ur e z a de s e u
a pe g o na v i da . Ne s t e mome nt o, l a r g ou a x í c a r a a o c hã o,
v ol t ou- s e pa r a uma v i da c ont e mpl a t i v a e a ba ndonou a
v i ol ê nc i a e a pa i x ã o i g nor a nt e s .

119. O Cego e a Lanterna

Qua ndo s a í a da c a s a de um a mi g o t a r de da noi t e , um


home m c e g o r e c e be u de s t e uma l a nt e r na . O c e g o di s s e ,
s ur pr e s o:
“ Sou cego. De que me val e l evar uma l ant er na?”
“ Sei di sso, mas como vai s cami nhar no escur o, a
l a nt e r na e v i t a r á que out r a s pe s s oa s e s ba r r e m e m v ós , ”
di s s e o s ol í c i t o a mi g o, a c e nde ndo a v e l a de nt r o da
l a nt e r na .
O home m pa r t i u l e v a nt a ndo a l a nt e r na à s ua f r e nt e .
Conf i a nt e no f a t o de que e l a e v i t a r i a a c i de nt e s c om
out r a s pe s s oa s , e l e c a mi nhou s e m me do ou r e l ut â nc i a a o
l ong o da e s t r a da . Nunc a e l e s e s e nt i u t ã o c onf i a nt e ,
s a be ndo que a l a nt e r na e r a um e f i c i e nt e a v i s o de s ua
pr e s e nç a no c a mi nho.
E nt r e t a nt o, pa r a s ua c ompl e t a s ur pr e s a , de r e pe nt e
a l g ué m e s ba r r a f or t e me nt e ne l e , que c a i a o c hã o. I r r i t a do
c om i s s o, o c e g o g r i t a :
“ Não podei s ver uma l ant er na apr oxi mando- s e ? ! Com
c e r t e z a é s ma i s c e g o do que e u! ! ! ! ”
Ma s o out r o home m di s s e c onf us o:
“ Ma s c omo pode r i a t e r v i s t o uma l a nt e r na a pa g a da ne s t a
noi t e e s c ur a ? ”
T odo a que l e t e mpo o c ego c ar r egav a a l a nt e r na
i nut i l me nt e , poi s a v e nt o t i nha a pa g a do a v e l a há
mui t o. . .

120. Perfeição

Ce r t o di a um Me s t r e f a l a v a pa r a s e us a l unos s obr e a
na t ur e z a da Pe r f e i ç ã o. Um dos di s c í pul os , c é pt i c o qua nt o
a pos s i bi l i da de de pode r r e a l me nt e a l g o c he g a r à
pe r f e i ç ã o c onc r e t a me nt e e i nc a pa z de c ompr e e nde r o
s e nt i do do que o Me s t r e f a l a v a , obs e r v ou pr óx i mo a o g r upo
um c e s t o de ma ç ã s e di s s e i r oni c a me nt e :
“ Mest r e, f i quei f a s c i na do c om s ua e x pl i c a ç ã o s obr e a
Pe r f e i ç ã o. Pode r i a o s e nhor , pa r a i l us t r a r o que a c a bou
de di z e r , me da r uma ma ç ã pe r f e i t a ? ”
O Me s t r e c a l ma me nt e ol hou de nt r o da c e s t a , r e t i r ou uma
ma ç ã e e nt r e g ou a o a l uno. Pe g a ndo - a , e s t e v i u que a f r ut a
e s t a v a c om uma pa r t e podr e num dos l a dos . Ol hou pa r a o
pr of e s s or e di s s e a r r og a nt e :
“ Essa é a per f ei ção de que f al a? Est a maçã t em uma
pa r t e podr e ! ”
“ Si m, ” r epl i cou o Mest r e. “ Mas par a t eu ní vel de
c ompr e e ns ã o e di s c e r ni me nt o, e s t a ma ç ã podr e é o má x i mo
de ma ç ã pe r f e i t a que pode r á s obt e r . . . ”

121. Salvar Vidas

Ha v i a um mé di c o na a nt i g a Chi na , c uj o t r a ba l ho e r a
c ui da r dos s ol da dos na s ba t a l ha s . E nt r e t a nt o a a ng ús t i a
de v e r a s a t r oc i da de s da g ue r r a , e o f a t o de que s ua
f unç ã o c omo mé di c o pa r e c i a i nút i l , poi s s e mpr e que c u r a v a
um s ol da do e s t e v ol t a v a à g ue r r a e e v e nt ua l me nt e mor r i a ,
f e z c om que e l e pe ns a s s e :
“ Se o dest i no de t odas as pessoas é mor r er , por que
de v o e u bus c a r s a l v a r v i da s ? S e mi nha me di c i na t e m
r e a l me nt e v a l or , por que e s t e s homens , a pós s er em
c ur a dos , v ol t a m a bus c a r a mor t e ? ”
S e m c ons e g ui r e nc ont r a r uma r e s pos t a , o mé di c o
a ba ndonou s ua pr of i s s ã o e f oi à s mont a nha s pr oc ur a r um
s á bi o me s t r e Z e n. Após me s e s de pr á t i c a , e l e f i na l me nt e
c ompr e e nde u s e u di l e ma . Af a s t ou - s e de s e u r e t i r o e v ol t ou
à c i da de . Qua ndo l á c he g ou, um a mi g o s e u c umpr i me nt ou - o
pe l a s ua v ol t a e di s s e :
“ Que f el i ci dade vê- l o de v ol t a . E nc ont r ou a r e s pos t a
pa r a s ua dúv i da ? ”
“ Descobr i que t odo est e t empo f i z a per gunt a er r ada.
Nã o s ou mé di c o por que bus c o s a l v a r v i da s ; s ou mé di c o
por que a Vi da me r e c e s e r pe r pe t ua da o ma i s pos s í v e l . O
mé di c o nã o s a l v a a v i da de out r e m; e l e a pe na s a j uda a
pe r pe t ua r a Vi da Uni v e r s a l ( o T a o) e m c a da s e r que bus c a
c ur a r . Poi s a v i da de c a da s e r é uma s ó Vi da , e c a da v e z
que c ur o a l g ué m, ma nt e nho o T a o e m pe r pé t uo e ma r a v i l hos o
mov i me nt o. ”

122. Olhando da Maneira Correta

Ha v i a e m uma a l de i a uma v e l ha c ha ma da “ mul he r c hor os a ”


poi s t odos os di a s , c hov e ndo ou f a z e ndo s ol , e l a s e mpr e
e s t a v a c hor a ndo. E l a v e ndi a bol i nhos na r ua , e um mong e
s e mpr e pa s s a v a por e l a qua ndo i a a o g r a nde t e mpl o pa r a os
r i t os . Um di a , c ur i os o, e l e l he pe r g unt ou:
“ Sempr e que passo, sej a em bel os di as ensol ar ados, sej a
e m s ua v e s di a s c huv os os , v e j o a s e nhor a c hor a ndo. Por que
i s s o a c ont e c e ? ”
“ Tenho doi s f i l hos, ” el a r espondeu, “ Um f az del i cadas
s a ndá l i a s , o out r o g ua r da - c huv a s . Qua ndo f a z s ol , pe ns o
que ni ng ué m c ompr a r á os g ua r da - c huv a s de me u f i l ho, e e l e
e s ua f a mí l i a v ã o pa s s a r ne c e s s i da de s . Qua ndo c hov e ,
pe ns o no me u f i l ho que f a z s a ndá l i a s , e que ni ng ué m v a i
c ompr á - l a s . E nt ã o e l e t a mbé m v a i t e r di f i c u l da de pa r a
s us t e nt a r s ua f a mí l i a . ”
O mong e s or r i u e di s s e :
“ Mas. . . a senhor a dever i a ver as coi sas de f or ma
c or r e t a . Ve j a : qua ndo o s ol br i l ha , s e u f i l ho que f a z
s a ndá l i a s v e nde r á mui t o, e i s s o é mui t o bom! Qua ndo
c hov e , s e u f i l ho que f a z g ua r da - c huv a s v e nde r á mui t o, e
i s s o é t a mbé m mui t o bom! ”
A v e l ha ol hou- o c om a l e g r i a e e x c l a mou:
“ Tem r azão! ”
De s de e nt ã o a v e l ha pa s s a t odos os di a s , c hov e ndo ou
f a z e ndo s ol , s or r i ndo f e l i z .

123. Tudo Morre

Qua ndo e r a j ov e m, o e nt ã o mong e I k k y u e s e u i r mã o


e s t a v a m a r r uma ndo o qua r t o de s e u me s t r e , e num a c i de nt e
o i r mã o que br ou a t i g e l a da c e r i môni a do c há f a v or i t a do
s á bi o pr of e s s or . Ambos f i c a r a m a s s us t a dos , poi s a t i g e l a
e r a mui t o e s t i ma da pe l o me s t r e , poi s f oi um pr e s e nt e do
i mpe r a dor . E nt r e t a nt o, I k k y u di s s e a o i r mã o:
“ Não se pr eocupe. Sei como abor dar a quest ão com nosso
me s t r e ! ”
J unt ou os pe da ç os de c e r â mi c a , e s c onde u - os no ma nt o,
s a i u pa r a o j a r di m do t e mpl o e s e nt ou - s e a e s pe r a r pe l o
v e l ho s á bi o. Qua ndo e s t e s e a pr ox i mou, I k k y u pr opôs - l he
um Mondo ( uma s e qüê nc i a de pe r g unt a s e r e s pos t a s ) :
“ Mest r e, é di t o que t odos os ser es e t odas as coi sas no
Uni v e r s o e s t ã o f a da da s a mor r e r ? ”
“ Si m, ” r espondeu o Mest r e, “ o pr ópr i o Buddha assi m
a f i r mou, e t a l c onc e i t o é i ne g á v e l : t oda s a s c oi s a s t ê m
de pe r e c e r . ”
“ Sendo assi m, devemos c ompr e e nde r a na t ur e z a da
i mpe r ma nê nc i a , e s upe r a r o s of r i me nt o i g nor a nt e pe l a s
pe r da s que s ã o, a f i na l , r e l a t i v a s e i ne v i t á v e i s . ”
“ Com cer t eza, t al compr eensão f az par t e do cami nho
c or r e t o! ” di s s e o me s t r e f e l i z pe l a s a g a c i da de de s e u
j ov e m di s c í pul o. Ne s t e mome nt o, I k k y u r e t i r ou os c a c os de
s ua ma ng a , pous ou- os à f r e nt e do me s t r e e di s s e :
“ Mest r e, sua quer i da xí car a de chá mor r eu. . . ”
E s a i u l i g e i r o da pr e s e nç a do s ur pr e s o s á bi o. . .

124. O Que Mais?

Um mong e pe r g unt ou a o me s t r e :
“ Faz mui t o t empo que venho a v ós di a r i a me nt e , a f i m de
s e r i ns t r uí do no s a nt o c a mi nho de Buddha , ma s a t é hoj e
j a ma i s v ós me de s t e s ne nhuma pa l a v r a a e s t e r e s pe i t o. E u
v os i mpl or o, me s t r e , s e j a i s ma i s c a r i dos o. ”
O v e l ho me s t r e ol hou- o c om s ur pr e s a :
“ O que quer ei s di zer com i sso, meu r a pa z ? T oda s as
ma nhã s v ós me s a uda i s e e u v os r e s pondo. Qua ndo me
t r a z e i s uma x í c a r a de c há , e u a a c e i t o, a g r a de ç o - v os e me
de l i c i o c om v os s a s ol i c i t ude . O que ma i s de s e j a i s que eu
l he e ns i ne ? ”

125. Alegria

O mong e S hou- dua n e r a mui t o di l i g e nt e , ma s nã o t i nha


s e ns o de humor . Pr a t i c a v a o Z e n de f or ma r í g i da e
mor a l i s t a , e e r a i nc a pa z de s e g ui a r pe l a a l e g r i a . Um di a
s e u me s t r e Y a ng - k i pe r g unt ou:
“ Quem f oi seu mest r e ant er i or ?”
“ O monge Chal i ng Yu” , r espondeu o out r o.
“ Ouvi di zer que el e obt eve o Sat or i quando e s c or r e g ou
de uma pont e e c a i u na á g ua , e a t é me s mo c he g ou a
e s c r e v e r um poe ma s obr e i s s o, nã o f oi a s s i m? ”
“ Si m, ” r epl i cou Shou- dua n, “ e e u a i nda me l e mbr o do
poe ma :
T e nho uma pé r ol a br i l ha nt e
Que por mui t o t e mpo e s t e v e obs c ur e c i da pe l o pó;
Ag or a o pó s e f oi
E o br i l ho v ol t ou
I l umi na ndo os r i os e a s c ol i na s . ”
Ouv i ndo i s s o, o me s t r e Y a ng - k i c a i u na g a r g a l ha da ,
r i ndo s e m pa r a r . O mong e S hou - dua n f i c ou pa s mo. Nã o
e nt e nde u o por quê de t a nt a a l e g r i a . Na que l a noi t e f oi
i nc a pa z de dor mi r , pe ns a ndo no que pode r i a t e r s i do
e ng r a ç a do na qui l o t udo. No di a s e g ui nt e f oi à pr e s e nç a do
me s t r e e l he pe r g unt ou:
“ Mest r e, por que r i st e t ant o ao ouvi r o poema que
r e c i t e i ont e m? Nã o e nt e ndo o que pode s e r t ã o e ng r a ç a do! ”
“ Ont em um pal haço est eve aqui , apr esent ando- s e numa
pa nt omi ma . Vós l e mbr a i s di s s o? ”
“ Si m, l embr o- me . ”
“ Poi s há um aspect o nel e que é compl et ament e super i or
a o v os s o e s pí r i t o. ”
I nt r i g a do, o mong e r e pl i c ou: “ E o que um pa l ha ç o pos s ui
de ma i s pr of undo do que e u? ”
“ El e gost a que as pessoa r i am, e vós t endes medo qua ndo
e l a s r i e m. . . ”
Ouv i ndo i s s o, o mong e obt e v e o S a t or i .
126. Não Conheço Títulos

Um di a , o g r a nde g e ne r a l Ki t a g a k i f oi v i s i t a r s e u v e l ho
a mi g o, o s upe r i or do t e mpl o T of uk u. Ao c he g a r , di s s e a um
nov i ç o de f or ma a l g o de s de nhos a c omo c omume nt e s e di r i g i a
à s pe s s oa s que c ons i de r a v a s e us s ubor di na dos no e x é r c i t o:
“ Di ga ao Mest r e que o gr ande gener al Ki t agaki est á
a qui . ”
O nov i ç o f oi a o s e u me s t r e e di s s e :
“ Mest r e, o Gr ande Gener al Ki t agaki est á aqui . ”
O me s t r e r e s ponde u:
“ Não conheço Gr andes Gener ai s. ”
O nov i ç o v ol t ou à pr e s e nç a do mi l i t a r c om o r e c a do
e nqua nt o o v e l ho s á bi o obs e r v a v a do pór t i c o:
“ Descul pe, o mest r e não pode vê- l o. El e nã o c onhe c e
ne nhum Gr a nde Ge ne r a l . ”
O Ge ne r a l i ni c i a l me nt e f i c ou s ur pr e s o, de poi s
i ndi g na do, e f i na l me nt e c ompr e e nde u. Humi l de me nt e di s s e
a o nov i ç o:
“ Descul pe mi nha ar r ogânci a. Por f avor , di ga- l he que
Ki t a g a k i de s e j a v ê - l o. ”
O mong e a s s i m o f e z . L og o, o me s t r e a pr ox i mou - s e c om um
s or r i s o e c umpr i me nt ou:
“ Ah, Ki t agaki ! Há quant o t empo! Por f avor , ent r e. ”

127. A Vaca Zen

S hi h- k ung , um di a , t r a ba l ha v a na c oz i nha qua ndo Ma - t s u


a pr ox i mou- s e e pe r g unt ou o que f a z i a .
“ Est ou cui dando da Vaca, “ di sse o out r o, enquant o
l a v a v a os pr a t os .
“ Como cui dai s da vaca?” desej ou saber o mest r e.
“ Se el a se af ast a da Senda, eu puxo- a de v ol t a pe l o
f oc i nho. Nã o pos s o me di s t r a i r ne m um mi nut o! ”
Come nt ou Ma - t s u:
“ Sabei s r eal ment e cui dar del a. ”

128. Nada é Desperdiçado

Ce r t o di a , o me s t r e Y i - s ha n t oma v a ba nho, ma s a á g ua
e s t a v a mui t o que nt e . E l e pe di u ent ã o a o s e u di s c í pul o que
t r oux e s s e á g ua f r i a . O di s c í pul o e nc he u um ba l de e f oi
de s pe j a ndo- o de v a g a r na t i na de ba nho, e e m de t e r mi na do
mome nt o o me s t r e di s s e :
“ Est á bom, obr i gado. A quent ur a f oi di mi nuí da e agor a
e s t á mui t o a g r a dá v e l . ”
Como s obr ou um pouc o de á g ua no ba l de , o nov i ç o
s i mpl e s me nt e v i r ou- s e e j og ou a á g ua no c hã o, pe r t o da
t i na . O me s t r e a o v e r i s s o g r i t ou pa r a o out r o mong e :
“ Por que f i zest es t al est upi dez?! Tudo t em ut i l i dade.
Por que de s pe r di ç ou a á g ua ? Pode r i a t ê - l a de s pe j a do s ob
uma pl a nt a ou á r v or e , onde pode r i a s e r út i l ! Ou e nt ã o por
que nã o a j og ou num c a nt e i r o de f l or e s ? Nunc a s e e s que ç a :
nã o de v e mos de s pe r di ç a r ne m me s mo uma g ot a de á g ua , ne m
uma f ol ha de g r a ma ! !
“ Tudo nest e mundo é val i oso. ”
Ouv i ndo i s s o, o mong e nov i ç o c ompr e e nde u o s i g ni f i c a do
da v i da . De s de e nt ã o e l e f i c ou c onhe c i do c omo “ Got a
D' á g ua ” .

129. Dar e Receber

Um pr of e s s or de Z e n, a pós a nos c omo or i e nt a dor de um


a l uno pa r t i c ul a r me nt e s ens í v e l e s á bi o, r e s ol v e u l he da r
um pr e s e nt e :
“ Est ou f i cando vel ho, em br eve mor r er ei . Par a
s i mbol i z a r s ua s uc e s s ã o a mi m c omo me s t r e v o u l he da r
e s t e l i v r o v a l i os í s s i mo. ”
O di s c í pul o, e nt r e t a nt o, nã o es t av a i nt e r e s s a do em
l i v r os :
“ Não é necessár i o, obr i gado, mest r e. Eu acei t ei o seu
e ns i na me nt o c omo o Z e n que pr e s c i nde a pa l a v r a e s c r i t a .
Gos t o de s ua f a c e or i g i na l . F i que c om s e u pr e c i os o
l i v r o. ”
O pr of e s s or i ns i s t i u, e a f i r mou, or g ul hos o:
“ Est e l i vr o at r avessou set e ger ações, é uma r el í qui a!
Por f a v or , f i que c om e l e c omo um s í mbol o de s ua a c e i t a ç ã o
do ma nt o e da t i g e l a ! ”
O out r o a pe na s di s s e :
“ Est á bem, dê- me o l i v r o. ”
Ao r e c e bê - l o, o di s c í pul o s i mpl e s me nt e a t i r ou o l i v r o
no f og o pr óx i mo, que i ma ndo- o. O pr of e s s or f i c ou c hoc a do.
Gr i t ou pa r a o a l uno, i ndi g na do:
“ Como pôde f azer i sso?! Er a uma peça i nest i mável de
c onhe c i me nt o! ”
F oi a v e z do s á bi o di s c í pul o f i c a r i ndi g na do:
“ Como podes dar mai s v a l or a pa pe l e c our o do que
à qui l o que me e ns i na s t e s di r e t a me nt e , de f or ma pur a ?
E ns i na r uma s a be dor i a que nã o s e pode pr a t i c a r é c omo
a g i r s e m c or a ç ã o, e nã o s e r na da ma i s do que um r e pe t i dor
de t e x t os s a g r a dos . T u me de s t e um obj e t o, e e u us uf r ui
de l e c omo c ons i de r e i a dequa do. Como ode s f i c a r i ndi g na do
c om um s i mpl e s ' da r e r e c e be r ' ? ”
Koa n: O que é “ pos s ui r ” ?
130. O Intelectual e as respostas Zen

Ce r t a v e z T a o- k wa ng , um i nt e l e c t ua l budi s t a e e s t udi os o
do Vi j ña pt i ma r a ( i de a l i s mo a bs ol ut o) , a pr ox i mou - s e de um
me s t r e Z e n e pe r g unt ou:
“ Com que at i t ude ment al deve um i ndi ví duo di sci pl i nar -
s e pa r a a l c a nç a r a Ve r da de ? ”
Re s ponde u o me s t r e Z e n: “ Nã o há ne nhuma me nt e a s e r
di s c i pl i na da , ne m qua l que r v e r da de na qua l nós de v e mos
nos di s c i pl i na r . ”
Re pl i c ou o i nt e l e c t ua l :
“ Se não há nenhuma ment e par a ser cont r ol ada e nenhuma
Ve r da de pa r a s e r e ns i na da , por que v os r e uni s t odos os
di a s a os mong e s ? S e nã o t e nho l í ng ua , c omo s e r á pos s í v e l
a c ons e l ha r a out r e m a v i r e m a t é mi m? ”
“ Eu não possuo nem uma pol egada de espaço par a da r ,
por t a nt o onde pos s o c ons e g ui r uma r e uni ã o de mong e s ? E u
nã o pos s uo l í ng ua , c omo pos s o a c ons e l ha r a out r em v i r e m a
mi m? ” r e s ponde u o me s t r e .
O I nt e l e c t ua l e nt ã o e x c l a mou:
“ Como podei s pr of er i r uma t al ment i r a na mi nha
c ar a! ?! ! ”
“ Se não t enho l í ngua, ” r e t or qui u o me s t r e , “ pa r a
a c ons e l ha r os out r os c omo é pos s í v e l pr e g a r uma me nt i r a ? ”
De s e s pe r a do e m c onf us ã o, di s s e T a o - k wa ng :
“ NÃO POSSO SEGUI R VOSSO RACI OCÍ NI O! ! ! ”
“ Nem eu t ampouco. . . ” concl ui u o mest r e.

131. Não Ouso Dizer

Pa i - c ha ng ( 720 - 814. d. C. ) c e r t a v e z que s t i onou a Na n-


c hua n ( 748 - 834. d. C. ) :
“ Há al guma ver dade que nenhum sábi o como vós j amai s
ous ou di z e r a t é hoj e ? ”
“ Si m, ” r espondeu Nan- c hua n.
O out r o c ont i nuou:
“ E qual é, ent ão, est a coi sa sobr e a qual não f al ai s?”
Re s ponde u o me s t r e :
“ Não é nem Me nt e , ne m Buddha , ne m Ma t é r i a . ”

132. Quer Chá?

Cha o- c hou pe r g unt ou a um mong e r e c é m- c he g a do a s eu


mos t e i r o:
“ Já est i vest es ant es aqui ?”
“ Si m, senhor , ” r espondeu o monge, “ j á est i ve no ver ão
pa s s a do. ”
“ Ah! Ent ão ent r e e t ome uma xí car a de chá, ” di sse o
me s t r e , f e l i z .
Out r o di a , a pa r e c e u um nov o r e c é m- c he g a do. Cha o- c hou
l he pe r g unt ou:
“ Já est i vest es ant es aqui ?”
“ Eu j amai s est i ve aqui , mest r e. ”
“ Ah! ” excl amou o sábi o, f el i z, “ Ent ão ent r e e t ome uma
x í c a r a de c há . ”
I nj u, o mong e que a dmi ni s t r a v a o t e mpl o, t e s t e munhou
a mbos os e v e nt os . Di s s e e nt ã o pa r a Cha o - c hou, i nt r i g a do:
“ Por que sempr e f azei s o mesmo of er eci ment o, qual quer
que s e j a a r e s pos t a do mong e ? ”
O me s t r e s ubi t a me nt e g r i t ou- l he :
“ I NJU! ! ! ”
O out r o a s s us t ou- s e e di s s e , a pr e e ns i v o:
“ Si m! O que houve?! ”
Cha o- c hou c ompl e t ou:
“ Ent r e e t ome uma xí car a de chá. ”
Koa n: Que r c há ?

133. Poeira

O s a l ã o de me di t a ç ã o ( z e ndo) v i v i a e mpoe i r a do, e Cha o -


c hou c os t uma v a v a r r ê - l o, a s s i m c omo a o pá t i o e m f r e nt e .
Ce r t a v e z pe r g unt a r a m a Cha o - c hou:
“ Por que, mest r e, est e sant o z e ndo e s t á s e mpr e a t r a i ndo
t a nt a poe i r a ? ”
Cha o- c hou e x c l a mou:
“ Oh, vej a! Al i est á out r o gr ão de poei r a! ! ”

134. Carroça

Um I mpe r a dor , s a be ndo que um g r a nde s á bi o Z e n e s t a v a à s


por t a s de s e u pa l á c i o, f oi a t é e l e pa r a f a z e r uma
i mpor t a nt e pe r g unt a :
“ Mest r e, onde e s t á o E u? ”
O me s t r e e nt ã o pe di u- l he :
“ Por f avor t r aga- me a que l a c a r r oç a que e s t á l á . ”
A c a r r oç a f oi t r a z i da . O s á bi o pe r g unt ou:
“ O que é i sso?”
“ Uma car r oça, é cl ar o, ” r espondeu o I mper ador .
O me s t r e pe di u que r e t i r a s s e os c a v a l os que pux a v a m a
c a r r oç a . E nt ã o di s s e :
“ Os caval os são a car r oça?”
“ Não. ”
O me s t r e pe di u que a s r oda s f os s e m r e t i r a da s .
“ As r odas são a car r oça?”
“ Não, mest r e. ”
O me s t r e pe di u que r e t i r a s s e m os a s s e nt os .
“ Os assent os são a car r oça?”
“ Não, el es não são a car r oça. ”
F i na l me nt e a pont ou pa r a o e i x o e f a l ou:
“ O ei xo é a car r oça?”
“ Não, mest r e, não são. ”
E nt ã o o s á bi o c onc l ui u:
“ Da mesma f or ma que a car r oça, o Eu não pode ser
de f i ni do por s ua s pa r t e s . O E u nã o e s t á a qui , nã o e s t á
l á. O E u nã o s e e nc ont r a e m pa r t e a l g uma . E l e nã o e x i s t e .
E nã o e x i s t i ndo, e l e e x i s t e . ”
Di t o i s s o, e l e c ome ç ou a s e af as t ar do s ur pr e s o
mona r c a . Qua ndo es t av a já a f a s t a do, v ol t ou - s e e
pe r g unt ou- l he :
“ Onde Eu est ou?”

135. Fudaishi e a explicação do Sutra do Diamante

O Me s t r e F uda i s hi f oi c onv i da do pe l o i mpe r a dor Wu, de


L i a o, pa r a f a z e r uma pr e l e ç ã o s obr e o f a mos o S ut r a do
Di a ma nt e . No pa l á c i o e s t a v a m o I mpe r a dor , s e us mi ni s t r os
e ma nda r i ns , t odos s ol e ne me nt e a g ua r da ndo a pr es e nç a do
Me s t r e no s a l ã o pr i nc i pa l . Ao c he g a r , F uda i s hi s ubi u a o
púl pi t o, e obs e r v ou por a l g uns mome nt os a t e nt a me nt e os
pr e s e nt e s . De poi s e r g ue u o ba s t ã o, de u uma pa nc a da c om
e l e c om t oda a f or ç a no c hã o e r e t i r ou - s e .
O I mpe r a dor f i c ou pa s mo. Um de s e us mi ni s t r os
pe r g unt ou- l he :
“ Vossa Maj est ade, ent endeu?”
“ Não ent endi nada, na ver dade! ” vol veu o s ur pr e s o
mona r c a . S e u mi ni s t r o e nt ã o e x pl i c ou:
“ O Mest r e j á expl i cou t udo o que poder i a expl i car sobr e
o Va j r a c c he dhi k a S ut r a . . . ”

136. O Cão Zen

Um mong e pe r g unt ou a Cha o- c hou:


“ Mest r e, um cão possui a nat ur eza de Buddha?”
Cha o- c hou r e s ponde u:
“ Wu! ”

137. Pai-chang e a Raposa

T oda s a s v e z e s que Pa i - c ha ng ( Hy a k uj o) f a z i a pr e l e ç õe s
s obr e o Z e n um v e l ho home m a s a s s i s t i a , de s pe r c e bi do
pe l os mong e s . Ao f i na l de c a da pa l e s t r a , e l e pa r t i a j unt o
c om os mong e s . Ma s um di a e l e pe r ma ne c e u a pós a pa r t i da
de t odos , e Pa i - c ha ng pe r g unt ou- l he :
“ Quem soi s vós?”
O v e l ho r e s ponde u:
“ Não sou um ser humano, mas eu er a um homem quando o
Buddha Ka s hy a pa pr e g ou ne s t e mundo. E u e r a um me s t r e Z e n
e v i v i a ne s t a s mont a nha s . Na que l a é poc a um dos me us
e s t uda nt e s me per g unt ou s e um home m i l umi na do é s uj e i t o à
l e i da Ca us a l i da de . E u l he r e s pondi : ' O home m i l umi na do
nã o é s uj e i t o à l e i da c a us a l i da de . ' De v i do a e s t a
r e s pos t a e v i de nc i a r um a pe g o à um c onc e i t o a bs ol ut o e u
t or ne i - me uma r a pos a por qui nhe nt os r e na s c i me nt os , e eu
a i nda es t ou r ena s c e ndo c omo r a pos a . Pode i s v ós me
r es gat ar de s t a c ondi ç ã o c om s ua s pa l a v r a s e as s i m
l i be r a r - me de um c or po de r a pos a ? Por f a v or , r e s ponde i s :
E s t á o home m i l umi na do s uj e i t o à l e i da c a us a l i da de ? ”
Pa i - c ha ng di s s e :
“ O homem i l umi nado é uno com a l ei da caus a l i da de ” .
Ao ouv i r as pa l a v r a s de Pa i - c ha ng o v e l ho a t i ng i u o
S a t or i .
“ Est ou emanci pado, ” el e di sse, pr est ando homenagem ao
me s t r e c om uma pr of unda i nc l i na ç ã o. “ Nã o s ou ma i s uma
r a pos a , ma s e u de v o de i x a r me u c or po e m me u l oc a l de
r e s i dê nc i a a t r á s de s t a mont a nha . Por f a v or , pe ç o- v os que
r e a l i z e i s me u f une r a l na c ondi ç ã o de um mong e . ” E e nt ã o
de s a pa r e c e u.
No di a s e g ui nt e Pa i - c ha ng de u uma or de m por i nt e r mé di o
do mong e - pr i nc i pa l pa r a que s e pr e pa r a s s e um f une r a l pa r a
um mong e .
“ Mas ni nguém est á mor i bundo no hos pi t a l , ” que s t i ona r a m
os mong e s . “ O que o me s t r e pr e t e nde ? ”
Após o j a nt a r Pa i - c ha ng l i de r ou os mong e s pa r a f or a do
t e mpl o e e m t or no da mont a nha . E m uma c a v e r na e l e e s e u
g r upo de mong e s r e t i r a r a m o c a dá v e r de uma r a pos a e e nt ã o
r e a l i z a r a m o r i t o f une r a l de c r e ma ç ã o.
Na que l a noi t e Pa i - c ha ng f a l ou pa r a s e us mong e s e
c ont ou- l he s a e s t ór i a s obr e a l e i da c a us a l i da de .
Hua ng - po ( Oba k u) , a pós ouv i r a e s t ór i a , pe r g unt ou
ous a da me nt e a Pa i - c ha ng :
“ Eu ent endo que há mui t o t empo at r ás, devi do a uma
c e r t a pe s s oa t e r da do uma r e s pos t a Z e n er r a da e l a t or nou -
s e uma r a pos a por qui nhe nt os r e na s c i me nt os . Ma s e u
pe r g unt a r i a : s e a l g um me s t r e a t ua l f or que s t i ona do mui t a s
v e z e s s obr e v á r i a s pe r g unt a s , e s e e l e s e mpr e de s s e
r e s pos t a s c e r t a s , o que l he a c ont e c e r i a ? ”
Pa i - c ha ng di s s e :
“ Apr oxi me- s e e e u l he di r e i . ”
Oba k u a pr ox i mou- s e e de u r a pi da me nt e um t a pa na f a c e do
me s t r e , por que pe r c e be u f a c i l me nt e que e s s a s e r i a a
r e s pos t a que Pa i - c ha ng pr e t e ndi a l he da r .
Pa i - c ha ng ba t e u pa l ma s e ri u mui t o di a nt e do
di s c e r ni me nt o do out r o, e d i s s e s i mpl e s me nt e :
“ Eu sempr e i magi nei que um Per sa t i vesse bar ba
v e r me l ha , e a g or a e u c onhe ç o um Pe r s a que pos s ui me s mo
uma ba r ba v e r me l ha . ”

138. O Koan do Galho

Ce r t a v e z , Ky og e n di s s e o s e g ui nt e :
“ Zen é como um homem pendur ado num al t o gal ho de ár vor e
pe l os de nt e s , s obr e um pr e c i pí c i o. S ua s mã os nã o pode m
a l c a nç a r o g a l ho, s e us pé s nã o pode m s e a poi a r e m out r o
r a mo. Um home m s ob a á r v or e l he pe r g unt a : ' Por que
Bodhi dha r ma v e i o pa r a a Chi na da Í ndi a ? ' .
“ Se o homem na ár vor e não r esponder , el e f al ha; e se
e l e o f i z e r , e l e c a i r á e pe r de r á a v i da .
“ Assi m eu l hes per gunt o: O que deve est e homem f azer ?”

139. O Koan da Roda

Ge t s ua n di s s e a os s e us e s t uda nt e s :
“ Kei chu, o pr i mei r o mest r e- c ons t r ut or de r oda s da
Chi na , f e z dua s r oda s c om 50. r a i os e m c a da . Ag or a ,
s uponha m que v oc ê s r e mov a m o c ubo do c e nt r o da r oda , que
une os r a i os . O que a c ont e c e r i a c om a r oda ? E s e o
pr ópr i o Ke i c hu f i z e s s e i s s o, pode r i a e l e s e r c ha ma do de
me s t r e - c ons t r ut or de r oda s ? ”

140. Um Buddha do Passado

Um mong e pe r g unt ou a S e i j o: “ S oube que um Buddha que


v i v e u a nt e s da hi s t ór i a r e c or da da s e nt ou - s e e m me di t a ç ã o
por de z c i c l os de e x i s t ê nc i a e nã o f oi c a pa z de a l c a nç a r
a v e r da de ma i s a l t a , e por t a nt o nã o f oi c a pa z de t or na r -
s e c ompl e t a me nt e e ma nc i pa do. Por que i s s o a c ont e c e u? ”
S e i j o r e pl i c ou: “ S ua que s t ã o é a ut o- e x pl a na t ór i a . ”
O mong e i ns i s t i u: “ Uma v e z que o Buddha e s t a v a
me di t a ndo, por que nã o pôde a l c a nç a r a c ompr e e ns ã o
búddhi c a ? ”
S e i j o di s s e : “ E l e nã o e r a um Buddha . ”

141. A pobreza de Seizei

Um mong e c ha ma do S e i z e i pe di u a S oz a n, c he i o de a ut o-
pi e da de :
“ Est ou pobr e e mi ser ável . Podes me aj udar ?”
S oz a n c ha mou: “ S e i z e i ? ”
“ Si m, senhor ! ” r espondeu o out r o.
S oz a n di s s e : “ Vós pos s ui s o Z e n, o me l hor v i nho da
Chi na , e v ós j á t e r mi na s t e s de be be r t r ê s c opos c he i os .
Ai nda a s s i m e s t a i s di z e ndo que ne m s e que r s e us l á bi os
f or a m mol ha dos ! ”

142. Chao-chou e o Punho Levantado

Cha o- c hou f oi a t é um l ug a r onde um mong e ha v i a se


r e t i r a do pa r a me di t a r e pe r g unt ou - l he :
“ O quê é o que é?”
O mong e , e m r e s pos t a , l e v a nt ou s e u punho.
Cha o- c hou r e pl i c ou: “ Na v i os nã o pode m pe r ma ne c e r
a nc or a dos onde a á g ua é mui t o r a s a , ” e pa r t i u.
Pouc os di a s ma i s t a r de o me s t r e f oi ma i s uma v e z à
he r mi da do mong e e f ez - l he a me s ma que s t ã o. O mong e
r e s ponde u do me s mo modo, e e nt ã o di s s e Cha o - c hou:
“ Cor r et ament e of er eci do, cor r et ament e r ecebi do,
c or r e t a me nt e mor t o, c or r e t a me nt e poupa do. ”
E nt ã o f e z uma r e v e r ê nc i a a o mong e .
143. Shi-yan Fala Com Seu Mestre

S hi - y a n, qua ndo de s e j a v a f a l a r c om s e u me s t r e , s e mpr e


di z i a pa r a s i me s mo:
“ Mest r e! ”
E r e s pondi a pa r a s i me s mo: “ S i m? ”
E nt ã o e l e me s mo c ont i nua v a : “ F i que At e nt o! ”
E e l e r e s pondi a : “ S i m, me s t r e ! ”
“ E al ém di sso, ” el e compl et ava, “ não se dei xe i l udi r
pe l os out r os ! ”
“ Si m, si m, meu Mest r e! ” el e af i r mava par a si .

144. Tokusan e a Refeição

T ok us a n f oi a o r e f e i t ór i o do t e mpl o c om s ua t i g e l a na s
mã os , pr ont o pa r a c ome r a l g uma c oi s a . S e ppo e s t a v a
t r a ba l ha ndo c omo o c oz i nhe i r o na que l e di a . Qua ndo v i u
T ok us a n, di s s e :
“ O t ambor das r ef ei ções ai nda não f oi t ocado. Aonde
v a i s c om v os s a t i g e l a ? ”
T ok us a n e nt ã o r e t or nou a o s e us a pos e nt os .
S e ppo f a l ou a Ga nt o s obr e o oc or r i do, e Ga nt o de c l a r ou:
“ O vel ho Tokusan na ver dade ai nda não ent ende a Ver dade
Úl t i ma ! ”
T ok us a n ouv i u o c ome nt á r i o e pe di u pa r a Ga nt o
a pr ox i ma r - s e .
“ Ouvi o que di ssest es, ” el e di sse, “ vós não apr ovai s o
me u Z e n? ”
Ga nt o a dmi t i u i s s o de f or ma i ndi r e t a . T ok us a n nã o di s s e
ma i s na da , a f a s t a ndo- s e c a l ma me nt e .
No di a s e g ui nt e , no mome nt o da pa l e s t r a , T ok us a n
e nt r ou, s e nt ou- s e , e c a l ma me nt e f a l ou s obr e um t e ma de
f or ma c ompl e t a me nt e di f e r e nt e do que nor ma l me nt e f a z i a .
Ga nt o e nt ã o r i u a l t o e ba t e u a s mã os , di z e ndo:
“ Vej o que nosso vel ho mest r e ent ende compl et ament e a
Ve r da de Úl t i ma ! Ni ng ué m e m t oda a Chi na pode s upe r á - l o
ni s s o! ”

145. Três Golpes em Tozan

T onz a n f oi à pr es e nç a de Y un - me n ( Ummon ? - 966) . E s t e


pe r g unt ou- l he de onde T oz a n e s t a v a c he g a ndo. T oz a n di s s e :
“ Da al dei a Sat o. ”
Y un- me n qui s s a be r : “ E m qua l t e mpl o v ós pa s s a s t e s o
v e r ã o? ”
“ No t empl o de Hoj i , ao sul do l ago” , di sse Tozan de
f or ma c a s ua l .
“ Quando par t i st es de l á?” qui s saber Yun- me n.
“ Em 25 de Agost o” , r espondeu Tozan. Yun- me n e nt ã o l he
a f i r mou:
“ Eu dever i a vos dar t r ês gol pes de bast ão, mas hoj e eu
v os pe r dôo. ”
No di a s e g ui nt e T oz a n f oi at é Y un - me n, f ez uma
r e v e r ê nc i a e pe r g unt ou, c onf us o:
“ Ont em vós me per doast es os t r ês gol pes. Ent r et ant o eu
nã o c ompr e e ndo ne m me s mo qua l f oi a f a l t a que c ome t i pa r a
pode r me r e c e r s of r e r os g ol pe s que v ós me pe r doa s t e s ! ”
Y un- me n e nt ã o r e pr e e nde u T oz a n de s t a f or ma :
“ Vós soi s i nút i l . Suas r espost as ont em f or am sem
e s pí r i t o. Vós s i mpl e s me nt e v a g ue a i s de um mos t e i r o pa r a o
out r o! ”
Ao ouv i r a s pa l a v r a s de Y un - me n, T oz a n obt e v e o S a t or i .
146. Sinos e Mantos

Y un- me n ( Ummon ? - 966) c e r t a v e z pe r g unt ou:


“ O mundo é r eal ment e um i menso mundo! Por que vós
r e s ponde i s ao ba da l a r dos s i nos e v es t i s ma nt os
c e r i moni a i s ? ”

147. Um Quilo e Meio

Um mong e pe r g unt ou a T oz a n e nqua nt o e l e e s t a v a pe s a ndo


a l g um l i nho:
“ O que é Buddha?”
T oz a n di s s e :
“ Um qui l o e mei o de pur o l i nho. . . ”

148. O Caminho está no Cotidiano

J os hu pe r g unt ou a Na ns e n: “ Qua l é o Ca mi nho? ”


Na ns e n di s s e : “ O di a - a - di a é o Ca mi nho” .
“ Pode el e ser est udado?” per gunt ou J os hu
Na ns e n di s s e : “ S e t e nt a r e s e s t udá - l o, i r á s e s t a r mui t o
l ong e de l e . ”
J os hu r e pl i c ou: “ S e nã o pos s o e s t udá - l o, c omo pos s o
e nt e nde r o Ca mi nho? ”
Na ns e n c ompl e t ou: “ O Ca mi nho nã o pe r t e nc e a o mundo da
pe r c e pç ã o, ne m E l e pe r t e nc e a o mundo da nã o - pe r c e pç ã o. A
c og ni ç ã o é de l us ã o e a nã o- c og ni ç ã o é s e m s e nt i do. S e
de s e j a i s a l c a nç a r o Ve r da de i r o Ca mi nho a l é m da s dúv i da s ,
bus que i s s e r t ã o l i v r e c omo o c é u. E nã o a f i r ma i s que
i s s o é bom ou r ui m. ”
Ao ouv i r t a i s pa l a v r a s , J os hu a t i ng i u o S a t or i .
Koa n: S a be i s r e c onhe c e r a L i be r da de ?
149. O Homem Iluminado

S hog e n pe r g unt ou:


“ Por que o homem I l umi nado não se er gue e expl i ca sua
na t ur e z a ? ”
E e nt ã o c ompl e t ou:
“ Na ver dade, não é necessár i o que as pal avr as venham da
l í ng ua . . . ”

150. Esterco Seco

Um mong e pe r g unt ou a Y un- me n ( Ummon ? - 966) :


“ O que é o Dhar ma- Buddha ? ”
Y un- me n r e s ponde u:
“ Est er co seco. ”

151. Kashyapa e a Prim eira Respost a Zen

Ana nda pe r g unt ou a Ka s hy a pa :


“ Após o Di scur so da Fl or , Buddha deu- v os o ma nt o
dour a do da s uc e s s ã o. O que ma i s v os de s t e s o Abe nç oa do? ”
Ka s hy a pa g r i t ou- l he s ubi t a me nt e :
“ Ananda! ”
Ana nda r e s ponde u, s ur pr e s o:
“ Si m, i r mão! ”
Ka s hy a pa di s s e s ua v e me nt e :
“ É t ar de. Já podei s descer do mast r o mi nha f l âmul a e
c ol oc a r a s ua . ”
152. Não Pense Bem, Não Pense Mal

Qua ndo a t i ng i u a i l umi na ç ã o c ompl e t a o s e x t o Pa t r i a r c a


( Hui - Ne ng ) r e c e be u do qui nt o Pa t r i a r c a ( Hung - J e n) o ma nt o
e a t i g e l a , s i mból i c os da s uc e s s ã o de g r a nde s me s t r e s a
pa r t i r de Ga ut a ma Buddha , g e r a ç ã o a pós g e r a ç ã o.
O mong e - c he f e do t e mpl o c ha ma do J i n - s hu, c he i o de
r a nc or , pe r s e g ui u Hui - neng c om a i nt e nç ã o de r e t i r a r - l he
e s t e s t e s our os . O S e x t o Pa t r i a r c a c ol oc ou o ma nt o e a
t i g e l a s obr e uma pe dr a a o l a do da e s t r a da e di s s e a J i n-
s hu:
“ Est es obj et os apenas si mbol i zam uma cr ença. Não há
mot i v os pa r a s e br i g a r por e l e s . S e de s e j a i s pos s uí - l os ,
t ome - os a g or a . ”
Qua ndo J i n- s hu t e nt ou e r g ue r os obj e t os e l e s pa r e c e r a m-
l he t ã o pe s a dos c omo uma mont a nha . E l e nã o pode t omá - l os .
T r e me ndo de v e r g onha e l e di s s e :
“ Eu vi m em busca de escl ar eci ment o, e não de t esour os
ma t e r i a i s . Por f a v or , e ns i na i - me . ”
O S e x t o Pa t r i a r c a di s s e :
“ Quando vós não pensai s no “ Bem” e quando vós não
pe ns a i s no “ Ma l ” , e m qua l mome nt o e s t á v os s a v e r da de i r a
na t ur e z a ? ”
Ao ouv i r t a i s pa l a v r a s J i n - s hu a t i ng i u o S a t or i . S uor
e s c or r e u de t odo s e u c or po. E l e g r i t ou e f e z uma
r e v e r ê nc i a , di z e ndo:
“ Vós me de s t e s a s s e c r e t a s pa l a v r a s e os s e c r e t os
s i g ni f i c a dos . Há a i nda a l g uma pa r t e ma i s pr of unda de
v os s o e ns i na me nt o? ”
Hui - ne ng di s s e :
“ O que vos di sse não é um segr edo, em ver dade. Quando
c ompr e e nde s v os s o v e r da de i r o E u o s e g r e do j á e nt ã o l he
pe r t e nc e . ”
J i n- s hu di s s e : “ E s t i v e s ob a or i e nt a ç ã o do qui nt o
pa t r i a r c a por mui t os a nos ma s nã o pude c ompr e e nde r me u
v e r da de i r o E u a t é a g or a . At r a v é s de v os s o e ns i na me nt o e u
a t i ng i a f ont e . Uma pe s s oa be be á g ua e s a be por s i me s ma
s e e s t a é f r i a ou que nt e . Pos s o l he c o ns i de r a r me u
me s t r e ? ”
Hui - ne ng r e pl i c ou: “ E s t uda mos a mbos s ob o me s mo qui nt o
pa t r i a r c a . Cont i nue c ha ma ndo - o s e u mes t r e , ma s a pe na s
g ua r de e m s i o que v ós me s mos r e a l i z a s t e s . ”

153. Sem Palavras, Sem Silêncios

Um mong e pe r g unt ou a F uk e t s u:
“ Sem f al ar , sem si l e nc i a r , c omo v ós pode i s e x pr e s s a r a
Ve r da de ? ”
F uk e t s u r e pl i c ou:
“ Eu sempr e me l embr o das pr i maver as no sul da Chi na.
Os pá s s a r os c a nt a m por e nt r e a s i nume r á v e i s e s pé c i e s de
be l a s e c he i r os a s f l or e s . . . ”

154. Pregando do Terceiro Assento

E m um s onho Ky oz e n f oi à T e r r a Pur a de Ma i t r e y a . E l e s e
v i u l á s e nt a do no t e r c e i r o a s s e nt o no e s t r a do de
Ma i t r e y a . Al g ué m e nt ã o a nunc i ou:
“ Hoj e aquel e que est á assent ado no t er cei r o t r ono i r á
f a z e r a Or a ç ã o! ”
Ky oz e n l e v a nt ou- s e e ba t e ndo no ma r t e l o, di s s e :
“ A ver dade do ens i na me nt o Ma ha y a na é t r a ns c e nde nt e ,
al ém da s pa l a v r a s e dos pe ns a me nt os ! Vós me
c ompr e e nde i s ? ”
155. “Eu sou Desperto”

Qua ndo Buddha a t i ng i u a S upr e ma I l umi na ç ã o, di z uma


l e nda que a l g ué m l he pe r g unt ou:
“ Vós soi s um Deus?”
“ Não, ” el e di sse.
“ Vós soi s um sant o? ”
“ Não”
“ Ent ão quem soi s vós?”
E l e e nt ã o di s s e :
“ Eu sou Desper t o. ”

156. A conversão de Upali

Upa l i e r a um dos pr i nc i pa i s s e g ui dor e s l e i g os do me s t r e


J a i na Ma ha v i r a , c ont e mpor â ne o de Buddha . De v i do a s ua
i nt e l i g ê nc i a , Upa l i f r e que nt e me nt e a pa r e c i a e m públ i c o
pa r a de ba t e r e m pr ol do J a i ni s mo.
Ce r t a v e z Upa l i , bus c a ndo e s c l a r e c e r os pr i nc í pi os do
pe ns a me nt o J a i na , e nv ol v e u - s e e m um de ba t e c om o Buddha .
Ao f i m do de ba t e , Upa l i f i c ou t ã o i mpr e s s i ona do c om os
e ns i na me nt os de Buddha que a c a bou por s ol i c i t a r s e t or na r
um s e g ui dor do I l umi na do: “ Ve ne r á v e l S e nhor , por f a v or
a c e i t a i - me c omo um v os s o s e g ui dor ! ” e l e pe di u.
Ma s Buddha ponde r ou: “ Upa l i , v ós es t ai s s ob a
i nf l uê nc i a de s ua s e moç õe s . Vol t a i pa r a o s e i o de s e u
me s t r e , e r e c ons i de r e c ui da dos a me nt e s ua de c i s ã o a nt e s de
me s ol i c i t a r v os s a i nc l us ã o no S a ng ha nov a me nt e . ”
Upa l i f i c ou e nt ã o a i nda ma i s i mpr e s s i ona do e di s s e , ” S e
f os s e qua l que r out r o g ur u, t e r i a s c om c e r t e z a c onv oc a do
uma pa r a da pa r a a nunc i a r : ' O ma i or dos di s c í pul os l e i g os
de Ma ha v i r a t or nou- s e o ME U s e g ui dor ! ' . Ma s v ós ,
Ve ne r á v e l S e nhor , me f a l a s t e s s obr e ponde r a ç ã o e c a ut e l a
r e f l e x i v a , pa r a que e u r e c ons i de r e o me u a t o. Ag or a e u
de s e j o a i nda ma i s s e r s eu s e g ui dor . Nã o me e r g ue r e i da qui
a t é v ós me a c e i t a r e s . ”
F i na l me nt e , Buddha c onc or dou e m a c e i t a r Up a l i , s ob uma
c ondi ç ã o: “ Upa l i , c omo um J a i na , v ós s e mpr e de s t e s
pr ov e nt os a os mong e s J a i ni s t a s . Qua ndo v os t or na r e s me u
s e g ui dor , v ós i r ás c ont i nua r a da r - l he s a poi o e
pr ov e nt os . E s t a é mi nha c ondi ç ã o. ”
Upa l i a c e i t ou t a l c ondi ç ã o. Ma i s t a r de e l e t or nou - s e um
dos pr i nc i pa i s di s c í pul os de Buddha . Upa l i é c ons i de r a do
a que l e que c ompi l ou os Vi na y a , ou a s r e g r a s pa r a os
mong e s .

157. Dois Monges Erguem a Cortina

Hog e n, do Mos t e i r o S e i r y o, e s t a v a e m v i a s de da r s ua
pa l e s t r a a nt e s do j a nt a r qua ndo pe r c e be u que a c o r t i na de
ba mbu, a ba i x a da pa r a a s e ç ã o de me di t a ç ã o, nã o t i nha s i do
l e v a nt a da . E l e a pont ou pa r a e l a , s e m f a l a r . Doi s mong e s
l e v a nt a r a m- s e da a udi ê nc i a e j unt os a l e v a nt a r a m.
Hog e n, obs e r v a ndo o mome nt o c onc r e t o, di s s e :
“ Os gest os do pr i mei r o monge são cor r et os , ma s nã o os
do s e g undo. ”

158. Buddha é esta Mente

Da i ba i pe r g unt ou a Ba s o:
“ O que é Buddha?”
Ba s o di s s e :
“ Est a Ment e é Buddha. ”
159. O Fio

Após a l g uma s hor a s e m a g r a dá v e l c ol óqui o c om s e u me s t r e


Ni a o- wo, o di s c í pul o e r g ue u- s e e r e v e r e nt e me nt e de s pe di u:
“ Obr i gado por vosso t empo, Mest r e. Agor a eu me vou. ”
“ E par a onde vai s?” Per gunt ou o sábi o.
“ Par t o pel o paí s, sempr e est udando com af i nco o Dhar ma-
Buddha , ” di s s e o di s c í pul o.
“ Ah, o Dhar ma- Buddha ! ” e x c l a mou o Me s t r e , “ Por a c a s o e u
t e nho um pouc o di s s o a qui c omi g o, s a be s ? ”
O j ov e m di s c í pul o, i nt r i g a do e a l g o c ur i os o, e t a mbé m
l i g e i r a me nt e a mbi c i os o, pe r g unt ou r á pi do, ol ha ndo e m
v ol t a :
“ É mesmo? Onde est á? Onde est á?”
O Me s t r e r e t i r ou um f i o de s eu ma nt o e mos t r ou - o,
de c l a r a ndo:
“ Est e f i o t ambém é o Dhar ma- Buddha . ”

160. Onde está Chao-chou?

Um di a um mong e v i a j a nt e , bus c a ndo e nc ont r a r o c a mi nho


a t é o t e mpl o Kwa n- y i n de Cha o- c hou ( e m j a ponê s , J os hu.
S e u nome c ompl e t o s e r i a Kong - s he n de Cha o- c hou - a s ua
c i da de na t i v a - s e ndo c ha ma do a pe na s de Cha o - c hou) ,
pe r g unt ou a uma v e l ha s e nhor a que v i v i a na s c e r c a ni a s da
c i da de de me s mo nome :
“ Est ou pr ocur ando por Chao- c hou. Pode s me i ndi c a r onde
es t á? ”
A v e l ha di s s e :
“ Si ga em f r ent e. Não vi r e par a l est e ou oest e. ”
I mpr e s s i ona do c om a r e s pos t a , o mong e r e l a t ou o
oc or r i do a Cha o- c hou, a c r e s c e nt a ndo:
“ Aquel a vel ha senhor a er a mui t o sábi a no Zen. Quando
pe r g unt e i onde v ós e s t a v a s , e l a me de u uma r e s pos t a mui t o
pr of unda ! ”
Cha o- c hou a pe na s di s s e :
“ Vou l á t est á- l a . ”
Che g a ndo à pr e s e nç a da v e l ha s e nhor a , Cha o - c hou
pe r g unt ou:
“ Est ou pr oc ur a ndo por Cha o- c hou. Pode s me i ndi c a r onde
es t á? ”
A v e l ha di s s e :
“ Si ga em f r ent e. Não vi r e par a l est e ou oest e. ”
Vol t a ndo a t é onde f i c ou o mong e , e l e r e pl i c ou:
“ El a apenas não per cebe uma coi sa: Chao- c hou es t ev e
a qui t odo o t e mpo. ”

161. Um filósofo questiona Buddha

Um f i l ós of o pe r g unt ou a Buddha :
“ Sem pal avr as, sem si l ênci o, podei s vós r evel ar - me a
Ve r da de ? ”
O Buddha pe r ma ne c e u e m s i l ê nc i o.
O f i l ós of o a g r a de c e u pr of unda me nt e e di s s e :
“ Com vossa amável gener osi dade eu escl ar eci mi nha
I l us ã o e pe ne t r e i no v e r da de i r o c a mi nho. ”
Após o f i l ós of o t e r pa r t i do, Ana nda pe r g unt ou a o Buddha
que e l e ha v i a obt i do.
O Buddha r e pl i c ou:
“ Um bom caval o cor r e apenas à vi s ão da sombr a do
c hi c ot e . ”
162. Vivo ou Morto?

O me s t r e Da o- wu e s e u di s c í pul o J i a n- y ua n f or a m pr e s t a r
s e us pê s a me s à f a mí l i a de um a mi g o f a l e c i do. Ao v e r o
e s qui f e mor t uá r i o J i a n- y ua n pe r g unt ou a o s e u me s t r e :
“ O nosso ami go est á vi vo ou mor t o?”
“ Não é possí vel se af i r mar que el e est á vi vo ou mor t o, ”
di s s e o s á bi o s e r e na me nt e . J i a n - y ua n e r a um mong e mui t o
a g r e s s i v o e i mpa c i e nt e . Ao ouv i r t a l r e s pos t a , el e
i ns i s t i u:
“ E por que não podei s me r esponder ?”
O me s t r e r e pl i c ou:
“ Não posso f azer i sso, me é i mpossí vel . ”
J i a n- y ua n f i c ou mui t o a l t e r a do. Gr i t ou e nt ã o pa r a o
s á bi o:
“ Se não me r esponder , eu vou l he bat er ! ! ! ! ! ! ”
“ Poi s ent ão f aça- o. Ai nda a s s i m, nã o pode r e i l he
r e s ponde r , ” di s s e Da o- wu.
O out r o e nt ã o c ome ç ou a ba t e r mui t o no v e l ho s á bi o,
di z e ndo e nl ouque c i do:
“ Que t i po de mest r e és t u?! Possui o Conheci ment o e
r e c us a s a di z e r pa r a t e u di s c í pul o! F a l s o! Me nt i r os o! ”
Após a g r e di r v i ol e nt a me nt e s eu me s t r e , J i a n - y ua n
a ba ndonou- o a o c hã o, de c l a r a ndo:
“ Poi s ent ão não di ga! Vou embor a! ”
De poi s de a l g uns a nos , Da o- wu mor r e u. J i a n- y ua n, que
ha v i a pr oc ur a do out r o mes t r e - c ha ma do S hi - c hua ng , s oube
di s s o e r e s ol v e u f a z e r a me s ma pe r g unt a a o s e u me s t r e
a t ua l :
“ Soube que Dao- wu mor r e u. E s t á e l e r e a l me nt e v i v o ou
mor t o? ”
O s á bi o di s s e s e r e na me nt e :
“ Não é possí vel se af i r mar que el e est á vi vo ou mor t o. ”
Ao ouv i r i s s o, J i a n- y ua n obt e v e o S a t or i . Compr e e nde u
e nt ã o o que Da o- wu qui s l he e ns i na r . No di a s e g ui nt e
J i a n- y ua n f oi enc ont r a do a nda ndo de um l a do a out r o no
s a l ã o de me di t a ç ã o do T e mpl o, s e g ur a ndo uma e nx a da e
pa r e c e ndo pr oc ur a r a l g uma c oi s a . S hi - c hua ng pe r g unt ou-
l he :
“ O que f azes?”
J i a n- y ua n de c l a r ou, f i r me me nt e :
“ Pr ocur o os r e s t os mor t a i s do g r a nde Me s t r e Da o - wu! ”
S hi - c hua ng c ome nt ou:
“ O oceando é vast o, suas ondas br ancas i nundam o céu.
Que r e s t os há pa r a bus c a r ? ”
J i a n- y ua n r e s ponde u:
“ Esf or ço- me na Bus c a da me l hor ma ne i r a que pos s o. ”

163. O Concreto Imaginário

Um mong e pe r g unt ou a Cha o- c hou:


“ O que di r í ei s se eu chegasse ant e vós sem nada
t r az er ? ”
Cha o- c hou r e s ponde u:
“ Dei xai - o a í me s mo, no c hã o. ”
O mong e c ont e s t ou:
“ Mas eu di sse que nada t r azi a, como ent ão poder i a pôr
a l g o no c hã o? ”
“ Tudo bem ent ão, ” coment ou Chao- c hou, de s pr e oc upa do,
“ nesse caso, l evai - o da qui . ”
164. Um Discurso Muito Importante

O Me s t r e Y a o- s ha n há mui t os me s e s que nã o da v a uma


pa l a v r a de or i e nt a ç ã o a os s e us di s c í pul os . E s t e s e s t a v a m
c onf us os , e c e r t o di a um di s c í pul o f oi à s ua pr e s e nç a e
di s s e :
“ Todos os di s c í pul os a ns e i a m pe l a or i e nt a ç ã o de s eu
Me s t r e . Por que v ós e s t a i s t ã o s i l e nc i os o? ”
Y a o- s ha n r e pl i c ou:
“ Mui t o bem. Toquei s o si no e concl amai s t odos no zendo
do T e mpl o. F a r e i um di s c ur s o mui t o i mpor t a nt e . ”
O s i no f oi t oc a do e t odos f or a m a l e g r e s pa r a o s a l ã o de
me di t a ç ã o, e s pe r a ndo pe l o di s c ur s o de s e u me s t r e . Y a o -
s ha n e nt r ou, s e nt ou- s e e m f r e nt e à t odos , e pe r ma ne c e u e m
s i l ê nc i o. Pa s s ou- s e de z mi nut os , v i nt e , t r i nt a mi nut os ,
uma hor a . E m de t e r mi na do mome nt o o s á bi o l e v a nt ou - s e e
f oi e mbor a , e nc e r r a ndo a r e uni ã o.
O di s c í pul o f oi at r ás de l e c or r e ndo, c ha mou - o e
pe r g unt ou:
“ Mest r e! Por que vai s embor a sem nos di zer uma
pa l a v r a ? ! ”
Y a o- s ha n r e s ponde u:
“ Há i nt el ect uai s do Dhar ma par a ensi nar sut r as,
di s c i pl i na dor e s que e ns i na m a pe na s pr oi bi ç õe s . Ma s s ou um
me s t r e Z e n. Nã o a di a nt a f a l a r s obr e i s s o, poi s o Z e n e s t á
a l é m da s pa l a v r a s . Por t a nt o, o que v ós e s pe r a i s de mi m? ”

165. O Ganso na Garrafa

L i - k ' u, a l t o of i c i a l do g ov e r no da di na s t i a T ' a ng ,
pe r g unt ou a Na n- c hua n:
“ Há mui t o t empo um homem mant i nha um gans o de nt r o de
uma g a r r a f a . E s t e c r e s c e u t a nt o que nã o podi a ma i s s a i r
da g a r r a f a . O home m de s e j a v a r e t i r á - l o, ma s nã o de s e j a v a
que br a r a g a r r a f a ne m f er i r o g a ns o. Como pode r í e i s f a z e r
c om que s a í s s e da g a r r a f a ne s t a s c ondi ç õe s ? ”
O s á bi o r e pe nt i na me nt e g r i t ou:
“ Li - k ' u! ! ”
L i - k ' u r e s ponde u, a s s us t a do:
“ O que f oi ?! ”
O me s t r e di s s e , a f a s t a ndo- s e :
“ O ganso j á est á f or a. ”

166. A Monja e o Koan Irrespondível

T e ndo- s e t or na do mong e há pouc o t e mpo, Chu - c hi h


( Gut e i , e m j a ponê s ) v i v i a e m uma c a ba na de s a pê , onde di a
a pós di a de di c a v a - s e à pr á t i c a f unda me nt a l do Z e n: o
Ape r f e i ç oa me nt o Pe s s oa l . Um di a , uma monj a c ha ma da Chi h -
c hi a pr ox i mou- s e da c a ba na , de u t r ê s v ol t a s à f r e nt e do
j ov e m mong e e di s s e :
“ Di zei s apenas uma pal avr a e eu vos t i r o o meu chapéu. ”
Chu- c hi h f i c ou e s t upe f a t o. Nã o s a bi a o que di z e r .
Pe ns ou: ' I s s o é a l g um t i po de k oa n Z e n, c om c e r t e z a ! Ma s
o que s i g ni f i c a ? ! ' . Como e l e s e ma nt i nha e m s i l ê nc i o e
pe r t ur ba do, a monj a s i mpl e s me nt e c ome nt ou:
“ Como não podei s me di zer nada, vou embor a. ”
E a f a s t ou- s e . Chu- c hi h f i c ou l á , s e nt a do, i nqui e t o e
s e nt i ndo- s e f r a c a s s a do. ' O que e l a qui s di z e r ? O que
s i g ni f i c a o c ha pé u? ' , e l e pe ns a v a a ng us t i a do. ' Oh!
Ve nc i do por uma monj a nov i ç a ! Como pos s o c ont i nua r a qui e
c ha ma r i s s o de Ape r f e i ç oa me nt o Pe s s oa l ? ' , e l e r e f l e t i u.
Pr e pa r ou- s e e nt ã o pa r a pa r t i r na ma nhã s e g ui nt e . E nqua nt o
t e nt a v a dor mi r , a pa r ec e u um v e l ho s á bi o. E s t e l he
pe r g unt ou:
“ Vós par ecei s mui t o per t ur bado! O que vos af l i ge
t a nt o? ”
Chu- c hi h c ont ou t udo o que oc or r e r a . Ao f i na l , c ome nt ou
pa r a o v e l ho:
“ A ment e de um home m é i nút i l e s e m di g ni da de . Nã o
pos s o r e s ponde r ne m me s mo à que s t ã o de uma nov i ç a ! ”
O me s t r e r e pl i c ou:
“ Gost ar i as de saber a r espost a ao Koan?”
Chu- c hi h e x c l a mou, a f l i t o:
“ Si m, si m Mest r e! ”
O Me s t r e e nt ã o e r g ue u s e u i ndi c a dor e di s s e :
“ Todas as Ver dades e s t ã o a qui . ”
Ne s t e mome nt o Chu- c hi h obt e v e o S a t or i . Di s s e e nt ã o,
a g r a de c i do:
“ Agor a compr eendo. A uni dade do Tao é o Todo, o Todo é
a uni da de do T a o. ”
O v e l ho s á bi o, c omo num s onho, s umi u de s ua pr e s e nç a .

167. Sem Diferenças

Ce r t o di a , um di s c í pul o pe r g u nt ou a o mong e Pa - l i ng :
“ Há al guma di f er ença ent r e o que di sser am os pat r i ar cas
e o que e s t á e s c r i t o nos S ut r a s s a g r a dos ? ”
O s á bi o r e s ponde u:
“ Quando f i ca f r i o, os f ai sões empol er am- s e nos g a l hos
da s á r v or e s , e os pa t os me r g ul ha m s ob a á g ua . . . ”

168. O Tao e o Mundo

Ce r t a v ez , o me s t r e Zen F a - y un di s s e a os s e us
di s c í pul os :
“ Suponham que est ej am em uma si t uação na qual , se
a v a nç a r e m pe r de r ã o o T a o [ o s e nt i do da Vi da ] , se
r e c ua r e m, pe r de r ã o o Mundo [ a v i v ê nc i a Cot i di a na ] , e s e
nã o s e mov e r e m, t e r ã o de mons t r a do uma i g nor â nc i a t ã o
g r a nde qua nt o a de uma pe dr a . O que f a r i a m? ”
Um dos mong e s , c onf us o, di s s e :
“ Nest e caso, como evi t ar par ecer i gnor ant e?”
O Me s t r e r e s ponde u:
“ Abandonem o Apego e a Aver são, e sai bam r eal i zar t odo
s e u pot e nc i a l . ”
“ Mas, ” r epl i cou out r o mong e , ” ne s t e c a s o, c omo e v i t a r
pe r de r o T a o ou o Mundo? ! Ambos s ã o f unda me nt a i s . Como
pode mos ex i s t i r i g nor a nt e s do S e nt i do da Vi da , ou
i g nor a nt e s da ma r a v i l ha da E x i s t ê nc i a Cot i di a na ? ”
O s á bi o de c l a r ou, e nf i m:
“ Avancem e r ecuem ao mesmo t empo, com f l ui dez e
humi l da de ! ”

169. Entender

Ce r t o di a , o mong e Ch' ua ng - t z e pe r g unt ou ao Me s t r e


Chi ng - f e ng :
“ O que é o Buddha?”
O me s t r e di s s e :
“ O Deus do f ogo busca pel o f ogo. ”
O mong e f i c ou e uf ór i c o e s a i u g r i t a ndo da e nt r e v i s t a ,
f e l i z , a f i r ma ndo:
“ Eu ent endi ! ! ! Eu REALMENT E e nt e ndi ! ! ! ! ”
Ai nda mui t o f e l i z c ons i g o me s mo, e l e v ol t ou a t é o s eu
pr ópr i o me s t r e , Y a ng - k i , e e s t e l he pe r g unt ou:
“ O que apr endest es com Chi ng- f e ng ? ”
“ O Deus do f ogo, que é em si o f ogo, busca sua nat ur eza
e m out r o l ug a r ! ! E u, que s ou Buddha , bus c o o B uddha f or a
de mi m! ! ! ! ” a f i r ma v a o mong e , or g ul hos o e f e l i z de s ua
de s c obe r t a . Y a ng - k i c ome nt ou, t r i s t e :
“ Eu pensei que vós t i véssei s ent endi do, mas agor a vej o
que na da e nt e nde u r e a l me nt e . ” E f oi - s e e mbor a .
O mong e f i c ou pa s mo. Pe ns ou: ' O que ? ! Como é pos s í v el
que e u nã o t e nha m e nt e ndi do? ! Como pos s o e s t a r e r r a do? ' .
E l e c or r e u a t é Y a ng - k i e pe di u- l he , de s e s pe r a do:
“ ESPERE! ESPERE! Di zei - me e nf i m: O QUÊ É BUDDHA? ”
O me s t r e r e pl i c ou:
“ O Deus do f ogo vem buscar o f ogo. ”
O mong e , ne s t e mome nt o, e x pe r i me nt ou o S a t or i .

170. Conflito - Amor ou Paixão?

Ha v i a uma monj a c ha ma da E s hun, que e r a uma mul he r mui t o


boni t a . Um j ov e m mong e a pa i x onou - s e por e l a . S e m pode r
r es i s t i r ao s e nt i me nt o, e s c r e v e u - l he uma c a r t a pr opondo
um e nc ont r o à s e s c ondi da s .
No di a s e g ui nt e a o f a t o, t ã o l og o o Me s t r e t e r mi na r a
pa l e s t r a , E s hun l e v a nt ou- s e e di s s e pa r a o mong e , e m
f r e nt e a t odos :
“ Vós me envi ast es uma car t a se di zendo enamor ado.
E nt r e t a nt o, o Amor nã o é a l g o pa r a s e r r e a l i z a do à s
e s c ondi da s , poi s e l e é pl e no e s i nc e r o. S e v ós r e a l me nt e
me a ma i s e nã o s i mpl e s me nt e me de s e j a i s , v e nha a qui e
a br a c e - me e m f r e nt e a t odos . O que há pa r a e s c onde r / ”
Ma s o mong e a ba i x ou a c a be ç a e nv e r g onha do. Na v e r da de ,
o que s e nt i a nã o pa s s a v a de l ux úr i a . . .
171. O Mestre Certo

Os me s t r e s Da - y u e Y u- t a ng a c e i t a r a m o c onv i t e pa r a
e ns i na r um a l t o of i c i a l i mpe r i a l s obr e o Z e n. Ao c he g a r
Y u- t a ng a pr e s s ou- s e e m di z e r , pol i t i c a me nt e :
“ Vós par ecei s um homem i nt el i gent e e r ecept i vo, e i sso
é mui t o bom! Cr e i o que s e r i a s um bom a pr e ndi z Z e n. ”
Ma s Da - y u r e pl i c ou, s e m pr e oc upa r - s e c om s ua v i da de s :
“ O que di zei s?! Est e t ol o pode t er uma al t a posi ção,
ma s nã o pe r c e be r i a o Z e n ne m s e e s t e l he c a í s s e na
c a be ç a ! ”
O of i c i a l , a pós ouv i r os c ome nt á r i os , di s s e :
“ Ouvi ndo o que ouvi , agor a sei o que f azer par a
e nt e nde r o Z e n. ”
A pa r t i r de e nt ã o, t or nou- s e e s t uda nt e s ob a or i e nt a ç ã o
de Da - y u. . .

172. Transitoriedade

Ce r t a v e z , uma pe que na onda do oc e a no pe r c e be u que e l a


nã o e r a i g ua l à s out r a s onda s e di s s e :
“ Como sof r o! Sou pequena, e vej o t ant as ondas mai or es e
pode r os a s do que e u! S ou na v e r da de de s pr e z í v e l e f e i a ,
s e m f or ç a e i nút i l . . . ”
Ma s out r a onda do oc e a no l he di s s e :
“ Tu sof r es por que não per cebes a t r ansi t or i edade das
f or ma s , e nã o e nx e r g a s t ua na t ur e z a or i g i na l . Ans e i a s
e g oi s t i c a me nt e por a qui l o que nã o é s , e me r g ul ha s e m
a ut o- pi e da de ! ”
“ Mas, ” r epl i cou a pequena onda, ” se não sou r eal ment e
uma pe que na onda , o que s ou? ”
“ Ser onda é t empor ár i o e r el at i vo. Não és onda, és
á g ua ! ”
“ Água? E o que é água?”
“ Usar pal avr as par a descr evê- l a nã o v a i l e v a r - t e à
c ompr e e ns ã o. Cont e mpl e s a t r a n s i t or i e da de à t ua v ol t a ,
t e nha s c or a g e m de r e c onhe c e r e s t a t r a ns i t or i e da de e m t i
me s ma . T ua e s s ê nc i a é á g ua , e qua ndo f i na l me nt e
v i v e nc i a r e s i s s o, de i x a r á s de s of r e r c om t ua e g ói c a
i ns a t i s f a ç ã o. . . ”

173. Vento Zen

Num c e r t o t e mpl o o mong e pr i nc i pa l di s s e pa r a um j ov e m


a c ól i t o:
“ Hoj e f az um cal or i nsupor t ável ! ! ! Vás buscar um pouco
de a r f r e s c o pa r a mi m l á na Mont a nha da F r ont e i r a ,
r á pi do! ”
O mong e t oma um s a c o g r a nde de l i nho e pa r t e pa r a a
mont a nha , que s e e r g ui a i mpone nt e à f r e nt e do t e mpl o. No
me i o do c a mi nho e l e f i c a c a ns a do, e r e s ol v e r de i t a r - s e um
pouc o pa r a a pe na s de s c a ns a r a s c os t a s . Ma s l og o s e r e nde
à f a di g a e dor me pr of unda me nt e . Qua ndo a c or da j á é qua s e
noi t e !
“ Ador meci ! ” , pensa el e, “ Que vou f azer ? Se eu vol t ar
s e m o v e nt o, o s upe r i or me f a r á pa s s a r ma us boc a dos ! ! ! ”
Após a l g uns mi nut os de r e f l e x ã o, e l e e x c l a ma :
“ Já sei o que f azer ! ”
E l e l e v a nt a - s e , e r g ue s e u ma nt o, c ol oc a a boc a do s a c o
no t r a s e i r o e c ome ç a a s ol t a r mui t os “ Pums ” , a t é que o
s a c o f i c a c he i o. . . De poi s , c om o s a c o na mã o, r e t or na a o
t e mpl o.
O mong e pr i nc i pa l o r e pr e e nde , r a bug e nt o:
“ I di ot a! Est ás at r asado! ! Faz hor as que est ou à t ua
e s pe r a ! E s pe r o que t e nha t r a z i do um v e nt o BE E E M f r e s c o!
Va mos , ponha o v e nt o pa r a f or a ! ”
“ Si m, senhor , ” di z o j ovem, abr i ndo o saco. . .
“ MI SERI CÓRDI A! ! ! ! ! QUE BAF O! ! ! ! ! ” , e x c l a ma o s upe r i or ,
“ O vent o hoj e est á uma f edent i na! ! ”
O j ov e m mong e , ma l a ndr a me nt e di s f a r ç a ndo, c ome nt a mui t o
s é r i o:
“ É o cal or , senhor ! Em di as como esse, at é o vent o
c he i r a ma l . . . ”

174. Onde Vai?

E m doi s mos t e i r os v i z i nhos v i v i a m doi s j ov e ns mong e s


mui t o a mi g os . De ma nhã , s e mpr e os mong e s s e e nc ont r a v a m,
c a da um c ui da ndo de s e us a f a z e r e s . Ce r t o di a , um dos
mong e s e s t a v a v a r r e ndo o pá t i o de s e u t e mpl o e , v e ndo
a pr ox i ma r - s e o a mi g o, pe r g unt ou:
“ Ol á! Onde vai s?”
O a mi g o r e s ponde u, f e l i z :
“ Vou a onde me us pé s me l e v a r e m. . . ”
O mong e f i c ou i nt r i g a do c om a r e s pos t a e c ome nt ou c om
s e u me s t r e . E s t e l he di s s e :
“ Da pr óxi ma vez, di ga- l he : ' E s e nã o t i v e s s e s pé s ? ' “
Qua ndo o j ov e m nov i ç o v i u o a mi g o de nov o na ma nhã
s e g ui nt e , f e z a me s ma pe r g unt a j á a n t e c i pa ndo o mome nt o
e m que pe g a r i a o a mi g o de j e i t o, de s t a v e z :
“ Onde vai s?”
Ma s o out r o di s s e :
“ Aonde o vent o me l evar ! ”
O mong e f i c ou f r us t a do! Vol t ou a o me s t r e e c ont ou a
nov a r e s pos t a , e e s t e , s or r i ndo, di s s e :
“ Da pr óxi ma vez, di ga- l he : 'E s e o v e nt o pa r a s s e de
s opr a r ? ' “
O j ov e m mong e f i c ou e nc a nt a do c om a i dé i a :
“ Si m, si m! Essa é boa! Agor a el e não me escapa! ”
No di a s e g ui nt e , a o a ma nhe c e r , el e vi u s eu a mi g o
a pr ox i ma ndo- s e de nov o. Pe r g unt ou- l he :
“ Ol á! Onde vai s?”
O a mi g o pa r ou, s or r i u- l he , e f a l ou s ua v e me nt e :
“ Si mpl esment e vou ao mer cado, meu ami go. . . ” , e segui u
s e u c a mi nho.

175. Predestinação Imprevisível

Ce r t a v e z um budi s t a l e i g o c ha ma do Pa ng f oi v i s i t a r
Y a o- s ha n. Qua ndo e s t a v a i ndo e mbor a , o me s t r e pe di u a
doi s hós pe de s do mos t e i r o:
“ Por f avor , acompa nhe m- no a t é o por t ã o. ”
Ao s a i r pe l a por t ã o, Pa ng pe r c e be u que c ome ç a v a a
ne v a r . Ma r a v i l ha do, c ome nt ou pa r a s e us c ompa nhe i r os :
“ Ah, que l i ndo, vej am est es f l ocos de neve! Todos
c a i ndo no l ug a r c e r t o! ”
Um dos pr a t i c a nt e s , r i u- s e a r r og a nt e me nt e e r e pl i c ou,
de boc ha do:
“ Ah! E onde dever i am cai r exat ament e f l ocos de neve?”
Pa ng v i r ou- s e e e x c l a mou:
“ I DI OTA! Ol he par a você! Seus ol hos vêem como um cego e
s ua boc a f a l a c omo um mudo! E a i nda s e c ons i de r a um
pr a t i c a nt e Z e n! ”
Koa n: Qua l o de s t i no do que é i mpe r ma ne nt e e r e l a t i v o?

176. Autopiedade

Doi s v e l hos a mi g os s e e nc ont r a r a m, a pós mui t os a nos .


E nt r e t a nt o, a v i da t i nha l e v a do um a s e t or na r mui t o r i c o
e o out r o mi s e r á v e l .
El es f i c ar am j unt os mui t a s hor a s , t r oc a ndo
r e mi ni ns c ê nc i a s e be be ndo s a quê . O home m r i c o e r a mui t o
g e ne r os o e a f á v e l , ma s s e u a mi g o s ó s a bi a s e e nt r e g a r à
a ut opi e da de . Após c er t o t e mpo, o home m mi s e r á v el
a dor me c e u, e s e u a mi g o, c ondoí do c om s ua c ondi ç ã o,
r e s ol v e u l he da r uma dá di v a e a nt e s de pa r t i r i nt r oduz i u -
l he no bol s o um be l o di a ma nt e . “ S e me u pobr e a mi g o
e s t i v e r e m di f i c ul da de s pode r á c ons e g ui r uma boa s oma c om
a v e nda de s t a j ói a ” , pe ns ou o bom home m.
Anos s e pa s s a r a m e os doi s a mi g os de nov o s e
e nc ont r a r a m. Ma s o home m mi s e r á v e l c ont i nua v a a s s i m, e
a i nda s e l a me nt a ndo.
“ Mas como ai nda est ás t ã o pobr e de poi s de t a nt os
a nos ? ” , pe r g unt ou o r i c o, s ur pr e s o.
“ Pobr e de mi m! ” , l amur i ou- s e o out r o, “ S ou i nút i l , e
ni ng ué m s e i mpor t a c omi g o! S ou i nc a pa z de g a nha r di nhe i r o
pa r a s obr e v i v e r ! ”
“ Tua aut opi edade e egoí smo t e f i zer am um t ol o! Não
f os s e t ua pr of unda c e g ue i r a a ut o- i ndul g e nt e , pode r i a s há
mui t o t e r pe r c e bi do o t e s our o que de i x e i e m t e u bol s o! ”

177. Entender

T oz a n pe r g unt ou a s e u me s t r e Ung a n:
“ Quem pode ent ender o ensi nament o das coi sas não
s e ns í v e i s ? ”
Ung a n r e s ponde u:
“ Só as coi sas não sensí vei s pode m e nt e nde r o
e ns i na me nt o da s c oi s a s nã o s e ns í v e i s . ”
T oz a n e nt ã o que s t i onou:
“ Par a assi m me r esponder vós ent endest es ou
e x pe r i me nt a s t e s e s t e e ns i na me nt o? ”
Ung a n a f i r mou:
“ Se eu pudesse ent endê- l o, t u nã o o pode r i a s . ”

178. A bela noite

Ba s o e s e us t r ê s di s c í pul os , Hy a k uj o, Na ns e n e Chi z u ( o
nome de s t e úl t i mo s i g ni f i c a “ a r ma z é n de S a be dor i a ” ) ,
c ont e mpl a v a m, j unt os , a be l a l ua de Out ono.
Hy a k uj o di s s e :
“ Est a é uma noi t e i deal par a r eal i zar - s e uma c e r i môni a
buddhi s t a ! ”
Na ns e n di s s e :
“ Est a noi t e é per f ei t a pa r a f a z e r z a z e n. ”
Ma s Chi z u na da di s s e . Cont e mpl a v a , c om um s ua v e
s or r i s o, a be l a l ua na que l a l i nda noi t e . . .
O Me s t r e Ba s o e nt ã o c ome nt ou:
“ O Sut r a acabou de pr eencher o “ ar mazén de Sabedor i a” .
De poi s r e t or nou a o Oc e a no, a o Uni v e r s o. . . ”

También podría gustarte