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PIERRE BOURDIEU O PODER SIMBOLICO Traducéo de Fernan do Tomaz ‘TOMBO: (Cm SBD-FFI SP 5 ~ me) DIFEL., CAPITULO I Sobre 0 poder simbélico Este texto, nascido de uma tencativa para apresentar 0 balanco de um conjunto de pesquisas sobre o simbolismo numa situagéo escolar de tipo particular, a da conferéncia numa universidade estrangeira (Chicago/Abril de 1973), nao deve ser ido como uma histéria, mesmo escolar, das teorias do simbo- lismo, nem sobretudo como uma espécie de reconstru pscudo-hegeliana do caminho que teria conduzido, por supe Bes sucessivas, & «teoria final». Se «a imigragio das ideias», como diz Marx, raramente se faz sem dano, & porque ela separa as producdes cultui sistema de referéncias ceéricas em relagio as quais as ideias se definiram, consciente ou inconscientemence, quer dizer, do ‘campo de producio balizado por nomes proprios ou por concei os em -ismo para cuja definigao elas contribuem menos do que ele as define. Por isso, as situagdes de «imigragio» impoem com uma forca especial que se torne visivel o horizonte de referéncia o qual, nas situagdes correntes, pode permanecer em estado implicito. Embora seja escusado dizer que rfatriar este produto de exportagio implica riscos graves de ingenuidade ¢ de simplificacio — ¢ também grandes inconvenientes, pois fornece um instrumento de objectivacao. No entanto, num estado do campo em que se ve © poder por toda a parte, como em outros tempos nio se queria reconhecé-lo nas situagdes em que ele entrava pelos olhos dentro, nao é indril lembrar que — sem nunca fazer dele, numa outra maneira de o dissolver, uma espécie de «circulo cujo centro esté em toda a parte ¢ em parte algumay — é necessiirio saber descobri-lo onde ele se deixa ver menos, onde cle é mais completamente ignorado, portanto, reconhecido: 0 poder simbiilico é, com efeito, esse poder invisivel 0 qual 36 8 SOBRE 0 PODER SIMBOLICO pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que néo que- rem saber que Ihe esto sujeitos ou mesmo que 0 exercem*.’ 1. Os «sistemas simbilicos» (arte, religian, lingua) como estruturas estruturantes ‘A tradigao neo-kantiana (Humboldt-Cassirer ou, a varian- te americana, Sapit-Whorf para a linguagem) trata os diferen- tes universos simbélicos, mito, lingua, arte, ciéncia, como instrumentos de conhecimento ¢ de construga0 do mundo dos objects, como «formas simbélicas», reconhecendo, como nota Marx (Teses sobre Feuerbach), 0 «aspecto activo» do conhecimen- to. Na mesma linha, mas com uma intencéo mais propri mente histérica, Panofsky trata a perspectiva como uma forma histérica, sem todavia ir até & reconstrugio sistemética das suas condigies swciais de producto. Durkheim inscreve-se explicitamente na tradigio Kantiana ‘Todavia, porque quer dar uma resposta «positivar e «empiri- ca» ao problema do conhecimento evitando a alternativa do apriorismo ¢ do empirismo, langa os fundamentos de uma sociologia das formas simbilicas (Cassiver dir expressamence que le utiliza 0 conceito de «forma simbélica» como equivalence a «forma de classificacio»)'. Com Durkheim, as formas de classificagio deixam de ser formas universais (teanscendentais) para se tornarem (como implicitamente em Panofsky) em for ‘mas sociais, quer dizer, arbitrérias,(relativas a um grupo parci- cular) e socialmente determinadas? “Nesta tradicio idealista, a objectividade do sentido do mundo define-se pela concordancia das subjectividades estruru- rantes (senso = consenso)** " Bnse Casster, The Myth of the State, New Haven, Yale University Press, 1946, p. 16. 5 Pensamosno sentido etimoligico de Aariorein, como lembra Heidegger: sacusar publicamentes ¢, ainda, na terminologia do parencesco, exemplo, ppor exceléncia, de categorias sociais (cermos de catamento) Cf. esquema na p. 16. ‘sensus = consensuse, 90 cexto original (N. T-) CAPITULO 1 9 2. Os «sistemas simbilicos» como estruturas estruturadas (passiveis de uma anélise estrutural) ‘A anilise estrutural constitui 0 instrumento metodolégico que permite realizar a ambicio neo-kantiana de aprender a Idgica especifica de cada uma das «formas simbélicas»: proce- dendo, segundo o desejo de Schelling, a uma leitura propria- mente fantegirica (por oposicao a alegérica) que nao refete 0 mito a algo de diferente dele mesmo, a andlise estructural tem em vista isolar a estrutura imanente a cada producio simbélica. ‘Mas, de modo diferente da tradicio neo-kantiana que insiste no ‘modus operandi, na actividade produtora da consciéncia, a cradi- ‘ao estrucuralista privilegia o opus operatum, as estruturas estru- curadas. E 0 que se v8 bem na representagio que Saussure, 0 fundador desta tradigio, fornece da lingua: sistema estrutura- do, a lingua € fundamentalmente tratada como condigio de inteligibilidade da palavra, como intermedirio estruturado que se deve construir para se explicar a relagéo constante entre o"'som e o sentido. (Panofsky — € todo o aspecto da sua obra que tem em mira isolar as estruturas profundas das obras de arte —, pela oposigio que estabelece entre a iconologia © a iconografia e que € 0 equivalente exacto da oposic¢do entre a fonologia ¢ a fonérica, situa-se nesta cradicio) Primeira sintese Os «sistemas simbélicos», como instrumentos de conheci- mento e de comunicacio, s6 podem exercer um poder estrutu- rante porque so estruturados. O poder simbélico é um poder de construgéo da realidade que tende a estabelecer uma ordem _gnoseoligica: 0 sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social) supée aquilo a que Durkheim chama 0 conformis- ‘mo ligico, quer dizer, «uma concepcao homogénea do tempo, do espaco, do niimero, da causa, que torna possivel a concor- diincia entre as inteligéncias». Durkheim — ou, depois dele, Rade iffe-Brown, que faz assentar a «solidariedade social» no

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