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DESCONTINUIDADE DAS AÇÕES E POLÍTICAS SOCIAIS E SUAS

REPERCUSSÕES NO “EMPODERAMENTO” DAS FAMÍLIAS – UMA


ANÁLISE DO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL
(PETI)

Meirelaine Marques Gasparoni1,


Maria das Dôres Saraiva de Loreto2
Aline Oliveira Guidis3

INTRODUÇÃO: Nos últimos anos, a família tem sido percebida como base estratégica
para a condução de políticas públicas, especialmente aquelas voltadas para o combate à
pobreza. Notou-se uma proliferação de programas federais de transferência de renda
(Bolsa Escola/Bolsa Família, PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil,
Agente Jovem, PAIF – Programa de Atenção Integral à Família) e de projetos voltados
ao atendimento das famílias. No entanto, têm-se questionado se essas iniciativas são
eficientes e eficazes para o fortalecimento das competências familiares e se contribuem
para o processo de inclusão social e de empoderamento (“empowerment”) desse grupo.
OBJETIVO: Desta forma, objetivou-se com esse trabalho, fazer uma análise reflexiva
sobre descontinuidade das ações e políticas sociais e suas repercussões no
“empoderamento” das famílias no Programa PETI.
METODOLOGIA: Como procedimentos metodológicos fez-se uso de pesquisa
bibliográfica documental.
RESULTADOS E DISCUSSÕES: Os programas federais de transferência de renda, na
visão de Souza (2004), apresentam uma característica comum que é a vinculação da
população em idade escolar à rede municipal de ensino, como forma de assegurar uma

1
Lic. em Pedagogia, Mest. em Ec. Doméstica, Universidade Federal de Viçosa –
meirellainne@yahoo.com.br. Rua Milton Bandeira, 135, apto 402, Centro. Viçosa/MG CEP 36570-000.
Tel. 32- 99056567.
2
Economista Doméstica, Pós-Doctor em Família e Meio Ambiente, Professora Adjunta DED/UFV.
3
Bacharel em Economia Doméstica, Mestranda em Economia Doméstica, UFV.
possibilidade de desviar-se do círculo vicioso da pobreza. Neste contexto, Neves (1999)
fez a seguinte análise crítica: “é socialmente viável proteger temporariamente as
crianças e os jovens e, após, condená-los à condição de adultos fragilizados e
contextualmente desumanizados diante de mercados de trabalho organizados,
perversidades físicas e morais? Ou seja, a partir da década de 80, esses programas de
transferência de renda têm sido debatidos; tendo em vista as grandes transformações do
mundo do trabalho, face ao quadro de desemprego e do acirramento das desigualdades
sociais. Dados da PNUD (2002) apud Milanezi (2004) destacam que os 20% mais ricos
do país ficam com 63,8% da renda nacional, enquanto que os 20% mais pobres ficam
com somente 2,5%. Outro dado instigante relatado no relatório da PNUD (2002) é que
de 98% das crianças, que entram no ensino fundamental, apenas 15% continuam no
ensino médio. Assim, observa-se uma contradição, uma vez que o Brasil, ao mesmo
tempo em que é considerado uma das maiores economias do mundo, possui também,
uma das piores distribuições de renda. De acordo com o IBGE (2004) o país possui a 2ª
pior distribuição de renda, perdendo apenas para Serra Leoa. Na visão de Milanezi
(2004), o Brasil é “uma nação formada por muitos “Brasis”, sustentada em uma pobreza
acentuada ainda por intensas desigualdades de raça, sexo, religião, etnia e, também,
pelas desigualdades de acesso ao poder, a recursos, à justiça e ao saber”; que consistem
em um impedimento para o “empowerment/empoderamento” de grupos sociais
marginalizados e para o alcance do desenvolvimento, emancipável. Assim, conforme
Villacorta e Rodriguez (2002), o processo de empoderamento de grupos vulneráveis
socialmente constitui, basicamente, um processo de criar e de ganhar poder. Ainda de
acordo com esses autores, o empoderamento é o processo de obter acesso e controle
sobre si mesmo e sobre os meios necessários para a sua existência. É um processo de
construção e/ou ampliação das capacidades, que têm as pessoas e grupos pobres e
excluídos para: assumir o controle de seus próprios assuntos; produzir, criar, gerar
novas alternativas; mobilizar suas energias para o respeito a seus direitos; mudar as
relações de poder; obter controle sobre os recursos (físicos, humanos e financeiros) e,
também, sobre a ideologia (crenças, valores, atitudes); poder discernir como escolher e
levar a cabo suas próprias opções. Entende-se, assim, que empoderar-se implica em um
processo interno e externo (relacionamento com auto-estima, autopercepção, que tem
haver com controle ou influência sobre o meio a sua volta). Além disso, é pessoal e
organizacional (não pode ser feito de fora para dentro, mas pode ser facilitado através de
ações estimulantes; envolvendo ações simultâneas e complementares de cima para baixo
e de baixo para cima). Não é um processo neutro e nem natural, pois deve gerar
necessariamente mudanças nas relações de poder; devendo implicar em processo de
mudança no nível individual e coletivo, tanto em termos de controle de recursos, como
em termos de uma maior autonomia e autoridade sobre as decisões que tem influência
na sua própria vida, por isso, é induzido e socialmente construído. Dessa forma,
percebe-se que as ações para o empoderamento familiar são elementos-chave para
romper o ciclo da pobreza e exclusão social, ao induzirem o processo de participação,
por meio de políticas locais, mais adequadas à realidade sócio-cultural dos grupos
pobres e excluídos, com condições de convertê-los em agentes de um desenvolvimento,
mais sustentável. Para tanto, como comenta Milanezi (2004), as políticas sociais
necessitam de um tempo mínimo para se consolidarem; isto é para atenuarem o hiato
derivado dos desequilíbrios na distribuição, que favorecem a acumulação do capital em
detrimento das necessidades sociais básicas e da igualdade. Entretanto, as evidências
empíricas têm mostrado que, geralmente, em cada novo período governamental, aqueles
que assumem consideram como importante “marcar” sua administração com coisas
“novas”, que personalizem sua gestão. O primeiro passo é, portanto, abandonar o que
vinha sendo feito e imprimir novo rumo e diretrizes, sem qualquer avaliação sobre o que
estava sendo realizado efetivamente. Ou seja, normalmente o que permeia a prática das
políticas sociais, são que os avanços não são fruto da cumulatividade, que acrescente
qualidade às ações em processo, derivada da incorporação de êxitos observados pela
reiteração das práticas, pelas avaliações efetuadas e por experiências incorporadas na
vivência cotidiana. Essa realidade de descontinuidade das políticas sociais em termos
dos objetivos e metas propostas de curto e longo prazo tem sido observada em diversos
programas de transferência de renda para grupos socialmente excluídos, como é o caso
do PETI. As ações do governo em relação ao programa de erradicação do trabalho
infantil foram formuladas, vinculando a presença desse segmento no ensino formal e na
jornada ampliada e, ao mesmo tempo, visando a promoção social das famílias, por meio
de ações sócio-educativas e de ampliação e geração de renda. No processo discursivo do
PETI, já era percebido que para quebrar o ciclo, que mantêm pobres várias gerações de
uma mesma família, seria imprescindível o processo de empoderamento das mesmas;
para que não fossem obrigados a retornareom a criança/adolescente para a vida de
trabalho degradante, quando completasse a idade máxima aceita pelo programa. Além
de não estar ocorrendo o empoderamento parental, pela falta de integração entre os
diversos programas sociais de atendimento à infância e à família; a mudança política,
praticamente, levou à estagnação do PETI (não ampliação e atraso no repasse dos
recursos aos municípios), ao dar prioridade a um novo programa social, o Bolsa Família,
que não pressupõe a jornada ampliada e nem as reuniões sócio-educativas, que buscam
o envolvimento e promoção do grupo familiar.
CONCLUSÕES: conclui-se que as políticas sociais, enquanto um instrumento
histórico que possibilita o acesso aos recursos sociais àqueles que estão desprovidos
economicamente de adquiri-los, têm sido precarizadas, pela via da terceirização, sub-
concentração, da filantropização; ou até mesmo, extintas (MILANEZI, 2004). Desta
forma, a continuidade se dá pela descontinuidade das ações; como tem sido observado
em diversos programas sociais, como aqueles de assistência às famílias de baixa renda.
As políticas, geralmente, estão reduzidas a uma infinidade de projetos e programas,
quase sempre sem recursos e sem estratégias claramente definidas sobre sua inserção no
dia-a-dia dessas famílias; bem como sem delimitação dos indicadores de sua
sustentabilidade, isto é, sobre o empoderamento da unidade familiar. Na percepção de
Souza (2004), com a implantação de tais políticas sociais o que se tem procurado é
“oxigenar a pobreza através da transferência monetária, porém não se permite real
acesso aos circuitos de produção e consumo propiciados através do trabalho em
programas de geração de renda, ou mediante oportunidades presentes nos sistemas de
proteção social de responsabilidade dos programas públicos”. Assim, a ampliação ou
consolidação das políticas sociais em favor das classes necessitadas encontram-se na
contramão da inclusão, uma vez que tais políticas tornam-se cada vez mais restritas em
sua abrangência: focalizadas, segmentadas e centralizadas naqueles grupos considerados
como os de maior vulnerabilidade social. Em um universo de prazos exíguos, fecha-se a
equação do “projetismo” com a descontinuidade, que é a marca característica do
descompromisso político para com o setor social, com reflexos negativos o
“empoderamento” das famílias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MILANEZI, F. M. Crianças e Adolescentes na Doutrina da Proteção Integral e as


Políticas Públicas e Sociais. In: XI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais e III
Encontro Nacional de Serviço Social e Seguridade, 2004.

NEVES, D. P. A perversão do Trabalho Infantil: Lógicas Sociais e Alternativas de


Prevenção. Niterói: Intertexto, 1999. 241p.

SOUZA, M. P. O Programa de Erradicação do Trabalho infantil e a Construção de


Direitos. In: XI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais e III Encontro Nacional
de Serviço Social e Seguridade, 2004.

VILLACORTA, Alberto E.;RODRIGUEZ, Marcos. Metodologias e ferramentas para


implementar estratégias de empoderamento. In: ROMANO, Jorge O; ANTUNES, Marta
(orgs). Empoderamento e direitos no combate à pobreza. Rio de Janeiro: ActionAid
Brasil, 2002. p. 45 -66.

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