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Resumo
Este artigo propôs-se em analisar as influências do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) no setor da Construção Civil. Para tanto, fez-se uma análise estatística descritiva dos
dados da Pesquisa Anual da Construção Civil, no período de 2007 a 2012. Os resultados
encontrados demostraram o aumento na atividade econômica do setor em análise,
especialmente em relação ao crescimento de empresas ativas, do valor adicionado para o setor
e do número de trabalhadores formais. Dado que o crescimento da construção civil gera um
efeito em cadeia não observado em outros setores, sugeriu-se que o estímulo ao setor é
benéfico para a economia como um todo e pode ser utilizado como ferramenta de política
econômica.
1 Introdução
Segundo Macedo (2010), o primeiro mandato petista teve uma postura ortodoxa que,
apesar de contornar a crise de 2002, não fez com que a economia crescesse. Também é
importante observar que o início do governo Lula foi marcado, de acordo com Erber (2011),
por uma extraordinária desconfiança, pois mesmo mudando seu discurso eleitoral de “ruptura
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com energia elétrica. As ações direcionadas aos recursos hídricos eram, pontualmente:
aumentar a oferta de água para consumo humano, a distribuição equilibrada com priorização
das regiões mais críticas, e a implantação de medidas de revitalização e integração, produção
e distribuição de água bruta, além de projetos de irrigação (BRASIL, 2015).
O desenvolvimento do mercado de crédito é de suma importância para que haja
desenvolvimento econômico e social e seu principal objetivo era aumentar o volume de
financiamento a longo prazo. Nesse casso, a Caixa Econômica Federal entrava como principal
agente econômico no crédito para habitação e saneamento e o BNDES assumia o estímulo aos
investimentos em infraestrutura econômica (BRASIL, 2007d).
As principais medidas para o desenvolvimento do mercado de crédito foram:
concessão, pela União, de recursos para a liberação de crédito que visassem a expansão em
saneamento e habitação; ampliação do limite de crédito do setor público para investimentos
ligados ao saneamento ambiental e habitação; criação do Fundo de Investimento em
Infraestrutura do FGTS e elevação da liquidez do Fundo de Arrendamento Residencial
(BRASIL, 2015).
O aumento do investimento dependia, essencialmente, do marco regulatório e do
ambiente de negócios e, no PAC, previa-se medidas voltadas para estimular o surgimento
deste ambiente, tais como: medidas destinadas a agilizar e facilitar a implementação de
investimentos em infraestrutura; medidas de aperfeiçoamento do marco regulatório e do
sistema de defesa da concorrência, além do incentivo à recriação da Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE) (BRASIL, 2015).
Além do exposto, salienta-se que o investimento brasileiro advém, em grande parte, do
setor privado e medidas como o aperfeiçoamento do sistema tributário e a desoneração
tributária seriam importantes para determinação do nível de investimento. O PAC incluía
diversas medidas de desoneração tributária, combinadas com ações de modernização e
agilização da administração tributária. Pontualmente, as desonerações levariam ao estímulo
do investimento na construção civil e ao aumento na aquisição de bens de capital, bem como à
promoção do desenvolvimento tecnológico nos setores da TV digital e de semicondutores.
Buscava-se, ainda, a formalização e o incentivo ao crescimento das micro e pequenas
empresas. As medidas de aperfeiçoamento da administração tributária visavam reduzir a
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diretamente ligados à área de infraestrutura, cresceu o dobro do emprego total do país, desde o
lançamento do programa em 2007. A renda do trabalhador ligado a projetos relacionados à
infraestrutura elevou-se em 10,4%, em termos reais (BRASIL, 2013c).
Segundo Mondenesi et al. (2013) a política econômica brasileira teve sua rota
delineada por rumos diferentes a partir de 2007, aproximando-se assim das formulações pós-
keynesianas. Os primeiros sinais desta transformação estariam na reorientação da política
fiscal, via aumento dos investimentos públicos, estimulado pelo PAC. Aliás, a mudança nas
políticas fiscais revela um esforço do Estado no sentido de estimular o crescimento do nível
de emprego e o crescimento da economia. Porém, as mudanças propostas na política
econômica caracterizaram-se por serem um tanto embrionárias, parciais e limitadas, o que
distanciava as iniciativas governamentais da ideologia Keynesiana inicialmente proposta.
3 Metodologia e dados
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Canteiros de obras espalhados por todo lugar, mão de obra cada vez mais escassa,
pressão sobre o nível salarial, aumento gradativo no preço do insumo, estes são sinais
indiscutíveis que o setor da construção civil vem passando por um crescimento elevado nos
últimos anos, após um longo período de estagnação (ARAUJO JUNIOR; NOGUEIRA E
SHIKIDA, 2012).
Segundo Teixeira e Carvalho (2006) a construção civil é o setor que complementa a
base produtiva e cria externalidades positivas, seu crescimento aumenta a produtividade dos
fatores e aquece a iniciativa privada. Assim, o setor tem grande importância estratégica para a
sustentação do desenvolvimento econômico e social. O setor é considerado de importância
estratégica pelo seu tamanho e impacto na economia, devido a seus encadeamentos para
frente e para trás e sua importância indireta e induzida para o crescimento.
Com a implantação do PAC ocorreu um grande incentivo a indústria da construção
civil, ocorrendo, portanto, influencias em variáveis muito importantes da economia como
renda e demanda por mão de obra. A construção civil tem um importante papel na inclusão
no mercado de trabalho de indivíduos com baixa escolaridade. Assim, gerar emprego no
canteiro de obra é gerar renda para as classes D e C da sociedade. Empregar desde o
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analfabeto ao pós-doutor faz a indústria da construção civil ser o mais democrático dos
setores da economia.
De acordo com Miranda (2011), a indústria da construção civil não teve um “boom”
de crescimento, pois a palavra “boom” sugere um crescimento rápido e repentino. O
crescimento do setor não teve natureza especulativa, mas sim ocorreu graças a mudanças
institucionais e da própria evolução do cenário macroeconômico recente. Entre as
particularidades do setor da construção civil, está sua capacidade de crescimento mesmo que
pequena, independentemente da política econômica, mas também está no fato deste setor ser
um instrumento importante na implantação de tais políticas, pois estímulos a ele direcionados
são capazes de gerar crescimento no nível e distribuição de renda (GHINIS, 2011).
De acordo com Ghinis (2011), o dinamismo do setor está ligado, principalmente, à
oferta de mão obra a indivíduos de baixa escolaridade, que têm um nível de renda mais baixo.
Neri (2011) destaca que o crescimento do setor da construção civil, nos últimos anos, trouxe
um problema do lado da oferta de mão de obra, tanto no âmbito quantitativo como no
qualitativo.
O PAC e seus investimentos em infraestrutura, é entendido como um reconhecimento
do setor da construção civil na condição de uma peça fundamental para o desenvolvimento
econômico, bem como em relação a seu papel como propulsor para o PIB. O Presidente do
Sinduscon-SP, João Cláudio Robusti, afirma que a construção civil é a “mola para o
crescimento” e o PAC tem como um dos focos principais a melhora e instalação de
infraestrutura, o que faz com que seus investimentos e ações sejam quase que exclusivamente
voltados ao setor da construção civil (DIAS, 2007).
Dias (2007) referiu-se, ainda, à observação de Paulo Safady Simão, presidente da
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), destacando que o PAC não é um plano
de desenvolvimento e sim um plano de obras, que aquece setores vitais da economia e este
incentivo seria capaz de levar ao desenvolvimento da economia. De acordo com o CBIC
(2010) a expansão de abertura de empresas formais elevou a qualidade do setor da construção
civil, o PIB setorial foi fortalecido, as condições de trabalho melhoraram com a formalidade e
a arrecadação de impostos cresceu. O aumento de investimentos em um setor específico,
devido à implantação de políticas públicas que geram investimento público e privado,
estimula a mercado, fazendo com que ocorra um aumento de demanda de novas empresas.
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Gráfico 1: Número de Empresas Ativas nas três seções do setor da construção civil – 2007 a 2012
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Gráfico 2: Número de Empresas da Seção 43, do setor da Construção Civil – 2007 a 2012.
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Gráfico 3: Valor Adicionado das três seções do setor da Construção Civil (em R$) – 2007 a 2012
Gráfico 4: Pessoal ocupado em 31/12 no Setor da Construção Civil – 2007 a 2012 (Empresas Formais)
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4 Considerações Finais
O PAC surgiu como uma política voltada, essencialmente, para combater a falta de
infraestrutura e o déficit habitacional quantitativo e qualitativo brasileiro. Com isso, o efeito
imediato com o início do programa foi o aquecimento e crescimento do setor da construção
civil. O presente trabalho demostrou esse crescimento através da análise dos dados da
Pesquisa Anual da Construção Civil.
O crescimento da construção civil gera um efeito em cadeia não observado em outros
setores, como o acesso a renda e emprego para população mais humilde e com baixa
escolaridade, o crescimento de subsetores que fornecem insumos para o setor e o crescimento
de micro e pequena empresas, levando à acessão econômica dos indivíduos ligados a
atividade. Pode-se, assim, dizer que o estímulo ao setor é benéfico para a economia como um
todo e pode ser utilizado como ferramenta de política econômica.
Referências
ARAUJO JUNIOR, Ari Francisco; NOGUEIRA, Daniela Guimarães; SHIKIDA, Claudio D..
Analise da eficiência das firmas de construção civil nacional. Revista Brazilian Business
Review, Volume 9, número 3, Vitoria-ES, Julho/Setembro, 2012.
BAER, Werner. A Economia Brasileira. Tradução: Edite Dciulli. São Paulo, Nobel,1996.
BRASI, 2014b. Ministério do Planejamento. 11° Balanço PAC 2 – A gente faz um Brasil de
oportunidade. Disponível em:
<http://www.pac.gov.br/pub/up/relatorio/f9d3db229b483b35923b338906b022ce.pdf>.
Acesso em: 24 de abr. 2015.
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MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria de transição. 1ed revista.
Tradução Paulo Cezar Castanheira e Sérgio Lessa – São Paulo: Boitmepo, 2011.
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TEIXEIRA, Luciane Pires; CARVALHO, Fatima Marilia Andrade de. A construção civil
como instrumento da economia brasileira. Revista Paranaense de Desenvolvimento,
número 109, Curitiba, Julho/Dezembro, 2005.
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PIS: Programa de Integração Social/ COFINS: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social/IPI:
Imposto sobre produtos industrializados/CIDE: Contribuição sobre Intervenção no domínio Econômico (cobrado
sobre as importações e a comercialização de petróleo e seus derivados.
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