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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Renato Brasileiro de Lima


Direito Processual Penal
Aula 06

ROTEIRO DE AULA

COMPETÊNCIA CRIMINAL II

1. Jurisdição.

2. Princípio do juiz natural.

3. COMPETÊNCIA.

3.1. Conceito.

3.1. Espécies de Competência.


a) Ratione materiae:
b) Ratione personae (funcionae):
c) Ratione loci:
d) Competência Funcional:

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

1. Interesse público
1. Interesse preponderante das partes;
norma constitucional e convencional

2. Improrrogável; 2. Prorrogável;

3. Consequências: 3. Consequências:
a) nulidade absoluta: a) nulidade relativa:
a.1) pode ser arguida a qualquer momento, a.1) deve ser arguida no momento
inclusive após o trânsito em julgado em se oportuno, sob pena de preclusão;
tratando de sentença condenatória ou a.2) prejuízo deve ser comprovado;
absolutória imprópria;
a.2) prejuízo presumido;

Competência absoluta - segundo alguns autores, a natureza absoluta decorre do interesse público tutelado somado
a uma previsão constitucional; improrrogável, porque não admite modificação pelo juiz ou pelas partes; a
inobservância é geradora de nulidade absoluta, não sujeita a preclusão - arguível inclusive após o trânsito em julgado,

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por meio do HC ou da revisão criminal, sempre em benefício do acusado, em relação a sentença de natureza
condenatória ou absolutória imprópria -; ante a violação da norma constitucional de interesse público, o prejuízo é
presumindo; norma constitucional e convencional (Convenção Americana sobre Direitos Humanos).

Competência relativa - o interesse tutelado é preponderantemente das partes, visto que, no processo penal, à
exceção da ação civil ex delicto, não existe interesse que seja exclusivamente privado. Em outros termos, de um lado
há a pretensão punitiva estatal; de outro, a liberdade de locomoção do indivíduo. Logo, sempre haverá interesse
estatal, ainda que de forma residual. E, segundo a doutrina, a hipótese sempre terá origem em uma norma
infraconstitucional. Prorrogável/derrogável tanto pela vontade das partes quanto em função da conexão ou da
continência. Momento oportuno para alegação, sob pena de preclusão, diz respeito à primeira oportunidade
procedimental para manifestação da parte, sendo imprescindível ainda comprovar o prejuízo suportado (ex.: delito
ocorrido em uma cidade e julgado em outra distante dificulta a produção probatória). Anote-se, por fim, que a
preclusão terá o condão de sanear, convalidar a nulidade relativa.

STJ: “(...) O Juiz absolutamente incompetente para decidir determinada causa, até que sua incompetência seja
declarada, não profere sentença inexistente, mas nula, que depende de pronunciamento judicial para ser
desconstituída. E, se essa declaração de nulidade foi alcançada por meio de recurso exclusivo da defesa, ou por
impetração de habeas corpus, como no caso, não há como o Juiz competente impor ao Réu uma nova sentença
mais gravosa do que a anteriormente anulada, sob pena de reformatio in pejus indireta. (STJ, 5ª Turma, RHC
20.337/PB, Rel. Min. Laurita Vaz, Dje 04/05/2009).

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

3. Consequências:
CPP, art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o
processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente.

Trata-se de dispositivo com redação duvidosa, por não especificar a espécie de incompetência, se absoluta ou relativa.
Segundo a doutrina, quando se tratar de hipótese de incompetência absoluta, são nulos os atos decisórios e
probatórios, devendo portanto o dispositivo receber interpretação extensiva, pois disse menos do que pretendia.
Há ainda autores, como a Professora Ada Pelegrine Grinover, que asseveram a inexistência dos atos praticados por
juiz incompetente (posição minoritária na doutrina e jurisprudência).
Ademais, segundo a doutrina, em sendo a incompetência relativa, são nulos os atos decisórios, aplicando-se
literalmente o disposto no artigo 567 do CPP.
Por fim, observe que o STF e o STJ entendem que, em ambos os casos (incompetência absoluta ou relativa), são nulos
apenas os atos decisórios, os quais, no entanto, podem ser ratificados pelo juiz competente (ex.: recebimento de
denúncia, quebra de sigilo bancário, interceptação telefônica). Quanto à sentença de mérito, faz-se necessário que o
juiz competente profira outra em substituição, não se limitando a ratificar a decisão anterior.

STF: “(...) Tanto a denúncia quanto o seu recebimento emanados de autoridades incompetentes rationae materiae
- competência absoluta - são ratificáveis no juízo competente". (STF, Pleno, HC 83.006/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ
29/08/2003).

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

4. Pode ser reconhecida de ofício, pelo 4. Pode ser reconhecida de ofício, pelo
menos enquanto não houver o esgotamento menos até o início da instrução probatória,
da jurisdição. eis que prorrogável. Ademais, aplica-se ao
processo penal o princípio da identidade
física. Logo, não pode o juiz pretender
modificar a competência após iniciada a
colheita da prova.

Alguns doutrinadores não admitem o reconhecimento da incompetência relativa de ofício, sob fundamento de que
por meio dela se tutela interesse das partes. No entanto, como visto acima, inexiste no processo penal interesse
.
exclusivo das partes, mas apenas preponderante. Nesse sentido, lembre-se que pode, por exemplo, o magistrado,

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residualmente, pretender produzir provas no curso do processo, logo, tem interesse na preservação da competência
relativa (ex.: crime praticado no Acre sendo julgado no Rio Grande do Sul).

Atenção para a Súmula n. 33 do STJ: “a incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”. Esta Súmula foi
concebida a partir de precedentes do processo civil, não se aplicando ao processo penal.

Novo CPC
Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:
I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo;
II - por meio de embargos de declaração.

CPP
Art. 399. (...)
(...)
§ 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

5. Não pode ser modificada pela conexão ou pela 5. Pode ser modificada pela conexão ou pela
continência. continência.

Novo CPC
Modificação da Competência
Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o disposto nesta
Seção.
Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
(...)
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de
pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.

Novo CPC
Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção
das partes.

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA

Exemplos: Exemplos:
• Ratione materiae; • Territorial;
• Ratione funcionae; • Prevenção (Súmula n. 706 do STF);
• Funcional. • Distribuição;
• Conexão e continência.

4. GUIA PARA FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA.

1) Competência de justiça: qual a justiça competente?


Pode ser: Justiça Militar da União ou dos Estados, Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho, Justiça Federal e Justiça
Estadual.
Observe-se que, dada a natureza residual da Justiça dos Estados, é imprescindível o conhecimento das demais justiças.
2) Competência originária: o acusado tem foro por prerrogativa de função?
3) Competência de foro/territorial: qual a comarca/seção judiciária competente?
Comarca corresponde a termo utilizado pela Justiça Estadual, enquanto seção ou subseção judiciária pela Justiça
Federal.
4) Competência de juízo: qual é a vara (juízo) competente?
Na grande maioria dos casos, a vara é determinada por meio da distribuição. Em algumas situações, deve ser verficada
a prevenção - critério residual de. fixação de competência entre dois ou mais juízos igualmente competentes -, sendo

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fixada a competência em relação àquele juiz que se antecipou na prática de algum ato decisório, ainda que anterior
ao oferecimento da denúncia.
Atenção: é cada vez mais comum a criação das chamadas varas especializadas ao julgamento de crimes determinados,
como financeiros, praticados por organização criminosa, crimes de lavagem de capitais, crimes praticados no âmbito
de violência doméstica e familiar contra a mulher etc.
5) Competência interna: qual é o juiz competente?
A distribuição é realizada de forma aleatória, para que não haja previsibilidade e possibilidade de manipulação.
6) Competência recursal: a quem compete o processo e o julgamento de eventual recurso?
Ante a extinção dos tribunais de alçada, os recursos são processados e julgados pelos tribunais de justiça. Exceção:
em se tratando de infração de menor potencial ofensivo processada pelo próprio Juizado, o juizo ad quem será a
turma recursal - não o TJ -.

Obs.: Guia extraído da obra Teoria Geral do Processo, escrita por Antonio Carlos Araújo Cintra, Cândido Rangel
Dinamarco e Ada Pellegrini Grinover.

5. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA MILITAR.

CF/88
Art. 124. À Justiça Militar - da União - compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.

Obs.: a Justiça Militar da União não detem nenhuma competência cível.

CF/88.
Art. 125. (...)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos
em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for
civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Obs. 1: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo são os únicos Estados da Federação com Tribunal de Justiça
Militar.
Obs. 2: Militares dos Estados são apenas os bombeiros, os policiais militares e os policiais rodoviários estaduais,
devendo ser observada a condição de militar à epóca do delito, não do momento do processo.
Obs. 3: A partir da EC n. 45/2004, passou a Justiça Militar dos Estados a deter competência para as ações judiciais
contra atos disciplinares militares.

CF/88.
Art. 125. (...)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos
contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência
de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO JUSTIÇA MILITAR DOS ESTADOS

CF/88, art. 124 CF/88, art. 125, §§ 3º e 4º

Crimes militares definidos em lei (CPM) Crimes militares definidos em lei (CPM)

Acusados: militares e civis* Acusados: militares dos Estados

Obs.: O STF tem realizado uma interpretação extremamente restritiva nos últimos anos, quanto à possibilidade de o
civil ser julgado pela Justiça Militar. Hoje tramitam duas ações diretas no STF sobre o tema: uma questionando a
competência da Justiça Militar para
. julgar crimes cometidos contra militares e por militares no exercício da garantia

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da lei e da ordem, e outra questionando a competência da Justiça Militar da União para o julgamento de civis em
tempo de paz. Ver indicações ao final da página.

Súmula n. 172 do STJ: Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda
que praticado em serviço.

O crime de abuso de autoridade não encontra previsão no CPM, motivo pelo qual compete à Justiça Comum o
processo e o julgamento, nos termos da Lei n. 4.898/1965. O mesmo ocorre em relação ao crime de pedofilia previsto
no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Justiça Militar possui competência específica para processo e julgamento de crimes militares. Assim, em caso de crime
militar praticado em conexão ou continência com crime comum, haverá cisão para processo e julgamento - hipótese
de separação obrigatória dos processos -.

Súmula n. 75 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover
ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.

Obs.: O estabelecimento penal pode ser comum ou militar. Se comum, o crime também será comum, sujeitando-se à
Justiça Estadual; se militar, o crime também será militar por encontrar previsão no Código Penal Militar, cabendo
processo e julgamento à Justiça Militar Estadual.

Súmula n. 47 do STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar contra civil, com
emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço.

Obs.: Era hipótese de crime militar a prática de crime contra civil, pelo simples fato de utilização de arma da
corporação, conforme previsão no artigo 9º, inciso II, alínea f, do Código Penal Militar. Entretanto, essa disposição foi
revogada pela Lei n. 9.299/1996. Logo, o fundamento legal da referida Súmula deixou de existir - fenômeno do
overruling -.

Súmula n. 90 do STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime
militar, e à - Justiça - Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.

Ex.: militar pratica o crime de abuso de autoridade e lesão corporal em um mesmo contexto. O primeiro será
processado e julgado perante a Justiça Comum; o segundo encontra previsão no Código Penal Militar e, portanto, se
praticado em serviço, será crime militar.

Súmula n. 53 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra
instituições militares estaduais.

Lembre-se: a Justiça Militar Estadual não tem competência para processo e julgamento de civil.

Súmula n. 78 do STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito
tenha sido praticado em outra unidade federativa.

Obs.: Em síntese, o policial militar será processado e julgado por sua respectiva Justiça Militar Estadual, ainda que o
delito militar tenha sido praticado em outra Unidade Federativa. Ex.: a Força Nacional de Segurança, apesar de
nacional e sujeita ao comando do Ministério da Justiça, contempla militares estaduais em sua formação.

STJ: “(...) Mesmo havendo a conexão entre o crime de homicídio e de furto de armas do patrimônio sob
administração militar, não é possível a reunião do processo, diante de vedação expressa. Conflito conhecido para
declarar competente para o julgamento do crime de furto das armas o juízo da 1ª Auditoria da 3ª CJM do Rio Grande
do Sul”. (STJ, 3ª Seção, CC 77.138/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 08/08/2007).

STJ: “(...) Crime militar cometido por militar no exercício da função. Em homenagem à garantia do juízo natural, a
competência deve ser fixada sempre em relação à qualidade que o recorrente apresentava no momento do
cometimento do fato, não podendo ser alterada por conta de alteração fática posterior (exoneração). Recurso a
que se nega provimento”. (STJ, .6ª Turma, RHC 20.348/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Dje 01/09/2008).

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ADPF n. 289 (em tramitação perante o STF): ajuizada pelo PGR com o objetivo de dar interpretação conforme a
Constituição ao art. 9º, incisos I e III, do Código Penal Militar, para que seja reconhecida a incompetência da Justiça
Militar para julgar civis em tempo de paz e para que tais crimes sejam submetidos a julgamento pela Justiça Comum,
Federal ou Estadual.

ADI n. 5.032 (em tramitação perante o STF): tem como objetivo precípuo a declaração da inconstitucionalidade do
art. 15, § 7º, da LC 97/99, que inseriu na competência da Justiça Militar o julgamento de crimes cometidos no
exercício das atribuições subsidiárias das Forças Armadas.

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO JUSTIÇA MILITAR DOS ESTADOS

Competência fixada pelo critério Competência fixada com base em dois critérios:
ratione materiae ratione materiae e ratione personae

Tem competência cível, nos termos do art. 125, §


Não tem competência cível
4º, da CF/88.

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO JUSTIÇA MILITAR DOS ESTADOS

Órgão jurisdicional: Órgão jurisdicional:


 Conselho de Justiça • Juiz de Direito do Juízo Militar;
• Conselho de Justiça.

Juízo ad quem: TJM (MG, SP e RS) ou TJ, nos demais


Juízo ad quem: STM
Estados.

CRIME PROPRIAMENTE MILITAR CRIME IMPROPRIAMENTE MILITAR

É aquela infração que só pode ser praticada por É a infração prevista no CPM, cujo sujeito ativo
militar, pois consiste na violação de deveres pode ser tanto o militar quanto o civil, passando a
restritos, que lhe são próprios, sendo ser considerada crime militar quando praticada
identificáveis por dois elementos: a qualidade do nas circunstâncias do art. 9º do CPM.
agente (militar) e a natureza da conduta (prática Ex.: artigo 251 do CPM (estelionato cometido por
funcional). militar ou civil em detrimento do patrimômio sob a
Ex.: deserção, artigo 235 do CPM (antigo crime de administração militar)
pederastia ou outro ato de libidinagem)

Obs.: O termo pederastia foi declarado inconstitucional pelo STF, por violar a opção sexual do indivíduo. Entretanto,
a tipificação foi mantida.

Tanto os crimes propriamente militares quanto os crimes impropriamente militares são processados e julgados pela
Justiça Militar da União e dos Estados.

- Crime doloso contra a vida praticado por militar, ainda que em serviço, contra civil, e tiro de abate;
Antes da Lei n. 9.299/96, era da competência da Justiça Militar o crime doloso contra a vida praticado por militar,
ainda que em serviço, contra civil. A partir do advento dessa Lei, a competência passou para o Tribunal do Júri, federal
(ex.: militares do exército) ou estadual.
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Tiro de abate é um ataque realizado por militares da Força Aérea Brasileira em caso de invasão do espaço aéreo, após
não obedecida a advertência para o pouso. É da competência da Justiça Militar da União, por óbvio, por se tratar de
integrantes da Força Aérea Brasileira.

CPM
Art. 9º. Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da
competência da justiça comum - júri -, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do
art. 303 - tiro de abate - da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada
pela Lei nº 12.432, de 2011)

Obs.: O parágrafo único do artigo 9º supracitado é considerado constitucional tanto pelo STF quanto pelo STJ, embora
o Superior Tribunal Militar - órgão de segunda inatância da Justiça Militar da União - tenha alguns precedentes no
sentido de sua inconstitucionalidade.

STJ: “(...) Com a edição da Lei 9.299/96, que excluiu do rol dos crimes militares os crimes dolosos contra a vida
praticados contra civil, atribuindo à Justiça Comum o julgamento dos referidos delitos, adveio grande controvérsia
jurisprudencial sobre a constitucionalidade da lei. Acerca do tema, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
RE 260.404/MG, em 22/3/01, decidiu pela constitucionalidade do parágrafo único do art. 9º do Código Penal Militar,
introduzido pela Lei 9.299/96. Ademais, a Emenda Constitucional 45/2004, ao alterar o art. 125, § 4º, da
Constituição Federal, dispôs que "Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados,
nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da
patente dos oficiais e da graduação das praças". (STJ, 5ª Turma, HC 102.227/ES, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Dje
19/12/2008).

STJ: “(...) CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZOS MILITAR E COMUM ESTADUAL. CRIME CONTRA A VIDA PRATICADO
POR MILITAR. VÍTIMA PRETENDIDA: MILITAR. SITUAÇÃO: VÍTIMA CIVIL. ABERRATIO ICTUS. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA COMUM. Ainda que tenha ocorrido a aberratio ictus, o militar, na intenção de cometer o crime contra
colega da corporação, outro militar, na verdade, acabou praticando-o contra uma vítima civil, tal fato não afasta a
competência do juízo comum. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo, o suscitado. (STJ, 3ª Seção, CC 27.368/SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 27/11/2000).

STJ: “(...) O policial militar que em serviço troca tiros com foragido da justiça que resiste à ordem de recaptura, age
no exercício de sua função e em atividade de natureza militar, o que evidencia a existência de crime castrense,
ainda que cometido contra vítima civil. Inteligência do art. 9º, inciso II, alínea c, do Código Penal Militar.
Precedentes. Conflito conhecido para declarar a competência da 2ª Auditoria Militar de Porto Alegre, no Estado do
Rio Grande do Sul”. (STJ, 3ª Seção, CC 120.201/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 25/04/2012).

STJ: “(...) CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. CRIME PRATICADO POR MILITAR EM
ATIVIDADE CONTRA MILITAR EM IDÊNTICA SITUAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. Compete à Justiça
Castrense processar e julgar crime praticado por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar
na mesma situação ou assemelhado. (CC 85.607/SP, Rel. Min. OG FERNANDES, DJ 8/9/08) Militar em situação de
atividade quer dizer "da ativa" e não "em serviço", em oposição a militar da reserva ou aposentado. Conheço do
conflito para declarar competente o Juízo de Direito da 3ª Auditoria da Justiça Militar do Estado de São Paulo, ora
suscitado”. (STJ, 3ª Seção, CC 96.330/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 22/04/2009).

STF: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRIME DOLOSO
PRATICADO POR CIVIL CONTRA A VIDA DE MILITAR DA AERONÁUTICA EM SERVIÇO: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
MILITAR PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL: ART. 9º, INC. III, ALÍNEA D, DO CÓDIGO PENAL
MILITAR: CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal é no sentido de ser constitucional o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de militar em
serviço pela justiça castrense, sem a submissão destes crimes ao Tribunal do Júri, nos termos do o art. 9º, inc. III,
"d", do Código Penal Militar. 2. Habeas corpus denegado. (STF, 1ª Turma, HC 91.003/BA, Rel. Min. Cármen Lúcia,
Dje 72 02/08/2007).

STJ: “CONFLITO NEGATIVO DE. COMPETÊNCIA. HOMICÍDIO PRATICADO POR POLICIAL MILITAR CONTRA CIVIL.
NATUREZA JURÍDICA DA DECISÃO QUE DESCLASSIFICA O CRIME DE HOMICÍDIO DOLOSO PARA CULPOSO. NÃO

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INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO POR PARTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE
TRÂNSITO EM JULGADO. DÚVIDA QUANTO À PRESENÇA DE ANIMUS NECANDI NA CONDUTA DO DENUNCIADO.
COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA DEFINIR A TIPIFICAÇÃO A SER DADA AO FATO DESCRITO NA DENÚNCIA.
1. A decisão que, a teor do disposto no art. 410 do Código de Processo Penal, reconhecendo a incompetência do
Tribunal do Júri, remete os autos a vara criminal comum, mesmo não sendo interposto recurso pelo Ministério
Público, não tem caráter vinculante em relação ao magistrado que os recebe, mostrando-se possível a este, dentro
de sua convicção, suscitar o conflito de competência. 2. Conflito conhecido para declarar a competência do Juiz de
Direito da Vara do Júri da Comarca de Ribeirão Preto, em São Paulo, o suscitado. (STJ, 3ª Seção, CC 35.294/SP, Rel.
Min. Paulo Gallotti, DJ 18/04/2005 p. 211).

STF: “(...) A norma do parágrafo único inserido pela Lei nº 9.299/99 no art. 9º do Código Penal redefiniu os crimes
dolosos contra a vida praticados por policiais militares contra civis, até então considerados de natureza militar,
como crimes comuns. Trata-se, entretanto, de redefinição restrita que não alcançou quaisquer outros ilícitos, ainda
que decorrente de desclassificação, os quais permaneceram sob a jurisdição da Justiça Militar, que, sendo de
extração constitucional (art. 125, § 4º, da CF), não pode ser afastada, obviamente, por efeito de conexão e nem,
tampouco, pelas razões de política processual que inspiraram as normas do Código de Processo Penal aplicadas
pelo acórdão recorrido. Recurso provido”. (STF, Pleno, RHC 80.718/RS, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 1º/08/2003).

6. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ELEITORAL.

CF
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos Tribunais, dos juízes de direito e das
juntas eleitorais.

Também é uma competência em razão da matéria, assim como a militar, para o julgamento de crimes eleitorais
previstos no Código Eleitoral e também para aqueles definidos como crimes eleitorais em leis especiais.

Crime eleitoral praticado em conexão ou continência com crime comum de competência da Justiça Estadual -
reconhecida a conexão/continência, haverá a reunião dos processos perante a Justiça Eleitoral.

Crime eleitoral praticado em conexão ou continência com crime comum de competência da Justiça Federal - a
competência desta está prevista na CF e, portanto, é absoluta, não sendo possível sua alteração em função das regras
de conexão/continência. Logo, o crime eleitoral será julgado pela Justiça Eleitoral e o crime comum federal será
julgado pela Justiça Federal.

Da mesma forma, crime eleitoral praticado em conexão com crime doloso contra a vida, o qual encontra previsão
na CF em razão da matéria, também ensejará a separação dos processos. Cuidado, não existe Tribunal do Júri na
Justiça Eleitoral.

STJ: “A simples existência, no Código Eleitoral, de descrição formal de conduta típica não se traduz, incontinenti,
em crime eleitoral, sendo necessário, também, que se configure o conteúdo material de tal crime. Sob o aspecto
material, deve a conduta atentar contra a liberdade de exercício dos direitos políticos, vulnerando a regularidade
do processo eleitoral e a legitimidade da vontade popular. Ou seja, a par da existência do tipo penal eleitoral
específico, faz-se necessária, para sua configuração, a existência de violação do bem jurídico que a norma visa
tutelar, intrinsecamente ligado aos valores referentes à liberdade do exercício do voto, a regularidade do processo
eleitoral e à preservação do modelo democrático. A destruição de título eleitoral da vítima, despida de qualquer
vinculação com pleitos eleitorais e com o intuito, tão somente, de impedir a identificação pessoal, não atrai a
competência da Justiça Eleitoral. (...)” (STJ, 3ª Seção, CC 127.101/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Dje
20/02/2015).

6.1. Conexão entre Crime Eleitoral e Crime Comum.

STJ: “(...) Constatada a existência inequívoca da prática do crime previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal,
consistente no emprego de fraude para a obtenção de benefício previdenciário junto ao INSS, a competência para
processar e julgar o delito é da Justiça Federal. Na eventualidade de ficar caracterizado o crime do art. 299 do Código
Eleitoral, este deverá ser processado e julgado na Justiça Eleitoral, sem interferir no andamento do processo
relacionado ao crime de estelionato,
. porquanto a competência da Justiça Federal está expressamente fixada na
Constituição Federal, não se aplicando, portanto, o critério da especialidade, previsto nos arts. 74, IV, do CPP e 35,

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II, do Código Eleitoral, circunstância que impede a reunião dos processos na Justiça especializada. Conflito
conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 3ª Vara da Seção Judiciária do Mato Grosso, o suscitado,
para processar e julgar o crime previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal, sem prejuízo de ser apurado, em sede
própria, eventual crime eleitoral conexo”. (STJ, 3ª Seção, CC 107.913/MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
24/10/2012, Dje 31/10/2012).

STJ: “(...) A competência criminal da Justiça Eleitoral se restringe ao processo e julgamento dos crimes tipicamente
eleitorais. O crime praticado contra Juiz Eleitoral, ou seja, contra órgão jurisdicional de cunho federal, evidencia o
interesse da União em preservar a própria administração. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo
Federal do Juizado Especial Cível e Criminal da Seção Judiciária do Estado de Rondônia, ora suscitado”. (STJ, 3ª
Seção, CC 45.552/RO, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJU 27/11/1993).

7. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO.

CF/88.
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
(...)
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à
sua jurisdição; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...)

Obs.: Até o advento da EC n. 45/2004, a Justiça do Trabalho não detinha competência no âmbito criminal. Porém, não
é correto asseverar que a CF passou a atribuir-lhe competência criminal genérica para processo e julgamento de ações
penais.

STF: “(...) Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência.
Interpretação conforme dada ao art. 114, incs. I, IV e IX, da CF, acrescidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de
inconstitucionalidade. Liminar deferida com efeito ex tunc. O disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição
da República, acrescidos pela Emenda Constitucional nº 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para
processar e julgar ações penais”. (STF, Pleno, ADI 3.684 MC/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, Dje 72 02/08/2007).

8. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL.

CF/88.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Trata-se de competência estabelecida em função da matéria (ratione materiae), prevista na CF, logo, absoluta.

8.1. Crimes Políticos.

LEI Nº 7.170, DE 14 DE DEZEMBRO DE 1983.


Define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, estabelece seu processo e julgamento e dá
outras providências.

Segundo a doutrina, são dois os pressupostos necessários para caraterização de um crime como politico: previsão na
Lei n. 7.170/83 e ser praticado com motivação política.

Lei n. 7.170/83
Art. 29. Matar qualquer das autoridades referidas no art. 26.
Pena: reclusão, de 15 a 30 anos.
Art. 26. Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do
Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes
. fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação.
Pena: reclusão, de 1 a 4 anos.

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Lei n. 7.170/83
Art. 2º. Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no Código Penal Militar ou em leis
especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação desta Lei:
I – a motivação e os objetivos do agente;
II – a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior.

Art. 30. Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes previstos nesta Lei, com observância das normas
estabelecidas no Código de Processo Penal Militar, no que não colidirem com disposição desta Lei, ressalvada a
competência originária do Supremo Tribunal Federal nos casos previstos na Constituição.
Parágrafo único - A ação penal é pública, promovendo-a o Ministério Público.

Obs.: a outorga de competência à justiça militar para o processo e julgamento dos crimes políticos não foi
recepcionada pela CF.

Recurso Cabível da Sentença em Crime Político.

CF/88.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
(...)
b) o crime político;

Obs.: Compete aos juizes federais processar e julgar crimes políticos; prolatada sentença condenatória, o recurso
cabível é o ROC - Recurso Ordinário Constitucional, a ser julgado pelo STF. Nessa hipótese está o STF funcionando
como verdadeiro tribunal de segunda instância (juizo ad quem).

8.2. Infrações Penais Praticadas em Detrimento de Bens (1), Serviços (2) ou Interesse (3) da União (4) ou de suas
Entidades Autárquicas (5) ou Empresas Públicas (6).

INCRA, INSS E IBAMA são exemplos de autarquias federais, enquanto EBCT, BNDES e CEF são exemplos de empresas
públicas federais.
Para que a conduta esteja sujeita a julgamento perante a Justiça Federal, deve a lesão ser imediata, direta, a um dos
entes relacionados na CF.

Súmula n. 107 do STJ: compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à
autarquia federal.

Súmula n. 42 do STJ: Compete a Justiça comum estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade
de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Petrobrás são exemplos de sociedades de economia mista.

Súmula n. 208 do STJ: Compete a Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a
prestação de contas perante órgão federal.

Obs.: Se prefeito em exercício, a competência para o julgamento será do TRF - foro por prerrogativa de função - ; se
ex-prefeito, Justiça Federal de primeira instância.

Súmula n. 209 do STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.

Obs.: Se prefeito em exercício, a competência para o julgamento será do TJ - foro por prerrogativa de função -; se ex-
prefeito, Justiça Estadual de primeira instância.
.

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Súmula n. 165 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo
trabalhista.

Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral, Justiça Militar da União e Justiça Federal compõem o Poder Judiciário da União.
Assim, um crime de falso testemunho em qualquer uma dessas justiças configura crime contra a administração da
justiça e, em última análise, um crime contra os interesses da União.

Súmula n. 147 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público
federal, quando relacionados com o exercício da função.

Súmula n. 90 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna”
(CANCELADA).

Antigamente, entendia-se que a fauna era um bem da União, por isso a competência para o julgamento dos crimes
era da Justiça Federal. Não obstante, está hoje pacificado que a proteção ao meio ambiente é um dever dirigido a
todos os entes federativos. Assim, o processo e julgamento dos crimes ambientais são, em regra, da competência da
Justiça Comum Estadual, salvo se praticados em detrimento de bens, serviços e interesses da União, ou de suas
autarquias ou empresas públicas. Ex.: pesca do camarão no mar territorial no período do defeso é crime ambiental
cometido em detrimento de bem da União, de competência da Justiça Federal. Ex.: crime ambiental cometido na
Floresta Amazônica, integrante do patrimônio nacional (assim como a Serra do Mar e o Pantanal Matogrossense), é
de competência da Justiça Estadual. Em suma, deve-se verificar o proprietário do bem atingido pelo crime ambiental
para a identificação da competência.

Súmula n. 104 do STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de
documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.

Súmula n. 73 do STJ: A utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de


estelionato, da competência da Justiça Estadual.

O crime de moeda falsa, assim como todo e qualquer crime de falso, demanda que a falsificação seja de boa qualidade.
No entanto, a despeito da falsificação grosseira, se a vítima foi induzida a erro há o crime de estelionato, determinando
a competência da Justiça Estadual para tanto.

Súmula Vinculante n. 36 (STF): Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes
de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro
(CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil”.

Carteira de arrais-amador - habilitação para pilotar embarcações de pequeno porte, como lanchas e jet sky, emitida
pela Marinha do Brasil/Capitania dos Portos. Inicialmemte entendia-se que a competência era da Justiça Militar da
União, a qual tem competência para processar e julgar civis. Porém, o STF tem restringido a competência da Justiça
Militar da União, tendo passado a entender que tal crime atenta contra a União, eis que compete a esta o serviço de
fiscalização naval.

Súmula n. 546 do STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão
da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.

Obs.: Não devem ser confundidos os crimes de falsificação e de uso de documento falso. No crime de falsificação,
deve-se atentar para o órgão expedidor do documento (ex.: diploma do G7 falsificado - competência comum
estadual). Já no crime de uso de documento falso, deve-se verificar em face de quem o documento foi usado (ex.:
falsificação da carteira de habilitação emitida pelo Detran - Justiça Comum Estadual; porém, se apresentada em uma
blitz da policia rodoviária federal, está-se atentando contra interesse da União, sendo a competência da Justiça
Federal.

Súmula n. 62 do STJ: compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho
e Previdência Social, atribuído à empresa privada.
.

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Obs.: Para muitos, este enunciado está ultrapassado desde o advento da Lei n. 9.983/00, a qual alterou o CP
acrecentando os parágrafos 3º e 4º ao artigo 297. A doutrina e a própria jurisprudência do STJ vem entendendo que,
a partir da inclusão desses crimes no CP, a falsa anotação da carteira de trabalho atenta contra interesse do INSS -
autarquia federal - determinando portanto a competência da Justiça Federal. Ver julgado do STJ CC 58.443.

Súmula n. 31 do TFR: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de falsificação ou de uso de
certificado de conclusão de curso de 1º e 2º graus, desde que não se refira a estabelecimento federal de ensino ou
a falsidade não seja de assinatura de funcionário federal.

Súmula n. 192 do STJ: compete ao juízo das execuções penais do Estado a execução das penas impostas a
sentenciados pela Justiça Federal, militar ou eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a
administração estadual.

A competência do juízo da execução é estabelecida de acordo com a natureza do presídio, independentemente do


juízo do processo de conhecimento. Presídio federal: juízo federal. Presídio estadual: juízo estadual.

Súmula n. 38 do STJ: compete à Justiça Estadual comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades.

ATENÇÃO: Justiça Federal de primeira instância não julga contravenções penais, ainda que praticadas contra bens,
serviços ou interesses da União, autarquias ou empresas públicas, ou em conexão com crimes federais. Já os TRFs -
leia-se JUSTIÇA FEDERAL DE SEGUNDA INSTÂNCIA - podem julgar contravenções penais nos casos de competência
por prerrogativa de função. Ex.: contravenção penal praticada por juiz federal.

CF/88.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado
tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

Aqui, para a determinação da competência da Justiça Federal, é necessário o preenchimento de dois requisitos: crime
previsto em tratado ou convenção internacional + internacionalidade territorial do resultado relativamente à
conduta delituosa, ou seja, que iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro,
ou reciprocamente. Ex.: tráfico internacional de drogas.

Prática de pedofilia pela internet tem previsão em tratado ou convenção internacional. Ex.: pessoa em SP envia fotos
para terceiro no RJ, será competente a Justiça Estadual. Diversamente, se essa mesma pessoa de SP publica as fotos
na rede mundial de computadores, ocorre a internacionalidade territorial, pois estará disponível a qualquer pessoa
que acessar a internet, inclusive fora do País, por isso a competência será da Justiça Federal. Anote-se, ainda, que
acerca da competência territorial da pedofilia, os tribunais vêm entendendo que o crime se consuma no local onde as
imagens são publicadas, pouco importanto a localização do provedor.

Súmula n. 528 do STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal
processar e julgar o crime de tráfico internacional.

2) Prática de pedofilia pela internet:

STJ: “(...) O art. 109, V, da Constituição Federal estabelece que compete aos Juízes Federais processar e julgar "os
crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente". Para fixar a competência da Justiça Federal, não basta o
Brasil ser signatário de tratado ou convenção internacional que prevê o combate a atividades criminosas
relacionadas a pedofilia, inclusive por meio da Internet. O crime há de se consumar com a publicação ou divulgação,
ou quaisquer outras ações previstas no tipo penal do art. 241, caput e §§ 1º e 2º, da Lei 8.069/90, na rede mundial
de computadores (Internet), de fotografias ou vídeos de pornografia infantil, dando o agente causa ao resultado da
publicação, legalmente vedada, dentro e fora dos limites do território nacional. Na hipótese dos autos, e pelo que
se apurou, até o presente momento,. o material de conteúdo pornográfico, em análise no apuratório, não
ultrapassou os limites dos estabelecimentos escolares, nem tampouco as fronteiras do Estado brasileiro. Assim,

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não estando evidenciada a transnacionalidade do delito - tendo em vista que a conduta do investigado, a ser
apurada, restringe-se, até agora, à captação e ao armazenamento de vídeos, de conteúdo pornográfico, ou de cenas
de sexo explícito, envolvendo crianças e adolescentes, nos computadores de duas escolas -, a competência, in casu,
é da Justiça Estadual”. (STJ, 3ª Seção, CC 103.011/PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, Dje 22/03/2013).

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