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A vontade de nada em Nietzsche 1

ASCETISMO E A VONTADE
DE NADA EM NIETZSCHE
Por Vinicius Siqueira

O que é a “vontade de nada” em Nietzsche? Como ela


NIETZSCHE

se relaciona com o ressentimento? De certa forma,


Nietzsche responde à filosofia de Schopenhauer
quando formula os caminhos da vontade até chegar
ao nada.

É necessário começar pela terceira dissertação da


Genealogia da Moral, O que significam ideias
ascéticos. O texto revela diversos significados que os
ideais ascéticos podem tomar, as diversas formas que
ele pode ter,

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A vontade de nada em Nietzsche 2

O que significam ideais ascéticos? — Para os


artistas nada, ou coisas demais; para os filósofos e
eruditos, algo como instinto e faro para as
condições propícias a uma elevada espiritualidade;
para as mulheres, no melhor dos casos um encanto
mais de sedução, um quê de morbidezza na carne
bonita, a angelicidade de um belo e gordo animal;
para os fisiologicamente deformados e desgraçados
(a maioria dos mortais) uma tentativa de ver-se
como “bons demais” para este mundo, uma forma
abençoada de libertinagem, sua grande arma no
combate à longa dor e ao tédio; para os sacerdotes,
a característica fé sacerdotal, seu melhor
instrumento de poder, e “suprema” licença de
poder; para os santos, enfim, um pretexto para a
hibernação, sua novissima gloriae cupido
[novíssima cupidez de glória], seu descanso no
nada (“Deus”), sua forma de demência. Porém, no
fato de o ideal ascético haver significado tanto para
o homem se expressa o dado fundamental da
vontade humana, o seu horror vacui [horror ao
vácuo]: ele precisa de um objetivo — e preferirá
ainda querer o nada a nada querer. 1

1
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica. Lelivros,

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A vontade de nada em Nietzsche 3

É importante entender esta última frase que irá


compor, inclusive, o último aforisma da dissertação: o
homem “preferirá ainda querer o nada a nada querer”.
O nada representa algo de última importância, um
faute de mieux (algo como aquilo que está lá pela falta
de algo melhor)2. Ele é a última salvação, é o último
lugar para o qual o querer pode apontar.

O ascetismo, assim, é a maneira de apontar um objeto


para o querer, neste caso, o próprio nada, afinal, para
Nietzsche, não há vida fora do querer: é possível
querer o nada, mas não é possível deixar de querer.
Para indicar como funciona esse querer-nada,
Nietzsche indica três “palavras de pompa” do ideal
ascético, “humildade, pobreza, castidade”3.

O autor revela que é possível assumir as


características acima sem se dedicar ao ideal ascético,

Kindle Edition, locations 1429-39.

2
BRUSOTTI, M. Ressentimento e Vontade de Nada. Cadernos Nietzsche
8, 2000, p. 6.

3
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1631.

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A vontade de nada em Nietzsche 4

é possível simplesmente se dedicar inteiramente a um


objetivo que, por ser grande e importante, pede
dedicação,

observemos de perto as vidas dos grandes espíritos


fecundos e inventivos — todas as três serão
sempre encontradas até certo grau. Não, entende-
se, que sejam talvez “virtudes” suas — que tem essa
espécie de homens a ver com virtudes! — mas as
condições mais próprias e mais naturais de sua
existência melhor, de sua fecundidade mais bela.
Nisto, é bem possível que sua espiritualidade
dominante tivesse primeiramente de pôr freios
num orgulho indomável e suscetível e numa
sensualidade caprichosa, ou que tivesse a custo
mantido sua vontade de “deserto” diante de um
pendor ao luxo e ao rebuscamento.4

Este deserto, por sua vez, é a solidão de poder se


concentrar num objetivo específico e perder-se na

4
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1631-
1637.

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A vontade de nada em Nietzsche 5

irrelevância do restante das coisas, é onde os espíritos


fortes, os homens cultos, precisam se isolar,

Uma obscuridade voluntária, talvez; um evitar a si


mesmo; uma aversão a barulho, veneração, jornais,
influência; um emprego modesto, um cotidiano,
algo que esconda mais do que exponha;
ocasionalmente, contato com bichos e aves
inofensivos e alegres, cuja visão distraia;
montanhas como companhia, mas não mortas, e
sim com olhos (ou seja, lagos); até mesmo um
quarto numa pensão sempre lotada, onde se esteja
seguro de ser confundido com outros, e de poder
falar impunemente com qualquer um — isto é
“deserto”: oh, é solitário o bastante, creiam-me!5

Esta parcela de ascetismo faz parte das condições


propícias para a melhora do homem, se trata de uma
“dura e serena renúncia” que abre caminho para a

5
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1639-
1647.

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A vontade de nada em Nietzsche 6

elevação do espírito6. E é por isso que filósofos o


abraçaram com carinho – como Schopenhauer, que
será exposto mais à frente.

No entanto, este abraço carinhoso não torna o


ascetismo menos contraditório. A vida ascética é
dominada pelo ressentimento, é uma maneira de
utilizar a “força para estancar a fonte da força”, um
desejo de dominar a vida como um todo, não somente
alguns objetos, ou seja, o desejo de dominar a própria
vontade e, a partir disso, se voltar contra o próprio
florescimento fisiológico, quando práticas de
autoflagelo, perda voluntária e autossacrifício trazem
satisfação. O paradoxo da vida ascética é este,
portanto: quanto mais o corpo desvanece, quanto
mais a vitalidade é perdida, maior é o domínio sobre a
vida por completo e, assim, mais triunfante é o
ascetismo7.

6
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1690-
1693.

7
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1797-
1805.

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A vontade de nada em Nietzsche 7

Mas porque o homem se rebaixaria ao ascetismo que


claramente lhe causa a morte, a dor e o sofrimento?
Pela busca do sentido.

Segundo Nietzsche, o homem é um animal doente e


sua doença é a falta de sentido no mundo. Este
sentido, por sua vez, é aquilo que irá dar razão para o
sofrimento. O sentido que o sofrimento adquire, não
obstante, anula o sofrimento causado pela falta de
sentido que ele tinha.

O homem precisa de um sentido, de todo modo,


para poder querer algo e o ideal ascético põe um
fim ao sofrimento pela ausência de sentido. O
homem também precisa de um sentido, para
afirmar o sofrimento como um todo; e todo ideal
suprime o sofrimento sem sentido [...]O sofrimento
torna-se, então, realmente questionável e
insuportável, se ele é desprovido de sentido. O
ideal ascético dá a cada sofrimento um sentido; e
se um sentido é dado a ele, o homem pode até
mesmo querer e procurar o sofrimento [...] Deste
modo, o ideal ascético supera, pura e
simplesmente, as duas formas principais de

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A vontade de nada em Nietzsche 8

sofrimento insuportável – o sofrimento pela


ausência de sentido e a “ausência de sentido do
sofrimento”8

O homem é doente, sofre, o ascetismo é uma


tentativa de cura,

o ideal ascético nasce do instinto de cura e


proteção de uma vida que degenera, a qual busca
manter-se por todos os meios, e luta por sua
existência; indica uma parcial inibição e exaustão
fisiológica, que os instintos de vida mais profundos,
permanecidos intactos, incessantemente
combatem com novos meios e invenções. 9

Assim, o ascetismo é a tentativa do sofredor manter-


se vivo, criando algum significado para o mundo que o
cerca. O ascetismo diz para o sofredor que o
sofrimento é sua vitória, que a morte da vitalidade é o
destino desejável. No entanto, Nietzsche, ao escrever

8
BRUSOTTI, M. Ressentimento e Vontade de Nada... p, 6-7.

9
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1843-
1846.

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A vontade de nada em Nietzsche 9

sobre a vontade de nada, responde diretamente à


Schopenhauer e seu Mundo como Vontade e
Representação.

Vontade e ascetismo em Schopenhauer


Para Schopenhauer, a vontade é a coisa em si de
Kant, a substância dos fenômenos10. Segundo o autor
alemão, a vontade é livre, mas qualquer objeto,
qualquer fenômeno, é determinado por causas e
efeitos.

[A pessoa humana] não é nunca livre. Embora seja


o fenômeno da vontade livre, por isso que é
precisamente um fenômeno já determinado por
esta vontade livre; submetendo-se à forma de todo
objeto, ou seja, ao princípio da razão, ela
desenvolve, é verdade, a unidade da vontade em
ações inumeráveis, mas tal pluralidade de ações

10
SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação.
Rio de Janeiro: dições de Ouro, 19--?. Coleção Universidade, p, 44.

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A vontade de nada em Nietzsche 10

conserva o rigor de uma lei natural, por causa da


unidade extratemporânea desta vontade em si. 11

Para Schopenhauer, assim como Nietzsche, primeiro


há o querer, depois o objeto de desejo. No entanto,
diferente de Nietzsche, o primeiro propõe que a
maneira de alcançar a verdadeira liberdade (ou seja,
fugir do determinismo causado pela vontade, que é
livre, mas que determina nosso conhecimento e nosso
caráter) está na negação da vontade, porém, esta
negação não acontece sem uma percepção diferente
do mundo,

A vida pode ser comparada a um caminho circular,


coberto, salvo poucos espaços livres, de chamas
ardentes, caminho que o homem deve percorrer
sem trégua. O solo frio que, num dado momento,
sente sob os pés, ou que vê próximo, a tal ponto o
garante, que se nutre ainda de ilusões e continua o
caminho. Mas aquele que, por haver penetrado o
princípio da individuação, vê a natureza verdadeira

11
SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação…
p,46.

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A vontade de nada em Nietzsche 11

e o conjunto das coisas, já se não torna acessível a


tais consolações. Ele se vê ao mesmo tempo em
todos os pontos do caminho e prefere abandoná-
lo. A vontade se lhe transforma. No lugar de
afirmar, nega a própria essência da qual o corpo
não é senão reflexo.12

Para se ver em todos os pontos do caminho e preferir


abandoná-lo, sugere Schopenhauer, é necessário fugir
da vontade e sentir indiferença em relação a tudo, é
necessário ter uma vida ascética. “Uma castidade
voluntária e absoluta é o primeiro passo para uma
vida ascética”13. A pobreza com fim em si mesma
também é um passo necessário para a vida ascética, é
essa pobreza que ajuda a mortificar a vontade.

Esta resolução parte do princípio de que é possível


eliminar a vontade (pelo menos em sua maior
expressão, afinal, Schopenhauer admite que a vontade

12
SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação…
p,158.

13
SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação…
p,159.

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A vontade de nada em Nietzsche 12

ainda permanece viva na vida ascética o suficiente


para manter o organismo vivo),

O que eu entendo num significado mais restrito


por ascetismo, palavra que até aqui tenho usado
com frequência, é precisamente o aniquilamento
intencional da vontade, obtido com a renúncia de
tudo quanto agrada, ou com a procura de tudo
aquilo que não agrada, com a prática voluntária de
uma vida de penitência ou de mortificação, com o
fim de suprimir, sem trégua, o querer. 14

A discussão de Nietzsche na Genealogia da Moral


toma como interlocutor Schopenhauer e pretende
desacreditá-lo naquilo que diz sobre o ascetismo e a
vontade.

Ao contrário de Nietzsche, que afirma a possibilidade


de se querer o nada, Schopenhauer compreende que
é possível nada querer. O ascetismo para Nietzsche é
a tentativa do animal doente dar sentido a sua vida,

14
SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação…
p,173.

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A vontade de nada em Nietzsche 13

mesmo que este seja ilusório, já em Schopenhauer, é a


reação esclarecida quando se percebe penetra o
princípio de individuação e o princípio da razão,
quando a vontade é suprimida e a liberdade é
alcançada.

O ponto alto, objetivo central das elucubrações de


Schopenhauer, portanto, é, em Nietzsche, um dos
pontos mais baixos que o homem pode alcançar:
querer o nada para dar um sentido à vida e, assim, não
conseguir valorá-la por si próprio. Isso porque, na
filosofia do primeiro, o nada é a libertação do
sofrimento e única possibilidade de liberdade (já que o
conhecimento não seria mais determinado pela
vontade), enquanto, para o segundo, o asceta se trai
quando deseja a liberdade se aproximando da morte,
da cessação de qualquer satisfação da vontade,
porque o ideal ascético é um movimento de
preservação da vida, uma forma de mantê-la em pé
apesar da fraqueza do indivíduo.

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A vontade de nada em Nietzsche 14

A última vontade do homem


O que é de temer, o que tem efeito mais fatal que
qualquer fatalidade, não é o grande temor, mas o
grande nojo ao homem; e também a grande
compaixão pelo homem. Supondo que esses dois
um dia se casassem, inevitavelmente algo de
monstruoso viria ao mundo, a “última vontade” do
homem, sua vontade do nada, o niilismo15.

O mundo não faz sentido, é dor e sofrimento. Não há


razão para sua existência, não há sentido para que
haja a existência em vez do nada tomar conta de tudo.
Não há sentido claro para se manter vivo e a própria
natureza – que é imoral – mostra o absurdo do
mundo, entende Schopenhauer16. A vontade, que é a
força de impulso para viver, é a única coisa que
mantém as presas e caçadores vivos, pois, caso

15
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1875-
1878.

16
CONSTÂNCIO, João. “A última vontade do homem, a sua vontade do
nada”: pessimismo e niilismo em Nietzsche. Revista Trágica: estudos sobre
Nietzsche – 2º semestre de 2012 – Vol. 5 – nº 2, p.46-70.

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A vontade de nada em Nietzsche 15

pudessem pensar sobre si no mundo, também não


veriam nenhum sentido na existência.

Nietzsche concorda, de fato, a natureza, do ponto de


vista da moralidade cristã, é imoral, no entanto, nem
mesmo a moral é algo absoluto, “quer a ‘verdade’,
quer a ‘moral’ são criações interiores a um mundo
fenomênico que é intrinsecamente enigmático”17. Daí,
vem o primeiro passo para não cair no niilismo
schopenhaueriano. Se a vida não pode ser medida
pela moral, porque a moral é uma criação humana e
não um conjunto absoluto de valores, então não se
pode afirmar que a vida é ruim (ou má) por não
obedecer a critérios morais que humanos criaram.
Nietzsche nega este critério ao dizer que “Toda e
qualquer posição naturalista na moral, isto é, toda e
qualquer moral saudável, é dominada por um instinto

17
CONSTÂNCIO, João. “A última vontade do homem, a sua vontade do
nada”: pessimismo e niilismo em Nietzsche... p.53.

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A vontade de nada em Nietzsche 16

de vida”18. Por sua vez, contraria diretamente


Schopenhauer,

A moral, tal como foi entendida até aqui - como


por fim foi ainda formulada por Schopenhauer,
como "negação da vontade de vida" -, é o próprio
instinto da décadence que se transforma em
imperativo. Ela diz: "Pereça!" ela é o juízo dos que
foram condenados...19

O doente passa a ser o pecador. Assim o cristianismo,


por exemplo, faz o sofrimento ter um sentido na vida.

Sabemos que o mundo ser imoral, em Nietzsche, não


faz diferença para a relação do indivíduo com o
mundo, pois a moralidade é uma invenção e, portanto,
não pode servir de fundamento para se concluir se a
vida vale ou não à pena. Ao mesmo tempo, sabemos
que o moral, o bom, para Nietzsche, é aquilo que

18
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos. Lelivros, Kindle Edition,
locations 280-281.

19
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos... l. 293-297.

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A vontade de nada em Nietzsche 17

corresponde à vida, que dê vazão para a vontade de


potência, esta, o eterno criar do mundo.

A vida ela própria é, para mim, um instinto para o


crescimento, para aduração, para a acumulação de
forças, para [mais] poder [ou mais potência,
Macht]: onde falta a vontade de poder, há declínio
[ou decadência — a palavra aqui é Niedergang]. O
que eu afirmo é que falta a todos os valores mais
elevados da humanidade esta vontade — que os
valores decadentes, os valores niilistas são
dominantes, ainda que sob os nomes mais
sagrados.20

Também entendemos que o ressentimento, a


crueldade introjetada e transformada em culpa, dão
possibilidade para a satisfação metafísica do homem
através do ideal ascético: ele lhe dá sentido, dá
sentido ao seu sofrimento e faz o sofrimento presente
ter um sentido.

20
NIETZSCHE, Friedrich. Anticristo, § 6. Apud CONSTÂNCIO, João. “A
última vontade do homem, a sua vontade do nada”: pessimismo e niilismo
em Nietzsche... p,54.

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A vontade de nada em Nietzsche 18

A vontade de nada, assim, a última vontade do


homem, é a vontade apontada para o nada, para o
ideal ascético, para a realização de si por meio da
negação da vida: a sobrevivência do eu através do
sofrimento, a vitória do ressentimento.

É necessário pormenorizar: a má-consciência,


segundo Nietzsche, surge quando a crueldade não
pode ser descarregada para fora. Ela é introjetada
para dentro, se descarrega para o indivíduo e produz,
assim, sofrimento. Logo em seguida, a consciência
passa a ser formada com a introjeção da crueldade. É
necessário um segundo movimento, o de
exteriorização da consciência da dor, que foi causada
pelo primeiro movimento (de interiorização da dor).
Este segundo movimento é chamado de
ressentimento e utiliza da vontade de potência
movida por forças reativas para valorar21.

Num sistema de interpretação ascético,


ressentimento, crueldade e vontade recebem um

21
BRUSOTTI, M. Ressentimento e Vontade de Nada... p, 21-22.

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A vontade de nada em Nietzsche 19

sentido, um guia para sua existência. Em Nietzsche, a


vontade de nada é uma resolução de um problema
fisiológico (porque diz respeito aos afetos), ela é o
“fracasso do desejo”, parte da decadência do homem.
É o niilismo.

A vontade de nada, sendo assim, aponta para uma


resposta ilusória, a do ideal ascético. A resposta
possível no ideal ascético é o sentido do sofrimento,
portanto, querer o nada é o mesmo que querer a
abdicação do querer para justificar a existência.
Querer o nada é investir na negação, não na
afirmação. É o inverso da moral natural de Nietzsche,
é o inverso da vida, ainda assim, uma afirmação de
que é melhor sobreviver a permanecer doente.

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A vontade de nada em Nietzsche 20

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Edição e revisão do e-book: Vinicius Siqueira

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