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Prezado aluno,
Reitor
Prof. Antonio Joaquim Bastos
Vice-reitora
Profª. Adélia Maria C. M. Pinheiro
Ministério da
Educação
Educação Infantil 1
Volume único - Módulos 1 e 2 Karla Seabra
Sandra Sousa
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Karla Seabra
Sandra Sousa EDITOR ILUSTRAÇÃO
Colaboradoras: Fábio Rapello Alencar Jefferson Caçador
Carla Cristiane Souza da Silveira Huanderson Rocha
REVISÃO TIPOGRÁFICA
Claudia Valeria Nobre Daniela de Souza CAPA
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO Emília Gomes Jefferson Caçador
INSTRUCIONAL COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO PRODUÇÃO GRÁFICA
Cristine Costa Barreto Katy Araújo Verônica Paranhos
SUPERVISÃO DE DESENVOLVIMENTO PROGRAMAÇÃO VISUAL
INSTRUCIONAL
Bianca Lima
Cristiane Brasileiro Carlos Cordeiro
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Márcia Valéria de Almeida
E REVISÃO Sanny Reis
Anna Maria Osborne
Ana Cristina Andrade
AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO
Thaïs de Siervi
Copyright © 2005, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
S438e
Seabra, Karla.
Educação infantil. volume único / Karla Seabra, Sandra Sousa.
– Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.
246p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 978-7648-679-4
1. Educação infantil. 2. Infância. 3. Atendimento à criança no Brasil. 4.
Legislação infanto-juvenil. I. Sousa, Sandra. II. Título.
CDD: 372.21
2010.2/2011.1
Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT e AACR2.
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
1
AULA
Educação Infantil
Karla Seabra
Sandra Sousa
Meta da aula
Apresentar um mapeamento de alguns temas que
serão estudados neste material didático.
objetivos
INTRODUÇÃO Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condi-
cionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais
além dele. Está é a diferença profunda entre o ser condicionado e
o ser determinado (FREIRE, 1999).
8 CEDERJ
MÓDULO 1
de atendimento a ela, as principais mudanças ocorridas, entre outros
1
aspectos relevantes. Você será levado a: compreender o panorama do
AULA
atendimento à infância no Brasil, sobretudo da tutela da criança pobre
pelo Estado nos diferentes períodos históricos; perceber as condutas que
permaneceram em relação à criança pobre, mesmo que, em cada período,
as estratégias tenham sido diferenciadas, e as condutas que realmente
mudaram ao longo dos períodos históricos.
Você também será apresentado à história da creche no Brasil.
Quando e quais foram as finalidades de seu surgimento, que tipos de
crianças atendia. Poderá constatar que a trajetória da creche está direta-
mente relacionada às mudanças do papel da mulher na sociedade e suas
repercussões na estrutura familiar, em especial na educação dos filhos.
Tanto o surgimento quanto as mudanças ocorridas neste tipo de insti-
tuição estão envolvidos em um conjunto de fatores sociais, econômicos,
políticos e culturais. Você perceberá que, historicamente, creche e pré-
escola se constituíram em dois campos diferentes de atuação. Enquanto
a pré-escola, desde o seu início, evidenciou um caráter pedagógico,
de preparação para a escola regular, a história da creche nos aponta que
o assistencialismo foi presença marcante em toda a sua história.
Também faremos um mapeamento da atual legislação destinada
à infância e à Educação Infantil no Brasil. Faremos uma breve apre-
ciação da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (Lei n. 9394/96) no que diz respeito à Educação Infantil.
Ambas asseguraram atendimento público e gratuito em creches e pré-
escolas às crianças de zero a seis anos de idade. Analisaremos também
a lei 11.274 de 2007, que aumentou de 8 (oito) para 9 (nove) anos a
duração do Ensino Fundamental, diminuindo a idade da finalização da
Educação Infantil para 5 (cinco) anos. Refletiremos sobre a condição
da infância na perspectiva de cidadania e de inclusão e apresentaremos
documentos e norteadores legais para a Educação Infantil, tais como:
as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, o Referencial
Nacional para Educação Infantil (RCNEI), os Parâmetros Nacionais
de Qualidade para Educação Infantil e os Parâmetros Básicos de Infra-
estrutura para Instituições de Educação Infantil.
Você será levado a perceber que atualmente as instituições de
Educação Infantil não têm mais a conotação de um simples cuidado com
a criança enquanto a família trabalha. Hoje se preconiza que o cuidar e
CEDERJ 9
Educação Infantil 1 | Confabulações na Educação Infantil
Por que, hoje, se fala em infância e/ou infâncias? Será que di-
ferentes culturas se relacionam da mesma forma com suas crianças?
Você já parou para pensar se os modos como nos relacionamos hoje com
as crianças e o sentimento a elas empreendidos sempre foram ou são os
mesmos? Estaria aí, no modo como nos relacionamos com as crianças,
um sentido de infância enquanto categoria social?
10 CEDERJ
MÓDULO 1
Continuemos com mais questionamentos. Por que hoje, falamos
1
tanto em concepções de infância, vozes das crianças e culturas infantis?
AULA
Será que todas as crianças vivem a infância da mesma forma? Pense...
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Reflita se há desigualdades, preconceitos, se a criança está sendo
adultorizada, se ela é tratada como cidadã de direitos e/ou consu-
midora, se os direitos de crianças e adolescentes estão presentes
na imagem...
CEDERJ 11
Educação Infantil 1 | Confabulações na Educação Infantil
!
Nos dicionários da língua portuguesa, infância é considerada como o período de
crescimento, no ser humano, que vai do nascimento à puberdade. Para o Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei no. 8.069, de 13/7/90) criança é a pessoa até os 12 anos
de idade incompletos e adolescentes aquela entre 12 e os 18 anos. Etimologicamente,
a palavra infância refere-se a limites mais estreitos; oriundo do latim, significa a inca-
pacidade de falar. Essa incapacidade, atribuída em geral ao período que se chama de
primeira infância, às vezes era vista como se estendendo até 7 anos, que representariam
a passagem para a idade da razão. Corsini analisa que a idade cronológica, como fato
biológico, permite inúmeras delimitações para os períodos da vida, sem ser elemento
determinante suficiente para a sua definição. Infância tem um significado genérico e,
como qualquer outra fase da vida, esse significado é função das transformações sociais:
toda sociedade tem seus sistemas de classes de idade e a cada uma delas é associado
um sistema de status e de papel. (KUHLMANN JR, 1998, p. 16)
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MÓDULO 1
Para entender, entretanto, o lugar social que a criança ocupa na
1
sociedade não se pode analisar tais fragmentos de forma isolada.
AULA
Isso porque cada época irá proferir um discurso que revela seus
ideais e expectativas em relação às crianças. A intenção, então, é
revelar as transformações e orientações dos modos de “ser” da
infância ao longo dos tempos (GUARANÁ, 2007).
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Educação Infantil 1 | Confabulações na Educação Infantil
ATIVIDADE
Os Nomes da Criança
14 CEDERJ
MÓDULO 1
1
AULA
carregam uma pequena caixa com chocolates, tentando vendê-los mas sem o
direito de sentir o gosto do que carregam para os outros. Prostituta-infantil já
seria um genérico maldito para uma cultura que sentisse vergonha da realidade
que retrata. Como se não bastasse, ainda tem suas sutis diferenças. Pode ser be-
zerrinha, ninfeta-de-praia, menina-da-noite, menino ou menina-de-programa ou
michê, conforme o local onde faz ponto ou o gosto sexual do freguês que atende.
E tem a palavra menina-paraguai, para indicar crianças que se prostituem por apenas
um real e noventa e nove centavos, o mesmo preço das bugigangas que a globali-
zação trouxe de contrabando, quase sempre daquele país. Ou menina-boneca, de
tão jovem que é quando começa a se prostituir, ou porque seu primeiro pagamento
é para comprar a primeira boneca que nunca ganhou de presente. Delinqüente,
infrator, avião, pivete, trombadinha, menor, pixote: sete palavras para o conjunto
da relação de nossas crianças com o crime. Cada qual com sua maldita sutileza,
conforme o artigo do código penal que lhe cabe, a maneira como aborda suas
vítimas, o crime ao qual se dedica. Podem também, no lugar de crianças, ser boys,
engraxates, meninos-do-lixo, recicladores-infantis, de acordo com o trabalho que
cada uma delas faz. Ainda tem filhos-da-safra, para indicar crianças deixadas para
trás por pais que emigram todos os anos em busca de trabalho nos lugares onde
há empregos para boias-fria, nome que indica também a riqueza cultural do sutil
vocabulário da maldita realidade social brasileira. Ou os pagãos-civis, vivendo sem
registro que lhes indique a cidadania de suas curtas passagens pelo mundo, em
um país que lhes nega não apenas o nome de criança, mas também a existência
legal. Como resumo de todos estes tristes verbetes, há também criança-triste: não
se refere à tristeza que nasce de um brinquedo quebrado, de uma palmada ou re-
primenda recebida, ou mesmo da perda de um ente querido. No Brasil há um tipo
de criança que não apenas fica ou está triste, mas nasce e vive triste – seu primeiro
choro mais parece um lamento pelo futuro que ainda não prevê do que um respiro
no novo ar em que vai viver, quando pela primeira vez o recebe em seus diminutos
pulmões. Criança-triste, substantivo e não adjetivo, como um estado permanente
de vida: esta talvez seja a maior das vergonhas do vocabulário da realidade social
brasileira. Assim como a maior vergonha da realidade política é a falta de tristeza
no coração de nossas autoridades diante da tristeza das crianças brasileiras, com
as sutis diversidades refletidas no vocabulário que indica os nomes da criança.
A sociedade brasileira, em sua maldita apartação, foi obrigada a criar palavras que
distinguem cada criança conforme sua classe, sua função, sua casta, seu crime.
A cultura brasileira, medida pela riqueza de seu vocabulário, enriqueceu perversa-
mente ao aumentar as palavras que indicam criança. Um dia, esta cultura vai se
enriquecer criando nomes para os presidentes, governadores, prefeitos, políticos
em geral que não sofrem, não ficam tristes, não percebem a vergonhosa tragédia
de nosso vocabulário. Quem sabe não será preciso que um dia chegue ao governo
uma das crianças-tristes de hoje, para que o Brasil torne arcaicas as palavras que hoje
enriquecem o triste vocabulário brasileiro e construa um dicionário onde criança...
seja apenas criança (BUARQUE, 2000).
CEDERJ 15
Educação Infantil 1 | Confabulações na Educação Infantil
COMENTÁRIO
Para realizar esta atividade você deverá refletir, a partir do sentido das palavras, a
situação que cada um dos termos remete no seu cotidiano.
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
Para auxiliar em suas reflexões sobre a infância, nada mais adequado do que você
relembrar a sua própria infância. Converse com familiares, resgate fotos e objetos da
sua infância e mergulhe na sua memória para obter informações. Em seguida escreva
um pequeno texto sobre essas lembranças e suas impressões sobre a sua infância.
16 CEDERJ
MÓDULO 1
Realizada esta tarefa você poderá ir adiante comparando a sua infância com a
1
infância que se apresenta ao seu redor. Você pode usar observações feitas de
AULA
crianças que convivem próximo a você ou aproveitar situações que se apresentarem
nos noticiários dos jornais, revista e TV.
COMENTÁRIO
Através desta atividade você poderá refletir sobre a multiplicidade de visões de
infância e a diversidade de vivências de ser criança, partindo da sua infância e o
que você observa na infância ao seu redor.
RESUMO
CEDERJ 17
2
"Roda mundo, roda gigante,
roda moinho, roda pião,
o tempo rodou num instante,
AULA
nas voltas do meu coração"
Sandra Sousa / Colaboradoras:
Carla Cristiane Souza da Silveira e
Claudia Valeria Nobre
Meta da aula
Apresentar os processos de mudança dos
valores, dos padrões sociais e das ciências,
durante o século XX, para ressignificação
das ações educativas na sociedade con-
temporânea.
objetivos
INTRODUÇÃO O que você lembra ao ler o título desta aula? Provavelmente, lembrou-se
da música “Roda Viva” é de Chico Buarque. Será que se recordou de sua
infância? Pensou, ainda, nas experiências que vivenciou quando criança? Vieram
à memória músicas, poesias, histórias, filmes ou, quem sabe, uma conversa
informal, sobre as crianças em diferentes tempos e espaços? Não há duvidas de
que este tema nos remete a muitas lembranças pessoais e coletivas. É comum,
por exemplo, escutarmos frases do tipo: “Antigamente, as crianças pediam a
bênção para os seus pais” ou “Quando eu era criança, eu é que fazia a pipa,
não comprava em papelaria”...
Sob o véu da ingenuidade que vem com a ideia das cantigas de roda e dos
brinquedos infantis, a letra da música de Chico Buarque, “Roda Viva” –
feita para uma peça de mesmo nome, montada em 1968 – é linguagem
figurada para apresentar os mascaramentos da ditadura brasileira, que
encobria os crimes políticos sob o slogan da “ordem” e para “garantia
de tranqüilidade”. A roda-vida, ou melhor, a “roda da morte”, impedia a
liberdade de expressão e a oposição política. Mais informações no site:
http://74.125.47.132/search?q=cache:P5JLRJnCQAQJ:www.tvcultura.
com.br/aloescola/literatura/poesias/chicobuarquedehollanda_rodaviva.
htm+chico+buarque+de+hollanda+letras+RODA+VIVA&cd=1&hl=pt-
BR&ct=clnk&gl=br
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A RODA DO TEMPO
20 CEDERJ
MÓDULO 1
e o nosso contexto, ou seja, ao nos relacionarmos com os “outros”,
2
somos capazes de construir ideias e também de desconstruí-las, somos
AULA
influenciados e influenciamos os outros. Partindo daí, podemos entender
que um mesmo tempo possui vários “agoras”, que se ressignificam e
ganham diferentes sentidos em cada relação estabelecida. Dessa forma,
como seres de linguagem que somos, apreendemos e criamos o mundo
e a nós mesmos. Também somos capazes de reformular concepções
sobre a infância, pensar sobre/com as crianças em diferentes contextos
e reencontrar a criança que há em nós mesmos.
Propomos um desafio! Você é capaz de se lembrar de situações de
crianças em diferentes tempos, sendo influenciadas e influenciando:
A. mudanças na sociedade?
B. diferentes contextos sociais?
C. diferenças culturais?
Tente listá-las:
CEDERJ 21
Educação Infantil 1 | "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num
instante, nas voltas do meu coração"
Foi possível perceber que aquilo que pensamos saber pode ser
alterado a partir de experiências singulares, de diferentes condições
sociais e diferentes épocas etc.?
22 CEDERJ
MÓDULO 1
Também nas Ciências, encontramos exemplo de significati-
2
vas transformações nas ideias, de modo que o que foi um dia tratado
AULA
como “certeza científica”, elaborado segundo os critérios das ciências
modernas, foi superado e alterado, a partir de novas descobertas.
É claro que essas mudanças não acontecem harmonicamente, mas em
meio a embates, em “territórios” de tensão e disputa pelo discurso
científico legítimo, ou seja, diferentes abordagens e enfoques, com seus
compósitos de ideias e abordagens metodológicas, lutam pelo lugar
social que prevalecerá na condução de pensamentos e ações científicas.
As novas descobertas, nas próprias ciências, têm abalado os alicerces que
sustentavam as teorias das ciências modernas (cujo rigor metodológico,
a objetividade e a decomposição do objeto de pesquisa lhes conferiam
o status de certezas). Assim, aqueles que eram conceitos inquestionáveis
foram desconstruídos por novas perspectivas (como, por exemplo, as
pesquisas na Física Quântica), e foram abertas novas possibilidades para
entendermos a nós e aquilo que existe a nossa volta.
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Educação Infantil 1 | "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num
instante, nas voltas do meu coração"
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24 CEDERJ
MÓDULO 1
Agora, já podemos argumentar, tendo por base as próprias
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ciências, que o observador escolhe e dá contornos ao que vê, fazendo
AULA
leituras e interpretações da realidade. Compartilhando esta ideia somos
co construtores da realidade em que vivemos.
Leia o boxe a seguir com trechos de um texto de Rubem Alves.
Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para
uma pedra e vejo uma pedra.” Drummond viu uma pedra e não viu uma
pedra. A pedra que ele viu virou poema.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos
estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos
por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes
de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é
necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam… Mas, quando os
olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de
prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem
fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos.
Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos
brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar
a ver.
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Educação Infantil 1 | "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num
instante, nas voltas do meu coração"
História
Português
Matemática
História
História
História
Português
Matemática
Matemática
26 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADE
2
AULA
Atende ao Objetivo 3
Agora, responda:
Que criticas podem ser feitas ao modelo de escolarização que reduz o aluno a
objeto e o trata como ser passivo, reprodutor da estrutura social?
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RESPOSTA COMENTADA
O aluno deve comentar com suas palavras as citações de Freire
articulando-as com o estudo desta aula. Ele também pode desenvolver
sobre o que Paulo Freire chama “Educação bancária” e, ainda, trazer
outros autores tais como Piaget, Vygotsky, Dewey, Anísio Teixeira.
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Educação Infantil 1 | "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num
instante, nas voltas do meu coração"
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28 CEDERJ
MÓDULO 1
ensinam sobre si: podemos pensar qual é a produção cultural destinada a
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elas, como veem e se relacionam com o mundo, qual é o lugar do adulto
AULA
ao relacionar-se com elas numa formação humanizadora? Precisamos
estudar, ler diferentes perspectivas, observar e escutar o que elas dizem,
precisamos estar abertos a escutá-las e a escutar a nossa criança interior,
a criança que um dia fomos, a criança que reside em nós.
Sabemos que esta não é uma tarefa fácil. Assim como dizemos
que “a criança deve ser vista no seu todo, integrando aspectos físicos,
sociais e psíquicos”, também precisamos buscar conhecer a nós mesmos.
E considerar que somos seres singulares e coletivos, produzidos e
produtores de conhecimento e cultura, vivendo num tempo de transição
de valores e de conhecimentos produzidos na modernidade.
Ao articular teoria e prática (no movimento dialético da práxis) e
ao apreciarmos novas elaborações teóricas com as leituras que fazemos
da realidade, é possível realizarmos nossas capacidades humanas de
criação, construção e participação na coletividade.
Favorecendo uma autorreflexão, é importante que você se perce-
ba na construção de um caminho de formação profissional que implica
também referenciais que influenciam a pessoa que existe no profissional.
Você está fazendo o curso de Pedagogia na modalidade a distância.
Isso é certo! Mas o que lhe trouxe a essa área? Que formação você
possuía antes dessa graduação? Trabalha ou trabalhou com crianças?
O que você procura compreender ao cursar o componente curricular de
educação infantil?
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CONCLUSÃO
Esperamos que após o estudo desta aula você tenha feito uma
revisão de seus conhecimentos, refletindo sobre os processos de mudança
nos valores, nos padrões sociais e nas ciências, durante o século XX.
Para continuar nossa caminhada, a próxima aula buscará que você teça
reflexões sobre as diferentes infâncias na sociedade contemporânea.
CEDERJ 29
Educação Infantil 1 | "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num
instante, nas voltas do meu coração"
ATIVIDADE FINAL
Ouça a música de Chico Buarque “Roda Viva” (1967), disponível no site http:
//vagalume.uol.com.br/chico-buarque/roda-viva.html. Depois, releia as suas
respostas, que entremeiam esta aula, e escreva o que você pensa sobre:
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RESPOSTAS COMENTADAS
a. Há um processo cultural e histórico, que confere para um mesmo tempo histórico,
traços que permitem às experiências serem coletivas e ao mesmo tempo singulares.
A música de Chico Buarque, “Roda Viva”, fala de um momento da história brasileira
em que governos autoritários levavam repressão às diferentes expressões e ideias.
Assim, vemos que o contexto político, econômico e histórico do Brasil, hoje, não é mais
o mesmo daquele em que Chico Buarque compôs a música. Mesmo assim, apesar da
democracia, o povo brasileiro é, por muitas vezes, silenciado. As conjunturas que geram
esse silenciamento são outras... Os quadros com o horário de chegada das mulheres
em casa das mulheres, durante diferentes décadas, apresentam bem as mudanças de
valores e comportamentos perante o conflito social em que as mulheres são protago-
nistas e também sujeitadas na condução de suas vidas.
30 CEDERJ
MÓDULO 1
b. As crianças brasileiras que viveram o período político de 1967 sofreram, por exem-
2
plo, ao verem seus pais sendo presos, com o clima de opressão e mascaramento
AULA
da realidade... As crianças hoje, por exemplo, sofrem com o assédio permanente ao
consumismo e com as longas horas sozinhas enquanto os pais trabalham...
c. Os adultos precisam se reconhecer como responsáveis pela formação das crianças,
reconhecendo também o protagonismo infantil, favorecendo a participação destes como
sujeitos de direitos, em diálogos estabelecidos com a estética da sensibilidade e com
a ética da identidade.
RESUMO
CEDERJ 31
Ser criança significa
3
AULA
ter infância?
Sandra Sousa / Colaboradoras:
Carla Cristiane Souza da Silveira e
Claudia Valeria Nobre
Meta da aula
Contribuir para a formação pedagógica,
por meio de diferentes linguagens,
propondo leituras e reflexões para a
construção de conhecimentos sobre as
infâncias e a sociedade contemporânea.
objetivos
INTRODUÇÃO “Vou rodar pião, vou brincar na areia lá do meu terreiro. Quem chegar
primeiro vai ter seu lugar. Vou cantar ciranda, vou sujar a cara, vou
crescer depressa, vou me agigantar”
(Ciranda – Manuelito)
INFÂNCIAS E TECNOLOGIA
34 CEDERJ
MÓDULO 1
b) “Pedro e as máquinas”
3
AULA
“1ª máquina: Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!
O despertador grita. Pedro estica o braço e, num movimento
rápido, cala a máquina. 6h30. Pedro não entende exatamente
o porquê desses números, mas eles têm um significado preciso;
levanta, põe a roupa do colégio, abre devagar a porta do quarto,
para não acordar sua mãe, e vai até a cozinha...
2ª máquina:
Em cima do armário, a voz monocórdia da repórter comenta as
notícias do dia...
3ª máquina:
...‘Bom dia, filho! Vamos lá! Entre logo no carro, que estamos
atrasados... Já são 7 horas.’
4ª máquina:
O pai liga o ar condicionado, coloca o CD das sonatas de Bach
para escapar à opressão do trânsito da cidade grande...
5ª máquina:
Para Pedro, o engarrafamento tem outro sentido (...)
Tira da mochila o ‘game-boy’ e, freneticamente, começa uma
árdua luta de sobrevivência contra os inimigos de sua telinha”...
(WELIKSON, 1999)
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
CEDERJ 35
Educação Infantil 1 | Ser criança significa ter infância?
e) Que distância e aproximação entre as pessoas esses meios tecnológicos podem viabilizar?
RESPOSTAS COMENTADAS
a) Resposta de cunho pessoal. No entanto, a resposta pode apresentar óticas mais
críticas, apontando para as diferenças sociais, e/ou mais otimistas, trazendo as van-
tagens e facilidades no uso das novas tecnologias de comunicação.
36 CEDERJ
MÓDULO 1
3
e) Resposta de cunho pessoal. As situações apresentadas no início da aula podem
AULA
ser a base para responder a essa questão.
“CRIANÇAS” E “INFÂNCIAS”
CEDERJ 37
Educação Infantil 1 | Ser criança significa ter infância?
Que tal iniciar esse subtítulo com uma dupla parada? Primeiro para
assistir a um filme e em seguida para realizar um exercício. Sugerimos que
você assista ao curta-metragem A invenção da infância, disponível pela
internet no link: http://www.sabertv.com.br/Filme.asp?Cod=672.
Destacamos trechos dos diálogos e as narrações do vídeo para
ajudá-lo enquanto assiste:
A invenção da infância
A infância, como ideia de uma época especial para cada ser hu-
mano, surge no mesmo tempo das grandes descobertas. Já não se
morria tão facilmente e começava a valer a pena o investimento
38 CEDERJ
MÓDULO 1
nesses seres tão frágeis. Para as crianças, inventa-se a infância
3
quando se decide deixá-las brincar, ir à escola, ser criança.
AULA
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
(...)
CEDERJ 39
Educação Infantil 1 | Ser criança significa ter infância?
(...)
(...)
40 CEDERJ
MÓDULO 1
Para Sarmento (2004), a institucionalização da infância como proces-
3
so, fruto da Modernidade, realizou-se pela conjugação de vários fatores:
AULA
1. por meio de instâncias públicas de socialização, especialmente
a Escola de Massas, que o Estado (em meados do século XVIII)
passa a oferecer como “a instituição
educativa da infância”. Essa escola
se configurou com a separação das
crianças como um grupo à parte em
relação à rotina dos adultos, prote-
gidas pelo Estado, com exigências
de aprendizagens segundo um saber
homogeneizado e com uma discipli-
na mental e corporal;
CEDERJ 41
Educação Infantil 1 | Ser criança significa ter infância?
42 CEDERJ
MÓDULO 1
3
O instituto também objetivava difundir cam-
AULA
panhas de vacinação, conhecimentos sobre
doenças infantis e apoiar a criação de institui-
ções com propostas similares. Sua pretensão era
desenvolver um trabalho não só como institui-
ção privada, mas através do Estado Republicano.
Assim, em 1919, foi criado o Departamento da
Criança do Brasil, ampliando esses serviços à
infância brasileira.
Promoveu Congressos Brasileiros de Proteção
à Infância (CBPI), no clima das Exposições Uni-
versais e de acordo com os ideais da Moder-
nidade.
Publicou mais de 300 artigos científicos e três
livros.
Foi membro honorário da Academia Nacional de Medicina (1919) e pre-
sidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (1933).
CEDERJ 43
Educação Infantil 1 | Ser criança significa ter infância?
ATIVIDADE FINAL
Dito isso, leia as perguntas que Galeano faz no livro Ser como eles, apresentando
perguntas relevantes para nossa existência no planeta e sensíveis aos modos como
nos relacionamos no/com o mundo:
Ao retornar ao início da aula, como você pode ter percebido, o título traz uma
pergunta: “Ser criança é ter infância?”. Mais do que admitirmos uma única
resposta, buscamos tecer reflexões que propiciassem sua condição de autoria para
elaboração de suas respostas e perguntas provisórias. Agora, rememorando seu
processo de construção de conhecimentos durante esta aula, escreva:
44 CEDERJ
MÓDULO 1
COMENTÁRIOS
3
a) Do que as crianças precisam para viver felizes? O que é felicidade
AULA
para elas? Todas as crianças do mundo precisam das mesmas coisas?
E nós, adultos, como nos relacionamos com elas buscando uma felici-
dade que transcende as relações de compra e venda e ilusões geradas
pelas grandes corporações?
RESUMO
CEDERJ 45
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA
AULA
sociedades globalizadas
Sandra Sousa / Colaboradoras:
Carla Cristiane Souza da Silveira e
Claudia Valeria Nobre
Meta da aula
Discutir os paradoxos entre
ordenamentos legais, conhecimentos
teóricos complexos sobre as infâncias e,
ao mesmo tempo, os contextos sociais
que negam os direitos das crianças.
objetivos
Pré-requisitos
Para que você encontre maior facilidade
na compreensão desta aula, é importante
o estudo da Aula 3.
Educação Infantil 1 | As infâncias nas sociedades globalizadas
OS NOMES DA CRIANÇA
48 CEDERJ
MÓDULO 1
Quando, seu moço, nasceu meu rebento
4
Não era o momento dele rebentar
AULA
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
(...)
Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
(...)
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo, de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
1. Um dos aspectos que podem surgir com a letra da música “O Meu Guri”
remete à garantia de direitos da criança e do adolescente e ao mesmo
tempo ao paradoxo do contexto de vida do protagonista. Você conhece os
direitos das crianças na sociedade brasileira? Escreva uma situação ou con-
texto social em que as crianças não tenham os seus diretos garantidos. Use
o Estatuto da Criança e do Adolescente para fundamentar sua resposta.
CEDERJ 49
Educação Infantil 1 | As infâncias nas sociedades globalizadas
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou cons-
trangedor.
(...)
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores,
cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais.
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para
a perda ou a suspensão do pátrio poder.
(...)
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimen-
to de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho...
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram
acesso na idade própria;
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, se-
gundo a capacidade de cada um;
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular
importa responsabilidade da autoridade competente.
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
na rede regular de ensino.
(...)
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da
criança e do adolescente.
50 CEDERJ
MÓDULO 1
4
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes,
AULA
diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento.
RESPOSTA COMENTADA
A letra da música “O Meu Guri” por si já retrata cenas com as quais nos deparamos
todos os dias. Como a criança que nasce e não é registrada (uma vez que a própria
mãe também não possui documentos que a identifiquem como cidadã), o artigo 26
do ECA garante o direito ao termo de nascimento, ou em testamento, ou mediante
escritura ou outro documento público. Uma outra situação que pode ser mencionada
é a de crianças de seis a doze anos fora da escola no horário de aula – os artigos
54 e 55 do ECA apresentam a responsabilidade da família e do Estado para que o
direito ao acesso e à permanência na escola se cumpram.
CEDERJ 51
Educação Infantil 1 | As infâncias nas sociedades globalizadas
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
2. Sabemos que esta aula é densa por tratar de assunto tão sério, que dis-
cute a complexidade da sociedade, que por um lado elabora documentos
legais para proteção e garantia de direitos das crianças, e por outro apre-
senta realidades em que as crianças estão inseridas, ainda tão distantes
desses documentos.
Por isso propomos que você leia o trecho escrito por Cristovam Buarque e
escreva sobre como você percebe a realidade concreta das crianças a partir
das designações que você conhece para se referir a elas.
Ainda tem filho-da-safra, para indicar criança deixada para trás por pais
que emigram todos os anos em busca de trabalho, nos lugares onde
há empregos para bóias-frias. Nome que indica, também, a riqueza
cultural do sutil vocabulário da maldita realidade social brasileira. Ainda
o pagão-civil, que vive sem o registro que lhe indique a cidadania de
sua curta passagem pelo mundo. Em um país que lhe nega, não só o
nome de criança, também a existência legal. (...)
RESPOSTA COMENTADA
Flanelinha, pivete, menino de rua... Cristovam Buarque, com um olhar
crítico, instruído, inconformado, nos ajuda a evidenciar como no dia
a dia nos deparamos com um vocabulário repleto de preconceitos
e discriminações. Ele denuncia os diferentes nomes que as crianças
recebem por serem brasileiras e inseridas numa sociedade excludente,
excluídas socialmente e incluídas sob rótulos que revelam uma estru-
tura social classista, que separa as crianças ricas das crianças pobres.
52 CEDERJ
MÓDULO 1
4
Ele nos ajuda a pensar que as crianças se relacionam com fatores
AULA
econômicos, políticos, culturais e históricos, ou seja, ajuda a pensar
nas crianças de forma concreta, em suas reais condições de vida, per-
tencendo a uma determinada classe social, compartilhando em seu
tempo do tempo histórico coletivo e sendo protagonistas.
GLOBALIZAÇÃO E INFÂNCIAS
CEDERJ 53
Educação Infantil 1 | As infâncias nas sociedades globalizadas
54 CEDERJ
MÓDULO 1
A REINSTITUCIONALIZAÇÃO DA INFÂNCIA
4
AULA
Recordando mais uma vez a Aula 3, a institucionalização da
infância se realizou na modernidade com a escola de massas, a reorgani-
zação familiar no cuidado dos filhos, a produção de disciplinas, saberes
e áreas da ciência sobre as crianças e com a administração simbólica
da infância. No entanto, a reinstitucionalização da infância no mundo
contemporâneo se apresenta sucintamente pela globalização social, pela
crise educacional e pelas mutações do mundo do trabalho.
Vejamos mais detalhadamente cada um destes fatores na reinsti-
tucionalização da infância:
a) a globalização social age:
contribuindo para uma homogeneização da infância de forma
contraditória com a difusão de “produtos para a infância” (globalização
hegemônica) e com um “discurso dos direitos” (globalização contra-
hegemônica). Ela também contribui para heterogeneização da infância
pelos efeitos desigualizadores em escala mundial.
b) a crise educacional se exprime:
• pelas mudanças contemporâneas na criação e difusão dos
saberes, que não encontram condições propícias de reelabora-
ção na escola, cuja lentidão no trato dos processos de difusão
da informação é desafiada frente à eficácia das tecnologias
modernas, especialmente a televisão e a internet;
• pelo modelo de socialização relativamente estático da escola, que
diante das rupturas e contradições sociais apresenta condições
pouco favoráveis à integração das diferenças dos alunos, ainda se
fixando em temas como “violência na escola” e “indisciplina”;
• num efeito de instabilização das funções da escola, já que
há a tendência de esta ser uma instituição de acolhimento às
crianças, em vista de ter perdido sua centralidade na constru-
ção de identidades, função que exerceu durante séculos. No
presente, outras instituições e dispositivos externos à escola
agem na formação identitária.
c) as mutações no mundo do trabalho se redefinem:
• pela domiciliação do trabalho (causada principalmente pela
introdução de tecnologias que permitem que no domicílio se
realizem as atividades profissionais);
CEDERJ 55
Educação Infantil 1 | As infâncias nas sociedades globalizadas
56 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADES
4
AULA
Atende aos Objetivos 4 e 5
RESPOSTAS COMENTADAS
3. Primeiramente, é necessário que todos conheçam os direitos das
crianças estabelecidos pela legislação em vigor. Também é importante
ampliar o processo de conscientização sobre esses direitos a todos que
estão à nossa volta, garantindo que sejam respeitados.
CEDERJ 57
Educação Infantil 1 | As infâncias nas sociedades globalizadas
ATIVIDADE
5. Agora, comente sobre esta citação de Sarmento: “A lógica dos direitos das
crianças constitui (...) uma das mais interessantes propostas reabilitadoras
da missão cívica da escola pública” (SARMENTO, 2001, 26).
RESPOSTA COMENTADA
Considerando a globalização da infância e o seu aspecto favorável da
universalização de direitos e criação de organizações para fomentar
sua implementação, a escola, como serviço de utilidade pública, deve
assumir o compromisso de atuar em prol dos direitos da criança e do
adolescente unindo esforços com outras instituições da sociedade civil
e serviços públicos. Dessa forma, a escola age como força contra-he-
gemônica pelos direitos das crianças em seu currículo oficial e real.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
58 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADE FINAL
4
AULA
Atende aos Objetivos 1, 2, 3, 4 e 5
Que tal analisar quatro situações reais que aconteceram com crianças em creches
e pré-escolas? Que artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente seria mais
indicado em cada uma delas, caso seja necessário usá-lo? O que você faria se essas
situações acontecessem com você como professor ou pedagogo trabalhando em
instituição de educação infantil?
II. Uma menina de dois anos tem problemas de saúde e possui cadastro no posto de
saúde de sua área. No entanto, há várias consultas marcadas a que o responsável
não leva a criança, ao ponto de a enfermeira do posto de saúde ligar diretamente
para a creche pública onde a menina está matriculada buscando parceria para
resolver essa situação e dar continuidade ao tratamento iniciado. Que propostas
de ação você encontraria para solucionar o problema?
III. Dois irmãos, um de um ano e meio e outro de quatro anos, frequentam uma
creche pública. A criança de um ano e meio chega à creche algumas vezes enrolada
numa blusa de adulto suja no lugar das fraldas e o irmão mais velho com marcas
de maus-tratos. Que procedimentos a instituição deve tomar?
CEDERJ 59
Educação Infantil 1 | As infâncias nas sociedades globalizadas
COMENTÁRIO
A resposta a esta atividade é de caráter pessoal. Leia a aula com
atenção, pense se você já vivenciou alguma das situações colocadas
e escreva o seu texto.
Seria interessante que você levasse sua atividade ao polo, trocasse
ideias com seus colegas e levasse ao tutor. Tenho certeza de que haverá
um enriquecimento muito útil à sua prática escolar.
Se tiver alguma dúvida, procure ler o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
RESUMO
60 CEDERJ
As infâncias nas
histórias e na vida
5
AULA
Sandra Sousa / Colaboradoras:
Carla Cristiane Souza da Silveira e
Claudia Valeria Nobre
Meta da aula
Apresentar imagens históricas da infância a partir
dos contos populares e da literatura.
objetivos
Pré-requisito
Para melhor compreensão desta aula, é impor-
tante que você releia as Aulas 2, 3 e 4, principal-
mente no que se refere às diferentes infâncias,
marcadas por relações entre adultos e crianças
em que estas últimas são desrespeitadas
em seu tempo de ser criança.
Educação Infantil 1 | As infâncias nas histórias e na vida
INTRODUÇÃO Quem não conhece os belos clássicos da literatura como Branca de Neve e
os Sete Anões, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho? Quem não gosta de uma
boa história que, quando bem contada, nos encanta e nos ajuda a formular
diversos entendimentos sobre o mundo a nossa volta?
Faça um exercício de memória. Relembre os seus momentos ao escutar essas
histórias. Que pessoas as contavam para você? Lembre-se do seu momento
diante dos dilemas que estavam sendo narrados. Você consegue recordar
qual era sua história preferida? Essa preferência se alterou conforme você
foi crescendo? Além dos clássicos, você escutava outras histórias que faziam
parte do repertório do seu meio social? O tempo passa, há diferentes versões
dos contos infantis, mas o contar histórias continua exercendo fascínio nas
pessoas de diferentes idades.
Como ficamos mexidos ao relembrar nosso período de infância! Bem, já es-
tudamos um pouco sobre as compreensões de criança, infância e infâncias.
Contudo, há contribuições na História, como a ciência, que nos possibilitam
chegar a novos entendimentos. Assim, vale resgatarmos algumas contribui-
ções teóricas sobre o assunto para depois irmos mais adiante.
Nesse mais adiante, podemos, por exemplo, ler o “O Pequeno polegar”, para
buscar compreender a imagem da infância que aparece em
sua história. Desse modo, há a possibilidade
de reconfigurar as imagens de in-
fância para redimensionar, em
nosso estar no mundo, as rea-
lidades que cercam as crianças,
favorecendo o diálogo entre
adultos e crianças.
SAUDADES DA INFÂNCIA?
62 CEDERJ
MÓDULO 1
Que amor, que sonhos, que flores,
5
Naquelas tardes fagueiras,
AULA
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.”
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
CEDERJ 63
Educação Infantil 1 | As infâncias nas histórias e na vida
COMENTÁRIO
Na poesia, Manoel de Barros resgata a sua infância presente no adulto. Ele desfaz as
barreiras internas entre o adulto e a criança que reside nele procurando se renovar
em sua própria criança. Ele mostra que a infância está na vida adulta, basta que o
adulto se abra a ela, e se permita imaginar, fantasiar, criar, desconstruir os conceitos
cristalizados pela sociedade e, assim, religar o homem a si, à cultura e à natureza.
64 CEDERJ
MÓDULO 1
o autor dá à não existência do sentimento de infância no A N T I G O R E G I M E ;
5
Considera-se ANTIGO
por ter como foco de análise a especificidade da realidade europeia, que não
AULA
REGIME o período da
pode ser generalizada; pela realidade cultural ser mais complexa e envolver Idade Moderna na
Europa Ocidental, cujo
diferentes infâncias; por haver diferentes classes sociais que coexistem em sistema político era a
monarquia absolutista,
um mesmo tempo e espaço geográfico. numa economia mer-
cantilista, em mudança
De toda forma, ele fornece alguns elementos que nos ajudam a pen-
do feudalismo para o
sar a infância. Vamos conhecer alguns de seus achados na pesquisa? capitalismo. Ao longo
desse período, o poder
estatal deixa de estar
com a classe nobre
e há a ascensão
da burguesia.
A Nova História propõe novos objetos de pesquisa, não apenas a história
política ou o foco na dimensão macro da sociedade, dos grandes fatos. Ela
olha de diferentes ângulos para seu objeto, usa novos métodos e novas
linguagens na escrita da história, permitindo que a historiografia se uti-
lize de uma multiplicidade de documentos como pinturas, fotos, diários,
músicas... Abre-se para o estudo do cotidiano dos “homens comuns”, dos
movimentos sociais, numa perspectiva em que o pesquisador não age
através de uma objetividade total.
CEDERJ 65
Educação Infantil 1 | As infâncias nas histórias e na vida
66 CEDERJ
MÓDULO 1
A IMAGEM DA CRIANÇA ABANDONADA
5
AULA
Vamos a uma síntese com uma das ver-
sões da história de Chapeuzinho Vermelho:
Perrault foi quem escreveu a primeira versão deste conto: ”Capinha Vermelha”. Foi com os Irmãos
Grimm, entretanto, que esse conto se transformou no conto de fadas mais divulgado dentre todos
eles. A história de Perrault possui um adendo que é desconhecido das outras versões. Um pequeno
poema se segue após a avó e a neta terem sido devoradas pelo lobo e esse poema tem uma MORAL
a ser guardada: meninas bonitinhas não devem conversar com quem não conhecem; se o fazem, não
é de se admirar que sejam “devoradas”.
Quanto ao comportamento dos “lobos”, os mais gentis são os mais perigosos, principalmente os que
acompanham as menininhas até ás suas casas. A história de Chapeuzinho Vermelho foi baseada em
uma história muito antiga que chega ao Mito de Cronos, que devorava os seus filhos depois que saíam
da sua barriga, colocando nela, em seus lugares, montes de pedras.
CEDERJ 67
Educação Infantil 1 | As infâncias nas histórias e na vida
A roda dos expostos é um dispositivo com origem medieval e italiana. Feita de madeira com uma parte
giratória, ela ficava no muro ou na janela de um hospital. O bebê abandonado era depositado pelo
lado de fora e, ao girar a roda, ele era introduzido para dentro do hospital.
No Brasil, instalou-se a roda dos expostos nas Santas Casas de Misericórdia. Em princípio, havia quatro
rodas: Salvador (1726), Rio de Janeiro (1738), Recife (1789) e ainda em São Paulo (1825). Mas também
houve rodas menores em outras cidades.
68 CEDERJ
MÓDULO 1
Após a saída de suas irmãs, aparece a fada madrinha, que trans-
5
forma as roupas velhas de Cinderela em luxuosas, oferece-lhe
AULA
sapatos de cristal e transforma a abóbora em carruagem... Porém,
avisa que, à meia-noite, todo o encanto se desfaz. Cinderela vai ao
baile e dança a noite toda com o príncipe. Mas, ao soar a meia-
noite, se apressa para sair da festa, no que acaba deixando para
trás um dos sapatinhos de cristal. O príncipe o guarda consigo e
passa a procurar, por toda a região, a moça cujo pé serviria no
sapatinho. Assim, encontra Cinderela, com quem se casa, e vivem
felizes para sempre.
CEDERJ 69
Educação Infantil 1 | As infâncias nas histórias e na vida
70 CEDERJ
MÓDULO 1
Os contos como “João e Maria” e “O Pequeno Polegar” mostram
5
a imagem de crianças que buscam, a partir de suas próprias experiências,
AULA
dentro de sua história, condições para superação dos problemas.
Procure olhar as crianças de forma a ver as soluções que elas vão
dando aos problemas reais que enfrentam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivos 1 e 2
CEDERJ 71
Educação Infantil 1 | As infâncias nas histórias e na vida
RESPOSTA COMENTADA
1. Rapunzel - Irmãos Grimm
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rapunzel)
Imagem da infância superprotegida, que acaba sendo indefesa frente
aos desafios da vida.
RESUMO
72 CEDERJ
6
AULA
A história do atendimento à
criança no Brasil
Karla Seabra
Meta da aula
Mapear as formas de amparo à criança ao longo
da história do Brasil.
objetivos
74 CEDERJ
MÓDULO 1
Nessa época, foi criada a Santa Casa de Misericórdia, que cuidava,
6
a princípio, dos doentes, mas logo começou a receber crianças que eram
AULA
abandonadas em um dispositivo denominado “roda”, onde quem recebia a
criança não conseguia identificar quem a estava abandonando. A roda dos
expostos legitimava o abandono de crianças, já que era um local público
onde se possibilitava que estas fossem deixadas. No séc. XVIII muitas crian-
ças abandonadas na roda morriam devido à falta de condições mínimas de
higiene e saneamento na Santa Casa. As que conseguiam sobreviver eram
entregues a “criadeiras externas” (mulheres que recebiam uma quantia
do governo para cuidar das crianças) até os nove anos. A partir de então
eram encaminhadas ao trabalho em fazendas ou na Marinha.
CEDERJ 75
Educação Infantil 1 | A história do atendimento à criança no Brasil
76 CEDERJ
MÓDULO 1
6
Em 1919 foi criado o Departamento da Criança no Brasil,
AULA
cuja responsabilidade caberia ao Estado, mas foi mantido
na realidade por doações, que possuía diferentes tarefas:
realizar o histórico sobre a situação da proteção a infância
no Brasil; fomentar iniciativas de amparo à criança e à
mulher grávida pobre; publicar boletins; divulgar conheci-
mentos; promover congressos; concorrer para a aplicação
das leis de amparo à criança; uniformizar as estatísticas
brasileiras sobre mortalidade infantil (disponível em http://
samanthapaiva.blogspot.com).
CEDERJ 77
Educação Infantil 1 | A história do atendimento à criança no Brasil
De 1945 a 1951 Vargas foi senador federal e, após esse mandato, voltou
à presidência pelo voto popular. Em agosto de 1954, sob forte pressão
política e escândalos pessoais, Getúlio Vargas cometeu suicídio.
78 CEDERJ
MÓDULO 1
Depois das pressões vindas de organizações não governamentais
6
(Pastoral do Menor, entre outras), em 1989 surge uma legislação para
AULA
a infância: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A funabem é
extinta e são mais focalizados os direitos da criança e do adolescente ao
invés dos deveres, na medida em que passam a ser vistos como sujeitos
de direitos. Hoje é essa legislação que norteia todas as instituições que
trabalham com crianças, sejam elas infratoras ou não.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
Características
Características novas
mantidas
Descobrimento
do Brasil
Período
Colonial
Brasil
independente
Brasil
República
Ditadura militar
CEDERJ 79
Educação Infantil 1 | A história do atendimento à criança no Brasil
RESPOSTA
Período Características
Características novas
histórico mantidas
Afastamento da convivência
Descobrimento familiar (tutela da criança
–
do Brasil órfã e indígena pela igreja/
Estado)
Tutela da crian-
Instituto para menores infra-
ça órfã pelo
tores;
Estado;
tutela da criança pobre como
Brasil castigos cor-
criminosa;
independente porais;
ensino de ofícios;
alto índice de
escola de aprendizes de
mortalidade
marinheiro.
infantil.
Tutela da crian-
ça órfã e pobre
pelo Estado;
Influência nazifascista;
tutela de crian-
Era Vargas SAM.
ças infratoras
e não infrato-
ras na mesma
instituição.
Tutela da crian-
ça órfã e pobre
pelo Estado;
Funabem;
Ditadura tutela de crian-
preparo para o convívio
militar ças infratoras
social.
e não infrato-
ras na mesma
instituição.
80 CEDERJ
MÓDULO 1
A HISTÓRIA DA CRECHE NO BRASIL
6
AULA
Durante o mapeamento histórico que fizemos na primeira parte
da aula, não nos detivemos em falar das instituições que atendiam às
crianças pequenas no Brasil porque queríamos dedicar um tópico espe-
cialmente para essa discussão. A creche no Brasil surge acompanhando
as modificações do capitalismo, a urbanização em pleno crescimento e
a necessidade de aumento da força de trabalho.
Durante muitos séculos, o cuidado e a educação da criança eram
tarefas familiares, principalmente das mulheres. A criança era conside-
rada um adulto em miniatura e logo que superava a fase de dependência
de necessidades físicas passava a participar das atividades cotidianas dos
adultos e era integrada a esse meio social como um adulto. Apesar do
contexto doméstico ser o mais utilizado para a educação das crianças,
alguns espaços alternativos foram sendo criados ao longo da história
para amparar as crianças em situações desfavoráveis, como é o caso da
“roda”. A responsabilidade por esse acolhimento era realizada em geral
por entidades religiosas e eram sempre permeadas pelas ideias de aban-
dono e pobreza. Essas ideias geraram concepções negativas acerca das
instituições de educação infantil, acentuando sempre um favorecimento
da família como a matriz educativa principal.
CEDERJ 81
Educação Infantil 1 | A história do atendimento à criança no Brasil
82 CEDERJ
MÓDULO 1
O movimento operário nas décadas de 1920 e 1930, liderado prin-
6
cipalmente por imigrantes europeus, reivindicava melhores condições de
AULA
trabalho e locais para o atendimento das crianças durante o horário de
expediente. A necessidade de ajuda nos cuidados com os filhos foi produzi-
da pelo novo sistema econômico industrial, mas não foi reconhecido como
um dever social. Algumas creches próximas às fábricas foram criadas pelos
empresários e usadas nos ajustes das relações de trabalho. Ainda assim,
o discurso existente na época era de um ideal de mulher voltada para a
família e cuidados com os filhos no ambiente doméstico. O atendimento
à criança pequena em creches era de cunho assistencialista, o higienismo
dominava a expectativa de educação de crianças pequenas.
CEDERJ 83
Educação Infantil 1 | A história do atendimento à criança no Brasil
84 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADE
6
AULA
Atende ao Objetivo 2
RESPOSTA COMENTADA
Ao refletir sobre a história da creche no Brasil não podemos deixar
de atrelá-la à inserção da mulher (pobre e imigrante) no merca-
do de trabalho. Na primeira metade do século XX, as demandas
econômicas devidas ao aumento da industrialização, assim como
a necessidade de suprir a mão de obra masculina no período das
grandes guerras, fizeram com que muitas mulheres deixassem seus
lares para entrar no mercado de trabalho, surgindo então a neces-
sidade de um local no qual pudessem deixar seus filhos. As creches
nesse período detinham-se apenas aos cuidados com a criança.
A partir da segunda metade do século XX, gradativamente as mulhe-
res de classe média também começaram a investir em uma carreira
profissional, ao mesmo tempo em que ocorreu uma diminuição dos
espaços para as crianças brincarem devido à especulação imobi-
liária, levando ao surgimento das pré-escolas com uma proposta
de trabalho educativo para as crianças. Gradativamente ao longo
deste século, a família passa a compartilhar a educação dos filhos
pequenos com essas instituições (creche e pré-escola).
CEDERJ 85
Educação Infantil 1 | A história do atendimento à criança no Brasil
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
Como atividade para esta aula podemos sugerir que você faça uma reflexão,
baseada no texto e na sua vivência, sobre as instituições creche e pré-escola. Você
ainda percebe diferenças entre elas? Quais? Faça uma correlação entre os aspectos
levantados por você e os aspectos históricos estudados na aula.
RESPOSTA COMENTADA
Para responder a essa questão, é importante que você reflita baseado
em sua experiência de vida e nos textos. A creche atualmente ainda
cumpre somente o papel assistencial (como durante boa parte de nossa
história) ou já tem um comprometimento efetivo com a educação das
crianças em amplo aspecto? É importante também que você faça uma
86 CEDERJ
MÓDULO 1
comparação com as escolas de educação infantil que não atendem em
6
período integral e tampouco crianças na faixa etária de creche (zero
AULA
até três anos). Pode levar em consideração também as instituições
públicas e privadas. Reflita se existe uma tendência em diferenciar
o tipo de atendimento de acordo com a classe social atendida pela
instituição, como vimos acontecer durante muito tempo. Vale ressaltar
que a sua resposta não poderá ser generalista, como por exemplo: “as
creches particulares valorizam a criança”, mas sim apontar tendências
percebidas por você, contrastando com os aspectos históricos.
RESUMO
CEDERJ 87
7
AULA
Legislação e Educação Infantil
Karla Seabra
Meta da aula
Apresentar a atual legislação destinada à infância
e à Educação Infantil no Brasil.
objetivos
90 CEDERJ
MÓDULO 1
A Educação Infantil passou a ter prioridade de investimento
7
juntamente com o Ensino Fundamental e agora está diretamente ligada
AULA
ao Ministério da Educação. A creche passa a ser subordinada à área de
educação, passa a ser legalmente uma instituição educacional, criando-se,
assim, novas responsabilidades para o sistema escolar.
CEDERJ 91
Educação Infantil 1 | Legislação e Educação Infantil
A Lei 11.274 altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de
20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o Ensino Fun-
damental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade
(retirado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/
Lei/L11274.htm).
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
92 CEDERJ
MÓDULO 1
7
_______________________________________________________________________________
AULA
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Você deverá pontuar que após a Constituição de 1988 e a lei nº 9.394/96 as
crianças pequenas (zero a seis anos) passaram a ter o direito à educação em
instituições públicas. A Educação Infantil passou a ser considerada a primeira fase
da educação básica. Embora as famílias não tenham a obrigação de matricular
seus filhos neste segmento da educação, o governo passou a ter a obrigatorieda-
de do oferecimento de vagas. Com a lei nº 11.274/07, que estabelece o Ensino
Fundamental de nove anos, as famílias passam a ter obrigação de matricular
seus filhos aos seis anos de idade, finalizando a etapa de Educação Infantil aos
cinco anos. É importante que você traga para sua discussão exemplos retirados do
seu cotidiano, de reportagens de revistas, jornais e noticiários, para uma melhor
reflexão sobre o cumprimento dessas leis.
CEDERJ 93
Educação Infantil 1 | Legislação e Educação Infantil
94 CEDERJ
MÓDULO 1
Nessa perspectiva, atribui-se à Educação Infantil um papel impor-
7
tante na concretização da cidadania das crianças, porque, ao proporcio-
AULA
nar experiências de qualidade, a Educação Infantil estará contribuindo
para o exercício da cidadania das crianças.
CEDERJ 95
Educação Infantil 1 | Legislação e Educação Infantil
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
COMENTÁRIO
Você pode trazer para sua reflexão as estratégias que observa ao seu
redor em relação à cidadania e à inclusão: se são oferecidas possi-
bilidades de direito à cultura, ao esporte, ao lazer, por exemplo, com
lonas culturais, quadras esportivas, lugares públicos para as crianças
brincarem. Se existem creches, pré-escolas e escolas que atendam à
demanda da população. Se as crianças e a sociedade conhecem os
direitos das crianças contidos no ECA. Discuta também as estratégias, ou
falta delas, em relação à inclusão social e escolar, não só das crianças
portadoras de alguma deficiência, mas das crianças em geral.
96 CEDERJ
MÓDULO 1
DOCUMENTOS E NORTEADORES LEGAIS PARA
7
O TRABALHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
AULA
Neste momento, faremos uma breve apresentação das Diretrizes
Curriculares Nacionais para Educação Infantil e dos norteadores legais
para o trabalho com esta faixa etária, incluindo o Referencial Curricular
Nacional para Educação Infantil (RCNEI), os Parâmetros Nacionais de
Qualidade para Educação Infantil e os Parâmetros Básicos de Infraes-
trutura para Instituições de Educação Infantil.
É importante que você compreenda a estrutura básica dos mesmos,
principalmente das Diretrizes Curriculares, que são de caráter obrigató-
rio. Os demais não têm o caráter de uso obrigatório nas instituições, mas
são bons norteadores do trabalho e guias de reflexão para o educador.
CEDERJ 97
Educação Infantil 1 | Legislação e Educação Infantil
98 CEDERJ
MÓDULO 1
!
7
O RCNEI apresenta os objetivos gerais da Educação Infantil:
AULA
1. desenvolver uma imagem positiva de si, levando à independência,
confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações;
2. conhecer o próprio corpo, desenvolvendo hábitos de cuidado e
higiene;
3. estabelecer vínculos afetivos, ampliando as possibilidades de interação
social;
4. aprender a articular seus interesses com os demais, respeitando a
diversidade e desenvolvendo a colaboração;
5. perceber-se como agente transformador do meio ambiente, valorizan-
do atitudes para sua conservação;
6. brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e
necessidades;
7. enriquecer sua capacidade expressiva utilizando as diferentes lingua-
gens (corporal, musical, plástica, oral e escrita);
8. conhecer, respeitar e participar de manifestações culturais.
CEDERJ 99
Educação Infantil 1 | Legislação e Educação Infantil
100 C E D E R J
MÓDULO 1
Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de
7
Educação Infantil (2006)
AULA
“Apresentam estudos e parâmetros nacionais relacionados à qua-
lidade dos ambientes das Instituições de Educação Infantil para que estes
se tornem promotores de aventuras, descobertas, desafios, aprendizagem
e facilitem as interações” (MEC).
Também se apresentam em dois volumes:
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 3
RESPOSTA COMENTADA
Tanto as Diretrizes quanto os norteadores são guias importantes para
os educadores porque sugerem orientações pedagógicas, mas dão
autonomia às escolas para planejar e escolher a melhor abordagem
curricular. Também consideram uma nova visão da infância e da
sociedade, buscando integrar o cuidar e o educar na organização
das práticas cotidianas e do próprio espaço físico, valorizando a
qualidade no atendimento à criança. Oferecendo essa possibilidade
C E D E R J 101
Educação Infantil 1 | Legislação e Educação Infantil
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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102 C E D E R J
MÓDULO 1
7
___________________________________________________________________________
AULA
___________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Para responder a esta questão é importante que você pense em
alternativas para garantir o direito à cidadania e à inclusão na Edu-
cação Infantil, garantidos na Constituição de1988, na LDB e no ECA.
Pense também nas estratégias cotidianas para o atendimento das
crianças segundo o RCNEI e os Parâmetros, considerando: a concepção
de infância atualmente; o equilíbrio entre as atividades educativas e
assistenciais; a organização do tempo e do espaço; o brincar; a diver-
sidade; entre outros.
RESUMO
C E D E R J 103
A criança como um coconstrutor
8
AULA
de conhecimento,
identidade e cultura
Sandra Sousa
Meta da aula
Apresentar diferentes entendimentos
sobre as crianças que influenciam práticas
pedagógicas na educação infantil.
objetivos
INTRODUÇÃO Nas aulas anteriores, fomos desvelando olhares sobre o que percebemos
sobre e com as crianças. Continuamos, pois, a buscar compreendê-las, mas
agora dando maior enfoque aos discursos sobre as crianças, percebendo que
estes influenciam os modos como são organizados os espaços, os tempos e
as práticas pedagógicas em instituições dedicadas às infâncias.
Então, perguntamos: que entendimentos sobre as infâncias podem ser ob-
servados em instituições dedicadas às crianças? Que papel têm exercido as
ciências na legitimação de conhecimentos sobre as crianças e que, ao mesmo
tempo, têm influenciado os comportamentos delas? Que entendimentos
sobre/com as crianças temos na contemporaneidade?
106 C E D E R J
MÓDULO 1
a intenção de seu desenho não contemplasse o preenchimento daqueles
8
espaços. Em casa, apesar de a mãe vesti-la de acordo com a temperatura,
AULA
a criança a questiona pelas partes do corpo sem roupas, não importando
o contexto maior que envolve a intenção da mãe ao vesti-la. Pense nessa
situação proposta pelos quadrinhos envolvendo a relação entre adultos
e crianças. O que você pensa sobre esse tipo de prática pedagógica?
Discursos dominantes da modernidade, legitimados pelas Ciências,
têm sido incorporados por profissionais, pesquisadores, pais e influen-
ciam as relações, construindo significados nas instituições dedicadas
à primeira infância. Por exemplo, durante muito tempo a Psicologia
Desenvolvimentista formulou teorias sobre as crianças, dominando o
entendimento sobre a infância e dizendo sobre o comportamento que
os adultos deviam esperar dos pequenos.
Com marcas da Ciência Moderna, concepções e entendimentos
têm sido reformuladas à luz de novas áreas do conhecimento que buscam
contribuir com a relação entre adultos e crianças.
Dahlberg, Moss e Pence (2007) consideram que a infância não é
apenas uma construção social, mas é simultaneamente coconstruída e des-
construída pelas próprias crianças nos seus contextos sociais e culturais.
Esses autores discutem os saberes legitimados sobre a primeira infância em
instituições dedicadas a elas partindo da ideia de que não é possível definir
um “ser criança” numa perspectiva ontológica, como essência, mas sim,
entendimentos, que são posicionados como discursos proferidos. Os autores
destacam cinco entendimentos sobre/com as crianças:
1. a criança como reprodutor de conhecimento, identidade
e cultura;
2. a criança como um inocente, nos Anos Dourados da Vida;
3. a criança pequena como Natureza... ou Científica com Está-
gios Biológicos;
4. a criança como fator de suprimento do mercado de trabalho;
5. a criança como um coconstrutor de conhecimento, identidade
e cultura.
C E D E R J 107
Educação Infantil 1 | A criança como um coconstrutor de conhecimento, identidade e cultura
108 C E D E R J
MÓDULO 1
ATIVIDADE
8
AULA
Atende aos Objetivos 1 e 2
1. Olhe esta sala de educação infantil. O que você percebe sobre o enten-
dimento de criança e a concepção de educação que estão implícitas?
RESPOSTA COMENTADA
A disposição de carteiras individualizadas em que as crianças ficam
enfileiradas reproduz um modelo tradicional da escola de Ensino
Fundamental, deixando pouco espaço para que as crianças inte-
rajam entre si e para que o desenvolvimento e a aprendizagem
aconteçam pela troca, pelo convívio... Também percebemos que
esse modelo valoriza o conhecimento formal, livresco com menos
espaço para o lúdico, para as múltiplas linguagens da criança,
para o afeto e o prazer, para o diálogo e a negociação... A criança
aqui parece ser executora de atividades impostas pelos adultos
com pouco espaço para as expressões de suas singularidades,
desejos, interesses... O conhecimento fica menos articulado à vida
das crianças. Nota-se uma preparação da criança para o ingresso
no Ensino Fundamental, nos moldes tradicionais.
C E D E R J 109
Educação Infantil 1 | A criança como um coconstrutor de conhecimento, identidade e cultura
ATIVIDADE
110 C E D E R J
MÓDULO 1
8
AULA
RESPOSTA COMENTADA
Podemos dizer que Toquinho apresenta nesses versos uma concepção de infância
em que a menina é pura e precisa ser afastada dos males do mundo. Ele está
mais focado no seu próprio entendimento sobre a infância, e sobre a menina, do
que preocupado em observar e escutá-la em seu momento de vida.
C E D E R J 111
Educação Infantil 1 | A criança como um coconstrutor de conhecimento, identidade e cultura
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 3
RESPOSTA COMENTADA
Você, provavelmente, vai encontrar, na sua busca, várias instituições
que têm essa proposta de trabalho. A seguir, colocamos algumas,
como exemplos.
Centro de Educação Infantil Mente Ativa
Creche Coelhinho Inteligente
Creche-Escola Crâninho
Maternal Espaço Lógico
Creche e Pré-escola Pequeno Gênio
112 C E D E R J
MÓDULO 1
A CRIANÇA COMO FATOR DE SUPRIMENTO DO MERCADO
8
DE TRABALHO
AULA
Uma grande pesquisa realizada na União Europeia, em 1993, relatou
que mais de três quartos de todos os entrevistados achavam que as mães
deveriam ficar em casa enquanto as crianças fossem pequenas...
Na verdade, essa é uma construção da maternidade produzida
historicamente em algumas sociedades, que determinam que a mãe
biológica deva exclusivamente proporcionar os cuidados nos primeiros
anos de vida da criança. Entretanto, não há evidências de que as crian-
ças pequenas sofram prejuízos quando o cuidado é compartilhado com
outros adultos.
Desde a década de 1960, a crescente necessidade de mão de obra
e o contexto gerado pelo sistema capitalista proporcionaram uma maior
entrada das mulheres no mercado de trabalho, o que gerou a necessi-
dade de um espaço não materno com cuidados alternativos às crianças
pequenas das mães empregadas. Isso corresponde a um envolvimento
crescente e diverso de provisão e financiamento aos cuidados à primeira
infância em vista do suprimento do mercado de trabalho.
C E D E R J 113
Educação Infantil 1 | A criança como um coconstrutor de conhecimento, identidade e cultura
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
(KUHLMANN, 2002)
RESPOSTA COMENTADA
A função das instituições de educação infantil tratadas na citação de
Kuhlmann (2002) está contextualizada historicamente, destacando
o aspecto de transformação cultural e política com o ingresso da
mulher no mercado de trabalho.
114 C E D E R J
MÓDULO 1
8
Ele ressalta o período em que as creches ultrapassam ser um lugar para atender
AULA
os filhos da classe pobre e se consolidam também como espaço de educação para
as crianças da classe média.
Vemos que no recorte especificado, apesar de as creches ampliarem seu atendi-
mento a diferentes classes, ela ainda está, principalmente, atrelada ao direito da
mulher trabalhadora.
C E D E R J 115
Educação Infantil 1 | A criança como um coconstrutor de conhecimento, identidade e cultura
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
O trecho selecionado em Kuhlmann (1999) tem como início uma
observação acerca das pesquisas recentes sobre a infância e pode-
mos dizer que o novo “paradigma da sociologia da infância”, citado
no item 5 desta aula, tem uma história recente, sendo perioditizada
por alguns autores, como Ângela Borba, principalmente, a partir da
década de 1980.
116 C E D E R J
MÓDULO 1
8
Apesar de os dois textos trazerem diferentes pontos de discussão, os dois convergem
AULA
ao assumirem a importância de tomar a criança como ponto de partida nos projetos
pedagógicos das instituições de Educação Infantil ao perceberem a importância de
adultos e crianças serem coconstrutores de conhecimento, identidade e cultura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
C E D E R J 117
Educação Infantil 1 | A criança como um coconstrutor de conhecimento, identidade e cultura
ATIVIDADE FINAL
COMENTÁRIO
(Resposta de cunho pessoal)
Um discurso de pais e educadores que já escutei em diferentes insti-
tuições de Educação Infantil, inclusive em instituições sob a responsa-
bilidade de diferentes Secretarias Municipais, como a de Assistência
Social e a de Educação, se refere ao direito de as crianças frequentarem
creches e pré-escolas. Muitas pessoas ainda vinculam esse direito,
principalmente, ao direito da mulher trabalhadora. Reporto-me ao
item 4 da aula, a criança como fator de suprimento do mercado de
trabalho. Entretanto, há de se considerar que, em nossa legislação, na
LDB 9.394/96, está explícito que este é um direito da criança, uma
opção da família e o dever de oferta do poder público.
Acredito que cabe aos profissionais que trabalham na Educação Infantil
levar essa discussão a outros atores sociais que interagem no cotidiano
de creches e pré-escolas. Também o poder público deve se preocupar
em atender à demanda com oferta de creches e pré-escolas para que
se concretize esse direito diretamente vinculado às crianças.
118 C E D E R J
MÓDULO 1
8
RESUMO
AULA
Dahlberg, Moss e Pence (2007) consideram que os conhecimentos legitimados
pelas ciências no projeto de modernidade sobre as crianças têm influenciado os
seus comportamentos. Assim, os profissionais que atuam junto à primeira infância
devem conhecer as crianças com as quais trabalham e construir com elas significados
em projetos sociais, culturais, políticos e econômicos, como fóruns públicos da
sociedade civil, com debates e ações políticas.
Eles destacam cinco entendimentos sobre/com as crianças: a criança como
reprodutor de conhecimento, identidade e cultura; a criança como um inocente,
nos Anos Dourados da Vida; a criança pequena como Natureza... ou Científica com
Estágios Biológicos; a criança como fator de suprimento do mercado de trabalho;
e a criança como um coconstrutor de conhecimento, identidade e cultura.
C E D E R J 119
Menino a bico de pena:
9
AULA
a relação entre adultos
e bebês em berçários
Sandra Sousa
Meta da aula
Fornecer aporte teórico para o
trabalho com bebês em berçários.
objetivos
Dá para respirar fundo ao ler Clarice Lispector quando fala desse menino entre
seis meses e um ano em diálogo com sua mãe no espaço de sua casa!
Pois do espaço privado ao coletivo, perguntamos: como perceber a
demanda de bebês em berçários? O que as pesquisas apontam sobre
as interações entre bebês e adultos? Que horizontes de possibilidades
podemos encontrar em experiências narradas no âmbito das pesquisas
recentes em creches e berçários?
122 C E D E R J
MÓDULO 2
A ESCOLHA PELO ATENDIMENTO EM CRECHE
9
AULA
Vamos imaginar um bebê de seis meses no colo de sua mãe. Seus res-
ponsáveis têm importantes escolhas a fazer quanto à criação dessa criança.
Uma dessas escolhas se refere a matriculá-la, sim ou não, em uma creche, e
qual será essa creche. Aqui está em questão a educação que eles querem dar
para a criança e se querem compartilhar essa responsabilidade. Mas para
que haja a parceria de outra instituição além da família, os responsáveis
precisam ter segurança na proposta e no trabalho desenvolvidos pela creche,
assim como confiança nos educadores que vão interagir com seu filho.
Aqui estão alguns dos fatores, que podem surgir isolados ou inte-
grados, presentes nos discurso de responsáveis e que justificam a escolha
por colocar os bebês ou as crianças pequenas na creche:
• a necessidade ou o desejo da mulher em inserir-se no mercado
de trabalho e a possibilidade do auxílio governamental ou de
empregadores;
• a estrutura social da família para que o cuidado da criança
não recaia sobre irmãos, avós e parentes;
• as expectativas dos responsáveis que conferem importân-
cia às atividades educacionais e de socialização à criança
desde pequena;
• e, a estrutura social e econômica que faculte obter cuidados
e oportunidades para a criança.
Geralmente, a decisão por colocar ou não o bebê na creche não é uma
escolha fácil para os responsáveis. E, por vezes, os responsáveis desejam o
atendimento, mas não há a oferta do serviço garantido pelo poder público!
Não existe uma regra! Deve-se sim, analisar as características da criança, o
contexto familiar e social e as opções na qualidade do atendimento. A coerên-
cia na escolha contribui para relações de confiança entre família e instituição,
que implica maior segurança afetiva para o bebê.
E quais os critérios a serem observados para a escolha da creche?
Vejamos alguns deles, de acordo com Rapoport (2008):
• a razão adulto/criança;
• a interação das educadoras com os bebês e os responsáveis;
• a segurança;
• o espaço físico;
• o planejamento da rotina e o currículo;
C E D E R J 123
Educação Infantil 1 | Menino a bico de pena: a relação entre adultos e bebês em berçários
124 C E D E R J
MÓDULO 2
• experimentar e utilizar os recursos de que dispõem para a
9
satisfação de suas necessidades essenciais, expressando seus
AULA
desejos, sentimentos, vontades e desagrados, e agindo com
progressiva autonomia;
• familiarizar-se com a imagem do próprio corpo, conhecendo
progressivamente seus limites, sua unidade e as sensações
que ele produz;
• interessar-se progressivamente pelo cuidado pelo próprio corpo,
executando ações simples relacionadas à saúde e higiene;
• brincar;
• relacionar-se progressivamente com mais crianças, com seus
professores e demais profissionais da instituição, demonstran-
do suas necessidades e interesses;
• identificar progressivamente algumas singularidades das pes-
soas com as quais interage;
• solicitar auxílio em situações em que este se faz necessário;
• interessar-se por brincadeiras e pela exploração de diferentes
brinquedos;
• escolher brinquedos, objetos e espaços para brincar;
• participar e interessar-se por situações que envolvam a relação
com o outro;
• respeitar as regras simples de convívio social;
• identificar situações de risco em seu ambiente;
• expressar e manifestar desconforto com a presença de fezes
e urina nas fraldas;
• interessar-se por desprender-se das fraldas;
• interessar-se por experimentar novos alimentos e por comer
sem ajuda.
C E D E R J 125
Educação Infantil 1 | Menino a bico de pena: a relação entre adultos e bebês em berçários
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
1. Vamos realizar uma atividade! Leia e escreva com suas palavras sobre
a citação de Campos (2009). Lembre-se de que para compor o seu texto,
você pode articular suas ideias às de outros autores que tragam contribui-
ções a essa discussão:
Você chega a uma creche e as crianças estão encostadas, sentadas no
chão, sem falar ou se mexer, e você pergunta para a educadora o que
estão fazendo. A resposta é que estão esperando a hora do lanche, ou do
banho, ou de ir embora, ou de ir para o pátio. Estão sempre esperando. Por
quê? Porque é uma rotina que se limita a higiene, alimentação e sono, não
existe um objetivo que transcenda isso - de aprendizagem, de ampliação
do conhecimento, de socialização, de contato com a natureza.
RESPOSTA COMENTADA
É fundamental que o trabalho em creche seja entendido como
educacional. Mesmo quando é grande o tempo de espera das
crianças e quando as rotinas são empobrecedoras, ou cerceiam
às crianças, dificultando sua autonomia, é importante que se
perceba que se está educando. Esse tipo de educação se faz
para subalternização, ou melhor, para submissão. É claro, que,
quando se defende o espaço da creche como socializador e para
emancipação de sujeitos, não é esse tipo de educação reguladora
e empobrecida que se quer. Colocar as crianças em creches deve
representar a possibilidade de trocas significativas que possibilitem
as múltiplas linguagens das crianças e suas expressões.
126 C E D E R J
MÓDULO 2
QUAL A POLÍTICA PÚBLICA PARA AS CRECHES?
9
AULA
Em pesquisas recentes com educadoras de creches públicas muni-
cipais, que viveram o período entre as Secretarias de Assistência Social
e Educação, encontramos em seus discursos um sentido de valorização
de seu trabalho, uma vez que, em concepção, as creches deixaram de
estar vinculadas à política pública de assistência para ganhar status de
política pública básica, ou seja, educacional.
Entretanto, na relação entre os níveis macro e o microssistemas,
não é possível mudar à força a realidade por meio de decretos, pro-
jetos ou referenciais, sem mudar as condições operacionais concretas
de trabalho. Não existe receita pronta de propostas pedagógicas para
creches, mas existe construção e caminhos a trilhar com a efetiva par-
ticipação de todos.
Uma das lutas que temos enfrentado em defesa das creches diz res-
peito à alocação de recursos orçamentários e financeiros. Estes têm que ser
compatíveis com o número de crianças a serem atendidas. Não basta que
as Secretarias Municipais de Educação recebam as creches para adminis-
trar, elas também precisam receber recursos orçamentários e financeiros
para ampliar o atendimento conforme a demanda de crianças e oferecê-
lo dentro de critérios que atendam às necessidades e potencialidades das
crianças. A garantia dos direitos da criança em creches e berçários requer
a articulação entre diferentes Secretarias, Estado e União.
C E D E R J 127
Educação Infantil 1 | Menino a bico de pena: a relação entre adultos e bebês em berçários
128 C E D E R J
MÓDULO 2
O passeio por esses recortes na história da Educação Infantil pos-
9
sibilita entender que o nosso presente, passado e futuro estão repletos de
AULA
forças e tensões entre diversos setores da sociedade e que, como cidadãos e
educadores, temos o compromisso em dar continuidade a essa história pela
garantia de direitos e na busca pelo diálogo entre adultos e crianças.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
2. Você sabe como está a situação das creches públicas em seu município?
Procure saber junto à Prefeitura de sua cidade, em jornais e internet, notícias
sobre quem administra as creches públicas em seu município. Veja se é
o Estado, o município... Qual ou quais Secretarias têm a responsabilidade
ou estão envolvidas? Depois, escreva um pequeno texto.
RESPOSTA COMENTADA
A prefeitura do Rio de Janeiro, em 14 de setembro de 2001, através
do decreto nº 20.525, veio a transferir (termo usado no decreto) a
responsabilidade do atendimento realizado em creches (0 a 3 anos
e 11 meses), em um processo gradual, durante o período de 2001
a 2003, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social para a
Secretaria Municipal de Educação.
Entretanto, desde 1997, a responsabilidade pelo atendimento às
crianças de 4 a 6 anos já estava no âmbito de competência da
Secretaria Municipal de Educação, instituída pela Resolução Conjunta
SMDS/SME n° 405 de 3 de dezembro de 1997.
C E D E R J 129
Educação Infantil 1 | Menino a bico de pena: a relação entre adultos e bebês em berçários
130 C E D E R J
MÓDULO 2
Procure pensar sobre essa atividade de carimbar as mãos das crian-
9
ças no papel de forma mecânica e automatizada. Como transformá-la
AULA
num momento em que na interação entre adulto e criança se possibilite
a exploração pela criança de diferentes materiais, a percepção de seu
corpo e do corpo do outro e o estímulo a sua curiosidade diante do
mundo, das formas e das cores? Que outras ações na creche podem ser
consideradas pedagógicas?
Outra situação observada em que a ação educativa está mais
focada no adulto e naquilo que ele deseja ensinar para as crianças, com
pouca preocupação em criar espaços para as expressões delas, é a soli-
citação às crianças da imitação de sons ou palavras quando a educadora
apresenta gravuras.
Essas situações trazidas do cotidiano de creches favorecem a dis-
cussão de diferentes práticas pedagógicas para se tornar mais consciente
o trabalho com as crianças pequenas. A partir de observações e registros,
questionamentos e problematizações sobre ações educativas que são,
muitas vezes, banalizadas ou naturalizadas, podemos aguçar o olhar, de
forma a agirmos como sujeitos da práxis pedagógica, num movimento
que busca compreender a si, ao outro, as relações no espaço da educação
infantil, assim como, da educação em todos os níveis e modalidades.
Mas voltemos à pergunta-chave: é possível identificar a demanda
de bebês para o trabalho pedagógico?
Brancarense e Mafra Goulart (2006), em estudo sobre essas de-
mandas, apontam para três aspectos importantes a se considerar:
1. o planejamento do professor mais como um processo que po-
tencializa as ações criativas das crianças do que uma sequência
de atividades para apropriação de noções preestabelecidas
pelos adultos;
2. o uso não convencional dos objetos, cuja combinação de
recursos mostra a capacidade criativa dos seres humanos
desde muito pequenos;
3. as crianças comunicam suas demandas, o que requer dos
professores um estado de alerta para decifrar ações, gestos,
choros, balbucio, olhares.
Essas pesquisadoras destacam na investigação a constante atenção
das educadoras às necessidades das crianças e o esforço por acolhê-las
no berçário.
C E D E R J 131
Educação Infantil 1 | Menino a bico de pena: a relação entre adultos e bebês em berçários
Pesquisas com mães deprimidas ou com depressão pós-parto e bebês, na Universidade de Heidelberg,
na Alemanha, buscam através de filmagens analisar a interação entre mães e bebês de três meses.
As pesquisas revelam que a incapacidade de comunicação das mães deprimidas com seus bebês tem
como consequência o fato de eles olharem menos para elas e mostrarem menos emoções positivas,
apresentando o aprendizado de um comportamento, uma vez que não conseguiram encontrar formas
de atrair a atenção materna.
Os pesquisadores sabem reconhecer se o bebê já “aceitou” a “indiferença” materna. Na experiência, eles
pedem que a mãe fique sentada em frente ao bebê (ele está sentado em cadeira alta e com proteção);
que ela brinque com ele por alguns minutos; depois, que ela fique parada por dois minutos sem mudar a
expressão facial diante dele. Quando o vínculo entre mãe e bebê é intenso, o bebê balança os braços, as
pernas, sorri, resmunga, ou seja, faz de tudo para atrair a atenção da mãe, e se ela demora a responder,
ele protesta! Já os bebês de mães deprimidas ficam quietos e distraídos com os próprios movimentos.
132 C E D E R J
MÓDULO 2
Encantados com as ideias de Bakhtin? Então, vamos a duas situa-
9
ções de interação entre bebês em berçários em que as ações das crianças
AULA
estão coladas às ações das educadoras? Esses relatos de Diário de Campo
se encontram em Sousa (2006):
Uma menina de 1 ano e um mês vai até ele (um bebê de 9 meses),
ri e volta ao seu circuito de passagem pelos brinquedos. Ele se
agita e ri para a menina. A menina de um ano e um mês volta a
ficar perto do bebê de 9 meses. Ela pega uma bola colorida. Ele
se estica no colchão para pegar a bola, quando se aproxima do
objeto, ela tira-o do lugar e ri, depois põe em outro lugar. Ele
novamente se esforça para alcançar o brinquedo. Ela retira a bola
antes que ele a pegue. Os dois riem um para o outro (DIÁRIO
DE CAMPO, 11 de outubro, 2005).
C E D E R J 133
Educação Infantil 1 | Menino a bico de pena: a relação entre adultos e bebês em berçários
134 C E D E R J
MÓDULO 2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
9
AULA
Para buscar compreender as demandas dos bebês em creches, nos
respaldamos em situações analisadas em pesquisas (que se focaram nas
relações entre adultos e crianças). A problematização das ações educativas
no cotidiano de creches e berçários mostrou que em várias atividades a
atuação dos adultos estava mais focada em ensinar as crianças (numa
transposição de um determinado modelo de escolarização) do que atenta
a criar espaços para as expressões delas em múltiplas linguagens. Assim,
o estudo possibilitou entender que as crianças se formam na relação
com o outro, em diálogo com outro em todos os momentos de sua vida,
dentro ou fora da creche, sendo que toda a rotina realizada nessas insti-
tuições consiste em momentos para aprendizagem e desenvolvimento das
crianças, a partir de um planejamento flexível do educador. Há grande
responsabilidade dos educadores que interagem com as crianças, uma vez
que, ao se relacionar, a criança vai transformando em seu o que assimilou
do adulto e dando seu tom, sua singularidade. Os educadores agem em
parceria dialógica com as crianças em movimento responsivo ao darem
continuidade a cada contato, respondendo aos sinais da criança.
A garantia dos direitos da criança para o atendimento em creches
e berçários requer mobilização social de todos aqueles comprometidos
com a educação infantil, a articulação entre diferentes Secretarias, Es-
tado e União. O atendimento às crianças pequenas na educação infantil
requer investimentos que possibilitem a garantia do acesso, conforme a
demanda, e a oferta dentro de critérios que atendam às necessidades e
potencialidades das crianças.
ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 3
O que você pensa ser importante nas ações educativas de educadores, em creches,
para que o trabalho pedagógico com a criança pequena (zero a três anos) seja
respeitoso, atenda suas necessidades e favoreça suas potencialidades? Escreva
um pequeno texto.
C E D E R J 135
Educação Infantil 1 | Menino a bico de pena: a relação entre adultos e bebês em berçários
COMENTÁRIO
(Resposta de cunho pessoal)
É importante que as ações educativas contemplem: a disponibilidade
do educador para o encontro com a criança (para interagir com cada
criança e sua família); a construção de um olhar atento por parte do
adulto para conhecer as características pessoais e o contexto familiar de
cada criança buscando um diálogo, que atenda as suas necessidades e
favoreça as suas potencialidades; capacidade de cuidar de si e do outro;
a busca por práticas abertas às iniciativas comunicacionais das crianças
com a capacidade para dar continuidade aos diálogos estabelecidos;
planejamentos flexíveis; a formação dos educadores (inicial, continuada
e em serviço); articulação entre educadores em fóruns políticos e de
formação; incentivo à investigação sobre a prática pedagógica; a co-
participação de adultos e crianças em práticas sociais e culturais que
contemplem a estética da sensibilidade, a ética e a criatividade como
princípios norteadores para o trabalho pedagógico.
RESUMO
136 C E D E R J
Autores e autoria:
10
AULA
exercício de
produção textual
Sandra Sousa
Meta da aula
Fornecer informações acerca de procedimentos
de leitura e escrita visando à produção textual na
área de Educação Infantil e à socialização
do conhecimento produzido.
objetivos
INTRODUÇÃO Com disposição para produzir? Isso mesmo! Nesta aula, temos como objetivo
fazer emergir sua autoria!
Depois de nove aulas, você já pôde refletir e aprimorar conhecimentos na
área da Educação Infantil. Como uma águia, você sobrevoou o campo,
identificou lugares e focou seu olhar em determinados pontos! Podemos
dizer que você pôde se debruçar na leitura de diferentes autores e discutiu
diferentes ideias!
Agora, nossa proposta é que você pense em um tema de seu interesse na
área da Educação Infantil para aprofundar conhecimentos. Depois, escolha
uma dentre as referências citadas ou procure um texto de sua preferência
para fazer uma leitura analítica. E em seguida, produza um texto expressando
seu posicionamento sobre o tema. Após seu texto estar escrito, você deve
socializá-lo em encontro com a tutoria presencial.
138 C E D E R J
MÓDULO 2
A LEITURA ANALÍTICA DE TEXTOS ACADÊMICOS
10
AULA
Destacamos duas formas de explorar um texto: compreendê-lo
em sua estrutura, estudando-o como texto e, partindo dele, estudar o
assunto que ele traz. Nossa intenção é de lhe orientar para o estudo de
textos acadêmicos cujo foco está num assunto de sua escolha na área
da Educação Infantil.
Para isso, vamos a Severino (2000), citado por Nogueira (2004), divi-
dindo a leitura analítica de um texto (também situada em contexto) em três
fases distintas: análise textual, análise temática e análise interpretativa.
Durante o primeiro movimento de leitura de um texto científico,
faz-se necessário uma análise textual, a fim de que o leitor construa uma
noção do conjunto do texto. Ao terminá-la, os pontos obscuros preci-
sam ser esclarecidos com a eliminação das ambiguidades dos conceitos.
Há como objetivo o entendimento sobre a mensagem que o autor quer
passar. Ao final deste primeiro movimento de aproximação ao texto,
você deve pesquisar as palavras que desconhece e buscar apreender os
conceitos expostos.
Durante o segundo movimento de leitura de um texto científico,
na análise temática, ainda não há intenção de você expor sua criticidade
sobre as ideias do autor. Nessa fase, são feitas diversas perguntas sobre
o texto lido, o que permite a elaboração de um esquema mais rigoroso
e coerente.
Durante o terceiro movimento de leitura de um texto científico, na
análise interpretativa, você se posiciona frente ao texto científico. Pode-se
dizer que nos dois primeiros movimentos de leitura há uma postura de
ouvinte atento e, no terceiro movimento de leitura, há o posicionamento
frente ao texto, através da articulação de diferentes conhecimentos teóri-
cos, científicos e práticos anteriormente ou simultaneamente construídos
e que se entrecruzam com ele. Assim, você pode elaborar sua própria
síntese e contribuir com a discussão da temática presente no texto.
C E D E R J 139
Educação Infantil 1 | Autores e autoria: exercício de produção textual
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
RESPOSTA COMENTADA
Propomos que você registre as respostas se orientando pelos
seguintes pontos:
140 C E D E R J
MÓDULO 2
A PRODUÇÃO TEXTUAL
10
AULA
Para escrever é preciso ter o que dizer. Mais do que simplesmente
cumprir tarefas escolares, na universidade, o aluno deve produzir conhe-
cimentos e isso quer dizer que você ao aprofundar seus conhecimentos
interagindo com autores mais experientes na temática estudada, profes-
sores e colegas, deve dar sua contribuição, marcando o lugar de onde
você fala, apresentando novas ideias e possíveis saídas para problemas
presentes no campo (em nosso caso, a Educação Infantil). Assim, ao
produzir um texto, é importante apresentar sua singularidade. Essa é
uma oportunidade de comunicação em que você revela suas expressões,
visão de mundo e se remete a outros textos que leu e discutiu e que fazem
parte de seu repertório.
Além de ter o que dizer, é importante ter uma razão para dizer. Por
isso, nessa aula, facultamos a escolha de um tema dentro da Educação
Infantil que lhe toque, lhe interesse, lhe mobilize a escrita.
No entanto, é importante durante a escrita de seu texto, que você
tenha cuidado para não repetir “palavras ocas”, ou seja, expressões e
ideias que são muito veiculadas em diversos meios e acabam sendo re-
produzidas sem passarem por um processo reflexivo e crítico. Longe de
desejarmos que você seja um “papagaio de pirata”, o que pretendemos
é que o seu texto se apresente relevante à área, oferecendo seu posicio-
namento, com uma contribuição firme e madura, o que significa também
retomar as ideias de outros autores, mas as ressignificando, sem com
isso estar cometendo plágio. Por isso é importante saber fazer uso das
formas de citação.
Assim, lemos em Barzotto (2004) que, ao escrever um texto, cabe
saber o que escrever, qual o objetivo dessa escrita e para quem se está
escrevendo. Pois, ao escrever e expor seu posicionamento, você deve
considerar uma ordem de ideias, selecionar informações relevantes e, prin-
cipalmente, pensar que ele vai ser lido por alguém. Contudo, seja o leitor
uma pessoa entendida no assunto ou leiga, seu texto deve ser claro, com
a necessidade de informações precisas. Há de se considerar a necessidade
de coesão textual (os elementos linguísticos que estabelecem as relações
de significado na superfície do texto). Essas relações são importantes para
apresentar o texto de forma global, buscando garantir seu entendimento.
C E D E R J 141
Educação Infantil 1 | Autores e autoria: exercício de produção textual
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
142 C E D E R J
MÓDULO 2
10
AULA
Estes são alguns textos acadêmicos na área da Educação Infantil, abordando diferentes
problemáticas, os quais são indicados como referência para que você possa realizar a leitura
analítica. Lembramos que você tem abertura para escolher outra bibliografia, caso ela atenda
melhor às suas questões de interesse.
BRASIL. MEC. Orientações para os nove anos no ensino fundamental e inclusão das crianças
de 6 anos. 2.ed. Brasília, 2006. p. 13-23. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009.
BORBA, Angela Meyer. A brincadeira como experiência de cultura na educação infantil.
Revista Criança: do professor de educação infantil, n. 44, p. 12-14, 2007.
COLASANTO, Cristina Aparecida. Relatório de Avaliação na Educação Infantil: um estudo
sobre a linguagem argumentativa. Educação: Teoria e Prática, v. 15, n. 27, p. 153-163,
jul.-dez. 2006. Disponível em: <http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/educacao/article/
viewFile/701/609>. Acesso em: 11 nov. 2009.
COUTINHO, Ângela Scalabrin; ROCHA, Eloisa Acires Candal. Bases curriculares para educa-
ção infantil? ou isto ou aquilo. Revista Criança: do professor de educação infantil, n. 43, p.
10-11, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/revista43.
pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009.
DIAS, Lara Simone. Qualidade na educação da primeira infância: perspectivas pós-modernas.
Educação & Sociedade, Campinas, v. 25, n. 86, abr. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302004000100014&lng=&nrm=iso&tlng=>.
Acesso em: 11 nov. 2009.
DELGADO, Ana Cristina Coll. Culturas infantis, tensões e negociações entre adultos e crianças
numa creche domiciliar. Currículo sem Fronteiras, v. 6, n. 1, p. 82-102, jan./jun. 2006 Dispo-
nível em: <http://www.curriculosemfronteiras.org/vol6iss1articles/delgado.pdf>. Acesso em:
11 nov. 2009.
DELGADO, Ana Cristina Coll. Infâncias e crianças: o que nós adultos sabemos sobre elas?
Centro de Documentação e informações sobre a criança. Seção: Textos de Trabalho, v. 1, p.
1-9, 2004. Disponível em: <http://cedic.iec.uminho.pt/Textos_de_Trabalho/textos/infancias_e_
criancas.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009.
DORNELLES, Leni Vieira. O brinquedo e a produção do sujeito infantil. Disponível em: <http://
cedic.iec.uminho.pt/Textos_de_Trabalho/textos/obrinquedo.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009.
FILHO, Aristeu Leite. Rumos da Educação Infantil no Brasil. Teias, Rio de Janeiro, ano 6, n 11-12,
jan/dez, 2005. Disponível em: <http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php?journal=rev
istateias&page=article&op=viewFile&path[]=148&path[]=146>. Acesso em: 11 nov. 2009.
GUIMARÃES, Daniela. Entre a instrução e o diálogo: a construção da identidade educacio-
nal das creches. REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 29., Caxambu, 2006. Disponível em: <http://
www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabalho/GT07-2328--Res.pdf>. Acesso em: 11
nov. 2009.
HORN, Maria da Graça Souza. A organização dos espaços na Escola Infantil. Disponível em:
<http://www.undimepr.org.br/adm/arquivos/4ae23b766d.pdf>.
LEITE, Maria Isabel. Livros de artes para crianças: um desafio na apropriação de imagens e
ampliação de olhares. Teias, Rio de Janeiro, ano 6, n. 11-12, jan/dez. 2005. Disponível em:
<http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php?journal=revistateias&page=article&op=v
iewFile&path[]=159&path[]=156>. Acesso em: 11 nov. 2009.
Kishimoto, Tizuko Morchida; ONO, Andreia Tiemi. Brinquedo, gênero e educação na brin-
quedoteca. Pro-posições, v. 19, n. 3, set./dez. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
pp/v19n3/v19n3a11.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009.
KUHLMANN, Moisés. Trajetórias das Concepções de Educação Infantil. Disponível em: <http://
www.omep.org.br/artigos/palestras/05.pdf>.
C E D E R J 143
Educação Infantil 1 | Autores e autoria: exercício de produção textual
MUSATTI, Túllia. Programas educacionais para a pequena infância na Itália. Revista Brasilei-
ra de Educação, n. 24, set-dez, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n24/
n24a06.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2009.
SAMPAIO, Carmen Sanches. A presença de uma aluna surda em uma turma de ouvintes: possibi-
lidade de (re)pensar a mesmidade e a diferença no cotidiano escolar. Revista de Educação Espe-
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sanches&cd=103&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 11 nov. 2009.
SILVA, Ana Paula Soares e ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde. Desafios Atuais da Educação
Infantil e da Qualificação de seus Profissionais: Onde o Discurso e a Prática se Encontram?
REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 23, Caxambu, 2000. Disponível em: <http://168.96.200.17/ar/
libros/anped/0707T.PDF>. Acesso em: 11 nov. 2009.
TIRIBA, Léa. O trabalho de educação infantil. Disponível em: <http://www.redenoarsa.com.
br/downloads/Lea%20Tiriba%20-%20O%20TRABALHO%20DE%20EDUCA%C7%C3O%20
INFANTIL.pdf>.
______. Na escola, o corpo silenciado. Disponível em: <http://www.redenoarsa.com.br/down-
loads/Lea%20Tiriba%20-%20CORPO%20SILENCIADO.pdf>.
RESPOSTA COMENTADA
Algumas dicas para esta atividade. Procure observar:
- se colocou o título em seu texto;
- se colocou todas as informações necessárias para que o leitor
compreenda o que você pretende;
- se os elementos da superfície textual estão bem relacionados;
- se você manteve uma boa relação entre as frases, de modo
que uma frase facilite a compreensão da outra.
- se não esqueceu de colocar ao final do seu texto a referência
bibliográfica com os autores citados.
144 C E D E R J
MÓDULO 2
PROCURANDO UM LEITOR INTERESSADO
10
AULA
Como os textos são escritos para serem lidos por alguém, será
necessário eleger uma pessoa que se mostre um leitor interessante e pedir
a ela que leia o que você escreveu, estabelecendo uma troca de textos.
Assim, você também será um leitor interessado em um texto produzido
por outra pessoa. Entenda-se como leitor interessado aquele que lê e tem
o que dizer sobre o que leu, fazendo sugestões sobre os aspectos formais
do texto ou críticas sobre o conteúdo ou a perspectiva adotada.
ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 3
Em encontro agendado com a tutoria presencial no polo, leve seu texto para ser lido
por um colega. Recomendamos que a dinâmica proposta pelo tutor contemple que
cada aluno participante possa falar um pouco do seu texto antes de se estabelecer
o leitor interessado para cada um dos textos. Esta atividade pode acontecer em
um ou dois encontros no polo, conforme combinado pela tutoria. O que importa
é que cada aluno(a) tenha o tempo necessário para ler o texto do outro colega e
apresentar seu olhar sobre o que foi lido.
C E D E R J 145
Educação Infantil 1 | Autores e autoria: exercício de produção textual
RESPOSTA COMENTADA
É necessário que você perceba a importância desta atividade e a
faça no seu todo. A troca de experiências, de vivências, é extrema-
mente importante para que você tenha sucesso no seu trabalho de
professor(a). Portanto, não deixe de realizá-la. Você verá como será
rica a sua experiência.
RESUMO
146 C E D E R J
Mundo pequeno inserido
11
AULA
em um mundo maior
Sandra Sousa
Meta da aula
Problematizar os lugares destinados às crianças
na contemporaneidade.
objetivos
148 CEDERJ
MÓDULO 2
Portanto, nesta aula, vamos refletir sobre as infâncias em alguns espaços onde
11
elas vêm sendo vividas, especialmente nos centros urbanos (um “cantinho da
AULA
criança” num shopping center e no contexto de um parquinho público).
CANTEIRO DE CONSTRUÇÃO
CEDERJ149
Educação Infantil 1 | Mundo pequeno inserido em um mundo maior
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
150 CEDERJ
MÓDULO 2
11
__________________________________________________________________
AULA
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
_________________________________________________________________
COMENTÁRIO
É importante que você observe cada um desses lugares, proble-
matizando-os, observando, por exemplo, as diferentes lógicas que
envolvem brincar na rua ou no play e brincar em “cantinhos das
crianças”, espaços recreativos que se apresentam como serviços
que concentram as crianças enquanto os adultos realizam outras
atividades.
Considerar a infância em todas as suas dimensões requer pensar
os diversos espaços sociais em que as crianças estão inseridas, as
atividades em que estão envolvidas, os locais de encontros com
outras crianças, os grupos sociais aos quais pertencem.
CEDERJ151
Educação Infantil 1 | Mundo pequeno inserido em um mundo maior
152 CEDERJ
MÓDULO 2
11
A escolha dos espaços revela o que pensamos sobre criança e
sobre a educação que pretendemos oferecer a ela. Fica claro, na situação
AULA
observada e relatada por Barbosa, que o brinquedo em questão conduz
mais à repetição e à mesmice, se distanciando das necessidades da criança
de fantasia e imaginação. Pense: será que esse pai, ao seguir sua lógica
sobre o que é brincar, não deixou de escutar o que a criança lhe dizia?
Muitos espaços já estão tão prontos e assim acabam por desconsi-
derar o principal: que brincar é imaginar, criar, criar cultura. É no brincar
que as crianças vão dando soluções aos seus problemas e construindo sua
singularidade e identidade, fazendo sua história dentro de uma história
maior que abarca a coletividade. Por isso:
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
CEDERJ153
Educação Infantil 1 | Mundo pequeno inserido em um mundo maior
COMENTÁRIO
Oriente-se por esse pensamento de Paulo Freire: como posso pensar
para o outro ou sem o outro, senão com o outro?
154 CEDERJ
MÓDULO 2
11
os favoritos das crianças são o balanço, o escorrega, a gangorra e o
trepa-trepa.
AULA
As falas das crianças apontam para o aspecto importante da
brincadeira e como a praça é um local de relação com seus responsáveis
e com outras crianças na vida na cidade. Outro aspecto importante se
refere aos seus deslocamentos serem realizados conforme as possibili-
dades que o espaço oferece. Também apontam sobre o curto e preciso
tempo de brincar.
Como analisa Nascimento (2009), as crianças entrevistadas pre-
ferem os brinquedos em que elas podem dirigir as brincadeiras inventi-
vamente, assim como aqueles que propõem o encontro com seus pares
e proporcionam relações.
As crianças percebem a dinâmica da praça e demonstram sentirem-
se excluídas, por muitas vezes, do desfrute do que há nela. “Elas querem
que a prefeitura coloque mais brinquedos e reclamam da fila que é
formada para utilizá-los no final de semana.”A fala dos adultos refere-se
ao espaço de o cercado ficar muito cheio no fim de semana, não atendendo
às necessidades das crianças.
CEDERJ155
Educação Infantil 1 | Mundo pequeno inserido em um mundo maior
156 CEDERJ
MÓDULO 2
11
ATIVIDADE
AULA
Atende aos Objetivos 1 e 2
COMENTÁRIO
Para realizar o mapeamento dos espaços que as crianças frequen-
tam, você pode pesquisar no site de sua prefeitura os lugares,
parques, eventos culturais etc. da cidade. O jornal também é uma
excelente fonte de informações. Outra opção é consultar a Secretaria
Municipal de Cultura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CEDERJ157
Educação Infantil 1 | Mundo pequeno inserido em um mundo maior
ATIVIDADE FINAL
Converse com crianças com idades e vivências culturais diferentes e descubra com
elas onde, como e quando gostam de brincar, encontrar seus pares, estar com
seus familiares... Exercite a capacidade de traduzir tais desejos num ambiente
capaz de garantir um espaço público que contemple a diversidade de questões
apresentadas pelas crianças. Comente o que difere dos espaços que já existem
na sua cidade e caso perceba diferenças entre o desejo das crianças e a realidade
(im)posta, tente buscar pontes que diminuiriam tal distanciamento.
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COMENTÁRIO
Você é o observador que irá relatar uma situação real em que crianças interagem
e criam o ambiente em que brincam. Também terá a oportunidade de exercitar
soluções na cidade de espaços coletivos e públicos que ofereçam serviços mais
abertos às ações das crianças.
158 CEDERJ
MÓDULO 2
11
RESUMO
AULA
Tratar as infâncias de forma integral significa pensar os diversos espaços sociais em
que estão inseridas, suas brincadeiras e grupos sociais aos quais pertencem.
Nessa aula, focamos o estudo em duas pesquisas que tratam das crianças em
espaços na cidade e trazem a fala das crianças em diálogo para suas conclusões.
A primeira se debruça a pensar os “cantinhos das crianças” e as possibilidades
de ação das crianças nesses espaços. A segunda traz uma pracinha pública que é
privatizada, nos fins de semana. As crianças brincam e formam sua singularidade
nesse brincar. O ato de brincar é mais do que o brinquedo.
CEDERJ159
O cuidar e o educar
12
AULA
e as rotinas na
Educação Infantil
Karla Seabra
Meta da aula
Mapear as rotinas nas instituições de Educação
Infantil considerando a indissociabilidade entre o
cuidar e o educar.
objetivos
INTRODUÇÃO Durante nossas aulas sobre a história da infância, você deve ter compreen-
dido que historicamente creche e pré-escola se constituíram em dois campos
diferentes de atuação. Enquanto a pré-escola desde a sua origem evidenciou
um caráter educacional, de preparação para a escola regular, a trajetória da
creche nos mostra que o assistencialismo foi presença marcante em toda a
sua história.
Durante as aulas sobre políticas para a infância foi apresentado que o novo
ordenamento constitucional e legal brasileiro atribui às crianças direitos de
cidadania, definindo que sua proteção integral deve ser assegurada pela
família, pela sociedade e pelo poder público, com absoluta prioridade.
A partir dessas aulas, você deve ter percebido que os debates atuais apontam
para uma necessidade crescente de que as instituições de educação infantil
incorporem de forma integrada o binômio cuidar/educar em suas práticas
cotidianas, e este será o foco desta aula.
162 CEDERJ
MÓDULO 2
312
ligadas estritamente ao ato do cuidado são de extrema importância
e que este ato não pode pretender-se desvinculado do processo de
AULA
desenvolvimento, embora esta desvinculação tenha prevalecido
(e ainda prevaleça) na concepção de atendimento às crianças em
muitas creches e escolas de educação infantil, por décadas.
CEDERJ 163
Educação Infantil 1 | O cuidar e o educar e as rotinas na Educação Infantil
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
164 CEDERJ
MÓDULO 2
312
AULA
_________________________________________________________________
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_________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Você poderá listar diversas atividades cotidianas, como por exemplo,
momento de chegada das crianças; brincadeiras livres ou dirigidas;
troca de fraldas; atividades de psicomotricidade ou com diversas téc-
nicas de artes; sono; utilização do vaso sanitário; contação de histórias;
alimentação; banho; entre outras. O importante é você refletir como o
cuidar e o educar se apresentam nelas, por exemplo, na hora do banho
estamos cuidado fisicamente da higiene e bem-estar da criança ao
mesmo tempo que devemos ter uma preocupação em educá-la para
que gradativamente tenha autonomia neste momento e reconheça
a importância desse cuidado para a sua saúde, além de podermos
aproveitar para ensinar as diferentes partes do corpo, por exemplo.
ROTINA pode ser pensada como a estruturação do trabalho coti- "As ROTINAS são cria-
diano na instituição de Educação Infantil e pode receber nomenclaturas das a partir de uma se-
quência de atos ou de
variadas, tais como: rotina, horário, grade de horário, plano diário, entre um conjunto de pro-
cedimentos associados
outros. Quando nos referimos a uma rotina estamos implicitamente que não devem sair da
sua ordem; portanto,
dando a ideia de tempo e espaço, já que nos referimos a acontecimentos
as rotinas têm um
que ocorrem com uma sequência e frequência determinada, geralmente caráter normatizador"
(BARBOSA, 2006).
ligados a hábitos cotidianos e tradições.
CEDERJ 165
Educação Infantil 1 | O cuidar e o educar e as rotinas na Educação Infantil
a) Alimentação
166 CEDERJ
MÓDULO 2
312
Gradativamente, geralmente a partir de um ano de idade, podemos
começar a alimentar a criança em pequenos grupos, introduzindo aos
AULA
poucos uma autonomia alimentar e o cará-
ter cultural e social das refeições. Podemos
no primeiro momento, por exemplo, ofe-
recer duas colheres no prato, uma para o
educador oferecer o alimento e outra para
que a própria criança tente se alimentar
sozinha. É importante estar atento durante
esse processo na quantidade de alimento
efetivamente aceito pela criança, já que
muitas de suas tentativas de levar o ali-
mento à boca não serão eficientes.
Bassedas, Huguet e Sole (2008)
Figura 12.2: Criança tentando se
atentam para alguns aspectos importantes alimentar sozinha.
durante este momento: o respeito pelos Fonte: sxc.hu - Image ID: 657505
CEDERJ 167
Educação Infantil 1 | O cuidar e o educar e as rotinas na Educação Infantil
b) Higiene
168 CEDERJ
MÓDULO 2
312
a. Troca de fraldas: momento individual no qual a educadora contri-
bui para a saúde e bem-estar do bebê. Esse é um excelente momento para
AULA
se estabelecer uma relação de segurança e confiança a partir das interações
que se dão neste contexto. Deve acontecer em um local adequado e com
todo o material necessário ao alcance do educador. É muito importante
que este momento não seja um ato automático. Deve-se aproveitar esse
momento para cantar uma música para criança, conversar com ela, nome-
ar as partes do corpo e os objetos usados neste momento, entre outros.
É necessário também estar atento à necessidade individual de troca de
fralda de cada bebê para evitarmos qualquer complicação em sua saúde.
b. Desfralde: geralmente ocorre em torno dos dois anos de idade
da criança, período em que apresenta um desenvolvimento fisiológi-
co, cognitivo, motor, social, afetivo e de linguagem que o favorecem.
É necessária para esta conquista a parceria com a família, para que seja
dada continuidade, em casa, ao uso do banheiro. Esse processo muitas
vezes é longo e precisa da sensibilidade e paciência do adulto, para
respeitar o ritmo e possibilidades de cada criança. Enquanto a criança
não adquirir completamente este hábito, o educador deverá sempre
lembrá-la, de tempos em tempos, da utilização do banheiro. Poderá
criar estratégias para levar as crianças em desfralde junto com as que já
utilizam adequadamente o banheiro, assim uma estimulará o desenvol-
vimento da outra. Esse é um momento complexo e delicado e o adulto
deverá transmitir muita segurança à criança. As mensagens transmitidas
à criança deverão sempre ser de estímulo (exemplo: que bom que você
conseguiu usar o vasinho!) e jamais de repreensão por não ter conseguido
corresponder às expectativas (exemplo: eu já não falei que o lugar de fazer
xixi é no banheiro? Que coisa feia!). Mesmo quando a criança urinar ou
evacuar na roupa devemos incentivá-la, lembrando aquilo que deveria
ter feito com muito carinho (exemplo: não tem problema! Você ainda
está aprendendo! Da próxima vez você vai lembrar de pedir para ir ao
banheiro a tempo de chegar no vasinho.). O educador também poderá
criar brincadeiras como, por exemplo, escolher ou construir um boneco,
e as crianças deverão "ensiná-lo" a usar o banheiro.
c. Banho: vai depender de uma série de fatores, desde o clima da
região onde está localizada a instituição, o número de funcionários para
cada criança, o tipo de banheiro(s) destinado para tal, entre outros aspectos.
CEDERJ 169
Educação Infantil 1 | O cuidar e o educar e as rotinas na Educação Infantil
170 CEDERJ
MÓDULO 2
312
! Assim como a rotina alimentar, o momento da higiene,
AULA
também, contribui para o trabalho pedagógico da institui-
ção, mais uma vez, atrelamos o cuidar e o educar. Durante
o banho podemos separar os grupos usando a ordenação
(primeiro, segundo...), em maior e menor, e assim contex-
tualizar os conteúdos de matemática. É possível também
cantar, por exemplo, e deste modo, o cuidar assume aspectos
pedagógicos que favorecem o desenvolvimento integral da
criança, conforme disposto no terceiro inciso da DCNEI.
c) Descanso
CEDERJ 171
Educação Infantil 1 | O cuidar e o educar e as rotinas na Educação Infantil
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
RESPOSTA COMENTADA
Exemplo: atividade de banho. Turma de quatro anos de idade, total de
15 crianças e dois funcionários. Local: banheiro com dois chuveiros.
O banho acontecerá em torno das 14h, enquanto o grupo está em
brincadeira livre. Um educador ficará com o grupo enquanto o outro
levará as crianças, de duas em duas, para o banheiro. Todos os per-
tences necessários para o banho das crianças já estarão organizados
neste ambiente quando elas chegarem. Cada criança será direcionada
a um dos chuveiros e orientada ao longo de sua higiene, colocação da
roupa e arrumação dos pertences. Quando ambas as crianças estiverem
prontas retornarão ao grupo e outras duas crianças serão levadas para
o banho, até que todas tenham feito a sua higiene.
CONCLUSÃO
Refletir sobre as rotinas nos leva a pensar que elas serão únicas dentro
de cada instituição, a partir de suas possibilidades e demandas. Mas,
alguns aspectos não poderão deixar de ser considerados: respeito ao
ritmo e individualidade, flexibilidade, organização espacial e temporal,
cuidar/educar, desenvolvimento de hábitos e autonomia. Para finalizar
podemos ficar com a afirmação de Barbosa (2006):
172 CEDERJ
MÓDULO 2
312
A escola para as crianças pequenas torna-se um local em que
cada criança e cada adulto chega com suas culturas, seus hábitos
AULA
e seus rituais, isto é, com sua particular concepção de mundo.
Na vivência dessa experiência coletiva, todos vão descobrindo
outros modos de ser e de realizar as atividades que garantem a
sua sobrevivência diária e que são realizadas por todos.
ATIVIDADE FINAL
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___________________________________________________________________________
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COMENTÁRIO
Durante a atividade do banho, o cuidar e o educar se tornam indissociáveis a
partir do momento que além da higiene corporal, o educador oferece possibilidade
para que a criança aprenda a realizar essa higiene com autonomia, ensinado-a,
por exemplo, a lavar todas as partes do seu corpo de forma adequada, a arrumar
seus pertences, a refletir sobre o consumo adequado dos materiais de higiene e o
consumo de água, entre outros.
CEDERJ 173
Educação Infantil 1 | O cuidar e o educar e as rotinas na Educação Infantil
RESUMO
174 CEDERJ
A organização do
13
AULA
ambiente e do tempo
Karla Seabra
Meta da aula
Mapear a organização do ambiente e do tempo
nas instituições de Educação Infantil.
objetivos
a) Organização do ambiente
E S PA Ç O FÍSICO
176 CEDERJ
MÓDULO 2
13
bagagem cultural e da bagagem de cada criança, disponibilizando
os recursos, os instrumentos, as técnicas e as habilidades necessárias
AULA
para que a criança compreenda, incorpore ou modifique a realidade
que se apresenta. Assim, a criança gradativamente vai identificando e
percebendo os elementos socioculturais inclusos em seu ambiente, suas
características e funcionalidade e vai compreendendo as atividades que
são ali desenvolvidas.
CEDERJ177
Educação Infantil 1 | A organização do ambiente e do tempo
Com os bebês e crianças até dois anos de idade, temos que redo-
brar a atenção em relação a objetos pequenos contidos no ambiente,
já que ainda estão na fase oral e tendem a levá-los à boca. Por esta mesma
razão, a higiene deste local deverá ser rigorosa porque muitos objetos
serão levados do chão até a boca.
178 CEDERJ
MÓDULO 2
13
Alguns desses objetos citados não devem ser manipulados pelas crianças
(cola quente, tesoura com ponta, estilete, grampeadores), outros (alfinetes e
AULA
tachinhas) deveriam ser substituídos (por fita adesiva, por exemplo) e alguns
apenas com a supervisão atenta do adulto (grãos, tesouras sem ponta).
O ambiente, além de seguro, deve favorecer o desenvolvimento
da autonomia, ou seja, é importante que os materiais, os brinquedos e
os objetos de uso coletivos e individuais estejam ao alcance das crianças.
Assim, além da autonomia, auxiliamos a criança na internalização das
regras do grupo, em sua capacidade de respeitar as informações dadas
pelo educador, na aquisição gradativa de responsabilidade em relação
aos cuidados e à organização do ambiente, e no desenvolvimento de uma
postura pró-ativa. Como aponta Frison (2008):
CEDERJ179
Educação Infantil 1 | A organização do ambiente e do tempo
!
A criança, ao estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, interage
com o meio, manifestando suas emoções, seus sentimentos, suas conquistas,
que podem modificar o ambiente. Como o meio físico é fator determinante
para estimular e motivar as aprendizagens, é imprescindível que o professor
esteja atento ao organizá-lo, para que as crianças possam brincar e interagir
de forma criativa e desafiadora. As trocas realizadas são essenciais para o
desenvolvimento da criança, pois, através delas, abrem-se outras possibilida-
des de aprendizagem. No ambiente físico, a criança tem a oportunidade de
manifestar seus desejos, tocar, sentir, emitir e escutar sons e palavras, construir
regras que normatizam o uso de diferentes espaços, móveis, equipamentos e
instrumentos. Isso lhe permite observar, categorizar, escolher e propor ativi-
dades a serem desenvolvidas em sala de aula (FRISON, 2008).
180 CEDERJ
MÓDULO 2
13
AULA
Figura 13.8: Casinha de brinquedos (Figura do acervo pessoal da
Creche-escola Studio da Criança).
CEDERJ181
Educação Infantil 1 | A organização do ambiente e do tempo
182 CEDERJ
MÓDULO 2
13
colocar objetos e figuras para estimulá-los. É excelente a presença
de um espelho na altura dos bebês para que eles possam começar
AULA
gradativamente a reconhecer suas imagens refletidas. Os estímulos,
a disposição e os tipos de brinquedos deverão sempre ser variados
para que o bebê fique motivado a explorar o ambiente.
Figuras 13.12 e 13.13: Sala de estimulação (Figuras do acervo pessoal da Creche-escola Studio da Criança).
CEDERJ183
Educação Infantil 1 | A organização do ambiente e do tempo
184 CEDERJ
MÓDULO 2
ATIVIDADE
13
AULA
Atende ao Objetivo 1
COMENTÁRIO
Ao responder a esta questão, você não poderá deixar de contemplar
os itens de segurança, autonomia, interação e estímulos adequados.
Procure descrever tanto o espaço aberto quanto os espaços fechados
em cada um desses aspectos detalhadamente e não se esqueça
de respaldar as suas escolhas no conteúdo dado. Por exemplo: na
sala de aula as mesas ficam dispostas em um canto, deixando o
outro lado para a organização de pequenos cantos de interesse.
Em ambos os lados estaremos favorecendo a interatividade entre
as crianças, fator essencial para seu desenvolvimento. Nos cantos
de interesse (estímulos), os brinquedos e objetos ficam arrumados
em estantes fixas (segurança), mas na altura das crianças, para
que elas possam ter autonomia para brincar sem a necessidade
da interferência do educador.
b) Organização do tempo
CEDERJ185
Educação Infantil 1 | A organização do ambiente e do tempo
!
Pensar em um plano de trabalho junto às crianças é muito diferente de se
considerar este plano como algo em si, que deva ser executado a qualquer
preço! A ideia básica defendida aqui é que as atividades têm que ser plane-
jadas para haver uma direção estimuladora que deixe claro para o educador
o que se quer propor para a criança, como conseguir e como avaliar o que
de fato ocorreu. Planejar atividades, fazer uma boa organização do trabalho
na creche oferece, além disso, segurança também às crianças. Possibilita-lhes,
desde pequenas, compreender a forma como as situações sociais que vivem
são em geral organizadas. Com isso, elas têm mais autonomia, pois percebem
regularidades e mudanças, rotinas e novidades e podem então orientar seus
próprios comportamentos (OLIVEIRA, 1992).
186 CEDERJ
MÓDULO 2
13
2) Atividade livre: as crianças escolhem o que desejam fazer e o
educador interage com elas a partir de suas escolhas. Esse é um momento
AULA
rico para o educador observar como as crianças realizam as escolhas,
como interagem entre si sem a sua interferência direta, como exploram o
ambiente e os objetos, como usam o jogo simbólico do faz de conta etc.
3) Atividades diversificadas para livre escolha: o educador oferece
várias atividades simultaneamente, e a criança escolhe a atividade que
deseja realizar. Por exemplo, uma mesa com blocos lógicos, outra com
massinha de modelar, outra com livros etc. O educador pode aproveitar
esse momento e ficar em uma mesa com uma proposta de atividade mais
direcionada. Assim, ele consegue dar atenção mais individualizada para
aquele pequeno grupo que está em sua mesa e perceber as necessidades
individuais das crianças, enquanto as demais estão realizando atividades
sem que necessitem da sua intervenção direta.
CEDERJ187
Educação Infantil 1 | A organização do ambiente e do tempo
!
As atividades devem fluir de maneira natural, com margens flexíveis entre
uma proposta e outra: quem acabou de pintar já vai limpando os seus pin-
céis, enquanto outros continuam ocupados em sua pintura. Não é preciso
que todos terminem de comer para levantar-se da mesa. Outro motivo pelo
qual se aumentam desnecessariamente os tempos de espera das crianças – e
os conflitos gerados pelo tédio – tem a ver com a preparação dos materiais
e excessiva improvisação. Um período prolongado de espera entre a apre-
sentação de uma proposta e sua concretização pode diminuir a motivação e
a atenção das crianças. Também é essencial envolvê-los nos preparativos, de
modo a que participem de tudo o que puderem. De maneira geral, deve-se
questionar qualquer atividade em que o adulto trabalhe mais que a criança
em sua execução (PANIAGUA; PALÁCIOS, 2008).
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
COMENTÁRIO
Nesta atividade, podemos encontrar diversas respostas. Assim,
daremos apenas um exemplo de resposta.
Atividade diversificada de livre escolha: o grupo de crianças de 3
anos será dividido em quatro pequenos grupos. A escolha dos gru-
pos e das mesas com atividades será realizada juntamente com as
crianças. Cada grupo permanecerá durante aproximadamente 10
minutos em uma mesa de atividade e se ofertará a possibilidade
de um rodízio de mesas. Em uma das mesas o educador oferecerá
uma atividade direcionada de raciocínio lógico-matemático; nas
demais mesas, serão oferecidos: massinha de modelar; blocos de
construção; livros para contação de histórias. A atividade terminará
quando todas as crianças tiverem passado pela mesa de atividade
dirigida e o interesse pelas demais mesas tiver acabado.
188 CEDERJ
MÓDULO 2
CONCLUSÃO
13
AULA
A partir das discussões sobre estas práticas cotidianas, percebemos
que o educador já não é mais o detentor absoluto do conhecimento.
Ele deverá possibilitar a construção dos conhecimentos pelos seus alunos
a partir dos mais diferentes meios, incluindo a forma como organiza o
seu tempo e o ambiente. O educador deve considerar, como discutido
por Batista (disponível em http://www.ced.ufsc.br/~nee0a6/trosaba.
PDF), que:
ATIVIDADE FINAL
CEDERJ189
Educação Infantil 1 | A organização do ambiente e do tempo
Turma de 4 anos:
3) 9h – lanche no refeitório;
____________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Como na atividade anterior, a resposta a esta atividade é de cunho pessoal. Veja
um exemplo:
Turma de 2 anos:
1) 8h – recepção das crianças e colação (refeição leve) no refeitório;
2) 8h30 – atividade dirigida em sala de aula;
3) 9h – brincadeira livre no pátio externo;
4) 9h30 – atividade diversificada em sala de aula;
5) 10h – atividade dirigida na sala de artes;
6) 10h30 – brincadeira livre no parquinho;
7) 11h – almoço no refeitório/escovação de dentes;
8)11h45 – descanso;
9) 13h – atividade dirigida em pátio externo;
10) 13h30 – brincadeira livre nos cantinhos da sala de aula;
11) 14h – lanche no refeitório;
12) 14h30 – atividade dirigida na sala de psicomotricidade;
13) 15h – banho/atividade livre no parquinho;
14) 16h – atividade dirigida na biblioteca;
15) 16h30 – atividade diversificada em sala de aula;
16) 17h – jantar no refeitório/escovação de dentes;
17) 17h45 – rotina de saída (arrumação da sala e das crianças);
18) 18h – saída.
190 CEDERJ
MÓDULO 2
13
RESUMO
AULA
A organização do ambiente e do tempo no cotidiano da Educação Infantil deve
ser flexível e construída com a participação das crianças, assim como devem ser
considerados as individualidades, os interesses do grupo, levando à construção
de conhecimentos.
Na organização do ambiente, é necessário que se promova a interação entre as
crianças através de cantinhos de interesse e da própria organização da mobília
(ex.: mesas agrupadas), mas é essencial que o ambiente seja seguro para a faixa
etária ao mesmo tempo que proporcione autonomia para as crianças. Já a organi-
zação do tempo deve contemplar tanto as atividades de rotina (refeições, higiene,
descanso...) como as atividades com aspectos pedagógicos (atividades dirigidas,
livres, diversificadas, de livre escolha...), lembrando que o cuidar e o educar estão
presentes em ambos os tipos de atividades.
LEITURAS COMPLEMENTARES
2) OLIVEIRA, Z.M. et al. Creches: crianças, faz de conta & cia. Petrópolis: Vozes,
1992.
CEDERJ191
Desenvolvimento e
14
AULA
aprendizagem na
Educação Infantil
Karla Seabra
Meta da aula
Mapear as abordagens de desenvolvimento e
aprendizagem.
objetivos
DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
194 C E D E R J
MÓDULO 2
Os pesquisadores da abordagem inatista consideram que aquilo
14
que a criança aprende no decorrer da vida não interfere no processo de
AULA
desenvolvimento. Essa abordagem marca o início da relação entre psi-
cologia científica e educação. A ideia de que a criança é portadora dos
atributos universais do gênero humano produz a crença de que caberia
à educação fazer aflorar esses atributos naturais; depende do nível de
prontidão ou maturidade.
Segundo Fontana e Cruz (1997), ao contrário do inatismo, a
abordagem comportamental enfatiza a influência de fatores externos, do
ambiente e da experiência sobre o comportamento da criança.
!
A ideia de que os comportamentos humanos são aprendidos em
decorrência de contingências ambientais e a noção de modelagem
do comportamento têm influenciado as práticas educativas. De acor-
do com Skinner, ensinar é planejar/organizar essas contingências de
modo a tornar mais eficiente a aprendizagem de determinados con-
teúdos e habilidades. A utilização de reforçadores e a organização
da aprendizagem por pequenos passos são princípios decorrentes
dessa abordagem (FONTANA; CRUZ, 1997).
C E D E R J 195
Educação Infantil 1 | Desenvolvimento e aprendizagem na Educação Infantil
!
Piaget postula que o desenvolvimento do ser humano está subordina-
do a dois grupos de fatores em constante interação: hereditariedade
e adaptação biológica, dos quais depende a evolução do sistema
nervoso e dos mecanismos psíquicos elementares, e os fatores de
transmissão ou de interação sociais, entre os quais inclui a educação. O
desenvolvimento da inteligência tem um ritmo temporal que envolve
uma ordem e uma sucessão de estágios, que deveria ser respeitada
nos procedimentos educacionais. Temos aí o fundamento da teoria
dos estágios, que muito tem influenciado a educação brasileira
(CARVALHO, 2002).
196 C E D E R J
MÓDULO 2
No mesmo período que Piaget, Henri Wallon (1879-1962) trazia
14
importantes contribuições à educação no âmbito da psicologia, conside-
AULA
rando as relações do indivíduo com o meio social e a cultura, integrando
os aspectos cognitivo, afetivo e motor no desenvolvimento. Carvalho
(2002) também apresenta as ideias de Wallon:
!
De acordo com Vygotsky, passar pelo sistema escolar faz com que
o indivíduo classifique, conceitue e compreenda o mundo de modo
diferente, porque aprende a lidar com conceitos teóricos que
permitem formas de abstração e generalização mais complexas e
independentes da experiência prática e direta da realidade. O con-
ceito de Zona de Desenvolvimento Proximal possibilitou uma nova
perspectiva para o trabalho escolar: a ação escolar deve pautar-
se não mais pelo passado, mas por aquilo que a criança poderá
aprender com a intervenção dos processos culturais. A tarefa da
escola, segundo Vygotsky, consiste em fazer todos os esforços para
encaminhar a criança nessa direção, para desenvolver o que lhe
falta. Esse conceito traz implicações fundamentais também para a
atuação do professor: ele é mais do que um animador ou um faci-
litador da aprendizagem, torna-se um dos elementos necessários e
essenciais para o desenvolvimento humano (CARVALHO, 2002).
198 C E D E R J
MÓDULO 2
para resolver os problemas educacionais presentes hoje na escola. Uma
14
perspectiva que entenda a educação como um fenômeno histórico e cul-
AULA
tural parece oferecer melhores alternativas para que se possam encarar
os desafios cotidianos da realidade escolar de nosso país.
Trocando em miúdos as ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon e
a Educação Infantil, a partir dessas contribuições teóricas, o adulto
torna-se essencial nas mediações entre as crianças e das mesmas com o
ambiente físico em que estão inseridas. Assim, a criança na instituição
de Educação Infantil influencia e é influenciada por esse ambiente físico
e social, considerando que o desenvolvimento humano é um processo
que ocorre por meio das interações com outras pessoas em ambientes
organizados culturalmente.
Portanto, como discutido por Lima (2007), quando pensamos em
desenvolvimento da criança, precisamos considerar alguns aspectos essen-
ciais, dentre eles: o tempo, o espaço, a comunicação, as práticas culturais,
a imaginação e a fantasia, a curiosidade e a experimentação. Lima discute
de forma bastante apropriada como cabe ao educador a tarefa de tornar
efetivas as possibilidades de desenvolvimento. Ele precisa proporcionar à
criança um contexto que favoreça os processos interativos entre as crianças
e outras pessoas, que os bens culturais estejam disponíveis, que a experi-
mentação seja possibilitada, ou seja, “que ofereça uma qualidade de ação e
interação com a criança de forma que esta possa tirar o máximo proveito das
mediações para seu desenvolvimento psicológico”. O educador deve ampliar
a experiência da criança, auxiliar na expressão das ideias e dos sentimentos.
“Respeitar a criança e identificar suas inúmeras capacidades e oferecer a
possibilidade de que elas sejam ampliadas, sedimentadas, desenvolvidas, na
dimensão da individualidade e da participação cultural e social.”
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
1. Como foi apresentado, existem duas posições distintas que relacionam de-
senvolvimento e aprendizagem e que interferem diretamente na educação.
Refletindo sobre elas e a partir de sua experiência cotidiana, aponte tipos
de atividades pedagógicas que se relacionam com cada uma delas.
C E D E R J 199
Educação Infantil 1 | Desenvolvimento e aprendizagem na Educação Infantil
COMENTÁRIO
Não existe uma única resposta para esta questão. Assim, daremos a
você algumas possibilidades:
Processo pedagógico subordinado ao desenvolvimento das estruturas
cognitivas da criança (Piaget): oferecer atividades com graus de dificul-
dade sendo aumentados gradativamente, de acordo com a resposta
da criança. Observar os erros apresentados pela criança ao realizar
as atividades para conhecer sua construção do conhecimento, para
poder reorganizar as próximas atividades de acordo com o estágio
do desenvolvimento em que ela se encontra. Não oferecer atividades
que exijam mais do que a criança possa alcançar naquele nível de
desenvolvimento.
Aprendizagem é um dos principais motores do desenvolvimento
(Vygotsky): oferecer atividades para serem realizadas coletivamente,
com crianças em diferentes níveis de desenvolvimento, favorecendo a
troca entre elas. O educador deverá auxiliar a criança, sendo também
um mediador na realização das atividades que ela ainda não consegue
realizar sem ajuda.
200 C E D E R J
MÓDULO 2
O lúdico e as múltiplas linguagens são defendidos e orientados
14
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que
AULA
apresenta entre os fundamentos norteadores a ludicidade e a criatividade.
Já no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, há uma
preocupação em sensibilizar os educadores para a importância do brincar
tanto em situações formais quanto em informais. A brincadeira é definida
como a linguagem infantil que vincula o simbólico e a realidade imediata
da criança. Como afirmam os Parâmetros em Ação (material disponibi-
lizado pelo MEC aos educadores de Educação Infantil em 1999):
C E D E R J 201
Educação Infantil 1 | Desenvolvimento e aprendizagem na Educação Infantil
!
O jogo simbólico é considerado por Vygotsky como uma atividade típi-
ca da infância e essencial ao desenvolvimento infantil. Ele constitui-se
em uma Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), visto que promove o
desenvolvimento da criança para além do patamar por ela já consolidado.
No brincar do jogo do faz de conta, a criança age em um mundo ima-
ginário, regido por regras semelhantes ao mundo adulto real, sendo
a submissão às regras de comportamento e normas sociais a razão do
prazer que ela experimenta no brincar (EDUCAR, 2009).
202 C E D E R J
MÓDULO 2
De acordo com Lima (2007), o jogo simbólico para Piaget aparece
14
predominantemente entre os dois e seis anos e tem como função assimilar
AULA
a realidade. A criança tende a reproduzir e expressar nas brincadeiras as
relações vivenciadas no seu ambiente, ou seja, as brincadeiras facilitam
a assimilação da realidade. O jogo de faz de conta revela conflitos, frus-
trações, medos, angústias e alivia tensões, além de possibilitar à criança
a realização de sonhos e fantasias.
Segundo Fontana e Cruz (1997), para Piaget a brincadeira não tem
uma finalidade adaptativa, ou seja, ela não possibilita um aperfeiçoamento
dos esquemas mentais. Sua importância está na transformação do significado
dos objetos e na criação de símbolos lúdicos individuais. O jogo simbólico
relaciona-se à capacidade de representação de eventos e objetos como, por
exemplo, um pedaço de biscoito que representa um bolo.
Embora com denominações diferentes (faz de conta para Vygotsky
e jogo simbólico para Piaget), segundo Oliveira (2002) as definições são
correspondentes. Nesse sentido, é muito importante que os educadores
favoreçam experiências lúdicas às crianças em suas práticas educativas:
o espaço para a brincadeira e a apropriação do faz de conta. Isso nos leva
a pensar sobre o quanto é significativo estar pensando na organização
do espaço para as crianças pequenas, para que as mesmas possam con-
templar seus desejos, num clima prazeroso e gostoso que é a brincadeira.
É, de fato, importante que os profissionais repensem o lugar que o brincar
está ocupando dentro das instituições, criando na rotina de atividades
mais espaços para brincadeiras e faz de conta, como afirmam Rossetti-
Ferreria e cols. (2006):
C E D E R J 203
Educação Infantil 1 | Desenvolvimento e aprendizagem na Educação Infantil
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
COMENTÁRIO
Piaget acredita que os jogos são essenciais na vida da criança.
Em torno dos dois aos seis anos (fase pré-operatória), nota-se a
ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem a necessidade da
criança de não somente relembrar o mentalmente o acontecido, mas
também de executar a representação. No período posterior (sete aos
doze anos) surgem os jogos de regras, que são transmitidos social-
mente de criança para criança e por consequência vão aumentando
de importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento
social. Para Piaget, o jogo constituiu-se em expressão e condição
para o desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam
assimilam e podem transformar a realidade.
204 C E D E R J
MÓDULO 2
14
Na visão de Vygotsky, a brincadeira, o jogo, é uma atividade específi-
AULA
ca da infância, em que a criança recria a realidade usando sistemas
simbólicos. Essa é uma atividade social, com contexto cultural e social.
Vygotsky afirma que a influência do brinquedo no desenvolvimento de
uma criança é enorme. É por intermédio dele que a criança aprende a
agir numa esfera cognitiva, dependendo das tendências e motivações
internas, e não incentivada por objetos externos.
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
Como atividade para esta semana, que tal observar crianças entre dois e seis anos
brincando? Observe como elas brincam, de quê brincam, com quem brincam, que
objetos utilizam e como utilizam, como se apropriam do faz de conta, como se
relacionam umas com as outras etc. Procure registrar tudo o que puder e depois
relacione com os aspectos apresentados em relação aos desenvolvimento e
aprendizagem.
C E D E R J 205
Educação Infantil 1 | Desenvolvimento e aprendizagem na Educação Infantil
COMENTÁRIO
Neste caso, também, a resposta é de caráter pessoal. Portanto, daremos algumas
sugestões:
Observação em um grupo de crianças de três anos brincando em praça pública
com panelinhas. Uma criança se intitula mãe e distribui às demais outros papéis
(pai, filho etc.). Brincam fazendo de conta em seus respectivos papéis, mas nego-
ciando entre si a condução da brincadeira. De acordo com Piaget, nesta idade a
criança adquire a consciência da existência de regras e começa a querer jogar
com outras crianças – vemos nesse ponto os primeiros traços de socialização.
Já para Vygotsky, é no faz de conta que a criança age em um mundo imaginário,
regido por regras semelhantes ao mundo adulto real, e nessa brincadeira as crianças
estão vivenciando as regras do mundo adulto: mãe e pai cuidam dos filhos e da
casa, filhos brincam.
206 C E D E R J
MÓDULO 2
14
RESUMO
AULA
Ao estudarmos a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, podemos
observar algumas concepções:
a) inatista: atribui um papel central a fatores biológicos no desenvolvimento da
criança;
b) comportamental: enfatiza a influência de fatores externos, do ambiente e da
experiência sobre o comportamento da criança;
c) interacionista: está baseada na ideia de interação entre organismo e meio e é
representada principalmente por:
1) Piaget: privilegia a maturação biológica, por aceitar que os fatores internos
predominam sobre os valores externos. Postula que o desenvolvimento segue
uma sequência fixa e universal de estágios.
2) Vygotsky: privilegia o ambiente social. Reconhece que, variando o ambiente
em que a criança nasceu, o desenvolvimento também variará.
3) Wallon: privilegia a pessoa em conjunto e reconhece que os fatores internos
e externos dependem um do outro e contribuem para o desenvolvimento do
indivíduo.
Para os interacionistas o brincar, em especial o faz de conta, é um processo
facilitador do desenvolvimento e da construção do conhecimento. Portanto, deve
ser privilegiado nas instituições de Educação Infantil.
C E D E R J 207
Inserção e acolhimento
na Educação Infantil e a
15
AULA
parceria com as famílias
Karla Seabra
Meta da aula
Mapear as estratégias de inserção e acolhimento
das crianças na Educação Infantil e a importância
da parceria com as famílias.
objetivos
INTRODUÇÃO Nesta aula, vamos nos dedicar a um assunto bastante interessante voltado
para o cotidiano na Educação Infantil: inserção, acolhimento e parceria com
as famílias. Sabemos que esse assunto é recheado de desdobramentos, que
dependerá principalmente das caracterísitcas de cada instituição, mas o
que será aqui abordado é o que tem sido considerado por diversos autores
como adequado quando se pretende um padrão mínimo de qualidade para
as nossas crianças.
INSERÇÃO E ACOLHIMENTO
210 C E D E R J
MÓDULO 2
à pessoa que lhe é familiar. Em geral, aos dois ou três anos de
15
idade, os protestos parecem diminuir, pois a criança já compreende
AULA
melhor a separação, consegue que os outros a entendam melhor e
se envolve em brincadeiras com companheiros (p. 49).
!
Cada instituição de educação infantil deve planejar-se para esse proces-
so de adaptação de acordo com as concepções de educação e da criança
que direcionam sua prática. Cada escola tem a sua realidade específica.
Existem diferenças sociais e econômicas que vão particularizando as
escolas infantis e, portanto faz mudar o planejamento no que se refere
ao regimento interno escolar (SAVALLI, 2010).
C E D E R J 211
Educação Infantil 1 | Inserção e acolhimento na Educação Infantil e a parceria com as famílias
!
O processo de inserção e acolhimento não deverá ter uma regra rígida,
devemos respeitar o ritmo da criança. O número de horas da criança na
instituição e da presença do responsável deverá ser analisado caso a caso,
embora a instituição possa ter um quadro (como o apresentado no boxe
de curiosidade) para se orientar este deverá ser flexível.
212 C E D E R J
MÓDULO 2
1. Alguns dias antes deve-se preparar a vinda da criança à escola.
15
Os pais devem contar a ela, numa linguagem bem simples (em
AULA
qualquer idade) como é a escola, o que ela vai fazer lá, sem
esticar muito o assunto, a não ser que ela faça perguntas.
2. A reação de choro neste período é normal. Entretanto; se após
uns dez ou quinze dias as lágrimas continuarem é importante
verificar se a estratégia utilizada está adequada a esta criança
e sua família. Nem sempre o choro quer dizer que a criança
não quer ficar na escola, principalmente se o choro acontecer
somente no momento da entrada, muitas vezes pode ter outro
significado e até mesmo representar um “jogo” para manter
a mãe junto de si.
3. Se os pais trabalham fora e não dispõem de tempo para per-
manecer na escola durante o período de adaptação, o melhor
é transferir a responsabilidade para alguém da família (tias,
avós etc). A mãe, ao ficar preocupada com os horários, pode
transferir ao filho sua ansiedade e piorar a situação.
4. A pessoa que substituir a mãe deverá ter participado do pro-
cesso de visita à escola, conhecer o trabalho e desejar que a
criança se adapte. É preciso tomar cuidado com avós, tias,
babás, entre outros, que desejam cuidar da criança, pois tudo
farão para evitar que ela se adapte.
5. Na escola, o responsável não deve fazer nada para a criança.
Caso ela solicite, ele deve induzi-la a procurar o educador com
quem deve criar laços afetivos e para quem deverá transferir
suas necessidades e dependências.
6. O educador deve ser visto como uma nova aquisição afetiva,
uma nova pessoa amiga e querida e não aquele que vai subs-
tituir a família. Alguns pais sentem ciúme do profissional que
vai lidar com seu filho.
7. Se no período de adaptação a criança for agredida ou agredir
outra, aja com naturalidade. A criança não sabe dominar sua
agressividade, e o ato físico é a linguagem mais eficiente para o
agressor. Um dos trabalhos da escola é exatamente o de fazer
as crianças perceberem que podem resolver as coisas de outras
formas. Com o tempo a agressividade vai diminuindo.
C E D E R J 213
Educação Infantil 1 | Inserção e acolhimento na Educação Infantil e a parceria com as famílias
214 C E D E R J
MÓDULO 2
Durante o processo de inserção e acolhimento, devemos ter em
15
mente que não é só a criança que vive esse processo, a família e o edu-
AULA
cador também o vivem com a mesma intensidade. O educador precisa,
além de se organizar para receber a criança e a família, estar disponível
e sensível para estabelecer uma relação de confiança com ambos. Deve
entender que o seu planejamento com a turma precisará sofrer altera-
ções durante este período ele terá de também dar suporte ao grupo que
poderá apresentar estranhamento e sentimentos de ciúme em relação à
criança que está chegando. Para que o educador possa dar conta de todas
essas questões ele irá necessitar de todo apoio e suporte da instituição,
para que todos os envolvidos passem por essa fase com o máximo de
tranquilidade possível.
Em relação à família, o que percebemos muitas vezes é uma gran-
de ambiguidade de sentimentos em relação ao educador e à instituição.
Por um lado necessita da instituição para deixar seu filho enquanto está
envolvida em atividades de trabalho e se sente confortada por ter esse
lugar, mas ainda não estabeleceu uma relação de confiança, muitas vezes
apresenta insegurança, tem medo de perder o amor do filho, de que ele
se sinta abandonado, de que ele não seja bem cuidado, sente ciúme do
educador porque ele acompanhará primeiro vários momentos importan-
tes do desenvolvimento da criança. É claro que os exemplos dados vão
variar muito dependendo do histórico de vida familiar, e o educador e a
instituição deverão iniciar o processo de parceria com as famílias para
que esses e outros sentimentos e problemas não venham atrapalhar o
trabalho realizado com a criança.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
C E D E R J 215
Educação Infantil 1 | Inserção e acolhimento na Educação Infantil e a parceria com as famílias
RESPOSTA COMENTADA
Na sua organização você deverá lembrar que receberá crianças que já estão
habituadas à rotina escolar, mas que ficaram afastadas durante um tempo e pro-
vavelmente retornam agora com novos educadores e novos espaços. Você poderá
se organizar para dividir o grupo: na primeira semana receberá, por exemplo, as
crianças que já eram da escola. Você deve conversar previamente com a educadora
do ano anterior para conhecer um pouco as crianças e tentar oferecer atividades e
brincadeiras de seus interesses. Assim o vínculo se formará mais facilmente.
A partir da segunda semana você poderá se organizar para receber as crianças
novas em horários alternativos, de modo que tenha poucas crianças novas ao
mesmo tempo. Por exemplo: receberá uma criança e seu responsável às 8h no
primeiro dia e eles ficarão até ás 9h, quando chegará a outra criança nova, e assim
sucessivamente. Nesse momento é importante que a instituição disponibilize um
outro profissional para auxiliar a sua turma para que você possa dar o máximo de
atenção à criança em inserção sem que o grupo se sinta “abandonado”.
15
pensar em estratégias para que elas se sintam acolhidas desde o momento
AULA
de inserção da criança e depois de passada essa fase. É preciso que tenha
profissionais disponíveis para ouvir as angústias e sugestões das famílias,
que as oriente em suas dificuldades, que dê suporte para que elas com-
preendam o desenvolvimento da criança, entre outras coisas.
!
Ao propor uma reflexão sobre “Escola e família: uma relação de ajuda na
formação do ser humano”, constata-se que é tarefa primordial tanto dos
pais, como também da escola o trabalho de transformar a criança imatura
e inexperiente em cidadão maduro, participativo, atuante, consciente
de seus deveres e direitos, possibilidades e atribuições. E que este ser em
formação seja futuramente um cidadão consciente, crítico e autônomo
desenvolvendo valores éticos, espírito empreendedor capaz de interagir
no meio em que vive. Nessa perspectiva, família e escola devem aproveitar,
ao máximo, as possibilidades de estreitamento de relações, porque o ajuste
entre ambas e a união de esforços para a educação das crianças e adoles-
centes deve redundar, sem dúvida nenhuma, em elemento facilitador de
aprendizagens e de formação do cidadão (RIGO, 2008).
C E D E R J 217
Educação Infantil 1 | Inserção e acolhimento na Educação Infantil e a parceria com as famílias
Assim, através desta parceria, a criança vai percebendo que existe uma
continuidade entre o que ela vive no contexto institucional e no familiar. Ela
vai percebendo como são as relações dentro da sociedade em que vive e se
percebe integrante desta. Como afirma Içami Tiba (1996, p. 140):
218 C E D E R J
MÓDULO 2
envolvidas no seu dia-a-dia sem cair no julgamento “culpado
15
X inocente”, mas procurando compreender cada situação, uma
AULA
vez que tudo o que se relaciona aos educandos/filhos tem a ver,
de algum modo, com os pais e vice-versa, bem como tudo que se
relaciona aos alunos tem a ver, sob algum ângulo, com a escola
e vice-versa. A escola e a família, cada qual com seus valores e
objetivos específicos na educação de uma criança, constituem
uma estrutura intrínseca, onde quanto mais diferentes são, mais
necessitam uma da outra. Desse modo, cabe a toda sociedade,
não apenas aos setores relacionados à educação, transformar o
cotidiano da escola e da família, através de pequenas ações mo-
dificadoras, para que esta (a família) compreenda a importância
dos objetivos traçados pela escola, assim como o seu lugar de
co-responsável nesse processo (família).
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
RESPOSTA COMENTADA
A resposta a esta atividade é de caráter pessoal. Você verá aqui
uma sugestão de resposta.
Reuniões com os responsáveis para apresentar e discutir as fases
do desenvolvimento da turma; convidar um dos pais da turma para
conversar com as crianças ou desenvolverem algum tipo de atividade
relacionada ao que está sendo trabalhado e a sua capacitação e/
ou habilidade (ex: convidar um pai que toque em bateria de escola
de samba para fazer uma oficina com as crianças na época do
carnaval; convidar uma mãe que seja cozinheira para fazer uma
receita com as crianças em um projeto sobre educação alimentar;
etc); realizar festas de confraternizações e convidar os pais para
ajudar na organização; organizar pequenos eventos para expor os
trabalhos realizados pelas crianças; entre outros.
C E D E R J 219
Educação Infantil 1 | Inserção e acolhimento na Educação Infantil e a parceria com as famílias
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
220 C E D E R J
MÓDULO 2
RESPOSTA COMENTADA
15
Considere em sua análise em relação ao processo de inserção se a escola tem
AULA
uma organização que favoreça a inserção; se o responsável pode participar desse
processo; se há rigidez da escola ou se as características individuais são respeitadas;
se o tempo de permanência da criança foi aumentado gradativamente; entre outros.
Em relação à parceria com a família analise se a escola se propõe e planeja efetiva-
mente situações que a favorecem ou se estabelece situações contrárias afastando
a família do contexto escolar.
RESUMO
C E D E R J 221
Avaliação na Educação
16
AULA
Infantil
Karla Seabra
Meta da aula
Mapear as estratégias de avaliação das crianças
na Educação Infantil.
objetivo
!
"Na Educação Infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e
registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para
o acesso ao ensino fundamental” (Lei 9.394/96, artigo 31).
224 CEDERJ
MÓDULO 2
16
Para Carrion e Nogaro (2006), a avaliação:
AULA
É um elemento indissociável do processo educativo que possibilita
ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar
situações que gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem
como função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse
processo como um todo.
CEDERJ225
Educação Infantil 1 | Avaliação na Educação Infantil
226 CEDERJ
MÓDULO 2
16
tante não contar com a memória porque você correrá o risco de esquecer
detalhes importantes. É necessário registros individuais constantes para
AULA
dar suporte no momento da elaboração do “registro oficial”, ou seja,
aquele ao qual escola, outros educadores e família terão acesso.
Existem várias nomenclaturas que se referem à organização
dos registros de aprendizagem da criança na Educação Infantil e que
auxiliam o educador, a escola e a família a ter uma visão evolutiva de
seu desenvolvimento. Todas elas realizam o registro de trajetória da
aprendizagem do aluno que pode se dar através da seleção, ordenação
de documentos por ele produzidos ou documentos externos como fotos,
reportagens, textos, que de algum modo contribuíram com o percurso de
sua aprendizagem, colocando em evidência seu patamar de desempenho,
as hipóteses que levantou e se os fins que alcançou foram realmente os
propostos no início do trabalho.
!
Portfólio, dossiê, relatórios de avaliação, todas essas nomenclaturas se refe-
rem, no sentido básico, à organização de uma coletânea de registros sobre a
aprendizagem do aluno que ajuda o professor/professora, os próprios alunos/
as e as famílias a ter uma visão evolutiva do processo.
Embora não tenha sido possível localizar um conceito apropriado do termo
portfólio, adotamos o significado que os professores e professoras de Educação
Infantil utilizam na sua prática pedagógica, que diz respeito ao registro de
trajetória da aprendizagem do aluno/a que se dá através da seleção, ordenação
de documentos por ele/a produzidos, ou documentos externos, como fotos,
reportagens, textos, que de algum modo contribuíram com o percurso de
sua aprendizagem, colocando em evidência seu patamar de desempenho, as
hipóteses que levantou e se os fins que alcançou foram realmente os propostos
no início do trabalho (SANTARÉM; CRUZ, 2010).
CEDERJ227
Educação Infantil 1 | Avaliação na Educação Infantil
2) Relatório semiaberto:
Desenvolvimento Sim Às vezes Não
social
Gosta de brincar X
com os colegas
3) Relatório aberto:
Gosta de brincar com seus colegas somente com a intervenção do adulto,
embora ultimamente se aproxime de um dos colegas de forma espon-
tânea.
228 CEDERJ
MÓDULO 2
16
somente as atividades e áreas do desenvolvimento das crianças que não
foram instigadas pelo professor. Além de se reduzir ao registro, o tipo
AULA
de avaliação utilizado geralmente surge isolado, descontextualizado do
cotidiano das crianças e do projeto pedagógico elaborado pelo professor
ou pela instituição. A avaliação acaba sendo uma análise artificial do
desenvolvimento infantil, negligenciando, principalmente, a identidade
da criança que está sendo avaliada. Transforma-se, assim, a avaliação
em preenchimentos de registros sem qualquer significado ou importância
pedagógica.
É importantíssimo analisar o significado pedagógico da avaliação
no contexto da Educação Infantil, resgatando seus pressupostos básicos
e evitando o segmento de modelos uniformes da prática tradicional e
classificatória da avaliação. Faz-se necessário ressignificar a avaliação em
Educação Infantil como acompanhamento e momento de reorientações
de propostas que possam propiciar o amplo desenvolvimento de cada
criança. Avaliar significa, entre outros aspectos pedagógicos, trabalhar
todas as dimensões do ser humano emocional, comunicativo, afetivo,
crítico, político, corpóreo, estético, histórico, ético, espacial e cultural.
Trata-se de valorizar e respeitar as diferenças de desenvolvimento e de
conhecimento, num processo criativo, associado ao prazer pela desco-
berta da construção de significados com o mundo nas múltiplas possi-
bilidades interativas e relacionais.
Neste sentido, a avaliação não é para medir ou julgar, buscan-
do os erros ou culpados, mas necessita trazer elementos para crítica e
modificação do trabalho pedagógico. Sendo assim, não só o aluno é
avaliado, mas todos os envolvidos no processo (educadores, equipe,
instituição e família), focando no aprimoramento do trabalho realizado
com as crianças. Assim, podemos propor que cada professor planeje
as situações didáticas, refletindo sobre as crianças, considerando o seu
desenvolvimento integral, contemplando as características culturais dos
grupos a que pertencem e as características individuais, tanto no que
se refere aos modos como interagem na escola quanto às bagagens de
saberes de que dispõem.
Nesse contexto, o professor deixa de ser o detentor e transmissor
de conhecimentos. Os novos paradigmas educacionais apontam para um
educador comprometido, mobilizador, mediador, reflexivo e facilitador
da integração e da significação no contexto do ensino, possibilitando
CEDERJ229
Educação Infantil 1 | Avaliação na Educação Infantil
2) Atitudes
a. Na turma, referentes ao trabalho e ao material: motivação; in-
teresse; atenção; concentração; assimilação; responsabilidade;
iniciativa; imaginação; frequência; manipulação.
b. Com as outras crianças: colaboração; ajuda; comunicação; agres-
sividade; com uma só criança; com um grupo reduzido.
c. Com os adultos: timidez; vontade de chamar a atenção; depen-
dência; autonomia; colaboração; recusa.
d. Em brincadeiras: agressivo; tímido; passivo; líder; participativo;
sabe perder.
3) Aquisição de hábitos
a. Pessoais: autonomia, dependência, alimentação; asseio; ordem;
descanso.
b. Sociais: participação da dinâmica da classe; frequência na reali-
zação de suas responsabilidades;
5) Aprendizagens
a. Aquisições psicomotoras: tônus muscular; deslocamento; controle
postural; coordenação do movimento; lateralidade; equilíbrio;
ritmo; situação espacial; situação temporal.
230 CEDERJ
MÓDULO 2
16
b. Aquisições cognitivas: atenção; memória; percepção; operações
lógicas.
AULA
c. Sensorial: trabalho com os diferentes sentidos.
d. Aprendizagens específicas: diferentes ares e linguagens curricula-
res; objetivos adquiridos; conteúdos desenvolvidos; dificuldades
específicas.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
COMENTÁRIO
A resposta a esta atividade é de caráter pessoal. Veja um exemplo:
Em relação à aquisição de hábitos, Luca apresenta autonomia com
seus pertences, tira sapatos e roupas sem auxílio, toma banho e usa
o vaso sanitário com independência, pega os brinquedos que deseja
brincar e os guarda ao final da brincadeira. Já se alimenta sozinho,
mas geralmente pede ajuda ao adulto no final das refeições. Não
precisa ser lembrado de escovar os dentes e o faz com satisfação
e autonomia. Apresenta um pouco de resistência no momento do
sono, precisando da interferência do adulto para que se dirija até
sua cama e adormeça.
Em relação ao seu estado afetivo-emocional, Luca é uma criança que
não tem medo de se arriscar diante de desafios cognitivos, coloca
suas ideias com clareza e segurança diante do grupo. Apresenta
um pouco de insegurança nos desafios motores como, por exemplo,
participar de circuitos onde precisa subir e descer degraus mais altos,
CEDERJ231
Educação Infantil 1 | Avaliação na Educação Infantil
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 1
Depois de ter estudado todas as aulas do nosso curso, você poderá explicar com
mais certeza qual é o papel da avaliação na Educação Infantil.
232 CEDERJ
MÓDULO 2
COMENTÁRIO
16
A avaliação na Educação Infantil tem como papel principal aprimorar o trabalho
AULA
realizado com a criança. É a partir dela que o educador vai perceber as facilidades
e dificuldades de suas crianças e poderá propor atividades alternativas que as
auxiliem em suas conquistas. A avaliação contínua pelo educador mede não só o
nível de desenvolvimento das crianças nas diferentes áreas, mas também o trabalho
do próprio educador, ou seja, ele conseguirá perceber se as estratégias utilizadas
alcançaram os objetivos propostos ou se necessitarão de ajustes. A avaliação não
tem papel de julgamento ou de achar culpados para determinadas situações, ela é
uma ferramenta necessária para o aprimoramento do planejamento cotidiano.
RESUMO
Ponto final?
Lá foi ela explicar: não, não sabia o nome. É que a gente chamava
o doce de “só que”. Nas primeiras vezes em que ela fez, a gente
perguntava:
Ela respondia:
− Ia ficar... só que...
E cada vez era um “só que”. De “só que” em “só que”, o nome
pegou. E o doce também. Hoje, é uma delícia (GOSUEN, 2006).
CEDERJ233
Educação Infantil 1 | Avaliação na Educação Infantil
234 CEDERJ
Educação Infantil 1
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