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Em suma, proponho-me a pensar sobre fronteiras, limites e aproximagies entre arte, producao cientifica e exposicao de si mesmo. Jacques Derrida e Michel Foucault, entre outros, orientam boa parte do debate, assim como Marilena Chauf e sua leitura de Merleaw-Ponty. Deinicio, convém dizer que as consideragées aqui feitas nascem do trabalho cotidiano de orientagao de mestrandos e doutorandes, também de alunos de Iniciagao Cientifica, além, 6 claro, das intimeras participagoes em bancas académicas - experiuicia que espero poder compartilhar com o leitor, particularmente naquilo que se relaciona com alguns problemas recorrentes enfrentados ‘por todos os que um dia deciclem se fazer investigadores, membros da comunidacle académica. Refiro-me aqui a dificuldades de escrita vinculadas aos modos pelos quais nos apropriamos de conceitos e teorias; ressalto, sobretudo, algo que me parece muitas vezes auisente em muitos textos académicos: a paixtio daquele que cria. Falta o qu Derrida chama de “leitura assinada” dos autores. DP&A editor his Caminnes invesigstives Reivindlico que todo o tempo, todo o esforgo intelectual, todo o afeto que pomos nessa jornada~ que inelui pensamento, escolha de orientadores ¢ dle referenciais, definigao de temas e objetos de pesquisa, reaiizagio de estucios, levantamento, de dados, escritas diversas —isso talvez puclesse resultarem textos mais vibrantes, mais vivos, mais mobilizadores de nés mesmos ¢ daqueles que nos Iéem. Talvez possamos pensar em formas de “engenho € arte” para nosso trabalho académico, seguindo modestamente o grande poeta portugués Camdes, ao invocar as musas na criagdo de Os lusfades. jacdioa uma certa linha de Apsio-me aqui em varios estucios cle Michel Foucault, sobre a escrita, a literatura, 0 “ser da linguagem’:0 belo texto L’écriture de soi (A escrita de si); também as aulas do fildsofo, recentemente publicadas no Brasil, do curso A hermenéutica do sujeito (de modo especial a aula do dia 3 de marco de 1982); 0s volumes 2e3de sua Histéria da sexualidade e finalmente o livro A experiéncia do exterior, escrito partir da obra de Blanchot. Destaco os estudos do filésofo sobre as artes desi mesmo, a estética da existéncia eo governo de si e dos outros na cultura greco-romana cléssica, particularmente nos dois primeiros séculos do Império. Citando e estudando os escritog de Séneca, Lucilio, Epicuro, entre tantos outros, o autor discute intimeras técnicas ¢ exercicios da ascese necesséria a0 ‘exercicio do pensamento de si,entre os gregos: especialmente, refere= se aos exercicios da leitura ¢ também da escrita de si, anotacdes sobre aulas, conversas, fragmentos de obras (os hypomnemata), aqueles escritos que podem servir como guia para nossa vida, leituras que em tiltima (ou primeira?) instincia fazemos para assegurar-nos contra a morte. Foucault trata ainda do caréter constituidor do eu dado pelas correspondéncias," justamente porque estas provocam (e tratam de) um retornoasi mesmo, atta "Aqui poderiamos lembrar eélebres correspondéncias, como as de Hannah Arendt e Heidegger, Clarice Lispector,Jonguim Nabuaco e Machadlode Assi, publicadas recentemente, scriea cadémica: arte de atsinar @ ques da eserita, através dos conselhos ¢ avisos do outro a nds; di ‘que nas correspondéncias, em suma, trata-se de um encontro muito particular com nossas auséncias. hos gregos clissicos, portanto, que o fildsofo encontra a delicadeza e a forga do ato de escrever, como ato de alguém se mostrar, de meditar, de fazer-se ver, de fazer aparecer para 9 outro eparasi mesmo o proprio olhar: escrever para constituira si mesmo ‘como sujeito de aco racional, pela apropriagao, pela subjetivagao ‘em relacao a0 jé-clito fragmentario de si, Ora, essas ligdes dos antigos talvez possam nos fazer pensar um pouco sobre outras possibilidades de constituir-nos pela escrita, no caso, a escrita académica, Com que cuidado fazemos anotagSes sobre o que lemos? ‘Com que vibragio estabelecemos relades entre autores, obras, conceitos eo nosso “objeto de desejo” nosso problema de pesquisa? ‘Como, parafraseando Chico Buarque,catamosa poesia que [omundo] ‘entora no chao, ou seja, como nos deixamos tocar pelo que lemos, pelas aulasa que assistimos, pelos problemas de educagao dos quai dlesejamos falar em nossos trabalhos, pela beleza dos conceitos que herdamosde um filésofo, de um socidlogo, de um psicanalista, cle wm ‘educador? E.0 que tudo isso de fato tem a ver com nossa vida, com aquilo que amamos e que se faz.came viva em nds? Roubo aqui um belissimo paragrafo de Carlos Skliar, em Pedagogia (improwiive)t da diferenga:¢ se 0 outro nfo estivesse ai?, por muito concorcar com o autor sobre isto: "Tudo o que édiferente de és nao pede licenca para irromper em nossas vidas”; ¢ as mais distintas experiéncias podem ser pensadas nessa perspectiva, incl 1¢ a prosaica experiéncia do estudo, da apresentagao a 2 Refiro-me aqui 9 uma das mais belas composigoes de Chico Buarque, As Vitvines,de 1981 (do disco Aimanagute), em que a poeta, benjaminianamente, companha os passos do homem a seguir pelas runs a mulher desejada, olhanda-a através de vitrines, Ele confessa qui segiie: “Eu te vejosair por i” e conclui com estes versos inigualiveis: "Passas em exposigho / Passas sem ver teu vigia / Catando a poesia / Que entornas no cho.” 0 CCaminhos investgativos tantos outros diferentes de nds, e que muitas vezes tratamoscomo algo oualguém a domesticar, a normatizar, em suma, a reduzir A mesmidade; textos ¢ autores que recuzimos a “pasta”, a pas A mondtona repetigao do jé dito. Para Skliar, outro irrompe, enessa irrupeio nossa mesmidadese védesamparada, estitufda de sua corporalidacle homogenea, de seu egoismo; ¢, ainda ‘que busque desesperadamente as mascaras com as que inventow a si "mesma e com as que inventou o outro, o acontecimento da irrupgtio deixa esse corpo em came viva, o faz humano, arremessa fragmentos de sua identidade (Skliat, 2003, p. 148) Ao utilizar um autor na escrita académica, ndsdecerta forma o Feescrevemos, nds nos apropriamos dele e continuamos sua obra, tensionamos os conceitos que ele criou, submetemos & discussiio uma teoria, porquea mergulhamos no empirico, no estudo de um vai além dos objetos que o autor escolhido elegen ~justamente porque nossa historia é coutra, nossos lugares e tempos sio outros. Reescrever um autor, apropriar-se dele, é vasculhar em suas formulagées teéricas um ponto de encontro com nés mesmos, com aqutilo que escolhemos como objeto, com aquilo em que nés investimos nossa vida, nosso trabalho, nosso pensamento; tem a ver com uma entrega, nossa entrega a um tema, a um objeto, a um modo de pensar, que assuimimos como pesquisadores. objeto por nés selecionado, que ultrapass Importa aqui sublinhar como, de diferentes formas, numa tese ou dissertacao, tragamos caminhos para realizar a apropriagao de um autor. E como ¢ indispensavel que essa apropriagio se faca a partir de nds mesmos, da imersio (nossa e do objeto constewido) fem questdes especificas destes tempos, Nao importa se o autor escolhido for Foucault, Bourdieu, Deleuze, Benjamin, Adorno, Nietzsche. Intere: a.é fazer desses aulores alguém que vive em nossa escrita, que jé no serd mais Foucault ou Nielzsche,e smn seremos nds, eu, ela, vod, endo esses autores, escrevendo nosso texto/para além de qualquer dos pensadores visitados, Este € um Eserita scadémiea: arte de atsinar © que 20 16 i ponto,a meu ver, inarvedavel:estudar muito, embrenhar-se pelas coisas ditas, lidas, ouviclas; faz2-la ruidimentares anotagées; ulteapassar as aplicagies imediatistas apressadas de um autor ou ce um conceito, adonar-se deles ¢ arriscar-se a iralém, justamente porque estamos de alguma forma revendo algo nosso, inscrevendo a nés mesmos numa eriagio genuina, particular, sem no entanto deixar deser deste mundo. 3s, clesdle as primeiras e Mas pode alguém perguntar-me: nossas leituras acaclémicas, nao seriam (ou precisariam ser) quase sempre utilitérias e ivamente curtos, Go parcos, to pressionados? Como aliar leituras titeis a uma entrega quase poética da leitura e da escrita? Como nos posicionarmos diante do que lemos, assumindo a atitude de quem absorve um autor, enterra-se nele, mexe ¢ remexe conceitos € caminhos e, ao mesmo tempo, por paradoxal que isso possa parecer, te uitilitaristas? Nossos tempos nao seriam ex esse mesmo autor, esses mesmos escritos, seguindo a pr6pria paixio, traindoo que acaboude ser partenossa, paixio vivida através da leitura? Aliss, écisso que trata Jorge Larrosa em seu livro Nietzsche, ¢ # Educasio, especialmente no capitulo Ler em diregio ao! desconhecido, Para além da hermen@utica (Larosa, 2002, p. 13-46) A citagao que Larrosa faz.cle Asin falou Zaratustra de Nietzsche 6 providencial: “Paga-se mal a um mestre, quando se continua a ser apenas 0 aluno” (Nietszche, 1996, p. 413). Parafraseando © filésofo, podemos dizer que se paga mal a um orientador se nos constiluimos apenas como cegos-orientandos fiéis; também paga- se muito mal por um livro que nos faré apenas leitores que papagueiam olido, repetidores dos “melhores momentos” de um autor, meros autores de recortes ¢ colagens de trechos que vamos eneaixando numa escrita tecida de alternancias de fragmentos ~ ‘ora passagens de um autor, ara de outro, ora da exemplificagio permiltica pelo objeto de pesquisa, ora ainda porbreves, metesricas ebreves aparigdes de nds mesmos, daquilo que pensamos, daquilo que nos mobiliza e nos faz.tremer a voz, as visceras, 0 olhar.

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