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Exploradores/Moços
Manual para dirigentes
Setembro de 2008
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Parte 1 — A Acção Pedagógica
A – Os destinatários da acção pedagógica
Exploradores/Moços e Pioneiros/Marinheiros
(Ao longo do documento, aparecerá apenas a designação genérica “Explorador” para referir os
elementos da 2ª Secção e “Pioneiro” para referir os elementos da IIIª Secção)
Em termos gerais, a adolescência inicia-se entre os 11 e os 13 anos e termina pelos 19 anos, muito embora este seja
um período incerto, dado que varia bastante. Tudo depende basicamente da natureza do indivíduo, da sua história
pessoal e das características sociais e culturais da comunidade onde vive. Assim sendo, é possível, por exemplo, que
alguns adolescentes de 13 ou 14 anos se situem ainda numa fase muito infantil, enquanto que outros já adquiriram
autonomia e maturidade próprios de uma idade mais avançada. Esta é a razão por que importa reflectir sobre a fase
da adolescência como um todo, sem fazer uma distinção concreta entre Exploradores e Pioneiros: alguns
Exploradores podem revelar já uma maturidade acima da média, enquanto que alguns Pioneiros podem situar-se
ainda num estádio de desenvolvimento mais atrasado.
No entanto, convém que os Dirigentes tenham a noção de que, por norma, no grupo dos Exploradores e Pioneiros
encontramos dois grupos distintos de rapazes e raparigas que diferem muito entre si no que diz respeito à sua
maturação, às suas maneiras de ser, comportamentos e expectativas. Assim sendo, e porque as necessidades de
aperfeiçoamento pessoal são distintas, devem ser diferentes as formas de actuação de um adulto em cada um dos
Grupos.
Pegue-se em experiências únicas, personalidades irrepetíveis, interesses múltiplos, ideias em constante mudança,
vivências pessoais, contextos diferenciados e aí encontraremos qualquer um dos nossos grupos. É perante esta
junção de sujeitos que qualquer dirigente se depara, com que cada unidade trabalha. Se todos partilhamos etapas
distintas, culturas e necessidades tão específicas será muito pouco eficaz adoptar métodos e técnicas únicos e pré-
determinados, já que corremos o risco de muitos ficarem pelo caminho, desistindo ou, pior ainda, sentindo a exclusão
num movimento que se pretende aberto e solidário.
Quando falamos de desenvolvimentos diferenciados falamos de uma possibilidade educativa abrangente e positiva
que não inclui, certamente, o atenuar e “camuflar” de diferenças e dificuldades, mas que pretende o integrar de
aprendizagens em que todos beneficiam, onde existe um espaço onde cada pessoa pode construir o seu projecto de
trabalho.
Assim, a diversidade implica sempre instabilidade, dúvidas, reorganizações, ritmos que não se repetem e ser-nos-á
prejudicial manter uma rigidez nas estratégias e pedagogias.
AS 6 ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO
Para implementar o Projecto Educativo do Corpo Nacional de Escutas de maneira progressiva e adequada a cada
secção, é importante o Dirigente conhecer as características específicas de cada grupo etário. Neste processo, e
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ainda que o desenvolvimento se processe de forma global e gradual, com ritmo diferente de indivíduo para
indivíduo, a caracterização das várias dimensões da personalidade, constituem uma forma de o compreender. São,
então, dimensões da personalidade: o desenvolvimento físico, o desenvolvimento intelectual, o desenvolvimento
do carácter, o desenvolvimento afectivo, o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento social.
É importante que as actividades dos escuteiros contemplem todas estas dimensões. No desenvolvimento integral da
pessoa, é também fundamental o papel da Equipa de Animação, que deve procurar conhecer como se caracterizam
globalmente os adolescentes desta faixa etária. No entanto, isto não é suficiente: é também necessário conhecer
cada um deles, individualmente.
Por fim, é também importante que cada Grupo ofereça aos seus elementos um ambiente seguro que lhes permitirá
adquirir confiança neles próprios, nos outros e no mundo.
Desenvolvimento Físico
O desenvolvimento do corpo, sobretudo nestas idades, determina fortemente algumas características da
personalidade de cada jovem, pelo que é importante compreender cada transformação física: assim entenderemos
muitas atitudes e reacções.
Entre o que mais prende a atenção de um adolescente entre os 11 e os 13 anos estão as transformações que
acompanham o início da puberdade, na qual geralmente se regista uma rápida aceleração no crescimento, primeiro
na altura (sobretudo a nível de pernas e tronco) e depois no peso, e que transformam rapidamente a imagem que tem
de si próprio. Esta mudança brusca provoca um desequilíbrio físico: o crescimento acelerado promove uma ânsia por
actividades expansivas (há um maior vigor físico, sobretudo nos rapazes, pelo que as actividades confinadas a
espaços reduzidos tornam-se muito limitadas), mas o desenvolvimento muscular e da coordenação não acompanham
o crescimento da estrutura óssea, pelo que surgem gestos desajeitados e desconexos.
Esta é ainda a fase em que começam a surgir características sexuais secundárias, ou aquilo a que chamamos as
formas físicas mais próprias de cada sexo (primeiras ejaculações, menstruação, crescimento de pêlos e de seios,
mudanças na voz e na textura da pele, etc.). Estas mudanças provocam, muitas vezes, momentos de grande fadiga,
ansiedade e angústias em relação a um desenvolvimento físico que o adolescente considera ‘anormal’, por
comparação com os outros. Surge, assim, no adolescente, uma hipersensibilidade perante julgamentos físicos e um
desconforto em relação a si mesmo: é como se não se sentisse bem na sua própria pele.
Entre os 14 e 17 anos dá-se um aumento do tamanho corporal, formas e capacidades físicas, desaparecendo a
tendência para a descoordenação física, tão típica dos anos anteriores. Estabelece-se também a maturidade sexual e
reprodutiva e desenvolve-se de forma mais estável a identidade sexual, com a afirmação de papéis mais definidos
para rapazes e raparigas. Toda esta estabilidade potencia o desenvolvimento de novas capacidades, impulsos e
potencialidades que é preciso identificar, experimentar e controlar.
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corpo, aceitando com serenidade as mudanças;
- estimular o respeito pelo outro sexo, valorizando as diferenças físicas existentes;
- desenvolver a aptidão corporal através de actividades estimulantes que desafiem a descoberta de novas
capacidades físicas.
Desenvolvimento Intelectual
Pelos 11-13 anos surge a necessidade de produzir, de deixar a sua marca no mundo real. Esta capacidade para agir
de forma concreta permite-lhe desenvolver sentimentos de competência e valores próprios (‘eu sou capaz’, ‘eu
consigo’) e é acompanhada pelo desenvolvimento da capacidade de pensar de forma lógica sobre ideias e dados
abstractos. Assim, e embora o adolescente continue a precisar de estruturas e actividades delineadas passo-a-passo
(senão dispersa-se facilmente), consegue já descobrir soluções para problemas apresentados apenas na teoria. Isto
fá-lo desenvolver uma apetência para a investigação e aprendizagem de coisas novas, a que se associa ainda uma
boa capacidade de memorização.
Dos 14 aos 17 anos, a capacidade de raciocínio melhora: surgem as hipóteses e deduções de relações entre as
coisas que permitem criticar o estabelecido, produzir interrogações sobre o futuro e sobre a sociedade, forjar
argumentos lógicos e detectar rapidamente falhas nos argumentos dos outros. Isto implica que, antes de agir, o
adolescente apresenta já uma predisposição (ainda que tenha de ser solicitada) para reflectir sobre os assuntos,
ponderando hipóteses e alargando o seu pensamento à perspectiva dos outros. Revela, assim, capacidade para estar
alerta, mas ainda está sujeito a devaneios e ao “sonhar acordado”. Começam-se também a definir interesses e
vocações, na medida em que o adolescente começa a pensar no futuro e a elaborar programas de vida.
Desenvolvimento do carácter
Até aos 13 anos, a capacidade de reflectir sobre a sua própria opinião e a opinião dos outros leva os adolescentes a
questionar as orientações estabelecidas, sobretudo as do núcleo familiar. Podemos falar, assim, do início de um
período de oposição e rejeição de ideias provenientes de figuras com quem antes havia uma identificação. Para além
disto, o adolescente desta idade consegue já descrever-se em termos de pensamentos internos, sentimentos,
capacidades e atributos, demonstrando capacidade de auto-análise.
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Pelos 14-17 anos estamos perante verdadeiras crises de identidade, em que o adolescente se vira para si mesmo
para operar uma descoberta consciente do “eu” e procurar algo que lhe seja próprio, só seu. Este processo, em que
se dá um alargamento das actividades realizadas por iniciativa própria, nem sempre é pacífico, na medida em que
podem surgir conflitos (não é criança, mas também não é adulto, embora se considere igual a ele) e problemas de
auto-estima.
Para além disto, os esforços dirigem-se sobretudo para a procura de novos modelos de comportamento (os modelos
de identificação deixam, muitas vezes, de ser os pais para serem outros adultos de referência ou os pares), o que
produz uma consequente alteração do sistema de valores.
Por fim, o adolescente tem tendência a construir grandes sonhos e aspirações e a desenvolver sentimentos de
invulnerabilidade. É frequente, a este nível, que o adolescente se proponha a reformar a sociedade na qual é
chamado a viver e a negar frequentemente a hipótese de poder ser vítimas de atitudes e situações de risco.
Desenvolvimento afectivo
Nos adolescentes dos 11 aos 13 anos, dá-se um despertar dos impulsos sexuais devido ao início da puberdade
biológica. Este despertar tem impacto no campo afectivo, marcado agora por emoções fortes e confusas que, pela sua
dominância, gerem todo o comportamento, também ele confuso e muitas vezes marcado por reacções emocionais
desproporcionadas que o adolescente se esforça por entender. A este nível, desenvolvem-se especialmente a
necessidade de afirmação como indivíduo (marcada em especial pela identificação com heróis, com quem o
adolescente aspira a parecer-se) e a necessidade de desenvolver as suas amizades.
A atenção que um adulto presta a um adolescente nestas idades deve estar muito virada para a compreensão destas
emoções, dado que elas podem originar desequilíbrios a nível de comportamentos.
A partir dos 14 anos, a necessidade de criar e renovar amizades profundas e de se afirmar como indivíduo é agora
preponderante. Esta é a altura das amizades profundas e para toda a vida, em que a escolha dos amigos vai sempre
ao encontro daquilo que se considera os padrões certos de agir, pensar e falar. Procura-se não a diferença mas
gostos e modos semelhantes (a adesão a novos valores marca a escolha dos amigos), o melhor amigo surge como
confidente e companheiro preferido e há uma maior consideração pelos sentimentos dos outros.
Para além disto, surge a necessidade de estabelecer uma ligação afectiva a outra pessoa. Este é, assim, o período da
atracção em relação ao sexo oposto e dos primeiros amores (surge mais cedo nas raparigas).
Claro que toda esta procura vem acompanhada de grandes períodos de instabilidade emocional, com mudanças de
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humor súbitas, em que num momento é possível estar muito bem, noutro em profunda depressão e desânimo, dado
que há uma alternância entre o que é o ideal e aquilo que é possível. Isto conduz a tendência para períodos de
isolamento.
Desenvolvimento Espiritual
A adolescência marca o momento de passagem entre a chamada Fé de criança, herdada dos pais e da vivência em
comunidade, e a Fé pessoal, interior e que se interliga com os próprios actos, numa busca do sentido das coisas, sem
que haja uma aceitação tácita de princípios.
Dos 11 aos 13 anos, surge uma maior preocupação com as questões morais e um melhor entendimento destas.
Assim, os princípios, deveres e responsabilidades éticas começam a ser defendidos com esforço, sobretudo em
momentos de grupo: os adolescentes tomam consciência de que todos devem seguir as mesmas leis e regras para
manutenção da harmonia e entendimento do grupo. Aceitam, assim, os princípios morais como meio de partilha de
direitos e responsabilidades com os outros. Contudo, esta situação muitas vezes só é visível quando existe uma
quebra no entendimento comum, em que se levantam as típicas questões do “não é justo”, “uns podem e outros não”.
A partir dos 14 anos, a simbologia, o interesse por outras vivências de Fé e por problemas éticos e de defesa de
valores tornam-se marcos das vivências espirituais dos adolescentes. Nesta fase, surge um interesse mais marcado
por ideologias e religiões diferentes da sua, que é acompanhado por alguma reserva na expressão de questões
espirituais e convicções da sua própria religião. Para além disto, começa-se a pôr em causa as práticas religiosas da
infância.
Isto não invalida, contudo, o interesse por problemas éticos e ideológicos. Na verdade, o Pioneiro aprecia o símbolos
para expressar significados espirituais, é frequentemente radical na defesa de valores e chega a demonstrar, por
vezes, capacidade um grande altruísmo. Tem também a noção de que é necessário estabelecer contratos e seguir as
mesmas “leis” para haver entendimento no grupo.
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Na Terceira Secção, o Dirigente deve ajudar o Pioneiro a:
- identificar-se com o Jesus Cristo e a vê-lo como exemplo de defesa radical dos valores cristãos;
- compreender a validade e riqueza das celebrações comunitárias, espaço privilegiado de comunhão com
Deus e os irmãos;
- assumir-se como cristão comprometido com o mundo.
Desenvolvimento social
Um adolescente dos 11 aos 13 anos é, em geral, capaz de reflectir sobre os seus próprios pensamentos e percebe
que os outros fazem o mesmo. Nesta altura, começa a procurar a sua própria conduta (questionando as regras da
infância, que lhe impõem uma conduta estabelecida por outros), mas, sempre que não consegue seguir o padrão de
conduta que escolheu, tem tendência a produzir sentimentos de culpa e recriminação que o levam a tentar justificar o
seu comportamento ou a tentar compensar alguém pelo que fez de errado.
Nesta busca por um comportamento autónomo, desenvolve uma compreensão genuína do que significa fazer parte de
um grupo e adere voluntariamente às suas normas, que assumem um carácter absolutamente sagrado (a equidade e
justiça, por exemplo, são levadas muito a sério – “se eu não posso quebrar as regras o outro também não pode” ou “é
justo que ele venha à actividade porque ajudou a planeá-la”). Dá-se, assim, um período de expansão social em que se
formam relações de lealdade que começam a ser mais importantes para o adolescente do que quaisquer outras (é o
grupo que manda).
Nesta fase, desenvolve-se do conceito de género (homem e mulher) e respectivos papéis, embora os estereótipos
ligados a cada género (um homem faz isto, uma mulher aquilo) tenham uma influência poderosa nas percepções dos
adolescentes. Assim, geralmente, desvios aos papéis tradicionais são alvo de críticas. Podemos ainda afirmar que,
num âmbito geral, os rapazes são vistos como mais aventureiros e dispostos a actividades que envolvam riscos,
sendo também mais assertivos na adesão a grupos, enquanto que as raparigas tendem a ser mais conscientes
socialmente, mais atenciosas a novos membros e mais flexíveis nos seus estereótipos que os rapazes.
Perante isto, por norma, na interacção entre adolescentes de ambos os sexos, surgem fronteiras físicas demarcadas:
em geral, ainda se definem por grupos separados por género e por afinidade de interesses, existindo sempre uma
certa rivalidade natural entre sexos. Contudo, têm um gosto especial pelo trabalho em equipa (embora conservem um
espírito independente), pelo que conseguem muito bem desenvolver actividades em conjunto, sobretudo se à
rivalidade se sobrepuser a necessidade de trabalhar em conjunto para atingir um determinado fim. Quando assim
acontece, desenvolvem relações de pares baseadas no respeito e apoio mútuos.
Na passagem para os anos seguintes, o adolescente vê as relações como um processo de partilha mútua onde todos
podem vir a beneficiar de satisfação e compreensão social. Assim, entre os 14 e os 17 anos, possuem uma grande
capacidade de se adaptarem a novos grupos sociais e de estabelecerem relações fáceis com outros (da mesma idade
ou de outras), desde que o seu modo de ser se enquadre nos seus padrões de acção. Isto gera duas situações
distintas: por um lado, existe alguma incerteza em relação ao que são as expectativas do grupo e àquilo que é
esperado ou aceite, o que gera uma preocupação injustificada (sentem que são o alvo constante das atenções dos
outros); por outro lado, começam a viver em grupos mais unidos, baseados na confiança mútua, onde há a procura de
uma identidade comum.
Por fim, este é também um período de reestruturação social, onde predomina a rebeldia contra a autoridade
estabelecida e se escuta melhor a opinião de alguém diferente. Assim, surgem comportamentos negativos de
inconformismo e de agressividade para com os outros. Para além disso, os adolescentes podem ainda mostrar-se
extremamente críticos e francos na expressão da sua opinião, sentindo, muitas vezes, que as suas experiências são
únicas e ninguém as pode compreender (egocentrismo).
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A este nível, na Segunda Secção deve-se auxiliar o Explorador a:
- compreender que as regras do grupo não se podem sobrepor à sua consciência e àquilo que está certo (a
referência constante à Lei, aqui, é determinante);
- compreender que as relações entre os pares se devem basear sempre no respeito e solidariedade
mútuos, independentemente do sexo.
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B – O projecto educativo que oferecemos
1. Proposta Educativa do CNE
O Escutismo é um movimento de educação não-formal, que contribui para a educação dos jovens através de um
sistema de valores, tal como se expressa no documento “A Missão do Escutismo”, Durban 1999:
Isto é alcançado
Ì envolvendo os jovens, ao longo dos seus anos de formação, num processo de
educação não-formal;
Ì utilizando um método original, segundo o qual cada indivíduo é o principal agente do
seu próprio desenvolvimento, para se tornar uma pessoa autónoma, solidária,
A partir desta declaração de Missão, as associações escutistas devem elaborar a sua Proposta Educativa, na qual
expressam a sua intenção educativa, ou seja, aquilo que podem oferecer aos jovens de uma determinada comunidade e
por um determinado tempo.
Com a proposta educativa, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) procura responder às necessidades educativas das
crianças e dos jovens, através dos Princípios e do Método escutistas. Ao mesmo tempo, a proposta pretende ser
referência para a acção continuada dos animadores adultos e também, um compromisso educativo perante a
sociedade.
Sendo um documento aberto e dinâmico, a Proposta Educativa concretiza-se nas actividades características do
movimento, que proporcionam a criação e/ou o desenvolvimento de determinadas competências e características nas
crianças, nos adolescentes e nos jovens.
A intenção educativa do CNE, adequada ao tempo e à sociedade, está expressa na Proposta Educativa “Educamos.
Para quê?”.
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- uma pessoa criativa e ousada face aos desafios e que cultiva o espírito crítico de modo a distinguir o essencial
- uma pessoa alegre, sensível e compreensiva, consciente de si própria, das suas limitações e potencialidades
- uma pessoa solidária e fraterna, que promove o respeito e a tolerância na sua relação com os outros
- uma pessoa que assume integralmente o seu compromisso cristão como opção de vida
- uma pessoa que respeita o seu corpo como manifestação de vida e com ele se relaciona de forma equilibrada
• ...para se tornar detentor de Saber;
- uma pessoa que reconhece as suas imperfeições e as procura superar de uma forma constante
- uma pessoa que busca sempre mais e usa esses conhecimentos para fundamentar as suas decisões, expressando
adequadamente as suas ideias
- uma pessoa que valoriza as sua emoções e afectos, vivendo-os em equilíbrio
- uma pessoa atenta ao Mundo, no qual identifica o seu papel, valorizando o trabalho em equipa
- uma pessoa que procura aprofundar sempre o seu esclarecimento na Fé
- uma pessoa que conhece as capacidades e limites do seu corpo, reconhecendo as ameaças ao mesmo
• ...para se tornar preparado para Agir;
- uma pessoa que, comprometendo-se, age de acordo com as suas opções, respeitando os outros e o mundo
- uma pessoa empreendedora, activa no desenvolvimento de iniciativas e que cuida da sua própria formação
- uma pessoa que cultiva amizades e que vive o amor de uma forma plena, dando disso testemunho em família
- uma pessoa que assume o seu papel na comunidade, exercendo a cidadania de uma forma participativa e
generosa
- uma pessoa que evangeliza pelo testemunho e pela partilha, no respeito pelas convicções dos outros, contribuindo
assim para a construção da paz
- uma pessoa que, reconhecendo o seu corpo como meio para transformar o Mundo, cuida dele em harmonia com o
ambiente
O CNE ajuda jovens a crescer...
...para que com o Ser, Saber e Agir se tornem homens e mulheres responsáveis e membros activos
de comunidades, na construção de um mundo melhor.
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A Proposta Educativa do CNE “Educamos. Para quê?” foi aprovada no Conselho Nacional
Plenário de Maio de 2003.
Este documento é um género de Bilhete de Identidade. ou cartão de visita que pode ser
usado:
Ì Quando se recebe um novo elemento e os Pais querem perceber um pouco melhor o que
é o Escutismo e o que o distingue, por exemplo, de um qualquer clube desportivo;
Ì Nas reuniões de Pais;
Ì Quando se fazem exposições ou folhetos sobre o Escutismo;
Ì Numa reunião com a Autarquia;
Ì Num pedido de apoio financeiro;
Ou ainda em:
Ì Num momento de formação da Equipa de Animação;
Ì Num jogo sobre valores;
Ì Num jogo sobre as qualidades individuais;
Ì ...
Em cada uma das áreas de desenvolvimento pessoal estão identificadas prioridades educacionais – três trilhos
educativos – que tomam em conta as necessidades e aspirações das crianças, dos adolescentes e dos jovens em
particular – os objectivos educativos. Entende-se por trilho educativo os caminhos de crescimento a trabalhar em cada
área, dos quais se definem os objectivos de crescimento a atingir no final do tempo vivido na secção.
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Áreas Trilhos Os objectivos de cada trilho relacionam-se com:
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C – Como implementar?
— As sete Maravilhas do Método
O Movimento Escutista tem uma missão definida que passa por educar, promovendo o desenvolvimento das
crianças, dos adolescentes e dos jovens através de actividades recreativas e de serviço, de modo harmonioso com a
sua própria personalidade e com a comunidade em que vive.
Vemos assim que o Método Escutista, a partir da forma natural como as crianças, os adolescentes e os jovens se
relacionam, permite explorar diferentes opções educativas, realçando o que eles aprendem uns com os outros e
potenciando verdadeiras experiências educativas, tais como:
- Alargar horizontes: o campo de acção e de experimentação da criança/adolescente/jovem vai aumentado à
medida que cresce;
- Transportar a criança/adolescente/jovem da imaginação à realidade: os heróis e heroínas não existem só em
lendas, mas são indivíduos de carne e osso, o mundo fictício das histórias desafia a exploração do mundo real;
- Proporcionar o crescimento em pequenos grupos: a relação com os pares e o assumir de responsabilidades
são componentes essenciais de um ensaio para a vida futura em sociedade;
- Contribuir para a interiorização de regras sociais (através do jogo e dos valores universais), ajudando a
desenvolver um código de conduta próprio ao qual voluntariamente se adere;
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- Incentivar a ser cada vez mais e melhor, desafiando limites e estabelecendo novas metas a alcançar;
- Arriscar num ambiente privilegiado onde as conquistas e os erros possuem igual valor pedagógico: a correcta
aplicação do método proporciona a criação de um espaço seguro onde as crianças/adolescentes/jovens
aprendem, erram e voltam a aprender numa dinâmica de crescimento;
- Construir uma relação de confiança com alguém que ajuda, prepara, apoia, encoraja, aconselha e educa.
.
Identificadas as bases do Método Escutista e traçado o caminho para lá chegar, faltará apenas caminhar… E o caminho
possui sete características essenciais de que não podemos abdicar e que consideramos maravilhosas, por constituírem
a base do Método Escutista. São as “Sete Maravilhas do Método Escutista”:
Sistema
de
Patrulhas
Sistema de Relação
progressão jovem/adulto
pessoal
Lei
e
Promessa
Vida
Aprender na
fazendo Natureza
Mística
e
Simbologia
Em cada secção, cada uma destas “Sete Maravilhas do Método Escutista” deverá ser aplicada de modo distinto, de
acordo com as características próprias de cada faixa etária e tendo em conta o grau de autonomia, de maturidade e de
responsabilidade de cada criança, adolescente ou jovem..
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1 – Sistema de Patrulhas
O Sistema de Patrulhas é o principal motor do Escutismo, permitindo a cada Escuteiro encontrar o seu lugar
entre os outros
O sistema de patrulhas, tal como B.-P. o idealizou, assenta na divisão de rapazes e raparigas em pequenos grupos –
Patrulha –, dentro dos quais estabelecem relações e são chamados a assumir diversas tarefas para a promoção do
bem-comum. Um dos elementos assume a direcção e cada um dos restantes é chamado a desempenhar funções
específicas, que permitem a cada um contribuir para o bem geral. Esta divisão de tarefas incentiva, assim, a co-
responsabilidade e permite a aprendizagem da democracia e da solidariedade. Ao mesmo tempo, possibilita também a
compreensão do papel do líder e da importância de uma boa e equilibrada liderança para o desenvolvimento do grupo.
O sistema de patrulhas, na I.ª Secção, materializa-se nos Bandos, na II.ª secção materializa-se nas Patrulhas e nas III.ª
e IV.ª secções traduz-se nas Equipas.
É o Sistema de Patrulhas que faz das Unidades e, por conseguinte, de todo o Escutismo, um verdadeiro esforço de
cooperação. Faz dele um método de educação natural e não formal, onde cada jovem, com as suas particularidades e
curiosidades muito pessoais, cresce com os outros e entre eles. Os seus pares passam a ser por si reconhecidos pela
vivência conjunta e pela prática da Lei do Escuta.
É fomentada a ideia de que o valor individual de cada Escuteiro deverá estar sempre ao serviço do
Bando/Patrulha/Equipa e, consequentemente, da Unidade, sendo que cada um trabalha segundo as suas forças e
recebe segundo as suas necessidades.
Assim sendo, a Patrulha, não é mais do que uma sociedade, um grupo de rapazes e raparigas, unidos por ideais e
objectivos comuns e regidos pela mesma lei – a Lei do Escuta. Na Patrulha, os jovens poderão e deverão viver juntos
experiências inesquecíveis e realizar actividades de serviço. O Bando/Patrulha/Equipa é uma “micro-sociedade”, onde
cada escuteiro desempenha um papel. Ao assumir a responsabilidade de determinadas tarefas no seio do
Bando/Patrulha/Equipa, o Escuteiro torna-se responsável por si mesmo e... cresce!
Na vida de cada um destes pequenos grupos, no seu funcionamento regular, são promovidos valores como o da
liderança responsável, da democracia, da co-responsabilidade, da solidariedade, do trabalho em equipa, através da
divisão de tarefas.
O Sistema de Patrulhas proporciona ainda a perda da perspectiva egocêntrica, e permite às crianças, adolescentes e
jovens a criação de hábitos de divisão de tarefas e bens. Este sistema une os jovens num ideal comum, repleto de
camaradagem, cumplicidade e amizade.
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B – Organização
Quadro-síntese:
I.ª Secção II.ª Secção III.ª Secção IV.ª Secção
Designação
do Projecto
Caçada Aventura Empreendimento Caminhada
Continua…
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Quadro-síntese:
… Continuação
Especificidades do Escutismo Marítimo
I.ª Secção II.ª Secção III.ª Secção IV.ª Secção
Designação
do Projecto
Caçada Expedição Cruzeiro Campanha
I. Constituição
a) Nome
O sistema de patrulhas criado por B.-P. tem como centro a patrulha – um pequeno grupo de elementos que partilha
ideais, tradições e responsabilidades. Todas as Patrulhas têm um totem – nome de um animal, escolhido pela
Patrulha – que as distingue dentro do Grupo. No capítulo referente ao espírito de Patrulha, é abordada a questão do
lema, grito, bandeirola, etc., decorrentes do totem da patrulha. Ao conjunto de Patrulhas chamamos Grupo
Explorador.
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Sugerimos que os Exploradores usem como Totem um de 44 animais definidos (Ver anexo 7), uma vez que são
todos facilmente identificados através do seu símbolo (já à venda no DMF) e do seu grito (som produzido pelo animal).
A maior parte destes animais existem na nossa fauna nacional.
Deixamos a indicação de que cada patrulha deverá fazer uma pesquisa sobre o verdadeiro grito do respectivo animal,
podendo mesmo essa pesquisa ser uma verdadeira aventura à caça desse som. Assim, não devem ser usados os
gritos sugeridos no Escutismo para Rapazes, mas os sons reais dos animais. A patrulha pode deslocar-se até um
local onde possa registar o som desse animal, ou pesquisar o som na Internet, ficando o método ao critério e ao
desejo de aventura de cada patrulha. Todos os elementos da patrulha deverão conseguir reproduzir o som real do
animal.
b) Número de elementos
Muito embora não se possa definir o número ideal de elementos de uma Patrulha, a experiência recomenda que esse
número esteja compreendido entre 5 a 8 elementos. Isto por uma questão de funcionamento – haverá tarefas para o
sucesso do trabalho da Patrulha que terão de ser feitas –, mas, também, por uma questão de convenção – para
melhor funcionamento e harmonização colectiva.
Acontece, no entanto, que, se no Grupo, por determinada razão, só existem 9 elementos, terá de arranjar-se uma
solução enquanto não cresce o conjunto. Assim, aceita-se que em casos excepcionais haja uma divisão e um BPE
possa ser constituída por 4 elementos. Note-se, no entanto, que essa deve ser encarada como uma solução de
contingência, a prazo, e não a melhor solução do ponto de vista pedagógico.
c) – A construção da Patrulha
O género
Consideram-se mistas as Patrulhas constituídas por elementos de géneros diferentes. Nos Exploradores,
recomenda-se que a construção das Patrulhas seja de forma mista, embora dependendo das especificidades de cada
grupo se possa optar pela forma exclusivas por género.
Há vantagens na constituição de Patrulhas. Senão vejamos:
• Se o Grupo é misto, e se dessa heterogeneidade resulta uma aprendizagem, será natural que os elementos
também se queiram juntar da mesma forma;
• Por outro lado, é natural que entre os 10-12 anos a tendência natural face ao estágio de desenvolvimento que
vivem, será a de se juntarem entre pares, o que de modo algum inviabiliza a existência de relações de amizade
com elementos do sexo oposto.
Todavia, caberá à Equipa de Animação analisar costumes, culturas, temores, e assim, ao avaliar a sua realidade
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decidir sobre qual o melhor método a adoptar.
Ainda que o caminho passe pela implementação das Patrulhas mistas, há que salvaguardar e acautelar que, em
acampamento, a tenda seja vista como um espaço de intimidade em que a privacidade dos géneros deverá ser
conservada. E que numa Patrulha nunca deve estar, de um determinado género, um elemento sozinho.
A idade
Consideram-se verticais as Patrulhas constituídas por elementos de diferentes idades. Denominam-se por Patrulhas
horizontais as que incluem todos os elementos com a mesma idade.
O aconselhamento pedagógico vai para a preferência pelo modelo vertical. De facto, uma Patrulha que integra
crianças, adolescentes ou jovens de diversas idades é encarado como o mais positivo. É certo que esta
heterogeneidade poderá criar obstáculos no seio da Patrulha, pela diferença de interesses ou estágios de maturidade
em que cada um deles se pode encontrar, mas, por outro lado, poderá trazer também enormes benefícios, dos quais
destacamos o acompanhamento dos mais novos por parte dos mais velhos e a partilha do conhecimento. De facto,
compete aos mais velhos, olhados como exemplo a seguir, ensinar e orientar os mais novos e dar testemunho dos
costumes que vão sendo construídos no seio da Patrulha. Assim se estimula a solidariedade e se mantêm as
tradições, que vão permitir a conservação da memória colectiva e a formação de espírito de corpo ao longo da vida.
Menos vulgar, e a ser utilizada apenas em casos de necessidade, é a implementação do modelo horizontal que, por
sua vez, integra crianças, adolescentes ou jovens da mesma idade e que estão todos na mesma fase de
desenvolvimento. Isto vai facilitar a integração dos elementos na Patrulha (uma vez que partilham interesses), mas tem
grandes desvantagens. Por um lado, quando se dá a passagem simultânea de todos os elementos para a secção
seguinte extingue-se a Patrulha e não houve lugar à aprendizagem colectiva e à transmissão de tradições da Patrulha.
Por outro lado, nos jogos e competições sadias, e porque não há equilíbrio de idades, as Patrulhas com elementos
mais velhos têm mais probabilidades de vencer as Patrulhas mais novas, perdendo-se os valores da solidariedade e
da fraternidade. Por fim, a estratégia do ‘irmão mais velho’, que orienta e ensina, é impossível de implementar, dado
que não há diferenças etárias.
As crianças, os adolescentes e os jovens criam empatias e laços de amizade com relativa facilidade, o que pode
facilitar em muito a integração de novos elementos, sejam eles noviços ou aspirantes. Em ambos os casos, deverá
dar-se “espaço” ao Grupo e aos novos elementos a integrar para que possam, de forma espontânea e informal, criar
essas relações de amizade e assim, se integrarem naturalmente. Pese embora esta “aproximação” natural, a
distribuição de novos elementos pelas Patrulhas deverá ser, sempre, da responsabilidade da Equipa de Animação,
ouvido o Conselho de Guias.
Sugestão:
Para fazer as Patrulhas …
- Porque não transformar a formação das Patrulhas num jogo? Observas a constituição do Grupo e numa
folha escreves, como se fossem regras, obrigatoriedades que é preciso cumprir para fazer a Patrulha. Podes
pôr critérios de idade e de género… mas também de interesses, estéticos, de características físicas, etc. Até
pode ter sido a equipa de animação a fazer as, mas os Exploradores devem sempre pensar que foram eles
que, naquele jogo, as fizeram.
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d) – O espírito de Patrulha
Citações:
O espírito de patrulha quer dizer que cada um dos membros da patrulha sente que é parte essencial de um
todo completo e uno – um corpo que a cada membro cumpre executar o seu papel individual com o fim de se
atingir a perfeição e plenitude do conjunto.
Roland Philipps, in O Sistema de Patrulhas, página 25
São várias as imagens que podem utilizar-se para ilustrar a valia pedagógica e o que se entende por espírito de
Patrulha, ou aquilo que vulgarmente se chama de espírito de corpo – a rede de identidades, de cumplicidades, de
hábitos e tradições que dão coerência e são factor de unificação dos elementos de um determinado grupo.
Pode dizer-se que uma Patrulha se assemelha a um corpo humano: cada órgão e cada membro tem a sua função e
todos funcionam para o mesmo objectivo, mas, se um deles adoece, todo o corpo sofre com isso e deixa de funcionar
perfeitamente. São Paulo, na Carta aos Romanos (Rm 12, 3-8) utiliza exactamente essa mesma imagem.
O mesmo se passa com uma Patrulha que não tenha espírito de corpo: se os seus elementos não fazem ou sentem
que não fazem parte de coisa nenhuma vão desmotivar-se e a Patrulha vai deixar de funcionar.
Para que esse espírito de corpo exista, se forme ou cresça, pode recorrer-se a dois tipos de acções:
• Utilizar e incentivar todas as características do trabalho em equipa que a Patrulha promove: a divisão de
tarefas, a democracia interna para decisão de interesses comuns, a co-responsabilização, o debate, etc. Toda
a responsabilidade individual, se for devidamente assumida, une e fortalece.
• Recorrer, mostrar ou dar a descobrir aos Escuteiros as ferramentas pedagógicas (objectos, símbolos e
tradições) em que o Escutismo é riquíssimo e que foram idealizadas com vista à distinção e promoção da
identidade das patrulhas. Algumas são sugeridas por B.-P. nas várias publicações e intervenções que fez (o
grito, a bandeirola, por exemplo) e outras (como o Livro de Ouro) foram nascendo com o tempo
20/97
Apontamento adicional:
Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Patrulha
- Totem
Totem é o animal que cada Patrulha escolhe para servir de seu nome, de identificação primária e mais
básica. Dessa escolha resulta o uso do nome mas devem ser assumidas, também, as suas vivências, as
qualidades e virtudes que lhe estão comummente atribuídas. No caso de um animal pelo estudo desse
animal, morfologicamente, pelas suas capacidades físicas, mas também dos seus hábitos, lendas que lhes
estão associadas.
- Divisa ou Lema
Frase escolhida de acordo com o nome da Patrulha e que deverá fazer referência às características mais
evidentes do Totem/Patrono. Esta frase deve exprimir e ser encarada como o objectivo que a Patrulha
pretende alcançar.
- Grito
Sinal sonoro, utilizado exclusivamente pelos membros da Patrulha, que imita o som produzido pelo totem da
Patrulha. O grito permite que a Patrulha comunique entre si, distinguindo-se das outras, mas serve também
para chamar todos os seus elementos para reunião ou formatura e para, na formatura (onde é lançado pelo
Guia), informar que a Patrulha está pronta para ouvir e se apresentar. Salientava B.-P. que “nenhum Escuteiro
poderá servir-se do grito de patrulha que não seja a sua” (ER 35).
21/97
Apontamento adicional:
Continuação…
Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Patrulha
- Bandeirola
Pequeno estandarte da Patrulha, é um sinal da presença dela e deve acompanhá-la em todas as ocasiões.
Deve ocupar um lugar especial no canto de Patrulha, porque é honrada e querida pelos elementos (nunca
deve ser maltratada ou deixada ao acaso). Pode ser adquirida no DMF, mas é aconselhável que seja feita
pelos escuteiros, nascendo da sua imaginação. Pode ser fabricada em diversos materiais (penas, pêlo, tecido,
etc.) e ter diferentes formas (triangular, rectangular, etc.). Deve sempre respeitar as dimensões máximas de
25cm X 40cm e reproduzir obrigatoriamente o totem. Pode ainda conter o lema, as cores do animal, etc. A vara
do Guia, que a suporta, pode ser decorada com elementos a gosto da Patrulha, como entalhes, desenhos,
troféus, nomes, etc..
- Livro de Ouro
Caderno confidencial a que poderão aceder apenas os elementos actuais e os do passado da Patrulha.
Serve para transmitir aos futuros elementos as experiências vividas, na medida em que regista todos os feitos
e acontecimentos marcantes da vida da Patrulha. Regista, assim, a sua história, os motivos de orgulho do seu
passado e os acontecimentos relevantes do presente. Guarda, também, a descrição do totem, o grito e lema,
códigos secretos, nomes dos elementos que passaram pela Patrulha, actividades realizadas, competências
obtidas, etc., através de textos, fotografias, desenhos. É no Livro de Ouro que se registam ainda as tradições,
instrumentos fundamentais para fazer com que a Patrulha seja única e igual a si mesma. O carácter secreto
empreendido em algumas dessas tradições aguça e fortalece o espírito de corpo (elas são exclusivas da
Patrulha e mais ninguém pode partilhá-las, a não ser que tenha a honra de ingressar na Patrulha). Estas
tradições podem ser instituídas e conseguidas nas mais diversas formas: através de simbologias próprias, de
rituais e cerimoniais, de códigos secretos, de nomes de totem, etc. Dada a riqueza deste Livro e a sua
importância, deve ser decorado com cuidado e muito bem tratado (deve ser quase uma obra de arte). A sua
natureza secreta leva a que só deva ser aberto de forma cerimoniosa e pelos elementos da Patrulha.
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Apontamento adicional:
Continuação…
Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Patrulha
- Totens pessoais
Seguindo a tradição dos Peles-Vermelhas, tornou-se hábito cada escuteiro adoptar um totem pessoal. Trata-se
de um nome usado pelo próprio e pelos seus irmãos escuteiros, quase como uma segunda identidade,
exclusivamente escutista. O totem pessoal é um animal que personifica as características do escuteiro e com o
qual ele se identifica ou cujas capacidades gostaria de ter. É seguido de um adjectivo que deve ser uma
característica do escuteiro ou algo que pretenda conquistar. É possível que o animal totem de uma Patrulha
seja aquele com o qual todos os elementos se identifiquem, sendo adoptado para totem pessoal de todos.
Contudo, isto não é obrigatório.
- Canto de Patrulha
Sempre que possível, deve existir na Cabana um local exclusivamente reservado à Patrulha e a que só ela
e a chefia podem aceder. Este canto é da responsabilidade da Patrulha e pode estar organizado e
decorado como ela entender. Deve, no entanto, exigir-se asseio e ordem. O canto pode incluir, entre outras
coisas, espaço para os materiais da Patrulha (cordas, tenda, ferramentas, material escolar, etc.), quadros
variados (de informações, de nós, de sinais de pista, de presenças, com colecções, fotos da Patrulha em
Actividades), local para arrumar as varas, decoração relacionada com o totem, mesa e bancos para todos,
etc. Pode ainda ter um nome associado ao totem – ‘Ninho do Corvo’, ‘Ramo da Serpente’, ‘Covil do Lobo’,
‘Toca da Raposa’, etc.
- Quadro Inter-patrulhas
Painel de pontuação que promove a competição inter-patrulhas, através da atribuição de pontos a aspectos da
vida na sede e das actividades – assiduidade, limpeza dos cantos e campos, vitórias em jogos, comportamento,
respeito pela Lei, alegria, etc. A pontuação obtida por cada Patrulha é, depois, registada num painel na
Cabana: o Inter-patrulhas.
A definição de pontuações, à partida, pode ser importante instrumento pedagógico. De facto, a competição é
uma ferramenta riquíssima na animação dos grupos de escuteiros e torna as tarefas mais simples ‘missões’ de
grande importância. A competição entre as Patrulhas, ao longo de um ano escutista, ou mesmo durante uma
Aventura, organizada com sentido de justiça, atenção e dedicação possui várias vantagens: faz crescer
substancialmente o espírito de corpo (todos são obrigados a ‘lutar pela sua Patrulha’), promove o respeito
pelas regras, ensina a lidar com a derrota e a vitória, desenvolve a eficiência e o gosto por ser melhor, etc.
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II. Cargos e funções dos seus membros
O fim principal do sistema de patrulhas é atribuir verdadeira responsabilidade a tantos rapazes quantos for
possível. O sistema mostra a cada rapaz a sua responsabilidade pessoal no bem da patrulha e leva cada patrulha
a reconhecer que tem responsabilidade bem definida no progresso de todo o Grupo.”
O Sistema de Patrulhas, tal como BP o pensou, aposta amplamente na atribuição de cargos individuais. Assim se
entrega a cada Escuteiro a execução de uma tarefa pessoal dentro da Patrulha. Responsabilizado, desta forma,
perante os outros no que concerne à sua actuação, ele sente-se indispensável à Patrulha e conquista um lugar de
importância junto dos outros: pode assumir a qualquer momento a liderança da sua patrulha (na cozinha, é o
cozinheiro que lidera; ao acudir a um ferido, é ao socorrista que cabe a tarefa de chefiar a patrulha, etc.) e deve
revelar espírito de iniciativa e criatividade na resolução dos problemas.
Esta divisão de tarefas permite que os jovens aprendam progressivamente a desempenhar diversos papéis de forma
responsável e se preparem para a vida.
Será esse um dos grandes objectivos da metodologia do Sistema de Patrulhas: que cada Escuteiro cresça
consciente do seu valor e do seu lugar na sociedade, tendo sempre por base a alegria, o respeito pelos outros, a
partilha e a fraternidade. Assim, é-lhe proporcionado um crescimento e uma valorização pessoal que servirão de
pilares para a vida.
O desempenho de um cargo no seio da patrulha ou de uma função na Aventura constitui uma oportunidade de ouro
para progredir. Isto porque o exercício de cargos e funções privilegia o crescimento em várias áreas.
O Cargo
Dentro da Patrulha, é conveniente que todos possuam um cargo, na medida em que este constitui uma forma de
motivar a participação do escuteiro e de desenvolver o seu sentido de responsabilidade individual e de utilidade para o
bem-estar dos outros.
Conceito
CARGO
Por cargo, entende-se a responsabilidade que é atribuída a cada elemento de forma fixa e estável ao longo
de, pelo menos, seis meses (socorrista, tesoureiro, animador, etc.).
Estudo de caso
Dar aos miúdos cargos que o possam incentivar a desenvolver determinadas características numa área em
que pode ter algumas dificuldades.
A descrição das tarefas e responsabilidades em cada um destes cargos está apresentada nos
Cadernos de Função e no Manual do Guia de Patrulha.
Na atribuição de cargos aos elementos de cada patrulha, dever-se-á ter em conta:
a) Os cargos devem ser exercidos de forma rotativa, para que os Escuteiros ampliem os seus conhecimentos e
competências nas diversas áreas de desenvolvimento;
b) Não é desejável que o escuteiro desempenhe mais do que um cargo na sua BPE, na medida em que isto
implica uma acumulação excessiva de responsabilidades. É sobretudo importante evitar que o Guia acumule
outro cargo dentro da patrulha, já que deve estar concentrado na coordenação dos seus elementos. A única
excepção a esta regra é o cargo de sub-guia, que permite a acumulação com outro cargo.
c) Cada escuteiro deve desenvolver ao máximo as suas capacidades no desempenho de um cargo único,
devendo, para isso, procurar saber mais sobre as responsabilidades que lhe são inerentes ao longo do período
de tempo em que o detém.
Sugestão:
A equipa de animação deverá considerar a oportunidade em organizar ateliers para cada um destes cargos,
recorrendo, por exemplo, aos jovens que desempenharam esses mesmos cargos no ano anterior, a outros dirigentes,
pais, etc. As actividades da secção devem também contemplar a possibilidade de explorar as diversas tarefas
inerentes a cada cargo (podem até ser criadas actividades específicas para aprofundar cada um).
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Cargos básicos
1. Guia
“O grupo ou bando é a unidade natural entre os rapazes, quer para a brincadeira, quer
para o mal, e o rapaz de carácter mais decidido entre eles é geralmente escolhido para
chefe.”
Baden-Powell, in O sistema de patrulhas, p. 7 (introdução)
Um dia perguntaram a Baden-Powell que cargo escolheria, no Escutismo, se não fosse Chefe
Mundial. Ele respondeu: “Se me permitissem escolher, escolheria o de Guia de Patrulha”.
Pistas para o Guia de Patrulha (J. Marques da Silva, Edições Flor de Lis, 1970)
O cargo de Guia é muito importante, pela capacidade de liderança que implica. De facto, numa unidade onde é
correctamente implementado o sistema de patrulhas, o chefe tem no guia um grande aliado na condução do grupo:
ele actua como intermediário entre a equipa de animação e os restantes escuteiros e é a ele que compete (e nunca ao
dirigente) a liderança da patrulha.
Sugestão:
Quando necessita de dar uma ordem ou informação, o dirigente deve sempre comunicá-la aos
guias para que estes a façam chegar às suas patrulhas. Nunca deve falar para o grande grupo
como se todos fossem iguais: se o fizer, que valor dá aos guias?
Ao Guia compete:
- Dirigir e animar a sua Patrulha,
- Distribuir tarefas e cargos.
- Transportar a bandeirola da Patrulha,
- Representar a Patrulha nos Conselhos de Guias e de Aventura.
- Nomear o Sub-Guia, ouvida a Patrulha.
Este ‘poder’ que o cargo de guia tem atrai, por norma, todos os elementos da patrulha, que assim aspiram a vir a
exercer tarefas contínuas de liderança. No entanto, e pelas consequências negativas que uma má escolha acarreta,
há que ter especial atenção à sua eleição, que deve ser secreta. De facto, um mau guia, incapaz de liderar, de
assumir a Lei ou de assumir responsabilidades, dá origem a patrulhas fracas, desorganizadas ou que não conhecem
o espírito de patrulha.
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Estudo de caso:
Uma patrulha escolheu como guia o seu líder natural que, por acaso, não tem um comportamento exemplar.
Compete à equipa de animação, nestes casos, encontrar estratégias para que esse guia sinta a importância do
cargo e melhore a sua conduta até se tornar um exemplo a seguir. Muitos escuteiros com condutas pouco
adequadas têm apenas falta de auto-estima e, como não querem perder o cargo (através do qual adquirem
uma importância que nunca tiveram), respondem muito bem ao reforço positivo e à exigência dos dirigentes.
Apesar deste cuidado, não deve ser o dirigente a impor a sua escolha à patrulha, embora deva ter em atenção, por
exemplo, a necessidade de ter elementos de ambos os sexos na chefia das patrulhas. Na medida do possível, devem
ser os elementos a escolher o seu guia, embora, para isso, possam contar com indicações do chefe sobre o perfil que
ele deve possuir. Este perfil não deve impedir o líder natural da patrulha de ascender ao cargo.
Para evitar más lideranças, o chefe deve promover momentos de formação para os seus Guias. Estes momentos podem
passar por encontros de formação específica para Guias ou podem surgir nos Conselhos de Guias. Apesar disto, pode
haver necessidade de destituir o Guia de Patrulha – ou pela patrulha ou pela equipa de animação. Este acto deve
resultar de uma decisão tomada em Conselho de Lei e deve ser bem ponderado, mas não deve ser evitado caso se
conclua que, de facto, é o melhor para a patrulha e para o elemento.
O Guia de Grupo
Para além do guia de Patrulha, a Unidade ainda pode ter um guia de Grupo, que deve ser eleito, por voto secreto
individual, em Conselho de Grupo. O seu mandato termina no final do ano escutista no decorrer do qual foi eleito, mas
pode ser interrompido por decisão do próprio ou por determinação do Conselho de Guias.
Apesar de a sua existência não ser obrigatória, para o Chefe de Unidade, o Guia de Grupo é uma grande mais valia,
uma vez que ele é o elo de ligação entre as Patrulhas e a Equipa de Animação, exercendo funções de liderança e
aconselhamento. Para além disto, representa todo o Grupo e coopera com todos os Guias de Patrulha na interpretação
das dificuldades e valências de cada um dos elementos.
Por esta razão, deve ser um exemplo a seguir para os outros, tanto na sua postura, como no seu Progresso Pessoal.
Para além disto, deve revelar capacidades de liderança e organização.
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É essencial que o Guia de Grupo:
• Respeite os Guias de Patrulha, não os ultrapassando no exercício dos seus cargos.
• Procure um equilíbrio constante entre a disponibilidade necessária para o exercício do seu cargo e todas as
obrigações para com a família, escola e igreja.
• Procure constantemente melhorar o desempenho do seu cargo e superar-se a si próprio.
2. Sub-Guia
O Guia é acompanhado, na sua função de liderança, pelo Sub-guia, um elemento da patrulha que o co-adjuva e,
também, o substitui em caso de ausência. Esta função reveste-se, assim, de especial importância.
Para que entre Guia e Sub-guia haja um espírito forte de união e cooperação, é essencial que ambos se conheçam
bem. Por essa razão, o Sub-guia não deve resultar de uma imposição do chefe ou de uma eleição da patrulha: deve
ser uma escolha pessoal do Guia, que tende naturalmente para seleccionar um amigo ou um elemento com quem tem
afinidades. Assim se promove a complementaridade e interajuda.
“A tarefa de dirigir uma Patrulha é tão importante que não se poderá esperar
que um rapaz a desempenhe só por si. (…) O Sub-Guia é um rapaz escolhido
pelo Guia para seu ajudante. É essencial que o Guia e o Sub-Guia trabalhem em
íntima colaboração. O Chefe que escolhe os Sub-Guias comete um erro.”
Roland Philips, O sistema de patrulhas, p. 14
Compete ao Sub-guia auxiliar o Guia em todas as suas tarefas, acompanhando-o de forma próxima não apenas para
o apoiar, mas também para ir desenvolvendo as suas capacidades de chefia. Como este cargo é subsidiário, o
elemento que o desempenha pode acumulá-lo com outro cargo dentro da patrulha.
3. Secretário/cronista
É o especialista da Patrulha na área da comunicação, escrita, oral e audiovisual. Terá como principais atribuições:
- Cuidar e ilustrar o Livro de Ouro da Patrulha;
- Redigir e expedir as convocatórias da Patrulha;
- Arquivar os documentos da Patrulha;
- Tratar de toda a correspondência da Patrulha.
4. Tesoureiro
É o especialista da Patrulha na área da intervenção económica. Terá como principais atribuições:
- Escriturar o livro de quotas (ou folha de cálculo, se assim preferir) e demais receitas da Patrulha e recolha das
mesmas;
- Orçamentar as actividades da Patrulha, bem como o respectivo controlo orçamental;
- Planificar as campanhas de angariação de fundos da Patrulha.
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5. Guarda de material
É o perito da Patrulha na conservação do seu material e equipamento. Terá como principais atribuições:
- Inventariar e catalogar o equipamento e material da Patrulha;
- Cuidar do equipamento e material da Patrulha; - Controlar as saídas de equipamento e material da Patrulha
bem como o seu estado de conservação;
- Prever o equipamento e material necessário à Patrulha;
- Requisitar o equipamento e material para as actividades de Patrulha.
Cargos complementares
a) Animador
É o guardião das tradições da Patrulha. Tem como principais atribuições:
- Coordenar as cerimónias e rituais da Patrulha;
- Preparar os novos elementos da Patrulha para estas cerimónias e rituais;
- Transmitir o historial da Patrulha;
- Coordenar a encenação das actividades da Patrulha;
- Planificar e coordenar o protocolo da Patrulha.
b) Socorrista/Botica
É o técnico de saúde da Patrulha. Terá como principais atribuições:
- Equipar e cuidar da farmácia da Patrulha;
- Tratar as pequenas feridas dos elementos da Patrulha, quando em actividade;
- Zelar pela higiene e segurança física da Patrulha nas actividades.
c) Intendente
É o especialista da Patrulha na área gastronómica. Terá como principais atribuições:
- Elaborar a lista dos produtos alimentares necessários para a alimentação da Patrulha, bem como a sua aquisição
e/ou requisição à Unidade;
- Cuidar e enriquecer o ficheiro gastronómico da Patrulha (ementas, receitas e riqueza nutritiva destas).
d) Informático
É o especialista da Patrulha no relacionamento com pessoas e entidades exteriores. Terá como principais atribuições:
- Estabelecer contactos, nos mais diversos níveis com entidades exteriores;
- Reunir informação relativa a locais de realização de actividades (informação histórica, cultural);
- Manter informações sobre a Patrulha na Internet; (ex:Site da Patrulha, Blog, Hi5, Mailing List, Etc.)
- Gerir todos os Ficheiros Informáticos usados na Patrulha (ex: Documentos, Imagens, Cartazes, Fotografias)
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Em resumo, os cargos caracterizam-se por:
Desempenho de um Ao longo do ano
cargo
A Função
Durante uma Aventura específica, poderão surgir, caso a caso, necessidades de organização ou de realização de
tarefas que impliquem o exercício de funções.
Conceito
FUNÇÃO
Por função entende-se uma responsabilidade temporária que é atribuída a cada elemento. Assim, por
exemplo, numa Aventura que contemple um acampamento, poderá haver necessidade de existirem um ou
mais cozinheiros, encarregados pelas compras e abastecimentos, financeiro, socorristas, etc. É possível que
cada elemento desempenhe mais do que uma função (o guarda-material pode ser também o encarregado
das construções, o animador pode ser também treinador, etc.).
Ao contrário dos cargos, as funções podem ser inúmeras: secretário/cronista, repórter, tesoureiro, guarda do
material, animador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista, socorrista/botica, intendente, informático,
encarregado das construções, treinador, explorador, descodificador, navegador, etc.
Também elas, à semelhança dos cargos, estão intimamente ligadas a determinadas áreas de
desenvolvimento, podendo ser usadas como ferramentas de auxílio à progressão de cada elemento.
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Quadro ilustrativo de funções
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Função Área Outras Breve descrição
principal áreas
Encarregado Intelectual Carácter É uma pessoa com um interesse especial por
das Físico projectos de construções de campo. Faz pesquisas
construções sobre construções e tenta arranjar um projecto bem
desenhado e calculado ao pormenor. Analisa as
condições físicas do local, coordena as construções,
faz listas de materiais necessários para o Tesoureiro
orçamentar e para o Intendente programar compra
Informático Intelectual Carácter Coordenação do site/blog
Armazenagem de recursos electrónicos (relatórios,
cartas, fotos)
Cozinheiro Físico Carácter Será um elemento que gosta de cozinhar, e nessa
Intelectual actividade vai estar na cozinha a fazer aquilo que
mais gosta junto com o cozinheiro da Patrulha.
Antes de ir para campo, colabora com a construção
da ementa para a Actividade.
Treinador Físico Carácter Conhecer jogos da actividade
Intelectual Coordenar preparação física, intelectual e emocional
da patrulha. Pode orientar a ginástica matinal.
Explorador Intelectual Carácter Coordenar meios de transporte para o local
Físico Analisar condições do local da actividade em
coordenação com ambientalista e encarregado de
construções. Preparar patrulha para meios de
orientação necessários em coordenação com
navegador.
Descodificador Intelectual Caracter Será a pessoa que tem especial interesse por
Físico códigos e aprende a descodificar mensagens com
rapidez e eficácia. Também pode tratar de inventar
novos códigos, onde apenas os elementos da sua
Patrulha os possam perceber.
Navegador Intelectual Carácter Preparar patrulha para meios de orientação
Físico necessários em coordenação com explorador
Definição de trajectos a seguir
Orientação da patrulha
Definição de etapas de raide, incluindo paragens
para descanso e alimentação
O desempenho destas funções pode ser feito pelo detentor do cargo (tesoureiro; secretário –
repórter; etc), mas isto não é obrigatório (o tesoureiro da patrulha pode, numa actividade, ter a
função de cozinheiro, por exemplo). No entanto, o facto de o desempenho de uma determinada
função (tesoureiro, por exemplo) ser exercido por um escuteiro diferente do tesoureiro (cargo), não
diminui as responsabilidades deste último nem o substitui. O tesoureiro continua a ser responsável
pela cobrança de quotas ou pelo controlo da actividade financeira da patrulha, por exemplo. É ele que
tem que reunir com os tesoureiros, a fim de analisar com eles os orçamentos por estes feitos, avaliar
as necessidades de fundos e, no final da Aventura, receber e conferir as contas dos tesoureiros.
Sugestão:
Para que cada um saiba exactamente o que fazer e quando fazer, o dirigente pode sugerir aos seus Guias
a elaboração, nas actividades que o justificarem, a elaboração de escalas de serviço. Esta ferramenta
permite aumentar a eficácia da patrulha (cada um tem noção exacta da sua responsabilidade) e ajuda a
reforçar o espírito de corpo, já que todos se sentem a contribuir para o bem do grupo.
A dimensão das Equipas de Animação dependerá do efectivo da Unidade. Idealmente, e muito embora por vezes seja
difícil de satisfazer, deverá existir um animador para cada Patrulha (ex: num Grupo com 4 Patrulhas deverão existir 4
Animadores, e torna-se imprescindível que em qualquer actividade estejam sempre 2 deles pelo menos). Assim, as
Equipas de Animação deverão ser constituídas por um Chefe de Unidade, um Chefe de Unidade Adjunto, Instrutores e
eventualmente CIL’s e candidatos a Dirigente.
Atendendo a que a realidade evidencia a existência de Unidades mistas, será fundamental e altamente recomendável
que a Equipa de Animação também o seja, sob pena de se criar algum desconforto dos elementos perante
determinado tipo de situação que possa ocorrer. Certamente haverá situações e necessidades específicas dos
elementos que os farão buscar apoio no animador do mesmo sexo, pelo que é importante que esta premissa seja
salvaguardada.
Assim, as competências da Equipa de Animação passarão por:
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- Ajudar o Conselho de Guias na selecção dos objectivos do plano;
- Contribuir para o enriquecimento do plano anual da Unidade;
- Ajudar na elaboração dos ante-projectos da Aventura;
- Enriquecer a programação das actividades da Aventura;
- Dar o mote organizativo da vida da Unidade;
- Analisar cada Escuteiro de forma a poder ajudá-los a superar as suas dificuldades;
- Responsabilizar-se, em última instância, pela vivência da Unidade bem como pelo progresso individual dos
Escuteiros que por ela são analisados;
- Inventariar e aplicar soluções de optimização do pequeno e grande Grupo;
- Executar as tarefas de gestão de Unidade, da sua responsabilidade.
É importante que na execução das suas tarefas, o Animador adulto não substitua os seus elementos,
especialmente os Guias. Muito embora por vezes a “tentação” seja grande, há que dar espaço para que os
elementos desenvolvam em pleno as suas funções. O Animador deve orientar e esclarecer os elementos
relativamente às tarefas que têm para desempenhar. Substituir toldará a capacidade de desenvolvimento do
Escuteiro, podendo-lhe erroneamente dar a entender de que “não é capaz, por isso o chefe faz”.
A qualidade do Escutismo praticado, a inovação nas actividades, a cativação e motivação que é necessária
empreender na Unidade (as “injecções de entusiasmo”), dependem da boa afinidade/interacção e da capacidade
de trabalho patente na Equipa de Animação. Por isso, para que os objectivos traçados sejam alcançados e para
que se tenha uma Unidade motivada, é importante que a Equipa de Animação reúna com frequência. É importante
que não vigore o improviso, e que este seja apenas um recurso a uma situação inesperada e não seja, de forma
alguma a regra.
Ainda que sendo transversal ao Agrupamento, o Assistente deverá integrar a Equipa de Animação, sendo um precioso
auxílio uma vez que lhe é atribuída toda a assistência religiosa.
a) Reunião de Patrulha
Uma reunião de Patrulha deve ser muito própria e muito íntima, devendo estar directamente relacionada com a
Patrulha e só a ela dizer respeito. Por outras palavras, deverão existir tantos tipos de reuniões de Patrulhas quantas
Patrulhas existirem, desde que cada uma delas contenha alguns elementos que são fundamentais, e que distinguem
uma reunião de Patrulha de outra reunião qualquer.
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O esquema seguinte, não é uma “receita” para todas as reuniões mas pode servir de orientação e de “guia”:
A reunião de Patrulha, enquanto momento íntimo de partilha, organização e criação, deve ser exclusivo da mesma.
Por isso, o animador adulto, os dirigentes apenas deverão participar se e só se tal for solicitado.
b) Conselho de Guias
Ver regulamento do CNE
Este conselho é o órgão permanente que, sob a coordenação do Chefe de Unidade, orienta a vida do Grupo. Aqui,
mais que nunca, o Guia marca a sua posição de responsável da Patrulha, ou não fosse o Conselho de Guias o
elemento mais importante do Sistema de Patrulhas.
Nas Reuniões e Conselhos o Guia deve procurar apresentar-se como o delegado da Patrulha: por um lado, para
fazer valer os interesses, projectos e realizações da Patrulha; por outro para receber indicações e advertências a
respeito da mesma.
Como responsável pela Patrulha, o Guia deve pôr a Equipa de Animação ao corrente dos progressos e dificuldades
de cada um dos seus elementos. Como conselheiro, o Guia deve também participar com as suas sugestões, ideias e
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aprovações na orientação definida para a Unidade.
É importante que o Guia se aperceba da amplitude de acções e de responsabilidades que têm enquanto membro dos
Conselhos.
1. Constituição
Ver regulamento
O Conselho de Guias é composto pelos Guias de Patrulha, Guia de Grupo (quando este existir) e pelo Chefe de
Unidade. Poderão participar, também, os Sub-guias de Patrulha e todos os elementos da Equipa de Animação.
No entanto, a constituição do Conselho de Guias deverá ter em atenção a própria constituição do Grupo e o número
de Patrulhas existente. Se o Grupo for extenso, com cinco Patrulhas, por exemplo, poderá tornar-se demasiada a
participação conjunta de Guias e Sub-Guias e de toda a equipa de animação. Paralelamente, esta situação acarreta
uma outra: se Guias e Sub-Guias estão presentes no Conselho e se este se realiza no horário normal de actividades
do Grupo, quem orienta a Patrulha? E quem orienta o restante Grupo se a totalidade da Equipa de Animação estiver
no Conselho?
Deverá por isso haver algum bom senso na dinamização deste Conselho, sob pena de conduzir o Grupo ao
“abandono”. Esta situação pode ser facilmente resolvida se o Conselho se efectuar fora do horário de actividades da
Unidade. Antes permite preparação, depois permite avaliação.
Pode porém colocar-se à consideração do próprio Conselho de Guias, quem nele terá assento, se somente Chefe de
Unidade e Guias, se toda a Equipa de Animação com os Guias e Sub-Guias.
Gere os trabalhos da reunião o Guia de Grupo. Não havendo este cargo a tarefa caberá a quem o conselho
definir. Geralmente ao Guia mais antigo, mas esta tarefa até convém que nestes casos, seja rotativa, e todos
os guias possam passar pela experiência de gerir o Conselho de Guias.
Sugestão:
E porque não “converter” o Conselho de Guias num jantar em casa do Chefe de
Unidade? Este momento de maior “intimidade” trará inúmeros benefícios: a
informalidade, a aproximação entre Animador adulto e Guias, a partilha de vivências, se
“segredos”, de preocupações, a cumplicidade e a confiança.
2. Tarefas:
- Tratar dos assuntos gerais do Grupo;
- Elaborar Plano Anual;
- Estimular o lançamento e período de preparação dos ante-projectos;
- Acompanhar as ideias para as actividades com as Patrulhas;
- Distribuir as missões da Patrulha;
- Estabelecer a ligação entre o plano anual da Unidade e os planos das Patrulhas;
- Escolher os ateliês necessários para realizar o projecto e nomear os responsáveis;
- Analisar o progresso de cada elemento e o progresso das Patrulhas;
- Elaborar a carta de Aventura e marcar a data da sua assinatura;
- Decidir sobre a gestão da Unidade sob o ponto de vista administrativo e financeiro;
- Apreciar assuntos disciplinares, distinções e prémios.
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Após a aprovação de cada Aventura, e havendo responsáveis das oficinas (ateliers) com quem é necessário reunir
para que a Aventura se possa concretizar, estes podem ser chamados ao Conselho de Guias para ajudar a:
- Seleccionar os meios que são necessários para a execução da parte técnica do projecto;
- Fixar a "clientela" de cada atelier;
- Inventariar as potencialidades de cada atelier, deixando margem à criatividade;
- Integrar as competências potenciais a tirar durante o projecto;
- Inventariar e prever os meios materiais e financeiros para a realização do Projecto.
- Seleccionar os meios;
- Comprovar a possibilidade de resolução dos problemas;
3. Periodicidade
A periodicidade deverá ser estipulada pelo próprio conselho. Todavia, sugere-se uma regularidade semanal. Diária
em campo. Caso a caso
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O Chefe de Unidade pode propor ao Conselho de Guias a realização de um Regulamento de
Funcionamento (Regimento) do Conselho. Este deverá ser simples mas deve espelhar as
competências e funções de cada membro (por exemplo, quem redige as actas). Além da
vantagem organizativa e de implementar normas de funcionamento, contribuirá também para
aumentar o “grau de importância” do Conselho e de quem nele tem assento.
Nele deve constar a periodicidade, o horário, em que suporte são registadas as actas, o
que acontece em caso de votações com empates e/ou falta de membros, etc.
Mais uma vez, o Animador deverá estar ciente das suas atribuições e competências no seio do Conselho de Guias.
Muito embora lhe compita a coordenação, não deverá substituir-se ao Guia de Grupo e aos Guias.
c) O Conselho de Lei
Nos casos disciplinares com reconhecida gravidade o Conselho de Guias irá assumir o papel de Conselho da Lei.
1. Constituição
- Equipa de Animação;
- Guias;
- Elementos implicados no caso.
Pode chamar outras pessoas para ajudar – assistente, chefe de agrupamento, testemunhas
2. Tarefas
- Analisar os problemas disciplinares graves;
- Ouvir os implicados;
- Ouvir as vítimas e ver quais os prejuízos;
- Decidir-se como reparar os erros;
- Tomar medidas para que o caso não se volte a repetir;
- Decidir se o caso deve ser apresentado na Reunião de Direcção do Agrupamento.
3. Periodicidade
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Este conselho reunirá apenas quando existam fortes razões para tal.
d) Conselho de Grupo
Este Conselho é fundamentalmente deliberativo. Aqui será onde toda a Unidade se vai reunir com o propósito de
escolher uma Aventura. Cada Patrulha, através do seu representante, tem oportunidade de publicitar as vantagens e
qualidades da sua proposta, colocar-se à disposição de quaisquer dúvidas e interpelações de modo a obter a
aprovação do Grupo.
1. Constituição
- Toda a Unidade.
2. Tarefas
- Escolher a Aventura (um voto por cada Explorador);
- Enriquecer a Aventura escolhida, havendo acordo do Grupo, com partes de outros ante-projectos não escolhidos;
- Dar sugestões sobre os ateliers necessários;
- Analisar se a Carta de Aventura está a ser cumprida;
- Analisar o êxito dos Projectos;
- Preparar a Festa da Aventura.
- Analisar o bom funcionamento das Patrulhas e o seu progresso;
- Analisar o funcionamento dos ateliers e se o trabalho de cada Explorador nos mesmos, atingiu o nível técnico
pretendido;
- Analisar o comportamento da equipa coordenadora;
- Analisar a evolução técnico-espiritual de cada Explorador;
- Descobrir os sinais da presença de Cristo no seio da Unidade e durante a Aventura.
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Paralelamente é também neste Conselho que o Grupo reconhece o progresso de cada Explorador realizado ao longo
do projecto, as distinções e os prémios. São discutidos aqui, perante a Equipa de Animação, as opiniões de todos os
Exploradores
3. Periodicidade
- Quando se escolhe a Aventura;
- Avaliação final da Aventura.
- Sempre que seja necessário (análise do trabalho das Patrulhas, por exemplo)
VII. Sede
O "território" da Patrulha, por excelência, é o campo, a Natureza. Todavia, como nem sempre é possível estar em
comunhão com ela, cada Grupo tem a sua Cabana, que é então o local onde se reúne. A cabana deverá ser íntima,
exclusiva, é o seu “território”, é um espaço onde se “respiram” as tradições e o espírito de Grupo.
Na cabana, deve haver lugar para os cantos das Patrulhas, espaço (estante, armário, baú) exclusivo para a chefia,
oratório, espaço comum para reuniões de conselhos de grupo, de guias e de equipa de animação. Para além disto,
convém que tenha espaço para o painel da Aventura e diversos quadros, como um quadro do progresso (onde é
registado o progresso de cada elemento), ordens de serviço, pontuação inter-patrulhas, escalas de serviço para
tarefas comuns. Pode haver também lugar para quadros decorativos (sistema de progresso, fardamento, Baden-
Powell, lei e princípios, sinais de pista, etc.). Cada Patrulha pode ter um Canto decorado de acordo com a natureza do
espaço onde vive o seu animal Totem; Ex: o charco da Rã, o ninho da Águia, a toca do Esquilo, etc.
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2 – Mística e simbologia
Introdução
A criação do Escutismo resulta de uma aturada reflexão de Baden-Powell, a partir da sua experiência como condutor de
homens e da meditação sobre a educação dos jovens. Tudo começou no momento em que assumiu como missão dar
um sentido à vida de tantos rapazes que mergulhavam numa existência desequilibrada de vícios e delitos. O Movimento
Escutista possui assim, na sua génese, uma intenção educativa e a sua finalidade é clara:
«o fim é o carácter – carácter com um propósito. E esse propósito é que a próxima geração seja dotada
de bom senso num mundo insensato, e que desenvolva a mais elevada concretização do Serviço, que
é o serviço activo do Amor e do Dever para com Deus e o próximo».
BP-RF 80
Assim se sintetiza o Espírito Escutista, que surge como ideal de vida a transmitir às gerações mais novas. Para o
conseguir, Baden-Powell cria um movimento baseado no Jogo, onde abundam histórias, ambientes, pessoas/heróis,
símbolos. Numa palavra: cria um Imaginário.
Entende-se por Imaginário:
Ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e uma
linguagem próprios. Envolve frequentemente uma história com heróis e símbolos. Induz a
um sentimento de pertença em relação ao grupo e permite a transmissão de
determinados valores.
Este Imaginário não tem apenas uma intenção lúdica. Busca também educar. E, esta intenção educativa faz despontar
a Mística, que constitui a expressão do ideal espiritual a transmitir, sendo como que a alma do jogo, aquilo que lhe dá
sentido. Para Baden-Powell, a transmissão de valores religiosos é essencial e constitui o âmago do Movimento: este
existe para ajudar cada rapaz a aproximar-se de Deus e a esforçar-se por cumprir a Sua vontade.
«NO MOVIMENTO não há qualquer “lado religioso”, nem a religião “entra” em
lado algum. Ela já lá está. É o factor FUNDAMENTAL E SUBJACENTE AO
ESCUTISMO.»
BP-RF 153
Neste sentido, e porque o CNE, enquanto membro activo da Igreja, procura educar catolicamente, os valores da Igreja
constituem a substância da Mística que se procura desenvolver em cada secção.
Em sentido estrito, entende-se por Mística:
Proposta de enquadramento temático e vivência espiritual para cada uma das
secções, que visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em Igreja.
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Para que toda esta vivência seja completa, recorre-se a símbolos que ajudam a transmitir e reforçar o ideal presente no
Imaginário e na Mística.
Por símbolos, entendemos:
Elementos / objectos representativos de realidades, características ou atitudes que
materializam o ideal proposto na mística de cada secção.
No Projecto Educativo do CNE, todas as secções têm o seu símbolo, podendo este ser
único ou integrado num conjunto de símbolos complementares.
São patronos: Nossa Senhora, Mãe dos Escutas, S. Jorge (patrono mundial do Movimento Escutista), Beato Nuno de
Santa Maria (patrono do CNE) e também S. Francisco de Assis (patrono dos Lobitos), São Tiago Maior (patrono dos
Exploradores/Moços), São Pedro (patrono dos Pioneiros/Marinheiros) e S. Paulo (patrono dos
Caminheiros/Companheiros).
Para além dos patronos, cada secção pode ainda recorrer a modelos de vida e grandes figuras históricas cuja vida, ou
alguns aspectos desta, pode servir de exemplo. São, por isso, referências a ter igualmente em conta.
Entende-se por Modelo de Vida:
Figura da Igreja Católica que, à semelhança do Patrono, também encarna os valores e
ideais da Mística e do Imaginário da secção e que exprime a diversidade de caminhos e
carismas possíveis para os viver.
A Mística do Programa Educativo do CNE assenta num esquema de quatro etapas, com vista a uma formação humana
e cristã integral, sólida e madura. Estas etapas são sequenciais – cada uma é trabalhada para uma secção, ainda que
de forma não estanque – e complementam-se (nenhuma vale por si mesma), na medida em que estão interligadas e
adquirem o seu pleno sentido na sobreposição das partes. Desenrolam-se na lógica de um caminho a percorrer,
constituindo um itinerário de crescimento individual e comunitário proposto a cada escuteiro:
- O louvor ao Criador: o Lobito louva Deus-Criador, descobrindo-O no que o rodeia;
- A descoberta da Terra Prometida: o Explorador aceita a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida;
- A Igreja em construção: o Pioneiro assume o seu papel na construção da Igreja de Cristo;
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- A vida no Homem Novo: o Caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser.
No percurso sugerido, procura-se que o Escuteiro compreenda que a sua vida tem duas dimensões essenciais, uma
sobrenatural e uma natural, e que ambas se relacionam intimamente: Cristo, Senhor da Vida, não se reduz à vivência
espiritual e mística do Homem; Ele está presente na vida do dia-a-dia e ao longo de toda a existência humana. É, por
isso, presença constante na vida de um Escuteiro.
Nesta perspectiva, o itinerário proposto está sempre centrado em Cristo, pois tem no Senhor o seu centro e fonte de
irradiação de sentido.
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Neste sentido, a mística ligada à descoberta da Terra Prometida deve ser trabalhada da seguinte maneira:
- nesta etapa da sua vida, o Explorador/Moço descobre cada vez mais que Deus está presente na sua vida. Aceita,
assim, o desafio de se pôr a caminho, acolhendo a aliança com Deus, tal como o Povo do Antigo Testamento: é
altura de novos caminhos, de novas formas de viver e de se dar aos outros que só Deus pode ajudar a encontrar.
- pelo caminho (ou seja, ao longo da sua passagem pela secção), Deus revela-se aumentando a sua fé, coragem e
audácia. Jesus é o seu maior e mais completo exemplo de vida.
Neste processo, assume papel preponderante a figura do patrono da Segunda secção, S. Tiago Maior (Apóstolo).
Chamado por Cristo, S. Tiago, Apóstolo, viu concretizadas as promessas de Deus ao seu Povo, ao testemunhar o
poder da Ressurreição de Cristo. A partir daí, fortalecido pelo Espírito Santo, S. Tiago assumiu a fé de forma
destemida e aceitou testemunhá-la até às últimas consequências (Act 12,1-2). Sendo originário da Galileia, S.
Tiago terá aceitado o desafio de partilhar com outros povos o tesouro da fé: segundo a tradição, teria vindo até à
Península Ibérica, para evangelizar, tendo desenvolvido actividade sobretudo na Galiza e na zona hoje
correspondente a Aragão.
Assim, S. Tiago foi um autêntico explorador, na medida em que aceitou pôr-se a caminho, guiado pela «estrela» da
fé que o animava e fortalecido pelo desejo insaciável de a dar a conhecer. Mesmo sem saber que dificuldades iria
encontrar, S. Tiago partiu com o intuito de apontar, também aos outros, o caminho para a «Terra Prometida». O
caminho para Deus.
Os Exploradores podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras bíblicas e santos que serão
também para eles modelos de vida: Abraão, Moisés, David, Sto. António, Sta. Isabel de Portugal.
O imaginário da segunda secção gira todo à volta do Explorador, aquele que parte à descoberta do desconhecido.
Como símbolos, a secção terá a Flor-de-Lis, a Vara, o Chapéu, o Cantil e a Estrela.
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- A FLOR-DE-LIS – é o símbolo do escutismo de que o explorador é a imagem mais facilmente reconhecida (até
pela tradução da palavra inglesa scout, por exemplo). Nas três folhas da flor-de-lis reconhecemos os três
princípios do escutismo, e os três compromissos assumidos na fórmula da promessa escutista. A flor-de-lis é,
também, símbolo de rumo, indicando o norte nas cartas topográficas e de marear. É portanto um auxiliar básico de
alguém que pretende descobrir o mundo.
- A VARA – é um símbolo facilmente associado ao imaginário do escuteiro dos primeiros anos da fundação e, por
outro lado à simbologia de São Tiago, Maior, o peregrino. A Vara do escuteiro tem um conjunto alargado de
utilidades, de onde se destaca o auxílio, à caminhada, à progressão da marcha, na navegação, no ultrapassar de
obstáculos, em relação aos perigos e às adversidades. Simboliza assim a solidariedade e o progresso..
- O CHAPÉU – é símbolo da protecção. Protecção do sol, em primeira análise, mas também do frio, da chuva, etc.
É ainda associado à imagem que temos do próprio B.-P., que se preocupou em arranjar um chapéu para os
escuteiros antes de mais nada. Também São Tiago é reconhecido pelo chapéu que caracteriza o traje do
peregrino, especialmente no contexto dos caminhos de Santiago de Compostela.
- O CANTIL – é ao mesmo tempo símbolo da responsabilidade – andar sem água não é inteligente -, na sua
vertente de depósito, mas é também símbolo de coerência, de estar preparado, como pedia B.-P.. Está
associado também à sede de conhecimento, à sede de descoberta e de acção, característica do explorador. A
cabaça, associada à imagem de São Tiago Maior é, também, ou, acima de tudo, um cantil.
- A ESTRELA – é símbolo da orientação. A Estrela Polar e o Cruzeiro do Sul são referências de orientação,
especialmente de noite, quando é mais difícil seguir um rumo. Todos os grandes exploradores recorreram a elas
para concretizar os seus sonhos. São pilares na imensidão do céu, sinal da grandeza de Deus, que nos transmitem
a segurança da fé, e a certeza do sucesso. Foi uma estrela, que segundo a lenda permitiu encontrar o túmulo do
Apóstolo São Tiago e é lá, no Campo da Estrela – Campus stella, Compostela – que permanecem os seus restos
mortais. A vieira, símbolo jacobeu, é, também, de certa forma, uma estrela. Além disso, do ponto de vista bíblico, a
estrela evoca ainda a Aliança de Deus com Abraão, em que lhe promete uma descendência mais numerosa que as
estrelas do céu, imagem do Povo que Deus escolheu para Si, do qual também nós somos parte.
Os Exploradores podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de grandes Exploradores como Fernão de
Magalhães, Ernest Shakleton, Neil Armstrong, Gago Coutinho, Sacadura Cabral, Jacques Cousteau, Dian Fossey,
Infante D.Henrique, Rosie Stanset, etc.
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G – Cerimoniais
A mística e o imaginário de cada secção, embora presentes em todas as actividades, encontram expressão concreta
nos diversos cerimoniais escutistas.
Estes cerimoniais, tal como todas as actividades que utilizam o método escutista, possuem um cunho pedagógico que
deve ser reforçado em todas as ocasiões. Para que isto aconteça, os cerimoniais devem:
- estar envolvidos por um ambiente escutista, tanto a nível dos conteúdos (Leis, exemplo de B.-P., patronos, etc.), como
a nível da elaboração (cânticos, imagens escutistas, etc.), o que implica desenvolver um ambiente místico (com recurso
a sons, imagens, etc.) que contribua para uma maior receptividade da mensagem. Será indicado, sempre que possível,
utilizar o espaço da Natureza para as realizar (é preciso não esquecer que a Natureza é o espaço privilegiado para
todas as actividades escutistas).
- revestir-se de dignidade e de respeito pelos valores escutistas: a título de exemplo, são de evitar cerimoniais de
passagem de secção que se convertam em verdadeiros atentados à Lei do Escuta, por implicarem faltas de higiene,
perigos para a saúde ou perda de dignidade dos elementos.
- possuir uma carga formativa, utilizando símbolos, linguagem e duração adequada à secção a que se dirigem.
- implicar uma participação activa dos escuteiros (não ficam apenas a ouvir), de forma a que se sintam integrados na
Unidade. Envolver directamente o grupo a que se destina, recorrendo ao auxílio dos elementos e a alusões sobre as
suas características, induz a que todos se sintam envolvidos e motivados. Este envolvimento deve implicar alguma
flexibilidade, para que todos se sintam à vontade para participar.
- ser preparados correctamente e com antecedência (a nível de materiais, duração, ensaios), integrando-se de forma
adequada na vivência das secções e na idade dos participantes.
- ir variando de tempos a tempos: se os cerimoniais nunca mudam, o que, de início, pode parecer que reforça a coesão
do grupo (por se tratar e uma tradição) pode acabar por se tornar antiquado e desmotivante. Convém, por isso, efectuar,
de vez em quando, uma revisão das dinâmicas, dos símbolos usados e dos valores explorados, para que se possa
modificar o que está desactualizado, desadequado ou incoerente.
Nem sempre os cerimoniais tradicionais das patrulhas (como a permissão para aceder ao Livro de Ouro)
possuem um fundo educativo ou ligado a valores. A este nível, é importante que o dirigente auxilie os seus
elementos a construir cerimoniais que veiculem valores. Para isso, deve procurar-se que haja referências ao
totem e ao lema da Patrulha e aos valores místicos da Secção, promovendo uma reflexão sobre os gestos, as
fórmulas e as acções desenvolvidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza e
validade.
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3 – Lei e promessa
a) um quadro referência de valores
A Igreja e a sociedade possuem um quadro de referência de valores que nos ajudam a viver em comunidade. Na Igreja,
esses valores têm por base os Mandamentos da Lei de Deus. Cada sociedade, por seu lado, incute valores
relacionados com a moral e o respeito por si mesmo, pelo outro e pela propriedade.
Também o Escutismo possui um quadro de valores que procura incutir a todos os seus elementos, de forma a ajudá-los
a progredir no sentido do Bem. Neste sentido, é portador de uma forte dimensão espiritual.
Esses valores estão resumidos nos Princípios, na Lei do Escuta e na Promessa e através deles o Escuteiro é chamado
a comprometer-se livremente com ideais que lhe permitem ajudar a construir um mundo mais justo e mais solidário.
b) Os três Princípios
Os Princípios do Escuta definem as três dimensões de vida com que o Escuteiro se compromete: Deus, a Pátria e a
Família. Cada um deles estabelece um ideal a alcançar, criando metas específicas que visam desenvolver a
responsabilidade de cada um a nível espiritual, social e pessoal.
1º Princípio: O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela orienta toda a sua vida.
O primeiro Princípio do Escuta elege como ideal o compromisso com Deus, fonte de felicidade. Esta dimensão espiritual
está presente no Movimento escutista desde o primeiro momento. De facto, o Escutismo, tal como BP o idealizou,
integra a Fé em todas as suas dimensões: o seu quadro de valores remete-nos, no seu todo, para propósitos morais
que espelham os valores cristãos, razão pela qual é impossível separar as dimensões escutista e cristã.
O verdadeiro Escuteiro assume sem reservas a sua Fé: comprometido com Cristo, em quem confia como Salvador do
mundo, assume e honra esse compromisso sem hesitação. Toda a sua vida, assim, ilustra a certeza no amor de Deus:
é a Ele que se entrega, é Ele que testemunha em todos os momentos, é Ele que o guia toda a vida. E poe Ele se
entrega aos outros, ajudando-os, numa atitude permannte de serviço.
Neste mundo em constante mutação, os conflitos entre os povos são frequentes e as dificuldades económicas e os
desafios sociais são cada vez maiores. Ao mesmo tempo, o egoísmo individual e a indiferença perante o sofrimento têm
tendência a aumentar.
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« ”A Pátria acima de mim”, deve ser a tua divisa». BP - ER 36
Perante isto, a consciência cívica é um valor a defender e torna-se cada vez mais urgente educar na cidadania, de
modo a que cada indivíduo tome consciência das suas responsabilidades para consigo, com o outro e com a Natureza.
Neste sentido, sentir-se filho de Portugal não é assumir nenhum tipo de nacionalismo. Pensar na pátria é pensar no
nosso próximo, é assumir a responsabilidade para a construção de um país justo, economicamente equilibrado e onde a
igualdade não é uma utopia.
O bom cidadão, assim, é aquele que contribui para o bem do país, servindo-o de todas as formas possíveis. Isto implica
usar com moderação os seus recursos naturais, cumprir os deveres cívicos, contribuir para o desenvolvimento da
sociedade e fomentar a solidariedade.
A família continua a ser, como ontem, a célula fundamental da sociedade: é nela que o indivíduo forma a sua
personalidade e apreende valores, descobrindo a importância da dignidade, da confiança, do diálogo, da cooperação,
do bom uso da liberdade, da obediência. No entanto, para que esta aprendizagem seja profícua é necessário que exista
disponibilidade para estar com os outros e partilhar sentimentos e acções.
«Por isto, o Céu não é qualquer coisa vaga, algures lá em cima nos
ares. Fica aqui mesmo na Terra, no teu próprio Lar.»
BP-CT 143
Ao escuteiro é pedido que pratique boas-acções, que auxilie os outros. E o bom Escuteiro compreende que essa
responsabilidade começa na sua família. De facto, o Escuteiro tem que estar, em primeiro lugar, disponível para a sua
família: pais, filhos, irmãos,…
É nesta disponibilidade, que muitas vezes implica espírito de sacrifício, perdão, paciência, generosidade, que
aprendemos o verdadeiro valor do amor.
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O Escuta orgulha-se da sua fé - HONRA
e por ela orienta toda a sua vida - CONFIANÇA
- SERVIÇO
Tendo como pano de fundo, para o crescimento de cada Escuteiro, Deus, a Pátria e a Família, o Movimento escutista
propõe a cada elemento um conjunto alargado de valores que, interligados, permitem desenvolver o sentido da
responsabilidade, aprender a fazer opções e criar hábitos de convivência e respeito para consigo mesmo e com o outro.
Para um escuteiro, ter honra é actuar com honestidade em tudo o que diz e faz. Isto não implica apenas não mentir: é
também não omitir nem actuar com subterfúgios ou às escondidas.
Na prática, significa que o Escuteiro assume que a sua liberdade o leva a agir de forma a nunca ser contrário à verdade,
demonstrando a sua coerência de vida:
- aquilo em que acredito é aquilo que ponho em prática (tanto em público como em privado);
- o que eu penso e digo é o que eu faço;
- o que eu digo é a verdade;
- o que eu me comprometo a fazer faço-o com seriedade.
Se actuar desta forma – demonstrando que possui uma só palavra, cumpre as suas promessas, fala com franqueza, é
coerente –, o Escuteiro é alguém digno de confiança, ou seja, é alguém em quem podemos acreditar e com quem é
possível contar.
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2º O Escuta é leal.
Ser leal éser honesto. É ser fiel às suas convicções, à sua família, a Deus, aos seus amigos, à sociedade, sabendo agir
de acordo com a sua consciência. Um Escuteiro leal respeita as regras do jogo da vida, actuando com coerência e
respeito por si mesmo e pelos outros. Não faz batota, não engana, não atraiçoa, não desampara ninguém.
A lealdade para consigo e para com os outros é, no Movimento escutista, um valor forte, na medida em que o que se
pretende é desenvolver em cada rapaz e rapariga a coerência de atitudes e o respeito para com o outro.
Ser útil é ter a capacidade para ajudar os outros em todas as circunstâncias em que o auxílio pode contribuir para suprir
algumas necessidades. Quem assim procura agir, habitua-se a não orientar a vida exclusivamente para os seus
próprios interesses, aprendendo a viver em verdadeira comunidade.
Assim se nega o egocentrismo e se descobre o valor do altruísmo, cujo grau máximo implica dar a vida por alguém.
Para um Escuteiro, o altruísmo aprende-se através da Boa Acção diária, cuja prática é tão importante incutir em cada
Escuteiro. É ela que exercita na arte de fazer o bem; é ela que, pela repetição, acaba por criar em cada um o hábito de
estar atento para o bem-estar dos outros e a disponibilidade para os auxiliar. E há-de ser realizada de forma discreta e
sem esperar recompensa. A humildade de fazer o bem sem esperar elogios é essencial: só ela permite que seja o Amor
a guiar as nossas acções. E Amor é o que Deus espera de nós.
Num mundo como o de hoje, onde o egoísmo e a exclusão são quase banais, a amizade é um valor precioso, pelo que
este artigo da Lei do Escuta, que se divide em duas partes, manifesta cada vez mais relevância.
Ser amigo dos amigos implica ser capaz de se colocar no lugar deles, actuando com respeito e solidariedade perante as
suas necessidades e diferenças e aprendendo a perdoar. No entanto, este artigo vai mais longe, ao declarar que
devemos ser amigos de todos. Com isto, pretende-se não que demonstremos uma amizade profunda por quem não
conhecemos, mas que consigamos ter a disponibilidade interior para aceitar como possível amigo aquele que ainda nos
é desconhecido, pondo de lado reservas sem sentido rela-cionadas com raça, credo, sexo, cultura, classe social,
nacionalidade, etc.
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«Como Caminheiro reconheces que os outros são como tu, filhos do
mesmo Pai e menosprezas quaisquer diferenças de opinião, casta,
crença ou nacionalidade que possa haver entre vós. Recalcas os
preconceitos e descobres-lhes os méritos.» BP - CT 194
É este mesmo sentimento de disponibilidade interior que torna os escuteiros capazes de se sentirem irmãos de outros
escuteiros. De facto, há que incutir em cada elemento a certeza de que, esteja onde estiver, terá sempre um irmão
escuta com que pode contar; e de que ele próprio deverá ser sempre um irmão para quem dele precisar. A começar
pela sua própria Patrulha, por vezes o sítio onde é mais difícil viver a fraternidade, por ela ter de ser permanente.
O respeito é o sentimento que nos leva a sentir consideração pelos outros, a ter em conta os seus direitos e a tolerar
diferentes ideias e que nos inibe de qualquer vontade em lhes causar dano.
Esta consideração pela dignidade do outro traduz-se, na prática por atitudes de delicadeza, que mais não é do que a
forma amável, sensível e afectuosa como tratamos os demais, evitando chocá-los, magoá-los ou melindrá-los. Neste
contexto, mesmo a frontalidade é usada de forma equilibrada, sem recurso à grosseria.
Assim sendo, o Escuta deve procurar não apenas ter atitudes exteriores de delicadeza para com os outros, mas
também sentir consideração profunda pela sua dignidade, independentemente das diferenças sociais que possam
existir. Este sentimento, nem sempre fácil de inculcar, é de máxima importância: o respeito é a base a partir da qual
conseguimos viver em paz com os outros.
No tempo de BP, não existiam preocupações de maior com a protecção da Natureza. Contudo, como visionário que era,
Baden-Powell apercebeu-se da necessidade de respeitar e proteger a obra da Criação. Segue os passos de S.
Francisco de Assis e de S. Paulo e concebe este artigo da lei, através do qual todo o Escuta é impelido pela consciência
a assumir como seu dever a defesa dos outros seres que, criaturas de Deus como o Homem, habitam o planeta.
Isto não se faz apenas com grandes gestos: não pisar uma formiga, não arrancar uma flor são pequenas acções que
não mudam o mundo, mas que nos permitem preservar a beleza que Deus criou para que outros usufruam dela. Abusar
do que Deus pôs ao nosso dispor sem motivo válido, mas por malvadez ou capricho, não é digno do bom escuteiro. Um
dia, terá de prestar contas a Deus também pela forma como tratou a Natureza, sua irmã. O que Lhe dirá, então?
Um bom escuteiro é aquele aprecia e preserva a Natureza, servindo-se dela apenas quando tal é necessário para a sua
subsistência. Assim se cultiva o sentido da responsabilidade perante as maravilhas de Deus, hoje tão exploradas e
votadas ao desprezo.
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7º O Escuta é obediente.
Todos os grupos possuem regras que assumimos como necessárias para o bem-comum e que evitam a anarquia e o
caos. É assim que surgem as leis, os regulamentos, as normas, os valores. A obediência enquadra-se no respeito por
estas regras: de facto, surge quando um indivíduo se sente completamente livre, no seu íntimo, para acatar as ordens
de outro que possui uma autoridade legítima e globalmente aceite pelo grupo em que se insere.
É nisto que a obediência se distingue da submissão: somos obedientes quando, em plena consciência, reconhecemos
como legítima e necessária uma determinada autoridade, aceite por todos; somos submissos quando, numa relação de
poder em que a lei é a do mais forte, acatamos ordens por medo ou vergonha.
Este é, por vezes, o problema dentro da Patrulha: se o Guia não for um verdadeiro líder, aceite por todos e com
capacidade para fazer valer a sua autoridade, pode cair facilmente na ditadura. Para que tal seja evitado, há que o
ensinar a comportar-se como um líder: só é obedecido quem é um exemplo de obediência, em casa, na escola, na
catequese, nos escuteiros.
Ao fazer a sua Promessa, assumida livremente, prometeu obedecer à Lei do Escuta e cumpre-a com fidelidade.
Por outro lado, há também que ensinar a cada escuteiro que obedecer não é sinal de humilhação. É, sim, revelar
capacidade para compreender que uma sociedade que funcione bem possui disciplina; é aprender o valor da
humildade, que nos ensina a submeter a nossa própria vontade; é aprender que responsabilidade é assumir os
compromissos e cumprir todas as tarefas que nos forem destinadas.
Por fim, há ainda duas ideias que devem ser inculcadas no Escuteiro:
- a autoridade ilegítima, que degenera muitas vezes em tirania, não atrai a obediência, mas a submissão, e é
lícito que os cidadãos revelem espírito crítico e queiram defender a sua liberdade;
- a obediência não implica a supressão da consciência: nunca um indivíduo deve obedecer se a actuação que
lhe é exigida for contrária ao que sente e defende. Na nossa consciência vive a voz de Deus e é ela, em última
análise, que devemos seguir. Em último grau, isto pode implicar a própria vida: foi o que aconteceu com todos
os mártires que morreram por se recusar a obedecer a ordens que os impeliam a renunciar à sua Fé.
A alegria é, sem dúvida, uma das características que se deve apontar a todo o escuteiro. Aquela alegria pura de quem
tem a consciência tranquila, de quem se sente bem consigo mesmo e com o mundo que o rodeia. Quem assim procede
consegue dominar os seus sentimentos como a raiva ou a tristeza, revelando capacidade e força interior para enfrentar
os maiores desaires. Mais: vivendo assim, o escuteiro opta por viver a vida com optimismo, preferindo a esperança à
preocupação e ao medo.
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«Como Caminheiro todos esperam de ti que não percas a cabeça e que
em caso de emergência te servirás dela com alegria coragem e
optimismo. Se conseguires …Meu filho, serás um homem.» BP – CT 195
É isto que importa transmitir: por mais difícil que seja o caminho, por mais desespero que se possa sentir, um Escuteiro
espera sempre, em Deus, por dias melhores e sorri.
Este artigo da Lei envolve três ideias distintas que se revelam bastante importantes num mundo consumista como o
nosso, onde os bens materiais são cada vez mais valorizados.
Em primeiro lugar, defende que todo o escuteiro deve ser sóbrio. Com isto, pretende-se chamar a atenção para o
equilíbrio que cada um deve ter na sua vida. Um escuteiro sóbrio vive sem exageros, tanto a nível de pensamento como
de acções. Assim, por um lado contenta-se com o que tem, não tendo inveja do que os outros conseguiram; por outro
lado, procura ter uma vida equilibrada, sem os exageros que todos os vícios implicam e sem desperdiçar o seu tempo.
Este comedimento envolve também o controlo do dinheiro. Por isso de defende também que o escuteiro deve ser
económico: não gasta o seu dinheiro em inutilidades, não esbanja tudo o que tem, não arranja dívidas atrás de dívidas,
é capaz de amealhar para se sustentar quando for necessário. É preciso ajudar a perceber que o que traz felicidade não
é a fortuna, mas sim o bom uso do que se tem e a satisfação que advém do trabalho.
Por fim, o equilíbrio envolve também o respeito pelos bens dos outros: quem é sóbrio e económico valoriza o que faz e
o que tem e, consequentemente, procede de igual forma para com os outros. Assim, protege o que lhe emprestam
como se fosse seu e restitui-o quando já não precisa; devolve o que encontra ao seu legítimo dono; não rouba; não
vandaliza propriedade alheia
Muitos pensam que o último artigo da Lei se relaciona directamente com a castidade, resumindo os seus ensinamentos
à pureza física e mental que o cristão deve procurar ter.
Na verdade, porém, este artigo é muito mais profundo: se tivéssemos de condensar a Lei do escuta em poucas
palavras, o resumo adequado seria esta frase. De facto, se o Escuteiro for puro em pensamentos, palavras e acções
cumpre todos os outros preceitos da Lei que escolheu.
«Espera-se que, na qualidade de Caminheiro, não só tenhas ideias puras, mas também
desejos puros e saibas dominar as tendências e abusos sexuais; que dês aos outros
exemplo de pureza e sinceridade em tudo quanto pensas, dizes e fazes.» BP – CT 195
Quando procura a pureza de pensamentos, o Escuta evita o egoísmo e a inveja e procura que todas as suas intenções
e ideias sejam pautadas pela verdade, tolerância e honestidade.
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Já a pureza nas palavras não se resume a evitar uma linguagem obscena e que choca os demais; implica também a
capacidade de não nada que possa pôr em causa a imagem de alguém: mexericos, rumores, acusações sem
fundamento, chacota, etc.
Por fim, a pureza das acções impele o escuteiro a evitar todos os comportamentos potencialmente prejudiciais. Isto
implica a renúncia a tudo o que atenta contra a sua própria dignidade. O corpo, criado por Deus à sua imagem e
semelhança, é templo a respeitar e todos os comportamentos prejudiciais para a saúde devem ser evitados. Mas há
mais. O escuteiro não se defende apenas a si: ser puro em acções é também evitar tudo o que pode atentar contra a
saúde e dignidade do outro. Por isso, nunca o escuteiro compele os outros a comportamentos prejudiciais, humilhantes
ou ilícitos. E protege todos os que não se podem defender.
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b) como viver a lei na secção;
Na Segunda Secção, a aprendizagem é feita, em grande parte, pela vivência: um Explorador aprende mais pelo que
experimenta e vive do que por reflexões ou conselhos directos. As suas memórias relacionam-se directamente com as
situações que viveu e a alegria, o frio, a partilha de alimentos, etc. que sentiu então: lembra-se mais do que sucedeu
quando a Patrulha se perdeu num raide e ficou sem água do que dos conselhos dados pelo chefe a propósito dos
cantis, por exemplo.
Assim sendo, os valores da Lei e dos Princípios podem ser inculcados através da criação de situações que obriguem a
utilizar os valores escutistas:
- jogos que obriguem a compreender valores como a solidariedade, a inter-ajuda, a partilha, a paciência, a obediência, a
alegria, o saber perder, etc.;
- actividades programadas que obriguem à utilização de valores (como por exemplo uma limpeza de praia ou uma
recolha de donativos para uma instituição);
- situações aparentemente imprevistas que obriguem a uma reacção positiva face ao desânimo e promovam a união
entre todos (por exemplo, ter de montar uma tenda que misteriosamente apareceu sem ferros ou estacas).
Neste processo, o dirigente deve ter a consciência clara de que está a trabalhar para que os valores defendidos pelo
escutismo se fortaleçam no espírito de cada escuteiro. Para que isto aconteça, não nos podemos esquecer que o
exemplo ocupa um lugar central na educação. Assim sendo, é essencial que o chefe assuma como seus os valores que
quer transmitir e se esforce por os cumprir, procurando ser, realmente, um modelo a seguir. E isto não se pode fazer
apenas quando os elementos estão presentes, dado que não sabemos quando poderão estar a ouvir-nos ou ver-nos.
De facto, não é coerente pedir-lhes respeito uns para com os outros, sinceridade, solidariedade para com um elemento
mais difícil ou paciência para com os desobedientes quando os dirigentes não se falam, mentem, rejeitam algum
elemento de forma ostensiva ou se descontrolam quando lidam com o grupo. Educa mais quem apresenta um
comportamento baseado no apoio mútuo, no reforço positivo, na coerência de atitudes, no encorajamento perante o erro
e o desânimo, na defesa de comportamentos saudáveis.
J – A promessa
Iniciada há já algum tempo a etapa de adesão, a data da Investidura e da Promessa estará a aproximar-se. É
importante, para não dizer fundamental, que os nossos Escutas entendam o verdadeiro significado da Promessa, que
está para lá do que é visível – a simples imposição do lenço.
Prometo,
Pela minha honra e com a graça de Deus,
Fazer todos os possíveis por:
O Movimento Escutista contribui para a educação dos jovens propondo-lhes um projecto de vida assente em valores
espirituais, sociais e pessoais a que devem aderir de forma livre. A Promessa deve ser então um momento de decisão
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pessoal, em que o Escuteiro, sentindo-se preparado para viver os valores descobertos e propostos na Lei, assume o
compromisso de “fazer todos os possíveis por” os viver e aprofundar ao longo do seu crescimento. E assume-o com a
consciência de que se está a responsabilizar (“pela minha honra”) e de que Deus o acompanha no seu esforço (“e com
a graça de Deus”).
Isto não significa que os Exploradores não possam faltar ao prometido (“fazer todos os possíveis por” implica esforço
pessoal, mas não garante sucesso). Só quem não conhece a natureza humana poderá exigir ou esperar que não haja
falhas. É aqui que o Dirigente assume um papel basilar: sempre que necessário, competir-lhe-á relembrar aos seus
elementos com o máximo de clareza a Promessa e o que ela significa, para os ajudar a compreender a seriedade do
compromisso que vão assumir. E caso verifique que os Escuteiros não assumem com responsabilidade a preparação
para esse compromisso (ou seja, logo à partida não fazem “todos os possíveis por”), não deve permitir facilitismos: o
lenço não se dá a qualquer um e de qualquer maneira, é ganho por aquele que de facto compreende que está a assumir
um compromisso e que trabalha para o poder fazer de forma consciente.
Deus é presença constante na nossa vida aparecendo de forma natural e espontânea. Ele partilha os nossos projectos,
sonhos, inquietações e alegrias. Seria possível assumirmos um compromisso tão importante se não exprimíssemos a
nossa Fé e não convidássemos Deus a estar presente, a fazer parte dele e a connosco caminhar? O nosso
compromisso é com Ele, por Ele e diante Dele. E ao assumirmos este compromisso, incluímos também nele o nosso
próximo, a família, os amigos e todos os que connosco fazem parte da Igreja de Deus: é nosso dever, como membros
da comunidade eclesial, ser testemunha de Deus e mostrá-Lo aos outros no nosso dia-a-dia.
Para além disto, a Promessa é também um compromisso de amor ao País. Por isso, devemos cumprir os nossos
deveres de cidadania com a nossa Pátria, com o País que nos viu nascer. Devemos assim servir a terra em que
vivemos, assumindo o compromisso de salvaguardar a Natureza, de fomentar a justiça, a paz, a solidariedade e de
proteger e perpetuar as tradições históricas e culturais (idioma, tradições, músicas tradicionais, etc.) que fazem parte da
identidade do País a que pertencemos.
O Escuta deve estar disponível para auxiliar o próximo, não importando as condições e as circunstâncias em que o faz.
Devemos assim combater a indiferença e prestar atenção aos sinais de quem precisa de apoio e muitas vezes sofre em
silêncio, por vergonha, medo ou para não gerar preocupações. E o nosso auxílio ao próximo não tem que passar por
actos de elevado heroísmo: pequenos gestos podem causar imensa felicidade. Neste sentido, a Boa Acção (BA) é um
convite a agir e a converter o nosso compromisso em acções concretas. E a insistência na sua prática diária permite
que cada escuteiro, de forma espontânea e gratuita, adquira capacidade de estar sempre preparado, de forma
voluntária e sincera, para servir o próximo.
«Pela promessa Escutista estamos pela nossa honra obrigados a fazer todos os dias,
alguma coisa pelos outros: “A Boa Acção”; pouco importa que seja insignificante: um
sorriso, uma palavra uma ajuda! O importante é fazer qualquer coisa.»
BP-RF 32
Prometer obedecer à Lei do Escuta não significa saber os artigos da Lei de cor, pela ordem correcta, ou cumpri-la como
cumprimos de forma obrigatória qualquer outra Lei do Estado.
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O compromisso vai mais além: ao aceitarmos a Lei do Escuta, estamos a assumir a responsabilidade de viver de acordo
com os seus valores. Pretende-se assim que vivamos a Lei: ela faz parte das nossas convicções, por ela pautamos a
nossa integridade. Por isso, ao aceitarmos viver a Lei do Escuta, fazêmo-lo de forma natural, sem fingimentos, com
responsabilidade e durante a toda a nossa vida. Decerto todos já ouvimos dizer: Escuteiro uma vez, Escuteiro para
sempre.
O Dirigente tem como tarefa manter acesa esta “chama”, ou seja, manter nos seus elementos o desejo de
ser fiel ao seu compromisso, não permitindo que se esqueçam dele. Para isto, sempre que possível deve
relembrar aos seus escuteiros a sua Promessa, levando-os a reflectir sobre aquilo a que se
comprometeram e a analisar o seu desempenho, crescimento e conduta individual. Uma das alturas
propícias a esta reflexão é o momento em que noviços ou aspirantes fazem a sua Promessa: ao incentivar
os Exploradores mais velhos a acompanhar um noviço/aspirante na sua preparação para este
compromisso e ao convidá-los a renovar a sua Promessa, o Dirigente está também a ajudá-los a crescer.
K – Oração do Escuta
Ser leal para com Deus significa nunca te esqueceres Dele e recordá-Lo em tudo o que fazes. Se nunca O
esqueceres, nunca farás nada de mal. E se te lembrares Dele quando estiveres a fazer qualquer coisa errada,
deixarás logo de a fazer. Deus tem sido bom para contigo, por isso cabe-te fazer alguma coisa em troca que Lhe
agrade; é esse o teu dever para com Deus. Baden-Powell
A Oração do Escuta foi criada a partir de um texto de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e foi
adaptada ao escutismo católico pelo Padre Jacques Sevin, jesuíta francês, fundador da associação Scouts de France. É
utilizada como a Oração do Escuteiro em várias associações escutistas de todo o mundo.
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A Oração do Escuta sintetiza dois aspectos essenciais da vida cristã, o Amor a Deus e o Amor ao próximo.
senão saber que faço a Vossa vontade santa. E FÉ – Que nos impele a termos uma relação
pessoal com Deus e assim crescer na confiança de
que o nosso maior bem está no cumprimento da
Sua vontade.
Ámen
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4 – Aprender fazendo
“A criança quer fazer coisas; então vamos encorajá-la a fazê-las, apontando-lhe o caminho certo e
permitindo-lhe fazê-las como ela quer. Deixá-la errar; é através dos erros que ela constrói a sua
experiência”.
Baden Powell
Papel do Dirigente:
“Ask the boy” dizia-nos B.-P. É dever do Dirigente ter noção das expectativas, sonhos, dificuldades, medos dos seus
escuteiros. Compete-lhe ser o orientador, o irmão mais velho, permitindo que o escuteiro seja o principal motor da sua
educação.
Por vezes é a opinião de que eles são muito novos, ou imaturos, que não deixa o Dirigente pôr algumas decisões ou
tarefas na mão dos escuteiros. Mas, certamente, que se desafiados, os escuteiros não vão deixar de surpreender os
adultos que os acompanham nesta difícil tarefa que é crescer.
Educamos para a autonomia, por isso é necessário que eduquemos com autonomia. E isso é o aprender fazendo!
o. O Jogo
Crianças, jovens e adultos gostam de jogar. O Ser Humano é um ser lúdico, que espontaneamente se organiza para
jogar a qualquer coisa, desde o mais simples ao mais elaborado e complexo jogo.
Para concretizar a sua intenção educativa, o escutismo apoia-se no jogo social espontâneo, ou seja, no dinamismo
natural das crianças e jovens, neste gosto pelo jogo e na facilidade que eles têm de criar regras sociais e se
organizarem para que o jogo funcione.
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No escutismo, as dinâmicas de grupo são optimizadas na Patrulha, uma pequena sociedade, em que todos têm um
papel importante, com direitos e deveres, onde só a vontade e trabalho de todos os pode fazer atingir os objectivos
por eles delineados
O jogo estimula o desenvolvimento do jovem, quer pelas tarefas que executa, quer pelos ensinamentos que retira do
ganhar e do perder, pela aprendizagem das relações sociais, pelas regras que tem que cumprir. Isto porque quando
as crianças brincam ou os jovens cooperam, espontaneamente descobrem a necessidade de se organizar, de
respeitar regras, de colaborar entre si, de interiorizar os valores do grupo.
Por meio do jogo, o escuteiro exercita as capacidades necessárias ao seu desenvolvimento integral; dentre elas:
autodisciplina, vida em sociedade, afectividade, criatividade, valores morais, espírito de equipa.
O jogo é dos instrumentos mais importantes e poderosos que o educador tem ao seu dispor. Caracterizado pela
espontaneidade, agrada a qualquer escuteiro, toca em várias áreas do desenvolvimento e permite conhecer cada
indivíduo, assim como a sua interacção com o grupo.
Mais uma vez o papel do Dirigente e da Equipa de animação é fundamental. Cabe-lhes orientar para que o jogo seja
mesmo motivador e motor de aprendizagem. Devem ajudar e orientar o jovens escuteiros, mas nunca resolver o
problema por eles ou fazê-los sentir que o seu desempenho não é importante.
N – “O projecto” — Aventura
Os Exploradores, pela idade que têm, são capazes de tudo! São capazes das melhores acções e desempenhos e, são
igualmente capazes das maiores travessuras! São essencialmente ávidos de aventura, de vivências diferentes, gostam
de correr riscos!
Como dizia o nosso sábio Fundador: “Os rapazes são capazes de encontrar Aventura num velho charco
imundo”, ou, “A imaginação leva o rapaz através da pradaria e dos mares. No Escutismo ele sente-se
parente do pele-vermelha, do pioneiro e do sertanejo.”
A imaginação é o catalisador de uma Aventura, é um dos grandes responsáveis pelo sucesso de um ano escutista. É
responsabilidade das Equipas de Animação não deixar esmorecer o entusiasmo e não deixar que a falta de
imaginação ou de empenho comprometam as expectativas dos rapazes e raparigas. Por isso, é fundamental que a
Equipa de Animação viva a Aventura, que encarne os personagens, que seja um verdadeiro Explorador, pois, se o
entusiasmo chegar a estar em queda, saberá reerguê-lo!
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1. Pedagogia do Projecto
O que é um Projecto?
É um conjunto determinado de acções interrelacionadas que se planeiam e implementam com vista a atingir um
objectivo último num determinado prazo.
No Escutismo, é a principal “ferramenta” utilizada para organizar diferentes actividades visando um objectivo comum.
Um projecto escutista:
• …é um desafio colectivo;
• …tem uma meta clara e um horizonte temporal;
• …envolve 4 Fases principais;
• …está baseado no uso do Método Escutista;
• …incorpora uma variedade de oportunidades de aprendizagem;
• …tem em conta interesses, talentos, capacidades e necessidades distintas;
• …procura que todos e cada jovem da patrulha ou unidade esteja comprometido no atingir do objectivo através
de esforço pessoal.
2. As Fases do projecto
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Ainda dentro da 1ª fase, a Equipa de Animação deverá proceder ao Enriquecimento da Aventura:
2ª Fase: Preparação
• Em Conselho de Guias:
9 Actividades
9 Ateliers
9 Tarefas e Missões
9 Responsabilidades
9 Calendário
9 Recursos (Humanos, Financeiros, Materiais)
9 Contactos
• Elaboração do Painel de Aventura;
3ª Fase: Realização
Viver o projecto! Agir, acampar, jogar, visitar, construir, cantar, representar! Vamos fazer tudo aquilo que preparámos!
4ª Fase: Avaliação
• É a fase de “extrair o sumo” ao que se viveu;
• Feita pelo Grupo e Patrulhas;
• Usar meios criativos e adequados (não é um exame);
• Duas componentes essenciais:
Aspectos operacionais (como correu?)
Aspectos educativos (o que se adquiriu?)
• Reconhecer o progresso feito (ligação com a celebração): etapas de progresso, insígnias de competência…
• Que pistas ficam para o futuro? (próximo Projecto?)
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Em suma:
Avaliar a Aventura:
Preparar um projecto de
Patrulha/Tripulação: - Avaliação global, com proposta de
Reunir o Conselho de alteração/ correcção do que correu
- tema sugestivo e
Guias - definir e menos bem
cativante;
distribuir tarefas pelos
- o que queremos fazer, - Objectivos alcançados
elementos e Painel de Aventura
como e porquê o Patrulhas/Tripulações - Níveis de participação
queremos fazer e onde o Deverão então reunir os Conselhos
queremos fazer; de Guias e de Aventura.
Apresentação do projecto
de Aventura: A Equipa de A Equipa de Animação:
A Equipa de Animação Animação:
y original e ajuda, orienta, enriquece - Regista todas as apreciações;
criativa - cartazes, canções, o projecto e - Vive a Aventura! - Lança pontos para debate
peças de teatro, fotografias, responsabiliza os - Estimula o - Balanço da Aventura e objectivos
mapas, postais Escutas pelas suas Grupo/Flotilha alcançados
Eleição do projecto em tarefas - Soluciona “imprevistos” - Progresso individual/competências
Grupo/Flotilha
O – Actividades da secção
“As actividades são a parte mais visível do Programa; representam o que os jovens
fazem no Escutismo”
Baden Powell
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No Movimento escutista, os jovens aprendem fazendo. A aprendizagem pela acção permite uma aprendizagem por
descobertas, fazendo com que os conhecimentos, atitudes e habilidades se interiorizem se forma natural. Assim, de
alguma maneira, os jovens autoeducam-se. As actividades, são o meio privilegiado para alcançar essa aprendizagem.
ACTIVIDADE EXPERIÊNCIA
• É a acção que se desenvolve entre • É o que se passa e é apreendido por cada pessoa;
todos; • É o que se obtém da acção desenvolvida;
• É um instrumento que gera • É o resultado que se produz no jovem ao enfrentar
diferentes situações; diferentes situações;
Atendendo ao efeito que se pretende que as actividades tenham nos jovens é importante, senão mesmo fundamental,
que as actividades sejam programadas, seleccionadas e desenvolvidas de forma adequada. O improviso pode ser
nefasto para as experiências que os jovens possam vir a adquirir de uma actividade preparada “em cima do joelho”.
Por outro lado, é importante introduzir inovações, especialmente nas actividades que tendem a seguir um padrão na
sua forma de realização. Introduzamos variações, questionemo-nos se não poderemos melhorar essas actividades ou
introduzir novas componentes que as tornem mais atractivas, sob pena dessas mesmas actividades perderem o seu
valor educativo e o seu interesse por parte dos nossos jovens escuteiros. Não podemos deixar assim que a rotina se
instale e constitua uma “pedra na engrenagem”.
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5 – Contacto com a Natureza
“A floresta é, simultaneamente, um laboratório, um clube e um templo” — B.-P.
A utilização do contacto com a Natureza como forma de educar as crianças, os adolescentes e os jovens é, de facto,
uma característica do escutismo e um dos elementos fundamentais do método escutista. Pelo valor pedagógico que
contém, como espaço, tabuleiro, do jogo escutista, como espaço de desenvolvimento de instintos e capacidades
intrínsecas, como oportunidade de crescimento e de desenvolvimento da consciência crítica, como materialização,
visível, da obra do Criador, interessa, por isso, dele retirar todo o aproveitamento.
Para um escuteiro o contacto com a natureza é, por isso, condição imprescindível para um crescimento pessoal e
colectivo
Q – Valor pedagógico
a) Um laboratório
O contacto com a Natureza incentiva a consciência crítica dos jovens em relação à gestão dos recursos
naturais que toda a comunidade tem ao seu dispor e ajuda-os a integrarem-se e a considerarem-se parte
dessa mesma comunidade.
Assim, ao observarem a forma cuidada ou descuidada como os outros cuidam da Natureza, a criança, o
adolescente e o jovem adquirem hábitos e comportamentos — de aplauso e de censura — em relação aos
seus pares, mas também aos mais velhos, que lhes dão uma espécie de autoridade moral essencial.
Porquê um laboratório?
— Porque evidencia que as coisas mais simples são, verdadeiramente, as importantes;
— Porque o jovem pode adquirir a consciência de que é passageiro, e não dono, o único proprietário do
planeta;
— Porque promove a consciência individual, a cidadania, a noção de responsabilidade individual;
— Porque permite a aquisição de conceitos como o da Ecologia e o do desenvolvimento sustentável;
— Papel do dirigente: Neste processo, compete ao dirigente incentivar os seus elementos a assumir
comportamentos saudáveis e de defesa da Natureza, nunca se esquecendo de que o exemplo é o melhor
meio de educação.
— Boas práticas:
- Incentivo à separação de lixos
- Reaproveitamento e reutilização de alguns objectos (reciclagem)
- Compostagem
- Iluminação com baterias recarregáveis por painel solar
- Drenagem e filtragem das águas de lavagem
- Monitorização das águas de algum curso de água
- Contacto com centros de investigação e conservação da Natureza (ICN)
- Investigar que forma de cozinhar causa menos impacto e consciencializar o Grupo
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— Anotações:
- Carta do índio Seattle
- Papalagui
- Princípios Escutistas vs. Educação Ambiental
- Desenvolvimento Sustentável
- Eco (casa) + logia
b) Um clube
O espaço natural é o palco preferencial para a realização de actividades escutistas. Lembrar-nos-íamos,
imediatamente, do acampamento, mas convém salientar que todo o jogo escutista tem como território ideal o
ar livre e a Natureza. É a partir da sua observação e da vivência, individual e colectiva que a criança, o
adolescente e o jovem recolhem o conjunto das regras primárias e instintivas que presidem à natureza
humana e às regras sociais elementares, por exemplo.
Porquê um clube?
— Porque permite o confronto com um espaço menos confortável que leva os escuteiros a superar as suas
dificuldades e incentiva o respeito pela natureza;
— Porque possibilita o contacto real e físico com o mundo natural e as suas características, entraves e
obstáculos;
— Porque fornece ferramentas e sugestões de auto-suficiência, de conhecimento do seu próprio corpo e do
ambiente que o rodeia;
— Papel do dirigente: Compete ao dirigente, a este nível, desenvolve, sempre que possível, actividades
de relação com a Natureza que permitam o crescimento saudável e harmonioso dos escuteiros.
— Boas práticas:
- Identificação de diferentes espécies de Avifauna (procurar panfletos de avifauna local e tentar a
partir deles identificar as especiais que vão aparecendo durante uma pista ou raid)
- Criação de Herbários
- Recolha de Pegadas de Gesso e elaboração dos seus positivos
- Identificação de espécies protegidas e não danificação da vegetação durante a montagem do
campo
- Limpeza de matos com o cuidado de não danificar
- Jogos com o contacto com os elementos naturais, explicando a importância de cada um deles
- Visionamento de documentários em vídeo sobre o animal Totem da Patrulha
c) Um templo
A natureza é, para o jovem, também, um espaço de contemplação e de deslumbramento. É a arena mais
limpa e clara de toda a obra da Criação. O jovem é convidado a descobrir nela as mais elementares
intenções de sã convivência, mas também de livre arbítrio dado por Deus ao Homem. A criança, o
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adolescente e o jovem têm na Natureza o espaço de contemplação, de deslumbramento, a montra
privilegiada para vivenciar Deus.
Porquê um templo?
— Porque, nas palavras de B.-P., “o estudo da Natureza mostrar-nos-á as coisas maravilhosas e belas de
que Deus encheu o Mundo para nosso deleite”;
— Porque o ar livre é, efectivamente, um ambiente que permite a activação de todos os sentidos e da
própria natureza da pessoa;
— Porque permite, através dos sentidos, da observação, pela razão e pela lógica, a intervenção quase
directa do Espírito Santo na pessoa.
— Papel do dirigente: Incentivar, sempre que possível, atitudes de contemplação e de reflexão sobre as
maravilhas da Criação, auxiliando os seus elementos a compreender o tesouro que nos foi dado por Deus.
— Boas práticas:
- Oração de contemplação daquilo que rodeia o Homem (vegetação, estrelas, rios, etc.),
incentivando cada um a agradecer a beleza das flores, dos verdes, do perfume no ar, do sol (no
fundo aquilo que torna especial o lugar de acolhimento, por mais singelo que seja).
- Jogos e contemplação: ao amanhecer tentar perceber o que estarão a dizer os pássaros uns
para os outros ao acordar; ao anoitecer tentar perceber o que desejariam os animais ali à volta.
6 – Progresso pessoal
Introdução
Valor pedagógico do Sistema de Progresso
A progressão pessoal tem por objectivo essencial ajudar cada jovem a envolver-se activamente e de forma
consciente no seu próprio desenvolvimento.
O Sistema de Progresso é a principal ferramenta de suporte à progressão pessoal e tem três características
principais:
- é centrado no indivíduo;
- considera as capacidades de cada um;
- é baseado num conjunto de objectivos educativos.
Permite assim atingir os objectivos educativos da Secção (adquirir conhecimentos, competências e atitudes), sendo um
factor de motivação para o jovem (ser e fazer melhor). Para além disso, guia-o no seu percurso de desenvolvimento,
sendo uma oportunidade de aprofundamento de habilidades próprias, valorização pessoal ou até mesmo de
descoberta vocacional. O sistema de progresso impulsiona o jovem a adquirir “rotinas” de análise e planeamento da
sua vida.
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O sistema de progresso é orientado por objectivos educativos de Secção e apresenta as seguintes
componentes, que representam as suas principais vantagens:
- o diagnóstico inicial é valorizado;
- há um reforço da consciência pessoal do elemento no que diz respeito ao seu progresso e à sua
preparação para a Promessa (é ele que reconhece que está preparado para assumir um compromisso
com a unidade)
- são definidas oportunidades educativas como programa-guia que permite atingir determinados
objectivos a nível de crescimento;
- na relação educativa entre elemento e dirigente surge a possibilidade de negociação sobre o caminho
a percorrer e as metas a atingir;
- o diagnóstico, a avaliação e o reconhecimento envolvem diversos intervenientes (os pares, os
dirigentes e outros organismos), o que enriquece o processo.
A passagem do adolescente pela secção é distribuída em 2 grandes fases: a integração e a vivência. Durante a
integração, o Explorador faz a sua adesão. Durante a vivência, ele evolui nas etapas de progresso.
Diagnóstico inicial
Todas as crianças que entram para o Grupo Explorador são diferentes em diversos aspectos:
idade, contextos familiares e escolares, níveis de desenvolvimento, aptidões e dificuldades.
Desta forma, poderão estar em estádios de desenvolvimento diferentes e a equipa de animação
deverá ter por missão promover – a partir de pontos de partida diferenciados – um
desenvolvimento pessoal harmonioso, que idealmente os levará a atingir em pleno os objectivos
educativos da secção.
No âmbito de um sistema de progresso orientado por objectivos torna-se, pois, imprescindível
conhecer a criança que chega ao Grupo Explorador – a isto chamamos diagnóstico inicial.
O diagnóstico inicial deve ser feito pelo Chefe do Grupo Explorador através de uma conversa formal com os Pais,
com a própria criança (auto-avaliação) e da observação desta durante as primeiras actividades. A equipa de
animação poderá ainda recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito.
Esta fase será crucial para a posterior escolha dos trilhos, uma vez que esta escolha deve ter em consideração as
necessidades de desenvolvimento do adolescente. O Aspirante/Noviço deverá ser incentivado a escolher trilhos onde
o seu desenvolvimento seja mais necessário.
No caso de ser um aspirante com idade igual ao 2º ou 3º ano (11 ou 12 anos) na Secção, deverá ser realizado
também um diagnóstico formal com o Aspirante e o Guia, para além da observação directa do jovem durante as
primeiras actividades. Este diagnóstico formal irá servir para reconhecer – depois da sua fase de adesão - em que
etapa de progresso o aspirante se encontra, ou seja, que objectivos educativos ele já detém e que equivalência será
atribuída em termos de etapa de progresso. Assim, no reconhecimento do progresso pessoal:
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Na óptica de identificar necessidades em vez de validar competências, caso o aspirante
já tenha alcançado algum trilho este será reavaliado mais tarde e o explorador escolhe
outros 6 trilhos para a sua 1ª etapa.
Estudo de caso:
No caso de o Grupo Explorador receber um aspirante com 13 anos, após o diagnóstico formal surgem 2
hipóteses:
- Cumpre todos os trilhos educativos dos exploradores e passa a ser aspirante nos Pioneiros;
- Não cumpre todos os trilhos educativos dos exploradores e fica como aspirante no Grupo Explorador, inicia a
sua adesão e após a promessa será colocado na etapa de progresso de acordo com os trilhos já alcançados
(tal como explicado acima no reconhecimento do progresso pessoal).
Se não alcançou todos os trilhos do Grupo Explorador, é provável que o aspirante já não tenha tempo para o
conseguir antes de passar de Secção. Nesse sentido, o Chefe de Grupo Explorador deverá informar o Chefe do
Grupo Pioneiro das necessidades de desenvolvimento em áreas específicas. Na nova Secção o Chefe deverá ter
em consideração estas necessidades no percurso individual do jovem. Atenção que os trilhos não alcançados nos
Exploradores não transitam e acumulam com os trilhos dos Pioneiros – apenas são tidas em consideração as
necessidades na escolha dos primeiros trilhos no Grupo Pioneiro.
1- Folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes de cada sessão – Pode também ser
usada como diagnóstico. Ver Anexo 3
Poderá ser preenchida (na totalidade ou parcialmente) pelo próprio com os pais, catequista, guia…. Poderá
inclusive valorar-se de 1 a 4 (de não adquirido a totalmente adquirido) e fazer o registo de acontecimentos e
atitudes que exemplifiquem. Se todos os intervenientes, ou a maioria, especialmente o próprio, considerar
aquele trilho adquirido, poderá ser validado. Sem receio de ter de voltar a ele no próximo ano, se se
reconhecer essa necessidade.
3- E, claro, o Jogo. Os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo como experiencias de aprendizagem activa,
constituem oportunidade por excelência de nos testarmos, conhecer e dar a conhecer. Ver recursos:
www.cne-escutismo.pt
Esquema resumo
Adesão. Adesão.
Etapa 1
Não
Pelo menos Sim
2 trilhos de
cada área?
Etapa 2 Etapa 3
Não
Aspirante tem Sim
13 anos e tem
18 trilhos?
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Adesão formal aos exploradores
No caso dos exploradores, os noviços e aspirantes recebem uma insígnia de adesão no seu início que será a
insígnia do “Apelo”.
O objectivo da adesão é o de valorizar a tomada de consciência individual do noviço/aspirante sobre como funciona a
unidade, como se vive o dia-a-dia das actividades típicas, qual é a mística e a simbologia e quais são os
compromissos que se espera de um Explorador. É com base nessa tomada de consciência individual que cada
noviço/aspirante toma, por si, a decisão de aderir ao grupo explorador ou não.
O noviço/aspirante deve, durante a adesão, conhecer a organização do grupo explorador e das patrulhas, a sua
mística e a sua simbologia. Deve conhecer o patrono, o seu percurso de vida e o exemplo que ele constitui para o
Explorador.
Durante a adesão, o noviço/aspirante deve participar no quotidiano da patrulha e do grupo. Deve ainda participar
activamente numa aventura, com duração entre os 1 e os 3 meses. O objectivo é que conviva de perto com a
aplicação do método a uma actividade típica da secção.
Em adição, é durante a adesão que o noviço/aspirante toma conhecimento das áreas de desenvolvimento
(“percursos”) e dos trilhos educativos (“trilhos”). Nos Exploradores, os trilhos educativos estão recodificados por
forma a serem mais próximos da idade dos Exploradores, como segue:
Áreas Trilho Recodificação
Afectivo Relacionamento e sensibilidade Reconheço que as pessoas têm sensibilidades diferentes
Equilíbrio emocional Sei gerir as minhas emoções
Auto-estima Gosto de mim
No Anexo 1 podemos encontrar a listagem dos Objectivos Educativos para cada um dos Trilhos.
Pretende-se ainda que nesta fase de adesão, o noviço/aspirante contacte e reflicta sobre o compromisso que deverá
assumir formalmente na sua promessa. Com base em dinâmicas propostas, deverá progressivamente aprofundar o
sentido deste compromisso, valorizando e fortalecendo a sua decisão de aderir ou não ao grupo explorador.
A duração da adesão deverá ser adaptada ao noviço/aspirante. Cada indivíduo necessitará de tempo diferenciado
para tomar a sua decisão de aderir. Sugere-se que não ultrapasse os 5 meses.
A validação do andamento da adesão e da decisão de aderir dos noviços/aspirantes deve ser feita nos conselhos de
guias e deve haver uma validação da reunião das condições particulares de adesão, nomeadamente no que toca à
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vivência na patrulha, no grupo explorador e na actividade típica.
O grupo explorador deve também validar a decisão de fazer a promessa do noviço/aspirante, com base em proposta
dos guias no conselho de grupo.
A promessa deve ser valorizada enquanto momento marcante do processo de adesão. Por isso, deve ser
individualizada e marcada durante os 2 meses seguinte ao da adesão. Os noviços/aspirantes podem assumir o seu
compromisso em conjunto, agrupados de acordo com o tempo da sua tomada de decisão e validação do grupo
explorador.
No caso dos aspirantes, a adesão inclui ainda, no campo do conhecer, a organização do agrupamento e o domínio
prático de técnica escutista.
O Compromisso
Durante a fase de integração cada explorador irá viver esta nova experiência de forma muito pessoal – a
adaptação a novas pessoas e a novas regras podem por isso resultar em ritmos muito diferentes, que devem
ser respeitados. Por outro lado será nesta fase também que o explorador irá conhecer o que se espera dele
quando aderir formalmente ao Grupo Explorador. Através do diálogo a equipa de animação, tendo em conta o
diagnóstico inicial, terá de ajudar o explorador a escolher o seu primeiro percurso de progresso.
Neste sentido e sempre com o objectivo de colocar a criança no centro da acção pedagógica, deverá ser em
primeiro lugar a criança a reconhecer que gosta de estar no Grupo Explorador e que quer fazer a sua promessa
– a assumir o seu compromisso perante o Grupo.
Também em termos de etapas de progresso e com a clara intenção de reforçar esta vertente de compromisso
pessoal, a insígnia de progresso deverá ser entregue no início de cada etapa, tal como vem sucedendo
actualmente. Corresponde ao compromisso assumido pelo explorador em procurar progredir nos
conhecimentos, competências e atitudes que o levam a atingir os objectivos educativos da Secção.
Etapas de progresso
No caso dos Exploradores, os nomes propostos para as etapas de progresso são:
Iª Etapa – Aliança
2ª Etapa - Rumo
3ª Etapa - Descoberta.
A proposta de progresso assenta em conhecimentos, competências e atitudes, com base das 3 vertentes do saber: o
saber-saber, o saber fazer e o saber ser.
No caso do CNE, pretende-se que a dinâmica de progresso vá de encontro aos objectivos definidos para os trilhos e
estes para as áreas de desenvolvimento.
Progredir significará assim atingir objectivos, ao invés de aumentar o nível de proficiência em conhecimentos,
competências e atitudes que o jovem já dominava.
Exemplificando, nesta proposta, pretende-se que o jovem seja capaz de jogar um jogo em equipa. Se ele já pratica
regularmente um desporto de equipa, o objectivo está cumprido. O progresso será então tentar desenvolver outras
atitudes que levem a atingir outros objectivos.
Cada uma das 3 etapas será variável e compõem-se da seguinte forma:
- Existem 6 áreas de desenvolvimento: afectivo, carácter, espiritual, físico, intelectual e social.
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- Cada área de desenvolvimento contém 3 trilhos educativos.
- Cada trilho educativo contém 1 ou mais objectivos educativos.
Cada Explorador constrói a sua etapa de progresso, seleccionando 1 trilho de cada uma das diferentes
áreas de desenvolvimento.
Por exemplo, eu posso, após a minha adesão, seleccionar os seguintes trilhos: sensibilidade e relacionamento
(afectivo), autonomia (carácter), vivência (espiritual), desempenho (físico), procura do saber (intelectual) e exercício
activo da cidadania (social). Para mim, a combinação desses 6 trilhos e os objectivos educativos que neles se
encerram constituem a minha primeira etapa.
Outro Explorador pode seleccionar alguns destes trilhos na sua selecção para efeito da sua segunda etapa.
A liberdade de escolha compete inteiramente ao Explorador. No entanto, o chefe de unidade e o guia desempenham
aqui um papel importante, a 2 níveis:
- No apoio do diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o Explorador já detém e que o ajudam a
seleccionar os trilhos educativos que irão constituir as suas etapas;
- Na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que contribuem para validar os
objectivos educativos como atingidos.
Os conhecimentos, competências e atitudes são trabalhados no seio do grupo explorador e da patrulha no desenrolar
do dia-a-dia e das fases da vivência das aventuras, como se exemplifica no Anexo 4.
O progresso faz-se através de oportunidades educativas que o nosso método, com as suas 7 maravilhas, oferece.
Deixam assim de existir provas, obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de qualquer outra ordem.
Passa a fazer sentido dizer-se que “o Explorador deu provas de” (porque isso foi observado em conhecimentos,
competências e atitudes) em vez de “o Explorador prestou provas” (porque realizou uma determinada acção prevista
num sistema de progresso com provas especificadas).
As oportunidades educativas
Tudo o que os exploradores fazem dentro e fora dos escuteiros ajuda-os a alcançar os objectivos educativos
da Secção, ou seja, a crescer nas seis áreas de desenvolvimento pessoal. Assim sendo, os objectivos
educativos que apresentamos às crianças nesta idade não são mais do que propostas ou desafios que
podem ser alcançados de forma atractiva e divertida. Desta forma as oportunidades educativas permitem
que cada criança viva experiências enriquecedoras, e são essas mesmas experiências que levam ao
desenvolvimento pessoal.
Neste sentido a cada objectivo educativo foram associadas algumas oportunidades educativas – meras
sugestões – que podem ser adaptadas e “negociadas” com os exploradores. Pretende-se assim criar
condições para acolher novas propostas e sugestões de oportunidades educativas, potenciando desta forma
a participação das crianças no processo.
As oportunidades educativas contribuem para se alcançar os objectivos educativos de uma forma indirecta e
progressiva. Isto significa que não existe uma relação directa entre a realização de uma oportunidade e o
alcançar de um objectivo educativo. Mediante a avaliação do desenvolvimento da criança – e não da
realização ou não da oportunidade educativa – poderá ser necessário escolher novas oportunidades
educativas e insistir na aquisição de novos conhecimentos, competências ou atitudes
No Anexo 4 podem encontrar os quadros com a lista das oportunidades educativas propostas para
cada objectivo educativo da II Secção.
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Os Exploradores podem ainda adquirir conhecimentos, competências e atitudes na sua vivência escolar, catequética,
nos clubes a que pertença, equipas de outros organismos, etc. A ideia é o chefe de unidade verificar esses
conhecimentos, competências e atitudes, sem que o Explorador tenha que as repetir, necessariamente.
.
Cargos e funções
O desempenho de um cargo no seio da patrulha ou de uma função na aventura constitui uma oportunidade educativa
para progredir. Isto porque esse exercício de cargos e funções privilegiam o crescimento em determinadas áreas de
desenvolvimento, como pode ser ilustrado no seguinte quadro e no Anexo 5
A descrição das tarefas e responsabilidades em cada um destes cargos está apresentada nos Cadernos de Função
e no Manual do Guia de Patrulha.
Competências
O desenvolvimento de aptidões associadas a competências durante a fase da vivência na unidade constitui
igualmente uma oportunidade educativa para progredir. Tal como no desempenho dos cargos e das funções, o
trabalho no desenvolvimento dessas aptidões e a sua aplicação na vida quotidiana das patrulhas privilegiam o
crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento e trilhos, como pode ser ilustrado no quadro do Anexo 6.
Este trabalho nas competências pode e deve iniciar-se a partir do momento em que se iniciou a fase da vivência, isto é,
logo após o jovem ter realizado o seu compromisso e ter seleccionado os 6 trilhos (1 de cada área de desenvolvimento)
que compõem a sua primeira etapa de progresso, a Etapa da Aliança.
Avaliação
A avaliação dos conhecimentos, competências e atitudes adquiridas e validação de objectivos educativos concluídos
deve ser feita de forma contínua, ao longo da vivência escutista do jovem e da criança. Ver Anexo 2 O
reconhecimento desses objectivos e a consequente atribuição de trilhos educativos ou de etapas de progresso
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concluídas deve ser feito na fase da celebração das actividades típicas.
Nos exploradores, é na vida da patrulha que se vão debatendo os conhecimentos, comportamentos e atitudes que
cada explorador vai adquirindo e que poderão ser indícios de que um determinado objectivo poderá estar concluído.
Este processo deverá ser induzido pelo próprio e/ou pelo guia.
Se a patrulha concorda que um explorador concluiu um determinado objectivo, o guia apresenta esse caso no
conselho de guias seguinte, sendo o assunto debatido entre os guias. Se os guias se colocam de acordo, interpelam
o chefe de unidade para obter a sua validação que, em caso afirmativo, significa que ao explorador lhe foi atribuído o
objectivo como concluído.
Avaliação
Novos “agentes” foram considerados na fase de avaliação do progresso pessoal. Partindo do pressuposto
que tudo o que os exploradores fazem dentro e fora dos escuteiros contribui para o seu desenvolvimento e
que existem oportunidades educativas a ser concretizados em outros “ambientes educativos” tal como a
família, a escola, o clube desportivo, etc, em alguns casos a avaliação do seu progresso pessoal poderá
ser feita também pelos pais, professores, etc.
Num sistema orientado por objectivos educativos os mesmos não podem ser controlados como se fossem
“provas” ou “exames”. Os objectivos educativos avaliam-se mediante a observação do progresso das
crianças durante um percurso prolongado de tempo.
Neste sentido foram identificados no quadro em Anexo 2 os conhecimentos, competências e atitudes que
devem ser observados em cada um dos objectivos educativos dos exploradores. Quando estes forem
observados no adolescente e avaliados pelo próprio, pelos “pares” e pela equipa de animação o Conselho
de Guias poderá reconhecer que o explorador alcançou aquele objectivo educativo.
Caso os guias não concordem com a conclusão do objectivo, ou estes concordando, o chefe de unidade dá parecer
desfavorável fundamentado, o guia da patrulha do explorador em causa explica, na patrulha, as razões para a não
aceitação da sua proposta, explicando ao explorador o que ele deverá ainda adquirir, em termos de conhecimentos,
competências e atitudes, para que possa concluir o objectivo.
Relação educativa
Nesta vertente foi reforçado o papel e a importância dos “pares”, ou seja, o papel dos guias e do
Conselho de Guias no acompanhamento e avaliação do progresso pessoal dos seus elementos, de
uma forma muito simples e orientada.
O Conselho de Guias será o espaço privilegiado para a tomada de decisões relacionadas com o
progresso dos elementos – escolhas de percurso, avaliação e reconhecimento de progresso.
Esta abordagem implicará naturalmente o suporte e a orientação por parte da equipa de animação,
não devendo no entanto substituí-los nas tomadas de decisão, mas sim ajudá-los a emitir opiniões e
a tomar decisões em conjunto.
O facto de o novo sistema de progresso se basear numa escolha individualizada de percursos, irá
implicar por outro lado uma relação mais personalizada de cada um dos elementos da equipa de
animação com um determinado número de exploradores (preferencialmente 1 por patrulha), de
modo a poder acompanhar devidamente o seu desenvolvimento pessoal.
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Reconhecimento
Deixarão de existir os cartões de progresso. Na sua vez, passará a existir um caderno de caça que junta o conceito
de caderno de suporte ao progresso com a ideia de um diário de vivências pessoais no grupo explorador.
O caderno de caça deverá conter uma página central com uma ilustração adequada a uma aventura e contendo as
personagens associadas às áreas educativas. À medida que os exploradores concluam os objectivos de um
determinado trilho, é-lhes entregue um auto-colante para que seja colado nessa página central.
Para além disso, recomenda-se que, na cabana, seja decorado um painel pelos exploradores onde é desenhado um
caminho que traduz a sequência do progresso e em que cada um dos exploradores tem uma marca feita por ele, de
uma cor comum à sua patrulha.
Recomenda-se ainda, valorizando a simbologia, que cada explorador seja incentivado a ter uma vara que será
trabalhada por ele com elementos decorativos feitos por ele e que marcam o culminar de cada trilho educativo.
Quando o explorador terminar a sua última etapa, ou seja, completar todos os objectivos educativos definidos para a
II Secção, irá receber uma anilha com o símbolo da Secção, de forma a ser reconhecido que completou a totalidade
do percurso educativo proposto aos exploradores. A anilha poderá ser usada até receber a 1ª insígnia de progresso
enquanto pioneiro.
Passagem de Secção
Para os exploradores mais velhos o último trimestre do seu último ano no Grupo Explorador será já um
período de adesão informal aos pioneiros. Como em qualquer processo de transição pretende-se que
este seja ao mesmo tempo suave mas também desafiante.
Poderá ser necessária uma conversa entre o Chefe do Grupo Explorador e o Chefe do Grupo Pioneiro
aquando do diagnóstico inicial, no sentido de identificar algumas áreas em que o noviço tenha mais
dificuldades.
O Regulamento Geral do CNE, no n.º1 do art. 23º, fixa as idades dos escuteiros em cada uma das
secções. Refere ainda que “A passagem de Secção deve ocorrer no final ou no início do ano escutista
em que o Escuteiro tem a idade de sobreposição prevista no número anterior.”
Todavia, no seu crescimento a criança/jovem atinge sucessivamente períodos de maturidade
diferentes, passando por isso por algumas rupturas a diversos níveis: dos centros de interesse, da
imaginação, das formas de pensar e de agir. É necessário, por isso, ter em conta estas situações não
esquecendo também que nem sempre a idade física corresponde à idade psicológica, o que pode
provocar deficiente integração por desajustamentos de centros de interesse, níveis de participação, etc.
O Chefe de Unidade tem então de ser sensível e estar atento a todos estes aspectos do crescimento
dos seus Escuteiros, para não correr o risco de falhar a Proposta Educativa do Escutismo. Um jovem
escuteiro, e neste caso concreto o Explorador, não deve passar para os Pioneiros (somente) porque
atingiu a idade de passar. Será necessário que estejam reunidas todas as condições para que a
passagem para a III Secção corresponda de facto às exigências de período de maturidade diferente.
Deverá, por isso, existir bom senso por parte do Chefe de Unidade e alguma flexibilidade na idade de
passagem, sob pena de se perderem Exploradores.
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A adesão informal iniciar-se-á no início do último trimestre da vivência escutista no Grupo explorador. Neste último
trimestre, o Explorador continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas do grupo explorador. Pretende-se que
ele se vá familiarizando, de forma informal, com o grupo de pioneiros.
O objectivo é promover uma aproximação aos Pioneiros, que funcione como “quebra-gelo” e que ajude a colocar os
Exploradores que passam para os Pioneiros mais à-vontade, promovendo uma integração mais fácil, a partir do
momento da efectiva passagem e do início da adesão formal.
Pretende-se que os guias do grupo pioneiro convidem o Explorador a participar num empreendimento (curta ou
longa), de forma informal, para se poder ir inteirando da dinâmica do grupo pioneiro, conhecer as equipas, os seus
guias, os chefes e o abrigo. Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir observando, sem participação activa, em
termos de tarefas ou responsabilidades.
Deixa de existir insígnia de ligação.
A Passagem de secção
No momento da passagem, certamente que os escuteiros têm os nervos à flor da pele e sentem um friozinho na
barriga. A expectativa é grande e o receio do que vão encontrar pode ser algum. A cerimónia de passagem assume
assim grande relevância e a forma como o elemento vai ser recebido na Secção seguinte pode marcar positiva ou
negativamente a sua integração e consequentemente a sua progressão.
Será então importante conceder dignidade e profundidade ao cerimonial, tornando esta data um momento marcante
na vida de um escuteiro.
E porque não criar cerimoniais de passagem de secção, onde esteja patente a mística de ambas as secções? O
trabalho conjunto das diversas Equipas de Animação intervenientes é fundamental! Por exemplo, na passagem da I
para a II, porque não criar um cerimonial que assente na ida de Maugli para a Aldeia dos Homens?
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7 – A Relação Educativa
“Os princípios do escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação depende do
chefe e do modo como ele os aplica.”
A presença do Adulto constitui elemento essencial de qualquer comunidade, pedagogia ou metodologia educativa,
pois não há educação sem a presença do Adulto. Já Fernando Savater dizia que, para se “funcionar
educativamente, (…) é imprescindível que alguém (…) se resigne a ser adulto” [in O Valor de Educar].
No Escutismo, o Adulto é o garante da educação integral dos jovens da sua Unidade; a sua missão não é mais do que
educar, e educar através da aplicação do Método criado por Baden-Powell para os valores por ele propostos. No caso
particular do Corpo Nacional de Escutas, esta aplicação do Método e a vivência dos valores decorre à luz do
Evangelho de Jesus Cristo, sendo o testemunho cristão do Adulto elemento fundamental.
Os Animadores responsáveis pela implementação do programa educativo asseguram que cada criança e jovem tem
oportunidades para se desenvolver nas diversas áreas da sua personalidade (física, intelectual, social, espiritual,
afectiva e carácter). Tal ocorre por via da organização de actividades adaptadas às necessidades, aspirações e
capacidades dos jovens de cada idade, determinando objectivos educativos relevantes e estabelecendo relações de
suporte entre os adultos e os jovens, assim como entre estes.
in RAP – User’s Guide, p125
A intervenção do Adulto no Escutismo é, porém, por princípio subsidiária; ou seja, a acção pedagógica – para além de
voltada para o jovem – deve estar centrada no próprio jovem, chamado a ser, pela vivência do ‘Jogo Escutista’,
protagonista do seu auto-desenvolvimento. O Adulto, na medida da idade e maturidade dos jovens, é chamado a
recuar na intervenção, competindo-lhe, no entanto, sempre assegurar a existência de um ambiente seguro e propício
a uma aprendizagem do tipo aprender-fazendo, bem como da conformidade da vida da Unidade com os ideais e
valores com que o Escutismo se identifica e se propõe promover. Cabe, assim, ao Adulto, a humilde postura de João
Baptista: “Ele é que deve crescer, e eu diminuir” (Jo, 3, 30).
Ausência Pedagógica
Se a presença do Adulto é fundamental no Escutismo, a ausência também o é. O Adulto tem de dar espaço aos
jovens para que estes possam crescer e desenvolver a sua autonomia.
Ausências – mesmo físicas, não apenas das reuniões mas também das próprias actividades – que devem estar de
acordo com a idade e maturidade dos jovens: se com os Lobitos pode ser o jogo de pista vigiado à distância, com os
Exploradores já são as etapas do raid ou uma actividade de angariação de fundos; nos Pioneiros alarga-se o âmbito
da autonomia e nos Caminheiros pode até – se assim for considerado adequado – ser a total ausência (mas não
desconhecimento ou falta de informação) do Dirigente no hike ou no acampamento da equipa.
Ausências que não são vazio, mas expressão de uma intencionalidade pedagógica.
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A –O Adulto no Escutismo
Ser Adulto no Escutismo não pode resultar apenas de um – ainda que bem-intencionado – voluntarismo, nem ser
encarado como algo apenas acessível a um pretenso escol de super-homens, ou super-mulheres, com critérios
externos ao Movimento.
Ser Adulto no Escutismo deve resultar de um encontro entre uma intenção voluntária do próprio e o cumprimento de
requisitos – o Perfil – estabelecidos pela associação, encontro que terá de se consubstanciar num compromisso
subsequente a uma formação inicial, formação a que deverá ser dada continuidade ao longo do ciclo de vida na
associação.
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Face aos Jovens...
à
Face ao Método escutista…
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Em termos de vida espiritual…
O Dirigente do CNE é um Adulto que assumiu um compromisso pessoal e voluntário de trabalhar na implementação e
desenvolvimento da Proposta Educativa do CNE enquanto Educador. Ao assumir este compromisso, assume-se uma
Missão de Serviço com as devidas implicações – em termos de responsabilidades e de deveres – daí resultantes.
A Missão do Dirigente tem contornos e conteúdos definidos, e procedimentos próprios, os quais importa explicitar;
assim, a Missão do Dirigente desdobra-se em atribuições [conteúdos] e concretiza-se segundo determinadas formas
de actuação [métodos].
Constituem atribuições do Dirigente:
ARQUITECTAR
à Organizar a Unidade garantindo a integração e funcionamento de todos os elementos do método;
à Adaptar a aplicação do método à realidade sócio-cultural local;
à Ajustar a organização ao enquadramento comunitário, designadamente paroquial;
à Dotar os guias e chefes de equipa de competências e espaço para o exercício pleno da sua actividade,
remetendo-se para um papel supervisor e subsidiário;
à Garantir a gestão de equilíbrios na organização e composição das subunidades, designadamente nos momentos
de entrada e saída de elementos.
GUARDAR A MISSÃO
à Garantir o regular funcionamento dos elementos do método;
à Gerar e garantir condições de funcionamento da vida de grupo;
à Ser exemplo e modelo de vida.
ADMINISTRAR A VISÃO
à Lançar desafios de desenvolvimento da Unidade;
à Fazer convergir horizontes e perspectivas pessoais e das subunidades;
à Promover a adesão e a perseverança em torno do caminho.
MOTIVAR
à Estimular a iniciativa e o desenvolvimento das capacidades pessoais de cada jovem;
81/97
à Promover, de forma autêntica e não manipulativa, o entusiasmo;
à Sugerir vias de exploração e de busca de soluções.
GERAR COMPROMISSOS
à Incentivar a autonomia na tomada de decisões;
à Promover consciência e consistência na tomada de decisões;
à Apelar ao sentido das opções e à coerência para com as mesmas;
à Manifestar reciprocidade nos compromissos.
EDUCAR
à Estimular a pró-actividade dos jovens;
à Ajudar a explorar criativa e realisticamente a tensão entre os sonhos e a realidade;
à Fomentar uma cultura de progressão e superação pessoal.
à Promover, simultaneamente, a integração na comunidade e a autonomia pessoal;
Educar é, assim, a atribuição nobre de um Dirigente; contudo não pode a mesma ser levada a bom porto
isoladamente, sem o concurso das demais.
CONHECER OS JOVENS
à Conhecer as características gerais dos jovens da faixa etária da Secção onde presta serviço;
à Conhecer cada jovem, a sua personalidade e a sua realidade.
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SABER IMPLEMENTAR E AVALIAR ACTIVIDADES
à Saber analisar e organizar actividades;
à Saber incentivar e orientar os jovens na análise e organização de actividades;
à Saber avaliar e promover a avaliação pelos jovens das actividades.
TRABALHAR EM EQUIPA
à Aceitar e promover a partilha de tarefas;
à Aceitar partilhar capacidades e resultados;
à Aceitar e valorizar as diferenças dos outros;
à Aceitar e valorizar a decisão colegial;
à Aceitar compromissos que conduzam à convergência de pontos de vista.
TER TEMPO
à Para estar com os jovens;
à Para corresponder às exigências da função;
à Para acompanhar semanalmente a Unidade;
à Para comprometer-se por períodos plurianuais.
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à Visando minimizar as possibilidades de dano físico e/ou psíquico.
De uma forma resumida, estas atribuições e formas de actuação do Dirigente podem ser esquematizadas, como um
“8”, em que o “educar” – o seu papel, a sua vocação e missão – se perspectiva quer do ponto de vista das suas
atribuições – “o quê…” – como das suas formas de actuação – “como”.
ADMINISTRAR A VISÃO
MOTIVAR
GUARDAR A MISSÃO
O QUÊ…
EDUCA
PERCEPCIONAR E
CONHECER OS JOVENS CONTROLAR O RISCO
COMO…
QUERER APRENDER E
CRESCER COMO PESSOA TRABALHAR EM EQUIPA
AJUDAR OUTROS A
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CRESCER
B – Interacção Educativa
“O Educador, porque é o herói dos seus rapazes, tem uma poderosa alavanca para o
seu desenvolvimento, mas ao mesmo tempo pesa sobre ele uma grande
responsabilidade. Os rapazes estão sempre prontos a apanhar as menores
manifestações da sua maneira de ser, sejam elas virtudes ou defeitos. O seu estilo
torna-se o deles; a afabilidade ou a irritação, a alegria sorridente ou o seu entusiasmo
impaciente, o domínio da vontade sobre si próprio ou as suas esporádicas falhas à
moral, não são simplesmente notadas, são copiadas pelos seus discípulos.”
O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio ‘exemplo pessoal’
do Chefe Escuta.”
Baden-Powell, «Le Guide», citado in Pela Educação à Liberdade, p.36
Aquilo que cada um é e como é, a maneira como age e lida com os assuntos, a postura perante a vida e a sociedade,
são tudo elementos comportamentais seguramente observados e registados, com minúcia e perspicácia, pelos jovens
Escuteiros.
A tendência normal é o comportamento do Dirigente influenciar, seja pela positiva seja pela negativa, o
comportamento dos jovens, pelo que este deve ter ser presente que lhes serve de exemplo.
É fundamental que o Dirigente se adapte à Secção ao serviço da qual se encontra, devendo o seu comportamento ser
modelado de acordo com a idade e maturidade dos elementos da Secção, dos jovens com quem interage.
ENVOLVIMENTO DO ADULTO
AUTONOMIA DO JOVEM
A finalidade do Escutismo é que o jovem se desenvolva em autonomia, logo o papel do Dirigente não pode ser senão
o da promoção dessa autonomia, sendo que esta relação entre a autonomia do jovem e o envolvimento, ou a
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intervenção, do Dirigente deve perspectivar-se de uma forma dinâmica, progressivamente decrescente e
qualitativamente diferenciada, ao longo do percurso educativo do jovem através das Secções.
Dependendo da Secção, há maior ou menor necessidade de “espaço”, mais ou menos graus de liberdade, formas
diferentes de companheirismo e de partilha de cumplicidades. Mas em todas as Secções é fundamental a
permanência e a sensação de presença do Dirigente, que transmite segurança, que “está lá” sempre que for preciso e
para o que for preciso, que está com eles e com eles caminha nos bons (incentivando) e nos maus (orientando)
momentos.
Para que o Dirigente consiga atingir estes objectivos, é necessário que conheça os seus elementos, que crie com eles
relações de proximidade e afinidade. Interessa ser amigo e não ser “o chefe”, o General, aquele que apenas ordena.
Mas ser amigo não representa nem implica qualquer demissão da sua dimensão adulta e educativa. O Dirigente não é
o amigalhaço do jovem, o amigo da sua idade, é o seu amigo adulto.
No Escutismo, o Dirigente tem de saber misturar-se com os jovens, sem nunca se deixar confundir com os mesmos,
equilíbrio que é a chave de ouro da relação educativa escutista entre jovens e adultos.
Estilo de Animação
O estilo de animação de um Dirigente, isto é a forma como interage com os jovens, não pode ser abordado de uma
forma meramente individual, mas tem de ser visto na perspectiva da missão que quis, quer, abraçar. O estilo indvidual
de animação é um ponto de partida, não uma mera constatação, pois o Escutismo – e neste a relação educativa
adulto / jovem – não se compadece com o exercício reiterado de qualquer estilo de animação, isto é há um estilo de
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animação próprio intrínseco à relação educativa adulto / jovem no Escutismo.
E esse estilo de animação é o democrático ou participativo, em que o Dirigente deixa aos jovens o máximo de espaço
para imaginar, decidir, planear, concretizar, avaliar e celebrar, isto é, faculta aos jovens o espaço / ambiente
necessário para que estes possam viver e jogar o jogo escutista.
Assim, deixar aos jovens o máximo de espaço significa, por um lado, que o Dirigente não pode ser autoritário,
directivo ou super-protector, não deixando aos jovens espaço e liberdade para jogar. Uma estrutura rígida pré-
determinada e uma atitude dirigista impossibilitam a existência de oportunidade para que os jovens exerçam a sua
liberdade e desenvolvam a sua autonomia – o jogo escutista não é, assim, possível.
Por outro lado, o máximo não significa todo o espaço, pois a imensidão de espaço e – consequente – falta de
enquadramento e de referências que constitui uma atitude libertária do estilo laissez-faire, impede igualmente o jogo,
pois não há jogo sem enquadramento, não há jogo sem regras. O desenvolvimento da autonomia responsável ocorre
no encontro – e confronto – dos dinamismos do indivíduo com uma realidade; a inexistência desta sob uma forma
estruturada impede tal desenvolvimento.
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Ou seja, o Dirigente tem de garantir aos jovens um espaço de liberdade e iniciativa, mas um espaço onde existem um
enquadramento e regras; só um espaço com todas estas características – que se consubstanciam nos elementos do
método escutista atrás apresentadas – permite jogar o jogo escutista.
O papel do Animador é animar as actividades, enriquecê-las pedagogicamente, nunca esquecendo que da forma e da
profundidade desse enriquecimento depende não só a satisfação dos jovens, mas também o seu desenvolvimento.
Para isso, deve o Animador procurar alargar o mais possível os horizontes da actividade, pois quanto mais alargados
forem os objectivos e maior for a adesão e motivação dos jovens, maiores oportunidades educativas lhes são
proporcionadas.
Antes de mais importa relembrar que as actividades escutistas são um meio e não um fim em si mesmo. O fim é o
auto-desenvolvimento do jovem e a sua identificação com os valores próprios do Escutismo, fim esse que é alcançado
pela vivência de actividades pedagogicamente consistentes e ricas. É precisamente no enriquecimento das
actividades que se aplica a função motivadora do Animador.
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à Despertar a imaginação;
Valorizar a actividade na sua globalidade, à “Soprar” ideias;
nunca alterando a sua ideia central; à Sugerir iniciativas;
“limar arestas” (organização e à Espicaçar o entusiasmo;
planificação) para aumentar as garantias à Procurar a dose certa de
de êxito. atracção, aventura e emoção.
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No Grupo Explorador, a Patrulha deve ser estimulada e orientada a ser o viveiro da autonomia dos Exploradores e a
fonte das actividades que estes começam a idealizar, a escolher, a planear.
O Dirigente assume aqui um papel de estímulo à iniciativa, ao alargamento de horizontes e à subida progressiva da
fasquia; um papel de orientação nos processos de escolha e de planeamento (seja ensinando metodologias, seja
alertando para oportunidades, lacunas e riscos); um papel de facilitador de recursos, mormente na fase de
enriquecimento das actividades; um papel de crítico construtivo e pedagógico, que fomenta e complementa a
avaliação proporcionando vias de aperfeiçoamento pessoal e colectivo.
Os Conselhos de Guias ou de Grupo são os espaços próprios – por excelência – para o Dirigente exercer este seu
papel de formação para autonomia pelo envolvimento e crescente autonomia dos Exploradores na organização das
actividades.
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“Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa”
Ecl 3, 1a
Há que ter sempre presente que as actividades devem ser adequadas às idades, estando-lhes
subjacente um percurso evolutivo em matéria de esforço e exigência, e até de apreensão, avaliação e
gestão do risco que lhes está subjacente.
Assim, deve o Dirigente deve saber adequar a ‘fasquia’ da tipologia e da ousadia que se atribui às
actividades, sob pena até de se distorcer e confundir – perante o jovem – a identidade pedagógica
das secções.
O Adulto Animador da Fé
No Corpo Nacional de Escutas, a Animação da Fé faz-se, em paralelo com o percurso catequético de cada criança e
jovem, pela promoção de um ambiente de convivência e partilha, de momentos de descoberta e contemplação, de
oportunidades de formação e de acção caritativa, de vivência eucarística e sacramental, de oração. Tudo isto, de uma
forma escutista, integrada no processo educativo, num prisma de desenvolvimento pessoal e num ambiente de
vivência comunitária.
A Animação da Fé assenta numa responsabilidade pessoal tripartida: por um lado, temos o Assistente, com um papel
preponderante na orientação pastoral e na promoção da eclesialidade, a quem cumpre ser o guia, o garante, o
‘facilitador’; por outro, temos o jovem, aquele que, à justa medida da sua idade e maturidade, participa, procura,
explora, e se compromete.
Entre estes, está o Dirigente, a quem cumpre ser aquele que quotidianamente propõe, que convida a caminhar
conjuntamente, que testemunha.
Mas, para que tal aconteça com autenticidade e sentido, terá ele também de ser aquele que procura – ele próprio –
crescer no caminho, que procura – ele próprio – crescer na fé, e isso não acontece sem formação, sem vivência
eucarística e sacramental, sem acção caritativa, sem oração.
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Duas questões são aqui fundamentais:
à Celebrar;
à Caminhar;
à Viver.
O testemunho autêntico de vida cristã é a mais pedagógica das ferramentas ao serviço do Dirigente do CNE enquanto
Animador da Fé.
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Garante de Segurança e Bem-Estar
Na Unidade, ao Dirigente cumpre garantir que em todas as iniciativas e actividades são cumpridas as normas de
segurança legais ou em vigor na Associação, bem como excluídos comportamentos e opções que acarretam riscos
irrazoáveis e/ou não devidamente acautelados.
Neste âmbito, cumpre realçar que, em termos de responsabilidade jurídica, os jovens se encontram confiados aos
adultos que os acompanham, competindo a estes a permanente avaliação e gestão do risco inerente à prática de
actividades. O grau de segurança de uma actividade, para além de eventuais preceitos legais, deve acautelar de
forma adequada – isto é, sem negligência facilitista nem asfixiante excesso de zelo – os riscos a esta intrínsecos.
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Tal como em todos os aspectos da vivência escutista, o envolvimento dos jovens nestes aspectos é crucial no sentido
da respectiva formação pessoal em termos de autonomia e responsabilidade, incluindo a avaliação e gestão do risco,
devendo ocorrer – naturalmente – de acordo com a idade e maturidade dos jovens, sendo que é do Dirigente –
independentemente de idades e maturidades – a palavra e responsabilidade últimas.
A segurança nas actividades não é um espartilho ou um impedimento, é – e assim deve ser encarada – uma
excelente oportunidade educativa.
Concomitantemente com a segurança, cumpre igualmente ao Dirigente estar atento ao bem-estar físico, psicológico e
anímico dos jovens que lhe estão confiados, tomando ou providenciando, sempre que se justifique, as necessárias
medidas preventivas ou restabelecedoras. Um olhar observador e uma intervenção formativa devem sempre recair
sobre aspectos como a higiene, a alimentação, o descanso ou a saúde, devendo o Dirigente proporcionar formas de
reflexão, análise e prevenção que sejam, progressivamente, protagonizados pelos próprios jovens.
O Conselho de Guias, bem como o Conselho de Grupo, são os locais próprios para o Dirigente ir introduzindo a
temática do risco e da segurança nas actividades, promovendo sempre uma reflexão, fornecendo elementos de
análise, auxiliando na procura de soluções.
A Patrulha, enquanto comunidade, é o local onde as soluções em termos de bem-estar, designadamente em termos
de higiene e alimentação, devem ser pensadas, e as respectivas soluções procuradas, pelos Exploradores, com a
supervisão discreta, mas orientadora, do Dirigente.
A faixa etária das Exploradoras é um período de profundas alterações associadas à puberdade, como a menarca, cuja
manifestação pode trazer perturbações à disposição e ao “à vontade” com que se vive a vida em campo, momentos
em que ao Dirigente se exige compreensão, aconselhamento e orientação. Nestas situações específicas, a relação de
confiança, em especial, com as Dirigentes do sexo feminino, enquanto “irmãs mais velhas”, é extremamente
importante e confortador para as Exploradoras.
Resumo:
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D - Coeducação
A coeducação é a educação que considera a heterogeneidade. Embora no início, quando se começou a falar de
coeducação apenas se considerasse as diferenças de género, hoje em dia, a coeducação contempla outro tipo de
heterogeneidade: idade, nível sócio-económico, condição física, cultura, etc. Assim, podemos considerar a
coeducação como a educação em conjunto de indivíduos distintos.
Para que haja desenvolvimento e para que este seja equilibrado, o processo educativo deve visar a heterogeneidade e
o contacto com a diferença, sendo que na diversidade se encontra não a desigualdade mas sim a verdadeira riqueza do
mundo.
A prática da coeducação promove a complementaridade, a integração, a inclusão e a não discriminação servindo de
alicerce a uma nova sociedade baseada na interacção, cooperação e respeito mútuo.
A coeducação tem em atenção o escuteiro em si e o modo deste se relacionar com os outros, porque promover a
igualdade de oportunidades não é dar o mesmo a todos indiferenciadamente, mas sim dar a cada um o que lhe
faz falta.
Numa sociedade habituada a acentuar diferenças sem as tentar compreender, o Escutismo tem o papel importante de
esclarecer essas diferenças e de, através delas, criar novas competências que enriquecem o escuteiro individualmente
e, em consequência, contribuem para uma nova sociedade com valores globais e não globalizantes.
Todas as crianças e jovens têm necessidades individuais e é ao encontro delas que o Escutismo deve ir.
As unidades devem ser coeducativas desde os escuteiros que a compõem até às Equipas de Animação. Devem estar
preparadas para trabalhar a diversidade seja ela ao nível do género, da cultura, da forma física ou outra,
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proporcionando educação com vista à construção de uma sociedade mais multicultural e tolerante.
Ao utilizarmos a Coeducação no Grupo Explorador, estamos a permitir que cada Escuteiro desta faixa etária
desenvolva, de forma equilibrada, as suas capacidades relacionais e aprenda a lidar com a diferença, compreendendo
que optar pela tolerância, partilha e respeito mútuo é mais produtivo e valioso do que sustentar imagens
estereotipadas que menosprezam alguns e tantas vezes limitam a cooperação.
Na Segunda Secção, surge a etapa da puberdade e os Exploradores são obrigados a enfrentar mudanças
súbitas que os levam a perder o equilíbrio da infância e nem sempre facilitam o processo relacional. Tem início uma
nova forma de relação entre os sexos que é, por norma, problemática. De facto, as modificações físicas conduzem à
necessidade de protecção num grupo do mesmo sexo e não facilitam a convivência por se iniciarem em momentos
diferentes para raparigas e rapazes. Assim, as raparigas tendem a modificar-se mais cedo e a evoluir mais depressa,
alcançando mais cedo uma maturidade que as leva a desconsiderar os rapazes da mesma idade, olhados como
infantis e fanfarrões. E estes não se adaptam às suas companheiras, uma vez que possuem gostos diferentes em
termos de actividades e são mais inconstantes (preferem actividades com muita acção, que vivem com uma certa
agressividade, mas cansam-se depressa). De um mogo geral, as crianças desta idade, são intolerantes e impacientes
para todos os que não partilham os mesmos interesses, os que têm costumes diferentes, os que não conseguem
acompanhar as brincadeira.
Este comportamento levanta bastantes problemas, uma vez que a rejeição produz incapacidade relacional. E a
tendência, se não for combatida, é para manter e confirmar estereótipos e para desprezar de forma por vezes
evidente o outro que é diferente. Por essa razão, a correcta aplicação da Coeducação é absolutamente imprescindível
nesta faixa etária, uma vez que só a utilização coerente e consciente de estratégias coeducativas pode ajudar a unir
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os Escuteiros, levando-os a compreender a riqueza que a partilha de tarefas e actividades e o conhecimento mútuo
possuem.
Algumas das estratégias que podem ajudar os Chefes da Segunda Secção a pôr em prática a Coeducação são
as seguintes:
• Realizar com todos actividades que promovam o conhecimento pessoal e do outro e que estimulem a
solidariedade e a partilha:
- actividades que impliquem esforço e destreza física e ateliers que impliquem minúcia manual, por
forma a que todos possam aceder a todo o tipo de acções;
- actividades e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão de papéis
(por exemplo, convém que tanto raparigas como rapazes aprendam a serrar e varram a Cabana ou
lavem a loiça);
• Realizar actividades que estimulem o trabalho da Patrulha, em detrimento do esforço individual;
• Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito, cooperação e entreajuda entre
todos;
• Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos pobres e ricos, rurais e citadinos, que incutam valores
positivos;
• Participar em actividades de serviço à comunidade (boa-acção comum;
• Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como o respeito, a amizade, a tolerância, a
solidariedade
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